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POLÍTICAS INDUSTRIAIS E A EVOLUÇÃO DO SISTEMA BRASILEIRO DE DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO

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POLÍTICAS INDUSTRIAIS

E A EVOLUÇÃO DO

SISTEMA BRASILEIRO DE

DESENVOLVIMENTO

CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO

W.P. LONGO

08 MAIO 2000

1.0 – DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO A PARTIR DA DÉCADA DE 40

Nos cinqüenta anos que se seguiram ao término da 2ª Guerra Mundial, o Brasil sofreu profundas transformações. Sua população cresceu de 41 milhões de habitantes em 1940 para 157 milhões em 1996. O País assistiu a um processo de urbanização intensa, inicialmente na região costeira. São Paulo, sua maior cidade, tem hoje cerca de 11 milhões de habitantes. Com a transferência da capital federal do Rio de Janeiro para Brasília, localizada mais ao centro do País, começou um movimento intenso de ocupação dos grandes vazios do oeste e do norte, principalmente nas bacias dos afluentes da margem direita do rio Amazonas. Apesar da expansão agrícola para o norte e oeste, a população do campo, proporcionalmente, decresceu bastante, devido às modernas tecnologias poupadoras de mão-de-obra empregadas, e à atração exercida pelas cidades. A população urbana continua crescendo, tendo chegado a 78 % em 1996 (1) .

A partir da segunda metade da década de 50, o Brasil fez um extraordinário esforço para dotar-se de infra-estrutura de transportes, comunicação, energia, educação, etc., de tal maneira que pudesse atrair investimentos estrangeiros e abrigar uma indústria moderna. Tendo em vista a extensão do País com seus 8,5 milhões de quilômetros quadrados, pode-se avaliar, por alguns dados contidos na Tabela 1.1, o gigantesco salto dado . Mencione-se ainda que portos e aeroportos modernos foram construídos; o País, foi dotado de satélites e passou a usufruir de telefonia e televisão cobrindo todo território.

Paralelamente ao crescimento e melhoria da infra-estrutura, o Brasil sem perder as suas características de grande país agrícola, produtor de excedentes exportáveis, conduziu com sucesso uma política de industrialização. A chave dessa política bem sucedida foi a extensa reserva de mercado praticada em favor das indústrias instaladas ou que se instalassem no Pais. Dessa maneira, conseguiu uma ampla substituição da importação de produtos manufaturados por produtos brasileiros.

Essa política, conduzida competentemente e sem concessões, principalmente nos anos 60 e 70, fez crescer um parque industrial completo e complexo, capaz de fabricar e exportar de alfinetes a aviões.

Sem suficiente capital privado nacional, a construção da infra-estrutura e a industrialização exigiram, além dos investimentos oriundos da pouca disponibilidade de poupança local, grandes empréstimos internacionais, atração de empresas estrangeiras e a presença do Estado no setor produtivo de bens e de serviços. Gigantescas empresas estatais, a maior parte delas monopolistas, foram criadas: PETROBRÁS (petróleo), ELETROBRÁS (energia elétrica), TELEBRÁS e EMBRATEL (comunicações), SIDERBRÁS (siderurgia), EMBRAER (aviões), PORTOBRÁS (portos), INFRAERO (aeroportos), VALE DO RIO DOCE (minérios), REDE FERROVIÁRIA FEDERAL (ferrovias), ECT (correio), NUCLEBRÁS (energia nuclear), IMBEL (armas), PETROQUISA (petroquímica).

Empresas estrangeiras , em geral multinacionais, investiram e dominaram setores dinâmicos da economia como as indústrias de automóveis (FORD, GM, FIAT, VOLKSWAGEN), caminhões (MERCEDES BENZ, GM, FORD, VOLKSWAGEN, VOLVO, SCANIA VABIS), eletrônica de entretenimento, equipamentos de telecomunicações, farmacêutica, informática, higiene e limpeza, bebidas, etc. A Tabela 1.2 permite verificar, já em 1994, a penetração da empresa estrangeira na indústria brasileira (2). Ao todo, em 1996, eram 9698 empresas estrangeiras no Brasil (3) .

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O Produto Interno Bruto brasileiro cresceu em média 7% ao ano no após-guerra, a taxas superiores a 10% entre 1967 e 1973, tendo atingido 14% neste último ano. O País passou a ser exportador de bens manufaturados, obtendo até 1994, consistentes superávites na sua balança de trocas com o exterior.

A década de 80, foi considerada perdida para o Brasil. A partir do segundo choque do petróleo, o Pais mergulhou numa crise econômica sem precedentes. Vários planos de estabilização econômica foram tentados sem sucesso, tendo a inflação alcançado a casa dos 80% ao mês em 1989.

Concomitantemente com a crise econômica, o País enfrentou contínuas crises políticas. Os militares, que governavam desde 1964, deixaram o poder em 1984, retornando o País ao regime democrático. O presidente civil eleito na ocasião, faleceu antes de tomar posse, tendo assumido o seu vice. O presidente seguinte, eleito em 1989, promoveu, sem qualquer estratégia que protegesse os interesses nacionais, o ingresso do País na globalização, abrindo o seu mercado á invasão estrangeira sem contrapartida e/ou salvaguardas. Tudo em nome de uma pretensa modernização a qualquer custo.Tal presidente foi destituído pelo Congresso Nacional em 1992, assumindo o governo o vice-presidente que governou até dezembro de 1994.

O atual governo da República empossado em janeiro de 1995, e reeleito para um segundo mandato iniciado em 1999, vem conduzindo com sucesso um plano de estabilização econômica, tendo, como conseqüência, caído a inflação anual, medida pelo IPC, de 1172,96% (1994) para –0,5% (1998) (4). Além disso, na sua ótica, o atual governo acredita que vem ajustando o Brasil à nova realidade mundial, ou seja, à globalização das economias. Foram eliminadas barreiras alfandegárias e, consequentemente, eliminadas as reservas de mercado. Ao mesmo tempo, os monopólios estatais estão sendo abolidos e grande parte das empresas do governo estão sendo privatizadas. Em 1997, o Produto Interno Bruto atingiu 887 bilhões de reais, e as exportações 53 bilhões de dólares. Porem, desde 1995, as importações têm excedido as exportações , sendo de 8,5 bilhões de dólares o déficit verificado em 1997(1). Paralelamente, os índices de desemprego têm sido os maiores de toda a história do País, e o crescimento anual do PIB modesto ( entre 2 e 4% )

O Brasil vive atualmente um período de grandes transformações, com as suas empresas de produção de bens e de serviços sendo expostas à competição com as empresas estrangeiras dentro do seu próprio território.

Em conseqüência das mudanças, vem ocorrendo uma intensa, rápida e perigosa desnacionalização do setor produtivo. Segundo R. Gonçalves (5) , a participação das empresas estrangeiras no valor de produção aumentou de 10%, em 1995, para 15%, em1998, e cerca de 20%, em 1999!. Segundo o mesmo autor, o capital estrangeiro provoca, pelo menos, três problemas importantes: impacto sobre o balanço de pagamentos, que pode aumentar ainda mais a vulnerabilidade externa do País; mudança na correlação de forças políticas em detrimento dos interesses nacionais, e a relação custo-benefício do capital estrangeiro, que deve ser avaliada caso a caso.

Finalmente, o Brasil está fortemente empenhado na integração econômica com seus vizinhos Argentina, Uruguai e Paraguai, com os quais compõe o Mercado Comum do Cone Sul - MERCOSUL.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1- Anuário Estatístico do I.B.G.E.., Rio de Janeiro, 19982- “Investment in Brazil”, KPMG Peat Marwick, Brasil, 1994.3- “Empresas estrangeiras apostam no País”, Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 3 de janeiro

de 1996.4- “Moeda, estabilidade e crescimento”, Rumos, Ano 24, no. 169, Fevereiro, 2000, Rio de

Janeiro.

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5- GONÇALVES, R., “Africanização à vista?”, Rumos, Ano 24, no.169, Fevereiro 2000, Rio de Janeiro.

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Tabela 1.1 -Indicadores de progressoIndicadores 1940 1950 1960 1970 1980 1993 1996

Taxa de fecundidade Nº de filhos por mulher em

idade fértil6,10 6,20 6,30 5,80 4,30 - 2,32

Crescimento demográfico

Taxa geométrica

anual em % da população

total

2,30 2,35 3,04 2,89 2,48 - 1,38

Expectativa de vidaem anos 42,7 45,6 52,4 52,7 60,1 - 66,6

Renda per capita em US$ deflacionado

pelo IPC americano

- 938,5 1415,6 1925,2 3490,4 -*

3544,7

Mortalidade infantil em óbitos, por mil 144,7 118,1 117,0 87,9 69,1 - 40,5

Taxa de analfabetismo

em % da população com 7 a 14

anos

61,2 57,3 46,7 38,7 20,1 11,4 14,7**

Taxa de urbanização em % da população

total 31,2 36,2 37,1 47,0 70,5 78,3 78,3

Água encanada e tratada

em % total dos domicílios 13,0 15,5 24,1 31,0 52,0 75,0 83,3**

Luz elétrica em % total dos domicílios 4,0 12,6 16,5 46,0 66,0 90,0 93,3**

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Indicadores de progresso - continuação

Indicadores 1940 1950 1960 1970 1980 1993 1996

Casas com TV em % do total 0 - - 23,0 55,0 76,0 86,2Nº telefones para

cada 100 em % do total 4,7 5,2 8,2 13,2 28,5 33,9 -Participação da

mulher na força do trabalho

em % do total 18,9 14,6 17,9 20,8 31,3 39,6 39,1

Frota de veículosem milhões 111 0,201 0,503 1,796 8,156 - 27,5

Rodovias pavimentadas

em milhares de km 0 2,4 9,0 24,1 87,2 148,2 -

Exportações industriais

Participação dos produtos

industrializados na pauta de exportações

2,6 1,1 2,6 30,0 56,5 - 74,4*

Passageiros transportados

em milhões/km, ao

ano - 1,5 2,3 2,0 11,8 - 34,9*

Eleitorado Participação eleitorado na

população total - %

- 22,0 25,0 31,1 46,4 - 67,5***

Fonte: Revista Exame, nº10, 08/05/96 e Anuário Estatístico no Brasil, IBGE, 1998*1995 **1997 ***1998

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Tabela 1.2 - Participação relativa de companhias privadas estrangeiras e nacionais, e estatais, nas vendas das maiores firmas (em %)

Indústria Capital estrangeiro

Capital nacional privado

Setor público

Automotiva 94 6 -Produtos de limpeza 90 10 -Fármacos 77 23 -Computadores 67 32 1Plásticos e borracha 59 41 -Distribuição de petróleo 45 23 32Maquinaria 56 44 -Bebidas e cigarros 55 45 -Equip. de transporte 44 49 7Serviços de transporte 1 73 26Alimentos 37 63 -Eletrônica 33 67 -Química e petroquímica 11 23 66Celulose e papel 19 81 -Comércio atacado 19 81 -Supermercados 25 75 -Têxtil 10 90 -Mineração 6 31 63Aço 6 94 -Hotelaria 26 74 -Fertilizantes 9 91 -Fonte: Exame: Melhores e Maiores/1994

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2.0 – AS POLÍTICAS INDUSTRIAIS

A primeira experiência do País em planejamento industrial ocorreu durante a mobilização do setor por ocasião da Segunda Grande Guerra (1) . Além da mobilização para a produção bélica, para a qual contou com cooperação dos norte-americanos, o Brasil teve que enfrentar a escassez de petróleo, carvão, máquinas e outros produtos.

No início da década de 40, por iniciativa do governo, haviam sido instaladas duas grandes empresas estatais: a Cia. Siderúrgica Nacional e a Fábrica Nacional de Motores, para fabricação de aço e motores de combustão para caminhões, respectivamente.

Os planejamentos que se seguiram, privilegiaram investimentos na infra-estrutura (estradas, eletricidade, comunicações, etc.) que tornaram mais viável a industrialização.Para fazer frente ao desequilíbrio das contas externas, o governo instituiu rígido controle sobre as importações. O controle sobre as despesas em moedas estrangeiras acabou tendo grande relevância para o crescimento industrial pois tornou-se, na realidade, uma política de desenvolvimento cuja estratégia central era a substituição de importações. Ao mesmo tempo que se mantinha a taxa de câmbio sobrevalorizada, medidas foram progressivamente sendo tomadas para dificultar a importação de bens não essenciais e de produtos que tivessem similar nacional (2 ) .

A consolidação da estratégia de substituição de importações não só no Brasil, mas em quase toda a América Latina, deveu-se em grande parte ao pensamento estruturalista disseminado pela Comissão Econômica Para a América Latina - CEPAL. A idéia força era que novas formas de colonialismo estavam sendo praticadas, levando a uma divisão de riqueza e do trabalho, desfavorável aos países menos desenvolvidos. Por essa divisão os países menos desenvolvidos especializavam-se em matérias primas e alimentos, e importavam cada vez mais, dos países desenvolvidos, bens manufaturados com maior valor agregado. Essa situação era insustentável, uma vez que as imperfeições do mercado estavam levando ao progressivo decréscimo do valor dos bens primários e simultânea valorização dos manufaturados. Nos anos 50, essa realidade, na América Latina, foi comprovada e difundida por Raul Prebish, então diretor da CEPAL. Essa constatação fez com que vários países latino-americanos formulassem políticas industriais, cujas estratégias baseavam-se na substituição de importações (3)

O resultado de tal política no Brasil foi muito positivo. Entre 1945 e 1975, o crescimento industrial foi de 8,8% ao ano e o agrícola de 5,6%.

O governo brasileiro, entre 1956 - 1961, formulou um Plano de Metas prevendo grandes investimentos na infra-estrutura, indústria pesada, alimentos e educação, contando com empréstimos e investimentos diretos do exterior. Para tanto, criou condições bastante favoráveis, tais como taxas de conversão elevadas para empréstimos e investimentos, novas regras de remessa de lucros para o exterior e tarifas de importação elevadas .

O plano foi bem sucedido, tanto na melhoria da infra-estrutura quanto na industrialização. Entre 1955 até 1961, o Produto Nacional Bruto - PNB cresceu em média 9,4% por ano e o produto industrial 12%, também em média (3) .

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Em 1964, os militares assumiram o poder, nele permanecendo até 1984. Durante esse período foram criados e operacionalizados órgãos coordenadores das políticas econômica e industrial, respectivamente, o Conselho de Desenvolvimento Econômico - CDE (composto por todos os ministros da área econômica e presidido pelo Presidente da República) e o Conselho de Desenvolvimento Industrial - CDI (englobando os Grupos Executivos para cada setor industrial). Entre 1964 e 1968, o novo governo formulou o Plano de Ação Econômica do Governo - PAEG, através do qual empenhou-se em estabilizar a economia e retomar o crescimento. A taxa da inflação que havia chegado a 100% ao ano em 1964, caiu para 20% em 1969. O crescimento do PNB que caíra para 0,6% em 1963, recuperou-se atingindo 9,8% em 1968 (4 ) .

Nos anos 70, três planos sucessivos de desenvolvimento (70-71, 72-74 e 75-79) nortearam a continuidade da industrialização. Nessa década, tratou-se de reduzir a dependência nacional em bens intermediários como petroquímicos e fertilizantes, bens de capital, celulose e papel e metais não-ferrosos. Ao lado da estratégia de substituição de importações, colocou-se ênfase nas exportações, através da criação de vários incentivos fiscais e financeiros. Além de aumentar suas exportações, o Brasil conseguiu mudar o perfil das suas vendas. Entre 1967 e 1987, a percentagem de produtos manufaturados nas suas exportações cresceu de 7,4% para 50%.

Houve uma tentativa de liberalizar seletivamente as importações, que foi abandonada face à crise do petróleo em 1973. Esta crise afetou seriamente o Brasil que na ocasião era um grande importador de óleo.

O governo empossado em 1974 formulou um plano de longo prazo, visando uma mudança estrutural na economia, através da diminuição das vulnerabilidades com relação a certos insumos e através do desenvolvimento de novas vantagens competitivas (3) . O Plano Nacional de Desenvolvimento - PND formulado previa uma forte presença intervencionista do Estado na economia. Foram reforçadas as barreiras não alfandegárias às importações, elevadas as tarifas das importações e aumentados os subsídios para as exportações e investimentos. Porém, os pesados investimentos realizados foram feitos utilizando fundos europeus que na ocasião eram baratos. Como conseqüência, em cinco anos, a dívida externa atingiu a cifra de US$ 50 bilhões.

Na realidade, o Plano posto em marcha era otimista com relação à economia mundial, apesar da crise do petróleo. Isto deveu-se à hipótese dominante de que os altos custos pagos pelo desenvolvimento seriam ressarcidos, no futuro , se o País se industrializasse e, em conseqüência, utilizasse para fins econômicos a sua enorme riqueza natural.

Nos anos 70, cresceu a preocupação com a capacitação tecnológica, tendo em vista a evidente dependência externa desse fator estratégico. Cristalizou-se a visão de que o desenvolvimento industrial estaria incompleto sem o domínio tecnológico dos bens, serviços e meios de produção utilizados.

Como conseqüência, a implantação de um sistema completo de desenvolvimento científico e tecnológico já que vinha sendo perseguido pelos governos militares desde 1964, foi acelerado. Nos anos 70-80, a questão tecnologia passou a fazer parte das estratégias formuladas pelas políticas industriais.

No início dos anos 80, colhido pela segunda crise do petróleo, pelo crescimento das taxas de juros, o Brasil entrou em crise da qual somente agora, parece recuperar-se. As restrições às importações foram aumentadas, mas os superávites com as exportações foram totalmente consumidas com o serviço da dívida que foi mantida no nível de US$ 115 bilhões. Por outro turno, a inflação anual atingiu quatro dígitos!

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Como conseqüência, entre 1980 e 1990, foram feitos oito planos de estabilização econômica, quinze políticas salariais, dezoito mudanças nas regras referentes ao câmbio, cinqüenta e quatro nas regras de controle de preços, vinte e uma propostas de negociação da dívida externa, quatro mudanças de moeda, dezenove decretos de cortes de despesas públicas, onze diferentes índices para cálculo da desvalorização da moeda, e nomeados onze Ministros da Fazenda!

A crise afetou o setor produtivo de tal maneira que, entre 1981 e 1990, a indústria manufatureira decresceu l,2%. Os investimentos públicos caíram 50% no mesmo período.

Em maio de 1988, quase ao final do mandato do governo empossado em 1985, foram publicados três decretos que, pretensamente, instituíam a chamada Nova Política Industrial - NPI. Sinteticamente, formulava-se “uma política avançada na escolha de programas setoriais prioritários, tímida no apoio à inovação tecnológica, ousada na liberação das importações, corajosa na desburocratização das exportações e incompleta nos instrumentos de implantação”(5). Em agosto do mesmo ano, foram criadas Zonas de Processamento para Exportação gozando de todas as isenções de tributos normalmente conferidas a tais regiões nos outros países.

A NPI não teve conseqüências relevantes, tendo em vista que, em 1990, ocorreu nova mudança governamental. No entanto, ela sinalizou o fim da reserva de mercado utilizada indiscriminadamente como estratégia de política industrial e a disposição do Brasil em se inserir na nova realidade mundial: a previsível queda das barreiras ao comércio de bens e de serviços e conseqüente globalização da produção e das economias, já em marcha.

O novo governo (1990-94) reformulou as políticas econômica e industrial. Dentre as medidas previstas destacam-se:

- privatização da maioria das empresas estatais;- eliminadas, para a maioria dos setores, as barreiras que protegiam as indústrias

domésticas;- maior liberdade para as multinacionais remeterem lucros e royalties para as

matrizes;- liberdade para as empresas instalarem-se sem necessidade de obter permissão

do Conselho de Desenvolvimento Industrial - CDI; - deixaram de ser exigidos percentuais de nacionalização de bens produzidos

localmente;- barreiras à transferência de tecnologia foram revogadas;

- proposta nova lei de patentes incorporando itens constantes do Acordo TRIPS (Trade Related Aspects of Intelectual Property Rights, da Rodada Uruguai do GATT).

Adicionalmente, foi retirada da Constituição Federal o artigo que fazia distinção entre empresa nacional e empresa estrangeira instalada no Brasil.

Para estimular o desenvolvimento industrial nessa nova atmosfera de exposição das empresas locais à competição nos mercados interno e externo, o governo lançou, ainda em 1990, a Política Industrial e de Comércio Exterior - PICE. As estratégias fundamentais da Política eram a reestruturação da indústria brasileira no sentido de melhor desempenho em inovação, qualidade e produtividade e o aumento das exportações. Para impulsionar a reestruturação foram criados dois programas, a saber:

- Programa de Apoio à Capacitação Tecnológica da Indústria - PACTI, que compreendia incentivos fiscais para o desenvolvimento tecnológico da indústria, e apoio direto às empresas através de financiamentos (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES, Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP, Banco do Brasil, etc.);

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- Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade - PBQP, dotado de mecanismos de apoios desde financeiros até gerenciais visando a introdução nas empresas dos métodos modernos de gestão da qualidade. O resultado do PBQP tem sido surpreendente, pois até o final de 1995, cerca de mil empresas já haviam sido certificadas segundo os padrões da ISO 9000. O atual governo, empossado em 1995 e reeleito em 1999, deu continuidade ao PICE, transformando-o em Política Industrial Tecnológica e de Comércio Exterior - PITCE. Foram estabelecidas metas indicativas para serem atingidas, e formuladas diretrizes para os ministérios. A partir de 1996, as ações do Governo passaram a ser programadas através de planos plurianuais de ações. O primeiro Plano Plurianual de Ação-PPA cobriu o período 1990-99 e o segundo detalha as ações a serem realizadas de 2000 a 2003. As ações previstas para o setor de C&T no segundo PPA, assim como a evolução (e involução) dos incentivos fiscais para P&D, são expostos no Capitulo 3.0.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1- IANNI, O., “Estado e planejamento econômico no Brasil”, Zahar Editores, Rio de Janeiro, 1971.

2- NIANNI, S.B., em “A ordem do progresso”, Editora Campos, Rio de Janeiro, 1992.3- TIGRE, P.B., “Industrial policies in a changing world: brazilian transition to the new

paradigm”, Textos Para Discussão”nº 302, Instituto de Economia Industrial, UFRJ, Rio de Janeiro, 1993.

4- RESENDE, A.L., em “A ordem do progresso”, Editora Campus, Rio de Janeiro, 1992.5- MARCOVITCH, J., “Política Industrial e Tecnológica no Brasil: uma avaliação

preliminar”, Pensamiento Iberoamericano, nº 17, p.91 a 117, 1990.

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3.0 - A EVOLUÇÃO DE SISTEMAS DE C&T. O CASO BRASILEIRO.A postura adotada pelo governo para estruturar o seu Sistema Nacional de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico - SNDCT, pode dar origem a três tipos de solução quanto à centralização decisória (1) :

centralizado tanto na organização quanto na tomada de decisão (Ex State Comitee for Science and Technology, da antiga União Soviética).

descentralizado, com pouca interveniência do governo (Ex: Secretaria de

Aconselhamento Científico junto ao Presidente da República, como nos Estados Unidos).

misto, onde ao lado da estrutura governamental centralizada, convivem setores parcial ou totalmente autônomos (Ex: Alemanha).

A observação da evolução, ao longo do tempo, dos sistemas nacionais de ciência e tecnologia permite, didaticamente visualizar quatro estágios, a saber:

1º - Nucleação aleatória

São formados recursos humanos, principalmente para as atividades relacionadas com a produção. Pesquisadores são formados, geralmente no exterior e por iniciativa própria. Órgãos de pesquisa e de serviços técnicos e científicos são criados pelo governo para atender emergências conjunturais (saúde, saneamento, defesa, etc.). Não existem políticas e estratégias.

2º - Nucleação programada

Deliberadamente são criados um a um os componentes necessários à formação do sistema, atendendo à uma política governamental para C&T. A estratégia utilizada neste estágio é simplesmente povoar o sistema, mediante a formação de recursos humanos, implantação da infra-estrutura física (estatal e privada), criação de instituições de fomento e de fundos públicos para financiar pesquisas, organização dos pesquisadores em associações científicas, criação de revistas, etc. Em outras palavras, os quatro setores(governo, educação, empresas e comunidade científica) são providos de órgãos e de meios de atuação.

3º - Crescimento e interação

O sistema já está delineado e funciona incipientemente. As políticas são aperfeiçoadas. Os componentes do sistema são fortalecidos, completados e expandidos. Incentivos creditícios, fiscais e de mercado são criados.

Nos estágios de nucleação as interações entre os atores dos diversos setores são raras, uma vez que estes comportam-se como “ilhas” isoladas, preocupados com seus problemas internos e de afirmação. Neste estágio, com o crescimento, começam a ocorrer fortes interações entre os atores nacionais (governo, empresas, sistema educacional e comunidade) e destes com o exterior. Então, além da estratégia voltada para o crescimento, são acionadas estratégias para ordenar as interações, multiplicá-las, dirimir os conflitos e evitar as superposições, para aumentar o fluxo de informações e para estimular a transferência de tecnologias endógenas e exógenas para o setor produtivo.

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4º - Amadurecimento

Neste estágio o sistema consolida-se: geração, absorção e transferência ocorrem naturalmente. A formulação de políticas e estratégias de C&T torna-se corriqueira e coerente com as políticas industrial, agrícola, relações exteriores, etc. . A demanda nacional por tecnologia e serviços correlatos passa a ser crescentemente atendida por soluções e entidades nacionais, havendo inclusive exportação das mesmas. Intensifica-se o relacionamento internacional na área. Estratégias são formuladas para o aperfeiçoamento contínuo do sistema.

No caso do Brasil, o primeiro estágio estendeu-se até o final da Segunda Grande Guerra. As instituições criadas anteriormente ao conflito mencionado, resultaram de respostas a desafios concretos enfrentados pelos governos, principalmente nas áreas de educação, da saúde e da agricultura.

O Anexo I, apresenta em ordem cronológica, os acontecimentos que fizeram com que o Brasil fosse dotado de um sistema de C&T. Verifica-se que, quanto ao modelo ele evoluiu de descentralizado tendendo, hoje, para misto.

Pode-se afirmar que o processo das institucionalização de políticas e o desenvolvimento de um sistema articulado de C&T, começou a esboçar-se no pós-guerra, principalmente a partir dos anos 50, quando iniciou-se a nucleação programada com a criação do Conselho Nacional de Pesquisas - CNPq. Esta nucleação foi acelerada a partir de 1964 pelo governo militar então instaurado . De acordo com a doutrina de “segurança e desenvolvimento” formulada pelos militares, a capacitação nacional em ciência e em tecnologia era considerada fundamental. O objetivo estratégico era transformar o Brasil numa ”potência emergente” razoavelmente independente dos pólos de poder existentes a nível mundial.

O primeiro instrumento financeiro de apoio ao desenvolvimento de ciência e tecnologia, foi o Fundo de Desenvolvimento Tecnológico - FUNTEC, criado em 1964 no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico - BNDE. Este Fundo teve um papel relevante nos anos 60, perdendo paulatinamente importância até a sua extinção em 1975.

Ainda no BNDE, em 1965, foi criado o Fundo de Financiamento de Estudos e Projetos e Programas, de natureza contábil, dirigido por uma Junta Coordenadora presidida pelo Ministro de Planejamento. Sua finalidade era prover recursos para financiar a elaboração de programas e propostas de investimento.

Em 1967, foi criada a FINEP, empresa do setor público, que sucedeu ao Fundo assumindo seus direitos e obrigações, devendo ainda avaliar a viabilidade de projetos de investimentos para o Ministério de Planejamento (2). Suas atividades financeiras limitavam-se à linha de Apoio do Usuário de Serviços de Consultoria - AUSC.

Em 1971, por determinação governamental, a FINEP tornou-se Secretaria Executiva do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - FNDCT, que havia sido criado em 1969. A política de emprego de recursos do Fundo era orientada para implementar o Plano Básico de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - PBDCT, que detalhava o Plano Nacional de Desenvolvimento - PND, na área de ciência e tecnologia. Ao assumir tal responsabilidade, a Financiadora passou a ser a mais importante fonte de recursos para atividades de pesquisa e desenvolvimento do País.

Em 1972, foi criado o Programa Apoio à Consultoria Nacional - ACN, em complementação ao programa de Apoio ao Usuário dos Serviços de Consultoria - AUSC, constituindo-se ambos, na ocasião, nos principais mecanismos de apoio às atividades de pré-inversão.

Em 1973, a FINEP deu início ao Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Empresa Nacional - ADTEN, cujo regulamento foi aprovado em 1976, estabelecendo seus objetivos e formas de alocação de recursos.

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Em 1975, visando impulsionar a substituição das importações, o Governo Federal criou o Núcleos de Articulação com a Indústria - NAI, em cada empresa estatal compradora de bens de capital, e de uma Comissão Coordenadora dos Núcleos de Articulação com a Indústria - CCNAI. O objetivo era promover, na compra de equipamentos, a preferência por aqueles de desenvolvimento e fabricação nacional.

Paralelamente, o CCNAI, além de coordenar os NAI, deveria contribuir para a orientação dos novos investimentos destinados à produção de bens de capital, e das compras de tecnologia no exterior com financiamento interno. No ano seguinte, ou seja, em 1976, a FINEP foi nomeada para a função de Secretaria Executiva do CCNAI.

Em 1981 e 1988, a FINEP contou com recursos do Programa de Mobilização Energética (PME), atuando em conjunto com outras agências governamentais encarregadas de financiar estudos e projetos destinados à diminuição do consumo de insumos energéticos e à substituição de derivados de petróleo por combustíveis alternativos.

No início da década de 80, o Brasil deu início a uma longa negociação com o Banco Mundial, no sentido de obter um empréstimo setorial ( sector loan) para desenvolver a capacitação científica e tecnológica em áreas julgadas prioritárias e para melhorar a infra-estrutura de apoio às atividades relacionadas com as pesquisas. Aprovada a pretensão brasileira, foi criado o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico - PADCT, cujo funcionamento, na fase de teste, teve início em 1984. Por decisão do Governo, o PADCT foi concebido e operacionalizado de maneira cooperativa pelas suas principais agências de fomento científico e tecnológico: FINEP, CNPq, CAPES e a Secretaria de Tecnologia Industrial do Ministério de Indústria e Comércio (STI/MIC).

Em 1987, o Programa de Apoio à Consultoria Nacional foi incorporado ao Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Empresa Nacional - ADTEN, sem prejuízo do atendimento aos clientes.

Ainda em 1987, a FINEP passou a contar com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento - FND para aplicar no setor privado através do ADTEN.

A FINEP em dezembro de 1993, assinou convênio com o Banco Mundial para financiamento de projetos que impliquem na eliminação do gás CFC - Cloro Fluor Carbono, tendo criado o programa Proteção à Camada de Ozônio - PRÓ-OZON.

Finalmente, a partir de 1994, a Finep vem aplicando recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador - FAT, financiando programas que visem geração e manutenção de emprego e renda, nos segmentos da indústria, agroindústria e de serviços, especialmente aqueles relativos à educação para competitividade, reorganização empresarial em torno do sistema de qualidade total e ampliação das oportunidades de novos investimentos.

Pelo que foi relatado, verifica-se que a FINEP, inicialmente criada para apoiar as empresas de consultoria, tornou-se uma agência singular, uma vez que passou a atuar em todo o espectro do desenvolvimento científico e tecnológico. Ela passou a financiar o conjunto “empresas de consultoria/empresas industriais e de serviços/universidades e institutos”, na ampla gama de atividades prévias aos investimentos de natureza produtiva (3)

Esta circunstância permite à FINEP uma visão integrada do processo de desenvolvimento científico e tecnológico. Ela está aparelhada para apoiar uma inovação desde a fase especulativa e criativa até a sua inserção no mercado.

Nucleados os órgãos principais do sistema até 1974, seguiu-se o crescimento e início das interações mais intensas entre os diversos atores do cenário científico e tecnológico.

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Em 1985, com a criação do Ministério de Ciência e Tecnologia - MCT, esperava-se que tivesse início o amadurecimento do sistema. Porém, em conseqüência da crise econômica em que o Brasil havia mergulhado no início da década de 80, houve um retrocesso na evolução da área devido à perda de sua importância estratégica relativa e a aguda escassez de recursos que passou a ocorrer. Políticas industriais foram elaboradas e não cumpridas. Em 1989, o MCT foi extinto, aumentando a debilidade do sistema.

O MCT foi recriado em 1992 e o ministro então nomeado foi mantido no cargo até 1999, permitindo uma salutar continuidade nas políticas e estratégias então estabelecidas.

Em 1988, foi promulgada a nova Constituição da República Federativa do Brasil. Esta Constituição tem dois artigos que tratam da ciência e da tecnologia e que se encontram transcritos no Anexo II. Incentivados pelo parágrafo 5 do artigo 218, vários estados e municípios criaram órgãos de fomento ao desenvolvimento científico e tecnológico, sendo que alguns estados estruturaram sistemas próprios, coordenados por uma Secretaria de C&T (no estado, a secretaria corresponde ao ministério no governo federal). Estima-se que os estados investiram, em 1990, da ordem de US$ 672 milhões com desenvolvimento científico e tecnológico (4 ).

Em janeiro de 1996 foi criado o Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia - CCT, presidido pelo Presidente da República, secretariado pelo MCT e composto por ministros e por pessoas representativas do meio científico e tecnológico. O CCT deverá, doravante, formular a política nacional de C&T, integrando e coordenando as ações de todos os ministérios.

Os dados relativos aos investimentos em C&T, divulgados pelo Governo têm sido severamente criticados pela comunidade científica e tecnológica. É preciso reconhecer que uma das falhas do sistema nacional de C&T está na produção e confiabilidade dos indicadores de esforços, resultados e impactos.

Utilizando os dados oficiais disponíveis, as Tabelas 10.1 e 10.2 fornecem as estimativas governamentais cobrindo o período de 1990 a 1996. Nela verifica-se que o Brasil teria investido em C&T, no ano 1996, da ordem de US$ 8,4 bilhões, o que representaria 1,22% do PIB. Esse dispêndio, embora significativo para um país em desenvolvimento, é muito pequeno, considerando-se as potencialidades atuais do Brasil e os níveis de investimentos feitos pelos países desenvolvidos. A título de exemplo, as Figuras 3.1 e 3.2, fornecem os investimentos, apenas em P&D, efetuados pelos Estados Unidos e pelos países que compõem o G-7. Ainda para salientar o que representam os 8.4 bilhões dispendidos em C&T pelo Brasil, basta verificar, na Tabela 10.3 que fornece os investimentos em P&D de empresas norte-americanas em 1996, que a General Motors, sozinha, despendeu cerca de 8.9 bilhões de dólares.

Preocupante ainda é o fato de que o setor empresarial, mesmo considerando os dados oficiais tidos como imprecisos e elevados, teria contribuído com apenas 30% do total, incluindo, na ocasião, as empresas estatais. Compare-se este dado com aqueles fornecidos nas Figuras 3.1, 3.3 e 3.4, para os Estados Unidos e para outros países. Fica evidente que o setor produtivo brasileiro investe pouco em pesquisa e desenvolvimento, sendo muito dependente do fornecimento de tecnologias transferidas do exterior.

Recorde-se que, até o final do seu primeiro mandato, o governo atual pretendia elevar os investimentos em C&T para 1,5% do PIB, não só aumentando os recursos públicos, mas incentivando as empresas a realizarem mais atividades científicas e tecnológicas no País.

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Observa-se ainda, com preocupação, na década de 90, qual foi a participação do Governo Federal no investimento em C&T, através do MCT. A Tabela 3.1 e a Figura 3.5 mostram claramente o decréscimo do aporte de recursos para a metade do que havia sido disponibilizado em 1982. De 1997 até 2000, os investimentos mantiveram-se inferiores a 1,5 milhões de dólares por ano. A Figura 3.6 mostra o dramático esvaziamento do FNDCT, cujo desembolso em 1991 chegou a apenas 31 milhões de dólares, afetando seriamente a infra-estrutura do sistema e, principalmente, a pesquisa básica. Em 2000, o orçamento previsto para o FNDCT não é muito diferente daquele de 1991. A Figura 3.7 mostra a evolução dos orçamentos do FNDCT, do PADCT e do CNPq , para aplicações sem retorno financeiro, e o da empresa FINEP.

O Plano Plurianual - PPA 96/99 do Governo Federal previa investimentos em C&T, no período, entre US$ 14 e 15 bilhões, estimando um aporte de 37% pelas empresas e 6% pelos estados e municípios.Tais previsões não se materializaram.

Especificamente com relação aos incentivos para o desenvolvimento científico e tecnológico, a experiência brasileira é pouco edificante. Basicamente, o mecanismo mais utilizado tem sido o financiamento através empréstimos em condições favorecidas (carência, período de amortização, juros), sendo o ADTEN da FINEP o instrumento federal mais tradicional. Seguem-se os incentivos fiscais, cuja utilização é recente e vacilante, como ver-se-á a seguir.

A Nova Política Industrial de 1988, lançada em setembro, ocasião em que foram definidos os seus mecanismos operacionais e regulamentado o Decreto Lei 2433-88 de sua criação, teve vida efêmera, pois vigorou somente até 15 de março de 1990, quando o novo governo revogou todos Os incentivos existentes. Anteriormente, em Dezembro de 1989, os incentivos já haviam sido reduzidos para a metade ( Lei 7988-89 ). Durante o seu curto período de vigência, as empresas passaram a contar com incentivos específicos para atividades de P&D, a partir do encaminhamento e posterior aprovação de PDTI’s – Programas de Desenvolvimento Tecnológico e Industrial pela Secretaria Especial de Desenvolvimento Industrial ou então Ministério de Indústria e Comércio. Os incentivos vigentes eram os seguintes:

redução de 90% do imposto de importação de equipamentos para pesquisa; dedução em dobro, até o limite de 8% do imposto de renda devido, das despesas

correntes em P&D, limitadas a 10%, quando somadas a outros benefícios como vale-transporte, vale-alimentação e formação profissional;

depreciação acelerada de máquinas e equipamentos de produção nacional; amortização de bens intangíveis do ativo diferido, no ano de aquisição; redução de 50% do IOF devido e concessão de um crédito, em moeda corrente,

equivalente a metade do imposto de renda na fonte, incidente sobre os pagamentos de tecnologia feitos ao exterior;

aumento do limite de dedutibilidade de 5% para 10% da receita líquida, das despesas de royalties por patentes, marcas e por assistência técnica, pagas ao exterior.

Em 1993, através das Leis 8661-93 (indústria e agropecuária) e 8248-93 (informática), o governo reformulou os incentivos fiscais, colocando-os nos seguintes termos:

a - Para o desenvolvimento tecnológico industrial e agropecuário ( mediante a aprovação de PDTIs e de PDTAs ):

dedução das despesas com atividades de pesquisa e desenvolvimento tecnológico (próprias ou contratadas) , até o limite de 8% do Imposto de Renda a pagar;

isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) incidente sobre equipamentos e instrumentos destinados às atividades de P&D;

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depreciação acelerada de equipamentos utilizados em P&D; amortização acelerada de dispêndios relativos à aquisição de bens

intangíveis vinculados à atividades de P&D; e crédito de 50% do Imposto de Renda recolhido na fonte e redução de 50%

do I.O.F. sobre o pagamento de royalties ou assistências técnica ao exterior.

b - Para o desenvolvimento do setor de informática:

dedução do Imposto de Renda devido pelas empresas das despesas efetuadas com as atividades de C&T;

dedução do Imposto de Renda devido, dos desembolsos decorrentes de compra de ações novas de empresas brasileiras de capital nacional do setor de informática; e

isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), referentes aos produtos de informática fabricados no País.

Em 1997, o governo alterou a Lei 8661-93, através da Lei 9532-97, cortando os incentivos significativamente, conforme verifica-se adiante:

limite do abatimento do imposto de renda, alterado de 8% (isolado) para 4% (junto com o PAT – Programa de Amparo ao Trabalhador);

a isenção de IPI para equipamentos, reduzida de 50%; • a redução de 50% do IOF sobre o pagamento de royalties ou assistência técnica ao exterior diminuída para 25%;• redução do imposto de renda na fonte, pelo pagamento de royalties ou assistência técnica ao exterior, de forma escalonada, até 2013, de 50 para 30, 20 e 10%. A Tabela 3.4 mostra dados resultantes da utilização dos incentivos fiscais pelas empresas, no período 1993-97. Como conseqüência do corte sofrido pelos incentivos, foram protocolados, em 1999, apenas quatro programas de empresas e aprovados cinco, ou seja, o mecanismo perdeu a pouca atratividade que tinha. Com relação aos incentivos não fiscais aplicados em larga escala pelos paises desenvolvidos para estimular o desenvolvimento científico e tecnológico, a experiência brasileira é limitada. O mecanismo mais conhecido e utilizado no País é o empréstimo em condições especiais, como o ADTEN da FINEP, conforme mencionado anteriormente. O subsidio governamental atraves do custeio de parte das despesas com P&D em redes cooperativas envolvendo empresas e universidades/institutos, vem sendo praticado pelo RECOPE e pelo PADCT. Não se tem experiência em pesquisa e desenvolvimento de produto feito por encomenda por agências publicas, nem tampouco no uso do poder de compra do Estado.para alavancar desenvvolvimentos feitos localmente.

Em 1995, preocupado com a qualidade do ensino da engenharia e com a eficiência da pesquisa, o Governo, através das agências de fomento dos Ministérios da Ciência e Tecnologia e da Educação e do Desporto (FINEP, CNPq, CAPES e SESU), criou o anteriormente citado, Programa de Desenvolvimento das Engenharias - PRODENGE(5 ).

O Programa é composto de dois Sub-programas: Reengenharia do Ensino da Engenharia - REENGE e Redes Cooperativas de Pesquisa - RECOPE.

O objetivo do RECOPE é constituir redes de pesquisa envolvendo empresas, institutos e universidades, para trabalharem em conjunto temas julgados prioritários para o desenvolvimento econômico e/ou social do País.

Os temas foram definidos através de consulta a 500 especialistas, sendo abaixo listados:

- Automação industrial;- Processos avançados de transformação metal-mecânica;- Aplicações da informática à engenharia;

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- Engenharia de transporte;- Engenharia agro-industrial: alimentos;- Engenharia e gestão de recursos hídricos;- Saneamento Básico; e- Educação Tecnológica

Temas de interesse regional, são abordados em parceria com os estados que se dispuseram a aportar metade dos recursos necessários aos projetos, ficando a outra metade por conta do orçamento do RECOPE.

Adicionalmente, as empresas podem sugerir temas que não constam das prioridade levantadas pelos órgãos federais ou das propostas dos estados, mas que já venham atuando nos mesmos cooperativamente com outras entidades. Nestes casos, as propostas são avaliadas caso a caso.

Ao final de 1999, estavam trabalhando cooperativamente nas diversas redes, um total de 248 grupos de pesquisa situados em universidades e institutos, ao lado de 142 empresas e outras entidades. Para as empresas envolvidas, a FINEP oferece recursos provenientes dos programas de financiamento normalmente utilizados por ela

O suporte financeiro do Programa consta de um empréstimo de US$ 160 milhões do Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID, aos quais o Tesouro Nacional destinou igual quantia. Para as entidades sem fins lucrativos (universidades, institutos de pesquisa públicos, etc.) estão previstos entre US$ 48 e 55 milhões do empréstimo alocados ao Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - FNDCT, administrado pela Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP . O desembolso dos recursos, que deveria ocorrer em três anos, acumulou grandes atrasos por falta do devido aporte da contrapartida do Tesouro.

Negociação junto ao Banco Mundial, conduzida pelo MCT, resultou, em 1998, na obtenção de um novo empréstimo para dar continuidade ao PADCT, agora no valor de US$ 300 milhões, aos quais o Tesouro Nacional adicionará idêntica quantia. Tais recursos estão sendo empregados no desenvolvimento de setores considerados estratégicos ( materiais, química fina, biotecnologia, etc. ), na formação de redes cooperativas reunindo empresas, universidades e institutos de pesquisa, nos serviços tecnológicos básicos e no apoio às micro e pequenas empresas. Identicamente ao empréstimo do BID, o PADCT vem acumulando, até a presente data, atrasos na sua execução por falta da contrapartida do Tesouro.

No final de 1999, através do Decreto 3.280, o MCT foi fortalecido com a passagem para a sua estrutura da Agência Espacial Brasileira – AEB, da Fundação Centro Tecnológico de Informática e da Comissão Nacional de Energia Nuclear. No início de 2000, dando consequência a tal ato, foram atribuídas ao Ministério as políticas nuclear e aeroespacial.

No que diz respeito ao PPA 2000-03, o Ministério da Ciência e Tecnologia – MCT, em consonância com as Orientações Estratégicas do Presidente da República, definiu um conjunto de Objetivos Setoriais, uma Agenda de compromissos permanentes e um elenco de Programas que devem organizar suas ações no período. Os Objetivos Setoriais são:

1. consolidar, expandir e aprimorar a base nacional de Ciência e Tecnologia, 2. viabilizar a constituição de um efetivo Sistema Nacional de Inovação,3. preparar o País para os desafios da Sociedade da Informação e do Conhecimento,4. promover a capacitação científica e tecnológica em setores estratégicos para o

desenvolvimento do País, e5. inserir C&T nas estratégias de desenvolvimento social.

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A Agenda de compromissos perpassa horizontalmente todos esses Objetivos Setoriais e demais atividades do Ministério e é constituída por um conjunto de princípios e orientações que podem ser classificados em quatro categorias:

1. novos modelos de gestão,2. novo modelo de financiamento para o setor,3. parcerias e cooperação, e4. desenvolvimento regional.

Os Programas foram definidos segundo seu potencial de mobilização de diferentes segmentos da sociedade em torno de propostas e temas estratégicos para ampliar o desenvolvimento científico e tecnológico e seu impacto no desenvolvimento econômico e social do País

O Plano Plurianual do MCT abrange 22 Programas, a saber: • Gestão da Política de C&T

• 20 Programas Finalísticos

A) Instrumentais - Capacitação de recursos humanos para pesquisa - Expansão e consolidação do conhecimento científico e tecnológico - Inovação para competitividade

B) Horizontais - Desenvolvimento de serviços tecnológicos - Sistemas locais de inovação

C) Temáticos - Aplicações nucleares na área médica - Desenvolvimento tecnológico na área nuclear - Produção de componentes e insumos para a indústria nuclear e de alta tecnologia - segurança nuclear - Fomento à pesquisa em saúde - Ciência e tecnologia para o agronegócio - Promoção do desenvolvimento tecnológico no setor petrolífero - Ciência e tecnologia para a gestão de ecossistemas - Biotecnologia e recursos genéticos - Ciência e tecnologia para o setor aeronáutico - Climatologia, meteorologia e hidrologia - Mudanças climáticas - Nacional de atividades espaciais - Sociedade da informação- Produção de equipamentos para a indústria pesada

• Programa de Apoio Administrativo Adicionalmente, o MCT participa com 10 ações multisetoriais em programas de quatro ministérios: - Defesa,

- Minas e energia, - Meio ambiente, - Desenvolvimento, indústria e comércio exterior.

Os ministérios que participam com 29 ações de programas coordenados pelo MCT são: - Agricultura, - Saúde,

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- Educação, -Integração regional -Minas e energia - Defesa, - Meio ambiente, - Desenvolvimento, indústria e comércio exterior, - Fazenda.

• Programas Estruturantes

Os Programas estruturantes foram definidos a partir de sua importância para os Eixos Nacionais de Desenvolvimento e Integração e da sua aderência aos macro-objetivos do Governo Federal. A maior visibilidade dos programas estruturantes reflete-se no seu potencial de construir parcerias e mobilizar novas fontes de recursos. Pelo seu caráter estratégico, o MCT atribuiu-lhes uma crescente dotação orçamentária no período do PPA.Dos 20 programas finalísticos, 5 são considerados estruturantes:

- Climatologia, meteorologia e hidrologia; - Inovação para competitividade; - Sistemas locais de inovação; - Sociedade da informação; - Biotecnologia e recursos genéticos.

× Orçamento do PPA 2000-2003

Recursos de todas as fontes : R$ 14.001.652.837 Referem-se aos recursos do Tesouro, de parcerias do setor privado (principalmente

contrapartidas às leis de incentivo fiscal), renúncia fiscal, fundos constitucionais, fontes estaduais etc.

- 98,0% - programas finalísticos; - 0,3% - ações em outros ministérios; - 0,1% - gestão da política; - 1,6% - apoio administrativo.

Recursos do Tesouro: R$ 5.330.509.958 - 95,2% - programas finalísticos; - 0,4% - ações em outros ministérios; - 0,2% - gestão da política;

-4,2% - apoio administrativo.-

Recursos de todas as fontes nos 4 anos do PPA - 2000 – R$ 2.959.208.470 - 2001 – R$ 3.248.447.440 (crescimento de 9,8%/2000) - 2002 – R$ 3.682.994.848 (crescimento de 13,4%/2001)

-2003 – R$ 4.111.002.079 (crescimento de 11,6%/2002) Recursos do Tesouro nos 4 anos do PPA

- 2000 – R$ 1.108.330.670 - 2001 – R$ 1.147.041.996 (crescimento de 3,5%/2000) - 2002 – R$ 1.409.586.651 (crescimento de 22,9%/2001) - 2003 – R$ 1.665.550.641 (crescimento de 18,1%/2002)

Observação : Os dados do PPA, aqui reproduzidos, correspondem ao Projeto de Lei em

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discussão no Congresso Nacional, portanto sujeito a alterações.

Um dos acontecimentos mais auspiciosos ocorrido no final da década de 90 foi a destinação, através da Lei 9478 de 16 de agosto de 1997, de um percentual dos royalties sobre a produção de petróleo, para o Ministério da Ciência e Tecnologia. Em cada contrato de concessão de exploração de petróleo será fixado o royalty devidos, pela Agência Nacional de Petróleo - ANP, podendo esse valor situar-se entre 5 e 10%, dependendo dos riscos geológicos, das expectativas de produção e de outros fatores pertinentes. Da parcela do valor do royalty que exceder a 5% da produção, 25% serão destinados “ao Ministério da Ciência e Tecnologia para financiar programas de amparo à pesquisa científica e ao desenvolvimento tecnológico aplicados à indústria do petróleo”. Do total dos referidos recursos, “40% , no mínimo, serão aplicados em programas de amparo a pesquisa de desenvolvimento tecnológico para a indústria do petróleo nas regiões Norte e Nordeste”. Tal medida, evidentemente, busca diminuir as desigualdades regionais existentes, também, na área de C&T do País. Em novembro de 1998, através do Decreto 2.851, os referidos royalties devidos ao M.C.T. foram destinados ao FNDCT, ou seja, para serem administrados pela sua Secretaria Executiva que é a Financiadora de Estudos e Projetos – FINEP. Com tal medida, evitou-se a criação de uma nova agência, abrindo-se novas perspectivas de revitalização do FNDCT, através de recursos não dependentes do orçamento da União e repassados com regularidade. Só no ano de 2000, os referidos royalties deverão atingir o valor próximo de R$ 150 milhões.

A partir dessas medidas, foi criado o Plano Nacional de Ciencia e Tecnologia do Setor Petróleo e Gás Natural – CTPetro, que teve sua operação iniciada em 1999, com aplicações que totalizaram R$ 37 milhões.

Criou-se, então, a expectativa de que outros fundos que fossem criados, principalmente a partir da concessão de exploração de serviços outorgada pelo Governo Federal, viessem a ter a mesma destinação , ou seja, colocados no FNDCT que se tornaria um grande Fundo, voltado principalmente para o desenvolvimento de setores definidos pela origem dos recursos. . Em abril de 2000, o Governo deu início ao qtendimento de tal expectativa, propondo, ao Congresso, a criação dos seguintes fundos setoriais e programas: • Energia elétrica Fundo destinado a financiar programas e projetos na área de energia, com especial ênfase na área de eficiência energética no uso final. Os recursos virão das empresas concesionárias de transmissão e distribuição de energia elétrica, num percentual variável de 0,75 a 1% da receita operacional líquida. Uma parcela desses recursos será administrada pelo FNDCT.

• Recursos hídricosFundo destinado a financiar estudos e projetos de recursos hídricos. Os recursos serão

oriundos da compensação financeira, atualmentre recolhida pela empresas geradoras de energia elétrica, pelo uso da água. • Transportes O Fundo objetiva financiar estudos e projetos na área de transportes, com recursos provenientes da arrecadação sobre os contratos realizados com operadoras de telefonia, empresas de comunicação e similares que utilizam da infra-estrutura de serviços de transporte terrestre da União. • Mineração

Destinado a programas e projetos na área das atividades do setor, esse fundo será financiado por recursos provenientes da compensação financeira das empresas detentoras de direitos de mineração. • Fundo dos Fundos

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Fundo a ser criado mediante destaque de uma parcela de 20% dos recursos destinados a cada Fundo Setorial no FNDCT, e de outros Fundos destinados a financiar atividades de C&T, como o Funttel. O objetivo do Fundo é o de assegurar recursos para ampliação da infra-estrutura das universidades e instituições públicas de pesquisa do País. • Espacial Os recursos para aplicação no Programa de Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Setor Espacial, virão de parcela de receita alferida com o lançamento comercial de satélites e foquetes de sondagem, utilização de posições orbitais, comercialização dos meios de rastreamento de foguetes e concessão de licença e autorização pela Agência Espacial Brasileira. • Interação Universidade – Empresa O objetivo do Programa de Estímulo à Interação Universidade-Empresa é intensificar a cooperação tecnológica entre universidades, centros de pesquisa e o setor produtivo em geral, contribuindo, assim, para a elevação significativa dos investimentos em atividades de C&T no Brasil nos próximos três anos. Os recursos virão, de percentuais incidentes sobre os royalties enviados ao exterior, tais como transferência de tecnologia e serviços técnicos. As regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste deverão receber, no mínimo, 30% dos recursos arrecadados. Está prevista, ainda, o envio de proposta para a criação de Fundos nas áreas de saúde, agronegócios e aeronáutica. 3.1- Alguns Indicadores

Alguns indicadores de esforços ( Imputs ) nacionais no sentido do desenvolvimento científico e tecnológico, foram fornecidos em capítulos anteriores, sendo os mesmos abaixo listados:

-Tabela 3.1 - Dispêndio Interno Bruto em C&T (DIBCT ) como % do PIB -Tabela 3.2 - “ “ “ “ “ “ por setores de execução - Figura 3.5 - “ realizado pela União em C&T - Figura 3.6 - Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico- FNDCT - Figura 3.7 - Execução financeira do MCT- 1987/97 -Tabela 3.4 - Programa de incentivos fiscais- 1993/97

A estes indicadores, acrescentaram-se aqueles de esforços em dotar o sistema de recursos humanos qualificados, assim como dados comparativos com outros países: - Tabela 3.5 -Total de recursos humanos em C&T, 1995. - Tabela 3.6 - Total de recursos humanos em P&D, 1995. - Tabela 3.7 - Distribuição institucional de cientistas e engenheiros nos E.U.A. e no Brasil - Tabela 3.8 – Cientistas e engenheiros e força de trabalho em vários países

- Adicionalmente, acrescentou-se a Tabela 3.9 referente aos contratos de “importação de tecnologia” de 1989 a 1998.

A seguir, são fornecidos alguns indicadores de resultados ( Outputs ) que, por si só , mostram claramente quanto ter-se-á ainda que crescer, aperfeiçoar e consolidar o SNDCT brasileiro, para não ser o País um grande planeta orbitando passivamente em torno de algum sol, e absolutamente sem capacidade decisória soberana, em conseqüência de sua enorme dependência externa do bem estratégico essencial para a construção e manutenção de Poder político, econômico e militar: o conhecimento

- Tabela 3.10 - Participação no total de artigos indexados

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- Tabela 3.11 - Número e % de publicações brasileiras em revistas indexadas, nos biênios 81-82 e 91-92. - Tabela 3.12 - Participação no numero de artigos publicados internacionalmente e no número de patentes registradas nos E.U.A.

- Tabela 3.13 - Pedidos de patentes de residentes (1988-1996) e total de patentes nos E.U.A. em 1996

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1- PAULINYI, E., “Ciência e Tecnologia e decisões políticas”, LS 21 - 86, Escola Superior de Guerra, Rio de Janeiro, 1986.

2- FRISCHTAK, C.R., et al., “A experiência da FINEP (1967-92)”, Interbusines, Rio de Janeiro, 1993.

3- “Una nueva estrategia para la integración regional”, Organizacion de Preinversión de America Latina y el Caribe, Quito, Ecuador, 1991.

4- SCHWARTZMAN, S., et al., “Ciência e Tecnologia no Brasil: política industrial, mercado de trabalho e instituições de apoio “, Fundação Getúlio Vargas Editora, Rio de Janeiro, 1995.

5- LONGO, W.P., ROCHA, I. e TELLES, M.H.C., “Reengineering” engineering research and education in Brazil: cooperative networks and coalitions”, aceito para publicação na revista Science and Public Policy, Inglaterra, 2

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Anexo 1 – Evolução do Setor de C&T no BrasilAnexo 1 – Evolução do Setor de C&T no Brasil

Nucleação Programada

1947 - Centro Técnico Aerospacial – CTA, pertencente à Força Aérea, e que tem na sua estrutura o Instituto Tecnológico da Aeronáutica – ITA.

1949 - Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC.

1951 - Conselho Nacional de Pesquisa – CNPq – vinculado à Presidência da República. Coord. do Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior - CAPES.

1952 - Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico – BNDE.

1954 - Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação – IBBD.

1956 - Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEN.

1960 - Grupo Executivo de Assistência à Média e Pequena Empresa – GEAMPE.

1962 - Instituto de Energia Nuclear – IEN

1963 - Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Leopoldo Miguez – CENPES, pertencente à Petróleo Brasileiro S.A – PETROBRÁS.

Associação Brasileira de Consultores de Engenharia – ABCE.

1964 - Fundo Nacional de Desenvolvimento Técnico-Científico – FUNTEC no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico.

Comissão de Desenvolvimento Industrial – CDI.Coord. dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia –COPPE

na Universidade Federal do Rio de Janeiro.Criação, no BNDE, do Programa de Financiamento à Pequena e Média Empresa – FIPEME.

1965 - Fundo de Financiamento de Estudos e Projetos.

1967 - Financiadora de Estudos e Projetos – FINEP.

1968 - Publicação do Plano Quinquenal em Ciência e Tecnologia. Programa Estratégico de Desenvolvimento – PED.

1969 - Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – FNDCT

1970 - Instituto Nacional de Propriedade Industrial – INPI‘ Fundo de Amparo à Tecnologia – FUNAT, do Ministério da Indústria e Comércio – MIC.

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1971 - Atribuída à FINEP a função de Secretaria Executiva do FUNDCT. Aprovado o Código da Propriedade Industrial.

1972 - Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia – SNCT. Secretaria de Tecnologia Industrial – STI. Fundação Centro Tecnológico do Estado de Minas Gerais – CETEC Fundação de Ciência e Tecnologia – CIENTEC, no Estado do Rio Grande do Sul. Centro Brasileiro de Assistência Gerencial à Pequena e Média Empresa – CEBRAE. Centros de Apoio Gerencial – CEAGs do CEBRAE, são criados nos Estados. Comissão para a Concessão de Benefícios Fiscais a Programas Especiais de Exportação – BEFIEX.

1973 - Aprovado o I Plano Básico de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – I PBDCT.

Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial – SINMETROInstituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial – INMETRO. Sistema Nacional de Informação Científica e Tecnológica – SNICT.

Secretaria Estadual de Meio Ambiente – SEMA. Reestruturação do Instituto Brasileiro de Geografia IBGE.

Crescimento e Interação

1974 - Transformação do CNPq em Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

1975 - Plano Nacional de Pós-graduação – PNPG.Criação do Sistema Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – SNDCT.Núcleos de Articulação com a Indústria – NAI

1976 - Aprovado o II Plano Básico de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – II PBCT.

1978 - Reorganização do Conselho de Desenvolvimento Industrial. Fundação Núcleo de Tecnologia Industrial – NUTEC, do Estado do Ceará.

1979 - Secretaria Especial de Informática – SEI.

1980 - Aprovado o III plano Básico de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – III PBDCT.

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1984 - Implantação do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico – PADCT, parcialmente financiado pelo Banco Mundial.

Aprovação pelo Congresso e Sançaõ pelo Presidente da República da Lei número 7.232, de 29 de outubro de 1984, que regula as atividades de Informática no País.

1985 - Criação do Ministério da Ciência e Tecnologia – MCT

1988 - Constituição da República. Nova Política Industrial – NPI.

1989 - MCT e Ministério da Indústria e Comércio – MIC, transformados no Ministério do Desenvolvimento Industrial, Ciência e Tecnologia – MDI.

Criada a Secretaria Especial de Ciência e Tecnologia – SECT.Recriado o Ministério de Ciência e Tecnologia.

1990 - Extinção do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), e criação da Secretaria de Ciência e Tecnologia (SCT).

Política Industrial e de Comércio Exterior – PICE.Transformação de Centro Brasileiro de Apoio à Pequena e Média Empresa – CEBRAE em Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE.

Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade – PBQP.Isenções para importação de equipamentos para pesquisa (Leis 8010-90 e 8032-90).

1992 - Extinção da Secretaria de Ciência e Tecnologia – SCT e criação do Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT.

1993 - Criação e regulamentação de incentivos fiscais para investimentos no desenvolvimento da informática (Lei 8248-93).

Criação e Regulamentação de Incentivos Fiscais, para investimentos em C&T, pelas empresas industriais e agropecuárias através do PDTI e PDTA (Lei 8661-93).

1995 - Plano Plurianual 96-99 do Governo Federal – PPA 96/99.Política Industrial, Tecnológica e do Comércio Exterior – PITCE.Programa de Desenvolvimento das Engenharias – PRODENGE.

1996 - Criação do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia – CCT.

1997 – Royalties sobre a produção de petróleo para financiar programas de amparo à pesquisa analítica e ao desenvolvimento tecnológico criados pela Lei 9478-97. Redução dos incentivos fiscais para investimentos em C&T através do PDTI e PDTA (Lei 9532-97)

1998 - Renovação do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico – PADCT.

Regulamentação do Plano Nacional de Ciência e Tecnologia do Setor

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Petróleo e Gás Natural - CTPETRO, alocando-se os royalties sobre a produção de petróleo no FNDCT (Decreto 2851-98)

1999 - Passam a integrar a estrutura do MCT : Agência Espacial Brasileira - AEB Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN Fundação Centro Tecnológico de Informática - CTI 2000 - Plano Plurianual - PPA 2000/03 Extinta a Fundação CTI Atribuidas ao MCT as políticas nuclear e aeroespacial. Proposta a criação de fundos e programas setoriais

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Anexo II – Ciência e Tecnologia na ConstituiçãoAnexo II – Ciência e Tecnologia na Constituição

Art. 218. O Estado promoverá o desenvolvimento científico, a pesquisa e a capacitação tecnológicas.

1. A pesquisa científica básica recebrá tratamento prioritário do Estado, tendo em vista o bem público e o progresso das ciências.

2. A pesquisa tecnológica voltar-se-à preponderantemente para a solução do sproblemas brasileiros e para o desenvolvimento do sistema produtivo nacional e regional.

3. O Estado apoiará a formação de recursos humanos nas áreas de ciência, pesquisa e tecnologia e concederá aos que delas se ocupem meios e condições especiais de trabalho.

4. A lei apoiará e estimulará as empresas que invistam em pesquisa, criação de tecnologia adequada ao País, formação e aperfeiçoamento de seus recursos humanos e que pratiquem sistemas de remuneração que assegurem ao empregado, desvinculada do salário, participação nos ganhos econômicos resultantes da produtividade de seu trabalho.

5. É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular parcela de sua receita orçamentária a entidades públicas de fomento ao ensino e à pesquisa científica e tecnológica.

Art.219. O mercado interno integra o patrimônio nacional e será incentivado de modo a viabilizar o desenvolvimento cultural e sócio-econômico, o bem-estar da população e a autonia tecnológica do País, nos termos de lei federal.

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Tabela 3.1 Dispêndio Interno Bruto em C&T (DIBCT) como porcentagem do PIB

Em US$ milhões de 95Dispêndios / PIB

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996

PIB (a) 605.174,9 611.421,5 608.094,9 638.041,7 675.385,4 703.912,3 723.340,3

DIBCT (b) 5.971,6 5.856,5 5.094,4 6.153,3 8.226,5 8.428,0 8.860,8

DIBCT/ PIB (%)

0,99 0,96 0,84 0,96 1,22 1,20 1,22

Fontes: (a) IBGE, Diretoria de Pesquisas, Departamento de Contas Nacionais, (divulgado pelo IBGE em 11/12/97; www.ibge.gov/ftp/trans1.htm). (b) MCT/CNPq; MCT/SEPIN, MCT/SETEC; e ANPEI.

Compilado por: MCT/CNPq/SUP/COOE.Fonte: Science & Engineering Indicators – 1998

Tabela 3.2 - Dispêndio Interno Bruto em C&T (DIBCT) por setores de execução

.Em US$ milhões de 95Setor 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996

Empresas (1) 1.339,3 1.335,2 1.170,7 1.489,2 2.734,0 2.911,4 3.039,3

Ensino Superior 3.071,6 3.026,7 2.933,7 3.625,2 4.090,2 4.111,2 4.307,5

Governo 1.560,7 1.494,6 990,0 1.038,8 1.402,2 1.405,4 1.513,9

Total 5.971,6 5.856,5 5.094,4 6.153,3 8.226,5 8.428,0 8.860,8

Fontes: MCT/CNPq; MCT/SEPIN, MCT/SETEC; e ANPEI.Compilado por: MCT/CNPq/SUP/COOE.Nota: Valores corrigidos pelo IGP-DI/FGV para 95 e convertidos em dólar pela taxa média

de venda de 1995, fornecida pelo Banco Central do Brasil (US$ 1,00 = 0,918).(1) Os valores representam a estimativa de gastos do setor empresarial. O cálculo tomou comobase os dados dos investimentos incentivados referentes às leis de incentivos fiscais fornecidospela SEPIN e SETEC do MCT e a Coordenação de Importação do CNPq.

Tabela 3.3 - As 50 empresas líderes em investimentosem P&D nos EUA, em 1996.

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Posição Invest. em P&D

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1996 1986 Companhia (milhões US$) P&D/vendas (%)1 1 General Motors 8.900,0 5,62 3 Ford Motor 6.821,0 4,63 2 IBM 3.934,0 5,24 9 Hewlett-Packard 2.718,0 7,15 20 Motorola 2.394,0 8,66 4 Lucent Technologiesa 2.056,0 13,07 66 TRWa 1.981,0 20,18 18 Johnson & Johnson 1.905,0 8,89 46 Intel 1.808,0 8,7

10 31 Pfizer 1.684,0 14,911 12 Chrysler 1.600,0 2,712 22 Merck 1.487,3 7,513 – Microsoft 1.432,0 16,514 47 American Home

Products1.429,1 10,1

15 5 General Electric 1.421,0 1,816 35/63 Bristol Myers Squibb 1.276,0 8,517 33 Pharmacia & Upjohn 1.266,0 17,418 23 Procter & Gamble 1.221,0 3,519 38 Abbott Laboratories 1.204,8 10,920 11 Boeing 1.200,0 5,321 26 Lilly 1.189,5 16,222 26 Texas Instruments 1.181,0 11,923 8 United Technologies 1.122,0 4,824 10 Digital Equipment 1.062,3 7,325 13 Xerox 1.044,0 6,026 6 Dupont 1.032,0 2,727 7 Eastman Kodak 1.028,0 6,428 16 3M 947,0 6,729 – Rhone-Poulenc 882,1 16,330 21/51 Lockheed Martin 784,0 2,931 15 Dow Chemical 761,0 3,832 17 Monsanto 728,0 7,933 53 Schering-Plough 722,8 12,834 28 Rockwell International 691,0 6,735 – Sun Microsystems, Inc. 657,1 9,336 4 AT&Ta 640,0 1,237 75 Apple Computer 604,0 6,138 58 Warner-Lambert 554,8 7,739 54 ITT Industries 535,2 6,140 – Amgen 528,3 23,641 14 Exxon 520,0 0,442 – Seagate Technology 519,1 6,043 78 Philip Morris 515,0 0,944 – Applied Materials 481,4 11,645 32 NCR 444,0 6,446 – Genentech 434,1 51,347 61 Caterpillar 410,0 2,548 – Compaq Computer 407,0 2,249 60 Advanced Micro

Devices400,7 20,5

50 – Cisco Systems 399,3 9,7

- =Companhia não constante em 1986; X/X=1986 posição de cada companhia antes da fusão.Fonte: Science & Engineering Indicators -1988

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Tabela 3.4 - Programa de incentivos fiscais para o desenvolvimento científico e tecnológico 1993/1997

Em R$ milhõesLei Investimento Renúncia Invest./Renun. Empresas Parcerias

8.661 1.906,72 467,88 4,07/1 119 190 contratos8.248 1.284,00 1.198,00 1,07/1 290 R$ 455 milhões

Subtotal 3.190,72 1.655,88 1,89/1 4098.010 1.070,02 315,65 3,32/1 3648.032 140,97 42,29 3,33/1 3Total 4.401,71 2.023,82 2,13/1 776

Legenda: Lei 8.661/93 – Empresas industriais e agropecuárias – Fonte: Setec/MCTLei 8.248/93 – Empresas de Informática – Fonte: Sepin/MCTLei 8.010/90 – Instituições Públicas de Pesquisa – importação de equipamentos para pesquisa – Fonte: CNPq/MCTLei 8.032/90 – Inst. Privadas – importação de equipamentos para pesquisa – Fonte: CNPq/MCT

Observação: Pela Lei 8.032, credenciaram-se a Petrobrás, Telebrás e Cetesb/SP.

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Figura 3.1 – Investimento nacional dos EUA em P&D, por fonte

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Figura 3.2 - Investimento em P&D pelos países do G-7

Fonte: Science & Engineering Indicators - 1998

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Figura 10.3 - Gastos nacionais em P&D: 1997

Fonte: Science & Engineerging Indicators: 1998

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Figura 3,4 – Investimentos em P&D, por país, por executor e fonte: anos 90

Nota: Executores extrangeiros estão incluídos na indústria e outras fontes domésticas.

Fonte: Science & Engineering Indicators – 1998

Figura 3.5 - Despesa realizada da União em Ciência e Tecnologia

Recursos do Tesouro – 1980-92

Fonte: MCT – CNPq/SUP/COOE

Em US$ mil de 1993

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Figura 3.6 – Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico Tecnológico - FNDCT

US$ milhões

Figura 3.7 - Execução financeira do MCT

(PADCT, FNDCT, FINEP e CNPq)

Fonte: MCT – SECAV – março 1998

Fonte: Jornal Ciência Hoje – 24/11/92 – nº 265 - p. 2

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Tabela 3.5 - Indicadores em C&T – 1990/1996Total de Recursos Humanos em P&D, 1995

Recursos Humanos

(ETI(1))

Empresas [a]

Número (%)

Ensino Superior [b, c]

Número (%)

Governo (b)

Número (%)

Total

Número (%)

Pesquisadores 3.859(2) 7,8%

37.360(4) 75,2%

8.483 17,1%

49.702 100%

Técnicos e pessoal de apoio

5.231 29,6%

9,934 56,3%

2.483 14,1%

17.648 100%

Total 9.090(3) 13,5%

47.294(5)

70,2%10.966 16,3%

67.350 100%

Fontes: [a] Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Industriais (ANPEI).[b] CNPq/SUP/COAV e Diretório dos Grupos de Pesquisa, versão 2.0,http://www.cnpq.br/gpesq2/; e [c] Censo do Ensino Superior 1994, INEP.

Compilado por: MCT/CNPq/SUP/COOE.

(1) ETI - Equivalente de Tempo Integral.(2) Pessoal dedicado à pesquisa com formação mínima de graduação(3) Inclui pessoal técnico e administrativo dedicado à pesquisa, sem nível de graduação(4) Valor sujeito à revisão. Estimado com base em testes comparativos com outros bancos de dados realizados pela

MCT/CNPq/SUP/COAV, que indicaram uma cobertura de aproximadamente 75% do universo de pesquisadores. Inclui estudantes de doutorado e pós-doutorado.

(5) Este grupo é constituído de pesquisadores e pessoal de apoio a P&D. O total foi estimado considerando-se que o Diretório cobre 75% do universo.

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Tabela 3.6- Indicadores em C&T – 1990/1996Total de Recursos Humanos em C&T, 1995

Recursos Humanos

Empresas (a)

Número (%)

Ensino Superior (b,c)

Número (%) Governo (b)

Número (%)Total

NúmeroRH em C&T 14.580 (1)

10,5%113.923(2)

81,7%10.966 7,9%

139.470 100,0%

Fontes: (a) Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Industriais (ANPEI)

Compilado por: MCT/CNPq/SUP/CODE.

(1) Inclui pessoal técnico e administrativo, de todos os níveis, dedicado à pesquisa, desenvolvimento e engenharia não-rotineira.(2) Este grupo é constituído de pesquisadores, pessoal de apoio à C&T e docentes de instituições de ensino superior.Os valores de docentes referem-se ao ano de 1994.

Figura 3.7- Distribuição Institucional dos Cientistas e Engenheiros nos Estados Unidos e no Brasil

Natureza da posição e da instituição EUA Brasil

Docentes em universidades 15% 68%

Institutos e centros de pesquisa públicos 17% 21%

Empresas privadas 68% 11%

Total 100% 100%

Fonte: Research and Development in Industry 199.NSF 96-304, Special Report (Arlington, VA, 1996) e Tabela de Pessoal Ativo em C&T no Brasil, excluindo-se os estudantes de pós-graduação.

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Figura 3.8 - Cientistas e Engenheiros e Força de Trabalho em vários países

Brasil EUA Alemanha França Itália Espanha Coréia Japão Total

C&E

145,5 960,4 191,3 129,2 75,2 37,0 68,8477,0 2.085,3

F. Trab. (1.000)

71.000 126.867 39.000 24.619 24.598 15.382 18.487 63.840 383.793

C&E/FT 0,20% 0,76% 0,49% 0,52% 0,31% 0,24 0,370,75 0,64%

Fontes: Human Resources for Science and Technology the European Region. NSF 96-316 Special Report, Arlington. VA 1996 e Human Resources for Science and Technology. The Asian Region. NSF 96-303 Special Report, Washington, DC, 1993)

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Tabela 3.9 - Importação de tecnologia (contratos/milhões R$)

Tipo 1989 1992 1995 1996 1998UM - - 05 14 11EP 03 03 138 200 215FT 38 31 222 379 594CTI 15 10 27 51 385SAT 127 116 284 364 1009R$ 183 160 676 1008 2214

Fonte: INPIUM – Uso de MarcaEP – Exploração de PatenteFT – Fornecimento de TecnologiaCTI – Cooperação Técnico-IndustrialSAT – Serviço de Assistência Técnica

Figura 3.10 - Participação no total de artigos científicos publicados nas revistas indexadas no Science Citation Index em 1993

Brasil EUA UK Alem. França Itália Israel Coréia Japão

% artigos 1,2 33,6 7,5 6,7 5,2 2,9 1,0 1,0 8,8

% patentes 0,06 54,13 2,33 7,01 2,96 1,31 0,32 0,79 22,67

% art./%Pat. 20,00 0,62 3,22 0,96 1,76 2,22 3,13 1,26 0,39

Fontes: Science Index e Science and Engineering Indicators – 1996, National Science Board – US Government Printing Office, 1996

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Figura 3.11 - Número de publicações brasileiras em revistas indexadas pelo ISI, número de publicações mundiais e participação percentual brasileira nos biênios 81-82 e 92-93

Área

Brasil Mundo Brasil

1981-1982 1992-1993 1981-1993 Part. em %artigos % artigos % artigos % 81-82 92-93

C. Biológicas 1.116 22,3 1.528 14,7 594.652 9,0 1,04 1,43C. Biomédicas 1.214 24,3 2.665 25,7 1.820.004 23,5 0,43 0,95Medicina 609 12,7 1.265 12,2 1.503.802 19,4 0,26 0,55Med. Social 80 1,6 164 1,6 48.705 0,6 1,07 2,19Química 410 8,2 882 8,5 887.833 11,4 0,30 0,65Física 824 16,5 2.219 21,4 772.164 10,0 0,69 1,87Matemática 119 2,4 223 2,1 118.656 1,5 0,65 1,22Engenharia 263 5,3 787 7,6 813.386 10,5 0,21 0,63C. da Terra 102 2,0 231 2,2 173.025 2,2 0,38 0,87Meio Ambiente 61 1,2 205 2,0 138.005 1,8 0,29 0,97Human. E Artes

201 4,0 213 2,1 786.656 10,1 0,17 0,18

Total 4.999 100 10.382 100 7.756.888 100 0,42 0,87

Fonte: L. de Mers e J. Lehta “O perfil da ciência brasileira” – Editora da UFRJ, 1996.

Figura 3.12 - Participação do Brasil no número de artigos publicados internacionalmente e no número de patentes registradas nos Estados

Unidos

Indicador de ProduçãoBrasil

Total Mundial Brasil

Artigos técnico-científicos em revistas indexadas pelo ISI (1980 a 1993)

47.184 7.756.888 0,61%

Patentes registradas nos EUA (1980 a 1993)

751 2.198.190 0,04%

Fontes: O perfil da Ciência Brasileira. L. de Mers e J. Letha – Editora UFRJ, 1996 e Science and Engineering Indicators – 1996. National Science Board – U.S. Governement Printing Office, 1996).

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Tabela 3.13 - Pedidos de patentes de residentes (1988-1996)

Total geral 112.436Total de residentes 57.580Pessoa física 66%Pessoa jurídica 33%Centro de pesquisa 1%Universidade <1%

EUA em 1996: total de 206.276 pedidos.

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4.0 - DISCUSSÃO, CONCLUSÕES E SUGESTÕES

Após a Segunda Guerra Mundial, acompanhando a tendência mundial em considerar C&T como um fator estratégico para o progresso e, portanto, objeto de ações específicas do poder público, o Brasil evoluiu na estruturação de um verdadeiro sistema nacional de desenvolvimento científico e tecnológico.

A partir da década de 50, os governos que se sucederam passaram da nucleação aleatória de entidades dedicadas ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia, para a nucleação programada, e desta para o crescimento e interação entre os atores do setor: Governo, Universidades e Empresas. Além dos órgãos governamentais de fomento e de infra-estrutura física (estatal e privada), deu-se grande impulso à formação de recursos humanos. Foram reformuladas e criadas universidades públicas, dedicadas não somente ao ensino de graduação, mas também à pesquisa, à pós-graduação e à extensão. Paralelamente, foram expandidos antigos e implantados novos institutos prestadores de serviços tecnológicos, e dadas condições para o crescimento das empresas nacionais de engenharia. Grandes empresas estatais construíram seus centros de pesquisa cativos, seguidas por empresas privadas, estimuladas e apoiadas pelas agências de fomento federais. As empresas estatais tornaram-se grandes alavancas do desenvolvimento tecnológico do País, ao procurarem minimizar sua dependência do exterior , sempre que possível e conveniente, ou atendendo a interesses nacionais supra-empresariais

Pela observação do Anexo I, chega-se à conclusão que a partir de 1964, houve a aceleração na estruturação do sistema nacional, que praticamente completou-se na primeira metade da década de 80, ou seja, durante o período em que os militares estiveram no poder (1964-1984).

O entendimento esposado é que quatro fatores foram fundamentais para que isso ocorresse naquele período:

a) a ambiência internacional;b) a política industrial; c) estratégia dos governos militares, ed) continuidade de propósitos.

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Em primeiro lugar, no nível internacional, ficou claro o conflito Norte-Sul, ou seja, o agravamento das disparidades econômicas, sociais e de poder político, entre os países desenvolvidos, basicamente situados no Hemisfério Norte, e os países em desenvolvimento, primordialmente localizados no Hemisfério Sul. Os países em desenvolvimento, submetidos às regras de convivência política, econômica e militar, impostas pelos países ricos, produziam comodities e produtos manufaturados de baixa agregação tecnológica, pelos quais recebiam cada vez menos dólares por unidade exportada. Em contrapartida, esses mesmos países, para manterem o setor produtivo competitivo, assim como para atenderem às demandas de consumo, essências ou não, por parte da população, importavam bens e prestação de serviços, ambos de alto valores agregados pelas mais modernas tecnologias empregadas na sua produção ou embutidas no próprio produto, em conseqüência, pagando cada vez mais por unidade adquirida A saída vislumbrada pelo Sul, inclusive pelo Brasil, foi a sua industrialização, ainda que tardiamente.

Com certeza, os países em desenvolvimento não conseguiriam realizar uma industrialização de forma independente, autônoma e soberana, pois não tinham competência científica e tecnológica compatível e nem tampouco dispunham de poupança suficiente.

Com relação às tecnologias, impregnadas de conhecimentos científicos, além das suas condicionantes referentes à complexidade, custos, recursos humanos e impactos sociais, no nível internacional, a Guerra Fria, a crescente disputa comercial, e a proliferação das multinacionais, fizeram com que as modernas tecnologias geradas basicamente nos países centrais, tivessem o seu acesso dificultado aos países em desenvolvimento. Quando acessíveis, as “transferências” das tecnologias eram, em geral, acompanhadas de grandes servidões para as empresas ou mesmo para os países recipiendários. Portanto, era imperioso que fosse feito um esforço próprio, pelo menos em desenvolvimentos tecnológicos nas áreas consideradas estratégicas para o progresso econômico e social do País.

Com relação à falta de poupança para a industrialização e modernização da infra-estrutura, haviam, simplificadamente, duas hipóteses para supri-la em curto prazo:

a) o Estado assumir o papel de empreendedor no setor produtivo, e b) atração de investimentos estrangeiros.Nos extremos: estatização ou desnacionalização. Na segunda hipótese, o

fator tecnológico estaria minimizado, pois esta seria aportada pelo próprio investidor.

Condicionada por essa ambiência, a política industrial brasileira, no após Guerra, até o final dos anos 80, configurou-se a partir, dentre outras, das seguintes decisões e conseqüentes medidas:

a) reservar ao Estado o papel de empreendedor em setores estratégicos, principalmente na infra-estrutura de serviços (comunicações, transportes, energia, etc.} e de parceiro do setor privado nacional, quando estrategicamente conveniente (BNDE);

b) atração do capital estrangeiro para investimento produtivo;

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c) criação de oportunidades e de proteção à industria nacional, através das medidas para substituição das importações de bens e de serviços por aqueles produzidos localmente, assim como o estabelecimento de reservas de mercado;

d) controle do processo de transferência de tecnologia e estruturação de um sistema completo para o desenvolvimento científico e tecnológico nacional.

. Como conseqüência dessa política, os desafios tecnológicos tornaram-se concretos e, portanto, inequivocamente definidos pelas empresas e pelas agências governamentais de apoio e de fomento, então criadas Com o mercado fechado aos produtos estrangeiros, havia um estímulo não só à produção local, como também ao desenvolvimento tecnológico próprio ou à absorção de tecnologias do exterior. As empresas estrangeiras estavam submetidas à obrigatoriedade de atingirem , ao longo do tempo, índices de nacionalização crescentes e pré-estabelecidos, não sendo permitida a remessa de royalties pela filial para a matriz, a título de “transferência de tecnologia” efetuada desta para aquela. Não lhes foi permitido serem simples montadoras de conjuntos cujas partes seriam importadas e que, localmente, agregassem ao produto apenas a mão-de-obra barata utilizada

Além disso, paralelamente à política industrial, foram formulados três planos nacionais para o desenvolvimento científico e tecnológico entre 1973 e 1984, tendo os dois primeiros alcançado considerável sucesso.

Os governos militares que dirigiram os destinos do País de 1964 a 1984, tinham claramente como bandeira o binômio “segurança e desenvolvimento”, para o atingimento de objetivo estratégico de tornar o Brasil um país com maior peso específico no conceito internacional, tão desfavorável, até hoje, aos países em desenvolvimento. Segundo alguns, o objetivo era transformar o Brasil numa “potência emergente”, razoavelmente independente das potências mundiais. Daí o esforço em livrar as Forças Armadas da incomoda dependência externa de material bélico. Evidentemente, para consecução dessa estratégia , seria necessária capacidade compatível nas áreas científica e tecnológica. Assim, além da estruturação do setor de C&T, ambiciosos projetos foram formulados e implementados, fazendo com que o mesmo funcionasse, pela primeira vez, como um verdadeiro sistema. Exemplos de áreas cujos planos, programas ou atividades especificas forçaram a estruturação e funcionamento do sistema, são : pós-graduação, atividades espaciais, nuclear, bélica, recursos do mar, meio ambiente, materiais, biotecnologia, entre outras Para que houvesse o funcionamento sistêmico, todos os ministérios pertinentes foram dotados de orgão de politica setorial dedicado ao desenvolvimento científico e tecnológico.

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Finalmente, nào menos importante, foi a continuidade de algumas políticas e estratégias, e consequenntes desdobramentos no setor produtivo. A industrialização, com majoritária participação do Estado nos setores estratégicos, vem com Vargas, acelera-se com Juscelino e firma-se com os militares. O sucesso do que resultou é inegavel (Rever Tabela 3.1 ). Entre 50 e 80, o setor de C&T também teve continuidade política e estratégica, com crescimento consistente, suportado por recursos convenientes.( Rever o Anexo 1 e a Tabela 3.6 ). No setor empresarial, EMBRAER e PETROBRÁS são exemplos que, provavelmente, não existiriam , não fosse o planejamento e execução de longo prazo formulados pela Força Aérea Brasileira- FAB e a tranquilidade para trabalhar o futuro proporcionado à estatal do petróleo.

A década de 80 e o início dos anos 90, foram anos de grandes dificuldades para o Paaíse para o sistema nacional de ciência e tecnologia. Além das crises econômica e política, que resultaram em escassez de recursos, passou a ocorrer total indefinição dos objetivos políticos e estratégicos. O sistema mudou de configuração várias vezes entre 1985 e 1996, conforme exposto no Anexo I, não atingindo, em conseqüência, o almejado estágio de amadurecimento, exposto no Capítulo 3. De 80 em diante, a incerteza tem sido a única certeza. Instalou-se a instabilidade: orçamentos públicos anunciados e não são executados pois vão levando cortes ao longo do exercício, programas com recursos internacionais tem os prazos não respeitados por falta da contrapartida nacional acordada, dezenas de programas sào criados e logo deixam de ter continuidade, pagamentos de bolsas passaram a sofrer atrazos, etc. No início dos anos 90, o Governo recém empossado, aderiu à chamada globalização, na bravata, abrindo tempestivamente o mercado nacional às importações sem qualquer estratégia e sem mínimas salvaguardas para o parque produtivo nacional, sem garantias de reciprocidade e compensações por parte dos países com quem mantinha as mais importantes relações comerciais, sem fomentar a criação de empresas nacionais de porte compatível ( global players ) e sem infra-estrutura, legislação e mecanismos financeiros adequados para nossas empresas exportarem.. Assim as empresas nacionais foram expostas a uma competição com as empresas estrangeiras, no mercado nacional, sem que houve estratégia alguma para que pudessem fazer frente a tal situação. É oportuno lembrar que países bem sucedidos na chamada “globalização”, expuseram seus produtos à competição, de preferência, no mercado dos outros e não no seu. Primeiro tomar mercado dos outros, depois abrir o seu. Finalmente, a base de suporte cientifico e tecnológico para fazer frente às demandas que resultariam inevitavelmente da abertura foi, também, ignorada e, muito pior, teve agravada de imediato a escassez de recursos governamentais para ela .( Ver dados fornecidos no Capitulo 3)

Na realidade houve , intencional ou não, um preparo , uma predisposição da massa populacional para a globalização, sem maiores considerações acerca dos interesses individuais, de coletividades e nacionais em jogo.

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A mídia brasileira utilizou, e ainda utiliza, a palavra globalização abusivamente e, o que é pior, transmitindo para a população, com foros de verdade irretoquivel, de maneira dogmática, conceitos totalmente equivocados. Desde os anos Collor, a mídia tem repetido macissamente, ad nauseam, a idéia que a adesão a ela é expressão de modernidade, e que quem argumenta contra é retrógrado e, portanto, não merece espaço, inibindo, assim, o debate esclarecedor. Alardeiam que a globalização é inexorável, empurrando-nos para uma adesão açodada, sem reflexão e sem preparo. Dão a idéia de que nela haverá igualdade e reciprocidade de comportamento entre as nações. Há até quem fale em solidariedade. A amarga realidade que se verifica nos países em desenvolvimento, periféricos nas grandes decisões “globais”, como o Brasil, mostra quão distantes da realidade encontram-se os repetidores de estórias mal contadas e mal entendidas, alguns por indigência cultural, outros por conveniências as mais diversas. O entendimento aqui expresso, é que a imposição orquestrada da chamada globalização é tática da grande estratégia de uns poucos países que concentram cada vez mais o poder econômico a nível mundial e, por extensão, os poderios político e militar. Ela destina-se a atingir objetivos claros: facilitar o emprego e o retorno dos grandes recursos financeiros que detêm (investimentos, juros, lucros, royalties, especulação, etc.) enfraquecendo, se possível, os controles nacionais dos países (evidentemente não dos seus) e permitindo o acesso consentido, sem restrições e sem reciprocidade aos mercados e demais vantagens comparativas locacionais ( mercado, matérias-primas, energia, mão-de-obra mal remunerada...) que, anteriormente, eram acessíveis por dominação direta das mais variadas formas e intensidades. Afinal, o acesso consentido, contando com a irrestrita cooperação das elites locais, é bem mais barato que as formas anteriormente praticadas de colonialismo. Nesse contexto, palavras que expressam conceitos, ações, sentimentos (que os beneficiários da globalização não abdicaram), tais como nacionalismo, política industrial, proteção à produção local, soberania, foram desmoralizadas, assim como seus defensores No Brasil, passou-se a não se distinguir mais o que é verdadeiramente nacional e o que não é, e, em nome da modernidade, da globalização, do atendimento às exigências do mercado, a praticar-se, entusiasticamente, de cima para baixo, o “entreguismo voluntário”.

Dedução : “Mais vale o que se tem entre as orelhas do que debaixo dos pés”.

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Os resultados da globalização financeira nos moldes praticados são, hoje, tristemente visíveis. O dinheiro tornou-se virtual, ou seja, registros contábeis gravados em computadores espalhados pelo mundo. Graças à telemática, as informações financeiras globais são acessíveis em tempo real e as aplicações financeiras podem mudar de local à velocidade da luz, em busca do lucro maior onde quer que ele esteja. Estima-se que mais de 90% do fluxo global de capitais são especulativos: dinheiro gerando mais dinheiro sem necessariamente produção/crescimento, financiando, por exemplo, países periféricos face ao déficit nas contas governamentais, fruto da má administração dos recursos públicos, e ao balanço negativo do comércio exterior, resultante do escancaramento do seu mercado às importações favorecidas por alíquotas aduaneiras baixas impostas pelos países que comandam a globalização e financiadas aos importadores a juros baixos praticados pelos bancos dos países centrais. Os juros internos são mantidos elevados para atrair o capital internacional, via-de-regra, especulativo, enquanto que as importações são financiadas a juros baixos pelos bancos dos países de origem. No caso brasileiro, alem da questão dos juros, a sobrevalorização do real, até 1999, estimulou as importações, que na realidade foram subsidiadas, e penalizaram as exportações. Resultado: golpe mortal na indústria nativa (em termos do setor produtivo, a palavra “nacional” perdeu o significado histórico, dai utilizar-se a palavra “nativa” para designar empresas genuinamente brasileira). Os resultados dessa realidade são preocupantes no caso do Brasil. A intensa desnacionalização do setor produtivo, na década passada, já salientada no Capítulo 1.0; a divida interna que era de cerca de US$ 64 bilhões, no inicio da década de 90, atingiu, no seu final, a cifra de US$ 600 bilhões; a balança comercial que se mantivera positiva durante toda década de 80, passou a ser negativa a partir do meio dos anos 90, tendo o déficit sido, em 1997, de US$ 8,5 bilhões , e o desemprego que cresceu de 2,3 milhões ,em 1990, para cerca de 7,7 milhões de trabalhadores atualmente (1,2)

No que tange à desnacionalização, esta foi agravada pela privatização das empresas estatais. Entregou-se ao controle estrangeiro área estratégica para o novo paradigma de desenvolvimento (telecomunicações), alem de outras importantes áreas do setor terciário da economia (energia elétrica, distribuição de gás, transporte ferroviário, etc.,). Somadas a estas, somente as desnacionalizações ocorridas nas áreas bancária, securitária, comércio de alimentos e de outros produtos de uso domestico (supermercados), pode-se imaginar a extensão das servidões a que o País está e ainda será submetido.

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A abertura dos mercados, a queda das barreiras alfandegárias, o financiamento das importações, a velocidade das informações, os transportes eficientes e até o uso de recursos da poupança e isenções fiscais dos países periféricos candidatos a receberem fábricas (pagando para serem comprados), propiciou às multinacionais evoluírem para a produção globalizada com grande ímpeto. Com a produção das partes que compõem o bem final distribuídos de maneira a otimizar as vantagens propiciadas pelos países periféricos, mas mantendo-se o cérebro e o comando estratégico do empreendimento na matriz, têm-se condições de obter receitas adicionais. Em primeiro lugar, pode-se realizar o lucro em qualquer local, e não necessariamente onde estão as fábricas e os mercados planetários. Como o mercado dos componentes é fechado, compreendendo as fábricas filiais e a matriz, os preços de compra/importação e de venda/exportação não estão sujeitos às regras da concorrência num mercado livre. Um especialista da UNIDO fez, aqui, a seguinte pergunta (publicada no Jornal do Brasil): “existe um mercado mundial de portas de Volkswagen?” Assim, ao exportar, cada vez se sabe menos se o país está lucrando ou subsidiando o comprador. É possível subfaturar-se o que se exporta para determinado lugar, e superfaturar-se o que de lá sai. O lucro do conjunto será maximizado nesse lugar, que pode ser a matriz. Em conseqüência, como não acumulam capital suficiente, certas filiais periféricas, ao terem que investir, terão que recorrer a empréstimos em condições negociados pela matriz com um banco que pode pertencer ao conglomerado do qual as fábricas fazem parte. A dívida externa aumenta e cria-se nova servidão: juros que, no caso, são lucros adicionais. Além disso, as matrizes pressionam para terem o direito de cobrar royalties das filiais pelo uso de tecnologia desenvolvida pela mesma como se as filiais pertencessem a outro grupo e, não raro, rateiam, com as mesmas, os custos da P&D realizadas pelas matrizes. No caso brasileiro, a atitude liberal adotada sobre o assunto a partir da década de 90, resultou num expressivo aumento no pagamento de royalties, exposto na Tabela 3.4, sem que houvesse aumento da atividade produtiva que o justificasse. Com relação aos serviços, a perda do controle destes pelos países periféricos (candidatos a serem planetas) é mais prejudicial às suas economias do que a desnacionalização industrial. O setor de serviços não gera divisas, mas , ao contrário, aumenta a servidão externa. A indústria, mesmo sendo estrangeira, pode ser forçada a exportar (draw back, por exemplo). Já o setor de serviços desnacionalizado só agrava a sangria de divisas. Além das remessas de lucros, royalties e de juros aos bancos financiadores, historicamente, as empresas estrangeiras prestadoras de serviços otimizam, para os seus interesses, a compra de serviços (engenharia, por exemplo) e de equipamentos no exterior (logicamente, no seu país de origem). Isto é, exatamente, o que vem ocorrendo no Brasil após as privatizações.Empregos, serviços e compras, foram e estão sendo “exportados”.

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O resultado da desnacionalização simultânea dos setores mais dinâmicos dos setores secundário e terciário da economia, contribuíram decisivamente para que o fluxo anual de remessas de juros, lucros, dividendos, efetuados pelo Brasil, atingisse cifra da ordem de US$ 23 bilhões. Dedução: “O acúmulo de capital não se dá, necessariamente, onde estão as fábricas, os serviços prestados e os mercados, mas, via-de-regra, onde ficaram os cérebros dos empreendimentos”

Com relação ao mercado de trabalho, vem ocorrendo brutal transferência dos empregos mais nobres para os países sede dos empreendimentos, que se beneficiam verdadeiramente desta “globalização”.Certamente o segmento mais afetado pela exportação de empregos da indústria e dos serviços é o tecnológico, e particularmente, engenheiros e pesquisadores. Como exemplo, o nosso País sofre, hoje, um desemprego estrutural que se traduz numa preocupante e perversa microcefalia observável no setor produtivo, onde o funcionamento e o progresso do mesmo dependem cada vez menos de cérebros nativos.

Simultaneamente, em nome da produtividade, da “ïnserção competitiva” na globalização, da flexibilização, do “custo Brasil” e de outras ideias e palavras pomposas, retumbantes, anuncia-se como uma boa, o máximo da modernidade pos industrial, o fim do emprego, das garantias minimas do trabalhador, o fim da era Vargas:, enfim, o maravilhoso capitalismo selvagem! Moderno é ter trabalho e não ter emprego ou, como alternateivas, “lixar-se” no desemprego desassistido ou na economia informal!

Dedução: Domenico De Masi tinha razão quando disse (3) .

“Os Séculos XIX e XX foram dois séculos caracterizados pela guerra dos pobres contra os ricos. Parece-me previsivel, pela história dos últimos anos, um novo tipo de luta: a grande guerra dos ricos contra os pobres”.. Quanto ao sistema nacional de desenvolvimento cientifico e tecnológico,

este não é autárquico, voltado para si mesmo, auto-suficiente, isolado, imune ao que se passa na sociedade ao redor. Considerando o Triângulo de Sabato, não tem sentido, por exemplo, que os órgãos especializados do governo e as universidades existam, funcionem, produzam resultados que são ignorados pelo setor produtivo ou não demandados pelas necessidades centrais da sociedade

De fato, o que vem ocorrendo no Brasil de maneira avassaladora, a partir de1990, acima exposto e comentado, tem profundos reflexos no objeto do presente trabalho., qual seja, o desenvolvimento científico e tecnológico nacional e suas perspectivas diante da complexidade da situação que o País atravessa atualmente. E coloca, diante dos atores do cenário de C&T, questionamentos absolutamente pertinentes: tais como: “pesquisa para que? para quem? e porque ?”.

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A conclusão é que as repostas a tais perguntas, se formuladas, serão desestimulantes caso não ocorram mudanças de rumo nas políticas ( o que fazer ) e nas estratégias ( como fazer ) do Governo Federal.

Observa-se que as propostas de mudanças mais comumente colocadas, com clareza ou não, incluem a necessidade de explicitacao, pelo governo, de um “Projeto Brasil”, amplamente negociado com a nação, baseado na retomada do desenvolvimento. Acrescente-se, porem, que tal Projeto não deveria propor um desenvolvimento centrado em politicas e estrategias que favorecessem, privilegiadamente, os interesses das multinacionais, dos banqueiros, dos especuladores internacionais, em obediencia às exigências dos organismos internacionais dominados pelos paises desenvolvidos hegemônicos., e embalado pelo fascínio da globalização onírica Ao contrário, o Projeto deveria explicitar politicas e estrategias voltadas inequiiivocamente para objetivos sociais: emprego, salário decente, educação, saude, moradia, etc. Politica economica, capital estrangeiro, banqueiros, multinacionais,relações internacionais,etc., estariam absolutamente condicionados ao atingimento dos objetivos sociais e não oo contrário. No momento parece que tudo se faz na logica economica de bem remunerar o capital, as empresas, as importações, o investidor, tudo medido por indices fixados pelos interessados, como se isto fosse uma finalidade em si : depois,então, verifica-se o que aconteceu com o cidadão, com o povão.

Todavia, qualquer que seja o Projeto Brasil, ele deve conter politicas e estratégias que viabilizem a possibilidade de um desenvolvimento cientifico e tecnologico consequente. Para tanto é necessário que contemplem, por exemplo :

1- fortalecimento das empresas nativas a- incentivo a criação e/ou retomada de empresas em segmentos

dinâmicos do setor produtivo, cujos produtos têm alto valor agregado; b- incentivo à formação de grandes conglomerados ( global

players); c- criação e projeção de marcas nativas no mercado interno e

externo; d-mecanismos financeiros e aparato legal adequados ( exportação,. aquisições,etc); 2- definição da amplitude e da profundidade de penetração do capital. . estrangeiro, sempre complementar ao esforço próprio; 3- valorização do mercado interno, através de condicionantes para

entrada e para sua exploração; 4- preservação e aumento do emprego e renda, e estancamento da

transferência de empregos para o exterior; 5- nivel educacional da força de trabalho e sua educação continuada; 6- aumento de valor agregado aos produtos nacionais; 7- valorização do “made in Brazil”; 8- definição de setores prioritários nos quais esforços e mecanismos

serão concentrados; 9- fomento à formação de grandes alianças estratégicas.

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10- proteção das empresas nativas nascentes e de alta agregação tecnológica;

11- recuperação e revitalização das empresas nativas de engenharia.

Analisada a ambiência nacional e feitas algumas sugestões a respeito, pode-se, então, retornar às questões relativas ao desenvolvimento científico e tecnológico, fazer proposições e concluir.

Conforme anteriormente exposto, além da conjuntura político-estratégica nacional em geral, ficou claro que outro fator negaivo importante a ser vencido é a instabilidade a que o sistema tem sido submetido A este, acrescentem-se os baixos investimenos em P&D pelas empresas locais, o porte modesto do SNDCT diante do potencial do País.

Seguem-se sugestões de ações a serem tomadas no sentido da superação dos óbices que dificultam o desempenho, evolução e amadurecimento do sistema..

1- Assegurar estabilidade ao funcionamento do sistema a - Criar a curto prazo os fundos e programas propostos, descritos no

final do Capitulo 3.0; b - criar outras fontes de recursos não orçamentários: regulamentar

doações fundos de aplicações tecnológicas ( risco ), etc. c - garantir recursos do Orçamento da União adequados ao

funcionamento das áreas de ciência básica , matemática e outras não cobertas por mecanismos setorializados;

d - garantir recursos do Orçamento da União para a contrapartida de compromissos de parcerias e de empréstimos internacionais (que devem ser ampliados quando financeiramente convenientes); e - promover alianças estratégicas com os estados e municípios para

aspectos regionais do desenvolvimento . 2- Reorganizar e crescer o sistema (aliança do MCT com outros ministérios) a - criar mecanismos de interação e coordenação com os outros

ministérios; b - voltar o sistema para a inovação ( enfoque em resultados ); c - modernizar a base física existente ( laboratórios, equipamentos,

Internet, fontes de informações, etc.) d - expandir o sistema no sentido de cobrir lacunas e diminuir

desequilíbrios regionais tanto no setor público como no privado, com aporte privilegiado de recursos,;

e - aumentar a quantidade e a qualidade do pessoal para atividades de C&T;

f - aumentar a interação internacional em C&T; 3 - Incentivar o avanço tecnológico das empresas a - aperfeiçoar e restabelecer os incentivos fiscais , colocando-os no

mesmo nível daqueles praticados pelos países desenvolvidos;

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b - implantar incentivos não fiscais atrativos para investimentos em C&T, tais como: uso do poder de compra dos governos, encomenda de desenvolvimento, risco compartilhado, interação empresas-universidades/institutos subsidiada, disponibilidade de infraestrutura laboratorial pública, etc.

c - criar mecanismos incentivadores para a realização de pesquisas e desenvolvimentos cooperativos, nas diferentes modalidades praticadas, entre empresas e destas com universidades, institutos e outras entidades pertinentes.

d - criar programas governamentais mobilizadores que induzam empresas a galgarem novo patamat tecnológico ( aeroespacial, nuclear, etc..)

e - criar programas e prêmios incentivadores de inovações, a exemplo do Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade- PBQP

f – criar incentivo fiscal ou de outra natureza, para o aumento de valor agregado a produtos de exportacão

g - dar tratamento especial e incentivos à inovação em micros e pequenas empresas ( aperfeiçoar o Programa de Apoio Tecnológico à Micro e Pequena Empresa- PATME ).

O aparato científico e tecnológico de que um país dispõe, é, no mundo atual, um fator central para atingir maior peso específico a nivel global, para o seu progresso, acúmulo de riqueza, bem estar do seu povo e gozo de plena soberania , desde que haja perfeita sintonia, política e estratégica, entre quem gera conhecimentos uteis e quem os transforma em poder e riqueza. Cabe ao governo cuidar dessa sintonia, alem de propiciar condições satisfatória para que ambos, geradores e usuários, desenvolvam-se plenamente, sempre voltados para os interesses nacionais.

Enfim, é isto, exatamente, o que está faltando ao Brasil. O presente trabalho foi escrito com a única pretensão de alargar a visão e

a discussão pública sobre essa realidade, e de contribuir , com criticas e sugestões, para que a mesma seja modificada, na expectativa que o Brasil possa, então, enfrentar e vencer os desafios do mundo atual, em benefício de seu povo.

REFERÊNCiAS BIBLIOGRÁFICAS

1- “Moeda: estabilidade e crescimento”, Rumos, Ano 24, No. 169, p. 26-36, Fevereiro,

2000, Rio de Janeiro. 2- COUTINHO, L., ”De novo no foco”, Rumos, Ano 24, No. 169, p. 15,

Fevereiro 2000, Rio de Janeiro. 3- De MASI, D., Entrevista, Correio do Livro, Abril-Junho, 1999, Rio de Janeiro.

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