eliane regina catalano monteiro · amizade e pelo carinho eu não teria como agradecer, mas pelos...
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Eliane Regina Catalano Monteiro Crianças com HIV/Aids: revisão de literatura sobre fatores associados à
adesão ao tratamento antirretroviral.
Monografia apresentada no curso de Especialização em Prevenção ao HIV/AIDS no Quadro da Vulnerabilidade e dos Direitos Humanos do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Orientador: Dr. Aluisio Cotrim Segurado
São Paulo 2011
Eliane Regina Catalano Monteiro Crianças com HIV/Aids: revisão de literatura sobre fatores associados à
adesão ao tratamento antirretroviral.
Monografia apresentada no curso de Especialização em Prevenção ao HIV/AIDS no Quadro da Vulnerabilidade e dos Direitos Humanos do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Orientador: Dr. Aluisio Cotrim Segurado
São Paulo 2011
Aos meus pais,
que mesmo longe, são presentes
em todos os momentos, me
estimulando a seguir em frente.
Aos meus filhos,
que souberam entender a minha
ausência em momentos que já não
podem mais ser revividos, para me
dedicar à elaboração desta
monografia.
Ao BEBETO,
companheiro de caminhada, por seu
amor, amizade, carinho e presença
constante, sempre incentivando o
meu crescimento profissional,
dedico este trabalho.
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, agradeço a Deus, por ter permanecido fiel em
minha vida.
Embora este trabalho esteja servindo ao propósito de responder às
necessidades acadêmicas de uma só pessoa, também reflete o
esforço de um grupo que tem compromisso com o que faz. Deste
grupo fazem parte amigos, orientadores, professores, colegas do
Curso de Pós-Graduação, colegas de trabalho, gerentes de serviço,
usuários de serviço de saúde e familiares. A todos, o meu muito
obrigado!
Ao Professor, Dr. ALUISIO COTRIM SEGURADO
pela orientação competente, compreensão e apoio, a quem eu
expresso minha admiração científica e pessoal: pela coragem e
ousadia com que vem construindo e fomentando o pensamento crítico
e o conhecimento científico na academia, pela coerência intelectual
com que desenvolve seu trabalho como docente e pesquisador. Pela
amizade e pelo carinho eu não teria como agradecer, mas pelos
ensinamentos, muito obrigada.
À Professora Dra. VERA PAIVA,
pela força e coragem com que vem transpondo e fomentando o
conhecimento científico na academia, através da caminhada que vem
construindo. Agradeço pela amizade, pelo carinho.
À Professor. Dr. JOSÉ RICARDO DE CARVALHO MESQUITA AYRES pela
generosidade, competência e seriedade com que me transmitiu seus
conhecimentos e que muito enriqueceram a minha experiência pessoal
e profissional.
As monitoras do 1º Curso de Especialização em Prevenção ao
HIV/AIDS no quadro da vulnerabilidade e dos direitos humanos, em
especial a Bruna Lara, por ter apresentado sempre sugestões para os
trabalhos cuja competência e bom senso contribuíram para o êxito do
curso.
Em especial, gostaria de homenagear o conjunto dos trabalhadores do
serviço público de assistência e prevenção à AIDS DA SECRETARIA
MUNICIPAL DE SAÚDE DE BAURU, pelo valioso trabalho que desenvolvem
desde os primeiros anos da epidemia, por sua coragem e
desprendimento em enfrentar adversidades. Em particular, quero
agradecer aos profissionais do CENTRO DE REFERÊNCIA EM MOLÉSTIAS
INFECCIOSAS (CRMI) e do CENTRO DE TESTAGEM E ACONSELHAMENTO
(CTA) de Bauru, pela oportunidade de aprendizado e generosidade
com que nos receberam em seu cotidiano de trabalho.
À equipe da SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE BAURU,
pelo aprendizado conjunto que vimos construindo, pela imensa
disponibilidade de troca e solidariedade no trabalho em equipe e pelo
carinho.
À todos os meus amigos,
que souberam compreender o meu afastamento necessário para a
elaboração deste trabalho e que têm me acolhido, orado e amparado,
por podermos aprender e vencer juntos.
A minha querida MÃE,
que mesmo de longe, sempre incansavelmente, intercedeu pelo meu
trabalho e pela minha vida.
Aos meus queridos,
que sempre me acompanham e comigo dividem um pouco de suas
vidas, BRUNO e ANA LUÍSA, pelo imenso apoio e pelo amor com que
nutrem minha vida.
Ao BEBETO,
pelos cuidados, apoio, carinho e amor de sempre.
O QUE SE OPÕE AO DESCUIDO E AO
DESCASO É O CUIDADO. CUIDAR É MAIS
QUE UM ATO; É UMA ATITUDE. PORTANTO, ABRANGE MAIS QUE UM MOMENTO DE
ATENÇÃO, DE ZELO E DE DESVELO. REPRESENTA UMA ATITUDE DE OCUPAÇÃO, PREOCUPAÇÃO, DE RESPONSABILIZAÇÃO E
DE ENVOLVIMENTO AFETIVO COM O OUTRO.
LEONARDO BOFF
NORMALIZAÇÃO ADOTADA
Esta monografia está de acordo com as seguintes normas, em vigor no momento desta publicação: Referências: adaptado de International Committee of Medical Journals Editors (Vancouver). Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina. Divisão de Biblioteca e Documentação. Guia de apresentação de dissertações, teses e monografias. Elaborado por Anneliese Carneiro da Cunha, Maria Julia de A. L. Freddi, Maria F. Crestana, Marinalva de Souza Aragão, Suely Campos Cardoso, Valéria Vilhena. 3a ed. São Paulo: Divisão de Biblioteca e Documentação; 2011. Abreviaturas dos títulos dos periódicos de acordo com List of Journals Indexed in Index Medicus.
SUMÁRIO
Lista de figuras e quadros Lista de tabelas Lista de siglas Resumo 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 1 1.1 Adesão à Terapia Antirretroviral ............................................................ 1 1.2 Fatores que podem influenciar a adesão.................................................6 1.3 Adesão nas diversas fases......................................................................7 2 OBJETIVOS ................................................................................................ 9 2.1 Objetivo Geral ....................................................................................... 9 2.2 Objetivos Específicos ............................................................................ 9 3 MÉTODOS ................................................................................................ 10 4 RESULTADOS .......................................................................................... 11 4.1 Características gerais das publicações ................................................ 11 4.2 Local e período de realização, desenho e amostra do
estudo................................................................................................. 13 4.3 Participantes / Sujeitos......................................................................... 15 4.4 Definição da adesão ............................................................................ 15 4.5 Método de Aferir adesão ...................................................................... 15 4.6 Características da não-adesão ............................................................ 16 4.7 Fatores associados com a não-adesão à terapia
antirretroviral ...................................................................................... 17 4.8 Fatores que influenciam a adesão relacionados ao
cuidador.............................................................................................. 20 4.9 Fatores que influenciam a adesão relacionados à criança ................. 22 4.10 Fatores que influenciam a adesão relacionados ao
tratamento medicamentoso ................................................................ 23 4.11 Fatores que influenciam a adesão relacionados aos
serviços de saúde .............................................................................. 24 5 DISCUSSÃO .............................................................................................. 25 5.1 Análises dos dados obtidos na literatura ............................................. 25 6 CONCLUSÕES .......................................................................................... 43 REFERÊNCIAS ............................................................................................ 45
LISTA DE FIGURAS E QUADROS
Quadro 1 - Relação dos estudos sobre adesão de crianças com infecção pelo HIV/AIDS à terapia antirretroviral (TARV), segundo referências bibliográficas das publicações, população, local do estudo e ano de publicação......................................................................................................13
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Distribuição de publicações segundo variáveis sociodemográficas associadas a não adesão de crianças com infecção pelo HIV/Aids à terapia antirretroviral ........................... 15
Tabela 2 – Distribuição de 10 publicações segundo variáveis
associadas a não adesão de crianças com infecção pelo HIV/AIDS à terapia antirretroviral – ARV ............................................ 18
Tabela 3 – Distribuição de publicações segundo variáveis
associadas a não adesão de crianças com infecção pelo HIV/AIDS à terapia antirretroviral – ARV ............................................ 19
LISTA DE SIGLAS ARV – Antirretroviral DST – Doença Sexualmente Transmissíveis HIV – Vírus da Imunodeficiência Humana HAART – Highly Active Antiretroviral Therapy MEMS – Medication Event Monitoring System PN-DST/AIDS – Programa Nacional de DST e AIDS PVH – Pessoas vivendo com HIV TARV – Tratamento Antirretroviral
Catalano Monteiro, E.R. Crianças com HIV/Aids: revisão de literatura sobe fatores associados à adesão à terapia antirretroviral. [monografia de curso de Especialização]. São Paulo: Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; 2011.
RESUMO
A não adesão à terapia antirretroviral é considerada, no plano individual, como um dos mais ameaçadores perigos para efetividade do tratamento da pessoa com HIV/aids e para disseminação da resistência do vírus aos medicamentos, no plano coletivo. Assim, o objetivo deste estudo foi identificar, mediante revisão de literatura, os fatores que influenciam a não adesão ao tratamento antirretroviral de crianças infectadas pelo HIV/aids, além de agrupá-los e relacioná-los quanto a fatores relacionados ao cuidador, à criança, relacionados ao tratamento medicamentoso e ao serviço de saúde. Foram encontrados fatores que dificultaram a adesão terapêutica, evidenciando relatos referentes à complexidade do tratamento medicamentoso e ao tempo prolongado. Fez-se uma reflexão para compreender as causas da não adesão, que são variadas, e formularem-se recomendações para modificar esse cenário, incluindo a simplificação dos esquemas terapêuticos, e esclarecimentos do significado da doença e do medicamento na vida das familiares e da criança e, auxiliando e buscando as melhores formas de enfrentamento. Buscou-se refletir acerca de alguns aspectos da vulnerabilidade (individual, social e programática) presentes nas vivências das crianças com HIV/aids. Constatou-se a importância de conhecer o contexto social no qual a criança e cuidadores estão inseridos e as dificuldades no uso dos antirretrovirais (ARV) de forma a possibilitar intervenções eficientes e possibilitar uma melhor qualidade de vida às crianças. Outra constatação foi que a revelação do diagnóstico tende a ser adiada pelos cuidadores. O medo do estigma pode dificultar a comunicação sobre a doença e o tratamento, com repercussões negativas sobre os níveis de adesão das crianças. A adesão aos ARV é considerada um processo difícil devido à complexidade do tratamento da infecção HIV/aids. A manutenção do uso adequado dos medicamentos é um grande desafio, tanto para os serviços e profissionais de saúde, quanto para os familiares e cuidadores, e a própria criança. Portanto, requer enfrentamento organizado com envolvimento da equipe multiprofissional. Diante dos desafios identificados pesquisas e recomendações são sugeridas no sentido de nortear a prática profissional de equipes envolvidas na assistência a essa população. Devemos buscar compreender a realidade e tentar encontrar saídas, apontar soluções para modificar esse cenário, garantindo às crianças os direitos básicos presentes na constituição: direito à saúde e à vida.
Descritores: Adesão; Criança HIV/aids; Terapia antirretroviral; Fatores Associados.
Introdução 1
Eliane Regina Catalano Monteiro
1 INTRODUÇÃO
1.1 Adesão à Terapia Antirretroviral
A literatura que trata de adesão ao tratamento de crianças infectadas
pelo HIV é restrita e aponta pequenos relatos sobre estratégias que podem
melhorar a adesão desses pacientes (Guerra, Seidl, 2009). De acordo com a
definição da Organização Mundial da Saúde (WHO, 2003), a adesão é a
extensão na qual o comportamento de uma pessoa coincide com o que foi
acordado com a equipe de saúde (tomar remédios, fazer exercícios, seguir
uma dieta). Dessa forma, adesão ao tratamento implica negociação entre
pacientes e profissionais, e não um mero cumprimento de instruções.
A não-adesão à terapia medicamentosa de pessoas que vivem com
doenças crônicas é considerada de grande importância para Saúde Pública,
em função da influência refletida na efetividade e no impacto do tratamento.
Denominado pela comunidade científica internacional de Highly Active
Antiretroviral Therapy (HAART), no Brasil de terapia antirretroviral (TARV1)
de alta potência e popularmente “coquetel”, a combinação de medicamentos
capaz de bloquear a replicação viral contitui a prinicipal intervenção
terapêutica anti-HIV. Com a introdução dessa terapia houve diminuição
significativa da morbidade e mortalidade das pessoas que vivem com HIV
(PVHIV)2 com consequente aumento na sobrevida e na qualidade de vida,
dando à aids3 a qualidade de doença crônica (Basso, 2010).
1 Empregamos aqui o termo terapia antirretroviral e sua sigla TARV como sinônimo de HAART, pois é
a atual forma adotada no Brasil pelo Departamento de DST, AIDS e Hepatites Virais – Ministério da Saúde.
2 Utilizamos as recomendações da UNAIDS de evitar o termo pessoa vivendo com o HIV e aids, bem
como a abreviação PVHIV e dar preferência ao termo pessoa vivendo com HIV (PVH): Terminology Guidelines. February 2008. Disponível: http://data.unaids.org/pub/Manual/2008/JC1336_unaids_terminology_guide_en.pdf. Acesso em: out. 2011.
3 Neste trabalho optamos por seguir a sugestão do Departamento de DST, AIDS e Hepatites Virais e
considerar a palavra “aids” como substantivo comum e grafá-la em caixa baixa. Constituem exceções os nomes próprios de entidades ou programas (que devem ser grafados em caixa alta e baixa) e as siglas compostas grafadas em caixa alta (onde deve seguir a grafia em caixa alta).
Introdução 2
Eliane Regina Catalano Monteiro
Para essa mesma autora a não-adesão dos pacientes à TARV
aumenta as taxas de progressão da doença, de utilização dos serviços, e os
custos do tratamento. A resistência viral restringe as probabilidades de
terapia e aumenta a possibilidade de desenvolvimento da doença. Ao lad
disso, a transmissão de vírus resistentes pode contribuir de forma negativa e
coletivamente no tratamento. Estudos sobre adesão à TARV tomam como
aderentes os indivíduos que tomam 95% ou mais das doses prescritas
(Ventura, 2006 ; Basso, 2010; Caraciolo, 2007; Caraciolo, 2010, Trombini,
Schermann, 2010). A adesão pode ser avaliada pelos profissionais de saúde
sob perspectiva individual, baseada na análise dos resultados clínicos
(exame de carga viral), mas tendo como foco principal da avaliação o
indivíduo na sua singularidade e como esse interage com o meio em que
vive. Por conseguinte, verifica-se a necessidade de apoiar o paciente a
buscar meios de incorporar o tratamento em sua rotina, trazendo bons
resultados.
Dessa forma, o sucesso da terapia antirretroviral depende da
manutenção de altas taxas de adesão do paciente ao tratamento, o que
provocou a implementação de intervenções específicas visando melhorar a
adesão. Autores como Basso (2010), têm ressaltado na literatura a
importância da manutenção dessas taxas altas e a ênfases de que a não
adesão provoca aumento da mortalidade e evolução para a aids.
A adesão ao tratamento para aids possui semelhança com o
procedimendo de adesão em outras doenças crônicas. A exemplo de outras
enfermidades crônicas, a aids tem tratamento, mas não tem cura. Problemas
de adesão são comuns entre indivíduos com doenças crônicas.
O caráter crônico dado à aids em função dos avanços tecnológicos do
tratamento antirretroviral proporcionou, principalmente, a melhoria da
qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV, ao permitir a reinserção
social, a volta ao trabalho e à vida afetiva. A adesão é um fator fundamental
para a efetividade da terapia antirretroviral (TARV), sendo a falha terapêutica
Entretanto, nas citações e referências preservamos a grafia empregada nos documentos e textos originais.
Introdução 3
Eliane Regina Catalano Monteiro
um ameaça perigosa a esses avanços, podendo contribuir para
disseminação da resistência do vírus aos medicamentos. Isto porque os
medicamentos para aids exigem da pessoa uma integração entre
conhecimentos, habilidades e aceitação, além de outros aspectos ligados ao
contexto e ao cuidado em saúde. (Jordan et al., 2000).
Segundo esses mesmos autores algum grau de não-adesão ocorre
tanto em países pobres quanto em ricos e a taxa média de adesão é de 50%
no tratamento de doenças crônicas. Entender os aspectos que contribuem
para adesão ou não se torna fundamental para ajudar melhorar essa
situação e produzir bons resultados de saúde.
Existem diversos métodos para avaliar a adesão: perguntar
diretamente ao paciente ou auto-relato (entrevista/self-report) ou estimar
indiretamente por contagem manual ou eletrônica (dispositivos eletrônicos
que registram todas as vezes que são abertos ou fechados os frascos de
medicamentos – Medication Event Monitoring System - MEMS), contagem
de pílulas, avaliação do profissional, diários, marcadores laboratoriais (como
carga viral) ou dosagem de metabólitos das drogas prescritas na urina ou
sangue. (Caraciolo, 2007; Jordan et al., 2000). Existem limitações em todos
estes métodos descritos e inúmeras dificuldades de emprego dos mesmos.
Entretanto, observa-se na literatura que os questionamentos diretos aos
pacientes (auto-relato) são os mais utilizados.
Os relatos acerca dos fatores que contribuem para não-adesão a
tratamentos de doenças crônicas, assim como o da infecção pelo HIV,
encontrados na literatura, não são conclusivos. Alguns fatores apontados
como importantes são mencionados em vários estudos, principalmente,
aqueles relacionados aos serviços de saúde, ao tratamento em si, à doença
e a pessoa sob tratamento (Jordam et al., 2000). Profissionais que cuidam
das pessoas que vivem com HIV devem conhecer os fatores que influenciam
a não adesão à TARV para o grupo que assistem de forma a contribuir para
melhoria dessa situação.
No manejo de doenças crônicas, o cuidador age como mediador entre
as prescrições médicas e o seu seguimento pelo paciente que está sob os
Introdução 4
Eliane Regina Catalano Monteiro
seus cuidados. Segundo o dicionário Aurélio, o termo cuidador é definido por
“aquele que cuida”, podendo ser também aquele que trata de alguém,
diligente, zeloso. (Anjos, Ferreira, 1999).
No caso de crianças a adesão aos antirretrovirais é considerada
complexa, pela quantidade de medicamentos prescritos, pelo sabor às vezes
ruim, e, principalmente, por ser um tratamento prolongado. Conforme Guerra
e Seidl (2009), vários estudos consideram um desafio à habilidade do
cuidador não se esquecer de administrar corretamente as medicações, nas
quantidades e horários prescritos. Estudo de Seidl et al., (2005) aponta três
categorias principais de dificuldades de adesão, segundo relatos de
cuidadores de crianças soropositivas: (a) horários da medicação (criança por
vezes está fora do ambiente doméstico, por exemplo, na escola); (b) gosto
desagradável da medicação e/ou presença de efeitos colaterais; (c)
ocorrência de comportamentos oposicionistas da criança como resistência à
ingestão da medicação, muitas vezes por não compreender sua
necessidade. Prover a medicação às crianças é considerado atividade de
grande importância para os cuidadores. Mas, em alguns casos eles passam
essa incumbência para criança, “baseando-se apenas na idade, em
detrimento da responsabilidade para com a ingestão dos medicamentos”,
assim, existe a possibilidade de ocasionar dificuldades de adesão. (Martin et
al4., 2007 apud, Guerra, Seidl, 2009, p.59-65).
No caso de crianças infectadas pelo HIV o compromisso com a
adesão depende tanto da própria criança como do seu cuidador. Portanto,
para conseguir uma boa adesão, é necessário que haja uma adequada
adesão também do cuidador. (Brasil, 2007; Branco, 2007). Dessa forma, as
estratégias de intervenção de saúde devem ser voltadas aos familiares,
responsáveis e/ou cuidadores. Esse mesmo autor menciona que o
conhecimento acerca do esquema medicamentoso por parte do cuidador
esteve ligado a uma boa adesão. Mas, para se obter uma adesão adequada
de crianças infectadas pelo HIV, a equipe de saúde envolvida na assistência
4 Martin SM et al. Patient, caregiver and regimen characteristics associated with adherence to highly active antiretroviral therapy among HIV-infected children and adolescents. The Pediatric Infectious Disease Journal, 2007;26:61-67.
Introdução 5
Eliane Regina Catalano Monteiro
deve fornecer informações claras e objetivas aos cuidadores em relação ao
tratamento com antirretrovirais (Martin et al4. 2007 apud, Guerra, Seidl,
2009).
Dificuldade para manter adesão é uma realidade presente no
cotidiano de profissionais de saúde e cuidadores. Diversas estratégias são
citadas na literatura, que podem ser utilizadas pelos profissionais de saúde
para melhorar a adesão, principalmente, a de melhorar o nível de
conhecimento sobre HIV/aids, visando transpor os obstáculos que interferem
na adesão. Entre elas, a principal é voltada ao momento da tomada de
medicamentos, como, por exemplo, procurar facilitar a adesão ao buscar
associar alimentos ao uso dos medicamentos; contar os comprimidos para
acompanhar o consumo; utilizar diários, alarmes, calendários para evitar o
esquecimento; além disso, aponta-se como importante revelar o diagnóstico
e promover o convencimento sobre a necessidade de uso dos
antirretrovirais. (Seidl et al., 2005).
A melhoria da qualidade de vida está ligada com a adesão ao TARV,
uma vez que a não-adesão é a principal causa de falência da terapia.
Porém, como a criança apresenta distintas fases de crescimento e
desenvolvimento, outros fatores devem ser levados em conta ao se avaliar a
adesão ao tratamento. Além da correta utilização da medicação é
fundamental um correto acompanhamento das consultas, uma vez que as
doses são calculadas de acordo com o peso; a realização de exames para
monitoramento de efeitos colaterais das medicações e da eficácia
terapêutica e a administração de vacinas, visando a prevenção de doenças.
(Ventura, 2006; Caraciolo, 2007; Caraciolo, 2010; Trombini, Schermann,
2010).
Pesquisas têm apontado as vantagens da revelação do diagnóstico
para crianças que vivem com HIV, mas os cuidadores têm adiado essa
decisão, independentemente das recomendações das equipes de saúde. A
não-revelação do diagnóstico pode trazer consequências negativas ao
tratamento (Seidl et al., 2005; Galano, 2007, Paiva et al., 2010; Martins,
Martins, 2011).
Introdução 6
Eliane Regina Catalano Monteiro
As crianças que vivem com HIV e cuidadores podem ser beneficiados
pela revelação do diagnóstico de infecção por HIV, se a mesma for realizada
de forma adequada, possibilitando o aumento da capacidade de lidar melhor
com a doença. Por conseguinte, quando essas pessoas têm informações
apropriadas e realistas sobre a enfermidade, podem tomar posse do seu
próprio tratamento e compreender o valor de aderir adequadamente ao
tratamento. No entanto, se familiares e cuidadores omitem da criança sua
condição sorológica, dificulta-se a colaboração da criança no seu tratamento.
Apesar das evidências anteriormente apontadas, os fatores de risco
para não adesão ao antirretroviral em crianças ainda não foram examinados
exaustivamente na literatura. Os estudos internacionais que lidam com
esses fatores são realizados em países desenvolvidos, contribuindo pouco
para parâmetros universais, se alguém está tentando ter uma visão das
diferenças sociais e econômicas entre esses países e países em
desenvolvimento, como o Brasil. (Wachholz, 2007).
1.2 Fatores que podem influenciar a adesão
Alguns fatores podem influenciar a adesão tanto por parte dos
cuidadores, como pelas crianças. (Galano, 2007). Esses fatores têm a ver
com a percepção que o cuidador tem sobre o HIV/Aids, a relação que tem
com o fato da criança ter HIV; a expectativa que tem em relação ao
tratamento; o vínculo com a criança (o grau de parentesco com a criança, e
se tem ou não HIV); a relação do cuidador com a criança, com toda família.
Quanto à criança: se conhece seu diagnóstico, o impacto do mesmo
em suas vidas; se revelam ou não o diagnóstico a outras pessoas; se têm
conhecimento sobre a doença, a rotina de vida; se existem fragilidades por
oscilações clínicas e laboratoriais, solidão, depressão, esquecimento,
segredo social, baixa auto-estima, entre outros (Seidl et al., 2005; Brasil,
2008).
Introdução 7
Eliane Regina Catalano Monteiro
Os fatores que influenciam quando estão relacionados ao tratamento
medicamentoso, podem estar associados ao esquema de medicação: a
frequência da dosagem, número de comprimidos, quantidade de solução
oral; a presença de efeitos colaterais; a acessibilidade e o armazenamento
das medicações; a palatabilidade (sabor é ruim); a inadequação das
fórmulas farmacêuticas ao uso pediátrico e a habilidade do cuidador seguir a
prescrição; a efeitos colaterais como os distúrbios metabólicos, lipodistrofia,
interferindo na adesão (Seidl et al., 2005; Brasil, 2008)..
Fatores relacionados ao serviço de saúde e a adesão ao tratamento
para a criança, pois os serviços não têm espaços específicos para essa
população. Os profissionais de saúde devem analisar a cada encontro se
existem obstáculos afetando o nível adesão (Seidl et al., 2005; Brasil, 2008).
1.3 Adesão nas diversas fases
No caso da Adesão em bebês: o foco é o cuidador, pois os bebês
têm uma dependência ao fornecimento dos medicamentos. É importante
conhecer a rotina de vida, sono, hábitos alimentares, interesse por sabores.
(Bertolini, 2007; Brasil, 2008).
Quanto à Adesão entre pré-escolares: o cuidador deve ser
orientado a estabelecer uma rotina (sono, alimentação, banho, creche,
horário de medicação) e sobre a possibilidade da criança recusar a
medicação (Seidl et al., 2005; Brasil, 2008).
Adesão em escolares: a criança já pode participar da tomada de
medicação, com auxílio e supervisão de um adulto. Os horários das tomadas
das medicações devem ser adaptados de acordo com as atividades diárias
(creche, escolas, cursos, entre outros) (Seidl et al., 2005; Brasil, 2008).
Adesão em pré-adolescentes e adolescentes: essa fase é marcada
por acontecimentos psicossociais e transformações biológicas, um período
de grandes conflitos e de vulnerabilidade. Quanto à adesão, deve-se
negociar um plano de tratamento em que haja envolvimento e compromisso
Introdução 8
Eliane Regina Catalano Monteiro
do adolescente. (Seidl et al, 2005; Bertolini, 2007; Branco, 2007; Negra,
2007).
No Brasil, para garantir legalmente os direitos da criança toma-se
como referência o Estatuto da Criança e do Adolescente. Nesse instrumento
está estabelecido que a criança deve ser protegida contra qualquer forma de
violência, cabendo à família, à sociedade e ao poder público garantir essa
proteção (Lei Federal nº 8.069). Como a não adesão ao tratamento da
infecção pelo HIV/aids pode ser entendida como uma forma de violência
contra a criança (negligência), devemos identificar os fatores que a
possibilitam, buscando meios de impedi-la e de proteger as crianças, pois o
cuidado à criança deve ser exercido por todos: família, sociedade e poder
público. (Brasil, 1990).
A negligência pode ser definida como a omissão de cuidados básicos
e de proteção à criança. (Pires, Miyazaki, 2005). Tem-se como um dos
cuidados básicos o cuidado com a saúde, compreendendo a adesão ao
tratamento recomendado. Contudo, em crianças, a não adesão ao
tratamento (não seguir adequadamente as orientações e prescrições de
tratamento propostas pela equipe de saúde) pode ser referente à negligência
em relação aos cuidados médicos (Borba Neto, 2008).
A identificação desses possíveis fatores que influenciam a adesão de
criança é muito importante, pois essa informação pode ser usada para
direcionar os recursos.
Neste estudo nos dedicaremos às questões relacionadas
especialmente às crianças soropositivas para o HIV, pois trabalhos que
abordam a adesão ao tratamento ARV na infância são escassos, além de
serem insuficientes as informações sobre as estratégias que podem
melhorar a adesão desses pacientes.
Objetivos 9
Eliane Regina Catalano Monteiro
2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral
Identificar, mediante revisão de literatura, os fatores que
influenciam a não adesão ao tratamento antirretroviral de crianças
com infecção pelo HIV/aids.
2.2 Objetivos Específicos
Descrever os principais métodos de aferir a adesão com base em
dados da literatura.
Levantar na literatura os principais fatores que influenciam a não
adesão em crianças com infecção pelo HIV/aids.
Verificar os fatores que influenciam a não adesão associados: ao
cuidador, à criança com infecção pelo HIV/aids, ao tratamento
medicamentoso e ao serviço de saúde.
Método 10
Eliane Regina Catalano Monteiro
3 MÉTODOS
A revisão da literatura foi feita nas bases de dados LILACS, SCIELO e
GOOGLE ACADÊMICO. Os textos a serem revistos foram selecionados,
utilizando-se os descritores: Adesão, Criança, and (aids or HIV). Obteve-se
como resultado: 26 publicações (20 nacionais e 6 em periódicos de
circulação internacional); em seguida fez-se um refinamento da amostra por
idioma (português), em função do tempo necessário para o desenvolvimento
do trabalho e pelo limite de tema - “criança” – sendo selecionados, a partir
de então, 11 publicações nacionais que estavam direcionados à adesão de
crianças (HIV ou aids). Obteve-se a seguinte seleção: 7 artigos nacionais
completos, 2 dissertações de mestrado, 1 tese de doutorado na integra e 1
resumo de tese de doutorado.
Realizado novo refinamento da amostra, utilizando os descritores:
Adesão, Criança, and (aids or HIV), fatores associados, Não adesão,
Tratamento, Criança, and (aids or HIV), foram excluídas as publicações
repetidas que surgiram em mais de uma base de dados. Os artigos foram
selecionados a partir de sua pertinência aos temas tratados e foram
considerados aqueles publicados a partir do ano 2000, tendo em vista a
maior atualidade dos trabalhos. Foram incluídas ainda 2 publicações
institucionais que abordavam os temas de interesse, não localizadas
inicialmente na busca em base de dados bibliográficos.
Foram selecionadas 10 publicações para este estudo após a
realização da leitura dos resumos, correlacionando-os com o objetivo
proposto.
Tendo como fundamento os principais resultados e conclusões dos
estudos analisados, são apontadas diretrizes e recomendações que visam
subsidiar a prática dos profissionais de saúde que trabalham, especialmente,
junto à crianças vivendo com HIV, tendo em vista a melhor compreensão de
ser vulnerável, tanto ao vivenciar a saúde quanto a doença e, portanto,
precisando de cuidados peculiares.
Resultados 11
Eliane Regina Catalano Monteiro
4 RESULTADOS
Da amostra selecionada 10 publicações puderam ser acessadas e
lidas, na íntegra e fazem parte desta análise.
Os fatores associados encontrados na literatura para não adesão
foram agrupados de acordo com sua relação: ao cuidador, à criança sob
tratamento, ao tratamento medicamentoso propriamente dito ao serviço de
saúde.
4.1 Características gerais das publicações analisadas
Para uma visão geral dos estudos avaliados, elaborou-se uma síntese
das publicações segundo referência, população, local do estudo, e
respectivo ano, conforme mostra o Quadro 1, demonstrado a seguir. Segue
detalhamento das publicações no tocante aos métodos de estudo e
resultados encontrados.
Resultados 12
Eliane Regina Catalano Monteiro
Quadro 1 – Relação dos estudos sobre adesão de crianças com infecção pelo HIV/Aids à terapia antirretroviral (TARV), segundo referências bibliográficas das publicações, população, local do estudo e ano de publicação.
Publicações: Referências bibliográficas População estudada Local do estudo
Ano de
estudo
Seidl EMF, Rossi W dos S, Viana KF, Meneses AKF de. Crianças e adolescentes vivendo com HIV/Aids e suas famílias: aspectos psicossociais e enfrentamento. Psicologia: Teoria e Pesquisa Set-Dez.2005;21(3):279-88.
43 cuidadores primários de crianças/adolescentes soropositivas em acompanhamento pediátrico.
Brasília - DF
2005
BRANCO CM. Adesão ao tratamento antirretroviral por cuidadores de crianças e adolescentes soropositivos de uma unidade de saúde do Estado do Pará. [Dissertação de Mestrado]. Belém: Universidade Federal do Pará; 2007.
30 cuidadores primários de crianças e/ou adolescentes contaminados pelo HIV/aids
Belém - PA
2007
Crozatti MTL. Adesão ao tratramento antirretroviral; [Tese de Doutorado]. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública da USP; 2007.
202 Crianças São Paulo - SP
2007
Borba Netto FC de. Negligência no tratamento de crianças HIV positivas . Rio de Janeiro: [s.n]; jul. 2008. 147 p.
Crianças de 0 a 12 anos incompletos, portadoras HIV
Rio de Janeiro - RJ
2008
Feitosa AC, Lima HJA, Caetano JA, Andrade LM, Beserra EP. Dificuldades de adesão aos anti-retrovirais com crianças. Esc. Anna Nery Rev Enferm. set. 2008;12 (3):515-21.
12 cuidadores de crianças infectadas pelo HIV/Aids
Fortaleza – CE
2008
Gomes AMT, Cabral IE. Entre dose e volume: O princípio da matemática no cuidado medicamentoso à criança HIV positiva. Rev. enferm. UERJ. 2009 jul/set; 17(3): 332-7.
8 cuidadores / familiares de crianças com necessidades especiais de saúde, HIV positivas.
Rio de Janeiro - RJ
2009
Guerra CPP, Seidl EMF. Crianças e adolescentes com HIV/Aids: revisão de estudos sobre revelação do diagnóstico, adesão e estigma. Paideia. jan-abr.;19(42): 59-65.
Crianças e adolescentes HIV e aids
- 2009
Trombini ES, Schermann LB. Prevalência e fatores associados à adesão de crianças na terapia antirretroviral em três centros urbanos do sul do Brasil. Ciência & Saúde Coletiva. 2010;15(2):419-25,
44 crianças em TARV
Passo Fundo, Canoas e Cachoeira do Sul - RS
2010
Botene DZ de A, Pedro NR. Implicações do uso da terapia antirretroviral no modo de viver de crianças com Aids. Rev. Esc. Enferm. USP. 2011; 45(1):108-15.
5 crianças com idade 10 a 12 anos incompletos portadoras de aids em uso de ARV
Porto Alegre - RS
2011
Martins SS, Martins, TSS. Adesão ao tratamento antirretroviral: vivências de escolares. Texto contexto Enferm. jan-Mar. 2011; 20(1): 111-8.
10 crianças com idades entre 6 e 11 anos cursando o ensino fundamental, de ambos os sexos.
Rio de Janeiro - RJ
2011
Fonte: Elaborado pela autora
Resultados 13
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4.2 Local e período de realização, desenho e amostra do estudo
Como ilustra a Tabela 1, todos os estudos revisados foram realizados
no Brasil. A grande maioria (60,0%) dos trabalhos desenvolveu-se entre os
anos 2006 e 2009, 44,5% em serviço de saúde público e universitário.
Grande parte das pesquisas foi realizada em grandes centros urbanos,
33,3% no Rio de Janeiro. Com relação às amostras populacionais, a média
foi de 23,2 cuidadores e 88,4 crianças participantes. Os desenhos dos
estudos foram, principalmente, exploratórios e descritivos com abordagem
qualitativa (50,5%), com participação ainda de estudos transversais
analíticos e descritivos, de revisão de dados secundários e de revisão de
estudos.
Resultados 14
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Tabela 1 - Distribuição de 10 estudos analisados segundo variáveis selecionadas
Característica do Estudo
Local ( n = 9)* Nº %
Fortaleza – CE 1 11,1
Passo Fundo, Canoas e Cachoeira do Sul – RS e Rio Grande do Sul – RS
2 22,2
Brasília – DF 1 11,1
São Paulo - SP 1 11,1
Rio de Janeiro – RJ 3 33,3
Belém – PA 1 11,1
Ano do estudo (n = 10)*
Nº %
2001 – 2005 1 10,0
2006 – 2009 6 60,0
2010 – 2011 3 30,0
Nº de serviços estudados (n = 9) *
Nº %
Serviço de referência 3 33,3
Ambulatório/Hospital Universitário 4 44,5
SAE (Serviço de Assistência Especializada) 2 22,2
Desenho do estudo (n =10) *
Nº %
Estudo Exploratório e Descritivo com Abordagem Qualitativa 5 50,0
Estudo Transversal Descritivo 1 10,0
Estudo Transversal Analítico 2 20,0
Estudo Exploratório Retrospectivo de Revisão de Dados Secundários 1 10,0
Revisão de Estudos 1 10,0
Nº da amostra do estudo (n = 9) *
Nº %
Cuidadores 4 44,4
Crianças 2 22,2
Cuidadores/Crianças 3 33,3
Método de aferir adesão (n = 9) *
Nº %
Entrevista individual 3 33,3
Grupo Focal com guia de temas estruturado 1 11,1
Levantamento de dados secundários em fichas de registro e prontuários 1 11,1
Combinação de métodos (Escala Modos de Enfrentamento de Problemas (EMEP), contagem de pílulas, dosagem plasmática de medicamento ARV, registro de farmácia, contagem de linfócitos T CD4 e Carga Viral, entre outros)
4 44,5
Taxa de não adesão - média: 37,8 (n = 5) *
Nº %
5,0 – 15,0 - -
16,0 – 30,0 2 40,0
31,0 – 45,0 1 20,0
46,0 – 60,0 2 40,0
Fonte: Elaborado pela autora. Nota: * Dentre os estudos ou resumos que mencionaram os dados pesquisados.
Resultados 15
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4.3 Participantes / Sujeitos
De 4 estudos (44,4%) que avaliaram diretamente os cuidadores e
mencionaram idade dos mesmos, a média etária dos mesmos foi de 32,5
anos, com limite inferior de 25,0 e superior de 37,0 anos. Ambos foram
avaliados por 3 publicações (33,3%).
4.4 Definição da adesão
Em termos gerais a adesão foi aferida pelos investigados, como
adequada em referência ao cumprimento das prescrições. A maioria dos
estudos analisou a utilização de medicamentos prescritos, horário de doses
e tempo de tratamento; alguns estudos definiram-na como tomar
medicamento regularmente, manter uma dieta adequada, e submeter-se a
avaliação de saúde periódica. A adesão foi quantificada estabelecendo-se,
explicitamente, um ponto de corte relativo à tomada de medicamentos, que
variou de 80,0 a 95,0% dos medicamentos prescritos. Em 2 estudos, ela foi
estabelecida como 95,0%, e em um, como 80,0%.
Em relação ao tempo de avaliação, houve variação de 2 a 3 dias e,
até quatro anos. Os períodos mais longos foram para as avaliações do
prontuário médico (145), onde o pesquisador teve acesso mediante
agendamento no próprio setor, e ficha registro do paciente no serviço (181);
e os períodos mais curtos (um a três dias), para o auto-relato (entrevista).
4.5 Método de Aferir adesão
Dos 9 estudos nos quais foi possível identificar a medida da adesão,
os métodos utilizados para essa mensuração foram agrupados nas
seguintes categorias: a) baseadas em auto-relato por entrevista (n = 3,
22,2%); e b) combinação de métodos (n = 4, 44,5%), ressaltando que a
Resultados 16
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entrevista esteve presente em 6 estudos, o registro diário da tomada da
medicação, dosagem plasmática de medicamento, grupo focal com uso de
guia de temas estruturados (depoimentos) e análise de discurso em um; e
em outro foi realizado o levantamento de dados secundários (Tabela 1).
Ainda com relação ao uso de medidas combinadas, três estudos
adotaram duas medidas combinadas, e um estudo, três medidas
simultaneamente. Em relação à aplicação de escalas, de maneira geral, foi
adotada a seguinte: Escala de Modos de Enfrentamento de Problemas
(EMEP) de Seidl et al. (2001).
Cabe ressaltar, que a escala EMEP contém 45 itens, distribuídos em
quatro fatores: a análise dos fatores foi realizada através da soma dos
escores obtidos nos itens, dividindo-se o resultado pelo número de itens
contidos em cada um dos quatro fatores. A análise seguiu os seguintes
critérios: Fator 1: Estratégias de enfrentamento focalizadas no problema
(alpha de Cronbach = 0,84); Fator 2: Estratégias de enfrentamento
focalizadas na emoção (alpha de Cronbach = 0,81); Fator 3: Busca de
práticas religiosas/pensamento fantasioso (alpha de Cronbach = 0,74); Fator
4: Busca de suporte social (alpha de Cronbach = 0,70). As respostas foram
dadas em escala Likert de cinco pontos (1 = nunca faço isso; 5 = faço isso
sempre). Os escores, variando de 1 a 5, foram obtidos mediante média
aritmética, e os mais altos foram indicativos de maior utilização de
determinada estratégia de enfrentamento.
4.6 Características da não-adesão
Entre as 5 publicações que apresentaram prevalência da não-adesão,
a taxa média foi de 37,8% de não aderente – limite mínimo de 5,0% e
máximo de 60,0% (Tabela 1). Em 2 estudos, verificou-se associação da
adesão com parâmetros clínicos e/ou laboratoriais: Além desses, outros
autores avaliaram a evolução clínica e as condições imunológicas e a
concentração plasmática das drogas.
Resultados 17
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4.7 Fatores associados com a não-adesão à terapia antirretroviral
Das publicações que avaliaram os fatores associados com a não-
adesão à TARV (Tabela 2), 9 estudos selecionados tratavam de crianças já
em uso da TARV. Entre as variáveis relacionadas aos fatores que
influenciam a adesão, destacaram-se como fatores associados: aqueles
relacionados ao cuidador; à criança; ao tratamento medicamentoso e ao
serviço de saúde.
Tabela 2 – Distribuição de publicações segundo variáveis sociodemográficas de cuidadores e crianças com infecção pelo HIV/Aids associadas a não adesão à terapia antirretroviral – ARV.
Fatores associados a não adesão Cuidadores
(n = 10)* Crianças (n = 1)*
Sóciodemográficos Nº % Nº %
Baixa Escolaridade 7 70,0 - -
Baixa Renda, baixo nível socioeconômico e questões culturais
8
80,0
-
-
Religião 1 10,0 - -
Raça (não–branca) 1 10,0 1 100,0%
Fonte: Elaborada pela autora. Nota: * Dentre os estudos ou resumos que mencionaram os dados pesquisados.
Resultados 18
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Tabela 3 – Distribuição de publicações segundo variáveis associadas a não adesão de crianças com infecção pelo HIV/AIDS à terapia antirretroviral – ARV
Variáveis Nº
% Fatores associados a adesão relacionados ao cuidador (n = 9)*
Motivos para interrupção /dificuldades
Morar com avós 3 33,3
Compromissos Dificuldades de lidar e falta de preparo e de compreensão do tratamento
6 66,6
Depressão, recusa do cuidador em prover a medicação à criança (ocultamento)
2 22,2
Problemas financeiros e de deslocamento
1 11,1
Característica da organização familiar (nº de pessoas na residência)
1 11,1
Fatores relacionados à criança (n = 5)* Nº %
Boa condição imunológica (CD4 e CV) 2 25,0
Desconhecimento do diagnóstico/ revelação do diagnóstico 4 50,0
Fatores relacionados ao contexto psicossocial da criança, e seu responsável
4 50,0
Esquecimento e recusa do medicamento 4 50,0
Raça 1 12,5
Realização de exames e município de residência e falta às consultas e município de residência
1 12,5
Comportamento oposicionista 2 25,0
Fatores relacionados ao tratamento medicamentoso (n =8)* Nº %
Apresentação da droga / dificuldade com manipulação das doses 3 37,5
Horário de medicação 5 62,5
Falta da distribuição de medicamentos (profilaxia e reações adversas)
2 25,0
Efeitos colaterais 5 62,5
Quantidade de medicamentos 2 25,0
Períodos de jejum / restrições alimentares 2 25,0
Gosto desagradável / palatibilidade 5 62,5
Omissão de doses (esquecimento) 6 75,0
Concentração plasmática de medicamento 1 12,5
Fatores relacionados ao serviço de saúde (n = 3)* Nº %
Dificuldade de acesso regular 2 66,6
Estrutura dos serviços de saúde 1 33,3
Fonte: Elaborada pela autora. Nota: * Dentre os estudos ou resumos que mencionaram os dados pesquisados. CD4 – número de células CD4+; CV – carga viral de HIV.
Resultados 19
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Entre as variáveis sociodemográficas mencionadas na tabela 2, os
fatores associados a não-adesão relacionados aos cuidadores Incluiu na
maioria dos sete estudos analisados a baixa escolaridade (70,0%), e em oito
estudos, baixa rendados responsáveis (80,0%) e questões culturais e
socioeconômicas.
Assim, Leite e Vasconcelos et al. (2003) e Feitosa et al. (2008, p. 515-
21) afirmam que o “baixo nível socioeconômico dos cuidadores interfere na
qualidade de vida das crianças”. Além disso, a adesão entendida como a
utilização adequada dos medicamentos prescritos e do cuidado de saúde
como um todo, “é afetada pelo meio social e cultural em que vivem e sofre
influência social, caracterizada pela faixa salarial e a escolaridade”.
Na tabela 3 observa-se na análise de três publicações que morar com
os avós esteve associado a não adesão. Entre os motivos para interrupção
do tratamento, relacionados ao cuidador, mereceram destaque em seis
pesquisas analisadas na literatura (66,6%): os compromissos, as
dificuldades de lidar com o tratamento e a falta de preparo e compreensão
dos mesmos.
Quanto à criança, os fatores associados relacionados a contexto
psicossocial, e de seu responsável, que podem influenciar a adesão
incluíram: a revelação diagnóstica, que pode gerar dificuldades na aceitação
dos cuidados à saúde e questionamentos a respeito da sua utilidade, já que
muitas crianças atingem a adolescência sem conhecer sua soropositividade;
dificuldades em lidar com o tratamento envolvendo vários aspectos, e o
estigma relacionado à revelação do diagnóstico, evidente no estudo de
Crozatti (2007). Destacaram-se em 4 publicações achados focalizando os
fatores relacionados à criança, ao contexto psicossocial, a revelação do
diagnóstico e ao esquecimento e recusa do medicamento (50%).
Os fatores relacionados ao tratamento medicamentoso analisados em
8 trabalhos da literatura que apresentaram influência associada a não
adesão aos ARV foram: em 6 estudos evidenciou-se a omissão de doses por
esquecimento (75%); em 5 trabalhos, o horário de medicação, muitas vezes
devido à ingestão do medicamento fora do ambiente doméstico ou à
Resultados 20
Eliane Regina Catalano Monteiro
realização de atividades em creche/escolas), o gosto desagradável dos ARV
e os efeitos colaterais (62,5%); e a apresentação da droga por três estudos
(37,5%).
Quanto ao acesso aos serviços de saúde, não ser aderente às
consultas de acompanhamento regularmente foi associado com não-adesão
à TARV em dois artigos pesquisados nesta revisão de literatura. Ter
dificuldade com a estrutura do serviço de saúde foi encontrado como
associado à não adesão em um estudo, relatado por cuidadores. Portanto,
ter acesso aos serviços de saúde foi um fator facilitador da adesão à terapia
antirretroviral.
Baseado na análise realizada na literatura destacam-se, a seguir, os
principais fatores que influenciaram a adesão relacionados ao cuidador, à
criança, ao tratamento medicamentoso e relacionados aos serviços de
saúde.
4.8 Fatores que influenciam a adesão relacionados ao cuidador
Fatores como a percepção que o cuidador tem sobre o HIV/aids
podem influenciar sobremaneira, principalmente sobre o fato de a criança ter
HIV, a expectativa que tem em relação ao tratamento e a relação familiar,
entre outros.
As características socioeconômicas, de forma geral, têm sido
descritas na literatura, em especial os estudos sobre adesão em doenças
crônicas afirmam ser baixo o poder associado aos fatores socioeconômicos
(investigados por renda e/ou escolaridade), exceto nos casos de extrema
pobreza, como entre pessoas sem moradia (Jordan et al., 2000). Já para
Adão, Caraciolo (2007), quanto menor a renda e a escolaridade, maior a
probabilidade de não adesão.
Em relação à renda foram encontrados na maioria dos estudos,
baixos níveis de renda familiar entre os cuidadores, com influência direta na
adesão.
Resultados 21
Eliane Regina Catalano Monteiro
Quanto a escolaridade foram verificados níveis baixos de
escolaridade entre os cuidadores nos diferentes estudos.
No caso da religião Observou na análise-se que os cuidadores
utilizavam de pensamentos religiosos ou “mágicos” para melhor lidar com a
rotina diária de enfrentamento das questões que envolviam o viver de
crianças infectadas pelo HIV.
Nos estudos analisados em que se relatou que os fatores que
influenciam adesão podem muitas vezes estar associados ao cuidador,
esses foram constituídos, na maioria das vezes, de mães (soropositivas),
seguida das avós, depois pais e outros membros da família.
Quanto às crianças que residem com os avós, verificou-se que essas
têm maior propensão à não adesão, apresentando como fator limitante a
baixa escolaridade dos cuidadores, pois essa pode ser um agravante para a
já difícil adaptação aos esquemas posológicos complexos, para a
compreensão das orientações médicas e para o acompanhamento da
evolução de marcadores de resposta clínica e convivência com o HIV/Aids.
O perfil das crianças que não tem boa adesão levantado no estudo de
Trombini, Schermann (2010) está relacionado a dados dos cuidadores, entre
eles a baixa escolaridade e renda; idade avançada do cuidador (em geral
avós), bem como a formas particulares de articulação do meio familiar (mãe
solteira ou viúva, muitos filhos na família e alto grau de pobreza), fatores
esses que podem influenciar a não adesão também encontrados nos
trabalhos levantados no presente estudo.
Dificuldades como a manipulação dos medicamentos, dos frascos,
copos de medidas e seringas também foram levantadas pelos estudos
analisados, bem como dificuldades de familiares na compreensão das
prescrições médicas, situações em que onde as mesmas foram assimiladas
de forma contrária à recomendada pelo profissional de saúde.
Os estudos apontaram para a existência de dificuldades do cuidador,
em relação a falta do remédio, esquecimentos, compromissos, bem como a
problemas na capacidade do cuidador lembrar-se corretamente das
medicações a serem dadas, suas quantidades e horários. Outras
Resultados 22
Eliane Regina Catalano Monteiro
dificuldades encontradas foram relacionadas à depressão e recusa do
cuidador em prover a criança.
O “esquecimento” de fornecer o medicamento à criança tem sido
apontado com frequência pelo cuidadores, constituído pela omissão de
doses, devido à necessidade de ingerir o medicamento fora de casa. Essa
dificuldade é ressaltada, por alguns autores, pelo fato da criança morar com
avós e ao problema dos mesmos em lidar com o tratamento.
4.9 Fatores que influenciam a adesão relacionados à criança
Dados obtidos na literatura apontam para fatores relacionados ao
contexto psicossocial da criança, e seu responsável que podem ter
influenciado a adesão. Observou-se nos estudos que as crianças
desconhecem o seu diagnóstico, na maioria das vezes, devido ao estigma
relacionada à revelação do diagnóstico. Em muitos casos, os pais ou
responsáveis escondem o diagnóstico das crianças, prejudicando a
comunicação entre o profissional de saúde envolvido com a criança.
Associação do não uso do antirretroviral com a morte foi outro fator
relevante encontrado em trabalhos da literatura nacional, como os revelados
em recente estudo de Botene, Pedro (2011), nos grupos, de onde “o medo e
a experiência de ter presenciado a morte de familiares ou pessoas próximas
foram, também, referidas pelos participantes, como exemplo do que poderia
lhes acontecer caso não tomassem a medicação”.
Em um estudo sobre escolares, estes, não associam a ingestão dos
antirretrovirais a sua rotina de atividades diárias, por desconhecerem o real
motivo para a tomada do medicamento: viver com aids.
Conforme tabela 2 destaca-se em um estudo a variável
sociodemográfica raça, fator que vem sendo comumente usado para
caracterizar as populações estudadas e é considerado como tendo baixo
valor como fator de risco. Porém, um estudo identificou raça/cor como fator
de risco importante para não adesão aos medicamentos (Odds Ratio de 7,6
Resultados 23
Eliane Regina Catalano Monteiro
para raça negra em relação à branca). Foi encontrado na literatura em
relação à cor negra: 71% apresentam adesão inadequada aos
medicamentos, enquanto 37% na cor parda e 12% na branca.
4.10 Fatores que influenciam a adesão relacionados ao tratamento medicamentoso
Os fatores relacionados ao tratamento têm sido assinalados pela
literatura como fatores que podem colaborar para redução da adesão. Entre
eles estão: tempo de tratamento, onde, a adesão inicial não é fator preditor
para a adesão. A não adesão aumenta com o tempo de tratamento; outro
fator destacado foi à complexidade do TARV e a exigência de nível alto de
adesão para alcance de eficácia, em relação aos seguintes aspectos:
número de doses, número de drogas, efeitos colaterais, palatibilidade,
horário da medicação (quando a criança estava fora do ambiente doméstico,
como por exemplo, na escola e forma de apresentação da droga (líquido ou
comprimido).
Conforme tabela, em oito publicações (75,0%) foi encontrada a
omissão de doses (esquecimentos) como um dos principais fatores
associados ao tratamento medicamentoso e à não adesão, em seguida,
chamaram a atenção o horário de medicação, gosto desagradável /
palatibilidade e efeitos colaterais na maioria dos trabalhos (62,5%).
Além dos itens relatados por cuidadores anteriormente, é ressaltado
pela maioria dos autores, em relação às dificuldades relacionadas à adesão
dos ARV, os fatores como: a frequência de utilização da medicação,
acessibilidade, habilidade do cuidador de seguir a prescrição, e a falta de
medicamentos gratuitos. A falta de alguns medicamentos esteve relacionada
à necessidade de refrigeração, outros de água potável, nem sempre
disponíveis em lugares empobrecidos, como favelas e áreas rurais isoladas.
Foram observados, ainda, relatos da falta de medicamentos usados na
profilaxia e para diminuir os sintomas das reações adversas.
Resultados 24
Eliane Regina Catalano Monteiro
Mereceu atenção especial em um trabalho como fator associado a
não adesão a ocorrência de comportamentos oposicionistas da criança, tais
como resistência à ingestão da medicação e dificuldades de ingestão do
medicamento por compromissos sociais como festas e encontros.
Em outro estudo observou-se que em mais de um terço das amostras
testadas foram demonstradas concentrações plasmáticas abaixo dos níveis
plasmáticos, indicando que a inadequada adesão ao tratamento pode ser um
dos principais fatores envolvidos.
4.11 Fatores que influenciam a adesão relacionados aos serviços de saúde
A literatura tem apontado para a importância da verificação sobre os
fatores relacionados a serviços de saúde para analisar a adesão ao
tratamento com ARV (Seidl et al., 2005; Crozatti, 2007; Feitosa et al., 2008).
Os fatores encontrados associados a esse tema foram os seguintes: a
dificuldade de acesso regular ao serviço de saúde, que tem impedido o
comparecimento das famílias e/ou cuidadores ao serviço com a regularidade
necessária para buscar os medicamentos, devido à distância do serviço da
moradia e preço das passagens e problemas financeiros.
Outro problema apontado pelos diferentes autores tem a ver com as
estruturas dos serviços de saúde para o atendimento a criança (Crozatti,
2007). Alguns serviços precisam de algumas modificações para favorecer a
assiduidade dos clientes, como, por exemplo, promover o agendamento das
consultas de crianças e dos pais (soropositivos para HIV) para o mesmo dia.
Desse modo, se reduziriam as faltas e gastos financeiros adicionais. Outras
modificações podem ser necessárias visando melhorar o vínculo com a
equipe do serviço de saúde (Seidl et al., 2005).
Muitas vezes, os serviços de saúde não apresentam espaços
adequados para a espera de consultas e exames, providos de locais
reservados para o desenvolvimento de atividades lúdicas e educativas, o
que possibilitaria maior integração e vínculo como os profissionais de saúde
e com o próprio serviço.
Discussão 25
Eliane Regina Catalano Monteiro
5. DISCUSSÃO
5.1 Análises dos dados obtidos na literatura
Diferentes estudos que envolvem PHIV confirmam que a adesão a
terapia antirretroviral é imprescindível para a completa supressão viral.
Trombini e Schermann (2010) em recente estudo realizado no Rio Grande
do Sul sobre a prevalência e fatores associados à adesão, apontaram uma
adesão em 82% do total das crianças estudadas. O acesso universal gratuito
aos medicamentos ARV pode ter influenciado esses indicadores,
ocasionando dessa forma uma redução das infecções oportunistas,
diminuição das hospitalizações e dos óbitos. Numa pesquisa realizada por
Crozatti (2007), encontrou-se cerca de 59,9% dos participantes do estudo
apresentaram adequada adesão aos ARV, sendo que 40% não utilizam
medicamentos ARV conforme prescrito. Em outro estudo 29,7% dos
pacientes tiveram adesão inadequada aos medicamentos (Borba Netto,
2008).
Entretanto, em trabalho sobre adesão ao tratamento antirretroviral por
cuidadores de crianças no Estado do Pará, publicado por Branco (2007),
53,3% deles relataram história de interrupção do tratamento e 46,7% não
relataram histórico de interrupção (ocorrência de episódios de perda de
doses de ARV ou pelo abandono/negligência do tratamento) em algum
período da vida da criança.
A adesão ao tratamento em HIV/aids mantém similaridade com o
comportamento de adesão em outras doenças crônicas (Jordan et al., 2000).
Para as crianças, em TARV, a adesão é considerada complexa pela
quantidade de medicamento prescrito, pelo sabor às vezes considerado
desagradável, especialmente por ser um tratamento para toda vida.
Conforme apontado por Paiva et al. (2000), sobretudo, entre as crianças,
devemos nos atentar para o fato de “existirem duas pessoas envolvidas no
processo de adesão: a própria criança que utilizará o medicamento e um
Discussão 26
Eliane Regina Catalano Monteiro
responsável por prover essa medicação” e, sobretudo com qualificada
atenção dos profissionais de saúde. O mais importante é o apoio dado à
criança nessa situação peculiar.
Por um lado alguns estudos, como os de Seidl et al.(2005), Crozatti
(2007), Feitosa et al.(2008), e Trombini, Schermann (2010), apontam fatores
sóciodemográficos, avaliados por renda e escolaridade, de forma geral,
como preditores da não adesão, uma vez que essas condições impõem
dificuldades de acesso aos serviços de saúde e consequentemente ao
tratamento, afetando a qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV.
No Brasil, observa-se uma tendência de aumento de registro de casos novos
entre pessoas de menor grau de escolaridade e baixa renda salarial, o que
remete à necessidade de investigação e estudos mais aprofundados (Jordan
et al., 2000).
Outro fator relacionado às características sóciodemográficas que
chama atenção na literatura pesquisada foi a raça, fator que vem sendo
comumente usado para caracterizar as populações estudadas e é
considerado como tendo baixo valor como fator de risco. No entanto, um
estudo, realizado no Brasil, evidenciou que os adultos negros têm 6,5 vezes
mais risco de não adesão (Colombrini, 2003).
Em recente estudo de Borba Netto (2008), também foi observado raça
/ cor como fator de risco importante para não adesão aos medicamentos
(Odds Ratio de 7,6 para raça negra em relação à branca). Isso demonstra a
enorme desigualdade existente no Brasil e invoca a investigação dos fatores
sócio-culturais que motivam essa vulnerabilidade das pessoas de raça negra
em relação à terapia medicamentosa.
Em alguns estudos encontrou-se associação estatisticamente
significante entre adesão aos medicamentos e cor, realização de exames e
município de residência, falta às consultas e município de residência,
realização de exames e cor, com destaque para o estudo de Borba Neto
(2008).
Esse mesmo autor observou a associação entre a raça e a adesão às
medicações e chama a atenção para uma maior vulnerabilidade dos
Discussão 27
Eliane Regina Catalano Monteiro
indivíduos de raça negra em relação aos de raça branca, no que diz respeito
à adequada tomada de medicamentos, e a associação de realização de
exames e falta às consultas com o município de residência sugere que o
apoio social pode funcionar como um importante fator de proteção.
Determinados estudos apontam relação entre as características de
baixo nível socioeconômico e não adesão, especialmente nos extremos da
pobreza, ainda que outros achados na literatura não tenham identificado
associação (Teixeira, Paiva, Schimma, 2000). Este fato pode ser esclarecido
pela diferença dos grupos estudados. São as características
socioeconômicas que esclarecem melhor a menor adesão entre não-
brancos, como verificado em vários trabalhos. Aliás, na apreciação dessa
característica devem ser levados em conta os distintos arranjos éticos
envolvidos no fornecimento do medicamento antirretroviral para grupos
socialmente desiguais.
Nos diferentes estudos analisados observou-se que promover adesão
é considerado um desafio, especialmente em crianças, pois depende da
habilidade do cuidador em fornecer o medicamento, apesar da influência de
aspectos próprios das crianças, da negação da doença, da falta de
informação e de dificuldades de conseguir apoio social. Fatores como a
percepção que o cuidador tem sobre o HIV/aids podem influenciar
sobremaneira a adesão, assim como, a relação que tem com o fato da
criança ter HIV, a expectativa que tem em relação ao tratamento e a relação
familiar, entre outros.
Conforme análise dos estudos, a adesão pode ser influenciada pelo
contexto social e cultural onde a criança vive, como também pela influência
social, caracterizada pela renda familiar e escolaridade. Isso pode estar
muitas vezes, associado à condição de pobreza, vulnerabilidade social, grau
de instrução limitado dos cuidadores como fatores que dificultam as ações
de educação em saúde no cuidado as crianças com HIV.
Outras dificuldades encontradas, que levaram a suspensão do
tratamento, foram a depressão e recusa do cuidador em fornecer a
medicação à criança (Seidl et al., 2005).
Discussão 28
Eliane Regina Catalano Monteiro
Em relação à organização familiar (como o número de pessoas que
moravam na residência), tais fatores tiveram associação significativa com
não adesão ao tratamento apontado no estudo de Branco (2007). Achados
que evidenciam o histórico de interrupção do tratamento e o relato dos
cuidadores sobre o papel a ser emitido mediante o sucesso (ou insucesso)
da adesão foram perceptíveis (Seidl et al., 2005; Branco, 2007; Crozatti,
2007).
Chama atenção a influência do controle do comportamento mediante
regras, entre os cuidadores, observado principalmente quando davam
parecer como “adesão” para evitar consequências indesejáveis que
poderiam aparecer do não seguimento do tratamento (Branco, 2007).
Observou-se na análise que os cuidadores utilizavam de pensamentos
religiosos ou “mágicos” para melhor lidar com a rotina diária de
enfrentamento das questões que envolviam o viver de crianças infectadas
pelo HIV de modo a deixar de lado o problema na forma como ele realmente
se constitui, para os mesmos.
Quanto à percepção dos cuidadores observou-se que muitos
acreditam que perder dose ocasionalmente não acarreta problemas para as
crianças e não estão convencidos de que elas precisam de tantos
medicamentos.
Nos estudos foram levantadas dificuldades de familiares na
compreensão das prescrições médicas, situações em que as prescrições
dos medicamentos foram realizadas de forma não condizente à
recomendada pelo profissional de saúde. A baixa escolaridade e o processo
de pauperização no contexto da epidemia têm contribuído para a realização
do cuidado medicamentoso diferentemente do recomendado pela equipe de
saúde, especialmente, quanto a alterações de dosagens (Seidl et al, 2005;
Crozatti, 2007; Guerra, Seidl, 2009; Trombini, Schermann, 2010). Isso
acontece, na maioria das vezes, quando a qualidade de informação
fornecida ao cuidador e à criança, pelo profissional de saúde, foi insuficiente
para efetivação do cuidado.
Discussão 29
Eliane Regina Catalano Monteiro
Dificuldades como a manipulação dos medicamentos, dos frascos,
copos de medidas e seringas também foram levantadas pelos estudos
analisados. Esse processo exige do cuidador conhecimento, habilidades e
aprendizado, nem sempre disponíveis para subsidiar a família. Quanto à
administração do antirretroviral, os cuidadores ressignificam a dose em
volume, arredondando seus valores (Gomes, Cabral, 2009), o que pode
interferir diretamente na terapia instituída. A dose ressignificada em volume
associada às características do grupo e as dificuldades encontradas na
manipulação dos medicamentos compõem o cotidiano em que a não adesão
parece se apresentar como uma consequência.
A falta de comunicação sobre HIV/aids entre cuidadores é observado
nos trabalhos como um “pacto do silêncio” no ambiente doméstico (Seidl et
al., 2005). Esse silêncio pode ser traduzido em aumento da vulnerabilidade,
não enfrentamento da condição sorológica e baixo conhecimento sobre
HIV/aids. A possibilidade de melhora na adesão pode ser concretizada com
o aprimoramento da comunicação e da revelação do diagnóstico de
soropositividade para as crianças.
Muitos estudos como o de Seidl et al. (2005) observaram dificuldades
vivenciadas pelos familiares nesse tema, com finalidade de evitar ao máximo
o momento da revelação. Estratégias de enfrentamento adaptativas pelos
cuidadores foram identificadas para lidar com a doença.
Inúmeros são os problemas relacionados ao recebimento da notícia
de uma doença grave e incurável. Dessa forma, por ser a aids uma
enfermidade repleta de significados estigmatizantes, familiares, cuidadores e
profissionais de saúde, relutam em revelar à criança seu diagnóstico e trocar
informações fundamentais para o êxito de seu tratamento. Por conseguinte,
não podemos esperar respostas positivas por parte das crianças no
tratamento, bem como, no seu comprometimento com questões até então
desconhecidas, gerando problemas na aceitação dos cuidados à saúde e
questionamentos a respeito da sua utilidade.
No estudo com escolares, de Martins S., Martins T.(2011),
confirmou-se que as crianças avaliadas não associam a ingestão dos
Discussão 30
Eliane Regina Catalano Monteiro
antirretrovirais a sua rotina de atividades diárias, por desconhecerem o real
motivo para a tomada do medicamento: viver com AIDS.
Associação do não uso do antirretroviral com a morte foi outro fator
relevante encontrado em trabalhos da literatura nacional. Depoimentos
foram concordantes no que se refere ao medo da morte como motivador
principal da ingesta da medicação ARV (Botene, Pedro, 2011).
Para melhor uso da terapia antirretroviral, tendo em vista as
necessidades e características de cada fase de desenvolvimento da criança,
atribui-se relevante importância a pesquisas ligadas a vários e complexos
aspectos nessa ação.
Pensando na adequada adesão de crianças, autores propõem ações
voltadas a uma melhor resposta ao tratamento voltado a especial atenção e
envolvimento de familiares, cuidadores e/ou responsáveis (Galano, 2007),
Isso se faz necessário para garantir o acesso da criança que vive com o HIV
a seu tratamento, estimulando intervenções necessárias para adesão e,
consequentemente, promovendo uma boa resposta ao tratamento com
particular.
Esses mesmos autores refletem a adesão, do ponto de vista da
subjetividade da criança, levando em conta a sua completa participação no
tratamento, como “sujeitos ativos nos processos que envolvem a condição
de serem positivos para o HIV/Aids”. (Galano, 2007, p. 99).
Os fatores que influenciam a adesão relacionado ao tratamento em si
têm sido assinalados pela literatura como fatores que podem colaborar para
redução da adesão, com ênfase para complexidade do TARV e o tempo
prolongado de tratamento. Em estudos da literatura nacional, esses
aspectos e a exigência de alto grau de adesão para obtenção de eficácia
apontam para a necessidade dos profissionais de saúde, envolvidos na
assistência às crianças, levantarem problemas referentes ao cuidado
medicamentoso e prescreverem esquemas de terapia mais simples e,
orientarem os cuidadores e familiares e ou responsáveis, quanto ao modo de
lidar as crianças para uma boa prática de adesão (Seidl et al, 2005; Guerra,
Seidl, 2009; Feitosa et al., 2008).
Discussão 31
Eliane Regina Catalano Monteiro
A maioria dos achados da literatura mostra o tipo de regime
terapêutico (número de doses, via de aplicação, numero de drogas, restrição
alimentar, entre outros) como fator de associação à adesão em várias
doenças crônicas (Jordan et al., 2000). No caso dos ARV tem sido
observado por diferentes trabalhos como fator associado a não adesão.
Dos itens relatados por cuidadores, ressaltados pela maioria dos
autores, sobre as dificuldades relacionadas à adesão dos ARV, alguns
fatores são predominantes como: apresentação da droga, horário da
medicação (quando a criança estava fora do ambiente doméstico (por
exemplo, na escola); frequência da tomada de medicamentos, número de
drogas, efeitos colaterais, acessibilidade, a palatibilidade, habilidade do
cuidador de seguir a prescrição e o “esquecimento” de administrar o
medicamento (Crozatti, 2007; Feitosa et al., 2008; Guerra, Seidl, 2009,
Martins S, Martins T, 2011).
Em outro estudo, de Crozatti (2007), observou-se que em mais de um
terço das amostras testadas foram demonstradas concentrações
plasmáticas abaixo dos níveis plasmáticos, indicando que a inadequada
adesão ao tratamento pode ser um dos principais fatores envolvidos.
Autores apontam que dificuldades em seguir corretamente o tratamento é
um fator importante para a expressiva prevalência de baixos níveis
plasmáticos. Por conseguinte, identifica-se a relação entre baixa
concentração plasmática, baixos níveis de adesão e risco aumentado de
falha terapêutica.
Concordamos que o tratamento é (uma) parte do cotidiano das
pessoas, e suas vivências com o tratamento acontecem no seu dia-a-dia,
relacionado a diversas outras formas de seu viver. Cada pessoa lida
cotidianamente com várias limitações, em que se incluem a necessidade de
se submeter ao uso contínuo de medicamentos. O modo de conviver com a
doença, assim como com o tratamento, baseia-se em um saber prático, ou
seja, conhecimento técnico sobre a doença e o tratamento, incluindo
aspectos não racionais, emocionais, intuitivos e intersubjetivos. A
experiência e o conhecimento que constroem esse saber prático são
Discussão 32
Eliane Regina Catalano Monteiro
também embasados no modo como as relações sociais, econômicas e
culturais se reproduzem no cotidiano de cada um.
Conforme apontam Nemes et al. (2010, p. 6),
“o saber prático é construído e exercido na vida social cotidiana, em diversos contextos, como na relação com o serviço de saúde, o trabalho, a família. Ele é composto por conjuntos de conhecimentos e experiências afetivas – os quais conformam “repertórios” que as pessoas utilizam e acionam em sua vida cotidiana para que possam se relacionar com o mundo, e principalmente com as demais pessoas com quem convivem, dentre as quais, os profissionais dos serviços de saúde.”
Concordamos, também, com Paiva (20075 apud Paiva, 2010) no que
se refere à abordagem psicossocial construcionista do cotidiano e da
subjetividade no campo do HIV/aids, pois, ela busca levar em conta “as
diferenças individuais na experiência cotidiana (de viver com o HIV), mas as
compreende dinamicamente e à luz das desigualdades sociais que co-
produzem essa experiência”. Considera a pessoa em tratamento como
“sujeito em cena”, isto é, um sujeito que não é apenas um portador do vírus
e objeto da “intervenção” clínica, mas um sujeito de direitos, com autonomia
para determinar sua própria vida. Essa concepção de “sujeito-cidadão em
cena” se contrapõe às definições que estabelecem o paciente como um
indivíduo resultante da soma de fatores (sócio-demográficos, crenças,
conhecimentos, práticas, motivações, habilidades) a serem modelados de
acordo com uma prescrição de comportamento e de práticas (de adesão)
determinada a priori pelo técnico. (Paiva 20026; 20067 apud Paiva, 2010).
5 Paiva V. Prevenção positHIVa: abordagem psicossocial, emancipação e vulnerabilidade. Texto
apresentado no Seminário “Prevenção Posithiva: estado da arte”. Rio de Janeiro: ABIA; 2007. 6 Paiva V. Sem mágicas soluções: a prevenção e o cuidado em HIV/AIDS e o processo de
emancipação psicossocial. Interface. 2002;6(11):25-38.
7 Paiva V. Analisando cenas e sexualidades: a promoção da saúde na perspectiva dos direitos
humanos. In: Sexualidad, estigma y derechos humanos. Desafíos para el acceso a la salud en América Latina, 2006. Cáceres: Careaga, Frasca, Pecheny (org). Lima: FASPA/UPCH; Septiembre 2006.
Discussão 33
Eliane Regina Catalano Monteiro
Essa abordagem psicossocial construcionista incorpora o referencial teórico
de direitos humanos às intervenções em saúde.
Entretanto, observa-se que a maioria dos estudos analisados pouco
discute esse referencial teórico no contexto das intervenções propostas no
cuidado em saúde às pessoas que vivem com HIV. Limitam-se os autores a
propor recomendações de realização de trabalho socioeducativo, visando a
promoção da troca de experiência, melhoria do nível de conhecimento sobre
HIV/aids, desenvolvimento de habilidades de enfrentamento e compreensão
do contexto social no qual a criança está inserida (Feitosa et al., 2008;
Trombini, Schermann, 2010) .
Assim, é imperativo saber de que direitos humanos que estamos
falando, especialmente no caso da criança que vive com HIV, cujas
vivências e percepções precisam ser valorizadas, de forma a legitimar sua
participação no tratamento, incluindo-as, então, como “sujeitos de direitos”,
do próprio processo que remete a soropositividade, podendo ser uma forma
de enfrentamento adaptativa e necessária para essa questão, como
também, uma boa resposta ao tratamento.
Atualmente, experiências exitosas podem ser compartilhadas, como
as desenvolvidas pela equipe de saúde do Centro de Referência em
Moléstias Infecciosas, serviço de referência em DST/AIDS do município de
Bauru-SP. Nesse serviço são realizados trabalhos psicoeducativos com
cuidadores e ou familiares, com objetivo de promover troca de experiências,
melhorar o nível de conhecimento sobre HIV/aids e desenvolver habilidades
de enfrentamento da doença e tratamento, preparando-os para lidar com as
questões relativas a soropositividade. Atendimentos individuais a familiares e
a criança soropositiva também vem sendo realizado, principalmente,
trabalhando a revelação do diagnóstico para a criança e adesão ao TARV,
com a utilização de material lúdico elaborado pelos profissionais de saúde.
Acredita-se que a abordagens das questões psicossociais devam ser
iniciativas das equipes de saúde visando à melhoria da qualidade de vida
Discussão 34
Eliane Regina Catalano Monteiro
das famílias e das crianças que vivem com HIV e garantindo à criança os
direitos básicos presentes na constituição: direito à saúde e à vida.
Um dos principais determinantes presentes na adesão de doenças
crônicas está associado às características dos serviços de saúde. A boa
qualidade do cuidado observada possui direta relação à adesão e merece
destaque na relação médico-paciente e no acesso a assistência à saúde
(Jordan et al., 2000). Outro aspecto a ser ressaltado nos trabalhos sobre
tratamento com ARV tem confirmado a boa relação entre adesão e a
qualidade do cuidado provido pelo profissional de saúde e a conformidade
dos agendamentos e procedimentos. Outro aspecto essencial é relacionado
ao acesso de saúde, quando o paciente apresenta intercorrências que ele
atribui ao medicamento. Existe o risco de interrupção do tratamento se ele
não conseguir atendimento.
Segundo Nemes (2000)8 apud Nemes et al. (2010, p. 3) existem
“evidências de que a qualidade do serviço de saúde, avaliada segundo a
disponibilidade de recursos e a organização do processo de assistência, seja
um dos importantes fatores associados à adesão”. Portanto, parte da
qualidade, como a facilitação do acesso e do vínculo com o profissional e
com o serviço, a pronto atendimento, disponibilidade de referências para os
encaminhamentos necessários, foram tidas como necessárias condições
dos serviços de saúde. Para as ações específicas visando à melhoria da
adesão, destaca-se a facilidade de acesso, a pontualidade, a privacidade e o
apoio para transporte ou ajuda de custo quando necessário.
A literatura tem apontado para a importância da verificação sobre os
fatores associados a serviços de saúde para analisar a adesão ao
tratamento com ARV. Segundo diferentes autores, nos estudos analisados, a
dificuldade de acesso regular ao serviço de saúde e problemas financeiros
das famílias e/ou cuidadores foram apontados como problemas para adesão
ao tratamento (Seidl et al, 2005; Crozatti, 2007; Feitosa et al, 2008). Outro
problema encontrado tem a haver com as estruturas dos serviços de saúde
8 Nemes MIB, organizador. Avaliação da aderência ao tratamento por antiretrovirais em usuários de
ambulatórios do sistema público de assistência à AIDS no Estado de São Paulo. Brasília:
Coordenação Nacional DST/AIDS, Ministério da Saúde; 2000. (Série Avaliação no 1).
Discussão 35
Eliane Regina Catalano Monteiro
para o atendimento à criança. Daí a necessidade da existência de fluxo para
acolhimento destas demandas que muitas vezes chegam ao serviço.
Dificuldade de acesso regular ao serviço de saúde também foram
encontrados nos estudos analisados como o de Seidl et al (2005), bem
como, dificuldade dos cuidadores de comparecer ao serviço de saúde com a
regularidade necessária para buscar os medicamentos, devido à distância
do serviço da moradia e ao preço das passagens.
Segundo Nemes et al. (2010, p 8. ),
“a atividade em adesão deve se realizar como um encontro entre profissionais e pacientes, de modo a construir conjuntamente a conveniência entre as possibilidades técnicas de tratamento e os projetos de felicidade das pessoas vivendo com HIV/AIDS. Este encontro é um processo de Cuidado; isto é, uma interação que busca alcançar êxito técnico na forma e medida em que este se configure como legítimo sucesso prático.”
Diante desse conceito concordamos que a compreensão e aceitação
dessa hipótese sugere construir uma intervenção capaz de enfatizar mais o
modo de atuar do profissional, seu procedimento, e menos o “conteúdo” de
sua fala.
As noções de Cuidado, propostas por Ayres (2004), permitem a
priorização da expectativa do paciente, no lugar da prescrição realizada
pelos profissionais de saúde em geral, no trabalho de adesão. Em relação
ao de risco de não adesão à tomada da medicação, nas experiências com
as intervenções, profissionais de saúde podem entender os significados
particulares que a forma do paciente conviver com seu tratamento adquire,
dentro de seu contexto de vida. Procurar entender o dia-a-dia do paciente
exige o estabelecimento de vínculo entre profissional e paciente e a
introdução do uso de cenas pode facilitar esse processo.
É de responsabilidade dos profissionais de saúde fornecer
orientações técnicas necessárias e possibilitar que cuidadores tenham
Discussão 36
Eliane Regina Catalano Monteiro
acesso às informações de forma clara e com oportunidades nas quais
possam tirar dúvidas e aflições.
Estudos como de Basso, 2010, ressaltam que a qualidade da
organização do trabalho de assistência é um importante fator associado ao
risco de não adesão. Por conseguinte, tem-se como hipótese que, “no plano
do cuidado individual, a qualidade se concretiza nos encontros cotidianos
entre profissionais e pacientes”.
Portanto, entender a adesão como desafio que envolve vários fatores
e garantir o uso adequado da TARV, considerando as necessidades de cada
fase de desenvolvimento infantil, requer do profissional de saúde uma
especial atenção e exige respostas efetivas, em se tratando das
necessidades e particularidades características das pessoas que vivem com
HIV.
Nesse sentido, planejar ações para uma adequada adesão ao
tratamento exige do profissional de saúde conhecimento da complexidade
do desenvolvimento de uma criança. Além disso, é necessário que elas
tenham acesso ao conhecimento sobre a verdade de suas vidas para
constituírem como “sujeitos” e possam enfrentar as difíceis fases da doença
e obter uma boa resposta ao tratamento.
Conforme relatado anteriormente, as medidas de adesão variam
conforme o método de medida utilizada. Entre os métodos (Jordan et al.,
2000; Caraciolo, 2007) utilizados destacam-se: perguntar diretamente ao
paciente (entrevista ou self-reports, ou auto-relato) ou estimar indiretamente
por contagem manual ou eletrônica, contagem manual de pílulas, por
marcadores biológicos ou clínicos ou dosagem de metabólitos das drogas
prescritas ma urina ou no sangue, entre outros.
Segundo Tobar (2003) “a entrevista é o relato que faz o entrevistado
sobre o significado, em sua mente, do que aconteceu e/ou que está por
ocorrer. O que o entrevistado diz, mais do que ele pensa, é o seu
comportamento manifesto.” Na entrevista, busca-se entender significados de
vida, percepções e interpretações do mundo, tentando entender o contexto,
do entrevistado. Esse mesmo autor define entrevista semi-estruturada “como
Discussão 37
Eliane Regina Catalano Monteiro
um método utilizado para coleta de dados, baseado no uso de guia de
entrevista, que consta de uma lista de perguntas ou temas que necessitam
ser abordados durante as mesmas.” Com esse roteiro são coletadas as
informações através de perguntas a serem feitas ou aos temas a serem
explorados.
Apesar de não estar estabelecido um método padrão para a análise
da adesão, a falta do mesmo impede sua verificação e dificulta seu
acompanhamento. Todos os métodos conhecidos atualmente mostram
facilidades e dificuldades para se conhecer o perfil de uso dos
medicamentos, o ideal é trabalhar com a combinação de métodos para que
possa delinear o perfil adequado de uso das medicações ARV.
Neste estudo a literatura tem apontado para relevância da
investigação sobre os métodos utilizados para aferir a adesão. Observou-se
que a maioria dos estudos utilizou a combinação de métodos, seguido do
método direto a entrevista/ ou self-reports ou auto-rrelato para medir adesão.
Confirmado por vários estudos com ARV, eles, consideram que os
questionamentos diretos podem prever os resultados do tratamento em curto
prazo e são úteis na identificação de paciente em risco de não adesão
(Jordan et al., 2000).
Os métodos utilizados nos estudos sob análise foram: roteiro de
entrevista semi-estruturado (levantamento de dados e análise de dados: a
partir dos depoimentos dos sujeitos); cruzamento de desfecho “adesão à
TARV” com “variáveis independentes” (sociodemográficos, estado clínico e
esquema de tratamento); inquérito com cuidadores (sobre medicamentos
administrados à criança nos 3 últimos dias), esses dados foram checados
com a prescrição médica (prontuários) e ficha clínica do paciente. O auto-
relato do cuidador, relacionado com os registros da farmácia, com a
indicação se a medicação tinha sido retirada e contagem de linfócitos T
CD4+ e da carga viral plasmática foi apontado por um trabalho. A dosagem
de níveis plasmáticos dos medicamentos ARV e adesão auto-referida ao
TARV foram apontadas em diferentes estudos entre os métodos utilizados
para medir a adesão.
Discussão 38
Eliane Regina Catalano Monteiro
Outros trabalhos utilizaram o levantamento de dados secundários
através da análise da ficha de registro e prontuários (dados de
acompanhamento) de forma complementar.
A entrevista (questionário sociodemográfico sobre condições de
saúde e psicossocial) associada com a aplicação da Escala de Modos de
Enfrentamento de Problemas (EMEP) foi outra forma encontrada para medir
adesão em diferentes estudos como o de Seidl et al. (2005). Estudo como o
de Branco (2007) associou ao roteiro de entrevista e EMEP o levantamento
de marcadores clínicos mais recentes de células CD4+ e carga viral
registrados no prontuário. Entretanto, diferentes autores demonstram como
métodos de aferir adesão a entrevista estruturada com coleta de dados de
identificação da criança, sobre a vivência com a doença e rotina diária de
escolares.
Chama atenção o relato de autores que utilizaram a técnica do grupo
focal no trabalho de Botene e Pedro (2011), com uso de guia de temas
estruturados (depoimentos) e a análise de discurso de cuidadores para a
coleta de dados sobre adesão a ARV, na publicação recente de Gomes e
Cabral (2009).
Considera-se a infância “um momento importante na existência do ser
humano e uma etapa em que a criança vivencia vulnerabilidades específicas
no processo de viver”. (Schaurich, Medeiros, Motta, 2007). A vulnerabilidade
é a “chance de exposição das pessoas ao adoecimento como resultante de
um conjunto de aspectos não apenas individuais, mais coletivos,
contextuais, que acarretam a suscetibilidade à infecção e ao adoecimento”.
(Ayres, 2003).
Conforme aponta Calazans et al. (2006, p. 43-62) o termo
vulnerabilidade tem relação direta com área dos Direitos Universais do
Homem e “está relacionado a grupos ou indivíduos fragilizados, tanto jurídica
como politicamente, na proteção, promoção e garantia de cidadania.” Esse
conceito, nos últimos anos, vem sendo muito utilizado em estudos e políticas
relacionadas ao contexto do HIV/Aids.
Discussão 39
Eliane Regina Catalano Monteiro
A vulnerabilidade relacionada à aids considera as relações
estabelecidas entre o homem, a sociedade e o contexto onde vivem, indo
muito além do campo biológico, individual e epidemiológico. Dessa forma
outros aspectos são considerados no viver da criança com HIV,
principalmente aqueles relacionados aos planos individual, social e
programático da vulnerabilidade.
A vulnerabilidade individual das crianças com aids pode estar
relacionada a diversos aspectos e fatores, entretanto, para este estudo,
destacamos o desconhecimento do diagnóstico de HIV/aids. Considera-se,
ainda, que, esse aspecto é influenciado e influencia os planos sociais e
programáticos.
Contudo, entende-se como principal demanda existente às crianças
com aids, quanto à vulnerabilidade individual, o desconhecimento do
diagnóstico para a infecção pelo HIV. Essa realidade se faz presente na vida
da maioria das crianças que vivem com HIV que desconhece sua
soropositividade, o porquê de tomar medicamentos, realizar exames clínico-
laboratoriais e motivos de freqüentes consultas médicas, entre outros
aspectos que auxiliam a torná-las mais vulneráveis à progressão da doença
e desenvolvimento das infecções oportunistas. (Seidl et al, 2005) .
Segundo Schaurich, Medeiros, Motta (2007) quanto à vulnerabilidade
social, três aspectos na vida das crianças com aids, entre eles: a
necessidade e dependência do cuidado de outra pessoa para tomar os
medicamentos antirretrovirais e levá-la aos serviços de saúde; a
creches/escolas; e, as condições de pauperização e escolaridade, tanto sua
quanto de seu familiar/cuidador.
Esse mesmo autor analisa a vulnerabilidade programática, com
especial atenção às ações, programas e as políticas relacionadas área
materno-infantil, tendo em vista a necessidade da redução da transmissão
vertical do HIV. Ressalta ainda, a necessidade de implementação de
políticas públicas, visando a manutenção da distribuição do tratamento
antirretroviral e de financiamentos na área preventiva, assistencial e
educacional referente à aids.
Discussão 40
Eliane Regina Catalano Monteiro
A modificação dessa realidade para diminuição da vulnerabilidade
individual e social das crianças com aids depende de diversos fatores e
principalmente de investimentos em políticas públicas relacionadas à
vulnerabilidade programática para o controle e redução da infecção pelo HIV
e adoecimento por aids.
Adesão é essencial para garantir a permanência da prescrição
medicamentosa, com os benefícios do TARV, permitindo a conservação das
escolhas terapêuticas.
A terapia antirretroviral permitiu avanços e melhorias de diversos
aspectos como os clínicos: como a diminuição da mortalidade associada à
aids e os aspectos psicossociais, como a melhoria da qualidade de vida,
entre outros. A adesão é um dos fatores determinantes do grau e duração da
supressão da carga viral. Para tanto são necessários altos índices de
adesão, ou seja, é necessário garantir que mais do que 95% das doses
sejam tomadas adequadamente para que seja evitada a falência viral.
Quando essa necessidade não é respeitada pode-se levar àresistência viral
e, consequentemente, à perda de eficácia do tratamento medicamentoso.
A revisão de literatura apontou fatores associados adesão e
dificuldades no uso adequado dos ARV nas diversas etapas da vida de uma
pessoa. A identificação dessas barreiras constitui-se em critério fundamental
para a melhora do processo de adesão.
Cabe discutir estratégias de enfrentamento que podem ser adotadas
visando obter melhores alternativas para diminuir esses fatores,
principalmente quando envolve a revelação diagnóstica da infecção do HIV
para as crianças. É considerado um fator positivo para adesão, se for
realizado de forma adequada com o envolvimento da equipe de saúde e dos
cuidadores, especialmente quando se trata de uma doença associada à
morte, estigma e discriminação.
Conhecer o “cuidador”, bem como, suas expectativas frente ao
tratamento, o seu entendimento e as dificuldades frente ao cuidado com a
criança com HIV/aids é de fundamental importância na eficácia da terapia.
Discussão 41
Eliane Regina Catalano Monteiro
Assim, compete a todos o envolvimento no processo de adesão, aos
profissionais de saúde, aos familiares, aos cuidadores e à criança que vive
com HIV, entendê-la como um desafio que envolve vários fatores,
demandando uma constante melhoria e do cuidado. Logo, para uma
adequada adesão ao tratamento são necessárias ações que considerem as
diversas fases do desenvolvimento da criança, de forma a revelar a suas
ansiedades e aflições. Além disso, para que essas pessoas se tornem
“sujeitos de direitos” é necessário que conheçam sua realidade de fato, para
que possam agir com autonomia, de forma a viver seus próprios sonhos.
Considerando o quadro proposto por Sofia Gruskin em publicação
sobre a aplicação da Abordagem Baseada em Direitos na implantação das
estratégias de atenção à saúde (UNFPA, 2010), é necessário o
envolvimento de profissionais de saúde, familiares, cuidadores e da própria
criança que vive com HIV no planejamento das ações de forma a conhecer a
realidade e com autonomia ajudar a programar o seu cuidado focado no
direito à saúde. Aspectos como a disponibilidade, devem ser considerados
para garantir acessibilidade à prestação de serviço de atenção à saúde, ou
seja, ao diagnóstico e tratamento oportuno para que o sujeito se beneficiar
dos recursos e serviços de saúde disponíveis. Quanto à aceitabilidade da
estratégia de atenção à saúde a ser empregada, essa deve ter como foco o
respeito à cultura, crenças e contexto em que vive o sujeito. Assim, também,
a qualidade dos serviços, ou seja, a qualidade técnica do cuidado deverá ser
levada em conta nas recomendações propostas pelo Ministério da Saúde,
que visam à adequada adesão ao TARV e o acompanhamento,
monitoramento e avaliação que priorizem e considerem as necessidades
singulares apresentadas pelas pessoas que vivem com HIV de forma que
elas sejam, de fato, “sujeitos de direitos” de sua própria vida.
A adesão a TARV deve ser compreendida como uma ação conjunta
entre a pessoa que vive com HIV, cuidadores e os profissionais de saúde
que o acolhem e acompanham. Esse processo deve priorizar a autonomia
do sujeito para estabelecimento do autocuidado, e o compromisso no
Discussão 42
Eliane Regina Catalano Monteiro
tratamento, onde responsabilidades devem ser assumidas por todos os
envolvidos para o sucesso da terapia antirretroviral.
Conclusões 43
Eliane Regina Catalano Monteiro
6 CONCLUSÕES
A criança apresenta singularidades próprias da infância, com
capacidades e limitações específicas da idade. Entretanto, mostra-se
vulnerável com a necessidade de haver outros indivíduos para lhes garantir
o acolhimento, a proteção e o cuidado de sua vida, principalmente quando
vivencia uma doença. Dessa forma, atualmente, nos deparamos com a
primeira geração de crianças e adolescentes que vivem com HIV.
Considera-se fundamental reconhecer que questões como
institucionalização devido a falta dos pais biológicos e as diversas estruturas
e organizações familiares a que estão expostas as crianças, as dificuldades
existentes nessa população para a revelação do diagnóstico, o pacto de
silêncio familiar em relação ao HIV/Aids, principalmente, junto à e rede de
apoio, aos serviços de saúde e à creche/escola, a complexidade da adesão
ao tratamento antirretroviral, a existência (ou não) de políticas de prevenção,
diagnóstico e assistência são aspectos que influenciam, aumentando ou
diminuindo a vulnerabilidade da criança à infecção pelo HIV ou ao
adoecimento por aids.
Nesse contexto, compreende-se que as causas da não adesão são
variadas e para modificar esse cenário é preciso simplificar os esquemas
terapêuticos, e esclarecer o significado da doença e do medicamento na vida
das familiares e da criança e, auxiliando e buscando as melhores formas de
enfrentamento.
A adesão aos ARV é considerada um processo difícil devido à
complexidade do tratamento da infecção HIV/Aids. A manutenção do uso
adequado dos medicamentos é um grande desafio, tanto para os serviços e
profissionais de saúde, quanto para os familiares e cuidadores, e a própria
criança. Portanto, requer enfrentamento organizado com envolvimento da
equipe multiprofissional.
Cabe aos profissionais de saúde envolvidos no atendimento dessas
crianças e cuidadores, compreenderem a adesão como um desafio a ser
Conclusões 44
Eliane Regina Catalano Monteiro
vencido, com a necessidade de enfrentamentos diários e árduos. Portanto,
planejar estratégias de enfrentamento adequadas para adesão ao TARV
devem ser entendidas como prioridade, considerando a complexidade do
desenvolvimento da criança. Aponta-se como essencial a promoção do
acesso ao conhecimento da realidade de cada criança, parte fundamental
para constituição dos “sujeitos de direitos” para o enfrentamento da doença,
manutenção da vida e execução dos sonhos.
Uma série de questões relacionadas à adesão nos faz refletir para
necessidades de novos estudos e propostas para auxiliar os familiares das
crianças a compreender a importância dos antirretrovirais para a
manutenção da vida e possibilidade de viabilizar seus projetos de felicidade.
Deve-se buscar compreender a realidade e tentar encontrar saídas, apontar
soluções para modificar esse cenário, garantindo à criança os direitos
básicos presentes na constituição: direito à saúde e à vida.
Por último, mas não menos importante, o esforço de identificar os
principais fatores que interferem na adesão ao tratamento da aids em
crianças, nos parece desafiante por trazer para a assistência tecnologias de
trabalho já conquistadas, com base no quadro da vulnerabilidade e direitos
humanos, na prevenção.
Acreditamos que nossa proposta em viabilizar esse trabalho
apresentou uma pequena contribuição positiva e colaborou para uma
reflexão sobre abordagem de adesão em particular, no quadro da
vulnerabilidade e dos direitos humanos, sobre o cuidado em saúde de
crianças que vivem com HIV.
Referências 45
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