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1 Elaboração de vestuário para portadores de desabilidade física sob a perspectiva do Design Adriana Leiria Barreto Matos Mestranda em Design e Marketing, Universidade do Minho ([email protected]) Célia Maria Santos da Silva Mestranda em Design e Marketing, Universidade do Minho ([email protected]) Mellissa Lima e Silva Mestranda em Design e Marketing, Universidade do Minho ([email protected]) Joana Cunha Professora Dra. da Universidade do Minho, Dptº de Engenharia Têxtil ([email protected]) Resumo Desenvolvimento de vestuário combinando as necessidades ergonômicas e de conforto psicológico de pessoas desabilitadas. Do ponto de vista do usuário, o produto também deve associar aspectos estéticos como tendências de moda. Considerando a conotação social que os produtos de moda possuem, decidiu-se trabalhar na concepção de roupas destinadas a indivíduos portadores de deficiência física. Tendo também em mente a diversidade e a especificidade dos casos existentes e das necessidades especiais de cada um, particularmente aqueles possuidores de seqüelas da poliomielite e outras doenças que causam o uso de órteses nos membros inferiores e muletas para locomoção. Este último grupo foi selecionado como mercado-alvo. Palavras Chave: Conforto Psicológico; Design de Moda; Conforto Ergonómico. Introdução As diversas faces da vida moderna têm apresentado incontáveis benefícios para a humanidade, mas ao mesmo tempo estão a surgir diversas desvantagens que atrapalham e dificultam o seu progresso, seu desenvolvimento pessoal e profissional. Esses aspectos são comumente perceptíveis no dia-a-dia, sobretudo na rotina diária de pessoas com dificuldades especiais, sejam elas ligadas à locomoção, visão, percepção ou audição. As pessoas com capacidades limitadas de locomoção são a finalidade desse trabalho. Através de uma breve pesquisa, percebeu-se que essas pessoas encontram bastante dificuldade na aquisição de roupas que lhe facilitem não somente os movimentos, mas também, de igual importância, as etapas de trocas de peças do vestuário. Palomino (2001, p. 17) nos ensina que a moda funciona como o cartão de visitas de um indivíduo, servindo para expressar a identidade pessoal de cada um de nós para o mundo. A roupa pode funcionar como linguagem, que diferencia um indivíduo de outro dentro um grupo social, comunicando estilo de vida, estado de espírito,

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Elaboração de vestuário para portadores de desabilidade física sob a perspectiva do Design

Adriana Leiria Barreto Matos Mestranda em Design e Marketing, Universidade do Minho

([email protected]) Célia Maria Santos da Silva

Mestranda em Design e Marketing, Universidade do Minho ([email protected]) Mellissa Lima e Silva

Mestranda em Design e Marketing, Universidade do Minho ([email protected])

Joana Cunha Professora Dra. da Universidade do Minho, Dptº de Engenharia Têxtil

([email protected]) Resumo Desenvolvimento de vestuário combinando as necessidades ergonômicas e de conforto

psicológico de pessoas desabilitadas. Do ponto de vista do usuário, o produto também deve associar aspectos estéticos como tendências de moda.

Considerando a conotação social que os produtos de moda possuem, decidiu-se trabalhar na concepção de roupas destinadas a indivíduos portadores de deficiência física. Tendo também em mente a diversidade e a especificidade dos casos existentes e das necessidades especiais de cada um, particularmente aqueles possuidores de seqüelas da poliomielite e outras doenças que causam o uso de órteses nos membros inferiores e muletas para locomoção. Este último grupo foi selecionado como mercado-alvo. Palavras Chave: Conforto Psicológico; Design de Moda; Conforto Ergonómico.

Introdução

As diversas faces da vida moderna têm apresentado incontáveis benefícios para a

humanidade, mas ao mesmo tempo estão a surgir diversas desvantagens que atrapalham e dificultam o seu progresso, seu desenvolvimento pessoal e profissional.

Esses aspectos são comumente perceptíveis no dia-a-dia, sobretudo na rotina diária de pessoas com dificuldades especiais, sejam elas ligadas à locomoção, visão, percepção ou audição.

As pessoas com capacidades limitadas de locomoção são a finalidade desse trabalho. Através de uma breve pesquisa, percebeu-se que essas pessoas encontram bastante dificuldade na aquisição de roupas que lhe facilitem não somente os movimentos, mas também, de igual importância, as etapas de trocas de peças do vestuário. Palomino (2001, p. 17) nos ensina que a moda funciona como o cartão de visitas de um indivíduo, servindo para expressar a identidade pessoal de cada um de nós para o mundo. A roupa pode funcionar como linguagem, que diferencia um indivíduo de outro dentro um grupo social, comunicando estilo de vida, estado de espírito,

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personalidade. Pode melhorar a aparência e fazer com que tenhamos mais auto-confiança, elevando nossa auto-estima.

Neste contexto esse trabalho busca apresentar como sugestão, roupas práticas, confortáveis e com alto valor acrescentado direcionadas ao público possuidor de desabilidade física. Essa proposta busca estimulá-lo a valorizar-se e integrar-se ao mercado de moda. 1. A identificação de um desafio

A moda vem passando por um processo de democratização crescente desde o

advento da roupa pronta para vestir, também conhecida como ready-to-wear1 ou prêt-à-porter

2, especialmente a partir da década de 1960. A rígida imposição de um vestuário de moda foi substituída gradualmente por uma pluralidade de estilos que a princípio, deveriam satisfazer todos os biótipos físicos: altos, magros, pequeninos, louros, morenos, gordinhos. Essa democratização, na verdade é uma necessidade do mercado, e em virtude disso as empresas têm adoptado um sistema de produção mais eficiente, com coleções menores, exatamente para se adequar às exigências de segmentos-alvo bem definidos.

Muitas publicações de moda festejam em seus editoriais que hoje é possível a

qualquer um encontrar roupas que valorizem seu corpo e que tirem proveito de seus pontos fortes. Por outro lado, essas mesmas publicações retratam em suas reportagens um tipo físico idealizado quase surreal, impossível de ser alcançado pelo consumidor comum. Ora, a maioria dos consumidores que não se enquadram neste perfil de beleza questiona arduamente a validade de desfiles, editoriais de moda e campanhas publicitárias. E muitos são aqueles que não conseguem estabelecer qualquer vínculo com o conteúdo transmitido pelas empresas de moda e beleza.

Essas reações impulsionam algumas iniciativas interessantes e inovadoras como

a campanha Dove pela Beleza Real, onde é apresentado um conjunto de mulheres de diversas raças e tipos físicos. Expressando uma atitude positiva e confiante na real possibilidade de que cada biótipo contém sua beleza peculiar, a Dove avançou no sentido de estabelecer uma democratização de facto, mais real não apenas na diversidade de produtos oferecida, mas também na verdadeira exaltação de outras belezas, que não se enquadram no padrão vigente. Outro exemplo de iniciativa semelhante e mais antigo pode ser observado nos desfiles da marca Hermès, nos quais as mulheres mais velhas foram estrelas, em vez das habituais modelos. Entretanto, há de se ressaltar que estes exemplos são escassos. O culto ao padrão estético inatingível permanece e isto pode ser constatado na quantidade de recursos disponíveis para se interferir na aparência. A tecnologia médica empregada nas cirurgias plásticas e as modernas técnicas de odontologia estética são cada vez mais empregadas por gente cada vez mais jovem. De modo que a naturalidade da beleza tem sido cada vez mais afectada.

O paradoxo entre aceitar a beleza real e intervir na aparência drasticamente não

é privilégio da contemporaneidade. O autor Umberto Eco em suas publicações Arte e Beleza na Estética Medieval e História da Beleza, traça um perfil do significado da

1 Expressão inglesa.

2 Expressão francesa.

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beleza durante as eras e das intervenções praticadas especialmente pelas mulheres em busca de um ideal estético. Ao que Souza (2004, p. 215) complementa:

Embora se pregue um retorno ao natural, é a transformação da matéria física que interpela a maioria das mulheres (e homens). Diante das inúmeras textualizações que indicam um árduo trabalho sobre o corpo a fim de modificá-lo, torná-lo mais belo, os sujeitos são, inevitavelmente, interpelados e o discurso sobre um corpo jovem, modelado ou transformado ganha forma “em ações”. A “juventude eterna” é o ideal a ser alcançado.

Entretanto há um segmento do mercado, que ao longo da história nem sequer

teve oportunidade de ser devidamente considerado. Trata-se dos indivíduos designados como deficientes físicos. Sua condição estimula-os a lutar pelo direito à qualidade de vida, saúde, trabalho e reconhecimento social. Suas necessidades específicas são muitas. E como oportunidade de novo projecto em Design, vislumbrou-se a concepção de um vestuário especial para este segmento.

O vestuário para esses indivíduos requer funcionalidade e estética, acrescentando mais valor à vida dessas pessoas em vários aspectos, que serão abordados a seguir. 2. Caracterização detalhada do mercado-alvo: suas exigências, estilo de vida e aspirações Resende (2001, p. 18) tomando como base o trabalho de autores como Amara,

Paula, Amiralian e a Organização Mundial de Saúde - OMS conceitua deficiência (impairment) como o termo ligado a toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função seja psicológica, fisiológica ou anatômica. A deficiência é caracterizada por perdas ou alterações que podem ser temporárias ou definitivas. Inclui a ocorrência de uma anomalia, defeito ou perda de um membro, órgão, tecido ou outra estrutura do corpo, englobando a função mental. Outros autores a exemplo de Alves (2005, p. 01) preferem utilizar o termo desabilidade ao invés de deficiência. Sob o ponto de vista médico, Rosadas (1984, p. 21) menciona que a literatura considera a existência de três tipos de deficiência: a) deficiência física de origem motora: amputações, malformações ou seqüelas de vários tipos; b) deficiência sensorial: auditivas (surdez total ou parcial) e visuais (cegueira total ou parcial) c) deficiências mentais de vários graus e de origem pré, peri ou pós-natal.

Entretanto, Carmo (1989, p. 13) elucida que: O termo “deficiente” atribuído, via de regra, aos membros de uma

sociedade que apresentam alguma forma de “anormalidade” ou de “diferenciação” perante aos demais, quer no domínio cognitivo, afetivo ou motor, tem sido objetivo de críticas e discussões entre os profissionais que lidam com os indivíduos assim designados.

O autor destaca que o debate tem como principal preocupação evitar o que ele

chama de “rotulação” do ser humano ou até mesmo sua estigmatização, através de palavras. Na verdade, o debate dessas questões com enfoque social, cuida para que a própria linguagem não atue como forma de violência simbólica.

Silva (1987, p. 381) afirma que as pessoas com deficiência física são aquelas

que não se encontram dentro dos padrões estabelecidos pela sociedade como

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“normalidade”, seja por motivos físicos, sensoriais, orgânicos ou mentais. Em conseqüência disto, encontram dificuldades de viver plenamente.

Segundo Pereira (2006, p. 34) a deficiência física implica no comprometimento da capacidade motora, com sua alteração em um ou mais segmentos do corpo. Pode ser uma condição congênita ou adquirida, estável ou progressiva. É possível ocorrer o envolvimento de ossos, articulações, músculos e nervos. Nesta classificação estariam incluídas não apenas alterações anatômicas, mas as de ordem fisiológica, que implicam no funcionamento saudável.

A pessoa portadora de deficiência física pode ter seqüelas visíveis não apenas no

corpo, mas em seu convívio social. A história nos deixa inúmeros registros a este respeito. Obviamente que a relação entre os deficientes físicos nos países desenvolvidos é diferente naquela que se observa nos países em desenvolvimento. Nos países mais ricos, existe maior suporte como clínicas de reabilitação, ajuda profissional especializada, políticas de criação de postos de trabalho e benefícios advindos do cumprimento legal e social de decisões que os contemplem, entre outras conquistas efectuadas há mais tempo. (CARMO, 1989, p. 24)

Silva (1987, p. 39), autor de uma das escassas publicações que retratam a história dos deficientes físicos, relata que na Antiguidade basicamente existiam dois tipos de atitude para com idosos, doentes e deficientes físicos: a aceitação ou eliminação, menosprezo e destruição. A maioria das culturas primitivas optava pelo segundo tipo de atitude. Por viver de actividades coletoras, como caça e pesca, o acto de cuidar e manter os membros mais fragilizados fisicamente, significava colocar toda a tribo em perigo, visto a hostilidade do ambiente e a vida nômade que levavam. Sem condições de se deslocar e enfrentar os acidentes físicos, tornavam-se presas fáceis. Silva relata ainda, o caso específico de tribos africanas, que protegiam e até sentiam orgulho de algumas anormalidades congênitas como dedos adicionais de pés e mãos. Nestes casos, também ocorria a crença de que os corpos deformados eram vítimas de feitiços, dos quais dependia sua volta à “normalidade”. Em outras tribos, no caso das esquimós, principalmente no Canadá, os idosos e deficientes físicos eram deixados em locais estratégicos, segundo suas próprias orientações, para que fossem encontrados pelos ursos polares e posteriormente devorados. Como aqueles ursos eram animais sagrados e extremamente úteis para a tribo, deviam manter-se bem alimentados e sua pele bem nutrida para posteriormente ser transformada em agasalho para a população. Nas tribos sul–americanas, era costume eliminar os recém-nascidos que apresentassem anomalias ou ainda aqueles que adquirissem deficiência ao longo da vida. A concepção de crianças com defeitos congênitos esteve associada com maus espíritos e representava sinal de desarmonia. Os hebreus associavam qualquer doença crônica ou deformidade física com a impureza de espírito. Carmo (1989, p. 27) também ressalta que a pintura está repleta de exemplos que ligam à deformidade física ao demoníaco. Foi graças ao Renascimento, que houve um grande salto na busca da compreensão dos deficientes físicos, pois a Ciência aliada ao Humanismo contribuiu para alargar os horizontes do conhecimento com avanços no campo da reabilitação física e investigação mais aprimorada a respeito de enfermidades. Carmo (1989, p.39) afirma que esta época foi o grande marco da história dos direitos e deveres para os

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deficientes. Fundos de apoio, como aquele criado por Henrique VIII na Inglaterra, ou a criação de centros de ajuda aos pobres, idosos e deficientes na França, em 1554, demonstram que o olhar do homem para com o seu próximo começava a mudar.

Embora ainda houvesse diferenciação entre os homens saudáveis e os deficientes físicos, esta relação adquiriu a influência de personalidades ilustres, de facto uma contribuição para que não houvesse o extermínio ou abandono generalizado dos deficientes. O reconhecimento de suas habilidades e integração com o meio social são apontados por Carmo (1989 p. 42), como tendência irreversível:

Acreditando que inegavelmente, nem os seguidores das correntes integracionistas nem os da segregacionista, ou de outras tendências que não conhecemos, neguem ou queiram desconsiderar o fenômeno da deficiência, enquanto um fato concreto, palpável e manifesto no homem. (...) O “deficiente”, o “diferente”, o incomum, existe e este é o homem com quem devemos nos relacionar. Ele, antes de ser visto como “deficiente”, precisa ser entendido em sua essência enquanto homem que faz história. O fato de estar trabalhando, estudando ou se divertindo entre as demais pessoas, não significa que deixou de ser “deficiente”. Seu estigma é histórico e como tal, somente a história conseguirá superá-lo, cabendo-nos tomar esta história em nossas mãos e construir uma nova relação entre os homens.

A literatura especializada aponta para a necessidade de se refazer estas relações

pelas marcas sociais e psicológicas deixadas nos deficientes físicos. Muitos são os relatos de baixa estima pessoal e dificuldade de auto-aceitação de imagem, o que basicamente compromete a qualidade da interacção social e pessoal. Pereira (2006, p.37) afirma que mesmo havendo progressos na integração destas pessoas, ainda persistem dificuldades no convívio social. Segundo pesquisas citadas pela autora, sentimentos como raiva, insegurança, certeza de infelicidade, depressão, apatia, entre outros são relatados por pacientes submetidos a acompanhamento psicológico.

O ano de 1981 foi essencial para a luta dos deficientes físicos para ingressarem no mercado de trabalho, pois foi dedicado pela ONU como o ano internacional dedicado ao portador de deficiência física. A partir deste marco, várias políticas de benefícios sociais e trabalhistas foram estimuladas. Hoje, segundo informações divulgadas pela Organização Mundial de Saúde-OMS, o total de pessoas com deficiência no mundo é de 610 milhões, das quais 386 milhões fazem parte da população economicamente activa. Nos países desenvolvidos a estimativa gira em torno dos 12% a 15% da população. Do total de portadores de deficiência estimado pela ONU temos a seguinte distribuição:

- Deficiência mental 5,0% - Deficiência física 2,0% - Deficiência auditiva 1,5% - Deficiência visual 0,5% - Deficiência múltipla 1,0%

Segundo Albrecht e Devlieger (1999, p. 977) as atitudes das pessoas portadoras

de deficiência estão intimamente ligadas à percepção sobre sua qualidade de vida, entendida como noção geral de bem-estar. Em pesquisa com 153 pessoas portadoras de deficiência, desenvolvida por estes autores, 54,3% dos participantes responderam ter excelente ou ótima qualidade de vida e que, portanto, tinham uma atitude positiva frente à deficiência física. Entre os fatores que contribuíram para a percepção positiva estão os seguintes:

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a) Apesar de serem portadores de deficiência e de conviverem com limitações físicas e/ou mentais, eles continuavam tendo controle sobre o corpo, a mente e a vida; b) Referiram-se também a capacidade para dirigir automóveis; outros falaram na aparência física versus desempenho (um portador de paralisia cerebral relatou que embora para algumas pessoas sua aparência causasse incómodo, ele continuava capaz de realizar tarefas); c) Relataram seus sentimentos, a maturidade que adquiriram e satisfação em dar suporte emocional a outras pessoas; d) Mencionaram a importância da fé e a redescoberta da espiritualidade dando-lhes força, direção e sentido na vida; e) A experiência da limitação física serviu para esclarecer e reorientar a vida de vários sujeitos; a força interna e a resiliência para essas pessoas deram-se através da revisão de valores e de uma visão equilibrada entre mente, corpo e espírito, no ajustamento no modo de ser, que proporcionou um bom senso de perspectiva na vida; f) Enquanto a deficiência foi para alguns uma fonte de valores e metas, para outros proporcionou ímpeto para crescimento psicológico, oportunidade para mudar e amadurecer; g) Para alguns a deficiência apresentou um novo padrão contra o qual o senso de realização é medido. Qualidade de vida para essas pessoas é quando lidam bem com a deficiência, quando direcionam suas capacidades para alcançarem suas conquistas. h) Explicaram o bem-estar em termos de reconhecerem suas limitações, terem controle sobre suas mentes e corpos; serem capazes de executar suas funções; terem acesso e oportunidade na vida; encontrar propósito, sentido e harmonia na vida; ter fundamentação espiritual e visão de mundo; construir e viver num mundo social de reciprocidade, incluindo trocas emocionais; e, sentirem-se satisfeitos quando comparando suas capacidades e condições com outros na mesma situação.

Ainda segundo o referido autor, os seguintes fatores levaram 45% dos participantes a responder que têm uma qualidade de vida pobre ou moderada: a) Experiências de dor física; b) Cansaço contínuo e senso de falta de esperança; c) Perda do controle corporal ou mental; d) Falta de propósito, valores ou alguma forma de espiritualidade.

Considerando a conotação social que o produto de moda possui, optamos por trabalhar na concepção de vestuário destinado aos indivíduos portadores de deficiência física; sabendo-se também da pluralidade e especificidade de casos existentes e da especial demanda que exige cada um deles, particularmente, aqueles possuidores de seqüelas de poliomielite e demais enfermidades que ocasionem o uso de órteses3 por comprometimento dos membros inferiores e muletas para sua locomoção foram escolhidos como segmentação-alvo. Observou-se em pesquisas preliminares que estes indivíduos possuem vida activa, dedicando-se às actividades habituais de trabalho e estudo.

3 Órteses são colocadas junto a um segmento corpo, garantindo-lhe um melhor posicionamento, estabilização e/ou função. São normalmente confeccionadas sob medida e servem no auxílio de mobilidade, de funções manuais (escrita, digitação, utilização de talheres, manejo de objetos para higiene pessoal), correção postural, entre outros.(BERSCH,2005,p: 05)

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A fim de melhor investigar os anseios desse público-alvo foram realizadas entrevistas a pacientes (05) e profissionais (02) da área. A faixa etária dos pacientes está compreendida dos 18 aos 42 anos. Entre estes a ocupação concentrou-se em estudantes e profissionais liberais e seu ganho salarial oscilou com base em 500 euros e com máximo de 1200 euros.

Os principais resultados colectados foram:

- A maioria de 97% citou a barreira arquitetônica como maior dificuldade do dia-a-dia. Essa limitação impõe maior cuidado e reflexão na hora de escolher viagens, passeios, vestuário e percursos rotineiros.

- 42% mencionaram sua dificuldade em encontrar roupas que fossem ideais para suas necessidades.

- 93% citaram os tamanhos como maior desafio na hora de comprar roupa. Outros factores também foram apontados, como variedade de modelos e ambiente de compras

- As partes do corpo que mais sofrem atrito não são apenas aquelas que estão em contato com as órteses, mas as de maior solicitação, como o tronco e membros superiores.

- 33% classificaram a dificuldade de manuseio das peças e a dependência de outros indivíduos na hora de vestir, como empecilhos mais inconvenientes; 33% elegeram aberturas e fechamentos e 34% o tempo gasto no vestir.

- As roupas para o calor foram as mais solicitadas 67%. - As funções utilitárias foram citadas por 82% dos entrevistados. Desse

total, os bolsos utilitários foram os mais votados ficando atrás dos aparelhos eletrônicos acoplados.

- 82% têm na malha e no jeans seus materiais prediletos para o vestuário. O algodão é a fibra favorita.

- As calças e bermudas (67%) são o tipo de modelos mais usados. Em seguida têm-se as saias e vestidos (33%)

- Os shoppings são os pontos de venda principais, com 97% de preferência. 3% citaram roupas sob medida e lojas de rua.

- A faixa de preço máximo pelo que estão dispostos a pagar por uma peça varia de 60 € a 90 €.

Como principais sugestões, os entrevistados apontaram cabines de prova

adaptadas para os portadores de deficiência e que o mercado desperte para a elaboração de produtos para aqueles que não se enquadram nos padrões de beleza impostos pela sociedade.

Em síntese, as peças aqui elaboradas se destinam a uma faixa de público que vai dos 18 aos 29 anos, estudantes universitários ou profissionais liberais. Possuem vida extremamente activa, no que se deparam com dificuldades maiores para cumprir sua rotina diária. Precisam de roupas confortáveis, que permitam adaptações já incluídas na própria peça; necessitam de considerações diferenciadas a respeito das áreas de maior solicitação de seu corpo, que são o tronco e membros superiores. O tecido de suas peças deve proporcionar leveza e cuidado para uma pele sensibilizada de diferentes maneiras:

-membros superiores: sobrecarga física -membros inferiores: pele maltratada pelo contacto com órteses.

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Machucados e atritos muitas vezes não são percebidos pela falta de sensibilidade destes membros. Bernabé (2001, p.68) citando Montagu, nos fala que a pele pode ser considerada como a porção exposta do sistema nervoso, na qualidade de órgão do sentido mais antigo e extenso do corpo, permite que o organismo aprenda o que é o ambiente e com isso, transporta a própria memória de suas experiências. Pelo que podemos concluir que o Conforto Sensorial – táctil e Conforto Ergonómico, portanto são essenciais e serão abordados na busca de soluções para este projeto de Design.

Este público tão especial precisa ainda desfrutar de todos os componentes do produto moda. Este aspecto está intimamente ligado ao Conforto Psicológico. O Conforto Psicológico ou Estético está relacionado com as características sociais, culturais e económicas dos indivíduos. Considera aspectos da individualidade e das tendências de moda e suas indicações em termos de cores, texturas, formas e volumes, especialmente no campo do vestuário, pois conforme Lipovetsky (1989, p. 35) explica, um produto na indústria da moda não é apenas um objecto. Significa a possibilidade de afirmação da individualidade num grupo, permitindo que o consumidor transmita uma certa imagem de si mesmo. Esse carácter subjectivo interfere de modo decisivo nas escolhas dos consumidores, visto que os aspectos estéticos são bastante avaliados durante o processo de compra de produtos de vestuário. Pois são esses aspectos que poderão comunicar os desejos de diferenciação e identidade dentro de um determinado grupo social. Mas caso o consumidor/utilizador detecte falhas no produto com relação ao conforto estético, ele terá a sensação de estar psicologicamente desconfortável, julgando-se inconvenientemente vestido e despreparado em determinada situação de convívio social dentro de seu grupo. Para o público-alvo abordado essa questão não pode ser desprezada.

3. Composição do Briefing e estudo de soluções

Tendo como base os dados coletados, as características e necessidades específicas do público-alvo, procedeu-se à montagem de brienfing do projeto, concebendo-se o grupo essencial de atributos do produto a desenvolver:

• Praticidade: o vestuário em questão deve proporcionar facilidade ao vestir, diminuindo a dependência de terceiros. O tempo gasto para vestir também deverá ser minimizado

• Facilitar a locomoção: permitir liberdade de movimentos; não deve prender ou machucar nenhuma parte do corpo.

• Características estéticas: em conformidade com características funcionais e ergonômicas.

• Preço: obter equilíbrio entre valor acrescentado e custos.

Para cada atributo, investigou-se a criação de alternativas que considerem todos os fatores intervenientes, de forma a chegar a propostas e princípios gerais de solução do problema. Para ajudar no processo de escolha e descarte de prováveis soluções de modo racionalizado, utilizou-se a técnica de construção de matrizes comparativas.

Atributos desejados para o produto Alternativas de solução 1. Praticidade: o vestuário em

questão deve proporcionar facilidade ao - Modelagem ergonômica: uso de recortes, aberturas e fechamentos mais

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vestir, diminuindo a dependência de terceiros. O tempo gasto para vestir também deverá ser minimizado.

práticos. - Uso de molas ao invés de zíperes e botões de casa - Molas localizadas na parte da frente ou na lateral da peça - Uso do velcro

2. Facilitar a locomoção: permitir liberdade de movimentos; não deve prender ou machucar nenhuma parte do corpo.

-Modelagem privilegiando o conforto dos membros inferiores e quadril -Eliminação de elásticos na região da cintura, mas emprego de peças com malhas no cós, ou tecidos com mistura de fibras algodão e elastano. - Cintura mais elevada para dar sustentação e conforto -Possibilidade de ajustar comprimento das peças bottom sem necessidade de recorrer a costureiras -Tecidos que de contribuição funcional aos movimentos de membros superiores região esta de maior solicitação do corpo -Tecidos que possam maximizar o conforto tato-pele, especialmente dos membros inferiores. -Costuras internas seladas

3. Características estéticas: em conformidade com características funcionais e ergonômicas.

-Elaboração de modelos base mais ampla -Oferecer características estéticas que possibilitem ao usuário desfrutar de todos os benefícios de um produto de moda -Incorporação de elementos de estilo. -Peças com forros coloridos e pespontos coloridos, etc.

4. Preço: obter equilíbrio entre valor acrescentado e custos.

-Descartar matéria primas e processos demasiadamente elevados.

Com base na necessidade do conforto ergonômico no vestuário torna-se

relevante a questão quando o usuário é um portador de deficiência física. Sendo a roupa uma extensão do corpo, de maneira que podemos afirmar que ela atua como uma “segunda pele” e deve, portanto privilegiar as formas do utilizador. Deve, pois propiciar a facilidade no vestir, a boa acomodação aos movimentos, visto que são requisitos indispensáveis à excelência na atividade diária.

Wisner (1987, p. 18) conceitua ergonomia como:

“O conjunto de conhecimentos científicos relativos ao homem e necessários para a concepção de produtos e ferramentas, máquinas e dispositivos que possam ser utilizados com o máximo de conforto, segurança e eficácia”.

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O autor considera ainda que a ergonomia se baseia, essencialmente, em conhecimentos no campo das ciências relativas ao ser humano (ciência antropométrica, fisiologia, biomecânica, engenharia, fisiologia, psicologia. e parte da sociologia), com enfoque não apenas no ambiente de trabalho, mas na concepção de novos produto, inclusive para o vestuário que necessita de conhecimento nas áreas citadas. Através das informações contidas nessas ciências, é que se torna possível conceber produtos que possuam interacção mais íntima com o consumidor/utilizador. Podemos concluir que o conforto ergonómico desenvolve seu foco na utilização, na segurança e no bem estar aplicado no desenvolvimento de produtos que visam satisfazer as necessidades e anseios do mercado-alvo abordado.

Os factores mais influentes para o conforto ergonómico no vestuário são cortes,

costuras, modelação e tabelas de medidas ou antropométricas. É importante considerar também que o tipo de material, a estrutura ou a utilização de camadas no vestuário pode influenciar a realização de determinados movimentos do corpo humano ao utilizar a roupa. A modelação do vestuário, segundo Grave (2004, p.49), possui função participativa nos movimentos articulares do corpo, e “o cuidado com o cálculo determina a construção da peça, pois ela trabalhará simultaneamente com o corpo”. Assim, o vestuário, ou seja, todas as peças do guarda-roupa são objectos que necessitam também de estudos ergonómicos para que sejam adaptados e adequados aos diferentes biótipos dos utilizadores.

Martins apud Fontenelle et al (2005) aponta que “assim como a pele está geneticamente adaptada ao corpo cumprindo as suas funções básicas e fundamentais; da mesma forma, o vestuário deve ser uma segunda pele que cobre o corpo, mas que precisa ser reconhecida e adaptada para os diferentes usuários em suas diferentes acepções”.

Os resultados da pesquisa efectuada confirmam que existem partes na peça do vestuário onde o utilizador com desabilidade física encontra dificuldades aquando da sua utilização, conforme podemos citar na modelação abaixo:

• O cós das peças - calças, bermudas e saias – problema exposto: os utilizadores têm a sensação de não sustentação da peça do vestuário no corpo e de incômodo quando muito apertado. Como solução para o problema, optou-se pela modelação de um cós anatômico, sendo cortado no sentido viés do tecido, e pelo uso de um tecido com uma mescla de fibra natural (algodão) – 97 % e fibras elastômeras – 3%, com a finalidade de melhor acomodação e segurança ao corpo

• O gancho das peças - calças, bermudas e saias – problema exposto: os utilizadores reclamam das peças com o gancho muito pequeno, as chamadas peças de modelação saint-tropez com as cinturas baixíssimas com ganchos que variam entre 12cm a 16cm. Definiu-se como solução do problema a modelação de altura com gancho maior, ou seja, a altura real da cintura. Para as peças do vestuário de numeração 28 foi determinado a ficar com medida padrão de 21 cm.

• Barras das calças e das bermudas – problema exposto: os utilizadores pesquisados relataram a insatisfação também nas barras das calças, pois encontravam peças muito compridas. Pensou-se em solucionar o problema com o aumento do tamanho e a aplicação de molas nas laterais externas e no entre pernas das calças e das bermudas. Dessa forma o utilizador terá três opções de tamanho de barras através de dobraduras.

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• Costuras internas das calças – problema exposto: os utilizadores relataram a não satisfação no uso de algumas calças em função da costura interna ferir-lhe a pele sensível nas proximidades das órteses. De acordo com o item anterior, as calças e bermudas terão um forro de tecido fabricado com fibra de bambu. O tecido com fibra de bambu apresenta como característica um toque extremamente macio e como propriedade a ação bacteriostática, o que poderá a solucionar o problema por exposto.

4. A escolha dos materiais

De acordo com Munari (1981, p. 383), os designers ao projectar um produto devem ter em conta um aspecto importante no seu projecto – os sentidos do utilizador. Um objecto deverá satisfazê-lo “... e, mesmo que à primeira vista o objecto possa agradar, se não agrada também aos demais sentidos será desprezado…”. Sob a óptica dessa premissa básica – satisfazer os sentidos do utilizador, é preciso conceber um produto que além de apresentar um excelente aspecto visual, deverá possuir os mais agradáveis toques ao tacto e uma modelação adequada que lhes facilite os sentidos ditos dinâmicos, correspondentes aos movimentos.

Conforme os dados obtidos na pesquisa de campo, confirmou-se a necessidade de se utilizar tecidos com gramatura média e com toque agradável ao tacto, primando pelo conforto da pele, sobretudo nas partes mais sensíveis, que são as partes inferiores próximas das órteses. Baseado em uma modelação ergonómica, definiu-se a utilização de dois tecidos para a confecção desse vestuário; sendo o denim, o tecido principal, fabricado com 100% de fibra de algodão e o segundo tecido fabricado com 100% fibra artificial de bambu, este segundo, a ser usado para aplicação de detalhes internos e externos. Este detalhe será usado também nas pernas das calças e das bermudas, para uma modelação dupla face; logo o tecido de fibra de bambu ficará em contacto direto com a pele, na região de maior sensibilidade, próxima das órteses.

A escolha do tecido com fibras de bambu se deu porque essa fibra além de ter um toque macio possui também propriedades bacteriostáticas e boa respirabilidade, permitindo a passagem do vapor de humidade. Assim as barras das calças e das bermudas terão outro tecido podendo ou não usá-las reviradas, de acordo com a necessidade do utilizador. Esse tecido para o uso de detalhes interno e externo terá um padrão diferente: a se apresentar liso em cor contrastante com o denim, poderá ser de padrão estampado, ou ainda em padrão xadrez. O que vem a acrescentar também como proposta ao vestuário mais uma opção de aspecto visual.

Como afirma Braga, 2005 (p.23 e 24), “moda é código de pertencimento. Significa que você pensa de uma determinada maneira e pertence a um grupo de semelhantes que, por sua vez são iguais e se diferem de outros grupos ‘semelhantes’ entre si”.

A opção pelo denim se deu em função de este ser o tecido mais usado actualmente por todas as faixas etárias, por todas as classes sociais podendo ser considerado o tecido mais democrático, mais cosmopolita e mais contemporâneo. A confecção de peças de roupas com o tecido é denominada jeans, nome já conhecido em todo o mundo tanto pelos utilizadores como pelos profissionais da área de moda. Os artigos de vestuário de jeans como aponta Catoira (2006), dentro das funções de moda

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foi um signo de trabalho, tornando-se um signo social, uma roupa de lazer. Ainda Catoira (2006, p.61) afirma que:

Na semiologia, o vestuário “fala” e a linguagem do vestuário não serve apenas para transmitir certos significados. Ela adquire um valor comunicativo… A linguagem das roupas pode ser identificada através das informações que elas passam.

Vestir peças de roupas de jeans significa ter jovialidade, ser actualizado com as tendências de moda, além de estar a usar uma roupa versátil que quer seja no local de trabalho, quer esteja em ambientes de lazer; o utilizador considerar-se-á vestido adequadamente. Tomando como base Colin McDowell (1995) apud Jones, 2005, “nós precisamos mais da moda do que das roupas não para cobrir nossa nudez, mas para vestir nossa auto-estima”. As roupas podem ajudar as pessoas a se sentir mais seguras, mais confiantes, pois o vestuário é um signo de um jogo do vestir, considerando que a moda multiplica a pessoa, fazendo com que ela se vista de acordo com o que ela queira representar. Como enfatiza Catoira (2006, p.63): “O jeans, nesse processo de linguagem, e na realidade pós-moderna em que vivemos, tornou-se um símbolo representativo de jovens.”

Segundo Castilho (2004), o homem tem a tendência de redesenhar o próprio corpo, em razão dessa eterna insatisfação com a própria aparência, mas graças a nossa segunda pele, onde podemos esconder ou evidenciar as possíveis imperfeições, a roupa colabora perfeitamente na construção de uma nova imagem mais próxima do que desejamos. Ao que Catoira (2006, p. 71) complementa: “a moda deve seu extraordinário poder ao modo pelo qual pode fazer com que cada indivíduo se sinta verdadeiramente único, mesmo se vestindo de maneira parecida.” Aqui reside um paradoxo onde todos querem estar “iguais” dentro de um mesmo visual estético, mas, ao mesmo tempo querem parecer diferentes. Essa demanda incessante do mercado por artigos do vestuário cada vez mais diferenciado resultou num aprimoramento maior das estruturas de produção nas indústrias de confecção com aquisição de equipamentos como CAD/CAM. Com a utilização do CAD/CAM as indústrias podem trabalhar pequenas séries de produtos respondendo à demanda em um espaço tempo mais curto. Como enfatiza Munari (1981, p.48), “hoje tende-se para a produção de objectos menos complicados, para a redução do número de classes dos elementos que formam um produto. Teremos pois no futuro, cada vez mais produtos complexos e cada vez menos produtos complicados”

A complexidade em um material têxtil está no alto desempenho que actualmente estes produtos possuem; são os têxteis técnicos que se caracterizam, sobretudo pelas suas qualidades técnicas e funcionais, em detrimento dos valores decorativo e estético. Conhecido também no mundo da moda como “tecidos inteligentes” como define Padeiro – Consultor de Marketing da Rhodia- são tecidos concebidos para suprir uma necessidade além da convencional, portanto, vão além da necessidade do vestir visto que têm funções específicas como alguns exemplos a seguir. Função bacteriostática – onde não há proliferação das bactérias; tecidos anti odores, anti UVA e UVB para protecção maléfica dos raios solares, tecidos que repelem água, tecidos anti manchas, tecidos respiráveis – efeito Dry-Fit que possuem a capacidade de transportar a humidade interna para o exterior e assim dentre outros que apresentam uma complexidade maior, voltada para outros segmentos. Segundo a classificação da Feira Internacional de Têxteis Messe Frankfurt, estão divididos em doze categorias, que

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incluem desde os geotêxteis até aos têxteis médicos, passando pelos têxteis para o automóvel.

Conforme Fangueiro et al. (2000, p.91), “o custo de um têxtil técnico é normalmente mais elevado que um têxtil convencional. No entanto, se considerarmos a longa vida e os benefícios proporcionados pelos têxteis técnicos, o custo nem sempre é um problema.” A indústria têxtil tem se esmerado em usar toda a tecnologia mundial disponível para criar fibras e tecidos cada vez mais ajustados ao estilo de vida moderno. Algumas indústrias têxteis brasileiras fabricantes do tecido denim já têm em suas colecções uma gama de artigos têxteis com funções específicas além da função convencional. Como exemplo a citar, temos a Cedro Cachoeira com uma linha de tecidos técnicos intitulada Cedrotech com tecidos que repelem manchas, antimicrobial, antiestático e retardante de chamas; a Santana Têxtil do Brasil que fabrica o denim bacteriostático e anti UVA UVB; a Santista Têxtil — empresa brasileira conhecida como uma das maiores exportadoras mundiais de denim, lançou em outubro de 2006 a nova etiqueta NanoConfort. A nova etiqueta identifica tecidos da empresa tratados com tecnologia nano, com propriedades funcionais, tais como; absorção e secagem rápida da transpiração, propriedades antimicrobianas, resistência às manchas e fácil manuseio para limpar e passar a ferro. A Etiqueta NanoComfort, vem atender ao mercado mundial, nas áreas de denim, sportswear e workwear. Desse modo a tecnologia atinge o campo da moda e o resultado da união de tecidos inteligentes e design de moda permite que a roupa vire também um artigo utilitário. Assim, é possível fazer com que as “roupas inteligentes” respondam às necessidades e desejos humanos reais. Hoje, para conhecer o que muda a “cara“ da roupa é preciso acompanhar, além das tendências, os avanços têxteis. "Os tecidos são as falas da moda. Muitas vezes eles determinam e guiam uma colecção”, diz o estilista brasileiro Ronaldo Fraga4. Dessa forma, decidiu-se desenvolver produtos com tecidos cujas propriedades e funções venham a facilitar o dia-a-dia das pessoas portadoras de órteses. Para o caso em questão, optou-se por se utilizar o tecido denim com a função anti manchas, que evita a sujidade durante o uso do vestuário. Essa função vem favorecer a manutenção da roupa dentro do conceito easy-care, que foi incluído em pequena colecção de moda desenvolvida para este projeto, com base nos estudos elaborados e na pesquisa realizada entre os usuários. Dentro desta colecção, escolheu-se como peça a ter protótipo desenvolvido a jardineira desdobrável, que por princípio a aplicação de todos os atributos apresentados.

4 Delboni Carol. Tecido inteligente: o futuro já chegou. In: O Estadão, 2007. (http://www.link.estadao.com.br/index.cfm?id_conteudo=3184)

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Figura 01: croqui técnico da peça piloto. Modelo: jardineira desdobrável

Figura 02: simulação de desdobramento e lavagem da peça piloto

Alças reguláveis Molas para unir parte superior e inferior Molas para abertura lateral Bolsos Cós anatômico Barra com opções comprimento s diferentes

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O produto foi reformulado diversas vezes, motivado pela dificuldade de

encontrar pessoas qualificadas para executá-lo. Optou-se por simplificá-lo ao máximo para facilitar sua primeira construção. Outras modificações foram realizadas para aumentar o conforto da peça tais como: alargamento das pernas e aumento da altura do gancho.

Conclusão

O vestuário deve atender aos desejos e necessidades do consumidor de forma a garantir às diversas formas de conforto: psicológico – estético; térmico; sensorial – táctil e ergonómico. Portanto, deve ser levado em consideração desde o início da concepção do produto, o estudo detalhado dos requisitos como dos tecidos, dos aviamentos, dos acabamentos, da modelação, da montagem, visando proporcionar maior liberdade de movimentos, conforto e saúde ao utilizador.

Esses benefícios são fundamentais ao bem estar do ser humano e indispensáveis a toda gente que tem vida activa: estuda, trabalha e pratica desporto. Entretanto, o portador de deficiência física encontra restrições no mercado quando busca produtos que venham atender às suas necessidades e desejos.

A importância da roupa não está apenas nas características estéticas do produto final, mas também no desempenho desse produto quando em uso. Além disso, torna-se adequada a comercialização coerente com o público almejado, através de uma marca forte, inserindo os produtos no mercado em loja de multimarcas, o que se torna para o momento, uma perspectiva futura. Desse modo, espera-se que o projecto desenvolvido seja uma contribuição significativa para a satisfação do público-alvo estudado. Bibliografia: ALBRECHT, G. L., DEVLIEGER, P. J. The disability paradox: high quality of life against all odds. Social Science and Medicine. V.48, 1999. ALVES, Sheila dos Anjos. Planejamento de Roupas para Pessoas Portadoras de Desabilidade Física Clothing design for Disable People. 3º Congresso Brasileiro Internacional de Pesquisa em Design. Rio de Janeiro, 2005 ARAÚJO, Mário de, FANGUEIRO, Raúl, HONG, Hu. Têxteis Técnicos – Materiais do Novo Milénio – Vol I: Visão Geral. Braga, 2000. ARAÚJO, Mário de. Engenharia e Design do Produto. Lisboa: Universidade Aberta, 1995. ARAÚJO, Mário de. Tecnologia do Vestuário. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 1996. BARTHES, Roland. Sistema da Moda. Lisboa: Edições 70.1967.

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