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Efeito de compostos presentes na dieta e de drogas de abuso na captação de glicose numa linha celular de trofoblastos humanos (células BeWo) João Ricardo Diniz de Araújo Orientado por: Prof. Doutora Maria de Fátima Moreira Martel Trabalho de Investigação Porto, 2007

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Efeito de compostos presentes na dieta e de

drogas de abuso na captação de glicose numa

linha celular de trofoblastos humanos (células

BeWo)

João Ricardo Diniz de Araújo

Orientado por: Prof. Doutora Maria de Fátima Moreira Martel

Trabalho de Investigação

Porto, 2007

iii

i

AGRADECIMENTOS

Agradeço a preciosa orientação da Prof. Doutora Maria de Fátima Moreira Martel.

Agradeço também o apoio técnico fundamental do Dr. Pedro Gonçalves.

Trabalho financiado pela FCT (Programa Ciência, Tecnologia e Inovação do

Quadro Comunitário de Apoio e POCTI/SAU-FCF/59382/2004).

ii

ÍNDICE

Lista de Abreviaturas ......................................................................................... iii

Resumo e palavras-chave em português e inglês ............................................. iv

Introdução .......................................................................................................... 1

Objectivos .......................................................................................................... 9

Material e Métodos........................................................................................... 10

Resultados ....................................................................................................... 16

Discussão......................................................................................................... 35

Conclusão ........................................................................................................ 49

Bibliografia ....................................................................................................... 51

Anexos ............................................................................................................. 62

Índice de anexos .............................................................................................. 63

iii

LISTA DE ABREVIATURAS

Amax : acumulação de 3H-DG no equilíbrio

ATP: trifosfato de adenosina

BeWo: linha celular de coriocarcinoma humano

DG: 2-desoxiglicose

DG-6-P: 2-desoxiglicose-6-fosfato

DMSO: dimetilsulfóxido

EGCG: epigalocatequina-3-galato

EPM: erro padrão da média

GLUT: transportador de glicose independente do sódio

GF-HBS: solução amortecedora salina com HEPES sem glicose

HMIT: transportador de mio-inositol acoplado ao ião H+

3H-DG: 2-desoxi-D-glicose marcada com o isótopo radioactivo (trício)

kin: taxa constante do transporte para dentro da célula

kout: taxa constante do transporte para fora da célula

MDMA: 3,4-metilenodioximetanfetamina

MTT: brometo de 3-(4,5-dimetil-2-tiazolil)-2,5-difenil-2H-tetrazólio

SGLT: transportador activo de glicose dependente do sódio

SERT: transportador de serotonina

THC: ∆9-tetrahidrocanabinol

iv

RESUMO EM PORTUGUÊS

Os mecanismos que regulam o transporte placentar de glicose são ainda

pouco conhecidos. Por isso o objectivo deste trabalho, foi caracterizar a captação

de glicose da circulação materna e estudar a modulação desse processo por

diversas substâncias (polifenóis, metilxantinas, etanol e o seu metabolito

acetaldeído), presentes em bebidas alcoólicas e não-alcoólicas de consumo

habitual (como o vinho, chá e café) e por drogas de abuso. Para tal, determinou-

se o efeito agudo (26 minutos) e crónico (48 horas) desses compostos na

captação de desoxiglicose marcada radioactivamente com trício (3H-DG), numa

linha celular de trofoblastos humanos (BeWo).

Verificamos que a captação de 3H-DG (1 �M) ocorre principalmente por um

mecanismo facilitado (GLUT), e é modulada de modo diferente pelos compostos

das bebidas e pelas drogas de abuso. Agudamente, o acetaldeído (30 e 100 mM),

o resveratrol, o xanto-humol, a epigalocatequina-3-galato (100 �M), e a quercetina

e crisina (ambos a 10 e 100 �M) reduziram o transporte apical de 3H-DG,

enquanto que a rutina, a catequina (ambos a 10 e 100 �M), a epicatequina (100

�M) e o etanol (10 mM) aumentaram-no. A catequina e a epicatequina em

conjunto (ambas a 100 �M) reduziram a captação de 3H-DG, enquanto que a

epicatequina e o xanto-humol (ambos a 100 �M) contrabalançaram os efeitos que

cada um tinha isoladamente. Todos estes compostos parecem interagir com o

GLUT para exercerem os seus efeitos; contudo o acetaldeído parece exercer o

seu efeito por outro mecanismo. A quercetina e o xanto-humol são inibidores não

competitivos da captação de 3H-DG, ao passo que a epigalocatequina-3-galato e

o acetaldeído reduziram ambos o valor de Km e Vmax.

v

Cronicamente, a rutina e a miricetina isoladamente (0,1 e 1 �M) e em

conjunto (1 �M) aumentaram a captação de 3H-DG, enquanto que a teoflina (0,1 e

1 �M) e as drogas de abuso 3,4-metilenodioximetanfetamina, anfetamina (ambas

a 0,25 e 2,5 �M) e o ∆9-tetrahidrocanabinol (1 nM) reduziram-na. Para exercerem

os seus efeitos crónicos, estes compostos parecem actuar ao nível do GLUT.

Os resultados obtidos neste trabalho, vêem aprofundar o conhecimento da

bioactividade e a interferência na saúde humana, de alguns polifenóis,

metilxantinas e drogas de abuso.

Palavras-chave: glicose, captação apical, linha celular BeWo, polifenóis,

metilxantinas, etanol, acetaldeído, anfetamina, ∆9-tetrahidrocanabinol, 3,4-

metilenodioximetanfetamina.

RESUMO EM INGLÊS

Very little is known concerning the mechanisms responsible for the

regulation of the placental transfer of glucose. So, the aim of this work was to

characterize the placental uptake of glucose from the maternal circulation, and to

study the modulation of that process by several compounds (polyphenols,

methylxanthines, ethanol and its metabolite acetaldehyde), present in alcoholic

and nonalcoholic drinks (such as wine, tea and coffee) and by drugs of abuse. For

this, the acute (26 min) and chronic (48 h) effect of these compounds upon the

vi

uptake of 3H-2-deoxy-D-glucose (3H-DG) by a human trophoblast cell line (BeWo)

was determined.

We verified that the uptake of 3H-DG occurs mainly by a facilitated

mechanism (GLUT), that is differentially modulated by compounds present in

drinks and by drugs of abuse. Acutely, acetaldehyde (30-100 mM), resveratrol,

xanthohumol, epigallocatechin-3-gallate (100 µM), chrysin and quercetine (both at

10-100 µM), decreased 3H-DG uptake, whereas rutin, catechin (both at 10-100

µM), epicatechin (100 µM) and ethanol (10 mM) increased it. Together, catechin

and epicatechin (both at 100 µM) decreased the uptake of 3H-DG, whereas

epicatechin and xanthohumol (both at 100 µM) counterbalanced each one’s

isolated effect. All these compounds seem to interact with GLUT in order to exert

their effects, except acetaldehyde that seems to exert its effect by a different

mechanism. Quercetin and xanthohumol are non-competitive inhibitors of 3H-DG

uptake, whereas both epigallocatechin-3-gallate and acetaldehyde decreased both

the Km and Vmax values.

Chronically, rutin and miricetin increased the uptake of 3H-DG both isolated

(both at 0,1-1 �M) and in combination (both at 1 �M), whereas theophylline (0,1-1

µM) and the drugs amphetamine, 3,4-methylenedioxymethamphetamine (0,1-2,5

�M) and ∆9-tetrahydrocannabinol (1 nM) decreased it. In order to exert their

chronic effects, these compounds seem to interact with GLUT.

The results of these work, will generate a deeper knowledge about the

bioactivity and health interference of polyphenols, methylxantines and drugs of

abuse.

vii

Palavras-chave em inglês: glucose, apical uptake, BeWo cell line, polyphenols,

methylxantines, ethanol, acetaldehyde, ∆9-tetrahydrocannabinol, amphetamine,

3,4-methylenedioxymethamphetamine.

1

INTRODUÇÃO

As membranas plasmáticas são estruturas laminares constituídas por

moléculas proteicas, lipídicas e glicídicas (1), que funcionam como uma barreira

semi-permeável entre o citoplasma e o fluido extracelular (2).

O transporte de substâncias (moléculas ou iões) para dentro ou para fora

da célula, pode ser classificado de dois modos: activo ou passivo e mediado ou

não por transportadores (2). O transporte activo requer o consumo de ATP

(trifosfato de adenosina) ou outro intermediário metabólico, sendo as moléculas

transportadas contra o seu gradiente de concentração. Pelo contrário, o

transporte passivo não requer energia sendo as moléculas transportadas a favor

do seu gradiente de concentração (2,3).

O transporte mediado por transportadores ocorre na presença de uma

proteína membranar integral, que permite o movimento de moléculas com

determinadas características. (2) Nestas, incluem-se moléculas hidrofílicas,

polares e de alto peso molecular (geralmente superior a 200 Da) como glícidos,

aminoácidos e neurotransmissores, que são incapazes de atravessar livremente a

membrana plasmática por difusão simples (3). Existem dois tipos de transporte

mediados por proteínas: o transporte facilitado, que não requer energia pois

transporta moléculas a favor do seu gradiente de concentração e o transporte

activo (2). Em geral, as proteínas transportadoras exibem especificidade para um

determinado soluto, saturação (à medida que a concentração de soluto aumenta,

a sua taxa de transporte aumenta mas só até certo ponto) e velocidade máxima

de transporte (quando todos os transportadores estão ocupados, a presença de

2

mais substância não aumenta a taxa de transporte pois os transportadores estão

saturados) (2).

A relevância do transporte celular de glicose decorre do facto de esta ser

uma fonte de energia fundamental e um importante substrato metabólico nos

mamíferos.

A glicose é obtida directamente da dieta e através da síntese de novo a

partir de outros substratos gliconeogénicos existentes em órgãos como o fígado.

A glicose é transportada da corrente sanguínea para as células, por dois

tipos de transportadores estruturalmente distintos, cujos membros têm sido

identificados ao longo dos últimos anos. Um deles é um transportador activo

dependente do ião sódio. Pelo menos três e até seis transportadores de glicose

dependentes do sódio, (SGLT1-SGLT6, genes da família SLC5A) já foram

identificados. Através destes transportadores, o gradiente electroquímico do ião

sódio gerado pela bomba de sódio e potássio, é utilizado para transportar a

glicose contra o seu gradiente de concentração (4). O outro transportador, é um

mecanismo de transporte facilitado de glicose que engloba uma família com treze

membros (GLUT1-GLUT12 e HMIT, genes da família SLC2), subdivididos em três

subclasses (4). Estes são independentes do sódio e utilizam o gradiente de

concentração da glicose (ou de outros açúcares), para realizar a sua função de

transporte (4, 5). Os primeiros transportadores a serem clonados foram o GLUT1,

existente sobretudo nos eritrócitos, cérebro e barreira placentária, e o SGLT1

predominante na membrana apical dos enterócitos e nas células renais do tubo

contornado proximal (4). Todos estes transportadores de glicose exibem

diferentes especificidades para o substrato e diferentes propriedades cinéticas e

3

padrões de expressão tecidular, o que indica que a captação celular de glicose é

um processo complexo (4).

O papel que os transportadores de glicose placentários desempenham

ainda antes da implantação do embrião, é essencial para garantir que o

metabolismo da glicose seja adequado (6). Mais tarde, o transporte facilitado

glicose da mãe para o feto será a principal fonte de energia para o crescimento e

metabolismo dos tecidos feto-placentários (7, 8), uma vez que a gliconeogénese

fetal não ser suficiente para assegurar as necessidades de glicose fetais (9).

A placenta humana é um órgão temporário especializado, de origem fetal

(placa coriónica e vilosidades coriónicas) e materna (decídua basalis),

constituindo a principal ligação entre a mãe e o feto (9). A corrente sanguínea

materna e fetal estão separadas pela estrutura da placenta, que é formada por

três camadas tecidulares: o sinciciotrofoblasto, estrutura multinucleada que

resulta da fusão dos citotrofoblastos com morfologia polarizada, cuja membrana

apical está em contacto directo com o sangue materno e cuja membrana basal

está voltada para a circulação fetal; uma fina camada de tecido conjuntivo e o

endotélio fetal (10) (ver figura 1).

Figura 1 - Estrutura da placenta humana e distribuição das isoformas dos transportadoresGLUT. Legenda: syncytiotrophoblast - sinciciotrofoblasto, cytotrophoblast - citotrofoblasto,microvillous membrane - membrana apical, basal membrane - membrana basal, stromal cells -células estromais, endothelial cell - célula endotelial, fetal capillary - capilares fetais eintervillous space – espaço intervilosidades. � - GLUT 1, � - GLUT 3 (11).

4

A placenta é fundamental para o desenvolvimento fetal normal, pois

desempenha numerosas funções: é o local de transferência de nutrientes (glicose,

aminoácidos, ácidos gordos e nucleosídeos) e oxigénio da mãe para o feto, e é o

local de eliminação e remoção de produtos do metabolismo da circulação fetal (9,

12). Estas funções primordiais são reguladas por uma rede complexa de

mecanismos de transporte, que se distribuem de uma forma polarizada

essencialmente no sinciciotrofoblasto. Além destas, são também funções da

placenta: sintetizar e segregar para as circulações materna e fetal hormonas,

enzimas, factores de crescimento, citoquinas e outras moléculas responsáveis

pelo desenvolvimento fetal normal (12).

A placenta não é contudo uma barreira estanque, já que moléculas nocivas

circulantes podem atingir a circulação fetal. De facto, os mecanismos de

transporte de nutrientes da mãe para o feto não têm especificidade restrita aos

seus substratos fisiológicos, pelo que qualquer xenobiótico estruturalmente

semelhante ao substrato fisiológico, pode ser transportado para a circulação fetal,

ou mesmo sem ser transportado interferir com o transporte de nutrientes (12).

O transporte de glicose ao nível da placenta é mediado por transportadores

estereoespecíficos (selectivos para a D-glicose relativamente à L-glicose),

independentes do sódio, sensíveis à inibição pela citocalasina B e floretina, e que

apresentam características cinéticas semelhantes. Esse transporte ocorre

essencialmente na zona vásculo-sincicial, (7) preferencialmente na direcção

materno-fetal e em menor extensão na direcção oposta (9).

O principal transportador envolvido no movimento transplacentar de glicose

é o GLUT1, o qual está presente essencialmente no sinciciotrofoblasto e em

5

menor grau nas células vasculares fetais (11). A sua distribuição entre a

membrana apical e basal é assimétrica, com um grau de expressão e actividade 4

a 5 vezes superior no lado apical em virtude da sua maior área de superfície (13).

Por isso, em condições normais, os transportadores de glicose presentes na

membrana basal são o passo limitante do transporte, permitindo através dos seus

níveis de expressão controlar o fornecimento de glicose para o feto (11). O

aumento da expressão do GLUT1 na membrana basal, que ocorre durante o

segundo e terceiro trimestres de gestação, está pois de acordo com o

crescimento fetal e necessidade de glicose máximos característicos deste

período (14). Em sinciciotrofoblastos de placentas de termo, a sobre-expressão

de transportadores GLUT1 ao nível da membrana basal, pode ser responsável

por situações clínicas de diabetes e macrossomia fetal (13). Contudo, os

mecanismos desencadeantes dessa sobre-expressão não estão ainda totalmente

esclarecidos (11).

Em virtude de condições experimentais variadas e de diferenças na

interpretação de resultados, (13, 15) existe alguma contradição no que diz

respeito aos restantes transportadores de glicose expressos na placenta e

respectiva localização celular (11). Os transportadores GLUT3 são expressos

somente no endotélio vascular e funcionam como scavengers de glicose (11).

Contudo, durante a fase inicial da gestação, é possível que citotrofoblastos

mitoticamente activos expressem o GLUT3, ao invés daqueles que já não se

dividem ou que já se tenham diferenciado em sinciciotrofoblastos característicos

de uma idade gestacional mais avançada. Seguindo o mesmo padrão de

expressão e localização do GLUT 3, estão também descritas outras isoformas da

família GLUT: o GLUT4 (transportador sensível à insulina) e o GLUT12 (13).

6

Com o objectivo de obter um conhecimento mais profundo da intensa

actividade transportadora que ocorre na placenta, é importante comparar dados

obtidos de sistemas in vitro, como linhas celulares imortalizadas e culturas

primárias (ambas de sinciciotrofoblastos), com sistema in vivo de transporte em

tecidos (9). Estes estudos comparativos são absolutamente necessários (9), daí

que este seja um dos motivos científicos para a realização deste trabalho.

As células BeWo são uma linha celular de coriocarcinoma humano, que

exibe muitas das características morfológicas e bioquímicas, descritas em

trofoblastos humanos (9). Estas células ao se diferenciarem, formam um tecido

semelhante aos sinciciotrofoblastos, incluindo os aspectos relacionados com a

expressão e actividade de transportadores (5). Como tal, as células BeWo exibem

uma distribuição assimétrica dos transportadores de glicose, expressando

principalmente o GLUT1 (14). Esta linha celular pode ser cultivada em

monocamada polarizada aderente ao suporte, (14) sendo considerada um modelo

de trofoblasto válido e conveniente para estudar actividades celulares e processos

de transporte transplacentar de nutrientes e fármacos (9).

A relação existente entre os mais de 8000 polifenóis presentes na dieta e a

prevenção de doenças no homem, tem sido um campo de investigação intenso

durante os últimos anos (16). De acordo com as suas estruturas, as principais

classes de polifenóis incluem os flavonóides, os mais abundantes na nossa dieta,

e os menos comuns estilbenos (como o resveratrol) e linhanos.

Uma das mais importantes fontes alimentares de polifenóis são as bebidas

de consumo habitual como sumos de fruta, vinho, café, bebidas à base de cacau

e cerveja (17). Algumas destas bebidas, especialmente o vinho tinto e o chá

7

verde, evidenciaram em estudos bioquímicos e epidemiológicos um efeito

protector de várias doenças degenerativas como cancro, doenças

cardiovasculares, doenças neurodegenerativas e diabetes (18, 19, 20, 21, 22, 23).

Devido à riqueza destes alimentos em polifenóis, estes últimos têm sido alvo de

numerosíssimos estudos os quais lhes têm atribuído imensas propriedades

biológicas protectoras (24, 25, 26). Entre essas propriedades destacam-se a

actividade anti-oxidante, anti-carcinogénica, anti-inflamatória, anti-estrogénica,

anti-proliferativa, anti-alérgica, anti-trombótica e moduladora de actividade

enzimática (27, 24, 25, 26).

Contudo, interessa referir que existem também estudos epidemiológicos,

que não atribuem efeito protector ou que sugerem mesmo um efeito prejudicial

dos polifenóis na saúde humana (27).

Através da dieta, e igualmente por via de bebidas de consumo habitual

como o café, chá, bebidas de cola, e através de medicamentos, o público em

geral consome uma grande variedade de produtos contendo cafeína (28). Cerca

de 75% das mulheres grávidas norte-americanas, consomem quantidades

moderadas ou baixas de cafeína (29). Contudo, as estimativas do consumo diário

são muito variáveis, oscilando em média entre os 150 a 300 mg ou menos (29,

30). Apesar de ainda permanecerem dúvidas acerca do consumo materno de

cafeína representar ou não um risco para o crescimento intrauterino do feto, (28)

desde 1980 que a Food and Drug Administration recomenda que as mulheres

grávidas evitem o consumo de cafeína (29).

8

O uso de drogas ilícitas e lícitas durante a gravidez é um grave problema

de saúde pública, devido aos potenciais efeitos adversos para a saúde materna e

fetal (31). Nas mulheres em idade fértil, sobretudo em adolescentes, a prevalência

do consumo de drogas de abuso tem vindo a crescer. (32, 33). No final dos anos

90, 5 a 6% das mulheres grávidas norte-americanas (mais de duzentas mil

mulheres), afirmou ter consumido drogas ilícitas durante o período gestacional

(32, 32). Destas, 28% abstiveram-se de consumir durante o primeiro trimestre, e

93% apenas durante o último trimestre, após terem conhecimento da sua gravidez

(34). A marijuana (dois terços) seguida da cocaína (um décimo) eram as drogas

ilícitas mais consumidas (34).

Adicionalmente, metade das mulheres grávidas norte-americanas (mais de

2 milhões de mulheres) consumiram tabaco e álcool durante a gravidez, sendo

por isso as substâncias de abuso alvo de maior consumo (34, 35). O consumo

materno abusivo de álcool provoca uma série de complicações graves que

constituem a síndrome alcoólica fetal (30), enquanto que o tabaco e seus

constituintes (sobretudo a nicotina) podem provocar: aborto, parto prematuro,

atraso de crescimento intra-uterino e baixo peso à nascença (36). No que diz

respeito às consequências adversas do consumo materno de drogas ilícitas,

existem ainda inconsistências (32). Alguns estudos demonstram uma associação

entre uso de drogas e efeitos adversos na saúde materna (aborto e parto

prematuro) e fetal (atraso de crescimento intra-uterino, malformações congénitas

e alterações comportamentais à nasçenca) (34, 37), enquanto outros estudos não

mostram associação (32).

É de referir ainda que na população consumidora de drogas, existe uma

tendência crítica para o consumo de múltiplas substâncias. Assim, o consumo de

9

tabaco e álcool está normalmente associado ao consumo de uma série de

estimulantes e alucinogéneos que incluem a cocaína, marijuana, anfetaminas e

seus derivados como o ecstasy (3,4-metilenodioximetamfetamina - MDMA) (38).

OBJECTIVOS

Os mecanismos que regulam o transporte placentar de glicose a partir da

membrana apical do sinciciotrofoblasto e o seu efluxo na membrana basal do

sinciciotrofoblasto, são ainda escassamente conhecidos tanto em sistemas in vivo

como in vitro. Por isso, o principal objectivo deste trabalho de investigação foi

caracterizar o transporte de glicose na placenta, através do estudo da captação

apical de desoxiglicose (DG) marcada radioactivamente com trício (3H-DG), na

linha celular de coriocarcinoma humano BeWo.

Dado que a ingestão de glicose na dieta raramente ocorre de forma isolada

mas sim no contexto do alimento, foi objectivo deste trabalho determinar o efeito

de alguns polifenóis, metilxantinas, do etanol e do composto decorrente do seu

metabolismo hepático – o acetaldeído, no transporte de 3H-DG em células BeWo.

Para tal, estudou-se o efeito agudo e crónico de diferentes concentrações dos

seguintes polifenóis: catequina, crisina, epicatequina, epigalocatequina-3-galato

(EGCG), miricetina, quercetina, resveratrol, rutina e xanto-humol, das

metilxantinas cafeína e teofilina, bem como do etanol e acetaldeído.

10

Determinou-se também o efeito agudo e crónico de algumas drogas como

a anfetamina, cocaína, MDMA, e ∆9-tetrahidrocanabinol (THC) e de drogas lícitas

como a nicotina, na captação de 3H-DG em células BeWo.

MATERIAIS E MÉTODOS

Materiais

Desoxi-D-glicose, 2-[1,2-3H] (hidrocloreto; actividade específica 40-50

Ci/mmol) (American Radiolabeled Chemicals, Saint Louis, MO, USA); cafeína

(BDH Laboratory Chemicals Ltd., Poole, England); 2-desoxi-D-glicose (Fluka

Chemie GmbH, Buchs, USA); (+)-catequina hidratada, citocalasina B obtida de

Helminthosporum dematiodium, colagénio tipo 1, crisina, epicatequina, EGCG ((-

)epigalocatequina-3-galato), Ham’s F12 K (Nutrient mixture F12-Ham Kaighn’s

modification), HEPES (ácido N-2-hidroxietilpiperazina-N’-2-etanesulfónico),

miricetina, MTT (brometo de 3-(4,5-dimetil-2-tiazolil)-2,5-difenil-2H-tetrazólio); (-)-

nicotina (sal de tartarato hidrogenado), quercetina di-hidratada, resveratrol, rutina,

solução de antibiótico/antimicótico (100 unidades ml-1 penicilina; 100 �g ml-1

estreptomicina e 0.25 �g ml-1 anfotericina B), solução de tripsina-EDTA, soro

bovino fetal, teofilina (Sigma, St. Louis, MO, USA). DMSO (dimetilsulfóxido), Triton

X-100, Tris (hidrocloreto de tris-(hidroximetil)-aminometano) (Merck, Darmstadt,

Germany); etanol absoluto (Panreac Química SA, Barcelona, Espanha);

acetaldeído (May & Baker, Dagenham, UK); (±)-anfetamina, (±)-MDMA (ecstasy;

3,4-metilenodioximetamfetamin), THC ((-)-∆9-tetrahidrocanabinol) (Cerilliant

11

Corporation, Round Rock, TX, USA); cocaína (hidrocloreto) (Uquipa, Lisboa,

Portugal); xanto-humol (gentilmente cedido pelo Eng. Machado Cruz, iBesa-

Instituto de Bebidas e Saúde, S. Mamede Infesta, Portugal).

Cultura de Células BeWo

A linha celular BeWo foi obtida da American Type Culture Collection (ATCC

CCL-98, Rockville, MD, EUA) e foi utilizada entre as passagens 34 e 65. As

células foram mantidas numa atmosfera humidificada de 5% CO2–95% ar e foram

cultivadas em meio Ham’s F12K suplementado com 2,5 g/l bicarbonato de sódio,

10% de soro bovino fetal inactivado pelo calor e solução de 1%

antibiótico/antimicótico. O meio de cultura era mudado a cada 2-3 dias e as

células eram sub-cultivadas (divisão da cultura) a cada 7 dias na razão de 1:2.

Para realizar uma sub-cultura, as células eram removidas das placas por acção

enzimática (0,25 % tripsina-EDTA, 5 minutos, 37ºC) e eram cultivadas em placas

de Petri (21 cm2; Ø 60 mm; TPP®, Trasadingen, Switzerland). Para as

experiências de transporte, as células BeWo eram semeadas em placas de 24

poços (2 cm2; Ø 16 mm; TPP®) previamente tratadas com colagénio, para uma

maior aderência das células ao suporte. Após 3-5 dias de cultura (até atingirem

90-100% de confluência), as células eram usadas nas experiências. Nesta altura

cada cm2 continha cerca de 60 �g de proteína celular.

Estudos de transporte

A captação de glicose nas células BeWo foi medida usando o análogo da

glicose não metabolizável (3H-DG) como marcador.

12

As experiências de transporte foram realizadas em meio tampão GF-HBS

(solução amortecedora salina sem glicose) com a seguinte composição (em mM):

140 NaCl, 5 KCl, 1 CaCl2, 2,5 MgSO4, 20 HEPES e pH 7,4. Em cada experiência

as células BeWo em monocamadas nos poços, eram tratadas do seguinte modo:

inicialmente o meio de cultura era aspirado e as células eram lavadas com 0.3 ou

0,5 ml de meio GF-HBS a 37ºC. Depois as células eram pré-incubadas durante 20

minutos com 0,3 ml de meio GF-HBS a 37ºC. A captação de 3H-DG pelas células,

iniciava-se através da incubação com 0,3 mL de meio GF-HBS a 37ºC contendo 1

�M de 3H-DG (excepto nas experiências de determinação da cinética de captação

de 3H-DG). Após 6 minutos, procedia-se à paragem da incubação por meio de

lavagem das células com 0,3 ou 0,5 mL de meio GF-HBS gelado (4ºC). As células

eram depois solubilizadas com 0,3 mL de Triton X-100 a 0,1% (em tris-HCL 5 mM,

pH 7,4). As células eram deixadas durante a noite à temperatura de 4ºC. A

radioactividade captada pelas células era então medida por cintilometria líquida.

Tratamento agudo e crónico das células com os compostos a testar

Para testar o efeito agudo dos compostos na captação de 3H-DG em

células BeWo, estes estavam presentes durante o período de pré-incubação (20

minutos) e incubação com 3H-DG 1 �M (6 minutos).

Quanto ao estudo do efeito crónico dos compostos na captação de 3H-DG,

este foi realizado em células BeWo cultivadas à 3 dias (com 90-95% de

confluência), em que o meio de cultura continha os compostos a testar. Os

compostos eram diluídos 1000 vezes no meio de cultura de forma a minimizar o

efeito do solvente, com excepção da citocalasina B que foi diluída 100 vezes. O

meio era renovado após as primeiras 24 horas, e no final das 48 horas realizou-se

13

as experiências de transporte. As experiências de transporte eram idênticas às

descritas em “Estudos de transporte”, mas sem período de pré-incubação, sendo

as células unicamente incubadas com a 3H-DG durante 6 minutos na ausência do

composto a testar.

As concentrações dos compostos a testar quer a nível agudo quer em

efeito crónico, foram escolhidas com base em trabalhos anteriormente realizados

pelo nosso grupo (39, 40).

Os controlos para os compostos testados foram feitos na presença do

respectivo solvente. Para os compostos cujos solventes são DMSO

(dimetilsulfóxido), etanol, metanol ou água, a concentração final destes solventes

foi de 1% no meio GF-HBS de pré-incubação e incubação para os tratamentos

agudos, ou de 0,1% no meio de cultura para os tratamentos crónicos (com

excepção do solvente da citocalasina B que foi 1%).

Determinação da viabilidade celular

O efeito dos diferentes compostos testados na viabilidade das células

Bewo foi determinado pelo teste do MTT (brometo de 3-(4,5-dimetil-2-tiazolil)-2,5-

difenil-2H-tetrazólio) (41).

Para determinar se os compostos que tiveram efeito agudo (26 minutos) na

captação de 3H-DG afectaram a viabilidade celular, as células Bewo foram

incubadas durante 3 horas a 37ºC em 500 �L de meio de cultura contendo 50 �L

de solução MTT (5 mg/ml). Nos últimos 26 minutos deste período, os compostos a

serem testados foram adicionados a cada poço. Para determinar se os compostos

que tiveram efeito crónico (48 horas) na captação de 3H-DG afectaram a

14

viabilidade celular, as células Bewo foram cronicamente tratadas com os

compostos. Após 45 horas de tratamento, 50 �L de solução MTT (5 mg/ml) foram

adicionados a cada poço e as células foram posteriormente incubadas durante 3

horas a 37ºC.

A solução de MTT foi removida após o período de incubação de 3 horas e

as células foram solubilizadas através da adição de 200 �l de DMSO, seguida de

agitação da placa durante 10 minutos à temperatura ambiente. A densidade

óptica para as soluções de cada poço foi determinada a 550 nm e a 650 nm no

leitor de placas. A densidade óptica a 650 nm, que corresponde a uma absorção

inespecífica de luz, foi subtraída da densidade óptica a 550 nm, para calcular o

valor específico da densidade óptica para os cristais de formazan derivados da

redução do MTT. Esse valor será proporcional ao número de células viáveis com

mitocôndrias activas.

Doseamento de proteínas

A quantidade de proteínas existentes nas células em monocamada foi

determinada segundo o protocolo descrito por Bradford (42), utilizando como

padrão a albumina de soro bovino.

Cálculos e tratamento estatístico

Para analisar a dependência da captação de 3H-DG em função do tempo,

os parâmetros da equação (1) foram ajustados aos dados experimentais por

análise de regressão não linear utilizando um programa informático (Muzyka,

Tarkany, Yelizanof, Sergienko and Boichuk (2005) (43).

15

(1) A(t)=k in/kout (1-e-kout.t)

A(t) representa a acumulação de 3H-DG no instante t, kin e kout representam as

taxas constantes do transporte para dentro e para fora da célula,

respectivamente, e t representa o tempo de incubação. Amax corresponde por

definição, à acumulação de 3H-DG no equilíbrio (t��). kin é expresso em pmol

mg proteina-1 min-1 (sendo depois convertido em �L mg proteina-1 min-1) e kout em

min-1.

Para o cálculo do IC50, os parâmetros da equação de Hill para inibição em

múltiplos sítios foi ajustada aos dados experimentais por análise de regressão não

linear, utilizando um programa informático (Muzyka, Tarkany, Yelizanof, Sergienko

and Boichuk (2005) (43).

Para analisar a curva de saturação, os parâmetros da equação de

Michaelis-Menten foram ajustados aos dados experimentais por análise de

regressão não linear, utilizando um programa informático (Muzyka, Tarkany,

Yelizanof, Sergienko and Boichuk (2005) (43).

As médias aritméticas são apresentadas com o erro padrão da média

(EPM) e as médias geométricas com intervalos de confiança a 95%. O significado

estatístico da diferença entre grupos, foi avaliado pelo teste t de Student. As

diferenças são consideradas significativas sempre que P<0.05.

O valor de n indica o número de réplicas de pelo menos duas actividades

experimentais realizadas em dias diferentes.

16

RESULTADOS

O análogo não metabolizável da glicose (3H-DG) foi utilizado nestes

estudos de transporte, pois é captado pelos GLUT sendo fosforilado pela

hexocínase a 2-desoxiglicose-6-fosfato (DG-6-P), que não será utilizada

posteriormente nas vias de metabolismo glicolítico. Além disso, o facto da DG-6-P

ter carga eléctrica, torna-a incapaz de ser transportada para fora da célula por

difusão passiva. Por isso a acumulação de DG-6-P radioactiva nas células, é um

indicador fiável da actividade transportadora da glicose (44).

1. Caracterização da captação de 3H-DG em células BeWo

Na primeira fase do trabalho experimental, caracterizou-se a captação

apical de 3H-DG em células BeWo, no que diz respeito à dependência do tempo e

à sua especificidade.

1.1 Dependência do tempo

Inicialmente determinou-se a variação da captação de 3H-DG em função do

tempo (time-course). Para tal, as células BeWo foram incubadas com 3H-DG (1

µM) na presença ou ausência de citocalasina B (um potente inibidor do transporte

facilitado de glicose), durante diferentes períodos de tempo (figura 2).

17

A análise dos resultados, revelou que na ausência de citocalasina B o kin foi

de 24,08 ± 4.13 �l mg proteina-1 min-1, o kout de 0,045 ± 0.010 min-1 e a Amax de

535,70 ± 46,84 pmol mg proteina-1. Ou seja, uma quantidade de células

correspondente a 1 mg de proteína celular, removeu a 3H-DG presente em 24,1 �l

de meio de incubação por minuto, e simultaneamente 4,5% da 3H-DG intracelular

acumulada saiu das células por minuto. Na presença de 50 µM de citocalasina B,

ocorreram diferenças significativas na captação de 3H-DG em função do tempo. A

citocalasina B reduziu o kin para 8,93 ± 1,40 �l mg proteina-1 min-1 e a Amax para

339,00 ± 35,67 pmol mg proteina-1 (P<0,05). Contudo, não alterou

significativamente o kout (0.026 ± 0.006 min-1).

De referir ainda, que também se realizaram experiências com 3H-DG a 100

µM. Quer na ausência (kin de 26,60 ± 3,10 �l mg proteina-1 min-1, kout de 0,046 ±

0,007 min-1 e Amax de 566,30 ± 32,90 pmol mg proteina-1) quer na presença de

citocalasina B (kin de 10,10 ± 1,20 �l mg proteina-1 min-1 (P<0,05); kout de 0,019 ±

0,004 min-1 e Amax de 531,00 ± 57,57 pmol mg proteina-1) os resultados obtidos

foram semelhantes aos anteriores. Contudo, o efeito inibitório da citocalasina B foi

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 1000

100

200

300

400

500

600 ControloCito B 50 µM

T ime-course 1 µM

Tempo de incubação (min)C

apta

ção

de

3 H-D

G(p

mo

l/m

gp

rote

ína)

Figura 2 - Variação da captação apical de 3H-DG em função dotempo de incubação (time-course). As células foram pré-incubadasdurante 20 minutos e posteriormente incubadas a 37ºC com 3H-DG 1µM, na ausência (controlo, n=6) ou presença de citocalasina B 50 µM(Cito B 50 µM, n=5-6). Os resultados são apresentados sob a formade média ± EPM.

18

menor na concentração de 100 µM 3H-DG do que na de 1 µM, pois o valor de kin

obtido na presença de citocalasina B foi superior (figura 3 – anexo 1).

Em virtude destes resultados as experiências subsequentes foram

realizadas com 3H-DG a 1 µM, à excepção das experiências de cinética de

captação.

De acordo com as figuras 2 e 3, a captação de 3H-DG nas células BeWo

ocorreu de uma forma dependente do tempo aumentando linearmente até aos 6

minutos de incubação, à qual se seguiu uma fase de estabilização. Com base

nesta informação, as experiências subsequentes foram realizadas utilizando

períodos de incubação de 6 minutos.

1.2 Especificidade da captação de 3H-DG

Com o objectivo de investigar a especificidade do mecanismo envolvido na

captação de 3H-DG, determinou-se o efeito de diferentes concentrações de

citocalasina B (figura 4).

Figura 4. Efeito de concentrações crescentes de citocalasina B (cito B 1,10, 50 e 100 µM; n=6-9), na captação de 3H-DG. As células BeWo forampré-incubadas durante 20 minutos e incubadas posteriormente com 3H-DG1 µM durante 6 minutos a 37ºC, na presença de citocalasina B ou dorespectivo solvente (controlo, n=14, correspondendo a 100%). Osresultados são apresentados sob a forma de média ± EPM.

-7 -6 -5 -4 -3

0102030405060708090

100110

Log [ cito B ]

Cap

taçã

od

e3 H

-DG

(%d

oco

ntr

olo

)

19

A presença deste composto exerceu um efeito inibitório dependente da

concentração, quando comparado com o controlo (ausência de citocalasina B,

correspondendo a 100% de captação). Na concentração de 10 µM a citocalasina

B reduziu significativamente a captação de 3H-DG em 22% (78,3 ± 1,7% do

controlo), enquanto que nas concentrações de 50 e 100 µM a redução foi ainda

mais significativa, cerca de 60% (40,3 ± 3,3% e 41,8 ± 1,3% do controlo,

respectivamente), obtendo-se um efeito inibitório máximo.

Apesar da inibição da captação não ter sido mais significativa, o valor do

IC50 (concentração necessária para provocar 50 % de inibição da captação

facilitada de 3H-DG) calculado para a citocalasina B foi de 17,04 µM (8,92-32,6

µM, n=6-9).

2. Modulação nutricional da captação de 3H-DG

Na segunda fase do trabalho, investigou-se a modulação da captação de

3H-DG nas células BeWo, por diferentes concentrações de compostos bioactivos

presentes em bebidas: polifenóis, metilxantinas, etanol e o seu metabolito

acetaldeído. Para tal, realizaram-se tratamentos agudos (26 minutos) e

tratamentos crónicos (48 horas de exposição).

2.1 Efeito agudo

A exposição aguda das células BeWo a diferentes concentrações de etanol

e acetaldeído (0,1-100 mM), resultou num efeito diferente para cada um deles

(figura 5).

20

O etanol aumentou significativamente a captação de 3H-DG apenas na

concentração de 10 mM (111,5 ± 3,3% do controlo). Quanto ao acetaldeído,

diminuiu significativamente a captação de 3H-DG nas concentrações mais

elevadas, 30 mM (71,2 ± 6,7% do controlo) e 100 mM (35,3 ± 4,6% do controlo).

Testou-se também o efeito agudo de vários polifenóis, todos nas

concentrações de 1, 10 e 100 µM. O resveratrol, a EGCG e o xanto-humol

diminuíram significativamente a captação celular de 3H-DG na concentração de

100 µM (84,5 ± 4,7%, 61,1 ± 2,0% e 74,0 ± 8,4% do controlo, respectivamente)

(figuras 6, 7 e 8).

Figura 5 - Efeito da exposição aguda das células BeWo a diferentes concentrações(0.1, 3, 10, 30 e 100 mM) de etanol (ETOH, n=5-6) e acetaldeído (ACA, n=3-4), nacaptação de 3H-DG. As células BeWo foram pré-incubadas durante 20 minutos eposteriormente incubadas com 3H-DG 1 µM durante 6 minutos a 37ºC, na presença docomposto ou do respectivo solvente (controlo, n=8, correspondendo a 100%). Osresultados são apresentados sob a forma de média ± EPM. *Significativamentediferente do controlo (P < 0,05).

0.1 3 10 30 100 0.1 3 10 30 1000

20

40

60

80

100

120 Controlo

ETOH

ACA

*

*

*

Concentração (mM)

Cap

taçã

od

e3 H

-DG

(%d

oco

ntr

olo

)

21

Figura 6 - Efeito da exposição aguda das células BeWo a diferentes concentrações (1,10 e 100 µM) dos polifenóis resveratrol (Resv, n=9), quercetina, miricetina e rutina(Querc, Mir, Rut, n=6), na captação de 3H-DG. As células BeWo foram pré-incubadasdurante 20 minutos e posteriormente incubadas com 3H-DG 1 µM durante 6 minutos a37ºC, na presença do composto ou do respectivo solvente (controlo, n=30,correspondendo a 100%). Os resultados são apresentados sob a forma de média ±EPM. *Significativamente diferente do controlo (P < 0,05).

1 10 100 1 10 100 1 10 100 1 10 1000

20

40

60

80

100

120ControloResv

Querc

Mir

Rut

*

*

*

**

Concentração (µM)

Cap

taçã

od

e3 H

-DG

(%d

oco

ntr

olo

)

Figura 7 - Efeito da exposição aguda das células BeWo a diferentes concentrações (1,10 e 100 µM) dos polifenóis e metilxantinas epigalocatequina-3-galato (EGCG, n=6)crisina (Cris, n=5), cafeína (Caf, n=5-7) e teofilina (Teof, n=4), na captação de 3H-DG.As células BeWo foram pré-incubadas durante 20 minutos e posteriormente incubadascom 3H-DG 1 µM durante 6 minutos a 37ºC, na presença do composto ou do respectivosolvente (controlo, n=30, correspondendo a 100%). Os resultados são apresentadossob a forma de média ± EPM. *Significativamente diferente do controlo (P < 0,05).

1 10 100 1 10 100 1 10 100 1 10 1000

20

40

60

80

100

120

ControloEGCG

Cris

Caf

Teof

*

* *

Cap

taçã

od

e3 H

-DG

(%d

oco

ntr

olo

)

Concentração (µM)

Figura 8 - Efeito da exposição aguda das células BeWo a diferentes concentrações (1,10 e 100 µM) dos polifenóis catequina (Cat, n=8), epicatequina (Epi, n=5) e xanto-humol (XH, n=6), na captação de 3H-DG. As células BeWo foram pré-incubadasdurante 20 minutos e posteriormente incubadas com 3H-DG 1 µM durante 6 minutos a37ºC, na presença do composto ou do respectivo solvente (controlo, n=30,correspondendo a 100%). Os resultados são apresentados sob a forma de média ±EPM. *Significativamente diferente do controlo (P < 0,05).

1 10 100 1 10 100 1 10 1000

20

40

60

80

100

120

140ControloCatEpi

XH

* **

*

Concentração (µM)

Cap

taçã

od

e3 H

-DG

(%d

oco

ntr

olo

)

22

A quercetina (à excepção da concentração mais baixa) e a crisina

reduziram a captação de 3H-DG de uma forma dependente da concentração. Este

efeito foi significativo para as concentrações mais elevadas, sendo a redução de

aproximadamente 24 e 57 % para a quercetina 10 e 100 µM e de 13 e 21% para a

crisina 10 e 100 µM (figuras 6 e 7). Em suma, os compostos com efeito inibitório

agudo mais significativo, foram o acetaldeído 100 mM (65% de inibição), a EGCG

100 µM (40% de inibição) e a quercetina 100 µM (57% de inibição).

Por outro lado, a rutina aumentou a captação de 3H-DG nas concentrações

de 10 e 100 µM (109,2 ± 1,6% e 114,4 ± 5,0% do controlo, respectivamente) e a

epicatequina aumentou apenas na concentração de 100 µM (119,4 ± 6,4% do

controlo) (figuras 6 e 8). A catequina, nas concentrações de 10 e 100 µM também

aumentou significativamente a captação apical de 3H-DG (113,5 ± 3,0% e 108,3 ±

2,5% do controlo para as concentrações de 10 e 100 µM respectivamente) (figura

8). Em suma, os compostos que aumentaram mais significativamente a captação

de 3H-DG foram a rutina (14,4%) e epicatequina (19,5%) ambas nas

concentrações mais elevadas (100 µM).

A miricetina e as metilxantinas (cafeína e teofilina) nas concentrações

testadas, não modificaram significativamente a captação de 3H-DG nas células

BeWo (figuras 6 e 7).

2.2 Efeito crónico

Todos os compostos testados nas experiências de efeito agudo foram

também testados cronicamente, sendo que a maioria deles não alterou

significativamente a captação de 3H-DG nas células BeWo (figuras 9 e 10, e

figuras 11 e 12 – anexo 1). No entanto nas concentrações testadas, a rutina e a

23

miricetina aumentaram a captação de 3H-DG de modo significativo e dependente

da concentração (117,3 ± 4,0% e 120,1 ± 4,9% do controlo para rutina a 0,1 e 1

µM; 112,3 ± 3,3% e 113,7 ± 1,5% do controlo, para miricetina a 0,1 e 1 µM) (figura

9).

A teofilina pelo contrário, reduziu a captação apical de 3H-DG de modo

significativo e dependente da concentração (93,3 ± 0,4% e 88,9 ± 2,6% do

controlo para as concentrações de 0,1 e 1 µM respectivamente) (figura 10).

Figura 9 - Efeito da exposição crónica das células BeWo a diferentes concentrações(0,1 e 1 µM) dos polifenóis resveratrol, quercetina, miricetina (Resv, Querc e Mir; n=4),e rutina (Rut, n=5-6), na captação de 3H-DG. As células BeWo foram expostas a estescompostos ou ao respectivo solvente (controlo, n=15, correspondendo a 100%) durante48 horas. Após o período de tratamento, as células foram incubadas com 3H-DG 1 µMdurante 6 minutos a 37ºC, na ausência do composto. Os resultados são apresentadossob a forma de média ± EPM. *Significativamente diferente do controlo (P < 0,05).

0.1 1 0.1 1 0.1 1 0.1 10

20

40

60

80

100

120

140ControloResv

QuercMirRut

* * * *

Concentração (µM)

Cap

taçã

od

e3 H

-DG

(%d

oco

ntr

olo

)

Figura 10 - Efeito da exposição crónica das células BeWo a diferentes concentrações(0,1 e 1 µM) dos polifenóis e metilxantinas epigalocatequina-3-galato (EGCG, n=6)crisina, cafeína e teofilina (Cris, Caf, Teof, n=4), na captação de 3H-DG. As célulasBeWo foram expostas a estes compostos ou ao respectivo solvente (controlo, n=15,correspondendo a 100%) durante 48 horas. Após o período de tratamento, as célulasforam incubadas com 3H-DG 1 µM durante 6 minutos a 37ºC, na ausência docomposto. Os resultados são apresentados sob a forma de média ± EPM.*Significativamente diferente do controlo (P < 0,05).

0.1 1 0.1 1 0.1 1 0.1 10

20

40

60

80

100

120ControloEGCG

Cris

Caf

Teof

* *

Concentração (µM)

Cap

taçã

od

e3 H

-DG

(%d

oco

ntr

olo

)

24

Os restantes compostos (resveratrol, quercetina, EGCG, crisina, cafeína,

catequina, epicatequina, xanto-humol, etanol e acetaldeído) não modificaram a

captação de 3H-DG nas células BeWo (figuras 9 e 10, e figuras 11 e 12 – anexo

1).

Apesar disso, o resveratrol (na concentrações de 0,1 e 1 µM) evidenciou

uma tendência para aumentar a captação de 3H-DG enquanto o xanto-humol na

concentração de 1 µM mostrou uma tendência para reduzir (figuras 9 e figura 11 -

anexo 1).

3. Modulação da captação de 3H-DG por drogas de abuso

Da mesma forma que se investigou a modulação nutricional da captação

de 3H-DG em células BeWo, investigou-se também o efeito agudo e crónico de

diferentes concentrações de drogas de abuso.

3.1 Efeito Agudo

Nenhuma das drogas de abuso testadas agudamente (nicotina, cocaína,

MDMA, THC e anfetamina) alterou significativamente a captação de 3H-DG

(figuras 13 e 14 – anexo 1).

3.2 Efeito Crónico

O MDMA e a anfetamina inibiram o transporte apical de 3H-DG de forma

estatisticamente significativa nas duas concentrações testadas, 0,25 e 2,5 µM

(88,7 ± 2,2% e 86,7 ± 2,5% do controlo para o MDMA 0,25 e 2,5 µM

respectivamente; 91,8 ± 1,7% do controlo e 92 ± 2,3% do controlo para a

anfetamina 0,25 e 2,5 µM respectivamente). Quanto ao THC, apenas a

25

concentração mais baixa provocou uma diminuição significativa da captação (para

93,4 ± 1,8% do controlo) (Figura 15).

De realçar que estes efeitos crónicos inibitórios foram quantitativamente

semelhantes, situando-se em torno dos 10%.

A nicotina e a cocaína tiveram um comportamento diferente, não

provocando alterações significativas na captação de 3H-DG (Figura 16 – anexo 1).

4. Efeito de compostos presentes na dieta e de drogas de abuso na

viabilidade celular

Após a realização dos estudos de transporte, determinou-se o efeito agudo

e crónico dos compostos testados na viabilidade celular. Este procedimento, teve

o objectivo de analisar se os efeitos inibitórios ou estimuladores dos compostos

na captação de 3H-DG, estavam relacionados ou não com possíveis efeitos

citotóxicos ou proliferativos nas células BeWo.

*

0.25 1 0.25 1 0.001 0.01 0.10

20

40

60

80

100

120ControloMDMA

ANF

THC

* * * *

Concentração (µM)

Cap

taçã

od

e3 H

-DG

(%d

oco

ntr

olo

)

Figura 15 - Efeito da exposição crónica das células BeWo a diferentes concentraçõesde 3,4-metilenodioximetanfetamina (MDMA; 0,25 e 1 µM; n=6), anfetamina (ANF; 0,25e 1 µM; n=6) e ∆

9-tetrahidrocanabinol (THC; 0,001, 0,01 e 0,1 µM; n=6-9) na captaçãode 3H-DG. As células BeWo foram expostas a estes compostos ou ao respectivosolvente (controlo, n=12, correspondendo a 100%) durante 48 horas. Após o período detratamento, as células foram incubadas com 3H-DG 1 µM durante 6 minutos a 37ºC, naausência do composto. Os resultados são apresentados sob a forma de média ± EPM.*Significativamente diferente do controlo (P < 0,05).

26

4.1 Efeito de compostos presentes na dieta na viabilidade celular

Verificou-se que a exposição aguda das células Bewo à crisina diminuiu a

viabilidade celular, sendo esse efeito estatisticamente significativo para as

concentrações de 10 e 100 µM (78,9 ± 8,9% e 82,1 ± 5,9% do controlo,

respectivamente) (Figura 17).

A teofilina teve um efeito variável, sendo que na concentração mais baixa

aumentou a viabilidade (113,1 ± 1,2% do controlo) e na mais elevada diminuiu-a

(91,2 ± 1,2% do controlo) (Figura 17). Os restantes compostos testados em efeito

agudo, não alteraram a viabilidade celular (Figuras 18, 19 e 20 – anexo 1).

Dos compostos testados cronicamente nas células BeWo, apenas o xanto-

humol (1 µM) aumentou a viabilidade celular de forma estatísticamente

significativa (108,9 ± 2,6% do controlo) (Figura 21 - anexo 1). Os restantes

compostos testados, não modificaram significativamente a viabilidade das células

BeWo (figura 21, 22, 23 e 24 – anexo 1).

De acordo com os resultados obtidos, a alteração da viabilidade celular

poderá apenas explicar o efeito inibitório agudo da crisina na captação de 3H-DG.

1 10 100 1 10 100 1 10 100 1 10 1000

20

40

60

80

100

120

140

ControloEGCG

Cris

Caf

Teof

* *

**

Concentração (µM)

MT

T(%

do

con

tro

lo)

Figura 17 - Efeito da exposição aguda das células BeWo a diferentes concentrações(1, 10 e 100 µM) dos polifenóis e metilxantinas epigalocatequina-3-galato, crisina(EGCG e Cris; n=6), cafeína e teofilina (Caf e Teof; n=4), na viabilidade celular. Ascélulas BeWo, expostas durante 26 minutos aos compostos a serem testados ou aosrespectivos solventes (controlo, n=16, correspondendo a 100%), foram incubadasdurante 3 horas a 37ºC, na presença de MTT 5 mg/mL. A viabilidade celular foideterminada em função da diferença entre as densidades ópticas a 550 e 650 nm. Osresultados são apresentados sob a forma de média ± EPM. *Significativamentediferente do controlo (P < 0,05).

27

4.2 Efeito de drogas de abuso na viabilidade celular

A exposição aguda das células BeWo à cocaína, diminuiu a viabilidade

celular de forma significativa e dependente da concentração (91,9 ± 2,2%, 84,2 ±

4,8%, e 80,8 ± 3,8% do controlo, nas concentrações de 0,1, 1 e 10 µM

respectivamente) (figura 25 - anexo 1).

A nicotina e o MDMA nas concentrações mais baixas (1 e 0,1 µM

respectivamente), reduziram a viabilidade das células BeWo em cerca de 12%

(88,6 ± 4,6 % e 88,8 ± 2,3% do controlo) comparativamente ao controlo. As

restantes concentrações não alteraram significativamente a viabilidade celular

(figura 25 e 26 - anexo 1). Quanto à anfetamina, apenas na concentração de 1 µM

reduziu ligeiramente, mas com significado estatístico, a viablilidade celular (94.4 ±

1.7% do controlo) (figura 26 - anexo 1). O THC comparativamente ao controlo,

não modificou a viabilidade das células BeWo (figura 26 - anexo 1).

Das drogas de abuso testadas cronicamente, nenhuma delas alterou

significativamente a viabilidade celular (figuras 27 e 28 – anexo 1), logo o efeito

inibitório crónico do MDMA, anfetamina e THC na captação de 3H-DG, não se

deve a efeitos citóxicos nas células BeWo.

5. Caracterização do efeito dos compostos testados

Na última fase do trabalho, caracterizou-se o efeito agudo e crónico dos

compostos testados sobre a captação de 3H-DG em células BeWo.

Para tal, realizaram-se tratamentos agudos ou crónicos na presença

simultânea de cada composto, cuja concentração tinha inibido ou estimulado

28

significativamente a captação de 3H-DG, e de citocalasina B na concentração de

50 µM (que tinha provocado um efeito inibitório máximo na captação de 3H-DG).

O objectivo foi testar se o efeito inibitório ou estimulador dos compostos, era

mantido ou alterado na presença de citocalasina B.

Realizaram-se também tratamentos agudos e crónicos na presença

simultânea de dois compostos (de consumo conjunto habitual por serem

abundantes nas mesmas bebidas), cujas concentrações tinham provocado efeitos

significativos na captação de 3H-DG. O objectivo consistiu em verificar se esses

compostos, mantinham ou alteravam (de um modo somativo por exemplo) a

captação de 3H-DG, quando eram testados em conjunto.

Por fim, determinou-se o efeito agudo inibitório de alguns compostos

presentes na dieta, sobre os parâmetros cinéticos da captação de 3H-DG em

células BeWo. Especificamente, determinou-se os efeitos desses compostos nos

valores de Vmax (velocidade da captação de 3H-DG para concentrações de DG

ditas saturantes) e Km (concentração de substrato que origina uma velocidade de

captação correspondente a metade da Vmax). Este último parâmetro é considerado

uma medida de afinidade do substrato para o transportador (45).

5.1 Caracterização do efeito agudo

Isoladamente, e tal como tínhamos previsto, a citocalasina B inibiu

consideravelmente a captação de 3H-DG (figura 29, e figuras 30 e 31 – anexo 1).

29

Na concentração inibitória de 30 mM o acetaldeído, em conjunto com a

citocalasina B, reduziu a captação de 3H-DG em 12% (42,4 ± 1,9%),

comparativamente à citocalasina B isolada (53,8 ± 0,5 % do controlo) (figura 29).

Quanto ao etanol (10 mM), não alterou significativamente o efeito inibitório da

citocalasina B (figura 29).

O resveratrol, xanto-humol, EGCG, crisina (todos a 100 µM) e a quercetina

(10 µM) em concentrações inibitórias significativas, quando associados à

citocalasina B, não modificaram significativamente a captação de 3H-DG face à

citocalasina B isolada (figura 30 e 31 – anexo 1). A catequina (10 µM),

epicatequina e rutina (ambas a 100 µM) testadas em concentrações que

aumentaram a captação de 3H-DG, não modificaram significativamente o efeito da

citocalasina B (figura 30 e 31 – anexo 1).

Como constatado anteriormente nas experiências de efeito agudo, a

catequina e a epicatequina (ambas a 100 µM) reduziram a captação de 3H-DG

0102030405060708090

100110

Cito BCito B + ETOHCito B + ACA

Controlo

*#

Cap

taçã

od

e3 H

-DG

(%d

oco

ntr

olo

)

Figura 29 - Efeito da exposição aguda das células BeWo simultaneamente ao etanol10 mM e citocalasina B 50 µM (Cito B + ETOH, n=6) e ao acetaldeído 30 mM ecitocalasina B 50 µM (Cito B + ACA, n=6), na captação de 3H-DG. As células BeWoforam pré-incubadas durante 20 minutos e posteriormente incubadas com 3H-DG 1 µMdurante 6 minutos a 37ºC, na presença simultânea da citocalasina B 50 µM e docomposto, ou da citocalasina B 50 µM e do solvente do composto (Cito B, n=3), ou dosolvente da citocalasina B e do solvente do composto (controlo, n=6, correspondendo a100%). Os resultados são apresentados sob a forma de média ± EPM.*Significativamente diferente do controlo (P <0,05). #Significativamente diferente da CitoB (P < 0,05).

30

nas células BeWo (figura 8). Contudo, em conjunto e nas mesmas concentrações,

provocaram um efeito inverso reduzindo a captação de 3H-DG de modo

significativo (89,4 ± 2,8%), comparativamente aos seus efeitos isolados (119,4 ±

6,4% do controlo, para a epicatequina e 108,3 ± 2,5% do controlo, para a

catequina) (figura 32).

A epicatequina e o xanto-humol (ambos a 100 µM) de acordo com

experiências anteriores, tinham efeitos agudos antagónicos (o primeiro

aumentava e o segundo diminuía) sobre a captação de 3H-DG. Quando presentes

em conjunto, o efeito final contrabalançou-se, sendo a captação de 94,8 ± 2,8 %

do controlo (figuras 8 e 33).

Figura 32 - Efeito da exposição aguda das células BeWo à epicatequina 100 µM (Epi,n=5), à catequina 100 µM (Cat, n=8), e a ambas simultaneamente (Epi + Cat, n=8), nacaptação de 3H-DG. As células BeWo foram pré-incubadas durante 20 minutos eposteriormente incubadas com 3H-DG 1 µM durante 6 minutos a 37ºC, na presença docomposto isoladamente ou em combinação, ou dos respectivos solventes (controlo,n=6-14, ver figura 8). Os resultados são apresentados sob a forma de média ± EPM.*Significativamente diferente do controlo (P < 0,05). #Significativamente diferente daCito B (P < 0,05).

0

20

40

60

80

100

120

140EpiCatEpi + Cat

**

#

Cap

taçã

od

e3 H

-DG

(%d

oco

ntr

olo

)

31

5.2 Caracterização do efeito crónico

A miricetina e rutina que isoladamente e na concentração de 1 µM,

aumentaram a captação de 3H-DG, não modificaram significativamente o efeito da

citocalasina B. (figura 34 – anexo 1). O mesmo aconteceu com a teofilina na

concentração inibitória de 1 µM (figura 34 – anexo 1). Por último, a anfetamina,

THC e MDMA em concentrações que inibiram a captação de 3H-DG em efeito

crónico, quando associadas à citocalasina B deixaram de evidenciar esse efeito

(figura 35 – anexo 1).

De referir ainda que, em efeito crónico a citocalasina B apenas inibiu

moderadamente a captação de 3H-DG (aproximadamente em 15%) por

comparação com o controlo (figuras 34 e 35 – anexo 1).

Por fim, estudou-se o efeito crónico decorrente da combinação da

miricetina e rutina (ambas a 1 µM) na captação de 3H-DG. Verificou-se que esta

combinação aumentou a captação (130,0 ± 5,4 %, n=9) comparativamente ao

Figura 33 - Efeito da exposição aguda das células BeWo à epicatequina 100 µM (Epi,n=5), ao xantohumol 100 µM (XH, n=6), e a ambos simultaneamente (Epi + XH, n=6),na captação de 3H-DG. As células BeWo foram pré-incubadas durante 20 minutos eposteriormente incubadas com 3H-DG 1 µM durante 6 minutos a 37ºC, na presença docomposto isoladamente ou em combinação, ou dos respectivos solventes (controlo,n=6-14, ver figura 8). Os resultados são apresentados sob a forma de média ± EPM.*Significativamente diferente do controlo (P <0,05). #Significativamente diferente da CitoB (P <0,05).

0

20

40

60

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120

140EPIXHEPI + XH

*

*#

Cap

taçã

od

e3 H

-DG

(%d

oco

ntr

olo

)

32

efeito estimulador isolado de cada um dos compostos (113,7 ± 1,5% do controlo

para miricetina e 120,1 ± 4,9% do controlo para rutina) (figura 36).

5.3 Efeito de compostos da dieta nos parâmetros cinéticos da captação de

3H-DG.

Nestas experiências, determinou-se a variação da captação de 3H-DG em

função de concentrações crescentes de 3H-DG (1-10000 µM).

Verificou-se que a captação de 3H-DG era saturável (Tabela 1).

0

20

40

60

80

100

120

140MirRutMir + Rut

* *#

Cap

taçã

od

e3 H

-DG

(%d

oco

ntr

olo

)

Figura 36 - Efeito da exposição crónica das células BeWo à miricetina 1 µM (Mir, n=4),à rutina 1 µM (Rut, n=5) ou ambas simultaneamente (Mir + Rut, n=9), na captação de3H-DG. As células BeWo foram expostas a cada composto isoladamente, emcombinação ou aos respectivos solventes (Controlo , n=15, ver figura 9), no meio decultura durante 48 horas. Após o período de tratamento as células foram incubadascom 3H-DG 1 µM durante 6 minutos a 37ºC, na ausência dos compostos. Os resultadossão apresentados sob a forma de média ± EPM. *Significativamente diferente docontrolo (P < 0,05). #Significativamente diferente da Cito B (P < 0,05).

33

Com vista a caracterizar o efeito inibitório da quercetina, EGCG,

acetaldeído e xanto-humol na captação de 3H-DG, testou-se o efeito destes

compostos (nas concentrações que isoladamente provocaram uma inibição

máxima), nos parâmetros cinéticos da captação celular de 3H-DG.

Todos os compostos reduziram significativamente a Vmax, sendo este efeito

mais pronunciado para a quercetina 100 µM e acetaldeído 30 mM (Vmax de 475,26

± 14,45 nmol/mg de proteína/6 minutos e de 500,70 ± 3,06 nmol/mg de proteína/6

minutos, respectivamente), face aos seus respectivos controlos (figuras 37, 38 e

39 e Tabela 1). Logo, estes compostos reduzem a actividade do transportador de

3H-DG.

Km (mM)Vmax (nmol / mg de

proteína / 6minutos)

n

C (DMSO) 10,54 ± 0,31 976,81 ± 16,77 10

Querc 100 µM 10,70 ± 0,56 475,26 ± 14,45* 6

EGGC 100 µM 9,16 ± 0,37* 772,49 ± 17,12* 6

C (água) 13,44 ± 0,51 1210,00 ± 28,89 4

ACA 30 mM 6,63 ± 0,08* 500,70 ± 3,06* 4

C (ETOH) 12,23 ± 0,70 1330,00 ± 45,82 4

XH 100 µM 11,13 ± 0,55 1120,00 ± 32,83* 4

Tabela 1 - Efeito agudo da quercetina (Querc 100µM), da epigalocatequina-3-galato(EGCG 100µM), do acetaldeído (ACA 30 mM) e do xanto-humol (XH 100 µM,) nosparâmetros cinéticos da captação de 3H-DG. As células BeWo foram pré-incubadasdurante 20 minutos e posteriormente incubadas com concentrações crescentes de 3H-DG (1-10000 µM) durante 6 minutos a 37ºC, na presença do composto ou dorespectivo solvente (C, n=10). Os resultados são apresentados sob a forma de média ±EPM. *Significativamente diferente do controlo (P < 0.05).

34

Figura 37 - Efeito agudo do acetaldeído 30 mM (ACA 30 mM, n=10) na captação de3H-DG, em função da concentração de substracto. As células BeWo foram pré-incubadas durante 20 minutos e posteriormente incubadas com concentraçõescrescentes de 3H-DG (1-10000 µM) durante 6 minutos a 37ºC, na presença docomposto ou do respectivo solvente (controlo H2O, n=10). Os resultados sãoapresentados sob a forma de média ± EPM.

0 2500 5000 7500 10000 125000

100000

200000

300000

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500000

600000

700000

800000Controlo H2OACA 30 mM

Concentração de 3H-DG (µM)C

apta

ção

de

3 H-D

G(p

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l/m

gp

rote

ína)

Figura 39 - Efeito agudo do xanto-humol 100 µM (XH 100 µM, n=4) na captação de3H-DG, em função da concentração de substracto. As células BeWo foram pré-incubadas durante 20 minutos e posteriormente incubadas com concentraçõescrescentes de 3H-DG (1-10000 µM) durante 6 minutos a 37ºC, na presença docomposto ou do respectivo solvente (Controlo etanol; n=4). Os resultados sãoapresentados sob a forma de média ± EPM.

0 2500 5000 7500 10000 125000

100000

200000

300000

400000

500000

600000

700000

800000Controlo (etanol)XH 100 µM

Concentração de 3H-DG (µM)

Cap

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od

e3 H

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(pm

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0 2500 5000 7500 10000 125000

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300000

400000

500000

600000 Controlo (DMSO)Querc 100 µMEGCG 100 µM

Concentração de 3H-DG (µM)

Cap

taçã

od

e3 H

-DG

(pm

ol/

mg

pro

teín

a)

Figura 38 - Efeito agudo da quercetina 100 µM (Querc 100µM, n=6) e daepigalocatequina-3-galato 100 µM (EGCG 100 µM, n=6) na captação de 3H-DG, emfunção da concentração de substracto. As células BeWo foram pré-incubadasdurante 20 minutos e posteriormente incubadas com concentrações crescentes de3H-DG (1-10000 µM) durante 6 minutos a 37ºC, na presença do composto ou dorespectivo solvente (Controlo DMSO, n=9). Os resultados são apresentados sob aforma de média ± EPM.

35

Quanto ao Km, verificou-se que somente o acetaldeído e a EGCG reduziram

significativamente esse valor sendo o efeito do primeiro mais pronunciado (Km de

6,63 ± 0,08 mM e Km de 9,16 ± 0,37 mM, respectivamente), comparativamente

aos controlos. Logo, estes compostos aumentam a afinidade do transportador

para a 3H-DG (figuras 37, 38 e 39 e Tabela 1).

DISCUSSÃO

A placenta humana expressa vários mecanismos de transporte,

nomeadamente transportadores de nutrientes, cujo funcionamento e expressão

são conhecidos noutros tecidos, mas que nela são ainda alvo de alguma

especulação (13). A placenta tem uma função fulcral no fornecimento de

nutrientes ao feto em desenvolvimento. Nutrientes como a glicose, aminoácidos,

vitaminas e minerais, atravessam a placenta através de mecanismos de

transporte presentes essencialmente na membrana apical e basolateral do

sinciciotrofoblasto (13). O transporte transplacentar de glicose, fundamental para

o crescimento e desenvolvimento fetal, ocorre principalmente através de um

mecanismo de transporte facilitado, GLUT1, que permite o movimento de glicose

a favor do seu gradiente de concentração. As restantes isoformas do GLUT

implicadas neste processo (GLUT3, 4 e 12) são ainda pouco conhecidas, em

virtude da sua expressão proteica e localização celular não serem consensuais

(11).

36

A linha celular BeWo, é um modelo celular de sinciciotrofoblasto humano

que exibe muitas das características morfológicas e bioquímicas dos trofoblastos,

durante o último trimestre de gravidez (15). Além disso, forma rapidamente uma

monocamada confluente com morfologia polarizada e aderente ao suporte (15), o

que a torna particularmente atractiva para o estudo do transporte transplacentar

de nutrientes (9).

Tal como no sinciciotrofoblasto humano, o principal transportador de

glicose expresso nas células BeWo é o GLUT 1. Apesar de estarem descritos

outros transportadores, existe alguma controvérsia quanto à sua expressão na

membrana (11, 15, 14).

Na maioria dos estudos realizados em culturas celulares, onde se

pretendeu estudar o transporte placentar de glicose, a escolha do substrato recai

sobre a DG (11, 15, 44). Este substrato ao ser captado pelas células, é fosforilado

pela hexocínase a DG-6-P não sendo posteriormente metabolizado. Isto permite a

manutenção do gradiente de DG, aumentando o tempo necessário para que se

atinja um equilíbrio entre os dois lados da membrana (11, 15).

Pelo facto do transporte materno-fetal de glicose ser ainda pouco

conhecido, e pela sua modulação por compostos da dieta e drogas de abuso não

estar descrita, os objectivos deste trabalho foram: caracterizar a captação apical

de 3H-DG em células BeWo, e determinar especificamente o efeito agudo e

crónico de alguns compostos presentes em bebidas e de algumas drogas de

abuso, nesse processo.

Na primeira fase do trabalho caracterizou-se a captação apical de 3H-DG,

no que diz respeito à dependência do tempo, saturabilidade e especificidade.

37

A análise dos resultados, mostrou que a captação de 3H-DG nas células

BeWo é dependente do tempo e saturável.

A determinação dos parâmetros cinéticos de captação de 3H-DG, revelou

valores de Km e Vmax da ordem dos 13,5 mM e dos 1200 nmol/mg prot,

respectivamente. O valor de Km obtido, foi intermédio face aos descritos por Shah

et al (1999) (15) (Km de 1,5 mM) e por Carruthers et al (1990) (46) (Km de 20 mM)

ambos para o GLUT1 (43).

Além disso a citocalasina B, um conhecido inibidor do transporte facilitado

de glicose (11, 15), provocou um efeito inibitório máximo na captação de 3H-DG

de cerca de 60%. Strobel et al (2005) e Martin et al (2003) referem que

citocalasina B se liga com alta afinidade a um domínio transmembranar interno do

GLUT e não aos mesmos locais de ligação da glicose (domínio interno conhecido

por região QLS) (47, 48).

Então, de acordo com os nossos resultados, cerca 60% do transporte de

glicose nas células BeWo é facilitado. Contudo, outros autores referem valores

um pouco diferentes: Shah et al (1999) afirma que esse transporte pode ser da

ordem dos 85% (15) e Pratibshary et al (2002) (14) afirma que é de 50%. De

qualquer forma os 60% obtidos, são suficientes para investigar o transporte

apical. Nas células BeWo, apesar de terem sido identificados, além do GLUT1,

outros transportadores de glicose, nomeadamente o GLUT3 (transportador de

baixo Km) e GLUT5 (transportador de frutose), e da citocalasina B não ter

especificidade para se ligar somente ao GLUT1, é pouco provável que estes

tenham um papel relevante na captação de 3H-DG (11, 15, 14).

A restante percentagem do transporte (40%) que não foi inibido pela

citocalasina B, pode corresponder a adsorção não-específica de 3H-DG às células

38

ou ao material plástico da placa, ou corresponder a um mecanismo de difusão

passiva de 3H-DG para o interior das células (o que não parece provável devido à

natureza polar desta molécula), ou pode eventualmente corresponder à captação

por um transportador adicional (49) dependente do sódio (SGLT). Contudo,

actualmente não está descrito outro tipo de transportadores a nível placentário,

além dos GLUT (5).

Em suma, podemos concluir que o principal mecanismo funcionalmente

relevante para o transporte de glicose nas células BeWo é o GLUT1, coincidindo

com o mecanismo identificado em trofoblastos de placentas de termo (5, 8, 11,

15,14).

Os polifenóis constituem um grupo complexo e extenso de compostos,

presentes em bebidas como sumos de fruta, vinho, chá e cerveja (17, 50).

Na população norte-americana, a ingestão média diária de polifenóis foi

avaliada como sendo 1 g por dia e as concentrações plasmáticas máximas como

sendo não superiores a 1 �M, após a ingestão de 10-100 mg de polifenóis.

Contudo a produção de metabolitos nos tecidos e flora intestinal e a

suplementação dietética, podem aumentar essa concentração (16).

Numerosos estudos têm atribuído a estes compostos efeitos benéficos

para a saúde humana (ver introdução) (24, 25, 26, 27, 50). Alguns desses efeitos

estão relacionados com a capacidade de regularem os mecanismos de transporte

de glicose (51).

A nível placentar, desconhece-se a influência dos polifenóis no transporte

de glicose. Contudo, está descrito que estes compostos têm capacidade para

atravessar a barreira placentária (52). Por isso, um dos objectivos deste trabalho

39

foi investigar a modulação nutricional, por diferentes compostos bioactivos

presentes em bebidas alcoólicas e não-alcoólicas, do transporte de 3H-DG em

células BeWo. Neste contexto, testou-se o efeito de polifenóis, mas também de

metilxantinas como a cafeína e teofilina e do etanol e do seu metabolito

acetaldeído.

A análise dos resultados obtidos permite concluir que agudamente o

resveratrol, xanto-humol, EGCG (todos na concentração de 100 �M), e a

quercetina e crisina (ambas nas concentrações de 10 e 100 �M) diminuíram

significativamente a captação de 3H-DG, sendo o efeito inibitório mais

pronunciado para o xanto-humol (26% de inibição), EGCG (40% inibição) e

quercetina (57 % de inibição). Estes resultados sugerem que a exposição aguda a

quantidades elevadas destes polifenóis, só atingidas por suplementação, poderá

reduzir os níveis de glicose fetais causando efeitos adversos.

Nenhum destes compostos alterou o efeito inibitório da citocalasina B, por

isso conclui-se que actuam no mesmo transportador (GLUT) para exercerem os

seus efeitos inibitórios.

Em comparação com trabalhos publicados noutros tipos celulares, os

resultados obtidos revelaram-se de forma geral concordantes. Em linhas celulares

mielocíticas e linfocíticas (células U937 e Jurkat respectivamente) a quercetina e

miricetina foram os polifenóis que nas mais baixas concentrações (9-12 �M),

reduziram para metade a captação de 3H-DG mediada pelos GLUT (53).

Do mesmo modo Johnston et al (2004) verificaram que a miricetina e a

quercetina, ambas na concentração de 100 �M, reduziram em 82% e 75%

respectivamente, o transporte de glicose mediado pelos GLUT, em células Caco-2

40

(50). Em adipócitos e ovócitos de Xenopus Laevis, a quercetina teve um efeito

semelhante ao nível do GLUT4 e 2 (54, 47). Segundo Park et al (1999) a

capacidade inibitória da quercetina pode estar relacionada com a presença de

grupos de hidroxiflavonas na sua estrutura (53).

Relativamente ao resveratrol, os resultados estão de acordo com os

obtidos por Park (2000) que demonstrou que nas linhas celulares U937 e HL-60, o

resveratrol inibiu competitivamente a captação de 3H-DG pelos GLUT1 e 3 (55).

A crisina, como diminuiu a viabilidade celular de modo estatísticamente

significativo, nas concentrações de 10 e 100 �M, é provável que reduza a

captação de 3H-DG devido a citotoxicidade celular. Os efeitos agudos dos

restantes polifenóis, não são explicados por alteração da viablilidade celular.

A análise dos efeitos inibitórios dos polifenóis sobre os parâmetros

cinéticos da captação de 3H-DG, revelou que a quercetina e o xanto-humol

reduziram a Vmax mas não alteraram o valor de Km, enquanto que a EGCG reduziu

ambos. Logo, concluiu-se que a quercetina e o xanto-humol são inibidores não

competitivos, e que provavelmente se ligam a um sítio alostérico do GLUT

induzindo uma alteração conformacional no sítio activo (onde se liga a 3H-DG),

que diminui a actividade do transportador para altas concentrações de substrato.

No fundo, o efeito assemelha-se à redução do número de transportadores na

superfície celular.

Os estudos realizados neste campo são controversos, pois alguns

evidenciam que a quercetina comporta-se como um inibidor competitivo do

transporte de 3H-DG, enquanto outros evidenciam o contrário (53, 56, 47, 54, 48).

Quanto ao xanto-humol, uma chalcona prenilada que ocorre na planta do

lúpulo e na cerveja, estudos realizados em células BeWo, evidenciaram que este

41

composto não tem qualquer efeito agudo na captação de ácido fólico ou de

vitamina B1 (40). Paralelamente aos nossos resultados, este aspecto não deixa de

ser interessante, visto que na mesma cultura celular o xanto-humol teve efeitos

distintos sobre a captação placentar de diferentes nutrientes.

Relativamente à EGCG, esta mostra um comportamento atípico, contudo

pode-se pressupor que o seu efeito resulta da ligação a um sítio alostérico,

induzindo uma alteração conformacional no sítio activo do transportador, cujo

resultado é o aumento da afinidade para o substrato e simultaneamente

diminuição da actividade do transportador. Vários estudos demonstraram, noutros

tipos celulares (50, 56, 57), que no grupo das catequinas apenas a EGCG teve

um potente efeito inibidor do transporte de glicose mediado pelos GLUT (56, 50).

Em células de epitélio intestinal, concentrações de 0,1 e 1 mM de EGCG

reduziram o transporte em cerca 35-37%, sendo o resíduo galato importante para

esse efeito (50, 57).

No que diz respeito ao seu efeito nos parâmetros cinéticos da captação de

glicose, os estudos são ainda contraditórios. (56, 57). O efeito inibitório da EGCG

pode dever-se à ligação a um domínio externo do GLUT1, estando de acordo com

os nossos resultados, ou a um bloqueio da ligação da glicose ao transportador

(56, 57).

Ainda relativamente aos resultados do efeito agudo de polifenóis, a rutina a

catequina (ambas a 10 e 100 �M) e a epicatequina (100 �M) aumentaram de

modo significativo a captação de 3H-DG. Estes compostos não alteraram o efeito

da citocalasina B, por isso ambos interagem com o GLUT de modo a exercem os

seus efeitos. De acordo com Park et al (1999) e Johnston et al (2004) a catequina

e epicatequina (ambas a 100 �M), demonstraram um efeito estimulador sobre a

42

captação facilitada de glicose em várias linhas celulares (53, 50). Quanto à rutina

(em concentrações inferiores a 100 �M), estudos evidenciaram que não teve

efeito sobre o transporte facilitado de glicose, em células Caco-2, U937 e Jurkat

(50, 53). Estes estudos contrariam os nossos resultados provavelmente porque o

efeito da rutina varia conforme a cultura celular e, como iremos ver mais à frente,

com o tempo de exposição (50, 53).

As catequinas são muito abundantes no chá (sobretudo no verde) sendo a

EGCG o principal componente (cerca de 60% das catequinas), e a catequina e

epicatequina componentes existentes em quantidades mais modestas (inferiores

a 20%) (56).

Relativamente à associação de polifenóis, verificou-se que a catequina e

epicatequina (ambas a 100 �M) contrariamente ao seu efeito isolado, reduziram a

captação de 3H-DG quando associadas, e a epicatequina e o xanto-humol (ambos

a 100 �M) em conjunto contrabalançaram os efeitos antagónicos que tinham

isoladamente. Estes resultados evidenciam que nas bebidas, em que há uma

associação destes compostos, os efeitos observados podem ser muito distintos

dos efeitos de cada um compostos isoladamente.

Cronicamente, a análise dos resultados revelou que a rutina (tal como

agudamente) e a miricetina, aumentaram de um modo dependente da

concentração a captação de 3H-DG. Como nenhum dos compostos alterou a

viabilidade celular, estes resultados não podem ser explicados por efeitos

proliferativos sobre as células BeWo. A miricetina e a rutina não alteraram o efeito

crónico da citocalasina B, por isso estes polifenóis interagem com o GLUT para

exercerem os seus efeitos.

43

Tal como visto anteriormente, existem estudos que indicam que a

miricetina tem um efeito inibitório na captação facilitada de glicose, em algumas

linhas celulares (53, 54, 47). Apesar de contrariarem os nossos resultados, é

importante salientar que esses estudos avaliam apenas o efeito agudo da

miricetina e como tal, um maior tempo de exposição das células ao composto

pode ter influência no seu efeito sobre a captação de glicose.

A mesma explicação aplica-se à rutina, pois como visto anteriormente, não

teve efeito agudo sobre o transporte facilitado de glicose, em algumas linhas

celulares. (50, 53)

As flavonas quercetina, um dos principais polifenóis presente na dieta, a

rutina (forma glicosilada da primeira) e a miricetina (26) existem principalmente no

vinho tinto, chá e cerveja (17, 40). Quando associadas cronicamente, verificou-se

que a miricetina e a rutina (ambas a 1 �M) evidenciaram um efeito estimulador

somativo (de 30%) na captação de 3H-DG, face ao seus efeitos isolados.

Os riscos associados ao consumo materno de cafeína (presente em

bebidas como o chá ou café) nomeadamente o aborto espontâneo e atraso de

crescimento intra-uterino, são ainda controversos (28, 29).

Os resultados obtidos com as metilxantinas, revelaram que apenas a

teofilina alterou a captação de 3H-DG. A teoflina (0,1 e 1 �M) quando testada em

efeito crónico, reduziu em 10% o transporte apical de 3H-DG de um modo

dependente da concentração. Este resultado não está relacionado com efeitos

citotóxicos nas células BeWo, visto que a teofilina não alterou a viabilidade

celular. Pelo facto deste composto não modificar o efeito inibitório da citocalasina

B, conclui-se que interage com o GLUT para exercer o seu efeito inibitório.

44

Já foi demonstrado em alguns estudos (58, 59), que as metilxantinas

cafeína e teofilina têm capacidade para inibir o transporte facilitado de glicose.

Contudo, os mecanismos responsáveis por esse efeito não são ainda totalmente

conhecidos. De acordo com Steinfelder et al (1990), a teofilina e a cafeína

inibiram a captação facilitada de glicose em adipócitos, através de dois modos:

por interação com o mesmo local de ligação da citocalasina B no transportador, e

por inibição dos receptores A1 da adenosina (58).

Ho et al (2001) refere um mecanismo de actuação diferente, afirmando que

a cafeína e a teofilina (em concentrações inferiores ou iguais a 10 mM) inibem a

captação de glicose pelo GLUT1 em eritrócitos, reduzindo a Vmax do transportador

(59). Apesar dos estudos mencionados revelarem um efeito inibitório de ambas as

metilxantinas sobre o transporte de glicose, Keating et al (2006) demonstraram

que apenas a teofilina, nas concentrações de 10 e 100 �M, reduziu a captação

apical de ácido fólico em células BeWo (40). E no presente trabalho, também se

verificou que somente a teofilina teve efeito inibitório sobre o transporte de

glicose.

Como tal, os nossos resultados sugerem que a exposição crónica à

teofilina, poderá ter um efeito adverso no feto, devido à redução dos níveis fetais

de glicose.

O etanol é reconhecidamente um potente teratogénio nos seres humanos,

apesar de ser a droga mais consumida em todo mundo (39, 40). O seu consumo

abusivo por grávidas, pode estar associado a um conjunto de manifestações

clínicas fetais conhecidas como Síndrome alcoólica fetal (32). Os efeitos

teratogénicos do etanol estão relacionados com vários factores, entre os quais a

45

formação de acetaldeído no feto, na placenta e na própria mãe (60, 61). O

acetaldeído é formado principalmente a partir da oxidação hepática do etanol,

pela acção da desidrogénase do aldeído e em menor grau pelo sistema

enzimático do citocromo P-450 (através da enzima CYP2E1 ou MEOS -

“microssomal ethanol oxidizing system”) (62). Este metabolito pode atingir

concentrações fetais superiores às da circulação materna (60, 61).

Os resultados obtidos, evidenciaram que o etanol e o acetaldeído apenas

exerceram um efeito agudo, na captação de 3H-DG em células BeWo. O etanol

teve um efeito estimulador de 10%, na concentração de 10 mM. O acetaldeído

pelo contrário, reduziu a captação de 3H-DG de modo dependente da

concentração, provocando reduções de 30% e 60% nas concentrações mais

elevadas (30 e 100 mM, respectivamente). Verificou-se também que os efeitos de

ambos os compostos, não se devem a alterações na viabilidade celular. O etanol

não alterou o efeito da citocalasina B, por isso interage com o GLUT para exercer

o seu efeito estimulador na captação de 3H-DG.

Actualmente existe alguma evidência científica, de que a teratogenicidade

do etanol está associada a alterações do transporte de nutrientes na placenta,

nomeadamente a uma redução do transporte de aminoácidos, ácido fólico e

tiamina (40, 60, 63). Nesse contexto, não deixa de ser interessante verificar que

não teve efeito, ou demonstrou uma ligeira tendência para aumentar a captação

de 3H-DG.

Adicionalmente, devido aos efeitos dos polifenóis e do etanol serem

distintos, não é correcto extrapolar os efeitos isolados do etanol para os efeitos de

bebidas alcoólicas.

46

O acetaldeído (30 mM) reduziu em 12% o efeito da citocalasina B na

captação de 3H-DG. Logo parece exercer o seu efeito inibitório, ou pelo menos

parte dele, por outro mecanismo que não envolve o GLUT.

O efeito do acetaldeído nos parâmetros cinéticos da captação de 3H-DG,

resultou numa redução dos valores de Km e Vmax. Em virtude destes resultados,

pressupõe-se que o efeito do acetaldeído pode também resultar da ligação a um

sítio alostérico do GLUT, com a consequente alteração conformacional do sítio

activo do transportador. O resultado é um aumento da afinidade para o substrato

e simultaneamente uma diminuição da actividade do transportador. Pelo facto de

atravessar livremente a barreira placentária (61), o acetaldeído também pode

exercer o seu efeito inibitório, influenciando a actividade de enzimas do

metabolismo intracelular da 3H-DG, como a hexocínase. O acetaldeído pode

diminuir a actividade da hexocínase, conduzindo a uma redução da captação da

3H-DG.

Através destes resultados, podemos concluir que um dos possíveis

mecanismos envolvidos nos efeitos nocivos do acetaldeído, será a redução da

captação apical de glicose no sinciciotrofoblasto. Até porque, em concentrações

semelhantes às testadas (20 mM) o acetaldeído também reduziu a actividade

transportadora de aminoácidos (64).

Como nota, interessa referir que os efeitos inibitórios dos polifenóis e do

acetaldeído na captação de 3H-DG, foram estudados utilizando concentrações de

3H-DG (1 �M) claramente inferiores aos valores de Km obtidos.

47

Nos Estados Unidos, estima-se que anualmente mais de duzentas mil

mulheres sejam expostas, pelo menos uma vez, a drogas ilícitas durante o

período gestacional (34).

Nenhuma das drogas de abuso testadas agudamente, alterou a captação

de 3H-DG nas células BeWo. No entanto cronicamente o MDMA, a anfetamina

(0,25 e 2,5 �M) e o THC (apenas na concentração mais baixa, 1 nM) reduziram

aproximadamente em 10% a captação de 3H-DG. Estes resultados não estão

relacionados com efeitos citotóxicos, pois a viabilidade celular não foi alterada.

Adicionalmente, nas concentrações inibitórias estas drogas de abuso não

alteraram o efeito da citocalasina B, o que pressupõe que interagam com o GLUT

para exercer esses efeitos. Estes resultados poderão explicar o efeito crónico do

MDMA, anfetamina e THC. Contudo, não temos nenhuma explicação para o facto

do THC apenas inibir a captação de 3H-DG na concentração mais baixa. No seu

conjunto, estes resultados sugerem que a exposição crónica ao MDMA,

anfetamina e THC, poderão ter um efeito adverso no feto devido à redução dos

níveis fetais de glicose.

Estão já descritos, efeitos adversos de drogas de abuso noutros

transportadores placentários, nomeadamente de nutrientes e de catecolaminas

(13, 65, 66). Segundo Ganapathy et al (1999), os transportadores das

monoaminas serotonina, noradrenalina e dopamina são os principais alvos de

drogas ilícitas na placenta (62). A cocaína é um potente inibidor competitivo do

transportador de serotonina (SERT), pois os valores plasmáticos de consumidores

habituais (1-2.5 �M) são muito superiores à concentração que inibe 50% da

captação de serotonina (0,1 �M). Apesar de ser um inibidor competitivo, a cocaína

48

e seus análogos não são substratos do SERT. Igualmente, mas de forma menos

potente, a cocaína também inibe o transportador de noradrenalina (13).

A anfetamina é um potente inibidor do transportador de noradrenalina, e os

valores plasmáticos em doses terapêuticas e em consumidores habituais (0,3-0,8

�M e 1-2 �M, respectivamente), são muito superiores à concentração responsável

por inibir 50% da captação (0,1 �M) (13). Em relação ao SERT, a anfetamina é

também um inibidor, mas menos potente (13). Como é um substrato alternativo de

ambos os transportadores, a anfetamina pode acumular-se no sinciciotrofoblasto,

alterando funções intracelulares entre as quais a mitocondrial (13, 65). Quanto ao

THC, inibe a função do SERT de forma não competitiva (13).

A inibição do transporte materno-fetal de monoaminas, resulta num

aumento dos seus níveis no fluxo sanguíneo placentário, causando

vasoconstrição, redução do fluxo sanguíneo, e em última instância diminuição do

aporte de nutrientes ao feto (13).

Além dos transportadores de monoaminas, estão descritos outros possíveis

alvos de drogas de abuso (13, 65). A anfetamina, metanfetamina, cocaína e

nicotina inibem competitivamente a função do transportador de catiões orgânicos

do tipo 3 (OCT3) (13). Também Rytting et al (2004) demonstraram que a

anfetamina e seus derivados inibiram o transporte de carnitina, por via do

transportador de catiões orgânicos (OCTN2), em células BeWo (67).

O transporte de aminoácidos, principalmente o dependente do ião sódio

(como o dos aminoácidos glutamina e ácido �-aminoisobutírico) é inibido de forma

não-competitiva pela cocaína, nicotina e canabinóides (13, 66). Esse efeito deve-

se ao facto de dissiparem o gradiente electroquímico do ião sódio, sendo as

concentrações inibitórias muito variáveis (13).

49

Por fim, e com base nos resultados obtidos neste trabalho, podemos

especular sobre o impacto dos compostos testados, na proliferação tumoral. Uma

vez que a glicose é um substrato energético importante para o controlo do

crescimento e proliferação celular, a inibição e/ou activação do seu transporte

para as células neoplásicas será um alvo terapêutico a considerar.

CONCLUSÃO

Com este trabalho, concluímos que o principal mecanismo de captação

apical de 3H-DG nas células BeWo é o transporte facilitado (GLUT). A captação

de 3H-DG é modulada de modo diferente, por compostos bioactivos presentes na

dieta (polifenóis e metilxantinas) e por drogas de abuso.

Agudamente o resveratrol, xanto-humol, EGCG (100 �M), quercetina e

crisina (ambos a 10 e 100 �M) reduziram o transporte apical de 3H-DG, enquanto

que a rutina, catequina (ambos a 10 e 100 �M), epicatequina (100 �M) e etanol

(10 mM) aumentaram-no. A catequina e epicatequina em conjunto (ambas a 100

�M) reduziram a captação de 3H-DG, enquanto que a epicatequina e o xanto-

humol (ambos a 100 �M) contrabalançaram os efeitos antagónicos que tinham

isoladamente. Todos estes compostos testados em efeito agudo, parecem

interagir com o GLUT para exercerem os seus efeitos.

A quercetina e o xanto-humol reduziram a actividade do transportador sem

alterar a afinidade para o substrato, ao passo que a EGCG simultaneamente

50

aumentou a afinidade para o substrato e diminuiu a actividade do transportador. O

acetaldeído teve um efeito inibitório nas concentrações mais elevadas (30 e 100

mM), que é explicado em parte pela ligação a um sítio alostérico do GLUT

aumentando a afinidade para o substrato e diminuindo a actividade do

transportador.

Cronicamente, a rutina e a miricetina isoladamente (0,1 e 1 �M) e em

conjunto (1 �M) aumentaram a captação de 3H-DG, enquanto que a teoflina (0,1 e

1 �M) e as drogas de abuso MDMA, anfetamina (ambas a 0,25 e 2,5 �M) e THC

(1 nM) reduziram essa mesma captação. Para exercerem os seus diferentes

efeitos estes compostos parecem interagir com o GLUT.

Pelo facto dos efeitos agudos e crónicos destes compostos serem distintos,

não é correcto extrapolar efeitos crónicos a partir dos agudos e vice-versa.

Os resultados obtidos neste trabalho, vêm aprofundar o conhecimento da

bioactividade e a influência na saúde materno-fetal de alguns polifenóis,

metilxantinas e drogas de abuso.

51

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64. Asai M, Narita A, Kashiwamata S. Effects of acetaldehyde and/or ethanol

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66. Pastrakujulic A, Derewlany L. Knie B, Koren G. Effects of cocaine and

nicotine on amino acid transport across the human placental cotyledon perfused in

vitro. J Pharmacol Exp Ther. 2000; 294(1):141-146.

61

ANEXOS

62

63

ÍNDICE DE ANEXOS

Anexo 1 - Figuras nº 3, 11, 12, 13, 14, 16, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27,

28, 30, 31, 34 e 35. ......................................................................................... a1

a1

ANEXO 1

Time-course 100 µM

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 10005

101520253035404550556065

Controlo

Cito B 50 µM

Tempo de incubação (min)

Cap

taçã

od

e3 H

-DG

(nm

ol/

mg

pro

teín

a)

Figura 3 - Variação da captação apical de 3H-DG em função do tempo deincubação (time-course). As células foram pré-incubadas durante 20minutos e posteriormente incubadas a 37ºC com 3H-DG 100 µM naausência (controlo, n=2) ou presença de citocalasina B 50 µM (Cito B 50µM, n=2). Os resultados são apresentados sob a forma de média ± EPM.

Figura 11 - Efeito da exposição crónica das células BeWo a diferentes concentrações(0,1 e 1 µM) dos polifenóis catequina (Cat, n=5), epicatequina (Epi, n=5-8) e xanto-humol (XH, n=6), na captação de 3H-DG. As células BeWo foram expostas a estescompostos ou ao respectivo solvente (controlo, n=12, correspondendo a 100%) durante48 horas. Após o período de tratamento, as células foram incubadas com 3H-DG 1 µMdurante 6 minutos a 37ºC, na ausência do composto. Os resultados são apresentadossob a forma de média ± EPM. *Significativamente diferente do controlo (P < 0.05).

0.1 1 0.1 1 0.1 10

20

40

60

80

100

120Controlo

Cat

Epi

XH

Concentração (µM)

Cap

taçã

od

e3 H

-DG

(%d

oco

ntr

olo

)

a2

Figura 12 - Efeito da exposição crónica das células BeWo a diferentes concentrações(0,1 e 1 mM) de etanol (ETOH, n=6) e acetaldeído (ACA, n=5), na captação de 3H-DG.As células BeWo foram expostas a estes compostos ou ao respectivo solvente(controlo, n=9, correspondendo a 100%) durante 48 horas. Após o período detratamento, as células foram incubadas com 3H-DG 1 µM durante 6 minutos a 37ºC, naausência do composto. Os resultados são apresentados sob a forma de média ± EPM.*Significativamente diferente do controlo (P < 0,05).

0.1 1 0.1 10

20

40

60

80

100

120Controlo

ETOH

ACA

Concentração (mM)C

apta

ção

de

3 H-D

G(%

do

con

tro

lo)

Figura 13 - Efeito da exposição aguda das células BeWo a diferentes concentraçõesde nicotina (Nic; 1, 10 e 100 µM; n=12) e cocaína (Coca; 0.1, 1 e 10 µM; n=12), nacaptação de 3H-DG. As células BeWo foram pré-incubadas durante 20 minutos eposteriormente incubadas com 3H-DG 1 µM durante 6 minutos a 37ºC, na presença docomposto ou do respectivo solvente (controlo, n=12, correspondendo a 100%). Osresultados são apresentados sob a forma de média ± EPM. *Significativamentediferente do controlo (P < 0,05).

1 10 100 0.1 1 100

20

40

60

80

100

120Controlo

Nic

Coca

Concentração (µM)

Cap

taçã

od

e3 H

-DG

(%d

oco

ntr

olo

)

Figura 14 - Efeito da exposição aguda das células BeWo a diferentes concentraçõesde 3,4-metilenodioximetanfetamina (MDMA; 0,1, 1 e 10 µM; n=6-9), ∆

9-tetrahidrocanabinol (THC, 0,01, 0,1 e 1 µM; n=6-9) e anfetamina (ANF; 0,1, 1 e 10 µM;n=6-9) na captação de 3H-DG. As células BeWo foram pré-incubadas durante 20minutos e posteriormente incubadas com 3H-DG 1 µM durante 6 minutos a 37ºC, napresença do composto ou do respectivo solvente (controlo, n=9, correspondendo a100%). Os resultados são apresentados sob a forma de média ± EPM.*Significativamente diferente do controlo (P < 0,05).

0.1 1 10 0.01 0.1 1 0.1 1 100

20

40

60

80

100

120ControlMDMATHCANF

Concentração (µM)

cap

taçã

od

e3 H-D

G(%

do

con

tro

lo)

a3

0.1 1 10 0.25 2.50

20

40

60

80

100

120

ControloNic

Coca

Concentração (µM)

Cap

taçã

od

e3 H

-DG

(%d

oco

ntr

olo

)

Figura 16 - Efeito da exposição crónica das células BeWo a diferentes concentraçõesde nicotina (Nic; 0,1 1 e 10 µM; n=3-6) e cocaína (Coca; 0,25 e 2,5 µM; n=6), nacaptação de 3H-DG. As células BeWo foram expostas a estes compostos ou aorespectivo solvente (controlo, n=9, correspondendo a 100%) durante 48 horas. Após operíodo de tratamento, as células foram incubadas com 3H-DG 1 µM durante 6 minutosa 37ºC, na ausência do composto. Os resultados são apresentados sob a forma demédia ± EPM. *Significativamente diferente do controlo (P < 0,05).

Figura 18 - Efeito da exposição aguda das células BeWo a diferentesconcentrações (1, 10 e 100 µM) de polifenóis resveratrol, quercetina, miricetina (Resv,Querc e Mir; n=5) e rutina (Rut n=3), na viabilidade celular. As células BeWo, expostasdurante 26 minutos aos compostos a serem testados ou aos respectivos solventes(controlo, n=16, correspondendo a 100%), foram incubadas durante 3 horas a 37ºC, napresença de MTT 5 mg/mL. A viabilidade celular foi determinada em função dadiferença entre as densidades ópticas a 550 e 650 nm. Os resultados são apresentadossob a forma de média ± EPM. *Significativamente diferente do controlo (P < 0,05).

1 10 100 1 10 100 1 10 100 1 10 1000

20

40

60

80

100

120ControloResv

Querc

Mir

Rut

Concentração (µM)

MT

T(%

do

con

tro

lo)

Figura 19 - Efeito da exposição aguda das células BeWo a diferentes concentrações(0,1, 3, 10, 30 e 100 mM) de etanol (ETOH, n=4) e acetaldeído (ACA, n=4), naviabilidade celular. As células BeWo, expostas durante 26 minutos aos compostos aserem testados ou aos respectivos solventes (controlo, n=8, correspondendo a 100%),foram incubadas durante 3 horas a 37ºC, na presença de MTT 5 mg/mL. A viabilidadecelular foi determinada em função da diferença entre as densidades ópticas a 550 e650 nm. Os resultados são apresentados sob a forma de média ± EPM.*Significativamente diferente do controlo (P < 0,05).

0.1 3 10 30 100 0.1 3 10 30 1000

20

40

60

80

100

120 Controlo

ETOH

ACA

Concentração (mM)

MT

T(%

do

con

tro

lo)

a4

Figura 20 - Efeito da exposição aguda das células BeWo a diferentes concentrações(1, 10 e 100 µM) dos polifenóis catequina, epicatequina e xanto-humol (Cat, Epi e XHn=5), na viabilidade celular. As células BeWo, expostas durante 26 minutos aoscompostos a serem testados ou aos respectivos solventes (controlo, n=8,correspondendo a 100%), foram incubadas durante 3 horas a 37ºC, na presença deMTT 5 mg/mL. A viabilidade celular foi determinada em função da diferença entre asdensidades ópticas a 550 e 650 nm. Os resultados são apresentados sob a forma demédia ± EPM. *Significativamente diferente do controlo (P < 0.05).

1 10 100 1 10 100 1 10 1000

20

40

60

80

100

120ControloCatEpiXH

Concentração (µM)

MT

T(%

do

con

tro

lo)

0.1 1 0.1 10

20

40

60

80

100

120Controlo

ETOH

ACA

Concentração (mM)

MT

T(%

do

con

tro

lo)

Figura 22 - Efeito da exposição crónica das células BeWo a diferentes concentrações(0,1 e 1 mM) de etanol (ETOH, n=6) e acetaldeído (ACA, n=6), na viabilidade celular.As células BeWo, expostas durante 45 horas aos compostos a serem testados ou aosrespectivos solventes (controlo, n=8, correspondendo a 100%), foram depois incubadasdurante 3 horas a 37ºC, na presença de MTT 5 mg/mL e dos compostos. A viabilidadecelular foi determinada em função da diferença entre as densidades ópticas a 550 e650 nm. Os resultados são apresentados sob a forma de média ± EPM.*Significativamente diferente do controlo (P < 0,05).

Figura 21 - Efeito da exposição crónica das células BeWo a diferentes concentrações(0,1 e 1 µM) dos polifenóis catequina (Cat, n=8-9), epicatequina (Epi, n=4) e xanto-humol (XH, n=6-7), na viabilidade celular. As células BeWo, expostas durante 45 horasaos compostos a serem testados ou aos respectivos solventes (controlo, n=10,correspondendo a 100%), foram depois incubadas durante 3 horas a 37ºC, na presençade MTT 5 mg/mL e dos compostos. A viabilidade celular foi determinada em função dadiferença entre as densidades ópticas a 550 e 650 nm. Os resultados são apresentadossob a forma de média ± EPM. *Significativamente diferente do controlo (P < 0,05).

0.1 1 0.1 1 0.1 10

20

40

60

80

100

120ControloCat

Epi

XH

*

Concentração (µM)

MT

T(%

do

con

tro

lo)

a5

Figura 23 - Efeito da exposição crónica das células BeWo a diferentes concentrações(0,1 e 1 µM) dos polifenóis resveratrol (Resv, n=7), quercetina, miricetina e rutina(Querc, Mir e Rut; n=4) na viabilidade celular. As células BeWo, expostas durante 45horas aos compostos a serem testados ou aos respectivos solventes (controlo, n=11,correspondendo a 100%), foram depois incubadas durante 3 horas a 37ºC, na presençade MTT 5 mg/mL e dos compostos. A viabilidade celular foi determinada em função dadiferença entre as densidades ópticas a 550 e 650 nm. Os resultados são apresentadossob a forma de média ± EPM. *Significativamente diferente do controlo (P < 0,05).

0.1 1 0.1 1 0.1 1 0.1 10

20

40

60

80

100

120ControloResv

Querc

Mir

Rut

Concentração (µM)

MT

T(%

do

con

tro

lo)

0.1 1 0.1 1 0.1 1 0.1 10

20

40

60

80

100

120ControloEGCG

Cris

CafTeof

Concentração (µM)

MT

T(%

do

con

tro

lo)

Figura 24 - Efeito da exposição crónica das células BeWo a diferentes concentrações(0.1 e 1 µM) dos polifenóis e metilxantinas epigalocatequina-3-galato, crisina, cafeína eteofilina (EGCG, Cris, Caf e Teof; n=4) na viabilidade celular. As células BeWo,expostas durante 45 horas aos compostos a serem testados ou aos respectivossolventes (controlo, n=11, correspondendo a 100%), foram depois incubadas durante 3horas a 37ºC, na presença de MTT 5 mg/mL e dos compostos. A viabilidade celular foideterminada em função da diferença entre as densidades ópticas a 550 e 650 nm. Osresultados são apresentados sob a forma de média ± EPM. *Significativamentediferente do controlo (P < 0,05).

a6

Figura 26 - Efeito da exposição aguda das células BeWo a diferentes concentraçõesde 3,4-metilenodioximetanfetamina, anfetamina (MDMA e ANF; 0.1, 1 e 10 µM; n=8-9)e ∆

9-tetrahidrocanabinol (THC; 0,01, 0,1 e 1 µM; n=8-9), na viabilidade celular. Ascélulas BeWo, expostas durante 26 minutos aos compostos a serem testados ou aosrespectivos solventes (controlo, n=15, correspondendo a 100%), foram incubadasdurante 3 horas a 37ºC, na presença de MTT 5 mg/mL. A viabilidade celular foideterminada em função da diferença entre as densidades ópticas a 550 e 650 nm. Osresultados são apresentados sob a forma de média ± EPM. *Significativamentediferente do controlo (P < 0,05).

0.1 1 10 0.01 0.1 1 0.1 1 100

20

40

60

80

100

120ControloMDMATHC

ANF

* *

Concentração (µM)

MT

T(%

do

con

tro

lo)

1 10 100 0.1 1 100

20

40

60

80

100

120ControloNic

Coca* * * *

Concentração (µM)

MT

T(%

do

con

tro

lo)

Figura 25 - Efeito da exposição aguda das células BeWo a diferentes concentraçõesde nicotina (Nic; 1, 10 e 100 µM; n=8-9) e cocaína (Coca; 0,1, 1 e 10 µM; n=12), naviabilidade celular. As células BeWo, expostas durante 26 minutos aos compostos aserem testados ou aos respectivos solventes (controlo, n=9, correspondendo a 100%),foram incubadas durante 3 horas a 37ºC, na presença de MTT 5 mg/mL. A viabilidadecelular foi determinada em função da diferença entre as densidades ópticas a 550 e650 nm. Os resultados são apresentados sob a forma de média ± EPM.*Significativamente diferente do controlo (P < 0,05).

a7

Figura 27 - Efeito da exposição crónica das células BeWo a diferentes concentraçõesde nicotina (Nic; 0,1 1 e 10 µM; n=6-7) e cocaína (Coca; 0,25 e 2,5 µM; n=7) naviabilidade celular. As células BeWo, expostas durante 45 horas aos compostos aserem testados ou aos respectivos solventes (controlo, n=10, correspondendo a 100%),foram depois incubadas durante 3 horas a 37ºC, na presença de MTT 5 mg/mL e doscompostos. A viabilidade celular foi determinada em função da diferença entre asdensidades ópticas a 550 e 650 nm. Os resultados são apresentados sob a forma demédia ± EPM. *Significativamente diferente do controlo (P < 0,05).

0.1 1 10 0.25 2.50

20

40

60

80

100

120ControloNic

Coca

Concentração (µM)

MT

T(%

do

con

tro

lo)

Figura 28. Efeito da exposição crónica das células BeWo a diferentes concentraçõesde 3,4-metilenodioximetanfetamina, anfetamina (MDMA e ANF; 0,25 e 1 µM; n=6-7) e∆

9-tetrahidrocanabinol (THC; 0,001, 0,01 e 0,1 µM; n=7-9) na viabilidade celular. Ascélulas BeWo, expostas durante 45 horas aos compostos a serem testados ou aosrespectivos solventes (controlo, n=13, correspondendo a 100%), foram depoisincubadas durante 3 horas a 37ºC, na presença de MTT 5 mg/mL. A viabilidade celularfoi determinada em função da diferença entre as densidades ópticas a 550 e 650 nm.Os resultados são apresentados sob a forma de média ± EPM. *Significativamentediferente do controlo (P < 0,05).

0.25 1 0.25 1 0.001 0.01 0.10

20

40

60

80

100

120ControloMDMAANFTHC

Concentração (µM)

MT

T(%

do

con

tro

lo)

a8

Figura 30 - Efeito da exposição aguda das células BeWo simultaneamente aoresveratrol 100 µM e citocalasina B 50 µM (Cito B + Resv, n=9), à quercetina 10 µM ecitocalasina B 50µM (Cito B + Querc, n=9), à rutina 100 µM e citocalasina B 50 µM (CitoB + Rut, n=9), à epigalocatequina-3-galato 100 µM e citocalasina B 50 µM (Cito B +EGCG, n=6) e à crisina 100 µM e citocalasina B 50 µM (Cito B + Cris, n=9), nacaptação de 3H-DG. As células BeWo foram pré-incubadas durante 20 minutos eposteriormente incubadas com 3H-DG 1 µM durante 6 minutos a 37ºC, na presençasimultânea da citocalasina B 50 µM e do composto, ou da citocalasina B 50 µM e dosolvente do composto (Cito B, n=3), ou do solvente da citocalasina B e do solvente docomposto (controlo, n=9, correspondendo a 100%). Os resultados são apresentadossob a forma de média ± EPM. *Significativamente diferente do controlo (P < 0,05).#Significativamente diferente da Cito B (P < 0,05).

0102030405060708090

100110

ControloCito BCito B + ResvCito B + QuercCito B + RutCito B + EGCGCito B + Cris

*

Cap

taçã

od

e3 H

-DG

(%d

oco

ntr

olo

)

0102030405060708090

100110

ControloCito BCito B + CatCito B + EpiCito B + XH

*

Cap

taçã

od

e3 H

-DG

(%d

oco

ntr

olo

)

Figura 31 - Efeito da exposição aguda das células BeWo simultaneamente: àcatequina 10 µM e citocalasina B 50 µM (Cito B + Cat, n=6), à epicatequina 100 µM ecitocalasina B 50µM (Cito B + Epi; n=8) e ao xanto-humol 100 µM e citocalasina B 50µM (Cito B + XH, n=8), na captação de 3H-DG. As células BeWo foram pré-incubadasdurante 20 minutos e posteriormente incubadas com 3H-DG 1 µM durante 6 minutos a37ºC, na presença simultânea da citocalasina B 50 µM e do composto, ou dacitocalasina B 50 µM e do solvente do composto (Cito B, n=6), ou do solvente dacitocalasina B e do solvente do composto (controlo, n=12, correspondendo a 100%). Osresultados são apresentados sob a forma de média ± EPM. *Significativamentediferente do controlo (P < 0,05). #Significativamente diferente da Cito B (P < 0,05).

a9

Figura 34 - Efeito da exposição crónica das células BeWo simultaneamente: àmiricetina 1 µM e citocalasina B 50 µM (Cito B + Mir, n=9), à rutina 1 µM e citocalasinaB 50µM (Cito B + Rut, n=6) e à teofilina 1 µM e citocalasina B 50 µM (Cito B + Teof,n=12), na captação de 3H-DG. As células BeWo foram expostas simultaneamente àcitocalasina B 50 µM e ao composto, ou à citocalasina B 50 µM e ao solvente docomposto (Cito B, n=9), ou ao solvente da citocalasina B e solvente do composto(Controlo , n=12), no meio de cultura durante 48 horas. Após o período de tratamentoas células foram incubadas com 3H-DG 1 µM durante 6 minutos a 37ºC, na ausênciados compostos. Os resultados são apresentados sob a forma de média ± EPM.*Significativamente diferente do controlo (P <0,05). #Significativamente diferente da CitoB (P < 0,05).

0102030405060708090

100110

ControloCito BCito B + MirCit B + RutCito B + Teof

*

Cap

taçã

od

e3 H

-DG

(%d

oco

ntr

olo

)

0102030405060708090

100110

ControloCito BCito B + MDMACito B + ANFCito B + THC

Cap

taçã

od

e3 H

-DG

(%d

oco

ntr

olo

)

Figura 35 - Efeito da exposição crónica das células BeWo simultaneamente ao 3,4-metilenodioximetanfetamnina 1 µM e citocalasina B 50 µM (Cito B + MDMA, n=9), àanfetamina 1 µM e citocalasina B 50 µM (Cito B + ANF; n=9) e ao ∆

9-tetrahidrocanabinol 0,001 µM e citocalasina B 50 µM (Cito B + THC, n=8), na captaçãode 3H-DG. As células BeWo foram expostas simultaneamente à citocalasina B 50 µM eao composto, ou à citocalasina B 50 µM e ao solvente do composto (Cito B, n=9), ou aosolvente da citocalasina B e solvente do composto, (Controlo, n=11), no meio de culturadurante 48 horas. Após o período de tratamento as células foram incubadas com 3H-DG 1 µM durante 6 minutos a 37ºC, na ausência dos compostos. Os resultados sãoapresentados sob a forma de média ± EPM. *Significativamente diferente do controlo (P< 0,05). #Significativamente diferente da Cito B (P < 0,05).

a10