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EnANPAD 2018 Curitiba/PR - 03 a 06/10/2018 Elementos do Empreendedorismo sob o Aspecto Cultural: Comparação Entre Países de Cultura Portuguesa e Espanhola Autoria Silveli Cristo de Andrade - [email protected] Programa de Doutoramento em Gestão/Universidade da Beira Interior Patricia Akemi Sakaguti Motoki - [email protected] Prog de Admin de Empresas/FUCAPE Business School/FUCAPE - Fund Instituto Capixaba de Pesquisas em Contab, Economia e Finanças Fabio Yoshio Suguri Motoki - [email protected] Prog de Admin de Empresas/FUCAPE Business School/FUCAPE - Fund Instituto Capixaba de Pesquisas em Contab, Economia e Finanças Resumo O objetivo deste estudo foi evidenciar aspectos ligados ao empreendedorismo de países de cultura portuguesa, quando comparado a países de cultura espanhola. Para a realização desta investigação, inicialmente pesquisou-se a literatura sobre cultura nacional e empreendedorismo. Além disso, levantou-se as conexões teóricas entre e cultura nacional e os elementos investigados, nomeadamente percepção de oportunidades, competências prévias, tolerância ao risco, percepções da sociedade e motivações para empreender. Em seguida, construiu-se uma base de dados sobre empreendedorismo, tomando por base o Global Entrepreneurship Monitor (GEM, 2017), onde foram selecionadas as variáveis citadas dos países de culturas portuguesa e espanhola. A análise utilizada foi a regressão Logit. Os resultados mostraram diferenças significativas entre residentes em países de cultura portuguesa e espanhola para todas as cinco variáveis medidas (percepção de oportunidades, competências prévias, tolerância ao risco, percepções da sociedade e motivações para empreender). Isso leva a concluir que há evidências de percepções distintas entre as culturas portuguesa e espanhola, o que pode impactar na forma de gerir o empreendedorismo em países com tais culturas. Importa destacar que ao encontrar diferenças de percepções entre culturas distintas, apesar de próximas, pode facilitar o desenvolvimento de políticas públicas assertivas para o fomento ao empreendedorismo nos países.

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EnANPAD 2018Curitiba/PR - 03 a 06/10/2018

Elementos do Empreendedorismo sob o Aspecto Cultural: Comparação Entre Paísesde Cultura Portuguesa e Espanhola

AutoriaSilveli Cristo de Andrade - [email protected]

Programa de Doutoramento em Gestão/Universidade da Beira Interior

Patricia Akemi Sakaguti Motoki - [email protected] de Admin de Empresas/FUCAPE Business School/FUCAPE - Fund Instituto Capixaba de Pesquisas em Contab,

Economia e Finanças

Fabio Yoshio Suguri Motoki - [email protected] de Admin de Empresas/FUCAPE Business School/FUCAPE - Fund Instituto Capixaba de Pesquisas em Contab,

Economia e Finanças

ResumoO objetivo deste estudo foi evidenciar aspectos ligados ao empreendedorismo de países decultura portuguesa, quando comparado a países de cultura espanhola. Para a realização destainvestigação, inicialmente pesquisou-se a literatura sobre cultura nacional eempreendedorismo. Além disso, levantou-se as conexões teóricas entre e cultura nacional eos elementos investigados, nomeadamente percepção de oportunidades, competênciasprévias, tolerância ao risco, percepções da sociedade e motivações para empreender. Emseguida, construiu-se uma base de dados sobre empreendedorismo, tomando por base oGlobal Entrepreneurship Monitor (GEM, 2017), onde foram selecionadas as variáveiscitadas dos países de culturas portuguesa e espanhola. A análise utilizada foi a regressãoLogit. Os resultados mostraram diferenças significativas entre residentes em países decultura portuguesa e espanhola para todas as cinco variáveis medidas (percepção deoportunidades, competências prévias, tolerância ao risco, percepções da sociedade emotivações para empreender). Isso leva a concluir que há evidências de percepções distintasentre as culturas portuguesa e espanhola, o que pode impactar na forma de gerir oempreendedorismo em países com tais culturas. Importa destacar que ao encontrardiferenças de percepções entre culturas distintas, apesar de próximas, pode facilitar odesenvolvimento de políticas públicas assertivas para o fomento ao empreendedorismo nospaíses.

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Elementos do Empreendedorismo sob o Aspecto Cultural: Comparação Entre Países de

Cultura Portuguesa e Espanhola

RESUMO

O objetivo deste estudo foi evidenciar aspectos ligados ao empreendedorismo de países de

cultura portuguesa, quando comparado a países de cultura espanhola. Para a realização desta

investigação, inicialmente pesquisou-se a literatura sobre cultura nacional e empreendedorismo.

Além disso, levantou-se as conexões teóricas entre e cultura nacional e os elementos

investigados, nomeadamente percepção de oportunidades, competências prévias, tolerância ao

risco, percepções da sociedade e motivações para empreender. Em seguida, construiu-se uma

base de dados sobre empreendedorismo, tomando por base o Global Entrepreneurship Monitor

(GEM, 2017), onde foram selecionadas as variáveis citadas dos países de culturas portuguesa e

espanhola. A análise utilizada foi a regressão Logit. Os resultados mostraram diferenças

significativas entre residentes em países de cultura portuguesa e espanhola para todas as cinco

variáveis medidas (percepção de oportunidades, competências prévias, tolerância ao risco,

percepções da sociedade e motivações para empreender). Isso leva a concluir que há evidências

de percepções distintas entre as culturas portuguesa e espanhola, o que pode impactar na forma

de gerir o empreendedorismo em países com tais culturas. Importa destacar que ao encontrar

diferenças de percepções entre culturas distintas, apesar de próximas, pode facilitar o

desenvolvimento de políticas públicas assertivas para o fomento ao empreendedorismo nos

países.

Palavras-chave: Cultura nacional; Empreendedorismo; Percepção de oportunidades;

Competências prévias; Tolerância ao risco; Percepções da sociedade; Motivações para

empreender.

INTRODUÇÃO

Este estudo tem como objetivo evidenciar aspectos ligados ao empreendedorismo de

países de cultura portuguesa, quando comparado a países de cultura espanhola. Ressalta-se que

Portugal e Espanha possuem origem comum na península ibérica, o que poderia sugerir culturas

semelhantes. Porém, desenvolveram culturas próprias que se diferem entre si, o que permite

supor que ambos países e suas ex-colônias possuem percepções diferentes quanto a aspectos

ligados ao empreendedorismo.

A competividade global vem exigindo das nações o desenvolvimento de aspectos

geradores de riqueza, como a inovação e o empreendedorismo. No que se refere

especificamente ao empreendedorismo, é difícil imaginar uma sociedade moderna e

desenvolvida sem uma florescente atividade empresarial, pois empreender vem significando a

geração de inovações e empregos, tornando as sociedades mais preparadas para os desafios

impostos pelos mercados mundiais (Abubakar & Mitra, 2017; Acs et al., 2012; Ferreira et al.,

2017; Hitt et al., 2001; Sarkar, 2017).

Entre os elementos que influenciam o desenvolvimento empreendedor de uma nação,

pode-se destacar a cultura nacional (Hayton et al., 2002). Esta determina os valores e

comportamentos sociais, influenciando todas as atividades da respectiva sociedade (Hofstede

et al., 2004). Neste sentido, pode-se supor que a cultura nacional afeta as percepções dos

indivíduos quanto a variados aspectos ligados ao empreendedorismo, como a percepção de

oportunidades, a tolerância ao risco, os conhecimentos desenvolvidos, as percepções da

sociedade quanto a empreender e as motivações para empreender (Hayton et al., 2002; Hofstede

et al., 2004).

Assim, este estudo se justifica pela relevância da temática cultura nacional como força

influente no desenvolvimento empreendedor das nações (Hayton et al., 2002). A literatura atual

vem abordando a cultura nacional como um elemento influenciador do empreendedorismo

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local, mas faltam estudos comparativos que demonstrem que as diferenças culturais podem

afetar de modo distinto a forma de cada nação empreender (Taras et al., 2010).

Considerando a importância da cultura nacional para o empreendedorismo, cabe

destacar também que países que foram colonizados por outros países tendem a adquirir a cultura

do país colonizador. Isto é, é razoável supor que uma ex-colônia adotou a cultura do país que

deu origem a sua colonização (Taras et al., 2010). Desta forma, países com histórico de

colonização, como Portugal e Espanha, disseminaram sua cultura por suas antigas colônias,

tendendo a levar a tais países a possuírem uma cultura nacional semelhante à do país

colonizador.

A novidade deste estudo refere-se principalmente à comparação entre países com

origens semelhantes, apesar de apresentarem diferenças culturais, como é o caso de Portugal e

Espanha. A inclusão das ex-colônias na análise revela-se também como uma novidade nos

estudos que abordam as temáticas empreendedorismo e cultura nacional, algo não observado

anteriormente.

Neste estudo, os aspectos abordados foram: percepções de oportunidades, competências

prévias, intolerância ao risco, percepções empreendedoras da sociedade e motivações para

empreender (Hayton et al., 2002; Hofstede et al., 2004). Estes aspectos foram extraídos dos

microdados de pesquisas conduzidas entre 2011 e 2014 pelo Global Entrepreneurship Monitor

- GEM (GEM, 2017). A base de dados do GEM fornece informações sobre atividades e

percepções empreendedoras em nível mundial. Usando 21.770 observações referentes a 3

países de cultura portuguesa e 15 países de cultura espanhola, estimou-se um modelo Logit que

determina se o respondente é de um país de cultura portuguesa ou espanhola.

Os resultados indicaram importantes diferenças entre os empreendedores de cultura

portuguesa e espanhola. Os indivíduos de cultura portuguesa, quando comparados a indivíduos

de cultura espanhola, estão relacionados a uma menor percepção de oportunidades e se sentem

menos capacitados para empreender. Estes indivíduos também são mais intolerantes ao risco,

enquanto julgam que há uma percepção mais positiva da sociedade quanto ao

empreendedorismo. Por fim, indivíduos de cultura portuguesa estão mais ligados ao

empreendedorismo puramente por oportunidade do que por outras razões.

Este estudo ajuda a compreender as diferenças de percepção dos indivíduos com

intenção empreendedora conforme sua própria cultura e pode auxiliar o desenvolvimento de

políticas públicas específicas para o desenvolvimento empreendedor de uma nação (Hayton et

al., 2002). Assim, esta abordagem sobre o empreendedorismo relacionado às culturas nacionais

mostra relevância não somente acadêmica, mas também social e econômica.

REFERENCIAL TEÓRICO

Traços de Personalidade e Empreendedorismo

De acordo com Kerr et al. (2017), a pesquisa de traços de personalidade dos

empreendedores sofreu um choque negativo por conta de uma crítica de Gartner (1988). Gartner

(1988) argumenta que abordagens baseadas em traços de personalidade até àquela época

haviam sido infrutíferas, e, portanto, deveriam ser abandonadas. Mais recentemente, McKenzie

et al. (2007) rebatem esta crítica, afirmando que o caminho tomado após Gartner (1988) foi

capaz de trazer respostas mais claras, e clamam por um retorno ao estudo do indivíduo como

empreendedor. Assim, a literatura apresenta uma certa lacuna temporal, que vem sendo

retomada com trabalhos como o presente (Brandstätter, 2011).

Estudos apontam que não existe um padrão de personalidade que faz com que indivíduos

sejam mais propensos a se tornarem empreendedores (Sexton & Bowman, 1985, 1984; Vesper,

1990). Além disso, países e contextos sob influência de diferentes fatores culturais interferem

nos traços de personalidade, como motivação empreendedora e orientação para realização

(Stewart & Roth, 2007).

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Como mostram Chen & Elston (2013), o desenvolvimento econômico de um país não é

fator determinante de motivação para se iniciar um negócio. Ainda, ganhar dinheiro ou ser o

próprio patrão também não são motivações suficientes (Barba-Sanchez & Atienza-Sahuquillo,

2011). Os empreendedores são mais atraídos por empreendimentos por seus traços de

personalidade (Dvir et al., 2010). Ademais, características pessoais e o ambiente social e

cultural possuem um papel importante na motivação do empreendedor (Chen & Elston, 2013).

Em linha com esta lógica, Kerr et al. (2017) afirmam que traços de personalidade, capital

humano e ambiente compõem o contexto para iniciar e operar um novo negócio.

Lasso et al. (2017) argumentam que identificar tipos de empreendedores é um exercício

que tem valor tanto acadêmico quanto econômico. Brandstätter (2011), a partir de cinco meta-

análises distintas, classifica os traços de personalidade dentro do sistema Big Five. Os

resultados indicam que estes traços apresentam diferenças entre empreendedores e gerentes, e

são importantes preditores da intenção de empreender e do desempenho do empreendedor.

Descobertas relacionadas à personalidade e a outros atributos dos empreendedores,

assim como a relação dessas características com o desempenho do negócio, sugerem o

desenvolvimento da personalidade na educação empreendedora. A compreensão das

características específicas dos empreendedores e sua heterogeneidade podem ajudar a adequar

melhor os potenciais empreendedores aos cenários mais alinhados aos seus pontos fortes (Kerr

et al., 2017).

Estudos Comparativos entre Países

Cowling (2000) aborda as diferenças daqueles que se tornam empreendedores em países

da União Europeia. As principais distinções aparecem nas variáveis idade, gênero e educação

(Cowling, 2000). Na Itália, os empreendedores possuem predominantemente um bom nível de

formação; já na Grécia e Espanha, os empreendedores apresentam baixo nível de formação

(Cowling, 2000).

Em outro trabalho que analisa as semelhanças e diferenças entre empreendedores de

diferentes países da União Europeia, Junco & Brás-dos-Santos (2009) apresentam um estudo

de valores e atitudes baseado na análise cultural de empreendedores da Alemanha, Itália e

Espanha. Os resultados demonstram similaridades nos valores pessoais dos empreendedores

das três nacionalidades. Os empreendedores dos três países mostraram que o anseio pela

independência é um dos principais motivos pelos quais iniciaram um negócio.

Por sua vez, Friedman & Aziz (2012) exploram as motivações dos empreendedores da

Turquia e Estados Unidos. Os empreendedores turcos são mais motivados pela necessidade,

pela falta de posições disponíveis no mercado de trabalho e porque buscam renda por conta

própria, enquanto os norte-americanos são motivados pela oportunidade, pois almejam

desenvolvimento e reconhecimento.

Em um estudo reunindo também Turquia e Estados Unidos, mas incluindo também a

Índia, Gupta & Fernandez (2009) investigam as características associadas aos empreendedores

desses países e identificam tanto diferenças quanto semelhanças entre eles. Simpático,

prestativo, generoso, gentil, consciente dos sentimentos dos outros, valores humanitários,

compreensão e gratidão foram percebidas como características dos empreendedores nos três

países. Porém, Gupta & Fernandez (2009) sugerem também que pessoas em países

culturalmente diferentes atribuem características ou traços diferentes aos empreendedores. De

forma análoga, Mueller & Thomas (2001), no estudo das características dos empreendedores

de nove países da América do Norte, Ásia e Europa, sustentam a proposição de que algumas

culturas são mais favoráveis ao empreendedorismo do que outras.

Deshpandé et al. (2013) exploram as diferenças de firmas empreendedoras norte-

americanas e japonesas no que diz respeito à orientação estratégica e resultados de desempenho,

com foco na motivação de realização dos seus fundadores. O estudo mostra que os fundadores

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de firmas empreendedoras japonesas e norte-americanas são mais semelhantes do que a

literatura sugere. Para ambas as firmas, a orientação para o cliente está positivamente

relacionada à lucratividade, ainda que o efeito seja maior nos Estados Unidos, e que a orientação

para os custos não tem impacto sobre a lucratividade.

Em outro estudo com os EUA, mas desta vez comparando com a intenção

empreendedora da Irlanda, Pillis & Reardon (2007) usam as variáveis de persuasão e

personalidade. Pillis & Reardon (2007) evidenciam que fatores culturais que fazem o

empreendedorismo parecer natural em um contexto americano e menos no contexto irlandês,

indicando que a decisão de se tornar um empreendedor ocorre de maneira diferente em

diferentes culturas.

Cultura Nacional e Empreendedorismo

Hofstede et al. (2004) trazem uma sequência de pontos importantes a se considerar

quando se pensa em cultura, uma vez que cultura é um termo que pode ser definido em vários

níveis e para diferentes abordagens. Inicialmente, a cultura pode ser identificada em quatro

grupos: cultura ocupacional, cultura organizacional, cultura industrial e cultura nacional.

Contudo, devido às fronteiras que muitas vezes divide grupos, regiões ou sociedades, a cultura

também pode ser classificada pelos aspectos de civilizações, e as diferenças culturais podem

ter origem nos antepassados de cada civilização, gerando assim o que se considera a cultura

nacional, que foi abordada neste estudo.

Então, dentre as várias definições que foram criadas para explicar o que é cultura, optou-

se por apresentar aqui as que definem cultura como um conjunto de valores, crenças e

comportamentos que são divididos e compartilhados, seja socialmente ou politicamente

(Hayton et al., 2002). Ela também pode ser considerada uma junção complexa de

conhecimentos, leis, costumes, capacidades e habilidades que as pessoas que vivem em uma

sociedade adquirem, compartilham, modificam e transmitem para outros de seu grupo (Huggins

& Thompson, 2014).

Sendo enfim, a cultura pode ser considerada um dos elementos que podem distinguir os

membros de um grupo de outro grupo (Taras et al., 2010). Os valores de um indivíduo não

podem ser desassociados da influência exercida pela cultura (Bochner & Hesketh, 1994). Pode-

se dizer então que as pessoas estão predispostas a agir e pensar de uma mesma maneira quando

dividem este complexo rol de valores, crenças, costumes, sendo assim possível que diante de

oportunidades de negócios ou de riscos, seus comportamentos sejam similares ou próximos

(Huggins & Thompson, 2014).

É por isso que ao se pensar no fenômeno do empreendedorismo, definido por Kuratko

& Audretsch (2009) como um processo dinâmico de criação, onde o indivíduo incute uma

grande parcela de si, de paixão e energia, solucionando problemas e gerando novas ideias, tendo

uma visão das melhores oportunidades e dos riscos, que se pode ter uma ideia de quão

importante pode ser o fator cultura nesse processo. Sendo assim, fica claro o entendimento de

que empreender é uma ação humana e social, não tendo como a cultura de um indivíduo ou de

um grupo ficar de fora dessa equação. Diferentes culturas podem olhar o empreendedorismo de

diferentes maneiras, tendo assim diferentes níveis de orientação empreendedora entre os países

(Hitt et al., 2001).

Empreendedores de diferentes países não são semelhantes em relação às suas

características pessoais e as diferenças culturais entre os países impulsionam diferentes tipos de

indivíduos a empreender (Cowling, 2000). Algumas culturas são mais favoráveis a indivíduos

que apresentam características empreendedoras (Cowling, 2000; Mueller & Thomas, 2001). Ou

ainda, de acordo com Pillis & Reardon (2007), fatores culturais fazem o empreendedorismo

parecer natural em alguns países. (Huggins & Thompson, 2014) abordam a cultura e a associam

a performance econômica e bem-estar social. O argumento usado é que os atributos culturais

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de uma localidade agem como uma “cola” entre a lógica social e econômica desse local, e que,

em alguns lugares, essa “cola” pode potencializar o desenvolvimento, aumentando o bem-estar

social. Em outros lugares, ela impede o desenvolvimento, não permitindo o crescimento

econômico e consequentemente privando esta sociedade de uma vida melhor. É importante que

a cultura suporte o desenvolvimento da mente e do caráter do empreendedor, pois para serem

motivados a agir precisam sentir-se capazes e psicologicamente preparados para encarar um

mercado global e competitivo (Mueller & Thomas, 2001). Os valores culturais de um país

devem fortalecer padrões de comportamento direcionados ao empreendedorismo e à

internacionalização (Junco & Brás-dos-Santos, 2009).

Existem várias formas de se perguntar como acontece o fenômeno do

empreendedorismo. Hofstede et al. (2004) destacam que, quando focado no indivíduo, pode ser

visto quais são as motivações que fazem com que uma pessoa empreenda. Se for visto pelo lado

do mercado, podem ser observados leis, ambiente organizacional, atividade empreendedora.

Por fim, quando se pensa em empreendedorismo para países, a cultura mostra ser um fenômeno

esclarecedor das motivações dos povos sob uma determinada cultura.

Autores como (Alvarez & Barney, 2007) destacam que o empreendedorismo pode ser

visto por duas visões diferentes, uma a da descoberta e outra a da criação. Com o uso de uma

destas duas abordagens, o indivíduo pode descobrir uma oportunidade lucrativa e atuar nela

para gerar valor, ou então, ele próprio pode criar a oportunidade e consequentemente um valor

para seu negócio. Segundo Friedman & Aziz (2012), o ambiente político, econômico e cultural

de uma nação determinam a atividade empreendedora, as intenções e percepções. Em ambientes

dominados por uma economia desenvolvida, governança eficaz e uma cultura de alto

individualismo, tolerância ao risco e baixa distância de poder, a motivação dos empreendedores

é incentivada pela oportunidade. Em contrapartida, a motivação empreendedora em ambientes

de economia emergente, governança menos eficaz, coletivismo, baixa tolerância ao risco e alta

distância de poder, é impulsionada pela necessidade.

Indiferente se a oportunidade de negócio é descoberta ou criada, a situação é resultante

de uma ação ou reação de um indivíduo. Sendo assim, nada mais coerente do que associar o

comportamento de uma pessoa a cultura que essa representa. Estudos como o de Hayton et al.

(2002) têm vindo apontar a cultura nacional como uma das variáveis responsáveis pelo nível

do empreendedorismo em determinados países. Simões et al. (2016) trazem evidências nesse

sentido, e encontram fatores que determinam o auto-emprego, como características individuais

(sexo, idade), capital humano (educação), personalidade, acesso a recursos financeiros, e por

fim, nacionalidade e etnicidade, sugerindo que a predisposição ao auto-emprego varia entre

grupos com diferentes valores culturais.

Sobre o empreendedorismo, Shane & Venkataraman (2000) destacam que ele aborda

dois fenômenos já por si complexos, a presença de oportunidades e a presença de indivíduos,

que ao se verem frente a elas, tomam inciativas. Sendo assim, é nesse ponto que se sugere a

importância do papel que a cultura oferece neste cenário. É preciso compreender que, primeiro,

diferentes pessoas irão identificar as oportunidades de maneiras diferentes, segundo, irão agir

de diferentes maneiras frente a presença de uma oportunidade lucrativa e podem tomar

diferentes modos de ação para explorá-las.

Outro fato a se ter em consideração são as competências prévias que cada indivíduo

possui. Conforme Thomas & Mueller (2000) destacam, indivíduos empreendedores são

munidos de algumas características que os distinguem, por exemplo, a energia, a paixão e a

perseverança são elementos que fazem parte de seu comportamento. Contudo, as competências

prévias que uma pessoa adquire trazem para si uma carga de confiança que o predispõe a aceitar

desafios com mais facilidade (Acs et al., 2012).

Hofstede et al. (2004) mencionam que indivíduos empreendedores são mais propensos

a aceitar riscos do que os indivíduos não empreendedores. Contudo, esta tomada de risco não é

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realizada sem um prévio julgamento de seu benefício. Os riscos que empreendedores levam em

conta ao tomarem decisões geralmente são os riscos monetários. Mas existem outros que

também podem ser importantes, como, por exemplo, o físico, o social e o ético. Os autores

ainda declaram que as percepções de risco sofrem influência da cultura nacional, pois

determinadas culturas enxergam o risco de modo bem mais tolerante do que outras culturas,

bem mais avessas ao risco (Costa & Mainardes, 2016).

Além do risco, Costa & Mainardes (2016), ao relacionarem a corrupção à intenção

empreendedora, observaram que as percepções da sociedade sobre o ato de empreender sofre

forte influência da cultura nacional, por intermédio dos níveis de corrupção de cada país. Neste

sentido, pode-se considerar que o elemento cultural influencia as percepções da sociedade

quanto ao empreendedorismo, sendo visto por algumas culturas como algo positivo e por outras

como uma forma de dominação dos pobres pelos ricos (Taras et al., 2010).

Complementarmente, empresas que possuem profissionais eficazes possuem uma taxa

de sucesso alta, ou seja, quanto melhor for este profissional, melhores serão as chances da

organização alcançar o sucesso (Tavassoli et al., 2017). É devido a este posicionamento que a

motivação para empreender também é um aspecto importante a se ter em conta. Dentre os

fatores que são apontados como impulsionadores para um indivíduo empreender, a

competitividade tem vindo a ser uma das principais motivações citadas, sendo as percepções

dos indivíduos moldadas conforme a sua cultura nacional (Hofstede et al., 2004).

Em resumo, os aspectos abordados aqui, nomeadamente percepção de oportunidades,

competências prévias, tolerância aos riscos, percepções da sociedade e motivações para

empreender, podem indicar a influência de uma determinada cultura nacional sobre o

empreendedorismo. De acordo com Terjesen et al. (2016), a literatura comparativa

internacional de empreendedorismo ainda é altamente fragmentada, com importante lacunas

em relação a conteúdo, teoria e aspectos metodológicos. Especificamente, atende-se a um

chamado de estender a análise de cultura para o campo da linguagem (Terjesen et al., 2016, p.

320). Assim, este trabalho explora empiricamente se estes elementos se comportam de modo

distinto em duas culturas próximas, porém diferentes, a portuguesa e a espanhola, algo que foi

verificado neste estudo.

METODOLOGIA

Base de Dados

Este trabalho usa os microdados do Global Entrepreneurship Monitor relativos a

pesquisas realizadas nos anos de 2011 a 2014 (GEM, 2017). O período refere-se a todos os anos

para os quais existem respostas para as dimensões necessárias ao estudo.

Somadas, as bases de 2011 a 2014 possuem 807.373 observações. Ao manter-se

somente países de cultura portuguesa ou espanhola, a base se reduz para 255.540 observações.

Por fim, ao manter-se somente as linhas com todos dados necessários, a amostra efetivamente

usada foi de 21.770 observações. Fazem parte desta amostra final os seguintes países:

Cultura espanhola: Espanha, Peru, México, Argentina, Chile, Colômbia, Guatemala, El

Salvador, Costa Rica, Panamá, Venezuela, Bolívia, Equador, Uruguai e Porto Rico

Cultura portuguesa: Brasil, Angola e Portugal

Modelo de regressão

Para determinar quais aspectos estão ligados ao empreendedorismo em países de cultura

portuguesa e espanhola, escolheu-se um classificador Logit. Uma técnica de estimação de

variável dependente discreta como o Logit é a natural, já que o empreendedor é classificado ou

como de cultura portuguesa ou de espanhola. Isso dá origem a uma variável qualitativa binária

codificada como 1 para respondentes de cultura portuguesa, e 0 para respondentes de cultura

espanhola. É uma abordagem semelhante à de Lasso et al. (2017), que usam um classificador

Logit para verificar quais razões para empreender estão relacionadas com o empreendedor ser

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brasileiro. Segundo Davidson & MacKinnon (2003), métodos de regressão linear não são

apropriados para modelar dados deste tipo. Já métodos como Logit e Probit são mais indicados,

havendo pouca diferença entre os dois (Davidson & MacKinnon, 2003).

Assim, o modelo de regressão, definido a seguir, toma uma variável binária como

dependente:

𝐶𝑁𝐴 = 𝛽0 + 𝛽1 ⋅ 𝑃𝑂𝑃 + 𝛽2 ⋅ 𝐶𝑃𝑅 + 𝛽3 ⋅ 𝐼𝑅𝐼 + 𝛽4 ⋅ 𝑃𝑆𝑂 + 𝛽5 ⋅ 𝑀𝐸𝑀

+∑𝛾𝑘 ⋅ 𝐶𝑜𝑛𝑡𝑟𝑜𝑙𝑒𝑘𝑘

+ 𝜖

(1)

Cultura Nacional (𝐶𝑁𝐴) refere-se ao país de origem do respondente, sendo 0 para país de

cultura espanhola e 1 para país de cultura portuguesa. Neste modelo, CNA relaciona-se com as

variáveis definidas no Quadro 1. Os controles da especificação estão descritos no Quadro 2.

Quadro 1: Definições das variáveis de interesse

Sigla Descrição Definição

POP Percepção de

Oportunidades

Refere-se ao indivíduo perceber oportunidades de negócio nos próximos 6 meses

na região onde mora, sendo 0 para não e 1 para sim. Originalmente é a variável

“opport” do GEM contendo a resposta para a pergunta “Qi2. In the next six

months, will there be good opportunities for starting a business in the area where

you live?”

CPR Competência

prévia

Refere-se ao indivíduo assumir que possui as competências necessárias para iniciar

um novo negócio, sendo 0 para não e 1 para sim. Originalmente é a variável

“suskill” do GEM contendo a resposta para a pergunta “Qi3. Do you have the

knowledge, skill and experience required to start a new business?”

IRI Intolerância

ao Risco

Refere-se ao medo do indivíduo em iniciar um novo negócio, sendo 0 para não e 1

para sim. Originalmente é a variável “fearfail” do GEM contendo a resposta para a

pergunta “Qi4. Would fear of failure would prevent you from starting a business?”

PSO Percepção da

Sociedade

Refere-se às percepções do indivíduo sobre como a sociedade vê o empreendedor;

esta variável foi composta por 4 perguntas, cujas respostas eram 0 para não e 1 para

sim, e abordavam aspectos referentes às percepções da sociedade local sobre status,

carreira, padrão de vida e divulgação de negócios de sucesso. É a média aritmética

das variáveis “equalinc”, “nbgoodc”, “nbstatus” e “nbmedia” do GEM

MEM Motivação

para

Empreender

Refere-se às motivações do indivíduo para empreender e mede a dualidade

oportunidade versus necessidade. Foi codificada como duas dummies, já que a

variável original “teayywhy” do GEM assume os valores 0 (puramente

oportunidade), 1 (parcialmente oportunidade, parcialmente necessidade) ou 2

(puramente necessidade)

Quadro 2: definições das variáveis de controle

Descrição Definição

Sexo 0 para masculino, 1 para feminino. É a variável “gender” do GEM. A literatura indica que

empreendedorismo é mais comum entre homens (Kerr et al., 2017). Piacentini (2013)

reporta que homens tem três vezes mais chances de ter um negócio com empregados que

mulheres.

Idade Idade do respondente, em anos. É a variável “age” do GEM. Kautonen (2008) destaca que

o grupo mais velho de 50-64 anos tem uma taxa de início de negócios de

aproximadamente metade do grupo mais jovem entre 20-49 anos. Hart et al. (2004)

reportam resultados semelhantes usando dados do GEM 2003.

Renda Tercil da renda do respondente. Assim, a variável original “gemhhinc” foi codificada

como duas dummies, com o efeito do tercil inferior sendo absorvido pela constante. Os

resultados de Fairlie & Krashinsky (2012) indicam que a taxa de entrada em negócios

próprios cresce com a quantidade de ativos que se possui, corroborando Evans &

Jovanovic (1989) e Evans & Leighton (1989).

Escolaridade Nível educacional atingido pelo respondente. A variável original “uneduc” foi codificada

como seis dummies. O efeito de ter somente pré-primário é absorvido pela constante, com

dummies para os demais níveis até mestrado ou mais avançado. Van Der Sluis et al.

(2008) relatam que apesar de não encontrar relação entre educação e escolha de

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empreender, eles medem um efeito positivo em desempenho do negócio. Machado et al.

(2016) encontram que escolaridade tem uma relação positiva com o nível de alerta para

oportunidades para empreender.

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

A Tabela 1 mostra as descritivas da amostra. A amostra é composta majoritariamente

por indivíduos de cultura espanhola, com menos de 17% de respondentes de cultura portuguesa.

A maior parte percebe oportunidades em sua região, alegando competência prévia e tolerância

ao risco. Mulheres são uma leve minoria (aproximadamente 45%), e os indivíduos são

relativamente jovens, com renda e escolaridade razoavelmente altas.

Tabela 1: Estatísticas descritivas

Variável Média D.P. Mín. p25 p50 p75 Máx.

Cultura 0.1674 0.3733 0 0 0 0 1

Percep. de Oportunidades 0.6590 0.4741 0 0 1 1 1

Competência Prévia 0.8404 0.3662 0 1 1 1 1

Intoler. ao Risco 0.2675 0.4427 0 0 0 1 1

Percep. da Sociedade 0.7131 0.2774 0 .5 .75 1 1

Motiv. p/ Empreender 0.7522 0.8348 0 0 0 2 2

Sexo 0.4474 0.4972 0 0 0 1 1

Idade 37.3003 11.9029 18 28 36 45 86

Renda 1.2492 0.8039 0 1 1 2 2

Escolaridade 3.1255 1.4196 0 2 3 4 6

Notas: N=21770. Média é a média aritmética, D.P. é o desvio-padrão, Mín. é o valor mínimo, pXX é o percentil

XX, Máx. é o valor máximo. Cultura é 1 para países de cultura portuguesa e 0 para espanhola. Percep. de

Oportunidades é 1 se o indivíduo perceber oportunidades de negócio nos próximos 6 meses na região onde mora.

Competência Prévia é 1 se o indivíduo assumir que possui as competências necessárias para iniciar um novo

negócio. Intoler. ao Risco é 1 se indivíduo tem medo em iniciar um novo negócio. Percep. da Sociedade é a média

aritmética de respostas a perguntas (1=sim) referentes às percepções da sociedade local sobre status, carreira,

padrão de vida e divulgação de negócios de sucesso. Motiv. P/ Empreender tem os valores de 0 (puramente

oportunidade), 1 (parcialmente oportunidade) ou 2 (puramente necessidade). Sexo é 1 para feminino. Idade é a

idade do indivíduo em anos. Renda é o tercil de renda do indivíduo, 0 (tercil inferior), 1 (tercil intermediário), 2

(tercil superior). Escolaridade é o nível educacional do indivíduo, 0 (pré-primário), 1 (1º estágio ensino básico), 2

(2º estágio ensino básico), 3 (ensino médio), 4 (pós-médio não superior), 5 (1º estágio ensino superior), 6 (2º

estágio ensino superior).

A matriz de correlações na Tabela 2 não indica nenhum problema sério de colinearidade

entre as variáveis. A magnitude de todas encontra-se bem abaixo de 0,5. Já a Tabela 3 indica

que os indivíduos de cultura espanhola e portuguesa diferem em todas as dimensões medidas.

Indivíduos de cultura espanhola percebem mais oportunidades, alegam mais competência

prévia, e são mais tolerantes aos riscos. Os indivíduos de cultura portuguesa reportam que suas

sociedades percebem os empreendedores de forma mais positiva, enquanto ambas culturas

empreendam mais por oportunidade do que necessidade, com leve vantagem para a portuguesa.

Por fim, as culturas portuguesas exibem maior proporção de mulheres e indivíduos mais jovens,

mas de menor renda e menor escolaridade. Estas diferenças dão uma primeira indicação de que

diferentes culturas estão ligadas a diferentes perfis de empreendedores.

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Tabela 2: Matriz de Correlações

Cultura Percep. de

Oportunidades

Competência

Prévia

Intoler. ao

Risco

Percep. da

Sociedade

Motiv. p/

Empreender Sexo Idade Renda Escolaridade

Cultura 1.0000

Percep. de

Oportunidades -0.0206*** 1.0000

Competência Prévia -0.0983*** 0.0789*** 1.0000

Intoler. ao Risco 0.0548*** -0.0945*** -0.1699*** 1.0000

Percep. da Sociedade 0.2346*** 0.1399*** 0.0026 0.0381*** 1.0000

Motiv. p/

Empreender -0.0193*** -0.0996*** -0.0545*** 0.0864*** 0.0297*** 1.0000

Sexo 0.0569*** -0.0113* -0.0661*** 0.0531*** 0.0471*** 0.0849*** 1.0000

Idade -0.0581*** -0.0395*** 0.0581*** 0.0089 0.0259*** 0.0950*** -0.0031 1.0000

Renda -0.1277*** 0.0494*** 0.0736*** -0.0621*** -0.0921*** -0.1896*** -0.1631*** -0.0134** 1.0000

Escolaridade -0.2108*** -0.0017 0.1035*** -0.0575*** -0.2132*** -0.1610*** -0.0891*** -0.0786*** 0.3620*** 1.0000

Notas: N=21770. Correlações de Pearson. * p < 0,1, ** p < 0,05, *** p < 0,01. Cultura é 1 para países de cultura portuguesa e 0 para espanhola. Percep. de Oportunidades é 1

se o indivíduo perceber oportunidades de negócio nos próximos 6 meses na região onde mora. Competência Prévia é 1 se o indivíduo assumir que possui as competências

necessárias para iniciar um novo negócio. Intoler. ao Risco é 1 se indivíduo tem medo em iniciar um novo negócio. Percep. da Sociedade é a média aritmética de respostas a

perguntas (1=sim) referentes às percepções da sociedade local sobre status, carreira, padrão de vida e divulgação de negócios de sucesso. Motiv. P/ Empreender tem os valores

de 0 (puramente oportunidade), 1 (parcialmente oportunidade) ou 2 (puramente necessidade). Sexo é 1 para feminino. Idade é a idade do indivíduo em anos. Renda é o tercil

de renda do indivíduo, 0 (tercil inferior), 1 (tercil intermediário), 2 (tercil superior). Escolaridade é o nível educacional do indivíduo, 0 (pré-primário), 1 (1º estágio ensino

básico), 2 (2º estágio ensino básico), 3 (ensino médio), 4 (pós-médio não superior), 5 (1º estágio ensino superior), 6 (2º estágio ensino superior).

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Tabela 3: Teste de diferença de médias

Variável Média(Cultura=ES) Média(Cultura=PT) Difer. Erro Pad.

Percep. de Oportunidades 0.6634 0.6372 0.0261*** 0.0087

Competência Prévia 0.8566 0.7602 0.0964*** 0.0075

Intoler. ao Risco 0.2566 0.3216 -0.0650*** 0.0084

Percep. da Sociedade 0.6839 0.8583 -0.1743*** 0.0041

Motiv. p/ Empreender 0.7594 0.7162 0.0432*** 0.0160

Sexo 0.4347 0.5104 -0.0757*** 0.0091

Idade 37.6104 35.7577 1.8527*** 0.2059

Renda 1.2952 1.0203 0.2749*** 0.0151

Escolaridade 3.2597 2.4580 0.8017*** 0.0256

Notas: N(ES)=18126, N(PT)=3644. Teste t para diferença de médias assumindo variâncias diferentes. * p < 0,1,

** p < 0,05, *** p < 0,01. Cultura é 1 para países de cultura portuguesa e 0 para espanhola. Percep. de

Oportunidades é 1 se o indivíduo perceber oportunidades de negócio nos próximos 6 meses na região onde mora.

Competência Prévia é 1 se o indivíduo assumir que possui as competências necessárias para iniciar um novo

negócio. Intoler. ao Risco é 1 se indivíduo tem medo em iniciar um novo negócio. Percep. da Sociedade é a média

aritmética de respostas a perguntas (1=sim) referentes às percepções da sociedade local sobre status, carreira,

padrão de vida e divulgação de negócios de sucesso. Motiv. P/ Empreender tem os valores de 0 (puramente

oportunidade), 1 (parcialmente oportunidade) ou 2 (puramente necessidade). Sexo é 1 para feminino. Idade é a

idade do indivíduo em anos. Renda é o tercil de renda do indivíduo, 0 (tercil inferior), 1 (tercil intermediário), 2

(tercil superior). Escolaridade é o nível educacional do indivíduo, 0 (pré-primário), 1 (1º estágio ensino básico),

2 (2º estágio ensino básico), 3 (ensino médio), 4 (pós-médio não superior), 5 (1º estágio ensino superior), 6 (2º

estágio ensino superior).

Determinantes da cultura portuguesa

A Erro! Fonte de referência não encontrada. mostra as estimativas do modelo Logit

para os determinantes da cultura portuguesa. Há duas especificações, uma com os motivos para

empreender, e outra sem. Em ambos casos, apresentam-se os efeitos marginais médios (EMM),

uma vez que o Logit é um método de regressão não-linear, e portanto o efeito marginal dos

coeficientes depende do ponto em que se está medindo tal efeito (Williams, 2012).

Em linha com o teste de médias, a Percepção de Oportunidades e a Competência Prévia

diminuem as chances de o indivíduo ser de cultura portuguesa em aproximadamente 3 p.p. e 6

p.p., respectivamente. Os respondentes de cultura portuguesa assumem perceber menos as

oportunidades, quando comparado aos respondentes de cultura espanhola, o que pode resultar

em menor tendência empreendedora entre os países cuja cultura nacional seja de origem

portuguesa, evidenciando diferenças culturais como já apontado anteriormente por Taras et al.

(2010) e Hofstede et al. (2004). E esse resultado pode ser decorrente do ambiente econômico e

social, como apontado por Friedman & Aziz (2012), indicando que os países de cultura

espanhola podem mostrar mais oportunidades do que os países de cultura portuguesa. Para

Shane & Venkataraman (2000), diferentes pessoas percebem as oportunidades de maneiras

diferentes, sendo que sua cultura possui papel determinante nessas percepções.

Também, aqueles que convivem com a cultura portuguesa se consideram menos

preparados em termos de competências prévias na comparação com os que vivem em países

de cultura espanhola. Isto é, possivelmente percebem menos oportunidades porque se acham

menos preparados, o que pode indicar uma necessidade de melhoria nas instituições de ensino,

especificamente desenvolvendo competências voltadas ao empreendedorismo, como indicado

anteriormente por Thomas & Mueller (2000). Além disso, esse resultado mostra-se relevante,

pois as competências prévias que uma pessoa adquire aumentam sua confiança em aceitar

desafios (Acs et al., 2012), podendo significar mais empreendedorismo.

A Intolerância ao Risco e a Percepção da sociedade também reforçam a intuição do

teste de médias. Intolerância ao Risco tem um efeito de baixa magnitude, da ordem de 1 p.p.,

mas ainda assim reforçando os achados de Costa & Mainardes (2016), que indicam que culturas

diferentes enxergam os riscos de formas diferentes. Neste sentido, vê-se que os indivíduos de

países de cultura portuguesa, perante indivíduos de cultura espanhola, assumem perceber

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menos oportunidades, também demonstrando maior receio em se arriscar, possivelmente

porque se acham menos preparados para empreender e indicam alguma dificuldade em

enxergar oportunidades (Friedman & Aziz, 2012).

Tabela 4: Estimativas dos determinantes de cultura portuguesa

Variável Modelo base EMM base Modelo completo EMM completo

Percep. de Oportunidades -0.2701*** -0.0326*** -0.2887*** -0.0343***

(-6.5308) (-6.5639) (-6.8928) (-6.9301)

Competência Prévia -0.4607*** -0.0557*** -0.4654*** -0.0552***

(-9.5439) (-9.6432) (-9.5546) (-9.6596)

Intoler. ao Risco 0.1034** 0.0125** 0.1172*** 0.0139***

(2.3748) (2.3741) (2.6694) (2.6684)

Percep. da Sociedade 2.7081*** 0.3272*** 2.6938*** 0.3196***

(28.0395) (29.5281) (27.9487) (29.5691)

Motiv. p/ Empreender:

Parcialm. Oport. -0.9476*** -0.1027***

(-16.0409) (-18.3980)

Totalm. Necess. -0.3244*** -0.0412***

(-6.9641) (-7.1657)

Feminino 0.1386*** 0.0168*** 0.1280*** 0.0152***

(3.5236) (3.5135) (3.2164) (3.2064)

Idade -0.0207*** -0.0025*** -0.0195*** -0.0023***

(-12.1722) (-12.3476) (-11.3949) (-11.5567)

Renda:

Tercil intermed. -0.3595*** -0.0455*** -0.3555*** -0.0445***

(-7.1857) (-7.1262) (-7.0390) (-6.9759)

Tercil sup. -0.3520*** -0.0447*** -0.3823*** -0.0475***

(-7.0832) (-6.9291) (-7.5474) (-7.3760)

Escolaridade:

1o estágio Ens. Bás. -0.6485*** -0.1191*** -0.6356*** -0.1134***

(-7.4029) (-7.1488) (-7.2175) (-6.9766)

2o estágio Ens. Bás. -1.0410*** -0.1775*** -1.0294*** -0.1707***

(-12.2708) (-11.2107) (-12.0470) (-11.0465)

Ensino Médio -0.9874*** -0.1702*** -0.9841*** -0.1647***

(-12.2926) (-10.8989) (-12.1558) (-10.8140)

Pós-Médio não Sup. -3.5387*** -0.3350*** -3.5146*** -0.3277***

(-20.5132) (-21.9615) (-20.3073) (-22.0080)

1o estágio Ens. Sup. -1.3631*** -0.2169*** -1.3553*** -0.2100***

(-14.9130) (-13.3359) (-14.6774) (-13.1973)

2o estágio Ens. Sup. -4.0054*** -0.3419*** -3.9998*** -0.3351***

(-6.8117) (-20.6645) (-6.7864) (-20.5938)

Constante -1.1162*** -0.8611***

(-8.0151) (-6.1337)

Pseudo R2 0.1509 0.1662

AIC 16730.7196 16433.0729

BIC 16850.5439 16568.8738

Notas: N=21770. Estimativas do modelo Logit da Equação (1) usando erros agrupados (clustered) no nível de

indivíduo. O modelo-base não inclui Motivo para Empreender. EMM é o efeito marginal médio do modelo à

esquerda, permitindo fazer a análise em termo de pontos percentuais. Os valores entre parênteses são a estatística

t. * p < 0,1, ** p < 0,05, *** p < 0,01. Cultura é 1 para países de cultura portuguesa e 0 para espanhola. Percep.

de Oportunidades é 1 se o indivíduo perceber oportunidades de negócio nos próximos 6 meses na região onde

mora. Competência Prévia é 1 se o indivíduo assumir que possui as competências necessárias para iniciar um

novo negócio. Intoler. ao Risco é 1 se indivíduo tem medo em iniciar um novo negócio. Percep. da Sociedade é a

média aritmética de respostas a perguntas (1=sim) referentes às percepções da sociedade local sobre status,

carreira, padrão de vida e divulgação de negócios de sucesso. Motiv. P/ Empreender tem os valores de 0

(puramente oportunidade), 1 (parcialmente oportunidade) ou 2 (puramente necessidade). Sexo é 1 para feminino.

Idade é a idade do indivíduo em anos. Renda é o tercil de renda do indivíduo, 0 (tercil inferior), 1 (tercil

intermediário), 2 (tercil superior). Escolaridade é o nível educacional do indivíduo, 0 (pré-primário), 1 (1º estágio

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ensino básico), 2 (2º estágio ensino básico), 3 (ensino médio), 4 (pós-médio não superior), 5 (1º estágio ensino

superior), 6 (2º estágio ensino superior).

Com relação às Percepções da Sociedade, que era uma variável que observou a opinião

dos respondentes sobre status, carreira, padrão de vida e divulgação de negócios de sucesso, é

interessante notar a sua grande influência, por volta de 33 p.p. Isso significa que um desvio-

padrão da Percepção (aproximadamente 0,28) leva a uma variação de mais de 9 p.p. na

probabilidade de o indivíduo ser de cultura portuguesa. Considerando que diferentes culturas

percebem o empreendedorismo modo diferente (Hitt et al., 2001), constatou-se que indivíduos

provenientes de países de cultura portuguesa percebem melhor o que a sociedade pensa a

respeito do empreendedorismo do que indivíduos que se encontram em países de cultura

espanhola. Este aspecto pode ser reforçado por meio de políticas públicas favoráveis a

valorização do empreendedor (Costa & Mainardes, 2016) , visto que na visão dos respondentes,

países de cultura portuguesa tendem a perceber o empreendedor de modo mais positivo do que

em países de cultura espanhola. Isso reforça o fato de que algumas culturas mostram-se mais

favoráveis a pessoas que apresentam comportamentos empreendedores, como citado em

(Cowling, 2000; Mueller & Thomas, 2001), o que pode ser o caso dos países de cultura

portuguesa.

Já empreender por outros motivos que não por exclusivamente oportunidade está mais

ligado a indivíduos de cultura espanhola: Parcialmente por oportunidade e Totalmente por

necessidade levam a 10 p.p. e 4 p.p. a menos chance de ser um indivíduo de cultura portuguesa.

Isso indica que residentes em países de cultura portuguesa, apesar de alegarem que percebem

menos oportunidades, empreendem mais por oportunidade do que por necessidade quando

comparado a residentes originários de países de cultura espanhola. Esse resultado mostra que

quem está em países de cultura portuguesa, mesmo tendendo a observar menos as

oportunidades do que quem está em países de cultura espanhola, quando a percebe, tende a

empreender, como indicaram Alvarez & Barney (2007), revelando outra diferença cultural

entre ambos, algo ressaltado anteriormente por Hayton et al. (2002), que indicaram que

diferentes culturas nacionais percebem o empreendedorismo de modo diferente. Como um

todo, esses resultados reforçam diferenças culturais como já apontado anteriormente por Taras

et al. (2010).

Em resumo, pode-se perceber que, ao comparar as percepções de indivíduos que

residem em países de cultura portuguesa com indivíduos residentes em países de cultura

espanhola, perceber oportunidades parece ser mais comum entre pessoas de cultura espanhola,

sendo que tolerar o risco e se assumir como competente para empreender também tende a ser

mais presente entre pessoas de cultura espanhola, mesmo que o empreendedorismo

possivelmente seja mais por necessidade. Por outro lado, as percepções da sociedade sobre o

empreendedorismo revelaram-se mais positivas na visão dos residentes de países de cultura

portuguesa, o que pode favorecer o desenvolvimento do empreendedorismo nestes países,

quando comparados a países cuja cultura seja espanhola.

Quanto aos controles, eles corroboram os resultados do teste de médias, com indivíduos

de países portugueses estando mais associados com representantes do sexo feminino, mais

jovens, de menor renda e com menor escolaridade, o que pode explicar as percepções de

observar menos oportunidades, ser mais intolerante ao risco e se sentir menos preparado para

empreender. Simoes et al. (2016) apontam que características demográficas explicam boa parte

dos comportamentos empreendedores. Em conjunto, os resultados apontam para diferenças

culturais e demográficas importantes, que podem ajudar no desenho de políticas voltadas ao

incentivo e suporte ao empreendedor.

CONCLUSÕES

O objetivo deste estudo foi evidenciar aspectos ligados ao empreendedorismo de países

de cultura portuguesa, quando comparado a países de cultura espanhola. Após analisar cinco

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aspectos distintos, pode-se concluir que indivíduos provenientes de países de cultura

portuguesa, quando a comparado a indivíduos residentes em países de cultura espanhola,

assumem perceber menos oportunidades, apesar da sociedade valorizar a atividade

empreendedora. Também se observou que tendem a ser menos tolerantes aos riscos e a se

sentirem menos preparados para empreender. Isso pode se refletir em menos

empreendedorismo em países de cultura portuguesa, quando comparado a países de cultura

espanhola. Em resumo, encontrou-se evidências de percepções distintas entre as culturas

portuguesa e espanhola, o que pode impactar na forma de gerir o empreendedorismo em países

com tais culturas.

As implicações teóricas deste estudo remetem-se principalmente à conexão entre dois

temas relevantes para as nações, a cultura nacional e o empreendedorismo, algo pouco presente

na literatura, tanto de empreendedorismo, quanto em estudos culturais, conforme citado

anteriormente em diversos estudos (Acs et al., 2012; Hayton et al., 2002; Hofstede et al., 2004;

Huggins & Thompson, 2014). Ao observar diferenças culturais de percepções de assuntos

ligados ao ato de empreender, amplia-se o conhecimento a respeito das temáticas, favorecendo

o entendimento de ambos os fenômenos, que são naturalmente complexos. Assim, a principal

contribuição teórica deste trabalho foi evidenciar que temas comuns ao empreendedorismo,

como percepções de oportunidades, competências prévias e tolerância ao risco, podem levar

em conta os aspectos culturais, indicando que estudos realizados sob a alçada de uma mesma

cultura possuem abrangência e generalização limitadas, pois as culturas nacionais tendem a

alterar as percepções dos indivíduos que convivem com uma determinada cultura nacional,

conforme evidenciado aqui.

Como implicações práticas e gerenciais, cabe destacar que ao encontrar diferenças de

percepções entre culturas distintas, apesar de próximas, pode facilitar o desenvolvimento de

políticas públicas assertivas para o fomento ao empreendedorismo nos países. Além disso,

restringe o alcance de ações de sucesso realizadas em determinadas nações que possam ser

replicadas em outros países. Ao reconhecer diferenças entre as formas de pensar dos residentes

em diferentes culturas nacionais, o estímulo ao empreendedorismo local requer ajustamentos

conforme a cultura que rege valores, atitudes e ações dos indivíduos sob a égide de tal cultura.

Especialmente, a importação por uma nação de programas prontos que favoreçam o

empreendedorismo pode não surtir o efeito desejado se a cultura nacional não for levada em

conta.

Porém, é preciso considerar que este estudo apresenta limitações. Especificamente, a

principal limitação deste estudo refere-se à base de dados utilizada. Primeiramente, a base é do

período de 2011 a 2014, um tanto antiga, mas é a base mais recente disponibilizada pelo GEM

(2017). É possível que com bases mais recentes, os resultados apresentem algumas diferenças.

Outro ponto limitante é a diferença entre as amostras. Após excluir resultados faltantes e

duplicados, a base de dados de países de cultura espanhola ficou bem maior que a base de dados

de países de cultura portuguesa, algo não passível de ser controlado aqui, afinal estes foram os

dados disponibilizados pelo GEM (2017). O alcance da pesquisa depende especificamente do

fornecimento dos dados por esta organização de pesquisa sobre o empreendedorismo. Em

resumo, tais limitações reduzem a capacidade de generalização dos resultados, mas trazem

evidências de que a cultura nacional tende a exercer relevante papel no desenvolvimento do

empreendedorismo em um país.

Considerando esses aspectos, para dar continuidade ao estudo aqui realizado, sugere-se

agregar anos mais recentes à base de dados, observando as diferenças ao longo do tempo. Outra

sugestão é realizar a análise de outras culturas que sejam distintas entre si, como a cultura

asiática ou anglo-saxã, visto que as culturas analisadas aqui são naturalmente próximas por

terem a mesma origem latina. Por fim, sugere-se ampliar o número de variáveis analisadas,

desde que os dados estejam disponíveis, utilizado o próprio GEM (2017) ou outras bases que

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também abordam aspectos do empreendedorismo, com o Doing Business Database. Em

resumo, estudos que conectem a cultura nacional ao empreendedorismo revelam-se

importantes para favorecer as atividades empreendedoras nas nações.

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