encontro viver, envelhecer e aprender a jogar

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ENCONTRO 25 DE OUTUBRO DE 2014

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A série de encontros Viver, Envelhecer e Aprender a Jogar promove a integração entre os participantes do Trabalho Social com Idosos – TSI de cidades do interior paulista. Nesta edição em Bauru, cidade anfitriã, os participantes serão convidados a vivenciar uma programação especial que apresentará um pouco da história e cultura da cidade, através da memória afetiva dos Idosos por meio de atividades diversas.

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ENCONTRO

25 de OutubrO de 2014

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Nos trilhos da Noroeste: Histórias e Passagens

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Programação Completa 04A Casa da Eny 10

Sabores do Cerrado 12Recontando Histórias da Ferrovia 14

Pequenas Histórias da Noroeste 15Viagem pela Estrada de Ferro Paulista 15

Mudanças 16Que Saudades... 16Meus Momentos 18Um Depoimento 19

Histórias de Família Rumo ao Oeste 20Casaco Vermelho 26

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Índice

Nos trilhos da Noroeste: Histórias e Passagens

02

Programação Completa 04A Casa da Eny 10

Sabores do Cerrado 12Recontando Histórias da Ferrovia 14

Pequenas Histórias da Noroeste 15Viagem pela Estrada de Ferro Paulista 15

Mudanças 16Que Saudades... 16Meus Momentos 18Um Depoimento 19

Histórias de Família Rumo ao Oeste 20Casaco Vermelho 26

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ENCONTRO

NOS TRILHOS DA NOROESTE: HISTÓRIAS E PASSAGENS

O encontro “Viver, Envelhecer e Aprender a Jogar” que acontece no mês de outubro no Sesc Bauru foi pensado a partir de uma temática: a memória, que envolve tanto a história da cidade, quanto a história de vida de seus moradores.

Desta forma, a programação integra atividades em que os convidados poderão vivenciar um pouco o imaginário e a cultura de Bauru nos seus mais diversos âmbitos: uma degustação refrescante dos sabores dos frutos da região; uma intervenção sobre Eny Cezarino, a cafetina bauruense nacionalmente conhecida; obras de Hilda Hilst, a escritora natural da região bauruense... Além disso, os participantes conhecerão um pouco das atividades realizadas pelos idosos do Sesc Bauru, com a apresentação de coral e de teatro, e poderão fazer o depoimento de suas próprias memórias em troca de um poema feito a partir delas, entre outras atividades que permitirão experimentar vivências lúdicas e de sociabilidade.

Assim, nossos convidados são bem-vindos para compor conosco esses trilhos que formam tantas memórias e que se abrem para futuros caminhos.

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Foto: Acervo Museu Ferroviário Regional de Bauru

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ENCONTRO

PROGRAMAçãOIntervençãoBEM TE VEJO!Dois bonecos em tamanho natural interagem com os passantes. Luzia Tereza, uma contadora de histórias e o Chefe da Estação trazem em verso e prosa, memórias e histórias de vida de um passado não muito distante. Com a Cia. Giralua de Artes.

8h. Praça de Entrada

8h - Café da manhã

9h - Acolhimento

InstalaçãoVIDEO-INSTALAÇÃO “MEMÓRIAS”Os participantes poderão desfrutar de vídeos criados a partir de relatos autobiográficos dos integrantes do Trabalho Social com Idosos do Sesc Bauru que resultaram na criação do espetáculo “Amor nas Quatro Estações”.

8h30 às 16h. Corredor Subsolo 1.

UMA DÉCADA SEM HILDA HILSTHilda Hilst nasceu em Jaú em 1930, região de Bauru, e viveu até 2004 em Campinas, onde hoje se encontra o Instituto Hilda Hilst. Neste ano, completando uma década sem Hilda, o espaço de leitura disponibiliza duas obras com uma instalação especial em homenagem à autora.

8h30 às 16h. Espaço de Leitura

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Vivências esportivasESPORTES DIFERENCIADOS Vivência em peteca, hóquei e rugby adaptado, conhecendo as estratégias para o jogo, esportes com bola, desenvolvendo a manipulação com diferentes tipos de bola e trabalhando o deslocamento.

10h30 às 15h. Ginásio de Eventos

VÔLEI9h30 às 11h30. 30 vagas. Quadra Externa Azul

Práticas corporais VIVÊNCIA EM GINÁSTICA GERAL A modalidade integra as diversas ginásticas com as expressões e manifestações corporais e artísticas, como danças, folclore, circo, jogos e esportes, apresentando a diversidade da cultura nacional e mundial. A vivência proporcionará experiências motoras criativas, divertidas e desafiadoras aos praticantes, além de promover e estimular a construção coletiva, o lazer e o bem-estar. Com Instrutores Sesc.

10h20 às 11h30. Praça de Convivência

PRÁTICAS CORPORAIS Vivência em exercícios que estimulam a conscientização corporal e a reeducação do movimento. Com Instrutores Sesc.

10h30 e 14h. Sala de Ginástica 2

VIVÊNCIA DE DANÇAS CIRCULARESReunião de danças em roda características de diversas regiões do mundo. Com Instrutores Sesc.

9h30. Praça de Convivência

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IntervençõesLiteraturaTROCO UM CAUSO POR UM CONTOO poeta Daniel Viana e sua máquina de datilografar estarão disponíveis para ouvir as mais diversas histórias dos participantes e transformá-las em microcontos ou poesias.

12h às 15h. Espaço de Leitura

DRIVE THRU - CASA DE ENY Drive-Thru é uma intervenção teatral em formato de lanchonete fast-food. O “consumidor” escolhe o que vai assistir em um cardápio com 6 opções de monólogos - cada um com a duração máxima de quatro minutos. Nesta edição, a Cia. Teatro Enlatado oferece um cardápio de monólogos inspirados na biografia da dona de um dos mais prestigiados e famosos cabarés do país: A Casa de Eny.

10h às 12h e 13h às 15h. Área de Convivência

LiteraturaHILDA HILSTA obra de Hilda Hilst em voz e em papel apresentada em vários espaços. Com Protótipo Tópico.

10h às 12h. Vários espaços

AUTOLÓGICOA ideia é simples: vender concentração, lógica e raciocínio por zero reais e nenhum centavo. Disfarçado de carrinho de guloseimas, o Autológico carrega jogos de desafio como tangram, torre de hanói, jogo da velha, entre outros. Com o Coletivo Unsquepensa Arte.

10h às 14h. Vários Espaços

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OficinasATELIÊ ABERTOSPermite vivenciar a criação artística através da prática de técnicas diversas. Com o Coletivo Unsquepensa Arte.

10h às 15h. Hall da Área de Convivência

ATELIÊ DE GRAVURAUtilizando recursos não convencionais, promoverá a criação de imagens através da impressão com matriz artesanal.

Praça de Convivência

ARTE POSTALAtravés da ilustração e colagem, os participantes poderão materializar suas memórias, sonhos e lembranças. Como resultado, o ateliê criará cartões postais que serão enviados aos destinos indicados por cada idoso.

Hall da Área de Convivência

Registro e MemóriaRÁDIO COLETIVAParticipantes deixam seus relatos sobre a participação do encontro como registro de memória em uma rádio criada coletivamente através de suas experiências e lembranças, sempre acompanhadas por trilha sonora escolhida pelos participantes.

Das 11h às 15h. Sala de Internet Livre

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AlimentaçãoSABORES DO CERRADOBioma da região de Bauru, o Cerrado possui uma rica biodiversidade. Entre as espécies é possível encontrar frutos que contribuem com a manutenção da saúde, estimulam o apetite e dão um tempero especial ao prato. Com a nutricionista Milene Peron Rodrigues Pinto.

Das 14h às 15h. Hall da Área de Convivência

TeatroAMOR NAS QUATRO ESTAÇÕESA metáfora das estações de lugar (estações de trem) e de tempo (as quatro estações) como fases da vida e suas recordações subjetivas. Neste espetáculo, histórias de amor são protagonizadas por quem as levam na memória.

10h e 14h. Auditório

MúsicaCANTO CORALA trilha sonora que permeou o grupo de Canto Coral do Sesc Bauru nos últimos meses é apresentada para o público, com seu repertório sobre trilhos, trens e canções que remetem à cultura regional local e suas memórias.

11h. Área de Convivência

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Ginástica Geral “BAIÃO DAS FLORES”O grupo de Ginástica Geral do Sesc Bauru apresenta a coreografia Baião de Flores.

13h. Praça de Convivência

MúsicaGRUPO VIOLADOFormado por músicos de Santa Bárbara D’Oeste, o grupo empresta seu estilo ímpar ao repertório tradicional caipira, apresentando composições de artistas como Rolando Boldrin e Tião Carreiro.

15h. Área de Convivência.

Foto: Divulgação

Foto: DivulgaçãoGRUPO VIOLADO

DRIVE THRU - CASA DE ENY

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A CASA DA ENY

A Casa da Eny ficou conhecida nacionalmente por ter sido a maior casa do meretrício de São Paulo e por ter se tornado um ponto histórico. A casa situava-se em Bauru e teve sua fase áurea entre o início da década de 1960 até 1983, quando foi desativada.

A dona da casa, Eny Cezarino, era filha de imigrantes, sendo o pai italiano e a mãe francesa. Comprou a casa de meretrício na região central da cidade e investiu em um bordel sofisticado e luxuoso. Mas, no final dos anos 50, por uma lei que proibia esta localização, a casa foi transferida para a zona sul, onde construiu o restaurante “Eny’s bar”.

A casa possuía 5 mil metros quadrados de área construída, com piscina, sauna, restaurante, pista de dança e suíte de luxo. As mulheres da Casa da Eny eram instruídas a trabalhar com discrição. Eram produzidas com vestimentas finas e joias para atender aos clientes da alta sociedade, entre eles celebridades, donos de plantações canavieiras e políticos de diversos cargos, sendo que, muitas vezes, utilizavam o local para reuniões e fechamento de negócios.

Hoje, o trevo rodoviário próximo onde se localizava a casa leva seu nome e a casa ainda é referência em todo o país.Referências: Lucius de Mello. Eny e o Grande Bordel Brasileiro, Belo Horizinte, Editora: A Livraria Horizonte, 2002.

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Foto: Divulgação

Foto: Divulgação

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SAbORES DO CERRADO

Bauru situa-se entre os biomas da Mata Atlântica e do Cerrado; sendo que este segundo possui a maior variedade de plantas nativas catalogadas do Brasil.

As frutas nativas do cerrado variam entre mais de cinquenta e oito espécies, sendo ricas em vitaminas e base alimentícia de muitas populações. Entre as mais consumidas, estão os frutos do Pequi (Caryocar brasiliense), Buriti (Mauritia flexuosa), Mangaba (Hancornia speciosa), Cagaita (Eugenia dysenterica), Bacupari (Salacia crassifolia), Cajuzinho do Cerrado (Anacardium humile), Araticum (Annona crassifolia) e as sementes do Barú (Dipteryx alata).

E, assim como os outros biomas brasileiros, a vegetação do Cerrado está em risco, devido à devastação das matas nativas. E para evitar os riscos de extinção das plantas e dos animais é preciso preservá-lo.

Ministério do Meio Ambiente http://www.mma.gov.br/biomas/cerrado

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Foto: Divulgação

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RECONTANDO HISTÓRIAS DA FERROVIA

Escrever, além do desenvolvimento de uma forma de comunicação por meio dos códigos da escrita e ampliação do repertório linguístico, é uma prática que pode proporcionar a reflexão, autoconhecimento e uma oportunidade para resgatar histórias da memória ou da imaginação criativa.

“Recontando histórias da ferrovia” foi uma oficina literária realizada em 2014 com o público do TSI. Por meio dela, foram feitas pesquisas culturais sobre a cidade de Bauru e a relação histórica da cidade e de seu modo de vida com a presença da ferrovia.

Nesta publicação, histórias de três participantes da oficina literária: Lucia Vissotto (Histórias de família e Casaco vermelho), Célia Offerni Galícia (Que saudades, Meus momentos e Um depoimento) e Irene Gonçalves (Pequenas histórias da Noroeste, Viagem pela Estrada de Ferro Paulista, Mudanças).

¨A vida não é a que a gente viveu e, sim, a que a gente recorda, e como recorda para contá-la¨. Gabriel Garcia Marquez.

Lucia Vissotto, Irene Gonçalves e Célia Offerni Galícia

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Pequenas hIstórIas da nOrOesteEm 1958, cheguei aqui com marido e filhos, ele veio trabalhar no ¨Esporte Clube Noroeste¨como massagista. Naquela época, eles nãotinham estádio, pois tinha pegado fogo, então jogavam e treinavamem outro local. Em 05/06/1960, foi inaugurado o novo Estádio que existe até hoje e era mantido pela ¨Rede Ferroviária Federal¨.

Os jogadores, técnicos e todos os funcionários, (a maioria desses jogadores vinham de outras cidades com suas famílias) fixaram residência aqui. Alguns deles com suas esposas também trabalhavam no escritório da Rede Ferroviária.

A Rede mantinha o Hospital ¨Sales Gomes¨e uma Cooperativa e todos tinham direito. Bauru era a cidade dos Ferroviários. Noroeste, Paulista e Sorocabana, na Vila Curuçá, hoje Vila Dutra, e uma boa parte dos Altos da Cidade era só dos Ferroviários. Os trens eram bons, comum bom restaurante; os que iam para Mato Grosso tinham cabines confortáveis, pois a viagem era longa. Durante anos foi assim, é uma lástima ter acabado.

Irene Gonçalves

VIaGem PeLa estrada de FerrO PauLIstaEu fiz várias vezes, viagens, especialmente nas férias com meus filhos, para ¨Tupã¨, onde moravam meus familiares. Eles se divertiam muito. Adoravam viajar de trem, curtiam as paisagens, os garçons que vendiam sanduiches e refrigerantes e gritavam fazendo propaganda.

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Quando paravam nas estações, que eram muitas, sempre tinha muita gente, vendendo de tudo. Eram viagens gostosas, divertidas e longas, mas nós nem sentíamos, porque os trens ofereciam para os passageiros, conforto e alegria. Quando terminava, já sentíamos saudades. Nós íamos de 2ª classe, era bom e quem ia de 1ª, o conforto era ainda maior. Algumas pessoas passavam muito tempo no carro restaurante, infelizmente tudo isso acabou....

Irene Gonçalves

mudanças Eu, Irene, tive muitas mudanças na vida, algumas boas e outras nem tanto. Casei-me cedo, aos 19 anos e tive meu primeiro filho, foi uma coisa maravilhosa, depois tive mais dois filhos. Alguns anos depois fiquei viúva, e passei dificuldades financeiras, mas consegui cria-los, educa-los. Depois que se casaram, fiquei sozinha e fui viver um pouco, viajar, passear e frequentar grupos de 3ª idade, onde estou até hoje, pois agora o compromisso é só comigo. Tenho netos já adultos que eu amo e sempre que posso estou com eles. Enfim, acho que cumpri minha missão como mãe e avó. Minha família é maravilhosa e agradeço à Deus por tudo e me sinto feliz por fazer as coisas que gosto.

Irene Gonçalves

que saudades... Lá pelos anos de 1953, estava eu com 7 anos e quantas recordações... Tinha uma tia muito aloucada e solteira ainda que gostava muito de fazer surpresas para mim e meu irmão, dois anos mais velho. O que ela mais gostava era viajar de trem para a cidade de Santos onde tinha parentes.

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O dinheiro era pouco mas ela sempre dava um jeitinho para viajar e nos levava junto, pois dizia... ¨meus sobrinhos adoram viajar de trem¨... Por vezes levantávamos cedo e já sabíamos que íamos viajar... ¨Que felicidade!!¨ A Estação Ferroviária era perto de nossa casa uns poucos quarteirões e íamos a pé. Nessa época era um luxo com seus trens muito conservados, os funcionários muito atentos e sempre agradando os usuários. Bom era subir e descer as escadarias, uma brincadeira para as crianças, depois de comprar os bilhetes, íamos rumo às plataformas para o embarque, sempre com funcionários uniformizados para nos atender. Eram três tipos de vagões: 1ª classe, que era a mais cara, a 2ª classe mais barata e as cabines, para quem viajasse a noite, um luxo! Nós só viajávamos de dia, a tia queria nos mostrar a beleza das paisagens, e quando o trem parava nas cidades para pegar novos passageiros, km antes, o trem vinha apitando. No trem, todos já alojados, aconteciam coisas que nos enchiam os olhos. Os garçons todos chiques, vinham com seus carrinhos anunciando cafezinhos, pipocas, refrigerantes, etc... Era uma festa, também alguma lembrancinha tinha o refeitório com grandes refeições. A viagem sempre era uma festa e sem nenhum acontecimento ruim. A chegada em São Paulo, tranquila, fazia a baldeação agora rumo à Santos. Que lindo a descida da Serra. Hoje tenho as recordações dessa época da minha vida e posso passar para meus filhos e netos. Agradeço à minha tia por essa oportunidade de ter passado por tanta felicidade. Que pena não ter mais essa beleza. Quando passo em frente à Estação Ferroviária de Bauru, fico muito indignada e triste por termos um bem comum da cidade tão esquecido.

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Espero que em algum tempo futuro, alguém lembre que a Ferrovia pede clemência, mas mesmo assim, sinto saudades, valeu, valeu!!! Obrigada pelos momentos felizes passados nos trens, e que a Ferrovia volte a ser prioridade em nosso país e nossa Bauru.

Célia Offerni Galícia

meus mOmentOs Se fosse contar todas as histórias de minha vida, levaria dias, mas algumas ficaram guardadas com muitas saudades. Morava no sítio com meus pais, um dia meu pai precisou viajar para São Paulo, e quando voltou , tive a maior surpresa que uma menina de 7anos poderia ter, ele veio correndo ao meu encontro e me disse : ¨Olhe o que eu trouxe para você¨. Era uma boneca de porcelana linda, que fiquei deslumbrada com o presente e beijei muito meu pai. Com 12 anos mais ou menos, já na cidade morando, ficava buraqueando pela janela de casa, um menino vizinho, e meu coração disparava.... Ai que loucura!! Mas não foi esse o escolhido, me casei com outro aos 17 anos. Um ano depois veio o 1º filho, que felicidade!! O 2º e 3º, todos homens e quando nascia os meninos, a primeira coisa que eu perguntava era se eles tinham os cinco dedos... Não sei porque isso, mas acontecia... Outro momento foi quando minha avó materna faleceu. Faltavam 20 dias para o meu casamento, ela era minha amiga e confidente, sempre falava para mim: ¨Ai, o meu amor! Ela queria dizer que eu estava muito apaixonada. Parece que ela estava adivinhando que morreria e terminou a colcha de crochê para o meu enxoval no dia

de sua morte, conservo a colcha até hoje.

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Hoje sou viúva de marido vivo, quando falo isso, as pessoas riem. Sou feliz com o que tenho: meus filhos, netos, noras, amigos e sobrinhos. Sempre dou a volta por cima. Passeio e frequento o SESC e o SESI. Eu me amo, como sempre falava o meu pai.

Célia Offerni Galícia

um dePOImentO Meu sogro, Armando Galícia foi trabalhador da ¨Estrada de Ferro Noroeste¨, que deu muitos empregos para pessoas de ¨Bauru e cidades vizinhas¨. Muitos imigrantes chegavam à cidade sem empregos, mas logo eram incorporados à Ferrovia e assim construíam suas vidas aqui. Seu Armando foi um funcionário que atuava na área de pintura dos trens que eram confeccionados em Bauru; eram momentos difíceis, mas gostava de seu trabalho. Quando terminava o dia de serviço, os colegas se reuniam; seu Armando tocava violão e também compunha músicas sobre a ¨Ferrovia¨. Ele sempre se lembrava com muito entusiasmo de sua vida junto a Ferrovia e agradecia por ela existir e ter dado tantos e tantos empregos a quem chegava à cidade. Ele sempre costumava dizer: ¨Obrigado, Noroeste!¨

Célia Offerni Galícia

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hIstórIas de FamíLIaRUMO AO OESTE

A primeira grande onda de desenvolvimento de Bauru, no início do século XX, ocorreu graças às políticas de Estado que aqui situaram o entroncamento das três estradas de ferro: Noroeste, Sorocabana e Paulista. Num país de dimensões continentais era preciso construir uma malha ferroviária para nossa integração e desenvolvimento. Tempo em que nos espelhávamos no modelo europeu.

Para ter a verdadeira dimensão do que significaram essas três vias férreas na época, é preciso lembrar que, até então, a mobilidade era mínima e difícil. Predominava o transporte à tração de cavalos e os veículos a motor eram todos importados e, por isso, caros. Caminhões e Jardineiras faziam o transporte entre cidades em estradas de terra quase intransitáveis. Carro particular, só os muito abastados.

A construção dessa rede ferroviária que atravessava o estado em várias direções significou, sem dúvida, o progresso. O trem era o meio de transporte mais rápido e moderno que, finalmente, possibilitava a mobilidade de pessoas e mercadorias e intensificava o comércio, o abastecimento, o desenvolvimento de todo o interior do estado de São Paulo e Mato Grosso, pois a ferrovia Noroeste do Brasil chegava até Corumbá (MS), nas barrancas do rio Paraguai. Anos depois, era possível viajar à Bolívia, até Santa Cruz de la Sierra. No início, levas de pessoas vinham rumo ao oeste, o interior paulista, trabalhar na construção das novas linhas. Gente especializada, como engenheiros, médicos, advogados, chegava com suas famílias para

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ocupar os cargos de chefia, provenientes da capital e, sobretudo da cidade do Rio de Janeiro, então capital do país.

E gente não tão especializada, para forjar no ferro as peças em suas oficinas, assentar os trilhos, construir estações e casas – muitas residências foram construídas com o objetivo de atrair os funcionários a viver no interior, constituindo até vilas, muitas delas podem ser vistas ainda hoje, geralmente próximas das linhas. Nos anos 1920, aqui estava a oportunidade, o futuro, o desenvolvimento, com postos de trabalho em abundância, numa época de absoluta falta de emprego em todo o Brasil.

Em 1925, Gino Farina, sua esposa, Giuseppina, e suas três filhas chegaram a Bauru, provenientes de São Paulo. Pela terceira vez ele era obrigado a mudar de vida.

LA BELLA ITáLIA

Gino Farina nasceu em 1882 em Lucca, cidade da Toscana, na Itália, de onde veio por insistência da meio irmã, que viera com o pai e a mãe algum tempo antes e, muito apegada ao meio irmão, escrevia-lhe doces cartas enfatizando a grandeza e o potencial do novo país.

Ele, jovem e solteiro, preferia permanecer em Lucca, onde cuidava do comércio que o pai deixara para vir ao Brasil : uma loja de implementos para charretes, principal meio de transporte na época. Além disso, ali descansava sua mãe, Emília Tambellini, que falecera quando ele tinha apenas nove anos.

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A situação da Itália, nos primeiros anos do século XX, era instável, sob um reinado decadente, que não propiciava o desenvolvimento do país em nenhum setor. O comércio decaía a cada dia, o povo empobrecia, nem a segurança pessoal era garantida, pois os assaltos nas estradas eram constantes. Dividido entre um belo país, mas decadente, e o outro tão promissor na descrição da meio irmã, decidiu vender tudo o que possuía e embarcou em Gênova para o Brasil em 1907, com 25 anos de idade. Era a primeira das muitas mudanças que seria obrigado a fazer.

Muitas vezes descreveu a suas filhas e netos as belezas da Toscana: as “muras de Lucca” (largas muralhas que circundam a cidade), as igrejas e praças de Pizza, sempre iluminadas, as estradas e praias de Viareggio, onde costumava passear de charrete com a mãe, cardíaca, em busca de melhores ares. Orgulhava-se de falar a língua de Dante Alighieri, o toscano, escolhido como idioma oficial da Itália após a reunificação.

Outras tantas vezes, relatou sua tristeza profunda na chegada ao porto de Santos. Noite escura, madrugada, o navio adentrava lentamente o canal em direção a uma claridade tênue, lá no fundo, quase apagada, mais pressentida do que real, tudo muito escuro. Era Santos em 1907: nada mais que uma pequena vila. Ali, embora ansioso por conhecer o novo país, um misto de esperança e medo, sentiu uma dor profunda no peito e desejou voltar imediatamente. Jamais voltou.

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TEMPOS dE fARTURAEm Santos, Attilio Farina, abriu um comércio semelhante ao que tivera em Lucca. A adaptação do filho Gino foi difícil, mas o trabalho na loja e as constantes viagens a São Paulo ajudaram a aceitar sua nova condição. Adorava ir a São Paulo, onde podia conviver com seus conterrâneos, comer a boa comida italiana, beber um bom vinho e comprar os produtos da velha Itália: o queijo gorgonzola, o alice e o cogumelo enlatados. Ali, a “colônia italiana” era numerosa e festiva: casamentos, batizados, muita música, dança e brincadeiras. Assim conheceu Giuseppina, com quem se casou em 1912, ele com 29 anos, ela com 21. Entretanto, ela estabelecera uma condição: residirem em São Paulo. A segunda mudança pareceu-lhe necessária, pois a noiva pretendia desfrutar da companhia de sua família e a cidade oferecia mais conforto. Gino, que era químico, resolveu estabelecer-se em São Paulo. Arrumou um sócio e juntos abriram uma fábrica de vinho e vinagre. Viveram doze anos na capital, residindo numa chácara no Tatuapé – na época, bairro de classe média alta. Tiveram uma vida confortável e feliz, sobretudo com a chegada das filhas: Emília, Maria e Suzana.

Muitas vezes suas filhas relataram esses anos de fartura: casa grande, móveis austríacos, cristaleira, candelabros, louça inglesa, mesa farta, serviçais. Lembravam também dos vestidos finos, feitos por modistas, dos passeios de charrete, das viagens a Santos, as brincadeiras na areia da praia...

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Entretanto, a fábrica faliu. Gino pagou o que pode, mudou-se para a casa de parentes, procurou serviço... Amargurados e endividados, souberam por um parente que, no interior do estado, a Companhia Noroeste do Brasil estava admitindo funcionários e oferecia boas condições de trabalho. Não titubearam, venderam o que conseguiram, juntaram o que dava pra levar, emprestaram dinheiro dos cunhados e embarcaram para Bauru.

PAU dE LEnHAGino Farina, sua esposa Giuseppina e suas três filhas chegaram a Bauru em 1925. Ele, com mais de 40 anos, era mais uma vez obrigado a mudar de vida. A viagem de São Paulo a Bauru foi longa e penosa. Vinham pobres, deixando muita coisa para trás...

Talvez a juventude de Giuseppina, então com 34 anos, seu cuidado com as filhas, o carinho do pai, a vivacidade das meninas, tudo deve ter contribuído para que chegassem com alguma esperança.

Gino conseguiu contratação imediata: ferramenteiro. O salário era bom e a cidade parecia promissora: construções por toda parte, praças sendo pavimentadas, igrejas erguidas, Bauru era um grande campo de obra. Havia muitos italianos estabelecidos na cidade, a maioria comerciante, e até um clube italiano: Sociedade Dante Alighieri, hoje, Casa d’Itália.

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Porém, de químico a ferramenteiro, há um abismo. Até que ponto as circunstâncias da vida podem vergar o orgulho de um homem? Imaginando as oficinas da Noroeste do Brasil, o fogo da forja queimando, o calor envolvendo todo o entorno, o suor brotando iluminado pela chama ardente, escorrendo pela face, pelo corpo, a força do braço para vergar o ferro, o som das marteladas, o aprendizado do trabalho duro e pesado, a submissão ao chefe de equipe... só assim é possível compreender o tamanho do esforço de um pai de família ao aceitar tal condição.

No final do primeiro dia de trabalho, depois de se lavarem na única torneira da oficina, disse-lhes o chefe:- Estão dispensados. Pode escolher a lenha pra cozinhar em casa!Quase em fila, seus companheiros caminharam uns cem metros em direção ao depósito, onde ficava a lenha empilhada, que era queimada nas locomotivas. Em pequenos grupos, escolhiam o melhor pau, de grossura boa para render bastante, mas não em demasia, para não cansar muito no caminho até suas casas. Saiam cansados, mas satisfeitos levando o pau de lenha no ombro, conversando e rindo em duplas ou em pequenos grupos.

Suportara tudo, o esforço físico, o calor, o corpo moído, o trabalho repetido à exaustão...- Vai Gino, escolhe o seu! Disse um companheiro.- Eu não. Tenho vergonha!

Lucia Vissoto

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CasaCO VermeLhOPREPARATIVOSEle programou com detalhes a viagem de Bauru a São Paulo. Ia com a família, a esposa e duas filhas. Escolheu a data certa para participarem do quarto centenário da cidade (1954). Com antecedência, comprou as passagens e reservou hotel. Uma viagem assim tão longa, na época, e ainda no inverno, exigia alguma preparação. Compraram malas e muita roupa nova melhor adequada ao clima da capital, então conhecida como “São Paulo da garoa”.

Dentre tantas novidades, a filha mais nova, de seis anos, ganhou um casaco vermelho de lã grossa e encorpada, bem talhado e transpassado com botões duplos na frente e nos punhos, uma abertura atrás e até um capuz.

Ela se apaixonou pelo casaco, pelo vermelho queimado vibrante, pelos botões de massa com dois círculos sobrepostos, pelos bolsos, tão confortáveis para as mãos, pelo capuz, que envolvia toda cabeça e o cabelo - quase sempre amarrado num rabo de cavalo - e que aquecia as orelhas salientes.

Vestia-o sobre o shorts e a blusinha fina, mãos no bolso, e punha-se a desfilar para suas bonecas, brinquedos e vasos de plantas que, em sua imaginação, eram seus alunos, para os quais dava longas explicações numa língua inventada por ela, semelhante àquela que ouvia nos filmes que assistia com o pai nas matinês de domingo no cine Bauru.

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Vestida com o casaco vermelho, era outra pessoa, adulta, elegante, importante, desempenhando uma atividade muito séria. Às vezes, montada nos sapatos altos da mãe, desfilava como se realizasse passeios pela cidade, descia até as escadas, os cinco degraus que levavam ao primeiro quintal calçado. Falava com as plantas, abraçava o limoeiro, o pé de romã.

Nesse ir e vir, a mãe a via e ralhava:– Tira já esse casaco. Vai ficar molhada de suor com esse calor! Disfarçava em direção ao quarto, como se estivesse obedecendo à mãe, mas, diante do espelho da sala, parava, fazia poses como nos filmes, e seguia em frente, compenetrada, representando seu papel. – Tira já esse casaco! Vai sujar. É para São Paulo. Lá faz muito frio.Acabava tirando, pelo desconforto, o cabelo começando a suar dentro do capuz, mas lamentava. Que pena não poder ficar com ele o dia inteiro. Até dormir com ele, ela queria.

A VIAGEMFérias de julho. Acordaram-na de madrugada. Muito escuro lá fora. Fazia frio. Era o dia da viagem. A mãe tinha as malas prontas, mas estavam atrasados. Era escovar os dentes, vestir a roupa, que estava sobre o banquinho da penteadeira, pentear o cabelo, tomar o café com leite, que queimava a língua na pressa, e mastigar um pão com manteiga amanhecido.– Mãe, cadê o casaco vermelho?– Só na hora de sair.

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ENCONTRO

Tio José chegou com o seu pé de bode – um Ford verde de cortinas transparentes – para levá-los à estação. Nem desligou o motor. Puxou o freio e saiu do carro para ajudar o cunhado a colocar as malas. A menina vestiu finalmente seu casaco vermelho, um cachecol no pescoço e saiu correndo até o carro.

O vento frio da noite doeu no seu rosto. A mão da mãe puxou o capuz sobre a cabeça da filha. Acomodaram-se nos assentos. Baixaram as cortinas, mas mesmo assim, o deslocamento do carro fazia o vento passar pelas frestas a gelar o que encontrava. A menina tinha frio nas pernas, mesmo com a calça comprida e as meias de lã.

Ainda era noite quando chegaram à estação. O trem estava na plataforma: uma enorme máquina imponente, de frisos dourados e niquelados que brilhavam de tão polidos. Parecia ter saído da fábrica: a pintura, as letras, os emblemas, tudo reluzia sob a iluminação forte da estação. O barulho do motor funcionando acentuava-se ao soltar um vapor como uma neblina que encobria parte da máquina, as luzes, até os primeiros vagões. Procuraram pela primeira classe, perguntando ao encarregado e dando o número das passagens. Chegaram ao vagão certo, um funcionário abriu a porta, ajudou o pai a colocar as malas e a menina a subir. A poltrona era larga, de um tecido grosso, mas suave no toque, de cor grená. No encosto da poltrona havia um protetor para cabeça e costas de um branco impecável. Uma trava do lado direito fazia o banco inclinar para trás. Sentada sob a janela, ao lado da mãe, a menina sentiu o cheiro perfumado de limpeza, os vidros translúcidos, as esquadrias niqueladas, o chão brilhante.

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O trem apitou pela terceira vez e iniciou a marcha. O tuque tuque das rodas no trilho foi acelerando, até quase silenciar. Ficou apenas um leve molejo que balançava num movimento sincronizado. Tudo começou a passar muito rápido. A menina percebeu que o que era próximo não dava pra ver, parecia um borrão. Mais confortável era olhar longe, onde dava para enxergar as últimas casas da cidade, ainda com a luz acesa, fumaça nas chaminés, a silhueta de algumas árvores, coqueiros...

O sol começava a apontar no horizonte. Amanhecia. Ali dentro, sentiu-se protegida, não tinha mais frio, nenhum vento. Tudo muito bem fechado. Um certo calor dava ainda mais conforto, sentiu o corpo amolecer, adormeceu.

Foi acordada pelo picotador de passagem, que anunciou: – Rio Claro! – o que provocou um certo alvoroço em todo o vagão. Era um tal de procurar as passagens, ele conferir o número e picotá-la.

A mãe caprichara nos lanchinhos, frutas e sucos. Na hora do almoço, foram até ao vagão restaurante, onde almoçaram. Em cada mesa um vasinho com flores artificiais. Coisa muito chique, naquela época. Mas tão pesados! Pareciam de chumbo para não caírem das mesas com o sacolejo do trem. Os talheres também eram pesados. Difícil sustentar o garfo, acertar a boca no balanço do trem.

Finalmente, o trem chegava a São Paulo. Agora, sentada ao lado do pai, a menina escutava atenta suas explicações a respeito de pontes, avenidas e prédios conhecidos por onde o trem passava. Que cidade grande!

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ENCONTRO

A agitação tomou conta de todos ao se aproximar da estação. Desciam as malas, levavam até a porta, quase todo mundo de pé, aguardando a parada final. – Não solte da minha mão, disse a mãe! – Você pode se perder! A menina, meio assustada, acompanhava com dificuldade a mãe que a puxava pelo braço, andando apressada como todo mundo. Fora da estação, fazia frio e garoava, sentia-se uma umidade no ar. O pai, na frente, encontrou um táxi que os levou até o hotel, um prédio de seis ou sete andares, não muito longe da estação.

O PRIMEIRO PASSEIO O túnel da Avenida Nove de julho era a maior obra de engenharia da época, segundo seu pai. Foram de ônibus pelo centro da cidade até a parada mais próxima da entrada do túnel. O dia estava nublado e fazia muito frio. Entraram no túnel andando pela calçada lateral. Os carros passavam fazendo um barulho infernal. O túnel era iluminado com luzes amareladas. De repente, a mãe assinalou:– Olha a cor do teu casaco?!!! – É mesmo. – disse a irmã – Mudou de cor? Vai ficar assim pra sempre!

A menina não conhecia aquela cor. Era um marrom meio cinza, meio verde escuro, uma cor indefinida, feia. E parecia que o casaco ficara velho, gasto, sem graça. Mas por que ficou assim? A garoa? A chuva? O frio? A umidade? Não ia voltar àquela cor bonita? Aquele vermelho queimado?

Não se desesperou. Aprendera com a mãe que quando não

entendesse alguma coisa, devia “pendurar na cabeça”, no

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departamento de coisas incompreensíveis, e deixar lá que, cedo ou tarde, algo a faria compreender. Mas eles insistiam e ela dissimulava sua preocupação.

Foi uma longa caminhada até o final do túnel, onde a claridade do dia, embora nublado, insidia uma luz difusa. A avenida continuava e a cidade também, com mais casas, prédios, pessoas... – Olha, a cor do casaco voltou! – exclamou a mãe. A menina olhou e viu o casaco vermelho radiante. Foi uma brincadeira, entendeu. Não sabia por que, mas isso não importava. O que importava de fato era que o casaco era vermelho novamente, como antes.

Lúcia Vissotto

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ENCONTRO

Programação8h8h

8h30 às 16h8h30 às 16h

9h9h

9h30 às 11h309h30

10h às 12h10h às 14h10h às 15h

10h10h20 às 11h30

10h3010h30 às 13h

11h12h às 15h13h às 15h

13h13h30 às 15h

14h às 15h14h15h

Intervenção “bem te vejo” Café da ManhãVídeo-Instalação “MemóriasUma década sem Hilda HistAcolhimentoRádio ColetivaVôleiVivência de Danças CircularesDrive Thru - Casa de EnyAutológicoAteliê abertosTeatro “Amor nas Quatro Estações”Ginástica Geral “baião das FloresPráticas CorporaisEsportes DiferenciadosCanto CoralTroco um causo por um ContoDrive Thru - Casa de EnyGinástica Geral “baião das FloresEsportes DiferenciadosSabores do CerradoTeatro “Amor nas Quatro Estações”Grupo Violado

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