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137 Artigo original/Original Article Efeito da relação de calorias glicídicas/lipídicas da dieta sobre o balanço nitrogenado e composição corpórea de praticantes de musculação em treinamento Effect of the dietary glycid/lipid calorie ratio on the nitrogen balance and body composition of bodybuilders RAQUEL SIMÕES MENDES-NETTO 1 ; NAILZA MAESTÁ 2 ; ERICK PRADO DE OLIVEIRA 2,3 ; ROBERTO CARLOS BURINI 2 1 Universidade Federal de Sergipe, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Núcleo de Nutrição 2 Centro de Metabolismo em Exercício e Nutrição (CeMENutri) – Departamento de Saúde Pública – Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP) 3 Pós-graduação pelo Departamento de Patologia – Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP) Endereço para correspondência: Roberto Carlos Burini UNESP Faculdade de Medicina - Departamento de Saúde Pública, CeMENutri Distrito de Rubião Jr, s/nº CEP 18618-970 Botucatu (SP) E-mail: [email protected] MENDES-NETTO, R. S.; MAESTÁ, N.; DE OLIVEIRA, E. P.; BURINI, R. C. Effect of the dietary glycid/lipid calorie ratio on the nitrogen balance and body composition of bodybuilders. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr. = J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 137-150, abr. 2011. The aim of this study was to determine the effect of the carbohydrate/fat ratio on body composition, body weight, muscle mass and nitrogen retention in young bodybuilders. This was a prospective, randomized cross-over study with eleven voluntary males undergoing bodybuilding training. The volunteers were randomly divided in two groups; one receiving a dietary carbohydrate/ fat ratio of 4.0 (D1) and the other one receiving a dietary carbohydrate/fat ratio of 8.0 (D2); both groups receiving a high-protein diet (1.5g protein/ kg/d). Muscle mass, fat mass, nitrogen retention and biochemical analyses were assessed. Both diets promoted weight and fat mass gain and positive nitrogen retention. However, D2 showed a higher muscle mass gain. Thus, the higher carbohydrate/fat ratio resulted in a greater muscle mass gain. Keywords: Resistance Exercise. Energy Intake. Protein Intake. Nitrogen Balance. ABSTRACT

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Artigo original/Original Article

Efeito da relação de calorias glicídicas/lipídicas da dieta sobre o balanço nitrogenado e composição corpórea de praticantes de musculação em treinamentoEffect of the dietary glycid/lipid calorie ratio on the nitrogen balance and body composition of bodybuilders

RAQUEL SIMÕES MENDES-NETTO1; NAILZA

MAESTÁ2; ERICK PRADO DE OLIVEIRA2,3; ROBERTO

CARLOS BURINI21Universidade Federal de

Sergipe, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde,

Núcleo de Nutrição2Centro de Metabolismo

em Exercício e Nutrição (CeMENutri) –

Departamento de Saúde Pública – Faculdade de

Medicina de Botucatu (UNESP)3Pós-graduação pelo

Departamento de Patologia – Faculdade de Medicina de

Botucatu (UNESP)Endereço para

correspondência: Roberto Carlos BuriniUNESP Faculdade de

Medicina - Departamento de Saúde Pública, CeMENutriDistrito de Rubião Jr, s/nº

CEP 18618-970Botucatu (SP)

E-mail: [email protected]

MENDES-NETTO, R. S.; MAESTÁ, N.; DE OLIVEIRA, E. P.; BURINI,

R. C. Effect of the dietary glycid/lipid calorie ratio on the nitrogen balance and body composition of bodybuilders. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr. = J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1,p. 137-150, abr. 2011.

The aim of this study was to determine the effect of the carbohydrate/fat ratio on body composition, body weight, muscle mass and nitrogen retention in young bodybuilders. This was a prospective, randomized cross-over study with eleven voluntary males undergoing bodybuilding training. The volunteers were randomly divided in two groups; one receiving a dietary carbohydrate/fat ratio of 4.0 (D1) and the other one receiving a dietary carbohydrate/fat ratio of 8.0 (D2); both groups receiving a high-protein diet (1.5g protein/kg/d). Muscle mass, fat mass, nitrogen retention and biochemical analyses were assessed. Both diets promoted weight and fat mass gain and positive nitrogen retention. However, D2 showed a higher muscle mass gain. Thus, the higher carbohydrate/fat ratio resulted in a greater muscle mass gain.

Keywords: Resistance Exercise. Energy Intake. Protein Intake. Nitrogen Balance.

ABSTRACT

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RESUMORESUMEN

El objetivo del estudio fue comparar los efectos de dos dietas isoproteicas e isocalóricas, con diversas proporciones de carbohidratos y lípidos, sobre la composición corporal y retención de nitrógeno en jóvenes practicantes de entrenamiento de fuerza. El estudio fue prospectivo, randomizado cruzado, con 11 culturistas jóvenes del sexo masculino. Fueron formados dos grupos diferenciados por recibir relación calorías glúcidos/lípidos de valor 4,0 (D1) o 8,0 (D2), ambos con dieta hiperproteica (1,5g/kg/d). Se evaluaron masa muscular, masa gorda, retención de nitrógeno y análisis bioquímico. Ambas dietas promovieron aumento de peso y de masa adiposa y el balance nitrogenado positivo, sin embargo, la dieta D2 provocó mayor aumento de masa muscular. Se concluye que la mayor relación calórica glúcidos/lípidos promovió un mayor aumento de masa muscular.

Palabras clave: Entrenamiento de fuerza. Ingestión de energia. Ingestión proteica. Balance nitrogenado.

O objetivo do estudo foi comparar os efeitos de duas dietas isoproteica-isocalóricas diversificadas na proporção carboidratos e lipídios sobre a composição corporal e retenção nitrogenada de jovens praticantes de treinamento de força. O estudo foi prospectivo, randomizado cruzado, com 11 culturistas jovens do sexo masculino. Foram formados dois grupos diferenciados por receberem relação calorias glicídicas/lipídicas de valor 4,0 (D1) ou 8,0 (D2), ambos com dieta hiperproteica (1,5g/kg/d). Massa muscular, massa gorda, retenção nitrogenada e análise bioquímica foram avaliadas. Ambas as dietas promoveram ganho de peso e massa adiposa e positivação do balanço nitrogenado, no entanto, a dieta D2 resultou em maior ganho de massa muscular. Conclui-se que a maior relação calórica glicídica/lipídica promoveu maior ganho de massa muscular.

Palavras-chave: Treinamento de força. Ingestão de energia. Ingestão proteica. Balanço nitrogenado.

MENDES-NETTO, R. S.; MAESTÁ, N.; DE OLIVEIRA, E. P.; BURINI, R. C. Efeito da relação de calorias glicídicas/lipídicas da dieta sobre o balanço nitrogenado e composição corpórea de praticantes de musculação em treinamento. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 137-150, abr. 2011.

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INTRODUÇÃO

As necessidades proteicas e energéticas de praticantes de treinamento de força,

principalmente para hipertrofi a muscular, são maiores do que as de sedentários (MAESTÁ

et al., 2008; RODRIGUEZ; DI MARCO; LANGLEY, 2009). Isto porque a proteólise decorrente

do esforço, seguida do aumento da síntese de proteína, é determinante para força e

desencadeamento da hipertrofi a muscular (WOLFE, 2000).

O predomínio da síntese em relação ao catabolismo proteico muscular representa

a base metabólica da hipertrofi a. O ganho muscular ocorre pela positivação do balanço

proteico durante a recuperação. O aumento da síntese proteica ocorre em resposta ao

catabolismo aumentado durante o esforço exaustivo (WAGENMAKERS, 1999).

Vários fatores, como a ingestão proteico-energética, níveis de leucina e o exercício

físico podem alterar o turnover proteico (BIOLO et al., 2003). A combinação de carboidrato

e proteína, antes e após a sessão do exercício, promove a liberação de hormônios,

anabólicos como hormônio do crescimento (GH), insulin like growth factor 1 (IGF-1),

insulina e testosterona. Estes mediadores interagem com os receptores celulares do músculo

esquelético, aumentando a transcrição gênica, além de facilitar a entrada de nutrientes

(glicose e aminoácidos), promovendo a redução do catabolismo e o aumento da síntese

proteica (GLYNN et al., 2010; VOLEK, 2004).

A oferta de calorias provenientes de carboidrato (calorias não proteicas) infl uencia

a positivação do balanço nitrogenado, em decorrência do aumento da glicose e insulina

plasmáticas, diminuição do catabolismo proteico miofi brilar e excreção da ureia urinária,

com aumento da síntese proteica muscular (BISSCHOP et al., 2003; HULMI et al., 2005;

ROY et al., 1997; TIPTON et al., 2001). Maestá et al. (2008) sugerem a ingestão de 1,5g

de proteína/kg de peso/dia com ajuste do consumo energético para 30kcal/g de proteína

para síntese proteica ideal em atletas culturistas. Adicionalmente, o efeito hipertrófi co do

exercício (intensidade de 75 a 85% 1RM) apresenta associação com a ingestão energética,

particularmente de carboidratos (BORSHEIM et al., 2004). Os carboidratos são maiores

poupadores de proteínas do que as gorduras (ROY et al., 1997; ZAWADZKI et al., 1992),

mas desconhece-se a melhor proporção da relação glicídica/lipídica sobre o ganho de

massa muscular.

Portanto, o objetivo deste estudo foi avaliar o efeito da relação das calorias glicídicas/

lipídicas sobre a composição corporal, avaliando ganho de peso corporal, massa muscular

e retenção nitrogenada de praticantes de treinamento de força.

CASUÍSTICA E MÉTODOS

O estudo foi prospectivo, randomizado cruzado, com 11 jovens saudáveis em

treinamento com pesos, sexo masculino, com mais de dois anos de experiência em

treinamento de força, idade entre 18 e 35 anos.

MENDES-NETTO, R. S.; MAESTÁ, N.; DE OLIVEIRA, E. P.; BURINI, R. C. Efeito da relação de calorias glicídicas/lipídicas da dieta sobre o balanço nitrogenado e composição corpórea de praticantes de musculação em treinamento. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 137-150, abr. 2011.

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Estes indivíduos foram recrutados em academias da cidade de Botucatu (SP).

Foram selecionados adultos jovens, saudáveis e excluídos os indivíduos que ingeriam

suplementos (com exceção de maltodextrina), usuários de esteroides anabolizantes,

vegetarianos, fumantes e elitistas. Todos foram informados sobre a proposta do estudo,

os procedimentos a que seriam submetidos e assinaram a declaração de consentimento

esclarecido, após aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa em 03 de abril de 2000

(Of. nº 269/98).

O estudo teve duração de seis semanas em que as duas primeiras foram de adaptação

à dieta e ao treinamento e as 4 últimas com intervenção dietética associada ao treinamento

para hipertrofi a.

PROTOCOLO DIETÉTICO

Inicialmente, foi realizada investigação dos hábitos alimentares, por meio do registro

alimentar de três dias, sendo dois no meio da semana e um no fi nal de semana para análise

das quantidades relativas de macronutrientes e total de calorias ingeridas (CINTRA et al.,

1997), duas semanas antes do início da intervenção nutricional. As análises nutricionais foram

realizadas por meio do software de nutrição NutWin, versão 1,5 (ANÇÃO et al., 2002). Foram

prescritas dietas individuais para o período de pré-experimento (D0 2 semanas de duração),

compostas por 1,5g de proteína/kg/dia, 60-70% de carboidratos e 20-30% de lipídios.

Encerradas estas duas semanas, foram realizadas as avaliações (M0) e oferecidas aos

atletas, duas dietas (D1 e D2) em sequência alternada (2 semanas cada dieta), por período

de quatro semanas, ambas com conteúdo proteico fi xo de 1,5g/kg/dia e isoenergéticas. O

diferencial das dietas foi a razão energética carboidratos/lipídios. Na primeira dieta (D1),

a relação calorias de carboidratos/calorias de lipídios foi de 4,0, enquanto que na D2 essa

relação foi de 8,0.

Os atletas foram distribuídos, aleatoriamente, em dois grupos, um recebendo a dieta

D1 (n=5) e o outro a dieta D2 (n=6), com duração de 2 semanas. Após este período, houve

a troca do tratamento dietético entre os grupos, ou seja, aquele que estava com a dieta D1

recebeu a D2 e quem estava coma D2 recebeu D1, por mais 2 semanas (Figura 1).

Não houve dieta controle (normocalórica, lipídica e normoglicídica), pois os

indivíduos consumiam dieta adaptada para hipertrofi a muscular para ambos grupos e por

se tratar de estudo cruzado.

As dietas continham, aproximadamente, 34kcal não proteicas/g proteína/dia. A

contribuição dos carboidratos foi estimada em 70-80% do consumo calórico total, ingeridos

na forma de amido (45%), maltodextrina (40%) e carboidratos simples (15%). As calorias

lipídicas correspondiam aproximadamente a 18% do total da dieta D1, e cerca de 9% das

calorias lipídicas da dieta D2. A dieta foi fracionada em sete vezes ao dia (desjejum, almoço,

jantar, três lanches e ceia), com ingestão de água ad libitum. A duração total do estudo de

intervenção dietética foi de 28 dias (M0/M2).

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Figura 1 – Delineamento do estudo e ingestão da dieta D1 e D2.

PROTOCOLO DE EXERCÍCIO FÍSICO

O protocolo de treinamento utilizado constou de duas fases, com a primeira fase

(2 semanas) correspondendo ao pré-experimento (sem tratamento dietético), tendo como

fi nalidade a equiparação do protocolo de treinamento físico, pois como já eram praticantes

há mais de dois anos, essas duas semanas foram sufi cientes para nivelamento do treino.

A segunda fase visou a hipertrofi a muscular, envolvendo programação de quatro dias não

consecutivos, intercalados por um de descanso.

Cada programação constou de três exercícios para cada grupamento muscular, com

quatro séries para cada exercício, com exceção dos grupamentos dos braços, ombros e

pernas, com dois exercícios cada. O número de repetições utilizadas em cada série foi

12/10/8/6, utilizando o método de cargas variáveis conhecido como pirâmide. Para a

panturrilha, foram realizadas 15-20 repetições e abdome 20-30 (KRAEMER; FRY, 1995).

As cargas utilizadas foram compatíveis com o número de repetições máximas

estipuladas para cada exercício, correspondendo em 75-85% de uma repetição máxima

(1 RM). Antes de iniciar o teste de RM, os jovens fi zeram aquecimento com carga subjetiva

e 15 repetições para cada exercício. Após a pausa de um minuto foi iniciado o teste de

1RM com adição de carga subjetiva e individual, com maior número possível de repetições.

Foram realizadas de três a cinco tentativas para obtenção da carga máxima com pausa de

três a cinco minutos entre as elas (KRAEMER; FRY, 1995).

Foram realizadas quatro sessões de treinamento (A e B). A primeira sessão (A) de

treinamento foi composta por exercícios para os grupamentos musculares do peitoral, costas,

panturrilha e abdome, repetida no primeiro e quarto dia da semana. A segunda sessão

D1 (n=5)

1,5g/kg/dia de proteína e isoenergéticas

2 semanas

D2 (n=6)

2 semanas

D1 (n=6)

2 semanas

D2 (n=5)

2 semanas

(D1) relação carboidratos/lipídios = 4,0(D2) relação carboidratos/lipídios = 8,0

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(B) envolveu exercícios para os grupamentos musculares do braço (anterior e posterior),

ombros e coxas, repetida no segundo e quinto dia (KRAEMER; FRY, 1995).

O intervalo de recuperação entre as séries, durante cada exercício, foi de sessenta

a noventa segundos, e entre os exercícios de um mesmo grupamento muscular, de dois a

três minutos. O intervalo de recuperação entre os exercícios para grupamentos musculares

diferentes nunca foi inferior a cinco minutos.

AVALIAÇÃO DA COMPOSIÇÃO CORPORAL

A avaliação da composição corporal foi realizada antes do início do estudo dietético

(M0), ao fi nal dos primeiros 14 dias (M1) e no fi nal dos 28 dias (M2).

Para a avaliação do peso corporal e altura, foi utilizada balança antropométrica

provida de estadiômetro (Filizola®, Brasil), com precisão de 0,1kg para peso e 0,1cm para

altura, com o indivíduo descalço e mínimo de roupa (HEYWARD; STOLARCZYK, 2000).

As circunferências do braço (CB), antebraço (CAT), abdominal (CA), quadril

(CQ), coxa (CC) e panturrilha (CP), e as dobras cutâneas triciptal (DCT), biciptal (DCB),

subescapular (DCSE), suprailíaca (DCSI), abdominal (DCA), coxa (DCC) e panturrilha

(DCP) foram utilizadas o cálculo da massa gorda e massa muscular do corpo. As medidas

foram realizadas por um único avaliador com adipômetro científi co da marca Lange

(Cambridge Scientifi c Instruments, Cambridge, MD) (HEYWARD; STOLARCZYK, 2000).

Para o cálculo da densidade corporal, utilizou-se equação (JACKSON; POLLOCK, 1978)

e com a densidade foi calculado o percentual de gordura corporal (%G) (SIRI, 1961).

Para o cálculo da massa muscular (kg), utilizou-se a equação proposta por Martin et

al. (1990), que leva em consideração a estatura (cm), circunferências (cm) do antebraço,

coxa e panturrilha e as dobras cutâneas da coxa e da panturrilha (MARTIN et al., 1990).

AVALIAÇÃO BIOQUÍMICA

As amostras de sangue venoso foram colhidas após repouso e jejum de 8-12h, com

quantidade de 10mL de sangue, em tubo seco com gel separador.

Foram determinadas no plasma as proteínas totais, albumina, creatinina e ácidos

graxos livres, por método colorimétrico; glicose, ureia, ácido úrico, triacilglicerol, colesterol

total, HDL-colesterol por método enzimático. A insulina e a testosterona total e livre foram

analisadas por radioimunoensaio (DWENGER, 1984).

AVALIAÇÃO DO BALANÇO NITROGENADO

O período de coleta de urina foi de 24 horas. Foram dosadas ureia urinária (método

urease), amônia (extração em Conway) e nitrogênio total pelo método micro-Kjeldahl para

o cálculo do balanço nitrogenado (BN) (DICH; DICH; BURINI, 1997).

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As amostras de urina foram coletadas em frasco contendo solução de HCl 1N (para

manter o pH < 2) e conservadas em refrigerador. O período de coleta foi de 24 horas. Foi

dosada ureia (método Urease) para o cálculo do balanço nitrogenado (BN): nitrogênio

ingerido (NI) – (0,46 x ureia urinária (g/24h) +4), com NI expresso em g de N.d-1 (DICH;

DICH; BURINI, 1997).

ANÁLISE ESTATÍSTICA

Os resultados estão apresentados como média ± desvio padrão.

Para cada indivíduo foi calculada a variação relativa das variáveis, defi nida por:

D1 = X15 dias – X0dias

X0dias

D2 = X30dias – X15dias

X15dias

Foi aplicado o teste de Kolmolgorov-Smirnov para verifi car a homogeneidade da

amostra. Para comparação entre dieta habitual, efeito dos tratamentos (dietas D1 e D2) foi

feita análise de variância (ANOVA – one way), seguida de teste post hoc HSD de Tukey.

Para comparação entre os dois tratamentos dietéticos (D1 e D2) foi aplicado teste

t de Student pareado.

O nível de signifi cância adotado foi de p<0,05 (5%). O tratamento estatístico foi

realizado com software STATISTICA 5.0.

RESULTADOS

Os indivíduos eram jovens, com percentual de gordura e massa muscular (kg)

adequados para a idade (Tabela 1).

Tabela 1 – Características basais da idade e da composição corporal dos praticantes de treinamento com pesos

Variáveis n = 11

Idade (anos) 24,5+4,9

Estatura (m) 1,79+0,07

Peso (kg) 76,8+7,5

Gordura (%) 16,1+2,5

Massa Muscular (kg) 47,2+6,1

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Apesar das diferentes proporções glicídicas/lipídicas de 4,0±0,04 (D1) e 8,0±0,01

(D2), a ingestão energética, por unidade de peso corpóreo, foi semelhante entre os grupos

nas duas dietas. Assim, como esperado, a diferença entre as dietas D1 e D2 ocorreu na

proporção carboidratos/gorduras, resultando em diferença (p<0,05) de participação no

valor calórico total da dieta (VCT) de 8%. A oferta proteica diária, por unidade de peso, foi

semelhante nos dois grupos dietéticos, assim como a ingestão calórica (não-proteica) por

grama de proteína (Tabela 2).

Tabela 2 – Consumo proteico-energético habitual, dietas D1 e D2 dos praticantes de treinamento com pesos (n=11)

Dietas

Habitual D1 D2

Calorias totais 3.372±715,1 4.463±319,0 4.393±357,0

kcal/kg 44,0±10,2 59,0±4,2 58,0±4,7

kcalNP/g ptn 24,0±9,2 34,0±1,1 34,0±0,55

kcal CHO/kcal GORD 3,3±2,3 4,0±0,04 8,0±0,01*

Proteínas totais (g) 124,0±48,5 118,0±11,0 117,0±11,0

Proteínas/kg (g/kg) 1,7±0,75 1,5±0,15 1,5±0,14

% Proteína 14,9±5,7 10,5±0,3 10,6±0,14

Carboidratos totais (g) 518,0±174,0 803,0±53,0 883,0±70,0

CHO/kg (g/kg) 6,7±2,0 10,5±0,7 11,6±0,9

% CHO 61,0±12,0 72,0±0,5 80,0±0,21

Gorduras totais (g) 88,0±39,8 89,0±6,5 49,0±4,0

Gorduras/kg (g/kg) 1,2±0,6 1,2±0,1 0,6±0,05

% Gorduras 24,0±9,2 18,0±0,1 10,0±0,02

* p<0,05 (diferença entre D1 e D2); D1 (CHO/GORD: 4,0); D2 (CHO/GORD: 8,0); kcalNP/g ptn: calorias não proteicas por grama de proteína.

As variações de peso e gordura corporal, decorrentes do consumo das dietas D1

e D2 foram semelhantes. O tratamento dietético mostrou-se efetivo (p<0,05) no ganho

de massa muscular apenas na dieta D2 (Delta MM (kg) = -0,1±1,7 e 1,5±1,5, D1 e D2,

respectivamente) (Tabela 3).

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Ambas as dietas promoveram redução na excreção do nitrogênio urinário e

apresentaram balanço nitrogenado positivo, mas sem diferença estatística entre as dietas

(Tabela 4).

A dieta de maior proporção lipídica (D1) promoveu aumento dos ácidos graxos

livres (AGL). Fato inverso foi verifi cado para a colesterolemia total (Delta = -3,91±16,9

e 12,2±10,8mg/dL, D1 e D2, respectivamente) e fração LDL (p<0,05) (Delta = -6,0±11,6

e 12,1±6,8mg/dL, D1 e D2, respectivamente), onde o estímulo hipercolesterolêmico foi

da dieta D2. A oferta de proporções glicídicas/lipídicas diferentes em dietas isoproteicas

não resultou em alterações signifi cativas dos outros parâmetros bioquímicos em ambas as

dietas (Tabela 5).

Tabela 3 – Variação absoluta (kg) e relativa (%) da composição corporal dos praticantes de treinamento com pesos submetidos à dietas isoenergéticas, com variação na razão calorias glicídicas/lipídicas

Variação absoluta Variação Relativa

D1 (kg) D2 (kg) D1 (%) D2 (%) p

Peso 1,3±1,1 1,6±0,9 1,7 2,1 0,65

MM -0,1±1,7 1,5±1,5* 0,01 3,0 0,05

Gordura 0,9±1,1 0,3±0,8 6,4 2,6 0,29

* p<0,05 (diferença entre D1 e D2); MM: massa muscular; D1 (CHO/GORD: 4,0); D2 (CHO/GORD: 8,0); p<0,05 (diferença signifi cativa).

Tabela 4 – Variação absoluta (g/d) e relativa (%) do nitrogênio ingerido (NI), nitrogênio ureico (NU) e balanço nitrogenado (BN) dos praticantes de treinamento com pesos submetidos à dietas isoenergéticas, com variação na razão calorias glicídicas/lipídicas

Variação absoluta Variação Relativa

D1 (g/d) D2 (g/d) D1 (%) D2 (%) p

NI 2,9±6,4 3,1±5,3 41,3 28,5 0,16

NU -1,1±5,9 -3,4±6,0 -4,3 -13,6 0,47

BN 4,0±10,3 8,44±8,4 34,0 191,0 0,33

P<0,05: diferença signifi cativa; D1 (CHO/GORD: 4,0); D2 (CHO/GORD: 8,0).

MENDES-NETTO, R. S.; MAESTÁ, N.; DE OLIVEIRA, E. P.; BURINI, R. C. Efeito da relação de calorias glicídicas/lipídicas da dieta sobre o balanço nitrogenado e composição corpórea de praticantes de musculação em treinamento. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 137-150, abr. 2011.

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Tabela 5 – Variação absoluta e relativa (%) dos parâmetros bioquímicos e hormonais dos praticantes de treinamento com pesos submetidos à dietas isoenergéticas, com variação na razão calorias glicídicas/lipídicas

Variação absoluta Variação Relativa

D1 D2 D1 (%) D2 (%) p

Prot (g/dL) -0,1±0,3 0,1±0,2 -1,1 1,0 0,19

Alb(g/dL) 0,05±0,2 0,1±0,13 1,0 1,6 0,54

Creat (mg/dL) 0,03±0,05 0,03±0,05 3,3 3,5 0,96

U (mg/dL) -1,0±9,9 -0,7±9,7 3,2 0,6 0,10

Ac.U (mg/dL) 0,5±0,6 0,3±0,6 10,9 6,7 0,09

Gli (mg/dL) 1,4±4,15 3,45±6,2 1,6 3,9 0,11

TGL (mg/dL) 26,4±40,3 11,7±52,6 37,9 19,5 0,35

CT(mg/dL) -3,91±16,9 12,2±10,8 -1,1 7,4 0,05

HDL(mg/dL) -3,2±8,4 -2,4±9,3 -4,6 -3,3 0,52

LDL(mg/dL) -6,0±11,6 12,1±6,8 -4,2 14,0 0,004

AGL(mm/L) 0,11±0,33 -0,42±0,35 32,9 -39,0 0,01

Insulina (µUI/mL) 0,13±4,34 1,8±5,0 25,6 53 0,56

GH (ng/mL) 0,25±0,9 -0,1±0,2 535,0 4,2 0,40

TT (ng/mL) 6,75±148 25,0±145 13,9 2,7 0,60

TL (pg/mL) -0,85±4,8 1,8±7,6 1,0 16,8 0,26

Prot: proteínas totais; alb: albumina; creat: creatinina; U: ureia; ac. U: ácido úrico; gli: glicose; TGL: triglicerídios; CT: colesterol total; AGL: ácidos graxos livres. p<0,05: diferença signifi cativa; D1 (CHO/GORD: 4,0); D2 (CHO/GORD: 8,0).

DISCUSSÃO

O principal achado do estudo foi que a maior relação CHO/GORD resultou em maior

ganho de massa muscular e positivação do balanço nitrogenado em atletas culturistas.

Alguns estudos mostram que nos exercícios com levantamento de pesos, a alta

ingestão de carboidrato melhora o balanço proteico, possivelmente por redução do

catabolismo proteico (BORSHEIM et al., 2004). No presente estudo, a D2 que apresentava

relação CHO/GORD:8,0 mostrou maior ganho de MM quando comparada a D1 (relação

CHO/GORD:4,0).

A associação de aminoácidos essenciais com carboidrato estimula o balanço

proteico (aumento da síntese e redução do catabolismo proteico) (DORRENS;

RENNIE, 2003; TIPTON et al., 2001). Sabe-se que a oferta concomitante de substratos

energéticos é necessária para melhorar a síntese proteica muscular (TARNOPOLSKY;

MACDOUGALL; ATKINSON, 1988; VOLPI et al., 2000). Assim, a introdução proteica

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associada à ingestão de carboidrato potencializa a resposta anabólica do treinamento

físico (MENDES-NETTO; BURINI, 2000).

A dieta com maior razão CHO/GORD (8,0) reduziu a excreção nitrogenada e

promoveu aumento do BN em 191%, sem diferença signifi cativa da dieta D1.

O efeito signifi cante e mensurável da troca isoenergética de gordura por carboidratos

sobre o metabolismo proteico, foi mostrado neste estudo com praticantes de treinamento

com pesos em fase de treinamento (Tabela 5). As razões energéticas de CHO:GORD

(8,0 e 4,0) foram selecionadas por se enquadrarem dentro de variação que poderia ser

aplicada às dietas destes atletas e que permitiria ampla variedade de alimentos com melhor

palatabilidade. A maior oferta de calorias glicídicas por lipídicas (8,0) dobrou a retenção

nitrogenada (pela menor excreção de nitrogênio ureico).

Como o desempenho físico é dependente de diversas funções musculares, o balanço

nitrogenado pode ser utilizado para avaliar o metabolismo proteico (TARNOPOLSKY;

MACDOUGALL; ATKINSON, 1988). Sabe-se que a excreção de nitrogênio aumenta com

exercício e quando a ingestão proteica e energética (principalmente de carboidrato) é

reduzida, o balanço torna-se negativo, indesejável para estes atletas (MENDES-NETTO;

BURINI, 2000).

O consumo proteico associado ao de carboidratos resulta em aumento da síntese

proteica muscular nos períodos de uma hora e duas horas após o treino (MILLER et al.,

2003), período que coincide com o pico da síntese e catabolismo proteico muscular nas

condições de repouso (pós-treino) (PITKANEN et al., 2003; WOLFE, 2002).

As necessidades proteicas-energéticas de praticantes de musculação são maiores que

dos sedentários (MAESTÁ et al., 2008). No presente trabalho, o consumo proteico de ambas

dietas foi em média 1,5g por kg de peso por dia, com calorias glicídicas entre 72% (D1) e

80% (D2) e lipídicas entre 18% (D1) e 10% (D2), com diferença signifi cativa somente entre

a razão de calorias glicídicas por calorias lipídicas (D1 4,0±0,04 e D2 8,0±0,01).

A massa muscular dos atletas do presente estudo correspondia a aproximadamente

62% do peso corporal, valor semelhante ao encontrado em atletas culturistas observado

em outro estudo, que compara culturistas com outras modalidades esportivas e não atletas

(SPENST; MARTIN; DRINKWATER, 1993).

Apesar de ser utilizado método duplamente indireto para avaliação da massa muscular

e adiposa do corpo, os dados antropométricos são confi áveis desde que as equações sejam

adequadas ao grupo estudado. No entanto, no presente estudo a equação para densidade

corporal (JACKSON; POLLOCK, 1978) é específi ca para pessoas fi sicamente ativas (REZENDE

et al., 2006). Além disso, a equação utilizada para quantifi cação da massa muscular utilizada

no estudo é específi ca para o sexo masculino (MARTIN et al., 1990).

A insulinemia não apresentou maior resposta à oferta de calorias glicídicas (D2),

entretanto, a suplementação exclusivamente glicídica ou associada com proteínas estimula

a resposta favorável ao crescimento muscular em função do aumento das concentrações

MENDES-NETTO, R. S.; MAESTÁ, N.; DE OLIVEIRA, E. P.; BURINI, R. C. Efeito da relação de calorias glicídicas/lipídicas da dieta sobre o balanço nitrogenado e composição corpórea de praticantes de musculação em treinamento. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 137-150, abr. 2011.

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de insulina e GH durante o período de recuperação após exercício de força (CHANDLER

et al., 1994).

Dietas hiperglicídicas podem induzir dislipidemias, favorecer a formação de partículas

de LDL pequenas e densas e reduzir as concentrações de HDL plasmático, principalmente

pelo aumento da síntese de triglicerídios, e consequente produção e liberação aumentadas

de LDL e VLDL (PARK; LEE; PARK, 2010).

Como a dieta D2 é mais hiperglicídica (80%) e menos lipídica (9% das calorias da

dieta), isso pode explicar o maior aumento da LDL e a redução dos ácidos graxos livres,

no grupo dos praticantes de treinamento com pesos que recebeu essa dieta.

CONCLUSÃO

A oferta de dietas isoenergéticas e isoproteicas, com maiores proporções de calorias

glicídicas/lipídicas (D2), promoveu maior ganho de massa muscular, sem alteração da

adiposidade corporal e ambas positivaram o balanço nitrogenado.

Sendo assim, as dietas hiperglicídicas para praticantes de treinamento com pesos,

com objetivo de hipertrofi a muscular, apresentam maior efeito anabólico que dietas

hiperlipídicas.

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Recebido para publicação em 29/07/10.Aprovado em 14/12/10.

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