educomunicaÇÃo e empoderamento feminino atravÉs da danÇa …

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE- UFRN CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES - CCHLA COMUNICAÇÃO SOCIAL - PUBLICIDADE E PROPAGANDA ILANA KELLY FREIRE DE LIMA EDUCOMUNICAÇÃO E EMPODERAMENTO FEMININO ATRAVÉS DA DANÇA: RELATO DA EXPERIÊNCIA COM O PROJETO SOCIAL LINDALVA, CARNAÚBA DO PADRE, RN Natal/RN 2019

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE- UFRN

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES - CCHLA

COMUNICAÇÃO SOCIAL - PUBLICIDADE E PROPAGANDA

ILANA KELLY FREIRE DE LIMA

EDUCOMUNICAÇÃO E EMPODERAMENTO FEMININO ATRAVÉS DA DANÇA:

RELATO DA EXPERIÊNCIA COM O PROJETO SOCIAL LINDALVA, CARNAÚBA DO

PADRE, RN

Natal/RN

2019

2

ILANA KELLY FREIRE DE LIMA

EDUCOMUNICAÇÃO E EMPODERAMENTO FEMININO ATRAVÉS DA DANÇA:

RELATO DA EXPERIÊNCIA COM O PROJETO SOCIAL LINDALVA, CARNAÚBA DO

PADRE, RN

Projeto de Trabalho de Conclusão de

Curso apresentado para cumprimento das

exigências das atividades da disciplina

Projeto Experimental (PUB001) do curso

de Comunicação Social - Publicidade e

Propaganda.

Orientadora: Profª Dra. Janaine Aires

Natal/RN

2019

3

Dedico este trabalho a minha vó Lindalva Freire, as

minhas alunas do projeto Lindalva e a minha mãe

Maria Goreth Freire, que de muitas formas são minha

inspiração e força.

4

Todas as vezes na história em que as mulheres se uniram, o mundo mudou.

Márcia Tiburi

5

RESUMO

Este estudo relata e reflete acerca da experiência com o projeto Lindalva, definição da área de

intervenção da Educomunicação através da prática da dança que se relaciona com questões

comumente abordadas pela área de comunicação, empoderamento e sororidade feminina. O

projeto situa-se na interface da educomunicação e apoia-se na perspectiva da pesquisa

participante. A metodologia do projeto consiste na realização de oficinas que dão ênfase ao

empoderamento, sororidade e autoconhecimento e às diferentes formas de se comunicar e se

expressar através dessas vertentes, observando as singularidades e, deste modo, desenvolver a

capacidade crítica e comunicativa das alunas, além da aprendizagem por meio da realização de

atividades lúdicas. Adicionalmente a metodologia do projeto propõe a produção e divulgação

do trabalho desenvolvido por ele, sinalizando ser possível compartilhar valores colaborativos,

de amizade, de união, de respeito às diferenças e, mais do que ensinar, de aprender.

Palavras-chaves: Educomunicação; Empoderamento; Representatividade; Sororidade;

Dança; Autoestima; Expressão.

ABSTRACT

6

This study reports and reflects on the experience with the Lindalva project, defining the

intervention area of Educommunication through the practice of dance which relates to issues

commonly addressed by the area of communication, empowerment and female sorority. The

project is located at the interface of educommunication and it is supported by the participant

research perspective. The methodology of the project consists of workshops that emphasize

empowerment, sorority and self-knowledge and different ways of communicating and

expressing themselves through these aspects, observing the singularities and, thus, developing

the critical and communicative capacity of students, as well as learning through performing

recreational activities. Additionally the methodology of the project proposes the production

and dissemination of the work developed by it, signaling that it is possible to share

collaborative values, friendship, unity, respect for differences and, more than teaching,

learning.

Keywords: Educommunication; Empowerment; Representativeness; Sorority; Dance; Self

esteem; Expression.

7

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1- Primeira apresentação do grupo, amostra cultural e educação na cidade de Pedro

Velho, 2014 ........................................................................................................................ 18

Figura 2- Peças de divulgação do evento de dança para Facebook, 2017 ............................. 20

Figura 3- Peça de divulgação do evento de dança para Facebook, 2018 ............................... 23

Figura 4- Evento de Dança produzido pelo grupo Lindalva em Carnaúba do Padre, 2018 .... 23

Figura 5- Foto para comemoração e memorização de quatro anos do projeto Lindalva, 2018

........................................................................................................................................... 24

Figura 6- Primeiro encontro, agosto de 2019. ...................................................................... 42

Figura 7- Segundo encontro, setembro, 2019. ...................................................................... 43

Figura 8- Dinâmica dos sonhos, setembro, 2019 .................................................................. 44

Figura 9- Dinâmica, Auto feedback, dinâmica vocês no futuro e escreva ............................. 45

Figura 10- Ultima Oficina, setembro,2019........................................................................... 46

Figura 11- Dinâmica preparatória de roda de conversa sobre machismo e assedio, setembro,

2019 .................................................................................................................................... 47

Figura 12- Dinâmica da autoestima e elogio, setembro, 2019 .............................................. 48

Figura 13- Quadro de comentários machistas a respeito do grupo ou de si próprio, setembro,

2019 .................................................................................................................................... 49

8

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 9

CAPÍTULO I - A DANÇA COMO EMPODERAMENTO FEMININO .................................... 11

1.1. Quem é Lindalva .............................................................................................................. 12

1.2. Dança, relato pessoal ....................................................................................................... 14

1.3. Publicidade, corpo e dança .............................................................................................. 15

1.4. A história do Projeto ............................................................................................................ 17

Capítulo II – EDUCOMUNICAÇÃO ........................................................................................... 26

2.2. A Expressão Comunicativa por meio da dança ...................................................................... 28

2.3. Educomunicação e dança...................................................................................................... 30

Capítulo III - A EXPERIÊNCIA DO PROJETO LINDALVA ................................................... 33

3.1. Movimento feminista ................................................................................................................. 33

3.2. Empoderamento, Sororidade e Autoestima ............................................................................ 36

3.2. METODOLOGIA E DISCUSSÃO ....................................................................................... 40

3.4. PROCESSO DE INTERVENÇÃO........................................................................................ 42

3.4.1. Reencontro do grupo Lindalva ....................................................................................... 42

3.4.2. Mulheres que inspiram, sororidade e empoderamento .................................................... 42

3.4.3. Autoestima e corpo ......................................................................................................... 45

3.4.4. Diário de oficina ............................................................................................................ 49

3.4.5. Análise do questionário .................................................................................................. 50

Apontamentos Finais ..................................................................................................................... 57

9

INTRODUÇÃO

Este trabalho visa relatar a experiência do Projeto Lindalva, desenvolvido no distrito de

Carnaúba do Padre, da cidade de Pedro Velho, interior do Rio Grande do Norte. O projeto

desenvolve oficinas de dança para adolescentes da Escola Padre Leôncio desde 2014 e é uma

experiência de Educomunicação que visa difundir o empoderamento feminino através da

dança. Tal área da comunicação social tem como princípio estimular o diálogo na sociedade

de forma que as pessoas expressem suas opiniões e que possam assumir posições mais ativas

e humanas.

Nosso objetivo busca compreender os discursos presentes no corpo que dança e, mais

especificamente, identificar de que forma essa construção de pensamentos através da

educomunicação puderam construir mensagens de empoderamento feminino entre as

participantes do projeto nas oficinas desenvolvidas entre agosto e setembro de 2019.

A Educomunicação pode auxiliar na expressão comunicativa estimulando suas

manifestações através de mídias como a internet, a televisão e outros meios de comunicação

tradicionais, a partir da adoção uma metodologia pedagógica unindo a educação e a

comunicação, elegendo maneiras de utilizar e produzir mídias durante o aprendizado, por

exemplo. Nesse sentido, o professor pode criar uma aula mais dinâmica atraindo mais atenção

do aluno. No entanto, a educomunicação pode ser ainda mais potente, quando fortalece os

indivíduos e os coletivos para a vivência de sua cidadania no dia a dia criando discussões,

reflexões, informação e solucionando problemas da comunidade.

Por isso, ao relatar a experiência vivida na coordenação das atividades do Projeto

Lindalva, buscamos compreender as formas de comunicação exercidas pela linguagem

corporal, discutindo e percebendo de que maneira essas expressões reproduzem textos sócio-

político-culturais através da dança. Da mesma forma trazendo a perspectiva do corpo,

percebendo a magnitude do corpo na construção da identidade feminina.

A educomunicação se utiliza das experiências para saber como a tecnologia da

informação e da comunicação podem favorecer nos processos de ensino-aprendizagem. Em

um contexto socioeconômico e sociocultural com uma proposta de formar uma visão crítica.

Para o sujeito se tornar participante da realidade social que vive. Tendo em vista que a

educomunicação é o estudo que interliga a comunicação e a educação através de mídias e dos

meios, buscando a interdisciplinaridade, ocasionando o pensamento e a atividade perante aos

que praticam a arte é um meio de prosseguir tais ações.

10

Nosso trabalho relatará os resultados das oficinas dialogais, visando analisar os

impactos sociais desta experiência na localidade. Assim, em nosso percurso, preliminarmente

são apresentados os conceitos básicos como: a definição dos fundamentos de empoderamento,

sororidade, representatividade e autoestima no âmbito social do projeto, conforme

desenvolvemos no capítulo 1, denominado “A dança como empoderamento feminino”. Já no

Capítulo 2, intitulado “Educomunicação”, analisaremos a importância da educomunicação e

da dança para o processo de empoderamento feminino. E por fim, no capítulo 3 - “A

experiência do Projeto Lindalva”, aprofundaremos nossas discussões analisando os resultados

do projeto.

11

CAPÍTULO I - A DANÇA COMO EMPODERAMENTO FEMININO

A decisão de analisar o projeto social Lindalva surgiu pela necessidade de registrar em

formato de pesquisa acadêmica um pouco de como o projeto acontece, quem são as garotas

que participam e qual a sua relevância. De certa forma, atribuindo voz para as mulheres nas

pesquisas acadêmicas, com a proposta de refletir sobre essas vivências relacionadas à

educomunicação, ao empoderamento e à sororidade, em discussões também dentro das

instituições de ensino formal, como universidades e escolas.

Como estudante de comunicação social e participante deste projeto social, pretendia de

alguma forma firmar e deixar documentado um trabalho que já vem sendo realizado há alguns

anos pelo grupo Lindalva. Acredito que juntamente a este projeto é possível identificar algumas

indagações sobre o posicionamento de oposição ao comportamento e ideais relacionados ao

machismo e diante de uma sociedade patriarcal. Ademais, representa um ato histórico perante

a comunidade. A representatividade do grupo envolve a contribuição tanto pessoal quanto

social. Acima de tudo poder compartilhar a história do projeto que vem sendo realizado há

quase cinco anos é a concretude de um sonho.

Desde o início do projeto uma das coisas que mais me motivava era fazer a diferença

na vida das garotas do grupo e em como o grupo poderia fazer a diferença na história da

comunidade. O que poderíamos mudar através da nossa arte? Como poderíamos mudar a visão

da comunidade por meio de posicionamentos de união e representatividade feminina? Em 2014

percebi que era uma missão fazer as meninas acreditarem no potencial delas, fazê-las

acreditarem na união, apoiar umas às outras e se imporem.

Percebi como estudante de Comunicação Social - Publicidade e Propaganda e que como

comunicadora poderia não só exercer meu papel de estudante, mas de cidadã também. Eu já

desenvolvia um projeto social, porém ainda achava que estava fazendo pouco, e foi então que

decidi impulsionar mais essa vertente feminista para o grupo e para o público, nos reconhecer

e fazer entender como a identidade do grupo poderia revelar questões sociais como

representatividade e empoderamento. Neste primeiro capítulo, buscaremos apresentar a

trajetória do projeto Lindalva e apontar como teoricamente a dança pode se articular às

estratégias de empoderamento feminino. Este relato da experiência, muitas vezes, se confunde

com minhas vivências pessoais e o meu processo particular de empoderamento. Por isso, neste

primeiro momento, deixamos esta característica presente no texto. Nosso objetivo é situar a

quem o projeto homenageia o vínculo desenvolvido com a dança e como o curso de

Comunicação Social – Publicidade e Propaganda contribuíram para o caminhar deste projeto.

12

1.1. Quem é Lindalva

Muitas coisas tenho a falar dessa mulher revolucionária, seu nome: Antônia Lindalva

Freire, nordestina, esposa de Severino Francisco Freire, mãe, empoderada e minha avó.

Antônia Lindalva nasceu em 08 de março de 1929, teve onze filhos, foi agricultora, merendeira

e professora na escola estadual Joaquim Soares em Carnaúba do Padre. Passou toda a sua vida

na comunidade de Carnaúba do Padre formada por um pouco mais de 500 habitantes, distrito

da cidade de Pedro Velho, do estado do Rio Grande do Norte.

Lindalva foi abandonada pelo seu primeiro marido quando tinha apenas 25 anos e já era

mãe de quatro filhos, se viu em comunidade interiorana do norte do Rio Grande do Norte, na

época ainda menor do que é hoje. Enfrentava dificuldades de preconceito e do machismo que

oprimia uma mãe solteira. Mas isso não a desmotivou ou a enfraqueceu, Lindalva continuou a

batalhar pela sua independência e pelo seu trabalho. Naquela época não se precisava de muito,

começou como merendeira da escola estadual Joaquim Soares. Trabalhava em troca de comida

e logo após alguns anos fez um concurso do estado e passou para merendeira, no turno matinal.

Já no turno da noite dava aulas no EJA (Educação de Jovens e Adultos), foi onde se firmou na

instituição e trabalhou até a sua aposentadoria. Ah, já ia me esquecendo! Foi nesta instituição

em que conheceu o amor da sua vida e o seu futuro marido Severino Francisco Freire, o meu

avô, foi com ele que ela passou o resto dos seus dias e viveu um casamento que durou 55 anos.

Lindalva era conhecida como uma mulher forte, daquelas que mete a cara e diz sou eu

que mando na minha vida, na minha casa e na minha história, que batalhava pelo seu direito de

trabalho, era feliz com sua profissão e que lutava pelos seus filhos, a quem sempre defendeu

com unhas e dentes. Foi uma mulher muito brava, sorridente e que sempre gostou de arte.

Claro, que com a suas limitações, pois morava no interior, onde o acesso à cultura é bastante

limitado, mesmo assim gostava de ler poesias, adorava uma novela, compor músicas, cantar e

dançar.

Apoiadora das artes, Lindalva sempre gostou de ver os filhos e netos envolvidos com a

dança e a música, sempre foi um exemplo de mulher e de força para toda a família e

comunidade. Foi Lindalva a primeira a me incentivar a entrar no mundo da dança, foi a minha

avó que me deu a minha primeira roupa e que bordou junto comigo para uma apresentação

quando eu tinha 16 anos, foi ela que estava me assistindo na plateia e foi ela uma das pessoas

a me incentivar a dar continuidade com o projeto que hoje leva seu nome. Em meados de 2015

13

Lindalva se viu com pneumonia e devido a complicações da doença, com muito pesar nos

deixou. Minha avó Lindalva faleceu em setembro de 2015.

14

1.2. Dança, relato pessoal

A dança tem algo de refúgio. Quando tive o primeiro contato com esta arte me vi de

forma diferente, aprendi a me enxergar melhor a partir de algo que me identificava, podendo

expressar aquilo que sentia. A dança me proporcionou entender que é necessário se ter união e

senso de equipe para desempenhar um bom trabalho.

A dança agrega não só de forma cultural e histórica como auxilia na formação dos

indivíduos. Como citei acima a dança ajudou a me expressar melhor, a me sentir mais forte e

empoderada. Através da dança pude resgatar a minha identidade, transformando e me

redescobrindo como individuo através da linguagem corporal. A dança é uma ferramenta onde

é possível o desenvolvimento de pessoas como, por exemplo, a inclusão de um determinado

grupo e o seu envolvimento, pois sua vertente da formação pedagógica, foi através dela adquiri

autoconhecimento.

O impacto pessoal desta vivência na área, me permitiu pensar que era possível incorporar

temáticas sociais e agregar a um meio social vivido por meio de oficinas, danças temáticas e

outras ações que proporcionaram a mim e ao meu grupo desmistificar questionamentos internos

e externos, impostos a nós mulheres e que afetam diretamente nossos corpos, a nossa

autoestima e o nosso comportamento. Por meio disso pude não só aprender a me expressar,

mas também a dialogar através da dança e a entender o papel que ela tem para cada indivíduo

e para o meio social.

Concedida essa importância pude refletir quais aspectos da dança me modificaram como

indivíduo que pensa e que se expressa, tais como, meu corpo e como me vejo a partir da prática

corporal. Pensando nisso a dança poderia transformar não só a minha vida como a de outras

pessoas também, proporcionando o mesmo senso crítico perante a questionamentos sociais

diante ao machismo e ao sexismo sofrido pela mulher na sociedade.

A dança proporciona a quem pratica o ato de se empoderar e de se libertar, visto que isso

me motivou ainda mais a dar continuidade ao projeto Lindalva e a proporcionar tudo que sentia

aos demais, mas não só o simples ato de dançar, e sim dialogar com o corpo e a mente.

Quebrando um tabu de que mulher tem que se portar, se vestir e se sentir como a sociedade

impõe.

15

1.3. Publicidade, corpo e dança

A linguagem corporal faz parte da natureza do ser humano e através dela é possível

comunicar-se com o mundo e com o outro. Dessa maneira, entender como funciona seu

processo é um caminho para estudar a história, o desenvolvimento da sociedade e a construção

de suas mensagens. Precedendo a linguagem verbal, o indivíduo – ainda inconscientemente -

já demonstrava ações e reações, impactava e interagia expressando vontades - voluntárias ou

não - através de seu corpo em movimento (RECTOR; TRINTA 1985). A perspectiva de que

essas expressões consistem em uma forma de comunicação com múltiplas representações será

trabalhada neste capítulo, para que através de estudos de linguagem corporal seja possível

compreender como manifestações do corpo por meio das práticas da dança podem ser

ferramenta de comunicação (e impacto) social.

Conforme afirma Siqueira (2014), analisar o corpo e seus movimentos a partir do viés da

comunicação é um percurso próspero cujas possibilidades de reflexão são grandes: “[...] o

corpo é rica temática nas discussões, pois se presta melhor que qualquer outra forma de

comunicar e a colocar juntos, em contato, atores sociais próximos ou distantes” (SIQUEIRA,

2014, p. 10). A comunicação é um campo que está diretamente relacionado com a produção e

a troca de informações, as quais podem ser carregadas de múltiplos textos e significados.

Partindo da etimologia da palavra comunicar, do latim communicare que se traduziria como

tornar comum, Siqueira (2006) conceitua a linguagem não verbal como uma forma de

comunicação, uma vez que é através de movimentos e deslocamentos corporais que ela busca

“tornar comum” algo para um espectador.

Assim como demonstra Campelo (1997), a linguagem não-verbal é inerente ao ser

humano em toda sua existência, pode produzir um sentido e pretende construir uma mensagem

específica: “[...] quando os homens se comunicam, lançam mão de todo um repertório: usam o

corpo todo e todos os textos nele latentes ou manifestos participam de cada comunicação”

(CAMPELO, 1997, p. 77-78). Desse modo, a autora afirma que os textos carregados pelo corpo

são manifestações comunicativas, as quais se consolidam por meio de gestos que deixam de

ser movimentos mecânicos e se transformam em linguagem. Também mostra que o uso do

corpo tem diferentes finalidades, as quais englobam em maior ou em menor grau um viés

comunicativo. Nesta perspectiva, a autora trabalha a ideia de que todo mínimo movimento tem

algo a dizer e a expressar como mensagem, e que, além de ser parte do corpo, também são

textos que expressam a cultura na qual o indivíduo está inserido, conforme trecho abaixo:

16

Enxergar o corpo como texto, e todo texto é uma mídia que se complexifica, se altera e se transforma com a história, porque é fruto de um diálogo com os

outros textos, com os outros tempos, com o seu passado e sua memória, mas

também com o futuro e seus projetos, sonhos e utopias. Cálido porque vivo,

não apenas no sentido biológico, mas também no sentido semiótico, como texto. Evidentemente a palavra “texto” não se restringe apenas ao universo das

palavras e da escrita verbal, mas se amplia para todo e qualquer código da

comunicação humana. (CAMPELO, 1997, p. 10).

É de suma importância compreender que todas essas características semióticas estão

intrínsecas no corpo, e que a partir do movimento conduzido pelo dançar a reprodução de outras

tantas mensagens de caráter cultural direto ou subjetivo é possível. Seguindo essa linha de

pensamento na qual, em O Corpo Representado – mídia, arte e produção de sentidos, Siqueira

(2014) reafirma a pertinência do estudo do corpo como ferramenta midiática quando observa

que “[...] atual e relevante indagar sobre as inúmeras e (im)prováveis relações que o corpo tece

com a mídia e com a arte e que nos ensejam tentar classificações ousadas como corpo-mídia e

corpo-arte” (SIQUEIRA, 2014, p.10).

Desse modo, será possível não apenas compreender as mensagens desenvolvidas por

meio da dança, como também as contribuições que o estudo do movimento como linguagem

proporciona ao campo da publicidade e da comunicação. Estudar o corpo é entender melhor o

sujeito social; estudar seus movimentos pode ser uma forma de entender as mensagens

intensificadas por meio desse corpo. Além disso, assim verifica-se como toda linguagem pode

produzir textos de empoderamento feminino. A compreensão desses aspectos pode ser

relevante às pesquisas acadêmicas na área da comunicação, bem como para o mercado

publicitário, visto que ambos cenários necessitam cada vez mais entender a sociedade

contemporânea e, no caso do mercado, produzir discursos com sentido e propósito para seu

público.

A publicidade é um processo de comunicação que remonta ao início das relações

comerciais inerentes aos grupos humanos, tendo sido aperfeiçoada e desenvolvida no passado

recente a partir da consolidação do capitalismo durante e após a Revolução Industrial, bem

como na expansão da sociedade de consumo. A construção da linguagem publicitária busca

atingir o público consumidor através de uma mensagem objetivamente trabalhada no sentido

de divulgar/favorecer a venda de um determinado produto ou serviço. Este discurso

comunicativo é carregado de significados os quais podem sugerir, persuadir ou traduzir a

realidade das relações da sociedade e também ser formador de novos cenários e práticas sociais

(SANTAELLA, 2010).

17

Na perspectiva da publicidade, Piedras (2009) aborda que embora seja uma ferramenta

do mercado impulsionadora do sistema capitalista, é necessário entender que a publicidade é

um campo de estudo amplo e refletir sobre outros tópicos da sua função. Desse modo, é

fundamental “[...] pensar a publicidade como processo comunicativo constitutivo de certas

práticas culturais, e não como mero instrumental mercadológico manipulador a serviço do

capitalismo” (PIEDRAS, 2009, p. 15).

1.4. A história do Projeto

O projeto Lindalva originou-se em julho de 2014, na comunidade de Carnaúba do Padre,

distrito da cidade de Pedro Velho, uma comunidade pequena e interiorana do Rio Grande do

Norte. Foi no distrito Carnaúba do Padre que fica na região norte do RN, a 78km da capital do

estado, que cresceram meus avôs maternos e onde se criou a minha mãe Maria Goreth. Foi ela

que na época, pedagoga e diretora da única escola da comunidade, que me convidou para dar

aula para essas garotas, a fim de prepará-las para uma apresentação do colégio. Quando

adolescente fiz parte do time da escola em que estudei de dança e aeróbica. Foi aí então que

começou a história do projeto que até então era apenas uma preparação para um evento na

escola Municipal Padre Leôncio, onde se leciona para alunos do ensino fundamental I,

fundamental II e o EJA e a escola tem em torno de 280 alunos, unindo os três períodos de

manhã, tarde e noite.

O grupo começou com quatro integrantes apenas e nos encontrávamos para

desenvolver os ensaios no centro pastoral da igreja católica da comunidade, os ensaios

ocorriam normalmente nos sábados e domingos com uma durabilidade de três horas em média,

com o decorrer dos dias fomos nos aproximando e nos conhecendo melhor e logo no início do

projeto em poucos meses de ensaios e de encontros, percebi que antes mesmo de ocorrer esse

evento da escola, havia muitos comentários negativos em relação às meninas. Dizia-se, por

exemplo, que elas não sabem fazer nada, que não iriam conseguir. Então, percebi que apesar

de serem crianças, as mesmas eram tão subjugadas e desmotivadas. Constatei quão importante

era o meu apoio, o diálogo e o incentivo que poderia oferecer para elas.

A primeira apresentação ocorreu em novembro de 2014 (FIGURA 1). Lembro

claramente a reação das pessoas ao vê-las, impactadas. Como garotas dali, em tão pouco tempo,

conseguiram fazer uma apresentação daquela? O resultado foi tão surpreendente, comentou-se

o quanto elas eram talentosas, os professores foram surpreendidos com o desempenho delas e,

logo, elas foram convidadas a se apresentar em outras cidades vizinhas no mesmo ano.

18

Figura 1- Primeira apresentação do grupo, amostra cultural e educação na cidade de

Pedro Velho, 2014

Fonte: Arquivo do Projeto Lindalva

No ano seguinte em 2015, decidi continuar com o projeto, como o resultado da

apresentação impactou muita gente na comunidade, despertou o interesses de outras meninas a

entrarem no grupo, então decidimos em grupo que outras meninas deveriam tentar e fazer parte

da equipe, encontros e ensaios, entraram algumas garotas na época, porém muito crianças, não

se acostumaram com rotina de todo final de semana ter que se encontrar, ter disciplina com

horários e acabaram algumas desistindo devido a isso, entre sete garotas que tentaram se

adaptar ficaram apenas duas delas. Continuamos com as atividades do grupo, todo ano a escola

Municipal Padre Leôncio promovia esse evento de abertura de atividades esportivas e culturais

e a participação delas era essencial, pois era o único grupo além da capoeira que era um grupo

formado apenas por homens, então ter um grupo como o Lindalva, formado apenas por meninas

era de suma importância.

Foi apenas em 2017 que decidimos dar um nome ao grupo, uma decisão que tomamos

em conjunto, todas votaram e optamos por escolher o nome Lindalva, pois é o nome da minha

falecida avó que sempre incentivou as atividades e fazia questão em assistir todas as

19

apresentações do grupo, ela foi a única a incentivar minhas atividades na dança e no esporte na

época da adolescência, conforme relatei no começo deste capítulo.

O grupo sempre teve cunho social, as integrantes nunca pagaram pelas aulas.

Inicialmente, o grupo teve o apoio da escola em ceder espaço para os encontros. Após três anos,

passamos a nos reunir em uma Associação da Comunidade, cujo prédio é compartilhado com

a igreja católica da comunidade, onde permanecemos até 2018. O grupo tentava arrecadar

dinheiro para figurinos, para estruturas para eventos, bem como para o transporte. Para isso,

nós mesmos fazíamos bazar beneficentes, rifas e vendíamos doces em eventos da comunidade.

Neste ano, também recebemos novas integrantes ao grupo, passamos de onze para vinte

participantes. No entanto após alguns meses algumas garotas desistiram e o grupo ficou com

12 integrantes no total e foram as que até hoje permaneceram e decidimos por assim ficar até

hoje. Em 2017 e 2018, realizamos nossos primeiros eventos sozinhas, com toda produção e

organização feita pelo grupo, arrecadarmos dinheiro para evento e para o figurino do grupo.

Em 2017, onde ocorreu o primeiro evento produzido pelo Lindalva, vestimos a

camiseta do Girl Power, e realizamos uma apresentação onde nós garotas nos intitulamos no

poder, no controle da nossa própria história (FIGURA 2). No ano seguinte 2018, fizemos

novamente o evento que foi ainda maior e mais uma vez mostramos através dos nossos

discursos e performance que nos mantivemos fortes e unidas. Todos os anos nos reunimos para

comemorar quaisquer datas, aniversários, encontros descontraídos, entre outros, então comecei

a perceber, conversando com elas e as observando, que esses encontros eram essenciais para

elas. A cada encontro que realizava descobria coisas que elas não tinham ou que nunca tinham

feito, que não só o projeto tinha me despertado, como elas se sentiam despertadas em pequenos

gestos.

20

Figura 2- Peças de divulgação do evento de dança para Facebook, 2017

Fonte: Arquivo do Projeto Lindalva

21

Foi em dezembro de 2018 em um encontro apenas para confraternização do grupo assim

como os outros já ocorridos, que sentamos para conversar e expormos algumas ideias e

sentimentos que tínhamos. Sentei com elas e agradeci, pelas atitudes delas comigo, pela união

delas, pela dedicação e por todos os anos de convívio e aprendizagem que tínhamos vivenciado.

Me surpreendi quando cada uma delas também me agradeceu pela oportunidade, por tê-las

incentivado e apoiado até mesmo sem perceber, em relação aos seus corpos, a situações com

suas famílias, a segurança e a consideração que o projeto pode proporcionar. E foi a partir desse

momento que percebi que estava mudando a perspectiva delas em se verem e como se viam ao

seu redor. Por isso, ao finalizar o curso superior em Publicidade e Propaganda busquei relatar

esta experiência e como ela foi e é importante na minha formação como cidadã e profissional.

O projeto Lindalva é um grupo feminino que busca através das práticas da dança se

posicionar de forma crítica perante a imagem da mulher em uma sociedade e comunidade

machista e patriarcal. Atualmente, o Lindalva realiza além da dança, oficinas e atividades que

elevam a autoestima de jovens mulheres, rodas de diálogo sobre temas como feminismo,

empoderamento feminino, sororidade, corpo e autoestima.

A violência contra a mulher no Brasil é ampla e está no centro da vida cotidiana das

vítimas. Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) divulgados em 26

de fevereiro de 2019, ao menos 27% das mulheres do País sofreram algum de tipo de violência

ou agressão. O levantamento aponta que há mais 4,6 milhões de mulheres agredidas (batida,

empurrão ou chute) no Brasil no último ano. São 536 mulheres por hora. Para violências de

qualquer tipo são 16 milhões de mulheres – ou 1.830 vítimas por hora. O índice cresce mais

quando falamos de assédio, que inclui cantadas, comentários desrespeitosos e/ou humilhação.

Como foi identificado atualmente vivemos em uma sociedade onde os índices de

violência contra mulher são crescentes. Deste modo é necessário incentivar e ensinar a garotas

e mulheres que elas não estão sozinhas, que juntas unimos forças e que não, não devemos

aceitar ser oprimidas, assediadas e impedidas de fazer algo que uma sociedade não aceita. O

projeto hoje não só tem o objetivo de contar a história dessas garotas através da dança, como

também de se impor e se representar perante a sociedade e a comunidade.

Sempre foi importante para as participantes do projeto e de outras meninas da

comunidade enxergar que não existe destaque apenas para garotos no ambiente escolar e social,

é essencial ter essa representação em uma comunidade onde não tem incentivo a atividades

culturais e sociais, principalmente para garotas. O projeto Lindalva foi o primeiro e único a ter

essa representatividade em uma comunidade onde a população é extremamente patriarcal,

machista e marginalizada.

22

Em 2016 e 2017 entraram novas integrantes ao grupo, totalizando em torno de vinte

garotas. O projeto também sofreu desistências, dentre os motivos as participantes que se

ausentaram indicaram questões pessoais relacionadas a ciúmes de seus companheiros, rigidez

familiar e também conflitos de orientação religiosa.

Em que meio social e que realidade essas garotas vivem? É complicado imaginar tantas

realidades duras para garotas tão jovens, porém elas existem e causam impacto muito forte em

como elas se comunicam e como elas se enxergam. Por isso, o grupo em meados de 2017 se

posicionou de forma mais forte nessa questão de se intitular como grupo feminista e trazendo

a representatividade feminina para aquela comunidade, além de ser um grupo composto apenas

por garotas, era nossa preocupação como ele era visto e como ele ia se portar perante a

comunidade para defender essa ideia. Desta forma, para deixar mais claro possível, fazíamos

posts dos eventos nas redes sociais, com fotos e com discursos de empoderamento e sororidade

feminina, em nossas apresentações, difundindo a mensagem de garotas com poder de voz para

dizerem e se portarem de forma livre.

A partir disso toda oportunidade de apresentação em diversos lugares, seja na

comunidade ou não, contávamos um pouco da nossa história antes de nos apresentarmos e

como era importante para o projeto fortalecer nossa identidade como um grupo que se preocupa

com realidade das mulheres, composto apenas por garotas, pelas conquistas obtidas e que não

nos apresentamos apenas por dançar e sim para contar nossa trajetória e como queríamos ser

vistas. A questão corporal foi uma preocupação do grupo, através da música, da coreografia e

da vestimenta podíamos falar que uma garota não é aquilo que a sociedade enxerga.

O grupo se destacava onde passava, não só pela dança, mas por nossa história, diferente

de outros grupos de dança da redondeza, o grupo Lindalva se distinguia sempre pela quantidade

de integrantes e por serem apenas garotas. O grupo tem como modelo a frase Girl Power

traduzida do inglês, garotas no poder, essa frase era um subtítulo do grupo, estava presente em

publicações de eventos, ensaios, camisetas do grupo e é claramente uma motivação para o

grupo, trazendo como afirmação daquilo que tínhamos e que queríamos passar para o público.

23

Figura 3- Peça de divulgação do evento de dança para Facebook, 2018

Fonte: Arquivo do Projeto Lindalva

Figura 4- Evento de Dança produzido pelo grupo Lindalva em Carnaúba do Padre,

2018

Fonte: Arquivo do Projeto Lindalva

24

Figura 5- Foto para comemoração e memorização de quatro anos do projeto Lindalva,

2018

Fonte: Arquivo do Projeto Lindalva

25

A composição do trabalho social sintetiza a pesquisa de avaliação de impacto do projeto

Lindalva, sob a perspectiva da educomunicação e dos fundamentos dos conceitos sociais de

empoderamento, sororidade, representatividade e autoestima, buscando práticas sociais

consistentes voltadas para a melhoria da qualidade de vida e construção de relacionamentos

duradouros entre o grupo, tendo em vista que o seu julgamento e opinião são elementos

fundamentais neste processo.

O impacto social que estávamos colocando através de uma mudança interna e externa

do grupo é de extrema positividade para projeto Lindalva e isso é mensurado pelo bem-estar

das integrantes do grupo e dos relacionamentos restaurados e igualitários das mesmas entre si

e com o meio social em que vivem, criando um posicionamento pré-estabelecidos por meio da

reflexão e do diálogo. Buscamos entender como uma aplicação de compreensão do corpo como

mídia e apontar para as mudanças necessárias na concepção de cultura, defendendo a ideia que

o indivíduo usa o corpo para pensar e agir. O projeto Lindalva utiliza através da expressão do

corpo e dança para analisar questões sociais de uma comunidade e um meio social em que

vive.

É através da mídia-corpo que formamos um senso crítico de pensamento perante as

situações do âmbito social, primeiramente nós entendemos como indivíduo de um meio e após

como nos comunicamos nesse meio, o projeto tem uma correlação entre educação e

comunicação, é através dessas vertentes que criamos uma atmosfera para dialogar com os

temas de representatividade feminina e empoderamento feminino.

Os métodos utilizados no projeto são através de oficinas dialogais, onde se compartilha

opiniões e vivências das alunas e através deste meio assim tentar se permitir entender e se

posicionar perante situações de preconceito e opressão vividas pelas integrantes do projeto na

comunidade em que se encontram. No próximo capítulo, nos dedicaremos a refletir sobre a

educomunicação e como podemos articular expressão artística através dos movimentos com o

empoderamento e o desenvolvimento da cidadania.

26

Capítulo II – EDUCOMUNICAÇÃO

A Educomunicação é um campo de conhecimento com identidade própria, que

surge no espaço comum entre os campos da comunicação e da educação, em que eles se

entrecruzam, sobrepondo-se. A comunicação sempre educa e a educomunicação preocupa-

se com ela e com a educação, assim como se preocupa com o potencial educativo da

comunicação midiática.

A mídia no Brasil é considerada uma instância de educação informal. A maior parte

dos produtos midiáticos é voltada ao entretenimento, contudo, mesmo não tendo a intenção

de educar, a comunicação midiática contribui para a educação da população tanto quanto

os produtos jornalísticos que, ao fornecerem informação seletiva sobre os fatos, são

determinantes para que as pessoas construam sua visão de mundo.

A proposta de comunicação dialógica de Paulo Freire estimula e incentiva à

consciência crítica para a transformação social. Os meios de comunicação não transmitindo

informações com a perspectiva dialógica, abre portas aos meios de comunicado, como

enfatiza Freire (2003, p.26 apud RIBEIRO, 2013, p.87) “na verdade, o que se está fazendo,

em grande parte, com os meios de comunicação, é comunicado! Em lugar de haver

comunicação real, o que está havendo é transferência de dados, que são ideológicos e que

partem muito bem vestidos.” O feedback midiático é anulado, não havendo a

democratização para os meios, inoculando a liberdade de acesso à informação.

Segundo Ismar Soares (2002, p.17) a construção de ecossistemas comunicacionais

abre portas para novas possibilidades de crescimento do consciente cidadão. São novos

ambientes de atuação que estão surgindo, da interface comunicação e da educação. A

formação de cidadãos com consciência crítica, que analisem com teor as mensagens

recebidas tem sido um desafio, pois muitas vezes, estes indivíduos ficam à mercê das

informações sem domínio midiático do suporte.

A educomunicação tem como princípio estimular o diálogo na sociedade de forma

que as pessoas sempre expressem suas opiniões, pessoalmente usando as mídias como a

internet, televisão entre outros meios de comunicação e para isso adota uma metodologia

pedagógica unindo a educação e a comunicação, elegendo maneiras de utilizar e produzir

mídias durante o aprendizado. Dessa forma o professor pode criar uma aula mais dinâmica

chamando mais atenção do aluno, a educomunicação pode ser utilizada por toda a sociedade

pode adotar métodos da educomunicação para melhorar o dia a dia criando discussões,

27

reflexões, informação e solucionando problemas da comunidade, conforme Ismar Soares

destaca:

A educomunicação quer intervir para ampliar a consciência e a participação

crítica dos sujeitos nos ecossistemas. O trabalho do educomunicador é

planejar, aplicar e avaliar ações, no âmbito das áreas de intervenção, apresentadas na sequência. Seu objetivo, junto às mais diversas comunidades,

é implantar, ampliar ou fortalecer ecossistemas comunicativos, cuidando para

que eles mantenham um elevado coeficiente dialógico entre seus membros (SOARES, 2003).

Assim, concluímos que o maior objetivo da educomunicação é formar cidadãos

críticos e conscientizados a partir do uso da comunicação – teoria e prática – como forma

de educação. Comunicar para ampliar a cidadania, criando e praticando conteúdos vistos

de formar mais lúdica e criativa,

a Educomunicação como o conjunto das ações inerentes ao planejamento, implementação e avaliação de processos, programas e produtos destinados a

criar e fortalecer ecossistemas comunicativos em espaços educativos

presenciais ou virtuais, assim como melhorar o coeficiente comunicativo das ações educativas, incluindo as relacionadas ao uso dos recursos da

informação no processo de aprendizagem (SOARES, 2002, p. 24).

A educomunicação se utiliza das experiências para saber como a tecnologia da

informação e da comunicação podem favorecer nos processos de ensino-aprendizagem. Em

um contexto socioeconômico e sociocultural com uma proposta de formar uma visão crítica.

Para o sujeito se tornar participante da realidade social que vive, o educomunicador tem a

função de lhe apresentar uma forma de conexão com essa realidade.

Isso acontece por meio da apresentação de novas tecnologias, de discussões sobre a

mídia e seus efeitos e da utilização da comunicação – compreendendo três níveis diferentes:

sujeito (comunicação individual), comunidade e nação. Por isso, a educomunicação tem como

missão “formar o julgamento, o senso crítico, o pensamento hipotético e dedutivo, as

faculdades de observação e de pesquisa [...], a imaginação, a leitura e a análise de textos e de

imagens, a representação de redes, de procedimentos e de estratégias de comunicação”

(PERRENOUD, 2000, p.128).

28

Tendo em vista que a educomunicação é o estudo que interliga a comunicação e a

educação através de mídias e dos meios, buscando a interdisciplinaridade, ocasionando o

pensamento e a atividade perante aos que praticam a arte trazendo da arte o meio de expressão

e comunicação vemos que de acordo com esse pensamento o conceito de Ismar Soares o qual

qual sintetiza abaixo está relacionando a arte como meio de expressão comunicativa da

educomunicação.

A área da expressão comunicativa através das artes: as ações nessa área

buscam incentivar as pessoas a se expressarem tanto em ambientes formais como informais de ensino e propõem um forte elo com as artes. Na prática as

atividades são realizadas por educadores com conhecimento artístico,

garantindo espaços de comunicação, relações pessoais e interpessoais, bem

como a livre expressão dos indivíduos. (SOARES, 2010, p. 45)

O poder da educomunicação está diretamente ligada à sua capacidade de interligar

meios em prol de um objetivo social, educativo e comunicacional, trazendo uma perspectiva

diferente de pensamentos diante a uma comunidade e realidade de âmbito social, trazendo

também um senso crítico a partir da temática e dos meios abordados de determinada atividade

e tema. A partir disso trazendo a dança como uma perspectiva social e empoderada em uma

esfera feminista.

Diante desse cenário buscando esclarecer como os sistemas de comunicação social são

formalmente constituídos, principalmente os de educação e de mídias, bem como estabelecer

relações entre a otimização do funcionamento desses sistemas e as práticas da educomunicação,

que visam contribuir para a ampliação da cidadania através do direito à expressão, informação

e comunicação.

A educomunicação tem como proposta estimular o desenvolvimento da consciência

crítica no indivíduo. E diante do cenário atual que podemos realizar a busca de respostas sobre

como a linguagem da dança pode contribuir com a construção de mensagens, de maneira que

é possível comunicar o empoderamento feminino através da dança no discurso midiático,

cumprindo assim um papel social.

2.2. A Expressão Comunicativa por meio da dança

A Expressão Comunicativa por meio da Arte trata de uma aproximação entre a

Educomunicação e os campos da Arte e da Arte/Educação, pois é perceptível que, em projetos

29

educomunicativos, questões sensíveis à arte potencializam a criação e a melhoria de

ecossistemas comunicativos, como também a expressão e o protagonismo dos envolvidos no

processo educativo. A definição da área de intervenção Expressão Comunicativa por meio da

Arte tem foco no termo “expressão” e considera a arte como ferramenta do processo, não dando

conta da profundidade que a arte pode trazer em sua forma de experienciar o mundo.

Especificamente sobre a área de intervenção Expressão Comunicativa por meio da Arte,

Soares a apresenta “identificando a prática social da imersão no fato artístico como forma de

expressão criativa, assegurando o direito e a oportunidade de se fazer comunicação”.

Por meio da Arte como prática social que possibilita formas de Comunicação com a

utilização de linguagens artísticas, utilizando inclusive os termos “expressão” e “manifestação

artística” em sua definição. Soares salienta que as diversas linguagens da Arte têm um potencial

criativo que, aliado aos estudos e elementos artísticos, pode ajudar na descoberta de diferentes

formas de expressão, que vão “para além da racionalidade abstrata”.

O autor valoriza a experiência adquirida ao fazer e ao ler arte, no caminho de mostrar

que o sensível e o emocional fazem parte da construção da identidade e dos saberes coletivos

e individuais. É importante destacar também a relação que Soares faz com a área da

Arte/Educação, pois entende que suas práticas são próximas, mas assegura que as da Expressão

Comunicativa por meio da Arte são primordialmente focadas no processo comunicativo.

Também indica que essa área de intervenção deve ir além da expressão escrita, ampliando

seus horizontes inclusive para expressão não oral. Machado também destaca que Expressão

Comunicativa por meio da Arte, ao pôr em foco o aspecto comunicacional das Artes e o

protagonismo do jovem, pode ajudar na capacidade criadora e expressiva ao trabalhar suas

percepções e emoções.

Neste ponto é possível citar a contribuição de Lígia Beatriz Carvalho de Almeida,

professora do Curso Superior de Comunicação Social com ênfase em Educomunicação da

Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), doutora em Educação, mestre em

Comunicação Midiática e graduada em Comunicação Social e Pedagogia. Em parceria com

Anny Karenine Barreto de Melo, Almeida demonstra que a Expressão Comunicativa por meio

da Arte permite uma educação dos sentidos. Em outras palavras, da mesma maneira que

Machado, Almeida e Melo entendem que, mesmo colocando o foco no fator comunicacional,

a área de intervenção tem dimensões estéticas que podem ser potencializadas. Chamam atenção

também para o fato de esta área de intervenção ter potencial interdisciplinar.

Almeida afirma a importância da pluralidade de linguagens e da possibilidade de

construção de identidades, por meio do fortalecimento da cultura das comunidades, enquanto

30

características da Arte que podem ser aproveitadas em projetos educomunicativos. Almeida

faz referência também à relação da Arte e dos meios de Comunicação com as tecnologias,

entendendo que isso é potencialmente interessante, pois possibilita a produção e o

compartilhamento de forma dinâmica e facilitada pelos recursos da web, por exemplo.

Por meio destes conceitos foi percebido que a dança como meio de arte é possível ser um

meio também comunicativo, em que ajuda na expressividade e criatividade, potencializando o

modo ao qual nos expressamos, por instrumento da dança é possível usar o corpo como mídia,

desencadeando um meio de comunicar.

2.3. Educomunicação e dança

A educomunicação tem como pressuposto a inovação de práticas educacionais por meio

da comunicação e das mídias, no entanto também tem interligação com as áreas das artes, o

que nós fazemos analisar a dança como meio de expressão comunicativa de indivíduos, e dança

e corpo como meio de mídia. A utilização do corpo como meio comunicativo, o corpo como

mídia proporciona não só a expressão da fala através do corpo como também a comunicação

do indivíduo consigo mesmo e para o público. E por meio disso desenvolvemos aqui reflexões

através da educomunicação e dança, para melhor entendimento de tais funcionalidades e

conceitos, enxergando a dança como meio de intervenção e inovação para a comunicação. A

partir do conceito de intervenção que se define da seguinte maneira:

Em educomunicação, intervenção não significa interdição, invasão, imposição

ou interrupção, o sentido é o da realização de atividades, da proposta de

alternativas inovadoras, da mediação, da oferta de referências libertadoras,

que usualmente, por diferentes motivos, não são vislumbradas pelos membros

de uma comunidade (SOARES apud ALMEIDA, 2016, p.7).

Conforme Soares (2014), as atividades de intervenção estão alocadas em sete

diferentes modalidades ou áreas, são elas: 1) educação para a comunicação; 2) pedagogia da

comunicação; 3) gestão da comunicação; 4) mediação tecnológica na educação; 5) produção

midiática educativa; 6) expressão comunicativa por meio de linguagens artísticas e 7)

epistemologia da educomunicação.

31

Ações interventivas propõem desenvolver estratégias que fomentem as ideias

espontaneamente na sociedade de acordo com suas necessidades. As áreas de intervenção da

Educomunicação foram sistematizadas com base nas práticas desencadeadas na população,

inserido nesta interface educação e comunicação. As áreas de intervenção vêm com a proposta

de aguçar o conhecimento utilizando de métodos que ajudam a sociedade a observar o mundo

com novos olhares, promovendo a busca de autoconhecimento bem como proporcionando a

consciência do seu lugar neste mundo e o poder transformador que tem nas mãos.

À exemplo da área expressão comunicativa através das artes, que promove a liberdade

de expressão, através da arte, estimulando a criatividade e interação artística, aprimorando a

sensibilidade e contribuindo com a disseminação da comunicação em seu grau independente,

como explica Almeida destaca “práticas que valorizam a autonomia comunicativa das

crianças e jovens mediante a expressão artística – arte-educação”, não havendo termos que

limitam a criatividade e liberdade que a arte em sua plenitude oferece compreendendo que

"[…] todo sujeito é livre e independente do resultado final, o processo educomunicativo em

si, no qual se dá a ação, a comunicação e a produção de sentidos, é transformador e inclusivo"

(ALMEIDA, 2016, p.8).

A dança é uma antiga forma de expressão corporal e humana que transmite

significados com funções psicológicas, cognitivas, emocionais e sociais para o indivíduo.

Devido à sua importância, as habilidades da dança foram transmitidas de pessoa para pessoa

desde épocas remotas. A inter-relação comunicação e educação em contextos de ensino e

aprendizagem da dança são inseridos no seguinte pensamento. Define-se assim:

Conhecimentos e formação de atitudes e valores que reflitam no desenvolvimento integral do jovem. As atividades também devem desenvolver

habilidades gerais, tais como a capacidade comunicativa e a inclusão digital de

modo a orientar o jovem para a escolha profissional, bem como realizar ações

com foco na convivência social por meio da arte-cultura e esporte-lazer. As intervenções devem valorizar a pluralidade e a singularidade da condição

juvenil e suas formas particulares de sociabilidade; sensibilizar para os desafios

da realidade social, cultural, ambiental e política de seu meio social; criar oportunidades de acesso a direitos; estimular práticas associativas e as

diferentes formas de expressão dos interesses, posicionamentos e visões de

mundo de jovens no espaço público (Livro de Tipificação Nacional dos

Serviços Socioassistenciais, 2009, p. 11).

A dança por exemplo é uma prática de ensino que existe atividades para a formação

de pessoas e à reflexão sobre a importância desse trabalho. As práticas educomunicativas

32

podem estabelecer uma relação entre a Comunicação e a educação, contribuindo para a

construção coletiva de saberes, obtida dos movimentos sociais e populares sendo assim a

dança um instrumento de aprendizagem, expressão e liberdade. Como está citado pela autora

Cicilia Maria Krohling Peruzzo.

Compreender os discursos presentes no corpo que dança e, mais especificamente,

identificar de que forma essa construção de pensamentos através da educomunicação podem

construir mensagens de empoderamento feminino. Buscando compreender as formas de

comunicação exercidas pela linguagem corporal, discutindo e percebendo de que maneira

essas expressões reproduzem textos sócio político culturais através da dança. Da mesma

forma trazendo a perspectiva do corpo, percebendo a magnitude do corpo na construção da

identidade feminina, para que assim, seja possível entender como o empoderamento

feminino acontece.

A comunicação não se realiza necessariamente através da linguagem verbal. Por

intermédio de experiências no campo da arte também é possível a expressão de vivências e

de sensações singulares que tornam essas produções artísticas em forma de linguagem.

Tornado assim a dança em um meio de expressão sociocultural, trazendo uma vertente como

o empoderamento feminino, através do corpo e da linguagem.

No próximo capítulo, nos empregaremos a refletir sobre os conceitos do

empoderamento e a sororidade, a qual implica suas práticas e reflexões, englobando também

a autoestima através desses conceitos. Como também iremos colocar as práticas e

questionamento das atividades abordadas, como a metodologia das oficinas realizadas,

projeto de intervenção, análise de questionário e os resultados obtidos.

33

Capítulo III - A EXPERIÊNCIA DO PROJETO LINDALVA

3.1. Movimento feminista

A luta pela liberdade de direitos e escolhas, desencadeou movimentos feministas que

marcou vários anos da história da causa, um dos muitos conhecidos foi no final da década

de 60, onde surgiam conflitos nos EUA e na Europa. Foi um marco histórico do movimento

feminista, o protesto da queima dos sutiãs, ao qual as mulheres ativistas do movimento

Wolman´s Liberation Moviment dos EUA, aspiravam atear fogo em objetos como sutiãs,

maquiagens, espartilhos e outros objetos que as a induzissem a um absolutismo de beleza.

Com a intervenção da mídia, tal ato trouxe uma repercussão a nível mundial.

A luta das mulheres está na liberdade de um senso moral construído pela cultura

machista ao qual ainda vivemos. Não é apenas uma luta a qual visa igualdade econômica e

política entre homens e mulheres, e sim a conquista do seu lugar de fala e ação. A construção

de uma sociedade livre de relações preconceituosas e discriminações é primordial.

Emancipar-se é equiparar-se ao homem em direitos jurídicos, políticos e econômicos.

Corresponde à busca de igualdade. Libertar-se é querer ir mais adiante, marcar a

diferença, realçar as condições que regem a alteridade 3 Na cultura machista, a

mulher é considerada inferior ao homem, que, atribui a figura masculina maior

capacidade e reconhecimento social colocando a mulher em posição desigual,

pressup. 6 nas relações de gênero, de modo a afirmar a mulher como indivíduo

autônomo, independente, dotado de plenitude humana e tão sujeito frente ao homem

quanto o homem frente à mulher. (CHRISTO, 2001).

A luta das mulheres, dessa maneira, se direciona tanto para a reivindicação dos

direitos civis e políticos, quanto para as organizações de trabalhadores, no sentido do apoio

para as suas protestações que acima de tudo reivindicavam por igualdade e liberdade para

todos e todas. O movimento de mulheres, exerceram papel fundamental nas conquistas

históricas como no âmbito social, para o reconhecimento de igualdade entre homens e

mulheres.

O movimento feminista vem sendo compreendido e interpretado, por dois diferentes

momentos, retratados como ondas do movimento feminista, aos quais sendo elas definidas,

fundamentalmente pelos períodos históricos em que se inserem e pela apresentação de

rupturas, descontinuidades e mudanças em suas pautas, atrizes, conquistas e

interesses” (VELOSO, 2016, p.40) . Isto é, são ondas que delimitaram as práticas, os

34

discursos e as dinâmicas do feminismo: onde designam cruciais diferenças entre o

movimento iniciado nas décadas finais do séc. XIX período ao qual ocorreu a “primeira

onda”, e a década de 1960, quando surge a “segunda onda”. O movimento feminista possui

sua própria reflexão crítica teoria e tem sua história marcada por reivindicações e por

exemplos de mulheres que se rebelaram contra o modelo do patriarcado existente na

sociedade.

O movimento feminista faz parte de um processo de construção de uma identidade

feminina voltada para a emancipação política e social da mulher (MENDES, 2015, p. 89).

A cada "onda feminista” se fez necessário um trabalho e processo aos quais é preciso dar

voz das mulheres. O movimento constitui a compreensão da causa como parte de um

processo totalizado da sociedade, da política e dos governos, já que repetidamente e

diariamente os governos não oportuniza a representatividade das mulheres nas instituições

públicas, limitando as progressões das mulheres em cargos de poder.

O feminismo pós-segunda onda veio propiciar lugar de fala, a articulação e a

organização não as mulheres em um eixo, uma bolha ao qual estão as mulheres brancas por

exemplo, mais sim todas essas personas como mulheres negras, indígenas, da periferia, trans,

entre muitas outras, em prol de um protagonismo próprio, que parte princípio básico do

movimento feminista que é você querer ser da maneira que deseja ser e escolher o que você

quer ser independentemente, além da busca de espaço e assumir lugares de poder, como na

política e poder público.

Atualmente está em pauta o feminismo contemporâneo, e um dos pontos primordiais

do movimento atualmente é o uso político da Internet, possibilitando a constituição de redes

que aprofundassem contatos de diferentes organizações e grupos feministas. Os movimentos

tiveram suas ações facilitadas pelo uso ativista da internet, mais especificamente de redes

sociais como Facebook, Twitter, Instagram, e entre outras. Proporcionando formas de

expandir e comunicar ações do movimento, discutindo e construindo os vários trabalhos

feministas que estão em diálogo, porém muitas vezes em disputa, não só nas ruas, na

academia como também na web (ALVAREZ 2014; FRANÇA, FACCHINI 2016).

É neste momento que a internet emerge como ponto referencial e constitutivo de

redes e pontos de contato entre grupos e organizações feministas, criando "outras redes de

comunicação a partir das apropriações da atividade como instrumento de ação política e

recurso de identificação" (Ferreira, 2015: 208). Atualmente o movimento presente do

35

feminismo, possibilita a imersão de muitas mulheres que estão inseridas no movimento

feminista, ao qual se apropria do cenário digital para mobilizar, articular e dar voz a causa

de forma muito mais rápida, dando ênfase as situações de combate direto, como também as

práticas ativistas combatentes do comportamento machista em ação na nossa sociedade.

A imagem a qual o senso comum qualifica o feminismo, é inexistente e abominável,

taxando o movimento de um movimento ao qual são mulheres que odeiam homens, nunca

se depilam, e muitas outras qualificações negativas, devido a isso quem não têm

conhecimento do feminismo costuma vê-lo de forma negativa.

É preciso, discutir feminismo em diversos espaços, não só em espaços privilegiados,

mais também alcançar mulheres em todas as escalas sociais. Através da discussão teórica

do feminismo se dá a base para se discutir também empoderamento nas circunstancia

individuais e coletivas. Não podemos reduzir o feminismo, um movimento político ao qual

tem mais de 130 anos, e tem muito peso para nós mulheres estarmos hoje onde estamos.

O feminismo é para todas e entender que feminismo é a luta pela igualdade entre

homens e mulheres, é essencial, no entanto é necessário repensar e mudar comportamentos

de nós mulheres para que o feminismo abarque mulheres socialmente mais vulneráveis. o

feminismo representa um movimento antissísmico, um movimento ao qual luta contra o

sistema patriarcal, machista e sexista e é necessário abarcar o máximo de mulheres possíveis,

principalmente aquelas que ainda não tem acesso e conhecimento a respeito.

36

3.2. Empoderamento, Sororidade e Autoestima

No dicionário da Britânica Universidade de Cambridge, o significado da palavra

empowerment , termo ao qual o sociólogo Julian Rappaport (1977) descreve, tem o

significado de que é um processo ao qual se ganha liberdade e poder para fazer o que você

quer e controlar aquilo que acontece com você, dessa forma se ter autonomia de escolha e

decisão. O empoderamento é um instrumento de liberdade, ao qual nós mulheres devemos

nos aproximar e tomar como ponto de partida para nos encorajar a decidir sobre os nossos

direitos.

De acordo com filosofa alemã Hanna Arendt (1991), pode-se pensar empoderamento

como uma ação em coletivo, ela defende que o poder corresponde a habilidade humana não

apenas para agir, mais para agir em conjunto, ou seja se um grupo ou movimento se

permanece unido em busca de uma ação como , por exemplo, a luta pelos direitos igualitários

ele se empodera a partir do momento que decide que juntos iram lutar por algo que acreditam.

O ato de empoderar se dá individualmente através da liberdade de escolha desde a forma que

você se porta, fala, veste, até um ato de compra algo, por exemplo, como também o ato de

empoderar se está no coletivo, empoderando no conjunto.

De acordo com Berth “(…) quando assumimos que estamos dando poder, em

verdade, estamos falando na condução articulada de indivíduos e grupos por diversos

estágios de autoafirmação, autovalorização, autorreconhecimento e autoconhecimento de si

mesmo e de suas mais variadas habilidades humanas, de sua história, principalmente, um

entendimento sobre sua condição social e política e, por sua vez, um estado psicológico

perceptivo do que se passa ao seu redor” (2018, p.14).

Diante dessas considerações devemos pensar o empoderamento como conceito que

que tem o poder e a ação como meio de atividade para um indivíduo, devemos trabalhar o

empoderamento desde muito cedo, para não só ter o autoconhecimento e liberdade de

escolha como também da participação política de um indivíduo na sociedade, bem como a

descolonidade do conhecimento para o alcance de direitos. A coletividade empoderada não

pode ser formada por individualidades e subjetividades que não estejam conscientemente

atuantes dentro de processos de empoderamento” BERTH (p. 42). Desta maneira, além do

ensino ao qual se dá através do ato empoderar, como é primordial para mudanças sociais e

políticas sendo vistas e executadas na realidade atual.

Quando falamos de empoderamento, principalmente nos dias de hoje, concluímos

que estamos diante de um contexto ao qual pensar no empoderamento é não só pensar como

37

algo que está em alta e sim como algo que resulta de forma positiva e coletiva socialmente.

A ideia do termo “empoderamento” como algo acrítico e subjugado é pressentível devido a

popularização e banalização do termo, muitos meios econômicos da indústria e midiáticos

se apropriaram do discurso para promover o consumismo, distorcendo a ideia e o conceito

do empoderamento.

No livro “Vamos Juntas?” da autora Babi Souza, do ano de 2016, ao qual ela relata

sobre sororidade, feminismo e empoderamento de forma dinâmica e conta um pouco sobre

sua experiência ao escrever o livro e ter criado o guia da sororidade para todas, ela descreve

o empoderamento de uma forma bem objetiva, classificando e destacando pontos cruciais

que percorrem na desigualdade entre homens e mulheres na nossa sociedade. A autora

dialoga sobre como nós mulheres aprendemos desde infância que temos menos direitos do

que os homens, e que por isso acabamos nos adaptando ao segundo lugar, o que desencadeia

também a ideia de que mulheres são inferiores aos homens devido a condição biológica de

que é mais frágil ou algo do gênero.

Algo muito importante observado no livro da autora Babi Souza é que ela descreve

situações aos quais nós mulheres vivenciamos e somos ensinadas de formas diferentes, como

por exemplo, nós mulheres aprendemos desde pequenas que devemos ter cuidado ao sentar,

a não sentar sem postura, não abrir as pernas, termos cuidado ao falar, não podemos brincar

livremente, brincamos de bonecas e casinha, já os homens sentam da forma que querem, com

pernas abertas, brincam de armas e carrinhos, esse exemplo e posicionamento da autora nós

faz refletir o quanto a desigualdade entre gêneros é imposta pela criação e pela sociedade.

Todas essas situações são exemplos de uma sociedade sexista, a qual designam

atividades pra mulheres e para os homens, de forma que a mulher sempre está como mãe,

dona de casa, a que cozinha, já o homem é o que bebe cerveja, é o que trabalha e sustenta a

casa, estes pontos são bem claros de uma sociedade patriarcal a qual não incentiva a mulher

de nenhuma forma a ser livre e a se posicionar, contribuindo para uma sociedade menos

igualitária.

O que nos leva até o machismo, e algumas das ideias machistas que estão diariamente

presentes em nosso cotidiano, como por exemplo, mulheres devem ser recatas para não

perderem o valor, a responsabilidade da casa e dos filhos é da mulher, as mulheres não tem

capacidade de fazer trabalhos braçais, mulheres são sempre rivais, mulheres sempre estão

em busca de atenção masculina.

O termo empoderamento feminino se torna pertinente, pois é necessário que mulheres

possam acreditas nelas, acreditar que são merecedoras de tudo que a neste mundo, que

38

merecemos igualdade e respeito. Empoderar significa apropriar-se do direito de existir na

sociedade, e para isso nós mulheres precisamos reconhecer esses direitos e entender que

somos merecedoras.

O empoderamento é algo que pode ser realizado de forma social quanto individual, a

mulher deve cultivar esse trabalho interno, estimulando sua autoestima, seu

autoconhecimento, se enxergando de forma positiva e maravilhosa. O ato de empoderar

estará também interligado com a autoestima, a autoestima representa como nos enxergamos,

de fato é muito complicado nós enxergar em meio a tantos questionamentos que nós

mulheres nos colocamos devido ao meio social em que vivemos, por exemplo, a mídia é um

grande precursor de estereótipos e padrões de beleza, ao qual somos vítimas, pois são

inúmeras as mulheres que tentam mudar e se colocar em imagens de mulheres as quais são

irreais, seja por fotoshop, maquiagem, entre outros, se deixando submeter a padrões estéticos

e se frustrando por não atingi-los.

O empoderamento é de fato um percurso para nós mulheres não nos vermos como

objetos da sociedade e da mídia, o empoderamento deve ser praticado cada vez mais e desde

cedo, pois sabemos que é necessário para darmos força e liberdade as milhares de mulheres.

São práticas do empoderamento se amar de verdade, aceitar seu corpo e ser feliz

consigo mesmo, defender que nada justifica a violência contra a mulher, entender que a

mulher tem tantos direitos e capacidade quanto o homem para realizar o que quiser, fazer

suas próprias escolhas sem deixar que a opinião dos outros te influencie negativamente,

dizer não a qualquer tipo de abuso e preconceito, não cobrar das mulheres ao seu redor o

padrão de beleza imposto pela mídia e sempre incentivar e apoiar as mulheres ao seu redor.

Faz parte também do empoderamento o conceito da sororidade, termo esse que tem

como relevância a união e aliança entre mulheres, baseados na empatia e companheirismo,

em busca de objetivos em comum, como por exemplo é objetivo de nós mulheres nos apoiar,

nós incentivar e alcançar nossos direitos de igualdade, em prol de uma sociedade mais justa.

Nós mulheres lutamos a muitos anos por nossos direitos, e a sororidade venho a somar.

No inglês sonority é ligado a um conjunto de moças estudantes, como os grupos de

universidades de países como os Estados Unidos, ao qual moram juntas durante toda a

faculdade. Sororidade é a versão feminina de fraternidade, da qual o prefixo “frater” quer

dizer irmão, termo esses que vemos sempre usados tantos por homens quanto por mulheres,

onde muitas vezes não tem conhecimento da para sororidade. É comum encontrar pessoas

reproduzindo discurso de que irmandade é para homens e que mulheres não tem a capacidade

39

de ter uma irmandade, fortificando a ideia de que mulheres estão sempre em disputa e que

não se apoiam.

A frase “Não se nasce mulher se torna mulher” de Simone Beauvoir, escritora,

filósofa e feminista francesa, traz a reflexão sobre, “Ser” mulher. Simone Beauvoir

apresentou em seu livro O segundo sexo, publicado em 1949, está frase, de acordo com a

autora, a mulher não é pautada por um destino biológico, mas sim criada dentro de uma

cultura que a define mulher. Ou seja, não há nenhuma explicação biológica a qual as teorias

machistas, já que o “Nascer mulher” como a sociedade indaga não existe. Nascer de sexo

feminino para a nossa sociedade é nascer com menos direitos, menos liberdades e direitos

completamente diferentes dos homens.

A maioria desses discursos implicam as mulheres a identificá-los como machistas,

em grande maioria. No entanto a ideia de que nós mulheres não temos capacidade de criar

laços é incabível, pois não a nenhum tipo de fator biológico que nos torna menos capaz que

homens de sermos amigas e unidas. A crença desse discurso machista a qual nós mulheres

não somos capazes de sermos gentis umas com as outras e de que somos naturalmente rivais

é resultado de uma sociedade a qual nos impõe tal ideia machista.

Não é novidade que uma mulher quando consegue ultrapassar a barreira do machismo

e alcançar o seu lugar de destaque, costuma ser subjugada por homens, um exemplo disso é

quando ouvimos, ela só conseguiu por causa do marido, olha ela é casada com tal pessoa, e

isso é preciso ser relutado, nós mulheres não precisamos alcançar nada por causa de homens,

seja pai, marido, irmão, tio, namorado, nem através deles, nós conseguimos porque foi uma

conquista apenas e única nossa.

Sororidade não é amar a todas a mulheres mais sim não odiar alguém apenas por ela

ser mulher. A sororidade tem como práticas as seguintes questões, não enxerga a mulher à

sua volta como uma inimiga, não usar critérios diferentes para distinguir homens e mulheres,

quando uma mulher sofrer algum tipo de assedio ou violência, nunca ache que a culpa é da

vítima, não estimule o sentimento de rivalidade entre mulheres, não critique mulheres a sua

volta, não responsabilize as mulheres pelos filhos ou pela limpeza da casa e muitas outras

dessa ideias fazem parte do pensar e agir na sororidade.

Através dessas vertentes do movimento feminista, do empoderamento e sororidade

foram identificadas as justificativas do projeto em questão, para qual foi o ponta pé para o

desenvolvimento e resultado da pesquisa e das atividades realizadas.

40

3.2. METODOLOGIA E DISCUSSÃO

Foi realizado um estudo analítico do tipo transversal, observacional e individual, durante

o ano de 2019. A pesquisa se deu pelo grupo do projeto Lindalva, situadas na zona rural do

município de Carnaúba do Padre, distrito de Pedro Velho, Natal RN.

Quadro 1 – Público-alvo da intervenção

Desenvolvimento da proposta intervertida

Local: Carnaúba do Padre RN, Projeto social Lindalva.

Público-alvo: Garotas entre 12 a 21 anos do ensino fundamental e ensino

médio cursando e completo.

Período de execução: Agosto a Setembro de 2019.

O grupo estudado foi composto por 12 estudantes, (Quadro 2), entre 12 a 21 anos de

idade, do gênero feminino, sem restrições quanto à etnia e a fatores socioeconômicos,

devidamente autorizados pelos responsáveis. Essas jovens cursavam do sexto ao nono anos do

ensino fundamental, o primeiro ou segundo ano do ensino médio e conclusão de ensino médio.

Quadro 2- Descrição das participantes

Nome Idade Ano que entrou no projeto

T. S. 16 2014

S. F. 16 2014

J. S. 17 2014

P. M. 19 2014

S. C. 16 2015

C. L. 13 2016

L. P. 13 2016

C. F. 13 2017

G. A. 16 2017

L. B. 12 2017

Jeciara Ribeiro 21 2017

41

Foram realizadas três oficinas no período entre agosto e setembro de 2019. No primeiro

encontro, que ocorreu dia 29 de agosto de 2019, foi realizada uma roda de conversa

esclarecendo os objetivos das próximas oficinas. Nesse mesmo encontro as participantes

assistiram a um vídeo, o qual se tratava de uma lembrança da história do grupo, com exposição

de fotos e outros vídeos antigos. Na segunda oficina realizada dia 14 de setembro de 2019, deu-

se início as primeiras temáticas e primeiras dinâmicas acarretadas dos temas: mulheres que

inspiram; empoderamento e sororidade. Na terceira oficina foi realizada uma roda de conversa

sobre o entendimento acerca da desigualdade, do machismo, do assédio, do corpo e o que tudo

isso abarcava na autoestima de cada participante.

De acordo com Teixeira (2012 p. 3) as oficinas ocupam um lugar privilegiado no

desenvolvimento do ser humano em todas as áreas, e oferece-lhe a oportunidade de manipular

diretamente os materiais de comunicação e de expressão, refletindo toda a problemática

relacionada com o ensino através da arte. A prática da oficina foi primordial para realização

dos resultados desse trabalho, através de dinâmicas e de conversas foi possível esclarecer

pontos essenciais da pesquisa, além de serem dinâmicas enriquecedoras com o grupo Lindalva.

Após as oficinas, também foram introduzidas duas atividades referentes aos temas

abordados, foi orientado as participantes, responderem a um questionário final com perguntas

equivalentes a pesquisa e gravar um diário de oficina, contando um pouco do que foi realizado,

e qual era a sua opinião a respeito das oficinas e das atividades realizadas.

A estratégia de interação foi por meio de conversas e observação individual de cada

participante. A partir de visitas que ocorreram nos finais de semana, buscamos vivenciar por

meio de dinâmicas e conversas com as integrantes, de forma que permitisse uma troca de

experiências. Fizemos uma roda de conversas para cada uma ter seu momento de fala, nos

contar um pouco da sua experiência perante as atividades e temas abordados, e, assim

estabelecer uma relação mais próxima com elas. O motivo pelo qual me fez escolher uma

metodologia voltada para a educomunicação através do empoderamento feminino é o de que,

mais do que trabalhar com o projeto Lindalva, é possível destacá-lo e mostrar ao restante da

sociedade a importância que tem esse tipo de prática ao possibilitar a essas adolescentes a se

aceitar e se empoderar e a entenderem os seus direitos.

42

3.4. PROCESSO DE INTERVENÇÃO

3.4.1. Reencontro do grupo Lindalva

Relembrando a trajetória do grupo, no primeiro encontro que ocorreu dia 29 de agosto

de 2019 (FIGURA 6), foi uma reunião de confraternização e reencontro das participantes,

apenas para explicar as próximas oficinas e relembrar um pouco da trajetória do grupo,

sentamos em roda, vimos fotos e vídeos antigos de ensaios, de eventos, entre outros e

conversamos sobre como cada uma estava. Dialogamos também sobre os temas futuros das

oficinas, sobre o que elas achavam, já que deixamos a agenda das oficinas prontas de acordo

com a disponibilidade de cada participante.

Figura 6- Primeiro encontro, agosto de 2019.

Fonte: Arquivo do Projeto Lindalva

3.4.2. Mulheres que inspiram, sororidade e empoderamento

No segundo encontro do grupo (FIGURA 7), ocorreu a oficina em 14 de setembro de

2019, com durabilidade de quatro horas em média, demos início a oficina com uma atividade

online na qual foi solicitado que todas levassem seus dispositivos móveis e buscassem na

internet, alguma mulher que as inspirassem, ou que já tivessem em mente poderia falar também.

Após 15 minutos, abrimos uma roda, na qual todas sentadas começaram a citar e a falar um

43

pouco de cada mulher escolhida pelas participantes. Algumas trouxeram escritoras, estilistas,

cantoras, figuras que fizeram parte da história do feminismo, entre outras.

Figura 7- Segundo encontro, setembro, 2019.

Fonte: Arquivo do Projeto Lindalva

O intuito dessa atividade era trazer à tona a representatividade feminina através de

outras mulheres. Logo em seguida, fizemos uma dinâmica dos sonhos (FIGURA 8) onde as

participantes teriam que escrever seu sonho em um papel e colocá-lo dentro de uma bexiga e

enchê-la. O propósito da atividade era que cada uma pudesse defender o seu sonho, no entanto

as participantes se posicionaram de forma bem positiva, pois, apenas guardando os sonhos com

elas e levando-os dentro da bexiga, o grupo se mostrou bem unido e apoiaram suas colegas

pelos sonhos individuais de cada uma, antes mesmo de falarmos sobre união feminina e

sororidade elas se demonstraram adeptas e unidas.

44

Figura 8- Dinâmica dos sonhos, setembro, 2019

Fonte: Arquivo do Projeto Lindalva

A partir do conceito da sororidade feminina, em um terceiro momento fizemos uma

dinâmica rápida sobre união, onde teriam três voluntárias. A primeira seguraria 3 palitos de

madeira, como aqueles de churrasco, a segunda seguraria 10 palitos e a terceira seguraria um

punhado com os restantes dos palitos. Em seguida, solicitei que a primeira tentasse quebrar os

palitos em com as mãos, ela assim o fez com certa facilidade, perguntei em seguida se tinha

sido fácil e ela respondeu que sim. Posteriormente repeti o processo com a segunda participante

que estava em mãos com os dez palitos, e por sua vez, teve um pouco de dificuldade mais

conseguiu quebrá-los ao meio. E pôr fim a última participante com um punhado de palitos, pedi

para que ela tentasse quebrá-los assim como havia feito com as outras, ela tentou algumas vezes

e não teve sucesso, pedi a elas para refletir e falar sobre a dinâmica, elas chegaram à conclusão

de que quanto maior a união, maior a força. Tornando assim o conceito da dinâmica satisfatório,

pois através da atividade puderam perceber que através da união é mais difícil de serem

vencidas, afirmando o conceito de sororidade feminina.

Fundamentando a sororidade, foi pensado na atividade em que as participantes

escreveriam palavras de qualidades que admiram em suas colegas e as entregariam umas às

outras para que pudessem guardar consigo os comentários das colegas, essa atividade une mais

o grupo, além de incentivar o apoio uma das outras.

Seguindo a premissa do conceito de empoderamento feminino foram propostas as

seguintes atividades para as participantes, dinâmica do Autofeedback (FIGURA 9), na qual

cada participante teria que escrever qualidades individuais em um papel, para depois dividir

com o grupo suas qualidades e dialogarmos um pouco sobre como foi à experiência de ouvir e

45

enxergar suas qualidades. Sentamos em uma roda, pedi para que cada uma delas falasse as

qualidades escritas em voz alta e como se sentiu. A atividade foi bem surpreendente, pois as

participantes tiveram uma certa dificuldade em definir qualidades de si mesmas, alegaram

enxergar mais defeitos e que nunca tinham se colocado num posicionamento de se ver com

positividade, o intuito da atividade era exatamente fazer com que elas olhassem para si com

olhar positivo, se conhecendo melhor e deixando prevalecer sempre suas excelências.

Figura 9- Dinâmica, Auto feedback, dinâmica vocês no futuro e escreva

frase motivadora para suas colegas, setembro, 2019

Fonte: Arquivo do Projeto Lindalva

Seguindo ainda a premissa de que para nos sentirmos empoderadas, é necessário

sabermos quem somos e sermos livres para nos sentirmos bem com aquilo que escolhermos

ser, que foi pensada na dinâmica “Vocês no futuro”. Cada participante escreveu quais suas

metas para o futuro, seja daqui a alguns meses ou alguns anos, essa atividade constituem no

pensamento da participante, ações que ela deseja realizar, as tornando mais próximos e

alcançáveis.

3.4.3. Autoestima e corpo

46

Na última oficina que ocorreu em 29 de setembro de 2019, com a durabilidade em

torno de 4 horas, abordamos as temáticas que englobam a autoestima e o corpo feminino, tais

como preconceito, julgamento, assédio, auto aceitação, padrões de beleza e entre outros. Para

tais temas foram desenvolvidas uma roda de conversa e discussão a partir das diretrizes

temáticas e foram realizadas três atividades, tais como dinâmica do espelho, dinâmica do elogio

e dinâmica dos comentários (FIGURA 10).

Figura 10- Ultima Oficina, setembro,2019.

Fonte: Arquivo do Projeto Lindalva

Demos início a oficina com uma roda de conversa, após assistir o vídeo da música

“Who You Are ” da cantora britânica Jessie J, o vídeo está disponível na plataforma do youtube,

intitulado por, Jessie J - Who You Are [Tradução/Legendado] [The Edge of Seventeen], o vídeo

retrata a música com cenas do filme “ The Edge of Seventeen”, no início do vídeo é mostrado

uma cena do filme na qual a personagem fala o quanto odeia a imagem dela no espelho e como

ela não consegue mudar essa forma de pensar e se ver, no decorrer do vídeo é mostrado cenas

de garotas tratando mal outras garotas por causa da aparência, momentos de baixa autoestima

e aceitação da personagem, a música na qual tem a legenda no vídeo, fala sobre auto aceitação

e sobre seguir seu coração. A um trecho da música que embasa toda a temática desta oficina

de autoestima em que a autora diz, “Eu encaro meu reflexo no espelho, porque estou fazendo

isso comigo mesma?”, após termos assistido o vídeo, indaguei as garotas para que cada uma

fizesse uma reflexão e comentário sobre o vídeo, se elas haviam se identificado.

47

Demos início de fato a nossa roda de conversa, (FIGURA 11) na qual foi cedido o

espaço de voz para cada uma, pude observar que muitas já demostravam feições de emoção

após exposição do vídeo, as participantes então se posicionaram abertamente sobre como se

identificaram com o vídeo, pude perceber comentários no qual elas se colocaram como

indivíduos de uma sociedade a qual julga e impõem muitas responsabilidades as mulheres, as

garotas se posicionaram de uma forma que ficou muito claro o quanto elas se incomodavam

com as atitudes de pessoas perante a vestimenta, corpo e comportamento delas e de todas as

mulheres, o quanto elas se sentem frágeis e constrangidas ao relatar e ter de passar por situações

desse convívio.

Figura 11- Dinâmica preparatória de roda de conversa sobre machismo e assedio,

setembro, 2019

Fonte: Arquivo do Projeto Lindalva

Após a roda de conversa realizamos a atividade do espelho, onde cada uma pegaria o

espelho, se olharia e faria um elogio a si mesma, essa atividade busca o autoelogio, a busca da

participante se enxergar de forma positiva. Pude observar que algumas participantes

conseguiram realizar a atividade com muito êxito e se sentiram felizes, algumas se superaram

ao se elogiar, no entanto tiverem duas participantes que apenas choraram ao se olhar no espelho

48

e indagaram não conseguir ver nada de bonito ao se olharem. Essa atividade retrata a

dificuldade que nós mulheres temos de nos enxergar bonitas, pois nos ensinam que só existe

um tipo de beleza e que ela não é a nossa. Nos ensinam que não nos encaixamos no padrão e

que o diferente é ruim e que as imperfeições são defeitos. Pude refletir o quanto isso é presente,

o quanto isso é lastimoso e o quanto isso interfere na autoestima de uma mulher, levando a

graves consequências no seu futuro.

Após a dinâmica do espelho, realizamos outra atividade a dinâmica do elogio

(FIGURA 12), onde cada participante sentaria em frente a suas colegas e cada colega a

elogiaria, o propósito dessa atividade é mostrar que todas as participantes são belas com suas

particularidades e que todo mundo deve ser elogiado sim, principalmente quando o apoio vem

de outras mulheres. Essa atividade tem como objetivo ajudar essas garotas a se enxergarem

com mais confiança. Percebi que as garotas se sentiram muito bem ao elogiar as colegas e a

serem elogiadas, teve um retorno afirmativo na dinâmica, as ver dando risadas e felizes com

os elogios, foi gratificante.

Figura 12- Dinâmica da autoestima e elogio, setembro, 2019

Fonte: Arquivo do Projeto Lindalva

Após a atividade do elogio, fizemos um quadro de comentários, no qual estava

relacionado a críticas e menções as quais elas já teriam escutado de terceiros, em relação ao

corpo delas, em relação ao grupo Lindalva ou a qualquer outro tipo de comentário negativo em

relação ao comportamento delas e entre outros. A atividade consiste também em comentar

49

sobre essa crítica ou situação de desconforto a qual a participante tenha vívido, o objetivo desta

atividade é desmistificar esse machismo que está enraizado na nossa sociedade, mostrando o

quanto é real, o quanto nós mulheres vivemos isso todos os dias, de que formas lidamos com

tais situações e de que formas podemos enfrentar isso.

Como está exposto na imagem abaixo (FIGURA 13), este é o nosso quadro de

comentários, em que lemos e discutimos as situações vividas e escutadas, recorrentes de

preconceito, machismo e assédio. Pudemos partilhar de situações comuns umas com as outras,

discutir como isso pode afetar no psicológico e comportamentos das participantes, tais como

sair para estudar, andar na rua sozinha, trabalhar, entre outros. Pude perceber que todas as

integrantes vivenciaram uma situação de desconforto na rua ou na escola. Constatando a

realidade na qual nós achamos.

Esse exercício é de extrema relevância para alarmarmos a situações de assédio que são

ocorridas não só em pequenas comunidades como em todo país. É necessário discutirmos a

respeito de ações que podem ser realizadas perante a tais, mas também de discutirmos para

dividi-las, muitas jovens passam por isso e não tem coragem de partilhar a sua dor ou a sua

coragem.

Figura 13- Quadro de comentários machistas a respeito do grupo ou de si próprio,

setembro, 2019

Fonte: Arquivo do Projeto Lindalva

3.4.4. Diário de oficina

50

A proposta do diário de oficina é de cada integrante gravar um vídeo contando o que

considerou das oficinas e como se sentiu sobre os temas abordados. Com o objetivo de elas

relatarem a oficina através de vídeo, inovando a ideia de diário, ao invés de usar a escrita usar

a mídia imagem, além de proporciona uma experiencia de se olhar e refletir. Dessa maneira os

membros do grupo gravaram os diários após as oficinas. De modo geral todas participantes

tiveram um resultado assertivo diante as práticas das atividades, ocasionando uma experiencia

construtiva para mim enquanto pesquisadora e para elas como participantes.

O vídeo de diário da oficina foi gravado em dois momentos, deixei elas bem livres para

fazer da forma que achassem melhor, e me disponibilizei para ajudá-las da forma que

precisassem, algumas gravaram sozinhas e me mandaram outras me pediram a ajuda para

gravar e foram totalizados 18 diários de oficina.

Ao analisar os vídeos gravados pelas participantes, pude observar que nem todas

integrantes tinham conhecimento sobre os conceitos de feminismo, empoderamento e

sororidade, sendo assim a oficina de imediato já abriu expandiu o conhecimento delas sobre os

conceitos, tanto para quem tinha pouco conhecimento ou para quem tinha nenhum, fazendo-as

entender melhor situações que elas vivenciam, porém que não tem entendimento de fato,

proporcionando um senso crítico e identificando seu papel de indivíduo na sociedade.

Através dos vídeos pude observar também, o interesse, o desempenho e evolução das

meninas nas oficinas, o que proporciona um fator incentivador para o projeto do Lindalva, e

para a pesquisa. Ao observar que através das oficinas as integrantes tiveram uma evolução,

podemos classificar como ponto proveitoso toda a experiência, o projeto das oficinas não só

tinha o intuito de conhecimento através das atividades mais também de mudança, mudança

essa que pudesse agregar na vida dessas garotas, seja no âmbito social ou não, para melhor

esclarecer pontos e dúvidas que elas tenham no decorrer de suas experiências como mulheres

e como indivíduos de uma sociedade.

3.4.5. Análise do questionário

O questionário foi aplicado em conjunto com a última oficina que ocorreu em 29 de

setembro de 2019, o questionário foi aplicado no final das atividades, como o intuito de

esclarecer questionamentos diante as temáticas abordadas como também fazer as participantes

refletirem através das atividades realizadas em todos os encontros.

O questionário foi pensado partindo do contexto da representação dos conceitos de

empoderamento, feminismo, autoestima e sororidade aos quais estão englobados em todas as

51

oficinas realizadas. As participantes realizaram a ação do questionário de forma bem dinâmica,

cada uma respondeu da forma que se sentia bem, não foi imposto nenhum posicionamento,

foram deixadas livres, sentadas, ao som de músicas calmas, para responderem e refletirem no

seu tempo e liberdade.

Questão 1 Como é participar do projeto LINDALVA?

Os relatos perante está pergunta foram bem positivos, pois, descreveram o projeto Lindalva

como algo reflexivo, incrível e inovador no sentido de poder conversar sobre as temáticas do

feminismo, empoderamento, sororidade e autoestima. Se mostraram bem contentes com o

projeto, alegando ter ajudado na sua autoestima, confiança, sabedoria.

Questão 2 Como você se sente participando de um grupo de dança?

De acordo as com as respostas desse questionamento, as participantes relataram que

participar de um grupo de dança, as trás liberdade, expressividade e felicidade, no entanto

falaram bastante do sentimento de amizade e apoio entre elas, fortalecendo a confiança no

grupo e nelas mesmas, através da dança puderam se sentir parte de um nicho, fortalecendo a

ideia de inclusão do projeto.

Questão 3 O que você acha dos temas discutidos nas oficinas e qual a relevância que eles têm

pra sua vida?

Nas oficinas como já foi citado, foram tratados temas como representatividade,

empoderamento, sororidade e autoestima, conforme o conteúdo as participantes esclareceram

que através das oficinas abordadas, puderam aprender mais sobre os temas, alegaram ser

essencial e importante para o conceito de formação de seus posicionamentos como mulher na

sociedade, como também esclarecedor. As participantes alegaram também se identificar

bastante com os temas, como inclusive ver a sociedade de forma diferente e com mais alerta.

Questão 4 Como você se sente quando dança?

Diante este questionamento da expressão da dança, a maioria das participantes citaram

palavras como liberdade, felicidade, relaxadas, fortes e empoderadas. Se descaram dois

posicionamentos bem distintos, uma das participantes relatou que quando dançava era o único

momento que se sentia bonita de verdade, já a outra participante respondeu que não se sentia

tão também devido sua autoestima enquanto praticava a dança. Perante esta avaliação podemos

52

perceber que a dança ajuda na autoestima das participantes, algumas com mais dificuldades e

outras se sentem muito melhores quando praticam.

Questão 5 Como você enxerga o meio social em que vive e como vêm você?

Nesta questão podemos observar o meio social no qual as participantes encontravam-

se, através das respostas onde a maioria das participantes, desaprovaram atitudes machistas

perante a sociedade e comunidade em questão, criticaram também comentários sexistas e

machistas diante da vestimenta e comportamentos. Afirmando ainda mais os julgamentos que

nós mulheres temos que lidar devido uma sociedade retrógrada e machista.

Questão 6 Como foi gravar o diário da oficina usando a mídia, o celular como meio de diário

ao invés de expor escrevendo?

O diário de oficina é uma proposta de atividade onde pode auxiliar a participante a usar

o aparelho móvel como meio de diário, quebrando uma barreira ao se olhar e falar sobre aquilo

que sente, e uma forma de saber a opinião delas diante os temas e atividades ocorridos nas

oficinas. Na questão de número seis, pude observar que de fato foi uma barreira quebrada elas

se sentirem fortes ao falar consigo mesmas, proporcionando um diálogo com seu eu e uma

reflexão daquilo visto na oficina. As participantes alegaram ser um ato difícil devido a

insegurança e autoestima, no entanto alegaram também ser libertador e positivo.

Questão 7 Na sua opinião participar de um grupo só de garotas, te traz alguma confiança em

si própria e no seu corpo?

Atualmente os julgamentos perante padrões de beleza veem mudando, no entanto com

crescimento, da mídia, da internet e redes sociais sabemos que ainda é muito árdua a quantidade

de informações, imposições e julgamentos que nós mulheres temos que lidar. Diante disso é

necessário ter medidas que auxiliam garotas desde muito jovem a aprender a não se ver como

módulo de beleza. Na questão de número sete, pude observar que a participantes se sentem

mais seguras em um ambiente que só têm mulheres, se sentem confortáveis por não serem

julgadas entre elas e sim apoiadas e enxergam o grupo como forma de empoderamento delas e

de outras garotas.

Questão 8 Como o grupo ajudou na sua auto- estima?

É de extrema relevância para o projeto e para pesquisa, entender o caminho que as

atividades alcançam, deste meio é necessário também entender de que forma o trabalho ajuda

na formação e papel de indivíduos das participantes, acarretando uma maneira positiva através,

53

por exemplo, do empoderamento feminino e da sororidade para as participantes, as levando

assim boas experiências e posicionamentos perante seu autoconhecimento. Mediante a isto foi

visto e necessário à inclusão deste questionamento para melhor esclarecimento do propósito do

projeto. As participantes alegaram positivamente que o grupo ajudou sim na sua autoestima.

Questão 9 O grupo já lê ajudou a superar algum problema de autoestima ou situação que te

ocorreu, se sim como?

Em face da perspectiva da sororidade feminina, onde o objetivo é a solidariedade e apoio

entre as mulheres, onde pode ser enxergada a união feminina. Devido a sua importância a

questão de número nove pode confirmar esse questionamento, pois, as participantes alegaram

que sim, através do apoio das componentes, de conversas e das oficinas, todas puderam se

sentir mais positivas e com melhor com sua autoestima.

Questão 10 Como você se sente em participar de um grupo onde além de se expressar pode ter

conversas abertas sobre situações comuns no dia a dia de jovens mulheres?

Nós crescemos enxergando nas outras mulheres, concorrentes. De acordo com Souza

(2016), todas nós somos perfeitamente capazes de manter relações de amizade e

companheirismo umas com as outras, mas nos ensinaram o contrário durante toda a vida. Como

esse questionamento gostaria de levar em consideração a sororidade feminina que tem como

ideal a união e feminina, perante isso foi observado na questão de número dez que as

participantes se sentem bem, acolhidas, livres e apoiadas, sendo assim as motivando a ser

capazes de quebrar suas barreiras.

Questão 11 O que você acha do padrão de beleza imposto pela sociedade?

Todas as participantes se mostraram indignadas e acreditam que o padrão de beleza

imposto pela sociedade é incansável, irreal e cruel com elas e com todas as mulheres pois

podem acarretar graves consequências psicológicas e de saúde.

Questão 12 Como você acha que reflete na sua vida o padrão de beleza mostrado nos

comerciais, nas redes sociais, filmes e entre outros?

As participantes alegaram não mostrar a realidade de muitas mulheres perante a sua

imagem, citaram um posicionamento exagerado em busca da beleza, se alegaram inferiores ao

padrão de beleza da mídia, por isso se sentem envergonhadas, acusaram de ser motivo de sua

baixa autoestima e insegurança, com exceção de apenas uma participante que indagou que os

padrões impostos não mudaram e que não se importava.

54

Questão 13 Você acredita que o assédio sofrido por garotas é culpa de uma sociedade machista

e patriarcal?

Segundo Ferreira (2004), o sexismo seria resquício da cultura patriarcal, isto é, um

instrumento utilizado pelo homem para garantir as diferenças de gênero, sendo legitimado por

atitudes de desvalorização do sexo feminino que vão se estruturando ao longo do curso do

desenvolvimento, apoiadas por instrumentos s legais, médicos e sociais que as normatizam.

Todas as participantes alegaram que sim, acreditam ter interferência sim em suas vidas a

questão do machismo devido a uma sociedade extremamente patriarcal e sexista. Mostrando

que é necessário sempre buscar direitos, igualdade e mudanças na nossa sociedade.

Questão 14 Como você lida com os estereótipos impostos?

Os estereótipos perduram durante muitos anos e até os dias atuais em nossas mídias,

como filmes, livros, comerciais, novelas e entre outros, como uma forma de impor

comportamentos dos públicos, devido a esse culto da beleza e da perfeição estética feminina,

muitas mulheres sofrem desde crianças opressões sobre seus corpos, ocasionam inseguranças

e transtornos e problemas de saúde, devido a essa indagação é visto e necessário que nos

impusemos a tais disseminações. Algumas participantes se demonstraram indignadas com os

padrões impostos, alegando incomodo e se sentirem afetadas por tal, porém grande maioria

falou que não se deixa afetar.

Questão 15 Você concorda que garotas do ensino fundamental ao ensino médio, sofrem com

baixa autoestima?

Sabemos que é na adolescência onde é mais intenso que sofremos com diversos dilemas

e opressões diante a nossa imagem e corpo, onde nós deparamos com mudanças no corpo, e

isso também reflete na forma como outras pessoas nós veem, no entanto, nós mulheres

sofremos devido ao sistema sexista em que vivemos, pensando nesse questionamento a

pergunta de número quinze, nos faz perceber ainda mais o quanto isso é prejudicial a imagem

e auto estima das mulheres. As participantes alegram sim para essa posição, alegando que as

prejudica sim.

Questão 16 Você concorda que meninas estão sendo educadas para serem perfeitas e meninos

não?

Historicamente, as mulheres foram ensinadas a ocupar os espaços privados, como fazer

as tarefas domésticas e cuidar dos filhos, enquanto o espaço público era destinado aos homens.

55

Essa desigualdade ainda persiste em alguns casos, por isso, ser representada é uma forma de

normalizar a presença das mulheres nos ambientes sociais. Falar em representatividade

feminina é falar na defesa de uma sociedade mais igualitária, na busca pela garantia de direitos

e na criação de modelos femininos diversificados que possam servir de inspiração para outras

meninas e mulheres. As participantes alegaram nesse questionamento que as meninas são

criadas de forma diferente, tendo que lidar com a opressão e direitos não igualitários.

Questão 17 Devido à falta de representatividade, muitas meninas não acreditam em sua

capacidade de liderar?

A desigualdade de gênero é algo que remete intencionalmente na representatividade, é

necessário para se ter representatividade, ver mulheres em postos de visibilidade, tais como política,

grandes empresas e entre outras profissões, além do que devido à falta de representatividade, muitas

meninas não acreditam em sua capacidade de liderar, tornando assim um ato questionável a medidas,

é necessário incentivo e representação para as atuais e futuras gerações de mulheres. Na pergunta

em questão todas as participantes afirmaram acreditar nesta falta de representatividade feminina,

que ocasiona essa insegurança.

Questão 18 O que é beleza pra você?

O mito da beleza se torna um fenômeno quase universal, invadindo as mais diversas

culturas, ampliando o mercado para tais indústrias. “Enquanto o horário nobre da televisão e a

imprensa em geral dirigida às mulheres forem sustentados pelos anunciantes de produtos de

beleza, o enredo de como as mulheres aparece na cultura de massa será ditado pelo mito da

beleza” (Eco, 2004, p.370). Diante desse questionamento podemos analisar a questão de

número dezoito como uma reflexão dos padrões de beleza imposto durante todos esses anos de

história. As participantes classificaram a beleza como algo de estado de espirito, como caráter,

e algo pessoal, como se sentir feliz, ter um caráter designado como correto, se sentir bela e

autêntica.

Questão 19 Você se sente julgada quando dança?

Não é de hoje que o machismo perdurar na nossa sociedade, e nós mulheres sofremos

com julgamentos todos os dias em tudo que nós fazemos e vestimos então qual a importância

desse questionamento acima, pois bem, é necessário dialogarmos que nós mulheres somos

donas do nosso corpo, que temos o direito de escolha e que não devemos tolerar nenhum tipo

de assédio ou violência. Infelizmente sabemos que grande culpado desse sofrimento é a nossa

sociedade e cultura patriarcal de dominação do corpo feminino, e devido a isso é importante

56

sabermos como meninas e mulheres se sentem ao fazer qualquer atividade, seja ela dançar,

andar na rua, ir trabalhar, ir para escola, e entre outras, para entendermos como acontece o

julgamento diante a figura mulher. No entanto a pesquisa apontou também que elas se mostram

inquietas perante esses pensamentos e que dançam porque gostam que não tenha que se

importar com os julgamentos e que tem de ser respeitadas acima de tudo.

Questão 20 Após as oficinas sobre corpo e autoestima, como isso te ajudou a se enxergar?

É um dos objetivos desta atividade auxiliar as participantes a se entender melhor e a

enxerga-las de forma mais positiva e menos julgadora. Acredita-se que pudesse ajudar de

alguma forma na autoestima individual das participantes. Perante a isso o resultado foi

gratificante, observando que todas as participantes se sentiram de alguma forma melhor com

as oficinas.

57

Apontamentos Finais

Muitas questões foram suscitadas durante o percurso deste projeto. Trouxe algumas

delas como parte de um processo que se cumpre como prazo, mas cuja continuidade é

permanente. Pensar este trabalho na perspectiva da educomunicação, da maneira como ela

contribui no dia a dia de jovens como as do projeto Lindalva é muito importante. Sabemos que

o acesso a práticas educacionais de formação e informação é essencial para jovens do futuro.

Os benefícios são diversos: melhora a comunicação, interação, criatividade e a autoestima

proporcionada as participantes.

A forma como os capítulos foram dispostos ao longo do processo construtivo desse

estudo, reflete a necessidade de aproximação e compressão dos aspectos fundamentais dos

quais trata a temática. No capítulo I, A dança como empoderamento feminino buscou-se

esclarecer a pessoa de Lindalva a qual consistiu como fonte inspiradora para a construção do

projeto. A dança como relato pessoal, trouxe apontamentos como de que forma a identidade

do grupo poderia revelar questões sociais como representatividade e empoderamento. Já em

Publicidade, corpo e dança buscou-se descrever a dança como prática social e de construção

pessoal por agregar valores na formação dos indivíduos por meio do empoderamento ao

possibilitar se expressar melhor. E por fim, a História do projeto que resgatou toda a trajetória

e o processo de construção e idealização que apesar das dificuldades enfrentadas se consolidou

enquanto grupo e projeto social.

Já no capítulo II intitulado Educomunicaçao, resgata o objetivo dessa prática educacional

que tem capacidade social, educativa e comunicacional para modificar uma realidade por meio

do senso crítico e motivacional. Foi possível compreender no item A expressão comunicativa

por meio da dança trás pressupostos da arte e sua capacidade de fazer comunicação por meio

da imersão artística representada pela dança. Posteriormente, por meio do item:

Educomunicação e dança, foi possível identificar o caráter de inovação de práticas

educacionais por meio da comunicação e das mídias sendo a dança e corpo como meio de mídia

e expressão comunicativa de indivíduos.

O capítulo III discorre sobre A experiência do projeto Lindalva, faz-se menção no

item: Movimento feminista, Empoderamento, Sororidade e Autoestima trás a descrição

desses conceitos em um diálogo destacando pontos cruciais que percorrem a desigualdade

entre homens e mulheres ao longo da história. Trás ainda questões de gênero por meio da

ideia de que as mulheres são inferiores aos homens devido à condição biológica de que é

58

mais frágil ou algo do gênero. Nos itens Metodologia e Discussão é possível identificar

apontamentos sobre o desenvolvimento de todas as ações do projeto e das oficinas realizadas,

que culminaram nos resultados da pesquisa.

As percepções acerca do processo interacional e interpessoal estão às atividades

desenvolvidas no projeto, as quais são de extrema importância e aprendizado para os membros,

no entanto as principais foram às trocas de ensinamentos entre as participantes. A primeira

atitude a ser tomada é abordar assuntos como este do projeto Lindalva, pois através dele essas

discussões sobre o comportamento social diante do machismo, empoderamento feminino e

sororidade sempre são pertinentes e essenciais. A igualdade e a educação são as ferramentas-

chave para a mudança de um país. Com a elaboração do projeto, pudemos colocar em prática

tantos ensinamentos que são diariamente repassados por nossos professores, como a busca por

uma comunicação social mais humanitária e justa.

E mais que isso, faça algo que irá agregar na vida do próximo. O que tentei fazer com

este trabalho é apenas o começo do que ainda pode ser feito. Muitas ações e debates podem ser

realizados a partir disso. Ideias como essa, que é desenvolvida no projeto Lindalva, devem ser

divulgadas e reconhecidas.

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II. São Carlos – SP 2019.

MARTINS, Lorena Gabriela Santos, Sororidade na educação: uma experiência com oficina de

empoderamento feminino, UBERLÂNDIA.2019

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ANEXOS

TERMO DE AUTORIZAÇÃO DE USO DE IMAGEM E VOZ PARA MENORES DE

IDADE

Eu,____________________________________________, portador da Cédula de identidade

RG nº.__________________, inscrito no CPF/MF sob nº

_________________________________. Responsável legal pelo(a) menor

_______________________________________ Portador de identidade RG nº

___________________. Depois de conhecer e entender os objetivos, procedimentos

metodológicos, riscos e benefícios da pesquisa, bem como de estar ciente da necessidade do

uso de minha imagem e/ou depoimento, especificados no Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (TCLE), AUTORIZO, através do presente termo, os pesquisadores (Ilana Kelly

Freire de Lima e a professora e orientadora Janaine Aires ) do projeto de pesquisa intitulado

“EDUCOMUNICAÇÃO E EMPODERAMENTO FEMININO ATRAVÉS DA DANÇA:

RELATO DA EXPERIÊNCIA COM O PROJETO SOCIAL LINDALVA, CARNAÚBA DO

PADRE,RN. A realizar as fotos, vídeos que se façam necessárias e/ou a colher meu depoimento

sem quaisquer ônus financeiros a nenhuma das partes.

Ao mesmo tempo, libero a utilização destas fotos (seus respectivos negativos) e/ou

depoimentos para fins científicos e de estudos (livros, artigos, slides e transparências), em favor

dos pesquisadores da pesquisa, acima especificados, obedecendo ao que está previsto nas Leis

que resguardam os direitos das crianças e adolescentes (Estatuto da Criança e do Adolescente

– ECA, Lei N.º 8.069/ 1990), dos idosos (Estatuto do Idoso, Lei N.° 10.741/2003) e das pessoas

com deficiência (Decreto Nº 3.298/1999, alterado pelo Decreto Nº 5.296/2004).

Natal RN, dia _____ de ______________ de ___________.

(assinatura do responsável)

(assinatura do menor)