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EFEITO DO SOMBREAMENTO SOBRE O CRESCIMENTO DAS MUDAS DE TRÊS ESPÉCIES FLORESTAIS RESUMO As plântulas de Piptadenia rígida "angico branco", Schizoloblum parayba "guapuruvu" e Albizzia lebbeck "coração de negro" foram cultivadas na casa de vegeta- ção do Departamento de Ciências Florestais da ESALO/ USP, em Piracicaba, sob condições de luz total e 80% de sombra. As três espécies apresentaram um maior cres- cimento em altura nas condições de sombreamento do que à plena luz, todavia apenas as plântulas de P. rígida evidenciaram incrementos significativos do peso seco das folhas e da área foliar quando expostas a 80% de sombra. Palavras-chave: Piptadenia rigida, Schizolobium parayba, Albizzia lebbeck, crescimento juvenil, sombreamento. 1 INTRODUÇÃO É de grande importância que se conheçam cada vez mais as características das essências florestais para que possamos administrar com mais segurança e objetividade a produção das mudas para a formação de maciços puros ou mistos. Apesar do plantio homogêneo de algumas espéci- es exóticas ser uma solução atual e rápida para a demanda de madeira, ele não atende certos fins ecoló- gicos ou silviculturais. Por outro lado o reflorestamento com espécies nativas requer uma série de cuidados que dependem do prévio conhecimento de suas caracterís- ticas e exigências ecológicas nas diversas etapas de seu ciclo vital. Sabemos que para seu desenvolvimento, cada espécie tem exigências próprias. Entre esses fatores essenciais, a intensidade da luz é especialmente impor- tante para o crescimento das plantas, por influir entre outros processos, na taxa de fotossíntese. Tanto a quantidade como a qualidade de luz são importantes para muitos processos fisiológicos nos ve- getais, como fotoperiodismo e fototropismo, alonga- mento caulinar dormência e germinação de sementes (WHATLEY & WHATLEY, 1982). Fabio POGGIANP Solimar BRUNF Eduardo S.O. BARBOSN ABSTRACT The seedlings of Piptadenia rígida "angico branco", Sohizolobium parayba "guapuruvu andAlbizzia Lebbeck "coração de negro"were grown under shading (80%) and at full light. The three species showed a higher height growth on the shade than at fulllight. However, only the seedlings of Piptadenia rígida exhibited a significant increment of leaf area and dry weight when exposed to 80% of shading. Key words: Piptadenia rigida, Schizolobium parayba, Albizzia lebbeck, juvenile growth, shading. De acordo com TINOCO & VASOUEZ-YANES (1985), o fator que provoca maior variação nas espécies do sub-bosque com a ocorrência da abertura no dossel, é a intensidade luminosa. As essências florestais possuem a faculdade de desenvolver diferentes estruturas anatômicas e morfológicas quando crescem em diferentes situações de luminosidade. Diferenças de luz quanto a sua intensidade tem, nas condições naturais, efeito mais significativo no cres- cimento das plantas do que a sua qualidade principal- mente quanto ao acúmulo de matéria seca (AMO, 1985). Vários parâmetros tem sido usados para avaliar as respostas de crescimento de plântulas florestais à inten- sidade luminosa. Dentre esses, a altura é um dos mais utilizados. Outro parâmetro bastante utilizado é o diâme- tro de colo, pois depende da atividade cambial, que por sua vez é estimulada a partir de carboidratos produzidos pela fotossíntese corrente e hormônios translocados das regiões apicais. São usualmente utilizados ainda como parâmetros de crescimento em respostra à luz: a produção de matéria seca que se reflete no peso seco do vegetal, o alongamento e o peso das raízes, a expansão da super- (1) Professor Associado do Departamento de Ciências Florestais da ESALO/USP - Piracicaba. (2) Acadêmico do Curso de Engenharia Florestal da ESALO/USP - Piracicaba. Anais - 2 2 Congresso Nacional sobre Essências Nativas - 29/3/92-3/4/92 564

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EFEITO DO SOMBREAMENTO SOBRE O CRESCIMENTO DAS MUDASDE TRÊS ESPÉCIES FLORESTAIS

RESUMO

As plântulas de Piptadenia rígida "angico branco",Schizoloblum parayba "guapuruvu" e Albizzia lebbeck"coração de negro" foram cultivadas na casa de vegeta-ção do Departamento de Ciências Florestais da ESALO/USP, em Piracicaba, sob condições de luz total e 80% desombra. As três espécies apresentaram um maior cres-cimento em altura nas condições de sombreamento doque à plena luz, todavia apenas as plântulas de P. rígidaevidenciaram incrementos significativos do peso secodas folhas e da área foliar quando expostas a 80% desombra.

Palavras-chave: Piptadenia rigida, Schizolobiumparayba, Albizzia lebbeck,crescimento juvenil, sombreamento.

1 INTRODUÇÃO

É de grande importância que se conheçam cadavez mais as características das essências florestaispara que possamos administrar com mais segurança eobjetividade a produção das mudas para a formação demaciços puros ou mistos.

Apesar do plantio homogêneo de algumas espéci-es exóticas ser uma solução atual e rápida para ademanda de madeira, ele não atende certos fins ecoló-gicos ou silviculturais. Por outro lado o reflorestamentocom espécies nativas requer uma série de cuidados quedependem do prévio conhecimento de suas caracterís-ticas e exigências ecológicas nas diversas etapas de seuciclo vital.

Sabemos que para seu desenvolvimento, cadaespécie tem exigências próprias. Entre esses fatoresessenciais, a intensidade da luz é especialmente impor-tante para o crescimento das plantas, por influir entreoutros processos, na taxa de fotossíntese.

Tanto a quantidade como a qualidade de luz sãoimportantes para muitos processos fisiológicos nos ve-getais, como fotoperiodismo e fototropismo, alonga-mento caulinar dormência e germinação de sementes(WHATLEY & WHATLEY, 1982).

Fabio POGGIANPSolimar BRUNFEduardo S.O. BARBOSN

ABSTRACT

The seedlings of Piptadenia rígida "angico branco",Sohizolobium parayba "guapuruvu andAlbizzia Lebbeck"coração de negro"were grown under shading (80%) andat full light. The three species showed a higher heightgrowth on the shade than at fulllight. However, only theseedlings of Piptadenia rígida exhibited a significantincrement of leaf area and dry weight when exposed to80% of shading.

Key words: Piptadenia rigida, Schizolobium parayba,Albizzia lebbeck, juvenile growth, shading.

De acordo com TINOCO & VASOUEZ-YANES(1985), o fator que provoca maior variação nas espéciesdo sub-bosque com a ocorrência da abertura no dossel,é a intensidade luminosa.

As essências florestais possuem a faculdade dedesenvolver diferentes estruturas anatômicas emorfológicas quando crescem em diferentes situaçõesde luminosidade.

Diferenças de luz quanto a sua intensidade tem,nas condições naturais, efeito mais significativo no cres-cimento das plantas do que a sua qualidade principal-mente quanto ao acúmulo de matéria seca (AMO, 1985).

Vários parâmetros tem sido usados para avaliar asrespostas de crescimento de plântulas florestais à inten-sidade luminosa. Dentre esses, a altura é um dos maisutilizados. Outro parâmetro bastante utilizado é o diâme-tro de colo, pois depende da atividade cambial, que porsua vez é estimulada a partir de carboidratos produzidospela fotossíntese corrente e hormônios translocados dasregiões apicais.

São usualmente utilizados ainda como parâmetrosde crescimento em respostra à luz: a produção dematéria seca que se reflete no peso seco do vegetal, oalongamento e o peso das raízes, a expansão da super-

(1) Professor Associado do Departamento de Ciências Florestais da ESALO/USP - Piracicaba.(2) Acadêmico do Curso de Engenharia Florestal da ESALO/USP - Piracicaba.

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fície foliar e as relações entre a biomassa das partes áreae radicular.

Do ponto de vista ecológico e silvicultural reconhe-ce-se que determinadas espécies vegetais tem a capa-cidade de se desenvolver em condições desombreamento, como acontece por exemplo no sub-bosque das florestas. Estas espécies que toleram asombra são classificadas como tolerantes, ao contráriodas intolerantes ou heliofitas que se desenvolvem me-lhor em plenas condições de luminosidade.

Na prática, em condições da mata, o estudo daresposta das diferentes essências florestais às con-dições de luz torna-se difícil, tendo em vista as vastase complexas interações com as variáveis do habitatnatural.

Neste aspecto ENGEL (1989) considera "o som-breamento artificial um método bastante válido para seestudar as necessidades lumínicas das diferentes espé-cies em condições de viveiro, apresentando certas van-tagens aos estudos em condições naturais; pode-seisolar melhor o efeito da intensidade luminosa e forneceràs parcelas condições uniformes de iluminação. O con-trole local é mais efetivo e também a operacionalizaçãodas práticas culturais torna-se facilitada".

Vários autores tem utilizado o método desombreamento artificial para observar a resposta deespécies florestais a diferentes intensidades de luz.FERREIRA (1977) analisou o efeito do sombreamentona produção de mudas de quatro espécies florestais.INOUE (1983) tem realizado também diversos estudosenfocando as respostas a diferentes intensidades de luzde algumas espécies nativas e inclusive da Araucariaangustifolia. ENGEL & POGGIANI (1990) também usa-ram o recobrimento com telas de sombrite para compa-rar a resposta de 4 essências nativas a diferentes níveisde luz, discutindo sua importância na interpretaçãoadaptativados resultados e as implicações silviculturais.

Dentre as espécies arbóreas com potencialidadede uso para reflorestamento estão Schizolobiumparahyba, Piptadenia rigida eAlbizzia lebbecktendo emvista especialmente suas diversidades de usos.

Diante da carência de informações relativas aodesenvolvimento dessas espécies e da importância daluz sobre o crescimento das mudas, o presente trabalhoterá como objetivo estudar o melhor nível de som-breamento e a influência deste no crescimento em altura,diâmetro de colo, área Iollar, peso seco das folhas,alongamento e peso das raízes para as espécies acimacitadas.

2 MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Espécies Utilizadas

Para esta pesquisa foram utilizadas plântulas de:1) Piptadenia rigida "angico-branco", 2) Schizolobiumparayba (Vell.) Blake "guapuruvu e 3) Albizzia lebbeckBenth "coração-de-negro", espécies estas pertencentesà família das Leguminosae, sendo as duas primeirasnativas do estado de São Paulo e a terceira originária da

África, mas amplamente cultivada no Brasil (RIZZINI,1971) (ANDRADE & VECCHI, 1916) e (CORREA, 1984).

2.2 Sombreamento

Foram testados dois níveis de luminosidade: plenaluz e 80% de sombra. Os sombrites proporcionando 20%da luz total foram colocados a 0,4 m de altura, sustenta-dos por suportes de aço em cima das mesas da casa devegetação do Departamento de Ciências Florestais noCampus da ESALO/USP em Piracicaba (SP).

Cada espécie foi submetida aos dois tratamentoscitados acima, sendo que cada tratamento foi divididoem 4 repetições com 4 plantas. As repetições foramdistribuídas em vários pontos da casa de vegetação.

2.3 Produção das Mudas

As sementes foram obtidas junto ao Setor deSementes do Departamento de Ciências Florestais ehaviam sido coletadas no próprio parque da ESALO.

O substrato utilizado para a semeadura foi terraargilosa de subsolo (Iatossol vermelho escuro) maisadubo N-P-K (5 - 3,5 - 9.5) colocado em sacos de poli-etileno com 10 cm de diâmetro e 20 cm de profundidade.

A semeadura foi efetuada colocando-se direta-mente três sementes em cada recipiente para garantir osucesso do experimento. Após a germinação, em cadarecipiente foi deixada apenas a plântula de melhor con-formação. As mudas foram submetidas a regas diárias econtrole de ervas daninhas, uma vez que não havia sidofeita a desinfestação do substrato.

2.4 Análises do Crescimento

Foram estudados os seguintes parâmetros: cresci-mento em altura, diâmetro final do colo, peso seco dasfolhas e da raiz, alongamento das raízes, área íoliar paracada espécie e cada tratamento.

A variável "altura" foi medida periodicamente du-rante todo o experimento com uma régua milimetrada atéo ponto da gema apical. Os outros parâmetros foramregistrados apenas na última medição.

Para as mudas de A. lebbeck a última medição foiefetuada aos 110 dias de idade, para P. rigida aos 102dias e para S. parahyba aos 71 dias de idade.

A área foliar média total por planta foi estimadaretirando-se todas as folhas das plantas de cada trata-mento e pesando-as (peso seco) separadamente embalança de 0,01 g de precisão.

Das folhas foram cortados discos com área conhe-cida que também foram pesados. Depois achou-se porsimples regra de três a área foliar total que foi divididapelo número das plantas para dar a área Ioliar média porplanta.

A determinação do alongamento da raiz foi feitaapós a última medição, individualmente, retirando a terrapor lavagem do substrato e medindo o comprimento comuma régua milimetrada para cada espécie e tratamento.

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Com as mudas totalmente fora dos recipientes e lavadasdo substrato, as raízes foram cortadas na altura do coloe, após secagem de 48 horas em estufa a 103°C, forampesadas.

3 RESULTADOS

3.1 Condiçõs Microclimáticas

A utilização de telas de sombrite reduziu a incidên-cia da energia luminosa para cerca de 20% (FIGURA 1).Esta redução foi visivelmente mais acentuada entre 12 e14 horas. Todavia, em função de menor circulação de arno interior da casa de vegetação, a temperatura próximoàs plantas se manteve de 2 a 3 graus centígrados maiselevada, principalmente das 15 às 18 horas. Em geral, aolongo do tempo, a casa de vegetação manteve ascondições climáticas mais estáveis evitando o forteabaixamento da temperatura registrada durante algu-mas noites a céu aberto.

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8:00 9:00 10:00

3.2 Crescimento em Altura das Mudas

o crescimento em altura representa um dos aspec-tos do crescimento geral das espécies arbóreas sendo omesmo influenciado de forma acentuada pelas condi-ções de luminosidade. Os gráficos das FIGURAS 2,3 e4 mostram a evolução da altura das mudas das trêsespécies estudadas em situações de iluminação plena e80% de sombreamento.

As três espécies evidenciaram, nas condições desombreamento, uma elongação mais acentuada emrelação às condições de plena iluminação. O guapuruvuapresentou o crescimento mais rápido, na razão de 0,31e 0,45 em/dia, respectivamente, nas condições de luz ede sombreamento, valores estes cerca de 90% superio-res aos observados nas duas outras espécies.

Entretanto, de acordo com KRAMER &KOZLOWSKI (1979) o crescimento não deve ser anali-sado apenas quanto à elongação mas outras caracterís-ticas devem ser observadas tais como: peso da matéria

11:00 12:00 13:00 14:00 15100 16:00 17:00

HORAS

FIGURA 1 - Variação da luz fotossinteticamente ativa (L.FA) ao longo do dia no exterior (-.-), no interior da casa devegetação (-*-) e sob a tela de sombrite (-I -). Os pontos representam os valores médios de dez leiturastomadas em diferentes posições

25

E 20o-« 15a:::J 10~..J« 5

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MEDICÕES (l2ABR.l17 JULHO)

:5 5 7 106 8 9

FIGURA 2 - Crescimento em altura das mudas de P. rígida em diferentes condições de luminosidade

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30

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15

10O 2 3

SOMBRA

SOL

4 5 6 7 8

MEDiÇÕES (6 MA10/17 JULHO)

FIGURA 3 - Crescimento em altura das mudas de S. parayba em diferentes condições de luminosidade

30

25

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« 15o::::> 10I-..J« 5

OO 2 4 6

SONBRA

SOL

8 10 12 14 16

MEDiÇÕES (3MARC.l18 JULHO)

18 20

FIGURA 4 - Crescimento em altura das mudas de A. lebbeck em diferentes condições de luminosidade

seca, diâmetro do colo, superfície foliar, comprimento epeso do sistema radicular.

A TABELA 1 complementa com diversos dados ascaracterísticas das três espécies por ocasião da medi-ção final. Os dados devem ser analisados com algunscuidados, visto que os períodos de permanência dasmudas na casa de vegetação foram diferentes em virtu-de das peculiaridades biológicas e das dificuldadestécnicas encontradas para a germinação e o preparo.Entretanto, os tratamentos para a mesma espécie foramefetuados na mesma época e no mesmo período detempo, podendo ser diretamente comparados.

Verifica-se que o sombreamento provocou umaredução no diâmetro do colo de forma clara nas mudasde S. parahyba, evidenciando que para esta espécie80% de sombreamento provoca um ligeiro estiolamento.

Em relação ao peso seco e à superfície da áreafoliar, apenasP. rigida respondeu de forma nítida nascondições de sombreamento, visto que o peso médio

das folhas por planta passou de 0,34 g para 0,87 g e aárea foliar de 29,1 em" para 57,0 em",

Tanto A. lebbeck como S. parayba não responde-ram de forma acentuada ao sombreamento em relaçãoàs variações no peso e na área foliar. FERREIRA (1977)estudou o efeito dos diferentes níveis de sombreamentosobre quatro essências florestais, dentre as quais o S.parayba e, para esta espécie, não aconselha o uso desombreamento para a produção de mudas.

Quanto ao sistema radicular, observa-se na TABE-LA 1 que a plena luminosidade, em todas as espéciesestudadas, provoca um nítido aumento do comprimentoda raiz pivotante, mas o seu efeito é sentido principal-mente em relação ao peso da matéria seca do sistemaradicular.

Sabe-se efetivamente que quanto mais baixa aradiação menor será o crescimento do sistema raicularque se expande mais superficialmente (SPURR &BARNES, 1980).

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TABELA 1 - Crescimento das diferentes essências florestais cultivadas na casa de vegetação em condições de plena luze 80% de sombreamento.

ESPÉCIESP. rigida A. lebbeck S. parahyba

OBSERVo Pleno Sob 80% Pleno Sob 80% Pleno Sob 80%sol de sombra sol de sombra sol de sombra

Altura 12,00 24,34 13,90 24,62 22,93 33,25Final (cm) ±4,1 ±9,O ±2,6 ±4,45 ±1,63 ±4,48

Diâmetro 1,94 1,71 4,10 3,37 7,56 5,1final (mm) ±O,16 ±O,12 ±0,74 ±0,49 ±0,5 ±0,64

Peso médiodas folhas 0,34 0,87 0,44 0,50 1,71 1,77p/planta (g)

Areafoliar p/ 29,1 57,0 50,0 53,5 210,3 231,4planta (em')

comprimo 14,25 11,5 14,9 13,12 14,6 10,62radicular ±4,63 ±4,17 ±2,1 ±1,8 ±1,4 ±1,6(cm)

Peso médiode raiz p/ 0,49 0,1 1,34 0,7 0,65 0,21planta (g)

Observa-se por exemplo que as plântulas de P.rigida, em condições de 80% de sombra, reduziram opeso médio das raízes de 0,49 g para 0,1 g. Por outro ladoo peso médio das folhas desta espécie foi maior nasplantas em condições de sombra numa proporção de95%. Isto indica que esta espécie tem uma respostafavorável de adaptação as condições de sombra onde asestruturas fotossintetizantes precisam da maior eficiên-cia como acontece, por exemplo, nas condições de sub-bosque.

Analisando o comportamento das três espéciesobserva-se que, do ponto de vista adaptativo, apenas P.rigida, responde de forma favorável ao nível desombreamento estudado. NOGUEIRA (1977) observouem plantios heterogêneos que o desenvolvimento destaespécie melhora após o adensamento das copas dopovoamento. O mesmo autor assinala que no caso de"Coração de negro", ao contrário as plântulas se desen-volvem bem em locais de plena insolação.

Em relação ao guapuruvu, FERREIRA (1977) ob-servou que a área foliar é a razão de área foliar dasmudas desta espécie produzidas sob 70% desombreamento, foram significativamente maiores doque sob níveis de sombreamento mais baixos. Todavia,considerando o crescimento da planta como um todo, emtermos de qualidade das mudas produzidas, sugere anão utilização do sombreamento no viveiro.

Concluído: de acordo com o conceito de BLACK-MAN & WILSON (1951) segundo o qual- as plantas de

sombra apresentam uma baixa razão de área foliar àpleno sol e um rápido aumento deste índice nosombreamento - poderí amos classificar apenas P. rigidacomo espécie de sombra, o que está de acordo com asobservações de campo de NOGUEIRA (1977).

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