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1 A Amazônia é nossa? ISSN 1809-4600 R$ 10,00 Como o Brasil está perdendo o controle da região mais cobiçada do planeta Barcelos Viagem ao paraíso cenográfico Moda No palco da natureza morta Rio e Lisboa As cidades de dom João VI

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A Empório, em sua 13ª edição, faz uma viagem pela Amazônia para mostrar aos leitores as potencialidades e fragilidades dessa região ameaçada pelo modelo de desenvolvimento equivocado baseado na pata do boi e na indústria madeireira. As imensas clareiras abertas no meio da selva pela ação predatória do homem expõem o Brasil ao mundo como um país incapaz de gerir o maiorpatrimônio natural da Terra. O trabalho envolve pesquisa, entrevistas e reportagens especiais que devem servir de documento para análise e reflexão sobre o que pode ser feito para preservar e desenvolver a região. Ao final dessa leitura, a Empório espera ter contribuído para tornar a Amazônia mais amada e compreendida.

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A Amazôniaé nossa?

ISSN

18

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00

R$ 10,00

Como o Brasil estáperdendo o controleda região maiscobiçada do planeta

BarcelosViagem ao paraísocenográfico

ModaNo palco danatureza morta

Rio e LisboaAs cidades dedom João VI

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A Empório, em sua 13ª edição, faz uma viagem pela Amazônia para mos-trar aos leitores as potencialidades e fragilidades dessa região ameaçada pelo modelo de desenvolvimento equivocado baseado na pata do boi e na indústria madeireira. As imensas clareiras abertas no meio da selva pela ação predatória do homem expõem o Brasil ao mundo como um país incapaz de gerir o maior patrimônio natural da Terra. O trabalho envolve pesquisa, entrevistas e reportagens especiais que devem servir de documento para análise e reflexão sobre o que pode ser feito para preservar e desenvolver a região. Desde os primeiros religiosos e naturalistas que aqui chegaram, até os tempos atuais, a Amazônia é analisada sobre vários aspectos. Poucos, porém, foram os que se aprofundaram em seu universo preo-cupados em apresentar projetos nos quais o homem seja parte preponderante desse processo. A Empório viaja por rio, terra e ar, das áreas desmatadas no Sul do Estado a Barcelos, paraíso da pesca esportiva e, agora, cenário cenográfico de três longas-metragens ambientados na Amazônia. Ao folhear as páginas desta edição, o leitor pode embarcar no porto de Lisboa, em 1807, ao lado da família imperial em fuga para o Brasil, e passear pelo Rio de dom João VI, rei que fez de uma colônia um país, além de poder visitar a Lisboa de hoje, capital portuguesa que se moderniza impulsionada pelo Merca-do Comum Europeu. Se quiser mais aventura, pode se deixar levar pelo imaginário do artista plástico chileno Roland Stevenson e encontrar o caminho do El Dorado, numa viagem fantástica cercada de perigos e mistérios. O ensaio de moda com Sally Menezes, amazonense de Carauari que co-meça a consolidar uma carreira internacional, tem a peculiaridade de invadir a passarela desmatada em que se transformou grande parte da floresta. Mas, para não dizer que só falamos de florestas, Carlos Ferreirinha mostra produtos sofisticados que estão sendo lançados no país. Ao final dessa leitura, a Empório espera ter contribuído para tornar a Amazônia mais amada e compreendida.

editorial

Os editores

Um novo olharsobre a Amazônia

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CAPA

Foto Márcio AmaralStyling Augusto CarneiroModelo Sally Meneses

DIRETOR DE REDAÇÃOSebastião Reis

[email protected]

DIRETORA EXECUTIVAGeyna Brelaz

[email protected]

EDITORA EXECUTIVANatália Freire

[email protected]

CONSULTORCarlos Ferreirinha

[email protected]

DIRETOR DE ARTEMarcelo T. Menezes

[email protected]

PRODUTOR DE MODA E BELEZAGelb Costa

[email protected]

PUBLICIDADECaio Michiles

[email protected]

Monyk [email protected]

COLABORADORESAndré Viana • Bruno Chateaubriand • Felipe MacielJair Ricciner • Marcelo Guilherme • Tenório Telles

FOTÓGRAFOSAntonio Iaccovazo • Cao Ferreira • Delfim Vieira • Euzivaldo QueirozFabiano Herrera • Fernanda Preto • Maíra Coelho • Márcio Amaral

Mário Oliveira • Paulo Amorim • Ruth Jucá

TRATAMENTO DE IMAGEMcaoptix.com

REVISÃODernando [email protected]

MARKETING E CIRCULAÇÃOAna Paula Schlickmann

[email protected]

REPRESENTANTEThiago Lorenzoni

PRESIDENTE E EDITORValdo Garcia

CTP E IMPRESSÃOProl Editora Gráfica Ltda.

DISTRIBUIÇÃO NACIONALLeonardo Da Vinci

Rua Rio Jutaí, 19 • Qd. 35 • N. S. das GraçasConj. Vieiralves • CEP 69.053-020 • Manaus/AMCNPJ 03.207.977/[email protected].: (92) 3584.5248 • www.amazonbest.com.br

www.emporioamazonia.com.br

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COLABORADORES

Paulo AmorimFotógrafo independente, Paulo Amorim é o responsável pelos clicks de Lisboa. Além da Empório, atualmente co-labora com a Agência ImagoPress/ImagoSport (Suiça-Alemanha), Agência Estado (Brasil), El Mundo e Don Balon (Espanha). No Brasil, já passou pelo jornal O Libe-ral e pela revista Veja, sucursal de Belém.

Carlos FerreirinhaO administrador de empresas Carlos Ferreirinha é uma das pessoas que mais bem conhecem o setor de luxo no país. Mesmo se dizendo imune ao poder das marcas, é um profissional bem-sucedido da área. Ex-presidente da Louis Vuitton no Brasil, presta hoje consultoria a empresas como Burberry e Gucci. São dele as dicas de produtos.

Sally MenezesAlta, branca, olhos azuis, ela costuma ser confundida com uma russa. Nada de mais, sobretudo se o engano vem de gente como Kate Moss, super-model inglesa. Amazonense de Carauari, Sally Menezes desfila para estilistas famosos, como Calvin Klein e Vivianne Westwood. Nesta edição, revela sua beleza na capa e editorial de moda.

Felipe MacielFelipe Maciel, 29 anos, é jornalista, com passagem por várias revistas, como Desfile, Manchete e Pais & Fi-lhos, além do jornal Tribuna da Imprensa. Atualmente acumula experiência em assessoria de imprensa. Pela experiência na área cultural, assina a matéria sobre o Rio imperial.

Jair RaccinerHá 21 anos em Portugal, Jair Racciner mostra Lisboa 200 anos depois da fuga da família real. Formado em jornalismo pela ECA/USP, com mestrado em Literatura e Cultura Portuguesas pela Universidade Nova de Lis-boa, trabalha como correspondente para a BBC Brasil e O Estado de S. Paulo.

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16Natureza de uma bela paisagemARTE

Lançamentos que ninguém pode perderLETRAS126

Doze anos do Festival de Ópera de ManausCULT116

114O mundo sofisticado de Carlos FerreirinhaLUXO

104 A incrível viagem de Stevenson ao El DoradoGENTE

94Roteiro da velha e moderna LisboaTURISMO

86O Rio imperal da corte de dom João VITURISMO

76Barcelos, paraíso do turismo e do cinemaDESTINO

48Um ensaio na passarela desmatadaMODA

40Quatro décadas de uma Zona FrancaNEGÓCIOS

36General Heleno, comandante do CMAENTREVISTA

24As veias abertas da AmazôniaAMBIENTE

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10

01Rua Lauro Cavalcante, 231 - Centro • (92) 3233.4545 • [email protected] • Manaus - AM

www.inpa.gov.br • www.ipe.org.br • www.ampa.com.br

U m casarão charmoso no centro histórico de Manaus é

o mais novo empreendimento da rede mundial de al-

bergues da juventude, a Hostelling International. Distante

apenas três quadras do Teatro Amazonas, a hospedaria começa a

ficar conhecida entre mochileiros do mundo inteiro interessados

em explorar esta cidade singular e esticar o passeio à exótica flo-

resta amazônica. Além do bom preço, o lugar se destaca pelo am-

biente familiar. Em um pátio interno coberto por árvores frutíferas,

o visitante pode se deliciar lendo um livro deitado em rede, estilo

ribeirinho. No fim da tarde, a diversão fica por conta de boa música

regada a caipirinha. A bebida é servida no bar do Hostel, que conta

ainda com vista para o Palácio Rio Negro.

Albergue com charme

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VITRINE

M ais um grande passo para conservação e repovoação de

peixes-bois de água doce foi dado no início do mês. Uma

equipe de pesquisadores do Instituto Nacional de Pesqui-

sas da Amazônia (Inpa), do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPE) e

da Associação Amigos do Peixe-boi (Ampa) fez a primeira soltura de

animais criados em cativeiro no Amazonas. Puru e Anamã moravam

no Inpa desde 1999 e 1995, respectivamente, e foram libertados na

Reserva do Cuieiras, a 60 quilômetros de Manaus, depois de passarem

por uma série de exames. O evento foi acompanhado por crianças,

que aproveitaram para aprender mais sobre a espécie ameaçada de

extinção. Mais peixes-bois devem ser soltos nos próximos anos. Trinta

e três ainda continuam no laboratório do Inpa.

De volta para casa

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O material selecionado e o fino acabamento do artesa-

nato de Novo Airão, no interior do Amazonas, come-

çam a ganhar fama nacional. Em 2006, a cooperativa

de artesãos ligada à Fundação Almerinda Malaquias recebeu o

Prêmio Top 100 do Sebrae. E de lá para cá, só tem aumentado

a produção. Além da marcenaria e do artesanato com madeira,

a associação Nov’Arte agora investe em peças feitas a partir de

papel reciclado. Um destaque do trabalho é a preocupação social

e ecológica. Como o município de Novo Airão tem hoje mais de

80% da sua área dividida em zonas de proteção ambiental, o que

restringe o uso das potencialidades naturais, a Fundação Almerin-

da Malaquias (FAM) surge como uma alternativa, ensinando ao

ribeirinho que só sabia caçar, pescar e extrair madeira, um novo

ofício. A FAM oferece cursos de capacitação, incentiva a educa-

ção básica e o associativismo. A empresa de artesanato funciona

assim: 25% do dinheiro da venda dos produtos se transformam

em capital de giro. Os outros 75% ficam para o artesão, que em-

prega o lucro no sustento da família. A preocupação com o meio

ambiente se traduz no uso de refugos de madeira, recuperados

em vários pontos da cidade ou abandonados na mata. Nem uma

tora de matéria-prima nobre é derrubada.

(92) 3365.1000 • [email protected]

03Arte social

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Rua Comendador Miguel Calfat, 382 - Itaim • (11) 3045.9006 • São Paulo - SP

Av. do Turismo, 215 - Tarumã • (92) 8818.1202 • [email protected] • Manaus - AM

I naugurado há pouco mais de um ano, o restaurante Itaim é a

primeira casa especializada em peixe na grelha do país. Com

ambiente rústico e aconchegante, começa a receber indicações

de revistas especializadas. O cardápio ofecere 18 espécies de pes-

cado preparados tipo churrasco e mais uma variedade enorme

de frutos do mar, risotos e entradas, como a linguiça de tambaqui.

Exemplares de águas doces, como o tambaqui e o tucunaré, aliás,

são preferidos no local. Mas o chef Fabrizio Pellegrino também

inova em pratos como o ceviche de linguado com pipoca, o mini-

hambúrguer de salmão e o abadejo com fonduta de parmesão

e batata sauté (foto). Nota 10 também para o serviço, cordial e

informal, combinando com a casa.

04Churrasco de peixe

05O vinho é prova constante de que Deus nos ama e nos de-

seja ver felizes, já dizia Benjamin Franklin. A célebre frase

cai como uma luva para o Adega de Pedra, empreendi-

mento de cinco amigos que, depois de experimentarem tempora-

da na Europa, resolveram trazer um pouco do Velho Mundo para

Manaus. Inaugurado há quatro meses, o local com cara de taberna

espanhola tem atmosfera alegre e aconchegante, por isso é a nova

sensação entre os enófilos de plantão. Com decoração rústica, inspi-

rada em cantinas mediterrânicas, a adega oferece uma vasta carta de

vinhos finos, espanhóis, argentinos, chilenos e portugueses. Desta-

que para a paella preparada na hora (às quintas-feiras) e para o ba-

calhau servido como tira-gosto (toda sexta), ao som de boa música.

Divino prazer

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06Tropical Hotel Manaus • Av. Cel Teixeira, 1320 - Ponta Negra • (92) 3658.6953 • Manaus - AM

S aborear sorvetes feitos com frutas frescas e selecionadas da

Amazônia já não é privilégio dos paraenses. Manaus, agora,

conta com uma gelateria Cairu. A marca, criada há 45 anos

por uma família de Belém e que virou sinônimo de qualidade, fa-

zendo parte do circuito turístico da cidade, chega ao Amazonas

pelas mãos da empresária Esdras Begéa. A loja no Tropical Hotel

oferece 35 sabores, entre tradicionais (açaí, tapioca e cupuaçu) e

exóticos (mangaba, muruci e uxi). Destaque também para as recei-

tas exclusivas, como a de pavê de cupuaçu (com pedaços de casta-

nha e gotas de chocolate) e o sorvete de bacuri (com castanha e

pão-de-ló). As crianças não foram esquecidas. Para elas, chocolate,

chicletes e céu azul (caramelo).

Sabores exóticos

Rua Almirante Alexandrino, 264 - Largo dos Guimarães - Santa Teresa • (21) 2508.7095 • [email protected] • Rio de Janeiro - RJ

Q uem gosta de novas experiências gustativas, não

pode deixar de passar no restaurante Espírito Santa,

no charmoso circuito gastronômico de Santa Teresa,

Rio de Janeiro. A chef Natacha Fink acaba de elaborar um car-

dápio em que apresenta um painel completo e bem atual dos

sabores do Brasil, com pratos e ingredientes típicos de várias

regiões do país. A partir de uma pesquisa sobre a tradição gas-

tronômica brasileira, ela ampliou a variedade de peixes de água

doce (pintado, surubim, dourado) e selecionou mais alimentos

saudáveis, tubérculos como inhame, mandioquinha e batata

doce. E o melhor são os preços, na faixa de R$ 30. Na foto, siri

com banana pacovã.

07Releituras do Brasil

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Serviço Natura de Atendimento ao Consumidor • 0800.115566 • [email protected] • www.natura.net

Millennium Shopping - Lojas 202 e 203 • (92) 3659.3714 • Manaus - AM

O Millennium Shopping, em Manaus, disponibiliza mais um

serviço para quem tem pouco tempo para compras e

não abre mão da qualidade. Inaugurou recentemente o

Empório Gaioto, uma espécie de loja de conveniência com bebidas

e alimentos finos. Além dos já tradicionais bacalhau norueguês e

lingüiça de Bragança, é possível encontrar toda a linha de carnes

Bassi e vinhos Chandon, cervejas alemães e americanas e uma farta

carta de queijos, antepastos, geléias e ervas exóticas. A novidade

fica por conta do “espaço sebo”, onde o visitante pode se deleitar

com clássicos da literatura mundial, como Simone de Beauvoir e

Balzac. O empreendimento tem a assinatura de Jurandir Gaioto, que

acumula know-how nos já badalados Mercato e Távola Redonda.

08Compras com estilo

09B asta dar uma volta, passar na padaria ou comprar algo na

farmácia que o resultado é o mesmo: muitas sacolas plásti-

cas para guardar em casa. Essas embalagens causam grande

impacto ambiental, já que são derivadas do petróleo e demoram

em média 450 anos para se decompor. Com o objetivo de mobili-

zar os consumidores, as bolsas de pano, também conhecidas como

eco bags, são a nova aposta do mundo fashion. Na Europa, só se

vai ao supermercado com bolsas assim. Por isso, a Natura lança sua

versão feita 100% com algodão natural. Com o slogan “Esta bolsa

carrega as minhas escolhas”, o produto, além de propor uma refle-

xão sobre o consumo consciente, ainda tem renda revertida para

projetos de melhoria da educação no país.

Sacola reutilizável

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A Prefeitura de Rio Preto da Eva acaba de dar os últimos

retoques na Igreja de Cavaco. Construída em 1968, em

sistema de mutirão, por agricultores riopretenses, a obra

se destaca pela arquitetura de vanguarda assinada por Severiano

Porto. Por falta de manutenção adequada, a capela acabou sen-

do demolida em 2002. Agora, graças a um esforço conjunto das

administrações municipal e federal, o centro ecumênico ressurge

belo, exótico e ainda mais imponente. Severiano Porto autorizou

a reconstrução da planta original nos mínimos detalhes.

A parte externa foi toda feita de cavacos de jaran, com

design que lembra o rabo de um peixe. Já a parte interna foi

erguida com acariquara, ferro e concreto. O piso é ilustrado

por costaneiras (cortes de madeira em círculos), numa espécie

de mosaico. E a mobília também acompanha o estilo pitoresco.

rudimentar. Tanto o púlpito, quanto bancos e cadeiras são de

madeira bruta regional.

Por sua beleza e importância, a obra passa a compor um

complexo turístico com visão panorâmica da cidade. Batizado de

Mirante Francisco Eugênio, em memória a um dos produtores

agrícolas pioneiros do município, o local abriga ainda um forno de

torrar farinha cercado por três esculturas esculpidas em ferro e

concreto – para lembrar as atividades agrícolas principais da co-

lônia – e o “Chafariz da Arquitetura”, que representa a produção

local de matrinxã e tambaqui em cativeiro. O conforto e o lazer

dos visitantes estão garantidos por uma ampla área de estaciona-

mento, banheiros, choperia e loja de souvenir.

Rodovia AM-010 na saída de Rio Preto da Eva • (92) 3328.1646 • [email protected]

10Capela de cavaco

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ARTE

No banzeiro suave dos rios amazônicos, a fotógrafaFernanda Preto capta os tons do tempo e da paisagem.

Tempo passado

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Por Sebastião ReisFotos Fernanda PretoAMBIENTE

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AmazôniaAlém dos olhos do satélite

V ista de cima, em sua imensidão verde, a floresta amazônica parece eterna e intocável. Difícil acreditar que um dia, sob a ação devas-tadora do homem, ela possa deixar de existir, substituída por um imenso descampado. Mas é exatamente isso que está acontecendo. O processo de desmatamento na região avança celeremente. A repercussão internacional é preocupante. Interesses comerciais bra-sileiros estão sob ameaça diante do descontrole da região. Aonde vamos parar? O que fazer?

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A revelação do desmatamento recorde no segundo se-

mestre de 2007, feita a partir de imagens de satélite do

Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), é apenas

uma ponta do prejuízo. Entre agosto e dezembro de 2007 foram

derrubados 3.235 quilômetros quadrados de floresta. Vale salientar

que os satélites – a 500 quilômetros de altura – detectam apenas

o corte raso de árvores deixando de lado as queimadas. O corte

seletivo – aquele em que os madeireiros derrubam somente árvores

com valor econômico – também foge à sua percepção. Nesses casos,

a cobertura vegetal parece intacta, mas o estrago embaixo é terrível.

Pesquisadores que atuam na Amazônia defendem o que cha-

mam de “verdade terrestre”, ou seja, um trabalho que mostre cla-

ramente o tamanho dessa agressão ao maior patrimônio natural da

humanidade. Sob a copa das árvores, há áreas imensas desmatadas.

É preciso identificá-las e agir para que a Amazônia e sua imensa

biodiversidade sejam preservadas.

Unir crescimento econômico com preservação ambiental é

uma equação que exige esforço do governo para ser elucidada.

Em seu artigo “O preço da riqueza”, de grande repercussão no

país, a jornalista Miriam Leitão, de O Globo, escreve exatamente

sobre isso. Mostra que os números positivos da economia coin-

cidem com o aumento do desmatamento na Amazônia. Ela lem-

bra que o Brasil pulou, em poucos anos, de sexto para maior

produtor de carne do mundo; que, em 1991, o país produziu 56

milhões de toneladas de grãos, e no ano passado, 133 milhões de

toneladas, e virou um dos maiores produtores mundiais de grãos.

É também o mais competitivo produtor de biocombustível. “O

sucesso do agronegócio brasileiro, porém, não pode ser nossa

tragédia”, alerta Miriam Leitão.

Com base no estudo chamado “Acertando o alvo”, do Institu-

to do Homem e Meio Amazônida (Imazon), Imaflora e Amigos da

Terra, a jornalista foi atrás do destino dessa madeira ilegal. Informa

que 86% da madeira retirada da Amazônia são consumidos no Bra-

sil, sendo 20% apenas no Estado de São Paulo. Só os 14% restantes

seguem para exportação. Um dos instrumentos que alimentam a

indústria do desmatamento na região é a facilidade de crédito a ju-

ros baixíssimos a agricultores, proporcionada por instituições como

o Basa. Quanto mais crédito, mais desmatamento. De acordo com

o estudo, os juros para empresas estiveram entre 26% e 34% ao

ano. Os pecuaristas pagavam de 5% a 9%. No Pronaf, 1% a 4%. A

matemática é simples: se o preço dos produtos cai no mercado, o

desmatamento acompanha essa tendência. Se o preço aumenta, o

desmatamento também aumenta.

Como se sabe, a Amazônia é uma das áreas mais subpovoadas

do planeta. Por isso, denominada “Deserto Verde”. As dificuldades

de fiscalização nesse mundo de ninguém são campo fértil para

pecuaristas e agricultores que necessitam de imensas áreas des-

campadas para “plantar” seus negócios. Essa que é a maior região

florestal e hidrográfica do mundo vem sendo comida pelas bordas,

de fora para dentro, numa zona geográfica que vai do sudeste do

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“Asfaltar a BR-319 é trazer o arco dodesmatamento para dentro do Amazonas”

No sul de Lábrea (AM), na fronteira com Rondônia, 150 serrarias clandestinas operam 24 horas por dia desmatando a floresta. Três mil e quinhentos caminhões trafegam diariamente pela Amazônia transportando madeira.

Philip Fearnside

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Milhares de hectares de floresta desaparecem para dar lugar a imensos campos destinados à cultura da pecuária e da soja

Acre ao centro-oeste e sul do Pará - passando pelo sul e leste do

Amazonas e a ponta norte do Mato Grosso. Nessa área - segundo

estudos do Imazon - existem 95.355 quilômetros de estradas não-

oficiais, ou endógenas.

São aproximadamente 2 milhões de hectares devastados por

ano. Espécies desconhecidas de árvores também desaparecem na

esteira desse processo. Hoje, olhando para trás, seria impossível

ver a medicina sem produtos importantes retirados da Amazônia,

como a tubocurarina, substância ativa do curare, veneno de fle-

cha usado pelos índios para entorpecer a caça ou matar inimigos,

e seus derivados, que integram a lista dos principais anestésicos

usados pela indústria farmacêutica multinacional. A Europa livrou-

se do terror da malária graças a Quina (Cinchona spp), de onde

se origina o Quinino, outra droga retirada da região, usada por

Napoleão para proteger seus homens de infecções e estender

seu império. Não é difícil prever que muitas outras substâncias im-

portantes para a humanidade e ainda desconhecidas do homem

estejam desaparecendo em meio à insanidade do desmatamento

irrefreável. Acredita-se que apenas 1% da biodiversidade amazôni-

ca tenha sido estudada de maneira científica.

Parte dessa riqueza desconhecida trafega todos os dias pela

Amazônia transportada por três mil e quinhentos caminhões. Uma

das molas propulsoras desse movimento é a propina paga em pos-

tos de fiscalização ou o anonimato acobertado por estradas clan-

destinas, como a que corta o extremo leste do Amazonas ligando

o município de Parintins ao Pará numa imensa linha no meio da

selva. A área, recém-descoberta e ainda pouco conhecida, já foi

classificada de crítica pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e

dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Para o pesquisador do Inpa Philip Fearnside, segundo cientista

mais citado no mundo nos últimos dez anos, de acordo com o

Science Citation Index, os países precisam pagar pelos benefícios

ecológicos originados na floresta, para garantir a qualidade de vida

do caboclo e a preservação da Amazônia. Segundo ele, o Programa

de Aceleração do Crescimento (PAC) será um forte instrumento

de incentivo ao desmatamento na região.

A floresta exerce um papel importante como reguladora do

fluxo de chuvas, de temperatura e para evitar o agravamento do

efeito estufa por meio do seqüestro de carbono, que quando li-

berado na atmosfera em forma de gás carbônico provoca esse

fenômeno de conseqüências imprevisíveis para o mundo. Enfático,

Fearnside afirma que o aquecimento global, se não for contido,

poderá acabar com a floresta até 2080.

Para se ter uma idéia da importância da floresta amazônica

para o clima no planeta, basta saber que ela lança um volume enor-

me de água, quase equivalente ao fluxo do rio Amazonas, de volta

ao ar por meio das folhas das árvores e cai como chuva em outros

lugares. São liberados algo em torno de sete trilhões de toneladas

de água anualmente na atmosfera, pela evapotranspiração, e seus

rios descarregam 20% da água doce despejada nos oceanos pos

todos os rios existentes. O que acontece aqui tem conseqüências

lá. É essa região – último grande reduto de riquezas científicas do

mundo – que se encontra ameaçada pelo próprio homem. Faça-se

chuva e sol, menos escuridão.

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Jardim do Éden

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raçã

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erre

ira

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A Amazônia, maior extensão de florestas e rios do mundo,

paraíso da biodiversidade e região vital para o equilíbrio

do ecossistema, tem sido decantada e devastada em pro-

sa e verso. Defendê-la, é obrigação de todos, assim como o fez,

num ato que beirou à paixão cega e à insanidade, o português

Pedro de Rates Hanequim. Vinte anos no Brasil foram suficientes

para que ele visse a região de árvores verdes e frondosas como o

Jardim do Éden, Paraíso Terreal, morada de Adão e Eva, lugar onde

se encontrava a Árvore da Vida. Verdade ou delírio, não importa.

Aos olhos de quem vê e se apaixona cegamente por esse univer-

so verde, é exatamente isso. O destino desse homem foi morrer

afogado e queimado, em 1744, em Portugal, por crime de heresia

e apostasia, sem jamais abrir mão de sua verdade.

Para o escritor Euclides da Cunha, autor de “Os Sertões”, que

percorreu a região como chefe da comissão mista brasileiro-perua-

na de reconhecimento do Alto Purus para a demarcação de limites

entre os dois países, a Amazônia é o “Jardim do Paleolítico”. Em “O

Inferno Verde”, extraído de sua obra “Um Paraíso Perdido - Ensaios

Amazônicos”, o autor “consegue ver a Amazônia como um último

capítulo do Gênese”, conforme descreve o historiador Artur Cézar

Ferreira Reis na apresentação do volume. Qualquer semelhança

bíblica com Pedro de Rates Hanequim, não é mera coincidência.

É que a Amazônia desperta fascínio até mesmo em quem ja-

mais pisou em seus limites. Foi o caso do escritor Arthur Conan

Doyle, que localizou nesta região, mais precisamente no topo do

Monte Roraima, o cenário de sua ficção científica “Mundo Perdido”.

A exemplo de Conan Doyle, o francês Júlio Verne também

nunca veio à Amazônia, mas se inspirou na região em seu livro

“A Jangada. Oitocentas léguas pelo Amazonas”, lançado em 1881.

Ele se baseou em relatos de naturalistas que estiveram na região,

como Agassiz, Bates, Humboldt, Spix, Martius, d’Orbigny, Condami-

ne, Alexandre Rodrigues Ferreira e sua “Viagem Filosófica”, além de

alguns iluministas. Verne antecipava em sua obra a importância da

Amazônia para o mundo e o interesse que despertaria em virtude

das potencialidades de sua natureza ainda escondidas.

Outros, mesmo morando longe, decidiram mergulhar numa aven-

tura perigosa por esse lugar mágico e misterioso. Foi o caso do ex-pre-

sidente dos Estados Unidos, Franklin Roosevelt. Decepcionado por não

ter sido reeleito para o terceiro mandato, Roosevelt decidiu realizar uma

expedição à Amazônia. Aos que tentaram convencê-lo do contrário, o

ex-presidente simplesmente disse que a aventura era sua última chance

de ser um garoto. “Já vi e desfrutei a vida tanto quanto qualquer outro

homem que eu conheça. Tive minha cota completa, e se for preciso que

eu deixe meus ossos na América do Sul, estou plenamente pronto para

isso”, afirmou Roosevelt, determinado a enfrentar os próprios limites.

Roosevelt era um aventureiro contumaz, daqueles que não se

deixam abater facilmente. Mas não precisou deixar os ossos por

aqui. Contraiu malária e teve a perna quase quebrada pela ponta

de uma pedra. Mesmo assim, insistiu em desafiar o rio da Dúvida,

que acabara de ser descoberto pelo marechal Cândido Rondon.

Era um rio traiçoeiro, de corredeiras e quedas d’água.

Canoas e suprimentos foram levados pelas águas; homens se

perderam pelo caminho. Roosevelt resolveu desistir, para não pre-

judicar a expedição. Seu filho Kermit, que cometeria suicídio anos

depois, no Alasca, assumiu o lugar. O rio da Dúvida se transformou

em rio Roosevelt. Mas, sem dúvida, nenhum presidente brasileiro

conhece a Amazônia como Roosevelt conheceu.

Um dos maiores observadores do homem da região foi o na-

turalista britânico Alfred Russel Wallace, que viajou pelo Brasil com

seu colega Henry Bates entre 1835 e 1844 e explorou o Amazo-

nas e o rio Negro de 1848 a 1852. Após essa viagem, ele passou a

pensar mais profundamente na teoria da origem das espécies. Em

1958, Wallace estabeleceu a teoria da seleção natural por meio da

luta pela existência, base da Teoria do Evolucionismo, de Charles

Darwin, tão combatida pela Igreja Católica.

O alemão Haraldi Ludwig Sioli, iniciador da Ecologia Tropical

do Instituto Max-Planck de Limnologia, da Alemanha, e que durante

17 anos estudou as águas dos rios amazônicos, concluiu que é pre-

ciso “aprender a reconhecer a diversidade das formas, que juntas

fazem o ecossistema para aumentar a beleza do mundo...”. Sioli

acrescenta: “Essa foi a principal coisa que aprendi aqui na Amazônia,

e eu sou muito grato por todos esses anos que passei na Amazônia,

onde estive por 17 anos de minha vida e onde eu era uma pes-

soa completamente diferente daquela que saiu da Alemanha”. Para

quem deixou seu país durante a 2ª Guerra Mundial e voltou para

encontrar uma Alemanha diferente daquela onde vivera, retornar à

Amazônia foi como reencontrar a liberdade.

A história das pesquisas na Amazônia tem em Humboldt um

precursor. A expedição científica iniciada por ele em 1799 foi consi-

derada a mais importante do século XIX. Autor de “Hiléia Brasileira”

- expressão que usou se referindo à imensa floresta tropical-, Hum-

boldt e seu colega Aimé Bompland percorreram 10 mil quilômetros

pelas Américas enfrentando todos os tipos de adversidades, desbra-

vando uma região inóspita e pouco conhecida.

A Amazônia foi servida e se serviu desses homens da ciência.

Alguns, como Langsdorf, perderam a memória, outros foram aco-

metidos de graves enfermidades, mas nenhum deles passou em vão

por aqui. O legado dos primeiros pesquisadores – de Humboldt aos

cientistas atuais – serviu para mudar a concepção do mundo sobre

essa região rica e selvagem. (S.R)

Page 32: Empório Amazônia 13

32

Pesquisa pede

socorro

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Page 33: Empório Amazônia 13

33

E les são institutos de referência em pesquisas na Amazônia,

detêm vasto conhecimento sobre a região e têm papel im-

portante na preservação da floresta. Só precisam de ajuda.

Inpa, Emílio Goeldi e Mamirauá enfrentam hoje uma barreira que

vai além do imenso desafio de pesquisar o desconhecido. Têm

pouco dinheiro e número limitado de profissionais.

É em função desse quadro histórico de penúria que os três ór-

gãos nacionais de pesquisa perdem espaço para o exército de pes-

quisadores estrangeiros que fazem da Amazônia sua área de estudo

e conhecimento. Setenta por cento do conhecimento gerado em

pesquisas científicas na região são dominados por estrangeiros. Deter

conhecimento é ter poder. E os gringos estão léguas à frente de nós.

Para os três principais institutos nacionais de pesquisas que

atuam na Amazônia (Inpa), Instituto de Desenvolvimento Susten-

tável Mamirauá e Emílio Goeldi – o maior problema é a falta de

doutores para realizar os trabalhos de pesquisa na região.

Em 1952, quando foi anunciado o projeto de criação do Inpa,

a previsão era de que o instituto contasse com 940 pesquisado-

res. Em 2008, a realidade é outra. São apenas 130 doutores, dos

quais 30 bolsistas que estão indo embora. O orçamento deste ano

aumentou de R$ 17 milhões para R$ 31 milhões, mas é preciso

investir em pessoal. “O Inpa precisa de gente para a área científica,

precisamos de pessoas para criar informação, para não viver de

informação”, afirma o diretor Adalberto Luiz Val.

O quadro de pessoal é um drama para o Inpa num momento

em que se multiplicam as demandas sobre a região. “Temos uma infra-

estrutura e uma tradição de informações prontas para serem utiliza-

das, mas faltam doutores para toda a região”, afirma Luiz Val. Com lápis

e papel na mão, o diretor do Inpa conclui um estudo sobre a realidade

das pesquisas científicas no Brasil. Segundo ele, no país existem 3.854

cursos de pós-graduação em nível de mestrado e doutorado.

Desses, 1.309 cursos voltados somente para doutorado. Nos

nove Estados da Amazônia brasileira são 185 programas, dos quais

39 em nível de doutorado. “Se fôssemos considerar o PIB desses

Estados, de 8%, e o investimento proporcional, deveríamos ter 307

cursos de pós-graduação”, observa Luiz Val.

O Brasil forma, em média, 7,6 doutores por curso em um ano.

Os 39 cursos de doutorado na Amazônia formam 238 doutores

por ano. “Mesmo que conseguíssemos contratar esses doutores,

não teríamos como atender às demandas por informação na re-

gião. “Não temos doutores, não temos programas de graduação,

não conseguimos formar doutores. O decreto de criação do Inpa

está sendo ignorado”.

Sobre o desmatamento na Amazônia, que considera uma ques-

tão de segurança nacional, acredita que a instituição pode ter um

papel mais efetivo para a preservação da floresta. Basta ter os recur-

sos necessários. Sem estrutura, a tendência é “ficar vendo paisagem”.

“Temos alternativas para aproveitar áreas degradadas”, garante.

Os investimentos em ciência e tecnologia na Amazônia repre-

sentam apenas 0,27% do PIB brasileiro. Para as outras regiões, 1%.

As dificuldades do Inpa em função do orçamento limitado são tão

grandes que o instituto encontra barreiras para certificar produtos

cosméticos de higiene e limpeza amazônicos. “Não temos profis-

sionais suficientes”, justifica Val.

Isso representa perda de tempo e dinheiro. Os produtos

só podem ser taxados depois de certificados. O diretor do Inpa

observa que é necessário também analisar os impactos ao meio

ambiente que serão causados pelas hidrelétricas do Jirau e Santo

Antonio, no rio Madeira. Segundo Adalberto Val, até 2050 devem

ser construídas 75 novas hidrelétricas na Amazônia. O impacto am-

biental dessas obras precisa ser avaliado, na sua opinião.

O Museu Paraense Emílio Goeldi, com 141 anos de atividades

na Amazônia, realiza importante trabalho de catalogação e análise

da diversidade biológica e sociocultural da região, sem que para

isso conte com os recursos necessários. A instituição tem um

déficit hoje de aproximadamente 60 pesquisadores, 30 tecno-

Page 34: Empório Amazônia 13

34

logistas, 100 analistas e 50 assistentes de nível médio para a

coordenação de Ciência e Tecnologia. “Além disso, o orçamento

precisa crescer 100% e a infra-estrutura de pesquisa e comu-

nicação necessita de manutenção constante”, afirma a diretora

do Museu Goeldi, Ima Célia Guimarães Vieira. Com 53 doutores

em seus quadros, o Goeldi precisa de mais 100 profissionais

desse nível nas diversas áreas de atuação para cumprir suas

metas. O orçamento em 2007 foi de R$ 6 milhões de recursos

do tesouro e em 2008 são previstos R$ 9 milhões, e mais R$ 15

milhões captados de fontes externas.

Sobre o desmatamento na Amazônia, Ima Célia diz que é um

cenário complexo. “Vários atores estão envolvidos nesse processo

e muitas práticas ilegais estão associadas a ele”, afirma. Segundo ela,

análises sobre a situação devem ser feitas com profundidade para

montar programas de combate e controle. “Infelizmente, o que fi-

zemos até agora, exatamente por falta desses estudos complemen-

tares ao anúncio das taxas anuais de desmatamento, foi montar

programas emergenciais”.

A pesquisadora afirma que é importante analisar os tipos de

desmatamento que ocorrem na Amazônia. Primeiro, a eliminação

de floresta por corte raso que, a cada ano, chega ao conhecimento

público com o anúncio da taxa de desmatamento feita pelo Prodes/

Inpe. Depois, os graus de perturbação da floresta associados a der-

rubadas e queimadas em diferentes categorias. “Esse processo é mais

difícil de avaliar e é o mais importante, pois nos dá a possibilidade de

estancar o processo na hora em que está ocorrendo. Nesse aspec-

to, o Inpe vem aperfeiçoando o sistema Deter para esse fim”. Para

evitar mais desmatamentos, Ima diz que se deve equipar os órgãos

de fiscalização e controle federais como o Ibama e o Instituto Chico

Mendes, e fortalecer a ação das secretarias estaduais e municipais

de meio ambiente; tornar efetiva a cobrança de multas ambientais e

cortar créditos e subsídios de empresas que devastam a floresta e

adotam trabalho escravo e grilagem de terras públicas.

Segundo ela, deve-se estar atento à atuação do mercado no

que diz respeito à certificação, tecnologia, crédito direcionado,

a partir de estudos econômicos que indiquem a importância e

o potencial de determinados setores para a sustentabilidade, e

procurar alternativas econômicas de serviços ambientais, cadeias

produtivas alternativas, recuperação de áreas degradadas, dentre

outras ações.

O Museu Goeldi faz a sua parte, mesmo com dificulda-

des, garante a diretora. “Realizamos estudos profundos sobre

a biodiversidade da Amazônia, conhecendo-a e catalogando-a,

além de avaliarmos os impactos de usos da terra sobre a bio-

diversidade, procurando entender as realidades regionais e as

dinâmicas do desmatamento”.

A realidade do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Ma-

mirauá não é diferente. Com campo de atuação em pesquisas na

área biológica e social, a instituição estuda, principalmente, a socio-

biodiversidade das florestas amazônicas, sobretudo as do tipo ala-

gadas – várzeas e igapós – sua conservação e seu uso, sustentado

pelas populações visando o desenvolvimento sustentável.

O Instituto Mamirauá conta com apenas cinco doutores e

precisaria de, ao menos, mais 10. Outro problema é a falta de re-

cursos para a contratação de pessoal para o quadro efetivo. O

orçamento é de R$ 6 milhões.

Para os diretores da instituição Ana Rita Pereira Alves e

Helder Queiroz, respectivamente diretora-geral e diretor téc-

nico-científico, o desmatamento na Amazônia é um dos gran-

des problemas que afligem a região, mas não é o único. Apenas

o mais visível. “Infelizmente, é real, ao contrário do que alguns

pensam”, afirma Queiroz. “É resultado da incapacidade da so-

ciedade brasileira de focalizar esforços nessa fase de seu ama-

durecimento para a ocupação ordenada e o uso adequado de

uma área tão sensível para o Brasil, o continente e o planeta”,

acrescenta Ana Rita. (S.R)

Page 35: Empório Amazônia 13

35

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Page 36: Empório Amazônia 13

36

Fotos Mário Oliveira e arquivoENTREVISTA

O guardiãoda fronteira

Page 37: Empório Amazônia 13

37

A frente de um contingente de 25 mil homens e da imen-

sa tarefa de defender 1.200 quilômetros de costa e 11

mil quilômetros de fronteira na Amazônia, o general-de-

exército Augusto Heleno Ribeiro Pereira, 60, chefe do Coman-

do Militar da Amazônia (CMA), tem uma visão crítica sobre o

papel do poder público e das organizações não-governamentais

(ONGs) na região. Tido como uma das mentes mais brilhantes do

Exército Brasileiro, ele defende a mobilização da sociedade em

torno dos interesses nacionais nessa imensa área de selva e rios

que guardam um rico patrimônio biogenético.

Experiente, o general Augusto Heleno está completando seis

meses de Amazônia, tempo suficiente para perceber que ainda há

muito a ser feito. Difícil, segundo ele, é fazer frente ao desafio sem

dispor dos recursos necessários, uma vez que considera o orçamento

das Forças Armadas “reduzido”. O Exército tem déficit de homens,

equipamentos, frota e moradia. Isso sem contar os salários, defasados.

Empregar no Brasil a experiência no comando da Missão das

Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah) é tarefa

quase impossível, segundo o general, em virtude das circunstâncias

e características de cada lugar. No Haiti, comandou 6.250 “capa-

cetes azuis” de 13 países durante 15 meses, contribuindo para a

pacificação de áreas de conflito em locais pobres das principais

cidades do país.

Além de comandante das tropas de coalizão no Haiti, o ge-

neral Augusto Heleno exerceu cargos importantes no Exército,

entre os quais o de chefe de gabinete do comandante do Exérci-

to, chefe do Centro de Comunicação Social do Exército e adido

militar do Brasil na França.

Em entrevista à Empório, o general fala da Amazônia, da situação

do Exército e de suas preocupações em relação ao futuro da região.

Lembrando uma célebre frase do brigadeiro Eduardo Gomes, afrma:

“O preço da liberdade é a eterna vigilância”.

Page 38: Empório Amazônia 13

38

O senhor defende uma fiscalização mais rigorosa a respeito da ação das ONGs na Amazônia. Por quê? Existem duas CPIs sobre ONGs. Isso advém de uma série de de-

núncias que vêm sendo feitas. O número estratosférico de ONGs

no Brasil é acima do normal. Boa parte delas atua na Amazônia. As-

susta também a qualidade de recursos, em torno de R$ 30 bilhões,

repassados às ONGs entre 1984 e 2006. Nessa mesma época, o

Exército recebeu R$ 6 bilhões, a quinta parte. Vendo a quantidade

de missões que temos na Amazônia, essa desproporção assusta

um pouco. Acredito que haja ONGs sérias, algumas com papel

preponderante em lugares onde o Estado não cumpre seu papel.

A Amazônia precisa substituir as ONGs por ações governamentais.

Essas ONGs representam uma ameaça para a re-gião? Levantamentos demonstram que existem mais de 200 mil

ONGs no Brasil, das quais mais de 100 mil atuariam na Amazônia

ou estariam voltadas para a região. As ONGs estrangeiras também

se beneficiam de recursos do nosso gover-

no. Em determinados locais, pela natureza

das atividades, começam a atuar em terre-

nos que podem mais tarde ser perigosos

para a segurança nacional. Um dos gran-

des riscos que corremos é essa pregação

de que não somos capazes de cuidar da

Amazônia. É inverdade, mas precisamos

melhorar o procedimento institucional em

relação a esta parte do país. É necessário

transformar palavras em ações, algo que

nos garanta o desenvolvimento institucio-

nal da região.

Muitos defendem a participação do Exército no combate ao des-matamento na Amazônia. O se-nhor é favorável? Em todas as crises desse tipo, o Exército

é lembrado. Gostaríamos que fôssemos lembrados também no

orçamento. Somos formados para adversidades, para crises, somos

preparados para a guerra. Já fomos lembrados para atuar na ques-

tão do desmatamento. Temos uma missão de apoiar em termos

logísticos aqueles que verdadeiramente são responsáveis por frear

ou impedir esse processo de devastação da Amazônia. Pode ser

que sejamos acionados para agir mais efetivamente, mas necessita-

ríamos de recursos enormes.

Como o senhor vê a Amazônia? A Amazônia é um dos

últimos redutos do planeta no qual alguns bens naturais importantes

para o mundo, como a água, os metais nobres, os minérios indispen-

sáveis à alta tecnologia e a biodiversidade são atraentes. Fora o papel

em si da floresta, como a biomassa resguardada de uma forma bri-

lhante. Se considerarmos o que foi feito com as florestas da Europa,

Ásia e Estados Unidos, somos grandes preservadores da natureza.

Hoje, o papel da Amazônia cresceu de forma exponencial.

A Amazônia é um desafio? Até agora, para a sociedade bra-

sileira, tem sido vista como uma coisa distante. Não há uma cons-

ciência nacional de que a Amazônia é nossa. É preciso vê-la como

a um filho que está dentro de casa e precisa de cuidados e da par-

ticipação da sociedade brasileira. Hoje, vejo a Amazônia como uma

evidente ausência do Estado, a ponto de nós, em muitos pontos,

sermos a única presença junto ao caboclo, que faz com que ele se

sinta brasileiro. Basta ver o papel que um tenente, comandante de

pelotão de fronteira, exerce. Ele representa na área em que atua,

além de comandante militar, a figura do delegado, padre, pastor, con-

sultor sentimental, orientador de saúde, dono

da educação, e ele tem na maioria das vezes

somente 24 a 25 anos.

Por que o senhor costuma dizer que a Amazônia é problema não só das Forças Armadas, mas da sociedade brasileira? Tem que ha-

ver convencimento da opinião pública de

que são problemas nacionais, não podem

ser entregues somente às Forças Armadas.

Nós somos o retrato fiel da sociedade.

O senhor acredita que seja real a ameaça de internacionalização da região por países estrangei-ros? Não sou catastrófico, mas precisa-

mos ser realistas e ter consciência de que, se nós permitirmos que

organizações estrangeiras sem nenhuma responsabilidade com o

destino da Amazônia brasileira continuem a desempenhar um pa-

pel preponderante junto a algumas comunidades, principalmente

indígenas, nós podemos ter o desprazer de, em médio prazo, essa

ameaça ser concretizada.

Quais as dificuldades orçamentárias enfrentadas pelo Exército na Amazônia? Além das dificuldades naturais

de uma área onde a infra-estrutura é deficiente, no transporte, na

comunicação, na energia, temos as mesmas dificuldades que nossos

companheiros têm em outras partes, ou seja, orçamento reduzi-

Page 39: Empório Amazônia 13

39

díssimo, material obsoleto, sérios problemas de moradia. Temos

quatro mil militares morando de aluguel. Diante de nossos venci-

mentos aviltados, moram em locais incompatíveis. Somente neste

ano, vamos aumentar o efetivo em 2,5 mil militares. Trouxemos

para cá uma brigada de 3,5 mil homens do Rio Grande do Sul, que

foi levada para Tefé, outra de Niterói, deslocada para São Gabriel

da Cachoeira, e uma de Petrópolis, que foi para Boa Vista. No total,

temos 25 mil homens hoje na Amazônia.

O soldado brasileiro é o mais bem preparado para a guerra na selva? Temos o melhor combatente de selva do mun-

do. Isso por dois motivos: nossos oficiais e sargentos possuem curso

de operações na selva do Centro de Instrução de Guerra na Selva,

reconhecido como o melhor do mundo, e os nossos cabos e solda-

dos são da área, conhecem detalhes da vida na selva e levam enorme

vantagem quando são colocados para operar nesse tipo de terreno.

Em grau de prioridade, a Ama-zônia ocupa qual escala para o Exército Brasileiro? Hoje, a priorida-

de um do Exército Brasileiro é a Amazônia,

porque nós sabemos, pelas peculiaridades

da região, que provavelmente a própria

atenção do governo federal vai se voltar

para a região amazônica. Temos mais de

11 mil quilômetros de fronteiras, com sete

vizinhos com os quais dividimos as preo-

cupações no combate aos ilícitos frontei-

riços. Só isso já justificaria a prioridade da

Amazônia.

As Forças Armadas Revolucioná-rias da Colômbia (Farc) represen-tam uma ameaça à região? As Farc

são um problema colombiano muito sério. Temos informações de que

elas não têm nenhuma intenção de tentar usar o território brasilei-

ro como base de operações, não só pelo nosso poder de dissuasão,

como também pela enorme dificuldade que teriam se criassem uma

nova frente de combate. Sei também que, se valendo de meios legais,

as Farc se abastecem logisticamente em algumas cidades brasileiras

próximas à fronteira e até se valem do atendimento médico que nós

disponibilizamos nessa área. Seus integrantes entram no Brasil legal-

mente, como cidadãos colombianos comuns, se valem dos nossos

recursos, retornam e se reintegram à guerrilha.

Há registros de conflitos entre guerrilheiros das

Farc e o Exército Brasileiro? Há algum tempo houve um

conflito entre o Exército Brasileiro e guerrilheiros das Farc no cha-

mado “Episódio do Traíra”, próximo ao 8º Batalhão de Infantaria de

Selva, em Tabatinga. Houve uma reação imediata de nossa parte e,

depois disso, não ocorreu mais nenhum problema.

Como o senhor analisa a questão do tráfico de dro-gas na Amazônia e qual o papel que o Exército pode desempenhar para combater a ação dos narcotra-ficantes? O tráfico de drogas é um dos grandes problemas da

Amazônia e do país inteiro. Com nossos vizinhos assumindo o papel

de produtores, somos compradores e um enorme mercado con-

sumidor também. No caso da Amazônia, avaliamos que a instala-

ção do Sivam/Sipam e a própria Lei de Abate coibiram bastante o

tráfego aéreo de drogas, mas reforçaram o tráfego nas calhas dos

rios penetrantes e navegáveis. São 23 mil quilômetros de rios nave-

gáveis, o que torna a fiscalização bastante difícil. E a falta de recursos

torna a tarefa ainda mais penosa. Tenho me

aproximado demais da Polícia Federal, que

conhece bem o assunto, e acho que temos

de trabalhar em conjunto.

A situação crítica da violência ur-bana no Rio de Janeiro preocupa o Exército? No Rio de Janeiro temos um

processo de deterioração da segurança pú-

blica e onde se repete o fenômeno da Ama-

zônia. O processo começou com a ausência

do Estado. Só houve o estabelecimento

dessas áreas sobre o controle do tráfico nas

favelas porque o poder público não pres-

sentiu que acontecesse. Faltam escolas, saú-

de, segurança permanente, até chegar a esse

ponto. Não é simples a solução. Quando as

ações são deflagradas, a polícia acaba sendo jogada contra a popu-

lação. E o apoio da população é fundamental, seja com informações

confiáveis, seja para reagir à influência daqueles que estão fora da lei.

A experiência no Haiti poderia ser aplicada no Rio de Janeiro? Já me perguntaram sobre isso. Lá, há um contraste

de uma missão de paz respaldada por regras de engajamento mui-

to claras e pelo guarda-chuva das Organização das Nações Unidas

(ONU). Além disso, nas favelas haitianas não há tráfico de drogas, o

que faz com que as gangues não lutem obstinadamente para con-

ter os pontos de venda. O terceiro aspecto é que os contingentes

dos diferentes países cumprem a missão e retornam às suas bases,

Page 40: Empório Amazônia 13

40

C riada em 28 de fevereiro de 1967 com o objetivo de es-

tabelecer um pólo de desenvolvimento industrial, comer-

cial e agropecuário no coração da Amazônia - relegada

ao isolamento econômico desde o fim do ciclo da borracha - a

Zona Franca de Manaus chega aos 41 anos comemorando avanços.

A iniciativa dos militares de ocupar a Amazônia para inte-

grá-la era parte de um amplo projeto de desenvolvimento e se-

gurança para a região. Como dizia Getúlio Vargas, no Brasil era

preciso se preocupar com três coisas: aço, petróleo e Amazônia.

Os militares seguiram a recomendação instalando em uma capital

remota, distante de tudo, um distrito industrial alimentado por

incentivos fiscais.

Manaus sem a ZFM era apenas um arremedo da outrora ci-

dade pujante do ciclo da borracha. Prédios abandonados ou em

ruínas, ruas esburacadas, população sem perspectiva, vazio demo-

gráfico. Em se tratando de uma área secularmente cobiçada, permi-

tir que a capital amazonense mergulhasse em profunda decadência

era abrir os flancos de uma região estratégica para o país.

A Zona Franca superou a fase crítica da montagem de peças,

componentes e produtos semi-acabados e da queda do núme-

Na era dosbiocosméticos

Fotos Euzivaldo QueirozNEGÓCIOS

Page 41: Empório Amazônia 13

41

Estado busca novos

A Zona Franca de Manaus passa por um momento positivo de crescimento, embora ainda tenha um longo caminho a percor-rer até o interior do Estado. A opinião é do secretário de Planeja-mento do Amazonas, Denis Minev. O projeto Zona Franca Verde é uma das iniciativas nessa di-reção. “Buscamos aumentar a produtividade do interior em vários segmentos, como óleos, essências, alimentos, madeira e outros pro-dutos florestais”, afirma. A convergência tecnológica, segundo ele, também se mostra como um grande desafio e oportunidade. A cada dia, fica mais difícil di-ferenciar os diversos aparelhos eletrônicos. “Produtos que antes eram separados, agora se encontram juntos; mídias de armazenamento mu-dam. A legislação da Zona Franca precisa acompanhar essas mudanças, sob o risco de nos tornarmos obsoletos com a tecnologia passada”. Outros desafios, na visão de Minev, dizem respeito à mão-de-obra e infra-estrutura. Em virtude do crescimento acelerado, a ZFM vive momento semelhante a um “apagão” de mão-de-obra. “O cres-cimento médio do PIB de cerca de 9% ao ano nos últimos cinco anos tem extrapolado a oferta”. A infra-estrutura ainda deixa a desejar, de acordo com o se-cretário. Nos transportes, o governo anuncia um “novo e moderno” porto em Manaus e uma ponte sobre o rio Negro, o que aumen-taria as possibilidades de crescimento geográfico na chamada região

metropolitana. O aeroporto internacional “precisa ser ampliado para atender maior número de vôos internacionais e carga”. Minev afir-ma que a ligação terrestre de Manaus a Porto Velho pode ser solu-cionada pela BR-319 ou por uma ferrovia. No setor energético, o gás natural é considerado um grande trunfo para se obter estabilidade de corrente e preços mais baixos. Nas telecomunicações, a ampliação de alcance dos celulares com a terceira geração deve ser prioridade nos próximos anos. As Zonas de Processamento de Exportação (ZPE’s), que po-dem ser criadas no Nordeste, preocupam. A expectativa é que elas possam ser desenhadas de tal forma a não competir diretamente com a ZFM. A limitação de vendas no mercado doméstico seria uma boa medida, na opinião do secretário. Buscar alternativas econômicas à Zona Franca de Manaus é outra preocupação do governo. Foram identificadas seis vertentes de desenvolvimento para o Amazonas: Zona Franca, recursos na-turais, turismo, energia, serviços e serviços ambientais. Além da ZFM, que responde por mais de 50% da economia estadual, o governo deve investir nesses outros setores. “O Zona Franca Verde busca o desenvolvimento de forma sustentada dos recursos naturais, que inclui madeira, borracha, produtos de agri-cultura ou extrativismo, peixes, minérios, água, dentre outros”. No turismo, o potencial é enorme, mas essa é uma atividade cuja contribuição é inferior a 2% da economia estadual. No setor energético, o Amazonas “abre uma nova fronteira com a chegada do gasoduto de Urucu, tanto na melhoria na geração de energia quanto no surgimento de novas indústrias”, garante Minev.

ro de empregos, recuperou a competitividade, venceu a barreira

das 100 mil vagas de trabalho, avançou no processo produtivo e

conquistou o pólo de biocosméticos. Seria difícil imaginar o Brasil,

agora, sem esse modelo econômico no meio da selva.

São 450 empresas de diversos setores da indústria - do pólo

de duas rodas ao eletroeletrônico - exportando produtos que em

2007 garantiram um faturamento superior a US$ 20 bilhões. Com

prazo renovado para vigorar até 2023, enfrenta uma guerra fiscal

que parece eterna com São Paulo.

Nesse complexo de indústrias instalado em Manaus, des-

taca-se o pólo de duas rodas, segundo maior do mundo, e o

novíssimo pólo de biocosméticos, que em três anos deve gerar

10 mil empregos, agregando valor de 40% com matérias-primas

regionais.

Um dos novos negócios da ZFM é a TV digital, que substitui

a analógica. Manaus será o pólo dos produtos de consumo da TV

digital. É um avanço que precisaria ser acompanhado por investimen-

tos em tecnologia. A contrapartida, porém, não é a mesma. Tanto a

Universidade Federal do Amazonas, quanto a Universidade Estadual

do Amazonas e o próprio Centro de Biotecnologia da Amazônia en-

setores de desenvolvimento

Page 42: Empório Amazônia 13

42

Por André VianaFotos Ruth JucáNEGÓCIOS

Q uando a novela “Rainha da Sucata” foi ao ar, em 1990, até o texto de

Sílvio de Abreu teve de ser refeito, ou mais precisamente, reciclado. É

que a novela estreou no período em que se lançava o Plano Collor.

O autor foi obrigado a adaptar o texto à nova realidade do economês. No Pólo

Industrial de Manaus, o processo de reciclagem não é uma obra de ficção, mas

guarda muitas semelhanças com a novela global em virtude da abrangência do

trabalho de reaproveitamento de resíduos. Não se reciclam textos, mas se reci-

clam papel e muitos outros produtos.

Hoje, no Amazonas, várias empresas trabalham no setor, formando um pool

especializado no tratamento de diferentes tipos de “sucata”. O negócio é tão

lucrativo que saltou de três indústrias, no final da década de oitenta, para dez,

poucos anos depois. O ultimo levantamento feito estima que oito mil pessoas

estejam vinculadas direta ou indiretamente ao processo de reaproveitamento de

resíduo. Esse pool faz com que, a cada dia, menos lixo industrial seja incinerado e

apenas os resíduos orgânicos, depositados no aterro sanitário.

Um dos melhores exemplos é o trabalho feito pela Coplast (maior

empresa de reciclagem da América Latina) com 30 anos de atuação na

Zona Franca de Manaus. Se, na natureza, o químico francês Antoine Lau-

rent Lavoisier (1743-1794) introduziu a máxima de que “nada se cria, nada

se perde: tudo se transforma”, no pólo industrial, o empresário Reginaldo

Pizzonia – pai do ex-piloto de Fórmula 1 Antônio Pizzonia – demonstra

com sua empresa de reciclagem que, no ramo industrial, tudo se cria, nada

deve se perder, tudo pode ser reaproveitado. Desde a descontaminação de

lâmpadas fluorescentes à reutilização do plástico de barbeadores e escovas

de dentes com falhas na fabricação.

Mas, a idéia da implantação de uma indústria de materiais reciclados, a princi-

pio, encontrou resistência. Os resíduos reaproveitados não tinham boa aceitação

no mercado, pois eram freqüentemente associados a materiais de segunda linha.

O setor industrial preferia continuar extraindo do meio ambiente as matérias-

primas para alimentar as fábricas a ter sua marca ligada à “sucata”.

Tudo se cria, nada se perdeReciclar é preciso

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Mas, o tempo passou e o preconceito foi ficando para trás. A questão am-

biental começou a pesar favoravelmente na balança, chegando ao ponto de ser

vetor estratégico para a sobrevivência no mercado.

Só para se ter uma idéia da preocupação de algumas empresas com o rea-

proveitamento de material, entre 60% e 85% dos componentes de um telefone

celular Nokia são recicláveis.

“Qualquer resíduo que há alguns anos seria jogado fora nas fábricas, hoje

é reciclado e tem seu retorno garantido ao mercado, pois além de preservar a

mesma característica e qualidade, é mais barato do que um produto que nunca

foi utilizado”, afirma Rodrigo Pereira, gerente comercial da Coplast.

Uma resina plástica virgem, por exemplo, que custa no mercado R$ 2,70,

quando reciclada, sai por R$ 2,45. Em outros produtos, a economia pode chegar

a 15% ou 20%.

A Coplast domina o mercado brasileiro de reaproveitamento do plástico. E foi

a primeira a obter a técnica de reciclar o isopor, um dos resíduos mais difíceis de ser

trabalhado, além de extremamente nocivo ao meio ambiente. Atualmente, a recicla-

gem do isopor é feita pela Oriente Polímeros, um braço empresarial da Coplast.

O processo de reciclagem plástica é complexo, mas ágil. A empresa tem

capacidade de processar mil toneladas/mês, e está expandindo essa cota em

virtude da demanda do mercado.

Quando um resíduo plástico é coletado de um cliente, ele obedece às seguin-

tes etapas: coleta seletiva (separação dos vários tipos de plástico), classificação, moa-

gem, mistura, extrução (derrame da lava já solidificada), resfriamento, granulação,

embalagem e, finalmente, o produto está pronto para voltar ao mercado.

“A industrialização desse processo nos permite colocar de volta ao merca-

do um produto dentro das especificações exigidas pelas empresas. Hoje, com o

aperfeiçoamento da técnica de reciclagem, não existe diferença entre um material

nunca utilizado e outro que já foi resíduo”, garante Pereira.

Além do plástico e do isopor, outros produtos também são reciclados na

Zona Franca. Papelão, pneu, metais ferrosos e não-ferrosos são tratados pela Rio

Limpo. A sucata ferrosa, pela Cometais. A incineração de resíduos perigosos, não

passíveis de reciclagem, é feita pela Premix. Nesse processo, até computadores

são reciclados e enviados para comunidades do interior.

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Só para se ter uma idéia da preocupação das em-presas com o reaprovei-tamento de material, en-tre 60% e 85% dos com-ponentes de um telefone

Nokia são recicláveis

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Conscientização é isso aí

Além de peças, hoje é muito comum também o aproveitamento de líquidos.

Cada vez mais empresas descontaminam as águas utilizadas no processo indus-

trial para lavar pátios ou molhar jardins. Na verdade, o tratamento de efluentes é

uma obrigação de todas as indústrias sediadas na Zona Franca de Manaus.

No entanto, para a Recofarma – indústria amazonense que fabrica o con-

centrado do refrigerante mais vendido no mundo – esse trabalho é motivo de

orgulho. A empresa, que abastece todo o mercado brasileiro e mais três países

sul-americanos (Paraguai, Venezuela e Colômbia), adotou há sete anos um ousa-

do programa de reaproveitamento de efluentes, e tem conseguido significativos

avanços, como a redução em 52% do consumo de água.

“A preocupação ambiental é uma exigência do presidente mundial da marca,

o irlandês Neville Isdell, sociólogo que, de Atlanta, nos Estados Unidos, dita as

diretrizes para as subsidiárias. Reduzir o consumo de água é uma meta da compa-

nhia, independentemente do custo que isso possa gerar para a empresa”, afirma

Antônio Carlos Pereira, gerente operacional da Recofarma.

A empresa trata 120 metros cúbicos de água diariamente, reutilizando cerca

de 50 metros cúbicos. O restante é reconduzido ao sistema de drenagem da

rede pública. A excelência na qualidade do tratamento dado aos efluentes per-

mite que a empresa se dê ao luxo de criar tambaquis utilizando o produto final

desse processo. “Temos um laboratório químico que analisa a qualidade da água

que será reposta na rede pública, mas fazemos questão de manter esse tanque

de peixe na empresa, uma vez que ele é a prova cabal e deliciosa do sucesso do

nosso serviço”, conta Marcelo Santana.

Por se tratar de uma empresa líder mundial em seu ramo, a fabricante de re-

frigerante também tem procurado mostrar para a população, por meio de ações

conjuntas, o lado positivo de ações ambientais. “Em setembro do ano passado,

fizemos um trabalho de limpeza na Bacia Hidrográfica do Tarumã-Açu. Em apenas

quatro horas, retiramos 3.760 quilos de resíduos nocivos ao meio ambiente”,

informa Daniel Mendonça, gerente de Relações Externas e Comunicação.

Se o desenvolvimento de uma sociedade é proporcionalmente inverso à

quantidade de lixo que ela produz, o trabalho desenvolvido pelas empresas do

Pólo Industrial de Manaus é importante exemplo para tornar arraigado o hábito

de reaproveitar para não poluir.

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Fotos Marcio AmaralMODA

NATUREZAMORTA

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Camisa Reinaldo LourençoHotpant NeonFlor Acervo PessoalCinto CantãoBota Melkzda

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Corpete AlcaçuzSaia Reinaldo Lourenço

Cinto Calvin KleinBota Fause Haten

Flor Acervo Pessoal

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Corpete AlcaçuzSaia Reinaldo LourençoCinto Calvin KleinBota Fause Haten Flor Acervo Pessoal

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Vestido e gola Raia de Goeye

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Blusa, colete e saia Melkzda

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Vestido VivazCasaco Cris BarrosLuva ForumBota Fause HatenCinto e flor Acervo Pessoal

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Vestido e bota MelkzdaCinto Cantão Flor Acervo Pessoal

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Vestido CovenSapato Paula FerberCinto Calvin KleinLuva Forum Meia Calça Acervo Pessoal

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Vestido Bárbara Bela Luva ForumChapéu Acervo Pessoal

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Styling Augusto CarneiroProdução de moda Rafaela OliveiraMake Odyr BarreiraModelo Sally Menezes (Mega)

Casaco SAADVestido Zidi Bota MelkzdaFlor Acervo Pessoal

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Fotos Fabiano HerreraMODA

CONSCIÊNCIA

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Camisa VilCasaco Levi’s

Calça e cinto Sérgio K.Gorro Acervo Pessoal

Mochila Pipe

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Máscara Walério AraújoPolo Pipe

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Máscara Walério AraújoTerno, blusa e calça Mário Queiroz

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Jaqueta Alexandre HerchcovitichCalça saruel NCD

Regata HeringMáscara US Army

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Colete e camiseta Sérgio K.Cachecol Acervo Pessoal

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Calça de couro Calvin KleinMoleton V. Rom

Cachecol RipCurlMáscara de gás US Army

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Blusa tricoline VRCalça Fórum

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Calça de penas Walério Araújo

Make RennerProdução Caio Assunção e EduardoImagens Ellen RochaEdição Rafael MenezesModelosAndré Zambam e Alex Voltarelli (Mega)Igor, Raphael e Ismael (Way)Iuri Jasper (Mônica Monteiro)

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Por Sebastião ReisFotos Maíra CoelhoDESTINO

cinematográficoUm paraíso

Imagine entrar numa cidade cenográfica, de ruas estreitas e bem cuidadas, casas pequenas e aconchegantes, uma igreja em estilo colonial do século passado e muita gente "famosa" pe-rambulando por todos os cantos. Barcelos, paraíso natural à margem direita do rio Negro, a 396 quilômetros de Manaus, vem se transformando exatamente nisso: um cenário de filme.

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O pequeno avião bimotor sobe levando tapas do vento. Estamos deixando

Manaus a caminho de Barcelos, paraíso natural situado à margem direita

do rio Negro, a 396 quilômetros da capital em linha reta e 656 quilô-

metros via fluvial. São uma hora e meia de viagem sobre uma região repleta de rios,

igapós, dunas de areias branquíssimas e praias, muitas praias, como um imenso lençol

estendido ao longo do caminho. Nosso destino é um município de 89.572 quilôme-

tros quadrados que abriga o maior arquipélago fluvial do mundo (Mariauá, área de

proteção ambiental com mais de 1.400 ilhas) e consta no Guines Book (Livro dos

Recordes) pela maior extensão de dunas de areia branca de rio do mundo.

Barcelos não é apenas um paraíso turístico, reduto de amantes da pesca es-

portiva, que se deslocam para lá à procura de aventuras e remédio natural anties-

tresse. É também a cidade cenográfica da Amazônia. Andar por suas ruas estreitas

é esbarrar em célebres anônimos, moradores do local que da noite para o dia

ganharam as telas como atores ou figurantes nos longas-metragens “A Festa da

Menina Morta”, produção nacional que marcou a estréia de Matheus Nachtergaele

como diretor e roteirista, “Eclipse Solar”, do diretor austríaco Herbert Brödl, e

“Aviadores”, outra produção do mesmo diretor.

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Dona Iaiá, nome de batismo Maria Ramos de Alencar, 61, é um desses

ilustres moradores do município que ganhou notoriedade por seus papéis

no cinema. Encontramos a atriz numa noite de sábado. Embala-se preguiço-

samente numa cadeira na esquina de uma rua, conversando com amigos e

vendo o tempo passar na bucólica cidade. Estreou em “Curupira”, produção

regional do cineasta Júnior Rodrigues, na qual fazia uma velha cega. Ela era “Vó

dele” e ele, “Curumim dela”, assim avó e neto se tratavam no filme. “Gostei

de trabalhar em ‘Curupira’ porque andava pela floresta, igapós e praias à noite

com fogueira. Foi uma aventura muito boa”, afirma dona Iaiá, que também

gravou “Eclipse Solar”. Sobre o filme “A Lenda da Menina Morta”, que movi-

mentou a cidade, diz que não participou porque o cachê era de R$ 15 por

dia. “Ganho isso costurando”.

Iaiá só viajou o mundo nas telas de cinema. Nasceu em Barcelos e conheceu

duas cidades: Manaus e Letícia, na Colômbia. Ao falar sobre suas perspectivas

como atriz, porém, vai longe: “Te cuida, Fernanda Montenegro!”.

O momento mais esperado por esses artistas caboclos é a estréia dos filmes

em praça pública, na orla da cidade, de frente para o rio Negro. Um cinema im-

provisado em meio à natureza. Todos se vestem como se fossem para uma festa.

Ao final da exibição, são tratados como estrelas. Dona Iaiá não se cansa de dar

autógrafos. Carinhosamente, pega meu caderno de anotações e escreve: “Agra-

deço ao querido amigo”, assinando logo abaixo. Tenho o autógrafo de Iaiá.

Difícil na cidade é encontrar quem não fez figuração num dos filmes, seja

aparecendo rapidamente ou envolvido no meio da multidão. Mas também há

famosos te esperando na esquina. Dar de cara com o ator Matheus Nachtergaele

(“Central do Brasil”, “Auto da Compadecida” e “Cidade de Deus”) é comum.

Desde que se apaixonou por Barcelos, nunca deixou de visitá-la. Comprou um

terreno na cidade. É cidadão barcelense.

Os moradores têm uma relação próxima com astros da TV. Durante a fil-

magem de “A Lenda da Menina Morta”, a equipe comandada por Nachtergaele

ficou três meses na cidade. A sede dos Correios foi transformada em restaurante

pela prefeitura para atender os visitantes. Na festa de despedida, no sítio de João

Enecy, assessor do prefeito, os atores Matheus, Daniel de Oliveira (o “Cazuza”),

Beth Goulart, Jackson Antunes, Cássia Kiss, Dira Paes, dentre outros, se divertiram

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até altas horas. “Foi uma noite inesquecível”, conta Enecy. A noite serviu também

para gravações das últimas cenas.

Um dos artistas surpreendeu a cidade ao sair à noite de cuecas à procura

de algo para comer. Caiu nas graças do hospitaleiro e bem-humorado povo de

Barcelos. Seria a festa dos paparazzi.

Barcelos é a terra onde, segundo a lenda, viveu o índio Ajuricaba, herói que

se lançou acorrentado às águas para não ser levado a Belém pelos portugueses.

Não é difícil encontrar por lá descendentes de índios, dos barés aos tukanos, hoje

serventes de pedreiros, agricultores ou funcionários de repartições e, em dias de

gravações, figurantes.

A busca pelo aparelho celular no bolso é inútil. O costume nos faz lembrar

do telefone móvel e ouvir o toque dele em todos os lugares. Pura ilusão. Em Bar-

celos não existe sinal de telefone celular. É relaxar e gozar, como disse a ministra

Martha Suplicy em pleno auge da crise na aviação. No caso dela, total infelicidade.

No nosso, suprema felicidade. Lá vem Bebeto, o astro de “Curupira”, neto de Iaiá.

Nessa noite, despido do papel de artista. Empurra um carrinho cheio de bugigan-

gas. O “Curumim dela”, agora, é vendedor de rua. Vida que segue.

Gerôncio Rosa Silva Lima Filho, 30, o “Curupira” do filme, fora das telas é

presidente da Associação dos Serradores e dos Mototaxistas e dono de uma

serraria. Uma entidade no filme e nas funções. Laurienne Gomes, 20, atriz que

participou dos três longas-metragens rodado na cidade, pode ser encontrada

na Wikipédia, a enciclopédia livre da internet, e no bairro Jorge Teixeira, periferia

de Manaus, para onde se transferiu a fim de completar seus estudos. Passa o dia

na Escola Agrotécnica, na Zona Leste da cidade. O lugar é tranqüilo, cercado de

árvores por todos os lados, assim como um pedaço de sua cidade natal. Barcelos

pulsa. As pessoas sempre têm um motivo para se encontrar.

Aniversário é local certo para ver todo mundo reunido. O promotor Cláudio

Sampaio, baiano, uma das principais autoridades da cidade, afirma, feliz: “Conheço

muita coisa no Amazonas, mas igual a Barcelos, nada”. É fim de temporada. Os

turistas partiram, os atores famosos embarcam de volta para suas cidades. Barcelos

continua, para receber a volta das águas subindo ladeira acima, encobrindo praias e

levando uma beleza para trazer outra, a do imenso espelho refletindo a cidade. As

pessoas passam, o município fica, a contemplar passado, presente e futuro.

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Cidade Ornamental

COMO CHEGARHá vôos duas vezes por semana (quarta e domingo) partindo de Manaus.

A única empresa que faz a rota atualmente é a Trip (92. 3652-1263).

Barcos regionais partem do porto de Manaus (92. 2123-4350) de duas

a três vezes por semana.

INFORMAÇÕESPrefeitura Municipal: 97. 3321-1200 • 3321-1115

Central de Atendimento ao Turista (CAT): 97. 3321-1201

Barcelos, a 396 quilômetros de Manaus, primeira capital do Estado do

Amazonas, é o terceiro maior município do mundo, só perdendo para Altamira

(PA) e Kiev, na Rússia. São mais de 122 mil quilômetros quadrados de extensão,

com 24.700 habitantes.

A economia do município está apoiada no extrativismo, principalmente da

piaçava, do peixe ornamental e, nos últimos anos, em atividades turísticas, na qual

a pesca esportiva se sobressai.

Barcelos tem uma festa que, pela grandiosidade, características e participa-

ção popular, lembra o festival de Parintins. É o Festival do Peixe Ornamental. Os

grupos de dança Cardinal e Acará Disco – nomes dos principais peixes de ex-

portação – se enfrentam no último fim de semana de janeiro na arena do Centro

Mariauá, apelidado de “piabódromo”.

A rainha do evento é a bela Rafaela Raíssa Avelar, 15, que sonha ser modelo.

Os olhos de onça e a beleza cabocla impressionam. Tem atitude. Posa para as len-

tes da fotógrafa Maíra Coelho como se isso fosse a coisa mais natural do mundo.

O olhar fixo, desafiador, se sobressai.

Barcelos tem hotel de selva de padrão internacional, o Rio Negro Lod-

ge. Toda essa atividade de turismo funciona no verão, de outubro a março.

Depois disso, o rio sobe e o turismo entra em declínio. É a época em que os

peixes fogem para os igapós. “Queremos transformar esses seis meses nos

quais não existe atividade turística para que, também no inverno, exista algu-

ma atividade, como caminhadas na selva e rota dos igapós”, afirma o prefeito

Valdeci Raposo e Silva, 55.

O município foi incluído entre os 65 principais roteiros turísticos do país.

O objetivo do Ministério do Turismo é alcançar nesses roteiros um padrão

internacional de qualidade nos serviços prestados. No Amazonas, foram sele-

cionados Manaus, por ser a capital, Parintins, em virtude do festival folclórico, e

Barcelos. Dos 65, foram selecionados dez para serem trabalhados inicialmente.

Barcelos está entre eles.

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Por Felipe MacielTURISMO

O velho ditado popular já dizia que quem nasceu para rei

nunca perde a majestade. A máxima cai como uma luva

para o Rio de Janeiro, que celebra os 200 anos da chega-

da da família imperial portuguesa à cidade. A então modesta capital

da maior e mais importante colônia portuguesa não lembrava nem

de perto a pujança das metrópoles européias. Com ruas acanhadas,

sem calçamento e saneamento básico, de casas simplórias com ape-

nas um pavimento e nenhuma ornamentação, a cidade era também

pouco atraente, em virtude da incipiente vida cultural.

Por isso mesmo, a transferência da corte para o Brasil pode ser

considerada o marco civilizatório brasileiro. O Rio de Janeiro passou

por sua primeira grande transformação política, econômica, urbana e

cultural, tornando-se digna de centro do Império ultramarino portu-

guês. Passados dois séculos da excepcional fuga dos Bragança e da

corte lusa para a colônia na América, no ímpeto de escapar da invasão

das tropas de Napoleão, o Rio de Janeiro perdeu a coroa e o status de

palco das decisões políticas. Entretanto, a cidade, como naqueles tem-

pos, continua a ser a caixa de ressonância do que acontece no país. A

antiga capital imperial não ostenta o glamour de outrora, mas os ecos

do passado permanecem nos símbolos da única cidade das Américas

a sediar o poder político de uma dinastia européia.

Para apresentar o Rio dos tempos de dom João VI, que só

retornou a Portugal em 1821, deixando para trás uma nova ci-

dade e um país às vésperas da independência, e também sugerir

um roteiro do Rio “imperial” de hoje, a revista Empório convidou

Bruno Chateaubriand, jornalista e produtor de eventos. Acostuma-

Rio majestoso,mesmo sem coroado a receber celebridades, ele é uma referência de bom-gosto e

sofisticação. Perguntamos a Chateaubriand que lugares ele considera

majestosos no Rio de hoje e quais os endereços fundamentais para

reconstruir a história de um período em que a cidade era habitada por

um rei bonachão e vacilante e uma rainha de origem espanhola, que não

nutria um pingo de simpatia pelo calor e provincianismo dos trópicos.

“Segui um critério histórico para compor esse roteiro. São lu-

gares que estão diretamente associados ao início do século XIX,

onde a vida na corte se desenvolveu”, afirma o jornalista, para em

seguida justificar as escolhas dos locais “imperiais” do Rio atual. “O

que destaco são as belezas naturais: as praias do Leblon, Ipanema

e Copacabana, o Pão de Açúcar, o Corcovado e o Jardim Botânico.

Sei que são clichês, mas nenhuma metrópole mundial foi tão bem

servida nesse ponto como o Rio de Janeiro. As praias, as montanhas,

as lagoas superam qualquer endereço elegante que pudesse citar”.

Morador da avenida Atlântica, vizinho ao Copacabana Palace,

endereço mais internacional do Brasil, Chateaubriand está acostu-

mado a conviver com o jet set e a freqüentar lugares dignos de reis

e rainhas. O jornalista buscou eleger ícones urbanos diretamente

relacionados ao cotidiano da família real e do séqüito de nobres,

que disputavam ardorosamente os títulos nobiliárquicos que os

distinguissem do restante da plebe.

A antiga nobreza imperial, impecavelmente vestida à moda

européia, exibia seus trajes importados de boutiques francesas ou

adquiridos na rua do Ouvidor. Os nobres circulavam pelo Passeio

Público, primeiro ponto de encontro da cidade, nas proximidades

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da Lapa, e na praça XV, nos arredores do Paço Real, atual Paço

Imperial, onde as decisões administrativas da colônia eram tomadas

pelo monarca. Freqüentavam a missa da Igreja de Nossa Senhora

do Carmo da Antiga Sé, que, durante a estada do dom João VI no

Brasil, foi a capela real da cidade e também o local onde o príncipe

regente foi aclamado rei de Portugal, Brasil e Algarves, em 1818.

A cidade, acanhada, contava à época com apenas 46 ruas. Seus

domínios alcançavam os bairros da Glória e do Catete, ao sul, e do

Catumbi, Rio Comprido e São Cristóvão, ao norte. Foi justamente

no casarão na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, cedido pelo

próspero comerciante Elias Antônio Lopes, que dom João fixou

residência no ano seguinte à chegada ao Brasil. Carlota Joaquina

manteve o mesmo hábito dos tempos em Lisboa, quando já não

dividia o mesmo teto com o príncipe regente, preferindo morar

em outro endereço, no atual Flamengo, bem distante do marido.

São justamente esses os locais citados por Bruno Chateaubriand

como fundamentais para compreender a dinâmica da aventura dos

monarcas portugueses em solo brasileiro. A esses símbolos histó-

ricos, o jornalista acrescentou o Jardim Botânico, que permanece

como um dos cartões-postais da cidade, e o convento de Santo

Antônio, no largo da Carioca.

Bruno ressalta também a estrutura criada às pressas para “civili-

zar” o Rio de Janeiro em função do baixo orçamento que a colônia

dispunha para o desenvolvimento próprio. Praticamente da noite para

o dia, a cidade se transformou. Primeiro, com a abertura dos portos

às nações amigas imposta pela Inglaterra, e na seqüência com o sur-

gimento da imprensa régia, de instituições político-administrativas, da

Casa da Moeda, do Banco do Brasil, das Academias Real da Marinha,

de Belas Artes e de Medicina, da Real Biblioteca Pública e do Jardim

Botânico. Outro aspecto importante foi a missão de artistas franceses,

entre eles Debret, Taunay e Montigny, encarregados de ilustrar a nova

capital do Império, aproximando-a dos centros europeus.

“Se a família não tivesse vindo para o Brasil, provavelmente

seríamos como nossa vizinha América espanhola, repartida em di-

versas repúblicas, só que falando português. Foi o pulso firme de

uma monarquia local que impediu o esfacelamento do território

durante a Independência”, acredita.

De lá para cá, o Rio mudou. Deixou de ser capital do Império

e posteriormente da República. Seu eixo elegante também passou

por drásticas transformações. Sem a pompa do passado, assumiu a

vocação praieira que consagraria a cidade. O banho de mar - que

não era difundido no século XIX, sendo somente indicado para

tratamento de doenças - e a vida social guiada pela orla, são novi-

dades do século XX.

Copacabana, um grande areal até a década de 30, só se con-

sagraria “Princesinha do mar” no pós-guerra, enquanto Ipanema só

assumiria o papel de musa a partir da década de 60. A expansão

pela porção litorânea da cidade passou a guiar o crescimento urba-

no. Na década de 80, seria a vez de a Barra da Tijuca viver o boom

imobiliário, que dura até hoje. Mas aí, o Rio já tinha abandonado

havia muito tempo a influência européia para assumir o sonho de

vida yankee, com avenidas retas e shopping centers.

Bruno Chateaubriand em um dos lugares que considera ponto de visitação obrigatório no Rio de Janiero: o Jardim Botânico

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O Palácio da Ilha Fiscalsediou o último baile dacorte portuguesa no Brasil

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Entre os lugares do Rio imperial e do contemporâneo destacados pelo jornalista e

promoter Bruno Chateubriand, somente o Jardim Botânico é citado nas duas ocasiões. Cria-

do pelo então príncipe regente em junho de 1808, o Jardim de Aclimação, logo denominado

Real Horto, foi idealizado para abrigar espécies exóticas da flora, em especial do Oriente.

O local, embrenhado na floresta, encontrava-se bem distante do burburinho da cidade,

próximo à Fábrica de Pólvora, no antigo Engenho de Cana-de-Açúcar de Rodrigo de Freitas.

Entre as várias espécies introduzidas, nenhuma chama mais a atenção que as palmeiras im-

periais, plantadas desde 1809. Atualmente, as árvores seguem firmes no cenário, enfileiradas,

emoldurando a paisagem e atraindo a atenção de quem passa pelo caminho.

Passear pelo interior do grande horto florestal reserva belas surpresas que remon-

tam ao passado imperial. Em meio às árvores, pode-se ver o portal em estilo neoclássico

da antiga Academia de Belas Artes, projetado por Grandjean de Montigny, em 1821. O

mesmo arquiteto ergueu no Centro, em 1819, o prédio que abriga a atual Casa França-

Brasil, considerado um dos poucos remanescentes do período neoclássico na cidade.

Atualmente, o Jardim Botânico abriga uma coleção com cerca de oito mil espécies

da flora nacional e de várias partes do mundo, além de área remanescente de Mata

Atlântica. Segundo o jornalista, o que chama a atenção é o fato de temas tão atuais, como

biopirataria e biodiversidade, já estarem presentes no Brasil do século XIX. “Acho o Jar-

dim Botânico fascinante e uma de nossas heranças mais importantes, principalmente em

função da questão ambiental, que predomina no mundo contemporâneo. É um lugar do

Rio imperial que se mantém, ainda hoje, tão atual”, defende.

Para o jornalista, o Rio dispõe de excelentes opções urbanas de lazer. Chega a citar

o Antiquarius e o Le Pré Catelan como bons restaurantes e recomenda visita ao mu-

seu Histórico Nacional e ao museu de Arte Contemporanea de Niterói, planejado pelo

premiado arquiteto Oscar Niemeyer. No entanto, é a paisagem natural que fascina o

estrangeiro desde o Descobrimento até os dias de hoje.

Bruno indica uma caminhada, com direito a banho de mar e água de coco, pelas praias

do Leblon e Ipanema, demarcadas pelo morro Dois Irmãos e pela pedra do Arpoador. A

orla de Copacabana, ao lado, é também indispensável pela beleza de seu contorno. Sugere

a subida ao Corcovado, recentemente eleito uma das sete maravilhas do mundo moderno,

pelo trenzinho, que corta o morro em meio à floresta ainda preservada, e o passeio no

bondinho do Pão de Açúcar, que oferece uma das vistas mais deslumbrantes da cidade.

“É na orla que o carioca dita moda. Essa é a característica primordial do carioca. Em qual

cidade grande do mundo, as pessoas andam pela rua como estivessem à beira-mar?”, explica

o jornalista, que só lamenta o descaso dos governos com a conservação da memória histórica.

“Somos um povo com pouca auto-estima. Não fomos ensinados a amar nossa his-

tória. Ao contrário, temos a cultura do desprezo pelo passado. Estamos num ano de

comemoração e pouca coisa acontece para nos lembrarmos da importância da chegada

da família real, quando na verdade só passamos a existir de fato em 1808”, conclui.

O jardim de dom João

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Roteiro do Rio históricoPaço Imperial

Edifício em estilo colonial na atual praça XV, construído em 1733, foi o centro de acon-

tecimentos políticos, festas e cerimônias reais do período joanino no Brasil. O Paço Real,

hoje conhecido como Paço Imperial, era a sede de despacho do vice-rei na ocasião da

chegada do príncipe regente. Foi cedido a dom João para se tornar sede do Império.

Passou ao longo da história por diversas intervenções arquitetônicas. Atualmente o es-

paço é utilizado para mostras e exposições de arte.

Quinta da Boa Vista

Localizada no bairro de São Cristóvão, Zona Norte do Rio, integram suas dependências

um parque público, o Jardim Botânico do Rio de Janeiro e o Museu Nacional do Brasil,

instalado no antigo Paço de São Cristóvão, num palácio de estilo neoclássico, utilizado

como residência da família imperial.

Igreja Nossa Senhora do Carmo (Antiga Sé)

Transformada em capela por dom João em 1808, a igreja em estilo rococó, com orna-

mentos e talhas em dourado, foi palco de importantes eventos históricos, como a sagra-

ção de dom João VI e a coroação de dom Pedro I e dom Pedro II. Os membros da família

imperial nascidos no Brasil foram batizados nessa igreja. Perdeu o título de catedral em

1977. Atualmente em reforma, será reaberta ao público em 8 de março de 2008.

Convento de Santo Antonio

Erguido no morro de Santo Antônio, trata-se de um dos mais antigos complexos arqui-

tetônicos coloniais do Rio de Janeiro. Sua origem remonta a 1592. A imagem de Santo

Antônio está intimamente ligada à resistência da cidade às investidas francesas, uma vez

que os portugueses recorreram ao santo para pedir proteção. Em 1810, dom João se

impressionou com a história e promoveu a imagem do santo a sargento-mór, conferindo-

lhe um bastão cravejado de pedras preciosas.

Passeio Público

Inaugurado na segunda metade do século XVIII, o primeiro logradouro público da cidade

do Rio de Janeiro foi inspirado no Passeio Público de Lisboa. O desenho do espaço foi

incumbido ao escultor e arquiteto Mestre Valentim, que projetou o parque seguindo o

modelo francês. O Passeio recebeu ornamentações, com destaque para o chafariz de

mestre Valentim e o belo portão de acesso forjado em ferro, destacando o brasão com

as armas reais e as efígies de dona Maria I, rainha de Portugal à época.

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Das cinzas à modernidade

Por Jair RaccinerFotos Paulo AmorimTURISMO

E ntrar em Lisboa é como mergulhar na história do Brasil, voltar

ao passado, ver onde tudo praticamente começou desde que

a família imperial e sua corte abandonaram Portugal, em 29

de novembro de 1807, e partiram rumo a sua colônia sul-america-

na fugindo de Napoleão Bonaparte. Um episódio espetacular que,

para muitos, significou extremo ato de covardia e, para outros, um

belo drible em Bonaparte, imperador francês que teve a coragem

de admitir depois, em suas memórias, referindo-se a dom João VI:

“Foi o único que me enganou”. Esse fato serviu para mudar a his-

tória de Portugal e do Brasil.

Hoje, mais de 200 anos depois, a capital portuguesa – na con-

dição de cidade mais rica do país e segundo centro econômico da

Península Ibérica, atrás apenas de Madri – convive entre o antigo e o

moderno. Portão de entrada para a Europa, Lisboa tem o poder de

reagir às dificuldades, como ocorreu após ter sido destruída por um

terremoto, em 1755, ressurgindo bela e imponente com a chamada

arquitetura pombalina, marcada por obras modernas, sem perder, po-

rém, traços importantes de seu passado.

No período em que a família imperial deixou Portugal de um

dia para o outro, pegando a população de surpresa antes da che-

gada das tropas francesas, o país era um dos mais atrasados da Eu-

ropa. No livro “1808”, o jornalista Laurentino Gomes escreve que

ainda vigorava o regime de monarquia absoluta, ou seja, o rei tinha

poder total, ao contrário de países como Inglaterra e Holanda, em

que a realeza perdia espaço para os grupos representados no Par-

lamento. Portugal era um país extremamente católico e avesso às

idéias inovadoras que transformavam a ciência, a indústria e abriam

espaço aos ideais republicanos.

Naquela manhã em que Portugal amanheceu sem suas refe-

rências de comando, num total vazio de poder, a população sentiu-

se órfã, à mercê dos franceses que batiam à porta. O país havia sido

entregue à própria sorte. “Portugal era um país pequeno, rural e

atrasado, incapaz de romper com os vícios e tradições que o pren-

diam no passado, dependente de mão-de-obra escrava, intoxicado

pela riqueza fácil e sem futuro da produção extrativista de suas

colônias”, observa Laurentino Gomes.

O outrora país pujante, senhor dos mares, “nem de longe lem-

brava a metrópole vibrante dos tempos de Vasco da Gama e Pedro

Álvares Cabral”. Segundo o autor de “1808”, os sinais de decadên-

cia estavam por todo lado. “Lisboa, a capital do império, havia muito

tinha sido ultrapassada por suas vizinhas européias como centro

irradiador de idéias e inovações...”.

A queda do governo de Sebastião José de Carvalho e Melo,

o Marquês de Pombal, responsável pela reconstrução e moder-

nização de Lisboa após o terremoto de 1755, seguido de mare-

moto e incêndio, que matou entre 15 mil e 20 mil pessoas, só

serviu para interromper o processo de mudanças arquitetônicas

e urbanísticas na capital portuguesa. Mas, apesar das profundas

crises em que mergulhou, Portugal emergiu forte. Em seu últi-

mo ato, quando de sua inserção no Mercado Comum Europeu,

entrou em processo de modernização, fato que tem se mostra-

do irreversível.

Para conhecer melhor essa cidade mais rica de Portugal, dona

de um PIB per capita superior à média européia e com uma econo-

mia baseada em serviços, Empório fez um passeio pelos melhores

pontos turísticos da capital. Embarque nesse roteiro.

Lisboa

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Para conhecer um pouco da Lisboa que foi deixada pela

corte de dom João VI no final de 1807, uma primeira sugestão é

ir ao Chafariz del-Rei, conhecido como Chafariz de Fora. Quando

foi edificado, no século XIII, situava-se do lado de fora das mura-

lhas da cidade, voltado de frente para o rio e era o local aonde

os barcos vinham “fazer aguada”, ou seja, carregar água para as

longas viagens transatlânticas.

No final do século XIX, a parte na frente do chafariz ganhou um

aterro. Atualmente, no lugar onde antes havia barcos, apenas passam

carros. À sua direita ou esquerda saem inúmeras ruelas que entram no

bairro de Alfama, que é o que restou da Lisboa medieval.

Alfama tem como característica as ruas que serpenteiam pela

encosta acima, até o Castelo de São Jorge, sem largura suficiente

para que passe um carro. Em alguns lugares se encontra um ou

outro palacete, mas a maior parte das casas são de tamanho re-

duzido, com portas que não chegam a 1,5 metro de altura, muitas

ainda não têm água encanada e não há uma data que marque a

sua construção. Há 15 anos, uma reforma de uma casa encontrou

uma parede construída no século VIII - sem materiais adequados, o

construtor tinha posto o resto de uma bota para vedar o buraco

entre duas pedras. É a região em que mais se pode ouvir o fado, a

música típica da cidade.

O próximo passo é uma construção do final do século XVIII,

que ainda não estava completa quando a corte embarcou para o

Brasil: a praça do Comércio. Com um formato em U, é hoje sede

de três ministérios. Os prédios foram edificados depois do terre-

moto de 1755, para ser o palácio real, e mantêm a mesma cor com

que foram pintados originalmente.

Na época em que dom João VI ocupava o lugar de regente

do reino, a praça era considerada uma das mais belas da Europa.

Um dos principais documentos sobre esse período é o livro de

memórias de Laure Permon, esposa do general francês Junot – que

comandou a primeira invasão francesa a Portugal e que nos dois

anos anteriores tinha sido embaixador francês no país.

Permon, que inspirou Balzac para escrever seu mais famoso

livro, “A Mulher de 30 Anos”, e por quem se apaixonaram Vitor

Hugo e Almeida Garret, comparou a praça do Comércio com a

capital francesa: “Não há nada em Paris, mesmo atualmente, tão

belo como os cais que bordejam esta parte da margem”. O único

reparo que ela fez ao local foi à estátua de dom José, que conside-

rou horrível e ainda hoje ali está, no centro da praça.

Do lado direito da praça, na esquina com a rua da Prata, vale a

pena visitar o café e restaurante Martinho da Arcada, que teve en-

tre os seus clientes fiéis Fernando Pessoa. Na lateral esquerda, fica a

Sala Ogival da ViniPortugal, onde se pode provar gratuitamente (de

terça a sábado, das 11h às 19h) vinhos portugueses de qualidade,

muitos deles pouco conhecidos fora do país.

Na época da viagem da corte para o Brasil, a praça era uma

construção recente. O antigo palácio real, que ficava exatamente

naquele local, tinha sido destruído pelo terremoto de 1755. Per-

mon conta que 50 anos depois ainda se sentia o cheiro de queima-

do e dos corpos em putrefação.

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O metrô que liga a estação da Baixa-Chiado ao Campo Grande foi inaugurado em 1997

Vista frontal da praça do Comércio, também conhecida como Terreiro Paço. Ao fundo, Alfama, e ao alto o Castelo de São Jorge

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Museu de Arte Antiga

Até meados do século XIX, a forma de chegar ao centro de Lisboa era de

barco. As casas dos nobres ficavam às margens do rio e muitas delas tinham em-

barcadouros particulares. A partir de 1870, com a construção de linhas de trem, o

beiradão foi aterrado. Restaram as escadas que iam das casas aos embarcadouros,

como se vê junto ao Museu Nacional de Arte Antiga, que fica na rua das Janelas

Verdes (uma lei municipal obriga todas as janelas das casas dessa rua a serem

pintadas dessa cor).

O museu (aberto de 3ª a domingo, das 10h às 18h) era a antiga residência

dos Condes de Alvor, que foi construída no tempo do reinado de dona Maria

I, a louca, mãe de dom João VI. Atualmente, conta com o maior acervo do país

(mais de 40.000 obras de arte). Um dos quadros mais importantes é a Tentação

de Santo Antão, de Hieronimus Bosch. Também não se deve perder a vista do

seu jardim sobre o rio Tejo. A cafeteria do museu pode ser uma boa indicação

para o almoço.

Basílica da Estrela

Trata-se da primeira igreja do mundo dedicada ao Sagrado Coração de

Jesus. Em estilo tardo barroco, ela surgiu de uma promessa de dona Maria I,

que embarcou à força para o Brasil em 1807. Ela tinha prometido construir

uma igreja caso tivesse um filho varão. Foi atendida e a construção começou

em 1779. No entanto, o príncipe morreu de varíola dois anos antes de a obra

ficar pronta.

Inicialmente, deveria ser um novo centro para a cidade de Lisboa. Mas o

conjunto, nunca ficou completo. Segundo Laure de Permon, influenciada pelo

inquisidor-mor, quando não estava com seus ataques de loucura, dona Maria dava

todo o dinheiro que podia para a basílica da Estrela, deixando o governo sem

meios para atender outras necessidades.

Palácio das Necessidades

Este palácio, atualmente sede do Ministério das Relações Exteriores de Por-

tugal, era no começo do século XIX um convento onde estudavam os filhos dos

nobres. Foi escolhido como residência pelo duque de Wellington, que comandou

as tropas que expulsaram os franceses de Portugal.

Sua biblioteca foi a sede das primeiras Cortes Constituintes de Portugal,

poucos anos depois da Independência do Brasil. Hoje, apenas se pode visitar a

igreja e o jardim, que tem o nome de Tapada das Necessidades (aberto todos

os dias das 9h às 18h).

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Palácio da Ajuda e Queluz

Apesar de ter o seu palácio na praça do Comércio, não era ali que vivia a

família real. Com medo de que mais um terremoto arrasasse a cidade, depois da

destruição geral de 1755, os reis optaram por ficar numa construção no bairro

da Ajuda. Segundo Laure de Permon, a construção era chamada pela população

de “real barraco” - grande parte era de madeira e nunca chegou a ficar pronta.

Hoje, apesar de uma parte do prédio continuar inacabada, alí funciona o Palácio

Nacional da Ajuda, onde se encontra uma biblioteca com os livros que permane-

ceram em Portugal quando a corte foi para o Brasil – os livros que embarcaram

são a base da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Há também um museu - com

utensílios, móveis, quadros e jóias que pertenceram à família real – (aberto das

10h às 18h, fecha às terças).

Pouco antes da viagem da família real para o Brasil, um incêndio atingiu o

Palácio da Ajuda. A corte passou a morar no Palácio de Queluz, a 12 quilômetros

de Lisboa (funciona das 11h às 17h30 e fecha às terças). Seus salões contrastam

no luxo e opulência com as linhas sóbrias da cidade reconstruída após o terre-

moto. É o melhor exemplo da arquitetura rococó portuguesa e constuma ser

comparado ao Palácio de Versalhes, da França.

Parque das Nações

Para contrapor a visita à Lisboa que restou da época em que a corte em-

barcou para o Brasil, vale a pena conhecer a parte mais moderna da cidade. O

grande destaque é o Parque das Nações, um antigo bairro industrial (a cinco

minutos do aeroporto) recuperado para a Expo 98.

Dotado de moderna infra-estrutura urbana, o complexo é a cidade imagina-

da transformada em realidade. Além de surpreendentes jardins temáticos, ali se

encontram obras de alguns dos mais importantes arquitetos da atualidade, como

o espanhol Santiago Calatrava ou o português Siza Vieira.

O Pavilhão do Conhecimento, ou Centro Interativo de Ciência e Tecnologia,

apresenta várias exposições regularmente, permitindo ao visitante um contato

direto com as mais diversificadas experiências científicas e tecnológicas.

Pode-se visitar também o Oceanário de Lisboa – o segundo maior aquário

oceânico do mundo, povoado por 15.000 animais e plantas de mais de 450 espécies.

Para os notívagos, também não faltam opções. Situado à beira-rio, o bairro

tem uma agitada vida noturna, com dezenas de bares e restaurantes no Passeio

da Pimenta. Sugerimos uma visita ao Cassino de Lisboa.

E que tal apreciar a paisagem? Nas imediações do parque há um teleférico de

mais de mil metros com vista privilegiada para o rio Tejo. Eis uma boa dica para encer-

rar a viagem. O visual arrebatador costuma ficar gravado na memória dos visitantes.

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Por Sebastião ReisFotos Mário Oliveira e acervo pessoalGENTE

DO EL DORADO ÀS VIRGENS DO SOL

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As pesquisas na Amazônia foram aventuras fantásticas, com fugas, doenças e naufrágios

E le é branco, loiro, olhos azuis, tem vida dupla e gosta de aventuras peri-

gosas em lugares remotos. Qualquer semelhança com Indiana Jones, per-

sonagem de Harrison Ford no célebre filme de Steven Spielberg, é mera

coincidência. Se na tela dos cinemas, um é o pacato professor de arqueologia

Henry Jones Júnior, que se transforma em aventureiro destemido ao enfrentar

nazistas na disputa pela Arca da Aliança e o Santo Graal, na selva amazônica, o

outro é o artista plástico e pesquisador chileno Roland Stevenson, 73, que garan-

te ter descoberto o El Dorado.

Há 30 anos, esse homem mais respeitado no exterior do que no Brasil por

suas teorias polêmicas a respeito da origem do homem amazônida, luta para

comprovar a existência da cidade mítica de ouro que no século XVI os explora-

dores espanhóis acreditavam existir. Passou vários meses na selva à procura do

caminho conhecido dos incas, enfrentando todos os tipos de perigo, de uma onça

pintada em seus calcanhares a índios macus com flechas envenenadas que o fize-

ram se lembrar de seus tempos de maratonista. Correu das 7h às 20h, deixando

para trás parte de seu equipamento. Só não abandonou a mochila. Isso, sem con-

tar os seis naufrágios e as seis malárias. Mas, garante, valeu a pena. “O problema é

que os espanhóis buscavam uma cidade de ouro e, na verdade, tratava-se de uma

fonte aurífera localizada entre o Pico da Neblina, no Amazonas, e Roraima”.

Roland Stevenson chegou a Manaus em 1973 para trabalhar como pu-

blicitário. A experiência no excursionismo, ainda no Chile, o fez apaixonar-se

por aventuras. Gastou parte das economias em expedições, mas não se ar-

repende. Prepara-se para fazer nova viagem, dessa vez à procura das Virgens

do Sol, que segundo ele fugiram dos espanhóis após a captura de Atahualpa,

imperador inca, e se transformaram nas guerreiras amazonas, ou icamiabas,

“mulheres sem homens, mulheres sem maridos ou ainda mulheres escondidas

dos homens”.

Não serão poucos os que vão voltar a chamá-lo de louco. “Os brasileiros

são muito preconceituosos com o meu trabalho, mas é triste ver que, em função

desse desinteresse, quase todos os estudos na Amazônia são feitos por estran-

geiros”, desabafa.

A visão do El Dorado só existia para os espanhóis, observa Stevenson. “Os

índios não conheciam esse nome, mas sim uma região natural de onde vinha o

ouro”. Segundo ele, todas as tribos da bacia do rio Uaupés, no alto rio Negro,

próximo à Cabeça do Cachorro, contam que soldados incas vinham buscar ouro

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Pinturas de Roland Stevenson: o caminho pré-colombiano por onde incas carregavam “insetos” de ouro e um ataque de índios ao aventureiro

em Roraima por um caminho de um metro e meio de largura. A cada 20 quilô-

metros dessa estrada, havia os postos de descanso dos viajantes, os chamados

Tambos. “Localizei oito desses Tambos na bacia do Uaupés. Esse caminho ia direto

para o Pico da Neblina, mas foi engolido pela mata”. Num desses lugares, Steven-

son descobriu o petroglifo de uma lhama.

O interesse dos espanhóis pelo El Dorado surgiu após a captura de Atahual-

pa ao norte do Peru, em Cajamarca. Eles exigiram do imperador inca um quarto

cheio de ouro. Ruminháui, coletor de ouro do norte do império inca no Equador,

foi incumbido de buscar parte desse produto, numa viagem de cem dias ao lugar

misterioso. Ao retornarem, ele e seus homens, foram abordados por índios que

queriam abrir as caixas para ver o que continham. Era a primeira vez que isso

acontecia, porque, de acordo com a lenda, era proibido abrir as caixas sob pena

de o Sol se apagar. Como o Sol era Atahualpa, agora refém dos espanhóis, os

índios se consideravam desimpedidos. E ficaram admirados com o que viram:

“insetos de ouro”. “Essas peças deviam ser trabalhadas por ourives em Roraima

e no Amazonas”, acredita Stevenson.

De volta ao Peru, Ruminháui não encontrou mais os espanhóis. Atahualpa

havia sido assassinado. Do carregamento em ouro, nunca mais se teve notícias.

Foi escondido em lugar incerto e não sabido. Tempos depois, Ruminháui foi cap-

turado e torturado por soldados de Francisco Pizarro para revelar a localização

do El Dorado. “Disse que, para chegar às minas, tinha de caminhar 70 dias. Fiz os

cálculos entre o local onde os incas estavam e o destino”, conta Stevenson.

Somente nove anos depois, Gonzalo Pizarro, irmão de Francisco Pizarro,

resolveu percorrer o caminho, que já se encontrava fechado pela floresta. “Ele

estava atrás do El Dorado e das Virgens do Sol, as moças mais lindas do império

inca”, diz Stevenson. “Quatro mil índios cofane, antecessores dos tucano, foram

forçados a acompanhá-lo, abrindo caminho”.

Setenta dias de viagem naquele trecho, de acordo com o pesquisador, dão

exatamente nas terras do Pico da Neblina. “Eu, pessoalmente, andei por esse ca-

minho pré-colombiano pensando que tinha sido feito por garimpeiros. Pesquisas

mostram que era o caminho do El Dorado”.

Gonzalo Pizarro chegou lá, mas não encontrou a cidade de ouro porque, na

verdade, tratava-se de uma fonte aurífera.

Roraima, afirma Stevenson, era uma imensa região submersa repleta de lagos,

como o Parime. É para lá que o aventureiro chileno pretende ir, na certeza de que as

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Virgens do Sol chegaram na serra do Parime por volta de 1503, escondendo-se dos

espanhóis. “Lá, não existem vestígios, mas sim evidências. Está cheio de índios de olhos

azuis e verdes. São descendentes das Virgens do Sol e espanhóis”, garante Stevenson,

referindo-se aos yanomami, que, na sua opinião, não são uma raça pura.

Sobre os estudos que indicam a origem desses índios brancos de olhos claros,

Stevenson diz que não procedem. Para o jornalista Karl Brugger, descendiam de

refugiados alemães da 1ª Guerra Mundial. “Ele desconhecia que, desde 1758, os

yanomâmis eram conhecidos na Venezuela como ‘Guaribas Brancos’. Portanto, já

possuíam essa característica física ao menos dois séculos antes da 1ª Guerra.”

O escritor Jacques de Maieu considerava os “índios brancos” descendentes dos

vikings e oriundos de Tiahuanaco, civilização que se desenvolveu junto ao lago

Titicaca, entre Bolívia e Peru. Em seu livro “Uma luz nos mistérios amazônicos”,

Stevenson diz que Maieu comete um erro cronológico de quase mil anos em

relação ao início do desenvolvimento de Tiahuanaco e às incursões vikings na

América. E acrescenta: “Os indígenas de rosto mongolóide que predominaram na

Amazônia até fins do século XV nada tinham de nórdicos”.

De suas aventuras, Stevenson guarda em seu escritório reportagens e uma

preciosidade: a coroa dentada com oito pontas de uma borduna, arma inca, en-

contrada na região do suposto El Dorado. “Imagina quanto uma peça dessas,

autêntica, não valeria num museu lá fora?”, indaga. “Encontramos cinco dessas

coroas em pontos diferentes, tudo em área de garimpo”.

O pintor-pesquisador diz que não se sente realizado. “A Amazônia é muito

grande, uma região desconhecida. A história ainda está por ser revelada”. Refle-

tindo sobre as dificuldades que encontra para realizar suas pesquisas e ter seu

trabalho reconhecido, questiona: “Quanto tempo o brasileiro vai demorar para

perceber que o lago Parime existiu? Está seco, hoje, mas o nível da água está

marcado em 400 quilômetros de serra, parte dela na região da Raposa Serra do

Sol, área de conflitos na disputa por ouro”.

Stevenson discorda dos que afirmam que a região foi um deserto. “Como isso

aqui foi um deserto se tiraram toneladas de concha marinha de onde existia o lago?”

Em sua aventura quase solitária, esse chileno sonhador só tem uma certeza:

vive na Amazônia os melhores anos de sua vida.

No ateliê em Manaus, onde coleciona fotos, mapas e histórias

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As índiasmais belas do mundo Não existem no mundo índias mais lindas do que as de Roland Stevenson.

Esse artista plástico chileno que se transforma em aventureiro, nas horas vagas, é

conhecido não somente pelo conjunto da obra, mas também por ter sido pre-

cursor do silicone. Basta dar uma olhada em seus quadros para observar que, há

tempos, antes de se falar sobre o milagre das próteses de silicone implantadas em

mamas, ele já pintava índias “siliconadas”, com seios duros apontando para cima.

Stevenson busca inspiração nas lendas amazônicas e na natureza para seus qua-

dros, que se confundem com a própria pesquisa que faz na região. São esses

trabalhos em tela que lhe garantem financiar as pesquisas. Ou seja, uma obra

alimenta a outra. “Cansei de pedir financiamentos para meus trabalhos. Pago tudo

com o que ganho com os quadros”, afirma.

Embora não seja um pesquisador formado, Stevenson acredita que se dife-

rencia dos demais estudiosos da história na Amazônia por ser um anatomista fi-

sionômico. É considerado o pioneiro no uso da técnica de investigação conhecida

como “morfologia somática”.

Ele diz que, por ter passando a vida inteira retratando feições, pode enxer-

gar coisas que “uma mente comum é incapaz de ver”. O rosto de um indígena,

segundo ele, conta todo seu passado, migrações, miscigenações e climas nos luga-

res onde morou. O pesquisador brasileiro, de acordo com Stevenson, baseia-se

apenas na glotologia, ciência que estuda comparativamente as diversas línguas,

considerando suas origens e formação.

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Por Marcelo GuilhermeFotos DivulgaçãoTURISMO

do que ‘reservado’ Um hotel mais

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Uacari-branco, espécie ameaçada de extinção, endêmica de Mamirauá

P roporcionar a turistas o contato direto com a natureza

sem agredir o meio ambiente e gerar renda para a po-

pulação local é o objetivo da Pousada Uacari. Localizada

a 600 quilômetros da capital amazonense, próximo ao municí-

pio de Tefé, ela se destaca pela concepção ecológica. O conjunto

de sete estruturas flutuantes foi desenhado visando o mínimo

impacto ambiental, com instalação de tecnologias apropriadas,

como a coleta de água da chuva, energia solar e sistema de filtra-

gem de dejetos.

A experiência é simplesmente sem igual. Acordar e olhar o

rio da varanda do quarto, fazer caminhadas na mata, ter conta-

to com animais exóticos e apreciar um dos pores-do-sol mais

lindos do mundo são só algumas das vantagens de pernoitar

no Uacari. O empreendimento está dentro da Reserva de De-

senvolvimento Sustentável de Mamirauá, um dos santuários

ecológicos mais importantes do planeta (com 1,12 milhão de

hectares de florestas de várzea), e está inserido em um projeto

de conservação pioneiro no Brasil.

A missão principal é gerar renda para as comunidades locais,

fortalecer a organização e capacitação comunitária e criar incen-

tivos para que essas comunidades promovam a conservação dos

recursos naturais da área. “A Pousada Uacari gera renda por meio

da compra de produtos e serviços e dos seus lucros, que são divi-

didos entre o sistema comunitário de vigilância e as comunidades

locais, que investem parte dos lucros em projetos para a melhoria

da qualidade de vida dos comunitários”, explica Nelissa Peralta, co-

ordenadora do Programa de Ecoturismo do Instituto Mamirauá.

O lugar é bastante reservado. Por se tratar de uma área de con-

servação ambiental, só é possível chegar lá comprando um dos paco-

tes de ecoturismo, ou seja, desembolsando de US$ 550 a US$ 1.000,

por três, quatro ou sete dias de hospedagem na Uacari. As vagas

são poucas, no máximo para 20 pessoas. “Recebemos pedidos de

centenas de turistas, mas isso iria impactar o ambiente. Só pode-

mos receber pequenos grupos por vez”, acrescenta Nelissa.

A viagem tem início em um avião que sai de Manaus até Tefé

(uma hora de vôo), se estendendo em uma voadeira ou lancha de

motor por mais uma hora e meia. Durante a cheia, de maio a julho,

as águas do Solimões e do Japurá inundam a reserva, formando os

igapós, as famosas florestas submersas, transformando a visita em

uma grande aula, já que os turistas visitam as famílias ribeirinhas e

aprendem muito sobre a Amazônia.

Outro ponto alto são as atividades de observação da fauna

e da flora. No período seco (setembro a março), o visitante pode

deslumbrar um grande espetáculo de peixes e seus predadores,

concentrados num menor volume de água. Milhares de aves aquá-

ticas também migram para os lagos da reserva, onde outros pre-

dadores, como o jacaré-açu e o boto côr-de-rosa, se concentram

para se alimentar devido a grande abundância de peixes na área. As

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trilhas podem ser percorridas a pé, em pequenos grupos acompa-

nhados pelo guia local.

Já no período de abril a agosto, o nível da água sobe alagando

toda a área. As trilhas desaparecem sendo percorridas só em cano-

as com capacidade para dois turistas e um guia. O visitante estará

mais perto das copas das árvores, dividindo espaço com bromélias,

insetos e pequenos répteis. Há também ótimas chances de encon-

tros com guaribas (que acordam o visitante com seus concertos

matinais), uacaris-branco, macacos-de-cheiro e preguiças, além de

muitas espécies de aves e animais aquáticos como o pirarucu.

Enfim, não é por acaso que o guia de viagem Lonely Planet

(2002) considera a Reserva Mamirauá um dos melhores luga-

res para observação da fauna em toda a Amazônia. A magnitu-

de desse paraíso ecológico exige dos futuros visitantes, além de

consciência ecológica, um arsenal de material fotográfico e muito

espírito de aventura.

Simplicidade e conforto

Em Uacari, o visitante desfruta de conforto, mas sem o

luxo de um hotel cinco estrelas. A pousada tem um flutuante

central com recepção, restaurante, bar, sala de TV, sala de apre-

sentações, e uma piscina de água natural. Há também serviço de

lavanderia disponível. Cada uma das dez suítes possui varanda

com vista para a floresta, chuveiro com água quente e duas

camas de solteiro (king size). As acomodações são teladas e

cobertas com palha.

A pousada funciona com pensão completa, ou seja, são ofe-

recidas três refeições ao dia. O cardápio é da cozinha brasileira,

com a valorização de produtos e pratos típicos da Amazônia, com

muito peixe fresco, frutas e sucos regionais (não servem carne

vermelha).

COMO CHEGARA cidade de Tefé é o portão de entrada para a Reserva

Mamirauá. Você chega até lá de avião ou barco partindo

de Manaus. Consulte o porto (92. 3621-4316) ou a em-

presa Rico Linhas Aéreas (www.voerico.com.br). De Tefé,

você segue de barco para Uacari. São 90 minutos de via-

gem na voadeira da própria pousada.

RESERVASTelefones: 97. 3343-4160 • 8116-1349

http://uakarilodge.com.br

[email protected]

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Carlos Ferreirinha

LUXO

Por dentro do luxo

Conhecida por seus prestigiosos leilões, a Sotheby’s está presente no Brasil com seu braço dedicado ao mercado de luxo imobiliá-rio. Com seu novo conceito de comercialização de imóveis, a Brasil Sotheby’s surpreende e encanta seus clientes. Veja esta casa no Rio de Janeiro. Fronteira entre a arquitetura humana e a natureza intoca-da, ela foi construída em um condomínio fechado na pedra da gávea com uma vista de tirar o fôlego. O mar logo abaixo da casa, dá aos seus moradores a sensação de estar em um navio.

Se o assunto é luxo, do tradicional ao sócio-ambiental, nada melhor do que escrever sobre lançamentos do mundo sofisticado nas páginas de Empório. É aqui, neste espaço, que estarei com vocês em todas as edições desta revista que vem se consolidando como uma das gratas surpresas do mercado editorial brasileiro. Vamos falar sobre o novo luxo, que passa, por exemplo, por ações sócio-ambientais responsáveis.

O Brasil vem surpreendendo pelo movimento aspiracional e vibran-te no segmento calçadista. Excelentes trabalhos desenvolvidos por designers, que têm despertado a atenção do mundo. Alguns es-pecialistas internacionais têm chamado nossas criações de “sapatos de personalidade”. A novidade do momento é a marca sensação do circuito fashion europeu que chega somente agora no mercado brasileiro, a Miezko, produzida no sul do país. O luxo traduzido em exclusividade, design arrojado e obsessão por detalhes.

MIEZKO

SOTHEBY’S

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115

Brastemp You. Depois de surpreender o mercado brasileiro com refrigeradores “personalizáveis”, a Brastemp lançou no final do ano passado o Fogão You, que permitirá ao consumidor expressar o seu lado B... exercendo sua criatividade e gerando a oportunidade de montar um eletrodoméstico só seu. Em eras de individualização, customização e exclusividade... o Fogão You encanta.

A Urban Mobility é uma linha revolucionária de acessórios de luxo da Puma, marca responsável pela transformação do sportswear em fashion e que recentemente foi comprada pelo poderoso grupo Gucci. Feita de couro Nappa, macio, branco e com estilo jacarandá é inspirada nos desenhos industriais. Um novo conceito na catego-ria. Uma assinatura vanguardista da Puma.

Cadmo light, uma das mais novas peças de decoração feitas por Karim Rachid para a Artemide, é uma luminária de quase 2 metros inspirada no desdobra-mento de uma folha, sendo seu corpo de aço laqueado de branco. Sua versão mais exclusiva é feita em vidro preto soprado, estando disponível no Brasil apenas sob encomenda. Karim Rachid está presente na arquitetura, design de móveis, roupas, celulares e objetos que criou para grandes marcas como Prada, Umbra, Armani e Melissa. Essa peça é vendida com exclusividade pela La Lampe, representante oficial da Artemide no Brasil.

LA LAMPE

PUMA

BRASTEMP

A famosa joalheria brasileira, H. Stern, põe o Brasil no seleto mercado mundial de jóias de luxo, sendo, nesses últimos anos, presença constante em premiações internacionais, vestindo Angelina Jolie, Ashley Judd, Sharon Stone e Eva Longoria. Esta linha é denominada Red Carpet, e promete muito para o ano de 2008!

H. STERN

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Por Marcelo GuilhermeFotos Antonio IaccovazoCULT

pura ousadiaUm festival de

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D epois de 11 anos vencendo barreiras, consagrando mitos, recrutando

talentos e acreditando no impossível, o Festival Amazonas de Ópera

chega a sua 12ª edição levando Manaus ao status de primeira cidade

em produção lírica do Brasil e a colocando entre as dez mais importantes do

mundo no segmento. Se há bem pouco tempo era impossível imaginar que o tão

suntuoso Teatro Amazonas, após 90 longos anos de jejum, voltasse a produzir e

montar óperas – aliás, motivo de seu nascimento em 1881 (oficialmente inaugu-

rado em 1886) – hoje, a efervescência cultural porque passa Manaus nos faz crer

em um futuro de explendor.

Em pouco tempo, o Festival Amazonas de Ópera se transformou no maior

do gênero da América Latina, criando expectativa durante os meses de abril e maio

nos antigos e novos amantes da arte lírica. Instituições como a Orquestra Amazonas

Filarmônica, Coral do Amazonas, Orquestra Jovem da Floresta Amazônica, grupos do

Centro Cultural Cláudio Santoro e Corpo de Dança do Amazonas foram criadas ou

revitalizadas apostando em novos talentos, que na verdade formam o recheio desse

grande projeto musical, iniciado em 1997 e que fez com que o Teatro Amazonas

abrisse suas portas para uma longa e promissora temporada de clássicos.

Montagens como Carmem” (Georges Bizet), “La Traviata” (Guiseppe Verdi) e

“O Barbeiro de Sevilha” (Gioacchino Rossini) – com a orquestra e o coral do Teatro

Bolshoi de Minsk e o Coro Sinfônico do Amazonas – ficaram eternizadas na memória

dos amazonenses desde a abertura do festival. Mas não foi simples dar continuidade

ao projeto. A dificuldade para manter tão imponente estrutura era óbvia, já que

solistas, regentes e produtores da estréia eram, em sua maioria, estrangeiros, entre

russos, suíços e argentinos, além de brasileiros do eixo Rio-São Paulo. Definitivamente,

Manaus não tinha mão-de-obra capacitada para tão arrojada missão.

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Logo nos primeiros anos, um grande esforço foi feito para melhorar a orques-

tra do Amazonas. Profissionais da Rússia, Bulgária e Bielo-Rússia foram recrutados

para reforçar o time de músicos. Os europeus do leste também passaram a lecio-

nar no conservatório local, o Cláudio Santoro, e muitos artistas visitantes deram

aulas para os jovens da cidade, que se preparavam para a carreira de técnicos,

músicos e bailarinos. O trabalho deu frutos. Na 10ª edição, uma ópera foi montada

praticamente com 100% de elenco local: “Gianni Schicchi”, de Puccini. Começava aí

o ciclo de ouro no segmento cultural da cidade.

Do início até hoje, milhares de empregos e ocupações foram criadas em torno

das montagens, movimentando artesãos, marceneiros, costureiras, pintores, técni-

cos de som e luz, entre outros. “No início, era sonho e esperança. Mas desde sua

criação, o festival de ópera já foi considerado um marco para as manifestações

artísticas e lúdicas, promovendo uma verdadeira revolução sociocultural”, comenta

o secretário estadual de Cultura, Robério Braga.

Trajetória de ousadia

O Festival Amazonas de Ópera, além da própria grandiosidade, tem como

característica a inovação. A criatividade está presente desde as obras tradicionais

até as pouco executadas. Logo no segundo ano, em 1998, foi montada pela pri-

meira vez, publicamente, a récita “Alma”, do compositor brasileiro Cláudio Santoro.

O papel-título da jovem prostituta ganhou a voz de Rosana Lamosa, com direção

musical de Nivaldo Santiago. No ano de comemoração dos 500 anos do Desco-

brimento do Brasil, em 2000, a abertura da 4ª edição contou com um show na

Ponta Negra, uma versão de “Il Guarany”, de Carlos Gomes. No ano seguinte, na 5ª

versão do festival, Manaus recebeu duas récitas, de São Paulo e do Rio de Janeiro:

“La Bohème” (Giacomo Puccini), que foi apresentada no paulista Teatro Alfa, e “A

Ópera dos Três Vinténs” (Kurt Weill e Bertolt Brecht), encenada no carioca Centro

Cultural Banco do Brasil (CCBB). “Os Três Vinténs” inaugurou o Teatro da Instalação,

no centro da capital amazonense. “Manon”, que desde a década de 60 não era

montada no Brasil, foi encenada em 2001, exclusivamente para o evento.

De lá para cá foram inúmeras cenas, estrelas, figurinos, enfim, um conjunto

de peças que fez com que Manaus entrasse para a história lírica nacional. “A reali-

zação do festival de ópera, a cada ano, retrata o aperfeiçoamento de uma equipe

unida por um ideal, cujo perfil se aprimora com o intercâmbio proporcionado

pelas grandes produções. Este evento é, com certeza, compartilhado em sintonia

com a comunidade e iniciativa privada, além claro, das ações do governo. Por tudo

isso, acredito que este é um acontecimento que só tende a crescer e se perpetuar

ainda mais, tanto em importância quanto em termos de qualidade junto a todos”,

completa o secretário Robério Braga.

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Roger Waters é presença confirmada no espetáculo do Teatro Amazonas

As mais badaladas de 2008

Este ano, a capital do Amazonas mais uma vez estará respirando ópera, do

dia 15 de abril a 31 de maio. Já na abertura, uma das obras mais aguardadas desta

edição: “Ça-Ira”, de autoria do ex-vocalista do Pink Floyd, Roger Waters. A ópera,

que levou 16 anos para ser escrita, é encenada em três atos e fala sobre a Revolu-

ção Francesa, enfatizando liberdade, igualdade e fraternidade. A idéia é mostrar, por

meio da arte lírica, a preocupação com o conceito dos direitos humanos, estabele-

cido naquele período. Apesar de ser ambientada em 1789, “Ça-Ira” (Algo como ‘Vai

dar certo’) exala um clima de atemporalidade que deve agradar ao público moderno.

“Será a primeira vez que a ópera de Waters terá a montagem que o autor concebeu

originalmente. Em 2005 ela estreou em Roma (Itália) mas em formato de concerto.

Depois disso, foram feitas modificações para os espetáculos que se seguiram, em

Poznan (Polônia) e Kiev (Ucrânia). Mas nada foi igual ao que será apresentado aqui”,

explica o diretor artístico do festival e maestro Luiz Fernando Malheiro.

Destaque também para o clássico de Gian Carlo Menotti, “Maria Golovin”.

Atualmente, a ópera não é encontrada na programação de grandes festivais mun-

diais de música erudita, são raras as apresentações. O libreto gira em torno de uma

narrativa descomplicada – um breve encontro romântico entre o cego e recluso

Donato e a personagem – título da trama, uma mulher casada que vivia na Europa

do pós Segunda Guerra. No entanto, a obra é considerada uma das mais bem

elaboradas pelo compositor. A montagem do 12° Festival Amazonas de Ópera será

luxuosa, com direito a figurinos projetados pelo estilista Christian Lacroix, um dos

nomes mais importantes da alta-costura internacional, com lojas de prêt-à-porter

espalhadas pelas mais importantes capitais do mundo. Defensor de uma moda com

características neo-barrocas, cujos detalhes muitas vezes apontam para sua infância,

intrinsecamente ligada às touradas e ciganos andarilhos, já esteve à frente da direção

artística de “Maisons”, com Emilio Pucci e Christian Dior. Também foi responsável

pela criação dos figurinos para “Carmen”, de Georges Bizet (1838 - 1875) e para a

comédia francesa baseada na mitologia grega, “Phèdre”, de Jean Racine (1639 - 1699).

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12ª Edição

Este ano o 12° Festival Amazonas de Ópera terá 19 concertos e dois recitais.

Dezesseis espetáculos serão pagos (os valores variam entre R$ 5 e R$ 60) e cinco

inteiramente gratuitos. O evento receberá investimentos superiores à ordem dos R$

4 milhões e contará com a participação de 358 artistas, sendo 230 do Amazonas,

102 de outras partes do país e 26 internacionais. Os concertos serão realizados em

alguns dos mais importantes espaços culturais da cidade, como o Centro Cultural

Largo de São Sebastião e o Centro Cultural Palácio Rio Negro, além, claro, do ma-

jestoso Teatro Amazonas. São esperadas 85 mil pessoas para o evento, sendo 9,8 mil

para os espetáculos fechados e mais de 75 mil nos espaços abertos.

Programação

ÇA-IRA (Roger Waters)Teatro Amazonas • 15, 22 e 24 de abril

DAS LIED VON DER ERDE (Gustav Mahler)Teatro Amazonas • 19 e 23 de abril

ARIADNE AUF NAXOS (Richard Strauss)Teatro Amazonas • 17, 20 e 26 de abril

BARROCA (Concerto com trechos de óperas barrocas)Teatro Amazonas • 3 de maio

JOÃO E MARIA (Engelbert Humperdinck)Teatro Amazonas • 4, 6 e 8 de maio

MISSA DE RÉQUIEM (Giuseppe Verdi)Matriz de Nossa Senhora da Conceição • 10 de maio

CONCERTO DO DIA DAS MÃES (Orquestra Experimental da Amazonas Filarmônica)Teatro Amazonas • 11 de maio Congada (Francisco Mignone) Finlândia (Jean Sibelius) Maroquinhas fru-fru (Ernst Mahle)

MARIA GOLOVIN (Gian Carlo Menotti)Teatro Amazonas • 21, 23 e 25 de maio

TURANDOT (Giaccomo Puccini)Largo de São Sebastião • 29 e 31 de maio

12ª Edição

Este ano o 12° Festival Amazonas de Ópera terá 19 concertos e dois recitais.

Dezesseis espetáculos serão pagos (os valores variam entre R$ 5 e R$ 60) e cinco

inteiramente gratuitos. O evento receberá investimentos superiores à ordem dos R$

4 milhões e contará com a participação de 358 artistas, sendo 230 do Amazonas,

102 de outras partes do país e 26 internacionais. Os concertos serão realizados em

alguns dos mais importantes espaços culturais da cidade, como o Centro Cultural

Largo de São Sebastião e o Centro Cultural Palácio Rio Negro, além, claro, do ma-

jestoso Teatro Amazonas. São esperadas 85 mil pessoas para o evento, sendo 9,8 mil

para os espetáculos fechados e mais de 75 mil nos espaços abertos.

Programação

ÇA-IRA (Roger Waters)Teatro Amazonas • 15, 22 e 24 de abril

DAS LIED VON DER ERDE (Gustav Mahler)Teatro Amazonas • 19 e 23 de abril

ARIADNE AUF NAXOS (Richard Strauss)Teatro Amazonas • 17, 20 e 26 de abril

BARROCA (Concerto com trechos de óperas barrocas)Teatro Amazonas • 3 de maio

JOÃO E MARIA (Engelbert Humperdinck)Teatro Amazonas • 4, 6 e 8 de maio

MISSA DE RÉQUIEM (Giuseppe Verdi)Matriz de Nossa Senhora da Conceição • 10 de maio

CONCERTO DO DIA DAS MÃES (Orquestra Experimental da Amazonas Filarmônica)Teatro Amazonas • 11 de maio Congada (Francisco Mignone) Finlândia (Jean Sibelius) Maroquinhas fru-fru (Ernst Mahle)

MARIA GOLOVIN (Gian Carlo Menotti)Teatro Amazonas • 21, 23 e 25 de maio

TURANDOT (Giaccomo Puccini)Largo de São Sebastião • 29 e 31 de maio

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Por Tenório Telles*Fotos Maíra CoelhoLETRAS

memóriaLivros e A vida sem os livros seria impossível. Como viver sem a pre-

sença desse objeto mágico que nos proporciona luz nos

momentos de trevas, paz e sabedoria nas horas de tormen-

to, amizade e consolo quando tudo parece perdido? O livro é um ami-

go fiel e sempre receptivo às nossas interrogações e dúvidas. Nunca

fogem, e nos esperam pacientes nas prateleiras das bibliotecas, sobre

a cômoda. Às vezes são deixados em quartos escuros, mas mesmo

assim ficam à espera de algum leitor em busca de aventuras.

A leitura de um livro é uma experiência libertadora. Somos os

livros que lemos, ou que não lemos. Alguns deles nos marcam pro-

fundamente o ser – nos enriquecem de luz e sabedoria e nos tor-

nam melhores. O livro também é o passaporte para uma viagem

que pode ser definitiva. Ao chegar no mundo dos livros, descobri-

mos que, além da realidade, existem coisas que os olhos não vêem,

e experimentamos sensações indescritíveis de prazer e descober-

tas que fazem de nossas vidas uma aventura feita de encantamento

e compreensão sobre a realidade e os dramas humanos.

A verdade é que os livros ajudam a manter viva a memória das

sociedades – suas personagens e fatos que marcaram-lhe a história.

Prova disso são alguns lançamentos que comentaremos a seguir.

Sobre a presença da família real no Brasil, a partir de 1808, e seus desdobramentos para a sociedade brasileira, o livro do jornalista Laurentino Gomes, “1808”, merece destaque. Não é a toa que há semanas lidera a lista dos mais vendidos do país. A obra é um fascinante relato sobre a fuga da corte portuguesa para o Brasil, sob a pressão das tropas de Napoleão que bloqueavam a Europa, fato esclarecido no subtítulo da obra: “Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil”. O livro também se difere por mostrar um outro lado de dom João, muito além das chacotas.

“D. Pedro II” é a biografia de uma das personalidades mais expressivas da nossa história. O livro de Murilo de Carvalho traça um perfil humano do imperador Pedro d’Alcântara, como gostava de ser chamado. O relato gira em torno desses dois aspectos da mesma personagem: o rei, que se manteve no poder durante quase cinco décadas, pouco afeito aos rituais e etiquetas da vida cortesã, e o ho-mem, tímido, “que amava as ciências e as letras tanto quanto detestava as pompas do poder”. Trata-se de uma leitura reveladora sobre a personalidade e o caráter do monarca que ajudou a construir as bases do Estado brasileiro.

1808

D. Pedro II

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127

“A invenção da Amazônia” é um dos mais belos livros que já se escreveu sobre o universo amazônico – costurado com os fios da ciência e da literatura, numa tessitura em que se sobressaem a emoção, a poesia e o rigor científico. A Amazônia sempre despertou o fascínio e o interesse de viajantes e cientistas estrangeiros, o que motivou a elaboração de uma percepção plasmada pelo fantástico, em que sobressai uma região tecida pela imaginação do colonizador europeu. A pesquisa da professora Neide Gondim é reveladora do processo de constituição desse imaginário amazônico, fruto do diálogo dos conquistado-res europeus com o universo regional.

* Tenório Telles é escritor, membro da Academia Amazonense de Letras e autor de “A derrota do mito” e “Poesia e poetas do Amazonas”.

Outro livro que tem suscitado o interesse de leitores e estudiosos da história brasileira é “O príncipe maldito”, em que a escritora Mary Del Priore (coordenadora de “Os senhores dos rios: Amazônia, histó-rias e margens) retrata o trágico destino de Pedro Augusto de Saxe e Coburgo, neto do imperador dom Pedro II. O príncipe foi criado até o início da adolescência como o sucessor natural do trono, mas a sua sorte mudou com o nascimento do príncipe do Grão-Pará, filho da princesa Isabel, a primogênita, com o conde D’Eu, e, portanto, o legítimo herdeiro. Preterido, Pedro Augusto sucumbiu emocionalmente. Sua vida obscura é resgatada neste belíssimo texto de Del Priore.

No âmbito regional, algumas obras, publicadas recentemente, são indispensáveis para compreendermos o processo histórico regional. “O Amazonas na época imperial”, de Antonio Loureiro, é um livro pio-neiro sobre esse período, em que o autor relata e comenta os fatos históricos ocorridos na província do Amazonas, desde a sua instalação até a proclamação da República, em 1889. Embasa sua pesquisa em documentos do cotidiano da burocracia das instituições, como as comunicações dos presidentes da província amazonense e dos líderes da Igreja Católica, para expor o aguçado ambiente social, econômico e político que marcaram a época.

Um dos livros mais importantes da produção acadêmica contemporânea, “A ilusão do fausto”, da pro-fessora Edinea Mascarenhas Dias, é um painel crítico sobre um dos períodos mais importantes do processo de desenvolvimento regional – o fausto da borracha. O mérito do livro não se limita apenas ao rigor da pesquisa, mas especialmente ao fato de ter enfocado o cotidiano dos trabalhadores, nor-malmente esquecidos ou negligenciados pelos pesquisadores oficiais. O romancista Milton Hatoum, na apresentação da obra, ressalta: “ ‘A Ilusão do Fausto’ é um estudo pioneiro sobre uma cidade, Manaus, que foi planejada e construída para atender a uma demanda do capital internacional”.

O príncipe maldito

O Amazonas na época imperial

A ilusão do fausto

A invenção da Amazônia

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Fotos Antonio IaccovazoLETRAS

Uma ficção

A Amazônia é mais uma vez fonte de inspiração para uma

obra ficcional. Agora, o mito da Cidade Encantada é o pon-

to de partida para a novela de Milton Hatoum. Autor de

três obras premiadas (“Relato de um certo oriente”, “Dois irmãos” e

“Cinzas do Norte”), o amazonense estréia no gênero com “Órfãos

do Eldorado”, da Companhia das Letras. Enfrentar o desafio de

enquadrar um de seus projetos nas regras da “Coleção Mitos”, idea-

lizada pela editora escocesa Canongate e publicada por um pool de

editoras em 30 países, não foi fácil para Hatoum, principalmente por

conta da necessidade de concisão. Mas nem bem chegou às pratelei-

ras e o livro já está na lista dos mais vendidos do país.

“Eu esperava que as pessoas se interessassem pela obra prin-

cipalmente por causa do romance ‘Dois Irmãos’, que vendeu muito.

Afinal, muitas pessoas seguem a carreira de um determinado escri-

tor, mas não imaginava que a obra teria toda essa receptividade”,

O novo livro de Milton Hatoum é

uma trama cheia de violência, luxo

e tragédia de uma época que vai da

Cabanagem ao ciclo da borracha

conta Hatoum. “Novela é um gênero que exige um texto despo-

jado e seco, no qual você deixa apenas o osso. Essa limitação me

ensinou a escrecer e eu gostei de ter escrito e, até onde eu sei, os

leitores também gostaram”.

“Órfãos do Eldorado” se passa em uma cidade à beira do

rio Amazonas, onde um visitante procura abrigo à sombra de um

jatobá. Curioso, ele se dispõe a ouvir um velho com fama de lou-

co. E assim segue a trama, cheia de violência, luxo e tragédia na

Amazônia da época da Cabanagem até o fim do ciclo da borracha.

O resultado é um livro com ares de novo, ao focar narrativa no

narrador e na história que este conta, mas que também carrega os

traços de seus livros anteriores. Uma celebração da experiência

individual em um lugar muito específico no Norte do País e que

abarca questões que são do Brasil como um todo e do homem

para além da nacionalidade.

encantada

Page 129: Empório Amazônia 13

129

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Foto Ruth JucáIMAGEM

de criançaBrincadeira A sensação de empinar pela primeira vez uma pipa vai além

da imaginação. É como se nossos sonhos invadissem o es-paço para fazer morada. Mesmo que “quedem” ou “guizem” meu pequeno papagaio de papel, não importa. Ele já voou, levando ao vento minha brincadeira de criança.

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