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EnANPAD 2018Curitiba/PR - 03 a 06/10/2018
Elementos do Empreendedorismo sob o Aspecto Cultural: Comparação Entre Paísesde Cultura Portuguesa e Espanhola
AutoriaSilveli Cristo de Andrade - [email protected]
Programa de Doutoramento em Gestão/Universidade da Beira Interior
Patricia Akemi Sakaguti Motoki - [email protected] de Admin de Empresas/FUCAPE Business School/FUCAPE - Fund Instituto Capixaba de Pesquisas em Contab,
Economia e Finanças
Fabio Yoshio Suguri Motoki - [email protected] de Admin de Empresas/FUCAPE Business School/FUCAPE - Fund Instituto Capixaba de Pesquisas em Contab,
Economia e Finanças
ResumoO objetivo deste estudo foi evidenciar aspectos ligados ao empreendedorismo de países decultura portuguesa, quando comparado a países de cultura espanhola. Para a realização destainvestigação, inicialmente pesquisou-se a literatura sobre cultura nacional eempreendedorismo. Além disso, levantou-se as conexões teóricas entre e cultura nacional eos elementos investigados, nomeadamente percepção de oportunidades, competênciasprévias, tolerância ao risco, percepções da sociedade e motivações para empreender. Emseguida, construiu-se uma base de dados sobre empreendedorismo, tomando por base oGlobal Entrepreneurship Monitor (GEM, 2017), onde foram selecionadas as variáveiscitadas dos países de culturas portuguesa e espanhola. A análise utilizada foi a regressãoLogit. Os resultados mostraram diferenças significativas entre residentes em países decultura portuguesa e espanhola para todas as cinco variáveis medidas (percepção deoportunidades, competências prévias, tolerância ao risco, percepções da sociedade emotivações para empreender). Isso leva a concluir que há evidências de percepções distintasentre as culturas portuguesa e espanhola, o que pode impactar na forma de gerir oempreendedorismo em países com tais culturas. Importa destacar que ao encontrardiferenças de percepções entre culturas distintas, apesar de próximas, pode facilitar odesenvolvimento de políticas públicas assertivas para o fomento ao empreendedorismo nospaíses.
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Elementos do Empreendedorismo sob o Aspecto Cultural: Comparação Entre Países de
Cultura Portuguesa e Espanhola
RESUMO
O objetivo deste estudo foi evidenciar aspectos ligados ao empreendedorismo de países de
cultura portuguesa, quando comparado a países de cultura espanhola. Para a realização desta
investigação, inicialmente pesquisou-se a literatura sobre cultura nacional e empreendedorismo.
Além disso, levantou-se as conexões teóricas entre e cultura nacional e os elementos
investigados, nomeadamente percepção de oportunidades, competências prévias, tolerância ao
risco, percepções da sociedade e motivações para empreender. Em seguida, construiu-se uma
base de dados sobre empreendedorismo, tomando por base o Global Entrepreneurship Monitor
(GEM, 2017), onde foram selecionadas as variáveis citadas dos países de culturas portuguesa e
espanhola. A análise utilizada foi a regressão Logit. Os resultados mostraram diferenças
significativas entre residentes em países de cultura portuguesa e espanhola para todas as cinco
variáveis medidas (percepção de oportunidades, competências prévias, tolerância ao risco,
percepções da sociedade e motivações para empreender). Isso leva a concluir que há evidências
de percepções distintas entre as culturas portuguesa e espanhola, o que pode impactar na forma
de gerir o empreendedorismo em países com tais culturas. Importa destacar que ao encontrar
diferenças de percepções entre culturas distintas, apesar de próximas, pode facilitar o
desenvolvimento de políticas públicas assertivas para o fomento ao empreendedorismo nos
países.
Palavras-chave: Cultura nacional; Empreendedorismo; Percepção de oportunidades;
Competências prévias; Tolerância ao risco; Percepções da sociedade; Motivações para
empreender.
INTRODUÇÃO
Este estudo tem como objetivo evidenciar aspectos ligados ao empreendedorismo de
países de cultura portuguesa, quando comparado a países de cultura espanhola. Ressalta-se que
Portugal e Espanha possuem origem comum na península ibérica, o que poderia sugerir culturas
semelhantes. Porém, desenvolveram culturas próprias que se diferem entre si, o que permite
supor que ambos países e suas ex-colônias possuem percepções diferentes quanto a aspectos
ligados ao empreendedorismo.
A competividade global vem exigindo das nações o desenvolvimento de aspectos
geradores de riqueza, como a inovação e o empreendedorismo. No que se refere
especificamente ao empreendedorismo, é difícil imaginar uma sociedade moderna e
desenvolvida sem uma florescente atividade empresarial, pois empreender vem significando a
geração de inovações e empregos, tornando as sociedades mais preparadas para os desafios
impostos pelos mercados mundiais (Abubakar & Mitra, 2017; Acs et al., 2012; Ferreira et al.,
2017; Hitt et al., 2001; Sarkar, 2017).
Entre os elementos que influenciam o desenvolvimento empreendedor de uma nação,
pode-se destacar a cultura nacional (Hayton et al., 2002). Esta determina os valores e
comportamentos sociais, influenciando todas as atividades da respectiva sociedade (Hofstede
et al., 2004). Neste sentido, pode-se supor que a cultura nacional afeta as percepções dos
indivíduos quanto a variados aspectos ligados ao empreendedorismo, como a percepção de
oportunidades, a tolerância ao risco, os conhecimentos desenvolvidos, as percepções da
sociedade quanto a empreender e as motivações para empreender (Hayton et al., 2002; Hofstede
et al., 2004).
Assim, este estudo se justifica pela relevância da temática cultura nacional como força
influente no desenvolvimento empreendedor das nações (Hayton et al., 2002). A literatura atual
vem abordando a cultura nacional como um elemento influenciador do empreendedorismo
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local, mas faltam estudos comparativos que demonstrem que as diferenças culturais podem
afetar de modo distinto a forma de cada nação empreender (Taras et al., 2010).
Considerando a importância da cultura nacional para o empreendedorismo, cabe
destacar também que países que foram colonizados por outros países tendem a adquirir a cultura
do país colonizador. Isto é, é razoável supor que uma ex-colônia adotou a cultura do país que
deu origem a sua colonização (Taras et al., 2010). Desta forma, países com histórico de
colonização, como Portugal e Espanha, disseminaram sua cultura por suas antigas colônias,
tendendo a levar a tais países a possuírem uma cultura nacional semelhante à do país
colonizador.
A novidade deste estudo refere-se principalmente à comparação entre países com
origens semelhantes, apesar de apresentarem diferenças culturais, como é o caso de Portugal e
Espanha. A inclusão das ex-colônias na análise revela-se também como uma novidade nos
estudos que abordam as temáticas empreendedorismo e cultura nacional, algo não observado
anteriormente.
Neste estudo, os aspectos abordados foram: percepções de oportunidades, competências
prévias, intolerância ao risco, percepções empreendedoras da sociedade e motivações para
empreender (Hayton et al., 2002; Hofstede et al., 2004). Estes aspectos foram extraídos dos
microdados de pesquisas conduzidas entre 2011 e 2014 pelo Global Entrepreneurship Monitor
- GEM (GEM, 2017). A base de dados do GEM fornece informações sobre atividades e
percepções empreendedoras em nível mundial. Usando 21.770 observações referentes a 3
países de cultura portuguesa e 15 países de cultura espanhola, estimou-se um modelo Logit que
determina se o respondente é de um país de cultura portuguesa ou espanhola.
Os resultados indicaram importantes diferenças entre os empreendedores de cultura
portuguesa e espanhola. Os indivíduos de cultura portuguesa, quando comparados a indivíduos
de cultura espanhola, estão relacionados a uma menor percepção de oportunidades e se sentem
menos capacitados para empreender. Estes indivíduos também são mais intolerantes ao risco,
enquanto julgam que há uma percepção mais positiva da sociedade quanto ao
empreendedorismo. Por fim, indivíduos de cultura portuguesa estão mais ligados ao
empreendedorismo puramente por oportunidade do que por outras razões.
Este estudo ajuda a compreender as diferenças de percepção dos indivíduos com
intenção empreendedora conforme sua própria cultura e pode auxiliar o desenvolvimento de
políticas públicas específicas para o desenvolvimento empreendedor de uma nação (Hayton et
al., 2002). Assim, esta abordagem sobre o empreendedorismo relacionado às culturas nacionais
mostra relevância não somente acadêmica, mas também social e econômica.
REFERENCIAL TEÓRICO
Traços de Personalidade e Empreendedorismo
De acordo com Kerr et al. (2017), a pesquisa de traços de personalidade dos
empreendedores sofreu um choque negativo por conta de uma crítica de Gartner (1988). Gartner
(1988) argumenta que abordagens baseadas em traços de personalidade até àquela época
haviam sido infrutíferas, e, portanto, deveriam ser abandonadas. Mais recentemente, McKenzie
et al. (2007) rebatem esta crítica, afirmando que o caminho tomado após Gartner (1988) foi
capaz de trazer respostas mais claras, e clamam por um retorno ao estudo do indivíduo como
empreendedor. Assim, a literatura apresenta uma certa lacuna temporal, que vem sendo
retomada com trabalhos como o presente (Brandstätter, 2011).
Estudos apontam que não existe um padrão de personalidade que faz com que indivíduos
sejam mais propensos a se tornarem empreendedores (Sexton & Bowman, 1985, 1984; Vesper,
1990). Além disso, países e contextos sob influência de diferentes fatores culturais interferem
nos traços de personalidade, como motivação empreendedora e orientação para realização
(Stewart & Roth, 2007).
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Como mostram Chen & Elston (2013), o desenvolvimento econômico de um país não é
fator determinante de motivação para se iniciar um negócio. Ainda, ganhar dinheiro ou ser o
próprio patrão também não são motivações suficientes (Barba-Sanchez & Atienza-Sahuquillo,
2011). Os empreendedores são mais atraídos por empreendimentos por seus traços de
personalidade (Dvir et al., 2010). Ademais, características pessoais e o ambiente social e
cultural possuem um papel importante na motivação do empreendedor (Chen & Elston, 2013).
Em linha com esta lógica, Kerr et al. (2017) afirmam que traços de personalidade, capital
humano e ambiente compõem o contexto para iniciar e operar um novo negócio.
Lasso et al. (2017) argumentam que identificar tipos de empreendedores é um exercício
que tem valor tanto acadêmico quanto econômico. Brandstätter (2011), a partir de cinco meta-
análises distintas, classifica os traços de personalidade dentro do sistema Big Five. Os
resultados indicam que estes traços apresentam diferenças entre empreendedores e gerentes, e
são importantes preditores da intenção de empreender e do desempenho do empreendedor.
Descobertas relacionadas à personalidade e a outros atributos dos empreendedores,
assim como a relação dessas características com o desempenho do negócio, sugerem o
desenvolvimento da personalidade na educação empreendedora. A compreensão das
características específicas dos empreendedores e sua heterogeneidade podem ajudar a adequar
melhor os potenciais empreendedores aos cenários mais alinhados aos seus pontos fortes (Kerr
et al., 2017).
Estudos Comparativos entre Países
Cowling (2000) aborda as diferenças daqueles que se tornam empreendedores em países
da União Europeia. As principais distinções aparecem nas variáveis idade, gênero e educação
(Cowling, 2000). Na Itália, os empreendedores possuem predominantemente um bom nível de
formação; já na Grécia e Espanha, os empreendedores apresentam baixo nível de formação
(Cowling, 2000).
Em outro trabalho que analisa as semelhanças e diferenças entre empreendedores de
diferentes países da União Europeia, Junco & Brás-dos-Santos (2009) apresentam um estudo
de valores e atitudes baseado na análise cultural de empreendedores da Alemanha, Itália e
Espanha. Os resultados demonstram similaridades nos valores pessoais dos empreendedores
das três nacionalidades. Os empreendedores dos três países mostraram que o anseio pela
independência é um dos principais motivos pelos quais iniciaram um negócio.
Por sua vez, Friedman & Aziz (2012) exploram as motivações dos empreendedores da
Turquia e Estados Unidos. Os empreendedores turcos são mais motivados pela necessidade,
pela falta de posições disponíveis no mercado de trabalho e porque buscam renda por conta
própria, enquanto os norte-americanos são motivados pela oportunidade, pois almejam
desenvolvimento e reconhecimento.
Em um estudo reunindo também Turquia e Estados Unidos, mas incluindo também a
Índia, Gupta & Fernandez (2009) investigam as características associadas aos empreendedores
desses países e identificam tanto diferenças quanto semelhanças entre eles. Simpático,
prestativo, generoso, gentil, consciente dos sentimentos dos outros, valores humanitários,
compreensão e gratidão foram percebidas como características dos empreendedores nos três
países. Porém, Gupta & Fernandez (2009) sugerem também que pessoas em países
culturalmente diferentes atribuem características ou traços diferentes aos empreendedores. De
forma análoga, Mueller & Thomas (2001), no estudo das características dos empreendedores
de nove países da América do Norte, Ásia e Europa, sustentam a proposição de que algumas
culturas são mais favoráveis ao empreendedorismo do que outras.
Deshpandé et al. (2013) exploram as diferenças de firmas empreendedoras norte-
americanas e japonesas no que diz respeito à orientação estratégica e resultados de desempenho,
com foco na motivação de realização dos seus fundadores. O estudo mostra que os fundadores
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de firmas empreendedoras japonesas e norte-americanas são mais semelhantes do que a
literatura sugere. Para ambas as firmas, a orientação para o cliente está positivamente
relacionada à lucratividade, ainda que o efeito seja maior nos Estados Unidos, e que a orientação
para os custos não tem impacto sobre a lucratividade.
Em outro estudo com os EUA, mas desta vez comparando com a intenção
empreendedora da Irlanda, Pillis & Reardon (2007) usam as variáveis de persuasão e
personalidade. Pillis & Reardon (2007) evidenciam que fatores culturais que fazem o
empreendedorismo parecer natural em um contexto americano e menos no contexto irlandês,
indicando que a decisão de se tornar um empreendedor ocorre de maneira diferente em
diferentes culturas.
Cultura Nacional e Empreendedorismo
Hofstede et al. (2004) trazem uma sequência de pontos importantes a se considerar
quando se pensa em cultura, uma vez que cultura é um termo que pode ser definido em vários
níveis e para diferentes abordagens. Inicialmente, a cultura pode ser identificada em quatro
grupos: cultura ocupacional, cultura organizacional, cultura industrial e cultura nacional.
Contudo, devido às fronteiras que muitas vezes divide grupos, regiões ou sociedades, a cultura
também pode ser classificada pelos aspectos de civilizações, e as diferenças culturais podem
ter origem nos antepassados de cada civilização, gerando assim o que se considera a cultura
nacional, que foi abordada neste estudo.
Então, dentre as várias definições que foram criadas para explicar o que é cultura, optou-
se por apresentar aqui as que definem cultura como um conjunto de valores, crenças e
comportamentos que são divididos e compartilhados, seja socialmente ou politicamente
(Hayton et al., 2002). Ela também pode ser considerada uma junção complexa de
conhecimentos, leis, costumes, capacidades e habilidades que as pessoas que vivem em uma
sociedade adquirem, compartilham, modificam e transmitem para outros de seu grupo (Huggins
& Thompson, 2014).
Sendo enfim, a cultura pode ser considerada um dos elementos que podem distinguir os
membros de um grupo de outro grupo (Taras et al., 2010). Os valores de um indivíduo não
podem ser desassociados da influência exercida pela cultura (Bochner & Hesketh, 1994). Pode-
se dizer então que as pessoas estão predispostas a agir e pensar de uma mesma maneira quando
dividem este complexo rol de valores, crenças, costumes, sendo assim possível que diante de
oportunidades de negócios ou de riscos, seus comportamentos sejam similares ou próximos
(Huggins & Thompson, 2014).
É por isso que ao se pensar no fenômeno do empreendedorismo, definido por Kuratko
& Audretsch (2009) como um processo dinâmico de criação, onde o indivíduo incute uma
grande parcela de si, de paixão e energia, solucionando problemas e gerando novas ideias, tendo
uma visão das melhores oportunidades e dos riscos, que se pode ter uma ideia de quão
importante pode ser o fator cultura nesse processo. Sendo assim, fica claro o entendimento de
que empreender é uma ação humana e social, não tendo como a cultura de um indivíduo ou de
um grupo ficar de fora dessa equação. Diferentes culturas podem olhar o empreendedorismo de
diferentes maneiras, tendo assim diferentes níveis de orientação empreendedora entre os países
(Hitt et al., 2001).
Empreendedores de diferentes países não são semelhantes em relação às suas
características pessoais e as diferenças culturais entre os países impulsionam diferentes tipos de
indivíduos a empreender (Cowling, 2000). Algumas culturas são mais favoráveis a indivíduos
que apresentam características empreendedoras (Cowling, 2000; Mueller & Thomas, 2001). Ou
ainda, de acordo com Pillis & Reardon (2007), fatores culturais fazem o empreendedorismo
parecer natural em alguns países. (Huggins & Thompson, 2014) abordam a cultura e a associam
a performance econômica e bem-estar social. O argumento usado é que os atributos culturais
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de uma localidade agem como uma “cola” entre a lógica social e econômica desse local, e que,
em alguns lugares, essa “cola” pode potencializar o desenvolvimento, aumentando o bem-estar
social. Em outros lugares, ela impede o desenvolvimento, não permitindo o crescimento
econômico e consequentemente privando esta sociedade de uma vida melhor. É importante que
a cultura suporte o desenvolvimento da mente e do caráter do empreendedor, pois para serem
motivados a agir precisam sentir-se capazes e psicologicamente preparados para encarar um
mercado global e competitivo (Mueller & Thomas, 2001). Os valores culturais de um país
devem fortalecer padrões de comportamento direcionados ao empreendedorismo e à
internacionalização (Junco & Brás-dos-Santos, 2009).
Existem várias formas de se perguntar como acontece o fenômeno do
empreendedorismo. Hofstede et al. (2004) destacam que, quando focado no indivíduo, pode ser
visto quais são as motivações que fazem com que uma pessoa empreenda. Se for visto pelo lado
do mercado, podem ser observados leis, ambiente organizacional, atividade empreendedora.
Por fim, quando se pensa em empreendedorismo para países, a cultura mostra ser um fenômeno
esclarecedor das motivações dos povos sob uma determinada cultura.
Autores como (Alvarez & Barney, 2007) destacam que o empreendedorismo pode ser
visto por duas visões diferentes, uma a da descoberta e outra a da criação. Com o uso de uma
destas duas abordagens, o indivíduo pode descobrir uma oportunidade lucrativa e atuar nela
para gerar valor, ou então, ele próprio pode criar a oportunidade e consequentemente um valor
para seu negócio. Segundo Friedman & Aziz (2012), o ambiente político, econômico e cultural
de uma nação determinam a atividade empreendedora, as intenções e percepções. Em ambientes
dominados por uma economia desenvolvida, governança eficaz e uma cultura de alto
individualismo, tolerância ao risco e baixa distância de poder, a motivação dos empreendedores
é incentivada pela oportunidade. Em contrapartida, a motivação empreendedora em ambientes
de economia emergente, governança menos eficaz, coletivismo, baixa tolerância ao risco e alta
distância de poder, é impulsionada pela necessidade.
Indiferente se a oportunidade de negócio é descoberta ou criada, a situação é resultante
de uma ação ou reação de um indivíduo. Sendo assim, nada mais coerente do que associar o
comportamento de uma pessoa a cultura que essa representa. Estudos como o de Hayton et al.
(2002) têm vindo apontar a cultura nacional como uma das variáveis responsáveis pelo nível
do empreendedorismo em determinados países. Simões et al. (2016) trazem evidências nesse
sentido, e encontram fatores que determinam o auto-emprego, como características individuais
(sexo, idade), capital humano (educação), personalidade, acesso a recursos financeiros, e por
fim, nacionalidade e etnicidade, sugerindo que a predisposição ao auto-emprego varia entre
grupos com diferentes valores culturais.
Sobre o empreendedorismo, Shane & Venkataraman (2000) destacam que ele aborda
dois fenômenos já por si complexos, a presença de oportunidades e a presença de indivíduos,
que ao se verem frente a elas, tomam inciativas. Sendo assim, é nesse ponto que se sugere a
importância do papel que a cultura oferece neste cenário. É preciso compreender que, primeiro,
diferentes pessoas irão identificar as oportunidades de maneiras diferentes, segundo, irão agir
de diferentes maneiras frente a presença de uma oportunidade lucrativa e podem tomar
diferentes modos de ação para explorá-las.
Outro fato a se ter em consideração são as competências prévias que cada indivíduo
possui. Conforme Thomas & Mueller (2000) destacam, indivíduos empreendedores são
munidos de algumas características que os distinguem, por exemplo, a energia, a paixão e a
perseverança são elementos que fazem parte de seu comportamento. Contudo, as competências
prévias que uma pessoa adquire trazem para si uma carga de confiança que o predispõe a aceitar
desafios com mais facilidade (Acs et al., 2012).
Hofstede et al. (2004) mencionam que indivíduos empreendedores são mais propensos
a aceitar riscos do que os indivíduos não empreendedores. Contudo, esta tomada de risco não é
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realizada sem um prévio julgamento de seu benefício. Os riscos que empreendedores levam em
conta ao tomarem decisões geralmente são os riscos monetários. Mas existem outros que
também podem ser importantes, como, por exemplo, o físico, o social e o ético. Os autores
ainda declaram que as percepções de risco sofrem influência da cultura nacional, pois
determinadas culturas enxergam o risco de modo bem mais tolerante do que outras culturas,
bem mais avessas ao risco (Costa & Mainardes, 2016).
Além do risco, Costa & Mainardes (2016), ao relacionarem a corrupção à intenção
empreendedora, observaram que as percepções da sociedade sobre o ato de empreender sofre
forte influência da cultura nacional, por intermédio dos níveis de corrupção de cada país. Neste
sentido, pode-se considerar que o elemento cultural influencia as percepções da sociedade
quanto ao empreendedorismo, sendo visto por algumas culturas como algo positivo e por outras
como uma forma de dominação dos pobres pelos ricos (Taras et al., 2010).
Complementarmente, empresas que possuem profissionais eficazes possuem uma taxa
de sucesso alta, ou seja, quanto melhor for este profissional, melhores serão as chances da
organização alcançar o sucesso (Tavassoli et al., 2017). É devido a este posicionamento que a
motivação para empreender também é um aspecto importante a se ter em conta. Dentre os
fatores que são apontados como impulsionadores para um indivíduo empreender, a
competitividade tem vindo a ser uma das principais motivações citadas, sendo as percepções
dos indivíduos moldadas conforme a sua cultura nacional (Hofstede et al., 2004).
Em resumo, os aspectos abordados aqui, nomeadamente percepção de oportunidades,
competências prévias, tolerância aos riscos, percepções da sociedade e motivações para
empreender, podem indicar a influência de uma determinada cultura nacional sobre o
empreendedorismo. De acordo com Terjesen et al. (2016), a literatura comparativa
internacional de empreendedorismo ainda é altamente fragmentada, com importante lacunas
em relação a conteúdo, teoria e aspectos metodológicos. Especificamente, atende-se a um
chamado de estender a análise de cultura para o campo da linguagem (Terjesen et al., 2016, p.
320). Assim, este trabalho explora empiricamente se estes elementos se comportam de modo
distinto em duas culturas próximas, porém diferentes, a portuguesa e a espanhola, algo que foi
verificado neste estudo.
METODOLOGIA
Base de Dados
Este trabalho usa os microdados do Global Entrepreneurship Monitor relativos a
pesquisas realizadas nos anos de 2011 a 2014 (GEM, 2017). O período refere-se a todos os anos
para os quais existem respostas para as dimensões necessárias ao estudo.
Somadas, as bases de 2011 a 2014 possuem 807.373 observações. Ao manter-se
somente países de cultura portuguesa ou espanhola, a base se reduz para 255.540 observações.
Por fim, ao manter-se somente as linhas com todos dados necessários, a amostra efetivamente
usada foi de 21.770 observações. Fazem parte desta amostra final os seguintes países:
Cultura espanhola: Espanha, Peru, México, Argentina, Chile, Colômbia, Guatemala, El
Salvador, Costa Rica, Panamá, Venezuela, Bolívia, Equador, Uruguai e Porto Rico
Cultura portuguesa: Brasil, Angola e Portugal
Modelo de regressão
Para determinar quais aspectos estão ligados ao empreendedorismo em países de cultura
portuguesa e espanhola, escolheu-se um classificador Logit. Uma técnica de estimação de
variável dependente discreta como o Logit é a natural, já que o empreendedor é classificado ou
como de cultura portuguesa ou de espanhola. Isso dá origem a uma variável qualitativa binária
codificada como 1 para respondentes de cultura portuguesa, e 0 para respondentes de cultura
espanhola. É uma abordagem semelhante à de Lasso et al. (2017), que usam um classificador
Logit para verificar quais razões para empreender estão relacionadas com o empreendedor ser
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brasileiro. Segundo Davidson & MacKinnon (2003), métodos de regressão linear não são
apropriados para modelar dados deste tipo. Já métodos como Logit e Probit são mais indicados,
havendo pouca diferença entre os dois (Davidson & MacKinnon, 2003).
Assim, o modelo de regressão, definido a seguir, toma uma variável binária como
dependente:
𝐶𝑁𝐴 = 𝛽0 + 𝛽1 ⋅ 𝑃𝑂𝑃 + 𝛽2 ⋅ 𝐶𝑃𝑅 + 𝛽3 ⋅ 𝐼𝑅𝐼 + 𝛽4 ⋅ 𝑃𝑆𝑂 + 𝛽5 ⋅ 𝑀𝐸𝑀
+∑𝛾𝑘 ⋅ 𝐶𝑜𝑛𝑡𝑟𝑜𝑙𝑒𝑘𝑘
+ 𝜖
(1)
Cultura Nacional (𝐶𝑁𝐴) refere-se ao país de origem do respondente, sendo 0 para país de
cultura espanhola e 1 para país de cultura portuguesa. Neste modelo, CNA relaciona-se com as
variáveis definidas no Quadro 1. Os controles da especificação estão descritos no Quadro 2.
Quadro 1: Definições das variáveis de interesse
Sigla Descrição Definição
POP Percepção de
Oportunidades
Refere-se ao indivíduo perceber oportunidades de negócio nos próximos 6 meses
na região onde mora, sendo 0 para não e 1 para sim. Originalmente é a variável
“opport” do GEM contendo a resposta para a pergunta “Qi2. In the next six
months, will there be good opportunities for starting a business in the area where
you live?”
CPR Competência
prévia
Refere-se ao indivíduo assumir que possui as competências necessárias para iniciar
um novo negócio, sendo 0 para não e 1 para sim. Originalmente é a variável
“suskill” do GEM contendo a resposta para a pergunta “Qi3. Do you have the
knowledge, skill and experience required to start a new business?”
IRI Intolerância
ao Risco
Refere-se ao medo do indivíduo em iniciar um novo negócio, sendo 0 para não e 1
para sim. Originalmente é a variável “fearfail” do GEM contendo a resposta para a
pergunta “Qi4. Would fear of failure would prevent you from starting a business?”
PSO Percepção da
Sociedade
Refere-se às percepções do indivíduo sobre como a sociedade vê o empreendedor;
esta variável foi composta por 4 perguntas, cujas respostas eram 0 para não e 1 para
sim, e abordavam aspectos referentes às percepções da sociedade local sobre status,
carreira, padrão de vida e divulgação de negócios de sucesso. É a média aritmética
das variáveis “equalinc”, “nbgoodc”, “nbstatus” e “nbmedia” do GEM
MEM Motivação
para
Empreender
Refere-se às motivações do indivíduo para empreender e mede a dualidade
oportunidade versus necessidade. Foi codificada como duas dummies, já que a
variável original “teayywhy” do GEM assume os valores 0 (puramente
oportunidade), 1 (parcialmente oportunidade, parcialmente necessidade) ou 2
(puramente necessidade)
Quadro 2: definições das variáveis de controle
Descrição Definição
Sexo 0 para masculino, 1 para feminino. É a variável “gender” do GEM. A literatura indica que
empreendedorismo é mais comum entre homens (Kerr et al., 2017). Piacentini (2013)
reporta que homens tem três vezes mais chances de ter um negócio com empregados que
mulheres.
Idade Idade do respondente, em anos. É a variável “age” do GEM. Kautonen (2008) destaca que
o grupo mais velho de 50-64 anos tem uma taxa de início de negócios de
aproximadamente metade do grupo mais jovem entre 20-49 anos. Hart et al. (2004)
reportam resultados semelhantes usando dados do GEM 2003.
Renda Tercil da renda do respondente. Assim, a variável original “gemhhinc” foi codificada
como duas dummies, com o efeito do tercil inferior sendo absorvido pela constante. Os
resultados de Fairlie & Krashinsky (2012) indicam que a taxa de entrada em negócios
próprios cresce com a quantidade de ativos que se possui, corroborando Evans &
Jovanovic (1989) e Evans & Leighton (1989).
Escolaridade Nível educacional atingido pelo respondente. A variável original “uneduc” foi codificada
como seis dummies. O efeito de ter somente pré-primário é absorvido pela constante, com
dummies para os demais níveis até mestrado ou mais avançado. Van Der Sluis et al.
(2008) relatam que apesar de não encontrar relação entre educação e escolha de
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empreender, eles medem um efeito positivo em desempenho do negócio. Machado et al.
(2016) encontram que escolaridade tem uma relação positiva com o nível de alerta para
oportunidades para empreender.
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
A Tabela 1 mostra as descritivas da amostra. A amostra é composta majoritariamente
por indivíduos de cultura espanhola, com menos de 17% de respondentes de cultura portuguesa.
A maior parte percebe oportunidades em sua região, alegando competência prévia e tolerância
ao risco. Mulheres são uma leve minoria (aproximadamente 45%), e os indivíduos são
relativamente jovens, com renda e escolaridade razoavelmente altas.
Tabela 1: Estatísticas descritivas
Variável Média D.P. Mín. p25 p50 p75 Máx.
Cultura 0.1674 0.3733 0 0 0 0 1
Percep. de Oportunidades 0.6590 0.4741 0 0 1 1 1
Competência Prévia 0.8404 0.3662 0 1 1 1 1
Intoler. ao Risco 0.2675 0.4427 0 0 0 1 1
Percep. da Sociedade 0.7131 0.2774 0 .5 .75 1 1
Motiv. p/ Empreender 0.7522 0.8348 0 0 0 2 2
Sexo 0.4474 0.4972 0 0 0 1 1
Idade 37.3003 11.9029 18 28 36 45 86
Renda 1.2492 0.8039 0 1 1 2 2
Escolaridade 3.1255 1.4196 0 2 3 4 6
Notas: N=21770. Média é a média aritmética, D.P. é o desvio-padrão, Mín. é o valor mínimo, pXX é o percentil
XX, Máx. é o valor máximo. Cultura é 1 para países de cultura portuguesa e 0 para espanhola. Percep. de
Oportunidades é 1 se o indivíduo perceber oportunidades de negócio nos próximos 6 meses na região onde mora.
Competência Prévia é 1 se o indivíduo assumir que possui as competências necessárias para iniciar um novo
negócio. Intoler. ao Risco é 1 se indivíduo tem medo em iniciar um novo negócio. Percep. da Sociedade é a média
aritmética de respostas a perguntas (1=sim) referentes às percepções da sociedade local sobre status, carreira,
padrão de vida e divulgação de negócios de sucesso. Motiv. P/ Empreender tem os valores de 0 (puramente
oportunidade), 1 (parcialmente oportunidade) ou 2 (puramente necessidade). Sexo é 1 para feminino. Idade é a
idade do indivíduo em anos. Renda é o tercil de renda do indivíduo, 0 (tercil inferior), 1 (tercil intermediário), 2
(tercil superior). Escolaridade é o nível educacional do indivíduo, 0 (pré-primário), 1 (1º estágio ensino básico), 2
(2º estágio ensino básico), 3 (ensino médio), 4 (pós-médio não superior), 5 (1º estágio ensino superior), 6 (2º
estágio ensino superior).
A matriz de correlações na Tabela 2 não indica nenhum problema sério de colinearidade
entre as variáveis. A magnitude de todas encontra-se bem abaixo de 0,5. Já a Tabela 3 indica
que os indivíduos de cultura espanhola e portuguesa diferem em todas as dimensões medidas.
Indivíduos de cultura espanhola percebem mais oportunidades, alegam mais competência
prévia, e são mais tolerantes aos riscos. Os indivíduos de cultura portuguesa reportam que suas
sociedades percebem os empreendedores de forma mais positiva, enquanto ambas culturas
empreendam mais por oportunidade do que necessidade, com leve vantagem para a portuguesa.
Por fim, as culturas portuguesas exibem maior proporção de mulheres e indivíduos mais jovens,
mas de menor renda e menor escolaridade. Estas diferenças dão uma primeira indicação de que
diferentes culturas estão ligadas a diferentes perfis de empreendedores.
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Tabela 2: Matriz de Correlações
Cultura Percep. de
Oportunidades
Competência
Prévia
Intoler. ao
Risco
Percep. da
Sociedade
Motiv. p/
Empreender Sexo Idade Renda Escolaridade
Cultura 1.0000
Percep. de
Oportunidades -0.0206*** 1.0000
Competência Prévia -0.0983*** 0.0789*** 1.0000
Intoler. ao Risco 0.0548*** -0.0945*** -0.1699*** 1.0000
Percep. da Sociedade 0.2346*** 0.1399*** 0.0026 0.0381*** 1.0000
Motiv. p/
Empreender -0.0193*** -0.0996*** -0.0545*** 0.0864*** 0.0297*** 1.0000
Sexo 0.0569*** -0.0113* -0.0661*** 0.0531*** 0.0471*** 0.0849*** 1.0000
Idade -0.0581*** -0.0395*** 0.0581*** 0.0089 0.0259*** 0.0950*** -0.0031 1.0000
Renda -0.1277*** 0.0494*** 0.0736*** -0.0621*** -0.0921*** -0.1896*** -0.1631*** -0.0134** 1.0000
Escolaridade -0.2108*** -0.0017 0.1035*** -0.0575*** -0.2132*** -0.1610*** -0.0891*** -0.0786*** 0.3620*** 1.0000
Notas: N=21770. Correlações de Pearson. * p < 0,1, ** p < 0,05, *** p < 0,01. Cultura é 1 para países de cultura portuguesa e 0 para espanhola. Percep. de Oportunidades é 1
se o indivíduo perceber oportunidades de negócio nos próximos 6 meses na região onde mora. Competência Prévia é 1 se o indivíduo assumir que possui as competências
necessárias para iniciar um novo negócio. Intoler. ao Risco é 1 se indivíduo tem medo em iniciar um novo negócio. Percep. da Sociedade é a média aritmética de respostas a
perguntas (1=sim) referentes às percepções da sociedade local sobre status, carreira, padrão de vida e divulgação de negócios de sucesso. Motiv. P/ Empreender tem os valores
de 0 (puramente oportunidade), 1 (parcialmente oportunidade) ou 2 (puramente necessidade). Sexo é 1 para feminino. Idade é a idade do indivíduo em anos. Renda é o tercil
de renda do indivíduo, 0 (tercil inferior), 1 (tercil intermediário), 2 (tercil superior). Escolaridade é o nível educacional do indivíduo, 0 (pré-primário), 1 (1º estágio ensino
básico), 2 (2º estágio ensino básico), 3 (ensino médio), 4 (pós-médio não superior), 5 (1º estágio ensino superior), 6 (2º estágio ensino superior).
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Tabela 3: Teste de diferença de médias
Variável Média(Cultura=ES) Média(Cultura=PT) Difer. Erro Pad.
Percep. de Oportunidades 0.6634 0.6372 0.0261*** 0.0087
Competência Prévia 0.8566 0.7602 0.0964*** 0.0075
Intoler. ao Risco 0.2566 0.3216 -0.0650*** 0.0084
Percep. da Sociedade 0.6839 0.8583 -0.1743*** 0.0041
Motiv. p/ Empreender 0.7594 0.7162 0.0432*** 0.0160
Sexo 0.4347 0.5104 -0.0757*** 0.0091
Idade 37.6104 35.7577 1.8527*** 0.2059
Renda 1.2952 1.0203 0.2749*** 0.0151
Escolaridade 3.2597 2.4580 0.8017*** 0.0256
Notas: N(ES)=18126, N(PT)=3644. Teste t para diferença de médias assumindo variâncias diferentes. * p < 0,1,
** p < 0,05, *** p < 0,01. Cultura é 1 para países de cultura portuguesa e 0 para espanhola. Percep. de
Oportunidades é 1 se o indivíduo perceber oportunidades de negócio nos próximos 6 meses na região onde mora.
Competência Prévia é 1 se o indivíduo assumir que possui as competências necessárias para iniciar um novo
negócio. Intoler. ao Risco é 1 se indivíduo tem medo em iniciar um novo negócio. Percep. da Sociedade é a média
aritmética de respostas a perguntas (1=sim) referentes às percepções da sociedade local sobre status, carreira,
padrão de vida e divulgação de negócios de sucesso. Motiv. P/ Empreender tem os valores de 0 (puramente
oportunidade), 1 (parcialmente oportunidade) ou 2 (puramente necessidade). Sexo é 1 para feminino. Idade é a
idade do indivíduo em anos. Renda é o tercil de renda do indivíduo, 0 (tercil inferior), 1 (tercil intermediário), 2
(tercil superior). Escolaridade é o nível educacional do indivíduo, 0 (pré-primário), 1 (1º estágio ensino básico),
2 (2º estágio ensino básico), 3 (ensino médio), 4 (pós-médio não superior), 5 (1º estágio ensino superior), 6 (2º
estágio ensino superior).
Determinantes da cultura portuguesa
A Erro! Fonte de referência não encontrada. mostra as estimativas do modelo Logit
para os determinantes da cultura portuguesa. Há duas especificações, uma com os motivos para
empreender, e outra sem. Em ambos casos, apresentam-se os efeitos marginais médios (EMM),
uma vez que o Logit é um método de regressão não-linear, e portanto o efeito marginal dos
coeficientes depende do ponto em que se está medindo tal efeito (Williams, 2012).
Em linha com o teste de médias, a Percepção de Oportunidades e a Competência Prévia
diminuem as chances de o indivíduo ser de cultura portuguesa em aproximadamente 3 p.p. e 6
p.p., respectivamente. Os respondentes de cultura portuguesa assumem perceber menos as
oportunidades, quando comparado aos respondentes de cultura espanhola, o que pode resultar
em menor tendência empreendedora entre os países cuja cultura nacional seja de origem
portuguesa, evidenciando diferenças culturais como já apontado anteriormente por Taras et al.
(2010) e Hofstede et al. (2004). E esse resultado pode ser decorrente do ambiente econômico e
social, como apontado por Friedman & Aziz (2012), indicando que os países de cultura
espanhola podem mostrar mais oportunidades do que os países de cultura portuguesa. Para
Shane & Venkataraman (2000), diferentes pessoas percebem as oportunidades de maneiras
diferentes, sendo que sua cultura possui papel determinante nessas percepções.
Também, aqueles que convivem com a cultura portuguesa se consideram menos
preparados em termos de competências prévias na comparação com os que vivem em países
de cultura espanhola. Isto é, possivelmente percebem menos oportunidades porque se acham
menos preparados, o que pode indicar uma necessidade de melhoria nas instituições de ensino,
especificamente desenvolvendo competências voltadas ao empreendedorismo, como indicado
anteriormente por Thomas & Mueller (2000). Além disso, esse resultado mostra-se relevante,
pois as competências prévias que uma pessoa adquire aumentam sua confiança em aceitar
desafios (Acs et al., 2012), podendo significar mais empreendedorismo.
A Intolerância ao Risco e a Percepção da sociedade também reforçam a intuição do
teste de médias. Intolerância ao Risco tem um efeito de baixa magnitude, da ordem de 1 p.p.,
mas ainda assim reforçando os achados de Costa & Mainardes (2016), que indicam que culturas
diferentes enxergam os riscos de formas diferentes. Neste sentido, vê-se que os indivíduos de
países de cultura portuguesa, perante indivíduos de cultura espanhola, assumem perceber
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menos oportunidades, também demonstrando maior receio em se arriscar, possivelmente
porque se acham menos preparados para empreender e indicam alguma dificuldade em
enxergar oportunidades (Friedman & Aziz, 2012).
Tabela 4: Estimativas dos determinantes de cultura portuguesa
Variável Modelo base EMM base Modelo completo EMM completo
Percep. de Oportunidades -0.2701*** -0.0326*** -0.2887*** -0.0343***
(-6.5308) (-6.5639) (-6.8928) (-6.9301)
Competência Prévia -0.4607*** -0.0557*** -0.4654*** -0.0552***
(-9.5439) (-9.6432) (-9.5546) (-9.6596)
Intoler. ao Risco 0.1034** 0.0125** 0.1172*** 0.0139***
(2.3748) (2.3741) (2.6694) (2.6684)
Percep. da Sociedade 2.7081*** 0.3272*** 2.6938*** 0.3196***
(28.0395) (29.5281) (27.9487) (29.5691)
Motiv. p/ Empreender:
Parcialm. Oport. -0.9476*** -0.1027***
(-16.0409) (-18.3980)
Totalm. Necess. -0.3244*** -0.0412***
(-6.9641) (-7.1657)
Feminino 0.1386*** 0.0168*** 0.1280*** 0.0152***
(3.5236) (3.5135) (3.2164) (3.2064)
Idade -0.0207*** -0.0025*** -0.0195*** -0.0023***
(-12.1722) (-12.3476) (-11.3949) (-11.5567)
Renda:
Tercil intermed. -0.3595*** -0.0455*** -0.3555*** -0.0445***
(-7.1857) (-7.1262) (-7.0390) (-6.9759)
Tercil sup. -0.3520*** -0.0447*** -0.3823*** -0.0475***
(-7.0832) (-6.9291) (-7.5474) (-7.3760)
Escolaridade:
1o estágio Ens. Bás. -0.6485*** -0.1191*** -0.6356*** -0.1134***
(-7.4029) (-7.1488) (-7.2175) (-6.9766)
2o estágio Ens. Bás. -1.0410*** -0.1775*** -1.0294*** -0.1707***
(-12.2708) (-11.2107) (-12.0470) (-11.0465)
Ensino Médio -0.9874*** -0.1702*** -0.9841*** -0.1647***
(-12.2926) (-10.8989) (-12.1558) (-10.8140)
Pós-Médio não Sup. -3.5387*** -0.3350*** -3.5146*** -0.3277***
(-20.5132) (-21.9615) (-20.3073) (-22.0080)
1o estágio Ens. Sup. -1.3631*** -0.2169*** -1.3553*** -0.2100***
(-14.9130) (-13.3359) (-14.6774) (-13.1973)
2o estágio Ens. Sup. -4.0054*** -0.3419*** -3.9998*** -0.3351***
(-6.8117) (-20.6645) (-6.7864) (-20.5938)
Constante -1.1162*** -0.8611***
(-8.0151) (-6.1337)
Pseudo R2 0.1509 0.1662
AIC 16730.7196 16433.0729
BIC 16850.5439 16568.8738
Notas: N=21770. Estimativas do modelo Logit da Equação (1) usando erros agrupados (clustered) no nível de
indivíduo. O modelo-base não inclui Motivo para Empreender. EMM é o efeito marginal médio do modelo à
esquerda, permitindo fazer a análise em termo de pontos percentuais. Os valores entre parênteses são a estatística
t. * p < 0,1, ** p < 0,05, *** p < 0,01. Cultura é 1 para países de cultura portuguesa e 0 para espanhola. Percep.
de Oportunidades é 1 se o indivíduo perceber oportunidades de negócio nos próximos 6 meses na região onde
mora. Competência Prévia é 1 se o indivíduo assumir que possui as competências necessárias para iniciar um
novo negócio. Intoler. ao Risco é 1 se indivíduo tem medo em iniciar um novo negócio. Percep. da Sociedade é a
média aritmética de respostas a perguntas (1=sim) referentes às percepções da sociedade local sobre status,
carreira, padrão de vida e divulgação de negócios de sucesso. Motiv. P/ Empreender tem os valores de 0
(puramente oportunidade), 1 (parcialmente oportunidade) ou 2 (puramente necessidade). Sexo é 1 para feminino.
Idade é a idade do indivíduo em anos. Renda é o tercil de renda do indivíduo, 0 (tercil inferior), 1 (tercil
intermediário), 2 (tercil superior). Escolaridade é o nível educacional do indivíduo, 0 (pré-primário), 1 (1º estágio
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12
ensino básico), 2 (2º estágio ensino básico), 3 (ensino médio), 4 (pós-médio não superior), 5 (1º estágio ensino
superior), 6 (2º estágio ensino superior).
Com relação às Percepções da Sociedade, que era uma variável que observou a opinião
dos respondentes sobre status, carreira, padrão de vida e divulgação de negócios de sucesso, é
interessante notar a sua grande influência, por volta de 33 p.p. Isso significa que um desvio-
padrão da Percepção (aproximadamente 0,28) leva a uma variação de mais de 9 p.p. na
probabilidade de o indivíduo ser de cultura portuguesa. Considerando que diferentes culturas
percebem o empreendedorismo modo diferente (Hitt et al., 2001), constatou-se que indivíduos
provenientes de países de cultura portuguesa percebem melhor o que a sociedade pensa a
respeito do empreendedorismo do que indivíduos que se encontram em países de cultura
espanhola. Este aspecto pode ser reforçado por meio de políticas públicas favoráveis a
valorização do empreendedor (Costa & Mainardes, 2016) , visto que na visão dos respondentes,
países de cultura portuguesa tendem a perceber o empreendedor de modo mais positivo do que
em países de cultura espanhola. Isso reforça o fato de que algumas culturas mostram-se mais
favoráveis a pessoas que apresentam comportamentos empreendedores, como citado em
(Cowling, 2000; Mueller & Thomas, 2001), o que pode ser o caso dos países de cultura
portuguesa.
Já empreender por outros motivos que não por exclusivamente oportunidade está mais
ligado a indivíduos de cultura espanhola: Parcialmente por oportunidade e Totalmente por
necessidade levam a 10 p.p. e 4 p.p. a menos chance de ser um indivíduo de cultura portuguesa.
Isso indica que residentes em países de cultura portuguesa, apesar de alegarem que percebem
menos oportunidades, empreendem mais por oportunidade do que por necessidade quando
comparado a residentes originários de países de cultura espanhola. Esse resultado mostra que
quem está em países de cultura portuguesa, mesmo tendendo a observar menos as
oportunidades do que quem está em países de cultura espanhola, quando a percebe, tende a
empreender, como indicaram Alvarez & Barney (2007), revelando outra diferença cultural
entre ambos, algo ressaltado anteriormente por Hayton et al. (2002), que indicaram que
diferentes culturas nacionais percebem o empreendedorismo de modo diferente. Como um
todo, esses resultados reforçam diferenças culturais como já apontado anteriormente por Taras
et al. (2010).
Em resumo, pode-se perceber que, ao comparar as percepções de indivíduos que
residem em países de cultura portuguesa com indivíduos residentes em países de cultura
espanhola, perceber oportunidades parece ser mais comum entre pessoas de cultura espanhola,
sendo que tolerar o risco e se assumir como competente para empreender também tende a ser
mais presente entre pessoas de cultura espanhola, mesmo que o empreendedorismo
possivelmente seja mais por necessidade. Por outro lado, as percepções da sociedade sobre o
empreendedorismo revelaram-se mais positivas na visão dos residentes de países de cultura
portuguesa, o que pode favorecer o desenvolvimento do empreendedorismo nestes países,
quando comparados a países cuja cultura seja espanhola.
Quanto aos controles, eles corroboram os resultados do teste de médias, com indivíduos
de países portugueses estando mais associados com representantes do sexo feminino, mais
jovens, de menor renda e com menor escolaridade, o que pode explicar as percepções de
observar menos oportunidades, ser mais intolerante ao risco e se sentir menos preparado para
empreender. Simoes et al. (2016) apontam que características demográficas explicam boa parte
dos comportamentos empreendedores. Em conjunto, os resultados apontam para diferenças
culturais e demográficas importantes, que podem ajudar no desenho de políticas voltadas ao
incentivo e suporte ao empreendedor.
CONCLUSÕES
O objetivo deste estudo foi evidenciar aspectos ligados ao empreendedorismo de países
de cultura portuguesa, quando comparado a países de cultura espanhola. Após analisar cinco
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aspectos distintos, pode-se concluir que indivíduos provenientes de países de cultura
portuguesa, quando a comparado a indivíduos residentes em países de cultura espanhola,
assumem perceber menos oportunidades, apesar da sociedade valorizar a atividade
empreendedora. Também se observou que tendem a ser menos tolerantes aos riscos e a se
sentirem menos preparados para empreender. Isso pode se refletir em menos
empreendedorismo em países de cultura portuguesa, quando comparado a países de cultura
espanhola. Em resumo, encontrou-se evidências de percepções distintas entre as culturas
portuguesa e espanhola, o que pode impactar na forma de gerir o empreendedorismo em países
com tais culturas.
As implicações teóricas deste estudo remetem-se principalmente à conexão entre dois
temas relevantes para as nações, a cultura nacional e o empreendedorismo, algo pouco presente
na literatura, tanto de empreendedorismo, quanto em estudos culturais, conforme citado
anteriormente em diversos estudos (Acs et al., 2012; Hayton et al., 2002; Hofstede et al., 2004;
Huggins & Thompson, 2014). Ao observar diferenças culturais de percepções de assuntos
ligados ao ato de empreender, amplia-se o conhecimento a respeito das temáticas, favorecendo
o entendimento de ambos os fenômenos, que são naturalmente complexos. Assim, a principal
contribuição teórica deste trabalho foi evidenciar que temas comuns ao empreendedorismo,
como percepções de oportunidades, competências prévias e tolerância ao risco, podem levar
em conta os aspectos culturais, indicando que estudos realizados sob a alçada de uma mesma
cultura possuem abrangência e generalização limitadas, pois as culturas nacionais tendem a
alterar as percepções dos indivíduos que convivem com uma determinada cultura nacional,
conforme evidenciado aqui.
Como implicações práticas e gerenciais, cabe destacar que ao encontrar diferenças de
percepções entre culturas distintas, apesar de próximas, pode facilitar o desenvolvimento de
políticas públicas assertivas para o fomento ao empreendedorismo nos países. Além disso,
restringe o alcance de ações de sucesso realizadas em determinadas nações que possam ser
replicadas em outros países. Ao reconhecer diferenças entre as formas de pensar dos residentes
em diferentes culturas nacionais, o estímulo ao empreendedorismo local requer ajustamentos
conforme a cultura que rege valores, atitudes e ações dos indivíduos sob a égide de tal cultura.
Especialmente, a importação por uma nação de programas prontos que favoreçam o
empreendedorismo pode não surtir o efeito desejado se a cultura nacional não for levada em
conta.
Porém, é preciso considerar que este estudo apresenta limitações. Especificamente, a
principal limitação deste estudo refere-se à base de dados utilizada. Primeiramente, a base é do
período de 2011 a 2014, um tanto antiga, mas é a base mais recente disponibilizada pelo GEM
(2017). É possível que com bases mais recentes, os resultados apresentem algumas diferenças.
Outro ponto limitante é a diferença entre as amostras. Após excluir resultados faltantes e
duplicados, a base de dados de países de cultura espanhola ficou bem maior que a base de dados
de países de cultura portuguesa, algo não passível de ser controlado aqui, afinal estes foram os
dados disponibilizados pelo GEM (2017). O alcance da pesquisa depende especificamente do
fornecimento dos dados por esta organização de pesquisa sobre o empreendedorismo. Em
resumo, tais limitações reduzem a capacidade de generalização dos resultados, mas trazem
evidências de que a cultura nacional tende a exercer relevante papel no desenvolvimento do
empreendedorismo em um país.
Considerando esses aspectos, para dar continuidade ao estudo aqui realizado, sugere-se
agregar anos mais recentes à base de dados, observando as diferenças ao longo do tempo. Outra
sugestão é realizar a análise de outras culturas que sejam distintas entre si, como a cultura
asiática ou anglo-saxã, visto que as culturas analisadas aqui são naturalmente próximas por
terem a mesma origem latina. Por fim, sugere-se ampliar o número de variáveis analisadas,
desde que os dados estejam disponíveis, utilizado o próprio GEM (2017) ou outras bases que
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também abordam aspectos do empreendedorismo, com o Doing Business Database. Em
resumo, estudos que conectem a cultura nacional ao empreendedorismo revelam-se
importantes para favorecer as atividades empreendedoras nas nações.
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