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XVI Jornada de Iniciação Científica PIBIC CNPq/FAPEAM/INPA Manaus - 2007 Efeito de banhos terapêuticos com peróxido de hidrogênio sobre os parâmetros sanguíneos de tambaqui (C%ssoma macropomum) após infecção por Aeromonas hydrophila Andréa Moura de ALMEIDA1; Jorge Daniel Indrusiak FIM 2 ; Elizabeth Gusmão AFFONS0 3 'Bolststa PIBIC INPAjCNPq; 20rientador INPAjCPAQ; 3Colaborador INPAjCPAQ No tratamento das doenças em peixes, vários protocolos têm sido utilizados, tais como os banhos terapêuticos, o uso de rações medicadas e a aplicação de vacinas (Reed et aI., 1999; Fouz et aI., 2001). Os tratamentos utilizando banhos são os mais usados em piscicultura, provavelmente devido a facilidade de manejo. Existem três tipos de banhos: o banho rápido, o banho de fluxo e o banho por tempo indefinido. Um dos produtos que tem se mostrado satisfatório, tanto para o tratamento de doenças de peixes como para o meio ambiente, é o peróxido de hidrogênio (H 2 0 2 ) (Kiemer e Black, 1997), pois tem potencial efetivo no controle de numerosos patógenos externos de peixes (Mansell et aI., 2005). Estudos preliminares sobre o efeito do H 2 0 2 nas respostas fisiológicas e sobrevivência do tambaqui (Cotossome macropomum) demonstraram que elevadas concentrações deste produto (0,3 rnq/L) em banhos de 30 minutos podem ser aplicadas sem causar mortalidades e com total retorno da homeostase fisiológica, após 24 h de recuperação (Barros, 2006). Com o objetivo de dar continuidade aos estudos de Barros (2006), este trabalho avaliou os efeitos do H 2 0 2 como produto terapêutico no tratamento de tambaqui infectado com a bactéria Gram-negativa Aeromonas hydrophila, tendo como indicadores os parâmetros fisiológicos, o comportamento ea sobrevivência dos peixes, após banho de 30 min e após recuperação de 24 h. Antes do início dos experimentos, 144 peixes (15 cm) foram mantidos em jejum, por um período de 48 horas e, em seguida, foram injetadas, dentro da cavidade celomática dos peixes, soluções de A. hydrophi/a , utilizando 60 % da dose letal (DLso = 4,7 x 10 11 UFCjmL), determinada previamente nos experimentos realizados no Laboratório de Fisiologia Aplicada à Piscicultura (LAFAP) da CPAQjINPA. Os peixes foram distribuídos aleatoriamente em 12 tanques de polietileno com capacidade para 300 L, com aeração e fluxo de água contínuo, para 4 tratamentos: TRO (Controle); TR1; TR2 e TR3 com O; 0,1; 0,2 e 0,3 mL/L H 2 0 2 . Após 24 h de aclimatação, a aeração e o fluxo de água foram suspensos e imediatamente adicionados as diferentes concentrações de H 2 0 2 30% (Merck), para banho de 30 min e os 6 peixes restantes, de cada tratamento e suas réplicas, foram transferidos para outros 12 tanques de polietileno com aeração e fluxo de água constante, para avaliar a recuperação dos peixes após o banho com H 2 0 2 Amostras de sangue (n=6) foram coletadas antes (basal), após 30 min de banho com H 2 0 2 de cada tratamento e durante a recuperação por 24 h. Os animais foram previamente anestesiados com benzocaína (60%) para as determinações de hematócrito (Ht), pelo método de microhematócrito; concentração de hemoglobina ([Hb]), pelo método da cianometahemoglobina; contagem de eritrócitos (RBC) em câmara de Neubauer utilizando a solução de Natt e Herrick (1952) e glicose plasmática (GI), pelo método da glicose oxidase. As determinadas das concentrações de O 2 dissolvido, temperatura, condutividade, pH e coleta de água para análise de amônia, nitrito, alcalinidade, dureza, CO 2 eH 2 0 2 foram feitas antes e após 20 min da adição do H 2 0 2 e durante a recuperação. Nenhum dos parâmetros ffstco-qulmlcos analisados apresentou diferenças significativas entre os diferentes tratamentos. Entretanto, diferenças significativas (p<0,05) foram verificadas entre os tempos de exposição (antes e após 20 min da adição de H 2 0 2 e durante o período de 24 h de recuperação). Tais diferenças, provavelmente, estão relacionadas ao processo de oxidação do H 2 0 2 em contato com a água. Durante o período de 24 h após a inoculação da bactéria e 24 h após o banho com H 2 0 2 (recuperação), foram observados o comportamento e a sobrevivência dos peixes. Sinais típicos de infecção causada pela bactéria A. hydrophi/a, como, por exemplo, o aparecimento de erosão nas nadadeiras, foram verificados nos peixes de todos os tratamentos, entretanto, não houve mortalidade durante o período de estudado. Dos parâmetros sanguíneos analisados, somente a [Hb] e o RBC apresentaram diferenças significativas (p<0,05) entre os diferentes tratamentos (TR1, TR2 e TR3) antes do banho de 30 min e após 24 h de recuperação ao H 2 0 2 quando comparados aos valores basais (Tabela 1). Entretanto, estes não foram significativamente diferentes do controle (TRO) após a recuperação. Assim, pelos resultados obtidos, podemos sugerir que, embora o tratamento com H 2 0 2 cause estresse agudo nos peixes infectados por A. hydrophi/a, este parece não atenuar seus efeitos por períodos mais longos que possam prejudicar a sobrevivência dos peixes. 291

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XVI Jornada de Iniciação Científica PIBIC CNPq/FAPEAM/INPA Manaus - 2007

Efeito de banhos terapêuticos com peróxido de hidrogênio sobre osparâmetros sanguíneos de tambaqui (C%ssoma macropomum)após infecção por Aeromonas hydrophila

Andréa Moura de ALMEIDA1; Jorge Daniel Indrusiak FIM2; Elizabeth Gusmão AFFONS03'Bolststa PIBIC INPAjCNPq; 20rientador INPAjCPAQ; 3Colaborador INPAjCPAQ

No tratamento das doenças em peixes, vários protocolos têm sido utilizados, tais como os banhosterapêuticos, o uso de rações medicadas e a aplicação de vacinas (Reed et aI., 1999; Fouz et aI.,2001). Os tratamentos utilizando banhos são os mais usados em piscicultura, provavelmente devidoa facilidade de manejo. Existem três tipos de banhos: o banho rápido, o banho de fluxo e o banhopor tempo indefinido. Um dos produtos que tem se mostrado satisfatório, tanto para o tratamentode doenças de peixes como para o meio ambiente, é o peróxido de hidrogênio (H202) (Kiemer eBlack, 1997), pois tem potencial efetivo no controle de numerosos patógenos externos de peixes(Mansell et aI., 2005). Estudos preliminares sobre o efeito do H202 nas respostas fisiológicas esobrevivência do tambaqui (Cotossome macropomum) demonstraram que elevadas concentraçõesdeste produto (0,3 rnq/L) em banhos de 30 minutos podem ser aplicadas sem causar mortalidades ecom total retorno da homeostase fisiológica, após 24 h de recuperação (Barros, 2006). Com oobjetivo de dar continuidade aos estudos de Barros (2006), este trabalho avaliou os efeitos do H202

como produto terapêutico no tratamento de tambaqui infectado com a bactéria Gram-negativaAeromonas hydrophila, tendo como indicadores os parâmetros fisiológicos, o comportamento e asobrevivência dos peixes, após banho de 30 min e após recuperação de 24 h. Antes do início dosexperimentos, 144 peixes (15 cm) foram mantidos em jejum, por um período de 48 horas e, emseguida, foram injetadas, dentro da cavidade celomática dos peixes, soluções de A. hydrophi/a ,utilizando 60 % da dose letal (DLso = 4,7 x 1011 UFCjmL), determinada previamente nosexperimentos realizados no Laboratório de Fisiologia Aplicada à Piscicultura (LAFAP) da CPAQjINPA.Os peixes foram distribuídos aleatoriamente em 12 tanques de polietileno com capacidade para 300L, com aeração e fluxo de água contínuo, para 4 tratamentos: TRO(Controle); TR1; TR2 e TR3 comO; 0,1; 0,2 e 0,3 mL/L H202. Após 24 h de aclimatação, a aeração e o fluxo de água foramsuspensos e imediatamente adicionados as diferentes concentrações de H202 30% (Merck), parabanho de 30 min e os 6 peixes restantes, de cada tratamento e suas réplicas, foram transferidospara outros 12 tanques de polietileno com aeração e fluxo de água constante, para avaliar arecuperação dos peixes após o banho com H202• Amostras de sangue (n=6) foram coletadas antes(basal), após 30 min de banho com H202 de cada tratamento e durante a recuperação por 24 h. Osanimais foram previamente anestesiados com benzocaína (60%) para as determinações dehematócrito (Ht), pelo método de microhematócrito; concentração de hemoglobina ([Hb]), pelométodo da cianometahemoglobina; contagem de eritrócitos (RBC) em câmara de Neubauerutilizando a solução de Natt e Herrick (1952) e glicose plasmática (GI), pelo método da glicoseoxidase. As determinadas das concentrações de O2 dissolvido, temperatura, condutividade, pH ecoleta de água para análise de amônia, nitrito, alcalinidade, dureza, CO2 e H202 foram feitas antes eapós 20 min da adição do H202 e durante a recuperação. Nenhum dos parâmetros ffstco-qulmlcosanalisados apresentou diferenças significativas entre os diferentes tratamentos. Entretanto,diferenças significativas (p<0,05) foram verificadas entre os tempos de exposição (antes e após 20min da adição de H202 e durante o período de 24 h de recuperação). Tais diferenças, provavelmente,estão relacionadas ao processo de oxidação do H202 em contato com a água. Durante o período de24 h após a inoculação da bactéria e 24 h após o banho com H202 (recuperação), foram observadoso comportamento e a sobrevivência dos peixes. Sinais típicos de infecção causada pela bactéria A.hydrophi/a, como, por exemplo, o aparecimento de erosão nas nadadeiras, foram verificados nospeixes de todos os tratamentos, entretanto, não houve mortalidade durante o período de estudado.Dos parâmetros sanguíneos analisados, somente a [Hb] e o RBC apresentaram diferençassignificativas (p<0,05) entre os diferentes tratamentos (TR1, TR2 e TR3) antes do banho de 30 mine após 24 h de recuperação ao H202 quando comparados aos valores basais (Tabela 1). Entretanto,estes não foram significativamente diferentes do controle (TRO) após a recuperação. Assim, pelosresultados obtidos, podemos sugerir que, embora o tratamento com H202 cause estresse agudo nospeixes infectados por A. hydrophi/a, este parece não atenuar seus efeitos por períodos mais longosque possam prejudicar a sobrevivência dos peixes.

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XVI Jornada de Inrctaçao Científíca PIBIC CNPq/FAPEAM/INPA Manaus 2007

Tabela 1. Hematócrito (Ht), número de eritrócitos (RBC) e concentração de hemoglobina ([Hb]) detambaqui antes do início do experimento (sem bactéria), após 30 minutos da adição de diferentestratamentos: TRO, TR1, TR2 e TR3 com: O; 0,1; 0,2 e 0,3 mL/L HzOz (com bactéria), e após 24horas do banho (recuperação). Valores são médias ± DP.

Parâmetros sanguíneos

Tempo Tratamento Ht RBC (xI06/ [Hb] Glicose

(oto) mrn") (g/dL) (mg/dL)

Início Basal 29,3 ± 2,7 2,0 ± 0,14 9,7 ± 0,9 56,1 ± 12,6

TRO 27,6 ± 3,6 2,0 ± 0,23 9,1 ± 1,2 45,3 ± 13,3

30 minutos TR1 27,8 ± 0,6 1,8 ±0,19b 8,7 ± 0,9a 51,5 ± 18,7

TR2 25,3 ± 1,3 1,8 ± 0,16ab 8,4 ± 1,lab 42,3 ± 8,8

TR3 27,1 ± 2,1 1,8 ± 0,23a 8,4 ± 1,Ob 49,9 ± 14,7

TRO 27,8 ± 1,8 1,7 ± 0,09 9,1 ± 0,4 52,5 ± 3,9

Recuperação TR1 28,7 ± 0,5 1,7 ± 0,04b 8,8 ± 0,3a 55,2 ± 5,9

TR2 28,3 ± 1,4 1,6 ± 0,26b 8,7 ± o.s= 60,7 ± 14,3

TR3 29,1 ± 3,4 1,8 ± 0,14a 8,6 ± 0,8b 60,8 ± 2,0

Palavras-chave: Fisiologia, peróxido de hidrogênio, tambaqui.

Bibliografias citadas

Barros, F.P. (2006). Avaliação dos parâmetros sanguíneos de tambaqui (Cotossome macropomum) submetido adiferentes concentrações de peróxido de hidrogênio. Monografia para obtenção de graduação em MedicinaVeterinária, no Centro Universitário Nilton Uns, Manaus, AM. 32 p.

Fouz, B.; Esteve-Gassent, M.D.; Barrera, R.; Larsen, J.L.; Nielsen, M.E.; Amaro, C. 2001. Field testing of avaccine against eel diseases caused by Vibrio vu/nifieus. Diseases of Aquatie Organisms, 45:183-189.

Kiemer, M. C. B.; Black, K. D. 1997. The effeets of hydrogen peroxide on the gill tissues of At/antie sa/mon,Sa/mon safar L. Aquaculture. 153 p. 181-189 [online] <http://www.elsevier.com/wps/products/cws home/503302.

Mansell, B., Powell, M.D., Ernst, I. Nowak, B.F. 2005. Effects of gill fluke Zeuxapta serio/ae and treatment withhydrogen peroxide on pathophysiology of kingfish Serio/a /a/andi, J. Fish Dis. 28, pp. 253-262.

Natt, M.P.; Herrick, C.A. 1952. New blood diluent for counting the erythrocytes and leukocytes of the chicken.Pou/try Sei. 31: 735-738.

Reed, P.; Francis-Floyd, R.; Klingerr, R. 1999. Monogenean trematodes. Gainesville: University of Florida. 5p.(Fact Sheet, 28).

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