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Ensino de História dos africanos no Brasil, a questão racial e a cidadania: novo olhar sobre a escravidão brasileira

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Page 1: Ensino de História dos africanos no Brasil, a questão racial e a cidadania: novo olhar sobre a escravidão brasileira

Ensino de História dos africanos no Brasil, a questão racial e a cidadania: novo olhar sobre a

escravidão brasileira

Page 2: Ensino de História dos africanos no Brasil, a questão racial e a cidadania: novo olhar sobre a escravidão brasileira

A história da África e dos Africanos no Brasil

- DCN: construção de novas possibilidade de relações sociais e culturais no país;

- Nova história: a escravidão como parte de um processo maior que a exclusão, mas de inclusão desigual de grupos sociais na construção do país;

- Compreensão dos elementos culturais e organização dos grupos excludentes na história da sociedade brasileira.

Page 3: Ensino de História dos africanos no Brasil, a questão racial e a cidadania: novo olhar sobre a escravidão brasileira

A escravidão, o ideal de branco e a negação das etnias africanas no paísA escravidão, o ideal de branco e a

negação das etnias africanas no país

- Colonização portuguesa: empoderamento dos senhores coloniais na administração e tratamento da escravidão.

- Ordenações manuelinas (1521) e Filipinas ( 1603): questões genéricas sobre o tráfico no atlântico;

- ORDEM DOS JESUÍTAS: Mediadores dos interesses do Rei João III – Supervisor ideológico colonial

- Previsão de uma hierárquia natural de relações de subordinação (Justificativa do sistema escravista): sistemas de ensino e colégios no Brasil

Page 4: Ensino de História dos africanos no Brasil, a questão racial e a cidadania: novo olhar sobre a escravidão brasileira

Os escravos como peças do engenho

- Não se constituíam como parte homogêneo (não pela questão étnica), mas pela hierarquização feita pelos colonizadores dos grupos que estavam no engenho.

1. Africanos: Naturais2. Crioulos: escravos não mestiços brasileiros;3. Ladinos: africanos que falavam português4. Boçais: africanos que não falavam português5. Domésticos: escravos que faziam trabalhos

internos

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A escravidão urbana na colônia portuguesa é parecida com a

escravidão islâmica- Negros de ganho e domésticos tem

tratamento e valores diferenciados dos negros do interior (plantações);

- Outro tipo comum de escravidão: ‘parceria’. Escravos que trabalhavam com seus donos e partilhavam (de forma desigual) o ganho diário. Porém isto não caracterizava ‘liberdade’ ao escravo.

Page 6: Ensino de História dos africanos no Brasil, a questão racial e a cidadania: novo olhar sobre a escravidão brasileira

A ideologia da escravidão é o distanciamento

- Quanto mais longe encontra-se o escravo do senhor, aumenta-se o sentimento de inferioridade;

A escravidão não tem sua constituição apenas no econômico.

- Impunha um sistema de relações sociais e se refletia na formação do mundo das ideias (não somos todos iguais: ideia comum a todos os períodos históricos)

- Multifacetário não homogêneo: fenômenos econômicos, políticos, sociais e culturais: momentos de inclusão e exclusão da época.

Page 7: Ensino de História dos africanos no Brasil, a questão racial e a cidadania: novo olhar sobre a escravidão brasileira

A vida no engenho de açúcar

- Até +/- 7 anos: os negros eram criados próximo a casa grande.

- Corte social: trabalho braçal a partir dos 8 anos (uso de razão)

- Processo civilizatório: O bom escravo (educação) – carinho e medo pelo Senhor: aprende a exploração e proteção, a violência e a ternura como complementos educacionais

- A manutenção do poder está na ameaça constante de violência

Page 8: Ensino de História dos africanos no Brasil, a questão racial e a cidadania: novo olhar sobre a escravidão brasileira

Poder senhorial sobre os escravos negros

- Poder senhorial: Perdão e punição- Os castigos corporais sempre foram de questão

privada e não pública;- Pelourinho: Reprodução da ‘coluna romana’ ou

picota: escárnio do povo romano- O castigo do pelourinho envolvia questões públicas

e não era de interesse do Senhor de escravos.- A primeira picota foi trazida por D Maria I e

colocado na praça do Rossio ( atual Tiradentes no centro do Rio)

Page 9: Ensino de História dos africanos no Brasil, a questão racial e a cidadania: novo olhar sobre a escravidão brasileira

Alforria: manutenção do sistema patrimonial escravista

- Esperança de superação do status de escravidão; pacificação da vida cotidiana;

- Defendia as relações senhor e escravo: dependência;

- Liberdade: gesto de gratidão do Senhor- Até 1871 (Ventre Livre): Nenhuma

possibilidade legal de alforria por dinheiro;

Page 10: Ensino de História dos africanos no Brasil, a questão racial e a cidadania: novo olhar sobre a escravidão brasileira

- Posse de escravos: Ex-escravos tinham escravos;

- Alguns escravos podiam comprar escravos, ensinar o seu ofício e trocá-los pela própria liberdade;

- A visão dos escravos crioulos (escravos não mestiços brasileiros): não eram diferentes dos senhores

- Os testamentos podiam libertar escravos ou se os escravos fossem de etnias diferentes dos seus senhores negros.

ESCRAVIDÃO ERA STATUS SOCIAL DE RIQUEZA

Page 11: Ensino de História dos africanos no Brasil, a questão racial e a cidadania: novo olhar sobre a escravidão brasileira

Exemplo: Antônio Xavier de Jesus (alforriado em 1810 na BA)

Herdou do seu ex-dono-escravo: bens materiais e escravos que eram filhos do dono;

Comprou um navio negreiro e voltou para a África e foi um dos maiores negociantes de escravos para o Brasil e Cuba

- A liberdade do escravo não fazia com que ele não praticasse a escravidão dos seus pares étnicos. (Desmistificação da visão romântica de liberdade do século XX)

Page 12: Ensino de História dos africanos no Brasil, a questão racial e a cidadania: novo olhar sobre a escravidão brasileira

A abolição da escravidão- Durante o período colonial: ato de piedade

religiosa- Gratidão dos senhores e sob condições:

prestação de serviços e ameaça de reescravização (em caso de desrespeito aos seus ex-senhores)

- Início XIX: Perto dos ex-senhores: medo de reescravização.

- Maioria dos casos: idosos e sem força de trabalho

Page 13: Ensino de História dos africanos no Brasil, a questão racial e a cidadania: novo olhar sobre a escravidão brasileira

- Os limites entre ser escravo e ser forro era tênue e frágil;

- A alforria: três problemas básicos:a)Mudava a vida do forro mas não revolucionava a

vida do escrava que continuava que dependia da rede de proteção;

b)Não garantia a liberdade e muito menos rompia com a estrutura de domínio;

c) Não havia lugar certo para o cidadão livre até a república: laços de dependência, lealdade e poder patrimonial.

Page 14: Ensino de História dos africanos no Brasil, a questão racial e a cidadania: novo olhar sobre a escravidão brasileira

Ser liberto não é antítese de ser escravo

- Promove a diminuição da exploração, cria precondições para diminuição da desigualdade social;

- O Estado monárquico brasileiro não garante direitos dos cidadãos

- O poder está na lealdade e no pertencimento aos grupos econômicos;

- O controle social se dá de forma privada. Visão do privado sobre o público.

- Direito no Brasil: Direito costumeiro – 1 discurso progressista articulado com uma prática privada (Dominação amorosa: leis e as relações informais de dependência pessoal)

Page 15: Ensino de História dos africanos no Brasil, a questão racial e a cidadania: novo olhar sobre a escravidão brasileira

A construção de uma ideologia sobre as etnias africanas no Brasil

1º ideal: O ser negro trazia conotação ético-religiosa

- Interpretação geográfico-climático das diferenças

- Os índios: eram os ‘negros’ da terra – cor de oliva, avermelhados

- Os africanos: eram os gentios, os estrangeiros, os dominados, os bestializados. A cor marca o contraponto (branco x negro: o dualismo)

Page 16: Ensino de História dos africanos no Brasil, a questão racial e a cidadania: novo olhar sobre a escravidão brasileira

A fusão da ideia de negro com a escravidão:Projeto fundamental para a dominação e

colonização do território

- Missionários Jesuítas: relativizaram e abrandaram o processo ideológico de Portugal.

- Ignoravam a fusão da cor com a dominação e reorganizavam os clássicos medievais para uma relação pacífica entre os sujeitos na colônia.

Page 17: Ensino de História dos africanos no Brasil, a questão racial e a cidadania: novo olhar sobre a escravidão brasileira

- Regulamentava na cultura da sociedade algumas práticas de igualdade sem ferir o poder local;

- Projeto de supervisão do poder patrimonial: obrigações cristãs para com os escravos;

- As relações sociais eram constituidos por questões caseiras de consciências internalizadas pelos senhores, seus escravos e a moral da religião cristã.

Page 18: Ensino de História dos africanos no Brasil, a questão racial e a cidadania: novo olhar sobre a escravidão brasileira

2º ideal: O ser negro e o ser branco (questões fenotípicas)

- O simbolismo das relações culturais e civilizatórias através da cor (fenótipo) dos homens;

- Ser Branco é o modelo: julgamento moral (judaíco cristão); interpretação de humanidade (valores universais) e civilidade (regras e normas do projeto de modernidade)

- Identificação entre posição social elevada e a cor branca

Page 19: Ensino de História dos africanos no Brasil, a questão racial e a cidadania: novo olhar sobre a escravidão brasileira

- A legitimação do ideário religioso cristão no sistema econômico: associação da brancura com a pureza divina.

- Exemplos: Saudações brasileiras entre 1816 e 1850

Brancos para negros: Deus te faça santoNegros para negros: Deus te faça balanco

(branco)

Page 20: Ensino de História dos africanos no Brasil, a questão racial e a cidadania: novo olhar sobre a escravidão brasileira

3º ideal: O branqueamento da sociedade brasileiro (Século XIX)

- A ocupação do status social de cor branca projeta a possibilidade da transformação da cor da pele ser branca;

- Medicina: quanto mais negros com brancos melhor: embraquecimento da população;

- Este ideário: manutenção da ordem social – a maioria negra nunca será ‘embraqueada’ e se manterá o reconhecimento da superioridade dos seres brancos sobre os negros.

Page 21: Ensino de História dos africanos no Brasil, a questão racial e a cidadania: novo olhar sobre a escravidão brasileira

- Neste processo: chamar de negro é uma grave ofensa para a ascensão social.

Negro ou preto = vida escravaBranco = status livre, metamorfose genética

- Associações: cor + designação religiosa + posição social = Raça brasileira dominante e de poder

- O dilema brasileira será: segregar os negros ou extinguí-los com o pseudo ‘embraquecimento’ genético?

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4º Ideal: Novas formas de relacionamentos sociais entre as etnias (século XX)

- Proclamação da república e fim da escravidão: Permanência de pensamentos contraditórios;

- Duas figuras desta contradição (exemplos)Raimundo Nina Rodrigues (+1900)

João Baptista Lacerda (+1915)

Page 23: Ensino de História dos africanos no Brasil, a questão racial e a cidadania: novo olhar sobre a escravidão brasileira

Raimundo Nina Rodrigues (+1900) - Proposta de códigos de leis de acordo

com o desenvolvimento racial- “A igualdade política não pode

compensar a desigualdade moral e física” – ou seja, não pode se dar direitos iguais a quem não igual.

- Defesa de raças superiores: entre brancos e negros

Page 24: Ensino de História dos africanos no Brasil, a questão racial e a cidadania: novo olhar sobre a escravidão brasileira

- Defesa de raças superiores e inferiores: Defende os Sudaneses no Brasil por terem traços mais próximos dos brancos do que os Bantos (Iorubas)

- O ponto de referência civilizatório: a etnia branca

- Contradição: Desenvolvimento da antropologia brasileira e sua relação com as questões negras.

- Defende os negros contra as perseguições policiais (cultos religiosos);

Page 25: Ensino de História dos africanos no Brasil, a questão racial e a cidadania: novo olhar sobre a escravidão brasileira

João Baptista Lacerda (+1915)- Moralidade das raças superiores- Catequizar e civilizar eram tentativas de salvar a

humanidade;- Ideal da Ilustração: Interpretação naturalizada do

mundo sem abrir mão da vontade divina;- Ideal de Mestiço: não é um ser decadente, mas

um ser em transformação em branco.- Incentivo à mistura das raças: embraquecimento.- Os mestiços eram mais fracos: intelectual e

braçalmente

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- 02 pontos de transformação no Brasil: A imigração branca e o casamento com brancos (Desaparecimento ao longo prazo da raça negra)

- A visão de negro de Lacerda foi apresentada internacionalmente em Londres (1912) e ganhou projeção internacional.

- Cria um sentido de nação: busca amenizar conflitos entre os brancos e negros, colocando o país longe dos modelos de segregação europeus, embora a sua ideia continuasse sendo racista.

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Enfim,

- A cultura brasileira foi enraizando a ideia do branqueamento como prática social notada no comportamento e percepção dos indivíduos sociais;

- Crença da metamorfose da pele de suporte ideológico para relações patrimoniais e de direitos;

- Tentativa de naturalização de uma única forma correta de relacionamento no mundo: o ser branco no cotidiano

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- A ETNIA NEGRA: Em constante modificação em relação ao branco;

(religioso x moral; biológico x evolutivo, cultural x civilizatório)

- Projetos políticos do estado brasileiro permeado da relação do ideal de embraquecimento e de convivência pacífica entre as raças: ambiguidade do processo de inclusão e exclusão.

- O ensino de história dos africanos: resgatar esta história dos grupos e de sua composição para além do que foi trabalhado na construção de uma cultura ocidental de um único viéis: o ocidental da etnia branca. MUDANÇA DE MODELOS SOCIAIS.