empreendedorismo rural: jovens buscam na criação de abelha a oportunidade de mudar seus destinos

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“O mundo das abelhas é fantástico,” com essa frase o jovem Francisco Rodrigues da Silva, de 21 anos, caracteriza seu fascínio pela apicultura. Ele e seu irmão, Pedro Rodrigues da Silva, de 24 anos, moradores da comunidade Tucuns dos Pedros, município de Pedro II, descobriram na criação de abelhas a possibilidade de gerar renda e mudar seus destinos. Filhos dos agricultores José Pedro da Silva e Antônia Rodrigues da Silva, os pais e a irmã Maria Rodrigues da Silva foram seus maiores incentivadores e deles veio a coragem para persistirem na busca de conhecimento técnico para aperfeiçoar o negócio com as abelhas. O interesse em criar abelhas partiu de Pedro que trabalhava por diárias com apicultores da região. Ele e o irmão Francisco, mas conhecido como Chiquim, começaram a aproveitar os quadros de madeiras que quebravam e eram jogados no lixo, passaram um tempo juntando até conseguirem montar a primeira caixa e capturar seu primeiro exame. Os jovens contam que no inicio, até a família achava o negócio meio incerto, os jovens não tinham dinheiro para investir e sabiam pouco sobre abelhas, mas motivados pela empolgação dos meninos, os pais começaram a incentivar financeiramente o negócio, “mamãe tirava do pouco que ganhava das costuras que fazia e começou a investir em nós, então posso dizer que a força de vontade do meu irmão e o grande apoio da nossa família foram nossos maiores incentivadores”, afirma Chiquim. Mesmo com a ajuda da mãe, os jovens perceberam que o negócio com abelhas ainda estava muito caro e eles não tinham dinheiro para investir. Foi passeando pela feira do mercado de Pedro II, que Pedro teve uma grande ideia. Ele viu que uma caixa de papelão de maçã se enquadraria perfeitamente no formato da caixa do núcleo para começar sua criação. Os jovens aperfeiçoaram a ideia, pegaram um saco de arroz revertia o papelão com os quadros dentro e colocava para capturar o exame. O experimento deu tão certo, que logo os jovens já tinham capturados muitos exames, mas não tinham como comprar as caixas de madeira e a consequência seria a perda do que já tinham Piauí Ano 5 | nº 103| Julho | 2011 Pedro II - Piauí Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Empreendedorismo rural Jovens buscam na criação de abelha a oportunidade de mudar seus destinos 1 Caixa de papelão, jovem usam criatividade para vencer dificuldades. Família, maior incentivadora dos jovens.

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“ “O mundo das abelhas é fantástico,” com essa frase o jovem Francisco Rodrigues da Silva, de 21 anos, caracteriza seu fascínio pela apicultura. Ele e seu irmão, Pedro Rodrigues da Silva, de 24 anos, moradores da comunidade Tucuns dos Pedros, município de Pedro II, descobriram na criação de abelhas a possibilidade de gerar renda e mudar seus destinos. Filhos dos agricultores José Pedro da Silva e Antônia Rodrigues da Silva, os pais e a irmã Maria Rodrigues da Silva foram seus maiores incentivadores e deles veio a coragem para persistirem na busca de conhecimento técnico para aperfeiçoar o negócio com as abelhas.

O interesse em criar abelhas partiu de Pedro que trabalhava por diárias com apicultores da região. Ele e o irmão Francisco, mas conhecido como Chiquim, começaram a aproveitar os quadros de madeiras que quebravam e eram jogados no lixo, passaram um tempo juntando até conseguirem montar a primeira caixa e capturar seu primeiro exame. Os jovens contam que no inicio, até a família achava o negócio meio incerto, os jovens não tinham dinheiro para investir e sabiam pouco sobre abelhas, mas motivados pela empolgação dos meninos, os pais começaram a incentivar financeiramente o negócio, “mamãe tirava do pouco que

ganhava das costuras que fazia e começou a investir em nós, então posso dizer que a força de vontade do meu irmão e o grande apoio da nossa família foram nossos maiores incentivadores”, afirma Chiquim.

Mesmo com a ajuda da mãe, os jovens perceberam que o negócio com abelhas ainda estava muito caro e eles não tinham dinheiro para investir. Foi passeando pela feira do mercado de Pedro II, que Pedro teve uma grande ideia. Ele viu que uma caixa de papelão de maçã se enquadraria perfeitamente no formato da caixa do núcleo para começar sua criação. Os jovens aperfeiçoaram a ideia, pegaram um saco de arroz revertia o papelão com os quadros dentro e colocava para capturar o exame. O experimento deu tão certo, que logo os jovens já tinham capturados muitos exames, mas não tinham como comprar as caixas de madeira e a consequência seria a perda do que já tinham

Piauí

Ano 5 | nº 103| Julho | 2011Pedro II - Piauí

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Empreendedorismo ruralJovens buscam na criação de abelha a oportunidade de

mudar seus destinos

1Caixa de papelão, jovem usam criatividade para vencer dificuldades.

Família, maior incentivadora dos jovens.

conseguido capturar. Nessa época, Chiquim estudava na Escola Família Agrícola Santa Ângela, que fica na sede do

município de Pedro II. A instituição acolhe filhos de agricultores familiares para estudar em ensino de alternância, o jovem passava 15 dias na escola e os dias na comunidade. Enquanto o irmão estava na escola, Pedro cuidava do apiário. Chiquim então resolveu explicar sua dificuldade para a diretora da Escola, Irmã Celina. Ele conta que a escola possuía as máquinas, a serraria e incentivava o desenvolvimento do campo, então pediu ajuda, “contei nossa dificuldade e a escola nos apoiou, a partir daí, nós começamos a construir as caixas e as coisas começaram a dar certo”, conta.

Chiquim integra um grupo de alunos da Escola Família Agrícola Santa Ângela que desenvolvem uma pesquisa com o favo de mel. O objetivo é avaliar a produção e a comercialização desse produto e o retorno financeiro para a agricultura familiar. Orientados pelo professor Luciano Melo, os jovens Chiquim, Maria de Jesus, Maria da Conceição, Romário Pereira, Maria Beatriz, Bernardo com o apoio de Pedro analisaram desde a produção à comercialização do favo do mel em recipiente de vidro. Chiquim explica que o produto tem um valor comercial bem melhor que somente o mel vendido, mas é necessário analisar a aceitação, se há consumidores, os custos e o retorno financeiro da produção.

Com a apicultura veio também consciência da importância de preservar a natureza. A família dos jovens empreendedores foi beneficiada com um Programa de Patrimônio Genético Vegetal da Articulação no Semi-Arido Brasileiro (ASA-Brasil), que visa o resgate e valorização de algumas árvores nativas da região que estão desaparecendo devido a exploração descontrolada por parte dos próprios moradores. A família recebeu 120 mudas entre elas ipê roxo, amarelo, branco, pau ferro, ingarana, gonçalo alves, angico e pau d'arco. “Meu sonho é ver o quintal bem florestado, assim as abelhas sempre terão com que se alimentar”, diz.

Chiquim conta que assim como muitos jovens da região, também pensou em ir embora para São Paulo, atrás de vida melhor, mas hoje não imagina vida melhor que ao lado da família. As dificuldade do começo do sonho, agora eles contam com graça, “lembro do dia que minha mãe saiu para Pedro II para comprar umas janelas novas para a casa, então nós desmanchamos a janela, cortamos para fazer as caixas para capturar as abelhas, quando a mãe chegou contando que não tinha comprado as janelas e viu que nós tínhamos tirado as da casa, aí o negocio pegou para o nosso lado”, brinca Chiquim.

A mãe dos jovens, Dona Antônia, que acompanhou e incentivou toda a trajetória dos filhos, se diz orgulhosa de ver que eles conseguiram, depois de tanto esforço, produzir e vender o seu mel. Para ela todas as dificuldades que passaram foi necessário para a aprendizagem, hoje são os jovens que ajudam amigos a começarem seus apiários em outros lugares. “Pra tudo na vida precisa ter paciência e acreditar para que dê certo”, ressalta a agricultora.

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Apoio:

www.asabrasil.org.br

Produção de favo de mel em vidro. Pedro mostra a caixa com a comeia capturada.