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A aprendizagem musical na prática coral e o conceito de comunidade de prática Lucila Prestes de Souza Pires da Costa Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC [email protected] Sérgio Luiz Ferreira de Figueiredo Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC [email protected] Resumo: Este artigo procura entender a aprendizagem musical dentro do coro a partir do conceito de comunidade de prática proposto por Wenger (1998). Para tanto, utiliza três conceitos-chave das comunidades de prática: compromisso mútuo, empreendimento conjunto e repertório compartilhado. Em seguida, estes conceitos são exemplificados no cotidiano do coro. Nas considerações finais, são destacadas as possibilidades de entendimento da aprendizagem musical nos grupos corais através do conceito de comunidade de prática. Palavras-chave: coral, comunidade de prática, educação musical. Todos nós pertencemos a comunidades de prática. Quando consideramos este conceito a partir das propostas de Etienne Wenger 1 : “comunidades de prática são grupos de pessoas que compartilham um interesse ou uma paixão por algo que eles fazem e aprendem como fazer isto melhor enquanto interagem regularmente” (2006, tradução nossa). Desta forma, ao longo da vida fazemos parte de diversas comunidades de prática, desde a família onde nascemos e temos nossos primeiros aprendizados até colegas de trabalho buscando melhorar um processo de produção. As comunidades de prática apresentam características variadas. Algumas possuem um nome, regras para tornar-se parte dela e objetivos e propósitos definidos. Outras passam, muitas vezes, despercebidas por nós. Contudo, embora se caracterizem de formas distintas, todas elas são importantes, uma vez que nos proporcionam algum tipo de aprendizado. A variedade de tipos de comunidades de prática leva-nos a tentar aplicar este conceito para a nossa área de atuação. Existem comunidades de prática cujo interesse ou paixão seja a música? A resposta que imediatamente nos vem à mente parece ser positiva. Prosseguimos ainda, questionando se este conceito poderia ser aplicado a grupos de execução musical, mais especificamente ao coral. Deste modo, procuramos respostas para a seguinte 1 O termo “comunidades de prática” foi utilizado primeiramente por Lave e Wenger (1991) na obra onde os autores expõem sua teoria de aprendizagem social. Após esta publicação, Wenger (1998, 2000, 2006) deu continuidade à utilização do termo, desenvolvendo-o e colocando-o em prática em diversas corporações. 33

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Anais do IV Encontro Nacional de Ensino Coletivo de Instrumentos Musicais

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  • A aprendizagem musical na prtica coral e o conceito de comunidade de prtica

    Lucila Prestes de Souza Pires da Costa Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC

    [email protected]

    Srgio Luiz Ferreira de Figueiredo Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC

    [email protected]

    Resumo: Este artigo procura entender a aprendizagem musical dentro do coro a partir do conceito de comunidade de prtica proposto por Wenger (1998). Para tanto, utiliza trs conceitos-chave das comunidades de prtica: compromisso mtuo, empreendimento conjunto e repertrio compartilhado. Em seguida, estes conceitos so exemplificados no cotidiano do coro. Nas consideraes finais, so destacadas as possibilidades de entendimento da aprendizagem musical nos grupos corais atravs do conceito de comunidade de prtica.

    Palavras-chave: coral, comunidade de prtica, educao musical.

    Todos ns pertencemos a comunidades de prtica. Quando consideramos este

    conceito a partir das propostas de Etienne Wenger1: comunidades de prtica so grupos de

    pessoas que compartilham um interesse ou uma paixo por algo que eles fazem e aprendem

    como fazer isto melhor enquanto interagem regularmente (2006, traduo nossa). Desta

    forma, ao longo da vida fazemos parte de diversas comunidades de prtica, desde a famlia

    onde nascemos e temos nossos primeiros aprendizados at colegas de trabalho buscando

    melhorar um processo de produo.

    As comunidades de prtica apresentam caractersticas variadas. Algumas possuem

    um nome, regras para tornar-se parte dela e objetivos e propsitos definidos. Outras passam,

    muitas vezes, despercebidas por ns. Contudo, embora se caracterizem de formas distintas,

    todas elas so importantes, uma vez que nos proporcionam algum tipo de aprendizado.

    A variedade de tipos de comunidades de prtica leva-nos a tentar aplicar este

    conceito para a nossa rea de atuao. Existem comunidades de prtica cujo interesse ou

    paixo seja a msica? A resposta que imediatamente nos vem mente parece ser positiva.

    Prosseguimos ainda, questionando se este conceito poderia ser aplicado a grupos de execuo

    musical, mais especificamente ao coral. Deste modo, procuramos respostas para a seguinte

    1 O termo comunidades de prtica foi utilizado primeiramente por Lave e Wenger (1991) na obra onde os autores expem sua teoria de aprendizagem social. Aps esta publicao, Wenger (1998, 2000, 2006) deu continuidade utilizao do termo, desenvolvendo-o e colocando-o em prtica em diversas corporaes.

    33

  • pergunta: o conceito de comunidade de prtica pode contribuir para o entendimento da

    interao entre os membros do coro e a aprendizagem musical que acontece neste espao?

    Esta questo a motivao para este artigo e determina a escolha do referencial

    terico de uma pesquisa de mestrado em andamento, cujo principal objetivo compreender o

    papel das interaes sociais no processo de aprendizagem musical dentro de um coral de

    adolescentes. Para este artigo, utilizaremos os elementos centrais do conceito de comunidades

    de prtica que sero aplicados a situaes gerais da atividade coral, uma vez que a referida

    pesquisa encontra-se ainda na fase de coleta de dados.

    Comunidades de prtica na literatura de educao musical

    Considerar a aprendizagem musical a partir da perspectiva psicolgica social tem

    sido a temtica de um crescente nmero de trabalhos. Ao comentarem esta tendncia, North e

    Hargreaves (2008) apresentam as comunidades de prtica como um caminho para o

    entendimento dos processos de aprendizado que acontecem nas interaes entre msica e um

    determinado grupo social.

    O trabalho da educadora musical Joan Russel considerado altamente significativo

    no sentido de adequar os conceitos de comunidade de prtica ao contexto de aprendizagem de

    msica (NORTH; HARGREAVES, 2008; WAZLAWICK; MAHEIRIE, 2009). Em artigo

    publicado na Revista da ABEM, Russel (2006) utiliza o termo comunidade de prtica

    musical (p.12) para descrever o comportamento de trs grupos distintos: uma comunidade

    nas Ilhas Fiji onde o canto prtica comum a todos, professoras inuit no Canad e professores

    de msica em Cuba. A partir destas observaes feitas a respeitos das prticas musicais nestes

    contextos sociais, a autora salienta que estas perspectivas socioculturais da educao musical

    sugerem que significado, identidade e valores so criados em comunidades, juntamente com

    aqueles que compartilham (ou desejam compartilhar) valores e prticas comuns (RUSSEL,

    2006, p. 15).

    Westerlund (2006) revisa os estudos sobre o aprendizado musical em bandas pops e

    outros grupos musicais. Em seu trabalho, contrape as caractersticas do aprendizado

    tradicional de msica onde o professor o detentor do saber e ensina demonstrando como se

    faz isso certo (p.120) com as comunidades construtoras de conhecimento (p. 122) 2. Neste

    2 knowledge-building communities

    34

  • tipo de comunidade, a participao em questes da vida real se tornam a motivao para o

    aprendizado (WESTERLUND, 2006, p.122, traduo nossa).

    Koopman (2007) utiliza o termo msica comunitria (p. 151) 3 para designar

    prticas de fazer musical colaborativo, onde o foco o desenvolvimento da comunidade e

    tambm o crescimento pessoal. Aqui, como nos trabalhos de Russel (2006) e Westerlund

    (2006), o conceito de comunidade de prtica, mais uma vez utilizado para o entendimento

    da aprendizagem por meio de interaes sociais.

    Embora os termos adotados pelos trs autores sejam diferentes, todos enfatizam a

    existncia de um aprendizado de msica dentro da comunidade na qual estamos inseridos.

    Eles mostram tambm que esta perspectiva constitui um caminho possvel para o estudo dos

    processos de aprendizagem musical que acontecem em contexto social.

    Para que possamos utilizar o conceito de comunidades de prtica para o

    entendimento das relaes entre membros de um grupo e a msica, faz-se necessrio

    compreender elementos importantes nos quais a teoria est apoiada.

    Comunidades de prtica: principais caractersticas

    Pensar sobre aprendizagem em comunidades de prtica requer olhar para este fato

    sob um novo paradigma a partir do qual aprender parte da vida assim como comer ou

    dormir (WENGER, 1998 p. 3). Desta forma, intencionalmente ou no as interaes sociais

    presentes em nosso dia-a-dia fazem com que ensinemos e aprendamos. Contudo, importante

    lembrar que o termo no aplicvel a qualquer tipo de comunidade. De acordo com Wenger

    (2006), para que um grupo seja considerado comunidade de prtica ele deve apresentar trs

    caractersticas cruciais: domnio, comunidade e prtica.

    A primeira caracterstica diz respeito forma como o grupo identificado por ele

    mesmo e por outros. necessrio que ele tenha uma identidade e interesses compartilhados

    por seus membros. Em segundo lugar, necessrio que acontea uma interao entre os

    membros, de forma que estes se envolvam em atividades comuns, se ajudem e compartilhem

    informaes. Por ltimo, uma comunidade de prtica formada por pessoas que efetuem uma

    mesma atividade, e desta forma tenham experincias em comum.

    3 community music

    35

  • Wenger (1998, p. 73) tambm utiliza trs dimenses para associar prtica

    comunidade: compromisso mtuo; empreendimento conjunto e repertrio compartilhado4.

    1. Compromisso mtuo

    Uma comunidade de prtica sustenta relaes de compromisso mtuo sobre o que se

    faz (WENGER, 1998, p. 74). Contudo, importante lembrar que estas relaes no sugerem

    somente um clima harmonioso entre os participantes. Embora os mesmos tenham

    caractersticas em comum, os motivos, perspectivas e objetivos de participarem desta

    atividade podem ser extremamente diversos. Este fator leva a considerar o dualismo

    diversidade versus particularidade existente em uma comunidade de prtica. Ao mesmo

    tempo em que os membros daquela comunidade partilham de caractersticas comuns, e

    realizam uma mesma tarefa ou tm metas compartilhadas, seus dilemas e aspiraes fazem

    com que cada membro tenha um lugar nico e uma nica identidade dentro do grupo.

    2. Empreendimento conjunto

    Uma vez que, como mencionado anteriormente, as aspiraes e objetivos das pessoas

    que pertencem mesma comunidade de prtica no sejam as mesmas, o que permite que

    estes membros se agrupem a constante negociao de significados entre eles. O grupo

    precisa encontrar uma forma de, apesar das diferenas, conviver e cooperar.

    O empreendimento conjunto, desta forma, um elemento mantido e estabelecido por

    todo o grupo, e no determinado por um superior, uma srie de regras ou determinado

    participante. Ao longo da convivncia e interao entre os participantes, os significados, os

    cdigos de conduta, as formas de proceder so estabelecidas, ainda que no conscientemente

    ou estruturadamente.

    Dizer que comunidades de prtica produzem suas prticas no dizer que elas no podem ser influenciadas, manipuladas, enganadas, intimidadas, exploradas, debilitadas, pensadas ou coagidas submisso; nem dizer que elas no podem ser inspiradas, ajudadas, esclarecidas ou poderosas. Mas isto dizer que o poder - benevolente ou malevolente que instituies, prescries ou indivduos tm sobre a prtica da comunidade sempre mediado pela produo da prtica da comunidade. Foras externas no tm

    4 No original em ingls: mutual engagement, joint enterprise e shared repertoire, respectivamente.

    36

  • poder direto sobre esta produo porque, em ltima anlise, a comunidade que negocia o seu empreendimento (WENGER, 1998, p. 80 traduo nossa).

    3. Repertrio compartilhado

    O repertrio a que se refere o autor inclui a rotina, palavras, formas de se fazer,

    histrias, smbolos, gestos, aes e concepo partilhadas pela comunidade (WENGER, 1998,

    p. 83).

    Contudo, este repertrio sofre constante transformao de significados medida que

    novas interaes acontecem na comunidade. Wenger (2000, p. 229) acrescenta que ser

    competente [em uma comunidade de prtica] ter acesso a este repertrio e utiliz-lo

    apropriadamente.

    Coral no contexto das comunidades de prtica

    Ao refletir sobre a aprendizagem de msica no contexto do coral, os conceitos acima

    apresentados bem como os seus desdobramentos mostram-se de considervel utilidade. Em

    primeiro lugar, a atividade coral parece conter os trs requisitos necessrios a uma

    comunidade de prtica. Possui um domnio, uma vez que lhe chamamos coral um grupo de

    pessoas reunidas com o propsito de cantar. Quando estes cantores se unem em prol de um

    objetivo em comum, adquirem uma identidade. Deixam de ser um grupo de pessoas que

    cantam juntas para serem o coral da escola, da comunidade, da igreja, dos funcionrios da

    empresa, dentre outros.

    Esse grupo reunido sob o ttulo coral desempenha atividades em comum. Embora

    possa no ser formado por profissionais que se dedicam exclusivamente a esta prtica, as

    pessoas que se renem para participar de um coral passam a realizar atividades em comum.

    So ensaios, confraternizaes, reunies, encontros de naipe, viagens, apresentaes que

    unem os membros do coro em momentos de atividade em comum.

    A terceira caracterstica a prtica. Esta constitui no coro no somente um atributo

    da comunidade, mas tambm a razo da existncia desta. Seja nos momentos de ensaio, ou

    de apresentaes, a maior parte do tempo que despendemos no coral no para a prtica

    musical?

    Justificadas e relacionadas as caractersticas de uma comunidade de prtica

    realidade do coral, voltamo-nos s trs dimenses que compreendem a atividade de uma

    37

  • comunidade de prtica: compromisso mtuo, empreendimento conjunto e repertrio

    compartilhado.

    O que traz cada membro ao coral? As possibilidades parecem ser as mais diversas

    possveis. Alguns buscam aprender msica ou tcnica vocal, outros vem no coro uma

    possibilidade para o contato com novos lugares ou novos tipos de msica. Existem aqueles

    que vem na atividade uma oportunidade para relaxar, descansar, desestressar. Embora,

    cada corista possa ter um motivo diferente para pertencer ao grupo, este adquire um objetivo

    em comum, traduzido pela performance musical. Mesmo que na mente de cada um dos

    cantores idias completamente diferentes tomem lugar, a unio de suas vozes expressa um

    propsito em comum, a expresso musical atravs do canto.

    O empreendimento conjunto est relacionado a uma constante negociao de

    significados. Esta afirmao nos remete a pensar na relao dos membros antigos do coro

    com os novos. A cada etapa, onde novos cantores tornam-se parte do grupo, vises diferentes

    da atividade e da msica so compartilhadas. Novas idias misturam-se s idias j presentes

    no grupo, dando lugar reconstruo de conceitos, revendo o que importante para o grupo.

    O empreendimento conjunto relaciona-se tambm ao estabelecimento de regras e

    padres de conduta que acontecem no coro, o que nos direciona ao papel do regente na

    comunidade de prtica coral. Conforme citado anteriormente, o grupo soberano no que

    tange s escolhas e ao estabelecimento dos significados. A partir desta viso, o regente seria

    importante, porm no o principal responsvel por determinar o proceder do grupo. Embora

    sua funo de lder possa exercer influncia, as prticas da comunidade tm maior poder sobre

    o comportamento e o proceder do coral. Esta hiptese pode ajudar a explicar porque, apesar

    de um regente s vezes dirigir mais de um coro, cada grupo diferente e nico.

    Por fim, o repertrio compartilhado parece ser a caracterstica mais expressiva na

    comunidade de prtica coral. No somente o repertrio musical do coro propriamente dito,

    como outros tipos de repertrio so compartilhados. Embora alguns regentes no dem muita

    ateno aos aspectos tericos da msica, o conhecimento de termos, signos e expresses

    utilizadas na escrita musical acabam por ser aprendidos pelos membros do coro, ou pelo

    contato com a partitura, nos casos onde esta utilizada, ou pela meno que os prprios

    maestros fazem a acontecimentos musicais. O prprio gestual do maestro e a compreenso

    deste no deixa de ser algo entendido e compartilhado pelo grupo.

    A estes exemplos de repertrio compartilhado, inclumos tambm os eventos

    cotidianos, tais como exerccios de tcnica vocal que se repetem ensaio a ensaio e a dinmica

    de trabalho adotada pelo regente. Aos poucos, estes elementos tornam-se parte da rotina do

    38

  • grupo. Alm dos eventos cotidianos, os eventos extraordinrios tambm so parte do

    repertrio compartilhado. Histrias de viagens, apresentaes, momentos de interao social

    vividos pelo grupo tornam-se parte das conversas entre os membros mais experientes, que

    acabam por transmiti-las aos membros novos.

    Consideraes finais

    Atravs dos exemplos acima mencionados, de situaes que usualmente fazem parte

    da atividade coral, podemos perceber como o conceito de comunidade de prtica pode ser

    utilizado para a compreenso dos processos de aprendizagem na prtica coral. Embora

    tenhamos utilizado aqui somente trs elementos-chave, o conceito de comunidades de prtica

    possui outros aspectos que podem ser de grande auxlio para a compreenso do coral.

    importante salientar que cada coro uma comunidade de prtica nica, que

    apresenta caractersticas prprias, e que estas singularidades podem se relacionar aos tpicos

    apresentados de maneira diferente dos exemplos aqui expressos. Este fato, contudo, poderia

    constituir um incentivo pesquisa e aplicao do conceito a grupos distintos, apresentando

    uma maior riqueza de aspectos levantados.

    Concluindo, gostaramos de ressaltar as possibilidades que este conceito pode

    apresentar para o entendimento da aprendizagem musical em contexto social em pesquisas

    futuras. Compreender como aprendemos msica em diversos contextos pode contribuir para

    uma prtica pedaggica mais consciente e eficaz. Pode tambm sugerir novas possibilidades e

    espaos para a educao musical, em contextos to diversos como cada comunidade.

    39

  • Referncias

    KOOPMAN, Constantijn. Community music as music education: on the educational potential of community music. International Journal of Music Education, n. 25, p. 151-163, 2007. LAVE, Jean; WENGER, Etienne. Situated Learning: legitimate peripheral participation. Cambridge: Cambridge University Press, 1991. NORTH, Adrian; HARGREAVES, David. The Social and Applied Psychology of Music. Oxford: Oxford University Press, 2008. RUSSELL, Joan. Perspectivas Socioculturais na educao musical: experincia, interpretao e prtica. Revista da Abem, Porto Alegre, n. 14, p. 7-16, 2006. WAZLAWICK, Patrcia; MAHEIRIE, Ktia. Sujeitos e msicas em movimentos criadores compondo comunidades de prtica musical. Revista da ABEM, Porto Alegre, n. 21, p. 103-112, 2009. WENGER, Etienne. Communities of practice: learning, meaning and identity. Cambridge: Cambridge University Press, 1998. . Communities of Practice and Social Learning Systems. Organization, n. 7, p. 225-246, 2000. . Communities of practice: a brief introduction. Etienne Wenger Home Page, Jun.2006. Disponvel em: . Acesso em 22 de maro de 2010. WESTERLUND, Heidi. Garage rock bands:a future model for developing musical expertise? International Journal of Music Education, n. 24, p. 119-125, 2006.

    40

  • Ensino coletivo de instrumentos musicais: estudo sobre o processo de ensino-aprendizagem da Camerata de Violes de Barro Alto

    Giulliano de Castro Borges Universidade Federal de Gois

    [email protected]

    Flavia Maria Cruvinel Universidade Federal de Gois

    [email protected]

    Resumo: O presente trabalho o resultado parcial de uma pesquisa realizada para o Trabalho de Concluso de Curso Educao Musical da Universidade Federal de Gois, e tem como objetivo analisar o processo de ensino-aprendizagem da msica no Projeto Camerata de Violes de Barro Alto e suas contribuies como ao social. A metodologia utilizada a do Ensino Coletivo de Violo sob a perspectiva Violo Orquestral. A presente pesquisa em andamento justifica-se por demonstrar possibilidades educacionais de ensino musical, ainda pouco investigadas e compreendidas, que vem contribuindo, desde 2004, tanto no aspecto musical quanto no sociocultural junto comunidade contemplada. O experimento tem como objetivo investigar os efeitos do processo de ensino-aprendizagem de forma que possa levar a um melhor entendimento das metodologias de Ensino Coletivo de Instrumento Musical e comprovar sua eficcia como meio de aprendizagem musical.

    Palavras-Chave: Educao Musical; Ensino Coletivo de Violo; Educao Musical em Espaos Alternativos.

    Introduo: Ensino Coletivo em Espao Alternativo

    O Ensino Coletivo uma importante ferramenta na democratizao do ensino de

    instrumentos musicais (CRUVINEL, 2005), j que pode ser oferecido a um maior nmero de

    alunos, o que o diferencia do ensino individual. Mesmo assim, ainda pouco compreendido e

    explorado no ensino musical.

    Uma das origens dessa resistncia, segundo Cruvinel (2005), est na influncia do

    pensamento cartesiano na rea da msica, que passou a ter a figura do instrumentista virtuose

    como modelo nico na formao instrumental com base tecnicista. Esta viso ainda est

    muito presente na atualidade e predomina no ensino individual de instrumento musical.

    No entanto, autores como Oliveira (1998), acreditam que o ensino coletivo mais

    estimulante para o aluno iniciante devido a um maior desenvolvimento do mesmo, em menos

    tempo de aula, em decorrncia das tcnicas pedaggicas usadas no ensino coletivo, alm da

    sonoridade do grupo ser mais agradvel no incio do que a sonoridade individual do aluno.

    (OLIVEIRA, 1998 apud CRUVINEL, 2005 )

    Enquanto Moraes (1995) acredita que de todas as vantagens que o ensino em

    874

  • grupo pode trazer, a motivao , provavelmente, a mais importante. Tambm a competio,

    em sua expresso mais natural e saudvel, pode trazer estmulo extra para um aprendizado

    mais rpido e de melhor qualidade. (MORAES, 1995, p.35, apud CRUVINEL, 2005)

    Dentro desse contexto, importante ressaltar a unio da sociedade organizada

    com o objetivo de amenizar as desigualdades existentes quanto ao acesso educao musical.

    Vrias entidades ligadas ao Terceiro Setor (ONGs, projetos sociais, entidades filantrpicas e

    religiosas, entre outras) se mobilizam e promovem uma significativa oferta de prticas

    musicais voltadas principalmente ao pblico jovem excludo. A importncia desses trabalhos

    revela-se nos objetivos, dentre os quais a promoo da dignidade humana e o exerccio da

    cidadania plena (KLEBER, 2003).

    O presente trabalho trata de um estudo a respeito do processo de ensino-

    aprendizagem que ocorre na Camerata de Violes de Barro Alto, projeto que administrado

    pela Associao dos Amigos da Cultura de Barro Alto GO. Especificamente no processo

    desenvolvido com base no violo coletivo e de forma orquestral, onde esse pensamento

    parte das grandes possibilidades sonoras do instrumento (extenso, timbre, dinmica, etc.), e

    trabalha a diviso de naipes como na orquestra. (WEIZMANN, 2008).

    A pesquisa em andamento, ora relatada, tem como objetivo geral investigar os

    processos de ensino-aprendizagem por meio do Ensino Coletivo de Violo; e como objetivos

    especficos: 1) investigar o processo de ensino-aprendizagem que ocorre na Camerata de

    Violes de Barro Alto por meio do Ensino Coletivo de Violo; 2) Investigar a escolha do

    repertrio, o mtodo de violo orquestral e os arranjos utilizados no processo de ensino-

    aprendizagem.

    Metodologia A metodologia ter como base a pesquisa-ao, com abordagem qualitativa. A

    escolha desse mtodo de pesquisa se faz devido s possibilidades proporcionadas pelo

    mesmo, onde o investigador se torna sujeito autnomo, um agente de mudana e

    interventor. (CRUVINEL, 2005)

    A pesquisa est sendo realizada com os alunos do Projeto Camerata de Violes de

    Barro Alto GO, com carga horria de 01 (uma) aula semanal, sendo cada aula com durao

    de 01 (uma) hora e 30 (trinta) minutos, durante 05 (cinco) meses. Os resultados sero

    tornados pblicos atravs de divulgaes em trabalhos de cunho cientfico (Congressos,

    Encontros, Revistas, etc), e que todos tero a garantia do sigilo de seus nomes, assegurando a

    875

  • privacidade de cada um dos participantes, no havendo nenhum desconforto e risco aos que

    participarem da pesquisa. importante ressaltar que no haver nenhum tipo de pagamento

    ou gratificao financeira aos participantes. Da mesma forma, garantido ao participante

    retirar seu consentimento a qualquer momento, sem que isto leve a qualquer penalidade ou

    interrupo de seu acompanhamento.

    Os alunos do projeto Camerata de Violes de Barro Alto possuem uma intensa

    atividade pedaggica, com duas aulas e um ensaio geral por semana. Alm disso,

    permanente sua atuao sociocultural, apresentando-se em entidades, escolas locais, eventos

    cvicos, religiosos e folclricos.

    Reviso de Literatura

    A Reviso de Literatura ter como base autores ligados a Educao Musical que

    abordam questes da rea que envolvem o tema ora pesquisado. O referencial terico tem

    como base o trabalho realizado pelo Maestro Cludio Weizmann em diversos projetos sociais,

    em parte descrito em sua dissertao de mestrado Educao Musical: Aprendendo com o

    Trabalho Social de uma Orquestra de Violes. Outro referencial trata-se da pesquisa

    desenvolvida pela Prof. Flavia Maria Cruvinel, descrita no seu trabalho Educao Musical e

    Transformao Social: uma experincia com ensino coletivo de cordas, publicao que

    resultou da sua dissertao de Mestrado. Outro referencial a ser utilizado nesse presente

    estudo, que vale ser destacado, o trabalho realizado pela Prof. Cristina Tourinho, que possui

    uma extensa pesquisa sobre Ensino Coletivo de Violo e suas diversas possibilidades de

    implantao, desde os espaos alternativos, as escolas especficas de msica sua insero na

    escola de ensino regular, em suas diversas publicaes.

    Pesquisa de Campo

    A pesquisa de campo se dar a partir da interveno pedaggica do professor-

    pesquisador na coordenao das atividades de ensino na Camerata de Violes de Barro Alto.

    Alm do planejamento e aulas ministradas, haver aplicao de questionrios com os

    professores, os alunos e os responsveis pelo projeto, segundo os moldes do Comit de tica

    em Pesquisa da UFG, visando compreender os efeitos desse projeto na sociedade. Aps estes

    procedimentos, o cruzamento e anlise dos dados sero realizados, chegando-se os resultados

    e reflexes finais.

    876

  • Concluses Parciais:

    Vale ressaltar as possibilidades que esta metodologia de ensino proporcionam,

    como destacado por Tourinho (2008) em seu artigo O ensino coletivo violo na educao

    bsica e em espaos alternativos: utopia ou possibilidade?, onde a autora descreve ser

    possvel e vlida a utilizao, do Ensino Coletivo de Violo como atividade de performance

    na escola de ensino regular. Essa discusso se torna mais vlida com a aprovao da Lei n

    11.769/2008, onde a msica se torna componente obrigatrio no currculo escolar. (Dirio

    Oficial da Unio, p.3)

    notado que a msica um bem que se faz necessrio a todos, como toda forma

    de arte (CRUVINEL, 2005). A msica fala direto aos sentidos do homem, como algo natural,

    independente de classe, idade ou etnia, vai alm do racional. No entanto, notvel o bem que

    ela propicia aos participantes do projeto, aqui analisado.

    Os resultados at aqui obtidos, atravs da reviso de literatura e atuao em

    campo demonstram que o Ensino Coletivo de Violo desenvolvido na Camerata de Violes

    de Barro Alto eficiente, tanto no aspecto musical quanto social. Cabe ressaltar a existncia

    de outros projetos no Brasil que vem conquistando timos resultados, com destaque para o

    Projeto Guri, criado em 1995 pela Secretaria de Cultura do Estado de So Paulo com o intuito

    de incluir socialmente pelo ensino musical coletivo crianas e jovens entre 8 e 18 anos em

    situao de risco (BRAZIL, 2004), atravs de formao de orquestras, corais e outros grupos

    musicais preocupando-se com um ensino de qualidade e acreditando no poder transformador

    da msica.

    Por meio do Ensino Coletivo do Projeto Camerata de Violes de Barro Alto pode-

    se notar uma transformao considervel na vida dos participantes do projeto, at mesmo dos

    professores, que antes no tinham condies de se manterem economicamente somente

    atravs do trabalho com a msica, e aps a vinculao ao projeto puderam ser reconhecidos

    como profissionais, algo at ento inexistente na cidade. Aps cinco anos de existncia do

    projeto, percebe-se tambm uma mudana considervel, no s no fazer musical dos alunos,

    mas tambm uma nova perspectiva em diversos outros aspectos da sua vida, tais como a

    interao no seu meio de convivncia, familiar, religioso, escolar, dentre outros. possvel

    tambm notar, por parte dos alunos, a ampliao da cultura musical, do repertrio musical e

    na apreciao, influenciando em novos conhecimentos, conceitos e gostos, no mais ficando

    restritos a gneros musicais difundidos nos meios de comunicao.

    877

  • A mudana de viso da comunidade em relao ao projeto algo bastante

    relevante e de muita importncia nesse processo de ensino musical. Isso se d devido ao fato

    de os benefcios, anteriormente citados, serem bastante visveis na sociedade, no s pelo

    processo de formao musical como tambm nas apresentaes da camerata em diversos

    locais e eventos culturais da cidade e regio. Dentre os quais podemos citar as apresentaes

    no lar de idosos de Barro Alto, exposio agropecuria de Barro Alto, Lar So Vicente de

    Paula em Goiansia, Centro Cultural de Goiansia, apresentao de Natal em Niquelndia,

    evento A voz do violo com a participao de Yamand Costa em Catalo e So Paulo,

    Pensar e Natal na Praa em Goinia, entre vrios outras apresentaes.

    Constata-se, parcialmente, que o processo de ensino-aprendizagem, desenvolvido

    por meio do Ensino Coletivo de Violo, que ocorre no projeto Camerata de Violes de Barro

    Alto, uma importante ferramenta de democratizao do acesso do ensino da msica

    comunidade. E alm de sua eficcia na aprendizagem musical, quando voltada para a

    realidade do educando e estando comprometida com a mudana social, se constitui tambm

    num importante meio de transformao sociocultural.

    878

  • Referncias

    BRASIL. Dirio Oficial da Unio, de 19 de agosto de 2008, p. 1 a 3. BRAZIL, Marcelo Alves. Camerata de Violes: A msica instrumental brasileira no universo da pedagogia musical. In: I ENECIM Encontro Nacional de Ensino Coletivo de Instrumento Musical. 2004, Gois. Anais... p. 58-59.1 CD-ROM. Cruvinel, Flavia Maria. Educao Musical e Transformao Social: uma experincia com ensino coletivo de cordas. Goinia: Instituto Centro-Brasileiro de Cultura, 2005. _____________________. O Ensino do Violo: estudo de uma metodologia criativa para a infncia. Monografia de Especializao em Msica Brasileira no Sculo XX Escola de Msica e Artes Cnicas, Universidade Federal de Gois, Goinia, 2001. GALINDO, Joo Maurcio. Instrumentos de arco e o ensino coletivo: a Construo de um mtodo. Dissertao de Mestrado. Escola de Comunicao e Artes, Universidade de So Paulo, 2000. MORAES, Abel. Ensino Instrumental em Grupo: uma introduo. Msica Hoje Revista de Pesquisa Musical, n.4, Departamento de Teoria Geral da Msica. EM-UFMG, 1997. SILVA, Walnia Marlia. Escola de msica alternativa: sua dinmica e seus alunos. Revista da Abem, Bahia, n. 03, p. 51-64, junho 1996. TOURINHO, Cristina. A motivao e o desempenho escolar na aula de violo em grupo: Influncia do repertrio de interesse do aluno. Ictus, n. 4, 2002, p. 156-27. WEISMANN, Cludio. Educao Musical: Aprendendo com o Trabalho Social de uma Orquestra de Violes. Dissertao de Mestrado. Universidade Presbiteriana Mackienzie, So Paulo, 2008.

    879

  • Ensino coletivo de instrumentos musicais: contribuies para o desenvolvimento psicossocial e musical dos alunos

    Tais Dantas Universidade Federal da Bahia PPGMUS

    [email protected]

    Resumo: Este artigo apresenta os resultados obtidos atravs de pesquisa de mestrado em Educao Musical, realizada na Universidade Federal da Bahia sob orientao do Professor Dr. Luiz Cesar Magalhes, onde foram investigados aspectos psicossociais presentes na aprendizagem do instrumento musical realizada em grupo. O estudo de caso foi o procedimento metodolgico adotado para a realizao da pesquisa, e envolveu professores do ensino coletivo de diversas reas e alunos do ensino fundamental do Colgio Adventista de Salvador, onde as aulas coletivas de instrumentos de cordas so oferecidas como uma das linguagens artsticas na disciplina Artes. Alm da observao das aulas, utilizou-se como instrumento de coleta a entrevista espontnea para professores e a entrevista focada para os alunos. A pesquisa bibliogrfica teve carter interdisciplinar e apoiou-se num referencial terico que ofereceu suporte aos parmetros investigados, dialogando epistemologicamente com as seguintes reas: educao musical, psicologia da educao, psicologia social e a psicologia da msica. Com a finalizao da pesquisa de campo foi realizado um confronto com importantes pontos do aprofundamento terico a respeito da metodologia do ensino coletivo, verificando-se a existncia de aspectos psicossociais nas aulas coletivas que possuem fundamental importncia para o desenvolvimento acadmico, social e pessoal do individuo, sendo eles: a importncia do convvio social como facilitador do processo motivacional no estudo do instrumento; a motivao extrnseca no processo de aprendizagem; o apoio de pais e familiares no processo motivacional; a referncia do outro como aspecto formador do autoconceito acadmico; e o desenvolvimento do sentido de grupo.

    Palavras-chave: ensino coletivo, aspectos psicossociais, aprendizagem musical.

    Apresentao

    O recorte de pesquisa aqui apresentado foca as contribuies que o ensino coletivo

    vem acrescentar ao desenvolvimento musical e de maneira especial ao desenvolvimento

    psicolgico e social do aluno enquanto ser humano. Distanciando-se por hora de temas como

    metodologia e tcnica do ensino em grupo de instrumentos musicais, este trabalho surge

    visando contribuir para a ampliao de trabalhos na rea, aprofundando os temas: motivao,

    auto-estima e interaes na aprendizagem musical em grupo.

    Abordar o ensino coletivo numa dissertao de mestrado e verificar suas inmeras

    contribuies educao musical gratificante, mas , sobretudo, um desafio quando se

    verifica o escasso nmero de publicaes a respeito do tema. O tema riqussimo, contudo,

    em nosso pas sua produo bibliogrfica ainda escassa, ao contrrio de outros pases como,

    880

  • por exemplo, os Estados Unidos onde a metodologia encontra-se consolidada e sua produo

    literria bastante vasta.

    O ensino coletivo destaca-se em relao aula tutorial por proporcionar ao aluno

    uma convivncia em grupo com o desenvolvimento de relaes interpessoais. Tal convivncia

    aliada aprendizagem musical vem acrescentar grandes contribuies ao desenvolvimento do

    aluno enquanto indivduo que est constantemente atuando na sociedade ao seu redor.

    Porque abordar aspectos psicossociais do ensino coletivo? Atravs da reviso

    bibliogrfica foi possvel delimitar aspectos relevantes presentes na metodologia coletiva. Os

    temas motivao, auto-estima e interaes vm sendo destacados na literatura sobre o ensino

    coletivo de forma direta e indireta, mesmo no sendo aprofundados, como se pde constatar:

    Motivao: Cruvinel (2003; 2005), Galindo (2000) e Vecchia (2008);

    Auto-estima: Cruvinel (2003; 2005) e Moraes (1997);

    Interao Social: Brito (2001 apud Vecchia, 2008, p. 14), Cruvinel (2003;

    2005), Moraes (1997) e Ying (2007).

    Pode-se considerar que estes aspectos fazem parte dos alicerces necessrios para que

    se desenvolva a aprendizagem. A educao musical deve ser vista no apenas como uma

    ferramenta para o fazer musical, mas tambm com a importncia que a prtica pedaggica

    traz em si: a responsabilidade de formar um ser humano capaz de intervir positivamente na

    sociedade em que vive. A msica na sociedade atual deve ser entendida como um poderoso

    instrumento de transformao, no s do indivduo, mas do ser humano social, que vive em

    sociedade, pertence a um grupo (CRUVINEL, 2005, p. 18).

    Esta pesquisa teve como objetivo principal investigar a aprendizagem de

    instrumentos musicais atravs do ensino coletivo focando principalmente a motivao, a auto-

    estima e o papel da interao na aprendizagem. O objetivo principal desta pesquisa

    desdobrou-se nos seguintes objetivos especficos:

    1. Verificar de que maneira as aulas coletivas contribuem para o desenvolvimento da

    motivao, da auto-estima e da interao social;

    2. Identificar e descrever os principais fatores que influenciam a motivao, a auto-

    estima e a interao social;

    3. Verificar de que forma estes parmetros esto presentes e interagem na relao

    aluno-professor e aluno-aluno;

    Abordagem metodolgica

    881

  • Este trabalho foi desenvolvido segundo duas linhas, a primeira sob o ponto de vista

    terico baseado na pesquisa bibliogrfica e a segunda a partir da anlise dos elementos

    colhidos em campo atravs de um estudo de caso exploratrio, constituindo-se numa pesquisa

    de natureza terico-emprica.

    O procedimento metodolgico determina a forma como os dados sero coletados e

    analisados, gerando assim as respostas pretendidas. Assim sendo, o estudo de caso foi

    escolhido como procedimento mais adequado a esta pesquisa, de acordo com seus objetivos e

    caractersticas metodolgicas gerais.

    Pode-se dizer que, em termos de coleta de dados, o estudo de caso o mais completo de todos os delineamentos [...], nos estudos de caso os dados podem ser obtidos mediante anlise de documentos, entrevistas, depoimentos pessoais, observao espontnea, observao participante e anlise de artefatos fsicos (GIL, 2008, p. 141).

    Quanto s tcnicas utilizadas para a coleta de dados, Gil (2008, p. 140) afirma que

    obter dados mediante procedimentos diversos fundamental para garantir a qualidade dos

    dados obtidos. A coleta de dados em campo se deu atravs da entrevista espontnea com

    professores do ensino coletivo e da entrevista focada com alunos de duas turmas do ensino

    fundamental II do Colgio Adventista de Salvador, alm da observao no sistemtica das

    aulas.

    Motivao, auto-estima e desenvolvimento social: pressupostos tericos.

    O aprofundamento terico dos aspectos investigados nesta pesquisa teve como

    objetivo obter um referencial sob o qual foram construdas as bases da pesquisa emprica,

    bem como a anlise e concluso dos aspectos investigados em campo. A seguir apresenta-se

    um breve enfoque terico dos parmetros investigados.

    Motivao

    A motivao nas aulas coletivas de instrumentos musicais vem sendo destacada por

    diversos estudos realizados na rea, destacando-se Cruvinel (2005), Moraes (1995 e 1997),

    Galindo (2000), Tourinho (1995), Silva (2008), Oliveira (1998 e 2008), entre outros.

    Dar os primeiros passos na msica a partir do ensino coletivo extremamente

    motivante, Oliveira (2008, P. 1) acredita que o aprendizado musical mais agradvel quando

    feito em grupo, e as razes para isto encontram-se no fato de que o aluno compartilha suas

    dificuldades com os colegas, o aluno se sente parte de uma orquestra, e a qualidade musical

    882

  • maior quando comparado ao estudo individual. Para Moraes (1997, p. 71) a motivao e a

    interao social so os elementos apontados como os grandes responsveis pelo incremento

    do aprendizado musical.

    Segundo Nunes e Silveira (2009, p. 162) uma primeira aproximao motivao,

    referente a qualquer atividade humana, vem da prpria etimologia da palavra, oriunda do

    verbo latino movere, que derivou nosso termo, semanticamente aproximado, motivo. A

    motivao, presente em qualquer atividade humana, determina o ponto de partida da execuo

    de um determinado ato. Tapia e Fita (2006, p. 77), definem a motivao como um conjunto

    de variveis que ativam a conduta e a orientam em determinado sentido para poder alcanar

    um objetivo. De acordo com O'Neill e MCpherson et al (2002, p. 31)

    As teorias atuais vem a motivao como uma parte integrante da aprendizagem que auxilia os alunos na aquisio da gama de comportamentos adaptativos que ir proporcionar-lhes a melhor chance de alcanar seus prprios objetivos pessoais.

    Auto-estima

    Qual a importncia de se abordar auto-estima no campo do ensino coletivo? O tema

    tem sido alvo de diversos enfoques na rea da psicologia, sobretudo no campo da educao,

    sobretudo, no campo da educao se coloca como um aspecto de extrema importncia para os

    processos de aprendizagem. Apesar da complexidade que envolve tal aspecto, verifica-se que

    a produo bibliogrfica a respeito do tema tornou-se bastante abrangente, como constata

    Moyss (2007, p. 17-18) existe certo modismo em relao auto-estima, contudo, os estudos

    e as pesquisas no campo do autoconceito e da auto-estima vo alcanando refinamentos cada

    vez maiores, ainda que com enfoques e concepes diferentes.

    A relevncia de entender os mecanismos formadores da auto-estima focando os

    processos de aprendizagem pertinente ao ensino coletivo de instrumentos musicais por se

    tratar de um ambiente onde o indivduo refora suas relaes interpessoais, contribuindo para

    seu desenvolvimento psicossocial, acarretando em ganhos para a aprendizagem musical.

    Diante da complexidade do tema, esta pesquisa foi orientada por determinados parmetros

    voltados para os processos de ensino e aprendizagem bem como s relaes desenvolvidas

    nestes processos, focando o autoconceito acadmico como parte integrante da formao da

    auto-estima.

    Procurando entender a relao existente entre autoconceito e auto-estima nos

    apoiamos na explicao de Moyss (2007, 27), segundo a autora a auto-estima representa o

    883

  • nvel de satisfao que a pessoa sente quando se confronta com o seu autoconceito. A auto-

    estima diz respeito ao julgamento pessoal, positivo ou negativo, que a pessoa faz de si mesma,

    em termos prticos, a auto-estima se revela como a disposio que temos para nos ver como

    pessoas merecedoras de respeito e capazes de enfrentar os desafios bsicos da vida

    (MOYSS 2007, 19). Guilhard (2002, 12) enfatiza aspectos relacionados s interaes sociais

    que contribuem para a formao da auto-estima:

    Auto-estima produzida por uma histria de reforamento positivo social, em que a pessoa tem seus comportamentos reforados pelo outro; [...] Auto-estima s se desenvolve a partir da insero da pessoa num contexto social e esse desenvolvimento proporcional capacidade do meio social (dos pais, famlia etc.) de prover reforadores positivos para seus membros (filhos, por ex.). (GUILHARD, 2002, 12)

    No campo educacional a auto-estima tem sido abordada com um fator que influencia

    no rendimento escolar. Como coloca Schunk (1990) citado por Senos (1997, 01), alunos que

    se sentem seguros das suas capacidades de aprendizagem e com sentimento geral de

    competncia tendem a estar mais motivados para as tarefas e logo obtm melhores resultados,

    fato este que contribui para a elevao de sua auto-estima, ou seja, alunos com uma atitude

    positiva face s suas tarefas escolares, tm na realidade melhores resultados e

    conseqentemente, um autoconceito acadmico reforado (SENOS e DINIZ 1998, 02).

    A interao e o desenvolvimento musical e social dos alunos

    A interao social proporcionada pela aprendizagem em grupo caracteriza uma

    forma de convvio social, fazendo com que a aprendizagem musical passe a ter outras

    funes, alm o conhecimento da linguagem musical. A experincia em grupo significa uma

    grande aquisio no desenvolvimento social do aluno. A turma de ensino coletivo de

    instrumentos representa um grupo social, onde cada membro possui atribuies, papeis

    definidos assim como em sociedade, os indivduos aprendem a respeitar suas prprias

    limitaes e as dos outros. Ortinz, Cruvinel e Leo (2004, p. 61) afirmam que

    Atravs do ensino coletivo de msica, as relaes interpessoais podem surgir e serem trabalhadas, pois podem proporcionar ao indivduo a capacidade de se ver inserido em um grupo e analisar seu prprio papel, sua atuao e conseqncia de suas aes para os demais membros e para o grupo como todo.

    Em estudo a respeito das relaes existentes entre msica, comportamento social e

    relaes interpessoais, Ilari (2006) concluiu que a msica tem um papel de destaque no

    884

  • desenvolvimento das relaes entre os indivduos. O estudo revelou que entre os usos

    distintos da msica no contexto das relaes interpessoais, a msica exerce uma funo de

    facilitadora de atividades que promovem a aproximao de indivduos, como fazer parte de

    um coral, um conjunto instrumental ou assistir a um concerto (ILARI, 2006, p. 197).

    Em sua atual pesquisa Condessa (2010) levanta diversos fatores que contribuem para

    a motivao como fator determinante para a continuidade nos estudos musicais. Segundo a

    autora os fatores ambientais possuem duas categorias relacionadas com a motivao do aluno:

    as pessoas e o contexto. Inseridos na primeira categoria, os pais e professores representam

    grande contribuio para a motivao de crianas e adolescentes para aprender. Nesta

    categoria tambm se destacam os pares, ou seja, os amigos e colegas. Segundo a autora,

    dentre os fatores que influenciam na motivao para aprender diversos contextos de

    aprendizagem esto: a opinio dos colegas, o sentimento de pertencer a um grupo, a

    formao da identidade entre os amigos, a escolha de valores e os tipos de comportamentos

    (CONDESSA, 2010, p. 655).

    Resultados e discusses

    Ao longo da pesquisa procurou-se verificar de que maneira as aulas coletivas

    contribuem para o desenvolvimento da motivao, da auto-estima e para o desenvolvimento

    das interaes entre alunos. Alm de verificar quais fatores interferem nestes aspectos e se h

    contribuies efetivas para a aprendizagem musical.

    No ensino coletivo diversos fatores contribuem para a motivao do aluno, como a

    oportunidade de aprender em conjunto, o fato de sentir-se parte de um grupo musical, a

    atuao e o estmulo do professor, e a sonoridade do grupo. Contudo, o fator que mais se

    destaca por contribuir para a motivao dos alunos, segundo os mesmos, a convivncia com

    os colegas. Alm deste aspecto, a presena de outros alunos influencia na busca de

    recompensas externas e na valorizao social, incentivando os alunos a buscarem sucesso na

    realizao das tarefas. A motivao extrnseca foi evidenciada na expectativa de

    reconhecimento, por parte do grupo, da capacidade individual do aluno de executar um

    instrumento, alm da busca pelo xito e auto-valorizao entre os alunos.

    Por se tratar de um trabalho voltado para a educao musical, no que diz respeito

    formao da auto-estima, esta pesquisa debruou-se especialmente sobre o autoconceito

    acadmico, relacionado com a percepo do aluno diante de seu desempenho escolar, e que

    tem ligao direta com a formao da auto-estima.

    885

  • Foi possvel constatar que o ensino coletivo proporciona um ambiente onde os alunos

    podem se observar e fazer comparaes em relao ao seu desempenho no instrumento. Nas

    interaes ocorridas na sala de aula esto presentes importantes fatores que contribuem para a

    formao do autoconceito do aluno. Alm dos resultados, das avaliaes e da opinio do

    professor, entre outros aspectos, um dos fatores que contribui para esta construo, a

    comparao com outros colegas que servem como parmetro, uma vez que os alunos sempre

    esto realizando observaes entre si. Este parmetro naturalmente no existe numa aula

    individual. O que mais chama a ateno nesta anlise que, muitas vezes, o aluno ao

    considerar que seu desempenho inferior ao do colega interpreta tal fato como um desafio,

    levando-o a se esforar mais para atingir o mesmo nvel. Em uma primeira anlise

    poderamos supor que a comparao poderia gerar falta de estmulo para aqueles alunos que

    consideram seu desempenho inferior em relao aos demais. Contrariamente, este evento,

    muitas vezes, pode servir como um impulso e um incentivo a mais para obter um melhor

    desempenho no instrumento, surgindo como uma forma de manuteno e proteo da auto-

    estima, corroborando a mesma idia a respeito da motivao.

    Contudo, diante de tais percepes da imagem do outro preciso salientar que este

    fato precisa ser considerado pelo professor, uma vez que dependendo da interpretao do

    aluno estas observaes podem ser convertidas numa falta de estmulo para os estudos.

    Foi possvel verificar que entre os colegas tendem a ocorrer certas formas de

    expresso apoiadas em crticas e rtulos, que, muitas vezes, se projetam na capacidade de

    execuo e de aprendizagem do instrumento musical, contudo as crticas parecem no

    influenciar de maneira to negativa a motivao e a auto-estima do aluno. Observou-se que

    quando os alunos se deparam com as crticas dos outros colegas, os mesmos se sentem mais

    motivados para superar as dificuldades e continuar o estudo do instrumento. Mesmo que

    grande parte dos alunos tenha uma reao positiva em relao s crticas, esta observao no

    se estende indiscriminadamente a todos os alunos, portanto, ressalta-se a importncia do papel

    do professor na mediao das relaes interpessoais para que as mesmas se tornem inclusivas

    e acolhedoras.

    O desempenho e os resultados obtidos nas aulas de msica possuem relao direta

    com o desenvolvimento da auto-estima, e vice-versa. Pois, medida que os alunos percebem

    que so capazes de realizar uma tarefa com xito, tendem a se sentir mais motivados, e como

    conseqncia surgem melhores resultados, o que contribui para a elevao da auto-estima

    (SCHUNK apud SENOS, 1997, p. 1).

    886

  • Diante de todos os atores investigados e de suas interaes na aprendizagem coletiva,

    surgiu um fator de grande importncia no processo de aprendizagem musical: o apoio e

    incentivo dos pais e familiares. Observou-se que existe uma forte relao entre o apoio dos

    pais e a percepo positiva de desempenho entre os alunos: aqueles alunos que recebem

    incentivos dos pais tendem a afirmar possuir um bom desempenho nas aulas de msica.

    Em relao ao estudo da auto-estima, ressalta-se que os parmetros aqui investigados

    no so suficientes para concluir as investigaes sobre auto-estima no mbito do ensino

    coletivo, o tema merece enfoque em pesquisas futuras e seu aprofundamento no que diz

    respeito ao ensino da msica.

    O estudo da msica representa um fator significativo no desenvolvimento do

    comportamento social, proporcionando, alm da educao musical, a criao de ambientes

    interdisciplinares contribuindo para a formao social do indivduo. Segundo Cruvinel (2005,

    p. 25), o processo de socializao, no contexto do ensino coletivo, permite ao indivduo

    conhecer de forma crtica e sensvel a realidade social em que est inserido, bem como

    vivenciar novas experincias tanto no mbito individual quanto coletivo. Quando apreciada a

    msica pode ser vista apenas como uma forma de entretenimento, porm, o estudo da msica

    ou de um instrumento interfere de forma positiva no desenvolvimento cognitivo e intelectual

    do indivduo, e, especialmente no desenvolvimento social, quando realizado de forma

    coletiva.

    A pesar do convvio social tambm ser apontado como fator que contribui para a

    motivao dos alunos, o fato de reunir um grupo de pessoas para ministrar aulas de

    instrumentos musicais no significa que a interao social vai existir. Este fato foi destacado

    por alguns professores, que chamaram ateno para a atuao do professor como agente

    facilitador do desenvolvimento das relaes sociais entre alunos. Como mediador o professor

    deve orientar os alunos no sentido de desenvolverem um ambiente amistoso e acolhedor em

    sala de aula.

    Apesar de a pesquisa com os alunos ter sido realizada em um ambiente escolar onde

    os alunos convivem em outras disciplinas, foi possvel constatar que a msica possibilita

    acrscimos no desenvolvimento das relaes interpessoais. Principalmente pelo fato de haver

    um envolvimento em torno da realizao de uma mesma tarefa, proporcionando aos alunos o

    sentido de grupo, fazendo com que os mesmos percebam a importncia da participao

    individual e coletiva para o crescimento grupal.

    Portanto, diante dos aspectos investigados, observou-se que o ensino coletivo

    contribui de maneira significativa para o desenvolvimento da motivao, da auto-estima e das

    887

  • relaes interpessoais entre os sujeitos envolvidos, o que traz benefcios tanto para o processo

    de aprendizagem musical quanto para o desenvolvimento psicossocial do indivduo.

    Destacando-se o importante papel do professor como mediador das relaes e fomentador de

    tais aspectos, acrescentando-se s relaes aluno-aluno e professor-aluno o envolvimento da

    famlia como parte integrante do processo de aprendizagem. Contudo, no se pode deixar de

    destacar que o desenvolvimento dos aspectos aqui investigados dependente de inmeras

    outras variveis que merecem enfoque em futuras pesquisas, tais como: a idade dos sujeitos, o

    contexto social e econmico em que so desenvolvidas as aulas coletivas, os propsitos e

    objetivos das aulas, o desenvolvimento de competncias e a formao por parte dos

    professores, entre outros.

    E por fim, espera-se que este trabalho venha contribuir de forma efetiva para o

    desenvolvimento do ensino coletivo de instrumentos musicais enquanto meio de incluso

    musical, e que a metodologia possa agregar formao humana fatores positivos no

    desenvolvimento de uma nova sociedade.

    888

  • Referncias

    CONDESSA, Janana. A motivao dos alunos para continuar seus estudos em msica. In: Anais do VI Simpsio Nacional de Cognio e Artes Musicais. VI Simpsio Nacional de Cognio e Artes Musicais, 651-662. Rio de Janeiro, 2010. CRUVINEL, Flvia Maria. Educao musical e transformao social: uma experincia com ensino coletivo de cordas. Goinia: Instituto Centro-Brasileiro de Cultura, 2005. ______. Efeitos do ensino coletivo na iniciao instrumental de cordas: a educao musical como meio de transformao social. 2003. 217 p. Dissertao (Mestrado). Mestrado em Msica na Contemporaneidade, Escola de Msica e Artes Cnicas, Universidade Federal de Gois, Goinia, 2003. GALINDO, Joo Maurcio. Instrumentos de arco e ensino coletivo: A construo de um mtodo. 2000. 180 p. Dissertao (Mestrado). Escola de Comunicao e Artes, Universidade de So Paulo, So Paulo, 2000. GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 6. Ed. So Paulo: Atlas, 2008. ILARI, Beatriz. Msica, comportamento social e relaes interpessoais. Psicologia em Estudo, Maring, v. 11, n. 1, p. 191-198, jan./abr. 2006. GUILHARDI, Hlio Jos. Auto-estima, autoconfiana e responsabilidade. TCR. Disponvel em: < http://www.terapiaporcontingencias.com.br/pdf/helio/Autoestima_conf_respons.pdf>. Acesso em: 26 de abr. de 2009. ILARI, Beatriz. Msica, comportamento social e relaes interpessoais. Psicologia em Estudo, Maring, v. 11, n. 1, p. 191-198, jan./abr. 2006. MORAES, Abel. O ensino do violoncelo em grupo: Uma proposta para pr-adolescentes e adolescentes. 1995. 77 p. Monografia (Especializao em Educao Musical). Escola de Msica, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1995. MOIYSS, Lcia. A auto-estima se constri passo a passo. Campinas: Papirus, 2005. NUNES, Ana Ignez Belm Lima Nunes; SILVEIRA, Rosemary do Nascimento. Psicologia da aprendizagem: processos, teorias e contextos. Braslia: Lber Livro, 2009. OLIVEIRA, Enaldo. O Ensino coletivo dos instrumentos de corda: Reflexo e prtica. 1998. 202 p. Dissertao (Mestrado). Escola de Comunicaes e Artes, Universidade de So Paulo, So Paulo, 1998. ______. Musica nas escolas. PlanetaBandas. Disponvel em:< http://www.planetabandas.com.br/novo/index.php?option=com_content&view=article&id=52:saiba-um-pouco-mais&catid=1:latest-news&Itemid=60> Acesso em: 22 de mar. de 2009. O'NEILL, Susan A; MCPHERSON E. Gary. Motivation. In: PARNCUTT, Richard; MCPHERSON. Gary E. The science and psychology of music Performance: creative strategies for teaching and learning. New York: Oxford University Press, 2002.

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    890

    http://www.scielo.oces.mctes.pt/scielo.php?pid=S0870-82311998000200006&script=sci_arttexthttp://www.scielo.oces.mctes.pt/scielo.php?pid=S0870-82311998000200006&script=sci_arttext

  • Ensino Coletivo de Violo: Desafios e Possibilidades

    Fbio Amaral da Silva S Colgio Estadual Joo Bnnio

    Instituto de Educao de Gois [email protected]

    Resumo: O objetivo deste trabalho apresentar a metodologia utilizada em um projeto de ensino coletivo de violo, bem como os desafios e as possibilidades de se trabalhar com este sistema de ensino. Para isso, realizou-se uma breve pesquisa bibliogrfica sobre o tema a fim de verificar as experincias exitosas ou no desta forma de ensino. Em um segundo momento, apresentamos o projeto de violo realizado em duas escolas pblicas da cidade de Goinia, em que as aulas so ministradas com base no sistema coletivo de ensino. A partir da discusso terica e da experincia prtica, conclumos no que se refere s possibilidades, que o sistema de ensino coletivo proporciona o acesso ao aprendizado musical a maior quantidade de alunos, alm disso, notou-se que essa metodologia tem maior desempenho quando aplicada para alunos iniciantes. No que se refere aos desafios, relatamos sobre a necessidade de um espao fsico adequado para a realizao das aulas, alm disso, a dificuldade de acesso aos instrumentos, por alunos de baixa renda. Notamos que os alunos participantes do projeto tiveram bons rendimentos nas disciplinas do ensino regular, alm de melhora na auto-estima.

    Palavras-chave: Ensino Coletivo, Violo, Metodologia.

    Breves consideraes sobre o ensino coletivo de instrumentos musicais

    O ensino coletivo de instrumentos musicais uma proposta de trabalho que vem

    sendo adotada por vrios professores de msica em todo pas. Este mtodo tem como objetivo

    principal, fornecer o aprendizado musical uma maior quantidades de alunos. Essa proposta

    de ensino vem ganhando novos adeptos a cada ano. (TEIXEIRA, 2008)

    Segundo Cruvinel (2004), o incio do processo de ensino coletivo de instrumentos

    musicais ocorre na Europa no sculo XIX, e mais tarde, ganha adeptos nos Estados Unidos.

    No Brasil, esse mtodo de ensino de instrumentos musicais chega em 1950, por meio do

    ensino coletivo musical em bandas de msica, em fbricas do interior paulista.

    A aprendizagem do ensino coletivo apresenta pontos positivos e negativos no que se

    refere ao aprendizado. Conforme constata Cruvinel1, alguns pontos positivos so a

    cooperao, motivao, disciplina, desinibio do aluno, desenvolvimento mais rpido de um

    repertrio musical, melhora da afinao pelo fato dos alunos tocarem em grupo, bem como o

    desenvolvimento do ouvido harmnico, tudo isso levaria a uma melhora na auto-estima e

    consequentemente a uma baixa desistncia dos alunos.

    1 Para maior aprofundamento de o tema conferir o livro Educao Musical e Transformao Social de Flavia Maria Cruvinel.

    891

  • No que se refere aos pontos negativos a autora constata, por meio de entrevistas com

    professores de msica, por exemplo, a dificuldade de manter uma turma homognea, a

    medida que cada aluno tem seu ritmo de aprendizado; a impossibilidade da utilizao do

    ensino coletivo por um perodo superior a dois anos, pois o aluno deveria ser encaminhado ao

    ensino individualizado para ter um desenvolvimento tcnico musical mais satisfatrio, o que

    no seria possvel no ensino coletivo.

    Nesse sentido, a resistncia de alguns professores ao ensino coletivo de instrumento

    est relacionada influncia do pensamento cartesiano caracterizado pela busca do

    virtuosismo para alcanar a melhor qualidade tcnica. (Cruvinel, 2004)

    Sobre essa questo Teixeira nos diz:

    Essa viso do msico instrumentista que deve ser um virtuose prevalece nos Conservatrios e Escolas de Msica atualmente, o que acaba por limitar o acesso ao ensino instrumental, j que as aulas devem ser individuais para elevar ao mximo a tcnica de cada msico. (TEIXEIRA, 2008. p. 9)

    Diante das breves consideraes sobre o ensino coletivo, o que se verifica uma

    diversidade de opinies acerca dos pontos positivos e negativos do processo de ensino

    aprendizagem de instrumentos musicais. Embora no haja um consenso sobre o xito deste

    processo de ensino notvel o crescimento de experincias que utilizam essa metodologia

    com diversos instrumentos musicais. O violo um dos instrumentos por meio do qual o

    ensino coletivo pode ser desenvolvido, na prxima parte destacaremos algumas experincias

    de ensino coletivo com este instrumento.

    Algumas experincias de ensino coletivo de violo no Brasil

    Realizamos uma pesquisa que trata de experincias de ensino coletivo com o

    instrumento violo, a fim de tomar conhecimento dos projetos bem sucedidos, j existentes na

    atualidade.

    Podemos dizer que o violo um instrumento que se adqua muito bem ao contexto

    musical brasileiro. Primeiramente por sua popularidade, pelo fato de ser um instrumento

    muito conhecido e usado em praticamente toda msica popular brasileira. Em segundo lugar

    por ser um instrumento de baixo custo, tanto para a aquisio quanto para a manuteno do

    hardware. Alm disso, o violo verstil, oferecendo diversas possibilidades harmnicas e

    meldicas.

    892

  • Dentre algumas iniciativas de ensino coletivo de violo que vm se destacando no

    cenrio nacional, podemos citar:

    O projeto Afinando as Cordas realizado na cidade de So Joo da Boa Vista

    no interior de SP, coordenado pelo professor Joo Brasileiro, o objetivo do

    projeto o ensino coletivo do violo erudito.

    A Oficina de Violo na UFBA com a Professora Cristina Tourinho, onde se

    trabalha o ensino coletivo de violo, tanto com a utilizao do repertrio

    clssico como do popular;

    Projeto Guri da Secretaria do Estado de So Paulo, em que o projeto de

    ensino coletivo realizado em vrios plos em diferentes cidades, o repertrio

    preponderante a msica popular brasileira;

    Encontramos tambm projetos socioculturais com orquestras jovens de quatro

    cidades: Nova Vida em Catalo GO; Camerata de Violo Barro Alto GO; Sinfonia

    do Serrado Niquelndia GO e Orquestra Jovem Lar das Crianas CIP (Congregao

    Israelita Paulista - SP), coordenados pelo violonista e Maestro Claudio Weizmann. O Maestro

    Weizmann desenvolveu uma metodologia de ensino coletivo de violo e escreve os arranjos

    para as orquestras, abrangendo o repertrio clssico e popular. Nesses projetos, os professores

    so oriundos da prpria regio e o Maestro coordena-os distncia.

    Mesmo com alguns professores militando nessa linha de ensino h alguns anos,

    ainda h pouco material didtico voltado principalmente para o processo de iniciao atravs

    do ensino coletivo com a utilizao da msica popular brasileira, pois no fcil encontrar

    livros didticos e arranjos de canes populares escritos e direcionados para esse fim, nesse

    sentido h no presente momento uma falta de repertrio que trabalhe a iniciao no

    instrumento musical atravs da proposta de ensino coletivo (VIEIRA, 2007, p. 2)

    Embora haja professores atuando em escolas e projetos com a utilizao do ensino

    coletivo, existe pouca divulgao sobre a metodologia e o material didtico criado ou adotado

    por esses professores. Na maioria das vezes, os projetos e os resultados so divulgados, mas a

    metodologia aplicada no. Tal situao pode se configurar em uma barreira para que novos

    professores possam aderir ao mtodo de ensino coletivo.

    O objetivo principal deste texto relatar a experincia e a metodologia utilizada no

    ensino coletivo de violo em duas escolas pblicas na cidade de Goinia, onde se utiliza

    prioritariamente o repertrio da msica popular brasileira conforme ser apresentado abaixo.

    893

  • A experincia do ensino coletivo de violo

    O projeto de ensino coletivo de violo nasceu com a inteno de levar at os alunos

    da rede pblica matriculados em escolas de ensino regular o ensino musical atravs do

    aprendizado do violo. Definiu-se pela utilizao da msica popular brasileira como eixo

    principal de trabalho, objetivando o conhecimento e o fortalecimento da cultura do nosso pas.

    A maioria dos jovens no Brasil no conhecem grande parte dos clssicos da msica

    popular brasileira, artistas que fazem parte de nossa identidade cultural e poltica como: Tom

    Jobim, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Vincius de Moraes, Chico Buarque, Geraldo Vandr e

    outros. Partimos tambm da concepo, segundo a qual, acredita-se no poder da msica

    como agente transformador do ser humano, uma forma de expresso e interao que deveria

    ser oferecida a todas as pessoas. (TOURINHO, 2008, p. 1).

    A proposta do ensino coletivo de violo nasceu em uma escola pblica na periferia

    de Goinia, onde o violo era usado como recurso didtico para as aulas de msica do ensino

    regular, os alunos passaram a solicitar ao professor que os ensinassem a tocar o instrumento.

    A partir de ento surgiu o projeto, optou-se pelo ensino coletivo devido a alta demanda de

    alunos interessados em aprender a tocar o violo, sendo que havia apenas um professor para

    atender todos os alunos na escola.

    As aulas coletivas de violo tiveram incio em maro de 2005, sendo aplicadas

    inicialmente em apenas uma escola da periferia da cidade. Constatou-se que havia um grande

    interesse, mas que muitos no puderam participar, pois no tinham condies financeiras de

    comprar o instrumento. Mesmo assim o projeto atendeu por volta de quarenta alunos no

    primeiro ano. As turmas foram divididas da seguinte forma: seis turmas no perodo matutino e

    seis no perodo vespertino, sendo que o tempo era de cinquenta minutos. Cada turma possua

    de trs a seis alunos, sendo que era ministrada apenas uma aula por semana. Identificaremos

    esta escola como Escola A.

    Depois de trs anos de execuo do projeto, no ano de 2008 ele foi estendido outra

    escola da rede pblica da mesma cidade, agora na regio central. Os bons resultados foram os

    motivos pelos quais houve a ampliao do projeto.

    No primeiro ano de implementao do projeto na segunda escola, a quantidade de

    alunos por turma era de oito a dez alunos e o tempo de durao foi ampliado para uma hora e

    quinze minutos. Foram atendidos nesse primeiro ano mais de cinquenta alunos.

    Identificaremos esta escola como Escola B.

    894

  • Relatamos sobre a implementao do projeto nas escolas A e B agora ser descrito os

    desafios e as mudanas que houveram do incio do projeto at agora, isto , seis anos aps o

    inicio do projeto na Escola A e trs anos na Escola B e como o projeto est sendo

    executado no ano de 2010.

    No que se refere ao tempo, verificou-se que 50 minutos eram insuficientes para

    alcanar um bom rendimento de aprendizado, desse modo, verificou-se a necessidade de

    ampliao do tempo das aulas. No ano de 2006 ampliou-se o tempo de aula para uma hora e

    quinze minutos. Em 2008 quando o projeto foi implantado na Escola B as primeiras turmas

    j foram iniciadas com o tempo de uma hora e quinze minutos. No entanto, o tempo ainda no

    era suficiente e a partir de 2009 ampliou-se o tempo de aula tanto na Escola A quanto na

    Escola B para uma hora e trinta minutos.

    No quesito aulas semanais, no ano de 2009 e 2010 na Escola B as turmas do

    perodo matutino tiveram duas aulas por semana de uma hora e 30 minutos, sendo que os

    alunos do perodo vespertino da Escola B e todos os alunos da escola Escola A

    continuaram tendo apenas uma aula por semana, devido impossibilidade do professor

    ministrar duas aulas semanais em todas as turmas das duas escolas. Verificou-se que o

    desempenho de aprendizagem dos alunos que tiveram duas aulas semanais foi superior ao dos

    que tiveram apenas uma.

    Constatou-se, assim, que prefervel para o mtodo de ensino coletivo de violo

    duas aulas semanais de aproximadamente 1 hora e 30 minutos. Tal constatao confirma a

    experincia de professores, como Flvia Cruvinel, que considera ideal destinar duas aulas por

    semana para o ensino coletivo.

    O projeto realizado no contra turno escolar, ou seja, os alunos do perodo

    vespertino participam do projeto no perodo matutino, os alunos do perodo matutino

    participam do projeto no perodo vespertino e os alunos do perodo noturno podem escolher

    em qual perodo participar.

    Infelizmente h uma maior evaso dos alunos do ensino mdio no projeto, isso

    ocorre, principalmente, devido insero no mercado de trabalho, onde grande parte

    consegue seu primeiro emprego, no sendo mais possvel frequentar as aulas.

    Iremos apresentar abaixo a metodologia utilizada no projeto de ensino coletivo de

    violo, a qual foi criada a partir da experincia vivenciada pelo professor na Escola A e que

    mais tarde foi implementada na Escola B. Vale ressaltar que utilizado como material

    didtico uma apostila de violo, criado em 2003 pelo professor, voltado inicialmente para

    ministrar aulas de violo particulares e individuais.

    895

  • A apostila dividida em trs volumes, sendo que o volume 1 utilizado por todos os

    alunos do projeto. Este volume privilegiava, em 2003, to somente o sistema de msicas

    cifradas e a nomenclatura dos ritmos na pauta, buscando assim um conhecimento amplo dos

    ritmos trabalhados pela mo direita no violo popular. Com a utilizao da apostila de violo

    no projeto de ensino coletivo, se faz necessrio um constante processo de atualizao da

    mesma, que ao final de cada ano revista, modificada e ampliada pelo professor. Os volumes

    2 e 3 destinam-se exclusivamente ao desenvolvimento do repertrio de msicas populares

    cifradas.

    Atualmente a apostila j contempla alm da proposta inicial, a leitura e a escrita

    musical tradicional, onde se inseriu os arranjos instrumentais2 a duas, a trs e a quatro vozes,

    de canes populares brasileiras, escritas especificamente para o projeto de ensino coletivo,

    como tambm a escrita de adaptaes de msicas clssicas conhecidas para duas vozes.

    utilizada ainda uma leitura musical diferenciada para algumas melodias, onde se

    escreve o nome das notas por extenso, sendo indicada a nota grave seguida por uma vrgula,

    nota mdia sem nada e a nota aguda seguida por uma aspa, sendo que a diviso rtmica no

    indicada, pois os alunos j conhecem a ritmo da msica ou passam a conhecer antes de toc-

    la. Este sistema empregado ao invs da tradicional tablatura, pelo fato do aluno poder ler e

    tocar, sabendo qual nota est sendo executada no brao do violo, o que no acontece no

    mtodo anterior.

    O repertrio escolhido para a montagem da apostila foi baseado em dois aspectos. O

    primeiro refere-se questo do desenvolvimento tcnico progressivo, onde se comea

    primeiramente com ritmos dedilhados, como, cano, balada e valsa, para que os alunos

    possam desenvolver a sonoridade dos acordes, simultaneamente com o acompanhamento da

    voz, para depois entrarem nas batidas como marcha, Guarnia, Toada, Reggae, Rock e assim

    progressivamente. Alm disso, realiza-se a execuo de melodias fceis para que o aluno

    conhea, alm dos acordes, as notas no brao do violo.

    O segundo aspecto refere-se influncia das letras das msicas sobre o ouvinte, onde

    prope-se aos professores uma maior seleo das msicas que so trabalhadas na escola e na sala de aula, no proibindo simplesmente o uso dessa ou daquela msica, para desenvolver nos alunos uma apreciao musical consciente e crtica, formando assim, no mais um ouvinte passivo, mas um indivduo que possa fazer uma reflexo crtica de todo material que l, ouve ou assiste no seu dia a dia. (S, 2003, p. 199)

    2 Alguns arranjos instrumentais foram realizados por um msico especialista nesta rea.

    896

  • No projeto utilizado um repertrio, buscando fornecer aos alunos uma viso ampla

    das possibilidades harmnicas e meldicas do violo, sendo que no decorrer do ano os

    prprios alunos sugerem e contribuem para a escolha do repertrio. J ocorreram eventos

    onde o projeto apresentou msicas caipiras, bossa nova, samba, Rock e Reggae mostrando ao

    pblico um repertrio bastante variado em uma nica apresentao.

    Nas duas escolas em que o projeto realizado no h testes de seleo para novos

    alunos, pois acredita-se que todos possam aprender, bastando para isso disciplina e estudo.

    feita apenas a inscrio do aluno sendo que as aulas so gratuitas, ele escolhe dentre os

    horrios disponveis o que melhor atende s suas necessidades. Os alunos que dizem ter

    algum conhecimento de violo so encaminhados para assistir uma aula dos alunos veteranos,

    para eles mesmos avaliarem se conseguem ou no acompanhar a turma existente ou se

    preferem ser matriculados nas turmas de alunos iniciantes.

    O espao fsico para a realizao do projeto um fator importante que pode facilitar

    ou dificultar o bom desenvolvimento das aulas. Na Escola A o projeto realizado na sala

    dos professores, que ao mesmo tempo a sala da coordenao pedaggica, sendo que no dia

    do projeto de violo os trs grupos compartilham o mesmo ambiente, o que muitas vezes

    acaba interferindo na concentrao dos alunos, o que pode comprometer o desempenho do

    aprendizado. J na Escola B o projeto tem uma sala especfica e isolada das demais salas e

    da coordenao da escola, o que favorece uma maior concentrao dos alunos e um melhor

    desenvolvimento das atividades.

    Uma experincia que vem sendo aplicada e alcanando bons resultados nas duas

    escolas a indicao dos alunos mais avanados como monitores, onde eles auxiliam os que

    apresentam uma maior dificuldade tcnica e tambm os que perderam alguma aula, pois como

    as aulas so coletivas, fica quase impossvel o professor repassar s para um aluno o contedo

    perdido.

    Nas aulas trabalha-se tanto o acompanhamento para a voz, atravs da cifra, quanto a

    execuo da melodia. Divide-se a turma em grupos, enquanto um grupo toca a melodia o

    outro executa o acompanhamento da msica. Trabalha-se o incio da leitura musical, o estudo

    de solos aprendidos de ouvido, alm de arranjos para at quatro vozes. J ocorreram dois

    recitais onde se apresentaram juntos os alunos das duas escolas, o que os tem motivado

    bastante.

    O grande desafio deste ano de 2010 na Escola B, foi experincia de montar

    turmas com mais de 20 alunos, devido grande procura. Embora houvesse receio de perder o

    897

  • rendimento de aprendizado no projeto, percebeu-se que no houve queda to significativa

    como se esperava, pois o desempenho das turmas permaneceu semelhante, se comparado ao

    das turmas formadas com at 10 alunos. Isso se d principalmente devido ao apoio dos alunos

    monitores, que auxiliam desde a afinao dos instrumentos como tambm durante as aulas.

    Um dado que vem corroborar a eficcia do projeto, como mtodo de iniciao

    musical, a grande quantidade de alunos que passaram pelo projeto e esto procurando um

    estudo musical mais profundo, com a insero em cursos tcnicos de msica em escolas

    especializadas, como tambm a atuao como msicos instrumentistas em bandas e Igrejas.

    Atualmente na Escola A existem 39 alunos que frequentam as aulas e na Escola

    B 773 alunos.

    Consideraes Finais

    J com seis anos de existncia, o projeto de ensino coletivo de violo se revela como

    uma possibilidade concreta de ensino para as escolas pblicas de ensino regular, verificou-se

    que o sistema melhor aproveitado quando direcionado para alunos iniciantes, num perodo

    aproximado de dois anos, mas o projeto tem experincias com turmas que ultrapassaram esse

    perodo e que continuam com um bom aproveitamento, pois os alunos esto em um mesmo

    nvel tcnico e com uma dedicao de estudo semelhante.

    O projeto demonstrou, nesses anos, vrios aspectos positivos alm do estudo e

    conhecimento musical, como a integrao e o desenvolvimento da auto-estima de todos os

    alunos que participam do projeto. Tem proporcionado o desenvolvimento da ateno,

    coordenao psicomotora e a disciplina dos alunos em todo contexto escolar. Esta melhora

    no desempenho dos alunos notada pelos professores e coordenao pedaggica.

    Com a msica, os alunos se tornam mais atuantes na escola, perdem a timidez e

    melhoram a convivncia e, por isso, alcanam um rendimento maior nos estudos.

    O projeto veio alegrar as duas escolas e mesmo nos dias em que no h aulas de

    violo, os alunos trazem o instrumento, fazem pequenas rodas, tocam e cantam durante o

    recreio, a msica transformou a rotina das duas escolas em que o projeto foi implantado.

    3 Um dos fatores que explicam a maior quantidade de alunos refere-se, primeiro, ao tamanho da escola, isto , uma escola de grande porte e, segundo, a participao da escola que adquiriu 11 violes que esto sendo emprestados aos alunos que no tem condies de comprar um violo.

    898

  • Referncias

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    899

  • Material didtico para Bateria e Percusso: levantamento bibliogrfico e elaborao de um material para o ensino coletivo desses

    instrumentos

    Rodrigo Gudin Paiva UNIVALI - Universidade do Vale do Itaja

    [email protected]

    Rafael Cleiton Alexandre UNIVALI Universidade do Vale do Itaja

    [email protected]

    Resumo: O presente artigo apresenta um relato de experincia sobre materiais didticos para bateria e percusso. Em uma primeira etapa, um levantamento bibliogrfico foi realizado, seguido de anlise, onde livros escritos por autores brasileiros e editados no Brasil, a partir do ano 2000, foram categorizados e questes sobre a forma e seus contedos foram levantadas. Este levantamento possibilitou identificar que o nmero de materiais didticos para bateria e percusso disponveis no mercado nacional aumentou significativamente nos ltimos anos, apontando para uma maior facilidade e acesso a materiais de boa qualidade que possam auxiliar professores e estudantes brasileiros na pesquisa e no estudo desses instrumentos. Em uma segunda etapa, um material didtico indito foi desenvolvido com a finalidade de estabelecer um dilogo efetivo com o professor e privilegiar o ensino coletivo e a prtica de conjunto, reunindo composies para bateria e percusso em grupo.

    Palavras-chave: Bateria e percusso, material didtico, ensino coletivo de instrumento.

    Introduo

    No Brasil de alguns anos atrs, professores e estudantes de msica

    encontravam muitas dificuldades para o ensino e para o estudo da bateria e da percusso

    brasileira, visto que a oferta de materiais didticos voltados para essa rea era muito

    escassa. Em razo dessa carncia, o ensino e aprendizado ficavam limitados ao uso de

    materiais estrangeiros ou apenas de gravaes em discos da poca.

    Quando tomei a deciso de me tornar msico profissional e l se vo quase trinta anos -, esbarrei na enorme dificuldade em conseguir material didtico que possibilitasse o meu aprimoramento. O que se via nas prateleiras especializadas eram mtodos e mais mtodos vindos de fora. Eram trabalhos voltados para o rock ou para o jazz e que davam nfase aplicao dos rudimentos de caixa da escola americana. Para um msico jovem interessado nos ritmos brasileiros, pouco ou nada havia. (BOLO, 2003, p. 5).

    Bateristas e percussionistas brasileiros sempre foram conhecidos por sua

    criatividade e, apesar das dificuldades em se conseguir materiais didticos no Brasil at

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  • por volta do final dos anos 80, esses msicos sempre buscaram alternativas para o seu

    aprendizado e desenvolvimento musical. Talvez essa caracterstica se deva forma de

    estudo e s condies de informao da poca.

    Segundo Rosas (2006), o msico brasileiro Arismar do Esprito Santo relata

    sua experincia:

    Comecei a tocar bateria em Santos, aos 17 anos. Aprendi tocando junto com meus discos: Som 3 (Toninho Pinheiro), Oscar Peterson Trio (Ed Thigpen), Quincy Jones (Grade Tate) e outros LPs de Trios (Tamba Trio, Zimbo Trio, Airto Moreira) (ROSAS, 2006, p. 49).

    Tocar junto com gravaes, tendo como um modelo o estilo de grandes

    msicos, uma prtica musical e de aprendizagem que ainda muito utilizada,

    inclusive pelas novas geraes, como o caso do baterista Cuca Teixeira. Ele relata que

    tocar junto com discos foi a sua grande formao, pois, com esse tipo de estudo pode-se

    desenvolver ritmo, musicalidade, e ajudar a simular uma prtica de conjuntoF1F.

    A partir dos anos 2000, com o maior acesso tecnologia, uma grande

    quantidade de materiais didticos surgiu no mercado brasileiro, pelas mais variadas

    formas de mdia, tais como: livros, livros que acompanham CDs ou DVDs, CD-ROMs,

    vdeos-aula e sites da internet. Ou seja, uma verdadeira revoluo aconteceu para o

    professor e o estudante de msica devido s novas alternativas tecnolgicas.

    Podemos afirmar, sem dvida nenhuma, que nos dias de hoje esse quadro

    mudou para melhor. A percusso e a bateria brasileira esto sendo registradas em livros

    didticos e de forma significativa, podendo contribuir para a educao musical. A

    principal questo a ser refletida no momento como os professores podem utilizar tais

    materiais?

    Primeira Etapa: Levantamento Bibliogrfico

    Primeiramente realizamos um levantamento das publicaes de autores

    brasileiros e editados no Brasil a partir dos anos 2000. Foram encontrados 28 livros

    destinados a essa rea, alm de revistas especializadas, CDs e DVDs didticos e

    inmeros sites na internet.F2F

    1 Depoimento do msico Cuca Teixeira em um workshop realizado na Casa da Cultura Dide Brando na cidade de Itaja em 15/03/2006. 2 Esta primeira etapa foi publicada na ntegra nos Anais do XII Encontro Regional da ABEM Sul, em 2009, sob o ttulo: A recente produo de materiais didticos para bateria e percusso no Brasil.

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  • Aps o levantamento e a anlise realizada, alguns problemas foram

    encontrados. Observamos que apesar de uma grande quantidade de ttulos disponveis

    no mercado atual, apenas 10% dessa produo est voltada para o ensino da bateria e da

    percusso de forma integradora. Ou seja, em sua grande maioria tais materiais didticos

    ainda no privilegiam o ensino coletivo desses instrumentos, mas sim, o ensino

    individual, existindo, portanto, uma lacuna com relao prtica de conjunto.

    Outro problema encontrado que os materiais didticos ainda so, em sua

    maioria, resultado de estudos baseados na vivncia do prprio autor, no sendo

    desenvolvidos, portanto, com uma metodologia clara de ensino ou um dilogo mais

    efetivo com o professor que poder utilizar esse material.

    No caso especfico da msica, encontramos obras que, mesmo sem pretenso explcita de se caracterizar como mtodo, apenas descrevem uma infinidade de atividades e exerccios que supostamente dariam conta do ensino e levariam ao aprendizado da matria. (TOURINHO, 1994, p.16).

    Tambm constatamos que 75% dos livros encontrados esto acompanhados de

    CDs, DVDs ou CD-ROMs. Portanto, julgamos ser uma tendncia do mercado atual os

    materiais estarem acompanhados de novas mdias, contendo udio ou vdeo.

    Este fator pode ser muitas vezes decisivo para a aquisio desses materiais, pois, (...) tocar junto com gravaes auxilia os msicos em geral, e inclumos aqui os autodidatas, a complementarem suas fontes de estudos (PAIVA; ALEXANDRE, 2009, p.4.).

    Outro aspecto relevante que 32% dos materiais didticos esto em formato

    bilnge, o que demonstra a inteno de atingir o mercado internacional. Consideramos

    que este aspecto possa contribuir na divulgao da percusso e da bateria brasileira de

    forma mais ampla, inclusive no exterior.

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  • 0%

    20%

    40%

    60%

    80%

    Bateria e percusso de forma integrada

    Livros que Acompanham CDs, DVDs ou CD-ROMFormato bilnge

    Figura 1 - Principais pontos encontrados na primeira etapa da pesquisa

    Tais constataes demonstram, portanto, uma grande evoluo na produo de

    materiais didticos na rea da bateria e da percusso brasileira, porm existem tambm

    alguns aspectos que merecem maior ateno por parte dos autores que pretendem

    contribuir mais amplamente para a rea da educao musical, principalmente no que diz

    respeito ao dilogo com o professor que atua com o ensino coletivo