eixo ii newsletter

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[1] Resumo O Projeto Fénix foi desenhado e implementado no Agrupamento Campo Aberto Beiriz como prática inovadora de promoção de sucesso, que envolveu a comunidade educativa procurando responder às suas necessidades, expectativas e potencialidades. Assenta em três princípios funcionais: i) Princípio do sucesso plural; ii) Princípio da homogeneidade relativa; iii) Princípio da flexibilidade: No modo de agrupar os alunos e na alocação de docentes a grupos de aprendizagem. Ao nível operacional, o projeto compreende um conjunto de características que o individualizam ao nível da gestão pedagógica e da gestão de recursos. Tendo em conta os constrangimentos de aplicação do Projeto original, no que respeita ao uso do crédito horário atribuído à turma “ninho”, surgiu um novo eixo de ação que, tal como o original, baseia a sua matriz num processo de gestão e de organização de grupos de alunos e dos tempos letivos. Os grupos são constituídos por alunos pertencentes ao mesmo ano de escolaridade e/ou do ano escolar antecedente/subsequente, de acordo com o seu nível de proficiência relativamente às áreas curriculares definidas, sempre com o objetivo de recuperar e consolidar aprendizagens, bem como promover a excelência. Assim sendo, os grupos são dinâmicos, flexíveis e rotativos. PROJETO FÉNIX - “EIXO II” Introdução Da experiência acumulada com o Projeto Fénix, e do efeito positivo e diferenciador na criação de oportunidades de sucesso escolar, surgiram novas necessidades: por um lado, alocar os recursos já existentes numa lógica de prevenção do insucesso escolar; por outro, rentabilizar os recursos humanos e materiais existentes. A designação de “Eixo II” pretende um modo de operacionalização diferenciado do modelo dos “ninhos”, mas cuja matriz de referência permanece comum. Neste âmbito, e através de uma experiência contínua e partilhada, surgiu a possibilidade de testar uma nova estratégia de apoio, complementar ao modelo já existente, e que tenta responder à generalidade dos alunos em duas vertentes: a) beneficiando as aprendizagens dos alunos com fraco rendimento escolar; b) estimulando as aprendizagens de alunos com maior nível de proficiência, promovendo a excelência. Este eixo intervém, preferencialmente, ao nível dos conhecimentos da língua portuguesa e matemática. Para tal, (re)organiza as turmas, que deixam de ser unidades imutáveis, em grupos-trabalho temporários e flexíveis de acordo com o nível de conhecimentos adquiridos.

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Page 1: Eixo ii  newsletter

[1]

Resumo

O Projeto Fénix foi desenhado e

implementado no Agrupamento Campo Aberto –

Beiriz como prática inovadora de promoção de

sucesso, que envolveu a comunidade educativa

procurando responder às suas necessidades,

expectativas e potencialidades. Assenta em três

princípios funcionais:

i) Princípio do sucesso plural;

ii) Princípio da homogeneidade relativa;

iii) Princípio da flexibilidade: No modo de agrupar

os alunos e na alocação de docentes a grupos

de aprendizagem.

Ao nível operacional, o projeto compreende

um conjunto de características que o

individualizam ao nível da gestão pedagógica e da

gestão de recursos.

Tendo em conta os constrangimentos de

aplicação do Projeto original, no que respeita ao

uso do crédito horário atribuído à turma “ninho”,

surgiu um novo eixo de ação que, tal como o

original, baseia a sua matriz num processo de

gestão e de organização de grupos de alunos e dos

tempos letivos. Os grupos são constituídos por

alunos pertencentes ao mesmo ano de

escolaridade e/ou do ano escolar

antecedente/subsequente, de acordo com o seu

nível de proficiência relativamente às áreas

curriculares definidas, sempre com o objetivo de

recuperar e consolidar aprendizagens, bem como

promover a excelência. Assim sendo, os grupos são

dinâmicos, flexíveis e rotativos.

PROJETO FÉNIX - “EIXO II”

Introdução

Da experiência acumulada com o Projeto

Fénix, e do efeito positivo e diferenciador na

criação de oportunidades de sucesso escolar,

surgiram novas necessidades: por um lado,

alocar os recursos já existentes numa lógica de

prevenção do insucesso escolar; por outro,

rentabilizar os recursos humanos e materiais

existentes.

A designação de “Eixo II” pretende um

modo de operacionalização diferenciado do

modelo dos “ninhos”, mas cuja matriz de

referência permanece comum.

Neste âmbito, e através de uma

experiência contínua e partilhada, surgiu a

possibilidade de testar uma nova estratégia de

apoio, complementar ao modelo já existente, e

que tenta responder à generalidade dos alunos

em duas vertentes:

a) beneficiando as aprendizagens dos alunos

com fraco rendimento escolar;

b) estimulando as aprendizagens de alunos

com maior nível de proficiência,

promovendo a excelência.

Este eixo intervém, preferencialmente, ao

nível dos conhecimentos da língua portuguesa

e matemática. Para tal, (re)organiza as turmas,

que deixam de ser unidades imutáveis, em

grupos-trabalho temporários e flexíveis de

acordo com o nível de conhecimentos

adquiridos.

Page 2: Eixo ii  newsletter

PPrroojjeettoo FFéénniixx -- EEiixxoo IIII

[2]

Numa ótica de resposta à necessidade dos

diferentes perfis de alunos da escola, o “Eixo II”

está a ser implementado no 1º e 2º ciclos do

Ensino Básico. A intervenção num patamar

precoce da trajetória escolar dos alunos é

reforçada pela investigação na área

educacional, que indica que as competências

prévias desenvolvidas nos anos iniciais de

formação influenciam marcadamente o

rendimento escolar subsequente. Tal constitui-

se, inclusivamente, como uma variável

preditora do sucesso académico ao longo do

percurso escolar do aluno (Almeida, Ribeiro e

Gomes, 2006).

Metodologia e Operacionalização

De forma geral, a operacionalização do

Eixo II não envolve nem recursos nem custos

adicionais, mas sim uma reorganização, quer

pedagógica, quer funcional. Em termos

metodológicos, baseia-se na constituição de

um grande grupo de alunos – em regra, duas

turmas – do mesmo ano ou anos contíguos e

no consequente agrupamento flexível tendo

em conta o nível de conhecimentos e os

objetivos de aprendizagem a atingir.

Para tal, é necessário que os alunos sejam

submetidos, individualmente, a uma avaliação

diagnóstica nas disciplinas intervencionadas.

Após esta fase, os alunos são agrupados de

acordo com o nível de conhecimentos aferidos

(cf. Figura 1).

Esta dinâmica de sala de aula pode ter

uma frequência diária/semanal variável,

consoante a decisão da escola, e em

conformidade com as necessidades

identificadas.

Estes momentos servem para os alunos

consolidarem e desenvolverem conhecimentos

ao nível da língua materna e matemática. O

modelo aplicado atualmente nas escolas

implica a afetação de três tempos letivos

semanais a matemática (45minutos cada) e um

tempo letivo diário a língua portuguesa, ao

nível do 1º ciclo. Esta escolha fundamenta-se

em estudos recentes que sublinham o valor

transversal e estruturante da língua

portuguesa na aquisição de aprendizagens às

demais áreas curriculares disciplinares, com

especial destaque, na aprendizagem da

matemática (Costa, 2007).

Page 3: Eixo ii  newsletter

PPrroojjeettoo FFéénniixx -- EEiixxoo IIII

[3]

Cada sessão de trabalho exige uma

planificação semanal/diária, fruto de um

trabalho colaborativo do par pedagógico

envolvido, para que os conteúdos abordados e

as experiências de aprendizagem

desenvolvidas possam ir ao encontro dos

objetivos curriculares traçados para o grupo,

nesse dado momento, procurando existir o

máximo de correspondência com as

planificações mensais.

Esta dinâmica é acompanhada por um

processo de monitorização e avaliação

permanentes que determina o agrupamento e

transição dos alunos de acordo com o nível de

aquisição de conhecimentos, regendo-se pelo

princípio de homogeneidade relativa, isto é, o

grupo de alunos é constituído com base em

critérios de aprendizagem (Moreira, 2009).

Tal pode permitir uma melhor gestão de

tempo e conteúdos curriculares, bem como um

apoio mais preciso e eficaz por parte do

professor (Garcia,1989, cit. in Verdasca, 2007).

Este princípio pode traduzir-se, por sua vez,

numa melhoria da qualidade dos tempos

letivos e do desempenho escolar, que é

reforçado com a mobilidade dos alunos pelos

grupos de proficiência. Sempre que progridem

ou necessitam de maior apoio, os grupos de

alunos são reorganizados de acordo com os

progressos e objetivos atingidos (Crahay,

2007).

De forma global, o modelo de atuação

do Projeto Fénix e o do Eixo II

complementam-se. Numa lógica de ciclo, o

Projeto Fénix poderá consubstanciar-se

numa intervenção através dos “ninhos” no

2º, 5º e 7º anos de escolaridade, enquanto

a dinâmica do Eixo II, dirigir-se-á a todos os

restantes anos/turmas.

Conclusão

A implementação do “Eixo II” deriva, em

primeira instância, tal como o modelo original

do Projeto Fénix, de uma gestão pedagógica

que elege o modo de agrupar os alunos, o

tempo de ensino e aprendizagem, e a alocação

de professores a grupos flexíveis de alunos,

como variáveis chave do sucesso escolar. Para

além destas variáveis, o trabalho em equipa

dos docentes e a produção conjunta de

materiais assumem uma importância

estratégica.

Os objetivos gerais deste Eixo podem ser

sistematizados da seguinte forma:

1. Intervir ao nível dos conhecimentos

essenciais a língua portuguesa e

matemática;

2. Melhorar a comunicação, linguagem e

literacia dos alunos;

3. Permitir que todos os alunos,

independentemente do ano escolar que

frequentam e/ou idade, desenvolvam o

máximo do seu potencial de aprendizagem

através uma reorganização dos tempos

letivos e de agrupamento de alunos;

4. Flexibilizar os recursos escolares, sem

sobrecarga horária de alunos e docentes.

O Projeto Fénix, no seu modelo original,

tem crescido não só em dimensão, como em

termos de produção de conhecimento e de

uma rede alargada de cooperação, inter e

intraescolas (Verdasca, 2009). A comunicação e

forte cooperação é também uma das

características deste “Eixo II”, que mantém

muitas das ideias matriciais do Projeto original.

Page 4: Eixo ii  newsletter

PPrroojjeettoo FFéénniixx -- EEiixxoo IIII

[4]

Referências:

Almeida, L.; Ribeiro, I.; Gomes, C. (2006). Conhecimentos prévios, sucesso escolar e trajectórias de aprendizagem: do 1º ciclo para o 2º ciclo do ensino básico. In Avaliação Psicológica, (pp.127-13). Braga: Universidade do Minho.

Alves, J. & Moreira, M. (2011). Projecto Fénix: Relatos que contam o sucesso. Porto: Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa.

Costa, Anabela Mâncio (2007). A importância da língua portuguesa na aprendizagem da matemática. Braga: Dissertação de mestrado apresentada na Universidade do Minho.

Crahay, M. (2007). Qual pedagogia para os alunos em dificuldade escolar? São Paulo: Cadernos de Pesquisa. Vol. 37, nº130.

Moreira, Luísa Tavares (2009). Projecto Fénix - Um projecto de Inovação Pedagógica: Operacionalização e Impacto no Agrupamento Campo Aberto - Beiriz. Porto: Dissertação de mestrado apresentada na Universidade Católica Portuguesa.

Verdasca, J. (2007). A dimensão e a estrutura composicional da turma como factores de proficiência

escolar. In Cadernos da organização e administração educacional – A turma como unidade de análise.

N.º1. Évora: DREALE.

Verdasca, J. (2009). Programa Mais Sucesso Escolar: um desafio na afirmação da autonomia da escola. Évora: Revista Alentejo Educação.