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Trecho da publicação lançada pela Companhia Editora de Pernambuco.

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Page 1: Elucidário
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BBBB

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BBACO. (Do latim Bacchus; origem de bacanal; Dionísio, na Grécia; deus do vinho, da alegria, da orgia e do deboche; epítetos: Brômio, Ditiram-bo, Líber, Lieu e Tioneu).

1. Divindade representada por jovem de cabelos longos, de rosto corado e risonho, e vestido com pele de ani-mal e coroa de pâmpano (broto de videira); segura um cacho (racimo) de uvas ou um cálice de vinho e sen-ta sobre um barril, quando não num carro puxado por leões, ou mesmo outras feras.

BALAÚSTRE. (Do grego balustion, pelo italiano balaustro; baluster, no inglês, e balustre, no francês).

1. Colunelo assim chamado em razão de sua forma mais comum lembrar (remotamente) o cálice da flor da romeira, romãzeira ou romanzeira, que produz a romã ou granada (balaústia, balaústio ou balaús-te – Caldas Aulete). Quando em sequência, suporta corrimão, parapeito ou peitoril etc., ou tem apenas função decorativa, formando a balaustrada. 2. Forma de b. Expressão equivocada para se referir a qualquer objeto avolumado em sua parte baixa (corpo bojudo) e estreito na sua parte alta, ou pescoço, sendo por isso mais se-melhante à pera – piriforme – ou ao figo – fici-forme; tenha-se em mente que o colunelo dito

balaústre não possui formato próprio e específico, podendo ter desenho até rebuscado, com influência de dife-rentes estilos arquitetônicos – jônico, dórico, coríntio, românico, egípcio, gótico, barroco etc. –, ter ou não ter tanto o capitel quanto a base (Veja FUS-

TE) ou mesmo ser apenas cilíndrico, roliço ou de seção quadrangular.

BANDÈGE. (Francês; plateau-dou-ble, bandeja dupla).

1. Bandeja com dois pavimentos, unindo-se o de cima ao de baixo por meio de quatro montantes que mantêm entre ambos uma distância – uma altura – conveniente; possui duas alças na bandeja de baixo. É acompanhada ou não de um suporte de pernas altas, articuladas ou fixas, em forma de X.

BANQUETA. (Diminutivo de banca ou ban-co, bancada, mesa ou escrivaninha; móvel de assento, tamborete – Veja ESCABELO e TAMBO-

RETE; certa categoria de banco – banquette ou bancelle, em francês –, constituído de três pranchas de madeira, sendo duas delas verti-cais, formando as pernas, que se prolongam acima do nível da prancha do assento, à guisa de braços).

1. Nos templos católicos, degrau atrás do altar (do latim altum, lugar alto), junto ao retábulo (Veja RETÁBULO), no qual se assentam um cru-cifixo e quatro (ou seis) castiçais ou tocheiros (Veja FAXINA e GUÉRIDON) para velas de cera (céreo ou círio; cirieiro é quem produz velas, e cirial é o castiçal ou lanterna de haste longa levado nas procissões). // Por extensão, ban-queta é o próprio crucifixo e/ou o castiçal, fre-quentemente de base triangular, utilizados na banqueta do altar. // Castiçal (de banqueta). 2. B. de cera. “Certa ordem de velas de cera que ardem em alguma função eclesiástica”, segun-do Viterbo; expressão usual nos séc. 14 e 15.

BARRETE FRÍGIO. (Do italiano barretta e do grego phrygios, relativo à Frígia, região da Ásia Menor; píleo – do latim pileus – ou gorro que se molda ao formato da cabeça e cuja ponta se dobra em cima, de trás para a frente; barrete usado na Grécia e em Roma pelos homens livres e pelos escravos libertos; teve sua imagem difundida por toda a Euro-pa, particularmente na França, onde foi ado-tado oficialmente no séc. 18 como símbolo nacional, conforme aprovado pela Assem-bleia Legislativa Francesa em 15 de agosto de 1792; trouxe então de volta o costume de Balaust rada do Museu do Ipiranga (São Paulo)

Banqueta barroca

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BRoma, onde os escravos andavam sempre de cabeça nua, cobrindo-a apenas quando con-quistavam a liberdade. // Elemento de deco-ração largamente aplicado desde a Revolu-ção Francesa (nada do agrado de Napoleão Bonaparte, que o aboliu).

1. Símbolo da Liberdade (equivocadamente divulgado como símbolo da República – Veja

APÊNDICE 42) popularizado pela Revolução Francesa, figurado frequentemente na ponta de uma lança (pique); barrete chamado em francês de bonnet phrygien (de lã vermelha, foi sinal de patriotismo levá-lo à cabeça). // Símbolo corporificado por jovem de seios nus (veja-se A Liberdade guiando o povo, tela de Eugène Delacroix, 1798-1863), figura conhe-cida desde 1850 por Marianne, e que viria a se tornar universal. 2. Parte integrante das armas da 1a Repúbli-ca Francesa, em que é figurado na ponta de uma lança, em alusão ao episódio da história romana em que os matadores de Júlio César (101-44 a. C.) saíram às ruas carregando igual barrete, também na ponta de uma lança, como símbolo de liberdade. É símbolo repro-duzido em selos postais e moedas de diferen-tes países, como a própria França, o Brasil, os Estados Unidos e a Argentina (comparece em seu escudo de armas), entre outros.3. Elemento integrante de marcas – poinçon de maître – de estanho francês do final do séc. 18, como as de Nicolas Louis Boicervoise (Paris), de Jean Mosseder (Estrasburgo) e de Launay (Saint-Malo), ou mesmo contemporâ-neas, como a da Maison Chaumètte, de Paris.4. Marca de prata francesa, instituída em 1797.

BASALTO. (Pelo francês basalte, certa rocha que empresta seu nome à cerâmica conheci-da como basalto preto ou basalto egípcio, do ceramista inglês Josiah Wedgwood; a palavra basalto vem da língua que se falava no Egito dos faraós, informação essa que nos chegou através de textos bíblicos e também gregos – basanites – ou árabes antigos; o natura-lista romano Plínio dá origem etíope a essa palavra, e parece que os egípcios iam mesmo buscar a rocha na Etiópia – Abissínia – para fazerem suas esculturas).

1. Rocha de grande dureza, efusiva ou extru-siva (vulcânica ou ígnea), de cor escura ou mesmo preta (rocha máfica), formada por diferentes minerais, estando entre os princi-pais o feldspato (plagioclásio), o piroxênio, a anortita e a olivina; rocha também usada pelos joalheiros como pedra de toque, com diversificada aplicação na arquitetura.2. Não confundir basalto com betume (iguais apenas na cor), ou pez mineral, que é um hi-

drocarboneto (carbono e hidrogênio) infla-mável, sólido, pastoso ou líquido, obtido na natureza (ou em laboratório) a partir do pe-tróleo ou do carvão mineral, ambos matérias orgânicas fósseis. Do betume se obtêm o as-falto, o alcatrão e o piche, matérias pegajosas utilizadas na pavimentação de pisos, pistas, ruas e estradas, na calefação e na imperme-abilização e ainda nas artes plásticas e na ar-quitetura, quer como tinta, cola ou vedante, quer na conservação e proteção de madeiras contra insetos xilófagos.3. Os irmãos holandeses David e John Philip Elers emigraram para a Inglaterra, iniciando, em 1690, próximo a Burslem, suas ativida-des como ceramistas (dedicavam-se antes, em seu país de origem, à orfèvrerie); em 1693 já produziam certa pasta semelhante ao grés ver-melho de Böttger, sob o nome de Elers ware (Ludwig Danckert), e a cerâmica negra que imitava o basalto (Jeanne Giacomotti), bem mais tarde também produzidos, com grande sucesso, por Josiah Wedgwood (1730-1795, nascido em Burslem); tanto o grés vermelho quanto o basalto negro (sem capa de ver-niz) eram decorados com encáustica. Josiah Wedgwood, um técnico altamente qualifica-do, sensível às aspirações do público consu-midor e dono de aguçado senso comercial, estabeleceu em 1768 em Staffordshire sua faïencerie, cujo produto, a faiança fina que batizou de Etruria, se tornaria famoso em todo o mundo graças à sua alta qualidade, perfeição e beleza; obediente ao estilo clás-sico de inspiração grega, valeu-se do já re-ferido grés vermelho e do basalto preto dito egípcio, obra continuada por seu filho, de

Ganímedes e a águia (detalhe), mármore gregodo século 5 a. C. Acervo do Museu Nacional

de Nápoles, Itália

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B

mesmo nome; devem-se aos Wedgwoods as fi-gurações brancas esmaltadas em baixo-relevo sobre fundo o mais das vezes azul mate (sem esmalte), em grande destaque, décor que ficou conhecido como Wedgwood relief.

BASTIÃO (BASTIÕES, BASTIÃES). (Do italiano bastione).

1. Ressalto ou relevo acentuado de prata ou qualquer outro metal cinzelado ou repuxado (Veja PRATA); expressão usada mais no plural (prata de bastiões ou bastiães – bastiaens, como se escrevia no séc. 14). “Lavores de fi-guras de metal levantado”, segundo Bluteau. // Não confundir com bestiães ou bestiaens (de besta), figuras de animal obtidas com a prata repuxada ou cinzelada, tipo de decora-ção em voga já antes do séc. 15 em Portugal (Veja CINZEL). 2. Baluarte. Posto avançado ou pequena tor-re circular, saliente nos ângulos dos paredões das velhas fortalezas. // Posto de observação e defesa; guarita. // Échauguette ou écharguette, em francês, também conhecido como poivriè-re, pela sua semelhança física com os antigos polvilhadores de pimenta. // Albarrã.

BAUHAUS. (Alemão; casa da construção).

1. Escola de arquitetura e de artes aplicadas criada em 1919, em Weimar (Alemanha), e dirigida pelo arquiteto alemão Walter Gro-pius (1883-1969), membro do Werkbund e discípulo-assistente de Peter Behrens (1868-1940), famoso arquiteto, pioneiro do design

na Alemanha. Gropius teve por inspiração o artista e teórico inglês William Morris (1834-1896), e contou com a participação do ar-quiteto belga Henri Clemens van der Velde (1863-1957), que intermediou o apoio do Grã-Duque de Saxen-Weimar aos seus ide-ais, numa soma de esforços que deu origem à Bauhaus. A escola foi transferida em 1925 para Dessau e, mais tarde, para Berlim, ten-do sido dirigida por Gropius até 1928 (neste ano pediu demissão) e tendo contado com o mais expressivo corpo docente de seu tempo, formado por destacados nomes, tais como o do pintor suíço Paul Klee (1879-1940); o do arquiteto suíço Hannes Meyer (1889-1954), marxista rígido que defendia a ideia de que a forma dependia do cálculo e não da estética (substituiu Gropius na direção da Bauhaus em 1928); o do pintor e teórico russo Wassili Kandinsky (1866-1944) e o do pintor alemão Oscar Schlemmer (1888-1943) – esses dois últimos, artistas expressionistas de formação, deixaram a Bauhaus entre 1929 e 1931, curso que privilegiava a arquitetura, considerando a pintura arte supérflua; o do pintor e gravador alemão Lyonel Feininger (1871-1956); o do artista húngaro Laszlo Moholy-Nagy (1895-1946); o do arquiteto húngaro Marcel Lajos Breuer (1902-1981), primeiro como aluno e depois como colaborador (responsável pelo laboratório de madeira); o do pintor alemão Josef Alber (1888-1976); o do pintor suíço Johannes Itten (1888-1967), que criou escola própria; e o do arquiteto alemão Ludwig Mies van der Rohe (1886-1969), o último diretor da escola, entre outros. Em 1933, a escola

Escola Bauhaus, projeto do arquiteto Walter Gropius

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Belle époque – Dança no Moulin Rouge (1890), de Toulouse-Lautrec, Museu de Arte de Filadélfia

foi fechada pelos nazistas, fazendo com que muitos dos professores emigrassem para os Estados Unidos (Paul Klee retornou à Suíça, e Kandinski, no final de 1933, foi para a Fran-ça, instalando-se em Neuilly-sur-Seine, onde viveu até morrer, em 1944). 2. Curso de artes integradas (multidiscipli-nar), “uma comunidade”, disse Gropius, “de todas as formas de trabalho criativo, e em sua lógica interdependência de um para com o outro no mundo moderno”; integração ainda entre a arte e a indústria, com vistas ao conforto, criando-se para o Gestalter (de-signer ou desenhista industrial) um campo de atuação em que fosse capaz de interferir no cotidiano, em oposição à ideia de “arte pela arte”, por um lado, e de “negócio como fim”, por outro. O plano era “desenvolver uma consciência criadora nos participantes, para finalmente levar a uma nova concepção de vida”, e não simplesmente a um estilo, “razão pela qual”, segundo van der Rohe, “a Bauhaus exerceu influência tão grande no mundo inteiro”. 3. Estilo caracterizado pela ausência de or-namentos, pelas linhas sóbrias, sem relação com estilos conhecidos, não obstante Walter Gropius ter dito que “a meta da Bauhaus não consistia em propagar um estilo qualquer, mas sim exercer uma influência viva no de-sign. Um estilo Bauhaus significaria recair no academismo estéril e estagnado, contra o qual precisamente criei a Bauhaus; nossas preten-sões”, disse, “foram mal compreendidas”.

4. New B. Escola de arte nos moldes da Bauhaus alemã; criada em 1937 em Chica-go, nos Estados Unidos, por Moholy-Nagy (Veja THONET).

BELLE ÉPOQUE. (Francês; período que abrange o rico, alegre e esfuziante espaço de tempo entre 1880 e 1914, momento que pode, sem maior rigor, ser limitado entre o reinado de Napoleão III e o início da Primeira Grande Guerra; foi quando a Marselhesa – le-tra e música de Rouget de Lisle – se fez hino nacional francês, em 1879; quando os irmãos Lumière, Auguste, 1862-1954, e Louis, 1864-1945, criaram o cinema – o cinematógrafo –, em 1896, mostrando que a fotografia podia gerar movimento – Veja FOTOGRAFIA; e quando Alberto Santos-Dumont, 1878-1933, na Paris de 1906, decolou a bordo do avião que criou, sob o olhar de milhares de testemunhas – Veja

APÊNDICE 37 –, provando finalmente que o ho-mem podia voar).

1. Momento coincidente com o Ecletismo das últimas décadas do séc. 19, teorizado pelo arquiteto francês César Denis Daly (1811-1893), quando em especial a arquite-tura não ia muito além da mera miscelânea, aqui organizada com algum critério, ali por vezes aleatória, misturando estilos já antes praticados. Não obstante o historiador ale-mão Johann Joachin Winckelmann (1717-1768) já tivesse usado no séc. 18 a palavra ecletismo, para definir certo sincretismo ar-

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Btístico, foi apenas agora que essa salada de gosto duvidoso passou a marcar presença, a partir do Segundo Império (há referências ao Ecletismo sob o nome de Estilo Napoleão III), de braços dados com o Art Nouveau (Veja ARTE, 29; e LIBERTY), inaugurando a pró-pria belle époque. 2. Fin de siècle (fim de século) é outro nome com que se conhece a espetacular belle épo-que parisiense, caracterizada pela alegria dos cabarés, a exemplo do Folie Bergère (1890), do Paradis d’Amour (construído em 1889 por Gustave Eiffel, que também inaugurou na mesma época sua famosa torre) e parti-cularmente do Moulin Rouge, localizado na colina de Montmartre, palco de rainhas da noite como as dançarinas La Goulue (Louise Weber) e Jane Avril, imortalizadas pelo pin-tor Henri de Toulouse-Lautrec (1864-1901); é o cabaré que serviu de cenário ao cancan (também pintado por Pierre Bonnard, em 1896, e por Pablo Picasso, em 1901), tema musical criado pelo compositor franco--alemão Jacques (Jacob) Offenbach (1819-1880). A título de curiosidade, vale lembrar, Offenbach é autor de uma peça intitulada Le Brésilien, ou O Brasileiro, encenada (um úni-co ato) com grande sucesso no Palais Royal de Paris em 9 de maio de 1863, com libreto de Meilhac (jornalista do Journal pour Rire) e de Ludovic Halévy, tendo os três, a partir de então, passado a criar juntos atos de vau-deville, a serem encenados diariamente no pequeno teatro que Jacques Offenbach abriu para as suas bufonadas.

BICHO. (Animal, desde os vermes até os ver-tebrados de grande porte).

1. Nome dado nas décadas de 1950 e 1960 pela escultora Lígia Clark (1920-1988) a cada uma das peças de sua produção (Veja CON-

CRETISMO). Foi também, na década de 1970, o nome dado pela escultora Felícia Leirner (1904-1996) a trabalhos seus. 2. Na marcenaria e na carpintaria, é o inseto xilófago ou lignívoro que ingere e digere a celulose. O combate às pragas que conso-mem a madeira, a palha, o papel (documen-tos e livros), os tecidos etc., exige providên-cias que apenas os técnicos dominam; o IPT, Instituto de Pesquisas Tecnológicas da Uni-versidade de São Paulo (da Escola Politécni-ca), investigou em profundidade o problema e pode ser consultado.3. Caruncho. Coleóptero de cerca de 2 mm; pequeno besouro alado que ataca, perfura e consome a madeira seca (móveis e madeira-mento em geral, como telhados, portas, jane-las, imagens e esculturas); a palha e o vime (móveis e cestos); o papel (livros e documen-tos); e os mais difertentes grãos (feijão, milho etc.), provocando grandes estragos; pode per-tencer a diversos grupos, entre eles o Scolyti-dae e o Platypodidae. // Gorgulho, broca, car-coma (Morais), couce (Viterbo). 4. Cupim. Inseto da ordem dos isópteros, so-ciável (à semelhança da formiga) e do qual existem inúmeras espécies, entre elas a Cryp-totermes, que consome madeira seca (telha-dos, móveis, imagens, esculturas etc.) e plan-tas vivas, atacando as raízes das árvores. Ao todo, existem por volta de três mil espécies de cupim (tranquilizem-se: aqui no Brasil só há cerca de... duzentas). // Térmite. 5. Traça. Inseto lepidóptero (alado) tisanuro da família dos lepismatídeos. Conhecem-se várias espécies de traça, sendo bastante co-mum entre nós a Tinea pellionella, que mede pouco mais de um centímetro de comprimen-to, tem hábitos noturnos (na fase adulta as-sume a forma de pequena mariposa de corpo alongado, de aspecto prateado) e consome fibras naturais (roupas, peles, estofados, cor-tinas, tapetes e livros – atraída pela cola –; na natureza, alimenta-se de detritos vegetais e folhas mortas). 6. Não confundir com traça ou traço no sentido de risco (traçar é riscar um traço ou traça – Veja TIRAR, 3), traçado, riscado, risca, contorno, planta (como se lê em textos anti-gos: traça do edifício, por planta do edifício). Senhor das traças (ou mestre do desenho) é o arquiteto ou alarife (Veja ICONOGRAFIA, 4).

BIEDERMEIER. (Biedermeierzeit, em alemão).

1. Tendência estética austro-alemã vigente e dominante entre 1815 e 1850, aproximada-mente. O nome é inspirado no de dois per-Cadeira Biedermeier

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Bsonagens de um poema satírico de Ludwig Eichrodt, Biedermann e Bummelmeier, pu-blicado no Fliegende Blätter. Com influências inglesas e basicamente do estilo Império (Ne-oclássico), ganhou adeptos também na Escan-dinávia e na Rússia. 2. Mobiliário caracterizado pela simplifica-ção das formas, pelas linhas retas e curvas, funcionais (foi bem aceito pela classe média de então), pelo desprezo ante o supérfluo e pelo uso de alguns elementos decorativos, tais como filetes, conchas, liras, leões, cisnes e cornucópias (“A imagem que ele nos oferece é a de um estilo seco, suplantando a monu-mentalidade do estilo Império com soluções práticas e funcionais, com a graça de linhas sinuosas que parecem prefigurar o Art Nou-veau e, enfim, com uma salutar dose de iro-nia”, diz Riccardo Montenegro no livro Les Meubles, edição francesa, à p. 120). Trata--se de tendência que visa à objetividade e à simplificação da vida, valorizando o bem-es-tar e o conforto. No seu período de decadên-cia, o estilo ganhou certas características neo-góticas, e mesmo, por volta de 1830, esboçou um retrocesso ao Rococó. O mais destacado moveleiro do Biedermeier foi o austríaco Jo-sef Danhauser (1780-1830). Muitos incluem nesse estilo os móveis conhecidos por austría-cos, de Michael Thonet (1796-1871) e seus fi-lhos (Veja THONET), que se valiam de madeiras arqueadas ou recurvadas. 3. Metais, porcelanas e vidros sóbrios, sim-plificados quase às suas formas básicas, perto das linhas preconizadas um século mais tarde pelos designers da Bauhaus (Veja BAUHAUS).

BIJUTERIA. (Do francês bijouterie, de bijou, que significa joia; um ramo da arte, a orfèvre-rie du vêtement, que faz uso de pedras e me-tais preciosos, sendo praticamente o mesmo que joaillerie; a palavra bijuteria, no entanto, entrou no português com significado oposto, isto é, o de imitação de joia, ou joia falsa, pro-duzida com pedras e metais vulgares, resinas, vidros, cristais – Veja STRASS; e ZIRCÃO).

1. A verdadeira bijouterie, palavra que não tem equivalente em português (joalheria, do francês joaillerie, entrou no português como designação do estabelecimento que comercia-liza joias), vale-se de ouro, platina e mesmo de ligas ditas nobres (ouro branco etc.), e de pe-dras de alto valor pecuniário, por sua grande beleza, pureza, limpidez, transparência, bri-lho e mesmo raridade, todas elas consideradas preciosas (diamante, rubi, esmeralda, safira etc.) ou semipreciosas (pedras finas como o topázio, a granada, a turquesa, a ametista e tantos outros minerais). O ouro de 18 ct (qui-lates) é o teor mais comum na produção de

joias (ouro de 24 ct é ouro puro, sem liga, dito ouro fino – Veja OURO, QUILATE e STRASS). 2. A bijuteria, com o sentido que tem no por-tuguês, não obstante exista hoje uma indús-tria e/ou artesanato que põem no mercado belas peças criadas e até assinadas por artis-tas de destaque, não utiliza materiais nobres; quando muito, faz uso da prata.

BISCUIT. (Francês; não obstante biscuit signi-fique cozido duas vezes, essa expressão iden-tifica a porcelana sujeita a apenas um único e completo cozimento em grand feu, sem capa de esmalte; não confundir biscuit com dégourdi – confusão generalizada –, que é a pasta cerâmi-ca, esta, sim, cozida primeiro parcialmente em forno – um cozimento à baixa temperatura de 800° C, para que ganhe consistência, tornando--se possível o seu manuseio durante a tarefa da decoração e do vidrado final –, e depois subme-tida a um segundo cozimento – Veja BLANC DE

CHINE, GRAND FEU e PORCELANA).

1. É biscuit toda porcelana branca, mate (Veja

MATE), não esmaltada, porém luminosa, em especial sob forma de bibelots (Veja SAXE). A produção pioneira do biscuit (em Sèvres – Veja

SÈVRES), com pasta dura, teve início em 1768, e obtinha um aspecto aveludado, bom e con-veniente para a reprodução miniaturizada de mármores de grande porte e de bustos de per-sonagens famosos. Foi de Jean-Jacques Bache-lier (1724-1806), responsável pelos ateliers de decoração de Sèvres, na segunda metade do séc. 18, a ideia de não recobrir a porcelana com esmalte vidrado, nascendo assim o bis-cuit que tanto sucesso alcançou, passando a ser produzido também por inúmeros outros ateliers em todo o mundo, muitos deles se-guindo modelos de Sèvres.2. O próprio objeto produzido com esse material. BLANC DE CHINE. (Francês; porcelana chi-nesa mole natural, vidrada, com pequena par-ticipação de caulim – Veja BISCUIT).

1. Porcelana de grande pureza, branca, de as-pecto aveludado, vidrada, com alto brilho, produzida provavelmente desde os séc. 15 e 16, com apogeu no período Kangxi (1662-1722); as peças primitivas podiam ter cor tendente ao creme, e algumas estatuetas da deusa da Misericórdia, Guanyin (que guarda certa analogia com Nossa Senhora), tinham manto dourado sob o esmalte incolor. É por-celana já conhecida na Europa desde tempos distantes; decantada pelos especialistas, en-trou em declínio a partir do final do séc. 18 (é produzida ainda hoje, sendo muito imita-da pelas manufaturas europeias).

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B2. O objeto produzido com essa porcelana, oriundo de Tehua (província de Fujien), representando Buda, o cão de fó (guardião de Buda) etc. 3. Porcelanas alemã e inglesa imitando a chinesa, existen-te desde o início do séc. 18.

BOCAL. (Abertura, por influência de boca; boca ou gargalo – goulot, em francês –, seja estreita como a das garra-fas, seja ampla como a dos potes de con-serva; palavra sem uso no português com o sentido corrente no francês, o de frasco cuja abertura tem frequentemente o mesmo diâmetro que o do corpo; bucal é adjetivo relacionado à boca).

1. Frasco de boca larga que permite a intro-dução da mão ou de instrumentos grandes – conchas, colherões, pinças, peneiras etc. – para a retirada de conteúdo, a exemplo dos antigos potes de farmácia (albarello, no ita-liano), comumente cilíndricos, por vezes com boca de corneta ou evasé, para drogas líqui-das (também existiram, a partir do séc. 16, os potes de farmácia com alça e bico, ditos chevrettes, em francês); das compoteiras (a compoteira, em Goa, na Índia, e em Macau, na China, foi chamada de anchão); e das bis-coiteiras, bonbonières etc. // Na antiga Gré-cia, a palavra krater (cratera, em português) designava o vaso de boca larga evasé, usado para a mistura do vinho e da água. 2. Local onde se encaixa a vela nos castiçais e candelabros, ou, ainda, onde se atarraxa a lâmpada nas luminá-rias elétricas (Veja ARANDELA e LU-

MINÁRIA).3. O anel ou debrum para reforço das extremidades em canos (de armas) ou em tubos em geral (Veja

DEBRUM, 1).

BOL. (Do inglês bowl; bol, no francês).

1. Tigela; cunca ou conca (o mesmo que concavidade), palavra antiga ainda usada em Portugal (Veja AL-

MOFIA); cuia (do tupi). O vasilha-me semiesférico de metal, madeira, vidro, faiança ou porcelana, sem alça ou asa, com ou sem pé, com ou sem tampa, próprio para as re-feições sólidas e líquidas ou para a guarda de diferentes alimentos. 2. Não confundir com écuelle (Veja ÉCUELLE).

BOM PASTOR.1. A imagem de Cristo crian-ça ou jovem (Cristo vem do grego Khristós, com o sentido de ungido – Veja ICHTUS e RI-

TUAL CATÓLICO, Objetos do, 1u), em forma de pastor, cuidan-do das suas ovelhas (símbolo dos seguidores fiéis); embora rara na imaginária europeia, é comum na imaginária indo--portuguesa (há disputados

exemplares em talha de marfim), sendo Cristo então representado adormecido, sentado num promontório sobre uma gruta (onde podem aparecer São João Batista, Madalena Peniten-te e outras figuras santas, ou mesmo o pre-sépio ou presepe), enquanto segura a cabeça com a mão esquerda, tendo as pernas cruza-das, carneiros sobre os ombros, no colo e à sua volta, e vestindo roupa de pele. 2. O Bom Jesus da Lapa, Menino Jesus Dor-mente ou Menino Jesus do Monte, entre ou-tros nomes, dos primórdios da nova fé, quan-do as catacumbas, grutas e cavernas eram esconderijos naturais dos cristãos perseguidos pelos romanos. No decorrer da Idade Média, a imagem descrita do Bom Pastor curiosamen-te desaparece; Jesus passa agora a ser cultuado com outra representação, assumindo novas feições, quer seja na Europa católica, em espe-cial na Península Ibérica, quer seja na própria Índia, onde os portugueses tentavam a cristia-nização do povo; Jesus passa então a ser visto com o dedo em riste, apontando para a ovelha (re)conquistada que caminha a seu lado (não mais existe o cordeiro nos ombros ou nas cos-

tas), exibindo ainda alguns de seus vários atributos (cajado, embornal e árvore ao fundo) e/ou um coração flechado ou apunhalado.

BOULLE. (André Charles Boulle, 1642-1732).

1. Notável ebanista francês, o pre-ferido de Luís XIV (em 1672 foi feito ebanista oficial do rei), autor dos hoje raros e disputadíssimos móveis produzidos para a corte, especialmente para Versailles, ou encomendados pela aristocracia de então. Instalado no Louvre, o mais destacado moveleiro do período deu realmente caráter próprio à arte da movelaria francesa; artista polivalente, foi também arquiteto, bronzeur (ou bronzier), pintor e ainda tapeceiro competente (Luís XIV encarregou Boulle de produzir tapeçarias para Versailles).

Bom past or. Marfi m indo-português

BolBol

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B

Armário Boulle, decorado com marchetaria

2. Nome com que ficou conhecido o trabalho de marchetaria, a nobre arte do embutido (Veja MARCHETARIA) desenvolvida à perfeição pelo genial Boulle com o uso do bronze, do latão, do estanho, da madrepérola, do marfim e de outros materiais, necessariamente soma-dos a lâminas de carapaça de tartaruga (buhl work, em inglês). Não foi Boulle o criador da marchetaria, mas sem dúvida foi ele quem le-vou a técnica ao seu mais alto grau de desen-volvimento e beleza.3. Nome equivocado dado aos objetos feitos com casco de tartaruga (poudrières, piteiras, armações de óculos, cigarreiras, estojos, por-ta-pós, carteiras, diademas, pentes, bijuterias etc.), em vez de apenas à marchetaria realiza-da com esse material (Veja CÔMODA).

BOUQUETIÈRE. (Ou bouquetier, do francês bouquet – ramo de flores ou ramalhete; pi-que-fleurs; lower stand ou flower holder, em inglês; Blumengefass, no alemão).

1. Certa categoria de floreira com diversos bo-cais, cada um em geral para uma única flor; conhecem-se exemplares ingleses, franceses, alemães e mesmo chineses (Companhia das Índias) que remontam a épocas já distantes, desde os séc. 16 e 17.2. Distingue-se da tradicional floreira, reci-piente para água bastante raso, totalmente aberto, com amplas dimensões horizontais, destinado à colocação de flores com cabos curtos ou mesmo sem cabos (floreiro, no mas-culino, com o sentido de vaso, é forma em franco esquecimento), ao contrário do vaso destinado a flores com cabos longos, em que a altura é que se destaca.

BRANCO. (Do alemão blank, cujo significa-do é brilhante, polido, terso; bianco, em ita-liano, blanc, em francês, white, em inglês, e tinga, em tupi; o sentido original alemão per-manece em arma branca, em oposição a arma de fogo; na heráldica, arma branca é o escudo sem brasão – Veja APÊNDICE 52).

1. O branco não é propriamente uma cor (Veja

COR), mas a soma de todas as cores do espec-tro visível – as sete cores do arco-íris – refleti-das, contrariamente ao preto, que é a ausência de cor (Veja PRETO). O branco é luminoso por razões óbvias, crescendo o objeto branco aos olhos do observador, mesmo quando seu ta-manho é idêntico a outro colorido ou preto; lê-se mais facilmente o branco sobre fundo preto do que o preto sobre superfície branca. 2. O pigmento branco é obtido de diferentes fontes, na natureza ou em laboratório; os brancos mais conhecidos são: o da baritina (BaSO4), o do sulfato de bário, o do hidró-

xido de cálcio e o dos óxidos de chumbo, zinco e prata (para tintas a óleo); o alvaiade (do árabe albaiad, que significa a brancu-ra) é o óxido de chumbo, usado também na têmpera e no guache (na aquarela, o branco é o próprio papel – Veja AQUARELA); ainda são usados os pigmentos do anidrido silícico e do bióxido de titânio. 3. Pigmento (tinta) que, somado ao pigmento preto, dá o cinzento ou cinza, nas graduações desejadas: quanto mais pigmento branco, mais claro o cinza – cinza é também gris ou cris (cris é ainda certa arma branca).4. A expressão tinga, da língua brasílica (tupi--guarani), tem uso no português, a exemplo de tabatinga (argila ou barro branco que dis-solvido em água serviu para cobrir as paredes das casas, a título de pintura): equivalente da cal (dita virgem ou viva, extinta quando rega-da ou apagada pela água), com que se pratica a chamada caiação. 5. Alvo (alva é a primeira luz do dia, de antes de o céu tomar o rosado dos raios do Sol); a alvorada, o alvor ou o alvorecer é o nascer do dia; dealbo, barra; alvadio, leitoso, níveo (de neve). 6. Bronze b. (Veja BRONZE); latão b. (Veja LA-

TÃO); b. da China (Veja BLANC DE CHINE); em b. (galicismo) significa não escrito, não impres-so, não desenhado, não pintado.

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BBROC. (Jarro de tamanho grande, dotado de asa e bico característico, ora construído em madeira, circundada por anéis de ferro – caso em que é produzido por toneleiros –, ora me-tálico, de cobre, latão ou estanho, via de regra com sete ou oito litros de capacidade; broc vem do baixo-latim brocchus, nome dado, se-gundo a Larousse du XXe Siècle, a quem tem os dentes saltados ou salientes).

1. Jarros (Veja DINANDERIA; e COBRE) cuja ca-racterística distintiva principal é o formato do bico: grande, saliente, dito évasé, proje-tando-se com destaque. São utilizados para se guardar e transportar volumes relativa-mente grandes de líquidos, tais como água, óleo, vinho, vinagre etc.2. Chama-se broc também a jarra (gomil) para água – acompanhada de sua competente bacia – utilizada no quarto para se lavar as mãos e o rosto e se fazer a toalete, bem como as pièces d’étagère de fina faiança ou porcelana (produzida em Vincennes já a partir do séc. 17), desde que tenham o referido bico évasé.

BROCANTE. (Francês, com origem no ale-mão brechen, verbo traduzido ou interpreta-do como vender objetos defeituosos, usados ou velhos, equivalente, no francês, ao verbo brocanter, já utilizado no séc. 17; refere-se ao comércio de velharias em geral, artigos do-mésticos de decoração ou utilitários, roupas e móveis de segunda mão, via de regra em mau estado, sem qualquer garantia, ditos no esta-do ou de ocasião; bric-à-brac – francês – ou bricabraque, belchior ou brechó).

1. O brocateur, que é quem pratica o comér-cio de objetos usados, não é propriamente um antiquário; este último tem o dever e o cuidado de identificar, garantir a inteireza e situar no espaço e no tempo aquilo que ven-de, enquanto o brocateur, ao contrário, se isenta de toda e qualquer responsabilidade sobre o objeto que comercializa.

BRONZE. (Francês; mesma palavra usual no português, com possíveis raízes persas; nome que se dá ao diamante esverdeado que ocorre no Brasil, em Minas Gerais).

1. Liga obtida basicamente do cobre (pelo me-nos 70%) associado ao estanho, com a parti-cipação eventual de outros metais em quanti-dades menores (Veja ALIAGEM; APÊNDICE 9, item

Benim; e APÊNDICE 34), com origem provável na Ásia Menor; trata-se de liga já conhecida, no Oriente Médio (Mesopotâmia, Afeganistão e Pérsia), desde o terceiro milênio a. C. (ante-rior, portanto, à Idade do Ferro – Leia item 6); no Extremo Oriente, na China, talvez desde a

dinastia Shang-Yin (1532-1027 a. C.); e, na bacia do Mediterrâneo (Egito, Creta, Grécia e Roma), desde aproximadamente 2000 a. C., como atesta o trabalho de vários e extra-ordinários artistas e fundidores, até chegar à Idade Média, quando tem destaque a obra do notável fundidor francês Jean de Dinant, que produziu o magnífico túmulo de Luís XI, morto em 1483. 2. Quanto mais elevada a porcentagem de estanho, maior é a dureza do bronze e maior também a sua fragilidade (liga imprópria para a laminação, sendo recomendada ape-nas para a fundição, com ponto de fusão igual a 1083° C). Torna-se liga perfeita para a cunhagem de medalhas e moedas quando o cobre participa com aproximadamente 95%, mais 3% a 8% de estanho e 1% de zinco, podendo então ser laminada a frio (cobre é também sinônimo de dinheiro – passar nos cobres é vender). 3. Diversas outras ligas, tais como:

A) B. branco. Cobre, estanho e arsênico.b) B. de alumínio. Com 1% a 9% de alumí-nio e mais de 90% de cobre, é liga de gran-de dureza; com 10% de alumínio, adquire a cor do ouro.c) B. de sino. Com 76% ou 77% de co-bre, cerca de 22% ou 23% de estanho e outros metais em pequenas quantidades. Campanil é o nome da liga própria para a fundição de sinos; o Monsenhor Joaquim Nabuco (irmão de Carolina Nabuco, am-bos filhos do notável diplomata Joaquim Aurélio Nabuco de Araújo, 1849-1910), protonotário apostólico, autor do volume Os bronzes das nossas torres, diz no capí-tulo II de seu livro, à p. 17: “Os sinos de bronze são todos feitos, seja qual for o tom que se deseja, duma liga de cobre e de estanho na proporção de quatro para um [...]. A proporção de quatro para um levou muito tempo a ser descoberta, e os antigos costumavam juntar toda espécie de metais,

Efígie de bronzeEfígie de bronze

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Binclusive prata e chumbo, para conseguir variações de som, ligas estas de há muito abandonadas”. A revista Música Sacra, de junho de 1943, publicou um trabalho que revela as proporções de cobre e estanho na produção de sinos, conforme dados forne-cidos pelo sineiro iugoslavo Alberto Samas-sa, de Liubliana, que instalou em 1940 uma fundição de sinos em Sorocaba-SP. O Frei Domingos Vieira, em seu dicionário, dá es-tas porcentagens para o bronze dos sinos: 78 partes de cobre e 22 partes de estanho. O maior sino do mundo está no Kremlim de Moscou.d) B. fosforado. Por volta de 90% a 95% de cobre, mais 5% de estanho e aproxima-damente 0,6% de fósforo. Liga de grande resistência.e) B. para escultura ou estatuária. Esta é a liga considerada ideal: 86% de cobre, 7% de estanho, 3,5% de zinco e 3,5% de chumbo. O Frei Domingos Vieira divulgou as seguintes porcentagens encontradas nos antigos bronzes de Versailles, em peças fundidas pelos famosos irmãos Kellers, ao tempo de Luís XIV (séc. 17): 91,4% de co-bre, 1,70% de estanho, 5,53% de zinco e 1,37% de chumbo. Foram os Kellers que fundiram todos os va-sos e peças ornamentais de Versailles, das Tulherias e outros tantos palácios, além do grande bronze colocado na Praça Vendôme em Paris, em homenagem ao rei Luís XIV, enorme escultura destruída pela Revolução em 1792.

4. O objeto produzido com essas ligas. 5. Petit-b. Liga falsa e equivocadamente toma-da por bronze, com altas porcentagens de es-tanho. O nome, impróprio e vazio, é comum no Brasil para se nomear a liga metálica bran-ca sem cobre, basicamente estanho e antimô-nio, patinada com a cor do bronze; nada mais que o britannia metal (Veja ANTIMÔNIO; ESTA-

NHO; e WMF), usual na fundição de pequenas esculturas desde 1790 até o final do séc. 19, hoje de raro uso (atenção: petit bronze não é bronze, e prata 90 não é prata). 6. B. dourado. (Bronze doré, em francês, e gilt bronze, para os ingleses). // Ormoulu (Veja

VERMEIL) é o bronze com capa de ouro. 7. Idade do B. Período compreendido entre 2100 e 1200 a. C., sucedendo o neolítico e an-tecedendo a Idade do Ferro (Veja FERRO; METAL;

e NEOLÍTICO). O poeta romano Ovídio (morto no ano 17 de nossa era), em suas Metamor-foses (Livro I), fala de certa Idade do Bronze por que teria passado o homem (depois de co-nhecer as Idades do Ouro e da Prata, quando então ainda era honesto, bom e feliz); nessa época se teria feito agressivo, criando armas e tornando-se ruim (não inteiramente), num

processo que culminaria com a Idade do Ferro, quando se manifesta totalmente a sua maldade com a invenção da violência e as guerras.8. Pátinas do bronze. (Pátina deriva do ita-liano patina, pelo francês patine). A pátina natural é o resultado da ação da luz (sol), da água (chuva) e do ar (atmosfera), aliada à do tempo, sobre a superfície de metais – bronze, latão, cobre, estanho, prata etc. –, madeiras e outros materiais, alterando-lhes a cor e o aspecto, por vezes corroborando a beleza da peça ou do material. // Além da pátina natural do bronze, ocasionada pelos fatores acima referidos, de formação lenta, artistas e fundidores, para obterem mais rapidamen-te o verde da cor do azinhavre (carbonato de cobre), também conhecido como verdete, próprio não só do cobre puro (Veja COBRE), mas também de suas ligas, como o bronze e o latão, a vêm provocando artificialmente de diferentes maneiras, a exemplo da aplica-ção de bicarbonato de amônia com sulfato de cobre dissolvidos em água, que dá um verde tendente ao azul, bem próximo do azi-nhavre, ou da aplicação de sulfato de cobre, cloreto de amônia e água, que dá um verde amarelado, mais para o escuro. A depender das proporções de estanho, zinco, chumbo e outros minerais eventuais que componham a liga com o cobre, a pátina do bronze pode ganhar outros tons de verde com diferentes banhos, e mesmo, como outrora se fazia, com um banho pouco ortodoxo de... uri-na; para se chegar ao marrom avermelhado, aplica-se sulfeto de potássio dissolvido em água; para se obter o preto-grafite, de resul-tado rápido, usa-se 1 litro de água, 50 ml de ácido sulfúrico e 50 ml de ácido clorídrico (também chamado muriático). Na verdade, conhecem-se inúmeras fórmulas que, asso-ciadas às maneiras de aplicação ou macetes de cada fundidor, permitem que se chegue a diferentes cores. // O carbonato de cobre, que é o azinhavre, pode ocorrer na natureza sob a forma de malaquita, um belo mineral (Veja PEDRA DURA) verde brilhante de fórmula Cu2(CO3)(OH)2, ou sob a forma de azurita, de fórmula Cu3(CO3)2(OH)2, mineral azul instável que com o tempo se autotransforma em malaquita (a tinta azul preparada a base de azurita torna-se então verde, como se ob-serva em pinturas de grandes mestres da Re-nascença, que pintaram o céu azul, que hoje é verde); os dois minerais se apresentam o mais das vezes associados.

BULE. (De bul, do concani, dialeto indiano falado em Goa, Índia, ex-província portu-guesa, e/ou do malaio buli, indicando frasco “agudinho para cima”, isto é, com boca es-treita – Vocabulário, Bluteau).

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B

1. “Pequeno frasco” (Dicionário Etimoló-gico, de José Pedro Machado), provido de uma tampa a que se prende uma haste de marfim com diminuta colher ou espátula na ponta, para a guarda e para o uso do rapé (tabaco pulverizado, introduzido na China via Macau, Japão e Coreia, e de uso ali mui-to difundido nos séc. 17, 18 e 19); frasco também usado como perfumeiro, e mesmo para a guarda e para o uso do ópio; snuff bottle, em inglês, como é mais conhecido internacionalmente esse pequeno frasco, em especial chinês, produzido em porcelana, vi-dro, pedra dura, ágata, prata, bambu, mar-fim, jade etc., medindo em média 5 cm de altura; o Frei Domingos Vieira anota no ver-bete Bule de seu dicionário: “Frasquinho de louça da Índia, de gargalo estreito”. // Não confundir com tabatière, a bo(c)eta (do fran-cês boîte), em português antigo, ou abuta.2. Vasilha dotada de bico, tampa e asa, para se guardar e servir tanto o chá quanto o café (cafeteira) – Veja ALMOTOLIA; e CABARET. Não confundir com a chocolateira, de corpo se-melhante ao do bule, porém com cabo ou asa ao lado esquerdo do bico (para quem a manuseia com a mão direita), além de um

misturador de haste longa que traspassa a tampa através de um orifício, utilizado para se agitar o chocolate que permanece decan-tado no fundo da peça.

BUREAU. (De bure, um tecido rústico de lã grosseira que outrora comumente revestia o tampo de certa mesa – tables à écrire –, conheci-da por escrivaninha, papeleira, secretária, ban-ca etc., ou ainda, em francês, por bureau plat, bureau de dames ou bonheur de jour, consti-tuindo estas duas últimas – sinônimas entre si – versões suas miniaturizadas, encontradas via de regra no quarto de dormir das mulheres).

1. Bureau. A par de significar escritório, se-cretaria, agência, gabinete, serviço, órgão, departamento, organização ou organismo (bureau comercial, cultural, de arte, de even-tos etc., via de regra governamentais), desig-na também as próprias mesas de trabalho dos funcionários ditos burocratas (bureau-crates, quem trabalha nos bureaux ou mes-mo fora deles), móveis que variam quanto à concepção, a exemplo do bureau mazarin, com suporte de pernas altas; do bureau à cylindre, de tampo rolante, o mesmo que o roll top dos ingleses; do bureau à caisson (caixa), com dois renques verticais de gave-tas e/ou de portinholas até o nível do chão, um de cada lado, sustentando o tampo sobre o qual se escreve; e da secrétaire à pente, com a tábua ou mesa à abatant, ou basculante, que se fecha na posição vertical – ou, por ve-zes, em plano inclinado ou esconso – escon-dendo gavetas, escaninhos e, eventualmente, um espaço fechado com segredo, a título de cofre. Esses móveis ditos bureau podem ter ainda múltiplas funções, a exemplo do inglês bureau bookcase (escrivaninha que se asso-cia a prateleiras para livros num segundo corpo ou alçado, com tampo rolante – roll top – retrátil); do francês bureau commode (cômoda-secretária), com tampo basculante ou à cylindre, associado a uma cômoda (Veja

CÔMODA) de duas ou mais gavetas; e ainda do bureau trumeau, ou apenas trumeau (Veja

TRUMEAU), com três funções num só móvel: escrivaninha, cômoda com dois ou três gave-tões e segundo corpo com prateleiras.

Snuff bottle e sua tampa, com esp átula