ensaios de caracterizaÇÃo tecnolÓgica

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CAPÍTULO VI ENSAIOS DE CARACTERIZAÇÃO TECNOLÓGICA VI.1 – Introdução Um dos enfoques da pesquisa foi a realização de um conjunto de ensaios e análises laboratoriais visando o conhecimento de parâmetros físicos e mecânicos, mineralógicos, e dos aspectos condicionantes da alterabilidade observáveis em condições quimicamente agressivas. As características de uma rocha (cor, dureza, densidade, grau de alterabilidade etc.) estão diretamente ligadas aos seus minerais constituintes, granulaçao e aos seus padrões texturais. Uma das maneiras de conhecer seus comportamentos diante das solicitações a que são submetidas nas aplicações como rochas ornamentais é por ensaios de caracterização tecnológica. Para os ensaios tecnológicos, os objetos de estudo foram os seguintes tipos litológicos: esteatitos (ACA, FUR, LUN); quartzitos (ITA e LAG) e granitos lato sensu comercialmente denominados (Ás de Paus (AZP); Branco Eliane (BRE); Café Imperial (CI) e Preto Rio (PR). Nem todos os materiais pétreos em questão foram analisados para todos os ensaios de caracterização tecnológica e de alterabilidade, em função da disponibilidade de corpos de prova e de suas aplicações atuais. Os ensaios de caracterização tecnológica incluíram análises petrográficas, mineralógicas e químicas; determinações da densidade, absorção de água e porosidade, resistências à compressão, flexão 3 pontos e ao desgaste abrasivo. Para os ensaios de alterabilidade, procurou-se simular em laboratório as variáveis próprias das condições onde estão e/ou podem ser aplicadas às rochas, para observar seus comportamentos do ponto de vista da alterabilidade, numa escala de vida humana. Estes ensaios se constituíram na simulação da ação climática (choque térmico), de atmosferas agressivas (ensaios com soluções ácidas). A simulação de parâmetros que representem os ambientes exógenos em laboratórios é de difícil execução, pela necessidade de se reproduzirem certas condições (umidade, temperatura, tempo de exposição, contaminantes atmosféricos etc.) que inviabilizam a condição real do que acontece na natureza. Apesar disso, os ensaios de alterabilidade em condições aceleradas ainda é um dos poucos 66

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ENSAIOS DE CARACTERIZAÇÃO TECNOLÓGICA

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  • CAPTULO VI

    ENSAIOS DE CARACTERIZAO TECNOLGICA

    VI.1 Introduo

    Um dos enfoques da pesquisa foi a realizao de um conjunto de ensaios e anlises laboratoriais

    visando o conhecimento de parmetros fsicos e mecnicos, mineralgicos, e dos aspectos

    condicionantes da alterabilidade observveis em condies quimicamente agressivas.

    As caractersticas de uma rocha (cor, dureza, densidade, grau de alterabilidade etc.) esto diretamente

    ligadas aos seus minerais constituintes, granulaao e aos seus padres texturais. Uma das maneiras de

    conhecer seus comportamentos diante das solicitaes a que so submetidas nas aplicaes como

    rochas ornamentais por ensaios de caracterizao tecnolgica.

    Para os ensaios tecnolgicos, os objetos de estudo foram os seguintes tipos litolgicos: esteatitos (ACA,

    FUR, LUN); quartzitos (ITA e LAG) e granitos lato sensu comercialmente denominados (s de Paus

    (AZP); Branco Eliane (BRE); Caf Imperial (CI) e Preto Rio (PR). Nem todos os materiais ptreos em

    questo foram analisados para todos os ensaios de caracterizao tecnolgica e de alterabilidade, em

    funo da disponibilidade de corpos de prova e de suas aplicaes atuais.

    Os ensaios de caracterizao tecnolgica incluram anlises petrogrficas, mineralgicas e qumicas;

    determinaes da densidade, absoro de gua e porosidade, resistncias compresso, flexo 3 pontos

    e ao desgaste abrasivo.

    Para os ensaios de alterabilidade, procurou-se simular em laboratrio as variveis prprias das

    condies onde esto e/ou podem ser aplicadas s rochas, para observar seus comportamentos do ponto

    de vista da alterabilidade, numa escala de vida humana. Estes ensaios se constituram na simulao da

    ao climtica (choque trmico), de atmosferas agressivas (ensaios com solues cidas).

    A simulao de parmetros que representem os ambientes exgenos em laboratrios de difcil

    execuo, pela necessidade de se reproduzirem certas condies (umidade, temperatura, tempo de

    exposio, contaminantes atmosfricos etc.) que inviabilizam a condio real do que acontece na

    natureza. Apesar disso, os ensaios de alterabilidade em condies aceleradas ainda um dos poucos

    66

  • meios de que disponveis para averiguar a resposta de materiais ptreos s mais adversas condies

    ambientais e climticas e, portanto constitui ferramenta importante no auxlio aos profissionais do setor

    de ornamentais e de revestimento que pretendem utilizar esses materiais com maior segurana e

    confiabilidade.

    VI.2. - Anlises Petrogrficas e Mineralgicas

    A anlise fundamenta-se na observao de sees delgadas das rochas com espessura de 30m ao

    microscpio ptico de luz transmitida, segundo as normas de caracterizao petrogrfica de rochas de

    revestimento (ABNT/NBR 12678/1992a).

    uma ferramenta muito til para anlise dos dados tecnolgicos, podendo esclarecer os diferentes

    comportamentos das propriedades fsicas e/ou mecnicas de rochas aparentemente semelhantes.

    Tambm essencial na etapa de diagnstico e caracterizao das deterioraes em edificaes,

    especialmente histricas.

    Os materiais descritos como granitos lato sensu provieram de marmorarias de Belo Horizonte e as

    escolhas levaram em conta a importncia em termos de valor dessas rochas no mercado de construo

    civil, a freqncia de uso desses materiais.

    Algumas feies como diferenas nos padres de alterao intemprica entre as amostras no puderam

    ser reconhecidas ao microscpio. O estudo de microfissuras intergranulares e intragranulares no foi

    detalhado nesse trabalho, exceto microfissuras visveis macroscopicamente na superfcie das placas

    polidas.

    VI. 2.1 - Anlise por Microssonda Eletrnica e Microscopia Eletrnica

    A microanlise permite a determinao quantitativa do contedo dos principais xidos: SiO2, Fe2O3,

    Al2O3, Na2O, MgO, K2O e CaO, por anlises pontuais. Assim, possvel avaliar a susceptibilidade ou

    no de diferentes tipos de minerais de se alterarem em funo da presena de elementos mais ou menos

    estveis (Na, Ca, K, etc) em suas composies.

    67

  • Neste tipo de anlise se produz um feixe de eltrons restritamente focalizado sobre a amostra que gera

    raios X, os quais so analisados atravs do comprimento de onda ou a intensidade das linhas no

    espectro de raios X. Os elementos presentes podem ser identificados e suas concentraes estimadas

    com grande preciso. Nas anlises quantitativas, as intensidades das linhas de raios X da amostra so

    comparadas com aquelas originadas por padres de composio conhecida.

    Para a realizao das anlises WDS foi utilizado o microscpio eletrnico JEOL modelo JSM 840A,

    com tenso de acelerao de 25,0 KV, corrente do feixe de 6x10-11, abertura da objetiva 3 e distncia de

    trabalho de 38 mm. O equipamento pertence ao consrcio dos Departamentos de Fsica, Qumica e

    Geologia da Universidade Federal de Minas Gerais.

    VI.3. Ensaios Tecnolgicos

    Na Tabela VI.1 esto relacionadas as caractersticas tecnolgicas e o nvel de importncia em relao

    s suas aplicaes.

    Tabela VI.1: Importncia das caractersticas tecnolgicas das rochas ornamentais em relao suas aplicaes: MI - Muito Importante, I - Importante e PI - Pouco Importante. Modificado de Aires-Barros (1991)

    CARACTERSTICA TECNOLGICA

    REVESTIMENTOINTERIORES

    REVESTIMENTOEXTERIORES

    PAVIMENTOS INTERIORES

    PAVIMENTOSEXTERIORES

    Descrio Petrogrfica I I I IPeso Especfico I I I I

    Absoro Dgua PI I PI IResistncia Compresso PI I PI I

    Resistncia Flexo PI I I IResistncia ao Desgaste PI PI I MIResistncia ao Choque - - I MI

    Anlise Qumica PI PI PI PIMdulo de Elasticidade - I - I

    Neste trabalho, foram realizados os seguintes ensaios tecnolgicos: ndices fsicos, resistncia

    compresso uniaxial, flexo e desgaste Amsler. Os procedimentos das normas adotadas esto sumarizados

    na Tabela VI.2.

    68

  • Tabela VI.2: Parmetros e procedimentos nas determinaes de ensaios tecnolgicos

    Objetivo Corpos de Prova (Cps) Norma / Procedimentondices Fsicos (massa especfica aparente

    seca e saturada, porosidade e absoro de

    gua aparente)

    10 cps para cada amostra, com

    dimetro em torno de 7cm ou

    peso em torno de 250 g

    ABNT 12766, 1992b

    Secagem em estufa por 24 h; peso da massa seca.

    Imerso em gua at tempo total de 24 h, peso da

    massa saturada e massa submersa

    Compresso Uniaxial6 cubos com aresta variando

    entre 7cm e 7,5cm

    ABNT 12767, 1992c

    Prensa FORNEY / FORTEC RT-1

    Desgaste abrasivo Amsler

    2 cps paraleleppedos regulares,

    com os lados da base ~ 7cm e

    altura ~ 7cm e 3cm.

    ABNT 12042, 1992d

    Mquina de desgaste Amsler e dispositivo para

    medida da perda da espessura

    2 cps sob presso, submetidos ao desgaste sob a

    ao de areia quartzosa aps percurso de 1000m.

    Resistncia Flexo 4 pontos

    6 cps prismticos com

    dimenses 3,8x1,0x3,2cm

    ABNT 12763/1992e

    Prensa hidrulica da marca TINIUS OLSEN,

    modelo H 125 K-S UTM

    VI.3.1 ndices Fsicos

    A determinao dos ndices fsicos das rochas engloba a avaliao de parmetros como: massa

    especfica aparente ou densidade, porosidade aparente e absoro de gua aparente, cujos ensaios

    podem ser realizados segundo as normas NBR 12 766 (ABNT, 1992b).

    As propriedades de densidade, porosidade e absoro d'gua fornecem indicao de fissuras, poros e

    vazios, sendo fatores determinantes para a resistncia e durabilidade na avaliao comparativa de um

    conjunto de rochas (Winkler, 1997). Assim, a determinao dessas propriedades til para indicar as

    diferenas de absoro entre vrios tipos de rochas ornamentais ou dados comparativos para rochas do

    mesmo tipo.

    Nessa pesquisa foram feitos vrias determinaes de ndices fsicos para esteatitos, quartzitos e

    granitos lato sensu, baseadas nos procedimentos estabelecidos pela NBR 12766 (ABNT, 1992a) cujos

    clculos so dados pelas seguintes equaes:

    Massa especfica aparente seca (kg/m3) seco = mseca / (msat-msub)

    Massa especfica aparente saturada (kg/m3) a = msat/(msat-msub)

    Porosidade aparente (%) a =(msat mseca) /(msat-msub) x 100

    Absoro de gua (%) = (msat-mseca) / (mseca) x100

    69

  • Para os esteatitos e granitos, a modificao adotada em relao s demais rochas foi a utilizao de

    corpos-de-prova obtidos de placas polidas, pois o objetivo fornecer dados sobre a alterao acelerada

    em rochas com aplicao ornamental para revestimentos.

    VI.3.2 Resistncia Compresso Uniaxial

    Este ensaio mais freqentemente solicitado para a avaliao das resistncias dos materiais sobre os

    quais vo atuar foras verticais. No entanto, ele constitui um ndice importante da qualidade das placas

    de rochas a serem utilizadas como revestimento. Elevados valores de resistncia compresso

    implicam, de uma maneira geral, em materiais de alta resistncia mecnica (Vidal et al. 1999).

    A uniformidade da distribuio de tenses, num corpo de prova sob a ao de esforos compressivos

    deve ser garantida. Portanto, o corpo de prova deve apresentar geometria bem regular e os seus topos

    devem ser perfeitamente paralelos entre si.

    O procedimento utilizado durante a realizao dos ensaios, no Laboratrio de Caracterizao

    Tecnolgica de Rochas Ornamentais do CPMTC, seguiu a norma NBR 12767 da Associao Brasileira

    de Normas Tcnicas (ABNT, 1992c). Utilizou-se 6 corpos-de-prova cbicos (7 1cm de aresta) no

    estado seco, que foram submetidos a esforos compressivos a uma taxa de carregamento de 600

    Kilopascal (KPa/s), em uma prensa hidrulica marca TINIUS OLSEN, modelo H 25 K-S, acionamento

    manual e capacidade mnima para 1000KN e divises de 2KN (Figura VI.1). Assim, o corpo de prova

    de uma rocha com rea de topo S(m2) submetido a uma fora F(N), se romper com uma tenso

    mxima mx (N/m2), dada pela equao: mx = F/S, onde: mx = tenso de ruptura compresso

    (MPa); F: carga total de ruptura (KN); S = rea de aplicao da carga (m2).

    70

  • Figura VI.1: Prensa hidrulica, TINIUS OLSEN, modelo H 25 K-S para ensaio de resistncia compresso, Laboratrio de Caracterizao Tecnolgica de Rochas Ornamentais /CPMTC.

    De acordo com Sugested Methods for the Quantitative Description of Descontinuites in Rock Masses -

    ISRM (1977), as rochas podem ser classificadas com base na resistncia compresso simples de

    acordo com a tabela VI.3 (A e B).

    Tabelas VI.3 - Classificao das rochas de acordo com a resistncia compresso uniaxial. (a) ISRM (1977); (b) ISRM (1978).

    (A) Classificao c (Mpa)Extremamente branda (solo) < 1

    Muito branda 1 5

    Branda 5 25

    Resistncia mdia 25 50

    Resistente 50 100

    Muito resistente 100 250

    Extremamente resistente > 250

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  • (B) IntervalosMPa (Kg/cm2) Smbolos Designaes

    >200 (>2000) S160-200 (600 2000) S2

    S1-2Muito elevadaElevada

    Elevada

    20-60 (200 600) S3 Mdia Mdia6-20 (60 200) S4

  • A prensa hidrulica, quando acoplada impressora, permite a visualizao do grfico correspondente

    ao ensaio e o valor da carga mxima atingida quando da ruptura e fornece ainda grficos do tipo

    carregamento (N) por flexo (mm). Os resultados so mostrados no captulo sobre anlise de dados.

    A BFigura VI.2: Prensa hidrulica da marca TINIUS OLSEN, modelo H 25K-S para ensaios de resistncia flexo 4 pontos (A), e esquema de posicionamento dos cutelos (B), Laboratrio de Caracterizao Tecnolgica de Rochas Ornamentais /CPMTC.

    VI.3.4 Resistncia ao Desgaste Abrasivo Amsler

    O desgaste abrasivo a propriedade que uma rocha possui de resistir remoo progressiva de

    constituintes minerais de sua superfcie, a qual pode ser medida por diminuio de volume ou de altura

    do corpo de prova ou por perda de massa.

    O processo mais comum para determinao do desgaste abrasivo em rochas para revestimento a

    mquina Amsler (Figura VI.3). Nesse processo, o ensaio indica a reduo de espessura em milmetros

    que placas de rochas apresentam aps um percurso abrasivo de 2m. Dois corpos de prova na forma de

    placa de 7x7x 2 cm, so pressionados sobre um disco metlico de alta dureza sobre o qual lanada

    areia quartzosa. O desgaste do corpo de prova ocorre medida que o disco gira e promove o contato da

    areia com os corpos de prova. Os resultados so calculados, aps 500 voltas por meio da medio da

    reduo de altura do corpo de prova, em mm, conforme a equao: D= H1- H2 (mm), onde H1 - altura

    inicial e H2 - altura final.

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  • O ensaio de desgaste abrasivo Amsler foi realizado de acordo com as diretrizes da norma da ABNT-

    NBR 12042/1992d, no LABTECRochas /CPMTC /UFMG em corpos de prova de esteatitos (ACA,

    FUR, LUN), e granitos lato sensu (AZP, BRE, CI, PR).

    (A)

    (B)

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  • Figura VI.3: (A) Mquina Amsler para determinao do desgaste por abraso; (B) Equipamento para determinao das medidas sobre as diagonais do corpo-de-prova, Laboratrio de Caracterizao Tecnolgica de Rochas Ornamentais do CPMTC.

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    CAPTULO VIENSAIOS DE CARACTERIZAO TECNOLGICAVI.2. - Anlises Petrogrficas e MineralgicasVI.3. Ensaios TecnolgicosTabela VI.2: Parmetros e procedimentos nas determinaes de ensaios tecnolgicosCompresso UniaxialVI.3.1 ndices FsicosVI.3.2 Resistncia Compresso Uniaxial