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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIOGRANDE DO SUL PPGEEI- PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS ESTRATÉGICOS INTERNACIONAIS ESTUDOS DE ECONOMIA POLÍTICA INTERNACIONAL - GEOECONOMIA E GEOPOLÍTICA A IIRSA como instrumento para o desenvolvimento brasileiro: o caso da Tríplice Fronteira Brasil-Argentina-Paraguai 1 Ludmila Losada da Fonseca 2 RESUMO Aborda-se no presente ensaio a integração física da América do Sul através da IIRSA (iniciativa para a Integração de Infraestrutura Regional da América do Sul) como um componente de um projeto para o desenvolvimento brasileiro. Esta proposta de integração física está relacionada a uma lógica internacional e é produto da evolução histórica das doutrinas do desenvolvimento, apresentadas por Thorbecke com o corte temporal da década de 1950 a 2005. Para além deste fator, também nota-se a IIRSA como uma ferramenta para se intensificar a conexão entre os países membros através das obras de infraestrutura. Para tanto, realizou-se um recorte espacial na Tríplice Fronteira, para analisar de que forma este projeto se materializa no território, já que esta região se insere na agenda dos projetos prioritários de integração. INTRODUÇÃO A integração se apresenta como alternativa para os países da América do Sul em se inserir no mercado globalizado frente à hegemônica potência dos Estados Unidos e da União Europeia. Neste sentido, a UNASUL (União das Nações Sul-Americanas) possui como uma de suas políticas para à integração a IIRSA (iniciativa para a Integração de Infraestrutura da América do Sul). No entanto, no presente ensaio objetiva-se não só a sua caracterização como parte de um projeto de integração, mas principalmente como ela se apresenta enquanto ferramenta para o desenvolvimento econômico brasileiro. O presente trabalho situa-se nos estudos desenvolvidos no campo da Geopolítica por abordar uma problemática que relaciona governo, estrutura social, recursos e o território. Sobre a definição de Geopolítica, Correia (2010, 1 Ensaio como trabalho final para a disciplina de Estudos de Economia Política Internacional - Geoeconomia e Geopolítica do PPGEI. 2 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIOGRANDE DO SUL PPGEEI- PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ESTUDOS ESTRATGICOS INTERNACIONAIS ESTUDOS DE ECONOMIA POLTICA INTERNACIONAL - GEOECONOMIA E GEOPOLTICA A IIRSA como instrumento para o desenvolvimento brasileiro: o caso da Trplice Fronteira Brasil-Argentina-Paraguai1 Ludmila Losada da Fonseca2 RESUMO Aborda-se no presente ensaio a integrao fsica da Amrica do Sul atravs da IIRSA (iniciativa para a Integrao de Infraestrutura Regional da Amrica do Sul) comoumcomponentedeumprojetoparaodesenvolvimentobrasileiro.Esta propostadeintegraofsicaestrelacionadaaumalgicainternacionale produto da evoluo histrica das doutrinas do desenvolvimento, apresentadas por Thorbecke com o corte temporal da dcada de 1950 a 2005. Para alm deste fator,tambmnota-seaIIRSAcomoumaferramentaparaseintensificara conexoentreospasesmembrosatravsdasobrasdeinfraestrutura.Para tanto, realizou-se um recorte espacial na Trplice Fronteira, para analisar de que formaesteprojetosematerializanoterritrio,jqueestaregioseinserena agenda dos projetos prioritrios de integrao. INTRODUO A integrao se apresenta como alternativa para os pases da Amrica do Sulemseinserirnomercadoglobalizadofrentehegemnicapotnciados EstadosUnidosedaUnioEuropeia.Nestesentido,aUNASUL(Uniodas Naes Sul-Americanas) possui como uma de suas polticas para integrao aIIRSA(iniciativaparaaIntegraodeInfraestruturadaAmricadoSul).No entanto, no presente ensaio objetiva-se no s a sua caracterizao como parte deumprojetodeintegrao,masprincipalmentecomoelaseapresenta enquanto ferramenta para o desenvolvimento econmico brasileiro. Opresentetrabalhositua-senosestudosdesenvolvidosnocampoda Geopolticaporabordarumaproblemticaquerelacionagoverno,estrutura social, recursos e o territrio. Sobre a definio de Geopoltica, Correia (2010, 1 Ensaio como trabalho final para a disciplina de Estudos de Economia Poltica Internacional- Geoeconomia e Geopoltica do PPGEI. 2 Mestranda do Programa de Ps-Graduao em Geografia. p.139)afirmaque:AgeopolticaoestudodoEstadoenquantoorganismo geogrfico ou enquanto fenmeno no espao [...]. Para tanto, o presente artigo ser dividido em trs momentos. O primeiro situar o leitor sobre a IIRSA, clarificando seus objetivos e como efetivada na Amrica do Sul. O segundo momento aborda este processo de integrao fsica como parte de um processo maior: o desenvolvimento capitalista. Na terceira e ltimapartedar-se-destaqueainfraestruturafsicacomoummeiodese fortalecer a integrao na regio de fronteira, com o recorte espacial na Trplice Fronteira entre Brasil-Argentina-Paraguai.

1.A IIRSA: um projeto de integrao fsica Aideiaatualdeintegraoregional(oNovoRegionalismo)surgeda necessidadedosEstados-Naesdeampliaroespaodecirculaodesuas mercadoriasnocontextodeummercadocapitalistaeglobalizado.Isto,a inserodaAmricadoSulnasrelaeseconmicasinternacionais, objetivando,tambm,odesenvolvimentointerno.Atravsdestaconcepo nasceminiciativascomoaIIRSA-COSIPLAN,umprojetoparaconstruode infraestrutura absorvida3 pela UNASUL, que almeja a planificao territorial com aimplementaodeprojetosdeinfraestruturanossetoresdetransportes, energia e comunicao.A importncia destes projetos para a integrao proposta pela UNASUL reflete na existncia do COSIPLAN (Conselho Sul-Americano de Infraestrutura e Planejamento), sendo um espao de discusso sobre as polticas e estratgias que visam implementar programas e projetos para a integrao da infraestrutura regionalentreospasesdaUNASUL(IIRSA,2012).Dentreosprojetosda COSIPLANestaIIRSA,responsvelpeloplanejamentodaintegraofsica, respeitando o desenvolvimento social e a economia sustentvel, bem como pelo monitoramento da execuo da carteira de projetos. Objetiva-se com a referida proposta a ampliao do mercado que garantiria[...] a livre circulao de capitais, tecnologia, mo-de-obra qualificada, eliminaodepassaportes,intercmbiodeprofessoresealunos, homologaodecurrculosuniversitrios,acompanhadosporuma 3 A IIRSA surgiu em 2000, s depois de seis anos surgiu a UNASUL, que incorporou ao seu projeto a iniciativa para a Integrao de Infraestrutura Regional Sul-americana.infra-estruturacomumenergtica,porturiaedetelecomunicaes (SCHIMIED, 2007, p.116-117). Contudo,aIIRSAanteriorUNASUL,poisfoicriadaem2000,uma proposta tambm brasileira. Quando do seu surgimento, cumpria com a funo de ser uma articuladora dos blocos existentes na regio, onde a infraestrutura serviria como um incentivador para o desenvolvimento econmico dos pases da Amrica do Sul (SCHMIED, 2007). AUNASULdesenvolveprojetosassociadosCOSIPLANe, consequentementecomaIIRSA.Oobjetivoqueesseconjuntodeobras promovesse a integrao da Amrica do Sul atravs dos transportes (construo de diferentes vias-hidrovirias, frreas ou rodovirias), comunicao e energia. Para isso, elaborou-se nove Eixos de Integrao e Desenvolvimento (os EIDs), distribudosespacialmente,ondesedesenvolvemosprojetos.Soexemplos dos EIDs: Amazonas, Andino, Capricrnio, Escudo Guines, Hidrovia Paraguai-Paran, Intercmbio Central, MERCOSUL-Chile, eixo Peru-Brasil-Bolvia e eixo Sul. A construo de infraestrutura est concentrada na conexo com o litoral, privilegiandoacomunicaodoBrasilcomooceanoPacfico,facilitandoa exportaodascommoditiesparaomercadoasitico,principalmentecoma China e a Rssia. Nesta comunicao, os pases da costa oeste da Amrica do Sul tambm so beneficiados com a ligao com o oceano Atlntico. O financiamento dos referidos projetos so feitos pelo BDNDES4. Esta uma instituio brasileira, porm investe nos projetos de integrao da Amrica do Sul, sendo parte da estratgia do prprio banco. O diferencial do BNDES est naisenodeumcompromissopolticoemenoresjuros,prticadiferenta daquelaqueocorrecomoFMI(FundoMonetrioInternacional)oucomoBM (BancoMundial).Deve-seressaltarqueosdemaispasesdosubcontinente tambm possuem seus bancos que fomentam o desenvolvimento, contudo no possuem a relevncia do BNDES. 4 Banco Nacional do Desenvolvimento Fonte: IIRSA/COSIPLA, 2013 Organizao: Ludmila Losada da Fonseca, 2015 2.A evoluo do desenvolvimento econmico e a contribuio da IIRSA A IIRSA como um instrumento de integrao fsica dos pases da Amrica doSulestarticuladacomodesenvolvimentocapitalista.Paratantosefaz necessrioquesecompreendaocapitalismocomosistemasocialhistrico, onde se objetiva unicamente o lucro, despindo-se da antiga ideia da imoralidade pregada em perodo anterior. Wallerstein (2001) aponta que com o advento do capitalismo, ocorreu uma ampla mercantilizao de processos (p. 15), tudo passvel de incluso neste sistema.Isto , tudo se torna fonte ou um meio para selucrar,aotrazerestaleituraparaoobjetodeestudodopresenteensaio, percebe-sequeestainiciativatorna-seummeioparaalgunsatoresdanossa sociedade lucrarem com tais investimentos.O capitalismo conseguiu romper, como aponta Wallerstein (p.28, 2001), comocarterfixodaproduo,tornando-semaisfuncionalemaisampliado geograficamente. Fato este fica evidente nos ltimos anos do desenvolvimento do capitalismo com a globalizao, onde cada ponto do globo terrestre possui suas funes especficas para o sistema produtivo. Ao exemplo da Amrica do Sul,queapesardeterindstria,maisacentuadanoBrasil,temcomocarter central ser um subcontinente agroexportador, principalmente de commodities, ao exemplo da soja.As referidas obras de infraestrutura presentes na carta de projetos so em suamaioriarodovias,queatravessampequenascidades.Elassobem recebidaspelapopulaodestaslocalidadesemrazododiscursodopoder executivo municipal ou estadual de levar o progresso para a regio, e que assim estariam includas em um circuito global de produo. Pois bem, o progresso umaideiamoderna,quesegundoWallerstein(p.83,2001)foiumconceito utilizado para justificar mudanas que ocorriam, onde os aspectos negativos, que poderiamexistir,eramaterradospelospontospositivos,tornando-sealgo indiscutvel. O novo sempre ser melhor que o antigo; logo, o progresso sempre ser bom, segundo a tica do capital. Compreendemosassim,queaIIRSAcompealgicacapitalista,ao passo que ela une os pontos no subcontinente sul americano com objetivo de exportar commodities. Pode-se inferir, ento, que ela est associada a lgica da evoluotemporaldodesenvolvimento,combasenotrabalhoelaboradopor Thorbecke sobre as doutrinas desenvolvimentistas. Realizar-se- a mesma construo histrica (de 1950 2005) realizada pelo referido autor, por se compreender que o desenvolvimento um processo quepossuisuasjustificativasatreladasaomomentoecontextohistrico. ContribuindoparaestepensamentoRosencrancecolocaqueAsmodernas relaesinternacionaissurgemcomoconsequnciadafluidezdaevoluo histrica (ROSENCRANCE, 1986, p.102).OestudodeThorbeckeinicia-senadcadade1950,quandoo desenvolvimento se tornou o principal objetivo dos pases considerados menos desenvolvidos,queseriaresolvidocominvestimentoexternomassivonestas regies,promovendoassimaindustrializao.NoBrasil,essadcadafoi marcadapeloavanodoprocessodeindustrializao,contudoeste desenvolvimentosedavadeformamaisintensacominvestimentosdopoder pblico,doquecominvestimentosprivadosnacionaiseinternacionais.Os ltimosrepresentadospelasempresasdosEstadosUnidos,daEuropaedo Japo. Percebe-se que nesta dcada, em que o Brasil era presidido por Getlio Vargas,jsepropunhaestabelecerumainfraestruturaparasealcanaro desenvolvimento econmico. Adcadade1960 foi marcadaporuma dicotomia naeconomia,isto, uma interdependncia entre a indstria moderna e uma agricultura mais arcaica. Porm, mesmo sendo considerada atrasada, a agricultura fornecia os recursos necessrios (matria prima) para a indstria moderna. Esta dcada tinha como poltica e estratgia, segundo Thorbecke (2006), a promoo da exportao e da integrao regional, entre outros pontos. Neste mesmo perodo, o Brasil passava porumacrise,tantoeconmica(aumentosignificativodoendividamentoe inflao),quantopoltica(marcadapelarennciadeJnioQuadros).Mesmo comessecenrioinstaurado,nosequestionou,porpartedosgovernos,o modelo de desenvolvimento que estava sendo posto em prtica. Contudo, o que se questionava, de forma mais crtica, sobre o modelo de progresso em questo era de que forma a industrializao serviria como instrumento para diminuir com asdesigualdadesurbanas.Isto,poucosereconheciaasdificuldades enfrentadaspelosagricultores.Sendoassim,aindstriaeraopontocentral deste desenvolvimento. Em dilogo com a realidade mundial, no Brasil inicia-se aRevoluoVerdequeobjetivavaoaumentonaproduoatravsda modernizaodocampo,comoobjetivodeerradicarafome,suprindouma necessidade de quem era do meio urbano. Este no era reconhecido como um problema de distribuio de renda. Nosdezanosseguintes,psadcadade1960,serepensousobreo modelodedesenvolvimento(econmicoesocial)paraospasesdoterceiro mundo,emrazodomodelodedesenvolvimentoimplementado.Thorbecke (2006) desta cinco problemas: o desemprego nos pases em desenvolvimento, amenordivisoderenda(pasessetornarammaisdesiguais),aumentodo nmero de pessoas em situao de pobreza, a acelerao da migrao campo-cidade e, por ltimo aponta o crescimento dos juros da dvida externa. Por tais fatoscitados,umdasestratgiadestafasedodesenvolvimentopassarpor uma reforma que se concentre nas necessidades bsicas da populao. Outra estratgiapensadasedebruavasobreodesenvolvimentoruralintegrado. Foram propostos trs formas, durante esta dcada, para superar os problemas geradospelomodelodedesenvolvimentovigentesapoca.Primeiro,a transferncia de investimento em projetos que beneficiem os pobres, visando a reduo da pobreza. Segundo, objetivava a garantia das necessidades bsicas, atravsdadivisodebens,principalmentedaterra.Eoterceiro,baseadana teoriadadependncia,ondesepassariaporumaredistribuiomassivada riqueza realizada pelo Estado, eliminando com a propriedade privada.Na dcada de 1970, o Brasil j estava h seis anos mergulhado em uma ditaduracivil-militar.Emrazodisso,odesenvolvimentoseguiaalgicada expansocapitalistaacompanhadadoautoritarismopoltico,evidenciada atravsdonacionalismo-desenvolvimentista.Odesenvolvimentobrasileiroera caracterizado pelo investimento pblico sendo ainda superior ao privado e pela elaboraodoPlanoNacionaldedesenvolvimento,ondesefezpresente grandesprojetosdeinfraestrutura,comoausinahidreltricadeItaipuea rodovia Transamaznica. Ao contrrio da dcada de 1970, marcada pela redistribuio a partir do crescimentoeconmico,adcadade1980tevecomodoutrinade desenvolvimentoapolticadeajustes,mudandoradicalmenteocarterdo desenvolvimento.Ocomprometimentooramentriocausadopeladvida externaparaospases,principalmentedafrica,siaeAmricaLatinaeram extremamente altos. Para se alcanar novamente o crescimento econmico e a diminuio da pobreza seria necessrio o equilbrio externo, atravs da balana depagamentos,eequilbriointerno,atravsdeajustesnooramento.Para realizarestanovaetapaforampropostoscomoestratgias:privatizaes, Estadomnimo,priorizaromercadoexterno(exportaes)eterconfianano mercado. Aeconomiabrasileirasentiuacrisede1980,desacelerandoum crescimento oriundo desde a dcada de 1950, ocasionado pelos ajustes fiscais queprovocaramestagnaoeconmica,contribuindoparaoaumentodo desemprego e dos nveis de pobreza, por isso considerada a dcada perdida. Nos anos 1980 o Brasil enfrentou a hiperinflao, a desorganizao das finanas pblicas em razo da dvida externa. E como sada para crise, como foi proposto paraosdemaispasesquepassavampormesmasituao,oneoliberalismo, adotando a cartilha do Consenso de Washington5. Mesmo com a diminuio dos investimentos estatais federais,o Estado, na dcada de 1980 manteve algum investimento pblico na infraestrutura. Vale ressaltar que mesmo com esse investimento, comparado as dcadas anteriores, elefoiconsideravelmentemenor.Almdenoseternovasobrasde infraestrutura, as j existentes foram se deteriorando.O cenrio de ajuste fiscal e controle dos gasto pblicos continuou at a metade da dcada de 1990. Marcado, tambm, pelo fim do mundo bipolar e a inserodospasesdoblocosocialistanomercadomundial.Estadcadafoi pautadapelamximainflunciadomercado,atravsdoneoliberalismo,onde preponderou o liberalismo e a desregulao do sistema financeiro. O modelo que exemplificaestadoutrinasoosTigresAsiticos,queforamutilizadoscomo exemploaserseguidopelosdemaispasesemdesenvolvimento.OBanco Mundialfezdestaqueparaospontosresponsveispelorpidocrescimento econmico do sudeste asitico, entre eles: equilbrio oramentrio, tronar-se um lugarseguroparainvestimentos,investiremcapacidadetcnicadepessoas, altosinvestimentosfsicos,investimentosemtecnologiae,porfim,lenta 5 Elaborada no fim da dcada de 1980, com medidas que j eram postas em prticas por alguns pases da Amrica do Sul. Preconizava a disciplina fiscal, reforma fiscal, privatizao, abertura comercialedesregulamentaoporpartedoEstadodaeconomiaeflexibilizaodasleis trabalhistas. transiodemogrfica.Pontosqueforamrepensadoscomacrisede1997, abalando a economia asitica e globalizada. Na dcada de 1990, passando pelo fim do processo de redemocratizao, percebe-se no Brasil o retorno da interveno do Estado na economia, associado a algumas polticas sociais, com objetivo de se consolidar um mercado interno, pautadapelacartilhaneoliberal.Aprimeirametadedareferidadcada marcada por tentativas de estabilizao da economia atravs dos Planos Collor IeIIeReal.Seguindoalgicaneoliberal,asparceriaspblico-privadasse intensificaram, atravs de concesses para as obras de infraestrutura (na rea do transporte e comunicao) que poca, cumpriam um papel importante, pois era a entrada do pas para o mundo globalizado. Por fim, chegamos ao ltimo momento da anlise de Thorbecke, que se debrua sobre a doutrina no intervalo de tempo entre 2000 e 2005, marcada pela globalizao como uma estratgia para o desenvolvimento e pela busca de um progresso com olhar para os mais pobres, atravs de um princpio relevante para abuscadocrescimento:adistribuioigualitriadariqueza.Paratanto,no paradigma desta nova poltica econmica, o baixo crescimento est diretamente associado baixa distribuio de renda. Esta dcada tambm marcada, como pontuamRufeFont(2006),peloterrorismo(eoinimigodifuso),pelamaior ateno aos problemas ambientais e a ascenso de pases como China e Brasil. Contudo,aglobalizaotemsemostradocomoumnovomomentodo capitalismoondeasdesigualdadesestotomandoproporesabissais.A globalizaoimpequeosespaossetornemcadavezmaisfludos, privilegiandoascomunicaeseasinfraestruturasfsicas,beneficiandoos espaos que so estratgicos para o capital global, nesta linha Ruf e Font (2006) ainda sinalizam que com a globalizao os lugares se tornam mais homogneos, cadavezmaisparecidos.ParaSantos(2011),aglobalizaoopicedo processodeinternacionalizaodocapital,queocorreuemrazodo desenvolvimento das tcnicas, mais precisamente no campo da comunicao, e das aes polticas que asseguram o surgimento deste mercado global. Neste sentido,Santosapontaqueessaglobalizaoperversapossuiumpapel ideolgico, e que por tal motivo conseguiramos modific-lo, onde os atores desta mudana seriam os pases subdesenvolvidos.Aestratgiabrasileiraparaodesenvolvimento,einseronomercado globalizado, se deu atravs das polticas pblicas para o combate pobreza, ao exemplodoprogramaFomeZero6eBolsaFamlia7,promovendoassima inclusosocial,comprovadopeladiminuiodondicedeGini8.Nestaltima dcada obtivemos aumento no PIB e na renda mdia da populao, bem como a queda do percentual da populao na pobreza extrema. Contudo, a insero nomundoglobalizadanofoideixadaemsegundoplano,evidenciadona construo deinfraestrutura paraaproduode energiaeltrica(ampliando a capacidadeenergtica,atravsdehidreltricas),acriaodoPACquefoi responsvelpelasprincipaisobrasrealizadasemterritrionacionalea comunicao,difundidapelaampliaodaredebandalargadeinternetedo sistema de televiso digital. Inseridonestecontexto,aIIRSAsurgecomomaisumaferramentade inserodospasessul-americanosnalgicaglobalizadadocapitalismo, contudo,dandoprefernciaaumaarticulaoatravsdosblocosregionais. NesteprocessonaAmricadoSul,ficaevidentealideranabrasileira,poisa maioria das obras so financiadas pelo BNDES a preos mais vantajosos do que oferecidos por instituies internacionais (juros mais altos). Em contra partida, o governobrasileiroexigequeasresponsveispelaconstrusejamempreiteiras brasileiras. 6 O programa Fome Zero tinha como objetivo o combate fome e pobreza. Alterando o cenrio extremodemisria.Agarantiadeumaalimentaocomqualidadeerasinnimode desenvolvimento social. 7OprogramaBolsaFamliaaglutinouoprogramaFomeZeroesetornoualgomaisamplo (unificou diversos programas) do que o combate fome, pois objetiva a transferncia de renda.8 O ndice de Gini calcula a desigualdade social de determinado territrio. Os valores esperados so os mais prximos de zero, que representam menor desigualdade. 3.A infraestrutura fsica e a integrao na trplice fronteira ParaexemplificarmosaatuaodaIIRSAnoespaosul-americano, toma-secomodelimitaoterritorialatrplicefronteiraentreBrasil-Argentina-Paraguai. As razes para esta escolha se do por dois motivos: primeiro, uma regiodefronteiraondeasobrassoexclusivamentedaIIRSA,evitando confuses com aquelasdesenvolvidas pelo PAC caso se optasse por analisar apenasoterritriobrasileiro;segundo,aregiopossuidensapresenade projetos de infraestrutura desenvolvidas para a integrao fsica. Fonte: IIRSA/COSIPLA, 2013 Organizao: Ludmila Losada da Fonseca, 2015 A fronteira, segundo Machado (1998), se caracterizou ao longo do tempo como um espao de comunicao, ligado fluidez. No nasceu por meio de leis, massimcomoumfenmenodavidasocial(MACHADO,1998,p.1).Ela permeadapelasforascentrfugas,deexpanso.Porisso,afontede insegurana por parte do governo, por possuir uma vida prpria, pois ligada presena de pessoas e no s leis. A globalizao impem que os lugares de interesse da expanso do capital se tronem cada vez mais integrados, incluindo as regies de fronteira, permitindo uma fluidez entre os limites9. SegundoaIIRSA/COSIPLAN(2013),soprevistasparaaregio dezesseisobrasdeinfraestrutura,incluindoconstruodeferrovias,pontes, hidrovias,construoeampliaodeportos,rodovias,aeroportoseparaa transmisso de energia. Deste universo, seis so quelas que esto localizadas especificamente na regio de fronteira, sendo o brasil participante de cinco das obrassupracitadas.Valeressaltarqueoinvestimentoparaconcretizaras referidas construes, segundo esta agenda de projetos, est avaliado em mais de dois bilhes de dlares.Sabe-sequeasobrasdesenvolvidaspelaIIRSAsodegrandeporte, consideradosmegaprojetos,avalia-sequearepercussodestes empreendimentosserorelevantesnaregio,principalmentenoquetangeo desenvolvimentoeconmico. Odiscursodaquelesquedefendemestemodelo de integrao afirmam que estes investimentos poupam os gastos pblicos dos paseseminfraestruturaapartirdomomentoemqueessasestruturasso aproveitadasecusteadasportodos,serogeradoresdeemprego, modernizando o territrio em razo da maior fluidez da circulao de pessoas e mercadorias.Contudo,ficaevidenteaintencionalidadedestainiciativaem escoar a produo de soja do Paran para o mercado asitico, para isso cria-se infraestrutura que ligue o Brasil ao oceano Pacfico, ao exemplo da melhoria da rodovia BR-277 entre Santa Terezinha do Itaipu e Cascavel,com este mesmo intuito so construdas as conexes ferrovirias (CARNEIRO Filho, 2013). 9Olimiteestorientadoparadentrodopas,atuaodasforascentrpetas.Aocontrrioda fronteira, ele criado por forma de lei. A dissoluo dos limites deve-se s redes trans-fronteirias e competio de distintas normas. CONCLUSO A IIRSA ao mesmo tempo que tem o discurso de trazer o desenvolvimento econmico para a Amrica do Sul a fim de diminuir as desigualdades entre os pases,promovetambm umadisparidadequando elegeas reasprioritrias. Aopassoquequandoprivilegiaalgumasregies,desprivilegiaoutras.Dentro deste contexto a trplice fronteira tronou-se uma espao estratgico para aqueles que pensaram na IIRSA e no desenvolvimento do subcontinente.Ao longo dos anos as doutrinas para o desenvolvimento se moldaram a situaoeconmicavigente,contudoaquestodainfraestruturasemprefoi pautapresentecomoquestochaveparaalcanartalobjetivo.NoBrasil, fortementepresentedesdeadcadade1950ainfraestruturaumaagenda prioritriaecadavezmaistemsetornadocomopontofundamentalparaa integrao e desenvolvimento econmico. Porm essa integrao se d em nome de que? Estamos sendo pautados pelasdemandasmundiais,isto,pelocapitalexterno.Asojasetornouuma commoditie e transformou toda a produo do sul e centro-oeste do Brasil, onde antes se planta diversas culturas perfil este acomete a maioria dos pases sul-americanos.Paraacessarmosomaiormercadoemexpansodomundo necessrio criar as condies de escoamento da soja. Referncias Bibliogrficas CadernosdoDesenvolvimento.Ano1,n.1(2006)RiodeJaneiro:Centro InternacionalCelsoFurtadodePolticasparaoDesenvolvimento,2006. Disponvelem: http://www.centrocelsofurtado.org.br/arquivos/image/201111011233060.CD_edicao9_cmpleto.pdf. Acesso: 25/05/2015 CAPUTO, A.; MELO, H. A industrializao brasileira nos anos de 1950: uma anlise da instruo 113 da SUMOC. Estud. Econ. vol.39 no.3 So Paulo July/Sept.2009.Disponvel em:http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-41612009000300003. Acesso em: 25/05/2015. CARNEIRO Filho, Camilo Pereira. 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