ensaio sobre a conquista da américa

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Fortaleza - Ceará - 2016 Interpretações sobre o fato de 1492 | Jáder José Oliveira Vieira ENSAIO SOBRE A CONQUISTA DA AMÉRICA

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Este ensaio discute os pontos principais evocados por Torodov no que concerne a conquista da América. Desta maneira foi analisado o olhar de Colombo, Montezuma, Cortez. Essa pesquisa tem a intenção de despertar a curiosidade e o senso crítico nos leitores que desejam uma visão imparcial e individual sobre a descoberta da América sem anacronismo nem partidarismo. Óbvio que nosso desenvolvimento histórico como nação e nacionalidade passa por esse tema e mais óbvio ainda que muito pouco se sabe sobre o que de fato aconteceu entre 1492 e 1700. Os pesquisadores trabalham na metodologia das compilações e muito pouco interpretam ou oferecem outros signos para os leitores sobre os fatos. A questão que mais pesou na minha análise foi o papel da Igreja nesses momentos, que foi decisiva em proteger seus discípulos e seu patrimônio.

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Ensaio sobre a conquista da América Página 1

Fortaleza - Ceará - 2016

Interpretações sobre o fato de 1492 | Jáder José Oliveira Vieira

ENSAIO SOBRE A CONQUISTA DA AMÉRICA

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Ensaio sobre a conquista da América Página 2

"Quem reze sempre por ti?!...

Hi,Hi,Hi,Hi,Hi,Hi,!...

E tu viveste a teu prazer

cuidando cá guarecer

por que rezam lá por ti?!...

(Auto da Barca do Inferno - Gil Vicente)

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Ensaio sobre a conquista da América Página 3

Sumário

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................ 5

1. A QUESTÃO DA ALTERIDADE. ............................................................................................................. 6

1.2 HISTORICAMENTE COMO O VELHO CONTINENTE ESTAVA POSTO? .................................................................... 11

1.3 AMÉRICA E ÁFRICA REFÉM DE UMA EUROPA QUE VOLTA A ESCRAVIZAR. .......................................................... 18

1.4 PARA QUE SERVE PENSAR A "DESCOBERTA"? .............................................................................................. 24

1.5 PORQUE O TEMA ME CHAMOU ATENÇÃO. .................................................................................................. 26

2. O OLHAR DE COLOMBO SOB O POVO NATIVO. ................................................................................ 27

2.2 O COMPORTAMENTO DE MONTEZUMA FRENTE A UMA REALIDADE NÃO PREVISTA. ............................................. 30

2.3 O COMPORTAMENTO DE CORTEZ E A LEITURA DOS SIGNOS E SÍMBOLOS DA CULTURA ASTECA. ............................... 31

2.4 OS ESPANHÓIS TERIAM VENCIDO? ............................................................................................................. 34

3. PELOS CONCEITOS DA IGREJA TERIAM OS DESBRAVADORES FURTADO A AMÉRICA? ...................... 37

3.2 PELO DIREITO CANÔNICO DA IGREJA A CONQUISTA DA AMÉRICA FOI GUERRA JUSTA? .......................................... 48

3.3 OS PORTUGUESES E ESPANHÓIS PODEM SER ABSOLVIDOS? ............................................................................. 49

4.O PECUNIALISMO COMO MODELO CONDICIONANTE ....................................................................... 50

4.2 O TRIÂNGULO: A TAÇA, A MOEDA E A FORCA. ............................................................................................ 54

5.A EFETIVA APROPRIAÇÃO DA AMÉRICA ............................................................................................ 57

6. CONSIDERAÇÕES GERAIS. ................................................................................................................ 67

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E FONTES......................................................................................... 72

ÍNDICE REMISSIVO ............................................................................................................................... 77

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Ensaio sobre a conquista da América Página 4

Ensaio sobre a conquista da

América

VIEIRA. J. .J O.

2016 - Fortaleza

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Ensaio sobre a conquista da América Página 5

Introdução

Este ensaio discute os pontos principais evocados por Torodov no que

concerne a conquista da América. Desta maneira foi analisado o olhar de

Colombo,Montezuma e Cortez. Feita algumas problematizações acerca do que

Torodov entendeu sobre o fato histórico de 1492 pois é um momento

extremamente polissêmico, eivando do passado a questão da alteridade e suas

implicações na doutrina católica erigida nessa fase. Legislar sobre muitas

pessoas como se fossem poucas é uma questão imposta pelo direito canônico

da Igreja medieval ,nem que seja dividindo-las; universalmente por grupos ou

setores(leigos e ordenados ou fieis e infiéis). A minha suspeita é de que a

desorganização da Igreja no século XVI no trato com os seus discípulos e os

seus aspirantes a discípulos e não discípulos surge da idéia de que eles

achavam que a lei isonômica fosse insuficiente para coordenar todas

movimentações sociais. Eles arrojavam levar a cabo tratar de todos os casos

que não fossem tradicionalmente congruentes por medo de estar sendo injusto.

As leis universais em Moisés são ortodoxas, já os cânones católicos são casos

particulares, portanto sendo heterodoxas. Contudo, os padres confessores

laboram com valorações de circunstância e identidade.

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Ensaio sobre a conquista da América Página 6

1. A questão da alteridade.

Habet é um termo que era designado antigamente para dizer quando

alguém teve o que mereceu ou quando entra peixe na rede dos pescadores.

Segue aquela linha de pensamento onde ninguém pode dar o que não possui.

O que podemos esperar dos caçadores? dos homens maus? das pessoas sem

caráter e etc. Apesar dos espanhóis terem chegado tarde em América, isso

eles não puderam admitir por influência da Igreja Católica.

A averiguação dos delitos dos outros é feita pelos manuais de

confessores de forma metódica. Unificar o comportamento das pessoas através

dos sacramentos, seja do batismo, da ordem ou da penitência significa que

todos devem ser escutados em uníssono de maneira que não caíam

novamente na desordem. Essas questões se tornam ainda mais relevantes

quando envolvem patrimônio. O probabilismo coloca o desejável a uma certa

distância do exigível, quando a questão é polêmica, evita-se desacordo entre

teóricos consagrados da Igreja, constituindo o domínio da adaptação da regra

através do bom senso. Ora o desacordo mostra que a Igreja não é um só

corpo, existem assuntos escarpados do qual existem múltiplas conclusões

perfeitamente aceitáveis. Existem casos que não se deve aplicar a lei do levita

no capitulo 20, por exemplo no caso da cônjuge soçobrar ao padre que o filho

dela é de outro pai, a questão pode ser resolvida com uma indenização que o

pai biológico vai ter que restituir para o pai ilegítimo, essa é uma das situações

em que o confessores não abrem mão, pois o filho pode muito bem dizer que é

mentira da mãe dele, em conseqüência essa é uma das maneiras de deserdar

um filho, na prática isso pode lograr um processo esgotante para todos. É a

força da situação que faz com que o recomendado seja ignorar esse assunto

em terra, e expiar os pecados no purgatório. Portanto, as considerações são

minimamente inteligíveis, sempre incluem analisar objetivamente, para que

seja fácil manobrar o beneficio e o prejuízo principalmente quando envolve

patrimônio, o conceito que se usa é o do mal menor. Quando pronunciam

palavra altissonantes e se ataca ostensivamente como no caso da

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Ensaio sobre a conquista da América Página 7

homossexualidade e canibalismo, soma-se o repúdio e a indignação que são

sinais de verem nesse comportamento o germe da desordem social. Convém

reprimir estas atemorizantes eventualidades. Outorgam-se numerosos

castigos, ordenam demasiadas cobranças. Outorgam-se constantes

recompensas por delações. Os padres olham paternalmente para os fiéis, vale

lembrar o que é o pai no século XVI. Pai patrão, pai pater, pai proprietário. As

pessoas mais entusiastas tem uma vivência da religiosidade através da

confissão, da missa, do catecismo, enfim algumas pessoas que caem em

sincero arrependimento e se confessam espontaneamente, é o que indica

certas advertências, como de não haver necessidade de se confessar logo

após ao pecado. Ainda que seja clérigo não é obrigado a se confessar na

mesma hora mesmo que peque mortalmente. Apesar dos religiosos da ordem

de São Bento que são obrigados a se confessar doze vezes por ano. Também

existe a necessidade de se confessar quando vai se viajar de navio, se colocar

nas tormentas do mar, o mesmo se aplica antes e entrar em batalha, ou em

períodos de peste aguda, e ainda antes de parir, principalmente se a

experiência do parto for trabalhosa e difícil. O bom confessor deve ter

sabedoria, bondade e poder. Poder significa que ele tem que ser clérigo, só

que ser apenas sacerdote não é suficiente, ele precisar ter o poder instituído

por jurisdição para absolvição. Essa afirmação indica que nem todos os padres

podem praticar o sacramento da penitencia. Quem pode dar as essas

concessões é o papa, o bispo, o sacerdote paroquial, ou bullas. Não se pode

utilizar confessores sem sagacidade e conhecimento; não podem servir a

comunidade se não tem bondade, justiça e doutrina. Aqui entra na doutrina

entra a questão da alteridade que se define pelo dicionário de termos literários

on line1 como: filosoficamente é situação, estado ou qualidade que se constitui

através de relações de contraste, distinção, diferença [Relegada ao plano de

realidade não essencial pela metafísica antiga, a alteridade adquire

centralidade e relevância ontológica na filosofia moderna ( hegelianismo ) e

especialmente na contemporânea ( pós-estruturalismo ).]. Segundo a

enciclopédia (GRANDE ENCICLOPÉDIA, 1998), alteridade é um “Estado,

qualidade daquilo que é outro, distinto (antônimo de Identidade). Conceito da

1 http://www.edtl.com.pt/

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Ensaio sobre a conquista da América Página 8

filosofia e psicologia: relação de oposição entre o sujeito pensante (o eu) e o

objeto pensado (o não eu). Significa que, em primeira instância, que o homem

existe, encontra a si mesmo na negação do outro, e só posteriormente se

define. Ou seja, a antipatia nem mesmo é recíproca pois antes de negar o outro

ele não é nada em si mesmo enquanto o outro já é algo em si mesmo. Assim é

a natureza contraditória da postura do cristão ante o homem judeu(a priori) ele

não é nada. Assim é o cristão ante o homem pagão, ante o silvícola. Isso

também é chamado de subjetivismo, pois confere dignidade ímpar a si mesmo

quando se projeta negando a extraordinariedade dos outros. Quando o outro

não é o que foi projetado ele é tratado pela Igreja com má fé porque os padres

partem do pressuposto de que ele é vulgar porque quer ser vulgar. Cabe

destacar o mito do Preste João, o qual os portugueses visavam levar a palavra

de Deus aos africanos do reino de Salomão que eles suspeitavam não ter

ouvido falar na boa nova, ou seja o nascimento de Cristo.

Quer dizer, o próprio tema "descobrimento da América" que já é bem

cativo da história vem a delatar a ausência de alteridade revelada e renegada

pelos próprios historiadores que assim abordam a temática,ou seja há um

choque cultural na descoberta da América, onde o “eu” descobre o “outro” na

tentativa de dominação, onde o “eu” sozinho, enxerga o “outro” na terceira

pessoa, a negação do indivíduo, para se concentrar no geral, no anônimo. Não

houve capacidade dos principais sujeitos se colocarem no lugar dos outros.

Porque?2

Ora, o comportamento egocêntrico(Eu frente aos Outros), e

individualista advindo da sociedade poética-filosófica greco-platônica-romana e

perpetuada pela moral judaico-cristã ocidental vem a colocar no seu panteão

mais alto os gênios militares, os grandes estrategistas diplomáticos como

2 "A coincidência dos relatos dos viajantes revela também o grande debate que estava se

travando na Europa a respeito da natureza dos selvagens ou, melhor, do "estado de natureza" deles: tratava-se, de fato, do processo de releitura da identidade ocidental ante as novas humanidades que a descoberta apresentava, através da construção de sua alteridade. O código religioso era, obviamente, o privilegiado na definição da alteridade pela concepção teológica dos missionários. Mas aqui a construção dos outros esbarrava numa dificuldade: os selvagens da terra de Santa Cruz não apresentavam aqueles elementos que encontramos na longa lista de d’Abbeville e que definem o que é a Religião: ídolos, templos, sacerdotes." (POMPA, Cristina em Profetas e santidades selvagens. Missionários e caraíbas no Brasil colonial)

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Ensaio sobre a conquista da América Página 9

Odisseu, Salomão, Publios Cornelius Scipião, Carlos Martel, Barbarossa.

Enfim, Salientando com Todorov, o comparativo:

“[...]Homens para mulheres, ricos para os pobres, os loucos para

os “normais”, onde a violência o preconceito embutido nesses conceitos,

nessa segregação é reconhecido com uma certa naturalidade.[..]”

(TODOROV, 1998)

É na América onde os comparativos vão ser mais exteriores, as

divergências na atmosfera cultural, cuja a língua , os costumes parecem de

inicio incompreensíveis, de uma estranheza tamanha que chega a se

desconfiar se são realmente humanos. Ou seja, o pensamento do homem

branco se caracteriza por não colocar nem minimamente a responsabilidade

para com o outro, nem que minimamente o respeito para com outro, onde a

expansão da fé, os obsessivos interesses mercantis legitimavam qualquer

postura contra o “outro”. Ou seja, a noção de tensão sobrepuja o aspecto

humano,isso sendo paradigma até na história recente, pois a visão do outro

"ser gente" só ganha corpo quando se alinha como objeto de consumo.

"No Rio de Janeiro, o processo de mercantilização da cultura

negra tem girado principalmente em torno de dois elementos bem

conhecidos e inter-relacionados: samba e carnaval.[...]Há, contudo,

objetos menos conhecidos que também passaram a representar a

cultura material negra tradicional da Bahia; ou ainda, comportamentos

que passaram a ser vistos como "típicos" da cultura negra. As mulheres

do acarajé, ou simplesmente baianas (mulheres, geralmente de

compleição bastante negra, que vendem nas ruas doces e comidas afro-

baia nas típicas), têm sido, há séculos, o ícone mais visível do

"africanismo" na vida pública. (SANSONE, Livio)3

Para os teólogos os outros deuses bem como outras interpretações do

cristianismo são folclore, superstição, falsos deuses. "Quando os cristãos se

recusavam a rezar aos deuses dos diversos paganismos, geralmente, não era

por lhe negarem a existência; eles consideravam-nos como demónios,

3 Os objetos da identidade negra: consumo, mercantilização, globalização e a criação de

culturas negras no Brasil*Livio Sansone.Mana v.6 n.1 Rio de Janeiro abr. 2000

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perigosos, sim, mas no entanto mais fracos do que o único Criador." (BLOCH,

1979). Ou seja, o proselitismo do cristianismo coloca os conquistadores na

situação de abençoados metafisicamente e no corpo a corpo com

zooantroporformismo4 típico das crenças dos povos ameríndios e africanos,

eles irão situá-los, bem como sua religião como: fraca e diabólica.

"A imagem de Deus numa sociedade depende sem dúvida da natureza

e do lugar de quem imagina Deus." (LE GOFF, 2007). O lugar e a natureza dos

que dominavam o saber teológico era bem reservado socialmente, pertencia

apenas aos que conseguiam entender a Bíblia, os letrados em latim.

“Entretanto, igualmente óbvias (pelos menos para nós) são as desvantagens

de se tentar comunicar com toda a população da cristandade em uma língua

entendida apenas por uma minoria dessa população. Alguns leigos

acreditavam que o uso do latim era uma artimanha do clero para manter a fé

secreta, "e em seguida vendê-la de volta para nós no varejo". Deve-se

enfatizar, no entanto, que a minoria que entendia latim excluía muitos membros

do clero medieval. Não é de surpreender que muitos do clero paroquial fossem

ignorantes em latim, dada a falta de meios para educá-los: mas mesmo no

caso dos monges, segundo um medievalista bastante conhecido, "descobrimos

as autoridades admitindo vasta ignorância em latim e fazendo traduções

especiais para uso dos irmãos incultos" (BURKE, 1995), As traduções

começam a se intensificar com o advento da imprensa no século XIV, porém as

primeiras casas tipográficas só chegam em Portugal no século XVI. As

primeiras traduções do latim para o português vêm desse período. Como pode

ser observável no site da Biblioteca Nacional de Portugal. Vários livros do

século XVI com uma página em latim e logo em seguida outra em português

arcaico. O que me leva a crer que esse material era usado para recopilações

nos seminários e mosteiros que formavam os jesuítas que vinham para a

America pregar

4 “(...) de qualquer maneira esse Outro não foi descoberto como Outro, mas foi” “em-coberto”.

O si-mesmo que a Europa já era desde sempre. De maneira que em 1492 será o momento do “nascimento” da Modernidade como conceito, o momento concreto de “origem” de um “mito” de violência sacrificial muito particular, e ao mesmo tempo, um processo de “em-cobrimento” do não –europeu 3 (Dussel, 1492 O encobrimento do outro p.08.1993.)

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Ensaio sobre a conquista da América Página 11

1.2 Historicamente como o velho continente estava posto?

Edward Gibbon em seu famoso livro "A história da ascensão e queda

do Império Romano" considera que as invasões oriundas da Germânia fora um

período em que o império caí numa verdadeira selvageria, o continente fora

“engolfado por um dilúvio de bárbaros”(1989: 442). Outros historiadores já

colocam o extremo oposto, de que a cristianização dos povos germânicos é

justamente o que mantêm o ideal de virtude da antiguidade clássica, os cargos

eram romanos, até o latim a elite germânica dominante cultivou como língua

diplomática .

A ruptura com o mundo antigo vêm dos árabes islamizados que em

pouco mais de cinqüenta anos se estendem do mar da China ao oceano

Atlântico. Aí sim estagna-se o comércio, pois as rotas comerciais de longa

distância ficam sob a custódia do islame.

"O mar íntimo e quase familiar que reunia todas as partes do

Império vai formar uma barreira entre elas. Em todas as suas margens,

desde já séculos a existência social, nos seus caracteres fundamentais,

era a mesma, a religião a mesma, os costumes e as idéias os mesmos

ou muito próximos de o serem. A invasão dos bárbaros do norte não

modificará nada de essencial nesta situação." (PIRRENE, 1964)

A expansão árabe interrompe o comércio de longa distância que a

Europa Ocidental mantinha com o Oriente, rompeu-se um laço que ainda ligava

o Império Bizantino aos reinos germânicos do Oeste. A Europa nesse momento

se encontrava isolada dos grandes centros comerciais.

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Claro que não foram tão somente as invasões árabes que romperam

com a antiguidade “Uma vez em terra, os bandos sarracenos ou normandos,

como as hordas húngaras, eram especialmente difíceis de suster.“ (BLOCH,

1979). "Da tormenta das últimas invasões, o Ocidente saiu coberto de feridas.

As próprias cidades não haviam sido poupadas, pelo menos pelos

Escandinavos e, se muitas delas, após a pilhagem ou o abandono, se

recompuseram mais ou menos das suas ruínas, esta cisão no curso normal

das suas vidas deixou-as enfraquecidas durante muito tempo." (BLOCH, 1979)

É irônica a constatação da diversidade de juízos perante o tema da

Idade Media. Como é de se esperar, se escolhermos os dados de modo

tendencioso o pesquisador vai fustigar para a pesquisa defeitos e atitudes

viciosas. Poderá ser construída uma interpretação que lhe agrada mas não

condiz com a verdade. Poderá ser destacado como crítica a falta de

objetividade para apreender a realidade, causada pela interferência de

elementos puramente subjetivos, como os preconceitos, por exemplo.

Essa alcunha latina Aetas Obscura5 ou mesmo inglesa de Dark Age, se

difundiu bastante e foi construída pelos renascentistas, inspirados por novos

ideais estéticos. É realmente muito corrente a marca de uma Idade Média

imóvel, sem atividades bancárias, estagnada, estacionária economicamente

em virtude da condenação da usura e do lucro. afirmavam “frequentemente

que o mercador medieval teria sido incomodado na sua actividade profissional

e rebaixado no seu meio social devido à atitude da Igreja para com ele.

Condenado por ela, mesmo no exercício da sua actividade, teria sido uma

espécie de pária da sociedade medieval dominada pela influência cristã.” (LE

GOFF, 1991)

Ou seja, na teoria demoniza-se o labor do mercador, na prática “a

Igreja depressa acolheu o mercador, rapidamente admitiu o essencial das suas

práticas. Longe de ter sido um obstáculo ao desenvolvimento do capitalismo,

devemos perguntar-nos mesmo se ela o terá servido involuntariamente, até

pela sua hostilidade." (LE GOFF, 1991: 74). Existem milhares de maneiras de

se questionar a ordem vigente. Evidentemente, os mercadores não estavam

5 Aetas Tenebrae, Aeon Noctis

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Ensaio sobre a conquista da América Página 13

inclusos no modelo ideológico estabilizador planejado pela Igreja: “Uns rezam,

outros combatem, e outros trabalham.” Os trabalhadores estavam na mais

baixa camada social entretanto é difícil imaginar um trabalhador medieval , pois

“apresentavam uma grande diversidade de condições, desde camponeses

livres até escravos." (FRANCO JUNIOR, 1983) e até comerciantes.

Como visto anteriormente, pela paciência a Igreja dobrou-se para o

trabalho dos mercadores, parte do mesmo “fenômeno urbano na Idade Média

Central” que está “associada ao desenvolvimento das atividades artesanais e

comerciais.” Está também “a função militar e, sobretudo, a presença de uma

autoridade episcopal, condal ou principesa, que suscita a manutenção de uma

corte numerosa cria um efeito de atração, são igualmente decisivas.

(BASCHET, 2006: 145). Esses enxergam o trabalho manual como aviltante,

apenas os servos devem trabalhar, pois o trabalho tem uma forte carga

negativa. "Seguindo o modelo das cortes terrestres, as cortes celestes se

enriqueceram para se debruçar mais sobre os cristãos cá de baixo: os valores

do Céu desceram sobre a Terra." (LE GOFF, 2008). "Entretanto, a cidade é,

incontestavelmente, a partir do século XII, um mundo novo. Nela,

desenvolvem-se atividades novas e esboçam-se mentalidades singulares, ao

passo que a Igreja demoniza a cidade, moderna Babilônia, lugar de pecados e

tentações." (BASCHET, 2006).

O horror ao corpo culmina nos seus aspectos sexuais. O pecado

original, pecado de orgulho intelectual, de desafio intelectual a Deus, foi

transformado pelo cristianismo medieval em pecado sexual. A abominação do

corpo e do sexo atinge o cúmulo no corpo feminino (LE GOFF, 1985). Os

sacerdotes seguem a risca os doutores da Igreja, pois como advertiu Jesus

Cristo o que seria se um cego guiasse outros cedo, ambos cairiam.

"Durante os sermões fazia-se grande uso de exempla, nos quais

apareciam bastante frequentemente prostitutas, quer como personagens

principais, quer como figuras de segundo plano, mas sempre com um certo

destaque no fim da história." (PILOSU, 1995). O destaque no fim da história é

sempre atribuir uma maior parcela de culpa para as mulheres. "Enfim, os

"exemplos" (exempla) ilustram, sob a forma de relatos breves e concretos,

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Ensaio sobre a conquista da América Página 14

fábulas ou historietas, as vantagens, para o cristão, de uma justa conduta."

(SCHIMTT, 1999)

"É preciso evocar, igualmente, a praça pública, onde se erguem a

administração municipal e a torre do sino, as numerosas tavernas, os "Banhos

públicos" e outros lugares onde as autoridades municipais do fim da Idade

Média procuram organizar a prostituição, tida como um "serviço coletivo" útil à

paz pública." (BASCHET, 2006: 153). "O controle eclesiástico sobre os

valores culturais e mentais era exercido através de vários canais. O sistema de

ensino, monopolizado pela Igreja até o século XIII, permitia a reprodução do

corpo de idéias que ia sendo selecionado e formulado por ela." (FRANCO

JUNIOR, 1983:58) Ergueu-se mesmo uma doutrina corporal que penetrava

em diversos segmentos do comportamento humano."Os polemistas cristãos,

em virtude da natureza da crença que professavam, não reconheceram

qualquer grau de sacralidade, nem reconheceram qualquer vinculação do riso

com a divindade, tal qual ocorria na tradição pagã que o tanto procuraram

combater. Nos sistemas de valores do cristianismo, este foi dessacralizado e

reduzido à categoria de gesto profano." (MACEDO, 1997: 53).

"A expressão "bela Idade Média" também corresponde à idéia de que

houve uma clareira entre duas fases sombrias, nesse longo período de mais de

mil anos entre a queda do Império Romano(fim do século V) e o descobrimento

da América(fim do século XV). (LE GOFF ,2008: 54). A clareira do Ocidente

encontra-se mais particularmente entre o século XI e o século XIV. Momento

de crescimento urbano, populacional, intenso comércio, desenvolvimento da

arquitetura. De modo que para a história dos europeus essa conquista seria

análoga a invasão dos bárbaros na época da queda do império romano. Ou

seja a conquista da América é a ruptura com o mundo medieval.

"O sistema feudal repousa economicamente na posse da terra e no

direito de cobrar um certo número de taxas. Isso gera uma hierarquia social e

uma hierarquia de poderes." ( LE GOFF ,2007: 66). O paternalismo deste

sistema envolve um intercâmbio de poder e auxílio, obrigações mútuas entre

suserano e vassalo, protetor e protegido, senhor e dependentes. Cada

indivíduo estava ligado a um senhor por laços de parentesco, obrigações ou

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interesse. "Institucionalmente, diante da fraqueza do Estado e da necessidade

de segurança, desenvolviam-se as relações pessoais, diretas, sem

intermediação do Estado. Estreitaram-se assim os laços de sangue, as

relações dentro das famílias, das linhagens, grupos cuja solidariedade interior

podia melhor proteger os indivíduos em relação ao exterior." (FRANCO

JUNIOR, 1983:43). No topo dessa hierarquia vêm o Rei. "Duas funções

fundamentais são reconhecidas ao rei: ele deve garantir a paz e a justiça. O

cuidado de manter a paz, essencial ao bem público e assegurada pela Igreja

durante certo tempo, retorna, pouco a pouco, para os soberanos. Disso

decorre, sobretudo, o direito de levar a cabo guerras justas"(BASCHET, 2006:

161). Essa função revela um "traço psicológico: a contratualidade. Presente na

verdade em muitas religiões pré-cristãs, esse dado foi reforçado pelo

cristianismo e contribuiu para o próprio contratualismo social, político e

econômico e militar dos séculos X-XIII, sendo por sua vez influenciado por

este. Assim, não é de se estranhar que Deus fosse visto como Senhor e o

homem como vassalo" (FRANCO JUNIOR, 1983:60)

"Clericalmente, havia no Feudalismo um papel de primeira

ordem desempenhado pelo grupo eclesiástico. Papel que extravasa, em

muito, sua atividade sacerdotal. Sendo a Igreja a única instituição

organizada da época, de atuação realmente católica, que dizer universal,

a ela cabia a função de cimentadora, unificadora, naquela Europa

fragmentada em milhares de células." (FRANCO JUNIOR, 1983:55).

É tanto que esse discurso desvenda muito do imaginário feudal que se

fundamenta em parte na ideologia de harmonia social fundada na

trifuncionalidade de serviços mútuos. Uns trabalham, outros rezam e outros

batalham. Tudo passa pelo plano celeste, o regime feudal e a Igreja eram de

tal forma ligados que os membros do clero exerciam um papel de primeira

ordem.

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Ensaio sobre a conquista da América Página 16

"Por volta do ano mil (1023-1025) a literatura ocidental articula a

teoria das três ordens do corpo feudal. Postula-se uma explicação

naturalista que justifica a desigualdade entre as classes. O autor é o

bispo Gerardo de Cambrai, em virtude do seu ofício julga dever

demonstrar, perante o mundo, “que, desde a origem, o género ,humano

se dividiu em três: as gentes da oração, os cultivadores e as gentes de

guerra; forneceu a prova evidente de que cada um é o objecto, por um e

outro lado, de certo cuidado recíproco” (DUBY, 1994: 54)

O próprio poder régio é oriundo de Deus. Sendo a Igreja a única

instituição organizada em uma Europa pulverizada de células feudais e

segundo Braudel sempre assolada pela fome, pela peste, doença e pela

guerra.

“De passagem, o discurso evoca-a, com o único fim de justificar

que os oratores não trabalhem com as mãos e que os pugnatores

recebam rendas. De mostrar como a ociosidade e a exploração fazem

parte da ordem das coisas. Quer dizer, a expressão mais evidente do

modo de produção senhorial.” (DUBY, 1994: 57)

Nem a própria Santa Sé questionava os atos heróicos de seus

discípulos, pelo contrário até intermediava arranjando patrocinadores e os

absolvendo por antecedência para livrar suas consciências de qualquer

mácula. A crítica ficando restrita a solitários padres seculares e outros que nem

sequer eram da cúria romana. Os grandes escritores da Inquisição estavam

muito mais preocupados em apontar seu dedo sujo para os atores(que a

posteridade nem sequer sabe quem são se não fossem por eles) e/ou

simplesmente escrever livros muito ruins sobre peças de teatro cômicas muito

boas. O conflito moral não está no ofício do comediante porque a arte de

representar é lícita. O erro se encontra no mortal perigo de que quando o ator

deixa de ser ele mesmo para representar no momento em que ele faça de

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Ensaio sobre a conquista da América Página 17

conta que está pecando ele venha a pecar de verdade como escandalizando

com os ouvintes com palavras de baixo de calão. Ou mesmo atrair para os

ouvintes os perigos da ruína espiritual. Tertuliano se refere a comédia como "el

negocio del Diablo"[Negotium Diaboli. Tertull.de Spectati.C.i8.]. Os incentivos a

lascívia, a interferência na quaresma e o consentimento do público chamam a

atenção das autoridades eclesiásticas concluindo que além de ilícito, peca

mortalmente os espectadores de tais profanações. Com efeito, o padre Ignácio

de Camargo lastima pelas pessoas inocentes e temerosas de Deus que

cometem o pecado mortal sem se dar conta o que leva a crer que a comédia se

difundia tanto que não apenas os amantes da estética usufruíam do teatro

cômico.

A maneira abominável como a comedia vinha ganhando espaço no

teatro em Espanha surpreendia os clericais que admoestavam não somente os

atores das peças mas também o público ouvinte que se aproveitava da

controversa de estar somente assistindo e que não havia nenhum perigo em

escutar as apresentações. Os defensores do Teatro Cômico (Thomas de

Hurtado em Resoluciones morales,Bonacina,Sanchez,Diana)

Camargo justifica citando navarro(Suma Latina) que deve-se levar em

conta mais a deliberação formal de seis doutores sobre uma questão do que

dde cinquenta que discutiram ligeiramente. A controvérsia é que muitos autores

vão considerar que se a comédia não contém torpeza, luxuria ou nenhuma

desonestidade é totalmente virtuoso e honesto assisti-lá.

O próprio São Tomás autoriza divertimentos em momentos festivos

como também explica na sua Suma que só peca as pessoas que atuam ou

cooperam com peças que possuem abominações. Diana defende que por

causa dos ataques a comedia muitos atores vivem em estado de pecado

mortal.

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Ensaio sobre a conquista da América Página 18

1.3 América e África refém de uma Europa que volta a escravizar.

A conquista da América separou o continente em dois pedaços. Uma

pequena fatia ao sul para Portugal e a mais extensa a oeste para a Espanha.

Ou seja, inaugurou o padrão de moralidade foi a lei de Gerson, que é o de

sempre se dar bem, passando por cima de tudo e de todos, a sociedade que

deve premiar a animalidade, onde uma pessoa que cometa qualquer

atrocidade em nome de um sonho, de um amor, é aplaudido de pé, lembro

agora do filme “cidade de deus”, quem vai dizer para Dadinho, e Bené que

matar é errado? Que traficar é errado? Quem vai dizer para Cortez que era

errado ele matar Montezuma em nome da coroa espanhola e da Igreja

Católica? quem vai dizer pra ele que sequestrar Montezuma é errado? quem

vai proteger homens altamente violentos e dissimulados de si mesmos? Quem

vai dizer que é anti ético escravizar pagãos?

Os índios aqui em América somavam 80 milhões, também formaram

urbs imensas, outros se reuniam em pequenos clãs e não conheciam

propriedade, porém cento e cinqüenta anos depois do século XVI foram

reduzidos a apenas 10% dessa quantia, quer dizer foram dois séculos de um

extermínio deliberado. E esse genocídio sendo exposto como um “bem”, do

bárbaro que se civiliza, saí do neolítico para a era moderna. É bem sabido que

os europeus passam a se considerar como os mais civilizados e se sentem

orgulhosos de sua força e seus costumes.

A questão levantada por Todorov é excelente, em um mundo que se

encontra na porta de saída do feudalismo, se dispõe a caminhar como uma

locomotiva para o capitalismo, como compreender porque uma civilização

egoísta vai abrir mão de ficar podre de rica em função do outro que é um

bárbaro? que é um canibal? que nem mesmo pode se defender da bestialidade

de seus ataques?

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Ensaio sobre a conquista da América Página 19

É bem sabido que Roma, Egito,Persas e Grécia usavam mão de obra

escrava na sua lavoura e mineração e tarefas domésticas, contudo as

mercadorias produzidas por escravos devem conquistar mercado. Ou seja,

alguém tem que comprar, pelo fato do comércio ter sido interrompida a Europa

se isolou em si mesma na tentativa de consumir somente o que ela própria

produz.

A escolástica se apropria das teorias de Aristóteles sobre a servidão

natural e a consciência de liberdade para admitir a escravidão de povos não

cristãos.O elo de junção Brasil, África Ocidental durante 300 e tantos

anos,formaram um fortíssimo laço econômico. Coincidentemente os povos da

cidade de Ketu de língua yoruba perderam a guerra contra os povos de lingua

Efom da cidade santa de Ifé, portanto foram reduzidos a condição de escravos,

na lingua Efom eles chamavam esses povos de anagô, ou seja piolhentos .

Justamente quando a coroa portuguesa conseguiu forjar aliança diplomática

com reino de Daomê para comprar esses cativos de guerra.

Especulou-se inicialmente que os portugueses teriam sido bem

recebidos no Congo, não devido ao espírito hospitaleiro do povo, mas sim

porque eram vistos como espíritos das águas. Os congueses foram também

receptivos principalmente no que diz respeito à nova religião que seria

ensinada pelos padres que partiram em missonadas pelo Congo. O próprio

manicongo deu ordem de se construir uma Igreja de pedra e cal para ele

mesmo se batizar. Os autores vão sugerir que a conversão dos congueses

tenha sido tão repentina que pode até ser entendida como um grande mau

entendido, a implantação do cristianismo no Congo era apenas uma fachada,

que a fé cristã fora recebida em virtude de conveniências e semelhanças

religiosas, pois no Congo acreditava-se em Deuses, na vida após a morte, e

que o divino pudesse tomar forma humana, e que mortos ressuscitassem. O

batismo seria equivalente a uma cerimônia iniciática que de certo modo os

congueses já sabiam como relacionar.

Houve também rejeição, os devotos das crenças tradicionais, pois a

nova religião também continha elementos que alteravam a lógica de

funcionamento social, incluindo a própria sucessão do manicongo, ao defender

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Ensaio sobre a conquista da América Página 20

a monogamia, a doutrina criava uma desarmonia com a tradição, e a circulação

de linhagens, pois os congueses desconheciam a primogenitura, e como

sucessor do manicongo poderia ser escolhido qualquer filho do rei por mulher

muissiconga.

O Alberto da Costa Silva vai desconfiar da sugestão de que os

portugueses seriam percebidos como entidades sobrenaturais por parte dos

nativos. Aqueles homens que desembarcaram das caravelas no Congo, mais

precisamente na margem sul do Zaire, denominado Mpinda, é que se

imaginavam deuses pelo próprio espírito megalomaníaco deles. Pois sempre

se imaginavam deuses onde quer que chegassem naquele momento. Seja na

América, na África ou na Oceania.

É bem destacado por Silva que o próprio mar é o espaço que separa o

mundo dos vivos e o mundo dos mortos na cultura africana. Assim, o albinismo

equiparava-se espiritualmente a outras anomalias, como aos anões, aos

gêmeos, aos aleijados de nascença, todos sendo interpretados como espíritos

das águas. O próprio autor supõe como o mais provável que essa idéia auto-

divindade tenha partido do grande sucesso obtido com as empreitadas

européias no além mar.

Após a sua chegada a Mpinda, Diogo Cão levou para Portugal quatro

congueses como reféns para aprenderem a língua e os costumes ibéricos por

aproximadamente 15 luas. Isso porque o monarca português desejava abrir

uma rota comercial com o Oriente, e também uma frente de batalha da que

partisse da África para enfrentar militarmente o Islã.

O governo preferiu desde do inicio se alinhar a Portugal como vassalo,

por isso o Congo passou a conhecer a o arado, o carro de roda, os moinhos de

água, o barco com varias velas, o serrote, tecnologias até então eram

desconhecidas..

"Desde a época da formação e consolidação do reino, os prisioneiros

de guerra eram escravizados e postos para a trabalhar nas roças..." (SILVA,

2002). Quer dizer, o escravismo no Congo era interdependente da guerra. O

escravo um bem de consumo e a guerra o meio de reduzir o inimigo aquela sub

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Ensaio sobre a conquista da América Página 21

condição. O que estimulou ainda mais aos conguenses resolver os seus

problemas com os vizinhos mediante a guerra. Produzindo estragos de uma

natureza que comprometia as relações de Portugal com o Congo, pois os

nobres declaravam guerra uns aos outros para escravizar seus vassalos,

vendiam-se pessoas endividadas, escravizava-se por pequenos delitos.

Pessoas eram seqüestradas e embarcadas escondidamente. Criando no seio

da nobreza da terra um sentimento de vingança, agressividade,

descontentamento e insubordinação.

Os portugueses tanto fizeram, que desfrutavam de exclusivismo

comercial em relação ao reino do Congo. O monopólio comercial não só colidia

com os interesses da nobreza conguense, como também não era respeitado

pela mesma, o manicongo proibia que os navios particulares tomassem cargas,

assim eles tentaram restringir a atividade comercial no litoral.

O manicongo presenteou em 1530 o soberano português com algumas

manilhas de prata, o que despertou a ambição do regente em tomar as jazidas

de onde aquele metal deveria ter saído. Mandaram Baltazar de Castro para

bisbilhotar onde se encontravam essas minas de prata, mas os nativos

pressentiram nele um informante, e conseguiram convencer o português de

que não havia minas de prata por aquelas regiões. O interesse de Portugal

pelo Congo se reduzia ao comércio de mão de obra cativa. O que terminou

gerando conflitos armados avassaladores, angicos, teques, vassalos do

manicongo, questionavam uma melhor divisão dos lucros e maior participação

nas fases do negócio. De modo que o Congo estava totalmente fragmentado

por disputas políticas e religiosas, perca de mão de obra, descontentamento

por parte da plebe e dos mussicongos e demais candas, fatores esses que

determinaram o sucesso do ataque dos jagas ao Reino do Congo. Os jagas

que eram descritos por sua imagem "feroz, nômade, antropófaga e destruidora

que vivia da guerra e do saque." O relato dessa invasão em 1568, é citada

pelo autor através da leitura do documento escrito por Filippo Pigafetta,

redigido do que lhe fora narrado por Duarte ou Eduardo Lopes, um comerciante

português que estivera no Congo, de 1578 a 1582, e fora enviado a Roma

como Embaixador pelo Rei D. Álvaro I. O rei de Portugal enviou-lhe uma força

tática para combater os invasores. Assim Álvaro I conseguiu retomar o controle

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Ensaio sobre a conquista da América Página 22

do reino. O tráfico voltou a prosperar em virtude dos prisioneiros obtidos em

guerras no lago Malebo, reino tio de Okango, no baixo Guango, fornecendo

escravos a São Salvador e ao porto de Luanda.

O advento da indústria fabril no século XVIII protagonizou a extinção do

trabalho compulsório, passo significativo para a fomentação da mão de obra

assalariada, entretanto convirá esclarecer que no ultramar, a escravidão negra

era primeira opção, até por ser um mercado extremamente lucrativo, muito

embora Ciro Flamarion indica-nos a existência de comercio italiano no

mediterrâneo de mão de obra escrava negra já na Idade Média, a chegada

portuguesa na África funciona como catalisador dessa prática. No entanto fato

destacado por Laura de Mello e Souza no seu trabalho a respeito da

escravidão, é que mesmo que houvesse escravos em Portugal eles não

tiveram importância, pois não existia codificação especifica."A primeira grande

remessa de escravos africanos chegou a Lisboa em 1441;durante o século XV,

Portugal recebia por ano uns 800 ou 900 escravos, que trabalhavam na sua

crescente indústria açucareira do Algarves, além de desempenharem os papéis

tradicionais de servos domésticos ou artesãos."(LOCKHART & SCHWARTZ,

2002: 47)A escravidão é um recurso que foi muito utilizado por economias

rudimentares como a Grega clássica, o Egito antigo, normalmente os povos

vencidos em guerra tornavam-se escravos. É uma maneira de acumular

riquezas e obter a menor despesa possível. E a violência sendo o instrumento

que mantêm a eficiência da produção. É bem sabido que a mão de obra em

Roma era escrava, na Idade Média era serva, porém em algumas

regiões(Leste Europeu) predominava a escravidão de eslavos por exemplo que

me parece que a palavra escravo é uma desinência de eslavo. Vários povos já

foram submetidos a condição de escravo. Os hebreus foram por mais de

trezentos anos cativos no Egito.Os aspectos observado pelo Professor

Fernando Novais no que diz respeito a Europa e a América assemelha-se a

visão do Caio Prado(e diga-se de passagem declarado seguidor), onde a

colonização não é um fato isolado mas parte de um todo, onde os anseios

econômicos metropolitanos eram a mola propulsora dessa colonização, e todas

as políticas conquistadoras tinha caráter mercantil, é sempre desejando o

trafico de mercadorias que os europeus agem, não excluindo nem mesmo o

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Ensaio sobre a conquista da América Página 23

clero desse paradigma mercantil de vida, é sabido a participação eclesiástica

no contrabando de ouro, diamantes e tabaco.Embebido por Karl Marx, Ciro

Flamarion, analisa os tipos de modos de produção aqui instalados, a tentativa

de fundamentação da tipologia desses modos de produção americana, dando

inicio a discussão de um suposto modo de produção colonial, salienta as

variantes desse modelo como o caso da Guiana Francesa como limite desse

modelo.Gilberto Freyre em Casa Grande e Senzala, inaugura a idéia de

democracia racial, que o negro era agente ativo da historia, penetrando nos

costumes,na cultura, no idioma, abandonando a antiga perspectiva de

passividade,apatia negra, através de uma leitura persuasiva ele tenta nos

convencer de certa doçura na escravidão, uma escravidão branda,

benevolente, e contrário a essa idéia recentemente surgiu uma revisão teórica

escravista,a chamada "new economic history´´que preocupa-se em exibir as

formas de resistência negra. Influenciado por essa "new economic

history",Gorender em suas reflexões metodológicas a respeito da escravidão

vai em Marx no que diz respeito a conquista entre povos e quando fala da

importância do caráter histórico da economia política. Gorender também

advoga contra essa historiografia que defende a escravidão como algo normal,

aceitável e ate mesmo não violenta por parte dos escravos. Ele posiciona-se

claramente contra essa hipótese, segundo ele infundada

historiograficamente,pois uma relação tão dicotômica, tão tensa como entre

escravo e senhor não poderia ser conciliável.No Brasil, com a industrialização

foi possível absorver o negro como operário e na guerra do Paraguai como

militares. E claro que a abolição da escravatura foi só o inicio de uma grande

luta pela própria liberdade em terreno estrangeiro, por melhores condições que

se arrasta até os dias de hoje.

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Ensaio sobre a conquista da América Página 24

1.4 Para que serve pensar a "descoberta"?

Para os economistas o trabalho é a fonte da riqueza, o trabalho é a

condição básica e fundamental de toda a vida humana. Já para os teólogos: o

trabalho na Idade Média, hora tinha peso de penitência redentora, hora tinha

peso de entusiasmo. "A Bíblia mostra, como se sabe, o homem condenado,

por sua própria culpa, a ganhar o pão com o suor de seu rosto. O trabalho é

uma maldição. Antes da queda, entretanto, o homem - a Bíblia também o diz -

participava com alegria do trabalho do Criador." (LE GOFF, 2008:77 ). A

expulsão do paraíso é um divisor de águas na significação do trabalho.

Adam Smith, em A Riqueza das Nações fala "A descoberta da América,

e que da passagem para as Índias Orientais pelo Cabo da Boa Esperança, são

os dois maiores eventos registrados na história da espécie [humana]"

Smith escreve isso em 1776 que a exploração da América assegurou a

riqueza da balança comercial para Inglaterra, Holanda, França e Alemanha; até

mesmo na Suécia, Dinamarca e Rússia na forma de acumulação primitiva de

capital o que possibilitou o desenvolvimento da manufatura.

Marx também se refere que no século XIX que a industrialização

permitiu ao imperialismo inglês dominar gradualmente Índia e Pérsia. Evento

militar esse só visto no tempo de Alexandre, O grande.

Ou seja, é bem verdade que no começo do século XVI as economias

européias estavam em uma miséria tão terrível quanto a do começo do século

II e III a.c.

Ora, nesse contexto, a igreja impunha uma moral senhorial que

depreciava a atividade do comerciante e ainda detinha o domínio da produção

agropecuária na cifra de 1/3, além disso as rotas para o oeste mais uma vez

foram obstruídas pela aliança da Hungria e da Boemia com os muçulmanos

como também a queda de Constantinopla pela turco otomano obstruía mais

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Ensaio sobre a conquista da América Página 25

ainda a tentativa de comercializar amigavelmente com o oriente que produzia

muito mais matéria prima que podia consumir por si só porém com as

subseqüentes desvalorizações do comércio da companhia das índias orientais

de especiarias e bugigangas com a Índia e China no século XVII, trouxe para a

América toda atenção da companhia das índias ocidentais em virtude da

pretensão de desenvolver um sistema de produção nas Américas através do

braço escravo negro.

O feudalismo vai perseguir o imaginário colonial na busca por uma

sistematização política semelhante às antigas monarquias medievais, até

pouco antes das grandes navegações, os valores e o comportamento estavam

ligados ao caráter agrícola, característica de quase todas as sociedades pré-

industriais. "Sem dúvida, porém, o principal tipo de trabalhador no Feudalismo

eram os servos. Contudo, não é fácil acompanhar a passagem da escravidão

para a servidão. Ela se deu lentamente, com variações regionais, mas sempre

acompanhando o caráter cada vez mais agrário da sociedade ocidental."

(FRANCO JUNIOR, 1983:39). Ou seja, a mão de obra era escrava, porém é

bem fácil acompanhar a mudança da passagem da mão de obra serva para a

volta da escravidão aqui em América. Cada forma de produção gera as suas

próprias relações sociais e as suas próprias formas de organização. Para

Braudel a evolução do homem é bem lenta cabendo ao historiador esmiuçar

esses progressões para que a História seja uma coisa viva e útil, que possa

tanto nos acalmar de nossas neuroses pessoais ,da nossa obsessão pelo

alienante, o fanatismo pela heresia , pela política ou mesmo o fetiche pelo

poder e pelo saber.

Page 26: Ensaio sobre a conquista da América

Ensaio sobre a conquista da América Página 26

1.5 Porque o tema me chamou atenção.

Epistemologicamente o pós estruturalismo permite que qualquer

resposta tenha base analítica e científica se perturbar a política burguesa. O

pós modernismo também relativiza a ciência em autômatos onde por incrível

que possa parecer todos os pontos de vistas estão corretos. Assim fica difícil

convencer a comunidade científica de que o problema pessoal de um

pesquisador seja um problema geral. Como também é difícil convencê-los de

que um problema geral , é seu individual. O governo vê nas universidades uma

solução imediata para o problema do analfabetismo, que deveria ter sido

resolvido no ensino fundamental I. A idéia é que como também muitos

professores universitários tiveram um péssimo ensino fundamental I eles optam

por favorecer os babões. O que reduz os programas de incentivo a pesquisa a

um curral de puxa sacos. Também vale ressaltar a falta de incentivo que a

editoras tem em publicar qualquer material que não seja de um escritor que já

tenha grande nome. Enfim, são muitas dificuldades mas serão resolvidas,

espero. Alguma hora algum professor vai ensinar as pessoas a entenderem

que os problemas filosóficos do século V antes de Cristo ainda estão em voga

e deveriam fazer parte de toda e qualquer pesquisa que tenha alguma

seriedade. As vezes o sujeito tem a presunção de saber alguma coisa porque

lhe concederam alguns títulos de mestre ou doutor ou pós doutor e ele começa

a criar dogmas, fazer arengas e perder a capacidade crítica de que na verdade

o papel do professor é incentivar as pessoas a amarem a virtude e odiarem os

vícios e isso não tem nada haver com nota, nem com passar de ano, nem com

publicar nada, muito menos com regência de sala de aula, pasmem os

licenciados. O próprio cristianismo nasceu com essa proposta de sobrepujar

moralmente o judaísmo, seu principal adversário, como também convencer os

romanos de que a moral romana que via no sucesso da republica a mais alta

virtude também era um fracasso, consistia em nada mais que cegos guiando

cegos.

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Ensaio sobre a conquista da América Página 27

2. O olhar de Colombo sob o povo nativo.

Não resta dúvida que para Colombo tudo passa por Deus,

principalmente a História passa por Deus, como é possível averiguar em

Manuel dos Anjos no século XVI, autor que se propõe a escrever um livro de

História Universal. A América já estava "descoberta", porém é preciso se

utilizar das autoridades, os sábios, a Bíblia é a principal fonte de conhecimento

e apreensão da realidade. Motivo pelo qual o autor não se arrisca a fazer uma

história do continente americano. Ora, o livro de História era escrito por

mandato do reverendo Padre Frei Fernando de Câmara, Ministro provincial da

sagrada Ordem de penitência. Certamente, se a História do homem não

estivesse em sintonia com a redação do Gênesis, não seria aprovada pelo

santo Ofício. Na pior das hipóteses poderia até ser considerado um herege.

A história do Homem começa com a divisão feita por Noé após o

dilúvio, que partilha os três continentes entre seus três filhos, Iaphet(Jafé) o

filho mais novo e que Noé mais amava ficou com a Europa, Sé o mais velho

ficou com toda Ásia e Cam(Cão) ficou com o continente maldito: a África. "O

ponto de partida da narrativa nos eventos mítico-religiosos retratados no

Gênesis, reproduzindo visão providencialista típica da literatura histórica

produzida na cronística medieval." (MACEDO, 2001: 02)

Ora, Colombo presta atenção a narrativa bíblica e não quer se indispor

de maneira alguma com a Igreja, de modo que se aqui em América outro

continente fosse, então para qual filho Noé teria dado? Será se o Genêsis se

esqueceu de mencionar a América? Ou se Noé não deu para ninguém e agora

caberia a Igreja dar para algum filho seu?

Cristóvão Colombo(Cristobal Colon), cujo nome significa "colonizador

portadores de Cristo", nasceu perto de Gênova, em 1451. Marinheiro,

navegador, capitão, e cartógrafo, e depois de 1480 ele dedicou sua vida ao

empreendimento audacioso de liderar a expedição para explorar o leste da

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Ensaio sobre a conquista da América Página 28

Ásia navegando para oeste. Sua proposta foi rejeitada pela Comissão Real de

rei Português João II (1481-1495 r.) Porque os portugueses preferiam explorar

a rota em torno de África; também eles acreditavam que sua estimativa da

distância para o Japão por oeste indo era demasiado curto. Seu irmão

Bartolomé Colon apelou aos da Inglaterra Henrique VII, sem sucesso.

Finalmente, em 1492, depois que o espanhol tinha derrotado os mouros em

Granada e expulsou-os e os judeus da Espanha, o rei Fernando (Fernando) e

Rainha Isabel concordou em financiar o empreendimento ousado. O primeiro

gesto do Colombo em contato com terras recentemente "descobertas" é o ato

da nominação, mesmo sabendo que aqui já tinha nome, é uma forma

declarada de ver a descoberta como expansão territorial espanhola, e também

não reconhece a diversidade das línguas mesmo sendo poliglota, e quando ele

se depara com a língua nativa ele recusa a admitir que seja uma língua, e ate

nos seus devaneios ele distorce a fala indígena adaptando para o que ele

queria escutar.

Acompanhado do olhar de Colombo sob os nativos, estava a

“Invenção” do “ser-asiático”, uma imagem que só existia na cabeça do europeu

renascentista, que não descobre, identifica. Porque Colombo esperava

encontrar o Grande Cã, asiáticos, encontrar a cidade de Quisay, agora

descobrir um novo continente nunca passou pela sua cabeça, e logo de inicio o

índio é negado como outro, e apresentado como um selvagem, um bárbaro,

desprovido de identidade diante do europeu “civilizado”, essa idéia sendo o

carro chefe da dominação imposta a esses povos, até mesmo no âmbito

religioso, onde inicia-se uma briga por um monopólio espiritual.

Nas cartas Colombo fala que os índios são generosos e covardes, que

um pequeno contingente de soldados europeus colocaria para correr

volumosos exércitos nativos, que os ameríndios eram muito afeiçoados a

cacarecos, trocavam perolas por pedaços de tigela. Um claro sentimento de

superioridade castelhana-genovesa, gera um comportamento protecionista,

Colombo ate proíbe os marinheiros de efetuarem trocas escandalosas.

Subitamente o discurso muda, justamente onde os covardes nunca vão

para o confronto direto, mas quando encontram homens isolados eles matam:

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Ensaio sobre a conquista da América Página 29

na verdade Colombo estava falando de si mesmo nessas cartas. Colombo

quando chega à América não vê exatamente a descrição de Marco Pólo nem

dos medievalista aqui , o habitantes de índia bem apessoados, educados,e a

existência de muito ouro. Na realidade o Todorov deixa bem claro que Colombo

ver o que ele quer ver, ele leu Imago Mundo de Pierre d’Ailly que o paraíso

estaria localizado numa região temperada alem do equador, o tema vira

obsessão para Colombo onde ele chega a afirmar uma certa irregularidade na

forma redonda da terra, notório que as crenças de Colombo influenciavam por

demais suas interpretações, ele chega a ver sereias.

Colombo não tinha prometido a Rainha Isabel buscar o paraíso , diante

da coroa ele tinha o pretexto de encontrar as Índias, mas ele viaja com isso na

cabeça sem contar a ninguém pois ao afirmar no seu diário que encontrou

vários sinais da presença do paraíso, isso vem a revelar que o "paraíso" para

Colombo não é uma realidade metafísica, ou seja, ele constrói uma realidade

que bem quer ,de modo que ele empreendeu uma viagem de navegação

simplesmente para identificar aquilo que já conhecia através de livros, contudo

quando o almirante chega as Ilhas do Caribe a realidade é bem outra, então a

partir daí ele passa a ficcionalizar seus registros de viagem,ele passa a

encobrir e deformar de modo a se ajustar com o que ele esperava encontrar,

pois para Colombo não é tão fácil abrir mão de suas predisposições. Colombo

fica maravilhado com a diversidade da fauna e da flora caribenha , é tanto que

suas anotações sobre os habitantes ficam em algum lugar entre as arvores e

os pássaros.

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Ensaio sobre a conquista da América Página 30

2.2 O comportamento de Montezuma frente a uma realidade não prevista.

Os Astecas tinham uma mentalidade mística, onde a vida era regida

pelo destino, conhecidamente pela data de nascimento, e há outra forma de

adivinhação que é por um acontecimento que saia do comum, como por

exemplo determinado sonho. Os presságios eram como avisos.

É tanto que aconteceu algo aterrorizante, na hora de comer, a refeição

virou partes humanas, intestinos, fígados e etc... diante de coisa tão horrível os

habitantes de Xochimilco identificaram que aquele era um péssimo presságio,

que significa a destruição da cidade.

Esta fraqueza da comunicação é vista principalmente nas atitudes de

Montezuma, o governante asteca. Ele foi alvo da dissimulação de Cortez, que

também procurava confundi-lo. Montezuma buscava informações sobre Cortez

e suas intenções, mas não sabia o que fazer, ou seja, paralisava-se diante das

informações. Este não opõe resistência à Cortez e deixa-se prender quando os

espanhóis atingem a capital Tenochtitlán. E mesmo preso, só preocupa-se com

o derramamento de sangue, e não em livrar-se de Cortez. Mas Cortez só é

favorecido com as atitudes de Montezuma numa primeira fase da guerra, pois o

governante é morto na “Noche Triste”, e depois disso os indígenas vão partir

para o ataque contra os invasores.

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Ensaio sobre a conquista da América Página 31

2.3 O comportamento de Cortez e a leitura dos signos e símbolos da cultura asteca.

O que Cortez quer, inicialmente não é tomar, mas compreender, os

signos são os atalhos que interessam-o, em primeiro lugar, não os referentes.

Sua expedição começa com a busca de informações e não de ouro, o que a

principio gera a antipatia dos seus companheiros que queriam riquezas

rápidas, mas ele não, ele antes de procurar ouro, procura uma interprete,

através da afetividade que la Malincha demonstra por Cortez ele capta a

divergência entre os índios, diferente dos astecas o Cortez só escuta

presságios divinos que o interessem.

Cortez tem sempre uma preocupação constante com a interpretação

dos outros, o que os índios irão pensar dos seus gestos, punindo severamente

saqueadores do seu próprio exercito, pois dão uma péssima reputação para

Cortez, ele ate anuncia que sob pena de morte ninguém deveria tocar outra

coisa senão comida, para aumentar sua reputação de benevolente, ele ate

deixa que os índios pensem que a bússola e o mapa tudo revelavam para ele

se tratando de geografia.

A primeira preocupação de Cortez quando está fraco, é fazer com que

os outros pensem que ele está forte(Sua tática militar preferida), não permitindo

o descobrimento da verdade, ele é extremamente sensível as aparências ,

quando é nomeado para liderar a expedição compra de imediato uma roupa

imponente, demonstra seu gosto por ações espetaculares bem consciente do

valor simbólico delas.

O segredo de Cortez foi o de em todas as suas ações pegar os índios

de surpresa, como se fossem eles que conduzissem uma guerra regular e os

espanhóis atormentassem com um movimento de guerra.

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Ensaio sobre a conquista da América Página 32

O modo particular que Cortez maneja a guerra, a pratica da

comunicação que é responsável pela imagem deformada que os índios têm

dos espanhóis que seus cavalos são imortais, e o melhor exemplo que é fazer

parte da elaboração do mito de Quetzalcoatl, interpretando o mito em seu

beneficio.

Cortez coloca em primeiro lugar a comunicação entre os homens, inter-

humano, já Montezuma coloca o mundo místico em primeiro lugar, porque é

nessa esfera que os adivinho interpreta o divino, o natural e o social.

Obvio que a visão mística não cega a visão dos fatos, nesse caso é

ação sob o outro que se mantêm em estado embrionário por intermédio dos

signos, mas em compensação sempre se informam sob o estado das coisas,

inertes ou vivas, por exemplo, na guerra sempre é utilizado os espiões, e

depois de um reconhecimento minucioso prestam contas aos dirigentes,

quando Cortez embarca na costa mexicana, Montezuma é informado

rapidamente por seus velozes vigilantes.

Montezuma sabia colher informações quando era sobre seus clássicos

inimigos, traxcaltecas, huastecas mas quando os informantes falam a respeito

dos imprevisíveis espanhóis se quebra todo esse intercambio de informações,

encontramos uma confirmação da postura espanhola nas previsões indígenas

que todas apontavam que os estranhos tomariam o reino.

O mais interessante é que Montezuma pune seus informantes, e

também os mágicos que tinham sonhos proféticos nada favoráveis eram

arremessados em calabouços para de fome morrer.

A associação que os indígenas faziam entre poder e a língua é

marcante na sua cultura. A ausência de escrita é um elemento importante,

talvez ate o mais importante, porque os pictogramas usados pelo asteca, não

são um grau inferior da escrita: registram a experiência e não a linguagem,

funcionando como revelador do comportamento simbólico em geral e ao

mesmo tempo da capacidade de perceber o outro.

No primeiro contato com a tropa de Cortez e os índios, os espanhóis

declaram que não buscam a guerra, e sim a paz e amizade.

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Ensaio sobre a conquista da América Página 33

“As mulheres as palavras, aos homens as armas”, nessa filosofia os

astecas entendem a guerra, mal sabiam eles que as “mulheres” no sentido

figurado ganhariam a guerra, porque com a assimilação da cultura astecas,

Cortez impõe aos astecas seu próprio tipo de guerra.

O comportamento dos espanhóis é sempre estranho, o asteca não

entende para que eles querem tanto ouro. Nas investidas astecas em que eles

se apoderavam das armas de fogo, elas eram oferecidas aos deuses nos

templos, quer dizer os espanhóis nem se dão ao trabalho de lutar, preferem ao

chegar, convocar os dirigentes locais e fazer um espetáculo com tiros de

canhão para o ar, onde os índios caem de pavor, onde o uso simbólico das

armas é extremamente eficaz.

Page 34: Ensaio sobre a conquista da América

Ensaio sobre a conquista da América Página 34

2.4 Os espanhóis teriam vencido?

Nos escritos dos conquistadores, sim, em alguns aspectos os astecas

provocavam até admiração dos espanhóis, quando Cortez emitia juízo a

respeito dos astecas eram sempre paralelizando com os espanhóis, até em

nível de civilização, as vestimentas muito bem trabalhadas, as casas de

alvenaria e madeira muito bem construídas, ouro e prata finamente trabalhada.

Realmente existia um choque cultural mas também o encanto, muito parecido

com a reação de um turista latino quando vai a áfrica, ou a Ásia, quer dizer,

mantendo-se estrangeiro a ela.

Os interesses dos espanhóis sempre foram metais preciosos, o

genocídio não foi um fim, mas um meio para esse objetivo maior, o ouro, no

seu objetivo eles falharam porque a maioria dos metais aqui encontrados foi

para mão da Inglaterra através de acordos comerciais (Tratado de Ultretch).

Obviamente o que possibilitou a conquista foi a maneira que os

espanhóis manejaram os signos, a imagem que eles queriam que fosse

passada, de guerreiros que nunca se cansavam, de oniscientes, onipotentes,

possuidores de cavalos imortais, porque os astecas nunca domesticaram

animais desse porte, e foi uma grande reviravolta na cabeça deles quando

viram os cavalos, o mito de Quetzalcoatl, que fora interpretado em beneficio

estrangeiro Ate a segunda fase da guerra pois esse mito vai acabar, porque os

indígenas enxergam a intenção maligna dos invasores. Além disso, acontece a

morte de seu governante Montezuma, que também representava os valores

religiosos, pois era um sacerdote.

Vale salientar o uso simbólico que Cortez fazia de suas armas, que só

faziam realmente barulho, num show pirotécnico, que assombrava os índios, o

desconhecido sempre causa assombro tanto faz ser hoje ou a quinhentos anos

atrás

Resumindo a Opera quando a civilização asteca choca-se com os

espanhóis, entra em choque um mundo europeu, que conhece a metalurgia,

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Ensaio sobre a conquista da América Página 35

que possui armas de fogo e cavalos contra índios que desconhecem o ferro,

aço e com armas menos eficazes como as lanças, arcos e flechas, e que não

contavam com a mobilidade do cavalo. Ao mesmo tempo os astecas

desconheciam aqueles instrumentos de ferro, e principalmente o cavalo, e isto

causa um efeito psicológico muito grande, assim como um forte temor. Outro

fator importantíssimo na “vitória” espanhola fora as alianças feitas com

algumas tribos indígenas. E para Todorov ocupa o centro da discussão em

torno das razões da vitória espanhola.

Durante os séculos seguintes , sonharam com o bom selvagem, mas o

bom selvagem já estava morto, ou assimilado, e o sonho estava condenado a

esterilidade, a vitória já trazia em si o germe da derrota, mas Cortez não podia

saber que seria aqui nos trópicos que o absolutismo senhorial deleitar-se-ia em

um pujante banquete e ainda se deleita. Em virtude da farta distribuição de

gordos lotes de terra as chamadas capitanias, desde cedo não incumbidos da

obrigação do cultivo da terra, e a desataviada economia monocultivadora

agrícola voltada à exportação na ditas capitanias de Bahia e São Vicente que

"davam lucro". A agricultura é a base de quase todas as sociedades pré

industriais, na América principalmente; isso quase sempre significava o cultivo

de milho, embora o complexo andino de batatas e cereais robustos de grande

altitude. A agricultura permanente significava que a unidade sociopolítica local

chamada muitas vezes de calpulli na região central do México e de ayllu nos

Andes, existia um sistema primitivo de trabalho rotativo chamado nos Andes de

mita, termo baseado na palavra que significa "volta" ou "rodada", e no centro

do México, de coatequitl mais uma vez "rodada de trabalho", e os ameríndios

da América portuguesa também praticavam a agricultura, e tinham um sistema

rotativo de trabalho bem menos rigoroso que a mita, pois a sua economia

também tinha como base o extrativismo como a pesca, caça, frutas e raízes, e

o plantio de mandioca.

"O paternalismo deste sistema, com suas ligações e obrigações

mútuas entre patrono e protegido, chefe de família e dependentes,

senhor e agregado, perpassava as camadas dos grupamentos

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Ensaio sobre a conquista da América Página 36

funcionais ou categoria econômica. Cada indivíduo ou grupo familiar

estava ligado a um patrono por laços de parentesco, obrigações ou

interesse. O sistema envolvia afeição e ódio e tinha lugar para pessoas

de características muito diferentes. Transferido para o Novo Mundo,

mostrou-se particularmente adaptado à situação de uma sociedade em

formação, com sua descentralização típica e sua necessidade de

incorpora origens étnica divergentes." (LOCKHART & SCHWARTZ,

2002: 26-27)

O território brasileiro foi desde logo fatiado como uma pizza em

grandes domínios rurais, cujos proprietários exerciam toda sua onipotência. A

instituição usada neste processo era a capitania hereditária, que datava

também data de precedentes medievais.

Bem como na América espanhola a elite criolla passou a controlar os

interesses da metrópole através do monopólio territorial, inclusive depois da

independência com o apoio "cimentador" da Igreja Católica para preservação

do seu poderes. O trabalho dos jesuítas extravasou e muito o seu compromisso

em Trento que era o de difundir a fé na América portuguesa.

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Ensaio sobre a conquista da América Página 37

3. Pelos conceitos da Igreja teriam os desbravadores furtado a América?

O furto é uma atividade muito sorrateira, exige do infrator destreza e

cautela. Imaginemos a facilidade que um gatuno pode desfrutar para roubar

uma ilha ou terras que ninguém conhece?

A falta de documentação e a dificuldade de vigilância existente na

Idade Média e Moderna, leva os salteadores a escaparem da acusação de

ladrões pois não podem ser surpreendidos pelo atestado de documentação

contrária. É principalmente essa maliciosidade que repercute mal. Ir-nos-emos

ver, que o conceito de furto para os doutores é bem amplo. Muito amplo

mesmo, passando até pela metafísica. “Um ladrão pode furtar a fama, a honra

e a fazenda.”

Criticamos muito, e exigimos uma sociedade laica, apartada de

concepções religiosas para o plano civil, porém o contato direto com as fontes

nos mostra que o esforço dos intelectuais dos séculos XVI, XVII e XVIII em

focalizar as implicâncias de variados tipo de furtos não foi em vão. Pelo próprio

regimento do direito canônico Cortez furtou a fama, a honra e as terras de

Montezuma.

Temos que sublinhar ainda que essa história seja cheia progressos e

regressos, Cuauhtémoc "o descendente das águias" conseguiu sustar o

avanço da falsa influência espanhola em América, Tupac Shakur também, por

isso devemos entender mais adequadamente que o poder legislativo canônico

e o judiciário são os mediadores entre diversos domínios sociais e

simbolicamente construídos, tais como passado e presente, nacionais e

estrangeiros, infratores e honestos.

"Os indivíduos reduzem-se aí a portadores de formas que os

comandam sem eles saberem. Os indivíduos vão buscar a essa totalidade o

seu sentido (invisível de fora dela). A unicidade de cada presente sacrifica-se

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Ensaio sobre a conquista da América Página 38

incessantemente a um futuro chamado a desvendar o seu sentido objetivo.

Porque só o sentido último é que conta, só o último ato transforma os seres

neles próprios. Eles serão o que aparecerem nas formas, já plásticas, da

epopéia." (LEVINAS : 10.); é justamente esse ato último a posição cabível ao

infratores, ou seja, ser ladrão é ser eternamente a favor da desordem.

Mostrarei que quando falamos de "furtum", com freqüência falamos sobre

"patrimônio", para os teólogos parece não haver limite para o processo de

qualificação deste gesto. Quase tudo é compreendido como furtum.

Os doutores nos sugerem a possibilidade de pensar o infrator de outra

maneira. O que precisamos colocar em foco nessa discussão é a possibilidade

analítica de se transitar por uma longa idade média. Em outras palavras: a

evolução do homem é muito lenta, nos séculos XVI, XVII e XVIII o furto tem a

mesma compreensão metafísica.

Não sabe-se distinguir pecado de delito, o estado é teocrático, o

próprio peculato que é um crime contra o estado é julgado por forças religiosas,

pois poderes importantíssimos como o legislativo se concentra na mão de

autoridades religiosas. Em que medida isso pode nos ser útil para entender as

concepções atuais de direito? Ora, a noção de furto hoje está estreitamente

ligada com a de inviolabilidade da propriedade privada.

Inequivocadamente, para os doutores o furto é considerado uma culpa

digna de castigo.

Deve ser respeitado como o sétimo mandamento da lei Mosaica.

Perpetuado no novo testamento por (P)Saulo: "Nem os ladrões, nem os

avarentos. Nem os injuriosos herdarão o Reino de Deus" (1Cor 6,10). Verdade

aceita inquestionavelmente até hoje.

Os conceitos de propriedade têm uma sobrecarga religiosa muito forte.

A doutrina que os doutores professavam, emite vários juízos

econômicos, a partir do momento em que valorizam e reforçam a

inviolabilidade da propriedade privada, existe um princípio econômico. É

competência do poder legislativo desenvolver leis para prever as infrações e do

judiciário punir e restituir as vítimas.

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Ensaio sobre a conquista da América Página 39

"A raiz, onde todos os males tem principio, é a cobiça, a qual seguindo

alguns se apartão da fé e se envolverão em muitos tormentos e

dores."(ANJOS: 208) . Os motivos que levam as pessoas a furtarem

voluntariamente, são os mais diversos possíveis. Como também os que levam

a não furtarem. Para os teólogos essas divergências implicam diretamente na

venialidade ou mortalidade do pecado. O apetite por bens materiais nem

sempre é o motor da velhacaria. Como veremos adiante.

Azpicuelta quando começa a discutir sobre o furto, ele vai fazer uma

primeira distinção bem chave, o furto mental do furto real:

"O mental é a vontade de furtar, porque basta querer ganhar

alguma coisa disto para que seja furto. e nas suas próprias palavras "os

pecados da vontade, boca, & obra, sam de húa mesma especia, & casta,

ainda que só os da vontade, não obrigam a restituição, como os da obra,

& boca." (AZPICUELTA: 171)

Algumas pessoas tem vontade de roubar porém deixam de subtrair

algo secretamente por temor ou vergonha. Ora,o furto mental, desobriga a o

infrato de qualquer tipo de restituição, isso porque, a restituição é comutativa.

Na lógica comutativa: pague o equivalente ao que se deve. Se nada deve,

nada paga-se. Ou seja, o Cortez estava pelo próprio código canônico em débito

com os Astecas, inclusive sendo obrigado a restituir tudo que lesionou.

Nenhum dos teólogos gosta de ficar se estendendo nessas questões

do furto mental, porque poucas pessoas tem a mentalidade mórbida a ponto de

ficar se imaginando furtando as coisas alheias, e nesse caso ainda mais

particular trata-se do sétimo mandamento erigido por Moisés.

Então sempre a parte menos breve e mais complicada é quando eles

tratam da restituição em furtos reais. Pecados que não exigem restituição,

não(ou pouco) ameaçam a ordem estabelecida por Deus.

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Ensaio sobre a conquista da América Página 40

No Capítulo XIX de um Manual Moral traduzido do castelhano e editado

em Coimbra(1668) nos sugere que esses aspectos foram expressos por

algumas categorias específicas:

"Quando se quita algo sagrado, ou de lugar sagrado, se chama

sacrilegium; quando persona libre para hazerla esclava, plageatus; si

ganado, bigeatus, si de parte publica, peculatus, se a persona particular,

alguma cosa fuera de las dichas; furtum: y quando se añade de

violencia; es rapina."(APOLINAR: 64)

A legislação é construída "em porções", pela simples razão de que a

universalidade não está acessível a uma única regra, em princípio podia até

estar, mas os teólogos em nenhum momento vão rejeitam a ideia de que casos

particulares devem ser tratados com certa exclusividade, pois se tratam de

bens metafísicos, uma regra geral poderia gerar até um dano espiritual maior.

Ora, mesmo para um crime de furto; existem muitas gradações. Penso

que as noções de “regras gerais” e de “regras particulares” devem coexistir e

harmonizar-se, devemos extrair de cada uma, as melhores noções, assim

podemos ter outro ponto de vista em relação ao tratamento com infrator.

Uma vez que a Igreja é o poder legislativo e o judiciário, é

perfeitamente normal que aconteça essa bandalheira. É tanto que quando é o

patrimônio da Igreja que está em jogo, é muito cômodo ao legislador clerical

que dê um mimo bem destacado ao “sagrado”. Voltando ao Apolinar, nos é

possível contar pelo menos seis qualidades de roubo.

Sacrilégio consiste em roubar qualquer coisa de locais sagrados, isso

tem uma implicância imediata. Os ladrões que roubam da Igreja tem uma

condenação mais energética, porque tanto faz o ladrão ser eclesiástico ou

leigo, “ainda que seja imperador ou Rei, está sujeito a Anátema” (IGREJA

CATOLICA: 150), que é a excomunhão com execração, ou até ser inteiramente

restituído as ditas jurisdições, bens, direitos, frutos e rendas que tiver se

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Ensaio sobre a conquista da América Página 41

apossado. Para os clérigos, mesmo que seja absolvido, depois da sua inteira

satisfação ele continuara suspenso do seu exercício, em quanto for a vontade

do ordinário. Ou seja, Montezuma era sacerdote, porém a lei católica não se

aplica a não católicos se tratando de sacrilégio. De modo que seus crimes

contra Montezuma pairavam sobre a esfera civil.

Essa advertência particular é o medo que os administradores da Igreja

tem de clérigos delinqüentes, que deveria ser por onde começavam e

terminavam os roubos dentro da própria Igreja. Porque uma pessoa de fora, eu

acredito que seja bem difícil, vai exigir um nível de sorrateiro muito alto, pra ele

roubar de dentro da Igreja sem ser identificado. Porque as Igrejas tem uma

organização bem particular, as coisas não ficam bolando pelos cantos. Tudo

tem um lugar fixo, apesar de cemitério católicos e tumbas dentro das igrejas

serem relativamente fáceis de serem furtadas.

Hora o furto se comporta como pecado mortal, hora como venial. A

venialidade garante a possibilidade de restituição, entretanto se roubar uma

relíquia mesmo que seja mínima, é mortal. Se comprar ou receber alguma

coisa de um ladrão, sem saber, não é pecado mortal. Ou seja, os donatários

que compravam ou recebiam por doação seus lotes de terra, se não tivessem

conhecimento que foram furtadas estavam totalmente desobrigados de

qualquer tipo de restituição.

A parte propriamente metafísica do furto é no que tange aos bens da

alma e do corpo, como persuadir um religioso a deixar a religião, peca

mortalmente e obrigatoriamente deve restituir a sua religião. Pode-se furtar

espiritualmente uma pessoa através de indução, maus conselhos e péssimos

exemplos que o induzam a ser excomungado. A restituição nesse caso é de

outra ordem, vai ser através da caridade e da oração. Ou seja, a conversão

forçadas dos povos ameríndios e africanos obriga a restituição através da

caridade e da oração.

O plagiato consiste no furto da liberdade de um homem livre para fazer-

lo escravo(o que fizeram com os índios aqui na América), o bigeato é o delito

que contempla animais, o peculato é o roubo de coisas públicas, por isso

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Ensaio sobre a conquista da América Página 42

podemos entender que o público, é o poder executivo, o Rei e seus

administradores.

Se objetos de particulares: furto, que caracteriza-se como a usurpação

de determinada coisa que não é de sua propriedade pessoal. Ao furto se inclui

também alugar uma mula para ir de Coimbra a Santiago, e ela perece, o

alugante terá obrigação de restituir ao alugador.

Aqui incluí também velho ditado popular: "Achado não é roubado", se

por acaso encontrar algum tesouro sem saber quem é o dono, mas deve-se

procurar o dono, se não é de quem acha. Qual foi o esforço que os

conquistadores tiveram em procurar os donos da terras em América para

devolver? Nenhum.

Segundo Aguirre. Já quando a apropriação indébita se dá através de

violência, então ela se denomina: rapinagem, dá-se comumente "per

violentiam", e é pecado muito mais grave que o furto. Cabe neste momento

esclarecer quantas maneiras existem de violência? Aguirre ressalta pelo menos

duas maneiras a "Conditionata" e a "Absoluta". A condicional é quando houve

consenso do proprietário. Por exemplo, o dono vê, e por medo de vingança

deixa de repudiar o ato imediatamente. A absoluta é quando não houve

consenso do proprietário. Essa é a parte que os teólogos mostraram muita

inteligência em distinguir, essa é a parte que perdura em outros termos até hoje

nos códigos penais modernos. Então, pela legislação vigente da sua época

Cortez, Pizarro,Balboa, Cook,Ponce de Leon,Soto, Córdoba , Velasques

cometeram "furtum per violentiam absoluta".

O furto é mortal ou venial?. Depende do que haver sido furtado, se for

algo insignificante(evidentemente que não seja sagrada), é venial. Tem sempre

que se levar em conta o dolo, se o bandido tinha plena convicção da gravidade

da atividade que realizou mesmo que seja "o pouco, que por nada se tem". É

mortal.

Francisco Apolinar considera que todo furto é pecado mortal, há um

consenso entre os teólogos nesse sentido. A não ser, quando é uma

quantidade muito irrisória. Apolinar, entretanto afirma que o pouco pra um,

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Ensaio sobre a conquista da América Página 43

pode ser muito pra outro. Já o Cardeal Cristóbal de Aguirre, autor de vários

tratados de teologia chega a uma aritmética para estabelecer claramente o

valor do que é suficiente pra ser pecado mortal, ele estipula por volta de 4

reales. Agora pro Rei, o ladrão poder até ser mais ambicioso, porque só é

pecado se for de um escudo pra cima.

Agora mesmo que seja um furto de baixo valor ou mesmo que se furte

de pequenas em pequenas quantidades, só a malicia de estar furtando

conscientemente já retira a venialidade da coisa. Ressaltar esse ponto significa

considerar que nem sempre a consciência está alerta e atenta, um sujeito

assim: anestesiado pelo álcool, pode roubar por ter perdido parcialmente a

consciência. Dependendo da intensidade do consumo, pode se até perder a

consciência completamente. A igreja geralmente é muito dócil para com o

beberrões. Também assim em grandes aglomerações as pessoas ficam

desnorteadas.

Obviamente o ladrão está sempre obrigado a restituir as suas

iniqüidades, principalmente se lesou o patrimônio de outrem, “mesmo que

sejam vários ladrões, todos estão obrigados a restituir.”(AGUIRRE: 275). O

tratamento pessoal que a Igreja destina a justiça é interessante porque foge

bem da perspectiva positiva que tem o direito atual, porque se várias pessoas

cometem um crime, o direito atual vai tentar achar o autor intelectual da

infração, vai procurar alguma liderança, por exemplo, em caso de saques em

massa, para os teólogos todos são obrigados a restituir. Afinal, é a terceira

parte do sacramento da penitência. Negar a restituição seria de certa forma

ficar incompatível com a doutrina erguida pós-Trento.

Ora, concepção também que foge bastante o Antigo Testamento: "Se o

furto for achado vivo na sua mão, seja boi, ou jumento, ou ovelha, pagará ele o

dobro" . No velho testamento é muito mais abominável o crime que lesa

propriedade. Apesar da mulher de Abraão, a Raquel haver furtado todos os

ídolos de Labão e nada ter restituído.

"Se o furto for praticado por muitos, todos devem restituir sua

parte, a restituição há de ser feita ao verdadeiro dono. Se o dono haver

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morrido, dê aos seus herdeiros, na falta deles dê a Igreja, ou aos pobres,

caso não haja lei municipal que contrarie a regra". (TAVARES: 215)

O furto, podemos entender que ele pode ser voluntário ou não. Porque

quando os teólogos não se referem somente ao furto de objetos concretos. Por

exemplo um notário apostólico, isto é: o tabelião eclesiástico. Ele tem sua

atividade especialmente criticada pelas suas "imperícias", quando ele não toma

as notas corretamente, ele furta a verdade da documentação, que pode ou não

ser voluntário, isso vai ficar a critério do Delegado da Sé Apostólica julgar,

podendo até suspender o exercício de seu ofício.

Sobre a justiça dos bispos nos séculos XVI, XVII e XVIII, podemos

afirmar que existe uma certa docilidade com os falsificadores. “A justiça nunca

há de se executar tão exatamente que não se possa ter lugar a misericórdia.”

(ANJOS: 52). A exemplo da mansidão de Cristo não devemos indignar logo,

nem condenar nossos irmãos, quando são imperfeitos ou nos fazem algum

agravo, mas procurar de os ajudar com amor, & rogar lhes que tornem sobre si,

& se emendem de sua culpa.(BRUNO: 94)

Esses notários que redigiam as escrituras públicas de arrendamento,

prazos, testamentos, doações, cartas de venda, procurações, requerimentos e

outras escrituras. Nas fontes há indicação de vários erros involuntários dos

notários, o que coloca em descrédito a própria visão positivista de que no

documento está contida a verdade, essas considerações por parte dos

teólogos podem até invalidar parcialmente a credibilidade dessas respectivas

fontes.

É sempre muito latente para os teólogos essa questão do homem

pecar conscientemente, porque evidencia a displicência que as pessoas

destinam a sua própria salvação. O intento maior do ser humano em vida é

trilhar o caminho para o céu e só quem pode garantir isso é a divina

providencia por meio da sagrada escritura.

Essas questões relacionadas ao patrimônio são muito interessantes,

porque na tradição do direito consuetudinário a propriedade é inerente ao dono.

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Ensaio sobre a conquista da América Página 45

Por exemplo a terra ela pode ser roubada, e mesmo que passe 50 anos o

antigo dono ainda vai poder dar cabo a uma guerra justa. Porque é muito justo

que ele possa reaver "as suas terras". O acesso a terra na Idade Média é uma

coisa bem peculiar. Porque nunca é mediante a compra. Dá-se através de uma

cerimônia onde o suserano cede ao vassalo parte de sua propriedade em troca

de auxilio militar. No topo dessa pirâmide vem o Rei. Conseguintemente todas

as terras pertencem ao Rei. Roubar terra não é uma coisa insignificante, é por

aí que começam e terminam todas as belicosas contendas da maioria das

sociedades pré industriais. Toda organização feudal baseia-se justamente na

posse da terra que abre precedente pro dono cobrar certo número de taxas

pelo uso dela.

Se alguém recepta ou compra um produto oriundo de roubo? Segundo

Apolinar se o sujeito comprou sabendo que era roubado, ele deve devolver ao

verdadeiro dono. Só que o receptador pode cobrar do dono os gastos que teve

para poder restituí-lo, e deve o dono pagar. Mas se o comprador efetivamente

não sabia que o produto era roubado, ele não tem obrigação de restituir

ninguém, pois não houve nenhum pecado aí. Ora, vejamos como os doutores

interpretam a lei suavemente, é o contrário do universal. A lei é diferente para

todos, em virtude de detalhes simplórios.

Concluindo, interessante notar que nesse período em questão, a

propriedade não se modernizou, passaram-se 300 anos, e o furto não perdeu a

maior parte das suas conceituações. A própria mulher pode ser objeto de furto.

“Determina o Santo Concílio que entre o raptor e a mulher

roubada, não possa haver matrimonio algum, além disso, o que rouba a

mulher é obrigado a dota-la decentemente, a arbítrio do juiz. Se a mulher

estando separada do roubador, e posta em lugar livre e seguro,

consentir em o ter por marido, que o roubador a tenha por

mulher.”(IGREJA CATOLICA: 256)

Só em 1788 com a Revolução francesa é que o furto vai mudar a

substancialmente a sua compreensão, e o progresso dos ideais liberais é que

vão abalar essa dinâmica erguida no feudalismo pela Igreja. Vai haver

evoluções normativas, as mulheres não vão mais ser tratadas juridicamente

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Ensaio sobre a conquista da América Página 46

como propriedades, a questão do foro interno e externo vai ser excluída do

código penal, pelo menos em relação ao furto, o peculato vai ocupar o lugar do

sacrilégio.

Podemos notar através de uma perspectiva total que há muitas

rupturas e muitas continuidades mesmo se tratando de uma questão que

parece pequena como o furto. Temo classificar como um avanço, a defesa da

Igreja pela restituição obrigatória, eu acredito pessoalmente que isso seja muito

interessante, o sujeito roubou, se arrepende e devolve e a vítima fica satisfeita.

O direito positivo não entende as coisas assim, se houve o roubo, deve

haver uma punição. Eu teria que encontrar alguma documentação concreta de

casos criminais, em que ladrões são pegues e devolvem, porém muito dessa

documentação ficou ocultada pelo sacramento da confissão auricular. Há uma

contrapartida muito boa da Igreja em relação aos ladrões.

A virtude da penitencia que nos ensina a querer castigar nossas

culpas, querer castigar os nossos atos, valoriza o arrependimento e a vontade

de não querer haver mais cometido e aceitar sofrer a pena por isso. O

arrependimento se caracteriza por querer não haver pecado. E jamais se

arrepender dos pecados alheios.

Porém, Azpicuelta adverte: "a absolvição do padre não é total"... e

desfecha "muitos dos pecados ficam obrigados a pagar por eles no purgatório

do outro mundo."

O Purgatório é um entre-lugar inventado no século XII. É um lugar da

geografia celeste que nasce da hesitação dos confessores em continuar

reprimindo ideologicamente o avanço de um novo sistema econômico que se

erguia lentamente.

"O artifício foi o Purgatório. O Purgatório nasce no final dessa

grande transformação imaginada pela Igreja como uma modificação de

toda a sociedade: a Reforma Gregoriana." (LE GOFF: 67)

Peca mortalmente quem descontenta a Deus, se alguém tem um

pecado mortal sempre estará nele até que se confesse, quanto maior o pecado

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Ensaio sobre a conquista da América Página 47

maior deve ser maior o arrependimento, de modo que podemos suspeitar que

os conquistadores pecaram venialmente no furto da América pois me parece

que eles não tinham compreensão que estavam danificando gravemente o

próprio espírito, pois não se tratava de reaver terras, nem estavam bêbados,

nem de complexo de inferioridade diante dos astecas e incas porém a Igreja

não os dissuadiu em nenhum momento a dar meia volta do caminho andado,

pois haviam padres e jesuítas nas embarcações e nas feitorias que conheciam

a doutrina bíblica e católica(concílios florentino(1439)-lateranense(1512)-

tridentino(1545)) e a lei mosaica, porém se houve o desleixamento e os

jesuítas foram negligente, por desgosto ou fastio que uma pessoa tem pra

edificar alguma boa obra. Caietanus se referem essas pessoas que tem má

vontade para jejuar, restituir o que é alheio, pregar o evangelho como pecado

mortal. Os padres não podem induzir licitamente as pessoas a pecar mas

podem negligenciar em avisar que alguém está pecando por temor. Agora se

eles não falavam por astucia por artimanhas por ardil, por vias fingidas e por

vias dissimuladas para alcançar algum fim que fosse já peca mortalmente.

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Ensaio sobre a conquista da América Página 48

3.2 Pelo direito canônico da Igreja a conquista da América foi guerra justa?

Batalha ou guerra injusta é pecado mortal. A primeira é a causa da

guerra ser injusta, a segunda é se o que manda fazer nao tem autoridade para

fazer guerra, e a terceira é o que faz a guerra mau intencionado.

Santo Agostinho disse, no cap Dominus noster, 23 q.2. A guerra justa é

a que se toma por vingança. Só os príncipes tem autoridade para chamar a

guerra.

Quando a guerra se move por interesse de fazer mal, ser cruel com o

inimigo, por fúria, ambições de senhores e coisas dessa sorte a guerra é

ilegitima.

A primeira coisa que o confessor deve atentar é se a guerra é justa ou

injusta. Deve também analisar quem mandou fazer a guerra, se era príncipe, e

príncipe se entende aqui por papa, o imperador, o rei, ou senhorio, suserano ou

soberano. Se um juiz enforcar um ladrão por ira é pecado, pelo mesmo motivo

fazer uma guerra pela ira é pecado.

Os que andam na guerra. Se os guerreiros desconfiam que a guerra é

justa, mas não sabem, não é pecado estar nela. A questão que Caietanus

coloca é se o soldo que ganhou em uma guerra injusta é licito?

Não pecam os súditos do príncipe que vão pra guerra por ordem dele.

Como também se escusa o algoz que mata o que o juiz condena. Ora, os que

fazem justa guerra pode cometer vários danos aos seus contrários com que

pelejam, e ainda contra o povo mesmo que sejam inocentes e careçam de

culpa. Isso inclui saquear casas, mas se a guerra for injusta todos que andaram

nela são obrigados a restituir todos os danos que causaram. As causas justas

da peleja, é a de defender o povo de deus dos seus inimigos, a outra causa

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Ensaio sobre a conquista da América Página 49

justa é a de reaver territórios perdidos, como os cristãos fazem contra os

mouros. A terceira causa é se um reino for injuriado por outro.

3.3 Os portugueses e espanhóis podem ser absolvidos?

Se eles tiverem se confessado e se arrependido e restituído,Sim.

Caietanus é bastante prolixo nessa parte. Primeiro para a absolvição ser válida

é necessária que o absolvente tenha jurisdição ou seja, no mínimo um ministro

do sacramento da penitencia. Só desse modo ele terá autoridade para

absolver.

A absolvição consiste no sacerdote proferir essa frase "Eu te absolvo".

Se não a absolvição não terá nenhum efeito. O sacramento da penitencia foi

delineado pelo Concilio Florentino dizendo que a absolvição são as palavras

que o sacerdote pronuncia. Porém a absolvição pode vir da Necessidade de

se confessar quando há iminente perigo de morte. Qualquer sacerdote ou

mesmo cristão pode dispensar a absolvição.

Até mesmo o Papa tem que se submeter ao sacramento da penitência,

como na hierarquia eclesiástica ele não está subordinado a ninguém, ele tem

autoridade para escolher qualquer sacerdote para operar o sacramento.

Os impedimentos da absolvição, alguns impedimentos acontecem por

via do confessor, outras por via do penitente. Por exemplo um confessor saiba

que está excomungado, não tem nenhuma valia a absolvição dele, pois ele não

tem mais o título de cura. Ou seja, além de furto, eles moveram guerra injusta

mesmo sendo convocada por um principal, porém as coroas de Portugal e

Espanha estavam motivadas por ambição, ou seja desejo excessivo de honras,

de modo a invalidar a absolvição concedida pelo clérigos em confissão

auricular.

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Ensaio sobre a conquista da América Página 50

4.O pecunialismo como modelo condicionante

Ângela Almeida concorda com Freire na quesito que toca a influencia

jesuítica nas famílias patriarcais do século XVI e XVII, os capelães da família

patriarcal não tinham nenhuma interposição no Brasil como os jansenistas em

Portugal. Ou seja, a fundação da família brasileira foi competência dos jesuítas,

Pombal é um jansenista e um calvinista por promover as reformas , pombal

queria secularizar o estado em Portugal. A reforma foi calvinista com aparência

de austero catolicismo . acusando juntamente de divulgar pascal e as teorias

cartesianas, como também é de Freire que vem o mito da mulher submissa e o

marido dominador, o elevado numero de filhos bastardos, caminha no sentido

antagônico da família nuclear burguesa. O fato de pessoas no Brasil aceitarem

se divorciar por leito em caso de traição masculina, pois muitas mulheres

queriam exercer a prerrogativa de virar cabeça de casal por ser um

procedimento de toda nobreza européia quando o marido falecesse. É difícil

pensar um principio de igualdade entre homens e mulheres mas esse

dispositivo patrimonial indica um lugar social importante da mulher de arras na

história agrária do Brasil e da América pois esse costume começa no século

XVI no contexto da Reforma promovida por Lutero que despertou o lado mais

conservador e autoritário da Igreja Católica no ecumênico Concílio de Trento,

tendo a confissão auricular como principal instrumento da auto delação para

Santa Inquisição perseguir os seus inimigos sociais, inclusive nas colônias.

Pelo pouco se conhece o muito. A história do longo século dezesseis é

um momento que o humanismo cristão traça rumos importantíssimos, pois quer

pensar principalmente o sacerdócio. Em toda história da Igreja apenas três

concílios vão pensar de forma pontual e abrangente a questão do homem

eclesial. Nicéia, Trento e Vaticano. A criação de centros de formação

sacerdotal foi um dos decretos do concílio Tridentino,a imprensa faz proliferar

uma literatura que instrui acerca dos dez mandamentos, os sete pecados

capitais, os sete sacramentos todos em sintonia com as novas resoluções da

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Ensaio sobre a conquista da América Página 51

contra reforma. A língua vernácula e as minúcias em que são descritos os

procedimentos, indica que sua finalidade é pedagógica bem como política. A

casuística6 é a pura lógica de analogia detalhista que leva em consideração

recorte de particularidades como condição social, gênero, etnia, estado de

consciência. Na ação de categorizar; o tom metódico dá ares de neutralidade,

entretanto: repulsa , tolerância , nojo, fascínio, indignação, desejo e a

indiferença indicam descontroles sociais até não-ditos. O probabilismo busca

nos teólogos de reputação as ambigüidades canônicas.Estes manuais são

freqüentemente elaborados apoiando-se sobre os dez mandamentos, os sete

pecados capitais e os sete sacramentos, os manuais conseguem trazer à tona

diversas ambigüidades do direito canônico. O detalhismo que os confessores

apresentam as situações parecem escandalosas quando visto pelos olhar

puritano burguês do século XIX e XX.

Só haveria necessidade de estudar todos bem detalhadamente caso a

proposta do trabalho fosse pensar a base da Igreja. Por hora nos limitaremos a

pintar uma introdução dos principais aspectos que circundam a influência deles

na nossa formação agrária. Na sessão XXIV do capitulo I na página 266 da ata

do Concílio Tridentino nos esclarece acerca do procedimento para convocar

funcionários da hierarquia como bispos e cardeais. O que é necessário para

fazer parte do alto clero? Madureza e Prudência. O processo eletivo deve

garantir promoções para espíritos grandes, para os mais dignos e úteis a

Igreja. Na teoria todas as pessoas idôneas têm direito de concorrer a qualquer

promoção concernente as diligencias da Sé Apostólica. Os concorrentes

devem ter nascidos de um matrimonio legitimo, e dotados de vida, idade,

doutrina, e todas as mais qualidades exigidas pelos sagrados Cânones, e

Decretos do Concilio. A profissão da Fé é autorizada pelo Santíssimo Pontífice

Romano. Quem verifica a idoneidade do concorrente a Cardeal? Um

consistório. Três Cardeais examinam com diligencia, dentre mais um deles

sendo o Cardeal Relator do Consistório, se os quatro afirmarem que o

promovendo é dotado de qualidade para a profissão, ele é ordenado, sob pena

6 A Casuística é um sistema de análise que leva em consideração um conjunto de elementos que

agravam ou atenuam os prováveis pecados. O probabilismo coloca o desejável a uma certa distância do exigível. A proliferação desses manuais foi característica principal do renascimento tomista que ocorreu na península ibérica durante todo século XVI, influenciados sobretudo pelas decisões do Concílio de Trento.

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Ensaio sobre a conquista da América Página 52

da salvação eterna dos membros do consistório. A hierarquia da Igreja dá

autorização de ordenação aos Bispos. Pode-se celebrar o sacramento da

Ordem. Uma vez padre, pode-se retornar a condição de leigo. Não é

necessário consentimento do povo, os que ministram alegando que a instrução

vem do povo são tidos pelo Concílio Tridentino como salteadores e ladrões.

Para Padre a rigorosidade é diminuta, afinal a obrigação dele é ministrar a

missa corretamente no mesmo horário, o controle da casa de oração que em

partes pode ser difícil, pois a conduta de todos passa por uma codificação,

devem-se evitar conversações vãs, coisas impuras e lascivas, passeios,

estrépitos, clamores.

Podemos dizer que por mais de cinqüenta anos houve um impasse se

as terras aqui do nordeste agrário português, permaneceram no controle dos

espanhóis e dos flamengos e em 1654 o comandante português Álvaro de

Azevedo Barreto toma o forte Forte Nossa Senhora da Assunção do domínio

holandês na costa cearense. Aqui, os dois acontecimentos não fazem parte da

história militar, mas da história social. Pedro Airton Queiroz Lima com sua tese

"A sombra das ingazeiras" advertia no Rio de Janeiro da dificuldade que é

pensar a história das estruturas sociais, do agrário e da consciência das várias

classes em relação aos cuidados com solo, das suas intercambialidades, suas

mobilidades, suas continuidades, sua totalidade na contradição dos interesses

do campo e da cidade, da colônia e da metrópole, do proprietário e do

agricultor, do liberal e do conservador, do homem e do animal. Mas vamos

dizer que por mais difícil que seja imaginar o mundo rural e escrever sobre a

estrutura fundiária antes da insurreição Pernambucana por ser um tema

muitíssimo indagado e estudado também é (ainda) desafiador.

É bem verdade que até recentemente os estudos fundiários se

focavam em teorias cíclicas e em teorias de dependência para esclarecer aos

brasileiros sobre a persistência da desigualdade e da injustiça social nas terras

do tupi. João Fragoso se valeu da definição "marxistas xiitas" para se referir

aos teóricos que dão excessiva importância a independência econômica.

Apesar de todos nos sabermos que a estrutura da sociedade colonial é

estática. Não há alterações de situação jurídica excetuando se; o liberto, que

avança um nível na escala social. Para não cairmos em anacronismos é

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Ensaio sobre a conquista da América Página 53

preciso lembrar a situação do negro no Brasil e em África como opostas, pois o

Mani Congo era uma força que representava os interesses dos negros em

relação ao Rei de Portugal.

Como podemos dizer que a luta pela independência política no Brasil

não significou o fim da exploração em Angola muito menos em Moçambique.

Claro que nesses casos devemos reconhecer a estrutura como fator

determinante no comportamento dos sujeitos. Os monarcas exigem obediência

cega de seus súditos, vide as pompas das cerimônias patrícias. A sabedoria

romana em relação a escravidão tinha uma máxima que dizia: "Est boni

pastoris tondere — no glubere pecus." que significa: - Do bom pastor é tosquiar

e não esfolar.

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Ensaio sobre a conquista da América Página 54

4.2 O triângulo: a Taça, a Moeda e a Forca.

A literatura espanhola vai se modernizar em paralelo a reestruturação

das forças táticas navais. Dom Quixote representa a crítica mais mordaz de

seu tempo ao descaso da monarquia e da nobreza castelhana em relação ao

poder de fogo dos turcos. As muralhas que protegem os castelos oferecem

baixíssima resistência aos canhões dos turcos. Se render foi quase sempre a

melhor opção no leste europeu. Foi o que aconteceu com a Hungria e com a

Boêmia. Apesar de mesmo traindo o catolicismo ainda podiam comungar do

sagrado cálice, assim determinou o Concílio de Trento.

A taça representa também o aspecto cultural que a Igreja imprime a

esse período, sendo recorrente a figura da taça nas mãos do clero nas

miniaturas dos livros da época. Representa poder mas também representa

servilismo, bajulação, parasitismo social, desinteresse com as coisas públicas,

a imprudência da embriaguez constante7. Assim como no século primeiro, é um

momento que Marte apresenta sua face mais maligna na história romana; - a

cavalaria fenece na covardia, cavaleiros decadentes viciados no jogo e na

bebida.

Quintus Curtius Rufus foi um historiador romano que viveu na época do

imperador Cláudio, na primeira metade do século ele dizia que a sorte não tem

pés; ela tem apenas mãos e asas. Adaptando o que o Quintos dizia para o

século XVI podemos dizer que a sorte não tem mãos e asas; ela tem velas e

canhões. Porque o sucesso da empreitada nas colônias é parecido com o

sucesso do Imperium Romano em Britania na época de Claudio, ou não se

assemelham as conquistas do império de Portugal, Holanda e Espanha em

África, em Ásia, em América e em Oceania?

7 Mercúrios é o Deus Romano do comércio, venda, lucro. Mercato é como também se chamam as feiras. A pecúnia é o elemento moral que busca aumentar os estoques de metais nos cofres de uma minoria.

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Ensaio sobre a conquista da América Página 55

O liberalismo ibérico é da ordem de que os homens valem o tanto de

dinheiro que tem. Pouca ou quase nenhuma preocupação se tem com a

riqueza futura da nação. Podemos até inventar um neologismo para essa

situação de Pecunialidade. A particularidade econômica da metrópole ibérica é

tão evidente que para não contradizer outras premissas do liberalismo

mercantil chamaremos esse paradigma de Pecunialismo. Apesar de nem todo

pensarem identicamente. Em 1571 Tomás de Mercado, teólogo de Sevilha,

declarava desumana e ilícita a traficância de escravos, tanto mais que

instaurava uma luta fratricida entre os próprios africanos.

Pecúnia é o termo em latim para se referir à moeda. Então o triângulo

formado entre Pecúnia8, Paterae e Patibulum pode refletir a singularidade da

percepção de riqueza que as lideranças políticas e militares da metrópole

almejam é bem diferente do que Adam Smith vinha sintetizando no

pensamento liberal burguês da gentry de Westmister que já se organizava para

um aceleramento econômico em termos nunca dantes vistos. Ou quem diria

que de uma pequena ilha que só tem lã e uma pequena frota marítima sairia a

maior potência econômica do século XVIII e XIX?

O triangulo formado entre a Taça, a Moeda e a Forca explicam em

parte como a economia se liga a sexualidade e ao sistema judiciário. As três

principais forças da estrutura que submergem o homem em um magma de

objetivos comuns e forças contraditórias buscando espaço e poder, que isso

pode chamar de cultura. A força do inconsciente também perpassa a

sexualidade e a economia em coisas praticamente instintivas que fazemos por

força dos ajustes sociais e da aprovação dos entes queridos.

Os três pontos levantados são admitidos como importante na minha

análise porque nessa compreensão de cultura basta três gotas da água do mar

para saber que ele é salgado.

8 Sinônimo de dinheiro, valores financeiros, cambiais, moeda.

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Ensaio sobre a conquista da América Página 56

As fontes analisadas, como Manuais de confessores, Dicionários

latinos, Gramáticas, livros de geometria, história indicam que a hipótese do

triangulo que existe entre a Taça, a Forca e a Moeda. Isto é, a Igreja, a

Nobreza e a Burguesia não entram em choque, eles se complementam no

sentido de que o Estado é gestado dessas três forças que se importam mais

com os problemas pessoais, visto a casuística ser a principal inspiração para a

literatura no século XVI. Há uma preocupação maior com a consciência

individual das pessoas de que com os efeitos pragmáticos reais das

transgressões, tanto que culmina com a invenção da tradição da confissão

auricular e a sua conseqüente aprovação no concílio de Trento.

Na História romana conta a lenda que uma gota de mel foi capaz de

curar Glauco enfermo, quase morto. O confessionário é essa gota mel que

salvou a Igreja Católica do fim iminente. A delação vai imprimir ao período uma

política de desaparecimento e terror onde qualquer opositor da monarquia ou

da Igreja é severamente punido. Aparentemente uma aliança sólida de não

agressão existe entre Monarquia,burguesia e Igreja, mas podemos dizer que é

apenas estratégica do ponto de vista histórico, pois quando os interesses do

Rei se chocam com os interesses dos burgueses eles derrubam as monarquias

estabelecidas em detrimento do fim do feudalismo e a aliança da burguesia

com a Igreja ainda permanece até a revolução francesa em França e nas

Américas até hoje no Brasil e na América Latina pois o estado nunca foi

divorciado da religião nem de seus preceitos.

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Ensaio sobre a conquista da América Página 57

5.A Efetiva apropriação da América

O procedimento para o efetivo apossamento das terras no Nordeste se

deu sesmarialmente. Em Ceará, o sistema de produção agrícola adotado tinha

como principal característica as baixas produtividades, fruto de instrumentos

agrícolas rudimentares. Isto fazia com que ocorresse uma grande redução na

oferta de produtos e quando houve estiagem faltaram reservas de alimento e

pasto para as criações, desse modo dizimando pessoas e animais por

inanição. O problema da pecuária no Nordeste estava de tal forma em

situação de desequilíbrio que para o historiador é muito interessante poder

esmiuçar tal assunto. A pecuária foi o aríete da colonização no sertão ao longo

do século XVII e XVIII. A boiada escorreu pelo agreste tendo o rio Acaraú,

Jaguaribe, Poti e São Francisco como estrada. O gado de corte fora

considerado outrora a “vocação” do sertão9; falsa crença decisiva para catalisar

uma profunda crise na estrutura econômica erigida pelo árduo trabalho dos

imigrantes devido a insustentabilidade socioambiental dessa produção no

território rural do sertão. O enfoque que a administração pernambucana

destinou ao Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte privilegiava uma orientação

mercantil interna. Desse modo desenvolveu-se nas ribeiras dos rios um

sistema de produção agressivo. Aspecto muitas vezes exaltado pelos cronistas

cearenses e pernambucanos devido sua lucratividade porém terminou

culminando na completa desestruturação do ciclo10 econômico do gado. O

desfalque do rebanho fora tão significativo que frustrou as atividades das

oficinas e açougues, somente sendo revitalizado pelo trabalho e competência

de José Martiniano de Alencar por volta de 1836.

Para essas afirmações sobre a colonização no nordeste brasileiro

realizamos a análise das principais características da estrutura agrária ao norte

9 "Em uma correspondência de 1788 dizia d. Tomás José de Melo, capitão general de

Pernambuco, que todo o gado dos sertões era para matar, salgar e navegar, expressão que retrata perfeitamente o centripetismo das oficinas." (BRAGA) 10

Aqui o termo ciclo não representa de modo algum uma concepção histórica minha que o tempo seja cíclico como o calendário mas sim da nomenclatura que a historiografia antecessora pensava a economia.

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da província cearense no período de onze anos antes da ruptura com

Pernambuco. Tal parte da pesquisa é desenvolvida para auxiliar os

historiadores que desejam compreender a estrutura fundiária dos criatórios

cearenses. Nela é indicada a presença de extensos latifúndios pecuaristas,

manejados por homens livres e laboriado por mão de obra escrava.

Quanto ao rebanho de gado vacum na região, podemos estimar em até

80 mil unidades(ou o dobro). A pecuária era uma atividade exercida por

grandes e pequenos. Uma média de 200 cabeças por fazendas. A realidade

que o banco de dados aponta é que a agricultura de subsistência era

estabelecida conjuntamente com a pecuária, visto que as fazendas "mistas"

possuíam cercas.

A existência de uma agricultura de subsistência principalmente de milho,

mandioca, feijão e arroz. A partir do último quartel do século XVIII podemos

destacar a produção de algodão. Um grande exemplo disso é o sítio de de

propriedade do Tenente Inácio da Silva de Araújo denominado “Almas”. Ele é

morador e proprietário. Ele criava 100 cabras. 60 ovelhas. 77 cavalos e 750

cabeças de gado. Possui 09 escravos. 18 Machados. Senhor Inácio é Tenente

e podemos admitir através dessas informações que existia a organização de

uma hierarquia dentro do patriarcalismo cearense. Tenente Inácio tem um

grande rebanho de gado vacum, é residente no sítio e possuí um bom número

de escravos pelo menos mais que os seus vizinhos.

Governador Manoel Ignácio de Sampaio em 1818 ordenou ao seu

ajudante Antonio Jozé da Silva Paulete que fizesse um mapa do Ceará. Silva

Paulete arrogou à Sobral, o litoral de Camocim, baixo e médio Acaraú,

Uruburetama e sertões de Canindé. Equivalente a toda bacia hidrográfica do

Acaraú que conhecemos atualmente, reputada em 14.500Km², sendo portanto,

considerada a segunda maior bacia do Ceará com o maio rebanho de gado.

Nesse momento tem importância citar Sobral, Aracati e Icó pois para os

historiadores e economistas além de sua dimensão territorial bem grande fora

justamente o de representar grande nicho da economia colonial portuguesa

como subsidiária da atividade exportadora de açúcar,11 pois quando em 1701

11

É bem sabido entre os historiadores que o cultivo de cana entre os primeiros donatários da colônia restringiu-se a uma pequena parcela da terra litorânea.

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Ensaio sobre a conquista da América Página 59

em carta régia fora proibido a criação de gado no litoral não excluiu a

necessidade de carne para alimentação e muito menos fora deixado de utilizar

a energia animal como força motriz das engenhocas. Quer dizer, é o mercado

do mercado, pois Pernambuco já era subordinado economicamente aos

interesses da metrópole lusitana. Daí pode-se entender que o compromisso

social da pecuária em Sobral no ano de 1788 fora de 3740 cabeças de gado

destinadas a navegar diretamente para os portos de Recife. Todas as entregas

devidamente catalogadas nos bilhetes de venda dos portos de Camocim, barra

do Acaraú e Itapajé.

A delimitação do período de extrema crise é de 1789 até 1799. As datas

são estabelecimento de uma ordem documental. Esses 10 anos revelam a

decadência das unidades produtoras de gado e o desenvolvimento da

cotonicultura ao passo que na historiografia cearense vai ser interpretado à

barganha de negociar diretamente com Lisboa como sendo uma autonomia

política maior.

"Com o advento da produção algodoeira, aumenta a necessidade de

uma comercialização direta com Portugal, intensificando-se as solicitações,

neste sentido, pelas autoridades representativas da Capitania à

Coroa”(GIRÃO: 1996)12

A ruptura é de uma ordem econômica, mas a própria historiografia

portuguesa registra em suas efemérides a desvinculação do Ceará em relação

a Pernambuco como sendo um grande marco político, como se o criar

alfândegas, casas de arrecadação e conceder títulos de nobreza fosse

desfrutar de autonomia, pelo contrário essas disposições só vinham a reforçar

ainda mais os laços coloniais. O primeiro Governador do Ceará era cavaleiro

da ordem de Cristo, denominado Bernardo Manoel de Vasconcellos que tomou

posse de seu importante posto em 1799. Segundo Almeida é anunciado que

Vasconcellos já possuía representatividade na colônia: “LISBOA 10 de

12

.Girão, Valdelice. Revista do Instituto Histórico do Ceará. "As charqueadas", 1996.

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Ensaio sobre a conquista da América Página 60

Novembro: Por Decreto de 18 d'Outubro de 1797. Governador da Capitania do

Ceará, o Chefe de Esquadra Bernardo Manoel de Vasconcellos.” 13.

"No Ceará contavam-se 972 fazendas..."(VARNHAGEN: 255)14. O autor

na estípula traz em números a quantidade de fazendas de gado no ano de

1775. Como podemos ver, há pouca possibilidade de considerarmos a

quantidade como irrisória.

Em cumprimento da ordem do Capitão-General e Governador de

Pernambuco D. Tomás de José de Melo15 tomaram a rol obrigatoriamente

todos os nomes de fazendas dos senhores, além de declarar as terras e

gados16, também foram obrigados a fornecer informações quantitativas sobre a

colheita de legumes e a venda de tais produtos. Sob pena de detenção e multa.

Desconheço a situação de alguém ter sido preso ou multado em virtude de não

haver declarado as posses.

Na região eram cultivados algodão, cana, fumo, arroz e feijão. Tudo

normalmente em pequena escala. As espécies nativas como a carnaúba, a

bananeira e os coqueiros não eram tão abundantes, o que tornava o

extrativismo pouco atrativo do ponto de vista econômico. Como muito bem vai

esclarecer Prado Júnior:

"A mediocridade desta mesquinha agricultura de subsistência que praticam,

e que nas condições econômicas da colônia não podia ter senão este papel

13

Manuel Lopes de Almeida. "Noticias Históricas de Portugal e Brasil (1751-1800)". Coimbra, 1964. 14

VARNHAGEN, Francisco Adolfo de. "Historia geral do Brazil". Tomo II. Rio de Janeiro, em caza de E. e H. Laemmert, R. da Quitanda. 1857. 15

Segundo Cardinal Francisco de São Luiz Saraiva e Manuel Pinheiro Chagas “ D. Thomaz José de Mello, Governador e Capitão General nomeado para Pernambuco, tomou posse do governo desta Capitanía em Janeiro d'este ano, e conservou-o até Dezembro de 1798, em que embarcou para Lisboa. Este Governador fez muitos melhoramentos em Pernambuco, cuja Capital ainda hoje attesta os seus benefícios. Mandou construir a Casa dos Expostos, e creou o hospital dos Lazaros; fez o aterro dos Affogados por onde não se podia passar nas marés cheias sem perigo. desterrou das janellas e portas o antigo uso dos peneiros, ou urupemas, mandando substituí-las co rótulas de madeira: regulou as calçadas das ruas, e fizeram-se por sua direcção alguns arcos de pedra na ponte do Recife." P.254. “Os portuguezes, em Africa, Asia, America, E Oceania." Volume VII. Lisboa: Typ. de Borges, Rua da Oliveira n°. 65. 1850. 16

Estudo do remanejamento da pecuária na zona norte do estado do ceará, departamento de recursos sócio econômicos - divisão de estudos econômicos, SUDEC - superintendência do desenvolvimento do estado do ceará superintendência do Estudo 1 volume. 1970 C.D.U. 636/639(813.1-17). Biblioteca Dr. José Guimarães Duque. N de Tombo: 010305. Data 26/09/07.

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secundário e de nível extremamente baixo, leva para elas, por efeito de uma

espontânea seleção social, econômica e moral, as categorias inferiores da

colonização."(PRADO JÚNIOR: 2006, p.161)17

Imbuído de um ânimo renovador, vamos sobrepor a leitura que se tem

da pecuária como categoria inferior da colonização, como também inferior do

ponto de vista ambiental, desse modo incorporando a visão de que a

degradação do meio ambiente foi precisamente o elemento de maior relevância

histórica, pois acarretou os piores danos. Discussão que escapuliu Caio Prado,

Novais, Furtado, Capistrano de Abreu, João Brígido e Girão18, justamente por

ser um debate levantado na atualidade19. Simonsen também é um dos que vai

deter-se apenas nas questões relativas ao alargamento das fronteiras e

fornecimento de subsídios para expansão de outras atividades econômicas.

“Alargadas as fronteiras econômicas, ocupadas as vastas regiões dos

sertões brasileiros, as economias e os capitais nacionais estavam

representados, em fins do período colonial, nos engenhos, na escravaria e na

pecuária. Foi a acumulação destes dois elementos, pela mineração, que

facilitou a rápida expansão da cultura cafeeira, cultura esta que, pela sua

natureza especial, exigiria fartos braços e amplos meios de transportes. Não se

houvessem acumulado no centro-sul brasileiro essas massas da gente e de

gado e não teríamos os elementos suficientes ao desenvolvimento de outras

atividades, à expansão da cultura cafeeira e ao reerguimento econômico do

país...” (SIMONSEN,1937)20

17

PRADO JÚNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. 47º Edição. São Paulo: Brasiliense. 2006. Prado vai analisar o sentido da colonização, um periodo de trezentos anos das instalações portuguesas através de vasta bibliografia e relatos de viajantes como Saint Hilaire, Von Martius, Luccock. Prado vai analisar a decomposição das principais estruturas erguidas pelos portugueses. O livro se divide em três partes “Povoamento”, neste capítulo vemos a variedade com que foi formada a população do Brasil colônia,"Vida Material”, nessa parte é dada uma ênfase maior à economia colonial, que tem na agricultura seu carro chefe, seguida da mineração e em escala menor a pecuária, e “Vida Social”, neste capitulo Prado vai traçar um paralelo entre a escravidão erigida no Brasil Colônia e a escravidão clássica. Centra as suas observações na família patriarcal como também aponta Buarque em "Raízes do Brasil." 18

A pecuária teve sua evolução histórica estudada além desse por Manuel Correia de Andrade, Alice P. Canabrava, Octavio Ianni, F. H. Cardoso e J. Alipio Goulart. 19

LÖWY, Michael. Ecologia e Socialismo. São Paulo: Cortez, 2006. 20

SIMONSEN, R. História Econômica Brasil, Vol. 1, 1500-1820. Editora Nacional, 1937.

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Com toda certeza temos de incluir na pesquisa o desastre ambiental da

estiagem de 1790-179421 além de ter sido a pá de cal na economia pastoril,

custou milhares de vidas:

"A grande seca de 1790-94 foi um destes momentos. Ao atingir

fortemente os criatórios cearenses, em especial o Jaguaribe e Icó, deixam as

charqueadas de Aracati sem fornecimento de carne, paralisando inteiramente

suas atividades. Ocorre, que neste momento as charqueadas gaúchas estão

plenamente organizadas e ocupam rapidamente os mercados de Salvador e do

Recife. Mesmo Parnaíba, aproveitando-se da crise no Ceará, ampliará, em

direção a São Luís e Belém, seu raio de ação."(TEXEIRA DA SILVA)

Na conjuntura temos a crise da mineração, a revolução industrial, o

crescimento da indústria têxtil inglesa, as revoluções burguesas. A própria

Guerra de Independência nos Estados Unidos vai inverter mais ainda a lógica

de produção agrícola no Ceará e superar o açúcar como monocultura

exportadora.

"Por volta de 1790, o Brasil já exportava mais de 10% de todo o algodão

comprado pela Inglaterra nos mercados internacionais, e na Paraíba e

Maranhão o produto desbancava o açúcar como principal fonte de riqueza,

penetrando, inclusive, em grandes áreas, antes ocupadas pelos domínios

pastoris, sobretudo a partir da abertura dos portos brasileiros ao comércio

estrangeiro, em 1808.” (SERRA)22

A produção pecuarista escravista do Rio Grande do Sul vai abastecer e

conquistar o nicho econômico que antes pertencia aos pecuaristas escravistas

cearenses23.

No sentido religioso a região de Sobral era disputada também pelo

Maranhão: "A diocese do Maranhão alcançava até a Fortaleza do Ceará; a de

21

“No tempo do seu governo sentiu esta Capitanía, por trez anos, a maior das sêccas, que occasionou a morte de milhares de pessoas, principalmente no sertão, pela esterilidade, e falta de mantimentos; cujo auxilio foi preciso procurar nas outras Capitanías, e muito mais a farinha de mandioca, com que então se proveu por muitos mezes.” Cardinal Francisco de São Luiz Saraiva e Manuel Pinheiro Chagas. “Os portuguezes, em Africa, Asia, America, E Oceania." Volume VII. Lisboa: Typ. de Borges, Rua da Oliveira n°. 65. 1850. 22

SERRA, Carlos Alberto Teixeira. "Considerações acerca da evolução da propriedade da terra rural no Brasil. ALCEU - v.4 - n.7 - p. 231 a 248 - jul./dez. 2003 p.231- 247 23

MAESTRI, Mario. O escravo no Rio Grande do Sul. A charqueada e a gênese do escravismo gaúcho. Porto Alegre: EST, 1984.

Page 63: Ensaio sobre a conquista da América

Ensaio sobre a conquista da América Página 63

Pernambuco até o rio de S.Francisco..." (VANRHAGEN: 1857 ,81) A diocese foi

fundada em 1677 por ordem da bula Super universas orbis Ecclesias.

"É notório, portanto, que inicialmente o território do Ceará não ocupava

um lugar de destaque no processo de colonização da América portuguesa, ora

fazendo parte do Estado do Maranhão, ora da capitania de Pernambuco. O

Ceará tornou-se uma capitania autônoma somente em 1799."(SANTANA)24

A Série Cartográfica utilizada na pesquisa é uma “Carta / Marítima e

Geográfica / da / Capitania do Ceará. / Levantada por ordem / do / Gov. Manoel

Ignácio de Sampayo / por seu ajudante d’ordens / Antonio Joze da Silva Paulet,

1817. Fonte: Gabinete de Estudo Arqueológicos de Engenharia Militar

(GEAEM). Lisboa. Desenho Nº 4578.”

O Banco de dados pertence ao “Estudo do remanejamento da pecuária

na zona norte do Estado do Ceará, departamento de recursos

socioeconômicos”. Elaborado pela divisão de estudos econômicos,

SUDEC(Superintendência do Desenvolvimento do Estado do Ceará) & UVA

(Universidade Vale do Acaraú) – 1º volume. 1970 C.D.U. 636/639(813.1-17).

Biblioteca Dr. José Guimarães Duque. N de Tombo: 010305. Data 26/09/07),

organizado pela professora Luciara Silveira de Aragão e Frota.

O relatório das expedições científicas do botânico Manuel de Arruda

Câmara25 nos ajuda a compreender em que nível de estudo se encontra a

ecologia e a botânica nesse momento. Também objeto de destaque para

Arruda é o que a geografia cearense tem de singular; condições favoráveis

para a produção do algodão, devido a boa adaptação da planta ao clima. A

preocupação com o clima, remonta ao início do ciclo do algodão que começa

antes do esgotamento total do sistema de produção pecuarista.

24

Profa. Dra. Marilda Santana da Silva. “A “reinvenção” do ceará em fins do século xviii e as negociações políticas com a coroa portuguesa. Anais do ii encontro internacional de história colonial.” Mneme – Revista de Humanidades. UFRN. Caicó (RN), v. 9. n. 24, Set/out. 2008. ISSN 1518-3394. Disponível em www.cerescaico.ufrn.br/mneme/anais1 25

Manuel Arruda de Camara nasceu em 1752 e faleceu 1810, botânico esforçado e discípulo do taxonomista sueco Carlos Lineu. Escreveu: “Memoria sobre a cultura dos algodoeiros, e sobre o methodo de o escolher, e ensacar etc : em que se propoem alguns planos novos, para o seu melhoramento. - Lisboa : na Officina da Casa Litteraria do Arco do Cego, 1799

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Ensaio sobre a conquista da América Página 64

Os empreendimentos até então da experiência agrícola no Brasil foram

marcados pelas tentativas de aclimatar os cultivos naturais de Portugal,

transferência notadamente fixada pelo preconceito, pois o homem vai alterar a

paisagem de acordo com sua bagagem cultural, no caso, latina e cristã,

estabelecida em Portugal ao longo da idade média.

Também mostra que o pesado trabalho de Camara não estava sendo

em vão. A botânica ao longo do século XVIII vai trazer enormes contribuições

na orientação dos cultivos para as zonas rurais:

“...distingue tres qualidades de terreno, para plantar algodoeiros, entre elas

a catinga. Catinga em todo o rigor do termo, entende-se por hum terreno cheio, ou

cuberto de huma especie de cassia, nao descrita ainda por Lineo, e que eu tenho

dado o nome de moscata. mas lato modo tambem se chama catinga hum terreno

cuberto de outro qualquer arbusto baixo, como eh o marmeleiro, valema, broterea

velame, e tem se generalisado tanto este nome, que ate chamam hoje de catinga

em algumas parte tudo o que nao é vargem, inda que seja cuberto de mata

virgem” (CAMARA: 1799, p.44) "..do mesmo modo, do Ciará, para o norte, e ainda

no interior dos certões, onde o cordao da serra, chamada bruburema, multiplica e

encapella os seus innumeraveis cabeos, como o Ybuapaba, Cariri-novo e todo

Piauyg.Porque tal serra da bruburema, que considero como o espinhaco da terra

de toda a capitania de paranabuc, forma hum cordao de muitos centos de lingua,

sem interruppção alguma. Este clima, que ate aqui tenho descrito, chamão

agreste." (Ibid, p.47)

Segundo o dicionário de António de Morais Silva, natural do Rio de

Janeiro. Espinhaço significa:

Espinháço. s.m .fig. Serie, ou continuação de montes. Barreiros, "huma

continuação de montes, a que alguns chamão espinhaço do mundo" Barros, 4. D.

"aquelle grande espinhaço, e corda de serranias" : "pelo meyo della (Ilha de

Socotorá) ao modo de espinhaço, "corre huma corda de serranias de huns picos

altos, e fragosos" Id, 2. 1. 3. "montes e serranias como espinhaço da terra para

estabelecimento, e incoporação de umas partes com outras(SILVA: 1831)26

26

SILVA ,Francisco Carlos Teixeira Da. A Pecuária e formação do mercado interno no Brasil-colônia. Estudos Sociedade e Agricultura, 8, abril 1997: 119-156

Page 65: Ensaio sobre a conquista da América

Ensaio sobre a conquista da América Página 65

O sucesso dos colonizadores nesse momento vai ser definido pela sua

capacidade de implantar as suas tecnologias agrárias, a reprodução de suas

plantas e animais vai garantir a eficácia da exploração do agente colonizador,

para isso será desenvolvido saberes científicos auxiliares ao plano imperialista

português.

É utilizado o “Projeto Resgate de Documentação Histórica. Documentos

manuscritos avulsos da Capitania do Ceará (1618-1832).” Fora selecionada a

Carta do ouvidor do Ceará, Manuel Magalhães Pinto e Avelar, à rainha D.

Maria I sobre a situação da referida capitania, em 3 de fevereiro de 1787.(CT:

AHU ACL CU 017, caixa 11, documento 644 & APEC. Livro 16:Portarias,

editais, bandos e ordens régias)

É utilizada também as “Datas de Sesmarias do Ceará e índices das

datas de sesmarias: digitalização dos volumes editados no anos de 1920 e

1928 / Organização Arquivo Público do Estado do Ceará. Fortaleza: Expressão

Gráfica / Wave Media, 2006. 2 CD-Room (Coleção Manuscritos/ Arquivo

Público do Ceará, v.03)” como fontes suplementares, pois não abrangem o

recorte, porém são importantes para compreender a dinâmica do apossamento

de terras. Bem como, utilizamos como fonte suplementar as “Ordenações e

Leis do Reino de Portugal. Duodécima ed. Coimbra, 1824. Tomo I. Imprensa da

Universidade, 1858.” e e o “Repertorio Geral ou Indice Alphabetico das leis

extravagantes do Reino de Portugal. Publicado depois das Ordenações,

comprehendendo tambem algumas anteriores, que se achão em observancia."

ordenado pelo desembargador Manoel Fernandes Thomaz, o provedor de

Coimbra. Tomo I. Coimbra, real imprensa da Universidade, 1815. Para

compreender o que a legislação informava sobre a atividade pecuarista na

colônia. As ordenações vão notificar aos canavieiros que afastem 10 léguas o

gado da lavoura, pois os mesmos ocupam muito espaço e causam muitos

danos.

O gado trouxe muitas riquezas para os fazendeiros, podemos enxergar

isso através dos testamentos, que tenho total interesse em poder entrar em

contato com esse tipo de fonte:

"Declaro que possuymos em dinheyro de ouro cento e oito mil reis e em

obras de ouro e prata o seguinte: um breve de ouro com tres voltas de cordám,

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Ensaio sobre a conquista da América Página 66

hum sambento esmaltado com tres voltas de cordám, uma cruz com seu

cordám, hum afogardo de contar de pescosso, dous pares de cadeados hum

grande e hum pequeno, dous pare de argollas pequenas, huma imagem de N.

Senhora da Conceyçam pequena e doze pares de botoens pequenos e tres

voltas de corais machos engrampados em outro, dous pentes de rigor de

tartarugas cuberto de ouro, e assim mays seys oitavas de ouro em pó..."(

testamento de Dona Maria Madalena de Sá e Oliveira extraído de "Cronologia

Sobralense"27)

O grande problema dos genealogistas é que a sua pesquisa é largada,

eles citam documentos importantes, porém não informam a localização exata

para consulta, dificultando um pouco o desenvolvimento de possíveis trabalhos

posteriores.

27

Araújo, Francisco Sadoc de, Pe. "Cronologia Sobralense" V.I, Fortaleza: Grecel, 1974. p 243.

Page 67: Ensaio sobre a conquista da América

Ensaio sobre a conquista da América Página 67

6. Considerações gerais.

Para mudar a História é preciso mudar a maneira de pensar a sua

criação, incluindo a investigação e narração. Tem gente que vai fazer uma

narrativa historiográfica militar e se baseia, por exemplo, "A cidade de São

Paulo na Segunda Guerra", aí o cara faz "A cidade de Fortaleza na Segunda

Guerra", mesmo que você tenha boa vontade em fazer essa tarefa, você está

procurando por encrenca, pois ninguém dará por esse livro uma bolota podre.

Porque qual vai ser a sua contribuição na comunidade acadêmica a não ser um

descarado plágio?

As vezes o sujeito fica todo inchado porque passou em primeiro lugar

na faculdade ,deste modo então, ele pode escrever qualquer trabalho mixuruca

e todos são obrigados a aplaudi-lo de pé pelo seu grande galardão, apesar

dele não ter tido esforço de nada, a não ser passar em um vestibular ridículo

que não mede conhecimento de nada,ou seja as virtudes de caráter são postas

a prova na vida e não em avaliações somativas. Porque de antemão todo

mundo vai pensar, "-Ah se ele tirou primeiro lugar na prova do vestibular então

ele sabe de alguma coisa " porém ninguém vai lembrar que ele nem sequer

acrescentou um torrão a um vasto campo, pois encontrou as mesmas

justificativas, o mesmo corpo teórico, a mesma bibliografia e inclusive as

mesmas conclusões de São Paulo em Fortaleza28, claro que é um mal começo,

tem pessoas que leem Casa Grande e Senzala, e se tornam imitadores fracos

de Freyre e utilizam as mesmas fontes para chegarem as mesmas

observações de Freyre. Melhor seria ficar calado do que ficar batendo cabeça

com essas análises superficiais e orientadores superficiais e vestibulares

superficiais, porque nem desconstrutivismo isso é, porque ele não admite que

não consegue desenvolver seu objeto de análise a sua própria análise ao invés

de ficar apontando as horas errada no relógio?

28

Se assim fosse, daria para um bilhão de parvos escreverem um bilhão de teses de mestrado porque existem um bilhão e cidades no mundo. É como se faltasse originalidade e assunto para os acadêmicos.

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Ensaio sobre a conquista da América Página 68

Freyre acreditava numa maior liberdade de interpretação sociológica e

histórica, assim ele ultrapassou limites bem como Câmara Cascudo.

Os historiadores e sociólogos ficam em estado de inércia por séculos,

com raras exceções, é claro, grosso modo a maioria da produção acadêmica

atual não se distingue da produção da geração passada e da retrasada. Um

bom exemplo da impressionante capacidade de mimetismo dos nossos

historiadores, é o contágio pela escola dos Annales. A escola dos Annales

representou para o pensamento histórico contemporâneo uma transformação

epistemológica decisiva, a história voltou-se para vida, Henri Pirrene um dos

historiadores mais importantes do século passado convidou Marc Bloch para

um passeio através dos prédios recentemente construídos, Bloch acrescentou

ao convite a seguinte observação: "Se eu fosse um antiquário, só teria olhos

para as coisas velhas. Mas sou um historiador. É por isso que amo a vida".

Comecei a analisar minha fontes instintivamente, por exemplo eu li

Pedro Abelardo, "Lógica para principiantes",e ele falando sobre as "querelas

universais" é algo duro de engolir, porém para os seus contemporâneos, aquilo

era realmente extraordinário, intelectuais vinham dos quatro cantos da Europa

discutir essas querelas com ele, chegou a "ensinar" seu próprio orientador em

Paris, Guilherme de Champeaux(o que lhe custou muito caro), o próprio papa

lhe permitiu que ele continuasse a sua pesquisa que colocava a Bíblia fora da

bibliografia exigida. Será que não existe nada aproveitável desse livro "lógica

para principiantes" que não seja a lógica, que não seja as querelas, claro que

sim, no texto perpassa milhares de elementos que uma pessoa bem ávida de

saber, o texto vai evocar inconscientemente a educação na Alta Idade

Média(Conforme o recorte do Le Goff), vai falar sobre o cotidiano, as coisas

que andavam piores do que eles admitiam, vai falar sobre as relações de

poder, entre professor e aluno, entre suserano e vassalo, entre Deus e o Diabo,

a própria escrita está permeada de conflitos. Ora, uma idéia coerente deve

partir da sua própria cabeça e não dá fonte, a fonte não diz nada, quem diz é

você, acredito que esse deva ser um elemento que as gerações predecessoras

exploraram, que não são de todo modo algo a ser esquecido no momento do

trato com as fontes. Aí seu trabalho vai começar a ter algum impacto, porque

evocando as relações de educação na Baixa Idade Média(em um recorte mais

Page 69: Ensaio sobre a conquista da América

Ensaio sobre a conquista da América Página 69

tradicional) e trazendo para o presente, enxergando as rupturas e

continuidades, o que se perdeu no caminho, o que permaneceu, porque se

perdeu? porque permaneceu? Você vai começar a ficar prestes a passar

algumas boas horas do ano tentando responder pelo menos um terço das

interrogações. Porque também grandes vão ser os desertos, tem repostas que

não existem. E outra: - se você for buscar justiça, ou lógica na História, desista.

Nem tente. O passado ele não tem nenhuma causa nobre que o guie, nenhum

Deus, nenhum Diabo, os homens maus que atuam na história mediante as

suas ambições de poder não são frustrados, não existe nenhum plano divino

guiando as ações humanas no passado, nem no presente, é muito pessimismo,

mas parece que os maus sempre vencem nessa terra. A nós que somos bons

por nos portamos com inteligência no caminho reto, sem precisar pisar em

ninguém, nem mentir, nem furtar, nem matar, que seguimos os estatutos da

Bíblia e a lei mosaica, só nos resta reprovar a ações dos perversos e orar para

que as trevas na prevaleçam no futuro.

Em certa ocasião enviei um email para um renomado medievalista

brasileiro; perguntando acerca dos estudos de história antiga e medieval no

Brasil, ele me respondeu com um desdém típico dos historiadores picaretas

dando a entender que se eu quisesse estudar eu teria que ter dinheiro pra

esnobar uma vasta bibliografia e fazer muitas viagens. Definitivamente não

gostei e não concordei com sua resposta de maneira alguma, nem as editoras ,

nem as agencias de turismo vão enriquecer as custas de um dinheiro que eu

nem tenho.

Quer dizer que agora a História tem que contar com o "prestígio" dos

mecenas? ou então o estudante tem que ser filho de desembargador, doutor,

médico ou advogado. Com certeza vigaristas desse tipo que eu vou ter que

enfrentar, e estou disposto a bater de frente. Eu não tive oportunidade ainda de

responder aquele email, mas na contramão do que ele falou eu tive

oportunidade de recolher uma bibliografia que excita e assusta, mais de dois

mil livros devidamente registrados e catalogados.

O Google está com um projeto revolucionário de digitalização, as

Bibliotecas idôneas dispõem um acervo riquíssimo para os interessados,

Page 70: Ensaio sobre a conquista da América

Ensaio sobre a conquista da América Página 70

existem também fundações gananciosas como a Fundação Getúlio Vargas que

fazem dos arquivos um meio de arrecadação, porque se o material já está

digitalizado pode muito bem ser oferecido gratuitamente, mas não, eles

preferem se trancar e fazer dos arquivos um comércio, uma mercadoria, que se

depender de mim nunca ganharão um centavo por essa iniciativa.

Em todo meu trabalho, eu procurei trabalhar apenas com material

disponibilizado pela biblioteca de ciências humanas da UFC e material

disponibilizado gratuitamente na internet. Essa foi uma das condições impostas

por mim mesmo que não me atrevi a desrespeitar enquanto eu nao obtivesse

alguma remuneração.

A história ensina que pra você poder escrever sobre história, você tem

que ter mestrado, doutorado, é a história contada pelos vitoriosos. A própria

história define que poucas pessoas dão certo, e os que não conseguem são

tratados como fracassados, os que não conseguem titulações quando olham

para própria graduação com a sensação de que não valeu a pena. Mas eu não,

e tive um projeto e tentei a todo custo realiza-lo, e não para impressionar os

outros, mas pra responder questões existenciais muito minhas. Não quero

partir para uma história das aparências, eu quero responder minhas dúvidas,

quero fazer um trabalho, terminar e me sentir seguro do que eu disse e os

outros saberem que é meu por ser já as coisas que eu digo mesmo.

Existem três tipos de livro, os protegidos por direitos autorais : os que

estão a venda, livros protegidos por direitos autorais, mas esgotados, e livros

não protegidos por direitos autorais, esse último sendo permitido a leitura, o

download, a impressão. Na minha pesquisa eu trabalhei somente com esses,

como eu não sei muito latim e menos grego, os livros que quebraram a patente

são os do séculos retrasados. Abre mais uma porta para os historiadores. Essa

é uma parte estética do meu trabalho, mesmo que eu não dissesse. Dentro

dele está o principio da gratuidade, pois não houve nenhum erário direcionado

para essa pesquisa,

Realmente foi um olhar do interessante do google para o público

acadêmico "O público acadêmico poderá se inscrever por uma instituição para

executar consultas eletrônicas pelo catálogo, sem precisar ler cada livro.".

Page 71: Ensaio sobre a conquista da América

Ensaio sobre a conquista da América Página 71

Porque tem muito avaliador tapado que pensa que internet é o lugar do "copiar,

colar da Wikipedia".

A parte metodológica, também é interessante situar, pois eu trabalho

apenas com os livros digitalizados completos, uma metodologia que garante o

alargamento do meu trabalho em rumo infinitesimal, pois paulatinamente está

sendo disponibilizado mais e mais fontes e eu estou sempre escrevendo. Se

daqui a cinco meses eu procurar novamente material, eu irei encontrar fontes

novas, sejam artigos, sem monografias, sejam fontes primarias e vou

acrescentar mais e mais ao meu trabalho.

A minha própria metodologia me alerta para uma parte da teoria,

porque eu tenho que levar em consideração os excluídos digitalmente, porque

se a internet for um luxo diante das desigualdade clássicas como alimentação,

saúde, habitação e emprego.

Eu não considero a internet supérflua, é um excelente meio de

comunicação, e está inserido no lazer e é uma indicação de qualidade de vida.

Discriminação é na dinâmica da sociedade em que vivemos a internet ser

considerada um luxo e não ser criada possibilidades de democratização dessa

tecnologia.

Page 72: Ensaio sobre a conquista da América

Ensaio sobre a conquista da América Página 72

7. Referências Bibliográficas e Fontes

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Page 77: Ensaio sobre a conquista da América

Ensaio sobre a conquista da América Página 77

Índice Remissivo

1

1492, 5, 28, 78

A

alteridade, 5, 6, 7, 8

C

Colombo, 5, 27, 28, 29

Cortez, 5, 10, 18, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 37, 39, 42,

61

E

escravidão, 19, 22, 25, 53, 61

F

feudalismo, 18, 25, 45, 56

furtum., 38

I

Idade Media, 12

índios, 18, 28, 31, 32, 33, 34, 35, 41

M

manicongo, 19, 21

Montezuma, 5, 18, 30, 32, 34, 37, 41

T

Todorov, 18, 35

Torodov, 5

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Ensaio sobre a conquista da América Página 78

A Memória é de vital importância para o individuo, é conhecimento do

passado, do seu passado, de maneira mais atomizada, é o caminho para a

sobrevivência, a chave para o sucesso, ou a ante sala da loucura, é preciso

saber manejar o seu passado muito bem para não cair em cadeias, também

para não sofrer de complexo de inferioridade achando que a história do outro é

melhor.Reduzir o passado a fatos intrusivos é não refletir sobre tudo que lhe

concerne, ou seja, é dar um atestado formal de indiferença no que lhe diz mais

respeito que é a conservação da sua identidade. A sua maneira de lidar com o

mundo, e estar no mundo. Essa pesquisa abrange tanto memória como o

poder e tem a intenção de despertar a curiosidade do piedoso leitor e o senso

crítico nos investigadores que desejam uma visão imparcial e individual sobre a

descoberta da América sem anacronismo ,nem partidarismo, nem dissensões.

Óbvio que nosso desenvolvimento histórico como nação e nacionalidade passa

por esse tema e é mais óbvio ainda que muito pouco se sabe sobre o que de

fato aconteceu entre 1492 e 1799. Os pesquisadores trabalham na metodologia

das compilações muito pouco ousam interpretar e não oferecem outros signos

para os leitores sobre os fatos que pra eles são imutáveis. A questão que mais

pesou na minha análise foi o atrevimento da Igreja nesses momentos, que foi

decisiva em proteger seus discípulos e seu patrimônio mesmo que para isso

tivesse que desacatar a doutrina que estava em voga.