ensino de jornalismo cultural no brasil

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Carteira Professor de Graduação DO ENSINO DE JORNALISMO CULTURAL NO BRASIL EM 2008 Adriana Pessatte Azzolino Aylton Segura Cida Golin Geane Alzamora Isabelle Anchieta Margareth Assis Marinho Marina Magalhães Nísio Teixeira Wellington Pereira

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Carteira Professor de Graduação

DO ENSINO DE JORNALISMO CULTURAL NO BRASIL EM 2008

Adriana Pessatte Azzolino

Aylton Segura

Cida Golin

Geane Alzamora

Isabelle Anchieta

Margareth Assis Marinho

Marina Magalhães

Nísio Teixeira

Wellington Pereira

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Mapeamento – O Ensino de Jornalismo Cultural no Brasil em 2008

Direitos desta edição reservados por Itaú Cultural

EdiçãoClaudiney FerreiraConsultoria Editorial Maria José SilveiraProdução Editorial Carol MirandaProjeto grá!coYoshiharu Arakaki

[Este livro foi produzido pela equipe do Itaú Cultural]

Mapeamento : o ensino de jornalismo cultural no Brasil em 2008 : carteira professor de graduação. – São Paulo : Itaú Cultural, 2008. 136 p. ; 24 cm.

ISBN: 978-85-85291- 86 -0

1. Jornalismo cultural. I. Título.

CDD 070.4

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São Paulo 2008

Carteira Professor de Graduação

Adriana Pessatte Azzolino

Aylton Segura

Cida Golin

Geane Alzamora

Isabelle Anchieta

Margareth Assis Marinho

Marina Magalhães

Nísio Teixeira

Wellington Pereira

DO ENSINO DE JORNALISMO CULTURAL NO BRASIL EM 2008

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SUMÁRIO

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APRESENTAÇÃO

JORNALISMO CULTURAL O ENSINO DA DISCIPLINA Margareth Assis Marinho, Marina Magalhães e Nísio Teixeira

ZOOM NO MAPEAMENTOMargareth Assis Marinho, Marina Magalhães e Nísio Teixeira

A FALA DOS PROFESSORESAdriana Pessatte Azzolino e Isabelle Anchieta, com a colaboração de Wellington Pereira

O QUE É JORNALISMO CULTURAL Aylton Segura, Cida Golin e Geane Alzamora

REFLEXÕES DOS SELECIONADOS Adriana Pessatte Azzolino, Aylton Segura, Cida Golin, Geane Alzamora, Isabelle Anchieta, Margareth Assis Marinho, Marina Magalhães, Nísio Teixeira, Wellington Pereira

DOSSIÊ Dossiê - Cenas de um programa

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08

24

48

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APRESENTAÇÃO

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Com a publicação do Mapeamento - o Ensino de Jornalismo Cultural no Brasil em 2008, o Rumos Jornalismo Cultural, do Itaú Cultural, completa sua segunda edição – a primeira ocorreu em 2004-2005. O programa tem como objetivos

compreender o papel da editoria de cultura na mídia e refletir sobre ele, numa tentativa de promover o diálogo entre todos os atores envolvidos em sua construção: estudantes, jornalistas, dirigentes, acadêmicos, governantes, público, artistas e instituições culturais; pensar o processo de formação dos estudantes de jornalismo e colaborar com essa formação.

Embora a proposta se mantenha, nesta segunda edição a abrangência e o formato do programa apresentaram diferen-ças significativas. Em 2004-2005, foram selecionados estudantes por meio de reportagens impressas para que participas-sem de um laboratório on-line de jornalismo cultural; na segunda edição, o processo passou a contar com duas carteiras – Estudante e Professor. Com a inclusão necessária e oportuna dos docentes no programa, o Itaú Cultural reconheceu e destacou o trabalho do professor de graduação em comunicação social.

Foram 238 inscrições, ante 108 da anterior – 212 para a carteira Estudante e 26 para a de Professor de Graduação. Os trabalhos partiram de 98 faculdades de 64 cidades em 25 estados.

Os nove professores que assinam este mapeamento foram selecionados por uma comissão formada por Antonio Hohlfeldt, representante da Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor) e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS), Sandra de Deus, representante do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ) e professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e pelo jornalista Claudiney Ferreira, gerente do Núcleo Diálogos do Itaú Cultural.

Editado em cinco capítulos – Jornalismo Cultural: o Ensino da Disciplina; Zoom no Mapeamento; A Fala dos Professores; O que é Jornalismo Cultural e Re!exões, o Mapeamento - o Ensino de Jornalismo Cultural no Brasil em 2008 não estava em pauta até os professores se reunirem em São Paulo, durante a edição de dezembro de 2007 da série Colóquios Rumos Jornalismo Cultural.

Para a carteira Professor de Graduação, o edital do programa citava o apoio do instituto à formação de um fórum de discus-são e à realização e à publicação de uma série de entrevistas com professores e jornalistas sobre a formação e a prática do jornalismo cultural. No entanto, as conversas entre selecionados e profissionais da instituição mudaram o rumo dos traba-lhos. Ficou claro que o grande assunto da pauta estava na identificação e na compreensão do ensino do jornalismo cultural Brasil afora. Após um ano, eis o resultado de uma pesquisa inédita para os cursos de comunicação no Brasil.

Completa a publicação o Dossiê Rumos Jornalismo Cultural 2007-2008, que apresenta um mapeamento das inscri-ções do programa, o Quem É Quem, com os nomes e perfis de selecionados, membros das comissões, debatedores, curadores e profissionais cujos trabalhos foram importantes para o Rumos Jornalismo Cultural 2007-2008.

O programa Rumos Jornalismo Cultural é uma realização de todos os funcionários e colaboradores do instituto, sob coordenação do Núcleo de Diálogos.

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JORNALISMO CULTURAL O ENSINO DA DISCIPLINAMarina MagalhãesMargareth Assis MarinhoNísio Teixeira

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Com base em um levantamento produzido pelo Itaú Cultural junto a instituições de ensino superior da área de jornalismo cultural no país, foi realizado um mapeamento da situação atual (ano de 2008) do ensino da disciplina.

Essa situação, evidentemente, é um reflexo de como o curso de jornalismo foi implantado no Brasil e como o ensino vem sendo conduzido desde o início da década de 1940. Assim, uma pequena introdução histórica sobre os currículos faz-se necessária para melhor entender os objetivos desse mapeamento de cursos, disciplinas e matrizes curriculares que constroem o campo do jornalismo contemporâneo.

Pequeno histórico do ensino de jornalismo no Brasil

Tomamos como base informações do Ministério da Educação (disponível em http://portal.mec.gov.br/) e o artigo “A criação da habilitação publicidade e propaganda no Brasil: seus problemas e soluções”, da professora Samia Cruañes de Souza Dias, apresentado no 1º Encontro Nacional da Rede Alfredo de Carvalho (Alcar), em 2003, no Rio de Janeiro (disponível em http://www.redealcar.jornalismo.ufsc.br/anais/gt6_persuasiva).

A formação superior para jornalista já vinha sendo debatida desde a realização do 1O Congresso dos Jornalistas, em 1918. O primeiro curso livre de jornalismo funcionou em 1943, criado por Vitorino Castelo Branco, defensor da formação superior, na Associação dos Profissionais de Imprensa de São Paulo (Apisp).

Mas o curso de jornalismo no ensino superior foi instituído pelo Decreto-lei 5.480, de 13 de maio de 1943, durante o governo do presidente Getúlio Vargas. O decreto incluía o novo curso no sistema de ensino superior e determinava que ele seria ministrado pela Faculdade Nacional de Filosofia, com a cooperação da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e dos sindicatos representativos dos empregados e empregadores das empresas jornalísticas. O primeiro curso superior de jornalismo foi implantado na Faculdade Cásper Líbero, em 1947, em São Paulo. A profissão de jornalista, entretanto, só foi regulamentada 26 anos após a criação do curso superior, pelo Decreto-lei 972 de 17/10/1969 e pelo Decreto 83284 de 13/4/1979.

Durante muito tempo, mesmo vinculado ao curso de filosofia e, em algumas regiões do Brasil, aos cursos de letras e direito, a denominação de jornalismo foi mantida. Somente na década de 1960 ocorreu sua transformação em cursos de comunicação social. Em 1962, foi fundada a primeira Escola de Comunicação, na Universidade de Brasília, pelo jornalista Pompeu de Souza, chamada de Faculdade de Comunicação de Massa, dirigida para as áreas de jornalismo, televisão, rádio e cinema, e publicidade e propaganda e, mais tarde, também relações públicas. O projeto previa a implantação do Centro de Teledifusão da Universidade de Brasília, com a função de editar jornais diários para as cidades de Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro, manter uma agência de publicidade, uma estação de rádio e TV e uma produtora cinematográfica. A estrutura serviria de laboratório para os alunos.

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Outros marcos importantes foram a instalação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), em 1966, dirigida pelo professor Júlio Garcia Morejón e, mais tarde, pelo professor José Marques de Melo; a Faculdade dos Meios de Comunicação da Pontifícia Universidade Católica de Porto Alegre, em 1965, e a Escola de Comunicação (ECO) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1967.

Várias resoluções do Conselho Federal de Educação/MEC determinaram os currículos e a formatação dos novos cursos de comunicação social. A Resolução 20/66 listava 16 disciplinas obrigatórias de cultura geral, especiais ou instrumentais e técnicas ou de especialização. A resolução permitia a inclusão de disciplinas complementares, mas os cursos em sua maioria ofereciam o currículo mínimo.

As habilitações (polivalente, jornalismo, relações públicas, publicidade e propaganda, e editoração) foram introduzidas pelo Parecer 631/69. A habilitação jornalismo foi subdividida em jornalismo impresso, radiofônico, televisado e cinematográfico. A proposta foi muito criticada, principalmente por criar o jornalista polivalente, mas pela primeira vez instituiu a obrigatoriedade de laboratórios para as aulas práticas.

A polivalência do jornalista foi abolida com o Parecer 1203/77, que acabou com a habilitação de editoração, acrescentou rádio, televisão e cinema, e dividiu as matérias em gerais, humanísticas, fundamentação específica e natureza profissional.

Na década de 1980, o Conselho Federal de Educação (CFE) criou uma comissão de 21 especialistas para rever a estrutura dos cursos, culminando com a aprovação do

Parecer 480/83 e com a Resolução 2/84, que perduraram até 1997. O novo currículo passou a ter seis habilitações:jornalismo, relações públicas, publicidade e propaganda, radialismo (rádio e TV), cinema e produção editorial, com duração mínima de quatro e máxima de sete anos. As disciplinas foram divididas em obrigatórias (tronco comum de todas as habilitações), diversificadas por habilitação e técnico-profissionais. As disciplinas obrigatórias para todas as habilitações poderiam ser diluídas durante todo o curso, com 2.700 horas, sendo 10% de projetos experimentais e 50% de disciplinas técnico-profissionais.

Essa resolução foi bastante combatida pelos professores por limitar a liberdade das escolas de montar seus currículos e por não acompanhar as mudanças tecnológicas em curso na comunicação, como a liberação comercial da internet nos Estados Unidos, em 1987.

A disciplina de cultura brasileira é relacionada em dois momentos históricos nos currículos mínimos. A Resolução 20/66 a inclui no campo da cultura geral e a Resolução 02/84, como disciplina eletiva do tronco comum, o que demonstra uma preocupação inicial com o tema dentro dos cursos de comunicação.

Em 1997, os currículos mínimos foram extintos e foi adotada a terminologia de diretrizes curriculares, vinculadas à Lei de Diretrizes e Bases Curriculares da Educação Nacional (LDB). Todas as instituições de ensino e entidades do setor foram convocadas pelo MEC para sugerir as novas diretrizes.

Esse trabalho resultou no Parecer 492/01, do Conselho Federal de Educação, de 4/7/2001, publicado no Diário Oficial da União de 9/7/2001, seção 1e, p. 50 (disponível em

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http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos), determinando as habilitações de jornalismo, relações públicas, publicidade e propaganda, radialismo, editoração e cinema. Os cursos podem criar novas habilitações e construir a sua matriz curricular de acordo com o perfil esperado de seus egressos e o mercado regional, previstos em um projeto pedagógico. A resolução estabelece ainda as competências e habilidades para cada habilitação, orientações de conteúdos curriculares, estágios e atividades complementares, a estrutura do curso e os processos de avaliação.

Os conteúdos programáticos são divididos em básicos de formação geral para todas as habilitações (conteúdos teóricos conceituais, analíticos e informativos sobre a atualidade, de linguagem, técnicas e tecnologias midiáticas, e éticos-políticos) e específicos (reflexões e práticas de cada habilitação). O Parecer 492/01 estabelece a duração mínima de quatro anos, 2.700 horas, exigência de projeto pedagógico e estrutura mínima de laboratórios e equipamentos para as aulas práticas. Ele foi complementado pelo Parecer 1363/2001, publicado no Diário Oficial da União em 29/1/2002, seção 1, p. 60 (disponível em http://portal.mec.gov.br,sesu/arquivos), e pela Resolução 16/2002, publicada no Diário Oficial da União de 9/4/2002, seção 1, p. 34 (disponível em http://mec.gov.br/cne/aquivos).

O documento Padrões de Qualidade para Cursos de Comunicação Social, de 2002 (disponível em http://portal.mec.gov.br/sesu/arquivos), também faz uma série de considerações a respeito da estrutura geral dos cursos e serve como parâmetro para o reconhecimento dos cursos pelo Ministério da Educação, baseado nas exigências mínimas das resoluções anteriores.

A seleção das instituições

O site do Ministério da Educação aponta 356 cursos de jornalismo no Brasil: 25 na Região Norte, 56 no Nordeste, 31 no Centro-Oeste, 183 no Sudeste e 61 no Sul. Todos esses cursos foram contatados pelo Itaú Cultural. As respostas, no entanto, indicaram que nem todos tinham disciplinas que pudessem ser relacionadas ao jornalismo cultural.

A amostragem deste trabalho, portanto, recaiu sobre um universo de apenas 57 instituições de ensino superior, ou cerca de 16% do total de cursos existentes nas cinco regiões do país, em 19 estados brasileiros – de qualquer forma, uma porcentagem significativa considerando os objetivos desta pesquisa, que pretende apenas traçar um levantamento parcial acerca do ensino do jornalismo cultural em diversas matrizes curriculares do país e lançar a discussão para trabalhos futuros.

Em função do prazo disponível para a pesquisa – entre março e junho de 2008 –, essas 57 instituições foram selecionadas com base em um mapeamento dos cursos feito previamente pelo Itaú Cultural por ocasião do programa Rumos Jornalismo Cultural, que apresentava, então, 48 instituições. A essas, foram acrescentados cursos que participaram do Intercom Sul. Por fim, uma pesquisa via Google e site do Ministério da Educação, com os termos “jornalismo cultural”, “professor(a)(es)(as) de jornalismo cultural” e similares, além de conjunções de termos como “jornalismo” e “cultura”, permitiu aumentar a lista.

Das 57 instituições de ensino superior, 43 (75,43%) pertencem à rede particular e 14 (24,56%) à rede pública.

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Dessas 14 instituições públicas, 11 (78,57%) são federais e três (5,2%) estaduais.

Dos 27 estados brasileiros, oito (29,62%) não aparecem no levantamento: Acre, Amapá, Espírito Santo, Paraíba, Piauí, Rondônia, Roraima e Tocantins.

As 126 disciplinas oferecidas por essas 57 instituições foram distribuídas nas categorias plena, semiplena, conteúdo específico e conteúdo tangente, conforme classificação abaixo, categorias utilizadas apenas para efeito de análise deste trabalho, tomando como base o conteúdo de jornalismo cultural e áreas afins verificadas nos planos de ensino enviados – não havendo, portanto, uma preocupação de seguir denominações de uso corrente dos Projetos Pedagógicos de Curso (PPCs).

Tipo I – Plena: a disciplina oferece o conteúdo de jornalismo cultural como único conteúdo programático.Tipo II – Semiplena: a disciplina oferece o conteúdo de jornalismo cultural, mas integrando parte de carga horária de outra disciplina principal (como jornalismo especializado).Tipo III – Conteúdo específico: cursos oferecem conteúdo programático que coincide com uma grande área de cobertura do jornalismo cultural, como jornalismo literário ou fundamentos de cinema, algumas vezes com caráter complementar (pré-requisito) ao ensino da disciplina.Tipo IV – Conteúdo tangencial: disciplinas que oferecem conteúdos de áreas afins, tangenciais ao jornalismo cultural, algumas vezes com caráter introdutório (como cultura brasileira, estética e cultura de massas) e também de pré-requisito ao ensino da disciplina.

Região Número de faculdades %

Sudeste 18 31,57

Sul 18 31,57

Norte 2 3,5

Nordeste 12 21,05

Centro-Oeste 7 12,28

Total 57 100

Tabela 1 – Escolas pesquisadas por região

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As disciplinas

De um total de 126 disciplinas que tratam de jornalismo cultural e áreas afins, somente 16, ou 12,7%, abordam o tema com exclusividade, o que demonstra que ele não é tão presente nas matrizes curriculares. Essas matrizes privilegiam as disciplinas de áreas tangenciais ao jornalismo cultural propriamente dito, como estética, cultura de massas e cultura brasileira, temas tradicionais nos currículos, com um total de 42,85%. Logo a seguir vêm as disciplinas de conteúdo específico (26,98%) e semiplenas (17,47%). O jornalismo cultural, como disciplina plena, é a quarta colocada.

Mas tal gradação se recombina ao se considerar as 23 optativas presentes nas 126 disciplinas analisadas. Desse

Tabela 2 – Escolas pesquisadas por estado

Estado Escolas %

São Paulo 12 21,05

Minas Gerais 4 7

Rio de Janeiro 2 3,5

Rio Grande do Sul 7 12,23

Santa Catarina 3 5,26

Paraná 8 14

Pará 1 1,75

Amazonas 1 1,75

Bahia 2 3,5

Rio Grande do Norte 2 3,5

Maranhão 1 1,75

Ceará 3 5,26

Sergipe 1 1,75

Pernambuco 1 1,75

Alagoas 1 1,75

Goiás 2 3,5

Mato Grosso do Sul 2 3,5

Distrito Federal 2 3,5

Mato Grosso 1 1,75

Total 57 100

universo (18,25%), três são plenas, uma é semiplena, 12 são de conteúdo específico e sete são de conteúdo tangencial.

Se tomarmos como base a somatória das disciplinas plenas e semiplenas de jornalismo cultural, teremos um total de 38 conteúdos programáticos. Ainda assim, um número bem inferior à preferência das 54 disciplinas de conteúdo tangenciais, que aparecem em primeiro lugar nos currículos.

Das 16 disciplinas plenas de jornalismo cultural oferecidas em todo o país, 14 (87,5%) são adotadas nos currículos das instituições de ensino particular e duas (12,5%) na rede pública, nos estados do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.

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Por trás dos nomes das disciplinas

A nomeação das disciplinas pode nos dar uma visão de como os cursos de jornalismo estão abordando a questão cultural em seus projetos pedagógicos. Sabemos que a denominação não é um fator preciso para determinar o conteúdo programático das disciplinas: elas podem

abrigar diferentes conteúdos, mas, ainda assim, o sentido geral pode ser revelado. Assim, tomamos como base as palavras-chave de jornalismo e cultura para estabelecer um critério de nomeação e registrar como elas aparecem nas matrizes curriculares.

Tabela 3 – Distribuição das disciplinas por categoria

Categoria Número de disciplinas % Classi"cação

Plena 16 12,70 4º

Semiplena 22 17,47 3º

Conteúdo específico 34 26,98 2º

Conteúdo tangencial 54 42,85 1º

Total de disciplinas 126 100 —

Quadro 1 – Nomeação das disciplinas por região

Disciplina Tipo Estado

Região Sudeste

Jornalismo especializado I Semiplena SP

Jornalismo cultural e artes plásticas Conteúdo específico SP

Jornalismo e cinema Conteúdo específico SP

Jornalismo literário Conteúdo específico SP

Jornalismo cultural Plena SP

Comunicação e cultura Conteúdo tangencial SP

Arte e cultura Conteúdo tangencial SP

Cultura brasileira I e II Conteúdo tangencial SP

Cultura brasileira contemporânea Conteúdo tangencial SP

Jornalismo cultural e literário Plena SP

Livro-reportagem Semiplena SP

Fundamentos de cinema Conteúdo específico MG

Fundamentos de teatro Conteúdo específico MG

Estética e cultura de massa Conteúdo tangencial MG

Comunicação, cultura e sociedade Conteúdo tangencial MG

Tópicos de literatura Conteúdo específico MG

História da arte, tecnologia e imagem Conteúdo específico MG

Fundamentos de cinema Conteúdo específico MG

Jornalismo e literatura Conteúdo específico MG

Introdução ao cinema Conteúdo específico MG

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Região Sul

Jornalismo cultural Plena RS

Seminário de arte e comunicação Semiplena RS

Seminário de literatura e comunicação Semiplena RS

Análise crítica da comunicação Semiplena RS

Cultura brasileira Conteúdo tangencial RS

Jornalismo e literatura Conteúdo específico RS

Cultura e arte Semiplena RS

Estética e cultura de massa Conteúdo tangencial RS

Mídia e cultura brasileira Conteúdo tangencial RS

Radiojornalismo III Semiplena RS

Jornalismo literário Conteúdo específico RS

Cinema e vídeo em jornalismo Conteúdo específico RS

Redação jornalística IV Semiplena RS

Cinema e literatura Semiplena RS

Jornalismo especializado Semiplena RS

Cultura brasileira Conteúdo tangencial RS

Cinema e vídeo Semiplena RS

Arte e cultura nas mídias Conteúdo tangencial RS

Jornalismo no cinema Conteúdo específico SC

Comunicação e cultura popular Conteúdo tangencial SC

Cinema Semiplena SC

Mídia e cultura Conteúdo tangencial SC

Estudos da comunicação e cultura Conteúdo tangencial SC

Estética e cultura Conteúdo tangencial SC

Comunicação, cultura e sociedade Conteúdo tangencial SC

Cultura, grupos e identidades Conteúdo tangencial SC

Estética e linguagem cinematográfica Conteúdo específico SC

Jornalismo e literatura Conteúdo específico SC

Cultura brasileira e realidade regional Conteúdo tangencial SC

Estudos culturais Conteúdo tangencial SC

Região Norte

Estudos de cultura brasileira Conteúdo tangencial PA

Comunicação, cultura e cidadania Conteúdo tangencial PA

Jornalismo especializado Semiplena PA

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Região Nordeste

Comunicação e cultura contemporânea Conteúdo tangencial BA

Comunicação e cultura Conteúdo tangencial BA

Cinema e história Conteúdo específico BA

Crítica cinematográfica Conteúdo específico BA

Estética da comunicação Conteúdo tangencial BA

Comunicação comparada Conteúdo tangencial BA

Antropologia cultural Conteúdo tangencial BA

Cultura brasileira e regional Conteúdo tangencial BA

Cultura brasileira Conteúdo tangencial RN

Comunicação e artes visuais Conteúdo tangencial RN

Estética e cultura de massa Conteúdo tangencial MA

Comunicação e cultura popular Conteúdo específico CE

Jornalismo e literatura Conteúdo específico CE

Industria cultural e cultura de massa Conteúdo tangencial CE

Arte e cultura brasileira Conteúdo tangencial CE

História e estética do cinema Conteúdo específico CE

Jornalismo literário Conteúdo específico CE

Jornalismo cultural Plena CE

Cultura popular Conteúdo tangencial PE

Crítica cinematográfica Conteúdo específico PE

Cinema Conteúdo específico AL

Jornalismo especializado Semiplena AL

Jornalismo cultural Plena MA

Região Centro-Oeste

Cinema e jornalismo Conteúdo específico GO

Cultura brasileira I e II Conteúdo tangencial GO

Jornalismo especializado I e II Semiplena GO

Jornalismo cultural e literário Plena GO

Estudos antropológicos e cultura brasileira Conteúdo tangencial MS

Jornalismo cultural Plena MS

Cultura contemporânea Conteúdo tangencial DF

Jornalismo especializado Semiplena DF

Jornalismo literário Conteúdo específico MT

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Observamos, assim, que:

Disciplinas plenas:Entre as 16 disciplinas plenas, a nomeação geral é “jornalismo cultural”, com apenas uma variação aglutinando “jornalismo cultural e literário” em duas disciplinas.

Disciplinas semiplenas:Das 22 disciplinas semiplenas, 12 (54,55%) adotam a nomeação “jornalismo especializado”, que, além da cultura, aborda também outras especializações, como política, esportes e economia. As demais disciplinas desse grupo aparecem sob temas como arte e cultura (seminário de arte e comunicação, cultura e arte), literatura (seminário de literatura e comunicação) e crítica (análise crítica da comunicação).

Conteúdo específico:As 34 disciplinas abordam os seguintes aspectos da cultura: literatura, artes plásticas, cinema, vídeo e teatro, com predominância do cinema (15 disciplinas, ou 44,11% do total) e literatura (12 disciplinas, ou 35,29%). Isso demonstra a tradicional vinculação dos cursos de jornalismo com o cinema e depois com a literatura, como manifestações artísticas culturais preferenciais. As demais formas de arte (teatro, vídeo, artes plásticas e visuais) são pontuais. Das 12 disciplinas de literatura, sete (58,33%) são de jornalismo literário e cinco (41,66%) discutem a literatura de forma geral.

Conteúdo tangencial:Das 54 disciplinas que abordam temas tangentes ao jornalismo cultural, a maior parte delas, 12, é estética e cultura e massas e 11 são cultura brasileira. As demais apresentam variações do tema, como cultura contemporânea; arte brasileira; mídia e cultura; estudos culturais; antropologia cultural; artes visuais; cultura e sociedade; grupos e identidade; cultura, sociedade e cidadania. Duas disciplinas destacam a cultura popular (em Pernambuco e Santa Catarina) e duas a regional (Bahia e Paraná).

Mapa regional e estadual das disciplinas

O maior número de disciplinas plenas de jornalismo cultural (sete) está concentrado na Região Sudeste, o que corresponde a 43,75% do total da amostragem de 16 disciplinas, seguida das regiões Centro-Oeste e Nordeste, com três disciplinas (18,75%). A Região Sul aparece em quarto lugar, com duas disciplinas, ou 12,5%. A Região Norte não oferece a disciplina jornalismo cultural na modalidade plena.

A Região Sul fica em primeiro lugar nas disciplinas semiplenas (11) e tangentes (21). A Região Sudeste fica à frente na oferta das disciplinas plenas (sete) e de conteúdo específico (12).

A pesquisa sugere que as regiões Sudeste e Sul enfatizam o tema jornalismo e cultura ao oferecerem, juntas, o maior número em todas as categorias de disciplinas plenas, semiplenas e específicas, num total de 51 matérias, ou 40,47% das 126 analisadas. Por pouco a conta não inclui também as tangenciais: 21 para o Sul, 12 para o Sudeste, 15 para o Nordeste, quatro para o Centro-Oeste e duas para o Norte. De qualquer forma, as razões que evidenciam o peso numérico das regiões Sul e Sudeste podem estar ligadas ao fato de possuírem os maiores centros culturais do país, os maiores veículos e redes de comunicação e o maior número de escolas de jornalismo. As regiões Sul e Sudeste somam 36 faculdades, ou 63,14% do total de 57 instituições de ensino pesquisadas.

O estado de São Paulo tem o maior número de disciplinas plenas de jornalismo cultural, com quatro registros, ou 25%, seguido de Minas Gerais e Rio Grande do Sul, com duas disciplinas cada, ou 12,5%. Um grande número de estados, oito entre 19 – ou seja, 42,1% dos pesquisados –, não oferece nenhuma disciplina plena.

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Tabela 4 – Distribuição das disciplinas por região

Região Categoria da disciplina

Plena % Semiplena % Conteúdo especí"co % Conteúdo tangencial %

Sudeste 7 43,75 7 31,82 12 35,29 12 22,23

Sul 3 18,75 11 50 11 32,35 21 38,89

Norte 0 0 1 4,54 0 0 2 3,70

Nordeste 3 18,75 1 4,54 9 26,48 15 27,78

Centro-Oeste 3 18,75 2 9,1 2 5,88 4 7,40

Total 16 100 22 100 34 100 54 100

Tabela 5 – Disciplinas plenas por estado

Estado Número de disciplinas

Região Sudeste

São Paulo 4

Minas Gerais 2

Rio de Janeiro 1

Região Sul

Rio Grande do Sul 2

Santa Catarina 0

Paraná 1

Região Norte

Pará 0

Amazonas 0

Região Nordeste

Bahia 0

Rio Grande do Norte 0

Maranhão 1

Ceará 1

Sergipe 0

Pernambuco 1

Alagoas 0

Região Centro-Oeste

Goiás 1

Mato Grosso do Sul 0

Distrito Federal 1

Mato Grosso 1

Total 16

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Algumas conclusões

1. A disciplina de jornalismo cultural não é prioridade nas grades, com um registro de apenas 16 matérias plenas, ou 12,7%, de um total de 126 disciplinas analisadas que abordam o tema da cultura, em 57 instituições de ensino superior.

2. Do total de 16 disciplinas plenas, três são optativas. Das 23 disciplinas optativas, além das três plenas, temos uma semiplena, 12 de conteúdo específico e sete de conteúdo tangencial.

3. Os currículos analisados têm preferência pelas disciplinas de áreas tangentes, como estética, cultura de massas e cultura brasileira, com um total de 42,85%, seguidas pelas de conteúdo específico (26,98%) e semiplenas (17,46%). As matrizes são conservadoras com relação ao tema cultura, mantendo disciplinas clássicas como estética e cultura de massas, cultura brasileira e antropologia cultural.

4. A Região Sudeste concentra sete disciplinas, ou 43,75% do total de 16 disciplinas plenas de jornalismo cultural, seguida das regiões Centro-Oeste, Nordeste e Sul (18,75%). A Região Norte não apareceu no levantamento oferecendo disciplina. O estado do Espírito Santo também não apareceu no levantamento.

5. As faculdades particulares adotam em sua maioria a disciplina plena de jornalismo cultural, presente em 87,5% das pesquisadas, contra 12,5% nas públicas.

6. As escolas das regiões Sudeste e Sul dão maior atenção ao tema cultural ao oferecerem juntas o maior número de disciplinas nas categorias plena, semiplena e conteúdo específico, num total de 51 matérias, ou 40,47%. As regiões Sul e Sudeste somam 36 faculdades, ou 63,15% de um total de 57 cursos pesquisados.

7. O estado de São Paulo tem o maior número de disciplinas plenas de jornalismo cultural (25%), seguido

de Minas Gerais e Rio Grande do Sul (12,5% cada).

8. 42,1% dos estados pesquisados não oferecem nenhuma disciplina plena.

9. Os temas abordados nas disciplinas semiplenas, além de jornalismo cultural (63%), são cinema, literatura, vídeo, arte e crítica.

10. Os temas abordados nas disciplinas de conteúdo específico são literatura, artes plásticas, cinema, vídeo e teatro, com predominância de cinema (15 disciplinas, ou 44,11% do total) e literatura (12 disciplinas, ou 35,29%), o que revela que as grades curriculares preservam uma tradicional vinculação dos cursos de jornalismo com essas áreas, como manifestações artísticas culturais preferenciais.

11. O jornalismo literário é tema de 58% das disciplinas que abordam literatura, o que é um dado interessante e pode sugerir uma nova forma de dirigir os estudos de literatura nos cursos de graduação, que antes se detinham em teoria literária e estudos de literatura.

12. Os temas abordados nas disciplinas de conteúdo tangencial são estética, cultura de massas, cultura brasileira, antropologia cultural, cultura popular e regional.

Mapeamento do ensino de jornalismo cultural: disciplinas oferecidas por instituição

A # REGIÃO SUDESTE

São Paulo

1 – Faculdade Cásper LíberoJornalismo cultural

2 – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP)Jornalismo cultural e artes plásticasJornalismo e cinema

20

14 – Centro Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH)Jornalismo culturalFundamentos de cinemaFundamentos de teatroEstética e cultura de massa

15 – Universidade Presidente Antônio Carlos (Unipac)Jornalismo especializadoComunicação, cultura e sociedadeTópicos de literaturaHistória da arte, tecnologia e imagemFundamentos de cinema

16 – Centro Universitário Metodista Izabela HendrixJornalismo e literaturaFundamentos de cinema

Rio de Janeiro

17 – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio)Cultura brasileiraIntrodução ao cinema

18 – Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)Jornalismo cultural

B # REGIÃO SUL

Rio Grande do Sul

19 – Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)Jornalismo cultural

20 – Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)Seminário de arte e comunicaçãoSeminário de literatura e comunicação Análise crítica da comunicação Cultura brasileira

21 – Pontifica Universidade do Rio Grande do Sul (PUCRS)Jornalismo e literatura

3 – Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp)Jornalismo especializado 1 e 2

4 – Universidade Presbiteriana Mackenzie (Mackenzie)Jornalismo literárioJornalismo culturalComunicação e cultura

5 – Universidade Metodista de São PauloArte e cultura

6 – Universidade Católica de Santos (Unisantos)Cultura brasileira I e II

7 – Universidade Paulista (Unip)Cultura brasileira contemporânea Jornalismo especializado

8 – Universidade Anhembi-MorumbiJornalismo cultural

9 – Faculdades Integradas Alcântara Machado/Faculdade de Artes Alcântara Machado (Fiam-Faam)Jornalismo cultural e literárioLivro-reportagem

10 – Universidade de Santo Amaro (Unisa)Jornalismo cultural

11 – Faculdades Hoyler (FCSH)Jornalismo literário

12 – Faculdades Atibaia (Faat)Jornalismo cultural

Minas Gerais

13 – PUC MinasJornalismo cultural

21

22 – Universidade de Cruz Alta (Unicruz)Cultura e arteEstética e cultura de massaMídia e cultura brasileira

23 – Centro Universitário Franciscano (Unifra)Jornalismo culturalJornalismo literário

24 – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí)Cinema e vídeo em jornalismoEstética e cultura de massaCinema e literaturaJornalismo especializadoRadiojornalismo IIIRedação jornalística IV

25 – Universidade de Passo Fundo (UPF)Cultura brasileiraCinema e vídeoArte e cultura nas mídias

Santa Catarina

26 – Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)Jornalismo no cinemaComunicação e cultura popular

27 – Universidade do Vale do Itajaí (Univali, Itajaí) Cultura brasileiraEstética e cultura de massaCinema

28 – Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc, Joaçaba)Cultura brasileiraEstética e cultura de massaMídia e cultura

Paraná

29 – Universidade PositivoEstética e cultura de massa

30 – Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG)Estudos da comunicação e cultura

31 – Centro Universitário de Maringá (Cesumar)Estética e culturaJornalismo especializado

32 – Faculdades Pitágoras (UMP)Comunicação, cultura e sociedadeEstética e linguagem cinematográficaJornalismo e literatura Cultura brasileira

33 – Faculdade Dinâmica das Cataratas (UDC)Cultura brasileiraEstética e cultura de massaCinema

34 – Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR)Jornalismo especializado I e II

35 – Faculdade de Pato Branco (Fadep)CinemaCultura brasileira e realidade regionalJornalismo especializado

36 – Faculdades Integradas do Brasil (UniBrasil)Estudos culturaisCinemaJornalismo cultural

C # REGIÃO NORTE

Pará

37 – Universidade da Amazônia (Unama)Estudos de cultura brasileira

22

Ceará

44 – Universidade Federal do Ceará (UFC)Comunicação e cultura popularJornalismo e literaturaIndústria cultural e cultura de massaComunicação e cultura

45 Universidade de Fortaleza (Unifor)Arte e cultura brasileiraHistória e estética do cinema

46 – Faculdade 7 de Setembro (FA7)Jornalismo literárioJornalismo cultural

Sergipe

47 – Universidade Tiradentes (Unit)Jornalismo literário

Pernambuco

48 – Faculdade Integradas Barros MeloJornalismo culturalJornalismo literárioCultura popularCrítica cinematográfica

Alagoas

49 – Centro de Estudo Superior de Maceió (Cesmac)CinemaEstética e cultura de massaJornalismo especializado

Maranhão

50 – Faculdade São LuísJornalismo cultural

Comunicação, cultura e cidadaniaJornalismo especializado

Amazonas

38 – Universidade Federal do Amazonas (Ufam)

D # REGIÃO NORDESTE

Bahia

39 – Universidade Federal da Bahia (UFBA)Comunicação e cultura contemporâneaComunicação e culturaCinema e históriaCrítica cinematográfica

40 – Unidade de Ensino Superior de Feira de Santana (Unef )Estética da comunicaçãoComunicação comparadaAntropologia culturalCultura brasileira e regional

Rio Grande do Norte

41 – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN)Cultura brasileira

42 – Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)Cultura brasileiraComunicação e artes visuais

Maranhão

43 – Universidade Federal do Maranhão (UFMA)Cultura brasileiraEstética e cultura de massa

23

E # REGIÃO CENTRO$OESTE

Goiás

51 – Universidade Federal de Goiás (UFG)Cinema e jornalismo Cultura brasileira I e IIJornalismo especializado I e II

52 – Faculdade Sul-Americana (Fasam)Jornalismo cultural e literário

Mato Grosso do Sul

53 – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)Estudos antropológicos e cultura brasileira

54 – Faculdade Estácio de Sá de Campo GrandeJornalismo cultural

Brasília

55 – Instituto de Ensino Superior de Brasília (Iesb)Jornalismo cultural

56 – Universidade Paulista (Unip, campus Brasília)Cultura contemporâneaJornalismo especializado

Mato Grosso

57 – Universidade Católica Dom Bosco (UCDB)Jornalismo culturalJornalismo literário

24

ZOOM NO MAPEAMENTOMarina MagalhãesMargareth Assis Marinho Nísio Teixeira

24

25

Esta etapa da pesquisa trabalhou com base na análise de duas diretrizes: a resposta a um pequeno questionário de sete perguntas (ver box) referentes ao perfil profissional do professor, e o envio de plano de ensino completo que contivesse

elementos centrais como ementa, carga horária, conteúdo programático em tópicos, metodologia de aula, avaliação e bibliografia adotada.

Das 57 instituições pesquisadas que trabalham com jornalismo cultural, esta breve sondagem abordou apenas informações referentes às disciplinas dos três primeiros tipos (plenas, semiplenas e de conteúdo específico) por serem aquelas que trabalham predominantemente com algum tipo de conteúdo jornalístico (exclusivamente jornalismo cultural, no primeiro caso; inclusivamente jornalismo cultural, no segundo caso; e destacando alguma área artística junto à prática jornalística, no terceiro caso).

Do grupo das 16 disciplinas plenas levantadas pela etapa quantitativa junto às 57 instituições, obtivemos retorno de seis disciplinas, o que corresponde a 37,5% do universo detectado: um professor do Nordeste (Thiago Soares, das Faculdades Integradas Barros Melo, Pernambuco), dois do Centro-Oeste (Adriana Rodrigues, da Faculdade Sul Americana, Goiás; e Jacir Zanatta, da Universidade Católica Dom Bosco, Mato Grosso do Sul) e três da região Sudeste (Heitor Ferraz Melo, da Cásper Líbero, São Paulo; Geane Alzamora, da PUC Minas, e Leonardo Cunha, do Uni-BH, ambos de Minas Gerais). Em todos os casos, a disciplina comparece regularmente na grade curricular do curso e não se trata de disciplina optativa.

Do grupo das 22 disciplinas semiplenas levantadas, obtivemos retorno de quatro professores, o que corresponde a apenas cerca de 18% do total: dois professores do Sudeste (Anderson Gurgel, da Universidade de Santo Amaro, e Ieda Santos, da Unip, ambas de São Paulo) e dois do Sul (José Carlos Fernandes, da PUCPR, Paraná, e Vera Raddatz, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – Unijuí). Todas apresentam uma carga horária na qual a discussão sobre o jornalismo cultural é dividida com a de outros gêneros jornalísticos. Nenhuma das disciplinas é optativa.

Do grupo das 34 disciplinas de conteúdo específico, também obtivemos retorno de quatro professores, o que equivale a 11,76% do universo. Responderam ao questionário três professores do Sudeste (Arthur Barroso, da Universidade Presidente Antônio Carlos – Unipac, e Nísio Teixeira, do Uni-BH, ambos de Minas Gerais; e Fábio Cypriano, da PUC/SP, São Paulo) e um do Sul (Alcides Carvalho, das Faculdades Pitágoras, Paraná). Os dois professores mineiros enfatizam o conteúdo cinematográfico; o paranaense, a literatura; e o paulista, as artes plásticas – na única optativa do grupo.

Dados sobre outras três disciplinas desse último tipo também foram gentilmente respondidos por seus respectivos professores, apenas para frisar que eles não ministram as referidas disciplinas ou que elas foram substancialmente alteradas.

Na esteira dessa análise, convém lembrar ainda que a amostragem inicial já informava que cinco disciplinas também não estavam mais sendo ofertadas – assim, essas oito disciplinas correspondem a 25% do total. No cômputo geral, portanto, somando-se às quatro primeiras, chegamos a informações sobre o status de 37% do universo, porcentagem próxima à das plenas.

26

Pela Tabela 7 podemos notar que o tempo médio de docência da disciplina jornalismo cultural por parte dos professores da amostragem é de cerca de dois anos e meio. Uma exceção fica para o professor Leonardo Cunha, que leciona a disciplina desde 2000 – seu tempo de docência no ensino de jornalismo cultural quase equivale à soma dos demais. Contudo, o professor com maior tempo de carreira é Jacir Zanatta, embora a proporção dedicada ao jornalismo cultural seja menor porque recente – o mesmo valendo para Thiago Soares e Adriana Rodrigues (lembrando ainda que o professor Zanatta também oferece uma disciplina relacionada à cultura em conteúdo específico). Até aqui, Leonardo Cunha dedicou mais da metade de sua carreira como professor ao ensino da disciplina, enquanto Heitor Ferraz, apesar de ser o “caçula” em termos de docência do grupo, é o único a coincidir os dois tempos: desde que começou a lecionar, há pouco mais de um ano e meio, ele vem trabalhando com o jornalismo cultural.

Questionário aplicado aos professores

1. Nome completo do professor(a):2. Contato (telefone e e-mail):3. Tempo de docência:4. Tempo de docência na disciplina jornalismo cultural:5. Exerce ou exerceu função como jornalista na área de cultura? Em caso positivo, em que veículo (jornal, revista, rádio, TV, web) e por qual período?6. Publicou algum texto científico (artigo, capítulo de livro ou livro) voltado para a área do jornalismo cultural?7. Cite pelo menos cinco sites (inclusive blogs e/ou portais) que você recomenda aos alunos durante o ensino da disciplina.8. Favor fornecer o plano de ensino da disciplina que contenha as seguintes informações: ementa, carga horária, conteúdo programático em tópicos, metodologia de aula, avaliação e bibliografia adotada.

Foco nos professores

Do Tipo 1 – Disciplinas plenas

Tabela 7 – Tempo de docência/Plenas

Professores de jornalismo cultural I II

Razão I/IITempo de docência (anos) Tempo de docência em JC

Heitor Ferraz Melo 1,5 1,5 100%

Thiago Soares 9 1 11%

Adriana Rodrigues 10 2 20%

Leonardo Cunha 12 8 66%

Geane Alzamora 13 2 15,4%

Jacir Zanatta 16 2 12,5%

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Professores de jornalismo cultural Tempo de atuação em JC Local Natureza

Heitor Ferraz Melo Free-lancer Vários (ver texto) Impresso

Thiago Soares Cinco anos Folha de Pernambuco Impresso

Adriana Rodrigues Não atuou — —

Leonardo Cunha Sete anosJornais O Tempo, Hoje em Dia

Sites: Union e Filmes PolvoImpresso e eletrônico

Geane Alzamora Cinco anosHoje em Dia, Estado de Minas, O Tempo e o

blog JN CulturalImpresso e eletrônico

Jacir Zanatta Seis meses Correio do Estado Impresso

Comparando a Tabela 8 com a Tabela 7, percebe-se que, no caso de todos os professores selecionados, o tempo de docência supera o tempo eventualmente dedicado a algum tipo de atuação no jornalismo cultural – salvo Heitor Ferraz, do qual não obtivemos dados mais precisos. Olhando mais atentamente a Tabela 8, é interessante perceber também que, quando houve essa incursão, ela aconteceu sobretudo na condição de colunista, cronista, resenhista – seguido, em menor número, por uma função editorial e, quase inexistente, pela reportagem cultural. Outro dado relevante sobre essa experiência no jornalismo cultural é a maciça e também quase onipresença de atuações no jornalismo impresso – nenhum deles possui ou vem de uma experiência na área em rádio ou televisão.

Já no que tange à produção científica voltada para a área do jornalismo cultural, também cabe dizer que, à exceção do professor Leonardo Cunha, que tem dois artigos publicados (em co-autoria) acerca do jornalismo cultural, e da professora Geane Alzamora, que possui vários, os demais ainda não publicaram nenhum artigo sobre o tema.

Adriana Rodrigues não atuou no jornalismo cultural. Thiago Soares é colunista e editor de cultura da Folha de Pernambuco há cinco anos. Jacir Zanatta nunca atuou como repórter cultural, mas há seis meses escreve resenhas dominicais no Correio do Estado (MS). Heitor Ferraz atuou como frila nas

revistas Cult, Bravo!, Entrelivros e nos jornais Folha de S.Paulo e Estado de S. Paulo. Em outras áreas, o professor cita sua atuação como editor-executivo do Jornal da USP, editor-assistente de geral do Jornal da Tarde e editor de livros na Edusp, CosacNaify, Editora Códex e Estação Liberdade.

Leonardo Cunha atuou nos jornais O Tempo (colunista, entre 1996 e 1997) e Hoje em Dia (cronista, entre 2000 e 2002). Também é editor, desde 2005, da Union, web-revista de cinema e colaborador de outra web-revista, a Filmes Polvo, a partir de 2008. Sobre o jornalismo cultural, publicou, em co-autoria, dois artigos: “Dilemas do Jornalismo Cultural Brasileiro”. (na revista Temas – Ensaios de Comunicação, v. 1, p. 73-83, 2002, reproduzido no site da Biblioteca On-line de Ciências da Comunicação – BOCC) e “O Jornalismo Cultural e a Lógica do Iceberg” (na revista Mediação, ano 7, n. 6, 2007, p. 35-54). Autor de diversos livros voltados para o público infanto-juvenil, sua produção inclui também três livros de crônicas: Nas Páginas do Tempo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1997), Manual de Desculpas Esfarrapadas (São Paulo, FTD, 2004) e Tela Plana: Crônicas de um País Telemaníaco (São Paulo, Planeta, 2007).

Geane Alzamora atuou nos três mais importantes diários mineiros entre 1993 e 1998 como repórter e crítica: Hoje em Dia, Estado de Minas (também como articulista) e O Tempo (também como colunista). Vários artigos foram produzidos a partir de dois trabalhos de peso dedicados ao tema: sua tese de doutoramento “Comunicação e Cultura na Internet – Em Busca de Outros Jornalismos

Tabela 8 – Tempo de atuação em jornalismo cultural/Plenas

28

Culturais”, (2005, defendida na PUC/SP, e com a qual obteve o prêmio Freitas Nobre/Intercom) e a dissertação “A Linguagem da Crítica de Artes Plásticas na Imprensa Escrita – Uma Abordagem Peirceana”, (1996, também pela PUC/SP, e com a qual também recebeu prêmio Intercom como melhor dissertação do país na área de jornalismo). Os artigos são os seguintes: “Do Texto Diferenciado ao Hipertexto Multimidiático: Perspectivas para o Jornalismo Cultural”. (Instituto Itaú Cultural, Rumos Jornalismo Cultural, Carteira Professor de Graduação, 2007-2008); “Giornalismo su Internet. Paradigmi Emergenti dell’Informazione Culturale”, publicado no livro organizado por Carlos Scolari e Paolo Bertetti Mediamerica – Semiotica e Analisi dei Media in America Latina. (Torino, Cartman Edizioni, 2007); “Para Além do Jornalismo de Massa – A Diversidade da Informação Cultural na Internet”, publicado no livro organizado por Júlio Pinto e Márcio Serelle Interações Midiáticas. (Belo Horizonte, Autêntica, 2006); “A Semiose da Informação Webjornalística”, publicado no livro organizado por ela, André Brasil e Eduardo de Jesus Cultura em Fluxo – Novas Mediações em Rede. (Belo Horizonte, Editora PUC Minas, 2004); “Crítica de Arte Digital – Considerações e Hipóteses”, publicado na Líbero – Revista Acadêmica da Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero (ano III, v. 3, n. 6, 2º semestre 2000). Outro livro co-organizado por Geane na área (ao lado de Simone Malaguti e Renira Rampazzo) foi

Kulturdialoge Brasilien – Deutschland: Design, Film, Literatur, Medien (Berlim, Tranvia Sur, 2008).

Uma lista dos livros e sites indicados será trabalhada posteriormente. Por ora, no que tange aos sites, é interessante perceber como Jacir Zanatta privilegia aqueles mais voltados à produção literária e científica, enquanto Adriana Rodrigues e Heitor Ferraz privilegiam mais o jornalismo literário (ela por meio de mais websites da área, Heitor trabalhando mais sites com versões on-line de jornais impressos importantes). Thiago Soares procura ser mais eclético e oferece um leque que tenta corresponder às áreas culturais do cinema, da literatura e das artes plásticas, por exemplo, enquanto Leonardo Cunha e Geane Alzamora destacam mais sites referentes ao cinema – Geane, inclusive, mantém um blog (www.jncultural.blogspot.com), utilizado como plataforma de leitura e publicação para (e dos) alunos no que tange, genericamente, à discussão e produção sobre jornalismo cultural. Leonardo Cunha é editor de uma web-revista de cinema voltada para a publicação de textos dos alunos referentes a essa área, a citada Union (www.union.jor.br). No total dos sites utilizados pelos professores, o Digestivo Cultural foi o mais citado (três vezes), seguido por Cronópios, Contracampo, Overmundo e Filmes Polvo (duas vezes).

Do Tipo 2 – Disciplinas semiplenas

Tabela 9 – Tempo de docência/Semiplenas

Professores de jornalismo especializado (com alguma

ênfase em cultura)

I II

Razão I/IITempo de docência (anos)

Tempo de docência em jornalismo especializado

(com alguma ênfase em cultura)

Anderson Gurgel 4 2 50%

Vera Raddatz 10 7 70%

José Carlos Fernandes 10 10 100%

Ieda Santos 10 4 40%

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Pela Tabela 9 podemos notar que o tempo médio de docência da disciplina jornalismo especializado com alguma ênfase em conteúdo cultural por parte dos professores participantes da pesquisa é mais alto: oito anos e meio. Em todos eles, os professores já dedicaram mais da metade da sua carreira de docente ao ensino desse tipo de disciplina – chega à totalidade no caso do professor José Carlos Fernandes, a 70% no caso de Vera Raddatz, a 50% para Anderson Gurgel e a 40% para Ieda Santos.

Anderson Gurgel escreveu no caderno Fim de Semana (Gazeta Mercantil) entre os anos de 2005 e 2007, principalmente sobre comportamento e tecnologia, além de esporte e cultura. Sua produção científica sobre esporte é a que mais se destaca: é autor do livro Futebol S/A: a Economia em Campo (São Paulo, Saraiva, 2006). Tal opção revela-se claramente em seu plano de ensino, o qual se apresenta em boa parte dividindo a “bola” da disciplina jornalismo especializado entre o cultural e o esportivo.

Vera Raddatz atua como jornalista desde 1987, salvo uma pequena lacuna entre os anos de 1993 e 1994, ou seja, durante cerca de 20 anos, tanto em veículos impressos como radiofônicos e televisivos: Rádio Progresso de Ijuí (1987 a 1991); Jornal da Manhã (1988 a 1992 e 1997 a 2000); Rádio Jornal da Manhã (1997 a 2001) e RTVE – Rádio e Televisão Unijuí/Unijuí FM (2001 a 2005), sempre no estado do Rio Grande do Sul, na cidade de Ijuí, exceto no ano de 1995, quando trabalhou no jornal Cidade & Cultura, de Uruguaiana, no mesmo estado. Raddatz não possui artigos científicos, apesar de ter orientado trabalhos monográficos na área – função com a qual obteve dois prêmios estaduais na área de radiojornalismo.

A professora ministra três disciplinas: uma sobre radiojornalismo, uma sobre redação jornalística e outra sobre jornalismo especializado. Em sua disciplina de redação, Vera trabalha aspectos relacionados aos textos opinativos no jornalismo e, por isso, dedica parte da disciplina à discussão da resenha, da crônica, do cartoon e de outros textos afins à área do jornalismo cultural – campo que se evidencia também na disciplina de jornalismo especializado, em que divide a carga horária com outros gêneros como o político, o econômico e o científico.

José Carlos Fernandes trabalhou durante 13 anos na área cultural. Foi repórter do Caderno G da Gazeta do Povo, de Curitiba, entre 1992 e 2000. Em seguida, atuou, no mesmo jornal, como editor durante dois anos e, entre 2002 e 2005, como editor-executivo (ocasião em que coordenava também cadernos de turismo, adolescentes, infanto-juvenis e do estudante). Pediu afastamento há três anos e hoje trabalha com reportagem especial, com acento em cidades. Com ênfase em literatura e artes visuais – é formado em belas-artes com especialização em história da arte –, também não produziu nenhum texto específico sobre o tema, salvo artigos em revistas dos próprios alunos, textos para projetos internos do jornal e ainda sua dissertação de mestrado, “O Leitor Mora na Tipografia” (Universidade Federal do Paraná – UFPR, 2006), um estudo sobre o leitor literário e o leitor de jornal, com acento no jornalismo cultural, defendido na área de estudos literários. Em sua disciplina, o jornalismo cultural divide espaço com o científico e o econômico, por exemplo. Percebe-se, contudo, pelo programa da disciplina, que o professor destaca pelo menos metade do seu curso para estudar com os alunos questões referentes à importância da leitura, do público e essa dupla relação com o jornalismo.

30

Parte da carreira de Ieda Maria da Silva Cavalcante dos Santos está vinculada à sua experiência profissional em Belém (PA), onde trabalhou como repórter da Rádio Cultura do Pará entre junho de 1985 e setembro de 1986. Durante o segundo semestre de 1986 também atuou como repórter do caderno de cultura do jornal O Liberal (Belém), função que retomou cinco anos depois no caderno de cultura do jornal Correio Braziliense (Brasília), durante o segundo semestre de 1991. Desde 2006 é cronista da revista Griffe (Jundiaí). No ano passado publicou artigo tratando da experiência feita por um grupo de alunos de jornalismo da Unip na área de jornalismo cultural intitulado “Uma Nova Experiência em Jundiaí”. A publicação foi feita no portal do Encontro de Professores de Jornalismo do Sudeste e no Observatório da Imprensa. Em 1996, foi publicado um artigo sobre a questão indígena e a imprensa, intitulado “Índios: Esses Nossos Desconhecidos”, no livro Assessoria de Imprensa, o Papel do Assessor, organizado por Rosa Moreira e Eliane Ulhôa e publicado pela Fenaj.

Segundo a ementa fornecida pela professora, o jornalismo cultural divide espaço com outras áreas do jornalismo especializado, como o científico e o empresarial. A professora esclarece ainda que a ementa e o conteúdo programático são feitos por um líder da disciplina e distribuídos para os diversos professores da instituição, que possui escolas em vários pontos do estado. Assim, eles fazem adaptações à realidade local e à dinâmica das atividades propostas em cada semestre, por exemplo, destaca Ieda em seu caso, a primeira edição da Revista Diálogo, veiculada pelo portal da instituição. Em contato prévio, a professora havia mencionado que boa parte da abordagem do gênero cultural em sua disciplina é feita com base no livro Jornalismo Cultural, de Daniel Piza. Outro aspecto que destaca é a ocorrência de palestras feitas por jornalistas que atuam em Campinas nas diversas áreas. Além disso, frisa ainda a professora, durante a realização da Semana de Comunicação e Marketing, palestras e oficinas tratando de temáticas da área cultural sempre merecem atenção e complementam o conteúdo da disciplina.

Professores Tempo de atuação em JC Local Natureza

Anderson Gurgel dois anos Fim de Semana (Gazeta Mercantil) Impresso

Vera Raddatz 19 anos (não exclusivamente) Vários (ver texto) Impresso, radiofônico e televisivo

José Carlos Fernandes 13 anos Gazeta do Povo Impresso

Ieda Santos quatro anosO Liberal, Rádio Cultura do Pará, Correio

Braziliense e Gri!eImpresso e radiofônico

Tabela 10 – Tempo de atuação em jornalismo cultural/Semiplenas

31

Percebe-se pela Tabela 10 que, salvo pela longa e múltipla carreira da professora Vera Raddatz, que inclui experiências no rádio e na TV, os demais mantêm a tendência verificada nos professores do primeiro tipo, cuja experiência profissional predominante em jornalismo cultural advém do jornalismo impresso – salvo ainda pela experiência da professora Ieda como repórter cultural de uma emissora de rádio paraense.

No exame geral dos sites, verificamos que tanto Anderson Gurgel quanto Vera Raddatz trabalham mais com publicações eletrônicas que destacam genericamente temas do jornalismo cultural, como Overmundo, Digestivo Cultural, ou mesmo não se detendo nesse campo específico do jornalismo – o site do Observatório da Imprensa é mencionado duas vezes, por exemplo. Fernandes não trabalha com sites no tópico sobre jornalismo cultural que leciona em sua disciplina de jornalismo especializado. Prefere se deter nos poucos livros da área e em recortes colecionados de jornal. Ieda trabalha com sites mais gerais sobre jornalismo, como os portais da Fenaj e da Intercom, além dos especializados em ciência (ComCiência) e Portal Literal. Também diz acatar sugestões dos alunos, conforme a dinâmica das atividades propostas.

Do Tipo 3 – Disciplinas de conteúdo (cultural) especí"co

Tabela 11– Tempo de docência/Especí"cas

Professores de conteúdo especí"co (que dão ênfase em

algum campo artístico)

I II

Razão I/IITempo de docência (anos) Tempo de docência em conteúdo especí"co

(que dão ênfase em algum campo artístico)

Arthur Barroso 7 5 71,4%

Nísio Teixeira 11 4 36,3%

Fábio Cypriano 14 4 28,5%

Alcides Vítor de Carvalho 48 3 6,25%

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Pela Tabela 11, podemos perceber que o tempo médio de docência dos professores pesquisados de disciplinas que enfatizam algum conteúdo específico na área de cultura para o curso de jornalismo é de quatro anos. Fábio Cypriano atua no jornalismo diário paulista há dez anos, quando começou a colaborar com o Estado de S. Paulo e, desde 2000, com a Folha de S.Paulo. Como professor, atua há 14 anos, sendo quatro deles dedicados ao ensino do jornalismo cultural – no caso, com ênfase em artes plásticas. Não produziu artigo científico sobre o tema, mas é autor do livro Pina Bausch (CosacNaify).

Alcides Vitor de Carvalho é o mais veterano de todos os professores até aqui pesquisados: possui 48 anos de atuação no ensino superior, sendo três anos dedicados à disciplina de cultura brasileira no curso de jornalismo, na qual destaca também o cinema. Como jornalista, atuou na assessoria de imprensa do Sindicato dos Professores do Norte do Paraná. Não publicou nenhum artigo científico sobre o tema, mas é autor do estudo Aspectos Culturais do Poema Banguê de Jorge de Lima.

Arthur Barroso leciona há sete anos, cinco dos quais dedicados ao ensino da disciplina fundamentos de cinema para o curso de jornalismo. Nunca exerceu função como jornalista da área de cultura e, no que tange

à produção científica, publicou em anais de congresso (não especificou a quantidade). Nísio Teixeira tem 11 anos de atuação no ensino superior, quatro dos quais dedicados também a uma disciplina de fundamentos de cinema para o curso de jornalismo do Uni-BH, onde também atuou por um semestre como professor da disciplina jornalismo cultural. Ao lado dos professores Leonardo Cunha, Luiz Henrique Magalhães e Alexandre Mota (Uni-BH) e André Brasil, Geane Alzamora e Carlos Falci (PUC Minas) integrou grupo interinstitucional em jornalismo cultural on-line entre os anos de 2000 e 2003, reunindo estagiários das duas faculdades em projeto que culminou com a publicação, pelos integrantes do grupo, de vários artigos e um livro. Como jornalista, atua na área desde 1988 (ver quadro), incluindo passagem pela assessoria da Secretaria Municipal de Cultura de Belo Horizonte e pelo site Filmes Polvo (desde 2007). Mas destaca a atuação no jornal Hoje em Dia, como repórter (1994-1996) e como editor-adjunto (2000-2004). Com relação à produção científica na área, publicou cinco artigos: três em co-autoria sobre o tema (incluindo os dois citados pelo professor Leonardo Cunha e um terceiro com Mariana Mól) e outros dois, incluindo “Desafios para a Prática e o Ensino do Jornalismo Cultural”, selecionado pelo Rumos Jornalismo Cultural no ano passado.

Tabela 12 – Tempo de atuação em jornalismo cultural/Especí"cas

Professores Tempo de atuação em JC Local Natureza

Arthur Barroso — — —

Nísio Teixeira 20 anosRevista General, Hoje em Dia, Rádio Geraes FM, O

Tempo, Gazeta Mercanti

Impresso, radiofônico e

eletrônico

Fábio Cypriano 11 anos Estado de S. Paulo e Folha de S.Paulo Impresso

Alcides Vítor de Carvalho Não informadoAssessoria de imprensa do Sindicato dos Professores

do Norte do Paraná

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O site IMDB foi o mais lembrado pelos professores, três deles, o que evidencia um caráter específico para o cinema – óbvio no caso dos professores Arthur Barroso e Nísio Teixeira, cujas indicações vão ainda se coincidir com a menção ao site Mnemocine. Cypriano enfatiza mais sites sobre arte, enquanto Alcides prefere trabalhar referências mais genéricas para o jornalismo cultural, como a seção do ombudsman ou mesmo o citado blog que é desenvolvido pela professora Geane Alzamora e alunos na PUC Minas.

Foco nos planos de ensino

Das disciplinas plenas e semiplenas

Para esta análise foi pesquisada uma amostra de seis planos de ensino de disciplinas plenas e quatro semiplenas, atendendo à colaboração espontânea dos professores. As disciplinas plenas correspondem aos estados de Mato Grosso do Sul, Goiás, Pernambuco, São Paulo e Minas Gerais, este com duas colaborações. As disciplinas semiplenas correspondem aos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná, este com duas contribuições.

Os planos foram divididos em tópicos que são padrão na didática do ensino superior adotada pelas universidades brasileiras, abordando ementas e carga horária, conteúdo programático, metodologia de ensino e recursos didáticos, sistema de avaliação, bibliografia e sites mais indicados e utilizados pelas disciplinas. A relação de sites e bibliografia contempla estritamente as indicações dos professores, revelando o tipo de material que estão trabalhando em sala de aula com seus alunos.

Ementas e carga horária

Todas as ementas de disciplinas plenas analisadas partem da tentativa de conceituar cultura, jornalismo cultural e indústria cultural, para depois relacionar as artes, literatura, cinema, música, teatro e televisão com o jornalismo.

As ementas privilegiam algumas formas de manifestações culturais mais próximas do jornalismo, como a televisão, o teatro, a música e a literatura, que são os temas mais cobertos pela imprensa.

São abordados ainda a história do jornalismo cultural e seus gêneros e subgêneros – crônica, reportagem, crítica literária, crítica de artes, resenha, biografia e romance/livro-reportagem.

Somente duas ementas acrescentam temas diferentes desse padrão, uma no estado de Minas Gerais discutindo jornalismo cultural, novos formatos e tecnologia, e outra em Pernambuco abordando tradição jornalística e cultura popular.

As disciplinas semiplenas dedicam parte de suas ementas para o jornalismo cultural, mas abordam outros tópicos, como história da arte, jornalismo esportivo, cinema, cultura de massa, elite e popular e entretenimento. Nos tópicos que tratam de jornalismo cultural, são destacados a história, a crítica cultural, textos, cadernos e suplementos e crítica de arte.

A carga horária dedicada às disciplinas é variada devido à liberdade das faculdades em montar suas matrizes e também ao sistema adotado de creditação (número de

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créditos) ou horas/aula. Vale lembrar que a hora/aula tem 50 minutos de duração, segundo padrão estabelecido pelo Ministério da Educação.

Transformando os créditos em horas/aulas, as disciplinas plenas têm as seguintes cargas: Mato Grosso (40 horas), Minas Gerais (60 e 72 horas), Goiás (40 horas), São Paulo (64 horas) e Pernambuco (38 horas). Das seis disciplinas plenas, metade é ministrada em 60 ou mais horas. As disciplinas semiplenas possuem as seguintes cargas: Rio Grande do Sul (36 horas), São Paulo (68 horas) e Paraná (64 e 72 horas). Das quatro semiplenas, três, ou 75%, são ministradas com mais de 60 horas.

Dos 10 planos de ensino analisados, seis, ou 60%, desenvolvem o conteúdo com 60 ou mais horas. Quatro disciplinas, ou 40%, desenvolvem o conteúdo entre 36 e 40 horas/aula.

Exemplos de ementas de disciplinas plenas

Ementa I (São Paulo): Conceito de cultura. História da crítica. Análise de obras de arte. Confecção de textos críticos.

Ementa II (Mato Grosso): Conceito de jornalismo cultural. Conceito de cultura. Jornalismo e literatura. Jornalismo e cinema. Jornalismo e arte. Jornalismo e música. Jornalismo e teatro. Texto no jornalismo cultural.

Ementa III (Paraná): Características do jornalismo cultural. A relação entre o JC e os conceitos de arte, cultura, entretenimento. A crônica, a reportagem e a crítica no JC.

Ementa IV (Pernambuco): Jornalismo e indústria cultural: Aproximações. Tradição jornalística e cultura popular. Jornalismo e cultura do entretenimento. Reportagem x crítica: Abordagens práticas. Análise de cadernos culturais locais e nacionais. Jornalismo cultural e segmentação de público: o erudito, o teen, o popular massivo. Jornalismo cultural e novas tecnologias: televisão, blogs, fotologs. Exercícios práticos: cinema, teatro, artes plásticas, literatura, televisão, música. Cobertura jornalística de evento cultural. Conceito de jornalismo cultural. Conceito de cultura. Jornalismo e literatura. Jornalismo e cinema. Jornalismo e arte. Jornalismo e música. Jornalismo e teatro. Texto no jornalismo cultural.

Ementa V (Goiás): Estudo das especificidades do jornalismo literário e cultural. A utilização de recursos estilísticos tomados da literatura, proporcionando uma visão mais ampla da realidade, com perenidade e profundidade dos relatos. Subgêneros: crítica literária, biografia, romance-reportagem. Discussão do limite entre ficção e realidade. Os textos literários para jornais, revistas e livros. Os suplementos culturais e as revistas especializadas. Relação com as fontes e produtores culturais. A divulgação da cultura enquanto parte do cotidiano do leitor e produzida pelo mesmo. Análise de publicações jornalísticas voltadas para a área cultural e literária. Seminários com profissionais da área. Produção de textos literários e culturais.

Ementa VI (Minas Gerais): Breve histórico do jornalismo cultural. As funções do jornalista e do especialista no jornalismo cultural. O lugar da crítica, da crônica e do colunismo social no jornalismo cultural. Processos de mediação cultural nas mídias, hipermídia e mídias móveis. Paradigmas contemporâneos de informação cultural.

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Exemplos de ementas de disciplinas semiplenas

Ementa VII (São Paulo): Conceitos esportivos e culturais. História do jornalismo esportivo e do jornalismo cultural no Brasil. Fundamentos do jornalismo esportivo e do jornalismo cultural. A linguagem dos esportes e da cultura: palavras adequadas, “jargões” próprios, palavras típicas. Percurso básico da informação e seu processamento no esporte e na cultura: acontecimento e notícia, coleta de informação, apuração, pauta, fontes e pesquisa. Cobertura de eventos esportivos e culturais. As fontes no esporte. As fontes na cultura.

Ementa VIII (Rio Grande do Sul): O componente curricular estrutura-se nos fundamentos epistemológicos da especialização e no estudo do jornalismo como sistema perito e metaperito, visando distinguir as estruturas formais dos sistemas genéricos e especializado. Através da produção de textos específicos para editoriais e funções (assessorias de imprensa), definem-se os componentes: retórica/hipótese/argumento como as bases formais do jornalismo especializado.

Ementa IX (Paraná): A formação do público no Brasil. Análise de mercado. O ideal e a crise da especialização. O jornalismo e seus desdobramentos. Linguagens múltiplas, instrumentos e estratégias editoriais.

Ementa X (Minas Gerais): Definição. Editorias. Adequação de linguagem. Jornalismo de revista. Jornalismo científico. Jornalismo cultural. Jornalismo econômico. Jornalismo político. Jornalismo esportivo. Jornalismo policial. Jornalismo digital.

Conteúdo programático

O conteúdo programático desenvolvido pelos planos de ensino analisados aborda bem o tema e suas reflexões, partindo das definições de cultura e jornalismo cultural para traçar sua relação com a produção simbólica do social e suas implicações com a indústria cultural. Os planos ainda teorizam sobre os gêneros e subgêneros do jornalismo cultural, com destaque para a crítica e a crônica, o que revela uma tentativa do professor de reforçar e valorizar esses gêneros.

Literatura, cinema, teatro, artes plásticas e música são os objetos mais estudados nos planos de jornalismo. O entretenimento e a televisão também aparecem como temas do jornalismo cultural, na abordagem da sua relação com a indústria cultural.

Os planos privilegiam a literatura como parceira, fonte de cultura e conhecimento, e ao mesmo tempo como inspiração para o texto jornalístico cultural de boa qualidade. Os professores buscam para a cobertura de cultura um texto jornalístico, mas com características literárias.

Outra característica do ensino do jornalismo cultural é que ele é discutido enquanto mídia impressa, uma herança histórica dos suplementos, revistas literárias e crônicas do cotidiano – mas, ressalte-se, de acordo com as informações provenientes da maioria dos planos de ensino (o que não quer dizer, obviamente, que os professores se restrinjam a esses suportes na prática final diária de seu curso. O próprio apontamento de sites atesta esse ponto). Somente dois planos incluem explicitamente novos formatos como o jornalismo on-line (Minas e

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Pernambuco) e um terceiro estende ainda a cobertura para o rádio e a televisão, além do impresso e da internet (São Paulo).

EXEMPLOS DE CONTEÚDO DAS DISCIPLINAS PLENAS

CONTEÚDO I %SÃO PAULO&1. Cultura e o espaço público da crítica

Conceito de culturaA crítica no jornal

2. Crítica e análise de obras de arteTeoria dos gêneros literáriosAnálise e confecção de textos críticos

CONTEÚDO II %MATO GROSSO&1. Conceitos

Jornalismo culturalConceito de cultura

2. Comunicação e culturaJornalismo e literaturaJornalismo e cinemaJornalismo e arteJornalismo e músicaJornalismo e teatro

3. Conceitos e funções do jornalismo culturalA importância do jornalismo na produção culturalFormas do texto dentro do jornalismo cultural:

notícia, reportagem, resenha, crônica e críticaLeitura como fator de aquisição de cultura e

conhecimentoConhecimento como suporte para bons textos de

jornalismo culturalA sedução do texto.

CONTEÚDO III %MINAS GERAIS&1. Jornalismo cultural e seus objetos

Panorama das publicações (impressas e on-line)Temas e dilemas específicos do campo

2. A crônica no jornalismo culturalO espaço e o papel da crônica no jornalismo

cultural brasileiroElementos jornalísticos e literários na crônica

brasileiraElementos de estiloTipos de crônica

3. A cobertura no jornalismo culturalMapeamento temático das publicações culturaisA apuração em jornalismo cultural: entrevista,

pesquisa e observaçãoPrincipais tipos de reportagemA edição no jornalismo cultural

4. Crítica culturalCrítica jornalísticaCrítica acadêmicaCrítica ensaísticaProcesso de construção da crítica

CONTEÚDO IV %PERNAMBUCO&1. Jornalismo cultural como alicerce da indústria cultural

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2. Bases da relação entre o jornalismo e a cultura popular3. Jornalismo e entretenimento: entre a reportagem e a crítica4. Cadernos culturais locais e nacionais – comparações5. Jornalismo cultural e novas tecnologias6. Cobertura e exercícios práticos

CONTEÚDO V %GOIÁS&1. Jornalismo literário

Jornalismo e literaturaA narrativa no JLEstética da narrativa: humanização e expressividadeA notícia no âmbito do JLRomance-reportagem

2. Jornalismo culturalEspecificidades do JC: gêneros informativos e

opinativosConstrução do texto em JC: apuração, checagem,

redação, entrevista

CONTEÚDO VI %MINAS GERAIS&Unidade I – O que não é cultural no jornalismo?

Dos folhetins à internet: a busca por um jornalismo peculiar

Das editorias de cultura à segmentação temática: estilos, propostas, tendências

Para além da agenda cultural: a pauta de cultura na contemporaneidade

Unidade II – A linguagem híbrida de um jornalismo singularJornalismo literário: inspiração e armadilhaO estilo magazine: do impresso ao hipermidiático

Jornalistas, colaboradores, críticos, cronistas e colunistas: entre a informação jornalística e a análise do especialista

Unidade III – Outros paradigmas de informação culturalBlogs, vlogs, flogs, websites colaborativos de

informação cultural: novas mediações em redeDo texto diferenciado ao hipertexto colaborativo: no

limite da informação jornalísticaJornalismo cultural contemporâneo: características e

tendências

EXEMPLOS DE CONTEÚDO DE DISCIPLINAS SEMIPLENAS

CONTEÚDO VII %SÃO PAULO&1. O papel do esporte na indústria de entretenimento2. O esporte e a indústria cultural3. O esporte e os veículos de comunicação de massa4. História do jornalismo esportivo no Brasil5. O jornalismo esportivo no jornal, rádio, TV e internet6. Produção de textos de esporte para veículos de interesse geral e especifico7. Planejamento de cobertura para eventos esportivos – a entrevista, a preparação, o evento em si, a repercussão8. Elaboração de uma grande reportagem em esporte e/ou cultura9. Definições do conceito de cultura10. A indústria de entretenimento11. O papel dos veículos de comunicação de massa12. O Jornalismo e a indústria cultural13. O papel da crítica (favorável, neutra e desfavorável)14. O jornalismo cultural no jornal, rádio, TV e internet15. Produção de textos de cultura para veículos de

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interesse geral e específico16. Elaboração de textos críticos para produtos culturais

CONTEÚDO VIII %RIO GRANDE DO SUL&1. Jornalismo especializado

Contexto geral da disciplinaGênese – surgimento e atuais segmentações

2. Jornalismo cultural, político e econômicoCaracterísticas principaisDiferenças na prática textual

3. Jornalismo investigativo e científicoCaracterísticas principaisSegmentos de atuação

4. Jornalismo esportivo e digitalCaracterísticas principaisProfissionais multimídia – Desafio do contexto atual

5. Jornalismo especializado e possibilidades em contexto regional

Jornalismo especializado em jornais do interiorPrática do jornalismo especializado no país

6. Jornalismo de revista e assessoria de imprensaO estilo revista e seus vários segmentosComunicação empresarial – Implicações com o

mundo das organizações

CONTEÚDO IX %PARANÁ&1. O conflito no mundo da especialização2. A formação do leitor no Brasil

3. Níveis de leitura e consumo da informação no Brasil4. O receptor/teorias da recepção5. A cidade como espaço da recepção e como tema da modernidade6. O desempenho de mercado dos jornais brasileiros7. Memória e sociedade8. Jornalismo de personagem9. Jornalismo literário10. Jornalismo científico11. Jornalismo de revista12. Jornalismo cultural13. Jornalismo infanto-juvenil14. Jornalismo econômico15. Jornalismo investigativo16. Suplementos especiais17. Tendências editoriais18. Internet.19. Futuro da imprensa

CONTEÚDO X %MINAS GERAIS&1. Jornalismo especializado

A informação especializadaCaracterização do jornalismo especializadoPreparo do profissional

2. Jornalismo de revistaJornalismo de revista – especificidadesMercado de revistas hojeA segmentação e os caminhos possíveisO jornalista de revista e os riscos da especialização

3. EditoriasEsportes, polícia, economia, política, ciências, cidade, geral, internacional, nacional, suplementos e variedades

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4. Jornalismo culturalCultura, conceitos e diversidadeJornalismo cultural e suas origensJornalismo cultural e a indústria culturalJornalismo cultural hoje

5. Jornalismo científicoDiscurso jornalístico e discurso científicoAfinidades entre jornalismo e ciênciaDificuldadesRelacionamento com as fontesO mercado de trabalho

6. Jornalismo políticoJornalismo político partidarizadoA interpretação e o jornalismo políticoCobertura de política nacionalJornalismo investigativo e o “denuncismo”

7. Noticiário econômicoEvolução do jornalismo econômico no BrasilMercado de trabalhoMacroeconomiaNegóciosColunas especializadas

8. Noticiário esportivoMecânica da cobertura esportivaQualificações do repórter esportivo

9. Noticiário policialO repórter de políciaO fato policial e seu valor como notíciaTratamento – princípios éticosFonte policiais

Editoria de polícia como escola de jornalismo

10. Jornalismo digitalJornalismo digitalInternetComunicação eletrônicaNotícia em tempo real

FOCO NA METODOLOGIA E SISTEMA DE AVALIAÇÃO

A metodologia adotada pelos professores analisados é dividida em três modalidades: aulas teóricas expositivas, aulas práticas e atividades motivadoras complementares.

Nas aulas teóricas, os professores se utilizam da exposição do conteúdo, leitura e resenha de textos da bibliografia indicada. Nas aulas práticas, são produzidos textos jornalísticos, análise da cobertura dos veículos, jornais laboratoriais e projetos editoriais. Em atividades motivadoras complementares, são realizadas visitas monitoradas a museus, instituições culturais, coberturas de eventos culturais e contato com o mercado de trabalho, por meio de visitas de profissionais.

Já o sistema de avaliação adotado divide-se em avaliação convencional formal da aprendizagem e alternativas. Na avaliação convencional, os professores aplicam provas de desenvolvimento, redações, relatórios, seminários e resenhas da bibliografia indicada. No sistema alternativo, são avaliadas atividades de produção de matérias, elaboração de blogs e monografia.

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FOCO NA BIBLIOGRAFIA

Uma boa referência bibliográfica é fundamental para trabalhar a disciplina de jornalismo cultural, principalmente numa época em que os alunos tendem a buscar tudo no Google e se contentam com informações primárias e nem sempre seguras. As sugestões abaixo foram colhidas nos planos de ensino das disciplinas plenas e semiplenas pesquisadas para esta análise, utilizadas e recomendadas pelos professores de jornalismo em sala de aula. A bibliografia adotada pelos professores divide-se em duas grandes vertentes. A primeira aborda as obras teóricas e técnicas sobre os temas jornalismo e cultura, e a segunda, obras que contemplam os estudos culturais e que atuam como facilitadoras e formadoras de uma consciência cultural no aluno, incluindo textos literários. Já os sites e blogs foram indicados pelos professores em resposta a um questionário.

LIVROS

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A FALA DOS PROFESSORESAdriana Pessatte Azzolino Isabelle Anchietacom a colaboração de Wellington Pereira

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Reunir professores de diferentes partes do Brasil para discutir os rumos do ensino não é um fato comum em nenhuma área do conhecimento. Menos ainda por iniciativa de uma instituição particular. No entanto, dentro das atividades

do programa Rumos Jornalismo Cultural, foi o que aconteceu. A metodologia utilizada consistiu na reunião de cinco professores de jornalismo cultural de diferentes estados, conduzidos por mediadores. Representantes1 de Goiânia, Minas Gerais, Pernambuco e São Paulo encontraram-se na sede do Itaú Cultural, em agosto de 2008, em São Paulo: Adriana Rodrigues, da Universidade Católica de Goiás e da Faculdade Sul Americana em Goiânia; Leonardo Cunha, da Universidade Uni, em Belo Horizonte; Thiago Soares, da Universidade Salgado de Oliveira e das Faculdades Integradas Barros Melo (Aeso), no Recife; Heitor Ferraz, da Faculdade Cásper Líbero, em São Paulo; Fábio Cypriano, da PUC de São Paulo. (Ver mais detalhes sobre cada um deles no capítulo “Quem É Quem”, no Dossiê).

A escolha dessa modalidade de entrevista, em detrimento da entrevista individual e em profundidade, deu-se por ser essa “uma forma de interação mais autêntica”, no sentido de “gerar emoção, espontaneidade e intuições criativas”2. A reunião dos professores de jornalismo para a entrevista tornou-se “mais do que a soma das partes”, uma entidade em si, capaz de fazer emergir uma rica contribuição e troca de experiências entre estados diversos.

Foram sete horas de conversa, 182 páginas de transcrição das falas dos professores e um resultado final que pode contribuir, e muito, para repensar as rotas do ensino de jornalismo cultural no país.

O encontro produziu um embate importante para que cada um pudesse ora desenvolver, ora se contrapor à fala anterior. O resultado? Um conjunto significativo de insights e reflexões para o ensino do jornalismo cultural no país.

Sua maior descoberta foi paradoxal: o ensino do jornalismo cultural é de tal forma diverso que não constitui uma identidade própria. E, se por um lado, isso pode indicar a crise da definição do que seja o jornalismo cultural e do seu ensino, por outro, revela que ambos são projetos a serem pensados, abrindo possibilidades para a convergência das diversas experiências conceituais e práticas trabalhadas nas cinco regiões do país.

O próprio encontro foi um sintoma dessa troca de experiências e do esforço de chegar a um lugar minimamente comum. Tanto que ele se traduziu na proposição (consensual entre os professores) do que seria uma disciplina “ideal” de jornalismo cultural.

Mas, até chegar a esse “lugar comum”, foi necessária, antes, uma longa conversa, passando por um conjunto de assuntos. Primeiro os professores nos disseram qual a definição de cultura que adotam em sala de aula e a necessidade de delimitar seu entendimento. Em seguida, definiram o jornalismo cultural, especialmente por meio da reflexão do seu papel como

1 Não contamos com a participação de um representante do Sul do país, já que nenhum professor de jornalismo cultural contatado teve disponibilidade de ir até São Paulo na data do encontro.2 BAUER, Martin; GASKELL, George. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Petrópolis: Vozes, 2002.

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mediador social. Discutiram, também, a diferença entre o jornalismo cultural e o literário, por meio, especialmente, do lugar da objetividade e da sensibilidade no processo de apuração e redação. Depois, tentaram delimitar os gêneros textuais, especialmente a crônica e a crítica.

Após essa discussão de ordem mais conceitual, foi o momento de entrar nas questões de caráter mais pedagógico. Primeiro com base no relato individual das metodologias de ensino utilizadas em sala de aula. Para, enfim, tentarem reunir todas as contribuições na formulação de uma disciplina ideal, indicando os conceitos centrais e a bibliografia básica para uma boa formação em jornalismo cultural.

SOBRE OS CONCEITOS FUNDAMENTAIS

CULTURA: EM BUSCA DE UMA DEFINIÇÃO

Adriana: O conceito de cultura que adoto é o de produtos culturais. Ou seja, a manifestação do homem que pensa e produz um objeto para ser apreciado, que pode ser tanto um livro como uma música, uma peça teatral, uma poesia ou um quadro. Esse conceito não é meu, e vem sendo trabalhado ao longo das discussões. Trata-se, portanto, do produto que foi gerado por um ser humano que pensa, fala e age dentro do seu meio, e esse produto vai expressar todos esses aspectos, independentemente de seu formato.

Leonardo: Seria praticamente impossível trabalhar dentro do jornalismo cultural com uma noção tão ampla como, por exemplo, a da antropologia, em que todas as atividades humanas são consideradas culturais. Nesse

caso o esporte, a economia, a política, tudo seria cultura. Por mais que isso seja interessante, não funcionaria para o ensino do jornalismo cultural. Trabalho, portanto, com uma visão mais restrita, entendendo cultura como algo que está ligado às artes, ao entretenimento e ao lazer. Ao contrário da Adriana, não adoto apenas a questão dos produtos, pois incluo a questão do comportamento cultural. Defendo que o jornalismo cultural pode pautar e fazer reportagens que não sejam especificamente centradas em um produto, mas centradas em uma tendência de comportamento. Não se trata do comportamento político, religioso, mas de um comportamento ligado ao entretenimento, à arte, ao lazer. Assim, levanto sempre essa questão para tentar “abrir a cabeça” dos alunos, no sentido de pensar o patrimônio cultural, inclusive o não edificado. Costumamos pensar o patrimônio cultural como algo edificado. Sempre imaginamos uma escultura, um monumento ou um edifício tombado, mas tento demonstrar em sala como uma boa parte do patrimônio cultural não é edificado, material, pois são manifestações, fenômenos e comportamentos sociais.

Thiago: Trato o conceito de cultura na perspectiva de um espaço processual, ligado às informações simbólicas dos indivíduos em um determinado contexto. Trabalho, especificamente, com a noção de cultura como embate. A cultura não é algo acabado, formatado, está em constante processo de transformação. Por isso, demanda uma observação ainda mais atenta do aluno. Como é algo em transformação, qualquer nova dinâmica social vai acarretar novas possibilidades de transformação do ver, do sentir. É nesse lugar que adoto o conceito que a Adriana trouxe, o de produtos culturais. Pois os produtos culturais são uma parte dessa dinâmica de transformação. Os alunos têm de estar atentos à dinâmica que se instaura.

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A noção de produto está ligada a outro conceito que é o de indústria cultural3. Ou seja, a cultura é formatada a partir de produtos e de processos.

Tento também não trabalhar de forma monolítica com a cultura. Para isso, recupero o trabalho de Martín-Barbero4 e a sua noção de cultura híbrida, questionando a distinção entre alta e baixa cultura, popular e massiva (centrando-me nessas tensões). Chamo atenção para o conceito de indústria cultural, pois ela opera em um lugar privilegiado e de destaque nas orientações e nas noções de gosto e de valores que são estabelecidas socialmente.

Heitor: Confesso que tenho dificuldade em definir e pensar o conceito de cultura. Isso em razão da amplidão do próprio conceito. No primeiro ano do curso não toquei no assunto e parti direto para um trabalho prático do jornalismo cultural, tomando jornalismo cultural como um trabalho de artes (das chamadas artes nobres: a literatura, o teatro, a música e o cinema). Mas, neste ano, percebi que precisava dar mais atenção ao tema. Por isso, primeiro brinquei um pouco com a etimologia da palavra.

Tento mostrar, a partir da palavra cultura, como seu sentido vai se transformando, se amplia e se altera. Assim, a cultura nasce no campo, que é o semear, e vai se transformar em educação em Roma. A cultura coloca-se como educação no momento em que sai do campo e vai para a cidade, caminhando cada vez mais para as artes denominadas nobres. Com o Iluminismo, entramos no mundo da razão, da ciência e os fenômenos necessitam de uma justificação científica, analítica, distanciando-se da explicação religiosa. Vou historiando até chegar à questão da crítica. Ou seja, o 3 Metáfora usada pelos teóricos da Escola de Frankfurt (especialmente Adorno e Horkheimer) na década de 1920 para denominar o processo de massificação e mercantilização dos bens culturais realizado pela mídia.4 MARTÍN-BARBERO, Jesus. Dos meios às mediações. Rio de Janeiro: UFRJ, 1987.

momento em que há a necessidade de que alguém faça a intermediação entre a obra de arte e o público. É nesse momento que nasce o crítico, mas primeiro ele se chama filósofo: Voltaire e D’Alambert talvez sejam os primeiros críticos de artes plásticas e Rosseau, de teatro.

É nesse ponto que chego ao livro Ilusões Perdidas5, de Balzac, para concluir o seguinte: a arte transformou-se em mercadoria, a cultura é uma mercadoria dentro de um negócio que se chama jornal, que é, ele mesmo, outra mercadoria.

JORNALISMO CULTURAL COMO MEDIAÇÃO

Thiago: É interessante pensar o jornalismo e o jornalista cultural como mediadores. Um mediador privilegiado dentro da esfera da cultura, que observa, mapeia, denomina, classifica e gera a noção de gênero. Essa noção, tal como a formula Martín-Barbero (ver nota 4) possui um peso e uma função fundamental para a sociedade. Porque, quando um jornalista diz algo, esse fato é institucionalizado e socialmente aceito. Assim, o conceito de mediação e do jornalista como mediador é importante para entendermos a lógica classificatória que o jornalismo cultural gera.

Leonardo: Abordo a questão que o Thiago levanta em minha disciplina por meio da crítica. Utilizo, em parte, o texto de Luiz Costa Lima6 revelando que os precursores da crítica eram os chamados juízes de arte, os árbitros da elegância. Pessoas que se destacavam na ascensão da burguesia, pois até então a arte era feita basicamente para a aristocracia ou para a igreja, já que eram eles que consumiam e encomendavam as obras. Não existia,

5 BALZAC, Honoré de. Ilusões perdidas. São Paulo: Abril Cultural, 1978.6 LIMA. L.C. Mímesis: desafio ao pensamento. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.

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nesse momento, uma preocupação com o público, o que só acontece a partir da ascensão da burguesia. E, como a burguesia não tinha “berço”, ela precisa que alguém faça a mediação. Eles buscam, no seio mesmo da aristocracia, pessoas que serão seus tutores, juízes de arte e árbitros da elegância. O que os burgueses estavam contratando eram, exatamente, mediadores. Na época, isso já era uma situação curiosa. O próprio Molière escreveu uma peça em que ironiza tal situação, intitulada O Burguês Fidalgo. Ou seja, a posição do mediador já constituía um lugar, no mínimo, curioso, já que temos alguém que afirma: “Eu vou te dizer o que é bom e o que não é bom”. Tento demonstrar que no século XIX, com a chegada dos meios de comunicação de massa, muitos desses mediadores passam a ser resenhistas.

No entanto, até hoje esse lugar do mediador continua existindo, não mais porque o público não possui informações. Mas pelo fato de que o mediador, no contexto da indústria cultural, é necessário porque há tal quantidade e variedade de produtos no mercado que é humanamente impossível termos uma orientação sobre todos eles. Por isso, precisamos desse filtro, dessa mediação. Falo sempre aos alunos: “Todos os dias abro o jornal e descubro um grande escritor de que nunca ouvi falar, um grande cineasta que não conhecia e que tinha de conhecer, e se eu (que estou há 20 anos nessa área) sinto isso, vocês não têm de ter vergonha de não conhecer; têm de ter vergonha de não querer conhecer”. O jornalista não é aquele que conhece tudo, mas tem de querer conhecer o máximo possível. Isso nem é bem um papel, é uma responsabilidade. São duas as responsabilidades do jornalista, a de ser o mediador (no sentido de tentar conhecer), mas também a de ajudar a refletir sobre aquilo, lançar alguma luz.

Thiago: Quero colocar também que temos, além da mediação, a questão que envolve filtros organizacionais e pessoais. Muitas vezes um repórter conhece tudo sobre música pop e, por essa razão, resolve divulgar o disco de uma banda da Islândia. Ou seja, o periférico torna-se valorizado porque o jornalista, ou o editor, agenda esse assunto. É nesse sentido que a noção de mediador não está isolada, mas passa pela noção de agendamento.

Heitor: Há outro aspecto importante a ser ensinado em sala de aula para os alunos: o fato de que a escolha das pautas em cultura não depende mais do jornalista, mas de uma coisa chamada “mercado”. É o mercado que define, queiramos ou não. É nesse contexto que tento constituir a ideia central do meu curso. Ou seja, tento entregar para eles algum tipo de instrumento para que passem a pensar esse mundo em que vivem de maneira crítica. Ou seja, o jornal é que faz essa mediação, mas cada vez mais faz essa mediação dentro de um sistema de mercado de produtos. Há alguns espaços de respiro? Sim. Há as loucuras, as idiossincrasias de cada jornalista? Sim. Ainda assim...

Adriana: Tento ser bem objetiva em sala de aula, não sou o tipo de professora que gosta de deixar interrogações. Saiu x, então é x que nós vamos adotar; depois, se alguém quiser derrubar o x e colocar um y no lugar, aí tudo bem. O nosso aluno, na minha avaliação, não tem habilidade para ser um mediador. Como é que ele será um mediador, por exemplo, de cinema, se não sabe nem mesmo o que é o jornalismo cultural? Nesse sentido, o jornalista cultural não é um mediador, é um reprodutor. Reproduz a fala do entrevistado, o release que recebeu da imprensa, ou seja, decodifica. Por que decodifica? Porque transforma o que recebeu em linguagem jornalística e é nesse ponto que

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acredito estar o abismo da disciplina, porque, como falei, entendo a disciplina como um campo de análise e quero guiar o meu aluno para analisar.

Heitor: Em um país como o Brasil, em que nós vivemos uma crise total não só da ética, mas da estética, faço questão de ressaltar para os meus alunos que a função deles, ou a função de qualquer intelectual, no Brasil, é uma função pedagógica. Tanto que, cada vez que escuto um novo escritor falando mal de Machado de Assis ou Drummond por puro modismo (principalmente os contemporâneos gostam de fazer isso), tenho vontade de ir até ele e dizer: “Você acabou de fazer a pior coisa que alguém poderia fazer no Brasil, que é desprestigiar um autor que nós precisamos conhecer”. Porque chegam e dizem que a Clarice Lispector não tem graça (dizem isso na televisão) e, a partir desse momento, muitas pessoas que iriam ler Clarice não vão mais.

JORNALISMO CULTURAL E JORNALISMO LITERÁRIO: DIFERENÇAS E OBJETIVIDADE

Adriana: Na minha disciplina o jornalismo cultural e o jornalismo literário são trabalhados como dois momentos distintos. O jornalismo literário não é um jornalismo sobre literatura, não é uma cobertura da área e, sim, um estilo de linguagem que pode estar presente em qualquer tipo de texto jornalístico. O aluno de jornalismo terá de analisar uma obra de arte e, com isso, tentar sensibilizar o leitor, ou o ouvinte, o telespectador, para que ele possa também ter contato com aquela obra, ou com aquela realidade artística que está acontecendo. A diferença é que o jornalismo literário não é uma editoria, não é especialidade, é uma linguagem. Já o jornalismo cultural, sim, ele é uma editoria.

Leonardo: Trabalho com algumas diferenças que a Adriana colocou. Mas, em alguns pontos, há uma interseção entre eles. Trabalho primeiro revelando como o jornalismo literário pode exercitar a capacidade de observação, não só no momento de produzir uma crítica, mas no momento de fazer uma entrevista. O jornalismo literário exercita a postura do estudante de não ser só um ouvido, mas de ser também o olho, o tato, o olfato, ou seja, o jornalista não pode se limitar a ouvir o que o outro tem para dizer, mas também deve estar atento ao gestual, à roupa, à decoração, aos sons ambientes, aos cheiros. Em qualquer atividade de campo ele pode estar atento a esses detalhes e, com isso, produzir um texto que, assim como a literatura, usa essas experiências sensoriais.

Heitor: Não consigo fazer a distinção entre o jornalismo literário e o cultural, porque o grande perigo é as pessoas acharem que o “textinho” enfeitado é um texto literário quando, na verdade, não é, é um texto ruim, para não dizer outra palavra: brega. Há textos extremamente objetivos e que possuem essa observação sensível. Lembro de uma matéria que saiu na Folha [de S.Paulo] recentemente sobre um tiroteio na favela. O jornalista descrevia o tiroteio e, ao mesmo tempo, denunciava o que estava acontecendo por trás, ou seja, qual era o envolvimento da polícia com o tráfico. Digo aos meus alunos: “Esse texto é bom em qualquer lugar”.

Por isso, a denominação de “new journalism”7 para nomear o jornalismo literário me parece uma estratégia dos americanos para se destacar no mundo. Porque, antes disso, Rubem Braga escreveu textos belos sobre

7 Trata-se de um gênero de texto jornalístico que se aproxima dos recursos narrati-vos da literatura. O gênero tem sua origem nos EUA e seus principais representan-tes são os jornalistas Tom Wolfe, Truman Capote e Gay Talese.

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a guerra. Ou seja, o jornalismo sempre esteve muito ligado à literatura e sempre utilizou o texto no sentido da observação – esse perceber o que está acontecendo associado ao raciocínio.

Adriana: Quero lembrar também o livro Os Sertões, de Euclides da Cunha, que é na verdade uma grande reportagem, é jornalismo literário. Isso descortina outro grande desafio que é a questão da ficção e da não-ficção. Assim, posso utilizar a linguagem literária no jornalismo, mas não ser ficcional porque tenho de falar de algo que realmente aconteceu. Para trabalhar isso, escolhi a narrativa do livro A Sangue Frio, de Truman Capote8. Entramos, assim, em uma série de questionamentos, que são: como é que posso narrar, se estou aqui e um acidente aéreo aconteceu em outro lugar? Como posso descrever a emoção de uma pessoa se aquela emoção não me foi narrada? Até que ponto isso é ou não ficção? Como posso afirmar que “nos olhos dela não havia tristeza”, se, ao contrário, existia uma neutralidade tamanha que poderia assustar qualquer um que soubesse que ela havia acabado de perder o marido? Isso é ficção ou não é ficção? Fica uma interrogação porque, se ela não disse, é ficção.

Heitor: Mas, quando você vê o exemplo do famoso perfil de Frank Sinatra feito por Gay Talese9 (“Frank Sinatra Está Resfriado”), pode pensar de forma diferente. Pois, quando Talese quer falar de alguma sensação, ele usa a expressão “parece”, ou “talvez”. Ou seja, há uma imprecisão. Eu posso estar vendo aquela mulher ali e dizer que ela está com os olhos tristes porque perdeu o marido, mas ela pode estar feliz, no fundo, porque o marido morreu, então posso ficar só nessa impressão. Por isso o jornalista tem de utilizar

8 CAPOTE, Truman. A sangue frio. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.9 TALESE, Gay. Fama & anonimato. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

uma expressão qualquer que deixe claro que isso é uma impressão dele.

Leonardo: O jornalista Ruy Castro tem uma estratégia para isso: ele faz questão de perguntar o que você estava pensando naquela hora. O que passou pela sua cabeça naquele momento? Ele afirma que essa é uma técnica que resolve 90% desse tipo de problema, é uma das coisas que o jornalista normalmente não tem o hábito de perguntar.

Fábio: Gostaria de pontuar que o termo “new journalism” foi criado, historicamente, como uma espécie de contraponto a um tipo de narrativa fria e objetiva que os manuais dos anos 1990 tentaram impor dentro das redações. O que sinto, hoje em dia, é que isso é o oposto, quer dizer, os jornais, agora com a internet – e a internet é o domínio dessa relação direta, objetiva e simplificada –, buscam um conteúdo diferente que não é mais aquele do como, onde e por que, que nós aprendíamos na universidade.

Trabalho na Folha [de S. Paulo] e esse tipo de texto é estimulado. Nunca alguém me disse: “Seu texto é literário” (quando tento não ser tão objetivo). É óbvio também que, se existe um fato quente – as hard news (notícias quentes, ou factuais) –, muitas vezes ele demanda que você seja mais objetivo. A tendência agora é que os textos não sejam mais tão frios, que o lead vá para a internet e que o jornal dê conta de dar a informação mais aprofundada. Sobre esse assunto há um texto do Walter Benjamim10 que julgo fundamental: “O Narrador”.

Outro ponto importante a ser destacado é o de que dar informação demais não significa que você esteja sendo

10 BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas: magia e técnica, arte e política. V. 1. São Pau-lo: Brasiliense, 1994.

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objetivo, você pode dar muita informação e ser redundante, e esconder a verdade. E isso é muito comum em jornalismo cultural atualmente, pois, na tentativa de sermos objetivos, dizemos quantos quadros há na exposição, em que paredes eles estão etc. E, ao nos preocuparmos em descrever, acabamos não percebendo nada da exposição, simplesmente fazemos uma descrição chata.

Heitor: Essa questão é importante: a obsessão do jornalista pelos números. O jornalista vê e descreve: tinha tantos tijolos caídos, calculadinhos, foram vendidos tantos sanduíches em tal hora. Isso me lembrou uma entrevista com o Picasso em que o jornalista perguntou a ele quantas tintas ele comprava por mês, quantos pincéis ele tinha, e Picasso disse depois: “O que ele vai fazer com isso?”. Não vai fazer nada, vai fazer numerologia, vai encher pedaço de papel na pretensão de fazer um texto que considera literário, achando que assim está sendo objetivo, descritivo e ao mesmo tempo enriquecendo o universo do leitor, mas não está.

GÊNEROS TEXTUAIS DO JORNALISMO CULTURAL: SEUS LIMITES

Thiago: É particular da dinâmica dos gêneros a instabilidade. Roland Barthes disse que classificava uma coisa e, de repente, desclassificava, porque é próprio da linguagem a instabilidade. Mas, ao mesmo tempo, é próprio do humano a tentativa de entendimento das coisas, dos fenômenos que estão acontecendo. Por isso, vai haver sempre esse impasse. Mas, por mais instável que possam ser os gêneros, nós classificamos as coisas, e isso resulta em um entendimento, por mais momentâneo que possa ser. Por isso, a complexidade de

lidar com o conceito de gênero é uma complexidade nossa, como professores. O aluno quer o conceito acabado e que nós digamos a ele tudo de forma clara. Mas nós precisamos ter consciência de que nenhum conceito está acabado.

Heitor: Em relação a essas separações, uso uma frase de um poeta do Rio, Carlito Azevedo, que afirma: “Quem gosta de muro são os EUA com o México. Gostam de muro para ninguém ultrapassar. Ou na antiga Alemanha”. Esse muro nas artes já foi derrubado há muito tempo. É isso que digo a eles, não há uma fronteira demarcada entre os gêneros, e você pode ir de um canto a outro de acordo com a sua necessidade de expressão, seja uma expressão objetiva, seja uma matéria especial em que terá de fazer um texto mais longo. É a necessidade da expressão que vai indicar o caminho.

O que há é uma linha de força dentro de um determinado texto. Por exemplo, se temos um romance e ele está dentro do gênero épico, o gênero dramático também pode estar presente. Há traços estilísticos que vão estar presentes, assim como os traços estilísticos da lírica.

Quanto à crítica, não trabalho o texto crítico como um texto opinativo, e digo para que não imaginem que a resenha seja o resumo de uma trama cinematográfica, teatral ou literária. Não. A crítica é analisar, levantar uma questão. Por exemplo, posso abordar um filme e perceber que ele tem alguns problemas, mas existe uma questão central que vale a pena ser levantada e discutida. A ideia é transformar aquele filme em um espaço de reflexão. Você pode até criticar uma atuação, determinada construção, mas, às vezes, o filme pode proporcionar uma boa reflexão a partir de uma questão central que está bem colocada.

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Leonardo: Como há dez anos leciono essa disciplina, percebi que funciona, primeiro, partir da classificação dos gêneros para ficar claro para os alunos. Inicio pela crônica. Assim, defino crônica retrato (mais descritiva), crônica narrativa (a narrativa é evidente), crônica comentário (mais dissertativa), crônica epistolar (na forma de carta). Essa classificação é feita por Afrânio Coutinho e é muito didática, mas passei por outras classificações também, como a do Antonio Candido, do Moisés e até a do Verissimo em que ele fez uma brincadeira definindo: “croniquinha”, “croniqueta”, “cronicão” e “cronicaço”, isso para mostrar que você tem inúmeras maneiras de classificar, mas que a classificação é sempre forçar um pouco a barra.

Thiago: É oportuno propor se não seria mais útil migrar do conceito de gênero textual para o conceito de gênero discursivo. Isso porque a classificação é dada em função do editor do jornal, da revista, pois a revista define um nome no início da página, anunciando ser um ensaio, crônica, crítica. Assim, muitas vezes a página, da forma como está organizada, nos leva a pensar o discurso jornalístico, já que ele não é essencialmente o texto. Ou seja, temos de perceber também como o texto é apresentado a você, como foi encenado. Pensando, assim, na esfera do teatro como palco, nos dizem: “Olhe pra isso como se fosse uma reportagem, olhe pra isso como se fosse uma crônica, uma crítica”. Há um endereçamento.

Adriana: Também costumo tratar os gêneros como gêneros discursivos, assim como o Thiago. Pois, realmente, isso é um problema em sala de aula. Aquilo que a revista Cult chama de ensaio, em sala de aula eu chamo de resenha. Então, surge o conflito e os alunos me questionam: “Mas, professora, a Cult é uma referência nacional”. Cabe, portanto, a maturidade do professor de

dizer para o aluno que não existem verdades prontas e acabadas. Por isso, não posso dizer “A Cult está errada, a Bravo! está errada, isso não é ensaio”. Não.

Quanto à questão de crônica e crítica, costumo fazer a seguinte diferença: tomo crítica como um parecer técnico aprofundado, ou seja, uma crítica de cinema vai me possibilitar ver no filme algo que, como uma telespectadora leiga, não conseguiria ver. É nesse sentido que o aluno não está preparado para fazer uma crítica. Como é que ele pode criticar algo que não entende? De que lugar de fala ele está falando? Então, como é que pode analisar o filme Batman e escrever uma crítica sobre ele, se ele está falando do lugar de fala do jornalista? O nosso lugar de fala não nos permite criticar uma obra cinematográfica. Então, de novo não tenho autoridade para criticar se não estou no mesmo local de fala de um especialista em cinema. Particularmente, duvido de críticas escritas por jornalistas que não são especializados. Desde que tenha uma pós-graduação em cinema, aí sim.

Leonardo: O que se deve levar em consideração para definir a crítica é o tempo que o jornalista teve para pesquisar. Há nesse sentido um contínuo, uma gradação que vai desde uma crítica mais jornalística a uma mais acadêmica, no outro extremo. A crítica jornalística é aquela geralmente mais curta, em que há uma preocupação em fazer uma orientação de consumo, ou seja, em deixar mais ou menos explícito um juízo de valor. Ela terá uma aplicação mais prática para o leitor, se ele deve ou não comprar tal disco, assistir a determinado filme. Geralmente o tempo para escrever é pequeno e muitas vezes não há tempo suficiente de “cair a ficha”. O primeiro texto que escrevemos é muito diferente do

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que faríamos uma ou duas semanas depois.

No outro extremo desse contínuo está a crítica acadêmica, que é o resultado de um processo bem mais longo, e que geralmente não tem a preocupação judicativa de orientação de consumo. No entanto, o público é mais restrito e com muito mais referências sobre o assunto. Nesse espaço, pode-se citar muito mais coisas, fazer diversas analogias, diversas conexões, pois a intenção é a de refletir sobre aquela obra. Pode-se dar ao luxo de falar de obras que não estão no mercado, que estão esgotadas e que não foram traduzidas no Brasil.

Há também, como ressalta Flora Süssekind, a crítica ensaística, que é uma crítica não tão rápida, rasteira e judicativa e com a preocupação pragmática da jornalística, mas também não é tão tratadística e aprofundada quanto a acadêmica. Ela está no meio do caminho e é, a meu ver, o tipo de crítica mais interessante. Na imprensa ela pode ser vista, às vezes, nos suplementos dos fins de semana, em algumas revistas e cada vez mais na internet.

Heitor: Existe uma relação entre a crítica e a sociedade, ou melhor, entre a obra de arte e a sociedade. Há uma carência do modelo ético de crítica, inteligente de crítica, e não esse modelo marcado pelo preconceito e pela estandardização do pensamento. A primeira atitude dos jornalistas na redação de um jornal é falar mal da universidade, principalmente da universidade pública. Mas, se um dia acabar a universidade pública no Brasil, vamos ter de aplaudir todos os jornalistas que falaram bastante mal do ensino. Essa crítica não é feita para melhorar ou mudar o estado das coisas. No fundo é para destruir, quando deveria estar brigando para de fato melhorar. Estamos em um país que tem de ser educado, e para ser educado nós temos de escrever de maneira clara

e didática, levando em conta a questão pedagógica ou didática do trabalho crítico.

Fábio: O problema da cultura é a falta de crítica. O que mais se encontra nos jornais, nas revistas é a ideia de que todos que estão envolvidos com cultura possuem boas intenções. Estamos, aqui, debatendo muito os gêneros da crítica quando, na verdade, uma das questões fundamentais do jornalismo cultural é a falta da crítica. Pois, se nos cadernos de política, de economia, os jornalistas são incitados a serem críticos, na cultura, ao contrário, não se espera que as pessoas sejam críticas. As pessoas sempre partem do princípio de que tudo que o artista diz é incrível, o artista pode falar: “Ah, minha exposição é bonitinha”, e isso vira aspas.

Outra coisa importante a ser dita é que, se você passa a ser crítico, começa a fazer inimigos, e passa a não ser bem-vindo dentro de um museu ou de uma instituição. É uma situação difícil, até que ponto o jornal banca você não conseguir mais ter acesso. Então, o dilema da crítica é um dilema fundamental para o jornalismo cultural.

SOBRE A METODOLOGIA DE ENSINO

Nosso propósito, neste tópico sobre metodologias, é delinear os caminhos percorridos por professores da área da comunicação social, mais especificamente da habilitação em jornalismo, no desdobramento da disciplina jornalismo cultural em sala de aula, no decorrer de um período letivo. São vozes na maioria solitárias, porque cada professor presente nesta entrevista busca, à sua maneira, em seus respectivos cursos, dar conta de diferentes ementas.

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São professores vindos de diferentes regiões, que enfrentam o mesmo desafio de ministrar uma disciplina que traz no seu fundamento a discussão da cultura em seus diferentes aspectos e amplitude, em um país como o Brasil, tão diverso culturalmente. Uma disciplina ora optativa, ora obrigatória. Alguns professores receberam o desafio de levar adiante a disciplina e outros tiveram de partir do zero. Entretanto, todos os presentes neste encontro foram unânimes em destacar a necessidade de acesso a mais informações, referências culturais e conceitos básicos por parte dos alunos para que a disciplina jornalismo cultural seja fortalecida.

O que vem antes e depois, o que subsidia a estruturação de uma disciplina com tais características e necessidades, uma vez que o propósito do jornalismo cultural, como espaço de discussão e formação na academia, evidencia algumas distorções no ensino do jornalismo de maneira geral? Uma disciplina com tais características, crítica e difusora de cultura, precisa localizar-se no âmbito das disciplinas de formação geral, como antropologia, sociologia, filosofia, por exemplo. Então, como resolver esse dilema?

Os desafios são enormes. A cada ano, a cada semestre, a cada turma, fica evidente a necessidade de rever os caminhos, tanto para os mais experientes como para os novatos.

Leonardo: Primeiro começo falando de crônica. Acho muito importante o papel que o jornalismo cultural tem para a crônica, de quebrar o gelo, de falar. Você também pode escrever assim, você também pode se colocar no texto, não necessariamente como personagem, mas eventualmente sim. Dou vários exemplos, em revista,

jornal, de várias matérias que têm o repórter falando em primeira pessoa para checar se é um personagem ou é o observador atuante. Falo dos tipos de narração oniscientes, vou mostrando que tudo é possível. Situo a crônica a partir do século XlX no jornalismo cultural brasileiro, mostro como ela é o embrião de boa parte do jornalismo cultural, falo das publicações, dos elementos jornalísticos e literários da crônica, dos diversos estilos de cronistas, dos tipos de crônicas, daquelas crônicas de Afrânio Coutinho. Falo de coisas mais específicas da literatura, como o personagem, a questão do tempo, do espaço.

O primeiro trabalho tem uma apostila de 100 páginas, com várias crônicas, reportagens e críticas. Não tem texto teórico, a não ser dois textos meus. A primeira parte são só crônicas, textos de cronistas falando da própria crônica. É Machado de Assis falando da própria crônica, é Carlos Drummond de Andrade falando da própria crônica... Um tanto de cronistas. É uma apostila que estou desenvolvendo há dez anos, são textos de outras pessoas. Eles leem muito essas crônicas e vou falando os conceitos, os estilos, as histórias, vou dando os exemplos. Primeiro fazem um trabalho; cada um, ou cada dupla, escolhe um cronista, um livro de crônica. Eles têm de ler e fazer um artigo sobre o livro. Não é bem uma resenha porque ainda não falei de resenha, só vou falar no fim do semestre. Dou um roteiro de quatro páginas para cada trabalho. O aluno analisa dentro das questões aquilo que lhe despertar interesse. Apresento um leque de coisas para falarem. Devem primeiro fazer uma leitura prazerosa para sentir o livro, que traz uma crônica publicada originalmente. Depois, peço que façam uma segunda leitura, uma leitura analítica, e me apresentem um texto.

Geralmente fazem em dupla, deixo livres o livro e o autor,

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pode ser qualquer autor de crônica brasileiro. Só não pode ser um livro de vários cronistas porque o que eu quero é que entendam o estilo de um cronista específico. É para pegar um livro que tenha no mínimo 20, 30 crônicas do mesmo autor.

Também adoto a postura do editor, como se fosse publicar esse texto. Temos um jornal-laboratório que já tem 20 e tantos anos e possui um caderno de cultura de 16 páginas em formato tabloide. No caderno de cultura publicamos os textos, as crônicas, as reportagens, as críticas que os alunos fazem ao longo do semestre, e até do outro semestre. Quase tudo é publicado. Quando o aluno faz um trabalho só para mostrar para o professor, não se sente fazendo uma coisa jornalística. Quando são ruins não publico, mas os melhores eu publico.

Falo ainda sobre a crônica mais literária e sobre a crônica mais jornalística, no sentido de a crítica literária poder ser ficcional. Não precisa ter ligação explícita com a atualidade. A crônica jornalística pode até ser ficcional, mas tem de partir de um fato recente, da última semana, porque senão eles reciclam o texto do semestre passado. São dois trabalhos de crônica. A análise do livro é realizada em dupla e vale 20 pontos; a crônica é individual e vale 10 pontos, totalizando 30 pontos.

Depois de um contato melhor com esses textos que têm mais observação, mais narração, mais descrição, entramos na parte da reportagem. Nessa parte, trabalho dois textos teóricos: “Dilemas do Jornalismo Cultural”11 e “O Jornalismo Cultural e a Lógica do Iceberg”12, que discutem a questão dos processos dos produtos como parte do jornalismo cultural.

11 CUNHA, L.; MAGALHÃES, L.; TEIXEIRA, N. Dilemas do jornalismo cultural brasileiro. In: Temas, Belo Horizonte, Uni-BH, n. 1, v. 1, ago.-dez. 2002, p. 73-83.12 O jornalismo cultural e a lógica do iceberg. In: Revista Mediação, ano 7, n. 6, 2007, p. 35-54.

É uma discussão voltada para produtos, mostrando o processo que está por baixo. É a economia da cultura, a política cultural, todas essas legislações. Os jornalistas não têm o direito de olhar ingenuamente paras as coisas. São os únicos textos teóricos ao longo do semestre.

Faço um mapeamento temático sobre tipos de temas que podem dar pautas, pautas centradas nas obras, centradas nos artistas, centradas na política cultural, na economia da cultura, na legislação, nos acervos. Depois peço para fazerem uma reportagem com uma reunião de pauta. Os alunos propõem as pautas, o tema é livre e o trabalho também é em dupla.

O terceiro trabalho vale 25 pontos. Trata-se de uma edição simulada de um caderno de cultura com todas as reportagens que acabaram de fazer. Geralmente são 15 a 20 reportagens por turma. Corrijo e devolvo para que corrijam o arquivo. Publico todas as reportagens na intranet da escola e cada grupo escolhe sete, com critérios. Cada grupo define um caderno interessante, um grupo pode fazer um caderno mais pop ou popular massivo, ou um caderno voltado mais para a cultura de raiz, ou um caderno mais jovem, o outro pode fazer um caderno mais erudito ou um caderno mais local. Digo a eles que não existe caderno certo e nem caderno errado, existem dezenas de análises combinatórias, milhares de possibilidades de fazer um caderno diferente. Eles têm de fazer um caderno que seja coerente e justificá-lo para mim, com um relatório sobre a linha editorial, justificar a escolha da capa, justificar as matérias e as respectivas páginas. Esse trabalho vale 15 pontos.

O quarto trabalho é sobre crítica e vale 30 pontos.

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Primeiro apresento a crítica jornalística, a acadêmica, a ensaística. O trabalho pode ser feito sobre filme ou disco, de vez em quando alguém faz sobre teatro, mas quase sempre fazem sobre filme ou disco. A primeira etapa chamo de antecipação ou expectativa, antes de ouvir o disco ou assistir ao filme. Com base simplesmente no título, no cartaz ou na capa, no que eles já ouviram falar daquele artista, da sala onde está passando o filme, de que país é o filme, de que época, que atores, que banda. A expectativa é importante na crítica. Entrego um roteiro de duas páginas com perguntas, eles fazem e me entregam a primeira etapa.

Daí vão assistir ao filme ou ouvir o disco, a segunda etapa. Chamo de reação imediata. Escrever rapidamente o que sentiu, se gostou ou não, se riu, se chorou, se deu vontade de dançar, de pular, se dormiu, uma coisa que marcou, a reação mais sensorial possível e, logo em seguida, quando ainda estão contaminados pelo gosto, desgosto, pela emoção, pela perplexidade ou indignação, me entregam essa parte. O que fizeram é muito próximo de uma resenha jornalística. Para a ensaística vão voltar ao filme, ao disco, e pesquisar pelo menos um texto, um artigo, um capítulo de livro ou outro filme daquele diretor.

A quarta etapa é a crítica propriamente dita. Digo que a crítica nada mais é do que uma síntese de tudo aquilo que você já fez. Cada etapa não substitui a anterior, mas a engloba, a reação engloba as suas antecipações, sua expectativa. Você amplia, sofistica, detalha aquela reação imediata, constrói com base naquilo, e faz o texto final. Chamo o trabalho de “processo de construção da crítica”. Não é invenção totalmente minha, li e pesquisei muito, vou aprimorando a cada semestre, a apostila muda, os exemplos mudam.

Também levo vários cartazes, como o do filme Central do Brasil. No Brasil, o cartaz ressaltou a questão do interior e a questão da amizade. Nos Estados Unidos, a Fernanda Montenegro nem encosta no menino, para não dar a ideia de pedofilia, pois, lá, isso é um trauma. Em boa parte dos exemplos falo do cinema porque é a área que estudo há mais tempo, mas dou alguns exemplos de capa de disco, como algumas do punk e do rock progressivo. Mostro como são universos e estéticas diferentes, e como tudo isso cria uma expectativa no ouvinte. Tento dar exemplos de outras áreas, mas na maioria dos casos acabo mesmo no cinema porque é a área que mais estudo.

Sobre a questão do local, na verdade, nunca tinha parado para pensar sobre isso. No trabalho da crônica, que é o primeiro, deixo livre, alguns escolhem cronistas de Belo Horizonte, mas não é uma questão importante. No trabalho da reportagem acontece, às vezes, de proporem algum grupo que conhecem. Mas deixo livre, não tem problema nenhum. Não estou interessado se a pauta é de Belo Horizonte ou se é sobre mangá, quero ver se o trabalho é bem-feito.

Fábio: Discuto várias questões, como a dos cadernos culturais e suas funções. Existe uma leitura, acho que negativa, em relação aos cadernos culturais. Minha experiência fora do Brasil é a de que os cadernos culturais daqui são os maiores que existem. Não existe caderno cultural do tamanho do Caderno 2, do Estadão, ou da Ilustrada, da Folha de S.Paulo, na Alemanha, na Inglaterra, na França, porque os jornais acabam cobrindo uma deficiência da produção de revistas de mais qualidade; os cadernos dos jornais têm qualidade. Vamos discutir muito isso, então, qual é o dilema? Os problemas dos

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cadernos culturais? A questão da agenda? Nas três primeiras aulas abordamos muito essas questões.

Montei um curso para mostrar, em primeiro lugar, a história da produção artística no Brasil, mas também os dilemas e as polêmicas, fundamentais para o interesse do jornalista. A ideia básica da Semana de 22, por exemplo, não é apenas uma semana, é o primeiro momento moderno no Brasil; nomes como Tarsila do Amaral e Anita Malfatti são fundamentais. A fotografia, por exemplo, é fundamental para discutir a modernidade na década de 1920. O curso tem esse panorama.

A primeira aula é sobre o barroco, quando começa a produção artística no Brasil. Digo para irem ao Museu de Arte Sacra, verem a exposição e redigirem um texto. Não digo o tipo de texto. Quero que façam um texto com o qual se sintam à vontade. Depois, discutimos os textos ao longo do semestre. A cada aula falo para visitarem um lugar. Quando a discussão é século XIX, indico a Pinacoteca do Estado. Para que eu possa avaliá-los, precisam ter pelo menos dez textos escritos ao longo do semestre. No final faço uma avaliação de conjunto para ter uma ideia de como foi o percurso.

Tenho nesse curso basicamente três eixos: jornalismo cultural, história da arte e a produção textual. Nas aulas, mostro imagens, filmes. Quando entramos nos anos 1980, há um documentário sobre Leonilson13, por exemplo. São imagens que gravo em DVD e projeto na sala de aula. Para cada aula tenho as imagens separadas, um material audiovisual importante. Não dá pra falar dos artistas sem mostrar os trabalhos.

13 Artista plástico brasileiro (1957-1993). Na década de 1980, fez parte da geração de artistas que revolucionaram o meio artístico brasileiro com a retomada do “prazer” da pintura. Disponível em: http://www.projetoleonilson.com.br. Acesso em 4 set. 2008.

Respeito muito os alunos. Evito que entrem na área mais brega, de falarem sobre as impressões deles. Se querem ir por um viés que, eventualmente, não caberia em determinada linha de um grande veículo, por exemplo, eu respeito, porque para mim o papel da universidade não é preparar os alunos para o mercado, o fundamental é fazer com que experimentem. Dificilmente depois da universidade vão ter espaço para experimentação.

Sempre digo: vocês vão entrar numa redação e aprender como é o sistema operacional do jornal em duas semanas. Agora é experimentar mesmo, fazer texto. Não vão ter espaço para isso depois. Não são todos os professores da PUC que defendem ou pensam assim, mas para mim a universidade é o lugar da experimentação. Falo um pouco de on-line, porque acho que é uma tendência, principalmente em artes plásticas, uma área com menos espaço nos jornais. Hoje em dia há muitos sites que cobrem essa área e tenho vários alunos que começaram a fazer blogs que se mantêm, até hoje, das matérias que fazem sobre exposições.

Adriana: Montei um programa, considerando que não existe, dentro do curso, nenhuma disciplina anterior que tenha preparado o aluno para a visão estética de alguma área da cultura. Ele não teve nenhuma disciplina relacionada a artes plásticas, a música, nada, e cai na disciplina jornalismo literário cultural. Conto com disciplinas de teorias da comunicação, teorias do jornalismo, antropologia e sociologia, nas quais ele tenha visto e discutido os conceitos de cultura.

Também entendo a academia como um espaço de experimentação, não só da prática, mas também do diálogo e da discussão. Nesta disciplina, procuro

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contemplar efetivamente as duas áreas para que o aluno possa ter ao menos uma noção do que é o jornalismo literário e o jornalismo cultural, tanto a teoria quanto a prática dessas duas grandes linhas. A primeira preocupação é contemplar a instrução teórica e o momento de experimentação das duas linhas.

Como metodologia, adoto visitas às exposições e aos museus, projeções de filmes em sala de aula. Dentro da metodologia, busco contemplar tudo isso. Há o momento das discussões teóricas, nas quais os desafios da profissão vêm à tona. Há o momento da experimentação, que é fazer as visitas e assistir aos filmes. Há o momento das produções na sala e das discussões e análises de materiais que tenham sido veiculados nos jornais e revistas de lá e de outras capitais. Gosto muito que analisem e problematizem aquilo que foi publicado com perguntas básicas, por exemplo: o que você alteraria nessa matéria? O que você considera ponto positivo ou ponto negativo nessa matéria? Se tivesse de substituir a pauta no jornal, o que você colocaria no lugar? Você confrontaria essa matéria com que outra?

Fizemos, por exemplo, uma análise de pesquisa quantitativa não-estatística dos dois jornais da cidade, depois verificamos se o conteúdo abordava cultura nacional ou cultura globalizada. Verificamos que mais de 80% são matérias compradas de agências de notícias, em maior proporção da Região Sudeste. Goiânia tem uma produção cultural, é efervescente, mas que entra só como agenda.

Também busco incentivar nos meus alunos o empreendedorismo. Trabalhamos um projeto de suplemento que pudesse chegar a uma quantidade

maior de pessoas. Outro projeto foi desenvolver um jornal cultural para circular nos ônibus da cidade gratuitamente. As pessoas entrariam no ônibus, leriam e deixariam ali mesmo, para que outros pudessem ler. Tento, ainda, focar um pouco mais com eles o conceito de cultura erudita, porque já vêm com a percepção de que cultura erudita é aquela coisa que está lá e eu estou aqui, eu olho e não entendo nada, mas tenho de dizer que é bonito. Tento quebrar um pouco disso e aproximá-los da chamada cultura popular.

Fizemos um trabalho no passado que chamei de A Cultura Acontece em Qualquer Lugar, e o desafio era encontrar um artista que produzisse qualquer tipo de cultura, mas que estivesse fora do circuito institucionalizado. Vieram coisas boas. Há um senhor em Goiânia que faz literatura de cordel e vende nos sinais. Os alunos levantaram sua vida e o entrevistaram. Foi muito interessante. Descobriram que alguém que tem uma gravadora e lançou o seu disco pode ser tão bom e tão importante quanto aquela banda que está no fundo de quintal batalhando para lançar seu disco também. Eles serão os jornalistas de amanhã, é bom que tenham essa percepção.

A aula para mim é para produzir texto, para ir à biblioteca e à internet para pesquisar, fazer entrevista. Tudo o que eu puder fazer em sala de aula, ou dentro de outros espaços no contexto da faculdade, faço com meu aluno. Eu não o trato como mediador, mas como um coletor de informações que serão processadas e analisadas por ele e se tornarão uma reportagem.

Thiago: Na disciplina de jornalismo literário o aluno é convidado a subverter, a pensar em outra forma de se relacionar com o texto e a observar com outro olhar.

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Depois, ele chega ao jornalismo cultural, em que vai tencionar e problematizar questões sobre quando usar o lead, quando usar o texto crítico, quando usar um texto mais literário. No jornalismo cultural, ele vai trabalhar dessa forma. Também recebi a disciplina sem nada, sem ementa. Então formatei a ementa e sua abordagem.

A metodologia da disciplina foi muito baseada em experiência empírica, na minha experiência com o jornalismo do Recife e muito na observação do contexto da cultura de Pernambuco. Tem a larga exploração da cultura pernambucana, local, muito forte, muito presente. O jornalismo cultural em Pernambuco é muito importante. O movimento mangue beat foi abraçado pelo Caderno C, o caderno de cultura do Jornal do Comércio, o maior jornal da cidade. O movimento ganhou legitimação em função do que estava sendo apresentado no caderno de cultura e pelo fato de os jornalistas daquele jornal serem colegas e participarem do movimento. Isso me parece importante para perceber que no Recife o jornalista de cultura é a figura que aponta, que diz que a banda nova é boa. A cidade tem essa vocação. Espera do jornalista de cultura um posicionamento, uma espécie de antena que mapeia, que aponta caminhos.

Muitas vezes o perfil do aluno com o qual trabalho não tem essas referências. A principal dificuldade com os alunos é a falta de informação básica, como nomes de diretores de cinema, autores de literatura. São informações elementares e básicas de um jornalista cultural, e essa é a minha principal dificuldade com eles.

Elaborei a disciplina desde a sua ementa. Primeiro, trabalho com o centro de cultura, os embates da alta e da baixa cultura, e digo que não devemos adotar

um posicionamento rígido em relação a isso. Temos de encontrar, tanto na alta como na baixa cultura, os elementos que estão em jogo. Porque é um concerto, vou ter de falar bem, e não falar bem de um show pop. Porque é novela tem de ser criticada, é ruim, é lixo. É importante colocar as tensões. É um contrassenso um curso de comunicação falar mal o tempo inteiro dessa lógica.

Depois, trabalho o embate ético, a questão da indústria cultural e as ingerências do marketing, questões importantes de tratar porque são muito claras. Ainda dentro da lógica da indústria cultural, destaco que existem veículos mais acionados e públicos específicos. É um embate, a materialização de uma indústria cultural, do marketing.

Trabalho essas dinâmicas da cultura porque são muito fortes em Pernambuco. Falo muito do Carnaval, festa de rua muito popular no Recife. Entro na questão do jogo da política cultural porque todas as festas populares são patrocinadas pela prefeitura. Materializo muito as questões com exemplos práticos daquela realidade, dos cinemas locais. Não é uma aula acabada porque levanto questões que estão na pauta atual assim que as vejo na redação. Se o Carnaval gerou uma discussão muito grande na cidade no começo do ano, trago isso para a sala de aula. A aula é bem pautada nas questões atuais. Elejo algumas delas e tento materializar que a cultura não é intangível, nem só simbólica, ela se materializa nas nossas ações cotidianas, numa ida ao cinema, numa ida ao teatro, num evento que a prefeitura paga.

Em uma das aulas levei um disco da Vanessa da Mata14

14 Cantora e compositora brasileira de formação autodidata, nascida em Alto Garças (MT) em 1976. Disponível em: http://www.vanessadamata.com.br. Acesso em 4 set. 2008.

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e disse: vamos ver o encarte? Temos de ler o encarte do disco. Quem é o produtor? Quem é a banda? Quais são os instrumentos em cada música? Adoro ler os agradecimentos. Às vezes identificamos ali uma parceria com alguém, o convite que foi feito e as marcas dos elementos que estão ali. Vamos ver o encarte, isso é uma apuração e você está tocando num ponto importante.

No jornalismo cultural você é cobrado o tempo inteiro para dizer se é bom, se é ruim, se é legal ou não. Você viu? Gostou? Tome um livro aqui, faça uma resenha, comente isso. Se a pessoa não tem a preocupação nem o interesse, acho bastante difícil se desenvolver no campo da cultura.

Heitor: Nunca tinha dado aula em faculdade, apenas várias oficinas de artes, área de que eu gosto. Foi minha única experiência didática. Mas, quando comecei, tive de mudar o curso porque os professores que me antecederam não tiveram a preocupação de criar um programa, embora tenham me dito que o curso já estava estruturado, que tinha apenas de preparar as aulas, ir melhorando. Pensei: eu pratico jornalismo cultural e sinceramente não vejo diferença entre o jornalismo cultural e o esportivo. Vou ter de inventar um jeito de fazer um curso.

No curso me baseio muito na minha experiência como jornalista, não só com jornalismo cultural, mas em outras áreas. Trabalho com os alunos alguns exercícios e peço um trabalho por bimestre, são 160 alunos no total. Não consigo dar dois trabalhos como gostaria, acabo não tendo tempo para poder avaliar tudo. A leitura que faço com eles é quase uma leitura de redator. Peço que enviem o texto por e-mail. Recebo e vou corrigindo, arrumando frase, trocando parágrafos.

No fim, quando há algumas informações sobrando, peço para explicarem e faço um pequeno relatório para cada um comentando as correções. É um exercício de jornalista, esse lado do redator.

Na primeira vez que citei a palavra resenha, uma aluna falou: resenha é um resumo. Pensei logo de início uma maneira de fazer com que os alunos entendessem que o texto crítico no jornal não é o resumo da trama, do filme, do programa, do romance. É uma reflexão ou uma compreensão daquela obra. Como o autor montou aquilo? Como despertou determinada emoção no sujeito? É algo muito mais complexo do que resumir.

Então, li um texto do Francisco de Oliveira, economista, e um texto do Antonio Candido. Tentei explicar o que era a crítica. Nesse primeiro ano trabalhei com três textos do Antonio Candido. O primeiro, uma crítica com certo engajamento social ou sociológico, com interesse sociológico; depois, uma crítica que tenta entrar no equilíbrio entre o estético e o social; e a última, uma reflexão de todo esse período.

Comecei a trabalhar com alguns textos de crítica para discutir e analisar. A grande dificuldade, nesse primeiro ano, foi ter 90% dos alunos de terceiro ano trabalhando, tanto nas classes da manhã como nas da noite. Eles estão no mercado de trabalho, o tempo de leitura é muito pequeno.

Depois de alguns textos críticos, trabalhei com Cidade de Deus, com a crítica do romance e um texto sobre o filme. Como foi feita a crítica para o filme? Como foi feita para o romance? Fui explicando o texto, parte a parte, frase a frase.

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No segundo semestre, queria trabalhar um pouco mais de que maneira dá para fazer a crítica, queria que eles soubessem um pouquinho o que era a teoria dos gêneros usada na literatura e não só nas obras do teatro. Achei que era um caminho para compreenderem que existem outras características narrativas. Sempre chegava disposto a discutir o texto proposto, mas tinha de resumi-lo porque ninguém tinha lido. Os alunos têm uma coisa de querer um mundo facilitado, na verdade, fico tentando inventar jeitos de lerem.

No semestre seguinte, resolvi centrar no perfil do jornalismo cultural, um momento decisivo. Trabalhei alguns textos sobre personagem, textos do Antonio Candido, por exemplo. Fui me cercando de textos pra mostrar o que era o personagem e como trabalhar isso dentro de um texto jornalístico, num texto de não-ficção. No final trabalhei com a análise: tentei expor pelo menos uma análise de um livro que eu achava muito bonito. Foi um ano muito difícil de trabalho, peguei quatro turmas muito fracas na formação básica, na formação literária, e percebi que eles não tinham interesse algum.

No ano de 2008, quis estabelecer uma possibilidade de caminho para pensar o que é cultura. Mesmo eles tendo tido antropologia, percebi que não tinham definições de cultura; mesmo tendo tido filosofia anteriormente, não tinham ideia de Iluminismo, então foram coisas que tive de retomar. Comecei exatamente tentando não fechar o conceito de cultura, mas primeiro brincando em cima da etimologia da palavra cultura. Faço questão, cada vez mais, de chamar atenção para a palavra, para a especificidade de cada palavra, porque o jornalista costuma não pensar na palavra quando escreve. Acabo tendo de estudar muito etimologia para poder explicar algumas coisas. A

partir desse conceito, insiro a questão da crítica e vou mostrando que o sentido da palavra cultura se transforma. Até certo momento da história todo mundo sabia do que estava se tratando quando estava diante de uma obra de arte porque tinha um ponto comum que se chamava Deus. Chega o Iluminismo e agora é a razão, mas Deus não morreu completamente.

A partir da expressão cultura vou até a questão da crítica, porque alguém faz a intermediação entre a obra de arte e o público. Começa a existir uma crítica, que seria uma análise da obra de arte, e mostro isso para eles. Depois, entrou o jornal, o folhetim. Só para fechar, dentro dessa ideia de cultura, vou até Balzac para falar da terceira transformação, quando a cultura se torna mercadoria dentro de um negócio chamado jornal, que é outra mercadoria. Tento chegar até Adorno, mas não dá tempo.

No primeiro bimestre de 2008, trabalhamos com o tema ano de 1968. A ideia foi montar um blog com o material. Cada classe montaria seu próprio blog. Deu certo só com a turma da manhã, porque a professora que dá a disciplina Novas Tecnologias ajudou a montar. Tentei fazer um trabalho interdisciplinar.

No segundo bimestre de 2008, trabalhei com o tema América Latina, ou melhor, com a América de língua espanhola. Falei em cinema, quero saber o que está acontecendo no cinema no Uruguai, na Argentina, no Chile. Em literatura, quero dos anos 1980 para cá, principalmente que procurem quem e o que está fazendo agora. Quero que entrem em contato, que entrevistem o autor, porque muitas vezes o autor tem a idade dos alunos ou é um pouco mais velho.

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Para o período de agosto a dezembro de 2008, vou trabalhar, no primeiro bimestre, ficção e não-ficção, com um texto, dois livros e um livro de não-ficção que ajudam muito no exercício de escrita e de caracterização de personagem. No segundo bimestre vou centrar no cinema, na relação entre literatura e cinema: dois filmes e dois romances, Lavoura Arcaica15 e Estorvo16, utilizando algumas críticas dos romances e dos filmes. Em filme vou trabalhar com o texto do Ismail Xavier, uma análise dos dois filmes para pensar a questão do narrador, quem narra, qual o ponto de vista. Quero mostrar para o aluno que ele vai ter de pensar quando ler um livro e quando assistir a um filme, que existe um narrador, e ver de onde ele está narrando.

A primeira avaliação do bimestre é uma reunião de pauta. Trazem as pautas em grupo e discutimos. Eu os divido em editorias.

Digo sempre em sala de aula: nosso curso está em processo. Nas aulas expositivas, entro em vários assuntos: a questão da negociação, como se dá, sobre o rumo da cultura e do jornalismo. Aproveito um pouco para ser menos professor e mais orientador, orientar algumas leituras, indicar coisas, porque percebo, de forma geral, um amplo desconhecimento sobre literatura, por exemplo.

O maior desafio é fazer com que o aluno leia. Basicamente esse é o desafio.

A cultura local não é uma preocupação. No ano passado, a ideia era entrevistar gente desconhecida do mundo das

15 NASSAR, Raduan. Lavoura Arcaica. São Paulo. Companhia das Letras, 1989. Adap-tado para o cinema por Luiz Fernando Carvalho, em 2001.16 BUARQUE, Chico. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. Adaptado para o cine-ma e dirigido por Ruy Guerra, em 2000.

artes. Os alunos entrevistam quem está por aqui, porque é o mundo deles. Na Praça Roosevelt, na Vila Madalena, tocando num bar, escrevendo um livro, publicando, da cidade onde eles moram, não é a questão de afirmação de uma cultura local. Aproveito para discutir algumas técnicas de entrevista, do tipo pingue-pongue, indico livros para ler. Tento corrigir o grande defeito da nova geração que é fazer entrevista por e-mail. Eles pegam o que foi enviado, do jeito que foi enviado, não fazem revisão e entregam.

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SOBRE A DISCIPLINA IDEAL DE JORNALISMO CULTURAL

A ideia, neste tópico, era a de que os professores convidados definissem três coisas. Primeiro: em que momento do curso viria a disciplina de jornalismo cultural, depois ou na frente de quais disciplinas. Segundo: quais são os conceitos e as discussões fundamentais que devem ser feitos na disciplina de jornalismo cultural para uma boa formação do futuro jornalista. E, por fim: quais os livros fundamentais e complementares que deveriam ser lidos.

E, se houve durante o encontro algumas discordâncias, aqui elas se dissiparam. Isso porque, no final do instigante debate entre os professores de jornalismo cultural (parte do qual está exposto acima), os professores chegaram rapidamente ao que seria ideal para uma boa formação. A seguir, o que parece uma pequena síntese poderá ser um primeiro passo para sugerir os “rumos” na constituição de uma identidade para o ensino de jornalismo cultural no país.

O MOMENTO DA DISCIPLINA NA GRADE

As disciplinas que devem ser lecionadas, como base que antecede o ensino do jornalismo cultural, seriam as seguintes:AntropologiaEstética e cultura de massaHistória da comunicaçãoHistória da arteSociologiaTécnica de entrevista e reportagemJornalismo literário

OS CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA DISCIPLINA

1. Conceito de cultura e de jornalismo culturalHistória do conceito de culturaHistória do conceito de jornalismo culturalDilema e tensõesFicção x realidadeAlta cultura x baixa culturaCultura popular x cultura eruditaLocal x global

2. Gêneros textuais e discursivos do jornalismo culturalCrônicaCríticaReportagemPerfilEnsaioResenhaArtigo

3. Processos e produtos culturais na cobertura jornalística: tensões, relações e interseções

CARGA HORÁRIA E PERÍODO IDEAL DA DISCIPLINA

Segundo os professores, a disciplina deve ser lecionada em 72 horas. Mas, caso a instituição ofereça também a disciplina de jornalismo literário, cada uma poderia ser lecionada em 36 horas. Ainda segundo eles, o momento ideal da disciplina seria no quinto ou sexto período letivo, para que antes o aluno tenha passado por outras disciplinas.

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BIBLIOGRAFIA

A seguir os professores destacam quais são os livros básicos e complementares para uma formação ideal. A ideia era definir quais as obras que não poderiam faltar em uma disciplina ideal. É importante dizer que são exigidos pelo MEC e seu Padrão de Qualidade para os Cursos de Comunicação seis títulos por disciplina. Aqui oferecemos um número maior. São sugeridos seis livros básicos e 12 complementares. Desses, quatro básicos e três complementares coincidem com os livros levantados pelo mapeamento da bibliografia utilizada pelos professores no país (ver capítulo 2). Há, na lista abaixo, 11 livros inéditos (destacados com o sinal *).

Os livros eleitos como fundamentais para uma boa formação são os seguintes:

BÁSICOS

BALZAC, Honoré de. Ilusões perdidas. São Paulo, Abril Cultural, 1978.* BEIGUELMAN, Giselle, et al. Rumos [do] jornalismo cultural. São Paulo: Summus, 2007.BENJAMIN, Walter. O narrador. In: Obras escolhidas de Walter Benjamin. V. 1. São Paulo: Brasiliense, 1994.* LEENHARDT, Jacques; MARTINS, Maria Helena; VASCONCELOS, Sandra. Rumos da crítica. São Paulo: Senac:Itaú Cultural, 2000.LIMA, Luiz Costa (Org.). Teoria da cultura de massa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.PIZA, Daniel. Jornalismo cultural. São Paulo: Contexto, 2003.

COMPLEMENTARES

BOSI, Alfredo. Dialética da colonização. São Paulo: Companhia das letras, 1992.* BURKE, Peter. Uma história social da mídia: de Gutenberg à internet. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.CANDIDO, Antonio (Org.). Personagem de ficção. São Paulo: Perspectiva, 1985.* CAPOTE, Truman. A sangue frio. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.* COUTINHO, Eduardo de Faria. A literatura no Brasil. V. 6. São Paulo: Global, 1997.* DANTAS, Vinícios. Bibliografia de Antônio Cândido. São Paulo: Editora 34, 2002.* HALL, Stuart. Da diáspora: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003.* MARTÍN-BARBERO, Jesus. Dos meios às mediações. Rio de Janeiro: UFRJ, 1987.* NESTROVSKI, Arthur Rosenblat; LEITE NETO, Alcino. Em branco e preto: artes brasileiras na Folha, 1990-2003. São Paulo: Publifolha, 2004* SANTAELLLA, Lúcia. Cultura das mídias. Rio de Janeiro: Razão Social, 1992.* TALESE, Gay. Fama & anonimato. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.WILLIAM, Raymond. Cultura. São Paulo: Paz e Terra, 1992.

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O QUE É JORNALISMO CULTURALAylton SeguraCida GolinGeane Alzamora

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O desenvolvimento histórico do jornalismo cultural evidencia sua abrangência temática e a imprecisão do seu adjetivo. A rigor, tudo o que permeia o jornalismo é cultural (PIZA, 2003). Assim, é sempre uma convenção social

ditada pela área e refinada por cada empreendimento jornalístico aquilo que genericamente identifica essa atividade. Mas, independentemente de suas diretrizes editoriais, é certo que a imprensa reflete e, ao mesmo tempo, forma certa concepção social de cultura. Por intermédio daquilo que elege como pauta e do destaque que dá a alguns fatos em detrimento de outros, interfere no consumo social dos bens culturais. Logo, a cobertura realizada pela imprensa dinamiza e documenta o campo artístico e cultural, age na formação de públicos e fornece parâmetros de valor para a interpretação da cultura de um determinado local e época.

O jornalismo cultural situa-se em uma zona heterogênea de meios, gêneros e produtos que abordam com propósitos criativos, críticos ou de mera divulgação os campos das artes, das letras, das ciências humanas e sociais, envolvendo a produção, a circulação e o consumo de bens simbólicos. O espectro de alcance desse segmento especializado é amplo sob o ponto de vista formal e de conteúdo. É possível considerar, nesse conjunto, desde uma revista literária de pequena circulação, o suplemento semanal de um jornal de grande tiragem, periódicos dedicados a temáticas específicas (artes, música, cinema), cadernos diários reservados a tempo livre e entretenimento, assim como revistas eletrônicas e formatos emergentes na internet (RIVERA, 1995; GADINI, 2004).

A co-existência, em um espaço jornalístico, de textos especificamente literários, ensaios analíticos e textos informativos indica um território de tensão entre as funções de jornalista e especialista (TUBAU, 1982). Nas publicações especializadas em cultura ou nas páginas diárias dedicadas ao setor, convivem repórteres, intelectuais e pensadores, não necessariamente profissionais do jornalismo, o que resulta em um espaço diferenciado do restante da produção jornalística convencional. A tensão cresce na profusão de novos formatos na internet (blogs, websites, revistas eletrônicas, podcasts etc.), produzidos de forma colaborativa e cumprindo, fora do domínio da edição jornalística, o papel de divulgação de conteúdos culturais (ALZAMORA, 2005).

É por intermédio dessa tensão, porém, que o jornalismo cultural se singulariza e se legitima socialmente. Uma das características do jornalismo cultural, segundo Faro (2006), seria abrigar a avaliação e análise da produção simbólica capaz de garantir aos periódicos a legitimidade interpretativa, a defesa do ideário de determinadas escolas e correntes de pensamento. O segmento tangencia a esfera acadêmica, um universo geralmente formado por suplementos de jornais diários ou revistas especializadas, constituindo-se naquilo que o autor chama de “espaço público de produção intelectual”, produzindo uma “plataforma interpretadora” sobre a cultura e o pensamento de uma época.

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Adjetivo polissêmico

A adjetivação desse tipo de jornalismo provém de um conceito por demais polissêmico. Ao mesmo tempo em que seguiu o conceito mais restrito de cultura, concentrando-se nas atividades artísticas, intelectuais e no entretenimento, alterações significativas no âmbito da arte, do comportamento e do lazer ampliaram o espectro de ação das publicações culturais.

Essa perspectiva editorial se ancora na própria trajetória cultural do jornalismo. A partir do século XVIII, expandiu-se na Europa o projeto iluminista de cultura, enfatizando valores relacionados às artes e à academia (THOMPSON, 2000). A crítica de arte na imprensa, da qual Denis Diderot é um dos mais relevantes precursores, desenvolveu-se nessa época (NÉRAUDAU, 1985).

No século XIX, os folhetins introduziram uma perspectiva mais popular de cultura. Essa perspectiva se disseminou na imprensa acompanhando as transformações socio-culturais possibilitadas pelo processo de industrialização. Nesse contexto emergiu o chamado “jornalismo da em-presa capitalista” (MARCONDES FILHO, 2000), relacionado ao barateamento da impressão e à ampliação do número de títulos e de leitores. A crítica adquiriu, então, impor-tância significativa para os empreendimentos culturais. Esse é o tema de Ilusões Perdidas (1835-1843), romance no qual Honoré de Balzac – escritor que publicou diver-sos romances no formato folhetim – ironiza a imprensa cultural como negócio.

No Brasil, o desenvolvimento do jornalismo cultural está associado à influência francesa e ao advento do folhetim como fórmula atrativa para incrementar as vendas dos

jornais, potencializando a associação entre jornalismo e literatura. O primeiro folhetim traduzido do francês, Capitão Paulo, de Alexandre Dumas, circulou a partir de 1838 no Jornal do Comércio. Vislumbra-se, a partir daí, o reconhecimento do escritor folhetinista e o espaço gráfico do rodapé como chamarizes para a leitura diária das variedades, incluindo crônicas, críticas de livros, de teatro, entre outras.

O conceito antropológico de cultura passa a ser difundido na Europa no fim do século XIX, quando se privilegia o interesse pelos costumes, práticas e crenças de povos diversos. O jornalismo que se desenvolveu desde então refletiu também essa tendência cultural. A questão é perceptível, por exemplo, em reportagens que revelam comportamentos dissonantes, certo estilo de habitar as cidades, próximas e distantes, ou que explorem universos culturais pouco conhecidos do público objetivado. Esses deslocamentos interculturais, que focalizam contrastes e diferenças em grupos sociais heterogêneos, integram, mas não são predominantes na imprensa, prioritariamente vinculada a uma visão mercantilista da cultura.

Ao longo do século XX a imprensa consolidou seu perfil empresarial e expandiu sua influência na sociedade por intermédio da cultura de massa, da qual era parte. Por outro lado, não deixou de divulgar as diversas manifestações culturais que surgiram ao longo do tempo, sem as quais não refletiria as transformações sociais necessárias para manter seu projeto expansionista. O jornalismo cultural, ele próprio um produto da cultura de massa, desenvolveu-se com base nessa perspectiva multiforme de cultura.

Dentro da expansão e consolidação das empresas

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jornalísticas, a estrutura fragmentada das editorias (esportes, política, economia, cultura) foi resultado da divisão de trabalho nas redações, respondendo à complexidade do negócio, à expansão urbana, assim como ao desenvolvimento das indústrias culturais. Na sua abrangência temática, a editoria de cultura circunscreve o campo das manifestações artísticas. O jornalista, situado no domínio da linguagem pragmática da comunicação, tangencia o universo poético que permite a comunicação do estranhamento e da ambiguidade. Essa mediação pode ser determinante na relação entre o público e os bens simbólicos. Muitas vezes, será apenas por meio daquele enunciado, daquela situação de leitura, que um sujeito terá acesso mínimo e parcial a uma determinada obra de arte ou a certas experiências artísticas.

Dentro dos seus limites e historicamente ligado ao projeto iluminista de disseminação do saber, o jornalismo cultural contribui para a compreensão dos códigos artísticos, enfatizando a secular dimensão comunicativa do ato de criticar e interpretar: “O texto crítico nunca deixou, de Diderot aos nossos contemporâneos, de se colocar na posição de mediação, tornada necessária em razão de uma arte cujos códigos estão constantemente em ruptura com relação ao estado atual do gosto, isto é, às capacidades espontâneas de compreensão existentes normalmente nos públicos” (LEENHARDT, 2000, p. 22).

Mediação e prestígio

Por meio de sua função comunicativa, o jornalismo produz certa perspectiva sobre a realidade e reproduz conhecimentos de outras instituições sociais, em um processo sistemático de recriação. Fixa-se no real imediato,

opera no campo lógico do senso comum e condiciona-se pelo contexto de produção, ou seja, pelas rotinas produtivas, relações e constrangimentos profissionais, crenças e valores específicos desse campo profissional (MEDITSCH, 2002).

No caso do circuito artístico-cultural, o processo de divulgação de uma obra de arte é mecanismo obrigatório para sua própria existência, a ponto de o processo de criação e de produção prever estratégias de condução do pensamento do artista até o público, momento em que o produto cultural se transfere de mãos. Várias instituições (escolas, universidades, museus, galerias) asseguram a legitimidade do gesto artístico, mas a mediação jornalística torna-se crucial no sistema ao garantir a visibilidade das ofertas. O campo jornalístico, seja no reforço da tradição, seja na revelação de novas perspectivas, amplia o horizonte da recepção e detém o “poder de incluir ou de excluir, de qualificar ou desqualificar, de legitimar ou não, de dar voz, publicizar e tornar público” (BERGER, 1996, p. 190), interferindo diretamente no sistema de arte e cultura.

O jornalismo cultural é, portanto, uma importante forma de mediação cultural, processo que compreende transmissão e consumo de informações, produção de sentidos e construção de identidades (OROZCO, 2006). Por seu intermédio, configuram-se critérios de relevância, gosto e valor que influenciam, em grande medida, o consumo social desse tipo de produto.

Além de mediar o consumo, o jornalismo cultural, ele próprio, é resultado de múltiplas mediações. Desde suas primeiras fases, principalmente nos folhetins, essa manifestação jornalística se caracteriza pela emergência

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de uma nova linguagem, fundada em deslocamentos do literário para o jornalístico. Também configuram a linguagem do jornalismo cultural mediações acadêmicas, que se valem de aspectos da comunicação jornalística para atingir o grande público.

Suplementos culturais

Foi a partir dos anos 1950 que os jornais brasileiros passaram a oferecer cadernos de cultura em suas edições diárias e de fim de semana. O Caderno B do Jornal do Brasil, diário e existente até hoje, foi uma das experiências marcantes do fim da década de 1950. Idealizado e editado por Reynaldo Jardim, com projeto gráfico de Amílcar de Castro, artista que modernizou o visual do diário carioca, o Caderno B influenciou a grande imprensa brasileira. Para Dapieve (2002), ele não apenas tratava de cultura, mas era em si mesmo um produto cultural, concretizando a integração entre texto e arte visual.

Um pouco antes, em 1956, assistiu-se ao lançamento de dois suplementos que se tornaram modelos de excelência na área dos cadernos semanais e de perfil literário: o Suplemento Literário, de O Estado de S. Paulo, idealizado pelo crítico Antonio Candido e editado por Décio de Almeida Prado, e o Suplemento Dominical, do Jornal do Brasil (SDJB), com Reynaldo Jardim e Ferreira Gullar, entre outros.

Nesse período, o país viveu um processo acelerado de urbanização e consolidou sua indústria de bens culturais, justificando a convivência de suplementos especializados com a publicação diária da editoria de artes e cultura (GADINI, 2003). Como descreve Alzira Abreu, que estudou suplementos semanais de meados do século XX, tais

espaços se constituíam em uma rede de sociabilidade. Juntamente com os cafés, editoras e revistas literárias, permitiam a estruturação do campo cultural, na medida em que refletiam alianças fraternas, o exercício de influências, antagonismos, rivalidades, as cisões e o encontro de gerações de intelectuais (ABREU, 1996).

Historicamente, o suplemento é o lugar de expressão de intelectuais, críticos e escritores na imprensa. Segundo Santiago (2004, p. 163), o próprio nome indica sua essência: “sem o suplemento, o todo [jornal] continua completo”. Para o autor, o suplemento é uma invenção do calendário burguês, um conteúdo para o tempo do lazer, o fim de semana, enquanto a notícia ocupa o leitor nos dias de trabalho.

Os cadernos semanais da segunda metade do século XX, cujas características alguns contemporâneos ainda tentam resgatar, concentravam-se no debate, na exposição de ideias, na formação cultural e na divulgação de críticas e ensaios, com ênfase na literatura, em especial a brasileira, na publicação de poemas e contos. Em geral, o editor era escritor ou crítico e havia pelo menos um grande nome da área literária ou humanística associado ao caderno. Percebe-se, nesse caso, a iniciativa de cada jornal em agregar prestígio intelectual à suas páginas, acolhendo nos suplementos nomes legitimados por outras áreas do saber. Atingiam-se, assim, circuitos privilegiados de leitores e de colaboradores.

Jornalistas com diploma e o leitor médio

O fim dos anos 1960, no entanto, revelou uma espécie de “revolta da crítica do rodapé” (SUSSEKIND, 2003, p.

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31-35). Os jornalistas com diplomas, na década de 1970, reivindicaram o espaço jornalístico, atacando a linguagem hermética, a lógica argumentativa, os jargões e os excessos técnicos dos scholars acadêmicos. Visualizava-se ali a necessidade de atender ao leitor médio, público suposto e consumidor de jornais.

Na década de 1980, as indústrias culturais brasileiras apresentaram um crescimento expressivo. A expansão editorial foi percebida, por exemplo, pelo aumento das resenhas informativas e pelo “tratamento mais comercial” do livro (divulgação e venda) e significativa redução da reflexão crítica nas páginas jornalísticas (SUSSEKIND, 2003, p. 35).

Apesar de existirem desde os anos 1950, pode-se afirmar com Gadini (2003) que o modelo dos “segundos cadernos” consolidou-se nos anos 1980, quando a grande maioria dos jornais brasileiros de médio e grande porte passou a circular com um encarte diário de cultura, retirando a editoria do corpo principal do impresso. Ao mesmo tempo, perceberam-se mudanças significativas no design gráfico, valorizando a imagem em composições mais leves e ousadas. A Ilustrada, suplemento cultural diário da Folha de S.Paulo, traduziu uma estratégia que tratava o mercado de bens culturais a partir de grandes audiências, internacionalização, serviço e mistura entre o erudito e o popular. Concorrente direto, o Estado de S. Paulo reformulou seu caderno diário e lançou o Caderno 2 em 1986, mesmo ano do surgimento do suplemento semanal Ideias, do Jornal do Brasil. Vários periódicos de menor alcance tiveram o projeto gráfico e o estilo da Ilustrada como paradigmas (PRYSTHON, 2001).

Estudos recentes (GADINI, 2004; JANUÁRIO, 2005) apontam as principais características da cobertura

cultural contemporânea nos jornais brasileiros. Januário (2005) afirma, por meio de pesquisa quantitativa, que o jornalismo paulista nas décadas de 1980 e 1990, no contexto de crise financeira das empresas jornalísticas, passou a ser constituído prioritariamente por peças informativas, sintonizadas com a agenda industrial e televisiva, em detrimento do caráter crítico e analítico dos assuntos artístico-culturais. Equipes menores nas redações, a redução do espaço para ensaios, entre outros fatores, contribuíram para a configuração de um segmento relativamente ausente de reflexão, centrado no serviço, na agenda, na reportagem de divulgação e no celebrismo.

Segundo Gadini (2006), a maioria dos cadernos diários, no Brasil, utiliza praticamente a metade do seu espaço total para a publicação de roteiros (serviços), programação televisiva e colunas sociais. Se contarmos o setor de variedades (horóscopo, palavras cruzadas, quadrinhos, jogos e versões de entretenimento), tradição herdada das revistas e que ocupa as páginas culturais dos jornais, esse número sobe para 60% do espaço aproveitável. Restam, então, aproximadamente 40% de espaço para reportagens ou textos críticos.

A notícia no jornalismo cultural contemporâneo

Pautado pela dinâmica das indústrias culturais, pela sua estrutura de lançamentos e distribuição, as manifestações estéticas, no jornalismo cultural contemporâneo, são percebidas predominantemente a partir do espetáculo e do evento. A interpretação estética e a representação do sistema artístico-cultural organizam-se com base em uma linguagem da antecipação, configurando a expressão

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cultural como uma sequência linear de atividades: aberturas de exposições, estreia de espetáculos, lançamento de discos e livros, entre outras atrações (PEREIRA, 2007).

Trata-se de um tempo cíclico, em que o novo e o atual significam repetir fatos pré-agendados pelos produtores culturais. Morte, nascimento, datas significativas são rememoradas a cada década, cinquentenário, centenário, servindo como mote jornalístico para revisitar legados seculares, obras e biografias. O passado é recuperado por meio da atualidade, critério esse prioritário na seleção editorial (GOLIN; CARDOSO, 2009).

Nesse processo, o jornalista faz uma triagem dos produtos culturais, atua como um filtro, produzindo perspectivas parciais sobre a cultura de seu tempo. Essa parcialidade significa priorizar a divulgação dos produtos e relegar a um segundo plano ou praticamente ignorar certos processos culturais. Entende-se por processo cultural o próprio movimento do sistema artístico-cultural expresso nas políticas públicas de cultura, na economia do setor, no marketing cultural e em questões que antecedem ou estão além do evento, lançamento ou produto acabado (CUNHA; FERREIRA; MAGALHÃES, 2002).

A vinculação entre notícia e lançamento de produtos culturais refere-se a uma perspectiva mercadológica da notícia cultural. Conforme Tubau (1982), a cultura apreendida por meio do discurso jornalístico é somente aquela capaz de se tornar notícia, seguindo a linha editorial de cada veículo e seu público. Cada publicação dissemina uma visão de cultura que reflete a sua própria visão editorial. Nesse sentido, o jornalismo cultural, ao mesmo tempo em que informa, forma certa opinião

sobre os fatos culturais – ou, pelo menos, sobre aquilo que sua editoria de cultura diz que é cultura (ALZAMORA, 2005, p. 42).

Mas, uma vez que a noção de cultura é ampla e heterogênea, não se pode dizer que a perspectiva mercadológica da notícia cultural, embora predominante no jornalismo diário, configure o jornalismo cultural como um todo. A diversidade de projetos editoriais relacionados aos suplementos e às revistas de cultura atesta a amplitude do tema.

As revistas de cultura são tão diversas quanto são diversas as concepções de cultura em cada época e em cada segmento de público objetivado. Geralmente relacionadas às grandes reportagens, ensaios e crítica especializada, elas se proliferam também no segmento de entretenimento e lazer, constituindo um mosaico bastante significativo das tendências de cada época. Algumas, entretanto, tornaram-se referências importantes para a área, influenciando gerações de jornalistas de cultura. Esse é o caso da norte-americana The New Yorker (1925), berço de escolas como o new journalism, cujas técnicas dialogam com a linguagem literária.

A periodicidade das revistas de cultura – semanais, quinzenais ou mensais – favorece a abordagem interpretativa dos fatos culturais, em detrimento da perspectiva noticiosa geralmente associada ao jornalismo diário. Por causa disso, são menos perecíveis que os cadernos diários, cujo fundamento é a notícia. A mesma observação pode ser feita para os suplementos semanais de cultura, cujo horizonte de conteúdo e recepção é mais amplo do que o do jornalismo factual.

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A padronização diária das coberturas

A despeito de priorizar a notícia, pouco se percebe de inesperado no jornalismo cultural diário, pois este se ancora predominantemente em acontecimentos planejados. Entra-se aqui na frequente crítica da relação desse tipo de cobertura diária com suas fontes, ou seja, a excessiva dependência das assessorias de imprensa. Tal interferência pauta os cadernos contribuindo, muitas vezes, para a redução da complexidade de cada tema e para o pouco esforço de apuração e de reportagem, procedimentos capazes de garantir uma perspectiva original e diferenciada.

A homogeneidade das coberturas contemporâneas e a repetição das manchetes inibem muitas vezes a possibilidade criativa do gênero. O jornalista e ensaísta Sérgio Augusto, ao folhear cadernos culturais de 30, 40 anos atrás, no Rio de Janeiro, surpreende-se: eles tinham a mesma data, mas eram tão diferentes nas pautas que pareciam circular em cidades diferentes. “A imaginação ainda estava no poder e a liberdade de criar também” (2001, p. 350). É preciso ponderar, no entanto, o crescimento vertiginoso do setor artístico-cultural na segunda metade do século XX, multiplicando ofertas, produtos e eventos em uma mesma cidade. Para dar conta de tantos produtos, as publicações acabam priorizando a agenda de lançamentos e os produtos mais bem situados do ponto de vista de público e divulgação, relegando a um segundo plano a investigação e a pauta original.

Além da padronização da cobertura cultural diária, a submissão ao mercado apresenta facetas particulares e negativas no trato com a informação. Veja-se o caso de um jornal que noticia em primeira mão a chegada de

um determinado livro, disco ou filme, o chamado “furo” cobiçado pelos setoristas. A concorrência, então, silencia em relação ao fato ou o menospreza, como se ele não fosse importante ou não merecesse novas perspectivas editoriais ou analíticas para os leitores. Dentro das estratégias de divulgação dos produtos, por exemplo, desponta o chamado “embargo”, mecanismo criado pelas editoras para determinar a data em que as matérias sobre os lançamentos vão sair na imprensa.

A cultura a partir do sujeito

Na periódica revisão de temas artísticos e culturais, assim como na visibilidade de novas tendências, o jornalismo alicerça e constrói a memória simbólica, confirmando sua condição de práxis narrativa marcada pela cultura profissional e pelo contexto em que está inserida. Cada vez mais, reforça ou mesmo desafia cânones constituídos em locais autorizados, como as instituições museológicas e acadêmicas. Se tudo o que tem prestígio, ou capital simbólico acumulado, tem maior possibilidade de se tornar visível no sistema cultural, chega-se aqui à notoriedade do ator principal do acontecimento, valor constitutivo do universo jornalístico.

Há uma disposição do jornalismo cultural em afiançar artistas e obras notórias, apontando para o tratamento dos fatos sob a perspectiva de um sujeito. Tal critério é facilmente percebido na apresentação dos temas a partir dos criadores, uma clara centralidade na pessoa e na autoria. Torna-se difícil dissociar as obras de seus autores, uma espécie de legitimação, em novos moldes, da figura do demiurgo, do gênio romântico, processo esse inserido na produção e consumo contemporâneos

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de celebridades. Assim como os imprevistos, conflitos ou escândalos podem ganhar as páginas especializadas em cultura, a morte, controvérsias e incidentes na vida das personalidades são dimensões evidenciadas no jornalismo cultural (GOLIN; CARDOSO, no prelo).

A consagração da visualidade

Marcelo Coelho (2000) chama atenção para o formato predominante dos cadernos culturais diários, que elegem apenas um assunto na capa, geralmente uma página de apresentação visual arrojada. Ocupar esse lugar dá ao evento uma espécie de apelo consagratório, uma valoração estética. Logo, o espaço que recebe na imprensa acaba sendo assunto tanto quanto a notícia em si, afiançando a publicidade da cultura e a criação do superlativo. Uma boa visualidade passa a ser critério preponderante de seleção na editoria de cultura.

Percebe-se certa influência da televisão na imprensa escrita, por meio da consolidação do “estilo magazine” do jornalismo cultural, observado, por um lado, na proliferação de matérias de entretenimento e, por outro, na composição visual dos cadernos de cultura. Passou-se a observar cada vez mais, nesses cadernos, o uso de cores, ilustrações e fotografias elaboradas, conjugado a projetos gráficos sempre mais arrojados do que os verificados nos demais cadernos jornalísticos.

Questão semelhante se observa nas revistas de cultura, nas quais a imagem ocupa lugar de destaque. Geralmente seus projetos gráficos privilegiam textos longos associados a imagens singulares, que não raro apresentam forte apelo estético. As capas dessas publicações são espaços

de particular cuidado visual, pois é pela dimensão visual da capa que se comercializa cada edição.

Jornalismo na cibercultura

A expansão da internet levou à proliferação de novos formatos de informação cultural, cuja diversidade cresce exponencialmente. Do ponto de vista do jornalismo cultural, além do aspecto comportamental que esses novos formatos refletem, baseados na partilha de informações, uma questão merece atenção especial: a proliferação de websites não-jornalísticos que passaram a produzir e a difundir informação cultural.

A internet altera, assim, a relevância da função mediadora dos jornalistas de cultura porque na rede qualquer um pode, eventualmente, emitir informações culturais relevantes. Independentemente da qualidade do texto, um blogger, por exemplo, está potencialmente apto a realizar a tarefa de mediação social tradicionalmente consagrada pelo jornalismo cultural. Além da tensão já tradicional entre especialistas e jornalistas, o jornalismo cultural contemporâneo lida também com contribuições de amadores, ou seja, com informações culturais produzidas e compartilhadas na blogosfera e em redes sociais (ALZAMORA, 2005).

A emergência de novos formatos de informação cultural deriva da diversificação das mediações sociais na internet. Assim, quanto mais gente produz e consome informações culturais em formatos emergentes, mais relevantes se tornam esses formatos e as informações que por eles trafegam. Eles ampliam e, em certa medida, reconfiguram o escopo do jornalismo cultural. Por um

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lado, a cibercultura, componente importante da cultura contemporânea, pauta o jornalismo cultural. Por outro, o jornalismo cultural contemporâneo, especialmente o webjornalismo cultural, incorpora, cada vez mais, aspectos de linguagem delineadores dos formatos emergentes de informação cultural.

Os novos formatos interferem, assim, na linguagem e na configuração temática das editorias de cultura, enquanto a linguagem e a abordagem editorial características do jornalismo cultural se tornam referências importantes para muitos formatos digitais que divulgam e comentam informações culturais. A influência recíproca intervém, em maior ou menor grau, nas experiências contemporâneas desse segmento. Em tal cenário um problema considerável para o jornalismo cultural é, simultaneamente, preservar a identidade jornalística que cultivou desde o Iluminismo e aperfeiçoou ao longo do século XX, sem perder de vista as inegáveis transformações culturais que modelam as interações sociais contemporâneas e os produtos culturais que delas derivam. À medida que o objeto do qual se ocupam as editorias de cultura se coloca em processo contínuo de transformação, as diretrizes conceituais que conformam essas editorias demandam algum grau de revisão, assim como a própria concepção de jornalismo cultural que norteia práticas jornalísticas midiáticas e hipermidiáticas.

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REFLEXÕES DOS SELECIONADOS

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SENSIBILIZAÇÃO ESTÉTICA UNIVERSITÁRIO: UM LABORATÓRIO DE IDEIAS

Adriana Pessatte Azzolino

Quando se opta por ensinar jovens, torna-se relevante questionar sobre a medida e a profundidade suficientes de informação a lhes proporcionar, para que sejam de fato educados, para que aprimorem seus níveis

de compreensão adequadamente para o desempenho das atividades profissionais e, ainda, comuniquem suas ideias de maneira eficiente para a comunidade em que vivem. É preciso introduzi-los na teoria geral das artes, na semântica de obras e na configuração plástica de seu sentido e abordagens poéticas, a fim de que possam compreender as estratégias do apelo e das condições pragmáticas, estéticas e midiológicas da produção e da recepção de sentido.

A partir de experimentações com diferentes linguagens e instrumentos de produção é possível despertar a sensibilidade e o sentido da observação do jovem universitário para as diversas formas de manifestação e produção cultural do homem enquanto gestor de signos ao longo da sua história. Afinal, a produção e recepção de sentido concebem-se a partir de experimentações plásticas, do contato com diversas matérias-primas e diferentes suportes que expressam múltiplas linguagens, daí o seu nexo com o processo de comunicação. Com isso o ensino mostra-se capaz de vislumbrar, em certa medida, a construção de um indivíduo pleno de cidadania, protagonista na construção da sociedade em que vive, autônomo e aberto nas suas ideias e opiniões, que age e interage no seu entorno por meio do domínio pleno dos múltiplos e diferentes instrumentos e formas de expressão que hoje existem. E, como em qualquer outro ambiente, o ambiente do ensino e da aprendizagem, portanto a escola e mais especificamente as ações em sala de aula, deve fornecer subsídios para que a realidade social dos atores envolvidos seja compreendida e retorne como elementos coadjuvantes de uma ação política e transformadora.

A linha condutora de projetos de ensino deve, a princípio, romper com o espaço. Para tanto é necessário que haja disposição em ressignificar a noção de espaço, ou seja, tornar o acesso ao conhecimento por canais disponíveis em nível planetário, conforme preconiza o pensador francês Edgard Morin. Afinal, a acessibilidade também se redesenha, na medida em que se baseia nas inovações ocorridas na esteira do desenvolvimento tecnológico, a exemplo da ampliação da capacidade de memória das máquinas, formatos digitais, banda larga, DVDs, arquivos em mp3 e outras mídias que estão sendo desenvolvidas neste exato momento em que você está lendo este texto. A tão difundida acessibilidade expressa-se por meio de novas formas e novos meios, muito embora tais inovações estejam relativamente atreladas às possibilidades econômicas dos indivíduos, pois sabe-se que já é possível o acesso a computadores e ou à internet por meio da escola, cibercafés, lan houses, celulares, ou pelos canais de TV a cabo ou TV digital.

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Vivenciamos um período de deslocamento, ou de desterritorialização. Expressões como compartilhamento, flexibilidade, autonomia, eficácia, instantaneidade são os eixos condutores dessa nova maneira de viver, de conhecer, de olhar e de se ver.

Nossas ações repercutem no tempo e no espaço com a intensidade que queremos, afinal, estamos conectados por meio das redes que se formam em torno de outra lógica. Vivemos sob o espectro de imagens, imagens que comunicam e transmitem mensagens. Todos os dias as contemplamos ou as fabricamos, somos sempre levados a utilizá-las, decifrá-las, interpretá-las. A imagem indica algo que, embora nem sempre remeta ao visível, toma alguns traços emprestados da visualidade e, de qualquer modo, depende da produção de um sujeito: imaginária ou concreta, a imagem passa por alguém que a produz ou reconhece. É preciso compreender ou interpretar o potencial estético dessa nova forma que se apresenta porque no mundo contemporâneo ela se tornou invasora e onipresente, parte do todo, do cotidiano de todos nós. Novos desafios cognitivos emergem, portanto, uma nova escola e um novo modo de ensinar surgem disso tudo.

Esse binômio arte/tecnologia pode servir para a formação/educação dos indivíduos, contribuindo para a expansão e, por que não, a construção de novos saberes, para um número cada vez maior de indivíduos que estão à margem desse benefício. Dessa forma, teremos arte como conteúdo e tecnologia como suporte.

Seja qual for o caminho a seguir, nenhum dispensa a pessoa do professor, afinal, os meios que hoje existem, muito embora apontem para diversos caminhos são, sobretudo, colaboradores dos professores e cada vez mais

extensões do homem, como afirmou Marshall McLuhan ainda na década de 1960.

O ambiente de ensino está se reconfigurando e isso exige muita atenção daqueles que estão envolvidos nesse processo. É necessária a crítica frequente sobre os rumos que se tomam, porque somente a revisão frequente das ações desempenhadas poderá, de fato, contribuir com o enriquecimento do processo. Observar sistematicamente as formas de aquisição, retenção e transferência da aprendizagem dos alunos deve ser premissa básica de uma proposta voltada ao “monitoramento” das condições do ensino, seja qual for o ambiente. A atenção para a organização das experiências vividas em um ambiente de aprendizagem sempre deverá nortear o planejamento numa situação de ensino. Interagir é fundamental, poder contar com o outro é essencial. Aprender significa ser colocado diante de algum desafio e entender as regras. Eis o grande diferencial do ser humano. A aprendizagem é, portanto, uma aquisição específica, identificável e com as características de permanência no elenco das capacidades do sujeito, afinal, aprender significa estar atento às mudanças no entorno. É preciso que em um ambiente de ensino-aprendizagem interativo e de experimentação se estabeleça, desde o início, a necessidade premente do uso e do conhecimento das tecnologias atuais para que estas se legitimem e aprimorem as formas de expressão e, mais, tornem a comunicação entre os indivíduos mais democrática, afinal, a tecnologia está cada vez mais conduzindo nossa vida afetiva e profissional.

As novas tecnologias devem promover o acesso democrático à informação com forma e conteúdo de qualidade e não apenas servir de pano de fundo para demonstrações de resultados de superfície. É preciso

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insistir no preparo de profissionais para o desenvolvimento de conteúdos educativos com base nas ferramentas, sem deixar de lado o estímulo e a sensibilização estética. Futuros profissionais da comunicação devem receber e exercitar tais conteúdos porque caberá a eles, num futuro bem próximo, a potencialização de novos saberes para a nova sociedade que se apresentar. Criar um ambiente de formação profissional voltado ao uso cada vez mais frequente de novos recursos tecnológicos, explorar seus recursos e implementar modos de expressão e comunicação são tarefas urgentes que, entretanto, devem ser conduzidas de forma que promovam o conhecimento baseado em experimentações pautadas na provocação do senso estético do indivíduo/aluno. Acreditem, isso é possível.

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QUANDO O COMO DO QUÊ TEM SEUS PORQUÊS!!!

Aylton Segura

Hoje perdi uma poesia traidora.Me veio distraída à mente e...sem avisar, foi brotando forte.Cresceu e tomou forma e criou força.E depois...saiu displicente,rápida, sem deixar rastro. Nemum ponto ou vírgula ou sentido.Com certeza fugiu para o futuro.

Diustração, de Aylton Segura

A sociedade complexa dos dias de hoje nos brinda com o segmento cultural no jornalismo. Remete-nos não apenas às questões que envolvem o simulacro de Baudrilard (o dono da mentira), mas a três vertentes de matrizes

diferenciadas. A primeira delas, o consumo que nos impele à cegueira que, ainda em 1928, Salvador Dalí, de navalha na mão, propunha extirpar de nossos olhos no “cão andaluz”. A segunda, a transtemporalidade de Maya (de Jostein Gaarder). E, finalmente, a compreensão, que emerge da interpretação do simbólico. É com elas que nós, seres humanos, ocupamos nosso lugar no universo.

O jornalismo cultural é uma ferramenta de geração de sentido para transcender a cobertura do show business, das agendas e programações que se mesclam no caderno de variedades. Ele carrega opções destinadas ao consumo de entretenimento quando se noticia a agenda cultural. É também um emulador da compreensão quando obedece a um conjunto de informações argumentativas e narrativas que possibilitam desenvolver gostos e desgostos, preferências, rejeições e comportamentos. Como catalisador de processos de entendimentos, desenvolve um encadeamento de práticas de análise, crítica e interpretação. Lega aos leitores a compreensão que vai além do consumo, extraindo de uma massa, cada vez mais alvejada por informações, os públicos de referência das múltiplas tendências da sociedade. Ele aponta para o sentido das informações dentro de um processo entrópico. Define o que e como se deve falar, interagir... Revela identidades e alteridades. Responde nos dias atuais pela geração de sentidos impressos pela cultura, venha ela vestida pelo adjetivo que for: de massa, erudita, popular, “neo ou pós” qualquer coisa...

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Jornalismo se faz com abordagem de fatos. Com a realidade. Representada pela reflexão, pela informação, pela interpretação ou pela opinião. Promove uma mediação.

O fato, do qual o jornalismo é oriundo, é clássico: responde às perguntas quem?, o quê?, quando?, onde? como? e por quê? É composto por essa heurística que se esgota linearmente em pelo menos 720 abordagens diferenciadas a corromper sua objetividade nas combinações possíveis: o quê, (do) como, (de) quem, quando, onde e por quê. Ou o como, (do) que, quando, (de) quem, onde e por quê?... E assim por diante, é só constatar com um exercício de análise combinatória de 6! (fatorial seis).

O jornalismo, por meio dos seus processos de produção, agrega a subjetividade do repórter ao fato objetivo. Compõe uma narrativa e humaniza. Eleva um fato à categoria de signo novo no imaginário do receptor. Em suas estruturas de linguagem se manifesta na crônica (reflexão), na notícia (informação), na reportagem (interpretação) e, de forma opinativa, nos artigos, ensaios, críticas, comentários, resenhas... Quando isso ocorre, transforma a realidade em cultura. Determina elementos de identidade, impulsiona atos e pensares, registra momentos, altera comportamentos, transforma a identidade individual, grupal e social, gera transcendências e pavimenta o caminho da humanidade. Quando isso ocorre, extrapola a blogosfera, e faz emergir do caos de informação as ideias acabadas e indispensáveis. Sua finalidade está na intencionalidade com que absorve a complexidade do mundo em que vivemos.

Nas suas manifestações o jornalismo fragmenta-se para melhor se aproximar dos leitores. O jornalismo cultural, como segmento, assume em todas as cores a deontologia

jornalística. Continua sendo o mesmo jornalismo praticado em outros segmentos com as características inerentes à sua condição de ser.

No gênero informativo, apropria-se das informações e revela a intensidade do show business, um trabalho de prestação de serviços. No interpretativo, deve exercer em plenitude a criatividade e a busca de atributos noticiáveis do cotidiano. No opinativo, promove um exercício tríplice de argumentação entre autores, obras e público. Integra partes dispersas e desperta a compreensão por meio do exercício do espírito crítico.

No cotidiano, abraça desde as manifestações que vão de Odair José e correlatos (com seus melôs de peões e empregadas), passa pelo registro folclórico nos cadernos de variedades, pelos resumos de capítulos de novela, e atinge a natureza da arte. É um espaço de excelência. Revela-se em caprichos pueris retratados em perfis de celebridades, construídas pelo próprio jornalismo, ou nos bravos ensaios elaborados a partir da fronteira do conhecimento. Promove a reflexão pura por meio da crônica com a abordagem de fatos do cotidiano e a definição de posturas sobre novos paradigmas, embutidas em ensaios, resenhas e outros relatos.

Emprestando de Machado de Assis a técnica de negar afirmando, não me arrisco a conceituar o jornalismo cultural como uma nova categoria de jornalismo. Neste momento cultural nossas dúvidas se escondem na pouca compreensão das novas tecnologias determinantes de um paradigma confuso materializado nesta espécie de neo-renascença, a partir da instantaneidade da internet e da sua disponibilidade por meio de portais, sites, blogs, home pages, podcasts...

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Mas, mesmo se o encararmos dessa forma, como nova categoria, as definições forjadas pelos interesses da modernidade já não nos pertencem mais. Manuel Chaparro, depois de procurar por um conceito de jornalismo nos dicionários, abrigou-se em Edgar Morin para nos legar como definição: “Os atos, as falas, até os silêncios, ao assumirem forma e força jornalística, tornam-se intervenções na atualidade, produzindo imediatos efeitos, diretos ou indiretos, na vida das pessoas. Conquistam as primeiras páginas os conteúdos mais relevantes, isto é, os que mais efeitos multiplicam, e que por isso mais interesses envolvem, incluindo os interesses dos leitores”. Sem dúvida, um caminho que vem sendo percorrido secularmente pelo jornalismo, que pode ser considerado como a última palavra da modernidade, desde seus primórdios (do jornalismo e da modernidade). Chaparro conclui afirmando que: “Trata-se de um processo de alta complexidade, carregado de contradições e complicações, numa tal ‘imbricação de ações, interações, retroações, que nem o espírito humano nem um computador extremamente potente poderiam medir, ou mesmo discernir, os elementos e os processos desta teia emaranhada’ – como diria Edgar Morin, mestre universal da complexidade” (Manuel Chaparro in http://www.oxisdaquestao.com.br/integra_integra.asp?codigo=160 29/10/2007)

Portanto, o jornalismo cultural se afirma como processo. Não se esgota na anunciação dos fatos. Requer uma postura enunciativa. Ao mesmo tempo nos remete a Bartalan!y e tudo que nos legou a teoria de sistemas e dirige nosso olhar ao início dos tempos clássicos mesclando logos e mytos (o primeiro com seu caráter demonstrativo/metodológico e o outro a nos remeter ao saber narrativo, o campo de transmissão de histórias com finalidade

de registro). Requisita a capacidade de perambular livremente por pensares distintos com compromissos metaideológicos, nos moldes das crônicas/reportagens de Paulo Barreto, o João do Rio.

Essa é uma exigência fruto da tomada de consciência que vivemos em um mundo em transição já há algum tempo. No final da década de 1960, Woodstock rompeu com valores tradicionais e começou a mudar o mundo. Posteriormente “os tempos da brilhantina” intervieram com novas mudanças, sufocando a construção cultural da juventude anterior. Foi o momento em que o Grande Gatsby vestiu de branco o índigo blue e semeou a nostalgia para a juventude dos anos 1970.

Essas definições da nova sociedade no ritmo de uma geração, gerando um caleidoscópio de comportamentos, envelheceram a mitologia da modernidade e reafirmam o papel e a necessidade do jornalismo profetizador dos novos tempos, como revelou o jornalista argentino Thomaz Eloy Martinez, ainda nos anos 1990: “Cada vez que as sociedades mudaram de pele ou cada vez que a linguagem das sociedades se modifica de maneira radical, os primeiros sintomas dessas mudanças aparecem no jornalismo. Quem ler atentamente a imprensa inglesa dos anos 1960 reencontrará nela a essência das canções dos Beatles, assim como a imprensa californiana dessa época refletia a rebeldia e o heroísmo anárquico dos beatniks ou a avidez mística dos hippies...”. E é de Martinez que tomamos emprestada a condição para o exercício de um jornalismo verdadeiramente cultural. Ele tem de ser um “grande jornalismo”. “No grande jornalismo se pode sempre descobrir – e se deve descobrir, quando se trata de grande jornalismo – os modelos de realidade que se avizinham e que ainda não foram formulados

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de maneira consciente”. (Tomás Eloy Martinez, Crônica e Reportagem: Em busca de um Jornalismo para o Século XXI. O autor de Santa Evita revelou suas inquietações na Conferência da Sociedade Interamericana de Imprensa de 1997, disponível em: http://prof.reporter.sites.uol.com.br/eloymartinez.htm).

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O JORNALISMO NO SISTEMA ARTÍSTICO$CULTURAL

Cida Golin

Por meio dos limites de suas estratégias discursivas e das escolhas editoriais, o jornalismo cultural realiza a importante função de mediação, aproximando o público da experiência da arte, do pensamento e da cultura. Na medida em

que a visibilidade é condição fundamental para a existência circunstancial e para a circulação dos produtos, sejam eles objetos, sejam ações institucionais, esse segmento historicamente interfere no valor e no prestígio construídos no sistema artístico-cultural.

Junto com outras instituições referenciais, o jornalismo cultural participa do mecanismo de criação de consensos sobre o que significa a cultura de uma época, consenso esse formado dentro do próprio sistema cultural. Pierre Bourdieu, um dos autores que se dedicou à análise crítica do processo de criação, circulação e consagração dos bens simbólicos, elucida esse ponto ao apresentar a arte e a cultura como resultantes de um jogo, de um empreendimento social. Considera os campos de produção artística como universos de crença, que funcionam na medida em que conseguem também produzir produtos e as necessidades desses produtos. O papel da mídia, ao garantir a divulgação das ofertas, e dos críticos, autoridades que afiançam a consagração ou a descoberta dos novos talentos, são determinantes nesse campo.

Cada publicação produz uma perspectiva sobre a realidade, carrega consigo uma proposta editorial de cultura, respondendo às contingências de produção do discurso jornalístico. Discurso esse, segundo os estudiosos do jornalismo, baseado em um contrato de leitura, amparado no valor da credibilidade, da publicação, dos jornalistas e das fontes. Resulta de rotinas industriais, das práticas culturais de enquadramento narrativo do acontecimento, assim como de critérios (valores-notícia) típicos da área, como notoriedade dos sujeitos, proximidade, relevância, novidade, morte, entre vários outros.

Além de informar, o jornalismo cultural cumpre uma função formativa no horizonte cultural de percepção do público. Sabe-se do ideal de formação e ilustração do leitor, projeto apropriado por muitas publicações, em especial suplementos e revistas de periodicidade mais ampla. Monteiro Lobato, por exemplo, pretendia fazer da Revista do Brasil uma enciclopédia nacional, ao reunir índices para uma “reflexão da alma nacional”. A divulgação do conhecimento, sintonizando o público com especificidades dos discursos de outros campos do saber, sempre foi razão da existência da crítica desde os seus primórdios. O jornalismo, dentro dos seus limites de gênero de comunicação industrial, propõe uma mediação com o discurso artístico, discurso esse também resultante de um tempo histórico e de relações estabelecidas no sistema de arte. Sabe-se, porém, que essa mediação é relativa. Estudos demonstram que a cobertura midiática incentiva, mas não

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garante, a frequência do público em instituições culturais como museus, fidelidade esta que se conquista pela ação sistemática da escola e da família.

Como postulam os teóricos da recepção, a experiência estética é uma situação comunicativa que envolve prazer, transgressão e, portanto, conhecimento. A obra de arte, dialeticamente, forma e renova a percepção do mundo circundante por meio do seu apelo e das estruturas lacunares. Ela depende do leitor para a constituição do seu sentido. Entre perguntas e respostas, pode atravessar o tempo cronológico por meio da provocação reflexiva das múltiplas leituras. Nesse processo, a crítica, ou as diversas críticas, construídas também a partir do lugar conferido pela mídia (a repetição do autor, no mesmo local, durante um longo período de tempo), acompanham a existência de um objeto artístico, pontuando sua relação comunicativa com o público.

O crítico Arthur Nestrovski, ao defender a hermenêutica ideal da crítica, acredita na sua função formativa e de esclarecimento. A crítica avança para além da opinião, propõe uma interpretação dos objetos. Trata-se de um exercício de leitura sensível capaz de contextualizar as obras nos termos em que elas próprias exigem. Assim como a arte, busca pôr em xeque nossa percepção.

Ao discorrer sobre a importância do Suplemento Literário do jornal O Estado de S. Paulo na formação intelectual de sua geração, o professor Antonio Dimas propõe uma série de perguntas possíveis para fazer aos leitores desse tipo de periódico, buscando aferir a capacidade que teve de alargar o horizonte intelectual de um público: como o periódico supria as carências locais? De que forma interferia na produção intelectual local? Como se

construía o imaginário em torno de seus colaboradores? Quais parâmetros estabeleceu para aferir a vida artística de uma determinada comunidade?

Tais perguntas podem ser dirigidas a cada publicação, buscando suas respostas nas marcas discursivas dos textos, imagens, público suposto e nas ênfases editoriais. Sabe-se que as condições de produção de uma edição jornalística e de suas narrativas são silenciadas, visando produzir um efeito de verdade. O trabalho da imprensa nos guia na interpretação do sistema cultural de um determinado período, mas não temos acesso, na versão final, a tudo o que foi excluído na rotina de redação, em que dezenas de pautas e lançamentos chegam a cada semana competindo por divulgação. O jornalista, neste momento, tem a responsabilidade das escolhas, oferecendo abordagens parciais sobre a arte e a cultura de seu tempo.

Se a divulgação de uma obra de arte é mecanismo obrigatório para sua visibilidade, torna-se fundamental verificar que tipo de corte circunstancial e de representação a mídia faz do circuito em que se insere. Sob o ponto de vista da produção jornalística, dar-se conta do poder de mediação e da necessidade de usufruí-lo a partir da escuta, do diálogo e de uma formação especializada capaz de colocar os fatos culturais em perspectiva histórica parece condição óbvia para o profissional do setor. E nem sempre tal qualidade se concretiza. Da reportagem à crítica, há um longo caminho de aprendizado a ser percorrido. Tentar visualizar em cada produto ou evento sua inserção em um sistema maior, uma lógica que o regula para além de sua imanência, pode arejar as escolhas feitas pelos jornalistas a cada momento na cobertura cultural.

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Sob o ponto de vista do leitor, vale lançar outras tantas perguntas a um determinado produto jornalístico: Quem tem voz por meio do discurso jornalístico? Quais são os agentes (instituições e sujeitos) atuantes e que ganham visibilidade nas narrativas textuais e visuais? Quantas são as fontes, quais delas se destacam e de que forma estão situadas nas matérias jornalísticas?

A percepção da relevância de determinados critérios que dão coerência aos relatos e às edições constitui uma perspectiva para desvendar os eixos com que o discurso jornalístico, transitando entre as funções informativas e de publicidade, entre as escolhas de dizer ou excluir, configura o retrato do campo artístico-cultural e produz conhecimento nessa área.

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NO LIMIAR DA MEDIAÇÃO JORNALÍSTICA: NOTAS SOBRE O ACONTECIMENTO CULTURAL

Geane Alzamora

Não sei como tudo pôde acontecer no lapso de cinco segundos.Pois, por mais resumidamente que se conte, ainda leva muito mais tempo que isso.

(RILKE, 1996, p. 144)

Um acontecimento, qualquer que seja, é sempre mais denso que seu relato. Isso ocorre porque qualquer relato, por melhor que seja, é sempre uma tentativa inócua de aprisionar a duração dos acontecimentos e os sentidos que

deles emanam. Os acontecimentos sempre transbordam seus relatos porque não se restringem a um estado de coisas. Ao contrário, segundo Deleuze e Guattari (1992, p. 202), guardam “uma parte sombria e secreta que não pára de se subtrair ou de se acrescentar à sua atualização”.

Tendo por tarefa relatar os acontecimentos cotidianos segundo critérios de noticiabilidade que governam a imprensa de modo geral e cada publicação de modo específico, o jornalismo reduz os acontecimentos a seus contornos mais noticiosos. E, desse modo, confere visibilidade a certos aspectos de alguns acontecimentos, tornando turva uma parte considerável de outros aspectos.

O próprio relato jornalístico do acontecimento é, em si, um acontecimento notável (RODRIGUES, 1993), pois, quanto mais noticiados são, mais os acontecimentos se expandem e adquirem importância social. Passa-se, assim, do acontecimento como referência para a notícia à notícia como atributo do acontecimento, o que legitima socialmente os critérios de relevância de cada editoria.

Ao serem confinados à moldura editorial que os reconhece como fatos ou os silencia por intermédio da opacidade midiática, os acontecimentos são destituídos de sua multiplicidade semântica. Quanto mais se restringem a uma dada perspectiva editorial, mais os acontecimentos perdem conexões com aspectos velados de abordagens variadas, o que conota certa visão social dos acontecimentos cotidianos. A noção de editoria, portanto, circunscreve não apenas uma abordagem limitada dos acontecimentos, como também elimina da representação midiática “a parte secreta e sombria” que transborda os limites temáticos de cada editoria.

Assim, embora qualquer acontecimento seja um acontecimento cultural, a mediação jornalística reconhece como “cultural” apenas aquele acontecimento que reflete as diretrizes temáticas das editorias de cultura. Despreza-se, portanto, a dimensão cultural de acontecimentos rotulados pela mediação jornalística como, por exemplo,

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políticos ou econômicos. Tais recortes editoriais são, obviamente, arbitrários e socialmente convencionados. Mas, por causa disso, conformam simbolicamente a mediação jornalística, por meio da qual se efetua a representação social dos acontecimentos culturais. Logo, aquilo que o jornalismo cultural elege como pauta permeia, em grande medida, a concepção de cultura dominante na sociedade.

Acontecimentos culturais emergentes

Aspectos dos acontecimentos subtraídos da lógica edi-torial, porém, alcançam hoje visibilidade midiática e, com isso, tornam-se potencialmente relevantes na concepção social de cultura. Por intermédio dos dispositivos con-temporâneos de comunicação, que favorecem o com-partilhamento de informações livremente produzidas, multiplicam-se os relatos midiatizados1 de acontecimen-tos diversos. Assim, à mediação jornalística tradicional somam-se formas livres de mediação social no cenário midiático contemporâneo, o que expande a representa-ção simbólica daquilo que genericamente se reconhece como acontecimento cultural.

Os acontecimentos que emergem desse cenário tensionam os recortes temáticos consolidados pelo jornalismo cultural porque seus registros midiáticos não obedecem rigorosamente às representações simbólicas consolidadas pelas editorias de cultura. Embora a moldura editorial oriunda do jornalismo de massa influencie o reconhecimento social dos acontecimentos

1 De acordo com Sodré (2002), a sociedade contemporânea rege-se pela midiati-zação, ou seja, pela tendência à virtualização das relações humanas por intermé-dio das tecnologias de comunicação. A midiatização se refere, então, a uma ordem de mediações tecnologicamente exacerbadas, cujo horizonte comunicacional é a interatividade absoluta ou a conectividade permanente.

contemporâneos, a diversificação das mediações sociais em ambientes tecnológicos densamente interconectados favorece a inserção de perspectivas variadas de cultura. E quanto mais essas inserções se expandem pela rede por intermédio de conexões livres, mais se amplia a abrangência temática dos acontecimentos ditos “culturais” na contemporaneidade.

Assim como o relato jornalístico é, em si, um acontecimento notável, relatos livres que se expandem significativamente pela rede por intermédio de conexões igualmente livres podem também se configurar como acontecimentos notáveis. Desse modo, as interações sociotécnicas emergentes constituem, elas próprias, acontecimentos culturais relevantes para as editorias de cultura. Estas não apenas consideram esses acontecimentos em seu escopo editorial, como também se redimensionam para abrigar certos registros de acontecimentos culturais que emergem do cenário midiático contemporâneo. Altera-se, assim, a natureza da mediação cultural na contemporaneidade, que se efetua no amálgama midiatizado entre mediação jornalística e mediação livre.

Mediações culturais expandidas

Entende-se por mediação cultural tanto as formas ge-néricas de representação simbólica dos acontecimen-tos, relacionadas a valores e normas institucionalizados na sociedade, quanto os processos de interação socio-técnica que vinculam grupos sociais e informações no âmbito da rede tecnológica contemporânea. Processos contemporâneos de mediação cultural, portanto, ex-pandem a miscigenação de referenciais simbólicos por meio dos quais se estabelecem os parâmetros culturais dos acontecimentos cotidianos.

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Trata-se, enfim, daquilo que Canclini (2007, p. 29) chama de deslizamentos interculturais, relacionados, segundo ele, “ao fascínio de estar em toda parte e ao desassossego de não estar em nenhuma”. De modo semelhante, Serres (2004) considera as formas culturais da contemporaneidade como percursos permanentemente inventivos, que nos levam a descobrir culturas próximas e distantes. “Vivemos uma considerável transformação do sujeito cognitivo, da ciência objetiva e da cultura coletiva. É esta transformação que me faz lastimar, de verdade, não ter mais 18 anos” (SERRES, 2004, p. 6).

Os processos contemporâneos de mediação cultural são, portanto, heterogêneos e plurais, multifacetados e descontínuos. São, sobretudo, sempre provisórios e nunca completamente universais. Por causa disso, tornam apenas parcialmente dominante a mediação jornalística tradicional, pois esta se configura, agora, como parte ao mesmo tempo autônoma e integrante das interações sociotécnicas midiatizadas.

No cenário midiático contemporâneo emerge, segundo Castells (2006), uma forma de comunicação de massa produzida, recebida e experenciada individualmente, via dispositivos contemporâneos de comunicação. O que ele define como mass self communication está no âmago das formas contemporâneas de mediação cultural, por meio das quais têm lugar relatos múltiplos de acontecimentos variados. Tais relatos colocam em evidência os limites editoriais do jornalismo tradicional.

A imprecisão da tarefa jornalística não é, porém, novidade alguma. Em 1936, Walter Benjamin já lamentava o fato de que a informação jornalística impedia o intercâmbio de experiências em prol de explicações rápidas e curtas.

Por aspirar a uma verificação imediata, tornando-se compreensível “em si e para si”, a informação jornalística, segundo Benjamin, reduz o acúmulo de narrativas por meio das quais os acontecimentos se expandem.

Assistimos em nossos dias ao nascimento da short story, que se emancipou da tradição oral e não mais permite essa lenta superposição de camadas finas e translúcidas, que representa a melhor imagem do processo pelo qual a narrativa perfeita vem à luz do dia, como coroamento das várias camadas constituídas pelas narrações sucessivas” (BENJAMIN, 1994, p. 206).

A sobreposição de “camadas finas e translúcidas de narrações sucessivas” parece ser peculiar a ambientes colaborativos, como blogosfera e wikimedia. Os relatos que emergem desses ambientes colaborativos devem, de fato, propiciar a apreensão de aspectos variados e dissonantes dos acontecimentos. Por outro lado, devem dificultar a apreensão global dos acontecimentos relatados, dada a natureza fragmentada e reticular desses relatos. Daí surge, provavelmente, a especificidade da mediação jornalística contemporânea, que se estabelece, cada vez mais, no intercâmbio entre a tradição jornalística e os formatos emergentes de informação.

O que podemos chamar de jornalismo cultural nesse contexto pluralizado de mediações culturais, que resiste a recortes editoriais rígidos e abriga de modo cada vez mais expansivo formas livres de interação sociotécnica? A resposta talvez aponte para redimensionamentos contínuos não apenas da configuração editorial do “acontecimento cultural”, mas também daquilo que genericamente chamamos de “jornalismo”.

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Referências bibliográ"cas

BENJAMIN, Walter. O narrador. In: Obras escolhidas – magia, técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1994.CANCLINI, Néstor Garcia. Diferentes, desiguais e desconectados. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2007.CASTELLS, Manuel. A era da intercomunicação. Le monde diplomatique, ago. 2006. Disponível em: http://diplo.uol.com.br/2006-08,a1379. Acesso em 4 set. 2008.DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O que é a filosofia? São Paulo: Editora 34, 1992.RILKE, Rainer Maria. Os cadernos de Malte Laurids Brigge. São Paulo: Mandarim, 1996.RODRIGUES, Adriano. O acontecimento. In: TRAQUINA, Nelson (Org.). Jornalismo – questões, teorias e “estórias”. Lisboa: Vega, 1993.SERRES, Michel. A comunicação contra a cultura – entre a Disneylândia e os ayatolás. Alceu, v. 4, n. 8, jan./jun. 2004, p. 5-10. Disponível em: http://publique.rdc.puc-rio.br/revistaalceu/media/alceu_n8_Serres.pdf. Acesso em 4 set. 2008.SODRÉ, Muniz. Antropológica do espelho – uma teoria da comunicação linear e em rede. Rio de Janeiro: Vozes, 2002.

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O JORNALISMO CULTURAL PRODUZ CONHECIMENTO?

Isabelle Anchieta

Você já parou para pensar em que tipo de conhecimento adquire lendo as editorias jornalísticas destinadas à cultura? Em qual é a relevância do que está apreendendo para a sua vida, sua formação? Essas respostas são

importantes, pois grande parte do que nós conhecemos sobre a cultura conhecemos por meio do jornalismo cultural. Saber o que estamos consumindo é sondar boa parte dos “sujeitos culturais” que somos.

E controvérsias pesam sobre essas questões. Acusado de empobrecer a cultura por alguns e venerado por democratizá-la por outros, o jornalismo cultural é, por isso, uma faceta polêmica e fascinante da comunicação. Do lado dos insatisfeitos com a cobertura jornalística cultural há uma recorrente lista de reclamações. Vamos, a seguir, levantar as principais queixas dos críticos do jornalismo cultural. Dentre elas:

O jornalismo cultural torna superficiais as obras culturais por meio de uma má apuração dos jornalistas, do seu pouco conhecimento sobre o assunto e pela busca de uma linguagem comum e pobre em recursos estilísticos;

Privilegia a cobertura dos produtos da indústria cultural (novelas; reality shows, programas de auditório, celebridades e músicas populares), que, segundo a visão desses críticos, não são cultura;

O jornalismo cultural tornou-se praticamente uma agenda de eventos e serviços, oferecendo apenas o local das salas de cinema e o valor do ingresso dos shows;

Não produz mais análises críticas e autorizadas das obras culturais, limitando-se a criar hierarquias de classificação que se norteiam pelo gosto comum e pela audiência;

Que assuntos da moda, como design, culinária e moda, são destacados quando, na verdade, não mereceriam o status de objetos culturais;

E, por fim, que há uma generalizada vulgarização da cultura, ou melhor, da alta cultura.

Mas, não se assuste com a lista, pois, por mais desanimadora que pareça ser, há quem discorde integralmente dela. Entre eles, ninguém menos que o poeta e jornalista Ferreira Gullar. Reconhecido especialmente por sua passagem no Caderno B do Jornal do Brasil, ele rebate especialmente a ideia de que, para cobrir a cultura no jornalismo, é necessário o uso de uma linguagem especializada.

Ora, se os críticos defendem que abandonar essa linguagem, com seus requintes, é baixar a qualidade da obra e trair a cultura, o único caminho que deixam é continuar a escrever para a minoria. Noutras palavras, só existe arte para uns

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poucos e raros. É claro que não concordamos com isso, e aí estão várias obras, aceitas pelo público, que negam essa tese aristocrática (GULLAR, 2005, p. 19).

E, sabe por que essa confusão está estabelecida? Porque alguns separam a cultura do jornalismo como sendo elementos que não se misturam. A cultura seria algo restrito a poucos ditos “artistas”, que estão delimitados em uma área sagrada chamada de “alta cultura”, da qual o jornalismo, definitivamente, não faz parte. Por ser destinado a um público amplo e necessitar, por isso, de uma linguagem acessível e clara, o jornalismo está fatalmente barrado do lado de fora. Pois, se é da natureza e da função do jornalismo “falar tanto para o pedreiro como para o economista”, não dá para considerar (segundo seus críticos) o jornalismo uma linguagem capacitada a traduzir a complexidade de uma obra de arte. No entanto, quem acredita ser o jornalismo incapacitado para essa operação está confundindo ser simples com ser simplório. É perfeitamente possível dizer coisas muito complexas com uma linguagem simples, clara, acessível. Alcançar o máximo significado na mínima forma. Não há contradição entre esses termos. E, se a obra destina-se ao outro, não seria o jornalismo a melhor forma de fazer chegar a esse “outro” o conhecimento da cultura?

A polêmica levantada é mesmo importante, pois ninguém consegue definir ao certo o que é cultura? Arte? E, se não sabemos distinguir bem os seus limites (e que bom que não os definimos!), fica difícil sustentar a afirmação de que os produtos da indústria cultural não são culturais e não merecem o respeito e a cobertura jornalística. A acusação de que suas obras estão destinadas ao consumo é frágil, já que toda obra, em parte, o está. E, se a obra cultural não

produz reflexão, vale questionar: toda obra cultural tem de, para ser arte, ter uma função política? É esse o lugar da arte? Será que ela não pode fazer rir, entreter, não pensar?

A distinção entre uma cultura alta e uma cultura baixa é realmente uma visão aristocrática e dicotômica da questão, incapaz de ver a sedução, a beleza e a função da cultura popular. Pois como definir o lugar da intérprete Maria Bethânia quando canta músicas de Zezé di Camargo e Luciano, ou quando Adriana Calcanhotto interpreta letras de Claudinho e Bochecha?

Classificar as obras culturais e seus artistas em bons e ruins, dignos e indignos de respeito e de atenção é no mínimo adotar uma visão autoritária, monolítica e incapaz de ampliar o conceito de cultura além das artes plásticas, da música clássica e da filosofia grega. Em um mundo cada vez mais complexo – tecido pelas múltiplas partes de todos –, fica cada vez mais difícil reduzir a cultura a um departamento, a uma gaveta pequena, quando ela, na verdade, ganha impulso para voos horizontais. Tal é a necessidade de alargar o conceito do que entendemos por cultura que durante a Conferência Mundial sobre Políticas Culturais, realizada no México em 1982, houve um entendimento comum de que seria necessário redefinir o conceito de cultura. E ela passa a ser entendida, então, como:

Conjunto dos traços distintivos – sejam materiais, espirituais, intelectuais ou afetivos – que caracterizam um determinado grupo social. Além das artes, da literatura, contempla, também, os modos de vida, os direitos fundamentais do homem, os sistemas de valores e símbolos, as tradições, as crenças e o imaginário popular (Conferência Mundial sobre Políticas Culturais, 1982).

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Nesse sentido, a primeira medida para definir a cultura não deveria ser a obra, mas a relação estabelecida entre a obra e quem com ela interage. O que vale na cultura, o que tem mais relevância, é o jogo por ela estabelecido, a troca. Portanto, defendemos aqui que “a cultura é um jogo. Não quer isto dizer que ela nasça do jogo, como um recém-nascido se separa do corpo da mãe. Ela surge no jogo, e enquanto jogo, para nunca mais perder esse caráter” (HUIZINGA, 2007, p.193). Assim, não interessa tanto se é por meio do funk ou da música clássica, se gosto ou não, se é bom para um e ruim para o outro, o que vale é investigar quais são as implicações dessa obra na sociedade, que relação e ação está provocando, estabelecendo. Uma espécie de cultura “sem linguagem”, de acordo com Ferreira Gullar, ou que não centralize nela sua atenção e que tenha em primeiro plano o compromisso de fazer comunicar, de colocar em relação e não mais de classificar e separar. O que exige uma perspectiva social e humana para as obras culturais sem classificá-las em paradigmas redutores. Demanda-se, para isso, uma postura mais reflexiva, democrática e menos preconceituosa, importantes fundamentos para estabelecer, enfim, o lugar do jornalismo para acionar o jogo da cultura.

Referências bibliográ"cas

GULLAR, Ferreira. In: BASSO, Eliane F. C. Revista Senhor: modernidade e cultura na imprensa brasileira. Tese de doutorado em comunicação social. São Paulo: Umesp, 2005. HUIZINGA, Johan. Homo ludens. São Paulo: Perspectiva, 2007.MELO, Isabelle Anchieta. A comunicação como caminho para emancipação subjetiva-coletiva. Biblioteca On-line de Ciências da Comunicação (Bocc). Disponível em:

http://bocc.ubi.pt/pag/melo-isabelle-comunicacao-como-caminho.pdf. Acesso em novembro de 2007._____. Jornalismo cultural: por uma formação que produza o encontro da clareza do jornalismo com a densidade e complexidade da cultura. Disponível em: http://www.itaucultural.org.br/rumos2007/pdf_jornalismo/Isabelle%20Anchieta%20de%20Melo.pdf. Acesso em dez. 2007.

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O JORNALISMO CULTURAL NA SOCIEDADE DO CONHECIMENTO

Margareth Assis Marinho

O desenvolvimento humano é produto da natureza e da cultura, ou seja, é mediado – um processo dinâmico – por instrumentos tanto naturais quanto culturais (OLSON, 1998). Ao longo da história da humanidade, as relações com

o outro e com artefatos culturais modelaram a sociedade, passando esta por diversas etapas até chegar à “sociedade do conhecimento”.

Na era do conhecimento, as informações são transmitidas o tempo todo, mas é necessário ainda que se tenham habi-lidades e competências para geri-las, para apreendê-las. Há 30 anos o que se aprendia era suficiente para viver. Hoje, nesta sociedade em permanente estado de mudanças aceleradas, o que se sabe já não basta e ela privilegia as profissões diretamente relacionadas com o processamento e o manejo das informações, como o jornalismo.

Primeiramente, é necessário entender que a cultura e o conhecimento desempenham um papel determinante, em constante produção nas relações sociais, nas relações de poder. Que a cultura é, antes de tudo, produção e não produto, e depois deixar de pensá-la inerte, estável, preconceituando-a em baixa e alta cultura, por exemplo.

As novas tecnologias comunicacionais evidenciam o cruzamento permanente das identidades culturais que, segundo Canclini (1998), desterritorializam e reterritorializam processos simbólicos e práticas culturais diferenciadas, promovendo uma hibridação cultural. O autor refere-se a dois processos: “a perda da relação ‘natural’ da cultura com os territórios ge-ográficos e sociais e, ao mesmo tempo, certas relocalizações territoriais relativas, parciais, das velhas e novas produções simbólicas” (p. 309).

O que significa que os sistemas culturais não mais se encaixam na antiga fórmula do que se é “culto, popular ou de massa”. O “território” em que as relações culturais da população acontecem mistura todos os comportamentos dos grupos que não mais se diferenciam: os perfis dos bairros, a produção artística, as várias épocas, mensagens publicitá-rias e políticas desarticulam o urbano, ou melhor, articulam o cenário urbano em um hibridismo cultural, combinando o culto com o popular, criando e desfazendo “territórios” predefinidos. Segundo Canclini (1998), os comportamentos entrecruzam-se o tempo todo, “as culturas já não se agrupam em grupos fixos e estáveis” (p. 304), o que impossibi-lita as rotulações de “culto” porque se conhece o repertório das “grandes obras”, ou do popular porque se domina as “mensagens produzidas por uma comunidade mais ou menos fechada (uma etnia, um bairro, uma classe)” (p. 304). Além disso, as tecnologias de reprodução permitem a cada cidadão criar o seu repertório, sua coleção, se apropriando ecleticamente de toda forma de cultura.

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As relações entre os habitantes de diversos países tornam-se con-tínuas com as novas tecnologias da telefonia, por exemplo, bem como a circulação de mercadorias e das informações, como ex-plica Roger Rouse (1988) ao estudar os habitantes de Aguilila, um município rural do sudoeste de Michoacán, no México.

“Mediante a constante migração de ida e volta, e o uso cres-cente de telefones, os aguililenses costumam estar repro-duzindo seus laços com gente que está a duas mil milhas de distância tão ativamente quanto mantêm suas relações com os vizinhos imediatos. Mais ainda, e mais geralmente por meio da circulação contínua de pessoas, dinheiro, mer-cadorias e informação, os diversos assentamentos se entre-laçam com tal força que provavelmente sejam bem mais compreendidos como se formassem uma única comuni-dade dispersa em uma variedade de lugares” (ROUSE apud CANCLINI, 1998, p. 313).

Esse “território” cultural – híbrido – responsável por muitas formas fundamentais da vida social faz parte do caminho percorrido pela mídia que tem o jornalismo cultural como importante agente ao estabelecer as conexões entre a cultura e o social. Para isso, esse jornalismo deve ser feito com muita pesquisa, com conhecimento das culturas, das sociedades, com a busca incessante de novas expressões e, principalmente, com uma leitura cultural de cada even-to/fato/caso/assunto.

Essa leitura é realizada por meio da abordagem crítica que vai enriquecer o jornalismo cultural que deve, como expli-ca Kellner (2001, p. 42), ir além, movendo-se no texto para o contexto da cultura e da sociedade.

“Isso significa não só ler essa cultura no seu contexto socio-político e econômico, mas também ver de que modo os

componentes internos de seus textos codificam relações de poder e dominação, servindo para promover os interes-ses dos grupos dominantes à custa de outros, para opor-se às ideologias, instituições e práticas hegemônicas, ou para conter uma mistura contraditória de formas que promo-vem dominação e resistência. Portanto, ler politicamente a cultura da mídia significa situá-la em sua conjuntura his-tórica e analisar o modo como seus códigos genéricos, a posição dos observadores, suas imagens dominantes, seus discursos e seus elementos estético-formais incorporam certas posições políticas e ideológicas e produzem efeitos políticos” (KELLNER, 2001, p. 76).

O jornalismo cultural precisa conhecer e entender esses processos, já que a produção cultural gira em torno de conflitos e disputas econômicas e políticas, utilizando uma linguagem que seja não só atraente aos leitores, mas tam-bém inteligente. András Szantó (2007, p. 43) coloca que apenas uma distinção deveria ser relevante no jornalismo cultural: ser inteligente.

A questão da linguagem é um complicador no jornalismo em geral. Defendo a regionalização dos meios para a au-tenticidade dos nossos valores culturais. As manifestações de cultura locais sempre vêm carregadas de regionaliza-ção, como o sotaque, por exemplo, ou as expressões dia-letais. Por que não valorizar essa linguagem, aproximando o cidadão de sua cultura, outorgando-lhe identidade?

Há que se considerar as experiências, os modos de pensar, falar e produzir de cada região para entender o que se passa culturalmente com elas. É desse veio que a cultura híbrida se faz, ao entrecruzar-se socialmente. Importa perceber que as diferenças culturais na verdade são aproximações, em vez de distanciamentos. Pois não

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se estuda uma região sem estudar e compreender a ou-tra, não se traduz a linguagem de uma sem “falar” a outra, lembrando que seus aspectos culturais são sinônimos de poder e dominação.

[...] o problema não está naquilo que se fala, mas em quem fala o quê. Neste caso, o preconceito linguístico é decorrên-cia de um preconceito social. [...] como se vê, do mesmo modo como existe o preconceito contra a fala de determi-nadas classes sociais, também existe o preconceito contra a fala característica de certas regiões. É um verdadeiro acinte aos direitos humanos, por exemplo, o modo como a fala nordestina é retratada nas novelas de televisão. [...] No plano linguístico, atores não-nordestinos expressam-se num arre-medo de língua que não é falada em lugar nenhum do Brasil, muito menos no Nordeste. [...] Mas nós sabemos muito bem que essa atitude representa uma forma de marginalização e exclusão” (BAGNO, 2002, p. 43).

É necessário evidenciar esses problemas para que se pos-sa pensar em resolvê-los. E nessa questão o jornalismo cultural pode fazer e muito para excluir da área do pre-conceito a língua regional que nas relações sociais, mes-mo com todo o hibridismo cultural, ainda é marginaliza-da, principalmente pela mídia. E essa mistura é realçada pelos meios eletrônicos.

Hoje, falar em linguagem na mídia é falar em um novo conceito de comunicação como a internet, que introduziu a mistura de linguagens e de forma simultânea. Os meios eletrônicos trabalham com a velocidade nas informações, com a escrita e a leitura na superfície, mas a própria rapi-dez se torna um obstáculo à visão crítica.

Encontramos uma sociedade do conhecimento trabalhando com linguagens que utilizam formas textuais cada vez mais

hipertextuais, mas o aprofundamento e a leitura crítica se dis-tanciam na mesma velocidade. Cada vez mais a transmissão e o próprio conhecimento se tornam híbridos. A rede hipertextual nos coloca em constantes associações, enquanto “janelas” são abertas para tudo o que existe no mundo. Janelas de espaço-in-formação que podem ampliar o campo do jornalismo cultural e deixar a crítica apenas do “gostei” ou “não gostei” para uma ava-liação fundamentada, incorporando novidades ao pensamen-to de maneira consciente e criteriosa.

No campo do jornalismo cultural – não tão novo quanto possa parecer – há espaço para quem quer trabalhar com qualidade, inteligência, e que sabe articular as ideias de uma escritura per-mutatória como a hipermídia. O desafio é ampliar esse campo com “aprofundamento” que dará a substância de uma comuni-cação cultural em que o discurso de identidade coletiva possa contribuir para apreensão da identidade individual.

Referências bibliográ"cas

BAGNO, Marcos. Preconceito lingüístico – o que é, como se faz. 14 ed. São Paulo: Loyola, 2002.CANCLINI, Néstor Garcia. Culturas híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. 2 ed. São Paulo: Edusp, 1998.KELLNER, Douglas. A cultura da mídia. São Paulo: Edusc, 2001.OLSON, D.R. A escrita e a mente. In: WERTSCH, J. et al. Estudos socioculturais da mente. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.ROUSE, Roger. Mexicano, chicano, pocho: la migración mexicana y el espacio social del posmodernismo. Página Uno, suplemento 31 dez. 1988, pp. 1-2. Apud CANCLINI, Néstor Garcia. Culturas híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. 2 ed. São Paulo: Edusp, 1998. SZANTÓ, András. Um quadro ambíguo, pp. 36-47. In: Rumos [do] jornalismo cultural. São Paulo: Summus: Itaú Cultural, 2007.

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JORNALISMO PARTICIPATIVO: UMA CONSTRUÇÃO COLETIVA E IMPREVISÍVEL

Marina Magalhães

Houve um tempo em que a notícia do jornal era a verdade. Houve um tempo em que o jornalista era o tutor do leitor. Chegou o tempo em que a notícia é compartilhada. Está sempre em construção coletiva.

O leitor sai da passividade e assume a função de ator, produtor, editor e gestor da informação. Como fazer jornalismo cultural nesta nova sociedade onde o processo de produção, difusão e gestão da informação e do conhecimento não está mais somente nas mãos dos jornalistas e especialistas e nem sujeito somente aos meios de comunicação de massa?

A tecnologia hipermídia, a “desmassificação dos meios de comunicação”, descrita em A Terceira Onda, de To"er, a “desliteraturização do jornalismo” (SANTIAGO, 2004), as mudanças nas relações de produção dos bens culturais possibilitaram a cada cidadão, desde que lhe seja dada a oportunidade social, ser o seu gestor e também gerador de informação. Isso colocou nas mãos da sociedade a escolha do tipo de informação que necessita e, principalmente, a oportunidade de também gerar informação e não ser apenas o receptora. O ambiente social instrumentaliza-se para produzir, editar e divulgar informações.

O jornalismo cultural vive um momento de repensar a sua prática e atuação diante da nova forma da sociedade se informar na pós-modernidade, baseada na construção coletiva da notícia, no compartilhamento das informações e na interatividade, que constituem o princípio do jornalismo open source, cidadão, participativo ou colaborativo, com maior expressão na internet.

As condições de produção da notícia mudaram e o processo industrial não atende mais às necessidades de informação da sociedade. O processo de comunicação perdeu a linearidade. Os documentos hipermidiáticos mudaram a forma da escritura, da leitura e do compartilhamento dos bens culturais.

Jornalismo cultural participativo

A informação cultural cada vez mais se difunde em sites participativos, de construção coletiva ou notícia livre, como Overmundo, Onmynews, Slashdot, CMI, Wikipédia, Wikinotícias e Wikinews, por exemplo, e nos blogs. As formas de leitura e recepção da arte, da cultura e da informação estão em constante transformação. O ambiente virtual em rede consegue acompanhar essa metamorfose, na medida em que permite velocidade e atualização constante.

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O desafio atual do jornalismo cultural é como produzir com qualidade neste novo ambiente em que as condições de produção são outras e dar conta de uma nova cultura em que arte e comunicação estão se convergindo (SANTAELLA, 2007). A arte, por exemplo, que se dedicava à contemplação e à experiência individual, hoje busca a interatividade, a participação e experiências coletivas. A tecnologia agregou recursos midiáticos às manifestações culturais. A arte, os museus, as exposições são multimídia, participativas e sensoriais.

O modelo participativo pode agregar ao jornalismo cultural vários formatos, alguns em desuso no jornalismo tradicional, como o exercício dos gêneros da crítica, comentário, artigo e resenha presentes em blogs e sites culturais especializados, principalmente em cinema, música e literatura. Por não depender da agenda e nem do mercado da indústria cultural, o jornalismo cultural dá visibilidade a manifestações culturais excluídas da grande mídia, como as novas formas de expressão artística e a cultura popular. Pequenos grupos sociais podem ter voz, identidade, visibilidade e lugar na rede.

Outra característica do jornalismo cultural participativo é a sensação de estar falando para alguém que quer ouvir (o acesso ao site ou blog é por livre escolha) e de ter a expectativa da resposta à sua mensagem (possibilidade de adicionar, anexar, comentar, postar). O jornalismo participativo dá o sentido de pertencer a uma comunidade e de construir coletivamente um bem cultural, de forma democrática, respeitando as identidades e diversidades, fator cultural e socialmente positivo (PIZZA, 2004).

Os blogs, antes somente diários pessoais, assumem hoje a função de difusor de informações. Jornalistas estão trocando sites por blogs. Os blogs se transformaram em lugar da cultura dos blogueiros. São espaços culturais em que a diversidade comanda e se compartilha informação e cultura. Nesse sentido, reforça a afirmação de Piza de que o jornalismo cultural não deve somente noticiar e comentar obras das sete artes, mas refletir sobre comportamento e hábitos sociais. “A cultura está em tudo, é de sua essência misturar assuntos e atravessar linguagens” (PIZA, 2004).

Os blogs traduzem essa experiência cultural, como bem definiu Morin. A cultura é “armadilha”, “dúbia”, “traiçoeira”, “palavra mito que tem a pretensão de conter em si completa salvação: verdade, sabedoria, bem viver, liberdade, criatividade”.

O jornalismo cultural participativo permite a vivência policultural. Os indivíduos participam de várias culturas ao mesmo tempo e de várias formas. O que proporciona a relação entre essas várias culturas é a comunicação. “A comunicação representa o próprio motor da configuração do simbolismo que marca o fenômeno cultural” (MELO, 1977).

Outro ponto positivo do modelo participativo de informação cultural é a valorização e agregação do saber já existente, para elaborar um patrimônio sempre em construção e, portanto, movido pela crítica, pelo questionamento e pela experimentação. O jornalismo participativo valoriza e credencia o cidadão como fonte, no embate com o jornalismo tradicional, baseado nas fontes fixas e especializadas.

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Fragmentos em rede

O jornalismo cultural participativo praticado na internet é um objeto fractal”1, tem a propriedade de, ao ter uma parte isolada e ampliada, apresentar uma semelhança com o todo, uma simetria de escala, como a estudada pela geometria fractal2. A parte não perde a sua totalidade, apesar de ter uma aparência recortada, irregular, indo contra os padrões de forma adotados pela geometria euclidiana (linhas, curvas, retas, expressões em números inteiros, comprimento, largura e volume).

O objeto fractal não segue a norma, o padrão, a forma teorizada, ele é um recorte e um todo ao mesmo tempo. São objetos não-lineares, que podem mudar seu comportamento e se tornar imprevisíveis ou caóticos, estudados pela teoria do caos.

Blogs e sites participativos ganham forma e se constituem dos fragmentos dos internautas. Alvin To"er também se refere a essa fragmentação quando aponta o surgimento de uma “cultura blip”, que chega até nós sob a forma de “blips quebrados ou desencarnados, imagens fraturadas”, que agora podem ser reunidos num só objeto, os documentos hipermidiáticos.

Esses recortes fragmentados formam uma totalidade e possuem a qualidade de se transformar, inclusive em objetos imprevisíveis e caóticos. Os documentos hipermidiáticos são objetos caóticos, recortados, fractais e imprevisíveis, cada leitor faz o seu caminho, arquiteta sua forma de leitura. Cada leitor constrói um objeto diferente, imprevisível,

1 A palavra fractal foi criada pelo matemático francês, nascido na Polônia, Benoit B. Mandelbrot (1924-) a partir do verbo em latim frangere, traduzido como quebrar, fracionar, e fractus, fragmentado.2 Que se opõe à tradicional geometria euclidiana.

inesperado, a partir dos fragmentos que recolhe de uma base, de acordo com a sua experiência cultural.

O jornalismo cultural participativo não exclui e nem substitui a prática do jornalismo tradicional, necessário para garantir a diversidade de escolhas para o leitor, até para aqueles que buscam a opinião especializada. Ele representa uma nova forma de a sociedade buscar a informação e participar efetivamente das transformações e da construção de uma nova experiência cultural mediada pela tecnologia da informação.

Referências bibliográ"cas

MELO, José Marques de. Comunicação social – teoria e pesquisa: Petrópolis: Vozes, 1977.MORIN, Edgar. Cultura de massas no século XX – Necrose. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1999.PIZA, Daniel. Jornalismo cultural. São Paulo: Contexto, 2004.SANTAELLA, Lucia. Por que as comunicações e as artes estão convergindo? São Paulo: Paulus, 2007.SANTIAGO, Silviano. O cosmopolitismo do pobre: crítica literária e crítica cultural. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2004.TOFFLER, Alvin. A terceira onda. Rio de Janeiro: Record, 1980.

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A INTERSEÇÃO DIVERGENTE: ECONOMIA, CULTURA, JORNALISMO

Nísio Teixeira

Economia e cultura são áreas que durante muito tempo foram excludentes entre si: esta porque muito irracional e utópica para os padrões econômicos; aquela fria, calculista e mercadológica demais para os padrões culturais. O

jornalismo, por sua vez, oscilava diante dessa interseção: ora as pautas referentes à economia do setor cultural eram en-caminhadas ao caderno de cultura pelo caderno de economia, e vice-versa, o que deixava a cobertura do setor imersa no mesmo limbo que marcou essa espécie de mal-estar recíproco entre as duas áreas.

Esse desentendimento, aliás, não vem de hoje, mas remonta à era da economia clássica, quando o tema da cultura e das artes era pouco interessante para os primeiros economistas e, mais recentemente, após a Segunda Guerra, quando a relação, ao contrário, é rigorosamente problematizada pela escola de Frankfurt. E assim, da mão invisível de Adam Smith e discípulos para a mão de ferro de Adorno, Horkheimer e discípulos, a cultura passa de problema satélite na questão da economia para algo que se insere como mercadoria em um perigoso jogo industrial – no caso, o da indústria cultural.

Afora essas duas perspectivas de discussão, parece que os estudos que aproximam a dimensão econômica da cultura só acontecem de maneira mais sistematizada a partir de 1965, quando a Fundação Ford se preocupou com diversos problemas relacionados à Broadway: custos altíssimos e aumento de cachês dos espetáculos, queda de produções e fechamento de teatros. Os economistas William J. Baumol e William G. Bowen foram convocados para produzir um diagnóstico da situação. Voltaram no ano seguinte com o livro Performing Arts: the Economic Dilemma sobre a economia da cultura nas artes performáticas, considerado um dos precursores do tema. À mesma época, começam a aparecer nas escolas de administração dos Estados Unidos – que existiam desde o século XIX – os primeiros cursos voltados para a gestão cultural. O início da publicação do periódico estadunidense Journal of Cultural Economics, em junho de 1977, é outro momento importante.

Outra frente importante de discussão sobre a cultura e a economia era desenvolvida por meio da Unesco. Se, em um primeiro momento (anos 1950 e 1960), a cultura e as artes eram vistas mais como reflexo do que como contribuição ao de-senvolvimento econômico, a partir, de novo, da transição dos anos 1960 para 1970, a cultura começa a ser entendida como parte integrante – e não consequente – de um desenvolvimento econômico: ela passa a ser uma bandeira de construção de uma identidade nacional, comunitária, étnica e, conseqüentemente, política. Há maior inclusão da cultura “popular” e o início das discussões que culminam na declaração sobre diversidade cultural promulgada em outubro de 2005.

Gradativamente também se percebe como, nos últimos 30 anos, têm início as primeiras coletas governamentais de dados sobre economia da cultura com o objetivo de estabelecer políticas culturais mais bem definidas. Embora censos culturais

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fossem desenvolvidos, por exemplo, no Quebec, desde 1979, é em 1987 que se aprimora uma sistematização das pesquisas em cultura na região, mesmo ano, aliás, em que se cria a primeira incubadora cultural nos Estados Unidos. Assim, se os anos 1980 marcam o início dos estudos regio-nais sobre economia da cultura, que mensuram o impacto e a importância da arte na economia das cidades, no Brasil, os primeiros censos e diagnósticos culturais vão aparecer com mais frequência apenas na década de 1990.

O detalhe é que, além de instrumentos importantes para construir e se pensar políticas públicas de cultura, os da-dos produzidos pelos censos e diagnósticos também são utilizados pelo jornalismo cultural, numa tentativa de também entender e potencializar o universo sobre o qual o jornalismo cultural atua. Vale registrar que muitos desses dados e diagnósticos passam a ser produzidos não só pelo setor público, mas também pelo setor privado. O aprimoramento da Lei Rouanet e a aparição de investi-mento cultural via renúncia fiscal nas esferas federal, esta-dual e municipal também ajudou a ampliar o escopo de interesse e acompanhamento sobre o tema da economia cultural por parte dos órgãos de imprensa.

O crescente interesse por tais estudos pode ainda ser explicado pela forte corrente de desindustrialização de diversos produtos e serviços que aconteceu a partir de meados da década de 1980, para os quais o fator cultu-ral contribuirá com um papel de diferenciação. Como a maioria das atividades culturais era concentrada nas ci-dades, políticos locais também identificaram as indústrias culturais como um componente para uma agenda eco-nômica, em especial aquela ligada ao turismo, sem men-cionar ainda uma notória queda do orçamento público ao longo do final do século XX.

Esses e outros aspectos nos permitem, todavia, apresen-tar uma definição de economia do setor cultural que pos-sa englobar e ao mesmo tempo problematizar o percur-so que faremos a seguir, feito pela professora Ruth Towse (2003), da Erasmus University, de Roterdã (Holanda), para quem a economia da cultura é a aplicação da economia à produção, distribuição e consumo de todos os bens e serviços culturais – ou seja, aqueles que contêm um elemento artístico ou criativo. Eles podem ser objetos tangíveis (obra de arte, livro, disco) ou intangíveis (per-formance teatral, concerto ou visita a museu). Alguns desses produtos, segue a professora, podem ser produtos finais oferecidos aos consumidores, enquanto outros são produtos e serviços que vão para a produção de outros produtos culturais ou de encontro a uma produção não cultural: um CD, diz Towse, pode ser vendido ao consumi-dor, ter sua música tocada no rádio ou dentro de uma loja de esportes. Alguns bens culturais são duráveis, como um quadro em um museu ou um vídeo, enquanto outros, especialmente performances artísticas, existem apenas por um particular período de tempo. Isso é interessante porque essa distinção entre obras duráveis, reproduzíveis e, digamos, instantâneas trará, para si, problemas econô-micos específicos e, consequentemente, possibilidades e perguntas diferentes para a cobertura cultural do setor.

A autora também salienta que, à exceção do elemento cul-tural, bens e serviços culturais utilizam, como outros bens e serviços, recursos como trabalho e capital. Mas, enquan-to alguns produtos culturais são oferecidos diretamente ao mercado, outros são submetidos a políticas públicas, por exemplo, de subsídios, e oferecidos gratuitamente ao pú-blico. E aí, por várias razões, o governo pode aparecer como um agente de interferência para a promoção, controle ou regulamentação de determinados bens e serviços cultu-

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rais – como acontece no Canadá, na França e no Brasil, ao mesmo tempo em que, também sabemos, por exemplo, essa questão tem seu contraponto em países que defen-dem uma ação mais forte do setor privado no setor cultural, como os Estados Unidos e a Inglaterra.

Jornalismo e economia culturais: rol de sugestões

A definição de Towse abarca muito bem o espectro dos bens culturais como produtos – mas não como processos – culturais. A atual rotina produtiva do jornalismo cultural acompanha isso de perto e, para complicar, muitas vezes submete o seu escopo de publicação não somente aos produtos, mas, mais ainda, às ações de agendamento para o lançamento desses produtos.

O problema já foi abordado em outra ocasião como “lógi-ca do iceberg” (CUNHA; TEIXEIRA, 2007; TEIXEIRA, 2007): o que proporciona mais verba, mais estrutura e mais apelo para a emergência e a evidência dos produtos (artistas e obras, a “ponta” do iceberg), em grande parte, são os pro-cessos culturais, os quais, metaforicamente, ficam sub-mersos. Além dos produtos culturais, deve-se encarar os processos culturais – não só da criação cultural, mas tam-bém da política, do direito autoral e, o que nos interessa mais de perto, da própria economia do setor cultural, uma vez que ela também pode ser vista sob um espectro mais amplo – não só como produtos –, pois, como dissemos, há variações entre as obras únicas (como as artes plásti-cas e performáticas) e as múltiplas (como as derivadas de indústrias culturais, como o filme, o disco e o livro), mas também como processos que consideram, por exemplo, o subsídio público e os bastidores da criação artística em cada um desses produtos.

Assim, mesmo diante da obra cultural como um produ-to, como uma commodity, a questão do preço é sempre uma variável interessante para detectar um processo: como se obtém o preço de um quadro (vale a assinatura ou a técnica) ou de um ingresso ou produção teatral/ci-nematográfica? Qual o papel dos agentes envolvidos na cadeia produtiva desse mundo da arte nesse processo? Obviamente, não queremos cair naquilo que pretende-mos denunciar ao exaltar a questão do preço, mas apenas a consideramos como uma das pontas do iceberg para uma cobertura mais profunda sobre a economia da cul-tura no jornalismo cultural.

A célebre sugestão do informante Garganta Profunda para os repórteres que apuravam o escândalo Watergate de “seguir o dinheiro” também parece ser válida aqui. Afinal, se Oscar Wilde disse certa vez que as pessoas sa-bem o “preço de tudo, mas o valor de nada”, seria interes-sante partir da sistematização desse preço de produtos e serviços culturais para o entendimento de seu valor. Mesmo se nos dispusermos apenas a criar uma seção que reúna indicadores nos vários segmentos artísticos e culturais da mesma forma como se vê para produtos agrícolas nos cadernos de economia: lista dos preços das sessões dos principais estúdios da cidade; hora/aula dos professores de canto; preço dos ingressos dos cinemas; aluguel de grua, entre outros, temos aqui uma ampliação do serviço do roteiro cultural também para os agentes e atores dessa economia da cultura – algo obviamente mais possível para o jornalismo cultural on-line, fronteira de sobrevivência desse gênero jornalístico.

Outro ponto importante é a busca pelo detalhamento acerca da cadeia produtiva da cultura (agentes de produ-ção) em diversos segmentos artísticos: música, teatro, dan-

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ça, cinema, literatura, artes plásticas, artesanato, emissoras de rádio e TV, entre outros. O perfil de um desses agentes per si pode já render uma interessante pauta (roteiristas, mi-xadores, figurinistas, projecionistas, bibliotecários, traduto-res etc.). Afinal, qual é o lugar da produção do artista? Qual a sua rotina de criação? Vive exclusivamente de sua arte ou realiza função ou funções paralelas? Qual o seu grau de satisfação com essa rotina? E o que dizer daquele que não é necessariamente artista ou agente de produção cultural, mas que assim atua em alguns momentos do seu dia, ou seja, usa a arte como forma de expressão cultural: o catador de papel que cria uma biblioteca ou toca violão; o padre que canta Beatles em latim; o pedreiro que produz filmes em VHS com os amigos imitando western spaghettis; o mo-rador que cria uma programação de televisão e a exibe no muro de sua calçada?

Voltando ao início, as concepções governamentais e ins-titucionais acerca da economia da cultura procuram es-timular mais a ação do mercado ou do governo no setor cultural. Eles organizam suas ações com base em dados, informações, premissas. A ação e/ou o investimento cul-tural leva em conta as concepções de legado e diversida-de cultural da comunidade onde se inserem. Quais são os critérios para o subsídio artístico? A ação é estatal ou é pública? Trata-se de uma empresa cultural de atuação própria ou conglomerada: como é o mecanismo de cor-poração (empresas matrizes e filiadas) na cultura em de-terminada cidade, estado, país, continente?

Enfim, parece que trazemos mais perguntas, mais provo-cações, que respostas. Mas, talvez mais importante que alcançar uma resposta correta, é fazer a pergunta (ou, em nosso caso, várias perguntas incertas) para que se pos-sa estimular cada vez mais a cobertura jornalística em

economia da cultura pelo jornalismo cultural, inclusive, espero, junto aos jornais-laboratório das faculdades de jornalismo do Brasil.

Referências bibliográ"cas

CUNHA, Leonardo; TEIXEIRA, Nísio. Jornalismo cultural e a lógica do iceberg. Revista Mediação: Comunicações e Artes. Belo Horizonte: Fumec/FCH, ano 7, n. 6, primeiro semestre de 2007.TEIXEIRA, Nísio. Desafios para a prática e o ensino do jornalismo cultural. São Paulo: Rumos Itaú Cultural, 2007. Disponível em: http://www.itaucultural.org.br/ru-mos2007/pdf_jornalismo/N%C3%ADsio%20Teixeira.pdf.TOWSE, Ruth (Org.). Handbook of cultural economics. Cheltenham: Edward Elgar Publishing Ltd., 2003.

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OS RITMOS DA ESCRITA NO CADERNO CULTURAL

Wellington Pereira

A veiculação de informações sobre cultura no jornalismo gera dois campos confluentes: 1) a produção de conceitos sobre manifestações estético-culturais; 2) o ritmo escrita que anuncia e enuncia as culturas codificadas pela

linguagem jornalística.

Como os conceitos necessitam da escrita para definir a relação entre os sujeitos e os objetos, e a escrita necessita dos conceitos no tocante à sua coesão e coerência textuais, ambos constituem desafios à interpretação dos fenômenos sociais narrados nas páginas dos cadernos culturais.

O primeiro desafio para quem produz e lê cultura no jornalismo é entender a pluralidade de conceitos culturais. Nesse sentido, faz-se necessário investigar quatro aspectos: a) o significado da matéria jornalística; b) o lugar social da fala do jornalista; c) a inscrição estética do objeto enunciado; d) o ritmo da escrita.

Esses aspectos devem ser observados na construção das narrativas no caderno cultural pelos jornalistas ou críticos, fornecendo aos leitores possibilidades de compreensão “pedagógica” dos fatos culturais. Isso deve ser exigido na produção de conceitos, uma das etapas problemáticas do jornalismo cultural.

Os conceitos produzidos no jornalismo cultural, na maioria das vezes, distanciam os leitores que não pertencem ao lugar social da fala do autor. Sendo assim, fica prejudicado o significado da matéria, haja vista este ser a parte de um todo e “todos” de uma parte, sem a utilização de conceitos de forma fragmentária – isolada –, exigindo do leitor um conhecimento prévio.

No jornalismo cultural, para a compreensão da inscrição do objeto em um campo estético – cinema, artes plásticas, literatura, música, narrativas televisuais –, fazem-se necessários, na maioria das vezes, um conhecimento dos conceitos e a possibilidade de apreensão dos ritmos da escrita.

A escrita dos cadernos culturais deve ultrapassar os limites da informação referencial – intrínseca ao jornalismo informativo – e aprofundar as conjunções entre a forma, o conteúdo e o movimento dos objetos que compõem o texto jornalístico.

Uma escrita dos cadernos culturais deve ser lida e construída com base em uma atitude antropológica, ou seja: verificar as diferenças conceituais existentes entre os campos estéticos, mas também as possibilidades de diálogo entre eles.

A escrita nem sempre se harmoniza com o escrever. Este significa, no jornalismo informativo, valorizar os referentes do “mundo exterior” para legitimar a verossimilhança da narrativa, seja reportagem, artigo, crítica ou resenha, gêneros para os quais é muito importante o lugar da fala do narrador – a autoria.

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Ao contrário do escrever, a escrita do caderno cultural deve ser geométrica. Isso quer dizer capaz de “abrigar” diversas formas no espaço jornalístico, desde as imagens que produzem conceitos até os conceitos que produzem imagens. Mas, para isso, é preciso considerar o ritmo das frases e sua distribuição na forma dos parágrafos.

O ritmo da escrita do caderno cultural deve ser cultural, não em sim mesmo, por meio de malabarismos da linguagem – escrever bonito sem dizer nada. Tampouco travestido de erudição com base na junção de conceitos indecifráveis.

A escrita deve ter por princípio colocar os objetos da narrativa do jornalismo cultural em movimento, revelando como os campos estéticos se articulam entre si, por exemplo, demonstrar os diálogos entre cinema, literatura, música e teatro.

Na escrita, os conceitos dialogam entre sim e não se sobrepõem. Eles não estabelecem distâncias entre as diversas formas artísticas, mas “monstram” (do latim monstrare, mostrar) a riqueza criada no diálogo estabelecido nos conflitos conceituais.

O repórter e o crítico, como autores, são responsáveis pela construção do ritmo da escrita capaz de revelar, entre outras coisas, que conhecer é aprender a relacionar as falas, os sujeitos e suas relações com os objetos temáticos: filmes, livros, discos, gadgets (engenhos) tecnológicos.

O ritmo da escrita coloca o sujeito diante dos objetos culturais considerando diversas possibilidades de entendimento. Isso quer dizer não apenas uma porta de entrada para o mundo das manifestações estético-culturais.

As narrativas sobre a cultura podem ser interpretadas por meio do repertório diversificado de cada sujeito, implicando uma mobilidade constante das palavras para facilitar a decodificação dos conceitos.

Por ritmo da escrita devemos entender a ênfase nos movimentos da palavra em seu sentido semântico (carregada de significado), mas capaz de provocar o interesse dos leitores para a descoberta de novas palavras.

A palavra como verbo que transporta o adjetivo, sem o reducionismo qualitativo, pode ajudar a aprendizagem de termos historicamente determinados, como cultura (substantivo), cultural (orgânico), culturalidade (qualificativo).

No caderno cultural, a escrita deve transformar as palavras em algo cinético (relativo a movimento), procurando enfatizar que as temáticas culturais não podem ser interpretadas para além dos contextos sociais.

Nesse sentido, a escrita do caderno cultural (embora possa tratar de eventos) deve seguir os caminhos metodológicos de interpretação do sensível, sendo capaz de utilizar as metáforas do texto em sintonia com as metáforas do mundo da vida.

O ritmo da escrita jornalística tem um objetivo, que é mostrar as apropriações e desapropriações na mistura das culturas: filmes/narrativas televisuais, maracatu/frevo, forró/bebop, imagens/textos. Tudo isso valorizando a alteridade entre sujeitos livres e cidadãos.

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RUMOS JORNALISMO CULTURAL 2007 - 2008

DosSIÊCenas de um programa

Este dossiê apresenta informações signi!cativas da edição do programa Rumos Jornalismo Cultural 2007-2008: o mapeamento nacional das inscrições para as carteiras Estudante e Professor; e o Quem É Quem e as Parcerias, que trazem os nomes das pessoas e das instituições que !zeram parte do programa.

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Revelar o perfil dos inscritos do Rumos Jornalismo Cultu-ral 2007-2008 é o objetivo desta radiografia, realizada com base nas informações contidas nas fichas de inscrição de ambas as carteiras disponíveis – Professor de Graduação e Estudante de Graduação. Para se inscrever na primeira car-teira era necessário que o professor universitário da área de comunicação social tivesse experiência comprovada de pelo menos dois anos. O trabalho pedido era um tex-to com tamanho e formatação especificados, que tratasse da formação do aluno ou do aperfeiçoamento do profes-sor em jornalismo cultural. Já para a Carteira Estudante de Graduação, o aluno de comunicação social, que estivesse comprovadamente cursando do terceiro ao quinto perío-dos no primeiro semestre de 2007, se inscrevia com uma reportagem para a editoria de cultura em quatro categorias: Reportagem para Mídia Impressa, Radiorreportagem, Vide-orreportagem e Web-reportagem.

Foram levadas em consideração todas as “inscrições válidas”, ou seja, fichas cujas informações estivessem de acordo com as especificações publicadas no edital. Foram dispensadas inscrições repetidas (identificadas com base em títulos de trabalhos idênticos) ou cujas informações, de imediato, conflitavam com o regulamento.

Importante frisar que as cidades foram mapeadas de acor-do com o município de residência do inscrito, não sendo, necessariamente, a cidade-sede da instituição de ensino em que leciona ou estuda.

As informações contidas nesta radiografia dizem quem são as pessoas que se interessaram pelo programa neste biênio. Em que cidade residem, em que instituição atuam, que as-sunto tiveram interesse em desenvolver etc. Ela é, portanto, importante objeto de reflexão, tanto para mapear as insti-tuições de ensino superior cujos professores e/ou alunos têm particular interesse pela área cultural nos cursos de jornalismo, como para retratar o público de 2007 ou para formatar os editais de edições futuras.

A Carteira Professor de Graduação teve um total de 28 ins-crições de 17 cidades, 13 estados e 27 universidades, sendo

selecionados textos de nove autores, de seis cidades, cinco estados e oito faculdades. A Comissão de Seleção foi com-posta pelos professores Sandra de Deus, da UFRGS, repre-sentando o Fórum Nacional dos Professores de Jornalismo (FNPJ), parceiro do Rumos Jornalismo Cultural na divulgação das inscrições, e Antonio Hohlfeldt, da PUCRS, representan-te da Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor), convidada a enviar um emissário para integrar o grupo. O jornalista Claudiney Ferreira, gestor no Núcleo de Diálogos do Itaú Cultural, área responsável pelo programa, representou a instituição.

Já a Carteira Estudante de Graduação recebeu um total de 210 reportagens nas quatro categorias, provenientes de 77 faculdades de 60 cidades e 23 estados, e selecionou 17 uni-versitários de 14 cidades, 12 estados e 16 cursos de comuni-cação social. Integraram a Comissão de Seleção Cuca Fromer (representante do portal Terra, parceiro do Rumos Jornalismo Cultural na formatação da categoria Web-reportagem), Zélia Leal Adghirni, da UnB, representante da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), parceira do programa para a divulgação das inscrições, além dos jornalistas Beth Carmona e Humberto Werneck, com o igualmente jornalista Claudiney Ferreira como representante do Itaú Cultural.

Por edital, entre outras premiações, os nove professores ga-nham um Fórum Virtual Mensal sobre Jornalismo Cultural e 30 livros escolhidos por cada um tendo por base uma lista de 103 títulos elaborada pela Comissão de Seleção – somando 270 exemplares comprados. Já os destaques da premiação aos 17 universitários são um Laboratório On-line de Jornalismo Cultural, realizado semanalmente, e uma co-leção de 20 livros – para o contemplado e para a biblioteca de sua faculdade – indicada pela Comissão. O número de títulos doados nessa carteira chega a 660. Isso significa um total de quase mil títulos adquiridos para premiação.

Além desses livros comprados, os selecionados (e as facul-dades dos estudantes) recebem também vários produtos do Itaú Cultural, entre livros, CDs, DVDs e CD-ROMs. São 11 títulos, totalizando 462 unidades doadas.

RUMOS JORNALISMO CULTURAL: O MAPA

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CARTEIRA PROFESSOR DE GRADUAÇÃO

A radiografia dos docentes inscritos foi traçada com base nas seguintes informações: em que cidade/estado resi-dem, em qual instituição atuam, quais as matérias lecio-nadas e os temas com os quais se inscreveram.

1. Estado, cidade, instituição de ensino superior

Inscrições: 28 inscritos de 27 faculdades, 18 cidades e 13 estadosSeleção: nove selecionados de oito faculdades de seis cidades e cinco estados

São Paulo é o estado com maior incidência de inscrições, com quatro professores da capital, um da Grande São Paulo (São Bernardo do Campo) e três do interior (dois de Campinas e um de Limeira). Interessante notar que o estado de Minas Gerais aparece na vice-liderança das inscrições – seis no total –, com três professores de Belo Horizonte e outros três da mesma cidade do interior, Juiz de Fora. Em terceiro lugar vem a Bahia, com duas inscri-ções, ambas de Salvador.

BASalvadorFaculdade da Cidade de Salvador – 1Faculdades Jorge Amado – 1

DFBrasíliaInstituto de Educação Superior de Brasília (Iesb) – 1

MGBelo HorizonteCentro Universitário Newton Paiva – 1Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) – 1Centro Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH) – 1

Juiz de ForaUniversidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) – 1Universidade Presidente Antonio Carlos (Unipac) – 2

MTCuiabáUniversidade Federal de Mato Grosso (UFMT) – 1

PABelémFaculdade de Tecnologia da Amazônia (FAZ) – 1

PBJoão PessoaUniversidade Federal da Paraíba (UFPB) – 1

PEPetrolinaUniversidade do Estado da Bahia – 1

PRCascavelFaculdade Sul Brasil (Fasul) – 1

Ponta GrossaUniversidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) – 1

RJRio de JaneiroAssociação Educacional São Paulo Apóstolo – 1Universidade Estácio de Sá – 1

RSPorto AlegreUniversidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) – 1

SCFlorianópolisFaculdades Energia – 1

SPCampinasFaculdade Prudente de Moraes – 1Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) – 1

LimeiraInstituto Superior de Ciências Aplicadas (Isca) – 1

São Bernardo do CampoUniversidade Metodista de São Paulo (Umesp) – 1

São PauloFaculdade Cásper Líbero – 1Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) – 1Universidade Paulista (Unip) – 1Universidade Plesbiteriana Mackenzie – 1

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TOPalmasUniversidade Federal de Tocantins (UFT) – 1

2. Assuntos abordados

Os professores escolheram temas bastante diversificados para se inscrever. Entre experiências já consolidadas e projetos ain-da em idealização, foram registrados apenas cinco relatos que tratam de um mesmo assunto, assim mesmo em seus vários desdobramentos: cinema, televisão e audiovisual.

Textos sobre artes visuais, cultura contemporânea, perió-dicos locais e jornalismo literário aparecem em duplicida-de e o restante, apenas com uma abordagem por tema:

A academia como referência para o mercado – 1Artes visuais – 2Cinema, televisão, audiovisual – 5Construção de identidade – 1Contracultura – 1Cultura contemporânea – 2Cultura popular – 1Estudos sobre periódicos locais – 2Fotografia – 1Jornalismo literário – 2O sujeito no texto jornalístico – 1Os diferentes papéis sociais para a formação do jornalista de cultura – 1Práticas de leitura – 1Problemas que marcam o ensino e a prática do jornalis-mo cultural – 1Proposta de abordagem da cultura – 1Proposta de inserção de disciplina sobre reflexão e prática em jornalismo cultural – 1Proposta de metodologia de pesquisa – 1Radiojornalismo – 1Sobre o encontro da clareza com a complexidade da cultura – 1Transformação da percepção do professor em relação ao jornalismo cultural – 1

3. Matérias que lecionam

Do total de inscrições válidas de professores, pode-se obser-var que as matérias que mais lecionam são as relacionadas a cinema, reportagem e teoria (três inscrições de cada).

Cinema, documentário – 3Comunicação, cultura, jornalismo – 2

Estética – 2Ética, legislação – 2Fotografia – 1História do jornalismo, história da comunicação – 2Introdução ao pensamento teológico – 1Jornalismo cultural – 2Jornalismo especializado – 1Jornalismo literário – 1Projeto experimental – 1Rádio – 2Redação – 1Revista – 1Técnicas de reportagem, entrevista – 3Teorias do jornalismo – 3

Os selecionados na Carteira Professor de Graduação e suas faculdades

Adriana Pessatte AzzolinoInstituto Superior de Ciências Aplicadas (Isca) – Limeira (SP)

Aylton SeguraUniversidade Federal de Mato Grosso (UFMT) – Cuiabá (MT)

Cida GolinUniversidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) – Porto Alegre (RS)

Geane AlzamoraPontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) – Belo Horizonte (MG)

Isabelle AnchietaCentro Universitário Newton Paiva – Belo Horizonte (MG)

Margareth Assis MarinhoUniversidade Presidente Antonio Carlos (Unipac) – Juiz de Fora (MG)

Marina MagalhãesUniversidade Presidente Antonio Carlos (Unipac) – Juiz de Fora (MG)

Nísio TeixeiraCentro Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH) – Belo Horizonte (MG)

Wellington PereiraUniversidade Federal da Paraíba (UFPB) – João Pessoa (PB)

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A OPINIÃO DA COMISSÃO DE SELEÇÃO

Impressões subjetivas sobre o Rumos Jornalismo Cultural

Antonio Hohlfeldt

A experiência de participar deste júri foi bastante positiva, por várias razões: minha indicação pela SBPJor; o fato de que trabalho com jornalismo cultural há mais de 30 anos e leciono essa disciplina numa faculdade de comunica-ção; a possibilidade de poder ler trabalhos que traduzem reflexões e preocupações de colegas da área e, sobretu-do, poder avaliar o que se vem produzindo nessa área.

A impressão geral é que a reflexão tem um viés bastante crítico, com um embasamento teórico substancioso, mas enfrentamos um problema que até certo ponto é sur-preendente, embora tenha sido detectado em todas as demais oportunidades em que participei de seleção de trabalhos em algum congresso que envolva a pesquisa em torno do jornalismo: a péssima redação dos autores – descuidados desde os mais simples aspectos formais, como pontuação, até aqueles mais consequentes, como citação e indicação bibliográfica. Em 2007, fiz a seleção de trabalhos para a Associação Nacional de Programas de Pós-graduação em Comunicação (Compôs); como coor-denador do NP de Jornalismo da Intercom, li mais de uma centena de trabalhos enviados àquele núcleo de traba-lho; e ajudei a avaliar alguns dos trabalhos enviados ao Congresso da SBPJor, em novembro de 2007. O mesmo problema foi detectado em todos eles, e aqui se repete, tanto que praticamente em todos sugerimos revisão e correção do texto. Esse problema, vindo de profissionais que trabalham justamente com o texto e que dependem da própria correção vernacular para a eficiência de sua comunicabilidade, é realmente preocupante.

O programa proposto pelo Itaú Cultural é instigante. Normalmente, o jornalismo cultural, embora seja uma das áreas de maior presença no jornal diário, é quase ignora-do, no caso da imprensa, ou tratado como assunto me-nor, no noticiário televisivo: serve para fechar as edições, como uma espécie de informação de menor significado e mais leve. Aliás, e como alguém observou num dos traba-lhos apresentados, nas faculdades de comunicação qua-se todo jovem estudante gosta de responsabilizar-se por matérias referentes ao campo do jornalismo cultural, e, nas redações, o foca muitas vezes é destacado para a área,

como se ela apresentasse menores exigências. São raras as publicações, como a Folha de S.Paulo, que fazem exi-gências complementares ao profissional do setor, como, por exemplo, um curso de especialização ou mesmo de pós-graduação plena, evitando, assim, aquelas perguntas insípidas sobre início de carreira, ou a total ignorância do entrevistador a respeito do entrevistado etc.

O edital poderia ser complementado, no meu entender, com um único item: declaração de próprio punho do au-tor de cada texto responsabilizando-se pelo ineditismo do mesmo, já que o item consta das exigências mas não prevê qualquer controle sobre o mesmo.

Quanto à aplicabilidade do edital, verifiquei a preocupa-ção do representante da instituição no sentido de que se chegassem aos dez trabalhos, do mesmo modo que a proposta que fiz inicialmente, de discutir a aplicabilida-de plena do edital quanto à apresentação de resumos e palavras-chave nos artigos como critério de desclassifica-ção, não foi levada em conta, até porque se corria o ris-co de diminuir drasticamente a quantidade de trabalhos participantes. Também o quesito “identificação do autor”, mesmo que indiretamente, não foi seguido: pelo menos três dos trabalhos apresentados permitiam a identifica-ção, por autocitações bibliográficas.

De qualquer maneira, a atuação do júri não foi prejudica-da, já que nenhum de seus membros decidiu sob pressão de qualquer um desses dados. O resultado, assim, não está contaminado com quaisquer questões aqui levan-tadas, mas, no meu entender, elas devem fazer parte, de qualquer modo, das preocupações futuras de promoção do programa, sob pena de desprestigiá-lo: afinal, como registrei antes, praticamente todos os trabalhos, antes de publicação, precisarão obrigatoriamente de revisão.

A formação do jornalista professor

Sandra de Deus

O primeiro contato com o edital do Rumos Jornalismo Cultural 2007-2008 me apresentou uma iniciativa im-portante, especialmente porque, além de toda a sua abrangência, vem ao encontro das atribuições do Fó-rum Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ), de “aprimoramento e desenvolvimento da formação jorna-lística universitária no país, em qualquer formato, meio

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e tecnologia, estimulando e contribuindo para o apri-moramento das ações pedagógicas da área”. O edital representou a possibilidade de reciclar professores que se envolvem com o ensino e com a formação de novos profissionais, sendo uma alternativa de aperfeiçoamen-to do jornalista professor. Apresentou, mais uma vez, um incentivo para os estudantes aprofundarem temas es-pecíficos da área cultural.

Ao ser indicada pelo FNPJ, que já possui parceria com o Itaú Cultural, para compor a Comissão de Seleção dos trabalhos da Carteira de Professor de Graduação, pas-sei a ter a curiosidade de saber que encontraria pela frente uma produção acadêmica fruto do esforço e da maturidade. Certamente me aguardava um fascinante aprendizado. A dinâmica montada pelo Itaú Cultural, de encaminhar os trabalhos antecipadamente para os avaliadores, sem identificação dos autores nem de sua procedência, para que cada integrante da comissão avaliasse isoladamente o material antes de um encon-tro conjunto, foi fundamental para manter o distancia-mento entre avaliadores e pares. Ao receber o material produzido pelos jornalistas professores, tomei conheci-mento de uma rica produção capaz de dificultar qual-quer pré-seleção. A leitura dos textos me levou a novas bibliografias e muitas descobertas. A cada texto lido, anotado e retomado em sua leitura, constatava o quan-to os jornalistas professores elaboram as suas reflexões teóricas com base no cotidiano com os estudantes, com a realidade de diferentes regiões e formatos de mídia. Foi uma revelação do “estado da arte” do jornalismo cul-tural e da necessidade que os professores possuem de expressar aquilo que estão produzindo.

Cumprida essa criteriosa etapa, a reunião com os demais colegas de avaliação constituiu-se em uma grande sur-presa porque, mesmo sem nenhum contato, tínhamos uma seleção de trabalhos comuns. Esses artigos sele-cionados expressam, por um lado, a clareza do edital, a forma como foi estruturada a avaliação, a transparência nas informações para os avaliadores, a parceria com en-

tidades como o FNPJ e a SBPJor e, sobretudo, a liberdade de atuação dos integrantes da comissão. Por outro lado, o resultado final é uma mostra consistente da qualidade teó-rica e prática dos jornalistas professores, cada vez mais pre-ocupados em aperfeiçoar sua própria formação para dar aos jovens estudantes de jornalismo conteúdos melhores, mais atualizados, aprofundados com base nas experiências individuais e coletivas que permitem uma formação ade-quada e crítica. Certamente escolhemos as melhores entre tantas boas propostas.

O reflexo de um edital desse porte, com objetivos definidos e público-alvo específico, calcado em parcerias pontuais da área de jornalismo, gera uma demanda proveitosa em diferentes graus de formação dentro dos cursos de jorna-lismo, ampliando a compreensão, as publicações e o exer-cício do jornalismo especializado. Pode-se prever, e não é necessário ter bola de cristal, que, em virtude da demanda ora verificada, da forma como todo o processo – da inscri-ção à seleção – foi realizado, da participação de professores de diferentes regiões do Brasil, que outras especializações do jornalismo vão em busca de apoio para iluminar a pro-dução acadêmica, por vezes escondida em nossas univer-sidades e carentes de estímulos para sua implementação e divulgação. Nesta oportunidade – e esse era o objetivo do Itaú Cultural –, foi com essa preocupação que todos os envolvidos somaram esforços, e a preparação de profissio-nais para atuar na área cultural com a especialização e a profundidade que os temas requerem saiu vitoriosa. Não é todo ano que um edital contempla o campo do jornalismo em geral e suas especializações em particular. Quando isso acontece, é importante compreender como uma conquis-ta de todos, criadores ou criaturas.

OS LIVROS

Como parte da premiação prevista em edital, os profes-sores escolheram 30 títulos cada um, de uma lista de 100 sugestões elaborada pela Comissão de Seleção. Os 100 tí-tulos são os seguintes:

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A Ditadura Derrotada Elio Gaspari

A Ditadura Encurralada Elio Gaspari

A Ditadura Envergonhada Elio Gaspari

A Ditadura Escancarada Elio Gaspari

A Formação do Balé Brasileiro Roberto Pereira

A Era dos Extremos Eric J. Hobsbawm

A Era dos Festivais Zuza Homem de Mello

A Feijoada que Derrubou o Governo Joel Silveira

A Noite da Madrinha Sergio Miceli

A Norma Oculta: Língua & Poder na Sociedade Brasileira Marcos Bagno

A Sangue Frio Truman Capote

A Televisão Levada a Sério Arlindo Machado

A Vida como Performance Kenneth Tynan

A Vida Literária no Brasil Brito Broca

Abraçado ao Meu Rancor João Antonio

Alucinações Musicais Oliver Sachs

Apresentação do Teatro Brasileiro Moderno Décio de Almeida Prado

Arquivos do Mal-estar e da Resistência Joel Birman

Arte e Mídia Arlindo Machado

Arte e Mídia Priscilla Arantes

Arte Internacional Brasileira Tadeu Chiarelli

Arte para quê? Aracy Amaral

Ilusões Perdidas Honoré de Balzac

As Melhores Crônicas de Zuenir Ventura José Carlos de Azeredo (org.)

Brasil Século XX - Ao Pé da Letra da Canção Popular Luciana Salles Worms e Wellington Borges Costa

Casa-Grande & Senzala Gilberto Freyre

Chatô, o Rei do Brasil Fernando Morais

Chega de Saudade Ruy Castro

Cidades Invisíveis Italo Calvino

Como e por que Ler Harold Bloom

Como e por que Ler a Poesia Brasileira do Século XX Italo Moriconi

Como e por que Ler o Romance Brasileiro Marisa Lajolo

Contra o Fanatismo Amós Oz

Controle de Opinião Pública – Um Ensaio sobre a Verdade Conveniente Nilson Lage

Crônicas Marcianas Ray Bradbury

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Culturas Híbridas: Estratégias para Entrar e Sair da Modernidade Néstor García Canclini

Da Diáspora – Identidades e Mediações Culturais Stuart Hall

Dentro da Floresta David Remnick

Deserto dos Bárbaros Dino Buzzatti

Dicionário do Folclore Brasileiro Luís da Câmara Cascudo

Dicionário do Teatro Brasileiro: Temas, Formas e Conceitos Jacob Guinsburg e outros (org.)

Diferentes, Desiguais e Desconectados Néstor García Canclini

Ecos do Cinema Ivana Bentes

Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana Nei Lopes

Fama & Anonimato Gay Talese

Freud, Pensador da Cultura Renato Mezan

Furo! – Uma História de Jornalistas Evelyn Waugh

Grande Sertão: Veredas João Guimarães Rosa

História da Imprensa no Brasil Nelson Werneck Sodré

Homo Ludens – O Jogo como Elemento da Cultura Johan Huizinga

Jornalismo Cultural Daniel Piza

Lado B Sérgio Augusto

Linguagens Líquidas na Era da Mobilidade Lucia Santaella

Lorde João Gilberto Noll

Matéria e Memória Henri Bergson

Memórias do Subsolo Fiódor Dostoiévski

Minoridade Crítica Luís Antônio Giron

Moby Dick Herman Melville

Moderno e Pós-Moderno Teixeira Coelho

Na Pior em Paris e Londres George Orwell

Nas Malhas da Letra Silviano Santiago

O Afeto Autoritário/Televisão, Ética e Democracia Renato Janine Ribeiro

O Cinema Brasileiro Moderno Ismail Xavier

O Cinema de Meus Olhos Vinicius de Moraes

O Escritor e Seus Fantasmas Ernesto Sabato

O Ex-estranho Paulo Leminski

O Fogo Liberador Pierre Lévy

O Livro de Areia Jorge Luis Borges

O Livro dos Insultos H.L. Mencken

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O Mundo Fora dos Eixos Bernardo Carvalho

O Observador Literário Antonio Candido

O Povo Brasileiro Darcy Ribeiro

O Prazer do Texto Roland Barthes

O Sagrado e o Profano – A Essência das Religiões Mircea Eliade

O Som e o Sentido José Miguel Wisnik

O Super-homem Vai ao Supermercado Norman Mailer

O Teatro Brasileiro Moderno Décio de Almeida Prado

O Teatro das Ideias Bernard Shaw

O Turista Aprendiz Mário de Andrade

O Último Leitor Ricardo Piglia

O Vestígio e a Aura Jurandir Freire Costa

Orientalismo Edward Said

Os Melhores Jornais do Mundo Matías Molina

Poesia e Contemporaneidade – Leituras do Presente Célia Pedrosa

Poesia Revoltada Ecio Salles

Por que as Comunicações e as Artes Estão Convergindo? Lucia Santaella

Psicanálise e Violência Jurandir Freire Costa

Radical Chique e o Novo Jornalismo Tom Wolfe

Redes de Criação – Construção da Obra de Arte Cecilia Almeida Salles

Representação do Intelectual Edward Said

Revisão Crítica do Cinema Brasileiro Glauber Rocha

Robinson Crusoé Daniel Defoe

Rumo à Estação Finlândia Edmund Wilson

Seis Propostas para o Próximo Milênio Italo Calvino

Sobre a Crítica Literária Brasileira no Último Meio Século Leda Tenório da Motta

Sociedade, Mídia e Violência Muniz Sodré

Teatro Brasileiro/Um Panorama do Século XX Clovis Levi

Uma História da Leitura Alberto Manguel

Uma História de Deus Karen Armstrong

Vida Capital Peter Pál Pelbart

Vidas Secas Graciliano Ramos

Videologias Maria Rita Kehl e Eugênio Bucci

Vira e Mexe Nacionalismo Leyla Perrone-Moisés

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CARTEIRA ESTUDANTE DE GRADUAÇÃO

A radiografia dos universitários inscritos em todas as categorias foi traçada com base nas seguintes in-formações: em que cidade/estado residem, em qual instituição estão matriculados e quais as pautas de-finidas para a realização das reportagens.

CATEGORIA REPORTAGEM PARA MÍDIA IMPRESSA

1. Estado, cidade, instituição de ensino superior

Inscrições: 110 inscritos de 62 faculdades de 46 ci-dades e 22 estadosSeleção: dez selecionados de dez faculdades de dez cidades e nove estados

O estado de São Paulo lidera de longe as inscrições – num total de 28 –, com 16 na capital, três na Grande São Paulo e nove no interior. Atrás dele, o Paraná apa-rece com dez. Bahia e Pernambuco empatam com oito. Aliás, em Pernambuco há uma curiosidade: todas as oito inscrições são do Recife, sendo sete delas de uma única instituição, a UFPE. Em quarto lugar apare-ce o Pará e, somente em quinto, o Rio de Janeiro, con-tando com apenas seis inscrições. Já o Amazonas sur-preende ao figurar em sexto lugar, ao lado de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, com cinco inscrições.

ACRio BrancoUniversidade Federal do Acre (Ufac) – 1

ALArapiracaUniversidade Federal de Alagoas (Ufal) – 2

MaceióUniversidade Federal de Alagoas (Ufal) – 1

AMManausUniversidade Federal do Amazonas (Ufam) – 5

APMacapáFaculdade Seama – 2

BAPojucaFaculdades Jorge Amado – 1

SalvadorFaculdade Social da Bahia – 1Faculdades Jorge Amado – 3Universidade Federal da Bahia (UFBA) – 3

CEFortalezaFaculdades Nordeste (Fanor) – 1Universidade de Fortaleza (Unifor) – 2Universidade Federal do Ceará (UFC) – 1

DFBrasíliaUniversidade de Brasília (UnB) – 1

ESCachoeiro de ItapemirimUniversidade São Camilo – 1

GuarapariFaculdade Espírito-Santense (Faesa) – 1

GOGoiâniaUniversidade Católica de Goiás (UCG) – 1Universidade Federal de Goiás (UFG) – 2

MASão LuísUniversidade Federal do Maranhão (UFMA) – 3

MGBelo HorizontePontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) – 1Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) – 1

IpatingaCentro Universitário do Leste de Minas Gerais (Unileste) – 1

Juiz de ForaUniversidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) – 1

MSCampo GrandeUniversidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) – 1

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PABelémUniversidade Federal do Pará (UFPA) – 4Universidade da Amazônia (Unama) – 2

ParauapebasUniversidade Federal do Pará (UFPA) – 1

PBCampina GrandeUniversidade Estadual da Paraíba (UEPB) – 1

PERecifeFaculdade Maurício de Nassau – 1 Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) – 7

PRCuritibaUniversidade Federal do Paraná (UFPR) – 1Universidade Positivo – 2Universidade Tuiuti do Paraná – 2

LondrinaUniversidade Estadual de Londrina (UEL) – 2

Ponta GrossaUniversidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) – 3

RJNiteróiUniversidade Federal Fluminense (UFF) – 1Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) – 1Universidade Salgado de Oliveira (Universo) – 1

PetrópolisUniversidade Federal Fluminense (UFF) – 1

Rio de Janeiro Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) – 2

RNNatalUniversidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) – 1

RSPasso FundoUniversidade Federal de Passo Fundo (UFPF) – 1

Porto AlegrePontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) – 1

Santa MariaUniversidade Federal de Santa Maria (UFSM) – 1Centro Universitário Franciscano (Unifra) – 1

São LeopoldoUniversidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) – 1

SCFlorianópolisUniversidade Federal de Santa Catarina (UFSC) – 2Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul) – 1

ItajaíUniversidade do Vale do Itajaí (Univali) – 2

SEAracajuUniversidade Tiradentes (Unit) – 2

SPAgudosUniversidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp) – 1

Bauru Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp) – 1

CampinasFaculdades de Campinas (Facamp) – 2

Engenheiro CoelhoCentro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp) – 2

GuaratinguetáUniversidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) – 1

JundiaíUniversidade Federal de Viçosa (UFV) – 1

Itapecerica da SerraMusiarte – 1

MauáUniversidade Municipal de São Caetano do Sul (Imes) – 1

SantosUniversidade Católica de Santos (Unisantos) – 1

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São José dos CamposUniversidade do Vale do Paraíba (Univap) – 1

São PauloFundação Armando Álvares Penteado (Faap) – 1Faculdade Cásper Líbero – 1Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) – 3Universidade Anhembi-Morumbi – 3Universidade Plesbiteriana Mackenzie – 1Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) – 1Universidade Paulista (Unip) – 3Universidade São Judas Tadeu – 2Universidade São Marcos – 1

2. As pautas

A campeã das pautas é, nitidamente, a matéria de agenda, na qual é aproveitado o “gancho” de um festival, um show, uma exposição e demais eventos pontuais para realizar uma reportagem com seus protagonistas ou mesmo com as instituições que os programam. Foram observadas nada menos que 36 pautas oriundas de programação cultural. Em segun-do lugar, aparecem reportagens conhecidas como sendo de comportamento, nas quais são retratados estilos, tendências e afins, num total de 26 matérias. Outro tipo de pauta que vale ser destacado é perfil, às vezes com alguma tendência ao jornalismo literário, com 20 “perfiláveis”, entre atores ou companhias de teatro, músicos e bandas, escritores, artistas visuais, ou mesmo história de instituições ou até de cidades e seus personagens.

Agenda (festivais diversos, festas folclóricas, teatro, turis-mo, literatura, música, circo, centros culturais, feiras, expo-sições etc.) – 36Comunicação – 3Comportamento (relacionamentos, modos de vida, ga-mes, música, internet, hip hop, dança, folclore, artesanato, saúde, turismo, cultura) – 26Cultura popular (maracatu, cultura negra, boi-bum-bá) – 3Crítica de cinema – 3 Jornalismo investigativo (cinema, teatro, música, artes vi-suais) – 4Literatura – 1Perfil (profissionais de teatro, cinema, artes visuais, músi-ca, literatura, ONGs etc.) – 20

Políticas culturais (responsabilidade social, políticas públi-cas, democratização, parcerias) – 4Religião – 4Reflexão (cinema, webarte) – 4Tecnologia – 2

CATEGORIA RADIORREPORTAGEM

1. Estado, cidade, instituição de ensino superior

Inscrições: 50 inscritos de 19 faculdades de 16 cidades e oito estadosSeleção: quatro selecionados de três faculdades de três cidades e três estados

Há que se notar duas grandes curiosidades nesse retrato de inscrições, não exatamente nos números, mas nas origens. O estado campeão de inscrições é o Rio Grande do Sul, com 19. Mas um olhar apenas na cidade de Porto Alegre vai se surpreender com o fato de, das 15 inscrições, 14 serem de uma única ins-tituição, a UFRGS. O mesmo ocorre com a Bahia, que ocupa o segundo lugar: todas as 12 inscrições não apenas vêm de Salvador, como de uma única faculda-de, a Jorge Amado.

AMManausCentro Universitário do Norte (UniNorte) – 1

BASalvadorFaculdades Jorge Amado – 12

ESCachoeiro de ItapemirimFaculdade São Camilo – 1

MGJuiz de ForaUniversidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) – 1

PRLondrinaUniversidade Estadual de Londrina (UEL) – 4Universidade Norte do Paraná (Unopar) – 1

Ponta GrossaUniversidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) – 1

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RSCaxias do SulUniversidade Caxias do Sul – 1

EsteioUniversidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) – 1

Porto AlegrePontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) – 1Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) – 14

Santa MariaUniversidade Federal de Santa Maria (UFSM) – 2

SCFlorianópolisUniversidade Federal de Santa Catarina (UFSC) – 3

SPBauruUniversidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp) – 1

Engenheiro CoelhoCentro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp) – 1

GuarulhosUniversidade São Judas Tadeu – 1

JundiaíCentro Integrado de Jundiaí – 1Universidade Federal de Viçosa (UFV) – 1

São PauloUniversidade Metodista de São Paulo (Umesp) – 1Universidade Plesbiteriana Mackenzie – 1

2. As pautas

Novamente as matérias de agenda (aproveitando a oportunidade de eventos específicos para gerar matéria) aparecem em primeiro lugar (nove itens), mas o número total já não está tão distante do de outros tipos de pauta, ao contrário do que se nota na categoria Reportagem para Mídia Impressa. Os perfis aparecem em segundo lugar, com um nú-mero muito próximo do primeiro, sete reporta-gens. Já as do tipo comportamento (enfocado sob

diversos ângulos, desde tendências de consumo até hábitos de internet) empatam com um tipo de exercício de jornalismo investigativo surpre-endente para o radiojornalismo (reportagens nas quais se observa atenção especial às pesquisas sobre alguns gêneros de expressão artística, como a música ou o teatro). Ambas as pautas chegam muito perto do segundo tipo, com seis inscrições cada uma.

Agenda (circo, eventos em geral, programação de insti-tuições, lançamentos de produtos) – 9Comportamento (consumo, modo de vida, turismo, in-ternet) – 6Cultura popular – 2Crítica de cinema – 3Educação (dança, música, projetos sociais) – 3Instituições (museus, fundações) – 4Jornalismo investigativo (música, teatro, poesia, dança, cultura) – 6Memória (ferrovia, música, cultura popular) – 3Perfil (profissionais de música, literatura, teatro, es-porte) – 7Políticas culturais (música, oficinas, artes) – 4Religião – 3

CATEGORIA VIDEORREPORTAGEM

1. Estado, cidade, instituição de ensino superior

Inscrições: 41 inscritos de 30 faculdades de 27 cidades e 13 estadosSeleção: dois selecionados de duas faculdades de duas cidades e dois estados

As inscrições concentraram-se em São Paulo – 12 no total, mas apenas três da capital. Cinco são oriundas da Grande São Paulo e as outras quatro, do interior. Os se-gundo e terceiro lugares constituem a grande surpresa da categoria. Cinco inscrições são de Mato Grosso do Sul (todas elas, aliás, da UFMS, em Campo Grande) e quatro do Amazonas. As demais inscrições para essa categoria estão bastante pulverizadas.

AMManausUniversidade Federal do Amazonas (Ufam) – 1Centro Universitário do Norte (UniNorte) – 3

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GOGoiâniaFaculdade Araguaia – 1Universidade Salgado de Oliveira (Universo) – 1

MGBelo HorizonteUniversidade Federal de Minas Gerais (UFMG) – 1

DivinópolisUniversidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) – 1

Juiz de ForaCentro de Ensino Superior de Juiz de Fora (CES/JF) – 1

MSCampo GrandeUniversidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) – 5

MTCuiabáUniversidade de Cuiabá (Unic) – 1

PABelémUniversidade da Amazônia (Unama) – 1

PBJoão PessoaUniversidade Federal da Paraíba (UFPB) – 2

PRCuritibaUniversidade Tuiuti do Paraná – 2

LondrinaUniversidade Estadual de Londrina (UEL) – 1

RJDuque de CaxiasUniverCidade – 1

Rio de JaneiroUniversidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) – 1

ROPorto VelhoFaculdade Interamericana de Porto Velho (Uniron) – 1

RSPelotasUniversidade Católica de Pelotas (UCPel) – 1

Porto AlegreUniversidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) – 2

SCBlumenauInstituto Blumenauense de Estudo Superior (Ibes) – 1

FlorianópolisUniversidade do Sul de Santa Catarina (Unisul) – 1

SPAraçatubaCentro Universitário Toledo (UniToledo) – 1

BauruUniversidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp) – 2

Cachoeira PaulistaFaculdades Integradas Teresa D’Ávila (Fatea) – 1

DiademaUniversidade Metodista de São Paulo (Umesp) – 1

Engenheiro CoelhoCentro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp) – 1

GuarulhosUniversidade São Judas Tadeu – 1

MauáUniversidade Municipal de São Caetano do Sul (Imes) – 1

São Bernardo do CampoUniversidade Metodista de São Paulo (Umesp) – 1

São PauloCentro Universitário Radial (UniRadial) – 1Faculdade Cásper Líbero – 1Universidade Paulista (Unip) – 1

2. As pautas

Novamente a agenda cria a oportunidade de realização de matérias. As 13 apresentadas obtêm certa vantagem

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em relação ao segundo lugar, com pautas que tratam de comportamento, que, aliás, se mantém nos primeiros lugares em todas as quatro categorias, ao lado de perfil. Aqui, matérias sobre comportamento aparecem em um total de nove itens e perfil com cinco, empatando com um tema que causa surpresa pelo número considerado “alto” de inscrições: políticas culturais.

Agenda cultural (cinema, festivais, moda, literatura, dan-ça, festas populares, teatro, circo) – 13Comunicação – 1Comportamento (modo de vida, internet, literatura, cul-tura, turismo) – 9 Cultura popular (dança, artes visuais) – 2Educação (música, artes, luthieria) – 3Memória (cinema, teatro) – 2Perfil (música, teatro, artes visuais, performance) – 5Políticas culturais (instituições, projetos) – 5Crítica de cinema – 1

CATEGORIA WEB"REPORTAGEM

1. Estado, cidade, instituição de ensino superior

Inscrições: nove inscritos de sete faculdades de seis cida-des e seis estadosSeleção: um selecionado de uma faculade de uma cida-de e um estado

O número baixo de inscrições já é motivo de refle-xões. As instituições de ensino superior não estimu-lam o interesse dos alunos em se prepararem para o jornalismo nos novos meios? Os estudantes não se interessam pelo webjornalismo, apesar de as pesqui-sas apontarem cada vez mais a rede mundial de com-putadores como a maior (e muitas vezes única) fonte de informação do jovem? Essas e outras são questões que acabam se colocando à frente das simples esta-tísticas, mas o que se pode destacar em termos de nú-meros nesta categoria é o praticamente insípido nú-mero de inscrições em São Paulo (SP), diante da sur-preendente participação de estados como Amazonas, Bahia e Rio Grande do Norte. Sem contar o fato de Rio de Janeiro e Minas Gerais simplesmente não aparece-rem na base de dados.

AMManausCentro Universitário do Norte (UniNorte) – 2

BAPojucaFaculdades Jorge Amado – 1

RNNatalUniversidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) – 1

RSSanta MariaCentro Universitário Franciscano (Unifra) – 2

SCFlorianópolisUniversidade Federal de Santa Catarina (UFSC) – 1

SPSão PauloUniversidade Paulista (Unip) – 1Universidade de São Paulo (USP) – 1

2. As pautas

A grande surpresa é a total falta de matérias resultante da agen-da. Talvez porque o suporte seja mais generoso com pautas do tipo comportamento (primeiro lugar, com cinco reportagens) e perfil (segundo lugar, com três), gêneros que aparecem invaria-velmente nos primeiros lugares de todas as categorias.

Comportamento (internet, modo de vida, cultura, saúde) – 5Crítica de cinema – 1Perfil (literatura, música, artes visuais) – 3

OS SELECIONADOS E SUAS FACULDADES

Categoria Reportagem para Mídia Impressa

Antonio Carlos JuniorUniversidade Federal do Amazonas (Ufam) – Manaus (AM)

Evelise ToporoskiUniversidade Positivo – Curitiba (PR)

Géssica ValentiniUniversidade Federal de Santa Maria (UFSM) – Santa Maria (RS)

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Júlia TimmPontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) – Porto Alegre (RS)

Marcela HeitorUniversidade de Brasília (UnB) – Brasília (DF)

Marcelle SouzaUniversidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) – Campo Grande (MS)

Marcos CorrêaUniversidade Federal do Pará (UFPA) – Belém (PA)

Ronald RobsonUniversidade Federal do Maranhão (UFMA) – São Luís (MA)

Tales TomazCentro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp) – Engenheiro Coelho (SP)

Taynée MendesUniversidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) – Rio de Janeiro (RJ)

Categoria Radiorreportagem

Danielle SibonisUniversidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) – Porto Alegre (RS)

Lise OliveiraFaculdades Jorge Amado – Salvador (BA)

Natália PianegondaUniversidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) – Porto Alegre (RS)

Pedro SantosUniversidade Federal de Santa Catarina (UFSC) – Florianópolis (SC)

Categoria Videorreportagem

Henrique OliveiraUniversidade Tuiuti do Paraná – Curitiba (PR)

Lydia CintraUniversidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp) – Bauru (SP)

Categoria Web-Reportagem

Fábio FariasUniversidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) – Natal (RN)

A OPINIÃO DA COMISSÃO DE SELEÇÃO

O jornalismo cultural

Beth Carmona

Na prática alucinada do trabalho em rádio e televisão, mas sempre com uma proximidade com a academia, com seminários e encontros profissionais, deparei com alguns convites para participar de mesas que debatiam o conceito “jornalismo cultural”. Tanto o Brasil como a América Latina, de maneira geral, estão preocupados com o tema exatamente neste momento. Aqui, o tra-balho feito pelo Itaú Cultural e todo o seu programa Rumos vem provocando um debate importante, tanto dentro das escolas como também no mercado profis-sional, trazendo novos valores e talentos para a cena. Em Cartagena das Índias, na Colômbia, a Fundación Nuevo Periodismo Iberoamericano (www.nuevoperio-dismo.org) vem reunindo jovens estudantes e profis-sionais de toda a América Ibérica para formação, troca de experiências e debates entre jornalistas de mídia impressa, rádio, TV e web.

Sem dúvida, os movimentos de busca por uma identi-dade e um consumo cultural mais consciente, utilizando como ferramenta os meios de comunicação, coincidem nesta parte do mundo até por razões históricas, políticas e de estágio de desenvolvimento social. Talvez o fim dos regimes militares, a introdução das aberturas e o aprimo-ramento da democracia abram espaço para um olhar mais atento à questão da cultura e da mídia.

A relação entre a mídia e os mecanismos de produção cultural, em meio à ampla oferta de informação dos dias

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atuais, coloca em questão o próprio papel do jornalismo e o problema de mediação e das diferenças culturais num mundo cada vez mais globalizado. A reflexão envolve ain-da as mudanças de posição, ora do espectador, ora do produtor cultural, ora do jornalista, que de certa forma têm tido o seu papel questionado em função da evolu-ção tecnológica. Muitos jornalistas não gostariam de se restringir a comentar agendas de artes e espetáculos e, sim, buscar sua informação numa aldeia mais ampla. Ao mesmo tempo, muitos leitores não querem ter seu foco dirigido para uma pauta ou uma leitura, automática, vazia e predefinida. Sabemos, ainda, que a mídia que caminha nesse sentido não está fazendo nada que possa contri-buir para a evolução e a formação das identidades cul-turais e a ampliação de horizontes, muito pelo contrário, está sendo restritiva e discriminatória.

Estar vivendo e trabalhando dentro dessa revolução e transição dos meios (internet, TV digital) é particularmen-te complicado. Na minha prática profissional na TV aber-ta, onde tenho exercido um papel de supervisão, orienta-ção e experimentação de ideias, lidamos constantemente com a busca da qualidade, do mais adequado, daquilo que possa atender a diferentes necessidades e abrir o pensamento. Buscamos o diverso e o diferente, mas antes de tudo buscamos público, empatia e identidade. Traba-lhamos com equipes grandes, com diferentes formações, níveis sociais e culturais. Temos de chegar a um resultado de conjunto, harmônico, vibrante, e rapidamente. Passa-mos por grandes dificuldades. É formar, provocar e fazer ao mesmo tempo, durante 24 horas.

A TV aberta brasileira, de forma geral, trabalha com fór-mulas consagradas, arrisca pouco e dedica pouco tem-po à cultura. Cabe à TV cultural e educativa preencher esse espaço, e sempre com poucos recursos. Podemos e devemos experimentar, mas sem nos afastarmos de-mais da linguagem de TV. O futuro será diferente: mui-tos canais, segmentação, o telespectador fazendo a sua grade. Quem sabe? Mas ainda estamos falando de TV aberta, que atinge a maioria da população com carên-cias de educação e compreensão. A adaptação à veloci-dade dos novos tempos exige, portanto, certa habilida-de, nem um ponto a mais e nem um ponto a menos. A conquista pede tempo e paciência.

Creio que no campo da cultura conseguimos inovar e trouxemos imagens, pautas, assuntos e formatos que se estabeleceram e têm um lugar na história da comunica-

ção e da TV. O imaginário infantil brasileiro passa, sem dú-vida alguma, pela televisão e pelas produções nacionais originais, que realmente experimentaram. Podemos viver sem Mickey, Tio Patinhas e Pica-Pau, pois temos referên-cias fortes, como Saci, Narizinho, Dona Benta. Temos Nino, Morgana, Dr. Vitor (do Castelo Rá-Tim-Bum), o Menino Ma-luquinho e a Turma do Pererê, todos na televisão aberta, ao alcance da população.

A televisão e o rádio no Brasil têm uma importância vital e não podem falar uma língua só. O mercado e a concor-rência na TV levam a uma uniformização dos formatos e ofertas. O grande desafio está em orientar e usar esses meios com competência, atraindo público novo, de for-ma aberta e espontânea. Para isso sinto que temos ainda um longo caminho a percorrer.

A formação profissional, a escola e a educação são a base para a mudança. Nada acontece com o movimento de um só lado. Para atuar com maestria num veículo, é pre-ciso conhecer a linguagem, treinar muito e experimentar. Nossa rádio está completamente reduzida. Precisamos formar quadros, dar vida a programas e recuperar uma geração radiofônica.

E mais: além do profissional, temos de formar também o público.

Um prêmio à criatividade

Cuca Fromer

Não considero tarefa fácil escolher um trabalho jornalís-tico que mereça um prêmio. Muitos quesitos devem ser avaliados ou, pelo menos, considerados: o tema, o en-foque, a mídia escolhida para aquele tema com aquele enfoque, a estrutura da reportagem, a criatividade no tema escolhido e na forma de tratá-lo e, principalmente, o texto.

O texto é a ferramenta fundamental no jornalismo, não importa o meio: jornal, revista, web, rádio, TV. Jornalistas têm de saber escrever. Esse é o critério da exclusão: o texto. Então, em meio a mais de 100 trabalhos, separa-mos não muito mais de duas dezenas. Admito que haja muito de subjetivo na escolha. É um perceber que este(a) garoto(a) leva jeito para a “coisa”.

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Em um prêmio com a proposta do Rumos Jornalismo Cul-tural, de trabalhar com os escolhidos no aperfeiçoamento para o exercício competente da profissão, o fato de per-cebermos que este ou aquele merece a oportunidade é fundamental. O curioso é que, embora considere o cri-tério “aposto neste” subjetivo, na primeira reunião da Co-missão de Seleção vimos que concordávamos em muitos aspectos. Havíamos, sem nunca antes termos nem nos conhecido, selecionado para discussão os mesmos tra-balhos. Tivemos discordâncias, ainda bem, mas, no geral, concordamos sobre as escolhas.

A cultura popular é, sem dúvida, campeã na escolha de temas. Se por um lado é bacana que os jovens estejam antenados com as raízes culturais do país, por outro, senti falta da novida-de, da ousadia no tratamento da informação, que considero papel do jornalismo cultural. Estar à frente de seu tempo, tra-zer para o “grande público” o que ainda não veio à tona, revelar tendências não foram certamente o foco dos trabalhos ins-critos. Havia a liberdade de escolher forma e conteúdo, o que não é comum. Em geral, trabalhamos em revistas, jornais, TVs, rádios, web, assessoria, e em cada um dos meios a forma já está determinada. Mesmo assim nada de realmente instigan-te surgiu. Mas todos os criativos foram contemplados.

Foram escolhidos trabalhos de 15 estados do país. Essa diversidade me impressionou, acostumada que estou com o jornalismo do eixo Rio-São Paulo. Não nos preo-cupamos com esse quesito – a diversidade regional – na escolha dos trabalhos, e ainda assim aconteceu. Faz-se jornalismo em todo o país, o que é ótimo.

Acredito que sempre se possa fazer algo de novo no for-mato do jornalismo. A internet coloca uma série de fer-ramentas à disposição do jornalista – texto, fotos, vídeos, áudios, interatividade –, o que permite pensar num modo diferente do usual para estabelecer a relação com o leitor/usuário da informação. Esse universo é especialmente pro-pício para o jornalismo cultural, que pede ousadia, criati-vidade, e tem sempre espaço para o novo. Refletir sobre essas ferramentas e seus usos é função desses jovens.

Nada, no entanto, salvará uma pauta ruim, uma apuração capenga, um texto pobre. A meta sempre será o rigor na apuração, a pauta inteligente, o texto honesto, correto, independentemente da mídia que se escolha. Pensar no leitor, colocar-se no lugar dele, perguntar-se se você leria aquilo e, se lesse, se entenderia, seguem sendo condições sine qua non para o exercício do jornalismo.

Acredito que, para os escolhidos, participar do laboratório e dos colóquios do Rumos Jornalismo Cultural será uma experiência relevante na formação profissional e também um enorme prazer.

Em busca do ouro jornalístico

Humberto Werneck

Para quem, como eu, pôs os pés na profissão sem ter passado por um curso de jornalismo (comecei em 1968, um ano antes da lei que tornou o diploma obrigatório) e que, portanto, estava condenado a aprender o ofício apenas no dia-a-dia das redações, tem sido extrema-mente rico e proveitoso, nessas quase quatro décadas, o contato com jovens colegas que chegam da universida-de. Enriquecimento em mão dupla, pude eu constatar durante os longos anos em que, redator-chefe da revista Playboy, participei, a cada mês de janeiro, das atividades do curso de jornalismo da Editora Abril, para em seguida acompanhar muito de perto o início de carreira de um punhado de ótimos talentos. Empreitada das mais grati-ficantes, posso assegurar, que muito me acrescentou.

Atuar como jurado do programa Rumos Jornalismo Cul-tural – Carteira Estudante de Graduação, no segundo semestre de 2007, proporcionou-me a experiência iné-dita de conhecer a produção de jovens que vão pelo meio do curso, e não de formandos ou recém-formados, como acontece no Curso Abril de Jornalismo. Tratava-se, assim, de fazer uma avaliação precoce de quem ainda não se encontra às portas do mercado de trabalho.

Considerado esse verdor, foi para mim interessante observar quanto o material inscrito (para Mídia Im-pressa, Radiorreportagem, Videorreportagem e Web-reportagem) espelha, em seu conjunto, as virtudes e os defeitos do jornalismo cultural brasileiro atual. Proporcionar a visualização desse quadro terá sido, provavelmente, o mérito maior da promoção do Ins-tituto Itaú Cultural – determinada, a partir do título, a apontar rumos, aí incluídos, acrescento eu, aqueles que não devem ser seguidos.

Por antipático que possa parecer, acho mais producente falar aqui dos defeitos, pela óbvia razão de que, uma vez su-perados, aberto estará o espaço para trabalhar as virtudes.

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O primeiro deles está logo no primeiro passo, na escolha da pauta – que, a exemplo do que se observa no jorna-lismo profissional, voltado ou não para assuntos culturais, no geral peca pela falta de imaginação, presa que está à agenda, de que dá conta burocraticamente. Sim, pois, mesmo quando se acerta no tema, no momento de de-senvolvê-lo muitas vezes se põe tudo a perder, ao adotar uma “pegada” convencional.

Desnecessário lembrar que uma boa “pegada” pode, com engenho e arte, tornar interessante uma reportagem so-bre tema batido. Tratados de um jeito novo, inesperado, surpreendente, até aqueles assuntos manjados a cuja fa-talidade o jornalismo não pode fugir, como as manifesta-ções folclóricas, o movimento do comércio às vésperas do Natal, o caos do trânsito na volta do feriado prolonga-do, o proverbial “não-faltará-pescado-na-Semana-Santa” e mais um vasto etc. ganham sabor e têm toda a chance de se converterem em pratos deliciosos na mesa do leitor, do ouvinte, do espectador, do internauta.

Não foi por acaso que me referi primeiro a manifesta-ções folclóricas: faltou fazer a conta, mas talvez tenham sido elas o filão preferido entre os concorrentes desta edição do Rumos Jornalismo Cultural. E quase sempre, nesses casos, o tratamento dos temas oscilou entre o tom insípido de verbete, ou transitou por eles como quem percorre uma galeria não de coisas vivas, mas de exotismos meio empalhados.

Também a linguagem – falo sempre dos trabalhos em ge-ral, nas quatro categorias – frequentemente cai no con-vencional, na fórmula pronta, no lugar-comum. É algo que impera igualmente na produção de jornalistas veteranos, mas o fato de que gente tão jovem esteja reproduzindo linguagem tão velha me parece muito preocupante. Não só pelo contra-senso que há em recorrer a instrumentos obsoletos num ofício cuja finalidade essencial consiste justamente em anunciar o novo. Preocupa, sobretudo, o conformismo de quem, de olho no mercado, aceite re-nunciar ao que tem de mais pessoal e escolha como vir-tude de um jornalista a capacidade de “fazer igual”.

Certamente por isso, na seleção dos trabalhos busquei peneirar antes de mais nada o que me parecesse menos convencional, mais surpreendente – como tema, como enfoque, como linguagem. Havia pouco. Mas nunca há muito, seja nos concursos, seja nas redações, seja nos ga-rimpos onde se cata ouro. O importante é que achados

foram feitos, e para trabalhar com eles desde já, ainda em meio ao curso universitário, Rumos Jornalismo Cultural tem as melhores ferramentas.

Os rumos do jornalismo cultural

Zélia Leal Adghirni

A indicação de meu nome, pelo professor José Marques de Melo, para integrar o júri do Rumos Jornalismo Cultu-ral como representante da Intercom significa uma honra para mim, para a minha universidade e sobretudo para nossa entidade máxima de pesquisadores em comunica-ção no Brasil.

O que eu não sabia ainda era a surpresa e o prazer que me aguardavam naqueles pacotes cheios de trabalhos jornalísticos em todas as suas formas: matérias para jornal impresso, para jornalismo na web, para radiojornalismo, para televisão... tudo isso em pilhas de papéis, CDs e DVDs. Tudo proposto por dezenas de alunos de jornalismo sele-cionados numa primeira etapa do programa promovido pelo Itaú Cultural.

Como professora do programa de graduação e pós-gra-duação da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (UnB) há cerca de 15 anos e tendo passado quase 20 anos no exercício do jornalismo no Brasil e no exterior, faço questão de manter o vínculo com a profis-são. Vínculo que se renova a cada ano quando formamos novos profissionais e quando descobrimos novos talen-tos. É o caso do Rumos Jornalismo Cultural.

Já participei de várias comissões julgadoras, em outros concursos envolvendo profissionais de renome, mas con-fesso que raramente encontrei um sistema de seleção tão organizado, tão criterioso e tão justo como este promo-vido pelo Itaú Cultural. Primeiro, pela forma como o con-curso é divulgado. O retorno se manifesta na participação de candidatos de praticamente todos os estados do Brasil. Neste ano, apenas Roraima e Piauí não fizeram inscrições. Dos 25 estados representados, 15 foram contemplados, o que revela a amplitude da dimensão geográfica do cer-tame e seu caráter democrático. A idade dos estudantes selecionados varia entre 19 e 27 anos, o que revela tam-bém um largo espectro de maturidade acadêmica. Tanto a seleção como a premiação rompem com os critérios

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tradicionais de um concurso baseado na vitória de cele-bridades instantâneas e efêmeras, concedendo os sonha-dos 15 minutos de fama a indivíduos anônimos, segundo a percepção do artista plástico Andy Warhol.

O Itaú Cultural oferece bem mais que um título aos ven-cedores. Os prêmios se traduzem em estímulos como li-vros, produtos culturais, atividades de formação em labo-ratórios de jornalismo e, ainda, uma remuneração fixa e o licenciamento de direitos de publicação ou exibição. Se o objetivo do programa Rumos Jornalismo Cultural 2007-2008 é incentivar a criação artística e intelectual brasileira, há motivos de sobra para comemorar. E não apenas para aqueles que ficaram entre os finalistas, aqueles que ga-nharam os principais prêmios. Falo de todos os ensaios, de todas as tentativas daqueles estudantes que enviaram seus trabalhos na expectativa de contribuir para o enri-quecimento da produção cultural na mídia brasileira.

Mas ainda há muito que aprender sobre o jornalismo cul-tural na rede. As escolas deveriam investir mais no web-jornalismo. Os trabalhos mostram que nem todos os re-cursos da mídia digital são utilizados. Não se exploram as possibilidades de navegação, de links, da instantaneidade que a mídia pede. É preciso estudar mais os blogs, o mais recente fenômeno midiático, o laço social da era tecnoló-gica. As estatísticas mostram que são muitos os internau-tas no Brasil, apesar dos índices de exclusão digital. Quem lê na telinha do computador gosta de ler notícias. Esta-mos entre os primeiros consumidores mundiais de jorna-

lismo on-line. Os programas de rádio já são mais arrojados, trazem temas polêmicos, chamam o ouvinte a interagir, têm boas sonoras. Revelam maturidade, sente-se a orientação pe-dagógica. Os textos para jornalismo impresso revelam uma preocupação com a cultura local e regional, temas pouco ex-plorados pela grande mídia. Usa-se muito a primeira pessoa como forma de narrativa, talvez pela necessidade de teste-munhar quando estamos aprendendo a interpretar o mundo por meio da notícia.

Mas o que vale é a impressão que fica. E nós, jurados, ficamos impressionados. Percebemos que, da mais simples produção audiovisual, quando o aluno ainda não está pronto para har-monizar som, imagem, texto, tempo, pausa, ritmo etc., até o texto mais original, mais elaborado, o aluno realiza o esforço de superar-se para oferecer o melhor de si mesmo. O estu-dante de jornalismo busca desvendar o ângulo inusitado de uma matéria, procura captar o sentido do fato novo que quebra a superfície lisa do cotidiano, deseja revelar o artista oculto na comunidade que interpreta o mundo para, enfim, ser reconhecido e legitimado em seu trabalho de jornalista, imerso na singularidade da notícia de um jornalismo plural.

OS LIVROS

Como parte da premiação prevista em edital, os selecionados e as bibliotecas de suas faculdades receberam um conjunto de 20 li-vros, cujos títulos foram sugeridos pela Comissão de Seleção e por profissionais do Núcleo de Diálogos do Itaú Cultural. Eis a lista:

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como o de residência do inscrito, não sendo, necessariamen-te, a cidade-sede da instituição em que trabalha ou estuda.

O estado campeão de inscrições é São Paulo, com 57 ins-crições. Em segundo lugar vem Rio Grande do Sul, com 30, seguido pela Bahia, com 23. O Paraná aparece na quar-ta posição (21 inscrições) e Minas Gerais na quinta (com 14). Santa Catarina e Amazonas ocupam juntos a sexta colocação (12 inscrições). Rio de Janeiro chega em sétimo lugar, com apenas dez inscrições. Já Pará e Pernambuco empatam com nove, em oitavo lugar.

A destacar, ainda, o fato lamentável de o Rumos Jornalismo Cultural 2007-2008 não ter recebido nenhuma inscrição do Piauí e de Roraima. Todos os outros estados brasileiros estão contemplados, como segue abaixo:

A Era dos Extremos Eric J. Hobsbawm

A Sangue Frio Truman Capote

A Vida como Performance Kenneth Tynan

Arquivos do Mal-estar e da Resistência Joel Birman

Arte Internacional Brasileira Tadeu Chiarelli

Casa-Grande & Senzala Gilberto Freyre

Chega de Saudade Ruy Castro

Da Diáspora – Identidades e Mediações Culturais Stuart Hall

Dicionário do Folclore Brasileiro Luís da Câmara Cascudo

Fama & Anonimato Gay Talese

Freud, Pensador da Cultura Renato Mezan

O Afeto Autoritário: Televisão, Ética e Democracia Renato Janine Ribeiro

O Teatro Brasileiro Moderno Décio de Almeida Prado

O Turista Aprendiz Mário de Andrade

O Último Leitor Ricardo Piglia

Os Melhores Jornais do Mundo Matías Molina

Poesia Revoltada Ecio Salles

Por que as Comunicações e as Artes Estão Convergindo? Lucia Santaella

Seis Propostas para o Próximo Milênio Italo Calvino

Vira e Mexe Nacionalismo Leyla Perrone-Moisés

O MAPA GERAL

No quadro abaixo temos os números gerais da segunda edição do Rumos Jornalismo Cultural, com dados unifi-cados por estado/cidade/instituição. A Carteira Estudante de Graduação apresenta as quatro categorias, uma ao lado da outra, para melhor visualização.

Números totaisInscrições: 238 inscritos de 98 faculdades de 64 cidades e 25 estadosSeleção: 26 selecionados de 23 faculdades de 19 cidades e 15 estados

Vale lembrar, conforme informado na primeira página desta radiografia, que a cidade é sempre o município declarado

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UF Cidade Instituição Professor Impresso Rádio Vídeo Web TotalAC Rio Branco Ufac 1 1AL Arapiraca Ufal 2 2AL Maceió Ufal 1 1AM Manaus Ufam 5 1 6AM Manaus UniNorte 1 3 2 6AP Macapá Seama 2 2BA Pojuca Jorge Amado 1 1 2BA Salvador Fac. da Cidade 1 1BA Salvador Fac. Social da Bahia 1 1BA Salvador Jorge Amado 1 3 12 16BA Salvador UFBA 3 3CE Fortaleza Fanor 1 1CE Fortaleza UFCE 1 1CE Fortaleza Unifor 2 2DF Brasília Iesb 1 1DF Brasília UnB 1 1ES Cachoeiro de Itapemerim São Camilo 1 1 2ES Guarapari Faesa 1 1GO Goiânia Araguaia 1 1GO Goiânia UCG 1 1GO Goiânia Universo 1 1GO Goiânia UFG 2 2MA São Luís UFMA 3 3MG Belo Horizonte Newton Paiva 1 1MG Belo Horizonte PUC Minas 1 1 2MG Belo Horizonte UFMG 1 1 2MG Belo Horizonte Uni-BH 1 1MG Divinópolis UEMG 1 1MG Ipatinga Unileste 1 1MG Juiz de Fora CES-JF 1 1MG Juiz de Fora Unipac 2 2MG Juiz de Fora UFJF 1 1 1 3MS Campo Grande UFMS 1 5 6MT Cuiabá UFMT 1 1 2PA Belém FAZ 1 1PA Belém UFPA 4 4PA Belém Unama 2 1 3PA Parauapebas UFPA 1 1PB Campina Grande UEPB 1 1PB João Pessoa UFPB 1 2 3PE Petrolina Univ. do Estado da Bahia 1 1PE Recife Maurício de Nassau 1 1PE Recife UFPE 7 7PR Cascavel Fasul 1 1PR Curitiba Tuiuti 2 2 4PR Curitiba UFPR 1 1PR Curitiba Unicenp 2 2PR Londrina UEL 2 4 1 7PR Londrina Unopar 1 1PR Ponta Grossa UEPG 1 3 1 5RJ Duque de Caxias UniverCidade 1 1RJ Niterói Universo 1 1RJ Niterói UFF 1 1RJ Niteroi UFRJ 1 1

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RJ Petrópolis UFF 1 1RJ Rio de Janeiro Estácio de Sá 1 1RJ Rio de Janeiro São Paulo Apóstolo 1 1RJ Rio de Janeiro Uerj 2 2RJ Rio de Janeiro UFRJ 1 1RN Natal UFRN 1 1 2RO Porto Velho Uniron 1 1RS Caxias do Sul UCS 1 1RS Esteio UFRGS 1 1RS Passo Fundo UFPF 1 1RS Pelotas UCPel 1 1RS Porto Alegre PUCRS 1 1 2RS Porto Alegre UFRGS 1 14 2 17RS Santa Maria UFSM 1 2 3RS Santa Maria Unifra 1 2 3RS São Leopoldo UFRGS 1 1SC Blumenau Ibes 1 1SC Florianópolis Energia 1 1SC Florianópolis UFSC 2 3 1 6SC Florianópolis Unisul 1 1 2SC Itajaí Univali 2 2SE Aracaju Unit 2 2SP Agudos Unesp 1 1SP Araçatuba UniToledo 1 1SP Bauru Unesp 1 1 2 4SP Cachoeira Paulista Fatea 1 1SP Campinas Facamp 2 2SP Campinas Prudente de Morais 1 1SP Campinas PUC-Campinas 1 1SP Diadema Umesp 1 1SP Engenheiro Coelho Unasp 2 1 1 4SP Guaratinguetá UFJF 1 1SP Guarulhos São Judas 1 1 2SP Itapecerica da Serra Musiarte 1 1SP Jundiaí Centro Integrado 1 1SP Jundiaí UFV 1 1 2SP Limeira Isca 1 1SP Mauá Imes 1 1 2SP Santos Unisantos 1 1SP São Bernardo Umesp 1 1 2SP São José dos Campos Univap 1 1SP São Paulo Anhembi-Morumbi 3 3SP São Paulo Cásper Libero 1 1 1 3SP São Paulo Faap 1 1SP São Paulo Mackenzie 1 1 1 3SP São Paulo PUC-SP 1 3 4SP São Paulo São Judas 2 2SP São Paulo São Marcos 1 1SP São Paulo Umesp 1 1SP São Paulo Unifesp 1 1SP São Paulo Unip 1 3 1 1 6SP São Paulo UniRadial 1 1SP São Paulo USP 1 1TO Palmas UFT 1 1

28 110 50 41 9 238

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PARCEIROSAs instituições relacionadas colaboraram, de uma forma ou de outra, com o processo de construção da segunda edição do programa Rumos Jornalismo Cultural, independentemente da carteira – Estudante ou Professor de graduação

Associação Médica de Londrina (Londrina/PR)Av. Harry Prochet, 1.055, CEP 86047-040 Fone: (43) [email protected]/home Centro Cultural Justiça Federal (Rio de Janeiro/RJ)Av. Rio Branco, 241, CEP 20040-009 Fone: (21) 3212-2550 www.ccjf.trf2.gov.br Fórum Nacional de Professores de Jornalismo – FNPJ (Brasília/SP) Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj)HIHIGS, 707, bloco R, casa 54, CEP 70351-718 Fone: (61) 3244-0650www.fnpj.org.br

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (São Paulo/SP) R. Joaquim Antunes, 705, CEP 05415-012Fone: (11) [email protected]

Núcleo de Informática Aplicada à Educação – Nied (Campinas/SP) Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)Cidade Universitária Zeferino Vaz, s/nº, bloco V da reitoria, 2º piso, CEP 13083-970Fone: (19) [email protected]

Revista Piauí (Rio de Janeiro/RJ)Rua do Russel, 270, 4º andar, CEP 22210-010Fone: (21) 3511-7400www.revistapiaui.com.br

SBPJor - Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (Brasília/DF)Faculdade de Comunicação, Universidade de Brasília (UnB) ICC Norte, subsolo, sala ASS 633, CEP 70910-900www.sbpjor.org.br

Terra Networks BrasilAv. das Nações Unidas, 12.901, 12º andar, Torre Norte, CEP 04578-000 Fone: (11) 5009-0500 www.terra.com.br