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PROMOTORIADE JUSTIÇADACOMARCADE PATU Rua Francisco Dutra deAlmeida, nº 137, Centro, Patu/RN, tel.:(84)3361-2299 EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE- EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR RELATOR Referência: Autos n° 0000576-91.2011..8.20.0125 Agravante: Ministério Público Estadual Agravado: Estado do Rio Grande do Norte Origem:Vara Única da Comarca de Patu O Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte, por sua Promotora de Justiça signatária, no exercício de suas atribuições legais, com supedâneo nos arts. 522 e seguintes do Código de Processo Civil bem como nas razões recursais em anexo, vem perante V. Exaª., tempestivamente, interpor AGRAVO DE INSTRUMENTO COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA PRETENSÃO RECURSAL contra a decisão interlocutória proferida nos autos de nº n° 0000576-91.2011..8.20.0125, fl. 188, referente à Ação Civil Pública com Antecipação Parcial e Liminar dos Efeitos da Tutela , ajuizada por este órgão ministerial em face do Estado do Rio Grande do Norte representado pela Procuradoria Geral do Estado, na pessoa do Senhor Procurador Geral do Estado( com sede na Avenida Afonso Pena, nº 1155, Tirol Para instruir o presente recurso, em observância ao que dispõe o art. 525, I e II do Código de Processo Civil, seguem anexas as seguintes peças: 1) cópia da decisão recorrida; 2) certidão da intimação do agravante sobre o inteiro teor da decisão recorrida; 3) cópia da petição inicial da ação; 4) cópia do Relatório da VI URSAP-Pau dos Ferros/RN( SUVISA) de 09/12/2010; 05) cópia do ofício nº 46/2010-CDP; 06) cópia do Formulário de Inspeção do Centro de Detenção

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PATURua Francisco Dutra de Almeida, nº 137, Centro, Patu/RN, tel.:(84)3361-2299

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE- EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR RELATOR

Referência: Autos n° 0000576-91.2011..8.20.0125

Agravante: Ministério Público Estadual

Agravado: Estado do Rio Grande do Norte

Origem:Vara Única da Comarca de Patu

O Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte, por sua

Promotora de Justiça signatária, no exercício de suas atribuições legais, com

supedâneo nos arts. 522 e seguintes do Código de Processo Civil bem como nas

razões recursais em anexo, vem perante V. Exaª., tempestivamente, interpor

AGRAVO DE INSTRUMENTO COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS

DA PRETENSÃO RECURSAL contra a decisão interlocutória proferida nos autos

de nº n° 0000576-91.2011..8.20.0125, fl. 188, referente à Ação Civil Pública com

Antecipação Parcial e Liminar dos Efeitos da Tutela , ajuizada por este órgão

ministerial em face do Estado do Rio Grande do Norte representado pela

Procuradoria Geral do Estado, na pessoa do Senhor Procurador Geral do

Estado( com sede na Avenida Afonso Pena, nº 1155, Tirol

Para instruir o presente recurso, em observância ao que dispõe o art.

525, I e II do Código de Processo Civil, seguem anexas as seguintes peças: 1)

cópia da decisão recorrida; 2) certidão da intimação do agravante sobre o inteiro

teor da decisão recorrida; 3) cópia da petição inicial da ação; 4) cópia do Relatório

da VI URSAP-Pau dos Ferros/RN( SUVISA) de 09/12/2010; 05) cópia do ofício nº

46/2010-CDP; 06) cópia do Formulário de Inspeção do Centro de Detenção

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Provisória de Patu oriundo do Mutirão Carcerário do Conselho Nacional de Justiça;

07) cópia do Relatório da VI URSAP-Pau dos Ferros/RN( SUVISA) de 02/08/2011;

08) cópia do ofício nº 474/2010-PJP; 09) cópia do ofício nº 069/2011-PJP, 10) cópia

da ata de visita ao Centro de Detenção Provisória de Patu do dia 28/06/2011; 11)

cópia da ata de visita ao Centro de Detenção Provisória de Patu do dia de

28/07/2011; 12) cópia do Formulário de Avaliação mensal de Estabelecimento

Penal; 13) cópia da decisão interlocutória que inicialmente apreciou o pedido

liminar; 14) cópia do requerimento ministerial que restou indeferido pela decisão

recorrida; 15) cópia do AR relativo ao ofício nº 69/2011-PJP; 16) cópia da certidão

da secretaria ministerial quanto à ausência de resposta ao ofício nº 69/2011-PJP.

Finalmente, requer este órgão ministerial que, após reconhecida a

admissibilidade do presente recurso e concedida a tutela antecipada da pretensão

recursal, nos moldes previstos no art. 527, inciso III do CPC, seja intimado o

agravado para, querendo, oferecer contrarrazões, no prazo legal.

Patu/RN, 29 de abril de 2012.

Micaele Fortes Caddah

Promotora de Justiça

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PATU

Rua Francisco Dutra de Almeida, nº 137, Centro, Patu/RN, tel.:(84)3361-2299

Referência: Autos n° 0000576-91.2011..8.20.0125

Agravante: Ministério Público Estadual

Agravado: Estado do Rio Grande do Norte

Origem:Vara Única da Comarca de Patu

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RAZÕES RECURSAIS

I – Histórico dos Fatos

Conforme cópia da petição inicial anexa, foi instaurado, no âmbito da

Promotoria de Justiça de Patu, em 22 de novembro de 2010, o Inquérito Civil nº

53/2010, através da Portaria nº 57/2010, com o objetivo de investigar a ausência

de atendimento à saúde; de regularidade do direito de visita e banho do sol bem

como falta estrutura e higiene das celas em que estão os presos do Centro de

Detenção Provisória de Patu

A SUVISA realizou inspeção requisitada pelo Ministério Público( cópia

anexa) através da qual foi constatado o seguinte: 1) a inexistência de local

apropriado para a realização do banho de sol; 2) vaso sanitário quebrado em uma

das celas; 3) ausência de fornecimento produtos de limpeza; os quais são trazidos

ocasionalmente pelos familiares dos presos; 4) falta de abastecimento de água.

A Vigilância Sanitária sugeriu, por fim, que os vasos sanitários fossem

substituídos pela bacia turca.

O então Diretor do Centro de Detenção Provisória de Patu noticiou

que havia dificuldade em realizar banho de sol nesse estabelecimento prisional

devido à ausência de agentes penitenciários suficientes e armamento( cópia do

ofício nº 46/2010-CDP em anexo)

Requisitou-se ao Secretário de Defesa Social informação sobre: 1 )

como tem sido feito o fornecimento do material de limpeza ao Centro em questão;

2) a possibilidade de serem lotados mais agentes penitenciários no

estabelecimento a fim de viabilizar o banho de sol; 3 ) a possibilidade de

destinação de um veículo automotor para aquele Centro para transporte dos

presos tanto para as audiências como para tratamentos de saúde, dentre outras

diligências necessárias ao bom funcionamento desse estabelecimento prisional,

( cópia do ofício nº 474/2010-PJP)

Reiterou-se o teor de tal expediente ao Secretário de Justiça e

Cidadania do Estado( cópia anexa),

Consoante certidão de cópia anexa, não houve resposta ao

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expediente citado, indicando inércia do Estado.

Realizaram-se mais duas visitas ao Centro de Detenção Provisória

consoante atas de cópias anexas, onde se constatou a permanência das

irregularidades.

O Conselho Nacional de Justiça constatou, em inspeção realizada

no dia 08 de dezembro de 2010, dentre outros pontos, o seguinte: 1) ausência de

área destinada à visita familiar; 2) ausência de banho de sol; 3) ausência de livro

de registro; 4) ausência de local para visita íntima; 5) ausência de separação dos

presos definitivos e provisórios; 6) ausência de fornecimento de vestuário e

produtos de limpeza; 7) ausência de prestação de assistência jurídica, à educação

e à saúde no local; 8) insalubridade do ambiente em decorrência do precário

sistema de arejamento e do calor excessivo( documento anexo).

Segundo o CNJ, seriam necessárias as seguintes providências para

regularização do funcionamento do estabelecimento: 1 ) reforma no prédio e

adequação da capacidade de absorção para o triplo da atual; 2) criação de espaço

próprio para banho de sol, atividade laborativa, recolhimento de idosos, atividades

educacionais, assistência jurídica, social.

A SUVISA realizou inspeção novamente requisitada pelo Ministério

Público( cópia anexa) através de cujo relatório anexo noticiou: 1) ausência de

condições adequadas de higiene; 2 ) instalações elétricas impróprias 3) ausência

de vaso sanitário em uma das celas; 4) ausência de chuveiro; 5) necessidade de

melhoria nas aberturas de ventilação e claridade.

Em decorrência de visita do Ministério Público, foi expedido o

Formulário de Avaliação Anual de Estabelecimento Penal, referente ao ano de

2010, anexo, através do qual as irregularidades anteriormente mencionadas são

reportadas ao Conselho Superior do Ministério Público por meio da Corregedoria

Geral do Ministério Público nos moldes da Resolução nº 56/2010-CNMP.

Diante desses fatos, o Ministério Público pediu, dentre outros

requerimentos: 1) a antecipação parcial dos efeitos da tutela, em sede liminar,

inaudita altera pars no sentido de determinar sob pena de multa diária e pessoal

do Secretário de Justiça e Cidadania ( SEJUC) do Estado no valor sugerido de

R$5.0000,00( cinco mil reais): 1.a) a imediata remoção dos presos condenados e

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provisórios para estabelecimento prisional adequado e previsto em lei, acionando-

se a Secretaria de Justiça e Cidadania para o cumprimento da determinação, até a

reforma do Centro de Detenção Provisória de Patu/RN com a maior brevidade

possível, conforme prazo razoável determinado judicialmente; 1. b) a interdição do

Centro de Detenção Provisória de Patu com a conseguinte proibição de ingresso

de novos presos até a regularização do estabelecimento e sempre por ordem

judicial e não ex oficio pelo Delegado Regional de Polícia; 1.c) a expedição de

ofício ao Secretário de Justiça e Cidadania a fim de que providencie

imediatamente: I) alimentação, colchão, produtos de higiene pessoal para os

presos; II ) a lotação de um auxiliar de serviços gerais para o Centro de Detenção

Provisória de Patu em prazo razoável determinado judicialmente; III)

disponibilização de um veículo exclusivo para atendimento das necessidades do

Centro; 2) a produção de todas as provas necessárias à demonstração do alegado, especialmente inspeção judicial e perícia do Corpo de Bombeiros a fim de serem observadas as condições em que vivem os presos na área da carceragem do Centro de Detenção Provisória de Patu; 3) a requisição ao Corpo de Bombeiros de vistoria no Centro de Detenção Provisória de Patu com remessa do relatório correlato em prazo razoável a ser fixado por este juízo, considerando a possibilidade de serem corroboradas e/ou complementadas as informações prestadas pela SUVISA.

Ao receber a inicial, o douto julgador indeferiu o pedido de antecipação

dos efeitos da tutela sob o argumento de que o Estado teria cumprido sua

obrigação ao construir o Centro de Detenção Provisória de Patu e que o uso

indiscriminado pelos presos gerou “algumas situações, apontadas pelo Ministério

Público como precárias”; bem como que “ da visita in loco por mim realizada, não

constatei que as situações ensejadoras de reparos justificassem a remoção dos

presos e/ou interdição temporária do mencionado estabelecimento”(cópia anexa).

Seguiu o MM. Juiz afirmando que alguns problemas, como a

substituição dos vasos sanitários, poderiam ser imediatamente

solucionados(anexo).

O Ministério Público requereu que fossem apreciados os pedidos

atinentes à produção probatória, incluindo a requisição de perícia do Corpo de

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Bombeiros bem como reiterou o pedido de tutela antecipada com esteio na

documentação acostada nas fls. 57/83 e 86/91, todos anexos.

O eminente julgador indeferiu o pleito sob o argumento de que: 1) a

documentação fora objeto de apreciação; 2) seria desnecessária a vistoria do

Corpo de Bombeiros.

É o relato

II – Do Cabimento do Agravo por Instrumento

Atualmente, a regra é a interposição do Agravo de forma retida nos

autos, conforme preceitua o art. 522 do Código de Processo Civil1.

Ressalvou-se, contudo, a possibilidade de sua interposição através de

instrumento, diretamente no órgão ad quem, sempre que “se tratar de decisão

suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil reparação”.

É o que ocorre no caso vertente conforme será pormenorizadamente

esclarecido nas razões para reforma da decisão. Desde logo, contudo, este órgão

ministerial esclarece que a não apreciação imediata do recurso pelo Tribunal ad

quem pode ensejar danos de difícil reparação à sociedade; à administração do

sistema prisional e ao Estado Democrático de Direito na medida em que

frontalmente infringidos preceitos constitucionais e a Lei de Execução Penal.

A finalidade da antecipação da tutela pleiteada inicialmente e

liminarmente era fazer cessar imediatamente a atividade danosa, nociva, e exigir o

cumprimento da norma jurídica.

A continuidade da violação gera a ineficácia ou desprestígio do

provimento final, mormente se considerar que, não há juiz titular na Vara Única de

Patu e o douto magistrado em exercício, por mais eficiente que seja, não tem o

condão de suprir tal ausência.

Mais. A demora da decisão de mérito significa vantagem para quem está cometendo a ilegalidade na posição de total omissão conforme demonstra a documentação acostada, eis que nenhuma providência foi

1 “Art. 522. Das decisões interlocutórias caberá agravo, no prazo de 10 (dez) dias, na forma retida, salvo quando se tratar de decisão suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil reparação, bem como nos casos de inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos em que a apelação é recebida, quando será admitida a sua interposição por instrumento.”

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tomada pela SEJUC.Ademais, o indeferimento de uma prova pericial (inspeção do

Corpo de Bombeiros, não substituída pela vistoria in loco seja do CNJ, do Ministério Público ou do Juízo a quo Código de Segurança e Prevenção contra Incêndio e Pânico do Estado do Rio Grande do Norte2) retarda, como de fato está retardando, o julgamento do mérito.

Ad argumentandum tantum, se indeferiu o pedido liminarmente; com a contestação da parte demandada, o douto juízo a quo poderia ter reapreciado a questão, inclusive porque pretendida a improcedência do pleito, o Estado deixa claro seu intento de permanecer inerte inclusive quanto aos problemas que, segundo a autoridade judiciária, “podem ser imediatamente sanados( tais como a troca de vasos sanitários)”.

Ora, se podem ser imediatamente sanados, por que assim não foi determinado?

Aliás, o douto juízo a quo, em seu decisum, afirmou que os outros

problemas( que não poderiam ser imediatamente sanados) deveriam ser objeto de

estudo mais abrangente, porém não observou que o Estado não pretende tomar qualquer providência para modificar a estrutura do Centro de Detenção Provisória de Patu.

Caracterizada a urgência para interposição do agravo de instrumento,

inexiste interesse na interposição do recurso sob a forma retida, o que

representaria mero acesso formal à Justiça, porém, materialmente, sua negação.

Nesse sentido, FREDIE DIDIER JR.:

“(...) havendo urgência, caberá agravo de instrumento,

pouco importa o momento em que a decisão foi tomada.

Não há interesse recursal na interposição de agravo retido em situações de urgência. O critério não é

cronológico, é circunstancial: está relacionado com a

aptidão da decisão interlocutória para gerar danos3.”

2 In http://www.cbm.rn.gov.br/downloadsserten.asp3 In Curso de Direito Processual Civil; Vol. 03; Salvador (BA); Editora Jus Podium, 2006, p. 106.

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III – Do Pedido Inicial de Antecipação Parcial do Efeitos da Tutela e da Decisão Agravada

Em sede de antecipação parcial dos efeitos da tutela, o Ministério

Público requereu : 1) a antecipação parcial dos efeitos da tutela, em sede liminar,

inaudita altera pars no sentido de determinar sob pena de multa diária e pessoal

do Secretário de Justiça e Cidadania ( SEJUC) do Estado no valor sugerido de

R$5.0000,00( cinco mil reais): 1.a) a imediata remoção dos presos condenados e

provisórios para estabelecimento prisional adequado e previsto em lei, acionando-

se a Secretaria de Justiça e Cidadania para o cumprimento da determinação, até a

reforma do Centro de Detenção Provisória de Patu/RN com a maior brevidade

possível, conforme prazo razoável determinado judicialmente; 1. b) a interdição do

Centro de Detenção Provisória de Patu com a conseguinte proibição de ingresso

de novos presos até a regularização do estabelecimento e sempre por ordem

judicial e não ex oficio pelo Delegado Regional de Polícia; 1.c) a expedição de

ofício ao Secretário de Justiça e Cidadania a fim de que providencie

imediatamente: I) alimentação, colchão, produtos de higiene pessoal para os

presos; II ) a lotação de um auxiliar de serviços gerais para o Centro de Detenção

Provisória de Patu em prazo razoável determinado judicialmente; III)

disponibilização de um veículo exclusivo para atendimento das necessidades do

Centro.

Ao receber a inicial, o juízo aduziu que:

“O Centro de Detenção Provisório(sic) desta cidade,

contudo, é um dos que apresentam as melhores

condições quando comparado a outros desta e de outras

regiões do Estado. Afirmo-o não para desfazer-me das

pretensões ministeriais, mas porque constatei,

pessoalmente, com realização de visita in loco, que o Centro mantém estrutura que garante o mínimo constitucional.O que se conhece é que o Estado quando cumpriu sua

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obrigação e edificou o Centro de Detenção Provisório (sic) de Patu, que se destinaria à detenção de pessoas acusadas de crimes, o fez de acordo com as normais legais e que o uso indiscriminado pelos presos gerou algumas situações, apontadas pelo Ministério Público como precárias.Ocorre que, da visita in loco por mim realizada, não

constatei que as situações ensejadoras de reparos

justificassem a remoção dos presos e /ou a interdição

imediata do mencionado estabelecimento. Problemas há que podem ser imediatamente sanados (tais como a troca de vasos sanitários), outros, que necessário se

faria, antes de se determinar aos administrador público

que venha a tomar esta ou aquela medida se proceda a

estudo mais abrangente. Em outras palavras, considero

ausentes os requisitos tradicionais da medida liminar,

quais sejam o periculum in mora e do fumus boni iuris, que

justificariam o seu deferimento”. Grifos para destaque

IV – Das Razões Para Reforma

A afronta à Constituição da República Federativa do Brasil, que

enumera o princípio da dignidade da pessoa humana como um dos fundamentos

para concretização do Estado Democrático de Direito, é clara conforme

documentação acostada.

Diferentemente do alegado pelo juízo a quo, o Centro de Detenção

Provisória não respeito os preceitos constitucionais nem a lei; precisa ser

reformado e adequado à custódia de pessoas, titulares de direitos, ainda que

limitados em decorrência da prática suposta de crimes.

A teoria do mínimo existencial, fundamentada nos princípios

constitucionais explícitos e implícitos, impõem a garantia de direitos fundamentais

à sobrevivência do ser humano. Nessa trilha, ao preso, como pessoa humana, é

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assegurado à integridade física e moral, não podendo a sanção ter o caráter cruel

como forma de pena. Dessa forma, ao preso seja provisório ou definitivo são

garantidos direitos, dentre eles o atendimento ambulatorial e hospitalar; a celas

separadas para presos provisórios e condenados, os quais não são respeitados no

Centro de Detenção Provisória de Patu.

Ainda no âmbito da Constituição Federal, pode-se arguir que o

tratamento desumano dispensado aos presos do Centro de Detenção Provisória de

Patu, aos quais não são garantidos direitos mínimos como o direito à saúde, ao

ambiente sadio, à integridade física e moral, a celas adequadas à legislação

federal, constitui afronta ao princípio da igualdade estatuído no art. 5º caput, como

se a condição de preso, ainda que não condenado, tivesse o condão de restringir

as garantias constitucionais e autorizar a distinção.

Ademais, em hierarquia inferior, a Lei Federal n° 7.210/84, que regula

a execução penal, tem por objetivo, nos termos do art. 1°, justamente efetivar as

disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a

harmônica integração social do condenado e do internado. Aludido diploma legal,

ao dispor sobre os estabelecimentos penais impõe os objetivos e condições para o

respectivo funcionamento.

Segundo o art. 102 da referida lei: “A Cadeia Pública destina-se ao

recolhimento de presos provisórios”. Os arts. 103 e 104, por sua vez preveem, in

verbis:

“Art. 103. Cada comarca terá, pelo menos, uma Cadeia Pública a

fim de resguardar o interesse da administração da justiça criminal

e a permanência do preso em local próximo ao seu meio social e

familiar”.

“Art. 104. O estabelecimento de que trata este Capítulo será

instalado próximo de centro urbano, observando-se na construção

as exigências mínimas referidas no art. 88 e seu parágrafo único

desta Lei.”

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Nesta linha de raciocínio, devem ser mencionadas as disposições

relativas ao art. 88 do diploma suso, que determina as condições e requisitos

básicos para alocação dos presos condenados e provisórios:

“Art. 88. O condenado será alojado em cela especial que conterá

dormitório, aparelho sanitário e lavatório.

Parágrafo único: São requisitos básicos da unidade celular:

a)salubridade do ambiente pela concorrência dos fatores de aeração, insolação e condicionamento térmico adequado à existência humana;b)área mínima de 6m2 (seis metros quadrados) – grifos para

destaque

Dispõem ainda os arts. 40 e 41 da Lei nº 7.210/84:

“Art. 40. Impõe-se a todas as autoridades o respeito à integridade física e moral dos condenados e dos presos provisórios.”

“Art. 41. Constituem direitos do preso:

I – alimentação suficiente e vestuário;

II – atribuição de trabalho e remuneração ;

(...)

VII – assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa;

(...)

Da interpretação sistêmica dos dispositivos citados, depreende-se da

documentação anexa, que o Centro de Detenção Provisória de Patu não preenche

as condições mínimas para permanência dos detentos, pois não pode ser considerada cadeia pública nem penitenciária como estabelece a Lei de Execução Penal citada.

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Em primeiro lugar, consoante documentação acostada, a atual

estrutura das instalações elétricas e o ambiente insalubre das celas do CDP-Patu

representam um risco para os presos e para todos que ali trabalham.De acordo com a documentação acostada, os presos não tem direito a

ambiente salubre, pois nas celas não existe vaso sanitário e chuveiro; nem limpeza

por parte do governo estadual; aliás os presos não dispõem sequer de

cama/colchão!

Os presos provisórios também não são separados dos condenados;

ou seja, a ofensa à legislação citada é clara e prescinde de outras provas, tanto

que já constatada pelo Conselho Nacional de Justiça, conforme relatado linhas

atrás.

Nesse sentido, dispõe a Lei nº 7.210/84:

“Art. 84. O preso provisório ficará separado do condenado por

sentença transitada em julgado”.

“Art. 92. O condenado poderá ser alojado em compartimento

coletivo, observados os requisitos da letra a, do parágrafo único,

do artigo 88, desta Lei.

Parágrafo único. São também requisitos básicos das

dependências coletivas:

a) a seleção adequada dos presos;”

In casu, no Centro de Detenção Provisória de Patu, antes carceragem

da Delegacia de Polícia local, há anos que se misturam presos provisórios e

definitivos, sem qualquer preocupação com os primeiros e seu contato com o

mundo dos declarados culpados; e sem qualquer preocupação de individualização

da pena dos segundos, que não são atendidos de acordo com as particularidades

de sua personalidade e do crime cometido, circunstância que mais uma vez

contraria a Constituição Federal (art. 5º, XLVI4) e a Lei de Execução Penal (arts. 5º5

e 8º6).

4 “a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes”.5“os condenados serão classificados, segundo os seus antecedentes e personalidade, para orientar a individualização da execução penal”.

6 “o condenado ao cumprimento de pena privativa de liberdade, em regime fechado, será submetido a exame

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Ou seja, a seleção a que se refere a LEP tampouco existe, pois os

presos condenados e provisórios não são separados pela natureza do crime,

regime de cumprimento de pena ou outros requisitos objetivos, mas sim pela

compatibilidade entre os mesmos consoante se verifica pelas atas das visitas

realizadas pelo Ministério Público e Formulário de Avaliação Anual de

Estabelecimento Penal anexos

Quanto à separação dos presos provisórios dos condenados em

definitivo, segue o magistério de Guilherme de Souza Nucci (Código de Processo

Penal Comentado. 8ª edição revista, atualizada e ampliada. São Paulo: Editora

Revista dos Tribunais, 2008. p. 594.):

"Trata-se de uma obrigação do Estado, evitando-se a

promiscuidade nefasta dos presídios e amenizando-se o trauma

daquele que, não sendo ainda considerado culpado, merece ser

afastado dos presos já sentenciados com trânsito em julgado. A

lei 7.210/89 (Lei de Execução Penal), sensível a esse drama, em

vez de facultar, determina que o preso provisório fique separado

do condenado definitivamente (art. 84, caput). E vai além, com

razão: determina que o condenado primário deve ficar em sessão

distinta, no presídio, do condenado reincidente (art. 84, § 1º)".

O desprezo às normas legais que disciplinam o tratamento dos presos

provisórios e condenadas motiva a superlotação das cadeias públicas, neste caso

o Centro de Detenção Provisória de Patu, onde condenados definitivamente que

aguardam benefícios legais como progressão de regime, livramento condicional ou

o cumprimento integral da pena, convivem com presos provisórios que sequer

sabem se serão ou não condenados.

Nos termos do art. 42 da LEP7, os direitos constantes no art. 41 do

mesmo diploma legal também devem ser respeitados em se tratando de preso

provisório ou do submetido à medida de segurança, porém, como já foi

criminológico para a obtenção dos elementos necessários a uma adequada classificação e com vistas à individualização da execução”.7 “aplica-se ao preso provisório e ao submetido à medida de segurança, no que couber, o disposto nesta Seção”.

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exaustivamente relatado, o Centro de Detenção Provisória de Patu não oferece as

mínimas condições de higiene, salubridade, educação, lazer, atendimento de

saúde e psicológico, além da ausência de banho de sol e condições impróprias

para a realização da visita íntima, que ocorre dentro das próprias celas, cuidando

cada preso de proteger sua privacidade da visibilidade dos outros que aguardam

no corredor.

Aliás, como o Centro de Detenção Provisória também acaba por

acolher condenados, deve-se registrar que a execução penal, no Estado

Democrático e de Direito, deve observar estritamente os limites da lei e do

necessário ao cumprimento da pena.

Tudo o que excede aos limites contraria direitos e deve ser corrigido

pelo Poder Judiciário, sob pena de se ferir o princípio da legalidade da execução

penal enquanto emanação do princípio da legalidade administrativa do artigo 37,

caput, da Constituição Federal.

Também em tema de direitos do preso, a interpretação que se deve

buscar é a mais ampla no sentido de que tudo aquilo que não constitui restrição

legal decorrente da particular condição do sentenciado, permanece como direito

seu.

Neste ponto, é mister que se ressalte o disposto no art. 3º da LEP, o

qual assegura ao condenado todos os direitos não atingidos pela sentença . Mesmo

privado de sua liberdade, assegura-se ao preso determinadas prerrogativas

dispostas, inclusive, em cláusulas pétreas da Constituição Federal (art. 5º, incisos

XLVIII e XLIX), que garantem o respeito à integridade física e moral do preso e

assegura a ele o mínimo de existência digna, de respeito à personalidade, de

liberdade, de intimidade e de honra, imprescindíveis ao bom resultado do processo

de reintegração.

“Art. 3º (da Lei de Execução Penal). Ao condenado e ao internado

serão assegurados todos os direitos não atingidos pela sentença

ou pela lei”.

É bem verdade que o cenário encontrado no Brasil é bastante

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diferente do fim almejado com os direitos garantidos pelo art. 41 da LEP acima

transcrito. O que tem ocorrido na prática é a constante violação dos direitos e a

total inobservância das garantias legais previstas na execução das penas

privativas de liberdade.

A partir do momento em que o preso passa à tutela do Estado, ele não

perde apenas o seu direito de liberdade, mas também, na prática, todos os outros

direitos fundamentais que não foram atingidos pela sentença, passando a ter um

tratamento execrável e a sofrer os mais variados tipos de castigos que acarretam a

degradação de sua personalidade e a perda de sua dignidade, num processo que

não oferece quaisquer condições de preparar o seu retorno útil à sociedade.

Essa realidade é facilmente verificada no Centro de Detenção

Provisória de Patu/RN, através dos relatórios de inspeção da Vigilância Sanitária

Estadual; das atas das visitas realizadas pelo Ministério Público e do relatório do

mutirão carcerário procedido pelo Conselho Nacional de Justiça.

Mais. Conforme ata das vistas realizadas e relatórios da SUVISA em

anexo, está sendo descumprido o disposto no art. 88 acima transcrito, eis que o tamanho das celas ( 2,90m x 2,90m; e 2,90m x 8,90m) é incompatível com a quantidade de presos.

Aliás, conforme relatado, as celas do Centro de Detenção provisória

não apresentam as características exigidas pelo art. 88 da LEP, eis que

destituídas dos requisitos mínimos para alojamento dos presos, pois, como

mencionado, não há camas, vaso sanitário e chuveiro.

A superlotação das celas, sua precariedade e sua insalubridade

tornam a prisão um ambiente propício à proliferação de epidemias e ao contágio

de doenças. Todos esses fatores estruturais aliados ainda à má alimentação dos

presos, seu sedentarismo, o uso de drogas, a falta de higiene e toda a lugubridade

da prisão, fazem com que um preso que adentrou lá numa condição sadia, de lá

não saia sem ser acometido de uma doença ou com sua resistência física e saúde

fragilizadas.

Que fique claro que o CDP não conta sequer com um auxiliar de serviços gerais para realização da limpeza diária do estabelecimento!

Destarte, o Centro de Detenção Provisório de Patu/RN não está

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cumprindo com a sua finalidade, que é custodiar apenas presos provisórios, não

observando, também, o disposto no art. 85 da LEP:

“Art. 85. O estabelecimento penal deverá ter lotação compatível

com a sua estrutura e finalidade”.

É fato público e notório o desrespeito aos direitos do preso que, em

razão da sua conduta ilícita, deve sofrer a sanção imposta pelo Estado, porém de

forma proporcional e razoável, não tornando a pena um castigo ou vingança

estatal como forma de retribuição ao crime, pois uma vez que seus direitos não

estejam sendo resguardados, a recuperação e reeducação restam

impossibilitadas, haja vista ser durante o período de aprisionamento que se

oferece ao detento a oportunidade de realizar mudanças comportamentais, a fim

de adaptar-se à sociedade no momento da reintegração.

Não se cumpre, pois, a finalidade do Centro de Detenção Provisória,

porque nele não se encontram apenas presos não condenados; tampouco da

pena, eis que ausentes as funções desta diante do descumprimento da Lei de

Execução Penal, não permitindo a reintegração social do preso, sua recuperação.

A prisão, do ponto de vista sociológico, é um reflexo do poder

soberano do Estado, constituindo-se num instrumento de controle social. Acerca

da sua existência como manifestação do poder, Michel Foucault (apud

RODRIGUES, Edmar Edson Mendes. A salvaguarda dos presos provisórios.

Disponível em <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=14249#_ftnref3>.

Acesso em 14 set. 2010) afirma que:

"Prender alguém, mantê−lo na prisão, privá−lo de alimentação, de

aquecimento, impedi−lo de sair, de fazer amor, etc., é a

manifestação de poder mais delirante que se possa imaginar. (...)

A prisão é o único lugar onde o poder pode se manifestar em

estado puro em suas dimensões mais excessivas e se justificar

como poder moral".

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Assim, inobstante seu caráter retributivo, a pena também tem caráter

ressocializador. O termo ressocializar denota tornar o ser humano que praticou

algum crime novamente capaz de viver pacificamente no meio social, de forma que

seu comportamento seja harmonioso com a conduta aceita socialmente. Assim,

deve-se tentar reverter os valores nocivos à sociedade que existem na

personalidade do preso, com a finalidade de torná-los benéficos e adequados à

coexistência pacífica e plural.

Desta feita, é preciso que o Estado resguarde um mínimo de liberdade

e personalidade do condenado para que este possua condição de assimilar o

processo de ressocialização, e não se brutalize cada vez mais, como um animal,

vivendo em espaço impróprio como o é o Centro de Detenção Provisória de Patu.

Ainda neste sentido, prescreve a LEP, arts. 10 e 11:

"A assistência ao preso e ao internado é dever do Estado,

objetivando prevenir o crime e orientar o retorno a convivência

social."

“A assistência será material, à saúde, jurídica, educacional, social

e religiosa”.

A ausência dessas assistências denuncia claramente que, devido a

não observância das normas de proteção ao detento, restam prejudicadas as

operações de recuperação. Sabe-se que atualmente uma ínfima parte deles

retorna para sociedade recuperada. A grande maioria regressa ao cárcere em

curto lapso de tempo, geralmente reincidentes e mais perigosos.

A finalidade de reintegrar somente será alcançada quando for

propiciado à instituição prisional qualidades ideais e satisfatórias ao trabalho de

regeneração e sobrevivência do preso. Para que isto ocorra, é necessário que o

Estado utilize verbas para reforma do estabelecimento prisional e sua estruturação

técnica, a fim de propiciar um ambiente saudável que possibilite a recuperação e

reeducação do detento, que apesar de ter cometido crime também possui direitos

inalienáveis, insuprimíveis e inegociáveis.

O Centro de Detenção Provisória de Patu não oferece quaisquer

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possibilidades de apoio ao detento para sua ressocialização, pois, durante o

período de detenção, os esforços para manter a dignidade dos encarcerados são

praticamente nulos. Não são oferecidos auxílio físico ou psicológico, educação,

condições de saúde e higiene apropriadas, lazer, banho de sol, tudo garantido por

lei e imprescindível ao preso no momento de sua reintegração.

Por outro lado, os fatos aqui narrados não afrontam unicamente

direitos a garantias dos presos, mas também da comunidade como um todo,

principalmente dos mais próximos ao estabelecimento prisional, sendo-lhes

negados os sagrados direitos à tranquilidade e segurança.

Ora, a segurança é um direito de todos e um dever do Estado nos

termos da Constituição Federal em seus artigos 6º e 144, in verbis:

Art. 6º da CF:

“São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia,

o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à

maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na

forma desta Constituição”.

[...]

Art. 144 da CF:

“A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade

de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da

incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes

órgãos”.

A segurança pública é uma das questões que mais preocupam a

sociedade brasileira. Além das óbvias razões de ordem econômico-sociais, há que

se creditar à ineficiência do Estado parte significativa da responsabilidade sobre o

problema. É que ao dever estatal de prestar segurança pública corresponde a

necessidade de instituir mecanismos e instalações adequadas à relevância desse

munus atribuído pela Constituição Federal aos entes estatais.

A falta de estrutura do CDP não impede que os presos continuem

delinquindo, uma vez que já foram apreendidos celulares e drogas( v. Formulário

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Anual de Avaliação de Estabelecimento Penal), fatos que ocorrem em decorrência

do sistema de segurança ineficiente que não atende sequer à Portaria nº

072/2011/GS-SEJUC.

Aliás, como dito, o CDP-Patu se localiza numa extensão da Delegacia

Regional de Polícia Civil desta Comarca, que não possui segurança externa e

permite acesso fácil ao terreno e contato de terceiros com os presos pelas janelas.

A existência de apenas dois agentes penitenciários por dia; na

verdade um, porque o segundo se trata do Diretor do Centro de Detenção

Provisória, contribui para o problema.

Tampouco dispõe o estabelecimento prisional de viatura, ocorrendo

de, às vezes, ser emprestada, quando necessário, a única da 7ª Delegacia

Regional de Polícia Civil.

O Centro de Detenção Provisória de Patu/RN não oferece garantia no

sentido de evitar que os ali detidos ganhem imerecida liberdade e isso é, sem

dúvida, fato atentatório à segurança pública. Quanto pior as condições a que estão

submetidos os detidos, maiores são os riscos de ocorrerem fugas, aumentando

assim não só a impunidade, como também o sentimento de insegurança que já

atormenta a população da comarca de Patu.

Assim, verifica-se que os fatos trazidos à tona infringem direitos e

garantais constitucionais e legais não só dos presos, como também da

coletividade.

Junte-se ao exposto a ausência de formalização do referido Centro de Detenção Provisória no próprio Sistema Estadual Penitenciário. Na verdade, o que se vê é que a Delegacia de Polícia de Patu, somente recebeu essa denominação – Centro de Detenção Provisória, sem que de fato a Secretaria Estadual de Justiça e Cidadania regularizasse tal situação, até mesmo do ponto de vista formal.

Além da inadequação, do ponto de vista prático, essa transformação

das delegacias em “centros de detenção provisória” improvisados viola o

ordenamento jurídico. Com efeito, a Lei Federal nº 7.210/1984 – Lei de Execução

Penal – determina, em seu art. 102 c/c o art. 82 que o recolhimento de presos

provisórios deve ser feito em cadeia pública, e que os definitivos sejam mantidos

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em presídios, colônias penais ou casas de albergado, ou seja, em estabelecimento

penal, o que, obviamente, não se confunde com delegacia de polícia.

A própria legislação estadual há mais de 8 (oito) anos já transferiu a

Administração do Sistema Penitenciário à Secretaria de Justiça e Cidadania, por

meio da Lei Complementar n.º 256, de 13/11/2003.

Do mesmo modo, a Lei Estadual nº 7.131, de 13 de janeiro de 1998,

que dispõe sobre o Estatuto Penitenciário do Estado, enumera os tipos de

estabelecimentos penais componentes do Sistema Penitenciário Estadual:

“Art. 1.º O Sistema Penitenciário do Estado do Rio Grande do

Norte, sob a supervisão da Coordenadoria de Justiça da

Secretaria de Interior, Justiça e Cidadania, é constituído dos

seguintes órgãos:

I - Estabelecimentos Prisionais e de Segregação Provisória;

II - Estabelecimentos Penitenciários;

III - Estabelecimentos Penitenciários Agrícolas, Industriais ou

Mistos;

IV - Estabelecimentos Médico-Penais;

V - Centro Especializado de Observação e Triagem;

VI - Casa de Albergado;

VII - Patronato;

VIII - Escola Penitenciária.

“Art. 3.º Os Estabelecimentos Prisionais e de Segregação

Provisória destinam-se aos presos provisórios e àqueles sujeitos

a prisão simples e a prisão especial.

§1.º Nas Comarcas em que não houver Estabelecimentos

Prisionais e de Segregação Provisória, atenderão suas

finalidades as cadeias públicas, observadas as disposições

previstas nesta Lei e na Lei de Execução Penal.

§ 2.º Nas prisões de natureza civil e administrativa, o preso

permanecerá em dependências isoladas dos demais,

observando- se, no que couber, as normas pertinentes aos

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presos provisórios”.

“Art. 4.º Os Estabelecimentos Penitenciários destinam-se aos

condenados a cumprimento de pena em regime fechado”.

“Art. 5.º Os Estabelecimentos Penitenciários Agrícolas, Industriais

ou Mistos destinam-se a cumprimento de pena em regime semi-

aberto.

Art. 6.º São Estabelecimentos Médico-Penais:

I - Hospital Penitenciário;

II - Sanatório Judiciário;

III - Hospital de Custódia”.

Por outro lado, o Decreto nº 20.382, de 12 de março de 2008, que

dispõe sobre a classificação e disponibilidade de vagas nos estabelecimentos

penais integrantes do Sistema Penitenciário do Estado, não contempla o Centro de

Detenção Provisória de Patu como integrante do mesmo. Assim, sequer se sabe a

capacidade máxima das carceragens do referido CDP em que pese as

informações constante no Formulário de Avaliação Anual de Estabelecimento

Penal, prestadas pelo então diretor conforme ali consignado e o teor da Portaria nº

072/2011-/GS-SEJUC.

Desse modo, vê-se claramente que o Estado do Rio Grande do Norte há anos se omite em seu dever de regularizar a situação dos presos provisórios e definitivos da comarca de Patu, na medida em que improvisou uma “solução”, com a criação emergencial, sem qualquer previsão normativa e sem qualquer condição física e de pessoal de funcionamento, do chamado Centro de Detenção Provisória, que na verdade nada mais é do que a velha carceragem da Delegacia de Polícia, distinguindo-se dela tão somente pela designação de alguns agentes penitenciários para o local.

Nada resta, pois, senão impedir o funcionamento de tal nefasta

estrutura, da forma como se apresenta há anos.

O Estado não pode se escusar do cumprimento das obrigações impostas pela Constituição da República e pelas leis infraconstitucionais no que tange principalmente aos direitos mínimos dos presos, dos sexos

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masculino e feminino; e menores infratores.Nesse diapasão, a conduta omissiva do Estado, na prática da

ilegalidade, conduz à correção pelo Poder Judiciário, sem prejuízo das responsabilidades cabíveis às autoridades e servidores públicos, em caso de comprovado dano a outrem.

Se há o descumprimento da lei no município de Patu/RN, cabe

intervenção do Judiciário nas políticas públicas sem a pecha de malferir o princípio

da Separação dos Poderes, reconhecendo, no caso sub examine, a obrigação do

Estado de assegurar os direitos dos presos e da própria sociedade conforme

rezam os arts. 1º, inciso III; 3º, inciso I; 5º, caput, e 144 da Carta Magna8.

Sobre o tema, a jurisprudência:

“50012840 JCF.5 JCF.5..XLIX – RECURSO DE APELAÇÃO CÍVIL

– PRESO ASSASSINADO POR OUTRO DETENTO NO

INTERIOR DA CELA – RESPONSABILIDADE DO ESTADO –

VERBA DEVIDA – APENAS COM RELAÇÃO AO DANO MORAL

– PENSÃO MENSAL EXCLUÍDA – RECURSO PARCIALMENTE

PROVIDO – Cumpre ao Estado tomar as medidas necessárias para assegurar a integridade física de seus custodiados. Direito assegurado pela Constituição Federal em seu artigo 5º, XLIX. A morte de um detento no interior do presídio gera no

poder público o dever de indenizar terceiros, em face da

responsabilidade objetiva prevista no artigo 37, § 6º, da Carta

Política, mormente quando não tomou as medidas necessárias

para evitar a fabricação de armas pelos detentos que contribuiu

para ocorrência do fato danoso” (TJMT – AC 22.652 – Classe II –

20 – Capital – 1ª C.Cív. - Rel. Des. Jurandir Florêncio de Castilho

– J. 13.03.2000).

“39006134 JCF.5.XLIX JCF.5 – INDENIZAÇÃO – MORTE DE

8 O art.. 1º, inciso III se refere à dignidade da pessoa humana como fundamento do Estado que se pretende Democrático e de Direito; o art. 3º, inciso I, por sua vez elenca com objetivo desse Estado uma sociedade justa fraterna e solidária.. O último dispositivo constitucional citado dispõe que “ A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas, do patrimônio(...)”

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RÉU PRESO – RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO ESTADO –

INDENIZAÇÃO DEVIDA – De acordo com art. 5º, XLIX da CF, o estado é responsável pela integridade física e moral do preso. Assim, ocorrendo sua morte, responde o estado pelo evento danoso, independentemente da prova de culpa do agente público, devendo pensionar a quem a vítima devia alimentos” (TJMG – AC 149.701/5 – 5ª C. Cív. - Rel. Des.

Campos Oliveira – J. 12.08.1999).

“13014614 – INDENIZAÇÃO – Danos morais – Detento morte em

disputa de presos – Admissibilidade – Falta de condições dos

funcionários do estabelecimento penal para debelar o motim –

Superlotação do presídio permitida pelo governo – Negligência

das autoridades estatais a gerar falha do serviço – Dever de zelar pela incolumidade dos encarcerados – Infringência ao

artigo 5º, XLIX da Constituição da República e Lei nº 7.210/84 –

Verba devida – Recurso não provido” (TJSP – AC 222.105-1 –

São Paulo – CCIVF 5 – Rel. Des. Marcus Andrade – J.

04.05.1995 – v.u.)

“16071421 JCF.5 JCF.5.XLIX – RESPONSABILIDADE CIVIL DO

ESTADO – MORTE DE DETENTO – O ordenamento constitucional vigente assegura ao preso a integridade física (CF art. 5º xlix) sendo dever do Estado garantir a vida de seus detentos, mantendo, para isso, vigilância constante e eficiente. Assassinado o preso por colega de cela quando

cumpria pena por homicídio qualificado responde o estado

civilmente pelo evento danoso, independentemente da culpa do

agente público. Recurso improvido”. (STJ – RESP 5711 – RJ – 1ª

T. - Rel. Min. Garcia Vieira – DJU 22.04.1991 – p. 04771).

Ademais, não há fixação de prazo na Lei de Execuções para

adequação das cadeias públicas, implicando assim disposições de cumprimento

imediato por parte do Estado, ao contrário do que se possa querer inferir. E por

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uma simples razão: os atos e políticas públicas da administração é que devem se

amoldar à Constituição e não o inverso. Ora, a Constituição e a lei já determinaram

há bastante tempo o que se pretende através da presente ação.

Repita-se, não se quer infringir o princípio da Separação dos Poderes,

in casu, dos Poderes Judiciário e Executivo, eis que, como é comezinho em direito,

pressupõe-se a regulação por um sistema de freios e contra-presos, nesta

hipótese equilibrado, haja vista que a demanda não repercute na

discricionariedade administrativa, pois envolve direitos fundamentais.

Por certo, que as políticas públicas garantistas ainda se regem pelo

princípio da reserva do possível9, diante da capacidade orçamentária do Estado.

Contudo é neste ponto que a intervenção(tutela) judicial deve ser efetiva como

preconiza a CF/88, pois em um Estado que possui 69( sessenta e nove) comarcas,

existem apenas três Cadeias Públicas10, a interdição, ainda que provisória, do Centro de Detenção Provisória de Patu e sua conseguinte reforma para suprir a falta de estabelecimento daquela natureza, mostra-se imperiosa; de outro modo, os direitos individuais dos presos, a dignidade dos mesmos, estaria lançada a toda sorte sob o argumento, por vezes genérico, da reserva do possível.

Nesse sentido, o Tribunal de Justiça de São Paulo em recente decisão

assim se manifestou:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA. INTERDIÇÃO DE CADEIA PÚBLICA.

PROVA CONCLUDENTE NO SENTIDO DE QUE O PRÉDIO

NÃO REÚNE CONDIÇÕES ESTRUTURAIS PARA

FUNCIONAMENTO COMO CADEIA PÚBLICA. INEXISTÊNCIA

DE INGERÊNCIA INDEVIDA DE UM PODER EM OUTRO NO

DECRETO DE PROCEDÊNCIA. JÁ SE PACIFICOU, TANTO NA

JURISPRUDÊNCIA COMO NA DOUTRINA, A POSSIBILIDADE

DE EXAME DA LEGALIDADE DO ATO ADMINISTRATIVO PELO

9 “A expressão reserva do possível foi cunhada pelo Tribunal Constitucional Alemão... Ali se sustentou que os direitos sociais estavam submetidos à reserva do possível, ‘no sentido daquilo que o indivíduo de maneira razoável pode pretender da sociedade’”( CARLOS BERNAL PULIDO, El principio da proporcionalidad y los derechos fundamentales, cit., p.394, nota 300; apud MAÇAL JUSTEN FILHO, Curso de Direito Administrativo, 4ª Edição, p. 95.)

10 Repita-se aqui a dicção do art. 103 da LEP.

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PODER JUDICIÁRIO. O QUE NÃO SE PODE É APRECIAR O

MÉRITO DO ATO ADMINISTRATIVO. A manutenção do prédio de

que se cuida implica em flagrante violação de dispositivos da

Constituição Federal (art. 5º, incisos III, XLIV e XLVII) E da Lei de

Execuções Penais (art. 104). Plenamente configurada a

ilegalidade da manutenção em funcionamento do prédio como

cadeia pública. Possibilidade de imposição de multa diária pelo

descumprimento da ordem judicial ao Poder Público. Ação

procedente em parte. Recursos improvidos. (TJ-SP; APL-Rev

561.982.5/0; Ac. 2651548; José Bonifácio; Primeira Câmara de

Direito Público; Rel. Des. Franklin Nogueira; Julg. 10/06/2008;

DJESP 11/07/2008)

Importante lembrar que o próprio Conselho Nacional de Justiça, atento

para a questão penitenciária, editou, já no final do ano de 2007, a Resolução nº 47,

que “Dispõe sobre a inspeção nos estabelecimentos penais pelos juízes de

execução criminal”. A eminente Min. Ellen Gracie, à época Presidenta do

Conselho, lembrava que “os estabelecimentos penais devem proporcionar segurança e dispor de condições adequadas de funcionamento”e que “o art. 5°, XLIX da Constituição Federal assegura aos presos o respeito à integridade física e moral”. (grifos para destaque).

Segundo o art. 1º da Resolução acima referida, os juízes da execução

criminal deverão “realizar pessoalmente inspeção mensal nos estabelecimentos

penais sob sua responsabilidade e tomar providências para seu adequado

funcionamento, promovendo, quando for o caso, a apuração de responsabilidade”.

Mais que isso, como bem lembrado pelo eminente doutor Renato

Vasconcelos Magalhães, Juiz de Direito deste estado “O juiz da execução penal

deve zelar pelo fiel cumprimento dos preceitos esculpidos tanto na LEP quanto na

Constituição Federal, principalmente quando as suas infringências afetam o status

dignitatis do preso, seja provisório ou definitivo”11.

Cabe, portanto, ao juiz da execução, constada qualquer irregularidade

11 Decisão interlocutória nos autos nº 106.09.001161-3 da 1ª Vara criminal de Mossoró/RN..

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ou afronta à lei, tomar as providencias necessárias para o seu saneamento, sem

prejuízo da apuração das responsabilidades. Nesse sentido a lição de Guilherme

de Souza Nucci:

“É o magistrado um fiscal da execução da pena e defensor da lei

e dos condenados, pouco interessando a eventual conveniência

do Poder Público em manter em funcionamento um local

totalmente inapropriado para os fins a que se destina”12. Grifo no

original

Vê-se, pois, que as áreas das carceragens do Centro de Detenção

Provisória de Patu vêm sendo modelo de violação dos direitos humanos, a impor a

interposição do presente recurso, cujo objetivo é corrigir as deficiências apontadas

nos relatórios inclusos, decorrentes de vistorias realizadas por órgãos

competentes( Ministério Público, Conselho Nacional de Justiça e SUVISA), ainda

que parcialmente.

Por certo, que o Centro de Detenção Provisória não é estabelecimento adequado para recolhimento de presos definitivos. Contudo, dentro da realidade em que se vive, já se adianta que a utilização desse estabelecimento para tal fim deve respeitar as condições mínimas de segurança e os direitos dos detentos a fim de evitar a possibilidade real de revolta; doenças; fugas dentre outros riscos para os presos e população.

Registre-se outrossim que a falta de segurança do estabelecimento

pode dificultar o prosseguimento da instrução criminal das ações ajuizadas e

comprometer a ordem pública, pois a sociedade local passaria a desacreditar na

tutela jurisdicional do Estado, haja vista a falta de efetividade refletida na ausência

de aplicação das sanções estabelecidas por lei para as condutas dos criminosos,

se foragidos.

Ressalte-se também que os detentos, nas ocasiões em que ocorrem

fugas, colocam sempre em risco a integridade física dos policiais e agentes

12 Leis penais e processuais penais comentadas .2ª edição, p. 469.

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penitenciários, famílias residentes nas adjacências do Centro e a população em

geral.

Ad argumentandum tantum, é público e notório que o ambiente

carcerário do Centro de Detenção Provisória de Patu é insalubre, o que foi

confirmado pelo Relatório da SUVISA e do CNJ.

Ademais, a inadequação da estrutura do CDP também deveria ser

objeto de análise pelo Corpo de Bombeiros, tal como intentado, desde o

ajuizamento da ação pelo Ministério Público.

Sobre esse tema, importa registrar que o Corpo de Bombeiros deve

realizar nos termos da Lei Complementar Estadual nº 230/2002(art. 2º) e Código

de Segurança e Prevenção contra Incêndio e Pânico do Estado do Rio Grande do

Norte13 , vistorias nas edificações de todo o Estado do Rio Grande do Norte.

Dito isto, a lei obriga a realização da vistoria, requerida pelo Ministério

Público, injusta e ilegalmente indeferida pelo juízo a quo, o que fundamenta, mais

ainda, o recurso ora interposto.

IV.1- Das Razões para a Antecipação dos Efeitos da Pretensão Recursal

Dispõe o artigo 527, inciso III, do Código Processo Civil, com a

redação que lhe foi conferida pela Lei nº 10.352, de 26-12-2001:

“Art. 527. Recebido o agravo de instrumento no tribunal, e

distribuído incontienti, o relator:

(...)

III – poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso (art. 558),

ou deferir, em antecipação de tutela, total ou parcialmente, a pretensão recursal, comunicando ao juiz

sua decisão.”

Versa o dispositivo legal transcrito sobre a possibilidade conferida ao

13 In http://www.cbm.rn.gov.br/downloadsserten.asp

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douto Desembargador Relator do agravo de lhe conceder efeito ativo, ao

vislumbrar a configuração dos requisitos do fumus boni juris e do periculum in

mora, consoante estatui o art. 558, também do CPC, no exercício do poder

cautelar geral inerente aos órgãos jurisdicionais.

Observa-se, no caso em exame, a tranquila probabilidade de êxito da

pretensão recursal ora esposada, tanto pela robustez da prova documental como

pelos argumentos jurídicos anteriormente expendidos no bojo do presente agravo

e na vestibular cuja cópia segue.

Significa, pois, que a fumaça do bom direito é nítida, especialmente

porque cumpre à Administração Pública se pautar nos preceitos estatuídos na

Carta Magna e Lei de Execução Penal, o que, no caso posto em juízo, não

ocorreu.

Denota-se, por outro lado, que a persistência da situação omissiva

combatida na ação civil pública certamente acarretará danos de difícil reparação à sociedade, ao Sistema Penitenciário Estadual e à população carcerária do

Centro de Detenção Provisória de Patu

É preciso dar um basta à tamanha afronta à Carta Magna e à Lei a fim

que a população saiba o que é o correto fazer bem como para que a Exma. Sra.

Governadora do Estado do Rio Grande do Norte não permaneça malferindo regras

básicas a serem cumpridas por qualquer gestor público.

Afeiçoa-se por demais cabível e pertinente, desse modo, a concessão

da medida antecipatória em sede recursal para o fim de serem tomadas medidas

iniciais que permitam a adaptação do Centro de Detenção Provisória de Patu.

V – Do Pedido

Por todo o exposto, requer o Ministério Público que o presente recurso

seja conhecido e antecipados os efeitos da pretensão recursal, com esteio no art.

527, III do Código de Processo Civil, para o fim, sob pena de multa diária e pessoal do Secretário de Justiça e Cidadania (SEJUC) do Estado no valor sugerido de R$5.0000,00( cinco mil reais): V.a) da imediata remoção dos presos

condenados e provisórios para estabelecimento prisional adequado e previsto em

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lei, acionando-se a Secretaria de Justiça e Cidadania para o cumprimento da

determinação, até a reforma do Centro de Detenção Provisória de Patu/RN com a

maior brevidade possível, conforme prazo razoável determinado judicialmente; V. b) da interdição do Centro de Detenção Provisória de Patu com a conseguinte

proibição de ingresso de novos presos até a regularização do estabelecimento e

sempre por ordem judicial e não ex oficio pelo Delegado Regional de Polícia;

V.c)de o Secretário de Justiça e Cidadania providenciar imediatamente : I)

alimentação, colchão, produtos de higiene pessoal para os presos; II ) a lotação de um auxiliar de serviços gerais para o Centro de Detenção Provisória de Patu; III) um veículo exclusivo para atendimento das necessidades do Centro; V.d) de ser realizada, através de requisição desta Egrégia Corte, inspeção do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio Grande do Norte no Centro de Detenção Provisória de Patu, nos termos da Lei Complementar nº 230/2002 c/c Código de Segurança e Prevenção Contra Incêndio e Pânico do Estado do Rio Grande do Norte,

Ao final, deferida, em sede de tutela antecipada, a pretensão recursal,

e processado o recurso, requer este órgão ministerial, seu provimento,

confirmando-se aquela.

P. Deferimento.

Patu/RN, 29 de abril de 2012.

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Micaele Fortes Caddah

Promotora de Justiça