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Encontro Internacional – Participação, Democracia e Políticas Públicas:
aproximando agenda e agentes. 23-25 de abril de 2013, UNESP, Araraquara
(SP).
Caio Penko Teixeira
Fundação Getúlio Vargas – SP
Democracia Deliberativa e o Consórcio Intermunicipal do ABC: breves notas
para pensar a governança na gestão de políticas públicas de desenvolvimento
local.
Resumo
O presente trabalho, de natureza exploratória e descritiva, aborda a
governança em suas diferentes perspectivas e implicações, enquanto categoria
de análise aplicada aos estudos sobre as políticas públicas, apresentando um
panorama breve e introdutório das distintas vertentes e enfoques. A
governança vem de forma teórica e metodológica polarizando as pesquisas
empíricas sobre participação na área de políticas públicas, buscando
compreender e estabelecer relações sobre como se caracterizam as influências
no comportamento dos atores sociais. Assim, o presente trabalho discute
questões que passam por essa temática da governança, tanto sob o aporte
teórico da Nova Economia Institucional quanto às contribuições da perspectiva
do Modelo de Coalizão Advocatória, tendo estudo de caso o Conselho do
Consócio Intermunicipal do ABC, notadamente no tocante ao processo de
implementação de políticas públicas.
Introdução
Os estudos voltados à compreensão da participação da sociedade civil
na gestão de políticas públicas têm ocupado crescente importância na agenda
de pesquisas sociais (DOWBOR, 2003; FARAH, 2006; SANTOS, AVRITZER,
2009). Em comum, entre essa grande variedade de estudos, tem como
destaque a ênfase em análises que se baseiam na explicação e compreensão
do desenvolvimento local, com enfoque na importância das especificidades
culturais do território, da dinâmica do poder local e dos conflitos daí
constituídos e decorrentes (SOUZA; NETO, 2008; BOISER, 2005 FISCHER,
MELO, 2006). Estes estudos tendem a situar no centro da análise o esforço de
apreensão dos contornos dos fenômenos socioeconômicos, políticos e
organizacionais condicionantes para a gestão das políticas públicas na
contemporaneidade.
Ao examinar os debates contemporâneos sobre a democracia
encontramos uma vasta discussão teórico-analítica sobre temas clássicos de
justiça, liberdade, legitimidade, entre outros aspectos, que de alguma forma se
desdobram em reflexões sobre experiências da relação entre o Estado e a
sociedade civil nas políticas públicas (BENHABIB, 1996; NOBRE, COELHO,
2004). O que ocorre, diante deste cenário, no caso brasileiro, é a consolidação
de um processo de inovações institucionais voltadas à descentralização
político-administrativa e à democratização das relações entre Estado e
sociedade civil (FARAH, 2006).
Quanto ao tema escolhido, o desenvolvimento local sob a perspectiva da
democracia deliberativa, nos parece oportuno dar um enfoque privilegiado ao
conceito de governança, com especial interesse em compreender suas
implicações na gestão das políticas públicas. Em nosso entender, o que está
em causa é o lugar da “participação” da sociedade civil, a forma como esta é
concebida e pensada nos termos propostos governança pública, e sua relação
com o simbólico, o social e o institucional. Está em questão o próprio
paradigma da participação e das relações que estabelece com a gestão de
políticas públicas contemporaneidade, a partir de uma breve descrição analítica
sobre o desenho institucional de uma experiência, a saber: o Conselho
Consultivo do Consórcio Intermunicipal do ABC.
O propósito do presente artigo é problematizar o desenho institucional
da participação, a partir do aporte teórico proposto por Archon Fung (2004),
que trata das singularidades das formas de engajamento cívico e deliberação
na contemporaneidade, aplicando-os ao contexto da gestão de políticas
públicas de desenvolvimento local, adicionando a perspectiva da democracia
deliberativa, tal qual defendida por Carlos Santiago Nino (2005).
O texto está organizado em mais quatro seções, além desta introdutória.
Na seção seguinte apresenta-se, de forma breve e sistemática, a
contextualização histórico-institucional da participação da sociedade civil no
campo das políticas públicas, localizando-o na sua interface com a promoção
da cidadania e a perspectiva de democracia deliberativa proposta por Carlos
Santiago Nino.
A partir daí, na segunda parte, com base em parâmetros teórico-
conceituais advindos da Nova Economia Institucional, discute-se o conceito de
governança e, então, busca-se contextualizá-lo no campo das políticas
públicas, sob os desafios voltados à consolidação do federalismo cooperativo.
Na terceira parte, propõe-se uma sintética revisão da literatura sobre a
implementação de políticas públicas e, de forma particular, enfoque-se a
dimensão simbólica sobre o papel dos atores no fenômeno das redes, com
específico tratamento das contribuições do Modelo de Coalizão Advocatória de
Sabatier (1991).
Por fim, na quarta seção, descrevem-se alguns aspectos importantes
para análise e reflexão sobre o funcionamento do Conselho Consultivo do
Consórcio Intermunicipal do ABC, buscando mesmo que de forma pontual,
propor algumas breves notas sobre a governança pública enquanto uma
categoria de análise que sintetiza diversos aportes teóricos e que podem ser
aplicados para problematizar a gestão de políticas públicas. Nesse caminho
reflexivo sobre desafios metodológicos no estudo das políticas públicas de
desenvolvimento local, a perspectiva proposta por Archon Fung (2004) vem
aprofundar o entendimento do fenômeno da participação. De toda forma, esse
aporte teórico lança bases para uma análise mais adequada de como se dão
as novas práticas político-institucionais de decisão em importantes espaços
participativos no Brasil.
1. O desenvolvimento local, gestão social e conselho nas políticas
públicas
A gestão democrática e a participação popular da sociedade civil de
forma direta e efetiva na administração pública são características institucionais
recentes, em construção, que estão inscritos no processo de redemocratização
no Brasil. Para além de prerrogativas básicas para a formulação de quaisquer
políticas públicas, a gestão democrática e a participação popular da sociedade
civil são conceitos que integram o texto da Constituição Federal (BENEVIDES,
1990) e do Estatuto das Cidades1. Esses marcos jurídicos servem como
mecanismos norteadores da gestão pública contemporânea e, sobretudo,
ampliam as possibilidades de participação política para além do caráter
representativo.
A literatura sociológica, o campo das políticas públicas e estudos
urbanos recentes têm destacado crescentemente a importância do
desenvolvimento local para a redução da pobreza (SOUZA; NETO, 2008;
BOISER, 2005), promoção dos direitos humanos, inovação (FARAH, 2006) e,
também, as novas perspectivas de participação da sociedade civil (DOWBOR,
1996; CANÇADO; TENÓRIO, PEREIRA 2011), objetivando o fortalecimento
das reivindicações em prol de melhores condições de vida dos cidadãos
(TENÓRIO, 2008; FISCHER; MELO, 2006; RODRIGUES; RAMALHO, 2010;
MARTINS, VAZ & CALDAS, 2010).
Apesar disso, ainda são incipientes os estudos sobre o tema voltado a
análise da governança na implementação das políticas públicas de
desenvolvimento local, em especial enfocando a atuação específica das redes
sociopolíticas2 no campo da gestão de políticas públicas, notadamente diante
da ressignificação do papel de atuação da sociedade civil no espaço público3,
diante da emergência dos novos arranjos institucionais de participação nas
políticas públicas.
Ainda que recentes, os estudos de políticas públicas têm ganhado
crescente centralidade nos campos da ciência política e administração pública
1 Destacamos, acerca do Estatuto da Cidade, normatizado pela Lei n. 10.257, que ao
estabelecer as suas diretrizes gerais, o Estatuto da Cidade prevê no artigo 2, no inciso II, que a gestão democrática: “por meio da participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade na formulação, execução e acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano” (BRASIL, 2001) 2 De forma preliminar, sobre o conceito de redes sociopolíticas, utilizamos a noção de que são
elementos de relação coletiva que influenciam processos sociais, ou seja, as redes
sociopolíticas servem como método de investigação social específico na análise de conexões
sociais, permitindo a identificação de processos de interação social em temáticas de alta
complexidade (MARQUES, 2009). Discutiremos, mais adiante, outros aspectos e concepções.
3 Em uma aproximação da esfera pública e a gestão social como referencias para pensar as
políticas públicas, encontramos “O Espaço Público constitui simbolicamente a matriz da
comunidade política, mas ele é, também, nas formas de expressão concretas através das quais
se manifesta uma arena de significações contestadas. Diferentes públicos buscam nele se
fazer ouvir e se opõem em controvérsias que não excluem nem os comportamentos
estratégicos, nem as tentativas de eliminação dos outros pontos de vista” (LAVILLE, 2006,
p.26, apud OLIVEIRA; CADADO; PEREIRA, 2010).
(SOUZA, 2006; FARAH, 2011). Há que se entender que com o processo de
descentralização no Brasil, as esferas subnacionais ganham centralidade na
gestão de políticas públicas (ARRETCHE, 1996; SPINK; CLEMENTE;
KEPPKE, 1999), assim um novo paradigma de desenvolvimento que encontra
no recorte local as mais recentes referências de gestão das políticas públicas
com vistas à mudança social (BAVA, 1996; DOWBOR, 2003; FISCHER; MELO,
2006).
Numa importante revisão da literatura, tanto Souza (2006) quanto Frey
(2000) identificam diferentes vertentes que caracterizam o campo das políticas
públicas. Neste sentido, afirmam os autores sobre a pluralidade de
perspectivas designadamente ao nível conceitual e teórico-metodológico,
suscitando a discussão em torno dos seus próprios fundamentos. Detemo-nos,
então, aos estudos das políticas públicas para que guiem “o nosso olhar para o
locus onde os embates em torno de interesses, preferências e idéias se
desenvolvem, isto é, os governos” (SOUZA, 2006: 25).
Pelo centro de interesse e problemática teórica, longe de um
entendimento unívoco, não se pode negar que se referem aos estudos das
políticas públicas o esforço de compreensão acerca das expressões de
relações específicas de poder entre Estado, mercado e sociedade no contexto
contemporâneo (DI GIOVANNI, 2009). Assim, assume-se, neste artigo, que a
noção de políticas públicas expressa, sobretudo, o sentido de atuação do
Estado, em observâncias aos aspectos jurídico-institucionais, constituídas
sócio-historicamente por meio de relações de poder entre vários setores do
poder público, da sociedade civil e do mercado, de modo que, sobretudo, para
entendê-la, daremos ênfase aos atores sociais que estão inscritos no cerne
destas relações. Neste sentido, temos que:
Políticas Públicas são definidas pela interação entre atores no interior dos
ambientes institucionais e relacionais presentes nas comunidades políticas. As
dinâmicas políticas são resultado dessas interações, tendo em conta os
constrangimentos das instituições e das redes de relações pessoais e
institucionais presentes. Essas dinâmicas são fortemente influenciadas por
legados, já que tanto o ambiente institucional e as redes, como a própria
política pública, são historicamente construídos. Esses legados, assim como
diversas “estruturas” presentes em cada caso (econômicas, relacionais,
espaciais e institucionais) definem instrumentos de poder diferenciados para os
atores políticos potenciais, tornando alguns deles mais capazes de fazer valer
seus interesses do que outros, além de conduzir alguns atores potenciais em
direção à irrelevância (MARQUES, 2003: 47).
Assim, quando tratamos do estudo das políticas públicas nos parece
fundamental levantar questões sobre seu funcionamento, sobretudo, buscar
compreender as relações entre os atores que estão envolvidos na sua
respectiva gestão (GRAU, IÑIGUEZ-RUEDA, SUBIRATS, 2010; SPINK, 2011).
Os complexos processos socioeconômicos em curso no capitalismo
contemporâneo, nas últimas décadas principalmente, têm modificado a noção
de território e das relações sociais, ambientas e econômicas que a engendram,
de modo que qualquer política pública que se disponha a combater as diversas
mazelas sociais deva levar em conta as particularidades locais, inclusive no
tocante a sua dimensão político-cultural, de lideranças e empreendedores
locais nas políticas públicas (BAVA, 1996; DOWBOR, 2003). Neste sentido,
destacamos que:
toda política pública se puede considerar un proceso de ingeniería
heterogénea, el resultado del cual es una red híbrida que se articula en una
arena en la que ya existen otras redes. Una red híbrida fruto de múltiples
procesos de asociación en los que participan una gran cantidad y diversidad de
elementos. (...) Así, podemos entender las políticas públicas como flujos
continuos de decisiones y acciones a los cuales, a través de su análisis,
tenemos que dar sentido. (GRAU; ÍÑIGUEZ-RUEDA; SUBIRATS, 2010: 66).
Com efeito, segundo Brigadão; Nascimento; Spink (2011), é importante
ressaltar que a análise de políticas pública deve considerar interesses diversos,
controvérsias, conflitos e resistências, de modo que a perspectiva:
proposta por Bowe, Ball e Gold (1992), na qual o Police Cycle deve ser
estudado como um ciclo contínuo em que os contextos de produção do texto,
de influência e de prática nas políticas públicas estão intimamente relacionados
e que, ao contrário de muitos estudos clássicos de Policy Cicle, o ciclo não é
constituído por etapas lineares e seqüenciais. Assim, cada um desses
contextos envolve atores com interesses diversos e, portanto, há controvérsias,
conflitos e resistências (BRIGADÃO; NASCIMENTO; SPINK, 211: 203-204).
Uma vez que não se trata de uma análise exaustiva dos referidos textos,
mas sim de realizar uma leitura introdutória, que tem como propósito ressaltar
alguns aspectos relevantes para uma compreensão mais clara sobre o conceito
de política pública, apontando sua constituição como um processo
historicamente condicionado às interações entre atores sociais em redes sócio-
políticas e que, por seu turno, estão inscritas em relações dinâmicas de poder
estabelecidas pelo contexto institucional. Deste modo, sob certo sentido, o
caráter democrático da gestão das políticas públicas, também retrata a
natureza da cidadania.
Ao se analisar o estatuto da cidadania como um conceito complexo e
não definitivo, em permanente tensão entre o ser e o dever ser, na totalidade
de seus aspectos sociológicos, jurídicos e políticos, parece oportuno assumi-la
como tipo de status social balizados por direitos/deveres (civis, políticos e
sociais) em sociedade que estão orientados à inclusão social (MARSHALL,
1967) e, também, ao direcionamento do embasamento social ao político
(CARVALHO, 2004).
O que hoje chamamos de democracia participativa se construiu junto e
como parte integrante da reestruturação das relações de poder entre a
sociedade civil e o Estado, principalmente após o período militar. A participação
no processo de redemocratização se configurou como fundamento e o modo
constitutivo de um novo paradigma para o estabelecimento de relações de
poder que conformam de formas diversas as várias perspectivas de interação
da sociedade civil com a gestão pública. Com efeito, o processo de
redemocratização possibilitou a reabertura do debate sobre o significado da
democracia e da cidadania, e a partir daí o papel das políticas públicas na
contemporaneidade.
A crescente pesquisa voltada para dimensionar a correspondência entre
a participação da sociedade civil e a efetividade das políticas públicas tem sido
objeto de relevantes pesquisas e notórias contribuições para a literatura
acadêmica (ABERS, 2000; TAGATIBA, 2002; AVRITZER, 2010; WAMPLER,
2011; CORTES, 2005, 2011). Neste contexto, uma importante vertente refere-
se à gestão social. A gestão social constitui um lócus de estudos e práticas que
balizam a pesquisa no setor público pelo caráter reflexivo sobre as
possibilidades e os limites da gestão democrática, com vistas à consolidação
de referências organizacionais para além da do escopo da gestão estratégica –
ação social utilitarista baseada na competência técnica e atribuição hierárquica
(TENÓRIO, 2008) - e, assim, volta-se para concepções de gestão
significativamente mais dialógicos e participativos com a sociedade civil e,
sobretudo, para a sociedade civil, norteados sob a discussão crítica entre os
interesses e diversas percepções subjetivas dos atores sociais envolvidos na
política pública (TENÓRIO, 2008).
A gestão social consiste num empreendimento teórico-metodológico que
visa salvaguardar a participação da sociedade civil nas políticas públicas e, ao
mesmo tempo, ampliá-la com novos mecanismos, seja em seu caráter
consultivo ou deliberativo, pois o que está em foco é o fortalecimento social
dialogicamente arregimentado pelo político na gestão das políticas públicas. A
experimentação e a busca por mecanismos que sejam capazes de articular
dimensões representativas com participativas (AVRITZER, 2009), bem como a
salvaguarda da transparência e controle social constituem elementos
fundamentais para a elaboração de modelos de gestão de políticas públicas
capazes de responder às novas reivindicações e complexidades da democracia
na contemporaneidade.
Uma das justificativas da importância do presente estudo de caso está
caracterizada pela imprecisão das conseqüências e efeitos que tornam a
participação da sociedade civil no ciclo das políticas públicas. Neste sentido,
nos interessa particularmente a instância do conselho no âmbito do
desenvolvimento local4. Cabe destacar, também, que os conselhos são
espaços institucionais recentes e que têm destacado importantes mecanismos
de participação no processo de redefinição do espaço público brasileiro, ao
introduzirem a sociedade civil no campo das políticas públicas (GOHN, 2006).
Como novos instrumentos de expressão, representação e participação, com
relevante potencial de transformação política para imprimir novos formatos no
ciclo das políticas públicas.
O que se apresenta, então, é que uma retomada do debate sobre o
papel da cidadania e, para tanto, exige a discussão dos limites e das
possibilidades que conformam o exercício da democracia participativa. Isto é, a
democracia não pode ser circunscrita como mero conjunto de procedimentos
jurídico-institucionais que envolvem o funcionamento do poder político, mas sim
4 Os conselhos apontam tendências participativas, mais ou menos significativas, na gestão de
políticas públicas, assim os conselhos são: “(...) espaços públicos de composição plural e
paritária entre Estado e sociedade civil, de natureza deliberativa, cuja função é formular e
controlar a execução das políticas públicas setoriais” (TATAGIBA, 2002: 54).
como um meio crucial para a afirmação do embasamento social ao político, que
busca continuamente tanto o aumento da participação dos cidadãos e de seus
segmentos organizados, quanto a inserção de novos atores no espaço público.
Em especial, no campo da gestão das políticas públicas, identificamos algumas
importantes experiências de inovação no setor público, no sentido proposto por
Farah (2006), modificando o desenho institucional do espaço público (FUNG,
2004), em moldes mais participativos e transparentes de gestão, mesmo
sabendo que “o processo de construção democrática não é linear, mas
contraditório e fragmentado” (DAGNINO, 2002: 279).
2. Governança pública: afinal, do que se trata?
Os estudos da governança denotam análises da crise do Estado de
bem-estar social a um novo paradigma de gestão do poder público na
contemporaneidade (CAPELLA, 2009). As várias concepções de governança,
em certo sentido comum, de forma geral, no âmbito do setor público, procuram
revelar as novas complexidades que envolvem os arranjos de funcionamento
organizacional na interação entre os diversos atores e a gestão das políticas
públicas. Para Capella (2008: 09):
Governança pode ser um projeto intelectual de unificação de uma literatura
multidisciplinar em um corpo teórico unificado. Por outro lado, governança pode
ser visto como o conjunto de práticas presentes nas reformas orientadas pelas
idéias da nova administração pública. Ou, ainda, o termo governança pode ser
entendido para além da nova administração pública, envolvendo idéias como
relações laterais, relações inter-institucionais, diminuição dos limites
jurisdicionais e estabelecimento de redes de cooperação.
Conforme a revisão de literature de Capella (2008), governança pode ser
compreendida como uma mudança do Estado burocrático para um
gerencialista (MILLWARD; PROVAN, 2000 apud CAPELLA 2008). Sob outra
concepção, governança pode significar a ênfase ao desempenho do setor
público e dos novos arranjos institucionais correspondentes (HEINRICH; LYNN,
2000 apud CAPELLA 2008). Convém destacar, também, outra concepção, na
qual a governança relaciona-se ao desenvolvimento do capital social,
fortalecimento da sociedade civil, da participação cidadão nas políticas públicas
(HIRST, 2000 apud CAPELLA 2008; SORENSEN, 2004 apud CAPELLA 2008).
Outras direções interpretativas, incorporam no conceito de governança a
dimensão da cooperação inter-jurisdicional e a relação de redes na gestão de
políticas públicas (PETERS; PIERRE, 1998 apud CAPELLA 2008).
Outra concepção, forjada no bojo da Nova Economia Institucional,
refere-se ao conceito de governança como o arranjo institucional que objetiva
minorar os impactos do Custo de Transação (CT) nas relações contratuais.
Essa perspectiva alia tanto pressupostos da teoria econômica quanto,
adicionalmente, a abordagem conceitual do institucionalismo. Destacam-se,
neste contexto, autores como Oliver Williamson, Ronald Coase e Douglass
North5.
De forma sucinta, temos que o ambiente institucional corresponde ao
sistema de normas que regulam a relação contratual, mediante restrições de
diversas ordens, sejam informais, regras, leis, meios de controle, entre outros,
que condicionam o desempenho da gestão do contrato. Vale destacar que são
dois pressupostos comportamentais que balizam a compreensão do Custo de
Transação, a saber: i) racionalidade limitada SIMON, 1978) e oportunismo
(WILLIAMSON, 1985). O primeiro refere-se à noção de que o agente
econômico possui uma racionalidade limitada diante da complexidade dos
aspectos que envolvem o contrato. O outro pressuposto afirma que pode
ocorrer um resultado oportunista quando as ações dos indivíduos estão
orientadas tão-somente pela busca do seu auto-interesse com avidez e que,
com isso, influenciam de forma prejudicial o funcionamento deste arranjo
institucional, impactando sobre a sua eficiência (WILLIAMSON, 1985).
O que, resumidamente, a abordagem da governança sob a perspectiva
da Nova Economia Institucional pretende enfocar é, justamente, a gestão dos
impactos que os CT geram na eficiência da relação contratual por razão do
comportamento dos agentes. A governança, então, busca criar condições de
diminuir os impactos dos CT. Com efeito, o fio condutor da governança para a
Nova Economia Institucional enfoca formas de aperfeiçoar a relação contratual
mediante arranjos institucionais que condicionem de forma mais cooperativa a
5 Para mais informações sobre os autores e considerações sobre os pontos essências de
referência sobre a Nova Economia Institucional e o setor público, ver Peres (2007).
interação comportamental entre os agentes econômicos envolvidos no
contrato, admitindo-se os pressupostos supracitados anteriormente.
Diante desta breve e sistemática abordagem sobre algumas, dentre
várias perspectivas acerca da governança, de modo geral, quando o conceito é
aplicado ao campo das políticas públicas, qualquer concepção precisa ser
contextualiza em razão das especificidades teórico-analíticas. Neste sentido,
por exemplo, destacamos que:
novas formas de ação pública começaram a emergir, caracterizadas por
sistemas complexos de atores, com bases de legitimidade diferentes, em
formas de associação, parceria e negociação territorial, incluindo grupos de
interesse distintos, governos locais, o setor privado e agências públicas e
governos de outros níveis. Por não serem governos nem simples mecanismos
de gestão, começou-se a usar o termo “governança”. (...) Nesse sentido, a
grande vantagem trazida pela discussão sobre governança (de abrir os olhos e
ouvidos dos pesquisadores para um mundo além dos modelos clássicos de
governo ou mercado) acabou sendo, de certa forma, seu tendão de Aquiles: a
dificuldade de lidar com a variedade e a complexidade presente em tentativas
de coordenação inter-jurisdicional de base territorial (SPINK, 2012: 18).
Repensar a governança na gestão de políticas públicas, fazer uma
leitura crítica do estado da arte desta perspectiva, poderia seguir vários
caminhos. No que diz respeito à governança pública, a partir de Kissler e
Heidemann (2006), podemos afirmar que se refere ao estudo e análise de
modelos de regulação político-administrativa sobre a interação, concatenados,
sobretudo, pela cooperação entre os atores envolvidos no ciclo de políticas
públicas.
Neste sentido, propomos problematizar o conceito de governança para
aspectos que assimilem, também, a dimensão do simbólico-cognitivo (valores,
idéias, crenças, ideologias) como fatores condicionantes no processo de
interação entre esses atores, para além da busca por aperfeiçoar a relação
contratual. Frente ao exposto, para autores como Sabatier e JenkinsSmith, as
crenças, valores e idéias são importantes dimensões do processo de
formulação de políticas públicas, e tendem a centrar numa distinção,
considerada aqui crucial, na qual a política pública consiste num processo de
interação dinâmico e mediado por aspectos simbólicos de motivação.
O que se propõe, então, não é a fusão ingênua de concepções
conceituais distintas entre si, entre a Nova Economia Institucional e o Modelo
de Coalizão Advocatória, mas sim uma combinação crítica que comporte, para
fins de problematização analítica, de um lado, tanto uma perspectiva de
orientação pragmática da interação social, conformado os comportamentos e
os interesses por meio dos arranjos institucionais, com vista à redução dos
custos de transação, quanto, de outro, uma perspectiva simbólico-cognitiva que
dê importância ao subjetivo, na compreensão do comportamento entre os
atores sociais na policy networks. O que importa nesta perspectiva é que o
conceito de governança reflita, sobretudo, a “ênfase nos aspectos simbólicos
da ação coletiva, de forma a considerar, para além das lógicas fundadas nos
interesses, a contribuição de ideologias e visões de mundo, além da
possibilidade de interações dialógicas e não apenas instrumentais”
(MENICCUCI; BRASIL, 2010: 310).
Por fim, consideramos que entender as relações sociais como interações
complexas que devem ser captadas, estudadas e interpretadas representa
umas das preocupações mais relevantes para se tratar do conceito de
governança, em especial no contexto das políticas públicas. Neste quadro, a
ênfase é a ideia de que a governança é um objeto construído e que a razão
para a discussão sobre o seu significado assenta, acima de tudo, em várias
perspectivas e numa pluralidade de conceber e pensar a realidade a que se
propõe analisar. Assim, discutiu-se com mais ênfase dois modos contrastantes
de pensar tal conceito: um, predominante econômico, e que pode ser
associado à Nova Economia Institucional, liga a governança à ideia de busca
de escolhas mais eficientes na gestão de contrato num contexto de custos de
transação entre os atores e supõe a possibilidade de aperfeiçoar a relação
contratual de forma mais cooperativa; o outro, subscrito por autores de relevo
como Weible, Sabatier e Mcqueen (2009), adicionam a partir destes autores,
ao conceito de governança um arranjo de negociação e persuasão de
motivações simbólicas e que se pretendem configurar em políticas públicas.
O conceito de governança, nos termos e ponderações aqui
apresentados, tem a vantagem de transmitir simultaneamente uma concepção
de natureza simbólico-cognitiva de motivação da interação social, mas também
instrumental, de busca da redução de custos de transação na gestão das
relações contratuais. Governança é consiste em interação social simbólica
entre os atores, mas operacionaliza-se mediante formas contratuais para
gestão das políticas públicas.
3. Governança Pública e o Modelo de Coalizão Advocatória: uma
implementação top down e bottom up?
Para balizar o foco da discussão sobre governança, buscamos dar
relevância à implementação. Trataremos, num primeiro momento, de discutir
brevemente alguns aspectos importantes sobre a literatura da implementação,
mesmo que predominantemente sob abordagem dual: top down e buttow up. A
abordagem top down linear simples tem suas fundamentações em modelo que
marcam as etapas das políticas públicas a partir das decisões do topo da
organização e, deste modo, enfatizam a predominância da distinção entre
formulação e implementação da política pública, como momentos separados e
que são marcados com aspectos diferentes entre si (SILVA, MELO 2000). Essa
perspectiva expõe o processo de implementação de políticas públicas sob uma
interpretação mais organizada e linear de interação entre os atores, ou melhor,
uma forma mais racional, planejada e estruturada, na qual se a gestão da
política pública estaria fortemente influenciada pela tomada de decisão pelos
formuladores (SILVA, MELO 2000). Os problemas na implementação, neste
entendimento, são considerados como “desvios de rota” (SILVA, MELO 2000).
Uma abordagem top down da implementação aponta uma importante
ênfase analítica que incorpora uma relação na qual a tomada de decisão na
formulação das autoridades governamentais deve ser estritamente cumprida na
implementação, isto é, a orientação normativa e metodológica, no momento da
formulação da política precede de forma lógica e organizacional o momento da
implementação, e os problemas de implementação são decorrentes do plano
na etapa da formulação (MAJONE; WILDAVSKY, 1997). Ainda na perspectiva
top down, de um lado, destacamos a noção de forward mapping o “pressuposto
de que os formuladores influenciam a implementação, definindo-a no topo da
pirâmide da administração e indicando o que esperam em cada fase” (VIANA,
1997: 25), e de modo mais específico: “o conceito de forward trabalha com a
noção de que os "fazedores" de política controlam o processo” (VIANA, 1997:
25). Por outro lado, na abordagem backward se discute essa centraldiade dos
"fazedores" de política pública, de modo a não controlar a implementação tal
como apresenta a perspectiva forward mapping, pois o que ocorre é, ao
contrário, “uma lógica oposta à da abordagem forward: a implementação não
se define no topo da pirâmide da administração, mas no ponto em que ações
administrativas interceptam escolhas privadas” (VIANA, 1997: 25). Em outras
palavras, tal como Howlett e Ramesh (1995: 185), podemos afirmar que a
abordagem top down consiste, de forma geral, no seguinte:
assumes that we can usefully view the policy process as a series of chains of
command where political leaders articulate a clear policy preference which is
then carried out at increasing levels of specificity as it goes through the
administrative machinery that serves the government.
Para Lipsky (1980), que pode ser considerado um dos precursores
abordagem bottom up, importa as relações da política pública com “street-level
bureaucrats”, em especial no tocante à implementação. Com efeito, na
abordagem bottom up, tem-se a perspectiva de que os implementadores não
estão subordinados de forma rígida e linear aos formuladores, existem formas
de poder, intervenção e autonomia, surgindo assim uma tradição de estudos
que privilegiam a implementação sob o enfoque das redes sociais e aos atores
envolvidos na gestão da política pública, assim, numa analogia as regras de
um jogo, como nos explica Viana (1997: 27), nas políticas públicas “a barganha
se estabelece justamente quando se devem agregar as partes em função de
um objetivo”. Esses atores são portadores de conhecimento e de experiência, e
interagem neste jogo de modo a criar condições para maximizar o seu poder de
influência na política pública através de mecanismos de negociação e
persuasão (PARSONS, 1995).
Assim, dentre várias perspectivas que enfatizam a relevância dos
aspectos cognitivos e a constituição de policy networks para se compreender
as políticas públicas, destacamos o Modelo de Coalizão advocatória6
(advocacy coalition framework), desenvolvida principalmente por Paul A.
6 A tradução mais comum na literatura no Brasil para a expressão é Modelo de Coalizão de
Defesa. Entretanto, não parece apropriado tal tradução, pois o termo “advocacy” está mais
associado ao ato de argumentar a favor de, pressupondo ao sujeito da ação uma função ativa
de persuasão e entendimento em relação a algo, como que na tradução do termo “advocacy”
como defesa, ao contrário, a palavra figura mais uma função passiva do sujeito, reativo em
relação a algo. Agradeço ao prof. Peter Spink pelo oportuno comentário.
Sabatier e por Hank Jenkins-Smith, em diversos trabalhos (SABATIER, 1991;
SABATIER, WEIBLE, 2007; WEIBLE, SABATIER, McQUEEN, 2009). Tal
perspectiva nos parece oportuna ao propósito do presente estudo, pois:
Muito sinteticamente, é possível dizer que a perspectiva analítica das advocacy
coalitions está interessada em explicar os padrões de mudança nas políticas
públicas em um mundo cada vez mais interdependente e marcado pela incerteza.
Para isso, focaliza as interações no interior das e entre as distintas coalizões
de advocacy, cada uma consistindo de atores de uma variedade de instituições,
governamentais e não governamentais, que compartilham um conjunto de policy
beliefs e atuam dentro de um dado subsistema de políticas ou área setorial
específica. A mudança nas políticas é interpretada como uma função tanto da
competição no interior do subsistema como de eventos externos. Busca-se
distinguir, em cada coalizão: (a) um núcleo duro de axiomas normativos
fundamentais; (b) um núcleo de políticas (policy core), composto por posições
fundamentais acerca dos cursos de ação preferenciais, que são consensuais entre
os participantes; e (c) uma multiplicidade de decisões instrumentais necessárias
para se implementar o policy core (FARIA, 2003: 24).
A gestão de políticas públicas, embora fundada na busca pela
compreensão da realidade consiste, acima de tudo, na afirmação de
determinadas perspectivas teórico-analíticas. Pelo modo específico como a
realidade é pensada, a política pública seria distinguível de outros saberes nas
Ciências Sociais. Dessa forma, a importância do Modelo de Coalizão
Advocatória consiste, justamente, ao enfoque que privilegia o aspecto
simbólico-cognitivo (policy beliefs) que precede e condiciona a interação
política entre os atores sociais em comunidades ou subsistemas. Ou seja, o
modelo explora analiticamente o comportamento dos atores por meio de seus
valores e crenças e examina as formas pelas quais esses atores distintos
interagem para advogar a favor de valores e de crenças com outras
comunidades políticas, organizando-se em torno de coalizões advocatórias em
relação a algum aspecto, visando para tanto a transformação desses valores e
crenças em políticas públicas que reflitam em ações concretas e específicas
razões e motivações simbólicas pelas quais esses atores interagem. Não se
trata, portanto, de forjar consensos harmoniosos e categóricos entre
perspectivas diferentes decorrentes da pluralidades de motivações simbólicas,
mas sim de articular e persuadir nexos entre interesses diversos, que no
âmbito político podem interagir sob certa convergência, objetivando realização
prática de suas motivações simbólicas. Em outras palavras, encontramos:
The interaction of competing advocacy coalitions within a policy
subsystem/community. An advocacy coalition consists of actors from many
public and private organizations at all levels of government who share a set of
basic beliefs (policy goals plus causal and other perceptions) and who seek to
manipulate the rules of various governmental institu tions to achieve those
goals over time (SABATIER, 1991: 152-153).
Outro aspecto importante é o chamado “police oriented learning”
(SABATIER, WEIBLE, 2007). Tal como preconiza o Modelo de Coalizão
Advocatória, refere-se a uma noção conceitual que trata sobre o processo de
mudança no caráter da política pública, isto é, alterações que se consolidam ao
longo do tempo e estão dirigidas ou orientadas pelo aprendizado tanto
instrumental de operacionalização técnica quanto nas crenças e valores que
conformam a estabilidade de uma determinada coalizão entre as comunidades
política (SABATIER, 1991; SABATIER, WEIBLE, 2007). A comunidade ou
subsistema político é entendido como um resultado da interação entre atores
para formar uma coalizão de defesa em torno de determinados valores e ideias
com vistas a torná-los objetos de políticas públicas (SABATIER, 1991). A
interação, nesta perspectiva, opera-se mediante a relação de rede.
Em uma importante sistematização da complexidade do fenômeno de
redes políticas, Fleury (2005: 79) afirma que para “a corrente da governança,
as redes de políticas são concebidas como uma forma particular de
governança dos sistemas políticos modernos, centrando-se na estrutura e
processos através dos quais as políticas públicas se estruturam” Fleury (2005)
apresenta, deste modo, que a governança, segundo Rhodes (1986 apud
FLEURY, 2005), encontra nas redes os elementos determinantes para se
compreender, sobretudo, a implementação das políticas públicas.
Em síntese, a governança pública nos termos aqui apresentados, pode
ser caracterizada tanto pelo aporte teórico da Economia de Custos de
Transação, no tocante à busca pela redução do CT na gestão de contratos
quanto pelo Modelo Coalizão Advocatória, ao tratar a governança como uma
dimensão simbólico-cognitiva de interação sociopolítica, na qual a interação
não é uma relação estabelecida por um controle hierarquizado, pois na rede
comportam-se diversos atores que atuam em diferentes níveis de governo,
mercado e da sociedade civil, e isso não implica que haja um relacionamento
hierárquico entre eles.
O aspecto central deste tipo de governança consiste na interação por
redes onde a posição de poder está relacionada com a capacidade de
influência que cada ator tem para organizar-se, mediante a observância dos
condicionamentos estabelecidos pelo arranjo institucional. Assim, ao
salvaguardar valores e interesses, esses atores buscam encontrar
correspondências e meios que garantam a viabilidade de negociação com
outros atores na mesma da rede sociopolítica. Os atores devem atuar em
cooperação buscando uma síntese de orientações políticas para alcançar
coalizões para operacionalizar mediante políticas públicas objetivos, metas e
valores (SABATIER, 1991). Com efeito, no foco do Modelo de Coalização
Advocatória reconhece e centra-se analiticamente no processo de negociação
pelos quais as motivações simbólicas tornam-se influenciadas e definidas, se
assim se pode dizer, pela capacidade de persuação forjada pela apropriação
do processo de police oriented learning WEIBLE, SABATIER, McQUEEN,
2009).
No ensejo desta abordagem, sobre a governança e as redes,
encontramos uma importante contribuição no bojo dos limites e possibilidades
da democracia deliberativa. A democracia deliberativa é, para Carlos Nino
Santiago (2005), uma perspectiva que está além da organização do poder,
dando centralidade a busca por garantias jurídicas que salvaguardem a
representação participativa dos que são afetados pelas decisões políticas7. A
democracia deliberativa visaria, então, dar legitimidade à decisão majoritária
(NINO, 2005). Há um valor epistêmico e jurídico na qual a democracia
deliberativa deve ser compatível e que, mais precisamente, condicionem todas
as formas de negociação de interesses e de emoções, valores, movidos por
paixões, das ações dos atores sociais, privilegiando o caráter intersubjetivo dos
diálogos (NINO, 2005). A democracia deliberativa seria, para o autor, a forma
mais confiável de se construir a legitimidade das decisões assistida por um
7 Para mais detalhes sobre o arcabouço teórico de Carlos Santiago Nino, ver Godoy (2001).
processo de negociações e emoções na dinâmica de interação entre os
sujeitos (NINO, 2005)..
Se assumirmos a importância da discussão de Nino (2005) para se
conceber a ideia de democracia deliberativa, continua a ser importante a
ampliação e fortalecimento dos espaços participativos. Com efeito, ao darmos
ênfase no esforço de criação de espaços públicos participativos que
oportunizam a promoção do engajamento cívico e do aprimoramento da
deliberação pública, parece oportuno, então, neste sentido, propor a análise do
desenho institucional da participação por meio do conceito de minipúblicos, tal
como denomina Archon Fung (2004).
Para Archon Fung (2004), os minipúblicos constituem um conjunto de
instâncias de interação social que possibilitam e, sobretudo, fortalecem o
engajamento cívico e a deliberação pública. Nas palavras do autor, os
minipúblicos são os “atuais esforços construtivos mais promissores para o
engajamento cívico e a deliberação pública na política contemporânea.”
(FUNG, 2004: 174). Com efeito, esses novos arranjos chamados de
minipúblicos, “se estendem para bem além da legitimidade para incluir
accontability pública, justiça social, governança efetiva e mobilização popular”
(FUNG, 2004: 175).
Tomaremos em conta que sendo o objeto da governança certa
construção teórico-analítica acerca das relações entre os sujeitos, inscritos em
interações sociais com características específicas, sendo também um enfoque,
um ângulo de observação, é oportuno completar essa focagem de forma
entrelaçada com o contexto de democracia deliberativa, nos termos de Nino
(2005) e, de forma articulada, demonstrar a relevância prática da emergência
de novos espaços participativos de engajamento cívico e deliberação pública.
4. A descrição do Conselho Consultivo no Consórcio
Intermunicipal do ABC
A partir do processo de redemocratização, a questão do federalismo tem
ganhado crescente importância no debate sobre o papel do Estado, seus
limites e possibilidades no desempenho das políticas públicas (MELO, 1991,
SOUZA, 1996; ABRUCIO, 2005). Assim, com os marcos jurídico-institucionais
societários instituídos pela Constituição Federal de 1988, tornou-se possível a
formação de consórcios entre entes públicos (municípios, estados e União), o
que estabeleceu um novo arranjo institucional de gestão de atividades
específicas e consecução de objetivos de interesse comum entre os partícipes,
constituindo um mecanismo voltado a fortalecer o projeto de entendido como
um federalismo cooperativo (FARAH, 2006; ABRUCIO , 2005) na gestão das
políticas públicas, com foco na prestação de serviços públicos8.
O caso do Consórcio Intermunicipal do ABC é, de fato, uma experiência
inovadora e com várias particularidades dignas de nota (ABRUCIO; SOARES,
2001; REIS, 2007; BRESCIANI, 2012). Dentre vários aspectos relevantes para
análise, consideramos pertinente propor um recorte preciso: a compreensão do
Conselho Consultivo do Consórcio Intermunicipal do ABC.
O Conselho Consultivo é uma instância participativa que reúne diversos
representantes que compõe, então, esse órgão consultivo da Assembléia Geral
dos prefeitos. A Assembléia Geral dos prefeitos ocorre anualmente. Já o
Conselho Consultivo tem reuniões periódicas ao longo do ano, com um objetivo
fundamental de propor planos e programas de acordo com as finalidades do
Consórcio, assim como apresentar propostas de melhorias, estudos de
acompanhamento e pareceres de caráter técnico sobre os projetos definidos
pelo Consórcio, propondo, por fim, um plano com diretrizes, ações e propostas
para aprovação em contexto deliberativa pela Assembléia Geral do Consórcio.
Desde fevereiro de 2010, a entidade consiste em um consórcio público
multisetorial de direito público e natureza autárquica, com a autorização de
todas as casas legislativas das sete cidades. O Conselho Consultivo é
constituído por representantes de entidades civis, legalmente constituídas, com
sede ou representação nos municípios consorciados dos seguintes segmentos:
I – Instituições de Ensino Superior; II – Sindicatos; III – Indústria; IV –
8 O Decreto Federal n° 6.017, de 17 de janeiro de 2007, normatiza a constituição dos
Consórcios Públicos no Brasil, considerando o consórcio público enquanto pessoa jurídica formada exclusivamente por entes da Federação, na forma da Lei n 11.107, de 2005, para estabelecer relações de cooperação federativa, inclusive a realização de objetivos de interesse comum, constituída como associação pública, com personalidade jurídica de direito público e natureza autárquica, ou como pessoa jurídica de direito privado sem fins econômicos.
Comércio; V – Serviços; e VI – Sociedade Civil organizada não representada
nos segmentos anteriores. Neste aspecto, destacamos:
No que tange à composição do Conselho Consultivo do Consórcio, é bastante
provável que seja necessária a sua revisão, já que o dispositivo atual privilegia
representações de caráter econômico: dos seis segmentos definidos para a
eleição de representantes, quatro tem esse caráter (entidades da indústria
regional, do setor comercial, do setor de serviços e dos sindicatos de
trabalhadores) e apenas duas tem caráter mais amplo (universidades e “outros
setores não representados” nas demais categorias) (BRESCIANI, 2012: 168).
O funcionamento do Conselho Consultivo está, tecnicamente, balizado
pelos estudos e pareceres dos grupos de trabalho (GT). O GT é composto por
pesquisadores e técnicos que fornecem estudos para análise e pareceres para
subsidiar operacionalmente os propósitos e determinações do Conselho
Consultivo, de forma a estabelecer o alinhamento das questões técnicas ao
projeto de articulação política entre os diversos atores sociais, na compreensão
das potencialidades econômicas e culturais que conformam a vocação
socioeconômica da abordagem territorial. O desafio do GT é inspirar toda
concepção técnica dos projetos para além dos limites dos municípios. Cabe ao
GT fornecer dados e relatórios técnicos para a melhoria da coordenação inter e
intra-governamental, assim como cabe também a organização permanente de
meios para fornecer diagnósticos acerca das necessidades da prestação de
serviços públicos e de políticas públicas que responda às demandas
metropolitanas da região e que, de forma integrada, possibilitem um sentido de
atuação mais cooperativo entre os poderes executivos da região, em
observâncias às especificidades e interesses locais.
Destacamos que parte significativa das atribuições que caracterização a
atuação do GT consiste, de forma geral, no fortalecimento técnico das
propostas do Conselho, contribuindo assim para o tratamento que se pretende
mais adequado as complexidades que envolvem os propósitos que
caracterizam esta entidade como uma instituição ordenadora político-territorial
das políticas públicas locais da região, inclusive para qualificar e fortalecer o
diálogo com outras esferas de governos sobre as especificidades de seus
projetos de políticas públicas.
O que é importante evidenciar no funcionamento do Conselho é,
justamente, que a negociação e persuasão política esta arregimentada pela
operacionalização e viabilidade técnica dos projetos, em geral com
contribuições significativas do GT. Esse desenho institucional tem como
propósito central corroborar para uma lógica de funcionamento mais eficaz e
transparente de entrega de bens e serviços à população local. Para além das
fronteiras administrativas dos municípios, o fio condutor do desenho
institucional orientado a promoção intergovernamental e transgovernamental da
gestão das políticas públicas.
De certo modo, resume-se o desafio do Conselho em consolidar um
espaço participativo com caráter dialógico de interação entre os diversos atores
que estão envolvidos e que são impactados pelas decisões públicas definidas
pelo atuação do Consórcio. Nos termos de Fung (2004), poderíamos afirmar
que o Conselho configura uma espécie de minipúblico que representa uma
significativa experiência para criar condições de ampliação, fortalecimento e
consolidação da participação da sociedade civil por meio do engajamento
cívico na deliberação pública para propor objetivos concatenados por metas de
crescimento econômico local e de combate à desigualdade social, aliada à
conservação dos recursos naturais.
Neste sentido, conforme Farah (2006), ao tratar a temática da inovação
nas políticas públicas, a inclusão de novos atores na formulação e
implementação de uma política pode promover uma articulação de gestão que
transcenda o escopo da esfera pública de ordem tão somente estatal. Neste
caso, a inovação reside, dentre outros aspectos, no Conselho como um espaço
participativo que condiciona o funcionamento do Consórcio por atores da
sociedade civil. O que se coloca, então, é a inovação institucional da
apropriação participativa dos atores da sociedade civil e do mercado local, o
que possibilita a constituição de políticas públicas dotadas de uma
complexidade que reconhece a pluralidade de interesses e motivações que
estão inscritas no espaço local.
No Conselho Consultivo do Consórcio Intermunicipal do ABC
encontramos uma importante experiência de governança pública no contexto
metropolitano. Vê-se que o Conselho, na intersecção de várias lógicas e
influências intersubjetivas dos atores, que também pode ser entendido por uma
perspectiva de “aprendizado político dirigido” (SABATIER, 1991) como um
caráter técnico-instrumental que, ao seu modo, conforma as decisões e a
gestão das políticas públicas. Ou seja, o âmbito técnico-instrumental pode
servir para que os membros da coalizão modifiquem, a partir de aspectos
técnicos, as motivações e valores que influenciam sua interação social, para
atingir seus objetivos políticos, daí o sentido “dirigido” ou “orientado” da
influência instrumental do aprendizado técnico sobre o político.
O Conselho Consultivo Regional do Grande ABC, como já foi dito
anteriormente, foi concebida como um espaço institucional voltado a congregar
a participação de múltiplos atores de forma horizontal, com o propósito de criar
condições para forjar convergências políticas sobre as políticas públicas. A
partir de várias perspectivas de setores do Estado, do setor privado e da
sociedade civil, os atores interagem de forma dialógica por criar e fortalecer
coalizões advocatórias em torno de certas temáticas, valores e motivações.
Com isso, objetivando o desenvolvimento econômico e social da região, via
implementação de políticas públicas com caráter regional, sob outra ênfase,
ocorre a redução do oportunismo político das relações no âmbito contratual da
realização das políticas públicas.
Trata-se, sobretudo, de um espaço público no qual se encontram
diferentes perspectivas políticas e interesses divergentes entre si, mas
mediados pelo arranjo institucional em rede transgovernamentais, para
operacionalizar a gestão das políticas públicas, precisam interagir, negociar
buscando tanto criar coalizões acerca de determinadas motivações e valores e,
simultaneamente, esse mesmo espaço público, acaba por criar condições para
reduzir os custos de transação, isto é, o oportunismo dos atores locais e a
assimetria de informação na operacionalização contratual da gestão das
políticas públicas.
A partir daí, criam-se coalizões advocatórias acerca de seus interesses e
valores, realizando um esforço para o estabelecimento de mecanismos de
cooperação, o que estabelece o modelo de gestão regional como um
instrumento que incorpora o paradigma proposta pela concepção de
governança pública nos termos aqui apresentados.
Considerações finais
Conforme apontou a perspectiva teórico-analítica do conceito de
governança pública, para se compreender a experiência do Conselho
Consultivo do Consórcio Intermunicipal do ABC, parece oportuno enquadrar a
discussão no escopo dos novos arranjos de democracia deliberativa,
notadamente para se pensar formas mais eficientes, eficazes, efetivas e
participativas de implementação de políticas públicas de desenvolvimento local.
Em síntese, o presente artigo consistiu, sobretudo, num esforço de
aproximação teórica da literatura de políticas públicas voltadas à compreensão
de novos arranjos institucionais de governança como apoio ao
desenvolvimento local, por meio de um breve relato analítico do Conselho do
Consórcio Intermunicipal do ABC no Brasil, que vem ganhando cada vez mais
importância como uma experiência interessante para se pensar o
desenvolvimento local para além do município. Surge daí, então, um conjunto
de novas problemáticas sobre o paradigma do desenvolvimento, sobre o papel
do Estado e da função das políticas públicas na contemporaneidade. É,
portanto, como parte de todas essas transformações e discussões que,
seguindo este rumo, nos limites claros do enfoque do presente artigo, que
considera-se tão somente uma singela contribuição neste profícuo campo de
debate e pesquisa.
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