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33 Risco de Erosão após Incêndios Florestais Efeitos do temporal de 23 de Junho de 1988 na intensificação da erosão das vertentes afectadas pelo incêndio florestal de Arganil/Oliveira do Hospital* Introdução Entre 13 e 20 de Setembro de 1987, foram queimados nos concelhos de Arganil, Oliveira do Hospital e Pampilhosa da Serra, dez mil e novecentos hectares de mato e floresta. Tratou-se de um dos maiores incêndios florestais ocorridos em Portugal e, por isso, os seus múltiplos efeitos distribuíram-se por sectores extremamente diversificados. A maior parte das suas consequências foram imediatas, mas outras, associadas a factores extrínsecos ao próprio incêndio, permaneceram por muito mais tempo. De entre estas destacamos, naturalmente, os efeitos erosivos que a água das chuvas provocou após o incêndio florestal e que, em certas circunstâncias, tiveram consequências dramáticas, como foram as verificadas no dia 23 de Junho de 1988. Tomámos conhecimento do sucedido através da imprensa regional e o primeiro contacto directo com os acontecimentos, algumas semanas após a sua ocorrência, deixou-nos impressionados. A grandiosidade dos efeitos erosivos ocasionados pelas torrentes que funcionaram nas linhas de água confluentes na Sorgaçosa superava tudo o que pudéramos imaginar. Perante tal situação, desde logo pensámos analisar as causas que lhe estiveram na origem, nomeadamente, o tipo de tempo que acompanhou o temporal bem como os efeitos erosivos que uma queda anormal de água provocou numa área afectada por um incêndio florestal, poucos meses antes e que, por isso, estava desprovida de vegetação. * Comunicações e Conclusões , Seminário Técnico sobre Parques e Conservação da Natureza nos Países do Sul da Europa, Faro, 1988, p. 43-77 e, em Separata III Semana de Geografia Física, Coimbra, 1990, 35 p.

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33Risco de Erosão após Incêndios Florestais

Efeitos do temporal de 23 de Junho de 1988na intensificação da erosão das vertentes

afectadas pelo incêndio florestal deArganil/Oliveira do Hospital*

Introdução

Entre 13 e 20 de Setembro de 1987, foram queimados nos concelhos deArganil, Oliveira do Hospital e Pampilhosa da Serra, dez mil e novecentoshectares de mato e floresta. Tratou-se de um dos maiores incêndios florestaisocorridos em Portugal e, por isso, os seus múltiplos efeitos distribuíram-se porsectores extremamente diversificados.

A maior parte das suas consequências foram imediatas, mas outras,associadas a factores extrínsecos ao próprio incêndio, permaneceram pormuito mais tempo. De entre estas destacamos, naturalmente, os efeitoserosivos que a água das chuvas provocou após o incêndio florestal e que, emcertas circunstâncias, tiveram consequências dramáticas, como foram asverificadas no dia 23 de Junho de 1988.

Tomámos conhecimento do sucedido através da imprensa regional e oprimeiro contacto directo com os acontecimentos, algumas semanas após asua ocorrência, deixou-nos impressionados. A grandiosidade dos efeitoserosivos ocasionados pelas torrentes que funcionaram nas linhas de águaconfluentes na Sorgaçosa superava tudo o que pudéramos imaginar.

Perante tal situação, desde logo pensámos analisar as causas que lheestiveram na origem, nomeadamente, o tipo de tempo que acompanhou otemporal bem como os efeitos erosivos que uma queda anormal de águaprovocou numa área afectada por um incêndio florestal, poucos meses antes eque, por isso, estava desprovida de vegetação.

* Comunicações e Conclusões, Seminário Técnico sobre Parques e Conservação da Natureza nos Países do Sulda Europa, Faro, 1988, p. 43-77 e, em Separata III Semana de Geografia Física, Coimbra, 1990, 35 p.

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Metodologia

Começámos por fazer um reconhecimento de campo para verificar até queponto as opiniões que nos tinham sido expressas não pecavam por exagero.Logo à chegada constatámos a veracidade das descrições e à medida queentrevistávamos as pessoas presentes na aldeia, no momento do temporal, efotografávamos os seus efeitos mais espectaculares, inferíamos a imponênciaque terá tido a descarga de água que, num curto espaço de tempo, semeoutanta destruição.

Assim, recolhemos relatos minuciosos das pessoas que assistiram ao eventoe que, despojados da sua carga emocional e afectiva, descrevem a grandeza datempestade. Indirectamente, pode ainda ser comprovada pelos registosfotográficos, obtidos em Avô e em Pomares na tarde desse dia 23 de Junho eque atestam a resposta imediata da ribeira de Pomares a uma afluência anormalde caudal traduzida, naturalmente, numa cheia.

A fim de obtermos uma visão de conjunto, sobrevoámos de helicópterotoda a área afectada. Tanto durante o voo como durante os trabalhos decampo, recolheram-se imagens dos factos mais salientes através de câmarasfotográficas e de vídeo.

Já no gabinete, para melhor entendermos os mecanismos que terãodesencadeado a enxurrada, determinámos os declives das vertentes, analisámos ostipos de tempo que a antecederam e procurámos discernir, através dos registosrelativos às quatro estações meteorológicas mais próximas do local (Coimbra,Penhas Douradas, Castelo Branco e Rego da Murta), a importância da tempestade.

Para o cálculo dos declives recorremos às folhas n.º 222 e 223 da CartaMilitar de Portugal, na escala de 1/25 000 e, sobrepondo-lhe uma quadrículade meio centímetro de lado, determinámos as classes de declives (F. REBELO eA. CAMPAR DE ALMEIDA, 1986) relativas às bacias hidrográficas em análise.

O intervalo de classe é de 8%, valor que resulta da escala e da equidistânciado mapa, mas foi escolhido também por razões de ordem prática uma vez queem engenharia civil se considera que as vertentes com declives superiores a 8%começam a apresentar dificuldades na construção, pois os custos aumentamde forma muito acentuada, e marcam o limite do conforto em percursos de

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automóvel. O valor de 16% é tido como limite de operação dos meiosmecânicos normalmente utilizados na movimentação de terras.

Finalmente, o valor de 24-25% parece definir o nível crítico da erosão(1), apartir da qual se deveriam defender a todo custo as áreas que os apresentam, afim de se preservar o equilíbrio dinâmico das vertentes.

Para podermos estimar a quantidade de água caída durante o temporal,calculámos o valor das áreas mais afectadas e, simultaneamente, procedemos àanálise morfométrica das bacias de drenagem nelas comprometidas.

Caracterização física das bacias hidrográficas

A superfície afectada pela tempestade integra-se na margem esquerda dabacia hidrográfica do rio Alva e desenvolve-se pelas sub-bacias das ribeiras dePomares, de Aldeia e do Avelar, drenando esporões que arrancam da vertenteNorte da serra do Açor (L. LOURENÇO, 1986a).

A parte mais duramente atingida, situa-se no sector intermédio da ribeira dePomares, seguindo um alinhamento definido pela barroca das Sobreiras, ribeira daSorgaçosa, ribeira do Espinho e barroca das Fontes. Um segundo núcleo, de menordimensão mas também severamente castigado, localiza-se nas cabeceiras dasribeiras de Aldeia e do Avelar, a Ocidente e a Norte da Lomba da Malhada do Pai.

Estas bacias hidrográficas encontram-se limitadas pelos esporões maisimportantes que, para Norte, se destacam da serra do Açor. Entre eles ouconstituindo suas digitações, encontram-se outras de menor significado queindividualizam algumas sub-bacias fluviais (fig. 1).

De modo geral, as vertentes apresentam declives acentuados (fig. 2) e a suaanálise estatística mostrou que, nas três bacias hidrográficas em estudo, maisde 95% das vertentes possuem declives iguais ou superiores a 16%, mais de85% têm declives iguais ou superiores a 24% e mais de 65% das vertentesdesenvolvem-se com declives iguais ou superiores a 32%.

1 SCHULTZE, citado em R. GEIGER, 1980, p. 372, afirma que, na Alemanha, o ângulo de inclinaçãocrítico a partir da qual é de temer a erosão na mata, se situa entre 20 e 30º (36 a 84%), valores que,como veremos, são muito frequentes na área em estudo.

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Fig. 1 - Esboço de localização da área afectada pelo incêndio de Setembro de 1987 e pelatempestade de Junho de 1988.

1. limite da área queimada; 2. área afectada pelo temporal de Junho; 3. área onde os efeitoserosivos mais se fizeram sentir.

N

12

34

0mQ

uilo

met

ros

1000

m50

0m

Esc

ala

Grá

fica

Equi

distâ

ncia

das

cur

vas d

e ní

vel =

50

met

ros

321

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Fig. 2 - Mapa de declives das bacias hidrográficas estudadas.1. declives de 0 a 7,9%; 2. 8-15,9; 3. 16-23,9; 4. 24-31,9; 5. 32-39,9; 6. 40-47,9;

7. 48-55,9; 8. 56-63,9; 9. ž64%

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Se o valor de 24% definir o valor crítico da erosão, verificamos que 85%destas vertentes deveriam ser definidas a todo o custo dos efeitos erosivos, emparticular após a destruição da vegetação pelos incêndios florestais. Como issonão sucede, a intensificação da erosão não se faz esperar.

Uma análise dos declives mais pormenorizada, mostra que a classedominante é a que compreende os declives entre 32 e 39,9%, abrangendomais de 30% do total das vertentes. Segue-se-lhes, na ribeira de Pomares, aclasse dos 40 aos 47,9%, bem distanciada das classes seguintes: 24 a 31,9% e48 a 55,9%.

Os declives englobados por estas quatro classes, compreendidos entre 24 e59,9%, abrangem 85% da área da bacia hidrográfica da ribeira de Pomares.Nas ribeiras de Aldeia e do Avelar a situação é semelhante, embora seja a classedos 24 aos 31,9% a que aparece em segundo lugar, por troca com a dos 40 aos47,9, que assim surge em terceiro lugar (QUADRO I e fig. 3).

QUADRO I - Distribuição dos declives, em percentagem, nas baciashidrográficas analisadas

0-88-1616-2424-3232-4040-4848-5656-64>64

0,152,287,27

16,7228,2324,7614,734,561,30

0,002,83

13,6027,2035,6917,00

3,120,560,00

1,683,56

10,4819,0826,6317,8215,51

2,932,31

0,393,06

10,8820,9530,5019,7610,71

2,551,20

Classes% Ribª. de Pomares Ribª. de Aldeia Ribª. Avelar

TotalBacia Hidrográfica

A análise morfométrica da rede de drenagem veio confirmar asdesigualdades detectadas numa simples análise qualitativa. A área da baciahidrográfica da ribeira de Pomares, com cerca de 45 km2, supera em muito asuperfície das bacias das ribeiras de Aldeia e do Avelar, com perto de 6 a 8 km2,respectivamente, pelo que a actuação mais vigorosa dos agentes erosivos nessabacia, não será de admirar.

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Fig. 3 - Comparação dos declives das bacias hidrográficas estudadas.1. declives de 0 a 7,9%; 2. 8-15,9; 3. 16-23,9; 4. 24-31,9; 5. 32-39,9; 6. 40-47,9;

7. 48-55,9; 8. 56-63,9; 9. ž64%

Do ponto de vista linear, a rede fluvial apresenta, logicamente, segundo ocritério de STRAHLER (1981, p. 523-7), um grau hierárquico mais elevado naribeira de Pomares, de ordem 5, do que nas ribeiras de Aldeia e Avelar, ambasde ordem 4. Relativamente ao número e ao comprimento dos canais passa-se,naturalmente, por uma situação semelhante. Tanto o número de segmentoscomo o seu comprimento são muito superiores na ribeira de Pomares(QUADRO II e fig. 4).

Trabalhando os valores medidos, pode relacionar-se o comprimento totaldos canais de uma rede fluvial com a área da sua bacia hidrográfica obtendo-sea densidade de drenagem. No caso em estudo, os valores são muitosemelhantes, variando entre 4 e 5, nas três bacias, o que lhes confere umatextura grosseira, ou seja uma densidade de drenagem baixa. Isto significa queos canais são poucos e de grande comprimento, ou seja, existe um grandeespaçamento entre canais.

Por outro lado, como rios compridos e pouco numerosos podem dar, parauma mesma superfície, a mesma densidade de drenagem que rios curtos emuito numerosos, deve considerar-se também a densidade hidrográfica, oufrequência de talvegues elementares que relaciona o número de canaiselementares, os de ordem 1, com a unidade de superfície (L. VIVAS; 1966).

0

5

10

15

20

25

30

35

40%

1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 2 3 4 5 6 7 8 9

Rib. PomaresRib. AldeiaRib. Avelar

1 2 3 4 5 6 7 8 90

5

10

15

20

25

30

35

40%

Rib. PomaresRib. AldeiaRib. Avelar

1 2 3 4 5 6 7 8 90

5

10

15

20

25

30

35

40%

Rib. PomaresRib. AldeiaRib. Avelar

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QUADRO II - Características lineares da rede hidrogáfica

Bacia Fluvial N.º deOrdem

N.º deCanais Rb Lu RL

Ribeira dePomares

Ribeira doAvelar

Ribeira deAldeia

12345

1234

1234

419902041

59721

601021

4,654,505,004,00

8,433,502,00

6,005,002,00

140,841,914,112,512,3

(221,6)

4,42,62,3

(25,1)

1,895,43,42,0

(30,6)

0,340,470,703,1112,25

0,270,631,282,25

0,330,541,682,00

0,340,811,514,6216,87

0,270,902,184,43

0,330,872,554,55

1,391,514,423,94

2,342,041,77

1,643,901,19

Lu Lu Ac

Assim, além do comprimento, fica a conhecer-se o número de canais de ordemum por quilómetro quadrado que, nas bacias hidrográficas das ribeiras dePomares, de Aldeia e do Avelar, é respectivamente de 9,5, 10,6 e 7,9 segmentosde ordem um por quilómetro quadrado de superfície.

Mas, porque o número dos canais de ordem um depende,fundamentalmente, das características físicas das bacias de drenagem, os valoresobtidos reflectem essas mesmas características. Assim, os valores baixos traduzemcaracterísticas adversas à formação de canais elementares. Efectivamente, trata-sede vertentes moldadas em rochas impermeáveis ou de permeabilidade reduzida,com declives acentuados, onde a água das chuvas, muitas vezes proveniente deaguaceiros violentos, começa por se escoar em lâmina de água mas que, depois,rapidamente se concentra. Nestas circunstâncias, a frequência dos talvegues

Legenda:Rb - relação de bifurcação;Lu - comprimento dos canais de ordem u;Lu - comprimento médio dos canaisde ordem u;Lu Ac - comprimento médio acumulado;RL - relação de comprimento.

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Fig. 4 - Hierarquização da rede fluvial das bacias hidrográficas estudadas.1. Principais vértices geodésicos e respectivas cotas em metro; 2. Limite das bacias de drenagem;

3. Segmentos de ordem 1; 4. de ordem 2; 5. de ordem 3; 6. de ordem 4; 7. de ordem 5;

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

GAGL GAGR GAGG GACE GACM GACS GACO GAEN GFEN GAME GAMO GAHC GAHP

(l/m2)

2º ano1º ano

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A torrencialidade das bacias hidrográficas é um dos índices de maior cunhogeográfico, com particular significado em bacias hidrográficas pequenas comoas analisadas, onde existe uma certa homogeneidade das características físicas.Obtem-se multiplicando a densidade hidrográfica pela densidade de drenageme é tanto maior quanto menor for o valor do índice obtido (L. VIVAS, ob. cit.)Nos casos em análise obtiveram-se coeficientes de torrencialidade elevados(Avelar - 31,8; Pomares - 47,4 e Aldeia - 47,7), particularmente na ribeira doAvelar, devidos sobretudo aos acentuados declives das suas cabeceiras.

A tempestade da tarde do dia 23 de Junho

“Uma tragédia nunca vem só. Primeiro foi o fogo, depois foi a água, agora sófalta o vento”, confidenciáva-nos o sr. José Maria, revelando a opinião geral doshabitantes da Sorgaçosa e, simultaneamente, o respeito e o receio que oscamponeses sentem perante certos elementos naturais. “Olhe que o fogo foimau, mas a tempestade foi bem pior. O que valeu é que não chegou a uma hora. Sefosse mais tempo assim a chover, teria sido uma tragédia”.

A situação sinóptica relativa ao dia 23 apresentava-se com uma depressãoem altitude (fig. 5) que, em grande parte, terá sido responsável pelo estado detempo que se fez sentir à superfície e que, de acordo com a previsão doInstituto Nacional de Meteorologia e Geofísica, apresentou períodos de céu

elementares é reduzida e origina densidades hidrográficas baixas, ao mesmo tempoque os coeficientes de escoamento e, por conseguinte, os de torrencialidadesapresentam valores importantes (QUADRO III).

QUADRO III - Características das bacias de drenagem

221,625,130,6

4195960

44,315,547,61

4,994,504,02

9,510,67,9

47,447,731,8

Comprimentodos

canais(km)

Nº. de Canaisde

Ordem Um(N1)

Áreada

bacia(km2)

Densidadede

drenagem(km/km2)

Densidadehidrográfica(km/km2)

Coeficientede

torren-cialidade

Baciade

drenagem

PomaresAldeiaAvelar

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Fig. 5 - Situação sinóptica à superfície e nos 500 hPa, às 12 horas do dia 23 de Junho.

muito nublado, vento geralmente fraco, aguaceiros e trovoadas em especialnas regiões do Norte e Centro, a partir da tarde.

Conscientes de que alguns destes fenómenos são extremamente localizados,mas tendo em conta que na área afectada não existia nenhuma estaçãoclimatológica, tomámos como termo de comparação as estações mais próximas dolocal: Coimbra, Penhas Douradas, Rego da Murta e Castelo Branco. Verificou-seque, em termos médios, tanto o valor das precipitações como o número de dias emque ocorreram foram muito superiores aos valores normais do mês de Junho.O mesmo sucedeu com o número de dias em que se registaram trovoadas eque, frequentemente, foram acompanhadas por intensas bátegas de água(QUADRO IV), por vezes caídas em intervalos de tempo muito curtos.

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Uma análise mais detalhada, feita aos valores diários de Junho de 1988,mostra que o dia 23 registou trovoada nas Penhas Douradas e em Coimbra,onde os valores das precipitações também foram elevados, 33 e 18 mm,respectivamente, embora, com certeza, tenham sido bem superiores na áreaem estudo.

A pluviosidade voltou a ser intensa no dia 25 nas Penhas Douradas, 37 mm(QUADRO V), como também sucedeu na Sorgaçosa, mas foi mais espaçada notempo e “encontrou o caminho livre”, pelo que não causou tantos prejuízos eteve acção erosiva menos preponderante.

Considerando que a trovoada foi mais violenta na área compreendida entreo Cabeço da Chama e a Lomba da Malhada do Pai, com especial incidênciasobre o Cabeço da Sorgaçosa, e admitindo que terá chovido ainda mais 12mm do que nas Penhas Douradas, ou seja, o equivalente ao valor horárioextremo da precipitação desde sempre registada em Coimbra, 45 mm, possívelde ser alcançado porque a área em estudo se encontra 700 metros mais elevada doque Coimbra e imaginando-a homogeneamente distribuída sobre as superfíciesmais duramente atingidas que, por planimetragem, estimámos em cerca de 12,5km2, teriam caído sobre elas, durante uma hora, mais de 560 mil metros cúbicosde água, o que equivale a cerca de dez mil metros cúbicos por minuto.

Fonte: “Normais climatológicas do Continente, Açores e Madeira correspondentes a 1931-60”, Clima de Portugal,fasc. XIII, S.M.N., Lisboa, 1965 e Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica, Lisboa (1988).

QUADRO IV - Valores normais (1931-60) e valores observados em 1988,relativos ao mês de Junho

Estação e PeríodoPrecipitação

(mm)Número de Dias Trovoada

ž 0,1 mm ž 1 mm ž 10 mm N.º de DiasCoimbra 1931-60

19881931-60

19881931-60

1988

19881931-60

Penhas Douradas

Rego da Murta

Castelo Branco

37,7

816

8

152,666,8

254,732,0

155,022,312,2

-

1525

143-

4

6

6-

318

1415

18

51

8

2

3102-

27

15

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QUADRO V - Valores diários da precipitação e observações de trovoada, nomês de Junho de 1988, no Centro de Portugal

PD - Penhas Douradas; CO - Coimbra; CB - Castelo Branco; RM - Rego da Murta,Fonte: Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica.

123456789

101112131415161718192021222324252627282930

0.00.00.00.00.00.00.00.3

15.017.022.0

4.014.010.0

0.128.011.0

6.00.00.0

24.00.0

33.00.4

37.00.00.02.0

13.019.0

0.00.00.00.00.00.00.00.9

33.08.02.0

13.02.06.04.0

22.09.0- -

0.00.06.00.0

18.00.06.00.0- -

7.015.0

4.0

0.00.00.00.00.00.00.00.74.08.05.01.0

21.06.03.09.04.00.30.0- -

12.0- -

3.00.1- -

17.00.20.0

19.010.0

- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -

**

**

*

**

*

*

***

*

*

*

- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -

PD CO CB RM PD CO CB RM

Precipitação (mm) Ocorrência de TrovoadaDia

*

*

*

*

*****

*

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O escoamento deste caudal implicou um considerável aumento da alturada água das ribeiras, obrigando-as a transbordar e a inundar os camposmarginais. Os caudais afluíram na quase totalidade à ribeira de Pomares, ajusante da confluência da ribeira de Moura com a do Sobral, onde a cheia foiparticularmente sentida e onde causou enormes prejuízos (fots. 1 a 4).

A quantidade de água transportada pela ribeira de Pomares foi tãoimportante que, na confluência, “empurrou” o rio Alva, de água límpida,contra a margem direita e, como se isso não bastasse, as águas turvas e barrentasda ribeira de Pomares espraiaram-se à vontade, submergindo a praia fluvial deAvô (fots. 5 e 6).

A cor das águas, na confluência da ribeira de Pomares com o rio Alva, emAvô, permite inferir a importância da tempestade e confirmar a sua localizaçãonuma área restrita, as cabeceiras da bacia hidrográfica da ribeira de Pomares.

Efeitos erosivos

“O barroco era por aqui. Desviaram-no,mas ele voltou ao leito antigo...”.

Descrições como esta, atestam bem a violência das águas que, na suapassagem, tudo pareciam querer levar.

A carga sólida transportada (blocos, calhaus e patelas de xisto e de quartzode filão, material de depósitos de vertente e solos) foi de tal modo importanteque, nalguns locais, modificou completamente a topografia dos leitos, querentulhando poços profundos, pontões (fots. 7 e 8), represas (fot. 9) e azenhas(fot. 10), quer ficando simplesmente abandonada sempre que a velocidade dacorrente diminuía (fot. 11).

A deposição de materiais teve consequências mais gravosas nos locais onde,antes, houvera intervenção antrópica. Alguns dos canais artificiais construídospelo homem (valados, barrocos) ao ficarem entulhados (fot. 12) ou obstruídoscom troncos (fots. 13 e 14), obrigaram as águas a transbordar sobre os diques

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de protecção o que levou ao seu rebentamento (fots. 15 e 16) e, depois, à erosãodos campos que o homem construíra para cultivar (fots. 17,18 e 19). Noutroscasos, as águas abandonaram sobre os campos a carga sólida que transportavam,deixando-os da mesma maneira impróprios para a agricultura (fots. 20 e 21).

As estradas e caminhos florestais ficaram também muito danificados,chegando mesmo a ser intransitáveis (fot. 22) e, por vezes, até foramcompletamente cortados nas linhas de água (fot. 23).

Os efeitos de destruição foram mais ou menos generalizados em toda a áreaafectada. Não só foram destruídas culturas em quase todos os campos situadosnas margens da ribeira de Pomares, entre o Sobral Magro e Avô (fot. 24), mastambém alguns deles ficaram praticamente irrecuperáveis (fot. 11).

No entanto, os casos mais espectaculares ocorreram, como vimos, nassituações em que a intervenção antrópica, processada haverá entre 100 e 200anos, modificou a evolução natural das vertentes, através da construção dediques, para desvio das linhas de água que, entretanto, passou a utilizar comosolos aráveis, as “quelhadas”(2) (fot. 25).

Mas, o homem não satisfeito com as suas quelhadas, continuou a alterar oequilíbrio das vertentes abrindo estradas, caminhos e, sem que o soubesse,chegando mesmo a construir casas nas linhas de água.

Aconteceu que as vertentes “resolveram retomar” a sua evolução natural eas consequências dessa atitude não se fizeram esperar. Os efeitos de destruiçãoforam mais espectaculares onde as águas rebentaram uma maior quantidadede diques, o que sucedeu nas imediações da Sorgaçosa e do Espinho.

Além disso, na Sorgaçosa, a enxurrada rebentou o rés-do-chão de uma casa (fot.26), soterrou parcialmente uma camioneta de distribuição de refrigerantes queparara no largo para fazer a descarga (fots. 27 e 28) e arrancou do seu lugar umpontão de betão, com nove metros de comprimento, transportando-o umasdezenas de metros para jusante e deixando-o meio soterrado (fot. 8). No Agrual foio pilar da ponte que não suportou a fúria das águas e cedeu, ficando inclinado e emPomares, a cheia afectou o campo de futebol e as piscinas e também abalou umaponte do século XVII (fot. 2). Por fim, em Avô, levou uma ponte pênsil (fot. 29).

2 Designação local dada aos socalcos.

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Conclusão

Em primeiro lugar, as nefastas consequências da tempestade do dia 23 deJunho ficaram a dever-se aos quantitativos de pluviosidade extremamenteelevados que caíram num período de tempo relativamente curto. Depois,também são de atribuir à falta de vegetação.

A pluviosidade foi, como vimos, muito abundante, a mais intensa de queos idosos se recordam. “Não havia memória de uma coisa assim”, repetiram--nos frequentemente.

A vegetação era praticamente inexistente pois, havia nove meses, tinha sidoqueimada pelo incêndio de Arganil/Oliveira do Hospital. Este foi o quartoincêndio florestal ocorrido no Cabeço da Chama, desde 1975, e o segundoregistado no Cabeço da Sorgaçosa. Por estes motivos, a vegetação ainda nãotivera tempo suficiente para se regenerar.

A conjunção da ocorrência de precipitações abundantes e concentradascom a falta de vegetação permitiu a actuação intensa dos agentes erosivos e,por conseguinte, o desenvolvimento de formas impressionantes, querprovocadas por escavamento quer originadas por deposição de materiais.

É bem conhecido o papel que não só as copas das árvores, mas também ascoberturas arbustivas e herbáceas e, ainda, a própria manta mortadesempenham na intercepção da precipitação. Ao reduzirem a energia cinéticadas gotas de água da chuva, antes de estas atingirem a superfície, contribuempara o decréscimo da sua acção erosiva sobre os solos.

De facto, se tivermos em conta que grande parte da energia cinética de cadagota de água da chuva ou é absorvida pela vegetação ou, quando a coberturavegetal não existe, é utilizada para desagregar a estrutura dos solos, compreende-se melhor porque é que atribuimos os efeitos desta tempestade, essencialmente,à inexistência de vegetação e porque damos especial relevo ao importante papelque desempenha como atenuante dos efeitos erosivos, particularmente daquelesque são provocados pelas chuvas intensas, de curta duração.

Assim, como os solos se encontravam desprovidos de vegetação, sobretudoarbustiva, o embate directo da água das gotas de chuva gerou, sobre eles, a chamadaerosão por salpicos, ou seja, leventou pequenas quantidades de matéria orgânica e

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de partículas minerais que ficaram disponíveis para serem transportadas.A resistência ao escoamento, provocada pelo atrito que as águas pluviais

sofreriam ao escorrer pela vegetação, também foi eliminada com a falta desta,logo a retenção ou, pelo menos, o retardamento do escoamento dessas águasdiminuiu e, concomitantemente, reduziu-se a infiltração.

E, como a intensidade da precipitação foi, de longe, muito superior àcapacidade de infiltração, até porque, devido às precipitações anteriores, os solosdeveriam encontrar-se próximos da saturação, o escoamento superficialconsequente começou por arrastar os materiais antes arrancados pelo impacto dasgotas, trabalho que foi muito facilitado pelos acentuados declives das vertentes.

Este escoamento inicial começou por se fazer em lâmina de água, masrapidamente passou a ser difuso e à medida que se foi organizando, concentrou-senas linhas de água. Os efeitos erosivos destes tipos de escoamento são, naturalmente,diferentes. A erosão por salpicos depende, essencialmente, da velocidade de queda eda massa da gota de água, enquanto que a acção erosiva duma lâmina de águadepende, sobretudo, da sua altura e do declive da vertente sobre que se desloca.

Os testemunhos recolhidos do local indicaram ausência de granizo e desaraiva mas, pelo contrário, as gotas de água seriam de grande dimensão, comoimportante terá sido a altura da lâmina de água escoada. Como os declives dasvertentes são muito elevados, estiveram reunidas as condições ideais para queos agentes erosivos nelas actuassem com toda a sua intensidade.

Conforme o escoamento se foi tornando mais organizado, tanto o volume da águaescoado como a quantidade de materiais transportados, a carga sólida, foramaumentando considerável e progressivamente, crescendo com eles, o poder erosivo dascorrentes ribeirinhas e fluviais, para o que também contribuíram os muitos troncos eramos da árvores, “passavam pinheiros inteiros” que ajudaram a obstruir os canais.

Deste modo, os processos morfogenéticos começaram por actuar nasvertentes, arrancando-lhes a sua parte mais superficial, normalmenteconstituída por solos pouco profundos. À medida que as águas se foramconcentrando, os caudais - líquido e sólido - aumentaram e, ao mesmo tempo, aforça viva das correntes foi crescendo, pelo que os efeitos erosivos mais visíveis,onde a intensidade de actuação dos agentes foi maior, foram provocados pelaságuas concentradas nas ribeiras da Sorgaçosa, do Espinho e de Pomares.

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Agradecimento

O autor deseja exprimir o seu vivo agradecimento ao Prof. DoutorP.e António Nogueira Gonçalves pela disponibilidade com que nosacompanhou e pela maneira cordial e afável com que sempre nos recebeu nasua casa da Sorgaçosa, bem como ao senhor José Maria Diogo que, também naSorgaçosa, nos conduziu aos locais de acesso mais díficil, onde os efeitoserosivos foram mais surpreendentes.

Aos Profs. Doutores Fernando Rebelo e Domingos Xavier Viegas, agradeceo incentivo e o acompanhamento dados durante a realização deste estudo.

Ao Dr. Joaquim Loureiro agradece a colaboração prestada na análisequantitativa da rede fluvial, ao Dr. António Afonso Pinheiro Gonçalves oempenho e o esforço colocados na obtenção das fotografias tiradas durante acheia e ao senhor Francisco Cruz, Director do Trissemanário “Comarca deArganil”, agradece a cedência de fotografias.

Aos alunos da disciplina de Elementos de Geografia Física, CarmenDolores Fonseca, Helder Fonseca, Jorge Miguel Jesus, José Joaquim Neves,Marcelino Assunção e Mateus Morais, que colaboraram na elaboração domapa de declives expressa o seu agradecimento.

Ao motorista, senhor António Bento Ferreira e ao operador de câmaravídeo, Carlos Alberto Silva, fica grato pelo trabalho realizado e pela companhiaefectuada durante as longas jornadas em que se procedeu ao trabalho decampo. A Fernando Coroado e a Victor Hugo Fernandes agradece a criteriosaexecução das figuras.

Por fim, dado que este trabalho se inseriu no Projecto de Investigação sobreIncêndios Florestais, em curso no Grupo de Mecânica dos Fluidos daUniversidade de Coimbra, agradece-se às diversas entidades que o subsidiam eem especial às que nele intervieram mais directamente: Comissão NacionalEspecializada para os Fogos Florestais, Serviço Nacional de Bombeiros, ServiçoNacional de Parques, Reservas e Conservação da Natureza, Força AéreaPortuguesa, Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica e Instituto Geofísicoda Universidade de Coimbra.

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Fot. 1 - Vista geral da inundação produzida na várzea de Pomares.

Fot. 2 - Aspecto da cheia junto da ponte de Pomares.

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Fot. 3 - Vista geral da ribeira de Pomares em Avô.O antigo leito aparce definido por alguns renques de árvores.

Fot. 4 - Pormenor da fotografia anterior e da inundação dos campos.

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Fot. 5 - Confluência da ribeira de Pomares com o rio Alva, em Avô.A praia fluvial foi inundada pela águas turvas da ribeira que contrastam com a limpidez das

do Alva, visível ao fundo.

Fot. 6 - Pormenor da fotografia anterior, tomado da ponte.

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Fot. 7 - Pontão na ribeira da Sorgaçosa, a montante da povoação.Antes da cheia do dia 23 de Junho tinha cerca de seis metros de altura. Depois dela ficou

completamente coberto com detritos.

Fot. 8 - Pontão na ribeira da Moura, proximidades da Sorgaçosa.Apesar dos seus nove metros de comprimento a cheia arrancou-o e, depois de o transportar, desde

o local assinalado pelo braço do observador, abandonou-o, deixando-o parcilamente soterrado.

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Fot. 9 - Perobolsinho, nas cabeceiras da ribeira de Aldeia.Duas represas parcialmente entulhadas.

Fot. 10 - Azenha meia enterrada. Ribeira da Moura, proximidades da Sorgaçosa.

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Fot. 11 - Ribeira de Pomares, a montante de Avô.O leito ordinário mal se identifica, tal foi a quantidade de materiais que ficou abandonada

sobre o campo da margem direita, que mais parece o leito normal.

Fot. 12 - Perobolsinho. Dique e valado mal se distinguem, fossilizados pelos detritos.

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Fot. 14 - Pormenor da fotografia anterior.

Fot. 13 - Vista geral da ribeira da Sorgaçosana sua confluência com a ribeira da Moura.Troncos e ramos de árvores facilitaram aobstrução do canal por onde deveriam escoar--se as águas da ribeira. Estas foram obrigadasa galgar para a quelhada situada na margemdireita (irreconhecível) que erosionaram e

transformaram em leito normal.

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Fot. 15 - Ribeira da Quarteladeira (Sorgaçosa).Pormenor da rotura provocada no dique,parcialmente entulhado com detritos. Observa--se, ainda, a rocha polida onde correu a água e o

campo agrícola que foi erosionado.

Fot. 16 - Ribeira do Carvalhal (Espinho).Pormenor da rotura produzida num dique e

erosão subequente.

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Fot. 17 - Ribeira da Sorgaçosa. Vista geral doestado em que ficou um campo após atempestade. O leito normal da ribeira deveria

correr à direita da fotografia.

Fot. 18 e 19 (em baixo) - Pormenores dafotografia anterior, obtidos do leito da ribeirae de jusante. Antigo leito artificial (à direita)e a erosão vertical produzida com a abertura

do novo leito.

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Fot. 20 - Barroca das Sobreiras, antes da confluência com a ribeira da Moura. O dique, visívelno último plano, cedeu e a carga sólida distribuíu-se pelos campos.

Fot. 21 - Perobolsinho. Aspecto do “prado”, cuja erva se viu substituída por calhaus e blocos.

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Fot. 23 - Corte da estrada Foz da Moura - Sobral Gordo, por uma linha de água.

Fot. 22 - Estrada florestal intransitável, proximidades da Barroja.

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Fot. 25 - “Modelo” da transformaçãodas linhas de água em campos agícolas.Ao lado das “quelhadas” veem-se os

canais artificiais.

Fot. 24 - Ribeira de Pomares, a jusante de Pomares. Destruição parcial das culturas, produzidapela cheia.

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Fot. 26 - Sorgaçosa. Aspecto da rectaguarda duma casa construída numa antiga linha de águae do estado em que ficou depois do temporal. À esquerda, debaixo da varanda, a janela poronde entrou a água carregada de carga sólida cujo peso originou o rebentamento da placa que

servia de chão deste piso.

Fot. 27 - Aspecto geral do largo da Sorgaçosa, após o temporal. Além da camioneta meiasoterrada, pode observar-se o estado em que ficou a garagem, o rés-do-chão e os acessos laterais

da casa mencionada na fotografia anterior.

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Fot. 28 - Outro aspecto do largo da Sorgaçosa. A frente da camioneta, meia enterrada, mostraa altura do material que se acumulou no largo.

Fot. 29 - Avô, ribeira de Pomares. Pontão de madeira improvisado para substituir o que acheia levou. Desse apenas restam a escada de acesso na margem direita e o suporte de granito

onde assentava na margem esquerda.