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Empatia em Idosos como processo multifacetado Medeiros & Júnior Revista Diálogos – n.° 18 – Set. / Out. – 2017 46 EMPATIA EM IDOSOS COMO PROCESSO MULTIFACETADO d.o.i. 10.13115/2236-1499v2n18p46 Antônio Gabriel Araújo Pimentel de Medeiros UPE 1 José Antônio Spencer Hartmann Júnior UPE 2 Resumo: A empatia é a capacidade de compreender, compartilhar e levar em consideração os sentimentos dos outros, ou seja, se colocar no lugar de alguém. Por se tratar de um construto que trabalha diretamente nos níveis cognitivo, afetivo e comportamental, influenciará de forma particular cada fase do desenvolvimento. Na terceira idade, a empatia é diretamente responsável pela manutenção das redes de apoio e preservação da cognição. Déficits cognitivos e isolamento são os principais responsáveis por baixos níveis de empatia em idosos e são ponto de partida para o desenvolvimento de doenças como demências e depressão. Algumas alternativas como o desenvolvimento de habilidades sociais e a reabilitação neuropsicológica podem devolver ao idoso a autonomia necessária para retomar parte de atividades antes realizadas por estes, e com isso abrir caminho para o fortalecimento da habilidade empática. Apesar disso, a presença das redes de apoio ainda são o principal aliado na preservação da empatia na terceira idade, pois é no dia a dia que os ganhos e perdas se dão. Concluímos que a empatia é fundamental na preservação da reserva cognitiva e do bem-estar da população idosa, sendo preventora de doenças e seu baixo nível porta de entrada para as mesmas. 1 Psicólogo. Membro do Grupo de Estudos sobre Saúde Mental do Idoso da Universidade de Pernambuco, vinculado ao CNPq. 2 Psicólogo, Pós-doutorando em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina do ABC e Doutor em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento Pela Universidade Federal de Pernambuco. Membro do Grupo Estudos sobre Saúde Mental do Idoso da Universidade de Pernambuco, vinculado ao CNPq.

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Empatia em Idosos como processo multifacetado – Medeiros & Júnior

Revista Diálogos – n.° 18 – Set. / Out. – 2017 46

EMPATIA EM IDOSOS COMO PROCESSO

MULTIFACETADO

d.o.i. 10.13115/2236-1499v2n18p46

Antônio Gabriel Araújo Pimentel de Medeiros – UPE1

José Antônio Spencer Hartmann Júnior – UPE2

Resumo: A empatia é a capacidade de compreender, compartilhar e

levar em consideração os sentimentos dos outros, ou seja, se colocar no

lugar de alguém. Por se tratar de um construto que trabalha diretamente

nos níveis cognitivo, afetivo e comportamental, influenciará de forma

particular cada fase do desenvolvimento. Na terceira idade, a empatia é

diretamente responsável pela manutenção das redes de apoio e

preservação da cognição. Déficits cognitivos e isolamento são os

principais responsáveis por baixos níveis de empatia em idosos e são

ponto de partida para o desenvolvimento de doenças como demências e

depressão. Algumas alternativas como o desenvolvimento de

habilidades sociais e a reabilitação neuropsicológica podem devolver ao

idoso a autonomia necessária para retomar parte de atividades antes

realizadas por estes, e com isso abrir caminho para o fortalecimento da

habilidade empática. Apesar disso, a presença das redes de apoio ainda

são o principal aliado na preservação da empatia na terceira idade, pois

é no dia a dia que os ganhos e perdas se dão. Concluímos que a empatia

é fundamental na preservação da reserva cognitiva e do bem-estar da

população idosa, sendo preventora de doenças e seu baixo nível porta

de entrada para as mesmas.

1 Psicólogo. Membro do Grupo de Estudos sobre Saúde Mental do Idoso da

Universidade de Pernambuco, vinculado ao CNPq.

2 Psicólogo, Pós-doutorando em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina do

ABC e Doutor em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento Pela Universidade

Federal de Pernambuco. Membro do Grupo Estudos sobre Saúde Mental do Idoso da

Universidade de Pernambuco, vinculado ao CNPq.

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Palavras-chave: Empatia; Idosos; Saúde Mental.

Abstract: Empathy is the ability to understand, share, and take care the

feelings of others. It is a construct that works directly at the cognitive,

affective and behavioral levels, and influences in a particular way each

phase of the development. In elderly people, empathy is responsible for

maintaining networks of support and preservation of a healthy

cognition. Cognitive deficits and isolation are the main responsible for

low levels of empathy in the elderly people and is the first step for the

development of diseases such as depression and dementias. Some

alternatives such as the development of social skills and

neuropsychological rehabilitation can give the elderly the autonomy

necessary to resume part of activities previously performed by them,

and thereby strengthen empathy. The presence of support networks is

the main ally in the preservation of empathy in the third age. We

conclude that empathy is very important in preserving the cognitive

reserve and the well-being of the older, and his low levels the entrance

door for organic and psychological diseases.

Keywords: Elderly people; Empathy; Mental Health.

1. Introdução

Empatia pode ser definida como a capacidade de compreender,

compartilhar e levar em consideração os sentimentos dos outros.

Revelando-se em situações conflituosas, quando a necessidade de

compreender suprime a de externar a própria opinião e fazer

julgamentos (FALCONE et al., 2008; FALCONE, 1999).

Krznaric (2015) afirma acertadamente que a empatia não é o

mesmo que caridade. A caridade exige sacrifício pessoal, já a empatia é

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inata. Apesar de a empatia ter potencial de ser desenvolvida, ela não é

necessariamente voluntária.

Vygostky, psicólogo e fundador da Psicologia Sócio-Histórica,

relaciona a empatia com quando entramos em contato e nos envolvemos

com a estética da arte. O leitor, por exemplo, ao deparar-se com uma

obra literária, pode envolver-se com um personagem, se projetando a

ponto compreender sua trama (BROLEZZI, 2014). Em seu dicionário

filosófico, Nicola Abbagnano define empatia como a “União ou Fusão

emotiva com outros seres ou objetos (considerados animados)” (1998,

p. 334). O que corrobora com o pensamento do psicólogo bielorrusso.

Seguindo com a ideia de projeção, Theodor Lipps, de quem

Vygostky buscou inspiração e mais tarde criticou, situações onde

houvesse manifestações exteriores causariam no expectador

sentimentos comuns a quem vivencia tal situação, daí ocorrendo o

processo de empatia. (ABBAGNANO, 1998). Lipps sofreu influências

de Freud, chegando a manter uma relação de troca de correspondências,

de onde tirou o conceito de projeção e estudou o inconsciente, mas

rompeu com este após divergências em seus modos de pensar

(MONTAG et al., 2008).

Já no campo das Neurociências, a empatia começa a ser

discutida e estudada na década de 1990. Com a descoberta dos

neurônios-espelho localizados no córtex pré-motor, que possui ligações

com o sistema límbico, foi possível realizar investigações que

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mostraram o espelhamento dos sentimentos de terceiros. Esse processo

seria a base do comportamento empático, onde o sofrimento dos outros

é reconhecido e respondido cognitivamente e afetivamente de forma

imediata. Essas investigações tiveram êxito após a realização de

ressonâncias magnéticas para fins de constatação (TASSINARI e

DURANGE, 2014).

A partir da descoberta e comprovação da empatia como um

processo também neurofisiológico, foi aberto um campo fértil de

pesquisas para a estimulação desta em diversas populações, a fim de

facilitar o processo de aprendizagem, qualificar relações interpessoais e

redes de apoio, e desenvolvimento de outros construtos positivos, como

resiliência, tolerância e esperança (BROLEZZI, 2014; ALVARENGA

et al., 2011; CAMARGOS et al., 2007; NERI e YASSUDA, 2004;

YUNES, 2003; DEL PRETTE e DEL PRETTE, 1999).

2. A Empatia nas Fases do Desenvolvimento

A empatia está presente em todas as fases da vida. A literatura

nos mostra indícios de comportamentos empáticos desde os primeiros

meses de vida. O estudo de Hatzinikolaou (2005) com 90 duplas mãe-

bebê mostrou, através da análise de filmagens que, em bebês com idade

entre oito e dezoito semanas, mudanças de expressão facial e no tom de

voz, por exemplo, provocavam reações congruentes a essas.

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Na infância, estudos como o de Motta et al. (2006), mostram a

importância de práticas educativas focadas na sensibilidade, afetividade

e responsividade para o desenvolvimento da empatia, que em

contraposição às praticas punitivas e competitivas, propiciam

comportamentos adaptativos. A revisão realizada por Justo et al. (2014)

aponta que o estímulo à expressão emocional e a tomada de perspectiva

por parte dos pais auxilia no desenvolvimento da empatia dos filhos.

Seja por parte dos pais, dos educadores, ou de alguma outra referência

para a criança, o encorajamento à empatia proporciona um

desenvolvimento saudável para ela. “O desenvolvimento de empatia e

consideração pelo outro se mostra como um fator de proteção contra

problemas de comportamento.” (JUSTO ET AL. 2014, p.511).

Já na adolescência, a empatia está intimamente ligada ao

desenvolvimento moral e formação política do indivíduo (FERRONHA

et al, 2014). Nesse período, altos índices de empatia são responsáveis

pelo enfrentamento do bullying, respeito às diferenças e o respeito às

normas (GALVÃO, 2010; WARDEN e MACKINNON, 2003).

Formiga (2013) revelou em seu estudo que a empatia pode auxiliar

jovens na percepção dos diversos contextos e em suas reações diante

deles.

Para o adulto, um dos desdobramentos da empatia se da

justamente no encorajamento desta nos seus filhos, alunos e mais

jovens no geral, já que, como foi mencionado acima, dependem de um

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exemplo para o seu desenvolvimento. Muitos estudos recentes

envolvendo adultos e empatia tem por base a relação entre o

profissional de saúde e seu paciente (TEREZAM et al., 2017;

EVANGELISTA et al., 2016; ZANELLA et al., 2016). Reforçando a

empatia como aliada de uma prática profissional ética.

3. Empatia em Idosos

Antes relacionada como uma fase exclusivamente ligada à

perdas nos níveis neurológico, físico, cognitivo e afetivo (NERI e

YASSUDA, 2004; NERI e FREIRE, 2000), o modelo life-span,

proposto por Baltes (1997), quebrou com essa lógica e mudou tal visão,

compreendendo que em todas as fases da vida a aprendizagem é

possível. Essa mudança de visão se deu principalmente após a

descoberta da plasticidade neuronal. Novas conexões neuronais tornam

possível o processo ativo de aprendizagem (HARTMANN JUNIOR et

al, 2017; HARTMANN JUNIOR e MEDEIROS, 2015). Barato et al.

(2008, p.2) definem a plasticidade neuronal, ou neuroplasticidade, como

“(...) a capacidade de adaptação da estrutura e função do sistema

nervoso em decorrência dos padrões de experiência”.

Apesar disso, o declínio cognitivo de nível leve ocorre com

frequência na população idosa, o que não significa necessariamente a

invalidez dessa população. Doenças crônicas, acidentes, falta de suporte

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social e institucionalização são agravantes desse mesmo declínio,

aumentando sua intensidade (CHARLES e CARTENSEN, 2010;

GAUTHIER et al., 2006).

Déficits cognitivos de qualquer magnitude comprometem o

reconhecimento do afeto, e com isso a capacidade de percepção de

expressões faciais, resposta afetiva e negociação de interesses e

necessidades pessoais, imprescindíveis à empatia (CALLAGHAN et al.,

2016; ENGEL et al., 2016; PINHO et al., 2016; CARNEIRO e

FALCONE, 2013; DEL PRETTE e DEL PRETTE, 2006).

A percepção da expressão facial, quando prejudicada,

impossibilita o idoso de compreender o que outro está sentindo. Isso

desencadeia comportamentos muitas vezes tidos como ariscos, o que

pode comprometer os laços afetivos. O isolamento é muitas vezes o

comportamento adotado por esses idosos, o que contribui para um

agravo ainda maior de quadros demenciais, por exemplo. Esse

isolamento é ainda mais preocupante em idosos institucionalizados,

onde muitas vezes não recebem visita dos familiares, ou não os têm

mais (SILVA, 2013; RODRIGUES e SILVA, 2013; CARNEIRO et al.,

2007). A incapacidade de resposta afetiva decorre justamente da

inabilidade em identificar o sentimento de terceiros.

O isolamento acima mencionado além de prejudicar a vida

social e afetiva na senescência, afeta diretamente a cognição. A falta de

estímulos facilita o agravamento de déficits cognitivos, acelerando o

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processo demencial (RODRIGUES e MADEIRA, 2019). Quadros

depressivos também podem se estabelecer pela não manutenção das

redes de apoio social (ALVARENGA et al., 2011; RODRIGUES,

2008).

A negociação de interesses e necessidades pessoais é importante

para o bem-estar de grande parte da população idosa. Em alguns casos,

pessoas mais velhas com algum impedimento físico ou cognitivo

dependem de seus familiares e cuidadores (DEL PRETTE e DEL

PRETTE, 2006). A incapacidade de leitura facial impossibilita essa

negociação, fazendo com que o idoso deixe de fazê-la para evitar

possíveis atritos, podendo descarrilhar para o desamparo aprendido

(MIGUEL et al., 2007). A adoção de comportamentos de desamparo é

ocasionada por um ambiente não-responsivo, sendo agravado também

pela desatenção e falta de estímulos das redes de apoio (MIGUEL et al.,

2007.

Em contrapartida, o apoio exagerado, tomando do idoso um

nível aceitável de autonomia, causa dependência. É importante que o

idoso tenha autonomia, pois ela será de suma importância para essa

negociação, que também abarca a realização de atividades da vida

diária, desde tomar banho à pagar contas (ALVARENGA et al., 2011;

MIGUEL et al., 2007; CAMARGOS et al., 2007; THOBER et al.,

2005).

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Pelo fato de englobar componentes afetivos, cognitivos e

comportamentais, a empatia pode ser trabalhada através da teoria das

Habilidades Sociais (DEL PRETTE e DEL PRETTE, 1999), que

abrange instrumentos e programas de treinamento que são aplicáveis

também à população idosa (BRAZ e DEL PRETTE, 2011).

4. Empatia e Habilidades Sociais

A teoria das Habilidades Sociais estuda as classes de

comportamentos sociais reproduzidos por um indivíduo, através da

recepção e decodificação de um estímulo qualquer, e sua resposta

comportamental (PRETTE e DEL PRETTE, 2001). O desenvolvimento

dessas habilidades pode ser natural ou através de treinamento, com a

primeira dependendo de uma série de variáveis, tendo sua fase crítica na

infância e adolescência (DEL PRETTE e DEL PRETTE, 2005; DEL

PRETTE e DEL PRETTE, 2006). Os treinamentos auxiliam no

processo de ajustamento, proporcionando uma melhor adaptação ao

meio e um maior repertório de respostas assertivas (DEL PRETTE e

DEL PRETTE, 2001).

A habilidade empática, como é tratada nesse campo, é

complementar a assertividade, que é a principal responsável pela

competência social e por manter o equilíbrio nas relações interpessoais

(BRAZ e DEL PRETTE, 2011). Os benefícios dessa habilidade para a

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pessoa idosa se dão justamente pelo fato de ser ela a responsável pela

compreensão de expressão afetiva, resposta afetiva e negociação de

interesses e necessidades pessoais, acima discutidos. Diante disso,

deve-se atentar a importância do treinamento dessa habilidade

principalmente em idosos que possuem uma ou mais dessas

características prejudicadas, ou prevenir tal perda.

O treinamento das habilidades sociais, destacando a habilidade

empática, engloba treinos de manejo da raiva, assertividade, passividade

e afetividade seguindo um modelo já testado e validado (DEL PRETTE

e DEL PRETTE, 2001). Entretanto, é importante que não apenas os

dados nomotéticos sejam levados em consideração no planejamento das

sessões de treino, mas também as especificidades de seus participantes,

considerando variáveis como o ambiente o qual eles vivem e como

funciona o apoio social recebido e percebido.

Qualquer programa de treinamento envolvendo habilidades

sociais deve se ser realizado em um segundo momento. A priori, os

participantes devem ser submetidos à entrevistas, escalas (que podem

ser de auto-registro) e observação (CABALLO, 2008). Dentre os

instrumentos existentes para esse fim, o Inventário de Habilidades

Sociais (IHS) é tido o como o principal e mais completo (DEL PRETTE

e DEL PRETTE, 2001).

O IHS é um instrumento completo e aplicável em idosos. O

inventário é composto por 38 itens subdivididos em cinco subescalas, a

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saber: Enfrentamento com risco (11 itens); Auto-afirmação na

expressão de afeto positivo (7 itens); Conversação e desenvoltura social

(7 itens); Auto-exposição a desconhecidos ou a situações novas (4

itens); e Autocontrole da agressividade a situações aversivas (3 itens)

(DEL PRETTE e DEL PRETTE, 2001). Por ser multifacetada, a

empatia pode ser identificada em todas as subescalas. O trabalho de

Carneiro e Falcone (2013) utilizaram o instrumento antes e duas vezes

após um programa de treinamento em habilidades sociais em idosos

para identificar relação entre empatia e satisfação coma vida, o que

mostra a empatia como um construto presente em todas as subescalas.

Além disso, reforçou a confiabilidade desse tipo de treinamento, já que

os resultados pós-treinamento, que ocorreram uma semana e um mês

após o encerramento do mesmo, mostrou que os resultados se

mantiveram.

Os treinamentos envolvem a realização de roleplays, exibição de

vídeos e discussão, psicoeducação e vivências de grupo, por exemplo

(CARNEIRO e FALCONE, 2013; DEL PRETTE e DEL PRETTE,

2011). Apesar de o reforçamento ocorrer em sua maior parte no nível

comportamental, os outros níveis são atingidos. A separação realizada

entre os níveis se dá mais por uma questão metodológica, pois treinos

comportamentais também tem capacidade geradora de insights (BECK,

2013; KNAPP, 2004).

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5. Reabilitação Neuropsicológica

Hartmann Júnior e Medeiros (2015) discorrem sobre a

reabilitação neuropsicológica como uma alternativa para a realização de

novas ligações neuronais. Esse tipo de intervenção abarca exames de

imagem, planejamento de atividades diárias, treinos cognitivos e

treinamento familiar para que haja constante estimulação do idoso. A

psicoterapia é vista como um ponto importante, auxiliando na

efetividade do tratamento (MALLOY-DINIZ et al., 2013).

A constante estimulação de áreas específicas do cérebro tem

efeito preventivo para déficits cognitivos leves e quadros demenciais,

além de ser um importante aliado para idosos que já apresentam essa

sintomatologia, com o objetivo de restaurar em algum nível sua

capacidade funcional. Como foi discutido anteriormente, a empatia é

diretamente influenciada pela cognição. Logo, uma cognição saudável

dá ao idoso competência para desenvolver-se também nos níveis afetivo

e comportamental (MALLOY-DINIZ et al., 2013). Quando o programa

de reabilitação neuropsicológica apresenta resultados positivos, o

paciente tende a reestabelecer laços e recobra a motivação para realizar

antigas e novas atividades, situações onde a empatia se manifesta.

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6. Considerações

A empatia como processo multifacetado na terceira idade se

revela ponto importante para a preservação de uma cognição saudável,

das redes de apoio social e preventora de doenças. Ainda que programas

como treinamentos de habilidades sociais e a reabilitação

neuropsicológica sejam aliados, o apoio de familiares, amigos e

cuidadores ainda é a principal forma de se desenvolver a empatia. É na

troca que a empatia se manifesta e apresenta seus benefícios.

Seguindo a linha de raciocínio do modelo life-span e a

neuroplasticidade, o idoso passa a ser visto como um aprendiz em

potencial, com plenas capacidades de aprender e aprimorar habilidades.

Não ver o idoso como um projeto acabado é o primeiro passo para

descobrir sua potencialidade e encorajar o crescimento cognitivo desse.

Uma cognição saudável desencadeia ganhos afetivos e

comportamentais, trazendo de volta uma vida social antes precária. A

empatia evita o isolamento, comportamento que não pode mais ser visto

como um movimento natural para a idade. O idoso deve ser parte ativa

nas atividades e decisões da família e, para isso, a empatia também deve

partir da família. Empatia gera empatia, que é gatilho para autonomia,

saúde mental e vontade de viver. Vida ativa é uma palavra cada vez

mais presente na literatura em artigos que tratam de envelhecimento, e a

continuidade desse movimento é importante para que cada vez mais a

terceira idade seja vista como uma fase de novas descobertas, onde

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experiências passadas não sirvam apenas para contar histórias, mas

como base para novas vivências.

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