ensino literatura africana

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ISSN: 1982-3916 ITABAIANA: GEPIADDE, Ano 5, Volume 9 | jan-jun de 2011. LEITURA E LITERATURA: A CONSTRUヌテO DO LEITOR LITERチRIO READING AND LITERATURE: READERエS LITERARY CONSTRUCTION Rafaela Felex Diniz Gomes Monteiro de Farias 1 (UFS) RESUMO: A academia dissociou o Ensino de Literatura e Leitura por imposição histórica e teórica. Tem-se como objetivo indicar a postura que devem assumir o meio acadêmico e escolar na formação do leitor de textos literários. Para isso, foram utilizadas teorias sobre associação ou separação entre leitura e literatura. Concluiu-se que essas duas áreas se complementam e essa deve ser a postura no meio acadêmico e escolar. Palavras-Chave: Leitor, Literatura, Academia, Escola. ABSTRACT: The academy dissociated the reading and literature teaching for historical and theoretical imposition. Is has a goal indicate. The posture that should take over the academic and school place in the readerエs formation of literary texts. For that, used theories about association or separation between Reading and lieterature. It concluded that these two knowledges areas complemente and this should be the in the middle academic and posture school. Keywords: Reader, Literature, Academy, School. 1 INTRODUヌテO Neste trabalho pretendermos analisou-se a postura que deveriam assumir o meio acadêmico e escolar na formação do leitor de textos literários. De acordo com Lajolo (2005), nos últimos anos o meio acadêmico tem se preocupado em associar o Ensino de Literatura e o de Leitura, duas áreas dos saberes que se complementam, mas que a academia, por anos, os separaram por questões institucionais, por isso, essa individualização das duas teorias vêm sendo alvo de críticas e debates no âmbito acadêmico e escolar. De acordo com Lajolo (2005) muitas têm sido as causas dessas discussões que são: Como associar Literatura e 1 Especialista em Ensino de Português e Literatura, professora do ensino fundamental e aluna do Curso de Mestrado em Letras/UFS. E-mail: [email protected]

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Ensino Literatura AFricana nas Escolas.

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  • ISSN: 1982-3916ITABAIANA: GEPIADDE, Ano 5, Volume 9 | jan-jun de 2011.

    LEITURA E LITERATURA: A CONSTRUO DO LEITOR LITERRIOREADING AND LITERATURE: READERS LITERARY CONSTRUCTION

    Rafaela Felex Diniz Gomes Monteiro de Farias1 (UFS)

    RESUMO: A academia dissociou o Ensino de Literatura e Leitura por imposio histrica eterica. Tem-se como objetivo indicar a postura que devem assumir o meio acadmico eescolar na formao do leitor de textos literrios. Para isso, foram utilizadas teorias sobreassociao ou separao entre leitura e literatura. Concluiu-se que essas duas reas secomplementam e essa deve ser a postura no meio acadmico e escolar.

    Palavras-Chave: Leitor, Literatura, Academia, Escola.

    ABSTRACT: The academy dissociated the reading and literature teaching for historical andtheoretical imposition. Is has a goal indicate. The posture that should take over the academicand school place in the readers formation of literary texts. For that, used theories aboutassociation or separation between Reading and lieterature. It concluded that these twoknowledges areas complemente and this should be the in the middle academic and postureschool.

    Keywords: Reader, Literature, Academy, School.

    1 INTRODUONeste trabalho pretendermos analisou-se a postura que deveriam assumir o meio

    acadmico e escolar na formao do leitor de textos literrios. De acordo com Lajolo (2005),nos ltimos anos o meio acadmico tem se preocupado em associar o Ensino de Literatura eo de Leitura, duas reas dos saberes que se complementam, mas que a academia, por anos,os separaram por questes institucionais, por isso, essa individualizao das duas teoriasvm sendo alvo de crticas e debates no mbito acadmico e escolar. De acordo com Lajolo(2005) muitas tm sido as causas dessas discusses que so: Como associar Literatura e1 Especialista em Ensino de Portugus e Literatura, professora do ensino fundamental e aluna do Curso de Mestrado emLetras/UFS. E-mail: [email protected]

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    ISSN: 1982-3916ITABAIANA: GEPIADDE, Ano 5, Volume 9 | jan-jun de 2011.

    Leitura? Por que no h cooperao de ambas as reas? Como essas disciplinas poderiamajudar na formao do leitor literrio? Esses questionamentos foram viveis paraentendermos como est sendo constitudo o ensino de literatura quanto formaoadequada e qualitativa do leitor literrio, principalmente no que se refere a alunossecundaristas de ensino mdio.

    A literatura e a leitura so modos discursivos entre vrios contextos, que vo almde elaboraes lingusticas usuais. Segundo MEC (2006), o texto literrio diferente de outrasformas de comunicao e garante ao leitor uma maior liberdade de interpretao que podelevar aos limites mais extremos da possibilidade em lngua materna. Porm, vlidoressaltar que, mesmo o texto com amplas possibilidades de interpretaes, preciso tercautela, pois a interpretao do texto literrio no pode ser feita de maneira solta e sem asmediaes adequadas do professor.

    Para Eco [s.d.], um texto bem interpretado aquele no qual o leitor consiga efetuarno texto o maior nmero de leituras cruzadas e associativas entre o meio, espao e tempo.Ainda segundo Eco [s.d.], o discurso institucionalizado escolar intervm como forma delimitar a infinidade de interpretaes que o texto literrio possa propiciar.

    Formar um bom leitor de textos literrios apresentar estratgias metodolgicasque se adquem a realidade sociocultural dos leitores, nesse caso, alunos do ensino mdio.O texto escrito ou lido, segundo Barthes apud Chiappini [s.d], deve ser relacionado com umgrande nmero de experincias e de entradas no mundo, que seja de fato uma via dedesalienao. Mas de acordo com Koch; Elias (2007), o ato de ler deve ser uma atividadeem que leve em conta as experincias e o conhecimento do leitor. A leitura de um textoliterrio no deve ser apenas o conhecimento adequado dos cdigos lingusticos. O textono um simples produto da codificao de um emissor a ser decodificado por um receptorpassivo (KOCH; ELIAS, 2007, p.11).

    2 PROPOSTAS METODOLGICAS INOVADORAS E INCLUSIVAS

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    O que quero fazer com o texto literrio? Como formar um leitor literrio-modelo?Propostas metodolgicas para responder a essas perguntas no faltam. Carlos Magno SantosGomes (2010) prope a leitura interdisciplinar como uma prtica social do ensino deliteratura. Para isso, o autor utiliza os estudos de gnero para explorar a pardia como basede um roteiro de leitura que possibilita ao leitor reconhecer os conflitos sociais por meio dasopes estticas.

    De acordo com Gomes (2010), os vrios debates relacionados s novas propostasmetodolgicas tm instigados os pesquisadores a formatarem novas experinciasmetodolgicas no que diz respeito ao ensino de Literatura. Para o autor, seria interessanteincluir os estudos de gnero, pois, a partir dessa abordagem, conseguir-se- valorizar aprtica de leitura a partir de experincias interpretativas que discutem como as identidadesde gnero esto representadas na fico.

    Segundo Gomes (2010), entender como as identidades de gnero estorepresentadas uma forma de induzir a uma reflexo social, que para o autor pode seruma sada para associar leitura, prazer e conscincia crtica do leitor. Ainda de acordo comGomes (2010), a leitura interdisciplinar no prioriza somente as questes sociais, mastambm tem a preocupao em analisar como o texto foi elaborado como pode serconvertido em uma prtica de instaurao significativa. Essa uma metodologia inovadora eest de acordo com as novas propostas do MEC para o ensino de literatura.

    O MEC (2006) prope a formao de um leitor que pense, critique e construacompetncias sociolingusticas como meio de incluso social e cultural no contexto em queest inserido.

    Cereja (2005) argumenta que quase todas as opes metodolgicas de ensino deLiteratura tm suas vantagens e desvantagens e que cabe ao professor avaliar a melhorproposta metodolgica. No decorrer de seu texto o autor apresenta duas hipteses detrabalho, que so:

    A primeira escolher um tema geral e trabalhar as vrias pocas da literatura, compossibilidade de incluir gneros textuais e tambm movimentos literrios diversos quecontenham o tema a ser trabalhado. Aps fazer a escolha preciso opor os textos uns aos

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    outros para mostrar diferenas e semelhanas, porm, o autor sugere que no fiquesomente na anlise do contraste, mas que essas diferenas sejam equacionadas e discutidascom base nas relaes entre textos e contextos. Essa seria a soluo encontrada pelo autorpara a primeira hiptese.

    A segunda hiptese seria um curso de literatura em torno dos gneros literrios,nesse caso, teramos uma perspectiva evolutiva desses gneros sempre relacionados com ocontexto social e cultural. Mesmo assim, o autor ainda verifica dificuldade nessa proposta,assim como na anterior. Ele argumenta que essa segunda hiptese menos fragmentadaque a primeira, mas tambm possui suas implicncias. A dificuldade dessa proposta seria odistanciamento histrico, a linguagem pouco acessvel e temas pouco interessantes para opblico juvenil, porm, como soluo o autor afirma que seria preciso criar uma sequnciadidtica que adeque os gneros literrios realidade da sala de aula.

    O que muito tem se falado nos grupos de pesquisa de ensino de Literatura aimportncia da leitura literria para o ensino mdio. Para muitos tericos, como Osakabe(2004), a literatura fonte de amadurecimento do aluno, pois, uma vez que lhe favoreceruma viso crtica.

    MEC (2006) critica o ensino tradicional de Literatura, pois a disciplina de Literaturaera vista como uma disciplina burguesa que sempre teve o privilgio em relao a outrasdisciplinas. A literatura era to valorizada que chegou mesmo a ser tomada como sinaldistintivo de cultura....(Lajolo, 2005).

    Ainda de acordo com o MEC (2006), o ensino tradicional de Literatura sobrecarregamuitas vezes o aluno com informaes que tornam a disciplina cansativa e mecanizada. Umadas formas de tornar o ensino menos cansativo articular e ampliar as competncias doaluno acerca da disciplina. preciso tornar um leitor apto e no apenas letrar o aluno.

    A leitura o processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo decompreenso e interpretao do texto, a partir de seus objetivos, de seuconhecimento sobre o assunto, sobre o autor o que sabe sobre a linguagemetc. No se trata de extrair informao, decodificando letra por letra,palavra por palavra. Trata-se de uma atividade que implica em estratgias

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    de seleo, antecipao, inferncia e verificao, sem as quais no possvel proficincia. (PCN's apud KOCH; ELIAS, 2007)

    Todorov (2009) mostra em seu texto La littrature en pril, que o ensinosecundarista de literatura medocre. O autor chega a essa concluso quando faz parte deuma comisso de inspeo que analisa como empreendido o ensino de Literatura emalgumas escolas secundaristas francesas. Para Todorov (2009), preciso antes de tudo criaruma postura crtica em relao ao ensino do texto literrio e apresentar ao leitor as vriaspossibilidades sociais e culturais que um texto literrio possa propiciar. importanteressaltar a esse leitor que o texto literrio est no centro dos discursos vivos e que sualeitura, alm de lhe fornecer um mundo mais pleno e crtico, apresenta ao mesmo tempoum prazer esttico que por muito tempo foi limitado por teorias estruturalistas queminimizavam esse deleite esttico, assim como transformavam a leitura literria em umprocedimento mecnico e com poucas possibilidades operacionais mentais que envolvem oato de ler.

    O que muitos pesquisadores querem que se faa um letramento literrio doaluno, que algo a mais do entendimento de diferenciar uma poesia de um drama. O que ostericos buscam alm, neste caso, seria entender a poesia e as narrativas numa perspectivaesttica mais ampla. Essa ampliao do letramento literrio importante, pois, a partir dela,o aluno passa a ter uma experincia literria mais crtica e ampla, assim como propiciar aoaluno um contato maior com o texto.

    Uma crtica empreendida por muitos tericos da literatura que nem todo textopode ser literrio, mas se formos analisar esse conceito, verificaremos que causa muitasdesavenas entres os estudiosos, que muitas vezes confundem o que ou no literaturapara o aluno. Mas o que interessa em nosso trabalho entender como o ensino de leitura eliteratura podem complementar-se e que esta unio benfica para a construo ematurao do leitor de obras literrias, assim como de outros gneros narrativos.

    De acordo com o MEC (2006), houve diversas tentativas de estabelecimento dasmarcas da literariedade de um texto, principalmente pelos formalistas e depois pelos

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    estruturalistas, mas essas no lograram muito sucesso, dadas as diversidades de discursosenvolvidos no texto literrio.

    Percebemos as divergncias entre essas duas teorias quando definimos o conceitode literatura de modo vago em sala de aula, e mais ainda, a dificuldade que temos deministrar aulas nessa rea, que, como afirma Chippiani (2005), as posies em relao aoensino de literatura so vrias e muitas vezes distintas, pois, de um lado temos o professorque d muita nfase ao cnone e, por outro lado, o professor que radical, que lana mode qualquer obra, qualquer texto, ou seja, dessa forma no estamos trabalhandoefetivamente literatura e muito menos formando leitores aptos e crticos.

    preciso entender que sempre haver discusses acerca do assunto, assim como,dvidas e julgamentos sempre faro parte do ensino de Literatura e da formao de leitoresliterrios.

    A preocupao com o ensino de Literatura cada vez mais ganha as discusses noscentros acadmicos. No podemos entender apenas a Literatura como bem simblico, preciso entender a literatura como algo mais. importante ter em mente como deve serformado esse leitor, quais so os discursos em jogo? Como abordar novas perspectivas parauma renovao do ensino de Literatura. Quais leitores queremos construir?

    Queremos construir um leitor que amplie seu horizonte de expectativa, pois o textono se realiza por si s. Devemos formar o leitor social, porque todos somos leitores sociais,temos que buscar a alteridade, que a voz do outro. A complexidade da linguagem humanaleva as geraes a entenderem sua pluralidade, que a todo tempo desenvolvem e aplicamnovas metodologias que permitam o leitor social e modelo a compreenderem os padres deinterao entre lnguas, culturas e sociedades. Esse deve ser um dos objetivos na formaode um bom leitor e crtico literrio.

    3 O LIVRO DIDTICO NA FORMAO DO LEITOR LITERRIOUma crtica feita pelos MEC (2006) a respeito da escolha do livro a ser trabalhado

    na disciplina literatura, uma vez que a escolha do livro feita de forma muito sistemtica,

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    ISSN: 1982-3916ITABAIANA: GEPIADDE, Ano 5, Volume 9 | jan-jun de 2011.

    no abre muito espao para que o leitor escolha o que realmente quer ler e os alunos so osltimos a serem questionados a respeito do livro a ser usado.

    O que percebemos que um dos maiores problemas da prtica real do ensino deliteratura a questo do letramento literrio, que por muito tempo ficou esquecido porgrande parte dos professores de literatura.

    Os livros didticos tambm tm sua importncia, pois segundo os MEC (2006), osmateriais didticos, aos poucos apoiaro o ensino de uma forma mais satisfatria, j que,novas tecnologias e novos conceitos so abordados por esses materiais, dando assim, aoprofessor a possibilidade de inovar e discutir de maneira vivel seu contedo e temastransversais a serem trabalhados.

    Acreditamos que os manuais didticos podero mdio prazo, apoiarsatisfatoriamente a formao do leitor da literatura rumo sua autonomia. (MEC, 2006). preciso entender que o livro didtico servir como elemento de apoio.

    Os professores contar com outras estratgias de ensino, orientadas principalmentepor sua prpria formao de leitor. O leitor e a leitura tornam-se hoje objetos de estudo e dereflexo nos centros acadmicos, pois, atualmente a noo de texto se amplia cada vez maise com isso as concretizaes de sentidos mltiplos tornam-se mais originais e mais acessveisao pblico.

    Para Eco (2003) importante que se tenha respeito ao leitor e que esse contexto deliberdade de interpretao fundamental.

    A leitura literria nos obriga a um exerccio de fidelidade e de respeito naliberdade de interpretao. H uma perigosa heresia crtica, tpica denossos dias, para a qual de uma obra literria pode-se o que se queira,nelas lendo aquilo que nossos mais incontrolveis impulsos nos sugerirem.No verdade. As obras literrias nos convidam liberdade deinterpretao, pois prope um discurso com muitos planos de leitura e noscolocam diante das ambigidades e da linguagem da vida. Mas para poderseguir neste jogo, no qual cada gerao l obras literrias de modo diverso, preciso ser movido por um profundo respeito para com aquela que eu,chamei de inteno do texto. (ECO, 2003, p.12).

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    vlido ressaltar que a leitura do texto literrio fornece ao leitor sensaes,provoca reaes e experincias mltiplas. A leitura literria uma troca de impresses e decomentrios acerca do texto. Se, ao ler um texto, vrios acontecimentos vm tona, seriavlido que as escolas criassem formas que houvesse debates, resumos, palestras e leituraem grupo para criar um clima literrio na escola. preciso formar leitores crticos no meioescolar.

    Devemos pensar em melhorar o ensino de literatura, devemos quebrar barreirasat ento impostas pelo ensino tradicional, pois nossa maior preocupao formar leitoresassduos, mas de qualidade. Ns professores teramos, nesse caso, o papel de mediador eincentivador do texto literrio. Como foi dito anteriormente, para Lajolo (2005), teorialiterria e teoria do texto no so associados no por uma questo de diferenas entreambas, mas por uma questo de conveno histrica e acadmica. De acordo com Lajolo(2005), a integrao dessas duas teorias fundamental para a formao de um leitor crticoe atento s mudanas do meio em que se encontra inserido, porm, dissociar teoria do textoe teoria da literatura perder pressupostos tericos importantes no s para o meioacadmico, mas para a formao do profissional em Letras.

    Uma das preocupaes da autora que cada uma dessas teorias esto alocadas demaneira que no haja nenhuma correlao entre si, pois ambas desconsideram a principalfinalidade que o objeto provocador da leitura. Enquanto a teoria da leitura preocupa-secom os procedimentos mecnicos e com as habilidades das operaes mentais queenvolvem o texto, em contrapartida a teoria da literatura afasta-se do objeto instigador daleitura, pois est presa a uma reflexo sistemtica da obra em si.

    A imposio mecnica e sistemtica da teoria da literatura faz com que seja bom eliterrio o que o cnone aprova, pois fornecem critrios de avaliao de textos comoliterariamente piores ou melhores e, no limite, como literrios ou noliterrios.Lajolo(2005). Essa forma de avaliao confortvel para os tericos da teoria literria, poisseguir seus padres estticos bem convencional e impor o seu discurso do que valido ou

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    no uma forma de controle e alienao de uma massa de leitores fadada crtica limitadae muitas vezes excludente de certos textos literrios.

    Colocar o texto literrio em um patamar de superioridade esquecer que a teoriada literatura tem seus pilares sustentados muitas vezes por outros discursos que a integrame enriquece, por isso, esquecer desses pressupostos colocar a Literatura reduzida aoabsurdo. Para Todorov (2007), Literatura deve ser vista e entendida como o encontro deoutros autores, de outros pensamentos, remeter o leitor a um mundo mais pleno de ideiase liberdade analtica, ou seja, a mesma deve manter-se no centro dos discursos vivos einstigantes.

    Mesmo que tenhamos novos tericos e construes de novos ideais de Literaturadificilmente haver uma desqualificao das teorias anteriores, pois o que j foisacramentado e universalizado cristalizado e institucionalizado pelo meio acadmico. Aacademia legtima os discursos admite uma pluralidade de ideias que envolvam as duasteorias. Dessa forma, o meio escolar contribui para essa cristalizao do texto literrio, reduza importncia da associao do ensino da leitura e absorve os roteiros impostos pelostericos de ambas as reas, ao passo que no h uma colaborao mtua entre as duasdisciplinas. Esse discurso modular imposto tem como consequncia uma prtica escolarinsatisfatria e incompleta no que diz respeito s duas teorias de conhecimento aquiestudadas.

    4 CONCLUSOAssim, preciso que academia e sociedade convertam no s o ensino de

    Literatura, mas a rea de estudo de lnguas numa prtica de instaurao significativa na salade aula. Para que isso ocorra, preciso quebrar os limites, as repeties impostas pelosestudos Estruturalistas. necessrio converter a prtica de ensino limitada, enfadonha erepetitiva, numa modalidade que induza o aluno a sentir-se parte do processotransformador, crtico e inesgotvel de saberes e poderes, que a prtica de leitura, e a tertambm a prazerosa emoo de adentrar-se na construo significativa de um textoliterrio.

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    Recebido: 16/09/2011Aceito: 03/10/2011