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Eliseu da Cruz

Visitas de Nossa Senhora

a seus filhos que sofrem

Distribuidora Loyola de Livros Ltda.

Ilustração da capa

Milagroso afresco de Nossa Senhora do Bom Conselho de Genazzano, que se venera no Santuário Madre del Buon Consiglio, aos cuidados dos

Revmos. Padres Agostinianos, na cidade de Genazzano, Itália.

Cruz, Eliseu da.C957v Visitas de Nossa Senhora a seus filhos que sofrem / Eliseu da Cruz. - 4. ed. - São Paulo: Distribuidora Loyola de Livros, 2016.

ISBN: 978-85-63042-00-2

1. Religião. 2. Nossa Senhora. 3. Doutrina Católica. 4. Orações.

248 p.CDU 2

Quarta edição: Maio de 2016.

Todos os direitos reservados, em todas as línguas. É permitida a reprodução e uso da edição desta obra disponibilizada em formato digital para fins exclusivamente de

apostolado e evangelização, desde que sem alterações de conteúdo e sempre acompanhada da completa referência bibliográfica. Qualquer outro tipo de

reprodução ou utilização, inclusive em sites, blogs ou congêneres, somente mediante prévia permissão escrita do autor. As autorizações para a reprodução de todas as

fotografias presentes nesta obra foram gentilmente concedidas ao autor pelos respectivos detentores dos créditos fotográficos.

E-mail do autor: [email protected]

Distribuidora Loyola de Livros Ltda.R. Senador Feijó, 120 - Sé

01006-000 - São Paulo - SPTelefone: (11) 3242-0449

Sumário

Apresentação ............................................................................................................... 7Introdução ................................................................................................................... 9Às filhas que sofrem... ............................................................................................... 11Primeira Visita: Porque venho visitá-lo..................................................................... 13Segunda visita: Saúde dos Enfermos ........................................................................ 15Terceira visita: Porque o sofrimento? ........................................................................ 19Quarta visita: Benefícios do sofrimento ................................................................... 23Quinta visita: Muitos outros benefícios .................................................................... 27Sexta visita: O plano de Deus para você ................................................................... 33Sétima visita: Como obter ou recuperar a graça ....................................................... 37Oitava visita: A reconciliação ................................................................................... 43Nona visita: Como aumentar a graça ........................................................................ 49Décima visita: A Eucaristia ....................................................................................... 55Décima-primeira visita: Deus conosco ..................................................................... 59Décima-segunda visita: Convívio no isolamento ...................................................... 65Décima-terceira visita: O inimigo ............................................................................. 73Décima-quarta visita: Tranqüilidade da ordem ......................................................... 81Décima-quinta visita: Aprendendo o caminho .......................................................... 85Décima-sexta visita: As três vias sucessivas que noslevam a Deus .......................... 89Décima-sétima visita: O primeiro passo na caminhada ............................................ 93Décima-oitava visita: Como avançar a largos passos ................................................ 97Décima-nona visita: Soluções para o obstáculo: os Sacramentos .......................... 103Vigésima visita: Os Sacramentais ........................................................................... 109Vigésima-primeira visita: A Medalha Milagrosa .................................................... 113Vigésima-segunda visita: O Escapulário do Carmo ............................................... 121Vigésima terceira visita: A oração mental .............................................................. 127Vigésima-quarta visita: Consagração a Deus ......................................................... 131Vigésima-quinta visita: Consagração a Jesus ......................................................... 137Vigésima-sexta visita: A melhor maneira de se consagrara Jesus .......................... 141Vigésima-sétima visita: Características e benefícios dessa Consagração ............... 147Vigésima-oitava visita: Conformidade com a vontade de Deus ............................. 153Vigésima-nona visita: Outras maneiras de conhecer avontade de Deus ................. 159Trigésima visita: Serviço e obediência a Deus ....................................................... 167Trigésima-primeira visita: Sofrimento, paciência e amor à Cruz ........................... 173Trigésima-segunda visita: O bom combate ............................................................. 177Trigésima-terceira visita: Ardente desejo do Céu ................................................... 185Despedida? .............................................................................................................. 193Anexo I - Resumo da Doutrina Católica ................................................................. 195Anexo II - Orações .................................................................................................. 211

Sinal da Cruz ........................................................................................................... 211Credo (Creio em Deus Pai) ..................................................................................... 211Pai Nosso ................................................................................................................ 211Ave Maria ................................................................................................................ 212Glória ao Pai ........................................................................................................... 212Lembrai-Vos ............................................................................................................ 212Salve Rainha ........................................................................................................... 212À vossa proteção ..................................................................................................... 212Oração a São José ................................................................................................... 213Oração a São Miguel Arcanjo ................................................................................. 213Oração ao Anjo da Guarda ...................................................................................... 213Oração da manhã e da noite .................................................................................... 213Intenção para ganhar indulgências .......................................................................... 214Oração para antes da meditação da manhã ............................................................. 214Oração para depois da meditação ........................................................................... 215Breve consagração a Jesus por Maria ..................................................................... 215Breve consagração a Nossa Senhora ....................................................................... 215Oração para as viagens ............................................................................................ 215Oração a São José para o trabalho .......................................................................... 216Oração para os estudos ............................................................................................ 216Oração para antes das refeições .............................................................................. 216Ação de graças para depois das refeições ............................................................... 216Angelus (O Anjo do Senhor) ................................................................................... 217Regina Caeli (Rainha do Céu) ................................................................................ 217Modo de rezar o Rosário ......................................................................................... 218Ladainha de Nossa Senhora .................................................................................... 221Pequeno Ofício da Imaculada Conceição ............................................................... 223Novena a Nossa Senhora da Medalha Milagrosa .................................................... 228ConfissãoExame de consciência ............................................................................. 231Modo de fazer a confissão....................................................................................... 234Preparação para a Comunhão .................................................................................. 235Ação de graças após a Comunhão .......................................................................... 236Alma de Cristo ........................................................................................................ 237Oração a Jesus Crucificado ..................................................................................... 238Oração para pedir a saúde ....................................................................................... 238Ato de aceitação da morte ....................................................................................... 238Ladainha do Sagrado Coração de Jesus .................................................................. 239Vinde, ó Espírito Santo ........................................................................................... 240Magnificat ............................................................................................................... 241Bibliografia consultada ........................................................................................... 243Convite .................................................................................................................... 247

Visitas de Nossa Senhora 7

Apresentação

Visitas de Nossa Senhora 9

Introdução

“Filho, eis aí a tua Mãe” 1

Na imensa maioria dos casos, a primeira coisa que vem à mente de uma pessoa que sente uma grande dor, aflição ou sofrimento é uma exclamação que procede do fundo da alma: “ai, meu Deus!” Em seguida, o pensamento costuma se voltar para aquela pessoa a quem nos habituamos a recorrer, desde pequenos, nas dificuldades: a própria mãe. Quem não gostaria de ter sua mãe ao seu lado num mo-mento de enfermidade, tristeza ou provação? Imagine, entretanto, uma mãe perfeita: bondosa, virtuosa, dedi-cada, santa. Uma Mãe que tivesse um afeto por seu filho maior do que o que todas as mães reunidas teriam por um filho único. Que se dedicasse a ele a ponto de entregar tudo o que tem de mais valioso, e até a própria vida se necessário for. Se, na hora da dor, o coração se volta ansioso para a própria mãe, como não se voltaria para essa Mãe ideal? Sobretudo, como A buscaria se soubesse que Ela não é apenas produto da imaginação, mas estivesse realmente ao nosso alcance? Foi pensando nisto que o autor destas páginas se animou a escre-vê-las. Porque essa Mãe ideal e perfeita existe. Sim, Ela existe e quer visitá-lo, a você que está enfermo, que está provado, que está sofrendo, a você que está com este livro nas mãos. E Ela está sempre disponível para permanecer junto a nós e ajudar-nos, mesmo quando não é possível ter nossa mãe ao nosso lado. Nas próximas páginas você vai descobrir Quem é esta Mãe tão dedicada, e que está disposta a visitá-lo e socorrê-lo em qualquer cir-

1 Jo 19, 26.

10 Visitas de Nossa Senhora

cunstância. Vai até aprender a “conversar” com Ela sempre que preci-sar. É por essa razão que este livro foi redigido sob a forma de “visi-tas” que Ela lhe fará, dia a dia. Procure ler um capítulo por vez, ou seja, receber “uma visita” em cada dia. Assim você poderá refletir e aprovei-tar melhor tudo o que Ela deseja lhe dizer. Se lhe parecer que alguma coisa já era conhecida, ou mesmo que esteja repetida, não se incomode. Foi repetindo as palavras que você aprendeu a falar. Repetindo idéias e, sobretudo, atos de amor, a gente pode aprender a amar. Assim como você não recebe uma visita distraído ou com pres-sa, procure escolher uma hora do dia em que você esteja mais calmo e recolhido para receber as “visitas” d’Ela. Você verá como elas serão muito melhores. Você quer saber Quem é esta Mãe? Quer conhecê-La melhor? Pois ei-La: sua Mãe está aqui e o espera2. É só começar a leitura.

Eliseu da Cruz3.

2 Adaptação de Jo 11, 28.3 Católico Apostólico Romano, o autor deste livro não deseja outra coisa senão pôr

ao alcance do comum das pessoas, em especial daquelas que passam por algum tipo de sofri-mento, ensinamentos e práticas da espiritualidade católica que têm por fim conduzir a Deus, por meio de Jesus Cristo, único Mediador necessário entre Ele e nós, e com isso propiciar-lhes a consolação e a paz.

Desse modo, o estilo de redação adotado não tem por finalidade estimular uma forma de piedade marcada pela fantasia ou pela mania de inovação, mas apenas facilitar a assimilação do conteúdo, que se baseia em princípios e orientações consolidados pelos séculos no ensinamento da Igreja.

Por isso, o autor o submeteu à avaliação e aprovação da Autoridade Eclesiástica, e está disposto a procurar melhorá-lo sempre que a mesma Autoridade houver por bem indicar. Ob-jetivando tal aprimoramento, agradece também as críticas, correções e sugestões que qualquer leitor queira enviar, podendo para isso usar o e-mail [email protected]. Por amor e veneração, bem como para facilitar a leitura e a compreensão, foi adotado o uso de iniciais maiúsculas para palavras que dizem respeito a Deus, aos Santos e às coisas sagradas, inclusive no uso de pronomes.

Para evitar que a atenção do leitor possa se desviar do tema principal, este livro foi escrito sob pseudônimo. Pois a experiência mostra que boa parte da atenção e do interesse pode tender a se fixar em aspectos secundários, como as características do autor ou do seu estilo, quando uma obra se volta para temas e objetivos mais elevados. Como, porém, para Deus não há pseudônimos, o autor agradece desde já a todos aqueles que tenham a caridade de incluí-lo em suas orações.

Visitas de Nossa Senhora 11

Às filhas que sofrem...

Por limitações de ordem financeira, as “visitas” de Nossa Se-nhora se dirigem a “um filho”, pois encareceria muito fazer uma outra edição exclusiva para “as filhas” que sofrem.

Se Deus quiser, surgindo condições favoráveis, esperamos poder fazer também uma edição para elas. De momento, entretanto, contamos com sua maior capacidade de compreensão e pedimos que elas mesmas façam a adaptação do texto enquanto lêem.

Nossa Senhora há de recompensar-lhes com um afeto e dedica-ção ainda maiores.

Nossa Senhoradas Graças

Visitas de Nossa Senhora 13

Primeira Visita: Porque venho visitá-lo

Meu filho, como vai você? Está se sentindo melhor? Você está surpreso com minha visita? Talvez você pensasse

que ninguém mais viesse visitá-lo hoje. É por isso mesmo que Eu vim.Não sabe quem sou? Eu sou a sua Mãe.De onde Eu venho? Eu venho do Céu. Não, você não está sonhando. Sou Eu mesma, embora você

não me veja nem me ouça. Na realidade, Eu estou aqui o tempo todo, e não só durante a “visita” que lhe faço através desse livro. E espero que ele sirva para podermos conversar um pouco...

Sim, meu filho, sua Mãe está aqui. Sua Mãe do Céu.No Céu ninguém tem o menor sofrimento. A felicidade é com-

pleta. É tudo tão maravilhoso e perfeito que ninguém na Terra consegue sequer imaginar.

Eu estou no Céu, contudo não me esqueço de você nem um momento sequer. Sei tudo pelo que você está passando. Conheço cada uma de suas dores, cada uma de suas preocupações, cada uma de suas aflições.

Embora você não me veja, embora você talvez nem soubesse que Eu estou aqui, entretanto, meu filho, Eu estou...

Estou tanto mais perto de você, e tenho tanto mais carinho e interesse por você, quanto maiores são as suas necessidades, as suas dores, o seu sofrimento.

Você tem dificuldade para acreditar? Eu compreendo... Você talvez já esteja tão habituado a ser tratado com frieza, com indiferença, com desatenção...

14 Visitas de Nossa Senhora

Talvez você já tenha visto tanta gente agir movido pelo inte-resse pessoal, pelo egoísmo, que lhe seja difícil acreditar que alguém esteja realmente interessado por você, que alguém o ame por puro amor de Deus. E ainda mais agora, quando você está doente e não pode “pa-gar” essa atenção, esse amor...

Mas creia, meu filho. Creia e confie. Sua Mãe está aqui. Ela está aqui porque o ama. Sua Mãe o ama com um amor tão grande, tão grande, que você nem é capaz de suspeitar que haja um amor assim.

Imagine o amor de todas as mães que existem, existiram e existirão, desde o começo da Criação até o fim do mundo. Imagine que esses amores se concentrassem todos num filho único. Imagine que esse filho único fosse você.

Pois bem, meu filho, esse amor somado de todas as mães, de todos os tempos, por um único filho, não chega nem aos pés do amor que Eu tenho por você.

Esse amor está agora ainda muito maior. E sabe porquê? Por-que você está sofrendo.

E porque Eu sou a Mãe de Misericórdia. Misericórdia quer dizer: coração voltado para a miséria, para a humildade, para o sofri-mento.

Você não sabe meu nome? Sou Maria, a Mãe de Jesus. E por-que sou a Mãe d’Ele, sou também sua Mãe.

Vim aqui para ajudá-lo a se aproximar mais de Jesus. Talvez, até, você estivesse meio esquecido d’Ele. Mas Ele nunca Se esqueceu de você. Tanto que Me enviou aqui para lhe fazer esta visitinha rápida. E, se você quiser, para continuar visitando-o todos os dias. Principal-mente, enquanto durar o seu sofrimento.

Você quer, meu filho? Então, está bem. Amanhã sua Mãe volta para conversar mais um pouquinho com você. Agora procure dormir ou descansar um pouco. É muito importante para a sua recuperação. Enquanto isso, vou ficar rezando por você junto a Jesus e pedindo a Ele que o abençoe. Até amanhã, filho.

Visitas de Nossa Senhora 15

Segunda visita: Saúde dos Enfermos

Como vai, meu filho? Está melhor hoje?É sua Mãe quem está aqui novamente para visitá-lo. Você já

sabe meu nome. E já sabe que sou a Mãe de Misericórdia. Eu quero que você saiba hoje porque sou também conhecida como a “Saúde dos Enfermos”.

Assim me chama a Santa Igreja na “Ladainha de Nossa Se-nhora”. Não sabe o que é esta Ladainha? É uma oração, meu filho, mui-to bonita. Você pode encontrá-la - e rezá-la, se quiser - no final desse livro.

A “Saúde dos Enfermos”, propriamente, é Deus. Ele, que é o nosso Criador, é o único que pode dar ou tirar a vida, dar ou tirar a saúde.

Então porque a Igreja me chama de “Saúde dos Enfermos”? É pela seguinte razão: meu Divino Filho, Jesus, é Deus. Ele é, portanto, a Perfeição e a Santidade. Assim como Ele é a Justiça, Ele é a Bondade, bem como todas as demais virtudes.

Você conhece algum filho bom na Terra que negue alguma coisa que uma boa mãe lhe peça? Claro que não. Como então poderia Jesus negar alguma coisa que Eu Lhe pedisse?

É por isso que a Igreja me chama também a “Onipotência Su-plicante”. Isto porque é tal a bondade e a misericórdia de meu Divino Filho, que tudo que Eu Lhe pedir, Ele concede.

Dessa maneira, sua Mãe do Céu, por assim dizer, pode obter tudo. Jesus, na sua infinita generosidade, como que transfere sua divina onipotência para Mim porque Ele sabe que Eu só quero o que Ele quer.

16 Visitas de Nossa Senhora

E por isso Ele não Me nega nada.Agora, o que fazem as mães da Terra quando têm um filhinho

doente? Fazem tudo que está ao seu alcance para curá-lo, não é? Ora, se sua Mãe do Céu o ama tanto, será que Ela iria fazer menos por você? Claro que não.

Tenha certeza, meu filho, que mesmo que você ainda não te-nha rezado para Mim pedindo a sua melhora, Eu já estou pedindo por você junto a Deus, para Ele lhe fazer recuperar a saúde. Tanto da alma quanto do corpo.

Mas como Eu só quero o que Deus quer, Eu estou pedindo primeiro pela saúde de sua alma; em segundo lugar, pela saúde de seu corpo, e na medida em que esta vá favorecer a da sua alma.

Quer saber porquê? Porque sua alma é incomparavelmente mais importante do que seu corpo. E isso por uma razão muito simples. Seu corpo é mortal. Com a morte, ele se desfará. Mas sua alma, não. Sua alma é imortal, meu filho. E do jeito que ela se encontrar quando acabar a sua vida terrena, desse jeito ela ficará eternamente. Se você estiver em paz com Deus, essa paz permanecerá para sempre. Se não estiver...

Por outro lado, seu corpo ressuscitará no fim do mundo. E conforme seja o estado em que sua alma estiver quando ele ressuscitar, ele se unirá a ela para a glória e felicidade sem fim, ou para o sofrimento e a condenação eternas.

Você vê como é importante pensar no destino eterno da sua alma, meu filho?

Eu sei bem o quanto você está sofrendo agora com esta do-ença. Mas eu sei também o quanto esta enfermidade está lhe trazendo benefício espiritual.

Tanto é assim que Eu nunca consegui conversar com você so-bre isso antes, quando você estava com saúde... Você estava sempre tão ocupado, tão agitado. Às vezes tão distante... Distante de Deus, distante de Mim...

Agora você talvez esteja preso numa cama, num quarto de hospital ou numa cadeira de rodas. Ou talvez em alguma outra forma de prisão.

De tal maneira conheço o sofrimento pelo qual você está pas-

Visitas de Nossa Senhora 17

sando agora que, embora Eu não possa sofrer porque estou no Céu, Eu como que padeço junto com você. E quando Eu vivi nesta Terra e sofri por todas as pessoas, foi por você também que Eu sofri e me compade-ci.

Mas ao menos agora você já sabe que Eu estou aqui, que o amo muitíssimo, e que o estou ajudando o tempo todo. Coisa em que talvez você nunca tenha pensado antes...

E sabe Quem mais está aqui? Seu Pai. Isso mesmo. Seu Pai do Céu, o próprio Deus. Ele está aqui,

pertinho de você. E dando-lhe tantas graças, tantas graças, que você nem pode imaginar.

Você pensava que estava sozinho neste quarto, nessa cama in-cômoda, não é meu filho? Saiba, filho querido, que sua Mãe está aqui. E junto comigo está Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo, três Pessoas em um só Deus.

Reze, reze para Ele. Ainda que seja só um Pai Nosso. Se con-seguir, reze um pouco mais. Peça a Deus que lhe faça conhecer o ver-dadeiro estado de sua alma, o número e a gravidade dos seus pecados. Peça perdão a Ele pelas suas faltas, peça o desejo de melhorar, peça forças para se corrigir daquilo que está pesando em sua consciência.

Peça sobretudo muita confiança. Muita confiança em Deus e na sua Mãe do Céu. Nós lhe queremos tanto bem, tanto bem, meu filho. Confie em Deus, confie em sua Mãe. Saiba que você pode confiar em Nós não porque você mereça. Diante de Deus, quem merece alguma coisa?

Confie em Deus porque Ele é bom. Confie n’Ele porque Ele é a Misericórdia. E porque Ele quer

salvá-lo, quer lhe perdoar, quer ajudá-lo. Quer a prova? Ele Se fez homem e morreu na Cruz por você.

Quer prova maior do que esta?Você sabe rezar o Terço, meu filho? Se souber e tiver forças,

reze-o hoje. Se não conseguir, reze ao menos uma dezena, ou seja, um Pai Nosso e dez Ave Marias. O importante é começar a rezar. Come-çando, depois fica mais fácil. Fica cada vez mais fácil rezar. Você verá como irá lhe fazer bem.

Talvez você não se lembre mais como se reza o Terço. Não

18 Visitas de Nossa Senhora

tem problema. Procure no final deste livro. Lá você vai encontrar tudo explicado direitinho. Mais adiante, em outras visitas, quero lhe falar mais sobre o Terço, sobre a oração. Mas agora, no fim dessa conversa, o importante é que você reze um pouco. Ou reze um pouco mais... Quanto mais, melhor. Até amanhã, filho.

Visitas de Nossa Senhora 19

Terceira visita: Porque o sofrimento?

Filho, sua Mãe está aqui de novo para o visitar. Como você passou esta noite? Está se sentindo melhor hoje? Ainda não? Não im-porta. Você melhorará. Tenha confiança.

Você sabe? A confiança é como uma oração. Lembra que meu Divino Filho, Jesus, colocava a confiança como condição para fazer os milagres? Ele dizia: “Se podes crer, tudo é possível àquele que crê”4...

Creia, meu filho, e confie. Você é tão amado pelo Coração de Jesus, e pelo meu Coração maternal... Se você soubesse o quanto você é amado por Nós, só isso bastaria para convertê-lo e fazer de você um grande santo.

Observe uma criancinha que dorme. Porque ela dorme com tanta facilidade? Porque tem certeza de que seus pais estão perto e a ajudarão no que for preciso.

Ora, já faz um bom tempo que você não é mais criança. E você sabe bem o quanto é frágil a proteção que um pai ou uma mãe pode dar a seus filhos. Basta uma perda de emprego, uma separação, uma doença mais grave, e lá se vai toda a proteção.

Com Deus e com sua Mãe do Céu isso não é assim. Nada pode abalar a proteção que damos para você. Nosso amor por você é incomparável.

A partir do momento que você se convença disso, nunca mais terá insônia ou ansiedade. Dormirá como uma criancinha que sabe que seu Pai e sua Mãe do Céu o amam com um amor sem igual e o protegem continuamente.

4 Mc 9, 22.

20 Visitas de Nossa Senhora

Entretanto, é possível que passe pela sua cabeça agora, ou venha a passar depois: “Ah, mas se eu fosse tão amado assim estaria sofrendo tanto? Como é possível que Deus me ame e me deixe sofrer assim?” Mas logo você percebe que Deus sabe o que faz, que este pen-samento não está direito, e pode até ficar meio perturbado.

Não, não se perturbe meu filho. A natureza humana é fraca mesmo. Seria até de estranhar que não passasse um pensamento assim pela sua mente. É uma tentação que acontece com quase todo mundo que sofre.

E o melhor que a gente faz quando acontece esse tipo de ten-tação contra a Fé é desviar a atenção para outra coisa que seja boa. Com a confiança de que, mais para frente, Deus fará a gente entender e solucionar o problema.

Você deveria se envergonhar, isso sim, se consentisse num pensamento desses, se concordasse com ele e acabasse se revoltando contra Deus. Ah, isso não, isso nunca!

Mas ser tentado faz parte da vida. Até os grandes santos foram tentados. O próprio Jesus foi tentado. Não lembra? Está na Bíblia. Foi quando Ele passou quarenta dias e quarenta noites em jejum e oração no deserto5. Se até Ele, que é o Homem-Deus, foi tentado, como estranhar que você o seja?

Mas lembre também que Ele disse: “Vigiai e orai para não cairdes em tentação”6. É preciso vigiar e rezar, meu filho, para não cair no pecado. Porque sem a ajuda de Deus, nenhuma pessoa consegue se manter estavelmente na prática das virtudes. Com a graça d’Ele, entre-tanto, tudo é possível. Basta pedi-la.

Comece pedindo uma coisa fundamental. Comece pedindo a paz interior. Sim, justamente essa paz que o demônio está tentando lhe roubar no meio dessa provação pela qual você está passando.

Não esqueça que sou conhecida também como a “Rainha da Paz”. Façamos uma pausa em nossa conversa. Reze algumas vezes a ja-culatória7: “Rainha da Paz, rogai por nós”. Eu estou aqui junto de meu Di-vino Filho para impedir que o demônio consiga tirar a paz de você. Peça, meu filho, com confiança. Você verá o resultado... (Pausa para a oração).

5 Mt 4, 1-11.6 Mt 26, 41.7 Jaculatória é o mesmo que oração breve.

Visitas de Nossa Senhora 21

Já rezou, filho? Ainda que você não sinta nada, Jesus já está lhe dando muitas graças de paz de alma. Tenha certeza disso. Volte a rezar mais vezes, principalmente quando você se sentir perturbado.

Agora, vamos voltar à questão do sofrimento. É preciso ver este assunto de frente, com coragem, como se deve fazer com todas as coisas sérias da vida.

Muita gente se pergunta: “Porque é que Deus permite o sofrimento? Não seria melhor se ninguém sofresse na Terra? Como se explica que Ele seja tão bom e deixe alguém sofrer ao mesmo tempo?”

O problema parece complicado, e entretanto a solução é tão simples...

Deus permite o sofrimento justamente porque Ele é bom. Pa-rece uma contradição, não é? Entretanto, é a coisa mais natural do mun-do, como você vai ver.

Você já deve ter sentido muitas vezes uma má inclinação, uma tendência para fazer o que não deve, para preferir o mal ao bem, não é meu filho? Quem nunca passou por isso?

Você sabe porque isso acontece? Não? É por causa do pecado original. Nossos primeiros pais, Adão e Eva, pecaram, desobedeceram a Deus. E com isso, perderam o estado de inocência em que estavam, e introduziram a desordem em suas almas.

Em conseqüência disso, todos os descendentes de Adão são concebidos com o pecado original, que dá a tendência para todo tipo de mal. A única exceção a essa regra é a sua Mãe do Céu. Por isso sou conhecida como Nossa Senhora da Imaculada Conceição, o que quer dizer que, por um especial privilégio de Deus, fui concebida sem o pe-cado original.

O importante agora é que você se dê conta de que, em decor-rência do pecado original, a tendência mais forte no ser humano é para o erro e para o mal. Muitas e muitas vezes a pessoa vê que o que está desejando fazer não está certo. Mas acaba não querendo resistir, acaba arranjando alguma “desculpa”, e peca, desobedece a Deus.

Agora, Eu lhe pergunto: quando nada dá errado para alguém, quando a saúde vai bem, a situação financeira é boa, tudo que se deseja se consegue, o que é que costuma acontecer?

A pessoa vai procurar se lembrar de Deus, rezar mais, ajudar

22 Visitas de Nossa Senhora

os pobres, ou... vai procurar cada vez mais saúde, cada vez mais rique-za, cada vez mais gozo da vida?

E, por outro lado, quando acontece algum desastre na vida, algum sofrimento, alguma dor, qual é a primeira frase que a pessoa diz? Você sabe qual é meu filho, porque você já a disse muitas vezes. É: “Ai, meu Deus!”...

Esse é o primeiro e um dos maiores benefícios do sofrimento. A pessoa começa a se lembrar de Deus. Essa é a triste realidade. Se a pessoa não sofre, acaba se esquecendo de Deus. Se sofre, por pouco que seja, se lembra d’Ele. E essa é mais uma das conseqüências do pecado original e dos pecados atuais que a pessoa comete.

Mas, lembrando-se d’Ele, tudo está salvo. Porque virá toda uma série de outros benefícios que poderão transformar aquela alma que sofre, dar-lhe nova vida, dar-lhe a verdadeira felicidade. Aquela felicidade que ela procurava tão freneticamente no erro, na mentira e no pecado, e que só a desilusão da dor lhe faz ver que era exatamente ali que ela não estava...

Quem sabe amanhã conversamos mais um pouco sobre isso, meu filho? Você vai descobrir que seu sofrimento é uma verdadeira fon-te de benefícios que não se compara com nada deste mundo. Peça a Deus que prepare a sua alma para conhecê-los e recebê-los. Eu estou pedindo isso por você também. Até amanhã, se Deus quiser, filho.

Visitas de Nossa Senhora 23

Quarta visita: Benefícios do sofrimento

Como vai, meu filho? Você parece melhor hoje. Se não ainda do corpo, ao menos já está um pouco melhor de alma.

Sua Mãe está aqui, trazendo a paz de Jesus para você. Gosta-ria até de poder lhe aparecer fisicamente, pôr minha mão em sua testa e lhe passar a mão na cabeça, para fazer sua febre passar e suas dores desaparecerem.

Mas, por incrível que pareça, esses sofrimentos que você está passando agora estão fazendo um bem imenso à sua alma. O que não quer dizer que a gente não possa pedir a Deus para aliviá-los. Tanto que já estou pedindo isto para Ele, enquanto conversamos.

Na visita de ontem já falamos um pouco sobre isso, não é meu filho? Eu sei que é difícil entender, principalmente na hora em que a gente sente uma dor, um mal-estar, uma angústia...

Mas agora não se preocupe muito em entender. Procure mais aceitar em paz o que está lhe acontecendo, sabendo que vem da mão de Deus. E que vem exclusivamente para seu bem. Pois não há nada que aconteça que Deus não saiba e não tenha permitido antes que aconte-cesse. Se não fosse assim, Ele não seria Deus, não é mesmo?

E como Ele é a própria Bondade, você pode ter certeza de que, se Ele está permitindo esse sofrimento para você, é porque ele vai lhe trazer muitos benefícios. Benefícios de uma ordem muito superior, porque são, em primeiro lugar, espirituais. Os quais, freqüentemente, acabam trazendo consigo até proveitos materiais.

Dentre os benefícios que vêm com o sofrimento, um merece ser destacado. A pessoa que sofre pode recobrar um tesouro valiosíssimo, tesouro muitas vezes quase completamente perdido. Esse tesouro é a Fé.

24 Visitas de Nossa Senhora

Ele vale incomparavelmente mais do que qualquer bem mate-rial que alguém possa ter. Vale mais do que a Terra inteira. Porque a Ter-ra e tudo o que ela contém, um dia vai acabar. Mas os tesouros eternos, aos quais se tem acesso através da Fé, esses não acabarão nunca.

E essa certeza nós podemos ter porque Quem afirmou isso, disse também que ressuscitaria três dias depois de sua morte. E de fato ressuscitou8.

Esse revigoramento da Fé, meu filho, é o primeiro benefício que seu sofrimento pode lhe trazer. Aquela mesma Fé que você recebeu no Santo Batismo, que se tornou explícita em sua mente quando você teve as primeiras lições de Catecismo; aquela Fé que você como que respirava na atmosfera primaveril da vida que você tinha quando era inocente.

Lembra como você acreditava sem a menor dificuldade no seu Anjo da Guarda? Esse espírito tão bom e que sempre esteve procurando ajudá-lo, por ordem do próprio Deus.

Recorda como você gostava de rezar para ele: “Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, já que a ti me confiou a piedade divina, sempre me rege, guarda, governa e ilumina, amém.” E ele vinha, alegre, para junto de você, embora você não o visse...

Lembra como você ficava contente no dia de Natal, imagi-nando como foi o nascimento de Jesus na gruta de Belém? Você quase que “via” os Anjos cantando “Glória a Deus nas alturas”, os animais aquecendo o Menino-Deus, colocado sobre umas palhinhas douradas na manjedoura, envolto em paninhos brancos que brilhavam tanto... Lembra como você gostava de se imaginar chegando de joelhos, junto de São José e de Mim, para adorar o Salvador?

Naquela época, você tinha horror ao pecado. Quando você via alguém fazer alguma coisa errada, você rejeitava e pensava como aquilo era feio.

Sua alma era aberta para o maravilhoso. Você vivia quase es-quecido de si mesmo e voltado para as coisas lindas que você ia des-cobrindo na Criação. Sem saber, você procurava contemplar a Deus através de suas criaturas, já que todas elas são como que uma escada

8 Cfr. Mt 26, 61; Mt 28, 6; Lc 24, 6; Lc 24, 34; Mc 8, 31; Mc 9, 31; Jo 2, 19; At 2, 32; At 4, 10; At 10, 40; At 13, 30 e várias outras passagens.

Visitas de Nossa Senhora 25

que nos levam até Ele. Você vivia, mesmo sem se dar conta, à procura dos reflexos de Deus na Criação.

Mas depois, depois... Talvez tenha acontecido com você o que acontece com tanta gente... Talvez tenham aparecido más companhias, ou maus exemplos, ou coisas que estimulam as más tendências vistas na televisão, no cinema, ouvidas em músicas...

Será que essas tendências más não acabaram produzindo idéias más, procurando desculpas e pretextos para fazer aquilo que elas mesmas sugeriam?

E depois que as desculpas estavam prontas, será que não vie-ram os fatos, os tristes fatos chamados pecados que tanto afastam de Deus?

A primeira das “desculpas” costuma ser a dúvida, o relativis-mo: “Será que isso é tão errado assim?”, “será que é pecado mesmo?”, “só um pouquinho não fará tanto mal”... Depois, pouco a pouco, as “dú-vidas” costumam se transformar em “certezas” (que, no fundo, se sabe que não são verdadeiras), e desse modo, aquelas “moedas de ouro” que compõem o tesouro da Fé vão sendo perdidas - ou jogadas fora - uma a uma...

Como você vê, meu filho, a Fé em tudo o que ensina a Santa Igreja é o fundamento para a prática da virtude, para a vida de união com Deus.

E uma das realidades mais tristes é esta: o gozo da vida geral-mente leva as pessoas a enfraquecer e até a perder a Fé. O sofrimento, entretanto, a revigora em nós.

É verdade que a Fé só não basta. É preciso sobretudo a graça e o amor de Deus, bem como a prática das outras virtudes. Mas ela é como um alicerce, um fundamento para a construção do edifício das virtudes, do seu “castelo interior”, com o qual você vai defender a sua alma. Quando a pessoa tem a infelicidade de perder a Fé, praticamente tudo o mais está perdido. Recobrando-a, com a graça de Deus, tudo está salvo...

Talvez você me diga baixinho: “Minha Mãe, já faz tanto tem-po... eu nem me lembro mais direito do que aprendi no Catecismo”. Ou então você sussurre: “Eu... eu nunca estive no Catecismo. Nem sei direito o que é isso...” Ou ainda: “Sabe Mãe, nem sequer fui batizado. Meus pais não se preocupavam muito com a Religião e...”

26 Visitas de Nossa Senhora

Meu filho querido, não se aflija. Você acha que sua Mãe já não sabia disso? É por isso mesmo que Eu estou aqui.

Olhe, hoje já conversamos bastante. Talvez você já esteja um pouco cansado. Mas numa hora em que você esteja se sentindo bem, procure no final deste livro o resumo da Doutrina Católica que Eu de-sejei que fosse colocado lá, para você ler. Nele você vai encontrar as verdades fundamentais da Fé. Essas verdades que constituem o grande tesouro que você está começando a recuperar.

Leia, meu filho, leia devagar e medite. Procure entender e, sobretudo, procure amar o que a Igreja lhe ensina. Reze antes e depois de lê-lo, pedindo essas graças. Você verá como tudo vai ficar mais claro e mais fácil.

Mas lembre-se sempre de uma coisa muito importante: não basta conhecer o que Deus nos ensina, é preciso querer por em prática. Para querer, é preciso amar. E só consegue amar quem reza pedindo essa graça. Aos poucos você irá amando cada vez mais Aquele que o ama tanto, O compreenderá cada vez mais e quererá servi-Lo muito melhor.

Está vendo, filho, como no fundo existe uma explicação para todo sofrimento? Se você não estivesse aqui, agora, no meio da dor, quando é que você iria ter tempo para pensar no que sua Mãe está lhe dizendo?

E, entretanto, Eu estou a tanto tempo à sua espera...Até amanhã, filho. Descanse em paz, sob a proteção de seu

Anjo da Guarda. Mas não esqueça de rezar antes. Jesus vai ficar muito contente com você. Que Ele o abençoe muito.

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Quinta visita: Muitos outros benefícios

Meu filho, como está você? Sua Mãe do Céu está aqui para lhe comunicar um pouco do carinho e do afeto que Me inunda o Coração.

Você está se sentindo melhor? Que lhe disseram os médicos? Sejam boas ou más as notícias, meu filho, não se perturbe. As doenças, os tratamentos, as dificuldades e tudo mais que nos acontece na vida são apenas instrumentos da vontade de Deus. Tudo que acontece, ocorre porque Ele quer. E sucede para nosso bem. Mais adiante você entenderá isso melhor.

Mas não deixe que os assuntos de saúde lhe tomem a atenção. Você tem ao seu lado, embora não O veja, o melhor de todos os médi-cos, que é meu divino Filho, Jesus. Ele é o próprio Criador da saúde, dos médicos, dos remédios e de tudo o mais. Continue seu tratamento com confiança, porque quando for a melhor hora, e quando lhe fizer maior bem, Ele mesmo conduzirá a sua saúde. Confie inteiramente n’Ele.

E confie também na sua Mãe do Céu. Você está lembrado por-que a Igreja Me chama de “Saúde dos Enfermos”, não? Então, confian-ça, filho.

Sua Mãe quer lhe falar hoje algo mais sobre os benefícios que Deus tem reservado para você. Há muito tempo, aliás, Ele aguardava um momento em que você estivesse preparado para recebê-los. Entre-tanto... como demorava este momento, meu filho.

Sua vida ia passando, passando, e nada de você parar para ou-vir e compreender a voz de Cristo que queria ressoar no interior do seu coração... Foi por isso que Ele não perdeu tempo, quando lhe viu nesta provação, e Me enviou aqui.

28 Visitas de Nossa Senhora

Sim, Ele mesmo poderia ter vindo. Mas talvez diante da infini-ta Majestade d’Ele, diante de sua infinita perfeição, você se sentisse um pouco inseguro, talvez até um pouco atemorizado. Afinal, quem será tão louco ou tão orgulhoso que possa se julgar digno de comparecer diante de Deus?

Por isso, Ele Me enviou. Porque Eu sou a Mãe d’Ele e também sua Mãe. E mãe, é mãe... Seja qual for o estado em que um filho se encontre, ele sabe que, procurando sua mãe, será mais fácil arranjar as coisas do que com o pai. E se isso é assim com os pais da Terra...

É importante que você saiba o quanto o seu Pai celeste o ama, meu filho. O amor d’Ele é infinito, porque Ele é o Amor em Pessoa. Pou-co a pouco você irá compreendendo isso. Mesmo nas horas mais difíceis, mesmo quando apertarem as piores dores. Porque só o tempo lhe fará en-tender os benefícios que Deus está lhe concedendo através do sofrimento.

Ontem, por exemplo, conversamos sobre o benefício que é o revigoramento da Fé. Sem a Fé sua alma fica como uma casa sem ali-cerce. Um vento ou um tremor um pouco mais forte a derruba.

Hoje, quero lhe mostrar o quanto Deus o ama revigorando-lhe as outras virtudes, através do sofrimento. Vou começar pelo mais difícil. Vou lhe explicar como a dor pode ajudá-lo a recuperar a esperança.

À primeira vista, se poderia pensar exatamente o contrário. A pessoa fica doente e pronto! Caem por terra todas as suas esperanças, todos os seus planos e imaginações...

Bem pode ser que venha ao pensamento: “Mas justo agora! Agora que eu ia começar aquele curso, que eu ia fazer aquela viagem, que eu ia realizar aquele projeto... Quanto tempo vai durar esta doença? Será que quando eu me levantar vai dar para recomeçar tudo de novo? Tudo parece tão incerto...” E logo vem o desânimo, a depressão.

Acontece, meu filho, que estas “esperanças” que caem por terra com o sofrimento, na realidade, não são esperanças! E esta é a grande primeira verdade que você precisa conhecer.

Não, elas não são verdadeiras esperanças, porque não se pode esperar e confiar em algo que seja passageiro, algo que não tenha ver-dadeira consistência. O que você diria de uma pessoa que lhe contasse: “Ah, estou tão feliz! Vou ganhar uma sacola cheia de ar. Uma sacola do tamanho de um carro. E cheinha de ar!” Se você conseguisse conter o

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riso, ficaria com pena dele, não é verdade?Pois bem, meu filho, em comparação com o Céu, com a eter-

nidade toda junto de Deus, o que é qualquer curso, emprego, viagem ou projeto nesta vida? É muitíssimo menos que uma sacola de ar.

Quanto tempo pode durar uma empresa que você organize, ou uma casa que você construa? Cem, duzentos anos? E você, quanto tempo desfrutará dela? Cinqüenta?

Meu filho, meu filho... o que é isso em comparação com toda a eternidade? Nada, absolutamente nada, até menos do que nada!

A verdadeira esperança a gente tem em relação às coisas que não acabam mais, que durarão para sempre. O verdadeiro ambicioso não é aquele que quer ficar rico, milionário, ou até dono do mundo todo. Porque o mundo, com todas as suas riquezas e falsos prazeres, acabará um dia. Não há como negar.

O verdadeiro ambicioso, é aquele que ambiciona, no bom sen-tido da palavra, a felicidade que não acaba mais, a felicidade eterna.

Acontece, filho, que esta esperança da felicidade eterna a gen-te só recobra na hora em que se lembra de Deus. Porque só Deus é Quem pode satisfazê-la, e mais nada ou ninguém. Eis a grande verdade que a dor começa a desvendar diante dos olhos de quem sofre.

Por isso que muitas vezes Eu tenho pena daqueles para quem, aparentemente, tudo dá certo na vida. Só têm gozos, só têm alegrias, só prosperidade. E na hora da morte, quando a eternidade inteira se abre diante deles, e eles se vêem de mãos vazias diante de Deus. Pior, quando se vêem com as mãos imundas e carregadas de pecados... Que coisa terrível!

Entretanto, para você meu filho, Deus dispôs as coisas de ou-tra maneira. É verdade que dói, é verdade que incomoda. Seria louco quem não se sentisse afligido pelo sofrimento. Mas que santo remédio que ele é...

Só agora, recobrando a Fé, você pode começar a recobrar a Esperança. A esperança da vida eterna, a esperança do Céu, da eterna amizade de Deus. O maior tesouro, a maior riqueza que alguém possa desejar na vida.

Mas não é só a Fé e a Esperança que a dor lhe traz de volta, meu filho. Ela lhe restitui sobretudo a Caridade.

30 Visitas de Nossa Senhora

Sim, essa Caridade da qual você já ouviu tanto falar, mas tal-vez ainda não saiba direito o que é. A Caridade, meu filho, é a virtude pela qual amamos a Deus sobre todas a coisas, amamo-Lo por ser Ele Quem é, sem interesse pessoal algum; e por amor a Ele, amamos ao próximo como a nós mesmos.

Parece tão simples, não é? Tão fácil... Entretanto, como a vida nos mostra o quanto a Caridade é difícil de praticar! O quanto, na reali-dade, as pessoas amam mais a si mesmas do que a Deus. E o próximo? Nem pensar... E entretanto, a Caridade é a virtude mais importante.

A Caridade é a alma da santidade. Ela é a virtude que anima e inspira a prática de todas as outras, é o princípio e o fim para o qual elas tendem. Ela é o “vínculo da perfeição”9.

Contudo, por mais que Eu lhe fale sobre ela, você nunca pode-rá compreendê-la bem enquanto não a tiver na prática, porque a Carida-de não se descreve com palavras, mas vive-se no dia-a-dia.

Ela mobiliza não somente nossa inteligência e nossa vontade, mas especialmente a nossa sensibilidade, evitando que ela se revolte contra a razão e os bons desejos. E é por isso que, para entendê-la bem é preciso vivê-la, praticá-la.

Para vivê-la é preciso começar por lembrar-se de Deus, por-que a gente só ama aquele que está continuamente na nossa memória. E qual é um dos primeiros efeitos do sofrimento? Não é justamente ajudar-nos a lembrar de Deus? Ah, meu filho, que grande aliada da Ca-ridade é a dor!

Basta você pensar o seguinte: Deus é Caridade10, Deus é puro amor! E só na medida em que você seja capaz de amá-Lo, e ao próximo como a você mesmo, você será capaz de unir-se a Ele. Porque o amor nos torna semelhantes ao Amado.

Imagine uma pessoa que seja como o Divino Espírito Santo descreve a Caridade naquela epístola de São Paulo: “A caridade é pa-ciente, a caridade é prestativa, não é invejosa, não se ostenta, não se incha de orgulho. Nada faz de inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera,

9 Cl 3, 14.10 1 Jo 4, 16.

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tudo suporta”11.Você não gostaria de conviver com uma pessoa assim? Já pen-

sou como seria um convívio fácil, ameno, feliz? Pois bem, e porque não ser, você mesmo, uma pessoa assim? Isso está ao seu alcance! E sabe qual é a porta de entrada? É a dor.

Alegre-se, portanto, meu filho. Na hora da aflição, lembre-se disso: Deus o está ajudando a recobrar a Caridade. E junto com ela, a Fé, a Esperança, e todas as demais virtudes! Essas mesmas virtudes que lhe farão assemelhar-se e unir-se cada vez mais ao próprio Deus.

Mas note que Ele quer seu bem de uma maneira tão completa, tão absoluta, que leva em conta todas as suas fraquezas, todas as suas debilidades. Por isso, Ele nunca vai permitir que você passe por um sofrimento maior do que sua capacidade de suportar. Quando Ele per-mitir que venha o frio, junto Ele mandará o cobertor. E o frio nunca será maior do que o cobertor. “Deus é fiel: não permitirá que sejais tentados além do que podem as vossas forças, antes fará que tireis ainda vanta-gens da mesma tentação, para a poderdes suportar”12.

Ânimo, portanto, meu filho, confiança! Só desanimam aque-les que estão apegados às falsas esperanças. Só se desilude quem teve ilusões primeiro. Só se entristecem aqueles que não amam o Bem eter-no, mas que se aferram às coisas que logo acabarão.

Desânimo só existe para quem não tem Fé! Ele é o contrário da Esperança. Só encontra lugar num coração que não tem Caridade! E você já está vendo, então, qual é o melhor remédio para o desânimo e a depressão.

Aliás, é importante que você saiba, depois do pecado, o maior mal que existe no mundo é o desânimo. Porque quando o demônio tenta para que se caia num pecado, ele está tentando contra uma virtude ape-nas, e se mostra a descoberto. Quando ele tenta a pessoa para fazê-la desanimar de praticar o bem, ele está tentando contra todas as virtudes ao mesmo tempo, e ainda se esconde, procurando dar a impressão de que o abatimento vem pelas forças das circunstâncias.

Portanto, nunca dê ouvidos a tentações do tipo: “está muito difícil praticar a virtude”, “eu não vou conseguir vencer tal defeito”,

11 1 Cor 13,4-7.12 1 Cor 10, 13.

32 Visitas de Nossa Senhora

“não dá, está acima de minhas forças”: é o demônio lhe tentando de desânimo. Não passam de mentiras desse traidor mentiroso.

Porque a verdade é que a virtude é difícil, e nem você nem ninguém tem forças para, por si só, vencer seus defeitos. Esta força só vem pela graça de Deus, que torna tudo fácil. Eis aqui mais uma grande verdade que o sofrimento fez chegar ao seu conhecimento.

Todos estes são alguns dos inúmeros benefícios que Deus es-tava há tempos querendo lhe dar, meu filho. E só agora, com a dor e a provação, foi possível Ele Se aproximar de você para oferecê-los. Há inúmeros outros proveitos que você irá conhecendo à medida que for-mos conversando.

Um deles, por exemplo, é a gente começar a ser capaz de en-tender o amor de Deus por nós, e o plano altíssimo que Ele teve em vista ao criar o universo. E dentro desse plano geral, o plano particular que Ele tem para você.

Isso mesmo, meu filho. Porque Deus tem um plano para você. E está só esperando que você queira conhecê-lo para mostrá-lo a você. Você quer saber que plano é esse, meu filho? Então, quem sabe amanhã podemos nos encontrar de novo e conversar um pouco sobre isto?

Agora, procure descansar e rezar, para recobrar as forças da alma e do corpo. Tenha certeza de que Deus e sua Mãe do Céu continu-am aqui com você. Que Deus o abençoe, meu filho.

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Sexta visita: O plano de Deus para você

Como está hoje, filho? Descansou bem à noite? Já está se ali-mentando melhor?

É importante que você não esqueça de tomar nenhum dos re-médios que os médicos lhe passaram, porque Deus não dispensa a gen-te de fazer tudo que está ao nosso alcance. Se fizermos a nossa parte, Deus, que é sempre fiel, não haverá de fazer a d’Ele?

Talvez você esteja um pouco melhor hoje, meu filho. Mas ain-da que não esteja, vim conversar com você sobre um assunto que lhe dará muita esperança. Pode até ser que você não entenda direito num primeiro momento. Mas depois, relendo e pensando nele, você enten-derá com clareza.

Você sabe, filho, às vezes acontece com a pessoa que sofre uma coisa curiosa. Ela vê, de um lado, na vida comum, como as pessoas estão tomadas pelo interesse pessoal. Quase ninguém se interessa por ninguém, a não ser que tenha uma vantagem a tirar daquele outro.

Por outro lado, quando alguém está numa posição de inferiori-dade, essa dureza de coração parece se acentuar ainda mais. Se a pessoa não vai poder retribuir a atenção que um outro lhe dá, não espera desse outro senão um esquecimento ou desprezo ainda maior.

Isso pode acabar gerando na alma da pessoa que está doente, da pessoa que sofre, uma atitude meio subconsciente de desconfiança em relação aos outros e, o que é pior, até em relação a Deus. Porque, infelizmente, a gente acaba olhando para Deus como olha para os seres humanos.

Mas isto não é assim.

34 Visitas de Nossa Senhora

Os homens, na medida em que se afastam de Deus, tornam-se cada vez mais egoístas. Deus não. Deus é a própria Bondade. Deus é o puro Amor. E Ele nos ama com um amor sem limites, infinitamente maior do que possamos conceber.

Veja só, meu filho: Deus precisava criar-nos? Ele precisava de nós para alguma coisa? Claro que não. Então, porque Ele nos criou? Exatamente porque Ele é o puro Amor.

Quem ama, não se limita a guardar a felicidade que tem só para si. Quem ama, quer distribuir essa felicidade para o maior número possível de pessoas. Ora, se até nós, seres humanos, somos capazes disso, quanto mais Deus.

Ele tem, portanto, um sublime desígnio ao criar-nos: Ele quer nos fazer participantes de sua felicidade infinita, de seu amor purís-simo. E isto, sem nenhuma vantagem pessoal em troca, sem nenhum interesse. Pois Ele já tem tudo, Ele não precisa de mais nada.

Deus nos criou, portanto, por puro amor. Ele tem, por assim dizer, um plano a nosso respeito. Sabe que plano é esse? É tornar-nos participantes da sua própria vida divina, da sua vida sobrenatural.

Parece difícil de entender, filho? Vou lhe dar uma comparação. Imagine que um escultor não tivesse nenhum filho. Fosse muito rico e feliz, mas não tivesse ninguém para quem deixar sua herança. Imagine que ele fizesse uma estátua perfeita de uma criança, que seria uma ima-gem e semelhança dele mesmo. Essa estátua seria o filho dele? Claro que não. Seria uma estátua, ficaria ali quietinha para sempre.

Agora, imagine que, por um milagre, esse escultor pudesse transferir sua própria vida para esta estátua. E ela passasse a falar, cor-rer, sorrir, brincar, virasse um ser humano. A antiga estátua seria agora o filho que o escultor tanto desejava.

Pois bem, se isto é impossível para um homem, isto é perfeita-mente possível para Deus. Ele nos criou do nada, e Quem tem o poder de tirar do nada todo o universo, tem também o de fazer participar de sua própria vida sobrenatural aqueles aos quais Ele deseje dar esse dom inapreciável.

E como Ele faz isso? Deus nos faz participantes da sua vida divina através da graça.

Você nunca ouviu falar disso, filho? Não importa. Importa que

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você saiba, agora, que existe a possibilidade de você ser elevado ao pla-no sobrenatural, de viver acima do nível meramente humano e, desse modo, participar da felicidade infinita de Deus, participar da própria vida divina!

A graça é, portanto, essa participação na vida de Deus. O es-tado de graça é o estado habitual de quem vive nessa união com Deus, e é a “semente” da felicidade plena na eternidade, no Céu, quando terá o nome de glória.

Imagine uma pessoa que tivesse tudo, todas as riquezas que esta Terra pudesse oferecer. Quem teria mais? Essa pessoa, ou quem tivesse o Criador dessas riquezas, da Terra e de tudo o mais? meu filho, Deus quer lhe dar este supremo e infinito tesouro: Ele mesmo.

Mais ainda, Ele quer elevá-lo do nível meramente humano para o plano sobrenatural, quer fazê-lo participante da sua vida divina e vir Ele mesmo viver em você, morar em você!

Você alguma vez imaginou isso, filho? E você quer saber o que fazer para receber essas maravilhas?

É muito simples. Amanhã desejo lhe explicar como fazer para obter ou recobrar o estado de graça. Hoje já conversamos muito, e não quero que tantas coisas novas possam acabar lhe confundindo um pouco.

Por exemplo, você pode estar pensando como será possível a pessoa ter essa felicidade na vida se estiver, como você está agora, com uma doença, alguma dor ou algum outro sofrimento lhe atormentando. Para hoje, basta você saber que isto é perfeitamente possível, meu filho. Amanhã, se Deus quiser, sua Mãe lhe explicará melhor.

Agora, convém que você reze e descanse um pouco, porque isso é necessário para sua recuperação. E deixe-se tomar por essa ale-gria de saber que Deus tem um plano para você: fazê-lo participante de sua própria vida divina! Que Ele o abençoe, meu filho.

Nossa Senhora da Confiança

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Sétima visita: Como obter ou recuperar a graça

Bom dia, meu filho. Sua Mãe está aqui de novo para lhe fazer companhia. Você já está se sentindo melhor?

Esperei uma hora em que você estivesse mais tranqüilo e mais recolhido para vir. Aliás, procure sempre ficar tranqüilo. Essa paz inte-rior é um dos melhores remédios que existe. Por assim dizer, ela multi-plica por cem o efeito de todos os medicamentos que você está toman-do. Lembre-se disso, nos momentos em que você se sentir angustiado ou aflito.

Eu sei, meu filho, que é justamente nessas horas que é mais difícil ter paz. Mas você já esqueceu que sua Mãe é também a Rainha da Paz? Nesses momentos em que a paz lhe parecer faltar, reze, reze para Mim que Eu o ajudarei a recobrá-la: “Rainha da Paz, rogai por nós!”, e logo estou Eu intercedendo por você junto ao meu divino Filho.

Mas vamos continuar nossa conversa?Você lembra o que sua Mãe estava lhe dizendo ontem? Falá-

vamos sobre o plano que Deus tem para você. Para você mesmo, sem sombra de dúvida. Pode até lhe passar pela cabeça: “Mas se Ela soubes-se quem sou eu... Quantas infidelidades, quantos pecados cometi... Será que Deus vai Se lembrar de mim depois de tudo que fiz...?”

Meu filho, se isso alguma vez lhe passar pela mente, arran-que-o fora, porque é um mau pensamento. Por pior que você seja, você não é pior do que Judas, que traiu e vendeu Nosso Senhor. Pois bem, se até Judas tivesse procurado Jesus e pedido perdão, teria sido perdoado. O pior pecado dele não foi a monstruosa traição que fez, mas ter deses-perado de obter o perdão da infinita misericórdia de Deus.

38 Visitas de Nossa Senhora

Nunca pense, portanto, que Deus vai se esquecer de você. Ain-da que você fosse pior do que Judas, enquanto você estivesse vivo, Deus estaria continuamente Se lembrando de você e ajudando-o a melhorar.

Pois, como lhe expliquei ontem, Ele o criou por puro amor, e porque quer lhe fazer participante da sua infinita felicidade. Basta você querer também, meu filho, e esse plano divino começa a se realizar em você.

Ele começa a realizar-se porque Deus está lhe dando graças. A graça, em termos práticos, é uma ajuda, uma força que Ele lhe dá para querer mudar, para querer melhorar, para procurar ser como Ele.

Se você colaborar, você terá um prêmio incalculável: o pró-prio Deus virá e habitará em você.

Habitar, filho, significa morar, residir. Para compreender isso basta você lembra do que meu Divino Filho, Jesus, disse: “Se alguém Me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e Nós viremos a ele e faremos nele nossa morada”13.

É isso mesmo, meu filho. Deus eterno e todo poderoso o ama tanto, mas tanto, que não só quer estar junto de você, mas até dentro de você, Ele quer morar em você!

Compreende agora porque o estado de graça é a maior felici-dade que existe nessa vida? Uma felicidade tão superior à nossa nature-za humana, que pode persistir até mesmo durante as piores provações e sofrimentos. É por isso que os Santos, mesmo quando eram cruelmente perseguidos e até mortos, manifestavam tanta alegria e paz de alma que deixavam espantados seus próprios perseguidores.

Naturalmente, o que você mais deseja saber nesse momento é o que precisa fazer para receber essa tamanha maravilha que é a graça de Deus.

Aqui, meu filho, é preciso que você tenha fé. Não lembra que Jesus disse: “Se podes crer, tudo é possível àquele que crê”14?

Creia com segurança nas palavras d’Ele. Ele mesmo foi Quem disse: “O que crer e for batizado, será salvo”15. Ou seja, receberá esse tesouro infinito que é o estado de graça nessa vida, e a glória, a vida eterna, no Céu.

13 Jo 14, 23.14 Mc 9, 22.15 Mc 16, 16.

Visitas de Nossa Senhora 39

Crer, você já crê. Se não, não estaria lendo - ou conversando - com sua Mãe até aqui. Mas você já é batizado?

O Batismo é o primeiro dos Sacramentos. Os Sacramentos são os sinais sensíveis e eficazes que meu Filho deixou para recebermos a graça divina. Com o Batismo, o pecado original é apagado e a pessoa passa a ser filho de Deus. De onde vem essa força do Batismo?

É que no momento em que a pessoa é batizada, todos os méri-tos de Jesus são aplicados em seu favor. O Sangue infinitamente precio-so que Ele derramou na Cruz por todos nós, misticamente é derramado sobre a pessoa, que tem, dessa maneira, todos os seus pecados apaga-dos. Sim, todos, porque além do pecado original, o Batismo apaga - se a pessoa está sinceramente arrependida - todos os outros pecados que ela tenha cometido até então.

Quando o Padre derrama a água sobre a cabeça da pessoa, pro-nunciando as palavras “eu te batizo em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo”, opera-se um milagre incomparável: uma mera criatura transforma-se em filho de Deus, que a enche de sua graça e vem habitar nela.

O Batismo é, portanto, a entrada para o estado de graça. Você ainda não é batizado, filho? Peça para ser. Peça ainda hoje. É tão fácil. Basta vir um Padre aqui, ou você ir até a igreja se já estiver podendo andar. Jesus está no mais alto dos Céus esperando por você para perdoá-lo e uni-lo a Ele. Para vir morar em você.

E Deus é tão bom que em casos de emergência, como são os casos de risco de morte, Ele permite que qualquer um possa batizar, bastando para isso derramar água pura sobre a cabeça da pessoa, dizen-do “eu te batizo em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo”, com a intenção de fazer o que a santa Igreja Católica faz quando batiza. Para você ver como é grande o desejo que Ele tem de salvar as almas.

Você já é batizado? Que maravilha! Agradeça a Deus de todo o coração, meu filho!

Pode ser, entretanto, que uma sombra ofusque essa alegria. Pode ser que você se lembre que não foi fiel ao Batismo e tenha perdido o estado de graça, pelo pecado. É verdade que essa infidelidade é muito triste. Mas a pior tristeza seria desanimar depois de ter pecado. Porque Deus, que é infinitamente justo, é também infinitamente misericordio-so. E Ele sabe que a fraqueza humana é muito grande.

40 Visitas de Nossa Senhora

Foi exatamente por saber disso que Ele Se encarnou e morreu na Cruz por nós. Porque quando a pessoa tem a suprema infelicidade de perder o estado de graça pelo pecado, através de uma ofensa grave a Deus, em vez de fazer como os homens, que ficam ofendidos, se res-sentem, e não querem mais saber de quem os ofendeu, Ele entretanto, continua amando o pecador, esperando que retorne e ajudando-o incan-savelmente a retornar.

E como retornar? Como recuperar o estado de graça, esse te-souro inefável que você passou a conhecer melhor hoje? É através de outro Sacramento: o Sacramento da Penitência, também chamado da Reconciliação, da Confissão.

Você lembra o que é a confissão, meu filho? É aquele Sacramento em que a pessoa confessa a um Padre os pecados que cometeu e ele, pelo poder que lhe foi conferido por Jesus, absolve, perdoa os pecados.

Tão simples, não é? Tão simples mesmo, que até sei o que pode estar passando por sua mente, ou poderá passar mais tarde: “Será mes-mo? Será que um homem tem esse poder de perdoar os meus pecados?”

Não tenha dúvida, meu filho. O Sacerdote tem esse poder por-que foi Jesus Cristo, o próprio Deus encarnado, que lhe concedeu.

Sua Mãe Se lembra, cheia de maravilhamento, daquele dia em que Ele o instituiu. Jesus já havia ressuscitado. Estavam fechadas as portas da casa, pois os Apóstolos ainda estavam com muito medo dos inimigos. Veio Jesus, entrou na casa apesar das portas fechadas, Se pôs de pé no meio deles e lhes disse: “A paz esteja convosco”. Ra-diante de luz, mostrou as mãos e o lado perfurado pela lança. Então, disse uma segunda vez: “A paz seja convosco. Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós”16. Tendo dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: “Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados”17.

Desse modo, Jesus conferiu aos Apóstolos, e portanto aos seus sucessores, o poder de perdoar os pecados. Os sucessores dos Apóstolos são os Bispos, que têm a plenitude do Sacerdócio, mas como os Padres também recebem o Sacramento da Ordem, também têm o poder de per-doar os pecados.

16 Jo 20, 21.17 Jo 20, 22.

Visitas de Nossa Senhora 41

E note que Jesus conferiu-lhes este poder depois de ter ressus-citado. Porque Quem morreu e ressuscitou-Se a Si mesmo comprovou que é o próprio Deus. Só Deus tem o poder de perdoar os pecados, e de comunicar este poder a quem Ele quiser.

Então, meu filho, confiança! Nada está perdido. O plano de Deus está intacto para você, desde que você queira corresponder a ele. O que está esperando?

Ah, já sei... Talvez você esteja preocupado por que faz muito tempo que não se confessa, ou mesmo porque nunca se confessou di-reito na vida... Não importa, filho. Antes tarde do que nunca. É a coisa mais fácil do mundo a confissão. Amanhã sua Mãe lhe explica com mais detalhes, porque estou notando que você já está um pouco cansa-do... Não está? Bem, se não estiver, leia um pouco o que está no resumo da Doutrina Católica, no final do livro, sobre a confissão. Se quiser, leia também a nossa “conversa” de amanhã. Afinal, reconciliar-se, pedir perdão ao Pai, não é coisa que se deixe para depois.

Meu filho, vou terminar nossa conversa agora. Mas vou conti-nuar aqui, junto de você, como todos os outros dias. Se precisar de algo, Me chame. Estou sempre aqui para o ajudar.

Como chamar? Ora, meu filho, rezando. Qualquer oração que você faça, Eu atendo como uma mãe que socorre seu filhinho que a chama. Até amanhã, e que Deus o abençoe.

Nossa Senhorado Brasil

Visitas de Nossa Senhora 43

Oitava visita: A reconciliação

Como você está hoje, meu filho? Não se preocupe se você ainda não estiver se sentindo bem. Os problemas nessa vida são assim mesmo: vão e voltam; pioram, melhoram. Só Deus não muda nunca. Nem o amor d’Ele por você: esse amor está no máximo grau sempre, sempre. E o de sua Mãe do Céu também.

Talvez você esteja se sentindo um pouco diferente hoje. Às vezes, Deus permite que a gente não se sinta tão bem quanto gostaria, exatamente para nos facilitar caminhar na direção certa. O pior de tudo seria estar se sentindo bem, se sentindo até ótimo e, na realidade, estar se afastando de Deus.

Lembra do que nós conversamos ontem sobre como se recon-ciliar com Deus? Como recuperar o estado de graça? Pois bem, é sobre isso que vim falar com você hoje.

Mas para facilitar a sua compreensão, talvez valha a pena co-meçar por lhe contar uma linda história. Foi o meu Divino Filho que a compôs.

Era um dia em que uma multidão O cercava para ouvi-Lo, entre eles até escribas e fariseus que murmuravam porque meu Filho recebia os pecadores. Mas Jesus queria salvá-los todos, e por isso, contou-lhes esta parábola: “Um homem teve dois filhos, e o mais novo deles disse a seu pai: ‘Pai, dá-me a parte dos bens que me cabe’. E ele repartiu entre eles os bens. E passados poucos dias, juntando tudo (o que era seu), o filho mais novo partiu para uma terra distante e lá dissipou os seus bens, vivendo dissolutamente. E, depois de ter consumido tudo, houve na-quele país uma grande fome, e ele começou a passar necessidade. Foi,

44 Visitas de Nossa Senhora

pois, e pôs-se a serviço de um dos cidadãos daquela terra. Este, porém, mandou-o para os seus campos guardar porcos.

“E desejava se alimentar com as bolotas que os porcos co-miam, e ninguém lhas dava. Mas, tendo entrado em si, disse: ‘Quantos empregados há em casa de meu pai que têm pão em abundância, e eu aqui morro de fome! Levantar-me-ei e irei ter com meu pai, e lhe direi: Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus empregados’.

“E, levantando-se, foi para seu pai. E, quando ele estava ainda longe, seu pai viu-o, e ficou movido de compaixão, e, correndo, lançou-lhe os braços ao pescoço, e beijou-o. E o filho disse-lhe: ‘Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho’. E o pai disse aos seus servos: ‘Buscai depressa o vestido mais precioso, e vesti-o nele, e metei-lhe um anel no dedo e os sapatos nos pés; trazei também um vitelo gordo, e matai-o, e comamos e banqueteemo-nos, porque este meu filho estava morto e reviveu; tinha-se perdido, e foi encontrado’”18.

Note, meu filho, a imensa alegria que o pai do filho pródigo teve quando ele se arrependeu e voltou. Note como ele desejava perdoá-lo, prova do quanto lhe queria bem. E como comemorou a sua chegada, com ricas vestes e banquetes.

É desse modo que Deus espera por você, meu filho! Por você e por qualquer pessoa que tenha tido a infelicidade de se afastar d’Ele.

O pai do filho pródigo tinha lhe dado a vida e as riquezas. Deus, entretanto, dá-nos infinitamente mais. Ele nos dá simplesmente tudo. Nada temos que não nos tenha sido dado por Ele. Deu-nos até seu próprio Filho, O qual amou-nos tanto, tanto, que padeceu e morreu na Cruz por nós. Até lá nenhum pai chegou nem pode chegar.

A ingratidão do filho pródigo foi realmente tremenda. Mas, e a ingratidão do pecador, meu filho, que tamanho terá? Porque a gente mede o tamanho da ingratidão pelo tamanho do benefício rejeitado...

O castigo do filho pródigo foi realmente duro. Ele, que era acostumado ao luxo e às comidas finas, chegou a desejar comer as bolo-tas dos porcos, e nem estas lhe eram dadas. Porque também todo castigo é proporcionado ao tamanho da falta cometida.

18 Lc 15, 11-24.

Visitas de Nossa Senhora 45

E uma ofensa feita não contra um pai bondoso, nem contra um rei, nem mesmo contra o imperador de toda a Terra, mas contra o Criador de tudo, um Ser perfeitíssimo, puríssimo, infinito, que propor-ção terá?

É preciso ver a realidade como ela é, meu filho: Um castigo, para ser proporcionado a uma ofensa feita a um Ser infinito, tem de ser também um castigo infinito. Pois, por mais que Deus seja a própria Bondade, Ele é também a própria Justiça, e portanto a punição não pode deixar de existir.

Assim como o filho pródigo, o pecador faz um mau uso de sua liberdade, e escolhe voluntariamente o caminho errado, o caminho que acaba na bolota dos porcos. Por assim dizer, ele castiga-se a si próprio no momento em que se afasta de Deus. Porque só em Deus se encontra a ordem e a alegria perfeitas.

E não poderia ser de outro modo, pois a liberdade é a capaci-dade para fazer o bem. Quem a utiliza para fazer o mal, acaba se escra-vizando a ele.

Note, porém, que o filho pródigo se arrependeu de verdade. Precisou sofrer bastante, primeiro. Mas quando caiu em si, converteu-se de fato. Procurou o seu pai com humildade e confessou a ele o seu pecado.

Da mesma forma, a pessoa, quando tem a infelicidade de ofender a Deus, deve arrepender-se com sinceridade dos seus erros, procurar com humildade um de seus representantes nesta Terra, que são os Sacerdotes, confessar os seus pecados e, dessa forma, reconciliar-se com o Pai Eterno, que o espera no Céu para comemorar com um ban-quete eterno essa reconciliação.

E porque deve confessar? Porque quem se humilha a ponto de confessar ao Padre os seus pecados, sem esconder nada, reconhece real-mente que errou, e Deus não resiste a um coração contrito e humilhado19.

Além disso, Jesus, quando conferiu aos Apóstolos o poder de perdoar os pecados, disse-lhes: “Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos”20.

19 Cfr. Salmo 50, 19.20 Jo 20, 22-23.

46 Visitas de Nossa Senhora

Desse modo, meu Divino Filho constituiu os Apóstolos e seus sucessores como juízes das almas. Como juízes, precisam conhecer o estado das almas para poder julgar se estão realmente arrependidas, e por isso é necessário que os pecadores se acusem dos seus pecados durante a confissão21.

Dessa maneira maravilhosa, infinitamente misericordiosa, a pessoa que teve a infelicidade de perder o estado de graça pode recobrá-lo, voltar a “guardar as palavras” de meu Divino Filho, e ter a certeza de que Ele e seu Pai, com o Espírito Santo, virão até ele, e “farão nele morada”22.

O plano de Deus para você estará recomposto, meu filho. A sua eterna felicidade estará garantida. E isso tudo, de um modo tão fácil, tão simples.

Basta procurar um Padre, ou pedir que o chamem, caso você ainda não esteja podendo andar, e dizer-lhe que quer se confessar. Caso você não saiba se confessar direito, leia antes o que está no resumo da Doutrina Católica e na parte dedicada às orações sobre a Confissão, no final desse livro, peça ao Padre que o ajude, explique-lhe que não tem experiência em se confessar, reze e tenha confiança na ajuda de sua Mãe do Céu, que dará tudo certo.

Mas lembre-se antes de uma coisa importante: tudo nessa vida, para ser bem feito, requer uma boa preparação. E essa preparação deve começar com uma oração a Deus, que pode ser feita por intermédio de sua Mãe do Céu, para lhe conseguir as graças de que você precisa para se confessar bem.

Depois, você deve fazer um exame de consciência, meu filho. Ninguém compra uma casa ou automóvel sem examiná-lo bem antes, não é? Então, sobretudo quando se trata da nossa Salvação eterna, a gente deve examinar-se a si mesmo com muita humildade e sinceridade para, quando se confessar, não omitir voluntariamente nada do que fez de errado. Porque mentir na hora na confissão seria um pecado horroro-so, maior ainda do que aquele que se quisesse ocultar.

Para facilitar este exame, meu filho, você encontrará no final do livro um modelo de exame de consciência completo, que poderá lhe

21 Bíblia Sagrada, anotada pelo Pe Mattos Soares, pág. 1311, nota de rodapé, 13ª Edição, Edições Paulinas, São Paulo, 1985.

22 Cfr. Jo 14, 23.

Visitas de Nossa Senhora 47

ser muito útil. Você poderá ir lendo o exame e tomando nota do que vai confessar, para não acabar se esquecendo de algo.

Mas veja como Deus é misericordioso: ainda que você não se lembre de alguma falta grave, ou esqueça involuntariamente de acusá-la, Deus a perdoará também no momento em que o Padre lhe der a absolvição, desde que você esteja sinceramente arrependido de todas as suas faltas e que, quando vier a se lembrar da que esqueceu, a confesse na próxima confissão.

Essa misericórdia chega ao extremo de que, mesmo se for im-possível a pessoa se confessar, porque, por exemplo, está num lugar onde não há Padres, ou porque não há tempo para trazer um antes dela morrer, ainda há um modo de obter o perdão.

Basta que se faça um ato de contrição perfeita, ou seja, um ar-rependimento dos pecados por puro amor de Deus, considerando Quem Ele é, infinitamente Bom e digno de ser amado e adorado, considerando todos os seus benefícios e a ingratidão tremenda de quem O ofende.

Se o ato de contrição perfeita for sincero, o propósito de emen-da firme, Deus perdoará o pecado no mesmo momento em que a pessoa se arrepende. Veja que misericórdia maravilhosa, meu filho! É por isso que a contrição perfeita é chamada “a chave de ouro do Céu”.

Caso, porém, a pessoa consiga se confessar depois, tem obri-gação de acusar-se, pois do contrário cometeria um novo pecado, que seria o sacrilégio de ocultar um pecado grave, ainda não confessado, na confissão.

Para esta, entretanto, basta a atrição, ou contrição imperfei-ta, que é aquela em que o pecador se arrepende por temor das penas eternas do inferno, que merece pelos seus pecados mortais. Porém, se além desse motivo, o arrependimento é por amor a Deus, Ele concederá graças de conversão ainda mais abundantes.

Por isso, mesmo antes de se confessar, é de toda conveniência fazer atos de contrição perfeita, para já ir implorando o perdão de Deus, antes mesmo de recebê-lo sacramentalmente.

Veja, meu filho, como é tudo tão fácil e tão simples, tudo tão suave, tão acolhedor, tão ameno.

Não há porque perder tempo. Por que você não faz um ato de contrição perfeita agora mesmo, e procura se confessar o quanto antes?

48 Visitas de Nossa Senhora

O perdão divino e um oceano de graças estão esperando por você. Só quem teve a alegria de sentir a sua alma lavada pelo Sangue

infinitamente precioso do Cordeiro de Deus, Jesus, sabe dizer o que é a paz e a serenidade que se tem nessa ocasião. Uma felicidade capaz de vencer todas as dores. Um prenúncio da felicidade eterna no Céu.

No Céu, meu filho, não haverá mais o tempo. E você ficará para sempre junto de sua Mãe querida, junto de Jesus, junto de Deus. Bem diferente dessa vida, em que tudo passa. Tudo, até mesmo nossa conversa, meu filho.

Sua Mãe vai deixá-lo agora, embora continue sempre ao seu lado. Mas no Céu será diferente: ficaremos sempre juntos. Juntos e uni-dos a Deus. Até amanhã, e que Deus o abençoe.

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Nona visita: Como aumentar a graça

Meu filho, você está melhor hoje? Ainda não sabe bem? Olhe, não se perturbe muito com isso. Sua Mãe lhe pergunta porque quer muito bem a você. Mas como estou no Céu, tenho a Visão Beatífica, ou seja, vejo tudo claramente em Deus. Sei exatamente como se encontram sua alma e seu corpo. E estou rezando muito por você junto a Deus para que, tanto uma quanto outro, melhorem o mais depressa possível, para a maior glória d’Ele.

Em sua alma, você pode estar sentindo uma grande consola-ção interior, ou pode não estar sentindo nada, ou mesmo estar sentin-do uma aridez, uma desolação enorme. Não se preocupe. Em nenhum momento Deus e sua Mãe celeste tiram os olhos de você. Sinta você o que sentir, saiba que Deus está lhe permitindo passar por isso para o seu maior bem. Porque Ele tem um plano muito alto e muito grande para você, lembra-se?

Ele quer fazer você participar da própria vida e da própria na-tureza divina d’Ele. Ele quer elevá-lo à ordem sobrenatural. E isto por puro e infinito amor a você.

Há uma outra coisa que é importante você saber. Para Deus, o que conta não é o que a gente sente, mas o que a gente quer. Você tem uma inteligência e uma vontade que são livres, por dom de Deus. E o que Ele quer é que essa inteligência e essa vontade você utilize para conhecê-Lo, amá-Lo e servi-Lo.

Você tem também uma sensibilidade, que inclui suas emoções, tendências, afetos, recordações, imaginações, além do que lhe vem pe-los cinco sentidos: visão, audição, olfação, paladar e tato. Nessa parte

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de seu ser, você às vezes sentirá movimentos desordenados, que vão contra o que sua inteligência mostra ser o razoável, e contra o que sua vontade quer. O importante é não consentir, ou seja, não dar a permis-são da vontade, não concordar com esses sentimentos maus.

A alma está ordenada, meu filho, quando a sensibilidade é go-vernada pela vontade, a vontade pela inteligência, e esta é iluminada e orientada pela Fé. Nessa hierarquia interna reside a estabilidade e a harmonia da alma.

Essa harmonia é tão importante, filho, que exatamente por-que ela falta num grande número de pessoas em nossos dias, é que nós vemos tantos distúrbios mentais, tantos problemas no convívio, tanta tristeza e desolação. Porque não pode uma sociedade estar ordenada quando as almas das pessoas que a compõem estão desordenadas.

Mas para que se estabeleça essa ordenação na sua alma, é in-dispensável a ajuda de Deus, que é a graça. Sem a graça, essa hierarquia interior é praticamente impossível, devido à desordem que foi introdu-zida no gênero humano pelo pecado do nosso primeiro pai, Adão. E sem essa ordem, não há paz. Porque a paz é a tranqüilidade da ordem.

Portanto, essa paz interior que você tanto deseja, essa ordena-ção interior que lhe dará essa paz, e que lhe fará participar do plano de Deus para você, tudo isso depende da graça. É por meio dela que Ele nos eleva ao plano sobrenatural.

A graça, meu filho, você já viu como podemos recebê-la. Deus nos dá a graça através dos Sacramentos e da oração. O primeiro dos Sa-cramentos, como você se lembra, é o Batismo, através do qual a graça é infundida na alma.

Mas se a pessoa tem a infelicidade de perder a graça de Deus cometendo um pecado mortal, ela pode recuperá-la através de outro Sacramento, como você viu, que é a Penitência, também chamada hoje em dia de Reconciliação.

Reconciliando-se com Deus, Ele volta a morar em sua alma, e volta a lhe conceder graças para você progredir nessa união com Ele. E é exatamente sobre esse progresso que sua Mãe quer falar um pouco com você hoje.

Em outras palavras, meu filho, você pode recuperar e até au-mentar a graça de Deus em você. Você pode tornar cada vez mais ínti-

Visitas de Nossa Senhora 51

ma, cada vez mais poderosa, cada vez mais transformante a presença de Deus em você, e sua união com Ele.

O modo de aumentar a graça em sua alma é, também, através dos Sacramentos, da oração e das boas obras.

Um Sacramento que é fundamental para isso é a Eucaristia, a Sagrada Comunhão. Ela é tão importante, que desejo dedicar nossa conversa de amanhã só sobre ela.

Agora, queria falar-lhe um pouquinho sobre a oração. Você sabe o que é a oração, meu filho? Não sabe direito? É muito simples: A oração é a elevação da mente a Deus. Toda vez que você eleva sua mente para Deus, você está rezando. Como agora, por exemplo, pois você está pensando n’Ele enquanto conversamos.

Está vendo como é fácil rezar? Tão fácil que você já estava rezando e não sabia! Mas é importante você saber ainda outras coisas.

Há dois modos principais de rezar. A oração pode ser mental e vocal. Você faz a oração vocal quando reza falando, sussurrando ou mesmo só pensando. Quando reza, por exemplo, o Pai Nosso e a Ave Maria, que Me alegram tanto.

E sabe porque Me alegram? Porque o Pai Nosso é a oração perfeita, composta pelo próprio Jesus Cristo23, Nosso Senhor. A Ave Maria Me faz recordar a saudação do Arcanjo São Gabriel, que disse “Ave cheia de graça”24 quando veio Me anunciar a Encarnação de Jesus em Mim, e a exclamação da minha prima Santa Isabel, mãe de São João Batista, quando a fui visitar antes dela dar à luz. Ela Me disse, então: “Bendita és Tu entre as mulheres, e Bendito é o fruto do teu ventre”25.

Por isso, assim como respondi à minha prima com o cântico do Magnificat26, respondo àqueles que Me invocam, apresentando-Me como um cântico vivo diante de Deus, em favor dos meus devotos. E assim como respondi ao Anjo com o “fiat”27, assim também peço a Jesus

23 Cfr. Mt 6, 9.24 Lc 1, 28.25 Lc 1, 42.26 Cfr. Lc 1, 46. Magnificat é uma palavra latina que quer dizer “engrandece”. Em

Latim, ela é a primeira que aparece no cântico composto por Nossa Senhora naquela ocasião: “Minha Alma engrandece ao Senhor”. O cântico do Magnificat encontra-se no devocionário, no final deste livro.

27 Cfr. Lc 1, 38. “Fiat” é a primeira palavra, em Latim, da frase com a qual Nossa Senhora respondeu a São Gabriel quando ele Lhe perguntou se aceitava ser a Mãe do Messias:

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que “faça-se” aquilo que Me pedem, para seu bem, os que rezam a Ave Maria. É por isso que esta é uma oração poderosíssima.

Por isso também o demônio foge espavorido ao ouvi-la, pois a Ave Maria lhe lembra que sua derrota, imposta por Jesus Cristo, veio através de uma simples Mulher. E isto é insuportável para o seu orgulho desmedido.

Esta é a força da oração vocal, meu filho. Quanto à oração mental, você a faz quando pensa em Deus, quando medita n’Ele, nas suas obras, nos seus ensinamentos ou nas coisas da Religião, da vida espiritual. Voltaremos a conversar sobre ela, se Deus quiser.

Você encontrará no final desse livro várias outras preces muito bonitas que lhe darão ocasião de fazer muitas orações vocais. E com elas você certamente receberá muitas graças de Deus, aumentando cada vez mais a presença e a ação d’Ele em você.

Mas uma das orações de que Ele mais gosta, e sua Mãe tam-bém, é o Santo Rosário, que também está lá no final do livro. Porque o Rosário une a oração mental à oração vocal: Enquanto você está rezan-do com os lábios e o coração o Pai Nosso, a Ave Maria e o Glória, cuja força você já conhece, você está meditando nos Mistérios, ou seja, nos acontecimentos da vida de Jesus. Você verá como é consolador. Leia, depois, um pouquinho, sobre o modo de rezar o Rosário, que está no final deste livro, e você verá a maravilha que é.

Sabe porque se chama Rosário? Porque cada Pai Nosso, cada Ave Maria e Glória ao Pai que você reza, meditando na vida de Jesus, são como uma rosa que você Me oferece. Os Anjos as recolhem e te-cem uma coroa toda de rosas para colocar sobre a cabeça de sua Mãe do Céu.

É por isso, meu filho, que Eu não resisto a nada que Me pe-dem quando rezam o Rosário, ou ao menos o Terço, que é uma parte do Rosário. Poderia sua Mãe ficar indiferente a um tal ato de amor e devoção?

E poderia meu Divino Filho deixar de atender alguma coisa que Me fosse pedida dessa maneira? Porque tudo o que pedem a Mim, Eu levo imediatamente para Ele, uma vez que sou a Medianeira entre Jesus e a humanidade. E Ele, que Me ama com amor infinito, por essa

“Faça-se em Mim segundo a vossa palavra”.

Visitas de Nossa Senhora 53

razão atende tanto mais prontamente, quanto maior a devoção com que a pessoa reza para Mim.

Confiança, portanto, meu filho. Reze, reze muito, muitíssimo. Quanto mais você rezar, mais Deus aumentará a graça em você. Reze a Ele por intermédio de sua Mãe do Céu, que Ele o atenderá com muito mais facilidade.

Desse modo, você progredirá cada vez mais no amor e na união com Deus, Nosso Senhor. E você verá como ficará cada vez mais fácil ordenar a alma de modo a só querer o que a Fé e a inteligência mostram ser bom e razoável, e governar os impulsos e a sensibilidade com a força da vontade, movida pela graça, de um modo admirável. E então gozar daquela paz que você tanto deseja, e que a gente só tem quando alcança a tranqüilidade dessa ordem interior.

Mas isto não é trabalho para um dia. Isso se fará pouco a pouco em sua alma, com uma velocidade e intensidade que variam de pessoa para pessoa, conforme a generosidade, o fervor e a devoção de cada um. Nada de desânimo, portanto, se você notar que não está progredindo tão depressa quanto gostaria.

Existem ainda outras maneiras de facilitar esse progresso na sua vida espiritual. Amanhã, se Deus quiser, sua Mãe lhe falará sobre algo indispensável para isso: a Sagrada Comunhão. E nos outros dias, lhe ensinarei outros meios que o ajudarão enormemente.

Mas, cada coisa tem seu tempo. E o tempo agora é para que você descanse um pouco meu filho, para que a saúde do corpo ajude também a saúde da alma. Fique em paz, com Deus e com sua Mãe. Que Deus o abençoe.

Nossa Senhorado SantíssimoSacramento

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Décima visita: A Eucaristia

Meu filho, como vai você? Sua Mãe veio lhe fazer uma visita e conversar mais um pouquinho.

Sabe, filho, com as mães acontece uma coisa curiosa. As mães têm uma espécie de sexto sentido para tudo o que diz respeito aos seus filhos. Eu conheço o caso de uma mãe muito bondosa e virtuosa, por exemplo, que tinha muito receio de viagens de avião. Para não deixa-rem-na preocupada quando seu filho viajou para a Europa, a família combinou dizer-lhe apenas uma parte da verdade, ou seja, que o filho tinha ido ao Rio de Janeiro, que naquela época era o local de onde par-tiam os aviões para o Velho Continente. E só diriam para ela a verdade inteira, depois que ele tivesse chegado lá.

Mas não adiantou. Durante todo o tempo da viagem ela, preo-cupada, dizia: “meu coração procura o do meu filho mas não o encontra no Rio; meu coração o encontra pelos ares.”

Ainda que não visse tudo em Deus, na visão beatífica que te-nho no Céu, meu Coração procura o seu de dia e de noite, e sabe tudo que se passa dentro do seu. Porque meu amor por você é tão grande, tão grande, que se você pudesse reunir o amor de todas as mães pelos seus filhos e concentrá-los numa pessoa só, esse amor não chegaria nem perto do que tenho por você.

Por isso, meu filho, não se preocupe, não se aflija nunca. Foi o próprio Deus que Me fez sua Mãe, e Mãe de toda a humanidade. O amor d’Ele pelos homens é tão absoluto que Ele Me fez sua Mãe no momento mesmo em que a ingratidão dos homens chegava a ponto de

56 Visitas de Nossa Senhora

fazê-Lo morrer na Cruz28.De tal maneira Ele nos ama, filho, que mesmo tendo sido mor-

to por meio de tormentos crudelíssimos, mesmo tendo ressuscitado e subido ao Céu por seu próprio poder, mesmo estando sentado “à direita de Deus Pai Todo-poderoso”29, Ele, entretanto, nem de longe Se esque-ceu de nós. Pelo contrário, Ele quis ficar conosco, quis ficar entre nós.

Isso mesmo. Ele quis ficar nessa Terra, nessa Terra ingrata, cheia de maldade e de pecado. E quis ficar realmente presente, vivo e verdadeiro.

Você se espanta, filho? Então você não se lembra mais que a Hóstia Consagrada é verdadeiramente Jesus? Recorde que Ele mesmo disse, na Última Ceia que fez com seus discípulos: “Tomai e comei; isto é o meu Corpo”30.

Neste momento, solene entre todos, meu Divino Filho insti-tuiu a Sagrada Eucaristia, deixando para a humanidade o maior presen-te, a maior herança que Ele podia deixar: Ele mesmo.

E note, meu filho, que Ele não disse: “Isto representa o meu Corpo”. Ele disse: “Isto é o meu Corpo”. Jesus é Deus. Ele não pode enganar-Se nem enganar-nos.

Eu sei, meu filho, que o presente é tão incalculavelmente gran-de, tão impensável, que pode até mesmo ser um pouco difícil de com-preender à primeira vista.

Tanto assim que, quando Ele anunciou pela primeira vez a Eucaristia, naquela célebre discussão que teve com os fariseus na si-nagoga de Cafarnaum, não foram só aqueles que não aceitaram que O abandonaram, mas até mesmo muitos de seus discípulos.

E entretanto, ali Ele disse: “O que come a minha Carne e bebe o meu Sangue tem a vida eterna; e Eu o ressuscitarei no último dia. Porque a minha Carne é verdadeiramente comida, e o meu Sangue é verdadeiramente bebida”31.

“Verdadeiramente”.

28 Quando estava agonizando na Cruz, tendo a Seus pés Nossa Senhora, São João e as santas mulheres, Nosso Senhor disse para São João, que nesse momento representava toda a Humanidade: “Eis aí a tua Mãe” (Jo 19, 26).

29 Símbolo dos Apóstolos.30 Mt 26, 26.31 Jo 6, 55-56.

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Só mesmo o próprio Deus, que é puríssimo amor, poderia ex-cogitar uma maravilha tão excelsa, meu filho. Apesar de toda a dureza de coração dos homens, apesar de toda miséria, ingratidão e increduli-dade daqueles mesmos aos quais Ele quer fazer seus filhos, Ele próprio, vivo e verdadeiro, embora sob as aparências de pão e de vinho, quis ficar conosco todos os dias, até a consumação dos séculos.

E tudo isso porquê, meu filho? Para quê? Você não sabe? Para ajudá-lo a se tornar participante daquele plano infinitamente misericor-dioso que Ele tem para você.

Porque você comungando, recebendo Jesus na Hóstia Con-sagrada, você recebe uma tal quantidade de graças, uma tal inundação de graças, que as dificuldades todas da natureza humana decaída pelo pecado, a tendência para a ingratidão e a maldade, tudo isso cai por ter-ra, e você passa a ter a força, a ajuda indispensável para unir-se a Deus, praticar a virtude, observar os Mandamentos, numa palavra, meu filho, para ser santo.

Ele disse: “O que come a minha Carne e bebe o meu Sangue, fica em Mim e Eu nele. Assim como o Pai que vive Me enviou, e Eu vivo pelo Pai, assim o que Me comer a Mim, esse mesmo também vive-rá por Mim e de minha própria vida”32.

A palavra d’Ele é infalível. O que Ele diz, Ele realiza. Lem-bre-se, por exemplo, como Ele disse “Lázaro, vem para fora”33, e Láza-ro, que estava morto e enterrado há já quatro dias, ressuscitou e saiu do sepulcro diante de inúmeras testemunhas. Dá para você ter uma idéia da força e da realidade de tudo que Ele diz.

E por isso, meu filho, você pode ter certeza de que, comun-gando com as devidas disposições, Jesus virá e viverá em você, com a sua própria vida. Já pensou que maravilha?

Eis aqui, meu filho, o grande segredo para ser santo, para viver da própria vida de Jesus: a Sagrada Comunhão. Juntamente com a ora-ção e os demais Sacramentos, a Sagrada Eucaristia lhe permitirá obter aquele tesouro que o maior de todos os magnatas nunca pôde sequer imaginar possuir: o Criador de todos os tesouros.

E essa presença será não só permanente, mas cada vez mais

32 Jo 6, 58.33 Jo 11, 43.

58 Visitas de Nossa Senhora

intensa, mais frutífera. Será para toda a vida, se você for fiel. E para toda a eternidade. Sim, para sempre, pois Ele também disse: “O que come deste Pão viverá eternamente”34.

Mas, assim como para receber os outros Sacramentos é pre-ciso uma preparação, sobretudo para a Sagrada Comunhão uma séria preparação é indispensável. É preciso conhecer bem o Catecismo, saber apreciar o valor inestimável do dom que lhe está sendo concedido, e, sobretudo, estar com a alma purificada de todo pecado grave, através da Confissão. Porque aquele que recebe Jesus na Eucaristia indignamente, recebe a sua própria condenação35.

Se você já fez a Primeira Comunhão, leia um pouco mais so-bre este admirável Sacramento no resumo da Doutrina Católica, que está no fim deste livro, prepare-se com fervor e devoção, faça uma con-fissão bem feita e receba seu Salvador na Sagrada Eucaristia. Ele está esperando por você. E você nem imagina com quanto amor, com quanta solicitude.

Se não fez ainda a Primeira Comunhão, faça-a, meu filho. Faça-a logo. Peça a um bom catequista que o ajude a preparar-se, que lhe ensine direito o Catecismo, para que o quanto antes você possa receber a maior ajuda, a maior força e o maior presente que existe no Céu e na Terra.

Dessa maneira a graça divina, a presença e a ajuda de Deus que você recebeu no santo Batismo, e recuperou na sagrada Confissão, irá aumentando e progredindo em você cada vez mais, através da oração e da santa Eucaristia.

A Eucaristia, Deus conosco... Haveria tanta coisa para lhe di-zer sobre a Sagrada Eucaristia. Quem sabe amanhã conversamos um pouquinho mais sobre este dom da infinita misericórdia de Deus?

Porque agora, talvez você esteja um pouco cansado. E talvez seja melhor para sua recuperação você repousar um pouco. Isso, des-canse, meu filho. Descanse em paz, em união com Deus, com sua Mãe do Céu, e com seu Anjo da Guarda. E depois, quando estiver mais des-cansado, procure lembrar e pensar um pouco sobre o que falamos hoje. Tenha certeza de que vai lhe fazer muito bem. Até amanhã, e que Deus o guarde, proteja e abençoe.

34 Jo 6, 59.35 1 Cor 11, 29.

Visitas de Nossa Senhora 59

Décima-primeira visita: Deus conosco

Sim, meu filho, sua Mãe está aqui para lhe fazer uma visita. Na realidade, sua Mãe está sempre junto de você, e a verdadeira inicia-tiva da visita é sua. Basta você lembrar de sua Mãe do Céu, abrir este livro ou algum outro que trate das coisas de Deus, que estou ao seu lado para conversarmos. De uma coisa você pode estar certo, meu filho: você nunca está só.

Você se espanta? Mas é isso mesmo. Porque por mais que você esteja sentindo a falta das pessoas queridas, que devido às suas ocupa-ções não podem estar com você o tempo todo nesta provação pela qual você está passando, junto de você está uma presença, que mereceria ser escrita com “P” maiúsculo, que é a presença espiritual de Deus, seu Criador e Redentor. E onde está Ele, está também sua Mãe.

Por duas razões: Porque sempre estou junto de Deus; e porque Ele quis que Eu fosse sua Mãe, bem como Mãe de todas as pessoas, lembra? Onde está um filho meu sofrendo, aí estou mais do que nunca presente para socorrê-lo e ajudá-lo em tudo.

Aliás, por mais que pareça difícil entender, uma das coisas de que meu Divino Filho, Jesus, mais gosta é estar junto dos homens. Ele, que é a Sabedoria eterna, o afirmou: “[Encontro] minhas delícias em estar com os filhos dos homens”36.

Foi por essa razão que Deus disse por meio do profeta: “Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um Filho, e o chamarão pelo nome de Emanuel, que quer dizer: Deus conosco”37.

36 Prov 8, 31.37 Mt 1, 23.

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Deus conosco, meu filho. Você poderia imaginar maior consolação para os pobres filhos

de Eva, nesse mundo que a Igreja chama tão justamente de “vale de lágrimas”38? Nesse mundo tão ingrato, tão pecador, nesse mundo que seria capaz de crucificar novamente a meu Divino Filho... É nesse mun-do, entretanto, que Ele está continuamente presente.

Onde? Em qualquer igreja, em qualquer capelinha onde haja uma Hóstia Consagrada. Ali está Jesus realmente, com seu Corpo, San-gue, Alma e Divindade.

Está vivo e verdadeiro, o mesmo Jesus que fazia os cegos ve-rem e os surdos ouvirem, que soltava a língua dos mudos e fazia andar os paralíticos. O mesmo Jesus que ressuscitou mortos e ressuscitou-Se a Si mesmo.

Sim, é Ele, meu filho, que está entre nós. Imagine que você estando sofrendo como está agora, soubesse que tinha aparecido um grande santo num país bem longe daqui, do outro lado do mundo, mas que estava curando todos os enfermos que se aproximassem dele. O que você não seria capaz de fazer para ir até lá e pedir a cura, não é verdade?

E, entretanto, muito mais poderoso do que qualquer santo, está aqui bem perto de você o próprio Santo dos Santos. Talvez neste mesmo bairro, neste quarteirão ou até neste hospital, onde houver uma capela com o Santíssimo Sacramento, aí está Ele, realmente presente:

“O Mestre está aqui e te chama”39.Mais. Ele não só espera a sua visita, mas Ele deseja visitá-lo,

meu filho, e do modo mais completo e profundo que imaginar se possa. Ele quer que você O receba na Sagrada Comunhão. Ele deseja estar não só espiritualmente em você, pela graça, mas até fisicamente, pela Eucaristia.

E Quem é Ele? Ele é o Rei dos reis e Senhor dos senhores. O Criador do Céu e da Terra, de todos os astros, galáxias e estrelas, de todas as coisas visíveis e invisíveis. O Supremo Juiz que há de julgar os

38 Oração Salve Rainha.39 Jo 11, 28.Com estas palavras Marta anunciou à sua irmã, Maria, que Jesus estava

perto de sua casa, onde ambas choravam o falecimento de Lázaro. Porque atenderam o chama-do, viram Jesus ressuscitar o seu irmão.

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vivos e os mortos. O Ser absoluto, que é Aquele que É40, que não neces-sita de ninguém mas de Quem todas as criaturas necessitam. Deus uno e trino, onipotente, eterno, santíssimo, de infinita grandeza e majestade. E, entretanto, meu filho, Ele está aqui e o chama...

Você poderia até se perguntar: “Mas sendo Ele Quem é, e go-zando da felicidade absoluta no Céu, porque terá querido ficar conosco, que não somos senão pecadores”?

A resposta, meu filho, é tão simples, que à primeira vista pode desconcertar. Ele quis estar com os pecadores... exatamente porque são pecadores.

Porque sem Ele não haveria Salvação. Porque não são os sa-dios que precisam de médico. Porque Deus é puro amor, e tendo Ele amado os seus, “amou-os até o fim”41.

Mas existem várias outras razões, que se elevam até a infinita Sabedoria de Deus. Quando você estiver melhor, meu filho, experimente fazer uma visita a Jesus na Eucaristia. Diante d’Ele, faça os seus atos de culto: adore-O, faça ação de graças e reparação das ofensas cometidas contra Ele, e peça tudo de que você necessita, a começar pelo perdão dos pecados. Se quiser, faça esses atos em união com sua Mãe do Céu, una-se aos atos de culto que faço a Ele.

Depois, deixe-se ficar um pouquinho na presença d’Ele; como que “escute” o que Ele quer lhe dizer. O Divino Mestre lhe inspirará boas recordações e pensamentos que lhe farão compreendê-Lo e amá-Lo cada vez mais.

Mas não procure imaginar ou fazer fantasias. Quando Jesus fala em nossas almas, Ele inspira idéias claras e fortes resoluções.

Ele poderá, por exemplo, fazer-lhe ver como é maravilhosa a Sabedoria Divina, que através da Eucaristia conseguiu conciliar desíg-nios aparentemente incompatíveis: Jesus pôde voltar para Deus, sentar-Se em seu Trono à direita do Pai, abrir-nos o Céu, preparar nele um lugar para nós, enviar o seu Espírito Santo, sem, contudo, deixar de estar conosco, permanecendo realmente entre nós.

Ele poderá mostrar-lhe também como desejava que vivêsse-mos na fé em sua presença real, mas que ao mesmo tempo tivéssemos

40 Cfr. Ex, 3, 14.41 Jo 13, 1.

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o mérito de acreditar sem vê-Lo. E como o conseguiu com a Eucaristia, porque n’Ela nós O vemos sob as aparências de vinho e pão, embora seja Ele Quem está realmente presente.

Ele lhe fará compreender como, sendo a própria Sabedoria, não soube dar mais; tendo todo o poder, não pôde fazer mais; sendo todo generosidade, não teve mais que dar, depois que nos deu Ele mes-mo na Eucaristia.

Ou ainda, Ele lhe fará ver o quanto queria estar em toda a Terra ao mesmo tempo, em todos os lugares onde houvesse filhos seus. E como conseguiu isto através de um milagre admirável: em qualquer lugar do mundo onde haja uma Hóstia Consagrada, é Ele quem está lá para nossa Salvação.

E assim, tantas outras coisas Ele lhe há de inspirar, que cada visita que você Lhe faça, será para sua alma como os fulgurantes raios do Sol são para a vida e crescimento das plantas.

Tenha certeza de uma coisa, filho. Nesse mundo pode ser di-fícil falar com as pessoas importantes, mas com meu Divino Filho é o contrário: não há nada mais fácil do que falar com Ele, pedir-Lhe algo, implorar-Lhe socorro, perdão ou forças. Porque é isso mesmo o que Ele deseja, Ele não quer outra coisa. E só não fala com Ele quem não quer.

Não imagine que, porque Ele está na Eucaristia sob as apa-rências de pão e vinho, Ele esteja menos poderoso ou bondoso do que quando estava na Terra Santa operando milagres. Não. Seu poder nunca diminuiu nem pode diminuir. Ele está lá à sua espera, com toda sua onipotência, para atendê-lo em tudo o que for para o verdadeiro bem de sua alma.

Portanto, meu filho, não hesite, não tenha dúvida. Prepare-se bem e procure receber Jesus na Sagrada Comunhão tanto quanto possa, se possível todos os dias.

Além disso, procure visitá-Lo com freqüência, procure estar junto de Jesus Sacramentado o mais que possa. Junto a Ele, peça-Lhe tudo o que você necessita. Confie n’Ele, reze com confiança e tenha cer-teza de que será atendido. Se desejar, peça a Jesus por meu intermédio, pois Ele nunca nega nada que Eu peça para Ele, pois sempre peço o que é conforme sua santíssima vontade.

Esteja certo de que, na sua vida espiritual, comungar é vencer,

Visitas de Nossa Senhora 63

é progredir, é obter as forças de que você necessita para triunfar nas suas piores dificuldades e fraquezas, é aumentar a vida e a presença espiritual de Deus em você.

E que, além disso, quanto mais visitas você fizer ao Santíssimo Sacramento, mais Ele Se fará presente em sua alma, de um modo espiri-tual, e o santificará. Ainda que você faça estas visitas só na intenção, se estiver num lugar onde não haja Hóstias Consagradas. Assim, cada vez mais você estará em presença d’Ele, e Ele estará presente em você.

Se você quiser, sua Mãe pode lhe contar amanhã outras ma-ravilhas sobre a Eucaristia. Por exemplo, você sabia que pode comun-gar até mesmo se não houver Hóstia Consagrada? E que pode fazê-lo quantas vezes quiser ao longo do dia? Isso mesmo! E essa maravilha chama-se comunhão espiritual. Amanhã, se Deus quiser, falamos um pouquinho sobre ela. Que Deus lhe dê um santo repouso, meu filho, e o cumule de bênçãos e graças.

Virgem Blancade Toledo

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Décima-segunda visita: Convívio no isolamento

Como vai você, meu filho? Está melhor? Compreendo bem o que lhe vai na alma. Eu mesma passei pelos sofrimentos mais atrozes que imaginar se possa, enquanto previa, ao longo dos anos, e enquanto acompanhava toda a Paixão e Morte de meu Divino Filho. Pedi, mesmo, a Deus, para sofrer tudo o que Ele sofreu junto com Ele, ainda que só misticamente, para desse modo associar-Me à sua obra divina da Re-denção.

Vivi, também, quase toda a vida terrena no isolamento. Por isso, compreendo bem o quanto essa solidão que você está sentindo atualmente é penosa. Principalmente se você era uma pessoa de mui-tos amigos, de fácil relacionamento. Bem sei o quanto é difícil a gente constatar que, na hora da dor, na hora do sofrimento, na hora em que a gente mais precisa dos outros, nestas horas, justamente, esses outros muitas vezes não aparecem...

Basta dizer, meu filho, que o próprio Jesus Se viu abandonado por todos os seus Apóstolos e discípulos quando os inimigos O pren-deram. Não é de estranhar que isso possa acontecer conosco também. Mas, meu filho, console-se. Assim como o sofrimento em geral é bené-fico para sua alma, assim o sofrimento específico da solidão pode ser de grande proveito para você, se você souber aproveitá-lo.

Sim, meu filho, aproveitar o isolamento. Compreendo que, à primeira vista possa lhe parecer difícil de entender. Afinal, nesta vida, as pessoas estão geralmente acostumadas a aproveitar algo que alguém lhes oferece. Como aproveitar, então, algo que nem sequer é oferecido porque não há ninguém para oferecer?

66 Visitas de Nossa Senhora

E, entretanto, há pelo menos três modos de a gente aproveitar bem o isolamento.

Em primeiro lugar, há uma ilusão em imaginar que só po-demos nos beneficiar de algo visível, que nos seja dado por alguém concretamente presente. Até, meu filho, a grande verdade é que, esses “alguéns”, infelizmente, não são, muitas vezes, fornecedores de coisas lá muito aproveitáveis.

Quem o diz é o Espírito Santo, pelos lábios do Profeta Jó. Quando Jó, coberto de lepra, sentado sobre um monturo, raspando com um caco de telha suas repugnantes feridas, depois de ter perdido seus bens e seus parentes, foi visitado por seus amigos - os quais empre-enderam longa viagem a fim de confortá-lo - tal foi a decepção de Jó com a “consolação” de seus amigos, que os chamou de “consoladores importunos”42 .

Com isso, queria o Espírito Santo - que é o verdadeiro Autor da Bíblia - ensinar-nos que o ser humano, apesar de sua boa vontade, muitas vezes não passa de um consolador importuno ou equivocado, quando não mal intencionado...

O primeiro modo de aproveitar bem o isolamento, meu filho, é exatamente beneficiar-se da ausência desses “consoladores importu-nos”, daqueles que só nos procuram quando têm algum interesse pes-soal mesquinho em jogo, ou que esbanjam a “sabedoria” dos homens mas não têm a verdadeira Sabedoria de Deus. Bem-aventurado isola-mento aquele que nos priva de tais companhias!

O segundo modo de beneficiarmo-nos da solidão, filhinho que-rido, é a oportunidade de ouro que temos de nos encontrarmos conosco mesmos, a sós, como que diante de um espelho. Só então podemos ver-nos por inteiro, como somos, e não como parecemos ser, como muitas vezes fingimos ser quando estamos diante dos outros. Porque, se não se toma cuidado, com freqüência se assume na vida um papel, como numa peça teatral, que não corresponde à nossa realidade.

Muitas vezes, a pessoa procura representar ser melhor do que realmente é, para ficar bem diante dos outros, ainda que à custa de sua consciência.

Outras vezes, o que é ainda mais triste, procura parecer pior

42 Jó 16, 2.

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do que é, para que os outros não o estranhem e não sintam, em sua con-duta, nada que lhes repreenda dos seus próprios erros.

É isto o que os Santos chamam de “respeito humano” e que é muito necessário combater. Pois em vez de respeitar a Deus, procu-rando imitá-Lo, por vergonha de parecer bom a pessoa acaba tendo um falso “respeito” pelos pecados dos outros, chegando mesmo a imitá-los, só para não parecer diferente.

Por isso, meu filho, é lamentável constatar que, em geral, quando as pessoas estão sozinhas, são melhores do que quando estão junto com outras.

Isso acontece porque o instinto de sociabilidade faz com que as pessoas procurem se identificar com o padrão moral do ambiente que freqüentam. E quando este padrão moral não é bom...

Entretanto, quando se está isolado, ainda que por força de uma doença ou uma desventura qualquer, esses inconvenientes caem por ter-ra e, por mais que procuremos nos enganar, com o passar dos dias a nossa própria figura vai surgindo diante de nossos olhos.

Que oportunidade única para fazermos um verdadeiro exa-me de consciência! Para nos examinarmos com sinceridade, olhando de frente cada um dos nossos defeitos, sem procuramos nos desculpar ou defender, como se costuma fazer quando se é criticado diante dos outros. De que adiantariam desculpas? A quem enganaríamos? A nós mesmos?

Não, meu filho, nem a nós. Por isso, essa é uma hora de ouro, um presente inestimável que a Divina Providência nos dá para come-çarmos a conversão, a mudança de vida. E por isso mesmo devemos aproveitar o isolamento para rezar muito, e pedir a Deus a graça do autoconhecimento, da inteira clareza de consciência, para conhecermos quais e quantos são os nossos pecados, quais são nossos defeitos e no que é que precisamos melhorar.

Para vermos também, com objetividade, todas as ilusões e mentiras que construímos a respeito de nós mesmos, das outras pes-soas, todos os modos errados de conceber a realidade, a vida presente e a eternidade.

Para darmo-nos conta, enfim, do quanto só na Verdade pode-mos encontrar descanso e sossego para nossas almas, e quanto tempo

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perdemos quando pensávamos que estávamos “ganhando tempo”, prin-cipalmente quando se tem a ilusão de pensar que “tempo é dinheiro”.

Mas, meu filho, o modo mais interessante, delicioso mesmo, de se aproveitar a solidão é... servir-se dela para conviver.

Isso mesmo, conviver no isolamento. Como isso é possível? Ora, nada mais simples, nada mais luminoso.

Basta desmontar uma das ilusões que temos a respeito da rea-lidade. Em nossos dias, muita gente vive, na prática, como se fosse ma-terialista, apesar de estarem convencidos de que têm fé. E a influência deste estado de espírito é tão generalizada, que dificilmente encontra-mos uma pessoa que não esteja tomada por ele.

Ora, o que nos ensina a Fé? Que Deus é o Criador das “coisas visíveis e invisíveis”43. E quais são essas realidades invisíveis? São as realidades sobrenaturais: Os Anjos, as almas dos Santos, o Céu.

Será que Deus, sendo a pura Bondade, não nos permitiria en-trar em contato com essas suas tão excelentes criaturas? Se o convívio com uma pessoa má pode fazer mal a alguém, Deus, que só quer o nos-so bem, não permitiria que, de algum modo, nós convivêssemos com os que já estão na glória celeste para nos fazer bem? É claro que sim.

E como conviver com eles? Através da oração. Essa oração, como já lhe disse, poderá ser vocal ou mental. Será vocal quando você pedir a intercessão de um santo em favor de alguma intenção que você tenha.

Será oração mental quando você ler e refletir alguma coisa sobre a vida desse santo, procurando admirá-lo e imitá-lo, ou mesmo procurar “conversar” com ele, utilizando a sua imaginação ajudada pela graça para, desse modo, elevar seu espírito até Deus, ainda que por in-termédio de um de seus Santos ou Anjos.

Parece-lhe difícil, meu filho? Mas não é isso que você já vem fazendo nesses dias todos em que está “conversando” com sua Mãe? Você já vinha tendo o “convívio no isolamento” e não sabia!

O isolamento pode lhe propiciar um convívio ainda mais alto. O auge dele é o convívio com o próprio Jesus, com Deus.

O modo de conviver com Ele, você já sabe, é a oração. Entre-tanto, de tal maneira Ele é infinitamente superior a nós que poderíamos

43 Credo ou Símbolo Niceno-Constantinopolitano.

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sofrer a tentação de sentir uma certa timidez ou insegurança ao dirigir-nos a Ele. Seria um defeito consentir nessa tentação, pois nós sabemos que Ele é nosso Pai e nos ama infinitamente.

Entretanto, para nos convencer disso, Ele quis tomar a inicia-tiva de aproximar-Se de nós. E aproximar-Se fisicamente, realmente. Como? Você também já sabe: na Sagrada Eucaristia.

De modo que, em qualquer lugar onde esteja a Hóstia Consa-grada, lá está Jesus à sua espera, para conviver com você. Mais. Para ser recebido em Comunhão por você, para uni-lo a Ele, para santificá-lo.

Não se preocupe, meu filho, se suas condições de saúde ainda não permitem que você possa ir até Jesus Sacramentado todos os dias. Ele o ama tanto, mas tanto, que Ele mesmo virá até você. E virá para você recebê-Lo na Sagrada Comunhão. Mais ainda, isso poderá aconte-cer mesmo que ninguém traga a Eucaristia até você.

Quer saber como? Vou lhe ensinar, meu filho. Isto se chama a Comunhão Espiritual. Um dos maiores tesouros que a misericórdia de Deus nos concedeu.

Você sabe no que consiste a Comunhão Espiritual? É a coisa mais simples do mundo. Consiste num ardente desejo de receber a Jesus na Eucaristia.

Se você crê firmemente na Presença Real de Jesus na Eucaris-tia, e deseja recebê-Lo na Sagrada Comunhão, neste mesmo momento em que você formula o desejo, Ele vem a você espiritualmente, e lhe inunda de graças - dependendo das disposições de sua alma - de modo tão abundante, que você pode até receber mais graças numa Comunhão Espiritual do que numa Comunhão Sacramental, que é aquela em que você O recebe na Hóstia Consagrada.

Basta, portanto, desejar. Naturalmente, como na Comunhão Sacramental, é preciso estar preparado, porque esse desejo exige que não se tenha nenhum pecado grave na consciência, ou ao menos que se faça um ato de contrição perfeita (aquele em que a pessoa se arrepende de suas faltas por puro amor de Deus), pois de nada aproveitaria receber a Jesus espiritualmente estando em pecado mortal; seria mesmo uma irreverência, embora não um sacrilégio.

Não há nenhuma oração especial para este tipo de comunhão. Basta um ato interior, ainda que curto, pelo qual se manifesta a Jesus o

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desejo de recebê-Lo na Eucaristia. É conveniente que este ato inclua três outros distintos: Um ato

de fé, pelo qual renovamos nossa convicção na Presença Real de Cristo na Eucaristia; um ato de desejo de recebê-Lo na Hóstia Consagrada; e uma petição fervorosa, suplicando ao Senhor que venha e que nos con-ceda sua graça divina.

Enquanto a Comunhão Sacramental normalmente só pode ser feita numa igreja, estando em jejum, etc, a Comunhão Espiritual pode ser feita a qualquer hora, em qualquer lugar, sem necessidade de jejum, até mesmo durante uma refeição, e quantas vezes se desejar. Quantos filhos e filhas meus, que hoje são santos no Céu, passaram a vida co-mungando espiritualmente. Houve santos que o faziam até centenas de vezes ao dia, com fruto extraordinário para suas almas.

E porque você também não o faz, meu filho? Porque você não é santo? Então você acha que só os que já são santos podem vir a ser santos? Claro que não. Jesus veio para salvar os pecadores. E se você quer ser santo, procure conviver com Ele o máximo que possa. Apro-veite esse isolamento que a doença lhe impõe e procure estar com Ele tantas vezes quanto lhe seja possível ao longo do dia e da noite.

Você não sabe o que Lhe dizer? Não se preocupe. Façamos o seguinte: antes de você recebê-Lo na Comunhão Espiritual, e mesmo na Comunhão Sacramental, peça à sua Mãe que venha do Céu para ajudá-lo a receber Jesus. Eu virei com toda a alegria. Basta você se unir aos atos de adoração, louvor, reparação, ação de graças e aos pedidos que Eu farei a Ele por você.

Quer experimentar fazer uma Comunhão Espiritual agora? Então reze assim: “Minha Mãe, uno-me a Vós e peço-Vos que venhais Vós mesma receber ao vosso Divino Filho”.

“Ó meu Jesus, eu me arrependo de todos os meus pecados por puro amor a Vós, por serdes Vós quem sois, infinitamente bom e digno de ser amado. Proponho firmemente, com a vossa graça, mudar de vida e nunca mais pecar. Espero alcançar o perdão dos meus pecados por vossa infinita misericórdia e pela intercessão de vossa Mãe Santíssima. Amém”.

“Ó meu Jesus, meu Senhor e meu Deus, creio com firmeza que estais verdadeiramente presente na Hóstia Consagrada. Desejo ar-

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dentemente receber-Vos na Sagrada Comunhão. E como não posso nes-te momento receber-Vos na Eucaristia, peço-Vos que venhais ao menos espiritualmente à minha alma. Inundai-me de graças e bênçãos, Senhor. Uno-me aos atos de culto santíssimos que Nossa Senhora Vos faz por mim neste momento, para dessa forma Vos adorar, Vos oferecer toda reparação, louvor e ação de graças que mereceis, e Vos fazer todos os pedidos que devo, especialmente (peça aqui o que mais precisa neste momento). Agradeço-Vos, meu Deus, de todo coração por terdes vindo. E Vos peço que façais em mim vossa morada para sempre. E que eu corresponda sempre a todas as vossas graças, conheça e faça sempre a vossa vontade, progrida sempre mais no amor e na união convosco”.

“Vós, Jesus, que sois meu Deus, Vos destes todo a mim, que sou um miserável pecador. Quero também dar-me inteiramente a Vós. Mas como me vejo tão indigno de apresentar-me em vossa presença, consagro-me todo a Vós, ó meu Jesus, por intermédio de Maria Santís-sima, minha Mãe e Senhora. Por meio d’Ela Vos suplico a graça de vi-ver e morrer em união cada vez maior conVosco. Permanecei em mim, ó meu Jesus, amém!”

Pronto, meu filho, você fez hoje sua primeira Comunhão Es-piritual. Se quiser, pode continuá-la. Jesus está sempre à sua espera. Alegre-se, filho. Nunca mais pense que você está sozinho! Sua Mãe Se vai agora, mas Se vai ficando. Fique você também com Jesus e comigo. Até amanhã, se Deus quiser.

Nossa Senhora doPerpétuo Socorro

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Décima-terceira visita: O inimigo

Filhinho, como vai? Vamos conversar mais um pouco agora? Talvez você ainda se sinta um tanto indisposto. Mas, se você preferir, conversamos um pouquinho agora, enquanto vou rezando para que você se sinta melhor.

Você sabe, filho, às vezes acontece com a gente coisas para as quais não há explicação aparente. Às vezes, mesmo estando com a me-lhor saúde, a gente acorda meio diferente de manhã. Não sente nenhu-ma dor, nenhum mal estar, mas também não se sente bem. Parece que a gente está meio fora do lugar, meio desencaixado de si mesmo. Até a noite passada, tudo estava tão bem; agora, algo parece que range...

Então a pessoa sente uma dificuldade maior para praticar o bem, e uma propensão para fazer o que é mau que chega a assustar. Muitas vezes, apesar dos protestos da consciência, a vontade se entrega à sensibilidade, consente no que sabe ser errado, e se deixa rolar pelo lodaçal do pecado.

Esse tipo de coisa, meu filho, faz parte da herança recebida de Adão. Devido ao pecado original, a desordem instalou-se na natureza humana, e é por causa dela que nos sobrevêm todos os males.

Mas essa desordem primeira não é a única fonte dos padeci-mentos. Como você sabe, não existe efeito sem causa, e todo efeito é proporcionado à sua causa. Ora, às vezes a gente vê acontecer coisas tão pavorosas, tão horrendas - filhos que assassinam seus pais, pais que matam filhos, traições, massacres - que a gente chega a duvidar que a natureza humana, por mais decaída que esteja, seja por si só capaz delas.

74 Visitas de Nossa Senhora

Acontece que essa maldade, que por vezes nos enche de pavor, é movida ou provocada não apenas pela natureza humana, mas também por criaturas pertencentes a um outro gênero. São criaturas angélicas, puros espíritos, com uma natureza realmente muito superior à dos ho-mens. Mas são anjos que decaíram de seu primeiro esplendor, porque se revoltaram contra Deus, e por isso se tornaram demônios, dos quais tanto a Bíblia fala.

Você já tinha ouvido falar disso, meu filho? Ainda não? Pois vou lhe contar como aconteceu. No princípio, Deus criou o Céu e a Terra, e criou todos os demais seres materiais do reino animal, vege-tal e mineral que todos podemos ver. Mas Ele criou também um reino superior, invisível aos olhos puramente humanos, composto de seres espirituais, que são os Anjos.

Assim como Deus tem um plano para nós, Ele tinha um seme-lhante para os Anjos. Deus também desejava elevá-los e fazê-los parti-cipar da sua eterna bem-aventurança. Para que eles pudessem merecer isso, Deus os criou em estado de prova, ou seja, podendo fazer livre uso de sua vontade para escolher entre o bem e o mal.

Entretanto, alguns deles, chefiados por lúcifer, escolheram o mal, e se revoltaram contra Deus. De anjo de luz que era, ele se trans-formou num ser tão hediondo, que a Bíblia o chama de dragão.

Mas a favor de Deus levantou-se outro Anjo, São Miguel, cujo nome quer dizer “quem é como Deus?”. Liderando os Anjos fiéis, ele combateu o demônio e seus sequazes e os expulsou do Céu. Ouça um pouquinho como a Bíblia conta o que aconteceu:

“E houve no Céu uma grande batalha: Miguel e os seus Anjos pelejavam contra o dragão, e o dragão com os seus anjos pelejavam contra ele; porém estes não prevaleceram, e o seu lugar não se achou mais no Céu. E foi precipitado aquele grande dragão, aquela antiga serpente, que se chama o demônio e satanás, que seduz todo o mundo; e foi precipitado na Terra, e foram precipitados como ele os seus an-jos. E ouvi uma grande voz no Céu que dizia: Agora foi estabelecida a salvação, e a força, e o Reino do nosso Deus, e o poder do seu Cristo; porque foi precipitado (do Céu) o acusador de nossos irmãos, que os acusava de dia e de noite diante de nosso Deus. E eles venceram-nos pelo (mérito do) Sangue do Cordeiro, e pela palavra do seu testemunho,

Visitas de Nossa Senhora 75

e desprezaram as suas vidas, até morrer (por Cristo). Por isso, ó Céus, alegrai-vos, e vós os que habitais neles. Ai da terra e do mar, porque o demônio desceu a vós com grande ira, sabendo que lhe resta pouco tempo (para perder as almas)”44.

Pode ser que alguns trechos sejam difíceis de entender, filho, mas, no total, uma coisa fica bem clara: “Ai da terra e do mar, porque o demônio desceu a vós com grande ira”. Ou seja, temos aqui um adver-sário terrível, com forças maiores do que as humanas, e que nos odeia completamente.

É preciso lembrar, antes de tudo, que esse poder e esse ódio não são nada em face do poder e do amor de Nosso Senhor Jesus Cris-to. Unidos a Ele, nada, absolutamente nada temos a temer, meu filho! Nessa união, a vitória é nossa, e essa certeza da vitória é nossa maior alegria.

Entretanto, entretanto... sendo uma criatura inteligentíssima e toda cheia de maldade, o demônio procura continuamente inventar ardis para nos perder, para evitar que cumpramos o plano que Deus tem para nós, devido ao ódio que ele tem a Deus.

Do mesmo modo que um ladrão, para roubar, procura primei-ro enganar sua vítima, escondendo as suas intenções, o demônio, para tentar-nos, procura antes de mais nada, fazer com que não percebamos que ele está nos tentando.

Por exemplo, meu filho, não terá acontecido algumas vezes com você, enquanto lia ou “conversava” com sua Mãe nos dias anterio-res, uma sensação meio estranha, de que aquilo que você estava lendo era, sem dúvida, interessante, mas que parecia ser algo meio sem con-sistência, difícil de “pegar com a mão”, medir e pesar?

Ou que, no total, eram coisas muito bonitas, mas, na vida con-creta, muito difíceis de praticar e, portanto, às quais não valeria a pena se esforçar muito para dar atenção. Que depois, depois, quando você se sentisse melhor, poderia voltar a ler esse livro e, quem sabe, até refletir um pouquinho, mas que agora o importante era “não esquentar a cabe-ça”...

Aconteceu algo parecido, meu filho? Pois bem, fique sabendo que era uma tentação, e que as tentações são assim: ladinas, insinuantes,

44 Apoc 12, 7-12.

76 Visitas de Nossa Senhora

finórias. Dificilmente o demônio propõe diretamente: “Vá assaltar um banco!” Em geral ele começa sussurrando: “Porque não pegar aquela balinha que está sobrando ali na doçaria?”... E de balinha em balinha, chega aos bancos, aos seqüestros, aos assassinatos.

Diante desse adversário, como reagir? O que fazer?Mais ou menos como se faz com um ladrão, meu filho. A pri-

meira coisa a fazer é gritar, interiormente: “Pega ladrão!” Ou seja, de-nunciar para si mesmo a tentação covarde que o demônio está insinuan-do na sua alma, tomar consciência dela.

Para isso, é preciso estar vigilante. Você não lembra o que meu divino Filho ensinou a respeito das tentações? Ele disse: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação”45. É preciso, portanto, antes de tudo, vigiar. E, como bom vigia, percebendo o ladrão que se aproxima, bradar: “Pega ladrão!”

E vigiar importa, sobretudo, numa coisa muito importante: evitar diligentemente as ocasiões próximas de cometer pecado. Porque não basta reagir, é preciso também prevenir, uma vez que o demônio, por pior que seja, não pode nada sem nossa colaboração.

Assim como a gente evita os lugares perigosos, onde pode ser assaltado, assim a gente deve tomar sempre muito cuidado em não se meter nas ocasiões que facilitam o pecado.

Porque quem não evita as pessoas, os lugares, as coisas que levam ao pecado, já pecou em seu coração. E você sabe, meu filho, quanto o mundo de hoje oferece ocasião de pecado: as diversões, os meios de comunicação, especialmente o rádio, a televisão, a internet, as modas, os ambientes, as más companhias... Quanta coisa má há em nossos dias para tentar nos levar ao pecado.

A Igreja chama isto de “ocasião próxima de pecado”. Tais ocasiões são aquelas em que a pessoa sabe que, caso se exponha ou se meta nelas, acabará ofendendo a Deus. E por isso, nossa Mãe a Igreja nos ensina a procurar prever e evitar toda ocasião próxima de pecado, e fugir delas quando apareçam de surpresa, para nunca ofender nosso Pai tão cheio de amor por nós.

Mas, como as meras forças humanas não são suficientes para combater esse terrível “ladrão” das almas, é necessário também rezar, e

45 Mc 14, 38.

Visitas de Nossa Senhora 77

rezar continuamente: “Importa orar sempre, e não deixar de o fazer”46.Oração vocal, oração mental, meditação nos ensinamentos de

Jesus, exame de consciência, Sacramentos: estas são as armas invencí-veis que meu divino Filho põe à sua disposição para você poder vigiar e combater as tentações. Com elas, aquele “grande dragão” fica reduzido a menos que uma formiguinha.

Desse modo, você conseguirá evitar não somente o pecado, mas todas as ocasiões que levam ao pecado. Aprenderá a examinar tudo, a só escolher o que é bom, e evitar até o que tem aparência de mal47.

Falta lhe dizer mais algo sobre a atitude psicológica que importa tomar face às tentações. Imagine um vigia naquelas fortale-zas antigas. De noite, na neblina, todos dormindo e só ele acordado. Se ele ficar nervoso e se deixar tomar pelo pânico, o que acontecerá? Será um bom vigilante? Ou acabará, à força do esgotamento men-tal em que ficará, prejudicando a sua objetividade e capacidade de reação?

Agora, um sentinela calmo, tranqüilo, desperto e seguro por-que sabe que pode contar com a proteção de Deus, não será muito mais eficaz? Não saberá evitar todas as ocasiões de perigo antes mesmo que elas apareçam? Não saberá reagir prontamente, e na proporção adequa-da, cada vez que o perigo se aproximar?

Assim também devemos ser nós, meu filho. Como em tudo o mais, para o combate espiritual é necessário, além desses recursos de que sua Mãe lhe falou há pouco, que aquela hierarquia das potências de sua alma, de que também já lhe falei, esteja em ordem.

Ou seja, é preciso que sua inteligência, orientada pela Fé, do-mine a sua vontade, e esta governe a sua sensibilidade (imaginações, memória, afetos, paixões, etc). Como a sensibilidade é nosso lado mais fraco, é sobre ela que o demônio, inimigo covarde, costuma mais fre-qüentemente atacar. Ora exacerbando-a, desordenando nossos instintos e paixões, ora adormecendo-a, tornando-nos frios ou indiferentes para as coisas de Deus.

Nessas horas, é preciso não se deixar impressionar. Como bom sentinela, não será o frio, o isolamento ou a escuridão que nos farão bai-

46 Lc 18, 1.47 Cfr. 1 Tess 5, 21-22.

78 Visitas de Nossa Senhora

xar a guarda. Com a graça de Deus, é preciso saber resistir aos apelos da sensibilidade instigada pelas tentações, fazendo sempre e exatamente o contrário do que elas nos pedem.

Tentação de frieza, desânimo? Reaja com redobrado fervor nas orações, meditações, leituras. Tentações de desgoverno das pai-xões? Reaja com calma, recolhimento, desvio imediato da atenção para outros assuntos, procurando ocupar-se em trabalhos ou conversas que restituam a paz. E sempre, oração, muita oração.

Quando a pessoa está recomeçando sua vida espiritual, as ten-tações procuram fazer recair nos antigos vícios e pecados, ou lançá-la no desânimo, achando que não vai conseguir vencê-los. Mais tarde, poderão vir tentações de escrúpulos48, que não serão senão tentativas do demônio de desviar sua atenção de Deus para você mesmo. É por isso que Jesus nos adverte que o demônio é o “pai da mentira”49, pois todas as tentações não passam de mentiras com as quais ele tenta nos enganar.

Mas não se preocupe, filho. Para cada dia basta o seu cuida-do50. O importante é você saber que para tudo, absolutamente tudo, meu divino Filho tem um remédio eficaz. E que Ele permite essas tentações todas exclusivamente para o seu bem: “Deus é fiel: não permitirá que sejais tentados além do que podem as vossas forças, antes fará que tireis ainda vantagens da mesma tentação, para a poderdes suportar”51.

Jesus faz como o professor que submete o aluno aos exames, para fazê-lo estudar e aprender. Se o aluno não passasse pelas provas, nunca estaria preparado para a vida. Se a pessoa não passa pelas tenta-ções, reagindo como deve reagir, nunca estaria preparado para a eter-nidade.

Você vê, meu filho, como até as tentações podem trazer be-nefícios? Quando a gente se põe nas mãos de Deus, não há o que não possa beneficiar-nos.

48 Escrúpulo é um receio, dúvida ou preocupação excessiva de ter ofendido a Deus, provocada por motivos fúteis e pelo egoísmo. Exemplo: A pessoa comete uma pequena falta de impaciência e fica pensando que cometeu um pecado mortal. Difere da consciência delicada porque esta teme ofender a Deus por puro amor a Ele, e não por egocentrismo.

49 Jo 8, 44.50 Cfr. Mt 6, 34.51 1 Cor 10, 13.

Visitas de Nossa Senhora 79

O importante agora é você procurar aproveitar a melhora es-piritual que está tendo, e deixar-se inundar por essa noção maravilhosa do quanto Jesus o ama, do quanto Ele lhe quer bem e faz tudo para a sua Salvação. Essa convicção é o melhor remédio para todas as suas enfermidades.

Peça ardorosamente a Deus, e Eu pedirei junto com você, que Ele lhe dê um desejo fervoroso e cada vez maior de que Jesus venha à sua alma, e nela faça sua morada. Porque Ele só vem a nós na medida e na proporção em que O desejamos.

Que essa medida seja “sem medidas” para você, meu filho, é o que ficarei aqui pedindo a Jesus. Até amanhã, fique com Deus e com a sua bênção.

Nossa SenhoraSede da Sabedoria

Visitas de Nossa Senhora 81

Décima-quarta visita: Tranqüilidade da ordem

Como vai, meu filho? Sua Mãe está aqui para visitá-lo outra vez. Já está se sentido melhor? Aconteça o que acontecer, o importante é você ter a convicção de que tudo pelo que você está passando é para o seu bem.

Ainda que agora você não entenda, e possa até ser tentado de incompreensão para com Deus, tenha essa certeza e procure ser grato a Deus. Porque ainda que seja só na outra vida, um dia você compreen-derá.

Veja, por exemplo, esse sofrimento pelo qual você está pas-sando agora. Quando começou, é bem possível que você tenha ima-ginado que não seria nada de grave, que era apenas uma indisposição passageira ou coisa parecida. À medida que você foi percebendo a se-riedade da situação, pode ser que você tenha começado por ficar um pouco confuso e perplexo:

“Mas como é? E esse problema agora? Justo agora, quando eu estava com tal plano, com tal projeto, com tal ambição? Será que vai demorar muito para se resolver? Será que é alguma coisa mais grave?” E talvez, meu filho, talvez você tenha sofrido mais por essa “torcida” do que pela dificuldade em si.

Depois que o problema ou a doença estava instalada, você pode ter passado por duas outras atitudes, ou mesmo primeiro por uma, depois por outra: revolta e desânimo.

“Mas logo comigo! Porque é que tinha de acontecer uma coi-sa dessas comigo? O que foi que eu fiz para merecer isso?”... Ou então, depois: “É... não tem jeito mesmo, não adianta nem tentar reagir... Ago-

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ra, é só esperar para ver no que é que vai dar...”Enquanto você se deixava levar por essas impressões, meu fi-

lho, sobretudo uma coisa lhe faltava na alma: a paz. E faltava porquê? Porque você estava se pondo a si mesmo no centro de suas preocupa-ções.

Vou lhe explicar isso melhor. Como você já sabe, filho, a paz é a tranqüilidade da ordem. Ora, a ordem verdadeira na Criação é que o Criador seja o centro de tudo: Das nossas atenções, do nosso amor, dos nossos pensamentos, atividades, repousos, etc.

Na medida em que nos afastamos dessa ordem, isto é, na me-dida em que nos colocamos a nós mesmos no centro dos acontecimen-tos, nessa mesma medida vamos perdendo a paz interior. Porquê? Preci-samente porque “quebramos” em nós essa ordem existente no universo, tirando Deus do centro, e colocando-nos a nós nele.

Deus, como Pai carinhoso, permite, então, que a gente sofra, porque todo sofrimento é um sinal de alerta de que alguma coisa não está indo bem.

E o que é que não estava indo bem? É justamente que a gente estava, pouco a pouco, se afastando da finalidade para a qual Deus nos criou. Essa finalidade, você também já sabe, é conhecê-Lo, amá-Lo e servi-Lo e, desse modo, participar do plano de Deus para você.

Lembra? Aquele plano sublime de fazer você participar da própria vida divina, já nesta vida, por meio da graça, e depois na glória celeste, por toda a eternidade.

Nessa altura de nossa conversa, talvez lhe passe pela cabeça, meu filho, uma objeção. E você poderia me perguntar: “Se isto é assim tão claro e tão bom como a Senhora está me mostrando, como explicar que as pessoas, em sua grande maioria, não só não procurem seguir esse caminho como até se afastem dele?”

É que o homem, em decorrência do pecado original, além das tentações do demônio, freqüentemente acaba trocando o que é um sim-ples meio pelo que é o verdadeiro fim.

Vou lhe dar um exemplo com a gula. Você já deve ter notado que há pessoas que comem demais, a ponto de prejudicarem sua saúde. Ora, a alimentação é apenas um meio para atingir um fim, que é a con-servação da vida. O que acontece quando se troca o meio pelo fim, e o

Visitas de Nossa Senhora 83

prazer da alimentação se transforma num fim em si mesmo? A pessoa arruína a saúde e acaba não atingindo o fim verdadeiro, que é a conser-vação da vida. Ou seja, come demais, aumenta as taxas de colesterol, glicose, triglicérides, adoece e pode acabar morrendo por conta disso.

O mesmo acontece, meu filho, com todos os demais vícios. É por essa razão que quanto mais a pessoa se entrega à busca desorde-nada dos prazeres, seja por meio das drogas, da impureza, ou de qual-quer outro pecado, tanto mais a pessoa se sente frustrada e desiludida. Decepção tão grande que, muitas vezes, acaba conduzindo ao pecado horroroso do suicídio, que é o “passaporte” mais garantido para a con-denação e o sofrimento eterno.

E você sabe porque isso acontece, meu filho? Porque não há nada nesse mundo que possa satisfazer ao homem. Temos um “instinto do absoluto” que nos faz procurar um Bem absoluto, uma felicidade eterna e absoluta, a qual somente em Deus podemos encontrar.

E, por incrível que pareça, é atrás dessa felicidade que correm todos os egoístas, alcoólatras, viciados em drogas, devassos, adúlteros e criminosos. Correm à toda velocidade, só que na direção oposta à que conduz à verdadeira felicidade, que só se encontra em Deus.

Quem procura uma satisfação absoluta em seres que não são absolutos, só pode encontrar uma tremenda decepção. Decepção esta que aumenta ainda mais o desejo desordenado da satisfação absoluta, estabelecendo assim um círculo vicioso que conduz ao desastre.

E veja só, meu filho, que coisa curiosa: agora, nesse momento, você está com a alma aberta para todas essas verdades, e, mais do que nunca, está desejoso de saber o que é preciso fazer para progredir na estrada luminosa que lhe levará até Deus.

Mas, Eu lhe pergunto, se não fosse esse sofrimento, essa en-fermidade, será que você estaria tão aberto e tão interessado assim? Será que você estaria com esse desejo ardente de começar de novo na sua vida espiritual, que lhe enche de tanta paz e alegria?

Não é bem verdade que Deus, permitindo que você sofresse, lhe fez um benefício muito maior do que você imaginava? Entretanto, meu filho, Ele quer lhe fazer benefícios ainda muito maiores.

Por exemplo, Ele quer que sua Mãe lhe ensine como progre-dir na estrada real que lhe conduzirá até Deus. Esse ensinamento é um

84 Visitas de Nossa Senhora

tesouro - infelizmente desconhecido de muitos - que Ele legou à sua Santa Igreja Católica, e que ela tem ministrado ao longo dos tempos a incontáveis de seus filhos. Aqueles que se aproveitaram bem deles chegaram até o fim do caminho, e hoje estão no Céu, junto de Deus. São os santos.

Você também quer chegar lá, meu filho? Se esses homens e mulheres, trilhando essa estrada sagrada, puderam chegar à santidade, porque você, com a graça de Deus, também não poderá chegar?

Amanhã, se Deus quiser, podemos conversar um pouco mais sobre isso. Agora, sua Mãe Se despede de você. Porém, se precisar, pode Me chamar. E você já sabe como Me chamar: rezando. Fique com Deus, meu filho, e com sua bênção.

Visitas de Nossa Senhora 85

Décima-quinta visita: Aprendendo o caminho

Como vai, meu filho? Você está bem descansado? Sua Mãe está aqui para fazer-lhe companhia e ter a alegria de conversar com você.

Como Eu gostaria que você pudesse ver o contentamento que tenho quando você eleva o seu coração até Deus, pensa n’Ele, volta seus afetos para Ele!

Um dia você verá, meu filho. Naquele dia bendito em que você entrar no Céu, você verá no rosto radiante de sua Mãe toda a alegria que você Me deu quando amou a Deus.

E por falar em alegria radiante, sua Mãe hoje quer lhe falar de algo que lhe dará também muita felicidade.

Você já notou, filho, a diferença que há na fisionomia de uma pessoa que anda sem saber direito para onde vai, se comparada com a de quem sabe onde quer chegar?

Imagine um viajante que não sabe o caminho para chegar numa cidade. Ele vai inseguro, ansioso, às vezes mesmo tristonho e aflito por desconfiar que está perdendo tempo. Já o que conhece o caminho, vai rápido, decidido, alegre. Nem mede as dificuldades do caminho, de tal maneira está tomado pelas alegrias da chegada, que antevê.

Mas se uma alma caridosa chegasse perto do primeiro viajan-te, o que não sabe o caminho, e lhe ensinasse direitinho, primeiro para onde ele deve ir, depois, como chegar lá, ele não se alegraria também?

É para isso que sua Mãe está aqui hoje, meu filho. Para nós vermos juntos e com clareza para onde devemos ir, e qual o caminho seguro que devemos tomar para atingir nosso objetivo.

86 Visitas de Nossa Senhora

E sabe, filho? Esse caminho tem uma característica curiosa.Enquanto todas as viagens dessa vida começam com mais fa-

cilidade, porque se está mais descansado, nesse caminho que leva até Deus a gente começa às vezes com certa dificuldade. Mas à medida que vai andando, nota que os passos vão ficando maiores, que a velocidade vai aumentando, que as distâncias vão sendo transpostas com facilidade cada vez maior.

Muitas vezes a gente se dá conta de que está voando, filho, rumo a Deus Nosso Senhor, de tal maneira são fortes e eficazes as aju-das que Ele nos dá. Ânimo, portanto, meu filho, coragem e alegria, porque Ele já o está ajudando possantemente.

Em primeiro lugar, vamos procurar tornar bem clara nossa meta, ou seja, “onde” queremos chegar.

Nosso objetivo não é outro senão o próprio Deus. Como Ele é puro Espírito, nós não precisamos ir a um lugar físico para encontrá-Lo. Pelo contrário, Ele é Quem virá até nós, e falamos em “caminhada” até Ele apenas para facilitar a compreensão.

Mas para Ele vir até nós e fazer em nós a sua morada, nós precisamos estar preparados. Essa preparação consiste no quê? Em nos assemelharmos ao máximo com Ele.

Ou seja, meu filho, procurar se livrar de todos os pecados, de todos os vícios e maus hábitos que foram adquiridos na vida, e procurar se habituar às virtudes, à pratica do bem. Desse modo, nós nos unire-mos a Deus nessa vida e, depois, por toda a eternidade no Céu.

Agora que você já tem bem claro o objetivo que o próprio Deus traçou para você, vamos procurar ver claro o “caminho” para chegar até Ele, meu filho. Lembrando que sempre que falarmos em “caminho” ou “viagem” é apenas como modo de facilitar a compreensão.

Como você sabe, filho, toda viagem tem um começo. É pre-ciso dar um primeiro passo. Nesse caminho rumo a Deus, entretanto, o primeiro passo consiste numa coisa muito fácil: DESEJAR. É preciso apenas desejar pôr-se no caminho que leva até Ele, ou que nos dá as condições para recebê-Lo em nós.

Mais concretamente, desejar o quê? Desejar a perfeição, meu filho. Pois foi esta a meta maravilhosa que o próprio Jesus nos deu:

Visitas de Nossa Senhora 87

“Sede, pois, perfeitos como também vosso Pai celestial é perfeito”52.Essa meta é realmente tão alta que é possível que, depois de

uma certa perplexidade, chegue a lhe passar pela cabeça o seguinte: “Mas minha Mãe, será que isso é possível? Ser perfeito como o próprio Deus?”

Sabe quem lhe responde, meu filho? Jesus mesmo: “Aos ho-mens isto é impossível, mas a Deus tudo é possível”53.

Antes de tudo, é preciso lembrar que Jesus não nos pede nada que seja absolutamente impossível. O que Ele quer de nós é que se-jamos perfeitos na caridade, assim como o próprio Deus o é, mas na medida em que nós, meras criaturas, podemos ser.

Como podemos chegar lá? Da seguinte maneira: rezando, de-sejando, e procurando corresponder às graças, às ajudas que Ele mesmo dará para atingir este objetivo.

De maneira, meu filho, que você pode dizer que ganhou o dia de hoje. Porque você ficou sabendo com mais clareza a meta que o pró-prio Deus lhe deu, o caminho para chegar até ela e o modo de começá-lo.

E você viu como é fácil começar: basta desejar! E para dese-jar, rezar.

Agora, não se preocupe, meu filho, se você nota que seu de-sejo de perfeição ainda é pequeno, ou que ele não é tão ardente como você gostaria que fosse.

Comece a pedir esse desejo de perfeição em todas as suas ora-ções, filho, que você o receberá. Porque Nosso Senhor disse: “Pedi e recebereis”54. Se você pedir, receberá!

Sua Mãe já está pedindo junto com você. E embora sua Mãe se vá agora, continuará pedindo a Jesus que lhe dê um ardente e cres-cente desejo de perfeição.

Que seu Santo Anjo da Guarda o proteja ainda mais especial-mente hoje, meu filho. Fique com Deus e com sua Mãe querida. Deus o abençoe.

52 Mt 5, 48.53 Mt 19, 26.54 Jo 16, 24.

Nossa Senhorade Auteuil

Visitas de Nossa Senhora 89

Décima-sexta visita: As três vias sucessivas que nos

levam a Deus

Meu filho, como vai? Sua Mãe está muito contente de estar aqui com você de novo, para conversarmos um pouco. E sua Mãe está contente porque Deus também está contente com você. Porque Ele está vendo seu desejo de progredir, de unir-se a Ele.

É verdade que Ele conhece também os seus lados fracos, meu filho. Mas não se deixe impressionar por isso. Porque exatamente como Ele sabe que você é fraco, Ele o está ajudando com graças e forças extraordinárias.

A ajuda de Deus é suave, filho. É preciso prová-la, experimen-tá-la e vê-la, para compreendê-la bem. Porque Deus opera, às vezes, transformações prodigiosas na sua alma, mas com uma tal suavidade que você pode até nem se dar conta.

Com isso, você sai ganhando duas vezes: primeiro, porque melhora. Segundo, porque não atribui essa melhora a si mesmo, aos seus próprios esforços - o que seria uma cruel ingratidão - mas reconhe-ce que ela é devida à infinita misericórdia de Deus.

Sua Mãe está aqui hoje para conversarmos um pouco mais sobre essa “estrada” que nos leva até Deus, meu filho.

Como você já sabe, falamos de via ou caminho apenas por fa-cilidade de linguagem. Pois na realidade, trata-se da nossa cooperação com as ajudas que o próprio Deus nós dá para vir até nós.

Mas para simplificar, vamos imaginar essa nossa cooperação como uma “caminhada” por uma linda estrada.

Para entendê-la melhor, você pode dividi-la em três partes, mais ou menos como uma dessas avenidas grandes que muda de nome

90 Visitas de Nossa Senhora

apesar de continuar sendo a mesma.A primeira parte da estrada é uma das mais interessantes, por-

que ela nos oferece o desafio das primeiras dificuldades. Aquelas que, a gente vencendo, com a ajuda de Deus, acabam nos ajudando a progredir mais depressa.

Essa primeira parte é uma espécie de “caminho de volta” que a pessoa precisa percorrer para voltar para junto de Deus. Naturalmen-te, será tanto mais longa quanto maior a distância que a pessoa tomou ao se afastar de Deus.

À medida que a gente caminha nela, vai recuperando tudo que havia perdido pelos pecados, pelos vícios, e aprendendo a lutar e se fortificar contra eles.

Por isso ela pode ser chamada de “via purgativa”, porque nela a pessoa vai expurgando tudo de ruim que se tenha acumulado em sua alma com o passar do tempo.

Mas não se preocupe. Precisamente por haver dificuldades, essa primeira parte da estrada é ocasião de muitas consolações e graças sensíveis, concedidas pela misericórdia divina.

Quando a pessoa chega num ponto em que se vê livre dos pe-cados e dos vícios nos quais estava enredada, e começa a se sentir mais desimpedida para voar na prática das virtudes, ela começa a segunda parte da viagem.

Nesta, à medida que a pessoa vai se habituando a pensar na vida e nos exemplos de Jesus, e a procurar imitá-Lo, a alma vai sendo de tal maneira iluminada pela graça, que esta parte da estrada bem pode ser chamada de “via iluminativa”, meu filho.

Por fim virá a “via unitiva”, a continuação das “estradas” ante-riores, na qual você irá se unindo cada vez mais a Deus, Nosso Senhor, já nessa vida, para depois se unir a Ele definitivamente no Céu.

Você vê, meu filho, que estrada luminosa, que caminho ma-ravilhoso para chegar até Deus? É este caminho que você está trilhando junto com sua Mãe já desde o primeiro dia em que começamos a “con-versar”. E você já vai adiantado nele!

Não é mesmo outra coisa a gente saber para onde ir, como ir, e por onde ir para chegar até onde mais desejamos, que é a felicidade nesta vida e a glória eterna na outra?

Visitas de Nossa Senhora 91

Eu sei que tudo isso pode parecer, para você, uma novidade talvez meio desconcertante. Mas Deus é assim: a beleza sempre antiga e sempre nova, que nos encanta e enleva sempre mais, desde esta vida e por toda a eternidade.

É por isso que Ele mesmo, do Céu, vai nos ajudando tão cari-nhosamente a chegarmos até Ele. Para que Ele mesmo possa vir até nós e nos unirmos a Ele plenamente.

E é por isso que sua Mãe está aqui bem perto de você, para ca-minharmos juntos e até para levá-lo nos braços, se for necessário, como faz toda mãe que ama seu filhinho querido.

Talvez amanhã possamos continuar um pouco mais nossa “ca-minhada”, meu filho. Mas para isso é preciso estar bem descansado, não é verdade?

Portanto, descanse agora um pouco mais, enquanto sua Mãe “Se vai”, ficando espiritualmente aqui ao seu lado, procurando lhe ins-pirar bons pensamentos e fervorosas orações. Deus o abençoe. Até ama-nhã, se Deus quiser.

Nossa Senhorade Lourdes

Visitas de Nossa Senhora 93

Décima-sétima visita: O primeiro passo na caminhada

Filho querido de meu Coração, você parece mais animado hoje. Sua Mãe também está muito contente em vê-lo progredindo tan-to.

Você sabe? Às vezes, durante uma enfermidade, a gente passa por momentos de apreensão e de dúvida. E, por incrível que pareça, esses momentos podem fazer a gente sofrer mais do que a doença ou a provação real.

Mas se você tiver sempre presente o que diz o Espírito Santo através de São Paulo: “Todas as coisas concorrem para o bem dos que amam a Deus”55, e se você rezar pedindo essa convicção, Ele mesmo lhe dará uma paz interior que é capaz de resistir a todas as provações.

Com essa paz, meu filho, tudo fica mais fácil. Sem Ela, claro está, tudo mais difícil.

É por isso que o inimigo, o demônio, a primeira coisa que procura roubar-nos durante uma provação é a paz interior. Porque per-dendo-a, nós perdemos um de nossos principais aliados, ou seja, nós mesmos! Pois uma pessoa perturbada não é aliada de ninguém, nem sequer de si própria.

Se e quando isto lhe acontecer, reze, meu filho, como já lhe ensinei: “Rainha da Paz, rogai por nós”. Você verá como a paz lhe inun-dará a alma.

E já que estamos falando sobre a paz, vamos conversar tam-bém um pouco sobre algo que o ajudará a aumentá-la.

Você lembra de nossa conversa de ontem sobre a “estrada”

55 Rom 8, 28.

94 Visitas de Nossa Senhora

que estamos percorrendo para ir até Deus? Pois bem, a partir de hoje, sua Mãe quer lhe revelar alguns “segredos” sobre como facilitar a ca-minhada nessa estrada.

E hoje quero lhe falar um pouco mais sobre o que já conversa-mos ontem, isto é, sobre o primeiro passo da caminhada, que aliás você já deu. Esse passo, como você já sabe, chama-se desejo de perfeição.

A palavra “perfeição” pode, para algumas pessoas, causar uma certa estranheza. Muitas vezes ela está associada à idéia de uma coisa meio exagerada, meio maníaca. A gente até ouve falar: “Fulano tem mania de perfeição”. Será que perfeição é uma mania mesmo? O que quer dizer a palavra “perfeição”?

Vou lhe explicar, meu filho. Uma coisa é perfeita quando é completa e acabada, ou seja, quando atinge a finalidade para a qual foi criada. Ora, a finalidade do ser humano você já sabe qual é: conhecer, amar e servir a Deus, e, dessa maneira, unir-se a Ele nesta vida e na outra.

Ora, como Deus é puro amor56, só existe um modo de unir-se a Ele: amando. E por isso Jesus nos ensinou que a perfeição consiste, essencialmente, em amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, por amor de Deus.

Entretanto, por experiência própria, você já sabe que existe um grande obstáculo ao amor de Deus e do próximo que é o amor de-sordenado de si mesmo, o egoísmo.

É por esse motivo que a primeira etapa da caminhada até Deus chama-se via “purgativa”, porque nela a pessoa vai expurgando, remo-vendo todas as tendências más que o egoísmo e os outros pecados fo-ram depositando na alma, meu filho.

Nesse esforço, como em tudo na vida espiritual, Deus tem uma participação primordial, pois será Ele Quem lhe dará as forças necessárias, por meio da graça, para vencer. Mas você também terá um papel insubstituível, que será a sua cooperação, a sua correspondência à graça divina.

E é aqui que entra de cheio o desejo de perfeição. Porque quem ama, procura fazer tudo para agradar e assemelhar-se ao amado. Sendo Deus a própria Perfeição, sua caminhada até Ele será tanto mais

56 Cfr. 1 Jo 4, 8.

Visitas de Nossa Senhora 95

fácil quanto mais você amar e procurar praticar a perfeição em tudo na vida.

A perfeição é, portanto, facilitante. Nada facilita mais a gente praticar o bem do que procurar a perfeição! Você pode comparar com um atleta ou com um estudante: quanto mais ele se exercita ou estuda, mais tem facilidade para progredir.

Para conseguir isso, entretanto, é necessário rezar, e rezar mui-to, pedindo esse amor e esse desejo de perfeição. Pois Deus não rejeita um coração contrito e humilhado57, que reconhece sua própria falta de forças, mas que deseja, ardentemente e acima de tudo, unir-se a Ele.

Além disso, é preciso procurar conhecer a Deus cada vez mais, pois não se pode amar a Quem não se conhece. Lendo as Sagra-das Escrituras, estudando a Doutrina Católica, lendo bons livros de vida espiritual e de vidas de santos, admirando as pessoas virtuosas que você conhecer, você irá pouco a pouco aumentando seus conhecimentos so-bre Deus. Esses conhecimentos serão o combustível para a “fogueira” de amor sagrado que crescerá cada vez mais em sua alma.

Por outro lado, meu filho, você já sabe que existe o inimigo, e que ele tentará por todos os modos atrapalhar a sua caminhada rumo a Deus. Você sabe que ele é covarde, e que por isso procurará tirar provei-to dos seus lados fracos para derrubá-lo.

Por essa razão, você deve pedir especialmente, na oração, a graça do conhecimento de si mesmo, para saber quais são seus lados fracos, seus defeitos e misérias, e o modo de combatê-los e corrigi-los, com a graça de Deus.

Para isso, ajuda muito a gente fazer um exame da própria consciência todos os dias. No final desse livro, meu filho, você encon-trará um modelo de exame de consciência que poderá ajudar a fazê-lo enquanto não adquire prática nisso. Use-o à vontade. Ele poderá ser muito útil para você.

Amanhã, se Deus quiser, sua Mãe lhe falará mais um pouco sobre outros “segredos” que ajudarão o seu progresso na vida espiritual. Mais tarde, com calma, procure relembrar e meditar sobre o que temos conversado, porque quanto mais as idéias ficarem claras em sua mente, tanto mais rápido será o seu progresso.

57 Salmo 50, 19.

96 Visitas de Nossa Senhora

Sua Mãe continuará aqui bem perto de você, rezando e prote-gendo-o porque você é um filho querido do meu Coração. Que Deus o abençoe e o cubra de graças, meu filho.

Visitas de Nossa Senhora 97

Décima-oitava visita: Como avançar a largos passos

Então, meu filho, como você está? Sua Mãe está muito con-tente com você e com os progressos que você está fazendo tanto na saúde da alma quanto na do corpo.

Veja só como são as coisas, filho. Quando você poderia imagi-nar que seria justamente no período de sua vida em que você mais fica-ria imobilizado, seja numa cama, numa poltrona ou até numa cadeira de rodas, que você mais “caminharia”? E caminharia em direção ao maior Bem que se possa desejar, que é o próprio Deus!

Este é mais um dos benefícios que Deus quis lhe fazer, meu filho, permitindo esta provação pela qual você está passando.

Justamente quando você aparentemente mais estaria “perden-do tempo” por causa dessa enfermidade ou provação, Deus envia sua Mãe até você para conversarmos sobre o modo de melhor aproveitar esse tempo que Ele lhe dá, para não só “ganhar o tempo” mas, princi-palmente, a eternidade.

Porque tudo sobre o que nós estamos conversando resulta em aprender a aproveitar bem esse dom de Deus tão precioso que é o tem-po. Se soubermos aproveitá-lo, ele nos ajuda a subir ao Céu. Contudo, se o deixamos “fugir irreparavelmente”, como diz um ditado antigo, fogem com ele nossa felicidade nesta vida e na outra.

Por outro lado, meu filho, veja só quanto nós já progredi-mos na estrada que conduz à união com Deus. Quanta coisa nova você aprendeu, como esse aprendizado o ajudou a abrir os olhos, e sobretudo o coração, para conhecer e amar mais e melhor a Deus!

Sua Mãe veio hoje aqui para conversarmos mais um pouco

98 Visitas de Nossa Senhora

sobre isso. E para lhe falar mais especialmente sobre um recurso que vai lhe facilitar ainda mais sua caminhada rumo à união com Deus.

Mas para você entender melhor, filho, sua Mãe vai lhe lembrar uma história que você provavelmente ouviu contar quando era criança: a do Pequeno Polegar. Ele era um menino muito pequenino - lembra? - e tinha que atravessar grandes distâncias, para as quais as suas perninhas eram totalmente insuficientes.

O que ele fez? Conseguiu umas botas especiais chamadas “botas de sete léguas” que, uma vez calçadas, permitiam-lhe caminhar sete léguas a cada passo que dava...

Essa história fazia o encanto de algumas crianças que não eram muito amigas do esforço, não é verdade filho? Talvez elas pen-sassem em pedir aos pais para comprar-lhes um par de “botas de sete léguas” para assim chegarem logo ao colégio, às casas dos parentes, aos lugares que tinham de ir...

Pois bem, meu filho, Eu queria que você soubesse que, na vida espiritual, Deus, por sua infinita misericórdia e conhecendo a fraqueza dos homens, concedeu-nos algumas espécies de “botas de sete léguas” para nos facilitar a caminhada em direção a Ele.

E é sobre uma dessas “botas” que sua Mãe veio lhe falar hoje. Afinal, nós já vamos avançados na primeira parte da estrada, na “via purgativa”, não é verdade? E “purgar” não é uma das atividades mais fáceis de serem praticadas...

Mas justamente porque Deus é a Bondade infinita, Ele nos concede vários recursos que facilitam enormemente nossos esforços para nos unirmos a Ele. O recurso sobre o qual sua Mãe quer lhe falar hoje, meu filho, chama-se “admiração”.

Você lembra que o primeiro passo na estrada que nos leva a Deus é justamente o desejo de percorrê-la, o desejo de perfeição. Mas, na hora que a pessoa começa a caminhar, nota que suas forças e suas pernas são “pequenas” para os passos que precisam ser dados. Pois bem, filho, sabe o que pode ser comparado a um par de “botas de sete léguas” para nos ajudar na caminhada? Precisamente a admiração.

A admiração é uma atitude de alma pela qual a gente se vol-ta para algo que é superior a nós e... ad-mira. “Ad” quer dizer “para”, e “mira” quer dizer “olhar”. Admirar, portanto, significa “olhar para”.

Visitas de Nossa Senhora 99

Mas olhar com enlevo58, com alegria, com desejo de imitar, olhar, sobre-tudo, procurando ver os reflexos de Deus que existem naquela criatura sua. Criatura que Ele fez justamente para permitir-nos conhecê-Lo me-lhor, pois toda obra reflete o seu Autor, e conhecendo-O, procurarmos nos assemelharmos mais a Ele.

Sendo Deus infinito, seria impossível que apenas uma ou pou-cas criaturas conseguissem refleti-Lo. Por isso mesmo Ele criou uma quantidade incalculável de seres, os quais, de modo direto ou indireto, refletem algumas de suas infinitas perfeições.

Para refleti-Lo, portanto, essas criaturas precisam ser em gran-de número e desiguais, formando assim uma admirável hierarquia de seres, que, no seu conjunto, formam a ordem do universo.

E esses seres todos estão à nossa disposição, em todo tempo e lugar, para nos ajudarem a subir até Deus como por uma escada. Cada cria-tura é, por assim dizer, um degrau dessa escada que nos leva até Deus.

Para isso, meu filho, é preciso como que “pôr os óculos” da admiração e olhar para tudo com esse olhar enlevado que nos faz pro-curar os reflexos de Deus em suas criaturas, tanto em cada uma em par-ticular, quanto nos conjuntos que elas formam, quanto na ordem toda do universo.

Imagine, meu filho, que nós estamos agora numa estrada ra-diante de luz. Se você olhar para a esquerda, você verá montanhas reco-bertas de florestas. Algumas tão altas que seus picos são todos brancos da neve que repousa lá e que, depois, derrete escorrendo por regatos que vão se reunindo e formando formosos rios, que desembocam em belas cachoeiras. O encontro de suas águas com as rochas produz uma suave neblina, a qual, atravessada por raios de luz, forma arco-íris radiantes.

Imagine que, olhando à direita, você vê o mar. Este, ora se mostra plácido como um coração de mãe, ora bravio como o de um pai pronto para castigar. Suas ondas se chocam com os arrecifes com ele-gância e charme, às vezes com uma violência que parece fornecer asas às suas águas, tanto elas se elevam para um lado e para o outro.

Admire, filho, os reflexos do Sol nesse mar. Imagine-o na alvorada, dourando aquela imensidão líquida, transformando-a numa

58 “Enlevo” é uma palavra pouco usada hoje em dia e que significa: admiração, en-cantamento, entusiasmo.

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espécie de ouro liquefeito balançando ao sabor das ondas. Contemple, filho, o Sol do meio-dia causticando o oceano com a força de sua ener-gia luminosa. Imagine até que você conseguisse ver também o outro lado do continente, e pudesse admirar o Sol poente, mesclando sua cor âmbar com o azul profundo do mar.

Ouça, nessa estrada imaginária em que nos encontramos, as sinfonias melodiosas das “orquestras” dos pássaros, acompanhados pelo silvar dos ventos. Sinta o perfume das rosas, dos lírios, das viole-tas, da infinidade de odores harmoniosos que brota da riqueza vegetal das matas que ornam nossa estrada...

Meu filho, o que são todas essas coisas senão magníficos re-flexos de Deus?

Não é bem verdade que o mais insignificante pedregulho que rola num regato cristalino, como o mais rutilante rubi que faísca à luz do meio-dia, podem, como tudo o mais, nos levar até Deus?

Imagine assistir em nossa estrada uma cena na qual se pratica um ato de virtude. Uma pessoa caridosa que vê um pobre, aproxima-se, conversa com ele, dá-lhe uma esmola, recobre-o com seu próprio abrigo de frio, arranja-lhe um emprego e um lugar para morar...

Não é bem verdade que, desde que estejamos com os “ócu-los da admiração” colocados, nós poderemos ver os reflexos da infinita bondade de Deus brilhando na alma daquela pessoa caridosa? E que nós O poderemos ver na pessoa do mendigo sofredor cuja fisionomia se ilumina de gratidão, refletindo a infinita gratidão de Deus?

Quantas vezes Deus põe em nosso caminho - não o caminho imaginário que acabamos de percorrer, mas no nosso dia-a-dia concreto - pessoas, cenas, belezas, harmonias, maravilhas enfim, nas quais Ele se reflete de maneira evidente e misericordiosa, chamando-nos paternal-mente para nos elevarmos até Ele?

Se você mantiver esses “óculos” continuamente colocados, meu filho, você não deixará de ver os reflexos Deus em sua obra em nenhum momento. E caminhará com “passos de sete léguas” a cada passo que dê, no sentido de combater seus defeitos, suas fraquezas e misérias.

E, sobretudo, no sentido de procurar conhecer, amar e imitar os exemplos magníficos de virtude que Jesus nos ensinou e ensina con-tinuamente.

Visitas de Nossa Senhora 101

Claro está, meu filho, que nós ainda não estamos no Céu. E que nesta Terra de exílio, que a Igreja chama da “vale de lágrimas”59, muitas coisas lhe cairão nas vistas que, infelizmente, representam o contrário da vontade de Deus.

Muitas vezes você verá - até mesmo colocado diante de seus olhos pelo inimigo, pelo demônio, que procura lhe afastar de Deus - pessoas, coisas, cenas, objetos que tentam arrastar para a direção oposta a Deus.

Mesmo nessas ocasiões os “óculos” da admiração lhe serão de uma valia inestimável. Porque você perceberá com mais facilidade que aquilo não lhe serve para elevar-se até Deus. E você procurará afastar-se e tirar sua atenção daquilo, tratando de ocupá-la imediatamente com algo que seja “escada para Deus”.

Outras vezes você perceberá alguns seres que, dir-se-ia, re-presentam o contrário da beleza infinita de Deus. É o caso de um porco todo sujo de lama, de uma lesma ou de um sapo num charco, por exem-plo. Mas se você não tirar os “óculos” da admiração, você perceberá que Deus permite que eles existam para seu bem tanto material, quanto, sobretudo, espiritual.

Pois o porco na lama é bem o símbolo do pecador encha-furdado no pecado, e um sapo pode ser símbolo do apego às coisas passageiras dessa vida. Analisando esses símbolos negativos, podemos ver melhor quão rutilante é a pureza divina e sua infinita elevação espi-ritual, para falarmos só disso.

Para usar bem esses “óculos” ou “botas de sete léguas”, meu filho, é, entretanto, indispensável rezar. Pois, como você sabe, as meras forças humanas não são suficientes nem para vencer sozinho o inimigo, nem para manter-se nessa atitude admirativa que busca os reflexos de Deus na Criação.

Rezando, contudo, e pedindo sempre essas graças, essa atitude contemplativa irá se lhe tornando um hábito, você irá pouco a pouco se habituando a procurar a Deus, a procurar os seus reflexos maravilhosos em suas criaturas. E a evitar tudo aquilo que não lhe sirva para elevar-se até Deus.

Desse modo, meu filho, se a pessoa tem um vício, o da pregui-

59 Oração Salve Rainha.

102 Visitas de Nossa Senhora

ça por exemplo, ela poderá ir admirando a virtude oposta, a diligência, que está representada num pássaro que constrói o seu ninho ou numa simples formiguinha carregando seu pedaço de folha. Ou ainda com-parar linha reta que esta última percorre a passos rápidos com o rastro tortuoso e repugnante deixado por uma preguiçosa lesma.

Sobretudo se ela admirar a virtude da diligência praticada por uma pessoa que ela conhece, aos poucos ela irá se “impregnando” de diligência pelo bom exemplo da outra e, de admiração em admiração, acabará compreendendo que Deus é a diligência em Pessoa. Então ama-rá essa virtude que lhe é tão necessária e, desse modo, sentirá mais facilidade em combater sua preguiça, nas mil ocasiões em que ela se apresenta concretamente.

Assim, filho, a pessoa poderá ir “purgando” os seus defeitos com muito mais facilidade. Desde que não deixe de rezar, de rezar mui-to, para obter as graças que lhe são necessárias.

Conversamos muito hoje, meu filho, e Eu não quero vê-lo can-sado. Por isso fico por aqui. Mas fico muito alegre. Porque você hoje recebeu não apenas um “cajado” para ajudá-lo em sua caminhada rumo a Deus, mas um verdadeiro “par de asas”.

Com ele, com a admiração, você não apenas caminhará rumo à virtude, mas até será levado “nos braços” por Deus e por sua Mãe.

Admire, meu filho, admire muito tudo que merece ser admi-rado, ou seja, tudo aquilo que lhe eleva até Deus. Um dia chegará que você viverá nessa admiração eternamente, e sem mais intermediários, mas admirando e adorando a Deus face a face.

Descanse agora, meu filho. Sua Mãe continuará aqui com você até amanhã, quando voltarmos a conversar. Ou até o momento em que você queira Me chamar para uma nova conversa. Que Deus o abençoe.

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Décima-nona visita: Soluções para o obstáculo:

os Sacramentos

Bom dia, meu filho. Sua Mãe está aqui para ter a alegria de lhe fazer companhia e conversar um pouco mais com você. Como você sabe, a conversa é um dom que Deus concede às almas para elas pode-rem se relacionar entre si, ainda que de forma indireta, como estamos fazendo através desse livro. Mas os diálogos são como os rios: ainda que encontrem grandes pedras, as águas continuam fluindo, vão cavan-do a terra em torno dela, e continuam seu curso rumo ao mar, do mesmo modo que as conversas devem conduzir a Deus.

Aliás, em quase tudo nessa vida podemos encontrar obstáculos, inclusive e principalmente em nossa caminhada em direção a Deus. Se você quiser, podemos falar um pouco sobre isto hoje. Podemos falar, por exem-plo, sobre o obstáculo que dificulta essa caminhada e sobre as soluções que Ele mesmo deu para o problema. Como você verá, é um tema muito importante para sua felicidade, tanto nesta vida quanto na outra.

Sabe que obstáculo é esse, meu filho? É o pecado. A gente ouve muito falar dele, mas na hora de dizer o que ele é, muita gente não sabe explicar direito. Por isso, é importante que você fique sabendo um pouco mais sobre o assunto, e conheça melhor os meios que Deus nos deu para vencê-lo.

Como você sabe, meu filho, pecado é uma desobediência à vontade de Deus. Dependendo da sua gravidade, o pecado pode ser leve (venial) ou grave (mortal).

Ele é chamado venial, quando a matéria da desobediência é leve, ou quando, apesar da matéria ser grave, a pessoa não tem plena

104 Visitas de Nossa Senhora

advertência da gravidade do mal que vai cometer, ou não dá pleno con-sentimento da vontade.

Quando entretanto, a matéria é grave (por exemplo, o adulté-rio, a impureza, o roubo de valores consideráveis, o assassinato, etc), e a pessoa sabe, tem plena advertência de que o que vai fazer está errado, e além disso dá um pleno consentimento da vontade, então o pecado é grave, ou mortal. Chama-se mortal porque este tipo de pecado dá a morte à alma, tornando-a inimiga de Deus e merecedora do inferno por toda a eternidade.

Algumas pessoas dizem que não podem acreditar que Deus, sendo bom, deixe que as pessoas vão para o inferno. Mas a resposta para isto é muito simples. Deus criou os Anjos e os homens com a von-tade livre para escolher entre o bem e a ausência de bem, que é o mal. Se escolhem o mal, ficam incompatíveis com Deus, que é o sumo Bem, e não podem ficar junto d’Ele.

Ora, se Deus é a fonte da felicidade, quem se afasta d’Ele para sempre tem que cair na mais completa infelicidade. Você pode comparar com uma pessoa que resolve ficar longe do aquecedor e sem cobertores numa noite de inverno rigoroso: não tem como deixar de sentir frio.

É preciso ver bem de frente a realidade, meu filho. O inferno existe e é horrível. O sofrimento que existe lá é indescritível e não acaba mais. Por aqui você começa a ver qual é a seriedade do pecado. Pois uma coisa que tem como conseqüência a pior das infelicidades, não pode deixar de ser muito séria.

Mas o pecado tem uma gravidade ainda muito maior porque ele é uma ofensa escabrosa cometida contra Deus. Quem é Deus? Ele é um Ser boníssimo, perfeitíssimo, a Quem devemos tudo que temos e que somos. Como, portanto, revoltar-se contra Ele, desobedecê-Lo, ofendê-Lo?

E pior. Porque odiar a um Ser que nos ama tanto que chegou a ponto de encarnar-Se, sofrer toda uma vida de pobreza e humilhações, e até a morrer na Cruz por nós? Pode-se conceber uma ingratidão pior do que esta?

E que tragédias o pecado não trouxe para o mundo. Se não fosse o pecado original, as pessoas não morreriam, não ficariam do-

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entes, nunca sofreriam. Todas as criaturas materiais obedeceriam aos homens, como obedeciam a Adão no Paraíso. Não haveria perigo de ser atacado por uma fera ou infectado por uma bactéria. Nem de passar fome, frio, calor, sede ou qualquer outra infelicidade.

Acontece que a isto se somam as conseqüências dos pecados que cada um comete. Quantas tragédias devido aos crimes, às guerras, roubos, destruição de famílias e tudo o mais! Já pensou nisso, meu fi-lho?

Toda a felicidade que havia no Paraíso, e todo bem que pode-ria haver na Terra se perdem, portanto, pelo pecado. Pior ainda, ele rou-ba não só a felicidade nesta vida mas, sobretudo, a bem-aventurança da vida eterna no Céu. É por isso que se pode afirmar com toda segurança que o pecado é o maior mal que existe na face da Terra.

Mas veja como Deus é a própria Bondade.Vendo a situação tristíssima do homem depois do pecado, e

considerando que só um Ser divino poderia praticar a reparação neces-sária à ofensa cometida contra Ele, Deus decidiu que a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade Se encarnasse para então poder sofrer como homem, e dar, ao mesmo tempo, o mérito infinito a esse sofrimento reparador que ele precisava ter para reparar o pecado. E, por isso, o Ver-bo Se fez carne, e habitou entre nós60: Jesus veio ao mundo para nossa Redenção.

Ele veio e deu a solução para o grande problema do pecado. Na prática, sabe que solução é essa, filho? São os Sacramentos. Já con-versamos sobre eles em outras visitas anteriores, lembra-se?

Os Sacramentos são sinais sensíveis e eficazes da graça, ou seja, eles foram instituídos por Nosso Senhor Jesus Cristo para serem canais através dos quais nós recebemos a graça divina.

A graça, meu filho, é o maior tesouro que uma pessoa pode receber nessa vida. Porque ela é uma participação na própria vida de Deus. Nós, meras criaturas, podermos participar da vida incriada de Deus! Deus vir viver, morar em nós! Que maravilha impensável, meu filho.

É por isso que a graça nos dá a força de que precisamos para praticar o bem e evitar o mal. E, desse modo, aumentar ainda mais nos-

60 Jo 1, 14.

106 Visitas de Nossa Senhora

sa união com Deus e sua presença em nossas almas.É por isso também que, antes de tudo, a gente deve procurar

receber o Batismo, se ainda não é batizado, pois ele é o primeiro e o mais necessário dos Sacramentos. Sem tê-lo recebido, não podemos receber nenhum outro.

Se o Batismo nos introduz na vida da graça, os demais Sacra-mentos nos ajudam a recuperá-la, quando por infelicidade a perdermos, bem como a conservá-la e a aumentá-la em nós.

Como você já sabe, a pessoa recupera a graça, perdida pelo pecado, através do Sacramento da Reconciliação, a confissão. E a con-serva e aumenta por meio da Comunhão, recebendo a Jesus na Hóstia Consagrada.

Além disso, existem os outros Sacramentos. Temos a Confir-mação ou Crisma, no qual renovamos nossos compromissos com Deus assumidos no Batismo. Esta renovação é necessária porque muitas ve-zes as pessoas recebem o Batismo quando são criancinhas, e depois de crescidas devem querer assumi-los por si mesma, não é verdade? Ademais, na Confirmação, a pessoa recebe também os Dons do Espírito Santo, graças especialíssimas que a farão unir-se ainda muito mais com Deus.

Existem ainda o Sacramento da Ordem, para o homem cha-mado a ser Sacerdote, e o do Matrimônio, para abençoar as pessoas que vão se casar e fazer santas e duradouras as famílias.

A Igreja, como Mãe amorosa, acompanha seus filhos desde o nascimento até seu último instante, e por isso existe também o Sacra-mento da Unção dos Enfermos. Ele confere graças tão extraordinárias que, se a pessoa que o recebe estiver com boas disposições, isto é com desapego de todo pecado, arrependida deles por puro amor de Deus e realmente voltada para Ele, pode até readquirir o estado de inocência que havia recebido no santo Batismo. E assim, fica inteiramente prepa-rada para voar para junto d’Ele, para adorá-Lo por toda a eternidade.

Veja quanto auxílio Deus pôs à nossa disposição, meu filho, para ajudar-nos a combater nossos defeitos e a imitá-Lo, praticando as virtudes. Na realidade, esses auxílios são mesmo indispensáveis, pois ninguém consegue praticar o bem estavelmente se não for com a graça de Deus. Até mesmo uma curta oração ou um Sinal da Cruz, para serem

Visitas de Nossa Senhora 107

bem feitos, necessitam de uma graça previamente concedida por Deus.Daí você compreende, meu filho, a necessidade que temos da

oração, de pedirmos continuamente a graça divina. Porque até mesmo para tomarmos a iniciativa de procurar os Sacramentos, precisamos re-ceber antes graças de Deus ajudando-nos para isso.

Embora, na sua infinita Bondade, Ele possa tomar a iniciativa de dar-nos graças ainda que não as peçamos, normalmente é a vontade de Deus que as imploremos, e as supliquemos sem cessar.

Amanhã, se Deus quiser, voltamos a conversar mais um pou-co, meu filho, porque hoje você já conheceu tantas coisas novas, que mais vale a pena fazer agora uma pausa para poder refletir melhor sobre elas, não é verdade?

Vamos fazer, então, essa pausa agora, meu filho. Embora sua Mãe continue sempre aqui junto com você, segurando sua mão e prote-gendo-o contra todo o mal.

Que Deus o abençoe e até amanhã.

Nossa Senhorado Rosário

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Vigésima visita: Os Sacramentais

Sua Mãe está aqui meu filho, bem junto de você, para conver-sarmos mais um pouco. Como você passou essa noite? Já está conse-guindo descansar melhor? Olhe, vou lhe dizer algo que pode ajudá-lo a dormir com mais facilidade.

Um dos fatores que mais atrapalha o sono é a pessoa prestar atenção em coisas que a irritam ou aborrecem. O curioso é que não é tanto a coisa que irrita que tira o sono, mas a nossa atenção fixada nela.

Tanto é assim que algumas pessoas conseguem dormir no meio de ruídos de uma construção, do trânsito ou de gente falando. Quantas vezes você mesmo não terá dormido no meio da aula, na escola? E por quê? Porque sua atenção não estava presa nela...

Agora que você está precisando descansar para se recuperar bem, utilize esse método que você “redescobriu” hoje, meu filho. A chave de tudo está na atenção: se você fixá-la no ruído, na movimenta-ção das pessoas, no que elas falam, claro que você terá mais dificuldade para dormir.

Talvez você me diga: “Mas minha Mãe, não é fácil tirar a atenção”... É verdade, não é fácil. Mas você pode, antes de tudo, rezar, pedindo essa graça. E depois lançar mão de outro recurso psicológico muito simples: é procurar ver algum aspecto positivo naquilo que lhe está aborrecendo e fixar sua atenção naquele ponto.

Por exemplo, se as pessoas do hospital ou da casa fizerem barulho ao entrar e sair, em vez de se aborrecer com elas, você pode pensar o quanto a presença delas o ajuda a sentir-se mais seguro, pois qualquer coisa que lhe aconteça, elas aí estão para chamar o médico.

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Pense como seria ruim se elas nunca viessem ou se você esti-vesse inteiramente sozinho. Alegre-se mesmo de que haja pessoas vin-do ajudá-lo e... quando você vir, já estará acordando no outro dia depois de uma noite bem dormida!

A atenção, meu filho, é mesmo um dos melhores dons natu-rais dados por Deus aos homens. Mas como eles às vezes são ingratos! Quantas vezes eles a usam para fixar-se naquilo que as afasta de Deus, ofendendo-O cruelmente dessa maneira...

Mas você já conhece um excelente modo de usar a atenção para unir-se a Deus: é a admiração.

A atitude admirativa, junto com o desejo de melhorar, de aper-feiçoar-se, leva a gente a procurar a Deus, a voltar a atenção para Ele, e a aproveitar melhor os recursos que Ele nos dá para vencermos as dificuldades da vida espiritual, e assim caminharmos com facilidade na “estrada” que nos leva a Deus.

Além da oração, da admiração e dos Sacramentos, sobre os quais conversamos ontem, Deus nos concede outros meios que nos aju-dam enormemente a caminhada pelas três vias sucessivas que nos con-duzem até Ele.

Um deles, que se destacam por sua eficácia, são os Sacramen-tais. Já ouviu falar deles, meu filho? Ainda não? Não tem problema. Você não só vai conhecê-los melhor agora como, assim espero, vai pas-sar a usá-los logo que puder.

Os Sacramentais são os sinais sagrados instituídos pela Igreja com a finalidade de preparar as pessoas para receber bem os Sacramen-tos, de modo que estes possam produzir ainda mais e melhores frutos na alma, santificando as diferentes circunstâncias da vida de cada um.

Você talvez até já tenha recebido alguns, sem se dar conta. Entre os Sacramentais se destacam as bênçãos instituídas pela Igreja, como bênçãos para enfermos, para residências, veículos, objetos.

A Água Benta, por exemplo, é um Sacramental importantíssi-mo. Pois o uso dela afugenta os demônios, atrai os Anjos, e mais ainda, nos ajuda a elevar-nos à presença do Espírito Santo e a obter o seu socorro. Também pode ajudar a curar as enfermidades corporais e, so-bretudo, as espirituais, pois pode apagar os pecados veniais, se a pessoa faz o Sinal da Cruz com verdadeiro arrependimento deles.

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Entre as bênçãos, existem algumas especialmente instituídas em favor dos doentes. Quando você receber a visita de um Padre, não deixe de pedir e ele que, além de lhe ouvir em confissão, conceda a bên-ção da Igreja para os enfermos. Ela lhe fará um bem extraordinário!

Dentre os Sacramentais, meu filho, gostaria que você conhe-cesse - e usasse - mais especialmente quatro: além da Água Benta, o Terço, o Escapulário do Carmo e a Medalha Milagrosa.

É tão fácil consegui-los, meu filho! Por exemplo, a Água Benta. Basta a gente pedir a alguém que leve um frasquinho à igreja ou capela mais próxima e o encha com Água Benta. Depois, é só deixá-lo já aberto na mesa de cabeceira e fazer um Sinal da Cruz de vez em quando, antes das orações, nas horas de tentação ou de um sofrimento mais intenso.

Outro Sacramental muito importante é o Terço. O Terço en-quanto objeto, desde que tenha sido abençoado por um Sacerdote, é um vínculo espiritual com Deus e com sua Mãe do Céu. Por isso você deve tê-lo sempre consigo, junto a si, num bolso, na mão ou mesmo no pescoço, se não houver nenhum inconveniente.

Quando você estiver com o Terço na mão, meu filho, tenha presente que você está segurando na mão de sua Mãe do Céu. E Eu estarei segurando a sua, como toda mãe carinhosa segura a mão de seu filho nos momentos de dificuldade ou perigo.

Mas é claro que não basta ter o Terço perto de si. É preciso sobretudo rezá-lo.

Nós já conversamos um pouco sobre ele em outra visita, lem-bra filho? O Terço é uma oração excelente e agrada muito a Deus, pois ela une os dois tipos de oração numa só.

Lembra quais são esses dois tipos? São a oração vocal e a mental. Na oração vocal a gente “fala”, ainda que só murmure ou mes-mo pense, aquilo que a gente quer pedir a Deus, ou para adorá-Lo, agradecer-Lhe e oferecer-Lhe reparação.

Na oração mental, a gente medita, reflete, admira as coisas referentes a Deus, elevando nossas cogitações para Ele e procurando tirar frutos para a vida prática.

Você entenderá melhor, então, filho, porque o Terço une os dois tipos de oração. É porque enquanto a gente reza o Pai-nosso, Ave Maria e Glória ao Pai, a gente vai meditando nos mistérios, ou seja, nos

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acontecimentos da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo: nos ensinamen-tos d’Ele, nos exemplos que Ele deu, nos seus milagres, e tudo o mais. E de tanto pensar n’Ele, a gente vai se assemelhando a Ele pouco a pouco, permitindo que Ele viva cada vez mais intensamente em nós.

Mas não se perturbe se você ainda não está conseguindo rezar o Terço todos os dias, meu filho. Essa oração tem uma característica maravilhosa a mais: quanto mais a gente a reza, mais a gente tem von-tade de rezar.

De maneira que se você começar a rezar ainda que seja só uma dezena do Terço, dentro em breve você estará rezando o Terço todos os dias, com a maior facilidade. E até sentindo gosto nisso.

Quando você se der conta, depois de algum tempo, você estará rezando o Rosário sem a menor dificuldade, e a meditação da vida de Nosso Senhor se terá tornado habitual para você.

Experimente, meu filho. Basta começar. Caso você ainda não tenha lido, veja no final desse livro como se reza o Terço. Você verá como a graça de Deus é suave e enche de paz e gratidão a alma.

Então você verá também como fica mais fácil ir percorrendo essa “via purgativa”, de retorno para junto de Deus. É a primeira etapa da viagem para Ele, lembra?

É para nos ajudar a percorrê-la que Ele nos dá os Sacramen-tos, os Sacramentais, a oração, e tantos outros recursos.

Com eles a pessoa vai, pouco a pouco, conseguindo ficar livre dos pecados e dos vícios que por infelicidade tenha contraído. E, com o tempo, vai se habituando a praticar as virtudes que o assemelham a Deus.

Ainda há outros dois Sacramentais que sua Mãe terá muita alegria em vê-lo utilizar, meu filho.

Mas nós podemos deixar para falar sobre eles amanhã, para que você possa ter mais tempo para refletir sobre tudo o que temos conversado, e talvez para rever um pouco o que o livro traz para você sobre o Terço.

Até amanhã, se Deus quiser, meu filho. Fique em paz, com Deus e com sua Mãe do Céu. E com nossa bênção.

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Vigésima-primeira visita: A Medalha Milagrosa

Bom dia, meu filho. Dormiu bem esta noite? Já experimentou aquele recurso que lhe ensinei ontem para dormir melhor? Vá experi-mentando, filho, que com o tempo ele se tornará um hábito, e você não somente dormirá melhor como, sobretudo, ficará acordado melhor.

Sua Mãe está aqui para conversarmos e “caminharmos” mais um pouco na estrada que nos leva a Deus. Estávamos falando ontem sobre os Sacramentais, lembra? Aqueles possantes meios que Deus, através da Santa Igreja, nos põe ao alcance para melhor aproveitarmos os Sacramentos.

Hoje sua Mãe quer falar-lhe sobre outro Sacramental que po-derá ajudá-lo muito. Porque, realmente, a luta contra os próprios de-feitos, contra os maus hábitos que se enraigaram na alma com o passar do tempo, não é nada fácil. Mas Deus não nos pede nada impossível. Lembre que meu Divino Filho disse: “A Deus tudo é possível”61.

E Deus nos ama tanto, meu filho, mas tanto, que quis até dar sua própria Mãe, para ser Mãe de todas as pessoas. Por isso mesmo vá-rios Sacramentais estão muito ligados à sua Mãe do Céu. Por exemplo, a Medalha Milagrosa. Talvez você nem tenha ouvido falar dela ainda. Mas não tem problema, pois quando você passar a usá-la, sentirá de tal modo a ajuda de Deus, que tudo que você pudesse ter ouvido falar antes ficaria pouco em comparação com a realidade.

Convém que você saiba que este é o nome popular que é dado a esta medalha, cujo nome verdadeiro é “Medalha de Nossa Senhora das Gra-ças”, pois foi sob esta invocação que pedi que ela fosse cunhada e difundida.

61 Mt 19, 26.

114 Visitas de Nossa Senhora

Além disso, é importante você ter presente que não existe ne-nhuma medalha, nenhum objeto, e mesmo nenhuma pessoa meramente humana que possa fazer milagres. Quem faz milagres é somente Deus, e portanto, também Nosso Senhor Jesus Cristo, porque Ele é Deus e Homem verdadeiro.

Mesmo sua Mãe celeste não “faz” os milagres, meu filho. Eu apenas os obtenho da infinita misericórdia de Deus, Autor de todo bem e de toda graça.

Quando se diz, portanto, que tal santo, tal medalha ou tal ima-gem é “milagrosa”, quer-se dizer que Deus muitas vezes tem-Se ser-vido daquela pessoa ou daquele objeto para dar graças abundantes, e até mesmo, algumas vezes, graças extraordinárias, como são as curas inexplicáveis pela ciência ou soluções prontas para problemas muito difíceis.

Mesmo assim, o correto é se falar em “prodígio” e não em “milagre”, pois só a Santa Igreja Católica tem o poder para, depois de um profundo estudo e avaliação, declarar que um fato que está acima das leis da natureza é realmente um milagre.

Agora, você compreende, filho, que explicar isso tudo para o povo simples não é assim... tão simples. E daí que a Igreja admite o uso de expressões como a “Medalha Milagrosa”, por simplificação de linguagem.

Mas, tudo isso bem entendido, é bom que você saiba que real-mente Deus tem atendido a muita, mas muita gente mesmo, através da devoção e do uso da Medalha Milagrosa.

Porque Ele, que é a infinita Bondade, não nega nada que sua Mãe Lhe peça. E Eu me comprometi a pedir por todos os que a usas-sem.

Você quer saber como foi? Foi assim, meu filho: Na noite de 18 para 19 de julho de 1830 Eu apareci pela primeira vez para uma filha minha muito querida, a Irmã Catarina Labouré, então noviça das Filhas da Caridade, na cidade de Paris, na França.

Nesta aparição, dei-lhe conhecimento da grande missão que Deus queria que ela assumisse, de propagar a devoção à sua Mãe do Céu, como forma de combater os grandes males que viriam sobre o mundo, em particular sobre o seu país.

Visitas de Nossa Senhora 115

Depois, na tarde de 27 de novembro de 1830, apareci nova-mente à minha querida filha, enquanto ela fazia a sua meditação na capela do convento, e mostrei-lhe como devia ser a medalha que Deus queria que fosse cunhada e difundida por todo o mundo. Mostrei-Me a ela tal como estou na Medalha Milagrosa e ensinei-lhe uma curta ora-ção, que também aparece na medalha: “Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós”.

Naquela ocasião, disse para ela as seguintes palavras: “Fazei cunhar uma medalha conforme este modelo. Todos os que a usarem, trazendo-a ao pescoço, receberão grandes graças. Estas serão abundan-tes para aqueles que a usarem com confiança”.

Apesar das dificuldades, a minha querida Catarina conseguiu que fossem cunhadas e distribuídas as primeiras medalhas. As graças que as pessoas passaram a receber foram tão abundantes, tão extraor-dinárias, que logo a procura pela medalha se tornou enorme, e o povo começou a chamá-la de “Medalha Milagrosa”, agradecendo assim a Deus que, em sua infinita misericórdia, se dignava conceder graças pro-digiosas por meio dessa singela devoção.

Como testemunha permanente da autenticidade dessas reve-lações, Deus determinou que o corpo de minha querida filha, Catarina Labouré, permanecesse incorrupto depois de sua morte. E hoje em dia, depois de muito mais de um século e meio do seu falecimento, ela pode ser vista num túmulo de cristal situado debaixo de um altar na capela do convento das Filhas da Caridade, na Rua du Bac, em Paris.

A Igreja a canonizou como Santa Catarina Labouré em 27 de julho de 1947, elevando assim à honra dos altares aquela que passou toda a sua vida no anonimato, mas cumprindo fielmente sua missão de propagar a devoção à sua Mãe do Céu sob o título de Nossa Senhora das Graças.

Meu filho, se sua Mãe fosse lhe contar as graças que as pes-soas têm recebido por meio desta devoção, nossa conversa não acabaria mais. Se você quiser, existem vários livros publicados sobre a matéria, nos quais você poderá encontrar relatos autênticos de curas inexplicá-veis pela ciência, de proteção completamente fora do comum em casos de acidentes, perigos, crimes, de soluções para graves problemas pes-soais e familiares, e assim por diante. Conseguindo algum desses livros,

116 Visitas de Nossa Senhora

meu filho, leia-os, porque lhe fará muito bem.Mas o importante mesmo é que você possa comprovar o quan-

to quero bem e protejo especialmente aqueles que usam a minha Meda-lha no pescoço.

Quero que você saiba também, meu filho, que a Santa Igreja não só aprovou oficialmente esta devoção como instituiu uma bênção especial para a recepção da Medalha Milagrosa, e concedeu várias in-dulgências para aqueles que a usam.

De modo que, logo que você conseguir uma Medalha, peça a um Sacerdote que a imponha em você, rezando as orações apropriadas para esse fim. Isso é muito importante, porque, desse modo, você esta-belecerá um vínculo ainda mais forte com sua Mãe do Céu.

A oração da bênção e imposição da Medalha Milagrosa foi co-locada neste livro para facilitar que você a receba. Assim, caso o Padre não a tenha à mão, é só abrir o livro nesta página e dar para ele rezar.

Bênção da Medalha 62

Oremos. Deus Onipotente e misericordioso, que pelas nume-rosas aparições da Virgem Imaculada, Vos dignais operar sem cessar

maravilhas para a Salvação das almas, infundi benignamente a vossa bênção sobre esta(s) medalha(s), de modo que todos aqueles que a(s) receba(m) com piedade e a(s) portem com devoção sintam o seu patro-cínio e obtenham a vossa misericórdia. Por Cristo, Nosso Senhor.

R. Amém.Segue-se a aspersão da(s) medalha(s) com Água Benta.

Se a imposição vem a seguir, o rito final se fará após esta. Senão, aspergem-se também os circunstantes com Água Benta, e se dá a bênção final:

A bênção de Deus Todo-Poderoso, Pai e Filho e Espírito Santo desça sobre vós e permaneça para sempre.

R. Amém.

62 Ritual Romano.

Visitas de Nossa Senhora 117

Oração de Imposição da Medalha Milagrosa 63

Sacerdote: Recebei a santa Medalha, portai-a fielmente e per-severai em sua digna veneração, para que a Piíssima e Imaculada Rainha do Céu vos proteja e defenda; e, por sua bondade, renove os prodígios que pedirdes a Deus, por sua misericordiosa intercessão, de modo que, na vida ou na morte, descanses felizmente no seu amplexo materno.

R. Amém.Senhor, tende piedade de nós. Cristo, tende piedade de nós.

Senhor, tende piedade de nósV. Pai Nosso... E não nos deixeis cair em tentação.R. Mas livrai-nos do mal. Amém.V. Ó Maria, concebida sem pecado.R. Rogai por nós, que recorremos a Vós.V. Senhor escutai a minha oração.R. E chegue até Vós o meu clamor.V. O Senhor esteja convosco.R. E com o teu espírito.Oremos. Senhor Jesus Cristo, que quisestes por inumeráveis

milagres glorificar a Beatíssima Virgem Maria, vossa Mãe, concebida sem pecado, concedei que implorando sempre a sua proteção, obtenha-mos as alegrias eternas. Vós, que viveis e reinais pelos séculos dos sé-culos.

R. Amém.

Aspergem-se os circunstantes com Água Benta.

A bênção de Deus Todo-Poderoso, Pai e Filho e Espírito Santo desça sobre vós e permaneça para sempre.

R. Amém.

Com esta bênção e oração de imposição, meu filho, você rece-berá a Medalha Milagrosa, que será um modo eficacíssimo de mantê-lo unido a Mim, e por meu intermédio, a Jesus.

Note, entretanto, que só é necessário receber a imposição uma vez. Depois, se sua Medalha gastar ou se perder, você poderá colocar

63 Idem.

118 Visitas de Nossa Senhora

uma nova diretamente, sendo muito conveniente, apenas, pedir a um Padre que dê uma bênção simples a ela.

Existe também, filho, uma novena de orações, para quando a pessoa quer pedir alguma graça especial. Sua Mãe se compraz especial-mente em atender os pedidos que Me são feitos através dessa Novena da Medalha Milagrosa. Você encontrará o texto da novena no final desse livro, meu filho, na parte destinada às orações.

É tão fácil conseguir e usar essa Medalha! Em qualquer casa de artigos religiosos ou nas lojinhas das igrejas se encontra. Use-a, meu filho, use-a com muita devoção. E logo você verá porque o povo, na sua devoção terna e sincera, a chamou de “Medalha Milagrosa”...

Mas não use só para você. Difunda também essa devoção, fi-lho. É tão fácil propagá-la. Basta ter sempre consigo algumas Medalhas e distribui-las para qualquer pessoa.

Deus, Nosso Senhor, ficará ainda mais contente com você quando você passar a fazer essa boa obra, essa forma de apostolado tão simples, mas que tem ajudado tanta gente a unir-se a Ele por meio de sua Mãe do Céu, ao longo dos tempos.

Usando a Medalha, meu filho, lembre sempre de rezar três Ave Marias pela manhã, ao despertar, e à noite antes de deitar, seguidas da oração “Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós”, pedindo todas as graças de que você necessite, especialmente a da eterna Salvação e a prática da virtude da pureza. É uma forma de você renovar sua consagração à sua Mãe e se recomendar especialmen-te à minha proteção.

Você verá, meu filho, como o uso constante da Medalha Mila-grosa no pescoço o ajudará a aproveitar melhor os Sacramentos, princi-palmente a Confissão e a Comunhão, bem como todas as demais graças que você receber por meio da oração. Será mesmo uma espécie de ora-ção contínua que você fará à sua Mãe celeste.

Se você já tinha a Medalha, meu filho, continue com ela agora que você a conhece melhor. Se não tinha ainda, peça que lhe tragam uma. Eu mesma darei um jeitinho para que você a consiga logo.

Até você poderá usá-la junto com o Escapulário do Carmo, que é o outro Sacramental sobre o qual sua Mãe quer conversar com você amanhã.

Visitas de Nossa Senhora 119

Você verá como Deus, que é a infinita Bondade, concede te-souros de graças através de meios tão simples, porém tão profundos, quando usados com fé e devoção.

Descanse um pouco agora, meu filho. Mas descanse alegre, sabendo que em breve você estará ainda mais unido à sua Mãe, e por meio d’Ela a Jesus, usando a Medalha Milagrosa e o Escapulário.

Até amanhã, filho. E que Deus o abençoe.

Nossa Senhoradando o Escapulárioa São Simão Stock

Visitas de Nossa Senhora 121

Vigésima-segunda visita: O Escapulário do Carmo

Como vai, meu filho? Passou bem mais esta noite? Tenho re-zado ao meu Divino Filho por você muito especialmente.

Sei que esta provação pela qual você está passando lhe tem feito sofrer muito. Mas, esteja certo, sei também que ela lhe tem feito um bem espiritual acima de toda comparação.

Você mesmo é testemunha disso. Veja só quantos progressos você tem feito na sua vida espiritual. Quanta coisa nova você aprendeu. E, sobretudo, quantos passos concretos você já vem dando no caminho de seu aperfeiçoamento interior, de sua união com Deus.

Você se lembra, filho? Nós estamos na primeira fase de sua caminhada rumo a Deus. Estamos na parte da estrada conhecida como “via purgativa”, porque nela é preciso a gente primeiro purgar, se livrar de tudo aquilo que nos afastava de Deus.

Mas, nessa fase, também é muito importante a gente já ir pro-curando praticar as virtudes, aqueles atos bons que nos assemelham a Deus. Para isso, é necessário também irmos adquirindo convicções, princípios sólidos que nos norteiem na vida.

Porque, como você se lembra meu filho, a pessoa equilibrada é aquela cuja inteligência, iluminada pela Fé, governa a vontade; e esta, domina a sensibilidade.

Ora, para a inteligência governar, precisa ter informações, precisa ter princípios. E quanto mais a pessoa esteja convencida da ver-dade desses princípios, tanto mais ela terá segurança para saber decidir aquilo que é bom para si e para os outros.

Portanto, nessa primeira fase, além do trabalho de se livrar

122 Visitas de Nossa Senhora

dos maus hábitos e começar a adquirir os bons, é preciso ainda procurar aprender sempre cada vez mais tudo que diz respeito a Deus e aos seus ensinamentos sagrados.

Agora, cá entre nós, meu filho, sua Mãe sabe que isto não é fácil. Ainda mais no mundo de hoje, em que praticamente tudo fala em sentido contrário. E é por isso que, antes de tudo, estou procurando ensinar-lhe meios fáceis e acessíveis de progredir na vida espiritual.

Dentre eles, como você já sabe, estão os Sacramentais. Já con-versamos sobre a Água Benta, as bênçãos da Igreja, a Medalha Mila-grosa e o Terço. Hoje sua Mãe vem lhe falar sobre outro Sacramental que tem um imenso valor porque poderá ajudá-lo muito nessa luta: o Escapulário do Carmo.

Esta devoção, meu filho, é muito antiga. Milhões de pessoas já se beneficiaram dela ao longo dos anos.

Vou lhe contar como ela começou. No ano de 1251, um filho meu muito querido, São Simão Stock, estava rezando para Mim conti-nuamente e muito aflito. Ele era Superior Geral da Ordem dos Carmeli-tas, a qual estava passando por perseguições muito sérias e até ameaça-da de extinção. Ora, isso Eu não podia permitir!

Então, na madrugada do dia 16 de julho daquele ano, apareci para ele e disse-lhe palavras de refrigério, luz e paz. Além disso, vim trazendo um sinal sensível de minha aliança com ele e com a Ordem do Carmo. Esse sinal era um tipo de roupa que os monges vestem chamado “escapulário”, porque fica em cima das escápulas, ou parte de trás dos ombros, descendo até perto dos pés.

Ao entregar-lhe o santo Escapulário, disse-lhe:“Recebe, filho diletíssimo, o Escapulário de tua Ordem, sinal

de minha confraternidade, privilégio para ti e para todos os Carmelitas. Todos os que morrerem revestidos deste Escapulário não padecerão o fogo do inferno. É um sinal de Salvação, refúgio nos perigos, aliança de paz e pacto para sempre”.

A partir desse momento, os meus filhos Carmelitas passaram a usar o Escapulário e a Ordem tomou um novo vigor, refloresceu extra-ordinariamente e passou a fazer ainda maior bem à Humanidade.

Mas Deus, na sua infinita misericórdia, ainda quis dar mais aos Carmelitas e, por meio deles, a todas as pessoas. Setenta anos de-

Visitas de Nossa Senhora 123

pois, Nosso Senhor dispôs que sua Mãe do Céu aparecesse ao Papa João XXII para fazer uma nova promessa, como complemento da primeira.

Naquela ocasião, disse para ele:“Eu, como terna Mãe dos Carmelitas, descerei ao Purgatório

no primeiro sábado depois de sua morte e os livrarei e os conduzirei ao Monte Santo da vida eterna”.

Cheio de consolação após esta aparição, o Papa João XXII re-digiu a Bula Sabatina, publicada em 3 de março de 1322, dando conhe-cimento desse amoroso privilégio que concedi a todos os meus filhos que tenham usado o Escapulário durante a vida, e com ele se apresen-tem no momento da morte.

Para você avaliar um pouco o valor desse privilégio, meu filho, considere que a imensa maioria das pessoas que se salvam, isto é, vão para o Céu, têm de passar primeiro pelo Purgatório, para se purificar das penas temporais devidas aos pecados que cometeu ao longo da vida.

Isto acontece mesmo com muitos santos. Porque como Deus é puríssimo e perfeitíssimo, só consegue comparecer diante d’Ele quem já está inteiramente purificado, mesmo que dos defeitos ou penas mais leves.

Como você sabe, na outra vida não existe mais o tempo. Mas para facilitar a compreensão, pode-se dizer que uma pessoa tem de pas-sar no Purgatório dez, cem, milhares de anos ou até mesmo ficar lá até o Juízo Final, tamanha a quantidade e gravidade das penas pelas quais tenha que passar.

Agora, meu filho, considere a infinita bondade de Deus. Ape-sar de a pessoa precisar passar por esta purificação, Ele pode suprir tudo e livrá-la do Purgatório já no primeiro sábado após a morte, desde que a pessoa tenha sido devota de sua Mãe do Céu, usando o Escapulário. Não é mesmo uma bondade quase incompreensível?

Não que a pessoa vá para o Céu ainda “despreparada”. Mas Deus, porque é Onipotente, porque é a própria Bondade, faz com que meus filhos que usam o Escapulário tenham sua purificação como que simplificada, de modo a poderem gozar do “privilégio sabatino”.

E você não vai querer isto para você, meu filho? Claro que sim. Mas espere ainda um pouco. Já lhe digo como fazer para receber o Escapulário.

Antes quero que você saiba que, no início, o privilégio sabati-

124 Visitas de Nossa Senhora

no ficava restrito aos Carmelitas, pois só eles podiam usar o Escapulário do Carmo. Entretanto a Igreja, Mãe carinhosa, querendo estender esses benefícios espirituais a todos os católicos, autorizou que a recepção do Escapulário ficasse ao alcance de todos, reduzindo, inclusive, o seu ta-manho, para que pudesse ser usado por qualquer pessoa.

Por isso ele é composto apenas de duas peças retangulares de lã marrom, unidas entre si por dois cordões. Alguns modelos, conheci-dos como “bentinhos”, são bem pequenos e revestidos de uma resina. Mas desde que sejam realmente feitos de lã, são válidos.

Ao longo dos anos, os Papas foram fazendo documentos que confirmaram e ampliaram esta devoção. Existe mesmo, por decreto de um dileto filho meu, o Papa São Pio X, uma medalha que substitui o Escapulário para aqueles que, por alguma razão, não possam usar o te-cido de lã. Essa medalha tem, de um lado, Jesus mostrando seu Sagrado Coração, e do outro, a figura de sua Mãe do Céu, sob a invocação de Nossa Senhora do Carmo.

Para você ver como a Igreja é bondosa, ele deu esta autori-zação pensando nos soldados da Primeira Guerra Mundial, cujos Es-capulários facilmente se estragavam devido aos rigores das batalhas, permitindo que passassem a usar a Medalha Escapulário, muito mais resistente.

Hoje em dia, meu filho, a Igreja autoriza qualquer Padre con-ceder o Escapulário do Carmo aos fiéis, juntamente com todos os seus privilégios.

Somente o primeiro Escapulário necessita ser bento e imposto por um Sacerdote. Tanto essa bênção como a imposição valem para to-dos os outros Escapulários que vierem a substituir o primeiro. Uma vez tendo-o recebido, deve-se usá-lo sempre e continuamente.

É facílimo recebê-lo, filho. Para que você o receba com boas disposições, procure primeiro se reconciliar com Deus através da Con-fissão sacramental. Depois, já levando o Escapulário, é só pedir ao Pa-dre que o abençoe e o coloque em seu pescoço. Para isto, o Sacerdote rezará a seguinte oração:

Visitas de Nossa Senhora 125

Oração para imposição do Escapulário do Carmo

“Recebe este santo Escapulário como sinal da Santíssima Vir-gem Maria, Rainha do Carmelo, para que, com seus méritos, o uses sempre com dignidade, seja tua defesa em todas as adversidades e te conduza à vida eterna”.

E o fiel responde: “amém”.Depois o Sacerdote dirá algumas orações que a pessoa deve

rezar todos os dias (geralmente o Pequeno Ofício de Nossa Senhora ou sete Pai Nossos, sete Ave Marias e sete Glória ao Pai). Caso ele se es-queça, convém pedir-lhe tais orações, pois Deus as considerará unidas aos méritos insondáveis que Ele quis conceder à sua Mãe do Céu, e em vista deles, lhe concederá o “privilégio sabatino”.

Lembre-se sempre que o Escapulário é um sinal de sua aliança comigo. Que ele é para você um sinal de Salvação, pois prometi que quem morrer com ele não padecerá o fogo do inferno. E, pela mesma razão, que ele é um sinal de minha contínua proteção para você, tanto nos perigos do corpo quanto, sobretudo, nos da alma.

Mãos à obra, meu filho. Peça a alguém que consiga para você um Escapulário do Carmo ainda hoje, se ainda não puder obtê-lo por conta própria. Ao primeiro Sacerdote que você encontrar, peça a ele que lhe imponha o Escapulário, juntamente com a Medalha Milagrosa, caso você ainda não a tenha recebido.

Para facilitar, faça uma marca na página em que está a ora-ção de imposição do Escapulário, bem como na da Medalha Milagrosa, para você achá-las com facilidade quando for pedir ao Padre para impô-los em você.

Você pode, também, colocar a Medalha Milagrosa no cordão-zinho do Escapulário e usá-los juntos. Mas o importante é que você passe a usá-los o quanto antes, pois ambos são um vínculo, uma espécie de consagração pessoal que você faz à sua Mãe do Céu, que Me movem a dar-lhe uma proteção e um carinho todo especial nessa vida, e que apressará nosso encontro na outra, meu filho querido.

Pois sua Mãe não quer ter de vê-lo sofrendo no Purgatório por sabe-se lá quanto “tempo”, mas quer trazê-lo para bem junto de Jesus já no primeiro sábado após você deixar esta vida.

126 Visitas de Nossa Senhora

Não, meu filho, não se assuste com a expressão “deixar esta vida”. Só teme a morte quem não se prepara para ela. E você já está se preparando cada vez que reza, especialmente, a Ave Maria. Não lembra que você pede meu socorro “agora e na hora de nossa morte”? Você acha que sua Mãe pode negar um pedido tão insistente e tão bom?

Se você tivesse uma idéia do que é o dom de Deus64, meu filho... Se você fizesse uma pálida idéia do que é o Reino de Luz e de felicidade absoluta que é o Céu... Ah, você não quereria ficar mais nem um segundo sequer neste “vale de lágrimas” que é a Terra.

Confiança, meu filho, um dia nos veremos lá. E nos veremos para sempre, na Luz eterna que é a visão de Deus face a face, a Visão Beatífica.

É para ajudá-lo e facilitar-lhe ainda mais a chegar lá que sua Mãe lhe põe ao alcance o Terço, a Medalha, o Escapulário e os outros Sacramen-tais. Todos eles disporão sua alma a melhor receber e aproveitar os Sacra-mentos, bem como todas as demais graças que Deus lhe conceder.

Confiança, confiança. Escute a voz da graça, a voz misteriosa de Cristo que ressoa no fundo de seu coração, chamando-o a unir-se a Ele. Prove, meu filho, e veja quão suave é o Senhor65. Deixe que a sua-vidade da graça lhe envolva de quietude e de paz.

Um dia, essa paz será eterna. Os sofrimentos dessa vida terão passado e Deus mesmo enxugará todas as suas lágrimas66. E você estará numa plenitude inimaginável de felicidade, bem junto de sua Mãe e Rainha, bem junto de Deus Nosso Senhor.

Enquanto esse momento não chega, filho, conserve-se em paz. Essa paz, essa quietude é ela mesma uma forma de oração.

Sua Mãe o deixa agora, mas o deixa nessa paz, aquela paz que meu Divino Filho trazia sempre consigo e dava para todos os seus: “A paz esteja convosco”67.

Que amanhã, quando nos revirmos, esta paz esteja ainda mais intensa e constante em você, como fruto das bênçãos de Deus. Até ama-nhã, meu filho, se Deus quiser.

64 Cfr. Jo 4, 10.65 Cfr. Sl 33, 9.66 Cfr. Ap 7, 16 e 21, 4.67 Lc 24, 36.

Visitas de Nossa Senhora 127

Vigésima terceira visita: A oração mental

Como vai, meu filho, está mais bem disposto hoje? Você não calcula quanto sua melhora Me alegra. Você sabe? A melhora da alma muitas vezes ajuda até a melhora do corpo.

Mas se aparecer alguma recaída, não se impressione. Como você já sabe, às vezes elas podem até ajudar a alma a progredir mais do que se a saúde do corpo estivesse perfeita.

Se você quiser, podemos continuar agora nossa conversa. Por exemplo, posso lhe falar hoje sobre outro meio que facilitará enorme-mente sua caminhada ou progresso na vida espiritual. Ele se chama a oração mental.

Você lembra, filho? Já conversamos sobre a oração outro dia. Expliquei-lhe que ela se divide em oração vocal e mental e conferimos juntos a força que a prece vocal tem junto a Deus.

A força da oração mental não é menor. Até lhe digo mais: é ela que prepara a gente para rezar bem, e desse modo obter tudo que preci-samos. Vou lhe explicar porquê, e com minha explicação, você também ficará sabendo mais sobre a gravidade do pecado.

Para você entender bem a importância da oração mental, con-vém recordar que, com o pecado original, o ser humano perdeu a admi-rável ordem que reinava em sua alma e no seu corpo.

Antes desse pecado, quando o homem vivia no Paraíso, a inte-ligência governava perfeitamente a vontade, e esta, a sensibilidade, ou seja, os instintos, as paixões, a memória, a imaginação, enfim, o lado animal do homem.

Com o pecado, houve uma profunda revolução na alma, e a

128 Visitas de Nossa Senhora

sensibilidade deixou de se submeter com facilidade à razão, levando a vontade a tomar decisões erradas e muitas vezes más.

As paixões e os apetites desregrados passaram a induzir ten-dências para o mal, e o demônio se aproveita dessas tendências para tentar o homem, e induzi-lo a desobedecer a Deus.

Se a pessoa não reza, não analisa e não combate essas más tendências, elas acabam por se transformar em más idéias. E essas se transformam em maus atos da vontade, que são os pecados.

Com o tempo, à medida que a pessoa vai se habituando a co-metê-los, esses pecados se transformam em vícios, muito mais difíceis de vencer. Como, por orgulho, em geral a pessoa não quer reconhecer que está fazendo algo errado, ela começa a inventar desculpas e expli-cações para tentar justificar-se, para si mesma e para os outros.

Pouco a pouco, essas desculpas se transformam em teorias e doutrinas falsas, e estas geram atitudes erradas diante da vida. Quando essas atitudes se reúnem de modo a formar um todo, temos uma men-talidade errada, na qual a pessoa não só não procura mais resistir aos vícios, como se entrega a eles como se fossem coisas boas ou normais. É o que acontece, por exemplo, com as drogas. Depois que a pessoa transforma esse vício numa “mentalidade”, num estilo de vida, dificil-mente consegue voltar atrás.

Agora, porque acontece esse processo no qual as tendências más geram idéias, estas provocam os pecados e os vícios, estes estimu-lam as justificativas, que geram as atitudes e as mentalidades erradas?

Porque a pessoa não pára para pensar e se analisar logo no começo do processo.

Imagine que alguém, todos os dias, pare tudo que está fazen-do e leia ou se recorde de alguma verdade, virtude ou ensinamento de Deus. Depois, que ele se examine para ver no que é que está se afastan-do daquele bem que considerou. Em seguida, tome resoluções para agir em sentido contrário ao do processo mau e, sobretudo, reze para obter as graças necessárias para cumpri-las. Você acha que ela se deixaria levar por esse processo com tanta facilidade?

Pois bem, meu filho, a pessoa que faça isto está fazendo a ora-ção mental de que necessita para progredir na prática da virtude. Você compreende agora como ela é importante?

Visitas de Nossa Senhora 129

No que consiste a oração mental, portanto? Em examinar-se interiormente para ver, julgar e agir de modo a manter-se unido a Deus. Existem muitos modos de fazer a oração mental. Porém todos eles po-dem ser resumidos nessas três ações:

Primeiro, ver. Considerar alguma verdade, ensinamento, bele-za, exemplo de Nosso Senhor ou dos Santos. Para isso, convém reservar algum tempo para ler sobre o assunto, para ter matéria para essas con-siderações. Até se costuma fazer esta leitura espiritual e organizar esta parte da meditação no dia anterior, à tarde, para depois retomá-la na manhã seguinte, na hora de fazer a meditação propriamente dita.

Segundo, julgar. Analisada aquela verdade, a pessoa natural-mente faz um exame de sua consciência, avalia como ela está e o que precisa fazer para corrigir-se.

Terceiro, agir. Esta terceira parte pode dividir-se em duas. Na primeira, a gente vê quais são as resoluções que precisa tomar para combater os defeitos que a análise anterior nos fez conhecer. Será, por exemplo, fazer o propósito de tomar apenas três refeições por dia, se o defeito é o da gula, ou afastar-se de uma má companhia, se ela é ocasião de quedas.

Entre os propósitos a serem tomados está um breve exame de consciência sobre um defeito principal a ser combatido, que também é chamado de “exame particular”, que pode ser mais eficiente se feito duas vezes por dia, no fim da manhã e no da tarde, por exemplo. Então, no exemplo da gula, a pessoa se examina para ver se não foi contra o propósito comendo alguma coisa fora de hora.

Na segunda parte do “agir”, vem o mais importante, que é rezar para pedir a Deus as graças e forças de que necessita para cumprir as resoluções. Esta oração pode ser vocal, rezando, por exemplo, Pai Nossos e Ave Marias. Mas ela costuma ser mais eficiente se você fizer, meu filho, aquilo que você já está se acostumando a fazer, que é uma espécie de oração “conversada” ou colóquio.

Você pode “conversar” com Jesus, sempre numa atitude de muito respeito, humildade e confiança, ou com sua Mãe do Céu, ou com seu Anjo da Guarda, ou com outro Santo a quem você tenha devoção. Nessa conversa, você “explica” seu problema, suas dificuldades, pede conselhos, luzes, força, energia e resolução. E pode concluir a medita-

130 Visitas de Nossa Senhora

ção agradecendo, pois mais cedo ou mais tarde você receberá a graça de que necessita.

Bem entendido, você sabe que não estará tendo “visões”, “re-velações” nem se entregando a fantasias. Você estará apenas utilizando bem a sua imaginação e os seus afetos, para desse modo ajudar a sua inteligência a discernir e a sua vontade a querer aquilo que é a vontade de Deus.

Fazendo a meditação todas as manhãs, meu filho, você pouco a pouco irá se conhecendo melhor, e se preparando, logo no começo do dia, para as dificuldades e ciladas que o inimigo lhe aprontará ao longo do mesmo.

Dessa forma, você estará dando largos passos nas vias da san-tidade. E você entenderá porque sua oração vocal ficará cada dia mais forte diante de Deus, que disse: “Amo os que Me amam, e os que vi-giam desde a manhã para Me buscarem, achar-Me-ão”68.

Você também O achará, meu filho.Mas não se assuste se sua Mãe lhe falou de muitas coisas no-

vas hoje. É natural que você não consiga guardá-las todas de uma vez na memória. Somente pouco a pouco, com a prática, você irá se habitu-ando com elas e entendendo-as cada vez mais.

Vá colocando em prática os conselhos que sua Mãe vem lhe dando. Eu mesma o ajudarei nisso e, quando você menos esperar, tudo isso terá se tornado hábito em você. E você sabe como se chama um hábito bom: é virtude.

A virtude inclui, também, o repouso e a paz. Com paz e tran-qüilidade, deixe que nossa conversa de hoje e dos outros dias vá voltan-do naturalmente à sua memória. Assim, mesmo quando você não esteja “conversando” com sua Mãe, nós estaremos juntos no Sagrado Coração de Jesus.

Que Ele o abençoe agora para que amanhã possamos conver-sar um pouco mais sobre outros meios maravilhosos que Ele também está pondo à sua disposição. Até amanhã, meu filho.

68 Prov 8, 17.

Visitas de Nossa Senhora 131

Vigésima-quarta visita: Consagração a Deus

Sua Mãe está de volta, meu filho. Como você está nesse mo-mento? Sente-se melhor, mais animado? Para Mim é sempre uma ale-gria revê-lo, e contemplar a ação de Deus sobre a sua alma, ajudando-o a melhorar cada vez mais.

Como você sabe, meu filho, aos olhos de Deus o que importa são os atos da sua vontade, a sua decisão de dar-se a Ele e de fazer o bem.

Ele é nosso Criador. Ele o conhece perfeitamente bem, infini-tamente melhor do que qualquer outra pessoa. Ele sabe, portanto, que em conseqüência do pecado de Adão, e das suas próprias faltas pes-soais, você passa por momentos de dúvida, de hesitação, de fraqueza mesmo.

Aliás, você já sabe que esta fase de seu progresso na vida es-piritual é uma fase difícil. Pois o inimigo, o demônio, uma vez posto fora da sua alma pela graça de Deus, obtida por meio dos Sacramentos, não sossega enquanto não conseguir reconquistá-la. Conhecendo seus pontos fracos, e covarde como ele é, claro que vai tentar atacá-lo justa-mente por aí.

Nesses momentos, meu filho, redobre sua confiança em Deus e na sua Mãe celeste, que Ele lhe deu para ajudá-lo. Redobre suas ora-ções e peça forças para manter-se sempre fiel. Diga sempre sim a Deus, e sempre não ao pecado. E depois fique tranqüilo, não se deixando per-turbar pelas provocações do inimigo.

Deus nunca permite uma tentação que esteja acima das suas forças, ou seja, das forças que Ele mesmo lhe dá para resistir. Com o

132 Visitas de Nossa Senhora

tempo você irá compreender que Deus até tira proveito das tentações pelas quais você passa, para fazê-lo progredir na virtude e fortalecer-se.

É por isso que, no Pai Nosso, Jesus não nos mandou rezar “livrai-nos das tentações”, mas “não nos deixeis cair em tentação”69. Tanto elas fazem parte da vida neste “vale de lágrimas”, que Ele mesmo quis ser tentado para nos dar o exemplo de como reagir70.

Para isso, Ele lhe fornece inúmeros recursos com os quais você pode defender a sua vida espiritual. Temos conversado sobre vá-rios deles nos últimos dias, não é meu filho?

Mas hoje sua Mãe quer lhe falar sobre um que é uma ver-dadeira “bomba atômica” contra o demônio. Digo-lhe isto, meu filho, por minha própria experiência pessoal. Eu mesma o empreguei desde o primeiro momento do uso da razão, e o tenho usado com fervor desde então.

Quer saber que recurso é esse, meu filho? Pois vou lhe dizer.Sendo nosso Criador, Deus tem todos os direitos sobre nós.

Direitos absolutos, completos e que não acabam. Deus é, portanto, nos-so primeiro princípio e nosso último fim.

Entretanto, dada a miséria da natureza humana corrompida pelo pecado, a tendência má que existe nas almas é tentar negar essa evidência mais clara do que a luz do Sol. É por isso que, infelizmente, vemos quase que a todo o momento, a tendência das pessoas de se con-siderarem primeiro princípio e último fim de si mesmas.

Como você já sabe, o modo eficaz de combater uma tendência má é fazer o que se chama “ágeri contra”, ou seja, agir completamen-te em sentido contrário. Ora, se a tendência sugerida pelo mal é de considerarmo-nos donos e senhores de nós mesmos, a reação salvadora qual deve ser?

É nos entregarmos consciente e voluntariamente a Deus como nosso Pai, como nosso Criador, nosso Redentor e nosso Senhor abso-luto.

Para tornar mais fácil a compreensão, sua Mãe vai fazer uma comparação com as relações que existem entre os homens.

69 Mt 6, 13.70 Cfr. Mt 4, 1-11.

Visitas de Nossa Senhora 133

Uma pessoa pode dedicar-se a outra de três modos: uma é dedicar-se como empregado, recebendo um salário e com um relacio-namento regido pelas leis. Terminado o expediente, acabou-se o rela-cionamento.

Outro modo, que hoje em dia não existe mais, é dedicar-se como servo. O servo recebia um salário. Mas recebia outros benefícios também: proteção, moradia, alimentação, vestuário. Muitas vezes era considerado como uma espécie de membro da família. Em contrapar-tida, sua dependência para com o seu senhor era muito maior do que a de um simples empregado. Se este senhor fosse mau, o servo poderia deixá-lo. Mas se fosse bom, caridoso e até santo, o servo estimá-lo-ia tanto que se dedicaria a ele sem limites.

E existia um grau extremo de entrega que era a escravidão. Nesse grau, a pessoa dependia totalmente do senhor, com todos os seus direitos e bens, ficando reduzida como que a uma propriedade do ou-tro.

Claro está que este último grau se prestava a tantos tipos de abuso que a Igreja procurou combatê-lo até chegar à sua inteira elimi-nação, ao menos entre os povos civilizados.

Entretanto, meu filho, imagine que alguém se fizesse escravo de um senhor que fosse extremamente bom, um grande santo mesmo. Este senhor, vendo a generosidade do escravo em dedicar-se a ele, como reagiria? Com egoísmo e ingratidão, ou com uma gratidão, um ampa-ro, um favorecimento que sobrepujasse largamente a generosidade do escravo?

Talvez você esteja pensando: “Mas minha Mãe, isso só existe na teoria. Na prática, a gente só vê egoísmo e maldade entre os homens. Porque a Senhora está me falando de coisas que não existem na reali-dade?”

Será que não existem, meu filho? Será que esse Senhor perfei-to, santo, boníssimo não existe?

Você já está vendo a resposta. Esse Senhor existe, sim. Ele é a própria bondade, a própria generosidade e gratidão. Ele é o Bem abso-luto, é Deus. Tanto nós sabemos disso que, quando nos referimos a Ele, dizemos: “Nosso Senhor”.

E se a tentação para todas as pessoas é voltar-se para si mes-

134 Visitas de Nossa Senhora

mas, a ponto de quase “adorar-se” como se fossem “deuses”, a solução verdadeira, que resolve o problema pela raiz, não será justamente vol-tar-se inteiramente para Deus, entregar-se a Ele do modo mais completo e perfeito?

Que modo será esse?É o modo que sua Mãe do Céu usou para Si mesma, por ilumi-

nação do próprio Deus. Você se lembra do que respondi quando o Anjo São Gabriel veio, da parte de Deus, perguntar-Me se aceitaria ser a Mãe do Messias?

Respondi: “Eis aqui a escrava do Senhor. Faça-se em Mim segundo a vossa palavra”71.

Assim respondi, meu filho, porque desde o primeiro instante do uso da razão, consagrei-Me a Deus como escrava de amor a Ele.

Embora sua Mãe tenha sido concebida sem pecado original, e portanto não houvesse em Mim a menor tendência para o mal, o amor abrasado a Deus Me levava a este ato de entrega radical a Ele, que Se entregou por nós a ponto de encarnar-Se e morrer na Cruz.

Desse modo, filho, fui agraciada por Deus com uma infinidade de tesouros de graças e dons, vivendo então numa união com Ele difícil de imaginar.

Essa felicidade indescritível inunda meu Coração Imaculado, e anseia por derramar-se por toda a humanidade. Pois não Me satisfaço de ter esses tesouros de graças só para Mim, mas quero que todos pos-sam tê-los, e tê-los em abundância.

E por isso estou aqui, meu filho, para comunicá-los também a você. Para ajudá-lo a conhecer e praticar esse modo fácil, seguro, rápido e perfeito de assemelhar-se e unir-se a Deus.

Quando nos consagramos como escravos a Deus, não só reco-nhecemos o direito absoluto, total, que Ele tem sobre nós como Criador, mas reconhecemos particularmente o amor infinito d’Ele em entregar-Se por nós como Redentor.

E note que a entrega d’Ele a nós foi mais completa do que a de qualquer escravo, pois Ele dedicou toda sua vida a nós e Se entregou para sofrer e morrer por nós, do pior tipo de morte que existia, reser-vado somente aos escravos e piores malfeitores: “tomando a forma de

71 Lc 1, 38.

Visitas de Nossa Senhora 135

escravo (...) humilhou-Se a Si mesmo, feito obediente até à morte, e morte de Cruz”72.

Por isso o demônio foge apavorado daquele que se consagra efetivamente a Deus. E Deus Se alegra, Se aproxima e Se une de modo cada vez maior com aquele que se consagra a Ele.

Entre outras razões, foi por isso que Ele criou o instinto de propriedade em nós, instinto nos leva a cuidar com desvelo daquilo que nos pertence, para fazer-nos compreender o quanto Ele mesmo Se des-vela para cuidar daquele que se entrega a Ele como propriedade d’Ele.

Você compreende agora, meu filho, porque é invencível este recurso que o próprio Deus lhe dá para vencer na vida espiritual?

Amanhã, se Deus quiser, sua Mãe lhe falará algo mais sobre o melhor modo de consagrar-se a Deus, de entregar-se-Lhe como escravo perpétuo de amor. Mais tarde, com o espírito bem repousado, convém que você reze, pense e medite um pouco sobre o que conversamos hoje e nos dias anteriores. E peça a Deus que lhe faça aproveitar tudo sempre do melhor modo possível. Sua Mãe continuará aqui ao seu lado rezando e pedindo junto com você. Até amanhã, filho. Que Deus o abençoe.

72 Fl 2, 7-8.

Nossa Senhorade Paris

Visitas de Nossa Senhora 137

Vigésima-quinta visita: Consagração a Jesus

Filhinho querido, como está passando? Sente-se melhor hoje? Caso você já esteja melhor, eleve sua alma para Deus, antes de tudo para agradecer-Lhe por sua infinita bondade e, em seguida, para pedir-Lhe graças abundantes para que você tire todo proveito espiritual que esta provação lhe trouxe. Sua Mãe já está pedindo isto a Deus por você e junto com você.

Mas caso você ainda não esteja melhor do corpo, fique tran-qüilo. Até alegre-se, pois muitas vezes Deus permite algum sofrimen-to material para favorecer o progresso espiritual. E se você ainda está nesta provação, é porque o benefício que Nosso Senhor quer lhe fazer é grande, muito grande.

Veja só, meu filho, o benefício que Ele já está lhe fazendo nes-ses últimos dias, através de sua Mãe, lhe ensinando coisas indispensáveis para sua Salvação eterna. E, sobretudo, dando-lhe forças para amar essas verdades e desejar resolutamente colocá-las em prática.

Por exemplo, o assunto sobre o qual conversávamos ontem. Se não fosse esta provação, será que nós teríamos ocasião de conversar sobre ele? Entretanto, se você quiser, podemos continuá-lo hoje, acres-centando várias coisas novas. E ele é tanto mais interessante quanto nos ajuda a colocá-lo em prática de um modo muito fácil. Quer saber como?

Então convém começar recordando qual é a raiz de todo pe-cado. Como você se lembra, ela está no fato da pessoa querer fazer-se causa e último fim de si mesmo. Em outras palavras, está em querer tomar o lugar de Deus, que é a causa e a finalidade do nosso ser. Deus,

138 Visitas de Nossa Senhora

que nos ama infinitamente, quer nos ajudar a vencer esta má propensão. Para isso, Ele nos ensina o grande meio de cortar esse mal pela raiz. Que meio é esse?

É não somente reconhecer com toda clareza que Ele é nosso Criador e nosso último fim, que nós existimos, portanto, para conhecê-Lo, amá-Lo e servi-Lo, mas tomarmos a resolução de nos entregarmos completamente a Ele, como Senhor nosso absoluto, e do modo mais completo que um ser pode se consagrar a outro.

É muito importante que isto fique claro para você, meu filho, e por isso sua Mãe está repetindo o que já lhe disse ontem. Entretanto, falta lhe dizer qual é o meio mais fácil e eficiente de realizar essa entre-ga a Deus, essa consagração.

Para isso, sua Mãe precisa lhe explicar primeiro como é que Deus, na sua infinita Sabedoria, costuma agir, para que você entenda melhor o modo de se consagrar a Ele.

Você já ouviu falar de mediação, meu filho? A mediação é o modo pelo qual um ser serve de intermediário junto a outro superior, para, de modo mais fácil, obter o que um ser inferior necessita.

Parece complicado de entender? Então vou lhe dar um exem-plo: existem alguns vegetais, como as trepadeiras que, por si mesmas, não têm forças para se elevarem acima das sombras das florestas. Apoiando-se nas árvores, entretanto, conseguem chegar até o topo de-las, onde brilha o Sol. As árvores servem, assim, de mediadoras entre as trepadeiras e o Sol. Também os filhotinhos de quase todos os animais dependem de seus pais, e especialmente de suas mães, para se alimen-tarem, defenderem e desenvolverem normalmente.

Mas é principalmente entre os seres humanos que acontece a mediação. Em todas as épocas da vida, na maior parte das coisas, nós precisamos uns da ajuda dos outros para atingirmos nossos objetivos. E quanto mais difícil ou complexa a atividade, maior a necessidade de uma mediação.

Imagine, por exemplo, um estudante que precisa obter algo do diretor de uma escola muito grande. Ele sabe que o diretor é uma pessoa ocupada e que tem uma grande quantidade de assuntos mais im-portantes para resolver. Entretanto, se o estudante procurar o secretário do diretor, ou mesmo um professor que seja amigo, como estes ficam

Visitas de Nossa Senhora 139

numa situação intermediária entre o diretor e ele, certamente terá mais facilidade em conseguir aquilo de que precisa.

Dessa forma, meu filho, a mediação é necessária para muitas coisas na vida. Mas sobretudo ela é valiosa quando se trata das realida-des mais elevadas, atinentes à alma e à Salvação eterna.

Você sabe como Ele agiu para operar nossa Salvação. Ele Se encarnou, unindo sua natureza divina com a humana, e habitou entre nós73. Porque Deus quis proceder assim? Porque Ele quis dar-nos um Mediador necessário, indispensável para nos relacionarmos com Ele. Esse Mediador é Jesus Cristo, Deus e Homem verdadeiro. Assim, para conformar-nos com a divina vontade, todos nós devemos ir a Deus por meio de Jesus. Foi, aliás, o que Ele mesmo nos disse: “Eu sou o cami-nho, a verdade e a vida; ninguém vai ao Pai senão por Mim”74.

Por essa razão, sua Mãe do Céu consagrou-Se inteiramente a Deus, consagrando-Se inteiramente a Jesus Cristo. Essa consagração como escrava de amor ao meu Divino Filho transformou-Me comple-tamente n’Ele, tanto quanto isto é possível à mera natureza humana, e elevou-Me a um grau de perfeição e união com Ele, a uma felicidade e alegria completamente indizíveis.

Tão grande quanto é esse contentamento, é o meu desejo de que todos possam participar dessa maravilhosa e inefável união. E é por isso, filho, que vim aqui hoje para contar-lhe isso e para convidá-lo a unir-se inteiramente a Jesus, consagrando-se também a Ele na qualida-de de escravo perpétuo por amor.

Sim, por amor, porque antigamente os homens escravizavam os outros por egoísmo e ódio. Mas Jesus, que é Deus, que é o puro Amor, une-Se apenas àqueles que O amam. E como Ele é eterno, essa união deve ser perpétua, para sempre.

Esta consagração a Jesus é, meu filho, o caminho fácil, curto, perfeito e seguro para atravessar a dura caminhada desta vida e chegar até Deus, ir para o Céu por toda eternidade.

Consagrando-nos voluntariamente a Jesus, tornamo-nos pro-priedade d’Ele, da qual Ele mesmo cuidará com todo carinho, como cada um cuida daquilo que lhe pertence.

73 Cfr. Jo 1, 14.74 Jo 14, 6.

140 Visitas de Nossa Senhora

Desse modo fica fácil vencermos nossos maus hábitos, nos-sos apegos, todas as nossas dificuldades, e Jesus encontrará nossa alma como um terreno arado e preparado para Ele semear todas as virtudes e todo o bem. Para vir mesmo morar e residir na alma que assim se Lhe consagra, com o Pai e o Espírito Santo, à espera do dia em que essa união se faça eterna no Céu.

Você vê, meu filho, como Deus é a própria Bondade? Como, apesar das dificuldades que os homens colocam, Ele nos dá meios fá-ceis e eficazes para vencê-las todas e alcançarmos a realização do plano divino que Ele tem para nós?

Não há palavras suficientes para louvar e agradecer a Deus por tanta bondade e misericórdia.

O melhor modo de agradecer-Lhe, meu filho, sabe qual é? É consagrar-se a Ele inteiramente e o quanto antes, consagrando-se a Je-sus Cristo, do modo que sua Mãe lhe ensinou.

Entretanto, filho, há um modo de tornar essa consagração ain-da mais fácil e efetiva. Você quer saber qual é?

Pois bem, amanhã, se Deus quiser, sua Mãe voltará bem cedo, logo que você já esteja desperto e bem disposto, para lhe contar um modo ainda mais acessível de se consagrar a Jesus, a Sabedoria Eterna e Encarnada.

Até amanhã, então, filho. Que Jesus, com seus Anjos e Santos o cubram de bênçãos e proteção.

Visitas de Nossa Senhora 141

Vigésima-sexta visita: A melhor maneira de se consagrar

a Jesus

Bom dia, meu filho. Como está você? Sua Mãe está aqui bem cedo, como lhe prometeu, para conversarmos logo que você estivesse bem descansado.

Hoje é um dia de grande alegria para sua Mãe, porque você conhecerá um modo ainda mais fácil, rápido e efetivo de unir-se e con-sagrar-se a Deus, por meio de Jesus, nosso Redentor.

E sua Mãe está rezando por você para que Deus lhe conceda abundantes graças, de modo que não só você entenda mas deseje arden-temente entregar-se a Deus, de modo que seja Ele quem viva em você, conforme o plano divino sobre o qual já conversamos outras vezes.

Reze, meu filho, reze você também nessa intenção. Pois sem a graça de Deus, nós não podemos nada, mas com ela nós podemos tudo. “Tudo posso n’Aquele que me conforta”75.

Você se lembra, meu filho, daquele exemplo que sua Mãe lhe deu ontem, de uma pessoa que precisa obter algo de um rei? Vamos retomá-lo agora, para você entender melhor como é que o próprio Rei dos reis quer fazer para facilitar seu acesso e sua união com Ele.

Imagine que você é um pobre agricultor e precisa muito que o seu rei o ajude, porque sua colheita de maçãs, por exemplo, foi muito fraca. Você vai falar com um funcionário do palácio real, e este manda procurar o secretário do secretário do rei.

Depois de algumas semanas, você consegue falar com ele. Mas o secretário lhe diz que, como o rei é uma pessoa muito bondosa e quer

75 Fl 4, 13.

142 Visitas de Nossa Senhora

atender todo mundo, há uma tal quantidade de gente na fila que é preciso as pessoas passarem primeiro pelos ministros, para ver se eles mesmos conseguem resolver. E manda procurar o ministro da agricultura.

Após mais algum tempo, você consegue ser recebido pelo se-cretário do ministro, mas ele lhe diz que este está muito ocupado, e talvez no ano que vem possa lhe conceder uma audiência. O que é que você vai fazer, meu filho? Até lá você e sua família já terão morrido de fome.

Aflito, você passa por uma igreja e reza. Aí você tem uma idéia: “por que não vou procurar a rainha, mãe do rei? Todos falam que ela é uma pessoa muito acessível, e que o rei não lhe nega nada. É isto o que vou fazer”.

E você vai até ela. Mas no caminho você se lembra que precisa-ria, pelo menos, mandar algum presente para o rei, porque afinal de contas ele é o rei, já fez tanto por você e por seu país, que o mínimo que você pode fazer para demonstrar sua gratidão é dar alguma coisa para ele.

Mas, dar o quê? Sua colheita foi pobre, restaram apenas algu-mas maçãs que você plantou. E tão fraquinhas... Além disso, ele tem as melhores frutas do reino à sua disposição. O que ele iria fazer da sua maçãzinha?

Nesse momento, você se lembra que, apesar do seu presente realmente não ser digno do rei, talvez ele o leve em consideração se for dado pelas mãos da sua mãe querida. E com isso, lá vai você, cheio de confiança, levando sua pobre maçã para falar com a rainha.

Ela, sendo bondosa, o que é que vai fazer? Vai criticá-lo por-que está oferecendo uma coisa pouco digna do rei? Claro que não. Ela sabe que você está dando, do fundo de sua pobreza, o melhor que você pode.

Sabe o que ela vai fazer? Vai lhe ouvir com toda a atenção, vai pegar a sua maçã fraquinha, vai mandar uma serva limpá-la, dar-lhe brilho, colocar na melhor bandeja de ouro do palácio, e vai levar seu presentinho junto com ela na hora do almoço com o rei.

No momento de servir a sobremesa, ela manda a serva trazer sua maçãzinha colocada na reluzente bandeja de ouro, ainda adornada de flores perfumadas, e diz ao rei: “sabe, meu filho, este é um presente daquele seu vassalo, que lhe quer tanto bem...”

Visitas de Nossa Senhora 143

Qual você acha que vai ser a reação do rei? Qualquer coisa que a rainha-mãe lhe pedir para o seu bem, ele lhe concederá, não é verdade?

Passemos agora da imaginação para a realidade. A realidade, meu filho, é que Deus está acima de toda e qualquer imaginação. E se nós podemos imaginar uma história como essa para compará-la com o modo d’Ele agir, a verdade é que Ele está infinitamente acima de tudo que nós podemos imaginar.

Tanto é assim que, embora Deus não seja atingido em nada por problemas como ocupações e falta de tempo, Ele sabe que, como Ele é um Ser espiritual, perfeitíssimo, puríssimo, Ele está infinitamente acima de nós. E por essa razão quis nos dar Jesus Cristo, que tem a na-tureza humana como nós, como Medianeiro entre Ele e nós.

Mas Ele é de tal maneira a própria Bondade, que quis fazer ainda mais um patamar, nessa escala de mediações, para facilitar nos-so acesso até Ele. Pois, se é verdade, que Jesus tem nossa natureza, também o é que Ele é o Verbo de Deus, Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, Filho Unigênito do Pai.

Por essa razão, Deus lhe deu uma Medianeira junto ao próprio Medianeiro necessário, que é Jesus. E você já sabe Quem é essa Media-neira, não é meu filho? Você está conversando com Ela já há vários dias.

Assim como um rei da Terra, sendo uma boa pessoa, não nega nada que a rainha sua mãe lhe peça, você acha que o Rei dos reis e Se-nhor dos senhores, que é a própria Bondade, poderia negar algo que sua Mãe lhe peça? Claro que não.

É por isso, meu filho, que se você quiser, sua consagração a Jesus Cristo, a Sabedoria Encarnada, pode ser feita por intermédio e pelas mãos de sua Mãe do Céu. Pois meu Coração Sapiencial e Imacu-lado não deseja outra coisa senão torná-lo santo, e fazer com que Jesus Cristo viva em você, e você se una cada vez mais a Ele, durante o tempo de sua vida e por toda a eternidade.

E de tal maneira essa mediação junto ao nosso Mediador é excelente, que Eu mesma, antes de saber que seria a Mãe do Salvador, desejava ardentemente consagrar-Me como escrava à Mãe do Messias. Pois sabia que por meio d’Ela, poderia obter a maior união possível com nosso Redentor.

144 Visitas de Nossa Senhora

Como sabia também que havíamos chegado à plenitude dos tempos e que Ele estava por nascer, de antemão Me consagrei como es-crava Àquela que deveria ser sua Mãe, e rezava continuamente para ter a graça de conhecê-La e colocar-Me inteiramente ao seu serviço.

Mas Deus, que sempre dá incomparavelmente mais do que pe-dimos, teve a infinita misericórdia de enviar-Me o Arcanjo São Gabriel para anunciar que o Verbo Se encarnaria em Mim mesma. Bendito seja Ele para sempre, que olhou para a humildade de sua escrava.

O que Me movia a esta consagração, que realizei desde o primeiro ato de minha razão, era meu ardente amor a Deus. Mas movia-Me também saber que esse modo de consagrar-Me a Jesus por intermédio de sua Mãe virginal, é o modo mais rápido, fácil, perfeito e seguro de unir-se a Deus.

Porque se é verdade que esta união com Ele pode ser compa-rada a um difícil e laborioso trabalho pelo qual se esculpe uma estátua, para o qual é preciso passar por inúmeros golpes do martelo e do for-mão, também é verdade que esta consagração a Jesus pelas mãos de sua Mãe celeste pode ser comparada ao processo pelo qual se faz uma estátua fundindo o material e derramando-o numa fôrma.

Processo no qual o fogo que fundirá o “material”, ou seja, você mesmo, é o salutar fogo da caridade, o amor de Deus, e a forma na qual você será “derramado” para se tornar uma estátua de santidade, é a mes-ma fôrma em que Jesus quis habitar, pelos inefáveis desígnios de Deus.

Esta Fôrma de Deus é sua Mãe do Céu, meu filho, por bonda-de e misericórdia d’Ele. Porque do mesmo modo que o Espírito Santo Me fez conceber Jesus, Ele deseja fazer com que todos os Santos sejam “moldados” nessa mesma “fôrma” em que Ele foi formado.

Aqueles que Me amam tanto que se consagram a Mim como escravos de amor, tornam-se para Mim como coisa e propriedade mi-nha. De modo que fico obrigada, diante de Deus, a cuidar deles com todo o desvelo e amor, tal como cuidei do próprio Menino Jesus.

É por essa razão que, além de amá-los especialmente, Eu os mantenho na virtude, os conduzo, defendo, protejo e intercedo conti-nuamente por eles junto ao meu Divino Filho. E assim como Rebeca protegia seu filho Jacó contra o ódio de seu irmão Esaú76, Eu os protejo contra todo o mal e lhes obtenho todas as bênçãos.

76 Gn 27, 41-46.

Visitas de Nossa Senhora 145

Chego mesmo a dar-lhes uma participação nas minhas próprias virtudes, tanto quanto seja possível, comunicando-lhes o meu espírito e minha força, a graça do puro amor a Deus, uma confiança inabalável, e a completa transformação de suas almas, tornando-as semelhantes a Jesus, para maior glória de Deus.

Estes são, meu filho, os tesouros reservados para aqueles cujo amor a meu Divino Filho leva a procurar consagrar-se a Ele, na quali-dade de escravos, por meu intermédio.

Sua Mãe teria muito mais coisas a lhe dizer a este respeito. E de tal maneira são tantas e belas, que mais conveniente é dar-lhe algum tempo para você refletir sobre o que conversamos hoje, de modo que estas sementes que você plantou hoje em seu espírito possam germinar calmamente, e dar frutos em abundância.

Essa “plantinha” da graça que está nascendo em seu coração, meu filho, pode e deve ser regada e adubada continuamente, para que chegue a produzir frutos e até novas sementes.

Um modo de você cultivá-la é ler o livro que um diletíssimo filho meu escreveu a respeito disso que conversamos hoje. O livro se chama “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem”, e quem o escreveu foi São Luís Maria Grignion de Montfort, que hoje brilha no Céu, como um Sol, por toda a eternidade, bem junto de Mim.

Nesse livro, ele explica em detalhes porque e como se consa-grar a Jesus por intermédio de sua Mãe do Céu, bem como o ajudará a preparar-se para esta grande graça de Deus. Você não terá dificuldade em encontrar este livro porque Eu mesma o ajudarei para isto.

Agora, filho, deixe-se tomar pela paz e quietude que lhe vem da graça de Deus. De dentro dessa paz, relembre o que conversamos hoje e nos dias passados.

Abra sua alma para a luz que Espírito Santo deseja derramar sobre você e sua meditação. Pois é Ele que nos dá o fogo sagrado que funde nossas almas, para despejá-las na Fôrma de Deus que Ele mesmo criou, que é a sua Mãe do Céu.

Até amanhã, meu filho, se Deus quiser. Sua Mãe se despede de você agora, mas continuará aqui a seu lado, rezando por você e pro-tegendo-o. E pronta para atendê-lo quando você precisar, e Me chamar através da oração. Que Deus o abençoe.

Saúde dosEnfermos

Visitas de Nossa Senhora 147

Vigésima-sétima visita: Características e benefícios dessa

Consagração

Filho querido, como vai você? Cada vez que venho lhe ver mi-nha alegria e meu contentamento com você aumenta mais. Por isso peço sempre ao meu Divino Filho, Jesus, que comunique esta minha alegria a você, e lhe inunde a alma de paz, de confiança e de graças.

Quanto à sua saúde ou os seus sofrimentos presentes, não se preocupe. Desde toda a eternidade Nosso Senhor sabe tudo o que nos acontece, bem como o que é o melhor para cada um de nós.

Por isso que Ele disse, através de São Paulo, “todas as coisas concorrem para o bem dos que amam a Deus”77. Tenha certeza disso: o que lhe acontecer, será para o seu bem, desde que você ame a Deus.

E como o verdadeiro amor leva à união, sua Mãe veio hoje lhe falar um pouco mais sobre essa união santa e maravilhosa com Deus, que Ele mesmo quis para você.

Como conversamos ontem, Ele quer tanto uni-lo a Si, que lhe concedeu por Mãe a própria Mãe d’Ele. E Ele quis que Eu fosse sua in-termediária junto a Ele porque estou muito mais próxima de você, uma vez que sou uma criatura humana, do que Jesus, que é Deus e Homem, estando, portanto infinitamente acima de todos nós.

Também por isso, na sua infinita Sabedoria, Deus quis que Je-sus viesse ao mundo por meio de uma Mulher, embora Ele pudesse ter nascido já homem perfeito, como Adão. E assim como Ele quis servir-Se desta sua humilde Escrava para que o Salvador viesse ao mundo, Ele quer de Mim que Eu ajude a todos a chegarem até Ele.

77 Rom 8, 28.

148 Visitas de Nossa Senhora

Desse modo, meu filho, essa consagração a Jesus por meu in-termédio, para a qual Ele lhe convida, é uma devoção cheia de amor e ternura para com Deus, do mesmo modo que sou toda ternura e amor para com Ele.

Esta devoção deve ser, portanto, interior, recolhida, santa, cons-tante e desinteressada. Deve ser feita por puro amor, para que o puro amor de Jesus se derrame sobre você com uma largueza difícil de imaginar.

Ela importa, como conseqüência, numa perfeita renovação dos votos que você fez no Batismo, ou seus padrinhos fizeram por você. Con-sagrando-se a Deus dessa maneira, você renuncia para sempre a satanás, suas pompas e suas obras, de modo formal e completo, afastando-o radi-calmente de si, para que ele nunca mais tenha poder sobre sua alma.

Não que você fique imune às tentações. Pode até acontecer que, em certos períodos, elas aumentem, pois o demônio não larga fácil aqueles que ele considera suas presas.

Mas essas tentações só redundarão para maior glória de Deus e bem de sua alma, pois sua Mãe lhe obterá graças em quantidades para fazer-lhe resistir e vencer a todas elas.

E redundarão também em maior humilhação dos demônios, esses orgulhosos inveterados, que invejam as almas virtuosas porque ocuparão o lugar que eles tinham no Céu e perderam para sempre por seu pecado de revolta.

Renovando as promessas do Batismo, você terá também uma renovação da virtude da Fé, que é a base para todas as demais virtudes. Ainda que você agora conheça pouco a Doutrina Católica que Jesus trouxe ao mundo para a Salvação das almas, você terá um desejo ar-dente, sempre crescente, de conhecer e amar mais estes ensinamentos. E sua Mãe celeste o ajudará a encontrar as pessoas e os livros com os quais você poderá aprofundar seus conhecimentos e, assim, revigorar sua Fé com a graça de Deus.

Crendo e amando, você se lançará nas boas obras, meu filho, pois a Fé sem as obras é morta78. E a prova de que a Fé estará viva em sua alma será seu desejo de fazer boas obras para a glória de Deus.

E ainda que você esteja prostrado numa cama, ou de alguma maneira impossibilitado de fazer qualquer coisa, esse seu desejo, alia-

78 Cfr. Tg 2, 26.

Visitas de Nossa Senhora 149

do às orações fervorosas que você fará, será uma boa obra tanto mais meritória quanto mais seja feita por puro amor de Deus, sem o risco de fazê-las para aparecer ou para agradar alguém.

Quanto aos méritos, é preciso que você saiba que esta con-sagração a Jesus por meu intermédio lhe dará uma participação nos próprios méritos que Ele Me concedeu. De maneira que, ainda que você faça uma simples ação de dar uma pequena esmola, ou rezar uma breve oração por alguém, este ato que de si teria poucos méritos, se unirá aos méritos insondáveis que a Santíssima Trindade Me concedeu.

Por essa razão, no dia do Juízo, você comparecerá diante de Deus revestido não dos poucos méritos que você pudesse reunir em sua vida, mas estará recoberto pelo riquíssimo manto real que Ele Me concedeu, que é o tesouro insondável de méritos, dons e graças que em Mim Ele depositou.

Além disso, meu filho, e por falar nisso, convém que você saiba que aqueles que se consagram a Mim na qualidade de escravos de amor, poderão me confiar todas as graças, dons e méritos que receberem que Eu, como tesoureira fiel, os guardarei e defenderei de todos os modos.

Pois o demônio, chefe de todos os ladrões, não sossega en-quanto não rouba todos os méritos que a pessoa obtém, levando-os a pecar. Mas sua Mãe, que é “terrível como um exército em ordem de batalha”79 contra o mal, não só o expulsará para longe, como fará que seus méritos sejam apresentados íntegros, e até enriquecidos, a Deus, no dia em que você comparecer diante d’Ele.

E neste dia, pelo qual todos passarão, Se você se mantiver fiel a esta sua consagração, você pode ter certeza de que sua Mãe estará bem junto de você para lhe defender de todas as angústias e sofrimentos da morte, e para ser a sua Advogada diante do Santíssimo Juiz, Jesus Cristo, que a todos julgará.

E direi para Ele: “É verdade, meu Jesus. Este pobre filho que agora se apresenta diante de Vós teve tal e tal falta. Mas também é ver-dade que Eu o ajudei e ele se arrependeu, se confessou, passou a rezar e a comungar, se consagrou a Mim como escravo. Ele é meu. E portanto ele é sobretudo vosso. Tende misericórdia dele, meu Filho. É vossa Mãe que Vos pede”.

79 Ct 6, 3 e 6, 9.

150 Visitas de Nossa Senhora

E você terá a alegria de ouvir de Jesus aquela frase bem-aven-turada, que você bendirá por toda a eternidade: “Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo”80.

Tudo isso, meu filho, e até muito mais, está ao seu alcance através desse meio fácil, rápido e seguro que sua Mãe veio lhe ensinar. Por isso desejo muito que você obtenha logo o “Tratado da Verdadeira devoção à Santíssima Virgem”, que meu querido e fiel São Luís Maria Grignion de Montfort escreveu, e comece a lê-lo com fervor.

Porque neste livro você aprofundará ainda mais essas verda-des sobre as quais temos conversado nestes dias, e aprenderá o modo prático de se consagrar a Deus por intermédio de sua Mãe do Céu.

São Luís Maria ensina como se preparar para esta graça sublime, dedicando doze dias para separar-se do espírito do mundo, ou seja da men-talidade que ama o pecado, e depois mais três semanas de preparação.

Nelas, por meio de orações e meditações, você se empenhará, na primeira semana em adquirir o conhecimento de si mesmo, na segun-da, o conhecimento e o amor à sua Mãe misericordiosa, e na terceira, o conhecimento, o amor e a adoração a Jesus, a Sabedoria Encarnada, que veio a este mundo para nossa Salvação.

Terminada esta preparação, se ela for bem feita e cheia das graças de Deus, você desejará ardentemente unir-se a Deus por meio dessa consagração. Para isso, você encontrará no final do “Tratado” uma belíssima oração com a qual você concretizará este ato sublime.

Neste livro você conhecerá também outras devoções, inclusi-ve um modo mais perfeito de receber a Jesus na Sagrada Comunhão. Sobretudo você aprenderá a maneira de caminhar diretamente para a união com Deus, fazendo todas as suas ações por sua Mãe de bondade, com Ela, n’Ela e para Ela, para dessa forma fazê-las de modo perfeito por Jesus, com Ele, n’Ele e para Ele. Consagrando-se assim a Deus, meu filho, o que acontecerá é que Ele mesmo, por assim dizer, se con-sagrará a você. E sua Mãe também.

“Provai e vede como o Senhor é bom, feliz o homem que a Ele se acolhe”81. É questão de provar para ver. Quase como São Tomé,

80 Mt 25, 34.81 Sl 33, 9.

Visitas de Nossa Senhora 151

meu filho. Sem a dúvida que ele teve, mas com a Fé e o fervor que ele manifestou, quando disse: “meu Senhor e meu Deus!”82

Uma última coisa. Talvez tenha lhe passado pela cabeça que a preparação proposta por São Luís Maria é um pouco demorada. E que você gostaria de se consagrar a Deus e à sua Mãe logo, o quanto antes. Até ainda hoje, se for possível.

E você acha que Deus e sua Mãe não queremos a mesma coisa? Claro que queremos, pois queremos para você todo o bem possível.

Para você realizar essa consagração de um modo simples e rápido, ainda hoje, se desejar, basta você dizer em seu interior “eu que-ro”. Ou você pode rezar a oração de consagração breve que encontrará no final deste livro, onde estão algumas orações que você poderá fazer para se unir mais a Nós.

Mas é claro que é de toda conveniência ler o “Tratado” pri-meiro, para entender e amar a fundo o que você está realizando, e seguir as etapas propostas por São Luís Maria. Pois tudo deve ser feito com perfeição para ser feito por amor de Deus.

Sua Mãe agora o deixa, meu filho, para que você possa re-pousar e assim recuperar-se melhor, tanto da alma quanto do corpo. Lembre-se de que Deus não nos dispensa de recorrer aos meios naturais que Ele mesmo nos dá, através da medicina, dos profissionais e das outras pessoas que nos ajudam. Por isso você deve continuar seguindo todas as boas orientações médicas que tem recebido. Mas lembrando-se, sobretudo, de recorrer sempre ao Médico celeste que é Jesus, Nosso Senhor.

Para isso, continuarei aqui ao seu lado, pedindo por você a Ele. Una-se à minha oração, meu filho. Assim, ainda que não estejamos conversando, continuaremos unidos no Sagrado Coração de Jesus. Que Ele o abençoe e o ajude muitíssimo. Até amanhã, se Deus quiser.

82 Jo 20, 28.

Nossa SenhoraSalus Populi

Romani

Visitas de Nossa Senhora 153

Vigésima-oitava visita: Conformidade com a vontade de Deus

Filho querido de meu Coração, como você passou de ontem para hoje? Está melhor, mais animado? O mais importante é que você esteja unido à vontade de Deus. Porque dessa forma você estará inteira-mente unido a Ele.

Da parte de Deus, tenha certeza, meu filho, Ele não quer outra coisa senão esta união. Sua Mãe do Céu também. E ainda os Santos que estão no Paraíso, pois todos Nós desejamos ardentemente que você um dia esteja lá conosco.

Tenha, portanto, muita confiança e muita paz de alma. Por que você tem ao seu lado, e ajudando-o de todos os modos, a maior força que se possa imaginar: a de Deus, a rogos de sua Mãe e de seus irmãos e irmãs do Céu.

Sabe, filho, o assunto sobre o qual temos conversado nos úl-timos dias também pode ajudá-lo muito a consolidar esta paz e esta confiança. Pois se é verdade que o caminho para o Céu é a santidade, é também verdade que esta se obtém sobretudo pela inteira conformidade com a vontade de Deus.

Conformidade esta que chega a ponto de nos consagrarmos como escravos de amor a Ele. Porque o escravo não tem vontade pró-pria, mas faz da vontade do seu Senhor, a sua.

Pense um pouco. Imagine um homem santo e rico que construa um palácio muito bonito, onde haja tudo de bom e do melhor. Quem são as pessoas que ele vai convidar para visitá-lo ou até para morarem em seu palácio?

São aquelas diferentes dele, que não gostam dele e que o deso-

154 Visitas de Nossa Senhora

bedecem? Ou, pelo contrário, são os que se assemelham tanto a ele que só querem, desejam e fazem aquilo que ele também quer?

Deus, na sua infinita Sabedoria, criou os homens assim, meu filho, para nos facilitar entender como Ele é, pois Ele nos criou à sua “imagem e semelhança”83.

Do mesmo modo que um homem ruim não se sentiria bem estando no palácio do homem bom, onde todos são virtuosos, muito menos uma alma pecadora pode estar na presença de Deus no Céu. Por-que sua vontade não se identifica com a de Deus.

Sendo assim, o melhor meio de nos assemelharmos a Deus, e assim nos prepararmos para o Céu, é procurarmos saber qual é a sua vontade em todas as coisas, e nos entusiasmarmos por ela. Sim, meu filho, porque Ele só quer o sumo bem e a suma perfeição, e isto não merece outra coisa senão nosso entusiasmo.

Como fazer, porém, para conhecer a vontade de Deus?Antes de lhe responder, filho, convém que você saiba qual o

principal obstáculo para conhecê-la. Porque, removendo este, tudo fica muito mais fácil.

De um modo muito geral, podemos dizer que existem três grandes tipos de vontades: a de Deus, a dos demônios e a vontade pró-pria.

A de Deus engloba a de todas as almas boas, quer dos Anjos e Santos que estão no Céu, quer dos que estão na Terra.

A vontade revoltada do demônio é aquela que congrega a de todos os anjos maus, que foram expulsos do Céu quando pecaram con-tra Deus84, e as das pessoas más que entregam suas vontades a eles.

Por fim, a vontade própria é aquela que cada um tem, fazendo uso de seu livre arbítrio, ou liberdade de escolha.

À primeira vista, a pior vontade é a do demônio. Uma análise mais atenta, porém, mostra-nos que isto não é verdade porque Deus nos concedeu o livre arbítrio, e isto significa que nossa vontade é comple-tamente livre.

Ainda que o demônio, por ser um anjo decaído, tenha uma natureza mais poderosa que a nossa, ele não tem poder de interferir em

83 Gn 1, 26.84 Ap 12, 7-9.

Visitas de Nossa Senhora 155

nossa vontade. Ela é inteiramente soberana, por desígnio imutável do próprio Deus.

Os demônios tentam interferir sobre ela, é verdade, perturban-do a imaginação, a memória, as paixões e desejos das pessoas, fazendo-as sentir as tentações. Mas agir diretamente sobre a vontade, eles defi-nitivamente não podem.

Se a pessoa consente nessas tentações, então ela peca, porque se afasta voluntariamente da vontade de Deus. Mas se a pessoa pedir graças para não consentir, Deus, que “não permitirá que sejais tentados além do que podem as vossas forças”85 nos ajudará a manter-nos unidos à vontade d’Ele.

Em conseqüência, meu filho, nosso pior inimigo na caminha-da para a Salvação eterna é nossa vontade própria mal utilizada. E por isso se pode dizer que o pior inimigo de cada um, é cada um mesmo.

O primeiro passo para conhecer a vontade de Deus é, portan-to, renunciar à vontade própria quando movida pelo egoísmo ou pelas tentações, para procurar uni-la à de Deus. E isto a gente consegue re-zando e recebendo os Sacramentos, principalmente a Comunhão e a Confissão.

Outra coisa que ajuda muito se unir à vontade de Deus é aque-la atitude de enlevo, de admiração, de maravilhamento para com os reflexos de Deus presentes na Criação, sobre a qual já falamos.

Esse enlevo é composto pela veneração, principalmente quan-do contemplamos algo superior a nós, e pela ternura, que se manifesta tanto em relação às coisas superiores, quanto às iguais e inferiores.

Se nós procuramos olhar com estes olhos, ou com os “óculos da admiração” – lembra deles? – uma bela aurora, um luminoso pôr do Sol, um melodioso passarinho, uma forte tempestade, um inocente cordeirinho, um majestoso leão, e, sobretudo, as pessoas virtuosas, tudo poderá nos servir de escada para subir até Deus.

Essa atitude da alma contemplativa e admirativa nos conduz a uma atitude de humildade, de conformidade e de entusiasmo por tudo o que Ele quer, do modo e para quando Ele quer, antes mesmo que che-guemos a conhecer a sua vontade.

Sabe o que acontece, meu filho, quando temos essa atitude de

85 1 Cor 10, 13.

156 Visitas de Nossa Senhora

admiração para com os reflexos de Deus nas criaturas? O próprio Deus também Se enche de ternura para conosco, do mesmo modo que um bom pai ou uma boa mãe se enternecem pelo filhinho que olha para eles com enlevo.

E assim como os pais, enternecidos pelo amor dos filhos, pro-curam de todos os modos favorecê-los, Deus, que é a infinita Bondade, todo ternura para os que O amam e O adoram, favorece-nos antes de tudo revelando-nos qual é sua vontade santíssima.

Qual o pai que recusaria manifestar sua vontade a um filho tão devotado? Deus a exprime, portanto, como resposta a essa atitude, que no fundo é uma espécie de oração contínua, na qual pedimos para conhecê-la em todas as coisas.

Ele pode manifestá-la de inúmeras formas. Porém, você pode ter certeza, meu filho, que Ele escolherá sempre a forma mais adaptada para você, no estado de alma em que você se encontra no momento.

Às vezes Ele lhe fará conhecer sua vontade através de uma leitura, ou de um santo sermão, ou de um bom conselho que alguém lhe dá. Outras vezes será através de uma inspiração, uma boa idéia que lhe vem à mente, acompanhada de paz e de disposição a qualquer sacrifício para colocá-la em prática. Outras, ainda, por meio de um bom exemplo, de atos de virtude, ou pelo próprio curso dos acontecimentos.

Esteja certo, meu filho, de que não faltarão maneiras para Deus lhe manifestar a sua vontade santíssima. Saiba mesmo que Ele tem mui-to mais desejo de manifestá-la do que os homens desejam conhecê-la. Por assim dizer, Ele fica à espera de que cada um tenha boas disposições de alma, para fazê-la conhecer.

Já lhe aconteceu alguma vez de querer muito fazer uma coisa, mas aparentemente todas as tentativas darem errado? E por mais que você insistisse, acabava não conseguindo o que queria?

Pois saiba que, muitas vezes, é o próprio Deus que dispõe as coisas assim para o seu próprio bem. Até, se você analisar atentamente, acabará percebendo que, em geral, aquilo que você estava querendo com impaciência e não conseguiu, não era o melhor para você.

Outras vezes você terá se dado conta – ou talvez mesmo só nesse momento em que conversamos – que Deus lhe concedeu algo muito melhor e muito maior do que você queria, embora na ocasião

Visitas de Nossa Senhora 157

talvez não tenha percebido. E, que pena, também não tenha agradecido a Ele...

Mas, para agradecer nunca é tarde! Enquanto temos um alento de vida podemos agradecer a Deus por seus infinitos benefícios. Agra-deça a Ele agora, filho, por essas graças todas que Ele lhe tem dado ao longo dos anos. Agradeça-Lhe ter-lhe manifestado sua vontade mise-ricordiosa tantas vezes, apesar de talvez só agora você estar se dando conta disso.

Essa enfermidade ou sofrimento mesmo pelo qual você está passando, não será também uma manifestação do divino beneplácito? Não que Ele queira as dores pelas dores, é claro. Mas sim os benefícios enormes para a alma que você está recebendo com este recolhimento, estas meditações, estas “conversas” com sua Mãe do Céu...

Agradeça-Lhe especialmente porque você hoje ficou conhe-cendo um grande segredo para tornar-se santo e unir-se a Deus: procu-rar conformar-se inteiramente com sua santíssima vontade.

Que reforço isto dá para nossa confiança! Que paz, que tran-qüilidade de alma, ao saber que tudo está acontecendo de acordo com a vontade infinitamente sábia d’Ele!

Deixe-se penetrar por esta paz e por esta confiança, filho, pois este também é um modo de rezar e de permanecer unido a Deus e à sua Mãe do Céu.

Desse modo, ainda que Eu agora Me despeça de você, nós permaneceremos unidos na vontade de Nosso Senhor, vontade esta que, por assim dizer, pulsa no seu Sagrado Coração.

Até amanhã, se Deus quiser, meu filho. Que seu coração pulse em uníssono com o de Jesus e com o meu, sob as bênçãos de Deus.

Nossa Senhorada Luz

Visitas de Nossa Senhora 159

Vigésima-nona visita: Outras maneiras de conhecer a

vontade de Deus

Bom dia, meu filho. Que alegria encontrá-lo com a alma mais bem disposta, progredindo na paz e na confiança!

Sabe o que é isto? É já o efeito de você estar procurando a vontade de Deus. Não existe nada mais tranqüilizante do que se unir ao divino beneplácito.

Aliás, você mesmo já deve ter notado isto. Quando uma pes-soa está doente ou passando por alguma provação, o que mais faz sofrer não são as dores físicas ou morais pelas quais ela passa.

O maior sofrimento vem de não saber o que vai acontecer, e do receio do futuro trazer situações ainda piores. Ainda que no dia se-guinte a pessoa esteja melhor, mais aliviada, esta apreensão a angustia continuamente.

O que aconteceria com esta ansiedade se a gente se lembrasse de que tudo que acontece, sucede única e exclusivamente pela vontade de Deus? E que Ele, sendo a Bondade infinita, só pode desejar e per-mitir aquilo que é melhor para nós, ainda que no momento a gente não compreenda?

Essa agoniante apreensão simplesmente desapareceria, meu filho. E com ela a maior parte de nossas dores e sofrimentos.

Você talvez Me dirá: “Mas minha Mãe, às vezes não aconte-cem coisas ruins, desastres mesmo? Como se pode dizer que isto é a vontade de Deus?”

A resposta é muito simples. É claro que Deus não quer nem poderia querer o mal para ninguém. Mesmo porque o mal é a ausência

160 Visitas de Nossa Senhora

de bem, e tudo que Deus quer e faz é bom em si mesmo, pelo simples fato de provir d’Ele, que é o próprio Bem.

Dessa forma, a doença, que se nos apresenta como um mal, é a falta da saúde, que é um bem. Deus, portanto, não produz a doença. Mas Ele pode permitir que falte a saúde, ou que diminua algum outro tipo de bem.

Contudo, sempre que Ele o faz, Ele tem em vista um bem mui-to maior do que aquele do qual Ele nos priva no momento.

Quer um exemplo muito caseiro? Quando uma mãe castiga seu filhinho que fez alguma “arte”, para a criança a punição pode pa-recer um mal. Porém, quando ela crescer, agradecerá de coração à mãe por tê-la educado no amor ao bem, e com isso tê-la livrado de uma série de sofrimentos que a falta de uma boa educação acarreta: “aque-le que poupa a vara quer mal ao seu filho, mas o que o ama corrige-o continuamente”86.

Assim, Deus querendo-nos infinitamente bem, permite a di-minuição de um ou outro bem menor para assegurar bens incompara-velmente maiores, principalmente o da Salvação eterna.

É muito importante você entender e fixar bem isto que sua Mãe acaba de lhe explicar, porque é a base da paz de alma que você adquirirá ao habituar-se a se conformar com a vontade de Deus.

Mas voltemos à consideração anterior. Se é verdade que, no sofrimento, o que mais atormenta é a apreensão quanto ao que vai acon-tecer, também é verdade que, na medida em que procuremos nos unir à vontade divina, ficaremos em paz e confiantes.

Porque sabemos que, aconteça o que acontecer, Ele vê tudo, Ele sabe tudo, e Ele, que quer sempre o nosso maior bem, conduzirá tudo para o melhor. Ainda que este melhor a gente só venha a conhecer na vida eterna.

Ele não nos dispensa, porém, de procurarmos, por todos os meios ao nosso alcance, remediar os males que nos afligem. Assim, um doente deve procurar os médicos e tomar os remédios, uma pessoa de-sempregada deve procurar emprego, quem brigou deve fazer as pazes.

Mas se, apesar de cumprirmos inteiramente o nosso dever, o

86 Prov 13, 24. “Poupar a vara” significa deixar de corrigir o filho quando este neces-sita.

Visitas de Nossa Senhora 161

sofrimento continuar a nos atingir, devemos ficar tranqüilos e até nos alegrarmos, na medida do possível, pois temos a certeza de que Deus está nos preparando um bem inimaginavelmente melhor.

Assim você vê como a união com a vontade de Deus é a chave de ouro para abrir as portas da felicidade nesta vida, e da felicidade eterna no Céu.

Agora, filho, é preciso ter presente que, mesmo rezando e ten-do aquela atitude de enlevo e veneração sobre a qual conversamos, às vezes não é tão fácil ver qual é a vontade de Deus.

Ele mesmo permite, em algumas ocasiões, que ela não seja conhecida com facilidade. Mas, como você já sabe, Ele faz isso para nosso maior bem. Na realidade, Deus o permite porque deseja unir-nos mais a Ele, através da nossa colaboração com sua graça divina.

Nessas ocasiões, você pode seguir as orientações que Ele mes-mo deu, através do ensinamento da Santa Igreja e de tantos dos seus Santos.

Em primeiro lugar, você deve procurar ter sempre presente aquilo que é o princípio e fundamento da sua união com Deus, ou seja, que Ele o criou para conhecê-Lo, amá-Lo e servi-Lo, e por este meio salvar a sua alma. Portanto, sua vontade santíssima está sempre relacio-nada com este fim mais alto, que deve nortear todas as coisas em sua vida.

Em qualquer dúvida, depois de rezar pedindo que Deus lhe oriente, a primeira pergunta que você deve fazer é: qual opção favorece mais que eu conheça, ame e sirva a Deus? Qual me ajudará a salvar a alma? Esta opção será a mais próxima à vontade de Deus.

Em segundo lugar, você deve procurar analisar a sua própria alma. Existem três estados temperamentais em que uma pessoa pode se encontrar para tomar uma decisão: o da desolação, o da consolação e o estado normal. Para você saber em que estado se encontra, basta anali-sar quais reações a situação provoca em sua alma.

Quando a pessoa está na desolação, ela tende ao abatimen-to, ao desânimo, ao pessimismo ou à agitação, excitação, irritação, ou perturbação. Na consolação, as tendências são opostas, e a pessoa não somente corre mas até voa em direção ao bem.

E no estado temperamental normal a pessoa não está nem

162 Visitas de Nossa Senhora

numa, nem noutra situação, mas tem suas emoções sob o controle da inteligência e da vontade, de modo que raciocina com mais clareza e só deseja aquilo que será para o seu bem.

Desse modo, quando você se sentir excitado, perturbado, aba-tido, tendente ao desalento ou ao pessimismo, não dê ouvidos às pro-postas, interiores ou exteriores, de fazer mudanças nos bons rumos e nas boas decisões que você tomou na vida.

Portanto, nada de deixar de assistir à Missa, confessar, co-mungar, rezar, meditar, dar esmolas, freqüentar os bons ambientes. Em tempo de desolação não se devem fazer mudanças na vida espiritual.

Depois, num momento de maior paz e autodomínio, você verá com mais clareza como foi melhor não ter se precipitado numa decisão movida pelo desânimo ou pela perturbação.

Quando estiver na desolação, procure, com calma, sempre voltar ao estado temperamental normal, o que você conseguirá com a paciência e a oração, pois é neste estado que você verá com clareza para escolher acertadamente.

Entretanto, quando você perceber que a graça de Deus lhe move a alegrar-se em fazer algum sacrifício, a dar mais de si, a aumen-tar sua generosidade, e estes movimentos de alma vêm acompanhados de paz e serenidade, você pode entregar-se a eles com o coração vibran-te de entusiasmo por fazer a vontade de Deus.

Esse entusiasmo, contudo, não diminui o domínio que a sua inteligência e sua vontade devem ter sobre suas decisões. Pelo contrá-rio, facilita-o, pois nem sempre a vontade consegue acompanhar aquilo que a razão nos mostra ser melhor se não estivermos abrasados pelo amor de Deus.

No estado temperamental normal, que é o que ocorre na maio-ria das vezes na vida, você deverá procurar favorecer ao máximo o uso da sua inteligência e da sua vontade, iluminadas pela Fé e pelo conselho de alguma pessoa virtuosa, antes de tomar alguma decisão.

Para isso, você se empenhará em manter-se tranqüilo, até com uma espécie de indiferença entre as opções que se apresentam, para não deixar que as emoções lhe levem para uma escolha inadequada.

Após rezar, pedindo a Deus que lhe ilumine, você poderá ana-lisar racionalmente qual das opções vai favorecer mais o cumprimento

Visitas de Nossa Senhora 163

da finalidade para a qual Deus lhe criou, e quais as conseqüências que elas terão, tendo em vista este fim mais alto, se forem adotadas ou ex-cluídas.

Como numa daquelas balanças antigas, você vai colocando nos pratos os prós e os contras de cada opção. Mas o fiel da balança deve sempre apontar para o amor, o conhecimento, o serviço de Deus, e a Salvação de sua alma.

Depois, reze novamente a Deus, agradecendo-Lhe as luzes e oferecendo-Lhe a decisão que tomou. Peça-Lhe que Ele a queira rece-ber e confirmar, se for conforme com sua santíssima vontade, ou que Ele lhe faça ver que não o é, caso você se tenha enganado.

Claro está que todas essas orações você pode fazer por in-termédio de sua Mãe, meu filho, pois sempre tenho o maior empenho que você acerte nas escolhas que deve fazer na vida, para estar sempre unido à vontade de Deus.

Há ainda outros recursos práticos de que você pode lançar mão para conhecê-la. Assim, diante de uma dúvida, você pode imaginar que um amigo ou um parente seu viesse lhe pedir um conselho sobre qual decisão deveria tomar, estando ele na mesma dúvida e situação que você. O conselho que você daria para ele, movido pelo desejo do seu maior bem e da maior glória de Deus, em geral é o que você mesmo deve adotar para si.

Por exemplo: você está em dúvida se deve fazer uma viagem muito interessante, mas perigosa para sua alma. Você aconselharia a uma irmã sua, a um filho seu ou amigo de infância que a fizesse? Claro que não. Do mesmo modo, não a faça você.

Outro modo ainda mais eficiente é imaginar-se a si mesmo no momento da morte, sabendo que se aproxima o julgamento de Deus. Imaginando-se assim, pensar o que é que você gostaria de ter feito na-quela situação – que é aquela em que você se encontra agora – para ter garantida a sua Salvação.

Esse modo é quase infalível, meu filho, pois é o Espírito Santo que diz: “Em todas as tuas obras, lembra-te de teus Novíssimos e nunca jamais pecarás”87.

Qual o ladrão que roubaria, por exemplo, se no momento da

87 Eclo 7, 40. Os Novíssimos são: a morte, o Juízo, o inferno e o Paraíso.

164 Visitas de Nossa Senhora

tentação parasse e se imaginasse na hora da morte, na iminência de ser julgado por Deus? Se ele pudesse voltar no tempo e não roubar naquela ocasião, ele não voltaria, para evitar sua condenação? Pensando assim, com a graça de Deus, certamente desistiria de roubar.

Desse modo, uma das maneiras mais acertadas para a gente conhecer e praticar sempre a vontade de Deus é fazer agora, e durante toda a vida, tudo o que na hora da morte gostaríamos de ter feito em cada situação, para alcançar a Salvação eterna.

Ah, que alegria, que tranqüilidade de consciência tem, nos úl-timos momentos da vida, quem sempre agiu assim! Não vale a pena pôr isto em prática para ter esse gáudio e essa serenidade também?

Deus quer lhe dar essa serena alegria de alma, meu filho, não ape-nas no momento de deixar esta vida, mas durante todo o tempo dela. Basta você procurar conhecer e praticar a vontade d’Ele. Porque esta é realmente a chave e o segredo da felicidade. Tanto nesta vida quanto na eterna.

Para concluir, vou lhe dizer qual é o melhor modo de conhe-cer a vontade de Deus: é não se preocupar em conhecê-la, mas tratar de conformar-se com ela na medida em que ela se faça conhecer pelos acontecimentos. Parece até uma contradição com o que lhe disse antes, não é?

Mas a explicação é simples. Se estivermos convencidos de que tudo acontece por vontade de Deus e para o nosso bem, nossa confiança n’Ele deve levar-nos a nos deixar conduzir inteiramente pela vontade d’Ele.

Esse abandono à vontade divina é o segredo da paz de alma inalterável dos Santos, mesmo no meio das maiores dores e sofrimen-tos. É verdade que esta não é uma meta fácil. Mas você chegará até lá, com a graça de Deus.

Conversamos bastante hoje, meu filho. Mas não tenha receio de esquecer alguma coisa. Você recebeu realmente um tesouro. Mas, se você quiser, você pode guardar esse tesouro no cofre mais seguro que existe, que é o Coração Sapiencial e Imaculado de sua Mãe.

Deixe-o depositado aqui, meu filho, e una seu coração ao meu. Assim unidos, você terá não somente este tesouro o tempo todo à sua disposição, mas ainda outros incomparavelmente maiores, que são os que Deus Me deu para distribuir.

Visitas de Nossa Senhora 165

Permaneça unido com Jesus e com sua Mãe, meu filho, mes-mo enquanto repousa. Depois, quando despertar, deixe que nossa con-versa volte à sua mente naturalmente.

Releia um pouco, se quiser, reveja os pontos que mais o con-solaram. Volte, mesmo, outros dias, a essa conversa de hoje, pois ela poderá ajudá-lo muito no futuro.

Agora sua Mãe se vai, mais uma vez. E mais uma vez, Se vai ficando, unida a você no Sagrado Coração de Jesus. Que Ele o abençoe, meu filho. Até amanhã.

Nossa Senhora Imperatriz da

China

Visitas de Nossa Senhora 167

Trigésima visita: Serviço e obediência a Deus

Sua Mãe está de volta, meu filho, para conversarmos mais um pouco. Um dia você saberá quanta alegria Me dá estar aqui com você. Este dia será o Dia Eterno, em que você estará na perfeita felicidade, bem junto de Deus e de Mim.

Toda alegria que você possa imaginar, tudo o que seus olhos possam ter visto de bom, ou seus ouvidos possam ter escutado de mara-vilhoso, não se compara com essa felicidade eterna.

E você já sabe qual o meio, aliás muito fácil, para começar a obtê-la, não é? Basta desejá-la. Desejá-la ardentemente e cada vez mais.

Esse desejo do Céu, da santidade - que é o caminho para o Céu - é por si mesmo uma oração. Una este seu desejo, meu filho, ao desejo e às preces que sua Mãe celestial faz também nessa intenção. Assim, meu Divino Filho, Jesus, a atenderá certamente.

Principalmente porque você, em seu interior, já se consagrou a Ele, por meio de sua Mãe. Você é como uma “propriedade” d’Ele. Você acha que Ele permitiria que essa “propriedade” se perca?

Confiança, meu filho, e alegria! Porque desde que você se con-fessou e (re) começou a comungar, você passou a participar da vida de Deus, porque passou a viver em estado de graça. A Santíssima Trindade está habitando em sua alma.

Sim, é mesmo difícil de compreender. Mas esta é a Bondade infinita de nosso Deus. Ele não só quer vir viver em nós, como quer fazer-nos participantes da sua própria vida incriada. Este é o tesouro incalculável que Ele nos concede com a graça divina.

168 Visitas de Nossa Senhora

É por causa da graça que você já está tendo mais facilidade de procurar conhecer a vontade de Deus em todas as coisas. Está começando a procurar e a se enlevar com os reflexos d’Ele nas criaturas e mesmo nos acontecimentos, que são todos permitidos por Ele para o nosso bem.

Hoje, meu filho, se você quiser, sua Mãe lhe falará um pouco sobre mais uma conseqüência dessa bendita atitude de enlevo e de pro-cura de Deus.

Como você se lembra, ela nos ajuda enormemente a unirmo-nos ao nosso Criador e nos facilita conhecer sua vontade santíssima. Mais ou menos como um filho amoroso, que admira muito seus pais, tem muito mais facilidade de conhecer os seus desejos e unir-se a eles, do que um filho egoísta ou negligente.

Mas assim como um filho dedicado ama seus bons pais, e por-que os ama, quer realizar todos os seus desejos, sabendo que são con-formes com os de Deus, também a alma fiel não quer outra coisa senão obedecer à vontade divina.

Esse amor, fruto do enlevo, da veneração e da ternura, faz bro-tar do fundo de nossa alma, um desejo ardente de obedecer e cumprir todas as vontades de um Pai tão Santo. Faz-nos voar, como um par de asas, ao serviço, à obediência e mesmo ao holocausto por Deus, Nosso Senhor.

Como não amar um Ser que nos ama tanto que, apesar de não precisar de nada nem de ninguém, criou todo o universo por puro amor às suas criaturas? Como não amar Àquele que, sendo Deus, Se fez Ho-mem para sofrer e morrer por nós na Cruz, pagando em nosso lugar as dívidas contraídas pelo pecado?

O amor arrasta ao serviço, meu filho, e à obediência. Não tem sentido alguém dizer que ama um outro e não fazer aquilo que este lhe pede, mesmo que isso importe em sacrifício, não é verdade?

E ainda se nos fossem pedidas coisas difíceis ou contrárias ao nosso bem! Mas o que Deus nos pede é só o que nos une a Ele e nos traz felicidade, já nesta vida. Pede-nos apenas cumprir seus Dez Mandamentos, bem como os cinco Mandamentos de sua Igreja, que decorrem deles. “Porque o amor de Deus consiste em guardarmos os seus Mandamentos”88.

88 1 Jo 4, 3.

Visitas de Nossa Senhora 169

Se sua Lei fosse como as de alguns países, tão longas e com-plicadas que enchem vários livros... Mas não, são apenas dez os Man-damentos. E tão conformes com nossa felicidade, que seu cumprimento só nos traz benefícios, e sua desobediência só acarreta amarguras nesta vida, e a condenação na outra.

Contudo, é preciso reconhecer, meu filho, que se não houver esta atitude de amor, de veneração e de ternura por Deus, a obediência à sua vontade torna-se muito, muito difícil. Pois o ser humano, depois do pecado original e dos pecados de cada um, infelizmente tende para o egoísmo, para o fechamento em sua vontade própria, no qual está a raiz dos pecados.

A chave que abre as portas do coração para este amor enlevado é a oração. E, por isso, acaba sendo tudo ou muito fácil, ou muito difícil:

Muito fácil, desde que você reze, peça a graça do amor a Deus e ame-O abrasadamente, sem medidas e sem limites.

Muito difícil, desde que não reze ou reze pouco, não O ame ou ame-O pouco, e acabe se entregando a um falso amor por si próprio. Falso porque na realidade é ódio, uma vez que só traz infelicidade. É por isso que se pode dizer, como o meu querido filho Santo Afonso Ma-ria de Ligório, que “quem reza se salva, quem não reza, se condena”89.

Este amor nos leva a obedecer a Deus. E essa obediência nos leva a servi-Lo. Servi-Lo diretamente, ao fazer sua vontade em todas as coisas, ao adorá-Lo, louvá-Lo, agradecer-Lhe, oferecer-Lhe reparações, e fazer-Lhe todas as súplicas que Ele deseja que façamos. E servi-Lo indiretamente na pessoa do próximo. Pois quem diz que ama a Deus, a Quem não vê, e não ama a seu próximo, a quem vê, é um mentiroso90.

O serviço, meu filho, na verdade é uma alegria. Porque nada alegra mais o coração do justo do que saber que faz a vontade de nosso Pai que está no Céu.

Ainda mesmo quando este serviço importe em algum sofri-mento, alguma dificuldade para nós. Porque o que significa uma peque-na dificuldade quando o próprio Verbo encarnado, Jesus Cristo, padeceu o tormento da Cruz, depois de ter passado toda uma vida de privações, humilhações e dores?

89 Cfr. Santo Afonso Maria de Ligório. A oração, o grande meio de Salvação. Petró-polis: Vozes, 1938.

90 Cfr. 1 Jo 4, 20.

170 Visitas de Nossa Senhora

E o que foi que Ele fez senão dar-nos, continuamente, o exem-plo desse serviço e dessa abnegação, ainda quando recebesse em troca as piores ingratidões?

Qual o homem que daria algo àqueles que o estão matando, no momento mesmo desse assassinato? E entretanto Jesus, meu Divino Filho, não fez outra coisa se não Me dar como Mãe a todos os seres humanos, na ocasião mesma em que morria por eles na Cruz. Foi o que Ele fez quando disse a São João, que naquele momento representava toda a humanidade: “Filho, eis aí a tua Mãe”91.

Tamanho amor poderia ser desprezado? Não, não é possível! Vamos pedir juntos, meu filho, a graça desse amor santo e ardoroso a Jesus! Vamos pedir que o fogo abrasador que Ele veio trazer à Terra incendeie também o seu coração, para que você possa servi-Lo como Ele merece, particularmente nas pessoas daqueles que mais necessitam de ajuda.

Pois precisamos não esquecer que Ele também disse: “Todas as vezes que vós fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeni-nos, foi a Mim que o fizestes”92. E que será sobre este serviço que Deus nos pedirá contas no dia do Juízo.

Vale a pena recordar, também, que assim como a alma é su-perior ao corpo, da mesma forma as necessidades espirituais são supe-riores às corporais. Pois o corpo atual passará, mas a alma ficará para sempre, ou no Céu ou no inferno.

Por isso, devemos dar prioridade aos serviços que prestamos às almas, sem nunca negligenciar o atendimento às necessidades ma-teriais das pessoas. Esse serviço, esta ajuda que devemos fazer às al-mas chama-se apostolado, evangelização. Ou seja, aquilo a que mais os Apóstolos se dedicavam, abrasados por este amor de Deus.

E que o próprio Jesus fazia, como nosso supremo Modelo. Pois sempre que Ele atendia a alguma necessidade material, como a restituição da saúde ou a obtenção do alimento, tinha como fim mais alto o benefício espiritual, a conversão e a Salvação das almas.

É tão fácil fazer apostolado, meu filho. Basta amar a Jesus, que o resto vem por acréscimo. Porque se alguém ama o Redentor é cla-

91 Jo 19, 26.92 Mt 25, 40.

Visitas de Nossa Senhora 171

ro que amará o redimido, ou seja, aquelas pessoas por quem Ele sofreu e morreu na Cruz.

Basta dizer uma palavra de alento, demonstrar interesse e afei-ção. Basta às vezes apenas um olhar, um cumprimento, e o outro já perceberá que o amamos por amor de Deus.

Não existe nada mais consolador para uma alma que se sen-te abandonada do que perceber que alguém se interessa por ela, que alguém a ama, meu filho. Nesse ato de amor ela vislumbrará o Amor infinito que é o próprio Deus, e começará a abrir sua alma para Ele.

Uma vez aberta a porta da alma, ou mesmo apenas entrea-berta, pouco a pouco o outro passará a demonstrar interesse e atenção pelo que você tenha a lhe dizer para conduzi-lo a Deus. Principalmente porque ele perceberá que, no fundo, não é você quem estará falando, mas Deus, através de sua cooperação. Pois o verdadeiro apostolado é a transmissão da graça divina. E esta só pode ser concedida pelo próprio Deus.

É por essa razão, aliás, que mesmo que você se encontre to-talmente sozinho, ou sem possibilidade de falar com ninguém, ainda assim você pode fazer apostolado. E muito! Porque uma vez que o apos-tolado é a transmissão da graça, e Deus a concede mediante a oração, o mais importante na evangelização é a própria oração.

Rezando, rezando e rezando é que se faz apostolado, meu fi-lho. Os atos concretos virão depois. Para que a pessoa a quem você queira ajudar - quer material, quer espiritualmente - esteja com boas disposições para receber esta ajuda, é preciso que ela obtenha antes as graças de Deus. E estas Ele concede na medida em que a gente peça, rezando.

Portanto, todo mundo pode ser missionário, todo mundo pode ser apóstolo, meu filho. Mesmo que esteja cego, surdo, mudo, preso numa cama, numa cadeira de rodas ou numa prisão, proibido de falar com os outros.

Principalmente os que sofrem é que podem ser apóstolos! Pois se sofrerem por amor de Deus, sua oração será muito mais prontamente ouvida e atendida por Aquele que é o Pai de Misericórdia.

Claro está, filho, que sua Mãe do Céu estará sempre à dispo-sição para levar estas suas orações pelo bem das almas até Deus. E que,

172 Visitas de Nossa Senhora

unindo-se a Mim através da consagração, suas orações serão vistas por Jesus quase como se fossem minhas, porque serei Eu Quem as apresen-tará a Ele em seu lugar.

Alegre-se, portanto, meu filho! Você também é um apósto-lo, você também é um missionário! Você pode desde já ajudar a qual-quer pessoa, mesmo que ela esteja do outro lado do mundo, oferecendo a Deus seus sofrimentos e suas orações, em união comigo, em favor dela.

Mesmo quando você for repousar um pouco, você poderá ofe-recer este seu repouso, e até o pulsar de seu coração e suas respirações, em favor das almas. Porque qualquer ato do seu ser que possa ser consi-derado poderá ser visto por Deus como uma oração, se for oferecido em união com os méritos infinitos de Nosso Senhor Jesus Cristo e, se você quiser, por meio de sua Mãe celeste.

Faça este oferecimento, meu filho. Faça-o, sim, com muita alegria e paz de alma. E depois descanse tranqüilo. Porque sua Mãe continuará aqui ao seu lado, ajudando-o a entender e aproveitar bem tudo o que você aprendeu de novo hoje sobre como amar e servir me-lhor a Deus.

Sua Mãe Se despede de você agora para podermos continuar nossa conversa amanhã, depois de você ter meditado bem sobre a de hoje.

Que Deus o abençoe e o cubra com sua proteção onipotente para sempre. Até amanhã, meu filho.

Visitas de Nossa Senhora 173

Trigésima-primeira visita: Sofrimento, paciência e amor à Cruz

Bom dia, meu filho. Que alegria encontrá-lo bem disposto na alma, mesmo quando no corpo você ainda esteja passando por algum sofrimento.

Isso é sinal de que sua alma está crescendo no amor e na união com Deus. Pois você já sabe que tudo que lhe venha a acontecer é per-mitido por Ele para seu maior bem, ainda quando você não entenda porque aquilo está acontecendo.

Em verdade, não há nada que alivie mais as dores dessa vida do que essa conformidade com a vontade de Deus. E para obtê-la, nada melhor do que rezar pedindo a virtude da paciência. É ela que torna o sofrimento não só suportável, como meritório aos olhos de Deus.

Uma prova dessa verdade é o tormento em que se transforma a vida dos que se impacientam ou se revoltam contra as provações que nosso Pai adorável permite que aconteçam.

Veja, por exemplo, a triste situação de tantos dependentes de drogas ou do álcool. Eles procuram fugir dos problemas da vida através delas, mas o que é que conseguem? Apenas adquirir um horroroso pro-blema novo, um vício tremendo que acaba por levá-los à morte, depois de pavorosos sofrimentos.

Procure também se lembrar de pessoas que você conheceu que não queriam tolerar sofrimento algum. Quando elas se lamentavam, se impacientavam ou reclamavam, conseguiam diminuir suas dores, obter a paz? Ou apenas piorar sua situação?

Se, entretanto, elas reconhecessem que, nesta vida, o homem não está no Paraíso, mas num lugar de provação onde a dor, as dificul-

174 Visitas de Nossa Senhora

dades e os sofrimentos fazem parte da realidade, não seria muito mais fácil começar a suportá-las?

Vou lhe dar outro exemplo que ajudará a entender a importân-cia da paciência. Como você sabe, meu Santíssimo Filho, Jesus, foi cru-cificado entre dois ladrões. Um deles pediu perdão, aceitou o sofrimen-to como penitência por seus pecados e morreu em paz, ouvindo de Jesus aquelas palavras dulcíssimas: “Hoje estarás comigo no Paraíso”93.

O outro, revoltando-se, blasfemava impacientemente e teve uma morte horrível. Por que o mesmo tipo de padecimento pode, para um, abrir as portas do Céu, e para o outro, as da condenação?

Porque o bom ladrão foi perdoado, recuperou o estado de gra-ça e sofreu com paciência.

Faça também o mesmo, meu filho. Antes de tudo, reze pedin-do a graça de compreender que os sofrimentos fazem parte da vida, que padecê-los em estado de graça e com paciência é o único modo de torná-los suportáveis, e que, suportados assim, eles se transformam em chaves que abrirão o Paraíso.

E sabe porquê? Porque o ser humano, depois do pecado, é de tal maneira tendente ao egoísmo, a fechar-se sobre si mesmo, que se não fosse a dor, aceita com resignação, ele acabaria se esquecendo por completo de Deus. Não só caminharia certamente para sua infelicidade eterna, como tornaria sua vida insuportável aqui na Terra.

Quando começamos a compreender isso, a realidade toma um novo colorido, abrem-se novos horizontes, tudo fica mais fácil na vida espiritual. Passamos a entender o quanto é benéfica para nós a resistên-cia às más inclinações, apesar do sofrimento que essa resistência pode trazer consigo.

Não é muito mais fácil, por exemplo, na hora em que uma pessoa se zanga com outra, dizer-lhe um desaforo ou até agredi-la? Para dominar-se nessa hora é preciso rezar e esforçar-se para não ceder à tentação. É claro que isto é difícil e faz sofrer.

Mas se a pessoa não se esforça, o que acontece? Ela se afasta de Deus, porque não cumpre a sua vontade. Com o tempo, vai se vi-ciando em ceder às tentações e acaba correndo o risco de ficar afastada d’Ele para sempre.

93 Lc 23, 43.

Visitas de Nossa Senhora 175

Por outro lado, já nesta vida mesmo, em vez de diminuir seu sofrimento, ela o aumenta. Porque quando a pessoa cede à raiva e briga, muitas vezes arruína uma amizade antiga, um laço familiar, um empre-go, um casamento. Isto só para falar do vício da ira.

Por essa razão, a Igreja, através de seus Papas e seus Santos, sempre ensinou que é necessário mortificar as paixões, as más tendên-cias. Talvez, meu filho, você nunca tenha ouvido falar a palavra “mor-tificação”. Existe mesmo gente que não fala dela porque pensa que é alguma coisa ruim, associada à morte, à extinção. Que grande engano!

Você pode compará-la com um antibiótico que mata um mi-cróbio para evitar que ele leve o organismo à morte. A mortificação consiste, portanto, em extinguir aquilo que pode levar o homem para a verdadeira morte, que é a condenação eterna.

Ela é o esforço que todos devem empreender, com a graça de Deus, para submeter as más tendências ao domínio da razão e da força de vontade. E, dessa forma, submeter a nossa vontade à de Deus. Foi o que Jesus nos ensinou não somente com palavras, mas sobretudo com exemplos.

E quantos exemplos! Basta lembrar como Ele procedeu quan-do foi crucificado. Se quisesse, Ele poderia ter descido da Cruz quando o desafiaram a descer para provar que era o Messias. Por que não o fez? Porque Ele sabia que a vontade de Deus era que Ele morresse por nós, para que ficássemos livres da morte eterna. E que a prova que pediam fosse dada três dias depois, de modo irrefutável, por sua Ressurreição.

Assim como Jesus, peçamos a graça de ficar “crucificados” nas cruzes que Deus nos envia, enquanto Ele quiser. De amar essas cruzes de todo o coração, porque só assim, como Ele, ressuscitaremos para a vida eterna.

Pode ser, meu filho, que a essas alturas você esteja meio pen-sativo, achando que isso tudo está acima de suas forças.

Vou lhe dizer a verdade inteira: não só está acima, como está muito acima delas, porque está totalmente acima das forças de qualquer pessoa humana. Mas está infinitamente abaixo da força e do poder de Deus. Foi Jesus Quem o disse: “O que é impossível aos homens é pos-sível a Deus”94.

94 Lc 18, 27.

176 Visitas de Nossa Senhora

É por isso, filho, que lhe convido a consagrar-se a Deus por meu intermédio. Porque assim sua Mãe intercederá por você constante-mente, de modo a obter de Deus graças superabundantes para ajudá-lo a progredir nessa estrada real, toda feita de luz celeste, que lhe conduzirá ao Céu.

Debaixo dessa luz você compreenderá, cada vez mais, que o sofrimento, a paciência, a dor e a provação, são, na realidade, seus gran-des aliados nessa caminhada, nesse vôo para o Paraíso. E você verá que este caminho, apesar das dificuldades que possa conter, é o único que oferece as verdadeiras e até as maiores alegrias que se encontrar na vida presente.

À medida que esta luz, que vem dos ensinamentos e dos exem-plos de Jesus, for lhe iluminando o caminho, você estará passando do trecho da estrada que chamamos de “via purgativa”, para o que chama-mos de “via iluminativa”.

Continuemos, meu filho! Seu Anjo da Guarda o está ajudando também, radiante de felicidade em ver o seu progresso. Todos os Anjos e Santos do Céu estão contentíssimos com você, e rezando por você. Todos eles rezam a Deus por intermédio de sua Mãe celeste. Reze você também. Peça, confie e tenha certeza: você receberá!

Você entrará no trecho final da estrada, chamado de “via uniti-va”, pois se unirá cada vez mais ao seu Criador e Redentor, e se deixará conduzir cada vez mais pelo Espírito Santo.

No final dessa estrada está Deus Nosso Senhor, a Bondade infinita, sorrindo, à sua espera. Com Ele, toda a Corte celestial, da qual você também fará parte e onde terá a felicidade perfeita para sempre.

Sabe, filho, para nós que já estamos no Céu, não existe tempo nem distância. Eles existem só para os que ainda estão no período de prova, que é a vida terrena. Por isso, na medida em que você tenha Fé, você poderá estar, ao menos em espírito, bem perto de Deus, de sua Mãe e da Corte celestial, mesmo sem ainda ter chegado lá. Basta você estar em estado de graça e rezar, pensar em Nós, “conversar” conosco.

Pois fique conosco, meu filho. Medite em tudo que conversa-mos hoje, que você se aproximará cada vez mais de Nós. É por isso que sua Mãe sempre lhe diz que se vai, mas que se vai ficando. Pois estou sempre junto daqueles que Me amam. Amanhã, se Deus quiser, conver-saremos um pouco mais. Que Deus o abençoe.

Visitas de Nossa Senhora 177

Trigésima-segunda visita: O bom combate

Bom dia, meu filho querido. Você descansou bem de ontem para hoje? Está se sentindo melhor?

Sentindo-se ou não, o que mais importa é que sua alma está melhorando a olhos vistos. E isto dá muita alegria a Jesus, que desejou tanto este seu progresso, que chegou a morrer por você na Cruz, depois de ter levado uma vida toda de sacrifícios e sofrimentos por amor à sua alma.

E como alegra a Jesus, alegra muitíssimo à sua Mãe do Céu, que não quer outra coisa senão a sua felicidade completa.

Você se lembra, meu filho, daquela parábola em que Jesus Se compara a um pastor que deixa o rebanho pastando e vai procurar uma ovelha que se perdeu95? O Bom Pastor enfrenta os espinhos, os mata-gais, as feras e até a morte, mas vai atrás de sua ovelha, até encontrá-la, colocá-la sobre seus próprios ombros, e trazê-la de volta ao rebanho.

Assim como o Bom Pastor tem uma alegria indizível quando encontra sua ovelha perdida, sua Mãe celeste, que é a Mãe do Bom Pastor, também fica radiante de felicidade por ver a ovelha que retornou para junto d’Ele.

E o que sua Mãe quer, agora que você está novamente junto de Jesus? Evidentemente que não se separe d’Ele nunca mais. E que se una cada vez mais a Ele, para receber de suas próprias mãos o alimento sagrado, e de seus lábios divinos, os ensinamentos que lhe inundarão de luz: “Minhas ovelhas ouvem a minha voz, e Eu as conheço, e elas Me seguem. Eu dou-lhes a vida eterna; e elas jamais hão de perecer, e

95 Jo 10, 11-17.

178 Visitas de Nossa Senhora

ninguém as arrebatará da minha mão”96.Para isso, sua Mãe quer lhe dar alguns conselhos práticos, para

que você possa aproveitar bem tudo o que temos conversado ao longo desses dias abençoados.

Esses conselhos são as orientações que a Igreja sempre deu aos seus filhos, para eles progredirem na vida espiritual. Não se trata de nenhuma novidade, portanto, mas do ensinamento do Espírito Santo, mais que comprovado pela experiência dos séculos.

Para unir-se cada vez mais a Jesus, manter-se em seu rebanho, caminhar e voar cada vez mais rumo à felicidade eterna, você precisa, meu filho, manter-se e progredir na vida espiritual. Porque nela, não progredir é retroceder.

Essa vida consiste na participação na própria vida incriada de Deus, através da graça divina que Ele concede aos que cumprem a sua vontade e imploram a sua ajuda, por meio da oração e da recepção freqüente dos Sacramentos.

E, como você sabe, meu filho, essa oração será tanto mais fru-tuosa se você a fizer enquanto assiste à Santa Missa e na ação de graças da Comunhão. Comece, portanto, por organizar sua vida de modo que você possa ir à Missa e comungar todos os dias.

Porém, para que esse progresso seja efetivo, é necessário que você deseje cada vez mais se aperfeiçoar, livrar-se dos maus hábitos da vida passada, e praticar as virtudes que lhe assemelharão a Jesus.

A primeira virtude, que será como o alicerce desta casa que você construirá em sua alma, para nela Jesus habitar, é a humilda-de. Combata incessantemente, meu filho, toda tentação de orgulho, de vanglória, de se comparar com os outros, de achar que já é bom. Pois, por melhor que você chegue a ser, você sempre deve ter presente que sua meta é tornar-se “perfeito assim como vosso Pai Celeste é perfeito”97, segundo as palavras de Jesus. Uma meta altíssima, portan-to, e que você só atingirá, em toda medida do possível, quando chegar ao Céu.

A humildade é tão importante que Jesus dedicou trinta anos de sua vida para ensiná-la, através do exemplo de vida humilde, obediente

96 Jo 10, 27-28.97 Mt 5, 48.

Visitas de Nossa Senhora 179

e retirada que deu vivendo com São José e comigo em nossa abençoada casa de Nazaré.

O orgulho e o amor próprio estão na raiz de todos os outros defeitos. Note que Nosso Senhor não disse: “quem quiser vir após Mim deixe de ser impuro, ou preguiçoso, ou guloso”, mas disse: “Quem qui-ser vir após Mim negue-se a si mesmo”98.

Pois o princípio de todo pecado é o orgulho, e aquele que a ele se entrega será cheio de maldições99. O orgulho torna a pessoa estéril para a vida espiritual e para o apostolado. Chega mesmo a provocar o abandono e a aversão de Deus pela pessoa: “Todo o arrogante é a abo-minação do Senhor”100.

Por outro lado, meu filho, a humildade vai ajudá-lo muito a praticar o exercício da presença de Deus, ou seja, saber que está sempre em presença d’Ele, que Ele está vendo tudo que você faz e pensa, e que sabe até o que está no mais fundo de sua mente.

Dessa maneira, assim como em presença de uma pessoa res-peitável a gente se sente na obrigação de não fazer nada errado, con-siderando-se permanentemente em presença de Deus, você estará com sua atenção voltada para só fazer a sua vontade santíssima. Isto, de si, já é uma forma de oração. Mas para que você o consiga, lembre-se de rezar muitas vezes, ainda que breves orações jaculatórias.

Lembre-se também de que quando Deus fez sua aliança com Abraão, Ele disse: “Anda na minha presença e sê perfeito”101. Viver em presença de Deus é, portanto, a condição da aliança com Ele, e o modo de atingir a perfeição que devemos almejar.

Para isto, é preciso meditar na vida de Jesus continuamente, admirar as virtudes que Ele praticava, e procurar imitá-las uma a uma. E, em conseqüência, lutar contra os vícios e maus hábitos que se opõem a essas virtudes.

Isso pode parecer difícil, à primeira vista. Mas se você rezar, e lembrar que, como consagrado a Jesus por intermédio de sua Mãe do Céu, somos Nós que estaremos rezando e lutando por você, você conseguirá.

98 Mt 16, 24.99 Cfr. Eclo 10, 15.100 Prov 16, 5.101 Gn 17, 1.

180 Visitas de Nossa Senhora

Um meio prático, porém, de combater os defeitos pessoais, é procurar “cercar” e eliminar um defeito de cada vez. Comece pelo pior deles. Você saberá se é a preguiça, o orgulho, a cólera, o egoísmo, a sen-sualidade ou algum outro. Veja quais são as ocasiões que você precisa evitar para não ser tentado, e passe a evitá-las.

Assim, pouco a pouco, com a graça de Deus, você irá se li-vrando da escravidão do pecado, e adquirirá uma maravilhosa liberda-de, que lhe permitirá voar cada vez mais para junto de Deus.

Junto com a oração, o desejo de perfeição e o exercício da presença de Deus, você deve procurar praticar também a virtude do re-colhimento. Ela consiste em recolher sua atenção, para evitar dissipá-la e prender-se às coisas que fazem esquecer de Deus.

Desse modo, com o recolhimento, sua atenção, e com ela, sua imaginação, sua memória, sua vontade e sua inteligência, se voltarão cada vez mais para Deus, e para tudo o que conduz a Ele.

Você o conseguirá, com a graça divina, habituando-se a pro-curar os reflexos de Deus em todas as coisas criadas. Sempre que sua atenção se voltar para algo, você procurará ver no que é que aquilo re-flete a Deus, ainda que por contraste, e como deveria ser para refleti-Lo de modo perfeito.

Assim, vendo por exemplo uma casa, você pode imaginá-la como ela seria se fosse um palácio, ou vendo um simples copo d’água, como seria se fosse uma bela taça de cristal. Pois quanto mais perfeita a criatura, melhor ela reflete o Criador. Encontrando estes reflexos, como eles são e como deveriam ser, você se enlevará e maravilhará com eles, o que ajudará a sua vontade a dirigir seus afetos e emoções para Deus.

Além disso, filho, é preciso lembrar mais uma vez que Nosso Senhor disse: “Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-Me”102. Portanto, para conseguir rezar, desejar a perfeição e manter-se recolhido, é preciso “negar-se a si mesmo”.

E abnegar-se significa, principalmente, estar disposto a renun-ciar à vontade própria, sempre que ela não se identifique com a vonta-de de Deus. Esse esquecimento de si mesmo facilitará enormemente o lembrar-se de Deus, a todo o momento, a procurar conhecer a sua

102 Mt 16, 24.

Visitas de Nossa Senhora 181

Vontade santíssima em todas as coisas, e a colocá-la em prática, com a ajuda da graça.

Essa é a atitude básica, meu filho, que a ovelha que voltou ao rebanho deve ter para manter-se unida ao seu Bom Pastor: humildade, oração, abnegação, recolhimento, desejo de perfeição e procura enleva-da dos reflexos de Deus na criação.

Além dessa atitude, existem outras normas práticas que aju-dam poderosamente a santificação.

A primeira delas é adotar um programa ou regra de vida. Pois quem serve a ordem, será servido por ela. E quem se entrega à desor-dem, não pode esperar senão o fracasso, seja no que for.

Essa regra de vida deverá ser adaptada às condições pessoais de cada um. Os religiosos, em seus conventos, têm regras maravilhosas, ditadas pelo Espírito Santo aos seus Pais e Fundadores. As pessoas que levam uma vida comum em suas casas, poderão fazer adaptações di-minuídas delas, de modo a caminharem com método rumo à perfeição.

Para uma pessoa comum, este regulamento pessoal acaba sen-do bem simples. Basta determinar os horários que você deve seguir para cumprir suas obrigações diárias, no trabalho, no estudo, na vida de família, sem negligenciar as orações e atividades espirituais.

Você pode, meu filho, determinar um horário para deitar e para levantar, para tomar as refeições, para trabalhar e estudar, e sobretudo, para rezar. Portanto para assistir à Santa Missa, devotamente celebrada por um piedoso Sacerdote, e para comungar, se possível diariamente.

Você pode fixar também um dia por semana, ou pelo menos a cada quinze dias, para se confessar, mesmo que só tenha pecados ve-niais para se acusar. A confissão freqüente é também um grande meio de santificação. Eu mesma o ajudarei a encontrar um Padre piedoso e experiente para atendê-lo em confissão. Basta que você reze pedindo para encontrá-lo que, mais cedo o mais tarde, você o encontrará.

Por outro lado, a oração, como você se lembra, deve ser tanto vocal quanto mental. Nas orações vocais, a gente reza, por exemplo, Pai Nosso, Ave Maria, Glória ao Pai, Lembrai-Vos, Santo Anjo do Senhor, e várias outras, pedindo as graças que a gente precisa para o dia-a-dia.

Convém você escolher as orações que vai rezar diariamente, in-cluindo o Terço e, com o tempo, o Rosário, e determinar o período do dia em

182 Visitas de Nossa Senhora

que vai fazê-las. Este período pode ser até quando você está se deslocando para o trabalho ou para algum outro lugar, ou fazendo sua caminhada diária.

Mas tão importante quanto as orações vocais são as mentais, nas quais a gente eleva até Deus a inteligência, a vontade, a imaginação, a memória e os afetos. Elas são, principalmente, a meditação da manhã, o exame de consciência e a leitura espiritual.

Convém sempre começar o dia fazendo uma meditação. Você poderá voltar ao capítulo onde conversamos sobre a oração mental para ver bem como fazê-la. É oportuno fazer um exame de consciência logo após a meditação, e até como parte integrante dela, para ver que pro-pósitos concretos de mudança de vida você deve tomar para melhorar naquele dia que começa. E para pedir graças específicas para tais mu-danças e aperfeiçoamentos de que você está necessitando.

À tarde, ou no começo da noite, convém fazer uma leitura espiritual, para enriquecer sua mente de boas considerações para o pe-ríodo noturno que começa, no qual, em geral, por estar em casa, você tem maior facilidade de manter o recolhimento e elevar seu pensamento para Deus. Mais proveitoso ainda será se você utilizar também a hora do almoço e a do jantar para adiantar a leitura espiritual que você esteja fazendo.

Mas em todas as leituras que você fizer, lembre-se sempre do que sua Mãe lhe disse: não basta conhecer, é preciso querer. Para que-rer, é preciso amar. E para amar é preciso rezar, rezar muito pedindo essas graças.

A noite é ainda uma boa ocasião para fazer um novo exame de consciência, dessa vez recapitulando as falhas cometidas durante o dia, se-guido de um sentido ato de contrição perfeita e pedido de perdão a Deus, e de decididos propósitos de emenda, para não tornar a ofendê-lo, e para não voltar a se colocar nas ocasiões próximas que lhe levaram a pecar.

Se o seu exame de consciência lhe mostrar, meu filho, que in-felizmente você ofendeu a Deus gravemente, e que, tendo cometido um pecado mortal, deu a morte à sua alma e corre o risco de se condenar eternamente, se vier a morrer nesse estado, não desanime. Pois, como você já sabe, o desânimo é o pior mal que existe no mundo depois do pecado.

Faça de imediato um ato de contrição perfeita, considere o

Visitas de Nossa Senhora 183

quanto Deus é Santo, a própria Bondade e Perfeição, como Ele faz tudo por você e o ama tanto, a ponto de encarnar-Se e morrer na Cruz. Arre-penda-se por puro amor a Ele e peça-Lhe humildemente perdão.

Em seguida, busque sem demora um Sacerdote e procure con-fessar seus pecados com toda dor, arrependimento e desejo de mudan-ça. Você receberá o perdão, e toda sua união com Deus voltará a brilhar, junto com a paz e o estado de Graça em sua alma.

Além desse exame feito à noite, que não precisa durar mais que alguns minutos, convém você fazer também, cada dia, o que os Santos chamam de “exame particular”, sobre o qual já falamos. Trata-se de um poderoso meio para vencer os próprios vícios.

Por exemplo, se você está combatendo o do egoísmo, no exame particular, que convém ser feito no meio do dia e no começo da noite, você se examinará brevemente para ver em que ocasiões você cometeu atos de egoísmo, ou deixou de praticar atos de caridade, e formará o propósito de não recair em tais faltas, evitando as ocasiões que as propiciam.

Quanto às meditações e leituras, se você precisar de algum livro para ajudar a fazê-las, você poderá encontrar algumas sugestões no final desta obra, meu filho, na “bibliografia consultada”. Talvez você tenha dificuldade de encontrar alguns dos livros de meditações citados ali. Mas, se você rezar, Eu mesma o ajudarei a encontrá-los em alguma loja de livros usados.

Também para o exame de consciência, sua Mãe providenciou um modelo, que você encontrará na parte dedicada às orações neste livro. Ali você encontrará um exame geral, que é mais indicado para a preparação para a confissão.

Para o exame de consciência feito no fim de cada dia, basta um exame mais sucinto, que pode tomar como base aquele mais longo. No final do livro, após o exame geral você encontrará também um mo-delo desse exame resumido.

Dessa forma, meu filho, recebendo os Sacramentos, com a meditação da manhã, os exames de consciência e a leitura espiritual da tarde, você estará bem munido para levar adiante este combate espiri-tual que lhe levará para o Céu.

Esse esforço o ajudará a vencer o mal e a praticar o bem, e lhe permitirá ajudar o próximo em suas dificuldades. Pois “a Fé sem obras é

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morta”103, e, na medida em que sua alma se revigore pela graça de Deus, você se sentirá cada vez mais movido a fazer boas obras de caridade, tanto espiritual quanto material.

E um dia você poderá dizer, na alegria e paz de sua alma, como São Paulo: “Combati o bom combate, acabei a minha carreira, guardei a Fé. De resto me está reservada a coroa da justiça que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia”104.

Que dia, meu filho? O dia do Juízo, sim, mas o começo do Dia Eterno, em que você estará, radiante de luz e felicidade, bem junto do Pai, do Filho e do Espírito Santo, adorando a Deus face a face, por toda a eternidade.

Bem junto também de sua Mãe do Céu, de São José, do seu Anjo da Guarda e de todos os seus irmãos que o aguardam no Paraíso, para por todo o sempre cantarmos, junto com os Anjos, na plenitude da alegria: “Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus onipotente, que era, e que é, e que há de vir”105

Sua Mãe vai se despedir de você agora, meu filho. Mas antes, convém que lhe diga para não se preocupar se conversamos sobre mui-tos assuntos no dia de hoje.

É natural que você não consiga guardar tudo de uma só vez. Mas você terá oportunidade de voltar a esta “conversa” várias vezes, e poderá relê-la, de modo a aprofundar-se e, com o tempo, habituar-se a por em prática tudo o que sua Mãe lhe recomendou hoje. Confiança, portanto, meu filho. Confiança que este dia eterno está cada vez mais próximo.

Até amanhã, se Deus quiser. E que Ele o abençoe e o santifi-que sempre mais.

103 Tg 2, 26.104 2 Tim 4, 7-8.105 Ap 4, 8.

Visitas de Nossa Senhora 185

Trigésima-terceira visita: Ardente desejo do Céu

Meu filho querido... Hoje sua Mãe não vai lhe perguntar como você está. Porque você já entende que sua Mãe sabe tudo a seu respeito, sabe como você está, esteve e estará, porque vê isto em Deus, na Visão Beatífica.

Todos esses dias, quando lhe venho visitar, pergunto-lhe como você está passando, movida pelo meu ardoroso amor à sua alma, e por-que sei que este é um modo de fazê-lo compreender este meu amor.

Mas agora, para minha imensa alegria, vejo que você já pro-grediu tanto na vida espiritual, que já é capaz de começar a compreender mais a fundo este amor, reflexo luminoso do amor de Deus por você.

Agora você já está convencido de que Deus, e sua Mãe do Céu, não estamos com você só no momento em que viemos “visitá-lo”, mas estamos continuamente com você. E que você está permanente-mente em presença de Deus, dos Anjos e dos Santos da Corte celeste, e de sua Mãe também.

Mais ainda. Você já sabe que Deus está dentro de você, fazen-do aí a sua morada106, a partir do momento em que você O ama e guarda a sua Palavra. Ele lhe faz participar da sua própria vida divina.

Também não preciso mais lhe perguntar como você está, por-que você já está começando a entender que, esteja você como estiver, você está como Deus quer. Porque, como você já sabe, tudo acontece por ordem e desejo de Deus, menos o pecado, é claro. Deus é a causa primeira de tudo que existe, de tudo que somos ou fazemos.

Quando alguém reza, faz um sacrifício, trabalha ou toma um

106 Cfr. Jo 14, 23.

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simples copo de água, está sendo causa segunda dos seus atos. A cau-sa primeira é sempre Deus, “porque n’Ele vivemos e nos movemos, e existimos”107. E é Ele “quem opera em vós o querer e o executar, segun-do o seu beneplácito”108.

O homem só é causa primeira de seus atos quando peca. E esta é, no fundo, a grande causa do pecado: não querer ser aquilo que é, criatura contingente, mas querer ser causa primeira, “roubando”, se isto fosse possível, a divindade de Deus. “Sereis como deuses”109 foi a grande mentira da serpente tentadora para Eva.

Graças a Deus, meu filho, você passou a compreender que toda nossa felicidade nesta vida, e sobretudo na outra, consiste em es-tar inteiramente conforme com a vontade de Deus. E que tudo o que acontece, ainda quando pareça ser uma coisa ruim (desde que não seja um pecado), ocorre por vontade e determinação de Deus. E, portanto, será para nosso bem, ainda que só venhamos a entender isto muitos anos depois, ou mesmo só na eternidade. Por isso o Espírito Santo nos diz: “os bens e os males, a vida e a morte, pobreza e riqueza, vêm do Senhor”110.

Esta convicção, filho, é a causa da paz de alma e da alegria que está começando a tomar conta de seu espírito, ainda que você não perceba sensivelmente.

Porque para nos unirmos a Deus, o que importa é a adesão da nossa inteligência e a decisão da nossa vontade a favor de tudo o que Ele ensina e quer. As emoções, a imaginação, a memória, poderão par-ticipar em grau maior ou menor dessa adesão. Mas mesmo que a gente esteja na aridez, sem sentir nenhum afeto ou colaboração da sensibili-dade, nossa união com Deus está garantida, na medida em que ela seja consciente e voluntária.

E até vou lhe dizer mais. Quanto maior a aridez, maior o méri-to e maior a união com Ele. Pois tem muito mais valor aquilo que é feito com sacrifício e dificuldade.

De maneira que tudo concorre para você ter uma grande paz de alma: quer você esteja nadando em consolações e alegrias, quer você

107 At 17, 28.108 Fl 2, 13.109 Gn 3, 5.110 Eclo 11, 14.

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esteja no deserto da desolação interior, quer você esteja provado pelas dores e tribulações exteriores. Você estará inteiramente tranqüilo, sa-bendo que Deus o carrega como que nas palmas de suas mãos, e cuida de você como quem cuida da pupila de seus próprios olhos111.

Para ajudá-lo a consolidar-se e a progredir nessa convicção, continue pondo em prática tudo o que sua Mãe lhe tem recomendando. À medida que você for passando da via purgativa para a via iluminativa na sua caminhada em direção a Deus (lembra-se do que conversamos sobre isto?), você irá notando que suas orações e, especialmente, suas meditações, irão se modificando pouco a pouco.

No início, a graça de Deus o ajudará a reconquistar o domínio da inteligência e da vontade sobre a imaginação, as emoções, os instin-tos. Mas depois, sob a ação da graça, mesmo essas faculdades de seu ser passarão a cooperar, e você verá que seus afetos pouco a pouco se corrigirão, se voltarão para Deus e para as coisas celestes. Você pode, inclusive, para este fim, rezar aquela bela jaculatória dirigida ao Espíri-to Santo: “Para que eleveis nossas mentes ao desejo das coisas celestes, nós Vos rogamos, ouvi-nos”.

Você verá que a leitura e a meditação dos fatos da vida de Nosso Senhor, suas palavras, seus exemplos, seus milagres e, sobre-tudo, seus sofrimentos inauditos, terão pouco a pouco cada vez maior influência sobre você, e lhe iluminarão cada vez mais, de modo a você saber como se conduzir em todas as coisas do dia-a-dia em conformi-dade com os exemplos e a vontade de Jesus.

Aliás, daí vem o nome de via iluminativa. Pois nela, nos dei-xamos iluminar pelos ensinamentos vivos de Nosso Senhor em tudo e para tudo. Você verá como a leitura dos Santos Evangelhos toma outro colorido sob esta luz. E como a ação da graça se torna mais eficiente no sentido de ajudá-lo a combater as tentações e a praticar o bem, para si mesmo e em favor do próximo.

Dessa forma, filho, você irá cada vez mais se unindo a Deus, Nosso Senhor, e quando menos se der conta, estará em plena via uniti-va, na qual, cada vez mais, sua inteligência e, sobretudo, sua vontade, irão se identificando com a vontade de Deus.

Isto não significa que a “sensibilidade”, isto é, a imaginação, a

111 Cfr. Sl 16, 8.

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memória, as paixões, os instintos, vão deixar de atrapalhar e de servir de instrumentos para as tentações do demônio. Porque “a vida do homem sobre a Terra é uma luta”112, e esta luta só acabará no momento da morte. Ela é mesmo necessária à nossa santificação, pois sem ela não teríamos como fazer penitência nem como obter méritos aos olhos de Deus.

Mas assim como o guerreiro não escolhe o teatro de batalha e está disposto a fazer, em qualquer campo, o holocausto de sua vida, assim também você saberá lutar contra os inimigos velados ou declarados de Deus e da Salvação das almas, na medida em que for se unindo a Ele.

Para este esforço e esta união contribuirá enormemente o fato de você ter se consagrado a Deus por intermédio de sua Mãe do Céu. Uma vez que você entregou sua vontade própria inteiramente a Ele, para querer e fazer tudo o que Ele queira, Deus quererá para você tudo o que você deveria querer para seu real e eterno benefício. E, claro está, sua Mãe também, pois, como você sabe, o amo mais do que todas as mães reunidas poderiam amar um filho único.

“Alegrai-vos incessantemente no Senhor; outra vez vos digo, alegrai-vos”113! “Alegrai-vos e exultai porque será grande a vossa re-compensa no Céu”114!

Filho querido de meu Coração, alegre-se! Sua Mãe está aqui e você um dia estará com Ela para sempre, bem junto de Deus, dos Anjos e dos Santos. Isto é o que importa: querer, procurar, praticar e difun-dir a vontade de Deus, desejando ardentemente o Céu, que é a nossa verdadeira pátria. É o que nos diz Nosso Senhor, com outras palavras: “Buscai, pois, o Reino de Deus e sua Justiça, e todas estas coisas vos serão dadas de acréscimo”115.

Jesus falava dos bens materiais e passageiros quando se referia a “todas essas coisas”. Mas quem fala do menos, evidentemente fala do mais. E será o Céu, será Ele mesmo a sua recompensa demasiadamente grande, meu filho.

O que mais Deus quer para você é que você venha para o Céu, onde já estamos lhe aguardando cheios de amor e afeto. E se o caminho para unir-se a Deus é conformar-se com sua vontade santíssima, nada

112 Jó 7, 1.113 Fl 4, 4.114 Mt 5, 12.115 Mt 6, 33.

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melhor do que desejar ardentemente o Céu. Seja, portanto, meu filho, uma labareda ardente de desejo do Céu, e você estará em união com a vontade de Deus.

Mas quem deseja o que Ele deseja, submete-se sempre ao seu divino beneplácito. E portanto, enquanto Ele mesmo não lhe chamar para junto de Si, é sinal de que Ele quer que você fique aqui na Terra para conhecê-Lo, amá-Lo e, sobretudo, servi-Lo muito melhor.

E servi-Lo, meu filho, significa fazer apostolado. Apostolado é fazer o que os Apóstolos faziam: falar de Jesus, arrancar as almas do pecado e conduzi-las a Deus.

O apostolado é a transmissão da graça. Para fazê-lo, portanto, você precisa inundar-se, transbordar, por assim dizer, da graça divina, como uma bela fonte ou chafariz, para que depois as águas da Salvação possam, com sua colaboração, serem “derramadas” para os demais.

E quem são os demais? São todas as pessoas que estejam ao seu alcance, meu filho. É por isso que Nosso Senhor sempre falou de amor “ao próximo”. As pessoas que vêm visitá-lo, os funcionários do local onde você está, as outras pessoas enfermas ou sofredoras que você encontrar. Sejam santos ou pecadores, saudáveis ou enfermos, idosos ou crianças, toda e qualquer pessoa pode ser objeto do seu apostolado.

Basta que seu coração esteja ardendo de amor a Jesus e você falará d’Ele com força e convicção. Porque “a boca fala do que trans-borda do coração”116. E Ele mesmo atuará sobre as pessoas, servindo-Se de você como intermediário.

Até mesmo as pessoas que estejam fisicamente longe podem ser seus “próximos”. Pois para Deus não existe distância nem tempo. E você pode rezar por qualquer pessoa que esteja do outro lado da Terra, que tenha vivido anos e anos atrás ou que venha a existir num futuro distante. Como o apostolado é a transmissão da graça, e rezando, você está pedindo graças para elas, por mais longe que estejam no tempo e no espaço, elas são tam-bém seus “próximos”, e estarão recebendo graças por sua intercessão.

Este se chama o “apostolado da oração”, e pode ser feito, por-tanto, até por uma pessoa que esteja muda, cega, paralítica, prisioneira numa cela solitária ou perdida numa ilha deserta. Qualquer um pode ser missionário, desde que sua alma esteja cheia da graça divina!

116 Mt 12, 34.

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Mais uma vez, meu filho, alegre-se! Alegre-se muito! Porque o que você tem pela frente é o Céu. E enquanto o Céu não chega, você tem o apostolado para fazer.

Já que você teve a felicidade de se consagrar a Deus através de sua Mãe do Céu, ofereça a Ele, por meu intermédio, cada ato do seu ser que possa ser considerado - pulsar do coração, respirações, piscar de olhos, trabalhos, estudos, dores, sofrimentos, sacrifícios, orações - unidos aos méritos infinitos de Jesus, ao de todas as Santas Missas, aos méritos de sua Mãe e de toda Corte celeste, para que Ele, Deus, os aceite e aplique em favor de todas e cada uma das pessoas e intenções pelas quais você possa e deva rezar.

Além dessa intenção geral, ofereça também por intenções par-ticulares, fruto do amor e da obrigação que você tenha para com alguma pessoa ou intenção. Fazendo assim, seu oferecimento será muito agra-dável a Deus Nosso Senhor.

Até, se você quiser, meu filho, você pode unir-se aos atos de culto que sua Mãe celeste oferece continuamente a Deus, adorando-O, rendendo-Lhe graças, oferecendo-Lhe reparação e desagravo e pedin-do-Lhe por tudo que peço. Dessa maneira, do fundo de meu Coração Sapiencial e Imaculado, você estará permanentemente rezando e ofere-cendo atos de culto a Ele, do modo que mais Lhe agrada.

Veja que maravilha, meu filho! Veja como você já está unido a Deus e à sua Mãe do Céu!

Você pode mesmo, meu filho, em união comigo, até já ir fa-zendo aqui o que fazem as almas bem-aventuradas no Céu. Sabe o que fazemos lá? Continuamente contemplamos a Deus, alegramo-nos com sua infinita glória e felicidade, e regozijamo-nos com isso eternamen-te.

Embora você ainda esteja no tempo, você pode, todas as vezes que for rezar, aplicar a sua inteligência em considerar as infinitas perfei-ções que Deus é em Si mesmo, e aplicar a sua vontade e seus afetos em alegrar-se sem limites com a infinita Felicidade, Poder, Glória, Sabe-doria, Onipotência e todos demais atributos divinos. E nessa atitude de gáudio e maravilhamento fazer todas as suas orações, bem como todos e quaisquer outros atos de sua vida.

Esta é mesmo uma das melhores formas de exercitar-se na prá-

Visitas de Nossa Senhora 191

tica da conformidade com a vontade de Deus. É fazer o que fazem os Santos. E fazer o que eles fazem é santificar-se, com a graça de Deus. É já participar da eternidade celeste estando ainda no tempo da provação.

É por isso, meu filho, que não posso mais lhe dizer: “até ama-nhã”, pois não existe mais amanhã nem ontem para nós. O que existe é a eternidade feliz que, como você acaba de ver, já pode começar agora.

O que posso, sim, é recomendar-lhe que você descanse um pouco, pois é conforme com a vontade de Deus que, mesmo nas coisas que o unem e encaminham para Ele, você faça tudo com conta, peso e medida, regrado pela obediência e pelo amor, em ordem e em paz.

Nesta paz e nesta ordem, inundados pelo amor de Deus, con-tinuaremos unidos, e voltaremos a conversar não somente amanhã, mas todas as vezes que você desejar, nesta vida e, se Deus quiser, por toda a eternidade.

Que Deus o abençoe, meu filho.

Nossa Senhora do Bom Conselho de Genazzano

Visitas de Nossa Senhora 193

Despedida?

De modo algum, meu filho. Sua Mãe veio visitá-lo durante 33 dias seguidos, em memória do número de anos que meu Filho Santíssi-mo, Jesus, viveu nesta Terra.

Mas assim como Ele continua vivo no Céu, porque morreu e ressuscitou para nossa Salvação, assim também sua Mãe deseja conti-nuar a visitá-lo todos os dias, e até várias vezes por dia, se você quiser.

Você agora já sabe como “receber a visita” de sua Mãe do Céu. Se tiver dificuldade, basta ler algum capítulo deste livro, ou mes-mo recomeçar a leitura desde o início, repetindo as visitas quantas ve-zes quiser.

Com o tempo, você receberá graças para continuar fazendo-as, procurando matéria para nossas conversas em outros livros, prin-cipalmente nas Sagradas Escrituras. E, com a alma cheia de graças, você procurará fazê-las transbordar em benefício dos demais, através do apostolado.

Sua Mãe não se vai agora, meu filho. Sua Mãe fica no fundo de seu coração. Mantenha-se unido a Mim, consagrado a Mim, que Eu mesma Me encarregarei de mantê-lo unido e consagrado a Jesus.

Para que depois do tempo que Ele lhe tenha designado para esta vida, você possa passar toda a eternidade bem junto de Nós, ado-rando e agradecendo a Deus na alegria e felicidade perfeita do Céu, para todo sempre. Amém.

Visitas de Nossa Senhora 195

Anexo I Resumo da Doutrina Católica117

I. O Mandamento novo de Jesus e as obras de misericórdia.

Qual foi o mandamento novo de Jesus? O mandamento novo de Je-sus foi: “Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos”.

Quantas são as obras de misericórdia? As obras de misericórdia são catorze: sete corporais e sete espirituais. As corporais são estas: 1ª. Dar de co-mer a quem tem fome; 2ª. Dar de beber a quem tem sede; 3ª. Vestir os nus; 4ª. Dar pousada aos peregrinos; 5ª. Visitar os enfermos e encarcerados; 6ª. Remir os cativos; 7ª. Enterrar os mortos.

As espirituais são estas: 1ª. Dar bom conselho; 2ª. Ensinar os igno-rantes; 3ª. Corrigir os que erram; 4ª. Consolar os aflitos; 5ª. Perdoar as injú-rias; 6ª. Sofrer com paciência as fraquezas do próximo; 7ª. Rogar a Deus pelos vivos e defuntos.

II. Introdução às principais verdades de Fé

És cristão? Sim, sou cristão pela graça de Deus.

Quem é verdadeiro cristão? É verdadeiro cristão quem é batizado, crê em Jesus Cristo e vive conforme os seus ensinamentos.

Por que o Sinal da Cruz é o sinal do cristão? O Sinal da Cruz é o sinal do cristão porque em Jesus Cristo Crucificado encontramos os principais ensinamentos da nossa Fé.

117 Este resumo da Doutrina Católica se encontra no livro “Orações do Cristão”, de vários autores, publicado em 1999 pela Editora Quadrante, que nos cedeu gentilmente os direitos autorais possibilitando sua transcrição. As notas de rodapé são do autor das “Visitas de Nossa Senhora”.

196 Visitas de Nossa Senhora

Onde se encontram as verdades reveladas por Deus? As verdades reveladas por Deus encontram-se na Sagrada Escritura e na Tradição.

Que é a Sagrada Escritura? A Sagrada Escritura é a Palavra de Deus escrita no Antigo e no Novo Testamento.

Que é a Tradição? A Tradição é a Palavra de Deus não escrita na Sagrada Bíblia, mas transmitida por Jesus aos Apóstolos e por estes à Igreja.

III. O Credo

Deus Criador

Quem é Deus? Deus é o nosso Pai, que está nos Céus, Criador e Senhor de todas as coisas, que premia os bons e castiga os maus.

Há um só Deus? Sim, há um só Deus.

A quem chamamos Santíssima Trindade? Chamamos Santíssima Trindade ao mesmo Deus, que é Pai, Filho e Espírito Santo, três Pessoas dis-tintas e um só Deus verdadeiro.

Por que Deus é Criador? Deus é Criador porque só Ele criou e pode criar todas as coisas, e por ninguém foi criado.

Deus cuida das coisas criadas? Deus cuida e tem providência das coisas criadas, e conserva-as e dirige-as todas ao seu próprio fim, com sabe-doria, bondade e justiça infinita.

Os Anjos e o homem

Quem são os Anjos? Os Anjos são espíritos puros, isto é, sem corpo, que têm entendimento e vontade.

Para que criou Deus os Anjos? Deus criou os Anjos para que O louvem, obedeçam e sejam felizes no Céu, para serem os seus mensageiros e cuidarem dos homens.

Quem é o Anjo da Guarda? O Anjo da Guarda é o Anjo que Deus nos dá a cada um para que nos guarde na Terra e nos guie para o Céu.

Visitas de Nossa Senhora 197

Quem são os demônios? Os demônios são espíritos maus, anjos que se revoltaram contra Deus, e por isso foram precipitados no inferno.

Quem é o homem? O homem é um ser racional e livre, composto de corpo e alma, criado por Deus à sua imagem e semelhança.

Que é a alma? A alma é a parte espiritual do homem, pela qual ele vive, entende e é livre. A alma do homem não morre com o corpo, mas vive eternamente porque é espiritual.

Para que fim criou Deus o homem? O homem foi criado para conhe-cer, amar e servir a Deus neste mundo e assim merecer a vida com o próprio Deus para sempre no Céu.

Este fim alcança-se sempre? Este fim não se realiza quando deixa-mos de cumprir a Vontade de Deus.

Jesus Cristo e Nossa Senhora

Quem é Jesus Cristo? Jesus Cristo é o Filho de Deus feito homem, que nasceu da Virgem Maria. É a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade feita homem.

Por que o Filho de Deus se fez homem? O Filho de Deus se fez homem para nos salvar, isto é, para nos remir do pecado e nos conquistar o Paraíso.

Como se realizou a Encarnação do Filho de Deus? A Encarnação do Filho de Deus realizou-se com o Espírito Santo formando nas entranhas da Virgem Maria um corpo perfeitíssimo e criando uma alma nobilíssima que uniu ao corpo; no mesmo instante, uniu-se a este corpo e alma o próprio Filho de Deus; e desta maneira Aquele que era só Deus, sem deixar de sê-Lo, ficou sendo também homem.

Onde nasceu, viveu e morreu Jesus Cristo? Nasceu em Belém, vi-veu a maior parte da sua vida, até os trinta anos, em Nazaré; durante três anos pregou e fez milagres por toda a Palestina, morrendo crucificado em Jerusa-lém, no monte Calvário. Aos três dias ressuscitou e, depois de ter aparecido durante quarenta dias à sua Mãe, às santas mulheres e também aos Apóstolos, aos discípulos e a outras pessoas, subiu aos Céus.

198 Visitas de Nossa Senhora

Que fez Jesus Cristo para nos salvar? Para nos salvar, Jesus Cristo satisfez pelos nossos pecados, sofrendo e sacrificando-Se na Cruz, e ensinou-nos a viver segundo a vontade de Deus.

Que devemos fazer para viver segundo a vontade de Deus? Para viver segundo a vontade de Deus, devemos acreditar nas verdades reveladas por Ele e observar os seus Mandamentos com o auxílio da sua graça, que se obtém por meio dos Sacramentos e da oração.

Quem é a Virgem Maria? A Virgem Maria é a Senhora cheia de graça e de virtudes, concebida sem pecado, que é a Mãe de Deus e Mãe nossa, e está no Céu em corpo e alma.

Quais são os principais privilégios da Virgem Maria? Os principais privilégios da Virgem Maria são: sua Conceição Imaculada, sua perpétua Vir-gindade, sua Maternidade divina e sua Assunção em corpo e alma aos Céus. Estes privilégios foram definidos como dogmas de Fé.

O Espírito Santo e a Igreja

Quem é o Espírito Santo? O Espírito Santo é a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, que procede do Pai e do Filho.

Quando enviou Jesus Cristo o Espírito Santo? Jesus Cristo enviou o Espírito Santo à sua Igreja no dia de Pentecostes, dez dias depois da sua Ascensão aos Céus.

Que é a Igreja? A Igreja é o Corpo Místico de Cristo formado pelos batizados que professam a mesma Fé em Jesus Cristo, participam dos mesmos Sacramentos e obedecem ao Papa e aos Bispos em comunhão com o Papa.

Quem são os Pastores visíveis da Igreja? Os Pastores visíveis da Igreja são o Papa, sucessor de São Pedro, e os Bispos, sucessores dos Após-tolos.

Quem é o Papa? O Papa, ou Romano Pontífice, é o Vigário de Cristo na Terra, sucessor de São Pedro, que faz as vezes de Cristo no governo de toda a Igreja.

Quem são os Bispos? Os Bispos são os sucessores dos Apóstolos,

Visitas de Nossa Senhora 199

colocados pelo Espírito Santo para que, juntamente com o Papa e sob a sua autoridade, continuem a missão de Cristo em toda a Igreja, especialmente cada um na sua própria Diocese.

Estarão todos os cristãos chamados à santidade e ao apostolado? Todos os cristãos estão chamados à santidade e ao apostolado pelo próprio fato de terem recebido o Batismo e a Confirmação.

Deus remunerador

Quais são os “Novíssimos” do homem? Os Novíssimos ou as últi-mas coisas que nos hão de acontecer são: Morte, Juízo, Inferno e Paraíso.

Que quer dizer a “ressurreição da carne”? A “ressurreição da carne” quer dizer que, como Cristo ressuscitou, assim também nós ressuscitaremos no fim do mundo, voltando a unir-se a alma com os nossos mesmos corpos para nunca mais morrermos.

Que é o Céu? O Céu é o lugar onde os bons vivem com Deus eter-namente felizes.

Quem vai para o Céu? Vão para o Céu os que morrem na graça de Deus.

Que é o Purgatório? O Purgatório é o lugar de sofrimento onde se purificam, antes de entrarem no Céu, aqueles que morrem na graça de Deus, mas sem terem satisfeito pelos seus pecados.

Que é o Inferno? O Inferno é o lugar onde os maus, afastados de Deus, sofrem penas eternas.

Quem vai para o Inferno? Para o Inferno vão os que morrem em pecado mortal, porque rejeitaram a graça de Deus.

IV. Os Mandamentos

Que Mandamentos deve cumprir o cristão? O cristão deve cumprir os Mandamentos da Lei de Deus e os da Santa Madre Igreja.

Quantos são os Mandamentos da Lei de Deus? Os Mandamentos da

200 Visitas de Nossa Senhora

Lei de Deus são dez: 1º. Amar a Deus sobre todas as coisas; 2º. Não tomar seu santo nome em vão; 3º. Guardar os domingos e festas; 4º. Honrar pai e mãe; 5º. Não matar; 6º. Não pecar contra a castidade; 7º. Não furtar; 8º. Não levan-tar falso testemunho; 9º. Não desejar a mulher do próximo; 10º. Não cobiçar as coisas alheias. Estes Dez Mandamentos resumem-se em dois, que são: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos.

Que são os Mandamentos da Igreja? Os Mandamentos da Igreja são os preceitos que a Igreja nos dá em virtude do poder recebido de Jesus, para ajudar-nos a cumprir a Lei de Deus e assim conseguirmos a nossa Salvação eterna.

Quais são os Mandamentos da Igreja? Os principais Mandamentos da Igreja118 são cinco: 1º. Ouvir Missa inteira aos domingos e festas de guarda; 2º. Confessar ao menos uma vez por ano os pecados mortais; 3º. Comungar ao menos pela Páscoa da Ressurreição; 4º. Jejuar e abster-se de carne quando manda a Santa Madre Igreja; 5º. Pagar dízimos conforme o costume.

Quem está obrigado a ouvir Missa aos domingos e festas de guarda? Estão obrigados a ouvir Missa aos domingos e festas de guarda todos os cris-tãos que cumpriram os sete anos e chegaram ao uso da razão.

Dias com obrigação de ouvir Missa

Todos os domingos do ano.Dia 1º de janeiro, festividade de Santa Maria, Mãe de Deus.Festividade do Corpo e Sangue de Cristo (Corpus Christi), celebra-

da na quinta-feira depois do Domingo da Santíssima Trindade.8 de dezembro, festividade da Imaculada Conceição da Virgem Ma-

ria.25 de dezembro, Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Lei do jejum e abstinência

“Toda sexta-feira do ano é dia de penitência, a não ser que coinci-

118 O Catecismo da Igreja Católica, na sua terceira parte, cap. III, art. 3, na pág. 537 da 11ª edição conjunta em Português, de 2001, dá a seguinte redação para os Mandamentos da Igreja: 1º. Participar da Missa inteira nos domingos e outras festas de guarda e abster-se de ocupações de trabalho; 2º. Confessar-se ao menos uma vez por ano; 3º. Receber o Sacramento da Eucaristia ao menos pela Páscoa da Ressurreição; 4º. Jejuar e abster-se de carne conforme manda a Santa Mãe Igreja; 5º. Ajudar a Igreja em suas necessidades.

Visitas de Nossa Senhora 201

da com alguma solenidade do calendário litúrgico. Nesse dia os fiéis devem abster-se de carne ou outro alimento, ou praticar alguma forma de penitência, principalmente alguma obra de caridade ou algum exercício de piedade. A Quarta-feira de Cinzas e a Sexta-feira Santa, memória da Paixão e Morte de Cristo, são dias de jejum e abstinência”.

Idade da obrigação: a abstinência obriga a partir dos 14 anos com-pletos; o jejum a partir dos 18 anos completos até 60 anos começados.

V. Pecados e virtudes

Que é pecado? Pecado é toda desobediência voluntária à Lei de Deus ou da Igreja.

Que é o pecado original? O pecado original é o pecado que a humani-dade cometeu em Adão, sua cabeça, e que [de Adão] todos os homens contraem por descendência natural. O pecado original apaga-se com o Batismo.

Que é pecado mortal? Pecado mortal é uma desobediência à Lei de Deus ou da Igreja em matéria grave, feita com pleno conhecimento e consen-timento deliberado.

Que é pecado venial? Pecado venial é uma desobediência à Lei de Deus ou da Igreja em matéria leve, ou em matéria grave mas sem pleno conhe-cimento e perfeito consentimento.

Que é virtude? A virtude é um hábito bom, uma disposição perma-nente da alma para atuar bem.

Quais são as virtudes próprias do cristão? As virtudes próprias do cristão são as virtudes sobrenaturais, especialmente a Fé, a Esperança e a Ca-ridade, que são chamadas virtudes teologais ou divinas.

Quais são as principais virtudes morais? As principais virtudes mo-rais são: a Religião, que nos faz prestar a Deus o culto devido, e as quatro virtudes cardeais: Prudência, Justiça, Fortaleza e Temperança, que nos fazem honestos no viver.

Que é vício? Vício é a inclinação para o pecado adquirida pela re-petição de atos maus.

202 Visitas de Nossa Senhora

Quantos são os vícios ou pecados capitais? Os pecados capitais são sete: soberba, avareza, luxúria, ira, gula, inveja e preguiça.

Como se vencem os pecados capitais? Os pecados capitais vencem-se com a prática das virtudes opostas: contra a soberba, humildade; contra a ava-reza, liberalidade; contra a luxúria, castidade; contra a ira, paciência; contra a gula, temperança; contra a inveja, caridade; contra a preguiça, diligência.

Quantos são os pecados contra o Espírito Santo? Os pecados contra o Espírito Santo são seis: 1º. Desesperação da Salvação; 2º. Presunção de se salvar sem merecimento; 3º. Contradizer a verdade conhecida como tal; 4º. ter inveja das mercês que Deus faz aos outros; 5º. Obstinação no pecado; 6º. Impenitência final.

Quantos são os pecados que bradam ao Céu? Os pecados que bra-dam ao Céu são quatro: 1º. Homicídio voluntário; 2º. Pecado sensual contra a natureza; 3º. Opressão dos pobres; 4º. Não pagar o salário a quem trabalha.

Quantos são os inimigos da alma? Os inimigos da alma são três: o mundo, o demônio e a carne.

Qual o remédio contra o pecado? O remédio contra o pecado é a graça de Deus pelos méritos de Jesus Cristo, que Ele nos concede pela ora-ção e pelos Sacramentos, e com a qual devemos cooperar por meio das boas obras.

A oração

Que é a oração? A oração é uma elevação do espírito e do coração a Deus, para O adorar, para Lhe dar graças, para Lhe oferecer reparação e para Lhe pedir aquilo de que precisamos.

Como se deve orar? Deve-se orar refletindo que estamos na presen-ça da infinita Majestade de Deus e precisamos da sua misericórdia, e por isso devemos comportar-nos de maneira humilde, atenta e devota.

É necessário orar? É necessário orar muitas vezes porque Deus o manda; ordinariamente, é só quando se ora que Ele concede as graças espiri-tuais e temporais.

Visitas de Nossa Senhora 203

Que é o Pai Nosso? O Pai Nosso é a oração ensinada e recomendada por Jesus Cristo.

Com que oração invocamos especialmente Nossa Senhora? Invoca-mos especialmente Nossa Senhora com a Ave-Maria ou Saudação Angélica.

As Bem-aventuranças

Quantas são as Bem-aventuranças? As Bem-aventuranças são oito: 1ª. Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus; 2ª. Bem-aventurados os mansos, porque eles possuirão a Terra; 3ª. Bem-aven-turados os que choram, porque serão consolados; 4ª. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados; 5ª. Bem-aventurados os mi-sericordiosos, porque alcançarão misericórdia; 6ª. Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus; 7ª. Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus; 8ª. Bem-aventurados os que padecem perse-guição por amor da justiça, porque deles é o Reino dos Céus.

VI. Os Sacramentos

Que se entende por Sacramento? Por Sacramento entende-se um sinal sensível e eficaz da graça, instituído por Jesus Cristo para santificar as nossas almas.

Como nos santificam os Sacramentos? Os Sacramentos santificam dando-nos a primeira graça santificante que apaga o pecado, ou aumentando a graça que já possuímos.

Que é a graça? A graça é um dom sobrenatural que Deus concede para alcançar a vida eterna. A graça santificante nos faz filhos de Deus e her-deiros do Céu.

Quantos são os Sacramentos? Os Sacramentos são sete: 1º. Batis-mo; 2º. Confirmação ou Crisma; 3º. Eucaristia; 4º. Penitência ou Confissão; 5º. Unção dos enfermos; 6º. Ordem; 7º. Matrimônio.

Que devemos fazer para conservar a graça dos Sacramentos? Para conservar a graça dos Sacramentos, devemos corresponder da nossa parte com a ação própria, praticando o bem e evitando o mal.

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Sobre o Batismo

Que é Batismo? O Batismo é o Sacramento pelo qual renascemos para a graça de Deus e nos tornamos cristãos.

Quais são os efeitos do Batismo? O Sacramento do Batismo confere a primeira graça santificante, que apaga o pecado original e também o atual, se o há; perdoa toda pena por eles devida; imprime o caráter de cristão; faz-nos filhos de Deus, membros da Igreja e herdeiros do Paraíso, e torna-nos capazes de receber os outros Sacramentos.

Como se batiza? Batiza-se derramando água sobre a cabeça do ba-tizando, ou, não podendo ser sobre a cabeça, sobre qualquer outra parte prin-cipal do corpo, dizendo ao mesmo tempo: Eu te batizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo119.

Sobre a Confirmação

Que é a Confirmação? A Confirmação ou Crisma é um Sacramento que nos dá o Espírito Santo, imprime na nossa alma o caráter de soldados de Cristo e nos faz perfeitos cristãos.

Quais são os dons do Espírito Santo que recebemos na Confirma-ção? Os dons do Espírito Santo que recebemos na Confirmação são sete: 1º. Sabedoria; 2º. Entendimento; 3º. Conselho; 4º. Fortaleza; 5º. Ciência; 6º. Pie-dade; 7º. Temor de Deus.

Quais são os frutos do Espírito Santo? Os frutos do Espírito Santo são: caridade, gozo, paz, paciência, benignidade, longanimidade, mansidão, fé, modéstia, continência e castidade.

Sobre a Penitência

Que é o Sacramento da Penitência? A Penitência ou Confissão120 é o Sacramento instituído por Jesus Cristo para perdoar os pecados cometidos depois do Batismo.

119 Vale a pena lembrar que, em caso de emergência (risco de morte) e não sendo possível chamar um Padre, qualquer pessoa pode batizar, bastando para isso dizer “eu te batizo em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”, enquanto derrama água sobre a cabeça da pessoa, tendo a intenção de fazer o que a Santa Igreja Católica faz quando batiza.

120 Também recebe o nome, hoje em dia, de Reconciliação.

Visitas de Nossa Senhora 205

Quantas coisas são necessárias para fazer uma boa confissão? São necessárias cinco coisas: 1ª. Exame de consciência (lembrar-se dos pecados co-metidos); 2ª. Dor ou arrependimento dos pecados; 3ª. Propósito de nunca mais pecar; 4ª. Confissão ou acusação dos pecados; 5ª. Cumprimento da penitência.

É necessário confessar-se individualmente? A Igreja ensina que, por direito divino, é necessário confessar individualmente todos e cada um dos pecados mortais, bem como as circunstâncias que mudam a espécie dos peca-dos; e que a confissão individual e íntegra, com a absolvição a cada penitente, permanece o único meio ordinário pelo qual os fiéis se reconciliam com Deus e com a Igreja, a não ser que a verdadeira impossibilidade física ou moral os dispense deste modo de confissão.

Quais são as vantagens da Confissão freqüente? Com a Confissão freqüente, também chamada Confissão de devoção, recomendada por todos os Papas, aumenta o conhecimento próprio, cresce a humildade cristã, eliminam-se os maus costumes, combate-se a tibieza e a indolência espiritual, robustece-se a vontade, leva-se a cabo a salutar direção das consciências e aumenta a graça em virtude do Sacramento.

Sobre a Eucaristia

Que é a Eucaristia? A Eucaristia é um Sacramento que, pela admirável conversão de toda a substância do pão no Corpo de Jesus Cristo, e de toda a subs-tância do vinho no seu precioso Sangue, contém verdadeira, real e substancial-mente o Corpo, Sangue, Alma e Divindade do mesmo Jesus Cristo Nosso Senhor, debaixo das aparências de pão e de vinho, para ser nosso alimento espiritual.

Quando é que o pão e o vinho se tornam Corpo e Sangue de Jesus? O pão e o vinho tornam-se Corpo e Sangue de Jesus no momento da Consagração, na Missa. Esta miraculosa conversão é chamada Transubstanciação pela Igreja.

Depois da Consagração não fica nada do pão e do vinho? Depois da Consagração já não fica nem pão nem vinho, mas ficam somente as respecti-vas espécies ou aparências, sem a substância121.

Há obrigação de receber a Comunhão? Há obrigação de receber a Comunhão todos os anos pela Páscoa, e em perigo de morte como Viático.

121 Daí o nome de Transubstanciação, porque as substâncias do pão e do vinho mu-dam-se realmente em Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo.

206 Visitas de Nossa Senhora

É coisa boa e útil comungar freqüentemente? É coisa ótima comun-gar freqüentemente e até todos os dias, contanto que se faça com as devidas disposições.

Que é a Santa Missa? A Santa Missa é o Sacrifício do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo, oferecido sobre o altar debaixo das aparências do pão e do vinho, renovando de forma incruenta122 o Sacrifício da Cruz.

Sobre a Unção dos Enfermos

Que é a Unção dos Enfermos? A Unção dos Enfermos é o Sacra-mento instituído para alívio espiritual e também temporal dos enfermos em perigo de morte.

Quais são os efeitos da Unção dos Enfermos? Os efeitos da Unção dos Enfermos são: 1º. Aumenta a graça santificante; 2º. Apaga os pecados veniais e também os mortais que o enfermo arrependido já não possa confes-sar; 3º. Tira a fraqueza e languidez para o bem que fica ainda depois de se ter alcançado o perdão dos pecados; 4º. Dá força para suportar pacientemente o mal, resistir às tentações e morrer santamente; 5º. Ajuda a recuperar a saúde do corpo, se isso for útil à Salvação da alma.

Quem deve receber a Unção dos Enfermos? A Unção dos Enfermos deve ser conferida com todo o cuidado e diligência aos fiéis que, por doença ou idade avançada, estão em grave perigo de vida.

Que obrigação têm os familiares e os que assistem o enfermo? Os familiares e os que assistem o enfermo têm obrigação grave de procurar que receba a Santa Unção, se possível antes que perca o conhecimento.

Sobre a Ordem Sacerdotal

Que é a Ordem Sacerdotal? A Ordem Sacerdotal é o Sacramento que dá o poder de exercer os ministérios sagrados que se referem ao culto de Deus e à Salvação das almas, e que imprime na alma de quem o recebe o caráter de ministro de Deus: Bispo, Sacerdote ou Diácono.

Que concede o Sacramento da Ordem àqueles que o recebem? O

122 A renovação do Sacrifício de Jesus Cristo na Cruz é feita de forma “incruenta” na Missa porque não há derramamento físico de Seu Sangue, como na Cruz.

Visitas de Nossa Senhora 207

Sacramento da Ordem concede aos que o recebem o aumento da graça santi-ficante, o caráter sacramental que lhes dá poder para exercer as funções sagra-das, e as graças para fazê-lo dignamente.

Quais são as principais funções do Sacerdote? As principais fun-ções do Sacerdote são: celebrar a Santa Missa, administrar os Sacramentos e pregar a palavra de Deus.

Sobre o Matrimônio

Que é Matrimônio? O Matrimônio é o Sacramento instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo, que estabelece uma união santa e indissolúvel entre o homem e a mulher, e lhes dá a graça de se amarem mutuamente e de educarem cristãmente os filhos.

Como devem receber este Sacramento? É preciso receber o Sacra-mento do Matrimônio em graça de Deus; se se recebe em pecado mortal, o Matrimônio é válido, mas comete-se um grave sacrilégio.

Quem é o ministro do Sacramento do Matrimônio? O ministro do Sacramento do Matrimônio são os próprios cônjuges.

Quais são os fins do Matrimônio? Os fins do Matrimônio são a pro-criação e a educação dos filhos, o amor e a ajuda mútua entre os esposos e o remédio da concupiscência.

Quais são as propriedades do Matrimônio? As propriedades do Ma-trimônio são a unidade e a indissolubilidade; isto é, deve ser de um com uma e para sempre.

Que devem fazer os esposos cristãos para viverem santamente? Para viverem santamente, os esposos cristãos devem amar-se e guardar fidelidade um ao outro, receber os filhos que Deus lhes dê e educá-los cristãmente.

VII. As indulgências123

Que são as indulgências? Indulgência é a remissão diante de Deus da pena temporal devida pelos pecados, já perdoados no que se refere à culpa, que

123 Da Constituição “Indulgentiarum Doctrina”, de Paulo VI, de 1º de janeiro de 1967.

208 Visitas de Nossa Senhora

ganha o fiel, convenientemente preparado, em certas e determinadas condições, com ajuda da Igreja que, como administradora da Redenção, dispensa e aplica com plena autoridade o tesouro dos méritos de Cristo e dos Santos.

Quantas espécies há de indulgência? Há duas espécies: a plenária e a parcial, segundo libertam totalmente ou em parte da pena temporal devida pelos pecados. Tanto uma como a outra podem aplicar-se pelos defuntos a modo de sufrágio.

Quantas indulgências plenárias se podem ganhar por dia? Somente uma por dia, a não ser in articulo mortis124, caso em que o fiel poderá ganhar a indulgência plenária por esse motivo, ainda que no mesmo dia tenha ganho já outra indulgência plenária.

Que se requer para ganhar indulgência plenária? Requer-se: a) realizar a obra enriquecida com a indulgência; b) confissão sacramental; c) comunhão eucarística, e d) oração pelas intenções do Papa. Além dis-so, é necessário que não exista nenhum afeto a qualquer pecado, mesmo venial.

Quando se devem cumprir as condições de confissão, comunhão e oração pelo Papa? Ainda que possam cumprir-se alguns dias antes ou depois da execução da obra prescrita, é conveniente que a comunhão e a oração pelo Papa se realizem no mesmo dia em que se faça a obra. Com uma só confissão podem ganhar-se várias indulgências plenárias; pelo contrário, com uma só comunhão e uma só oração pelo Papa, somente se pode ganhar uma indulgên-cia plenária.

Que é que se perdoa com uma indulgência parcial? Ao fiel que, pelo menos com o coração contrito, realiza uma obra enriquecida com indulgência parcial, é-lhe concedida, por graça da Igreja, uma remissão da pena temporal igual à que ele recebe pela própria obra.

Principais obras indulgenciadas125

Concessões gerais: 1. “Concede-se indulgência parcial ao fiel que,

124 “In articulo mortis” significa no momento da morte.125 Com data de 29 de junho de 1968, a Sagrada Penitenciaria Apostólica publicou

o decreto promulgatório do novo “Enchiridion Indulgentiarum”. Apresentamos a seguir um resumo desse decreto.

Visitas de Nossa Senhora 209

ao cumprir os seus deveres e ao suportar as dificuldades da vida, eleva o espí-rito a Deus, com humilde confiança, acrescentando – inclusive apenas men-talmente – alguma piedosa invocação”; 2. “Concede-se indulgência parcial ao fiel que, com espírito de fé, se entrega a si mesmo ou os seus bens com ânimo misericordioso ao serviço dos irmãos necessitados” (qualquer necessidade: no corpo, na alma, na inteligência)”; 3. “Concede-se indulgência parcial ao fiel que espontaneamente, com espírito de penitência, se priva de alguma coisa lícita que lhe é agradável”.

Orações e práticas indulgenciadas com indulgência plenária: 1. Ado-ração ao Santíssimo Sacramento, pelo menos durante meia hora; 2. Leitura da Sagrada Escritura, pelo menos durante meia hora; 3. Exercício da Via-Sacra, diante das estações legitimamente erigidas; 4. Recitação do Terço do Rosário na Igreja ou oratório ou em família, em comunidade religiosa ou em associa-ção piedosa; 5. Recitação da oração a Jesus Crucificado nas Sextas-feiras da Quaresma. Nos outros dias do ano, há indulgência parcial; 6. Assistência ao ato de clausura126 de Congresso Eucarístico; 7. Exercícios espirituais ou retiro que durem pelo menos três dias; 8. Primeira Comunhão: aos que a fazem ou assistem à Celebração; 9. Primeira Missa solene do neo-Sacerdote e aos que assistem à mesma; 10. Datas jubilares da Ordenação Sacerdotal (25º, 50º e 60º aniversário) ao Sacerdote e aos que assistem à Missa, celebrada com certa solenidade; 11. Visita à igreja catedral e paroquial no dia da festa do titular e no dia 2 de agosto; 12. Visita à igreja ou ao altar no dia da sagração; 13. Visita à igreja ou ao oratório na comemoração de todos os fiéis defuntos (só aplicável aos defuntos). Esta indulgência, com o consentimento do Ordinário, pode ganhar-se no Domingo anterior ou posterior ao dia de Todos os Santos; 14. Visita à igreja e ao oratório dos religiosos na festa do Santo Fundador; 15. Renovação das promessas batismais, usando qualquer fórmula aprovada, no dia da Vigília Pascal e no dia do aniversário do Batismo.

Orações e práticas indulgenciadas com indulgência parcial: 1. A re-citação do Angelus ou Regina Caeli; 2. A oração Lembrai-Vos; 3. A novena antes do Natal do Senhor, do Pentecostes ou da Imaculada Conceição, feita em público; 4. Oração pelas vocações sacerdotais ou religiosas. A oração deve ser aprovada pela Autoridade Eclesiástica, com este fim; 5. A Salve Rainha; 6. A recitação da oração Alma de Cristo; 7. O ensino e o aprendizado de qualquer matéria de Doutrina Cristã; 8. O uso de um objeto piedoso (crucifixo, cruz, terço, escapulário, medalha) bento por um Sacerdote. Se for bento pelo Papa

126 “Clausura”, aqui, significa encerramento.

210 Visitas de Nossa Senhora

ou por um Bispo, o fiel que o usar devotamente pode ganhar indulgência ple-nária no dia da festa de São Pedro e São Paulo, acrescentando, com qualquer fórmula legítima, a profissão de Fé.

Visitas de Nossa Senhora 211

Anexo II Orações

Sinal da Cruz

Pelo sinal da Santa Cruz, livrai-nos Deus, Nosso Senhor, dos nos-sos inimigos. Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém.

Credo (Creio em Deus Pai)

Creio em Deus Pai todo-poderoso, Criador do Céu e da Terra, e em Jesus Cristo, seu único Filho, Nosso Senhor, que foi concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; desceu à mansão dos mortos, ressuscitou ao terceiro dia, subiu aos Céus, está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso, donde há de vir julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo, na Santa Igreja Católica, na comunhão dos Santos, na remissão dos pecados, na ressur-reição da carne e na vida eterna. Amém.

Pai Nosso

Pai Nosso que estais no Céu, santificado seja o vosso Nome, venha a nós o vosso Reino, seja feita a vossa vontade, assim na Terra como no Céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje; perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Amém.

212 Visitas de Nossa Senhora

Ave Maria

Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois Vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém.

Glória ao Pai

Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, assim como era no princí-pio, agora e sempre, e por todos os séculos dos séculos. Amém.

Lembrai-Vos

Lembrai-Vos, ó piíssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer que algum daqueles que têm recorrido à vossa proteção, implorado vossa assistên-cia e reclamado vosso socorro fosse por Vós desamparado.Animado eu, pois, com igual confiança, a Vós, ó Virgem entre todas singular, como Mãe recorro, de Vós me valho, e gemendo sob o peso de meus pecados, me prostro a vossos pés. Não desprezeis as minhas súplicas, ó Mãe do Verbo de Deus humanado, mas dignai-Vos de as ouvir propícia e de me alcançar o que Vos rogo. Assim seja.

Salve Rainha

Salve, Rainha, Mãe de misericórdia, vida, doçura e esperança nossa, salve! A Vós bradamos, os degredados filhos de Eva. A Vós suspiramos, ge-mendo e chorando neste vale de lágrimas. Eia, pois, Advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei, e depois deste desterro mostrai-nos Jesus, bendito fruto do vosso ventre. Ó clemente, ó piedosa, ó doce e sempre Virgem Maria.

V. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus.R. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.

À vossa proteção

À vossa proteção recorremos, Santa Mãe de Deus; não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades; mas livrai-nos sempre de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita.

Visitas de Nossa Senhora 213

Oração a São José

A Vós, São José, recorremos em nossa tribulação e, depois de ter im-plorado o auxílio de vossa Santíssima Esposa, cheios de confiança solicitamos também o vosso patrocínio. Por este laço sagrado de caridade que Vos uniu à Virgem Imaculada, Mãe de Deus, e pelo amor paternal que tivestes ao Menino Jesus, ardentemente Vos suplicamos que lanceis um olhar benigno para a he-rança que Jesus Cristo conquistou com seu Sangue, e nos socorrais em nossas necessidades com o vosso auxílio e poder. Protegei, ó Guarda providente da Divina Família, a raça eleita de Jesus Cristo. Afastai para longe de nós, ó Pai amantíssimo, a peste do erro e do vício. Assisti-nos do alto do Céu, ó nosso fortíssimo sustentáculo, na luta contra o poder das trevas; e assim como ou-trora salvastes da morte a vida ameaçada do Menino Jesus, assim também defendei agora a Santa Igreja de Deus contra as ciladas de seus inimigos e contra toda adversidade. Amparai a cada um de nós com o vosso constante patrocínio a fim de que, a vosso exemplo e sustentados por vosso auxílio, possamos viver virtuosamente, morrer piedosamente e obter no Céu a eterna bem-aventurança. Amém.

Oração a São Miguel Arcanjo

São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate; cobri-nos com vosso escudo contra os embustes e ciladas do demônio. Subjugue-o Deus, instan-temente o pedimos; e Vós, Príncipe da Milícia Celeste, pelo divino poder, precipitai no inferno a satanás e aos outros espíritos malignos que andam pelo mundo para perder as almas. Amém.

Oração ao Anjo da Guarda

Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, já que a Ti me confiou a piedade divina, sempre me rege, guarda, governa e ilumina. Amém.

Oração da manhã e da noite

Meu Deus, creio que estais aqui presente e creio em tudo mais quanto crê e ensina a Igreja Católica. Confio e espero tudo de Vós. Adoro-Vos e Vos amo de todo o meu coração. Dou-Vos infinitas graças por me haverdes criado e feito nascer na Igreja Católica, por me haverdes conservado nesta noite (ou neste dia) e preservado de uma morte repentina. Em união com os merecimen-

214 Visitas de Nossa Senhora

tos de Nosso Senhor Jesus Cristo, ofereço-Vos, pelas mãos de Maria Santíssi-ma, todos os meus pensamentos, palavras e obras que possam ser oferecidos, para vossa maior glória, em ação de graças por todos os benefícios que de Vós tenho recebido, em reparação por meus pecados, e para pedir-Vos por todas as intenções e pessoas pelas quais posso pedir. Dignai-Vos, Senhor, de preservar-me neste dia (ou nesta noite) do pecado, de aproveitar bem o tempo que me dais para minha Salvação e vosso serviço, e livrar-me de todo o mal. Amém.

Intenção para ganhar indulgências

Tenho intenção e desejo ganhar hoje todas as indulgências de que possa ser capaz. Ofereço-as, pelas mãos de Maria Santíssima, em satisfação dos meus pecados e em sufrágio das benditas almas do Purgatório, especial-mente as mais abandonadas. (Ver, no Resumo da Doutrina Católica acima, as condições em que se podem ganhar indulgências e as principais obras indul-genciadas).

Oração para antes da meditação da manhã

Ave Maria, Filha bem-amada do Pai Eterno. Ave Maria, Mãe admi-rável de Deus Filho. Ave Maria, Esposa fidelíssima do Espírito Santo. Ave, ó minha Mãe e Senhora, soberana do mundo, Rainha dos Corações e auxílio onipotente de todos os que a Vós recorrem e em Vós confiam. Coloco-me mais especialmente neste momento em vossa presença, pedindo-Vos vossa assistência e que me obtenhais a graça para, em união convosco, fazer bem esta meditação. Vós bem conheceis as dificuldades que terei para ela, em con-seqüência de minha dissipação constante, de minha preguiça mental, de meu relaxamento interior. Suplico-Vos, portanto, ó Esposa sem mácula do Divino Espírito Santo, vossas luzes, vossos favores, vossa misericórdia enfim, para que eu possa tirar todo o proveito desta meditação, para vossa maior honra, glória e serviço. Amém. Meu Senhor e meu Deus, creio firmemente que estais aqui presente, que me vês e que me ouves. Adoro-Vos com profunda reverência, peço-Vos perdão dos meus pecados e graças para ver com clareza o número, a gravidade deles, e o que devo fazer para repará-los e emendar-me. Peço-Vos a graça de conhecer tam-bém o vosso divino beneplácito127 e vossa vontade santíssima a meu respeito, para entusiasmar-me por ela e cumpri-la pronta e inteiramente. Tudo Vos peço com confiança e pela intercessão de Maria Santíssima. Assim seja.

127 Divino beneplácito quer dizer aquilo que Deus quer, que agrada a Ele.

Visitas de Nossa Senhora 215

Oração para depois da meditação

Em união com Nossa Senhora eu Vos agradeço, meu Deus, pelas ver-dades de Fé que me fizestes conhecer ou recordar, pelo conhecimento que me destes de mim mesmo, pelos bons propósitos e resoluções que me inspirastes a tomar nesta meditação. Peço-Vos todas as graças necessárias para colocá-los em prática com decisão, já a partir de agora. Minha Mãe Imaculada, São José meu Pai e Senhor, meu Anjo da Guarda, meus Santos Padroeiros, intercedei por mim e obtende-me todas as graças que necessito, especialmente para este dia de hoje.

Breve consagração a Jesus por Maria(São Luís Maria G. de Montfort)

Sou todo vosso, e tudo que seja meu é vosso, ó meu amável Jesus, por Maria, vossa Mãe santíssima.

Breve consagração a Nossa Senhora

Ó minha Senhora e minha Mãe, eu me ofereço todo a Vós e, em prova de minha devoção para convosco, Vos consagro neste dia os meus olhos, os meus ouvidos, a minha boca, o meu coração, e inteiramente todo o meu ser. E porque sou vosso, ó incomparável Mãe, guardai-me, defendei-me, como coisa e propriedade vossa. Amém.

Oração para as viagens

Virgem Santíssima, Senhora da Boa Viagem, esperança infalível dos filhos da Santa Igreja, sois guia e eficaz auxílio dos que passam pela vida por entre os perigos do corpo e da alma. Refugiando-nos sob o vosso olhar materno, empreendemos esta viagem certos do êxito que obtivestes quando Vos encami-nhastes para visitar vossa prima Santa Isabel. Em ascensão crescente na prática de todas as virtudes transcorrestes vossa vida, até o ditoso momento em que subistes gloriosa para os Céus. Nós Vos suplicamos, pois, ó Mãe querida, velai por nós, indignos filhos vossos, alcançando-nos a graça de seguir os vossos pas-sos, assistidos por Jesus e São José, durante este percurso, na peregrinação desta vida e na hora derradeira de nossa partida para a eternidade. Amém.

216 Visitas de Nossa Senhora

Oração a São José para o trabalho(São Pio X)

Ó glorioso São José, modelo de todos os que se dedicam ao trabalho,

obtende-me a graça de trabalhar com espírito de penitência para expiação de meus numerosos pecados; de trabalhar com consciência, pondo o culto do dever acima de minhas inclinações; de trabalhar com recolhimento e alegria, olhando como uma honra empregar e desenvolver, pelo trabalho, os dons re-cebidos de Deus; de trabalhar com ordem, paz, moderação e paciência, sem nunca recuar perante o cansaço e as dificuldades; de trabalhar sobretudo com pureza de intenção e com desapego de mim mesmo, tendo sempre diante dos olhos a morte e a conta que deverei dar do tempo perdido, dos talentos inutili-zados, do bem omitido e da vã complacência nos sucessos, tão funesta à obra de Deus! Tudo por Jesus, tudo por Maria, tudo à vossa imitação, ó Patriarca São José! Tal será a minha divisa na vida e na morte. Amém.

Oração para os estudos(São Tomás de Aquino)

Ó Maria, Mãe do belo amor, do temor, do conhecimento e da santa es-perança, por cuja piedosa intercessão muitos, embora rudes no entendimento, fazem progressos admiráveis na ciência e na piedade, escolho-Vos para prote-tora e patrona dos meus estudos. Humildemente Vos imploro, pelas entranhas de vossa maternal piedade, e principalmente por aquela Sabedoria Eterna que Se dignou assumir em Vós nossa carne, e exaltar-Vos, na luz celestial, acima de todos os Santos, obtende-me, por vossa intercessão, a graça do Espírito Santo, de maneira que eu possa penetrar com o entendimento, reter na me-mória, exprimir pela vida e por palavras, ensinar aos outros todas as coisas que trazem honra a Vós e a vosso Filho, como também proveito para a minha felicidade eterna e dos demais homens. Amém.

Oração para antes das refeições

Abençoai-nos, Senhor, e a este alimento que por vossa bondade va-mos tomar. Por Jesus Cristo Nosso Senhor. Amém.

Ação de graças para depois das refeições

Nós Vos agradecemos, ó Deus onipotente, todos os benefícios que

Visitas de Nossa Senhora 217

nos haveis dispensado, Vós que viveis e reinais pelos séculos dos séculos. Amém.

Angelus (O Anjo do Senhor)(Reza-se às 6:00, às 12:00 e às 18:00 hs.)

V. O Anjo do Senhor anunciou a Maria. R. E Ela concebeu do Espírito Santo. Ave Maria... V. Eis aqui a escrava do Senhor. R. Faça-se em Mim segundo a vossa palavra. Ave Maria... V. E o Verbo de Deus Se fez carne. R. E habitou entre nós. Ave Maria...

V. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus.R. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.Oremos. Infundi, Senhor, em nossos corações a vossa graça, Vo-lo

suplicamos; a fim de que, conhecendo, pela anunciação do Anjo, a Encarnação de Jesus Cristo, vosso Filho, pelos merecimentos de sua Paixão e Morte na Cruz, cheguemos à glória da ressurreição. Pelo mesmo Cristo, Nosso Senhor. Amém.

V. Glória ao Pai (três vezes).V. Santo Anjo do Senhor...

Regina Caeli (Rainha do Céu)(Reza-se nos mesmos horários, durante o Tempo Pascal)

V. Rainha do Céu, alegrai-Vos, aleluia. R. Porque Aquele que merecestes trazer em vosso puríssimo seio, ale-luia. V. Ressuscitou como disse, aleluia. R. Rogai a Deus por nós, aleluia. V. Exultai e alegrai-Vos, ó Virgem Maria, aleluia. R. Porque o Senhor ressuscitou verdadeiramente, aleluia.

Oremos. Ó Deus, que Vos dignastes alegrar o mundo com a ressur-reição de vosso Filho Jesus Cristo, Senhor nosso, concedei-nos, Vo-lo supli-camos, que por sua Mãe, a Virgem Maria, alcancemos os prazeres da vida eterna. Pelo mesmo Cristo, Nosso Senhor. Amém. V. Glória ao Pai (três vezes).

218 Visitas de Nossa Senhora

Modo de rezar o Rosário

Os Mistérios ou fatos da vida de Jesus contemplados no Rosário são os Gozosos, porque dizem respeito aos acontecimentos de sua vida que nos enchem de alegria; os Luminosos128, que dizem respeito à luz dos seus ensina-mentos e vida pública; os Dolorosos, porque se referem à sua Paixão e Morte; e os Gloriosos, que se reportam aos fatos que O cumulam de glória. Cada Ter-ço é composto por cinco dezenas de contas, uma dezena para cada Mistério. Antes de começar uma dezena, se anuncia o Mistério que será contemplado, e procura-se meditar nele enquanto se rezam as orações.

Oferecimento do Terço: Divino Jesus, nós Vos oferecemos pelas mãos de vossa Mãe Santíssi-

ma este Terço que vamos rezar, meditando nos mistérios da nossa Redenção. Concedei-nos, por intercessão da Virgem Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe, as virtudes que nos são necessárias para bem rezá-lo e a graça de ganharmos as indulgências desta santa devoção. Oferecemos, particularmente, em reparação e desagravo dos pecados cometidos contra o vosso Sacratíssimo Coração e o Imaculado Coração de Maria, pelas intenções do Santo Padre, pelo aumento e santificação do Clero, pelas Missões, pela santificação das famílias, pela paz do mundo, por nosso País, pela conversão dos pecadores, pelos doentes, pelos sofredores, pelos agonizantes, pelas benditas almas do Purgatório, por aqueles que pediram nossas orações, por todas as nossas intenções particulares.

Modo de começar:Faz-se o Sinal da Cruz. Segurando a cruz do Terço, para atestar nossa

Fé em todas as verdades ensinadas por Cristo, reza-se o Creio em Deus Pai. Em seguida, tomando a primeira conta depois da cruz, presta-se homenagem à Santíssima Trindade com um Pai Nosso. Depois, em cada uma das três contas seguintes, reza-se uma Ave-Maria, precedidas pelas seguintes invocações: (Na primeira conta) Ave Maria, Filha bem amada de Deus Pai. Ave Maria, cheia de graça... (Na segunda conta) Ave Maria, Mãe admirável de Deus Filho. Ave Maria... (Na terceira conta) Ave Maria, Esposa fidelíssima do Espírito Santo. Ave Maria... Terminada esta, reza-se um Glória ao Pai.

Modo de rezar cada dezena:

Anuncia-se o Mistério que será contemplado. Segurando a primeira

128 Os Mistérios Luminosos foram acrescentados aos outros três por João Paulo II em 16/10/2002, em sua Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae.

Visitas de Nossa Senhora 219

conta da dezena, se reza um Pai Nosso, depois, rezam-se dez Ave-Marias, uma em cada conta seguinte. Termina-se cada Mistério com um Glória ao Pai, seguido da jaculatória:

Oh! meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno, levai as almas todas para o Céu e socorrei principalmente as que mais precisarem. Amém.

Após cada Terço rezam-se as seguintes orações:Pai Eterno, eu Vos ofereço pelas mãos de Maria Santíssima o precio-

síssimo Sangue do vosso Filho. Ofereço-Vos também as Lágrimas de Nossa Senhora pela purificação da Terra e conversão dos homens, pela fidelidade dos vossos escolhidos, pela vitória da Santa Igreja e pelo triunfo do Imaculado Coração de Maria.

Lembrai-Vos, ó piíssima Virgem Maria... (ver texto completo na pá-gina 212).

Os Mistérios do Rosário que devem ser meditados em cada dezena são:

Mistérios Gozosos

1º- Anunciação e Encarnação: No primeiro Mistério contemplamos a Anun-ciação do Arcanjo São Gabriel e a Encarnação do Verbo em Nossa Senhora.2º- Visitação: No segundo Mistério contemplamos a Visitação de Nossa Se-nhora à sua prima Santa Isabel e a santificação de São João Batista.3º- Natividade: No terceiro Mistério contemplamos o Nascimento do Menino Jesus em Belém. 4º- Apresentação: No quarto Mistério contemplamos a Apresentação do Me-nino Jesus no templo e a Purificação de Nossa Senhora. 5º- Encontro de Jesus no Templo: No quinto Mistério contemplamos a perda e o encontro do Menino Jesus no templo, entre os doutores da Lei.

Mistérios Luminosos

1º- Batismo de Jesus: No primeiro Mistério contemplamos o Batismo de Jesus por São João Batista.2º- Milagre em Caná: No segundo Mistério contemplamos a transmutação de água em vinho nas Bodas de Caná, operada por Jesus pela intercessão de Maria Santíssima.3º - Anúncio do Reino de Deus e convite à conversão: No terceiro Mistério contemplamos a pregação de Nosso Senhor Jesus Cristo anunciando o Reino de Deus e convidando à conversão.

220 Visitas de Nossa Senhora

4º- Transfiguração: No quarto Mistério contemplamos a Transfiguração de Nosso Senhor Jesus Cristo no Monte Tabor. 5º- Instituição da Sagrada Eucaristia: No quinto Mistério contemplamos a ins-tituição da Sagrada Eucaristia na Última Ceia.

Mistérios Dolorosos

1º- Agonia: No primeiro Mistério contemplamos a oração e a Agonia de Nos-so Senhor Jesus Cristo, quando suou Sangue no Horto das Oliveiras. 2º- Flagelação: No segundo Mistério contemplamos a Flagelação de Nosso Senhor Jesus Cristo atado a uma coluna. 3º- Coroação de Espinhos: No terceiro Mistério contemplamos a Coroação de Espinhos de Nosso Senhor Jesus Cristo. 4º- Carregamento da Cruz: No quarto Mistério contemplamos Nosso Senhor Jesus Cristo carregando a Cruz a caminho do Calvário.5º- Morte de Jesus: No quinto Mistério contemplamos a Crucifixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Mistérios Gloriosos

1º- Ressurreição: No primeiro Mistério contemplamos a gloriosa Ressurrei-ção de Nosso Senhor Jesus Cristo. 2º- Ascensão: No segundo Mistério contemplamos a Ascensão de Nosso Se-nhor Jesus Cristo ao Céu. 3º- Descida do Espírito Santo: No terceiro Mistério contemplamos a vinda do Espírito Santo sobre Nossa Senhora e os Apóstolos reunidos no Cenáculo em Jerusalém. 4º- Assunção: No quarto Mistério contemplamos a Assunção de Nossa Senho-ra ao Céu em corpo e alma. 5º- Coroação de Nossa Senhora: No quinto Mistério contemplamos a Coroa-ção de Nossa Senhora como Rainha do Céu e da Terra, pela Santíssima Trin-dade.

Agradecimentos:Infinitas graças vos damos, Soberana Rainha, pelos benefícios que

todos os dias recebemos de vossas mãos liberais. Dignai-vos agora e para sempre tomar-nos debaixo do vosso poderoso amparo e para mais Vos obrigar, Vos saudamos com uma Salve Rainha: Salve Rainha, Mãe de misericórdia...

Visitas de Nossa Senhora 221

Ladainha de Nossa Senhora

Senhor, tende piedade de nós.Jesus Cristo, tende piedade de nós.R. Senhor, tende piedade de nós.Jesus Cristo ouvi-nos,R. Jesus Cristo, atendei-nos.Deus, Pai dos Céus, tende piedade de nós.Deus Filho, Redentor do mundo, tende...Deus Espírito Santo,Santíssima Trindade que sois um só Deus,Santa Maria, rogai por nós.Santa Mãe de Deus, rogai...Santa Virgem das virgens,Mãe de Jesus Cristo,Mãe da divina graça,Mãe puríssima,Mãe castíssima,Mãe intacta,Mãe intemerata,Mãe amável,Mãe admirável,Mãe do bom conselho,Mãe do Criador,Mãe do Salvador,Mãe da Igreja,Virgem prudentíssima,Virgem venerável,Virgem louvável,Virgem poderosa,Virgem benigna,Virgem fiel,Espelho de justiça,Sede da sabedoria,Causa da nossa alegria,Vaso espiritual,Vaso honorífico,Vaso insigne de devoção,Rosa mística,Torre de David,

222 Visitas de Nossa Senhora

Torre de marfim,Casa de ouro,Arca da Aliança,Porta do Céu,Estrela da manhã,Saúde dos enfermos,Refúgio dos pecadores,Consoladora dos aflitos,Auxílio dos cristãos,Rainha dos Anjos,Rainha dos Patriarcas,Rainha dos Profetas,Rainha dos Apóstolos,Rainha dos Mártires,Rainha dos Confessores,Rainha das Virgens,Rainha de todos os Santos,Rainha concebida sem pecado original,Rainha assunta ao Céu,Rainha do Santo Rosário,Rainha da família,Rainha da paz,Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo,R. Perdoai-nos, Senhor.Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo,R. Atendei-nos, Senhor.Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo,R. Tende piedade de nós.V. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus,R. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.Oremos. Senhor Deus, nós Vos suplicamos que concedais a vossos servos lograr perpétua saúde de alma e corpo; e que, pela gloriosa intercessão da Bem-aventurada sempre Virgem Maria, sejamos livres da presente tristeza e gozemos da eterna alegria. Por Cristo Nosso Senhor. Amém.

Visitas de Nossa Senhora 223

Pequeno Ofício da Imaculada Conceição

Matinas V. Eia, entoai agora, lábios meus,R. Glórias e dons da Virgem Mãe de Deus.V. Em meu socorro vinde já, Senhora.R. Do inimigo livrai-me, vencedora.Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, etc (No tempo Pascal acrescenta-se: Aleluia.)

Hino1º coro - Salve, ó Virgem Mãe, Senhora minha,Estrela da Manhã, do Céu Rainha.Cheia de graça sois, salve luz pura,valei ao mundo e a toda criatura. 2º coro - Para Mãe o Senhor vos destinou,do que os mares, a Terra e Céus criou.Preservou Ele a vossa Conceição,da mancha que nós temos em Adão. Amém. V. Deus A escolheu e predestinou:R. No seu tabernáculo A fez habitar.V. Protegei, Senhora, a minha oração.R. E chegue até Vós o meu clamor.

Oremos - Santa Maria, Rainha dos Céus, Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo e dominadora do mundo, que a ninguém desamparais nem desprezais; ponde, Senhora, em mim, os olhos de vossa piedade e alcançai-me de vosso amado Filho o perdão de todos os meus pecados, para que, venerando agora afetuosamente a vossa Imaculada Conceição, consiga depois a coroa da eterna bem-aventurança, por mercê do mesmo vosso Filho Jesus Cristo, Senhor Nos-so, que com o Pai e o Espírito Santo vive e reina, em unidade perfeita, Deus, pelos séculos dos séculos. Amém.

V. Protegei, Senhora, a minha oração.R. E chegue até Vós o meu clamor.

224 Visitas de Nossa Senhora

V. Bendigamos ao Senhor.R. Demos graças a Deus.V. As almas dos fiéis defuntos, por misericórdia de Deus, descansem em paz.R. Amém.

Prima V. Em meu socorro vinde já, Senhora.R. Do inimigo livrai-me, vencedora.Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, etc (No tempo Pascal acrescenta-se: Aleluia.)

Hino 1º coro - Salve prudente Virgem destinada,para dar ao Senhor digna morada.Com as sete colunas da Escritura,do templo a mesa ornou-Vos em figura. 2º coro - Fostes livre do mal que o mundo espanta,e no seio materno sempre Santa.Porta dos Santos, Eva, Mãe da vida,Estrela de Jacó aparecida.Sois armado esquadrão contra o maligno,sede amparo refúgio ao povo digno. Amém. V. Ele próprio A criou no Espírito Santo.R. E A representou maravilhosamente em todas as suas obras.V. Protegei, Senhora, a minha oração,R. E chegue até Vós o meu clamor.

Oremos - Santa Maria, Rainha dos Céus, etc.

V. Protegei, Senhora, a minha oração.R. E chegue até Vós o meu clamor.V. Bendigamos ao Senhor.R. Demos graças a Deus.V. As almas dos fiéis defuntos, por misericórdia de Deus, descansem em paz.R. Amém.

Visitas de Nossa Senhora 225

Tercia

V. Em meu socorro vinde já, Senhora.R. Do inimigo livrai-me, vencedora.Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, etc (No tempo Pascal acrescenta-se: Aleluia.)

Hino1º coro - Salve, áureo trono, íris de bonança,sarça do Horeb e Arca da Aliança.De Jessé vara, véu de Gedeão,porta fechada, favo de Sansão.

2ºcoro - Por decoro do Filho não podia,o labéu de Eva macular Maria.Nem devia tal Mãe, assim eleita,por um momento à culpa estar sujeita. Amém.V. Eu moro no mais alto dos Céus.R. E o meu trono está sobre a coluna de nuvem.V. Protegei, Senhora, a minha oração, etc (como no fim das Matinas).

Sexta

V. Em meu socorro vinde já, Senhora.R. Do inimigo livrai-me, vencedora.Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, etc (No tempo Pascal acrescenta-se: Aleluia.)

Hino1º coro - Salve Mãe pura, templo da Trindade,prazer dos Céus, mansão de castidade.Éden celeste, alívio da tristeza,palma constante, cedro de pureza.

2º coro - Terra bendita sois, sacerdotal,sempre isenta da culpa original.Cidade santa, porta do oriente,de graça, para nós, fonte corrente. Amém.

V. Como a açucena entre os espinhos,R. Assim a minha predileta entre as filhas de Adão.V. Protegei, Senhora, a minha oração, etc (como no fim das Matinas).

226 Visitas de Nossa Senhora

Noa Em meu socorro vinde já, Senhora,do inimigo livrai-me, vencedora.Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, etc (No tempo Pascal acrescenta-se: Aleluia.) Hino1º coro - Salve ó Torre de Davi armada,de refúgio cidade reservada.Ardendo em zelo desde a Conceição,prostrais a fúria do infernal dragão. 2º coro - Tendes, mais que Judite, o braço ousado,e do sumo Davi o puro Sagrado.Deu Raquel ao Egito um provedor,Maria deu ao mundo o Salvador. Amém. V. Toda sois formosa, ó Mãe querida,R. E a mancha original nunca tocou em Vós.V. Protegei, Senhora, a minha oração, etc (Como no fim das Matinas).

Vésperas V. Em meu socorro vinde já, Senhora.R. Do inimigo livrai-me, vencedora.Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, etc (No tempo Pascal acrescenta-se: Aleluia.) Hino1º coro - Relógio de Ezequias que atrasado,foi para o Sol Divino nos ser dado.Em Vós o imenso quis ser abatido,para que ao Céu fosse o mortal subido. 2º coro - Brilhando com os raios de tal Sol,é vossa Conceição claro arrebol.Guiai-nos, pois, calcada a serpente crua,ó entre espinhos flor, piedosa lua. Amém.

Visitas de Nossa Senhora 227

V. Eu fiz nascer no Céu a luz que não se apaga.R. E cobri como névoa a Terra toda.V. Protegei, Senhora, a minha oração, etc (Como no fim das Matinas).

Completas V. Converta-nos Jesus, por vosso amor,R. E retire de nós o seu furor.V. Em meu socorro vinde já, Senhora.R. Do inimigo livrai-me, vencedora.Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, etc (No tempo Pascal acrescenta-se: Aleluia.) Hino1º coro - Salve florente Virgem ilibada,meiga Rainha de astros coroada.Mais pura que os Anjos, tendes trono,à direita do Rei, em nosso abono. 2º coro - Ó Mãe da graça, nossa doce esperança,do mar estrela e porto de bonança.Porta do Céu, saúde na doença,de Deus guiai-nos à feliz presença. Amém. V. Vosso Nome, ó Maria, é como um bálsamo.R. Muito Vos amam vossos fiéis servos.V. Protegei, Senhora, a minha oração, etc (Como no fim das Matinas).

Depois do ofício Aceitai, ó Virgem, esta devoção,em louvor da vossa pura Conceição.Sede-nos na vida defensora e guia. Sede-nos alento em nossa agonia.Ó Mãe de bondade, ó doce Maria. Antífona - Esta é a Virgem admirável, na qual não houve a nódoa original, nem sombra do pecado.

228 Visitas de Nossa Senhora

V. Na vossa Conceição, ó Virgem, fostes Imaculada.R. Rogai por nós ao Eterno Pai, cujo Filho destes ao mundo.

Oremos - Ó Deus, que pela Imaculada Conceição da Virgem preparas-tes ao vosso Filho uma digna morada, nós vós rogamos que, pois, em virtude da previsão da morte do mesmo vosso Filho, a preservastes de toda a mancha, também nos concedais que, purificados por sua intercessão, cheguemos à vos-sa divina presença, pelo mesmo Jesus Cristo, Nosso Senhor. Amém.

Novena a Nossa Senhora da Medalha Milagrosa

Em 27 de novembro de 1830 Nossa Senhora apareceu a Santa Cata-rina Labouré, religiosa Vicentina francesa, e pediu-lhe que mandasse cunhar uma medalha, prometendo que “todos que as usarem, trazendo-a ao pescoço, receberão grandes graças. Estas serão abundantes para aqueles que a usarem com confiança”. Sobre esta medalha, o Papa Pio XII disse que foi instrumento de tão numerosos favores, tantas curas, proteções e conversões que a voz do povo a chamou de Medalha Milagrosa. Os principais atos de devoção para com a Medalha Milagrosa são: 1) Usá-la ao pescoço com confiança e amor; 2) Beijá-la respeitosamente de manhã e à noite rezando a oração: “Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós”; 3) Rezar três Ave Marias pela manhã e três à noite, seguidas desta oração, pedindo a graça da perseverança na virtude, especialmente da pureza, e a Salvação eterna; 4) Distribuir a Medalha para os enfermos, idosos, crianças, e toda e qualquer pessoa.

Quando se deseja receber alguma graça mais especial, pode-se rezar a seguinte Novena (durante nove dias) ou Tríduo (só os últimos três dias) per-correndo as seguintes etapas:

1º - Sinal da Cruz.2º - Ato de Contrição (ver abaixo, em “modo de fazer a Confissão”).3º - Leitura do dia.4º - Súplica a Nossa Senhora.5º - Oração final.

Visitas de Nossa Senhora 229

Leituras

1º Dia – Primeira Aparição.Contemplemos a Virgem Imaculada, em sua primeira aparição a Santa

Catarina Labouré. A piedosa noviça, guiada por seu Anjo da Guarda, é apre-sentada à Imaculada Senhora. Consideremos sua inefável alegria. Seremos também felizes como Santa Catarina, se trabalharmos com ardor na nossa santificação. Gozaremos as delícias do Paraíso, se nos privarmos dos gozos terrenos.

2º Dia – Lágrimas de Maria.Contemplemos Maria chorando sobre as calamidades que viriam so-

bre o mundo, pensando que o Coração de seu Filho seria ultrajado, a Cruz escarnecida e seus filhos prediletos perseguidos. Confiemos na Virgem com-passiva e também participaremos do fruto de suas lágrimas.

3º Dia – Proteção de Maria.Contemplemos nossa Imaculada Mãe dizendo em suas aparições a

Santa Catarina: “Eu mesma estarei convosco: não vos perco de vista e vos concederei abundantes graças”. Sede para mim, Virgem Imaculada, o escudo e a defesa em todas as necessidades.

4º Dia – Segunda Aparição.Estando Santa Catarina Labouré em oração, a 27 de novembro de

1830, apareceu-lhe a Virgem Maria, formosíssima, esmagando a cabeça da serpente infernal. Nessa aparição se vê seu desejo imenso de nos proteger sempre contra o inimigo de nossa Salvação. Invoquemos a Imaculada Mãe com confiança e amor!

5º Dia – As mãos de Maria.Contemplemos hoje Maria desprendendo de suas mãos raios lumino-

sos. Estes raios, disse Ela, “são a figura das graças que derramo sobre todos aqueles que mas pedem e aos que trazem com Fé minha medalha”. Não des-perdicemos tantas graças! Peçamos com fervor, humildade e perseverança, e Maria Imaculada no-las alcançará.

6º Dia – Terceira Aparição.Contemplemos Maria aparecendo a Santa Catarina, radiante de luz,

cheia de bondade, rodeada de estrelas, mandando cunhar uma medalha e pro-metendo muitas graças a todos que a trouxerem com devoção e amor. Guarde-

230 Visitas de Nossa Senhora

mos fervorosamente a Santa Medalha e, como escudo, ela nos protegerá nos perigos.

7º Dia da Novena e 1º do Tríduo.Ó Virgem Milagrosa, Rainha excelsa, Imaculada Senhora, sede minha

advogada, meu refúgio e asilo nesta terra, minha fortaleza e defesa na vida e na morte, meu consolo e minha glória no Céu.

8º Dia da Novena e 2º do Tríduo.Ó Virgem Imaculada da Medalha Milagrosa, fazei que esses raios lu-

minosos que irradiam de vossas mãos virginais iluminem minha inteligência para melhor conhecer o bem, e abrasem meu coração com vivos sentimentos de Fé, Esperança e Caridade.

9º Dia da Novena e 3º do Tríduo.Ó Mãe Imaculada, fazei que a Cruz de vossa Medalha brilhe sempre

diante de meus olhos, suavize as penas da vida presente e me conduza à vida eterna.

Súplica a Nossa Senhora

Ó Imaculada Virgem Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe, ao contem-plar-Vos de braços abertos espargindo graças sobre os que Vo-las pedem, cheio da mais viva confiança na vossa poderosa e segura intercessão, inúme-ras vezes manifestada pela Medalha Milagrosa, embora reconhecendo a nossa indignidade por causa de nossas numerosas culpas, ousamos acercar-nos de vossos pés para Vos expor, durante esta Novena, as nossas mais prementes ne-cessidades. (Pede-se a graça desejada). Escutai, pois, ó Virgem da Medalha Milagrosa, este favor que confiante Vos solicitamos para maior glória de Deus, engrandecimento de vosso Nome e bem de nossas almas. E para melhor ser-virmos ao vosso Divino Filho, inspirai-nos profundo ódio ao pecado e dai-nos a coragem de nos afirmar sempre verdadeiros cristãos. Assim Seja. Três Ave Marias acrescentando, após cada uma: “Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós”.

Oração final

Santíssima Virgem, eu creio e confesso vossa Santa e Imaculada Con-ceição, pura e sem mancha. Ó puríssima Virgem Maria, por vossa Conceição Imaculada e gloriosa prerrogativa de Mãe de Deus, alcançai-me de vosso ama-do Filho a humildade, a caridade, a obediência, a castidade, a santa pureza de

Visitas de Nossa Senhora 231

coração, de corpo e espírito, a perseverança na prática do bem, uma santa vida e uma boa morte. Amém

Confissão

Exame de consciência

Existem vários modos de examinar a consciência. Basicamente é pre-ciso recordar todos os Mandamentos da Lei de Deus e os da Igreja, ver contra quais pecou, procurar avaliar se o pecado foi venial ou mortal, bem como as agravantes que eles tiveram, e as circunstâncias em que foram cometidos. Segue abaixo um roteiro que pode ser seguido para facilitar o exame de cons-ciência.

Para bem se preparar para a confissão convém se retirar para um local adequado, quer na igreja, quer em casa, pôr-se na presença de Deus, lembrar dos sofrimentos de Jesus e Maria, rezar pedindo graças para conhecer o nú-mero e a gravidade dos próprios pecados, e um sincero arrependimento de todos eles. Para evitar esquecer o resultado do exame, convém tomar nota dos pecados para acusar-se deles no momento da confissão.

Oração.Suprema e adorável Trindade, eu creio que estais aqui presente, me

vedes e ouvis. Adoro-Vos do mais profundo do meu coração, reconheço-Vos por meu Deus, Criador e soberano Senhor, que sendo a única e verdadeira vida, sois o único que não pode deixar de existir; eis por que Vos dou o culto de adoração que somente a Vós é devido, e prostro-me com toda a humildade ante o trono da vossa infinita grandeza. Meu Deus e Senhor, eu me preparo para receber o santo Sacramento da Reconciliação. Iluminai o meu espírito, a fim de que eu conheça claramente o número e a gravidade dos meus pecados, deles me arrependa e os confesse ao vosso ministro com verdadeira dor e fir-me propósito de nunca mais Vos tornar a ofender. Amém.

Faltas contra Deus.Se tenho posto em dúvida ou negado alguma verdade da Fé. Se blas-

femei ou disse palavras injuriosas contra Deus, Nossa Senhora, os Santos e as coisas santas. Se falei sem respeito, com leviandade ou desprezo do Papa, dos Bispos, de Padres ou religiosos (as), da Missa e outras cerimônias da Igreja, ou de outras coisas sagradas. Se faltei com a confiança em Deus, duvidando de sua misericórdia. Se neguei a Palavra de Deus ou duvidei dela. Se fui supers-

232 Visitas de Nossa Senhora

ticioso ou consultei feiticeiros e cartomantes. Se tenho me apresentado para a santa Comunhão com falta de recolhimento ou devoção. Se tenho deixado de me confessar. Se deixei de me acusar voluntariamente de algum pecado na confissão. Se deixei de cumprir, no todo ou em parte, a penitência imposta pelo Sacerdote, e qual foi a causa disso. Se faltei, sem justa causa, à Missa em domingos ou dias santos. Se, durante a Missa, tive distrações voluntárias. Se na igreja ou em outros lugares santos, tive atitudes irreverentes. Se deixei de fazer o bem por vergonha ou respeito humano.

Faltas contra o próximo.Se tenho sido negligente em rejeitar os pensamentos de suspeita ou

juízo temerário. Se falei para outros sobre minhas suspeitas ou juízos temerá-rios, faltando assim com a caridade. Se tenho tido aversão ou ódio de outras pessoas, e se não fiz esforços para dissipar este sentimento mau. Se tenho julgado temerariamente os outros. Se tenho me entretido, voluntariamente ou por negligência, em sentimentos de rancor contra aqueles que me ofenderam. Se tive desejos de vingança contra alguém, e se tomei a resolução de pô-los em prática. Se tive sentimentos de inveja para com o próximo. Se me alegrei com alguma desgraça que aconteceu ao próximo. Se, em vez de me edificar com as virtudes do próximo, as tenho rebaixado. Se tenho desejado algum mal ao próximo. Se recusei dar ao próximo alguma alegria ou fazer-lhe algum bem que estivesse ao meu alcance. Se tenho me recusado a pedir perdão a alguém depois de o ter ofendido, ou reconciliar-me com ele, quando ele pediu perdão. Se tenho deixado de rezar por aqueles que, por título natural e divino, têm direito às minhas orações. Se tenho falado mal do próximo e por que motivo: leviandade, inveja, ressentimento, etc. Se tenho caluniado alguém ou exagera-do as suas faltas, em coisas importantes ou leves. Se fiz algum mexerico, per-turbando assim a boa harmonia entre os outros. Se a meu próximo tenho feito repreensões amargas ou injustas, se lhe tenho dito palavras ásperas, picantes ou injuriosas. Se só, ou diante de outras pessoas, tenho dado ao próximo si-nais de desprezo, se tenho zombado dele em sua ausência, ou se fiz o mesmo em sua presença. Se dei escândalo e maus exemplos. Se, por maus exemplos, maus conselhos ou críticas, desviei alguém da prática da virtude. Se aconse-lhei a alguém que se vingasse ou fizesse algum outro mal. Se por adulação aprovei o mal que, em consciência, sabia não ser bem. Se enganei o próximo, assegurando-lhe que uma coisa, na realidade proibida, era boa ou lícita. Se te-nho mentido ou exagerado em minhas palavras. Se cheguei a ferir, espancar ou tirar a vida de alguém. Se levei o próximo a praticar ações obscenas e imorais. Se dei mau exemplo ao próximo, principalmente da minha família, em matéria moral. Se tive mau convívio, por culpa própria, com meus familiares, amigos

Visitas de Nossa Senhora 233

e conhecidos. Se tenho me apropriado ou prejudiquei os bens do próximo, inclusive sua boa fama ou o respeito que lhe é devido, e se devolvi o que lhe tirei. Se tenho me enriquecido ilicitamente à custa de alguém. Se tenho pago o justo salários aos meus empregados. Se tenho procurado pagar minhas dívidas honestamente.

Faltas contra si mesmo.Se tive pensamentos de orgulho, considerando-me mais do que os ou-

tros. Se tenho me revoltado contra as humilhações e repreensões merecidas. Se tenho demorado voluntariamente em pensamentos de vaidade, ou outra coisa que possa agradar o meu amor próprio. Se falei com vaidade de mim ou dos meus merecimentos, verdadeiros ou supostos. Se tenho me demorado vo-luntariamente em pensamentos contrários à castidade. Se li com malícia algu-ma coisa impura. Se olhei deliberadamente para pessoas mal vestidas, ou para coisas impuras e obscenas em revistas, fotografias, televisão, filmes, etc. Se, voluntariamente, ouvi, cantei, ensinei ou aprovei músicas ou outras coisas im-puras. Se dei atenção a conversas imorais ou participei delas. Se pratiquei atos impuros, sozinho ou com outras pessoas. Se estas eram do mesmo sexo, casa-das ou de parentesco próximo. Se, sendo casado, procurei limitar ou impedir, com drogas ou outro modo artificial, o nascimento dos filhos. Se tenho sido muito apegado ao meu próprio juízo e idéias, ou se contrariei, com pertinácia, os bons sentimentos do próximo. Se tive vergonha de aparecer em público em companhia de meus pais ou de pessoas de condição humilde. Se não reprimi imediatamente os ímpetos de cólera ou impaciência. Se cometi atos de gula, bebendo ou comendo em excesso, ou se fiz uso de produtos alucinógenos. Se evitei com diligência todas as pessoas, objetos, ambientes, diversões ou outras coisas que me levam ao pecado. Se deixei de cumprir os deveres de meu esta-do (solteiro, casado, profissional, estudantil, etc).

Ato de arrependimento.Ó meu Deus, profundamente humilhado diante de vossa Majestade

soberana, eu Vos peço perdão. Detesto de todo o meu coração, todos os peca-dos que tenho cometido em minha vida, mas particularmente depois da minha última confissão, tanto aqueles de que me lembro, como os de que não tenho memória. Eu os detesto e deles me arrependo de todo o coração.

Oração para antes da Confissão.Minha Senhora e minha Mãe, dai-me a graça de conhecer meus peca-

dos em todo o seu tamanho, em toda a sua gravidade, em toda a sua malícia, e dai-me inquebrantável ódio a esses pecados, para que, odiando-os assim, eu

234 Visitas de Nossa Senhora

possa vencê-los com a graça de Deus. Dai-me aquela forma perfeitíssima de ar-rependimento que Vós quereis de mim, aquela compunção de David penitente, aquele seu lamento sereno e cheio de confiança, aquela sua dor pungente. Fazei, ó minha Mãe, com que meus pecados estejam sempre diante de mim e dai-me aquele coração contrito e humilhado que Vós não desprezais. Amém.

Modo de fazer a confissão

Depois de preparado e arrependido de seus pecados, tendo formado o firme propósito de não pecar mais e evitar as ocasiões de pecado, apresentar-se ao Sacerdote. Ao começar a confissão, fazer o Sinal da Cruz e dizer: “Padre, dai-me vossa bênção porque pequei. A minha última confissão foi no dia (...) ou faz tantos (dias, semanas, meses, etc). Eu, pecador, me confesso a Deus e a vós, Padre, dos seguintes pecados”.

Depois de ter confessado os pecados, pode-se acrescentar: “Destes e de todos os pecados de minha vida, mesmo os esquecidos ou de que não me dei conta, eu me arrependo de todo o coração, peço perdão a Deus, e a vós, Padre, peço a penitência e a absolvição”.

Deve-se ouvir com respeito e atenção os conselhos do confessor, e rezar o Ato de Contrição quando ele terminar. Ao receber a absolvição, faz-se o Sinal da Cruz. Após a confissão, deve-se rezar agradecendo a Deus e a Nossa Senhora, pedir-Lhes que abençoem o firme propósito de emenda e cumprir a penitência que o Padre mandou.

Ato de Contrição.Senhor meu Jesus Cristo, Deus e Homem verdadeiro, Criador e Re-

dentor meu, por serdes Vós quem sois, sumamente bom e digno de ser amado sobre todas as coisas, e porque Vos amo e estimo, pesa-me, Senhor, por Vos ter ofendido. Pesa-me também por ter perdido o Céu e merecido o inferno. Mas proponho firmemente, com o auxílio de vossa divina graça, e pela poderosa intercessão de vossa Mãe Santíssima, emendar-me e nunca mais Vos tornar a ofender. Espero alcançar o perdão de minhas culpas, por vossa infinita mise-ricórdia. Amém.

Ato de Contrição mais breve.Pesa-me, meu Jesus, meu Senhor e meu Deus, de todo o coração, de

Vos ter ofendido, porque Vos amo sobre todas as coisas. Proponho firmemente com a vossa graça, emendar-me e nunca mais Vos ofender. Espero alcançar o perdão dos meus pecados, por vossa infinita misericórdia. Amém.

Visitas de Nossa Senhora 235

Ação de graças após a Confissão.Como sois suave, Senhor, para os que Vos procuram! Como são gran-

des o vosso amor e a vossa bondade.! Confio que, pelos merecimentos infinitos do vosso preciosíssimo Sangue, já perdoastes os meus pecados. Posso contar-me entre vossos filhos! Oh, dia feliz da minha vida! Oh, momento afortunado! Não permitais, Pai de misericórdia, que eu me esqueça jamais deste inefável benefício. Proponho firmemente evitar o pecado e as ocasiões que levam a ele, para nunca mais perder a vossa graça. Abençoai, Senhor, este meu propósito e fortalecei-me para que nunca mais torne a Vos ofender. Maria, minha Mãe, rogai por mim e amparai-me. Santos e Anjos do Céu, meu Santo Anjo da Guarda, intercedei por mim. Amém.

Preparação para a Comunhão

A Sagrada Comunhão requer sempre uma preparação bem feita e só pode ser feita se a consciência não acusa nenhum pecado mortal. Convém recolher-se pelo menos 10 minutos antes de recebê-la, meditar nas verdades da Fé e no infinito amor de Deus que Se fez Homem e está verdadeiramente presente na Eucaristia, para nossa Salvação. Em seguida, fazer algumas ora-ções como as que seguem:

Ato de Fé.Senhor meu Jesus Cristo, creio firmemente que estais real e verdadei-

ramente presente no Santíssimo Sacramento com vosso Corpo, Sangue, Alma e Divindade.

Ato de Adoração.Senhor Jesus, adoro-Vos no Santíssimo Sacramento e Vos reconheço

por meu Criador, Redentor e soberano Senhor, meu único e supremo bem.

Ato de Esperança.Ó meu Jesus, espero que, dando-Vos a mim neste divino Sacramento,

usareis comigo de misericórdia e concedereis todas as graças que são necessá-rias para minha eterna Salvação.

Ato de Caridade.Senhor, Vós sois infinitamente amável, sois meu Pai, meu Redentor e

meu Deus, e por isso Vos amo de todo o meu coração, sobre todas as coisas. Por amor a Vós, amo a meu próximo como a mim mesmo, e de boa vontade perdôo aos que me têm ofendido.

236 Visitas de Nossa Senhora

Ato de Desejo.Ó meu Jesus, desejo ardentemente que visiteis a minha alma e aqui

permaneçais, a fim de que eu não me separe nunca mais de Vós, mas fique sempre comigo a vossa divina graça. Amém.

Ato de Contrição.Senhor Jesus, detesto todos os meus pecados porque eles me tornam

indigno de receber-Vos no meu coração. Arrependo-me de todos eles por amor a Vós e proponho, com a vossa graça, nunca mais os cometer, evitar as ocasi-ões de pecado e fazer penitência.

Eu pecador.Eu, pecador, me confesso a Deus Todo-poderoso, e a vós irmãos, que

pequei muitas vezes por pensamentos, palavras, atos e omissões, por minha culpa, minha culpa, minha tão grande culpa. E peço à Virgem Maria, aos An-jos e Santos, e a vós, irmãos, que rogueis por mim a Deus Nosso Senhor.

Ato de Humildade.Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha casa, mas dizei

uma só palavra e minha alma será salva.

Ação de graças após a Comunhão

Profundamente recolhido, após receber a Sagrada Comunhão deve-se rezar, se possível de joelhos, durante pelo menos 10 ou 15 minutos, fazendo orações como as que seguem:

Ato de Fé.Senhor meu, Jesus Cristo, creio que estais verdadeiramente presente

em mim com vosso Corpo, Sangue, Alma e Divindade. Eu o creio mais firme-mente do que se Vos visse com meus próprios olhos.

Ato de Adoração.Ó meu Jesus, eu Vos adoro ante vossa divina e real presença. Uno-me

a Maria Santíssima, aos Anjos e aos Santos para Vos adorar como mereceis.

Ato de Agradecimento.Ó Jesus, Senhor meu, eu Vos agradeço de todo o coração por terdes

querido vir habitar na minha alma. Virgem Santíssima, Anjo de minha guarda, e vós todos, Anjos e Santos do Céu, agradecei a Jesus por mim.

Visitas de Nossa Senhora 237

Ato de Esperança.Ó meu Jesus, agora que estais presente em minha alma, espero que

nunca mais Vos separeis de mim, mas que ficareis sempre comigo, comuni-cando-me vossa divina graça.

Ato de Caridade.Ó Jesus, meu Deus e meu Senhor, eu Vos amo de todo o meu coração

e desejo amar-Vos quanto o mereceis. Fazei que eu Vos ame sobre todas as coisas, agora e por toda a eternidade.

Ato de Oferecimento.Ó meu Jesus, Vós Vos destes todo a mim, e eu me dou todo a Vós.

Pelas mãos de Maria Santíssima, ofereço-Vos meu coração, minha alma, e inteiramente todo o meu ser, com tudo que me pertence. Consagro-Vos toda a minha vida e quero ser vosso por toda a eternidade.

Ato de Petição.Ó meu Jesus, dai-me, eu Vos imploro pela intercessão de vossa Mãe

Santíssima, todas as graças espirituais e temporais que conheceis serem ne-cessárias à minha alma. Encomendo-Vos também as necessidades dos meus pais, superiores, parentes, amigos, benfeitores, das santas almas do Purgató-rio. Peço-Vos pela conversão dos pecadores, por todos os agonizantes e por to-das as demais pessoas por quem posso pedir. (Podem-se acrescentar os demais pedidos que se façam necessários ou convenientes, e ainda outras orações, como as que seguem).

Alma de Cristo(Santo Inácio de Loyola)

Alma de Cristo, santificai-me. Corpo de Cristo, salvai-me. Sangue de Cristo, inebriai-me. Água do lado de Cristo, lavai-me. Paixão de Cristo, confortai-me. Ó bom Jesus, ouvi-me. Dentro de vossas Chagas, escondei-me. Não permitais que de Vós me separe. Do espírito maligno, defendei-me. Na hora de minha morte, chamai-me. E mandai-me ir para Vós, para que com vossos Santos Vos louve, por todos os séculos dos séculos. Amém.

238 Visitas de Nossa Senhora

Oração a Jesus Crucificado(Rezar diante de um Crucifixo)

Eis-me aqui, ó bom e dulcíssimo Jesus. De joelhos me prostro em vossa presença e Vos peço e suplico que Vos digneis gravar em meu coração os mais vivos sentimentos de Fé, Esperança e Caridade, verdadeiro arrepen-dimento de meus pecados, e firme propósito de emenda, enquanto por mim próprio considero, e em espírito contemplo com grande afeto e dor as vossas cinco Chagas, tendo presente as palavras que já o Santo Profeta David dizia de Vós, ó meu Jesus: “Transpassaram as minhas mãos e os meus pés. Contaram todos os meus ossos”.

Oração para pedir a saúde

Pai nosso que estais no Céu, o Sol que ilumina a Terra, lhe dá calor e favorece a vida, lembra-nos o vosso amor porque é em Vós que vivemos, nos movemos e somos. Do mesmo modo que, no passado, estivestes muitas vezes conosco na hora das dificuldades, continuai agora a abençoar-nos com a vossa ajuda. Olhai, Senhor, com bondade o que está acontecendo para meu proveito. Guiai com sabedoria o médico e todos os que me prestam cuidados. Dai-lhes a vossa força curadora para que me seja devolvida a saúde e a fortaleza. Dai-me, sobretudo, todo benefício espiritual que, com os presentes sofrimentos, me quereis conceder. Desde já Vos rendo graças pelo generoso e solícito cuidado que tendes sempre comigo. Assim seja.

Ato de aceitação da morte(São Pio X)

Ó Jesus, adorando o vosso último suspiro, rogo-Vos que aceiteis o meu. Como ignoro se hei de ter livre uso de minha inteligência quando estiver para morrer, ofereço-Vos, já agora, minha agonia e dores da morte. Tenho de-sejo que meu último suspiro seja unido ao de vossa morte, e que a derradeira pulsação do meu coração seja um ato de puro amor a Vós. Senhor, meu Deus, desde hoje, aceito da vossa mão, com resignação e amor, o gênero de morte que Vos aprouver, com todas a suas dores, penas e angústias. Amém.

Visitas de Nossa Senhora 239

Ladainha do Sagrado Coração de Jesus

Senhor, tende piedade de nós.Jesus Cristo, tende piedade de nós.R. Senhor, tende piedade de nós.Jesus Cristo ouvi-nos,R. Jesus Cristo, atendei-nos.Deus, Pai dos Céus, tende piedade de nós.Deus Filho, Redentor do mundo, tende...Deus Espírito Santo,Santíssima Trindade que sois um só Deus,Coração de Jesus, Filho do Pai Eterno, tende piedade de nós.Coração de Jesus, formado pelo Espírito Santo no seio da Virgem Mãe, ten-de...Coração de Jesus, unido substancialmente ao Verbo de Deus,Coração de Jesus, de majestade infinita, Coração de Jesus, templo santo de Deus,Coração de Jesus, tabernáculo do Altíssimo,Coração de Jesus, casa de Deus e porta do Céu,Coração de Jesus, fornalha ardente de caridade,Coração de Jesus, receptáculo de justiça e amor,Coração de Jesus, cheio de bondade e de amor, Coração de Jesus, abismo de todas as virtudes,Coração de Jesus, digníssimo de todo o louvor,Coração de Jesus, Rei e centro de todos os corações,Coração de Jesus, no qual estão todos os tesouros da sabedoria e ciência,Coração de Jesus, no qual habita toda a plenitude da Divindade,Coração de Jesus, no qual o Pai põe as suas complacências,Coração de Jesus, de cuja plenitude nós todos participamos,Coração de Jesus, desejo das colinas eternas,Coração de Jesus, paciente e misericordioso,Coração de Jesus, rico para todos os que Vos invocam,Coração de Jesus, fonte de vida e santidade,Coração de Jesus, propiciação pelos nossos pecados,Coração de Jesus, saturado de opróbrios,Coração de Jesus, atribulado por causa de nossos crimes,Coração de Jesus, feito obediente até a morte,Coração de Jesus, atravessado pela lança,Coração de Jesus, fonte de toda a consolação,

240 Visitas de Nossa Senhora

Coração de Jesus, nossa vida e ressurreição,Coração de Jesus, nossa paz e reconciliação,Coração de Jesus, vítima dos pecadores, Coração de Jesus, Salvação dos que esperam em Vós,Coração de Jesus, esperança dos que expiram em Vós,Coração de Jesus, delícia de todos os Santos,Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo,R. Perdoai-nos, Senhor.Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo,R. Atendei-nos, Senhor.Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo,R. Tende piedade de nós.V. Jesus, manso e humilde de Coração,R. Fazei nosso coração semelhante ao vosso.Oremos. Deus onipotente e eterno, olhai para o Coração de vosso Filho dile-tíssimo e para os louvores e as satisfações que Ele, em nome dos pecadores, Vos tributa; e aos que imploram a vossa misericórdia concedei benigno o per-dão, em nome do vosso mesmo Filho Jesus Cristo, que convosco vive e reina por todos os séculos dos séculos. Amém.

Vinde, ó Espírito Santo(Quando cantado, faz-se pausa nas barras)

Vinde, ó Espírito Santo / e enviai do Céu / um raio de vossa luz.Vinde, Pai dos pobres / vinde, dispensador dos dons / vinde luz dos corações.Consolador por excelência / doce hóspede da alma / nosso doce refrigério.No trabalho sois repouso / no ardor sois calma / no pranto, consolo.Ó luz beatíssima / penetrai até o fundo do coração / dos que Vos são fiéis.Sem vossa graça / nada há no homem / nada que não lhe seja nocivo.Lavai o que é impuro / fecundai o que é estéril / ao que está ferido, curai.Dobrai o que é rígido / aquecei o que é frio / e o que se extraviou, guiai.Dai aos que Vos são fiéis / e em Vós confiam / os sete Dons sagrados.Dai-lhes o mérito da virtude / a Salvação no termo da vida / a eterna felicida-de.Amém.

Visitas de Nossa Senhora 241

Magnificat

Minha alma engrandece ao Senhor. E o meu espírito exulta em Deus meu Salvador. Porque pôs os olhos em sua humilde escrava, doravante todas as gerações Me chamarão Bem-aventurada. Grandes maravilhas obrou em Mim o Onipotente, cujo Nome é santo. Cuja misericórdia se estende de geração em geração em todos os que O temem. Assim sustenta o poder de seu braço, trans-torna os desígnios dos soberbos. Derruba os poderosos do seu assento, e exal-ta os humildes. Enche de bens os necessitados e os ricos deixa vazios. Decre-tou exaltar Israel, seu povo, lembrando-Se de sua misericórdia. Para cumprir a promessa que fez aos nossos pais, Abraão e a todos os seus descendentes. Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, assim como era no princípio, agora e sempre, e por todos os séculos dos séculos. Amém.

Visitas de Nossa Senhora 243

Bibliografia consultada

Há uma fonte “bibliográfica” para esta obra que não comporta cita-ção. São os inúmeros atos de virtude, exemplos e ensinamentos das pessoas virtuosas que a Divina Providência pôs em contato com quem a redigiu, pois não existe melhor didática que a da graça atuando através dos que lhe são fiéis. Fica aqui registrada a incomensurável gratidão do autor às mesmas.

Quanto aos livros consultados propriamente ditos, seguem os princi-pais, vários dos quais poderão servir de matéria para leituras e aprofundamen-to na vida espiritual. A indicação ______ . significa a repetição do nome do autor antecedente.

AGOSTINHO, Santo. Confissões. Trad. Maria Luiza Jardim Amarante. Rev. Antônio da Silveira Mendonça. São Paulo: Paulus, 2002.

BARBET, Pierre. A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo o cirur-gião. Trad. Côn. José Alberto de Castro Pinto. Rio de Janeiro: Santa Maria, 1954.

BELTRAMI, Pe. André, S.D.B. O inferno existe. São Paulo: Artpress, 2007.

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BÍBLIA SAGRADA. 13. ed. São Paulo: Paulinas, 1985.

BRENNAN, Robert Edward, O. P. Psicología general. Trad. Antonio Linares Maza. 2. ed. Madrid: Morata, 1969.

______. Psicología tomista. Trad. Efren Villacorta Saiz, O. P. Revisão José Fernandez Cajigal, O. P. Ed. atualizada pelo Autor. Barcelona: Editorial Cien-tífico Médica, 1960.

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CHRISTINI, Pe. Thiago Maria, C.SS.R. Meditações para todos os dias e festas do ano, tiradas das obras ascéticas de Santo Afonso Maria de Ligório. Trad. Pe. João de Jong, C.SS.R. Friburgo em Brisgau: Herder, 1921.

CLARET, Santo Antônio Maria. Caminho reto e seguro para chegar ao Céu. Trad. anônima. 10. ed. São Paulo: Ave Maria, 1956.

COMPÊNDIO DO CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. Disponível em http://www.agencia.ecclesia.pt/catecismo/artigo.asp?numero=67. Acesso em: 5/5/2007.

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DIAS, Pe. João S. Clá. A Medalha Milagrosa, História e celestiais promes-sas. 19. ed. São Paulo: Associação Cultural Nossa Senhora de Fátima, 2006.

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DRIESCH J. de. A contrição perfeita, uma chave de ouro do Céu. Tradução anônima. Salvador: Tipografia São Francisco, 1913.

EYMARD, São Pedro Julião. A divina Eucaristia. Trad. Mariana Nabuco. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1938.

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LOYOLA, Santo Inácio de. Exercícios espirituais. Trad. Pe. Vital Dias Perei-ra, S J. Porto: Apostolado da Imprensa, 1966.

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RODRÍGUEZ, Pe. Alonso, S. J. Ejercicio de perfección y virtudes cristia-nas. Madrid: Testimonio, 1985.

SAINT LAURENT, Pe. Thomas de. O livro da Confiança. São Paulo: Art-press, 1989.

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TANQUEREY, Adolphe. Compêndio de Teologia ascética e mística. Trad. da 5. ed. francesa por J. Ferreira Fontes. 2. ed. Porto: Apostolado da Imprensa, 1932.

TERCEIRO CATECISMO DA DOUTRINA CRISTÃ. 20. ed. Petrópolis: Vo-zes, 1957.

TISSOT, Pe. Joseph. A arte de aproveitar as próprias faltas. Trad. Emérico da Gama. São Paulo: Quadrante, 1995.

[Vários autores]. Orações do Cristão. 8. ed. São Paulo: Quadrante, 2001.

Visitas de Nossa Senhora 247

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