educar para a tecnologia - moodle.cpscetec.com.br · este artigo tem por objetivo lançar algumas...

8

Click here to load reader

Upload: lebao

Post on 29-Dec-2018

212 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Educar para a Tecnologia - moodle.cpscetec.com.br · Este artigo tem por objetivo lançar algumas questões e tecer algumas considerações que contribuam para a discussão sobre

Revista Científica da FAI, Santa Rita do Sapucaí, MG, v. 10, n. 1, p. 38-45, 2010 38

Educar para a Tecnologia

Sergio Eugenio MeninoMestre em Tecnologia e Pesquisador do Programa de Mestrado emTecnologia: Gestão, Desenvolvimento e Formação do Centro Estadualde Educação Tecnológica Paula Souza.E-mail: [email protected]

Helena Gemignani PeterossiDoutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)e Coordenadora da Unidade de Pós-Graduação, Extensão e Pesquisa edo Programa de Mestrado em Tecnologia: Gestão, Desenvolvimento eFormação do Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza.E-mail: [email protected]

RESUMO

Este artigo tem por objetivo lançar algumas questões e tecer algumas considerações que contribuam para a discussãosobre o Ensino para a Tecnologia no Brasil. É oriundo dos estudos efetuados dentro da Linha de Pesquisa de Gestão eDesenvolvimento da Formação Tecnológica do Programa de Mestrado em Tecnologia do Centro Paula Souza, maisespecificamente no âmbito da confecção da dissertação de mestrado intitulada Formação Tecnológica para a Sociedadedo Conhecimento e dos projetos de pesquisa em Políticas Públicas para a Formação Tecnológica, notadamente, oProeja-Capes/Setec.

Palavras-chave: Formação tecnológica. Capacitação tecnológica. Educação profissional e tecnológica. CentroPaula Souza.

Page 2: Educar para a Tecnologia - moodle.cpscetec.com.br · Este artigo tem por objetivo lançar algumas questões e tecer algumas considerações que contribuam para a discussão sobre

Educar para a Tecnologia

39 Revista Científica da FAI, Santa Rita do Sapucaí, MG, v. 10, n. 1, p. 38-45, 2010

ABSTRACT

This article aims at shedding some issues and some considerations in order to contribute to the discussion on Educationfor Technology in Brazil. It comes from the studies conducted within the Management and Development of theTechnological Training Program Master of Technology Paula Souza Center, specifically in the making of the master´sthesis entitled Technological Training for the Knowledge Society and projects Research on Public Policy for TechnologicalTraining, specially the Proeja-Capes/Setec.

Keywords: Technological Training. Technological capabilities. Professional and Technological Education. PaulaSouza Center.

Recebido em: 25 jun. 2010.Aprovado em: 5 ago. 2010.Sistema de avaliação: Double Blind Review

Page 3: Educar para a Tecnologia - moodle.cpscetec.com.br · Este artigo tem por objetivo lançar algumas questões e tecer algumas considerações que contribuam para a discussão sobre

Revista Científica da FAI, Santa Rita do Sapucaí, MG, v. 10, n. 1, p. 38-45, 2010 40

Educação

INTRODUÇÃO

Este artigo tem por objetivo lançar algumasquestões e tecer algumas considerações quecontribuam para a discussão sobre a educação para atecnologia no Brasil.

O interesse dos autores sobre o assuntooriginou-se das pesquisas efetuadas, no Ceeteps1 , paraa confecção da dissertação de mestrado intituladaFormação Tecnológica para a Sociedade doConhecimento2 e, atualmente, dentro do projeto sobreEducação Profissional e Tecnológica integrada àEducação dos Jovens e Adultos, com recursos doProeja-Capes/Setec3 .

Tal tema está sendo trazido à tona a partir dasdiscussões pelo momento de transição que se vivenciana economia e no ambiente de negócios. Caracterizadospela dinâmica do avanço da fronteira da inovaçãotecnológica, cujo ritmo é ditado por países com fortepresença do conhecimento como insumo básico emseus produtos e processos. Países que, em algummomento das últimas décadas, adotaram um modelopróprio de ensino/aprendizagem tecnológico como umesforço estratégico nacional.

Além disso, a inserção da economia brasileiraem mercados globalmente competitivos e a manutençãode variadas situações de exclusão social têm levado aeducação para a tecnologia a ser vista com interessepelos formuladores de políticas públicas, pelasempresas e pela sociedade em geral.

Para o Ministério da Ciência e Tecnologia, porexemplo, e sintetizando o pensamento de muitos, esteé um momento que:

[...] constitui, para o Brasil, oportunidade semprecedentes para resgatar a sua dívida social, alavancar

o desenvolvimento e manter uma posição decompetitividade econômica no cenário internacional(TAKAHASHI, 2000, p. 5).

CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Segundo Fourez (1995, p. 169):

[...] durante muito tempo, ciência4 e técnica sedesenvolveram em separado. Na verdade, muitasvezes foi a técnica que esteve em avanço emrelação às compreensões teóricas. Havia máquinasa vapor, por exemplo, bem antes que se falasse nociclo de Carnot.

Hoje a ciência está ligada ao desenvolvimento datécnica, uma soma e interação que se transforma natecnologia: “Um conjunto complexo de conhecimentos, demeios e de know-how, organizado com vistas a umaprodução.” (RIBAULT et. al., 1995, p. 13). Apesar deintimamente ligadas, ciência e tecnologia guardamdiferenças tanto em seus objetivos, quanto em seusmétodos.

Mas que fique claro que não há tecnologia semciência, caso em que se reduz ao empirismo da técnica. Aciência é condição necessária para a tecnologia, mas nãoúnica nem suficiente.

Ainda como relevantes para o desenvolvimentodo tema abordado, indicam-se as seguintes característicasda tecnologia:

1 Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza, autarquia do Governo do Estado de São Paulo mantenedora das Faculdades deTecnologia (Fatecs), das Escolas Técnicas Estaduais (Etecs) e do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia: Gestão, Desenvolvimentoe Formação.

2 Defendida em 2004 por Sergio Eugenio Menino, sob a orientação da Profa. Dra. Helena Gemignani Peterossi.3 Programa de Apoio ao Ensino e à Pesquisa Científica e Tecnológica em Educação Profissional Integrada à Educação de Jovens e Adultos,

programa conjunto da Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (Capes) e da Secretaria de Educação Profissionale Tecnológica do Ministério da Educação (Setec).

4 Com o termo Ciência este artigo se refere ao conceito de Ciências Puras, “ou também de ciências fundamentais, a uma prática científicaque não se preocupa muito com as possíveis aplicações em um contexto societário, concentrando-se na aquisição de novos conhecimentos”(FOUREZ, 1995, p. 196).

- para sua existência o conhecimento, os meios, o know-how e a aplicação prática têm que estar todos pre-sentes;

Page 4: Educar para a Tecnologia - moodle.cpscetec.com.br · Este artigo tem por objetivo lançar algumas questões e tecer algumas considerações que contribuam para a discussão sobre

41 Revista Científica da FAI, Santa Rita do Sapucaí, MG, v. 10, n. 1, p. 38-45, 2010

5 “Combinação de inovações de produto, de processo, técnicas, organizacionais e administrativas, abrindo um leque de oportunidades deinvestimento e de lucro. O paradigma tecnoeconômico constitui, portanto, o resultado de um processo de seleção de uma série decombinações viáveis de inovações técnicas, organizacionais e institucionais provocando transformações que permeiam toda a economiae que exercem uma importante influência no comportamento da mesma” (ROVERE, 2006, p. 290).

Essa diferenciação e essas características devemestar em mente quanto se desenvolvem políticas,programas, projetos e metas de educar para a tecnologia.

PARADIGMA TECNOECONÔMICO

A transição de que fala a introdução deste artigoé, principalmente, a transição do paradigmatecnoeconômico5 : do Fordismo para Tecnologias deInformação e Comunicações (ROVERE, 2006, p. 292); e queestá inserida na transição maior da Sociedade Industrialpara a Sociedade do Conhecimento, caracterizada peloavolumar da importância do conhecimento, da concepçãode pesquisa e desenvolvimento e da incorporação detecnologias ao conjunto das atividades das sociedadeshumanas (DOWBOR, 2001, p. 22).

No processo, que envolve aspectos de toda asociedade, está incluída a educação.

O modelo de educação universal, que se utilizaaté hoje, foi moldado e imbuído dos princípios da produçãoem massa da Sociedade Industrial e do Fordismo:padronização, especialização, sincronização, concentração,maximização, centralização (TOFFLER, 1980, p. 59).

Com o advento do novo paradigmatecnoeconômico, a transição “da administração taylorista/fordista para a gestão flexível, gerou forte impacto nocomportamento das organizações.” (FLEURY, 2002, p. 187).

Os novos fatores tecnológicos, sociais eeconômicos colocaram em questão as estruturas

verticalizadas e hierarquizadas, a centralização das decisõese a divisão entre trabalho manual e mental; contrapondoaos princípios fordistas os seguintes fundamentos dosnovos modelos de organização: flexibilidade, diversificação,autonomia, uso de tecnologia de automação e o perfil detrabalhador gestor (EBOLI, 2002, p. 187).

Nesse novo paradigma se depende cada vez maisda participação dos trabalhadores na gestão da produção eatividades correlatas, e para isso, é necessária uma mão-de-obra com adequada qualificação para não apenas adotarinovações, mas ser capaz de gerá-las (SALM; FOGAÇA,1995, p. 5).

Condições que devem estar presentes e serreproduzidas quando se educa o indivíduo para a tecnologia.

EDUCAR PARA A TECNOLOGIA

O problema central da Educação para a Tecnologiaé que o sucesso ou o fracasso do processo tecnológicodepende do receptor e da qualidade de seus saberesintegrais ou esfacelados (ZAGOTTIS apud SALM;FOGAÇA, 1995, p. 16).

Isso se traduz no objetivo do Educar para a Tecnologiaque é construir capacitação tecnológica. Que significa:

E, que é constituída por:

- know how: saber como;

- know why: saber por quê;

- feeling: ter sensibilidade e;

- skill: ter habilidade.

Educar para a Tecnologia

- a tecnologia é transferível e negociável, tendo valoreconômico como investimento e patrimônio;

- uma tecnologia é produto da soma ou da interaçãosempre de mais de uma área de conhecimentocientífico;

- ela se subdivide em três ramos: inovação, gestão eestratégia de negócios.

[...] saber usar o conhecimento disponível no processodecisório, na produção doméstica, na transferência, nadifusão ou em qualquer outro mecanismo que tragaincremento à produtividade e à qualidade dos produtose serviços. (CEETEPS, 1999, P. 26)

Page 5: Educar para a Tecnologia - moodle.cpscetec.com.br · Este artigo tem por objetivo lançar algumas questões e tecer algumas considerações que contribuam para a discussão sobre

Educação

Revista Científica da FAI, Santa Rita do Sapucaí, MG, v. 10, n. 1, p. 38-45, 2010 42

Três são as formas de se adquirir a CapacitaçãoTecnológica:

A opção pela forma de Capacitação Tecnológicaapresenta condicionantes, limitações e dificuldades paratodos os processos.

Como foi dito a Tecnologia tem valor econômicoe, para além disso, tem alto custo para se desenvolver ebaixo custo para se reproduzir, se copiar. Por isso, osdetentores da propriedade das descobertas tecnológicas,empresas ou seus países, formulam políticas (tratados,patentes, tarifas, sanções) em relação aos países emdesenvolvimento que restrinjam a Adaptação e mantenhamcondições vantajosas de negócio na permissão deAbsorção por estes.

Além disso, as tecnologias absorvidas ouadaptadas de países desenvolvidos, geralmente, são decapital intensivo e poupadoras de mão-de-obra: recursoescasso o primeiro e abundante o segundo.

E por fim, o Ciclo de Negócios, do desenvolvimentode um produto até sua obsolescência, torna-se cada vezmais curto; obrigando à atualização das tecnologiasempregadas a intervalos menores.

Por isso é necessário para o Brasil fazer uma opçãoestratégica pela Inovação. Desenvolver esforços e políticas

que permitam construir um eficiente Sistema Nacional deInovação Científica e Tecnológica6 . E dentre esses esforçose políticas, educar para a Tecnologia.

Educar para a Tecnologia, hoje, é educar para aInovação, um processo complexo, interativo e não-linear.Levando em conta que:

[...] combinados, tanto os conhecimentos adquiridoscom os avanços na pesquisa científica, quanto asnecessidades oriundas do ambiente (sociedade emercado) levam a inovações em produtos e processos ea mudanças na base tecnológica e organizacional de umaempresa, setor ou país. (PETEROSSI, 2003, p. 140).

Após se considerarem os aspectos descritosaté aqui, pode-se apresentar uma série de pontos aserem incluídos quando se discutem ou formulampolíticas, programas e projetos de Educação para aTecnologia:

1) A integração e a complementaridade entre a Educaçãogeral e a Educação para a Tecnologia.

Uma discussão que tem se convertido em idas evindas nos currículos educativos. Educar o jovem e o adultopara a tecnologia compreende tanto a Educação Geralquanto os conteúdos específicos da Educação Profissionale Tecnológica.

A Educação Geral (e aqui se inclui Educar paraa Ciência) importa sobremaneira para o Educar para aTecnologia pela necessidade da compreensão sistêmicae completa do processo produtivo e de construção derelações mais cooperativas de trabalho pelo indivíduo,

1 Mais comumente conhecido por sua nomenclatura em inglês National Innovation System (NIS), um conjunto de organizações e instituições(no sentido de “regras do jogo” da Nova Economia Institucional) cujo fim é construir a capacidade para a inovação tecnológica de um país.O conceito foi popularizado pelos economistas neo-schumpeterianos evolucionários, tais como Nelson, Dosi e Winter.

“O avanço da fronteira da inovaçãotecnológica tem seu ritmo ditado por paísescom forte presença do conhecimento como

insumo básico em seus produtos eprocessos.”

- absorção: é a compra direta (permissão de posse ouacesso) de uma tecnologia de uma empresa ou insti-tuto que detenha sua propriedade no país ou no ex-terior;

- adaptação: que se constitui na prática da engenhariareversa; saber como funciona uma tecnologiadescoberta por outros e procurar duplicar cada umde seus componentes até reproduzir o produto ouserviço final;

- inovação: é o estágio criativo da tecnologia no qual,por meio de pesquisa e desenvolvimento, emorganizações acadêmicas ou empresas, originam-senovos produtos e processos.

Page 6: Educar para a Tecnologia - moodle.cpscetec.com.br · Este artigo tem por objetivo lançar algumas questões e tecer algumas considerações que contribuam para a discussão sobre

43 Revista Científica da FAI, Santa Rita do Sapucaí, MG, v.10, n. 1, p. 38-45, 2010

7 A Competência é um conceito ligado ao desempenho elevado de uma organização ou indivíduo, podendo ser definida como a soma einteração entre conhecimentos (o que se precisa saber para desempenhar uma tarefa), habilidades (demonstração de talento particularpara uso na prática) e atitudes (capacidade ou grau de socialização): saber, saber fazer e saber ser.

“Transição maior da Sociedade Industrialpara a Sociedade do Conhecimento.”

fruto de habilidades intelectuais adquiridas na EducaçãoBásica, proporcionando um melhor desempenho eprodutividade (SALM; FOGAÇA, 1995, p. 7).

Inclui, também, procurar criar formas dearticulação entre Educação, Qualificação e SetorProdutivo.

2) A qualificação do corpo docente.

Tanto licenciados para a Educação Geral quantoprofissionais de mercado, com experiência específica,para as disciplinas vocacionais devem estar qualificadosadequadamente, seja na didática e pedagogia quanto ematualizações constantes das tecnologias e práticas demercado.

E a ele devem ser oferecidas: boa remuneração,estabilidade, plano de carreira e condições de trabalhoque façam com que os melhores profissionais sedirecionam à área educacional.

3) Os novos paradigmas educacionais, notadamenteo Ensino por Competências7 .

Para as autoridades educacionais, os currículos deEducação para a Tecnologia devem ser organizados em tornode Competências como eixo norteador, ao invés de disciplinase conteúdos. Recomendando-se que o currículo(interdisciplinar, flexível e com projetos de pesquisaincorporados) contenha (SEMTEC, 2000, p. 27):

4) Long life learning.

A mudança de paradigma tecnoeconômico gerouconsequências que levaram à perda de funções e postosde trabalho: terceirização das atividades-meio, novasespecializações profissionais, transformação ou eliminaçãode formas tradicionais de trabalho, aumento da disparidadede remuneração entre qualificados e não qualificados e adiminuição de níveis hierárquicos.

O que acarretou para o profissional o ônus de serresponsável pela própria empregabilidade: manter-sequalificado para o posto de trabalho, ou capaz derequalificar-se rapidamente quando perdê-lo.

Para além da educação regular, o Educar para aTecnologia envolve o desenvolvimento de projetos ecursos de formação continuada, conduzindo a certificaçõesplenamente integradas às demandas do mercado por novascompetências e habilidades.

“O sucesso ou o fracasso do processotecnológico depende do receptor e da

qualidade de seus saberes integrais ouesfacelados.”

Educar para a Tecnologia

- Competências: saberes articulados e mobilizados pormeio de esquemas mentais.

- Habilidades: que permitem a colocação em práticadessas competências de maneira eficiente e eficaz; osaber relacionado à prática do trabalho.

- Bases tecnológicas: conjuntos sistematizados deconceitos, princípios e processos (métodos, técnicas,termos, normas e padrões) resultantes em geral, daaplicação de conhecimento científico à áreaprofissional.

- Bases científicas: conceitos e princípios das ciênciasda natureza, da matemática e das ciências humanas,que fundamentam as tecnologias e as opçõesestéticas e éticas das atividades em questão.

- Bases instrumentais: domínio de linguagens ecódigos que permitem leitura do mundo ecomunicação com ele e de habilidades mentaispsicomotoras e de relação humana, gerais e básicas.

Page 7: Educar para a Tecnologia - moodle.cpscetec.com.br · Este artigo tem por objetivo lançar algumas questões e tecer algumas considerações que contribuam para a discussão sobre

Educação

Revista Científica da FAI, Santa Rita do Sapucaí, MG, v.10, n. 1, p. 38-45, 2010 44

5) Acessibilidade às novas tecnologias, de formainclusiva, tanto por equipamento físico quanto porlinguagem.

Para além das formas tradicionais de exclusão (social,racial, gênero) acrescentou-se nas últimas décadas a exclusãodigital: a divisão entre os que têm e os que não têm acesso àstecnologias de informação e comunicações, fator deaproveitamento das oportunidades no mercado de trabalho.

Jovens, urbanos, com renda para custearequipamentos, acesso e treinamento e escolaridade pelomenos média e domínio da língua inglesa formam o perfildos usuários das modernas tecnologias. Em um país ondegrande parte da população ainda não tem acesso a umtelefone fixo.

Inserida nessa situação social a Educação para aTecnologia tem de incorporar ações afirmativas de correçãode desigualdades: projetos voltados a jovens e adultos;disponibilização de equipamentos com acesso à Internetfora dos horários de aula; cursos livres de extensão equalificação mínima; programas de nivelamento em línguainglesa e outros mais.

CONCLUSÃO

Apesar de todo crescimento econômico verificadodurante a maior parte do século XX até aos anos 1980,persistiram como características da economia brasileira: “[...]a baixa escolaridade média da força de trabalho, comparada apaíses em estágio de desenvolvimento semelhante, e a elevadadesigualdade de renda.” (FERREIRA; VELOSO, 2005, p. 378).

Nesse sentido, a Educação no Brasil apresentaum outro objetivo, para além da necessária capacitação da

força de trabalho para o desafio de acompanhar odeslocamento da fronteira da inovação tecnológica e mantera competitividade: de política social redistributiva, pois oretorno à Educação8 no país é elevado (FERREIRA;VELOSO, 2005, p. 383).

Mas a baixa escolaridade média da força detrabalho é que se torna preocupação de governantes eempresários, constituindo-se em barreira ao avanço e àdisseminação das tecnologias. Persistindo, ainda, porexemplo, na faixa de população entre os 15 e 25 anos, altosníveis de analfabetismo e de escolaridade no nívelfundamental (FERREIRA; VELOSO, 2005, p. 380).

O governo federal, as autoridades educacionais,os educadores envolvidos com o ensino tecnológico, meioempresarial e sociedade demonstram claramente essapreocupação em esforços como o Proeja (em que se procuragerar massa crítica de conhecimentos sobre a integraçãoda Educação de Jovens e Adultos à Educação Profissionale Tecnológica) e tantos outros projetos de ensino,aprendizagem, integração empresa-escola, formaçãoprofissional etc.

Apesar disso, tem-se presenciado, ao longo dasdécadas, uma sequência de políticas de curto prazo, projetosiniciados e não concluídos e inércia causados pelaalternância dos administradores públicos e de suas visões(SALM; FOGAÇA, 1995, p. 27).

Para que esses esforços se traduzam em vantagemcompetitiva numa economia globalizada é necessário que seconstituam, de forma sistêmica e articulada, em projeto nacionalde longo prazo, inserido dentro da construção de um SistemaNacional de Inovação Científica e Tecnológica, obviamenteflexível a mudanças de curto prazo; e que se deve iniciar comuma ampla discussão da sociedade brasileira.

Espera-se que este artigo possa ter oferecido aoseducadores, público-alvo desta revista, subsídios paraatualização dentro dessa discussão.

“Educar para a Tecnologia, hoje, é educarpara a Inovação.”

8 Também chamado de Prêmio à Escolaridade é o aumento de renda conseguido para cada ano ou nível de escolaridade acrescentado aocurrículo do trabalhador.

“A Educação para a Tecnologia tem deincorporar ações afirmativas de correção de

desigualdades.”

Page 8: Educar para a Tecnologia - moodle.cpscetec.com.br · Este artigo tem por objetivo lançar algumas questões e tecer algumas considerações que contribuam para a discussão sobre

45 Revista Científica da FAI, Santa Rita do Sapucaí, MG, v. 10, n. 1, p. 38-45, 2010

REFERÊNCIAS

CENTRO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA PAULA SOUZA (CEETEPS). Diretrizes para uma políticaacadêmica no âmbito da educação superior do Centro Paula Souza. São Paulo: Centro Paula Souza, 1999.

DOWBOR, L. Gestão social e transformação da sociedade. In: DOWBOR, L.; KILSZTAJN, S. Economia Social noBrasil. São Paulo: Senac, 2001. p. 17-42.

EBOLI, M. O desenvolvimento das pessoas e a educação corporativa. In: FLEURY, M. T. L. (Coord.). As pessoas naorganização. São Paulo: Gente, 2002. p. 185-216.

FERREIRA, S. G.; VELOSO, F. A. A escassez de educação. In: GIAMBAGI, F. et al. (Org.). Economia brasileiracontemporânea (1945-2004). Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. p. 378-399.

FLEURY, M. T. L. A gestão da competência e a estratégia organizacional. In: FLEURY, M. T. L. (Coord.). As pessoas naorganização. São Paulo: Gente, 2002. p. 51-62.

FOUREZ, G. A construção das ciências: introdução à filosofia e a ética das ciências. Tradução Luiz Paulo Rouanet.São Paulo: Unesp, 1995.

PETEROSSI, H. G. Novas formas ocupacionais e a questão da educação profissional. In: MENESES, J. G. C.;BATISTA, S. H. S. S. (Coord.). Revisitando a prática docente: interdisciplinaridade, políticas públicas e formação. SãoPaulo: Thomson, 2003. p. 133-143.

RIBAULT, J. M. et al. A gestão das tecnologias. Tradução Magda Bigotte de Figueiredo. Lisboa: Dom Quixote, 1995.

ROVERE, R. L. la. Paradigmas e trajetórias tecnológicas. In: PELAEZ, V.; SMRECSÁNYY, T. Economia da inovaçãotecnológica. São Paulo: Hucitec, 2006. p. 285-301.

SALM, C. L.; FOGAÇA, A. Questões críticas da educação brasileira. Brasília: MCT, 1995. Disponível em: <http://www.mct.gov.br/publi/PDFs/QTEC.pdf>. Acesso em: 18 out. 2004.

SEMTEC. Educação profissional: referenciais curriculares nacionais da educação profissional de nível técnico. Brasília: MEC,2000. Disponível em: <http://www.mec.gov.br/semtec/edcuprof/ftp/Referenciais%20Curriculares/introduc.pdf. Acesso em: 27 set. 2004.

TAKAHASHI, T. (Org.). Sociedade da informação no Brasil: livro verde. Brasília: MCT, 2000. Disponível em:<www.mct.gov.br/Temas/Socinfo/livroverde.htm>. Acesso em: 2 out. 2004.

TOFFLER, A. A terceira onda. Tradução João Távora. 10. ed. Rio de Janeiro: Record, 1980.

Educar para a Tecnologia