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BRASIL 2009 “Um novo caminho” ENFOQUE INTEGRAL

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BRASIL 2009

“Um novo caminho”

ENFOQUE INTEGRAL

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Comentário sobre a foto da capa [Foto de criança participante de um Programa Aldeias Infantis SOS Brasil] “Vocês observaram bem esta foto? Nele os códigos só são decifrados por pessoas que REPARAM quando vêem, diante de uma história e de um contexto da Organização Aldeias Infantis SOS Brasil: - 10.000 crianças e adolescentes conquistando, de pés unidos, a CIDADANIA; - Um rastro de bondade vai ficando e marcando caminho, basta olhar para trás; - A poeira traz do passado a passada veloz porque há pressa de caminhar para a meta de 2016; - Podemos ver dois corações em azul cruzando os dedos e chegando ao calcanhar de Àquiles; - As unhas levemente rosadas é o sinal do sangue que ferve e pede passagem com ternura; - Entre o chão duro tem o elemento plástico amarelo... SOL DA JUSTIÇA, terra sagrada, território santo onde a cada dia nasce a força de um menino que representa a vida em cada um de nós!”

(Nelson Peixoto, Gestor do Programa de Brasília).

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“O educar é uma arte, no fundo, tão pouco ensinável como a tolerância ou a fé. É um saber que resulta das interações, de vivências,

de experiências e do contraste com a realidade”.

(Hermann Gmeiner)

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Reflexão .........................................................................................................................06 Breve Histórico .............................................................................................................07 Diretrizes Organizacionais ...........................................................................................08 Marcos Legais ...............................................................................................................10 Enfoque Integral – “um novo caminho”.........................................................................11 Primeiras Impressões .........................................................................................11

Marco Conceitual ................................................................................................12 Sobre a Metodologia do Enfoque Integral ..........................................................13

Fundamentos ......................................................................................................14 Princípios ............................................................................................................15 Propósitos ...........................................................................................................15 Processos ...........................................................................................................15

Dispositivos Pedagógicos ...................................................................................17 Passo a Passo ....................................................................................................19

Considerações gerais ...................................................................................................24 Glossário .......................................................................................................................25 Anexos .......................................................................................................................... 27 Guia do PTA ....................................................................................................... 27 Guia da “Análise da Realidade Local” ................................................................ 29 Modelo de “Diário de Bordo” .............................................................................. 32

Guia dos I.Q’s ..................................................................................................... 34 Bibliografia.................................................................................................................... 42

SUMÁRIO

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“Para a construção deste material buscamos similaridades de sonhos, práticas que geram conhecimentos em diversos tempos e espaços. O conhecimento e as vivências historicamente acumuladas devem servir ao propósito maior, que é de validar nossa existência em uma permanente busca pela dignidade plena de existir e pela consciência de nossa real condição de um ser - em - relação. Publicamos aqui o nosso agradecimento aos que nos possibilitaram beber em suas fontes, em seus escritos, memórias e vivências... Hermann Gmeiner, Paulo Freire, César Muñoz, Moacir Gadotti, Leonardo Boff, Tião Rocha e tantas crianças e jovens, mulheres e comunidades que são a essência desse FAZER”.

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Na vida optamos sempre e a somatória dessas opções expressa nossa trajetória

em diferentes âmbitos: pessoal e profissional. Cada opção representa tomada de

decisão, autonomia na definição da permanência e/ou impermanência.

As escolhas nos remetem ao resgate do nosso papel no mundo, a capacidade

de interagir e transformar, de estabelecer relações com o outro de forma coerente,

consistente e dialógica.

A compreensão da própria condição enquanto ser limitado, provisório e temporal

nos faz refletir sobre a transitoriedade das nossas ações, daí a importância de interagir

com o outro num movimento constante de ação, reflexão ação. Se assim agirmos

seremos provocadores de transformação da realidade. Este é o papel que nos cabe: de

uma total indignação frente a todas as situações de injustiça e de violação de direitos.

É urgente buscar no âmago do ser as justificativas que calcadas na experiência

individual legitimam a opção e consolidam a mudança.

A essência da nossa atividade aí está: o atendimento a crianças e jovens no

enfoque de direitos que implica em optarmos e assumirmos que temos “lado”,

identidade, que enfim optamos pela não passividade frente à violação dos direitos

básicos, por aqueles que invisíveis para muitos, são para nós sujeitos de construção

crítica e transformadora da sociedade. O cenário atual impõe a todos nós a necessária

reflexão na busca de novas metodologias e práticas que reflitam a visão, missão e

valores da Organização.

A história e o exemplo do nosso fundador Hermann Gmeiner nos encoraja, nos

dão força e energia para assumirmos este desafio.

Fica então o chamamento para aqueles que se sentem desafiados a ousar e

trilhar junto com as crianças, jovens, famílias e comunidades novos caminhos.

Sandra Greco da Fonseca,

Gestora Nacional Aldeias Infantis SOS BRASIL.

Reflexão

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Hermann Gmeiner nasceu em 1919 na Áustria. Era filho de camponeses e tinha mais 8

irmãos. Sua mãe morreu quando tinha 5 anos. Ela era o pilar da casa.

A partir deste fato, Hermann juntamente com seu pai e irmãos se esforçaram para

manter a família unida. Uma frase dita por sua mãe antes de falecer marcou sua

trajetória de vida: “Meus filhos, sejam bons”.

Aos 17 anos conseguiu uma bolsa para estudar no Instituto Feldkirch, lugar que deixaria

três anos mais tarde para integrar o exército alemão na 2ª Guerra Mundial.

Testemunhou os horrores da guerra que reforçou seu interesse em estudar medicina e

se empenhar em ajudar pessoas. No pós-guerra, confrontou-se com a miséria dos

órfãos e crianças desabrigadas na Europa e pode notar como eram escassamente

assistidos. Foi então que surgiu a idéia de oferecer a essas crianças a oportunidade de

uma vivência familiar. A partir desta experiência construiu um modelo de acolhimento a

estas crianças e adolescentes, favorecendo uma vivência baseada no modelo familiar,

que tinha como princípios:

� Mãe social – cada criança e adolescente estão sob o cuidado de uma mãe

social

� Os irmãos – Os irmãos biológicos permanecem sempre juntos.

� Casa lar – Na casa lar as crianças e adolescentes compartilham os momentos

da vida cotidiana.

� Aldeia – Representa um ambiente de apoio e solidariedade no compartilhar de

experiências de mães sociais, crianças, adolescentes e jovens.

A primeira experiência de Acolhimento surgiu em Imst, na Áustria, em 1949, desde

então, o projeto cresceu no mundo inteiro e hoje presente em 132 países, atendendo a

mais de 1 milhão de crianças e jovens.

Breve Histórico

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Visão Organizacional

“Cada criança pertence a uma família e cresce com amor, respeito e segurança".

Valores Organizacionais

Os valores norteiam as ações, decisões e relações da Organização. São eles:

• Coragem - Agimos

• Compromisso – Cumprimos nossas promessas

• Confiança – Cremos em cada pessoa

• Responsabilidade – Somos parceiros idôneos

Atuação Estratégica

A Organização promove o atendimento a crianças, adolescentes e jovens, por meio da

defesa integral de seus direitos, com a perspectiva de fortalecer a convivência familiar e

comunitária em um Programa Integral, com duas linhas de ações: “Acolhimento” e

“Fortalecimento Familiar e Comunitário”.

Acolhimento

O Acolhimento das Aldeias Infantis SOS, na modalidade de casa lar, é um serviço de

proteção integral a crianças, adolescentes e jovens que por motivo de risco

(negligência, discriminação, abuso, exploração, entre outros) tiveram seus vínculos

familiares fragilizados e/ou rompidos. Por isso, o trabalho com a família de origem é

elemento fundamental para o fortalecimento da mesma como lugar de proteção e

cuidado por excelência.

Fortalecimento Familiar e Comunitário

Desenvolve ações para o empoderamento de mulheres famílias e comunidades em

situação de vulnerabilidade social. Por isso, como condição primordial para ações de

defesa, promoção e garantia integral de direitos, atuamos junto aos componentes:

� Componente Criança: “Proteção e desenvolvimento Integral de crianças”.

Enfoque de trabalho com crianças visando o desenvolvimento de

potencialidades.

Diretrizes Organizacionais

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� Componente Mulher: “Desenvolvimento e Empoderamento das mulheres para

uma melhor proteção de seus filhos”. Enfoque de trabalho com mulheres visando

o empoderamento e emancipação.

� Componente Família: “Desenvolvimento e Empoderamento das famílias

vulneráveis para um melhor cuidado de seus filhos”. Enfoque de trabalho com

famílias visando garantir a convivência familiar e comunitária e o reconhecimento

das mesmas como potencialmente capazes de realizar as funções de proteção e

socialização de crianças e adolescentes.

� Componente Comunidade: “Desenvolvimento e Empoderamento da

comunidade”. Enfoque de trabalho com comunidades, promovendo a cultura da

participação, mobilização e proteção integral.

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A construção da Metodologia do Enfoque Integral baseou-se: na Política

Organizacional, nos referentes da Organização, em especial o Plano Político Operativo

(PPO), e nos Marcos Legais – Declaração Universal dos Direitos Humanos, Convenção

Internacional do Direito da Criança e do Adolescente, Constituição Federa/1988(CF),

Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Plano Nacional de Convivência Familiar e

Comunitária (PNCFC), Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), Lei

Orgânica da Assistência Social (LOAS).

Marcos Legais/ Referenciais

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As causas da vulnerabilidade de crianças, adolescentes e jovens, que é concretizado na

violação dos seus direitos fundamentais não ocorrem de maneira isolada. Elas estão

associadas ao contexto sócio-histórico, econômico e político que determinam esse

quadro de exclusão.

A questão da infância e adolescência hoje está focada no entendimento de que crianças

e jovens são sujeitos de direitos, dentre eles à convivência familiar e comunitária. As

políticas internacionais e nacionais de promoção e proteção à infância partem do

princípio da integralidade [0] no atendimento de pessoas, grupos e coletividade

entendendo o/a participante como sujeito histórico, social e político, articulado ao seu

contexto familiar, ao meio ambiente e a sociedade na qual se insere. Neste cenário, se

evidencia a importância das ações como estratégia integradora de um saber coletivo

que traduza no indivíduo sua autonomia, emancipação e protagonismo.

O Enfoque Integral extrapola ações fragmentadas e se prolonga pela qualidade real da

atenção individual e coletiva assegurada os/as participantes. Requisita o compromisso

com o contínuo aprendizado e com a prática transdisciplinar [1] e superando o conceito

simplista de ações integradas.

A reflexão sobre integralidade perpassa pela formação permanente, que deve estimular

e favorecer o diálogo, espaços de escuta e acolhimento. Promove uma relação ética e

dialógica entre os diversos atores envolvidos. Para que seja possível a realização de

uma prática que atenda à integralidade, é preciso exercitar efetivamente o trabalho

coletivo e estabelecer estratégias de aprendizagem coletivas que favoreçam o diálogo,

a troca, a transdisciplinaridade entre os distintos saberes formais e não-formais. Este

pensamento é fortalecido pela referência do atualíssimo método freiriano [2].

1. Primeiras Impressões

Enfoque integral: “um novo caminho”

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Criança, Adolescente e jovem – “Sujeito de direitos”

Entende-se a criança, o adolescente e o jovem em sua integralidade como sujeito de

direitos. Garantir esses direitos é afirmar a condição humana enquanto sujeitos em

desenvolvimento. O acesso à saúde, a educação e a participação sociocultural e a

convivência familiar e comunitária, possibilita à eles o desenvolvimento da autonomia e

cidadania pró-ativa.

Família – “Quem cuida”

Entende-se como um núcleo que se organiza em torno das pessoas que se unem por

razões afetivas, dentro de um projeto de vida em comum em que compartilham um

cotidiano, estabelecem inter-relações, transmitem valores, planejam seu futuro,

acolhem-se, tornando-se um espaço privilegiado para formação integral das crianças,

adolescentes e jovens.

Comunidade – “território de possibilidades”

Entende-se como espaço geográfico, que se configura através das relações sociais em

uma esfera de potencialidades locais políticas, culturais e econômicas, emanando

interesses baseados na coletividade, onde a convivência e a forma de organizar-se são

baseados na perspectiva da construção de uma sociedade mais justa, cooperativa e

solidária.

Educação – “Desenvolvimento Integral”

Entende-se Educação na sua transversalidade, que extrapola os espaços formais e se

constitui num instrumento que possibilita o desenvolvimento de potencialidades,

respeitando à diversidade dos conhecimentos. Recorre à construção coletiva na busca

da significância e de atitudes de cooperação, solidariedade e respeito.

2. Marcos Conceituais

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A Metodologia do Enfoque Integral é um conjunto de ações, práticas e atitudes

sinérgicas, envolvendo os mais diversos atores (família, sociedade e Estado),

comprometidos com a promoção e efetivação de direitos da criança e do adolescente

em situação de vulnerabilidade pessoal e social.

Por conseguinte, constitui-se enquanto uma abordagem, um meio, uma forma possível

de atuar, de ser, para fazer não só valer, mas acontecer os direitos da política de

atendimento integral consagrada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, ou

melhor, uma praxe que possibilita mostrar a amplitude e a complexidade do trabalho ao

qual convoca o ECA.

3. Sobre a “Metodologia do Enfoque Integral”

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O Enfoque Integral é o eixo norteador de um processo político pedagógico que requer o

desenvolvimento de um pensar crítico e reflexivo, que permite desvelar a realidade e

propor ações transformadoras, tendo como referência:

Nossa visão de Mundo – A equidade e a igualdade de oportunidades são valores

indispensáveis para a promoção humana. Nossa visão de mundo perpassa pelas

dimensões das sustentabilidade [3], relações e interelações, da solidariedade.

Nossa visão do Ser Humano – Pessoas autônomas, participativas, críticas, sujeitos de

direitos e deveres, pró-ativas, protagonistas de suas histórias e comprometidas com a

construção de uma sociedade justa, sustentável e solidária.

Nossa visão de Sociedade – Uma sociedade que busca a eqüidade pautada na promoção

da dignidade da pessoa e do desenvolvimento sustentável, por meio da participação ativa

de seus cidadãos na vida social, política, econômica e cultural, de tal forma que todos

possam se sentir co-responsáveis pelas decisões coletivas.

Nossa visão de Educação – A Educação como dimensão promotora do desenvolvimento

integral do ser humano numa perspectiva solidária e emancipatória. Temos a

responsabilidade de facilitar processos que impliquem na construção de conhecimentos e,

sobretudo na possibilidade de construí-lo sem desprezar as diversidades culturais,

valorizando o conhecimento do indivíduo, do grupo, favorecendo o desenvolvimento integral.

Recorre à construção coletiva na busca da significância e de atitudes de cooperação,

solidariedade e respeito.

Nossa visão de Participação – Prioriza-se em toda e qualquer ação, a inclusão e o

exercício permanente da participação nas diferentes instâncias de atuação. Os processos

são construídos de forma dialética [4] e, inevitavelmente, dialógica, fortalecendo e

empoderando os membros da comunidade para que atuem de forma autônoma e

empreendedora.1

1 Plano Político Operativo (PPO), 2007, Aldeias Infantis SOS Brasil.

4. Fundamentos

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Acolhida: Promoção de ações que favoreçam aos participantes o sentimento de

pertencimento e de bem-estar.

Comunicação/diálogo: Contínua troca de idéias e sentimentos, tornando possível o

processo de participação, interação, construção e mudança.

Aprendizagem: Processo permanente de (re)construção significativa visando o

crescimento, desenvolvimento, criticidade e a transformação.

Oportunidade: Todas as ações devem propiciar a identificação e desenvolvimento das

potencialidades.

Preservar a Multidimensionalidade – que significa o conhecimento de si mesmo/a de

suas relações e de seu poder de interagir com o mundo e os outros/as;

Promover a participação cidadã e democrática – garantir o envolvimento efetivo e

real de todos/as;

Garantir a visão holística – reconhecer as diversas dimensões do ser: corpo,

sentimento, pensamento e espírito.

Planejamento – é o processo fundamental que possibilita definir os objetivos e

os meios pelos quais se desenvolve as ações cotidianas. Deve ser um processo

coletivo que pressupõe pesquisa, investigação, reflexão e discussão para a

tomada de decisão. Estabelece metas, estratégias, etapas e prazos definidos na

busca de resultados efetivos.

5. Princípios

6. Propósitos

7. Processos

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Monitoramento e avaliação – possibilitam a análise e redefinição das ações.

Tem como foco os objetivos e resultados esperados, visando construir melhores

práticas. A análise deve ser participativa, significativa e contínua não ocorrendo

apenas ao final dos processos.

Destaca-se a importância da sistematização e registro, pois apresentam

informações fundamentais para realização de uma análise criteriosa dos

resultados obtidos.

Estes processos integrados são viabilizados pelo instrumento denominado PTA

– Plano de Trabalho e Avaliação o qual propicia o planejamento, monitoramento

e avaliação das ações.2

Os Indicadores de resultado têm o propósito de ter índices que possam balizar

as ações desenvolvidas e assim, validar a realização do trabalho e o alcance de

metas. Há aspectos quantitativos e qualitativos que precisam ser considerados

no acompanhamento e avaliação final (resultados e impactos). Os Indicadores

de Qualidade (ANEXO I) são índices que primam por uma observação mais

apurada quanto aos aspectos que não são mensuráveis quantitativamente. Eles

podem ser utilizados em sua totalidade, visto que se complementam, ou

individualmente, conforme a ação desenvolvida. Os aspectos qualitativos

referem-se a percepções pessoais e revelam impressões, reações e/ou

sentimentos que para serem medidos, precisam ser transformados em dados

quantitativos (números e gráficos) Já os Indicadores Quantitativos referem-se

aos dados numéricos do Projeto, como por exemplo, número de famílias

envolvidas, índice de empregabilidade na comunidade, entre outras

possibilidades que variam com a definição dos temas geradores levantados no

local. Os Indicadores devem ser aplicados na avaliação e monitoramento das

ações cotidianas, que subsidiará a compilação semestral (julho e novembro) das

ações desenvolvidas.

2 Cf. Anexo III.

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Os dispositivos fortalecem e estimulam ações significativas para os/as envolvidos/as,

disponibilizando elementos que facilitam a construção de conhecimentos, a produção

coletiva e a mensuração de resultados. Expressam o real vivido nas suas diferentes

manifestações adequando-se a realidade local.

Análise da Realidade Local – Uma análise da realidade local não se limita à simples

coleta de dados, mas deve, acima de tudo, perceber como as pessoas envolvidas

sentem a sua própria realidade, superando a simples constatação dos fatos, isso numa

atitude de constante investigação dessa realidade. Neste processo, que é por

excelência participativo, se definirá o ponto de partida que irá traduzir-se no “tema

gerador” [5].

Registros e Sistematizações – Este dispositivo constitui-se na importância de construir

memória das experiências de desenvolvimento local, divulgação, saberes relacionados

às práticas (aspectos qualitativos), estimular a reflexão e a discussão de assuntos e

aspectos relacionados a prática e ao seu contexto. Enfim, responsabilizar-se para

experiências vitais, carregadas de uma enorme riqueza acumulada de elementos que,

em cada caso, representam processos inéditos e irreptíveis, por isso, a necessidade da

tarefa de compreendê-las, extrair seus ensinamentos e comunicá-los.

Roda – representa o círculo perfeito, onde não existe centralidade de partes, de

individualismos, mas sim é um espaço que possibilita a todos/as se perceberem e se

posicionarem de maneira democrática e relacional. Neste sentido as pessoas

envolvidas em todo e qualquer processo, formal ou informal, são convocadas a

vivenciarem o princípio primordial da liberdade de pensar, falar, praticar, refletir, sentir,

intervir, planejar, cultivar e avaliar, neste movimento permanentemente dialógico

presente no cotidiano.

Jogo – Valorizar a ludicidade como eixo da formação e instrumento de escrita e leitura

do mundo. Por meio de jogos e brinquedos artesanais possibilitar o estudo das diversas

áreas do conhecimento (matemática, português, ciências, história, geografia) e mais,

8. Dispositivos Pedagógicos

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discutir cidadania, lógica, raciocínio, ética, violência, sexualidade, direitos humanos, etc,

de forma criativa, alegre, prazerosa, enfim, lúdica.

Trilhas do saber – As trilhas do saber dão mobilidade ao processo pedagógico e

conectam as diversas oportunidades disponibilizadas na e pela comunidade, com

objetivo de enriquecer e agregar experiências de conhecimento para todos os

envolvidos neste processo. Este dispositivo potencializa a rede local [6] como força

promotora de conhecimento e formação.

Memória da Comunidade – Este recurso possibilita construir com a comunidade um

memorial histórico-cultural, com fotos, entrevistas, textos e demais produções que

registre e valorize a experiência local.

Ambiência – É o elemento cênico de comunicação, por excelência, que ambienta os

espaços onde o cotidiano se evidencia (casa, ruas entre outros), ou em espaços formais

de aprendizagem. A finalidade é sensibilizar e facilitar a compreensão sobre o conteúdo

intencional sugerido para a reflexão e discussão, envolvendo a todos na construção e

cuidado de seus espaços. A perspectiva do pertencimento é aprofundado neste

dispositivo, quando bem explorado.

Leituras – Por meio do mundo das palavras incentivar o gosto pela busca de

conhecimentos. A leitura remete a cenários criativos e imagináveis, despertando o

indivíduo para a leitura interpretativa e crítica de sua realidade e história.

Estudo do Meio – Propicia oportunidades de envolver as pessoas em aprendizagens

significativas, imersões preparadas, organizadas em espaços, “lugares” – isto é, que

partam do experiencialmente vivido e do conhecimento pessoalmente estruturado – que

lhes permitam desenvolver capacidades instrumentais relevantes para compreender,

explicar e atuar sobre o “meio” de modo consciente e criativo. Estudar o “meio”, a

realidade, a vida, significa procurar encontrar elementos para melhor compreender a

interação do ser-humano com ele mesmo e com o mundo. A avaliação é um elemento

fundamental para a realização satisfatória desta experiência.

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O passo a passo descreve de maneira plástica as possibilidades de implementar e

disseminar os dispositivos que devem proporcionar a participação, mobilização local,

necessária para o alcance de todos os as objetivos desta metodologia.

MAPEAMENTO – “Análise da Realidade Local”

Esta atividade se realizará anualmente e precede as atividades regulares do

planejamento.

• Primeiro momento: É de responsabilidade da equipe de apoio à gestão

buscar/apresentar dados a partir da pesquisa de indicadores sociais (ANEXO II).

• Segundo momento: Envolvimento dos colaboradores do eixo de ação direta na

construção do mapeamento do território. Neste momento aplica-se o conceito

de território [7] , fixos e fluxos [8] (exercício de “perto” e “longe”). Este

movimento deve-se materializar em uma representação (maquete, mapa, quadro

etc). Pois esta materialização permite a necessária provocação/ problematização

com crianças, jovens, família e comunidade para a sistematização das

informações na “Matriz Articulação de redes e parcerias” e da definição do tema

gerador.

REGISTROS E SISTEMATIZAÇÕES – “cultura da memória dos processos”

O Registro das ações diárias é fundamental para a sistematização, monitoramento e a

avaliação dos resultados. Ele deve ser construído com a participação de todos/as os

envolvidos/as. Deve ser elaborado de maneira objetiva e criativa, preservando os

resultados e mensurando os objetivos intangíveis. O Diário de Bordo e o Registro

Fotográfico são formas criativas de sistematização:

● Diário de Bordo: O diário de bordo é por excelência um relato formal de caráter

espontâneo em que o/a escriba descreverá suas impressões diante dos fatos

e/ou situações vivenciadas. O diário tem um cunho pessoal, mas ao mesmo

tempo intencional porque registra aspectos que merecem ser evidenciados para

os leitores. Os detalhes e falas são importantes, além de imagens (através de

9. Passo a Passo

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fotos) que plastifiquem os momentos de significância. É importante que todos os

envolvidos/as participem da construção deste relato, e ao final de cada ação se

tenha um registro das informações essenciais e impressões do grupo (Cf.

ANEXO III)

• Registro Fotográfico: Registro de imagens que expressam ações realizadas e

que complementam as informações do Diário de Bordo e da sistematização dos

Indicadores de Qualidade, para isto o uso e acesso da máquina fotográfica deve

ser elemento fundamental para a rotina das/os educadoras/es.

RODA – “diversas jeitos e formas da aprendizagem”

A Roda é elemento transversal em todas as ações e atitudes, ou seja, é a forma como

se gerencia todas as situações e contextos. No cotidiano, este dispositivo, se equaciona

numa forma de participação de todos os envolvidos nos processos de maneira

democrática e solidária. Aqui descreve-se a participação efetiva (e não meramente

representativa) das crianças, adolescentes e jovens nos espaços de discussão e

decisão relacionados ao contexto financeiro, político e planejamento local. Por exemplo,

na simples escolha de uma pintura na casa, na escolha da cor, na compra desta tinta e

pintura da mesma. Neste sentido, a mãe, o educador ou o a figura de referência da

casa/ projeto, não deve prevalecer a sua opinião ou posicionamento frente a toda e

qualquer decisão referente ao coletivo. Fazer valer a voz de todos os envolvidos num

mesmo coletivo, esta é a razão central deste dispositivo.

Neste cenário não existe a cultura de opressão ou de “mando”, todos os processos são

horizontalizados, sem o risco da manipulação de toda e qualquer decisão que seja

relacionada ao coletivo ou a um indivíduo. Neste sentido a compreensão de “Roda”

transcende a o aspecto formal e “físico” de uma roda feita de pessoas e com temas

formais a serem discutidos e/ou trabalhados, mas sim, é um aspecto político e de

posicionamento constante da existência e suas relações.

Porém, a Roda também pode ser gerenciada como elemento pedagógico representativo

e plástico da aprendizagem, utilizando à expressão de diferentes formas de linguagem e

representação da realidade, já que, conforme entendemos, a realidade pode ser

explicada com base em diferentes níveis ou, melhor dizendo, na perspectiva de

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diferentes olhares, que se traduzem em práticas vivenciais e contextuais diversificadas.

O teatro, a música, a dança, o desporto são apenas algumas possibilidades que temos

de exercitar essa multiplicidade de linguagem e de representações, porque representam

expressividades humanas, sobretudo comunicacionais e sensíveis, que podem se

utilizar das novas tecnologias. Segue alguns exemplos de Rodas:

� Roda de conversa – Esta modalidade é fundamental para a legitimação do

lugar fundamental do diálogo e da democratização de todos os processos.

Ou seja, propicia o encaminhamento e o compartilhamento de informações e

decisões de maneira coletiva, participativa, em que se trabalham Acordos de

Convivência [09], Mediação de Conflitos [10] e se possibilita o encontro do

individuo com o outro, dando assim, um espaço de desenvolvimento social e

político.

� Roda de Saberes e Sabores – Modalidade que resgata múltiplos

conhecimentos e saberes dos/das participantes, como um pretexto para

desencadear a reflexão e a troca de experiências. É uma atividade/oficina

que pode ter como resultado um produto. O grande diferencial é quando se

une conhecimento com oportunidades, ainda mais no quesito

sustentabilidade e geração de renda.

JOGO – “Aprende-se brincando”

Bornais de Jogos: esta modalidade se refere ao acervo de jogos, brinquedos, dinâmicas

e estratégias educacionais, que contribuam para a discussão e reflexão de temas

relacionados a cidadania, mediações de conflitos, afetividade entre outros, aliando

prazer e resultados, alegria e eficiência, somando criatividade ao desenvolvimento na

área de conhecimento de cada envolvido.

Porém, os Bornais de Jogos visa a produção regular de jogos e brinquedos

pedagógicos, estimuladores de processos de aprendizagem - lúdicos e prazerosos - das

crianças (em idade maternal e educação infantil), contribuindo para o desenvolvimento

motor-intelectual-e-sensitivo, além da geração de oportunidades profissionalizantes no

campo da produção artesanal de jogos e brinquedos populares para os jovens e

mulheres da região, utilizando-se dos recursos materiais e das tradições locais.

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TRILHAS DO SABER – “rede de oportunidades”

Neste dispositivo, Identificadas as oportunidades, torna-se necessário mapear,

conquistar e formalizar a relação com os parceiros dispostos a viabilizar ações na

região. Essa gestão de relacionamento se torna necessária para o desenvolvimento do

projeto integral na comunidade. É importante destacar as possibilidades de trilhas e

gerenciamento das mesmas. Dessa maneira exemplificaremos três possibilidades de

trilhas:

� Trilhas de conhecimentos – são planejadas pelos educadores/moderadores

para enriquecer o processo das oficinas e/ou aprendizagens cotidianas e

permitem que os envolvidos adquiram conhecimentos por meio da observação e

experimentação da realidade (“Cf. estudo do meio”).

� Trilhas complementares – podem ser constituídas sem ou com foco na

complementação escolar. Algumas delas tem como propósito promover a

educação em tempo integral, ampliando a jornada pedagógica por meio de

atividades oferecidas no contra-turno, em diferentes espaços da comunidade.

� Trilhas de sustentabilidade – possibilitar que a comunidade comunique os

seus talentos, expondo no próprio cenário da comunidade(praças e ruas)

artesanatos feitos pelos próprios moradores ou objetos guardados

disponibilizados para a troca, ou compra com moeda definida pela própria

comunidade. Um bom conceito a se trabalhar é o escambo, muito em voga hoje

por movimentos alternativos.

� Trilhas de apoio – essas trilhas percorrem caminhos que conectam os

envolvidos a serviços públicos capazes de solucionar problemas que

comprometem o seu processo de aprendizagem, como postos e agentes de

saúde, clínicas psicológicas, conselhos tutelares, entre outros.

MEMÓRIA DA COMUNIDADE – “Resgate da cultura local”

Algumas iniciativas são imprescindíveis :

� Fotos antigas e atuais da comunidade, envolvendo os moradores mais antigos.

� Entrevista com falas e depoimentos

� Construção de painéis

� Divulgação da apresentação dos materiais

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Entre outras possibilidades para a investigação da memória histórica local, usar da

criatividade e de elementos cênicos e recursos audiovisuais.

AMBIÊNCIA – “Construção de cenários”

A ambiência, na maioria das vezes, relacionada ao espaço arquitetônico, organizado e

animado, que constitui um meio físico e, ao mesmo tempo, meio estético, ou

psicológico, pedagógico especialmente preparado para o exercício de atividades

humanas, enfim, evidenciar elementos educativos:

� A distribuição dos móveis de uma cozinha de forma adequada para o bem estar

da pessoa que irá trabalhar nela e para aqueles que usufruíram da partilha do

alimento. Uma mesa bem preparada fala por si só, o aspecto do cuidado e da

organização dos utensílios e do próprio alimento.

� A organização de uma sala de visita, com sofás, quadros, jarros com plantas,

iluminação. Produzindo assim, uma ambiência agradável para os moradores

e/ou participantes de um X ambiente.

� O ambiente é organizado a partir do tema gerador do encontro, o centro das

Rodas pode ser elaborado de acordo com as discussões.

� Os ambientes devem ser construídos de maneira participativa, criativa e

rotineiras. Pois é um elemento orgânico com caráter de constante construção e

preparação.

LEITURAS – “Apropriação da cultura pelas palavras”

Atividade que propicia o acesso ao conhecimento, desenvolve a criatividade, a

ludicidade e a leitura. Deve-se elaborar um Banco de livros no qual a comunidade

pode ter acesso a livros didáticos e de literatura através de troca dos exemplares do

acervo. Outro recurso é a Mala de História que possibilita a mobilidade e o acesso a

um conjunto de livros para serem utilizados em diversos espaços como instrumento

pedagógico, e que seja uma atividade criativa e prazerosa.

ESTUDO DO MEIO – “A experiência do conhecer” Atividade que propicia vivenciar o conhecimento historicamente acumulado, construir

novos conhecimentos priorizando a observação e o registro em meio aberto.

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Não por acaso a Organização adota como eixo do trabalho a motivação: Desperte! É hora de sonhar. Transformar sonhos em realidade é tarefa a nós delegada. Aceitar o desafio e construir coletivamente esse momento é opção consciente para aqueles que apropriados da importância do seu papel e responsabilidade, enquanto agente transformador da realidade, contribui efetivamente com o processo que ora se inicia3.

A criatividade, ou melhor, a capacidade de criar é o ponto central da Metodologia do

Enfoque Integral, pois ela desperta os envolvidos para práxis, baseada na possibilidade

do “novo”, do “atualizado” fundamentada pela capacidade do “ousar fazer”, neste

momento de mudanças para toda a Organização.

O re-fazer a prática cotidiana resulta num constante processo de criação, ação-reflexão,

ou seja, a disposição de todos os envolvidos na proposta coletiva ora apresentada de

reinventar o fazer nas suas diversas possibilidades.

A metodologia não é apenas um caminho traçado e meramente reproduzido de maneira

espontânea e mecanicista, mas sim, exige apropriação e responsabilidade frente a

capacidade de propor, produzir e criar. Para isto, é necessário recordar sempre a

necessidade de inovar, pensar no não-realizado, não-previsto, inaugurar uma prática

inovadora, capaz de dar significância e intenção aos envolvidos é objetivo de todos

aqueles que são e estão comprometidos com uma nova forma de ser e fazer.

3 Projeto Piloto – Rio Bonito. São Paulo/ Setembro 2008. p. 7

Considerações finais

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[0] Integralidade – refere-se o papel da Organização frente ao atendimento de pessoas, grupos e coletividade tendo o participante como sujeito histórico, social e político, articulado ao seu contexto familiar, ao meio ambiente e a sociedade na qual se insere. A isto compreende-se como Enfoque de Direitos. Esse Enfoque extrapola a estrutura organizacional fragmentada dos programas e se prolonga pela qualidade real da atenção individual e coletiva assegurada aos participantes, requisita o compromisso com o contínuo aprendizado e com a prática trasndisciplinar superando o conceito simplista de ações integradas. [1] Transdisciplinaridade – é a busca do sentido da vida através de relações entre os diversos saberes (ciências exatas, humanas e artes) numa democracia cognitiva. Nenhum saber é mais importante que outro. Todos são igualmente importantes. Niels Bohr (prêmio Nobel de Física em 1975) já dizia: “O problema da unidade do conhecimento é intimamente ligado à nossa busca de uma compreensão universal, destinada a elevar a cultura humana”. A transdisciplinaridade transgride as fronteiras epistemológicas de cada ciência disciplinar e constrói um novo conhecimento “através” das ciências, um conhecimento integrado em função da humanidade, resgatando as relações de interdependência, pois a vida se constitui nas relações mantidas pelo indivíduo com o meio em que vive. A transdisciplinaridade reivindica a centralidade da vida nas discussões planetárias, propondo mudança no sistema de referência e se apóia em três exigências:

1. considerar vários níveis de realidade; 2. trabalhar com a lógica do Terceiro Termo Incluído (diferente da lógica matemática/ mecaniscita); e 3. abranger a visão da complexidade dos fenômenos.

[2] Método Freiriano – Paulo Freire marcou uma ruptura na história pedagógica de seu país e da América Latina. Através da criação da concepção de educação popular ele consolidou um dos paradigmas mais ricos da pedagogia contemporânea rompendo radicalmente com a educação elitista e comprometendo-se verdadeiramente com homens e mulheres. Num contexto de massificação, de exclusão, de desarticulação da educação-formal com a sociedade, Freire dá sua efetiva contribuição para a formação de uma sociedade democrática ao construir um projeto educacional radicalmente democrático e libertador. Ao longo de sua militância educacional, social e política, Freire jamais deixou de lutar pela superação da opressão e desigualdades sociais entendendo que um dos fatores determinantes para que ela se dê é o desenvolvimento da consciência crítica através da consciência histórica. Seu projeto educacional sempre contemplou essa prática, construindo sua teoria do conhecimento com base no respeito pelo educando, na conquista da autonomia e na dialogicidade enquanto princípios metodológicos. O ato educativo aqui deve ser sempre um ato de recriação; portanto, a palavra “método” na obra freiriana deve ser contextualizada com base nos princípios que lhe dão corpo, consistência, significado.

[3] Sustentabilidade – Como o conceito de ecossistema nela implícito, a sustentabilidade plena significa mais do que a soma das partes. Ela deriva de relações saudáveis, éticas, democráticas, equânimes e socialmente justas.

[4] Dialético – Dialética, na Grécia antiga, era a arte do diálogo. Aos poucos, passou a ser a arte de, no diálogo, demonstrar uma tese por meio de uma argumentação capaz de definir e distinguir claramente os conceitos envolvidos na discussão. (...) Na acepção moderna, entretanto, dialética significa outra perspectiva: é o modo de pensarmos as contradições que se apresentam na realidade, o modo de compreendemos a realidade como essencialmente

Glossário

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contraditórias em permanente transformação, exigindo um constante posicionamento de investigação e procura.

[5] Tema gerador – Este conceito, em geral, está ligado à idéia de Interdisciplinaridade e tem como princípio metodológico a promoção de uma aprendizagem global, não fragmentada. Nesse contexto, está subjacente a noção holística, de promover a integração do conhecimento e a transformação social. Do “tema gerador geral” sairá o recorte que são os subtemas para todo o planejamento. Portanto, um mesmo tema gerador poderá dar origem à várias ações geradoras que deverão estar ligadas a ele em função da relação social e que os sustenta. Enfim, é a "codificação", ou seja, a representação de um aspecto da realidade, de uma situação existencial construída pelos envolvidos em interação com seu meio.

[6] Rede – O que caracteriza e une os diferentes membros para a construção e efetivação de uma Rede é o conjunto de valores e objetivos que eles compartilham como comuns. Uma atuação em rede pressupõe valores e propósitos coletivos. A participação dos integrantes de uma rede é que a faz funcionar. Sem participação, deixa de existir. [7] Território – Refere-se as relações entre o indivíduo ou grupo e seu meio de referência (uma localidade, região ou país) expressando um sentimento de pertencimento e o modo de agir no âmbito de um dado espaço geográfico. [8] Fixos e Fluxos – Milton Santos define que a geografia poderia ser construída a partir da consideração do espaço como um conjunto de fixos e fluxos. Os fixos são formados pela natureza natural e também por elementos criados pelo homem, fixados em determinados locais. É a infra-estrutura do local. Os fluxos são resultados de ações e atravessam ou se instalam em elementos fixos, muitas vezes, alterando significados e/ou valores, modificando os lugares. São as redes de comunicação e de informação. Os fluxos não são necessariamente materiais, eles podem ser considerados elementos subjetivos como, por exemplo, as idéias e os pensamentos. Hoje, os fixos são cada vez mais artificiais e, os fluxos, são cada vez mais diversos, numerosos e rápidos. Poderíamos simplificar dizendo que os fixos é a infraestrutura (espaço). E os fluxos se estabelecem a partir das relações. [9] Acordos de Convivência – é um conjunto de entendimentos que as pessoas fazem para facilitar o processo de diálogo, respeito e perspectiva de planejamento. Uma vez que todos ajudam a construir e concordam, tornam-se responsáveis por cumpri-lo e monitorá-lo. [10] Mediação de Conflitos – o objetivo é facilitar o diálogo, colaborar com as pessoas e ajudá-las a comunicar suas necessidades, esclarecendo seus interesses, estabelecendo limites e possibilidades para cada um, tendo sempre em vista as implicações de cada decisão tomada a curto, médio e longo prazo.

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ANEXO I

PTA – Plano de Trabalho e Avaliação “Roteiro para a elaboração”

- DEFININDO O “TEMA GERADOR”:

Após aplicação da análise da realidade local, em construção coletiva com o Eixo

Gerencial, de Apoio a Gestão e Ação Direta, comunidades, famílias, crianças,

adolescentes e jovens defini-se o tema gerador de um determinado período (semestral

ou anual). Deve-se basear nas questões emergentes apontadas durante o processo de

análise pelos/as envolvidos/as e chegar a um consenso do grupo de qual deve ser o

tema prioritário para o período definido .

- “SUBTEMAS”:

Partindo do tema gerador estabelecem-se os subtemas. Eles devem estar vinculados as

ações cotidianas e aos objetos propostos.

- “AÇÃO”:

A ação deve ser o detalhamento dos passos a serem seguidos para contemplar o

subtemas.

- “OBJETO DA AÇÃO”:

O objeto da ação é a definição do que se pretende atingir.

ANEXOS

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- “DISPOSITIVOS PEDAGÓGICOS”:

Os dispositivos pedagógicos são a metodologia utilizada para o desenvolvimento das

ações. Devem ser empregados os dispositivos da Metodologia do Enfoque Integral

(MEI) e outros que se fizerem necessários.

- “INSTRUMENTOS/RECURSOS”:

Os instrumentos e recursos são os materiais pedagógicos e equipamentos audiovisuais

utilizados no desenvolvimento da ação.

- “INDICADORES DE QUALIDADE”:

Deve-se identificar os indicadores de qualidades relacionados ao objeto da ação, o que

se deseja avaliar ou desenvolver.4

- “GRUPO DA AÇÃO”:

É o público-alvo para que se direciona a ação.

- “PRAZO”:

Estabelece-se o tempo necessário para o desenvolvimento da ação.

- “MEDIADOR/A”:

O/a mediador/a é a pessoa(s) que vai desenvolver a ação diretamente.

- “RESPONSÁVEIS”:

São as pessoas que irão idealizar, monitorar e garantir a ação a efetivação da ação.

4 Os indicadores de qualidade e sua conceitualização estão explicitados na Metodologia do Enfoque Integral

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ANEXO II

PASSO A PASSO “Análise da realidade local”

“Eu sempre sonho que uma coisa gera,

nunca nada está morto.

O que não parece vivo, aduba.

O que parece estático espera.”

(Adélia Prado)

SÃO PAULO – SP 2009

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PRIMEIRO MOMENTO – Coleta de dados e informações

Descrição

Este momento será realizado pelos/as colaboradores do Eixo de Apoio à Gestão utilizando

relatórios de pesquisa (governamentais e não governamentais), investigar junto aos postos

de saúde, escolas, Associações, Conselhos Tutelares, Varas da Infância entre outros para

mapear situações de vulnerabilidades presentes nas famílias e comunidades.

PASSO A PASSO

1° Passo: Delimitação das comunidades ou bairros a serem mapeados.

2° Passo: Breve descrição do território onde se desenvolve ou se pretende desenvolver as

ações. Observar itens como: Histórico da comunidade, População com os recortes de idade,

gênero, cor/raça e renda per capita.

3° Passo: Elaborar análise de conjuntura diante de aspectos locais que envolvam:

a) Acessibilidade de direitos

� Educação

� Saúde

� Habitação e Infra-estrutura básica (saneamento, energia, pavimentação, etc)

� Esporte, lazer e cultura

� Alimentação

� Emprego - renda familiar

� Meio Ambiente

� Segurança Pública

� Transporte

b) Índices de vulnerabilidade social

c) Promoção de Direitos – Instâncias de Participação e Mobilização

� Macro:

� Participação em fóruns e conselhos

� Participação em Redes de Proteção e Promoção à Infância, Adolescência e

Juventude.

� Micro:

� Encontros, palestras, Eventos para mobilização e formação de direitos

� Comitê de Direitos Comunitários

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SEGUNDO MOMENTO – Mapeamento do Território

Descrição

Este é o momento da análise da Territorialidade e será realizado pelos colaboradores

(educadores, mães sociais, coordenador pedagógico e assistente social) em articulação com

a comunidade (crianças, adolescentes, jovens, famílias e lideranças locais) utilizando

dinâmicas de discussões e construção de materiais que representem as relações

comunitárias: Fixos e Fluxos.

PASSO A PASSO

1° Passo: Identificar potencialidades e recursos presentes na comunidade. O que existe de

possibilidades na comunidade que possa contribuir para o seu desenvolvimento. Enfim, o

que se tem de infra-estrutura, pessoal e recursos econômicos locais. Ex: “espaços ociosos”,

indivíduos com um “saber” que possa ser multiplicado, o dono da venda que disponibiliza

produtos para o programa entre outros.

2° Passo: Diagnosticar as necessidades de melhoria na comunidade através da Escuta das

crianças, adolescentes, jovens, colaboradores/as, mulheres, famílias.

3° Passo: Registrar as potencialidades e recursos na “Matriz Articulação de redes e

parcerias”. Definir os/as responsáveis pelo estabelecimento, retomada e sustentação das

parcerias.

4° Passo: A comunidade fará o exercício de sobrepor as duas análises anteriormente

trabalhadas (potencialidades, recursos e necessidades). A partir do consenso do grupo na

escolha da situação mais emergente a ser trabalhada, será escolhido o Tema Gerador para

as ações desenvolvidas num dado período.

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ANEXO III

DIÁRIO DE BORDO

02/06/2009

Olá pessoá... “óia nóis” aqui de novo!! O curso iniciou em clima de festa junina, ô festa

arretada “sor”. Todos estavam inspirados e soltaram a língua... até Janaina disse que

Almira fala muito nas visitas às famílias: “Almira neste mês seja compreensiva, pois as

mães vão estar muito cansadas, criatura! Pois é um mês de muitas comemorações...

não queira vir a pé não, venha de Doblô (Fiat moderno) que é mais confortável menina!”

Iniciamos hoje o segundo eixo da formação de mães. Almira e Janaina começaram suas

participações no módulo, falando de temas bem pertinentes ao contexto e trabalho

social. Almira iniciou falando sobre a família nos dias de hoje, partindo do contexto

histórico: quais eram seus valores e composição, o que visualizamos muito bem na

exposição de fotos, onde antigamente a figura paterna assumia o centro, juntamente

com a materna, depois mostrou os tipos de família atuais; pai com filhos, mães com

filhos, avós com netos, etc. Falou de como se constituem as famílias hoje, não apenas

por laços sanguíneos, mas por laços afetivos: são os arranjos familiares. Todas

participaram muito da discussão, colocando as dificuldades que existem geradas pelo

conflito entre as concepções de família tradicional e família contemporânea. Janaina

comentou: “Sempre existiram ‘problemas estranhos’ nas famílias só que hoje a coisa é

mais transparente”.

Paramos um pouquinho para lanchar... o bolo estava tão gostoso que não sobrou nem

um pedacinho pro pessoal do escritório. Santaninha, manda mais um pedacinho aí!

Please!!!!

Depois desse momento, que sempre é muito aguardado por todas, Janaina retomou a

formação falando acerca do relacionamento entre família biológica e família social, onde

se deve buscar conservar os vínculos desde o primeiro dia de contato com a criança no

abrigo... isso é imprescindível!! Não se pode perder de vista os laços afetivos, gente! A

família biológica deve ser trabalhada/fortalecida a fim de que possa receber sua(s)

criança(s) novamente. Em seguida explanou como se pode trabalhar com as famílias

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biológicas... essa fala foi bem direcionada às mães sociais – onde estas são

profissionais (educadoras) responsáveis pela cuidado das crianças e adolescentes

abrigadas. Dando continuidade, falou da nova visão da Organização Aldeias Infantis

SOS (em sintonia com o Plano de Convivência Comunitário), da importância do

momento de acolhida... pincelou sobre o Plano de Desenvolvimento Familiar - PDF e

mostrou alguns fatores que são determinantes para o abrigamento de crianças e

adolescentes – como a violência doméstica, muito comum. Discorreu acerca do direito

das famílias em reaverem seus filhos, assim como sobre a reintegração familiar.

Finalizou sua apresentação falando sobre o processo de adoção que é a maneira

legalizada da criança ter uma nova família, mas frisou bem que este deve ser o último

recurso. Que estas palvras sirvam de formação e memória de um dia imprescindível

para o nosso planejar e perpsectiva enquanto Aldeias Infantis nesta terra de meu Deus.

Almira dos Santos, Josefina Ramirés, Elisangela Dantas

Temas abordados: Conceito de Família na Contemporaneidade; Acolhimento nas

famílias; Família Social X Família Biológica.

Facilitadoras: Rosário Viana e Janaina Bezerra

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ANEXO IV

INDICADORES DE QUALIDADE

Descrição dos Indicadores Qualitativos:

a) Apropriação: “Equilíbrio entre o desejado e o alcançado”.

� Esse indicador nos convida dar tempo ao tempo e respeitar o tempo de

aprendizagem e o ritmo de cada um.

b) Cooperação: “Espírito de equipe, solidariedade”.

� Este indicador nos instiga a “agir com” o outro, construir coletivamente, incluindo

a dimensão da solidariedade no processo educativo.

c) Criatividade: “Inovação, recriação”.

� Esse indicador nos provoca a criar o novo, a ousar e buscar soluções inovadoras

em nossas práticas.

d) Estética: “Refere-se ao bem-estar, a harmonia”.

� Esse indicador fala-nos da busca da harmonia pessoal nas suas diversas

dimensões, e de como o ambiente físico deve propiciar e refletir esse bem-estar.

e) Ética: “Referente ao princípio da valorização do ser humano”.

� Esse indicador nos remete ao comportamento e a sua compreensão na ação

junto as outras pessoas. Aponta a valorização do outro e ao respeito mútuo.

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f) Felicidade: “Sentir-se bem com o que faz”.

� Esse indicador aponta-nos para a sensação de realização e satisfação perante

as suas vivências e expectativas.

g) Oportunidade: “Percepção de possibilidades e potencialização das opções”.

� Esse indicador revela a diversidade de ações e possibilidades ofertadas. Afere o

aproveitamento das mesmas pelos envolvidos.

h) Protagonismo: “Participação e interação nas ações”.

� Esse indicador nos fala da possibilidade sempre presente de superar desafios,

participando integralmente das discussões e decisões pertinentes ao seu projeto

de vida e da sua comunidade.

i) Resiliência: “Atitude consciente nas situações adversas da vida”.

� Esse indicador reflete a capacidade do ser humano de responder de forma

saudável e coerente as demandas da vida cotidiana, apesar das adversidades

que enfrenta ao longo do seu desenvolvimento.

j) Transformação: “Processo de mudança”.

� Esse indicador revela as possibilidades de mudança propiciadas.

Aproveitamento das mesmas pelos envolvidos.

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Guia para implementação dos I.Q’s

Este guia tem como propósito orientar a aplicação dos indicadores de qualidade.

Os indicadores devem ser observados e registrados diariamente (diário de bordo).

Sugere-se que fotografe as diversas situações para assim, termos também o indicador

fotográfico.

O guia tem questões orientadoras, devendo ser adaptadas aos diversos grupos e faixa

etária.

O processo de aplicação dos indicadores faz parte das atividades cotidianas, lúdico-

pedagógicas, e sua aferição semestral deve se dar neste contexto. Ao final da atividade

cada grupo dará uma nota de 0 a dez de forma consensual em relação ao indicador

aplicado, sendo que esta nota irá quantificar o referido indicador. O/a mediador/a da

atividade problematiza com o grupo e recorre as informações e registros sistematizados

no período para contribuir com a análise e o consenso do grupo.

Vale lembrar que este processo de quantificação dos indicadores se aplica com os

grupos a partir de 8 anos. Com os menores o/a mediador/a assume a responsabilidade

de buscar o consenso a partir das falas e atitudes das crianças e das sistematizações.

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I.Q. - INDICADORES DE QUALIDADE QUESTIONÁRIO (EDUCADORES) 1 – APROPRIAÇÃO (Equilíbrio entre o desejado e o alcançado) A. Os membros do projeto sentem e atuam como se cada um fosse dono dele (projeto?) B. As metas de vida estão de acordo com as metas do projeto? C. Como se dá este processo de apropriação do projeto nas diversas situações do dia-a- dia

(conflituosas, harmoniosas etc)? 2– COOPERAÇÃO (Espírito de equipe, solidariedade) A. Há ausência de competição entre os membros? B. Há trabalho em equipe, convivência harmoniosa? C. Como trabalhar com as crianças e adolescentes a necessidade de melhorar sempre com a

não competição? 3 – CRIATIVIDADE (Inovação-animação-recreação) A. O que se produz é criativo? B. Há preocupação dos participantes em se fazer um projeto mais interessante? C. Há a busca de inovações? D. Qual é o indicador de que o projeto não está sendo inovador, criativo? E. Inovação é objeto de preocupação dos educadores? 4 – ESTÉTICA (Referência de beleza) A. Tem-se em conta a estética, as coisas que elevam o espírito, a produção do bem-estar? B. O que se produz é bonito? C. Como o projeto trabalha o belo com o aproveitamento de material, o alternativo, o reciclável?

Pode-se produzir coisas bonitas usando o alternativo? D. Como o projeto trabalha a estética com a cultura de que “qualquer coisa para pobre está

bom”? E. Beleza é importante? Facilita o desenvolvimento, o crescimento do projeto? 5 – FELICIDADE (Realização/sentir-se bem com o que temos e somos) A. As pessoas são felizes? B. Há alegria, interesse, descontração na participação do projeto? Como isto se evidencia? C. Felicidade é objeto de avaliação do projeto? D. Como se mede isto? E. Como o projeto trabalha o “sentir-se bem com o que tem e é” sem gerar acomodação? F. Há busca de melhorias? 6 – OPORTUNIDADE (Possibilidade de opção) A. Há evidências de que se oferecem oportunidades? B. As mesmas são aproveitadas? C. Os participantes do projeto dão respostas diferenciadas às oportunidades que lhe são

oferecidas? Como? D. Eles vão em busca de oportunidades? E. Há postura comodista em relação às situações? F. Participar do projeto abre oportunidades na vidas das pessoas? 7 – PROTAGONISMO (Participação nas decisões fundamentais) A. Quem participa da tomada de grandes decisões? B. As decisões envolvem a todos? C. Os protagonistas do trabalho diário (de campo) participam das tomadas de decisões? D. A forma de participação do projeto facilita o desenvolvimento das pessoas? E. Há diferenciação de participação nas tomadas de decisões? Isto é facilitador? F. De que forma o projeto trabalha o protagonismo nas pessoas?

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G. A equipe de educadores é suficientemente apta para trabalhar a participação e desenvolve o protagonismo nas crianças, adolescentes e comunidade?

8 – TRANSFORMAÇÂO (Passar de um estado a outro melhor) A. Existem possibilidades de transformação? B. Há mudanças? C. Qual a influência positiva do projeto na vida das crianças/adolescentes/comunidade? D. O projeto possibilita aos seus participantes uma mudança significativa de vida e de

comportamento? Como isto se evidencia? 9 - RESILIÊNCIA: Feedback positivo das situações adversas da vida. A. Como o grupo reage mediante situações adversas? B. O grupo busca por si só modificar as situações negativas em positivas? C. O projeto possibilita ao grupo modificar as situações negativas em positivas? 10- ÉTICA: Referente ao princípio da valorização do ser humano A. O grupo se auto respeita em suas ações? B. A diversidade é contemplada no cotidiano? C. São trabalhadas as regras sociais e o respeito mútuo? Como isto se evidencia?

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QUESTIONÁRIO (CRIANÇAS/ ADOLESCENTES) 1 – APROPRIAÇÃO (Equilíbrio entre o desejado e o alcançado) A. Você se sente dono do projeto? / Você sente que a creche é sua? B. Você concorda com o que o projeto deseja? / Você concorda com o que a creche faz? C. O projeto se preocupa em discutir e resolver os problemas fora daqui? Como? A creche se

preocupa em ajudar com comunidade? Como? 2 – COOPERAÇÃO (Espírito de equipe, solidariedade) A. Aqui existe mais cooperação ou mais complicação? B. Como é o trabalho em grupo? E sua participação? C. Os jogos, as brincadeiras são competitivos? Isso atrapalha? Ou ajuda? 3 – CRIATIVIDADE (Inovação-snimação-recreação) A. O que é feito no projeto é criativo? B. Quem participa do projeto se preocupa em deixá-lo mais interessante? Como? C. O que mostra que estamos sendo, criativos, inovadores? 4 – ESTÉTICA (Referência de beleza) A. O projeto é bonito ou feio? Em que isto ajuda? B. As coisas feitas aqui são bonitas? C. Vale a pena reaproveitar a sucata e o lixo? D. Quais foram as coisas mais bonitas que você já viu aqui, na escola, em casa e em outros

lugares? 5– FELICIDADE (Sentir-se bem com o que temos e somos) A. Você é feliz aqui? B. O que lhe causa mais alegria e prazer no projeto? C. Seus colegas também são felizes aqui? D. O que você e seus colegas podem fazer para serem mais felizes? E. Como a comunidade e a escola participam da sua felicidade? F. O projeto contribui para que outras pessoas, de fora, também possam ser felizes? Como? 6 – OPORTUNIDADE (Possibilidade de opção) A. O que você aprendeu de novo aqui? B. O que o projeto fez mudar em sua vida aqui, em casa e na escola? C. Quais são seus sonhos para o futuro? D. Que oportunidades você gostaria de ainda ter aqui, na escola e em casa? 7 – PROTAGONISMO (Participação nas decisões fundamentais) A. Você pode dar suas opiniões no seu grupo e no projeto? Você sente que é ouvido? B. Você ajuda a resolver as coisas no projeto? C. Que coisas você já realizou aqui no projeto que foram valorizadas pelo grupo? D. A roda facilita, ou dificulta a participação das pessoas? Como podemos observar isso? 8 – TRANSFORMAÇÃO (Passar de um estado a outro melhor) A. Há mudanças aqui? E em casa? E na escola? Quais? B. O que mudou para melhor e para pior em sua vida? C. Você acredita que as pessoas podem mudar sempre? Às vezes? Nunca? 9- RESILIÊNCIA (Feedback positivo das situações adversas da vida). A. Como você faz quando tem um problema? B. Você acredita que a tua participação aqui no projeto te ajuda a resolver os problemas? C. O que você faz quando quer que uma coisa aconteça e ela não acontece?

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10- ÉTICA Referente ao princípio da valorização do ser humano A. Você respeita o seu colega? E o educador? E sua família? B. Você se sente respeitado no projeto? C. você respeita os espaços da comunidade? E do projeto?

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QUESTIONÁRIO (PAIS, COMUNIDADE) 1 – APROPRIAÇÃO (Equilíbrio entre o desejado e o alcançado) A. As crianças se sentem donas do projeto? B. Como falam do projeto? 2 – COOPERAÇÃO (Espírito de equipe, solidariedade) A. As crianças são competitivas? B. Como é a convivência entre as crianças aqui, em casa e na escola? 3 – CRIATIVIDADE (Inovação-animação-recreação) A. As coisas feitas aqui, são criativas? B. Existem novidades? C. Os educadores e as crianças se preocupam em ser criativos, inovadores? 4 – ESTÉTICA (Referência de beleza) A. O projeto é um lugar bonito? B. O que mais chama a atenção? (Bom ou ruim) 5 – FELICIDADE (Sentir-se bem com o que temos e somos) A. As crianças gostam do projeto? B. As crianças são felizes aqui? Há preocupação com a alegria? C. O que as crianças falam do projeto em casa? 6 – OPORTUNIDADE (Possibilidade de opção) A. À partir do projeto a vida das crianças tem novas possibilidades? O que muda? B. Quais são as expectativas? 7 – PROTAGONISMO (Participação nas decisões fundamentais) A. Os pais participam do que acontece no projeto? Como? B. Vocês ajudam a resolver os problemas no projeto? 8 – TRANSFORMAÇÃO (Passar de um estado a outro melhor) A. Houve mudança de comportamento? B. Qual a influência do Projeto na vida das crianças / comunidade? 9 – RESILIÊNCIA (Feedback positivo das situações adversas da vida). A. Você percebe se as crianças resolvem seus problemas sozinhas? 10- ÉTICA (Referente ao princípio da valorização do ser humano) B. Você percebe se há respeito às crianças no projeto?

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Referências Metodológicas ⇒ Associação Cidade Escola Aprendiz – Bairro Escola ⇒ Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento, Curvelo – MG

www.cpcd.org.br Referentes Institucionais ⇒ PPO - Plano Pedagógico Operativo/ Aldeias Infantis SOS Brasil ⇒ Plano Nacional do Programa de Fortalecimento Familiar e Comunitário, 2007. Referentes Legais ⇒ Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n 8.069/1990) ⇒ Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescente à

Convivência Familiar e Comunitária, Brasil – dezembro de 2006. Livros ⇒ Balbinot, Rodinei - Ação pedagógica: entre o verticalismo pedagógico e práxis dialógica -

São Paulo: Editora Paulinas, 2006 (coleção educação em foco).

⇒ Dolabela, Fernando – Empreendorismo uma forma de ser: Saiba o que são empreendedores individuais e coletivos – Brasília: Agência de Educação para o Desenvolvimento, 2003.

⇒ Dolabela, Fernando - Oficina do empreendedor 6. ed, São Paulo: Editora de Cultura, 1999.

⇒ Dolabela, Fernando – O Segredo de Luisa, Rio de Janeiro: Editora Sextante, 2008.

⇒ Ferrero, Elisabeth M. – Carta da Terra: reflexão pela ação. Tradução Roberto Cattani - São

Paulo: Editora Cortez; Instituto Paulo Freire, 2004. (Guia da escola cidadã; 10)

⇒ Freire, Paulo – Pedagogia da Autonomia. Editora Paz e Terra

BIBLIOGRAFIA

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⇒ ⇒ Garcia, Regina Leite; Moreira Barbosa, Antonio F.- Currículo na contemporaneidade:

incertezas e desafios- São Paulo: Editora Cortez, 2003.

⇒ Matui,Jiron , 1936- Construtivismo: Teoria Construtivista sócio histórica aplicada ao ensino- São Paulo: Editora Moderna, 1995.mo: teoria construtivista sunit

⇒ Munõz, César – Pedagogia da Vida Cotidiana e Participação Cidadã - São Paulo: Editora

Cortez, Instituto Paulo Freire, 2004. (Guia da escola cidadã;09), 2004.

⇒ Padilha, Paulo Roberto – Educar em todos os cantos: Reflexões e Canções por uma Educação Instertranscultural - São Paulo: Editora Cortez; Instituto Paulo Freire, 2007.

⇒ Padilha, Paulo Roberto – Currículo Intertranscultural: novos itinerários para a educação –

São Paulo: Editora Cortez; Instituto Paulo Freire, 2004.

⇒ Próspero, Daniele; Giannecchini, Laura - Galera em movimento 1.ed- São Paulo: Editora Projeto/Revista Viração, 2007.

⇒ Sequeiros, Leandro: Educar para a Solidariedade: Projeto Didático para uma nova cultura de

relação entre os povos - tradução Daisy Vaz de Moraes - Porto Alegre: Editora Artes Médicas Sul, 2000.

⇒ Tonucci, Francesco – Quando as crianças dizem:agora chega! Tradução Alba Olmi – Porto

Alegre: Editora Artmed, 2005.