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Centro Federal de Educação Tecnológica de São Paulo Dificuldades e possibilidades no ensino da geometria na EJA Elisabete Teresinha Guerato São Paulo Março de 2008

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Centro Federal de Educação Tecnológica de São Paulo

Dificuldades e possibilidades no ensino da geometria

na EJA

Elisabete Teresinha Guerato

São Paulo

Março de 2008

Centro Federal de Educação Tecnológica de São Paulo

Dificuldades e possibilidades no ensino da geometria

na EJA

Elisabete Teresinha Guerato

Orientador: Profª Ms Wania Tedeschi

São Paulo

Março de 2008

Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Educação Profissional Técnica de Nível Médio na Modalidade EJA do Centro Federal de Educação Tecnológica de São Paulo (CEFET/SP) como parte dos requisitos para obtenção do título de especialista.

ii

Dedico este trabalho aos meus pais que me deram a

vida e aos meus filhos que são a razão da minha vida

iii

Agradecimentos

Com especial carinho, à Professora Ms. Wania Tedeschi, pela atenção, carinho,

dedicação e por ter confiado na minha capacidade ao aceitar ser minha orientadora.

Aos professores do curso que, com seu profissionalismo e suas aulas nos

prepararam para esta jornada.

Em especial, à professora Dra. Fátima Beatriz Delphino pela amizade e pela

ajuda nas correções gramaticais.

À amiga Maria Angélica Kopko pelo companheirismo e incentivo junto às

disciplinas do curso.

Aos meus pais que me deram a oportunidade e o incentivo para que eu tivesse

amor pelos estudos.

Aos meus filhos, Rodrigo e Rogério pelo apoio e pela confiança em mim como

mãe e profissional.

Aos meus alunos que, ao longo destes muitos anos de profissão não só

aprenderam comigo, mas também muito me ensinaram.

A todos os meus amigos que, de uma forma ou de outra contribuíram para a

minha formação.

iv

Sumário

Apresentação

Introdução

Andragogia: a educação de adultos

Por que e para que aprender matemática?

Geometria e o seu ensino

O ensino da matemática na EJA

A legislação Oficial e o Ensino da Matemática

Competências do pensamento geométrico

Piaget e as estruturas cognitivas

Letramento e desenvolvimento cognitivo

Linguagem matemática: símbolo e significado

Princípios filosóficos que nortearam o trabalho

Metodologia

A seqüência didática - Oficinas

Descrição e análise das atividades utilizadas na pesquisa

Dificuldades e Possibilidades para o Ensino da Geometria

Perspectivas futuras

Referências bibliográficas

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v

Resumo

Esta monografia teve como objetivo geral analisar o ensino da matemática, em

particular da Geometria na Educação de Jovens e Adultos (EJA) a partir da análise da

legislação vigente e dos estudos de Jean Piaget, do casal Van Hiele e de estudo existente

sobre símbolos e significados no ensino da matemática. Foram observadas atividades de

alunos do Módulo III do Centro Integrado de Jovens e Adultos (CIEJA), projeto da

Prefeitura da Cidade de São Paulo e ao final foram relacionadas as dificuldades

detectadas e foram sugeridas novas possibilidades no ensino da Geometria na EJA.

Palavras chaves: EJA, matemática, ensino, geometria, possibilidades

Abstract

This monograph’s overall objective is to analyze mathemathics teaching, in

particular, the geometry teaching in teens and adults education from the analyzis of the

present legislation and the studies of Jean Piaget, the married couple Van Hiele and the

study of simbols and meanings in the mathematics teaching. We have observed the third

module’s students activities from the Teens and Adults Educational Center (CIEJA)

which is a São Paulo’s City Hall project.

Key words: Mathematics, teaching, geometry, possibilities.

vi

“A escola que se deve buscar é

aquela que forme pessoas

autônomas, livres e capazes de

compreender o mundo onde estão

inseridas.” (2o Fórum Mundial de Educação, Porto

Alegre, de 19 a 22 de janeiro de 2003)

1

Apresentação

O trabalho com o ensino de matemática na Educação de Jovens e Adultos (EJA)

vem sendo desenvolvido desde o término da graduação e, no decorrer desses anos, a

percepção da profunda dificuldade dos alunos desta modalidade em aprender

matemática, em particular a geometria, fez com que a pesquisadora se interessasse por

esse campo de investigação.

Esta pesquisa foi desenvolvida com o propósito de investigar o ensino da

matemática, em particular da geometria, na EJA e levou em consideração a dificuldade

que o aluno adulto tem para sistematizar a matemática que usa no cotidiano da sala de

aula e nas atividades sugeridas pelos professores.

A geometria, em geral é deixada para segundo plano no ensino da Matemática

devido ao mito de que é a parte mais complicada, mas a experiência com as aulas para

alunos da modalidade EJA nos mostra que é a parte da Matemática que melhor se

adapta ao conhecimento de mundo do aluno adulto. Desta forma, escolhemos o ensino

da Geometria para a pesquisa de modo a selecionar e elaborar novos materiais concretos

para facilitar o ensino para alunos da modalidade EJA.

Pais (2006) descreve os resultados de uma pesquisa cujo objetivo era

caracterizar tendências atuais sinalizadas pelos livros didáticos de matemática, quanto

às metodologias de ensino da geometria. Esses resultados evidenciam a existência de

um núcleo de conceitos preservados em quase todos os livros. A partir dessa

identificação, foi constatada uma tendência crescente de diversificação dos recursos

pedagógicos sugeridos entre os livros. Desta forma, pudemos perceber que a

preocupação com o ensino da Geometria não é apenas dos professores de Matemática,

mas também dos autores de livros didáticos. Inclusive, segundo a pesquisa, os livros

publicados mais recentemente propõem estratégias de ensino diferenciadas o que

implica na indicação de diferentes recursos didáticos.

2

Introdução

Nesta pesquisa procuramos verificar novas possibilidades para se ensinar

geometria ao aluno da modalidade (EJA), de modo que esta tenha significado e sirva de

instrumento para este aluno entender aspectos do mundo que dependam do

conhecimento de geometria, quais as suas dificuldades e possibilidades.

Alguns aspectos nos levaram à escolha deste tema. Entre eles podemos

mencionar os de maior relevância.

Sob o ponto de vista do aluno é freqüente os alunos da EJA atribuírem o fracasso

escolar na infância e adolescência à disciplina de Matemática, referindo-se ao rigor

aplicado pelos educadores desta disciplina e à cobrança da memorização dos conceitos e

das propriedades, bem como as atividades de caráter mecânico, cobradas de maneira

exagerada e sem contextualização.

Sob o ponto de vista institucional, o Censo Escolar 2004, do Instituto Nacional

de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP/MEC) mostra que os

cursos específicos para jovens e adultos beneficiam atualmente cerca de 4,6 milhões de

alunos no Brasil.

De acordo com o Ministério da Educação e Cultura (MEC), cerca de 65 milhões

de brasileiros não completaram o ensino fundamental (1ª a 8ª série). Deste total, 15

milhões têm menos de um ano de estudo, o que só comprova que a desistência é um dos

principais desafios do sistema educacional brasileiro. (Anexo I)

Segundo Haddad (1994), a Educação de Jovens e Adultos (EJA) no Brasil é

pouco conhecida na sua essência. Além disso, quando conhecida, sabe-se mais sobre

suas mazelas do que sobre suas virtudes.

A Educação de Adultos no Brasil se originou muito mais como produto para

combate da miséria social do que como desenvolvimento. É conseqüência dos males do

sistema público regular de ensino e das precárias condições de vida de grande parte da

população brasileira, que acabam por interferir no aproveitamento da escolaridade na

época apropriada. (Haddad, 1994)

Do ponto de vista sociológico, observamos que a miséria social é um marco

condicionante que acaba por definir as diversas maneiras de pensar e realizar a

Educação de Jovens e Adultos. É uma educação para pobres, para jovens e adultos das

3

camadas populares, para aqueles que são maioria nas sociedades do Terceiro Mundo,

para os excluídos do desenvolvimento e dos sistemas educacionais de ensino. Mesmo

constatando-se que não são todos os excluídos do sistema escolar na idade adequada,

que conseguem ter acesso aos programas de Educação de Jovens e Adultos, não se

invalida a constatação de que esta modalidade de ensino é especialmente direcionada

aos excluídos. (Haddad, 1994)

Segundo Fonseca (2005), a Educação de Jovens e Adultos é uma ação educativa

dirigida a um indivíduo de escolarização básica incompleta ou nem ao menos iniciada e

que procura os bancos escolares na idade adulta ou na juventude. A interrupção ou

impedimento de sua trajetória escolar não é um fato isolado de não acesso a um direito

como cidadão e previsto na constituição, mas dá-se num contexto mais amplo de

exclusão social e cultural, e que, em grande medida, condicionará também as

possibilidades de re-inclusão que se farão nessa nova (ou primeira) oportunidade de

escolarização.

A marca da exclusão estabelecerá um jogo de tensões bastante mais conflituoso

do que aquele estabelecido pelas propostas, realizações e avaliações realizadas na

Educação Básica para crianças e adolescentes. Este jogo de interesses pode ser atribuído

à falta de consenso entre os envolvidos com esta modalidade de ensino na determinação

das decisões e práticas pedagógicas na EJA, principalmente quando os jovens e adultos

são trabalhadores, pobres, negros, subempregados, oprimidos e excluídos. (Fonseca,

2005)

Segundo Ferrari (2002), a maior demanda de jovens pelos cursos de EJA traz,

como conseqüência, a dificuldade de o professor atender num mesmo espaço e tempo

diferentes níveis de conhecimento e ritmos de aprendizagens. Em geral, as falas dos

professores apontam para aceitação do aluno adulto, reconhecendo e valorizando o

esforço diário para permanecer no curso, o esforço para aprender, para responder às

tarefas e à manutenção da relação hierárquica professor X aluno, no respeito com que o

adulto trata o mestre. Quando se trata de adolescentes, entretanto, as inquietações são

muitas: evidencia-se a dificuldade de lidar com a disciplina com a falta de motivação e

de envolvimento do aluno nas tarefas escolares.

Ainda em Ferrari (2002) encontramos que a Educação de Jovens e Adultos

apresenta hoje uma identidade que a diferencia da escolarização regular e essa

diferenciação não nos remete apenas a uma questão de especificidade etária, mas,

4

primordialmente, a uma questão de especificidade sócio-histórico-cultural. Os novos

rumos da Educação Brasileira enfatizam a difusão dos valores de justiça social e dos

pressupostos da democracia, do respeito à pluralidade fundados à crença na capacidade

de cada cidadão ler e interpretar a realidade, conforme sua própria experiência, o que

exige reorientar o olhar para propostas educativas que incluam o desenvolvimento do

ser humano de forma integrada e completa, no atendimento de suas necessidades

cognitivas, afetivas, motoras e sociais.

De acordo com Oliveira (1999a), desta maneira a Educação de Jovens e Adultos

não deve ser caracterizada apenas pela idade dos alunos que dela se beneficiam, mas

principalmente, pela caracterização sociocultural de seu público. Sob esta perspectiva, é

primordial que a educação para estes jovens e adultos se conduza principalmente no

sentido da reinserção social destes indivíduos.

Essa mesma autora diz que o tema “educação de pessoas jovens e adultas” não

nos reporta apenas a uma questão etária, mas principalmente a uma questão de

especificidade cultural. Assim, apesar da classificação por idade (jovens e adultos são,

basicamente, “não crianças”), esse ramo da educação não diz respeito a ações

educativas dirigidas a qualquer jovem ou adulto, mas a um determinado grupo de

pessoas relativamente homogêneo no interior da diversidade de grupos culturais da

sociedade contemporânea.

O adulto, no âmbito da educação de jovens e adultos, não é o estudante

universitário, o profissional qualificado que freqüenta cursos de formação continuada ou

de especialização, ou a pessoa adulta interessada em aperfeiçoar seus conhecimentos.

Ele é geralmente o migrante que chega às grandes metrópoles proveniente de áreas

rurais empobrecidas, filho de trabalhadores rurais não qualificados e com baixo nível de

instrução escolar (muito freqüentemente analfabetos), ele próprio com uma passagem

curta e não sistemática pela escola e trabalhando em ocupações urbanas não

qualificadas, após experiência no trabalho rural na infância e na adolescência, que busca

a escola extemporaneamente para alfabetizar-se ou cursar algumas séries do ensino

supletivo.

Para Oliveira (1999a) o jovem que freqüenta este território da antiga educação

de adultos há pouco tempo, não é aquele com uma história de escolaridade regular, o

vestibulando ou o aluno de cursos extracurriculares em busca de enriquecimento

pessoal. Não é também o adolescente com as características psicológicas que consta nos

5

compêndios de psicologia do desenvolvimento. Ele é também um excluído da escola,

porém geralmente incorporado aos cursos supletivos em fases mais adiantadas da

escolaridade, com maiores chances, portanto, de concluir o ensino fundamental ou

mesmo o ensino médio. Além disso, é bem mais integrado ao mundo urbano, envolvido

em atividades de trabalho e lazer mais relacionadas com a sociedade letrada,

escolarizada e urbana. Refletir sobre como esses jovens e adultos pensam e aprendem

envolve, portanto, trilhar pelo menos por três situações que contribuem para a definição

de seu lugar social: a condição de “não-crianças”, a condição de excluídos da escola e a

condição de membros de determinados grupos culturais.

Ainda de acordo com esta autora, com relação à condição de “não-crianças”, a

literatura a respeito é esparsa, uma vez que os compêndios a este respeito versam em

geral sobre as características psicológicas de crianças e adolescentes e consideram a

vida adulta como um período onde já existe estabilidade e a ausência de mudanças não

explorando sobre o modo como o adulto adquire conhecimento, ou seja, como ele

aprende.

Com relação ao funcionamento intelectual do adulto, Palácios (1995) afirma-nos

que, segundo a literatura, as pessoas, de forma geral, mantêm um bom nível de

competência cognitiva até uma idade avançada. Os psicólogos evolutivos estão, por

outro lado, cada vez mais convencidos de que o que determina o nível de competência

cognitiva das pessoas mais velhas não é tanto a idade em si mesma, mas uma série de

fatores de natureza diversa, tais como, o nível de saúde, o nível educativo e cultural, a

experiência profissional e o tônus vital da pessoa. É esse conjunto de fatores e não a

idade cronológica em si o que determina as probabilidades de êxito que as pessoas

apresentam, ao enfrentar as diversas demandas de natureza cognitiva.

Quanto aos fatores psicológicos, Oliveira (1999a) nos diz que embora não exista

uma extensa literatura que trate da psicologia do adulto e a construção de tal psicologia

esteja, necessariamente, ligada a fatores culturais, podemos relacionar algumas

características dessa etapa da vida que distinguiriam, de maneira geral, o adulto da

criança e do adolescente. O adulto está incluído no mundo do trabalho e das relações

interpessoais de um modo diferente daquele da criança e do adolescente. Traz consigo

uma longa história de experiências, conhecimentos acumulados e reflexões sobre o

mundo externo. Em relação à participação em situações de aprendizagem, o adulto traz

consigo diferentes habilidades e dificuldades, diferentemente da criança e,

6

provavelmente, maior capacidade de reflexão sobre o conhecimento e sobre seus

próprios processos de aprendizagem.

No entanto, devemos cuidar para não tratar o adulto de uma forma estereotipada,

muito provavelmente correspondente ao homem ocidental, urbano, branco, pertencente

a camadas médias da população, com um nível instrucional relativamente elevado e

com uma inserção no mundo do trabalho em uma ocupação razoavelmente qualificada.

O adulto que procura pela Educação de Jovens e Adultos foge muito deste estereótipo

do adulto escolarizado.

Com efeito, segundo Oliveira (1999a), a pesquisa em Educação de Jovens e

Adultos não é apenas deficitária em relação à diversidade e à relevância de suas

questões, como também são raros os estudos que poderiam subsidiar, em particular no

campo da psicologia, de onde se poderia esperar contribuições, por exemplo, para a

caracterização dos processos cognitivos da vida adulta.

Levando em consideração estes aspectos, elegemos o ensino da Geometria para

alunos da modalidade EJA para pesquisar e tentar contribuir de alguma forma com os

professores de matemática que trabalham com esta modalidade de ensino.

Na parte de revisão teórica procuramos analisar um pouco a educação de

adultos, verificar porque é importante que se aprenda matemática e quais a

competências necessárias para que um aluno aprenda geometria, a seguir, verificamos o

que diz a literatura oficial sobre o ensino da matemática, iniciando pela análise dos

Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental (PCNs), o relatório do

Encontro Nacional de Certificação de Competências de Jovens e Adultos (ENCCEJA) e

de um documento emitido pela Secretaria Municipal de Educação.

Por último, fizemos um estudo sobre o que dizem Piaget, Gómez-Granell e o

casal Van Hiele (1994) sobre a aprendizagem da matemática, como o aluno transforma

os símbolos geométricos em elementos significantes e ainda quais níveis de

aprendizagem ele adquire à medida que adquirem significado (ou fazem sentido) para a

sua aprendizagem.

Segundo uma metodologia de caráter qualitativo, a pesquisa desenvolveu-se

dentro dos princípios da fenomenologia de caráter etnográfico.

Os dados foram coletados no contexto de uma instituição de ensino municipal

chamada CIEJA, os sujeitos da pesquisa foram a professora de matemática de uma

turma de alunos do Módulo III e a própria turma e os instrumentos utilizados foram as

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oficinas de geometria que faziam parte de uma seqüência didática e duas atividades

aplicadas a três alunas desta turma de alunos, escolhidas aleatoriamente.

Por fim, as conclusões têm um caráter provisório, dado a natureza introdutória

de um trabalho de especialização, mas procuramos evidenciar vários elementos

relevantes da EJA que foram identificados e podem ser objetos de novas investigações.

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Andragogia: a educação de adultos

Segundo Oliveira (2007) a Educação de Adultos é uma prática tão antiga quanto

a história da raça humana, ainda que só recentemente ela tenha sido objeto de pesquisa

científica. A nossa herança judaico-cristã ocidental, por exemplo, com cerca de dois mil

anos, apresenta na Bíblia Sagrada, fartos exemplos de relacionamento educacional

adulto.

Temos outros exemplos, na antiguidade, de personagens que foram educadores

de adultos. Podemos citar, entre outros, Confúcio e Lao Tse na China; Aristóteles,

Sócrates e Platão na Grécia antiga e Cícero, Evelid e Quintillian na antiga Roma. Estes

pensadores usavam do processo da indagação que levava os alunos a pensar e refletir

sobre os fatos aprendidos ao invés de usar do recurso da transmissão simples e pura de

conhecimentos, ou seja, suas técnicas para o ensino levavam os indivíduos à indagação

para a resolução dos desafios propostos por seus mestres.

A partir do século VII, surgem na Europa as escolas para o ensino de crianças

que tinha como objetivo preparar jovens para o serviço religioso. Nestas escolas os

professores ensinavam às crianças a doutrina da igreja.

Com a falta de estudos aprofundados que trouxessem subsídios para a educação

em outras faixas etárias, toda a educação não só escolar como empresarial também, foi

organizada baseada nestas idéias do século VII.

Muito influenciado por John Dewey, em 1926, Eduard C. Lindeman publicou

um trabalho chamado "The Meaning of Adult Education" que foi uma das maiores

contribuições para a educação de adultos.

Segundo Lindman a educação de adultos devia ser organizada através de

situações e não de disciplinas, sendo que estas deveriam ser introduzidas apenas quando

necessário. Os textos e os professores tinham um papel secundário neste tipo de

educação, a importância maior deveria ser dada ao aprendiz.

Lindman ressaltava que um aspecto importante no professor de adultos era a

humildade. Dizia que o conhecimento trazido pelo professor e a experiência trazida pelo

adulto deveriam, unidas propiciar, aprendizagem tanto para o professor como para o

aluno adulto.

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Nosso sistema acadêmico se desenvolveu numa ordem inversa:

assuntos e professores são os pontos de partida, e os alunos são

secundários. (...) O aluno é solicitado a se ajustar a um currículo

pré-estabelecido. (...) Grande parte do aprendizado consiste na

transferência passiva para o estudante da experiência e

conhecimentos de outrem (...) nós aprendemos aquilo que nós

fazemos. A experiência é o livro-texto vivo do adulto aprendiz.

(Linderman, 1926, p.01)

Após Lindman, outros estudiosos se destacaram ao estudar como o adulto

aprende e contribuíram para o que hoje temos na EJA. Entre eles, destacamos: Abraham

H. Maslow e o psicoterapeuta Carl R. Rogers. Estes e outros pesquisadores deram

suporte para o desenvolvimento da Andragogia como ciência da educação do adulto.

Segundo Goecks (2003), andragogia significa “ensino para adultos”. Um ramo

da pedagogia que busca compreender o adulto como um ser psicológico, biológico e

social. Ela tem em vista promover o aprendizado através da experiência, fazendo com

que a vivência estimule e transforme o conteúdo em busca da assimilação. É o famoso

“aprender fazendo”.

A andragogia dá muita importância à experiência no aprendizado. Segundo ela, a

educação deve transformar o que já sabemos e não transmitir o que é sabido. Na

essência, é um estilo de vida sustentado a partir de concepções de comunicação, respeito

e ética, através de um alto nível de consciência e compromisso social.

Considerando o mundo em que vivemos hoje, em pleno século XXI, um mundo

onde as mudanças são rápidas, o estudo da andragogia torna-se cada vez mais

necessário não só na educação escolar, mas também na educação empresarial onde a

formação e a atualização de conhecimentos torna-se cada vez mais necessária.

Concluiremos este tópico com duas frases de Paulo Freire: em “Pedagogia do

Oprimido” ele diz: Ninguém educa ninguém, nem ninguém aprende sozinho, nós seres

humanos aprendemos através do mundo. Em “Pedagogia da Autonomia” ele diz:

Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção

ou a sua construção.

No caso da nossa pesquisa, temos o foco no aluno adulto que traz consigo uma

bagagem de conhecimento adquirida ao longo da sua vida e que não pode ser descartada

10

pelo professor. A nossa proposta é buscar as dificuldades de ensino da geometria a este

aluno e propor novas possibilidades pedagógicas, no formato de atividades para que este

aluno tenha a possibilidade de voltar a estudar com sucesso e que as aulas de geometria

auxiliam a formação deste aluno como cidadão.

11

Por que e para que aprender matemática?

"A Matemática é o alfabeto com o qual Deus

escreveu o Universo”. (Galileu Galilei)

De acordo com Neves e Carvalho (2007), a Matemática é um veículo para a

construção de novas perspectivas e convicções e que colabora para que se conheça a

realidade, a cultura e a sociedade. Ela ajuda as pessoas a serem mais conscientes e

críticas, pois estas, na sua aprendizagem, descobrem mais sobre si mesmas, sobre a sua

realidade e sobre o mundo. Tornam-se capazes de fazer melhores julgamentos e de

tomar decisões. Aprendem a duvidar e a perguntar, a ouvir opiniões, compará-las e

respeitar o direito de escolha de cada pessoa.

Vamos abordar alguns pontos que indicam a importância de se aprender

matemática.

• Ela contribui para o desenvolvimento de atitudes solidárias, de co-

responsabilidade e de tolerância.

• Possibilita o desenvolvimento de pensamento e sua aplicação na solução

de problemas do dia-a-dia.

• Favorece a realização de atividades ligadas ao mundo do trabalho.

• Permite o acesso a diferentes áreas do conhecimento.

Segundo Almeida e outros, a Matemática é uma disciplina com características

muito próprias. Para estudar Matemática é necessária uma atitude especial, assim como

para o ensino não basta conhecer, é necessário criar. A Matemática é utilizada

praticamente em todas as áreas: na Economia, na Informática, na Mecânica, na Análise

Financeira, entre tantas outras. Na nossa sociedade as ciências e as técnicas evoluem de

maneira muito rápida, e a Matemática é um instrumento muito valioso para se

acompanhar a crescente complexidade dos conceitos teóricos que se tornam necessários

para acompanhar o progresso das tecnologias. Desta maneira surge a necessidade de

uma Matemática cada vez mais forte donde vem que a ciência Matemática é ensinada

nos nossos dias em quase todo o mundo civilizado.

A Matemática é, sem dúvida, o ramo da ciência que melhor permite analisar o

trabalho da mente e desenvolver um raciocínio que se aplica ao estudo de qualquer

12

assunto ou temática. Contudo, pela criação de hábitos mentais de que dificilmente nos

conseguimos libertar, muitas são as dificuldades que os jovens encontram no seu

estudo.

Da mesma forma, todas estas noções aparecem como se sempre tivessem

existido no pensamento humano, originando-se não se sabe como, sem que todos se

apercebam de que ela foi, e continua a ser uma constante e inacabada criação do ser

humano.

São muitos os problemas do mundo antigo que ainda hoje não têm solução e, por

isso, constituem fontes incessantes de novos conceitos. Apesar de sempre evoluir, é

notório o desenvolvimento da Matemática no século XX.

Almeida (1993) acrescenta que ensinar Matemática sem explicitar a origem e as

finalidades dos conceitos é contribuir para o insucesso escolar. Sendo um dos objetivos

fundamentais da educação criar no aluno competências, hábitos e automatismos úteis,

bem como desenvolver capacidades, ele diz ainda é urgente implementar uma moderna

educação Matemática, a qual estará relacionada com programas e métodos de ensino - o

professor deve saber o que ensinar, o modo como o fazer e o porquê do que ensina.

Hoje, o ensino da matemática na Educação Fundamental é organizado em quatro

grandes blocos temáticos: números e operações, espaço e forma, grandezas e medidas e

tratamento da informação. Dado o caráter de um trabalho de especialização optamos,

nesta pesquisa a nos restringir em espaço e forma, ou seja, no ensino da geometria.

13

Geometria e o seu Ensino

No início dos anos 2000, as secretarias da educação do Município e do Estado de

São Paulo preocupados com a formação dos professores da primeira etapa do Ensino

Fundamental que ainda não tinham graduação universitária, organizaram em conjunto

com a Universidade de São Paulo (USP), com a Universidade Estadual Paulista

(UNESP) e com a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC) organizaram

um programa intitulado PEC – Formação Universitária que formou estes professores

melhorando a qualidade de ensino das escolas públicas desta cidade e deste estado.

De acordo com a apostila de matemática utilizada por esse curso vamos

relacionar, a seguir, aspectos sobre o ensino da geometria no Ensino Fundamental.

Observando a natureza e os diversos objetos criados pelo homem, notamos que a

geometria está em todos os lugares.

Desde a antiguidade, a humanidade construiu conhecimentos de Geometria,

como mostram, por exemplo, suas construções. As pirâmides do Egito revelam o alto

grau de conhecimento que os egípcios tinham da Geometria.

A palavra Geometria é derivada do grego geo que significa terra e metria, que

significa medida. Assim, traduzindo ao pé da letra, temos que geometria deveria

significar medida de terra. Esta palavra surgiu devido à primeira utilização da

geometria de que se tem conhecimento: a medida das terras próximas ao rio Nilo, no

Egito Antigo, para que os homens daquela época pudessem desenvolver a agricultura

nestes locais.

Como a geometria pode ser representada através de figuras, seus conceitos

podem ser facilmente entendidos pelos alunos quando o professor usa de situações-

problemas e de elementos concretos para o ensino desta disciplina. Os Parâmetros

Curriculares Nacionais (PCNs) sugerem que o enfoque dos conceitos geométricos esteja

articulado ao enfoque dos conceitos de números e medidas e a melhor maneira de se

cumprir esta sugestão é através de problemas da vida real do estudante, seja ele criança,

jovem ou adulto.

Porém, analisando os livros didáticos tradicionais, a geometria é deixada sempre

para a parte final destes, o que facilita com que o professor deixe este conteúdo para o

final do período letivo e acabe, na maioria das vezes deixando-o de lado, além de que

14

dificilmente faz esta inter-relação entre a geometria e as outras áreas da matemática não

usando desta ferramenta que tanto facilitaria a seu trabalho.

Outro aspecto positivo do estudo da Geometria é que este pode ajudar no

desenvolvimento da criatividade na medida em que o professor estimula seus alunos a

buscar novos caminhos para a solução de problemas e cria condições para que os alunos

comuniquem suas idéias. De acordo com os PCNs é importante permitir ao aluno “que

as definições e as propriedades surjam de suas observações, mesmo que inicialmente

imperfeitas, para, depois, por reformulações sucessivas, obter a forma final, formal e

concisa”

Montar e desmontar, compor e decompor figuras, recortar, dobrar, pintar, etc.

são atividades que favorecem o desenvolvimento da criatividade dos alunos, bem como

a compreensão de conceitos e princípios geométricos.

Desde o início da alfabetização podemos nos apropriar dos conhecimentos

anteriores dos estudantes quanto a figuras planas e figuras espaciais ligadas ao seu

cotidiano levando-os ao desenvolvimento da percepção e à discriminação de formas.

Explorando estes objetos tridimensionais, o estudante pode distinguir figuras planas e

não-planas, bem como estudar os atributos definidores de figuras geométricas e suas

propriedades.

No processo de ensino e de aprendizagem é muito importante a presença de

exemplos para serem fornecidos aos alunos e que também que sejam obtidos deles, para

evitar erros de generalização. O professor deve evitar dar exemplos com modelos únicos

para que o aluno não pense que apenas naquela situação vale a definição. Por exemplo,

ao apresentarmos o conceito de triângulo deve-se exemplificar com vários triângulos,

diferentes entre si quanto ao tamanho dos lados e quanto ao tamanho dos seus ângulos.

15

O Ensino da Matemática na EJA

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

(UNESCO) é um ramo da Organização das Nações Unidas (ONU), fundada em 16 de

Novembro de 1945, com o objetivo de contribuir para a paz e segurança no mundo

mediante a educação, a ciência, a cultura e as comunicações.

Em 1990, a UNESCO começou o Movimento Educação Para Todos1 que é um

compromisso mundial para promover uma educação básica de qualidade a todas as

crianças e a todos os jovens e adultos. Esse movimento se iniciou durante a Conferência

Mundial sobre a Educação para Todos que ocorreu nesse ano em Jomtien na Tailandia.

Nesta conferência, delegados de 155 países além de representantes de

Organizações Não-governamentais destes países tiraram metas para a educação mundial

para os dez anos seguintes que tinham como principal objetivo tornar a educação

primária acessível a todas as crianças do mundo.

Para que esse objetivo fosse alcançado foram traçadas algumas estratégias a

serem seguidas, principalmente pelos países em desenvolvimento. Inspirado nestas

estratégias a Secretaria Municipal de Educação da Cidade de São Paulo lançou as três

primeiras proposições a seguir e acrescentou a quarta.

Estas proposições foram sugeridas por um documento lançado pela Divisão de

Orientação Técnica da Educação de Jovens e Adultos (DOT-EJA) da Secretaria

Municipal de Educação, intitulada: Coleção Círculos de Formação, na qual o livro 3

trata especificamente de Matemática e é intitulado Mergulhados em Números: A

Matemática na EJA em São Paulo (2004).

Primeira proposição: Aprender é um processo

A educação tem início no momento em que nascemos e se estende por toda a

vida. Isso quer dizer que as pessoas, inclusive os educadores e os educandos, estão

sempre aprendendo. E aprendendo nas mais variadas situações. Isso implica considerar

que: além de conhecimentos e representações sobre situações vividas ou observadas,

jovens e adultos pouco ou não escolarizados possuem valores, atitudes e crenças 1 Em 2000, A UNESCO, percebendo que o objetivo traçado para 10 anos não seria atingido por muitos países, promoveu uma nova reunião em Dacar (Senegal) e reiterou seu compromisso de promover educação para todos até 2015.

16

construídas em seus percursos, pessoais; a educação e o processo de aprendizagem

ocorrem em diferentes momentos da vida das pessoas, na interação com os outros.

Segunda proposição: Aprender deve ter significado para os

envolvidos no processo

O processo educativo deve estar conectado às necessidades básicas das

populações, portanto, os conteúdos ensinados e as aprendizagens esperadas devem levar

em conta o que os jovens e os adultos precisam saber para viver de maneira plena; as

escolhas sobre o que ensinar devem buscar soluções para os problemas do contexto em

que vivem os educandos; as necessidades de aprendizagem das pessoas devem ser

investigadas pelos educadores a partir do conhecimento da vida de seus educandos e da

realidade dos locais em que vivem, tal investigação também deve ser feita pelos

próprios educandos a partir da identificação dos problemas que os afetam e da busca de

soluções para eles.

Terceira proposição: aprender é o foco do processo educativo

A aprendizagem deve ter lugar central no processo educativo. Desta maneira, o

educador deve criar variadas oportunidades de aprendizagem, em vez de cumprir listas

de conteúdos e de reproduzir práticas de ensino tradicionais; valorizar os saberes

prévios que os jovens e adultos possuem e que são adquiridos em suas trajetórias de

vida e considerar que se aprende muito mais do que aquilo que se deseja ensinar.

Quarta proposição: o papel do educador é fundamental como

mediador do processo, assim deve possuir competências

específicas desta profissão

É necessário conhecer Matemática para poder conectá-la ao que os educandos

consideram necessário aprender e, com isso, informar, formando. Isso quer dizer que,

para fazer escolhas sobre quais aprendizagens são úteis e necessárias à vida e sobre

como a Matemática pode colaborar para o desenvolvimento pleno das pessoas, é preciso

que o educador conheça os objetos de que se ocupa a Matemática e possa adaptá-los

para alcançar a aprendizagem; que se estabeleçam conexões entre os conteúdos da

Matemática e o cotidiano, os saberes e as necessidades de aprendizagem dos educandos;

17

que se redefina o papel do educador, visto não mais como aquele que expõe e transmite

conhecimentos, mas como organizador das aprendizagens. Para desempenhar este papel,

ele precisa conhecer as condições de vida de seus educandos, o contexto em que vivem,

seus saberes prévios, suas expectativas e necessidades de aprendizagem. Assim, poderá

escolher conteúdos e atividades que possibilitem o alcance dos objetivos de

aprendizagem traçados. O educador também é animador do processo de aprendizagem.

Ele estimula a comunicação, a sistematização e a formulação de propostas por parte dos

educandos e a cooperação entre todos; e finalmente que se redefina o papel do

educando, para que ele seja capaz de fazer escolhas sobre o que quer aprender, a partir

de seus saberes prévios e de suas reais necessidades. Ele deixa de ser aquele que nada

sabe, capaz somente de receber informações produzidas, para ocupar um lugar central

nas escolhas sobre o que e como estudar, compartilhando este lugar com os educadores.

Considerando estas quatro proposições como eixos orientadores para elaboração

de programas pode-se sugerir que o ensino da Matemática para Jovens e Adultos seja

elaborado levando-as em consideração e é a partir delas que analisaremos a seguir o que

nos diz a literatura oficial a respeito do ensino da matemática, em particular da

geometria e logo após, estudaremos algumas teorias e propostas que analisam como o

aluno aprende Matemática e o papel do professor neste aprendizado.

Ao final do trabalho usaremos esta literatura estudada para analisar a prática de

uma professora de EJA e o desempenho dos seus alunos com o intuito de melhorar a

prática da professora e a aprendizagem destes alunos.

18

A Legislação Oficial e o Ensino da Matemática

Com o intuito de situar o que se espera que o aluno aprenda na disciplina de

matemática, particularmente em geometria, desenvolvemos um breve panorama dos

documentos oficiais que regem o currículo.

O primeiro documento a ser analisado são os Parâmetros Curriculares Nacionais

para o Ensino Fundamental (PCNs), em seguida analisaremos um dos documentos que

resultaram do Encontro Nacional de Certificação de Competências de Jovens e Adultos

(ENCCEJA) e por último analisaremos um documento que a Secretaria Municipal de

Educação da Cidade de São Paulo enviou às escolas municipais dessa cidade no início

de 2007 e que diz o que essa secretaria espera que os professores dessas escolas

ensinem na disciplina de Matemática para os alunos do Ensino Fundamental.

Faremos estas análises sempre com o foco nos conteúdos de geometria.

A Matemática no Ensino Fundamental Segundo os PCNs “Não se pode ensinar alguma coisa a alguém, pode-se

apenas auxiliar a descobrir por si mesmo”. (Galileu

Galilei)

Faremos a seguir um breve relato sobre o que dizem os Parâmetros Curriculares

Nacionais (PCNs) sobre o Ensino da Matemática no Ensino Fundamental.

Após muitas discussões ocorridas tanto dentro como fora do Brasil a respeito do

crescente uso da matemática, nos diversos ramos de atividades da vida moderna,

chegou-se à conclusão de que seria necessária sua adequação à nova sociedade que vem

se formando. Estas discussões geraram análises e revisões no Currículo da Matemática

no Ensino Fundamental.

Para entender melhor estas novas propostas é necessário conhecer a trajetória

das reformas curriculares ocorridas nos últimos anos e também analisar brevemente o

quadro atual de ensino de Matemática no Brasil.

19

O ensino da matemática no Brasil sempre teve um caráter elitista2 e mesmo as

reformas curriculares que aconteceram a partir dos anos 1920 não tiveram força

suficiente para mudar este quadro. A prática dos professores de matemática continuou

sendo elitista e com um alto índice de retenção, apesar das mudanças propostas a cada

reforma que ocorria. Ainda hoje a prática docente nessa área é marcada pela

formalização precoce de conceitos, pela excessiva preocupação com o treino de

habilidades e mecanização de processos sem compreensão.

A partir dos anos de 1960/1970, surge o movimento da Matemática Moderna

que influencia o ensino da matemática não só no Brasil como em outros países também.

A Matemática Moderna surgiu atrelada a uma política de modernização econômica em

que, juntamente com o ensino de Ciências, ela constituía uma via de acesso para o

pensamento científico e tecnológico. Desta maneira, para atingir estes objetivos

procurou-se aproximar a matemática desenvolvida na escola à matemática vista pelo

ângulo de estudiosos e pesquisadores.

Com esta proposta, a matemática passa a fundamentar-se em grandes estruturas

que organizam o conhecimento matemático contemporâneo com ênfase na teoria dos

conjuntos, nas estruturas algébricas, na topologia, etc. A partir deste movimento muitas

discussões e reformas curriculares surgiram não só no Brasil como em muitos outros

países do mundo.

Apesar de toda esta discussão e de todas estas propostas de reformas, deixou-se

de considerar o principal: este currículo estava fora do alcance dos alunos, em geral,

principalmente dos alunos das séries iniciais do Ensino Fundamental e o excesso de

formalização necessário para este tipo de ensino fez com que a Matemática se

distanciasse cada vez mais das questões práticas da vida. A linguagem da teoria dos

conjuntos, por exemplo, dá ênfase ao uso de símbolos e a sua terminologia complexa

compromete o aprendizado do cálculo aritmético, da geometria, das medidas e de outros

tópicos relacionados com estes.

No Brasil, o movimento Matemática Moderna, que era levado para os

professores e alunos principalmente pelos livros didáticos, teve grande influência,

durante longo período, só gerando discussões a respeito depois de algum tempo a partir

2 Entendemos por educação de caráter elitista aquela educação que é para poucos, que tem características que levam os alunos a desistir de estudar seja abandonando a escola, seja apenas freqüentando-a sem aprender somente a espera do diploma que a progressão continuada uma dia lhe dará.

20

da constatação de inadequação de alguns de seus princípios básicos e das distorções e

dos exageros ocorridos.

Em 1980, o National Council of Teachers of Mathematics (NCTM) dos Estados

Unidos apresentou recomendações para o ensino de Matemática no documento “Agenda

para Ação 2”. Nele, o foco do ensino da Matemática volta-se para a resolução de

problemas para os anos 80. Este documento trazia também uma tendência à

compreensão da relevância de aspectos sociais, antropológicos, lingüísticos, além dos

cognitivos, na aprendizagem da Matemática e imprimiu novos rumos às discussões

curriculares nesta área de conhecimento.

Essas idéias influenciaram as reformas que ocorreram em todo o mundo, a partir

de então. As propostas elaboradas no período 1980/1995, em diferentes países,

apresentaram pontos em comum, como:

• O ensino da Matemática passa a ser visto como o caminho para a aquisição de

competências básicas necessárias à formação de cidadãos e não apenas voltadas

para a preparação de estudos posteriores;

• O papel do aluno passa a ser de suma importância na construção do seu

conhecimento;

• Enfatiza-se muito a resolução de problemas, na exploração da Matemática a

partir dos problemas vividos no cotidiano e encontrados nas várias disciplinas;

• Passa a ser importante o trabalho com uma quantidade maior de conteúdos,

incluindo já no ensino fundamental, por exemplo, elementos de estatística,

probabilidade e combinatória para atender à demanda social que indica a

necessidade de abordar esses assuntos;

• Considera-se a necessidade de levar os alunos a compreender a importância do

uso da tecnologia e a acompanhar sua permanente renovação.

No Brasil, essas idéias vêm sendo discutidas e algumas aparecem nas propostas

curriculares de Secretarias de Estado e Secretarias Municipais de Educação, sendo que

temos exemplos de experiências bem sucedidas nesse sentido. No entanto, é importante

salientar que ainda hoje nota-se, por exemplo, a insistência no trabalho com a

linguagem da teoria dos conjuntos nas séries iniciais, a formalização precoce de

conceitos, o predomínio absoluto da Álgebra nas séries finais e as poucas aplicações

práticas da Matemática no Ensino Fundamental.

21

A análise das propostas curriculares oficiais, realizada em 1995 pela Fundação

Carlos Chagas, mostra-nos que algumas propostas curriculares estaduais e municipais

elaboradas recentemente ainda sofrem a influência desta proposta tecnicista. Nelas, a

Fundação concluiu que os currículos se dividem em duas grandes famílias: os que são

baseados totalmente na Teoria dos Conjuntos e os que reduziram seu uso ao mínimo.

No entanto, estas propostas curriculares mais recentes ainda são desconhecidas

da maioria dos professores que também não têm conhecimento claro sobre quais fatores

motivaram as reformas. O que se vê, em geral, são ótimas e inovadoras idéias ficarem

no papel, não serem incorporadas ou ainda serem incorporadas de maneira superficial e

inadequada pelos professores, fazendo com que as mudanças desejadas não ocorram ou

ocorram apenas parcialmente.

Quadro Atual do Ensino de Matemática no Brasil

Muitos são os obstáculos que o Brasil tem enfrentado em relação ao ensino da

Matemática, entre eles estão: falta de uma formação profissional qualificada, restrições

ligadas às condições de trabalho, ausência de políticas educacionais efetivas e

interpretações equivocadas de concepções pedagógicas.

Porém, muito tem sido feito para melhorar esta situação, muita coisa inclusive

com sucesso. Algumas escolas têm elaborado projetos educativos que atendem os

interesses e necessidades da comunidade. Existem também professores que com

iniciativas individuais ou em pequenos grupos vão à busca de conhecimentos que levam

à reflexão e ao desenvolvimento de práticas pedagógicas mais eficientes para ensinar

Matemática.

Em paralelo a isso, algumas universidades, secretarias da educação e outras

instituições têm se preocupado em elaborar materiais de apoio para a prática do

professor. Mas, essas iniciativas, embora de grande valor pedagógico, não chegaram

ainda a alterar de modo favorável o quadro do ensino da Matemática no Brasil. A

formação inicial e a formação continuada do professor de matemática ainda é

insatisfatória, o que leva estes professores a se apoiar quase que exclusivamente nos

livros didáticos que, em muitos casos, não possuem a qualidade necessária para servir

de apoio para boas aulas.

Outro aspecto que é responsável pela baixa qualidade das aulas de matemática é

a interpretação equivocada de concepções pedagógicas inovadoras que aparecem em

22

muitas destas novas propostas. Por exemplo, a resolução de problemas que é o eixo

norteador da maioria destas novas propostas ainda é usada de maneira inadequada na

forma de listas enormes que usam única e exclusivamente a aplicação de técnicas e a

memorização de conceitos que são aplicadas paralelamente ao ensino tradicional.

Outro equívoco que se apresenta com freqüência é a concepção linear do ensino

da matemática, que, por vezes traz dúvidas quanto ao ponto de partida para e ensino dos

conteúdos e que leva à opção pelos fundamentos de cada teoria e que, no caso da

geometria, usa como referência inicial as noções de ponto, reta e plano, noções estas

que exigem demais da abstração do aluno além de dificilmente se ligarem aos

conhecimentos anteriores ligados à vida do aluno.

Algumas recomendações são feitas aos professores no sentido de que os

conteúdos sejam selecionados de modo a potencializar a aprendizagem das idéias

fundamentais para a instrumentação para a vida ou ainda para desenvolver a forma de

pensar do aluno, mas nem sempre são observadas pelos mesmos. Outra recomendação

que muitas vezes não é acatada é sobre a organização dos conteúdos que não deveriam

ser organizados de forma hierarquizada e pela idéia de pré-requisitos, ou ainda de forma

isolada, apresentados e esgotados em um único momento. O ideal seria que os

conteúdos de matemática fossem desenvolvidos por etapas ao decorrer do curso,

aprofundando-se a cada retomada sempre fundamentado e atrelado às vivências

anteriores do aluno e fazendo-se conexões com outros conhecimentos do dia-a-dia,

construindo, desta forma significados.

Outra questão a ser analisada é a que diz respeito à contextualização dos

conteúdos que não deve se limitar às atividades do dia-a-dia do aluno, ma também deve

ser realizada em conexão com outros aspectos da própria matemática ou ainda de outros

ramos da ciência, da história e do conhecimento em geral.

O ensino da História da Matemática também é de vital importância para

proporcionar o entendimento mais amplo dos conteúdos matemáticos e suas aplicações.

Ela deveria se tornar um assunto específico a ser tratado nas aulas de matemática, ou

seja, um dos conteúdos a fazer parte do planejamento nesta disciplina tomando-se o

cuidado de não limitá-la a ser apenas a apresentação de fatos ou biografias de

matemáticos famosos.

O uso de recursos didáticos também deve ser melhor especificado nas propostas

curriculares pois nem sempre são claras aos olhos dos professores gerando, muitas

23

vezes expectativas indevidas e resultados finais desastrosos quanto ao desempenho dos

alunos nesta disciplina.

Levando-se em consideração as provas aplicadas pelo Sistema Nacional de

Avaliação Escolar da Educação Básica (SAEB) nos anos de 1993 e 1995, o desempenho

na disciplina de matemática diminui quando aumenta o número de anos de

escolarização destes alunos o que nos leva a concluir que no ensino da matemática

existem problemas antigos e problemas novos a serem resolvidos, ou seja, não basta que

sejam feitas novas propostas de ensino se elas não forem aplicadas adequadamente.

O conhecimento matemático

Para que possamos propor um currículo de Matemática no Ensino Fundamental

é necessário inicialmente discutir a natureza desse conhecimento e refletir acerca de

suas principais características e de seus métodos particulares, de modo a conhecer seu

papel no currículo a fim de contribuir para a formação da cidadania.

Principais características

A matemática é uma ciência viva que deve ser usada como forma de

compreender e atuar no mundo.

Existem duas maneira indissociáveis de se impulsionar o trabalho em

matemática: uma delas é pelas aplicações às mais variadas atividades humanas, desde as

mais simples na vida cotidiana até as mais complexas na elaboração de outras ciências e

a outra maneira de se impulsioná-la é a partir da especulação pura, ou seja, a busca de

respostas para questões geradas pela própria Matemática.

Além disso, o aspecto estético merece atenção, como nos trabalhos com o ensino

inicial de geometria onde sistemas abstratos ideais organizam-se e se inter-relacionam

revelando fenômenos do espaço, do movimento, das formas e dos números, associados

quase sempre a fenômenos do mundo físico.

Mudanças de paradigmas também surgem com a evolução destas teorias, como

ocorreu, por exemplo, quando se superou a visão de uma única geometria, a euclidiana,

com o surgimento dos modelos geométricos não-euclideanos que são logicamente

consistentes e que podem modelar a realidade do espaço físico.

24

Vale a pena lembrar que a matemática que conhecemos hoje surgiu no período

de 700 a.C. a 300 d.C. e que só atingiu a sua maturidade no final do século XIX, com o

surgimento da Teoria dos Conjuntos e o desenvolvimento da Lógica Matemática.

Convém também ressaltar que existem inúmeras teorias matemáticas que por

caminhos diferentes relacionam-se com o mundo físico, além de que o relacionamento

com o acaso tornou-se maior no mundo atual com o advento da era da informação e da

automação que tornaram os cálculos numéricos e algébricos mais rápidos e precisos, o

que aumentou as possibilidades de resolução de problemas que hoje podem ser

abordados e resolvidos usando-se o conhecimento matemático.

Objetivos gerais para o ensino fundamental

Segundo os PCNs (1998), as finalidades do ensino da Matemática visando a

construção da cidadania indicam como objetivos do ensino fundamental levar o aluno a:

• Identificar os conhecimentos matemáticos como meios para compreender e transformar o mundo à sua volta e perceber o caráter de jogo intelectual, característico da Matemática, como aspecto que estimula o interesse, a curiosidade, o espírito de investigação e o desenvolvimento da capacidade para resolver problemas;

• Fazer observações sistemáticas de aspectos quantitativos e qualitativos da realidade, estabelecendo inter-relações entre eles, utilizando o conhecimento matemático (aritmético, geométrico, métrico, algébrico, estatístico, combinatório, probabilístico);

• Selecionar, organizar e produzir informações relevantes, para interpretá-las e avaliá-las criticamente;

• Resolver situações-problema, sabendo validar estratégias e resultados, desenvolvendo formas de raciocínio e processos, como intuição, indução, dedução, analogia, estimativa, e utilizando conceitos e procedimentos matemáticos, bem como instrumentos tecnológicos disponíveis;

• Comunicar-se matematicamente, ou seja, descrever, representar e apresentar resultados com precisão e argumentar sobre suas conjecturas, fazendo uso da linguagem oral e estabelecendo relações entre ela e diferentes representações matemáticas;

• Estabelecer conexões entre temas matemáticos de diferentes campos e entre esses temas e conhecimentos de outras áreas curriculares;

• Sentir-se seguro da própria capacidade de construir conhecimentos matemáticos, desenvolvendo a auto-estima e a perseverança na busca de soluções;

• Interagir com seus pares de forma cooperativa, trabalhando coletivamente na busca de soluções para problemas propostos, identificando aspectos consensuais ou não na discussão de um assunto, respeitando o modo de pensar dos colegas e aprendendo com eles.

25

Seleção de Conteúdos

Atualmente, há consenso acerca dos currículos de Matemática para o Ensino

Fundamental devam contemplar o estudo dos números e das operações (no campo da

Aritmética e da Álgebra), o estudo do espaço e das formas (no campo da Geometria) e o

estudo das grandezas e das medidas (que permite interligações entre os campos da

Aritmética, da Álgebra, e da Geometria e de outros campos do conhecimento). Um

olhar mais atento para nossa sociedade mostra a necessidade de acrescentar a esses

conteúdos aqueles que permitam ao cidadão tratar as informações que recebe

cotidianamente, aprendendo a lidar com dados estatísticos, tabelas e gráficos e a

raciocinar utilizando idéias relativas à probabilidade e à combinatória.

O estudo do espaço e da forma é necessário, devido às possibilidades de

ocupação do espaço, com a localização e deslocamento de objetos no espaço, vistos sob

diferentes ângulos, em virtude de que situações cotidianas e também muitas profissões

como a engenharia, a arquitetura, a decoração, a bioquímica, a mecânica, etc., que

necessitam de um pensamento geométrico e da observação do espaço tridimensional.

No entanto, o ensino da geometria, na educação tradicional é deixado para

segundo plano e muitas vezes confundido com o ensino das medidas o que é ruim, haja

vista a possibilidade que ela proporciona de desenvolver um pensamento particular que

ajuda a compreender, organizar e descrever o mundo em que se vive. Além de ser um

campo fértil para o aprendizado a partir da resolução de situações-problemas devido ao

desenvolvimento da capacidade de argumentar e construir demonstrações.

A aprendizagem da geometria desenvolve as habilidades de percepção espacial,

de elaboração de um sistema de propriedades geométricas e também de uma linguagem

que permita agir nesse modelo e a permita codificação e decodificação de desenhos.

Para desenvolver estas habilidades, o documento sugere atividades tais como

elaboração de mapas geográficos fazendo a relação entre as coordenadas cartesianas e

as coordenadas geográficas, a confecção de maquetes tridimensionais e atividades de

classificação de figuras geométricas com base na observação de suas propriedades e

regularidades, além de atividades de ladrilhamentos, tangrans e poliminós, atividades

estas que num segundo momento servirão de trampolim para o estudo das medidas. O

uso de softwares específicos também é recomendado.

26

O estudo de temas geométricos possibilita ainda a exploração de interessantes

aspectos históricos uma vez que sabemos que a Geometria é um dos ramos mais antigos

da Matemática e que se desenvolveu em função de necessidades humanas.

Notamos que dentro dos PCNs não há um item específico que trate da seleção de

conteúdos para o ensino da geometria na modalidade EJA. No entanto há o documento

que surgiu durante o Encontro Nacional de Certificação de Competências de Jovens e

Adultos (ENCCEJA) que trata dessa modalidade de ensino e será analisado na

seqüência. Há também o documento expedido pela Secretaria da Educação da Cidade de

São Paulo e enviado para as escolas municipais desta cidade no início de 2007. Nesse

documento essa Secretaria discute o que espera que seja ensinado sobre matemática

nessas escolas. A partir destes três documentos procuraremos fazer uma adaptação dos

conteúdos e das atividades a serem utilizadas nas aulas de geometria na modalidade

EJA, uma vez que não existe um documento específico que trate deste assunto.

A Matemática segundo o ENCCEJA

Em 2002, o Ministério da Educação (MEC) e o Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) organizaram o Encontro Nacional de

Certificação de Competências de Jovens e Adultos (ENCCEJA) que gerou uma série de

documentos com referenciais para a Educação de Jovens e Adultos. Entre eles, temos o

Livro Introdutório: Documento Básico de onde tiraremos algumas diretrizes

relacionadas ao ensino da Matemática no Ensino Fundamental da EJA.

Segundo esse documento, o aprender matemática é um direito básico desses

jovens e adultos e, portanto o papel desta área de conhecimento é atender suas

necessidades individuais e sociais. A falta de domínio do pensamento matemática

dificulta o acesso às posições de trabalho, uma vez que a nossa sociedade depende cada

vez mais do conhecimento tecnológico.

Segundo o documento, quando se pensa a educação matemática e sua

apropriação por jovens a adultos com pouca escolarização, temos que:

• Jovens e adultos têm o direito de se apropriar de conhecimentos matemáticos

para não serem discriminados, inferiorizados;

• Jovens e adultos têm o direito de se apropriar de conhecimentos matemáticos, de

forma coerente e compatível com os saberes que construíram ao longo de sua

vivência.

27

Desta forma, a Matemática ensinada deve ter por um lado, um caráter prático

para que este sujeito possa utilizá-la nos problemas do seu dia-a-dia, e por outro lado

deve contribuir para o desenvolvimento do seu raciocínio lógico-matemático.

Quanto maior a quantidade de conhecimentos trabalhados com estes alunos,

maior será a contribuição no sentido de torná-los cidadãos inseridos na sociedade e no

mundo da tecnologia e do trabalho. Desta forma, não se deve restringir o ensino da

Matemática ao ensino da aritmética e a álgebra, mas também à geometria, ao estudo das

medidas e também a atividades que envolvam o raciocínio combinatório e probabilístico

e às análises estatísticas.

Além disso, o aluno deve adquirir competências que o levem a estimar

resultados e a usar a tecnologia disponível, como por exemplo, no uso das calculadoras

eletrônicas e do computador.

Um aspecto importante é o que envolve a contribuição das aulas de matemática

na aprendizagem e domínio da língua materna. Desta forma, sempre que possível, o

professor de Matemática deve apresentar situações onde o aluno deve ler e interpretar

problemas com situações matemáticas por meio do raciocínio e também sugerir que o

aluno elabore pequenos textos ou ainda relatórios, em que ele tenha que treinar o ler e o

escrever mesmo que esteja neste momento aprendendo Matemática.

Ao resolver problemas matemáticos, os alunos descobrem-se capazes de

raciocinar e encontrar soluções diante de desafios não só matemáticos, mas do seu

cotidiano também, possibilitando o exercício da cidadania em sua plenitude.

Concluindo, para dimensionar o papel da matemática na formação de um jovem

ou de um adulto é importante que se discuta, de um lado, a natureza desse

conhecimento, suas características principais e seus métodos particulares; de outro, é

fundamental discutir suas articulações com outras áreas de conhecimento e suas efetivas

contribuições para a formação da cidadania e para a constituição de sujeitos da

aprendizagem.

Matrizes de Matemática

A Matemática no Ensino Fundamental

No início de 2007, a Secretaria de Educação da Cidade de São Paulo enviou para

as Escolas Municipais de Ensino Fundamental dessa cidade um documento intitulado:

28

Matrizes de Matemática, a Matemática no Ensino Fundamental que, entre outras coisas,

mostra o foco que o Ministério da Educação espera que se dê ao Ensino da Matemática

no Ensino Fundamental.

Este documento diz que a Matemática como um corpo estático e acabado de

conhecimentos produzidos por algumas cabeças geniais, foi reavaliada e que desde

meados do século passado considera-se a interdependência da matemática com as outras

áreas de conhecimento. Diz ainda que a Matemática deva ser considerada como a

construção do conhecimento que trata das relações qualitativas e quantitativas entre

espaço e tempo e que esta é uma atividade humana que trata de padrões, da resolução de

problemas, do raciocínio lógico, etc., na tentativa de compreender o mundo e fazer uso

deste conhecimento.

Segundo este documento, a grande maioria das profissões e trabalhos técnicos

exige conhecimentos de Matemática, ou seja, desenvolver competências matemáticas é

parte fundamental na Educação das crianças, pois as idéias e os conceitos matemáticos

são ferramentas para atuar sobre a realidade e o mundo que as cerca. O conceito de

competência dá ênfase ao que o aluno é capaz de fazer com os conhecimentos que

adquiriu muito mais do que o domínio formal dos conceitos.

A alfabetização Matemática deve fornecer competências para que o aluno seja

capaz de analisar, raciocinar e comunicar o enunciado, a formular e a resolver

problemas em contextos e situações as mais diversas. Desta forma, ao término do

Ensino Fundamental, o aluno deverá ser capaz de utilizar o que aprendeu em situações

usuais da vida cotidiana e não se restringir apenas a mostrar o conhecimento dos

conteúdos desenvolvidos em suas aulas.

Assim sendo, o documento sugere que se ensine a Matemática organizada de

modo a atender as grandes áreas temáticas: números e operações, espaço e forma,

grandezas e medidas e tratamento da informação.

Como nosso foco é a geometria, vamos transcrever o que o documento diz a

respeito do item “Espaço e Forma”.

Em Espaço e Forma – em geral vinculados à Geometria, trabalham-se

com fenômenos e relações geométricas e espaciais, levando o aluno a

observar semelhanças e diferenças, analisar os componentes das formas,

reconhecê-las em suas diferentes representações e dimensões, entender

as propriedades e as posições relativas dos objetos. As formas podem ser

29

consideradas como “regularidades” e, as regularidades se encontram

em toda parte – na fala, na escrita, no tráfego, nas construções, na

música, nas folhas de árvores, nos edifícios, na arte, etc.

O estudo das formas, intimamente ligado ao conceito de “percepção

espacial” implica em aprender a reconhecer, explorar e mover-se com

maior conhecimento no espaço em que se vive; entender a representação

em duas dimensões dos objetos tridimensionais; entender e interpretar as

sombras; compreender o que é perspectiva e como funciona; entender a

relação entre formas e imagens ou representações visuais, por exemplo,

as relações entre um objeto e sua fotografia.

A seguir analisaremos o que dizem alguns autores sobre o ensino da matemática

e da geometria para no final, analisar as atividades dos alunos, verificar as dificuldades

e sugerir as possibilidades para o ensino da geometria na EJA.

30

Competências do Pensamento Geométrico

Existe uma complexidade tocante às relações entre Geometria como campo

unicamente da Matemática e como análise do espaço que nos cerca.

A geometria, lida com relações entre objetos reais, objetos teóricos e sua origem,

está em trabalhos práticos reais e, ao mesmo tempo, em teorias abstratas.

A idéia de simetria, por exemplo, podemos encontrá-la no artesanato de diversas

culturas, mas também na matemática ela é interpretada como transformações de pontos

no plano.

Muitos profissionais, tais como vidraceiros e carpinteiros usam da geometria

empiricamente, apesar de seus conhecimentos poderem ser comprovados teoricamente.

Existem algumas competências necessárias para se estabelecer o pensamento

geométrico, tais como: experimentar, conjecturar, representar, estabelecer relações,

comunicar, argumentar e validar.

A seguir detalharemos essas competências, segundo as considerações da apostila

do PEC (2002) bem como o modelo Van Hiele (1994) para o pensamento geométrico.

O Experimentar como Competência

Experimentar significa “pôr a prova”. Um professor pode oferecer materiais

concretos ao aluno para que ele chegue, por meio de experiências como manipulação,

contemplação e também de conjecturas para chegar aos conceitos geométricos e até a

generalizações válidas.

Um bom exemplo seria o de um professor oferecendo várias varetas de

tamanhos diversos para que os alunos construam triângulos. A partir de tentativas os

alunos poderão chegar a conclusões importantes que relacionam o tamanho dos lados e

a possibilidade da construção de triângulos a partir destes.

Neste momento, é importante que o professor deixe claro que essas conjecturas

levam a generalizações e conceituações. Além disso, elas só podem ser aceitas quando

demonstradas formalmente e que a ciência se desenvolveu com o passar do tempo desta

forma. É importante considerar, ainda que inicialmente e intuitivamente, que a

metodologia científica valida os experimentos e conjecturas via demonstrações

rigorosas.

31

O Modelo Van Hiele de Desenvolvimento do Pensamento

Geométrico

Segundo Crowley (1994), o método desenvolvido pelo casal Dina van Hiele-

Geldof e Pierre van Hiele3 pode ser utilizado para medir o nível de maturidade

geométrica do aluno. Este método foi o resultado das teses de doutoramento do casal

finalizados simultaneamente na Universidade de Utrech.

Esse modelo sugere que os alunos progridem segundo uma seqüência de níveis

de compreensão de conceitos. O progresso para o nível seguinte se dá pela vivência de

atividades adequadas.

Segundo Van Hiele, cada nível de aprendizagem é caracterizado por relações

entre os objetos de estudo e linguagens próprias. Conseqüentemente, não pode haver

compreensão quando as propostas de aprendizagem são apresentadas num nível mais

elevado do que aquele atingido pelo aluno.

Com cinco níveis hierárquicos, Van Hiele estabeleceu que o aluno só atinge

determinado nível de raciocínio após passar por todos os níveis inferiores. Esta pode ser

uma explicação para as dificuldades apresentadas pelos alunos quando engajados num

curso sistemático de Geometria (nível 3, vide tabela abaixo) sem a necessária vivência

prévia das experiências nos níveis anteriores.

3 Pierre Marie Van Hiele e Dina Van Hiele Geldof foram professores de Geometria na Holanda. A partir da experiência docente, ambos elaboraram e apresentaram para doutoramento, em 1957, um modelo – que passou a ser conhecido pelo sobrenome do casal – para explicar o desenvolvimento do raciocínio geométrico entre os alunos do ensino secundário. Logo após completar, simultaneamente com o marido, o doutorado pela Universidade de Utrecht, na Holanda, Dina morreu. Pierre, então, desenvolveu e divulgou a teoria do modelo Van Hiele, que tem influenciado diferentes países na organização curricular de Geometria. A ex-União Soviética foi o primeiro país a incorporar o modelo.

32

Tabela 1 – Retirada da Apostila do PEC

Nível de Van Hiele

Características Exemplos de Atividades

Básico: Reconhecimento

Identificação, comparação e nomenclatura de figuras geométricas, com base em sua aparência global.

Classificação de quadriláteros (recortes) em grupos de quadrados, retângulos, paralelogramos, losangos e trapézios.

Nível 1: Análise Análise das figuras em termos de seus componentes, reconhecimento de suas propriedades e uso delas para resolver problemas.

Descrição de um quadrado por meio de suas propriedades: 4 lados, 4 ângulos retos, lados iguais, lados opostos paralelos.

Nível 2: Síntese ou abstração

Percepção da necessidade de uma definição precisa, e de que uma propriedade pode decorrer da outra, argumentação lógica informal e ordenação de classes de figuras geométricas.

Descrição do quadrado pelas propriedades mínimas: 4 lados iguais e 4 ângulos retos. O retângulo é um paralelogramo, pois também possui os lados opostos paralelos.

Nível 3: Dedução Domínio do processo dedutivo e demonstrações, reconhecimento de condições necessárias e suficientes.

Demonstração de propriedades dos triângulos e quadriláteros usando a congruência de triângulos.

Nível 4: Rigor Estabelecimento de teoremas em diversos sistemas e comparação dos mesmos.

Estabelecimento e demonstração de teoremas em uma Geometria finita.

A Representação como Competência

Um aspecto peculiar do ensino da Geometria está na ambigüidade do papel das

representações gráficas: elas são ao mesmo tempo objetos reais e teóricos.

Podemos estabelecer uma diferença entre “desenho” e “figura geométrica”. O

desenho é uma representação gráfica de um objeto matemático. A figura geométrica já é

um objeto matemático ideal, isto é, uma criação mental do espírito.

O espaço se apresenta para o aluno de forma essencialmente prática: ela constrói

suas primeiras noções espaciais por meio dos sentidos e dos movimentos. Esse espaço

percebido por ele, chamado espaço perceptivo, possibilitará a ele, mais adiante, a

construção do espaço representativo.

O espaço que percebemos é o que contém objetos perceptíveis por meio dos

sentidos, ou seja, um espaço sensível. O ponto, a reta e o quadrado não pertencem a esse

espaço. Podem ser concebidos de maneira ideal, mas, rigorosamente, não fazem parte

desse espaço sensível.

33

Pode-se, então, dizer que a Geometria parte do mundo sensível e o estrutura no

mundo geométrico (dos volumes, das superfícies, das linhas e dos pontos).

É multiplicando suas experiências sobre os objetos do espaço que o aluno vai

aprender e, desse modo, construir uma rede de conhecimentos relativos à localização e à

orientação que vai lhe permitir penetrar no domínio da representação dos objetos e,

assim, se distanciar do espaço sensorial ou físico.

A compreensão das relações geométricas pelos alunos supõe sua ação sobre

objetos. No entanto, é bom ter cuidado para não confundir isso com falsas idéias

segundo as quais se imagina que basta mostrar objetos geométricos aos alunos para que

estes os conheçam, ou que basta enunciar suas propriedades para que os alunos delas se

apropriem. A questão que se pode levantar, então, é: como passar de um espaço a outro?

Provavelmente, é o aspecto experimental que vai colocar em relação esses dois espaços;

o sensível e o geométrico.

De um lado, a experimentação permite agir, antecipar, ver e explicar o que se

passa no espaço sensível e, de outro, vai permitir o trabalho sobre as representações dos

objetos do espaço geométrico e, assim, desprender-se da manipulação dos objetos reais

para raciocinar sobre representações mentais, o que constitui, enfim, a própria ação

Matemática.

Desta forma temos os aspectos heurísticos se articulando com os estéticos e as

inferências. Nesta situação, a matemática e a heurística se articulam de modo a facilitar

a aprendizagem a se atingir a representação como competência.

A Comunicação como Competência

Desde as séries iniciais, os alunos podem ampliar ou reduzir figuras, trabalhando

sobre malhas quadriculadas, em diversas situações. Trabalhando com malhas variadas,

eles poderão discutir em que casos há deformação da figura dada e em que casos as

figuras são semelhantes.

Se o professor propuser uma atividade geométrica para o seu aluno e depois

convidá-lo a escrever um texto explicando quais os caminhos usados para

desenvolvimento da atividade, este estará usando também a comunicação como

competência.

34

Este tipo de atividade4, em que é preciso comunicar o que está sendo percebido,

é tão importante quanto à descoberta em si. A comunicação precisa fazer parte das aulas

de matemática.

Neste caso, aspectos heurísticos novamente se articulam com aspectos estéticos

e inferências a exemplo do que já aconteceu na representação como competência.

A Argumentação como competência

Após a proposição de uma atividade geométrica, é preciso que o professor peça

que os alunos anotem as regularidades notadas no decorrer da atividade e argumente

quanto a propriedades que poderão decorrer destas regularidades. Estas argumentações

são importantes para a aprendizagem da geometria uma vez que ajuda a desenvolver o

pensamento geométrico e generalizações importantes.

4 Ela é chamada em metodologia aplicada à comunicação e à psicologia de protocolo verbal.

35

Piaget e o as Estruturas Cognitivas

Sintetizamos algumas idéias de Jean Piaget para o ensino da matemática

segundo Smole (2005), que são pertinentes ao nosso estudo.

Jean Piaget (1896 – 1980), biólogo suíço, por meio de seus estudos acerca do

desenvolvimento cognitivo e da construção do pensamento lógico-matemático, deu uma

grande contribuição para o ensino da matemática no sentido de entender como o aluno

aprende construindo conhecimentos.

Piaget não foi o primeiro a estudar como a aprendizagem se processa na

educação matemática, antes dele outros trabalhos como os de Pestalozzi, Froebel, Maria

Montessori, Decroly e Dewey contribuíram no sentido de entender como a criança

processa a aprendizagem da matemática, cada um de seu modo e ao seu tempo.

Piaget nunca foi nem pretendeu ser pedagogo, na verdade ele era um

epistemólogo que procurou indagar como se produziam os novos conhecimentos

durante o processo de desenvolvimento humano, dando uma contribuição fundamental

ao ensino da matemática por meio do entendimento de como a aprendizagem desta

disciplina se processa.

No seu livro A gênese do número na criança, lançado em 1941, Piaget em

conjunto com Alina Szeminska, discorre sobre como são construídos os conceitos de

número, as noções temporais, as representações de espaço, os conceitos de velocidade, a

medição, as primeiras noções geométricas e as representações simbólicas nas crianças.

Esse trabalho nos traz dados inéditos sobre a construção do conhecimento matemático

nas crianças. No entanto, iremos nos ater a outra contribuição de Piaget e seus

seguidores que não trata da construção de noções e conceitos propriamente ditos, mas

que faz a diferença de muito do que hoje se pensa, se escreve ou se diz sobre a

matemática na escola, construindo diretrizes para uma didática da matemática.

O conhecimento Lógico-matemático

Segundo Becker (apud Smole, 2005), para Piaget, nos tornamos matemáticos

enquanto construímos as estruturas de pensamento que nos levam a pensar

matematicamente.

36

Piaget apresenta três tipos de conhecimento que a criança usa para se relacionar

com o mundo; o conhecimento físico, o conhecimento social e o lógico-matemático e

para usar destes conhecimentos precisa de uma estrutura lógico-matemática para

construir conhecimentos sobre o mundo físico e social. No caso dos objetos

matemáticos, que não existem de forma acabada, é necessário que a criança os crie

interiormente, não basta que alguém os apresente de fora para dentro para que elas os

interiorizem.

As crianças elaboram seu conhecimento lógico-matemático à medida que

constroem relações mais complexas sobre outras mais simples que elas mesmas

criaram. Para ampliar seus conhecimentos matemáticos não basta que alguém transmita

estes conhecimentos à criança, é necessário que ocorra um processo interno ao sujeito.

Desta forma, antes das pesquisas de Piaget, acreditava-se que a criança aprendia

matemática devido a ações do adulto e devido a repetições de fatos conhecidos pelos

adultos até que as crianças se familiarizassem a eles. Após os estudos de Piaget houve

uma mudança significativa na didática da matemática, uma vez que se refletiu sobre o

fato da aprendizagem da matemática não ocorrer por transmissão social de um adulto

que fala a uma criança que ouve passivamente, mas sim do professor que cria condições

para que o aluno aprenda, daquele que desafia o mesmo a aprender, a pensar por si só, a

analisar e a questionar aquilo que a escola deseja que ele aprenda. Desta forma o papel

do professor deixa de ser apenas o de ensinar, mas passa a ser o de mediador da

aprendizagem e o aluno deixa de simplesmente aprender um conteúdo para atribuir um

significado para aquilo que aprende.

A partir desta idéia muda o papel de professor que não é mais de transmitir, mas

de criar as condições para que o aluno aprenda, de desafiá-lo a pensar por si mesmo, a

analisar, a questionar aquilo que a escola deseja que ele aprenda.

A visão de Piaget do ser humano é a de um ser que além de modificar o meio em

que vive, tem a capacidade de modificar a si mesmo e é esta transformação que origina

o conhecimento.

Desta forma, surge o construtivismo que é uma interação entre a condição que os

seres humanos dispõem ao nascer e sua atividade transformadora do meio. Nesse

sentido, o conhecimento não é algo que se produz sem razão, mas sim é o resultado de

um processo adaptativo decorrente de uma necessidade. O sujeito encontra uma

necessidade e para enfrentá-la precisa modificar seus conhecimentos antigos,

37

abandonando crenças anteriores para poder dar um passo adiante. Por isso o

conhecimento é um processo de criação e não de repetição.

Para Piaget, ao nos referirmos ao pensamento lógico-matemático, para que haja

uma aproximação entre as estruturas de pensamento do professor e do aluno é

necessário considerar que a compreensão real de uma teoria, por parte daquele que a

desenvolve ou estuda, supõe sua reinvenção por esse sujeito. Isso não quer dizer que o

professor já não seja necessário, seu papel não deve consistir em ministrar aulas, lições,

mas em organizar situações que levem o aluno a investigar, utilizando dispositivos

apropriados, o que nos leva a uma didática de matemática baseada na resolução de

problemas. O professor deve propor aos alunos problemas que o desequilibrem naquilo

que sabe, fazendo com que todo o conhecimento de que dispõe seja revistado,

vasculhado, complementado, ampliado, dando lugar a novas e mais complexas relações.

Segundo Seymour Papert, “a função da matemática escolar é ensinar os alunos a

serem matemáticos em vez de ensinar matemática a eles”. Para entender este

pensamento devemos procurar saber como Piaget via o ser matemático. Segundo ele

não se define um matemático pelo conhecimento que ele tem de uma série memorizada

de fatos matemáticos, tampouco porque conhece o trabalho de muitos outros

matemáticos. Ser matemático implica pensar e fazer, resolver problemas originais ou

dar a eles uma nova interpretação, gerando conhecimentos novos, mais do que

conhecendo aqueles já existentes.

A Criança e as Representações Geométricas

Segundo Pulaski (1971), para Piaget as crianças apreendem primeiramente as

figuras topológicas, muito antes de assimilarem as figuras geométricas euclidianas.

Segundo esse autor, aos três anos uma criança é capaz de distinguir figuras

abertas e figuras fechadas, mas ao se pedir que copie um quadrado ou um triângulo, ela

desenhará um círculo fechado. Se lhe solicitarmos a cópia de figuras abertas, desenhará

simplesmente curvas abertas. Já se pedirmos que copie um círculo dentro de outro

círculo, copiará adequadamente. Apenas depois dos cinco anos, ela começará a desenhar

quadrados, e somente mais tarde conseguirá copiar adequadamente, como exige a

geometria euclidiana, um retângulo com seus ângulos e lados. Após os sete anos, a

criança passa a assimilar a relação projetiva.

38

Outro aspecto do desenvolvimento da criança abordado por Pulaski (1971) é a

noção de egocentrismo5 que Piaget trata muitas vezes ao longo de sua obra. Segundo

esta autora, o egocentrismo é uma característica da criança que não reconhece objetos

familiares quando vistos sob um ponto de vista diferente daquele que está acostumada a

visualizar. Por exemplo, ao se apresentar uma maquete que contenha montanhas e

desenhos que mostram estas montanhas vistas sob pontos de vista diferentes, a acriança

não consegue identificar todos os desenhos como sendo da mesma montanha. Somente

após os nove ou dez anos a criança consegue distinguir, com acuidade, as diferentes

perspectivas possíveis e coordená-las.

Piaget e o Aluno Adulto

Quanto ao aluno adulto, que é o foco principal do nosso trabalho, vamos ver o

que o grupo de pesquisa NEA-FEUSP (Núcleo de Educação de Jovens e Adultos e

Formação Permanente de Professores da Faculdade de Educação da Universidade de

São Paulo) nos tem a dizer.

Para Piaget, o desenvolvimento intelectual do ser humano se processa sob dois

aspectos: o motor ou intelectual e o afetivo, denominados por Piaget de “estágios de

desenvolvimento” distribuídos de acordo com a idade da criança: o primeiro é o estágio

sensório-motor (do nascimento até os dois anos de idade); o segundo dividi-se em dois

sub-estágios, o de preparação para as operações lógico-concretas (2 a 7 anos) e o de

operações lógico-concretas (7 anos a adolescência). A partir daí até a idade adulta,

configura-se o estágio da lógica formal, ou seja, quando o pensamento lógico alcança

seu nível maior de equilíbrio.

Convém lembrar que, para Piaget, a inteligência é uma adaptação que ocorre à

medida que o indivíduo vai enfrentando situações novas e interagindo com o meio que o

circunda, ou seja, ele não apenas responde ao mundo que o circunda, mas também atua

sobre ele. Para isso, o indivíduo usa dois componentes: a assimilação (processo

cognitivo de colocar ou classificar novos eventos em esquemas existentes) e a

acomodação (processo de modificação de um esquema ou uma estrutura em função das

particularidades do objeto a ser assimilado). O equilíbrio entre a assimilação e a

acomodação é chamado de adaptação.

5 Segundo Piaget, egocentrismo é o raciocínio primitivo que impede alguém de compreender que pode haver mais de um ponto de vista.

39

Outra variável presente na teoria de Piaget é a motivação do estudante, onde o

professor deve organizar o ambiente de modo a estimular o aluno a aprender no seu

próprio ritmo, de modo que os seus interesses sirvam de guia livre para a aprendizagem.

Interessante notar que essa variável observa-se na EJA uma vez que o aluno

adulto sai do seu trabalho, em geral estafante, e vai direto para a escola, encontrando

nela um mundo novo que lhe causa estranhamento ou até medo.

De acordo com esse grupo (NEA) se a educação desse adulto for planejada de

acordo com os princípios de Piaget, de modo que ele manipule objetos do seu ambiente,

possa transformá-los encontrando sentido para os mesmos, intervindo em seus

diferentes aspectos até adquirir condições de fazer inferências lógicas internamente,

desenvolvendo novos esquemas e novas estruturas, o estudante chegará através de uma

seqüência de desequilíbrios sucessivos, seguidos de adaptações, ao conhecimento.

Entretanto, existe uma diferença crucial entre o aluno adulto e o aluno criança. A

diferença é que quando o aluno adulto chega à escola, ele já percorreu todos os estágios

do desenvolvimento o que cria um desafio para o educador que é recuperar a capacidade

deste aluno de combinação e interação, principalmente quando se trata de idéias

abstratas.

Aliado a isso, gostaríamos de observar que na pesquisa de Luria6 (1990),

existem comportamentos que são típicos de grupos “pouco letrados” e outros típicos de

grupos de letrados, como veremos a seguir.

6 Ver a partir da página 40 detalhes sobre a pesquisa de Luria segundo Oliveira (1999b).

40

Letramento e Desenvolvimento Cognitivo

Vamos verificar alguns aspectos que, segundo Oliveira (1999b), fazem com que

o a falta de letramento interfira no desenvolvimento cognitivo do adulto.

Grupos culturais “pouco letrados” integrados nas complexas sociedades

contemporâneas, onde há grande influência do conhecimento científico e dos meios de

comunicação em massa tendem a ser homogêneos do ponto de vista social.

A denominação “pouco letrado” não diz respeito a nenhuma classificação

técnica do grau de alfabetização desses indivíduos, mas sim à condição decorrente da

falta de oportunidade de interação intensa e sistemática com determinados aspectos

culturais fundamentais nesse tipo de sociedade o que faz com que esse grupo seja

marcado pela exclusão , pois não possuem a competência da leitura e da escrita e de

outras prática letradas necessárias para a interação com a sociedade em que vivem.

Desta forma, esse grupo acaba criando características comuns entre os seus

membros que são conseqüências cognitivas de deferentes práticas culturais.

Apontaremos a seguir essas características.

Pensamento descontextualizado

A capacidade de elaboração cognitiva descontextualizada é uma das

características melhor definida em indivíduos letrados, sendo um comportamento

aparentemente ausente em grupos de “pouco letrados”.

Na década de 30, A. R. Luria estudou grupos de camponeses soviéticos e

encontrou diferenças cruciais entre os grupos dos letrados e dos “pouco letrados”.

Nesses estudos foram observados que sujeitos mais escolarizados envolvidos no

trabalho das fazendas coletivas mais modernas, tendiam a trabalhar com categorias

abstratas independente da experiência vivida e do contexto concreto. Luria chamou este

comportamento de “categorial”. Esses sujeitos agrupavam objetos segundo cores,

formas geométricas ou categorias, ou ainda, usavam a dedução e a inferência para

solucionar problemas matemáticos a partir de situações hipotéticas.

Já os sujeitos menos escolarizados envolvidos em atividades de agricultura

tradicional, individualizada, tendiam a operar influenciados por configurações

perceptuais, baseados pela experiência pessoas. Luria chamou esse tipo de

41

comportamento de “gráfico-funcional”. Ao agrupar objetos, esses indivíduos tendiam a

criar categorias que remetiam à sua relação com situações concretas.

Experiências mais atuais retratam essa mesma contraposição entre indivíduos

letrados e indivíduos “pouco letrados”.

Controle da Produção Cognitiva

Outro aspecto em que também são notadas diferenças quando se analisa alunos

letrados e alunos “pouco letrados” é o controle que estes têm sobre sua própria produção

cognitiva.

Oliveira (1999b) diz que uma experiência realizada com alunos da EJA na

cidade de São Paulo mostra a grande dificuldade que estes alunos têm quando um

professor propõe uma atividade na qual eles devem seguir instruções explícitas. A

dificuldade está no seguir instruções. Estes alunos realizam a tarefa passo a passo,

sempre se reportando ao professor para perguntar sobre o próximo a passo a seguir.

Luria (1990) estabelece que esta capacidade de seguir instruções está

relacionada à capacidade da auto-instrução e que quando o indivíduo vence esta etapa

ele passa a organizar o seu comportamento.

O controle da produção cognitiva cria também condições para que o sujeito

possa auto-monitorar o desenvolvimento de suas tarefas.

Procedimentos Metacognitivos

Os procedimentos metacognitivos estão relacionados à questão do controle da

produção cognitiva, isto é, às operações deliberadas do sujeito sobre suas próprias ações

intelectuais. Esses procedimentos fazem com que os indivíduos tenham consciência dos

próprios processos de pensamento de modo a explicar esse processo a outras pessoas.

Pesquisas mostram que indivíduos “pouco letrados” têm dificuldade de transitar

por esses procedimentos e uma conseqüência desta dificuldade notada também por

Oliveira (1999b), em sua pesquisa com os alunos de EJA, é a tendência à adoção “não-

refletida” de princípios como sendo universais, ou seja, quando o professor passa uma

regra para ser usada numa determinada situação, o aluno conclui erroneamente que esta

regra vale para todos os casos que surgirem a seguir.

42

Transformações Culturais da Sociedade Letrada

Nesse item analisaremos como a escrita e o desenvolvimento da ciência formal

podem influenciar no desenvolvimento cognitivo do indivíduo.

A escrita enquanto sistema simbólico é, por definição, um dos principais

fundamentos do modo letrado de pensamento favorecendo o pensamento

descontextualizado e independente da experiência do sujeito. Ela favorece, também, a

consciência metalingüística, pois por meio dela o sujeito pode refletir e construir

conhecimento explícito.

A escrita fornece também ao seu usuário, instrumentos externos que facilitam a

utilização de procedimentos de controle cognitivo (listas, calendários, tabelas, etc.)

O desenvolvimento da ciência formal é outro aspecto que pode ser relacionado

com as transformações do modo de pensamento do sujeito, embora isso não seja

possível sem o auxílio da escrita.

Fazem parte do desenvolvimento científico atividades que pressupõem a

construção de categorias formalizadas de organização do real e processos deliberados de

generalização.

A sociedade pautada pelo desenvolvimento científico e tecnológico é organizada

por objetivos de predição e controle, que necessitam de planejamento em longo prazo,

organização institucional e tomadas de decisões com base em critérios que ultrapassam

as necessidades individuais e imediatas.

Finalizando, a escola é a instituição tem por fim colocar os sujeitos em contato

com a escrita e o desenvolvimento científico, favorecendo, deste modo, o

desenvolvimento cognitivo do sujeito.

As práticas escolares favorecem, portanto, o desenvolvimento do pensamento

descontextualizado e a ação metacognitiva. Favorecem, também, o aprendizado de

formas de controle da produção cognitiva que são partes importantes das tarefas

escolares.

Desta forma, podemos concluir que os sujeitos excluídos de uma relação

sistemática com a escrita, com a escola e com a ciência têm o seu desenvolvimento

cognitivo comprometido.

43

Linguagem Matemática: Símbolo e significado

Neste capítulo trataremos das idéias de Gómez-Granell (1997) que faz uma

análise sobre a aquisição da linguagem matemática, sobre a diferença entre conhecer os

símbolos e saber os seus significados.

No mundo atual, globalizado e movido a tecnologia, a matemática é cada vez

mais necessária. Os cálculos de estatísticas e probabilidades são essenciais para se

tomar decisões políticas, sociais ou econômicas. Desta forma, seria de se esperar que a

população, em geral, incrementasse seus estudos nessa área. Mas, não é o que se vê nas

escolas de Educação Básica. Hoje, 40 a 50% dos alunos não alcançam o mínimo do

conhecimento matemático necessário para finalizar a escolaridade obrigatória. Na

verdade, a maioria das pessoas não alcança o nível de “alfabetização funcional” mínimo

para desenvolver-se numa sociedade moderna.

Chegamos, desta maneira, a um paradoxo: a matemática, um dos conhecimentos

mais necessários para se sobreviver nas sociedades modernas altamente tomadas pela

tecnologia, é um empecilho ao acesso da grande maioria da população ao sistema

educacional.

Em 1982, Cockcroft afirmou em uma pesquisa na Inglaterra e no País de Gales

que a Matemática é uma “matéria” difícil de ensinar e de aprender. A Matemática

aparece como algo denso e enigmático até mesmo para pessoas cultas e instruídas.

Uma explicação para estes fatos estaria baseada na natureza do conhecimento

matemático que é diferente, em muitos aspectos dos outros tipos de conhecimento

devido ao seu alto grau de abstração, pois na verdade se define por dedução e não por

abstração como outros conhecimentos.

Por outro lado, o conhecimento matemático depende de uma linguagem

específica, de caráter formal que traduz a linguagem natural para uma linguagem

universal formalizada, permitindo assim o enorme rigor necessário para se entender o

estrito significado dos seus termos.

A formalização da linguagem matemática tem uma função primordial: converter

os conceitos matemáticos em objetos mais facilmente manipuláveis e calculáveis,

possibilitando assim determinadas inferências que de outro modo seriam impossíveis.

44

Levando em consideração os fatos acima citados, podemos formular algumas

perguntas: Seria a matemática apenas uma linguagem? A maioria das pessoas carece

mesmo da capacidade de abstração necessária para dominar linguagens formais? Ou o

processo de ensino adotado é inadequado?

A primeira pergunta formulada gera uma polêmica entre os que consideram a

Matemática como sendo apenas uma linguagem e os que pensam que sempre é possível

atribuir um significado aos símbolos que se manipula.

Quando um aluno aprende matemática, geralmente aprende decorando regras

que devem ser aplicadas sempre, mas este mecanismo muitas vezes leva a erros

gravíssimos além de que, na maior parte das vezes, faz com que os alunos apliquem

regras sem entender o seu real significado, sem saber por que deve fazer desta e não de

outra maneira a operação Matemática.

É comum o aluno aplicar erroneamente regras que não servem naquela situação

específica porque decorou a regra sem entender o porquê desta regra ser aplicada e

muitas vezes ainda escuta do professor se não está vendo que naquela situação não há

lógica em se aplicar a determinada regra.

Quando um professor ensina dessa maneira não está percebendo que em toda

sentença matemática é necessário reconhecer um significado formal intrínseco, no qual

uns símbolos fazem referência a outros dentro de um código específico, e um

significado pragmático, que permite a tradução para sistemas de signos não

matemáticos, e associar tais expressões ao seu significado referencial.

Como alternativa à situação citada acima existem algumas tendências

metodológicas para o ensino da Matemática tais como o construtivismo7 ou ainda o

aprendizado através da resolução de problemas. Ambas podem ser tratadas de maneira

conjunta por se tratarem de teorias que priorizam o estudo dos aspectos conceituais da

matemática. O importante é que os alunos entendam ou construam o significado dos

conceitos matemáticos.

Os alunos, desde a mais tenra idade, manifestam procedimentos próprios, não

formais, que lhes permite ir construindo progressivamente os significados matemáticos.

Assim sendo, cabe ao professor usar desta habilidade para ajudar ao aluno a construir os

conceitos matemáticos de forma mais intuitiva e menos formal.

7 Definimos construtivismo anteriormente na página 36.

45

Uma dúvida é se o fato do aluno entender o significado dos conceitos e

procedimentos matemáticos faz com que tenha facilidade para dominar a linguagem

formal. Assim sendo, sugere-se que o ensino matemático não seja excessivamente

verbal, mas que a construção do conhecimento se baseie na manipulação8 e na ação.

Após a construção do significado, o passo seguinte seria o uso da linguagem simbólica

em situações de representação onde o aluno deve transmitir os conceitos aprendidos a

outras pessoas. Dependendo do nível de desenvolvimento, o aluno vai recorrer a

representações próprias desses conceitos. É possível observar com freqüência que existe

uma grande resistência do pensamento humano em abandonar o conteúdo do objeto

expressado pela linguagem natural e pelo desenho, para substituí-lo pelo símbolo

formal.

Por outro lado, os alunos costumam aprender a manipular símbolos segundo

uma série de regras que não entendem. Isso faz com que, para eles, seja muito difícil

associar tais símbolos ao seu significado referencial e, portanto usá-lo para resolver

problemas de forma significativa. O conhecimento conceitual não implica

absolutamente em conhecimento de regras sintáticas e das convenções de notação

próprias do simbolismo matemático.

Como os alunos podem resolver muitas operações e problemas usando processos

intuitivos, corremos o risco de cometer dois grandes erros: acreditar que não é

necessário se ensinar os procedimentos formais ou ainda que se pode passar do

procedimento intuitivo para o formal de forma automática, situação que muitas vezes

leva a um “salto mortal” entre o conceitual e o simbólico.

Resta-nos, então, saber como fazer para que o aluno passe dos procedimentos

não-formais e intuitivos para as expressões simbólicas próprias da linguagem formal e

vice-versa.

Levando em consideração que a Matemática também é uma linguagem, o

domínio dela implica também um conhecimento de aspectos sintáticos e semânticos

inerentes a esta linguagem. Mas, deveremos levar em consideração também que esta

linguagem constitui uma forma de discurso específico que, embora guarde estreita

relação com a atividade conceitual, mantém a sua própria especificidade como um

discurso lingüístico. Desta forma, não se pode esquecer que aprender uma linguagem

8 Como já vimos na teoria de Piaget, na página 38.

46

não é aprender uma série de regras e sim adquirir um grau de competência

comunicativa9 que permita usar tal linguagem adequadamente.

Levando em consideração os aspectos citados acima podemos considerar que:

• Os conceitos e procedimentos matemáticos devem ser ensinados de forma

contextualizada: devemos acabar com a idéia de que a matemática é algo

excessivamente abstrato, difícil e inacessível. Embora existam patologias que

podem dificultar o seu aprendizado, a maioria das pessoas pode aprendê-la sem

nenhuma dificuldade. A maior parte das pessoas que alegam dificuldade para

aprender matemática usa-na como ferramenta nas suas atividades cotidianas pois

dela necessitam. Portanto, se queremos ensinar Matemática de uma forma

significativa devemos primeiro conhecer quais são os usos e as funções que o

conhecimento matemático cumpre em nossa sociedade e situar a aprendizagem

dos conceitos e procedimentos matemáticos no contexto de tais usos e funções.

• A resolução de problemas pode ser um instrumento de contextualização: este

tipo de atividade não pode acontecer apenas para aplicar os conhecimentos

previamente adquiridos, mas também, para propor situações que requeiram uma

solução matemática e que permitam o levantamento de questões, a pesquisa, a

discussão, a exploração e a especulação, além da contextualização das

operações.

• Os procedimentos próprios, intuitivos ou não-formais são instrumentos para

explorar o significado dos conceitos e procedimentos matemáticos: devemos

estimular o uso de desenhos, figuras, jogos e outros processos intuitivos para

que o aluno tome contato inicial com os conceitos matemáticos antes de

formalizá-los.

• É necessário associar os símbolos matemáticos ao seu significado referencial:

dificilmente encontraremos alguma regra algum princípio, que não tenha

significado referencial.

• Aplicar modelos concretos: decorrente do aspecto anterior. Para que os alunos

associem os símbolos matemáticos ao seu significado referencial não basta

incentivar o uso de estratégias pessoais dos alunos, é necessário que o professor

proponha modelos que permitam entender a semântica da operação ou

9 Como já vimos anteriormente na página 30, quando descrevemos as competências que deverão ser desenvolvidas a partir do estudo da geometria.

47

transformação. Esses modelos podem ser: manipulativos, verbais, gráficos ou

até de caráter simbólico.

• Utilizar e relacionar linguagens diferenciadas: para associar aspectos sintáticos

e semânticos é necessário que os alunos usem diferentes linguagens para

expressar as transformações matemáticas, que as relacionem entre si e que

tenham consciência das regras que fazem a passagem de uma linguagem à outra.

• Trabalhar os mesmos conceitos e procedimentos em diferentes contextos: a

construção dos conceitos e procedimentos matemáticos exige que sejam

aplicados e atualizados por intermédio de problemas que respondam a estruturas

semânticas diferentes.

• Estimular a abstração progressivamente: para isso é necessário não só variar os

contextos e as situações, mas também propiciar um processo de reflexão

consciente e a explicitação das relações entre as quantidades.

Para concluir, podemos comparar a aprendizagem da matemática com a

aprendizagem de um idioma estrangeiro, pois quanto mais se domina este idioma,

menos “estrangeiro” ele se parece. Ou ainda, que a Matemática constitui uma maneira

determinada e específica de interpretar, de observar a realidade. Que usa uma linguagem

específica, diferente das linguagens naturais e cuja aquisição não pressupõe a mera

“tradução” para a linguagem natural. E que, portanto, aprender matemática significa

aprender a observar a realidade matematicamente, entrar na lógica do pensamento e da

linguagem matemática, usando as formas e os significados que lhe são próprios. Esse

seria o verdadeiro sentido da alfabetização matemática que nos permitiria circular pelos

“domínios da matemática” como se estivéssemos em nossa própria casa e não num

“país estrangeiro”.

O objetivo e a finalidade da matemática devem ser que os alunos dominem e

usem significativamente sua linguagem e os usos específicos da mesma. Mas, para que

isso seja alcançado, as formas de ensino e de aproximação tradicionalmente aplicadas a

essa linguagem devem ser radicalmente modificadas.

48

Princípios Filosóficos que nortearam o trabalho

Esta pesquisa foi norteada pelos princípios filosóficos da fenomenologia, usando

como metodologia de pesquisa o estudo de caso etnográfico.

Segundo Chizzotti (2006), o estudo de caso é uma estratégia de pesquisa muito

usada na área educacional em que o pesquisador reúne informações sobre determinado

fato ou fenômeno contemporâneo social complexo inserido em seu contexto específico.

Tem por objetivo reunir aspectos relevantes sobre o objeto de estudo e desta

forma alcançar uma compreensão mais ampla desse objeto dissipando dúvida,

esclarecendo questões pertinentes e sugerindo ações posteriores.

Este estudo de caso envolve a coleta sistemática de informações de um processo

social, no caso as aulas de geometria para os alunos da modalidade EJA, para conhecer

melhor as relações existentes entre os sujeitos envolvidos no processo, no caso

professora e alunos, analisar os resultados do processo e sugerir novas possibilidades de

ensino dessa disciplina nessa modalidade de ensino.

Quanto à etnografia, segundo Fiorentini & Lorenzato (2006), um estudo de caso

é etnográfico quando:

1. Está-se interessado numa instância em particular, isto é, numa determinada

instituição, numa pessoa ou num específico programa de currículo;

2. Deseja-se conhecer profundamente essa instância particular em sua

complexidade e em sua totalidade;

3. Se estiver mais interessado naquilo que está ocorrendo e no como está ocorrendo

do que nos seus resultados, ou ainda

4. Quer-se retratar o dinamismo de uma situação numa forma muito próxima de

seu acontecer natural.

Esta pesquisa foi classificada como etnográfica por estar interessada em saber

quais a dificuldades e possibilidades do ensino da geometria numa escola específica, o

CIEJA. Desejamos, também aprofundarmo-nos no ensino da geometria e verificar se,

com as atividades aplicadas nas aulas, os alunos aprendem de maneira satisfatória e caso

isso não ocorra, temos ainda o propósito de sugerir novas atividades e novos

procedimentos de modo que esse objetivo inicial seja alcançado.

49

Metodologia

Os Sujeitos da Pesquisa

A Professora

Nessa pesquisa, a professora articula os papéis de professora e de pesquisadora,

pois ao começar a especialização, resolveu pesquisar sobre a própria prática como um

modo de reflexão sobre ela.

Licenciada em Matemática pela Universidade de São Paulo, vem atuando na

Educação de Jovens e Adultos desde o término da graduação. No início (década de

1980) nas escolas particulares de Ensino Supletivo, embora mantivesse um

relacionamento diferenciado com estes alunos, procedia em termos de programas e

currículos semelhante aos procedimentos com alunos da Educação regular.

No início dos anos 1990 participou do “projeto da interdisciplinaridade” da

prefeitura de São Paulo quando começou a encarar aluno adulto de uma forma

diferenciada e a perceber que o programa e o currículo usados com os adultos não

devem ser os mesmos usados com as crianças. Começa então, a criar estratégias para

ensinar os adultos através de projetos que levam em consideração a “bagagem” anterior

destes alunos.

A partir de 2000 participa do projeto “CEMES” da prefeitura de São Paulo

tomando contato com o material elaborado pela UNESP para este projeto e que mostra

uma educação diferenciada para os alunos jovens e adultos trabalhadores. Com a

mudança do governo, o projeto CEMES dá origem ao projeto CIEJA que tem um olhar

diferenciado para o aluno adulto.

A professora passa a fazer parte deste novo projeto e percebendo, que apesar dos

projetos, a dificuldade no ensinar matemática continua, resolve então, pesquisar sobre

novas possibilidades neste ensino, visto as dificuldades encontradas no decorrer destes

anos. Desta inquietação surge esta pesquisa que visa melhorar a prática da professora e

fornecer literatura de subsídio para outros professores que têm o mesmo tipo de

inquietação.

50

Observações sobre as opções metodológicas da professora

No início de 2007, a Secretaria Municipal de Educação da Cidade de São Paulo

(SME) implantou o projeto “Ler e escrever: prioridade na escola municipal” que diz que

a responsabilidade do desenvolvimento da competência de leitura e escrita no aluno é

responsabilidade das diferentes áreas de conhecimento, respeitando as suas

especificidades.

De acordo com o Referencial de Expectativas (2006) o professor de matemática

tem que criar situações para que o aluno desenvolva a competência leitora e escritora

em suas aulas.

A professora em questão considerou que para desenvolver no aluno a

competência da leitura e a competência para resolução das quatro operações

fundamentais da aritmética, o melhor caminho seria a partir da resolução de problemas

de raciocínio matemático e para isso usou os outros conteúdos da matemática como

elementos para compor novos problemas.

Assim sendo as aulas de geometria tiveram um caráter mais lúdico, pois o

objetivo principal era que o aluno conhecesse as principais figuras geométricas para

utilização posterior no entendimento dos enunciados dos problemas, principalmente os

que tratavam de medidas.

Com o objetivo também de dinamizar a resolução de problemas e unir conceitos

diferentes, mas que operacionalmente têm processos semelhantes, a professora optou

por ensinar as medidas de massa e de capacidade logo após o ensino das medidas de

comprimento, deixando para a seqüência as medidas de área e de volume e, por último,

as medidas de tempo, sempre de olho na competência da leitura e da escrita e

procurando resgatar os conhecimentos anteriores dos alunos.

O projeto CIEJA

Os Centros Integrados de Educação de Jovens e Adultos (CIEJA) foram criados

pelo Decreto nº 43.052, de 4 de abril de 2003.

Os Centros Integrados de Educação de Jovens e Adultos promovem cursos de

ensino fundamental, articulados com a educação profissional de nível básico, atendidos

os interesses da comunidade e as peculiaridades locais. Os cursos são organizados em

dois ciclos, compostos por quatro módulos, e desenvolvidos em oito semestres.

51

Os CIEJAs foram criados com o intuito de mudar a realidade do aluno da EJA e

desta maneira está focado no Mundo da Cultura e no Mundo do Trabalho, promovendo

desta forma educação elementar básica com resgate das identidades culturais dos alunos

e a implementação de Itinerários Formativos que visam promover a Educação

Elementar Básica.

Os Centros Integrados de Educação de Jovens e Adultos/CIEJA's oferecem os

dois ciclos do Ensino Fundamental a adultos e jovens com mais de 14 anos. Funcionam

das 7h30min às 22h15min, desenvolvendo um processo educacional flexível e

dinâmico, que atende ao ritmo de aprendizagem dos alunos e às suas possibilidades de

horário. A organização do currículo é modular, integrando educação geral e profissional

básica por meio de itinerários formativos.

Os Alunos

Os alunos pesquisados foram alunos do módulo III do projeto CIEJA e que têm

suas aulas com a professora pesquisada. O módulo III tem duração de um ano letivo e

equivale à terceira e à quarta séries do segundo segmento do Ensino Fundamental.

São alunos trabalhadores e que estudam no período noturno. Na sua maioria, são

sujeitos excluídos do sistema de ensino quando muito jovens e que retomaram seus

estudos após muitos anos ou até décadas, longe dos bancos escolares.

A maioria deles nunca tinha estudado geometria antes desta retomada dos

estudos e tiveram as primeiras noções deste conteúdo neste ano com a professora

pesquisadora.

A pesquisa

Com o propósito de investigar o ensino da matemática, em particular da

geometria, na EJA foi problematizado por meio da observação dos procedimentos da

professora e das atividades realizadas por uma turma de alunos do Módulo III no

CIEJA-FÓ/Brasilândia que trabalha aplicando o projeto da Prefeitura do Município de

São Paulo e análise de materiais didáticos elaborados especialmente para este fim.

Etapas da pesquisa:

• Escolha da turma, da qual foram observadas as aulas e as atividades aplicadas;

• Solicitação de autorização da direção da escola para efetuar a pesquisa;

• Relato explicativo da atividade aplicada pela professora de matemática da turma;

52

• Análise do planejamento da seqüência didática utilizada pela professora nas

aulas de geometria (oficinas);

• Análise geral do material coletado, a partir da comparação dos dados coletados

com a teoria estudada;

• Elaboração do relatório final.

53

A seqüência didática - Oficinas

A pesquisa, a princípio, foi realizada com base nas atividades realizadas por três

alunas do Módulo III do projeto CIEJA que preliminarmente receberam noções de

geometria em uma seqüência didática que era composta por oficinas de dobraduras,

tangram e pentaminó, que articularam conteúdos iniciais de geometria com atividades

de formação de figuras como será ilustrado a seguir.

Compreendemos Seqüência Didática como sendo um conjunto de aulas

planejadas para ensinar um determinado conteúdo sem que necessariamente tenha um

produto final. Sua duração pode variar de dias a semanas e várias seqüências podem ser

trabalhadas durante o ano, de acordo com o planejado ou com as necessidades da turma.

A seqüência didática apresenta desafios cada vez maiores aos alunos, buscando

promover a construção do conhecimento.

Após a aplicação da seqüência didática essas alunas foram convidadas a

participar da pesquisa e realizaram a atividade 1 que foi tratada como uma atividade

preliminar. Após alguns dias, a atividade 2 foi aplicada à turma em que estas alunas

estavam inseridas num total de dezenove alunos (as 3 alunas iniciais e mais 16 alunos)

como uma atividade de classe.

Pretendíamos continuar a pesquisa analisando apenas as atividades das três

alunas inicialmente elencadas na pesquisa, mas a decodificação das atividades dessas

alunas foi custosa, pois as respostas ora apresentavam-se incompletas ora ininteligíveis,

com problemas de construção das frases e inclusive das próprias palavras.

Dessa forma, optamos por fazer além da análise das atividades das três alunas

inicialmente elencadas e analisar também as atividades dos outros dezesseis alunos que

participaram da segunda atividade no sentido de aprofundar nossas análise.

A seqüência didática foi planejada para ser aplicada em quatro dias

consecutivos. Em cada dia da seqüência houve um encontro de duas horas e quinze

minutos, equivalente a três horas/aulas.

É importante observar que ao final a seqüência didática anterior à que se segue, a

professora solicitou aos alunos que fizessem uma pesquisa como trabalho extra-classe

sobre geometria, sobre seus elementos e a presença da geometria no dia-a-dia.

A seguir, temos o planejamento desta seqüência didática:

54

Seqüência Didática Bloco 3 - Módulo III – Matemática

Professor: xxxxxxxxx Disciplina: Matemática

Conteúdo: Introdução à Geometria

Objetivos Específicos:

Apresentar aos alunos as principais figuras geométricas através de atividades práticas.

Problematização Inicial:

Usando dobraduras apresentar as figuras geométricas planas e espaciais.

Etapas do Processo:

- Oficina de dobraduras relacionando as figuras, as suas propriedades principais e os

seus nomes;

- Oficina de tangram reapresentando as figuras geométricas e introduzindo as noções

de semelhança, congruência e equivalência de figuras planas;

- Oficina de pentaminó trabalhando o raciocínio lógico na montagem das figuras.

- Anotações em caderno das principais propriedades abordadas durante as oficinas.

Recursos Didático-Pedagógicos:

- papel sulfite, régua, tesoura e cola para as oficinas;

- figuras feitas em EVA;

Avaliação:

- Avaliação oral e de observação realizadas no decorrer do processo.

Segundo a professora, esta avaliação foi feita ouvindo as observações e

comentários que os alunos fizeram durante a execução das oficinas. Ela os observou

conforme executavam as atividades de dobradura, montagem de figuras e, sempre que

possível solicitou que participassem indo ao quadro branco imantado e manipulando as

peças do tangram e do pentaminó (ver figuras 1 e 2 a seguir).

55

Figura 1

Figura 2

A figura 1 mostra os quadrados que formarão as peças do pentaminó que uma

vez manipuladas e arranjadas de maneiras diferentes, originam as peças que encontram-

se na figura 2.

A turma era pequena, com apenas dezenove alunos, estes alunos puderam ser

ouvidos e observados individualmente com certa facilidade.

As aulas, durante o desenrolar desta seqüência didática, foram compostas de

algumas oficinas que direcionaram o aluno a tomar contato com a geometria e os seus

elementos.

No primeiro dia a oficina aplicada foi a de dobraduras que seguiu o modelo

sugerido pelo livro paradidático “A geometria das dobraduras” do autor Luis Carlos

Imenes (1996).

A oficina de dobraduras teve como objetivo apresentar aos alunos as principais

figuras geométricas planas, introduzindo o vocabulário apropriado para que estes

conhecessem não só as figuras com os seus nomes, mas as suas principais

características de uma forma lúdica e heurística além de introduzir a noção de dimensão

espacial.

Nessa atividade, a partir de dobraduras simples, os alunos vão conhecendo as

principais figuras geométricas planas e vão ampliando o seu vocabulário geométrico

dando significado às figuras que vão surgindo.

56

A reação dos alunos durante esta atividade foi muito boa uma vez que era uma

atividade lúdica e heurística. Conforme o aluno vai descobrindo as figuras, ele vai

colando estas figuras no seu caderno com o nome e descrevendo as principais

propriedades das mesmas.

A última figura a ser formada é uma figura espacial, um paralelepípedo reto

retângulo (veja figuras 3 e 4, a seguir) e a professora aproveita este momento para

explorar o conceito de dimensão espacial.

A seguir temos uma ilustração que mostra a construção desta última figura,

retirada do livro em questão.

Figura 3

57

Figura 4

A formalização da linguagem ficou restrita às anotações no caderno quando da

colagem das figuras construídas, além de alguns conceitos formalizados pela professora

no último dia da seqüência didática.

No segundo dia da seqüência didática, a professora aplicou à turma uma oficina

de tangram. O tangram (veja figura 5) é um jogo chinês milenar e que tem sua origem

explicada por várias lendas diferentes. Ele é usado, em geral nas aulas de arte para

estimular a criatividade das crianças que o usam como um quebra-cabeça de sete peças

com as quais é possível se formar um número muito grande e diverso de figuras.

Figura 5

A oficina de tangram teve por objetivo reforçar o conhecimento das formas e

propriedades das principais figuras geométricas, desenvolver a criatividade além de

58

apresentar aos alunos os conceitos de congruência, semelhança e equivalência de figuras

geométricas. Durante esta oficina foram apresentadas aos alunos algumas figuras novas,

tais como o triângulo retângulo, o triângulo isósceles, o paralelogramo e o trapézio, que

não tinham aparecido na oficina de dobraduras.

Após a confecção do tangram dobrando-se e cortando-se uma folha de papel,

observando-se os nomes e as propriedades das figuras que iam se formando, a

professora sugeriu que os alunos formassem quadrados, retângulos, triângulos, trapézios

e paralelogramos a partir da junção de duas ou mais peças do tangram, estimulando

desta forma a observação e a criatividade. O registro desta atividade foi feito no caderno

onde os alunos desenharam as figuras que encontravam ao unir duas ou mais peças do

tangram.

No terceiro dia foi aplicada uma oficina de pentaminó a estes alunos. O

pentaminó é um jogo que pertence à classe dos poliminós, assim como o

conhecidíssimo dominó e o tetraminó que originou o jogo “tetris”. O dominó é

composto por dois quadrados congruentes unidos pelos seus lados, o tetraminós é

formado pela união de quatro quadrados congruentes unidos pelos seus lados e que pode

ser construído de cinco formas diferentes, já o pentaminó é formado partir da união

pelos lados de cinco quadrados diferentes. Existem doze figuras de pentaminó diferentes

e o objetivo de se trabalhar a geometria com este jogo é levar os alunos a perceber a

forma e montar as peças do pentaminó a partir dos quadrados soltos e a seguir juntar as

doze peças do pentaminó como se fossem peças de um quebra-cabeça e formar

retângulos e quadrados maiores.

A seguir, na figura 6, temos as doze figuras que formam um jogo de pentaminó

acompanhada de seus nomes que se relacionam com as letras do alfabeto as quais se

aproximam do formato dessas peças.

Figura 6

59

Temos inúmeras maneiras diferentes de se montar as peças do pentaminó como

se fosse um jogo de quebra-cabeça. Ilustraremos, a seguir (figuras 7 e 8) com duas

destas maneiras de arranjar as peças do pentaminó como se fosse um quebra-cabeça.

Figura 7

Figura 8

Convém ressaltar que, como a soma das áreas das peças do pentaminó equivale a

60 quadradinhos e a figura 8 é um quadrado de área equivalente a 64 quadradinhos, esta

figura tem quatro quadradinhos que não foram preenchidos pelas peças do pentaminó,

que são os quadradinhos brancos dessa figura.

Estas atividades tiveram por objetivo estimular a criatividade e a observação dos

alunos, além de ser uma opção metodológica para na seqüência, abordar noções de

medidas de comprimento e medidas de área.

No quarto dia foram feitas as anotações em caderno que formalizaram alguns

dos conceitos tratados no decorrer da atividade.

Durante a seqüência didática, a professora não falou formalmente sobre ponto,

reta e plano, ela apenas foi usando os conceitos como vocabulário específico durante a

aplicação das oficinas, bem como as palavras: lado, vértice, ângulo e paralelos que

foram sendo apresentadas durante as oficinas sem a preocupação de uma formalização

dos conceitos ligados a estes termos. Segundo a professora, estes termos serão

formalizados numa etapa posterior quando os alunos tiverem um contato mais formal

com a geometria.

Após essas aulas, as três alunas tiveram uma aula onde resolveram a atividade 1

individualmente e depois a atividade 2, junto com os outros alunos da sua turma. Essas

atividades serão analisadas a seguir.

60

Descrição e Análise das Atividades Realizadas na

Pesquisa

Atividade 1

A Atividade 1 consta de duas partes. Na primeira parte temos um questionário

cujas perguntas estão relacionadas a seguir:

1. Você estudou até qual série quando criança?

2. Quando você estudou, antes de vir para o CIEJA, você teve aulas de geometria?

3. O que você se lembra destas aulas?

4. Você acha que esta matéria influenciou na sua decisão de parar de estudar?

Estas perguntas tinham como objetivo conhecer um pouco estes alunos e suas

experiências anteriores.

A segunda parte da atividade tem duas questões numeradas com os números 5 e

6 respectivamente, a primeira encontra-se a seguir com o número 5 e a segunda que tem

o número 6 será relacionada e analisada na seqüência.

5. Quais das atividades abaixo usam a geometria como ferramenta?

a) Desenhar a planta de uma casa.

b) Calcular a área de uma sala a ser ladrilhada.

c) Desenhar o mapa do bairro onde moro.

d) Verificar a possibilidade de um candidato a prefeito ganhar uma eleição.

e) Verificar a massa de um pacote de arroz.

f) Traçar as margens em uma folha de papel sulfite.

g) Calcular o juro cobrado por uma loja para a compra de um automóvel.

O objetivo destas perguntas era saber qual o conhecimento anterior dos alunos

em geometria e verificar se ele compreendeu e conseguiu identificar atividades que são

diretamente relacionadas à geometria, isto é, se o conceito de geometria passou a ter

significado para este aluno. Na pergunta número 5 era esperado que eles identificassem

como atividades ligadas à geometria os itens a, c e f.

A segunda questão da atividade era composta por um quadro onde os alunos

deveriam assinalar em cada item apresentado se este era relacionado com a idéia de

ponto, de reta ou de plano, conforme a tabela abaixo:

61

6. Relacione, na tabela abaixo, os itens que dão a idéia de ponto, reta ou plano,

respectivamente.

Item ponto reta plano

a) Um fio de alta tensão esticado.

b) O gramado de um campo de futebol.

c) O furo na orelha para colocar um brinco.

d) Uma praia deserta.

e) A quina de um armário.

f) A parede lateral de um prédio.

g) Um fio de linha esticado.

h) Uma formiga no chão, vista do alto.

i) Um prego fincado na parede.

j) O trilho do trem.

O objetivo desta questão era verificar se eles adquiriram a competência de

identificar nas atividades do seu dia-a-dia estes conceitos da Geometria.

Convém lembrar que estes alunos ainda não tinham a formalização dos conceitos

de ponto, reta e plano então, para acertar o que foi pedido na questão número 6 ele teria

que extrapolar o que lhe foi ensinado, ou seja, ele teria que ter prestado atenção nos

conceitos que foram apenas citados durante os encontros da seqüência didática

(oficinas).

A seguir faremos a análise da resposta das alunas que participaram das

atividades.

Análise da Atividade 1

A primeira atividade foi aplicada a três alunas do módulo III que haviam

participado das aulas de geometria junto com a sua turma. A atividade foi aplicada dois

meses após estas alunas terem participado das oficinas de geometria e também após elas

terem feito a atividade extra-classe sugerida pela professora.

Aluna 1

Esta aluna chegou ao CIEJA há três anos analfabeta e foi alfabetizada nesta

escola sendo que o primeiro contato com a geometria ocorreu nesse ano.

62

Na primeira parte da atividade, a aluna respondeu que as medidas de massa (5e)

eram uma atividade de geometria. Ela já estudou as medidas de massa neste ano e,

conforme observa Gómez-Granell (1997), deve ter acontecido com ela algo que é muito

comum acontecer, ela decorou as regras para trabalhar com as medidas de massa, mas

ainda não entendeu o significado destas medidas e as circunstâncias em que devem ser

usadas o que levou-a a confundir este conteúdo com geometria. Esta aluna marcou ainda

a questão (5g) que era um exemplo de atividade de matemática financeira como sendo

uma atividade de geometria, porém ela ainda não aprendeu matemática financeira de

maneira formal, conteúdo que ela conhecerá apenas no próximo ano, o conhecimento

que tem deste conteúdo é apenas da sua vida prática.

Na atividade 6, a aluna apontou a parede (6f) e a formiga (6h) como retas.

Novamente, Gómez-Granell (1997) assinala que, para esta aluna, ainda não ficou claro

qual o significado de reta, ela já conhece, mas ainda consegue relacionar o nome com a

figura.

Aluna 2

Esta aluna chegou alfabetizada ao CIEJA, mas seu primeiro contato com a

geometria foi neste ano.

Ao resolver a questão 5b que se trata de uma atividade ligada a áreas, como

sendo uma atividade de geometria, sendo que as questões desenhar o mapa do bairro

onde moro (5c) e traçar as margens em uma folha de papel sulfite (5f), não foram

considerados por esta aluna como sendo atividades ligadas à geometria.

Pela proposta de Van Hiele (1994) concluímos que esta aluna encontra-se ainda

no nível básico de sua alfabetização em geometria, ou seja, ainda não adquiriu as

competências mínimas nesta modalidade, já se observarmos o que diz Piaget, embora

ela já esteja na idade adulta ainda não está com as operações lógicas formais totalmente

desenvolvidas.

Na segunda parte da atividade, a aluna considerou o item praia deserta (6d) e o

item parede lateral de um prédio (6f) como sendo retas e considerou também o item

formiga no chão, vista do alto (6h) e o item trilho do trem (6i) como sendo planos. O

que apenas confirma a análise já feita no parágrafo anterior. Além disso, podemos ainda

acrescentar que segundo Gómez-Granell (1997) ela ainda não estabelece uma relação

entre o símbolo e o significado dessas figuras geométricas.

63

Aluna 3

Esta aluna chegou ao CIEJA alfabetizada, mas nunca tinha entrado em contato

com os conceitos de geometria até então. Seu primeiro contato com este conteúdo foi

neste ano.

Ao resolver a atividade, esta aluna não identificou a questão traçar as margens

em uma folha de papel (5f) como sendo uma atividade de geometria embora tenha

identificado adequadamente os outros itens da questão 5.

Já na questão 6, ela considerou o furo da orelha como sendo uma reta (6c) e a

quina do armário (6e) como sendo um plano.

Como ela acertou a maioria dos itens das questões desta atividade, podemos

notar que esta aluna encontra-se num nível melhor do que as alunas anteriores, já está

relacionando as figuras geométricas que conhece com os seus significados.

Apesar destas alunas nunca terem estudado geometria, consideramos que, pelo

fato das atividades terem sido apresentadas de maneira lúdica e por apenas uma semana,

elas obtiveram um bom desempenho, ainda que essa seja uma primeira aproximação

com as atividades geométricas.

Atividade 2

1. Observe as figuras abaixo e identifique as figuras da seguinte forma:

a) Pinte os quadrados de vermelho.

b) Pinte os retângulos de azul.

c) Pinte os paralelogramos de amarelo.

d) Pinte os triângulos de verde.

e) Pinte os círculos de laranja.

64

2. Agora responda às perguntas:

a) Quais as características que você observou nas figuras que identificou como

quadrado?

b) Quais as características que você observou nas figuras que identificou como

retângulo?

c) Quais as características que você observou nas figuras que identificou como

paralelogramo?

d) Quais as características que você observou nas figuras que identificou como

triângulo?

e) Quais as características que você observou nas figuras que identificou como

círculo?

65

f) Quais os números das figuras que ficaram sem pintar?

g) O que deveria ser modificado em cada uma destas figuras para que elas

pudessem ser pintadas? Quais as cores deveriam ser usadas em cada figura?

h) Que propriedades ou características você encontrou nas figuras que não foram

pintadas?

Esta atividade não foi aplicada apenas às três alunas citadas anteriormente, mas a

toda a turma em que elas estão inseridas, ou seja, dezenove alunos (as três mais

dezesseis alunos). A atividade acima também é composta de duas questões. Na questão

1 os alunos deviam identificar com cores diversas, figuras geométricas já conhecidas

num painel onde havia as figuras pedidas misturadas com algumas que ele ainda não

conhecia. O que se esperava ao final era que as figuras enumeradas com os números 1

(elipse) e 2 (trapézio) ficassem sem pintar e as demais receberiam cores de acordo com

as suas classificações.

Na questão 2 da atividade foi pedido aos alunos que relacionassem quais

propriedades haviam notado nas figuras da primeira parte que fizeram-nos decidir por

pintar ou não as figuras. Nesta parte da atividade, o objetivo da professora foi verificar

se os alunos conheciam as figuras apenas empiricamente pelos desenhos ou se sabiam

dizer quais as propriedades levam estas figuras a ter a classificação escolhida.

Perguntou-se também a respeito das figuras que ficaram sem pintar se eles as

conheciam o que deveria mudar nestas figuras para que elas pudessem ser pintadas com

alguma das cores.

Conforme dissemos anteriormente, esta atividade será analisada não só para as

três alunas que participaram da atividade 1, mas também para a turma em que estas

estão inseridas como um todo.

Algumas observações foram feitas durante a atividade quando a professora, com

olhar de pesquisadora, anotou algumas reações dos alunos e alguns comentários que

estes fizeram entre si ou ainda com a professora. Consideramos que essas anotações

proporcionaram evidências relevantes para a nossa investigação.

Relacionaremos as observações que a pesquisadora fez durante a aplicação da

atividade.

A pesquisadora notou que os alunos tinham dúvida se a mudança da posição

gerava novas figuras ou se, devido à manutenção das propriedades, as figuras

66

continuavam sendo as que eles já conheciam, esta reação é típica de um estado

egocêntrico conforme evidenciado por Piaget. Embora ele tenha estudado o

egocentrismo em crianças pequenas, ele se adapta bem para esses alunos que, segundo

Oliveira (1999a) embora adultos, não têm as mesmas características do adulto letrado

que freqüentou a educação básica na idade adequada. Podemos analisar esse fato

também relacionando com Oliveira (1999b) observando que esse aluno “pouco letrado”

ainda faz relações com a experiência cotidiana o que gera a impossibilidade de um

pensamento abstrato.

A maioria dos alunos não se lembrou de quais eram as propriedades de um

paralelogramo, inclusive alguns optaram por “chutar” alguma(s) da(s) figura(s) para ser

a representação do paralelogramo. Como a figura e as propriedades do paralelogramo

foram estudadas durante a oficina do Tangram e relatadas no caderno no quarto dia da

seqüência didática. Dessa maneira podemos concluir que, de acordo com Gómez-

Granell (1997), os alunos não conseguiram ainda passar da noção intuitiva e vincular os

nomes e as propriedades trabalhadas aos símbolos e imagens das figuras geométricas

planas. Isso nos leva a pensar que um fator importante é a necessidade que esses estudos

sejam aprofundados e que as atividades sejam diversificadas.

Alguns alunos pensaram que todas as figuras deveriam ser pintadas, ou seja, que

todas poderiam ser classificadas de alguma forma e que não haveria nenhuma figura que

tivesse alguma classificação diferente das sugeridas na atividade. Alguns alunos

comunicaram-se entre si e chegaram à conclusão de que poderiam deixar de pintar uma

ou mais figuras e voltaram atrás marcando que algumas figuras pintadas deveriam estar

sem pintura. Outros só perceberam, ao responder a questão 2 que isso poderia acontecer.

Neste caso podemos nos remeter à teoria quando ela diz do experimentar como

competência do pensamento geométrico. Estes alunos, na verdade, fizeram uma

suposição e a experiência mostrou que eles deveriam voltar atrás nas suas decisões.

Os alunos tiveram dificuldade em preencher a questão 2 desta atividade, quando

comparado com a questão 1. Muitos conhecem os nomes das figuras geométricas, mas

têm dificuldade em relacionar as propriedades de cada figura com a respectiva imagem

mostrando que eles não alcançaram a compreensão dos conceitos, pois não conseguem

descrever as figuras em termos de seus componentes ao estabelecendo uma relação

entre símbolos e os seus significados.

67

Freqüentemente os alunos pensaram que bastava a figura ser curva para ser

círculo, então a maioria deles considerou a figura número 1 (elipse) como sendo um

círculo. Nesse caso, nos remetemos à teoria de Piaget quando ele estuda as crianças e

percebe que estas representam todas as figuras como círculos. Estes alunos já estão na

idade adulta e já passaram dessa fase do desenvolvimento cognitivo, mas voltando a

Oliveira (1999a), são adultos diferentes do adulto letrado, nesse sentido os alunos

pesquisados parecem preservar dificuldades apontadas por essa autora quando cita as

investigações de Luria que aponta a falta de possibilidade de classificação categorial de

sujeitos “pouco letrados”.

O quadrado de número 10 está inclinado e os alunos tiveram dificuldade em

classificá-lo como sendo um quadrado. Alguns alunos não consideraram o triângulo

retângulo, figura 9, como sendo um triângulo, para estes alunos só será triângulo a

figura que tem o formato da figura 11 e observando a questão 2 notamos que os alunos

não reconhecem o triângulo como sendo uma figura de 3 lados, nesta situação podemos

novamente nos remeter à dificuldade que apresentam como sendo as mesmas figuras

algo que está numa posição diferente.

Observando as atividades das mesmas alunas que fizeram a atividade número 1,

temos:

Aluna 1

Na questão 1, a aluna acertou a pintura dos quadrados, com exceção da figura 10

que considerou um retângulo. Considerou o retângulo (8) como se fosse quadrado e

deixou os outros dois sem pintar. Ela considerou o trapézio (2) como paralelogramo e a

elipse (1) como círculo.

Percebemos que ela ainda confunde quadrado e retângulo, o que segundo Van

Hiele (1994) é normal nesta fase de maturidade geométrica e os outros problemas que

ocorreram na atividade dessa aluna são semelhantes aos já analisados na totalidade da

turma.

Na questão 1, a aluna parece ter compreendido a proposta no entanto, ao realizar

a questão 2 mostrou que ainda tem muitos problemas de alfabetização com dificuldades

para descrever as propriedades ou mesmo escrever de uma maneira inteligível. A aluna

está inapta para o tipo de atividade proposta pela professora e ainda que pudéssemos

68

esperar que a aluna, por estar no módulo III, já tivesse vencido a barreira do letramento,

isso não se verificou.

Podemos concluir, a partir das atividades, que essa aluna atingiu o objetivo de

reconhecer a maioria das figuras geométricas que lhe foram apresentadas mas que há

necessidade de melhorar o seu nível de letramento para conseguir expressar melhor o

que aprendeu.

Aluna 2

Todos os quadrados e retângulos foram pintados de vermelho que é a cor

solicitada para os quadrados, com exceção do número 10 que ficou sem pintar, o que

nos faz notar que essa aluna ainda confunde as propriedades dos quadrados e dos

retângulos, embora não os tenha confundido com outras figuras. Segundo Gómez-

Granell (1997), a aluna ainda confunde o significado dos símbolos que conhece.

A aluna devia pintar de amarelo o paralelogramo, mas não pintou nenhuma

figura com essa cor. Considerou o trapézio 2 como sendo um triângulo e a elipse 1

como sendo um círculo.

Na segunda parte, deu para notar que ela sabe que o quadrado tem 4 lados, o

triângulo tem 3 lados e o círculo é curvo, mas não usou um vocabulário de geometria

(lados, ângulos, etc.), como ilustramos a seguir:

Transcrição das respostas da aluna 2:

a) Quais as características que você observou nas figuras que identificou como

quadrado?

R: Eles têm quatro linhas retas.

d) Quais as características que você observou nas figuras que identificou como

triângulo?

R: Eles têm três linhas.

e) Quais as características que você observou nas figuras que identificou como

círculo?

R: Tem uma linha redonda.

Observando essa transcrição notamos que a aluna ainda está no nível básico de

maturidade geométrica (Van Hiele, 1994). Notamos aqui também um problema na

escrita.

69

Aluna 3

A aluna, a exemplo das anteriores, confundiu os quadrados e os retângulos. Ela

pintou adequadamente os quadrados, com exceção do número 10 (o que estava

inclinado) e pintou o retângulo 8 desta mesma cor, deixando os demais sem pintar. O

que se infere é que a aluna não percebeu que as dimensões do retângulo 8 não eram de

um quadrado, daí não conseguir identificar um retângulo, provavelmente, não

relacionou a figura com o seu nome. (Goméz-Granell, 1997)

Ela identificou adequadamente os triângulos e o círculo, mas identificou a elipse

como sendo círculo, a exemplo da maioria dos alunos e chamou o trapézio de

paralelogramo, deixando este sem pintar.

É interessante observar que na questão 2, a aluna identificou o quadrado como

sendo uma figura de quatro lados, sem colocar regras para esses lados, o que reforça o

que foi analisado no primeiro parágrafo, mas descreveu os retângulos como tendo 3

lados e o triângulo como tendo 5 lados, o que ficou incoerente quando se nota que

pintou os triângulos adequadamente. Essa atitude nos leva a analisar que,

provavelmente a aluna respondeu a questão 2 sem fazer correspondência com o que

respondeu na questão 1, isso nos remete à possibilidade de que a aluna não consegue

pensar em como se resolve um problema, quer dizer que ela não conseguiu apreender os

processos mentais estão envolvidos na elaboração da solução da atividade.

Já o círculo, a aluna identificou-o como sendo uma bola, o que mostra coerência

com o que fez na questão 1.

Segundo Oliveira (1999a), o ser humano mantém um bom nível de competência

cognitiva até uma idade avançada (acima dos 75 anos) e que o que determina o nível de

competência cognitiva destas pessoas são: o meio em que elas vivem e as interações que

têm com este meio. Desta forma, podemos concluir que, ainda de acordo com essa

autora, essa aluna não está preparada para atividades em que é necessário o controle da

produção cognitiva e tão pouco para procedimentos metacognitivos sendo que a escola é

um bom caminho para a melhoria dessa situação.

A seguir faremos mais algumas considerações sobre esta atividade que

consideramos relevantes para o nosso trabalho analisando as respostas da turma

completa, ou seja, os 19 alunos aos quais foi aplicada a atividade.

70

Análise geral dos alunos

Todos os alunos souberam reconhecer o círculo, mas onze deles classificaram a

elipse também como círculo, isto nos leva a verificar que para estes alunos, toda figura

curva é círculo. Isto deve ter ocorrido pelo fato de a única figura curva que foi

apresentada a estes alunos ter sido o círculo e que, portanto, eles concluíram, a partir do

que conheciam, que toda figura curva é um círculo, ou seja, eles não tiveram uma

contraposição, para poder diferenciar as figuras.

Podemos considerar, também, que se foi dito para eles que todo polígono de três

lados é um triângulo, eles concluíram que toda figura curva seria um círculo. Pela

experiência da pesquisadora como professora de EJA, os alunos desta modalidade estão

sempre solicitando regras que generalizem as atividades propostas pela professora.

Cinco alunos não conseguiram reconhecer os dois polígonos de três lados como

sendo triângulos. Ficou claro que, para estes, ao se mudar a posição do triângulo, ele

passa a ser uma figura diferente. Estes alunos conhecem a figura do triângulo mas ainda

não relacionam com a definição de ser um polígono de três lados, então para eles só é

triângulo aquele que tem o formato que eles conhecem da sua vida cotidiana, ou seja,

para eles ter três lados não implica em ser triângulo.

Dos dezesseis alunos, treze souberam enunciar as características do quadrado,

sendo que um deles deu como característica o formato de caixa e alguns trocaram a

palavra “lado” por “linha” ou ainda por “parte”. Os outros três não souberam dar

nenhuma característica que tivesse relação com as características de um quadrado. Os

alunos reconhecem os quadrados, mas para doze deles, o quadrado que não tem a base

na horizontal não é quadrado, a exemplo disso temos o quadrado de número 10 que

como todo quadrado é também um losango, nesse sentido, os alunos podem não tê-lo

colorido em virtude de ter imaginado de que tratava apenas de um losango.

Novamente, neste caso, o símbolo (quadrado inclinado) levou ao significado que

eles conheciam da vida prática (losango) o que não é totalmente errado pelo fato da

figura ser também um losango além de ser quadrado, mas esse conceito, de acordo com

Van Hiele (1994) ainda não está ao alcance do desenvolvimento do pensamento

geométrico desses alunos.

Para apenas um aluno, o retângulo também se chamava quadrado. Mas, nenhum

deles chamou algum quadrado de retângulo.

71

Apenas seis alunos reconheceram o paralelogramo como tal, mas nove alunos

reconheceram outras figuras como sendo paralelogramos e quatro alunos não

reconheceram nenhuma figura como sendo paralelogramo. O quadrado, o triângulo e o

retângulo apareceram em quase todas as oficinas aplicadas a esses alunos, mas o

trapézio e o paralelogramo apareceram somente na oficina do tangram e não deve ter

sido suficiente para que estes alunos se familiarizassem com estas figuras. Eles devem

ter considerado tanto as figuras como os nomes como sendo figuras até então

desconhecidas.

Embora a maioria dos alunos não saiba relacionar quais as propriedades de cada

figura, quatro deles usaram a expressão “lados dois a dois paralelos” para o

paralelogramo, relacionando com o que foi dito pela professora na oficina do tangram,

mostrando que estão no nível 1 da escala elaborada por Van Hiele (1994).

Uma das dificuldades destes alunos foi enumerar as propriedades das figuras.

Alguns diziam que o quadrado tem quatro partes iguais, um outro aluno disse que o

quadrado tem formato de caixa, o retângulo forma de tapete e o triângulo forma de um

pinheiro, inclusive este aluno não considerou o triângulo retângulo como sendo um

triângulo e nem o quadrado inclinado como quadrado evidenciando uma dificuldade de

criar categorias para as figuras.

Podemos concluir que obtivemos um resultado dentro do esperado uma vez que

estes alunos estão estudando geometria pela primeira vez e que ainda não houve tempo

para que eles atinjam uma maturidade no assunto.

Segundo Gómez-Granell (1997) é necessário algum tempo e alguma

familiaridade com o assunto estudado para que a geometria passe a ser uma linguagem

corrente para esses alunos.

Se observarmos as tentativas desses alunos em associar os conhecimentos que

possuem com as respostas que apresentaram, podemos perceber a grande proximidade

que ainda existe em categorizar as figuras segundo sua experiência cotidiana. Percebe-

se que, como adultos “pouco letrados”, suas respostas, diferentemente das crianças em

idade escolar adequada, têm vínculo com todo o desenvolvimento social e ambiental e

que trazem esta experiência como parte de suas possibilidades.

72

Dificuldades e Possibilidades para o Ensino da

Geometria

Esta pesquisa foi desenvolvida com o propósito de investigar as dificuldades

encontradas no ensino da matemática, em particular da geometria, na EJA, e sugerir e

analisar novas possibilidades para as aulas de Geometria nessa modalidade de ensino.

Dessa forma relataremos a seguir, em linhas gerais, as principais dificuldades

encontradas no decorrer da pesquisa e sugerir algumas possibilidades com uma breve

análise da relevância de cada uma delas.

Dificuldades

As dificuldades encontradas nos alunos são típicas da inserção do adulto “pouco

letrado” no universo escolar. Observou-se problemas de classificação, sistematização e

controle da atividade cognitiva. Estes alunos até conhecem as figuras geométricas, mas

têm muita dificuldade em relacionar suas propriedades bem como relacionar as figuras

entre si.

Notou-se ainda que ao relacionar uma caixa (três dimensões) e um quadrado

(duas dimensões) como tendo o mesmo formato a dificuldade de representação das três

dimensões. Compreendemos que esta dificuldade está relacionada com os processos

metacognitivos ainda em construção nesses sujeitos.

Um fator importante a ser considerado é que estes alunos que estão hoje na EJA

iniciaram seus estudos na época em que estava em vigor a LDB de 1971 (lei 5692/71) e

que orientava o ensino da matemática para ser feito usando-se como base a teoria dos

conjuntos e desta forma os livros didáticos que norteavam os planejamentos dos

professores desta época introduziam a geometria usando a teoria dos conjuntos e as

demonstrações formais, além de deixá-la para o final dos livros didáticos. Desta forma a

maioria desses alunos chegou sem conhecer geometria.

Possibilidades

Além das possibilidades já citadas no texto (dobraduras, tangram e poliminós),

vamos sugerir outras atividades que podem facilitar o ensino e a aprendizagem dos

conceitos geométricos sempre analisando a sua conveniência e relevância. São elas:

73

Trabalho com massa de modelar

Com massa de modelar (ou argila), os alunos podem reproduzir diversos objetos

que lembram formas geométricas. Enquanto trabalham com este material cabe ao

professor estimulá-los a observar características de cada uma destas formas, as

diferenças e/ou pontos em comum, ou ainda verificar que alguns objetos vão nos

remeter a figuras bidimensionais e outros a figuras tridimensionais.

Esta atividade tem como principal propósito introduzir as figuras geométricas e

suas características principais de uma forma lúdica e que remete ao cotidiano do aluno

facilitando a introdução dos conceitos a serem feitos posteriormente.

Jogos de classificação

Nesta modalidade o professor apresenta aos alunos objetos tridimensionais

confeccionados com cartolina e algumas figuras geométricas planas também

confeccionadas com este material e estimula-os a classificar estes objetos por

propriedades comuns ou não-comuns, levando-os a refletir sobre as características de

cada uma destas figuras geométricas.

Esta atividade tem como objetivo levar o aluno a perceber as características e

propriedades das figuras geométricas por meio da observação de figuras pré-

construídas. Além disso, pretende levá-lo a sistematizar estas características com a

introdução do vocabulário apropriado. Outro objetivo é levá-lo a identificar figuras de

duas e de três dimensões.

No sentido de formalizar os conceitos, uma atividade posterior, poderia ser uma

busca em livros didáticos ou ainda na internet sobre as características dessas figuras e

seus nomes.

Como assinalamos anteriormente, com esta atividade, o aluno vai complementar

os conceitos vistos nas atividades anteriores reforçando sua sistematização, e além disso

há a possibilidade de promover a autonomia do aluno uma vez que ele poderá construir

conceitos próprios a partir da pesquisa e depois participar de um debate entre os colegas

que usaram fontes diferentes das suas. De acordo com Luria (apud Oliveira, 1999b) o

trabalho coletivo possibilitará o desenvolvimento do pensamento descontextualizado.

74

Confeccionando painéis e cartazes

Após a participação de alguma oficina aplicada pelo professor ou de ter feito

uma pesquisa sobre o assunto, os alunos deverão confeccionar cartazes e/ou painéis

usando as figuras que tomaram conhecimento explorando o uso destas figuras para

representar figuras ligadas ao seu cotidiano que remetem às figuras geométricas já

estudadas.

Uma atividade que de nossa experiência tem sido bastante motivadora é a

apresentação de filmes paradidáticos seguida da proposta de elaboração de cartazes e

painéis que façam referência a elementos geométricos presentes no filme assistido.

O objetivo específico dessa atividade é levar os alunos a identificar elementos

geométricos em figuras já conhecidas e usadas por eles no seu dia-a-dia.

Ampliando as possibilidades dessa atividade objetivamos também aumentar o

universo cultural dos alunos, lembrando que os principais objetivos do CIEJA são: a

inserção no mundo a cultura e no mundo do trabalho.

Confeccionando figuras tridimensionais

Nesta atividade o professor deve apresentar, numa primeira etapa, figuras

tridimensionais confeccionadas com cartolina e estimulá-los a fazer a planificação

destas figuras sem desmontar as já existentes conservando medidas e formatos.

Numa segunda etapa, eles deverão montar estas figuras a partir das planificações

já feitas e verificar se realmente conseguiram chegar na planificação correta das figuras,

sempre com o estímulo do professor no sentido de classificá-las pelos nomes e pelas

propriedades.

O objetivo desta atividade é estimular a observação e levar o aluno a passar do

bidimensional para o tridimensional e vice-versa.

Atividades no computador com softwares de geometria

Existem hoje no mercado vários softwares que ajudam o aluno a aprender

geometria, entre eles o Cabri-Geometry, Sketchpad, Cinderella, Dr Geo, Geoplan,

Geospace, Euklid, Wingeom, S-logo, Poly, Shapari, Geometria Descritiva, Régua e

Compasso e outros. Alguns destes softwares são importados e devem ter seus direitos

de uso comprados pela escola, mas alguns deles são em português, elaborados pelas

universidades brasileiras e de uso livre. Entre eles destacamos o WinGeon que foi feito

75

pelos professores do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo

e que é de uso livre.

O objetivo desta atividade, mais sofisticada que as anteriores é colocar a

tecnologia a serviço da aprendizagem e é indicada para alunos que já dominem um

pouco a informática e o idioma inglês, já que a maioria dos softwares não são em

português, apesar de que o S-logo pode ser usado até com alunos em fase de

alfabetização uma vez que seu uso é muito simples e ajuda muito a localização espacial

dos entes geométricos.

Atividades usando o Geoplano

O geoplano é um objeto que pode ser facilmente construído, até pelos próprios

alunos com uma madeira e pregos e que, com o auxílio de elásticos pode ajudar os

alunos a conhecer as figuras geométricas e suas propriedades.

Esta atividade é especialmente indicada por ser de fácil confecção e manuseio e

ajuda muito na construção do conhecimento geométrico.

76

Perspectivas Futuras

Considerando o caráter etnográfico dessa pesquisa, os resultados obtidos e o fato

de a geometria ser deixada para segundo plano no Ensino Fundamental e, em particular

na EJA e sendo este um trabalho inicial, consideramos que seria interessante a

continuidade dessa pesquisa.

77

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Anexo I

Dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais (INEP) Sobre Analfabetismo

Os níveis de alfabetismo do INAF 2001 – Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional

– mostram que as habilidades básicas de leitura e escrita (em boa parte desenvolvida nos

processos de escolarização) estão desigualmente distribuídas entre a população

brasileira e que essa desigualdade está associada a outras formas de desigualdade e

exclusão social.

Assim:

- Analfabeto absoluto - 9% da população de 15 a 64 anos, a maioria não completou

nenhuma série escolar, pertencem às classes D e E (91%), moram em municípios do

interior no nordeste e sudeste, faixa etária predominante 35 a 49 anos (38%).

- Nível 1 de alfabetismo: capacidade de localizar informações em textos muito curtos,

ex localizar títulos ou datas: 31 % têm menos de quatro anos de escolaridade, pertencem

às classes E e D (70%) e C (26 %). A maioria vive no sudeste, 19 % têm de 14 a 24

anos (concentração de jovens).

Não têm demanda de leitura no ambiente de trabalho, 4% utilizam computador.

- Nível 2 de alfabetismo: capacidade de localizar informações em textos curtos e de

extensão média. 44% têm o Ensino Fundamental completo e apenas 7% têm menos de 3

anos de estudo.

Pertencem às classes E, D (47 %) e C (37%). Nesse grupo predominam os jovens 37%

têm entre 15 e 24 anos. No ambiente de trabalho lêem mais de um tipo de documento,

15 % utilizam computador.

- Nível 3 de alfabetismo: lê textos longos, orienta-se por subtítulos, compara textos, faz

inferências e sínteses. 43% têm Ensino Médio e 23% o Ensino Superior, pertencem às

classes E e D (27%), classe C 39% e classes A e B (34%), 44% são jovens de 15 a 24

anos. No ambiente de trabalho lêem mais de um tipo de documento, 41% utilizam

computador.

Estatísticas impactantes – Mapa do Analfabetismo – INEP/2003

• Taxa de analfabetismo da população brasileira de 15 anos ou mais 13,6 % (73ª posição

no ranking internacional, inferior à da Argentina, Chile, Colômbia, México, Costa

Rica).

• Taxa de analfabetos funcionais (quatro anos de escolarização) 27,8%.

• Analfabetos absolutos e analfabetos funcionais – 50 milhões de brasileiros.

Embora as taxas do analfabetismo tenham caído progressivamente no último século, os

números absolutos aumentaram. Em 2000 havia um número maior de analfabetos do

que na década de 60 e quase duas vezes e meia o que havia no início do século 20. Do

ponto de vista da mobilização de recursos o que interessa é o número absoluto de

analfabetos e isto nos impõe uma grande tarefa.

Políticas educacionais frágeis no combate ao analfabetismo

• Ações marcadas pela descontinuidade. Tentativas para erradicar o analfabetismo

acontecem desde 1947 – Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos - governo

Gaspar Dutra. Entre campanhas, movimentos e programas foram mais de dez tentativas,

pouco eficientes de combater o analfabetismo, como comprovam as estatísticas.

• Propostas salvacionistas e improvisadas. A cada governo um novo batismo de

programas de alfabetização.

Se analisarmos a expansão do sistema constata-se que a ampliação do

atendimento escolar teve forte impacto no processo de desaceleração do analfabetismo,

sobretudo nas faixas etárias mais jovens. Por outro lado, o ganho na escolaridade média

da população, foi insuficiente para garantir-lhes o ensino fundamental completo. Na

faixa de 10 a 19 anos 7,4% são analfabetos e 35% dos analfabetos já freqüentaram a

escola (fracasso do sistema escolar brasileiro).

Anexo II

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Serviço Público Federal

Centro Federal de Educação Tecnológica de São Paulo

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Prezado(a) Sr.(a)

O projeto intitulado “Dificuldades e Possibilidades no Ensino da Matemática

na EJA”, é uma pesquisa aprovada pelo CEP (Comitê de Ética de Pesquisa) do CEFET-

SP, orientado pela Profª .Ms Wania Tedeschi e conduzido pela aluna Elisabete

Teresinha Guerato, que tem como objetivo geral investigar o ensino da matemática, em

particular da geometria, na EJA e leva em consideração a dificuldade que o aluno adulto

tem para sistematizar a matemática que usa no seu dia-a-dia nas aulas e nas atividades

sugeridas pelos professores.

Durante a atividade será entregue um questionário, no qual o entrevistado terá livre

arbítrio para escolher se quer ou não responder. A atividade que será realizada é

considerada sem risco. Porém, se este procedimento gerar desconforto, constrangimento

ou outra situação negativa qualquer, a participação poderá ser interrompida sem

qualquer prejuízo.

O entrevistado ficará livre para interromper a qualquer momento sua participação na

atividade de campo. Essa participação na atividade de campo é voluntária, sendo que

não haverá qualquer forma de remuneração.

Os dados pessoais serão mantidos em sigilo e os resultados gerais obtidos através da

atividade de campo serão utilizados apenas para alcançar os objetivos do trabalho,

expostos acima, incluída sua participação em sala de aula ou congressos.

O entrevistado poderá entrar em contato com o responsável pela atividade de campo,,

Profª .Ms Wania Tedeschi sempre que julgar necessário através do telefone: (11) 2763-

7546 e/ou Elisabete Teresinha Guerato pelo telefone (11) 2763-7546, ou com o Comitê

de Ética e Pesquisa do Cefet-SP pelo telefone: (11) 2763-7546.

Este Termo de Consentimento é feito em 2 (duas) vias, de maneira que uma

permanecerá em meu poder e a outra com a aluna responsável e obtive todas as

informações necessárias para poder decidir conscientemente sobre a minha participação

na referida atividade de campo.

Eu___________________________________________________ ,_______anos

RG__________________, residente a __________________________________,

telefone ( )________________, abaixo assinado, dou meu consentimento livre e

esclarecido para participar como voluntário(a) da atividade de campo supracitada, sob

responsabilidade da aluna Elisabete Teresinha Guerato, estudante do Centro Federal de

Educação Tecnológica de São Paulo, e da Profª .Ms Wania Tedeschi, professora do

curso de Pós-Graduação.

São Paulo, ______ de ____________________ de 2007.

__________________________________________

Nome e/ou assinatura do voluntário

_____________________ ________________________

Profª .Ms Wania Tedeschi Elisabete Teresinha Guerato

End.: Rua Pedro Vicente, 625 RG.: 10.103.871

e-mail: [email protected] e-mail:[email protected]

Tel.: (11) 2763-7576 Tel.: 2763-7576

Anexo III

Carta de encaminhamento

Ao Prof. ___________________

Presidente do Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo Seres Humanos do CEFET -SP.

Venho por meio desta encaminhar o projeto de pesquisa intitulado:

“Dificuldades e Possibilidades no Ensino da Matemática na EJA” para apreciação deste

douto Comitê de Ética.

São Paulo, ___ de __________ de _____.

_________________________

Professor Ms. Wania Tedeschi