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ELLEN DE OLIVEIRA GOIANO Avaliação Epidemiológica da Displasia do Desenvolvimento do Quadril no sexo masculino Dissertação apresentada ao Curso de Pós Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do Titulo de Mestre(a) em Ciências da Saúde. SÃO PAULO 2018

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ELLEN DE OLIVEIRA GOIANO

Avaliação Epidemiológica da Displasia do Desenvolvimento do Quadril no sexo masculino

Dissertação apresentada ao Curso de Pós Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do Titulo de Mestre(a) em Ciências da Saúde.

SÃO PAULO 2018

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ELLEN DE OLIVEIRA GOIANO

Avaliação Epidemiológica da Displasia do Desenvolvimento do Quadril no sexo masculino

Dissertação apresentada ao Curso de Pós Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do Titulo de Mestre(a) em Ciências da Saúde.

Área de Concentração:Ciências da Saúde Orientador: Claudio Santili

SÃO PAULO 2018

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FICHA CATALOGRÁFICA

Preparada pela Biblioteca Central da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo

Goiano, Ellen de Oliveira Avaliação epidemiológica da displasia do desenvolvimento do quadril no sexo masculino./ Ellen de Oliveira Goiano. São Paulo, 2018.

Dissertação de Mestrado. Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo – Curso de Pós-Graduação em Ciências da Saúde.

Área de Concentração: Ciências da Saúde Orientador: Claudio Santili 1. Luxação de quadril 2. Luxação congênita de quadril 3.

Epidemiologia

BC-FCMSCSP/81-18

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À memória de meus amados pais, a quem devo sobretudo a minha formação moral e cívica e por quem tenho amor infinito.

Onde quer que estejam, sei e sinto que sempre estarão olhando por mim.

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“Há muito tempo que eu saí de casa Há muito tempo que eu caí na estrada Há muito tempo que eu estou na vida

Foi assim que eu quis, e assim eu sou feliz

Principalmente por poder voltar A todos os lugares onde já cheguei Pois lá deixei um prato de comida

Um abraço amigo, um canto pra dormir e sonhar

E aprendi que se depende sempre De tanta, muita, diferente gente

Toda pessoa sempre é as marcas Das lições diárias de outras tantas pessoas

E é tão bonito quando a gente entende

Que a gente é tanta gente onde quer que a gente vá E é tão bonito quando a gente sente

Que nunca está sozinho por mais que pense estar...”

Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior (Gonzaguinha, 1982)

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Agradecimentos

Agradeço à Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, em especial aos colegas do Pavilhão Fernandinho Simonsen com quem aprendi dedicação e desprendimento na figura do diretor do Departamento de Ortopedia e Traumatologia, Prof. Dr. Ivan Chakkour.

Aos mestres com quem cruzei durante toda a minha jornada profissional técnica e científica que estimularam em mim o amor e o cuidado pelo próximo na medicina, sempre em busca de excelência.

Aos amigos do Grupo de Ortopedia e Traumatologia Pediátrica da Santa Casa de São Paulo, exemplos de profissionais e referencial de família em São Paulo.

Agradecimento especial vai para as pessoas que contribuíram

diretamente para que esse trabalho se desenvolvesse: - Meu orientador, mentor e segundo pai na Ortopedia Pediátrica e

na vida, Prof. Dr. Claudio Santili. - Prof. Dr. Miguel Akkari pela parceria no dia a dia e sinceridade

nas críticas e sugestões. - Ao setor de estatística da Faculdade de Ciências Médicas da

Santa Casa de São Paulo, representadas pela Profa. Lin e Érica. - À Dra. Juliana Pietrobom Pupin que me auxiliou

significativamente com a avaliação das radiografias. - À Beth, secretária do Grupo de Ortopedia Pediátrica pela

incansável determinação em conseguir todos os prontuários necessários ao trabalho.

- Às queridas Beatriz Amorim e Fernanda Zucatelli pela ajuda com a catalogação e tabulação de dados e expertise com o Excel, além do apoio incondicional e estímulo contínuos.

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Lista de Abreviaturas e Símbolos

DDQ – Displasia do Desenvolvimento do Quadril

IA – Índice acetabular

IBMä – International Business Machines

IC – Intervalo de Confiança

ICMJE – International Committe of Medical Journal Editors

IHDI – International Hip Dysplasia Institute

ROC - Receiver Operator Characteristic

SAGER – Sex and Gender Equity in Research

SPSSä - Statistical Package for the Social Sciences

TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Classificação de Tönnis para DDQ ......................................................14

Figura 2: Classificação do International Hip Dysplasia Institute (IHDI) ................15

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Distribuição dos pacientes/quadris por idade e tipo de DDQ ................17

Tabela 2: Relação entre Tipo de DDQ pela Classificação de Tönnis, Classificação

IHDI e Índice Acetabular ...................................................................................18

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Sumário

1. INTRODUÇÃO

1.1 - Revisão da Literatura...................................................................01

2. OBJETIVOS .............................................................................................04

3. CASUÍSTICA E MÉTODOS .........................................................................05

3.1 – Casuística .......................................................................................05

3.3 – Dados Epidemiológicos ................................................................05

3.3 – Dados Radiográficos ........................................................................06

3.4 - Análise Estatística ............................................................................07

4. RESULTADOS ...........................................................................................08

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................28

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................29

7. ANEXOS ...................................................................................................33

7.1 - Parecer do Comitê de Ética ...............................................................33

7.2 - Normas de Publicação da Revista ......................................................35

Resumo ...........................................................................................................42

Abstract ...........................................................................................................43

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1. INTRODUÇÃO

1.1 – Revisão da Literatura

A Displasia do Desenvolvimento do Quadril (DDQ), é uma condição

multifacetada do quadril pediátrico que pode se apresentar clinicamente de diferentes

maneiras. Na rotina ortopédica são atendidos desde casos de instabilidade neonatal

transitória do quadril, quanto de displasia acetabular isolada, até casos graves de franca

luxação onde há um acetábulo primitivo e/ou neoformação acetabular.

Nos últimos 2 séculos a definição de DDQ foi mudando e se adaptando com a

evolução do conhecimento ortopédico sobre a doença. A primeira definição foi feita por

Hipócrates (400-300 AC) e dizia que “A luxação do quadril em crianças se desenvolve

no útero, em consequência de queda, derrame ou compressão1.” Após longo período sem

qualquer menção à alteração Dupuytren2 foi o primeiro a defini-la como um deslocamento

do quadril no nascimento “primário ou congênito”. Ele descreveu que “Há uma espécie

de deslocamento da extremidade superior do fêmur [...]. Esse deslocamento consiste em

uma transposição da cabeça do fêmur da cavidade cotilóide para a fossa ilíaca externa

(dorso) do ílio, uma transposição que existe no nascimento e que aparece devido a um

defeito na profundidade ou completude do acetábulo, ao invés de um acidente ou

doença...” e a denominou de Luxação Congênita de Quadril. Outros autores seguiram

essa definição3-4 até que em 1970 Winne-Davies5 levantou a hipótese de que nem todos

os quadris diagnosticados tardiamente eram fruto de erro diagnóstico neonatal, mas se

desenvolviam progressivamente por causas diferentes: uma era a frouxidão cápsulo-

ligamentar que representava os quadris luxados ao nascimento e a outra a displasia

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acetabular que fazia com que os quadris se deslocassem gradativamente. Outros autores

passaram a seguir esse conceito6-8, mas foi a partir de 1995 com o trabalho de Bowen9 e

mais significativamente a parir do ano 2000 com a publicação da Academia Americana

de Pediatria10 que o conceito de Displasia do Desenvolvimento do Quadril ganhou

amplitude e aceitação, contemplando todas as formas de apresentação.

Nas últimas décadas houve considerável evolução nos protocolos de diagnóstico

e tratamento da DDQ e muitos aspectos epidemiológicos assim como fatores de risco

foram estudados. Dentre os fatores de risco mais frequentemente associados à condição

estão aqueles que se relacionam à gestação como história familiar, oligodrâmnio,

primiparidade e apresentação pélvica; e aqueles relacionados às características de

apresentação da doença em si como a unilateralidade, predominância do lado esquerdo, a

predominância étnico geográfica (caucasianos europeus, por exemplo) e o sexo

feminino1,10-13.

Apesar de vários aspectos da doença estarem cada vez mais elucidados e

protocolos de diagnóstico e tratamento estarem cada vez mais bem estabelecidos, pouco

se têm abordado as características da DDQ no sexo masculino, o que é compreensível

uma vez que para cada paciente do sexo masculino existem quatro ou cinco pacientes do

sexo feminino13. De acordo com as diretrizes SAGER (Sex and Gender Equity in

Research) diferenças de sexo e gênero são frequentemente negligenciadas no desenho da

pesquisa, na implementação do estudo e no relato científico. Dessa forma quando a

comunicação científica é publicada a capacidade de generalização dos achados das

pesquisas fica limitada e consequentemente, a sua aplicabilidade à prática clínica14.

Em 2010, o ICMJE (International Committe of Medical Journal Editors)

recomendou a inclusão de populações representativas em todos os estudos clínicos,

inclusive quanto ao sexo. É defendido nas diretrizes SAGER que “sexo e gênero são

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determinantes importantes da saúde e do bem-estar. Sexo refere-se a um conjunto de

atributos biológicos em seres humanos e animais que estão associados com características

físicas e fisiológi- cas, incluindo cromossomos, expressão gênica, função hormonal e

anatomia reprodutiva/sexual. O sexo é geralmente categorizado como feminino ou

masculino, embora haja variação nos atributos biológicos que constituem sexo e como

esses atributos são expressos. Gênero refere-se aos papéis, comportamentos e identidades

de mulheres, homens e pessoas de outros gêneros, que são socialmente construídos. Ele

influencia como as pessoas percebem a si mesmas e umas às outras, como elas se

comportam e interagem, e a distribuição de poder e recursos na sociedade. Gênero é em

geral incorretamente conceituado como um fator binário (feminino/masculino). Na

realidade, existe um espectro de identidades e expressões de gênero que definem como

os indivíduos se identificam e expressam seu gênero.” O presente estudo foi delineado

seguindo a recomendação destas diretrizes em todas as suas etapas.

A incidência da DDQ para crianças sem fatores de risco associados é estimada em

11,5/1000 nascidos vivos, baseando-se em protocolos de mata-análise e regressão

logística múltipla10. Quando o risco é calculado para cada sexo separadamente a

incidência variou de 4,1/1000 para meninos e 19/1000 para meninas. O risco relativo com

história familiar positiva é 1,7 vezes maior (6,4/1000 para meninos e 32/1000 para

meninas) e na apresentação pélvica o risco relativo comparado ao vértice é 6,3 vezes

maior (29/1000 para meninos e 133/1000 para meninas).

Baseado no exposto acima e na importância de definir se a epidemiologia da DDQ

relatada na literatura reflete as mesmas características para ambos os sexos, fomos

movidos a realizar esse trabalho.

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2. OBJETIVOS

O objetivo deste trabalho foi avaliar as características epidemiológicas da

displasia do desenvolvimento do quadril no sexo masculino e secundariamente verificar

se essas características são as mesmas que as relatadas de forma geral na literatura.

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3. CASUÍSTICA E MÉTODO

3.1 - Casuística

Este trabalho foi baseado na revisão de prontuários de todos os pacientes do sexo

masculino catalogados com o diagnóstico de Displasia do Desenvolvimento do Quadril

no ambulatório de Ortopedia Pediátrica da Santa Casa de São Paulo. Foram encontrados

297 pacientes do sexo masculino de um total de 2000 casos consecutivos de DDQ,

registrados de Maio de 1974 até Junho de 2009. O desenho do estudo foi retrospectivo,

observacional do tipo transversal.

Os critérios para inclusão no trabalho foram: ter o diagnóstico de displasia do

desenvolvimento do quadril sob qualquer forma de apresentação (instabilidade, displasia,

subluxação e luxação); ser do sexo masculino; ter sido incluído no protocolo de DDQ do

centro de referência em questão. Foram excluídos pacientes com displasia acetabular e/ou

luxação do quadril atípicas ou adquiridas por outras causas (traumáticas, infecciosas, etc);

aqueles que apresentaram prontuários mal preenchidos, com ausência de dados

epidemiológicos necessários à condução do trabalho e aqueles que realizaram algum tipo

de intervenção terapêutica prévia para DDQ em outro serviço.

3.2 – Dados Epidemiológicos

Foram coletados dados dos prontuários de cada paciente em busca do perfil dos

pacientes e dados epidemiológicos que pudessem elucidar as características da DDQ no

sexo masculino tais como local de nascimento, raça, lateralidade, idade no diagnóstico e

fatores de risco associados.

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3.3 – Dados Radiográficos

Foram localizadas e revisadas as radiografias do arquivo médico dos pacientes

para avaliar dados como valor do Índice Acetabular (IA) na ocasião do diagnóstico (até

os 8 anos de idade), tipo de DDQ de acordo com a Classificação de Tönnis15 e de acordo

com a classificação do International Hip Dysplasia Institute IHDI16 (até os 4 anos de

idade).

O IA foi considerado alterado quando estava acima de 30 graus nas crianças

menores e acima de 20 graus nas crianças após os 2 anos de idade17.

Para a categorização quanto ao Tipo de DDQ, o quadril era classificado como

Instabilidade quando não havia sinais de displasia nas radiografias (RX), mas havia

descrição de Barlow/Ortolani positivos no exame físico; Displasia quando o índice

acetabular se apresentava aumentado em relação à respectiva faixa etária, porém sem a

quebra do Arco de Shenton ou lateralização do fêmur (Grau I de Tönnis) ; Subluxação

com qualquer índice acetabular, associado à quebra do Arco de Shenton e/ou lateralização

do fêmur (Grau II de Tönnis), com centralização do quadril na radiografia em posição de

Rã (Lauenstein); Luxação Baixa semelhante à subluxação, porém sem a normalização

do quadril na posição de Lauenstein, (Grau III de Tönnis) e Luxação Alta quando a

cabeça do fêmur/metáfise proximal ultrapassava cranialmente a linha de Hilgenheiner

para a classificação IHDI ou a borda lateral do acetábulo (Grau IV de Tönnis).

Para a Classificação IHDI o parâmetro utilizado foi a localização do ponto médio

da face superior da metáfise (Ponto-H) e a linha D, que divide o quadrante ínfero-lateral

de Ombredanne a 45 graus, formando 2 hemiquadrantes. Ele foi usado em crianças desde

o nascimento até os 48 meses de idade, caracterizando o quadril centralizado mais

medialmente como Grau I e os demais com gravidade progressiva de II a IV.

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3.4 – Análise Estatística

Após a coleta de dados, as variáveis foram analisadas estatisticamente

utilizando-se o programa SPSS (Versão 13.0 da IBMä). Além da análise descritiva,

foram avaliados quando pertinentes o teste Qui-Quadrado de Pearson e o índice

Kappa de concordância.

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4. RESULTADOS

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ARTIGO ORIGINAL

Epidemiologia da Displasia do Desenvolvimento do Quadril no sexo masculino

The Epidemiology of Developmental Dysplasia of the Hip in males

Ellen de Oliveira Goiano

Médica ortopedista pediátrica, Mestranda em Ciências da Saúde pela FCMSCSP, São

Paulo, SP-Brasil

Prof. Dr. Miguel Akkari

Chefe do Grupo de Ortopedia e Traumatologia Pediátrica da Santa Casa de São Paulo,

São Paulo, SP-Brasil

Juliana Pietrobom Pupin

Médica ortopedista pediátrica, São Paulo, SP-Brasil

Prof. Dr. Claudio Santili

Professor titular da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo e consultor do

Grupo de Ortopedia e Traumatologia Pediátrica da Santa Casa de São Paulo, São Paulo,

SP-Brasil

Trabalho realizado no Grupo de Ortopedia e Traumatologia Pediátrica da Santa Casa de

São Paulo, Pavilhão Fernandinho Simonsen, São Paulo-SP

Endereço para correspondência:

Ellen Goiano, [email protected]

Rua Dr. Cesário Mota Júnior, 112 - Vila Buarque, São Paulo - SP, 01221-020

Pavilhão Fernandinho Simonsen, 2 andar – Ortopedia Pediátrica Tel: (11)3221-2395

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Resumo

A displasia do desenvolvimento do quadril (DDQ) é uma das alterações

ortopédicas mais frequentes no quadril da população pediátrica. Há predominância no

sexo feminino e em pacientes com fatores de risco conhecidos. O objetivo foi avaliar as

características da Displasia do Desenvolvimento do Quadril no sexo masculino de um

grande centro de referência e cotejá-las com a literatura. Trata-se de estudo observacional

transversal baseado na revisão de prontuários e radiografias de onde foram coletados

dados epidemiológicos tais como etnia, lateralidade, idade no diagnóstico, índice

acetabular, classificação radiográfica e outros. Foram encontrados 297 prontuários no

período de Maio de 1974 até Junho de 2009, destes 147 pacientes (216 quadris afetados)

foram elegíveis para a pesquisa. A maioria dos pacientes era procedente do estado de São

Paulo (91,1%), nascidos no Outono/Inverno (66,7%), autodeclarados caucasianos

(76,9%), com acometimento bilateral (46,9%) e idade média no diagnóstico de 22,8

meses. O tipo de DDQ mais encontrado foi a luxação alta (28,7%), o índice acetabular

apresentou-se progressivamente aumentado quanto maior a idade do paciente. A

classificação do International Hip Dysplasia Institute (IHDI) mostrou-se mais

reprodutível que a Classificação de Tönnis. O atraso no diagnóstico foi associado à

ausência de fatores de risco e à bilateralidade.

Palavras-chave: Luxação do Quadril; luxação congênita de quadril; Epidemiologia

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Abstract

Developmental Dysplasia of the Hip (DDH) is one of the most common

orthopedic hip diseases of pediatric population. There is predominance in females and in

patients with known risk factors. The objective was to evaluate the characteristics of DDH

in males of a reference center and compare them with literature. This is a cross-sectional

observational study based on the review of medical records and radiographs from which

epidemiological data such as ethnicity, laterality, diagnosis age, acetabular index,

radiographic classification and others were collected. A total of 297 records were found

between May 1974 and June 2009, 147 patients (216 hips) were eligible for the survey.

The majority of the patients came from the São Paulo state (91.1%), born in autumn /

winter (66.7%), self-declared caucasian (76.9%), with bilateral involvement (46.9%) and

mean age at diagnosis 22.8 months. The most frequent type of DDH was high dislocation

(28.7%), and the acetabular index progressively increased at the patient's age. The

International Hip Dysplasia Institute (IHDI) classification proved to be more reliable than

Tönnis classification. Delayed diagnosis was associated with the absence of risk factors

and bilaterality.

Keywords: Hip Dislocation; Hip Dislocation, Congenital; epidemiology

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Introdução

A Displasia do Desenvolvimento do Quadril (DDQ), é uma condição

multifacetada do quadril pediátrico que pode se apresentar clinicamente de diferentes

maneiras. Na rotina ortopédica são atendidos desde casos de instabilidade neonatal

transitória do quadril, quanto de displasia acetabular isolada, até casos graves de franca

luxação onde há um acetábulo primitivo e/ou neoformação acetabular. Nas últimas

décadas houve considerável evolução nos protocolos de diagnóstico e tratamento da DDQ

e muitos aspectos epidemiológicos assim como fatores de risco foram estudados1-4. Sabe-

se, por exemplo, que há prevalência da doença unilateral e o lado mais acometido é o

esquerdo, a raça branca e o sexo feminino estão mais frequentemente associados à afecção

e entre os fatores de risco estão a apresentação pélvica, oligodrâmnio, entre outros4-5.

Entretanto, pouco se sabe sobre as características da DDQ no sexo masculino e se há

diferenças entre as características da doença entre os sexos, pois há escassez de trabalhos

que as destaquem.

A incidência da DDQ para crianças sem fatores de risco associados é estimada em

11,5/1.000 nascidos vivos, baseando-se em protocolos de mata-análise e regressão

logística múltipla5. Quando o risco é calculado para cada sexo separadamente a incidência

variou de 4,1/1.000 para meninos e 19/1.000 para meninas. O risco relativo com história

familiar positiva é 1,7 vezes maior (6,4/1.000 para meninos e 32/1.000 para meninas) e

na apresentação pélvica o risco relativo comparado ao vértice é 6,3 vezes maior (29/1.000

para meninos e 133/1.000 para meninas).

Para cada paciente do sexo masculino existem 4 ou 5 pacientes do sexo feminino4

o que nos fez inferir que a epidemiologia e características demográficas relatadas na

literatura refletem predominantemente as características da DDQ em meninas.

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O objetivo deste trabalho foi avaliar as características epidemiológicas da

displasia do desenvolvimento do quadril no sexo masculino e secundariamente verificar

se essas características são as mesmas que as relatadas de forma geral na literatura.

Material e Métodos:

Este trabalho foi baseado na revisão de prontuários de todos os pacientes do sexo

masculino catalogados com o diagnóstico de Displasia do Desenvolvimento do Quadril

no ambulatório de Ortopedia Pediátrica da Santa Casa de São Paulo. Foram encontrados

297 pacientes do sexo masculino de um total de 2000 casos consecutivos de DDQ,

registrados de Maio de 1974 até Junho de 2009. O desenho do estudo foi observacional

do tipo transversal.

Os critérios para inclusão no trabalho foram: ter o diagnóstico de displasia do

desenvolvimento do quadril sob qualquer forma de apresentação (instabilidade, displasia,

subluxação e luxação); ser do sexo masculino; ter sido incluído no protocolo de DDQ do

centro de referência em questão. Foram excluídos pacientes com displasia acetabular e/ou

luxação do quadril atípicas ou adquiridas por outras causas (traumáticas, infecciosas, etc);

aqueles que apresentaram prontuários mal preenchidos, com ausência de dados

epidemiológicos necessários à condução do trabalho e aqueles que realizaram algum tipo

de intervenção terapêutica prévia para DDQ em outro serviço.

Foram coletados dados dos prontuários e revisadas as radiografias do arquivo

médico de cada paciente em busca de dados epidemiológicos que pudessem evidenciar

possíveis diferenças entre pacientes do sexo feminino e masculino tais como raça,

lateralidade, idade no diagnóstico, valor do Índice Acetabular (IA) na ocasião do

diagnóstico (até os 8 anos de idade) , tipo de DDQ de acordo com a Classificação de

Tönnis e de acordo com a classificação do International Hip Dysplasia Institute IHDI (até

os 4 anos de idade).

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O IA foi considerado alterado quando estava acima de 30 graus nas crianças

menores e acima de 20 graus nas crianças após os 2 anos de idade.

Para a categorização quanto ao Tipo de DDQ, o quadril era classificado como

Instabilidade quando não havia sinais de displasia nas radiografias (RX), mas havia

descrição de Barlow/Ortolani positivos no exame físico; Displasia quando o índice

acetabular se apresentava aumentado em relação à respectiva faixa etária, porém sem a

quebra do Arco de Shenton ou lateralização do fêmur (Grau I de Tönnis) ; Subluxação

com qualquer índice acetabular, associado à quebra do Arco de Shenton e/ou lateralização

do fêmur (Grau II de Tönnis), com centralização do quadril na radiografia em posição de

Rã (Lauenstein); Luxação Baixa semelhante à subluxação, porém sem a normalização

do quadril na posição de Lauenstein, (Grau III de Tönnis) e Luxação Alta quando a

cabeça do fêmur/metáfise proximal ultrapassava cranialmente a linha de Hilgenheiner

para a classificação IHDI ou a borda lateral do acetábulo (Grau IV de Tönnis).

Figura 1: Classificação de Tönnis para DDQ

Fonte: Adaptado de Narayanan U et al. J Pediatr Orthop 2015; 35:478–84.

Grau I Grau II

Grau III Grau IV

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Para a Classificação IHDI o parâmetro utilizado foi a localização do ponto médio da

face superior da metáfise (Ponto-H) e a linha D, que divide o quadrante ínfero-lateral de

Ombredanne a 45 graus, formando 2 hemiquadrantes. Ele foi usado em crianças desde o

nascimento até os 48 meses de idade, caracterizando o quadril centralizado mais

medialmente como Grau I e os demais com gravidade progressiva de II a IV.

Figura 2: Classificação do International Hip Dysplasia Institute (IHDI)

Fonte: Adaptado de Narayanan U et al. J Pediatr Orthop 2015; 35:478–84.

Após a coleta de dados, as variáveis foram analisadas estatisticamente utilizando-

se o programa SPSS (Versão 13.0 da IBMä). Além da análise descritiva, foram avaliados

quando pertinentes o teste Qui-Quadrado de Pearson e o índice Kappa de concordância.

Este trabalho foi aprovado pelo comitê de ética da Faculdade de Ciências Médicas da

Santa Casa de São Paulo em 25/11/2014. Número do Parecer: 895.438. CAAE:

38084214.9.0000.5479. Por se tratar de estudo retrospectivo e observacional o TCLE foi

dispensado.

Grau I Grau II

Grau III Grau IV

Linha D

Ponto H

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Resultados

Destes 297 casos registrados, 106 foram excluídos por não possuírem em seus

prontuários as informações clínicas e/ou radiográficas consideradas válidas para a análise

epidemiológica em questão, 9 pacientes não apresentavam sinais clínicos e/ou

radiográficos de DDQ, 21 foram excluídos por terem sido submetidos a tratamento

cirúrgico prévio e 14 por apresentarem formas atípicas (sindrômicas ou teratológicas) de

displasia do quadril. Restaram 147 pacientes (216 quadris afetados), dos quais 24

apresentavam somente radiografias iniciais e não seguiram acompanhamento no serviço.

A idade no diagnóstico variou desde o nascimento até os 14 anos de idade

(displasia do adolescente), com média de 22,8 meses (mediana 10,1 meses). Quase

metade dos pacientes, 66 meninos (45%) foram diagnosticados antes dos 6 meses de

idade, 42 deles foram diagnosticados entre os 6 meses e os 2 anos de idade (28,5%) e 39

(26,5%) apresentaram diagnóstico tardio, após os 2 anos. Em relação ao período de

nascimento, 54 meninos nasceram no Outono (36,8%), 44 no Inverno (29,9%), 25 no

Verão (17%) e 24 na Primavera (16,3%).

A distribuição quanto à raça foi de 113 (76,9%) pacientes caucasianos, 6 (4,1%)

pardos, 4 (2,7%) negros e 24 (16,3%) não declararam. Dos 147 pacientes, 94 eram

provenientes de São Paulo capital (63,9%), 40 (27,2%) do interior do Estado e somente

3 deles provinham de outros estados. Em 10 pacientes essa informação não foi

conseguida.

Em relação à lateralidade 69 (46,9%) meninos apresentavam DDQ bilateral, em

51 (34,7%) a displasia era exclusivamente do lado esquerdo e em 27 (18,4%) somente do

lado direito, totalizando 216 quadris acometidos.

Em relação ao tipo de DDQ encontrada na radiografia inicial, 62 apresentavam

luxação alta (28,7%), um número semelhante de 60 (27,8%) subluxações, seguidas de

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17

luxações baixas com 44 quadris (20,3%), displasias isoladas com 35 quadris (16,2%) e

15 quadris apresentavam instabilidade sem displasia (6,9%).

Tabela1:Distribuiçãodospacientes/quadrisporidadeetipodeDDQ

Idade de Diagnóstico Tipo de DDQ Lateralidade Total

0-6 Meses

15 Instabilidades

32 Displasias

44 Subluxações

16 Luxações baixas

3 Luxações Altas

45 Bilateral

12 Esquerda

8 Direita

66 Pacientes (45%)

110 Quadris(50,9%)

>6-24Meses

11 Subluxações

22 Luxações Baixas

16 Luxações Altas

10 Bilateral

17 Esquerda

12 Direita

42 Pacientes (28,5%)

49 Quadris(22,7%)

>24 Meses

3 Displasias

5 Subluxações

6 Luxações Baixas

43 Luxações Altas

14 Bilateral

22 Esquerda

7 Direita

39 Pacientes (26,5%)

57 Quadris(26,4%)

Ainda em relação ao tipo de DDQ foram cruzados os dados entre o respectivo

Tipo radiográfico, classificação IHDI e o índice acetabular (IA) encontrados na

radiografia inicial de cada paciente. A média do índice acetabular na radiografia em AP

foi de 37 graus com desvio padrão de 7,5 e no Lauenstein foi 36 graus com desvio padrão

de 7,6.

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18

Tabela2:RelaçãoentreTipodeDDQ,ClassificaçãoIHDIeÍndiceAcetabular

Tipo de DDQ IHDI IA (AP) IA (Rã) Total

Instabilidade

14 tipo I

1 tipo II

18°-29°

Média (25,1°)

18°-28°

Média (24,2°)

15 Quadris

7 Esquerdo

8 Direito

Displasia

13 tipo I

20 tipo II

30°-46°

Média (34,7°)

22°-44°

Média (32,9°)

33 Quadris

17 Esquerdo

16 Direito

Subluxação

52 tipo II

4 tipo III

25°-50°

Média (36,6°)

26°-50°

Média (35,1°)

56 Quadris

27 Esquerdo

29 Direito

Luxação Baixa

1 tipo II

43 tipo III

15°-50°

Média (38,8°)

24°-50°

Média (38,2°)

44 Quadris

29 Esquerdo

15 Direito

Luxação Alta

38 tipo IV

33°-54°

Média (42,2°)

32°-58°

Média (41,8°)

38 Quadris

20 Esquerdo

18 Direito

IHDI: International Hip Dysplasia Institute; IA: Índice Acetabular; AP: Incidência ântero-posterior.

Discussão

A epidemiologia da DDQ tem sido considerada desde sempre um enigma em

virtude da falta de padronização de critérios, pelos diversos autores na literatura1. Há

muita diversidade nos trabalhos em relação à definição de DDQ em si como já

apresentado na introdução e sobre aspectos como métodos de diagnóstico, classificação,

entre outros2. Além disso, a literatura é muito escassa em relação às possíveis diferenças

entre os sexos, tanto epidemiológicas, quanto fatores de risco e prognóstico de evolução.

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19

No presente estudo, os 14 pacientes que apresentavam síndromes associadas à

displasia do quadril foram excluídos, mas eles representaram somente 4,7% da amostra

total (297 meninos). Dunn (1976) descreveu que a DDQ em crianças do sexo masculino

normalmente ocorre em associação com outras deformidades concomitantes e

oligodrâmnio, enquanto que em meninas a DDQ está mais associada com a frouxidão

cápsulo-ligamentar hormônio induzida3. Uma limitação do nosso estudo foi a

impossibilidade de verificar retrospectivamente a ocorrência de primiparidade, parto

pélvico, oligodrâmnio e história familiar positiva, pois essas informações não constavam

nos prontuários das crianças.

Na pesquisa bibliográfica encontramos somente dois trabalhos voltados

exclusivamente para a DDQ no sexo masculino e apenas um deles aborda aspectos

epidemiológicos7,8. Neste estudo conduzido por Samarah et al. (2016)8 foram excluídos e

não mencionados os meninos com síndromes e doenças neuromusculares. No outro,

conduzido por Borges et al. (1995)7 o objetivo foi avaliar fatores associados ao resultado

do tratamento, apesar disso ele foi usado como referencial de comparação. O estudo

mencionado, realizado no período de 1965 a 1990, identificou 92 meninos (143 quadris)

com DDQ na sua forma de apresentação de franca luxação, com ou sem tratamento

prévio. Dentre estes, 37 (40,2%) estavam associados às formas sindrômicas ou doenças

neuromusculares, dados muito superiores aos encontrados na nossa pesquisa.

Justificamos essa diferença pelo fato de estarmos em um centro de referência onde

pacientes com doenças neuromusculares são encaminhados diretamente para tratamento

específico na Clínica de Doenças Neuromusculares.

A incidência e a prevalência da DDQ variam consideravelmente entre indivíduos de

diferentes etnias e localizações geográficas. De acordo com a Academia Americana de

Pediatria5, o risco relativo geral de incidência da DDQ em crianças é de 11,5/1000

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nascidos vivos, sendo de 4,1/1000 em meninos e 19/1000 em meninas. Quando há história

familiar ou apresentação pélvica esse risco é ainda maior. Estimamos que a incidência da

DDQ na nossa população é de 4,6-5/1000 nascidos vivos, pelos principais estudos

realizados na América do Sul9,10 em indivíduos predominantemente caucasianos. Pelos

dados obtidos por nós, temos que a proporção de incidência entre os sexos é de 1 menino

para cada 5,7 meninas nos 2000 prontuários avaliados.

Na nossa casuística foram incluídos pacientes catalogados por 35 anos, num total de

2000 casos consecutivos, onde 297 pacientes eram do sexo masculino (14,8%) e 1703 do

sexo feminino (85,2%). A incidência em meninas foi maior que a média mundial que é

de 75,5%4. No entanto, para a análise epidemiológica, computamos somente os 147

pacientes (216 quadris), que foram encaminhados para tratamento primário e possuíam

em seus prontuários todos os dados clínico/radiográficos necessários à pesquisa. Essa

perda importante, em parte, está provavelmente relacionada mais uma vez ao fato de

estarmos em um centro de referência onde muitos pacientes somente são encaminhados

após realização de tratamento inicial em outros hospitais.

Em relação ao período de nascimento 66,7% dos pacientes nasceram em meses

“frios”, 54 meninos nasceram no Outono (36,8%), 44 no Inverno (29,9%), 25 no Verão

(17%) e 24 na Primavera (16,3%). No trabalho de Loder e Skopelja (2011)4 a maioria dos

estudos incluídos mostrou aumento da incidência de DDQ em crianças nascidas nos

meses de outono/inverno, tanto no hemisfério norte quanto no hemisfério sul,

corroborando os dados desta pesquisa.

Utilizamos neste trabalho a definição de raça baseada no trabalho de Eveleth e Tanner

(1990)11, os autores optam por uma versão baseada em critérios históricos e geográficos

para definir as populações e apesar de haver possíveis falhas em virtude da miscigenação

da população brasileira, a abrangência do levantamento dos autores é ampla tanto em

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21

termos quantitativos como qualitativos e considerada válida para outros estudos

epidemiológicos. No nosso estudo houve predominância de pacientes que foram

declarados caucasianos na consulta inicial, num total de 113 pacientes (76,9%). Estes

dados estão de acordo com o conhecimento geral sobre a epidemiologia da DDQ. Os

dados disponíveis na literatura para a América do Sul consideram uma incidência em

caucasianos de 69%, sem distinção quanto ao sexo4,12.

Em relação à lateralidade 69 (46,9%) meninos apresentavam DDQ bilateralmente, em

51 (34,7%) a displasia era exclusivamente do lado esquerdo e em 27 (18,4%) somente do

lado direito, totalizando 216 quadris acometidos. Neste quesito encontrou-se a maior

variação em relação a outros estudos.

A revisão sistemática realizada por Loder e Skopelja (2011)4, baseada em artigos de

língua inglesa publicados entre 1947-2010 foi focada exclusivamente em aspectos

etiológicos, epidemiológicos e diagnósticos e ofereceu um bom suporte científico para

comparação com os dados encontrados aqui. De um total de 9717 casos estudados, 63,4%

apresentavam acometimento unilateral, quando unilateral 36% envolviam o lado direito

e 64% o lado esquerdo, restando 36,6% de bilateralidade. Apesar do lado esquerdo ser

tipicamente mais envolvido, constatou-se uma variação étnica significativa, sendo menor

nos indo-mediterrâneos (44%) e maior nos australianos/neozelandeses (81,4%). Os sul-

americanos apresentaram uma distribuição equilibrada com 52% no lado esquerdo e 48%

no lado direito.

No nosso trabalho a displasia à esquerda teve incidência muito superior nos casos

unilaterais. Quando consideramos somente estes pacientes (78 meninos) a estatística se

aproxima dos dados encontrados por Borges et al. (1995)7 com 65,4% de DDQ

exclusivamente à esquerda (Borges - 62,5%) e 34,6% à direita (Borges - 37,5%). Ambos

incluindo somente a população pediátrica do sexo masculino.

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22

No presente estudo a alta incidência de bilateralidade foi considerada um fator

impactante de diferença com a literatura corrente que descreve pouca variação da DDQ

por gênero nas diferentes raças, mas considerável variação na bilateralidade4. Na nossa

casuística além da predominância de pacientes declarados caucasianos, a incidência de

bilateralidade (46,9%) apesar de ser inferior aos 60,5% encontrados por Samarah et al.

(2016)8 foi semelhante à encontrada por Borges (41,8%)7. Os sul-americanos caucasianos

foram considerados etnicamente os pacientes com maior incidência de DDQ bilateral

(69%), esta afirmativa foi baseada no trabalho de Romero et al. (1989)12 que analisaram

97 pacientes chilenos, sem distinção de sexo, onde somente 13 (13,4%) eram meninos.

Se considerarmos que os estudos de Samarah e Borges foram feitos exclusivamente com

pacientes do sexo masculino e analisando os quatro estudos em questão, incluindo o

presente, em todos a incidência de bilateralidade na população masculina foi superior à

relatada na literatura, isso reforça que existem diferenças epidemiológicas a serem

consideradas entre os sexos.

A média de idade no diagnóstico dos nossos pacientes foi de 22,8 meses (mediana

10,1 meses) com 66 meninos (45%), ou seja, cerca de metade deles apresentando

diagnóstico antes dos 6 meses de vida, e 39 pacientes (26,5%) apresentaram diagnóstico

“tardio” após os 2 anos. Em um estudo canadense13 considerando-se 20 meses de idade

como ponto de corte, o principal fator associado ao diagnóstico tardio foi a apresentação

bilateral (44%), semelhante ao presente estudo. No trabalho de Samarah et al. (2016)8 que

investigou 1145 meninos e encontrou 43 crianças com DDQ (70 quadris), os principais

fatores associados à apresentação tardia no sexo masculino foram a primiparidade e a

bilateralidade.

No momento do diagnóstico os pacientes foram classificados radiograficamente

quanto ao tipo de DDQ e observamos que a luxação alta do quadril junto com as

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23

subluxações foram as apresentações mais prevalentes com 62 quadris acometidos pela

primeira (28,7%) e 60 quadris pela segunda respectivamente (27,8%), juntas elas

representaram 56,5% dos casos, enquanto os pacientes com instabilidades e displasias

isoladas foram os menos representativos da amostra com 13,1%. Apesar de ser encontrada

em todas as faixas etárias do nosso estudo, a luxação alta mostrou um aumento expressivo

quanto maior a idade do paciente, ao contrário das subluxações que foram mais frequentes

na faixa etária mais jovem (dos 0 aos 6 meses). Essa progressão da DDQ nos faz inferir

um pior prognóstico quanto maior a idade, o que não é exclusivo do sexo masculino, mas

chama a atenção para a realização de um diagnóstico mais precoce.

Na avaliação radiográfica, verificou-se a progressão do índice Acetabular na

radiografia em AP conforme a gravidade do tipo encontrado. Nos casos de instabilidade

pura a média foi de 25,1° e nos casos de luxação alta foi de 42.2°. Esse aumento gradativo

dos ângulos está em linha com o conceito de displasia do desenvolvimento como doença

progressiva do quadril, considerando o achado de que a grande maioria dos casos de

luxação alta foram diagnosticados em pacientes mais velhos. Comparando com outros

artigos sobre o tema, a média do IA na radiografia em AP e o desvio-padrão foram

semelhantes aos encontrados na literatura. Não encontramos referências sobre valores do

índice acetabular na incidência radiográfica de Lauenstein (Posição de Rã), todos os

autores de referência em seus estudos clássicos para o índice acetabular o fizeram na

radiografia de frente da bacia (AP)14-18.

Muitos trabalhos já foram escritos discutindo os chamados valores normais para

o índice acetabular. Kleinberg e Lieberman (1936)14 encontraram um índice médio em

RN de 27,5 graus e na infância (de onze a vinte e quatro meses), 20 graus; enquanto nas

crianças de doze a trinta e seis meses de idade com quadril displásico, o índice médio era

de 37,5 graus. Apesar das controvérsias sobre esse estudo, sobretudo em relação ao

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24

posicionamento adequado do paciente e das variações possíveis do ângulo16,17, ele

continua sendo um bom referencial para diagnóstico e evolução dos casos desde que seja

utilizado em conjunto com os já bem estabelecidos parâmetros clínicos18. Broughton et

al. (1989)15 investigaram a correlação intra e entre observadores de diversas avaliações

possíveis para as displasias acetabulares e encontraram grande variabilidade entre as

medidas. De todos os parâmetros estudados, o índice acetabular foi o mais preciso, com

95% de concordância entre observadores. No nosso estudo os valores relativos do índice

acetabular na incidência de Lauenstein foram sempre discretamente menores que os

valores do mesmo ângulo na radiografia em AP, porém com média bem semelhante. É

possível que a incidência de rã seja mais precisa que a radiografia em AP quando os

exames são provenientes de serviços de radiologia não padronizados, pois nesta posição

a flexão e abdução dos quadris além de diminuir a lordose lombar corrigindo a báscula

da pelve, faz com que a criança fique posicionada mais de frente para o aparelho,

diminuindo a inclinação lateral e consequentemente, a variação do ângulo.

Quando cruzamos os dados do Índice acetabular com o tipo de DDQ e com a

classificação IHDI, foi possível verificar uma estreita correlação entre tipo radiográfico e

a classificação e apesar de não ser objetivo específico desta pesquisa, evidenciou e

validou para nós a reprodutibilidade da classificação proposta pelo International Hip

Dysplasia Institute como uma “evolução” da clássica Classificação de Tönnis, pois a

classificação IHDI independe do aparecimento do centro de ossificação secundário

proximal do fêmur para ser aplicada19,20.

Consideramos, portanto, pelos fatores expostos acima que a maior incidência de

bilateralidade no sexo masculino é um fator que pode justificar o diagnóstico tardio e

consequentemente, à maior incidência de luxações altas com tendência a um pior

prognóstico.

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Estes achados enfatizam tanto a necessidade de uma avaliação mais vigilante no

diagnóstico neonatal quanto da instituição do tratamento tão logo seja identificada a

condição e a obrigatoriedade dos exames de triagem em todas as maternidades e para

todos os recém-nascidos, independente da presença ou não de fatores de risco.

Conclusão

A DDQ no sexo masculino apresenta características distintas das referidas na

literatura. Encontramos maior frequência de bilateralidade, idade de diagnóstico mais

tardia e um percentual maior de luxações altas do que nos demais estudos

epidemiológicos. Pelo exposto recomendamos a investigação diagnóstica na maternidade

para ambos os sexos, independente da presença de fatores de risco.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando a população estudada nesta casuística, a DDQ no sexo masculino

apresenta características distintas das referidas na literatura. Encontramos maior

frequência de bilateralidade, idade de diagnóstico mais tardia e um percentual maior de

luxações altas do que nos demais estudos epidemiológicos.

As radiografias da bacia ainda constituem um instrumento útil para o diagnóstico

de DDQ. O índice acetabular na incidência de Lauenstein parece ser mais confiável

quando não é possível a padronização das radiografias. A classificação radiográfica do

IHDI mostrou-se um bom instrumento de classificação da DDQ do nascimento aos quatro

anos de idade.

Pelo exposto recomendamos a investigação diagnóstica na maternidade para

ambos os sexos, independente da presença de fatores de risco.

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29

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7. ANEXOS

7.1 - Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa

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7.2 - Normas de publicação da(s) revista(s) de submissão

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Resumo

A displasia do desenvolvimento do quadril (DDQ) é uma das alterações ortopédicas

mais frequentes no quadril da população pediátrica. Há predominância no sexo feminino

e em pacientes com fatores de risco conhecidos. O objetivo foi avaliar as características

da Displasia do Desenvolvimento do Quadril no sexo masculino de um grande centro de

referência e cotejá-las com a literatura. Trata-se de estudo observacional transversal

baseado na revisão de prontuários e radiografias de onde foram coletados dados

demográficos e epidemiológicos tais como etnia, lateralidade, idade no diagnóstico,

índice acetabular, classificação radiográfica e outros. Foram encontrados 297 prontuários

no período de Maio de 1974 até Junho de 2009, destes 147 pacientes (216 quadris

afetados) foram elegíveis para a pesquisa. A maioria dos pacientes era procedente do

estado de São Paulo (91,1%), nascidos no Outono/Inverno (66,7%), autodeclarados

caucasianos (76,9%), com acometimento bilateral (46,9%) e idade média no diagnóstico

de 22,8 meses. O tipo de DDQ mais encontrado foi a luxação alta (28,7%), o índice

acetabular apresentou-se progressivamente aumentado quanto maior a idade do paciente.

A classificação do International Hip Dysplasia Institute (IHDI) mostrou-se mais

reprodutível que a Classificação de Tönnis.

A DDQ no sexo masculino mostrou características epidemiológicas diferentes dos

dados da literatura. O atraso no diagnóstico foi associado à ausência de fatores de risco e

à bilateralidade.

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Abstract

Developmental Dysplasia of the Hip (DDH) is one of the most common orthopedic

hip diseases of pediatric population. There is predominance in females and in patients

with known risk factors. The objective was to evaluate the characteristics of DDH in

males of a reference center and compare them with literature. This is a cross-sectional

observational study based on the review of medical records and radiographs from which

epidemiological data such as ethnicity, laterality, diagnosis age, acetabular index,

radiographic classification and others were collected. A total of 297 records were found

between May 1974 and June 2009, 147 patients (216 hips) were eligible for the survey.

The majority of the patients came from the São Paulo state (91.1%), born in autumn /

winter (66.7%), self-declared caucasian (76.9%), with bilateral involvement (46.9%) and

mean age at diagnosis 22.8 months. The most frequent type of DDH was high dislocation

(28.7%), and the acetabular index progressively increased at the patient's age. The

International Hip Dysplasia Institute (IHDI) classification proved to be more reliable than

Tönnis classification.

DDQ in males showed different epidemiological characteristics from the literature.

Delayed diagnosis was associated with the absence of risk factors and bilaterality.