enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal...

75
CIÊNCIA E TÉCNICA REABILITAR A PESSOA AMPUTADA OPINIÃO MAUS-TRATOS A IDOSOS. RESPOSTA INTEGRADA DE CUIDADOS DE SAÚDE enfermagem em revista N. º116 . NOVEMBRO 2014 ISSN 0872-8844

Upload: vancong

Post on 03-Dec-2018

231 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

CIÊNCIA E TÉCNICA

REABILITAR A PESSOA AMPUTADA

OPINIÃO

MAUS-TRATOS A IDOSOS. RESPOSTA INTEGRADA DE CUIDADOS DE SAÚDE

enfermagem em revista

N.º116 . NOVEMBRO 2014

ISSN

087

2-88

44

Page 2: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia
Page 3: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

SUMÁRIO

3

FICHA TÉCNICAPROPRIEDADE E ADMINISTRAÇÃO Formasau, Formação e Saúde, Lda. Parque Empresarial de Eiras, Lote 19, Eiras - 3020-265 Coimbra T 239 801 020 F 239 801 029 CONTRIBUINTE 503 231 533 CAPITAL SOCIAL 21.947,90 € DIRECTOR António Fernando Amaral DIRECTORES-ADJUNTOS Carlos Alberto Margato / Fernando Dias Henriques EDITORES Arménio Guardado Cruz / João Petetim Ferreira / José Carlos Santos / Paulo Pina Queirós / Rui Manuel Jarrô Margato ASSESSORIA CIENTÍFICA Ana Cristina Cardoso / Arlindo Reis Silva / Daniel Vicente Pico / Elsa Caravela Menoita / Fernando Alberto Soares Petronilho / João Manuel Pimentel Cainé / Luís Miguel Oliveira / Maria Esperança Jarró / Vitor Santos RECEPÇÃO DE ARTIGOS Célia Margarida Sousa Pratas CORRESPONDENTES PERMANENTES REGIÃO SUL Ana M. Loff Almeida / Maria José Almeida REGIÃO NORTE M. Céu Barbiéri Figueiredo MADEIRA Maria Mercês Gonçalves COLABORADORES PERMANENTES Maria Arminda Costa / Nélson César Fernandes / M. Conceição Bento / Manuel José Lopes / Marta Lima Basto / António Carlos INTERNET www.sinaisvitais.pt E-MAIL [email protected] ASSINATURAS Célia Margarida Sousa Pratas INCLUI Revista de Investigação em Enfermagem (versão online) ASSINATURA CONJUNTA (SV 6 números/ano + RIE 4 números/ano): €15.00 ASSINATURAS ANUAIS: pessoas colectivas (Instituições /Associações): Revista Sinais Vitais (6 números/ano): €20.00 / Revista de Investigação em Enfermagem (4números/ano): €20.00 / Assinatura conjunta (SV 6 números/ano + RIE 4 números/ano): €35.00. FOTOGRAFIA 123rf© NÚMERO DE REGISTO 118 368 DEPÓSITO LEGAL 88306/ 95 ISSN 0872-8844

SUMÁRIO

P04 EDITORIAL

P05 OPINIÃOO AVANÇO DA TECNOLOGIA NA SAÚDE COM CONSEQUENTE DÉFICE NA FORMAÇÃO NO ENSINO SUPERIOR PORTUGUÊS

P11 OPINIÃOMAUS-TRATOS A IDOSOS. RESPOSTA INTEGRADA DE CUIDADOS DE SAÚDE

P15 CIÊNCIA & TÉCNICAGRAVIDEZ NÃO CONVENCIONAL. Contributos do enfermeiro especialista

P21 CIÊNCIA & TÉCNICAGRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA. Uma problemática social

P25 CIÊNCIA & TÉCNICAA VIVÊNCIA DA IMAGEM CORPORAL NO PUERPÉRIO

P31 CIÊNCIA & TÉCNICAINCLUSÃO DA TÉCNICA DA RELACTAÇÃO EM NEONATOLOGIA.

P40 CIÊNCIA & TÉCNICAPROMOÇÃO DO SONO DA CRIANÇA: Estratégias de enfermagem para a capacitação parental

P51 CIÊNCIA & TÉCNICAENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO E OLD

P58 CIÊNCIA & TÉCNICAREABILITAR A PESSOA AMPUTADA

P64 CIÊNCIA & TÉCNICAA INFLUÊNCIA DA ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO NA QUALIDADE DE VIDA DOS IDOSOS

Page 4: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

NO

VEM

BRO

201

4EDITORIAL

4

A Revista Sinais Vitais celebra este mês o seu 20º aniversário.

Agora online os enfermeiros podem mais facilmente aceder ao seu conteúdo em qual-quer parte, até como ajuda à tomada de decisão, desde que se possa aceder a www.

eformasau.pt e autenticar-se.

Nestes últimos 20 anos a profi ssão viveu momentos muito importantes, como ver consignada a necessidade de licenciatura para a o exercício profi ssional, a criação da Ordem dos Enfer-meiros, entre outras. Pensávamos que estas duas conquistas nos levariam ao exercício de uma maior autonomia, a uma melhor valorização da nossa prática e a uma maior satisfação da nossa parte em trabalhar. O que tem acontecido, no entanto, é que isso não tem acontecido e, sobretudo, nos últimos 4 anos, temos assistido a uma constante desvalorização da nossa profi ssão, com prejuízo claro para as pessoas que cuidamos.

A questão que gostaria de colocar aos meus colegas enfermeiros é o que temos feito? Será que, nos locais onde cada um de nós trabalha, temos defendido, pela nossa prática, os valores da profi ssão? Será que no nosso discurso temos colocado em primeiro lugar o que isso tem trazido de prejuízo para os doentes, ou alimentamos discussões vazias sobre funções, atri-buições e outras coisas que só servem para nos colocarmos em posição de inferioridade na equipa de cuidados? Temos nós profi ssionais capitalizado em nosso benefício as discussões que impendem sobre o estado do SNS e de que forma ele poderia estar diferente com uma maior valorização do nosso contributo?

A minha resposta a tudo isto, pelo que tenho lido e ouvido é nem sempre. Quando mais ou menos deliberadamente nos queixamos do regulador, dos sindicatos e de outras coisas do âmbito da organização da profi ssão, não estamos a focar a insatisfação onde deveríamos. Outros que connosco trabalham na equipa de saúde quando reivindicam fazem-no sempre em prol de um interesse maior que é o dos doentes. Nós, por outro lado, queixamo-nos de forma corporativa e colocamo-nos muitas vezes em confronto com outras corporações. Va-mos mudar o foco. Vamos dar poder aos nossos doentes, vamos colocar o doente de facto no centro das nossas preocupações. Tudo o resto virá a seguir, pois serão eles a defenderem-nos.

A Revista Sinais Vitais quer continuar a assumir-se como um fórum onde cada um pode ex-pressar as suas opiniões.

ANTÓNIO FERNANDO S. AMARAL, [email protected]

EDITORIAL

Page 5: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

5

OPINIÃO

5

ENTRADA DO ARTIGO ABRIL 2013

RESUMONo mundo moderno a tecnologia está à nossa volta, somos bombardeados com a mais diversa e moderna tecnologia e, já somos incapazes, de viver sem as T.I.C.. Com isto, era inevitável a in-trodução das T.I.C. em saúde, quer para o auxílio dos cuidados quer para a redução de custos (fac-to cada vez mais crucial nos dias de hoje). A ver-dade é que, os enfermeiros, terão que se adaptar a uma nova realidade, adaptando os seus conhe-cimentos ao futuro que os espera.

Palavras-Chave: T.I.C., Enfermagem, Formação

ABSTRACTTechnology in the modern world is all around us. We are bombarded with the most diverse and modern technology, and now we are incapable to live without ICT (information and communication Technologies). Whit this, it was inevitable the in-troduction of ICT in health, either for assistance or care for the reduction of costs (certainly more and more crucial nowadays). The truth is that nurses will have to adapt to a new reality and adapt their knowledge to the future that awaits them.

Keywords: ITC, Nursing; Education

O AVANÇO DA TECNOLOGIA NA SAÚDE

COM CONSEQUENTE DÉFICE NA FORMAÇÃO

NO ENSINO SUPERIOR PORTUGUÊSDIANA SOFIA PECHINCHA MORAISLicenciatura em Enfermagem. Enfermeira Generalista

As tecnologias avançaram de uma forma avassaladora nos últimos tempos, provo-cando a preocupação e a necessidade de a humanidade se preparar para acompanhar o salto na qualidade de vida que estas propor-cionam, tendo que existir uma mudança de carácter emergente e obrigatório por parte do Homem, para que este possa viver con-soante as novas regras agora impostas pela crescente evolução tecnológica.

Segundo Évora et al., uma invasão cres-cente das novas tecnologias no nosso dia--a-dia podem causar mudanças dramáticas na quantidade, na qualidade e na velocidade de trocas de informação que lidamos diaria-mente.

Esta informação veio demonstrar que se o indivíduo não estiver preparado para acom-

panhar e lidar com inovações, nomeadamen-te as tecnológicas, pode-se deparar com pro-blemas que podem afectar o sucesso do seu desempenho profi ssional. Há necessidade, então, de o indivíduo saber gerir estas mu-danças de modo a que estas sejam utilizadas como ganhos profi ssionais. Caso o indivíduo não se consiga moldar a tais modifi cações ou se se mostrar relutante a adquirir novos termos e conhecimentos que destas mudan-ças advêm, poderá surgir aqui um entrave à inovação tecnológica, adquirindo esta um novo formato, isto é, torna-se nociva para a execução correcta e assertiva da actividade laboral.

De acordo com Silva e Ferreira (2009), “a tecnologia pode infl uenciar e modifi car o nosso modo de vida e determinar infl uências

Page 6: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

6

NO

VEM

BRO

201

4OPINIÃO

6

em diversos campos tais como o social, o económico e o ambiental.”

Com a revolução industrial, ocorreu o de-senvolvimento de novas tecnologias em qua-se todas as áreas, nomeadamente na área da saúde. Deste modo, o desenvolvimento em massa das novas tecnologias veio desvalori-zar a força humana como elemento principal na actividade profi ssional em detrimento das máquinas, causando modifi cações na esfera laboral. Constato assim que na saúde, todas as relações sociais que sustentavam grande parte da metodologia do funcionamento das organizações, são afectadas por esta inova-ção. Isto é, há uma quebra da socialização entre os demais constituintes das organiza-ções, dado que se substitui a mão-de-obra por equipamentos tecnológicos. A sofi stica-ção tecnológica cada vez mais notada nos serviços de saúde, veio quebrar relações sociais que anteriormente eram de extrema necessidade para a prestação de serviços, fazendo-as assumir menos relevância.

A nível económico, as consequências da inovação tecnológica, adquirem um sentido positivo, uma vez que estas visam a minimi-zação de custos, diminuindo os colaborado-res, devido á sua substituição pelos equipa-mentos.

Não menos importante, a quebra das re-lações ou mesmo a falta destas, leva a uma atmosfera laboral pouco susceptível à manu-tenção de um clima empático e de solidarie-dade entre os profi ssionais, sendo as tarefas e responsabilidades desempenhadas sob um método mecânico, que em saúde se reper-cute numa prestação de cuidados menos efi -caz.

No entanto, segundo Barra (2006), “a in-trodução da informática e o aparecimento de aparelhos modernos e sofi sticados trou-

xeram muitos benefícios na luta contra as doenças, fazendo as T.I.C. assumirem um papel de importância extrema quer na pre-venção da doença quer na promoção de saúde.” Sem as T.I.C. o plano de cuidados, se-ria mais difícil de concretizar, assim como a execução de técnicas e procedimentos que visam o salvamento de vidas todos os dias. Esta tecnologia moderna, criada pelo Ho-mem e a serviço do próprio, tem contribuído em larga escala para a solução de problemas antes inexequíveis e que pode reverter em melhores condições de vida e saúde para o indivíduo.

De uma forma geral, as T.I.C. são dotadas de uma dualidade subjectiva a nível da sua importância, assumindo duas posições, posi-tiva e negativa. É de realçar a sua multifun-cionalidade e velocidade da propagação da informação, como das principais aplicações na área da saúde. Especifi camente em enfer-magem, considero que a aproximação das T.I.C. nesta área, contribui para novas técnicas de tratamento, novas áreas de conhecimen-to, tal como a solicitação de vários produtos, a facilitação de dados em tempo real acerca do historial do doente, o aumento da pro-dutividade e a diminuição do processo bu-rocrático. A inovação informática auxilia os enfermeiros nas suas actividades, quer sejam assistenciais, administrativas, de ensino ou de pesquisa, trazendo benefícios tanto para o cliente, como para o profi ssional. No entan-to, os enfermeiros não estão a acompanhar estes novos desafi os, causando desconforto e insegurança nesta classe profi ssional. Na prá-tica hospitalar, o uso das tecnologias e a sua adjacente evolução tecnológica funciona “(...) como uma ferramenta auxiliar no cuidado de enfermagem, que supre as necessidades cres-centes do aumento da complexidade do cui-

Page 7: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

7

OPINIÃO

7

dado oferecido pelas enfermeiras e possibilita a prestação de um cuidado de qualidade, com obtenção de maior efi cácia, minimizando o tempo gasto na realização dos procedimen-tos, por outro lado, é preciso pensar sobre os efeitos que o avanço tecnológico remete.” (Silva e Ferreira, 2009)

Numa perspectiva psicossociológica, as T.I.C. infl uenciam o estilo de vida da socie-dade, provocando no Ser Humano senti-mentos e comportamentos de aproximação, receio e separação. A tecnologia em saúde cria crenças e sentimentos nos técnicos, que vão infl uenciar o seu comportamento e a transmissão de informação aos seus colegas profi ssionais, criando com isto as bases do seu modo de actuar. O enfermeiro tem ao seu dispor tecnologias para prestar cuidados com qualidade e com sucesso, porém não são utilizadas no seu maior potencial por fal-ta de conhecimento teórico-prático.

“ (…) Os grandes centros hospitalares oferecem uma gama de equipamentos para a assistência, principalmente dos enfermos mais graves. É fundamental a informação e a habilidade do profi ssional para tratar com esta realidade” (Campos, 2007)

Com base na citação anterior, verifi ca--se que a oferta tecnológica nos serviços de saúde se pauta cada vez mais pela quanti-dade de equipamentos dotados de máxima actualização e que preconizam a maior efi -ciência no salvamento de vidas. No entanto, é fundamental e imperativo que a formação tecnológica actualizada dos enfermeiros se inicie nas instituições de ensino aquando da sua licenciatura, sendo de fulcral importân-cia a incrementação da aprendizagem e do contacto com esta nova realidade nos planos curriculares. Deste modo, aquando da entra-da no mercado de trabalho, esta não signifi -

que um entrave à qualidade de serviços de saúde prestados.

Para perceber a realidade existente em Portugal, é importante verifi car em que pa-tamar se encontra o ensino superior em rela-ção à oferta formativa tecnológica no curso de licenciatura em enfermagem, e por isso, debrucei-me sobre a análise dos planos cur-riculares de quatro instituições do ensino português. A análise fora feita com o intuito de perceber e compreender se estas acom-panham o crescente desenvolvimento tecno-lógico na área da saúde, assim como, se têm uma oferta formativa nas áreas das tecnolo-gias, que preparem os seus discentes para o mercado de trabalho. As escolas alvo de análise foram: a Escola Superior de Saúde de Portalegre, a Escola Superior de Enfermagem da Cruz Vermelha Portuguesa de Oliveira de Azeméis, a Escola Superior de Enfermagem de Lisboa e a Escola Superior de Enferma-gem do Porto.

De um modo empírico e recorrendo à análise dos planos curriculares, foi-me pos-sível perceber que nenhuma destas entida-des de ensino disponibiliza e engloba nos planos de estudos, a formação sufi ciente na área das T.I.C. nos Cuidados de Enfermagem. Constata-se e percepciona-se então, que as instituições de ensino não adaptam os seus planos curriculares à inovação tecnológi-ca presente actualmente nas instituições de saúde nacionais. Os discentes, enfermeiros recém-licenciados ou enfermeiros não são preparados previamente pelas instituições onde recebem / receberam formação para a realidade tecnológica que enfrentam no mercado de trabalho. Confrontam-se com a falta de competências e habilidades técnicas e de manipulação de equipamentos sofi sti-cados que são de extrema necessidade para

Page 8: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

8

NO

VEM

BRO

201

4OPINIÃO

8

que a prestação de cuidados seja de máxima qualidade e efi ciência.

De acordo Silva e Ferreira (2009), “os en-fermeiros recém-licenciados transparecem sentimentos, frustrações e expectativas que interferem nas práticas de enfermagem, pois em cada caso é necessário discutir os limites e difi culdades, sentidos nos mesmos.” Sem-pre que um enfermeiro se deparara com uma nova unidade hospitalar tem que se adap-tar às novas tecnologias, pois cada situação necessita de cuidados diferentes. Estes pro-fi ssionais de saúde experienciam situações diferentes todos os dias, o que vai construir neles insegurança e medo do desconhecido. Estes sentimentos tomam mais ênfase quan-do a formação destes indivíduos não acom-panha a realidade com que interagem. O sen-tir e perceber que a qualidade dos cuidados por eles prestados depende muitas vezes da manipulação de equipamentos, para a qual não têm conhecimento e formação sufi cien-te, cria neles, o sentimento de incapacidade e de insegurança, infl uenciando a qualidade dos cuidados prestados. No entanto, o fascí-nio e a curiosidade que as T.I.C. representam, a persuasão do desconhecido, criam nos en-fermeiros uma aptidão e um estímulo para a descoberta e aquisição de novos conheci-mentos tecnológicos actualizados.

Segundo Arco (2004), “a utilização das T.I.C. em Enfermagem passa pelo desen-volvimento e adequação de instrumentos e procedimentos informáticos, que apoiem os enfermeiros no aperfeiçoamento da sua prá-tica profi ssional.” A tecnologia avançada tem uma importância fulcral na área da saúde, quer no salvamento de vidas quer no auxílio aos demais profi ssionais de saúde na presta-ção de cuidados. Há então uma necessidade urgente e imperativa de uma simbiose entre

equipamentos técnicos e a formação / co-nhecimentos dos profi ssionais em áreas tec-nológicas. A inovação tecnológica em saúde visa a melhoria das condições de vida dos seus utentes, mas perdem a sua importân-cia se os seus utilizadores (profi ssionais de saúde) não souberem de forma correcta e efi caz, usufruírem das suas vantagens. Tem que haver então, uma preocupação perante a formação dos enfermeiros que os sensibi-lize e os prepare para estas realidades e que assim, possam usufruir livremente e sem re-ceio de falhas e erros da utilização das novas tecnologias, proporcionando assim melhores cuidados aos utentes.

Para contactar com o real, nomeadamen-te, para perceber que realidades tecnológicas os enfermeiros portugueses experienciam no quotidiano das suas actividades laborais, foram analisadas duas das muitas aplicações das T.I.C. na área da saúde, designadamente a Linha de Saúde 24 e o Mobile Clinic (utili-zado no INEM).

A linha de Saúde 24, é considerada uma ferramenta tecnológica de extrema impor-tância no Serviço Nacional de Saúde, uma vez que visa responder às necessidades manifestadas pelos clientes em saúde, de modo a melhorar a acessibilidade aos servi-ços, através do encaminhamento dos uten-tes para as instituições adequadas. A linha de saúde 24 possibilita a diminuição do fl uxo de afl uência às instituições de presta-ção de cuidados de saúde, aumentando a qualidade destes cuidados, incrementando a relação custo/benefício e reduzindo a pro-cura desnecessária dos serviços de Saúde, oferecendo respostas ajustadas às necessi-dades do utente. Permite igualmente que os recursos, ao nível dos profi ssionais de Saú-de, foquem a atenção em casos mais urgen-

Page 9: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

9

OPINIÃO

9

tes estipulando um sistema de prioridades. Assim, a qualidade dos serviços de saúde é aumentada pela utilização deste sistema uma vez que este proporciona um atendi-mento focado, preciso, cómodo e rápido.

No entanto, aquando da saída para a acti-vidade laboral os recém-formados em enfer-magem sentem e experienciam sentimentos de insegurança e de ansiedade na prática de cuidados à distância. O ensino que lhes foi conferido não assegura a aprendizagem e a prática deste tipo de cuidados, o que di-fi culta a tarefa destes novos enfermeiros em contextos de prestação de cuidados por vias indirectas. O contacto físico, visual e real com o utente é ensinado / aprendido durante o curso de licenciatura em enfermagem, anu-lando toda a classe profi ssional que opta pela prática de enfermagem indirecta, isto é, pela prestação dos seus serviços através das vias telefónicas, como o caso de linha de saúde 24 ou o 112.

A nível do INEM, Instituto Nacional de Emergência Medica este proporciona uma rapidez e qualidade na prestação de cuida-dos e transporte de emergência. O INEM é constituído por uma equipa de profi ssionais de saúde com o auxílio de equipamento es-pecífi co e técnico, informático e de trans-porte, que visa o salvamento de vidas todos os dias. O “Mobile Clinic” é uma aplicação informática de registo clínico electrónico que consiste na formulação de um registo electrónico que possibilita aos tripulantes das ambulâncias de emergência médica re-ceber num computador portátil, os dados referentes à emergência, enviados em tem-po real pelo Centro de Orientação de Doen-tes Urgentes (CODU). A difi culdade que os enfermeiros recém-formados encontram aquando do contacto com esta realidade

tecnológica, prende-se com o facto de não terem usufruído de formação prévia para lidar com tais equipamentos e não possuí-rem conhecimentos e técnicas para dominar e interpretar todos os dados enviados e re-metidos por estes equipamentos. O domínio técnico e informático destes aparelhos é de fulcral importância sendo que o máximo de conhecimento acerca destes, possibilita uma melhoria na qualidade dos serviços de saúde prestados, assim como o aumento da con-fi ança e destreza dos profi ssionais que con-tactam com estes equipamentos.

Segunda Silva e Ferreira (2009) “A intro-dução das tecnologias na assistência aos cui-dados, visam melhorar a efi cácia e a rapidez dos cuidados, no entanto, numa fase inicial torna-se uma desvantagem porque em vez de direccionar o nosso tempo para a pres-tação de cuidados, focam a sua atenção em perceber o seu funcionamento.”

A estipulação de uma boa relação tera-pêutica é essencial no sucesso do tratamen-to / cuidado do utente com que os profi s-sionais de saúde estão a lidar. É fundamental perceber que a falta de formação e acompa-nhamento dos enfermeiros no que concerne à inovação tecnológica, leva-os a cometerem erros inocentes na prática clínica.

“Num mundo de espantosas mudanças tecnológicas, ninguém pode ter a certeza daquilo que o futuro reserva. O que é certo é que os desenvolvimentos nas tecnologias dos meios de comunicação social estão no centro dessas mudanças.”

Arco, 2004 citando Giddens, 2000Actualmente, um curriculum que não in-

clua formação na área das T.I.C. é defi ciente, incompleto e diminuto, porém, esta é uma falha que abrange todo o ensino superior nacional.

Page 10: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

10

NO

VEM

BRO

201

4OPINIÃO

10

Desta forma, o Ensino Superior deve col-matar esta falha, investindo na formação tec-nológica dos alunos preparando-os para as adversidades que poderão vir a ocorrer ao longo da sua vida profi ssional.

Segundo Paula (2004), “oferecer aos for-mados em enfermagem o conhecimento sobre como desempenhar as suas funções e qual a melhor forma de explorar os meca-nismos tecnológicos em clínicas e hospitais é um objectivo para o futuro.”

De um modo conclusivo num futuro pró-ximo, as T.I.C serão um elemento cada vez mais activo na sociedade, interferindo direc-tamente na vida dos profi ssionais de Enfer-magem. É urgente a mentalização que a ne-cessidade de conhecimento tecnológico não abrange só classes profi ssionais específi cas, mas sim, todas as que envolvam instrumen-tos técnicos, independentemente do grau de difi culdade do seu uso.

Torna-se fulcral que o ensino tecnológi-co esteja presente nos planos curriculares do ensino superior português para que todos os formandos se sintam capazes de desem-penhar as suas funções e competências com a máxima qualidade e efi cácia possível. A transmissão de conhecimentos em áreas que estes profi ssionais não dominem, vão criar em si, sentimentos de segurança e confi ança para que o utente tenha o melhor dos cui-dados.

BIBLIOGRAFIAARCO, A. (2004). Tecnologias de informação e comuni-cação na educação em saúde – o caso da formação em enfermagem – . Dissertação elaborada com vista à ob-tenção do grau de mestre em ciências da educação na especialidade de Educação para a Saúde, Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa.ALKMIM MB, CUNHA LR, FIGUEIRA RM. “Aplicação de tecnologias de informação e comunicação na Saúde:

Experiência do centro de telessaude do hospital das clinicas da UFMG,”Ver informática pública ano 2008CAMPOS MV. “Fundamentos do Uso de Tecnologias na Enfermagem.” 25 de Dezembro, 2007ÉVORA YD, MELO MR, NAKAO JR. “O desenvolvimento da informática em enfermagem: um panorama histó-rico.” 1990FONSECA RB. Plano Nacional de Saúde 2011-2016: “Tecnologias de informação e comunicação”. Março 2010. NOGUEIRA LP, FERREIRA BA. “A informática e sua apli-cação na área de enfermagem” Rev Enferm UNISA 2000;PAULA FE. “Tecnologia na enfermagem: vantagens e desvantagens.” 2004Plano curricular 1º Ano, Escola Superior de Enferma-gem de Lisboa: http://www.esel.pt/ESEL/PT/Formacao/Licenciatura/PlanoEstudos/1%C2%BA+ano+plano+de+estudos.htm Plano curricular 2º Ano, Escola Superior de Enferma-gem de Lisboa: http://www.esel.pt/ESEL/PT/Formacao/Licenciatura/PlanoEstudos/1%C2%BA+ano+plano+de+estudos.htm Plano curricular 3º Ano, Escola Superior de Enferma-gem de Lisboa: http://www.esel.pt/ESEL/PT/Formacao/Licenciatura/PlanoEstudos/1%C2%BA+ano+plano+de+estudos.htm Plano curricular 4º Ano, Escola Superior de Enferma-gem de Lisboa: http://www.esel.pt/ESEL/PT/Formacao/Licenciatura/PlanoEstudos/1%C2%BA+ano+plano+de+estudos.htm Plano curricular, Escola Cruz Vermelha de Lisboa: http://www.cruzvermelha.pt/actividades/ensino-superior--saude/escola-sup-enfermagem.htmlPlano curricular, Escola Superior de Saúde de Portalegre: http://www.essp.pt/Cursos/Licenciatura/18%20-%208-10-2009%20-%20Altera%C3%A7%C3%A3o%20Plano%20de%20Estudos%20de%20Licenciatura%20em%20Enfermagem.pdfPlano curricular, Escola Superior de Enfermagem do Porto: http://newsletter.esenf.pt:8080/newsletter/fi -cheiros/43/dre1.pdf www.saude24.ptA r t i g o c i e n t i f i c o . u o l . c o m . b r / u p l o a d s /artc_1186531364_80.docSILVA RC, FERREIRA MA. “A Tecnologia em saúde: uma perpectiva psicossociológica aplicada ao cuidado de enfermagem.” Esc Anna Nery Ver Enferm 2009 jan-mar.TELEHEALTH – Issues For Nursing. American Nurses Association, 1997. Publicado na Internet. http://www.ana.org/readroom/tele2.htmTURANSKY, June Shipley. Technology in Nursing. 1997. Publicado na internet. http://home.dmv.com/~easycash/tech.htm

Page 11: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

11

OPINIÃO

11

ENTRADA DO ARTIGO DEZEMBRO 2012

MAUS-TRATOS A IDOSOS RESPOSTA INTEGRADA DE CUIDADOS DE SAÚDE

CARLA MENDESEnfermeira. Especialista em Saúde Infantil e Pediatria, no ACES II Lisboa Oriental/ USF Oriente

HELENA MOREIRAEnfermeira. Especialista em Saúde Infantil e Pediatria no Centro Hospitalar de Torres Vedras/Serviço de Pediatria

PAULO ANESEnfermeiro no Centro Hospitalar de Torres Vedras/Ser-viço de Medicina B

RESUMOOs idosos, devido à sua fragilidade e dependên-cia, são muitas vezes vítimas de maus-tratos por parte da sociedade, sofrendo, pacifi ca e silencio-samente, durante anos e anos, com a privação de cuidados básicos e de saúde, de autonomia, dig-nidade, respeito e afeto. Os enfermeiros possuem uma proximidade privilegiada com o idoso e seus cuidadores, o que lhes permite prevenir, identi-fi car e denunciar este tipo de situações, o mais precocemente possível.

Palavras-Chave: Maus-tratos, Idoso e Enferma-gem

ABSTRACTThe elderly, due to their fragility and dependence, are often victims of mistreatment by society, suf-fering peacefully and quietly, for years and years, with the deprivation of basic and health care, au-tonomy, dignity, respect and affection. Nurses have a privileged proximity with the elderly and their careers, allowing them to prevent, identify and re-port that situations, as early as possible.

Keywords: Maltreatment, Elderly and Nursing.

A enfermagem, como profi ssão do cuidar, deve zelar pelo bem-estar da população a quem presta cuidados. Nas últimas décadas, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), têm-se assistido a um envelhecimen-to progressivo da população, sem contudo se verifi car o suporte social necessário para garantir o seu cuidado. Consequentemente, muitos idosos são negligenciados e maltra-tados (INE, 2011).

Os maus-tratos a idosos consistem na ocorrência de ato(s) que cause(m) dano, so-frimento ou angústia ao idoso, dentro de um relacionamento de confi ança. Os maus-tra-tos podem ser de vários tipos: psicológicos, físicos, económicos, medicamentosos, se-xuais, negligência (quer ativa, quer passiva) e violação dos direitos humanos (World Health Organization [WHO], 2011).

Segundo a mesma fonte, em Portugal

Page 12: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

12

NO

VEM

BRO

201

4OPINIÃO

12

39,4% da população idosa é vítima de maus--tratos, sendo que destes, 32,9% são vítimas de maus-tratos psicológicos, 16,5% de ex-torsão, 12,8% de violação dos seus direitos, 3,6% de abuso sexual e 2,8% de maus-tratos físicos. Os números são assustadores, senão mesmo aterradores, se a estes, juntarmos as incalculáveis situações que não chegam a ser denunciadas e por isso eternamente desco-nhecidas.

Torna-se, assim, urgente, uma resposta in-tegrada de cuidados de saúde ao idoso, que pode/deve ser precocemente iniciada se os profi ssionais estiverem atentos aos pedidos silenciosos de ajuda, como é exemplo o se-guinte testemunho:

Primeiro roubaram-me o direito à autono-mia, depois o direito de expressão, aos poucos e poucos, o direito sobre o meu corpo e sobre a minha vida.

O sorriso dissipou-se e, gradualmente, mergulhei numa amargurosa tristeza.

A força e a esperança que me moviam ou-trora há muito me abandonaram!

Agora somam-se as dores, os males e os dias – de mim resta apenas uma sombra, que pena, vazia e fria, na estrada da vida.

Já não tenho qualquer valor – tornei-me, única e absolutamente, supérfl uo!

Não ouso pedir ajuda, pois as consequên-cias do meu grito iriam repercutir-se, tortuo-samente, na minha breve caminhada pelo mundo.

Afi nal, roubaram-me o ouro e o brilho dos olhos, roubam-me a dignidade e a saú-de, roubar-me-ão dias de vida e um recordar honroso.

Que me resta? Resignar-me silenciosa-mente…

(Testemunho de H.M., 74 anos)

É essencial que a enfermagem esteja sen-sibilizada para a importância de intervir em situações de risco ou ocorrência de maus-

Page 13: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

13

OPINIÃO

13

-tratos a idosos, mesmo quando o idoso não sabe, não quer ou não pode pedir ajuda. Relativamente ao modelo de prevenção sub-jacente a esta problemática, a experiência profi ssional dos autores, quer ao nível dos cuidados de saúde primários, quer ao nível dos cuidados hospitalares, aponta para uma intervenção que deve incidir sobre quatro focos: a Enfermagem, a Comunidade, o Ido-so e o Cuidador.

A nível da equipa de enfermagem torna--se fundamental a formação e sensibilização para uma atuação de excelência. A interven-ção deve ocorrer tanto a nível dos cuidados de saúde primários como a nível dos cuida-dos de saúde diferenciados. No âmbito de uma consulta, visitação domiciliária ou hos-pitalização é possível identifi car sinais/sin-tomas sugestivos de maus-tratos ao idoso, entre os quais: desidratação, desnutrição, maus-cuidados de higiene, idosos multi--escariados, ferimentos sugestivos de maus-

-tratos e comportamentos de medo perante os cuidadores.

Também a comunidade deve ser alvo de sensibilização para uma maior valorização das pessoas idosas bem como para a impor-tância de identifi car e denunciar a ocorrência de maus-tratos a esta faixa etária. Os enfer-meiros devem articular-se com os cuidado-res e as instituições de apoio social, lares e residenciais de idosos existentes na comuni-dade de forma a garantir uma resposta mais abrangente e efectiva.

Quando o idoso mora no seu próprio do-micílio é importante garantir que tem acesso ao apoio social necessário, de forma a evitar--se a negligência por parte da sociedade/fa-mília. Esta situação merece especial atenção, quando o idoso mora sozinho! O envolvi-mento da comunidade torna-se muito pre-cioso nesta situação, coresponsabilizando vi-zinhos, familiares mais próximos e mesmo os próprios agentes de segurança pública.

Page 14: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

14

NO

VEM

BRO

201

4OPINIÃO

14

Relativamente à intervenção junto do idoso prende-se sobretudo com a preven-ção de ocorrência de maus-tratos, através da promoção da participação ativa do idoso na sociedade e através da sinalização e acom-panhamento de situações de risco, de forma a evitar a sua evolução. Tal como já referido anteriormente, muitas vezes o idoso aceita pacifi camente ser maltratado devido à sua posição de dependência/fragilidade relativa-mente ao agressor, situação que poderá ser contrariada se o idoso sentir que tem apoio dos profi ssionais de saúde.

De realçar que os cuidadores do idoso deverão ser alvos permanentes de formação e apoio, sobretudo a nível psicológico. Não é fácil cuidar, dia-após-dia, do idoso, muitas das vezes, doente, desorientado no tempo e espa-ço, não colaborante e totalmente dependen-te nas atividades de vida diárias - tal cuidado exige muitos sacrifícios e renúncias pessoais. A longo prazo, o cuidador pode sofrer de Síndrome de Burnout, o que pode propiciar comportamentos desajustados e até a ocor-rência de maus-tratos àquele de quem cuida. Contudo, muitas vezes, o cuidador é negli-gente de forma passiva, ou seja, sem inten-ção de prejudicar o idoso - atualmente esta situação verifi ca-se sobretudo por carências económicas, o que torna também urgente, o suporte social e não só de cuidados de saúde.

Quando o idoso está institucionalizado é importante supervisionar os cuidados presta-dos a este nível e formar a equipa responsável pela sua assistência. A distração e sentido de utilidade deverão ser promovidos ao máximo, de forma a evitar a depressão e sentimentos de inferioridade por parte do idoso.

Quando a situação já evoluiu para a ocor-rência de maus-tratos, a enfermagem deve estar apta a identifi car precocemente os sin-

tomas/sinais inerentes, a efetuar a sua de-núncia às autoridades competentes e acom-panhar o idoso, ao longo de todo o proces-so, sobretudo à posterior, de forma a evitar a continuidade dos maus-tratos.

A implementação destas medidas refl e-tir-se-á, certamente, na redução da hospi-talização de idosos, bem como do número de casos de maus-tratos e no aumento do apoio social ao idoso/cuidadores, bem como da qualidade de vida do idoso/sociedade, ou seja, o refl exo será, nitidamente, um enorme ganho em saúde!

Em suma, os enfermeiros têm um papel crucial na prevenção, identifi cação precoce e denúncia de situações de maus-tratos a idosos. Esta luta requer enfermeiros devida-mente formados, ativos e ponderados, que trabalhem em parceria com o idoso, sua fa-mília/cuidadores e redes de apoio existen-tes na comunidade. O caminho é árduo, os obstáculos mais que muitos - a identifi cação deste tipo de situações não é fácil e além dis-so nem sempre a vítima tem a força, discer-nimento mental e/ou segurança para efetuar a denúncia.

Estamos convictos que de forma integra-da podemos ajudar a construir um mundo em que os idosos possam usufruir do máxi-mo de qualidade de vida possível, no seio da sua comunidade. Para isso é fundamental discutir, analisar e refl etir sobre esta proble-mática e não deixá-la cair no esquecimento. Este artigo representa o nosso pequeno con-tributo para que tal não aconteça.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASWorld Health Organization (WHO) (2011). European report on preventing elder maltreatment, Copenhagen.Instituto Nacional de Estatística (INE) (2011). Censos 2011 - Resultados Provisórios, Lisboa.

Page 15: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

CIÊNCIA & TÉCNICA

15

ENTRADA DO ARTIGO MARÇO 2013

RESUMOAs medidas não convencionais para alívio da dor, desconfortos e alterações decorrentes da gravi-dez, tais como o toque, o relaxamento e a mas-sagem, são intervenções autónomas de enferma-gem que promovem o conforto e relaxamento da parturiente, não devendo ser colocadas de parte pelo enfermeiro especialista em saúde materna e obstetrícia (EESMO). Estas técnicas são para os EESMO uma forma de comunicação não-verbal, permitindo-lhes perceber medos e ansiedades da grávida, além de ser um meio efi caz para os reduzir, transmitir carinho, respeito e segurança (SILVA, 2002). As técnicas de terapia não convencional, não só são úteis no alívio dos desconfortos da gravidez enquanto técnica por si só, mas também como forma de promover a excelência do cuidado de enfermagem holístico baseado no toque e na relação de ajuda.

Palavras-Chave: , toque, massagem, relaxamento, cuidados obstétricos.

ABSTRACTThe unconventional measures for the re-lief of pain,discomforts and changes resulting from pregnancy,such as touch, relaxation and massage,are autonomous nursing intervention-sthat promote comfort and relaxationon parturi-ent and should not be put asideby nurse specialist in maternal healthand obstetrics (EESMO). These techniques are forEESMO a non-verbal form of communication,allowing them to realize preg-nant fears and anxieties, besides being an effi cient means forreduce it, transmit affection, respect and safety(Silva 2002).The unconventional therapy techniques, not onlyare useful in alleviating the discomfort of pregnancyas a technique in itself, but also asway to promote the excellence of care-holistic nursing based on touch andhelping rela-tionship.

Keywords: touch, massage, relaxation,obstetric care

GRAVIDEZ NÃO CONVENCIONAL

Contributos do enfermeiro especialistaVÂNIA SOFIA AGOSTINHO DA SILVAEnfermeira no Estabelecimento Prisional de Alcoentre. A frequentar o curso de Pós-Licenciatura de Especialização em Enfermagem de Saúde Materna e Obstetrícia

Page 16: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

NO

VEM

BRO

201

4CIÊNCIA & TÉCNICA

16

INTRODUÇÃOO período pré-natal é um período de pre-

paração, que envolve adaptações físicas e psicológicas, para receber um novo elemen-to na família.

Sendo que aos cuidados de enferma-gem está inerente a necessidade de cuidar da pessoa na sua globalidade, considerando as esferas física, mental e espiritual, neces-sitam de mobilizar uma vasta gama de co-nhecimentos científi cos das diferentes áreas do saber médico, psicossocial e comporta-mental para a sua prática (WATSON, 2002). Desta forma, foi crescendo a visibilidade das terapias não convencionais como forma de dar resposta a uma prática de enfermagem que se quer humanista e holística.

A recomendação e prática das técnicas não convencionais, no âmbito dos cuidados de enfermagem especializados em saúde materna e obstétrica, surge como meio de minimizar os desconfortos da gravidez, mas também como forma de melhorar a qualida-de dos cuidados. Assim, no período pré-natal é importante familiarizar a gestante com as diferentes estratégias, para que possa optar pelo método a que melhor se adapte, uma vez que os resultados positivos da sua apli-cação são intensifi cados quando estas são implementadas durante o acompanhamento pré-natal (SARTORI et al., 2011, http://scielo.isciii.es/pdf/eg/v10n21/pt_revision4.pdf)

A escolha deste tema, prendeu-se com o interesse no toque terapêutico, massagem terapêutica e relaxamento como forma de minimizar as queixas dolorosas, principal-mente durante o trabalho de parto, bem como os desconfortos vivenciados durante a gravidez. Assim, pretendo com esta pes-quisa aprofundar conhecimentos acerca das temáticas, verifi cando, com base em estu-

dos científi cos, a efi cácia que a aplicação destas técnicas não convencionais tem na prática.

Para a elaboração deste artigo, procedeu--se à revisão bibliográfi ca através da pesqui-sa em diversas bases de dados on-line, no-meadamente a Scielo e a b-On.

O TOQUE TERAPÊUTICODurante toda a gravidez, mas principal-

mente durante o trabalho de parto, a mu-lher atravessa consideráveis transformações físicas que, por ação das contrações, provo-cam dor, que varia de mulher para mulher, de acordo com o limiar de dor de cada uma. Sendo a dor singular, por depender da in-fl uência de fatores piscossociais e culturais, é importante que o EESMO esteja sensibili-zado para essa singularidade, e estabeleça uma relação de ajuda efi caz com a grávida, cuidando de forma holística (SARTORI et al., 2011, http://scielo.isciii.es/pdf/eg/v10n21/pt_revision4.pdf).

O Toque Terapêutico (TT) tem mostrado alguma efetividade na alteração dos sinais vitais e redução de sintomas de várias doen-ças como os distúrbios do humor e padrão de sono, agitação, fadiga, ansiedade e, so-bretudo, dor (VASQUES; SANTOS; CARVA-LHO, 2011, http://www.scielo.br/pdf/ape/v24n5/19v24n5.pdf).

Sendo o toque terapêutico reconfortante e calmante, quando associado à massagem terapêutica ajuda a libertar o stress, a relaxar e a restabelecer o equilíbrio corporal, permi-tindo obter benefícios físicos (diminui o rit-mo cardíaco e tensão arterial) e emocionais, constituindo-se como um tranquilizante na-tural (ALMEIDA, 2012).

Page 17: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

CIÊNCIA & TÉCNICA

17

A MASSAGEM TERAPÊUTICAA massagem terapêutica consiste na ma-

nipulação científi ca dos tecidos moles do corpo com a fi nalidade de normalizá-los, através de uma “série de técnicas manuais que incluem a aplicação de pressão fi xa ou móvel, amassamento e produção de movimentos do corpo” (KRAPP; LONGE, 2003). Esta, quando utilizada durante a gravidez, permite estimu-lar a circulação sanguínea e o retorno linfá-tico, que podem estar comprometidos como resultado das alterações fi siológicas da gra-videz, reduzindo desta forma a tensão mus-cular e a fl acidez, proporcionando uma série de benefícios tais como: alívio dos espasmos musculares, maior fl exibilidade e amplitude de movimento, alívio de stress, relaxamento e sensação de bem-estar, além da redução dos níveis de ansiedade (Idem).

Para que a massagem terapêutica seja efi -caz deverá ser realizada num ambiente agra-dável, acolhedor, com luz velada, silencioso e com um creme ou óleo (amêndoas doces, girassol, sementes de sésamo, entre outros), durante aproximadamente uma hora, po-dendo ser de 30 minutos se for concentrada apenas nas zonas de maior tensão.

Sendo a massagem durante a gravidez uma técnica favorecedora do bem-estar fi -siológico, estrutural e emocional, tanto da mãe como do feto, quando esta efetuada pelos companheiros durante o parto, está geralmente associada a partos mais breves e menos complicados. Contudo, a sua utili-zação está contraindicada em casos de he-morragia vaginal, dor abdominal ou diarreia, podendo também haver o risco de agravar contraturas musculares existentes (Idem).

Page 18: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

NO

VEM

BRO

201

4CIÊNCIA & TÉCNICA

18

Antes de iniciar a massagem e espalhar o óleo sobre a pele com passagens suaves du-rante alguns minutos é importante aquecer as mãos e o óleo que vamos utilizar. Durante a sua realização é necessário ter também o cuidado de não exercer demasiada pressão sobre áreas ósseas ou de órgãos, interrom-pendo de imediato um movimento que cau-se dor. Para que este seja um momento de conforto e relaxamento para a grávida não devemos falar a menos que ela o faça pri-meiro (ALMEIDA, 2012).

“Depois do nascimento da criança, a te-rapia por massagem pode favorecer a recu-peração do corpo até alcançar o seu estado prévio à gravidez, aliviar a dor, recuperar a sensação do próprio corpo e ajudar a manter a fl exibilidade apesar do stress físico que pres-supõe a atenção a uma criança pequena. Para as mães que tenham sido submetidas a uma cesariana existem técnicas terapêuticas espe-cífi cas que também podem reduzir a forma-ção de tecido cicatricial e facilitar a cura da incisão e das áreas de tecidos moles à volta” (KRAPP; LONGE, 2003).

O RELAXAMENTOPor serem diversos os desconfortos que

podem surgir no decorrer da gravidez é im-portante que a mulher saiba como neutrali-zá-los, de forma a não prejudicar o seu bem--estar durante o desenrolar da mesma.

O relaxamento pode ser uma das técnicas utilizadas para minimizar os desconfortos da gravidez, pois como medida preventiva protege o corpo do desgaste desnecessário; ajuda a aliviar o stress e a acalmar a mente; e permite que o pensamento se torne mais claro e efi caz (ALMEIDA, 2012).

Uma das formas práticas de promover

o relaxamento é a respiração consciente, principalmente a respiração abdominal. Ao concentrar-se na respiração a mulher vai-se acalmando e recuperando o bem-estar físico (BJORN, 2009).

Na prática clínica, tem-se verifi cado que o relaxamento permite a integração das diferen-tes dimensões da mulher, promovendo me-lhoria no estado de vigília e permitindo que o sono seja mais profundo e descansado. Veri-fi ca-se também o aumento da autoconfi ança que se manifesta na diminuição das queixas ál-gicas, na diminuição de ansiedade, angústia e problemas digestivos, normalmente relaciona-dos com estados emocionais que podem ser conscientes ou não. Com a utilização desta téc-nica tem-se verifi cado também na grávida uma melhoria nos estados de depressão, passando esta a encarar a vida com mais naturalidade, otimismo e confi ança (Idem).

Uma das técnicas de relaxamento mais utilizada é a desenvolvida por Schultz (1932), que tem por base o treino autógeno. Este treino é composto por 3 fases (Idem):• A utente é colocada na posição de sen-

tada com os pés bem assentes no chão, coluna bem posicionada e braços colo-cados sobre a cadeira ou sobre as per-nas, passando de seguida pela vivência de peso, que é induzida ao braço domi-nante;

• Nesta fase passa por seis tempos (Re-pouso – peso; Sensação de calor; Vivên-cia cardíaca; Repouso respiratório; Con-centração de calor no baixo-ventre; Testa fria);

• Ocorre o retrocesso do relaxamento, fl e-xão e extensão dos braços e pernas, res-piração profunda e abertura dos olhos.

Para que a mulher consiga efetivamente

Page 19: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

CIÊNCIA & TÉCNICA

19

relaxar é fundamental que esta técnica seja realizada num ambiente sossegado no qual a pessoa se sinta confortável. É importante dar a conhecer a técnica de relaxamento, fazen-do uma breve introdução antes de a iniciar. É importante que o EESMO utilize um tom de voz sossegado e calmo, realizando pausas longas entre instruções. No fi nal é importan-te permitir que a grávida retorne gradual-mente ao estado de vigília, informando que vai terminar a sessão (ALMEIDA, 2012).

Através desta técnica “está cientifi camen-te provado que os hipertensos em estado de relaxamento diminuem a tensão arterial em cerca de 10 a 20%. Observa-se ainda uma di-minuição do ritmo cardíaco, melhorando as si-tuações de taquicardia. Os efeitos respiratórios, centram-se na capacidade de uma melhor oxi-genação do organismo, pela ampliação da res-piração abdominal e torácica” (BJORN, 2009).

A técnica de relaxamento aplicada às mu-lheres no período da gravidez proporciona--lhes momentos de repouso, alegria e muita paz, sendo também esta uma forma de for-talecer o processo de vinculação biológico e psicológico pré e pós-natal.

Tendo por base os estudos consultados foi possível verifi car que os recém-nascidos de mães que realizam relaxamento durante a gravidez são mais calmos e dormem profun-damente, apesar de chorarem como qual-quer recém-nascido.

Apesar da gravidez ser um período de grandes mudanças e adaptações, o puerpé-rio também o é, sendo ambos os momen-tos vivenciados de formas distintas entre as mulheres. Assim, é normal que a mulher sinta medos, dúvidas e angústias quanto à capacidade de cuidar de um novo ser, o re-cém-nascido, e ainda de lidar com todas as atividades que já realizava antes da gravidez

(PRIMO; AMORIM, 2008, http://www.scielo.br/pdf/rlae/v16n1/pt_05.pdf).

Neste sentido, é importante que as inter-venções do EESMO, como o relaxamento, fa-çam parte do cotidiano do cuidado em enfer-magem. Esta técnica, para além de ser benéfi -ca para a mulher por tudo o que foi identifi ca-do acima, é também uma forma de aproximar utente e prestador de cuidados, contribuindo assim para a melhoraria na qualidade da as-sistência de enfermagem (Idem).

CONCLUSÃONem todas as medidas não farmacológi-

cas têm demonstrado efi cácia no alívio da dor. Apesar disso, têm demonstrado bons resultados na promoção de bem-estar para a mulher, o que proporciona satisfação e di-minui o stress no momento do parto. Para além disso, este tipo de terapias geralmen-te diminui o uso de drogas analgésicas e a administração de ocitocina nas parturientes (SARTORI et al., 2011, http://scielo.isciii.es/pdf/eg/v10n21/pt_revision4.pdf).

Segundo WATSON (2002), a enfermagem é uma profi ssão que assume a responsabili-dade ética e social pelo cuidar de vanguarda ao indivíduo e comunidade no presente e no futuro. Deste modo, é importante que os enfermeiros comecem a pensar que podem encontrar nas terapias não convencionais, ferramentas para o desenvolver e aprofundar a Arte do Cuidar.

“Métodos complementares de alívio da dor durante o trabalho de parto são ampla-mente difundidos em todo o mundo, e exis-te uma grande variedade de técnicas não--farmacológicas. Estas, de acordo com a OMS, devem ser privilegiadas durante a assistência ao trabalho de parto, considerando-se como

Page 20: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

NO

VEM

BRO

201

4CIÊNCIA & TÉCNICA

20

práticas reconhecidamente úteis e que devem ser estimuladas” (PORTO; AMORIM; SOU-ZA, 2010 http://www.febrasgo.org.br/arqui-vos/femina/Femina2010/outubro/Femina_v38n10_527-537.pdf).

Em suma, as técnicas de terapia não con-vencional, não só são úteis no alívio dos des-confortos da gravidez enquanto técnica por si só, mas também como forma de promo-ver a excelência do cuidado de enfermagem holístico baseado no toque e na relação de ajuda. Não obstante, mantém-se evidente a necessidade de desenvolver estudos cientí-fi cos que fundamentem a utilização destas técnicas, com a fi nalidade de as dotar do rigor científi co que apenas a investigação confere. Só dessa forma, estas podem ser re-conhecidas e utilizadas no âmbito da saúde com a mesma legitimidade daquelas terapias que são já reconhecidas legalmente, como é o caso, por exemplo, da acupunctura.

É importante que estas técnicas comecem a ser mais implementadas pelos EESMO, pois para além dos benefícios que trazem para a mulher/RN/casal, promovem o efetivo reco-nhecimento da nossa profi ssão.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, Inês Loução - Avaliação de conhecimentos dos enfermeiros sobre medidas farmacológicas e não farmacológicas no controlo da dispneia. Lisboa: Universidade de Lisboa (Faculdade de Medicina), 2012. 134 f. Curso de Mestrado em Cuidados Paliativos.

BJORN, Maria Benvinda Nereu – Estratégias de relaxamento e seus benefícios: Uma investigação durante o período de gravidez. Faro: Universidade do Algarve (Faculdade de Ciências Humanas e Sociais), 2009. 122 F. Mestrado em Psicologia na Especialização em Psicologia da Saúde.

KRAPP, Kristine e LONGE, Jacqeline L. (2003). Manual de medicinas complementares. Barcelona, Oceano. ISBN 972-8528-88-4.

PORTO, Ana Maria Feitosa; AMORIM, Melania Maria Ramos; SOUZA, Alex Sandro Rolland - Assistência ao

primeiro período do trabalho de parto baseada em evidências. Res-Publica: Femina. [Em linha]. Nº10 (2010) [Consult. 2013-02-11]. Disponível em WWW:URL:http://www.febrasgo.org.br/arquivos/femina/Femina2010/outubro/Femina_v38n10_527-537.pdf

PRIMO, Cândida Caniçali; AMORIM, Maria Helena Costa – Efeitos do relaxamento na ansiedade e nos níveis de IGA salivar de puérperas. Res-Publica: Rev Latino-am Enfermagem. [Em linha]. Nº 16 (2008) [Consult. 2013-02-11]. Disponível em WWW:URL: http://www.scielo.br/pdf/rlae/v16n1/pt_05.pdf.

SARTORI, AL.; VIEIRA, F.; ALMEIDA, NAM.; BEZERRA, ALQ.; MARTINS, CA. – Estratégias não farmacológicas de alívio à dor durante o trabalho de parto. Res-Publica: Enfermería Global. [Em linha]. Nº21 (2011) [Consult. 2013-02-11]. Disponível em WWW:URL:http://scielo.isciii.es/pdf/eg/v10n21/pt_revision4.pdf.

SILVA, Maria J.P. (2002). Comunicação tem remédio: a comunicação nas relações interpessoais em saúde. São Paulo, edições Loyola. ISBN 85-15-02553-1.

VASQUES, Christiane Inocêncio; SANTOS, Daniella Soares; CARVALHO, Emília Campos - Tendências da pesquisa envolvendo o uso do toque terapêutico como uma estratégia de enfermagem. Res-Publica: Acta Paul Enferm. [Em linha]. Nº24 (2011) [Consult. 2013-02-11]. Disponível em WWW:URL:http://www.scielo.br/pdf/ape/v24n5/19v24n5.pdf.

WATSON, Jean (2002). Enfermagem pós-moderna e fu-tura: um novo paradigma da enfermagem. Loures, Lu-sociência. ISBN 972-8383-37-1.

WATSON, Jean (2002). Enfermagem: ciência humana e cuidar: uma teoria de enfermagem. Loures, Lusociência. ISBN 972-8383-33-9.

Page 21: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

CIÊNCIA & TÉCNICA

21

ENTRADA DO ARTIGO DEZEMBRO 2012

RESUMOA gravidez na adolescência é uma problemática presente na nossa sociedade, associada, essen-cialmente, ao baixo nível socioeconómico, me-narca e início da atividade sexual precoces. Por outro lado, os riscos que advêm são muito graves, quer para o feto/recém-nascido, quer para a mãe. Assim, é necessário intervir precocemente, para prevenir complicações a curto e a longo prazo.Este artigo é uma revisão da literatura, focando as principais causas, fatores de risco e intervenções que podem prevenir a gravidez na adolescência.

Palavras-Chave: gravidez; adolescência

ABSTRACTThe adolescent pregnancy is a problem in our so-ciety, mainly associated to the low socioeconomic level, menarche and the beginning of early sexual activity. On the other hand, the risks that come are very serious, both for the fetus/newborn, ei-ther for the mother. Thus it is necessary to inter-vene early to prevent complications in the short and long term.This article is a review of the literature, focusing on the main causes, risk factors and interventions that can prevent pregnancy in adolescence.

Keywords: pregnancy; adolescents

GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA Uma problemática social

MARCO ANTÓNIO COUTINHO PINTOCATARINA FONTE BOA SANTOSCATARINA ISABEL OLIVEIRA ALVESLÚCIA DIAS BERTOLO PEREIRA

ANA LUÍSA CRUZ NETOMARIANA RUGE ANDRADE GONÇALVESAlunos estagiários do 3.º Ano do Curso de Licenciatura em Enfermagem. Escola Superior de Enfermagem do Porto.

Page 22: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

NO

VEM

BRO

201

4CIÊNCIA & TÉCNICA

22

A gravidez na adolescência é considerada, desde o fi nal da década de 40 do século XX, um problema de saúde pública, aumentando a partir da década de 60, contribuindo para mudanças socias e culturais na vida das mu-lheres (MELO & COELHO, 2011).

Entre as conquistas femininas dessas dé-cadas, a dissociação entre atividade sexual, casamento e reprodução deu oportunidade à mulher em aceder aos métodos contraceti-vos, permitindo e contribuindo para a cons-trução da sua autonomia e liberdade repro-dutiva. Estas conquistas não foram acompa-nhadas por políticas públicas educacionais e de saúde direcionadas às suas necessidades sexuais, o que contribuiu para o aumento da gravidez na adolescência nessas décadas (MELO & COELHO, 2011).

Em Portugal, a prevalência da gravidez na adolescência ronda os 14%, estando as-sociada a um aumento da atividade sexual na adolescência (SILVA et al, 2012). Relativa-mente aos restantes países da Europa Oci-dental, Portugal é o segundo país a registar o maior número de grávidas adolescentes, es-timando-se que cerca de doze adolescentes dão à luz, todos os dias(RODRIGUES, 2010).

De acordo com o estudo HBS/OMS (Heal-thBehaviour in School-agedChildren), 2010, cerca de 21,8% dos adolescentes que fre-quentavam o 8.º e o 10.º anos de escolarida-de são sexualmente ativos. No entanto, em Portugal, desde 2002, verifi ca-se uma ligeira diminuição do número de adolescentes que refere já ter tido relações sexuais (de 23,7% para 21,8%). Comparativamente às regiões, a atividade sexual na adolescência é mais no-tável no Centro (24,3%), seguida de Lisboa (24,1%), Algarve (23,2%), Alentejo e Norte.

Segundo SILVA et al (2012), a idade média do início da atividade sexual é de 14,68 anos,

sendo mais cedo no sexo masculino (14,2 ± 1,6 anos) relativamente ao sexo feminino (15,4 ± 1,2) e está associado a um menor aproveitamento escolar, grau de escolari-dade e menor idade materna. O desenvol-vimento da sexualidade faz parte do cresci-mento do adolescente para a sua identidade como adulto (HERCOWITZ, 2002) e parte-se do princípio de que o exercício sexual pleno é um dos direitos assegurados pelos jovens (ORLANDI & TONELI, 2005).

A gravidez na adolescência é multicausal. As causas mais apontadas para a elevada prevalência são o início precoce da ativida-de sexual, negligência no uso da contrace-ção, múltiplos parceiros (variando entre um/quatro ou mais) (SILVA et al, 2012) e menar-ca precoce (VITALLHE & AMANCIO, 2004). Segundo SANTOS & NOGUEIRA (2009), os adolescentes têm conhecimento sobre os métodos contracetivos, todavia não sabem usá-los corretamente.

Relativamente aos fatores de risco são, es-sencialmente, condições social, pessoal e cul-tural diminutas, início precoce da atividade sexual, múltiplos parceiros, desresponsabili-zação e negligência no uso de contracetivos, associadas à falta de consultas de planea-mento familiar (SILVA et al, 2012), abandono escolar, baixo nível de escolaridade, ausên-cia de planos futuros, repetição do modelo familiar (segundo MONTEIRO et al, 1994, cit in SANTOS & NOGUEIRA, 2009, em 70% dos casos estudados, a mãe da adolescen-te também foi mãe na adolescência), baixa auto-estima, abuso de álcool e drogas (RO-DRIGUES, 2010). FIGUEIREDO, PACHECO & MAGARINHOS (2005) acrescentam a mono-parentalidade, ausência do pai, instituciona-lização precoce, abuso físico ou sexual, insta-bilidade, inadequação ou falta de supervisão

Page 23: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

CIÊNCIA & TÉCNICA

23

familiar. SANTOS & NOGUEIRA (2009) ainda apontam o pensamento mágico dos adoles-centes de que não engravidarão ao iniciarem a vida sexual. Por sua vez, HERCOWITZ (2002) refere também caraterísticas defi nidoras da adolescência, como a sensação de invulnera-bilidade e omnipotência, a impulsividade e a despreocupação com o futuro, relativamente ao atos feitos no presente.

Face á imaturidade física, desenvolvimen-tal e psíquica, a gravidez na adolescência acarreta maior número de difi culdades obs-tétricas e de problemas de saúde comparati-vamente a uma gravidez de mãe adulta (IR-VINE et al, 1997, cit in FIGUEIREDO, PACHECO & MAGARINHOS, 2005). Na adolescência há maior probabilidade de morbilidade materna e fetal, associada a uma vigilância negligen-ciada; pré-eclâmpsia, anemia, infeções, parto pré-termo, complicações no parto (lesões no canal de parto e hemorragia - YAZLLE, 2006) e puerpério (endometrite, infeções, deiscên-cia, difi culdade para amamentar – YAZLLE, 2006), perturbações emocionais (RODRI-GUES, 2010); menor progressão escolar/pro-fi ssional, desemprego, emprego mal remu-nerado ou instabilidade no emprego, proble-mas no relacionamento com o companheiro, separação ou divórcio, níveis elevados de psicopatologia, maior número de crianças com atraso no desenvolvimento cognitivo, baixo relacionamento escolar e problemas de comportamento (FIGUEIREDO, PACHE-CO & MAGARINHOS, 2005). YAZLLE (2006) aponta ainda abandono escolar, por pressão da família, colegas e professores, vergonha e por a adolescente pensar que “não é ne-cessário estudar”. Por sua vez, os recém-nas-cidos nascem prematuros e com baixo peso à nascença (RODRIGUES, 2010); o APGAR é mais baixo, há maior frequência das infeções

respiratórias, trauma obstétrico, doenças perinatais e mortalidade infantil (VITALLE & AMANCIO, 2004). Quanto ao pai, VITALLE & AMANCIO (2004) descrevem abandono dos estudos e ingresso em trabalhos que, muitas vezes, divergem das suas qualifi cações.

No entanto, a experiência de gravidez na adolescência não é necessariamente um fa-tor limitante em oportunidades de formação profi ssional e da procura de um futuro me-lhor (DIAS & TEIXEIRA, 2010). Num estudo realizado com adolescentes, PANTOJA (2003), citado por DIAS & TEIXEIRA (2010) constatou que a gravidez na adolescência fortaleceu a permanência das jovens na escola, uma vez que a escolaridade estava associada, na opi-nião dessas jovens, às noções de ser alguém na vida para oferecer melhores condições a um fi lho.

Outro problema que se associa à gravi-dez na adolescência é o aborto. De acordo com dados da DGS (2012), em 2011, cerca de 11,1% das interrupções voluntárias das gra-videzes foram realizadas por adolescentes (idades compreendidas entre 15 e 19 anos), sendo o pico de abordos (22,4%) realizados em mulheres com idades compreendidas en-tre os 20 e 24 anos. Em Portugal, de acordo com a Lei da Portaria n.º 741-A/2007 de 21 de Junho, a interrupção da gravidez pode ser realizada até às 10 semanas de gestação, em que a mulher pode escolher o estabele-cimento de saúde ofi cial onde deseja efetuar a interrupção, dentro dos condicionamentos da rede de referenciação aplicável.

Face a esta problemática, a prevenção da gravidez na adolescência torna-se funda-mental e prioritário para a sociedade. Uma das estratégias implementadas em Portugal é a educação sexual em meio escolar (Lei n.º 60/2009, 6 de Agosto, regulamentada pela

Page 24: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

NO

VEM

BRO

201

4CIÊNCIA & TÉCNICA

24

PORTARIA N.º 196-a/2010, de 9 de Abril), in-centivando um atraso no início da atividade sexual e fornecendo informações relativas à contraceção. Esta deve ter como fundamen-to capacitar os jovens adolescentes para a tomada de decisão, resolução de problemas e pensamento crítico, de forma a terem au-tonomia para escolherem os comportamen-tos de saúde corretos (SILVA et al, 2012). A educação sexual em meio escolar deve ser realizada em parceria com os Cuidados de Saúde Primários e Pediatra, motivando para a vigilância da saúde sexual, divulgando as instituições e locais onde a podem fazer gra-tuitamente e confi dencialmente.

De acordo com RODRIGUES (2010), no fu-turo que começa agora, compete à Família, à escola e às Instituições de Saúde contribuir para a formação dos adolescentes. SANTOS & NOGUEIRA (2009) corroboram esta afi rma-ção, advogando que é fundamental construir um espaço onde pais, familiares, escola, ado-lescentes, professores e profi ssionais de saú-de possam dialogar, de modo a obter uma melhor resposta social e ganhos em saúde. Por outro lado, afi rmam que é imprescindí-vel o diálogo entre pais e fi lhos, visto que a família é o primeiro modelo e o referencial para que o adolescente enfrente o mundo e as experiências futuras.

Em suma, e de acordo com CANAVARRO & PEREIRA (2006, cit in BRÁS & PEREIRA, 2011) a gravidez na adolescência em vez de ser uma experiência única e especial, passa por ser uma experiência inoportuna, por um conjunto de razões ligadas à falta de auto-nomia pessoal, fi nanceira, e falta de apoio, as quais podem tornar a gravidez num proble-ma emocional, de saúde e mesmo potencia-dor de exclusão.

BIBLIOGRAFIABRÁS, Cláudia; PEREIRA, Anabela - Promoção da saúde de grávidas adolescentes: Estudo prévio de identifi cação de necessidades. Millenium. 40 (2011) 69�81.BUCHER, Nobre Ferro; PANTOJA, Florinaldo Carreteiro; QUEIROZ, Cristiane Holanda; SURSIS. Júlia - Adolescentes grávidas: vivências de uma nova realidade. Psicologia Ciência e Profi ssão. 27:3 (2007) 510-21COELHO, Edméia de Almeida Cardoso; MELO, Mônica Cecília Pimentel de - Integralidade e cuidado a grávidas adolescentes na Atenção Básica. Ciência & Saúde Coletiva. Rio de Janeiro. ISSN 1413-8123. 16:5 (2011) 2549-58DIAS, Ana Cristina Garcia; TEIXEIRA, Marco Antônio Pereira - Gravidez na adolescência: um olhar sobre um fenômeno complexo. Paideia. Ribeirão Preto. ISSN 0103-863X. 20:45 (2010) 123-31DIREÇÃO GERAL DE SAÚDE - Relatório dos registos das interrupções da gravidez ao abrigo de lei 16/2007 de 17 de abril: Dados referentes ao período de janeiro a dezembro de 2011. Divisão de Saúde Reprodutiva e Divisão de Estatística da Saúde. Lisboa: Ministério da Saúde, 2012FIGUEIREDO, Bárbara; PACHECO, Alexandra; MAGARINHO, Rute - Grávidas adolescentes e grávidas adultas diferentes circunstâncias de risco?. Ata Médica Portuguesa. Ordem dos Médicos. 18 (2005) 97-105MATOS, M.G. [et al] & Equipa do Projeto Aventura Social e Saúde - A saúde dos adolescentes portugueses: Relatório português do estudo HBSC 2010. 1.ª Edição. Lisboa: Centro de Malária e Outras Doenças Tropicais /IHMT/UNL; FMH/ Universidade Técnica de Lisboa, 2012. ISBN: 978-989-95849-5-2 Disponível em: http://aventurasocial.com/publicacoes.php RODRIGUES, R. M.- Nascer e Crescer. Porto. XIX:3 (2010)SANTOS, C. A. C.; NOGUEIRA, K. T. - Gravidez na adolescência: falta de informação?. Adolescência & Saúde. 6:1(2009) 48-56 SILVA, H. M.; FERREIRA, S.; ÁGUEDA, S.; ALMEIDA, A. F.; LOPES, A.; PINTO, F. - Sexualidade e risco de gravidez na adolescência: desafi os de uma nova realidade pediátrica. Ata Pediátrica Portuguesa. Sociedade Portuguesa de Pediatria. 43:1 (2012) 8-15VITALLE, M.; AMANCIO, O. - Gravidez na Adolescência. (2004). Disponível na Internet: http://www.pjpp.sp.gov.br/2004/artigos/11.pdf YAZLLE, M. - Gravidez na Adolescência. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. Rio de Janeiro. 28:8 (2006) 443-45

Page 25: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

CIÊNCIA & TÉCNICA

25

RESUMOO nascimento de uma criança tem um grande im-pacto na vida de uma mulher, exigindo-lhe adap-tações aos mais diversos níveis (biológico, físico, adaptação ao papel maternal, social, vida profi s-sional, vida do casal, etc). Não obstante, o olhar abrangente pelos enfermeiros sobre as puérperas torna-se essencial, devendo considerar-se não só as suas difi culdades e experiências, mas também os aspetos mais particulares destas, de forma a conduzi-las para uma resolução do problema mais efetiva.

Palavras-Chave: Self-image; Puerpério.

ABSTRACTThe birth of a child has a great impact on a wom-an’s life, requiring adaptations at different levels (biological, physical, adaptation to maternal role, social, professional life, married life, etc). Never-theless, the comprehensive look of nurses at the postpartum woman is essential, and should con-sider not only their diffi culties and experiences, but also their most private aspects on this matter in order to conduct them to a more effective resolu-tion of the problem.

Keywords: Self-image; Puerperium

A VIVÊNCIA DA IMAGEM CORPORAL NO PUERPÉRIO

BÁRBARA SOFIA DA SILVA CARDOSO FERNANDESEstudante do 4º ano do Curso de Licenciatura em Enfermagem, na Escola Superior de Enfermagem do Porto

ENTRADA DO ARTIGO JULHO 2012

Page 26: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

NO

VEM

BRO

201

4CIÊNCIA & TÉCNICA

26

INTRODUÇÃOO puerpério é uma fase que se inicia ime-

diatamente após o parto, sendo sinónimo de mudanças na mulher, as quais visam prepa-rar o seu corpo e sistemas para o restabele-cimento dos seus estados anteriores à gravi-dez (SALIM, N. R.; ARAÚJO, N. M.; GUALDA, D. M. R., 2010).

Aquando do nascimento de uma criança, a mulher vê-se perante novos papéis e no-vas responsabilidades às quais tem de dar resposta, a par das imensas alterações físicas que perceciona e sente e que simultanea-mente difi cultam a sua reorganização pes-soal, relacional e social. Contudo, o acompa-nhamento das puérperas com este olhar ho-lístico, atento e direcionado para si mesmas, muitas vezes é protelado em detrimento das necessidades emergentes do recém-nascido e sobre o qual recaem todas as atenções num período mais imediato.

As mulheres são assim como que ne-gligenciadas no acompanhamento da sua adaptação à imagem corporal, estando até sujeitas a juízos de valor ou ideias pré-con-cebidas por parte dos profi ssionais de saúde que adiam as suas preocupações com a re-cuperação física para mais tarde, salientan-do sempre a importância da amamentação e dos cuidados ao recém-nascido.

Posto isto, torna-se importante alertar os profi ssionais de saúde, nomeadamente, os enfermeiros para a necessidade emergente de efetivar este acompanhamento às recen-tes puérperas, pelo que se torna fulcral iden-tifi car os principais entraves apresentados por estas mulheres durante a sua adaptação.

ObjetivoA fi nalidade desta revisão sistemática da

literatura é compreender de que forma a alte-

ração da imagem corporal infl uencia o resta-belecimento das rotinas anteriores à gravidez durante o puerpério, mais especifi camente, identifi car quais os fatores associados à par-te física da mulher que infl uenciam a vivência do puerpério e identifi car quais as estratégias utilizadas pelas puérperas para lidarem com as suas alterações físicas após o parto.

METODOLOGIACom o intuito de orientar esta revisão sis-

temática da literatura, de forma a atingir os objetivos estabelecidos para a mesma, for-mulou-se a seguinte questão: De que forma as puérperas lidam com a sua imagem cor-poral no pós-parto?

De modo a responder a esta questão e com recurso à base de dados EBSCO Host, efetuou-se uma pesquisa utilizando os des-critores “Image” e “Puerperium”, sendo os mesmos em inglês, a fi m de abranger o maior número de artigos possível. Foram obtidos um total de 20 artigos, os quais foram se-lecionados com base nos seguintes critérios de inclusão: serem textos completos; serem datados entre 2000 e 2011; apresentarem te-mas/títulos pertinentes em relação ao tema em estudo.

Aplicados estes critérios, restaram 5 arti-gos, que após a leitura dos respetivos resu-mos, foram submetidos ao critério de exclu-são – abordarem a problemática incluída na questão orientadora -, tendo assim restado apenas 4 artigos, sobre os quais versa esta revisão.

RESULTADOSApós a leitura e análise dos artigos sele-

cionados, cujos dados constam no quadro I,

Page 27: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

CIÊNCIA & TÉCNICA

27

categorizaram-se os resultados obtidos nos mesmos em quatro áreas distintas: 1) Corpo/imagem de si mesmas; 2) Vivência da sexua-lidade; 3) Bem-estar, que engloba a autoes-tima, autoconfi ança e afi rmação como mãe/mulher; 4) Mudança de comportamentos/adoção de estratégias.

1) Corpo/imagem de si mesmas: Relativamente à sua imagem corporal, as

mulheres experienciam uma insatisfação em relação ao seu corpo no período pós-parto menor, comparativamente com 6 meses de-pois deste ocorrer, em parte devido ao fato de numa fase mais precoce verifi carem mu-danças corporais diárias, aliado à preocupa-ção relativamente à sua recuperação perineal (SALIM, N. R.; ARAÚJO, N. M.; GUALDA, D. M. R., 2010; CARTER- EDWARDS, L.; [et al.], 2010; RALLIS, S.; [et al.], 2007).

Transversal a todos os estudos, foi o fato de as mulheres categorizarem a imagem cor-poral em duas vertentes, isto é, em imagem corporal ideal, cujos corpos são mais esguios e magros, mais semelhantes à sua imagem pré-gravídica e, em imagem corporal mater-na, sendo aqui admitidos os formatos cor-porais mais “largos” e mais próximos da sua imagem atual.

Deste modo, pode-se afi rmar que as puérperas consideram a sua imagem como um indicador da sua capacidade e qualida-de para desempenharem o papel maternal (CARTER- EDWARDS, L.; [et al.], 2010; RALLIS, S.; [et al.], 2007).

2) Vivência da sexualidade: Durante o puerpério, a vivência da se-

xualidade é um dos itens que sofre altera-ções. Uma das razões que está na base des-te receio é o de as puérperas não estarem

à vontade com as mudanças no seu corpo, sobretudo no que toca à produção de leite, ao aumento de peso e por terem efetuado episiotomias receando que a relação preju-dicasse ou atrasasse a recuperação perineal (SALIM, N. R.; ARAÚJO, N. M.; GUALDA, D. M. R., 2010; RALLIS, S.; [et al.], 2007).

Além disso o receio da retoma da vida sexual verifi cado em diversas puérperas (SA-LIM, N. R.; ARAÚJO, N. M.; GUALDA, D. M. R., 2010; RALLIS, S.; [et al.], 2007) deve-se sobre-tudo ao medo da insatisfação do parceiro, à baixa motivação para retomar a sexualidade e também por indesejarem uma nova gravi-dez (SALIM, N. R.; ARAÚJO, N. M.; GUALDA, D. M. R., 2010; RALLIS, S.; [et al.], 2007).

3) Bem-estar (inclui a autoestima, auto-confi ança e afi rmação como mãe/mulher):

De acordo com a análise efetuada, no período pós-parto, as mulheres tendem a sentir-se menos atraentes, o que se refl ete na sua autoestima e autoconfi ança (SALIM, N. R.; ARAÚJO, N. M.; GUALDA, D. M. R., 2010; RALLIS, S.; [et al.], 2007), em parte devido ao facto de as puérperas compararem a sua imagem com a de outras mulheres que nem tinham vivenciado a experiência de serem mães (nomeadamente, com fi guras públicas) (RALLIS, S.; [et al.], 2007).

Um outro aspeto relevante é o de as mu-lheres afro-americanas apresentarem maio-res níveis de autoestima e de bem-estar com a sua imagem após o parto do que as mulhe-res caucasianas, pois culturalmente associam corpos maiores a uma melhor capacidade para alimentarem e cuidarem dos seus be-bés (CARTER- EDWARDS, L.; [et al.], 2010), o que infl uencia a forma como se adaptam a este novo papel, salientando mais uma vez a importância da cultura na adaptação a novas

Page 28: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

NO

VEM

BRO

201

4CIÊNCIA & TÉCNICA

28

situações e condições de vida.Não obstante, os autores dos estudos

consultados nesta revisão sistemática da li-teratura constataram que as puérperas não eram capazes de ver em si qualidades que pudessem continuar a satisfazer os compa-nheiros, o que consequentemente gerava uma corrente de insegurança na mulher que afetava diretamente o reinício da atividade sexual, tendo repercussões para a relação entre o casal (SALIM, N. R.; ARAÚJO, N. M.; GUALDA, D. M. R., 2010; RALLIS, S.; [et al.], 2007). Além disso, as puérperas afi rmaram ainda ter vergonha da sua imagem perante a sociedade, pois quanto mais tempo passava desde o parto, consideravam que mais difí-cil seria relacionar a sua nova imagem com uma gravidez recente, sendo que o esperado pela sociedade é que as mulheres recupe-rem o seu peso inicial rapidamente, surgin-do este como um fator condicionador para a recuperação do seu bem-estar (SALIM, N. R.; ARAÚJO, N. M.; GUALDA, D. M. R., 2010; CARTER- EDWARDS, L.; [et al.], 2010; RALLIS, S.; [et al.], 2007).

4) Mudança de comportamentos/adoção de estratégias:

No que respeita à mudança de comporta-mentos, um dos artigos analisados constatou que, algumas mulheres referiam estar mais calmas e menos egoístas após o parto com-parativamente ao período anterior à gravidez (SALIM, N. R.; ARAÚJO, N. M.; GUALDA, D. M. R., 2010), pois colocavam as necessidades do bebé em primeiro lugar, em detrimento das suas, além de se sentirem mais à vontade para partilharem os carinhos e atenção dos companheiros com os seus fi lhos.

Contudo, o facto de não se sentirem bem com a sua imagem corporal atual, leva-

va a que as puérperas adotassem novas es-tratégias para lidarem com esta situação, no-meadamente, não fi carem despidas em fren-te aos companheiros; fugirem dos mesmos para evitar o contato e a exposição perante estes (SALIM, N. R.; ARAÚJO, N. M.; GUALDA, D. M. R., 2010; RALLIS, S.; [et al.], 2007); es-conderem mais o corpo em roupas mais lar-gas e menos ousadas, fi cando desconfortá-veis aquando da presença de outras mulhe-res (SALIM, N. R.; ARAÚJO, N. M.; GUALDA, D. M. R., 2010). Por este conjunto de fatores, uma parte signifi cativa das mulheres, referia ainda adotar padrões de exercício e dietas promotoras da recuperação da forma ante-rior ao parto (KIMBERLEY, A. G.; GAMMAGE, K. L., 2010; RALLIS, S.; [et al.], 2007).

DISCUSSÃOImediatamente após o parto, a mulher

sente a necessidade de reorganizar o seu dia-a-dia tanto a nível social, como profi s-sional, íntimo e também a nível pessoal. Por todo este conjunto de fatores, devemos ter em consideração os aspetos infl uenciadores da forma como a mulher vive o puerpério, sendo a cultura e o suporte emocional ade-quado (companheiro, família, amigos, etc), os fatores mais decisivos para que a mulher se adapte tanto ao papel maternal, como seja capaz de solucionar e ultrapassar os seus medos, inseguranças e dúvidas.

Assim, após a realização desta revisão sis-temática da literatura, podemos perceber que a forma como uma mulher se perceciona e se sente infl uencia positiva ou negativamente a sua adaptação ao papel maternal e, conse-quentemente o seu restabelecimento anterior ao período da gravidez, emergindo assim a necessidade de intervirmos neste domínio.

Page 29: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

CIÊNCIA & TÉCNICA

29

Nome do Estudo Ano Autores ObjetivosMetodologia

(Instrumentos utilizados)

Conclusões

• Body and sexuality: Puerperas’ experience

2010

Natália Rejane Salim, Natalúcia Matos Araújo, Dulce Maria Rosa Gualda

- Determinar como as mulheres lidam com a sexualidade e as alterações corpo-rais durante o puer-pério.

Qualitativo (Entrevista e Observação)

As conceções que as puérperas têm sobre os seus corpos relacionam-se com a ideologia do corpo biológico, pois sentem-se desconfortáveis nos seus corpos o que afeta a sua au-toestima, autoimagem, sexualidade e o relacionamento com os seus companheiros. O puerpério envol-ve inúmeras transformações, sendo necessário a valorização por parte dos profi ssionais de saúde destes aspetos durante este período.

• Body Image and Body Satisfaction Differ by Race in Overweight Postpartum Mothers

2010

Lori Carter-Edwards, Lori A. Bastian, Jessica Revels, Holiday Durham, Yuliya Lokhnygina, M. Ahinee Amamoo, Truls Ostbye

- Determinar se exis-tem diferenças ra-ciais entre a imagem corporal e a satisfa-ção com o corpo en-tre obesas afro-ame-ricanas e mulheres caucasianas aos 6 meses após o parto.

Estudo qualitativo e quantitativo (Questionários)

Existem diferenças raciais no puer-pério relativamente ao peso, às imagens ideais e à satisfação com o seu corpo. Cabe aos profi ssionais de saúde emitir mensagens que te-nham em consideração estas perce-ções e fatores racialmente distintos, aquando do desenho de programas de perda de peso para mães obesas.

• Health versus ap-pearance messages, self-monitoring and pregnant women’s intentions to exercise postpartum

2010Anca Gaston, Kimberley L. Gammage

- Comparar a efi ciên-cia de uma mensa-gem promotora da saúde versus promo-tora da aparência em mulheres durante o período do pós--parto.

Quantitativo (Questionários)

O conteúdo das mensagens que apelam ao exercício no puerpério é irrelevante, pois as mesmas podem ser entendidas de forma semelhan-te, podem não despertar o interesse para a sua leitura ou podem até ter ambas o resultado positivo de in-centivo ao exercício.

D. Predictors of Body Im-age During the First Year Postpartum: a Prospective Study

2007

Sofi a Rallis, Helen Skouteris, Eleanor H. Wertheim, Susan J. Paxton

- Explorar as mudan-ças na imagem cor-poral à medida que as mulheres viven-ciam o primeiro ano após o parto;- Explorar os fatores que às 6 semanas e aos 6 meses de pós--parto predizem a insatisfação corporal no fi nal do primeiro ano após o parto.

Quantitativo (Questionários)

As puérperas experienciam maio-res níveis de insatisfação com o seu corpo no pós-parto do que em relação ao período pré-gravídico e no fi nal da gravidez, sendo o perío-do mais crítico os 6 meses após o parto. As imagens corporais ideais, mantêm-se estáveis tanto às 6 se-manas como aos 6 meses após o parto.

Quadro I – Desenho dos estudos selecionados

Conclusões – Implicações para a práticaAtualmente ainda se verifi ca que os cui-

dados de Enfermagem após o parto, ainda estão muito centralizados nos cuidados ao recém-nascido, havendo um acompanha-mento insufi ciente das puérperas nesta fase.

A falta de informação sobre o processo de recuperação que decorrerá no puerpério, bem como a desvalorização daquilo que as mulheres sentem/verbalizam em relação à sua imagem corporal, tornam-se nos princi-pais obstáculos à procura de ajuda junto dos

Page 30: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

NO

VEM

BRO

201

4CIÊNCIA & TÉCNICA

30

profi ssionais de saúde, difi cultando a vivên-cia desta experiência.

Neste sentido, é incontornável a neces-sidade de os enfermeiros que prestam cui-dados às puérperas adotarem uma postura voltada para a identifi cação de aspetos prá-ticos que sejam passíveis de infl uenciar a re-cuperação da imagem corporal anterior ao parto, sejam eles fatores sociais, económicos, educacionais, etc, para que possam precoce-mente auxiliar e orientar as puérperas para a adoção de estratégias que as ajudem a solu-cionar estes problemas.

Não obstante, seria de extrema pertinên-cia construir/organizar serviços de acompa-nhamento às puérperas após a alta hospi-talar, para que assim se garantisse a conti-nuidade de cuidados e o acompanhamento destas mulheres, criando-se assim mais oportunidades de intervenção e de promo-ção da saúde.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASCARTER- EDWARDS, Lori; [et al.] – Body Image and Body Satisfaction Differ by Race in Overweight Postpartum Mothers. Journal of Women’s Health. Vol. 12, Nº 2. (2010), p. 305-311. [Consult. 26 Jun. 2012]. Disponível na internet: <URL:http://web.ebscohost.com/ehost/pdfviewer/pdfviewer?sid=cf81c38b-240a-488f-b820-9aa57b9e90d9%40sessionmgr11&vid=6&hid=122>.KIMBERLEY, Anca Gaston; GAMMAGE, Kimberley L. – Health versus appearance messages, self-monitoring and pregnant women’s intentions to exercise postpartum. Journal of Reproductive and Infant Psychology. Vol.28, Nº 4. (2010), p. 345-358. [Consult. 26 Jun. 2012]. Disponível na internet: <URL:http://web.ebscohost.com/ehost/pdfviewer/pdfviewer?sid=cf81c38b-240a-488f-b820-9aa57b9e90d9%40sessionmgr11&vid=6&hid=15>.RALLIS, Sofi a; [et al.] – Predictors of Body Image during the First Year Postpartum: a prospective study. Women & Health [Em linha]. Vol. 45. (2007), p. 87-104. [Consult. 26 Jun. 2012]. Disponível na internet: <URL:http://web.ebscohost.com/ehost/pdfviewer/pdfviewer?sid=cf81c38b-240a-488f-b820-9aa57b9e90d9%40sessionmgr11&vid=8&hid=122>.

SALIM, Natália Rejane.; ARAÚJO, Natalúcia Matos; GUALDA, Dulce Maria Rosa – Body and Sexuality: Puerperas’ Experiences. Rev. Latino-Am. Enfermagem. (2010), p. 732, 739. [Consult. 26 Jun. 2012]. Disponível na internet: <URL:http://web.ebscohost.com/ehost/pdfviewer/pdfviewer?sid=cf81c38b-240a-488f-b820-

9aa57b9e90d9%40sessionmgr11&vid=6&hid=122>.

Page 31: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

CIÊNCIA & TÉCNICA

31

RESUMOA técnica da relactação é um processo em que há um estímulo da glândula mamária para res-tabelecimento da produção de leite. O presente trabalho tem como objectivo identifi car a evi-dência empírica produzida acerca da inclusão da técnica da relactação nas práticas clínicas dos Enfermeiros de Neonatologia. Foi realizada uma revisão sistemática da literatura, tendo por base a pesquisa em motores de busca, nomeadamente a Biblioteca do Conhecimento Online (b-on) e a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), onde resultou a análise de dez artigos. Os artigos analisados evidenciam que a técnica da relactação é promo-tora do sucesso no aleitamento materno e apesar dos entraves, tanto na amamentação como na relactação, o apoio dos profi ssionais de saúde e da família são fundamentais para que estas sejam bem sucedidas. Tal contribui para uma melhoria signifi cativa da relação mãe/fi lho.

Palavras-Chave: Enfermagem Neonatal. Aleita-mento Materno. Transtornos da Lactação

ABSTRACTRelactation technique is a process in which there is a stimulus of the mammary gland for the rein-statement of milk production. This work aims to identify the empirical evidence produced about the inclusion of relactation technique in clini-cal practice of Neonatal Nurses. There has been a systematic literature review, based on a research into search engines, such as Biblioteca do Conhecimento Online (b-on) and the Virtual Health Library (VHL), which led to the analy-sis of ten articles. The articles analyzed show that the relactation technique promotes the suc-cess in breastfeeding and despite the barriers in both breastfeeding and in relactation, support from health professionals and family are essen-tial for them to be successful. That contributes to a signifi cant improvement in the mother / son relationship.

Keywords: Neonatalogy Nursing. Breastfeeding. Lactation Disorders

INCLUSÃO DA TÉCNICA DA RELACTAÇÃO EM NEONATOLOGIA

Revisão sistemática da literatura

BRUNO PINTOEnfermeiro. Centro Hospitalar do Alto Ave, EPE

FERNANDO FERREIRAEnfermeiro. Centro Hospitalar do Alto Ave, EPE

MARIA LUZEnfermeira

MÉLANIE MARTINSEnfermeira. Centro Hospitalar do Alto Ave, EPE

SÍLVIA SALAZAREnfermeira. Hospital Privado da Trofa

ENTRADA DO ARTIGO JULHO 2012

Page 32: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

NO

VEM

BRO

201

4CIÊNCIA & TÉCNICA

32

INTRODUÇÃOOs recém-nascidos admitidos numa uni-

dade de Neonatologia, pelas suas particu-laridades, têm necessidades específi cas que requerem a intervenção de uma equipa mul-tidisciplinar com formação e competências distintas. Situações como a prematuridade, o baixo peso, a infecção, entre outras, são pro-blemáticas com as quais os enfermeiros de Neonatologia se deparam diariamente.

A difi culdade em estabelecer ou manter o processo de aleitamento materno é um risco comum a todos os neonatos internados nes-tas unidades especializadas. Cabe à equipa de enfermagem, em particular, a promoção e o apoio ao aleitamento materno.

O aleitamento materno num período ini-cial exclusivo, até aos seis meses de vida, traz inúmeras vantagens, tanto a curto como a longo prazo, reconhecidas pela própria OMS. Estima-se que a prática da amamen-tação poupa a vida a 6 milhões de crianças por ano, sendo responsável pela redução da incidência de infecções respiratórias agudas e distúrbios gastrointestinais (OMS, 1992).

No entanto, no decurso da nossa prática clínica, são inúmeras as vezes com que nos deparamos com obstáculos à manutenção do aleitamento materno em recém-nascidos internados na Neonatologia, existindo mes-mo casos em que essas difi culdades levam ao fi m do mesmo. Face a esta realidade, ten-tamos em alguns casos recorrer à utilização da técnica da relactação para ultrapassar essa difi culdade. Esta técnica pode ser defi -nida como “o processo pelo qual a glându-la mamária é estimulada para produzir leite numa mulher que esteve grávida e que, por várias razões, não tem ou deixou de ter capa-cidade de produzir leite sufi ciente para ama-mentar o seu fi lho. Este processo não depende

do facto da mulher ter tido uma gravidez de termo, nem de ter amamentado ou não fi lhos anteriores” (Bordalo, p.II, 2008).

Enquanto Enfermeiros de Neonatologia, verifi camos que a implementação desta téc-nica, bem como a sua manutenção, coloca alguns obstáculos vivenciados quer pelas mães, quer pelos enfermeiros das unidades. Perante este facto, consideramos pertinente realizar uma pesquisa sistemática e elabora-da do tema em questão. Assim, o presente trabalho tem como principal objectivo iden-tifi car a evidência empírica produzida sobre a inclusão da técnica da relactação nas prá-ticas clínicas dos Enfermeiros da Neonato-logia. Para linha condutora da revisão ques-tionamos: Os Enfermeiros da Neonatologia incluem, nas suas práticas clínicas, o treino da técnica da relactação aos pais do recém--nascido?

METODOLOGIANo sentido de atingir o objectivo ante-

riormente citado, considera-se pertinente a revisão sistemática da literatura, uma vez que se pretende “aprofundar certos aspectos do tema de estudo e fazer o ponto da situação sobre o seu contributo para o avanço dos co-nhecimentos” (Fortin, p.109, 2009).

Esta abordagem permite um acesso fácil e rápido ao conhecimento científi co actual sobre o tema, de forma a sintetizar resul-tados de estudos realizados em diferentes contextos e espaços temporais. Proporciona também uma análise crítica e refl exiva sobre o tema em estudo, com o intuito de suge-rir a realização de investigações posteriores (Mendes et al., 2008).

Nesta revisão foram utilizados como mo-tores de busca a Biblioteca do Conhecimento

Page 33: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

CIÊNCIA & TÉCNICA

33

Online (b-on) e a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), entre 1 de Dezembro de 2010 e 31 de Março de 2011. Na pesquisa foram consulta-das diferentes bases de dados disponibiliza-das automaticamente, num total de quarenta e nove artigos, dos quais dois vão de encon-tro à problemática em análise e oito eviden-ciam os factores que facilitam ou difi cultam o aleitamento materno. Os restantes artigos foram excluídos tendo por base os critérios de inclusão que serão evidenciados na quadro 1.

Quadro 1 – Critérios de inclusão dos estudos a seleccionar

Critérios de inclusão

Data 2001 a 2011

Praticantes Enfermeiros de Neonatologia

IntervençãoEstudar a Inclusão da técnica da Relactação pelos Enfermeiros de Neonatologia

Artigos Completos de resultados de investigação

Contexto do estudo

Estudos realizados em contexto de Enfermagem Neonatal

Desenho do estudo

Abordagem qualitativa ou quantitativa ou triangulação

Após a exposição da metodologia na qual baseamos a nossa revisão bibliográfi ca pro-cedemos de seguida à apresentação e análi-se crítica dos dados

APRESENTAÇÃO E ANÁLISE CRÍTICA DOS DADOSNo processo de selecção dos artigos,

confrontamo-nos com um número reduzido de publicações recentes relacionadas com a temática em estudo. Consideramos assim pertinente a introdução de artigos que evi-

denciam alguns factores positivos ou nega-tivos no aleitamento materno, dado que a relactação está implicitamente associada à amamentação/aleitamento materno. Como tal, a amostra foi classifi cada em duas cate-gorias: artigos relacionados com a relactação e artigos relacionados com o aleitamento materno. Deste modo, a análise foi realizada seguindo esta mesma orientação, demons-trada na quadro 2.

Na primeira categoria – artigos relacio-nados com a relactação – Fuenmayor et al. (2004) avalia a resposta da aplicação da téc-nica da relactação em mães que abandona-ram a amamentação. Segundo este autor, 40% das mães produziram leite ao sexto dia após iniciada a relactação, constatando ainda uma melhoria na relação psicoafectiva mãe/fi lho (12% antes e 80,6% após o inicio da téc-nica da relactação). Por sua vez, verifi cou-se também um aumento signifi cativo dos pa-râmetros antropométricos dos lactentes três meses após o início da relactação.

No artigo de Su Jin Cho et al. (2010), que teve por base uma análise retrospectiva de 135 mães, das quais 84 foram incluídas na análise fi nal, foram evidenciados como fac-tores associados ao sucesso na relactação: o acompanhamento dos profi ssionais de saú-de, o uso de galactogogos e um suporte fa-miliar adequado. Da amostra fi nal, 75% tive-ram sucesso na transição para o aleitamento materno exclusivo com a relactação. Entre os factores apontados pelas mães como ra-zão para o abandono desta prática (25% da amostra fi nal), estavam os seguintes: frus-tração gerada pela produção insufi ciente de leite (43%); fadiga psicológica por ama-mentar (14,3%); ganho ponderal insatisfató-rio (14,3%); lesões mamilares (14,3%); forte

Page 34: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

NO

VEM

BRO

201

4CIÊNCIA & TÉCNICA

34

Cate-gorias

ReferênciaBibliográfi ca

Participantes/Amostra

Metodolo-gia Objectivos Resultados Major

Art

igos

rel

acio

nado

s co

m a

Rel

acta

ção

FUENMAYOR, V. J. G. [et al.] – Relactancia metodo exitoso para reinducir el amamantamiento en madres que abandona-ron la lactancia natural. Anales Venezuelanos de Nutrición, Caracas (Janeiro 2004). Vol.17, nº1, p.12-17. ISSN 0798-0752.

50 mães e fi lhos com idades 2-5 meses, hospitalizados no Serviço de emergên-cia de Pediatria do Hospital universitário de Maracaibo desde Outubro 2001 até Agosto 2002.

Estudo prospectivo, descritivo e transversal.

Avaliar a resposta da aplicação da técnica da relacta-ção como método favorecedor para induzir a produção de leite em mães que abandonaram a amamentação.

A relactação favoreceu o estado nutricional e a relação psicoafectiva entre mãe/fi lho.

CHO, Su J. [et al.] – Fac-tors Related to Success in Relactacion. Journal Korean Society Neona-tology, Seul (Novembro 2010). nº17, p. 232-238. ISSN 2093-7849.

84 mães, de Janeiro de 2004 a Abril de 2007.

Analise retrospectiva de registos médicos e inquérito telefónico a mães que visitaram a clínica de relactação.

Avaliar os factores relacionados com o sucesso na relac-tação.

O sucesso na relactação está associado ao acompa-nhamento de profi ssionais de saúde, uso de galacto-gogos e suporte familiar.

Art

igos

rel

acio

nado

s co

m o

Ale

itam

ento

Mat

erno

BICALHO-MANCINI, Paula G.; VELÁSQUEZ--MELÉNDEZ, Gustavo – Aleitamento materno exclusivo na alta de recém-nascidos interna-dos em berçário de alto risco e os factores as-sociados a essa prática. Jornal de Pediatria, Rio de Janeiro (2004). Vol.80, nº3, p.241-248.

495 Crianças, 250 (50,5%) do período pré-HAC (Hospital Amigo da Criança) e 245 (49,5%) do perío-do pós-HAC da Ma-ternidade Odete Va-ladares, Minas Gerais, entre Maio de 1998 e Maio de 2000.

Estudo quantitativo.

Avaliar a prevalên-cia e o padrão de aleitamento ma-terno num grupo de recém-nascidos internados em ber-çário de alto risco no momento da sua alta hospitalar e analisar os poten-ciais factores que interferem na prá-tica do aleitamento materno exclusivo.

A implementação HAC, os factores biológicos e maternos, além da presta-ção de serviços de saúde orientada para a promoção do aleitamento materno, podem ser importantes para o sucesso do aleita-mento materno em recém--nascidos (RN) de alto risco.A alimentação por sonda, a relactação, o baixo peso ao nascimento, a idade gestacional menor que 37 semanas e o índice de Apgar ao 1º minuto igual ou inferior a 7 pontos, mostraram ser factores que infl uenciaram nega-tivamente o aleitamento materno exclusivo.

VIERA, Claudia S. – Ris-co para amamentação inefi caz: um diagnóstico de enfermagem. Revista Brasileira de Enfer-magem, Brasília (Nov/Dez 2004). Vol.57, nº6, p.712-714.

Amostra 35 mães que tiveram os seus fi lhos prematuros hospitali-zados na Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais (UCIN).

Estudo de casoEntrevistas e exames físi-cos durante 4 meses.

Apresentar o diagnóstico de enfermagem risco para amamentação inefi caz em mães com fi lho prematuro hospitalizados numa UCIN, com aplica-ção do processo de enfermagem da North American Nursing Diagnoses Association – NAN-DA (1999).

Encontrou-se o diag-nóstico de risco para amamentação inefi caz em 100% da amostra, tendo como factores de risco: prematuridade, oportu-nidade insufi ciente para a amamentação ao seio, devido ao recém-nascido estar hospitalizado, défi ce de conhecimento quanto à manutenção da lactação, medo materno, sucção à mama inconstante devido à separação, alimentação artifi cial de RN.

Quadro 2 – Síntese das evidências encontradas

Page 35: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

CIÊNCIA & TÉCNICA

35

Art

igos

rel

acio

nado

s co

m o

Ale

itam

ento

Mat

erno

JÚNIOR, Walter S.; MAR-TINEZ, Francisco E. - Im-pacto de uma interven-ção pró-aleitamento nas taxas de amamentação de recém-nascidos de muito baixo peso. Jornal de Pediatria, Rio de Janeiro (Nov. 2007). p. 541-546.

100 recém-nascidos pré-termo e suas mães.

Estudo pros-pectivo e se-quencial, por ordem de nascimento com divisão em grupo experimental e grupo con-trole.

Avaliar o impacto de um modelo de incentivo ao alei-tamento materno baseado no apoio e orientação de mães de recém-nascidos pré-termo nas taxas de aleitamento ma-terno nos primeiros 6 meses após a alta hospitalar.

Atitudes simples de apoio à mãe durante interna-mento e o seguimento no ambulatório infl uenciaram de forma muito positiva as taxas de aleitamento materno.

SILVA, Rosangela V.; SILVA, Isília A. – A vivên-cia de mães de recém--nascidos prematuros no processo de lactação e amamentação. Revista de Enfermagem, Rio de Janeiro, Escola Anna Nery (2009). Vol.13, nº1, p.108-115.

11 Mulheres, que deram à luz bebés prematuros no Hos-pital Universitário da Universidade de São Paulo.

Estudo qua-litativo com entrevista semi-estru-turada.

Compreender a vivência da ama-mentação de mães de recém-nascidos prematuros durante o internamento dos seus fi lhos e descre-ver a performance de amamentação, condições das suas mamas e lactação, por ocasião da alta dos fi lhos.

A forma como as mães percepcionam o estado clínico dos seus fi lhos é determinante para o su-cesso da amamentação.A alimentação por sonda, a separação física mãe/bebé durante o internamento, bem como, a falta de apoio no domicílio foram considerados factores que difi cultam a amamentação.

MIKIEL-KOSTRYA, Kry-styra; MAZUR, Joanna; WOJDAN-GODEK, Elz-bieta – Factors affecting exclusive breastfeeding in Poland: cross-section-al survey of population-based samples. Institute of Mother and Child, Varsóvia (2005). p. 52-59.

1º Inquérito: 11973 pares Mãe – bebé de 427 maternidades em 19952º Inquérito: 898 crianças de 14115 escolhidas ao acaso em 1997.

Estudo transversal.

Identifi car os fac-tores que afectam o aleitamento ma-terno exclusivo na maternidade e du-rante os primeiros 6 meses de vida.

Os factores mais signifi ca-tivos nos cuidados hospi-talares foram: cesariana, início da amamentação após as 2h, falta de con-tacto pele a pele, uso de chupetas, separação mais de 1h/24h e problemas de saúde do RN.Depois da alta hospitalar: uso de chupetas, relutância das mães no aleitamento exclusivamente materno superior a 4 meses, baixo nível de escolaridade dos pais.

LAMONTAGNE, Caroline; HAMELIN, Anne-Marie; ST-PIERRE, Monik – The Breastfeeding experi-ence of women with major diffi culties who use the services of a breastfeeding experi-ence clinic: a descriptive study. International Breastfeeding Journal, Quebec (2008). Vol.3, nº17, p. 13.

86 mulheres no ano de 2006.

Estudo descritivo com ques-tionários por telefone e entrevistas semi-estru-turadas.

Descrever a expe-riência de amamen-tação por parte das mulheres que recor-rem a uma clínica de amamentação no Quebec.

Dor no mamilo/seio, baixa produção de leite e difi cul-dades na técnica da ama-mentação foram os três problemas mais relevantes identifi cados.O suporte da família, de amigos e dos profi ssionais de saúde foram os factores que mais infl uenciaram positivamente o aleitamen-to materno.

Page 36: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

NO

VEM

BRO

201

4CIÊNCIA & TÉCNICA

36

recusa do bebé (4,8%); engravidar (4,8%); e entraves familiares (4,8%).

De entre outros estudos do fi nal do sé-culo XX, um destacou-se pela relevância dos seus resultados em relação à categoria em análise. No estudo de Lakhkar et al. (1999), realizado com vinte mães lactantes de bebés com idades compreendidas entre um mês e um ano que deixaram de amamentar (num período de duas semanas a quatro meses) verifi cou-se que as causas deste fracasso fo-ram: 40% das mães deixaram de produzir lei-te, 30% apresentavam lesões mamilares, 25% eram mães que já trabalhavam e 5% estavam relacionadas com a educação das mães. Constatou-se também que lactentes alimen-tados por biberão apresentavam maior difi -culdade no processo de amamentação. No fi nal da primeira semana de implementação do processo de relactação, 60% das mães começaram a produzir leite, resultados mais signifi cativos quando comparados com os

40% do estudo de Fuenmayor et al. (2004). Também na revisão sistemática da litera-

tura de Mariano (2011), tal como no estudo de Lakhkar et al. (1999), o acompanhamento por parte dos profi ssionais de saúde para a motivação e orientação das mães no proces-so de relactação é um factor determinante para o sucesso do mesmo, facto esse, que fi cou evidenciado nos dois artigos que cons-tituíram a primeira categoria de análise.

Na segunda categoria – artigos relaciona-dos com o aleitamento materno – os estu-dos de Bicalho-Mancini (2004), Cláudia Viera (2004), Júnior e Martinez (2007) e Rosangela Silva (2009) tiveram como população-alvo RN considerados de alto risco, que em al-gum momento estiveram internados numa unidade especializada. Aspectos biológicos (idade gestacional maior que trinta e sete semanas, peso ao nascer superior a dois mil e quinhentos gramas e RN com menos de três diagnósticos de doença durante o inter-

SILVA, Andréa V. [et al.] – Fatores de risco para o desmame pre-coce na perspectiva das puérperas-resultados e discussão. Revista do Instituto de Ciências da Saúde, São Paulo (2009). Vol.27, nº3, p. 220-225.

8 Puérperas acima de 18 anos, atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), em São Paulo.

Pesquisa ex-ploratória e descritiva de abordagem qualitativa, com recurso a entrevista semi-estru-turada.

Identifi car e analisar factores de risco para o desmame precoce na perspec-tiva das puérperas.

As intervenções de en-fermagem nas consultas pré-natais e pós-parto são fundamentais para a promoção do aleitamento materno. Porém, muitos factores infl uenciam para o desmame precoce, tais como: retorno ao traba-lho, desinteresse, mitos, dor nas mamas e falta de orientação no pré-natal.

VIEIRA, Graciete O.[et al.] – Fatores preditivos da interrupção do alei-tamento materno ex-clusivo no primeiro mês de lactação. Jornal de Pediatria, Rio de Janei-ro (2010). Vol.86, nº5, p.441-444.

1.309 duplas mães--bebés, residentes no município de Feira de Santana,ao longo de 12 meses, desde 2004.

Estudo de coorte.

Avaliar a incidência e os factores de risco para mastitelactacional e outros desfechos em cur-to e médio prazo relacionados com a amamentação.

No primeiro mês de vida do lactente, dentre todas as variáveis testadas, qua-tro mantiveram-se asso-ciadas à interrupção muito precoce do aleitamento materno exclusivo: estabe-lecimento de horários fi xos para amamentar, ausência de experiência prévia com amamentação, uso de chu-peta e presença de fi ssura mamilar.

Page 37: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

CIÊNCIA & TÉCNICA

37

namento) e maternos (número de consultas pré-natais igual ou superior a seis consultas), bem como, o início precoce (antes dez dias) de sucção à mama e a implementação do HAC são referenciados por Bicalho-Mancini (2004) como condicionantes positivas para o sucesso da amamentação. O apoio por parte dos profi ssionais de saúde (Bicalho-Mancini, 2004 e Júnior e Martinez, 2007) e a evolução clínica dos RN (Rosangela Silva, 2009) foram vistas como determinantes para alcançar o sucesso nesta prática.

Por outro lado, a alimentação por sonda, a translactação, a prematuridade, a separação forçada mãe/fi lho, o défi ce de conhecimen-tos relativos à amamentação, a insegurança materna e a alimentação artifi cial do RN, fo-ram descritos como entraves à amamenta-ção dos RN de alto risco.

Ainda inseridos na segunda categoria, nos demais artigos analisados relativos a RN sem factores de risco associados, verifi camos que há factores negativos e positivos relacio-nados com uma boa prática do aleitamento materno e que vão de encontro aos artigos anteriormente explorados. Posto isto, Mikiel--Kostrya, et al. (2005) identifi caram a separa-ção mãe/fi lho, a cesariana, o início da ama-mentação após duas horas do nascimento, a relutância das mães no aleitamento exclusi-vamente materno superior a quatro meses e o baixo nível de escolaridade dos pais, como condicionantes negativas. A baixa produção de leite e as difi culdades na técnica da ama-mentação são referidos por Lamontagne, et al. (2008) também como agentes difi culta-dores. Silva, et al. (2009) identifi caram o re-torno ao trabalho, o desinteresse por parte das mães, os mitos e a falta de orientação no período pré-natal como condicionantes que infl uenciam o desmame precoce. Por sua vez,

Vieira, et al. (2010) referenciaram que no pri-meiro mês de vida do lactente, a ausência de experiência prévia com a amamentação e o estabelecimento de horários fi xos para amamentar são variáveis desfavorecedoras. Como factores negativos comuns destaca-ram-se: a dor nas mamas, referidos por La-montagne, et al. (2008), Silva, et al. (2009) e Vieira, et al. (2010), e o uso de chupeta, evi-denciados por Mikiel-Kostrya, et al. (2005) e Vieira, et al. (2010).

Em contrapartida, destes quatro estudos relacionados com RN sem factores de risco associados, apenas dois, Lamontagne et al. (2008) e Silva et al. (2009), salientaram, como variáveis promotoras do sucesso na ama-mentação, o apoio e acompanhamento dos profi ssionais de saúde no período pré e pós--natal, bem como o suporte familiar adequa-do.

Em algumas revisões bibliográfi cas en-contradas, podemos destacar os trabalhos de Gaíva et al. (2006) e de Nascimento et al. (2004) já que reafi rmam o papel preponde-rante dos enfermeiros no apoio às mães para o aleitamento materno. Para Nascimento et al. (p.163, 2004) “Amamentar prematuros ainda é um desafi o, mas é factível desde que haja apoio e suporte apropriados, principal-mente pelos profi ssionais de saúde. As mães de prematuros necessitam de mais informa-ções sobre a importância da amamentação para que possam tomar decisões sobre a nu-trição dos seus fi lhos”, tal como, foi referido por Bicalho-Mancini (2004) e Júnior e Marti-nez (2007). Gaíva et al. (p. 260, 2006) reforça que “o êxito da amamentação está na depen-dência do preparo técnico, das emoções da mãe, e do comportamento das pessoas que a cercam” e “é fundamental o treinamento ade-quado dos profi ssionais e agentes de saúde

Page 38: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

NO

VEM

BRO

201

4CIÊNCIA & TÉCNICA

38

que darão apoio/suporte às mães que estão amamentando para o manejo apropriado do aleitamento materno”.

No sentido de contrariar a tendência refe-rida por Lawrence e Lawrence (2005), citado por Bordalo (p.79, 2008), em que os “organis-mos mundiais de vigilância de lactação afi r-mam que 95% das mães estão aptas a ama-mentar. Sendo assim, haveria uma pequena porção de cinco por cento em que a amamen-tação podia falhar. No entanto, é conhecido que nos países desenvolvidos a percentagem de fracasso é muito superior em mães que de-sejam amamentar”, a relactação assume um papel preponderante no restabelecimento do aleitamento materno.

Tendo por base os pressupostos anterio-res, é sugerida por vários autores a melhoria da actuação e do acompanhamento da equi-pa de enfermagem no período pré e pós--natal, uma vez que este parece ser fulcral para o sucesso, tanto da relactação, como da amamentação.

A frustração provocada pela reduzida produção de leite e o cansaço físico e psi-cológico, assim como as difi culdades na im-plementação das técnicas (de relactação e de amamentação), são os principais entraves sentidos ao longo da nossa prática clínica, que vêm também de encontro ao que foi descrito pelos vários autores dos artigos que constituíram a nossa amostra.

CONCLUSÃO Após uma análise global e sistematizada,

quer dos artigos que constituíram a amostra, quer do material que auxiliou na discussão de dados, pudemos constatar que os enfermei-ros/profi ssionais de saúde desempenham um papel fundamental para ultrapassar as

difi culdades no processo de relactação e amamentação. Compete aos profi ssionais de saúde apoiar as mães que pretendem levar a cabo este processo durante o internamento hospitalar, no domicílio e nas consultas de seguimento de saúde infantil, munidos de todos os conhecimentos teórico-práticos as-sociados a esta técnica.

Não obstante, as difi culdades encontra-das no processo de relactação, tanto pelas mães, como pelos profi ssionais de saúde, não diferem dos entraves apontadas pelos autores que se focaram na implementação da amamentação natural.

Apesar do reduzido número de artigos directamente relacionados com a questão orientadora, concluímos que o processo de relactação melhora substancialmente a re-lação mãe/fi lho, com uma taxa de sucesso signifi cativa no restabelecimento da ama-mentação. Como tal, as vantagens alcança-das com a implementação desta técnica são evidentes, não sendo tão claro nos artigos analisados, se os Enfermeiros de Neonato-logia incluem nas suas práticas clínicas, o treino da técnica da relactação aos pais do recém-nascido.

O desenvolvimento deste trabalho teve um forte impacto na nossa actuação como profi ssionais de enfermagem de Neonato-logia. A consciencialização das difi culdades sentidas pelas mães de recém-nascidos con-tribuiu para a melhoria da nossa prestação de cuidados, visto que nos permitiu anteci-par alguns desses obstáculos e atenuar o seu impacto.

Por fi m, dado o período de tempo limita-do para pesquisa (quatro meses), o acesso a bases de dados gratuitas em quatro idiomas e a reduzida literatura actualizada disponível (inferiores a onze anos), parece pertinente a

Page 39: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

CIÊNCIA & TÉCNICA

39

realização de investigação nesta área com critérios de inclusão mais abrangentes e que procure demonstrar se os Enfermeiros de Neonatologia incluem esta técnica nos seus cuidados.

REFERÊNCIASBORDALO, Joana D. - Aleitamento Materno: Relac-tação e Lactação Induzida. Covilhã: Universidade da Beira Interior, 2008. p.117 Tese de Mestrado.CLOHERTY, John P.; EICHENWALD, Eric C.; STARK, Ann R. – Manual de Neonatologia. 5ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. p.120-125. ISBN 85-277-1030-7.FORTIN, Marie-Fabienne – Fundamentos e etapas do processo de investigação. Loures: Lusodidata, 2009. p.100-109. ISBN 978-989-8075-18-5.GAÍVA, Maria A. M.; MEDEIROS, Leodiana S. – Lactação insufi ciente: uma proposta de atuação do enfermeiro. Ciência, Cuidado e Saúde, Maringá (Maio/Ago 2006). Vol.5, nº2, p.255-262.LAKHKAR, Bhavana B.; SHENOY, Vijaya D.; BHASKARA-NAND, Nalini – Relactation-Manipal experience. Indian Pediatrics, India (1999). Vol.36, nº7, p.700-703.LEVY, Leonor; BÉRTOLO, Helena – Manual de Alei-tamento Materno. Lisboa: Comité Português para a UNICEF/Comissão Nacional, 2008. p.1-45. ISBN 96436.MARIANO, Grasielly J. S. – Relactação: Identifi cação de práticas bem sucedidas. Revista de Enfermagem Re-ferência, Coimbra (Mar 2011). III Série, nº3, p. 163-170.

MENDES, Karina D. S. [et al..] – Revisão integrativa: mé-todo de pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto & Contexto – En-fermagem, Florianópolis (Oct./Dec. 2008). Vol.17, nº4, p.758-764. ISSN 0104-0707.NASCIMENTO, M. B. R.; ISSLER, H. – Aleitamento materno em prematuros: manejo clínico hospitalar. Jornal de Pediatria, Rio de Janeiro (2004). Vol.80, nº5, p. 163-172.PETRONILHO, Fernando A. S. – A transição dos mem-bros da família para o exercício do papel de cuidadores quando incorporam um membro dependente no auto cuidado: uma revisão da literatura. Revista investiga-ção em enfermagem (Fev. 2010). p. 43-58.SIMOES, Adeildo – Manual de Neonatologia. Rio de Janeiro: MEDSI, 2002. p.1-22. ISBN 85-7199-306-8.TAMEZ, Raquel N.; SILVA, Maria J.P. – Enfermagem na UTI Neonatal: Assistência ao Recém-nascido de Alto Risco. 4ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009. p.179-191. ISBN 978-85-277-1541-6.UNICEF – Amamentar o seu Bebé: Informação im-portante para mães novas. p.1-16. World Health Organization. Indicators for assessing breastfeeding practices. Update. Programme Control Diarrhoeal Dis 1992. Vol.10, p.1-4.World Health Organization/UNICEF. Proteção, pro-moção e apoio ao aleitamento materno: o papel especial dos serviços de saúde. Genebra, 1989.

Page 40: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

NO

VEM

BRO

201

4CIÊNCIA & TÉCNICA

40

RESUMOO sono é uma necessidade fundamental para o desenvolvimento da criança e para uma boa saú-de física e mental. Os pais desempenham um pa-pel central para a promoção de hábitos de sono adequados nos seus fi lhos, mas esta capacidade exige uma aprendizagem que nem sempre é va-lorizada no processo de prestação de cuidados de enfermagem e que se revela na escassez de investigação relacionada com esta área temática.O presente estudo tem como objectivo, reconhe-cer as estratégias de Enfermagem que ajudam os pais na promoção do sono do seu fi lho.Insere-se numa abordagem qualitativa. A amos-tra foi constituída por dezoito crianças hospitali-zadas, com idades compreendidas entre os dois e os catorze anos, acompanhadas pelos seus pais. Como instrumentos de recolha de dados foram utilizadas: a entrevista semi-estruturada e a ob-servação participante, integradas no âmbito da prestação de cuidados de Enfermagem. Os dados foram analisados através da técnica de análise de conteúdo.Foram identifi cados hábitos de sono desadequa-dos nomeadamente, na ausência de horários de sono regulares, deitar a horas tardias e dormir em número de horas insufi cientes O sono representa uma área de preocupação e difi culdade parental, ao nível emocional e cognitivo, sendo que os cui-dados de enfermagem possuem potencial para responder a estas necessidades, com ganhos para o bem-estar e saúde das crianças e família.

Palavras-Chave: Cuidados de Enfermagem, Sono, Criança, Pais

ABSTRACTSleep is a fundamental need for the develop-ment of the child and a good physical and men-tal health. Parents play a central role to promote proper sleep habits in children, but this requires a learning ability that is not always valued in the process of providing nursing care and that reveals a paucity of research related to this subject area. This study aims to recognize Nursing strategies to help parents in promoting their child's sleep. Part of a qualitative approach. The sample con-sisted of eighteen hospitalized children, aged from two to fourteen, accompanied by their par-ents. As instruments of data collection were used: a semi-structured interviews and participant ob-servation, integrated in the provision of nursing care. Data analysis was performed using content analysis. Were identifi ed inadequate sleep habits, such as: the absence of sleep schedules, going at late hours to bed and insuffi cient number of hours of sleep. Nursing strategies were simultaneously tar-geted to parents and children. The children sleep represents an area of concern and diffi culty, pa-rental emotional and cognitive level, where nurs-ing care have the potential to meet these needs, with gains for the welfare and health of children and family

Keywords: Nursing, Sleep, Child, Parents

PROMOÇÃO DO SONO DA CRIANÇA Estratégias de enfermagem para a capacitação parental

A. FAROEnfermeira no Serviço de Internamento de Medicina Materno Fetal do Hospital Santa Maria, CHLN, EPE

E. LOPESEnfermeira no Serviço de Reumatologia, Endocrinologia e Medicina E no Hospital Santa Maria, CHLN, EPE

NÁDIA CRISTINA SIMÕES CARDOSOEnfermeira no Serviço de Internamento de Medicina Materno Fetal do Hospital Santa Maria, EPE

ENTRADA DO ARTIGO JUNHO 2012

Page 41: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

CIÊNCIA & TÉCNICA

41

INTRODUÇÃO A necessidade de sono é um processo

comum a todos os seres vivos e é impres-cindível na manutenção da saúde, rendimen-to diário e qualidade de vida das pessoas (WHO, 2004). O estudo objectivo do sono é relativamente recente e remonta a meados dos anos 50 do século XX, sendo que o in-teresse sobre a temática foi aparentemente despoletado pela emergência de doenças e situações de desconforto com ela relaciona-das (Soares, 2010).

As perturbações do sono, tais como a di-fi culdade em adormecer e a interrupção fre-quente do sono, diminuem a capacidade de manter a atenção e de mobilizar os recursos intelectuais e processos cognitivos da crian-ça (Montagner, 1998). Outro estudo, apon-ta para uma morbilidade neste grupo etário relacionada com a prevalência das taxas de lesões e ferimentos e uma maior propensão a comportamentos de risco em crianças que apresentam distúrbios de sono, sugerindo consequências signifi cativas nas crianças a curto e longo prazo ao nível da função cog-nitiva, comportamental e social (Owens et al, 2005). O estudo desenvolvido por Lee e Ward (2005 p. 739), aponta como uma das principais razões para o aumento do défi ce de atenção nas crianças, o sono insufi cien-te, e vem ainda acrescentar neste contexto Montplaisir (2007), que a falta de sono noc-turno, especialmente na primeira infância, pode afectar o desempenho cognitivo da criança na escola mesmo que esses padrões de sono se normalizem mais tarde, realçando a necessidade de uma criança dormir pelo menos dez horas por noite, especialmente até aos três anos e meio de idade,

Os problemas de sono têm sido ainda associados a problemas ao nível do siste-

ma familiar da criança, e nesta perspectiva, Eckerberg (2004) refere que “quando os pais percepcionam os frequentes despertares nocturnos na pequena infância como pro-blemáticos, está associado um aumento do risco de problemas comportamentais vários anos depois, tais como o stress familiar e de-pressão materna” (p. 126).

Destacamos neste enquadramento que cada criança possui os seus próprios ritmos biológicos associados a “um programa in-terno, fi xado no código genético e que são infl uenciados por factores exteriores de-signados de «sincronizadores»” (Mendes, 2005, p.101). De facto, os hábitos de vida são adquiridos no ambiente familiar e so-cial e repercutem-se nas condições de saú-de dos indivíduos, e os hábitos de sono não são excepção. Importa ainda clarifi car, que os hábitos de sono diferem dos padrões de sono, sendo que os primeiros constituem um conjunto de informações mensuráveis acerca da organização temporal, estrutural e fi sioló-gica do ritmo sono-vigília, ao passo que os hábitos de sono podem ser defi nidos como os comportamentos culturalmente aprendi-dos e sistematicamente adoptados pelo in-divíduo ou seu cuidador (Geib, 2007 p.564), incluindo a quantidade, a qualidade, período do dia e duração do evento (ICN, 2005).

Entendemos assim, que os pais desem-penham um papel central na promoção de hábitos1 de sono adequados nos seus fi lhos, mas esta capacidade exige uma aprendiza-gem que nem sempre é valorizada no pro-cesso de prestação de cuidados de enferma-gem e que se revela na escassez de inves-tigação relacionada com esta área temática.

1 Entendemos Hábito de sono, como o comportamento culturalmente aprendido e adaptado pelo individuo e ou seu cuidador com o propósito de favorecer o inicio ou manutenção do sono de acordo com a de� nição de Geib (2007).

Page 42: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

NO

VEM

BRO

201

4CIÊNCIA & TÉCNICA

42

Foram estas preocupações que estiveram na base deste estudo que tem como questão fundamental: Quais as estratégias de Enfer-magem que ajudam os pais na promoção do sono do seu fi lho?

Baseou-se numa metodologia qualitativa, usando como instrumentos de colheita de dados, o questionário, a análise documental e a realização e análise de diários de campo.

O SONOO sono caracteriza-se por uma redução

da actividade corporal, e da consciência, em que a pessoa não sabe de si, o metabolismo está diminuído, a postura imóvel, e a sensi-bilidade diminuída, mas que é prontamente reversível a estímulos externos (ICN, 2005).

O ciclo vigília-sono, ocorre num ritmo cir-cadiano, sendo que a sua alternância pode ser infl uenciada por factores ambientais, tais como a alternância luz-escuridão, o ruído ex-terior, a actividade física, as refeições e a so-cialização (Pimentel e Rente, 2004, p.47). Sa-be-se hoje que o hipotálamo é o centro dos mecanismos do sono, sendo o principal res-ponsável pela acção dos neurotransmissores que controlam o estado de vigília ou de sono, ao actuarem sobre diferentes grupos de célu-las nervosas no cérebro (Soares, 2010).

O sono divide-se em dois tipos básicos: O sono REM e o sono não REM sendo que o ultimo se encontra dividido em quatro fases. As fases NREM e REM ocorrem repetidamen-te segundo um padrão específi co, denomi-nado por ciclo do sono (Dinarés et al , 2004).

Sabe-se que o sono REM tem uma função estimulante das regiões cerebrais directa-mente responsáveis pela memória e apren-dizagem é ainda durante os estádios de sono profundo que é segregada a hormona do

crescimento e a prolactina que é responsá-vel pela estimulação do sistema imunitário. Enquanto dormimos, o nosso cérebro está activo e desenrolam-se vários processos de reparação nomeadamente através da reor-ganização funcional do sistema nervoso. É ainda um passo para a autonomização da criança quando esta adquire a capacidade de adormecer sem ajuda.

Quando estes estádios são suprimidos, facilmente se depreende uma probabilidade de ocorrência de consequências negativas não só ao nível do crescimento mas também ao nível da reparação de tecidos e células. A privação de sono induz efeitos negativos na criança como intolerância à dor, fadiga e di-minuição da resposta do sistema imunitário. Hábitos de sono adequados para cada idade, promovendo rotinas, rituais e a autonomia da criança são essenciais para um desenvol-vimento saudável de toda a família.

OS PAIS NA PROMOÇÃO DO SONO DA CRIANÇA HOSPITALIZADAOs pais são os principais responsáveis no

cuidado ao seu fi lho, desenvolvendo com-portamentos para responder às necessida-des da criança em desenvolvimento enquan-to ser vulnerável e dependente, correspon-dendo às expectativas da sociedade (Colliè-re,1999).

A Linguagem Classifi cada para a Prática de Enfermagem Versão 1 (ICN, 2005) defi ne Parentalidade como um foco de atenção de enfermagem, que se caracteriza por uma ac-ção de tomar conta, assumindo “as respon-sabilidades de ser mãe e/ou pai; comporta-mento destinado a facilitar a incorporação de um recém-nascido na unidade familiar; comportamentos para optimizar o cresci-

Page 43: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

CIÊNCIA & TÉCNICA

43

mento e desenvolvimento das crianças; in-teriorização das expectativas dos indivíduos, famílias, amigos e sociedade quanto aos comportamentos do papel”

Neste estudo partimos do pressuposto que o desempenho da função parental exi-ge a aprendizagem de novas competências, que tradicionalmente tem sido transmitidas de geração para geração, e que em virtude das actuais mudanças na nossa sociedade vieram impor profundas alterações à apren-dizagem e desempenho deste papel, sendo que cada vez mais os pais se encontram so-zinhos neste processo que é frequentemente acompanhado de dúvidas, necessidades e preocupações. É neste terreno que a inter-venção de enfermagem possui potencialida-des para facilitar as transições e os proces-sos de aprendizagem com elas relacionadas (Meleis, 2000).

Neste sentido Algarvio e Leal (2004), identifi caram algumas áreas de preocupação parental relacionadas com a função ou exer-cício da parentalidade e identifi caram algu-mas relacionadas com o sono e repouso da criança, tais como: a agitação durante o sono da criança, a difi culdade em adormecer ou a presença de pesadelos. Eckerberg (2004) acrescenta ainda que “ (…) nas sociedades ocidentais, um dos problemas mais comum-mente sentidos pelos pais é a gestão da hora de deitar e saber lidar com os despertares nocturnos” (p. 126). Também de acordo com os registos de pediatras, as perturbações do sono estão em quinto lugar no que respeita às preocupações dos pais; a seguir às doen-ças físicas, alimentação, problemas compor-tamentais e defi ciências físicas (Mindell et al, 2004).

Deste modo, a educação dos pais relacio-nada com o sono da criança, assume contor-

nos bastante relevantes do ponto de vista da saúde, uma vez que está em causa o saudá-vel desenvolvimento da criança.

Estando a criança hospitalizada, este acon-tecimento “…pode ser ocasião de aprendiza-gem e desenvolvimento, na medida em que a criança possa benefi ciar de relações positi-vas e apoiantes com elementos da equipa de saúde, e de uma relação mais próxima com os familiares” (Boilig et al; 1988 citado por Barros, 1998, p. 14). Por outro lado, estando os pais presentes durante a hospitalização da criança, o enfermeiro deverá desenvolver ca-pacidades que lhes permitam trabalhar com a família aspectos relacionados com o de-senvolvimento da criança (Mano, 2002).

PERCURSO METODOLÓGICOO estudo foi desenvolvido num serviço

de Pediatria de um hospital na sub-região de Lisboa e vale do Tejo, no qual são prestados cuidados de saúde diferenciados a crianças na faixa etária entre os 0 e os 15 anos de ida-de, nas áreas médicas, cirúrgicas, neurocirúr-gicas e neurotraumatológicas.

Tendo em conta uma compreensão abran-gente do fenómeno em estudo, defi nimos como objectivos:

-Identifi car os hábitos e perturbações do sono das crianças;

-Identifi car as preocupações parentais re-lacionadas com o sono da criança;

-Identifi car as necessidades parentais para a promoção do sono da criança;

-Identifi car as práticas parentais relativa-mente ao sono da criança;

-Analisar as estratégias de enfermagem que ajudam os pais a promover o sono da criança.

O estudo seguiu uma abordagem quali-

Page 44: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

NO

VEM

BRO

201

4CIÊNCIA & TÉCNICA

44

tativa, onde se pretendeu explorar e descre-ver a experiencia dos pais relacionada com o sono da criança hospitalizada.

Tendo em conta a natureza e os objecti-vos do presente estudo, usamos o método de amostragem intencional de acordo com os seguintes critérios:

Crianças com idades compreendidas en-tre os 2 e os 14 anos, acompanhadas pelos seus pais ou substitutos e estarem interna-das nos Serviços de Pediatria independente-mente da patologia.

No total fi zeram parte da nossa amostra dezoito crianças, das quais: oito estavam na faixa etária entre os dois e os seis anos e dez na faixa etária entre os sete e os catorze anos. Relativamente à dimensão da amostra, incluí-mos os participantes que nos foi possível du-rante o tempo que correspondeu ao período disponível para a realização do estágio e que correspondeu a um total de doze semanas.

Usámos como instrumentos de colheita de dados, o questionário, a análise docu-mental e observação participante com regis-to em diários de campo.

Relativamente ao questionário a sua construção resultou da análise de duas esca-las, o “Inventário dos Hábitos de Sono para Crianças Pré-Escolares” de Batista e Nunes (2006), validado para a língua portuguesa do questionário “Sleep habits inventory for preschool children” de Hayes et al. (2001) e o “Questionário sobre o Comportamento do Sono” de Batista e Nunes (2006), valida-do para a língua portuguesa do questionário “Sleep Behaviour Questionary” de Cortesy et al. (1999). Cujos itens foram a base da cons-trução de um questionário único mais redu-zido, passível de ser mobilizado no decorrer da interacção enfermeiro-cliente e na cons-trução do processo de cuidados de enferma-

gem à criança e família. Todos os dados recolhidos foram sub-

metidos à técnica de análise de conteúdo de acordo com Bardin (2004). Optámos por defi nir as categorias a priori, de acordo com os aspectos que se destacaram na revisão da literatura, nomeadamente:

-O sono da criança varia de acordo com o seu padrão e hábitos individuais, sendo que os segundos são um factor determinante para alterações identifi cadas nesta faixa etá-ria não relacionadas com a patologia, consti-tuindo a sua identifi cação um aspecto funda-mental para a promoção do sono da criança.

-Os pais são os principais responsáveis pela prestação dos cuidados à criança ma-nifestam preocupações e práticas relaciona-das com o sono, que infl uenciam a saúde e o sono da criança.

Os cuidados de enfermagem possuem potencial para promover o sono da criança e os enfermeiros desenvolvem durante o pro-cesso de cuidados à criança hospitalizada e família estratégias para promover o sono da criança.

Foram omissos nomes e qualquer infor-mação passível de identifi car os participan-tes.

Caracterização do sono das crianças Na caracterização do sono da criança fo-

ram analisados os dados referentes à existên-cia de hábitos relacionados com a manuten-ção de um horário regular de sono, número médio de horas de sono por noite, eventos durante o sono (despertares nocturnos, ter-rores nocturnos, ressonar, agitação durante o sono), autonomia para dormir, hábitos e ri-tuais de adormecimento e sonolência diurna.

No grupo das crianças com idades com-preendidas entre os dois e os seis anos,

Page 45: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

CIÊNCIA & TÉCNICA

45

identifi cámos que cinco das oito crianças possuíam hábitos de sono adequados e não manifestavam alterações relacionadas com a privação de sono. Sendo que as alterações encontradas se deveram a problemas rela-cionados com a separação dos pais e à dis-tribuição das horas de sono nomeadamente na realização de sestas tardias.

No grupo etário dos sete aos catorze anos, verifi cámos que cinco das dez crianças apre-sentavam um padrão de sono e hábitos ade-quados à idade. As alterações identifi cadas nesta faixa etária relacionaram-se com falta de autonomia para dormir, necessitando da presença dos pais para adormecer, ausência de horários regulares para dormir, deitar tar-diamente, dormir um número insufi ciente de horas, apresentavam eventos durante o sono tais como despertares nocturnos, ressonar e agitar-se durante o sono.

Necessidades e Atitudes dos pais pe-rante o sono da criança

Da análise dos nossos dados emergem três categorias que ilustram a experiência dos pais relacionada com o sono da criança: as preocu-pações, necessidades e práticas dos pais.

Relativamente às preocupações dos pais emergiram cinco tipos de preocupações no-meadamente: Lidar com os problemas de sono da criança; Gerir os horários de sono e Manter os hábitos da criança.

Da análise do discurso dos pais, percep-cionámos que o sono da criança se consti-tuía em algumas situações como uma fonte de preocupação e de difi culdade sobretudo quando os pais se confrontavam, com situa-ções como sono agitado, insónia, desper-tares nocturnos e recusa em ir para a cama. Estes resultados vão ao encontro do que é referido por Algarvio e Leal (2004), que indi-

cam como preocupações relacionadas com a necessidade de sono da criança, o sono agi-tado, difi culdade em adormecer, pesadelos e o facto de a criança não querer ir para a cama. Também Eckerberg (2004, p.126) refe-re que “ (…) nas sociedades ocidentais, um dos problemas mais comummente sentidos pelos pais é (…) saber lidar com os desperta-res nocturnos”.

Foi também presente no discurso dos pais, a preocupação em manter os hábitos da criança durante o período de hospitali-zação, preservando a rotina da criança e os horários de adormecer. Um dos pais, referiu ainda estar preocupado com a inefi cácia das estratégias usadas na promoção do sono do seu fi lho, e com a difi culdade persistente em ultrapassar os problemas de sono da criança.

Na análise considerámos o conceito de preocupação parental, mobilizado por Algar-vio e Leal (2004), enquanto uma função pa-rental que não se encontra necessariamente associada a sintomas indesejáveis, tal como os autores ressalvam. Da pesquisa realizada sobre o conceito, destacamos que apesar de pouco estudado entre nós, este parece estar relacionado com uma “…dimensão afectiva ou emocional, traduzida muitas vezes como um sentimento de mal-estar ou mesmo de medo, que conduz a uma queixa, e que podemos as-sociar a uma dimensão cognitiva e consciente e, por último, à procura da solução, ligada à acção” (Algarvio e Leal, 2004, p.147).

Através da análise do discurso dos parti-cipantes e da confrontação com outros estu-dos realizados sobre o fenómeno em ques-tão, parece-nos que as preocupações referi-das no nosso estudo encontram refl exo nos resultados de Algarvio e Leal (2004).

No que diz respeito às suas necessidades relacionadas com o sono dos fi lhos, foram

Page 46: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

NO

VEM

BRO

201

4CIÊNCIA & TÉCNICA

46

identifi cadas quatro sub-categorias: Apren-der sobre o sono da criança; Ser apoiado no que se refere aos problemas/ acontecimentos vividos pelos mesmos quanto à promoção do sono do seu fi lho; Manter a Privacidade, na medida em que a prática de co-sleeping leva muitas vezes à alteração da vida íntima do casal; Manter os padrões individuais de de sono, uma vez que a necessidade de sono dos próprios pais está muitas vezes alterada.

Ao longo da análise dos dados, verifi cámos que os pais manifestaram a necessidade de adquirir novos conhecimentos para promove-rem o sono do seu fi lho, tal como é expresso através da seguinte unidade de registo:

“Ai sim? Ela deveria dormir mais ou menos dez horas por noite?” (D.C.2.M.B.3)

Deste modo Aprender surge como uma categoria importante nos dados apresen-tados no capítulo anterior e parece-nos ser decisiva no desempenho do papel parental, nomeadamente na promoção de hábitos/padrão de sono adequados à necessidade da criança. De facto, tal como Jorge (2004) refere, os pais manifestam muitas vezes, ne-cessidades relativamente a conhecimentos e informações sobre várias dimensões relativas ao cuidar da criança.

A necessidade de apoio foi identifi cada pelos pais e parece-nos estar relacionada com as difi culdades que estes experimentam na resposta às necessidades de sono do seu fi lho e com a limitação das suas capacidades para lidarem com os problemas, tal foi ex-presso por uma mãe que chegou a referir “…Há noites em que desespero completamente...” (D.C. 1.G.2)

Em relação à privacidade emergiu no dis-curso dos pais, que as práticas de co-slee-

ping, se constituem num factor que prejudica a relação íntima do casal:

“...ele ainda dorme connosco, no meio, en-tre mim e o pai...às vezes não dá muito jeito (risos)...” (D.C.1.J.L.10)

Após procurarmos na literatura alguns dados que nos elucidassem sobre esta ques-tão, constatámos que a maioria dos estudos realizados sobre co-sleeping se debruça so-bre os aspectos relacionados com a segu-rança da criança, bem como a sua infl uência para o desenvolvimento da criança a longo prazo. Deste modo, são poucos os estudos que aprofundam o co-sleeping na vertente da privacidade do casal. Acerca da privacida-de do casal, Leersnyder (1999, p.276) refere que “…a criança ocupa as tardes e as noites e não (...) deixa [os pais] estarem um com o outro. Muitas vezes os pais suprimem toda a vida social para se ocupar do fi lho (...) já não saem, já não recebem, e as perturbações justifi cam a ausência do desejo de uma vida a dois... ”

Relativamente à necessidade de manter um padrão de sono individual, emerge no discurso dos pais que os problemas de sono da criança são referidos como um factor que prejudica a duração e qualidade do seu pró-prio sono, tal como é expresso na seguinte unidade de registo:

“...estou sempre a acordar...também se não for não me sinto descansada...é angus-tiante ouvir os gritos dele e não fazer nada...” (D.C.2.G.2)

Na categoria que nomeamos de práticas dos pais relativas ao sono da criança, foram identifi cadas as subcategorias: Manter roti-nas; promover a autonomia da criança, dor-mir com a criança, impor limites.

Page 47: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

CIÊNCIA & TÉCNICA

47

Da análise do corpus identifi camos práti-cas parentais relacionadas com a manuten-ção das rotinas relacionadas com o sono da criança mesmo em meio hospitalar, nomea-damente na gestão hora de ir para a cama. De facto, cabe aos pais criar rituais associa-dos ao deitar para facilitar a transição da ac-tividade e da excitação para um estado de calma e descanso, em que a criança possa desenvolver o seu próprio padrão de ador-mecimento (Brazelton e Sparrow; 2004). Da análise ressalta uma possível relação en-tre as preocupações e as práticas levadas a cabo pelos pais, sendo que o brincar, contar a história e beber o leite são muitas vezes as rotinas/rituais mantidos pelos pais à criança hospitalizada.

Dormir com a criança foi uma prática pa-rental, observada durante a hospitalização da criança com o intuito de transmitir segurança e afecto à criança. Sobre esta prática importa analisar as vantagens e desvantagens sobre o sono da criança e até mesmo sobre o seu desenvolvimento. Na literatura consultada a maior parte dos autores parecem ser consen-suais sobre os efeitos negativos destas práti-cas. Para Brazelton e Sparrow (2004), o facto de a criança dormir com os pais, pode con-tribuir para gerar problemas de autonomia quando os pais quiserem que a criança faça a transição para a sua própria cama. Para Geib (2007) as crianças que dormem em co-slee-ping tendem a apresentar mais distúrbios de sono, menor probabilidade de manterem um horário regular para dormir, adormecer sozi-nho ou utilizar iluminação nocturna. Como já referimos anteriormente, parece-nos que o co-sleeping poderá infl uenciar também nega-tivamente a privacidade do casal. No entanto são também evidenciadas algumas vantagens desta prática por autores como, Mckenna

(2000) citada por Geib (2007) referindo que as crianças que dormiram na cama dos pais até aos cinco anos, apresentavam na idade adulta maiores níveis de auto-estima, menos sentimentos de culpa e ansiedade e revelaram maior frequência de relações sexuais.

Relativamente a promover a autonomia da criança, observámos que alguns pais consi-deram importante que os fi lhos adormeçam sozinhos na sua própria cama usando dife-rentes estratégias, entre elas deixar a criança sozinha para adormecer.

No que diz respeito à imposição de limi-tes à criança, foram observadas difi culdades em lidar com o facto de a criança não que-rer ir para a cama à noite. Tal difi culdade foi expressa por alguns pais ao afi rmarem que muitas vezes tinham de recorrer a medidas mais autoritárias para conseguirem que a criança fosse para a cama. Uma mãe referiu mesmo “(…)Às vezes zango-me mesmo com ela e chego a ter que lhe bater para ela dor-mir” (D.C.1L.11). Esta difi culdade sugere--nos que possa ter alguma infl uência no tipo de interacção que se estabelece entre pais e fi lhos, uma vez que os pais parecem adoptar um estilo parental mais autoritário perante a desobediência da criança, impondo uma série de limites e exigindo uma estrita obe-diência. Ainda segundo Hoffman (1975), a disciplina coerciva caracteriza-se por práticas que utilizam a aplicação directa da força e do poder dos pais, levando a criança a adequar o seu comportamento às reacções punitivas dos mesmos. Ainda segundo o mesmo au-tor, estas práticas podem provocar emoções intensas, como hostilidade, medo e ansie-dade, interferindo na capacidade da criança para ajustar o seu comportamento à situação (Hoffman, 1975). Deste modo, questionamos a implicação destas medidas no desenvol-

Page 48: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

NO

VEM

BRO

201

4CIÊNCIA & TÉCNICA

48

vimento harmonioso da criança, pelo que consideramos importante que o enfermeiro possa ajudar os pais a lidar com o comporta-mento negativo da criança.

Estratégias de Enfermagem para pro-mover o sono da criança

Relativamente às estratégias de Enferma-gem que ajudam os pais na promoção do sono das crianças emergiram a partir da aná-lise do corpus em três categorias: Proporcio-nar conforto / segurança para dormir; Educar e Orientar e Apoiar.

Pudemos constatar que ao longo do in-ternamento da criança, os pais experimentam vários sentimentos e emoções, desgastando--se ao nível psicológico, mas também ao ní-vel físico, pois muitas vezes já não dormem há algumas noites para cuidar do fi lho que está doente. De facto, a diminuição da qua-lidade do sono e em alguns casos até mes-mo a privação do sono foi referido pelos pais como uma das necessidades que apresentam muitas vezes ao longo da hospitalização. Por estes motivos, pareceu-nos bastante impor-tante proporcionar aos pais, algumas medidas de conforto para que também eles pudessem descansar. Uma das estratégias usadas para ajudar os pais foi transmitir que o enfermeiro está disponível para está presente para super-visionar a criança enquanto os pais descan-sam, o que se constituiu como elemento faci-litador da relação enfermeiro cliente e como recurso para os pais. Sem dúvida que os pais “…são o principal sistema de apoio e seguran-ça para a criança, pelo que devem ser encora-jados a permanecer com o fi lho durante a es-tadia da criança doente” (Barros, 1998, p. 21).

Relativamente à categoria Educar/Orien-tar, salientamos o facto de esta nos remeter para a necessidade de capacitar os pais para

lidar com os problemas de sono do seu fi lho. Benner (2005) refere a educação e orientação como uma importante função do enfermeiro e de facto, verifi cámos que esta foi a inter-venção com mais registos na análise realiza-da, tal como sugere a seguinte unidade de registo “…perto da hora de ir para a cama, esteja com atenção para ela não brincar a coi-sas que a estimulem fi sicamente, não sei se já experimentou uma massagem nas costas que por vezes ajuda, ouvir música mais relaxante, ler-lhe uma história…”(D.C.1D.P.3).

De um modo geral emergiu falta de co-nhecimentos dos pais em áreas como o de-senvolvimento/autonomia da criança, impor-tância do sono, quantidade e qualidade do sono, precisando de ajuda para compreen-der as necessidades de sono da criança e de ajustar as suas práticas de modo a responder de forma adequada à criança, concordamos com Coutinho (2004) quando refere que a capacitação dos pais passa por um proces-so de transmissão de conhecimentos espe-cífi cos e estratégias para ajudar a promover o desenvolvimento da criança. Ainda neste contexto Jorge (2004), salienta que as neces-sidades cognitivas dos pais assumem uma especial importância em situações de crise ou stress, permitindo que estes adquiram al-gum controle sobre a situação e diminuindo os sentimentos de ansiedade.

No que diz respeito à categoria ajuda/suporte, os enfermeiros actuam em relação aos pais, apoiando os pais emocionalmente sobretudo através de uma atitude de escuta e empatia, informando e fazendo por eles al-gumas actividades, para atender às suas ne-cessidades de descanso.

Page 49: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

CIÊNCIA & TÉCNICA

49

CONCLUSÃOO estudo procurou explorar a experiência

dos pais relacionada com o sono da criança hospitalizada, neste sentido identifi camos al-terações do sono relacionadas com a quan-tidade e qualidade do sono da criança. Al-gumas crianças da nossa amostra revelavam hábitos de sono inconsistentes, nomeada-mente na manutenção de hábitos regulares de sono e na capacidade para adormecer de forma autónoma.

Os pais apresentam dúvidas e receios re-lacionados com o sono dos seus fi lhos, su-gerindo os resultados que estas são mais fre-quentes em pais de crianças pequenas e ou primíparos, sendo também nestas condições que estes se mostram mais receptivos a se-rem ajudados e a aderirem às estratégias su-geridas, pelo que nos parece necessário que os enfermeiros invistam na identifi cação das suas necessidades em relação à informação e desenvolvimento de estratégias educativas. Porque se uma criança for orientada desde cedo para os bons hábitos de sono, difi cil-mente desenvolverá um problema nesta área.

Efectivamente o sono constitui uma preo-cupação para os pais, que demonstraram um defi cit de conhecimentos relacionados com o sono e desenvolvimento da criança assim como de estratégias para lidar com os pro-blemas com os quais se confrontam. As al-terações de sono da criança parecem preo-cupar os pais mais, pelo impacto directo que estas têm na sua própria vida do que pelas consequências para a saúde e desenvolvi-mento da criança, pelo que consideramos que é necessário continuar a investir na edu-cação dos pais no sentido da sua capacita-ção para responder de forma adequada às necessidades de saúde e desenvolvimento da criança.

Na hospitalização da criança os enfermei-ros desenvolvem estratégias para lidar com as necessidades imediatas dos pais para li-dar com a criança, dando apoio, ajudando na manutenção das rotinas, informando e subs-tituindo-os em algumas situações de modo a favorecer as suas próprias necessidades de sono e repouso. Parece ainda importante realçar que o sono é um problema comum entre as crianças com menos de um ano de idade, sendo que, mais de um terço das crian-ças com esta idade têm problemas de sono, o que representa uma dose extra de stress e de gasto de energia para os pais. Uma vez que este estudo se debruça sobre a promoção da capacitação parental, seria interessante a sua continuidade no contexto domiciliar.

Relativamente às limitações do estudo apontamos para o facto de ter sido realizado em contexto hospitalar, enquanto factor pas-sível de infl uenciar os padrão e os hábitos de sono da criança que não se encontrava no seu ambiente natural. Outra limitação, sentida em relação ao contexto do estudo, diz respeito ao facto de termos sentido que os pais, es-tavam mais preocupados com a patologia do seu fi lho e respectivo tratamento, sendo que o sono é remetido para segundo plano.

BIBLIOGRAFIAALGARVIO, Susana; LEAL, Isabel - Preocupações Pa-rentais: validação de um instrumento de medida. In Psicologia, Saúde & Doenças. Lisboa. Vol.5, nº 1 (2004). p. 145-158.BARROS, Luísa - As consequências psicológicas da Hospitalização Infantil: Prevenção e Controlo. In Análise Psicológica. Lisboa. ISSN: 0870-8231. vol 1 nº XVI (1998). p.11-28BATISTA, Bianca H. Brum; NUNES, Magda Lahorgue – Validação para Língua Portuguesa de Duas Escalas para Avaliação de Hábitos e Qualidade de Sono em Crianças. In Journal of Epilepsy and Clinical Neuro-physiology. Nº12, Vol. 3. 2006. p. 143-148.

Page 50: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

NO

VEM

BRO

201

4CIÊNCIA & TÉCNICA

50

BENNER, Patricia - De iniciado a Perito. 2ªed.Coimbra: Quarteto Editora, 2005BRAZELTON, T. B. & SPARROW, J. D. - O método bra-zelton: a criança e o sono. 5ª ed. Lisboa: Editorial Pre-sença, 2009COLLIÈRE, Marie Françoise - Promover a vida – da prática das mulheres de virtudes aos cuidados de enfermagem. 2ª ed. Lisboa: Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, 1999. ISBN 972-757-109-3. CONSELHO INTERNACIONAL DE ENFERMEIRAS Clas-sifi cação Internacional para a Prática de Enferma-gem (CIPE/ICNP), 2005. Versão 1.COUTINHO, Maria Teresa - Apoio à Família e For-nação Parental. In Análise Psicológica. Lisboa. ISSN: 0870-8231. vol 1 nº XXII (2004). p.55-64.DINARÉS, Cristina, ROCHA, Paulo, FERNANDES, Sónia - Distúrbios do sono na UCIP / In: Enfermagem. - Lis-boa. - ISSN 0871-0775. - S. 2, n. 34 (Abr./Jun. 2004). - p. 20-27DIOGO, Paula; RODRIGUES, Luísa – Os estilos paren-tais: determinantes no desenvolvimento da Criança e na sua capacidade de enfrentar a Doença e Hospi-talização. In Servir. Lisboa. ISSN 0871-2370. Vol.50, nº 1 (2002). p. 12-20.ECKERBERG, B. – Treatment of sleep problems in families with young children: efects of treatment on family well-being. In Acta pediátrica. Suécia. ISSN 0803-5253. Nº 93 (2004). p. 126-134. FORTIN, Marie-Fabienne - O Processo de investiga-ção: da concepção à realização. Loures: Lusociência 1999. GEIB, Lorena Teresinha Consalter – Moduladores dos hábitos de sono na infância – Brasilia: Revista Brasi-leira de Enfermagem, Vol. 60, n.º 5. (set.-Out. 2007). P.564-568.HOFFMAN, M. L. - Moral, internalization, parental power, and the nature of parent-child interaction. Developmental Psychology.11. (1975). p. 228-239.INSERM – Expertise Collective – Rithmes de l´enfant: de l´horloge biologique aux rythmes scolaires. Paris: Les Éditions Inserm, 2001. ISBN 2-85598-787-3.INTERNACIONAL COUNCIL OF NURSING, 2008, dis-ponível em http://http://www.icn.ch/defi nition.htm. Acedido em 19 de Dezembro de 2008.JORGE, Ana Maria - Família e Hospitalização da Criança. Loures: Lusociência, 2004. ISBN 972-8383-79-7.LEE, Kathryn; WARD, Teresa M. – Critical components of a sleep assessment for clinical practice settings. In Issues in Mental Health Nursing. S. Francisco. ISSN 0161-2840. Nº 26 (2005). p. 739-750. LEERSNYDER, H. de – Perturbações do sono da criança. In SERVIR. – Lisboa. –ISSN 0871-2370. - Vol. 47 – N.º5 (Set./Out. 1999).

MANO, Maria João – Cuidados em Parceria às Crianças Hospitalizadas: Predisposição dos Enfer-meiros e dos Pais. In Referência. Maio 2002. Nº8.p. 53-56.MELEIS, A.; et al. – Experiencing Transitions: An Emerging Middle- Range Theory. In Advances in nursing Science. 2000. Nº23 (V. 1). p- 12-28.MELEIS, Afaf Ibrahim - Theorical Nursing: Develop-ment and Progress. 3ª ed. Philadelphia: J. B. Lippin-cott Company, 2005. ISBN 0-7817-5767-3.MENDES, Rosa Maria das Neves – A criança, o sono e a escola. Coimbra: Formasau, 2005. ISBN 972-8485-53-0. MINDELL, J., BOAZ, A., JOFFE, M., CURTIS, S. & BIR-LEY, M. - Evidence based public health policy and practice: Enhancing the evidence base for health impact assessment. In Journal of Epidemiology Com-munity Health, 58, (2004), p. 546-55. MONTAGNER, Hubert – Les rithmes de l´enfant et de l´adolescent: ces jeunes en mal de temps et d´espace. 6ª ed. Paris: Stock Laurence Pernoud, 1991. ISBN 2-234-01642-8.MONTPLAISIR, Jacques - Crianças pequenas que dormem pouco têm mais problemas quando en-tram para a escola. 2007. Disponível em http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=23071&op=all. Acedido em 20 de Dezembro de 2008.OWENS, Judith; FERNANDO, Sandra; MC GUINN, Me-lissa – Sleep Disturbance and Injury Risk in young children. In Behavioral Sleep Medicine. Vol.3, nº1 (2005). P. 18 – 31. Pimentel, T. & Rente, P. (2004). Perturbações do ritmo circadiano vigília-sono. Em Pimentel, T. & Rente, P. (Ed.), A patologia do sono. Lousã: Lidel.PINHEIRO, M. F. R.c - Organizar a prestação de cuidados: Uma fun-ção / desafi o para o enfermeiro chefe. Servir, 42 (6) Nov. Dez 1994, 319-331.POULIZIAC, H. – Le temps du sommeil chez l´enfant. In L´homme malade du temps. Paris: Stock, 1979. WORLD HEALTH ORGANIZATION - Technical meeting on sleep and health. Recuperado em 17 de Dezem-bro de 2008, de http://www.euro.who.int/document/e84683.pdf

Page 51: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

CIÊNCIA & TÉCNICA

51

RESUMOEste artigo como objetivo abordar os critérios de prescrição, fontes e dispositivos de administração de oxigenoterapia, em doentes submetidos a OLD, bem como salientar a importância e efi cácia desta terapêutica quando associada a programas de reabilitação respiratória e ao acompanhamento por uma equipa multidisciplinar.

Palavras-Chave: Enfermagem; oxigenoterapia

ABSTRACTThis article aims to address the criteria of prescrip-tion, sources and oxygen administration devices in patients submitted to an Long Term Oxygen-therapy, as well as highlight the importance and effectiveness of this therapy when associated with respiratory rehabilitation programs and follow-up by a multidisciplinary team.

Keywords: Nursing, Long Term Oxygen-therapy

ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO E OXIGENOTERAPIA DE LONGA

DURAÇÃOVANESSA PEREIRAEnfermeira. Especialista em Enfermagem de Reabilita-ção, Licenciada em Psicologia Organizacional. Serviço 2.3 Medicina/ Dermatologia, HSAC– CHLC

VÍTOR VAZ PINTOEnfermeiro. Especialista em Enfermagem de Reabili-tação. Unidade de Cuidados Intensivos Respiratórios, HPV– CHLN

PAULO GONÇALVESEnfermeiro. Especialista em Enfermagem de Reabili-tação. Unidade de Cuidados Intensivos Respiratórios, HPV– CHLN

SANDRA CARRILHOEnfermeira. Especialista em Enfermagem de Reabilita-ção. Bloco de Exames de Gastroenterologia, HPV – CHLN

ENTRADA DO ARTIGO NOVEMBRO 2012

Page 52: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

NO

VEM

BRO

201

4CIÊNCIA & TÉCNICA

52

INTRODUÇÃOOxigenoterapia de longa duração (OLD)

é a administração de oxigénio (O2) contínua em ambiente não hospitalar, em concentra-ção mais elevada do que a que existe no ar ambiente, com o objectivo de prevenir ou tratar os sintomas e manifestações de hipo-xémia (AARC, 2007).

Em Portugal, mais de 25 mil doentes de-pendem de OLD (Barbara, 2009), como con-sequência do crescente número doenças respiratórias, que constituem actualmente a 3º causa de internamento e de morte, so-bretudo devido à poluição atmosférica e ao crescente consumo de tabaco (ONDR, 2007).

Este artigo tem por isso, como objectivo abordar os critérios de prescrição, fontes e dispositivos de administração de oxigenote-rapia, em doentes a realizar OLD, bem como salientar a importância e efi cácia desta tera-pêutica quando associada a programas de reabilitação respiratória e ao acompanha-mento por uma equipa multidisciplinar. Des-ta forma iremos inicialmente enumerar as evidências da efi cácia e principais indicações da OLD, os seus critérios de prescrição, fon-tes e dispositivos de administração. Em se-guida será dado relevo à necessidade de um programa de reabilitação respiratória, acom-panhado por uma equipa multidisciplinar na qual se insere o enfermeiro de reabilitação.

OXIGENOTERAPIA DE LONGA DURAÇÃOA prescrição de OLD tornou-se consen-

sual na década de 80, com a publicação de dois estudos, o Nocturnal Oxygen Therapy Trial Group e o Medical Research Council Working Party (Drummond et al., 2001). Es-tes estudos estabeleceram a evidência clínica

relativamente à efi cácia da OLD na doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), quando utilizada no mínimo durante 15h/dia, verifi -cando-se o aumento da sobrevida, redução das situações de cor pulmonale, benefícios neuropsicológicos, melhoria da qualidade de sono, prevenção de arritmias e redução da policitémia secundária, com a consequente redução da incidência de complicações e de hospitalizações (Nunes, 2003).

Actualmente, além da DPOC são também aceites os benefícios terapêuticos da OLD em situações de fi brose quistica, doença pul-monar intersticial, bronquectasias, doenças neuro-musculo/esqueléticas, hipertensão pulmonar e como paliativo do cancro do pul-mão (Crockett et al, 2001; Winck, 2008).

A OLD apesar de ser uma terapêutica indispensável, é também dispendiosa ten-do em conta a fraca adesão por parte dos doentes (Verduri et al, 2009). De acordo com dados da Direcção Geral de Saúde (DGS, 2005), os custos com OLD em Portugal em 2002 foram de 47,1milhões de euros e ac-tualmente estimam-se em 60 milhões de euros (Barbara, 2009). A prescrição de OLD, segundo Manresa, Sena e Caballol (2001), implica o cumprimento de 3 variáveis: a in-dicação adequada, um bom cumprimento e uma adequada correcção da hipoxémia.

PRESCRIÇÃO DE OLDAs normas de actuação para a prescrição

de OLD pressupõem a existência de insufi -ciência respiratória crónica diagnosticada mediante realização de gasometria arterial, em período estável, após recurso à reabili-tação respiratória, à cessação tabágica e sob terapêutica optimizada. Haverá indicação, quando a gasometria arterial, em repouso e em ar ambiente, apresentar: PaO2 ≤ 55

Page 53: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

CIÊNCIA & TÉCNICA

53

mmHg ou PaO2 ≥ 56 <60 mmHg, com cor pulmonale e/ou poliglobulia com hematócri-to> 55 %. A administração deverá ser ainda considerada nas condições particulares de: PaO2 ≤ 55 mmHg, no esforço e no sono não corrigida por ventilação por pressão positi-va e em situações de insufi ciência respirató-ria transitória conforme referido em AARC (2007) e DGS (2006). De acordo com a DGS (2006), não é aceitável a prescrição empírica de O2, em regime de SOS ou por curtos pe-ríodos, excepto se for paliativa.

Drummond et al (2001) referem que, ape-sar dos critérios se encontrarem estabeleci-dos, sua prescrição é frequentemente feita de forma incorrecta, havendo também a falta de um seguimento adequado destes doen-tes. Os mesmos autores salientam que, 80% dos doentes a fazer OLD não têm indicação e que apenas 10,7% dos doentes a realizar OLD cumprem a prescrição de pelo menos 15h/dia, quando a administração deverá ser contínua nas 24 horas, excepto em situações específi cas (AARC, 2007).

A prescrição de OLD deve incluir a fonte de O2, o dispositivo de interface e o débito em repouso, durante o exercício e durante o sono.

FONTE DE OXIGÉNIONo domicílio o O2 pode ser fornecido,

através de um cilindro de O2 gasoso, de uma unidade de O2 líquido ou através de um con-centrador. A escolha deverá ter em conta diversos factores, nomeadamente o critério médico, o estado clínico, o conforto e o es-tilo de vida do doente, as características do domicílio e os custos para o próprio e para o sistema de saúde (Nunes, 2003).

O oxigénio gasoso é a fonte mais habitual de administração de O2 no domicílio. Permite

débitos até 15l/min, não evapora quando ar-mazenado e é de simples manutenção. É in-dicado para doentes com mobilidade reduzi-da e dentro do domicílio. Os cilindros peque-nos podem ser deslocados com dispositivos específi cos e de acordo com a capacidade do doente. Tem como desvantagens, ter um vo-lume limitado, o que implica realizar ensino sobre a troca do regulador de pressão quan-do um cilindro termina, o que nem sempre fácil para alguns doentes e proceder a trocas frequentes dos cilindros pelo fornecedor.

O oxigénio líquido é O2 gasoso a baixas temperaturas, razão pela qual ocupa menos espaço (1l de O2 líquido = 850l de O2 gaso-so). O dispositivo é composto por duas uni-dades, uma fi xa com capacidade de reserva até 32 l utilizada no domicílio e uma portátil com capacidade até 1l, e que possibilita aos doentes desenvolver uma actividade profi s-sional e social com maior independência e autonomia fora do domicílio. Como desvan-tagens, apresenta uma evaporação espontâ-nea e contínua quando armazenado e o seu custo é mais elevado quando comparado com as outras fontes de administração, facto que implica uma avaliação rigorosa do estilo de vida e mobilidade do doente. O peso da unidade portátil (1,6kg a 3,6kg) poderá ser um inconveniente para o seu transporte ten-do alguns doentes que colocar adaptações para o facilitar. Outra desvantagem poderá ser a complexidade das manobras de enchi-mento das unidades fi xas.

Em Portugal, os doentes enfrentam ainda outro problema que é o acesso ao O2 líqui-do, devido a este não se encontra disponí-vel em todas as regiões do País e pelo facto de nem sempre Administração Regional de Saúde conceder a devida autorização para o seu fornecimento após a prescrição, haven-

Page 54: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

NO

VEM

BRO

201

4CIÊNCIA & TÉCNICA

54

do necessidade de uma avaliação individual (RESPIRA, 2009).

O concentrador de oxigénio é um aparelho que separa as moléculas de O2 do ar da atmosfera, produzindo O2 concentrado. Actualmente estes aparelhos são mais leves, pequenos e fácies de transportar, ideais co-locar em residências de difícil acesso, porque não têm problemas de fornecimento, nem complicações de segurança. Em caso de fa-lha de electricidade ou se a concentração de O2 é insufi ciente, emite um alarme sonoro, para se proceder a troca da fonte de oxigé-nio. Tem como desvantagens, a necessidade de utilizar electricidade para o seu funciona-mento, precisa de uma manutenção regular, tem alguns problemas de ruído e a maioria dos equipamentos não permite débitos> 5L/min.

Idealmente a solução para a adesão a OLD encontra-se na combinação de mais de uma fonte de abastecimento, conferindo desta forma uma solução personalizada, económi-ca e efi ciente conforme refere Nasilowski et al (2008).

Os economizadores de Oxigénio têm a capacidade de aumentar 2 a 7 vezes a auto-nomia das fontes de O2 portáteis de acordo com Castillo (2007), fornecendo O2 apenas quando é detectado esforço inspiratório, por oposição ao fl uxo contínuo dos dispositivos convencionais. Ter que detectar estímulo ins-piratório é uma das suas limitações, pois li-mita o seu uso quando o estímulo é menos intenso. Outras limitações surgem por estes equipamentos perante frequência respira-tória alta não conseguirem manter o débito programado, por necessitarem por vezes de bateria e não permitirem o uso de humidi-fi cadores. Em Portugal são pouco utilizados devido ao seu custo, encontrando-se sobre-

tudo disponíveis sistemas portáteis de O2

líquido com economizador, garantindo um conjunto leve e com maior autonomia.

DISPOSITIVOS DE ADMINISTRAÇÃOO O2 é usualmente administrado por más-

cara, sonda ou óculos nasais. Os óculos na-sais são o interface de eleição já que permite ao doente comer, comunicar e colocá-los fa-cilmente (Drummond et al., 2001). O uso de sondas nasais apesar de mais estáveis e efi -cazes que os óculos nasais são desagradáveis de colocar, implicam fi xação à face e podem obstruir (Nunes, 2003). A máscara possibili-ta débitos superiores mas, apesar de muito utilizada nos doentes agudos, para OLD não fará sentido dado o seu carácter limitador (Winck, 2008). De acordo com a DGS (2006) poderá ainda assegurar-se o fornecimento de O2 por ventilação não invasiva, quando perante OLD bem conduzida, houver situa-ções de PaCO2> 55 mmHg ou PaCO2 entre 50 e 54 mmHg associada a dessaturação noc-turna, não corrigida pelo O2 ou com mais de dois episódios por ano de insufi ciência respi-ratória aguda com internamento.

REABILITAÇÃOSegundo os estudos de Crockett et al.

(2002) e Janssens (1997) o declínio dos doen-tes hipoxémicos sob OLD ocorre devido ao facto de apresentarem uma marcada redu-ção da saúde relacionada com a diminuição da qualidade de vida, á medida que a pessoa se vai tornando mais dependente, pelo que apresentam morbilidade e mortalidade ele-vadas. Esse declínio apresenta também in-fl uência a nível da mobilidade, do padrão de sono, bem como a nível psicológico, apre-sentando quadros de depressão, ansiedade e de não satisfação com a vida.

Page 55: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

CIÊNCIA & TÉCNICA

55

Janssens (1997) e Pecham et al (1998) su-gerem que para alcançar os benefícios da OLD em termos da qualidade de vida ou bem-estar geral, deverá ser dado ênfase aos programas de reabilitação respiratória, ao uso de unidades portáteis como forma de manter e/ou aumentar a mobilidade física e ao apropriado suporte e tratamento dos distúrbios emocionais. Rous et al (2008) re-ferem ainda que a reabilitação respiratória deve ser incluída no tratamento personaliza-do do doente, com o objectivo de reduzir os sintomas, optimizar a capacidade funcional, incentivar a participação e reduzir os custos de saúde através da estabilização ou regres-são das manifestações sistémicas da doença. Para Senjyu et al (1999) só a reabilitação res-piratória e a adesão a OLD é efi caz na redu-ção da velocidade do ciclo vicioso experien-ciado por estes doentes.

Para aumentar o grau de adesão é essen-cial, de acordo com Esmond e Mikelsons (2005) que os profi ssionais de saúde tenham os co-nhecimentos adequados, a capacidade para motivar os doentes e realizar ensinos de qua-lidade, uma vez que a OLD implica uma adap-tação considerável na vida do doente/família e quanto mais informados estiverem, maior é a probabilidade de adesão e a capacidade para lidar efi cazmente com as alterações.

Neste processo de transição, é importante envolver uma equipa multidisciplinar onde se inclui o enfermeiro de reabilitação. Este terá um papel preponderante junto do doente/família no sentido de avaliar o grau de co-nhecimentos/compreensão relativos á OLD, bem como quais as expectativas face a esta terapêutica. Este profi ssional deve colaborar na realização da avaliação física, da avaliação funcional, do grau de dispneia e da qualidade de vida do doente, para auxiliar a seleccionar

a fonte de O2 e a forma de administração mais adequada, e esclarecer sobre o procedimen-to para aceder aos equipamentos e materiais. É necessário educar o doente/família sobre: oxigenoterapia, cuidados específi cos a ter com o material (como calcular a duração da fonte com base no consumo, como trocar os reguladores de pressão, como encher o reser-vatório portátil do O2 líquido, como proceder à manutenção do concentrador e dos copos de humidifi cação), quais as precauções de se-gurança relativas ao uso do O2 no que diz res-peito ao fogo e á alteração da confi guração da fonte de O2, quais as implicações e efei-tos prováveis do aumento do débito do O2, e quais os recursos existentes na comunidade. Deverá ser proporcionado tempo aos doen-tes/familiares para exporem as preocupações, assegurando maior segurança e efi cácia da oxigenoterapia. Deve ainda ser realizado ensi-no sobre a evolução da doença onde se inclua a consciencialização dos sintomas e sinais de agravamento.

Outro aspecto relevante do papel do enfermeiro, é segundo Heslop e Shannon (1996), que citam Williams (1993) auxiliar o doente a repensar as rotinas diárias e a equilibrar o tempo de acordo com a ener-gia disponível, para maximizar a capacidade funcional enquanto usa o O2. Este aspecto tem grande infl uência no contexto pessoal e social do indivíduo. É ainda fundamental, a aposta em estilos de vida saudáveis que fomentem a alimentação adequada e a ac-tividade física regular, conforme refere Crisa-fulli et al. (2007), visto que a imobilidade e a desnutrição, leva a uma diminuição da for-ça dos músculos respiratórios, da tolerância ao exercício e da qualidade de vida, além de predispor a infecções, que frequentemente são causa de hospitalização e de morte.

Page 56: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

NO

VEM

BRO

201

4CIÊNCIA & TÉCNICA

56

MonitorizaçãoO grau de adesão e os benefícios para

os doentes sob OLD são maiores perante uma monitorização adequada (Verduri et al., 2009). Esta deve incluir um controlo clínico e funcional nos primeiros 3 meses após a prescrição e posteriormente trimes-tralmente e/ou de acordo com a necessi-dade sentida pela equipa multidisciplinar. Rizzi et al (2009) refere no entanto, que se além desse controlo, houver um acompa-nhamento por uma equipa multidisciplinar através de um programa domiciliário es-pecífi co, para monitorizar os doentes e o tratamento, verifi car o equipamento, além de avaliar a própria situação clínica, e pro-mover um ensino mais personalizado ao doente/família, o grau de adesão a OLD será maior, garantindo o aumento da so-brevida e um melhor status funcional.

É no entanto relevante salientar que uma avaliação esporádica da SaO2 em repouso ou uma prova de marcha periódica, pode não refl ectir as necessidades de O2 do doente, de-vido a oxigenação modifi car-se ao longo das 24h. Para colmatar esta falha, encontram-se em desenvolvimento programas de monito-rização contínua da oximetria no domicílio, com a fi nalidade de adequar os débitos de O2

às necessidades do doente na sua vida diária (Zhu et al., 2005). Um destes programas em avaliação em Portugal é o TELEMOLD, uma parceria Hospital Pulido Valente/Centro Hos-pitalar Lisboa Norte com uma empresa de telecomunicações, em que além da avalia-ção da oximetria no domicílio, avalia simul-taneamente a actividade do doente e cruza ambos os dados. Essa informação é enviada automaticamente para uma base de dados, para ser consultados pela equipa multidisci-plinar, monitorizando de forma mais fi dedig-

namente, permitindo aferir o grau de adesão de cada doente e ajustar com maior precisão a prescrição de O2, visto que a avaliação é feita durante actividades habitualmente de-senvolvidas pelo doente no seu ambiente

CONCLUSÃONeste artigo pretendeu-se abordar a OLD

relativamente a aspectos relacionados com a sua prescrição, escolha da fonte e dispositivos de administração, mas sobretudo focar os cui-dados á pessoa/família com necessidade de OLD. Desta forma, foi realçada a importância desta terapêutica para o doente com patologia respiratória crónica, bem como da reabilitação respiratória e de estilos de vida saudáveis. É ainda referenciado o enfermeiro de reabilita-ção, como facilitador no seio da equipa mul-tidisciplinar para melhorar o grau de adesão e como educador do doente/família com OLD. Foi ainda enfatizada a importância de um pro-grama domiciliário que permita não só uma monitorização contínua para ajuste do débito de O2, mas sobretudo um acompanhamento personalizado de cada doente/família.

BIBLIOGRAFIA

AMERICAN ASSOCIATION FOR RESPIRATORY CARE – Oxygen therapy in the home or alternate side health care facility 2007 & update. [em linha]. In: Respiratory care. vol 52. nº1. p. 1063-1068. Acedido em 3/2/2010. Disponível em: http://www.RCJournal.comBARBARA, Cristina – Projecto TELEMOLD® no Hospital Pulido Valente. In: Respira. nº7. (2009). p.4.CASTILLO, Diego. ROSA, Guell. CASAN, Pere – Sistemas de ahorro de oxígeno. Una realidad olvidada [em li-nha]. In: Arch Bronconeumol. nº 43(1). (2007). p.40-45. Acedido em 7/2/2010. Disponível em: http://www.ar-chbronconeumol.org.CIRCULAR NORMATIVA DA DIRECÇÃO-GERAL DA SAÚDE Nº 4/DGCG. Programa nacional de prevenção e controlo da doença pulmonar obstrutiva crónica de 17/03/2005.

Page 57: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

CIÊNCIA & TÉCNICA

57

CIRCULAR NORMATIVA DA DIRECÇÃO-GERAL DA SAÚDE Nº: 06/DSPCS. Prescrição de cuidados domici-liários de 07/06/2006.CRISAFULLI, Ernesto [et al] – Effects of Walking aid in COPD patients receiving oxygen therapy. In: Chest. Acedido em: 5/2/2010. Disponível em: http://ches-tjournal.chestpubs.org/site.misc/reprints.xhtml. ISSN: 0012-3692CROCKETT, Alan J [et al] – The impact of anxiety, de-pression and living alone in chronic obstructive pulmo-nary disease. In: Quality of Life Research. nº11 (2002). p.309-316. Kluwer academic publishers.CROCKETT, Alan J. [et al] - A review of long-term oxygen therapy for choric obstrutive pulmonary disease [em li-nha]. In: Respiratory Medicine. nº95 (2001). p.437-443. Acedido em 3/2/2010. Harcourt publishers Ltd. Dispo-nível em http://www.idealibrary.com.DRUMMOND, Maria [et al] – Prescrição de oxigénio de longa duração – situação actual no distrito do Porto. In: Revista de pneumologia. VII (3). 2001. Acedido em: 15/2/2010. Disponível em: http://www.sppneumologia.pt. ESMOND, Glenda; MIKELSONS, Christine – Oxigeno-terapia. In: ESMOND, Glenda -Enfermagem das doen-ças respiratórias. Loures: Lusociência. 2005. p.127-144. ISBN 972-8383-91-6. HESLOP, Ângela; SHANNON, Caroline – Assistência a doentes que necessitam de terapêutica de oxigénio a longo prazo. In: Nursing: revista técnica de enferma-gem. Lisboa. ISSN 0871-6196 Nº103 (Setembro 1996). p. 24-29. JANSSENS J.P. Health-related quality of life in patients under long-term oxygen therap: a home-based des-criptive study [em linha]. In: Respiratory medicine. nº91. (1997). p.592-602. Acedido em 3/2/2010. W.B. Saunders company Ltd. Disponivel em: http://www.idealibrary.com.MANRESA J.M.; CABALLOL R.; SENA F – El contol de la oxigenoterapia domiciliaria en um hospital comarcal [em linha]. In: Arch Bronconeumol. nº37. (2001). p. 237-240. Acedido em7/2/2010. Disponível em: http://www.archbronconeumol.org.NASILOWSKI Jacek [et al] - Comparing supplementary oxygen benefi ts from a portable oxygen concentrador and a liquid oxygen portable device during a walk test in COPD patientes on long-term oxygen therapy [em linha] In: Respiratory medicine. nº102 (2008). p.1021-1025. Acedido em 7/2/2010. Elsevier Ltd. Disponivel em: http://www.idealibrary.com.NUNES, Cecília – Oxigenoterapia. In: GOMES, Mª João; SOTTO-MAYOR, Renato – Tratado de pneumologia. Lis-boa: Permanyer Portugal, 2003. p.999-1002. ISBN 972-733-139-4.ONDR 2007 – OBSERVATÓRIO NACIONAL DE DOEN-ÇAS RESPIRATÓRIAS. Acedido a 15/2/2010. Disponível em:hpttp://www.ondr.org.PECHAM D.G. [et al] - Improvement in patient com-

pliance with long-term oxygen therapy following for-mal assessment with training [em linha]. In: Respira-tory medicine. nº 92. (1996). p.1203-1206. Acedido em 3/2/2010. W.B.Saunders company Ltd. Disponivel em: http://www.idealibrary.com.RESPIRA – Associação RESPIRA. Acedido em 7/2/2010. Disponível em: http://www.paraquenaolhefalteoar.com/articles.php?id=151.RIZZI, Maurizio [et al] - A specifi c home care program improves the survival of patientes with chorinc obs-tructive plumonary disease receiving long term oxygen therapy [em linha] .In: Arch Phys Med Rehabil. vol.90. (March 2009). p.395-401. Acedido em 4/2/2010. Ame-rican Congress of rehabilitation medicine. Disponivel em: http://www.archives-pmr.org. ROUS, Maria; BETORET, J. Luis; ALDÁS, Joaquín – Reha-bilitación respiratoria y fi sioterapia respiratoria. Un buen momento para su impulso. [em linha] In: Arch Bronconeumol. Nº44(1). (2008). p.35-40. Acedido em 4/2/2010. Disponível em: http://www.archbronconeu-mol.org.SENJYU, Hideaki [et al] - Effects of pulmonary rehabili-tation on the survival of emphysema patients receiving long-term oxygen therapy. In: Physiotherapy. vol 89. nº5. (1999). p.251-258. VERDURI, Alessia [et al] – POOR ADHERENCE TO GUIDELINES FOR LONG-TERM OXYGEN THERAPY. Acedido em 7/02/2009. Disponível em http://mee-ting.chest pubs.org/cgi/content/abstrat/136/4/96S--b?sid=de6094df-d02f-41WINCK, João C. - Oxigenoterapia: a Derradeira Solu-ção. Acedido em 7/2/2010. Disponível em: http://www.paraquenaolhefalteoar.com/articles.php?id=151.ZHU, Zhiwen [et al] – Continuous oxygen monitoring – a better way to prescibe long-term oxygen. In: Respi-ratory medicine. nº99. 2005. p.1386-1392. Acedido em 3/2/2010. Elsevier. Disponivel em: http://www.ideali-brary.com.

Page 58: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

NO

VEM

BRO

201

4CIÊNCIA & TÉCNICA

58

RESUMOA amputação de um membro inferior produz no indivíduo uma incapacidade física permanente. Torna-se necessário o estabelecimento de um programa de reabilitação que tenha como fi na-lidade a autonomia, com a recuperação da lo-comoção através da deambulação. A utilização dos diversos recursos disponíveis devem resultar numa melhor qualidade de vida para o indivíduo, tornando-o o mais independente possível no de-sempenho das suas actividades diárias e profi s-sionais.

Palavras-Chave: Reabilitação; Amputação; Mem-bro Inferior.

ABSTRACTThe amputation of a lower limb on the individual produces a permanent physical disability. There-fore, becomes necessary to implement a rehabili-tation program that has as its purpose the autono-my with the recovery of locomotion by ambulation. The use of different resources available should result in a better quality of life for the individual, making it as independent as possible, in carrying out their professional and daily activities.

Keywords: Rehabilitation; Amputation; lower limb

REABILITAR A PESSOA AMPUTADA

MARIA DEOLINDA TEIXEIRA PINTOEnfermeira com Especialidade de Enfermagem de Reabi-litação, CHLN - Hospital de Santa Maria

MARIA JOAQUINA LANDEIRA RIBEIROEnfermeira Especialista em Enfermagem de Reabilita-ção, CHLN- Hospital de Santa Maria

ENTRADA DO ARTIGO SETEMBRO 2012

Page 59: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

CIÊNCIA & TÉCNICA

59

REABILITAR A PESSOA AMPUTADA AO MEMBRO INFERIOR

A perda de um membro inferior por am-putação altera a função da extremidade afectada tornando a locomoção difícil, senão mesmo impossível. No entanto a amputação, embora radical e traumática para o indiví-duo, pode proporcionar-lhe o alívio da dor crónica, permitindo que volte a mobilizar-se com uma prótese, melhorando a sua quali-dade de vida.

Neste sentido, a reabilitação tem como objetivos: - Recuperar a função do membro com con-trolo total do uso da prótese,- Adquirir independência nas atividades da vida diária,- Apoiar a reintegração do indivíduo no seu ambiente familiar, social e profi ssional

EtiologiaSegundo Carvalho (2003), as amputações

podem ser eletivas (neoplasias, patologia vascular, sepsis…) ou de urgência (queima-duras, trauma…)

São vários os níveis a que a amputação pode ser realizada. Serão referenciados os que, segundo Carvalho (2003) apresentam maior possibilidade de cicatrização, com capacidade para fazer descarga do peso do corpo e melhores condições de protetização, facilitando a recuperação funcional. Amputação de Syme: permite a descarga

distal sobre o coto, possibilitando a pro-tetização com pé mecânico. É possível a marcha sem prótese, mas neste caso há claudicação;

Amputação transtibial é realizada entre a articulação tibiotársica e a do joelho. A articulação do joelho é preservada. Esta é de importância capital na reabilitação

funcional, porque é a que se substitui com menos efi ciência;

Desarticulação do joelho - este nível, está indicado para a descarga distal, pro-porcionando uma maior propriocepção ao indivíduo, em virtude de o compri-mento total do fémur apresentar uma boa alavanca de movimento, resultando num bom controlo da prótese.

Amputação transfemoral é efectuada entre a desarticulação do joelho e a da anca e podemos dividi-la em três níveis, terço proximal, médio e distal.

Desarticulação da anca – efectua-se a desarticulação de todo o membro infe-rior, inclusive a cabeça do fémur.

REABILITAR É UM PROCESSO PRECOCEPré-operatório Este período é fundamental porque per-

mite que o indivíduo/família se sinta parte integrante da equipa que o vai acompanhar e logo membro pró activo no seu processo de reabilitação. Entender o que o espera no pós-operatório, permite acelerar o processo de recuperação.

Quando a amputação já é uma realida-de, a mudança radical da imagem corporal, pode desencadear sentimentos de perda, raiva, medo, choque e recusa (Marek, 2003). O luto pela perda de parte do seu corpo e da funcionalidade é equiparado à perda de um ente querido (Chin, 1998 p.367).

A família deve ser implicada no processo até ao ponto que seja agradável para o indi-víduo (Marek, 2003).

Segundo Chin(1998) nesta fase o indiví-duo deve ser capaz de:• Verbalizar os sentimentos sobre a ampu-

tação;

Page 60: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

NO

VEM

BRO

201

4CIÊNCIA & TÉCNICA

60

• Defi nir a sensação de membro fantasma, como uma sensação normal;

• Descrever os tratamentos que devem ser efectuados;

• Descrever o controlo da dor. Há medica-ção que pode ser disponibilizada;

• Identifi car as metas da reabilitação.

Preparação física: Deve ser construído um programa de rea-

bilitação com o objectivo de : o Melhorar a capacidade respiratória;o Promover um coto bem cicatrizado e

com boa textura da pele;o Prevenir problemas circulatórios;o Prevenir e corrigir atitudes viciosas;o Desenvolver um bom equilíbrio de mar-

cha com canadianas;o Fortalecer os músculos do membro são e

os remanescentes do membro operado; assim como braços, tronco e abdómen;

o Integrar o indivíduo na vida diária.Para Cruz (1994, p.35), a anestesia e a

agressão cirúrgica associadas à imobilida-de no pós-operatório podem originar re-tenção de secreções e complicações respi-ratórias, bem como circulatórias e atrofi a muscular, pelo que devem ser feitos ensi-nos sobre Exercícios respiratórios globais e sele-

tivos com mobilização da articulação escapulo-umeral e com ênfase na fase expiratória

Posicionamentos que facilitem a mobili-zação de secreções;

Reforçar a importância da hidratação (oral se possível);

Ensino da tosse e tosse dirigida. Contrações isométricas e isotónicas para

as articulações residuais do membro a operar e dos restantes membros;

Exercícios de força muscular dos mem-bros superiores e abdómen com maior incidência nos extensores dos braços e depressores do ombro porque são muito importantes na marcha com andarilho, canadianas e cadeira de rodas;

Exercícios de fortalecimento dos múscu-los abdominais e do tronco. Estes mús-culos são muito importantes para o equi-líbrio;

Exercícios para o membro são, com o ob-jetivo de o preparar para a sobrecarga a que vai fi car sujeito após a amputação.

• Adotar padrões de marcha e posturas correctas em pé e em deambulação no pós-operatório como:

Equilibrar-se na perna boa, primeiro se-gurando-se a uma cadeira e depois sem apoio. Treinar o subir/descer escadas com canadianas;

Levantar-se de uma cadeira sem apoio e fi car de pé;

Treinar marcha pendular com canadianas ou nas barras paralelas com fl exão do joelho do membro a amputar (para am-putações abaixo do joelho).

Estes exercícios de equilíbrio devem ser realizados em frente a um espelho quadri-culado.

Pós-operatórioÉ importante a monitorização do doente

para despistar possíveis complicações ime-diatas e prevenir uma incapacidade prolon-gada. Deve ser incentivado a fazer respira-ções profundas e a tossir para desobstruir as vias aéreas. Assim que estiver vigil, é feito o controlo da dor, visto que a dor severa pode afectar os sinais vitais e diminuir a capacida-de inspiratória profunda comprometendo a desobstrução da via aérea e a capacidade de

Page 61: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

CIÊNCIA & TÉCNICA

61

participar no auto cuidado (Marek, 2003).

indivíduo no leito: Amputações abaixo do joelho- Em decúbito dorsal, com o membro am-

putado em extensão ao longo do leito e com um saco de areia sobre o joelho, para evitar a fl exão deste por contractura dos músculos isquiotibiais;

- Colocar um rolo de lençol ao longo da coxa para evitar a rotação externa do mem-bro, prevenindo as contracturas a nível dos músculos rotadores externos;

- Os pés da cama devem estar elevados para facilitar a circulação venosa e prevenir o edema, devendo também, fazer-se alternân-cia de decúbitos mantendo o joelho sempre em extensão.

Amputações acima do joelho- Membro em extensão e adução ao lon-

go do leito, com saco de areia na face an-terior da coxa para evitar a fl exão e na face externa para evitar a abdução, prevenindo assim as contracturas dos músculos fl exores e abdutores respectivamente.

- Logo que possível o decúbito ventral deve ser incentivado para permitir a hipe-rextensão do membro residual e alongar os músculos fl exores da coxa.

- Os pés da cama também devem ser ele-vados Rodrigues (2009, p.301).

Após a cicatrização, o indivíduo deve ser ensinado a cuidar do coto tendo em vista uma adaptação efi caz à prótese.

- Lavar diariamente o coto com água e sabão neutro, secando-o com uma toalha fi na e envolvendo-o em ligaduras. O ob-jectivo é prevenir o edema, reduzir e mol-dar o coto cónicamente, dar fi rmeza aos

tecidos moles, facilitar um bom retorno venoso, aliviar a dor e habituar o coto a permanecer tapado;- Massajar o coto com movimentos sua-ves e no sentido do retorno venoso para facilitar a micro circulação, diminuir o edema e deslocar aderências; - Na superfície do coto não devem ser aplicados óleos ou cremes. O objectivo é conseguir um coto bem cicatrizado, com a pele sufi cientemente dura para suportar o peso do corpo com a prótese;- A inspecção do aspecto da pele deve ser efectuada pelo menos duas vezes por dia, para despistar eritemas, fl ictenas e escoriações. Deve ser usado um espelho para observar melhor a parte posterior do coto;- A aplicação da ligadura elástica é essen-cial. É necessário ser resistente, com di-mensões que variam conforme o nível de amputação. Acima do joelho, 6 a 7 metros de cumprimento e 15cm de largura. Abai-xo do joelho, 6 metros de cumprimento e 10cm de largura. O coto deve estar em extensão e a ligadura é aplicada com fi r-meza, diminuindo o gradiente de pressão da parte distal para a proximal sem fazer circulares. O seu uso é permanente e é es-sencial incentivar o individuo à auto exe-cução.Nesta fase é fundamental a sensibilização

e motivação do indivíduo na participação do programa de reeducação. Se não houver adesão do mesmo ao programa, difi cilmente conseguirá uma locomoção efi ciente que lhe permita uma vida independente

Para além dos exercícios já descritos, Cruz (1994) sugere ainda: Mobilizações activas e activas assisti-

das (com amplitude total) das várias articula-

Page 62: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

NO

VEM

BRO

201

4CIÊNCIA & TÉCNICA

62

ções residuais do coto e dos restantes mem-bros, para manter a mobilidade de todas as articulações, Manter e melhorar a força muscular, com

exercícios isométricos e isotónicos para todos os grupos musculares, dando ên-fase aos extensores do joelho (quadricí-pedes) ou da coxa (glúteos), abdutores e adutores.

Fazer a ponte; Fortalecimento dos membros superiores

(depressores do ombro e extensores do cotovelo);

Fortalecimento dos músculos do tronco e abdominais,

Melhorar o equilíbrio e as posturas, in-centivando a execução de exercícios en-sinados no pré operatório;

Efectuar o levante precoce; Treino de equilíbrio sentado – corrigindo

posturas; Levantar-se da cadeira sozinho e sem

apoio; Treino de equilíbrio de pé com cadeiras

de rodas e barras.Os vários métodos utilizados, como exer-

cícios isométricos, dinâmicos, resistência progressiva e facilitação neuromuscular pro-prioceptiva, devem ser ensinados de forma que o indivíduo entenda o objectivo funcio-nal de cada um.

Ultrapassada a fase aguda, inicia-se a fase pré protésica.

A próteseA colocação de uma prótese visa a substi-

tuição funcional e estética do membro, assim como diminuir o gasto de energia e minimi-zar o trauma do coto, pelo que apresentar características tais como, conforto, ajusta-mento, alinhamento e boa aparência é um

fator de extrema importância.Nem todos os indivíduos reúnem condi-

ções para o uso de prótese devido a vários fatores tais como, infeção ou alterações es-truturais do coto, idade avançada, doenças neurológicas graves, doença mental e senil, desorientação, doenças cardíacas graves, obesidade, problemas visuais e recusa do próprio doente (Fale et. al.,2003)

Alta – AVD´s/Familia/Sociedade/Traba-lho

O programa de reabilitação contínuo deve permitir elaborar um plano de alta que facilite a passagem do indivíduo, agora por-tador de uma defi ciência, a uma família/so-ciedade de onde veio e para onde deve re-gressar, não como incapacitado, mas como verdadeiramente integrado.

Hoeman (2000) sugere, um modelo de planeamento da alta para o domicílio que inclua:o Dar ao indivíduo e ao cuidador a capa-

cidade de exercer as suas competências em casa;

o Permitir validar a percepção que o indiví-duo e cuidador têm da capacidade deste para se desembaraçar no seu ambiente;

o Levantar a moral do indivíduo/cuidador (recorrer a grupos de ajuda promove a oportunidade de se relacionarem de par para par possibilitando informação e educação)

o Identifi car problemas reais e possíveis que deveram ser enfrentados antes da alta;

o Ajudar o profi ssional de reabilitação a avaliar as reais capacidades do indivíduo/cuidador;

o Elucidar a equipa de reabilitação sobre a disposição e motivação do individuo no

Page 63: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

CIÊNCIA & TÉCNICA

63

regresso a casa, (Henderson &Pentland, 1991).

CONCLUSÃO A amputação de um membro inferior

produz no indivíduo uma incapacidade física permanente.

Sendo assim, a utilização dos diversos re-cursos disponíveis devem resultar numa me-lhor qualidade de vida para este, tornando-o o mais autónomo possível no desempenho das suas actividades diárias e profi ssionais. A intenção não é só dar mais anos á vida, mas mais vida aos anos (OMS).

A reabilitação será um meio de tornar possível a realização desse sonho.

BIBLIOGRAFIABerke, Gary, (2004), Journal of Prosthetics and Orthot-ics, Vol 16, Num 3S, p6. URL:http://www.oandp.org. Acedido em 27-02-2009.Chin, Patricia A., et.al. (1998), Rehabilitation Nursing Pratice. McGraw-Hill Companies. U.S.A.

Cruz, Arménio Guardado, (1994). Reabilitação do Am-putado do Membro Inferior. Sinais Vitais, Nº1. Carvalho, José André, (2003). Amputações de membros inferiores: em busca da plena reabilitação. (2ª Ed.). Ma-nole. São Paulo.Diogo, Maria José D’Elboux, (Janeiro-Fevereiro, 2003). Avaliação Funcional de Idosos com Amputação de membros Inferiores. Rev. Latino-am Enfermagem. www.eerp.usp.br/rlaenf. Acedido em 13/11/2009. Direcção Geral de Saúde, (2001). Guia para as Pessoas Idosas. Viver com Amputação dos Membros inferiores.Falé, et al. (2003). O doente amputado do membro in-ferior. Sinais Vitais, 47.Figueiredo, et al. (1995), Cuidados de enfermagem ao doente amputado. Enfermagem em foco. Nº 17.Hoeman, Shirley P. (2000). Enfermagem de Reabilitação – Processo e Aplicação. Loures: Lusociência.Lawrence, W. Way, MD et. Al. . (2004). Cirurgia - Diag-nóstico e tratamento. IIª Edição. Guanabara Koogan S.A. Marek, Phipps Sands. (2003). Enfermagem médico-ci-rúrgica, conceitos e prática clínica. Volume II, (6ª Ed.), (Capitulo 23 a 25). Loures: Lusociência. Rodrigues, Afonso Duarte, et. al. (2009). Enfermagem em ortotraumatologia. 1ª Edição. Formasau – Forma-ção e Saúde Lda. Coimbra.Stoner, Emery K. (1986). Krusen: Tratado de Medicina Física e Reabilitação. Tratamento do Amputado da Ex-tremidade Inferior. Terceira Edição. Editora Manole Ldª. Portal do Cidadão com Defi ciência www.pcd.pt. Biblio-teca. Acedido em 16/11/2009.

Page 64: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

NO

VEM

BRO

201

4CIÊNCIA & TÉCNICA

64

RESUMONa actual conjuntura de aumento da esperança média de vida, a Enfermagem de Reabilitação constitui uma mais-valia, garantindo cuidados especializados que propiciem a autonomia e a qualidade de vida dos idosos.O interesse em conhecer a infl uência de Enferma-gem de Reabilitação, na qualidade de vida dos idosos, em contexto comunitário, deu origem ao estudo que tem como objectivos: caracterizar a população idosa, identifi car a qualidade de vida dos idosos, verifi car as relações entre as variáveis sócio-demográfi cas, de contexto clínico e a quali-dade de vida dos idosos que recorrem à Unidade de Reabilitação de Medicina Familiar, no Centro de Saúde Norton de Matos.É um estudo quantitativo, descritivo-correlacio-nal, a amostra consiste em 45 idosos a realizar programa de reabilitação, entre 1 de Julho e 18 de Dezembro de 2009, e a colheita de dados teve por base o Questionário do Estado de Saúde SF-36. No que respeita à qualidade de vida dos ido-sos verifi cou-se que após a realização do progra-ma de reabilitação houve melhoria em pratica-mente todas as dimensões da qualidade de vida

estudadas, sendo a Dor Corporal o domínio em que se constou um maior aumento do percentil de referência desde o momento da admissão até à alta.

Palavras-Chave: reabilitação, idoso, qualidade de vida

ABSTRACTIn the current conjecture of increased life ex-pectancy Nursing Rehabilitation is an as-set, providing specialized care that foster in-dependence and quality of life for seniors. The interest in knowing the infl uence of Rehabili-tation Nursing, quality of life of elderly people in a community context, gave rise to the study aims to characterize the elderly population, identify the quality of life for seniors, to examine relationships between variables socio-demographic, clinical context and quality of life of elderly people who re-sort to the Rehabilitation Unit of Family Medicine at the Health Center Norton de Matos. It is a quantitative, descriptive, correlational, the sample consists of 45 seniors to carry out rehabili-

A INFLUÊNCIA DA ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO NA QUALIDADE DE

VIDA DOS IDOSOS

ANTÓNIO JOSÉ PINTO DE MORAISProfessor Doutor em Novos Contextos de Intervenção Psicológica em Educação, Saúde e Qualidade de Vida. Professor Coordenador na Escola Superior de Enferma-gem de Coimbra (Orientador do trabalho)

JACINTA ROSA MORAISEnfermeira. Especialista em Enfermagem de Reabilita-ção, no Centro Hospitalar do Médio Tejo.

JOSÉ MANUEL JORGE GOMESEnfermeiro. Especialista em Enfermagem de Reabilita-ção, no Centro de Saúde da Madalena.

MÓNICA ROSÁRIO PEREIRAEnfermeira. Especialista em Enfermagem de Reabilita-ção, no Centro Hospitalar do Médio Tejo.

ENTRADA DO ARTIGO DEZEMBRO 2012

Page 65: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

CIÊNCIA & TÉCNICA

65

tation program, between July 1 and December 18, 2009, and data collection was based on the Health Status Questionnaire SF-36.With regard to the quality of life for seniors found that after the completion of the rehabilitation program has improved in virtually all dimen-

sions of quality of life study, and the Bodily Pain domain in which consisted a greater increase in the percentile of reference from admission to dis-charge.

Keywords: rehabilitation, elderly, quality of life.

INTRODUÇÃOO envelhecimento da população é um fe-

nómeno com tendência a aumentar com o declínio da natalidade, mas também com o aumento da esperança média de vida.

Na opinião de Neves citado por Figueire-do, Araújo e Figueiredo (2006), a importância da doença, associada ao estilo de vida e ao envelhecimento da população tem tornado visível que os cuidados de saúde podem pro-longar o tempo de vida e aumentar a quali-dade da mesma.

Para o idoso, a qualidade de vida está muito relacionada com a saúde, pois esta emerge como um conjunto de atributos as-sociados ao bem-estar, satisfação e manu-tenção de condições que possibilitam man-ter a sua função física e mental nas activida-des de vida diária, recreativas, profi ssionais e sociais (Henriques e Sá, 2007).

Reabilitar o idoso abrange duas áreas dis-tintas mas que se relacionam, o estimular capacidades e o recuperar habilidades per-didas, pelo estabelecimento de um progra-ma de Reabilitação num processo dinâmico com vista o atingir uma aceitável qualidade de vida com dignidade, auto-estima e inde-pendência.

Para a Direcção Geral de Saúde (2003, p. 10), “… os Centros de Saúde são, por exce-lência, os responsáveis pela prevenção da

incapacidade e pela orientação adequada do doente”. De acordo com Hoeman (2005, p. 127), “… o exercício da Enfermagem de Reabilitação na comunidade é uma arena de eleição para prestar serviços de Reabilitação complexos aos utentes e suas famílias”.

Pudemos verifi car ao longo da nossa pes-quisa bibliográfi ca, que o envelhecimento crescente, o aumento progressivo de incapa-cidades e a consequente diminuição da qua-lidade de vida das pessoas idosas leva a que os Enfermeiros desenvolvam cada vez mais a sua actividade com as mesmas. A Enferma-gem de Reabilitação poderá constituir uma mais-valia nos serviços de saúde, nomeada-mente em contexto comunitário, no sentido do idoso recuperar ou manter a sua autono-mia.

Na presente investigação pretendemos conhecer a infl uência de Enfermagem de Reabilitação, na qualidade de vida dos ido-sos, em contexto comunitário, tendo os se-guintes objectivos:� Caracterizar a população idosa que re-

corre à Unidade de Reabilitação de Me-dicina Familiar, no CSNM.

� Identifi car a qualidade de vida dos idosos que recorrem à Unidade de Reabilitação de Medicina Familiar, no CSNM.

� Verifi car as relações entre as variáveis só-cio-demográfi cas, de contexto clínico e a

Page 66: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

NO

VEM

BRO

201

4CIÊNCIA & TÉCNICA

66

qualidade de vida dos idosos que recor-rem à Unidade de Reabilitação de Medi-cina Familiar, no CSNM.

Tendo as em conta o supra-referido, fo-ram elaboradas seguintes hipóteses:� Existe uma associação signifi cativa entre

as variáveis sócio-demográfi cas e a qua-lidade de vida dos idosos constituintes da amostra;

� Existe uma associação signifi cativa entre as variáveis sócio-demográfi cas e a pa-tologia incapacitante dos idosos consti-tuintes da amostra;

� Existe uma melhoria signifi cativa positi-va entre as variáveis de contexto clínico (patologia incapacitante e programa de reabilitação) e a qualidade de vida dos idosos constituintes da amostra;

METODOLOGIACom a fi nalidade de estudar a relação en-

tre variáveis, para conhecer a infl uência da Enfermagem de Reabilitação na qualidade de vida dos idosos, desenvolvemos um es-tudo de carácter quantitativo, descritivo-cor-relacional.

A população correspondeu a todos os utentes com idade igual ou superior a 65 anos, que recorreram à Unidade de Reabili-tação de Medicina Familiar do CSNM, no pe-ríodo de tempo compreendido entre 1 Julho e 18 de Dezembro de 2009.

A colheita de dados realizou-se, então, nesse período de tempo, fi cando a amostra constituída por 45 utentes.

O instrumento de colheita de dados, com-posto por um Questionário de caracterização da população, pelo Questionário do Estado de Saúde SF-36 e pelo Questionário do pro-

grama de Enfermagem de Reabilitação, foi utilizado em dois momentos. Num primeiro momento foi aplicado o questionário de ca-racterização da população e o Questionário do Estado de Saúde SF-36 (preenchido pelo utente, aquando da admissão na Unidade de Reabilitação de Medicina Familiar). No se-gundo momento, ou seja, aquando da alta, foi aplicado o Questionário do Estado de Saúde SF-36 e o Questionário do programa de Enfermagem de Reabilitação (preenchido pela Enfermeira de Reabilitação).

As considerações ético-legais foram preo-cupação neste estudo pelo que incluímos, no instrumento de colheita de dados, uma folha de rosto, na qual se identifi cam os autores, o objectivo do estudo e se agradece a colabo-ração dos inquiridos.

Para assegurarmos o preenchimento do instrumento, pelo mesmo utente, de forma confi dencial e anónima elaborámos uma grelha de registo, através da qual se associou o nome do utente a um número, garantindo a confi dencialidade dos dados e a validade dos mesmos.

O estudo estatístico das variáveis foi efec-tuado através da utilização do programa de estatística SPSS (Statistical Package for Social Sciences), Versão 15.

No tratamento de dados aplicámos as técnicas e procedimentos de estatística des-critiva analítica e inferencial. Em relação à estatística descritiva calculámos frequências absolutas e percentuais, medidas de tendên-cia central – média (M) e medidas de dis-persão - desvio padrão (Dp). Relativamente à estatística inferencial utilizámos testes pa-ramétricos (coefi ciente de Pearson, teste de t de Student, para amostras emparelhadas e ANOVA) e os seus correspondentes não pa-ramétricos (Correlação de Spearman, teste U

Page 67: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

CIÊNCIA & TÉCNICA

67

de Mann-Whitney, teste T de Wilcoxon, teste de Kruskal-Wallis), sempre que as distribui-ções dos dados não asseguravam o pressu-posto da normalidade (teste de Kolmogorov--Smirnov p < 0.05). Utilizámos, ainda, o teste do Qui-Quadrado para relacionar variáveis nominais e a sua alternativa, o teste de Fisher (quando os seus pressupostos não são cum-pridos). Os testes foram aplicados ao nível de signifi cância 5% (p < 0,05).

APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS Caracterização sócio-demográfi ca da amostraA amostra recolhida é constituída por 45

utentes da Unidade de Reabilitação de Me-dicina Familiar com idades compreendidas entre 65 e 88 anos, perfazendo uma média de 73.22 anos de idade. Prevalece o sexo fe-minino representando 78% da amostra. Ao nível do estado civil, os utentes tendem a ser casados (60%) ou viúvos (31%). No que se prende com as habilitações literárias a situa-ção mais comum consiste no nível do 1.º ci-clo do Ensino Básico (68%).

Ao nível da acessibilidade à Unidade, im-porta apontar que todos os inquiridos resi-diam em zona de habitação urbana. Maio-ritariamente, os sujeitos chegam ao serviço através de transportes públicos (49%).

Caracterização do contexto clínico Verifi camos que 44% dos sujeitos apre-

sentam uma patologia incapacitante ao nível da coluna e dos membros inferiores, sendo que 38% dos casos indicaram uma patologia ao nível dos membros superiores. Importa ainda referir, que oito dos utentes que res-ponderam ao questionário mostram mais do que uma patologia incapacitante.

Quanto à realização do programa de rea-bilitação confi rmou-se que as técnicas mais utilizadas consistem na massagem terapêuti-ca e no ultra-som, que são referidas em mais de 80% dos casos (Tabela 1). As mobilizações, fortalecimento muscular, calor húmido e cor-recção postural, também se mostraram mui-to frequentes, referidas por 67%, 64%, 60% e 47% dos planos de tratamento analisados.

Tabela 1 - Intervenções de Enfermagem

de Reabilitação

Intervenções N Percentagensde respostas

Percentagensde casos

Massagem Terapêu-tica 44 19,3 97,8

Ultra som 37 16,2 82,2

Mobilizações 30 13,2 66,7

Fortalecimento Mus-cular 29 12,7 64,4

Calor húmido 27 11,8 60,0

Correcção Postural 21 9,2 46,7

Cinesiterapia Respi-ratória 12 5,3 26,7

Parafi na 11 4,8 24,4

Treino Marcha 8 3,5 17,8

Treino Equilíbrio 5 2,2 11,1

Reeducação Funcional 3 1,3 6,7

Actividades de Vida Diária 1 0,4 2,2

Total 228 100,0 506,7

Caracterização da Qualidade de VidaAs pontuações dos inquiridos, nas dife-

rentes dimensões do instrumento foram cal-culadas de acordo com os procedimentos indicados no estudo elaborado por Ribeiro (2005) sobre a utilização do questionário do estado de saúde SF-36. Com base nestas re-ferências, foi possível constatar que os idosos na admissão apresentam pontuações muito

Page 68: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

NO

VEM

BRO

201

4CIÊNCIA & TÉCNICA

68

baixas, relativamente à amostra padrão refe-rida no estudo de Ribeiro (2005), ao nível do funcionamento físico (M = 58.22, Dp = 27.12), desempenho físico (M = 51.11, Dp = 47.96), dor corporal (M = 43.22, Dp = 24.17) e saúde geral (M = 47.09, Dp = 17.15), na medida que as suas pontuações localizam-se nos percen-tis 20 e 30. Também mostram-se em desvan-tagem ao nível da vitalidade (M = 55.33, Dp = 23.92) e da saúde mental (M = 62.04, Dp = 23.90), mas de forma menos severa, com as pontuações situadas no percentil 40. Im-porta ainda referir que a amostra mostrou-se acima da média ao nível do funcionamento social (M = 76.11, Dp = 30.01) e no desempe-nho emocional (M = 73.33, Dp = 41.19), em que os valores podem ser situados nos per-centis 60 e 100, respectivamente (Tabela 2).

Tabela 2 – Qualidade de vida no momento de admissão

Dimensão Míni-mo

Má-ximo

Mé-dia

Desvio padrão

Percentil de refe-rência1

Funcionamento físico 5 100 58,22 27,12 20

Desempenho fí-sico 0 100 51,11 47,96 30

Dor corporal 0 84 43,22 24,17 20

Saúde geral 15 82 47,09 17,15 30

Vitalidade 10 100 55,33 23,92 40

Funcionamento social 0 100 76,11 30,01 60

D e s e m p e n h o emocional 0 100 73,33 41,19 100

Saúde mental 12 100 62,04 23,90 40

1Percentil de referência de acordo com o estudo de adaptação do SF-36, (Ribeiro, 2005), valores normativos para a totalidade dos participantes

Analisando as pontuações dos utentes no momento da alta da unidade de reabilitação, com base nos valores de referência indica-dos no estudo de adaptação do instrumento

utilizado à população portuguesa, é possível verifi car uma clara evolução nos resultados.

Tal como no momento anterior, as pon-tuações dos inquiridos situam-se acima da média ao nível das dimensões funcionamen-to social (M = 85.28, Dp = 20.86) e desempe-nho emocional (M = 86.67, Dp = 26.27), no percentil 80, especifi camente, mas é depois da intervenção da Unidade de Reabilitação que os utentes passam a pontuar acima da média também ao nível da dor corporal (M = 76.24, Dp = 21.69) e vitalidade (M = 68.64, Dp = 15.90). No mesmo sentido, verifi ca-se que os utentes passam a ter pontuações media-nas quando comparadas com a população geral ao nível da saúde mental (M = 57.16, Dp = 15. 05).

Variáveis sócio-demográfi cas e a Quali-dade de Vida

Com o objectivo de testar a associação entre a idade e a qualidade de vida utili-zámos o coefi ciente de Pearson, que tem como objectivo testar e descrever a força e o sentido da relação entre duas variáveis contínuas (Fortin, 1999). No momento da ad-missão apenas foi identifi cada uma relação pertinente entre a idade e as dimensões da SF-36. A idade encontra-se moderadamente correlacionada com as pontuações ao nível do funcionamento físico (r = -.32, p < 0.05) e do funcionamento social (r = -.30, p <0 .05).

No que diz respeito ao funcionamento físico, este integra 10 itens (3a ao 3j da es-cala SF-36), defi nindo-se como baixo quan-do o utente se avalia como muito limitado na realização de todas as actividades físicas (correr, andar, levantar pesos, ajoelhar-se, abaixar-se, aspirar a casa, tomar banho ou vestir-se). Esta dimensão encontra-se eleva-da quando o utente realiza todos os tipos de

Page 69: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

CIÊNCIA & TÉCNICA

69

actividade física, incluindo os mais exigentes. Relativamente ao funcionamento social, esta dimensão comporta 2 itens (6 e 10 da escala SF-36), em que níveis baixos se associam a problemas físicos e emocionais, que interfe-rem de forma extrema e frequente com as actividades sociais normais (relacionamento com família, vizinhos, entre outros). Em ní-veis elevados, o utente realiza as actividades sociais normais sem que problemas físicos ou emocionais interfi ram.

Ambos os coefi cientes mostram-se nega-tivos (Tabela 3), indicando que idades mais elevadas se associam a piores índices de qualidade de vida ao nível das duas dimen-sões.

Pode-se assim concluir que existe uma correlação negativa estatisticamente signifi -cativa entre a idade e a qualidade de vida, nas dimensões funcionamento físico, funcio-namento social no momento da admissão.

Variáveis sócio-demográfi cas e a pato-logia incapacitante

Para analisar a associação entre algumas variáveis sócio-demográfi cas e a patologia incapacitante, utilizámos o teste do Qui--Quadrado e o Teste de Fisher.

Os resultados parecem indicar que a ma-nifestação da patologia na coluna, nos mem-bros inferiores e nos membros superiores

não dependem do sexo, estado civil, habili-tações literárias ou do tipo de transporte uti-lizado dos utentes.

A média de idade dos utentes com patolo-gia incapacitante na coluna ou nos membros superiores não é signifi cativamente diferente dos utentes sem patologia incapacitante na coluna ou nos membros superiores, respec-tivamente. Em contrapartida, os utentes com patologia nos membros inferiores tendem a ser mais velhos (M = 75.05, Dp = 4.42; t(43) = -2.106, p < .05) do que os utentes sem pato-logia desse tipo (M = 71.76, Dp = 5.75).

Constatámos assim, que se verifi ca ape-nas uma relação estatisticamente signifi cati-va entre uma variável sócio-demográfi ca e a patologia incapacitante.

Variáveis de contexto clínico e a Quali-dade de Vida

Um outro objectivo por nós delineado consiste no estudo da relação entre as variá-veis clínicas e os resultados do questionário SF-36. Neste sentido, procurou-se perceber o impacto da patologia incapacitante nas várias dimensões que integram a qualidade de vida.

Tínhamos pois, a intenção de individual-mente compreender de que forma as várias dimensões que constituem a escala SF-36 in-fl uenciava os utentes com determinada pa-tologia incapacitante em estudo.

IdadeFuncio-

namento físico

Desempe-nho físico

Dor cor-poral

Saúde geral

Vitalida-de

Funcionamen-to social

Desempe-nho emo-

cional

Saúde mental

R -,324* -,078 -,279 -,250 -,193 -,303(*) -,010 -,109

P ,030 ,612 ,064 ,098 ,204 ,043 ,947 ,475

N 45 45 45 45 45 45 45 45

Tabela 3 – Coefi cientes de correlação de Pearson entre idade e as dimensões do SF-36 no momento de admissão

Page 70: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

NO

VEM

BRO

201

4CIÊNCIA & TÉCNICA

70

Porém , não se verifi cou nenhuma relação estatisticamente signifi cativa entre a patolo-gia incapacitante em particular e as respec-tivas dimensões da escala SF-36. Os resulta-dos parecem assim sugerir que a patologia incapacitante, não distingue o nível qualida-de de vida entre os utentes da Unidade.

No prosseguimento da presente análise, procurou-se perceber se o programa de rea-bilitação teria impacto na qualidade de vida dos inquiridos. Nesse sentido, compararam--se as dimensões da escala SF-36 entre o momento da admissão na Unidade de Rea-bilitação e o momento da alta.

De acordo com os resultados encontra-

dos, foram encontradas diferenças signifi -cativas entre os dois momentos. Em todas as dimensões verifi ca-se que as pontuações dos idosos no momento da alta são sempre superiores às do momento da admissão.

A sua análise demonstra que p < 0.05 para todas as dimensões de escala SF-36, ou seja, existem diferenças signifi cativas após a realização do programa de reabilitação. Conclui-se que existe uma relação estatisti-camente signifi cativa entre o programa de reabilitação e a qualidade de vida. Consta-támos que embora em todas as dimensões haja um aumento das médias, realça-se o facto de na dimensão dor corporal se veri-

Dimensão Média Desvio padrão Teste p

Funcionamento físicoAntes 58,22 27,12 -3,571 0,001

Depois 68,00 22,40

Desempenho físicoAntes 51,70 48,34 -3,749* 0,000

Depois 78,41 32,17

Dor corporalAntes 43,22 24,17 -11,976 0,000

Depois 76,24 21,69

Saúde geralAntes 47,09 17,15 -4,399 0,000

Depois 57,16 15,05

VitalidadeAntes 55,00 24,09 -4,923 0,00

Depois 68,64 15,90

Funcionamento socialAntes 76,11 30,01 -2,564* 0,010

Depois 85,28 20,86

Desempenho emocionalAntes 73,33 41,19 -2,518* 0,012

Depois 86,67 26,97

Saúde mentalAntes 62,82 23,60 -4,385 0,000

Depois 73,18 18,25

Tabela 4 – Comparação entre as dimensões de SF-36, entre o momento de admissão e o momento de alta médica *teste T de Wilcoxon

Page 71: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

CIÊNCIA & TÉCNICA

71

fi car uma maior diferença entre as médias (antes do programa de reabilitação = 43,2 e depois = 76,24).

Efectivamente o programa de reabilitação realizado na Unidade de Reabilitação parece melhorar o estado de saúde, e consequen-temente, o nível de qualidade de vida dos utentes (Tabela 4).

DISCUSSÃO DOS RESULTADOSA primeira hipótese formulada – “Existe

associação signifi cativa entre as variáveis sócio-demográfi cas (idade; sexo; esta-do civil; habilitações literárias e meio de transporte utilizado até ao Centro de Saú-de) e a qualidade de vida dos idosos cons-tituintes da amostra”

Entre todos os procedimentos aplicados, apenas foi identifi cada uma relação estatis-ticamente signifi cativa entre a idade e algu-mas dimensões da qualidade de vida.

Verifi cámos assim, uma correlação negati-va estatisticamente signifi cativa entre a idade e as dimensões funcionamento físico e fun-cionamento social no momento da admissão à Unidade de Reabilitação, indicando que os utentes com idade superior a 74 anos pos-suíam níveis mais baixos de qualidade de vida.

Assim os nossos resultados corroboram a bibliografi a consultada (Pereira e Santos, 2008), que referem o crescente envelheci-mento da população acarreta o aumento de situações incapacitantes, com problemas de dependência e/ou défi ce funcional, o que requer suporte tanto a nível social, familiar como a nível da saúde. Tendo em conta que a capacidade funcional do indivíduo diminui com a idade, Ferreira (2007) realça a neces-sidade de estabelecer programas de reabi-litação que visem melhorar as capacidades

na pessoa idosa e consequente melhoria da qualidade de vida.

A bibliografi a consultada aponta que o envelhecimento da população torna eviden-te que os cuidados de saúde podem não sal-var vidas, mas prolongam o tempo de vida e/ou aumentam a qualidade de vida da mes-ma (Neves citado por Figueiredo, Araújo e Figueiredo, 2006). Tal como refere Spirduso (2005) o envelhecimento da população pode ter como consequência o aumento da inci-dência e da prevalência de doenças degene-rativas, que predispõe o idoso a uma quali-dade de vida muito baixa.

Quanto à segunda hipótese – “Existe as-sociação signifi cativa entre as variáveis sócio-demográfi cas e a patologia incapa-citante dos idosos constituintes da amos-tra”

É de salientar que ao analisar a relação entre as variáveis sócio-demográfi cas e a patologia incapacitante, esta não se revelou signifi cativa, excepto no que concerne à ida-de.

Os resultados parecem assim, indicar que a manifestação da patologia na coluna, nos membros inferiores e nos membros superio-res não dependem do sexo, estado civil, ha-bilitações literárias ou do tipo de transporte utilizado dos utentes.

No caso da idade, os utentes com pato-logia nos membros inferiores tendem a ser mais velhos. O envelhecimento leva a um aumento gradual de determinadas doenças crónico-degenerativas que podem conduzir à incapacidade. Lopes (2007) refere que as doenças crónicas afectam cerca de dois ter-ços das pessoas com mais de 65 anos.

Ao longo do processo de envelhecimento, são maioritariamente acometidas as articu-lações que sofreram mais trabalho e carga,

Page 72: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

NO

VEM

BRO

201

4CIÊNCIA & TÉCNICA

72

como sejam as articulações do joelho e co-xo-femural.

No que respeita à terceira hipótese – “Existe uma melhoria signifi cativa posi-tiva entre as variáveis de contexto clínico (patologia incapacitante e programa de reabilitação) e a Qualidade de vida dos idosos constituintes da amostra”

Constata-se que a patologia incapacitante especifi camente não infl uência a qualidade de vida entre os utentes que recorrem à Uni-dade de Reabilitação, uma vez que os resul-tados não têm signifi cado estatístico.

De acordo com a bibliografi a consultada (Spirduso, 2005), o alargamento da esperan-ça média de vida levou a um aumento da in-cidência e a prevalência de doenças crónicas e degenerativas o que predispõe os idosos a um baixo nível de qualidade de vida.

Pode-se afi rmar que existem diferenças signifi cativas da qualidade de vida, entre os dois momentos (admissão e alta). Em todas as dimensões avaliadas, as pontuações dos sujeitos aquando da alta são sempre superio-res às pontuações no momento da admissão o que nos leva a acreditar que a intervenção da Unidade de Reabilitação melhora o esta-do de saúde, e consequentemente o nível de qualidade de vida dos utentes que recorrem à referida unidade. De realçar ainda, que a dimensão dor corporal foi a que apresentou maior destaque com o programa de reabili-tação, entre o momento da admissão e alta.

Este resultado é extremamente positivo, na medida em que, consensualmente, qua-lidade de vida e dor admitem interpretações combinadas com múltiplas variáveis biopsi-cossociais. Respostas individuais à dor reve-lam que ela não pode ser considerada como um simples fenómeno de estimulo-resposta. Mais do que isso, a sua compreensão na

doença crónica deve ser sempre considera-da.

Segundo Silva e Pazos (2005), a dor cróni-ca é a segunda causa de procura pela assis-tência médica que aliada à dor do aparelho locomotor são as mais rebeldes ao trata-mento, portanto, as estratégias terapêuticas devem adaptar-se às situações dos utentes, aos seus receios e conceitos, considerando os desapontamentos com resultados insa-tisfatórios anteriores. O sofrimento crónico modifi ca o inter-relacionamento familiar e social e favorece a instalação de depressão, ansiedade e desespero, agravando o estado geral e a qualidade de vida.

As autoras supracitadas, referem ainda que um melhor conhecimento da infl uência da dor na qualidade de vida permitirá” in-corporar na avaliação integral do indivíduo critérios de direccionamento terapêutico. Conhecer e tratar a dor devem ser uma preo-cupação daquele que se propõe a cuidar do paciente crónico” (Silva e Pazos, 2005, p. 375).

De encontro a este resultado, podemos aferir que no caso da reabilitação geriátrica atendendo a que as alterações relacionadas com a idade são muitas vezes progressivas, é exigida aos enfermeiros especialistas, uma atenção especial no que diz respeito ao pla-neamento dos cuidados. Este deve fornecer intervenções precoces e rápidas, de maneira a promover a maior independência possível ao longo do continuum dos cuidados. Desta forma, muitas das ameaças às capacidades funcionais e à qualidade de vida podem ser evitadas ou minimizadas.

Efectivamente, o programa de reabilita-ção realizado na Unidade de Reabilitação parece melhorar o estado de saúde, e con-sequentemente, o nível de qualidade de vida dos utentes.

Page 73: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

CIÊNCIA & TÉCNICA

73

Fundamentando esta análise, os autores como Costa (2005) e Loureiro et al. (2007) referem a importância de diferentes inter-venções específi cas de Enfermagem de Rea-bilitação junto dos idosos, no sentido de promover condições favoráveis ao equilíbrio físico e cognitivo do idoso. Neste sentido, é prevenido um envelhecimento patológico, maximizando as capacidades funcionais e consequentemente a autonomia da popula-ção idosa.

CONCLUSÃOAtendendo aos resultados obtidos e à sua

discussão, podemos retirar algumas conclu-sões e deixar algumas sugestões, as quais julgamos pertinentes para um apoio mais efi caz, tendo em vista a melhoria da qualida-de de vida dos idosos.

Desta refl exão de índole prática identifi -cámos as seguintes conclusões:

Relativamente à caracterização da po-pulação: A população estudada é maioritariamen-

te do sexo feminino (77,8%); Quanto à idade da população estudada

62,2 % situa-se entre os 65 e os 74 anos; No que respeita ao estado civil, constata-

mos que 60 % estão casados sendo que 31,1 % já se encontram viúvos;

Já no que se refere à zona de habitação identifi cámos que a grande maioria dos sujeitos (97,8 %) reside em meio urbano e a distâncias menores a 5 Km do Centro de Saúde;

Relativamente à acessibilidade constatá-mos que a maioria dos idosos utiliza o transporte público (48,9 %) para se des-locar até ao Centro de Saúde, sendo que (33,3 %) da população desloca-se a pé.

• No que respeita à situação do con-texto clínico é de referir que:

Verifi cámos que 44% dos sujeitos apre-sentam uma patologia incapacitante ao nível da coluna e dos membros inferio-res, 38% dos casos uma patologia ao nível dos membros superiores. Oito dos utentes mostram mais do que uma pato-logia incapacitante;

Das Intervenções utilizadas no Programa de Reabilitação concluímos que a massa-gem terapêutica foi utilizada em 44 dos 45 idosos incluídos no estudo. Outras intervenções com considerável percen-tagem de utilização foram o ultra - som (82,2%), mobilizações (66,7%), fortaleci-mento muscular (64,4 %) e aplicação de calor húmido (60%).

No que se refere à qualidade de vida relacionada com o contexto clínico: Um dado verifi cado é que após a reali-

zação do Programa de Reabilitação hou-ve melhoria em praticamente todas as dimensões da qualidade de vida estu-dadas, sendo que o domínio em que se constou um maior aumento do percentil de referência desde o momento da ad-missão até à alta terá sido na dor corpo-ral que no fi nal do tratamento apresenta um percentil de 100.

Cruzando as variáveis sócio-demográ-fi cas e a patologia incapacitante: Constatou-se ausência de signifi cado es-

tatístico, à excepção da idade. Os utentes com patologia nos membros inferiores tendem a ser mais velhos.

Depois de refl ectirmos sobre os resulta-dos obtidos, julgamos que o nosso trabalho fi caria enriquecido se a amostra fosse maior. No entanto importa referir que a aplicação da escala SF-36 em dois momentos, não per-

Page 74: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

NO

VEM

BRO

201

4CIÊNCIA & TÉCNICA

74

mitiu abranger mais utentes para o tempo estabelecido para a colheita de dados.

Contudo, reconhecemos que o papel do enfermeiro especialista em reabilitação po-derá ser preponderante na dinâmica dos ser-viços de saúde, tendo por consequência uma melhoria de cuidados de saúde na comuni-dade (Mendes e Ribeiro, 2007).

Assim, numa tentativa de encontrar for-mas de melhorar a saúde e a qualidade de vida dos idosos, através da Enfermagem de Reabilitação, sugerimos que:• Seria importante que os enfermeiros de

reabilitação explorassem a visita domici-liária, como estratégia de intervenção e apoio junto dos idosos;

• Deveria ser coordenado o horário de tra-balho dos cuidadores informais, com o horário do programa de reabilitação no sentido de maximizar o envolvimento destes no processo adaptativo dos uten-tes.

Por outro lado, como a procura de novos saberes constitui não só relevância para o desenvolvimento da profi ssão, mas também e essencialmente, benefi cio para aqueles que recebem os cuidados, pensamos que seria vantajoso futuramente: • Testar a infl uência de determinada inter-

venção de Enfermagem de Reabilitação na independência funcional e qualidade de vida dos idosos;

• Realizar um estudo de abordagem quali-tativa pelo método fenomenológico ana-lisando vivências dos idosos durante o programa de reabilitação efectuado pelo enfermeiro especialista.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COSTA, Maria Arminda (2005) – Cuidados de enfermagem aos idosos: percursos de formação e de investigação. IN: PAÚL, Constança; FONSECA, António M. – Envelhecer em Portugal. Lisboa: Climepsi Editores, p. 255-279.DIRECÇÃO GERAL DA SAÚDE (2003) – Rede de referenciação hospitalar de medicina física e de reabilitação. Lisboa: Direcção de Serviços de Planeamento, 68 p. ISBN 972-675-093-8.FERREIRA, Tânia P. (2007) – Actividade física e qualidade de vida: nos idosos em comunidade. Revista Portuguesa de Enfermagem. Amadora. ISSN 0873-1586. Nº 9, p. 37-42.FIGUEIREDO, Ana P.; ARAÚJO, Palmira M.; FIGUEIREDO, Pedro E. (2006) – Qualidade de vida do doente oncológico. Enfermagem Oncológica. Porto. Ano 9, nº 36, p. 15-22.FORTIN, Marie Fabienne (1999) – O processo de investigação: da concepção á realização. Loures: Lusociência, 388 p. ISBN 972-8383-10-X.HENRIQUES, Adriana; SÁ, Eunice (2007) – Qualidade de vida de idosos em lares e centros de dia. Pensar Enfermagem. Lisboa. ISSN 0873-8904. Vol. 11, nº 2, p. 25-36.HOEMAN, Sirley P. (2000) – Enfermagem de reabilitação: aplicação e processo. 2ª ed. Lisboa: Lusociência, 787 p. ISBN 972-8383-13-4.LOPES, Lidia (2007) – Necessidades e estratégias na dependência: uma visão da família. Revista Portuguesa de Saúde Pública. ISSN 0870-9025. Vol. 25, nº 1, p. 39-46.LOUREIRO, Marli [e tal.] (2007) – As actividades de vida diária e ajudas técnicas nos grandes idosos, diagnóstico de situação. Geriatrics. Lisboa. Vol. 3, nº 15, p. 50-58.MENDES, Luís Miguel; RIBEIRO, Susana Isabel (2007) – A reabilitação no processo de cuidados de enfermagem. Nursing. ISSN 0871-6196. Ano 17, nº 217, p. 36-39.PEREIRA, Teresa Branco; SANTOS, Rui Jorge Dias (2008) – Ser enfermeiro especialista em enfermagem de reabilitação. Enformação. ISSN 1646-9607. Nº10 p. 6-9.RIBEIRO, José Luís Pais (2005) – O importante é a saúde: estudo de adaptação de uma técnica de avaliação do Estado de Saúde – SF-36. 1ª ed. Leiria: Merck Sharp & Dohme, 132 p. ISBN 972-99744-0-3.SILVA, Lolita Dopico; PAZOS, Ana Lúcia (2005) – A infl uência da dor na qualidade de vida do paciente com lesão crónica de pele. Revista de Enfermagem Uerj. ISSN 0104-3552. Vol. 13, nº3, p. 375-381.SPIRDUSO, Waneen W. (2005) - Dimensões físicas do envelhecimento. São Paulo: Manole, 482 p. ISBN 85-204-1341-2.

Page 75: enfermagem em revista - eformasau.pt · p25 ciÊncia & tÉcnica a vivÊncia da imagem corporal no puerpÉrio p31 ciÊncia & tÉcnica inclusÃo da tÉcnica da relactaÇÃo em neonatologia

PUB

NORMAS DE PUBLICAÇÃOA Revista Sinais Vitais publica artigos sobre a área disciplinar de

enfermagem, de gestão, educação, e outras disciplinas afins. Publica também cartas ao director, artigos de opinião, sínteses de investigação, desde que originais, estejam de acordo com as normas de publicação e cuja pertinência e rigor técnico e científico sejam reconhecidas pelo Conselho Científico. A Revista Sinais Vitais publica ainda entrevistas, re-portagem, notícias sobre a saúde e a educação em geral.

A Publicação de artigos na Revista SINAIS VITAIS dependerá das se-guintes condições:

1. Serem originais e versarem temas de saúde no seu mais variado âm-bito;

2. Ter título e identificação do (s) autor (es) com referência à categoria profissional, instituição onde trabalha, formação académica e profissional, eventualmente pequeno esboço curricular e forma de contacto;

2.1. Os autores deverão apresentar uma declaração assumindo a cedên-cia de direitos à Revista Sinais Vitais;

3. Ocupar no máximo 6 a 8 páginas A4, em coluna única, tipo de letra Arial 11, versão Microsoft Word 2003, ou OpenDocument Format (ODF).

4. Serem acompanhadas de fotografia do (s) autor (es), podendo ser do tipo passe ou mesmo outra;

5. Terão prioridade os trabalhos gravados em CD ou submetidos por e-mail acompanhados de fotografias, ilustrações e expressões a destacar do texto adequadas à temática. As fotografias de pessoas e instituições são da responsabilidade do autor do artigo. Os quadros, tabelas, figuras, foto-grafias e esquemas devem ser numerados e a sua legenda deve ser escrita numa folha e de fácil identificação;

6. Os trabalhos podem ou não ser estruturados em capítulos, sessões, introdução, etc.; preferindo formas adequadas mas originais.

6.1. Devem obrigatoriamente ter lista bibliográfica utilizando normas acei-tes pela comunidade científica nomeadamente a Norma Portuguesa, NP405-1(1994);

6.2. Todos os trabalhos deverão ter resumo com o máximo de 80 pala-vras e palavra-chave, que permitam a caracterização do texto;

6.3. Os artigos devem ter título, resumo e palavras-chaves em língua in-glesa.

7. São ainda aceites cartas enviadas à direcção, artigos de opinião, su-gestões para entrevistas e para artigos de vivências, notícias, assuntos de agenda e propostas para a folha técnica, que serão atendidas conforme de-cisão da Direcção da Revista.

8. A Direcção da revista poderá propor modificações, nomeadamente ao nível do tamanho de artigos;

9. As opiniões veiculadas nos artigos são da inteira responsabilidade dos autores e não do Conselho Editorial e da Formasau, Formação e Saúde Lda, editora da Revista Sinais Vitais, entidades que declinam qualquer res-ponsabilidade sobre o referido material.

9.1. Os artigos publicados ficarão propriedade da revista e só poderão ser reproduzidos com autorização desta;

10. A selecção dos artigos a publicar por número depende de critérios da exclusiva responsabilidade da Revista Sinais Vitais e bem assim, a decisão de inclusão do artigo em diferentes locais da revista;

11. Somente se um autor pedir a não publicação do seu artigo antes de este estar já no processo de maquetização, é que fica suspensa a sua publi-cação, não sendo este devolvido;

12. Terão prioridade na publicação os artigos provenientes de autores assinantes da Revista Sinais Vitais.

13. Os trabalhos não publicados não serão devolvidos, podendo ser levantados na sede da Revista.

14. Os trabalhos devem ser enviados para [email protected]