elaine mara cunha - diaadiaeducacao.pr.gov.br · em cada caso, uma atividade manipuladora, tateante...

33

Upload: vuque

Post on 02-Dec-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

ELAINE MARA CUNHA

O PAPEL DAS TECNOLOGIAS NO CONTEXTO EDUCACIONAL

APUCARANA - PARANÁ

2012

2

O PAPEL DAS TECNOLOGIAS NO CONTEXTO EDUCACIONAL

Elaine Mara Cunha1

Rosangela Aparecida Volpato2

RESUMO

O presente artigo configura-se como uma reflexão sobre O Papel das Tecnologias no Contexto Educacional, tendo por base os resultados da pesquisa desenvolvida no PDE - Programa de Desenvolvimento Educacional da Rede Pública do Estado do Paraná. Os pressupostos teóricos das análises deste estudo basearam-se nas diferentes abordagens e conceitos de tecnologia e na inter-relação homem-tecnologia, haja vista a amplitude conceitual, por vezes incompreendida e não refletida, dada a complexidade em que se pauta o universo tecnológico. Seguindo essa ótica e considerando alguns dilemas implícitos trazidos pelas inovações tecnológicas, destaca-se o interesse em compreender, na percepção dos sujeitos envolvidos nessa pesquisa, as diferentes formas de representação e comunicação propiciadas por esses meios, bem como seu significado e relações, os conflitos percebidos e as perspectivas na organização e implementação da prática pedagógica. Participaram dessa pesquisa 20 (vinte) educadores, reunidos em dois grupos distintos: 07 (sete) inscritos no GTR - Grupo de Trabalho em Rede (Educação a Distância) e 13 (treze) no Grupo de Estudos, ambos formados por Pedagogos e Professores de diferentes disciplinas, que atuam na Rede Pública Estadual. Para as interpretações, partiu-se dos registros realizados mediante depoimentos, troca de experiências, bem como dos fóruns de discussões desencadeados ao longo do processo de formação continuada. Os dados obtidos apontam dificuldades de ordem física, material e humana. Porém, pode-se afirmar que as discussões realizadas promoveram o diálogo necessário quanto aos problemas pedagógicos comuns. As análises demonstram a importância do aprofundamento teórico reflexivo, especialmente em torno da visão marcadamente instrumental das tecnologias, favorecendo a percepção compreensiva do educador frente a esse universo tecnológico que se articula cada vez mais com o conhecimento.

1 Professora Pedagoga da Rede Pública Estadual do Paraná, Pós-graduada em Metodologia e Didática do Ensino. Participante do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE – Apucarana - PR, vinculada à Universidade Estadual de Londrina – Paraná. E-mail: [email protected]. 2 Orientadora, Graduada em Filosofia, Mestre e Doutora em Educação, Professora do Departamento de Educação da Universidade Estadual de Londrina - PR. E-mail: [email protected].

3

Palavras-chave: Tecnologias; Conhecimento; Práticas Educativas; Formação Continuada.

ABSTRACT

This article intend to show a reflection about The Role of Technology in Educational Context, based on the results of a research carried out in the EDP - Educational Development Program of the Public School of Paraná State. The theoretical analysis of this study was based on different approaches and concepts of technology and inter-relationship between man and technology, considering the conceptual amplitude, sometimes misunderstood and not reflected, given the complexity in which the technological universe is guided. According this perspective and considering some implicit dilemmas brought by the technological innovations, there is, in the perception of the individuals involved in this research, an interest in understanding different forms of representation and communication propitiated by these means, as well as their meaning and relationships, perceived conflicts and perspectives in the organization and implementation of pedagogical practice. Twenty (20) educators participated in this study divided into two distinct groups: seven (07) of them were registered in the GTR - Network Working Group (Distance Education) and the other thirteen (13) were participants of the Study Group, formed by both, Educators and Teachers from different subjects, from State Public School. To undertake the interpretations, it were used the records based on testimonials, exchange of experiences, as well as discussion forums unleashed during the process of continuing education. The data obtained indicate difficulties in physical, material and human order. However, it can be affirmed that the discussions promoted the necessary dialogue about the common pedagogical problems. The analyzes demonstrate the importance of furthering theoretical reflection, especially around the vision markedly instrumental of the technologies, promoting understanding of the educator's perception towards this technological universe that is articulated with increasing knowledge. Key words: Technology; Knowledge; Educational Practices; Continuing Education.

1 INTRODUÇÃO

É notória a presença e os avanços das tecnologias nas mais diversas

esferas da sociedade contemporânea. As grandes transformações ocorridas

4

provocaram impactos e modificaram a vida das pessoas, tanto no trabalho, como na

economia, na família e, também, na Educação.

Nesse universo globalizado, em que as inovações tecnológicas se fazem

presentes, com novos produtos, serviços, descobertas, conhecimentos e diferentes

modos de representação e manipulação da informação, apropriar-se dessas

linguagens exige uma nova maneira de pensar, aprender, produzir, conviver e

compreender a realidade, visto que o “conhecimento encontra-se em metamorfose

constante.” (LÉVY, 2010, p.121).

É importante reconhecer que, embora essas inovações sejam frontais,

sua integração no âmbito educacional, constitui-se um dos desafios mais prementes,

razão pela qual não se pode desconsiderar esse movimento no espaço escolar.

As novas tecnologias já são realidade nas escolas públicas do estado do

Paraná e têm provocado mudanças estruturais e funcionais. No entanto, apesar de

todo o investimento, tanto em infraestrutura, quanto em ações voltadas à formação

continuada dos professores, visando à inserção dessas tecnologias no fazer escolar,

verifica-se que ainda existem fatores limitadores quanto à utilização desses recursos

na implementação da prática pedagógica.

Assim, é imprescindível compreender que, apesar das oportunidades, as

mudanças não ocorrem de forma rápida e automática, razão pela qual esse

processo ainda está em construção, o que demanda uma reflexão crítica, pois

percorrer novos caminhos exige uma busca constante de conhecimento e

compreensão sobre as formas de agir sedimentadas e as que deverão emergir.

Se por um lado encontramos nos discursos pedagógicos um movimento

em torno da inovação educativa trazida pelas novas tecnologias, por outro lado,

evidenciamos impactos que se traduzem em dificuldades: professores que resistem

às inovações por não se sentirem familiarizados com essa linguagem, com isso

sentem medo de se exporem diante dos alunos; tempo insuficiente para preparar as

atividades e, ainda, os que possuem uma concepção limitada a respeito de

tecnologia, associada ao determinismo puramente instrumental, portanto, não

conseguem lidar pedagogicamente com elas.

Percebe-se que, ainda hoje, não existe uma compreensão clara acerca do

que é tecnologia e muitos a vêem sob uma ótica mecanicista, dissociada das

possibilidades de conhecimento e, principalmente, do processo de evolução do ser

humano.

5

Nesse sentido, é necessário considerar que o culto ao instrumento, à

máquina, muitas vezes, interpõe a compreensão, como diz Lévy (2010, p.54), de

que os verdadeiros sujeitos dessa virada na história dos artefatos informáticos,

dizem respeito aos humanos, por isso que nos importam.

Para efeito da análise pretendida, torna-se necessário à luz da teoria,

investigar os desdobramentos desse atual contexto tecnológico, a partir de sua

gênese histórica e epistemológica, o que supõe compreensão mais aprofundada do

significado de tecnologia em todos os seus aspectos, de modo que não se restrinja

apenas aos suportes materiais.

Educação e tecnologia não são termos abstratos ou mesmo teorias, mas

representam a dinâmica central desse processo vivenciado por meio da história que

naturalmente começou como um saber pensar e um saber fazer e que hoje são

retomados em novas perspectivas, face à incidência das mídias eletrônicas, o que

exige também um aprender a aprender e um constante refazer.

As tecnologias são produzidas pelos homens e, num processo recursivo,

interferem no processo de construção dos homens. Assim, desde sempre, o

processo de constituição do ser humano, que é eminentemente educativo, se dá

através desta inter-relação homem-tecnologia. Portanto, é imprescindível discutir

tecnologia quando se discute educação.

2 CONCEITOS, DEFINIÇÕES E SIGNIFICADOS DE TECNOLOGIA

2.1 O ser humano, uma tecnologia da natureza

O ser humano, a cada época, buscou alternativas tanto para a sua

sobrevivência como para a superação de suas fragilidades e necessidades, criando,

modificando e alterando seu modo de vida, por meio de suas experiências, de suas

formas de pensar, agir, sentir e comunicar-se. Tais iniciativas, produto da sua

inteligência, contribuíram para a ampliação e potencialização de seus

conhecimentos.

6

O homem, como ser social, pensante, dotado de raciocínio, consciência e

inteligência, pode ser considerado como a maior tecnologia já criada e que

provavelmente deu origem as outras tecnologias, [...] “porque o ser humano é uma

tecnologia da natureza, uma prótese inventada no processo evolucionário.” (DEMO,

2009, p.14).

A tecnologia não é algo novo e é tão remota quanto a espécie humana.

Para Chauchard (apud KENSKI, 2003, p.20), “Contava o homem primitivo com duas

grandes ferramentas, naturais e distintas das demais espécies: o cérebro e a mão

criadora.”

Se, para o homem primitivo, tanto um osso quanto a pele de um animal,

ou mesmo um pedaço de pau eram ferramentas e ou utensílios criados para a sua

defesa, proteção e alimentação, não há como refutar que sua ação criadora não é só

ferramenta, mas de maneira conjunta, todo o processo de concepção e

desenvolvimento. Isso abrange o emprego de seu intelecto, do pensamento, aliado à

capacidade de transformação, ressignificação e produção, a que denominamos

tecnologia.

Partindo dessa linha de raciocínio, Lévy (2010) complementa essa

discussão, enfatizando que a humanidade se define como espécie fabricadora, por

dispor também de capacidade operativa, manipulativa, e aptidões que, articuladas

com as tecnologias intelectuais lhe permite a construção da cultura.

O desenvolvimento de um novo exercício operatório não pode ser dissociado da atividade de reinterpretação de um material preexistente: a madeira para as cabanas, a pele de animais para as roupas, [...] Em cada caso, uma atividade manipuladora, tateante e interpretativa faz com que os materiais existentes penetrem em novos domínios de uso e significação. (LÉVY, 2010, p.160).

Constata-se que o homem, em todo o seu movimento histórico, esteve

rodeado pelas tecnologias e estas tiveram papel preponderante na organização das

sociedades. Suas ações não foram determinadas somente pela capacidade de criar

ferramentas, utensílios e aparelhos, mas também por desenvolver diferentes

tecnologias simbólicas como a oralidade, a escrita e os mais diferentes sistemas de

representação e de pensamento, denominada por Lévy (2010) como tecnologias da

inteligência ou intelectuais.

7

É preciso, assim, perceber que “somos, de um lado, tecnologia da

natureza (produto tecnológico fabricado pela evolução); de outro, desenvolvemos

pela história afora sucessões tecnológicas que mostram uma criatura que não é

apenas tecnologia, mas produz tecnologia.” (SIMONDON; HART apud DEMO, 2009,

p.77).

2. 2 A origem do termo - o primeiro conceito

Mostrar as trilhas que tecem o caminho das significações e

ressignificações, faz-se necessário para que se possa compreender a evolução do

conceito de tecnologia, visto que, ao longo da história, diferentes abordagens foram

sendo incorporadas, embasadas em teorias e concepções adotadas por estudiosos

de diversas linhas de pesquisa e de acordo com os mais diferentes contextos sociais

e históricos. A origem da palavra tecnologia vem do grego téchne que significa (arte,

destreza, habilidade) e logos (palavra, fala). A téchne era considerada a arte de

fazer alguma coisa e não era uma habilidade qualquer, pois prescindia o uso de

certas regras para alcançar determinado objetivo, por isso o termo também

designava ofício. Na visão grega das coisas, uma téchne incluía um propósito e um

significado, daí existir uma téchne do ensino (“arte de ensinar”), uma téchne do

governo (“arte de governar”) e assim sucessivamente. Técnica e arte no mundo

grego possuíam pequena distinção, quando o que hoje denominamos de técnica se

encontrava pouco desenvolvida.

O historiador grego Heródoto traz a primeira conceituação de téchne a

“um saber fazer de forma eficaz”. Para Platão, este termo se referia à “realização

material e concreta de algo” e Aristóteles dizia que téchne “é um conhecimento

prático que visa a um fim concreto”. Logo, tecnologia “não é um simples fazer, é um

fazer com logos (raciocínio).” (SANCHO, 1998, p.28,29).

O primeiro conceito é a origem do termo, marcado pelo pensamento

grego e alicerçado na arte, um saber fazer que também se vinculava a um ofício, a

uma técnica. Em Aristóteles, encontramos uma abordagem que é válida até os dias

8

de hoje, um fazer pensado, com intencionalidade, com raciocínio, logo, um fazer

humano.

2. 3 Analisando os diferentes conceitos e significados

Há necessidade de revisitar os diferentes significados e conceitos de

Tecnologia, visando não somente identificar os pormenores, mas, sobretudo, pautar

as diferenças, ampliando a compreensão dos termos.

Na visão de Kenski (2008), tecnologia engloba uma totalidade de coisas

que a inteligência humana pode criar ao longo de sua história, tendo em vista suas

necessidades e visando a atender a determinado objetivo. Muitos desses artefatos

estão tão incorporados ao nosso cotidiano que não os percebemos como

tecnologias.

Essa tecnologia não se traduz somente em equipamentos, aparelhos e

objetos, como por exemplo: lousa, giz, caderno, lápis, óculos, medicamentos e

tantos outros.

Ao conjunto de conhecimentos e princípios científicos que se aplicam ao planejamento, à construção e à utilização de um equipamento em um determinado tipo de atividade, chamamos de “tecnologia”. Para construir qualquer equipamento – uma caneta esferográfica ou um computador –, os homens precisam pesquisar, planejar e criar o produto, o serviço, o processo. Ao conjunto de tudo isso, chamamos de tecnologias. (KENSKI, 2008, p.24).

O moderno dicionário da língua portuguesa Michaelis (2009) define

Tecnologia como:

1) Tratado das artes em geral. 2) Linguagem peculiar a um ramo determinado do conhecimento, teórico ou prático. 3) Aplicação dos conhecimentos científicos à produção em geral: Nossa era é a da grande tecnologia.

9

Em consonância com o dicionário Michaelis, há que enfocar outras

abordagens, como do dicionário online Infopédia:

1) Conjunto dos instrumentos, métodos e processos específicos de qualquer arte, ofício ou técnica. 2) [raramente usado] conjunto de termos técnicos próprios de uma arte ou ciência. [...] tecnologias de informação: conjunto de equipamentos técnicos e procedimentos recentes que permitem o tratamento e a difusão de informação de forma mais rápida e eficiente.

Os dicionários endossam o significado de tecnologia associadas à arte,

ofício ou técnica, o que se pressupõe um embasamento na etimologia, conforme

definição de Sancho (1998). Faz-se necessário compreender essas terminologias

dentro dos contextos sócio-culturais de cada época, e o papel das mesmas, tendo

em vista os termos designarem realidades diferentes que, nem sempre, estão

revelados nos conceitos.

O emprego dos vocábulos, técnica e tecnologia, ocorre na maioria das

vezes, como sinônimos e, assim, um costuma substituir o outro. Mas, alguns autores

que abordam o assunto costumam diferenciá-los.

Optamos pelo entendimento de Kenski (2003, p.19) que faz referência à

técnica como sendo a “maneira como utilizamos cada ferramenta para realizar

determinada ação”. Tanto os instrumentos quanto a técnica empregada configuram-

se como tecnologia, eles não se diferem, mas resultam de uma combinação e

correspondem aos usos que lhes destinamos, em cada época.

O dicionário Michaelis traz uma nova vertente de tecnologia, ligada à

aplicação dos conhecimentos científicos à produção em geral. A diversidade de

conceitos é tomada como referência tendo em vista as múltiplas faces da tecnologia:

além de equipamentos técnicos, arte, ofício ou técnica, um saber com raciocínio,

“um saber que deve levar em consideração as contribuições dos diferentes âmbitos

científicos”. Dessa forma “a tecnologia configura-se como um corpo de

conhecimentos que, além de usar o método científico, cria e/ou transforma

processos materiais.” (SANCHO, 1998, p.17,29).

Na medida em que se compreende que as tecnologias não são somente

equipamentos técnicos, arte, ofício ou técnica, torna-se perceptível que ela,

10

enquanto ciência, requer conhecimento teórico e prático e mecanismos que

possibilitem explicar e comprovar os fenômenos, descobrir as causas e efeitos das

coisas e buscar soluções para os problemas, mediante experiências e métodos

cientificamente desenvolvidos.

O mesmo dicionário nos apresenta que “nossa era é a de grande

tecnologia”, reforçando a ideia que muitos têm sobre a mesma na

contemporaneidade, ou seja, de priorizar somente a sociedade atual como de

grande tecnologia, não considerando as que a precederam. Nas últimas décadas, a

sociedade tem presenciado grandes avanços nessa área e é comum à configuração

atual ser atribuída a expressão “era tecnológica”. Ademais, todas as eras

corresponderam ao predomínio de determinada tecnologia, como constata Kenski

(2003), porém nenhuma foi menos importante para se chegar ao momento atual de

acelerado avanço tecnológico.

O dicionário Infopédia traz em seu enunciado as chamadas tecnologias

da informação. Nessa abordagem, observa-se a ampliação do conceito, porém

constata-se que a definição remete aos equipamentos recentes que permitem a

veiculação da informação de forma rápida e eficiente. É possível compreender esta

definição considerando a sociedade atual em que as tecnologias de informação se

fazem presentes em tempo real e de forma rápida seja pelo rádio, televisão, mídia

impressa ou pelo computador e internet.

Porém, nesta tratativa, considera-se um equívoco a generalização que

remete as tecnologias da informação aos equipamentos mais recentes. Assim,

acrescentamos a essa discussão, o argumento de diversos autores que consideram

a linguagem oral, utilizada pelos homens para se comunicarem, como uma das

primeiras tecnologias surgidas. No dizer de Lévy (2010, p.76), “Se a humanidade

construiu outros tempos [...] é porque dispõe deste extraordinário instrumento de

memória e de propagação das representações que é a linguagem”, uma tecnologia

intelectual.

É importante ressaltar que o termo tecnologia de informação passou a ser

utilizado como tecnologias de informação e comunicação, tendo em vista as novas

formas de combinação dos variados aparatos tecnológicos.

Historicamente, podemos perceber as significativas mudanças na

comunicação entre os seres humanos, bem como os seus desdobramentos, tais

como a transição de uma cultura predominantemente oral para a da escrita, do

11

manuscrito para a impressão (livros, enciclopédias, jornais, revistas), do telégrafo ao

telefone, do rádio para a TV, do computador para a internet e da combinação dessas

e tantas outras ferramentas de comunicação com todos os recursos de áudio e

vídeo que temos disponíveis atualmente.

Na argumentação de Lévy (2010, p.162), “As criações de novos modos de

representação e de manipulação da informação marcam etapas importantes na

aventura intelectual humana” e, no dizer de Assmann (2005, p.18), as novas

tecnologias de comunicação “ampliam o potencial cognitivo do ser humano e

possibilitam mixagens cognitivas complexas e cooperativas.”

2. 4 As Tecnologias Intelectuais

Encontramos em Lévy (2010) outras definições de tecnologia que vão

além de equipamentos, as denominadas tecnologias da inteligência. Estas

representam as construções intelectuais dos coletivos humanos e que estão

estruturadas no conhecimento e que resultam de redes complexas onde grande

número de atores humanos, biológicos e técnicos agem mutuamente. Para Lévy

(2000, p.22) “as tecnologias são produtos de uma sociedade e de uma cultura.”

Suas colocações nos permite entender que não há como separar

tecnologia das ações humanas e, consequentemente, da sociedade, pois a relação

estabelecida é de interação e reciprocidade.

É impossível separar o humano de seu ambiente material, assim como dos signos e das imagens por meio dos quais ele atribui sentido à vida e ao mundo. Da mesma forma não podemos separar o mundo material – e menos ainda sua parte artificial – das ideias por meio das quais os objetos técnicos são concebidos e utilizados, nem dos humanos que os inventam, produzem e utilizam. Acrescentemos, enfim, que as imagens, as palavras, as construções de linguagem entranham-se nas almas, fornecem meios e razões de viver aos homens e suas instituições, são recicladas por grupos organizados e instrumentalizados, como também por circuitos de comunicação e memórias artificiais. (LÉVY, 2000, p.22).

Partindo do pressuposto de que nenhum tipo de conhecimento é

independente do uso de tecnologias, novas formas de elaboração e distribuição do

12

saber só podem ser possíveis quando um “grande número de atores humanos

inventam, produzem, utilizam e interpretam de diferentes formas as técnicas.“

(LÉVY, 2000, p.23)

Para melhor entender estas implicações, Lévy (2010) propõe uma análise

histórica das tecnologias intelectuais, marcados por três tempos e categorizadas

como: a oralidade, a escrita e a informática.

A oralidade, como tecnologia intelectual remete ao papel da palavra como

forma de comunicação cotidiana, de livre expressão dos indivíduos, porém tendo

como objetivo principal a gestão da memória social. Numa sociedade sem escrita ou

oralista, a cultura está alicerçada nas lembranças dos indivíduos, especialmente na

memória auditiva e no manejo da linguagem, para tanto essas sociedades

desenvolveram técnicas e estratégias específicas de memória visando reter,

transmitir e armazenar seus saberes. (LÉVY, 2010).

De acordo com Lévy (2010), a invenção da escrita inaugura um outro

tempo, modificando de maneira radical a natureza da comunicação. A palavra se

materializa com a escrita e a memória coletiva perdura-se de forma duradoura e com

outros formatos. A invenção do livro e, sobretudo, da imprensa transformam

profundamente os dispositivos de comunicação. O saber encontra-se “disponível,

estocado, consultável, comparável” (p.95).

Com essa tecnologia intelectual o homem amplia e sistematiza os

conhecimentos e passa a expor suas ideias, pensamentos, teorias e a refletir sobre

as mesmas. A história surge - ela é um efeito da escrita.

Ainda, segundo Lévy (2010), um novo tipo de temporalidade social é

marcado pelo uso das novas tecnologias intelectuais – a informática, porém um

campo aberto para além do computador. Instaura-se um novo estilo de saber, com

novos suportes e diferentes formas de combinação e articulação de linguagens

possibilitando que sons, imagens, textos e programas sejam potencializados, dada à

amplitude na capacidade de armazenar, processar e trocar informações com grande

velocidade.

Portanto, longe de serem apenas artefatos tecnológicos, são também

formas de memória e importantes fontes de imaginação, criação, percepção,

raciocínio e aprendizagem. “Inteligência, conceitos e até mesmo visão do mundo

não se encontram apenas congelados nas línguas, encontram-se também

13

cristalizados nos instrumentos de trabalho, nas máquinas, nos métodos.” (LÉVY,

2010, p.147).

Novas maneiras de pensar e de conviver estão sendo elaboradas no mundo das telecomunicações e da Informática. As relações entre os homens, o trabalho, a própria inteligência dependem, na verdade, da metamorfose incessante de dispositivos informacionais de todos os tipos. Escrita, leitura, visão, audição, criação e aprendizagem são capturados por uma Informática cada vez mais avançada. (LÉVY, 2010, p.7).

As tecnologias intelectuais como a oralidade, a escrita e a informática,

historicamente datadas no contexto espaço-temporal das sociedades humanas,

marcaram profundamente a dinâmica do conhecimento e da informação.

Mesmo diante da amplitude das novas tecnologias, a história do

pensamento, assim como a oralidade e a escrita, não podem ser reduzidas ou

mesmo subtraídas, frente ao aparecimento de quaisquer tecnologias. Essas se

transformaram e ainda continuam presentes na constituição das culturas e

inteligências dos grupos que a elas estão ligadas e na continuidade de uma história

das tecnologias intelectuais.

2. 5 Educação e Tecnologia

É inegável que o sistema escolar se encontra influenciado pelo imperativo

tecnológico e crescentemente os processos de ensino aprendizagem se envolvem

com essas ferramentas. Porém, no ambiente escolar, a introdução desses recursos,

em especial o computador, num primeiro momento, privilegiou as tarefas

administrativas, visando ao controle e registro da vida escolar do aluno e com o

intuito de agilizar e informatizar as tarefas burocráticas.

Posteriormente, as tecnologias digitais passaram a adentrar o processo

ensino aprendizagem, porém de forma isolada, cercadas por reações hostis e

inquietações e em muitos casos empregadas como sendo um diferencial, porém

sem maiores interações com os projetos pedagógicos das escolas.

14

No bojo dessa polêmica e para além dessa, sua necessidade e

importância foram sinalizadas nos discursos pedagógicos, tendo em vista a euforia e

a promessa das muitas possibilidades oferecidas por essas novidades tecnológicas

na mediação do trabalho pedagógico e como alternativa frente aos problemas

educacionais e aos limites postos pelas tecnologias convencionais como o quadro

de giz, os livros, materiais impressos, os mapas, dentre outros.

É oportuno lembrar que, segundo Sancho (1999), as novas tecnologias da

comunicação não foram produzidas com a finalidade de solucionar os problemas

educacionais.

A conotação de novo ou velho pode ter uma dimensão absoluta e outra relativa. Um objeto, artefato, idéia ou conceito podem ser novos para um indivíduo ou grupo mesmo que tenha sido elaborado, fabricado, criado ou desenvolvido anos ou séculos antes. (SANCHO, 1999).

Para os educadores, essas inovações têm suas implicações, uma vez que

transformam as formas do aprender e do conhecer, todavia vale ressaltar que,

segundo Lévy (2010), não é possível utilizar um dispositivo material, mesmo o mais

moderno, sem interpretar, metamorfosear, pois este só pode ser interpretado na

medida em que fazemos uso dele e pelos que entram em contato com ele. “Uma

inovação técnica só existe [...], se ela consegue adquirir sentido ao mesmo tempo no

plano científico, econômico, cultural, etc.” (STENGERS e SCHLANGER apud LÉVY,

2010, p.191).

Acreditamos, assim como Kenski (1997, p. 61), que:

Favoráveis ou não, é chegado o momento em que nós, profissionais da educação, que temos o conhecimento e a informação como nossas matérias-primas, enfrentamos os desafios oriundos das novas tecnologias. Esses enfrentamentos não significam a adesão incondicional ou a oposição radical ao ambiente eletrônico, mas, ao contrário, significam criticamente conhecê-los para saber de suas vantagens e desvantagens, de seus riscos e possibilidades, para transformá-los em ferramentas e parceiros em alguns momentos e dispensá-los em outros instantes.

É interessante observar que o aspecto ampliado do potencial das mídias

eletrônicas pode ocultar e/ ou mesmo incorrer em percepções reducionistas, tendo

15

em vista que muitos educadores ainda não se aperceberam e tampouco

reconhecem que “o professor é a tecnologia das tecnologias e deve se portar como tal.” (DEMO, 2010, grifo nosso).

Sancho (1998) amplia essa discussão argumentando que as escolas e as

salas de aula também são tecnologias, pois foram criadas visando atender uma

necessidade, ou seja, proporcionar educação para todos os cidadãos. Os

professores em sua ação pedagógica se utilizam de alguma tecnologia, no

planejamento, na intervenção, ou seja, no “saber fazer”. Todo o processo ensino

aprendizagem envolve conhecimento na ação, portanto é tecnologia.

Quando damos a conotação educacional à tecnologia, perde o seu sentido genérico e passa a se referir a todas as ferramentas intelectuais, organizadoras e de instrumentos à disposição de ou criados pelos diferentes envolvidos no planejamento, na prática e a avaliação do ensino. (SANCHO, 1998, p.17).

Pensar em tecnologia é compreender a sua amplitude e as diferentes

formas de representação e comunicação propiciadas por esses meios, bem como, o

seu significado e relações e, embora ela esteja constantemente vinculada às

ferramentas, não se pode percebê-la somente por meio de equipamentos técnicos.

Sendo a escola um espaço para a construção e reconstrução do

conhecimento, não há como abandonar as tecnologias já produzidas, pois estas

foram e continuam sendo importantes, nem tampouco ignorar ou restringir-se as

novas que emergem. Considera-se assim que “traduzir antigos saberes em novas

tecnologias intelectuais equivale a produzir novos saberes.” (LÉVY, 2010, p.186).

Para melhor entender essas implicações, Lévy (2010, p. 75) nos

esclarece que todas as formas de construção do conhecimento estão estruturadas

em alguma tecnologia e que:

Todas estas “antigas” tecnologias intelectuais tiveram, e têm ainda, um papel fundamental no estabelecimento dos referenciais intelectuais e espaçotemporais das sociedades humanas. Nenhum tipo de conhecimento, mesmo que pareça-nos tão natural, por exemplo, quanto a teoria, é independente de uso de tecnologias intelectuais.

16

Reconhecer, perceber e refletir sobre as mudanças faz a diferença.

Porém, isso não implica que saibamos interpretá-las.

3 DESAFIOS PEDAGÓGICOS

A busca do homem por novos conhecimentos é constante e a evolução

tecnológica que vivenciamos na atualidade é decorrente da dinâmica desse

processo, onde os indivíduos em conjunto elaboram, reelaboram e modificam a sua

vivência em sociedade, transformando os atores e, consequentemente o contexto no

qual estão inseridos.

Assim, uma nova dinâmica e uma outra realidade se configuram neste

universo informacional, materializados pelas possibilidades de acesso, aquisição,

produção, distribuição e atualização da informação, tendo em vista os mais variados

recursos tecnológicos. E a velocidade com que ocorrem as alterações, segundo

Kenski (2003), cria a necessidade de permanente atualização do homem para

acompanhar essas mudanças.

Todos caminham voluntária ou involuntariamente rumo a essa nova

sociedade e, à medida em que as tecnologias modificam-se e avançam,

inevitavelmente, somos afetados por elas, sendo cada vez mais frequente a

incorporação de novas habilidades e a eliminação de outras, sobretudo com o

advento das mídias eletrônicas, em especial o computador e a internet,

possibilitando uma infinidade de operações de forma ágil e dinâmica.

Por outro lado, a preeminência das tecnologias informacionais e suas

múltiplas linguagens são comumente considerados como fatores substanciais dessa

nova sociedade. Aceitar tal posicionamento implica em não reconhecer, como diz

Lévy (2010), que os verdadeiros sujeitos dessa virada na história dos artefatos

informáticos, dizem respeito aos humanos, por isso é que nos importam. O autor

ainda enfatiza que “é preciso deslocar a ênfase do instrumento para o projeto, ou

seja, o ambiente cognitivo, a rede de relações humanas que se quer instituir”.

(LÉVY, 2010, p.54).

17

Atrelado ao progresso revolucionário das tecnologias é comum o emprego

de terminologias como sociedade da informação, sociedade tecnológica e sociedade

do conhecimento onde os pensadores contemporâneos pautam-se em defini-las

atribuindo significados diversos e diferenciando-as.

Para Assmann (2005, p. 16), “A sociedade da informação é a sociedade

que está atualmente a constituir-se, na qual são amplamente utilizadas tecnologias

de armazenamento e transmissão de dados.”

Essa sociedade não se caracteriza pela mera operacionalização

tecnológica ou a disponibilização da informação, visto que nem toda informação é

sinônimo de conhecimento. Para o autor o fator considerado relevante é o

“desencadeamento de um vasto e contínuo processo de aprendizagem”, onde os

sujeitos humanos são partícipes desse conhecimento, logo a sociedade da

informação é uma sociedade de aprendizagem.

Assim, a sociedade da informação traz novas significações, não apenas

pela incorporação cada vez mais crescente das tecnologias informacionais, mas

pela dimensão propulsora do conhecimento e da aprendizagem nas mais diferentes

áreas, bem como pelo seu potencial de interferir e alterar um contexto social mais

amplo, onde saberes, comportamentos e práticas ganham novas dimensões.

Ainda de acordo com Assmann (2005, p.19) “as novas tecnologias têm

um papel ativo e co-estruturante das formas do aprender e do conhecer. Há nisso,

por um lado, uma incrível multiplicação de chances cognitivas, que convém não

desperdiçar, mas aproveitar ao máximo.”

4 UM ESTUDO NO MEIO EDUCACIONAL

O objetivo do presente estudo é refletir sobre O Papel das Tecnologias no

Contexto Educacional, tendo por base os resultados da pesquisa desenvolvida no

PDE- Programa de Desenvolvimento Educacional, que integrado às atividades de

formação continuada dos professores da rede pública do estado do Paraná, tem

possibilitado a investigação e o estudo de questões que permeiam as escolas e a

socialização de experiências e práticas pedagógicas que merecem ser conhecidas e

divulgadas.

18

Assim, o Professor PDE, ao firmar o compromisso de contribuir para a

melhoria da Educação Básica, que resulte em um redimensionamento de sua

prática, inclui a pesquisa e o aprofundamento teórico, bem como os seus

conhecimentos, vivências e experiências. Porém, essas práticas só se concretizam

quando o professor rompe as barreiras entre o pensar, o fazer e o agir, socializando

e democratizando o conhecimento, fazendo desse processo o caminho da mudança.

Ao apresentar um relato das principais experiências, buscando investigar

e compreender as posturas e valores que sustentam os modos de pensar e agir dos

educadores, temos como foco, construir subsídios que possibilitem a efetivação de

processos formativos.

Para viabilizar esse estudo, foram escolhidas estratégias que se

constituíram em dois momentos e com diferentes grupos, ambos formados por

Professores e Pedagogos da rede pública. Dentre eles: GTR - Grupo de Trabalho

em Rede (Educação a Distância) e Curso de Extensão (Grupo de Estudos), cujo

projeto foi elaborado e submetido à aprovação do Departamento de Educação da

Universidade Estadual de Londrina, juntamente com a Secretaria de Estado da

Educação do Paraná.

A dinâmica do trabalho ocorreu por intermédio de formação continuada,

mediante encontros presenciais e a distância, por meio do aprofundamento teórico,

discussões e reflexões em grupo, análise e registro dos respectivos discursos,

levantamentos, depoimentos e troca de experiências.

Ao utilizar uma abordagem predominantemente qualitativa, encontramos

em Ludke e André (1986, p.11-12) referenciais que sustentam essa opção, visto que

os dados coletados por meio do contato direto e prolongado do pesquisador é rico,

dado o intenso trabalho de campo, que possibilita incluir depoimentos, situações,

debates e experiências, tendo como pressuposto captar as percepções dos

elementos presentes na situação estudada, de forma descritiva, sendo a

preocupação maior o processo de construção do conhecimento, ante o produto.

19

4.1 RELATO DA EXPERIÊNCIA

A formação continuada realizada no contexto da pesquisa é condição

para o desenvolvimento desse estudo, o que inclui a mobilização dos educadores,

tendo em vista o objetivo pretendido.

Nessa direção, cumpre assinalar os desafios enfrentados quanto ao

engajamento dos educadores, na fase inicial de implementação do projeto.

No que diz respeito à organização e estruturação do Grupo de Estudos,

muitos professores interessados nessa temática relataram indisponibilidade em

participar de formação continuada, motivados pela: falta de tempo e carga horária de

trabalho excessiva, incompatibilidade do período de realização do Grupo de Estudos

com as atividades profissionais, visto já estarem participando de outros cursos de

forma presencial e a distância e coincidência de horários (as escolas contam com

vários Professores PDE desenvolvendo seus projetos).

Nessa trajetória, há que se considerar os obstáculos enfrentados, pois

estes fazem parte do processo, razão pela qual devem ser apontados, como uma

forma de consubstanciar situações vivenciadas, uma vez que sinalizam o cotidiano

dos educadores.

O conhecimento das dificuldades não muda a intenção do objeto de

estudo, mas exige do pesquisador novas ações e alternativas, o que posteriormente

tornou possível a participação de 13 (treze) educadores no Grupo de Estudos, sendo

Pedagogos e Professores de diferentes disciplinas, que atuam na rede pública

estadual.

Para tanto, foram realizados 16 (dezesseis) encontros de formação

continuada, com duração de quatro horas cada, num período compreendido entre

agosto a novembro de 2011, com atividades presenciais, intercaladas com outras a

distância, perfazendo um total de 64 (sessenta e quatro) horas.

Para o desenvolvimento do estudo, utilizou-se o Material Didático –

Caderno Temático, elaborado especificamente pelo Professor PDE, para subsidiar

as atividades, como também, variados textos de literatura específica e estratégias

que combinaram com a realização de Palestras, em parceria com docentes da IES

vinculada; análise de trechos de filmes, charges, dentre outras.

20

Também tivemos a inscrição de 07(sete) Pedagogos de diferentes regiões

do Estado, no GTR - Grupo de Trabalho em Rede (Educação a Distância), cujo

ambiente virtual de aprendizagem da SEED - Secretaria de Estado da Educação,

mediante a plataforma Moodle, possibilita a formação continuada dos professores da

rede e, consequentemente, permite a implementação da pesquisa do Professor

PDE, prevista como atividade obrigatória, por meio da socialização e discussão das

produções.

Considerando o referencial teórico e legal que fundamenta e justifica o

estudo, algumas questões centrais nortearam a pesquisa: discutir conceitos e

significações do que é tecnologia e a percepção do educador frente às diferentes

abordagens; de que forma expressam o seu conhecimento e sua relação com as

inovações; os conflitos percebidos e as perspectivas na organização e

implementação da prática pedagógica.

Em se tratando das escolas públicas do Paraná, sabemos que elas

encontram-se equipadas com computadores, laboratórios de informática, TV e

Projetor Multimídia, dentre outros. Os educadores têm a sua disposição o Portal Dia

a Dia Educação, que é um ambiente virtual que contém informações institucionais,

conteúdos digitais e objetos de aprendizagem, que lhes permite a interação com os

recursos digitais como: imagens, sons, trechos de filmes, músicas, animações,

sítios, entre outros, promovendo e compartilhando conhecimentos em rede e pela

rede. (SEED, 2009).

Oferecidos também pela SEED, temos um conjunto de ações voltadas à

formação continuada dos Professores, de forma presencial e a distância, objetivando

à inserção das novas tecnologias no fazer escolar, no intuito de implementar,

aprimorar e fortalecer a prática pedagógica.

Ao buscar num primeiro momento traçar um diagnóstico quanto às

tecnologias utilizadas pelos professores em sua ação docente; os fatores

limitadores, bem como, se os educadores sentem-se preparados para que as TICs

estejam presentes no fazer escolar, fizemos uma discussão para identificar a

realidade em que os mesmos atuavam.

No relato apresentado pelos educadores, é possível perceber que existem

contextos diferentes, uma vez que há escolas que contam com estrutura física,

material e humana adequadas e professores que utilizam e possuem familiaridade

com as novas tecnologias.

21

Na minha prática pedagógica (Biologia) uso muito a TV Multimídia e os microscópios. Tenho acessado o Portal Dia a Dia Educação no ambiente - disciplinas, onde posso coletar vários materiais, o que tem enriquecido muito minhas aulas. (Professora A)

Por outro lado, há estabelecimentos de ensino que dispõem de recursos

(muitas vezes caros), porém pouco utilizados pelos professores, atitude gerada pela

falta de conhecimento, insegurança e por possuírem uma postura conservadora

frente às inovações tecnológicas.

Na escola onde atuo as Pedagogas não tem tempo e nem conhecimento suficiente para auxiliar os professores quanto a utilização das TICs. Muitos professores não utilizam essas ferramentas por falta de interesse e conhecimento. (Professora B)

É interessante assinalar que, a princípio, muitos professores não

apontavam problemas quanto ao uso dos recursos tecnológicos, talvez como auto

defesa ou mesmo para evitarem expor certa inferioridade diante dessas inovações.

Entretanto, à medida que compartilhavam suas experiências e saberes, foi possível

perceber-se que parte do grupo tinha as mesmas angústias e dificuldades, o que

possibilitou a iniciativa de se expressarem sem inibição a respeito das barreiras que

os imobilizavam.

Eu nunca consegui usar o tal mimeógrafo e desisti. Logo tive acesso ao retroprojetor que também achei complicado. (Por favor, não ria!) Mas, o que mais me complicou a vida foi o computador. Realmente eu o tenho desafiado até conseguir descobrir o que fazer para funcionar adequadamente. A nossa relação ainda é um desafio! (Professora C)

No intuito de clarificar essa questão, há que entender a complexidade e a

dimensão tecnológica posta no ambiente escolar, pois à primeira vista, pode parecer

falta de vontade em participar de processos de mudança. Assim, só se pode

compreender essa prática se analisarmos o contexto que a engendrou. Lévy (2010,

p.8), corrobora dizendo que

É certo que a escola é uma instituição que há cinco mil anos se baseia no falar/ditar do mestre, na escrita manuscrita do aluno e, há

22

quatro séculos, em um uso moderado da impressão. Uma verdadeira integração da informática (como do audiovisual) supõe portanto o abandono de um hábito antropológico mais que milenar, o que não pode ser feito em alguns anos.

Entretanto, o que temos para refletir e questionar também envolve um

conjunto de situações que se delineia na prática educativa dos professores, visto

que em seus depoimentos, indicam prováveis fatores que poderiam estar

contribuindo para as dificuldades observadas, uma vez que os itens apontados

revelam a falta de: manutenção e troca de equipamentos, assistência técnica,

responsável habilitado (laboratório de informática), conexão de boa qualidade bem

como número excessivo de alunos por turmas. Tudo isso contribui para que os

professores se sintam desmotivados.

A totalidade dos professores pesquisados reconhecem a existência de

uma política, como também de todo o investimento realizado em infraestrutura

visando à utilização das novas tecnologias nas escolas públicas estaduais. Na

percepção desses professores, apesar dos avanços, ainda é preciso ampliar ações,

projetos e possibilitar formação continuada específica que envolva essa temática.

Entendemos que implantar e/ou implementar processos inovadores exige

grande esforço e aparato dos órgãos competentes e de todo o coletivo escolar,

contudo, isso não exime os educadores de sua responsabilidade de se manterem

em constante formação e aprimoramento.

Todavia, somente a retórica não confere mudança, assim, segundo

Kenski (2008, p.18), é preciso incentivar e alimentar o processo de mudança, sendo

que “este é também o duplo desafio para a educação: adaptar-se aos avanços das

tecnologias e orientar o caminho de todos para o domínio e a apropriação crítica

desses novos meios.”

Os professores compreendem esse momento de mudança. Nessa

acepção, é relevante o depoimento de uma Pedagoga que reforça a importância do

trabalho colaborativo ao dizer que:

Nem todos os professores obviamente se sentem seguros diante das inovações tecnológicas, contudo a colaboração, a parceria e a troca de experiências entre os profissionais de minha escola tem sido bastante profícua e aberta. (Pedagoga D)

23

Assim, entendemos que o conhecimento se produz, na medida em que os

envolvidos se relacionam entre si, trocam experiências, erram, acertam, numa ação

comunicativa.

É importante observar que os estudos aqui revistos confirmam a

mobilização desses educadores para melhor compreender o significado das

tecnologias no ambiente escolar e de encontrar caminhos para novas ações

pedagógicas. Além disso, muitos têm participado dos programas e projetos da

Secretaria de Estado da Educação como: GTR - Grupo de Trabalho em Rede,

Práticas Pedagógicas da TV Multimídia, PDE - Programa de Desenvolvimento

Educacional e oficinas pedagógicas promovidas pelas Equipes das CRTEs dos

Núcleos Regionais da Educação.

Nesta dinâmica, é imprescindível considerar os avanços, as dificuldades,

os obstáculos enfrentados, bem como a criação de estratégias didático-

metodológicas que possam corroborar para enriquecimento do processo ensino

aprendizagem.

Ao se discutir como os professores têm utilizado as novas tecnologias em

sua ação docente, percebemos que os depoimentos não explicitam experiências

consolidadas na atuação direta com os alunos, porém é possível notar que isso

ocorre com mais frequência no apoio ao trabalho pedagógico - produção de

materiais (atividades, provas, materiais impressos) e pesquisas em geral (filmes,

documentários e busca de informações para aprimorar conteúdos).

Outra questão que desencadeou nossa investigação refere-se à

compreensão que os educadores têm a respeito do que é tecnologia.

Visando captar o significado que expressam, propusemos aos

educadores que descrevessem num primeiro momento o seu conceito de tecnologia.

Tecnologia é tudo o que se moderniza através dos tempos, são informações e aparelhos. (Pedagoga E) É todo o meio utilizado pelo ser humano para facilitar ou possibilitar a realização de um trabalho, atividade e que se aperfeiçoa constantemente. (Professora F) São diferentes recursos que possibilitam a minha atuação em um mundo de mudanças e transformações. Especificamente recursos e equipamentos para atuação em diferentes contextos (trabalho, casa, dia-a-dia). (Professora C)

24

Tecnologias são meios que nos levam a novas descobertas, as quais podem ser de inclusão ou de exclusão do individuo no contexto social. (Professora G) É a técnica que supera um método pré-existente pelo aperfeiçoamento do mesmo. Não é um fim em si mesma, é um meio que pode facilitar a vida do ser humano, mas que jamais vai substituí-lo. (Professora H)

Com base nesse e em outros depoimentos, é possível perceber que o

conceito de tecnologia está associado a instrumentos modernos e sofisticados. Nos

significados atribuídos, alguns professores destacaram mais a sua finalidade e/ou

facilidade e outros apontaram o caráter instrumental e utilitarista.

Essas definições recorrentes nos permitem fazer constatações e construir

algumas suposições, uma vez que os relatos partiram dos dados empíricos

anteriores ao aprofundamento teórico.

As interpretações conceituais apresentadas a respeito de tecnologia são

argumentos ponderáveis, visto que a valorização do novo é aspecto que caracteriza

a dinâmica do mundo contemporâneo, no qual as inovações tecnológicas têm suas

implicações devido ao seu potencial impactante, dado o contexto globalizado que as

enaltecem.

Os significados expressos pelos educadores demonstram que à relação

do homem com a tecnologia está associada aos benefícios que essas ferramentas

produzem. Percebe-se nos relatos em pauta que o conceito de tecnologia não está

vinculado a invenção humana nem tampouco ao conjunto de conhecimentos

produzidos pelo homem. É possível compreender essas construções, visto que,

captar outras dimensões sugere ampliação do olhar e, consequentemente, maior

embasamento teórico, haja vista que “novos conceitos” se situam ao plano do

conhecimento.

A finalidade em se discutir como essa relação é interpretada pelos

professores pode contribuir para mudanças de paradigmas, visto que após o

aprofundamento teórico exercitado pelos professores, novos referenciais, conceitos

e concepções puderam ser (re) construídos.

Tecnologia é todo o conhecimento acumulado e materializado que vem se aperfeiçoando de geração a geração. Quando se fala em tecnologia, automaticamente a ideia que nos vem a mente é de algo

25

moderno, uma máquina ou ferramenta sofisticada. Poucos possuem a compreensão e não avaliam que toda ação que envolve conhecimento é uma tecnologia. (Professora H) As reflexões realizadas através do estudo, ampliaram e forneceram “novos conceitos”, como a concepção de ser humano, com toda a sua complexidade como uma tecnologia; as ações tecnológicas enquanto conceito da ação humana e o desenvolvimento cognitivo como função tecnológica do conhecimento. (Professora C)

Tecnologia é extensão da inteligência humana. Enquanto professores, somos também um instrumento tecnológico, o mais rico e criativo de todos esses meios. (Professora K)

As discussões empreendidas nos leva ao reconhecimento de que é

importante compreender o que é tecnologia, não de forma abstrata, mas como

palavra insubstituível, produzida e gerada pela experiência vivida pelo ser humano

em todo seu contexto histórico.

Nessa perspectiva convêm lembrar o que diz Nosella (2002, p.139) “A

tecnologia é “a cara do homem”. Aliás, ela é o próprio homem que se dilata, se

multiplica, se “industrializa” ao produzir sua existência”.

A próxima questão tencionou ampliar a discussão e aprofundar o

entendimento sobre o que é tecnologia para além da visão mecanicista.

Os professores ao serem interpelados sobre esse assunto chamaram a

atenção para os seguintes aspectos: “o ponto de vista instrumental está associado a

uma falta de compreensão de como, por que e para quê utilizá-la, não considerando

a produção do conhecimento e a dinâmica da aprendizagem”. (Pedagoga I)

A visão instrumental pode ser percebida quando as tecnologias estão dissociadas dos processos cognitivos e das possibilidades educativas, o que contribui para que muitos professores tenham aversão e medo desse necessário diálogo com o conhecimento. Para os estudantes, as inovações são apenas mais um recurso e se refletem como um elemento natural do seu dia a dia. O “bicho papão” existe somente para o professor. Assim, as tecnologias não devem ser pensadas de forma isolada ou como um "pretexto", mas estar intrinsecamente articuladas aos conteúdos, de forma que possam possibilitar uma ressignificação a partir da vivência do estudante. (Pedagoga D)

Reiterando essas abordagens, Demo (2009, p.7) nos esclarece que a

qualidade do ensino não está na tecnologia em si, mas na maneira em que se

26

organiza o fazer pedagógico, aliando novos modos de trabalhar, pois muitas vezes

as inovações tecnológicas servem apenas para “enfeitar a aula instrucionista”.

Em outro depoimento a Pedagoga assinala que: “Conhecimento produz

novas tecnologias, mas estas tecnologias também produzem novos conhecimentos

às quais o professor deve estar atento para contextualizar e transformar em saber

escolar.”

E ainda acrescenta:

Fazer uso das tecnologias da informação e comunicação é muito mais do que digitar um texto no Word ou trabalhar um determinado tema a partir de um filme. Está diretamente relacionado à forma como percebemos o mundo, sua relação com a educação e o desenvolvimento humano. (Pedagoga D)

Se, por um lado, alguns professores demonstraram discernimento no que

se refere à visão mecanicista das tecnologias, outros, no entanto, tiveram

dificuldades em suas fundamentações, visto que em seus depoimentos relacionaram

à utilização instrumental dos recursos tecnológicos, às dificuldades e necessidades

dos professores, quanto ao acesso, manuseio e utilização dessas ferramentas,

condições dos equipamentos e de trabalho, dentre outros.

As referências apresentadas reforçam a visão instrumental, uma vez que

esses professores consideram tecnologia somente o manuseio da máquina. Tais

concepções se justificam pelo fato de ainda possuírem uma ideia parcial de

tecnologia, associada a mera operacionalização dos suportes materiais, pois não se

aperceberam que o potencial dessas ferramentas não se encontra congelado no

instrumento, mas nas na dinâmica do conhecimento.

Cumpre assinalar ainda, em que medida o aprofundamento teórico e os

estudos realizados pelos educadores puderam contribuir para a sua formação

continuada e para a condução de novas experiências educacionais.

Esse depoimento revela que: “esse período de estudos contribuiu ao

mostrar inúmeras oportunidades de conhecimento, de estratégias de estudo, de

aperfeiçoamento, intervindo de forma construtiva no ambiente escolar.” (Pedagoga I)

Outros professores assim se expressaram:

27

Esse aprofundamento de estudos proporcionou reflexões essenciais para fazer uma nova leitura do significado de tecnologia e sua aplicação no ambiente escolar. Contribuiu ricamente na compreensão do processo “saber fazer” e assim nos tranqüilizar, pois a aprendizagem é contínua e ininterrupta. (Professora F)

Esta é uma oportunidade de conhecermos ou revermos o conceito de tecnologia, mas também de refletir nossa forma de pensar e agir. Assim o estudo realizado nos direcionou a compreender que o aprofundamento teórico é o caminho para o entendimento de nossa ação. (Professora J, grifo nosso)

É relevante o relato desta professora ao poder experienciar momentos de

reflexão e estudo acerca dos conhecimentos científicos.

Quando iniciei o curso eu tinha uma expectativa. Pensava que iríamos aprender a lidar com as novas tecnologias. Mas as discussões e as reflexões me ajudaram a ver as tecnologias como aliadas no meu dia a dia. Além disso, o que considero mais importante durante todo o trabalho desenvolvido foi o privilégio que tivemos em parar para ler, estudar, debater, falar de nossas experiências, dificuldades e literalmente “refletir”. (Professora C)

Por outro lado, a sinceridade dessa resposta pode ajudar a entender o

motivo das dificuldades dos educadores em participar de processos de formação

continuada. Ao mesmo tempo, chama a atenção da pesquisadora a necessidade de

se promover o diálogo necessário acerca de posturas que sustentam os modos de

pensar e agir dos atores escolares, sem perder de vista a ressignificação de práticas

educativas, como meio de garantir a sua formação.

Eu já havia desistido deste GTR (Grupo de Trabalho em Rede), pois meu tempo é pouco, e neste momento, estou fazendo mais dois cursos presenciais. Pelo que percebi, você está questionando muitos os participantes, pois estou em contato constante com colegas meus e eles me dizem que seus tutores não estão fazendo questionamentos. Mas vou tentar reiniciar. Obrigada pela força e por não ter desistido de me incentivar. (Professora L)

Assim, as discussões não se encerram, pois ao se promover um estudo,

suscitando o debate, a reflexão e a troca de experiências entre os educadores, vê-se

mais uma possibilidade de ampliação de conhecimentos, de um novo processo de

“saber fazer”, pois segundo Demo (2009, p.57),

28

Para quem pretende viver aprendendo, reflexão crítica e autocrítica significa a habilidade infinita de desconstrução e reconstrução das próprias ideias, valendo também como signo de construções sempre abertas, capazes de aprender de outras visões e teorias.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A evolução tecnológica que vivenciamos na atualidade traz em seu bojo

novas significações, onde saberes, comportamentos e práticas ganham novas

dimensões e consequentemente exige do educador uma resposta à demanda

contemporânea: aprender a aprender.

Mesmo que as mudanças impulsionadas pela inovação tecnológica

possibilitem a articulação nos mais diferentes contextos, na educação, os conflitos

que emergem desse processo, resultam em um padrão complexo de oportunidades

e desigualdades com relação ao acesso, apropriação e utilização na prática

pedagógica.

A reflexão empreendida neste estudo demonstra que, embora se

reconheçam as iniciativas e ações empreendidas nos últimos anos como resposta

aos imperativos avanços tecnológicos, ainda há dificuldades quanto ao uso

pedagógico, havendo assim uma subutilização desses recursos.

Isso não quer dizer que se deva atribuir a responsabilidade ao professor,

nem tampouco culpá-lo e pressioná-lo para apropriação urgente das novas

tecnologias até por que, apesar das oportunidades, as mudanças não ocorrem de

forma rápida e automática, visto que o processo ainda está em construção.

Contudo, as discussões empreendidas nesse estudo, contribuíram para

promover o diálogo necessário, desvelando conflitos e problemas pedagógicos

comuns, com que certamente fragilizam o professor em suas atividades

profissionais.

Assim, os educadores participantes desta pesquisa, chamam a atenção

ao estabelecer importantes implicações que têm dificultado a utilização das novas

tecnologias no fazer pedagógico, o que inclui falta de formação contínua específica,

de pessoal habilitado (suporte técnico), como também de uma política de

investimento na manutenção e troca de equipamentos.

29

Nessa perspectiva, o aprofundamento teórico reflexivo praticado pelos

educadores, na qual se combina o exercício de ler, estudar, produzir, dialogar e

refletir é traduzido em respostas concretas para os desafios impostos pelas

inovações tecnológicas.

Vale enfatizar que, face aos desafios que os acompanham em que uma

nova atuação se configura, foi possível estimular a percepção dos educadores,

demarcando a extensão dos diferentes conceitos, concepções e significados de

tecnologia, o que possibilitou, na visão dos professores, uma tomada de consciência

e uma releitura, visto que a ênfase ao aspecto instrumental acaba ocultando e

distanciando as tecnologias das ações humanas e da dinâmica do conhecimento

onde elas são produzidas, inventadas e utilizadas.

No entanto, ainda que a atividade teórica possa mudar concepções e

transformar representações e, embora cada experiência seja individual e

intransferível, esse processo, por ser abrangente e complexo, continuará exigindo

estudo, pesquisa e ressignificação de muitos conceitos e práticas que ainda

repousam na visão meramente instrumental.

A par disso, foi possível verificar que embora os educadores estejam em

processos diferentes de apropriação e conhecimento a respeito do papel das

tecnologias no contexto educacional, cabe assinalar que houve avanços. As

questões estudadas conduziram muitos a analisar compreensivamente que a

utilização das tecnologias no cotidiano escolar não depende exclusivamente dos

diferentes tipos de mídias, mas da forma como o educador se percebe nesse

processo transformativo, criativo e tecnológico.

Embora educação e tecnologia tendam a aproximar-se cada vez mais, há

um paradoxo que se delineia na prática educativa, pois, segundo Demo (2009,

p.111) “no fundo, as novas tecnologias rendem-se à maior tecnologia jamais

inventada na espécie humana: aprender bem.”

A história das tecnologias é a história do homem, trata-se de uma

perspectiva que não o delimita, mas que o multiplica, qualifica-o e articula-o cada

vez mais com o conhecimento.

O processo educativo mediado pelas tecnologias pode exigir medidas

urgentes, mas é lento, muito diferente da acelerada revolução tecnológica. O

essencial é que os educadores estejam conscientes de que fazem parte dessa

parcela insubstituível da história das tecnologias e sejam capazes de reconhecer os

30

desafios impostos, porém sem encobrir os verdadeiros protagonistas: o homem e

seu conhecimento.

É importante ressaltar que não é propósito deste estudo esgotar as

discussões, até porque os pressupostos abordados encontram-se em construção e

totalmente abertos a todos os educadores que ousarem fazer do ato de conhecer,

aprender ou ensinar, um movimento dialético, onde a busca constante de

conhecimento pressupõe um caminho que ainda precisa ser percorrido.

Há que sublinhar e traduzir os grandes desafios postos pelas tecnologias,

assim como as rupturas, ousadias, mudanças, quebra de paradigmas e novas

dinâmicas, “já que a razão de tudo é aprender bem.” (DEMO, 2009, p.62).

31

REFERÊNCIAS

ASSMANN, Hugo. A metamorfose do aprender na sociedade do conhecimento. In: ASSMANN, Hugo (Org). Redes digitais e metamorfose do aprender. Petrópolis: Vozes, 2005, p.13-32. DEMO, Pedro. Educação hoje: “novas” tecnologias, pressões e oportunidades. São Paulo: Atlas, 2009. ______. Os desafios da linguagem do séc. XXI. Disponível em: http://alquimistaspontocom.blogspot.com/2010/08/os-desafios-da-linguagem-no-seculo-xxi.html. Acesso em: 01/04/2011. INFOPÉDIA: Enciclopédia e Dicionários Porto Editora. Disponível em: http://www.infopedia.pt/default.jsp?qsFiltro=14 Acesso em: 08/03/2011. KENSKI, Vani Moreira. Educação e Tecnologias: O Novo Ritmo da Educação. 3.ed. Campinas: Papirus, 2008. ______. Novas Tecnologias: O redimensionamento do espaço e do tempo e os impactos no trabalho docente. Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo. Trabalho apresentado na XX Reunião Anual da ANPED, Caxambu, set.1997. Disponível em: http://www.anped.org.br/rbe/rbedigital/rbde08/rbde08_07_vani_moreira_kenski.pdf. Acesso em: 31/08/2010. ______. Tecnologias e Ensino Presencial e a Distância. 3. ed. Campinas, São Paulo: Papirus, 2003. LEVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: O futuro do pensamento na era da informática. Trad. Carlos Irineu da Costa. 2. ed. Rio de Janeiro: Ed. 34, 2010. ______. Cibercultura. Trad. Carlos Irineu da Costa. 2. ed. São Paulo: Ed. 34, 2000. MENGA, Ludke; ANDRÉ, Marli. Pesquisa em Educação: Abordagens Qualitativas. São Paulo: EPU, 1996.

32

MICHAELIS: moderno dicionário da língua portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 2009. Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php>. Acesso em: 08/03/2011. NOSELLA, Paolo. Qual Compromisso Político? Bragança Paulista: EDUSF, 2002. PARANÁ, Secretaria de Estado Educação. Superintendência da Educação. Diretoria de Tecnologia Educacional. Proposta para o Programa de Formação Continuada na Educação a Distância. Versão Preliminar. Curitiba, 2009. SANCHO, Juana M. (org.). Para uma tecnologia educacional. Trad. Beatriz Affonso Neves. Porto Alegre: ArtMed, 1998. ______. Lição para usar tecnologia. Entrevista Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, 1999. Disponível em http://homes.dcc.ufba.br/~frieda/mat061/liopara.htm. Acesso em 06/05/ 2011.