ensino de violão para iniciantes - marcelo brazil

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VII Simpósio Acadêmico de Violão da EMBAP – Curitiba, 2013 "#$ Ensino de violão para iniciantes: uma reflexão sobre o uso das tonalidades Marcelo Brazil – UFBA [email protected] Resumo: O ensino do violão para iniciantes praticado no Brasil é baseado em métodos tradicionais que refletem ainda as propostas surgidas no século XIX e, de uma forma geral, privilegiam algumas tonalidades que nem sempre possibilitam um bom resultado sonoro, nem permitem uma rápida assimilação de questões técnicas e de postura corporal. De certa forma, as dificuldades técnicas e de postura enfrentadas pelos alunos iniciantes podem afastá-los de vivenciar uma atividade musical em toda sua plenitude ou até de fazê-los desistir do aprendizado do instrumento. A partir de uma experiência prática, foram testadas outras possibilidades que geraram resultados satisfatórios, levando a uma reflexão sobre a aplicação de outros caminhos para o aprendizado do violão. Palavras-chave: Violão. Ensino de violão. Técnica. Práticas instrumentais. Abstract: The teaching of classical guitar for beginners practiced in Brazil is based on traditional methods which reflect proposals emerged in the nineteenth century. In general, favor some shades that do not always provide a good sound result, nor they allow rapid assimilation of technical issues and body posture. In some ways, the technical and postural difficulties faced by beginners may drive them away from an experience in musical activity in all its fullness or these issues might even make them give up learning the instrument. From the stand point of a practical experience, other possibilities were tested, offering satisfactory results and leading to a reflection upon the implementation of other paths to learning the classical guitar. Keywords: Classical guitar. Teaching classical guitar. Technique. Instrumental practices. Introdução O presente relato é fruto de uma experiência de mais de dez anos em ensino coletivo de violão, trabalho desenvolvido como professor e responsável por um grupo musical de crianças e adolescentes. Essa atividade ocorreu, na sua maior parte, dentro de um projeto de inclusão social através da música promovido pela Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo. O perfil das turmas que podem ser incluídas nesse processo de ensino/aprendizagem é bastante homogêneo: faixa etária entre 10 e 18 anos, pouco ou nenhum conhecimento musical e, na sua maioria, alunos que não possuíam instrumento para o estudo em casa. Por não ter conhecimento, na época, de nenhum material pedagógico específico para o uso em aulas coletivas de violão, todo o trabalho foi baseado em exercícios práticos, criados, muitas vezes, durante as aulas 1 . No entanto, no início desse trabalho, foram pesquisados os métodos mais tradicionais de ensino de violão solo disponíveis no mercado como forma de apoio para a elaboração do material para os alunos. Nesse processo de 1 Esses exercícios eram, na sua maioria, compostos de melodias na pauta com acompanhamento cifrado.

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  • VII Simpsio Acadmico de Violo da EMBAP Curitiba, 2013

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    Ensino de violo para iniciantes: uma reflexo sobre o uso das tonalidades

    Marcelo Brazil UFBA

    [email protected]

    Resumo: O ensino do violo para iniciantes praticado no Brasil baseado em mtodos tradicionais que refletem ainda as propostas surgidas no sculo XIX e, de uma forma geral, privilegiam algumas tonalidades que nem sempre possibilitam um bom resultado sonoro, nem permitem uma rpida assimilao de questes tcnicas e de postura corporal. De certa forma, as dificuldades tcnicas e de postura enfrentadas pelos alunos iniciantes podem afast-los de vivenciar uma atividade musical em toda sua plenitude ou at de faz-los desistir do aprendizado do instrumento. A partir de uma experincia prtica, foram testadas outras possibilidades que geraram resultados satisfatrios, levando a uma reflexo sobre a aplicao de outros caminhos para o aprendizado do violo. Palavras-chave: Violo. Ensino de violo. Tcnica. Prticas instrumentais. Abstract: The teaching of classical guitar for beginners practiced in Brazil is based on traditional methods which reflect proposals emerged in the nineteenth century. In general, favor some shades that do not always provide a good sound result, nor they allow rapid assimilation of technical issues and body posture. In some ways, the technical and postural difficulties faced by beginners may drive them away from an experience in musical activity in all its fullness or these issues might even make them give up learning the instrument. From the stand point of a practical experience, other possibilities were tested, offering satisfactory results and leading to a reflection upon the implementation of other paths to learning the classical guitar. Keywords: Classical guitar. Teaching classical guitar. Technique. Instrumental practices.

    Introduo

    O presente relato fruto de uma experincia de mais de dez anos em ensino coletivo

    de violo, trabalho desenvolvido como professor e responsvel por um grupo musical de

    crianas e adolescentes. Essa atividade ocorreu, na sua maior parte, dentro de um projeto

    de incluso social atravs da msica promovido pela Secretaria de Estado da Cultura de

    So Paulo. O perfil das turmas que podem ser includas nesse processo de

    ensino/aprendizagem bastante homogneo: faixa etria entre 10 e 18 anos, pouco ou

    nenhum conhecimento musical e, na sua maioria, alunos que no possuam instrumento

    para o estudo em casa.

    Por no ter conhecimento, na poca, de nenhum material pedaggico especfico

    para o uso em aulas coletivas de violo, todo o trabalho foi baseado em exerccios prticos,

    criados, muitas vezes, durante as aulas1. No entanto, no incio desse trabalho, foram

    pesquisados os mtodos mais tradicionais de ensino de violo solo disponveis no mercado

    como forma de apoio para a elaborao do material para os alunos. Nesse processo de !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!1 Esses exerccios eram, na sua maioria, compostos de melodias na pauta com acompanhamento cifrado.

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    pesquisa, um fato me despertou interesse: a grande maioria do mtodos foca os primeiros

    exerccios tcnicos e peas na tonalidade de D maior. Quando pensamos na possibilidade

    de ser mais fcil iniciar o aprendizado da leitura nessa tonalidade, esse fato faz sentido. No

    entanto, ser que outros aspectos como sonoridade, postura e questes tcnicas tambm

    so levados em conta? Ser que os alunos vivenciam uma experincia musical plena

    quando enfrentam as dificuldades tcnicas ou produzem um som de baixa qualidade nas

    atividades iniciais em D maior?

    Ao sugerir trs princpios gerais para o ensino de instrumentos, Swanwick (1994)

    talvez nos d um caminho para repensarmos um pouco o processo para o ensino do violo.

    A primeira delas diz: A aula no ter sentido se nela no houver msica, e msica significa satisfao e controle da matria, conscincia de expresso, e quando possvel, o prazer esttico da boa forma. Uma aula sem msica desperdcio de tempo e a comunicao de uma mensagem errada: as vezes vlido tocar sem preocupaes musicais; isso nunca est correto. (SWANWICK, 1994)

    O que pude perceber foi que, ao insistir em certos caminhos tradicionais, a msica

    poucas vezes acontecia na aula, era diluda por dificuldades de postura que geravam

    desconforto para os alunos e pela insatisfao diante do mnimo resultado musical

    alcanado.

    D maior: vantagens e desvantagens

    Ao optar por essa tonalidade, a maioria dos autores foca o aprendizado inicial nas

    primeiras casas do instrumento, a chamada primeira posio onde o dedo 1 (indicador da

    mo esquerda) est na primeira casa, o dedo 2 (mdio) na segunda e assim

    sucessivamente. As primeiras notas a serem apresentadas aos alunos so, normalmente,

    as compreendidas entre o Sol 32 (terceira corda solta) e o Sol 4 (primeira corda presa na

    terceira casa), passando apenas pelas notas naturais. No entanto, o violo tem algumas

    caractersticas de construo que tornam as primeiras casas do instrumento maiores e, por

    estarem prximas pea de apoio das cordas (pestana), com as cordas um pouco mais

    tensas, fato que se acentua na primeira casa do instrumento. Esses aspectos so ampliados

    ainda mais quando os instrumentos e encordoamentos disponveis para o trabalho so de

    qualidade inferior, fato muito comum quando tratamos de projetos socioculturais. O

    resultado disso era, na minha experincia prtica, um resultado sonoro ruim e uma visvel

    !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!2 O violo um instrumento transpositor de oitava abaixo e sua clave correta a de Sol com oitava abaixo. No entanto, poucos autores utilizam essa notao, sendo mais comum em publicaes modernas. No texto estou me referindo s notas escritas com clave de Sol sem transposio, sendo o Sol 3 anotado na segunda linha da pauta. O som produzido por essa nota , na verdade, um Sol 2.

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    dificuldade em posicionar bem a mo esquerda no brao do instrumento, efeito que ia sendo

    amenizado medida em que sugeria aos alunos que utilizassem outras posies no

    instrumento, mais afastadas da pestana e com casas cada vez mais estreitas. Alm do

    ganho de sonoridade, basicamente notas mais limpas (sem trastejamento), tambm pude

    perceber um ajuste na postura dos alunos: quando realizavam algum exerccio na stima

    posio (dedo indicador na casa 7), por exemplo, diminuam a tendncia de elevar o

    cotovelo esquerdo e posicionavam a mo de uma forma mais frontal escala3 do

    instrumento. Para os alunos mais jovens, com pouca estatura e porte fsico, alcanar as

    primeiras casas do instrumento pode significar um maior esforo, mesmo quando utilizam

    um apoio no p esquerdo e o violo na chamada posio clssica.

    Quando o trabalho a ser desenvolvido envolve a leitura de pequenas peas a duas

    ou trs vozes, a tonalidade de D maior tambm apresenta uma caracterstica que a torna

    um tanto rida para os iniciantes: as cadncias harmnicas mais simples acabam

    envolvendo acordes com baixos nas notas F e Sol. Na sua afinao padro, essas notas

    so obtidas na regio grave apenas se as cordas estiverem presas, conforme a figura 14:

    Figura 1 Notas F e Sol no violo

    Da mesma forma que a leitura na pauta, a prtica do violo apenas por cifras

    (acompanhamento) tambm se torna dificultada pela montagem dos acordes bsicos de

    uma cadncia I IV V7 I na tonalidade de d maior. Vejamos esses acordes na figura 2:

    !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!3 Parte do violo onde ficam presos os trastes e onde o msico apoia a ponta dos dedos para prender as cordas. 4 A figura mostra o brao do violo com as casas iniciando ao lado direito e com a nomenclatura de cifras para indicar as notas das cordas soltas na afinao padro. A diviso em casas reproduz a escala cromtica ocidental. Nos crculos est indicada a localizao das notas Sol (G) e F (F) na regio grave do instrumento.!

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    Figura 2 Diagramas de acordes

    Os acordes C e G7 apresentam notas presas na primeira casa do instrumento e em

    posio de abertura dos dedos pouco confortvel para os iniciantes, sendo que o acorde G7

    apresenta um distanciamento entre os dedos 1 (indicador) e 3 (anelar) bem maior,

    impossibilitando um bom resultado sonoro no incio do aprendizado e um perceptvel

    desconforto para o executante. O acorde F ainda possui um fator agravante que o uso da

    pestana5 na primeira casa do instrumento, normalmente causando desconforto e mau

    resultado sonoro quando executado por iniciantes.

    Sendo assim, a nica vantagem real de se utilizar essa tonalidade seria a escrita

    sem acidentes no incio do aprendizado da leitura musical. Em uma breve pesquisa sobre o

    motivo do uso insistente da tonalidade de d maior no incio do aprendizado do violo, no

    obtive nenhuma informao satisfatria. Em conversa com o Prof. Dr. Gilson Antunes,

    pesquisador e concertista, foi levantada por ele a possibilidade de que os primeiros mtodos

    de violo tenham se inspirado nos mtodos de piano, instrumento que inicia na tonalidade

    de D maior por razes claras, mas no foram encontrados, at o momento, textos que

    abordem esse aspecto do ensino do violo para iniciantes.

    Encontrando alternativas

    Diante desse problema, minha primeira atitude foi consultar professores que

    trabalhavam com iniciantes de outros instrumentos e pude perceber que boa parte deles

    utilizava mtodos e procedimentos que demostravam uma preocupao com questes

    fsicas e de sonoridade desde o incio. Um bom exemplo disso so os mtodos de violino

    para iniciantes que, na sua maioria, iniciam pela tonalidade de R maior (YING, 2007),

    respeitando a forma mais natural da mo esquerda ao repousar sobre o instrumento,

    conforme podemos ver nas figuras 4 e 5:

    !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!5 Chamamos pestana o recurso de se prender mais de uma corda do instrumento com um nico dedo, normalmente o dedo indicador da mo esquerda. O nome faz referncia pea existente no incio da escala, onde as cordas se apoiam.

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    Figura 4 Mo esquerda

    (Extrada de http://xa.yimg.com/kq/groups/15415145/1001409484/name/Livro+sobre+Violino.pdf)

    Figura 5 Posicionamento no violino

    (Extrada de http://xa.yimg.com/kq/groups/15415145/1001409484/name/Livro+sobre+Violino.pdf)

    Ao pensar sobre a aplicao da tonalidade de R maior no violo, pude enxergar

    algumas vantagens claras: no existem notas dessa tonalidade na primeira casa do

    instrumento e possvel criar cadncias harmnicas simples utilizando as cordas graves

    soltas, pois temos as fundamentais dos graus I, II e V, ou seja, as notas R (quarta corda

    solta), Mi (sexta corda solta) e L (quinta corda solta). Foi possvel, ento, criar uma

    sequncia de acordes simples que propiciou um resultado musical interessante com o

    mnimo de esforo. Pensando em uma cadncia I V II V I, foram utilizados os

    seguintes acordes:

    Figura 6 Diagramas de acordes

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    A sonoridade das dissonncias que aparecem no incomoda os alunos pois faz parte

    do universo musical com o qual esto habituados, so muito comuns em msicas populares,

    e a facilidade de execuo acaba criando um envolvimento com o resultado musical, a

    vivncia de uma experincia musical mais prxima daquela que nos prope os educadores

    atuais. O fato de serem acordes posicionados em um mesma casa do instrumento e de

    seguirem um movimento lgico, acaba favorecendo a rpida passagem do nvel fsico

    (postura) para o nvel musical, ou seja, os alunos assimilam o movimento dos dedos

    rapidamente e passam a ouvir o que acontece ao seu redor, participam da msica. Se

    realizada com os dedos 2 (mdio) e 3 (anelar), a montagem dos acordes respeita a

    anatomia natural da mo permitindo uma postura mais relaxada e, curiosamente, esse um

    aspecto levado em conta no posicionamento dos dedos no violino para os iniciantes. (Figura

    4). As cordas soltas presentes nos acordes produzem, sem dvida, um resultado sonoro

    mais amplo e envolvente, mesmo quando tocadas em ritmos bem simples ou com um

    simples toque em cada compasso. Temos ainda a possibilidade de produzir um evento de

    carter musical sem a necessidade de uma leitura formal, considerando que a sequncia

    proposta possui uma lgica motora e harmnica, novamente amparado por Swanwick

    (1994) quando trata dos aspectos da leitura nas aulas de instrumento.

    Leitura de melodias em diversas tonalidades

    Para solucionar o problema de leitura com alteraes, me baseei em uma ideia

    simples: partindo do princpio que a grande maioria dos alunos no possua qualquer

    conhecimento musical, certamente no encontraria aquela resistncia, muitas vezes

    alimentada pelos prprios professores, que uma nota alterada mais difcil que uma natural.

    Decidi ensinar a escala cromtica como uma forma de fazer os alunos compreenderem a

    lgica do instrumento, ou seja, como era possvel encontrar qualquer nota no brao do

    violo. Com o apoio de um grfico simples (figura 7) representando a escala cromtica e de

    uma srie de atividades ldicas e desafiadoras, os alunos rapidamente entendiam o

    processo de localizao das notas.

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    Figura 7 Grfico circular da escala cromtica (Extrada de BRAZIL, 2012: 76)

    Com o mecanismo de localizao de notas estabelecido, foi possvel no s

    trabalhar em R maior como em qualquer outra tonalidade que me parecia mais adequada

    em funo dos aspectos j relatados, entre elas, L maior, Sol maior, Mi maior, L menor,

    Mi menor e R menor. Para os alunos, tocar F sustenido (casa 2) ao invs de F natural

    (casa 1) no parecia ser algo mais difcil ou complicado, era apenas uma nota diferente da

    outra. O mais significativo foi mesmo o resultado sonoro, pois as notas na segunda casa

    apresentavam uma sonoridade mais limpa, mesmo naqueles instrumentos de qualidade

    inferior.

    A digitao das notas da escala de R maior no incio do brao do violo tambm se

    tornou mais confortvel pois, ao invs de utilizarem os dedos indicador e anelar da mo

    esquerda (Dedos 1 e 3, Figura 8), utilizavam indicador e mdio. (Dedos 1 e 2, Figura 9). Os

    diagramas esto apresentados com a pestana na parte superior, os crculos indicam as

    notas presas alm das cordas soltas e o crculo branco indica a fundamental da tonalidade.

    Figura 8 Digitao das notas da escala de D maior

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    Figura 9 Digitao das notas da escala de R maior

    Se seguirmos a regra simples de utilizar sempre um dedo para cada casa do violo,

    nas notas de D maior precisamos utilizar os dedos 1, 2 e 3 e nas de R maior, apenas os

    dedos 1 e 2. J que a primeira casa no possui notas a serem presas, os alunos devem

    posicionar a mo esquerda na chamada segunda posio do violo, ou seja, o dedo 1

    (indicador) na casa 2 e os seguintes nas casas subsequentes. Alm da melhora do

    resultado sonoro, como j foi citado, utilizar apenas os dedos 1 e 2 , com certeza, mais

    confortvel para os alunos iniciantes, alm de facilitar o posicionamento correto da mo

    esquerda como um todo para a fixao das notas no brao do instrumento.

    Com movimentos mais confortveis e com um resultado sonoro de melhor qualidade,

    atividades como a criao e a improvisao puderam ser aplicadas com resultados

    significativos, ampliando o interesse dos alunos.

    Um tempo depois de j trabalhar dentro desses parmetros, me foi apresentado um

    mtodo de autoria de Matteo Carcassi (1999)6 que, apesar de iniciar em D maior,

    rapidamente aborda outras tonalidades que, segundo o autor, apresentam um bom

    resultado: O violo pode tocar em todos os tons, mas possui, como todos os instrumentos, seus tons favoritos. Os que melhor lhe convm so: D maior, Sol maior, R maior e menor, Mi maior e menor e L maior e menor. Os outros so difceis por necessitarem do emprego muito frequente da pestana; por isso assinalei na primeira parte desta obra as escalas, cadncias, exerccios e peas progressiva nos tons mais usados. (CARCASSI, 1999: 27)

    Escrita na primeira metade do sculo XIX, a proposta do autor apresentar, de cada

    tonalidade citada, a escala, a cadncia (acordes escritos na pauta), um exerccio e trs

    pequenas peas. Para evitar a pestana no acorde de F na primeira tonalidade proposta (D

    maior), Carcassi utilizou um acorde de F com sexta, caso contrrio, entraria em

    contradio com o que se props a apresentar. Embora algumas peas desse mtodo

    apaream em diversos materiais de outros autores, me parece que a proposta de Carcassi !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!6 Essa data se refere ao ano de publicao da edio brasileira que foi consultada. No foi localizada a data exata da publicao original (sculo XIX), mas possvel acessar uma cpia no endereo:

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    no seguiu adiante. No mtodo mais utilizado para a iniciao no Brasil, o livro Iniciao ao

    Violo: princpios bsicos e elementares para iniciantes de autoria do Professor Henrique

    Pinto (PINTO, 1978), por exemplo, as peas da primeira parte do livro utilizam apenas as

    tonalidades de D maior e L menor. Do mesmo autor e destinado s crianas menores, o

    livro Ciranda das 6 cordas (PINTO, 1986) tambm segue a mesma tendncia. O mtodo O

    equilibrista das seis cordas, de autoria de Silvana Mariani, traz um material bem direcionado

    ao aprendizado de crianas. No entanto, tambm inicia a leitura por D maior e, quando

    apresenta os primeiros acordes, sugere C e G7. (MARIANI, 2002: 80). O mtodo Suzuki

    para violo (SUZUKI, 1991), ainda pouco aplicado no Brasil, sugere um caminho diferente:

    mesmo iniciando com as cordas soltas, utiliza a armadura de Sol maior, sendo essa a

    tonalidade dos primeiros exerccios. Ao sugerir que os alunos prendam, na primeira corda, a

    nota F sustenido com o dedo 2 e o Sol com o dedo 4, indica uma preocupao clara com o

    posicionamento da mo esquerda no brao do instrumento.

    Concluso

    Embora essa experincia tenha acontecido inicialmente no mbito de um projeto

    sociocultural, essa proposta de iniciar em outras tonalidades aliada ao processo de

    localizao de notas no brao do violo tem surtido bons resultados em outros espaos,

    como na disciplina Instrumento Complementar Violo para um curso de licenciatura em

    msica ou em aulas individuais. Os ganhos de sonoridade, questes de postura e facilidade

    de execuo, trouxeram benefcios que se refletiram tambm no interesse e participao

    dos alunos em aulas coletivas ou individuais e, em nenhum momento, isso se refletiu como

    um elemento complicador para o desenvolvimento da leitura na pauta.

    De uma forma geral, me parece que os autores dos mtodos de violo abordados, ao

    utilizarem a tonalidade de D maior para os iniciantes, tm uma preocupao maior com o

    aprendizado da leitura do que com aspectos tcnicos ou de postura corporal, indo de

    encontro ao que se pratica na iniciao de outros instrumentos. No ensino de instrumentos dentro das tradies da msica ocidental, a

    leitura e a escrita so vistas como essenciais, e assim, a notao musical

    geralmente ocupa lugar central, sendo frequentemente o ponto inicial do

    ensino. (SWANWICK, 1994)

    Talvez essa afirmao j esteja sendo revista na iniciao de muitos instrumentos,

    mas para o violo ainda exista muito a ser feito. O mtodo Suzuki para violo (SUZUKI,

    1991) pode ser um bom parmetro para encontrarmos novas solues para o aprendizado

    dos iniciantes.

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    Referncias

    BRAZIL, Marcelo. Na ponta dos dedos: exerccios e repertrio para grupos de cordas

    dedilhadas. So Paulo: Digitexto, 2012.

    CARCASSI, Matteo. Novo mtodo de violo. Opus 59. So Paulo: Irmos Vitale, 1999.

    MARIANI, Silvana. O equilibrista das seis cordas: mtodo de violo para crianas. Curitiba:

    Editora da UFPR/Imprensa Oficial do Estado, 2002.

    PINTO, Henrique. Ciranda das 6 cordas: iniciao infantil ao violo. So Paulo: Ricordi,

    1986.

    PINTO, Henrique. Iniciao ao violo: princpios bsicos para principiantes. So Paulo:

    Ricordi, 1978.

    SUZUKI, Shinichi. Suzuki: guitar school. v.1. Miami: Summy-Birchards, 1991.

    SWANWICK, Keith. Ensino instrumental enquanto ensino de msica. Trad. Fausto Borm de

    Oliveira, rev. Maria Betnia Parizzi. Cadernos de Estudo-Educao Musical. So Paulo,

    n.4/5, nov. 1994. Disponvel em instrumental.htm> Acesso em: 15 de outubro de 2013.

    Ying, Liu. O ensino coletivo direcionado no violino. 2007. 197p. Dissertao (Mestrado em

    Musicologia) USP, 2007.

    Stios

    Mthode complete pour Guitare, Op.59 (Carcassi, Matteo) Disponvel em:

    Acesso em: 15 de outubro de 2013.

    Violino Livro 1 Disponvel em:

    Acesso em: 15 de outubro de 2013.

    Marcelo Brazil licenciado em msica pela UFPE e estudou violo com Paola Picherzky e

    Rui Weber. mestre em msica pela UNESP onde foi orientado pelo Prof. Dr. Giacomo

    Bartoloni e atualmente curso o doutorado em educao musical na UFBA sob a orientao

    da Profa. Dra. Cristina Tourinho. Como violonista, atua em duo com a clarinetista Rosa

    Barros. Em 2012, lanou o livro Na ponta dos dedos voltado para o ensino coletivo.