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Elos do Destino Catia Mourão

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Elos do

Destino

Catia Mourão

Catia Mourão

Elos do Destino

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Elos do Destino

Catia Mourão

2ª edição

Rio de Janeiro – Brasil

Catia Mourão

Copyright © Catia Mourão

ISBN 978-85-67765-79-2

Todos os direitos reservados.

Proibida a reprodução total ou parcial, de qualquer forma ou

por qualquer meio mecânico ou eletrônico, incluindo fotocópia

e gravação, sem a expressa permissão da autora.

Arte e diagramação: Catia Mourão

Página oficial https://www.facebook.com/elosdodestino

Dados Internacionais de Catalogação na

Publicação (CIP)

Mourão, Catia M931

Elos do Destino: Catia Mourão

2 ed. Rio de Janeiro

Ed. do Autor, 2014

ISBN 978-85-67765-79-2

1. Ficção, Romance

I. Título

CDU-82-3 CDD-B869.3

Índices para catálogo sistemático:

1. Ficção: Ficção, Romance 869.3

Elos do Destino

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Dedico essa obra a todas as

mulheres, que assim como eu, viveram os

sonhos e as aventuras de seus vinte e poucos

anos na exuberante década de noventa. Que

vocês se encantem e se apaixonem com o

romance de Catarina e Bruno.

Catia Mourão

Índice

05 DEDICATÓRIA

06 ÍNDICE 07 PRÓLOGO 14 CAPÍTULO 1 30 CAPÍTULO 2 37 CAPÍTULO 3 58 CAPÍTULO 4 78 CAPÍTULO 5 100 CAPÍTULO 6 124 CAPÍTULO 7 136 CAPÍTULO 8 152 CAPÍTULO 9 175 CAPÍTULO 10 200 EPÍLOGO

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Prólogo

Durante a maior parte do ano, Porto Alegre

apresenta temperaturas relativamente frias, podendo chegar bem próximo à zero no inverno. Por isso mesmo, nos poucos meses do ano em que impera o verão, a cidade e seus arredores fervilham.

Década de noventa - Tudo que

Catarina queria era solidão, pare se dedicar a sua nova vida, sem o risco de que alguém interferisse em seus planos para o futuro.

Não que ela tivesse algum grande plano. Na verdade, ela não fazia a menor ideia de como seguir adiante. Sua única intenção, por enquanto, era fugir do passado.

Aos vinte e três anos e com todas as experiências pelas quais passou, ela só tinha uma certeza: precisava se afastar de Paulo e de todas as pessoas que faziam parte de seu suposto círculo de amigos. De preferência, não deveria se envolver novamente com outro homem por um bom tempo.

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Afinal, ela era mesmo uma solitária havia muitos anos e ninguém melhor do que ela sabia que em alguns casos a solidão podia ser a melhor companhia.

Desde menina Cat sofreu com o fato de ser a única filha de um casal de alta posição social, que apesar de serem pais afetuosos, não tinham muito tempo disponível para dar atenção a uma criança.

As lembranças de sua infância se restringiam a bonecas caras, brinquedos sofisticados, a rígida educação que recebeu graças às freiras da escola onde estudava, em regime de semi-internato e as brincadeiras nos finais de semana com os filhos dos empregados. Mas com o passar dos anos e a chegada da adolescência, até esses poucos momentos de alegria foram se tornando cada vez mais raros.

Cat transformou-se em uma jovem despreparada para a dura realidade do que se tornaria sua vida. Com poucos amigos e muita inexperiência.

Tinha apenas dezenove anos quando seus pais morreram em um acidente de carro, ao voltarem de uma festa. Sem irmãos ou parentes próximos e de confiança a quem recorrer, ela se viu sozinha para assumir a herança deixada por eles. Foi então que Paulo passou a ter papel fundamental em sua vida.

Ele era o melhor amigo da faculdade. O cara popular, extremamente bonito e inteligente. O que ela não

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sabia é que ele também era ótimo em manipular pessoas e fazia o que fosse preciso para conseguir o que queria.

Recém-chegada a faculdade de economia, com a empresa do pai para dirigir e segundo alguns professores, pobre de aptidão para a carreira escolhida, Cat viu em Paulo a pessoa ideal para ajudá-la com seus problemas imediatos.

Sabia que não podia confiar nos abutres da diretoria e Paulo era a única pessoa de seu convívio que tinha competência suficiente para assumir aquele desafio por ela. E assim, do início do namoro até o anúncio do noivado não se passaram mais de seis meses.

Durante a festa em que anunciou seu futuro casamento, Catarina comunicou também que Paulo seria o novo vice-presidente da empresa, subordinado apenas a ela e com carta branca para agir em seu nome. Esse foi seu maior erro.

Paulo assumiu todos os compromissos referentes à empresa. Era ele quem participava das chatas reuniões de diretoria e tomava as decisões mais importantes. Também presidia as convenções e estava presente em todo tipo de ocasião social em que houvesse a necessidade de um representante da companhia.

Não que Cat não se interessasse por esse tipo de evento. Ela até comparecia a alguns. Mas na grande maioria das ocasiões não tinha paciência para passar horas

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entediantes ao lado de pessoas esnobes e com quem ela não tinha nenhum assunto em comum.

Paulo, ao contrário, sempre demonstrara ser mais popular do que ela e tinha muito traquejo social, além de mais tino para os negócios.

Foi em uma dessas ocasiões que ele conheceu Alicia, filha de um poderoso industrial com quem a empresa mantinha alguns contratos. Quando Cat percebeu o que se passava, já era tarde demais.

Às vésperas do casamento descobriu que Paulo já havia planejado tudo para pôr um fim em seu relacionamento com ela e anunciar um noivado com Alicia, seu mais novo degrau na escalada de poder.

Como se não bastasse o escândalo de trocá-la por outra, dias antes de subir ao altar, ele ainda levou um gordo saldo bancário, conquistado à custa de operações obscuras que realizou dentro da empresa.

Como foi informada mais tarde, as transações ilícitas de Paulo deixaram a empresa com sérios problemas financeiros e a diretoria exigia dela uma solução que os livrasse de uma provável concordata.

Cat foi direto para o fundo do poço. Entre lágrimas e uma crise de depressão, ainda tinha que enfrentar o problema da empresa, que na atual circunstância ela não tinha a menor condição para resolver. Foi então que tomou uma decisão que mudaria radicalmente sua vida.

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Marcou uma reunião e anunciou a venda da maioria de suas ações no mercado. Ficaria apenas com o suficiente para garantir seu padrão de vida.

A majestosa casa onde viveu desde menina, com seus jardins e terraços, seus vários quartos e amplos salões, era outro problema que ela ainda não sabia como resolver.

Permanecer na casa significava ter que conviver diariamente com as lembranças dos últimos dois anos ao lado de Paulo e tudo que veio a seguir.

Apesar de não terem se casado ele praticamente se mudou para a casa de Cat e a presença de Paulo era insuportavelmente marcante, fazendo com que ela desejasse mesmo se desfazer da propriedade. Por outro lado, havia algumas recordações preciosas de seus pais, das quais ela não estava disposta a abrir mão.

Os canteiros de rosas de sua mãe, o terraço onde passara tantos momentos agradáveis e a biblioteca do pai, que aproveitava seus raros dias de folga para transmitir a filha sua paixão pelos livros.

No final, essas lembranças prevaleceram. Eram mais fortes que qualquer decepção que Paulo pudesse ter causado e diante delas ela entendeu que não poderia se desfazer da propriedade.

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E assim, Cat soube exatamente o que precisava fazer. Manteria a casa fechada até o dia em que se sentisse pronta para voltar.

Estava decidida a encontrar outro lugar para morar. De preferência bem longe dali, onde ninguém a conhecesse. Mas mesmo vivendo em outra cidade ela não venderia a casa que fora de seus pais.

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Capítulo 1

Era uma manhã fria, atípica para o final da

primavera, quando Cat recebeu o telefonema de Dora, pedindo que se encontrasse com ela em um restaurante a duas horas de distancia da cidade.

Dora era corretora de uma imobiliária instalada fora de Porto Alegre e não fazia nenhuma ideia de quem era Catarina D’Angelo, até o dia em que ela entrou em sua simpática e acolhedora loja.

Cat a procurou pedindo urgência e a encarregou de encontrar seu novo lar. Foi bem específica: queria algo pequeno e fora da cidade. De preferência em um local reservado e próximo à natureza.

Após várias semanas de procura, visitando apartamentos minúsculos ou casas em péssimas condições, Dora voltava a fazer contato e dessa vez tudo indicava que ela tinha boas notícias.

Algumas horas depois, Cat estacionava seu novo carro, um modelo bem popular, pequeno e discreto, em frente ao restaurante, onde Dora já estava a sua espera.

_ Bom dia, Catarina!

_ Olá Dora! Estou tão ansiosa que não sei se posso aguardar o almoço.

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_ Se você preferir, podemos tomar um café e fazer a visita. Deixamos o almoço para a volta.

_ Seria ótimo!

Um garçom se aproximou e Dora pediu dois cafés, antes de prosseguir.

_ Acho que dessa vez encontrei exatamente o que você procura. Chegou as minhas mãos por acaso e quando vi, lembrei imediatamente de você.

_ Espero que sim, porque não sei até quando poderei manter meu bom humor vivendo em minha residência atual.

Dora não sabia o que incomodava tanto Catarina, mas não era seu estilo se intrometer na vida de seus clientes e há muito aprendera a permanecer impassível diante desse tipo de comentário.

O garçom retornou com os cafés, mas a mente de Cat estava distante demais para apreciar o sabor do líquido fumegante.

Pensava em como seriam seus primeiros dias vivendo naquele lugar e como se sentiria afastada da agitação da cidade grande e de tudo que estava habituada.

Quando pediu a Dora para encontrar um lugar pequeno e simples, fora da cidade e próximo da natureza, não imaginou que seria tão complicado. A princípio parecia algo bastante fácil, mas já havia se passado várias semanas e até agora nada. Esperava que dessa vez tivesse mais sorte.

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_ Catarina!

_ Ah! Desculpe! Estava pensando em como será bom terminar de vez com essa procura.

_ Então vamos! Ou você perdeu a pressa? _ Dora brincou fazendo Cat sorrir meio sem jeito.

_ Nem pense em me fazer esperar mais _ ela respondeu pagando a conta e deixando uma gorjeta maior do que o necessário para o garçom, que agradeceu com um largo sorriso.

_ Acho melhor deixarmos seu carro aqui. Podemos ir no meu e você pega o seu quando voltarmos para almoçar. O que acha?

_ Para mim está perfeito.

Já estavam no carro quando Dora comentou:

_ Querida, se você quer mesmo passar despercebida, é melhor se acostumar a não fazer mais isso.

_ Isso o que?

_ Bem, nunca comentei nada porque percebi desde o início que você prioriza a discrição, mas está claro para qualquer um que seja bom observador, que você está acostumada a outro tipo de vida. Bem mais confortável, eu diria.

_ É tão notório assim?

_ Um pouco, mas esse não é o problema. Não estamos mais em Porto Alegre. Lá é comum os garçons receberem gorjetas generosas, mas aqui não. Se isso se tornar frequente, em pouco tempo haverá mexericos

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sobre a forma como você esbanja dinheiro _ Dora fez uma pausa para Catarina assimilar o que ela dizia _ Acho que não é isso que você deseja, certo?

_ Tem razão. Não seria nada inteligente. Na verdade estragaria completamente meus planos.

Dora dobrou a esquerda, entrando em uma estrada estreita de mão dupla, que contornava o pequeno centro e parecia levar de volta a estrada principal.

Cat gostou da cidadezinha. Era graciosa, com pequenas e charmosas lojas reunidas na rua principal. Mas agora Dora se afastava cada vez mais e ela já tinha dúvidas se a casa que iam visitar era realmente naquele lugar tão agradável ou em alguma outra cidade mais adiante.

Percebendo a decepção em seu olhar, Dora começou a explicar:

_ Essa estrada secundária dá acesso a uma área de natureza preservada. Não chega a ser uma floresta. Está mais para um bosque, mas eu garanto que você vai ficar encantada com o que encontrará por lá. Na parte mais densa tem até uma queda d’água e um riacho. Só não tente chegar a nascente. É perigoso.

Cat esboçou um sorriso forçado, mas continuou sem entender o objetivo daquilo. Ela já havia dito que estava ansiosa para ver a casa e agora Dora a fazia perder minutos preciosos mostrando os arredores da cidade.

O lugar era realmente muito bonito. A estrada totalmente arborizada, com pequenas propriedades, que se tornavam mais raras, à medida que elas se

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aproximavam dos limites do tal bosque. Mas o que Cat queria mesmo era ver sua provável casa nova. O resto poderia esperar.

Dora parecia não entender isso e falava sem parar sobre as maravilhas da natureza local. Aquela mudança nos planos era quase irritante e Cat estava a ponto de verbalizar isso, quando Dora fez um comentário que trouxe de volta seu bom humor.

_ Daqui até o chalé tem mais ou menos um quilômetro sem nenhuma construção. Nada de vizinhos curiosos _ Dora argumentava animada _ e após o chalé existe apenas mais uma casa. Ou melhor, uma grande propriedade que fica exatamente no final da estrada.

Chalé. Aquela pequena palavra teve o poder de despertar novamente o interesse de Cat, mas antes que ela pudesse dizer alguma coisa, Dora parou o carro em frente a uma pequena construção e convidou-a a descer.

Nesse momento ela entendeu que sua nova casa não seria próximo ao centro da cidade, mas ali, naquele pedacinho do paraíso descoberto por Dora.

Cat havia pedido um lugar tranquilo, mas Dora se superou. Nem em seus sonhos ela havia imaginado algo tão perfeito.

Visto de fora, o chalé parecia uma casa de boneca. Todo em madeira envernizada, com telhado vermelho. As janelas e a porta de entrada eram pintadas de branco, com delicados acabamentos em motivos florais, que pareciam entalhados a mão.

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Um lindo e bem cuidado jardim repleto de hortênsias e lavandas, em uma profusão de tons que variavam do rosa ao lilás, davam um ar de alegria com seu colorido.

Uma cerca viva contornava todo o terreno e só era interrompida por dois portões, que também foram pintados de branco. O maior dava acesso à garagem e outro menor, seguido de um caminho de pedras, conduzia a entrada do chalé.

_ E então? O que achou?

_ Dora, isso é maravilhoso!

_ O terreno está praticamente dentro do bosque. Apesar disso, em apenas vinte minutos você tem acesso ao centro da cidade, que é pequena, mas tem tudo que você pode precisar.

_ É perfeito. Eu adorei!

_ Espere até ver por dentro _ Dora comentou, sorrindo satisfeita com a reação de Catarina ao ver a casa.

No interior do chalé, pouco precisava ser feito. A mobília era adequada ao ambiente, com estofados em tecido estampado e alegre, uma pequena estante de livros, que também fazia às vezes de bar, uma mesa com cadeiras e uma lareira. Tudo de acordo com o pequeno espaço disponível.

Cat preferiu conhecer o segundo andar, antes de ver os fundos da construção. Subiu a escada e se deparou com uma sala menor, que foi transformada em escritório pelo antigo morador. Uma escrivaninha clássica dominava

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o ambiente, que era complementado por uma grande e confortável poltrona e um carrinho de chá, acomodado perto da janela.

Pelo desgaste no tecido que forrava o estofado, Cat concluiu que o antigo morador devia passar muitas horas lendo e provavelmente era homem, pois apesar de bem planejado, faltava um toque feminino na decoração.

O outro cômodo do andar superior era o quarto principal. Nele havia uma cama de casal, um armário para roupas e um espelho de bom tamanho. Um banheiro privativo completava o espaço e foi uma grata surpresa descobrir que nele havia uma banheira.

Mas nada se superava a vista obtida daquele cômodo. Uma porta que se abria para uma pequena sacada oferecia vista direta para o bosque, que ficava nos fundos do chalé.

A ideia de acordar todas as manhãs e poder apreciar aquela paisagem era mais do que ela poderia desejar.

Cat desceu a escada para terminar de conhecer o andar de baixo, mas já havia tomado sua decisão. Ela ficaria com aquela casa.

Dora fez questão de mostrar o armário acomodado embaixo da escada e que servia de dispensa, além de um lavabo e uma cozinha, pequena, porém bem estruturada.

O chalé possuía ainda uma área externa para lavanderia, mas Cat não deu muita importância, já que não

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pretendia passar suas horas lavando nada. Para isso ela poderia usar algum serviço na cidade.

_ E então, o que você me diz? _ Dora quis saber.

_ Com algumas cortinas e uns tapetes macios, isso aqui vai ficar perfeito.

_ Muito bem! Então, vamos aos negócios! Só existe um probleminha... O proprietário não quer vender. Ele concorda apenas em alugar, mas eu achei que você poderia ter alguma ideia para tentar persuadi-lo.

Cat estava tão entusiasmada com o chalé que não se importou. Ela poderia dar um jeito e se não conseguisse, alugaria.

_ Pode deixar que eu falo com ele. Não se preocupe.

_ Acho melhor nós voltarmos agora para almoçar e a tarde podemos resolver essa questão.

_ De acordo! Toda essa ansiedade despertou meu apetite e se a comida daquele restaurante for igual ao café, acho que posso até ganhar alguns quilos extras enquanto ficar por aqui.

Dora sorriu satisfeita. Finalmente Catarina tinha recuperado seu bom humor característico.

_ Então vamos logo, porque eu também estou faminta.

As duas entraram no carro e em poucos minutos estavam de volta ao restaurante. Cat se sentia renovada e nada a impediria de ficar com aquele chalé.

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Dinheiro não seria problema. Estava disposta a pagar até o dobro do que o lugar realmente valia e afinal, o proprietário não poderia ser assim tão rico a ponto de dispensar uma boa oferta.

_ Eu vou pedir um prato de massa _ Dora declarou observando de relance a mesa ao lado _ É a especialidade daqui e está com uma cara ótima.

_ Vou querer o mesmo e podemos dividir uma garrafa de vinho para comemorar. O que acha?

O garçom se aproximou solícito, reconhecendo imediatamente as duas mulheres que ele havia atendido á uma hora atrás e elas fizeram o pedido.

_ Vamos querer uma salada para entrada, duas lasanhas verdes e um bom vinho branco para acompanhar.

_ Dora! Você terá que me colocar em contato com o proprietário do chalé ainda hoje.

_ Eu já imaginava, por isso preveni a pessoa encarregada da venda. Faremos isso logo depois do almoço, mas fique tranquila. Acho que você não terá problemas em resolver essa situação.

_ Me fale um pouco sobre ele.

_ Na verdade sei pouco a seu respeito. O contato que tenho para negociar é através da imobiliária da cidade, mas posso te garantir que ele é uma pessoa muito querida por aqui.

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Aquela informação deixou Cat um pouco frustrada. Esperava poder negociar diretamente com o proprietário. Outra imobiliária no caminho poderia complicar as coisas.

O garçom retornou trazendo os pedidos e assim que ele se afastou, ela aproveitou para pedir mais detalhes.

_ Preciso de algo mais concreto. Não posso procurá-los com uma proposta sem informações.

_ Ele é um rico empresário.

_ Isso não me parece nada bom para os meus planos.

_ Lembra quando falei que após o chalé existe uma grande propriedade, no final da estrada?

_ Sim. O que tem?

_ Pertence a ele. Seu nome é Bruno e veio do exterior para se estabelecer aqui. Comprou as terras há vários anos e doou aquela parte do bosque para a comunidade.

_ Como assim?

_ É simples. Antes de Bruno chegar o bosque ficava dentro da propriedade. Os limites iam um pouco além do chalé. Parece que quando ele comprou a área, achou mais correto que os habitantes da cidade tivessem livre acesso ao bosque. Então, ao invés de mantê-lo como propriedade privada ele fez a doação da maior parte da área para a prefeitura, mas manteve o chalé.

Cat analisou tudo que Dora acabara de dizer.

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_ Uma pessoa assim não deve ser intransigente. Acho que não será difícil convencê-lo.

_ Não se empolgue muito. Você só conheceu o lado bonito da história. A parte mais densa e, portanto mais interessante do bosque, permanece em poder dele e, Bruno não gosta nem um pouco de intrusos brincando de desbravadores em suas terras. Por isso eu avisei que era perigoso tentar chegar a nascente do rio.

Como Catarina permaneceu calada Dora prosseguiu em seu discurso sobre o proprietário do chalé.

_ Se você raciocinar corretamente vai entender. Qual a melhor maneira que ele poderia encontrar para preservar a privacidade de seu espaço, sem ter que se aborrecer com possíveis invasores ou turistas desprevenidos?

_ Dando um pedaço para distrair a atenção dos outros?

_ Exatamente! E assim ele passou a ser adorado por aqui. Afinal, deu um bosque de presente para a cidade.

_ Acho que posso ter esperanças de convencê-lo a me vender o chalé. Se ele é rico como você disse, então não precisa daquele lugar para nada.

_ Nisso você tem razão _ Dora fez uma pausa _ De resto, só posso dizer que ele é um solteiro convicto, além de ser um gato.

_ Pois eu imaginei justamente o contrário _ Cat respondeu rindo do comentário de Dora _ Pela maneira

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como você o descreveu, parecia se tratar de um velho excêntrico.

_ Excêntrico pode ser, mas velho com certeza não.

As duas ainda riam quando o garçom chegou para recolher os pratos e Cat aproveitou para pedir que ele trouxesse a conta.

Saíram do restaurante e seguiram direto para a imobiliária. Ao chegar, Vanessa já estava à espera e as recebeu com um sorriso simpático. Dora foi logo explicando a situação.

_ Me entenda, Srtª Catarina. Meu interesse é fazer negócio, mas cuido desse imóvel para o proprietário há vários anos e ele sempre deixou claro que não tem interesse em se desfazer do chalé.

_ Estou disposta a fazer uma boa oferta. Fiquei realmente encantada com o lugar.

_ Eu compreendo _ retrucou Vanessa _ A senhorita me desculpe, mas sua boa oferta com certeza também não é do interesse de meu cliente. O senhor Bruno é um homem muito rico. Duvido que vá ceder a uma oferta, por mais generosa que seja.

_ Estou a par dessa informação. Mas por outro lado, se ele é tão rico, que interesse pode ter em um pequeno chalé, tão próximo de sua mansão? _ Cat argumentou _ Talvez não tenha vendido ainda por falta de uma boa oportunidade.

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_ Está certo! A senhorita conseguiu me convencer. Vou entrar em contato com ele e ver o que posso fazer. Espero que consiga convencê-lo também.

_ Obrigada Vanessa! Vou aguardar seu telefonema e, por favor, pode me chamar apenas de Catarina.

Já era fim de tarde quando Cat retornou para casa. Os próximos dias seriam um final de semana e provavelmente ela não receberia nenhuma resposta de Vanessa.

Estava muito ansiosa e passar o fim de semana inteiro sozinha só aumentaria sua ansiedade. Precisava ocupar os próximos dias o máximo possível, para não passar o tempo todo pensando no assunto do chalé e acabou aceitando um convite de uma amiga que daria uma festa na noite de sábado.

A princípio pensou em recusar, mas para sua surpresa, a festa acabou sendo uma distração interessante. Melhor do que ela poderia supor.

O domingo, ao contrário, se arrastou. O dia monótono e sem distração não deixou alternativa, a não ser aproveitar o tempo para organizar alguns documentos e papéis que havia recebido de seu advogado, sobre a venda das ações e sobre seus investimentos pessoais.

Desde o problema com Paulo, Catarina usava os serviços de um escritório de advogados para seus negócios pessoais, mas aprendeu a acompanhar as informações e procurava estar sempre a par de todos os detalhes a respeito de sua situação financeira.

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Ela não se permitiria cometer os mesmos erros novamente. Recebia balancetes quinzenais, os quais eram conferidos com muita atenção e não deixava nada passar despercebido.

Na segunda-feira, logo pela manhã Vanessa ligou.

_ Tenho boas e más notícias _ Cat aguardava ansiosa do outro lado da linha _ Vou dar à má primeiro.

_ Por favor, Vanessa! Esse suspense está me matando.

_ O senhor Bruno não poderá recebê-la para acertar a venda do chalé.

_ Como assim? Ele não quer nem ouvir a minha proposta? O que pode haver naquele chalé de tão especial para ele?

_ Calma! Você não quer saber qual é a boa notícia?

_ Imagino que você vai dizer que tem outro imóvel a disposição para me oferecer _ Cat respondeu decepcionada.

Do outro lado da linha Vanessa riu.

_ Eu disse que ele não vai recebê-la, não disse que ele não venderia o chalé.

_ Eu não acredito! _ Cat respondeu eufórica _ Você conseguiu! Mas nem falamos em valores. Como foi isso?

_ Bem, ele fez um preço, é lógico e precisamos falar sobre isso pessoalmente, mas na verdade foi bem mais fácil do que imaginei. Parece que ele vinha pensando em vender e você apareceu na hora certa.

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_ Então, o que estamos esperando? Vou ligar agora mesmo para Dora e chegamos aí em poucas horas.

_ Ok! Eu estarei aguardando.

Assim que Vanessa desligou, Cat discou o número de Dora e deu a notícia.

_ Eu já sabia querida, mas Vanessa fez questão de falar com você pessoalmente.

_ Agora preciso de você, Dora. Tem que me ajudar com todos os detalhes burocráticos.

_ Claro! Foi para isso que você me contratou. Podemos nos encontrar às duas horas da tarde na imobiliária. Está bom para você?

_ Está ótimo. Duas horas em ponto estarei lá.

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Capítulo 2

Durante a viagem Cat só pensava em uma coisa:

O primeiro dia instalada em seu novo lar.

Imaginava como seria tranquila sua vida daqui para frente e planejava as mudanças que ela pretendia fazer no chalé, para torná-lo ainda mais aconchegante.

Ela precisava se lembrar de tirar as medidas das janelas. Talvez saísse para comprar algumas coisas hoje mesmo.

Quando finalmente chegou a cidade estava ainda mais eufórica e de repente teve um branco. Onde ficava mesmo a imobiliária?

Rodou de carro por alguns minutos, entrando e saindo de várias ruas secundárias até encontrar.

_ Ela chegou e parece muito alegre _ Dora comentou com Vanessa quando Catarina cruzou a porta de vidro da loja que abrigava a imobiliária.

_ É porque eu estou muito alegre Dora. Você sabe o quanto eu esperei para encontrar um lugar assim.

_ Então vamos acertar logo a documentação, antes que ele mude de ideia. O senhor Bruno é muito instável.

_ Vanessa, ele não pode realmente fazer isso, não é? _ Cat perguntou assustada.