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EngenhariaTRANSCRIPT
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MINISTRIO DA EDUCAO SECRETARIA DE EDUCAO
PROFISSIONAL E TECNOLGICA
PRINCPIOS NORTEADORES DAS ENGENHARIAS NOS
INSTITUTOS FEDERAIS
BRASLIA
ABRIL 2009
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SUMRIO
SUMRIO..........................................................................................................2
APRESENTAO.............................................................................................4
1. OS INSTITUTOS FEDERAIS E A EDUCAO EM ENGENHARIA ...........8
1.1. A Educao em Engenharias no Brasil em breve retrospectiva...............8
1.2. Da discusso sobre a educao em engenharia para a sociedade atual 10
2. DIRETRIZES GERAIS PARA A ESTRUTURAO DOS CURRCULOS DAS
ENGENHARIAS.......................................................................................................16
3. O DESENHO CURRICULAR NAS ENGENHARIAS DOS INSTITUTOS
FEDERAIS...............................................................................................................22
ESPECFICO...........................................................................................................26
CONSIDERAES FINAIS............................................................................30
REFERNCIAS...............................................................................................32
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Representao esquemtica da articulao entre os diferentes nveis de formao nos Institutos Federais.
Figura 2. Representao diagramtica das inter-relaes entre as formaes das graduaes nos Institutos Federais.
Figura 3. Desenho esquemtico das fases do processo de construo curricular.
Figura 4. Representao da distribuio dos ncleos ao longo do percurso formativo.
Figura 5. Modelo exemplificado de distribuio dos conhecimentos nos ncleos ao longo do percurso formativo.
Figura 6.Desenho esquemtico da retroalimentao do perfil do egresso a partir das demandas do mundo do trabalho.
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APRESENTAO
A recente criao dos Institutos Federais de Educao Cincia e Tecnologia (IF),
por meio da Lei no 11.892 (DOU 29/12/2008), trouxe, em seu bojo, o compromisso de
introduzir no escopo dessas instituies a formao nas engenharias, desafio que elas
devem assumir firmemente.
Numa rpida releitura da atuao da Rede Federal de Educao Profissional e
Tecnolgica, ressalta-se sua expressiva colaborao, reconhecida socialmente, na
oferta de cursos tcnicos de nvel mdio. No que tange, entretanto, ao ensino superior
( exceo das escolas tcnicas que, em 1978, se transformaram nos primeiros centros
federais de educao tecnolgica, possibilitando a oferta dos cursos superiores1), s a
partir de 1999, com a retomada do processo de transformao de escolas tcnicas
federais e agrotcnicas em centros federais de educao que se amplia a oferta de
cursos superiores de tecnologia e, posteriormente, das licenciaturas. Portanto, a
incluso das engenharias como uma das atribuies dos Institutos Federais, a partir
dessa nova institucionalidade que surge, representa um horizonte promissor para a
Rede Federal de Educao Profissional, Cientfica e Tecnolgica2.
Paralelamente ao marco legal da criao dos IF, supracitado, h que se destacar
a expanso expressiva das escolas da rede federal que, alm de provocar uma
mudana no perfil institucional, defende a interiorizao de um modelo de educao
profissional e tecnolgica em todo o pas, haja vista que a construo e a distribuio
das novas unidades com essa natureza se do de maneira estratgica, tendo como um
dos principais critrios para sua localizao, as mesorregies brasileiras. A meta do
atual governo atingir o patamar de 354 escolas tcnicas federais, atendendo a 500 mil
estudantes. Nesse sentido, essas instituies de educao profissional devem tornar-se
agentes cada vez mais efetivos para promoo do desenvolvimento local e regional.
1 Lei no 6.545 de 30 de junho de 1978 (consultar art. 1o e art.2o )2 Lei no 11.892 (DOU 29/12/2008)
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Em sua histria centenria, as instituies da rede federal sempre contriburam
para o desenvolvimento do pas e de forma cada vez mais qualificada. Criadas em
1909, no Governo do Presidente Nilo Peanha, como Escolas de Aprendizes Artfices e
localizadas predominantemente nas capitais do pas, essas escolas representaram a
primeira grande ao do Estado no financiamento da educao profissional.
Transformadas em escolas tcnicas e industriais em 1942, um salto qualitativo
importante vai ocorrer em 1959, quando da transformao daquelas instituies em
Escolas Tcnicas Federais. Esse perodo histrico foi caracterizado por uma grande
expanso industrial e de crescimento econmico do Brasil, e os tcnicos formados nas
escolas tcnicas forneceram o suporte necessrio naquele momento.
O processo de transformao das Escolas Tcnicas Federais em Centros
Federais de Educao Tecnolgica, iniciado em 1978 e intensificado a partir de 1999,
permitiu que grande parte da Rede Federal passasse a se ocupar da oferta de cursos
superiores de tecnologia e de licenciaturas (alm dos cursos tcnicos de nvel mdio)
um marco importante na direo da consolidao do ensino superior nessas
instituies.
Os cursos superiores de tecnologia apresentam uma expressiva e crescente
procura por parte de jovens e adultos em todo o pas. Com uma formao mais
especializada do que os bacharelados tradicionalmente ofertados pelas universidades,
esses cursos atendem queles que requerem tal formao para o ingresso no mundo
do trabalho.
A deciso em ofertar cursos de engenharia nos Institutos Federais prende-se a
alguns aspectos estratgicos, considerando-se o momento singular por que passa o
pas e as possibilidades que a Rede Federal apresenta. Em primeiro lugar, h hoje na
rede um corpo docente com a qualificao capaz de responder ao desafio de promover
a oferta desses cursos e expandir as atividades para a pesquisa, extenso e a ps-
graduao. Esse aspecto potencializado pela existncia de uma nova carreira para os
professores, que mantm o estmulo qualificao e equipara os vencimentos dos
mesmos aos dos docentes das universidades federais, tornando assim, mais atraente a
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atuao docente nos Institutos Federais. Em segundo lugar, j decorre tempo suficiente
de oferta de cursos superiores nos centros federais de educao tecnolgica (CEFET),
para se fazer uma avaliao acerca dessa experincia e reunir elementos para os
prximos desafios. Em terceiro lugar, pela oportunidade que tm os Institutos Federais
de revisitar o ensino de engenharia, dentro de uma viso mais humanstica e
sustentvel. E por fim, com vistas a atender demanda por novos(as) engenheiros(as)
oriunda das novas demandas sociais do mercado de trabalho, tendo em vista a recente
retomada do desenvolvimento econmico verificado no Brasil que, em sua persistncia,
obrigar a um redimensionamento do setor educacional e, em particular, dos cursos de
engenharia.
H necessidade, entretanto, que se retomar o investimento no ensino de
engenharia no pas, estruturando-o sob novas bases, e a proposta dos Institutos
Federais de oferecer cursos de engenharia aponta nesta direo. Durante os ltimos 25
anos, o Brasil viveu uma situao de baixo crescimento econmico, ocasionado por um
baixo volume de investimento, tanto do setor pblico como do setor privado. Para um
setor como o de infraestrutura, com forte presena da engenharia, a falta de
investimento significou estagnao. O resultado deste processo foi um esvaziamento
dos cursos dessa especialidade no pas inteiro, devido baixa absoro dos jovens no
mercado de trabalho. Por outro lado, faz-se necessrio reformular o currculo dos
cursos de forma integrada concepo da sociedade e de mundo que queremos
construir mais humano, inclusivo e sustentvel. Nesta perspectiva, entende-se que a
presena de temticas das cincias humanas imbricadas s questes tecnolgicas, a
compatibilidade das vivncias prticas com os aspectos tericos do conhecimento, a
abordagem dos contedos em constante (re) construo, face ao desenvolvimento da
cincia e da tecnologia, o cuidado com as questes ambientais e a interao com o
mundo do trabalho, dentre outros aspectos, destacam-se como fundamentais no
processo de (re)construo dos cursos de engenharia.
Desta forma, busca-se sintonizar os cursos de engenharia com as necessidades
do pas com vistas insero dos jovens no mundo do trabalho, e contribuir para a
competitividade e sustentabilidade das empresas e, por extenso, para a economia
como um todo e para qualidade de vida das pessoas e do planeta.
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O texto que segue apresenta uma discusso sobre os Institutos Federais e a
educao em engenharia, as diretrizes gerais para a estruturao dos currculos das
engenharias, o desenho curricular nas engenharias dos Institutos Federais, e algumas
consideraes finais.
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1. OS INSTITUTOS FEDERAIS E A EDUCAO EM ENGENHARIA
A reflexo a respeito da pertinncia das engenharias nos Institutos Federais leva a
uma breve retomada da histria da educao no Brasil, nos ltimos dois sculos, na
perspectiva de compreender o quanto essa formao se reporta ao crescimento do pas
(ou a perodos de estagnao econmica) e aos modelos econmicos.
1.1. A Educao em Engenharias no Brasil em breve retrospectiva3
A leitura da educao em engenharias no Brasil pode ser feita em consonncia
com a histria do desenvolvimento brasileiro. assim que se compreende a criao do
primeiro curso ter sido no Rio de Janeiro, em 1792, onde se instalaria o governo central
do pas naquela poca. A chegada de D. Joo VI em 1808 e a necessidade de
reorganizao da cidade, que passaria a abrigar o Reinado, aceleraram o investimento
nessa formao.
Embora no Rio de Janeiro estivesse o centro do Brasil Reino, o ciclo da
minerao em Minas Gerais provocou a localizao da maior parte das escolas de
engenharia naquele estado.
Em 1930, o Brasil contava aproximadamente com 30 cursos de engenharia
distribudos em 13 instituies de ensino, doze delas pblicas. Em 1945, chegavam a
47, localizados em oito capitais de estados e algumas cidades do interior de Minas.
Na dcada de 1950, com o governo desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek,
surgiam no pas trs cursos a cada ano. Em 1962, em apenas um ano, 11 novos cursos
foram criados. O Brasil chegava a 112 cursos. Em 1966, aprovou-se uma nova
regulamentao da profisso que estabelecia as seguintes modalidades na formao:
3 Dados retirados de documento publicado, da Inova engenharia: propostas para a modernizao da educao em engenharia no Brasil/IEL.NC, SENAI.DN. Braslia: IEL. NC, SENAI.DN., 2006.
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engenheiro aeronutico, agrimensor, agrnomo, cartgrafo, civil, eletricista, eletrnico,
de comunicao, florestal, gelogo, mecnico, metalurgista, de minas, naval, de
petrleo, qumico, industrial, sanitarista, txtil e de operao. Em 1976, aprovaram-se
as resolues que estabeleciam os currculos mnimos e estabeleceram nfases ou
habilitaes para os cursos.
A reforma universitria de 1968 estabeleceu o regime de crditos para os cursos
e ditou normas para a estruturao de universidades, centros universitrios e
faculdades. Naquele perodo, lanaram-se as bases da ps-graduao e da pesquisa
universitria. O ambiente de produo do conhecimento repercute positivamente nas
engenharias. O pas chega ao final de 1979 com 363 cursos de engenharia, em
sintonia com a demanda de crescimento que o pas apresentava4.
Entretanto, na dcada de 1980, de estagnao da economia, houve sensvel
desacelerao de oferta de cursos e at a promulgao da Lei de Diretrizes e Bases da
Educao Nacional de 1996 (Lei no. 9394) estima-se que o crescimento do nmero de
cursos no excedeu a duas dezenas. A nova LDB revogou, entre outros dispositivos, a
resoluo que estabelecia o currculo mnimo para os cursos de engenharia e trouxe
grande impulso para o crescimento da educao superior brasileira, com forte
repercusso nas engenharias. Em 1996, eram aproximadamente 35 modalidades nos
545 cursos em funcionamento; em 2005, esse total chegou a 1.251 cursos e 50
modalidades.
Cumpre destacar que o crescimento agressivo da oferta de engenharias se deu
predominantemente pela iniciativa privada que teve na LDB/96 abertura at ento no
registrada. Calcula-se em 240% o aumento de cursos ofertados pela iniciativa privada,
quando na rede pblica apenas 77%, invertendo assim a realidade no que tange
responsabilidade do poder pblico. Contudo, no se evidenciou, na mesma medida, a
preocupao com a qualidade e exigncias para a formao dos engenheiros.
Alm das modalidades clssicas, o maior crescimento se evidenciou na
engenharia de produo (20% dos cursos novos entre 1996 e 2005), fato motivado
4 Destaca-se que o apelo pela mo-de-obra especializada para a produo que crescera no perodo da ditadura militar foi fator contribuinte para a transformao de trs escolas tcnicas nos primeiros Centros Federais de Educao Tecnolgica no pas (Rio de Janeiro, Paran e Minas Gerais). Esta mudana confere quelas instituies mais uma atribuio: formar engenheiros de operao e tecnlogos.
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pelas mudanas sofisticadas nos sistemas organizacionais que passaram a demandar
maior e mais complexo raciocnio lgico e analtico de seus profissionais.
As engenharias que mais cresceram nos dez ltimos anos foram as associadas s
novas tecnologias (engenharia da computao, controle e automao e
telecomunicaes) e o movimento ultimamente mais visvel na oferta de cursos so as
engenharias que se ocupam do cuidado com a sade e com o meio ambiente
(engenharia ambiental, florestal, de materiais e de alimentos), alm de algumas outras
reas novas (bioqumica, biomdica e de processos).
1.2. Da discusso sobre a educao em engenharia para a sociedade atual
No contexto atual do mundo do trabalho em que ocorrem sucessivas alteraes
com agressiva interveno no ambiente e em que bens intangveis, como o capital
humano adquirem relevncia mpar, a ateno demandada pela internacionalizao de
atividades de pesquisa, que acarretam aceleradas transformaes tecnolgicas, exigem
o postulado de mudanas significativas no perfil dos profissionais. Em se tratando dos
engenheiros, essa exigncia cada vez perceptvel e necessria, na mesma proporo
em que se reconhece a necessidade de ampliao do nmero desses profissionais
para a perspectiva que se desenha para o pas.
Com este entendimento, revisitar o percurso da formao profissional tendo
como foco central a relao entre educao e trabalho parece oportuno, no momento
em que se aponta para o desenho curricular das engenharias nos Institutos Federais;
uma anlise que deve superar a lgica que se apresentava recentemente com o perfil
de competncias.
Na dcada de 80, inserida na crise estrutural do capitalismo decorrente de
diferentes fatores, dentre eles, o esgotamento do padro de acumulao
taylorista/fordista, o processo da internacionalizao do capital, a crescente
concentrao de capitais devido s fuses entre empresas, a desregulamentao dos
mercados e da fora de trabalho, era talvez cabvel esse modelo no sentido de realinhar
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a formao com o mnimo de custo, em funo das exigncias do capital. Tais fatores
demandaram uma reestruturao no processo produtivo e de novos modos de
gerenciamento da organizao do trabalho e conseqentemente do saber dos
trabalhadores.
Assim, o capital, objetivando a recuperao de sua hegemonia buscou, conforme
ressalta Ricardo Antunes5, gestar um projeto de recuperao ideolgico tendo como
aporte o iderio fragmentador em que a apologia ao individualismo exacerbada em
oposio solidariedade e atuao coletiva e social. de fcil constatao que com
o gradativo aprimoramento da globalizao do mercado, o conceito de competncias
arraigado prtica das organizaes empresariais enquanto modelo de gesto do
trabalho.
Torna-se tambm relevante considerar os elementos que delineiam o modelo de
gesto de trabalho decorrente do cenrio mencionado anteriormente, e a contradio
que os envolve, tais como: a valorizao da escolaridade, da mobilidade e do
acompanhamento individual do desempenho profissional, o compromisso com a
empresa, a incitao formao continuada. Ao se relacionar os elementos
configurados pelo mundo empresarial ao modelo de formao por competncias, tem-
se o intuito de destacar que a ao dos agentes de formao fundamental na
conduo deste processo, na perspectiva de que os conhecimentos e as habilidades
desenvolvidas no campo educacional no atendam exclusivamente s necessidades de
racionalizao do sistema produtivo em que o diferencial competitivo constitui fator
prioritrio na economia internacionalizada.
Estas colocaes apiam-se na percepo da forma por meio da qual o capital
tem se apropriado das competncias dos trabalhadores, isto , no s de seu fazer,
mas tambm de seus saberes, de sua criatividade, de sua autonomia, transferindo em
sua maioria para eles (trabalhadores) a responsabilidade de validar suas competncias
a fim de evitar a obsolescncia e o desemprego.
Torna-se importante ter em mente as implicaes das contradies na adoo do
modelo de formao por competncias sob o ponto de vista dos trabalhadores, isto
porque se por um lado, o trabalho assume uma natureza mais acadmica e
5 ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmao e a negao do trabalho. So Paulo: Bomtempo Editorial, 2000. p.48.
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intelectualizada, os saberes adquiridos no trabalho so valorizados, a possibilidade de
desenvolver competncias de participao e autonomia incentivada, dentre outras.
Por outro lado a real autonomia de concepo, deciso e participao esto
condicionadas s formas por meio das quais as competncias vo se estabelecer no
contexto do trabalho, bem como transversalmente nas relaes de foras nele
estabelecidas. Conveniente ressaltar que, neste cenrio, ainda se pode acrescentar a
intensificao do trabalho, a fragilidade na relao empregado/empregador, a
desprofissionalizao e o stress, fruto da possibilidade da perda do emprego e do
ambiente de trabalho competitivo, individualista e solitrio.
No Brasil, a partir de 1996, com a implantao da Lei 9394/96 e de seus
dispositivos de regulamentao, apesar de a educao profissional ter sido concebida
na perspectiva do modelo de competncias, sua implantao e implementao nos
planos e programas vem sendo enfocadas de diferentes formas: no mercado ou no
indivduo, passando pela integrao ou desvinculao entre formao geral e formao
profissional, por pontos de vista epistemolgicos diferentes em relao construo de
competncias bem como por concepes de competncias tambm diferenciadas.
O movimento atual sinaliza para um afastamento relativo dessa lgica. Embora a
preocupao com a produo e o desenvolvimento do pas seja a seiva das aes que
esto se implementando, a preocupao com a formao do humano permeia todo a
processo. A defesa do desenvolvimento se constitui em voz e ao nas polticas e
programas do governo, resposta necessidade de planejar e fazer um pas e um
mundo em que a dignidade humana e a vida em sua plenitude estejam preservadas.
A reorganizao da rede de educao profissional e tecnolgica em Institutos
Federais de Educao, Cincia e Tecnologia no momento histrico de crescimento
econmico do pas, trouxe para essas instituies a discusso sobre o papel dos
profissionais das engenharias, o que deve ser considerado a partir dos princpios que
norteiam a atuao desses Institutos Federais, considerando-se a perspectiva de tecer
o futuro.
Neste contexto, importante a leitura crtica das matrizes curriculares dos cursos
de formao profissional e tecnolgica com o objetivo de identificar e refletir sobre os
modelos epistemolgicos subjacentes s mesmas, muito ainda calcadas no modelo
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behaviorista e funcionalista, na perspectiva de melhor fundamentar o aporte terico da
elaborao de uma proposta curricular que no reduza a formao mera
instrumentao para o exerccio profissional e que no defina a priori a forma de agir e
de se comportar a que todos devem estar submetidos, para garantirem a
empregabilidade necessria disputa em algum posto no mercado de trabalho. Se
acontecer dessa forma, o aspecto utilitrio e pragmtico da educao afasta-se da
essncia maior do ato educativo. Tal concepo curricular no apenas limita o
trabalhador e no o forma como cidado pleno, mas tambm no contempla a
formao demandada pela atual organizao do trabalho. necessrio, portanto
ressignificar a concepo de educao pautada numa viso crtica de forma que a
articulao da dimenso profissional com a dimenso scio-poltica seja oportunizada.
Pensar o desenho curricular das engenharias nos Institutos Federais traz de
imediato a concepo que d razo existncia dessas instituies de educao
cincia e tecnologia e seus princpios norteadores. Isto porque os Institutos Federais,
enquanto instituies mediadoras da formao do trabalhador constituem instncia
posicionada na condio de agente do desenvolvimento local e regional, ou seja,
instncia que deve delinear suas atribuies ao processo de desenvolvimento a partir
de seu locus. Para tal, sua ao deve ultrapassar seus muros, ir alm da compreenso
da educao profissional e tecnolgica como mero instrumento de capacitao de
pessoas para o trabalho determinado por um mercado que impe seus objetivos.
imprescindvel situar a educao como modalidade de formao que possibilita
ao indivduo o desenvolvimento de sua capacidade de gerar conhecimentos a partir de
uma postura dialgica com a realidade. Ao mergulhar em sua realidade, deve extrair e
problematizar o conhecido, investigar o no conhecido para poder compreend-lo, e
influenciar a trajetria dos destinos de seu lcus, de forma a credenci-la a ter uma
presena substantiva a favor do desenvolvimento local e da sustentabilidade. Esta
uma das razes que justificam a autonomia didtico-pedaggica que conferida aos
Institutos Federais.
Encontra-se nos posicionamentos apresentados o cerne das preocupaes da
proposta curricular dos Institutos Federais de Educao Cincia e Tecnologia que, ao
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se constiturem autarquias de regime especial de base educacional humanstico-
tcnico-cientfica, constroem suas identidades sedimentados nas histrias institucionais
que oferecem educao profissional e tecnolgica marcada pelas relaes entre
educao, trabalho, cultura e sociedade. Tm como aporte o compromisso com a
formao do cidado brasileiro, entendido enquanto ser que vive e trabalha em uma
sociedade desigual, mas que apresenta potencialidades capazes de garantir a sua
soberania. Tem-se absoluta convico de que este pas pode oferecer
progressivamente aos brasileiros os direitos de cidadania.
exatamente a possibilidade de intervir na realidade e o seu compromisso social
que definem esse modelo mpar de instituio onde co-existem, de forma articulada, os
diferentes nveis e modalidades do ensino6 (Figura 1). Assim, a verticalizao do
ensino, mais que uma identidade e referncia dos Institutos Federais, a expresso do
compromisso com a populao brasileira que ainda est distante da escolaridade
desejada e necessria para o mundo moderno englobando a sua complexidade e os
diferentes graus de desenvolvimento do pas.
6 Formao continuada dos trabalhadores, o tcnico de nvel mdio, as licenciaturas, as graduaes tecnolgicas (dentre elas os cursos de tecnologia e as engenharias) e a ps-graduao.
CURSO TCNICO
FORMAO INICIAL E CONTINUADA
PS-GRADUAOCURSO DE
LICENCIATURA
BACHARELADO (ENGENHARIA)
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Figura 1. Representao esquemtica da articulao entre os diferentes nveis de formao nos Institutos Federais. A formao inicial e continuada, citada na figura acima, representa a qualificao inicial para trabalhadores, embora o mesmo termo signifique a formao continuada de trabalhadores ao longo de toda a sua vida.
Se por um lado, a oferta da educao inicial e continuada de trabalhadores e a
profissionalizao no nvel mdio ainda so necessrias para a sociedade brasileira,
por diferentes agravantes, e se constituem na maior frao da oferta de formao nos
Institutos Federais, as graduaes e os cursos de ps-graduao reforam o formato
singular dessas instituies.
A graduao e a ps-graduao so canais imprescindveis para o
aprofundamento do dilogo com os apelos sociais, uma vez que, alm de
oportunizarem a formao (cursos superiores de tecnologia, licenciaturas, bacharelados
- dentre esses as engenharias, mestrados e doutorados), trazem a pesquisa como
possibilidade de pensar e construir o futuro, bem como atuar na sociedade,
desenvolvendo programas e projetos de extenso. Neste contexto, os institutos federais
tm na sua histria a base para ampliar a produo e a inovao tecnolgica no pas,
que ainda muito pequena quando comparada a produo cientfica nacional.
Neste universo amplo e diversificado de formao, ressalta-se que cada
modalidade de graduao deve apresentar perfil e objetivos prprios, mas com
caractersticas capazes de traduzir a identidade dos Institutos Federais, num
movimento de firmar uma unidade na diversidade, a partir do estabelecimento de eixos
norteadores na construo dos currculos de seus cursos de graduao.
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2. DIRETRIZES GERAIS PARA A ESTRUTURAO DOS
CURRCULOS DAS ENGENHARIAS
O mundo vive num limiar no que diz respeito sobrevivncia do planeta. As
geraes de hoje e as que esto por vir no podero se negar a aes incisivas para
conter e reverter o processo de comprometimento e de destruio, e trabalhar no
sentido do desenvolvimento humano sustentvel. Esta premncia atinge todos os
campos da atuao humana. No que se coloca na rea de alcance das engenharias,
este tema precisa estar presente em todas as reas.
Considera-se que as engenharias nos institutos Federais, alm de condio
inadivel para ampliar essa oferta da formao na rede pblica em proporo
expressiva, devem retratar a realidade social que as Instituies assumem. O mundo
requer um profissional que, em seu fazer laboral, seja tambm um agente e gestor do
futuro. nesta perspectiva que a concepo da formao em engenharia agrega valor,
uma vez que se efetiva com a preocupao de buscar a resoluo das necessidades e
dos apelos sociais e de compromisso com a vida. Assim que, a formao desses
engenheiros, sem deixar de lado a construo de uma base slida de conhecimento na
rea especfica, traz algumas especificidades.
Embora a oferta de cursos de engenharia tenha crescido e se diversificado no
Brasil, ainda no responde s necessidades tanto no aspecto quantitativo quanto
qualitativo, muito embora haja no pas algumas ilhas de excelncia nas engenharias. A
quantidade de engenheiros por habitantes reduzida, quando se compara a pases
com desenvolvimento acelerado e outros pases desenvolvidos, com uma considervel
fragilidade na formao, expresso das deficincias da educao brasileira como um
todo.
Em se tratando do modelo curricular, h poucos registros de propostas
inovadoras em que a preocupao em formar o engenheiro ou capacitar o profissional
j atuante no sentido de impulsionar o desenvolvimento tecnolgico sejam marcantes.
Estima-se que, na maior parte das engenharias, uma parcela expressiva do
conhecimento que a escola oferece j estar superada em cinco anos; na engenharia
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de computao, esse tempo muito menor. Esse um dos fatores importantes que
deve ser considerado quando da estruturao do percurso formativo. Face ao
dinamismo das mudanas tecnolgicas, a perspectiva do amanh precisa estar ou ser
presente. Alm do mais, percebe-se a necessidade de maior aproximao e dilogo
entre o mundo acadmico e o mundo produtivo, seja pela realizao de pesquisa
colaborativa, seja pela oferta de estgios ou at mesmo pela colaborao entre os
papis de docentes e profissionais do mundo produtivo, essencial para o
desenvolvimento tecnolgico.
Entende-se que a necessidade que se instala a de construir propostas
curriculares para as engenharias que, estruturadas com uma base slida de
conhecimento cientfico e tecnolgico, tragam a flexibilidade necessria para permitir
sucessivas especializaes, alm de atualizaes contnuas, dentro da prpria
graduao ou integradas ps-graduao.
No modelo pensado para os Institutos Federais h um fator a mais que precisa
ser considerado. Por se tratar de instituio que busca um grau elevado de integrao
entre as propostas de formao, a convivncia de diferentes modalidades de
graduaes no interior dos Institutos favorece a interlocuo de saberes.
necessrio que haja a preocupao em estabelecer pontos de interseo entre
formaes e favorecer o dilogo entre os atores do processo educacional (alunos,
professores e gestores). Isto oportuniza condies para que se efetive o princpio
educativo do aprender com a diversidade. A resposta a todo este esforo se evidencia
num processo formativo que gera o respeito diferena, tolerncia e solidariedade,
estimula a atitude empreendedora dos alunos, a autonomia o intercmbio de
profissionais, o compartilhamento de recursos de infra-estrutura, na medida em que
atende s demandas da sociedade e dos arranjos produtivos, culturais e sociais locais,
alm de possibilitar a formao continuada.
Entende-se que inter-relao de saberes entre a formao das engenharias com
as demais graduaes nos Institutos Federais pode ser visualizada como interseces
dentro de um mesmo nvel de educao, conforme retratada na Figura 2.
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Figura 2. Representao diagramtica das inter-relaes entre as formaes das graduaes nos Institutos Federais.
Esse esforo da interao e da dialogicidade precisa ampliar-se e atingir esferas
mais amplas. Assim, prope-se que haja a disposio dos Institutos Federais em traar
princpios que estejam no centro das discusses quando da elaborao das propostas
curriculares. Os princpios da comparabilidade e da mobilidade seja intra ou inter-
instituies devero estar mais que nunca em pauta. Imagina-se que, em raios
concntricos, a interlocuo com outras instituies nacionais e internacionais vo se
concretizando em proporo e intensidade crescente, reforando a flexibilizao
necessria a toda formao acadmica e, em ltima instncia preparar um profissional
que possa trabalhar em qualquer parte do mundo e capacitar-se sempre.
Com enfoque nesse referencial, as propostas curriculares dos cursos superiores
dos Institutos Federais, em particular os de engenharias, devem apresentar as seguintes caractersticas:
Sintonia com a sociedade e o mundo produtivo - a leitura crtica das demandas da sociedade, nela inserida os setores produtivos, imprescindvel quando da construo
LICENCIATURA
ENGENHARIA
CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA
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de uma proposta de formao profissional que responda s necessidades apontadas
pela sociedade na perspectiva do crescimento cientfico e tecnolgico do pas;
Dilogo com os arranjos produtivos culturais, locais e regionais o desenvolvimento exige esse dilogo que deve estar vinculado ao global, na perspectiva
da interveno na realidade. Isto significa pensar globalmente e agir localmente, o que
se desdobra na promoo de um trabalho educativo contextualizado em que propostas
de interveno na realidade sejam possveis e estrategicamente realizadas;
Preocupao com o desenvolvimento humano sustentvel - a preparao para o mundo do trabalho no pode sobrepujar ou desprezar condutas pertinentes
conservao da vida no planeta, o que exige o estabelecimento de um espao
curricular comum que perpasse as formaes;
Possibilidade de estabelecer metodologias que viabilizem a ao pedaggica inter e transdisciplinar dos saberes o campo de ao de qualquer profissional e, em especial nas engenharias, se realiza na concretude social. Problemas reais
dificilmente so resolvidos com viso disciplinar e as cincias h muito j atuam de
forma inter e transdisciplinar no sentido de resolver a complexidade dos fenmenos
com que trabalham. As iniciativas no sentido da adoo desse paradigma de forma
efetiva devem nortear metodologicamente os novos currculos;
Realizao de atividades em ambientes de formao para alm dos espaos convencionais - a nfase na utilizao desses ambientes de aprendizagem ressaltada pela possibilidade que abrem para um trabalho educativo na perspectiva da
superao da dicotomia entre o saber e o fazer, entre a teoria e a prtica, o
conhecimento cientfico e o tecnolgico, bem como estabelece possibilidade de um
processo educativo mais dinmico e autnomo. Essa concepo atinge sobremaneira
as atividades de campo onde se confronta a realidade tal como ela e no apenas as
prticas de laboratrio onde se representam os fenmenos naturais de forma
controlada;
Interao de saberes terico-prticos ao longo do curso - a assuno desse preceito justifica-se pela deciso de se estabelecer relao intrnseca entre os ncleos
de conhecimentos (bsicos, profissionais e especficos) discriminados nas Diretrizes da
Engenharia especificadas na Resoluo CNE/CES no. 11/2002), o que colabora para
-
evitar fragmentaes no currculo, da mesma forma que faz com que os estudantes
vivenciem situaes de aprendizagem em que os conhecimentos profissionais e
especficos da rea sejam aplicados ao longo de todo o curso;
Percepo da pesquisa e da extenso como sustentadoras das aes na construo do conhecimento - a relao estreita entre ensino, pesquisa e extenso como base da ao educativa, alm de consolidar a postura investigativa e de
permanente produo de conhecimento, possibilita a construo da autonomia dos
discentes na aprendizagem, orientao e, conseqentemente, nas atividades
profissionais. A pesquisa a grande veiculadora do futuro, alm de s fazer-se em
condies em que a iniciativa, a autonomia, criatividade, esprito investigativo e
empreendedor e capacidade de atuao entre pares e busca de atualizao
permanente estejam presentes. exatamente esse naipe de competncias que
tambm move as instituies no sentido da estender seus estudos de laboratrios em
aes de extenso;
Construo da autonomia dos discentes na aprendizagem - o aluno deve fazer parte ativa do processo de ensino, pesquisa e extenso, concorrendo para um
ambiente educativo mais rico e diverso;
Mobilidade - a adoo do princpio da mobilidade, num tempo sem limitao produo de conhecimentos, parte fundamental na construo da matriz curricular
nas reas de engenharia em funo da flexibilidade, da adaptabilidade e da
interatividade dela decorrente, no apenas entre os campi dos Institutos, mas tambm
entre instituies nacionais e internacionais, tendo em vista que a imerso em culturas
diversificadas possibilita acesso a diferentes formas de abordagem do conhecimento,
bem como o acesso aos diferentes recursos tecnolgicos e culturais aprimora o fluxo de
saberes, com a conseqente realimentao das instituies. Para tanto deve ser
pensada na perspectiva de:
cooperao tcnica intra e interinstitucional, possibilitando o compartilhamento de
recursos;
construo de projetos de pesquisa e de extenso intra e interinstitucionais;
possibilidade de alterao no itinerrio curricular para os estudantes intra e
interinstitucional;
-
estabelecimento de procedimentos inovadores para o acesso e para as
certificaes dos estudantes;
Comparabilidade a adoo do princpio da comparabilidade exige dos cursos de engenharia dos Institutos Federais um esforo conjunto no sentido da construo de
seus currculos e da adoo de procedimentos que concorram para as aes de ensino,
pesquisa e extenso, o que no significa a fixao de um padro rgido de formao,
mas a busca de uma unidade que possibilite a aproximao de referenciais curriculares;
a atitude dialgica entre os Institutos Federais e o estabelecimento de procedimentos
de cooperao entre as aes educacionais favorecem o aprimoramento e a qualidade
de atuao dos mesmos, enquanto uma rede social que se empenha na reduo das
desigualdades e na construo de um pas soberano; alm de conferir uma identidade
para os cursos, favorece a mobilidade (intercmbio e integrao) de estudantes e de
servidores, estimula procedimentos que agregam elementos busca contnua da
melhoria da qualidade da educao ofertada, uma marca histrica;
Integrao da comunidade discente de diferentes nveis e modalidades de ensino - esse procedimento ao oportunizar aes educativas envolvendo em sua composio estudantes de diferentes nveis e modalidade contribui para a
concretizao do princpio da verticalizao.
-
3. O DESENHO CURRICULAR NAS ENGENHARIAS DOS
INSTITUTOS FEDERAIS
A partir do entendimento que os profissionais das engenharias, enquanto atores
sociais oportunizam a transformao de saberes tanto em riqueza como em benefcios
sociais, sua formao exige que seja cogitada numa perspectiva humanstica ampla
calcada em uma slida base cientfico-tecnolgica que os credencie a enfrentar os
desafios demandados pela contemporaneidade.
Nesta perspectiva, o profissional egresso dos cursos de engenharias dos
Institutos Federais deve ser capacitado a absorver, aplicar e desenvolver novas
tecnologias, como fonte estimuladora de sua atuao arrojada e criativa na percepo,
definio, anlise e formulao de solues de problemas polticos, ticos, econmicos,
sociais, ambientais e culturais, sempre comprometido com o desenvolvimento humano
sustentvel. O engenheiro deve estar preparado para atuar permanentemente na
fronteira do conhecimento e buscar sadas para as situaes que se lhe apresentam.
Para tanto, a formao primeira do engenheiro nos Institutos Federais, prope-se
a ser generalista, humanista, crtica, reflexiva, em sintonia com o mundo produtivo e a
sociedade, embasada nos princpios da verticalizao, da otimizao e da interao
das reas de conhecimento, superando a dicotomia entre teoria e prtica e
ultrapassando a concepo de terminalidade laboral, tendo em vista a necessidade de
reviso sucessiva de sua formao ao longo de sua vida profissional.
Os Institutos Federais, ao oportunizarem a formao de itinerrios curriculares
que perpassam outros currculos de graduao, estabelecem uma singular convivncia
de construo de saberes articulados. Essa construo, somada s orientaes das
Diretrizes da Engenharia - Resoluo CNE/CES no. 11/2002 (Anexo 1) formam um
agrupamento de saberes balizadores para a produo de uma arquitetura curricular
que, apesar de plena, possibilita complementaridades, pois propicia ao engenheiro em
formao cumprir parte de seu currculo em outro curso tanto dentro como fora de seu
Instituto Federal de origem.
Por outro lado, os currculos das engenharias, alm de serem organizados de
modo a permitir a interao entre as diversas graduaes, o princpio da verticalizao
garante na ps-graduao estudos complementares. Em relao ao ensino tcnico de
-
nvel mdio, a interao pedaggica pertinente, principalmente, com os cursos de
formao profissional similares. Estas interaes multinveis propiciam ao aluno a
participao em ambientes de formao com peculiaridades distintas, mais ricos de
oportunidades que consolidam seus estudos, agregando nveis de autonomia que
ajudam a desenvolver formas de liderana de grupos de trabalho.
Quando da construo das propostas curriculares dos Cursos de Engenharias
dos Institutos Federais, recomenda-se a adoo de nomenclaturas consolidadas7, mas
que tragam em seu bojo uma concepo de formao inovadora, seja no que se refere
a sua estruturao, a metodologias de aprendizagem, seja em relao aos contedos
curriculares e extracurriculares.
Neste contexto, os Institutos Federais propem que o percurso de formao dos
engenheiros sob sua responsabilidade permita, preferencialmente, a integralizao do
curso em quatro anos. Deve ser constitudo pelo conjunto de bases cientficas,
instrumentais e tecnolgicas expressos, na forma de um currculo que possibilite o
desenvolvimento de ao pedaggica inter e transdisciplinar dos eixos temticos das
modalidades das reas da engenharia classificadas pela Coordenao de
Aperfeioamento de Pessoal do Ensino Superior - CAPES (Engenharias I, Engenharias
II, Engenharias III, Engenharias IV).
Tradicionalmente o currculo construdo a partir da organizao de um conjunto
de disciplinas. Apropria-se de um conjunto de denominaes de disciplinas, na maioria
das vezes sem discutir o contedo de cada uma, organizando-as numa grade a partir
da qual o currculo desenvolvido. Tal procedimento incoerente quando o objetivo do
curso formar o profissional a partir de um perfil de egresso em concordncia com as
necessidades do mundo do trabalho.
Para que no se caia numa construo curricular que reproduza os modelos
tradicionais, torna-se relevante inverter o processo de construo curricular, ou seja, a
matriz do curso deve ser a parte final do processo desta construo para que possa
retratar o perfil do egresso (). O foco deve ser o profissional a ser formado e no o
curso em si.
7 A opo pelas nomenclaturas j consolidadas favorece o reconhecimento dos cursos pelos Conselhos Profissionais bem como os princpios da mobilidade e da comparabilidade. Isto, contudo, no interfere na inovao que deve estar presente nas propostas curriculares.
-
O primeiro passo a ser dado definir qual engenheiro se deseja formar, ou seja,
definir o perfil do egresso. Este perfil deve, alm de contemplar as competncias
profissionais gerais e as competncias tcnicas especficas, refletir o perfil institucional
dos Institutos Federais, assim como as demandas dos arranjos produtivos, sociais e
culturais locais e regionais.
A partir do perfil do egresso deve-se estabelecer o conjunto de conhecimentos,
assim como mtodos e estratgias para se atingir este perfil, lembrando que os
conhecimentos devem estar em consonncia com diretrizes curriculares nacionais para
os cursos de engenharia.
NCLEO BSICO
N
CLEO
PR
OFI
SSIO
NA
LIZA
NTE
NCLEO ESPECFICO
INCIO DO CURSO
PERFIL
ARRANJOSPRODUTIVOSCULTURAIS,SOCIAIS LOCAIS EREGIONAIS
POTENCIALINSTITUCIONAL
ATRIBUIESPROFISSIONAIS
COMPETNCIASGERAIS
CONHECIMENTO
MTODOS EESTRATGIAS
CU
RR
CU
LO
Figura 3. Desenho esquemtico das fases do processo de construo curricular.
A flexibilidade da proposta curricular da modalidade do curso de engenharia
ofertada possibilita que a mesma seja estruturada tendo como referencial o entorno
socioeconmico em que cada Instituto Federal est inserido, tendo como base de
sustentao os ncleos de conhecimentos delineados nas Diretrizes da Engenharia -
Resoluo CNE/CES no. 11/2002 (Anexo 1), quais sejam, ncleo de conhecimentos
bsicos, ncleo de conhecimentos profissionais e ncleo de conhecimentos especficos
que, por sua vez, devem estar distribudos cada um, ao longo de todo o percurso
formativo, de forma a garantir a interao entre eles sem contudo comprometer o
princpio da comparabilidade (Figura 4).
Torna-se relevante que os currculos sejam desenvolvidos por meio de
disciplinas contextualizadas de modo a integrar os saberes terico-prticos articulando
atividades de ensino, pesquisa e extenso. Para tanto, deve ser estimulada a
-
participao dos alunos em atividades de campo onde ele possa experimentar
situaes prticas, em cada etapa de seu percurso de formao ensino, pesquisa e
extenso antecipando circunstncias que estaro presentes no seu cotidiano social e
profissional. Vale ressaltar, tambm, que as atividades complementares (extenso)
constituem-se elementos de interveno na prtica social, materializadas por meio de
projetos educativos do curso. Este desenvolvimento deve integrar todos os ncleos de
conhecimentos ao longo de todo o curso.
NCLEO BSICO
NCL
EO PRO
FISS
IONA
LIZA
NTE
NCLEO ESPECFICO
INCIO DO CURSO
Figura 4. Representao da distribuio dos ncleos ao longo do percurso formativo.
Alm de prever percursos de formao/interao intra e inter-instituies, os
cursos de engenharia devem estabelecer uma relao mais intensa com o ambiente
externo ao acadmico, em especial, com o setor produtivo. Isto no se resume somente
na ampliao de campos de estgios e visitas tcnicas, mas tambm na interao e
fortalecimento de aes que buscam a vivncia dos futuros engenheiros em ambientes
laborais e de pesquisas. Para isso, algumas barreiras j institudas ao longo dos anos
nesta relao devem ser revisadas, visando desburocratizao dos processos,
eliminando preconceitos e resistncias estabelecidos de ambos os lados.
-
Os ncleos formativos distribudos ao longo do percurso formativo compem-se
de saberes que podem ser visualizados em termos gerais na Figura 5. Preservadas as
peculiaridades nos conhecimentos de cada curso, o arranjo desses conhecimentos
pressupe-se que seja feito de forma harmnica no percurso formativo visando
introduzir o aluno aos conhecimentos profissionalizantes e especficos e assim coloc-
lo em contato com a prtica de campo desde o incio do curso.NCLEOS
BSICO PROFISIONALIZANTE ESPECFICO
Metodologia Cientfica e
Tecnolgica
Algoritmos e Estruturas de Dados Cincia dos
Materiais Bioqumica Telecomunicaes
Humanidades, Cincias Sociais e
Cidadania
Controle de Sistemas Dinmicos Circuitos
Eltricos Geotecnia- Mquinas de fluxoconhecimentos
Cincia e Tecnologia dos
Materiais
Ergonomia e Segurana do Trabalho Eletrnica
Analgica e Digital Matemtica discretacientficos,
tecnolgicos e
Comunicao e Expresso Hidrulica, Hidrologia Aplicada e Saneamento
Bsico Qualidade Pesquisa Operacionalinstrumentais
necessriosFenmenos de Transporte Sistemas Estruturais e Teoria das Estruturas
Estratgia e Organizao Sistemas Trmicospara a definio das
Mecnica dos Slidos Modelagem, Anlise e Simulao de Sistemas
Converso de Energia Sistemas Mecnicosmodalidades de
Cincias do Ambiente Mineralogia e Tratamento de Minrios Engenharia
do Produto Sistemas operacionaisEngenharia
Eletricidade Aplicada Materiais de Construo Mecnica Materiais de
Construo Civil Mecnica AplicadaExpresso Grfica Processos Qumicos e Bioqumicos Gerncia de
Produo Sistemas de InformaoAdministrao Reatores Qumicos e Bioqumicos Paradigmas de
Programao Qumica OrgnicaEconomia Organizao de computadores Processos de
Fabricao Topografia e GeodsiaMatemtica Circuitos Lgicos Compiladores Construo Civil
Termodinmica Aplicada Mtodos Numricos
Informtica Eletromagnetismo Geoprocessamento Fsico-
qumica Tecnologia Mecnica Operaes
UnitriasQumica Gesto Ambiental Gesto Econmica Materiais
Eltricos Qumica AnalticaFsica Gesto de Tecnologia Instrumentao
Microbiologia Transporte e Logstica
-
Figura 5. Modelo exemplificado de distribuio dos conhecimentos nos ncleos ao longo do percurso formativo.
Para a viabilizao da proposta das engenharias nos Institutos Federais
destacam-se aes importantes, dentre elas:
Incentivo criao de ambientes de gerao de conhecimento e inovaes:
a) fortalecimento da pesquisa e da iniciao cientfica via incrementao de programas
inseridos nas polticas pblicas da Secretaria de Educao Profissional e Tecnolgica
(SETEC);
b) articulao de redes colaborativas com outras instituies para o desenvolvimento
de projetos de pesquisas objetivando a expanso da capacidade de produzir novos
conhecimentos e gerar novos produtos e processos, a fim de que o conhecimento
produzido possa se-transformar em inovaes tecnolgicas, condio inequvoca para
o desenvolvimento;
Promoo de aes que possibilitem a aproximao dos engenheiros em formao
com a realidade do mundo de trabalho de forma a oportunizar a reflexo crtica em
relao ao seu campo de atuao profissional na perspectiva de implementar
alternativas at ento no utilizadas;
Incentivo participao dos docentes e das associaes e sociedades profissionais na
concepo e desenvolvimento dos cursos;
Atribuio de recursos para as inovaes curriculares e metodolgicas propostas;
Estmulo ao desenvolvimento do Plano de Qualificao Institucional nos Institutos
Federais com vista formao continuada dos sujeitos envolvidos no processo de
construo do conhecimento, oportunizando a aprendizagem ao longo da carreira
profissional e, por que no afirmar, da vida, considerando que a extenso do
envelhecimento da populao tende tambm ao alongamento da vida til da ao
laboral;
Utilizao de tecnologias da informao e da comunicao e da educao a distncia
(TIC e EAD) as ferramentas tecnolgicas devem possibilitar o desenvolvimento de
metodologias de ensino, apoio pedaggico de forma a enriquecer as propostas dos
cursos. A utilizao de novas metodologias de aprendizagem deve ser utilizada como
-
estratgia de democratizao e elevao do padro de qualidade. As metodologias
apoiadas nas TIC constituem, ainda, elemento chave da modernizao tecnolgica dos
processos produtivos, com o qual o futuro engenheiro ter que lidar. A educao a
distncia poder ser utilizada como instrumento de formao ou como complementao
dos projetos pedaggicos dos cursos de engenharia. A EAD permite o
compartilhamento e eficincia no uso dos recursos intra e interinstitucionais,
favorecendo a comparabilidade, a cooperao e a complementao da formao.
importante, porm, ressaltar que o uso da EAD no a simples transposio da
metodologia presencial, pois pressupe a concepo de todos os seus aspectos e
contedos curriculares utilizando metodologias prprias para essa modalidade. A
utilizao da EAD nas engenharias, no Brasil, ainda tmida, inclusive como ferramenta
complementar na educao presencial. difcil se conceber uma engenharia ministrada
essencialmente distncia, mas uma parte do currculo certamente possvel. Alm
disso, a utilizao dessa ferramenta pelo estudante permitir ao futuro engenheiro
manter-se atualizado ao longo da vida profissional, j que a educao continuada
essencial para o exerccio da profisso;
Destaca-se a necessidade de estabelecer de forma mais incisiva a verticalizao do
ensino, reformulando o currculo do ensino mdio de forma que a acessibilidade ao
ensino superior em todo o sistema de ensino, bem como a qualidade que se pretende
para essa proposta estejam garantidas. preciso, pois, favorecer o acesso ao ensino
superior das camadas jovens, com bagagens econmicas e culturais muito desiguais, e
tambm de diferenciados grupos de trabalhadores ativos ou desempregados com a
mesma competncia que os jovens das classes mdia e alta, que cumprem a sua
escolaridade na faixa etria prevista em lei;
Em ltima instncia, o mundo do trabalho deve realimentar constantemente o perfil de
egresso requerido na concepo do curso de engenharia (Figura 6), cujo
desenvolvimento pauta-se em uma organizao curricular elaborada a partir do roteiro
proposto na Figura 3.
-
PERFIL DO
EGRESSO
DESENVOLVIMENTODO
CURSOMUNDO DOTRABALHO
Figura 6. Desenho esquemtico da retroalimentao do perfil do egresso a partir das demandas do mundo do trabalho.
-
CONSIDERAES FINAIS
A deciso de implantar as engenharias nos Institutos Federais, por toda a
federao brasileira e no atual momento do pas no um processo neutro. Tal
incremento implica investimentos iniciais e custos correntes adicionais e est fixado na
agenda poltica dos financiamentos pblicos, numa ao que, de certa maneira, se
contrape ao movimento de privatizao do ensino superior registrado nos ltimos anos
no pas. Esse processo de construo no se situa no interior do sistema de ensino, ou
seja, no depende apenas da vontade e da ao dos estudantes, professores e rgos
institucionais, mas tambm de uma deciso poltica e aes efetivas do governo
federal.
preciso um olhar sistmico para o que esta deciso deve representar e qual
valor agregado a essas instituies. Entende-se que a implantao desses cursos em
Instituies do perfil nos Institutos Federais, com as diretrizes que os caracterizam,
impe uma nova concepo e um novo paradigma da formao. Por outro lado,
entende-se que essas instituies gozam de autonomia didtico-pedaggica,
administrativa e de gesto e pode definir caminhos. Acresceramos com a
argumentao de que, os caminhos dos Institutos Federais, em muitos aspectos, sero
aqueles que eles souberem caminhar. Face ao perfil que essas Instituies sempre
adotaram - dar respostas mais rpidas aos apelos sociais -, presume-se que na
proposio de seus cursos, certamente a sintonia com o apelo social, com os arranjos
produtivos culturais locais e regionais e com o mundo produtivo deve ser forte
componente. No se trata de definir uma engenharia prpria dos Institutos Federais,
mas a construo de um modelo que seja coerente com a proposta institucional dos
mesmos.
Assim, ao se estabelecerem os princpios do currculo das engenharias nos
Institutos Federais, aponta-se para uma formao que, sem ferir os princpios legais, se
enriquece de outros quesitos, ultrapassando as propostas convencionais. Este desafio
se vislumbra numa viso renovada tanto na prtica docente quanto da pedaggica de
todo o ciclo formativo do curso. A introduo de um ncleo comum outro fator que
pode favorecer a estruturao de perodos de formao inicial que admitiriam sadas
formais em percursos menores.
-
Certamente as propostas traro repercusses no s nas engenharias, mas, em
propores diferenciadas, por toda a oferta da educao profissional e tecnolgica
dentro dos Institutos e, por que no, imaginarmos a possibilidade de se estarem
fortalecendo a discusso j existente na sociedade e no mundo acadmico a respeito
da modernizao das engenharias. Mais que nunca, pois, as engenharias surgiro
como o fruto das relaes de cooperao entre os profissionais da educao
profissional e tecnolgica e a sociedade.
A mobilidade surge como ponto forte na discusso e linha de ao visvel neste
processo de construo. Mobilidade que se entende no apenas para os estudantes
como tambm para os docentes. surpreendente a dificuldade que os docentes tm
enfrentado nesse aspecto; alm do mais, preciso que os corpos docentes tambm se
internacionalizem com maior expressividade; a nacionalidade continua sendo a norma.
Todo o esforo na perspectiva da modernizao importante. Esses arranjos
cooperativos vo desde a formao de recursos humanos qualificados at o
desenvolvimento de projetos de pesquisas de alto investimento.
Entende-se, por fim, que investimento nas engenharias no pas mecanismo
que pode favorecer sobremaneira as matrizes da inovao e a incorporao de
tecnologias aos produtos e servios ofertados, ampliando a competitividade e abertura
de novos mercados, buscando a incluso social e a sustentabilidade. Ressalta-se,
contudo, que a agenda social prioritria.
A inteno desse documento , pois, uma declarao de inteno poltica e
aberta. No fixa nenhum padro rgido, mas sinaliza para aspectos que devem garantir
a qualidade e validade social das propostas e efetivamente formar profissionais com
viso de futuro. O seu impacto far-se- sentir num tempo no muito longo e certamente
estar contribuindo para reforar a imagem que essas instituies federais j
construram como fomentadoras de oportunidades para o brasileiro que constri seu
conhecimento na perspectiva de uma educao emancipatria.
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REFERNCIAS
ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmao e a negao do trabalho. So Paulo: Boitempo Editorial, 2000. p.48.
BRASIL, Congresso Nacional, Lei Federal n 6.545, Lei de Transformao das Escolas Tcnicas Federais de Minas Gerais, do Paran e Celso Suckow da Fonseca em Centros Federais de Educao Profissional e Tecnolgica, 30 de junho de 1978.
______,Congresso Nacional,Lei Federal n 11.892,Lei que institui a Rede Federal de Educao Profissional,Cientfica e Tecnolgica , cria os Institutos Federais de Educao, Cincia e Tecnologia, 29 de dezembro de 2008.
INOVA ENGENHARIA: propostas para a modernizao da educao em engenharia Brasil/IEL.NC, SENAI.DN. Braslia: IEL. NC, SENAI.DN., 2006.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE). Disponvel em: . Acesso em: 5 ago. 2008.
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ANEXO 1. MINISTRIO DA EDUCAO
CONSELHO NACIONAL DE EDUCAOCMARA DE EDUCAO SUPERIOR
RESOLUO N 2, DE 2 DE FEVEREIRO DE 20061
Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso degraduao em Engenharia Agrcola e d outras providncias.
O Presidente da Cmara de Educao Superior do Conselho Nacional deEducao, no uso de suas atribuies legais, com fundamento no art. 9, 2, alnea c, da Lei n 4.024, de 20 de dezembro de 1961, com a redao dada pela Lei n 9.131, de 25 de novembro de 1995, tendo em vista as diretrizes e os princpios fixados pelos Pareceres CNE/CES nos 776/97, 583/2001 e 67/2003, bem como considerando o que consta do Parecer CNE/CES n 307/2004, homologado pelo Senhor Ministro de Estado da Educao em 17 de dezembro de 2004, resolve:Art. 1 A presente Resoluo institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o cursode graduao em Engenharia Agrcola, bacharelado, a serem observadas pelas instituies de ensino superior do Pas.Art. 2 As Diretrizes Curriculares para o curso de graduao em Engenharia Agrcolaindicaro claramente os componentes curriculares, abrangendo a organizao do curso, o projeto pedaggico, o perfil desejado do formando, as competncias e habilidades, os contedos curriculares, o estgio curricular supervisionado, as atividades complementares, o acompanhamento e a avaliao bem como o trabalho de curso como componente obrigatrio ao longo do ltimo ano do curso, sem prejuzo de outros aspectos que tornem consistente o projeto pedaggico.Art. 3 As Diretrizes Curriculares Nacionais para o ensino de graduao em EngenhariaAgrcola so as seguintes: 1 O projeto pedaggico do curso, observando tanto o aspecto do progresso social quanto da competncia cientfica e tecnolgica, permitir ao profissional a atuao crtica e criativa na identificao e resoluo de problemas, considerando seus aspectos polticos, econmicos, sociais, ambientais e culturais, com viso tica e humanstica, em atendimento s demandas da sociedade. 2 O projeto pedaggico do curso de graduao em Engenharia Agrcola deverassegurar a formao de profissionais aptos a compreender e traduzir as necessidades de indivduos, grupos sociais e comunidade, com relao aos problemas tecnolgicos, socioeconmicos, gerenciais e organizativos, bem como a utilizar racionalmente os recursos disponveis, alm de conservar o equilbrio do ambiente. 3 O curso dever estabelecer aes pedaggicas com base no desenvolvimento decondutas e de atitudes com responsabilidade tcnica e social, tendo como princpios:a) o respeito fauna e flora;b) a conservao e recuperao da qualidade do solo, do ar e da gua;c) o uso tecnolgico racional, integrado e sustentvel do ambiente;d) o emprego de raciocnio reflexivo, crtico e criativo; ee) o atendimento s expectativas humanas e sociais no exerccio das atividadesprofissionais.
-
Art. 4 O curso de graduao em Engenharia Agrcola dever contemplar, em seu projeto pedaggico, alm da clara concepo do curso, com suas peculiaridades, seu currculo e sua operacionalizao, sem prejuzos de outros, os seguintes aspectos:I - objetivos gerais do curso, contextualizados em relao s suas inseres institucional, poltica, geogrfica e social;II - condies objetivas de oferta e a vocao do curso;III - formas de realizao da interdisciplinaridade;IV - modos de integrao entre teoria e prtica;V - formas de avaliao do ensino e da aprendizagem;VI - modos da integrao entre graduao e ps-graduao, quando houver;VII - incentivo pesquisa, como necessrio prolongamento da atividade de ensino ecomo instrumento para a iniciao cientfica;VIII - regulamentao das atividades relacionadas com trabalho de curso de acordo com as normas da instituio de ensino, sob diferentes modalidades;IX - concepo e composio das atividades de estgio curricular supervisionadocontendo suas diferentes formas e condies de realizao, observado o respectivoregulamento; e X - concepo e composio das atividades complementares.Pargrafo nico. Com base no princpio de educao continuada, as IES podero incluirno Projeto Pedaggico do curso, o oferecimento de cursos de ps-graduao lato sensu, nas respectivas modalidades, de acordo com as efetivas demandas do desempenho profissional.Art. 5 O curso de Engenharia Agrcola deve ensejar como perfil:I - slida formao cientfica e profissional geral que possibilite absorver e desenvolvertecnologia;II - capacidade crtica e criativa na identificao e resoluo de problemas, considerandoseus aspectos polticos, econmicos, sociais, ambientais e culturais, com viso tica ehumanstica, em atendimento s demandas da sociedade;III - compreenso e traduo das necessidades de indivduos, grupos sociais ecomunidade, com relao aos problemas tecnolgicos, socioeconmicos, gerenciais eorganizativos, bem como utilizao racional dos recursos disponveis, alm da conservao do equilbrio do ambiente; eIV - capacidade de adaptao, de modo flexvel, crtico e criativo, s novas situaes.Art. 6 O curso de Engenharia Agrcola deve possibilitar a formao profissional querevele, pelo menos, as seguintes competncias e habilidades:a) estudar a viabilidade tcnica e econmica, planejar, projetar, especificar,supervisionar, coordenar e orientar tecnicamente;b) realizar assistncia, assessoria e consultoria;c) dirigir empresas, executar e fiscalizar servios tcnicos correlatos;d) realizar vistoria, percia, avaliao, arbitramento, laudo e pareceres tcnicos;e) desempenhar cargo e funo tcnica;f) promover a padronizao, mensurao e controle de qualidade;g) atuar em atividades docentes no ensino tcnico profissional, ensino superior,pesquisa, anlise, experimentao, ensaios e divulgao tcnica e extenso;h) conhecer e compreender os fatores de produo e combin-los com eficincia tcnica e econmica;i) aplicar conhecimentos cientficos e tecnolgicos;j) conceber, projetar e analisar sistemas, produtos e processos;
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k) identificar problemas e propor solues;l) desenvolver, e utilizar novas tecnologias;m) gerenciar, operar e manter sistemas e processos;n) comunicar-se eficientemente nas formas escrita, oral e grfica;o) atuar em equipes multidisciplinares;p) avaliar o impacto das atividades profissionais nos contextos social, ambiental eeconmico;q) conhecer e atuar em mercados do complexo agroindustrial e de agronegcio;r) compreender e atuar na organizao e gerenciamento empresarial e comunitrio;s) atuar com esprito empreendedor;t) conhecer, interagir e influenciar nos processos decisrios de agentes e instituies, na gesto de polticas setoriais.Pargrafo nico. O projeto pedaggico do curso de graduao em Engenharia Agrcoladeve demonstrar claramente como o conjunto das atividades previstas garantir o perfildesejado de seu formando e o desenvolvimento das competncias e habilidades esperadas,bem como garantir a coexistncia de relaes entre teoria e prtica, como forma de fortalecer o conjunto dos elementos fundamentais para a aquisio de conhecimentos e habilidades necessrios concepo e prtica da Engenharia Agrcola, capacitando o profissional a adaptar-se de modo flexvel, crtico e criativo s novas situaes.Art. 7 Os contedos curriculares do curso de Engenharia Agrcola sero distribudos em trs ncleos de contedos, recomendando-se a interpenetrabilidade entre eles:I - O ncleo de contedos bsicos ser composto por campos de saber que forneam oembasamento terico necessrio para que o futuro profissional possa desenvolver seuaprendizado. Esse ncleo ser integrado por: Biologia, Estatstica, Expresso Grfica, Fsica, Informtica, Matemtica, Metodologia Cientfica e Tecnolgica, e Qumica.II - O ncleo de contedos profissionais essenciais ser composto por campos de saberdestinados caracterizao da identidade do profissional. O agrupamento desses campos gera grandes reas que definem o campo profissional e o agronegcio, integrando as subreas de conhecimento que identificam o Engenheiro Agrcola. Esse ncleo ser constitudo por:Avaliao e Percias Rurais; Automao e Controle de Sistemas Agrcolas; Cartografia e Geoprocessamento; Comunicao e Extenso Rural; Economia e Administrao Agrria;Eletricidade, Energia e Energizao em Sistemas Agrcolas; Estrutura e Edificaes Rurais e Agroindustriais; tica e Legislao; Fenmenos de Transportes; Gesto Empresarial e Marketing; Hidrulica; Hidrologia; Meteorologia e Bioclimatologia; Motores, Mquinas, Mecanizao e Transporte Agrcola; Mecnica; Otimizao de Sistemas Agrcolas; Processamento de Produtos Agrcolas; Saneamento e Gesto Ambiental; Sistema de Produo Agropecurio; Sistemas de Irrigao e Drenagem; Solos; Tcnicas e Anlises Experimentais; e, Tecnologia e Resistncias dos Materiais.III - O ncleo de contedos profissionais especficos dever ser inserido no contexto doprojeto pedaggico do curso, visando a contribuir para o aperfeioamento da qualificao profissional do formando. Sua insero no currculo permitir atender s peculiaridades locais e regionais e, quando couber, caracterizar o projeto institucional com identidade prpria.IV - Os ncleos de contedos podero ser ministrados em diversas formas deorganizao, observando o interesse do processo pedaggico e a legislao vigente.V - Os ncleos de contedos podero ser dispostos, em termos de carga horria e de planos de estudo, em atividades prticas e tericas, individuais ou em equipe, tais como:a) participao em aulas prticas, tericas, conferncias e palestras;
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b) experimentao em condies de campo ou laboratrio;c) utilizao de sistemas computacionais;d) consultas biblioteca;e) viagens de estudo;f) visitas tcnicas;g) pesquisas temticas e bibliogrficas;h) projetos de pesquisa e extenso;i) estgios profissionalizantes em instituies credenciadas pelas IES;j) encontros, congressos, exposies, concursos, seminrios, simpsios, fruns dediscusses, etc.Art. 8 O estgio curricular supervisionado dever ser concebido como contedocurricular obrigatrio, devendo cada instituio, por seus colegiados acadmicos, aprovar o correspondente regulamento, com suas diferentes modalidades de operacionalizao. 1 Os estgios supervisionados so conjuntos de atividades de formao, programados e diretamente supervisionados por membros do corpo docente da instituio formadora e procuram assegurar a consolidao e a articulao das competncias estabelecidas. 2 Os estgios supervisionados visam a assegurar o contato do formando comsituaes, contextos e instituies, permitindo que conhecimentos, habilidades e atitudes se concretizem em aes profissionais, sendo recomendvel que suas atividades se distribuam ao longo do curso. 3 A instituio poder reconhecer atividades realizadas pelo aluno em outrasinstituies, desde que estas contribuam para o desenvolvimento das habilidades ecompetncias previstas no projeto de curso.Art. 9 As atividades complementares so componentes curriculares que possibilitem,por avaliao, o reconhecimento de habilidades, conhecimentos, competncias e atitudes do aluno, inclusive adquiridos fora do ambiente escolar. 1 As atividades complementares podem incluir projetos de pesquisa, monitoria,iniciao cientfica, projetos de extenso, mdulos temticos, seminrios, simpsios,congressos, conferncias e at disciplinas oferecidas por outras instituies de ensino. 2 As atividades complementares se constituem de componentes curricularesenriquecedoras e implementadoras do prprio perfil do formando, sem que se confundam com o estgio supervisionado.Art. 10. O trabalho de curso componente curricular obrigatrio, a ser realizado aolongo do ltimo ano do curso, centrado em determinada rea terico-prtica ou de formao profissional, como atividade de sntese e integrao de conhecimento e consolidao das tcnicas de pesquisa.
Pargrafo nico. A instituio dever emitir regulamentao prpria, aprovada pelo seuConselho Superior Acadmico, contendo, obrigatoriamente, critrios, procedimentos emecanismo de avaliao, alm das diretrizes e das tcnicas de pesquisa relacionadas com sua elaborao.Art. 11. A carga horria dos cursos de graduao ser estabelecida em Resoluoespecfica da Cmara de Educao Superior.Art. 12. As Diretrizes Curriculares Nacionais desta Resoluo devero ser implantadaspelas instituies de educao superior, obrigatoriamente, no prazo mximo de dois anos, aos alunos ingressantes, a partir da publicao desta.Pargrafo nico. As IES podero optar pela aplicao das DCN aos demais alunos do
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perodo ou ano subseqente publicao desta.Art. 13. Esta Resoluo entra em vigor na data de sua publicao, revogadas asdisposies em contrrio, expressamente a Resoluo CFE n 7/84.
EDSON DE OLIVEIRA NUNESPresidente da Cmara de Educao Superior
SUMRIO1.1. A Educao em Engenharias no Brasil em breve retrospectiva31.2. Da discusso sobre a educao em engenharia para a sociedade atual