energia - womin.org.zawomin.org.za/images/content-booklets/portugeuese energy women... · a...

16
Energia uma questão de direitos das mulheres

Upload: trankhuong

Post on 24-Jan-2019

227 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Energia uma questão de direitos das mulheres

EditoraWoMin – Aliança Africana para Questões de Género e ExtractivismoPostnet Suite 16, Private Bag X4, Braamfontein, 2017, Johannesburg, South AfricaTelefone: +27 (11) 339-1024Email: [email protected]

Este livreto foi publicado em Outubro de 2016

Utilização livreEste é um recurso de livre acesso sem direitos autorais. As organizações são convidadas a fazer uso destes recursos desde que citem a WoMin como fonte.

AgradecimentosA WoMin agradece aos seguintes financiadores e parceiros: Both Ends, Bread for the World, Fundação Ford e Fundação Open Society.

Texto e desenvolvimento de conteúdo: Muna Lakhani, Samantha Hargreaves e Liziwe McDaid

Revisores: Muna Lakhani e Samantha Hargreaves

Coordenação do projecto: Jayshree Pather e Karen Hurt

Editora: Karen Hurt

Tradução: Erika Mendes

Revisão linguística: Ruben Manna

Design e ilustrações: Sally Whines

Fotografia: Todas as fotografias são da Wikipedia

Missão principalA missão principal da WoMin é:

• apoiar a construção de movimentos de mulheres que desafiem o extractivismo destrutivo

• propor alternativas de desenvolvimento que dêem resposta à maioria das necessidades das mulheres Africanas.

A nossa abordagemA nossa abordagem para fazer a mudança acontecer inclui:

• educação política

• pesquisa participativa

• campanhas lideradas por mulheres e conduzidas pela base

• construção de movimentos de mulheres e alianças

• solidariedade.

O nosso focoAs nossas áreas focais são:

• energia de combustíveis fósseis e justiça climática

• extractivismo, militarização e violência contra as mulheres

• direitos das mulheres, consentimento e tomada de decisões sócioeconómicas democratizada.

A WoMin é uma aliança Africana para questões de

género e extractivismo. Trabalhamos com mais de 50

aliados em 14 países da África Ocidental, Oriental e Austral.

1

Energia e direitos das mulheres

Este livreto trata de: • Por que é a energia uma questão de direitos das mulheres?

• As mudanças climáticas estão a tornar a vida mais difícil

• Os custos da poluição

• As relações de poder no sector energético

• O que deve mudar?

• Campanha: Justiça energética para as mulheres Africanas

1

Esperamos que as nossas leitoras, mulheres nas comunidades, usem este livreto para ajudá-las a discutir como alcançar justiça energética para as mulheres Africanas. A nossa mobilização e organização não trarão mudanças do dia para a noite. Mas através do nosso movimento, podemos e vamos fazer a mudança acontecer!

2

Por que é a energia uma questão de direitos das mulheres?

Porque a maioria de nós vive em famílias pobres e em comunidades controladas pelos homens, espera-se que as mulheres e raparigas gastem a maior parte do seu dia a desempenhar tarefas para manter as suas famílias alimentadas e as suas casas limpas. Algumas destas tarefas são árduas e físicas, como recolher combustíveis de biomassa como lenha e estrume, e ir buscar água. Estas tarefas começam antes do sol nascer e terminam muito depois do sol se pôr.

Isto deixa as mulheres e raparigas das famílias pobres rurais e urbanas com muito pouco tempo para educação, lazer, ou descansar, ou arranjar melhor sustento ou trabalho. Quando a maior parte do seu tempo é usado a suprir as necessidades da família, não resta muito tempo para se envolver com outras coisas como organização comunitária e liderança.

Papéis de géneroAs diferentes tarefas e comportamentos esperados das raparigas e mulheres, e dos rapazes e homens, são os seus papéis de género. A sociedade é que decide os papéis de género. Estes papéis acabam por ser vistos como a única forma que podemos ser. Por exemplo, qualquer um pode aprender a trocar a fralda de um bebé, ou a descascar vegetais. Precisa apenas de um par de mãos. Mas a maioria das sociedades diz que as mulheres e raparigas nascem a saber fazer isto, e não que elas aprendem a fazê-lo.

Na maioria das comunidades, os papéis de género são tão desiguais como injustos. Espera-se das mulheres:

• que organizem e façam a gestão do lar

• que tomem conta e resolvam as necessidades de todos os membros da família

• que tomem conta dos doentes

• que recolham combustível e água

• que cozinhem e aqueçam água para limpar, lavar, e muito mais.

PatriarcadoO patriarcado é uma forma de vida na qual os homens estão no poder. Das raparigas, mulheres, rapazes e homens esperam-se determinados comportamentos e que desempenhem determinados trabalhos. Por exemplo, espera-se que as mulheres e raparigas resolvam as necessidades diárias da família, tais como recolher combustível e água, cozinhar, tomar conta dos bebés e crianças, limpar e obedecer aos homens. O patriarcado pode ser contestado. Podemos construir uma sociedade mais justa e igualitária.

Energia: Uma questão de direitos das mulheres

A energia é uma questão de direitos das mulheres porque:

• As mulheres e crianças carregam o fardo de ter que recolher combustível para as suas famílias. Isto rouba o tempo que seria para outras oportunidades. Seria diferente se houvesse uma divisão justa de tarefas entre homens e mulheres.

• Se as mulheres tivessem acesso a serviços modernos de energia, não seriam escravas do trabalho de procurar e fornecer energia.

• As mulheres são, muitas vezes, excluídas (juntamente com as suas comunidades) das decisões sobre energia. As decisões que afectam a vida das mulheres são tomadas por companhias de energia e governos. Estes são, normalmente, controlados e geridos por homens e algumas mulheres muito ricas.

• Com o aumento da pobreza e das mudanças climáticas, está a tornar-se cada vez mais difícil (e mais moroso) conseguir recursos energéticos. Algumas das razões para isto incluem:

• as florestas estão a ser destruídas para dar espaço a plantações

• as companhias estão a tentar fugir à responsabilidade de reduzir as suas emissões de carbono. Estas emissões de carbono causam mudanças climáticas. Em vez de mudar, elas “compram” a capacidade das florestas de absorver o carbono. Quando isto acontece, as comunidades que utilizam a florestas para obter madeira, alimentos ou plantas medicinais perdem o seu acesso.

3

4

As mudanças climáticas estão a tornar a vida mais difícil

A mineração de combustíveis fósseis, como o carvão, petróleo e gás natural, e o seu uso, libertam uma enorme quantidade de gases de efeito de estufa. As emissões de carbono, também chamadas de gases de efeito de estufa, tornam o ambiente mais quente. Causam as mudanças climáticas. Os nossos desertos estão a aumentar. Em alguns lugares do mundo chove menos. Em outros, enormes tempestades ocorrem.

As mudanças climáticas têm sido causadas maioritariamente por países do Norte Global. Estes beneficiaram-se muito da indústria que se desenvolveu a partir dos combustíveis fósseis. Mas são os países do Sul Global que carregam o maior fardo das mudanças climáticas.

Populações de inúmeras regiões de África não conseguem produzir alimento ou recolher combustível suficiente porque os desertos estão a crescer e há mais secas. Quando vivemos numa sociedade patriarcal, são as mulheres quem carrega o maior fardo das mudanças climáticas.

Os países mais ricos, que compõem o Norte Global, devem migrar para métodos de energia limpa imediatamente. Devem também pagar a sua dívida das mudanças climáticas para ajudar as comunidades no Sul Global a adaptarem-se a um mundo mais quente. O dinheiro é também necessário para diminuir os impactos das mudanças climáticas. Os países ricos não estão a pagar as suas dívidas.

O calor do sol atinge a terra e aquece-a. Parte do calor volta para a atmosfera.

Os gases de efeito de estufa aprisionam o calor, aumentando a temperatura do planeta e causando as mudanças climáticas.

i • A queima dos

combustíveis fósseis liberta a maior parte dos gases de efeito de estufa.

• As minas de carvão e as centrais energéticas emitem 37% dos gases de efeito de estufa do planeta.

América do Norte

América Latina

África

Austrália

ÁsiaEuropa

Equador

Histórias do nosso continente

5

Na Tanzânia, as florestas estão a ser destruídas devido à corrupção, à exploração ilegal de madeira e à exportação de produtos florestais. Isto está a aumentar as mudanças climáticas porque as árvores absorvem as emissões que fazem com que o planeta aqueça. Com esta perda de árvores, chamada de desflorestação, as mulheres rurais afirmam ter de caminhar longas distâncias para buscar lenha. Quando fazem isto, têm de deixar as suas crianças sozinhas por longos períodos de tempo. Os homens reclamam que as mulheres não estão a cuidar adequadamente das crianças. Isto provoca conflitos nas famílias.

Tema de discussão De que forma esta situação se alteraria se os homens assumissem o papel de cuidar das suas próprias crianças?

Em Kwazulu-Natal, uma província da África do Sul, pesquisadores informaram-nos que existe este mesmo conflito nas comunidades de Fuleni e Somkhele, afectadas pela mineração do carvão. E não é tudo. As mulheres e crianças têm de andar até três horas para encontrar lenha. Isto obriga-as a andar por locais solitários e perigosos. Elas sofrem assédio sexual dos homens, e algumas mulheres e raparigas são violadas.

Tema de discussão O que deve ser desafiado e transformado para que as mulheres e raparigas não se coloquem em situações de risco de assédio sexual ou violações?

6

i • A Organização Mundial

de Saúde (OMS) afirma que, dos estimados 2 milhões de pessoas que morrem todos os anos devido à poluição do ar no interior de casas, 85% são mulheres e raparigas.

• A poluição é causada pela queima do carvão vegetal e mineral, lenha e estrume. Os tipos de doenças com os quais estas pessoas morrem são cancros, infecções respiratórias e doenças pulmonares.

• As doenças causadas pela poluição interior causam mais mortes de mulheres e raparigas todos os anos que o HIV/SIDA, malária, tuberculose e malnutrição juntos.

O custo da poluição

As famílias que são obrigadas a usar carvão mineral e vegetal, madeira, e estrume para ter energia em casa podem ficar muito doentes com a poluição do ar num recinto fechado. Isto pode provocar doenças crónicas, que necessitam de tratamento permanente em clínicas e hospitais. A asma é um exemplo de uma doença pulmonar comum da qual se pode morrer.

Outros problemas graves de saúde que são causados por fontes de energia não seguras são queimaduras, especialmente nas crianças, e ferimentos por carregar lenha. Sem energia limpa e electricidade regular nas ruas mais escuras, as mulheres e crianças correm mais riscos, como de assédio sexual e violações.

Quando os homens que trabalham nas minas ou centrais energéticas adoecem, ou quando membros da família adoecem devido à poluição do ar, são as mulheres quem, geralmente, cuida deles. As mulheres não são pagas por estes cuidados. As companhias de combustíveis fósseis não reconhecem que as mulheres executam este trabalho apesar dos trabalhadores terem adoecido com o trabalho nas suas minas e centrais energéticas.

As mulheres não podem ganhar dinheiro quando estão a cuidar de parentes doentes, levando-os às clínicas e certificando-se que se alimentam e tomam os seus medicamentos. No fim, são as famílias pobres quem arca com as doenças causadas pela indústria.

As comunidades pobres carregam o fardo de:

• derramamentos de petróleo

• usurpação de terras e água (em troca das quais as comunidades recebem nada ou muito pouco)

• perda de meios de subsistência

• poluição do ar e da água

• saúde precária

• mortes prematuras

• falta de serviços públicos, como clínicas

• custo elevado de medicamentos

• nível elevado de violência interpessoal, doméstica e sexual.

Relações de poder no sector de energia

Estas são as perguntas que devem ser colocadas quando tentamos entender as relações de poder no sector de energia:

• Quem controla os recursos naturais como o carvão, petróleo, gás natural e água?

• Quem é proprietário da tecnologia para extrair, produzir, armazenar e usar a energia?

• Quem usa a energia?

• Quem arca com os custos de produzir a energia?

• Onde se situam os homens nas relações de poder, e onde se situam as mulheres? Que homens, e que mulheres, obtém algum retorno positivo da energia, ou pagam por ela de alguma forma?

7

O que tem de mudar?Os governos precisam de dar mais atenção ao fornecimento de energia para os agregados familiares. Os governos não fazem isto pelos seus cidadãos por inúmeras razões:

• O planeamento de energia é feito de forma a servir os interesses dos poderosos: corporações, cidadãos financeiramente privilegiados e de classe média. Homens privilegiados no poder tomam a maioria das decisões em relação a para onde e para quem a energia deve ir.

• O fardo das mulheres com a energia é tomado por certo. É visto como algo natural e imutável que sejam elas as responsáveis por recolher, carregar e fazer energia nos lares.

De que forma pensam as organizações na mudança?Aqui estão três formas de trabalho das organizações para enfrentar o problema do fardo da energia sobre as mulheres:

1. abordagem assistencialista

2. abordagem das mulheres empreendedoras

3. abordagem da transformação energética, que a WoMin apoia.

Você pode obter um livreto intitulado Formas de cozinhar com menos energia no nosso site: www.womin.org.za

8

1 Abordagem assistencialista

Uma abordagem assistencialista é quando o governo ou uma organização aceitam o patriarcado e o papel não remunerado das mulheres nos lares e comunidades. Tudo que eles querem é facilitar a vida das mulheres para que continuem a fazer este trabalho.

Facilitar a vida pode incluir coisas como:

• dar subsídios para aquecedores solares de água, de forma a que as mulheres e raparigas não tenham que recolher tanta lenha

• ensinar as mulheres a fazer caixas térmicas, que consomem muito menos energia para cozinhar

• disponibilizar fogões melhorados a preços reduzidos, ou gratuitamente, para reduzir a poluição do ar e os riscos para a saúde.

8

Como a abordagem assistencialista tem funcionado

• Numa pesquisa em que as famílias tinham aquecedores solares de água, uma mulher declarou que ela não tinha de se levantar tão cedo de manhã para aquecer a água do banho do marido.

• Em Burkina Faso, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) idealizou e financiou uma forma criativa de lidar com os problemas da “pobreza de energia do género”. É um simples motor a diesel que funciona com biocombustíveis como óleo de Jatropha e é gerido por um grupo local de mulheres. O motor pode:

• alimentar diferentes máquinas e ferramentas

• gerar electricidade para luzes e frigoríficos

• bombear água.

As máquinas reduziram o tempo que as mulheres gastam com o trabalho doméstico e a preparação de alimentos, em duas a seis horas por dia. Isto liberta tempo que as mulheres passam a poder dedicar a outras actividades de geração de renda, e desfrutar de merecido descanso. Fotografia de Giaromo Pirazzi

O lado menos bom da abordagem assistencialista

A abordagem assistencialista:

• não desafia o patriarcado nem diz que a energia dos lares deve ser de responsabilidade tanto dos homens como das mulheres

• não fala de como as mulheres poderiam ser pagas por todo o tempo e trabalho árduo que dedicam à economia de energia

• não fala de como todo o trabalho que as mulheres têm a recolher e queimar combustíveis fósseis afecta a sua saúde

• não luta contra a injustiça das comunidades pobres, e das mulheres especificamente, de não usufruírem de energia como a electricidade e, no entanto, carregarem com o fardo das doenças causadas por minas de combustíveis fósseis e centrais energéticas

• não desafia o poder e o privilégio daqueles que controlam a energia.

2 Abordagem das mulheres empreendedoras

Um empreendedor é uma pessoa de negócios. Esta abordagem defende que as mulheres serão “empoderadas” se tiverem ajuda para encontrar um lugar na economia existente. A ideia é que as mulheres se envolvam em micronegócios (muito pequenos) de energias renováveis.

As energias renováveis incluem a energia do sol, da água, do vento, e dos resíduos animais e humanos. O tipo de produtos que as mulheres vendem são fogões, lanternas solares e carregadores de celulares.

A abordagem das mulheres empreendedoras, tal como a abordagem assistencialista, não desafia os papéis de género. Toma por certo que as mulheres são responsáveis por organizar as necessidades de energia do lar. Toma por certo que elas sempre irão fazê-lo.

Esta abordagem defende que a melhor forma de apoiar as mulheres, e diminuir a pobreza energética, é empoderá-las para que se tornem pequenas empresárias em tecnologias alternativas de energias renováveis.

Organizações nacionais e internacionais que apoiam a abordagem das mulheres empreendedoras providenciam tecnologias, desenvolvimento de competências comerciais e apoio financeiro que as mulheres das comunidades necessitam para gerir os seus negócios.

A abordagem empreendedora ajuda algumas mulheres, mas:

• não questiona nem desafia as injustas relações de poder que causam a pobreza energética da maioria das populações Africanas

• não tenta fazer algo para mudar a proveniência da maioria da nossa energia, nem a forma através da qual a energia é distribuída, favorecendo as grandes empresas

• não tenta fazer algo em relação aos problemas de género, saúde e pobreza que afectam as pessoas “comuns”

• não tenta fazer algo que proteja o ambiente ou o planeta.

9

Esta abordagem ajuda apenas algumas

pessoas, de um universo de milhões.

Benefícios para as mulheres da abordagem empreendedora

• As energias renováveis comunitárias e de pequena escala oferecem oportunidades às mulheres.

• As mulheres que trabalham em micronegócios têm uma oportunidade de se distanciar das responsabilidades do lar. Constroem amizades e ganham competências e conhecimentos sobre como gerir um negócio. Conseguem também gerar alguma renda própria, que é parte importante de tornar as mulheres mais independentes. O micronegócio oferece às mulheres uma saída dos papéis tradicionais de género.

• Com formação, as mulheres podem formar cooperativas e produzir e vender produtos ligados à energia como caixas térmicas e digestores de biogás. A cooperativa de grupo é uma forma muito melhor de abordar o “empreendedorismo”.

• Os esforços locais de microenergia pretendem aliviar a pobreza energética de forma imediata. Isto é uma das nossas necessidades. Também fornecem um espaço onde as mulheres se podem organizar. Isto é importante. Mas as mulheres têm que conectar isto a uma missão maior.

• A missão é a de transformar grandes negócios de sistemas de energia corruptos, nocivos e prejudiciais, em sistemas que forneçam energia e satisfaçam as necessidades das populações pobres para que estas tenham uma vida melhor. Neste momento, os grandes negócios dominam os sistemas energéticos e apenas algumas pessoas privilegiadas (e respectivos negócios) são beneficiadas. A missão maior é tratada pela abordagem da transformação energética.

10

1111

3 Abordagem da transformação energética

As mulheres camponesas e trabalhadoras carregam o fardo da pobreza energética. Há décadas que, graças à sua experiência e à das suas antepassadas, elas sabem que os combustíveis fósseis provocam problemas de saúde, poluem a água potável e destroem a terra que elas precisam para fazer crescer os alimentos. São elas que cuidam e usam estes recursos valiosos. Elas são as peritas em questões de energia uma vez que tanto elas como as suas famílias são afectadas por estas.

A abordagem da transformação energética defende que as mulheres Africanas devem fazer ouvir as suas vozes e o seu conhecimento. Defende que as mulheres devem ser ouvidas, participar e assumir um papel de liderança na tomada de decisões em torno da energia. Isto inclui o controlo e governação da energia a todos os níveis: das comunidades locais às regiões ou províncias e dos países ao planeta inteiro.

As mulheres devem poder participar em condições de igualdade com os homens na planificação de futuros sistemas energéticos. São as vozes das mulheres rurais e trabalhadoras que devem ser ouvidas primeiro. Elas são as mais afectadas pela pobreza energética, e são quem deve liderar e tomar as decisões. Isto é necessário para o futuro de todos.

Este planeta é de todos. Mas, actualmente, companhias e indíviduos ambiciosos e egoístas tomam decisões e controlam a energia em prol dos seus interesses. Não se importam com a forma como envenenam o planeta e as populações. É isto que a abordagem da transformação energética defende que deve ser desafiado e alterado.

1212

Transformação energéticaUma abordagem de transformação energética requer:

• Democracia energética. Para as mulheres, isto significa fazer parte da planificação e manter uma vigilância sobre as decisões em torno da energia. Em todos os níveis, é necessário apoiar rapidamente as mulheres para que:

• se organizem

• analisem a sua situação

• decidam o que querem ver resolvido

• actuem

• estejam em solidariedade umas com as outras

• se unam nas diferentes comunidades, países e regiões.

Esta mudanças nas relações de poder das famílias e comunidades será certamente um desafio ao poder masculino.

• Que as mulheres intervenham em todos os níveis do sector de energias renováveis. Isto inclui também mulheres pobres e rurais, e não apenas algumas mulheres urbanas da elite, que agem pelo interesse de corporações ou de partidos políticos.

• Que os produtores de energia se responsabilizem pelos custos externos da produção de energia, como os custos de saúde e de tempo no cuidado com os parentes doentes. O objectivo é que as mulheres não sejam mais quem carrega este fardo.

• A resolução dos conflitos e abusos aos direitos humanos relacionados com a injustiça energética. Isto inclui os conflitos que vêm das mudanças climáticas, como batalhas por lenha ou água escassas. São as mulheres e raparigas quem mais sofre as consequências disto, quando colocadas em risco de mais violência e insegurança.

• A garantia que os serviços de energia são dirigidos aos cidadãos comuns e ao bem comum, e não aos interesses de corporações privadas, como a indústria mineira,

• Um afastamento justo, correcto e cuidadosamente planeado, porém rápido, dos combustíveis fósseis e em direcção a um novo sistema energético que busque acabar com a pobreza energética da maiorias das mulheres Africanas e suas famílias. Necessitamos de fazer esta transição de forma a respeitar e proteger as pessoas comuns, o ambiente e o planeta, a nossa mãe terra.

13

Campanha: Energia e Justiça Climática para as Mulheres Africanas

Num encontro regional no Delta do Níger, Nigéria, em Outubro de 2015, mulheres de mais de nove países Africanos identificaram as demandas que levarão para a frente a justiça energética.

Elas disseram: “Vamos construir uma campanha por toda África liderada por mulheres e pela justiça climática, alimentar e energética. Esta campanha pretende fortalecer uma irmandade Africana e aprofundar o nosso movimento regional pela transformação total do paradigma dominante de desenvolvimento”.

As demandas incluem:

• Manter debaixo do solo 80% de todas as reservas conhecidas de combustíveis fósseis.

• Capacitar as comunidades, e principalmente as mulheres, para monitorarem a poluição do ar e da água causada pelas “energias sujas”:

• informar a todos sobre os resultados do monitoramento

• informar a todos quem e o que está a causar a poluição

• exigir compensações dos governos e das corporações que as causam (as compensações devem levar em conta a forma como as mulheres foram gravemente afectadas).

• Buscar uma rápida transição global dos combustíveis fósseis como principal fonte de energia para um sistema de energias renováveis transformado que:

• melhore as vidas das mulheres nos seus lares

• torne possível às mulheres que sejam proprietárias, produzam e controlem a produção de energia.

• Que as mulheres possam gozar de completa igualdade com os homens em todas as esferas do ciclo de energia. Isto siginifica em todos os lugares: nos lares, comunidades, cooperativas e no estado.

• Os homens devem ouvir as mulheres. Deve-se permitir às mulheres que façam parte da tomada de decisões. Elas devem se certificar que as suas necessidades são levadas em conta.

• Todas as declarações, leis, políticas e programas a nível local, nacional, sub-regional, regional e internacional devem ser postas em prática.

Para a frente com a justiça energética para as mulheres

Africanas!

Campanha de Energia de Combustíveis Fósseis e Justiça ClimáticaEsta série de livretos informativos sobre a energia complementa uma Campanha Regional de Energia de Combustíveis Fósseis e Justiça Climática liderada por mulheres e conduzida a partir da base. A campanha almeja construir um movimento de mulheres para provocar mudanças profundas na forma como a energia é produzida e distribuída pelos nossos países e por toda África.

O foco geográfico da WoMin para os anos 2016-2017 é o Uganda, Nigéria, República Democrática do Congo e África do Sul. A campanha incluirá mais países no fim de 2017.

Os livretosEsperamos que os livretos desta série ajudem as mulheres e as suas comunidades a lidar imediatamente com a escassez de energia. Quando utilizamos alguns dos simples métodos de energias renováveis destes livretos, aliviamos o fardo do trabalho sobre as mulheres. Enquanto isso, continuamos a organizar-nos para as grandes mudanças que queremos e necessitamos.