em branco · a granada o morteiro o torpedo o foguete ... o fosso a estaca o farpado na pele ......
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folha de rosto
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ficha técnica
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folha de rosto
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Para Orsely
Para Heloisa
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Memória da Guerra
Primeira parte: segunda edição do livro de 1991Primeira parte: segunda edição do livro de 1991Primeira parte: segunda edição do livro de 1991Primeira parte: segunda edição do livro de 1991Primeira parte: segunda edição do livro de 1991 .......... 11
Arsenais, mostruário ....................... 13O estrangeiro............................. 17Guerreiros ............................... 18Anotação anacrônica ....................... 19No artefato .............................. 21Caça ................................... 23Missão 937 .............................. 24Bombardeios ............................. 25Campo de batalha ......................... 26Contingente ............................. 27Testamento provisório ...................... 28A hora.................................. 29Episódio ................................ 30O prisioneiro ............................. 32Amazona ................................ 34Máquina de guerra ......................... 35Opinião pública ........................... 36Do informe oficial .......................... 37Press release ............................. 38Entrevistas simultâneas ..................... 39Marinha ................................ 43Terceiras pessoas .......................... 44Civis ................................... 45Mulheres de luto .......................... 46
Os jogos ................................ 47Os avisos ................................ 48Reportagem.............................. 50Fragmentos de um armistício.................. 52Iconografia .............................. 54Escavações .............................. 58Recrutas ................................ 60Túmulos ................................ 61As pompas e as circunstâncias................. 62
Segunda parte: novos poemas, 2001-2002Segunda parte: novos poemas, 2001-2002Segunda parte: novos poemas, 2001-2002Segunda parte: novos poemas, 2001-2002Segunda parte: novos poemas, 2001-2002 ................................... 65
Terra de ninguém.......................... 67Código de ética ........................... 68No Tribunal de Haia ........................ 69Terra Santa .............................. 70Séculos depois ............................ 71Outra ocorrência .......................... 72Pedagogia do gueto ........................ 73A igreja sitiada............................ 75Desconstrução ............................ 76Maneiras de morrer ........................ 77Estado de sítio ............................ 79Cabul, 2001.............................. 80As duas fotografias......................... 81Na cordilheira ............................ 82Uma guerra sem nome ...................... 84
I
E por aqui estão passandoE por aqui estão passandoE por aqui estão passandoE por aqui estão passandoE por aqui estão passandoas formas céleres da morte.as formas céleres da morte.as formas céleres da morte.as formas céleres da morte.as formas céleres da morte.
Do poema Terra Santa,página 70 deste livro.
Onde nada faz sentidoOnde nada faz sentidoOnde nada faz sentidoOnde nada faz sentidoOnde nada faz sentidopara o pensamento neutro.para o pensamento neutro.para o pensamento neutro.para o pensamento neutro.para o pensamento neutro.
Do poema Sarajevo,livro Entre os meus semelhantes, 1994, pg. 77
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Arsenais, Mostruário
1. fundamentos:
a pedra a ervaa fissurana agulha da flecha
o ferro o gumea fendana lâmina da espada
o chumbo a chispao furono estampido da bala
2. outros fundamentos:
a pólvora o estopim a mechano centro do canhãoa cápsula a espoleta a brechano ventre da explosão
3. exemplos:
a funda a catapulta o trabucoa balestra a garrucha o arcabuzo bacamarte a espingarda a bazuca
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4. outros exemplos:
a clava o tacape a borduna o porretea faca a lança a baioneta no mosquetea granada o morteiro o torpedo o foguete
5. usos:
o sabre o dardo a cimitarrana carga da cavalariaa bombarda a salva os petardosna descarga da artilhariao raio o mostarda o hovercraftno estrago da tecnologia
6. defesas:
a couraça o guante a gálea o escudoo blocausse a blindagem o bunker
7. outras defesas:
o fosso a estaca o farpado na peleo ultra-som o infravermelho o satélite
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8. veículos:
a nave as frotasa belonave as flotilhasa aeronave as esquadrasa espaçonave as esquadrilhas
9. unidades navais:
a nau a galera o galeãoa caravela a corveta a fragatao destroier o cruzador o encouraçadoo submarino o porta-aviões
10. engenhos aéreos:
o zero a V-1o stuka a V-2o spitfire o exoceto mig o scudo mirage o patrioto F-15 o cruisero B-52 o tomahawko stealth o python X
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11. gradações:
as setas as brasas os pelouros as bombaslacrimogêneas desfolhantes asfixiantes
12. outras gradações:
a peçonha o azeite o ácidoa bactéria o vírus o átomo
13. balística:
o tiro: o rifle o projétil o fúsilo símil: o silo o míssil o físsil
14. os danos:
o tranco o tombo o lanho o corteo banho de sangue o rombo a morte
15. escalada:
a hostilidade a escaramuça o combateo massacre a hecatombe a catástrofe.
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O Estrangeiro
não sei onde estamosreceio o que estranho
quando escureceeu me escondo
ao me escondereu escuto
enquanto esperoeu espreito
não sei se me exponhonão sei o que expio
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Guerreiros
não vês as mesmas coisascomo eu as vejo
não tens as mesmas crençasas mesmas lendasas mesmas leis
não és o mesmo que eu
é outra a roupa que me vesteé outra a cor de minha pele
eu falo eu canto eu rezoem outra língua
em outra línguaeu amo e choro e calo
a outro deuseu devo a minha vida
por esse deuste levo a morte
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Anotação Anacrônica
Caros telespectadores,a guerra vai começar.Mostrada diretamente,a guerra já está no ar.Mas não como antigamente,o locutor a falar.Esta vai ser diferente.Olho no olho vai darao vivo, dente por dente,a morte espetacular.
Os mortos de antigamentemorriam preto no branco,surdos, mudos, devagar.Os de agora em treinamento,no colorido exemplar.Morrem de bruços, de flanco,de morte espetacular.
Os mortos de antigamentemorriam longe, notíciacom tiragem regular.Hoje caem de repente,como em filme de polícia.Morrem de sangue correntena morte espetacular.
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Os mortos de antigamentemorriam pontuais e elegantesentre as pompas militares.Os de agora morrem antes,sem horário nem lugar.Indistintamente morrem,e a morte é espetacular.
Em quantidades tão grandesque confundem no tamanhonossa morte singular.
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No Artefato
aperte o cinto:venha comigosobrevoare destroçarnosso inimigo
preste atençãoneste pedaçode puro açoe raio leiserem nossa mão
veja na telacomo o radarenxerga o alvoescolhe o andare uma janela
repare agoraque está na horade incandesceras águas-vivasde nossa ogiva
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respire fundoolhe na miracomo se atirae se arrebentacom todo o mundo
que sensação!parece um jogo,não fosse o fogoque deixa atráse explode o gás.
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Caça
o teleolhovigiameus gestosseguemeus passosno blecaute
o microfoneminúsculoo sonara antenasondammeus batimentos
aqueço o arcom meu alentoesfrio a terraquando tremotermômetrosme localizam
meu tatoe minha sedemonitoradosme imobilizo
sensoresme identificamcensoresme silenciam
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Missão 937
Vem do princípio do mundo oronco fundo flamejando.Vem das trevas de outro tempo.Estrela cadente o míssilAtravessa o município.
Nos olhos desencovadose nas sôfregas narinascavalos relincham, trôpegostouros desabam, carcaçasruindo no chão difícil.
Toda cidade é abertaGuernica, Nova Hiroshimareacendendo desertao incêndio que vem de cima.
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Bombardeios
Varavam pela noite amanhecidasob as constelaçõesde sóis fugazes.
Varavam pela noite incendiadaouvindo os animaisem suas jaulas transtornados.
Varavam pela noite ensolaradagalos enlouquecidos pela insônia,morcegos desvairados por relâmpagos.
Varavam pela noite conflagradameteoros desorbitados,sobre as crateras.
Varavam pela noite calcinadasob um milhão de sóis sonâmbulos,ultrapassando as lindes longínquas do pânico.
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Campo de Batalha
onde a trilha da patrulhaonde ela pára
onde a fagulha na palhaonde ela estala
onde rilha a matilha da metralhaonde a ira de abelha da metralhaonde ela atira
onde brilha a centelha da fornalhaonde a pira vermelha da fornalhaonde ela fira
onde há limalhaonde se engelha
onde se empilhao restolhoo entulho
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Contingente
Celestes e marinhos índigos,tantos rostos moços sorrindonas arquibancadas repletas,as flâmulas no ar e os claros cânticos,quantos eram?
Desfilando em coro as bravurasdos versos arcaicos – avantecamaradas, nos céus da pátrialuzem alto os pavilhões – galhardias,quantos eram?
Sob as arcadas, junto aos trilhos,nas estações rodoviáriase nos tombadilhos, de cáqui,os brados e as bandeiras drapejando,quantos eram?
No silêncio geral da noite,murcho no mastro o estandarte,de luvas, de botas, de máscarasna terra de ninguém, sozinhos, quantos,quantos eram?
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Testamento Provisório
caso eu não voltese eu não puder voltareu deixo para você
as fotos os vídeos as fitasas cartas os discose as pétalas dentro dos livros
os selos os títulosos cartões magnéticose os cartões postais destes lugares exóticos
deixo vinte anos incompletosde lembrançasdeixoesses vinte anosa pensão vitalíciaa paixão que trazia
e nenhum vaticínioao dispor datar e assinarem pleno juízo e raciocínio
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A Hora
Aqui ninguém escolhe sua mortecomo cena estocada num depósito,mercadoria ao alcance da mão– bala, baioneta calada –para o primeiro plano do pintor.
Ninguém escolhe a formaluminosa ou escura da explosão– bomba, mina, granada –casual estilhaço perfurandoa minúcia do espaço.
Aqui ninguém escolheo ângulo do corte,o ar que falta, o vãopor onde as águas saltamno oceano do acaso.
Pode-se apenas apressar a hora.
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Episódio
Ouviria arvoredos,a folhagem arfando.Talvez a maré, vagasna orla imaginária,o trânsito rolandoao longe na cidade.
Alguém sobre o tabladoestremece a madeira,pulam, parelhas bailam.Pode-se ver o somque chega iluminandoespelhos que trepidam.
Ouviria assoviosdiminutos, cigarrascéleres, vespas, vidrospartindo-se, metaisininterruptos, trensnum túnel sem saída.
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O estrondo que detonaos fogos de artifícioensurdece a sirene,o terremoto, o escândalode um sacrifício mínimoque ninguém ouviria.
Acontece à distânciae sem altar, debaixode um escombro qualquer.Caixa que se esvazia,de dentro para fora.É quando cessa o som.
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O Prisioneiro
A Convenção de Genebrame protege se não morro,se não corro, se eu me entrego.
A Convenção de Genebrame defende do perigono que digo e silencio.A Convenção dita as regras.
A Convenção de Genebraalivia minha fomese falo claro meu nome,declaro número, postoe data de nascimentoque confira com meu rosto.À Convenção nada nego.
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A Convenção de Genebrame garante se eu não fujodurante esse jogo sujo.A Convenção me dá trégua
Mas se outra força me obrigaà sujeição inimiga,mas se a impostura me abalae falseia minha fala,mas se outra dor me devora,quem me chora?Que tratado se celebra?Que lei de paz ou de guerra,que estatuto sobre a Terra,se essa Convenção se quebra?
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Amazona
Pelo barrete frígio,na estátua da vitória,esvoaçavam soltos.Preciso corta-los ou prende-lossob o elmo, sob o capacete,meus cabelos.
Mudado o arco,mantenho o coraçãonum lado e o seio noutro,na malha que me iguala.
Sem sangrar, sem contatoaguço a pontariacom meus olhos noturnos.
Montaria blindadao helicóptero saltacomigo a barricada.Lanço chamas, medusasde língua sagitáriaceifando as várzeas secas.Eu estanco, eu disparo,e é como se abortasse.
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Máquina de Guerra
Na versão mais recenteo peso bruto médiochega a cento e catorzequilos, com vinte e cincode instrumentos diversospara a sobrevivênciaem âmbito adversoe doze de armamentos,especificamente,conforme o diagramana figura do anexo.Tem noventa e seis horasde autonomia líquidasob extrema pressãoe uso pleno de tiro.Oitenta e dois por centosão reutilizáveisnuma contra-ofensivaou noutro desembarque.Sendo à prova de choque,em condições normaisde bom funcionamento,pode alcançar os cemanos, ambos os sexos.E é biodegradável.
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Opinião Pública
25 % querem25 % não querem25 % não sabem25 % não querem saber
33,33 % têm medo33,33 % não têm medo33,33 % emudeceram
36,4 % acreditam em parte33,7 % não acreditam em nada29,4 % querem acreditar em algo23,2 % são absolutamente céticos28,6 % são absolutamente crédulos39,5 % dão respostas múltiplas desesperadas
38 % já foram antes32 % nunca foram19 % não se lembram como era24 % ainda não se esqueceram47 % não faziam a menor idéia76 % ficaram perplexos
X % estão certosY % estão fartosN % estão mortos
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Do Informe Oficial
issoo inimigo não deve descobriro aliado não pode perceberalguém de fora supore a família sequer imaginar
issoque teria havidoquando ele estava exatamente láou porque foicomo disseram
se aconteceu
istoque tememos
ou aquiloque omitiram
issoque todos nósum dia saberemos
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Press Release
Códigos dígitos alfanuméricos XP43TAZ92 divulgue-se: OMinistério da Defesa diz (1) que as baixas foram ínfimas – 0,853 %abaixo do cálculo prévio aos treinos táticos. (2) Graças à precisãocirúrgica das barragens houve aproveitamento ótimo, destruindo-se473892456 alvos adversários com 37458694352 obuses conven-cionais e 6758329 teleguiados multimeios. (3) A nota da cúpulaprevê índices mínimos de óbitos na península, per cápita de $ 8,796mil no rateio logístico das perdas nas forças aéreas, náuticas, terres-tres e anfíbias; (4) Outro tópico, ipsis literis: vítimas civis contráriasenvolvem questões filosóficas polêmicas, de efeito psicológico so-bre o público, não cabendo réplica ao noticiário eletrônico por mo-tivos políticos. (5) É remota a hipótese crítica do uso de armas quí-micas, atômicas e biológicas, que agravariam os proféticos cenáriosapocalípticos todavia fictícios. Prática aconselha limitemo-nos aparâmetros realísticos. (6) Últimos números: 7365942 toneladasmétricas de incendiárias, 986573 pés cúbicos de líquidos sulfúricos,458732 deserções inimigas voluntárias, 4657829 consultas médi-cas. (7) Déficit orçamentário, $ 94,8 bilhões, pagáveis com subsídi-os dos beneficiários. Finis. Facsímiles. Arquive-se.
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Entrevistas Simultâneas
1. O general:
Muito simples.Vou atacá-los
cercá-losarrasá-lostirá-los
fora do páreo(out of business).Assim de simples.
2. Ainda o general:
Pelo alto ede lado, sim.Mas tambémpor cimapor baixode frentepor dentroe através,como você quiser.Próxima pergunta?
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3. O inimigo do general:
Cortaremos suas cabeçase as mandaremos de volta,para que não se esqueçam.A areia cobrirá seus ossose apagará os rastros de seus corpos.O sangue deles tingirá o crepúsculo.Incendiaremos os mares e os poços.Extinguiremos as luzes dos astros.
4. De uma pesquisa:
Oitenta por cento redondos aprovame treze vírgula sete desaprovam.Seis vírgula três ainda não provaram.
5. O diplomata:
A guerra tem uma lógica própria,alheia às nossas normas de pensar,à nossa idéia do que seja a próprialógica.
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6. Uma refugiada:
Não somos índios, sabe?nem isso é o faroeste.Vamos sobrevivere mostrar a vocês,antes que o mundo acabe.vai ser pior que a peste.
7. Soldado de infantaria:
Eu me alistei,é o meu trabalho.Vou lá e façoo que vim fazer.
8. Um repórter:
São cenas que jamaispoderão ser mostradas,tamanha a violência,tais as crueldadesperpetradas à-toa,indiscriminadamente.
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9. A enfermeira não identificada:
Aqui mesmo no hospital,antes da inspeção dos médicos,eu injetava o veneno.Em qualquer parte do corpodeles, onde quer que desse.Quando fugiam feridose corriam para cá.Matei uns 18 ou 20.
10. O comentarista especializado:
Estrategistas militaresjá se debruçam sobre ela,a mais fantástica das guerrasdos tempos modernos, que alteradefinitivamente a arte bélica.Os conflitos futuros serão brevese fulminantes; nenhum desperdíciode efetivos ou munição. Feéricos,farão das blitzkriegs meros exercícios.Não tenham dúvida. Estamos assistindoa uma verdadeira aula. Um clássico.À altura das epopéias homéricas.
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Marinha
O olho de vidro do pássaroO olho atônito do pássaro(Quem me caça?)
A guelra negra do peixeA treva espessa do peixe(Quem me pega?)
A crista grossa da ondaA espuma espúria da ondaA goma torpe da onda
Sobre afogadas florestasque apodrecemSobre afogados pomares
Entre essas duras areiasque anoitecemEntre essas cruas arenas
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Terceiras Pessoas
Em meio aos destroços do abrigonão havia sinais de lutae ninguém vestia uniforme– fardas, camuflagens, emblemas.Não eram presos nem reféns.Sem vestígio algum de armamentocaseiro, rebelde, restritoàs forças regulares, nadaindicava beligerância.Ou pacifistas, partisanos.Não era base militar.Foram, todas, balas perdidas.
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Civis
Certa vez pelo mar,enquanto ardiam montanhas.
Uma vez sob a chuvageral que há nos pântanos.
Alguma vez contra as farpasde arames sobre escarpas urbanas.
Talvez, como antes,da matança na buscaentre os panos de um parto.
E através de lavouras e pastos,por estradas, por escadarias,subterrâneos, canais.No convés em cardume.Comboios. Caravanas.
Outra vez a céu abertoa fuga para fora.Outra vez forasteiros,refugos no deserto,enquanto ardem as dunas.
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Mulheres de Luto
Ainda não nos esquecemosde seus gestos estatuados,as mãos espalmadas, os dedoscrescendo para o espaço aberto.
De seus gemidos, gritos, uivos,riscos de unhas pelas lousas,cordas puxadas pelos nervosaos precipícios dos ouvidos.
Olham para nós atravésde nós com seus enormes olhos,os véus de um preto inconsolável,faróis queimando o breu dos poços.
Às vezes vergam sob o peso,os ombros carregando sombrasdo que não vemos, embalandoseus despojos sobre os joelhos.
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Os Jogos
Eram de chumbo, coloridasminiaturas de coleção.E foram de folha-de-flandres,balsa, pinho pintado, plásticosde ilimitada fantasia.Fizeram ruídos, piscaramluzes de bateria, jorrosnos labirintos de silício.Só não mostravam direitoa cor e o cheiro de um ferido.Não imitavam direitoo medo aceso pelo corpo,o fim do jogo, quebradaa mola, a corda que havia.
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Os Avisos
os oráculos, as sibilasastrólogos, videntes, médiunsadivinhos, ciganos, bruxos
o relato, a lembrança, o pesadeloo manuscrito, a cópia, o palimpsesto
e tantos olhos terão sido poucos
as cartas, os búzios, os númerosos dados, os cristais, cometascruzando o espaço da galáxia
os cálculos, os neutros simulacrosos lúdicos cenários, as manobras
e era preciso ver
o nexo o logro o descalabroo repto o fragor o escarcéu
era preciso olharespiar
foi preciso observarcontemplar
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a retirada a sucata a fumaçao crepúsculo da raça a debacle
foi preciso fixargravar
o êxodo o exílio o expurgoas grandes massas ambulantes
será preciso ver
um a umo corpouma a umaa cara a bocauma a umaa lágrima a vísceramultiplicada e sóuma a umaa vistaum por umo olho que vê
a encenaçãodo caosas estufas do invernoa terra devastadaos círculos do infernoa danação.
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Reportagem
Ponho as mãos na cabeçaPonho a boca no mundomas não basta
Cubro o rosto com meu lençoe não passaCubro a cara, tenho máscarae não passa
Debaixo da carapaçacresce a cascaDebaixo da carapuçado capuz, do filtrocresce o medo do que pensocresce o medo que esmiuçaminhas crenças
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De pé nesta fronteira do universoeu testemunhoDe pé nesta fronteira eu observoo que se passaNesta trincheira eu sobrevivomas não bastaCravo na terra minhas unhasnessa terra que pode ser a minhaque pode ser a últimae não morro
Ponho a voz num telefonePonho o olho numa câmerae grito esse pedido de socorroque não ouço
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Fragmentos de um Armistício
( 1 ) Mesmo sabendoque ninguém nemtratado algumabolirá esse passado
que texto algumem qualquer língua
nenhuma BíbliaTora nenhumaou Alcorãoconsolará essa memória,
( 2 ) embora sangre e choreo coração de Jerusalém
– envolto em lenços, mantosverônicas, mortalhas –
embora não hajaem toda Jerusalém
– muros, templos, muralhasde peregrinação –
onde escondertão longa lamentação,
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( 3 ) antes que nadareste a queimar –nenhuma histórianenhuma pólvoranenhum petróleo
antes que tudovolte a secar –todas as lágrimastodos os frutosdo paraíso,
( 4 ) desça o silêncioem cada boca:sobre o barulhoda multidão,sobre o clamordas profecias,sobre o murmúriodas orações;sobre esses ecosem cada ouvido.
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Iconografia
1.
Ainda não sabíamos. Vocêsoube aos poucos e soube de repente.Vespertinos, semanários, cinema.As fotografias inesquecíveis,os filmes que não se apagam. Vocêviu, você volta a ver,na mídia, na memória,
as mutantes maneiras de morrere de matarque nos ensinam incessantementea vida inteira
o obsessivo fascínio da morteo assassínio obscuroo genocídio obscenoo homicídioa execuçãoo extermínio.
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2.
Mil novecentos e quarenta e cinco:cadáveres despidos e empilhadosaparecem no coração da Europa– ossadas, cabeleiras, dentaduras.O judeuzinho de boné, a estrelade David no paletó, mãos ao alto,nos contempla debaixo do fuzil.Filas de mulheres magras e nuas,branquíssimas, sobre a neve alemã.A menina queimada e sem vestidogritando pela estrada de napalm.No beco de Shatila as brancas éguaspalestinas, as patas paralelasrijas, desmontadas, amontoadas.E na planície italiana os corposdo casal, pendurados pelos pés.Nos vilarejos curdos as famíliasse abraçam sufocadas pelo gás,outras sucumbem nos confins do frio.Há tanques nos bulevares de Praga,na Pequim das bicicletas caídas,lagartas avançando em Budapeste.
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Quase imóvel no ar fotografadoo espanhol vai tombar, já trespassado.E os desaparecidos argentinos,seus pequenos retratos ampliadospela Plaza de Mayo, dando voltas.Aqui, na forca falsa do suicídio,ajoelhado, Vladimir Herzog.Da pistola apontada a bala chega ederruba o cinegrafista no Chile.Numa rua do centro de Saigono revólver do chefe de polícia,o cano curto no ouvido do preso.Rendido ali no chão do Salvadoro jovem jornalista americanorecebe o tiro sem misericórdia.E os olhos lancinantes de Lumumbaentre os punhos anônimos do Congo.E os olhos pedras claras de Guevara.
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3.
Voltaremos a ver, a ter notícia.
Acontece outra veznas avenidas arborizadasdo Oriente, ao ar livre.Nas altas cordilheiras do continente,onde deuses menorescolapsam, à luz do dia.Nos subúrbios insubmissos do império,agora,mil novecentos e noventa e um.
Já aconteceu, e ainda não sabemos.
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Escavações
Um vento em câmera lenta levantamateriais que rodopiam, planam,desmoronam – animais abatidossobre um chão de lodo seco, moroso.Detidamente chamas carbonizamparedes demolidas, fumos crescemamorfos pelos ares encardidos.
Chuvas alagarão estas ruínas.Outros ventos virão em sucessãosobre estes vidros, alumínios, açospolidos, fibras plásticas, películaspolicromadas. Sobre os utensíliosde argila, estanho, prata, porcelana.Os pós de mármores, cobaltos, ouros.
De camadas, andares, mãos de tinta,surgirão entre as muralhas e o musgocerâmicas, relevos, torsos, bustos,uns sobre os outros, de costas, de borco.
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Pelas cavernas, catacumbas, casamatasaparecerão, nasmesquitas, sinagogas, catedrais,pirâmides. Papiros, pergaminhos,alfabetos, iluminuras, fórmulas.Flautas-doces, guitarras, elepêstrincados.
Enquanto o vento amaina devagar,no retrocesso, em foco, panorâmicas.ressurgirão
Bagdá Cartago StalingradoBerlim Beirute BabilôniaManágua México MadriAlexandria Londres RomaHanói Varsóvia Tóquio Tróia
por estas galerias de vitrinas,estas sequências mudas de museusacumulando-se baldios.
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Recrutas
Dizem quase nadaos nomes e as datasnesses granitos.
Diriam menosos poemasdos grafitos.
Não entendíamosseus mitos.
Nunca ouviríamos.Nem mesmo os gritos.
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Túmulos
Sozinho, em massa,corpo a corpoinumerável,cara a caraemudecida,todo soldadoé sempre umdesconhecidono arco inútildo triunfo.
62
As Pompas e as Circunstâncias
onde estãoos tambores cavando?o infinito clarim,onde grita?onde os comandos, ondeas salvas de festim?esses sons consolando,esses sons onde estão?
ondeos que há pouco passavamsob o sol marcial?
– a marcha densa, a guardaluzindo em alamares,talabartes, medalhasna flanela de gala(nas cabeças de estátuaa pala cobre os olhosmas revela os olharesmeditando encobertos) –
– os cavalos, seus pêlospenteados, os castosarreios como elásticosmantendo sem surpresaas medidas precisasdo passo, pata em parteno ar, parte no piso,leve o tinir dos cascos –
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– celebrantes silentes,espadas e fuzisdas batalhas antigasparalisando a tardenas bandeiras batendoem lentidão solene,a surdina encantadade umas pedras, das árvores –
ondeos que há pouco passavamsob o sol marcial?
o féretro, o esquife,os negros ataúdes,as funerárias urnas,os múltiplos caixões,em que tumbas e túmulos,sepulcros, sepulturas,sozinhos se despedem,ausentes se acumulam?
que silêncio os esconde?que antecipada treva?que verdade se nega,que memória se ensombra?
secretos, pessoais,onde passam agoraos que há pouco passavamsob o sol mundial?
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II
Voltaremos a ver, a ter notícia.Voltaremos a ver, a ter notícia.Voltaremos a ver, a ter notícia.Voltaremos a ver, a ter notícia.Voltaremos a ver, a ter notícia.
Do poema Iconografia, página 57 deste livro.
Sem declaração de guerra Sem declaração de guerra Sem declaração de guerra Sem declaração de guerra Sem declaração de guerra um atentado me espreita um atentado me espreita um atentado me espreita um atentado me espreita um atentado me espreita
anonimamente nu. anonimamente nu. anonimamente nu. anonimamente nu. anonimamente nu.
Da série Hora Americana, livro Os fatos fictícios,1980, página 126.
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Terra de Ninguém
Entre uma fronteira e outra,uma trincheira e outra,a terra que sobra.
Entre duas muralhas,duas batalhas,uma terra doente.
A que resta após o incêndio,no silêncio ainda quentedas cinzas.
Após todo o desperdício,de volta à pedra imperfeita,de volta ao fogo do início.
Onde deixamos os mortos,onde se escondea obra desfeita.
Desmilitarizada.Desabitada.De ninguém.
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Código de Ética
Eram todos imigrantestransgressores sem destino
Eram todos habitantes de outras coresclandestinos
Eram todos estrangeiros mestiçadosou ciganos
Nenhum deles prisioneiro encarceradopor engano
Nenhum deles condenado ou torturadosem motivo
Com certeza muita gente se inocentesaiu viva
Com certeza necessária essa limpezanossa pureza étnica
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No Tribunal de Haia
Estava acontecendoe ainda não sabíamos:
às portas da Europa nova,a da bandeira estrelada,as velhas trevas,as velhíssimas tribosna expedição de caçaà outra raça,à outra fé.
De novo os homens quase nuse desnutridos, mãos nas cercasdos campos de concentração,olhos na câmera, assombrados.E o estupro, a execução em massa,a longa sepultura oculta.E a fuga, a expulsãoda casa, da terra, da vista.
Para não esquecer:Sarajevo, Bósnia-Hezergóvina.E Srebrenika, Kosovo.
Para não esquecer:Karadzic, Milosevic.
70
Terra Santa
A terra é grande, o tempo é longo.E por aqui passaram raças,passaram exércitos, reis.
A terra é funda, o tempo extenso.E por aqui passaram templos,passaram profetas, palavras.
A terra esconde, o tempo róios corpos, utensílios, nomesque por aqui passaram ontem.
A terra é sacra, o tempo mudaa lei, a lenda, a eternidadeaqui sonhada e prometida.
A terra é uma, o tempo é duplo.E por aqui estão passandoas formas díspares de tudo.
A terra é pouca, o tempo é neutro.E por aqui estão passandoas formas céleres da morte.
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Séculos Depois
À luz de um dia qualquer,entre as pedras palestinase os petardos de Israel,um homem e seu meninose protegem, protegiam.Nada podemos fazersenão olhar a sua morte.
Nada podemos fazernessa terra outrora santaonde há meninos morrendooutra vez. Onde meninosde outro lado, de outro deus,miram, apontam, atiram,nessa terra outrora santa.
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Outra Ocorrência
Era uma tarde habituale quase inteiramente azul.Uma terça-feira comum,sem provisão para notícias.Quando a explosão estilhaçouvitrinas, copo, corpos, óculos,pela avenida se espalharamobjetos pessoais banais– mochilas, cadernos, calçados.Nada de novo ou desusadona velha frente oriental.Na quarta-feira ocorreriaa represália e novamentea tarde azul e uma explosão.Na semana seguinte ou noutra.
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Pedagogia do Gueto
Desenrole o arame farpadoao longo de todo o perímetro.Coloque vigias armadosa cada meio quilômetro.
Catalogue os habitantespela roupa e pela língua,por todo traço marcante,qualquer coisa que os distinga.
Se levam no peito uma estrelade seis pontas, melhor ainda.
E cuidado com as bombas.Sabem no corpo escondê-las.É seu costume explodi-lasonde são menos bem-vindas– nossos mercados e filas,onde conosco eles tombam.
Melhor mantê-los distantescom seus cheiros e manias,seus esquisitos turbantes,suas barbas, suas heresias.
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Melhor fecharmos fronteiras– túneis, rios, ruas, muros –por onde à noite se esgueirame nos deixam inseguros.
Protejamos nossa esquina.Que nenhum estranho volte.Acendamos holofotes,espalhemos nossas minas.
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A Igreja Sitiada
(Belém, Palestina, 2002)
As igrejas foram feitaspara o silêncio da fé,para a palavra da seita.Seja qual for o seu nome,é onde a fome de um deusbusca alimento. Basílicaou mesquita ou sinagoga,todo templo é um abrigo.
Esse que vemos cercadopelas armas de outras crenças,nele é que terá nascidoo filho de seu deus, mortoque renasce entre os fiéis.
Toda igreja é comunhão.Mas essa, desamparada,essa igreja é solidão.
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Desconstrução
Não foi como sabíamos.
Não como a flor se abree lentamente ardeem seu aroma e forma.
Ou como um filho crescee velozmente sobeas escadas das horas,as que nos envelhecem.
Não foi como sabíamos,segundo as velhas normas,isso que todos vimos:
a dupla flor despetalar-se soltaem vendaval de estrondos, negra estrelaque desmantela a duração e caisobre o seu centro, avessa crateraa dupla flor que se desmancha e tombadesde os altos espaços que se fecham;
o assombro, o escombro, as sombrassem paradeiro ou tumba.
Não, não como sabíamos,isso que agora rondaa nossa morte anônima e comum.
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Maneiras de Morrer
Há o morrer que chamamos natural,de desgaste ou doença,ao fim do caminho.Um morrer de dentro, sozinho.
Há o morrer que vem de fora,procurado, nominal.Por arma branca ou de pólvora,um morrer antes da hora,por qualquer instrumental.
Há o morrer da própria mão,o de matar-se.Por secreta ou por expressa razão,um morrer que afirma o não,o de apagar-se,pessoal.
Há o morrer que vem de longe,destinado a muita gente,um morrer impessoal.Por arma antiga ou recente,morrer de força bruta, desigual.
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E este morrer abrupto do matar-se junto,que multiplica o nome pelo número,que ao imolar-se faz mais fundo o túmulo.Este morrer selvagem,a envergonhar o do animal caçado,este morrer de uma geral matança,que faz mais sujo tão insano assunto,ao invadir a solidão da morte humana.
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Estado de Sítio
Não é preciso vestir uniformesNão é preciso limpar armamentosNão é preciso entrar em forma
Já estamos todos compulsoriamenteconvocados Estamos todos juntosCercados Despreparados
O inesperadoa desordempode chegar
Pela janela abertapelo envelope abertoa boca abertapode entrar
O nome do lugar foi Lídice,Cracóvia
Agora o nome do lugaré Nova Iorque, é Ramalá
Agora o nome do lugaré Tel Aviv, é Jenin
Pelo Estado-maiorPelo estado de graçaeis o estado de sítio
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Cabul, 2001
Fora do tempo e do mundoessas mulheres sem rosto,suas passadas sem corposob seus panos mortalhasnessas sandálias de pó.Um mundo só entrevistopelas viseiras de rendas,um mundo só masculino.
Fora do tempo e dos olhossão mulheres invisíveissem cabelos, sem desejos.São mulheres subterrâneasentre o nascer e o morrer.
É outra a guerra que perdemdetrás de quatro paredes,a dessas cegas mulheresdesses mais cegos guerreiros.Guerra sombria e sem tréguacontra meninas crescendodebaixo desse domíniofora do mundo e do tempo.
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As Duas Fotografias (*)
Dessa mulher afegãnão são os olhos imóveis,onde um brilho antigo saltados abismos da memória.Nem essa boca paradana estrita mudez dos lábios,a rude pele crestada.Não, não no rosto de agora.Nosso confuso remorsovem do rosto da menina.
Da perturbada surpresade seus olhos infinitos,da desusada belezade seus desenhados lábios– sem sorriso a interpretar.Da desolada pobrezadesses panos – os cabelosquase ocultos. Da tristezaque em seus traços se adivinha.Do fulgor sem amanhã.
A dor do mundo? O silênciodos deuses? A espera vã?Palavra alguma acompanhao abandono, o desperdíciodessa menina afegã.
(*) Fotos de Sharbat Gula, feitas por Steve McCurry em 1985 e 2002para o National Geographic Magazine. A reportagem da edição brasileira,National Geographic Brasil, é de abril de 2002.
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Na Cordilheira
Na cordilheira há terremotossoterramentosterratenentes
Na cordilheira há plantaçõesfumigaçõesfuzilamentos
Na cordilheira há desenhosrupestreshá sequestros
Na cordilheiraos cordeiros de deusmorrem mais cedo:nos campos lavrados,no centro da praça,no meio da missa.
Recrutas ou paisanos,rebeldes, inocentesou passantesmorrem mais cedo:
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pelo fogo cruzadocrucificados,pelo fogo bem pagodos traficantes.
Longe do mercado,longe do negócio,longe do governo.
Longe de seus deuses.Na cordilheira.
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Uma Guerra sem Nome
Neste exato momentoe noutro fuso horário,enquanto escrevo,enquanto você lê,
alguém se agarra aos destroçosde uma balsa, alguémse espreme num contêiner,alguém se entrega
ou corta o arame de uma cercaou fura um muro de fronteirae insiste.
Enquanto mercadores negociampreços para a travessia,diplomatas ponderam,governos se debruçamsobre as estatísticas.
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Não há declaração formal de guerra,não há inimigos.Há uma falta e uma sobra,há um calor e um calafrio.
Neste exato momentoa patrulha ouve ruídosna praia inacessívelonde um barco fracassa.
No território proibido,sem entrada nem saída,o noturno olho verde do vigiadelata o desarmado invasor.
Para além dos limitesdos tratados, ininterrupta,sem uniformes, civil,prossegue calada e sem fimuma guerra sem nome.Neste exato momento.
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