enfermagem do trabalho

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Rua Dr. Moacir Birro, 663 Centro Cel. Fabriciano MG CEP: 35.170-002 Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: [email protected] BIBLIOTECA PARA O CURSO DE ENFERMAGEM DO TRABALHO Selecionamos para você uma série de artigos, livros e endereços na Internet onde poderão ser realizadas consultas e encontradas as referências necessárias para a realização de seus trabalhos científicos, bem como, uma lista de sugestões de temas para futuras pesquisas na área. Primeiramente, relacionamos sites de primeira ordem, como: www.scielo.br www.anped.org.br www.dominiopublico.gov.br SUGESTÕES DE TEMAS 1. ACIDENTES DE TRABALHO E SUBNOTIFICAÇÃO ENTRE TRABALHADORES DE ENFERMAGEM 2. ESTUDO SOBRE OCORRÊNCIAS DE ACIDENTES DE TRABALHO COM MATERIAL BIOLÓGICO EM PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM DE UM HOSPITAL 3. AFASTAMENTOS DO TRABALHO NA ENFERMAGEM: ocorrências com trabalhadores de um hospital de ensino 4. RISCOS DE CONTAMINAÇÃO OCASIONADOS POR ACIDENTES DE TRABALHO COM MATERIAL PÉRFURO-CORTANTE ENTRE TRABALHADORES DE ENFERMAGEM 5. A RELAÇÃO ENTRE O TRABALHO, A SAÚDE E AS CONDIÇÕES DE VIDA: negatividade e positividade no trabalho das profissionais de enfermagem de um hospital escola 6. ASPECTOS PSICOSSOCIAIS DO TRABALHO E DISTÚRBIOS PSÍQUICOS ENTRE TRABALHADORAS DE ENFERMAGEM 7. ABSENTEÍSMO DE TRABALHADORES DE ENFERMAGEM EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO 8. O PROCESSO DE TRABALHO DA ENFERMAGEM EM SAÚDE COLETIVA EA INTERDISCIPLINARIDADE

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BIBLIOTECA PARA O CURSO DE ENFERMAGEM DO TRABALHO

Selecionamos para você uma série de artigos, livros e endereços na Internet

onde poderão ser realizadas consultas e encontradas as referências necessárias

para a realização de seus trabalhos científicos, bem como, uma lista de sugestões

de temas para futuras pesquisas na área.

Primeiramente, relacionamos sites de primeira ordem, como:

www.scielo.br

www.anped.org.br

www.dominiopublico.gov.br

SUGESTÕES DE TEMAS

1. ACIDENTES DE TRABALHO E SUBNOTIFICAÇÃO ENTRE TRABALHADORES DE ENFERMAGEM

2. ESTUDO SOBRE OCORRÊNCIAS DE ACIDENTES DE TRABALHO COM MATERIAL BIOLÓGICO EM PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM DE UM HOSPITAL

3. AFASTAMENTOS DO TRABALHO NA ENFERMAGEM: ocorrências com trabalhadores de um hospital de ensino

4. RISCOS DE CONTAMINAÇÃO OCASIONADOS POR ACIDENTES DE TRABALHO COM MATERIAL PÉRFURO-CORTANTE ENTRE TRABALHADORES DE ENFERMAGEM

5. A RELAÇÃO ENTRE O TRABALHO, A SAÚDE E AS CONDIÇÕES DE VIDA: negatividade e positividade no trabalho das profissionais de enfermagem de um hospital escola

6. ASPECTOS PSICOSSOCIAIS DO TRABALHO E DISTÚRBIOS PSÍQUICOS ENTRE TRABALHADORAS DE ENFERMAGEM

7. ABSENTEÍSMO DE TRABALHADORES DE ENFERMAGEM EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO

8. O PROCESSO DE TRABALHO DA ENFERMAGEM EM SAÚDE COLETIVA EA INTERDISCIPLINARIDADE

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9. TRADUÇÃO PARA O PORTUGUÊS E VALIDAÇÃO DE UM INSTRUMENTO DE MEDIDA DE CARGA DE TRABALHO DE ENFERMAGEM EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA

10. RISCOS DO TRABALHO DE ENFERMAGEM

11. COMPREENDENDO AS ESTRATÉGIAS COLETIVAS DE DEFESA DAS TRABALHADORAS DE ENFERMAGEM NA PRÁTICA HOSPITALAR

12. ACOLHIMENTO E TRANSFORMAÇÕES NO PROCESSO DE TRABALHO DE ENFERMAGEM EM UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE

13. A EQUIPE DE ENFERMAGEM E MASLOW: (in) satisfações no trabalho

14. O PROCESSO DE TRABALHO DE ENFERMAGEM: a cisão entre planejamento e execução do cuidado

15. CAUSAS DE SUBNOTIFICAÇÃO DE ACIDENTES DO TRABALHO ENTRE TRABALHADORES DE ENFERMAGEM

16. O MITO DA SUBALTERNIDADE DO TRABALHO DA ENFERMAGEM À MEDICINA

17. SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO DA PRÁTICA DE ENFERMAGEM: um trabalho coletivo

18. MULHER E TRABALHO: a história de vida de mães trabalhadoras de enfermagem

19. ESTRESSE OCUPACIONAL DA ENFERMEIRA DE CENTRO DE MATERIAL

20. CUIDADO: objeto de trabalho ou objeto epistemológico da enfermagem

21. ESTUDO DO ESTRESSE DO ENFERMEIRO COM DUPLA JORNADA DE TRABALHO EM UM HOSPITAL DE ONCOLOGIA PEDIÁTRICA

22. ESTUDO SOBRE ACIDENTES DE TRABALHO OCORRIDOS COM TRABALHADORES DE ENFERMAGEM DE UM HOSPITAL DE ENSINO

23. ACIDENTES COM MATERIAL BIOLÓGICO EM HOSPITAL DA REDE DE PREVENÇÃO DE ACIDENTES DO TRABALHO–REPAT

24. FATORES DE MOTIVAÇÃO E INSATISFAÇÃO NO TRABALHO DO ENFERMEIRO

25. TEORIAS ADMINISTRATIVAS E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO: de taylor aos dias atuais, influências no setor saúde e na enfermagem

26. ASPECTOS ERGONÖMICOS E POSTURAIS EM CENTRO DE MATERIAL

27. ACIDENTES DE TRABALHO COM TRABALHADORES DE ENFERMAGEM

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28. PERCEPÇÃO DOS EFEITOS DO TRABALHO EM TURNOS SOBRE A SAÚDE E A VIDA SOCIAL EM FUNCIONÁRIOS DA ENFERMAGEM EM UM HOSPITAL

29. ACIDENTE DO TRABALHO EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO: um estudo sobre a ocorrência e os fatores de risco entre trabalhadores de enfermagem

30. O TRABALHO DE ENFERMAGEM NA PRODUÇÃO DE CUIDADOS DE SAÚDE NO MODELO CLÍNICO

31. OCORRÊNCIA DE ACIDENTE DE TRABALHO POR MATERIAL PERFUROCORTANTE ENTRE TRABALHADORES DE ENFERMAGEM DE UM HOSPITAL

32. PROCESSO DE TRABALHO EM SAÚDE E ENFERMAGEM EM UTI NEONATAL

33. O TRABALHO GERENCIAL EM ENFERMAGEM

34. AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS TRABALHADORES DE ENFERMAGEM NÃO ENFERMEIROS (TÉCNICOS E AUXILIARES DE ENFERMAGEM) SOBRE O TRABALHO EM UNIDADE DE TERAPIA …

35. ENFERMAGEM DO TRABALHO-PROGRAMAS, PROCEDIMENTOS E TÉCNICAS

36. CONDIÇÕES ERGONÔMICAS DA SITUAÇÃO DE TRABALHO, DO PESSOAL DE ENFERMAGEM, EM UMA UNIDADE DE INTERNAÇÃO HOSPITALAR

37. ALGUNS PROBLEMAS OCUPACIONAIS DECORRENTES DO TRABALHO DE ENFERMAGEM NO BRASIL

38. SAÚDE E TRABALHO DE MULHERES PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM EM UM HOSPITAL PÚBLICO

39. O TRABALHO DO ENFERMEIRO NOS EQUIPAMENTOS DE SAÚDE MENTAL DA REDE PÚBLICA

40. CONHECIMENTO DE ENFERMAGEM EM SAÚDE DO TRABALHADOR ORIUNDO DE DISSERTAÇÕES E TESES

41. A HUMANIZAÇÃO DO TRABALHO PARA OS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM

42. ACIDENTES DE TRABALHO E DOENÇA OCUPACIONAL: estudo sobre o conhecimento do trabalhador hospitalar dos riscos à saúde de seu trabalho

43. A SITUAÇÃO DE TRABALHO DO PESSOAL DE ENFERMAGEM NO CONTEXTO DE UM HOSPITAL ARGENTINO: um estudo sob a ótica da ergonomia

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44. O COTIDIANO DO TRABALHO DA ENFERMAGEM EM UTI: prazer e sofrimento

45. A MULHER TRABALHADORA DE ENFERMAGEM E OS DISTÚRBIOS OSTEOMUSCULARES RELACIONADOS AO TRABALHO

46. QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO DE PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM, ATUANTES EM UNIDADES DO BLOCO CIRÚRGICO, SOB A ÓTICA DA SATISFAÇÃO

47. STRESS NO TRABALHO DO ENFERMEIRO

48. ACIDENTE DE TRABALHO COM MATERIAL BIOLÓGICO EM TRABALHADORES DA EQUIPE DE ENFERMAGEM

49. ABSENTEÍSMO NA EQUIPE DE ENFERMAGEM: análise da produção científica

50. A EDUCAÇÃO PARA O SÉCULO XXI EA FORMAÇÃO DO PROFESSOR REFLEXIVO NA ENFERMAGEM

51. A MOTIVAÇÃO NO TRABALHO DA EQUIPE DE ENFERMAGEM

52. O PROCESSO DE ENFERMAGEM DO TRABALHO: a sistematização da assistência de enfermagem em saúde ocupacional

53. PROBLEMAS DE SAÚDE E RISCOS OCUPACIONAIS: percepções dos trabalhadores de enfermagem de unidade materna infantil

54. REINSERÇÃO DO TRABALHADOR ALCOOLISTA NO CONTEXTO LABORAL: a percepção do enfermeiro do trabalho

55. HUMANIZAÇÃO E TRABALHO NA ENFERMAGEM

56. QUALIDADE DE VIDA E CAPACIDADE PARA O TRABALHO DOS PROFISSIONAIS EM ENFERMAGEM NO TRABALHO EM TURNOS

57. O TRABALHO DE ENFERMAGEM E SUA ARTICULAÇÄO COM O PROCESSO DE TRABALHO EM SAÚDE COLETIVA: rede básica de saúde

58. DIVISÄO SOCIAL DO TRABALHO E ENFERMAGEM

59. ESTUDO DOS RISCOS À SAÚDE DAS PESSOAS QUE TRABALHAM NA ENFERMAGEM HOSPITALAR

60. A (IN) SATISFAÇÃO DO ENFERMEIRO NO TRABALHO: implicações para o gerenciamento das ações de enfermagem-aspectos teóricos

61. ENFERMAGEM DO TRABALHO: conceitos e prática

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62. RISCOS NO TRABALHO DE ENFERMAGEM EM UM CENTRO MUNICIPAL DE SAÚDE

63. A PARTICIPAÇÃO DA ENFERMAGEM NO TRABALHO EDUCATIVO EM SAÚDE COLETIVA: um estudo dos relatos de experiência produzidos por enfermeiros brasileiros

64. A PARTICIPAÇÃO DA ENFERMEIRA DO TRABALHO NO PROGRAMA DE CONSERVAÇÃO AUDITIVA

65. FATORES DE RISCO DOS DISTÚRBIOS OSTEOMUSCULARES RELACIONADOS AO TRABALHO DE ENFERMAGEM

66. A PRODUÇÃO CIENTÍFICA SOBRE OS ACIDENTES DE TRABALHO COM MATERIAL PERFUROCORTANTE ENTRE TRABALHADORES DE ENFERMAGEM

67. O ACOLHIMENTO E OS PROCESSOS DE TRABALHO EM SAÚDE: o caso de Betim, Minas Gerais, Brasil

68. O TRABALHO DE ENFERMAGEM

69. O TRABALHO DE ENFERMAGEM EM SAÚDE MENTAL: contradições e potencialidades atuais

70. PRAZER E SOFRIMENTO NO TRABALHO: contribuiçöes à organizaçäo do processo de trabalho da enfermagem

71. O DESGASTE DO TRABALHADOR DE ENFERMAGEM: relaçäo trabalho de enfermagem e saúde do trabalhador

72. CONSIDERAÇÕES SOBRE A ENFERMAGEM ENQUANTO TRABALHO

73. ENFERMAGEM COMPREENDIDA COMO VOCAÇÃO E SUA RELAÇÃO COM AS ATITUDES DOS ENFERMEIROS FRENTE ÀS CONDIÇÕES DE TRABALHO

74. ESTRESSE, FATOR DE RISCO PARA A SAÚDE DO ENFERMEIRO EM CENTRO DE TERAPIA INTENSIVA

75. O SOFRIMENTO PSÍQUICO EM TRABALHADORES DE UTI INTERFERINDO NO SEU MODO DE VIVER A ENFERMAGEM

76. ANÁLISE DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA DA VERTENTE SAÚDE DO TRABALHADOR DE ENFERMAGEM: subjetividade e trabalho

77. TRABALHO DE ENFERMAGEM EM UMA UNIDADE DE EMERGÊNCIA HOSPITALAR E TRANSTORNOS MENTAIS

78. SUBNOTIFICAÇÄO DE ACIDENTES COM PERFUROCORTANTES NA ENFERMAGEM

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ARTIGOS PARA LEITURA, ANÁLISE E UTILIZAÇÃO COMO FONTE OU REFERENCIA

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ENFERMAGEM COMPREENDIDA COMO VOCAÇÃO E SUA RELAÇÃO COM AS ATITUDES DOS ENFERMEIROS FRENTE ÀS

CONDIÇÕES DE TRABALHO

Rosa Maria Rodrigues Rodrigues RM. Enfermagem compreendida como vocação e sua relação com as atitudes dos enfermeiros frente às condições de trabalho. Ver Latino-am Enfermagem 2001 novembro-dezembro; 9(6):76-82. A proposta é refletir sobre a enfermagem enquanto trabalho, afastando sua concepção amplamente aceita que a identifica a uma atividade de ajuda, sendo que tal concepção poderia ser fator dificultante para o enfrentamento e transformação das condições de trabalho. Tenta situar na história o contexto em que é elaborado o modelo vocacional/religioso e identificar nas falas de alunos do primeiro e quarto ano de um curso de Graduação em Enfermagem as manifestações daquela concepção, apontando para a necessidade da atividade docente ser permeada pela concepção da enfermagem/trabalho. DESCRITORES: enfermagem, trabalho

INTRODUÇÃO

Como atividade no primeiro dia de aula na disciplina de Exercício da Enfermagem

em um Curso de Graduação em Enfermagem, nos últimos três anos, tenho

solicitado que os alunos

escrevam entre outras coisas, qual é o seu entendimento de enfermagem. O que,

predominantemente, tem aparecido é uma concepção da enfermagem enquanto

ajuda, doação, vocação. Até que não haveria nenhum problema nisso, afinal, é

compreensível que o aluno, na primeira semana de aula, tenha tal entendimento

desta prática, pois a sua elaboração teórica a respeito pode identificar-se à do senso

comum. Contudo, percebo que tal postura não é exclusiva de alunos recém

chegados à área da enfermagem, nos parecendo que a ideologia presente na

enfermagem brasileira, desde sua origem, é perpassada pelo entendimento do

trabalho do enfermeiro como importante por estar permeado da uma atuação

caritativa.

Num estudo feito com enfermeiras alemãs(1) percebemos, nos discursos dos

sujeitos da pesquisa, que esta enfermagem idealizada aparece como um dos

elementos de satisfação profissional e de motivação para o trabalho. Como entender

que os enfermeiros, mesmo após anos de exercício profissional, ainda guardem

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aquela visão idealizada da sua prática e se sintam satisfeitos, reconhecidos quando

estão exercendo atividades de ajuda, de doação. O que tal entendimento pode

acarretar ao enfrentamento dos problemas relacionados à saúde do trabalhador

enfermeiro?

Desta maneira, proponho algumas reflexões preliminares acerca de uma possível

relação entre a concepção hegemônica de enfermagem enquanto vocação, serviço,

compatível com o modelo vocacional/religioso e uma, também possível, dificuldade

em se propor ações efetivas no campo da saúde do trabalhador enfermeiro; afinal,

compreendo que ao tomar-se a enfermagem enquanto vocação, subtrai-se dela o

seu caráter de um trabalho realizado em uma sociedade concreta, que tem

carências, e na qual o profissional de enfermagem constitui-se em um trabalhador

que vende a sua força de trabalho para garantir a sua existência.

Tenho como pressuposto o fato de que a concepção que se tem da enfermagem

enquanto ajuda, vocação e não como trabalho, emperra as iniciativas de

organização de seus trabalhadores na busca de condições apropriadas de trabalho,

livre de riscos e menos penosa.

Percebo claramente os limites de tal pretensão. Desta forma, me limitarei a tecer

considerações que indiquem a necessidade de se aprofundar os estudos,

averiguando cientificamente a veracidade ou não de tal pressuposto.

MÉTODOS

Para tecer estas reflexões, fundamentando-as na literatura, pretendo tomar como

orientação um resgate da história da enfermagem, situando o momento em que

acredito estar alicerçada

a atual concepção ainda hegemônica de enfermagem. Além disso, pretendo pontuar

a iniciativa de mudança de concepção que acontece após a década de 80, indicando

a necessidade de um redirecionamento no entendimento da profissão entendendo-a

como uma prática social, como trabalho. A pesquisa bibliográfica foi a fonte para a

construção do texto.

Para ilustrar o que entendo por modelo vocacional/religioso e como isso ainda é

presente nos discursos dos alunos, realizei coleta de dados com alunos do primeiro

e do último ano de graduação em Enfermagem de 1999, solicitando-lhes que

escrevessem o que significa enfermagem para eles, e porque estão fazendo o curso.

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Com a quarta série, solicitei ao professor, presente na sala, espaço para expor aos

alunos a proposta e a colaboração em responder às perguntas, os da primeira

responderam como atividade inicial da disciplina de Exercício da Enfermagem. Tive

o cuidado de esclarecer que eles deveriam responder somente se desejassem e que

seria resguardado o sigilo. Esclareci ainda que os dados destinavam-se a trabalho

para publicação. Forneceram resposta, 37 alunos da primeira série e 23 alunos da

quarta série.

Os dados colhidos foram reunidos e agrupados segundo a convergência de

conteúdo, averiguando a ocorrência nas falas do modelo vocacional/religioso, uma

vez que entendo que a concepção que se tem da enfermagem pode interferir na

compreensão da problemática da saúde do trabalhador de enfermagem. Portanto, o

núcleo central de convergência das falas foi a manifestação da concepção de

enfermagem baseada no modelo vocacional/religioso.

Penso que a perspectiva histórica e dialética seria coerente para este estudo, sendo

o referencial adotado.

ENFERMAGEM E O MODELO VOCACIONAL: A CONTEXTUALIZAÇÃO

A história da enfermagem pode ser situada em antes, durante e depois da Idade

Média. Antes deste período, esta prática era desenvolvida pelas mulheres na

Sociedade Primitiva, pelos escravos, sacerdotes e também por mulheres na

Sociedade Grega.

Nos primitivos, a concepção de saúde/doença estava muito mais ligada ao

sobrenatural, entendido como ação de espíritos; com os gregos, vai ligar-se a

alterações nos humores, relacionando-se a causas objetivas e não apenas

sobrenaturais(2).

Até aquele momento, o ato de cuidar das pessoas estendia-se às funções

domésticas e alargava-se um pouco mais que isso apenas no cuidado às pessoas

de posse, que tinham seus escravos para tal atividade. Apesar de ser exercida pelos

escravos, não perdia sua característica de trabalho doméstico, com um fim em si

mesmo.

Contudo, com o advento do cristianismo e o poderio da igreja, a prática da

enfermagem sofreu profundas transformações. A concepção de saúde/doença é

relacionada ao aspecto religioso onde a subalternidade do ser humano é total a um

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deus que é misericordioso, mas que também se manifesta como castigador. Assim,

à saúde atribui-se um sentido de agrado a Deus e a doença passa a ser tomada

como um castigo(2).

Neste cenário, os executores do que poderia relacionar-se a um trabalho de

enfermagem serão pessoas ligadas à Igreja ou pessoas leigas que tenham um

desenvolvido espírito de caridade.

Afinal, neste novo enfoque, aquele que cuidar dos doentes tem maiores chances de

se aproximar de Deus através da caridade.

Cuidar de pessoas doentes é como garantir junto a Deus a remissão dos pecados,

pois como prega (va) a igreja, todos somos pecadores.

Este período imprimiu profundas marcas na história da humanidade e em função

delas, até o momento atual, estão impressas em nossos valores, em nossas

condutas cotidianas. Parece-me que estas marcas ainda perduram e se explicitam

na concepção de enfermagem de alunos e enfermeiros. É claro que não com esta

relação direta de ação e salvação da alma, mas os preceitos cristãos continuam

muito arraigados em nosso fazer. Principalmente na sua forma idealista de conceber

o mundo, em que se transcende para um mundo extraterreno as esperanças de

viver uma vida plena, já que o mundo terreno é um lugar de padecimento e dor.

O modelo religioso sofre algumas alterações na transição do Feudalismo para o

Capitalismo, em função de que o primeiro já não é capaz de propiciar a organização

do espaço hospitalar, que é modificado com este novo modo de produção. O

hospital, de um lugar em que as pessoas iam apenas para esperar pela sua morte,

transforma-se em um espaço de cura. “O modelo religioso de enfermagem emerge

no mundo cristão, atravessa a Idade Média e vai se defrontar com o capitalismo na

Inglaterra, no final do século XVIII, e com a ascensão da burguesia e sua instalação

como classe social dominante, que dará o significado de arte ou vocação à prática

de enfermagem, para tornar possível o treinamento de alguns agentes.

Portanto, no capitalismo, o modelo religioso é substituído pelo vocacional”(3).

O modelo vocacional diferencia-se em função dos novos agentes que não serão

mais somente os religiosos, mas também pessoas leigas. Contudo, não se trata de

um modelo excludente do modelo religioso. Pelo contrário, muitos preceitos e

ensinamentos religiosos persistirão na enfermagem moderna. A enfermagem

moderna, como designamos a enfermagem que se organiza no século XIX com

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Florence Nightingale, reproduz muitas daquelas características. “Nightingale

legitimou a hierarquia e a disciplina no trabalho de enfermagem, trazidas da sua alta

classe social, da organização religiosa e militar, materializando as relações de

dominação-subordinação, reproduzindo na enfermagem as relações de classe

social. Introduziu o modelo vocacional ou a arte da enfermagem”(3).

Entendo que estas características, em função de se constituírem em construções

históricas, persistem por todo o período capitalista apenas modificando sua forma de

manifestação. Um outro fato é a origem da enfermagem, tanto no Brasil como na

Inglaterra, que está ligada ao voluntarismo de guerra com Florence Nightingale e

Ana Neri, ambas imprimindo tanto os valores militares como o espírito de serviço. “A

ideologia da enfermagem desde sua origem,

e, em particular, a de Ana Neri, para os brasileiros, significa: abnegação, obediência,

dedicação. Isso marcou profundamente a profissão de enfermagem – o enfermeiro

tem que ser alguém disciplinado e obediente. Alguém que não exerça a crítica

social, porém console e socorra as vítimas da sociedade. Por essa razão, os

enfermeiros enfrentam sérias dificuldades de ordem profissional, desde as longas

jornadas de trabalho, baixos salários comparados aos de outros profissionais do

mesmo nível, enfim, sua organização política é frágil e quase sem autonomia

(...)”(4).

Contraditoriamente, é possível perceber no momento atual, que essa concepção de

enfermagem enquanto vocação e do enfermeiro enquanto aquela pessoa que ajuda,

que se doa, não é compatível com o modo como vivemos, em que o trabalhador

enfermeiro precisa vender a sua força de trabalho para garantir a sua existência.

Os discursos dos enfermeiros no trabalho de Cunha, estavam carregados dos

valores de ajuda, de dedicação, aos quais me referi como tendo sido construídos

pelo modelo vocacional/

religioso. Esta autora faz uma reflexão pontual sobre estes valores e sua relação

com o processo motivacional que, acredito, enriquece a afirmação de que o

enfermeiro, muitas vezes, ainda se orienta por estes valores, mas que entendo seja

preciso reorientá-los. Para ela:

“A motivação caracterizada por sentimentos idealizados da profissão conflita-se com

a realidade determinada pelo mercado de trabalho capitalista. Como ajudar os

pacientes, ser solidária, prestar uma assistência integral, sentir-se útil, ser valorizada

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e recompensada em um contexto onde esses motivos e valores inexistem? Como

atuar em condições desumanas, onde são priorizadas outras finalidades que não

contemplam essa relação de ajuda, essa solidariedade e sentirem-se úteis e

importantes?”(1).

Embora as enfermeiras tenham esses valores construídos, sua atuação no mercado

de trabalho é suficiente para fazer cair por terra, uma vez que neste não há espaço

sequer para o ser humano doente, sendo este apenas uma peça na engrenagem do

sistema de saúde, quanto mais para os trabalhadores. É neste sentido que é preciso

não construir este mundo idealizado para o aluno, pontuando objetivamente os

limites e as possibilidades do trabalhador enfermeiro.

Desta forma, vejo justificar-se o redirecionamento da nossa prática, seja através da

assistência, do ensino e da pesquisa, permeando-a pelo entendimento da

enfermagem enquanto trabalho.

Penso que isto se traduz em uma forma objetiva de estar refletindo sobre a

profissão, afastando a postura que até menos de duas décadas atrás era de total

conformismo e aceitação de imposições, incluindo-se aí as condições de trabalho.

“Este posicionamento não é freqüente porque as profissões da saúde

(principalmente a medicina) são tomadas como desvinculadas do mundo do trabalho

que obedece às leis sociais de necessidades, de carecimento, e esta desvinculação

as coloca acima e além do mundo do trabalho, exaltando suas qualidades de

„verdade‟, de „ciência‟, „dedicação‟, de „bem‟, „sacerdócio‟ e de „autonomia‟”(5).

Nesse texto vemos a advertência para que a enfermagem deixe de ser assim

considerada, para que se possa analisá-la em realidades concretas, apreendendo as

contradições dinâmicas da

prática e contribuindo com estratégias de mudança da realidade.

Entendo que o enfrentamento das dificuldades dos trabalhadores da enfermagem,

no que se refere às condições do trabalho que realizam, passa por esta tomada da

mesma como um trabalho pois, só assim poderemos vislumbrar alguma

possibilidade de transformação da nossa realidade.

Na década de 80, inicia-se no Brasil um movimento de redirecionamento e de

tomada da enfermagem em uma nova perspectiva tendo sido elaborados diversos

trabalhos com o novo enfoque. Uma das elaborações do entendimento de

enfermagem que, me parece, se encaminha no sentido de esta prática em outra

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concepção, dá conta de que: “A enfermagem é uma ação, ou uma atividade

realizada predominantemente por mulheres que precisam dela para reproduzir a sua

própria existência e utilizam um saber advindo de outras ciências e de uma síntese

produzida por ela própria para apreender o objeto da saúde naquilo que diz respeito

ao seu campo específico (cuidado de enfermagem?) visualizando o produto final,

atender às necessidades sociais, ou seja, a promoção da saúde, prevenção de

doenças e a recuperação do indivíduo, ou o controle da população”(5).

Nesta definição, me parece explícito que a enfermagem está sendo tomada como

um trabalho, uma vez que a sua ação engloba todos os momentos do processo de

trabalho, os instrumentos, os meios e a finalidade. Quando defendemos a tomada da

enfermagem como trabalho, precisamos afastar algumas definições que idealizam o

conceito de trabalho, como por exemplo, o trazido para discussão na disciplina de

saúde do trabalhador no contexto da enfermagem, colocando que: “Qualquer forma

de trabalho humano; tem uma dignidade inalienável; é atividade de um ser racional e

livre.

Seu valor se mede pela perfeição com que é realizado. É um dever inelutável de

todo homem, qualquer que seja a concepção religiosa que o inspira. Este dever é

uma vocação do homem de completar e prolongar pelo trabalho a obra criadora de

Deus e a vocação de realizar a sua própria plenitude, pelo desenvolvimento de suas

energias físicas e espirituais. É penoso e esta pena dá-lhe o valor de purificação e

redenção. É um direito reconhecido pelas DUDH”(6).

Diferentemente de tal conceito que, carregado do entendimento de um homem

idealizado, apartado de sua história e do trabalho como aquela tarefa de penúria que

aproxima-nos de Deus, característica do período cristão, é preciso compreender o

trabalho como a atividade humana que possibilita ao homem se produzir, se fazer

homem. Pelo trabalho, “o ser humano se contrapõe e se afirma como sujeito num

movimento e ação teleológica sobre a realidade objetiva. Modificando a realidade

que o circunda, modifica-se a si mesmo. Produz objetos e, paralelamente, altera sua

própria maneira de estar na realidade objetiva e de percebê-la. E – o que é

fundamental – faz a sua própria história. Toda a chamada história mundial –

assegura Marx – não é senão a produção do homem pelo trabalho humano”(7).

Feitos tais esclarecimentos sobre como entendo a enfermagem e o trabalho, inicio a

discussão dos dados colhidos relacionando-os com estes conceitos explicitados.

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ANÁLISE DOS DADOS ORIENTADA PELA COMPREENSÃO DA ENFERMAGEM

SOB O MODELO VOCACIONAL/RELIGIOSO

Dos alunos do primeiro ano de enfermagem de 1999, 37 responderam às questões,

sendo que pude identificar traços do modelo vocacional/religioso em 18 falas, as

quais, passo a transcrever a seguir.

(...) como enfermeiro, vou poder ajudar aqueles que precisam de auxílio.

(...) é um dom de trazer alívio para aqueles que sofrem

(...) É a parte ‘social’ que tanto precisa um hospital

(...) é um meio de ajudar cada pessoa (...)

(...) que poderei ser solidária com as pessoas e assistir a comunidade de maneira

gratificante.

(...) acho muito bonita pelo fato de ajudar as pessoas.

(...) (...) ajudar as pessoas tanto prevenindo doenças como ajudando a curá-las. (...)

(...) somos treinados para que através do nosso trabalho, possamos ajudar os

outros.

Enfermagem = compreensão, auxílio ao próximo, paciência, proporcionar vida, dar

bem-estar, solidariedade. É uma profissão que pode proporcionar satisfação

pessoal.

(...) sendo enfermeira posso ajudar as pessoas doentes, pois ser enfermeira é uma

profissão que se caracteriza em ajudar quem necessita.

(...) é ajudar no que for preciso, fazendo com que o doente se sinta bem.

(...) exige muita paciência e qualificação por se tratar de ‘vidas’ que necessitam de

cuidados e ajuda.

Talvez seja uma das profissões que mais ajudam o ser humano e é talvez por um

desses motivos que escolhi o curso.

(...) consiste em cuidar e ajudar as pessoas quando estão doentes ou sadias. (...)

(...) se volta a ajudar pessoas, dando um bom tratamento quando estas se

encontram com problemas (...)

(...) aptidões que um profissional da área precisa ter

(...) paciência, facilidade de relacionamento com pessoas e gostar de trabalhar em

hospitais, (...) é para mim um curso que ajuda pessoas (...)

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(...) uma das formas pelas quais vou ajudar, orientar, confortar... pessoas que

precisam de cuidados.

(...) é inteiramente tratar e dar apoio as pessoas que estão precisando de ajuda.

(...). Ter muita compreensão, carinho e respeito com o ser humano. (...)

O conteúdo das falas destes alunos, ao ingressarem na Universidade, nos permite

afirmar que um percentual elevado deles (48,6%) atribui à enfermagem as

características de ajuda, de valorização do contato com o ser humano como forma

de satisfazer uma necessidade pessoal de ajudar os outros. Estes traços coincidem,

em muitos momentos, com aqueles valores inculcados pelo modelo

religioso/vocacional, sendo a ajuda uma das formas de alcançar a gratificação, seja

no mundo terreno sentindo-se satisfeitos com o trabalho ou implicitamente a

recompensa que pode ser conseguida em uma vida posterior por estar ajudando.

Por outro lado, observei no restante dos respondentes, alguns apontamentos

indicando a tomada da enfermagem em outra direção. Em alguns momentos, esse

redirecionamento apenas enseja uma escolha profissional, ligada ao fato de ser

ainda uma profissão com amplo campo de trabalho, como se pode ver nestas falas.

(...) e também uma forma de garantir um emprego numa profissão que ainda não

está saturada.

(...) a enfermagem também é um curso muito bom, com amplo campo de trabalho.

(...)

(...) é um curso interessante, tem muito campo de trabalho, (...)

(...) Posso garantir que não foi uma tarefa fácil escolher o curso que vai me garantir

a sobrevivência para o resto de minha vida.

(...) um curso reconhecido nacionalmente e com campo de trabalho (...)

(...) influências das pessoas que me disseram ter maior campo de trabalho (...)

Os demais respondentes refletem sobre a enfermagem e sua escolha, em função de

que gostariam de fazer um outro curso na área da saúde, principalmente medicina,

mas que em virtude da não aprovação no vestibular acabaram optando pela

enfermagem, por ser o que mais se aproximava da área da saúde. Esta questão

com certeza é bem mais complexa e não mereceria ser apenas citada, mas dados

os limites deste trabalho, acredito não ser possível discutir os determinantes da

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priorização da medicina como o curso mais procurado, nem os possíveis

desdobramentos que isso possa trazer no exercício do trabalhador enfermeiro que

não entra no curso de graduação com uma predisposição para cursar a

enfermagem.

Os dados colhidos com os alunos do quarto ano do curso de enfermagem de 1999,

não se apresentaram com as mesmas características dos colhidos com os alunos do

primeiro ano. Na

realidade, o resultado apresentou-se bastante inverso. O que encontrei

predominante nas respostas daqueles alunos foi uma concepção mais elaborada da

enfermagem, uma visão da enfermagem como profissão que faz parte da área da

saúde e que desenvolve atividades de assistência, (cuidado direto?), prevenção,

orientação e administração, como podemos ver nestes fragmentos de fala.

(...) é uma profissão que muitas vezes é confundida com dom. (...)

(...) é a profissão que tem por objetivo administrar a assistência aos pacientes, fazer

educação em saúde para prevenção, e tem como objeto de estudo o cuidado ao

paciente (...)

(...) área da saúde que presta assistência ao paciente, direta ou indiretamente.

Diretamente através de cuidados, procedimentos e técnicas visando a recuperação

da saúde, fazendo educação em saúde, prevenindo doenças e indiretamente,

coordenando a equipe de enfermagem e administrando a unidade.(...)

(...) Enfermagem para mim é uma profissão como qualquer outra, mas um tanto

estigmatizada e que fica escondida, muitas vezes, atrás do médico. A enfermagem

se destina ao cuidar, prestar assistência, orientar. (...)

(...) área da equipe de saúde que está voltada aos cuidados com pacientes e

prevenção, por isso atendendo nos 3 setores da saúde (1º, 2º, 3º).(...)

(...) profissão que se dedica tanto ao cuidado direto da pessoa como a prevenção de

doenças, orientação referente a todos os aspectos que envolvem o ser humano

desde a saúde coletiva o planejamento familiar, o fator psicológico de cada

indivíduo, enfim o tratamento do ser humano como um todo. (...)

(...) profissão onde se presta assistência a cliente/paciente e além da assistência se

administra hospital/posto e outros. (...)

(...) uma profissão que assiste o paciente, tanto na prevenção quanto no tratamento

da doença

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(...) profissão que presta assistência ao paciente, tanto internado quanto domiciliar.

(...) profissão que tem por objetivo a assistência ao paciente, seja ela prestada direta

ou indiretamente dentro ou fora de qualquer instituição. (...)

(...) profissão que eu gostei de conhecê-la e me adaptei as suas exigências. (...)

(...) profissão que tem como objetivo a assistência humanizada do indivíduo como

um todo, claro que dentro das limitações impostas pelo meio onde o enfermeiro se

insere. É uma profissão que deve abranger a área de prevenção, curativa, de

educação e pesquisa, voltada para a melhoria do quadro saúde-doença. (...)

Nestas falas, percebo que o aluno que está no quarto ano de enfermagem elaborou

entendimento bastante diferenciado do que está no primeiro. Em seus discursos, a

enfermagem deixa de ser remetida a uma atividade de ajuda, de dedicação, para ser

uma profissão, e como percebemos, já apontam para os limites da profissão dentro

do seu meio. Porém, nosso pressuposto era de que o aluno do quarto ano, também,

manifestasse aquela visão idealizada, uma vez que é a corrente na enfermagem.

Questionamos quais os motivos de termos encontrado tal inversão.

Numa primeira reflexão poderíamos atribuir tal transformação ao fato de que esta

turma de alunos constitui-se na primeira turma a ser formada tendo como orientação

o novo Currículo

Mínimo de enfermagem estabelecido pelo Parecer 314/94 do MEC.

Assim, arriscaria dizer, que este novo enfoque, pode estar sendo construído pela

atual disposição das disciplinas e pelo incremento de disciplinas na área de

Administração no segundo, terceiro e quarto anos como, também, as disciplinas

instrumentalizadoras da pesquisa já no terceiro ano, e continuando no quarto ano

(Projeto de Conclusão de Curso I e II). Além dessas, muitas outras alterações nas

disciplinas e no tratamento dos conteúdos foram implementadas e isso com certeza,

redireciona o trabalhador que está sendo formado.

Contudo, são apenas apontamentos e que não podem ser tomados como totalmente

seguros, uma vez que uma análise da nova grade curricular em conjunto com todas

as disciplinas ainda não foi implementada. Porém, acredito que estes dados já

apontam indícios de que diferenças se construíram. E uma das causas pode ser a

mudança do Currículo Mínimo. Por outro lado, as mudanças nas estruturas formais

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do ensino estão impregnadas pelo conjunto das transformações que acontecem em

todos os espaços sociais.

Nesse sentido, pergunto-me quais alterações na sociedade estão acontecendo que

determinam uma outra percepção da enfermagem?

Penso que os limites desse trabalho e a natureza dos dados colhidos não me

permitem, nesse momento, aprofundar essa discussão, apontando a necessidade de

uma pesquisa específica para esclarecer essa indagação.

Pude perceber nítidos traços daquela concepção vocacional religiosa da

enfermagem apenas em três falas dos alunos, como se pode ver:

Estou cursando enfermagem, pois gosto de lidar com pessoas e ajudar a suprir as

necessidades básicas biopsicosociais das pessoas que precisam de ajuda e

orientação.

Para mim enfermagem é uma arte, pois cuidar do bem estar do ser humano requer

muito amor, muita dedicação e muita técnica.

(...) é uma profissão linda, quando desenvolvida com responsabilidade,

competência, amor (...).

Desta maneira, acredito poder afirmar que a maioria dos alunos do quarto ano, não

tem como pressuposto para o seu trabalho somente a questão da ajuda. Acredito

que isso seja fruto de um conjunto de determinações, podendo ser incluído ainda o

movimento de crítica da profissão que se iniciou na década de 80 e que, com

certeza, contribuiu para reflexões e mudanças na prática docente e também na

assistencial. É claro que muito ainda há por ser feito.

Gostaria de reforçar a necessidade de intensificar a atitude docente tomando a

enfermagem como uma prática complexa, exercida em uma sociedade concreta,

onde o trabalhador não é muito mais que um artigo descartável como os demais

meios e instrumentos de trabalho. Entendo que a escola por si não possa ser

responsabilizada pelas dificuldades do trabalhador no mercado de trabalho como

também pelas transformações na realidade. Porém, da mesma forma que repassar

uma visão idealizada do enfermeiro pode contribuir para aumentar sua dificuldade

de inserção no trabalho e sua luta por melhores condições no mesmo, uma nova

postura concebendo o trabalho da enfermagem com todos os seus limites e

potencialidades, pode contribuir, grandemente, para transformar as relações de

trabalho na enfermagem e na saúde.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pretensão neste ensaio reflexivo foi apontar algumas questões que me parecem

importantes quando nos propomos a discutir a saúde do trabalhador enfermeiro e

dos demais trabalhadores da equipe. Pretendia levantar a necessidade de direcionar

o entendimento, enquanto docentes em enfermagem, para a enfermagem como um

trabalho, pois acredito que isso reconstrói a postura frente a reivindicações por

melhores condições de trabalho para a enfermagem.

Além desse aspecto específico de saúde no trabalho, acredito que, ao nos

percebermos trabalhadores (nós enfermeiros), muitos dos conflitos entre nós e a

equipe de enfermagem (técnicos, auxiliares, atendentes) são redimensionados.

Afinal passamos a coexistir em igualdade de condições. O que nos aproximaria dos

demais agentes.

Precisamos definir a que classe pertencemos. Somos da classe trabalhadora? Nos

assumimos como tal, ou somos apenas intermediários entre uma elite e os demais

trabalhadores? Acredito que esta última posição seja a dominante até o momento. Aí

podem estar residindo alguns de nossos “conflitos existenciais”. Sua superação,

passa pela compreensão do enfermeiro como um trabalhador.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Cunha K de C. O contexto e o processo motivacional vivenciado por enfermeiras. [tese]. São Paulo: Escola de Enfermagem/USP; 1994. 2. Silva G. Enfermagem profissional análise crítica. 2.ed. São Paulo (SP): Cortez; 1989. 3. Almeida MCP, Rocha JSY. O saber da enfermagem e sua dimensão prática. 2.ed. Paulo (SP): Cortez; 1989. 4. Germano RM. Educação e ideologia da enfermagem no Brasil. 3. ed. São Paulo (SP): Cortez; 1993. 5. Almeida MCP, Rocha SMM. Considerações sobre a enfermagem enquanto trabalho. In: Almeida MCP, Rocha SMM, organizadoras. O trabalho da enfermagem. São Paulo (SP): Cortez; 1997. p.15-26. 6. BRASIL/MEC, 1975. Trabalho Cascavel. Disciplina: A Saúde do Trabalhador no Contexto da Enfermagem, 1999. 7. Frigotto G. Educação, crise do trabalho assalariado e do desenvolvimento: teorias em conflito. In: Frigotto G, organizador. Educação e crise do trabalho: perspectivas de final de século. Petrópolis (RJ): Vozes; 1998. p. 25-54.

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Revista Latino-Americana de Enfermagem Print version ISSN 0104-1169 Rev. Latino-Am. Enfermagem vol.9 no.5 Ribeirão Preto Sept. 2001 http://dx.doi.org/10.1590/S0104-11692001000500015

Notas e Informações

A PARTICIPAÇÃO DA ENFERMEIRA DO TRABALHO NO PROGRAMA DE CONSERVAÇÃO AUDITIVA

Maria Cristina Ferreira Baggio1

Maria Helena Palucci Marziale2

O presente texto tem por objetivo ressaltar a importância da participação enfermeira

do trabalho no Programa de Conservação Auditiva direcionados a trabalhadores

expostos a elevados níveis de ruído através de ações baseadas no processo de

enfermagem buscando assim, ampliar os conhecimentos desta especialidade e seu

efetivo papel na equipe multiprofissional de atenção ao trabalhador.

PALAVRAS CHAVE: enfermagem, trabalho, ruído, perda auditiva, enfermagem do

trabalho

INTRODUÇÃO

A Enfermagem do Trabalho, como especialidade, vem buscando desenvolver e

aprofundar conhecimentos e ampliar seu papel junto a área de saúde do trabalhador

desenvolvendo pesquisas que visam fundamentar teoricamente sua prática

profissional, seguindo a trajetória da enfermagem na conquista de sua

profissionalização.

Na evolução da Enfermagem no Brasil, pode-se observar que foram utilizadas

diversas formas de organizar o cuidado e a assistência prestada ao cliente, dentre

as quais está o processo de enfermagem, considerado um instrumento de trabalho

básico para o enfermeiro no desempenho de suas atividades profissionais(1).

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Em nossa atuação como enfermeira do trabalho, durante a realização do

levantamento de dados sobre os limiares auditivos de trabalhadores de uma usina

de açúcar e álcool da região de Ribeirão Preto-SP, expostos a níveis de ruídos

elevados, nos chamou a atenção como o planejamento de nossas ações pautadas

no processo de enfermagem poderiam ser relevantes para a execução do programa

de conservação auditiva direcionados àqueles trabalhadores. Assim, buscando

divulgar nossa experiência elaboramos o texto ora apresentado.

EXPOSIÇÃO AO RUÍDO

Algumas condições de trabalho expõem o homem a níveis elevados de pressão

sonora e, quando esta exposição é prolongada e sem efetiva proteção, poderá

ocorrer perda de audição, tornando bastante prejudicada a relação do homem com o

meio: o indivíduo se isola ou é isolado(2).

O ruído e suas conseqüências para o ser humano são um problema peculiar às

novas gerações. Embora dados históricos apontam a preocupação com seus efeitos

desde 47 a. C., nas últimas décadas, ele se transformou numa das formas de

poluição que mais atinge a humanidade, trazendo conseqüências muitas vezes

irreversíveis(3).

Devido às alterações auditivas que os trabalhadores expostos ao ruído vêm

apresentando, muitos estudos têm sido realizados a fim de avaliar os limiares

auditivos máximos de exposição, a extensão dos danos causados à audição

humana, o investimento das empresas na proteção dos trabalhadores e a

conscientização desses trabalhadores mediante o uso adequado de protetores

auriculares(4-6).

A exposição contínua ao ruído acima de 80 decibéis durante seis a oito horas

diárias, pode levar um indivíduo a uma diminuição gradual da acuidade auditiva(7).

Com vistas a prevenção de danos auditivos foram estabelecidas normas legais que

estabelecem limites de tempo de exposição a ruídos, métodos de avaliação das

perdas auditivas e a necessidade de implantação do Programa de Conservação

Auditiva (PCA).

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Este programa compreende medidas que visam a redução de riscos ambientais

através de proteção coletiva, ou seja, monitorização dos níveis de pressão sonora,

modificação ou substituição de equipamentos que elevam o nível de ruído, e

proteção individual, que se destina ao fornecimento do equipamento de proteção

adequado, conscientização dos trabalhadores quanto ao seu uso e monitorização

audiométrica, para medida de controle e avaliação da efetividade do PCA.

O desenvolvimento das atividades do PCA conta com uma equipe multiprofissional,

sendo a enfermeira do trabalho um elemento fundamental, devido a sua participação

na prevenção primária, secundária e terciária, bem como a reabilitação de

funcionários portadores Perda Auditiva Induzida pelo Ruído Ocupacional (PAIRO).

RELATO DE NOSSA EXPERIÊNCIA

Atuamos em uma empresa do setor sucroalcooleiro, que desenvolve atividades de

cultivo e extração de cana-de-açúcar e produção de açúcar e álcool, que conta com

recursos humanos composto por 1200 trabalhadores lotados no setor da

agropecuária e 292 trabalhadores lotados na usina de açúcar e álcool, sendo que

destes 180 mantêm contrato de trabalho temporário e 102 são fixos.

Dentre os agentes laborais que merecem atenção dos profissionais do serviço de

medicina e segurança do trabalho da empresa está o ruído, devido aos níveis

observados superiores a 80 decibéis.

Assim, em 1995, iniciamos a realização de exames periódicos junto aos

trabalhadores fixos da usina de açúcar e álcool expostos a ruídos. Dentre os 102

trabalhadores submetidos a audiometria tonal, observamos que 69 trabalhadores, ou

seja, 62% eram portadores de PAIRO. Diante de tal diagnóstico foi estabelecido

como obrigatoriedade o uso dos protetores auriculares como Equipamento de

Proteção Individual (EPI).

Os protetores auriculares selecionados foram o do tipo "plug" para serem usados

pelos trabalhadores expostos a ruídos até 90 decibéis e do tipo "concha" para

àqueles expostos a ruído entre 91 e 110 decibéis.

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Os trabalhadores foram orientados individualmente sobre a maneira correta da

colocação do protetor auricular e assistiram a uma palestra de orientação quanto a

necessidade do uso do referido Equipamento de Proteção Individual.

No início de 2001, durante inspeção aos postos de trabalho observamos que alguns

trabalhadores estavam utilizando o protetor auricular de maneira inadequada, diante

do fato realizamos uma observação sistematizada solicitando a cada um dos 102

trabalhadores fixos da usina a colocação do referido EPI. Como resultado

constatamos que 46(38%) trabalhadores, apesar de afirmarem saber usar

corretamente o protetor auricular, quando solicitados para realizar o procedimento, o

faziam de forma inadequada.

Buscando pelos resultados das audiometrias constatamos ainda que nestes

trabalhadores foram registrados os maiores índices de progressão da perda auditiva,

quando comparada a população de trabalhadores do setor.

Esta constatação levou-nos a refletir sobre o papel educativo da enfermeira do

trabalho e sobre a avaliação das ações executadas, estabelecendo, neste momento,

estreita relação com o processo de enfermagem, ou seja, a coleta de dados,

diagnóstico de enfermagem, implementação e avaliação da assistência de

enfermagem, devendo, estas fases, serem dinâmicas e inter-relacionadas.

O planejamento da assistência de enfermagem inicia-se com a determinação de um

plano de ação aos trabalhadores, envolvendo principalmente a prevenção e

promoção da saúde. O estabelecimento de novas metas deve ser centrado no

cliente, respeitando a capacidade e limitação do trabalhador e apropriadas à

realidade do trabalho.

A avaliação da assistência considera a resposta do cliente aos cuidados prestados e

as modificações ou impacto das ações implementadas sobre o cliente em relação ao

planejamento. Esta etapa determina até que ponto o plano de trabalho é

fragmentado. Por ser dinâmica, deve ser revisada continuamente, pois à medida que

mudam as condições do cliente, mudam também os dados, exigindo portanto,

constante atualização(1).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O relato ora apresentado nos remete a reflexões sobre quais os fatores que estão

potencialmente associados a não utilização do EPI de maneira adequada pelos

trabalhadores, entre os quais podem ser destacados o desconforto provocado pelo

equipamento, a qualidade e tipo do protetor auricular, a não conscientização da real

necessidade de seu uso, a falta de treinamento, a utilização de ações educativas

inadequadas e sobre a adequacidade da utilização do processo de enfermagem no

direcionamento das ações de enfermagem no Programa de Conservação Auditiva.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Nakatani AYK. Processo de Enfermagem: uma proposta de ensino através da pedagogia da problematização. [tese]. Ribeirão Preto (SP): Escola de Enfermagem/USP; 2000. [ Links ]

2. Russo IP, Santos TM. A Prática da Audiologia Clínica. São Paulo: Cortez; 1993. [ Links ]

3. Mendes R. Patologia do Trabalho. São Paulo: Atheneu; 1995. [ Links ]

4. Correia JW. PAIR e suas complicações médico-periciais. Rev Cipa 2000; 244(21):54-69. [ Links ]

5. Sousa LCA, Pizza MRT. Proposta de nova abordagem e classificação da PAIRO. Rev Cipa 2000; 244(21):95-100. [ Links ]

6. Farias FF, Dantas AA. A Perda Auditiva Induzida Pelo Ruído (PAIR) nos músicos de Aracaju 2001; 254(22):46-57. [ Links ]

7. Brasil, 2001. Normas Regulamentadoras, Brasília, Jun. 2001. (online http://www.ministériodotrabalho.org. [ Links ]

1 Enfermeira do Trabalho, Mestre em Enfermagem pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo; 2 Professor Livre Docente da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OMS para o desenvolvimento da pesquisa em enfermagem, e-mail: [email protected]

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Revista Latino-Americana de Enfermagem versão impressa ISSN 0104-1169 Rev. Latino-Am. Enfermagem v.10 n.4 Ribeirão Preto jul./ago. 2002 http://dx.doi.org/10.1590/S0104-11692002000400015

Artigo de Revisão

A PRODUÇÃO CIENTÍFICA SOBRE OS ACIDENTES DE TRABALHO COM MATERIAL PERFUROCORTANTE ENTRE TRABALHADORES

DE ENFERMAGEM

Maria Helena Palucci Marziale1

Christiane Mariani Rodrigues2

A investigação ora apresentada teve por objetivos identificar as abordagens

metodológicas das pesquisas publicadas em periódicos indexados nas bases de

dados Lilacs e Medline, nos últimos 16 anos, referentes, ao estudo dos acidentes de

trabalho com material perfurocortante e a identificação dos fatores predisponentes à

ocorrência de tais acidentes entre trabalhadores da enfermagem. Foram analisados

55 artigos, sendo 39 internacionais, e 16 nacionais. As abordagens metodológicas

mais utilizadas foram descritiva de campo, pesquisa-ação e bibliográfica. Dentre os

fatores predisponentes a ocorrência dos acidentes em vários países, destaca-se a

prática inadequada de re-encape de agulhas e o inadequado descarte do material.

DESCRITORES: acidentes de trabalho, trabalhadores, enfermagem

INTRODUÇÃO

Os trabalhadores de enfermagem, durante a assistência ao paciente, estão expostos

a inúmeros riscos ocupacionais causados por fatores químicos, físicos, mecânicos,

biológicos, ergonômicos e psicossociais, que podem ocasionar doenças

ocupacionais e acidentes de trabalho.

O contingente de trabalhadores de enfermagem, particularmente o que está inserido

no contexto hospitalar, permanece 24 horas junto ao paciente, em sua grande

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maioria executa o "cuidar" dentro da perspectiva do "fazer" e, conseqüente, expõe-

se a vários riscos, podendo adquirir doenças ocupacionais e do trabalho, além de

lesões em decorrência dos acidentes de trabalho(1).

Os riscos químicos referem-se ao manuseio de gases e vapores anestésicos,

antissépticos e esterelizantes, drogas citostáticas, entre outros. A exposição aos

riscos químicos está relacionada com a área de atuação do trabalhador, com o tipo

de produto químico e tempo de contato, além da concentração do produto. Isso pode

ocasionar sensibilização alérgica, aumento da atividade mutagênica e até

esterilidade(2).

Os riscos do ambiente de trabalho são classificados em real (de responsabilidade do

empregador), suposto (quando se supõe que o trabalhador conhece as causas que

o favorecem) e residual (de responsabilidade do trabalhador).

Os riscos físicos referem-se à temperatura ambiental (elevada nas áreas de

esterelização e baixa em centro cirúrgico), radiação ionizante, ruídos e iluminação

em níveis inadequados e exposição do trabalhador a incêndios e choques

elétricos(3).

Dentre os riscos psicossociais, está a sobrecarga advinda do contato com o

sofrimento de pacientes, com a dor e a morte, o trabalho noturno, rodízios de turno,

ritmo de trabalho, realização de tarefas múltiplas, fragmentadas e repetitivas, o que

pode levar à depressão, insônia, suicídio, tabagismo, consumo de álcool e drogas e

fadiga mental(4).

Dentre os riscos mecânicos, estão as lesões causadas pela manipulação de objetos

cortantes e penetrantes e as quedas(5).

O freqüente levantamento de peso para movimentação e transporte de pacientes e

equipamentos, a postura inadequada e flexões de coluna vertebral em atividades de

organização e assistência podem causar problemas à saúde do trabalhador, tais

como fraturas, lombalgias e varizes. Tais fatores causais estão relacionados a

agentes ergonômicos(3,5). Os fatores ergonômicos são aqueles que incidem na

adaptação entre o trabalho-trabalhador. São eles o desenho dos equipamentos, do

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posto de trabalho, a maneira como a atividade laboral é executada, a comunicação e

o meio ambiente.

Quanto aos riscos biológicos, eles se referem ao contato do trabalhador com

microorganismos (principalmente vírus e bactérias) ou material infectocontagiante,

os quais podem causar doenças como: tuberculose, hepatite, rubéola, herpes,

escabiose e AIDS(2).

O contato com microorganismos patológicos oriundo de acidentes ocasionados pela

manipulação de material perfurocortante, ocorre, com grande freqüência, na

execução do trabalho de enfermagem. A exposição ocupacional por material

biológico é entendida(6) como a possibilidade de contato com sangue e fluidos

orgânicos no ambiente de trabalho, e as formas de exposição incluem inoculação

percutânea, por intermédio de agulhas ou objetos cortantes, e o contato direto com

pele e/ou mucosas.

O maior risco para os trabalhadores da área da saúde é o acidente com material

perfurocortante, que expõe os profissionais a microorganismos patogênicos, sendo a

hepatite B a doença de maior incidência entre esses trabalhadores(7).

Com o surgimento da AIDS, maior ênfase passou a ser dada à exposição desses

trabalhadores ao sangue. A prevenção ocupacional do HIV tornou-se um grande

desafio aos profissionais de Controle de Infecção Hospitalar e Saúde Ocupacional,

depois de uma enfermeira ter desenvolvido AIDS, em conseqüência de picada

acidental com uma agulha que continha sangue de um paciente infectado pelo HIV,

internado em um hospital da Inglaterra(8). O Centers for Disease Control CDC,

preocupado com a questão da transmissão de HIV e outros patógenos veiculados

pelo sangue, organiza um sistema informatizado de coleta de informações (EPINet),

a partir do qual propõe estratégias para minimizar o problema dos profissionais

expostos ao risco ocupacional de contaminação(9).

Segundo dados do CDC, a estimativa anual de acidentes percutâneos com

trabalhadores da saúde nos hospitais é de 384.325 casos, e o risco de

contaminação com o vírus HIV (AIDS) é de 0,3%, vírus HBV (Hepatite B) é de 6% a

30%, e o risco de contaminação é de 0,5% a 2% para o HCV (Hepatite C)(9).

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Segundo a referida instituição, as conseqüências da exposição ocupacional aos

patógenos veiculados pelo sangue não são só os referentes às infecções, mas

também os relativos ao trauma psicológico ocasionado pela espera do resultado de

uma possível soroconversão e mudanças nas práticas sexuais, no relacionamento

social e familiar, efeito das drogas profiláticas, entre outros.

Em estudo realizado no Brasil, com trabalhadores da saúde, visando à identificação

do risco ocupacional de infecção pelo vírus da imunodeficiência humana(10), foi

constatado que 88,8% dos acidentes de trabalho notificados acometeram o pessoal

da enfermagem.

Dentre os fatores predisponentes a ocorrência de acidentes de trabalho dessa

natureza, está a freqüente manipulação de agulhas pelos trabalhadores de

enfermagem(11).

A Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo, por meio do programa de

DST/AIDS(12) recomenda que os acidentes que envolvam exposição à material

biológico sejam analisados quanto ao material biológico envolvido, ao tipo de

acidente e à situação sorológica do paciente fonte em relação ao HIV. Se for

indicado quimioprofilaxia, ela deverá ser iniciada nas primeiras 2 horas após o

acidente, tendo duração de 4 semanas ou até que se tenha o resultado da sorologia

do paciente fonte.

Embora considerável progresso tenha sido observado sobre o entendimento do risco

ocupacional e HIV(13), os trabalhadores da saúde e, principalmente, os da

enfermagem têm se mostrado resistentes à utilização de equipamentos de proteção

individual, à subestimação do risco de se infectar e à notificação do acidente de

trabalho.

O acidente de trabalho em nosso país deve ser comunicado imediatamente após

sua ocorrência, por meio da emissão da Comunicação de Acidente de Trabalho

(CAT), que deve ser encaminhada à Previdência Social, ao acidentado, ao sindicato

da categoria correspondente, ao hospital, ao Sistema Único de Saúde (SUS) e ao

Ministério do Trabalho(14).

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Apesar de, legalmente, ser obrigatória a emissão da CAT, observa-se, na prática, a

subnotificação dos acidentes de trabalho. O sistema de informação utilizado

apresenta falhas devido à concepção fragmentada das relações de saúde e

trabalho, marcada por uma divisão e alienação das tarefas dos profissionais

responsáveis pelo registro da CAT, os quais privilegiam o cumprimento de normas

burocráticas, mas não o envolvimento profissional com a questão acidentária(15).

As causas da subnotificação de acidentes de trabalho(16), na visão de trabalhadores

de enfermagem de uma cidade do interior paulista, foram atribuídas à falta de

importância dada às pequenas lesões, tal como picada de agulha, e o

desconhecimento sobre a importância da emissão da CAT.

Diante da freqüente ocorrência de acidentes do trabalho ocasionados por material

perfurocortante, observada em nossa atuação profissional, e por acreditarmos que o

trabalhador de enfermagem deva se preocupar com a implementação de práticas

que lhe ofereçam condições seguras para o desempenho de suas atividades

laborais, propusemos-nos realizar a pesquisa ora apresentada cujos resultados

contribuirão para divulgação do conhecimento produzido sobre a referida temática.

OBJETIVOS

- Identificar as abordagens metodológicas dos estudos que se relacionam com a

questão dos acidentes do trabalho com material perfurocortante;

- Levantar os fatores predisponentes aos acidentes do trabalho, ocasionados por

material perfurocortante, na equipe de enfermagem, descritos na literatura.

MATERIAL E MÉTODO

Foi realizado um levantamento bibliográfico retrospectivo, dos últimos 16 anos

(2000-1985), por meio dos bancos de dados Lilacs (Literatura Latino Americana e do

Caribe em Ciências da Saúde), Medline (National Library of Medicine), utilizando os

unitermos "accidents occupational", "needlestick injuries", "nursing staff", "sharps",

"percutaneous injuries", acidentes do trabalho, perfurocortante, trabalho de

enfermagem, risco ocupacional, metodologia de pesquisa.

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Os artigos foram catalogados e analisados buscando-se uma síntese dos fatores

predisponentes aos acidentes do trabalho com material perfurocortante e as

abordagens metodológicas utilizadas.

Foi utilizado, para coleta de dados, um protocolo contendo informações sobre o

periódico, tipo de metodologia usada (descritiva de campo, descritiva bibliográfica,

pesquisa ação, exploratória, experimental, reflexão teórica e relato de experiência) e

os fatores predisponentes à ocorrência dos acidentes. O referido instrumento foi

submetido à apreciação de três enfermeiros pesquisadores, quanto à clareza,

objetividade e conteúdo, sendo considerado adequado para o objeto estudado.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram analisados 55 artigos, sendo 39 internacionais e 16 nacionais. As pesquisas

analisadas foram publicadas nos seguintes periódicos internacionais: "Pediatric

Nursing", "Infection Control", "AAOHN Journal", "Arch Surgery", "American Journal of

Preventive Medicine", "Rev. Investigação Clinica", "AJIC", "American Journal of

Public Health", "AORN Journal", "AIDS Care" e "The New England Journal of

Medicine" e periódicos nacionais: Rev. Escola Enfermagem USP, Rev. Brasileira

Enfermagem, Rev. Enfermagem UERJ, Rev. Brasileira de Saúde Ocupacional, Rev.

Saúde Pública.

Através da Tabela 1, pode-se observar o número de publicações nacionais e

internacionais, segundo o ano de publicação.

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O aumento no número de publicações, no início da década de 90, pode estar

relacionado às descobertas da transmissão dos vírus HIV e HBV, no contato com

sangue, via acidente perfurocortante.

Em três dos artigos (5,50%), foi utilizada a análise qualitativa dos dados, cujo

objetivo era compreender as causas dos acidentes perfurocortantes. Nos outros 52

(94,50%), foi utilizada a análise quantitativa para tratamento dos dados.

Os dados relativos às abordagens metodológicas utilizadas nas pesquisas

analisadas são apresentados na Tabela 2.

Foi observado que as metodologias mais freqüentemente empregadas nas

pesquisas foram a descritiva de campo (40,00%), descritiva bibliográfica (14,50%),

pesquisa-ação (16,40%), exploratória (14,50%).

A pesquisa descritiva baseia-se na descrição de fenômenos relativos à profissão,

baseados em observação, descrição e classificação dos fenômenos observados. É

uma modalidade de pesquisa muito utilizada na enfermagem. Ela se subdivide em

pesquisa de campo, que busca a descrição dos fenômenos em cenários naturais,

examinando profundamente as práticas, comportamentos e atitudes das pessoas ou

grupos em ação na vida real; e pesquisa bibliográfica, que é uma modalidade da

pesquisa descritiva, sendo feita leitura, seleção e registro de tópicos de interesse

para pesquisa(17).

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Pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social, com base empírica, que é concebida e

realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um

problema coletivo, sendo que os pesquisadores e os participantes representativos

da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou

participativo(17).

A pesquisa exploratória inicia-se por algum fenômeno de interesse e, além de

observar e registrar a incidência do fenômeno, busca explorar as dimensões deste, a

maneira pela qual ele se manifesta e os outros fatores com os quais ele se

relaciona(17).

Na pesquisa experimental, o pesquisador manipula a variável independente. Ele

possui o controle sobre a variável independente, ou, conscientemente, manipula

essa variável, observando, posteriormente, seu efeito sobre a variável dependente

que lhe interessa(17).

Relato de experiência consiste em analisar e compreender variáveis importantes ao

desenvolvimento do cuidado dispensado ao indivíduo ou a seus problemas, sendo o

pesquisador um observador passivo ou ativo, e relatar, de forma clara e objetiva,

suas observações(17).

Em relação aos fatores predisponentes à ocorrência de acidente de trabalho com

material perfurocortante, foi constatada por meio das pesquisas analisadas, que a

categoria profissional mais acometida por esse tipo de infortúnio é a dos auxiliares

de enfermagem, que são profissionais que estão em contato direto com o paciente,

na maior parte do tempo, administrando medicamentos, realizando curativos e

outros procedimentos que os mantêm em constante contato com material perfurante

e cortante.

Pode-se abstrair, da análise dos resultados deste estudo, quanto à ocorrência de

acidentes de trabalho e os dados apresentados em outros estudos(7,11,18-19), que a

ocorrência desse tipo de acidentes não está relacionada apenas ao nível de

formação, mas também ao treinamento, capacitação, recursos materiais disponíveis

e cultura local.

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A análise dos artigos permitiu a identificação de que o principal fator associado a

ocorrência do acidente percutâneo é o reencape de agulhas, o qual infringe as

precauções-padrão, antigamente denominadas universais, e que os auxiliares e

técnicos de enfermagem são os que mais comumente realizam esse procedimento

inadequado.

As informações descritas nas pesquisas apontam que os enfermeiros atribuem,

como causas dos acidentes, a sobrecarga de trabalho e negligência médica, e os

atendentes de enfermagem os relacionam à fatalidade.

Em relação aos fatores predisponentes aos acidentes com material perfurocortante,

por meio da Figura 1, são apresentados os fatores mais incidentes.

A orientação para somente reencapar as agulhas usando-se um anteparo ou pinça,

conforme consta das precauções padrão, não tem demonstrado ser eficaz na

prevenção de acidentes, e o seu uso pode reduzir, mas não eliminar, o risco de

exposição ocupacional(19). A disponibilidade das caixas coletoras, utilizadas para

descarte de material, pode ser considerada inadequada, na maioria dos casos.

Recomenda-se que deve haver caixas para descarte disponíveis para pronta

substituição e que deve ser evitado o seu enchimento excessivo, sendo que a tarefa

de substituição deve ser realizada por funcionários treinados dos serviços gerais, e

não pelo pessoal da enfermagem.

Os fatores predisponentes à ocorrência de acidentes com material perfurocortante

identificados por meio das pesquisas estão apresentados na Tabela 3.

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Por meio dos dados descritos na Tabela 3 pode-se perceber que uma série de

fatores podem estar associados à ocorrência de acidentes de trabalho, dentre os

quais existe relação com a peculiaridade das atividades laborais da enfermagem, da

manipulação de materiais de design que não oferecem segurança, da forma de

organização do trabalho, do comportamento dos próprios profissionais e das

condições de trabalho oferecidas.

Os dados da literatura analisada indicam que a falta de sensibilização e

conscientização, a inadequada supervisão contínua e sistemática da prática, a não

percepção individual sobre o risco e a falta de educação continuada são fatores

associados à ocorrência de acidentes de trabalho com material perfurocortante.

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CONCLUSÕES

Os resultados obtidos através desta pesquisa permitem as seguintes conclusões:

Durante o período de 1985 a 2000, foram encontrados 55 artigos indexados cuja

temática abordava a questão dos acidentes de trabalho com material

perfurocortante. Na grande maioria das pesquisas, foi utilizada a análise quantitativa

dos dados, e as abordagens metodológicas para estudar o objeto foram variadas,

havendo predominância do tipo de pesquisa descritiva (54,50%). Alguns autores

(16,40%) utilizaram a pesquisa-ação, (14,50%) a pesquisa exploratória, (9,10%)

pesquisa experimental, (1,80%) o relato de experiência e (1,80%) a reflexão teórica.

Em relação aos fatores predisponentes, pode-se concluir que o reencape de

agulhas, a inadequação dos dispositivos utilizados para descarte e o manuseio de

agulhas foram os principais fatores identificados nas pesquisas analisadas. Uma

série de outros fatores, no entanto, são atribuídos pelos autores como

predisponentes à ocorrência de acidentes de trabalho dessa natureza tais como:

situações de urgência, a falta de capacitação dos profissionais, sobrecarga de

trabalho, fadiga, transporte de material perfurocortante, má qualidade dos materiais,

desconhecimento dos profissionais sobre os riscos de infecção e desconsideração

das precauções padrão recomendadas, desatenção.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Verificou-se que o interesse em relação aos acidentes do trabalho com material

perfurocortante vem aumentando, principalmente após a década de 90, devido aos

danos causados à saúde dos trabalhadores e às instituições e o aumento no número

de casos de AIDS.

Sabe-se que os maiores riscos dos acidentes perfurocortantes não são as lesões,

mas os agentes biológicos veiculados pelo sangue e secreções corporais,

principalmente o HIV e HBV, que estão presentes nos objetos causadores.

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No Brasil, a escassez de dados sistematizados sobre esses acidentes não nos

permite conhecer a magnitude global do problema, dificultando, assim, a avaliação

das medidas preventivas utilizadas atualmente.

A análise dos resultados sugere que todas as categorias de profissionais de

enfermagem estão sujeitas a acidentes com material perfurocortante, o que faz

necessária a realização de estudos aprofundados que detectem as causas mais

comuns e as conseqüências para os profissionais, para possibilitar a elaboração de

programas de educação, treinamento dos profissionais, supervisão contínua e

sistemática e modificações nas rotinas de trabalho, tornando um hábito a prática das

precauções de segurança.

Além da utilização das precauções padrão como medida preventiva, encontram-se

disponíveis, no mercado, dispositivos considerados seguros, como os sistemas sem

agulhas, os de agulhas retráteis e os sistemas protetores de agulhas.

Apesar de a literatura americana demonstrar o impacto positivo desses dispositivos

na redução do número de acidentes perfurocortantes, a maioria das instituições de

saúde no Brasil não tem perspectivas de implantá-los a curto prazo, devido a seu

elevado custo.

É importante que se elabore e implemente um programa de educação continuada

que aborde a questão dos acidentes e exposição a material biológico, esclarecendo

os trabalhadores de enfermagem sobre a importância da notificação, busca de

atendimento médico nas 2 horas que seguem o acidente, sensibilizá-los sobre a

eficácia da vacina para prevenção da hepatite B, esclarecer sobre a utilização de

EPI e precauções padrão.

O sucesso de qualquer programa educativo está diretamente ligado à participação e

reconhecimento por parte dos trabalhadores e apoio da instituição.

REFERÊNCIAS

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O ACOLHIMENTO E OS PROCESSOS DE TRABALHO EM SAÚDE: o Caso de Betim, Minas Gerais, Brasil

1 Departamento de Medicina Preventiva e Social, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade

Estadual de Campinas. Cidade Universitária Zeferino Vaz, Campinas, SP 13083-970 Brasil.

* Falecido Túlio Batista Franco 1

Wanderlei Silva Bueno* 1 Emerson Elias Merhy 1

RESUMO Este trabalho relata experiência de inversão do modelo tecno-assistencial para a saúde, tendo como base a diretriz operacional do acolhimento. O acolhimento propõe que o serviço de saúde seja organizado, de forma usuário-centrada, partindo dos seguintes princípios: 1) atender a todas as pessoas que procuram os serviços de saúde, garantindo a acessibilidade universal; 2) reorganizar o processo de trabalho, a fim de que este desloque seu eixo central do médico para uma equipe multiprofissional – equipe de acolhimento –, que se encarrega da escuta do usuário, comprometendo-se a resolver seu problema de saúde; e 3) qualificar a relação trabalhador-usuário, que deve dar-se por parâmetros humanitários, de solidariedade e cidadania. Por meio da investigação realizada, foi possível observar um aumento significativo do rendimento profissional, dos servidores não-médicos, que passaram a atuar na assistência; esse elevado rendimento profissional determinou, por conseqüência, maior oferta e aumento extraordinário da acessibilidade aos serviços de saúde. Palavras-chave: Avaliação de Programas; Assistência Médica; Assistência Ambulatorial; Serviços de Saúde Comunitários

Introdução

À medida que nos aproximamos dos momentos de relações dos usuários com os

serviços de saúde e com os seus trabalhadores, para verificarmos o seu

funcionamento, vamo-nos surpreendendo com a descoberta de que, sempre que

houver um processo relacional de um usuário com um trabalhador, haverá uma

dimensão individual do trabalho em saúde, realizado por qualquer trabalhador, que

comporta um conjunto de ações clínicas. Ações clínicas aí significam o encontro

entre necessidades e processos de intervenção tecnologicamente orientados, os

quais visam operar sobre o campo das necessidades que se fazem presente nesse

encontro, na busca de fins implicados com a manutenção e/ou recuperação de um

certo modo de viver a vida.

Esses encontros, que se dão entre dois indivíduos, são produzidos em um espaço

intercessor (Merhy, 1997a) no qual uma dimensão tecnológica do trabalho em

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saúde, clinicamente evidente, sustenta-se: a da tecnologia das relações, território

próprio das tecnologias leves (Merhy, 1997b).

Olhando esses momentos – pelo lado do trabalho tanto do médico, quanto do de um

porteiro de um serviço de saúde – são-nos reveladas questões-chave sobre os

processos de produção em saúde, nos quais o acolhimento adquire uma expressão

significativa. Isto é, em todo lugar em que ocorre um encontro – enquanto trabalho

de saúde – entre um trabalhador e um usuário, operam-se processos tecnológicos

(trabalho vivo em ato) que visam à produção de relações de escutas e

responsabilizações, as quais se articulam com a constituição dos vínculos e dos

compromissos em projetos de intervenção. Estes, por sua vez, objetivam atuar sobre

necessidades em busca da produção de algo que possa representar a conquista de

controle do sofrimento (enquanto doença) e/ou a produção da saúde.

Esses processos intercessores – como o acolhimento – são atributos de uma prática

clínica realizada por qualquer trabalhador em saúde, e focá-los analiticamente é criar

a possibilidade de pensar a micropolítica do processo de trabalho e suas

implicações no desenho de determinados modelos de atenção, ao permitir pensar

sobre os processos institucionais por onde circula o trabalho vivo em saúde,

expondo o seu modo privado de agir à um debate público no interior do coletivo dos

trabalhadores, com base em uma ótica usuário-centrada.

No entanto, o tema do acolhimento apresenta-nos um outra possibilidade: a de

argüir sobre o processo de produção da relação usuário-serviço sob o olhar

específico da acessibilidade, no momento das ações receptoras dos clientes de um

certo estabelecimento de saúde.

Olhando assim, como uma etapa deste processo de produção, o acolhimento

funciona como um dispositivo a provocar ruídos sobre os momentos nos quais o

serviço constitui seus mecanismos de recepção aos usuários, enquanto certas

modalidades de trabalho em saúde que se centram na produção de um mútuo

reconhecimento de direitos e responsabilidades, institucionalizados pelos serviços

de acordo com determinados modelos de atenção à saúde.

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Como etapa do conjunto do processo de trabalho que o serviço desencadeia na sua

relação com o usuário, o acolhimento pode, analiticamente, evidenciar as dinâmicas

e os critérios de acessibilidades a que os usuários (portadores das necessidades

centrais e finais de um serviço) estão submetidos, nas suas relações com o que os

modelos de atenção constituem como verdadeiros campos de necessidades de

saúde, para si.

Os encontros e desencontros nessa etapa podem, ao gerar ruídos e estranhamentos

para um olhar analisador (em produção no interior da equipe de trabalhadores),

revelar uma dinâmica instituidora que se abre a novas linhas de possibilidades, no

desenho do modo de se trabalhar em saúde, permitindo a introdução de

modificações no cotidiano do serviço em torno de um processo usuário-centrado,

mais comprometido com a defesa da vida individual e coletiva.

Em síntese, o que propomos é pôr em prática o acolhimento como um dispositivo

que interroga processos intercessores que constroem relações clínicas das práticas

de saúde e que permite escutar ruídos do modo como o trabalho vivo é capturado,

conforme certos modelos de assistência, em todo lugar em que há relações clínicas

em saúde. Além disso, deve também expor a rede de petição e compromisso que há

entre etapas de certas linhas de produção constituídas em certos estabelecimentos

de saúde, interrogando centralmente as relações de acessibilidade.

Qual a vantagem de atuar sobre esses ruídos e processos?

Na medida em que, nas práticas de saúde, individual e coletiva, o que buscamos é a

produção da responsabilização clínica e sanitária e da intervenção resolutiva, tendo

em vista as pessoas, como caminho para defender a vida, reconhecemos que, sem

acolher e vincular, não há produção desta responsabilização e nem otimização

tecnológica das resolutividades que efetivamente impactam os processos sociais de

produção da saúde e da doença.

Tendo como base essas premissas, vejamos adiante, com a descrição de um

processo iniciado junto a uma rede de serviços de saúde, no âmbito municipal, as

possibilidades de introduzir esses percursos, na busca de impactar os mecanismos

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de acesso e de explorar as possibilidades de novos desenhos micropolíticos no

modo cotidiano de realização de certos modelos de atenção à saúde.

O caso de Betim: relato de uma experiência

Em Betim, vivia-se, no ano de 1996, intensa mobilização na rede básica assistencial

para a implantação do acolhimento, diretriz do modelo tecno-assistencial, orientado

nos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS). O acolhimento propõe,

principalmente, reorganizar o serviço, no sentido da garantia do acesso universal,

resolubilidade e atendimento humanizado. Oferecer sempre uma resposta positiva

ao problema de saúde apresentado pelo usuário é a tradução da idéia básica do

acolhimento, que se construiu como diretriz operacional.

Pelo lugar estratégico ocupado por essa proposta, achamos que o acolhimento

deveria ser estudado, para se verificar a sua eficácia e assim oferecer subsídios à

sua consolidação nas Unidades de Saúde, procurando, ao mesmo tempo, viabilizar

seu aperfeiçoamento, enquanto tecnologia de organização de serviços de saúde.

Este estudo é devedor de uma investigação realizada pela Rede de Investigação em

Sistemas e Serviços de Saúde no Cone Sul. Pretende-se, a partir desta

investigação, manter interlocução com as entidades formadoras de recursos

humanos e os diversos serviços de saúde, como exercício por excelência da práxis

como método de construção de novas propostas, substantivas o suficiente para dar

respostas à altura dos desafios na organização de sistemas e serviços de saúde.

Para este estudo, foi eleita a Unidade Básica de Saúde (UBS) Rosa Capuche,

situada no bairro Jardim Petrópolis, com população de 10.256 pessoas na sua área

de abrangência, para o ano de 1996, de acordo com o IBGE.

O ACOLHIMENTO E OS PROCESSOS DE TRABALHO EM SAÚDE

Antes do acolhimento

No ano de 1995 (considerando-se de março de 1995 a fevereiro de 1996 – antes da

implantação do acolhimento), a Unidade fez 1.342 atendimentos em média por mês,

com 1.456 horas trabalhadas, entre todos os profissionais da assistência. O

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42

processo de trabalho era o tradicionalmente conhecido, centrado na figura e no

saber do médico para o atendimento aos usuários. Em vista da baixa oferta de

consultas médicas, para o acesso às mesmas utilizava-se o velho sistema de fichas.

Esta era a única forma de administrar o serviço oferecido em vista da demanda da

população. Os que procuravam consulta e não conseguiam ficha sequer entravam

na Unidade de Saúde, “era do portão pra casa” ou para a peregrinação em outros

serviços.

Em meados de 1995, contando com a assessoria do Laboratório de Planejamento e

Administração de Sistemas de Saúde – Lapa/Unicamp, o grupo dirigente da

Secretaria de Saúde de Betim (incluindo aí o corpo gerencial) discutiu a proposta de

inversão do modelo tecno-assistencial, baseado nas diretrizes do acesso,

acolhimento, vínculo e resolubilidade. Foi a partir daí que a Secretaria Municipal de

Saúde tomou a decisão de implantar o acolhimento em toda a rede de serviços.

Em que consiste o acolhimento enquanto diretriz operacional

O acolhimento propõe inverter a lógica de organização e funcionamento do serviço

de saúde, partindo dos seguintes princípios:

1) Atender a todas as pessoas que procuram os serviços de saúde, garantindo a

acessibilidade universal. Assim, o serviço de saúde assume sua função precípua, a

de acolher, escutar e dar uma resposta positiva, capaz de resolver os problemas de

saúde da população.

2) Reorganizar o processo de trabalho, a fim de que este desloque seu eixo central

do médico para uma equipe multiprofissional – equipe de acolhimento –, que se

encarrega da escuta do usuário, comprometendo-se a resolver seu problema de

saúde.

3) Qualificar a relação trabalhador-usuário, que deve dar-se por parâmetros

humanitários, de solidariedade e cidadania.

Implantação do acolhimento

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O ponto de partida para a implantação do acolhimento foi a decisão do grupo

dirigente da Sesa, tomada através dos órgãos colegiados de direção, quais sejam, o

Grupo de Direção Estratégica – GDE (que reunia a Secretária de Saúde e os

gerentes dos projetos estratégicos) e o Colegiado Gestor (formado pelo GDE e

todos os gerentes de Unidades de Saúde). Essa decisão partia de alguns

pressupostos básicos, como:

1) A maioria das pessoas que necessitavam de atendimento em saúde estavam

excluídas dos serviços, daí a grande desconfiança e, até mesmo, opinião negativa

que os usuários têm dos serviços de saúde.

2) As pessoas que procuravam a Unidade de Saúde faziam-no, majoritariamente,

em busca

da consulta médica, estrangulando completamente este serviço. Por outro lado, um

grande número dessas mesmas pessoas não necessitava da consulta, mesmo que

essa fosse sua demanda individual.

3) O trabalho na Unidade de Saúde era centrado na pessoa e no saber médico,

ficando os outros profissionais subestimados no processo de trabalho, tendo o seu

potencial para a assistência enormemente oprimido, reduzindo a oferta de serviços.

4) A relação trabalhador-usuário sofria de crônica degeneração, causada pela

alienação dos trabalhadores do seu processo de trabalho, ou seja, este se realizava

compartimentado, com os procedimentos sem a necessária integração

multidisciplinar. O objeto de trabalho „problema de saúde‟ recebia, dessa forma, um

tratamento sumário e burocrático, numa relação impessoal com o usuário. O mais

comum mesmo era a sua exclusão. No entanto, os trabalhadores, embora

conscientes dos problemas, sentiam-se impotentes para mudar aquela situação

existente, lamentada por eles próprios. O contexto sugeria, então, aparente

contradição de interesses entre trabalhadores e usuários dos serviços de saúde.

A partir da decisão de implantar o acolhimento, e sob a permanente coordenação da

gerente da UBS, definiu-se pela organização de uma equipe de acolhimento,

composta pelos profissionais de nível superior, por uma técnica e auxiliares de

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enfermagem, para oferecer a escuta dos usuários. Os médicos ficaram na

retaguarda, ou seja, atendendo nos consultórios os usuários encaminhados pela

equipe de acolhimento. Eliminaram-se a ficha e a fila de madrugada, abrindo-se as

portas da Unidade de Saúde, com atendimento a todos os usuários que a

procurassem. Organizou-se a sala de espera, substituindo a recepção.

O Conselho Local de Saúde teve um papel importante para a implantação do

acolhimento. Isso se deu, principalmente, no período da semana anterior à data

prevista, quando o Conselho procurou avisar à comunidade o novo funcionamento

da Unidade de Saúde.

O processo de trabalho no acolhimento O acolhimento modifica radicalmente o

processo de trabalho. O impacto da reorganização do trabalho na Unidade se dá

principalmente sobre os profissionais não-médicos que fazem a assistência. No caso

da UBS Rosa Capuche, consideram-se a enfermeira, a assistente social, a técnica e

a auxiliar de enfermagem. Na atual situação, a equipe de acolhimento passa a ser o

centro da atividade no atendimento aos usuários. Os profissionais não-médicos

passam a usar todo seu arsenal tecnológico, o conhecimento para a assistência, na

escuta e solução de problemas de saúde trazidos pela população usuária dos

serviços da Unidade.

A enfermeira, além de acolher, garante a retaguarda do atendimento realizado pelas

auxiliares de enfermagem. Contribuem nesse processo os protocolos, que orientam

sobre os procedimentos a serem adotados pela equipe de acolhimento. Na UBS

Rosa Capuche, por exemplo, os protocolos orientam o enfermeiro na prescrição de

vários exames e medicamentos, o que aumenta em grande medida a resolubilidade

deste profissional na assistência, favorecendo enormemente o fluxo dos usuários.

No modelo anterior, por a assistência estar centrada no médico, o enfermeiro não

realizava todo o seu potencial técnico, reduzindo sua capacidade de intervenção.

Em estudo comparando este novo modelo com o do período anterior ao

acolhimento, os dados de rendimento mostram que seu rendimento agora é

aumentado em 600%.

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Esse novo papel da enfermagem na Unidade de Saúde, com acolhimento, não se

deu sem tensões. Subjacente a este processo está a disputa pela supremacia do

saber e do poder no serviço de saúde, até então, monopólio médico. Como parte

desse polêmico processo, registram-se pressões da Câmara de Vereadores contra o

atendimento realizado pela enfermeira.

Foi importante também um concorrido debate sobre o acolhimento, promovido pelo

Sindicato dos Médicos de Minas Gerais, que contou com o relato de diferentes

experiências de sua implantação.

É importante registrar que, além de utilizar todo seu arsenal técnico, a enfermeira,

com a reorganização do processo de trabalho, vê-se dotada de maior autonomia na

função que exerce. Essa autonomia deve ser entendida dialeticamente como a

condição que o profissional tem de decidir sobre seu trabalho, como o exercício

pleno do „saber-fazer‟ no momento do procedimento assistencial.

Em relação à auxiliar de enfermagem, seu trabalho anterior à implantação do

acolhimento resumia-se às atividades próprias da sua função (curativo, injeção,

vacina, distribuição de medicamentos) e ao apoio aos médicos. Hoje, a relação da

auxiliar com os médicos é do acolhimento para a retaguarda, após realizar a escuta

do problema de saúde do usuário; ou seja, é uma relação circunscrita ao exercício

multiprofissional.

A assistente social participa do acolhimento e coordena os grupos programáticos.

Os programas, considerados atividade fundamental para garantir a integralidade da

assistência, são fatores importantes na garantia do sucesso do acolhimento. Isto

porque resolvem grande parte da demanda, com ações dirigidas para grupos

prioritários de atenção à saúde.

No caso dos médicos, nota-se que seu processo de trabalho não foi modificado

tanto quanto seria necessário para causar impacto na assistência, a partir da sua

atividade específica. O trabalho destes profissionais foi organizado de tal forma que

eles ficaram, às vezes, na retaguarda (consultas aos usuários encaminhados pela

equipe de acolhimento) e, outras vezes, na equipe de acolhimento. Houve inclusive

redução do agendamento, porém sem grande sucesso na sua inserção no novo

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modelo. O trabalho médico permanecia incólume à velha lógica da consulta/agenda,

determinante neste processo. Voltaremos a esse tema mais à frente.

Os números do acolhimento

A seguir, relacionamos o resultado da aplicação de diversos indicadores que dizem

respeito a medidas de avaliação da Unidade de Saúde e do acolhimento.

a) Acessibilidade aos serviços da Unidade de Saúde.

Os dados comparados de acessibilidade aos serviços demonstram o aumento

extraordinário do atendimento geral da Unidade, com a implantação do acolhimento

e a reorganização do processo de trabalho (Tabela 1). O rendimento será detalhado

a seguir, com indicador específico.

b) Rendimento profissional.

Constata-se, pelos dados de produção/horas trabalhadas, o aumento extraordinário

do rendimento da enfermeira e da assistente social (Figura 1), confirmando a tese de

que estas profissionais, com a reorganização do processo de trabalho, utilizam todo

o seu potencial para a assistência. Este rendimento, associado ao das auxiliares de

enfermagem, garante impacto extraordinário no acesso aos usuários.

c) Indicador de resolubilidade da equipe de acolhimento.

Como resolubilidade, neste caso, considera-se a solução encontrada pela equipe de

acolhimento para as queixas, sem outro tipo de encaminhamento. Como equipe de

acolhimento, considera-se a equipe multiprofissional, organizada na Unidade, para

fazer a escuta dos problemas de saúde trazidos pelos usuários.

Na UBS Rosa Capuche, essa equipe foi organizada contando com a enfermeira, a

assistente social e as auxiliares de enfermagem.

Corroboram para a resolubilidade da equipe de acolhimento (Figura 2) fatores que

atuam juntos e simultaneamente, quais sejam:

1) Discussões permanentes entre a equipe da Unidade de Saúde, para avaliar e

reprocessar o acolhimento.

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2) Capacitação da equipe, adquirida com a própria experiência no atendimento. A

experiência adquirida proporciona segurança para decidir, para efetivamente „fazer‟

com base em determinado „saber‟, adquirido na vivência da assistência ao usuário.

3) Utilização de protocolos, elaborados pela equipe técnica da UBS, os quais

indicam a conduta a ser adotada diante dos problemas de saúde que mais se

apresentam no acolhimento.

4) Interação da equipe, com enfermeiras e médicos fazendo a retaguarda do

acolhimento e a capacitação em serviço. A indicação de determinada conduta

pressupõe uma decisão do profissional, o que, no modelo tradicional, apresenta-se

como um ato isolado, solitário.

5) Funcionamento dos grupos programáticos, que haviam deixado de funcionar no

início da implantação do acolhimento, em razão da prioridade dada ao trabalho

exclusivamente assistencial naquele momento específico.

Tabela 1

Média mensal de atendimentos realizados pelos servidores da Unidade Básica de

Saúde Rosa Capuche, nos anos de 1995 e 1996. Média mensal de horas

trabalhadas e rendimento dos servidores.

1 - Período

2 - Média de atendimentos por mês

3 - Horas trabalhadas

1 - Março/95 a fevereiro/96

2 - 1.342

3 - 1.456/mês

1 - Março/96 a fevereiro/97

2 - 4.455

3 - 1.665,7/mês

Acréscimo (+ 332%) (+ 14,4%)

Fonte: Franco, 1997.

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Figura 1

Rendimento dos profissionais de nível superior, da Unidade Básica de Saúde Rosa

Capuche, por período de um ano, antes e após o Acolhimento.

0 rendimento 95

0,5 rendimento 96

1 assistência social

1,5 especialidades

2 consulta de enfermagem

2,5 ginecologia/obstetrícia

3 pediatria clínica médica

Fonte: Franco, 1997.

Figura 2

Distribuição dos problemas de saúde que se apresentaram à equipe de acolhimento

da Unidade Básica de Saúde Rosa Capuche, segundo a resolubilidade e

encaminhamentos adotados, apresentados em freqüência relativa, por períodos

mensais.

0 resolubilidade da equipe de acolhimento (%)set/96

10 resolvido pela equipe de acolhimento ago/96 jul/96

20 marcado atendimento para outro setor da unidade jun/96

30 referenciado para rede SUS80 nov/96 mar/96

40 não anotado mai/96

50 fev/97

60 jan/97 abr/96

70 dez/96

Fonte: Franco, 1997.

A gestão da Unidade com acolhimento

O processo de gestão da Unidade de Saúde é compatível com o modelo tecno-

assistencial.

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Assim, o acolhimento só é possível se a gestão for participativa, baseada em

princípios democráticos e de interação entre a equipe. Isto se dá porque a inversão

do modelo tecno-assistencial, com mudanças estruturais no processo de trabalho,

pressupõe a adesão dos trabalhadores à nova diretriz. Este compromisso com a

mudança, com a construção do devir, só é possível quando os profissionais

discutem e efetivamente podem decidir sobre a organização dos serviços na

Unidade de Saúde.

A gestão democrática e participativa criou oportunidade para que se experimentasse

na Unidade de Saúde um processo pedagógico, auto-conduzido, de extrema

riqueza. Os trabalhadores passaram a conhecer o usuário, a partir do momento em

que este adentrou a Unidade. Por outro lado, o permanente contato com a

assistência, as inúmeras reuniões dos fóruns, discussões técnicas de grupos

programáticos, o debate sobre a política de saúde, levaram os trabalhadores a

assimilar um conhecimento importante acerca da sua realidade e da realidade

institucional. Podemos dizer que eles adquiriram capacidade de auto-análise, o que

lhes deu possibilidade de autogestão na organização do processo de trabalho e, por

conseqüência, dos serviços. O Colegiado Gestor e o Fórum Saúde se tornaram

assim, por excelência, dispositivos auto-analíticos e autogestores, que

protagonizaram um processo instituidor e organizador no interior da Unidade de

Saúde (Baremblit, 1992).

Associa-se a esse modelo de gestão o planejamento estratégico situacional,

incorporado no instrumental de trabalho da Unidade de Saúde mediante a

colaboração do Lapa-Unicamp e com a interferência do Grupo de Apoio à Gestão –

GAG.

Concluindo

O acolhimento como fator de mudança O que transparece de forma enfática em todo

o trabalho de investigação sobre o acolhimento é sua contemporaneidade, ou seja, a

capacidade de se colocar no nosso tempo, mobilizar energias adormecidas,

reacender a esperança e colocar em movimento segmentos importantes dos

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serviços de saúde, como grupos sujeito que se propõem à construção do novo, a

fazer no tempo presente aquilo que é o objetivo no futuro.

No imaginário coletivo, ele é a realização da utopia construída com o advento do

SUS e perdida no momento seguinte, com a constituição de uma hegemonia

neoliberal nos serviços de saúde.

O acolhimento associa na forma exata o discurso da inclusão social, da defesa do

SUS, a um arsenal técnico extremamente potente, que vai desde a reorganização

dos serviços de saúde, a partir do processo de trabalho, até à constituição de

dispositivos auto-analíticos e autogestores, passando por um processo de mudanças

estruturais na forma de gestão da Unidade.

Problemas de primeira hora

O primeiro problema enfrentado para a implantação do acolhimento diz respeito ao

temor, próprio da condição humana, de encarar o novo, por excelência o

desconhecido.

Vencida esta primeira dificuldade, o acolhimento chegou e encontrou uma Unidade

de Saúde que vinha há muitos anos funcionando com reduzida oferta de serviços,

baixa presença dos usuários por causa da inacessibilidade à Unidade, tendo, por

conseqüência, incalculável demanda reprimida, não apenas para os serviços

próprios da UBS, como também para os procedimentos especializados. Implantando

o acolhimento, aqueles problemas anteriormente existentes no serviço apareceram

de forma enfática, muito mais evidentes.

Olhando um pouco sobre alguns medos relacionados ao acolhimento, vale destacar

aquele que se refere à falsa noção de que o mesmo faz com que a UBS torne-se um

grande pronto-atendimento (PA). Em Belo Horizonte, onde o acolhimento já é uma

realidade mais ampla e experimentada, o acolhimento permite, de fato, tornar a UBS

em um verdadeiro estabelecimento de saúde onde se faça saúde pública, pois uma

coisa é o uso do pronto-atendimento como um recurso a mais para abordar o

usuário, e outra coisa é reduzir a UBS a um lugar exclusivo onde só se faz PA.

Temos visto que o acolhimento tem levado a Unidade a receber e incorporar os

grupos de riscos como uma realidade sua, à qual deve dar uma resposta individual e

coletiva e pela qual tem que se responsabilizar.

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Limites do acolhimento

Após um ano de implantação do acolhimento na Unidade, permanecem três

questões que se impõem como limites à nova diretriz, sobre os quais devemos nos

debruçar para encontrar as alternativas técnicas para sua consolidação.

1) A pequena inserção dos profissionais médicos no acolhimento.

2) O agendamento de consultas médicas permanece como uma questão crítica no

serviço. A diretriz do acolhimento pressupõe agenda aberta para os casos que

necessitem.

3) Um terceiro desafio é a conciliação do trabalho da assistência dentro da Unidade

de Saúde com o trabalho externo.

Desafios para a consolidação da inversão do modelo assistencial

Podemos começar por refletir sobre os limites do acolhimento, relacionados acima.

Uma primeira questão que fica evidente é a seguinte:

Por que não se conseguiu incorporar o profissional médico a esse processo, a ponto

de a sua participação específica causar impacto na solução dos problemas de saúde

da população usuária?

A primeira questão a ser pensada é a seguinte: o trabalho nos estabelecimentos de

saúde e, entre eles, na Unidade Básica é organizado, tradicionalmente, de forma

extremamente parcelado. Em eixo verticalizado, organiza-se o trabalho do médico e,

entre estes, de cada especialidade médica. Assim, sucessivamente, em colunas

verticais, vai se organizando o trabalho de outros profissionais. Essa divisão do

trabalho se dá, de um lado, pela consolidação nos serviços de saúde das

corporações profissionais; por outro, no caso dos médicos, pela especialização do

saber e, conseqüentemente, do trabalho em saúde.

A organização parcelar do trabalho fixa os trabalhadores em uma determinada etapa

do projeto terapêutico. A superespecialização, o trabalho fracionado, fazem com que

o profissional de saúde se aliene do próprio objeto de trabalho. Desta forma, ficam

os trabalhadores sem interação com o produto final da sua atividade laboral, mesmo

que tenham dele participado, pontualmente. Como não há interação, não haverá

compromisso com resultado do seu trabalho.

O acolhimento, ao reprocessar o trabalho na Unidade de Saúde, com base na

formação de uma equipe multiprofissional, a equipe de acolhimento, conseguiu

quebrar a verticalidade da organização do trabalho na Unidade, mexendo

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radicalmente no processo de trabalho dos profissionais não-médicos. Contudo, não

foi possível romper com a lógica do trabalho médico, que se dá em torno da

agenda/consulta. Assim, enquanto os outros profissionais interagem em equipe, de

forma extremamente dinâmica, acompanhando o resultado do seu trabalho, os

médicos permanecem fechados num círculo vicioso, visualizando parcialmente a

realidade.

E como poderia ser resolvida essa questão finalmente?

Nossas reflexões a partir de então seguem em sintonia e cumplicidade com as

formulações recentes do Laboratório de Planejamento e Administração de Sistemas

de Saúde – Lapa (Departamento de Medicina Preventiva e Social-Unicamp). Estes

consideram o vínculo como a diretriz que, acoplada ao acolhimento, é capaz de

garantir o real reordenamento do processo de trabalho na Unidade de Saúde,

resolvendo definitivamente a divisão de trabalho compartimentada e saindo da lógica

agenda/consulta para uma outra da responsabilização de uma equipe

multiprofissional, com o resultado do trabalho em saúde. Isto é o que Gastão

Wagner de Sousa Campos chama de „A Obra‟. Assim, “...em relação ao trabalho

clínico, não haveria como valorizar-se ‘A Obra’ sem um processo de trabalho que

garantisse os maiores coeficientes de Vínculo entre profissional e paciente”

(Campos, 1997:235). Considera-se vínculo a responsabilização pelo problema de

saúde do usuário, individual e coletivo.

O atendimento em saúde seria feito por meio da adscrição da clientela a

determinada equipe da Unidade de Saúde, formada, no mínimo, pelo médico,

enfermeiro, pediatra, gineco-bstetra e auxiliares de enfermagem. Esta equipe

passaria a se responsabilizar pelas pessoas inscritas, devendo, para isto, mobilizar

todos os recursos dentro e fora da Unidade que pudessem favorecer este objetivo,

tais como exames, consultas especializadas, internação etc.

A equipe deve ter autonomia para agir, mobilizar os recursos necessários para fazer

saúde. É importante a avaliação permanente do seu trabalho, agora facilitado, na

medida em que este resultado é produto do labor de um mesmo grupo

multiprofissional, ou seja, foram as mesmas pessoas que desenvolveram todo o

processo vivido pelo usuário, individual ou coletivo, no seu processo saúde-doença.

O trabalho externo pode ser feito de duas formas. Na primeira, ele deve ser

realizado pelas equipes multiprofissionais da Unidade de Saúde, que, ao

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responsabilizarem-se pela sua clientela, podem mobilizar recursos até mesmo de

visitas e internações domiciliares, ou outros recursos, que se encontram juntos à

comunidade.

A segunda forma diz respeito à vigilância à saúde. Esta deve estar combinada com o

planejamento e gestão dos serviços de saúde e em perfeita sintonia com a realidade

social, econômica, epidemiológica local, bem como com as necessidades dos

usuários da região. Este trabalho deve ser executado por uma equipe, auto-intitulada

Equipe de Saúde Pública, formada especificamente com esse objetivo, podendo

atuar vinculada a uma ou a várias unidades de uma mesma região da cidade.

REFERÊNCIAS BAREMBLIT, G., 1992. Compêndio de Análise Institucional e Outras Correntes. Rio de Janeiro: Editora Rosa dos Tempos. CAMPOS, G. W. S., 1997. Subjetividade e administração de pessoal. In: Agir em Saúde. Um Desafio para o Público (E. E. Merhy & R. Onocko, org.), pp. 229-266, São Paulo: Editora Hucitec. FRANCO, T. B., 1997. Acolhimento: Diretriz do Modelo Tecno-Assistencial em Defesa da Vida. Trabalho apresentado à Rede de Investigação em Sistemas e Serviços de Saúde do Cone Sul, Fundação Oswaldo Cruz. (mimeo.) Essas diretrizes gerais fazem parte da mais recente experiência de organização de serviços de saúde, alinhados à perspectiva de efetiva construção de um sistema de saúde com base no acesso para todos, eqüidade, integralidade das ações, eficácia, com atendimento de qualidade e humanizado e sob controle social. MERHY, E. E., 1997a. Em busca do tempo perdido: a micropolítica do trabalho vivo em saúde. In: Agir em Saúde. Um Desafio para o Público (E. E. Merhy & R. Onocko, org.), pp. 71-112, São Paulo: Editora Hucitec. MERHY, E. E., 1997b. A rede básica como uma construção da saúde pública e seus dilemas. In: Agir em Saúde. Um Desafio para o Público (E. E. Merhy & R. Onocko, org.), pp. 197-228, São Paulo: Editora Hucitec.

Rev. Latino-Am. Enfermagem v.11 n.3 Ribeirão Preto maio/jun. 2003 http://dx.doi.org/10.1590/S0104-11692003000300011

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O TRABALHO DE ENFERMAGEM EM SAÚDE MENTAL: contradições e potencialidades atuais

Alice G. Bottaro de OliveiraI; Neiry Primo Alessi

II

IEnfermeira. Professor da Faculdade de Enfermagem e Nutrição da Universidade Federal de Mato

Grosso, Doutoranda do Programa de Enfermagem Psiquátrica da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OMS para o desenvolvimento da

pesquisa em enfermagem, E-mail: [email protected] IISocióloga, Professor Doutor aposentado da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da

Universidade de São Paulo, E-mail: [email protected]

RESUMO

Este estudo teve por objetivo identificar contradições e desafios que se apresentam atualmente no trabalho de enfermagem em saúde mental, no contexto da Reforma Psiquiátrica, tendo por referência a construção histórico-social desse processo de trabalho. A Reforma Psiquiátrica pressupõe um novo desenho de objeto e instrumentos de trabalho, que são ainda pouco visíveis na prática dos enfermeiros, e a possibilidade de se alcançar a condição de sujeito-cidadão para o portador de sofrimento mental – modo de ser e finalidade do trabalho – que está diretamente relacionada à consciência de sujeito-cidadão do trabalhador de enfermagem.

Descritores: saúde mental, enfermagem psiquiátrica, trabalho, papel do profissional de enfermagem

INTRODUÇÃO

O trabalho de enfermagem na sociedade capitalista

A enfermagem profissional moderna surgiu no contexto de emergência do sistema

capitalista europeu, particularmente na Inglaterra, subseguindo à decadência dos

sistemas monástico-caritativos de assistência à saúde das populações, que ocorreu

entre os séculos XVI a XIX. Desde as suas origens, a enfermagem profissional

presenciou modos de divisão social e técnica do seu trabalho e esteve submetida a

relações de compra e venda de força de trabalho, tais como conhecemos

contemporaneamente. Admitindo como o marco de nascimento da enfermagem

moderna a data de 9 de julho de 1860, quando 15 candidatas tiveram suas

matrículas aceitas na Escola Nightingale, que funcionava junto ao Hospital St.

Thomas, em Londres(1), podemos identificar duas características do emergente

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sistema capitalista: a reprodução da divisão do trabalho e a utilização de mulheres

em atividades que exigiam pouca qualificação. O trabalho de enfermagem ou das

"criadas de enfermaria" era comparável ao trabalho doméstico e,

conseqüentemente, com baixa remuneração(2).

Essa primeira escola, que instituiu o padrão curricular de formação da enfermagem

profissional hegemônico no mundo moderno, definia duas categorias para a

formação: as lady-nurses e as nurses. Reproduzindo a estrutura social de classes da

sociedade, as primeiras, oriundas da burguesia, eram preparadas para o ensino e

supervisão, e as nurses, geralmente oriundas da classe baixa, executavam o

trabalho de cuidado direto dos doentes e moravam e trabalhavam no hospital

durante o período de formação. Ou seja, as lady-nurses eram responsáveis pelo

trabalho intelectual e as nurses pelo trabalho manual de enfermagem(2).

Nesse período de transição da enfermagem tradicional para a moderna, os

instrumentos de trabalho de enfermagem relacionavam-se mais ao treinamento

disciplinar dos agentes do que à elaboração do saber de enfermagem. O modelo

educacional, introduzido por Nightingale, tinha por objetivo a implementação de

técnica disciplinar que possibilitasse a transformação do espaço hospitalar em local

de cura, de disciplinamento dos trabalhadores e das tarefas, sob direção médica.

Nesse sentido, as inovações desse período referem-se, essencialmente, ao espaço

geográfico imediato – limpeza, luz, calor e outros – e não aos cuidados dos doentes

diretamente(3). O objeto de trabalho de enfermagem transformou-se historicamente –

fragmentou-se, complexificou-se e transfigurou-se – desde o feudalismo até à

atualidade do modo de produção capitalista(1).

A enfermagem é, portanto, prática historicamente estruturada, ou seja, existe ao

longo da história da humanidade, porém constituída por diferentes maneiras de

cuidar que, por sua vez, são determinadas pelas relações sociais de cada momento

histórico. Atualmente, o trabalho de enfermagem é integrante do trabalho coletivo

em saúde, é especializado, dividido e hierarquizado entre auxiliares, técnicos e

enfermeiros de acordo com a complexidade de concepção e execução. A

enfermagem, embora detenha autonomia relativa em relação aos demais

profissionais, subordina-se ao gerenciamento do ato assistencial em saúde

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executado pelos médicos. O processo de trabalho dos profissionais de saúde tem

como finalidade – a ação terapêutica de saúde; como objeto – o indivíduo ou grupos

doentes, sadios ou expostos a risco, necessitando medidas curativas, preservar a

saúde ou prevenir doenças; como instrumental de trabalho – os instrumentos e as

condutas que representam o nível técnico do conhecimento que é o saber de saúde

e o produto final é a própria prestação da assistência de saúde que é produzida no

mesmo momento em que é consumida(4).

O TRABALHO DE ENFERMAGEM EM SAÚDE MENTAL NO PROCESSO DE EMERGÊNCIA DA ENFERMAGEM MODERNA

A medicina moderna é uma medicina social que tem, como um de seus

componentes, o interesse no corpo individual(5). O controle dos corpos, operado por

essa medicina supostamente individual, é uma estratégia de controle social na

modernidade. Nesse projeto de medicina operado para o conhecimento, controle e

utilização dos corpos individuais numa perspectiva totalizante, característico da

modernidade, situa-se o nascimento da psiquiatria(5). Essa, sendo a primeira

especialidade médica, surge atrelada a um projeto de conhecimento e

transformação da sociedade, característico da Europa do século XVIII, com algumas

especificidades nos diferentes países. No Brasil, se fez presente a partir do século

XIX(6).

O objeto dessa medicina moderna era o espaço social e, a criação do hospício, o

processo que possibilitava a inserção do "louco" nesse espaço, organizado e

disciplinado, segundo as normas de higiene. A loucura passou a ser definida,

explicada e tratada pela medicina e adquiriu o "estatuto de doença mental, doença

adjetivada, portanto específica, que requer um saber médico específico, técnica e

métodos também específicos. Essa medicina especial, [...], teve um nascimento

historicamente situado, resultado do encontro entre uma prática social sistemática

de reclusão de incapazes e um pensar médico positivo"(7).

Como importante aspecto no tocante à relação da sociedade com os "loucos", no

Brasil, o projeto de medicina social propôs a reformulação das instituições que deles

se ocupavam - enfermarias das Santas Casas e demais asilos de caridade - com o

objetivo de transformação desses locais de produção de doença e morte em

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instituições de cura/reeducação - o hospício moderno. Visava, entretanto, muito mais

do que a reordenação do espaço de exclusão dos considerados loucos. Buscava

interferir na sociedade "sadia" com o objetivo de reduzir as causas de alienação,

através da aplicação de princípios científicos à vida social e política, portanto, uma

higiene social, além da higiene física(6).

A enfermagem, participante desse processo de medicina social moderna, teve papel

importante relacionado ao conhecimento e organização interna do espaço

asilar/hospitalar. No que se refere ao hospício, estudos destacam o papel do

"enfermeiro" Pussin, recentemente resgatado como um importante ideólogo e

colaborador de Pinel nas intervenções reformistas nos asilos franceses de Bicêtre e

Salpetrière(8).

No Brasil, a necessidade de organização do hospício moderno determinou a criação

de uma primeira escola de enfermagem ligada ao Hospital Nacional de Alienados, a

Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras, inspirada no modelo francês. Em

1890, em um contexto de luta dos médicos pelo controle político/científico do

Hospício Pedro II, fundado em 1852, no qual permaneceram até algumas décadas

depois, como figura subordinada à administração religiosa, surgia essa primeira

escola de enfermagem brasileira que tinha entre seus principais objetivos a

preparação de pessoal para o trabalho de cuidar dos alienados num espaço

medicamente concebido e, portanto, necessitado de mão-de-obra também médico-

cientificamente orientada(6,9).

A psiquiatria e a enfermagem psiquiátrica surgiram no hospício. O hospício era

instituição disciplinar para reeducação do louco/alienado, o médico/alienista, a figura

de autoridade a ser respeitada e imitada nesse projeto pedagógico e, os

trabalhadores de enfermagem, os atores coadjuvantes nesse processo, os

executores da ordem disciplinar emanada dos médicos.

Sobre a especificidade do trabalho da enfermagem psiquiátrica, algumas autoras(9-10)

que estudaram a sua história, apontam o fato de que a enfermagem desenvolvida

nos hospícios não era do modelo Nightingale, mesmo após a disseminação deste

modelo em vários países. "Essa clientela [os loucos] não foi objeto de interesse

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explícito para a enfermagem moderna, nem na chamada Revolução Nightingale da

Inglaterra vitoriana, abarrotada de hospícios, nem na implantação desse modelo no

Brasil do século XX"(9).

Os cursos, que visavam o cuidado de doentes mentais nos hospitais psiquiátricos,

não adotavam o sistema Nightingale e eram orientados por médicos. No Brasil,

assim como na Europa e na América do Norte, "o preparo de enfermeiros(as) nas

instituições psiquiátricas acompanhou o processo de medicalização dos asilos,

originando modelos de preparação com características específicas e diferenciadas

daquele destinado à formação para hospitais gerais durante o século XIX"(10).

A história da enfermagem brasileira "esqueceu" o ensino de enfermagem implantado

no Brasil no período 1890-1923(11), ensino esse ministrado numa escola anexa ao

Hospício Nacional. A Escola de Enfermagem Anna Nery, fundada em 1923, no Rio

de Janeiro, considerada a primeira escola de enfermagem "moderna" do Brasil, pela

historiografia oficial, não incluiu em seu currículo, até o ano de 1949, nenhuma

matéria relacionada às doenças mentais, quando passou a desenvolver estágio no

Centro Psiquiátrico Nacional – Engenho de Dentro(12).

O objetivo da Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras, anexa ao Hospício

Nacional, criada através do Decreto nº 791 de 27/09/1890, era formar profissionais

para os hospitais psiquiátricos e militares existentes no país. Além desse objetivo

explícito no Decreto, a escola promovia a instrução e profissionalização das

mulheres pobres. Disso decorria algumas vantagens: incorporação e

disciplinarização de um segmento da população excluído e "perigoso" (mulheres e

meninas pobres abandonadas), subordinação garantida dessas aos médicos,

evitando os conflitos que foram anteriormente enfrentados com as religiosas no

hospício e o estabelecimento do hospício como instrumento médico de intervenção e

sob a sua direção. A opção pelo modelo francês, portanto, não foi casual ou por

desconhecimento de outros modelos. Processo similar ocorreu em Porto Alegre, no

Hospital São Pedro. Em outros locais não houve formação especializada e essa

capacitação ocorreu no próprio processo de trabalho(10).

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Quanto às motivações do pessoal de enfermagem para trabalhar nos

estabelecimentos psiquiátricos do Rio de Janeiro e os modos de ingresso na Escola

Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras, do Departamento de Assistência a

Psicopatas, estudos(10) apontam que, com a criação das escolas, a enfermagem

passou a ser profissão e adquiriu certa valorização social, tornando-se alternativa de

profissionalização principalmente para as mulheres pobres. Para essas, o trabalho

de enfermagem, embora manual, significou a possibilidade de ascensão social, cuja

realização exigia uma formação específica. Portanto, para as alunas da Escola

Alfredo Pinto (denominação posterior da Escola Profissional de Enfermeiros e

Enfermeiras) que, diferente da Escola Anna Nery, eram originárias da classe baixa,

a profissão de enfermeira era uma oportunidade de ascensão na hierarquia das

ocupações femininas.

Nesse modo de conformação, certifica-se que a necessidade de capacitação e

especialização de trabalhadores para o cuidado dos doentes mentais esteve

relacionada com o peculiar processo de transformação dos asilos em espaço

terapêutico da loucura nos diferentes locais e não diretamente relacionada ao

processo de institucionalização da enfermagem como profissão no Brasil. Também

relacionou-se, de forma muito próxima, assim como a história da psiquiatria

enquanto medicalização do social, às necessidades de disciplinarização de um

determinado segmento social.

A REFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL

Ao abordarmos a Reforma Psiquiátrica Brasileira, destacamos a necessidade de

compreender esse processo histórico de organização da assistência psiquiátrica a

partir de suas determinações gerais e específicas no cenário nacional.

Ao final da II Guerra Mundial, vários movimentos de contestação do saber e práticas

psiquiátricas se faziam notar no cenário mundial, dos quais se destaca a Psiquiatria

de Setor na França, as Comunidades Terapêuticas na Inglaterra e a Psiquiatria

Preventiva nos EUA. Eram movimentos de "reforma" da assistência psiquiátrica no

sentido de apontarem para um rearranjo técnico-científico e administrativo da

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Psiquiatria, sem a radicalidade da desinstitucionalização, proposta pelo movimento

italiano, a partir de 1960(13).

A influência desses movimentos de crítica à psiquiatria também se fizeram notar, em

diferentes momentos, no contexto da sociedade brasileira. No final dos anos 1970 e

início de 1980, período marcado pelo final da ditadura, falência do "milagre

econômico", suspensão da censura, reorganização da sociedade através do

ressurgimento dos sindicatos, partidos políticos e retorno ao Estado de Direito, as

idéias de Foucault, Goffman, Castel, Szaz, Basaglia e outros tiveram forte influência.

Esse período é considerado como o primeiro momento da Reforma Psiquiátrica

Brasileira, denominado "trajetória alternativa" desse processo(14). No segundo

momento, principalmente no período político da Nova República, o movimento da

Reforma Sanitária e da Reforma Psiquiátrica incorporou-se ao aparelho de Estado e

a crítica original da cientificidade da medicina/psiquiatria e da neutralidade da ciência

cedeu espaço para a idéia de que uma nova administração estatal resolveria os

problemas de saúde/saúde mental da população. Trata-se de momento

institucionalizante do processo. No terceiro momento, o da desinstitucionalização,

cujo lema Por uma sociedade sem manicômios, retrata a medida do resgate da

crítica da institucionalização da medicina/psiquiatria, sob forte influência da "tradição

basagliana", propõem-se mudanças no modelo de intervenção: as macropolíticas

cedem espaço para a reinvenção do cotidiano e enfatizam-se experiências

localizadas(14).

Nessa nova concepção de objeto e de intervenção, compreende-se a

desinstitucionalização como "um trabalho prático de transformação que, a começar

pelo manicômio, desmonta a solução institucional existente para desmontar (e

remontar) o problema. [...] Mas, se o objeto ao invés de ser "a doença" torna-se a

"existência-sofrimento dos pacientes" e a sua relação com o corpo social, então

desinstitucionalização será o processo crítico-prático para a reorientação de todos

os elementos constitutivos da instituição para este objeto bastante diferente do

anterior"(13).

Compreendemos, portanto, a Reforma Psiquiátrica como um movimento, um

processo histórico que se constitui pela crítica ao paradigma psiquiátrico clássico e

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pelas práticas que transformam/superam esse paradigma, no contexto brasileiro, a

partir do final da década de 1970. Apresenta-se fundamentalmente como crítica à

conjuntura nacional do sistema de saúde mental e, principalmente, como crítica

estrutural à "instituição" - psiquiatria. Como processo histórico, insere-se numa

totalidade complexa e dinâmica, portanto, também determinado nacionalmente pelo

processo de redemocratização em curso no País a partir daquela época(14).

AS CONTRADIÇÕES E OS DESAFIOS QUE SE APRESENTAM NO PROCESSO DE TRABALHO DE ENFERMAGEM EM SAÚDE MENTAL NO CONTEXTO DA REFORMA PSIQUIÁTRICA

Consideramos que o momento atual do trabalho de enfermagem em saúde mental

caracteriza-se pela transição entre uma prática de cuidado hospitalar que visava a

contenção do comportamento dos "doentes mentais" e a incorporação de princípios

novos e desconhecidos, que busca adequar-se a uma prática interdisciplinar, aberta

às contingências dos sujeitos envolvidos em cada momento e em cada contexto,

superando a perspectiva disciplinar de suas ações. É, portanto, período crítico para

a profissão e favorável para o conhecimento e análise do processo de trabalho

nessa área.

Se compreendemos a produção científica da enfermagem como um instrumento do

seu processo de trabalho, podemos considerar que as mudanças que ocorrem nos

instrumentos – materiais (equipamentos) ou não-materiais (métodos, por exemplo) –

decorrem das mudanças da finalidade desse trabalho(15). Se analisarmos o trabalho

em saúde mental sob essa perspectiva poderíamos afirmar que na psiquiatria

"pineliana" o hospício – compreendido como a reclusão, os métodos físicos, a figura

de autoridade do médico/alienista e a disciplina e higiene impostas pelos

enfermeiros - era o instrumento adequado para a finalidade - cura/reeducação do

"louco" - nesse momento considerado "alienado". Na atualidade, no paradigma da

Reforma Psiquiátrica, os instrumentos materiais mais evidentes são os NAPS e

CAPS (Núcleos e/ou Centros de Atendimento Psicossocial); hospitais-dia,

enfermarias e ambulatórios em hospitais gerais. Necessário se faz, portanto,

refletirmos sobre os instrumentos não-materiais dessa organização do trabalho, seus

métodos, suas bases teóricas, especificamente utilizadas no trabalho dos

enfermeiros que, por sua vez, insere-se num contexto histórico de trabalho em

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saúde e, nesse processo, indagarmos também qual é a finalidade para a qual esses

instrumentos estão relacionados. Ou, dito de outra forma, refletirmos sobre a

finalidade do processo de trabalho dos enfermeiros de saúde mental no contexto da

Reforma Psiquiátrica que orienta a utilização dos atuais instrumentos de trabalho

nesse processo.

Revisando a literatura, constatamos que muitos enfermeiros têm realizado estudos

que buscam refletir sobre o seu trabalho nos serviços de saúde mental nos últimos

anos. Apresentaremos alguns deles para analisarmos quais têm sido as concepções

de objeto, instrumentos e finalidade do trabalho realizado pelos enfermeiros e,

assim, permitir a compreensão sobre o que tem se constituído como trabalho do

enfermeiro nesse setor.

Há estudos que consideram que existem várias tendências teóricas influenciando a

prática psiquiátrica atualmente e que há deficiências no processo de formação de

enfermeiros que atuam em psiquiatria(16-17). Alguns deles concluem que há

indefinição dos profissionais de enfermagem psiquiátrica sobre o seu papel nessa

assistência o que provoca, muitas vezes, uma "fuga" para o desempenho de

atividades burocrático-administrativas (16,18-20). Essa é a "identidade possível" para

esses profissionais que vivenciam uma prática marcada pela indefinição de seu

papel(16).

Esses mesmos estudos(17-20) afirmam que, embora a literatura especializada na área

aponte uma convergência teórica em torno da compreensão de que o papel do

enfermeiro em serviços de saúde mental é o de "agente terapêutico, cujo objetivo

fundamental é auxiliar o paciente a aceitar a si próprio e a melhorar as suas relações

pessoais"(18), o trabalho efetivo dos enfermeiros centra-se, principalmente, no

desenvolvimento de atividades burocrático-administrativas.

Complementarmente, alguns desses estudos(19-20) apontam que em serviços extra-

hospitalares de saúde mental, os enfermeiros, entre todos os profissionais da

equipe, são aqueles que menos realizam atendimentos diretos à clientela e a sua

prática caracteriza-se pelo gerenciamento intermediário que organiza e facilita o

trabalho de toda a equipe.

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Uma das constatações sobre a atuação dos profissionais de enfermagem em saúde

mental e a inserção da assistência de enfermagem no contexto atual de mudanças

políticas, caracterizadas pela Reforma Psiquiátrica(17,20-21), aponta que a maioria dos

enfermeiros não se sente preparada para atuar em Enfermagem Psiquiátrica ou

Saúde Mental e não está adequadamente informada sobre as mudanças políticas

que vêm ocorrendo na área.

Sobre a concepção de objeto que permeia o processo de trabalho dos enfermeiros

em saúde mental, estudos(21-22) demonstram que, apesar do discurso dos

enfermeiros estar orientado para a desconstrução do saber psiquiátrico e para a

superação das práticas manicomiais, o paradigma predominante em suas ações é o

modelo organicista. Os enfermeiros mantêm as práticas tradicionais – triagem e

controle principalmente medicamentoso dos pacientes em crise – embora o discurso

aponte para atividades de relacionamento interpessoal e trabalho interdisciplinar(21).

Assim, embora reconheçam a limitação daquele modelo médico psiquiátrico na

abordagem do sujeito com transtornos mentais, ocupam-se, rotineiramente, de sua

"doença mental" ao controlar o comportamento dos usuários e, apesar de criticar o

tratamento ofertado pela instituição - pautado pelo modelo organicista - não se

percebem como agentes de transformação dessa realidade(22).

Os estudos(16-22) por nós relacionados destacam a presença de uma longa distância

entre o discurso presente na formação especializada em enfermagem psiquiátrica e

de saúde mental e o trabalho de enfermagem nessa área. Reconhece-se uma nova

conformação teórica do objeto: não mais o "doente mental" internado que deve ser

contido e controlado, mas o "portador de transtornos mentais" ou o sujeito com

"sofrimento psíquico" que merece ser atendido nas suas necessidades

psicossociais. Entretanto, a esse novo desenho de objeto não correspondem

estratégias de intervenção que visem a assistência/recuperação desse sujeito. Ou

seja, os instrumentos do trabalho de enfermagem, nessa área, alinham-se mais na

direção da reafirmação da concepção organicista de objeto, característica da

medicina psiquiátrica do que da Reforma Psiquiátrica que pressupõe uma

ampliação/superação do objeto, incorporando também características psicossociais.

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Apontam também uma característica do trabalho dos enfermeiros - que se repete em

alguma medida em outras áreas de assistência - relacionada ao fato de que grande

parte do tempo é destinada ao desempenho de atividades administrativo-

burocráticas e não de administração da assistência, que é uma atividade de

enfermagem. Assim, os enfermeiros se ocupam, muitas vezes de forma prioritária,

com atividades que têm por finalidade a organização do trabalho dos demais

profissionais e, portanto, o trabalho do enfermeiro e do corpo de técnicos e auxiliares

de enfermagem passa a ser o meio/instrumento do trabalho médico e psicológico,

com escassa ou nenhuma atuação técnico-assistencial específica.

Ao refletirmos sobre as necessidades e possibilidades específicas do trabalho de

enfermagem em equipe de saúde mental, na perspectiva de ampliação do objeto de

intervenção proposto pela Reforma Psiquiátrica, o trabalho nessa área ganha novos

contornos, como, por exemplo, apresenta-se a necessidade de que a esse objeto

redesenhado, corresponda novos instrumentos e, nesse sentido, aconteçam

algumas modificações nas práticas terapêuticas, como a incorporação de

trabalhadores "atípicos" na equipe, como artistas plásticos, professores de educação

física, dentre outros; além do que a finalidade do trabalho proposto nessa concepção

não admite mais a noção de "cura", mas de reabilitação, reinserção social e,

portanto, os instrumentos para esse fim não podem continuar sendo os meios físicos

e químicos coercitivos, mas outros que proporcionem a escuta e a valorização do

sujeito-cidadão que sofre mentalmente.

Essas modificações no processo de trabalho de saúde mental levam-nos a

considerar a necessidade de mudanças na divisão desse trabalho coletivo(23). Esse

trabalho interdisciplinar pressupõe a coexistência de ações técnicas privativas dos

profissionais e a execução de algumas ações comuns com tendência à

horizontalização das relações de poder. Entretanto, essa aproximação das áreas

profissionais no plano técnico do trabalho – desempenho de atividades com uma

diluição gradativa das peculiaridades – é acompanhada de tensão no aspecto dos

valores dos diferentes trabalhos, uma vez que as relações hierárquicas são

mantidas e reproduzidas, principalmente entre os profissionais médicos e não-

médicos, referentes a salário e ao fato de o médico ser o responsável pela atenção

ao usuário(23).

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A dificuldade de co-responsabilizar-se pela assistência é freqüentemente observada

na prática dos enfermeiros que trabalham em serviços de saúde mental. De uma

maneira geral, eles usam como argumento a falta de autonomia, a ingerência do

médico na assistência de enfermagem, enfim, a submissão do trabalho de

enfermagem ao trabalho médico, mas, ao mesmo tempo, permanecem

comodamente nessa situação, como que a auferir alguma vantagem, ou seja, se não

participam das decisões do tratamento e, algumas vezes, nem daquelas

relacionadas às próprias ações de enfermagem, também não se responsabilizam

pelo tratamento. Assim, aliado ao fato de maior valorização salarial do profissional

médico, que ocorre freqüentemente nos serviços, reforça-se o seu papel de

responsável técnico por todo o tratamento. Os enfermeiros, portanto, estão

demonstrando dificuldades na definição do objeto de trabalho no paradigma da

Reforma Psiquiátrica, ou seja, nessa equipe de saúde mental, que define como

objeto de intervenção o sujeito-cidadão em suas necessidades psicossociais, o

enfermeiro não se define como sujeito-trabalhador. Assim, podemos indagar qual é a

condição desse profissional conduzir-se em relação a uma assistência cuja

orientação é a reinserção social da pessoa com transtornos mentais - o resgate da

cidadania desse sujeito - quando ele mesmo não se posiciona na equipe como

sujeito-cidadão.

Na necessária redefinição da divisão do trabalho na equipe de saúde mental, o

enfermeiro tem sido um profissional pouco atuante, como afirmam os estudos acima

destacados. Isso se reflete em procedimentos tecnicamente pouco visíveis no

conjunto do trabalho em equipe, quando não em ações de acomodação às práticas

médicas e administrativas inadequadas técnica e eticamente.

Acreditamos na possibilidade de se construir no cotidiano, nos confrontos e nas

contradições entre o processo de reprodução e recriação, próprios da prática de

enfermagem, um processo contra-hegemônico que, identificado com os preceitos da

Reforma Psiquiátrica, resgate os atores envolvidos (trabalhadores e usuários) como

sujeitos sociais. Consideramos que, principalmente nesse processo cotidiano, é

onde reside a potencialidade implícita de autonomia profissional dos enfermeiros.

Nesse processo, conforme apontado em alguns estudos(24), através da utilização de

mecanismos de resistência velada, difusa e até explícita aos saberes e práticas

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médico-psiquiátricas dominantes, encontra-se a possibilidade de sua ruptura, pois,

"embora, ao estar inserido socialmente, o próprio sujeito experiencie a sujeição à

ideologia dominante, reside [igualmente] nele a possibilidade de ruptura com essa

ideologia"(24). Parece ser, portanto, nesse processo de constituição dos profissionais

como sujeitos-sociais, sujeitos-cidadãos que, ao se perceberem criticamente como

co-responsáveis por um trabalho coletivo, também se responsabilizam por todos os

atos desse trabalho e utilizam (ou não utilizam) as possibilidades de ruptura com os

saberes e práticas hegemônicas, que reside a possibilidade de superação das

práticas custodiais e burocráticas do trabalho de enfermagem em saúde mental.

Nesse contexto do trabalho de enfermagem em saúde mental, marcado

historicamente pelo modelo médico disciplinador de sujeitos e de comunidades,

onde as práticas de enfermagem eram subordinadas e coadjuvantes do processo

médico-político disciplinador, o enfermeiro é, potencialmente, importante agente de

mudança; entretanto, essa potencialidade estará diretamente relacionada ao grau de

consciência desses trabalhadores. Quanto mais consciente de sua condição pessoal

e social, de seu papel de trabalhador inserido num contexto social e de cidadão num

sistema político, mais apto estará para eleger instrumentos de trabalho que visem o

resgate dessa mesma condição de sujeito-cidadão às pessoas com transtornos

mentais. Quanto menos consciente de sua condição de sujeito social e de cidadão,

mais aderido estará ao antigo modelo médico-disciplinar e mais subordinada e

coadjuvante será a sua atuação nas intervenções desse modelo.

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Marta Cristiane Alves Pereira2 Neide Fávero3

Pereira MCA, Fávero N. A motivação no trabalho da equipe de enfermagem. Rev Latino-am Enfermagem 2001 julho; 9(4):7-12.

Estudo descritivo, realizado em um hospital universitário, com o propósito de apreender alguns aspectos que intervêm na motivação humana e suas implicações no resultado do trabalho. Utilizou-se como instrumento de coleta de dados a entrevista semi-estruturada e gravada, aplicada a 18 profissionais da equipe de enfermagem, sendo 6 enfermeiros e os demais auxiliares e técnicos de enfermagem. O material apreendido foi submetido à técnica de análise de conteúdo, permitindo identificar o “Trabalho em si” como categoria mais citada como motivadora e a “Organização do Trabalho” como maior desmotivadora, sendo que as sugestões mais citadas referem-se ao “Relacionamento Interpessoal” e a “Organização do Trabalho”. PALAVRAS CHAVE: motivação, equipe de enfermagem, trabalho

1 Trabalho extraído da Dissertação de Mestrado “Aspectos motivacionais da equipe de enfermagem no trabalho” – Programa de Pós-Graduação em Enfermagem Fundamental – Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo; 2 Enfermeira, Mestranda do Curso de Pós-Graduação, e-mail: [email protected]; 3 Professor Titular, e-mail: [email protected], da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OMS para o desenvolvimento da pesquisa em enfermagem.

INTRODUÇÃO

No cotidiano prático da enfermagem, caracterizado por atividades que exigem alta

interdependência, a motivação surge como aspecto fundamental na busca de maior

eficiência e, conseqüentemente, de maior qualidade na assistência de enfermagem

prestada, aliada à satisfação dos trabalhadores.

A prática gerencial da enfermagem, enquanto busca de possibilidades no

desenvolvimento de linhas sensíveis e racionais para lidar com as pessoas em

situação de trabalho, leva-nos ao interesse pelo estudo do comportamento e dos

motivos que levam as pessoas a agirem, pois alguns trabalham por dinheiro, outros

por segurança e outros ainda por prazer(1).

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Acrescentando-se a isto, algumas pessoas que trabalham por dinheiro, em

determinado momento, deixam de responder ao sistema de incentivo financeiro,

assim como as pessoas que evidenciam fazer uso de suas aptidões e depois

recusam funções que representam maior desafio e outras que, apesar de menos

motivadas no trabalho, mantêm elevada a qualidade do que fazem(2).

Na tentativa de nos aproximarmos à definição do termo motivação, retomamos sua

origem na palavra motivu, do latim, que significa “que move ou o que pode fazer

mover”(3). Entretanto, há autores que definem o termo “como uma inclinação para

ação que tem origem em um motivo”, e motivo seria uma necessidade que, atuando

sobre o intelecto, faz a pessoa movimentar-se ou agir(4).

Referindo-nos especificamente à motivação humana no trabalho, aproximamo-nos

de conceitos que afirmam que as pessoas, ao serem indagadas sobre o que

queriam do trabalho, quando informavam sentimentos de felicidade, freqüentemente

descreviam fatores relacionados às suas tarefas ou eventos que indicavam êxito e

possibilidade de crescimento profissional. Ao contrário, quando relatavam

sentimentos de infelicidade, estes não eram associados ao próprio trabalho, mas às

condições que o cercavam(5).

Segundo a teoria utilizada, a motivação das pessoas depende de dois fatores:

higiênicos e motivacionais. Os fatores higiênicos referem-se “às condições físicas e

ambientais de trabalho, o salário, os benefícios sociais, as políticas da empresa, o

tipo de supervisão recebida, o clima de relações entre a direção e os empregados,

os regulamentos internos”, entre outros. Os fatores motivadores referem-se ao

conteúdo do cargo, às tarefas e aos deveres relacionados com o cargo em si,

produzindo efeitos duradouros de satisfação e aumento de produtividade em níveis

de excelência(6).

Enfocando mais especificamente a administração, a liderança e suas relações com a

motivação, é oportuno alertarmos para o perigo do uso da motivação enquanto

instrumento para a administração, pois no “contexto administrativo e teórico

organizacional, a motivação foi convertida em um instrumento de invasão,

manipulação e controle”,através do qual os dirigentes podem provocar determinados

tipos de comportamento em seus subordinados, pois não é considerado o aspecto

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individual e intrínseco da motivação, que é usada como substituta do poder e da

coação, antes considerados predominantes na tentativa de influenciar os

empregados(7).

Nesse contexto, não são possíveis generalizações a respeito da motivação,

tornando-se importante considerar a peculiaridade humana, pois os indivíduos

possuem desejos e necessidades diferentes e, independentemente da facilidade de

compreensão ou da conveniência administrativa, não existe estratégia específica

para todos terem produtividade satisfatória(1).

A esse respeito, atitudes profissionais como “apatia, indiferença, descompromisso,

irresponsabilidade, relação desumanizada com a clientela, falta de motivação,

insatisfação e falta de criatividade” são consideradas decorrentes de dificuldades no

desenvolvimento do trabalho da enfermagem, devendo ser ressaltada a necessidade

do “desenvolvimento de sensibilidade no que tange a um gerenciamento mais

reflexivo, crítico, flexível, humano, que dê oportunidade para maior participação” dos

elementos da equipe e dos clientes(8).

Ainda nessa perspectiva, como conseqüência do contexto de trabalho determinado

pelas instituições hospitalares, quando não são priorizados os aspectos

motivacionais, além do restrito conhecimento do enfermeiro sobre essa temática, “a

motivação passa a ser tratada de maneira superficial,... negando-se aspectos

intrínsecos que conduzem as pessoas no desempenho profissional”(9).

A existência do pressuposto de que podemos motivar as pessoas, evidencia a

necessidade de resgatar a diferenciação entre satisfação e motivação, pois a

motivação surge das necessidades humanas e satisfação é considerada o

atendimento de uma necessidade ou sua eliminação, portanto, considerados

opostos e não sinônimos(4).

Ainda devemos destacar que considerar os fatores de satisfação como motivadores

levou ao falso pressuposto de que uma pessoa tem o poder de motivar a outra, pois

os motivadores estão presentes no meio ambiente(4).

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Vale ressaltar que a motivação origina-se das necessidades e não dos fatores de

satisfação exógenos, encontrados no ambiente, ou dos fatores de satisfação

endógenos, intrínsecos ao indivíduo.

Portanto, aos “administradores resta apenas gerenciar os fatores de satisfação e

contra-satisfação exógenos”, sendo o primeiro, aquele que eleva o nível de

satisfação e o segundo, aquele que aumenta a tensão da necessidade pela privação

do seu atendimento(10).

Assim, considerar a motivação como resultado de fatores que residem fora do

indivíduo agrada a muitos supervisores e gerentes, pois podem atribuir as causas da

falta de motivação daqueles aos quais supervisionam, ou dizem administrar,

somente às organizações. Portanto, deve ser examinado cuidadosamente no que

consiste o fenômeno da liderança diante do despreparo dos administradores de

recursos humanos, em decorrência dos efeitos danosos provocados por um vínculo

de chefia inadequado que, associado à filosofia organizacional, impede a criação de

um ambiente motivacional(11).

Diante dessas considerações, emergiram as seguintes indagações: Como motivar

os elementos da equipe de enfermagem?

Quais as preferências motivacionais dos elementos da equipe de enfermagem?

Na tentativa de buscarmos novos conhecimentos para responder a estas

indagações, bem como buscar elementos que norteiem a compreensão a respeito

do comportamento das pessoas no trabalho, propusemo-nos a realizar este estudo

sobre os aspectos motivacionais da equipe de enfermagem, com os seguintes

objetivos:

1) conhecer a opinião do pessoal de enfermagem sobre a motivação no trabalho; 2)

identificar aspectos que contribuem para a motivação e para a desmotivação no

trabalho.

TRAJETÓRIA METODOLÓGICA

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Trata-se de um estudo descritivo, realizado segundo a metodologia quanti-

qualitativa, onde buscamos conhecer aspectos motivacionais do trabalho através

das falas do pessoal de enfermagem, sendo a entrevista semi-estruturada e

gravada, escolhida como técnica para coleta de dados.

Para a realização das entrevistas, elaboramos um roteiro constituído de duas partes:

a primeira voltada à caracterização dos sujeitos, e a segunda composta de questões

abertas, norteadoras do estudo. São elas: ”No seu dia-a-dia quais situações

contribuem para você sentir-se motivado?”; “Quais situações contribuem para você

sentir-se desmotivado?”; “Quais medidas poderiam ser tomadas para elevar a

motivação entre os elementos da equipe de enfermagem?”.

Participaram desta pesquisa, 18 profissionais da equipe de enfermagem, sendo 6

enfermeiros e 12 profissionais de nível médio (técnicos e auxiliares de enfermagem),

com disposição positiva para participar do estudo, selecionados a partir de sorteio,

sendo portanto amostra aleatória. Definimos o número de sujeitos participantes do

estudo, a partir do momento que houve convergência nos relatos.

Anteriormente à coleta de dados, solicitamos autorização da Comissão de Normas

Éticas do hospital em estudo, para realizarmos este procedimento, mediante a

apreciação do projeto de pesquisa. Cada participante assinou termo de

consentimento, após a apresentação dos objetivos do estudo, garantia do caráter

confidencial e voluntário da participação, bem como o compromisso de lhes

comunicarmos os resultados do estudo.

Transcrevemos as entrevistas na íntegra, respeitando a terminologia utilizada pelos

entrevistados; posteriormente, submetemos este material à técnica de análise de

conteúdo(12).

A partir da transcrição e análise das entrevistas, realizamos o agrupamento das

unidades de registro, obtendo, assim, o conjunto de 10 categorias no total, as quais

definimos a partir de alguns fatores motivacionais e higiênicos de Herzberg, em

decorrência da não-identificação de todos os fatores, na fala dos entrevistados. As

quatro primeiras categorias, baseadas nos fatores motivacionais, são: trabalho em

si, resultado do trabalho, desenvolvimento pessoal/profissional e reconhecimento

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pelo trabalho. As demais, relacionamento interpessoal, organização do trabalho,

percepções e expectativas em relação à chefia, salário, condições de trabalho e

desempenho profissional, estão baseadas nos fatores higiênicos.

APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Caracterização dos sujeitos participantes do estudo Quanto à caracterização dos

sujeitos participantes do estudo, 72,2% são do sexo feminino; 50% tem idade entre

26 e 35 anos; 50% deles são casados; 38,8% possuem entre um (1) e cinco (5) anos

de tempo de serviço na unidade e 44,4% referem renda familiar mensal entre cinco

(5) e dez (10) salários-mínimos.

Análise do conteúdo das entrevistas

A análise do conteúdo das entrevistas em relação às questões norteadoras mostra-

nos a distribuição das unidades de registro, dentre as dez categorias distintas, de

acordo com o agrupamento dos temas em fatores motivacionais e higiênicos e suas

respectivas categorias.

Tabela 1 - Distribuição numérica e percentual das unidades de registro identificadas

no discurso dos sujeitos em estudo, segundo os temas e respectivas categorias.

Ribeirão Preto, 1999 Como podemos observar, houve maior referência aos fatores

higiênicos, com 122 unidades de registro, em relação aos fatores motivacionais, que

somaram apenas 63 unidades.

Acreditamos que esta preocupação com os aspectos extrínsecos está relacionada à

negligência de algumas organizações brasileiras em relação às condições

ambientais, pois a atual situação de trabalho tem desagradado a muitos

profissionais(1).

A seguir apresentaremos os resultados e a análise dos mesmos, com relação às

questões norteadoras do estudo, de acordo com a seqüência do roteiro.

A Tabela 2 permite verificar que, entre as situações consideradas motivadoras, as

unidades de registro relacionadas à categoria “Trabalho em si”, que apresentou 16

referências, destaca-se das demais, seguida das categorias “Relacionamento

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interpessoal”, com 14 referências; “Resultado do trabalho”, com 10; “Salário”, com 7;

“Organização do trabalho”, com 6; “Reconhecimento pelo trabalho”, com 3;

“Desenvolvimento pessoal/profissional” e “Desempenho profissional” com 2 citações,

respectivamente, e “Percepções e expectativas em relação à chefia” com uma

citação.

Tabela 2 - Distribuição numérica e percentual calculada com base no total (n=185)

de unidades de registro, identificadas no discurso dos sujeitos em estudo,

relacionadas às situações motivadoras. Ribeirão Preto, 1999.

Assim, ao somarmos as citações das categorias relacionadas aos fatores

motivacionais (31) e as categorias referentes aos fatores higiênicos (30),

observamos a predominância de fatores motivacionais. Podemos considerar,

portanto, a equivalência de valorização tanto dos fatores motivacionais quanto dos

higiênicos na verbalização dos entrevistados, em relação às situações motivadoras.

Diante destes valores, parece oportuno resgatar a importância da diferenciação

encontrada entre os profissionais regidos por aspectos extrínsecos daqueles

realmente motivados pelo trabalho, pois os fatores que estão fora das pessoas, os

condicionantes ou reforçadores de comportamentos, como salário, relacionamento

interpessoal, políticas organizacionais e condições ambientais de trabalho não

motivam, apenas fazem com que as pessoas se movimentem e caso estes deixem

de existir, o comportamento desejado também desaparece(11).

Quanto às categorias relacionadas a situações desmotivadoras, constata-se (Tabela

3) que a “Organização do trabalho” surge como a mais citada, com 14 indicações,

seguida do “Relacionamento interpessoal”, com 12; “Resultado do trabalho”, com 10;

“Salário”, com 9; “Reconhecimento pelo trabalho”, com 7; “Desempenho

profissional”, com 4, as categorias “Desenvolvimento pessoal/profissional”,

“Percepções e expectativas em relação à chefia” e “Condições de trabalho” com 2

cada uma.

Tabela 3 - Distribuição numérica e percentual calculada com base no total (n=185)

de unidades de registro, identificadas no discurso dos sujeitos em estudo,

relacionadas às situações desmotivadoras. Ribeirão Preto, 1999.

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Convém destacar que “Trabalho em si” foi a única categoria excluída das situações

consideradas desmotivadoras e a categoria que teve maior número de citações,

quando abordamos as situações motivadoras no trabalho. Isto confirma que os

fatores motivadores referem-se ao conteúdo do cargo, às tarefas e aos deveres

relacionados com o cargo em si, produzindo efeitos duradouros de satisfação e

aumento de produtividade em níveis de excelência (6).

A distribuição das categorias referentes às sugestões apresentadas pelos

profissionais, para elevar a motivação no trabalho, demonstra, a partir da Tabela 4,

que o “Relacionamento interpessoal” apresenta-se com o maior número de citações

(18), seguido de “Organização do trabalho”, com 15; de “Salário”, com 7;

“Desenvolvimento pessoal/profissional”, com 6; “Reconhecimento pelo trabalho” e

“Desempenho profissional”, com 5 cada uma, e “Percepções e expectativas em

relação à chefia”, com 3; “Trabalho em si”, com 2 e “Condições de trabalho” com 1

citação.

Vale ressaltar que a categoria “Resultado do trabalho” não foi citada nas sugestões

apresentadas pelos profissionais, apesar da representativa aparição em relação às

situações motivadoras e desmotivadoras.

Tabela 4 - Distribuição numérica e percentual calculada com base no total (n=185)

de unidades de registro, identificadas nos discursos dos sujeitos em estudo,

relacionadas às sugestões apresentadas. Ribeirão Preto, 1999

A análise sobre a questão “Trabalho em si”, como principal motivador no trabalho,

permite inferir que o cuidado ao paciente pode ser considerado o alicerce da prática

de enfermagem, enquanto a “Organização do trabalho”, como maior desmotivadora,

alerta-nos para a importância da “saúde” das organizações. Enfim, a predominância

de sugestões acerca do “Relacionamento interpessoal” e “Organização do trabalho”

volta o enfoque para o indivíduo, agora como profissional em suas relações dentro

de um contexto organizacional, com suas características peculiares, que não impede

sua transformação e reestruturação, pois a sua finalidade é garantir que ele alcance

tanto os objetivos individuais quanto os organizacionais(13).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A realização deste trabalho permite concluir que o estudo da motivação, em

decorrência da sua complexidade e dificuldade, parece não ser esgotável,

necessitando, assim, de maior aprofundamento e atenção das organizações e

instituições formadoras. Além disso, há a dificuldade da abordagem do tema

“motivação” entre os elementos da equipe de enfermagem, dentro do atual contexto

dos serviços públicos de saúde no Brasil.

A política atual de racionalização de recursos humanos, materiais e financeiros é

responsável pelo achatamento salarial, devido a inexistência de reajustes, levando a

maioria desses profissionais à dupla jornada de trabalho; pela não-contratação de

pessoal, mesmo para reposição de demissões ou aposentadorias, resultando em

sobrecarga de trabalho para o pessoal e ainda pelas restrições quanto à

disponibilidade de recursos materiais que exige a constante adaptação do

profissional para a execução das tarefas diárias, significando muitas vezes, maior

tempo despendido, o que contribui para a existência de um ambiente insatisfatório.

Ao considerarmos a distribuição das unidades de registro no discurso dos

profissionais, constatamos que 122 referências são relacionadas aos fatores

higiênicos e 63 aos motivacionais. Isto confirma que algumas organizações

brasileiras negligenciam os aspectos extrínsecos do trabalho, quando deveria

ocorrer o contrário, pois como são raras as ofertas de fatores motivadores, maior

deveria ser o oferecimento de fatores higiênicos, para que o trabalho possa ser

tolerável(1).

Em relação às situações referidas como motivadoras, a categoria “Trabalho em si”

surge como mais citada, também confirmando a assertiva de que os fatores

relacionados ao próprio trabalho, às tarefas e deveres relacionados ao cargo em si,

ou seja, o cuidado ao paciente, recompensam o indivíduo, pelo fato de nele

encontrar o atendimento das próprias aspirações (1).

A segunda categoria mais referida, em relação às situações motivadoras, é

“Relacionamento interpessoal”, e por se tratar de fator higiênico e, portanto,

extrínseco, podemos considerar que o bom relacionamento no ambiente de trabalho

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precisa ser garantido para que seja reduzida ao máximo a insatisfação no contexto

de trabalho, confirmando o que dissemos anteriormente.

Quanto às situações desmotivadoras, a “Organização do trabalho” predomina,

confirmando as implicações negativas em relação à motivação, provocadas pelos

aspectos relacionados à organização do trabalho, pois o modo como somos tratados

nas organizações que trabalhamos ou a que pertencemos, as normas, os valores

vigentes, os tipos de autoridade e poder exercidos afetam as ações e os motivos

que nos levam a agir(2). A seguir vem a categoria “Relacionamento interpessoal”, a

segunda mais citada como desmotivadora Vale ressaltar que entre as 10 categorias

emergentes do discurso dos profissionais, apenas “Trabalho em si” não foi referida

como desmotivadora.

As categorias mais citadas, como sugestões para elevar a motivação são

“Relacionamento interpessoal” e “Organização do trabalho”, ou seja, aspectos do

trabalho que podem ser transformados através de investimentos na área de recursos

humanos e de mudanças na política organizacional. O desejo dos profissionais

quanto às mudanças em relação a esses aspectos do trabalho merece atenção,

pois, apesar de extrínsecos, a garantia desses aspectos proporciona oportunidade

para que a motivação do profissional seja refletida no alcance dos objetivos da

organização. Vale dizer que as várias organizações dependem dos diferentes tipos

de autoridade e de poder, o que limita o envolvimento dos seus membros (2).

Tendo em vista o tema que abordamos neste estudo, ou seja, a motivação enquanto

aspecto intrínseco e individual, mas influenciada por fatores externos, não

acreditamos que caibam aqui generalizações. A análise percentual dos dados

permite apenas considerar perspectivas comuns no decorrer das experiências

vividas, numa determinada cultura, dentro de uma organização.

Este estudo, portanto, deve ser considerado uma aproximação ao tema proposto,

em especial no trabalho de enfermagem, pois seu intuito é contribuir para a maior

compreensão do fenômeno motivacional.

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REFERÊNCIAS

1. Bergamini CW. Revisão crítica dos conceitos tradicionais de motivação e levantamento de um perfil motivacional brasileiro.[dissertação]. São Paulo (SP): Faculdade de Economia e Administração/USP; 1983.

2. Schein EH. Psicologia organizacional. 3ª ed. Rio de Janeiro (RJ): Prentice-Hall; 1982.

3. Ferreira ABH. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª ed. Rio de Janeiro (RJ): Nova Fronteira; 1986.

4. Archer ER. O mito da motivação. In: Bergamini CW, Coda R, organizadores. Psicodinâmica da vida organizacional: motivação e liderança. São Paulo (SP): Pioneira 1990. p. 3-24.

5. Herzberg F. The motivation to work. New York: John Wiley; 1959.

6. Chiavenato I. Recursos humanos – edição compacta. 4ª ed. São Paulo (SP): Atlas; 1990.

7. Sievers B. Além do sucedâneo da motivação. In: Bergamini CW, Coda R, organizadores. Psicodinâmica da vida organizacional: motivação e liderança. São Paulo (SP): Pioneira; 1990. p. 105-123.

8. Fávero N. O gerenciamento do enfermeiro na assistência ao paciente hospitalizado. [dissertação]. Ribeirão Preto (SP): Escola de Enfermagem/USP; 1996.

9. Reis JN. A motivação humana no trabalho administrativo do enfermeiro na realidade hospitalar: aspectos teóricos.[dissertação]. Ribeirão Preto (SP): Escola de Enfermagem/USP; 1993.

10. Cunha KC. O contexto e o processo motivacional vivenciado por enfermeiras. [dissertação]. São Paulo (SP): Escola de Enfermagem/USP; 1994.

11. Bergamini CW. Motivação. São Paulo (SP): Atlas; 1993.

12. Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70; 1991.

13. Alves-Pereira MC. Aspectos motivacionais da equipe de enfermagem no trabalho. [dissertação]. Ribeirão Preto (SP): Escola de Enfermagem/USP; 1999.

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QUALIDADE DE VIDA E CAPACIDADE PARA O TRABALHO DOS PROFISSIONAIS EM ENFERMAGEM NO TRABALHO EM

TURNOS MARILÚ MATTÉI MARTINS Dissertação Apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Engenharia de Produção – Área de Ergonomia Orientador: Prof. Édio Luiz Petroski, Dr. Florianópolis 2002

Esta dissertação foi julgada e aprovada para a Obtenção do grau de Mestre em Engenharia de Produção – Área de Ergonomia no Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina Florianópolis, 13 de dezembro de 2002. Prof. Edson Pacheco Paladini, Dr. Coordenador do Mestrado em Engenharia de Produção Banca Examinadora __________________________________ Prof. Alberto Saturno Madureira, Dr. Universidade Estadual do Oeste do Paraná _______________________________ Prof. Edson Roberto de Souza, Dr. Universidade Federal de Santa Catarina ____________________________ Prof. Édio Luiz Petroski, Dr. Universidade Federal de Santa Catarina Orientador

RESUMO MARTINS, Marilú Mattéi. Qualidade de vida e capacidade para o trabalho dos profissionais em enfermagem no trabalho em turnos. 2002. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Programa de Pós –Graduação em Engenharia de Produção, UFSC, Florianópolis. Este trabalho aborda a atividade dos profissionais em enfermagem, no enfoque da Qualidade de Vida (QV) e capacidade para o trabalho. Dessa forma, o objetivo foi investigar a QV e a capacidade para o trabalho dos profissionais de enfermagem e sua relação com os turnos de trabalho. Trata-se de um estudo descritivo correlacional realizado em um hospital universitário, com uma amostra de 168 profissionais em enfermagem. Utilizou-se o questionário WHOQOL-bref para avaliar a QV e o Índice de Capacidade para o Trabalho (ICT) para avaliar a capacidade para o trabalho, ambos são instrumentos de auto-avaliação e auto-aplicáveis. Além dos questionários, o instrumento incluiu dados para caracterização da amostra, turno de trabalho e ter ou não outro emprego. Os participantes do estudo eram adultos jovens, com idade média de 33,7 anos, na sua maioria (92,86%) do sexo feminino, distribuídos em 39,88% no turno da manhã, 26,19% no turno da tarde e 33,93% no turno da noite. Dentre os resultados, observou-se que no turno da manhã 79,01% dos trabalhadores obtiveram capacidade para o trabalho boa ou ótima e um escore médio de 66,41 para QV; no turno da tarde 81,82% obtiveram capacidade para o trabalho boa ou ótima e um escore médio de 66,46 para QV; e no turno da noite

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91,22% se encontravam com sua capacidade para o trabalho boa ou ótima e um escore médio de 67,91 para QV. Apenas o turno da manhã apresentou trabalhadores com uma baixa capacidade para o trabalho. A partir dos resultados pode-se concluir que os profissionais de enfermagem do HUOP apresentam um bom perfil de qualidade de vida, uma boa capacidade para o trabalho e que o turno de trabalho não interferiu nos resultados de QV e ICT. Os resultados Indicaram ainda, haver uma relação entre a capacidade para o trabalho e a QV, pois quanto mais alto os escores do ICT mais alto foram os escores da qualidade de vida. Palavras-Chave: Qualidade de Vida, Capacidade para o trabalho, Enfermagem, Trabalho em turnos.

1 INTRODUÇÃO

1.1 Exposição do Assunto

A inovação tecnológica e organizacional que vêm ocorrendo na área da saúde, seja

em hospitais públicos ou privados, busca, se não solucionar, pelo menos amenizar

as tarefas penosas ou pesadas, desenvolvidas pelos trabalhadores em enfermagem,

levando a uma nova relação homem/trabalho. Nos últimos anos têm surgido muitas

discussões sobre a qualidade de vida e o trabalho, visando o bem estar do ser

humano como homem e como trabalhador.

No Brasil, a qualidade de vida (QV) de grande parte da população tem sido

comprometida pela crescente disparidade social e desemprego e ainda pelas

mudanças sócio-demográficas; como a concentração da população na área urbana,

o envelhecimento populacional e a predominância das doenças crônico-

degenerativas. Em contrapartida; as mudanças tecnológicas alcançadas pelo

homem têm gerado um aumento de produtividade, que por sua vez, pode melhorar

os salários e as condições de trabalho e, a longo prazo, fazer progredir a qualidade

de vida e o acesso ao lazer (SANTOS et al. 1997).

A qualidade de vida das pessoas pode ser influenciada por fatores como as

condições de trabalho, satisfação no trabalho, salário, relações familiares,

disposição, estado de saúde, longevidade, lazer, prazer, hereditariedade, estilo de

vida e até espiritualidade.

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A capacidade para o trabalho é a base do bem-estar do indivíduo, que sendo

afetada por fatores tais como: o estilo de vida e o ambiente de trabalho, podem ser

influenciados através da própria atividade do indivíduo (TUOMI et al. 1997). Sendo

assim, acredita-se que a qualidade de vida na qual se encontra o trabalhador poderá

trazer conseqüências positivas e/ou negativas na capacidade de trabalho.

O trabalho em turnos é uma forma de organização temporal do trabalho; cada dia

mais freqüente, devido à extensão do trabalho em turnos de vinte e quatro horas por

dia, que se dá por uma necessidade econômica, tecnológica e de atendimento à

população. Sendo cada vez maior o número de empresas que se utilizam do

trabalho em turnos, devido à necessidade de manutenção das suas atividades

durante as vinte e quatro horas, um exemplo são os hospitais que envolvem um

grande número de trabalhadores.

O trabalho em turnos é freqüentemente apontado como possível causador de

desordens fisiológicas e psicológicas e desgastes na vida social e familiar,

prejudicando o profissional na sua vida, levando ao desgaste físico e mental do

trabalhador, repercutindo sobre o seu desempenho produtivo e sua qualidade de

vida.

As perturbações da saúde se manifestam através de insônia, irritabilidade,

sonolência excessiva, fadiga contínua e mal funcionamento do aparelho digestivo e

cardiovascular. As interferências nas relações sócio-familiares são traduzidas pela

ausência do pai, mãe, amigo, namorado, filha, e outros; em momentos de datas

comemorativas, fins de semana e feriados. As conseqüências destas perturbações

são observadas a curto, médio e longo prazo, tanto na qualidade de vida do

trabalhador como de sua família, na saúde dos trabalhadores, na qualidade da

assistência prestada, na segurança do trabalho e conseqüentemente na capacidade

para o trabalho (FISCHER, 1997).

1.2 Problema de Pesquisa

Tendo em vista estas constatações, pretende-se ampliar o conhecimento sobre a

qualidade de vida e a capacidade para o trabalho dos profissionais em enfermagem.

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Tal estudo, a ser desenvolvido no Hospital Universitário do Oeste do Paraná

(HUOP), levará em conta o trabalho em turnos e a percepção que o próprio indivíduo

tem de sua qualidade de vida e capacidade para o trabalho.

Neste contexto, a questão da qualidade de vida, capacidade para o trabalho e o

trabalho em turnos, estabelece uma pergunta que norteará este estudo e que poderá

ser caracterizada da seguinte forma: qual a relação entre a qualidade de vida e a

capacidade para o trabalho, considerando-se os turnos diurno e noturno de

trabalho?

1.3 Justificativas

Há mais de uma década, as empresas compreenderam que devem investir na saúde

integral do trabalhador, desde então, tem surgido muitas melhorias na relação

homem e trabalho através de programas de promoção da saúde com o objetivo de

melhorar a qualidade de vida dos empregados (SALOMÓN, 1998).

A qualidade de vida dos trabalhadores em enfermagem resulta das contradições

existentes entre os aspectos saudáveis e protetores que esse grupo desfruta e os

aspectos destrutivos de que padece, de acordo com sua inserção histórica e

específica na produção de saúde. Aspectos favoráveis consideram a possibilidade

de integração social, aprendizagem de conhecimentos e destrezas da respectiva

atividade e das relações sociais e desenvolvimento de capacidades humanas, já o

aspecto destrutivo é conformado pela exposição às sobrecargas e subcargas que

geram processos de desgastes físicos e pela falta de autonomia e criatividade.

Desta maneira, o pólo destrutivo se acumula e domina no processo de trabalho

(SILVA & MASSAROLLO, 1998).

Importantes estudos realizados na Finlândia, mostraram que a capacidade para o

trabalho não permanece satisfatória ao longo da vida, sendo afetada pelo estilo de

vida e ambiente ocupacional (TUOMI et al. 1997). O estilo de vida é um dos

parâmetros individuais que podem influenciar a qualidade de vida dos indivíduos ou

grupos populacionais, sendo um fator determinante da saúde e bem estar do ser

humano, quer seja individual, em grupo ou em comunidade.

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O trabalho em turnos tem sido apontado como uma contínua e múltipla fonte de

problemas de saúde e de perturbações sócio-familiares. Sendo que, os principais

problemas que afetam os trabalhadores são: os distúrbios do ritmo biológico, as

dificuldades para conciliar o trabalho com a vida doméstica, má postura e

sobrecarga musculoesquelética, exacerbação de sintomas pré-existentes, doenças

mentais e alta demanda mental e psíquica (FISCHER et al. 2000). Todos estes

problemas expõem o trabalhador a um comportamento individual de risco para a sua

saúde e bem-estar, que poderão interferir na qualidade de vida e capacidade para o

trabalho.

Metzner & Fischer (2001) em um estudo transversal sobre a fadiga e capacidade

para o trabalho, realizado com trabalhadores de turnos diurnos e noturnos de uma

indústria têxtil, obtiveram resultados que indicaram que nem sempre o trabalho

noturno é um fator prejudicial à saúde e que variáveis como o turno de trabalho e o

estilo de vida são relevantes para explicar a percepção de capacidade para o

trabalho dos profissionais em enfermagem.

A partir deste contexto e através de uma abordagem ampla do homem e seu

trabalho, a ergonomia vem contribuir na avaliação da percepção da qualidade de

vida e da capacidade para o trabalho dos profissionais de enfermagem que

executam seu trabalho em turnos diurno e noturno, no sentido de criar subsídios

para promover a melhoria da qualidade de vida e garantir a permanência do

trabalhador no seu local de trabalho, trazendo importante contribuição para a vida

social, familiar e laborativa do trabalhador.

Entender como os profissionais de enfermagem percebem sua QV e capacidade

para o trabalho pode fornecer subsídios para o planejamento de um programa de

promoção à saúde e para que as condições de trabalho sejam continuamente

melhoradas.

O tema abordado neste estudo certamente, poderá contribuir em muito com o

conhecimento científico, que apesar de ter um considerável número de pesquisas,

ainda necessita de muita contribuição no sentido de valorizar o profissional na

educação continuada.

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1.4 Objetivo Geral

Investigar a qualidade de vida e a capacidade para o trabalho dos profissionais de

enfermagem e sua relação com os turnos de trabalho.

1.5 Objetivos Específicos

Avaliar a qualidade de vida dos profissionais de enfermagem do HUOP;

Avaliar a capacidade para o trabalho dos profissionais de enfermagem do HUOP;

Comparar o perfil de qualidade de vida e o índice de capacidade para o trabalho dos

profissionais de enfermagem nos turnos de trabalho da manhã, tarde e noite;

Relacionar a qualidade de vida com o índice de capacidade para o trabalho dos

profissionais de enfermagem do HUOP.

1.6 Questões a Investigar

Considerando-se os dados coletados no Hospital Universitário do Oeste do Paraná,

procurou-se responder as seguintes questões:

Qual é a percepção dos profissionais de enfermagem sobre a sua qualidade de

vida?

Qual é a percepção dos profissionais de enfermagem sobre a sua capacidade para o

trabalho?

Há diferença do perfil de qualidade de vida e do índice de capacidade para o

trabalho entre os trabalhadores dos turnos manhã, tarde e noite?

Há uma relação entre a capacidade para o trabalho e a qualidade de vida?

1.7 Delimitação da Área de Trabalho

O escopo deste estudo é determinar a percepção da qualidade de vida e a

capacidade para o trabalho dos profissionais em enfermagem da área da saúde

hospitalar, considerando os turnos diurno e noturno de trabalho. A análise será

focada na determinação do perfil de qualidade de vida, na atual capacidade para o

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trabalho e no turno em que o trabalhador desenvolve a sua tarefa, fundamentando-

se nos achados da literatura.

1.8 Estrutura e Desenvolvimento do Trabalho

Este trabalho é composto por cinco capítulos, no primeiro capítulo estão expostos os

principais aspectos a serem desenvolvidos no trabalho e que irão nortear a pesquisa

e direcionar os demais capítulos. A exposição do assunto contextualiza o tema

pesquisado; o problema de pesquisa mostra a situação a ser pesquisada; a

justificativa apresenta as razões relevantes para o maior aprofundamento do assunto

emergente; o objetivo geral sintetiza o resultado esperado; os objetivos específicos

informam detalhadamente os passos que serão percorridos e para finalizar está a

estrutura do trabalho.

O segundo capítulo apresenta a fundamentação teórica, que expõe as informações

sobre a atividade de enfermagem, a qualidade de vida, a capacidade para o trabalho

e o trabalho em turnos, buscando embasamento teórico e metodológico para

relacionar a qualidade de vida e a capacidade para o trabalho com os turnos de

trabalho.

No terceiro capítulo trata-se do ferramental utilizado para a realização da pesquisa,

apresentando o tipo de pesquisa, a população, os instrumentos utilizados, os

procedimentos para a coleta de dados e a análise dos dados, suporte para a

resolução do problema central do trabalho.

No quarto capítulo são apresentados e discutidos os resultados obtidos, atendendo

aos objetivos da pesquisa.

O quinto capítulo, referente a conclusão, sintetiza os resultados obtidos com a

pesquisa, explicitando de que forma os objetivos iniciais foram alcançados, aduzindo

recomendações para o desenvolvimento de trabalhos futuros.

Por fim, estão incluídas as referências bibliográficas e os anexos, que propiciam

uma opção para maiores informações e explicações sobre o exposto no decorrer do

trabalho.

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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 O Trabalho de Enfermagem

A prática profissional de enfermagem compreende a assistência/cuidado, educação

e pesquisa e administração. A prática assistencial/cuidado consiste no que há de

mais expressivo na enfermagem, sendo este o seu propósito primordial, enquanto

que a prática educativa e de pesquisa são o corpo de conhecimento para o

desenvolvimento da prática e o gerenciamento, a planificação e o projeto que

envolvem este conjunto, vem sendo compreendido como administração da prática

profissional de enfermagem, portanto, é a prática assistencial/cuidado que diferencia

os profissionais de enfermagem dos outros profissionais da saúde (TRENTINI &

PAIM, 2001).

O trabalho de enfermagem se situa no contexto do setor saúde, sendo portanto, um

trabalho coletivo, agregado ao trabalho dos demais profissionais da saúde.

Assim, o processo assistencial congrega diferentes trabalhadores, instrumentos e

finalidades específicas, com um objetivo comum, que é a saúde do paciente.

Para Leopardi, Gelbcke & Ramos (2001) a enfermagem é um trabalho complexo,

combinando três ações básicas, não dissociadas, ou seja, a educação em saúde, o

cuidado e a gerência dos sistemas de enfermagem. Educar é um processo de

trabalho dirigido para a transformação da consciência individual e coletiva de saúde,

de modo que as pessoas possam fazer escolhas. Cuidar é uma ação com finalidade

de transformar um estado percebido de desconforto ou dor em um outro estado de

mais conforto e menos dor, logo, tem uma perspectiva terapêutica sobre um objeto

animado, que tem uma natureza física e social. Enquanto que, gerenciar tem uma

finalidade genérica de organizar o espaço terapêutico, desenvolvendo condições

para a realização do cuidado, e uma finalidade específica de distribuição e controle

do trabalho da equipe de enfermagem.

No processo de trabalho o cuidado tem como finalidade atender as necessidades

relacionadas à manutenção da saúde como condição de sua natureza como ser

vivo.

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Inicialmente a formação dos enfermeiros era voltada para a Saúde Pública, porém

no início dos anos vinte os interesses da Medicina Clínica começaram a direcionar a

profissionalização da enfermagem para o campo hospitalar, que por ter um caráter

individualista e curativo, este tipo de assistência exigia uma equipe com maior

número de pessoal de enfermagem. O avanço da Medicina Hospitalar, no Brasil, se

amplia e progressivamente vai se tornando predominante na atenção à saúde

(RIZZOTTO, 1999).

A formação dos profissionais de enfermagem ocorre em diferentes graus, a saber: o

grau de auxiliar de enfermagem, de técnico de enfermagem e de enfermeiro, que

apesar de formar uma equipe com diferentes graus de conhecimento, as suas

atribuições ao cuidar do paciente ou cliente são semelhantes0. Isto contribui para

que a sociedade e até mesmo a equipe de saúde não perceba a diferença entre as

diversas categorias da equipe de enfermagem, assim como as funções específicas

de cada uma.

De acordo com Costa, Morita & Martinez (2000) ocorre também uma divisão técnica

do trabalho que opera verticalmente, com base na redistribuição das tarefas entre

profissionais de diferentes níveis de qualificação, gerando uma importante demanda

de pessoal auxiliar de enfermagem.

Segundo Lopes (2000) a concentração dos enfermeiros nos hospitais, propiciou a

formação de outras categorias; como o auxiliar de enfermagem, acentuando, assim,

a divisão do trabalho em cuidado direto ao paciente, pelos auxiliares, e a

administração burocrática, pelos enfermeiros. Esta subdivisão também faz com que

a sociedade não perceba as diversas categorias da equipe de enfermagem.

Para Gonzales (1998) a falta de valor social está concretizado nos baixos salários

que expressam a desvalorização dos profissionais de enfermagem, que trazem

consigo o legado de uma história calcada na submissão, abnegação, caridade e

vocação para cuidar do próximo.

A consolidação dos hospitais como local para diagnóstico, tratamento, cura e

pesquisa dos problemas de saúde dá origem ao trabalho em equipe, ficando para a

enfermagem, além das funções referentes à profissão, a execução da tarefa

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prescrita pelo médico. Desta forma o que se observa no cotidiano hospitalar é a

presença de um grande contingente de trabalhadores na área de enfermagem, que

no seu trabalho diário deparam-se com dificuldades inerentes ao seu processo de

trabalho e a sua própria subjetividade.

A enfermagem como profissão, tem como pilar o conhecimento científico, este

compreendido de modo ampliado em correntes, métodos e técnicas que vão além

dos esquemas tradicionais de pesquisa e reconstrói o conhecimento apropriado ao

desempenho dos profissionais (TRENTINI & PAIM, 2001).

Os recursos humanos em enfermagem são considerados um dos fatores mais

relevantes na operacionalização do sistema de assistência de enfermagem, tanto no

que diz respeito aos aspectos quantitativo como qualitativo de pessoal, quanto ao

que se refere à função que cada trabalhador deve desenvolver. O cálculo de pessoal

deve estar de acordo com a filosofia da assistência de enfermagem pretendida

quanto à quantidade de funcionários e a proporção entre as diferentes categorias

que compõem a equipe de enfermagem (BENKO, 1989).

A enfermagem é uma equipe formada por enfermeiros, técnicos de enfermagem e

auxiliares de enfermagem que são categorias regulamentadas por lei e que

participam de forma direta, através do cuidado individualizado e integral, do

processo de cura e reabilitação do paciente. O trabalho desta equipe é desenvolvido

em turnos, com carga-horária estipulada de 36 horas semanais. Comumente os

turnos de trabalho são das 7:00 às 13:00 h (manhã), das 13:00 às 19:00 h (tarde) e

19:00 às 07:00 h (noite). A jornada de trabalho é pré-estabelecida através de escala

de trabalho que atendem à necessidade da instituição. Geralmente existe uma

sobrecarga de trabalho devido à disposição de recursos humanos que pode ser

insuficiente ou inadequadamente distribuída entre os turnos e setores de trabalho.

As atividades de enfermagem se iniciam na passagem de plantão, ou seja, na troca

de turno de trabalho.

Os objetivos do trabalho da enfermagem são as atividades inerentes aos cuidados

com o paciente e sua família. É um trabalho exigente, complexo e intencional, com

particularidades, tais como: a assistência ininterrupta ao paciente nas vinte e quatro

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horas do dia, a necessidade de estabelecer relações interpessoais com colegas,

pacientes e seus familiares, e a necessidade de regimentos, normas e rotinas pré-

estabelecidas para cada serviço, dentre outros aspectos (BECK, 2001).

Segundo Beck (2001) as situações vivenciadas pelos profissionais de enfermagem

ao cuidar de pacientes que requerem cuidados, tanto físico, quanto emocional, ficam

expostos a riscos de ordem física e psíquica. Estas situações de risco têm um

significado personalizado para cada trabalhador, com um mecanismo de defesa

também particular. Outro resultado desses aspectos é a satisfação e insatisfação

presente no cotidiano dos trabalhadores, sendo importante na qualidade de vida e

trabalho. Positivamente o trabalho de enfermagem predispõe a formação de

mecanismos de defesa, de resistência de enfrentamento, com os quais os

trabalhadores buscam um relativo equilíbrio para a execução de suas tarefas.

Este estudo visou analisar o trabalhador inserido num contexto real, observando

como o trabalhador de enfermagem se comporta ao executar o que lhe é imposto

pela organização do trabalho e como este comportamento interfere na sua

capacidade para o trabalho e qualidade de vida.

A formação profissional recebida nos cursos de enfermagem, técnico ou auxiliar de

enfermagem valoriza a prática e com isso ao entrar no mercado de trabalho, estes

profissionais são absorvidos pelo trabalho que é fatigante e que exige apenas o

fazer, de preferência cumprindo à risca as exigências da instituição (GONZALES,

1998).

Nesta perspectiva, as situações de trabalho vivenciadas pelos profissionais de

enfermagem, na maioria das vezes, o força a realizar atividades em posturas

constrangedoras. Segundo Lautert, Chaves & Moura (1999) essas posturas

inadequadas e forçadas potencializam o aparecimento de alterações músculo-

articulares e a sobrecarga, tanto qualitativa como quantitativa, de trabalho que

produz vários sintomas de estresse psicológico e físico.

A situação de assistir ao doente coloca o profissional de enfermagem em uma

posição de total doação, o que muitas vezes leva o trabalhador a abdicar de sua

própria saúde em benefício de seu doente. Segundo Tanaka et al. (1988) o

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profissional de enfermagem deve ter preparo técnico e intelectual, ter a sua

disposição recursos materiais e ter saúde física e mental para desempenhar a sua

tarefa. É um trabalho que exige um estado de alerta constante e grande consumo de

energia física, mental e emocional por parte do trabalhador.

Dentro deste contexto, os profissionais de enfermagem devem visar a concepção de

situações de trabalho que não alterem a sua saúde, locais onde possam exercer

suas atividades em um plano individual e coletivo, encontrando possibilidades de

valorização de suas capacidades e condições de trabalho adaptados às suas

características fisiológicas e psicológicas, garantindo deste modo, a manutenção de

sua saúde e qualidade de vida.

2.2 Qualidade de Vida

O termo qualidade de vida está presente em muitos estudos, com abordagens

relacionadas ao trabalho, à saúde, e uma visão holística da vida humana, com

conceitos específicos de cada área. Porém, para este estudo optou-se por uma

acepção global da qualidade de vida, definida pelo Grupo de Qualidade de Vida da

Organização Mundial da Saúde como “a percepção do indivíduo de sua posição na

vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação

aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações” (WHO, 1998 p.17). Este

constructo engloba de maneira ampla a saúde física, o estado psicológico, o nível de

independência, as relações sociais, as crenças pessoais e a relação com as

características salientes do meio ambiente de uma pessoa.

Nesta definição é ressaltada a natureza subjetiva da avaliação, com dimensões;

tanto positivas, como negativas, estando arraigada em um contexto cultural, social e

ambiental, ressaltando a percepção do respondente sobre sua qualidade de vida.

Para Gonzales (1998) a satisfação no trabalho é um dos pilares fundamentais na

construção do conceito de qualidade de vida, devido o trabalho ocupar grande parte

da vida, estabelecer relações e dimensionar diferentes possibilidades que emergem

da sua maior ou menor valorização social. A qualidade de vida reflete também, o

grau de satisfação encontrado na vida familiar, amorosa, social, ambiental e para a

própria estética existencial de indivíduos e coletividades.

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A assistência em enfermagem é uma atividade desgastante e estressante, devido

envolver o convívio diário com o sofrimento alheio, exigir constante atualização e

habilidades manuais, haver permanente cobrança de responsabilidades, manter

bom relacionamento com a clientela e com a equipe multiprofissional, submeter-se a

políticas que restringem a sua atuação com a falta de recursos humanos e materiais.

Estas condições de trabalho proporcionam uma insatisfação no trabalho, que vem

afetar diretamente os profissionais de enfermagem e sua qualidade de vida no

trabalho.

A qualidade de vida sob o enfoque da determinação social, abordado por Silva &

Massarollo (1998), expressa que o trabalho de enfermagem, realizado sob a

necessidade de geração de lucro e competitividade, decorrente da sua inserção

específica na prestação de assistência à saúde da sociedade brasileira, gera um

acúmulo de processos destrutivos que comprometem a potencialidade de saúde e

vida, desfavorecendo a qualidade de vida.

Os processos destrutivos e os processos potencializadores da saúde ocorrem

simultaneamente no momento de trabalho e no momento de consumo. Assim,

quando os processos destrutivos se intensificam, ocorre o favorecimento da doença,

do envelhecimento precoce e da perda da capacidade ocupacional. Por outro lado,

quando os aspectos saudáveis e protetores se expandem há o favorecimento da

saúde e da vida. Portanto, é nas contradições da reprodução social que a qualidade

de vida é gerada.

Hahn & Camponogara (1997) partindo de situações reais de insatisfação no

trabalho da enfermagem, consideram que a conscientização acerca das questões

do cotidiano, a visão holística do trabalhador e a democratização do ambiente de

trabalho é o caminho para a conquista da cidadania e conseqüente melhores

condições de vida no trabalho. Concluem que é através de uma abordagem mais

humanizada do trabalhador de enfermagem que minimizará a distância entre o

pensar e o agir, proporcionando maior satisfação no ambiente de trabalho e elevado

nível de assistência e, por conseguinte, melhor qualidade de vida.

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A análise feita por Oliveira (1997) em um estudo sobre as novas formas de

organização do trabalho, implantadas pelos Programas de Qualidade Total que

modificam as relações de trabalho, podendo ser reportado ao setor hospitalar sob o

ponto de vista de que a busca da qualidade do produto, neste caso a qualidade da

assistência à saúde, atinge os trabalhadores gerando sobrecargas na saúde física e

mental. Concluindo que esses programas são pensados para aumentar a qualidade

do produto, sem contudo, modificar a qualidade de vida dos trabalhadores.

Para Fernandes (1996) os programas de qualidade tendem ao fracasso por não se

mostrarem consistentes e não contarem com o comprometimento das pessoas.

Outro ponto é supor que se pode obter qualidade de produtos e serviços mesmo

quando a qualidade de vida de quem produz apresenta baixos níveis de satisfação.

Desta forma, também é observado no âmbito hospitalar uma preocupação com a

qualidade da assistência prestada ao paciente sem, contudo considerar a satisfação

do trabalhador de enfermagem.

Os programas de Qualidade Total promovem melhorias das condições de trabalho e

na maioria das vezes, restritas às questões de higiene, limpeza e maior organização

nos locais de trabalho. Porém, deixam de abranger pontos fundamentais para a

saúde dos trabalhadores, como o trabalho em turnos e as sobrecargas física e

mental do trabalho da enfermagem hospitalar que trazem conseqüências negativas

para a qualidade de vida.

Frente às mudanças percebidas e vivenciadas pela sociedade, os serviços têm se

forçado a modernizar-se, de forma a reestruturar seu processo de trabalho e investir

no seu maior patrimônio: o trabalhador (LENZI & CORRÊA, 2000). Desta forma, a

qualidade de vida no trabalho está relacionada diretamente com a satisfação de

necessidades, a realização de objetivos, a manutenção de ideais e a saúde do

trabalhador. Portanto, a qualidade eleva-se e se torna mais refinada à medida em

que o homem satisfaz um número maior de suas necessidades, tornando-se

independente (GRAMSCI apud OLIVEIRA, 1997).

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A qualidade de vida no trabalho envolve muitas variáveis e subjetividade que

dificulta o estabelecimento exato dos determinantes para a sua obtenção e

manutenção (TEIXEIRA, 2001). Porém, fatores ambientais, estilo de vida, aspectos

cognitivos, sociais e organizacionais devem ser considerados na obtenção da

qualidade de vida do trabalhador.

De acordo com Búrigo (1997) o homem sempre se preocupou com a qualidade de

vida no trabalho, onde a mesma passa pela percepção da qualidade de vida, pois o

trabalho não pode estar isolado da vida das pessoas. Sendo assim, a insatisfação e

a alienação no trabalho interferem nas outras esferas da vida.

Para que os programas de qualidade de vida aplicados no local de trabalho, caso

dos profissionais pesquisados no HUOP, cumpram com seu objetivo é necessário

em primeiro lugar a conscientização e interesse do conteúdo do programa a ser

implementado, em segundo lugar que se implante as mudanças nos hábitos a fim de

melhorar a qualidade de vida pessoal, e em terceiro lugar; a criação de um ambiente

de trabalho que atenda a um estilo de vida saudável (FACCI, 1996). Estes

programas devem atender a saúde física, emocional, social, intelectual e espiritual

dos trabalhadores, sendo a melhor forma de promover uma melhor qualidade de

vida para os funcionários.

Embora as inovações tecnológicas e organizacionais têm melhorado as condições

de trabalho, num contexto geral observam-se poucas mudanças nas cargas física e

mental do trabalho desenvolvido no setor hospitalar.

Através de um processo educativo, no sentido da transformação da prática pelos

benefícios à saúde do trabalhador, proporciona-se uma vivência segura das

atividades da enfermagem. Deste modo, ocorre uma forma de agir melhor,

propiciada por um ambiente de trabalho tranqüilo, oferecendo as condições para o

desempenho do exercício profissional seguro, que reverta em uma melhor qualidade

de vida e de trabalho. Uma qualidade de vida alicerçada no desenvolvimento de uma

prática segura e digna de seres humanos trabalhando com seres humanos.

Os profissionais de enfermagem do setor hospitalar atuam de forma curativa, porém

este não é um empecilho para que promovam a saúde e a prevenção de outras

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doenças, intervindo junto ao paciente e sua família, para que melhorem sua

qualidade de vida. Uma das estratégias apontadas por Mendes et al. (1994) para

que isto se concretize é o treinamento e a educação continuada do próprio

trabalhador sobre a promoção da saúde, que os torna mais conscientes e

compromissados em passarem os novos conhecimentos, não só para a clientela,

como para os familiares, contribuindo desta forma, para um melhor perfil de

qualidade de vida pessoal, familiar e da comunidade.

2.3 Capacidade para o Trabalho

A capacidade para o trabalho, dentro da área da saúde ocupacional, pode ser

conceituada de acordo com Tuomi et al. (1997) como o quão bem está, ou estará,

um trabalhador presentemente, ou num futuro próximo, e quão capaz ele pode

executar o seu trabalho, em função das exigências, de seu estado de saúde e de

sua capacidade física e mental.

De uma outra forma, pode-se conceituar a capacidade para o trabalho, partindo-se

do significado da palavra “capacidade” que é a qualidade que a pessoa tem de

satisfazer para determinado fim e da palavra “trabalho” que é a atividade

coordenada, de caráter físico e/ou intelectual, necessária à realização de qualquer

tarefa, serviço ou empreendimento (FERREIRA, 2000). Portanto, capacidade para o

trabalho pode ser a qualidade física e/ou mental com que o homem desenvolve o

seu trabalho.

Segundo Tuomi et al. (1997) a capacidade para o trabalho é a base do bem-estar

para o ser humano e não permanece satisfatória ao longo da vida, sendo afetada

por muitos fatores. Entretanto, um ambiente de trabalho saudável e um estilo de vida

ativo mudam este prognóstico.

A capacidade para o trabalho, quando considerada como o desempenho efetivo e

eficiente de tarefas dentro de uma atividade previamente determinada, resulta em

bem-estar para todos os trabalhadores. Desta forma, é necessário intervir positiva e

precocemente no sentido de manter uma boa qualidade de vida e na vida pessoal

dos trabalhadores (VAHL NETO, 1999).

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Muitos estudos abordam o tema capacidade para o trabalho, em áreas de

conhecimento e pontos de vista diferentes, obtendo desta forma, variados fatores,

positivos e negativos, que geram suas influências sobre a capacidade para o

trabalho. A seguir são descritos alguns estudos que têm relação com as metas desta

pesquisa.

Resultados encontrados por Bellusci et al. (1999) em um estudo sobre a capacidade

para o trabalho de funcionários de um hospital filantrópico apontam para a

relevância de estressores ambientais e organizacionais do ambiente de trabalho e

seu possível impacto sobre a saúde dos trabalhadores em geral. A equipe de

enfermagem apresentou 1,9 vez mais chances de perda de capacidade para o

trabalho que os outros funcionários. O sexo feminino também apresentou 1,9 vez

mais chances do que o sexo masculino de perderem precocemente a capacidade

para o trabalho. A idade não mostrou associação com a perda de capacidade para o

trabalho. Este estudo demonstrou a importância da função profissional na perda da

capacidade para o trabalho.

Metzner & Fischer (2001) analisando fatores que interferem na percepção de fadiga

e capacidade para o trabalho de trabalhadores de turnos fixos diurnos e noturnos

obtiveram resultados que indicam que fatores, como maior tempo de trabalho na

função, ter dificuldade em adormecer e consumir bebida alcoólica diminuem o Índice

de Capacidade para o Trabalho (ICT) e que melhores condições de trabalho e o

trabalho no turno da noite aumentam o índice de capacidade para o trabalho.

Verificaram também que o turno de trabalho, as características e o estilo de vida são

relevantes para explicar a percepção de capacidade para o trabalho e de fadiga dos

trabalhadores.

Ao pesquisar sobre o envelhecimento e condições de trabalho Bellusci (1998)

observou que as variáveis sexo, idade e tempo de serviço apresentaram associação

significativa com perda da capacidade para o trabalho. Onde as mulheres

apresentaram 2,1 vezes mais chance de ter o ICT baixo ou moderado do que os

homens, a faixa etária compreendida entre 40 e 50 anos apresentou maior

probabilidade de ter o ICT moderado ou baixo e quanto maior o tempo de serviço

maior a chance de ter o ICT baixo ou moderado.

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Monteiro (1999) ao pesquisar o envelhecimento e capacidade para o trabalho

observou que o melhor desempenho no índice de capacidade para o trabalho do

grupo de mais idade está relacionado ao fato de terem menos doenças e/ou

doenças que causam menor impedimento ao trabalho. Concluindo que na população

de estudo o principal fator com efeito negativo na capacidade para o trabalho esteve

relacionado à doença e não à faixa etária.

Resultados de uma pesquisa de onze anos realizada por Seitsamo & Ilmarinen

(1997) na Finlândia, com trabalhadores municipais, indicaram que os trabalhadores

que mantiveram uma boa capacidade para o trabalho foram os que se mantiveram

mais ativos e mais satisfeitos com sua vida, que a atividade física aumentou entre os

indivíduos de ambos os sexos e que as mulheres aumentaram seu grau de

satisfação com sua situação de vida. Concluíram que há uma forte associação entre

o estilo de vida, capacidade para o trabalho e saúde, onde indivíduos com atividade

física e mais satisfeitos com sua vida mantiveram uma boa capacidade para o

trabalho durante o período do estudo.

Deve existir um equilíbrio entre a capacidade dos trabalhadores e as exigências e

fatores estressantes do trabalho para que não se perca a capacidade para o

trabalho. Portanto, é necessário uma avaliação freqüente dos agentes que

desencadeiam sintomas, lesões, doenças e das melhorias das condições de

trabalho. Os estudos sobre o ambiente de trabalho, as alterações fisiológicas, as

mudanças na capacidade para o trabalho e a influência da organização e dos

aspectos físicos e ergonômicos do trabalho propiciam soluções para incrementar o

equilíbrio da relação entre capacidades e demandas de trabalho. É também

necessário proporcionar ao trabalhador um estilo de vida ativo e saudável e

condições de trabalho adequadas para otimizar a capacidade funcional e a saúde

dos trabalhadores (BELLUSCI & FISCHER, 1999).

Monteiro & Gomes (1998) ao pesquisar sobre as características de administração

participativa no trabalho e sua relação com a saúde dos trabalhadores, encontraram,

com relação à percepção e o significado atribuído ao trabalho, como efeitos positivos

à vivência no trabalho, ressaltando a liberdade e o respeito sentido, sendo acrescido

de uma melhora na vida fora do trabalho, bom relacionamento com os colegas, com

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as chefias, a solidariedade e a confiança. Como efeitos negativos sobre as pessoas

a intensificação do ritmo de trabalho, que afeta a vida familiar e interfere na saúde

do trabalhador. Efeitos estes que de forma direta ou indireta podem influenciar na

capacidade para o trabalho.

O processo de envelhecimento normal tem características próprias e esperadas em

qualquer pessoa, porém estas características podem modificar-se devido à atividade

laboral. Ao exercer sua atividade laboral ao longo da vida, o organismo do

trabalhador sofre alterações decorrentes do trabalho e da forma de como ele o

exerce. Quando o trabalho é realizado em más condições ambientais de trabalho ou

de forma incorreta ele pode acelerar ou agravar o envelhecimento, tornando-o

patológico e com sérias repercussões sobre a capacidade para o trabalho e

qualidade de vida destes trabalhadores (ODEBRECHT, GONÇALVES & SELL,

2001).

Vahl Neto (1999) ao relacionar a qualidade de vida e capacidade de trabalho em

diferentes faixas etárias de trabalhadores do setor administrativo e operacional de

uma companhia elétrica, não constatou diferença significativa no índice de qualidade

de vida e no índice de capacidade para o trabalho entre os funcionários

administrativos e operacionais em todas as faixas etárias. Entretanto, verificou a

existência de uma pequena correlação entre a capacidade de trabalho e a qualidade

de vida, demonstrando que a previsão de interferência acentuada entre as

atividades profissionais e a vida das pessoas não é tão relevante quanto ao

preconizado pela literatura.

A ergonomia tem o importante papel de projetar os postos de trabalho de forma que

possam ser modificados e adaptados à medida em que o trabalhador vai

envelhecendo, atendendo ao processo de vida do ser humano.

Resultados obtidos por Tuomi et al. (1997) ao pesquisar as mudanças na

capacidade para o trabalho mostraram que a melhoria desta capacidade está

relacionada com a diminuição de movimentos repetitivos no trabalho, aumento de

atividade física nas horas de lazer e melhores atitudes por parte do supervisor.

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Enquanto que a deterioração da capacidade para o trabalho está relacionada à falta

de reconhecimento e estima, às condições inadequadas do ambiente e do tempo

prolongado de trabalho e da vida sedentária.

O próprio trabalhador tem um conceito sobre a sua capacidade para o trabalho, que

segundo estudos do Instituto de Saúde Ocupacional na Finlândia, este conceito

pode diagnosticar e permitir um prognóstico confiável das mudanças ocorridas na

capacidade para o trabalho durante a vida laborativa do trabalhador em diferentes

grupos ocupacionais.

2.4 Trabalho em Turnos, a Qualidade de Vida e a Capacidade para o Trabalho

O trabalho em turnos vem ocorrendo com uma freqüência cada vez maior; com

razões que vão desde motivos de ordem técnica e econômica e ao atendimento das

necessidades básicas da sociedade, envolvendo assim, o ser humano como

elemento principal do processo de trabalho. Desta forma, os trabalhadores são

expostos a numerosos fatores perturbadores da saúde, como alterações de ritmos

biológicos, perturbações do sono e alterações cardiovasculares, gastrintestinais e

nervosas, trazendo desconforto, restringindo a vida social e familiar e

potencializando doenças. Tais fatores estabelecem uma complexa relação entre

trabalho, qualidade de vida e capacidade para o trabalho.

Devido a determinados aspectos da organização do trabalho, o tempo transforma-se

na própria medida da atividade caracterizando a produtividade e sendo a base da

remuneração. O tempo biológico desaparece e o trabalhador deve adaptar-se ao

quadro temporal que é imposto, enquanto que o trabalho em turnos aumenta em

termos de quantidade e qualidade de trabalho exigidas por unidades de tempo. Uma

duração diária de oito horas de atividade profissional constitui um limiar, além do

qual decai a qualidade ou a quantidade de trabalho executado pelo trabalhador

(LAVILLE, 1977).

No ramo de atividade hospitalar, é inadmissível a interrupção de sua assistência em

qualquer horário e dia, tendo a instituição de organizar-se com trabalho em turnos

para o atendimento continuado à população.

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O termo “trabalho em turnos” possui vários constructos e múltiplas combinações na

organização do trabalho. A definição de trabalho em turnos proposta por Maurice

apud Fischer (1981) é a que melhor expressa os arranjos na organização do

trabalho onde no trabalho em turnos, um turno é seguido por outro e há continuação

do trabalho interrompido pelo turno precedente por um segundo ou terceiro turno de

operações, caracterizado por uma continuidade da produção e uma quebra da

continuidade no trabalho realizado por cada trabalhador.

O trabalho em turnos pode ser em esquemas de rotatividade ou fixo, cada um com

suas vantagens e desvantagens. Porém, estudos comparativos entre os dois turnos,

fixos e rotativos, mostram que os turnos fixos são mais vantajosos do ponto de vista

fisiológico. Porém, o mais importante é que a elaboração de um esquema de

trabalho em turnos seja organizada de forma a provocar o menor desgaste possível

à saúde e ao convívio social dos trabalhadores.

Existem muitas possibilidades de divisão dos turnos de trabalho, determinados pela

carga horária semanal e outras condições especiais de trabalho nas empresas.

Na área hospitalar, os turnos de trabalho são comumente organizados em manhã,

tarde e noite, sendo equipes de 6 horas diárias para os períodos diurnos e 12 horas

para o noturno, num total de 36 horas semanais, sendo os turnos fixos, onde os

trabalhadores permanecem sempre no mesmo turno, isto é, trabalham sempre a

mesma hora ou período.

Estudos de Fischer (1997) apresentam muitas variáveis que podem melhorar ou

piorar a tolerância ao trabalho em turnos, estando ligadas às condições de vida e

trabalho como: o meio ambiente, fatores psicossociais, situação política, econômica

e social do país, escalas e carga de trabalho; e às características individuais e suas

relações com a tolerância ao turno de trabalho. É a interrelação entre estas

condições que determinarão a tolerância ao trabalho, sendo distinta para cada

trabalhador, tais como: o grau de tolerância e a forma que o trabalhador se adaptará

ao trabalho em turnos determinará em grande parte a sua qualidade de vida.

O trabalho dos profissionais de enfermagem no âmbito hospitalar está entre uma

das profissões amplamente estudadas, onde o trabalho em turnos aparece como um

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fator estressor, visto que um percentual significativo de pessoas que trabalham

neste sistema de horário relata uma série de perturbações, principalmente físicas

(LAUTERT, CHAVES & MOURA, 1999). Algumas das perturbações mais conhecidas

são os distúrbios do ritmo biológico, as dificuldades para conciliar o trabalho com a

vida doméstica, má postura e sobrecarga musculoesquelética, exacerbação de

sintomas pré-existentes e doenças mentais e alta demanda mental e psíquica

(FISCHER et al. 2000). Muitos destes fatores perturbadores da saúde trazem

desconforto, restringem a participação dos trabalhadores nas atividades sócio-

familiares, são potencializadores de doenças e diminuem a qualidade de vida.

Costa, Morita & Martinez (2000) estudando os efeitos do trabalho em turnos sobre a

saúde e a vida social de uma equipe de enfermagem hospitalar concluiu que a

saúde é afetada principalmente por distúrbios neuropsíquicos, cardiovasculares e

gastrintestinais; a vida social é prejudicada, em primeiro lugar, pela interferência no

relacionamento pessoal e familiar, em segundo, pelas restrições das atividades

sociais e, em terceiro, pela dificuldade de planejar a vida. Visto que há uma

predominância de indivíduos em plena capacidade produtiva sendo a maioria

casada e com filhos. Desta forma evidencia-se a ligação dos efeitos do trabalho em

turnos na qualidade de vida e capacidade para o trabalho.

Entre os horários de trabalho existentes o que causa um maior número de

perturbações é o trabalho noturno, devido o organismo humano estar adaptado ao

trabalho durante o dia e ao descanso e reconstituição das energias durante a noite.

Assim, o trabalho noturno exige atividade do organismo quando ele está predisposto

a descansar, e vice-versa. Também a sociedade é organizada para um ciclo diário

de trabalho-lazer-sono. A execução do trabalho noturno é influenciada por fatores

como o ritmo circadiano, tipo de atividade e características individuais, acarretando

alterações do sono, distúrbios gastrintestinais e cardiovasculares, desordens

psíquicas e desajustes da vida social e familiar (GRANDJEAN, 1998; IIDA, 1998).

Enfocando a questão de gênero e o trabalho noturno, Rotenberg et al. (2001)

observaram efeitos prejudiciais do sono mais sobre as mulheres, e de forma intensa

a saúde, o lazer, os estudos e as relações amorosas são afetados tanto nas

mulheres como nos homens. Os resultados revelam uma dimensão do trabalho que

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aparentemente independe do processo de trabalho em si, mas sim, do fato de este

ser realizado à noite, resultando numa relação complexa entre trabalho e qualidade

de vida.

Segundo a literatura há uma predominância do sexo feminino na força de trabalho

na área de enfermagem; assim sendo, há um empobrecimento da qualidade de vida

que tem relação com as dificuldades que as mulheres apresentam em realizar

concomitantemente os trabalhos de dona de casa e suas atividades profissionais

(WAIDELE, 1996). No trabalho em turnos, muitas são as maneiras que diferenciam

as mulheres dos homens, indo desde as diferenças biológicas até o seu papel na

família, isto as faz sentir dificuldades distintas dos homens. O fato de a dupla carga

de trabalho, doméstica e o trabalho profissional fora de casa, faz com que as

mulheres sejam mais atingidas (FISCHER, LIEBER & BROWN, 1999).

Regis Filho & Lopes (1997) ao estudar o trabalho noturno e o estresse concluíram

que o trabalho noturno possui situações únicas que necessitam soluções

personalizadas, que possibilitem uma melhor qualidade de vida não só no trabalho,

mas que leve em consideração os aspectos psicossociais de cada trabalhador.

Tanaka et al. (1988) ao estudar algumas condições que podem dificultar a

assistência de enfermagem no trabalho noturno observou que a maioria dos

entrevistados trabalha no turno da noite por uma necessidade, que 80,85% tem

outro emprego, que a maioria não repousa o tempo necessário para recuperar as

energias, que não há período para descanso durante o plantão e nem local

adequado para fazê-lo, que há déficit de recursos humanos e que a maioria são

insatisfeitos com a assistência prestada no plantão noturno. Todos estes fatores

afetam a qualidade da assistência prestada ao cliente. Porém, sob a ótica da

ergonomia, estes fatores comprometem primeiramente a saúde física e mental do

trabalhador com conseqüências negativas sobre a sua capacidade para o trabalho e

sua qualidade de vida.

Dados semelhantes foram encontrados por Salles et al. (2001) ao realizar a análise

ergonômica do trabalho em turnos de técnicos de enfermagem onde o trabalho

noturno gerou maior carga mental em função da fragilidade dos pacientes neste

horário, exigindo mais atenção e a falta de local adequado para descanso gera

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fadiga e insatisfação com as condições de trabalho. No turno da manhã ocorreu

maior desgaste na execução das atividades, por apresentar maior demanda de

esforço físico em função dos procedimentos de higiene dos pacientes. Observou-se

ainda, que em todos os turnos de trabalho os profissionais estavam satisfeitos com

sua qualidade de vida e que os trabalhadores do turno noturno sofrem um grande

desgaste físico e mental por não repor o sono no dia posterior ao plantão.

Quanto ao aspecto temporal das atividades de enfermagem, Salles et al. (2001)

observou que a distribuição da atividade ocorre em ritmo acelerado e constante em

todos os turnos de trabalho, apesar de existirem atividades peculiares a cada turno.

Em conformidade com outros autores, Menezes (1996) relata que o trabalho em

turnos e o trabalho noturno têm inconvenientes nos diferentes âmbitos da vida dos

indivíduos e que trabalhar no turno noturno leva a dessincronização do seu ritmo

biológico e desarmonia com o ambiente social onde o trabalhador está inserido.

Ao estudar a síndrome da má-adaptação ao trabalho em turnos, Regis Filho (2000)

observou que trabalhadores do turno da noite e da manhã manifestaram

sintomatologia característica de inadaptação ao trabalho em turnos, que inclui

sintomas como insônia, problemas familiares e sociais, doenças gastrintestinais e

cardiovasculares, depressão, fadiga, entre outras.

As atividades de enfermagem requerem considerável esforço físico e deslocamentos

excessivos. Em relação à demanda de trabalho em todos os turnos há uma grande

necessidade de aplicação de força física ao cuidar de pacientes dependentes,

adoção de posturas constrangedoras de trabalho, atividade mental intensa ao

preencher tickets, preparo e distribuição de medicamentos, carga mental por

atividades sob pressão emocional em relação ao tempo de permanência, gravidade

e reinternações dos pacientes e carga mental ao executar cuidados pós-morte.

Estas características do trabalho de enfermagem refletem conseqüências

psicológicas e ergonômicas sobre a saúde do trabalhador, afetando a capacidade

para o trabalho e a qualidade de vida.

As várias formas de organização do trabalho têm contribuído para o surgimento de

sintomas de insatisfação e precarização das condições de trabalho. A preocupação

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da ergonomia no processo produtivo também tem sido enfoque de análise, dado os

vários níveis de demanda apresentados a partir da necessidade de equacionar e/ou

minimizar os efeitos da produção em detrimento da satisfação na organização do

trabalho. De forma geral o trabalhador impõe a si próprio um ritmo freqüente de

trabalho em todas as atividades, por não conseguir dissociar o trabalho do lazer

(LOPES, 2000).

Para Xavier (1997) as organizações começam a entender que a qualidade de vida

no trabalho não pode ser dissociada da qualidade de vida do ser humano. Uma

melhor qualidade de vida deve ser compartilhada com o empregador e o governo,

não podendo ser de responsabilidade só do trabalhador.

3 METODOLOGIA

3.1 Tipo de Estudo

O presente trabalho trata de uma pesquisa do tipo descritiva correlacional. Este tipo

de pesquisa permite registrar, analisar e correlacionar os dados coletados, assim

como, analisar e interpretar quantitativamente estes dados (RUDIO, 1986; CERVO &

BERVIAN, 1983). Portanto, este é um estudo descritivo correlacional entre a

qualidade de vida e a capacidade para o trabalho desenvolvido na área da saúde

hospitalar com os trabalhadores de enfermagem, nos turnos diurno e noturno.

Caracterizado como um estudo de levantamento, traçando as características de uma

população específica.

3.2 População e Amostra

A população que participou deste estudo foi uma equipe de funcionários

pertencentes ao quadro de recursos humanos do setor de enfermagem de um

hospital da rede pública estadual do Paraná, o Hospital Universitário do Oeste do

Paraná (HUOP). Constituída por 268 funcionários, de ambos os sexos, de todos os

turnos de trabalho, com nível de escolaridade mínima o ensino fundamental com o

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curso profissionalizante de auxiliar de enfermagem. Portanto, todos os indivíduos

possuíam grau de escolaridade compatível com o auto-preenchimento dos

questionários.

A amostra selecionada foi a própria população, onde a partir dos dados fornecidos

pelo Departamento de Recursos Humanos do HUOP, a qual continha o nome de

todos os funcionários da enfermagem da referida instituição, foram excluídos oito

funcionários que se encontravam em atestado médico, férias ou licença

maternidade. Sendo considerados apenas os trabalhadores que se encontravam no

exercício ativo de suas funções durante o período da coleta dos dados, totalizando

260 funcionários (N = 260) como a população de estudo.

Para se obter o tamanho mínimo da amostra necessária utilizou-se a fórmula

proposta por Stevenson (1981): n = (N x no) / (N + no), que resultou como tamanho

da amostra um n = 158, conforme o cálculo a seguir:

Fórmula: n = (N x no) / (N + no)

Onde: N = 260,

n0 = 1/(0,05)2 = 400,

n = 158

Este número mínimo de indivíduos participantes foi calculado admitindo-se um erro

amostral máximo de 5% (E0 = 0,05) com um nível de confiança de 95%.

3.3 Instrumentos Utilizados

Utilizou-se o instrumento de avaliação de qualidade de vida, desenvolvido pelo

Grupo de Qualidade de Vida da Organização Mundial de Saúde, o World Health

Organization Quality Of Life (WHOQOL-100), na sua versão abreviada, o WHOQOL-

BREF. Para avaliar a capacidade para o trabalho utilizou-se o instrumento de Índice

de Capacidade para o Trabalho (ICT), proposto pelo Instituto de Saúde Ocupacional

da Finlândia. Ambos são instrumentos de auto-avaliação e, portanto auto-

explicativos, sendo de fácil aplicação, vindo ao encontro dos objetivos deste estudo

(Anexo A).

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Para a caracterização do turno de trabalho, ter ou não, outro emprego e dados

pessoais foi feita uma pergunta direta e objetiva, visando a extração dos dados

necessários.

O WHOQOL é um instrumento que se baseia nos pressupostos de que qualidade de

vida é um construto subjetivo (percepção do indivíduo em questão), multidimensional

e composto por dimensões positivas (p. ex. mobilidade) e negativas (p. ex. dor)

(OMS, 1998).

A versão em português do instrumento WHOQOL-BREF foi desenvolvida no Centro

WHOQOL para o Brasil da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O

WHOQOL-BREF é uma versão abreviada composta pelas 26 questões que

obtiveram os melhores desempenhos psicométricos extraídos do WHOQOL-100, é

composto por quatro domínios: físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente,

consta de 26 questões, sendo duas questões gerais de qualidade de vida e as

demais 24 representam cada uma das 24 facetas que compõe o instrumento original

(Quadro 1), porém no WHOQOL-BREF cada uma das 24 facetas é avaliada por

apenas uma questão (FLECK et al. 2000).

Quadro 1: Domínios e facetas do WHOQOL-BREF Fonte: Adaptado de Fleck et al. (2000) Domínio 1 – Domínio físico 1. Dor e desconforto 2. Energia e fadiga 3. Sono e repouso 9. Mobilidade 10. Atividades da vida cotidiana 11. Dependência de medicação ou de tratamentos 12. Capacidade de trabalho Domínio 2 – Domínio psicológico 4. Sentimentos positivos 5. Pensar, aprender, memória e concentração 6. Auto-estima 7. Imagem corporal e aparência 8. Sentimentos negativos 24. Espiritualidade/religião/crenças pessoais Domínio 3 – Relações sociais 13. Relações pessoais 14. Suporte (apoio) social

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15. Atividade sexual Domínio 4 – Meio ambiente 16. Segurança física e proteção 17. Ambiente no lar 18. Recursos financeiros 19. Cuidados de saúde e sociais: disponibilidade e qualidade 20. Oportunidades de adquirir novas informações e habilidades 21. Participação em, e oportunidades de recreação/lazer 22. Ambiente físico: (poluição/ruído/trânsito/clima) 23. Transporte

O WHOQOL-BREF fornece um perfil da qualidade de vida obtido através dos

escores dos quatro domínios, onde quanto mais alto os escores, melhor é a

qualidade de vida. As duas questões gerais são examinadas separadamente: onde a

primeira questão revela a percepção do indivíduo sobre a sua qualidade de vida e a

segunda questão revela a percepção do indivíduo sobre a sua saúde. Os quatro

domínios indicam a percepção individual da qualidade de vida do trabalhador. Cada

uma das 24 questões possui uma pontuação que varia de 1 a 5. Para o cálculo

manual de cada domínio há uma equação que resulta em um escore bruto. O escore

bruto é então convertido em um escore transformado, utilizando-se uma tabela de

referência. O método de transformação converte os escores brutos em uma escala

de 4 a 20, comparável com o WHOQOL-100, e em uma escala de 0 a 100 (WHO,

1996). Os escores dos domínios podem ser agrupados e então revelar um escore

único para a qualidade de vida.

O índice de capacidade para o trabalho (ICT) foi traduzido e adequado pelo grupo

“Brasilidade” formado por pesquisadores de instituições brasileiras (BELLUSCI,

1998). É um instrumento que revela quão bem um trabalhador é capaz de realizar

seu trabalho. Será utilizado apenas o escore final, retratando o próprio conceito do

trabalhador sobre a sua capacidade para o trabalho como: capacidade para o

trabalho baixa, moderada, boa ou ótima.

O ICT é determinado pelas respostas das várias questões que o compõem, que

levam em consideração as demandas físicas e mentais do trabalho, o estado de

saúde e capacidades. O questionário é preenchido pelo próprio trabalhador,

portanto, o resultado revela a percepção que o trabalhador tem sobre a própria

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capacidade para o trabalho (TUOMI et al. 1997). É composto por sete itens, cada um

compreendendo uma, duas ou três questões e a cada resposta é creditado um

número de pontos (escore), como apresentado no Quadro 2.

O número de pontos referente ao item 2 (capacidade para o trabalho em relação às

exigências do trabalho), é ponderada de acordo com o trabalho ser

fundamentalmente físico ou mental. Para o caso do trabalho de enfermagem, que

tem exigências tanto físicas como mentais, o escore permanece inalterado, onde o

escore se refere ao número da resposta assinalada no questionário.

Quadro 2: Itens abrangidos, número de questões e escore das respostas do ICT Item Nº de questões Escore das respostas 1. capacidade para o trabalho atual comparada com a melhor de toda a vida 0-10 pontos, valor assinalado no questionário. 2. capacidade para o trabalho em relação às exigências do trabalho Número de pontos ponderados de acordo com a natureza do trabalho 3. número atual de doenças diagnosticadas por médico 1 (lista de 51 doenças) Pelo menos 5 doenças = 1 ponto 4 doenças = 2 pontos 3 doenças = 3 pontos 2 doenças = 4 pontos 1 doença = 5 pontos nenhuma doença = 7 pontos 4. perda estimada para o trabalho devido às doenças 1 1-6 pontos (valor circulado no questionário; o pior valor será escolhido) 5. faltas ao trabalho por doenças no último ano 1 1-5 pontos (valor circulado no questionário 6. prognóstico próprio sobre a capacidade para o trabalho daqui a dois anos 1-4 ou 7 pontos (valor circulado no questionário) 7. recursos mentais 3 Os pontos da questão são somados e o resultado é contado da seguinte forma: Soma 0-3 = 1 ponto Soma 4-6 = 2 pontos Soma 7-9 = 3 pontos Soma 10-12 = 4 pontos Fonte: Adaptado de Tuomi et al. (1997)

A quantidade de pontos alcançada em cada questão é somada, resultando em um

escore final. O escore final pode variar de 7 a 49, classificados da seguinte forma: de

7 a 27 pontos = baixa capacidade para o trabalho; de 28 a 36 pontos = moderada

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capacidade para o trabalho; de 37 a 43 = boa capacidade para o trabalho; e de 44 a

49 = ótima capacidade para o trabalho.

3.4 Procedimentos para a Coleta de Dados

A coleta de dados procedeu-se primeiramente obtendo-se a concordância por parte

da direção geral do Hospital Universitário para a aplicação da pesquisa aos

funcionários da enfermagem. A seguir procedeu-se a entrega dos questionários, os

quais foram entregues em mãos para cada funcionário no seu posto e turno de

trabalho. O local definido para a devolução dos questionários foi a sala de

enfermagem, devido todos os funcionários terem livre acesso.

O período para a entrega e recolhimento dos questionários foi de 15 dias devido as

folgas existentes na escala de trabalho que impossibilitou a entrega e devolução dos

questionários num mesmo dia. Todos os indivíduos foram informados sobre os

objetivos da pesquisa e confidencialidade dos dados. Para a participação na

pesquisa cada trabalhador assinou um termo de consentimento, além do

conhecimento da não obrigatoriedade de preenchimento do questionário.

3.5 Análise dos Dados

A análise dos dados foi feita pela estatística descritiva inferencial ANOVA, com

análise de variância pelo teste de Scheffé e tese de LSD (Least Significant

Difference), através do pacote estatístico SPSS 10.0. Efetuou-se o tratamento dos

dados através do cálculo de médias e medianas, desvio padrão, significância e

valores mínimos e máximos. A apresentação dos dados foi feita em tabelas e

gráficos, interpretando as medidas.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Este capítulo destina-se à apresentação da análise e da discussão dos resultados

da pesquisa, sendo composto pela caracterização da instituição, população, pelo

Índice de Capacidade para o Trabalho (ICT) e pela Qualidade de Vida (QV) dos

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profissionais de enfermagem estudados, cruzando estes dados com o turno de

trabalho no qual o trabalhador exerce sua função.

4.1 Caracterização da Instituição

A instituição alvo deste estudo é um hospital geral da rede pública estadual

transformado em Hospital Universitário do Oeste do Paraná no ano de 2001 para

atender às necessidades relacionadas ao campo de estágio para ensino-assistência

dos cursos da área de saúde da Universidade Estadual do Oeste do Paraná

(UNIOESTE). Além disso, presta assistência à saúde no âmbito da promoção e

recuperação aos seus usuários.

O hospital ainda não possui definidos os seus objetivos, filosofia e estrutura

organizacional. Observa-se que as diretrizes políticas da instituição são voltadas

somente para os seus usuários externos e ensino. Não havendo programas de

prevenção e promoção à saúde que beneficiem os seus funcionários.

O HUOP conta com um quadro de pessoal de enfermagem de 268 servidores para

atender à demanda de trabalho exigida dos 137 leitos ativados com uma média de

750 internamentos mês, segundo os dados fornecidos pelo setor de estatística do

HUOP.

4.2 Caracterização da População

Os dados gerais de identificação da população de estudo foram analisados de

acordo com a idade, gênero, estado civil, outro emprego e cargo/função.

A população total é de 268 funcionários de enfermagem, destes, 8 foram excluídos

porque se encontravam em licença maternidade, férias e atestado médico no

período da coleta dos dados, restando 260 funcionários, para os quais foram

entregue o questionário. Dos 260 questionários entregues, retornaram 183 sendo

que 09 estavam incompletos, 06 em branco e 168 completos.

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111

Portanto, a população do estudo ficou composta por 168 profissionais de

enfermagem, expressando uma margem de erro de 4,7%, já que o tamanho mínimo

da amostra calculado foi de 158 participantes (n=158). Como os questionários foram

entregues a todos os funcionários em exercício ativo de sua função, pode-se inferir

que a amostra deste estudo é a própria população.

Os dados da estatística descritiva (média, desvio padrão, escore mínimo e máximo)

entre a variável cargo/função e as variáveis ICT e QV, apresentados na Tabela 1,

demonstraram não haver diferença significativa (p<0,05) entre os resultados do

grupo de enfermeiros e o grupo de auxiliares de enfermagem quanto aos escores de

ICT e QV obtidos (p=0,752 para ICT e p=0,703 para QV).

Tabela 1: Resultado da estatística descritiva dos escores de QV e ICT em relação ao cargo/função (n=168) Qualidade de Vida

Índice de Capacidade para o Trabalho Cargo/função Média Dp Escore mínimo Escore máximo Média dp Escore mínimo Escore máximo Enfermeiro 66,13 12,66 37,50 92,50 40,88 5,29 21 48 Auxiliar de enfermagem 67,08 11,39 36,00 90,70 41,24 5,24 20 49 Total 66,93 11,56 36,00 92,50 41,18 5,24 20 49 QV = p=0,703 e ICT = p=0,752

Sendo assim, esta relação indicou que o cargo/função exercido pelo profissional de

enfermagem não interferiu nos escores de ICT e QV em nenhum dos turnos de

trabalho analisados e, portanto, os participantes puderam ser agrupados em uma

única categoria para fins da análise dos dados. Desta forma a população foi

classificada pelo turno de trabalho em que exercem sua função: manhã, tarde ou

noite, atendendo aos objetivos propostos para esta pesquisa.

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Quanto à distribuição dos indivíduos por turno de trabalho a amostra ficou

constituída por 67 (39,88%) trabalhadores no turno da manhã, 44 (26,19%) no turno

da tarde e 57 (33,93%) no turno da noite.

A maior concentração de trabalhadores observada no turno da manhã, se deve ao

fato de ser o período com o maior número de tarefas ligadas ao trabalho da

enfermagem a serem executadas pelos profissionais. Já a concentração observada

no turno noturno é devido ao esquema da escala de trabalho que é de 12/36 horas,

isto é, doze horas de trabalho para trinta e seis horas de folga, necessitando de dois

grupos de trabalho.

A distribuição dos funcionários quanto à quantidade deve ser feita de acordo com os

requisitos técnicos e operacionais inerentes à unidade de internação, garantindo a

segurança e a qualidade da assistência ao paciente. Sendo que o quadro de

profissionais de enfermagem estabelecido pelo Conselho Federal de Enfermagem

para as 24 horas de cada unidade de serviço considera o sistema de classificação

de pacientes, as horas de assistência de enfermagem, os turnos e a proporção

funcionário/leito (COFEN, 1996).

Para análise da idade os indivíduos foram separados em faixas etárias decimais a

partir dos 19 anos de idade, devido ser a menor idade encontrada. A idade média da

população foi de 33 anos e 7 meses (desvio padrão 9,17). Estando de acordo com

Bellusci et al. (1999) que ao estudar trabalhadores de enfermagem obtiveram idade

média de 34,10 anos.

Analisando-se a idade dos trabalhadores por turno (Figura 1), observou-se que no

turno da manhã variou de 19 a 59 anos, com média de 35 anos e 6 meses, no turno

da tarde variou de 19 a 55 anos, com média de 31 anos e 7 meses e no turno

noturno variou de 20 a 52 anos, com média de 33 anos e 2 meses. Quanto a faixa

etária prevalente, encontrou-se no turno da manhã a faixa de 29 a 38 anos com

40,30%, no turno da tarde a faixa de 19 a 28 anos com 43,18% e no turno da noite a

faixa de 29 a 38 anos com 42,11%.

Com relação à idade, a amostra constitui-se de adultos jovens, sendo a faixa etária

de 29 a 38 anos a de maior concentração, com 38,69% dos trabalhadores, quando

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considerado os trabalhadores de todos os turnos de trabalho. Costa, Morita &

Martinez (2000) ao pesquisar trabalhadores de enfermagem obtiveram resultados

semelhantes com predomínio da faixa etária de 25 a 30 anos.

Manhã 25,37% 19-28 39-48 Tarde 43,18% 29-38 Noite 33,33% 49-59 Figura 1: Distribuição da população por faixas etárias (n=168).

Quanto ao gênero (Figura 2) observou-se que houve predomínio do gênero feminino

com 92,86%, enquanto o gênero masculino representou 7,14% dos participantes.

Estando prevalente a presença feminina em todos os turnos de trabalho com

94,03% no turno da manhã, 90,90% no turno da tarde e 92,98% no turno noturno, já

o gênero masculino ficou representado por 5,97% no turno da manhã, 9,10% no

turno da tarde e 7,02% no turno noturno.

Estes resultados estão de acordo com o encontrado na literatura, que segundo

Costa, Morita & Martinez (2000) há uma tendência crescente do gênero feminino

dominar a força de trabalho entre os profissionais da área de enfermagem.

Lautert, Chaves & Moura (1999) ao estudar enfermeiros, também observaram

predominância do gênero feminino, onde 97% dos participantes de seu estudo eram

mulheres.

5,97% 9,10% 7,02% 7,14% 92,86% 92,98% 90,90% 94,03%

0% 20% 40% 60% 80% 100% Manhã Tarde

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Noite Total Masculino Feminino

Figura 2: Distribuição da população de acordo com o gênero (n=168).

Quanto ao estado civil (Figura 3) os resultados mostraram prevalência de casados

com 42,85%, a seguir ficaram os solteiros com 29,16%, os que vivem com

companheiro com 15,47%, os separados com 10,12% e os viúvos com 2,38%. Esta

predominância de indivíduos casados também foi encontrada por Costa, Morita &

Martinez (2000), Bellusci et al. (1999) e Lautert, Chaves & Moura (1999) que

encontraram trabalhadores em plena capacidade produtiva e com filhos, indicando

que suas vidas familiar e pessoal sofrem restrições em decorrência do esquema de

trabalho em turnos.

O estado civil dos trabalhadores em relação ao turno de trabalho ficou distribuído da

seguinte forma: no turno da manhã prevaleceram os casados com 44,78%; no turno

da tarde prevaleceram os solteiros e casados ambos com 34,09% da amostra; e no

turno da noite a maioria eram casados com 47,37% e não houve nenhum

trabalhador na condição de viúvo. Estes resultados indicam que os profissionais de

enfermagem do HUOP estudados estão expostos a fatores estressantes

ocupacionais e também domiciliares que influenciam a QV e capacidade para o

trabalho.

20,89% 44,78% 17,91% 11,94% 4,48% 34,09% 34,09% 18,18% 11,37% 2,27% 10,53% 7,02% 0% 29,17% 42,86% 15,47% 10,12% 2,38% 35,09% 47,37% 0% 5% 10% 15% 20%

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25% 30% 35% 40% 45% 50%

Solteiro Casado Vive Companheiro Separado Viúvo Manhã Tarde Noite Total

Figura 3: Distribuição da população de acordo com o estado civil (n=168).

Quanto ao dado outro emprego (Figura 4) observou-se a prevalência de indivíduos

que têm um único emprego, representando 61,91% do total dos participantes, já os

indivíduos que têm outro emprego representam 38,09%. Sendo que, no turno da

manhã 71,64% dos profissionais responderam que têm apenas um único emprego,

no turno da tarde 54,55% têm apenas um único emprego e no turno da noite 56,14%

têm apenas um único emprego.

A distribuição dos trabalhadores segundo o turno de trabalho mostrou que os

trabalhadores do turno da manhã têm uma tendência a não ter outro emprego,

porém os trabalhadores dos turnos da tarde e noite têm uma maior tendência a ter

outro emprego. Resultados encontrados por Tanaka et al. (1988) ao estudar a

assistência de enfermagem no turno da noite em três hospitais governamentais,

mostraram que 80,85% de sua amostra tinham outro emprego.

Neste estudo não se considerou o possível trabalho doméstico, sendo uma situação

que pode subestimar os resultados, pois, de acordo com o descrito na literatura

pesquisada o trabalho doméstico gera uma dupla jornada de trabalho, que de forma

positiva ou negativa influencia a capacidade para o trabalho e a qualidade de vida

das pessoas. Esta consideração associada ao fato de a maioria dos trabalhadores

ter apenas um emprego pode ter contribuído para os altos escores de ICT e QV

apresentados pelos profissionais de enfermagem do HUOP.

28,36% 45,45% 43,86%

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38,09% 71,64% 54,55% 56,14% 61,91%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% Manhã Tarde Noite Total Sim Não

Figura 4: Distribuição da população quanto a ter ou não outro emprego (n=168).

Analisando-se quanto ao cargo/função exercido (Figura 5) observou-se a presença

de enfermeiros em 15,48% da população, havendo prevalência, em todos os turnos

de trabalho, de auxiliares de enfermagem com 84,52 % da população.

Resultados semelhantes foram encontrados por Costa, Morita & Martinez (2000) que

observaram o predomínio do auxiliar de enfermagem com 64,65% contra 5,45% de

enfermeiros, justificado pela divisão técnica do trabalho que opera verticalmente,

com base na redistribuição das tarefas entre o pessoal de diferentes níveis de

qualificação e por ser menos custoso. A não presença do profissional técnico de

enfermagem no quadro de funcionários do HUOP se deve a ausência desta vaga no

quadro de Recursos Humanos da instituição.

20,45% 10,53% 15,48% 16,42% 83,58% 79,55% 89,47% 84,52% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60%

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70% 80% 90% 100% Manhã Tarde Noite Total Enfermeiro Auxiliar de enfermagem Figura 5: Distribuição da população de acordo com o cargo/função (n=168).

4.3 Índice de Capacidade para o Trabalho (ICT)

Neste item são apresentados os resultados do questionário de ICT, classificando os

indivíduos de acordo com o escore alcançado em uma das seguintes categorias:

capacidade para o trabalho baixa, moderada, boa ou ótima.

A Tabela 2 mostra a distribuição dos resultados do questionário de ICT apresentada

pelos trabalhadores nos diferentes turnos. Observou-se que no turno da manhã

37,31% dos trabalhadores obtiveram ICT ótimo, 41,79% bom, 16,42% moderado e

4,48% baixo; no turno da tarde obteve-se 34,09% dos trabalhadores com ICT ótimo,

47,73% bom e 18,18% moderado; no turno da noite 91,22% dos trabalhadores

dividiram-se igualmente entre ICT ótimo e bom e 8,77% com ICT moderado.

Verificou-se que no turno da tarde e da noite não houve nenhum trabalhador com

ICT baixo.

Quando estes resultados foram analisados no geral, observou-se que a maioria

(83,93%) dos trabalhadores apresentou ICT bom (44,64%) ou ótimo (39,29%) e que

14,29% apresentou ICT moderado e 1,79% ICT baixo. Estes dados evidenciam que

os profissionais de enfermagem do HUOP possuem uma capacidade para o trabalho

boa, levando a inferir que estes trabalhadores se encontram em sua plena

performance para o trabalho, considerando-se que são adultos jovens. Porém,

segundo Bellusci & Fischer (1999) estes resultados mostram a necessidade de

melhorar as condições de trabalho prevenindo os danos à saúde que poderiam ter

influência na perda da capacidade para o trabalho garantindo a permanência destes

profissionais no seu emprego.

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Os trabalhadores do turno da manhã revelaram um importante dado, sendo o único

turno a apresentar escores de ICT baixo. Dado à peculiaridade deste resultado,

talvez este seria um ponto a ser investigado em maior profundidade em estudo

posterior.

A partir destes resultados devem ser tomadas as medidas propostas por Tuomi ET

al. (1997), que de acordo com os escores encontrados neste estudo 1,79% dos

profissionais de enfermagem devem ter sua capacidade para o trabalho restaurada,

58,93% devem ter sua capacidade para o trabalho melhorada e 39,29% devem

manter a capacidade para o trabalho atual. Porém, a necessidade de medidas de

apoio dependem também da capacidade funcional e das próprias condições de

trabalho existentes, o que traz uma limitação ao estudo, pois no presente estudo não

foi possível investigar estas variáveis.

Tabela 2: Distribuição dos indivíduos de acordo com as categorias de ICT (n=168).

Turno de trabalho (%)

ICT

Manhã

Tarde

Noite

Total

Baixo (7 a 27)

4,48

1,79

Moderado (28 a 36)

16,42

18,18

8,77

14,29

Bom (37 a 43)

41,79

47,73

45,61

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119

44,64

Ótimo (44 a 49)

37,31

34,09

45,61

39,29

Estes resultados fornecem subsídios para o planejamento de um programa de saúde

que venha promover uma melhor capacidade para o trabalho dos profissionais de

enfermagem e consequentemente melhorar a QV.

Na Figura 6 são apresentados os dados da estatística descritiva (média, desvio

padrão, escore mínimo e máximo) dos escores de ICT em cada turno de trabalho. A

análise de variância (ANOVA) demonstrou não haver diferenças significativas,

quando comparou-se as médias de ICT entre os diferentes turnos de trabalho. A

média dos escores observada no turno da manhã foi de 40,58; no turno da tarde foi

de 40,64; e no turno da noite foi de 42,32.

Os trabalhadores do turno noturno obtiveram os melhores escores de ICT com

média de 42,32 e valor mínimo de 33 e máximo de 49. Estando tal resultado de

acordo com um estudo de Metzner & Fischer (2001), que através da análise de

regressão linear múltipla obtiveram que o trabalho no turno noturno aumentou o ICT

em 2,27 unidades.

A mediana dos escores de ICT foi de 41,18, que quando comparada aos valores de

referência para o ICT resulta em um ICT bom, isto é, de forma geral os profissionais

de enfermagem encontram-se atualmente com uma boa capacidade para o trabalho,

mesmo assim necessitam ter sua capacidade para o trabalho melhorada como

forma de prevenção.

40,58

40,64

42,32

41,18

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120

4,74

4,26

5,24

20

28

33

20

48

49

49

49

6,13

0

10

20

30

40

50

60

Manhã

Tarde

Noite

Total

média

Desvio padrão

Escore mínimo

Escore máximo

Figura 6: Resultados dos escores de ICT por turno de trabalho (n=168).

Na Tabela 3 são apresentados os resultados dos escores de ICT obtidos em cada

faixa etária, que quando comparadas estas médias com os valores de referência

para o ICT determina-se que os indivíduos das faixas etárias de 19 a 28, 29 a 38 e

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121

39 a 48 tem uma boa capacidade para o trabalho e o grupo etário de 49 a 59 tem

uma capacidade para o trabalho moderada.

Comparando-se as médias, observou-se que as faixas etárias de 19 a 28, 29 a 38 e

39 a 48 obtiveram médias estatisticamente semelhantes. A faixa etária de 49 a 59

anos diferiu das demais, apresentando a menor média (36,71) do escore de ICT.

A partir destes dados, pode-se inferir que o fator envelhecimento cronológico leva a

uma maior probabilidade de diminuir os escores do ICT, portanto quanto mais idade

maior a chance de perda da capacidade para o trabalho. Entretanto, um estudo de

Bellusci et al. (1999) sobre envelhecimento e capacidade para o trabalho não

mostrou associação da idade com perda de capacidade para o trabalho.

Para Odebrecht et al. (2001) as características normais do envelhecimento podem

ser aceleradas e/ou agravadas pelas condições adversas do trabalho e com isso

influenciar a capacidade para o trabalho dos indivíduos.

O fato de ser uma população de adultos jovens leva a inferir que o tempo de serviço

seja curto tendo contribuído para os bons índices de ICT. O que pode estar

respaldado em um estudo de Bellusci & Fischer (1999) onde observaram que quanto

maior o tempo de serviço maior o risco de ter ICT baixo ou moderado.

Tabela 3: Comparação dos escores de ICT por faixas etárias.

Faixa etária

n

média

Escore mínimo

Escore máximo

19 a 28

55

41,51a

28

49

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122

29 a 38

65

41,54a

21

49

39 a 48

34

41,82a

27

48

49 a 59

14

36,71b

20

45

Total

168

41,18

20

49

p<0,05. a b

A Tabela 4 apresenta os dados sobre ICT e estado civil, onde observou-se que os

solteiros obtiveram escore médio de 41,53, os casados 41,25, os que vivem com

companheiro 39,54, os separados 43,76 e os viúvos 35,50. Estes dados

identificaram que os viúvos apresentaram capacidade para o trabalho moderada e

os demais estados conjugais uma boa capacidade para o trabalho. O que leva a

inferir que o fato dos indivíduos viúvos serem de uma faixa etária de maior idade

tenha contribuído para estes resultados, já que neste trabalho o envelhecimento

está relacionado com a perda de capacidade para o trabalho.

Considerando-se como variável dependente os escores de ICT e como variável

independente o estado civil, observou-se que os viúvos diferem dos solteiros,

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123

casados e separados, apresentando ICT mais baixo. Os indivíduos que vivem com

companheiro diferem dos separados, apresentando escores mais baixos de ICT.

Esta situação mostra que o estado conjugal foi um fator influente na perda da

capacidade para o trabalho. Bellusci et al. (1999) também observaram que o estado

conjugal de separado e viúvo tem maior chance de perda da capacidade para o

trabalho.

Tabela 4: Comparação dos escores do ICT por estado civil.

Estado civil

n

média

dp Escore Mínimo Escore Máximo

Solteiro

49

41,53a

4,35

29

49

Casado

72

41,25b

5,25

20

49

Vive companheiro 26

39,54c

6,71

21

48

Separado

17

43,76d

3,29

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124

35

48

Viúvo

4

35,50e

5,69

32

44

Total

168

41,18

5,24

20

49

F 3,053. p<0,05. a, b, d e; c d

4.4 Qualidade de Vida (QV)

As respostas do instrumento WHOQOL-BREF foram analisadas de acordo com os

escores obtidos pela conversão dos escores brutos em escores transformados,

utilizando-se a escala de transformação de 0-100, conforme o manual do WHOQOL-

BREF (WHO, 1996). Primeiramente serão analisados os resultados referentes às

duas questões gerais, que tratam da percepção que o indivíduo tem de sua

qualidade de vida e de sua saúde.

A seguir serão analisados os escores do questionário do WHOQOL-Bref, a fim de,

estabelecer o perfil da qualidade de vida dos profissionais em enfermagem do

HUOP. Além disso, relacionou-se estes resultados com o turno de trabalho, a idade

e o estado civil dos trabalhadores.

A Tabela 5 apresenta os resultados referentes a primeira questão que avaliou a

percepção subjetiva do indivíduo sobre a sua qualidade de vida geral. Observou-se

que a amostra distribuiu-se da seguinte forma: 1,19% a avaliaram como muito ruim,

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125

4,17% como ruim, 25% como nem ruim nem boa, 62,50% como boa e 7,14% como

muito boa.

Quando as respostas foram analisadas em relação ao turno de trabalho, observou-

se que no turno da manhã 5,97% dos respondentes consideraram sua QV ruim;

19,40% nem ruim, nem boa; 65,67% boa e 8,96% muito boa. No turno da tarde

2,27% consideraram muito ruim; 4,54% ruim; 20,46% nem ruim, nem boa; 70,46%

boa e 2,27% muito boa. No turno da noite 1,75% muito ruim; 1,75% ruim; 35,09%

nem ruim, nem boa; 52,63% boa e 8,77% muito boa. Somente no turno da manhã

nenhum indivíduo considerou sua qualidade de vida muito ruim.

Tabela 5: Resultados das respostas sobre a percepção da QV.

Turno de trabalho (%)

Escores da questão 01

Manhã

Tarde

Noite

Total

1- muito ruim

2,27

1,75

1,19

2- ruim

5,97

4,54

1,75

4,17

3- nem ruim, nem boa

19,40

20,46

35,09

25,00

4- boa

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126

65,67

70,46

52,63

62,50

5- muito boa

8,96

2,27

8,77

7,14

De uma forma geral os resultados, apresentados na Tabela 5, evidenciaram que os

profissionais de enfermagem do HUOP estudados tiveram uma boa percepção de

sua qualidade de vida. O que pode ser corroborado por Gonzales (1998) que

considera que a compreensão do significado de QV que o trabalhador tem vai

interferir de forma muito positiva na qualidade de vida no trabalho.

Na Tabela 6 são apresentados os resultados da segunda questão que avaliou a

percepção do indivíduo sobre a sua saúde. Observou-se que 1,78% estavam muito

insatisfeitos, 7,74% insatisfeitos, 16,67% nem satisfeitos nem insatisfeitos, 55,95%

satisfeitos e 17,86% muito satisfeitos com a sua saúde.

Em relação a análise das respostas por turno de trabalho observou-se que no turno

da manhã 10,45% mostraram-se insatisfeitos; 13,43% nem satisfeitos, nem

insatisfeitos; 58,21% satisfeitos e 17,91% muito satisfeitos. No turno da tarde 6,82%

mostraram-se muito insatisfeitos; 6,82% insatisfeitos; 15,91% nem satisfeitos, nem

insatisfeitos; 50,10% satisfeitos e 11,36% muito satisfeitos. No turno da noite 5,26%

insatisfeitos; 21,05% nem satisfeitos, nem insatisfeitos; 50,88% satisfeitos e 22,81%

muito satisfeitos. Somente o turno da tarde apresentou trabalhadores muito

insatisfeitos com a sua saúde.

Tabela 6: Resultado das respostas sobre a percepção da Saúde.

Turno de trabalho (%)

Escores da questão 02

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127

Manhã

Tarde

Noite

Total

01- muito insatisfeito

6,82

1,78

02- insatisfeito

10,45

6,82

5,26

7,74

03- nem satisfeito, nem insatisfeito

13,43

15,91

21,05

16,67

04-satisfeito

58,21

50,10

50,88

55,95

05- muito satisfeito

17,91

11,36

22,81

17,86

Os resultados apresentados na Tabela 6 mostram que, de uma forma geral e

positiva, a maioria dos trabalhadores encontravam-se satisfeitos com a sua saúde.

Dados semelhantes foram encontrados por Fleck et al. (1999) ao aplicar este teste

em uma amostra de 250 indivíduos, onde 38% consideraram estar satisfeitos com a

sua saúde.

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128

Apesar dos bons resultados apresentados nas Tabelas 5 e 6, Silva & Massarollo

(1998) colocam que o trabalho de enfermagem gera um acúmulo de processos

destrutivos que comprometem a saúde e vida dos trabalhadores e que com o tempo

desfavorecem a QV destes profissionais.

Na Tabela 7 analisou-se os escores obtidos em cada domínio relacionado com o

turno de trabalho dos profissionais de enfermagem. Observou-se que a média dos

escores para o turno da manhã foi de 73,39 para o Domínio-1 (físico), 68,67 para o

Domínio-2 (psicológico), 66,78 para o Domínio-3 (relações sociais) e 56,79 para o

Domínio-4 (meio ambiente). No turno da tarde o Domínio-físico obteve escore de

71,70, o Domínio-psicológico 69,80, o Domínio-relações sociais 70,34 e o Domínio-

meio ambiente 54,00. No turno da noite o Domínio-físico obteve escore de 74,81, o

Domínio-psicológico 71,28, o Domínio-relações sociais 69,28 e o Domínio-meio

ambiente 56,28. Estes dados mostraram que em todos os turnos de trabalho houve

uma tendência a ter os piores escores no Domínio-meio ambiente.

A análise de variância desses dados demonstrou não haver diferença significativa

entre os turnos de trabalho (p< 0,05). Portanto, os participantes deste estudo

revelaram ter uma boa qualidade de vida independentemente do turno de trabalho.

Tabela 7: Relação da QV com o turno de trabalho (n=168).

Turno de Trabalho

QV por Domínio

Manhã

Tarde

Noite

Total

Domínio 1

(Físico)

73,39

71,70

74,81

73,43

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129

Domínio 2

(Psicológico)

68,67

69,80

71,28

69,85

Domínio 3

(Relações Sociais)

66,78

70,34

69,28

68,56

Domínio 4

(Meio Ambiente)

56,79

54,00

56,28

55,89

Total

66,41

66,46

67,91

66,93

A Tabela 8 mostra a relação da QV com a idade dos profissionais de enfermagem.

Observou-se que na faixa etária de 19 a 28 as médias foram de 74,22 para o

Domínio-1 (físico), 68,55 para o Domínio-2 (psicológico), 66,78 para o Domínio-3

(relações sociais) e 56,15 para o Domínio-4 (meio ambiente); na faixa de 29 a 38

anos as médias foram de 72,45 para o Domínio-1 (físico), 69,25 para o Domínio-2

((psicológico), 70,88 para o Domínio-3 (relações sociais) e 55,43 para o Domínio-4

(meio ambiente); na faixa de 39 a 48 foi de 77,00 para o Domínio-1 (físico), 74,06

para o Domínio-2 (psicológico), 67,29 para o Domínio-3 (relações sociais) e 57,91

para o Domínio-4 (meio ambiente); na faixa de 49 a 59 foi de 66,21 para o Domínio-

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130

1 (físico), 67,57 para o Domínio-2 (psicológico), 67,86 para o Domínio-3 (relações

sociais) e 52,07 para o Domínio-4 (meio ambiente).

Esses dados, referentes à faixa etária, demonstraram que os trabalhadores na faixa

etária de 49 a 59 anos tiveram escores mais baixos em todos os Domínios e que em

todas as faixas etárias houve uma tendência a ter os piores escores no domínio

relacionado ao meio ambiente. A análise de variância não demonstrou diferença

significativa entre os grupos (p<0,05). Portanto, neste caso a faixa etária não

interferiu no perfil de qualidade de vida destes trabalhadores.

Tabela 8: relação da QV com as faixas etárias.

Faixa Etária

QV por Domínios

19 a 28

n=55

29 a 38

n=65

39 a 48

n=34

49 a 59

n=14

Total

n=168

Domínio 1

(Físico)

74,22

72,45

77,00

66,21

73,43

Domínio 2

(Psicológico)

68,55

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131

69,25

74,06

67,57

69,85

Domínio 3

(Relações Sociais)

66,78

70,88

67,29

67,86

68,56

Domínio 4

(Meio Ambiente)

56,15

55,43

57,91

52,07

55,89

Total

66,42

67,00

69,07

63,43

66,93

P<0,05

A Tabela 9 apresenta a relação entre a QV e o estado civil dos profissionais de

enfermagem. Através do teste LSD (least significant difference) observou-se que no

Domínio-1 (físico) os indivíduos que vivem com companheiro diferem dos separados

(p= 0,022). No Domínio-3 (relações sociais) os indivíduos solteiros diferem dos

viúvos (p=0,045); os casados diferem dos separados (p=0,046) e dos viúvos

(p=0,010); os que vivem com companheiro diferem dos viúvos (p=0,020); os

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132

separados diferem dos casados (p=0,020); e os viúvos diferem dos solteiros

(p=0,045), dos casados (p=0,010) e dos que vivem com companheiro (p=0,020). No

Domínio-2 (psicológico) e Domínio-4 (meio ambiente) houve homogeneidade nas

médias dos escores, onde os grupos não deferiram entre si.

Tabela 9: Relação da QV com o estado civil.

Estado Civil

Domínios

Solteiro

n=49

Casado

n=72

Vive com

companheiro

n=26

Separado

n=17

Viúvo

n=4

Total

n=168

Domínio 1

(Físico)

72,88

74,50

69,58a

79,24b

61,25c

73,43

Domínio 2

(Psicológico)

70,24

70,68

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133

66,96

71,00

64,00 69,85

Domínio 3

(Relações Sociais)

66,82d

71,69e

70,38f

62,24g

48,50h

68,56

Domínio 4

(Meio Ambiente)

54,80

56,86

55,27

57,59

48,50 55,89

Total

66,18

68,43

65,55

67,51

55,56 66,93

(LSD p<0,05)

Os resultados apresentados nas Tabelas 7, 8 e 9, que relacionaram a QV com o

turno de trabalho, a idade e ao estado civil, revelaram escore total de 73,43 para o

Domínio-1 (físico), 69,85 para o Domínio-2 (psicológico), 68,56 para o Domínio-3

(relações sociais) e 55,89 para o Domínio-4 (meio ambiente). A partir desta

pontuação deduz-se que, com exceção do Domínio-4 (meio ambiente), os demais

domínios foram importantes para elevar os escores e definir o perfil de qualidade de

vida dos profissionais da enfermagem do HUOP.

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134

Assim, a análise estatística descritiva dos dados de QV apresentados neste estudo

evidenciou escores altos para os domínios físico, psicológico e relações sociais,

indicando uma boa qualidade de vida. Já o Domínio-4 (meio-ambiente) apresentou

escores mais baixos em todas as variáveis analisadas. Como este domínio avalia a

relação com o meio ambiente, atribui-se os baixos escores pela sua relação com

questões como segurança, lazer, moradia, transporte, serviços de saúde, salário,

ambiente físico. Essas questões são consideradas componentes fundamentais

sobre o qual se pode edificar uma vida com qualidade, porém, são questões que não

dependem somente do trabalhador para serem solucionadas.

Na análise apresentada na Figura 7, utilizou-se um escore total para a QV

relacionando com o turno de trabalho, obteve-se um escore médio de 66,41 para o

turno da manhã, 66,46 para o turno da tarde e 67,91para o turno da noite. O escore

médio de todos os turnos foi de 66,93.

66,41

66,46

67,91

66,93

12,14

9,68

12,3

11,56

37,5

36

39

36

92,5

90,75

90,75

92,5

0

10

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135

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Manhã

Tarde

Noite

Total

média

desvio padrão

Escore mínimo

Escore máximo

Figura 7: Estatística dos escores do WHOQOL-Bref.

A análise estatística descritiva (média, desvio padrão, escore mínimo e máximo)

demonstrou não haver diferença significativa entre os turnos de trabalho (p<0,05). O

teste de Scheffé também demonstrou que as médias não diferiram entre os turnos

de trabalho.

Estes resultados mostram escores altos indicando que os profissionais de

enfermagem do HUOP que participaram deste estudo possuem um bom perfil de

QV, independentemente do turno de trabalho. Estando de acordo com os dados

preconizados pela OMS de que o perfil de QV é definido pelos escores obtidos do

questionário WHOQOL-Bref, sendo que quanto mais alto o escore, melhor é QV do

indivíduo (WHO, 1996).

4.5 Qualidade de Vida (QV) e o Índice de Capacidade para o Trabalho (ICT)

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136

Neste item procurou-se tratar dos resultados dos escores de QV e do ICT,

relacionando-os entre si e com os turnos de trabalho.

A Tabela 10 mostra a relação entre as categorias de ICT e os escores de QV por

domínios dos profissionais em enfermagem do turno da manhã.

Tabela 10: Relação entre as categorias de ICT e os escores de QV no turno da

manhã (n= 67).

ICT

Domínio 1 (físico)

Domínio 2 (psicológico)

Domínio 3 (relações sociais)

Domínio 4 (meio ambiente)

Total

Baixo

35,67

60,33

70,67

50,33

54,25

Moderado 63,18

59,73

52,27

49,64

56,21

Bom

72,71

64,25

66,11

54,86

64,48

Ótimo

83,16

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137

78,56

73,44

62,88

74,51

Observou-se que no Domínio-1 (físico) houve uma relação linear e crescente, onde,

quanto mais alto o escore do ICT, mais alto o escore obtido no domínio. No

Domínio-2 (psicológico) o menor escore ficou para a categoria de ICT moderado e

as demais tiveram u aumento crescente. No Domínio-3 (relações sociais) o menor

escore ficou para a categoria de ICT moderado e não houve um aumento crescente

dos escores de QV nas demais categorias. No Domínio-4 (meio ambiente) o menor

escore ficou entre os trabalhadores com ICT moderado e nas demais categorias de

ICT houve também um aumento linear e crescente.

A Tabela 11 mostra a relação entre as categorias de ICT e os escores de QV por

domínios dos profissionais em enfermagem do turno da tarde. Observou-se que no

Domínio-1 (físico), Domínio-2 (psicológico) e Domínio-3 (relações sociais) houve

uma relação linear e crescente, onde quanto mais alto o escore de QV mais alto

também o escore de ICT destes trabalhadores. Porém, no Domínio-4 (meio

ambiente) o pior escore ficou entre os profissionais com ICT bom. No turno da tarde

nenhum trabalhador apresentou ICT baixo.

Tabela 11: Relação entre as categorias de ICT e os escores de QV no turno da tarde

(n= 44).

ICT

Domínio 1 (físico)

Domínio 2 (psicológico)

Domínio 3 (relações sociais)

Domínio 4 (meio ambiente)

Total

Baixo

Moderado 61,00

62,62

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138

65,75

54,00

60,48

Bom

71,52

69,28

71,09

53,48

66,34

Ótimo

77,67

74,33

71,73

54,73

69,62

A Tabela 12 mostra a relação entre as categorias de ICT e os escores de QV por

domínios dos profissionais em enfermagem do turno da noite. Observou-se que no

Domínio-1 (físico), Domínio-2 (psicológico) e Domínio-3 (relações sociais) houve

uma relação linear e crescente, onde quanto mais alto o escore de QV mais alto

também o escore de ICT destes trabalhadores. Porém, no Domínio-4 (meio

ambiente) o pior escore ficou entre os profissionais com ICT bom. No turno da noite

nenhum trabalhador apresentou ICT baixo.

Tabela 12: Relação entre as categorias de ICT e os escores de QV no turno da noite

(n= 57).

ICT

Domínio 1 (físico)

Domínio 2 (psicológico)

Domínio 3 (relações sociais)

Domínio 4 (meio ambiente)

Total

Baixo

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139

Moderado 63,80

61,60

61,20

51,20

59,45

Bom

71,54

66,23

62,23

50,69

62,67

Ótimo

80,19

78,19

77,88

62,85

74,78

Os dados apresentados nas Tabelas 10, 11 e 12 revelaram haver uma correlação

entre a qualidade de vida e a capacidade para o trabalho. Observando-se que os

profissionais do turno da tarde e da noite apresentaram resultados iguais em todos

os Domínios, já o turno da manhã diferiu quando os trabalhadores da categoria com

ICT baixo apresentaram escores mais altos do que os da categoria de ICT

moderado. Deste modo, pode-se inferir que esta relação entre a QV e a capacidade

para o trabalho é positiva, mostrando que uma capacidade ocupacional satisfatória

gera um perfil de QV também satisfatório para o indivíduo e vice-versa.

Na Tabela 13 são apresentados os resultados dos escores de QV por domínio,

associando com as categorias de ICT, não considerando o turno de trabalho.

Observou-se que no Domínio-1 (físico) todas as categorias de ICT diferiram entre si.

No Domínio-2 (psicológico) os trabalhadores com ICT ótimo diferiram dos

trabalhadores com ICT moderado e bom. No Domínio-3 (relações sociais) o grupo

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140

com ICT ótimo diferiu dos grupos com ICT moderado e bom. No Domínio-4 (meio

ambiente) o grupo com ICT ótimo diferiu do grupo com ICT moderado e bom.

Estes resultados evidenciaram que o Domínio-1, que representa o estado físico do

indivíduo, demonstrou diferença significativa entre todas as categorias de ICT

enquanto que, os Domínios psicológico, relações sociais e meio ambiente,

demonstraram diferença significativa da categoria de ICT ótimo com as categorias

de ICT bom e moderado.

Tabela 13: Associação entre as categorias de ICT e os escores de QV por domínios.

ICT

n

Domínio 1 (físico)

Domínio 2 (psicológico)

Domínio 3 (relações sócias)

Domínio 4 (meio ambiente)

Total

Baixo

3 35,67a

60,33

70,67

50,33

54,25

Moderado 24 62,58

b

61,08e

58,63e

51,42e

58,43

Bom

75 71,97c

66,35f

66,16f

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141

53,03f

64,38

Ótimo

66 80,70d

77,45g

74,80g

61,02g

73,50

Domínio-físico letras diferentes diferem entre si. Domínio-psicológico, relações

sociais e meio ambiente g f, e.

Nas análises feitas a seguir utilizou-se um escore único para a QV, obtido através da

soma dos escores dos domínios.

Na Tabela 14 são apresentados os escores de QV em relação às categorias de ICT

(Teste de Scheffé), onde, observou-se que os indivíduos que obtiveram uma ótima

capacidade para o trabalho diferiram das demais categorias que obtiveram ICT

bom, moderado e baixo.

Tabela 14: Associação entre as categorias de ICT e os escores de QV.

ICT

N

Escore Médio QV

Baixo

3

54,25a

Moderado

24

58,43b

Bom

75

64,38c

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142

Ótimo

66

73,50d

Total

168

62,64

*p<0,05. d a,b,c.

Os resultados da Tabela 14 mostram que quanto mais alto os escores de ICT mais

alto também foram os escores de QV. Evidenciando-se uma relação entre a

qualidade de vida e a capacidade para o trabalho, porém neste estudo não foi

possível definir qual a relação entre as variáveis e qual variável que sofre

primeiramente a queda.

Na Tabela 15 são apresentados os escores da QV em relação às categorias de ICT

por turno de trabalho. Observou-se que os trabalhadores do turno da manhã com

ICT baixo obtiveram um escore de QV de 54,25, os com ICT moderado obtiveram

escore de 56,21, os com ICT bom obtiveram escore de 64,48 e os com ICT ótimo

obtiveram um escore de 74,51; os trabalhadores do turno da tarde com ICT

moderado obtiveram um escore de QV de 60,84, os com ICT bom um escore de

66,34 e os com ICT ótimo um escore de 69,61; os trabalhadores do turno da noite

com ICT moderado obtiveram um escore de QV de 59,45, os com ICT bom

obtiveram um escore de 62,67 e os com ICT ótimo um escore de 74,78.

Tabela 15: Associação entre as categorias de ICT e os escores de QV por turno de

trabalho.

QV por Turno de trabalho

ICT

Manhã

Tarde

Noite

Baixo

54,25

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143

Moderado

56,21

60,84

59,45

Bom

64,48

66,34

62,67

Ótimo

74,51

69,61

74,78

Total

62,36

65,60

65,63

De forma crescente observou-se que os escores aumentaram do turno da manhã

para o turno da noite: turno da manhã obteve escore de 62,36; turno da tarde obteve

escore de 65,60 e turno da noite obteve escore de 65,63.

Através destes dados pode-se inferir que o perfil de QV aumentou de forma linear,

conforme aumentou a capacidade para o trabalho, sendo detectado de forma

semelhante nos três turnos de trabalho (manhã, tarde e noite). Como os indicadores

de qualidade de vida são muito complexos, com características individuais, estes

resultados demonstram um índice de qualidade de vida coletivo.

Estes resultados mostram uma importante associação entre a capacidade para o

trabalho e a QV. De forma semelhante ao encontrado por Seitsamo & Ilmarinen

(1997) que quando acompanharam trabalhadores num período de 11 anos,

observaram que a capacidade para o trabalho e a saúde estão amplamente

associadas.

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144

5 CONCLUSÃO

Neste trabalho investigou-se a qualidade de vida e a capacidade para o trabalho em

relação aos turnos de trabalho diurno e noturno dos profissionais em enfermagem

que desenvolvem suas atividades no âmbito hospitalar.

Dentre os achados observou-se que na amostra predominaram os adultos jovens,

com idade média de 33,7 anos, os casados, o sexo feminino, os auxiliares de

enfermagem e o trabalho profissional em um único emprego e turno.

Com relação ao primeiro objetivo proposto para este estudo, que era avaliar a

qualidade de vida dos profissionais de enfermagem do HUOP, foi alcançado através

dos resultados do questionário WHOQOL-BREF, onde numa escala de 0-100 o

escore médio da amostra foi de 66,93. Este escore define o perfil de qualidade de

vida desses profissionais como muito bom. Não evidenciou-se diferença significativa

entre os turnos de trabalho.

Desta forma conclui-se que estes profissionais têm uma percepção satisfatória de

sua qualidade de vida. Pode-se inferir que estes trabalhadores também estão

satisfeitos com o seu trabalho já que a satisfação no trabalho é um elemento

fundamental na determinação da qualidade de vida.

O segundo objetivo propôs avaliar a capacidade para o trabalho dos profissionais de

enfermagem do HUOP, que foi alcançado através do resultado do questionário de

ICT o qual revelou que em todos os turnos de trabalho predominou uma boa

capacidade para o trabalho. Não encontrando diferença significativa entre os turnos

de trabalho. Portanto, conclui-se que estes profissionais se encontram em sua plena

capacidade laborativa.

O turno da manhã teve a peculiaridade de ser o único turno a apresentar

trabalhadores com capacidade para o trabalho baixa, sendo bem possível estar

relacionado a sobrecarga das atividades de enfermagem existente no turno da

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manhã e a dupla jornada de trabalho, isto é, o trabalho profissional fora de casa e o

trabalho doméstico, já que a maioria dos respondentes são mulheres casadas.

O terceiro objetivo previa comparar o perfil de qualidade de vida e o índice de

capacidade para o trabalho dos profissionais de enfermagem nos turnos de trabalho

da manhã, tarde e noite, onde através dos resultados encontrados pode-se concluir

que o turno de trabalho não interferiu na qualidade de vida e na capacidade para o

trabalho dos profissionais em questão.

E por fim, o quarto objetivo que presumia relacionar a qualidade de vida com o

índice de capacidade para o trabalho dos profissionais de enfermagem do HUOP,

leva a concluir que houve uma forte associação, pois quanto mais alto os escores de

ICT mais alto também foram os escores de qualidade de vida.

Pode-se ainda inferir que o fato de 61,91% da amostra ter um só emprego, de

62,50% ter uma boa percepção de sua qualidade de vida e de 55,95% estarem

satisfeitos com a sua saúde, justifica os bons escores de ICT e QV encontrados.

O declínio da capacidade para o trabalho e da qualidade de vida apresentado pelas

faixas etárias de maior idade e entre os viúvos, torna mais forte a necessidade de

programas que promovam a saúde dos trabalhadores desta instituição. Pois, quando

o próprio profissional de enfermagem é alvo de treinamento e educação continuada,

sente-se gratificado e valorizado profissionalmente sentindo-se mais consciente e

comprometido em promover a saúde, englobando o ambiente e o estilo de vida da

comunidade e também de sua família.

Reconhecendo-se as limitações deste estudo e compreendendo que mais estudos

relacionados à qualidade de vida e capacidade para o trabalho devam ser realizados

e considerando que os instrumentos existentes para medir qualidade de vida

provocam muitas discussões. Algumas recomendações são apresentadas referindo-

se aos pontos mais importantes levantados neste estudo.

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Desenvolver estudo mais específico para verificar porque os trabalhadores do turno

da manhã tiveram uma tendência a sofrer mais com o trabalho profissional.

Implantar na instituição programas de prevenção e promoção à saúde para estes

profissionais.

Continuar este estudo para evidenciar relações da QV e capacidade para o trabalho

com o estilo de vida e o envelhecimento.

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versão impressa ISSN 0104-1169 Rev. Latino-Am. Enfermagem v.11 n.2 Ribeirão Preto mar./abr. 2003 http://dx.doi.org/10.1590/S0104-11692003000200006

ARTIGO ORIGINAL

AFASTAMENTOS DO TRABALHO NA ENFERMAGEM: ocorrências com trabalhadores de um hospital de ensino1

Denise Beretta Barboza

I;

Zaida Aurora Sperli Geraldes SolerII

IEnfermeira do Trabalho, Mestranda em Enfermagem, Docente do Curso de Graduação em

Enfermagem, e-mail: [email protected] IIEnfermeira do Trabalho, Doutor em Enfermagem, Docente e Coordenador Geral do Curso de

Graduação em Enfermagem, Membro do Corpo Docente e de Orientadores da Pós-Graduação. Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto

RESUMO

As condições laborais da equipe de enfermagem freqüentemente são marcadas por riscos, os quais repercutem em elevado absenteísmo e licenças-saúde. O objetivo deste estudo foi caracterizar os afastamentos entre trabalhadores de enfermagem de um hospital geral de ensino da cidade de São José do Rio Preto-SP, registrados durante o ano de 1999. Trata-se de uma investigação epidemiológica censitária, cuja coleta de dados foi efetuada por meio de consulta aos registros do Centro de Atendimento ao Trabalhador do hospital estudado. Os resultados indicaram que, no período, 333 trabalhadores envolveram-se em 662 episódios de afastamento. As licenças-saúde ocorreram, principalmente, por problemas geniturinário e doenças mal definidas entre enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem; e doenças dos órgãos dos sentidos, doenças infecta-parasitárias e doenças respiratórias entre os atendentes de enfermagem. Os dados obtidos subsidiam melhor análise dessa situação neste hospital e intervenções para melhoria das condições de trabalho vigentes.

Descritores: absenteísmo, equipe de enfermagem, licença por motivo de saúde

INTRODUÇÃO

No contexto hospitalar, a enfermagem constitui-se na maior força de trabalho, e suas

atividades são freqüentemente marcadas por divisão fragmentada de tarefas, rígida

estrutura hierárquica para o cumprimento de rotinas, normas e regulamentos,

dimensionamento qualitativo e quantitativo insuficiente de pessoal, situação de

exercício profissional que tem repercutido em elevado absenteísmo e afastamentos

por doenças.

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Usualmente, a ausência ao trabalho é denominada absenteísmo, apesar de, por

definição, absentismo significar "o hábito de não comparecer, de estar ausente".

Então, neste estudo, os dois termos serão usados com significado similar(1).

Vários autores destacam que as condições de trabalho vivenciadas por muitos

trabalhadores da equipe de enfermagem, particularmente em ambiente hospitalar,

têm lhes ocasionado problemas de saúde, freqüentemente relacionados à situação e

setor de trabalho, provocando prejuízos pessoais, sociais e econômicos(2-6).

Na análise dos aspectos que podem influenciar as atividades no trabalho, abordam-

se os fatores intra, peri e extralaborais como: ambiente físico; riscos ocupacionais;

higiene, estruturação e segurança do setor de trabalho; situação social de vida e do

processo de trabalho do funcionário; organização e divisão das atividades; os meios

disponíveis para o exercício profissional; jornada, turno, alimentação e transporte;

situação social de moradia e deslocamento; interação pessoal e as relações entre

produção e salário(7-8).

Tratando-se especificamente do ambiente hospitalar, muito se tem falado e

publicado a respeito das condições inadequadas de trabalho vigentes em grande

parte dessas instituições, expondo seus trabalhadores a riscos de ordem biológica,

física, química, ergonômica, mecânica, psicológica e social. Os hospitais constituem-

se em locais de aglutinação de pacientes/clientes acometidos por diferentes

problemas de saúde, assistidos por trabalhadores diversos, da área da saúde ou

técnico-administrativas, e vários estudos têm apontado que os serviços de saúde,

em particular os hospitais, geralmente proporcionam aos seus trabalhadores,

principalmente da enfermagem, piores condições de trabalho em relação a outros

serviços(9-14).

Como conseqüência das condições inseguras de trabalho em instituições

hospitalares, no caso da equipe de enfermagem, têm sido freqüentes os acidentes

de trabalho, o absenteísmo e os afastamentos por doenças, o que tem dificultado a

organização do trabalho em diversos setores e, conseqüentemente, a qualidade da

assistência de enfermagem prestada.

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O estudo das relações entre saúde-doença-trabalho tem merecido a atenção de

muitos pesquisadores na área de saúde ocupacional, destacando-se como prejuízos

à saúde física e mental dos trabalhadores: prolongadas jornadas de trabalho; ritmo

acelerado de produção, por excesso de tarefas; automação por realização de ações

repetitivas com parcelamento de tarefas e remuneração baixa, em relação à

responsabilidade e complexidade das tarefas executadas. Em tais situações, muitas

vezes o trabalho deixa de significar satisfação, ganhos materiais e serviços sociais

úteis, para tornar-se sofrimento, exploração, doença e morte.

Freqüentemente, os trabalhadores de enfermagem estão sujeitos a condições

inadequadas de trabalho, provocando agravos à saúde, que podem ser de natureza

física ou psicológica, gerando transtornos alimentares, de sono, de eliminação,

fadiga, agravos nos sistemas corporais, diminuição do estado de alerta, estresse,

desorganização no meio familiar e neuroses, fatos que, muitas vezes, levam a

acidentes de trabalho e licenças para tratamento de saúde. Alguns autores

destacam os fatores ergonômicos relacionados a problemas ósteo-músculo-

articulares entre trabalhadores de enfermagem(15-17). Os agentes psicossociais

causadores de danos à saúde dos trabalhadores de enfermagem associam-se ao

contato freqüente com o sofrimento e a morte(9); a monotonia de atividades

repetitivas e parceladas e turnos rotativos de trabalho(18); fadiga que leva ao

estresse(2).

Ante o exposto, como enfermeiras do trabalho e diante de nossa experiência

profissional em hospitais, em especial no hospital-campo deste estudo, a questão

norteadora deste trabalho é a preocupação com a situação de trabalho e o processo

do adoecer entre trabalhadores de enfermagem desse hospital. Nesse contexto, foi

objetivo desta pesquisa:

- descrever os afastamentos do trabalho entre trabalhadores de enfermagem de um

hospital geral de ensino da cidade de São José do Rio Preto, registrados no Centro

de Atendimento ao Trabalhador (CEAT), no ano de 1999.

MÉTODO

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Trata-se de uma investigação epidemiológica censitária, por meio de análise

retrospectiva do ano de 1999, sobre a situação de afastamentos entre trabalhadores

de enfermagem de um hospital de ensino. Ressalta-se que o estudo epidemiológico

é explicativo e também tem finalidade descritiva, mostrando questionamentos do

fenômeno pesquisado quanto ao tempo, espaço, características, qual o ponto focal

da questão e se existem fatos circunstanciais(19).

Este estudo foi realizado em um hospital geral, de grande porte, da cidade de São

José do Rio Preto, região noroeste do estado de São Paulo, que tem finalidades de

prestação de assistência complexa e especializada, de ensino e de pesquisa. Em

1999, esse hospital contava com 700 trabalhadores de enfermagem, sendo 103

enfermeiros, 31 técnicos de enfermagem, 410 auxiliares de enfermagem e 156

atendentes de enfermagem, a maioria com turnos de trabalho de 36 horas

semanais, nos seguintes horários: manhã (7:00 às 13:00 horas); tarde (13:00 às

19:00 horas) e noite (19:00 às 07:00 horas - dias alternados - 12/36 horas).

Foram analisados os afastamentos do trabalho de profissionais de enfermagem

registrados no Centro de Atendimento ao Trabalhador (CEAT) desse hospital,

revelando-se que 333 trabalhadores foram acometidos, sendo 33 enfermeiros, 4

técnicos de enfermagem, 274 auxiliares de enfermagem, 22 atendentes de

enfermagem. É importante esclarecer que esses 333 funcionários envolveram-se,

nesse ano, em 662 episódios de afastamentos, o que deixa claro que alguns tiveram

mais de um afastamento.

Preservando-se os aspectos éticos de pesquisa envolvendo seres humanos, este

projeto foi inicialmente encaminhado ao Comitê de Ética e Pesquisa (CEP), para

apreciação e aprovação, com prévia anuência da chefia do hospital. De posse da

autorização do CEP, procedeu-se à coleta dos dados junto ao CEAT da referida

instituição, tendo por base um formulário elaborado segundo dados da ficha de

atendimento individual do funcionário do ambulatório de saúde ocupacional. Os

dados obtidos foram organizados e analisados no programa Excel/98, sendo

configurados em forma de Tabelas e Figuras.

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154

RESULTADO E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos foram agrupados segundo a caracterização da população e

quanto aos diferentes afastamentos do trabalho ocorridos em 1999, entre os

trabalhadores de enfermagem.

Caracterização da população: As Figuras 1 e 2 e a Tabela 1 mostram as

características dos sujeitos deste estudo. Nota-se a predominância de trabalhadores

de enfermagem do sexo feminino, pois, dos 333 funcionários da enfermagem

afastados do trabalho, 271 (81,4%) foram mulheres. Desde os primórdios, a

enfermagem é exercida majoritariamente por mulheres, considerando-se que

cuidados aos enfermos mostram-se cultural e socialmente apropriados para o

trabalho feminino(20).

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Existem diferenças para o exercício profissional entre homens e mulheres, além de

ser comum a sobrecarga de trabalho das mulheres, visto que, muitas vezes,

conciliam atividades domésticas, às vezes em mais de um local de exercício

profissional, o que representa desgaste físico e mental que, cedo ou tarde, pode

repercutir em agravos à saúde(4,10,13-14,21-22).

Dos 333 funcionários envolvidos em 662 episódios de afastamentos, o auxiliar de

enfermagem foi a principal categoria de enfermagem acometida (82,3%) em 1999,

resultado que se aproxima dos encontrados em outros estudos, nessa

categoria(6,8,23).

Quanto à faixa etária, Tabela 1, predominaram os afastamentos entre trabalhadores

com 21 a 40 anos: 261 (78,3%), corroborando com os resultados encontrados em

outras pesquisas(6,10,13). Esse mesmo resultado difere do obtido em estudo sobre

doenças do trabalho e o exercício da enfermagem, onde ficou constatada maior

freqüência de afastamentos do trabalho na faixa etária de 50 a 55 anos (86,4%)(3).

Como mencionado anteriormente, os 333 funcionários deste estudo envolveram-se

em 662 episódios de afastamentos, sendo 66 entre os 33 enfermeiros, 7 entre os 4

técnicos de enfermagem, 550 entre os 274 auxiliares de enfermagem e 39 entre os

22 atendentes de enfermagem, como se verifica na Tabela 2. Pode-se constatar

que, dos 333 funcionários, 197 (59,1%) afastaram-se apenas 1 vez, sendo que, dos

outros funcionários que se afastaram mais de uma vez neste ano, a maioria teve de

2 a 4 afastamentos. Destaca-se um enfermeiro que se afastou 17 vezes e um

auxiliar de enfermagem que teve 22 episódios de afastamentos do trabalho.

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Para melhor caracterizar os afastamentos, os resultados serão daqui por diante

apresentados segundo os 662 episódios ocorridos no ano de 1999. Na Tabela 3,

onde se aborda o setor de trabalho, verifica-se que 36 (54,5%) dos enfermeiros e 4

(57,1%) dos técnicos de enfermagem afastados, atuavam em setor de internação.

Chamam a atenção, nessa Tabela, os seguintes fatos: 163 (29,6%) dos auxiliares e

8 (20,5%) dos atendentes de enfermagem atuavam em UTI; que 339 (61,6%) dos

auxiliares de enfermagem e 15 (38,5%) dos atendentes de enfermagem afastados

atuavam em setores especializados e UTI e que, entre os atendentes de

enfermagem, 13 (33,3%) atuavam em unidade de Centro-Cirúrgico (CC),

evidenciando desrespeito à legislação profissional da enfermagem(24), pois tais

trabalhadores de enfermagem não estão habilitados para atuarem em tais setores.

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Características dos afastamentos: Os 662 afastamentos deste estudo são

apresentados nas Tabelas 4 e 5 e Figuras 3 e 4 quanto a tipos, período e

agrupamento dos problemas de saúde, conforme a distribuição da Classificação

Internacional de Doença-CID-10(25) e enfoque dos afastamentos entre trabalhadores,

segundo o sexo.

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Pela Tabela 4, nota-se que, dos 662 episódios de afastamentos do trabalho, 88,4%

foram ocasionados por agravos à saúde (licença por motivo de saúde), nas quatro

categorias de trabalhadores de enfermagem, 57 (86,4%) dos enfermeiros, 7 (100%)

dos técnicos de enfermagem, 490 (89,1%) dos auxiliares de enfermagem e 31

(79,5%) dos atendentes de enfermagem. Analisando-se esses dados em

consonância com a Tabela 3, verifica-se que os afastamentos acometeram,

principalmente, funcionários que atuam em áreas mais complexas, como Unidades

Especializadas (30,2%), UTI (27,2%) e Centro-Cirúrgico (14,7%), onde são alvos

para um grande número de transtornos de ordem física, química e psicológica,

aumentando os riscos de agravos à saúde e afastamentos(3,6,10).

Quanto à duração dos afastamentos do trabalho, verifica-se, na Tabela 5, que, em

560 (84,6%) dos episódios, o período foi de 1 a 10 dias, resultado que se aproxima

do encontrado em outras pesquisas, embora se refiram a um período de 1 a 14 dias

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(64,4%)(6,8) e de até 15 dias (74,2%)(3). Quanto à preponderância dos afastamentos

no período de 1 a 4 dias, que ocorreram em 427 (64,5%) dos episódios neste

estudo, encontrou-se, em outra pesquisa(26), que 80% dos afastamentos tiveram

duração de até três dias.

Verifica-se, na Tabela 6, que 585 afastamentos foram por agravos à saúde (licença-

saúde), sendo que os principais problemas estavam relacionados a problemas

geniturinários: 110 (18,8%), e doenças mal definidas: 108 (18,6%), que incluíram 29

(50,9%) dos enfermeiros, 5 (71,4%) dos técnicos de enfermagem, 180 (36,7%) dos

auxiliares de enfermagem. Já entre os atendentes de enfermagem, os problemas de

saúde foram ocasionados, principalmente, por doenças dos órgãos dos sentidos: 6

(19,3%), infecciosas e parasitárias: 5 (16,1%) e do sistema respiratório: 5 (16,1%).

Por fim, apresentam-se, nas Figuras 3 e 4, as características dos episódios de

afastamentos entre os sujeitos deste estudo, considerando-se o sexo dos

trabalhadores. Observa-se que 499 (75,4%) dos trabalhadores, independente do

sexo, afastaram-se só por agravos à saúde, correspondendo a 408 (75,1%) entre as

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mulheres e 91 (76,5%) entre os homens. Ressalta-se a ocorrência de 29 (5,3%)

licenças por gestação, e 34 (6,3%) acidentes de trabalho. Dados da literatura

revelam que a mulher não é mais suscetível a agravos da saúde nas ações

profissionais, mas, sim, possui alterações fisiológicas e morfológicas que,

geralmente, não são consideradas no planejamento do seu trabalho(27).

CONCLUSÃO

Segundo o objetivo definido para este estudo, verificou-se que ocorreram 662

episódios de afastamentos do trabalho em 1999, envolvendo 333 trabalhadores de

enfermagem, principalmente mulheres, na categoria de auxiliar de enfermagem, com

idade entre 21 a 40 anos.

Considerando-se o local de trabalho, houve predominância de afastamentos entre os

enfermeiros e técnicos de enfermagem que atuavam em unidade de internação,

enquanto que, entre os auxiliares e atendentes de enfermagem, afastaram-se mais

aqueles que trabalhavam em setores especializados e UTI.

A maioria dos episódios de afastamentos foram por agravos à saúde, 75,1% entre

as mulheres e 76,5% entre os homens. As licenças-saúde ocorreram,

principalmente, por problemas geniturinários e doenças mal definidas, entre os

enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, enquanto, entre os atendentes de

enfermagem, os afastamentos relacionaram-se, principalmente, a problemas dos

órgãos dos sentidos, doenças infecciosas e parasitárias e do sistema respiratório.

Os dados obtidos neste estudo permitem uma análise mais acurada da situação dos

afastamentos do trabalho entre a equipe de enfermagem do hospital estudado, em

1999. Evidenciou-se que os funcionários afastados nas categorias de auxiliares e

atendentes de enfermagem atuavam em locais para os quais não tinham preparo e

qualificação legal, o que exige uma melhor análise da Chefia de Enfermagem quanto

à situação de trabalho da equipe de enfermagem. Ainda, os resultados dão

subsídios à Chefia de Enfermagem e à Administração Geral do Hospital para intervir

e melhorar as condições de trabalho existentes para a equipe de enfermagem e,

assim, diminuir os custos econômicos e sociais nesse contexto.

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Rev. Latino-Am. Enfermagem v.12 n.1 Ribeirão Preto jan./fev. 2004 http://dx.doi.org/10.1590/S0104-11692004000100006

ARTIGO ORIGINAL

RISCOS DE CONTAMINAÇÃO OCASIONADOS POR ACIDENTES DE TRABALHO COM MATERIAL PÉRFURO-CORTANTE ENTRE

TRABALHADORES DE ENFERMAGEM

Maria Helena Palucci MarzialeI;

Karina Yukari Namioka NishimuraII;

Mônica Miguel FerreiraII

IEnfermeira, Professor Livre-Docente, e-mail: [email protected]

IIGraduandas em Enfermagem, Bolsista de Iniciação Científica do CNPq. Escola de Enfermagem de

Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OMS para o desenvolvimento da pesquisa em enfermagem

RESUMO

Esta pesquisa teve por objetivo identificar dentre os trabalhadores de enfermagem,

de quatro hospitais da região de Ribeirão Preto-SP, aqueles que foram acometidos

por acidente de trabalho com material pérfuro-cortante e encaminhados para

avaliação a um serviço especializado no tratamento de doenças infecciosas, os que

foram contaminados e as condutas adotadas diante do acidente. Trata-se de

pesquisa de campo de caráter descritivo. A amostra foi constituída por 30 sujeitos e

os dados foram coletados através de consulta ao prontuário médico dos

trabalhadores. Os resultados revelaram que nenhum dos trabalhadores foi

contaminado pelos vírus HBV, HCV, ou HIV, no entanto, foi observado que apenas

23,33% dos trabalhadores compareceram a todos os retornos agendados para

verificação de possível soroconversão. Em relação às condutas tomadas diante do

acidente, foi indicado o uso de quimioprofilaxia em 76,67% dos casos, exames

sorológicos em 100% dos casos e imunização contra hepatite em 9,99% dos casos.

Devido à grande ocorrência de acidentes percutâneos, segundo estimativas oficiais

de outros países, concluímos que maior atenção deva ser direcionada para a

prevenção desses acidentes, bem como ao rigor do seguimento pós-exposição

ocupacional.

Descritores: acidentes de trabalho; riscos ocupacionais; enfermagem

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INTRODUÇÃO

Os acidentes de trabalho ocasionados por material pérfuro-cortante entre

trabalhadores de enfermagem são freqüentes, devido ao número elevado de

manipulação, principalmente de agulhas, e representam prejuízos aos trabalhadores

e às instituições. Tais acidentes podem oferecer riscos à saúde física e mental dos

trabalhadores.

Quando o acidente ocorre com material contaminado pode acarretar doenças como

a Hepatite B (transmitida pelo vírus HBV), Hepatite C (transmitida pelo vírus HCV) e

a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida - AIDS (transmitida pelo vírus HIV). O

acidente pode ter repercussões psicossociais, levando a mudanças nas relações

sociais, familiares e de trabalho. As reações psicossomáticas pós-profilaxia, utilizada

devido à exposição ocupacional e ao impacto emocional, também são aspectos

preocupantes(1).

A conseqüência da exposição ocupacional aos patógenos transmitidos pelo sangue

não está somente relacionada à infecção. A cada ano milhares de trabalhadores de

saúde são afetados por trauma psicológico que perduram durante os meses de

espera dos resultados dos exames sorológicos. Dentre outras conseqüências, estão

ainda as alterações das práticas sexuais, os efeitos colaterais das drogas profiláticas

e a perda do emprego(2).

Os acidentes ocasionados por picada de agulhas são responsáveis por 80 a 90%

das transmissões de doenças infecciosas entre trabalhadores de saúde. O risco de

transmissão de infecção, através de uma agulha contaminada, é de um em três para

Hepatite B, um em trinta para Hepatite C e um em trezentos para HIV(3).

Os trabalhadores de enfermagem suprem a maior porção do cuidado direto ao

paciente 24 horas por dia nos hospitais e, conseqüentemente, possuem constante

risco para ferimentos ocupacionais, assim poderão ser os trabalhadores mais

afetados pelos vírus HBV, HCV e HIV(4).

Entre 1985 e 1998, o CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION(5)

registrou 55 casos confirmados de infecção pelo HIV e 136 casos de possíveis

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contaminações entre trabalhadores de enfermagem e técnicos de laboratórios, nos

Estados Unidos, onde os acidentes percutâneos foram associados a 89% dos

acidentes registrados.

A referida instituição estimou que cerca de 800 trabalhadores de saúde tornavam-se

anualmente infectados pelo vírus HBV, e que, de 2 a 4% das infecções pelo HCV,

ocorridas naquele país em 1995, ocorreram em ambiente hospitalar pós-exposição a

sangue.

O risco de infecção pelo HBV, adquiridos ocupacionalmente, representa 4% do total

de casos, demonstrando ser a aquisição ocupacional da infecção por Hepatite B um

modo importante de transmissão, dada a partir de fluidos corpóreos, principalmente

o sangue, sendo que a transmissão do HIV e do HBV pode ocorrer através de um

único episódio de exposição(6).

Após exposição ocupacional com presença de sangue, ou fluídos corpóreos, uma

criteriosa avaliação deve ser feita quanto ao risco de transmissão do vírus HIV, em

função do tipo de acidente ocorrido e em relação à toxicidade das medicações

usadas na quimioprofilaxia. O acompanhamento sorológico anti-HIV deverá ser

realizado no momento do acidente, sendo repetido após seis e doze semanas e pelo

menos seis meses depois. O teste deverá ser feito após aconselhamento pré- e pós-

teste sorológico(1).

A soroconversão é alta para exposições envolvendo ferimentos profundos, sangue

visível sobre o objeto que causou o ferimento, agulha que havia estado na veia, ou

artéria, do paciente fonte, ou morte por AIDS de paciente fonte(7).

Em relação à quimioprofilaxia para Hepatite B, uma das principais medidas de

prevenção é a vacinação pré-exposição, indicada a todos os profissionais da área da

saúde. A vacinação segue um esquema de três doses, administradas no intervalo de

zero, um e seis meses. Quando da ocorrência de exposição ocupacional, maior

eficácia na profilaxia é obtida com o uso precoce da Gamaglobulina Hiperimune

(HBIG), dentro do período de 24 a 48 horas após o acidente(1).

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Quanto à Hepatite C, não existe nenhuma medida específica para a redução do

risco de transmissão pós- exposição ao vírus HCV. Nenhuma imunoprofilaxia tem

provado ser efetiva para pré- ou pós-exposição ao referido vírus, como prevenção à

infecção(8).

Segundo os referidos autores, após exposição ocupacional as recomendações são

limitadas ao seguimento de testes para níveis de Alanine Aminotransferase,

soroconversão de anti-HCV e tratamento antiviral prematuro para prevenir

cronicidade.

O risco de infecção por HCV entre trabalhadores de saúde, que têm exposição

ocupacional à sangue HCV positivo, é baixo, e o índice de soroconversão é entre 0 e

2,8%, assim, recomendam que o seguimento de trabalhadores de saúde pós-

exposição ocupacional deva ser baseado em testes periódicos de Alanine

Aminotransferase (atividade) e anti-HCV, durante um período de 6 meses, sempre

comparando dados de evidência clínica e/ou bioquímica de Hepatite(8).

A contaminação por patógenos veiculados pelo sangue pós-exposição ocupacional

entre trabalhadores de enfermagem tem sido descrita na literatura por vários

autores(9-13). Em estudo sobre acidentes com material pérfuro-cortante entre

trabalhadores de enfermagem de hospitais da região de Ribeirão Preto-SP,

encontramos que, dentre 1662 trabalhadores de enfermagem, lotados em quatro

hospitais da região, foram registrados 46 acidentes com material pérfuro-cortante

durante o ano de 1999. Tais resultados nos motivaram a prosseguir com as

investigações em relação aos fatores associados à ocorrência dos acidentes, à

possível subnotificação, às conseqüências do acidente para os trabalhadores e à

busca de medidas para prevenir a ocorrência dos acidentes(14).

OBJETIVO

- Identificar dentre os trabalhadores de enfermagem, acometidos por inoculações

acidentais, durante o ano de 1999, em quatro hospitais da região de Ribeirão Preto-

SP, aqueles contaminados pelos vírus HBV, HCV e HIV e as conseqüências de tais

contaminações.

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- Identificar as condutas adotadas frente à exposição ocupacional ao sangue e

fluídos corpóreos dos trabalhadores de enfermagem.

MATERIAL E MÉTODO

Trata-se de pesquisa de campo de caráter descritivo e análise quantitativa dos

dados.

Local

O estudo foi realizado junto a um Serviço Especializado (SE) no tratamento de

doenças infecciosas de um Hospital Universitário do interior do Estado de São

Paulo.

População/Amostra

A população foi composta pelos trabalhadores de enfermagem, acometidos por

inoculações acidentais, durante o ano de 1999, em quatro hospitais da região de

Ribeirão Preto-SP, os quais tiveram os acidentes notificados através da

Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) e foram encaminhados para

atendimento no SE, para o atendimento pós-exposição ocupacional com contato

com sangue, ou fluídos corpóreos, veiculadores de infecções.

Conforme resultados obtidos em estudo realizado com a mesma população(14),

foram registrados, durante o ano de 1999, e encaminhados ao SE 46 trabalhadores

acidentados, no entanto, através de levantamento documental no Banco de Registro

do Hospital, foi constatado o atendimento junto ao SE de apenas 30 dos

trabalhadores (65%), os quais constituíram a amostra estudada.

Coleta de dados

Os dados foram coletados no primeiro semestre de 2001, através de observação

documental junto à CAT e dos prontuários médicos dos trabalhadores, sendo

identificados os dados gerais do acidente, as causas e as providências realizadas.

Aspectos éticos

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O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital

Universitário, sendo consideradas todas as exigências contidas na resolução 196,

que normatiza as pesquisas que envolvem seres humanos em nosso país(15).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Tabela 1 mostra os registros de encaminhamento de trabalhadores de

enfermagem, acometidos por inoculações acidentais nos hospitais, e o número de

trabalhadores atendidos efetivamente no SE, em 1999.

Os dados obtidos na Tabela 1 indicam a existência de fatores que não possibilitaram

o comparecimento dos trabalhadores para avaliação no SE pós-inoculações

acidentais e, conseqüentemente, sobre as condutas adotadas. A distância de cerca

de 80 km entre as cidades e o SE, os horários de trabalho e a falta de conhecimento

de alguns trabalhadores sobre os potenciais riscos de acidentes podem figurar entre

os fatores.

Dos 30 trabalhadores que possuíam registro de atendimento, 27 (90%) eram do

sexo feminino e 03 (10%) do sexo masculino. Quanto ao local de trabalho 20

(66,66%) sujeitos trabalhavam no Hospital Universitário, 04 (13,33%) trabalhavam

em um Hospital de Ribeirão Preto, 04 (13,33%) trabalhavam em um Hospital de

Batatais e 02 (6,68%) trabalhavam em Hospital de Sertãozinho. Desses 30

acidentados, 22 (73,33%) trabalhavam em turnos alternantes entre os períodos

manhã, tarde e noite, 08 (26,66%) trabalhadores atuavam em turnos fixos, sendo 04

(13,33%) lotados no turno da manhã, 02 (6,66%) no turno da tarde e 02 (6,66%) no

turno da noite.

Dentre os acidentados 09 (30%) atuavam em unidade de internação de Clínica

Médico-Cirúrgica, 05 (16,66%) em Clínica Médica, 03 (10%) em Unidade de

Doenças Transmissíveis, 03 (10%) no Centro Cirúrgico, 02 (6,66%) em Clínica

Cirúrgica, 02 (6,66%) em Pediatria, 02 (6,66%) em Neurologia e 01 (3,33%)

trabalhador respectivamente nas unidades de Terapia Intensiva, Terapia Renal,

Moléstias Infecciosas e Ginecologia.

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Através da consulta aos prontuários dos trabalhadores foram identificados, além dos

acidentes ocorridos em 1999, registros de acidentes ocorridos em datas anteriores e

posteriores. Na Tabela 2 são apresentados dados relativos ao número de acidentes

sofridos pelos trabalhadores e o tipo de acidentes registrados nos prontuários.

Conforme pode ser visualizado na Tabela 2, o maior número de acidentes foi

ocasionado durante a execução das atividades de punção venosa, administração de

medicação subcutânea e soroterapia, no ano de 1999, seguidos pelas perfurações

provocadas por agulhas descartadas em locais inadequados por outros

trabalhadores.

Os resultados nos levam a considerar que a continuidade das ocorrências de

acidentes com os mesmos trabalhadores, em períodos anteriores e posteriores a

1999, reflete a falta de adoção de medidas preventivas e/ou que as medidas

adotadas necessitam ser reavaliadas.

Através da Tabela 2 podemos constatar que as agulhas foram os objetos que

causaram a maioria das inoculações acidentais e as lâminas de bisturi e os

respingos de sangue em mucosas e ferimentos foram responsáveis por pequeno

número de acidentes. Merece destaque, ainda, que o descarte de material,

principalmente de agulhas, em locais inapropriados, é considerado prática de alto

risco.

Quanto às condutas adotadas após atendimento dos acidentados, a Tabela 3 ilustra

os resultados obtidos.

Os resultados dos exames laboratoriais foram positivos para a presença do vírus

HIV em 03 (10%) pacientes fonte e negativo em 27 (90%) pacientes fonte. Quanto

aos exames laboratoriais dos trabalhadores, 29 (96,67%) foram negativos para o

vírus HIV e 01 (3,33%) trabalhador teve resultado de exame indeterminado, sendo

coletado novo material para teste (ELISA - Western Blot), cujo resultado foi negativo.

Assim, não foi constatada contaminação imediata pelo vírus HIV em nenhum

trabalhador, quando relacionados os exames laboratoriais do paciente fonte e do

trabalhador.

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O seguimento sorológico, recomendado nos casos de acidentes com exposição

ocupacional ao sangue, é iniciado logo após o acidente, seis e doze semanas após,

finalizando com últimos exames 6 meses após a ocorrência do acidente(1).

Dos 30 acidentados, 13 (43,34%) compareceram apenas ao primeiro retorno, 06

(20%) trabalhadores compareceram a dois retornos, 07 (23,33%) trabalhadores

compareceram nos três retornos agendados para a verificação de possível

soroconversão e 04 (13,33%) trabalhadores não compareceram a nenhum retorno.

Não foram constatados nos prontuários nenhum caso de contaminação pelos vírus

HBV, HCV e HIV. Os resultados obtidos nos levam a considerar a necessidade de

reavaliação do controle dos retornos no serviço estudado, a identificação do motivo

do não comparecimento aos mesmos e a adoção de estratégias para estimular o

comparecimento.

Em investigação sobre o risco ocupacional de infecção pelo HIV entre trabalhadores

de enfermagem da mesma instituição estudada, foi constatado que, dentre 36 casos

de acidentes com material potencialmente contaminados pelo HIV, não foi registrada

soroconversão no período de um, dois, seis e doze meses após a exposição

ocupacional(16).

Apesar da inexistência de contaminação no presente estudo não pode deixar de ser

ressaltada a letalidade das doenças e os vários prejuízos que acarretam. A literatura

mostra que, em 1994, foram detectados 67 casos de trabalhadores de saúde

infectados pelo HIV, em conseqüência de inoculações acidentais(5). Segundo dados

recentes, as estimativas internacionais apontam 400 novos casos por ano de

transmissão ocupacional do HBV e 1000 casos por ano do HCV(2).

Quanto à necessidade de tratamento pós-exposição ocupacional, foi constatada, em

nosso estudo, que a quimioprofilaxia foi indicada para 26 (76,67%) trabalhadores e

não indicada apenas para 04 (13,33%) trabalhadores. Dentre os fármacos utilizados,

o mais usado foi o Biovir (53,34%), seguido pelas associações Biovir e Indinavir

(10%), Indinavir e AZT e 3TC (6,66%), AZT e 3TC e Nelfinavir (6,66%), AZT e 3TC

(6,66%), Crixivan (3,33%). Cabe ressaltar que a indicação da quimioprofilaxia está

relacionada ao tipo e profundidade da lesão, tipo de agulha, títulos circulantes,

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quantidade de sangue, ou fluidos corpóreos, informações sobre paciente fonte e

relativa imunidade(16).

Alguns trabalhadores (10%) procuraram o SE devido aos efeitos colaterais das

drogas utilizadas, principalmente o Biovir. Esses trabalhadores apresentavam

náuseas, vômitos, diarréias e alterações sensoriais; tais sintomas os levaram ao

abandono da quimioprofilaxia. O acidentado deve ser orientado para respeitar

rigorosamente as doses, os intervalos de uso e a duração do tratamento e, na

presença de intolerância, ele deverá ser reavaliado para adequação do esquema

terapêutico. Nessa avaliação, esquemas alternativos de anti-retrovirais podem ser

indicados na tentativa de manter a quimioprofilaxia durante 4 semanas(1).

Em relação à Hepatite, apenas 1 paciente fonte (3,33%) possuía sorologia para a

doença e nenhum trabalhador possuía resultado sorológico positivo para presença

da doença; 27 (90,01%) trabalhadores apresentavam esquema completo de

imunização quando da ocorrência do acidente, 02 (6,66%) trabalhadores

necessitaram receber uma dose da vacina como reforço e 01 (3,33%) trabalhador

iniciou o esquema completo após o acidente. A prática vacinal é essencial para os

trabalhadores da área da saúde(8).

CONCLUSÕES

Os resultados obtidos revelaram disparidade quanto ao número de

encaminhamentos de trabalhadores ao SE e o número de trabalhadores

efetivamente atendidos, mostrando a existência de fatores impeditivos à execução

de uma avaliação especializada, após a ocorrência dos acidentes, indicando, assim,

a necessidade de reavaliação da forma de encaminhamento pelos hospitais,

principalmente do hospital da cidade de Sertãozinho, cujo número de trabalhadores

atendidos no SE correspondeu apenas a 22,22% dos encaminhados. Cabe

destacar, ainda, que o pequeno número de notificações dos acidentes ocorridos no

período de 12 meses nos 4 hospitais (2,70%), nos leva à hipótese de subnotificação.

Através da observação documental nos prontuários, foi possível constatar o registro

de episódios de inoculações acidentais ocorridas em período anterior e posterior a

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1999, o que nos leva a considerar que as medidas preventivas utilizadas precisam

ser revistas, pois os mesmos trabalhadores continuam se acidentando.

As agulhas foram os objetos causadores do maior número de acidentes, entretanto,

merece destaque que não apenas a manipulação das agulhas, ou cateteres

intravenosos, constituem risco, mas também a maneira e o local de descarte do

material pérfuro-cortante.

Através dos dados obtidos não foi constatado nenhum caso de contaminação pelos

vírus HBV, HCV e HIV, no entanto, cabe destacar a necessidade de reavaliação do

seguimento dos retornos para verificação de soroconversão, uma vez que 13,33%

dos trabalhadores não compareceram aos retornos e apenas 23,33% trabalhadores

compareceram a todos os retornos agendados.

As condutas adotadas frente ao acidente dependeram da análise das características

dos mesmos, ou seja, pelo volume de inoculação, profundidade da penetração da

agulha, ou objeto cortante, tipo e formato da agulha (o risco é maior quando a

agulha é oca) e a inoculação de sangue, características do paciente fonte (títulos

circulantes) e a relativa imunidade do trabalhador. Diante disso, todos os

trabalhadores acidentados realizaram exames sorológicos para pesquisa dos vírus

da Hepatite e AIDS e 93,34% dos pacientes fontes foram identificados e submetidos

à coleta de exames sorológicos, e 6,66% dos pacientes fonte eram desconhecidos.

A quimioprofilaxia foi indicada em 76,67% dos casos. O Biovir foi a droga mais

utilizada (53,34% dos casos, sozinho, e em 10% dos casos, associado ao Indinavir).

A imunização para Hepatite foi indicada em 6,66% dos trabalhadores como dose de

reforço e, em 3,33% trabalhadores, como esquema completo. Observamos que 90%

dos trabalhadores possuíam vacinação completa pré-acidente.

Embora a contaminação aos vírus da Hepatite e AIDS não tenha sido detectada, a

grande quantidade de manipulação de agulhas e objetos cortantes pelos

trabalhadores de enfermagem, as estimativas da ocorrência de acidentes

percutâneos divulgados e a letalidade das infecções nos leva a considerar que os

hospitais necessitam voltar maior atenção ao problema, direcionar medidas para a

notificação dos acidentes, melhorar o encaminhamento dos trabalhadores

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acidentados ao SE e adotar medidas para a prevenção dos acidentes nos locais de

trabalho.

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... durante o descarte de material, ea maioria dos funcionários não utilizava equipamento de proteção individual. O profissional de enfermagem deve ser orientado sobre os riscos no trabalho ea importãncia da biosegurança(AU). ... Citado por 5 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 4 versões

[HTML] Afastamentos do trabalho na enfermagem: ocorrências com trabalhadores de um hospital de ensino [HTML] de usp.brDB Barboza… - … -Americana de Enfermagem, 2003 - revistasusp.sibi.usp.br

As condições laborais da equipe de enfermagem freqüentemente são marcadas por riscos, os quais repercutem em elevado absenteísmo e licenças-saúde. O objetivo deste estudo foi caracterizar os afastamentos entre trabalhadores de enfermagem de um hospital geral ... Citado por 72 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 5 versões

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revistasusp.sibi.usp.br Esta pesquisa teve por objetivo identificar dentre os trabalhadores de enfermagem, de quatro hospitais da região de Ribeirão Preto-SP, aqueles que foram acometidos por acidente de trabalho com material pérfuro-cortante e encaminhados para avaliação a um serviço ... Citado por 84 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 24 versões

[HTML] A relação entre o trabalho, a saúde e as condições de vida: negatividade e positividade no trabalho das profissionais de enfermagem de um hospital escola [HTML] de usp.brMA Elias… - … Latino-Americana de Enfermagem, 2006 -

revistasusp.sibi.usp.br Este artigo é resultado de pesquisa realizada com profissionais de enfermagem do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia, MG, e teve por objetivo investigar as relações entre o trabalho, a saúde e as condições de vida daquelas profissionais. Os dados foram ... Citado por 85 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 5 versões

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Este trabalho tem por objetivo fazer uma discussão e suscitar reflexões sobre a necessidade de um diálogo interdisciplinar, quando se tem como objeto de trabalho o processo saúde-doença-cuidado. Discute a definição de enfermagem considerando sua essência, ... Citado por 80 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 9 versões Tradução para o português e validação de um instrumento de medida de carga de trabalho de enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva: Nursing Activities … AF Queijo - 2002 - bases.bireme.br ... Título: Tradução para o português e validação de um instrumento de medida de carga de trabalho de enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva: Nursing Activities Score (NAS). ... A finalidade deste instrumento é medir carga de trabalho de enfermagem em UTI. ... Citado por 63 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 3 versões

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RESUMO Este texto busca compreender as insatisfações da equipe de Enfermagem no trabalho. Propomos a associação com a teoria das necessidades humanas de Abraham Maslow como um meio de sistematizar e entender as situações recorrentes ao dia-a-dia e prática ... Citado por 5 - Artigos relacionados - Ver em HTML - Todas as 2 versões O processo de trabalho de enfermagem: a cisão entre planejamento e execução do cuidado; The nursing work process: the separation between planning and care … M Peduzzi… - Rev. bras. enferm, 2002 - bases.bireme.br ... Id: 337069. Autor: Peduzzi, Marina; Anselmi, Maria Luiza. Título: O processo de trabalho de enfermagem: a cisão entre planejamento e execução do cuidado / The nursing work process: the separation between planning and care delivery. Fonte: Rev. bras. ... Citado por 52 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 2 versões Causas de subnotificação de acidentes do trabalho entre trabalhadores de enfermagem [PDF] de scielo.brAA Napoleão, MLCC Robazzi… - … de Enfermagem, 2000 - SciELO Brasil

Os trabalhadores de enfermagem estão expostos a uma série de riscos durante a execução de seu trabalho, quais sejam, físicos, químicos, ergonômicos, psicossociais e biológicos, os quais podem-lhes ocasionar acidentes e doenças ocupacionais. O acidente de trabalho ... Citado por 24 - Artigos relacionados - Todas as 4 versões

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revistasusp.sibi.usp.br Trata-se de estudo qualitativo utilizando o método de história de vida, tendo como objeto o cotidiano das mulheres-mães-trabalhadoras de enfermagem. Os objetivos foram: descrever o dia-a-dia dessas profissionais, identificar a interferência da profissão na vida dessa mulher e ... Citado por 47 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 6 versões Estresse ocupacional da enfermeira de centro de material; Stress in nurses of central supply unit A Silva… - Rev. esc. enferm. USP, 1992 - bases.bireme.br Base de dados : BDENF. Pesquisa : 6366 [Identificador único]. Referências encontradas : 1 [refinar]. Mostrando: 1 .. 1 no formato [Detalhado]. página 1 de 1, 1 / 1, BDENF, seleciona.

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... Características gerais da dupla jornada de trabalho em enfermagem ... O trabalho em turnos é uma característica do exercício da enfermagem, sendo obrigatório uma vez que a assistência é prestada durante as 24 horas do dia, nos 7 dias da semana, ininterruptamente. ... Citado por 67 - Artigos relacionados - Ver em HTML - Todas as 5 versões Estudo sobre acidentes de trabalho ocorridos com trabalhadores de enfermagem de um hospital de ensino VEF Silva - 1988 - bases.bireme.br ... O estudo evidencia a necessidade de serem elaborados programas de orientaçäo para os trabalhadores de enfermagem, com o objetivo de enfocar a análise ea discussäo das condiçöes do trabalho de enfermagem ea necessidade da prevençäo aos riscos a ele inerente. ... Citado por 41 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 2 versões

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RESUMO O objetivo deste estudo foi o de identificar e analisar acidentes e as cargas de trabalho a que estão expostos os trabalhadores de enfermagem no desenvolvimento de suas atividades. Trata-se de um estudo de caso, do tipo descritivo e exploratório, desenvolvido ... Citado por 28 - Artigos relacionados - Ver em HTML - Todas as 3 versões Percepção dos efeitos do trabalho em turnos sobre a saúde ea vida social em funcionários da enfermagem em um hospital universitário do Estado de São Paulo [PDF] de scielosp.orgES Costa, I Morita… - Cadernos de saúde …, 2000 - SciELO Public Health

Percepção dos efeitos do trabalho em turnos sobre a saúde ea vida social em funcionários da enfermagem em um hospital universitário do Estado de São Paulo ... Nursing staff perceptions of the effects of shift work on health and social life at the São Paulo State University hospital Citado por 49 - Artigos relacionados - Todas as 5 versões

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OCORRÊNCIA DE ACIDENTE DO TRABALHO POR MATERIAL PERFUROCORTANTE ENTRE TRABALHADORES DE ENFERMAGEM DE UM HOSPITAL UND7ERSITÁRIO DA CIDADE DE CAMPINAS, ESTADO DE SÃO PAULO J ACCIDENTS WITH PERFORATWE TOOLS ... Citado por 30 - Artigos relacionados - Todas as 5 versões

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[CITAÇÃO] Enfermagem do Trabalho-Programas, procedimentos e técnicas MVG MORAES - Editora Iátria, 2007 Citado por 5 - Artigos relacionados

[CITAÇÃO] Condições ergonômicas da situação de trabalho, do pessoal de enfermagem, em uma unidade de internação hospitalar MHP Marziale - Ribeirão Preto, 1995 Citado por 60 - Artigos relacionados Alguns problemas ocupacionais decorrentes do trabalho de enfermagem no Brasil; Some occupational problems of nursing work in Brazil MLCC Robazzi… - Rev. bras. enferm, 1999 - bases.bireme.br ... Id: 273130. Autor: Robazzi, Maria Lúcia do Carmo Cruz; Marziale, Maria Helena Palucci. Título: Alguns problemas ocupacionais decorrentes do trabalho de enfermagem no Brasil / Some occupational problems of nursing work in Brazil. Fonte: Rev. bras. ... Citado por 41 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 2 versões Saúde e trabalho de mulheres profissionais de enfermagem em um hospital público de Salvador, Bahia; Health and work of nurses of a public hospital EML Aquino, MJS Araujo, GMS Menezes… - Rev. bras. …, 1993 - bases.bireme.br ... 1993. Resumo: O trabalho de Enfermagem, desenvolvido essencialmente por mulheres, envolve numerosos fatores de risco para a saúde. Apesar disso, no Brasil, os estudos sobre a saúde desse grupo ocupacional praticamente inexistem. ... Citado por 36 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 2 versões

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[HTML] O trabalho do enfermeiro nos equipamentos de saúde mental da rede pública de Campinas-SP [HTML] de usp.brDIR Kirschbaum… - … -Americana de Enfermagem, 2001 -

revistasusp.sibi.usp.br Esta investigação objetivou verificar o campo de atuação do enfermeiro em serviços de saúde mental e analisar suas relações de trabalho com outros membros das equipes multiprofissionais, buscando verificar os nexos estabelecidos entre a prática destes ... Citado por 26 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 4 versões Conhecimento de enfermagem em saúde do trabalhador oriundo de dissertações e teses; Nursing knowledge production in occupational health originated from … ECM Duran, MLCC Robazzi… - Rev. gaúch. enferm, 2007 - bases.bireme.br ... 57%) destacando-se entre os estudos o uso da fenomenologia como referencial teórico-metodológico. A maioria do conhecimento foi produzido por pesquisa aplicada direcionada às situaçõesdo trabalho de enfermagem.(AU). ... Citado por 10 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 2 versões

[PDF] A humanização do trabalho para os profissionais de enfermagem [PDF] de scielo.brSC Amestoy, E Schwartz… - Acta Paul Enferm, 2006 - SciELO Brasil

... Descritores: Humanização da assistência; Enfermagem; Trabalho/normas ... “Para nós está meio complicado (...) cada vez mais somos cobrados, a instituição muda o processo de trabalho e sobrecarrega a enfermagem (...) direitos temos poucos”. (Bibiana) ... Citado por 38 - Artigos relacionados - Ver em HTML - Todas as 6 versões

[HTML] Acidentes de trabalho e doença ocupacional: estudo sobre o conhecimento do trabalhador hospitalar dos riscos à saúde de seu trabalho [HTML] de scielo.brBRG Oliveira… - … Latino-Americana de Enfermagem, 2001 - SciELO Brasil

Este estudo busca levantar o conhecimento dos trabalhadores de saúde hospitalar quanto a sua própria saúde no desenvolvimento de suas atividades. Foi realizado em um hospital geral, de médio porte, com serviço de medicina ocupacional funcionante. O caminho ... Citado por 46 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 20 versões

[HTML] A situação de trabalho do pessoal de enfermagem no contexto de um hospital argentino: um estudo sob a ótica da ergonomia [HTML] de scielo.brA Del Valle Royas… - … -americana de enfermagem, 2001 - SciELO Brasil

Com o objetivo de caracterizar a situação de trabalho do pessoal de enfermagem num hospital Argentino através da identificação das características dos trabalhadores, das atividades executadas e do ambiente laboral, utilizou-se como pressuposto metodológico a Ergonomia. ... Citado por 24 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 20 versões O cotidiano do trabalho da enfermagem em UTI: prazer e sofrimento; Quotidian in nursing work in ICU: pleasure and suffering JJ Martins… - Texto & contexto enferm, 2002 - bases.bireme.br ... Título: O cotidiano do trabalho da enfermagem em UTI: prazer e sofrimento / Quotidian in nursing work in ICU: pleasure and suffering. ... Idioma: Pt; Pt. Resumo: Este estudo teve como objetivo identificar os fatores geradores de prazer e sofrimento no trabalho da enfermagem. ... Citado por 29 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 2 versões

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[HTML] A mulher trabalhadora de enfermagem e os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho [HTML] de scielo.brPC Leite, A Silva… - Revista da Escola de Enfermagem …, 2007 - SciELO

Brasil O presente estudo aborda a relação entre a mulher trabalhadora de enfermagem e os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho. Evidencia-se que os trabalhadores de enfermagem estão expostos a uma série de condições desfavoráveis no ambiente de trabalho. As ... Citado por 22 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 8 versões

[HTML] Qualidade de vida no trabalho de profissionais de enfermagem, atuantes em unidades do bloco cirúrgico, sob a ótica da satisfação [HTML] de scielo.brDRC Schmidt… - … Latino-Americana de Enfermagem, 2006 - SciELO Brasil

Estudo descritivo, de corte transversal, que avaliou a qualidade de vida no trabalho (QVT) de profissionais de enfermagem, atuantes em unidades do Bloco Cirúrgico (BC) em quatro hospitais de Londrina, PR. Participaram 105 trabalhadores, sendo a maioria do sexo feminino ... Citado por 37 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 8 versões

[PDF] Stress no trabalho do enfermeiro [PDF] de scielo.brJRA da Costa, JV de Lima… - Rev Esc Enferm USP, 2003 - SciELO Brasil

RESUMO Este estudo avaliou o stress associado ao trabalho do enfermeiro no trabalho com o portador de transtorno mental inserido no contexto do hospital psiquiátrico. Trata-se de pesquisa quantitativa, analítica, realizada em sete hospitais psiquiátricos da cidade de Fortaleza, ... Citado por 26 - Artigos relacionados - Ver em HTML - Todas as 5 versões Acidente de trabalho com material biológico em trabalhadores da equipe de enfermagem do Centro de Pesquisas Hospital Evandro Chagas; Work accident with … D Braga - 2000 - bases.bireme.br ... Autor: Braga, Daphne. Título: Acidente de trabalho com material biológico em trabalhadores da equipe de enfermagem do Centro de Pesquisas Hospital Evandro Chagas / Work accident with biological material in workers of the Research Center Evandro Chagas Hospital. ... Citado por 28 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 3 versões Absenteísmo na equipe de enfermagem: análise da produção científica; Absenteeism in the Nursing Team: analysis of the scientific production RS Appolinário - Rev. enferm. UERJ, 2008 - bases.bireme.br ... Título: Absenteísmo na equipe de enfermagem: análise da produção científica / Absenteeism in the Nursing Team: analysis of the scientific production. Fonte: Rev. ... Responsável: BR1366.1 - Serviço de Bibliotecas Biomédicas B - Odontologia e Enfermagem. página 1 de 1, ... Citado por 9 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 2 versões

[HTML] A educação para o século XXI ea formação do professor reflexivo na enfermagem [HTML] de usp.brJIL Faria… - … -Americana de Enfermagem, 2004 - revistasusp.sibi.usp.br

... freqüência, em cursos da área da saúde, como o de Enfermagem, onde atuamos, que está requerendo ajustes em seu projeto pedagógico e na prática docente, de modo a propiciar melhores condições de formação aos alunos e de inserção no mercado de trabalho a seus ... Citado por 38 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 8 versões

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[PDF] A motivação no trabalho da equipe de enfermagem [PDF] de scielo.brMCA Pereira, N Fávero - Rev Latino-am Enfermagem, 2001 - SciELO Brasil

Estudo descritivo, realizado em um hospital universitário, com o propósito de apreender alguns aspectos que intervêm na motivação humana e suas implicações no resultado do trabalho. Utilizou-se como instrumento de coleta de dados a entrevista semi-estruturada e ... Citado por 48 - Artigos relacionados - Ver em HTML - Todas as 8 versões

[CITAÇÃO] O processo de enfermagem do trabalho: a sistematização da assistência de enfermagem em saúde ocupacional AJ Lucas - São Paulo (SP): Iátria, 2004 Citado por 8 - Artigos relacionados Problemas de saúde e riscos ocupacionais: percepções dos trabalhadores de enfermagem de unidade materna infantil; Health Problems and Occupational Risks in … MYC Mauro… - Rev. enferm. UERJ, 2008 - bases.bireme.br ... Rio de Janeiro. Teve como objetivo analisar a percepção dos trabalhadores de enfermagem sobre suas condições de trabalho, riscos ocupacionais e problemas de saúde em uma unidade materno-infantil. A coleta de dados ... Citado por 8 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 2 versões

[CITAÇÃO] Reinserção do trabalhador alcoolista no contexto laboral: a percepção do enfermeiro do trabalho M Donato - 2002 - … de Enfermagem Anna Nery, Rio de … Citado por 6 - Artigos relacionados Humanização e trabalho na enfermagem; Humanization and work in nursing N Collet… - Rev. bras. enferm, 2003 - bases.bireme.br ... sentido da enfermagem". Discutimos a relação humanização/trabalho na enfermagem diferenciando os aspectos relacionados à humanização do trabalho de enfermagem daqueles do trabalho humanizado da enfermagem. ... Citado por 35 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 2 versões

[PDF] Qualidade de vida e capacidade para o trabalho dos profissionais em enfermagem no trabalho em turnos [PDF] de ufsc.brM MATTÉI - nucidh.ufsc.br

Dissertação Apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Engenharia de Produção – Área de Ergonomia ... QUALIDADE DE VIDA E ... Citado por 8 - Artigos relacionados - Ver em HTML - Todas as 5 versões O trabalho de enfermagem e sua articulaçäo com o processo de trabalho em saúde coletiva: Rede Básica de Saúde em Ribeiräo Preto; A nursing work in Basic … MCP Almeida - 1991 - bases.bireme.br ... Título: O trabalho de enfermagem e sua articulaçäo com o processo de trabalho em saúde coletiva: Rede Básica de Saúde em Ribeiräo Preto / A nursing work in Basic Network of Public Services

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of Health in Ribeiräo Preto. Fonte: Ribeiräo Preto; sn; 1991. 297 p. tab, ilus. ... Citado por 72 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 2 versões Divisäo social do trabalho e enfermagem C Melo - 1986 - bases.bireme.br ... Mostrando: 1 .. 1 no formato [Detalhado]. página 1 de 1, 1 / 1, BDENF, seleciona. para imprimir. experimental, Documentos relacionados. Id: 8286. Autor: Melo, Cristina. Título: Divisäo social do trabalho e enfermagem. Fonte: Säo Paulo; Cortez; 1986. 94 p. Idioma: Pt. ... Citado por 96 - Artigos relacionados - Em cache Estudo dos riscos à saúde das pessoas que trabalham na enfermagem hospitalar DLS Gomes - Rev. paul. hosp, 1986 - bases.bireme.br ... Id: 75438. Autor: Gomes, Daisy Leslie Steagall. Título: Estudo dos riscos a saúde das pessoas que trabalham na enfermagem hospitalar. Fonte: Rev. paul. hosp;34(4/6):85- 93, abr.-jun. 1986. Idioma: Pt. Descritores: Enfermagem do Trabalho. ... Citado por 12 - Artigos relacionados - Em cache

[CITAÇÃO] A (in) satisfação do enfermeiro no trabalho: implicações para o gerenciamento das ações de enfermagem-aspectos teóricos MS dos Santos - 1999 Citado por 5 - Artigos relacionados

[CITAÇÃO] Enfermagem do trabalho: conceitos e prática B Rogers, LC Leal… - Lusociência Citado por 15 - Artigos relacionados Riscos no trabalho de enfermagem em um centro municipal de saúde; Work risks in nursing at a municipal health center SNP Farias… - Rev. Enferm. UERJ, 2005 - bases.bireme.br ... Id: 14580. Autor: Farias, Sheila Nascimento Pereira de; Zeitoune, Regina Célia Gollner. Título: Riscos no trabalho de enfermagem em um centro municipal de saúde / Work risks in nursing at a municipal health center. Fonte: Rev. Enferm. UERJ;13(2):167-174, maio-ago. 2005. ... Citado por 9 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 3 versões

[PDF] A participação da enfermagem no trabalho educativo em saúde coletiva: um estudo dos relatos de experiência produzidos por enfermeiros brasileiros no … [PDF] de usp.brEG Pereira - A participação da enfermagem no trabalho educativo …, 2005 -

teses.usp.br Pereira, Érica Gomes A participação da enfermagem no trabalho educativo em saúde coletiva: um estudo dos relatos de experiência produzidos por enfermeiros brasileiros no período 1988-2003 / Érica Gomes Pereira. - São Paulo: EG Pereira; 2005. 122 p. Citado por 13 - Artigos relacionados - Todas as 2 versões A participação da enfermeira do trabalho no programa de conservação auditiva [PDF] de scielo.brMCF Baggio… - … Latino-Americana de Enfermagem, 2001 - SciELO Brasil

... PALAVRAS CHAVE: enfermagem, trabalho, ruído, perda auditiva, enfermagem do trabalho THE NURSE'S PARTICIPATION IN THE WORK OF THE HEARING CONSERVATION PROGRAM ... Page

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2. 98 INTRODUÇÃO A Enfermagem do Trabalho, como especialidade, vem ... Citado por 11 - Artigos relacionados - Todas as 8 versões Fatores de risco dos distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho de enfermagem; Risk factors for cumulative trauma disorders related to the nursing work AMR Moreira… - Rev. Enferm. UERJ, 2005 - bases.bireme.br ... Id: 14615. Autor: Moreira, Adriana Maria Rodrigues; Mendes, René. Título: Fatores de risco dos distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho de enfermagem / Risk factors for cumulative trauma disorders related to the nursing work. Fonte: Rev. Enferm. ... Citado por 8 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 2 versões

[HTML] A produção científica sobre os acidentes de trabalho com material perfurocortante entre trabalhadores de enfermagem [HTML] de usp.brMHP Marziale… - … Americana de Enfermagem, 2002 - revistasusp.sibi.usp.br

A investigação ora apresentada teve por objetivos identificar as abordagens metodológicas das pesquisas publicadas em periódicos indexados nas bases de dados Lilacs e Medline, nos últimos 16 anos, referentes, ao estudo dos acidentes de trabalho com material ... Citado por 103 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 7 versões

[PDF] O acolhimento e os processos de trabalho em saúde: o caso de Betim, Minas Gerais, Brasil [PDF] de scielosp.orgTB Franco, WS Bueno… - Cadernos de Saúde …, 1999 - SciELO Public

Health ... Em relação à auxiliar de enfermagem, seu trabalho anterior à implantação do acolhimen- to resumia-se às atividades próprias da sua função (curativo, injeção, vacina, distribuição de medicamentos) e ao apoio aos médicos. ... Citado por 231 - Artigos relacionados - Ver em HTML - Todas as 21 versões O trabalho de enfermagem; Nursing work MCP Almeida… - 1997 - bases.bireme.br ... Título: O trabalho de enfermagem / Nursing work. Fonte: São Paulo; Cortez; 1997. 296 p. Idioma: Pt. Resumo: Apresenta textos sobre a temática da organização do trabalho de enfermagem dentro da fundamentação teórica do processo de trabalho em saúde. ... Citado por 131 - Artigos relacionados - Em cache

[HTML] O trabalho de enfermagem em saúde mental: contradições e potencialidades atuais [HTML] de usp.brAG Oliveira… - … Latino-Americana de Enfermagem, 2003 -

revistasusp.sibi.usp.br Este estudo teve por objetivo identificar contradições e desafios que se apresentam atualmente no trabalho de enfermagem em saúde mental, no contexto da Reforma Psiquiátrica, tendo por referência a construção histórico-social desse processo de trabalho. A Reforma ... Citado por 66 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 7 versões Prazer e sofrimento no trabalho: contribuiçöes à organizaçäo do processo de trabalho da enfermagem; Pleasure and suffering work: contributions organization of the …

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WD Lunardi Filho - 1995 - bases.bireme.br ... Autor: Lunardi Filho, Wilson Danilo. Título: Prazer e sofrimento no trabalho: contribuiçöes à organizaçäo do processo de trabalho da enfermagem / Pleasure and suffering work: contributions organization of the nursing work process. Fonte: Porto Alegre; sn; 1995. 287 p. tab. ... Citado por 86 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 2 versões

O desgaste do trabalhador de enfermagem: relaçäo trabalho de enfermagem e saúde do trabalhador; The strained process of the nursing workers: the relationship of … VEF Silva, P Kurcgant… - Rev. bras. enferm, 1998 - bases.bireme.br ... Título: O desgaste do trabalhador de enfermagem: relaçäo trabalho de enfermagem e saúde do trabalhador / The strained process of the nursing workers: the relationship of nursing work and nursing health. Fonte: Rev. bras. enferm;51(4):603-14, out.-dez. 1998. ilus. Idioma: Pt. ... Citado por 88 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 2 versões

[CITAÇÃO] Considerações sobre a enfermagem enquanto trabalho MCP Almeida, SMM Rocha… - … de enfermagem, 1997 - Cortez São Paulo Citado por 47 - Artigos relacionados

[CITAÇÃO] Enfermagem do trabalho I Bulhoes - 1986 - Ideas Citado por 31 - Artigos relacionados

[PDF] Enfermagem compreendida como vocação e sua relação com as atitudes dos enfermeiros frente às condições de trabalho [PDF] de scielo.brRM Rodrigues - Revista Latino-am. Enfermagem, 2001 - SciELO Brasil

A proposta é refletir sobre a enfermagem enquanto trabalho, afastando sua concepção amplamente aceita que a identifica a uma atividade de ajuda, sendo que tal concepção poderia ser fator dificultante para o enfrentamento e transformação das condições de trabalho. Tenta ... Citado por 29 - Artigos relacionados - Ver em HTML

[CITAÇÃO] Enfermagem do trabalho GM Carvalho - São Paulo: EPU, 2001 Citado por 27 - Artigos relacionados Estresse, fator de risco para a saúde do enfermeiro em centro de terapia intensiva; Stress as risk factor to the nurseïs health in an intensive therapy center JM Santos, EB Oliveira… - Rev. enferm. UERJ, 2006 - bases.bireme.br ... Os objetivos foram: identificar os principais estressores e analisar como os mesmos afetam a saúde do trabalhador de enfermagem. ... de conteúdo, que apontou para os seguintes resultados: os principais estressores do CTI estão vinculados à organização do trabalho, na qual ... Citado por 25 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 2 versões O sofrimento psíquico em trabalhadores de UTI interferindo no seu modo de viver a enfermagem; The interference of the psychic suffering of UTI workers upon their … GC Gomes, WD Lunardi Filho… - Rev. enferm. UERJ, 2006 - bases.bireme.br ... Resumo: O trabalho em saúde apresenta-se como fonte de prazer e de sofrimento. Este estudo exploratório de abordagem qualitativa teve por objetivo identificar os fatores relacionados ao

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sofrimento psíquico em trabalhadores de enfermagem de uma Unidade de Terapia ... Citado por 29 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 2 versões Análise da produção científica da vertente saúde do trabalhador de enfermagem: subjetividade e trabalho; Analysis of the scientific production on nursing worker's … EB Oliveira… - Rev. enferm. UERJ, 2004 - bases.bireme.br ... Autor: Oliveira, Elias Barbosa de; Lisboa, Márcia Tereza Luz. Título: Análise da produção científica da vertente saúde do trabalhador de enfermagem: subjetividade e trabalho / Analysis of the scientific production on nursing worker's health: subjectivity and work. Fonte: Rev. ... Citado por 12 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 2 versões Trabalho de enfermagem em uma unidade de emergência hospitalar e transtornos mentais; Nursing work at an emergency unit and mental disorders PS Pinho… - Rev. enferm. UERJ, 2007 - bases.bireme.br ... Id: 14913. Autor: Pinho, Paloma de Sousa; Araújo, Tânia Maria de. Título: Trabalho de enfermagem em uma unidade de emergência hospitalar e transtornos mentais / Nursing work at an emergency unit and mental disorders. Fonte: Rev. enferm. UERJ;15(3):329-336, jul.-set. ... Citado por 12 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 2 versões Subnotificaçäo de acidentes com perfurocortantes na enfermagem; Underreporting of accidents with cutting and piercing objects in nursing MHP Marziale - Rev. bras. enferm, 2003 - bases.bireme.br ... 2003. tab. Idioma: Pt. Resumo: Os objetivos da pesquisa foram: identificar os acidentes de trabalho que ocasionaram injúrias percutâneas entre trabalhadores de enfermagem, identificar se os acidentes foram ou näo notificados e conhecer os motivos da näo notificaçäo. ... Citado por 19 - Artigos relacionados - Em cache - Todas as 2 versões

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ORIENTAÇÕES PARA BUSCA DE ARTIGOS CIENTÍFICOS NO SCIELO

Após a escolha do tema do TCC, pertinente ao seu curso de Pós-graduação,

você deverá fazer a busca por artigos científicos da área, em sites especializados,

para a redação do seu próprio artigo científico. O suporte bibliográfico se faz

necessário porque toda informação fornecida no seu artigo deverá ser retirada de

outras obras já publicadas anteriormente. Para isso, deve-se observar os tipos de

citações (indiretas e diretas) descritas nesta apostila e a maneira como elas devem

ser indicadas no seu texto.

Lembre-se que os artigos que devem ser consultados são artigos científicos,

publicados em revistas científicas. Sendo assim, as consultas em revistas de ampla

circulação (compradas em bancas) não são permitidas, mesmo se ela estiver

relatando resultados de estudos publicados como artigos científicos sobre aquele

assunto. Revistas como: Veja, Isto é, Época, etc., são meios de comunicação

jornalísticos e não científicos.

Os artigos científicos são publicados em revistas que circulam apenas no

meio acadêmico (Instituições de Ensino Superior). Essas revistas são denominadas

periódicos. Cada periódico têm sua circulação própria, isto é, alguns são publicados

impressos mensalmente, outros trimestralmente e assim por diante. Alguns

periódicos também podem ser encontrados facilmente na internet e os artigos neles

contidos estão disponíveis para consulta e/ou download.

Os principais sites de buscas por artigos são, entre outros:

SciELO: www.scielo.org

Periódicos Capes: www.periodicos.capes.gov.br

Bireme: www.bireme.br

PubMed: www.pubmed.com.br

A seguir, temos um exemplo de busca por artigos no site do SciELO.

Lembrando que em todos os sites, embora eles sejam diferentes, o método de

busca não difere muito. Deve-se ter em mente o assunto e as palavras-chave que o

levarão à procura pelos artigos. Bons estudos!

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Siga os passos indicados:

Para iniciar sua pesquisa, digite o site do SciELO no campo endereço da

internet e, depois de aberta a página, observe os principais pontos de pesquisa: por

artigos; por periódicos e periódicos por assunto (marcações em círculo).

Ao optar pela pesquisa por artigos, no campo método (indicado abaixo),

escolha se a busca será feita por palavra-chave, por palavras próximas à forma que

você escreveu, pelo site Google Acadêmico ou por relevância das palavras.

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Em seguida, deve-se escolher onde será feita a procura e quais as palavras-

chave deverão ser procuradas, de acordo com assunto do seu TCC (não utilizar “e”,

“ou”, “de”, “a”, pois ele procurará por estas palavras também). Clicar em pesquisar.

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Lembre-se de que as palavras-chave dirigirão a pesquisa, portanto, escolha-

as com atenção. Várias podem ser testadas. Quanto mais próximas ao tema

escolhido, mais refinada será sua busca. Por exemplo, se o tema escolhido for

relacionado à degradação ambiental na cidade de Ipatinga, as palavras-chave

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poderiam ser: degradação; ambiental; Ipatinga. Ou algo mais detalhado. Se nada

aparecer, tente outras palavras.

Isso feito, uma nova página aparecerá, com os resultados da pesquisa para

aquelas palavras que você forneceu. Observe o número de referências às palavras

fornecidas e o número de páginas em que elas se encontram (indicado abaixo).

A seguir, estará a lista com os títulos dos artigos encontrados, onde constam:

nome dos autores (Sobrenome, nome), título, nome do periódico, ano de publicação,

volume, número, páginas e número de indexação. Logo abaixo, têm-se as opções

de visualização do resumo do artigo em português/inglês e do artigo na íntegra, em

português. Avalie os títulos e leia o resumo primeiro, para ver se vale à pena ler todo

o artigo.

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Ao abrir o resumo, tem-se o nome dos autores bem evidente, no início da

página (indicado abaixo). No final, tem-se, ainda, a opção de obter o arquivo do

artigo em PDF, que é um tipo de arquivo compactado e, por isso, mais leve, Caso

queria, você pode fazer download e salvá-lo em seu computador.

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Busca por periódicos

Caso você já possua a referência de um artigo e quer achá-lo em um

periódico, deve-se procurar na lista de periódicos, digitando-se o nome ou

procurando na lista, por ordem alfabética ou assunto. Em seguida, é só procurar

pelo autor, ano de publicação, volume e/ou número.

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É preciso ressaltar que você deve apenas consultar as bases de dados e os

artigos, sendo proibida a cópia de trechos, sem a devida indicação do nome do

autor do texto original (ver na apostila tipos de citação) e/ou o texto na íntegra.

Tais atitudes podem ser facilmente verificadas por nossos professores, que

farão a correção do artigo.