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4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016 EIXO HISTÓRICO DE SANTO AMARO: um fragmento de paisagem urbana do município de São Paulo OLIVEIRA, LUCIANA M. Universidade Presbiteriana Mackenzie. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Rua da Consolação, nº 896, prédio 9, Consolação, São Paulo. [email protected] RESUMO Desde a inclusão do conceito de Paisagem Cultural pela Unesco, na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 1992, ampliou-se as discussões dos conceitos e práticas relativas à preservação do patrimônio cultural. No Brasil, a categoria foi incorporada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Iphan, oficialmente em 2009, a partir do lançamento do instrumento de preservação do patrimônio cultural brasileiro denominado de chancela da Paisagem Cultural, de acordo com a Portaria Iphan nº 127/2009. Em âmbito nacional, a chancela permite salvaguardar os patrimônios culturais dos conjuntos representativos das relações harmoniosas da intervenção do homem sobre a paisagem natural, como foi o caso da cidade do Rio de Janeiro, que em 1º de julho de 2012 teve sua paisagem urbana reconhecida como valor universal. Em âmbito local, a paisagem urbana é composta por diversos fragmentos que foram moldados em distintos momentos e a partir de diferentes modos de apropriação do território natural. O núcleo inicial de formação de um centro urbano contém as decisões primeiras que induziram a sua ocupação estratégica, e que levaram em consideração as funções que este núcleo iria desenvolver; a configuração da malha urbana que caracterizaria os desenhos dos lotes; e os eixos de circulação que responderam às demandas de relacionamento entre o núcleo e as ocupações adjacentes. Portanto, trata-se de um fragmento do território que contém as marcas da interação e o domínio do meio natural para a ocupação estratégica do lugar. O presente artigo reflete sobre a formação do núcleo inicial da ocupação de Santo Amaro que deu origem ao processo de expansão e do desenvolvimento urbano da porção sul do município de São Paulo. O objeto de estudo é o Eixo Histórico de Santo Amaro, tombado em âmbito municipal pela Resolução 14/2002 do CONPRESP. Trata-se de uma delimitação de parcela do núcleo urbano do atual bairro de Santo Amaro, fundado em 1560 e que foi incorporado ao município de São Paulo em 1935. O Eixo Histórico de Santo Amaro representa um fragmento urbano no processo de ocupação de áreas mais afastadas do núcleo central de São Paulo, a partir do avanço na tomada de territórios acessíveis pelos cursos dos rios da bacia do Rio Tietê. O objetivo é discutir a preservação da paisagem urbana de núcleos periféricos, como fragmentos urbanos que em conjunto compõe os valores culturais da paisagem urbana histórica da cidade de São Paulo. A análise envolveu o cruzamento dos fatos históricos com a cartografia do local, para demonstrar a permanência e a sobrevivência do núcleo original frente à expansão e ao adensamento da área. A identificação e a documentação dos edifícios e dos traçados originais dos núcleos periféricos de São Paulo são fundamentais para a preservação e gestão do patrimônio cultural da cidade. Palavras-chave: Paisagem urbana; núcleo histórico; Santo Amaro/SP.

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4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016

EIXO HISTÓRICO DE SANTO AMARO: um fragmento de paisagem urbana do município de São Paulo

OLIVEIRA, LUCIANA M.

Universidade Presbiteriana Mackenzie. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

Rua da Consolação, nº 896, prédio 9, Consolação, São Paulo. [email protected]

RESUMO

Desde a inclusão do conceito de Paisagem Cultural pela Unesco, na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 1992, ampliou-se as discussões dos conceitos e práticas relativas à preservação do patrimônio cultural. No Brasil, a categoria foi incorporada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Iphan, oficialmente em 2009, a partir do lançamento do instrumento de preservação do patrimônio cultural brasileiro denominado de chancela da Paisagem Cultural, de acordo com a Portaria Iphan nº 127/2009. Em âmbito nacional, a chancela permite salvaguardar os patrimônios culturais dos conjuntos representativos das relações harmoniosas da intervenção do homem sobre a paisagem natural, como foi o caso da cidade do Rio de Janeiro, que em 1º de julho de 2012 teve sua paisagem urbana reconhecida como valor universal. Em âmbito local, a paisagem urbana é composta por diversos fragmentos que foram moldados em distintos momentos e a partir de diferentes modos de apropriação do território natural. O núcleo inicial de formação de um centro urbano contém as decisões primeiras que induziram a sua ocupação estratégica, e que levaram em consideração as funções que este núcleo iria desenvolver; a configuração da malha urbana que caracterizaria os desenhos dos lotes; e os eixos de circulação que responderam às demandas de relacionamento entre o núcleo e as ocupações adjacentes. Portanto, trata-se de um fragmento do território que contém as marcas da interação e o domínio do meio natural para a ocupação estratégica do lugar. O presente artigo reflete sobre a formação do núcleo inicial da ocupação de Santo Amaro que deu origem ao processo de expansão e do desenvolvimento urbano da porção sul do município de São Paulo. O objeto de estudo é o Eixo Histórico de Santo Amaro, tombado em âmbito municipal pela Resolução 14/2002 do CONPRESP. Trata-se de uma delimitação de parcela do núcleo urbano do atual bairro de Santo Amaro, fundado em 1560 e que foi incorporado ao município de São Paulo em 1935. O Eixo Histórico de Santo Amaro representa um fragmento urbano no processo de ocupação de áreas mais afastadas do núcleo central de São Paulo, a partir do avanço na tomada de territórios acessíveis pelos cursos dos rios da bacia do Rio Tietê. O objetivo é discutir a preservação da paisagem urbana de núcleos periféricos, como fragmentos urbanos que em conjunto compõe os valores culturais da paisagem urbana histórica da cidade de São Paulo. A análise envolveu o cruzamento dos fatos históricos com a cartografia do local, para demonstrar a permanência e a sobrevivência do núcleo original frente à expansão e ao adensamento da área. A identificação e a documentação dos edifícios e dos traçados originais dos núcleos periféricos de São Paulo são fundamentais para a preservação e gestão do patrimônio cultural da cidade.

Palavras-chave: Paisagem urbana; núcleo histórico; Santo Amaro/SP.

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Introdução

Desde a inclusão do conceito de Paisagem Cultural pela Organização das Nações Unidas

para a Educação e a Cultura (UNESCO), na Conferência das Nações Unidas sobre Meio

Ambiente e Desenvolvimento, em 1992, ampliou-se as discussões dos conceitos e práticas

relativas à preservação do patrimônio cultural.

No Brasil, a categoria foi incorporada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico

Nacional, Iphan, oficialmente em 2009, a partir do lançamento do instrumento de preservação

do patrimônio cultural brasileiro denominado de chancela da Paisagem Cultural, de acordo

com a Portaria Iphan nº 127/2009. Segundo esta Portaria, a definição de Paisagem Cultural “é

uma porção peculiar do território nacional, representativa do processo de interação do homem

com o meio natural, à qual a vida e a ciência humana imprimiram marcas ou atribuíram

valores”.

Em âmbito nacional, a chancela permite salvaguardar os patrimônios culturais dos conjuntos

representativos das relações harmoniosas da intervenção do homem sobre a paisagem

natural, como foi o caso da cidade do Rio de Janeiro, que em 1º de julho de 2012 teve sua

paisagem urbana reconhecida como valor universal.

Em âmbito local, a paisagem urbana é composta por diversos fragmentos que foram

moldados em diferentes momentos e a partir de modos distintos de apropriação do território

natural. O núcleo inicial de formação de um centro urbano contém as decisões primeiras que

induziram a sua ocupação estratégica, e que levaram em consideração as funções que este

núcleo iria desenvolver; a configuração de sua malha urbana que caracterizaria os desenhos

dos lotes e os eixos de circulação que responderam às demandas de relacionamento entre o

núcleo e as ocupações adjacentes. Trata-se de um fragmento do território que contém as

marcas da interação e o domínio do meio natural para a ocupação do lugar.

Portanto, torna-se fundamental discutir qual o papel dos fragmentos históricos antigos para a

cidade contemporânea e como compatibilizar a preservação dos núcleos antigos diante da

necessidade de renovação urbana imposta pelas atuais demandas de adensamento, de

expansão e de melhoramentos viários para as cidades.

Preservar parte do tecido urbano está relacionado com a ampliação do conceito de patrimônio

cultural e patrimônio arquitetônico, conforme esclarecido por Castriota (2009), quando

argumenta sobre a “explosão” do conceito:

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De fato, inicialmente, concebia-se o patrimônio arquitetônico como uma espécie de “coleção de objetos” [...]. No entanto, tal concepção, muito presa à ideia tradicional de monumento único, vai sendo ampliada [...], aos critérios estilísticos e históricos vão se juntando outros, como a preocupação com o entorno, a ambiência e o significado (CASTRIOTA, 2009, p. 84).

Em 1964, no texto aprovado no II Congresso Internacional de Arquitetos e Técnicos de

Monumentos Históricos, a “Carta Internacional sobre a Conservação e o Restauro dos

Monumentos e Sítios”, que ficou conhecida posteriormente como Carta de Veneza, em seu

Artigo 1º, já englobava o conceito de sítio histórico urbano, independente da escala do

mesmo:

Art. 1 – A noção de monumento histórico compreende a criação arquitetônica isolada, bem como o sítio urbano ou rural que dá testemunho de uma civilização particular, de uma evolução significativa ou de um acontecimento histórico. Estende-se não só às grandes criações, mas também às obras modestas, que tenham adquirido, com o tempo, uma significação cultural (IPHAN, Carta de Veneza, 1964).

Em 1987, completando os conceitos apresentados pela Carta de Veneza, a 8ª Assembleia

Geral do Conselho Internacional dos Monumentos e dos Sítios (ICOMOS) adotou a “Carta

Internacional para a Salvaguarda das Cidades Históricas”, que ficou conhecida como Carta de

Washington. Além do caráter histórico, o documento apresenta os conjuntos de elementos

materiais e espirituais que devem ser preservados:

A forma urbana definida pela malha fundiária e pela rede viária; as relações entre edifícios, espaços verdes e espaços livres; a forma e o aspecto dos edifícios (interior e exterior) definidos pela sua estrutura, volume, estilo, escala, materiais, cor e decoração; as relações da cidade com o seu ambiente natural ou criado pelo homem; as vocações diversas da cidade adquiridas ao longo da sua história (IPHAN, Carta de Washington,1987).

Ao se levantar a questão da preservação do núcleo histórico diante do crescimento

econômico e da lógica do mercado, o que se pretende é evitar a transformação desordenada

destes fragmentos urbanos, diante da importância do papel que desempenham como

referência de identidade e da história de sua população.

De acordo com Françoise Choay (2001), Gustavo Giovannoni (1873-1943) foi pioneiro ao

apresentar o conceito de integração dos conjuntos urbanos antigos, nomeados de “patrimônio

urbano”, como elementos dentro de uma concepção geral da organização do território.

Giovannoni sugere um novo modo de conservação dos conjuntos antigos, propondo que os

centros, os bairros, os conjuntos de quarteirões antigos respondam a função que ele

denominou de unidades de vida cotidiana.

Ele é praticamente o primeiro a perceber a fragmentação e a desintegração da cidade, em proveito de uma urbanização generalizada e difusa. Para Giovannoni, a sociedade de comunicação multipolar essa que, à época,

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ainda não é nem informatizada, nem midiática, nem “de lazer”, essa sociedade que, entretanto não pode funcionar apenas em escala territorial e reticulada, exige, pois, a criação de unidades de vida cotidiana sem precedentes (CHOAY, 2001, p. 197).

Assim, estes fragmentos e núcleos urbanos, compostos por zonas isoladas de quarteirões

antigos podem responder e recuperar uma função atualizada para as demandas da nova

sociedade. Neste ponto, segundo esclarece Choay, Giovannoni destaca a importância da

seleção das atividades atribuídas a estes fragmentos, que devem ser compatíveis com sua

morfologia.

[...] essas malhas urbanas antigas ganham dois novos privilégios: elas são da mesma forma que os monumentos históricos, portadoras de valores artísticos e históricos, bem como de valor pedagógico e de estímulo imaginados por Viollet-le-Duc e por Sitte, verdadeiros catalisadores no processo de invenção de novas configurações espaciais. (CHOAY, 2001, p. 199).

Tomando como ponto de partida o papel dos núcleos antigos para as cidades

contemporâneas, o presente artigo reflete sobre o núcleo urbano histórico de Santo Amaro,

que deu origem ao processo de expansão e de desenvolvimento da porção sul do município

de São Paulo. O objeto de estudo é o Eixo Histórico de Santo Amaro, tombado em âmbito

municipal pela Resolução nº 14/2002 do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio

Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo - CONPRESP e com o perímetro

ajustado pela Resolução nº 27/2014. A pesquisa investiga se a situação atual do Eixo

Histórico de Santo Amaro responde ao papel proposto por Giovannoni para os núcleos

urbanos antigos no cenário da cidade contemporânea.

A paisagem historicamente construída é um bem patrimonial que deve ser valorizado, pois se

trata de um patrimônio culturalmente e socialmente configurado pelas sucessivas gerações

que ocuparam a região.

Santo Amaro

O primeiro núcleo oficial do Brasil foi estabelecido na capitania de São Vicente em 1534, por

Martim Afonso de Souza. A Coroa Portuguesa fez então um compromisso com a Companhia

de Jesus para evangelização e educação dos nativos. Após a fundação de um colégio em São

Vicente, os padres perceberam a necessidade de fundar outro colégio na parte superior da

serra. Em 25 de janeiro de 1554, os jesuítas fundaram o Colégio de São Paulo, no Campo de

Piratininga. A partir deste núcleo inicial, vários aldeamentos indígenas se formaram próximo

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deste núcleo. Os aldeamentos mais distantes eram acessíveis pelos rios da bacia do Tietê,

que foram utilizados pelos jesuítas e os missionários.

Vivendo em função da catequese, estas aldeias pouco ou nada influíram na vida econômica da vila, transformando-se, porém muitas delas em núcleos de povoamento fixo, como Pinheiros, Ibirapuera (Santo Amaro), Embú, Itapecerica e outros, que hoje constituem bairros ou subúrbios de São Paulo. (BERARDI, 1981, p. 24).

Inicialmente estas aldeias não eram fixas, mas com o apoio de autoridades civis que

forneceram a posse oficial das áreas, os jesuítas conseguiram estabelecer os assentamentos.

Em 12 de agosto de 1560, os jesuítas tomaram posse oficial das terras na margem esquerda

do Rio Jurubatuba (ou Geraibatiba). Eles ergueram nesta área, uma capela que recebeu a

doação do casal João Paes e Suzana Rodrigues, de uma pequena imagem de madeira de

Santo Amaro, que acabou por denominar toda a região. Em 1686, Santo Amaro tornou-se

paróquia.

No século XVIII há uma diminuição do transporte por via fluvial e começam a ser regularizadas

as ligações por terra entre São Paulo e os povoados circundantes. Em 1737 uma Ordem

Régia registra a ordenação de se fazer um caminho de São Paulo à freguesia de Santo

Amaro. Nesta época a paisagem do local foi assim descrita:

É junto à cidade de S. Paulo, pouco mais de duas léguas de distância, um bairro, a que deram o título de Santo Amaro, porque em uma formosa, ainda que pouco ornada igreja, veneram seus moradores como patrono, a esse Santo. É bairro aprazível por natureza, em numa campina de tal sorte levantada que, não perdendo o título de vargem, dá bastante matéria para os olhos se divertirem. É cortada de um famoso rio, sobre o qual por dois lugares formaram seus moradores duas formosas pontes, as quais ainda que não imitem na perpetuidade as da Europa, por serem de madeira, imitam quanto é possível a perfeição da arte. (FONSECA, 1751, apud BERARDI, 1981, p.41).

As pontes mencionadas pelo padre Fonseca, cortavam o rio Jurubatuba e eram denominadas

de Ponte de Cima, no caminho para Socorro, e a Ponte de Baixo, para Itapecerica.

No começo do século XIX, São Paulo continuava sendo visto apenas como um arraial de

povoação pobre, sem prosperidade e com a lavoura limitada à cultura de mandioca e poucos

cereais, não tendo acompanhado o desenvolvimento do Rio de Janeiro. A freguesia de Santo

Amaro tinha, nesta época três ou quatro ruas e algumas chácaras rodeando o povoado. Estas

primeiras ruas embrionárias partiam do centro irradiador do pátio da igreja matriz (BERARDI,

1981).

Desde 1º de outubro de 1828, havia uma lei que não permitia mais que os cemitérios se

estabelecessem dentro das Igrejas, o que obrigou a vila de Santo Amaro a eleger um local

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para a sua construção. O Cemitério de Santo Amaro foi inaugurado em 18 de agosto de 1856,

e seu primeiro administrador foi o Sr. Adolfo Pinheiro, que atualmente é homenageado por

uma das vias principais de ligação do Largo Treze em direção aos bairros mais ao norte.

Após a Proclamação da Independência do Brasil em 1822, D. Pedro I solicitou que Von

Schaeffer arregimentasse soldados europeus para lutarem nas guerras do sul, e colonos para

povoarem as freguesias. Von Schaeffer trouxe colonos vindos principalmente da região da

Baviera, na Alemanha. Uma parte destes colonos, 94 famílias, veio se alojar na freguesia de

Santo Amaro, tendo recebido terras por meio de um sorteio realizado em 29 de junho de 1829.

(BERARDI, 1981, p. 55). Mas, este núcleo inicial de alemães não prosperou, e dos 229

colonos, restaram apenas 157 após dez anos, em função da ausência de investimentos.

Porém, os poucos colonos alemães que restaram conseguiram introduzir a cultura da batata,

o que fez com que em 1837 Santo Amaro fosse o único produtor deste alimento na região. Por

volta de 1850, Santo Amaro já era considerado o celeiro da capital, e os gêneros de primeira

necessidade dos moradores de São Paulo eram comprados dos agricultores desta região que

produziam mandioca, milho, feijão e arroz. A região também comportava a criação de gado e

aves domésticas.

Santo Amaro também era fornecedor de madeira serrada para a construção de casas e de

móveis, além de carvão e pedra de cantaria, que eram transportados inicialmente por tropas

de burros e carros de boi até o mercado central de São Paulo.

Em 10 de julho de 1832, Santo Amaro, juntamente com outras freguesias, foi transformada em

vila, de acordo com a Regência sancionada por D. Pedro II.

Em 1869 a vila de Santo Amaro contava com aproximadamente 10 ruas, sendo uma das mais

importantes a Rua Direita, que começava junto à Igreja e seguia até o Largo do Rosário (atual

Praça Floriano Peixoto), onde funcionava a Prefeitura e a cadeia.

Em função do comércio promovido entre a vila de Santo Amaro e a capital, foi construída uma

ferrovia para trem a vapor, pela Companhia Carris de Ferro São Paulo - Santo Amaro, que foi

inaugurada em 14 de março de 1886. O percurso tinha início na Rua São Joaquim, na Vila

Mariana, seguindo até o ponto final que era na Praça Santa Cruz, próxima ao atual Largo

Treze de Maio. Neste mesmo ano, em 14 de novembro de 1886, a Vila de Santo Amaro

recebeu a visita do imperador D. Pedro II e sua esposa, que chegaram de trem e foram até a

Igreja Matriz, e depois até à Câmara Municipal. Nesta época a vila tinha 1.016 moradias e

6.259 habitantes (BERARDI, 1981, p. 89).

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O trem perdurou por pouco tempo, no período entre 1886 e 1913, quando foi implantada pela

Light and Power uma retificação da linha, que foi substituída por uma linha de bonde, o

Tramway de Santo Amaro, e que operou até 1968, quando houve a remoção parcial dos

trilhos (ELIEZER, 2012). O percurso da linha do bonde era mais extenso, pois partia da Praça

da Sé, passava pela Vila Mariana e pelo Largo 13 de Maio, cruzando o Rio Pinheiros, até a

Estrada de Guarapiranga.

No mapa publicado em 1890, é possível identificar: o percurso sinuoso do Rio Pinheiros a

oeste; o primeiro trecho da atual Avenida João Dias à noroeste do centro; a via que ligava até

o centro de São Paulo à nordeste, e que atualmente é a Avenida Adolfo Pinheiro; a via férrea

e o Cemitério de Santo Amaro à leste; e a via que cruzava o Rio Pinheiros em direção ao atual

Largo do Socorro , e que bifurca ao sul em duas direções, que hoje correspondem as avenidas

de Pinedo e Atlântica (Figura 1).

Figura 1 – Mapa da Vila de Santo Amaro, 1890. Fonte: PASSAGLIA, 1978, p. 9.

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Neste início do século XX também foram inaugurados alguns edifícios públicos: a Santa Casa

(1899), um Grupo Escolar (1910) na Praça Floriano Peixoto, o Teatro Pindorama (1900), uma

nova Igreja Matriz (1924) e a nova Prefeitura (1929).

No mapa de 1923 é possível verificar os novos arruamentos que foram surgindo

principalmente acompanhando a linha do bonde em direção ao nordeste, para onde

despontaram outros bairros: Brooklyn, Moema, Indianópolis e Vila Clementino (Figura 2).

Figura 2 – Mapa da Vila de Santo Amaro, 1923. Fonte: PASSAGLIA, 1978, p. 10.

Também é possível observar a barragem construída no Rio Guarapiranga, a sudoeste do

núcleo de Santo Amaro. As obras foram realizadas em 1907, pela São Paulo Light and Power,

que criou a represa com 34 quilômetros quadrados, para regularizar a vazão do Rio Tietê,

uma vez que a empresa havia instalado uma usina em Santana do Parnaíba, cidade a oeste

do centro. Logo a área passou a ser local para excursões e começaram a surgir residências

de veraneio em sua proximidade. Em 1924, em função de uma grande seca na região de São

Paulo, os rios Jurubatuba e Bororé, afluentes do rio Pinheiros, também foram represados

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formando outro lago, que veio somar-se às águas do reservatório de Guarapiranga e as do

Rio Pinheiros que teve seu sentido invertido.

Nesta época, Santo Amaro ainda era um núcleo humilde, com uma grande zona rural, com

vários fazendeiros descendentes dos colonos alemães, que impulsionaram a atração de

outros imigrantes para a região, como os italianos.

Em 1935, o município de Santo Amaro foi anexado ao município de São Paulo, a partir do

Decreto nº 6.983, assinado por Armando de Sales Oliveira, Interventor Federal do Estado de

São Paulo (BERARDI, 1981, p. 105).

Devido ao aumento dos valores dos impostos territoriais, os grandes proprietários de terras

rurais, se viram obrigados a subdividir suas chácaras e sítios, o que deu origem a vários

loteamentos na zona periférica de Santo Amaro.

Após receber imigrantes estrangeiros, Santo Amaro passou a receber migrantes vindos de

Minas Gerais e dos estados do Nordeste brasileiro, que vinham em busca de moradias

baratas nestes novos loteamentos. O aumento da população levou a expansão e conurbação,

além do adensamento da região.

A partir de 1945, com a expansão industrial da cidade de São Paulo, Santo Amaro passou a

abrigar uma série de indústrias que procuravam terrenos de menor valor do que as áreas

centrais do município. As indústrias ocuparam alguns terrenos dos sítios dos alemães, cujo

solo já estava esgotado após tantos anos de agricultura, e as margens dos rios Pinheiros e

Jurubatuba.

Na foto aérea de 1958 é possível observar a diferença entre a morfologia dos quarteirões do

núcleo central, com quadras e lotes de menores dimensões, quando comparados com os

lotes próximos à Avenida João Dias, ao norte e ao Rio Pinheiros a oeste, que receberam

algumas indústrias de menor porte (Figura 3).

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Figura 3 – Foto aérea de Santo Amaro, 1958. Fonte – GEOPORTAL, 1958.

Mesmo diante desta expansão da área urbana do município de Santo Amaro, o núcleo central

e originário do bairro, composto pelo Largo 13 de Maio e suas ruas adjacentes, mantém a

característica de núcleo comercial popular e de serviços, com a localização de vários bancos,

a sede da Subprefeitura de Santo Amaro, o Hospital Zona Sul, a Santa Casa de Santo Amaro,

e um posto de serviços do Poupatempo. A região praticamente não apresenta lotes vazios ou

mesmo para uso de estacionamento de veículos (Figura 4).

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Figura 4 – Foto aérea de Santo Amaro, 2015. Fonte – GOOGLE EARTH, 2015.

Quanto às características formais da paisagem, a área ainda apresenta a predominância das

edificações de pequeno porte, construídas no alinhamento dos lotes. A verticalização do

entorno ainda é pulverizada a partir da construção de edifícios predominantemente

residenciais. Ao comparar a imagem de 1985 com a fotografia recente da área, é possível

verificar que o núcleo antigo tem conseguido manter as suas características físicas e

volumétricas (Figuras 5 e 6).

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Figura 5 – Foto a partir da Biblioteca Prestes Maia com vista para o Antigo Mercado Municipal de Santo Amaro, em direção ao Eixo Histórico, 1985. Fonte – SÃO PAULO (Município), 1985.

Figura 6 – Foto a partir da Biblioteca Prestes Maia com vista para o Antigo Mercado Municipal de Santo Amaro, em direção ao Eixo Histórico, 2016. Fonte – Autoria própria, 2016.

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Mas em função da construção da linha lilás do metrô, há a preocupação de aumento da

especulação imobiliária decorrente da valorização dos lotes próximos às novas estações.

O trecho inicial de 8,4 quilômetros da Linha 5 – Lilás do Metrô, que compreende as estações

entre o Capão Redondo e a Estação Largo Treze, foi inaugurado em 2002. Na estação Largo

Treze existe uma conexão com a Linha 9 – Esmeralda da CPTM – Companhia Paulista de

Trens Metropolitanos que liga Osasco ao Grajaú. Em 2014 foi inaugurada a Estação Adolfo

Pinheiro. A Linha 5 – Lilás do Metrô está atualmente em expansão e deverá ter mais 10

estações de metrô que completarão o percurso entre a Estação Adolfo Pinheiro e a Estação

Chácara Klabin, com previsão de conclusão em 2018.

O traçado da Linha Lilás passa pelo centro do Eixo Histórico de Santo Amaro, sob a Avenida

Adolfo Pinheiro, exatamente entre a Igreja Matriz e a Praça Floriano Peixoto (Figura 7). Assim,

o tombamento da área denominada de Eixo Histórico é um fato relevante na tentativa de

preservação do patrimônio cultural e da paisagem da região diante do impacto a que a área

está sujeita em decorrência da implantação do metrô.

Figura 7 – Mapa da Linha 5 Lilás do metrô no Eixo Histórico de Santo Amaro. Fonte – Elaborado a partir de SÃO PAULO (Município), GEOSAMPA, 2004.

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Tombamento do eixo histórico

Em 2002, o núcleo antigo de Santo Amaro foi oficialmente tombado pelo Conselho Municipal

de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo -

CONPRESP, após nove anos da abertura do Processo nº 1993-0.07.834-8 (SÃO PAULO,

Resolução nº 14, 2002).

A Resolução nº 14 decidiu pelo tombamento do Eixo Histórico de Santo Amaro, de acordo

com os seguintes argumentos:

CONSIDERANDO o valor histórico, urbanístico e ambiental da área

identificada como Eixo Histórico de Santo Amaro, representativa da formação

e desenvolvimento desse antigo núcleo urbano que hoje integra a cidade de

São Paulo;

CONSIDERANDO o valor arquitetônico e paisagístico de alguns dos

elementos constitutivos desse ambiente urbano, reconhecidos por

inventários e medidas legais de proteção da Prefeitura do Município de São

Paulo; e

CONSIDERANDO o valor afetivo para a população do bairro de Santo Amaro

e região, bem como para toda a cidade de São Paulo, desse Eixo Histórico no

qual se concentram significativas formas de expressão cultural e social

paulistanas. (SÃO PAULO, Resolução nº 14, 2002).

Em 2014 foi divulgada a Resolução nº 27 do CONPRESP, que ajustou o perímetro de

tombamento do ambiente urbano do Eixo Histórico de Santo Amaro, para adequação de

alguns lotes, conforme o mapa da Figura 8.

Na área do perímetro traçado, já haviam três imóveis tombados por processos anteriores:

Antigo Mercado Municipal de Santo Amaro, tombado em âmbito estadual pela

Resolução de 21/09/1972 do CONDEPHAAT, e em âmbito municipal pela Resolução

05/1991 (Tombamento Ex-officio);

Antigo Instituto de Educação atual Escola Estadual Professor Alberto Conte, tombado

pela Resolução º 24/2014 do CONPRESP;

Antiga residência e estúdio do artista santamarense Júlio Guerra, também tombada

pela Resolução nº 24/2014 do CONPRESP.

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Figura 8 – Mapa do Perímetro do Eixo Histórico de Santo Amaro, com a indicação dos logradouros e imóveis tombados pela Resolução 27/CONPRESP/14. Fonte: Elaborado a partir de SÃO PAULO, Resolução nº 27, 2014.

A Resolução nº 27 (São Paulo, 2014), adicionou outros patrimônios culturais ao conjunto

anteriormente tombado, conforme apresentado na Tabela 1.

Patrimônio Histórico Endereço

Elementos

constitutivos

tombados, no

ambiente urbano

Traçado viário das vias e passeios contidos neste

perímetro

Praça Floriano Peixoto

Largo Treze de Maio

Praça Salim Farah Maluf

Edificações

tombadas

Edifício da Antiga Prefeitura de Santo Amaro Praça Floriano Peixoto, nº 131

Imóvel Praça Dr. Francisco Ferreira Lopes, nº

787

Igreja da Matriz de Santo Amaro Largo Treze de Maio, s/n

Biblioteca Pública Prestes Maia (antiga Presidente

Kennedy)

Avenida João Dias, nº 822

Tabela 1 – Elementos do Patrimônio Histórico tombados no Perímetro do Eixo Histórico de Santo Amaro pela Resolução 27/CONPRESP/14.

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A área do Eixo Histórico de Santo Amaro passou por um processo de revitalização

desenvolvido pela Subprefeitura Santo Amaro entre os anos de 2014 e 2015. As obras

compreenderam a transformação em calçadão de ruas do entorno da Praça Floriano Peixoto,

o alargamento das calçadas da Rua Coronel Carlos da Silva Araújo, e a redução do número

de faixas de automóveis desta mesma via.

Considerações Finais

O tombamento do núcleo histórico original do bairro de Santo Amaro pelo CONPRESP, em

2002, compreende uma importante contribuição para a preservação dos valores culturais das

paisagens urbanas históricas da cidade de São Paulo. Desde sua fundação como um

aldeamento distante do centro de São Paulo, acessível apenas pelo Rio Pinheiros, passando

por sua autonomia como um município independente, até finalmente sua anexação como

mais um bairro do município paulistano, o centro histórico de Santo Amaro vem resistindo às

alterações impostas pela modernização dos transportes e pelas demandas inerentes ao

crescimento da região.

Recentemente o núcleo recebeu as intervenções necessárias para a implantação da nova

linha Lilás do metrô que se conectará a linha Azul do eixo Norte-Sul, conjuntamente com a

execução de um projeto de revitalização dos calçamentos e adequação das larguras de

trechos de vias de automóveis.

Apesar do processo de descaracterização de algumas edificações que no decorrer da

evolução da área mudaram do uso residencial para comercial ou de prestação de serviços, a

volumetria, o gabarito das edificações e o perfil da paisagem vêm sendo preservados.

Assim, como alertou Giovannoni (1931, apud CHOAY, 2001) sobre a importância dos centros

e bairros antigos serem preservados a partir de sua integração à vida contemporânea, o

núcleo histórico de Santo Amaro tem resistido ao processo de modernização, apoiado na

manutenção e conservação de sua função como centro comercial local.

A conservação e restauração de fragmentos urbanos antigos, como os núcleos históricos de

formação dos bairros, deveriam ser incluídas nas políticas públicas para conter a

desvalorização da história do local para a substituição da paisagem urbana original por

cenários urbanos homogeneizados.

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