educação integral

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Reflexões políticas e pedagógicas acerca da educação integral.

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Page 1: Educação integral
Page 2: Educação integral

Educação Integral

SME

Florianópolis - SC

2011

Vânio Cesar Seemann

Ana Paula Silva e Costa

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Vânio Cesar Seemann

Ana Paula Silva e Costa

Educação Integral

SME

Florianópolis - SC

2011

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Prefeitura Municipal de Florianópolis

Dário Elias Berger

Prefeito Municipal

João Batista Nunes

Vice-Prefeito Municipal

Secretaria Municipal de Educação

Rodolfo Joaquim Pinto da LuzSecretário Municipal de Educação

Sidneya Gaspar de OliveiraSecretária Adjunta Municipal de Educação

Marcos Roberto de AbreuDiretor de Administração Escolar

Grupo de Trabalho de Educação a Distância(GT-EaD)

Regina Bittencourt SoutoCoordenação

Luciana Augusta Ribeiro do PradoDesigner Gráfico e Instrucional

Jorge Luiz Silva HermenegildoConsultor EaD

Jean Carlo BilhanAdministrador do Moodle e do AVEA

Elba Maria Artiero da SilvaRevisão Gramatical

Deisi Cord e Jerusa Gonzaga LausRepresentantes da Gerência de Formação

Permanente

Jairo Norberto PereiraRepresentante da Diretoria de Educação Infantil

Ana Paula Netto CarneiroRepresentante da Diretoria de Ensino

Fundamental

Claudia Maria Francisca Teixeira,Lucília Collares Ipiranga eMauren Medeiros Vieira

Representantes da Diretoria de EducaçãoContinuada

Maeli FaeRepresentante da Diretoria do Observatório da

Educação e Apoio ao Educando

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Palavras do Secretário

Prezados cursistas,

A Escola faz a diferença. É nisto em que acreditamos. E ao oferecer o Curso deEducação Integral, a Secretaria Municipal de Educação de Florianópolis deseja, comoresultado desta formação reflexiva do educador, a busca de novos conhecimentos, odesenvolvimento de habilidades e a compreensão dos vários ângulos da Educação Integral,na perspectiva de que o educador perceba que cada momento histórico produz “seusSignificados” sobre a educação integral.

Deixamos pra Vocês umas palavras do escritor belga, Paul Nyssens (1870-1954),grande incentivador da Educação:

Cultive a ambição ardente de conhecer tudo o que é útil saber paraseu próprio benefício e para o bem dos outros.

Rodolfo Joaquim Pinto da Luz

Secretário Municipal de Educação

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Sumário

Palavras do autor .............................................................................................. 09

Introdução .......................................................................................................... 11

Unidade 1

MARCOS POLÍTICOSO ser humano, a sociedade e a educaçãointegral: aproximações conceituais .............................................................. 12

1.1 Pense a respeito ...................................................................................... 29

1.2 Síntese .................................................................................................... 30

Unidade 2

MARCOS LEGAISA legislação e a educação integral ............................................................... 32

2.1 Pense a respeito ...................................................................................... 53

2.2 Síntese .................................................................................................... 54

Unidade 3

MARCOS GERENCIAISA gestão político-pedagógica no âmbito daeducação integral ......................................................................................... 56

3.1 Pense a respeito ...................................................................................... 75

3.2 Síntese .................................................................................................... 76

Considerações Finais ....................................................................................... 77

Referências ......................................................................................................... 79

Sobre os autores ............................................................................................... 84

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Palavras do autor

Caro cursista,

Seja bem-vind@ a este novo desafio.

Esse curso envolverá atividades de estudo e pesquisa distribuídas em unidadestemáticas que abrangem diversas questões e problemáticas sobre a educação integral,objetivando intrumentalizá-lo para a promoção e compreensão da educação integral comoestratégia de alavancar o desenvolvimento humano das diferentes populações, através dainclusão de saberes diversos nos campos político/conceitual, legislação educacional e gestãoeducacional.

Além disso, o curso pretende, também, contribuir na construção de uma rede decolaboração virtual para a discussão e compartimentalização de informações e aprendizagenssobre as práticas pedagógicas da educação integral no Brasil.

Apresentaremos as atividades reflexivas ao longo do módulo, procurando instigá-lo arepensar sua prática em prol da educação integral.

Desejamos que essa caminhada possa contribuir significativamente com as práticaspedagógicas e o fortalecimento de uma escola pública gratuita, de qualidade social e,acima de tudo, comprometida com o desenvolvimento integral dos seus estudantes.

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Introdução

Este Curso de Educação Integral ofertado na modalidade a distância para osprofissionais da educação, por meio da Secretaria Municipal de Educação de Florianópolis,visa a formação de profissionais da educação, docentes e não-docentes, capazes decompreender os temas relacionados à educação integral e introduzi-los no fluxo das políticaseducacionais em curso nos sistemas de ensino e, mais especificamente, nas instituiçõeseducativas, a fim de qualificar a aprendizagem dos estudantes.

Este curso envolverá atividades de estudo e pesquisa distribuídas em unidadestemáticas que abrangerão temas e problemáticas fundamentais na educação integral. Aofinal de cada Unidade, atividades de reflexão e produção serão propostas no intuito deconsolidar as aprendizagens, efetivando o encontro dos saberes e experiências dos cursistascom o conhecimento. Além disso, o curso pretende também contribuir na construção deuma rede de colaboração virtual objetivando a discussão e compartilhamento de informaçõese aprendizagens sobre as práticas pedagógicas da educação integral no Brasil.

Unidade 1, promoveremos o aprofundamento e o debate sobre o “direito à educação”como questão fundamental à formação e o exercício pleno da cidadania. Discutiremosquestões relacionadas à dimensão política da educação integral, a partir de concepçõescentrais como a sociedade, a educação escolar, o currículo, o planejamento e a avaliação.Abordaremos ainda os desafios que a educação escolar enfrenta, considerando as diferentessingularidades, culturas e territórios, respeitando não apenas essa diversidade, mas,comprometendo-se com o desenvolvimento das múltiplas dimensões humanas.

Unidade 2, discutiremos a dimensão jurídica na qual se inscreve a educação integral,radicalizando o entendimento sobre a legislação educacional, as políticas públicas deeducação integral e de inclusão. Neste momento, refletiremos sobre as possibilidades dereorganização dos espaços e tempos educativos.

Por último, na Unidade 3, problematizaremos a dimensão da gestão no âmbito daeducação integral, considerando o Plano de Desenvolvimento da educação, o ProgramaMais Educação, os aspectos fundamentais na construção de uma proposta de educaçãointegral e elementos organizacionais para sua implantação e implementação com efetividade.

Nas considerações finais, realçaremos, sinopticamente, os principais aspectos edimensões a serem consideradas no processo de implantação e implementação de umaproposta de educação integral.

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MARCOS POLÍTICOS

O ser humano, a sociedade e a educaçãointegral: aproximações conceituais

UNIDADE

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Unidade 1

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Marcos Políticos

Objetivos:

1. Perceber e compreender que cada momento histórico produz os seussignificados sobre a educação integral, a partir das necessidades epossibilidades gestadas no curso das práticas sociais;

2. Identificar e reconhecer os conceitos político-filosóficos que sustentem,em nossa contemporaneidade, uma proposta de educação integral;

3. Entender a educação como direito básico à cidadania;

4. Compreender a educação integral como uma necessidade social;

5. Refletir sobre os aspectos de planejamento e de avaliação com vistasà implantação e implementação de uma proposta de educação integral.

Primeiras palavras

Caro cursista, nesta unidade pretendemos discutir algumas idéiasimportantes sobre o ser humano, a sociedade e a educação integral, nosentido de estabelecer marcos conceituais pelos quais transitaremos nestecurso, no esforço compartilhado de implantarmos e implementarmospropostas de educação integral e de ampliação da jornada escolar.

Nesta primeira abordagem, é primordial percebermos a historicidadeda legislação e da política pública educacional, em curso no Brasil, bemcomo, suscitar reflexões e subsidiar a instauração de uma nova práxiseducativa.

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Educação Integral

Marcos Políticos

Figura 1: Aristóteles (384 a.C. –322 a.C.)Fonte: Museu do Louvre

Destacamos que entre os diversos temas que ocupam a pauta dediscussão da educação pública no Brasil está a implantação e aimplementação de uma proposta de educação integral, intimamente ligadaà corrente pedagógica escolanovista1, sobretudo a partir dos anos 80, doséculo passado, nas discussões sobre a experiência de implantação dosCIEPs no Rio de Janeiro, por exemplo. Lembramos que o movimentoescolanovista, de caráter reformador, explicitava a necessidade dereconstruirmos o sentido e o significado da escola numa sociedade demassas, industrializada e democrática.

A reflexão em torno da educação integral parece-nos essencial, nessemomento, sobretudo porque ao examinarmos as leis, vemos que a educaçãointegral constitui um direito dos cidadãos e uma obrigação do Estado empromovê-la.

É bem verdade, que existem divergências em torno da educaçãointegral, o que é aceitável numa sociedade democrática. Mas éimprescindível reconhecer que os sujeitos são multidimensionais e, comotais, há que se assegurar processos educativos, também, múltiplos. Paraalém das críticas, as propostas de escola de tempo integral representam opensamento, principalmente, de Anísio Teixeira e de outros educadores desua geração. Nessa linha de raciocínio, é importante pensarmos emimplementar uma proposta de educação integral que não se reduza a umasimples organização curricular, mas, que promova o confinamento dosestudantes e a sujeição destes à atividades pedagógicas estéreis, massim, o de gestar e propor oportunidades significativas de formação e exercícioda cidadania.

Por que pensamos implementar uma nova proposta deeducação integral?

Para buscarmos uma resposta a esta questão, é precisoconsiderarmos o que é o ser humano. O ser humano é um animal político,como dizia Aristóteles, ainda, na sociedade grega antiga. Ou melhor dizendo,em nossa contemporaneidade, um animal social. Como tal, nada lhe estápré-determinado. Nada lhe é inato. Nada lhe é eterno. Não há metas aserem estabelecidas, exceto àquelas construídas em cada tempo, espaçoe culturas em que o ser humano é produtor e produto, dialeticamente.O ser humano, em seu sentido mais amplo, é aquele que se faz por sipróprio, a partir de sua volição e necessidades, que também surgem dopróprio movimento social, das relações as quais os seres humanosestabelecem para produzir a sua existência (MARX, 1995).

Dica de Livro:

Para aprofundar o enten-dimento sobre a educaçãointegral em seus aspectoshistóricos, políticos efilosóficos leia o artigo Aeducação integral numaperspectiva anarquista, de SilvioGallo, in: COELHO, L.M.C. da C. &CAVALIERE, A.M.V. EducaçãoBrasileira e(m) tempo integral.Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.(pp.13-42)

1 O movimento escolanovista,de caráter reformador,explicitava a necessidadede reconstruirmos o sentidoe o significado da escolanuma sociedade de massas,industrializada e democrática.Além disso, a ênfase e avalorização da atividade e daexperiência, em sua práticacotidiana, constituía um deseus princípios. Essaconcepção permeoupropostas em todos osquadrantes do país naperspectiva de consolidaruma formação integral(CAVALIERE, 2002).

http://pt.wikipedia.org/wiki/Arist%C3%B3teles

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Diante disso, a condição de civilidade humana é assegurada pelaeducação. Dessa forma, é no contexto da educação que os procedimentosacontecerão nos mais diversos fios do tecido social, ou seja, na família, naescola, nos partidos políticos, nas igrejas, nas associações, nos grêmios,nas quadras de esportes, nas praças, nos museus, nas academias, naslan houses, nos sites de relacionamento, nas festas, no trabalho, dentreoutros.

Dessa forma, a educação assume lugar de relevo no processo dehumanização, sobretudo se considerarmos a sua formação omnilateral, oumelhor dizendo, suas múltiplas dimensões.

Nessa linha de trabalho, a educação configura-se como toda açãoou esforço que os homens e mulheres realizam nas mais diversas formas,nos diferentes momentos históricos de suas vidas, influenciados pela cultura,no sentido de manter a sua condição humana, sua civilidade (FIGUEIRA,1995).

Portanto, se o homem está em constante movimento edesenvolvimento - produzindo conhecimento, ciência e tecnologia – e aeducação constitui-se um processo de humanização, é imperativo quepensemos, à luz das práticas sociais, novas possibilidades de ensino eaprendizagem escolar. Isso para que a educação tenha sentido e significado,na medida em que atenda as demandas e as necessidades formativasproduzidas pelo ser humano e, nesse preciso momento, com o estatuto deuma educação integral que considere as múltiplas dimensões humanas ea própria ampliação da jornada. Uma educação escolar que seja capaz depropor desafios, promover o entendimento da realidade e sobre ela interferirde forma efetiva.

Qual o papel social e político da educação escolar?

A educação escolar constitui-se na viabilização de oportunidades epossibilidades de apropriação dos bens historicamente produzidos pelahumanidade (nesse caso o conhecimento e a cultura), ou seja, no âmbitoescolar, implica no sujeito tomar consciência de sua cultura enquantoelemento definidor de suas lides diárias, conhecendo as elaborações eproduções manifestas nas diversas linguagens que as gerações passadasproduziram, instrumentalizando-se para forjar novas elaborações e produçõesdo seu tempo. E, isso implica promover o encontro da biografia dos sujeitoscom a biografia da humanidade.

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Com efeito, significa produzir um trabalho educativo em que osestudantes possam transpor os conceitos espontâneos2 para conceitoscientíficos e, consequentemente, gerar oportunidades para que eles possamentender a materialidade e a espiritualidade3 humanas, em diferentes culturas,transitando do seu lugar imediato e singular ao lugar mediato e universal, evice-versa, dialeticamente. Dessa forma, podendo alargar suas possibilidadese reduzir seus limites de intervenção na sua comunidade, no seu bairro, noseu Estado, na sua nação, no seu planeta. Vale dizer que,aqui, assenta-se a função social precípua da escola.

Qual o contexto global em que temos que pensar umaproposta de educação integral?

Entendemos que para proceder uma discussão efetiva e coerentesobre qualquer questão humana, e nesse caso se enquadra a educaçãointegral é imperioso que a subordinemos à totalidade, à realidade social, ouseja, à história. E não estamos em hipótese alguma, referindo-nos àhistória como mera descrição factual ou linear de episódios, alicerçadosem mitos e heróis ou datas comemorativas. Pelo contrário, entendemosa história como o processo de produção da vida humana, amplamentedinâmica, complexa e marcada por contradições e lutas de classes. Aesse respeito, é elucidativo o que noz diz KLEIN (1996: 49):

“A dificuldade de apreensão de qualquer dado da realidade humananão está em se pesquisar o fato particular, mas na tentativa deexplicá-lo apenas pelas relações internas a esse universo particular.A dificuldade resulta do fato de, na análise, se abstrair o conjuntodas relações efetivamente constituidoras dos próprios elementospesquisados e que, embora possam manifestar-se no interior dessemesmo campo restrito, não tem nele sua origem.”

Diante disso, discutir a qualidade na educação escolar éimprescindível (para que não percamos de vista a função social dessainstituição educativa), bem como, a atual conjuntura social a qual édeterminante sobre essas questões.

3 espiritualidade

Ao utilizarmos aqui aexpressão espiritualidade,estamos no referindo aouniverso simbólico, oconjunto das idéias, valorese representações a partirdas quais vemos,entendemos e interagimoscom o mundo.

2 De acordo comVYGOSTSKY (1991), osconceitos espontâneos sãoapropriados de formaassistemática e, muitasvezes, poucoreflexivamente nos fazerese afazeres do cotidiano, osquais são arranjados sob alógica da cultura que lhe éimanente, na qual determinae é determinado. Osconceitos científicos, porsua vez, segundo o mesmopensador, são aqueles quepara serem apreendidosexigem sistematização emediação, sobretudo desujeitos mais experientes nacultura estabelecida deforma que possa proporestratégias e mediaçõesqualificadoras no sentido deque os estudantes seapropriem de informações eas ressignifiquem a partir desentidos e significadosefetivos na sua vida,elevando-as a condição deconhecimento.

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Um breve olhar, sobre tal conjuntura, permite-nos constatar que omomento é de crise. Crise que se faz presente nos mais diversos setoresda vida social e que está exigindo da educação novas formas de ver,entender, lidar e se posicionar frente ao mundo material e as próprias ideiase concepções em curso. O desafio implica construirmos coletivamenteuma nova civilidade, que traga em seu bojo mudanças e transformações, eisto exige rupturas com o modelo social em voga, profundamente excludente,preconceituoso e discriminatório, o qual acirra as desigualdades diariamente(FORRESTER 1995).

É importante lembrar, conforme nos diz ALVES (1995:19) onde seproduzem as crianças e os homens de rua.

“Hoje, não só as crianças estão nas ruas, sobrevivendo em meio atodos os tipos de expedientes, mais ou menos honestos, semprepouco saudáveis. Também estão na rua os seus pais, igualmentedesempregados, igualmente preocupados em cuidar de sua própriasubsistência individual, igualmente pressionados a explorar osmesmos expedientes honestos e outros nem tanto. Portanto,materialmente, estão produzidos ‘crianças e homens de rua’. Vistosem sua extrema miserabilidade, essas crianças e esses homens,chega ser difícil acreditar que nunca o gênero humano produziutanta riqueza material, em tal grau que a miséria e a fome jápoderiam ter sido banidas da face do planeta. Por isso, não pareceimpossível um mergulho da humanidade na barbárie(...)”.

Além disso, vemos as guerras, os conflitos étnicos e religiosos, osabusos de poder, a arrogância, o autoritarismo, as torturas, as injustiçassociais, o racismo, a homofobia, a xenofobia, a privação à liberdade, aintolerância e a censura a expressão. É relevante, também, considerar osassaltos, os sequestros, os assassinatos, a reprovação, a evasão escolar,o analfabetismo, dentre outros problemas. Essas manifestações deixamnítidos o esgotamento do modelo social em curso e que influenciam einterferem nas relações e interações que se estabelecem no âmbito dasinstituições educativas.

É imperioso lembrarmos que nas escolas se intensificam osconfrontos traduzidos em incivilidades, ou mesmo, violências de naturezafísica e psicológica. Todos esses confrontos denunciam e anunciam arebeldia dos estudantes contra valores e normas da própria escola, quemuitas vezes, os colocam à margem do processo educacional e no qualdeveriam assumir lugar de centralidade. Alguns estudantes vivem no seudia a dia o despropósito da exclusão e a injustiça social, devido às influênciasdo consumismo desenfreado, do individualismo, da competição desvairada,

Homofobia(homo= igual, fobia=do Gregoöüâïò “medo”, “aversãoirreprimível”) é uma série deatitudes e sentimentosnegativos em relação a lésbicas,gays, bissexuais e, em algunscasos, contra transgêneros epessoas intersexuais. Asdefinições referem-sevariavelmente aantipatia,desprezo, preconceito,aversão e medo irracional. Ahomofobia é observada como umcomportamento crítico e hostil,assim como a discriminação e aviolência com base em umapercepção de orientação não-heterossexual.

Xenofobia(do grego îÝíïò, translit. xénos:“estrangeiro”; e öüâïò, translit.phóbos: “medo”. É o medoirracional, aversão ou a profundaantipatia em relação aosestrangeiros, a desconfiança emrelação a pessoas estranhas aomeio daquele que as julga ou quevêm de fora do seu país. (...)atitudes xenofóbicas incluemdesde o impedimento àimigração de estrangeiros ou depessoas pertencentes adiferentes culturas e etnias,consideradas como ameaça, atéa defesa do extermínio dessesgrupos. Por esta razão axenofobia tende a sernormalmente associada apreconceitos étnicos ou ligadosa nacionalidade. Estereótipospejorativos de gruposminoritários.

(http://pt.wikipedia.org/wiki/Homofobia,acesso em 14/06/2011)

(http://pt.wikipedia.org/wiki/Xenofobia,acesso em 14/06/06/2011)

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da falta de oportunidades culturais e profissionais, assim como, a nefastalógica meritocrática, enfim, o forte e agressivo apelo à valorização do terem detrimento do ser, numa perspectiva marcadamente individualista(LATERMAN, 2000).

“Por incivilidade se entenderá uma grande gama de fatos indo daindelicadeza, má criação das crianças ao vandalismo (...). Asincivilidades mais inofensivas parecem ameaças contra a ordemestabelecida, transgredindo códigos elementares da vida emsociedade, o código de boas maneiras. Elas podem ser da ordemdo barulho, sujeira, impolidez, tudo que causa desordem. Não sãoentão, necessariamente, comportamentos ilegais em seu sentidojurídico mas infrações à ordem estabelecida, encontradas na vidacotidiana. Elas são, segundo Roche, o elo que falta e que explicaa insegurança sentida pelas pessoas, mesmo que elas não foramvítimas de crimes e delitos; mas a vida cotidiana se degradaefetivamente e não imaginariamente. Indo mais além, asincivilidades, pela impressão de desordem que geram, são para osque as sofrem a ocasião de um compromisso, uma defesa emcausa da organização do mundo. Através delas a violência setorna uma crise de sentido e contra sentido. Elas abrem a ideia docaos.”

(DEBARBIEUX Apud LATERMAN (2000: 37).

Portanto, nesse palco de crises, também, encontra-se a educação,a escola, os estudantes, os professores e os dirigentes. Aqueles que sepropõem protagonistas da história, que não estão dispostos a reproduzir eperpetuar o status quo, mas interferir efetivamente nas decisões e nacondução dos rumos da sociedade e da educação, temos o desafioinalienável de compreender esse complexo processo. A compreensãofaz-se fundamental para que a intervenção do processo educativo escolarpossa colaborar de forma muita efetiva na reversão desse quadro,compreendendo a realidade social, problematizando o cotidiano, buscandoinformações e conhecimentos capazes de interferir nessa realidade numsentido positivo, na perspectiva da construção de uma realidade mais justa,feliz e igualitária.

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Como podemos pensar um currículo de educação integral?

Problematizamos o currículo escolar é uma tarefa árdua que precisaser participativa, dialógica e coletiva no sentido de captarmos as reaisnecessidades educativas de nossas crianças e adolescentes na perspectivade sua cidadania. A cidadania é aqui por nós evocada com o entendimentode que projetos individuais e projetos coletivos devem e precisam estararticulados, numa ética de responsabilidade (MACHADO, 2002).

Nessa contexto, urge superarmos a concepção comeniana de escola,de um currículo fragmentado, seriado, classificatório, excludente,padronizado, que desconceitua os sujeitos do seu processo, dessa formadesconsidera e não reconhece as identidades e as diferenças, logo apluralidade. E mais, um currículo muitas vezes comprometido com umconhecimento vulgarizado, porque hegemonicamente interessa àqueles quese favorecem da lógica capitalista. Isso implica questionarmos osconteúdos trabalhados, as concepções que os engendram, as relaçõesque os determinam e os constituem, assim como, as metodologias etecnologias que utilizaremos para fazerem parte do processo educativo,com vistas a consolidar uma aprendizagem de qualidade e, por conseguinte,uma educação de qualidade.

Mas o que é uma educação de qualidade?

É a educação que instrumentaliza os estudantes a pensar,problematizar, propor, entender e atuar na vida social. Implica em desenvolvercompetências e habilidades que ampliem e alarguem a sua condição decidadãos, de sujeitos de direitos e deveres, permeados por uma ética deresponsabilidade consigo e com o outro. Portanto, pensar e fazer um novocurrículo é uma tarefa política imprescindível, uma vez que educadores,estudantes e a sociedade como um todo precisam participar e não seeximir.

Nessa perspectiva, é salutar considerarmos o que nos diz FIGUEIRA(1995: 12):

“Está posto, portanto para cada época histórica, aquilo que é maisapropriado para se aprender e para se ensinar. Uma épocadeterminada não ensina uma qualquer coisa, um qualquer corpode saber. Ensina sim, aquilo que sabe e pode e deve ensinar.Aquilo que deve ensinar e, portanto, se sabe ensinar, nasce com asrelações do indivíduo.”

http://books.google.com.br/booksaboutCidadania_e_educa%C3%A7%C3%A3o.html?id=dIX3xXdMvQ0C(acesso em 08/05/2011)

Acesse:

Para uma melhorcompreensão da relaçãoentre a educação e acidadania, leia:

1. O livro Cidadania e educaçãode Nilson José Machado,disponível em:

http://www.iea.usp.br/artigos/machadoideiadecidadania.pdf(acesso em 06/05/2011)

2. O artigo Anotações para aelaboração de uma idéia decidadania, do mesmo autor,disponível em:

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Se já não somos mais o que éramos, certamente, não seremosamanhã o que somos hoje. Isso acontece porque exige mudanças contínuas,na educação, em todos os sentidos, sobretudo em tempos de globalização.No âmbito da escola, esse princípio deve e precisa ser considerado, o quenos impõe a revisão de nossas concepções, nossas formas e métodos detrabalho, enfim, a organização do trabalho didático, para que nãocontinuemos a reproduzir práticas obsoletas, arcaicas e a-históricas, namedida em que não contribuem para a melhoria da qualidade da educaçãoe, consequentemente, para o desenvolvimento dos cidadãos e da sociedade.

Mas, talvez, possamos nos perguntar: o que isso tem a ver com aeducação integral ? E por quê? Porque implantar e implementar umaproposta de educação integral implica compreendermos as relações quese travam no âmbito da sociedade, bem como, das necessidadescolocadas, dos recursos tecnológicos de que dispomos, das ideias e valoresem curso e com os quais nos aliamos ou nos antepomos. Por conseguinte,não se trata de pensarmos apenas uma grade de disciplinas, um rol deconteúdos, formulários de planejamento e avaliações, com algumas reuniõesburocráticas e horários de início e término de atividades.

Trata-se, na verdade de fortalecermos a instituição escola eos sujeitos que, cotidianamente, tecem as malhas do currículoe que elaboram e reelaboram o conhecimento, quecompreendem o mundo em que estão situados e exercemefetivamente sua cidadania. Nesse empreendimento, umaconcepção inclusiva deve balizar as ações, assegurando oprovimento dos recursos necessários e, assim, empreendendoo devido tratamento pedagógico, por conseguinte, areorganização do trabalho didático.

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O que significa a reorganização do trabalho didático noâmbito de uma proposta de educação integral?

Para efeitos de esclarecimento, ressaltamos que nossa compreensãodidática é em seu sentido histórico, a partir do seu nascedouro comComenius, entendendo-a contemporaneamente como um projeto deeducação com e para a sociedade, numa nova relação política entreestudantes, educadores e o conhecimento.

Portanto, ter essa compreensão é salutar até para que tenhamosmaior compreensão sobre as estratégias adotadas, os parceiros queconquistaremos no sentido de subverter a ordem curricular estabelecida econstruir um novo currículo, com o objetivo de ampliar a jornada escolar,além de, possibilitar o desenvolvimento das múltiplas dimensões humanas.E, conforme, já dissemos, essa tarefa é complexa, mas possível, exequívele necessária.

Nesse sentido, impõe-se assim a necessidade de estabelecer formasdiferenciadas de interação e intercâmbio entre os sujeitos do processoensino-aprendizagem, promovendo efetivamente o desenvolvimento dasfunções psíquicas superiores e, consequentemente, a elaboração deconceitos que, de fato, orientem e reorientem a práxis humana (VYGOTSKY:1991).

O que vislumbramos com uma proposta de educaçãointegral?

O que vislumbramos com uma proposta de educação integral, dizrespeito à mudança de valores que darão novos contornos à moral, que porsua vez, tenderão a alavancar novas moralidades que organizam enormatizam novas práticas na direção da solidariedade, da cooperação eda justiça e, obviamente, a ruptura com o “status quo”. Por isso, a éticaenquanto reflexão sobre a moral e a moralidade faz-se necessária edeterminante para que possamos dar um passo substantivo na construçãocoletiva de relações educativas mais democráticas, significativas, dialógicase humanizantes.

Ressaltamos, que a sociedade produz um conjunto de ideias e valoresque tendem a regrar as atitudes, os procedimentos, os costumes e oshábitos das pessoas num determinado tempo e espaço históricos. Essasideias e valores são apresentados e internalizados como os mais “corretos”e “bons”, os quais devem por todos ser respeitados. As instituições sociais

Figura 2: Comenius (1592 - 1670)Fonte: infoescola.com

http://www.infoescola.com/biografias/jan-amos-comenius/

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como a igreja, a família e a escola, por exemplo, colaboram para que estassejam de fato “marcados nas consciências” dos sujeitos, tornado-ossujeitados a esses ditames os quais determinam a normalidade, ou seja,aquilo que é aceito pela sociedade como modelo de verdade e correção(FIGUEIRA, 1995).

O movimento constante das relações sociais, sobretudo numasociedade em que a tensão entre as classes se amplia, marcada pelasdesigualdades, produz novas situações e interações que tendem a alteraressas normalidades. Sob o apelo da tradição e do conservadorismo, insiste-se em manter certas normalidades, que já não têm mais razão de existir,tornando-se normalidades doentias, extemporâneas e, que se opõem àmudanças fundamentais. É nessa conjuntura, que a educação integral“surge” com vivacidade para desenvolver possibilidade de ordem pessoal eprofissional originando a criação de uma nova normalidade.

Vejamos um exemplo:

Parece perfeitamente “natural” e normal que a reprovação e a evasãofaçam parte do contexto educacional. Essa percepção deriva da forteinfluência da meritocracia e das próprias condições alienantes do exercícioprofissional docente. A lógica meritocrática funciona como um eficienteinstrumento do capitalismo para perpetuar as desigualdades sociais, umavez que exalta o individualismo e, ao mesmo tempo, esconde os reaisproblemas que são inerentes e essenciais para a manutenção do sistema.Isso faz o educador acreditar no dito popular, a todos foi dada a mesmaoportunidade de acesso, logo quem não aprendeu ou evadiu é porquenão se esforçou, ou pior, não possuía vocação para estudar. Não sepode considerar os sujeitos diferentes, uma vez que aprendem de formase em tempos diferentes. Os estudantes identificam-se mais com essaou com aquela área do conhecimento, que determinada atividade foi maiscompreensível a uns que a outros, e ainda, o uso de determinada linguagemem detrimento de outra foi mais favorável a uns que outros. Algunsdiscursos tiveram mais sentido e significado em relação a outros.Embora se reconheça que os grupos são heterogêneos e plurais,insistimos em propor atividades padronizadas, iguais, na crença equivocadade que estamos fazendo uma educação de qualidade social e equânime,levando o igual aos desiguais e diferentes.

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Desconsideramos assim a importância de um trabalho propondoatividades diferenciadas, para alcançarmos os diferentes, os sujeitos reaisque compõem cotidianamente nossos grupos/turmas de trabalho nas escolasbrasileiras. É importante lembrar que o reconhecimento da diversidade eseu consequente trabalho, em hipótese alguma significa a justificativa paraa desigualdade, tampouco a igualdade pretexto para uniformidade. Elamentavelmente, muitas vezes, acreditamos ter ensinado, quando naverdade, não houve a real aprendizagem. E mais que isso, consideramos,na maioria das vezes, apenas o desenvolvimento da dimensão cognitiva,esquecendo-nos das outras dimensões que constituem a totalidade dossujeitos. Essa, a nosso ver, é uma normalidade doentia e extemporânea,que deve e precisa ser mudada, como já nos referimos, no início destetrabalho.

Desse modo, as mudanças significativas não acontecem porque nãovamos às raízes das questões e, consequentemente, remamos contra amaré. Por isso, reiteramos o que dissemos anteriormente. Entender aeducação integral e implementá-la, exige-nos a tarefa complexa de entendero próprio ser humano. Para tanto, há que se pesquisá-lo, estudá-lo, observá-lo através de si e de suas relações, suas obras e suas questões, enfim, osterritórios onde se produz a vida.

Para saber mais:

Jacques Delors foi oorganizador da coletâneaEducação: Um tesouro adescobrir. Aponta quatrograndes aprendizagens que sãofundamentais seremdesenvolvidas, considerando-as pilares para a educação nonosso século: aprender a

conhecer, aprender a aprender,

aprender a conviver e aprender

a ser. Pela influência de suasidéias nas discussões queculminaram em leis, acordos,conferências, tratadosinternacionais e a implantaçãoe implementação de políticaspúblicas educacionais, leia:

1. O artigo Os quatro pilares deuma educação para o século XXIe suas implicações na práticapedagógica, de Zuleide BlancoRodrigues disponível em

Figura 3: My kidsAutor: Hector Landaeta

Fonte: http://www.sxc.hu/

Com base no que vimos até aqui, como podemosdefinir a educação integral?

A definição mais comum para a educação integral é aquelaque considera o sujeito em sua condição omnilateral oumultidimensional. Portanto, não apenas na sua dimensão cognitiva,mas corporal, afetiva, linguística, lúdica, estética, ética, dentreoutras. O sujeito deve ser considerado na sua totalidade.

http:// www.educacional.com.br/articulistasoutrosEducacao_artigo.asp?artigo=artigo0056(acesso em 30/04/11)

2. Leia a coletânea Educação:Um tesouro a descobrir.Relatório para a UNESCO daComissão Internacional sobreeducação para o século XXI,organizado por Jacques Delors,disponível em

http://4pilares.net/text-cont/delors-pilares.htm(acesso em 30/04/11)

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Como tal, o sujeito multidimensional é um ser volitivo, ambicioso,que além da satisfação de suas necessidades básicas, ele tem prioridadessimbólicas, constrói representações e ideias, com sentidos e significados,buscando satisfação nas suas diversas formas de realização, além de serum sujeito lúdico.

A aprendizagem acontece desde o nascimento da pessoa e continuaao longo de toda a sua vida, formando um continuum. Por conta disso, aeducação escolar precisa ser pensada de modo a considerar as crianças,os adolescentes e os jovens como sujeitos integrais, considerando as suasvivências, interesses, culturas e aprendizagens (FREIRE 1983, FREIRE &NOGUEIRA 1993, BAGNO 2000). E, não é por acaso, identificarmos naspropostas que consideramos de interesse das crianças e dos adolescentescomo ponto de referência dos trabalhos da escola. A eficácia do sucessoserá mais evidente a todos.

Com isso, não estamos em hipótese alguma afirmando quetrabalharemos apenas com os conteúdos e conceitos com as quais osestudantes desejam e tem vontade de aprender, mas sim, propor projetosde pesquisa ou projetos de trabalho capazes de dialogar com os seusinteresses, seus conhecimentos prévios, seus valores e suas culturas.Acreditamos que, dessa forma, seremos capazes de problematizar arealidade, eleger as questões as quais mobilizarão educadores e estudantesna busca e na construção do conhecimento, efetivando uma relação ensino-aprendizagem enquanto prática de cidadania.

Em síntese, a educação integral pode ser compreendida como oconjunto de atividades curriculares em que as atividades diversificadas devemintegrar-se e se articular intimamente com o conjunto das atividadescurriculares formais, possibilitando uma formação mais completa dosestudantes e, constituindo assim um currículo uno, crítico e emancipador.Um currículo capaz de reconhecer e fortalecer as identidades e forjar projetosviáveis de cidadania. De acordo com essa perspectiva, todas essasatividades constituem-se por práticas pedagógicas que incluem osconhecimentos gerais, as culturas, as artes, a saúde, as linguagens, omovimento, o ambiente, os esportes e o trabalho.

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Como planejarmos e avaliarmos em uma proposta deeducação integral?

É importante lembrarmos que a teoria é uma abstração do mundoreal. A prática é, por sua vez, a expressão de nossos pensamentos, denossas teorias, tudo o que realizamos, antevisto e projetado no plano daconsciência. E, na medida que realizamos o que pensamos,concomitantemente, procedemos novas alterações, por conseguinteconstruímos e adquirimos experiência, pois já ampliamos nossos conceitose expandimos nossa consciência. Portanto, teoria e prática se constituemde modo mútuo dialeticamente.

É oportuno, lembrarmos que a consciência humana, também, é sociale nossas ações são políticas, intencionais, planejadas, desejadas e flexíveisna medida em que se sucedem, porque a avaliação e a reflexão sãocomponentes que perpassam, permanentemente, a práxis humana enquantounidade teórico-prática indissociável. (MARX, 1995).

Nesse contexto, o planejamento é uma tarefa inerente ao ser humano,seja ela mais ou menos complexa, sistematizada em documento ou não,tanto quanto à avaliação.

A avaliação, no âmbito educacional, é por assim dizer, a reflexãosobre a práxis educativa. Uma possibilidade de melhor conhecê-la, enquantodiagnóstico, mas também sobre ela interferir, sempre que necessário, nosentido de alcançar os seus objetivos, finalidades e resultados desejados.A avaliação escolar constitui-se na possibilidade de contribuir para a melhoriada qualidade da educação, tanto quanto do desenvolvimento efetivo deprocessos educativos que assegurem a apropriação do conhecimento e odesenvolvimento das múltiplas dimensões humanas como possibilidaderevolucionária. É preciso saber para usufruir e usufruir para transformar(VASCONCELLOS, 2000).

No âmbito de uma proposta de educação integral, considerando oque a própria legislação dispõe, é primordial que na avaliação construamosuma competência capaz de lidar com clareza e coerência a coleta dedados, a sistematização de informações de caráter quantitativo, a fim deproceder análises, discussões e comparações de caráter qualitativo. Issoporque a avaliação precisa ser abrangente e processual, logo, possibilitara leitura e a gestão de todo o processo pedagógico, de todas as suasrelações e de todos os sujeitos envolvidos.

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Essa leitura deve transcender os limites da escola, obviamente, jáque a escola é também definida pela sociedade, isto é, constitui-se umprocesso artificial, logo social. Isso não significa, em hipótese alguma,apelar para irmos buscar justificativas que atribuam culpas a outros pelasmazelas educacionais ou, mesmo, justificar a permanência de normalidadesobsoletas e doentias.

A ideia arraigada no âmbito da tradição escolar de que avaliar é darnota e que na nota se encerra a avaliação é nefasta e um verdadeiro atentadoao que a legislação estabelece na matéria, tanto quanto, a desconsideraçãodo que tantas pesquisas e estudos têm demonstrado a respeito (WERNECK2002, VASCONCELLOS 2000). É lamentável e reacionário tornar a notaum instrumento de poder, de castigo e punição, de afirmação da autoridadenum processo que deve ser dialógico, participativo, solidário e cooperativo.O educador precisa ter domínio do conhecimento na área em que atua, sercapaz de agir e interagir com estudantes e colegas educadores e,consequentemente, orientar e propor atividades de aprendizagem que sejamsignificativas.

Na superação desta lógica, muitos sistemas de ensino no Brasilvêm mudando esse quadro. Propostas de avaliação vêm sendoimplementadas, com regulamentação, a partir do uso de portfólios, de roteirosde análise qualitativa e quantitativa das produções do estudantes, bemcomo, da construção de pareceres descritivos. Estes pareceres explicitamanálises sobre o desenvolvimento dos estudantes a partir das aprendizagenspropostas e consolidadas, e isto em termos conceituais. Os procedimentose atitudes, avançaram para muito além de simples descriçõescomportamentais apenas, equivocadas a nosso ver, quando se pensa emuma proposta de educação integral cujos resultados tem sido muitoprofícuos. O Projeto TOPAS – Todos Podem Aprender Sempre - criado pelaSecretaria Municipal de Educação de Florianópolis com o objetivo depromover atividades educativas diferenciadas e em jornada ampliada aestudantes com desvio idade-série, é um bom exemplo do que falamos. Osresultados, a nosso ver, revelaram-se promissores.

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Sob esse prisma, vemos a importância de que os profissionaisda educação tenham reconhecimento e valorização profissional,tanto quanto competência técnica – respaldada em formulaçõesteóricas consistentes e coerentes e que sejam eticamentejustificáveis – e com uma política – capaz de lidar e se relacionarcom os diferentes sujeitos que constituem a rede escolar, atentoà diversidade e à singularidade humana, sem com isso, perderde vista os objetivos e as finalidades do ato educativo escolarconstitutivos do currículo.

Dessa maneira, contribuir significativamente no processo dedesenvolvimento de sujeitos ativos (o que não significa o apelo à proposiçãode atividades de aprendizagem desgastantes e sem sentido para descobriro que há muito a humanidade já produziu) pressupõe a interferência, aorientação, a problematização, a provocação de forma a acontecer aapropriação reflexiva do conhecimento, preparando os educandos para serembons governantes, ou pelo contrário, bons fiscais dos governantes, comodiz GRAMSCI (1995).

A análise sobre estudos e pesquisas na área da educação brasileira(BAGNO 2000, BRASLAVSKY 2002, ARROYO 2004, MORIN 2003,DIMENSTEIN & ALVES 2004, CURY & TOSTA 2007), bem como importantesdocumentos legais como a Constituição Federal e a Lei de Diretrizes eBases da Educação - LDB, explicitam alguns aspectos nos parecem devital fundamentação. Os aspectos, aqui, estão apresentados comoorientação para que implantemos e implementemos uma educação integral.Vejamos cada um deles:

1. Buscar a integração do coletivo escolar, em seus diferentessegmentos;

2. Viabilizar a constante discussão sobre o papel social da escola nosentido de que a instituição educativa erradia conhecimento, culturase informações, não apenas para os estudantes, mas para suasfamílias, funcionários, educadores, comunidade e a cidade em geral;

3. Explicitar no âmbito do projeto político pedagógico a discussão emtorno do conhecimento e do desenvolvimento das múltiplasdimensões humanas como a cognitiva, a afetiva, a motora, alinguística, a lúdica, a estética, a ética, dentre outras;

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4. Propor e acompanhar projetos de pesquisa que dinamizem afavoreçam a construção do conhecimento, superando os limitesdas paredes das salas de aula para outros espaços mais propíciosà construção dos conceitos e o desenvolvimento das competênciase habilidades como bibliotecas, laboratórios de arte, laboratório deciência e tecnologia, salas de vídeo ou de cinema, museus, centrosde eventos, ginásios esportivos, parques, praças e outros;

5. Criar espaços para a participação dos diferentes segmentos daescola em eventos demonstrativos, possibilitando aos estudantesapresentarem e avaliarem suas produções podendo mobilizar suascompetências e habilidades aprendidas, a serviço dademocratização do conhecimento e, com isso, elevando sua auto-estima enquanto sujeitos que, de fato, são capazes de aprender,de fazer, de conviver, de ser e, também, de ensinar;

6. Contribuir para tornar o espaço escolar agradável, prazeroso econvidativo ao processo ensino-aprendizagem e a convivênciaemancipadora com outros sujeitos, bem como, com as mídias etecnologias para a qualificação permanente da comunicação,umimperativo em tempos de “globalização”;

7. Orientar estudos e pesquisas, numa perspectiva interdisciplinar outransdisciplinar, que dialoguem com os interesses e necessidadesreais da vida de cada estudante e dos educadores, de tal forma queambos tenham felicidade e disposição para atuarem como sujeitosdo conhecimento, negociando eticamente um projeto comum desociedade;

8. Buscar a formação e atualização permanente para odesenvolvimento de uma práxis revolucionária;

9. Implementar a gestão democrática através da qualificação dosmecanismos de participação coletiva nas decisões e rumos daescola como, por exemplo, implantação e implementação dosconselhos de escola, dos grêmios estudantis, realização deassembléias com a comunidade, com o caráter de conferência eparticipação dos estudantes nos conselhos de classe, dentre outrastantas possibilidades.

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1.1 Pense a respeito

Objetivo: Reconhecer a historicidade da educação integral e refletirsobre a sua importância na democratização da escola públicacontemporânea.

Acesse o texto História(s) da Educação Integral da pesquisadoraLígia Martha C. da Costa Coelho, disponível em:

http://www .rbep.inep.gov .br/index.php/emaberto/article/view/1472/1221.

Estude-o atentamente. A seguir, considere também as discussõesdesenvolvidas nessa Unidade, depois produza um texto observando oseguinte roteiro de questões:

1) A “educação integral” já era uma preocupação e um desafio nasociedade grega antiga. Propunha-se uma concepção ampliada deeducação que estava comprometida com o desenvolvimento do corpoe do espírito de seus cidadãos. Cite um dos argumentos utilizadospelos gregos para sustentar a “educação integral”, a seguir comocomente como você percebe aquele modelo com a nossa atualidade.

2) Para Anísio Teixeira, a educação integral tem como uma de suas basesa formação para o progresso e para o desenvolvimento da civilizaçãotécnica e industrial. Nesse sentido, propunha uma organizaçãoespecífica dos tempos e espaços escolares para o alcance dasfinalidades e objetivos da educação escolar.

a. Aponte qual era a concepção e a organização das atividadeseducativas propostas por Anísio Teixeira, no âmbito da educaçãointegral com jornada ampliada.

b. Relate de que forma essa concepção e respectivas atividades serelacionam com as possibilidades e discussões estabelecidas hojeno âmbito das políticas de educação integral.

3) Elabore um quadro comparativo que aponte as semelhanças ediferenças da proposta de “educação integral” na visão de Anísio Teixeirae de Darcy Ribeiro.

autores semelhanças diferenças

Anísio Teixeira

Darcy Ribeiro

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1.2 Síntese

Ao propomos o desafio de pensar, implantar e implementar aeducação integral em nossa contemporaneidade, algumas premissasprecisam ser consideradas:

1. Os sujeitos são diferentes, e como tais, singulares. Têm diferentestempos e ritmos de aprendizagem o que exige a proposição de diferentesatividades, para que se reconheçam e se fortaleçam as identidades;

2. Os sujeitos são multidimensionais, ou seja, o processo educativoprecisa mobilizar e propiciar o desenvolvimento das múltiplasdimensões humanas, bem como a cognitiva, a afetiva, a motora, aexpressiva, a ética, a estética, dentre outras;

3. O modelo de gestão, numa proposta de educação integral, precisaser democrático, com participação e responsabilidade dos diferentesatores, que tecem diariamente as malhas do cotidiano escolar;

4. Os tempos e os espaços educativos precisam ser reconfigurados,considerando as aprendizagens que são requeridas e as experiênciasde convivência humana que necessitam ser efetivadas;

5. O currículo de uma proposta de educação integral precisa ser visto deforma integrada, rompendo dicotomias como turno versus contraturnoe aulas formais versus aulas não-formais.

6. Compreender a escola como um espaço de irradiação de conhecimentoe cultura, não apenas para os estudantes que nela estudam, mas àcomunidade como um todo.

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MARCOS LEGAIS

A legislação e a educação integral

UNIDADE

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Objetivos:

1. Entender o papel social e político da Lei na organização da vida sociale, mais especificamente, da educação;

2. Identificar os princípios e diretrizes estabelecidos na legislação comvistas à implantação e implementação de uma proposta de educaçãointegral;

3. Identificar aspectos importantes no âmbito da legislação educacionalque norteiam a (re)construção do currículo escolar de forma participativae dialógica comprometidos com a educação integral dos estudantes;

4. Relacionar estratégias e mecanismos que possibilitem a reorganizaçãodos tempos e espaços escolares com vistas ao oferecimento de umaeducação integral com ampliação da jornada escolar, considerandoos dispositivos legais vigentes.

Primeiras palavras

Nesta unidade, procuraremos focalizar a importância de se conhecera legislação educacional vigente em nosso país. No esforço de retirar oordenamento jurídico de sua aparente aridez, tratando concomitantementea legislação educacional, não só como um instrumento de conhecimento,como também de promoção da cidadania e da ação, posto que, a consciência- o conhecimento - da legislação é entendida como uma forma de apropriar-se da realidade política por meio de normas declaradas e tornadas públicas.Essas normas regem a convivência social e suscitam o “sentimento” e aação da cidadania.

Ressaltamos que a Constituição Federal de 1988 ao tratar daeducação, além de alargar os dispositivos constantes em constituiçõesanteriores, estipula outros princípios como o do pluralismo, da liberdade egestão democrática o que constitui uma inovação neste âmbito, fruto daluta dos movimentos em favor da democratização no Brasil, sobretudo nomomento em que está instalada a Assembléia Nacional Constituinte.

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No que tange à legislação voltada à estrutura e funcionamento doensino no Brasil, cabe o conhecimento por parte dos profissionais daeducação da Lei 9.394/96, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional,que aponta a flexibilidade e a avaliação como novos eixos da educaçãobrasileira. Isso conduz a uma significativa mudança no próprio papel doEstado, colocando-o como coordenador e indutor de políticas públicaseducacionais que devem ser implantadas e implementadas e,concomitantemente, avaliadas e expostas à consideração da sociedade.

Qual a importância da Lei quando pensamos a educaçãoe, mais especificamente, a educação integral?

Destacamos que a importância da lei não está associada à idéia deque a mesma constitui-se um instrumento linear ou mecânico de direitossociais, pois ela acompanha o desenvolvimento da cidadania em todos ospaíses. Sendo assim, cabe-nos compreender que a lei nasce do carátercontraditório que a acompanha, pois nela sempre reside uma dimensão deluta, luta por inscrições mais democráticas, por efetivações mais realistas,por sonhos de justiça dentre outros. Apoiando-se nesta consideraçãopodemos melhor entender a importância do conhecimento acerca dalegislação educacional, considerando-o como instrumento para ação, postoque todo avanço da educação escolar foi e será fruto de lutas conduzidaspor uma concepção democrática da sociedade, em que podem e devemser postuladas, ou a igualdade de oportunidades ou igualdade de condições.

O que é a Lei? Qual o seu papel político na sociedade?

A palavra Lei vem do verbo “ligare” que significa “aquilo que liga” ou“legere” que significa “aquilo que se lê”. Algumas leis são descritivasquando, simplesmente, descrevem como as pessoas ou os fenômenosnaturais se comportam. Outras leis são prescritivas, quando descrevemcomo as pessoas deveriam se comportar. Identificamos dentre as leias: asnaturais e as humanas. As leis naturais são instituídas pela ordem naturaldas coisas, regendo o universo. As criações humanas e as leis são fruto dainteligência que regem as relações de convivência e de produção da vidaem sociedade, explicitando valores e costumes específicos em cada espaçoe tempo histórico. As leis em sua essência perspectivam a harmonia.

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A palavra Lei, comumente, se refere a limites em várias formas decomportamento. Vejamos o que diz ABAGNANO (1999: 601), sobre a Lei:

“(...) é uma regra dotada de necessidade, entendendo-se pornecessidade: 1) impossibilidade (ou improbabilidade) de que acoisa aconteça de outra forma; ou 2) uma força que garanta arealização da regra. A noção de lei é distinta da noção de regra e denorma. A regra (que é termo generalíssimo) pode ser isenta denecessidade; são regras não só as leis naturais ou as normasjurídicas, mas também as prescrições da arte ou da técnica. Normaé uma regra que concerne apenas às ações humanas e não tempor si valor necessitante: portanto não são normas as leis naturais eas regras técnicas, e as normas, p. ex. de natureza moral, não sãocoercitivas como as leis jurídicas. Desse ponto de vista, há duasespécies de leis: as leis naturais e as leis jurídicas”.

Ainda sobre a Lei, acrescentamos o que nos diz Miranda Rosa ApudHERKENNHOFF, J.B (1993: 20):

“(...)é um resultado da realidade social. Ela emana da sociedade,por seus instrumentos e instituições destinados a formular o Direito,refletindo o que a sociedade tem como objetivos, bem como suascrenças e valorações, o complexo de seus conceitos éticos efinalísticos.”

Em síntese, a palavra Lei pode ser utilizada com sentidos diferentes,conforme a finalidade que pretendemos. Num sentido amplo, a lei é todaregra jurídica, escrita ou não. Inclui-se aqui os costumes e todas as normasformalmente produzidas pelo Estado. A constituição federal, as leisordinárias, as leis complementares, as medidas provisórias e os decretossão exemplos.

De modo genérico, a lei pode ser entendida como força. Força queobriga acontecer algo na natureza, ou força que obriga os seres humanos aprocederem desta ou daquela maneira.

Pelo seu caráter histórico, alteram-se, inovam-se, modificam-se àmedida que os tempos e os lugares históricos também se alteram, emdecorrência da movimento das relações sociais em curso. Podemos dizerque, num Estado Democrático de Direito a lei é aquilo que o povo ordena econstitui. Nestes termos é uma ordem do povo. É uma ordem benéfica,pois visa o bem comum, a paz e a harmonia. Logo, é o que o povo desejapara si. É fato primordial no exercício da cidadania.

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Sendo assim, a lei é a ordem geral obrigatória que, emanando deuma autoridade competente reconhecida, é imposta coativamente àobediência de todos. Essa autoridade é legitimada pelo povo, e formadapor indivíduos que assumem a condição de representantes, como é o casode nossa democracia representativa. Temos assim um contrato socialestabelecido em que o legislador deve e precisa propor leis e zelar pelo seucumprimento, para que se assegure a garantia da harmonia, que implicaequidade.

Estabelecer a justiça

Impor deveres a uma parte

Atribuir direitos à outra parte

Pode ser imposta pelo uso da força

A legislação educacional tece alguns princípios, mais especialmente,sobre a educação integral.

Quais os objetivos fundamentais da Nação brasileira?Como a educação é considerada pela Carta Constitucional?

A Constituição Federal estabelece em seu Art. 3º que constituemobjetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

“I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;II - garantir o desenvolvimento nacional;III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir asdesigualdades sociais e regionais;IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça,sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.”

Esses objetivos referem-se à educação na medida em que asuperação das desigualdades exigem o acesso e à permanência comsucesso no sistema educacional brasileiro. Isso implica ser necessárioassegurar a apropriação dos bens historicamente produzidos, como oconhecimento e as culturas por meio de aprendizagens significativas e aconvivência social solidária. Convivência que implica vivências e experiênciascujos valores balizadores sejam combativos a todas as formas de preconceitoe discriminação, logo, devem e precisam ser dialógicos e participativos em

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todas os seus procedimentos. Portanto, uma educação cidadã, ou melhordizendo, uma educação integral precisa estar atenta, desde o princípio, aesses objetivos. Lembramos, de acordo com o mesmo texto legal, que aeducação constitui-se um direito social, sendo inclusive o primeiro a sercitado, como se vê:

“Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, otrabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, aproteção à maternidade e à infância, a assistência aosdesamparados, na forma desta Constituição.”

Mais adiante, no CAPÍTULO III que trata DA EDUCAÇÃO, DACULTURA E DO DESPORTO, na Seção I, DA EDUCAÇÃO, o Art. 205.prevê que,

“A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, serápromovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visandoao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercícioda cidadania e sua qualificação para o trabalho”.

Nesse artigo vemos claramente o indicativo da necessidade dedesenvolvermos uma educação integral o que pressupõe o desenvolvimentodas múltiplas dimensões humanas (pleno desenvolvimento da pessoa) comocondição sine qua non à cidadania, para o quê, o Estado e a família têmresponsabilidades. Nesse empreendimento indica-se a colaboração dasociedade. Disto extraem-se importantes orientações à gestão educacional,sobretudo naquilo que conhecemos como transparência, controle social eparticipação em suas diferentes etapas de planejamento, desenvolvimentoe avaliação.

Quais as finalidades do processo educacional escolar?

O processo educacional deve perspectivar a compreensão dasrelações de produção, do mundo do trabalho e a consequente preparaçãopara a inserção no mesmo, enfim, a realidade e a história humana. Alémdisso, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB em seu Art 22acrescenta que aos estudantes seja dada a possibilidade de avançar emestudos posteriores, acessando a outros níveis de ensino como expressãodo aprendizado na educação básica, como vemos:

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Art. 22º. A educação básica tem por finalidades desenvolver oeducando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para oexercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir notrabalho e em estudos posteriores.

Nesse contexto, o que significa o direito públicosubjetivo?

A Lei de Diretriz e Bases da Educação – LDB, em seu Art. 5estabelece que:

“Art. 5. O acesso ao ensino fundamental é direito público subjetivo,podendo qualquer cidadão, grupo de cidadãos, associaçãocomunitária, organização sindical, entidade de classe ou outralegalmente constituída, e, ainda, o Ministério Público, acionar oPoder Público para exigi-lo”(...)§ 2º. Em todas as esferas administrativas, o Poder Público asseguraráem primeiro lugar o acesso ao ensino obrigatório, nos termos desteartigo, contemplando em seguida os demais níveis e modalidadesde ensino, conforme as prioridades constitucionais e legais.§ 3º. Qualquer das partes mencionadas no caput deste artigo temlegitimidade para peticionar no Poder Judiciário, na hipótese do §2º do Art. 208 da Constituição Federal, sendo gratuita e de rito sumárioa ação judicial correspondente.§ 4º. Comprovada a negligência da autoridade competente paragarantir o oferecimento do ensino obrigatório, poderá ela serimputada por crime de responsabilidade.§ 5º. Para garantir o cumprimento da obrigatoriedade de ensino, oPoder Público criará formas alternativas de acesso aos diferentesníveis de ensino, independentemente da escolarização anterior.”

É oportuno, citarmos aqui que o ensino obrigatório e gratuito é direitopúblico subjetivo, sendo que ao responsável pelo seu não-oferecimento,poderá recair penalização judicial. O Direito Subjetivo é o direito de interesseentre cidadãos, é o direito de fazer valer nossos direitos. O direito públicosubjetivo configura-se como um instrumento jurídico de controle da atuaçãodo poder estatal, pois permite ao seu titular constranger judicialmente oEstado, e executar o que deve. De fato, a partir do desenvolvimento desteconceito, passou-se a reconhecer situações jurídicas em que o PoderPúblico tem o dever de dar, fazer ou não fazer algo embenefício de um particular.

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Lembramos, nessa tessitura, que recensear os estudantes é umacompetência e obrigação do Poder Público, tanto quanto fazer a chamadapública dos mesmos e monitorar a frequência, mobilizando os pais eresponsáveis, tal como vemos nos art. 208 da Carta Magna, nos parágrafosabaixo citados:

“§ 1º - O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito públicosubjetivo.

§ 2º - O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público,ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da autoridadecompetente.

§ 3º - Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensinofundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ouresponsáveis, pela freqüência à escola.”

Essas mesmas determinações são observadas no parágrafo únicodo Art. 5 da Lei de Diretrizes e bases da Educação - LDB.

Quais os princípios legais para se pensar uma proposta deeducação integral?

A constituição Federal de 1988, em seu art 206, estabelece comoprincípios à educação:

“I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar opensamento, a arte e o saber;

III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, ecoexistência de instituições públicas e privadas de ensino;

IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;

V - valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos,na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamentepor concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas;

VI - gestão democrática do ensino público na forma da lei

VII - garantia de padrão de qualidade.

VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais daeducação escolar pública, nos termos de lei federal”.

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Neste artigo vemos que a autonomia e a liberdade são aspectosfundamentais a todos os sujeitos do processo educacional, em suasdiferentes instâncias. Docentes, não-docentes e estudantes devem terassegurado o direito a aprender, ensinar e pesquisar a partir de suasidentidades, evidentemente, considerando os princípios gerais. Isso implicana convivência de diferentes concepções e metodologias de ensino eaprendizagem salutares à construção de uma educação integral ecompromissada com a cidadania. Essas assertivas são consequência doideário de um Estado Democrático de Direito.

A pluralidade é sinalizada como de suma importância para a efetividadeda educação o que nos permite deduzir que no cerne da política públicaeducacional deve estar assegurado a construção de propostas pedagógicas,que sejam teoricamente fundamentadas e eticamente justificadas a partirdos sujeitos e dos lugares em que elas serão implantadas e implementadas,para que tenham sentido e significado na perspectiva da formação e doexercício da cidadania.

Para tanto, há que se investir em termos financeiros e em termos deações efetivas para o alcance de uma qualidade que se revela nas condiçõesmateriais, financeiras e humanas, para que as aprendizagens possamacontecer efetivamente e, consequentemente o conhecimento serconstruído - desenvolvendo as competências, as habilidades e osprocedimentos -desenvolvidos a partir do trabalho com as diferenteslinguagens, considerando os estudantes em sua totalidade.

Dessa forma, gerar a igualdade de acesso e permanência pressupõepensar mecanismos diferenciados deste acesso e desta permanência, apartir das condições reais estabelecidas, na medida em que os sujeitossão diferentes. Até porque, levar o igual aos diferentes pode acarretar emmais desigualdade, contrariando os objetivos fundamentais da RepúblicaFederativa do Brasil. Daí a importância de uma gestão democrática eparticipativa que pense, proponha e geste as condições mais favoráveis àeducação integral considerando, evidentemente, a legislação vigente e asreais necessidades dos estudantes, razão de ser do processo educacional.

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Qual o dever do estado com o oferecimento da educaçãoescolar?

No que se refere ao dever do Estado com a educação, o art. 208 dodiploma constitucional determina:

“I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17(dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuitapara todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria;

II - progressiva universalização do ensino médio gratuito;

III - atendimento educacional especializado aos portadores dedeficiência, preferencialmente na rede regular de ensino;

IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5(cinco) anos de idade;

V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e dacriação artística, segundo a capacidade de cada um;

VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições doeducando;

VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educaçãobásica, por meio de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde.

Neste artigo, vemos que o Estado tem o dever de oferecer a educaçãobásica obrigatória, gratuitamente aos cidadãos de 04 a 17 anos (essafaixa etária foi recentemente alterada pela Emenda Constitucional 059 de12/11/2009, onde era estabelecido no texto legal a idade obrigatória de 7 a14 anos) incluindo-se aí o Ensino Fundamental e o Ensino Médio, sinalizandoa responsabilidade inelutável da universalização do Ensino Médio. Alémdisso, identifica-se com aqueles que não tiveram acesso à educação escolarna idade apropriada gozam do mesmo direito. Merece referência, pela suarelevância, à necessidade e à responsabilidade, por exemplo, dooferecimento da Educação de Jovens e adultos ou outros projetos eprogramas que assegurem o acesso e a permanência destes estudantes,considerando inclusive a situação de vida dos jovens, adultos e idosostrabalhadores, quando sinaliza a oferta de ensino noturno.

Acesse:

Veja o que Carlos Roberto JamilCury diz sobre a educaçãobásica enquanto direito e suasimplicações no âmbito doSistema Nacional de Ensino, noartigo Educação básica comodireito. Acesse:

http:www.smec.salvador.ba.gov.br/site/documentos/espaco-virtual/espaco-escola/apoio/educacao-basica-como-direito.pdf(acesso em 07/05/2011)

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Educação Integral

Marcos Legais

Quais programas suplementares são propostos em Leipara que se assegurem condições mais efetivas de acessoe permanência com sucesso dos estudantes no âmbito dasescolas?

Como pretendemos viabilizar o acesso aos níveis mais elevados doconhecimento e da pesquisa, conforme a disposição e envolvimento decada um, a legislação determina que se estabeleçam programassuplementares de alimentação escolar, material didático, transporte eassistência à saúde. Esses programas são assim entendidos como suportee geração de equidade no acesso e permanência na educação escolar ecomo tais, devem ser pensados e repensados no âmbito de uma propostade educação integral, sobretudo quando em discussão está a ampliaçãoda jornada.

Quais indicativos considerar no que se refere aoatendimento educacional especializado – AEE no âmbitode uma proposta de educação integral?

Ressaltamos que o atendimento educacional especializado - AEEaos portadores de deficiência, preferencialmente, no ensino regular, constitui-se uma obrigatoriedade, o que implica no oferecimento de materiais eequipamentos adaptados, profissionais especializados e a remoção debarreiras que promovam a acessibilidade total. Isso implica em removerbarreiras arquitetônicas, oferecer formação continuada aos profissionais daeducação que atuam com os portadores de deficiência, prover livros embraille, disponibilizar amplificadores de som, dentre outros, para queefetivamente os deficientes tenham igualdade de oportunidades, de acessoe de permanência com sucesso.

A Lei 7.839, de 24 de outubro de 1989, é um importante marco legalno cenário político brasileiro na medida em que dispõe sobre o apoio àspessoas portadoras de deficiências e sua integração social, dentre outrosaspectos. Sua intencionalidade é o de assegurar o plano exercício dosdireitos individuais e sociais dos portadores de deficiências.A regulamentação desta Lei se deu pelo Decreto 3.298 de 20 de dezembrode 1999, de forma a consolidar as normas de proteção e dar outrasprovidências. No que se refere ao atendimento educacional especializado,o Art. 25, do mesmo texto legal, diz:

Acesse:

Carlos Roberto Jamil Cury, emseu texto, Os desafios daConstrução de um SistemaNacional de Educação, fazimportantes consideraçõessobre os desafios a seremenfrentados no que se refere àconstrução efetiva de umSistema Nacional de Ensinoarticulado e suas implicaçõesno âmbito da gestãoeducacional. Essa temática foiobjeto de ampla discussão naCONAE 2010 e perpassou osdiversos colóquios e encontrosregionais. Veja o que ele diz.Acesse:

h t t p : / / w w w . c e d . u f s c . b r / p e d a g o g i a / J a m i l % 2 0 2 . p d f(acesso em 07/05/2011)

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Marcos Legais

“Os serviços de educação especial serão ofertados nas instituiçõesde ensino público ou privado do sistema de educação geral, deforma transitória ou permanente, mediante programas de apoiopara o aluno que está integrado no sistema regular de ensino, ouem escolas especializadas exclusivamente quando a educaçãodas escolas comuns não puder satisfazer as necessidadeseducativas ou sociais do aluno ou quando necessário ao bem-estar do educando.

Além disso, normas gerais e critérios básicos para a promoção daacessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidadereduzida e outras providências foram definidas através da Lei 10.098, de 19de dezembro de 2000.

Leis da educação

Conheça mais sobre o queestabelecem as DiretrizesNacionais para a educação dealunos que apresentemnecessidades educacionaisespeciais.

A educação das relações étnico-raciais: qual a relaçãocom a proposta de educação integral?

A sociedade brasileira, por força do mito da democracia racial,acreditou que a desigualdade social no Brasil era uma questãoessencialmente ligada à pobreza e às péssimas condições de vida de umagrande parcela da população sem condições de acesso aos benshistoricamente produzidos pelos homens e mulheres, em especial, emnossa contemporaneidade.

Acesse: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CEB0201.pdf

(acesso em 13/05/2011)

Conheça a Lei 10.098, de 19/12/2000 e o que ela dispõe sobre aquestão da acessibilidade.Acesse:

http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=218628

(acesso em 13/05/2011)

Pesquise o Decreto 3.956, de08 de outubro de 2001, quepromulga a ConvençãoInteramericana para aEliminação de Todas asFormas de Discriminaçãocontra as Pessoas Portadorasde Deficiência, outroimportante marco legal nadefinição de políticaspúblicas brasileiras e, maisespecificamente, naeducação. Acesse:

http://www.planalto.gov.br/ccivil/decreto/2001/D3956.htm

(acesso em 13/05/2011)

Sugestão de leitura!

De 07 a 10 de junho de 1994, na cidade de Salamanca,Espanha, reuniram-se em assembléia, representantesde 88 governos e 25 organizações internacionais, naConferência Mundial de Educação Especial. Partindodo reconhecimento da necessidade e urgência de seprovidenciar educação para as crianças, jovens eadultos com necessidades educacionais especiaisno âmbito dos sistemas de ensino regulares,provisões e recomendações foram firmadas aosgovernos para a efetivação e consolidação docompromisso Educação Para Todos, os quaisbalizaram discussões no Brasil e a formulação depolíticas de educação especial e o conseqüentefortalecimento da inclusão. Pela sua importância, leiao documento final. Acesse:http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf(acesso em 13/05/2011)

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Educação Integral

Marcos Legais

Pesquisas recentes (IPEA 2009, UNICEF 2009), têm demonstradoque não podemos dissociar a desigualdade social existente no Brasil dadesigualdade racial. Disto resulta a idéia de que não podemos refletir epropor estratégias de superação das desigualdades sociais sem estabelecerestratégias de combate ao preconceito e à discriminação racial no nossopaís, Estado e município. O que aliás, há muito tempo vem sendo denunciadopelo movimento negro, desde a década de 30.

Com o estabelecimento das políticas de ações afirmativas, e maisespecificamente, a Lei 10.639/03 e, posteriormente, a Lei 10.645/08,atualmente, muito se têm discutido sobre a questão racial em que seressalta a necessidade do conhecimento por parte de todos os brasileirosda situação dos negros, dos indígenas, dos ciganos dentre outras etniasno Brasil, bem como suas culturas e suas participações na construção dasociedade brasileira. E mais que isso, o reconhecimento de que práticasracistas perpassam o cotidiano das instituições educativas e que constituemum sério obstáculo à formação e o exercício da cidadania e, sobretudo aconsolidação de um país democrático, justo e inclusivo. Vejamos algunsconceitos sobre ações afirmativas, a fim de melhor elucidá-las:

“Ações afirmativas são medidas temporárias e especiais, tomadasou determinadas pelo Estado, de forma compulsória ou espontânea,com o propósito específico de eliminar as desigualdades que foramacumuladas no decorrer da história da sociedade. Estas medidastêm como principais beneficiários os membros dos grupos queenfrentaram preconceitos”. (MELLO, C.A.B. de.1993. pp. 47-48)

“Todas as práticas positivas, com vistas a promover a proteção dosexcluídos e desamparados, as mudanças comportamentaisarraigadas por culturas ultrapassadas, o pleno exercício dos direitose garantias fundamentais, bem como os demais direitos inscritosna Constituição de 1988, cuja efetividade destas ações serárealizada pelo estado em parceria com a sociedade civil.”(SANTOS,C. 1998. p. 44)

Leis da educação:

Aprofunde seu entendimentosobre o marco legal quefundamenta a Política Nacionalpara os Portadores deDeficiência, maisespecificamente a Lei 7.853/99.Acesse:

http://www.planalto.gov.brccivil_03/Leis/L7853.htm(acesso em 13/05/2011)

Pesquise o Decreto 3.298, de20 de dezembro de 1999, queregulamenta a Lei 7.853/99 eobserve suas implicações noâmbito dos sistemas de ensino.Acesse:

http://www.planalto.gov.brccivil_03/decreto/d3298.htm(acesso em 13/05/2011)

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Marcos Legais

É importante destacar que alguns avanços observados em favor dasuperação das desigualdades raciais, sobretudo no que se refere à legislaçãoe o próprio Direito, que acabam por engendrar políticas no âmbito do Estado,são decorrência de lutas históricas dos movimentos sociais que combatemo racismo. Por isso, a educação tem uma íntima relação com esse desafiona medida em que o combate ao racismo, passa, necessariamente, pelaescola. A este respeito vejamos o que diz Petronilha Beatriz Gonçalves eSilva, no Parecer CNE/CP 03/2004:

“Combater o racismo, trabalhar pelo fim da desigualdade social eracial, empreender reeducação das relações étnico-raciais não sãotarefas exclusivas da escola. As formas de discriminação dequalquer natureza não têm o seu nascedouro na escola, porém oracismo, as desigualdades e discriminações correntes na sociedadeperpassam por ali. Para que as instituições de ensinodesempenhem a contento o papel de educar, é necessário que seconstituam em espaço democrático de produção e divulgação deconhecimentos e de posturas que visam a uma sociedade justa. Aescola tem papel preponderante para eliminação das discriminaçõese para emancipação dos grupos discriminados, ao proporcionaracesso aos conhecimentos científicos, a registros culturaisdiferenciados, à conquista de racionalidade que rege as relaçõessociais e raciais, a conhecimentos avançados, indispensáveis paraconsolidação e concerto das nações como espaços democráticose igualitários.”(p. 06)

Leis da educação:

Veja o que diz a Lei 10.639, de09 de janeiro de 2003, que incluino currículo oficial da Rede deEnsino a obrigatoriedade datemática “História e CulturaAfro-Brasileira”, e dá outrasprovidências

Dica de livro:

Estude atentamente essesprincípios e suas implicações

no Parecer CNE/CP 03/2004,de Petronilha Beatriz

Gonçalves e Silva, disponívele m

http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/003.pdf(acesso em 06/05/2011)

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2003/L10.639.htm(acesso em 07/05/2011)

Veja o que diz a Lei 11.645, de10 de março de 2008, que incluino currículo oficial de Rede deEnsino a obrigatoriedade datemática “História e culturaindígena”. Acesse:

http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/93966/lei-11645-08(acesso em 07/05/2011)

http://dominiopublico.qprocura.com.br/dp/86779/Superando-o-racismo-na-escola.html?aliases=Superando-o-racismo-na-escola&id=86779

(acesso em 07/05/2011)

Dica de livro:

Para ampliar o entendimentodo racismo e suasmanifestações no âmbitoescolar, leia o livro Superando oracismo na escola, que temKabengele Munanga comoorganizador. Acesse:

Para o enfrentamento desta tarefa urgente, a depromover a educação das relações étnico-raciais, arelatora apresenta princípios para conduzir as açõesanti-racistas no âmbito dos sistemas de ensino,envolvendo os diferentes sujeitos que tecem diariamenteas redes da educação escolar, em seus diferentes níveise modalidades. São eles:

Consciência política e histórica da diversidade

Fortalecimento de identidades e de direitos

Ações educativas de combate ao racismo e as discriminações

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Marcos Legais

Nesse sentido, estes princípios constituem uma política curricularem que se eduquem e reeduquem os cidadãos de forma a agir e interagirde forma positiva com as diferenças raciais, conhecendo-as e convivendocom elas a partir da superação do modelo hierarquizante das relações queprivilegiam uma cultura e história em detrimento de outras. Implica rompercom o padrão eurocêntrico em favor da multiculturalidade, em que diálogosinterculturais tenham fluxo e possibilidade de existir como maneiraindispensável. É preciso que os sujeitos reconheçam e valorizem asidentidades, consequentemente, encontrem a igualdade de oportunidadese o fortalecimento da auto-estima.

Portanto, ao pensarmos uma proposta de educação integral, éprimordial considerarmos o desenvolvimento da educação, das relaçõesétnico-raciais e suas implicações na organização do currículo.

O que considerar no novo desenho do currículo escolarformal?

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação estabeleceu em seu Art.26º que:

“Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma basenacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensinoe estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelascaracterísticas regionais e locais da sociedade, da cultura, daeconomia e da clientela.

§ 1º. Os currículos a que se refere o caput devem abranger,obrigatoriamente, o estudo da língua portuguesa e da matemática,o conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social epolítica, especialmente do Brasil.

§ 2º. O ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório,nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover odesenvolvimento cultural dos alunos.

§ 3º. A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola,é componente curricular da Educação Básica, ajustando-se àsfaixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativanos cursos noturnos.

§ 4º. O ensino da História do Brasil levará em conta as contribuiçõesdas diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro,especialmente das matrizes indígena, africana e européia.

Para saber mais:

Conheça o Plano Nacional deImplementação das DiretrizesCurriculares Nacionais para aEducação das Relações Étnico-raciais e Ensino de História eCultura Afro-Brasileira eAfricana.

Identifique as principaisações a serem desenvolvidasobservando os diferentesórgãos e instâncias, bem comoo modelo de gestão proposto esuas implicações no âmbitodas propostas pedagógicas dasinstituições educativas.

Acesse:

Pesquise na íntegra a ResoluçãoCNE/CP 01, de 17 de junho de2004, que institui as DiretrizesCurriculares para a educaçãodas relações étnico-raciais eensino da história e culturaafro-brasileira e africana.Acesse:

h tt p : / / w w w.fa e te c . r j . g ov. b r / n e e ra / p l a n o n a c i o n a l . p d f(acesso em 13/05/2011)

http : //porta l .mec . g ov.br/c n e /a rquivos/pdf/ res012004.pdf3 )(acesso em 13/05/2011)

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§ 5º. Na parte diversificada do currículo será incluído,obrigatoriamente, a partir da quinta série, o ensino de pelo menosuma língua estrangeira moderna, cuja escolha ficará a cargo dacomunidade escolar, dentro das possibilidades da instituição.”

A mesma Lei, em seu Art. 32, define que a formação básica docidadão no âmbito do Ensino Fundamental se dará mediante:

“I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo comomeios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo;

II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político,da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta asociedade;

III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo emvista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação deatitudes e valores;

IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços desolidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assentaa vida social.”

É oportuno destacar que as diretrizes curriculares nacionais sãonormas obrigatórias uma vez que orientarão o planejamento curricular dasescolas e sistemas de ensino, fixadas pelo Conselho Nacional de Educaçãopor meio da Câmara de Educação Básica e como tal, devem serconsideradas na implementação de uma proposta de educação integral. Éa partir dessas determinações legais e diretrizes até aqui mencionadasque os Parâmetros Curriculares Nacionais, as propostas curriculares doEstado e Municípios e as propostas pedagógicas dos estabelecimentos deensino do Brasil vem sendo direcionados, bem como, as matrizescurriculares de exames de avaliação e monitoramento da qualidade dosistema educacional brasileiro.

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Marcos Legais

Numa proposta de educação integral o que cabe àsescolas realizar?

A Lei de Diretrizes e Bases da educação - LDB define, em seu Art.12, as atribuições aos estabelecimentos de ensino:

“Art. 12º. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normascomuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de:

I - elaborar e executar sua proposta pedagógica;

II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros;

III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aulaestabelecidas;

IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente;

V - prover meios para a recuperação dos alunos de menorrendimento;

VI - articular-se com as famílias e a comunidade, criando processosde integração da sociedade com a escola;

VII - informar os pais e responsáveis sobre a freqüência e orendimento dos alunos, bem como sobre a execução de suaproposta pedagógica.”

De acordo com os princípios da educação estabelecidos na CartaConstitucional e na Lei de Diretrizes e Bases - LDB, bem como, as DiretrizesCurriculares Nacionais Para a Educação Básica são essenciais para aconstrução coletiva das propostas político-pedagógicos no âmbito dossistemas e, mais especificamente das escolas. É a partir desseordenamento jurídico que a educação integral pode e deve ser pensada,implantada e implementada em seus marcos doutrinais, situacionais eprocedimentais. Ou seja, é na proposta pedagógica da escola que osobjetivos e as finalidades da educação escolar integral devem ser definidos,tomando como referência a discussão, articulação e participação de toda acomunidade escolar. Além disso, pensar e repensar os recursos humanos,suas atribuições e áreas de atuação visando ao desenvolvimento dasmúltiplas dimensões humanas, bem como, a própria ampliação da jornadade trabalho. Isto requer a reorganização dos tempos e dos lugareseducativos. É uma tarefa para ser empreendida e possível. Até porque,

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processos educativos diferenciados precisam ser propostos, considerandoos sujeitos, suas diferenças e seu consequente desenvolvimento que osconduzam ao sucesso escolar. E, nessa linha de ação, o controle social éprimordial, isto é, os pais ou responsáveis legais têm o direito à participação,a serem informados do que está ocorrendo e inteferirem sempre quenecessário for para o bom andamento do processo pedagógico.

O Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe em seu Art. 58. que“No processo educacional respeitar-se-ão os valores culturais, artísticos ehistóricos próprios do contexto social da criança e do adolescente,garantindo-se a estes a liberdade da criação e o acesso às fontes de cultura.”Isso significa que a realidade vivencial dos estudantes deve ser consideradacomo ponto de partida das propostas de trabalho educativo, na medida emque é a partir dela que construímos sentidos e significados. De acordocom essa realidade que devemos e podemos fazer a extrapolação do imediatopara mediato, do singular para o universal, e vice-versa, considerando-se adialética desse movimento e, consequentemente, viabilizar o acesso à outrasfontes de conhecimento e culturas.

A este respeito vejamos o que diz o Estatuto da Criança e doAdolescente, Lei 8.069 de, estabelece:

“Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visandoao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercícioda cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:

I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II - direito de ser respeitado por seus educadores;

III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer àsinstâncias escolares superiores;

IV - direito de organização e participação em entidades estudantis;

V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência.

Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência doprocesso pedagógico, bem como participar da definição daspropostas educacionais.”

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Nesse asserto legal vemos que a participação é afirmada comoum direito, explicitando-se ainda a possibilidade da contestação, doscritérios avaliativos, por exemplo. Oportuno mencionar que além disso,assegura-se o direito de respeito aos estudantes por parte dos educadores;o direito da organização em entidades estudantis, no caso os grêmios, éum ponto importante, além do acesso à escola pública e gratuita próximade sua residência. Esse é um indicativo importante na construção depolíticas de ampliação e construção das redes físicas dos sistemaseducacionais, bem como, na política de transporte para os estudantes, ouseja, gestar alternativas facilitadoras de acesso e, consequentemente, dapermanência desses estudantes nas escolas. Para que isso aconteçaasseguremos instrumentos que gerem a igualdade de oportunidades esucesso.

O que a legislação estabelece em termos de organizaçãodo tempo e espaços educativos numa proposta deeducação integral?

Lembramos aqui, como já dissemos anteriormente, que areorganização dos tempos e espaços educativos é uma tarefa importantese pretendemos consolidar uma educação integral, tanto em termos dedesenvolvimento omnilateral dos sujeitos como da ampliação da jornada.Essa flexibilidade é importante, considerando as diferentes realidadeseducativas do Brasil, e está assegurada pela Lei de Diretrizes e Bases daEducação, como vemos:

“Art. 23º. A educação básica poderá organizar -se em séries anuais,períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos deestudos, grupos não-seriados, com base na idade, na competênciae em outros critérios, ou por forma diversa de organização, sempreque o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar.”

Portanto, uma proposta de tempo integral pode e deve implementarnovas formas de enturmação ou constituição de grupos, considerando faixasetárias, projetos de estudo e pesquisa, níveis de desenvolvimento integral,níveis de letramento dos estudantes, modalidades de atividadesdiversificadas, dentre outras possibilidades. Portanto, há uma amplaflexibilidade no sentido de que rotinas de trabalho possam ser propostas deforma atender as reais necessidades dos estudantes.

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É importante citar que a classificação dos estudantes noâmbito da educação integral e com jornada ampliada devemosconsiderar, necessariamente o que estabelece o Art. 23., incisosII, III e IV, ou seja:

“II - a classificação em qualquer série ou etapa, exceto aprimeira do ensino fundamental, pode ser feita:

a) por promoção, para alunos que cursaram, comaproveitamento, a série ou fase anterior, na própria escola;

b) por transferência, para candidatos procedentes deoutras escolas;

c) independentemente de escolarização anterior,mediante avaliação feita pela escola, que defina o graude desenvolvimento e experiência do candidato e permitasua inscrição na série ou etapa adequada, conformeregulamentação do respectivo sistema de ensino;

III - nos estabelecimentos que adotam a progressãoregular por série, o regimento escolar pode admitir formasde progressão parcial, desde que preservada aseqüência do currículo, observadas as normas dorespectivo sistema de ensino;

IV - poderão organizar-se classes, ou turmas, com alunosde séries distintas, com níveis equivalentes deadiantamento na matéria, para o ensino de línguasestrangeiras, artes, ou outros componentes curriculares;”

Vemos que a lei é flexível no que se refere ao processo declassificação, dando aos sistemas de ensino possibilidadesdiferenciadas de se organizarem, conforme suas demandas eespecificidades. Coloca o estudante e a aprendizagem comocentro de gravidade do processo. Isso significa que o processodeve ser pensado, implantado e implementado a partir dos sujeitosreais, objetivando a sua efetiva aprendizagem e uma trajetóriaescolar de sucesso, pautada na qualidade do ensino. E, maisque isso, valoriza a experiência extra-escolar e os saberes queos estudantes já possuem como ponto de partida fundamentalao processo de ensino, como já vimos anteriormente. Essa idéiaestá bastante presente também quando a LDB normatiza aquestão da verificação do rendimento em seu Art. 24, inciso V:

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Marcos Legais

“V - a verificação do rendimento escolar observará os seguintescritérios:

a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, comprevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dosresultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais;

b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos com atrasoescolar;

c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries medianteverificação do aprendizado;

d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito;

e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de preferênciaparalelos ao período letivo, para os casos de baixo rendimentoescolar, a serem disciplinados pelas instituições de ensino emseus regimentos;”

É válido registrar a ênfase dada à avaliação como contínua ecumulativa o que pressupõe que a mesma deve perpassar todos osmomentos do processo ensino-aprendizagem, considerar as metodologiasdesenvolvidas, os conteúdos, os conceitos trabalhados, os materiais, osequipamentos disponíveis, assim como as mediações e as intervençõesrealizadas pelos educadores, que mobilizam o alcance das metas deaprendizagem. Percebe-se a preocupação com a qualidade dessaaprendizagem, buscando superar apenas lógica quantitativa. Seria, aquiloque MORIN (2003) em sua obra “Cabeça bem feita”, diz que é precisodesenvolver um processo de ensino e aprendizagem que forma sujeitoscom cabeças bem feitas, e não cabeças bem cheias, desprovidos decompetências e habilidades necessárias à formação do educando comopessoa e como cidadão. Nesse sentido, buscamos superar a lógica nefastada avaliação, às vezes meramente realizada em provas, ou exclusivamenteao final de etapas de trabalho. E isso nem sempre possibilita o diagnósticoe a intervenção concomitante ao desenvolvimento do processo e que tãodanoso tem sido para a qualidade e os resultados da educação brasileira.

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Marcos Legais

2.1 Pense a respeito

Objetivo: Identificar, na sua prática pedagógica, qual o grau deenvolvimento e comprometimento com a educação integral,considerando os seus princípios, finalidades e diretrizes legais emapear possibilidades para implementar os ajustes e mudançasnecessárias.

Como você percebeu, a legislação no que se refere à educação ébastante ampla e resulta da luta dos movimentos sociais, em favor doprocesso de democratização, entendendo-a como direito básico detodo cidadão.

Com base no que você estudou e pesquisou, destaque:

“I - quais os aspectos que vão ao encontro de sua prática pedagógicaconsiderando a educação integral.

II - destaque os aspectos que você considera que precisam sermelhorados.

III - quais estratégias poderiam ser realizadas visando a adequação daspráticas pedagógicas.

IV - como as demandas legais e políticas de educação integral podemser articuladas considerando as demandas e necessidades dasociedade.”

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Educação Integral

Marcos Legais

2.2 Síntese

Temos algumas certezas provisórias que podem ser pontuadas, dentreelas, a de que a educação escolar deve e precisa estar centrada em valorescomo a dialogicidade, a solidariedade, o respeito mútuo e a justiça. Contudo,para desenvolvermos esses valores, precisamos ir muito além da sua“anunciação” ou “pregação”, como historicamente muitos têm feito, masatravés de vivências reais compartilhadas, carregadas de sentido esignificado.

A democratização persiste como uma bandeira de luta, ainda a serefetivada, não apenas no âmbito da sociedade, como também na escola,sobretudo num país como o Brasil, marcado historicamente pelasinterferências e forças do autoritarismo e do conservadorismo. Logo,democratizar o acesso e à permanência com sucesso, democratizar agestão e, principalmente, democratizar o conhecimento são diretrizespolíticas que precisam ser implementadas e, já, sinalizadas por aquelesque lutam em favor da vida.

Figura 4:Diretrizes e valores na política educacional

Diretrizes e valores na política educacional

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MARCOS GERENCIAIS

A gestão político-pedagógica daeducação integral

UNIDADE

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Unidade 3

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Marcos Gerenciais

Objetivos:

1. Identificar os princípios que regem a gestão educacional a serviço deuma educação integral de qualidade social;

2. Compreender como a educação integral com ampliação da jornadaescolar está articulada no âmbito da política pública educacional noBrasil;

3. Relacionar estratégias e ações que viabilizem a implantação eimplementação de uma proposta de educação integral com jornadaampliada no âmbito escolar;

4. Construir um projeto viável de implantação e implementação deeducação integral, considerando o espaço de atuação profissional.

Primeiras palavras

No decorrer desta unidade estruturamos um conjunto temáticorelacionado à gestão educacional, a fim de consolidar idéias e conceitosabordados nas unidades anteriores com vistas a subsidiar a implantação ea implementação de uma proposta de educação integral com ampliação dajornada escolar.

Entendemos que a gestão educacional conjuga três grandesdimensões, aqui denominadas por nós como marcos, que precisam sermobilizados e articulados com competência técnica e política para suaeficiência e eficácia: os marcos políticos, os marcos legais e os marcosgerenciais. Eficiência e eficácia podem ser traduzidas ao alcance efetivodas finalidades e objetivos educacionais materializados em processos,educativos capazes de promover o desenvolvimento integral das crianças edos adolescentes, cumprindo assim, as expectativas e necessidadessociais, tanto quanto o que determina a legislação vigente. Em síntese,assegurarmos a formação integral dos cidadãos.

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Educação Integral

Marcos Gerenciais

Qual lógica deve dar sustentação à gestão educacional?

É importante considerarmos que é preciso estarmos atentos, quandopensamos sobre gestão educacional, para não cairmos na lógica da empresacapitalista, que incorporada à educação escolar, coloca em xeque o seucaráter democrático e a própria função social da educação enquantopossibilidade social de humanização do sujeitos, conforme já vimos nahistória da educação brasileira.

Neste contexto, devemos considerar no processo de implantação eimplementação de uma proposta em tempo integral conforme nos diz Paro(1997: 110-111):

“ Ainda sobre a adequação dos meios aos fins, uma questão deimportância fundamental diz respeito à consideração do fimdemocrático que caracteriza o empreendimento educacional e doperigo representado pelas tendências de transposição para a escolade procedimentos administrativos (busca racional de fins) vigentesem ambientes onde vigora a dominação. A mais em voga dessastendências toma a empresa capitalista como paradigma a serimitado, propugnando quer a aplicação da lógica empresarialcapitalista na escola pública, quer a simples privatização dosserviços educacionais, sob a alegação, falsa e interessada, de quea eficiência é inerente ao privado, enquanto o público énecessariamente ineficiente, ignorando que o privado costuma sereficiente não porque é privado, mas porque busca objetivos comdeterminação (embora como veremos a seguir, esses objetivosnão sejam os mesmos da escola) e que o público, em nosso país,costuma ser ineficiente não quando é público, mas quando searticula com interesses particularistas dos grupos privados.

Mas para tratar do assunto mais consistentemente, é precisoconsiderar com maior precisão o próprio sentido da organizaçãocapitalista que se toma como modelo. Na sociedade capitalista, aquase totalidade da população está desprovida dos meiosnecessários para produzir a própria existência, ou seja, doschamados meios de produção. Estes são propriedade de ínfimaminoria que detém o poder econômico e que, por isso, estabelece,

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de acordo com seus interesses, as condições sob asquais a maioria poderá ter acesso a tais meios. Comosabemos, o local por excelência em que se dá esseacesso é a empresa capitalista produtora de bens eserviços, onde, por força dos interesses conflitantes aípresentes, imperam relações de força, marcadas peladominação dos que detém o poder econômico sobre osdemais. A eficiência da empresa capitalista é medida,pois, pela capacidade que esta tem de levar ostrabalhadores a produzir um excedente do qual ela seapropria e que constitui o seu lucro, não havendonenhuma incompatibilidade entre a busca dessa metae a utilização de meios dominadores para consegui-la,já que seus objetivos são, em última instância dedominação. Diante disso, impõe-se a constatação deque os objetivos da educação não são apenas diferentesdos da empresa capitalista, mas antagônicos a eles. Aopasso que a primeira, enquanto mediação necessária ahumanização do homem, deve buscar a liberdade,articulando-se com valores universais, a segunda, ao terque opor-se aos interessas da imensa maioria, faz usoda dominação, transitando, assim, no âmbito da meranecessidade.

Não se trata de advogar uma pureza para a escola que acolocaria fora da realidade humana, mas de,precisamente por sua característica social, entendê-lacomo um instrumento de transformação, não renunciandoao seu papel histórico de contribuir para a superação daalienação e acriticidade prevalentes no âmbito dasrelações dominadoras que se fazem presentes noprocesso capitalista de produção.”

No âmbito da gestão educacional é imprescindívelconsiderar o que estabelece o PDE – Plano de Desenvolvimentoda Educação.

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O que é o PDE – Plano de Desenvolvimento daEducação?

O Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE, lançado em2007 pelo Governo Federal deixa muito claro essa necessidade social edefine compromissos a serem firmados na perspectiva de assegurar umaeducação de qualidade, inclusiva, que possibilite a autonomia das criançase adolescentes e o respeito à diversidade. Para tanto, destacamos que oPDE é um plano executivo organizado em torno de quatro eixos: EducaçãoBásica; Educação Superior; Educação Profissional e Alfabetização.

O PDE é composto por mais de quarenta programas e ações, dentreos quais se coloca o Mais Educação, contando com recursos do Fundo deManutenção e desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dosProfissionais da Educação - FUNDEB para seu financiamento, em que seinclui um percentual a mais a razão de 25% do custo/aluno/ano, para cadaestudante que esteja no regime de ampliação de jornada, ou seja, quefrequente os 5 dias semanas por pelo menos 7 horas diárias.

A partir do PDE foi criado o plano estratégico intitulado Plano deMetas Compromisso Todos pela Educação, através do Decreto 6.094 de24 de abril de 2007, na intenção de estabelecer medidas específicas para amelhoria da qualidade da educação, conjugando e articulando esforços daUnião, Estados, Distrito Federal, Municípios, família e a comunidade. Aeste respeito, justifica-se que:

Figura 5: Students 3Autor:Guillermo Ossa

Fonte: http://www.sxc.hu/

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“O Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação agregaingredientes novos ao regime de colaboração de forma a garantir asustentabilidade das ações que o compõem. Convêniosunidimensionais e efêmeros dão lugar aos Planos de AçõesArticuladas (PAR), de caráter pluri-anual, construídos com aparticipação dos gestores e educadores locais baseados emdiagnósticos de caráter participativo.” (PDE – Plano dedesenvolvimento da Educação : razões, princípios e programas.Brasília: MEC, 2007. (p.24)

O Plano de Metas propõe 28 diretrizes, as quais os gestoresmunicipais e estaduais devem considerar e colocar em prática as açõescabíveis, considerando o prazo de 2021 para sua total implantação eimplementação. Cabe, aqui registrar que a não-adesão ao Plano de Metasacarretaria em impossibilidade do respectivo sistema educacional buscarapoio técnico e financeiro junto à União e este de praticar a ação redistributivae supletiva dos recursos. Segundo o Ministério da Educação – MEC, 98%dos município aderiram ao Plano de Metas.

O que é o Programa Mais Educação?

Diante do imperativo legal de desenvolver uma educação integral eem jornada escolar ampliada, o Ministério da Educação, através daSecretaria de Educação Continuada, Alfabetização e diversidade concebeuo Programa Mais Educação. Esse programa foi instituído pelas PortariasNormativas n. 17 e n. 19, de 24 de abril de 2007, publicadas no DiárioOficial da União de 26 de abril de 2007. Constitui-se um dos componentesdo PAR – Plano de Ações Articuladas elaborado pelos estados e municípiospara obter transferências voluntárias e apoio técnico.

O objetivo principal deste programa é o de contribuir para a formaçãointegral de crianças, adolescentes e jovens, por meio da articulação deações, de projetos e programas que contribuam para mudanças no ambienteescolar e amplie a oferta de saberes, métodos, processos, conteúdos egestão educativos.

Para tanto, propõe-se a ampliação do tempo de permanência dosestudantes sob a responsabilidade da instituição educativa. A ampliação ereorganização dos espaços educativos, a celebração de parcerias, como aintersetorialidade que devem funcionar como forma de articulação e gestão.Quanto ao oferecimento de ações sócio-educativas na intenção da melhoriada qualidade da educação e, consequentemente, melhoria dos indicadoreseducacionais os quais se justificam na redução da evasão, da reprovação eda distorção idade/série escolar.

Leis da educação:

Leia o Decreto 6.094, de 24 deabril de 2007 e conheça mais

a respeito. Identifique asprincipais metas e

implicações na sua práticapedagógica. Acesse o

endereço eletrônico: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Decreto/D6094.htm(acesso em 16/05/2011)

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Um elemento importante à ampliação da jornada escolar diz respeitoao próprio financiamento. Sabemos que a ampliação da jornada escolarimplica readequar espaços, materiais e recursos humanos. E isto,necessariamente, conduz à proveniência de recursos financeiros para odevido custeio. O desafio a enfrentar é grande, logo, esses recursos deveme precisam ser em proporções mais significativas que os atuais sob penade não promovermos as mudanças esperadas. Nessa direção, o FUNDEB(Lei nº. 11.494, de 20 de junho de 2007), prevê o repasse de recursosacrescido de 25% para estudantes da rede pública em regime detempo integral, ou seja, mais de 7 horas por dia, durante toda asemana letiva – critério adotado tanto pelo FUNDEB como peloPrograma Mais Educação para o repasse de recursos aos sistemaseducacionais e, mais especificamente, às escolas envolvidas no programa.Obviamente, que esse percentual ainda é baixo, se considerarmos arealidade dos investimentos a serem despendidos para a efetiva consecuçãode uma educação integral e em tempo integral, mas tem representado umestímulo importante à implementação de propostas. O recursos financeirosdesse programa são previstos e encaminhados a partir do Programa DinheiroDireto na Escola (PDDE) do Fundo Nacional de Desenvolvimento daEducação (FNDE).

No Programa Mais Educação vê-se a tentativa de diálogo e articulaçãode ações entre o Ministério da Educação, o Ministério da Cultura, o Ministériodo Esporte, o Ministério do Meio Ambiente, o Ministério do DesenvolvimentoSocial e Combate à Fome, o Ministério da Ciência e da Tecnologia, aSecretaria Nacional de Juventude e a Assessoria Especial da Presidênciada República. Assim, a intersetorialidade constitui-se um importante marcona gestão de políticas públicas no Brasil, tendo o intuito de contribuir tantopara a diminuição das desigualdades educacionais, quanto à valorizaçãoda diversidade cultural. O desenvolvimento de uma educação de qualidadee a geração de oportunidades educativas com vistas à formação e o plenoexercício da cidadania. Para tanto, o compartilhamento assume lugarestratégico, na medida em que a tarefa de educar é assumida deforma co-responsável entre os profissionais da educação e de outrasáreas e de diferentes atores sociais, sob a coordenação da escola edos educadores . Recomendamos que o diretor escolar incentive e promovadebate sobre a proposta de educação integral nas reuniões pedagógicas,nos conselhos de classe, nas reuniões de pais e responsáveis, nasassembléias e nos espaços do conselho escolar, no sentido de promover aparticipação de todos os segmentos da escola no Programa.

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Essa concepção de gestão está comprometida com o oferecimentode atividades diversificadas, articuladas a outros setores da sociedade e dopróprio Estado, com a participação da escola, das famílias e da comunidadeem geral. Nesse sentido, pretendemos romper com as dicotomias entre aeducação formal e não-formal, utilizaremos as diretrizes do bairro-escolaque consideram o entorno da escola como espaço de aprendizagem.

A abrangência do Programa Mais Educação é o de atenderprioritariamente as escolas com baixo IDEB (Índice de Desenvolvimento daEducação Básica), situadas em capitais, regiões metropolitanas e locaismarcados por situação de vulnerabilidade social.

As atividades a serem propostas e que recebem fomento, através dereceitas voluntárias da União, foram organizadas em macrocampos, a saber:

aAcompanhamento pedagógico

aaaaaEsporte e lazer

aaaaaMeio ambiente

aaaaaInclusão digital

aaaaaDireitos humanos e educação

aaaaaEducomunicação

aaaaaPrevenção e promoção da saúde

aaaaaCultura e artes

aaaaaEducação econômica e cidadania

aaaaaEducação científica

As escolas são responsáveis pela implementação das atividades deacordo com sua realidade, ou seja, suas necessidades e possibilidades.Os recursos são repassados para conta específica das Associação dePais e Professores, ou similares, que devem acompanhar o processo eproceder à prestação de contas, considerando a legislação pertinente e osobjetivos e metas do projeto específico.

Os grupos que participarão das atividades diversificadas são formadaspor um mínimo de 20 (vinte) alunos e um máximo de 30 (trinta) e, sempreque possível e conveniente, mesclando alunos das diversas séries/anos/ciclos buscando quebrar a lógica dos horários formais.

Acesse:saiba mais sobre o projetoBairro-Escola.

http://www.unicef.org/brazil/pt/bairro_escola.pdf

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Para a realização das atividades de educação integral do ProgramaMais Educação, abre-se o espaço para o trabalho dos profissionais daeducação, dos educadores populares, estudantes e agentes culturais(monitores), devendo-se observar o disposto na Lei nº 9.608/1998, que dispõesobre o serviço voluntário. Os sistemas de ensino devem, comocontrapartida, designar dentre os profissionais da educação um profissionalde 40 horas semanais para exercer a função de professor comunitário quecoordenará a oferta e o desenvolvimento das atividades do Programa naescola.

As atividades de monitoria deverão ser desempenhadas,preferencialmente, por estudantes universitários de formação específica nasáreas de desenvolvimento das atividades ou com habilidades específicas,reconhecidas pela comunidade, como por exemplo: instrutor de judô oukaratê, mestre de capoeira, contador de histórias comunitário, instrutor deioga, dentre outros. Essas atividades de caráter formativo podem serrealizadas fora da escola, utilizando equipamentos disponíveis nacomunidade, tanto do Estado em suas diferentes esferas, como deorganizações não-governamentais ou da iniciativa privada como ginásiosesportivos, parques, teatros, conselhos comunitários, associações, clubese outros devidamente definidos e articulados. Dentro dessa perspectiva,pretende-se que as atividades se articulem com o funcionamento regularda escola, previsto no projeto político pedagógico, tendo a preocupação deoferecer a interação com as várias linguagens, incorporando a vivência dosalunos e da comunidade, para o consequente desenvolvimento das múltiplasdimensões humanas.

Quais as dimensões fundamentais para o desenvolvimentode uma proposta de tempo integral?

Não existem modelos perfeitos a serem implantados no que se refereà educação integral, até porque, acreditar nisso sabotaria qualquerpossibilidade efetiva de integralidade. Há que se pensar modelos a partirdos territórios e das pessoas que constituem esses territórios de forma aarticular significativamente as necessidades, as demandas, as possibilidadese as estratégias mais propícias.

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Contudo, admitindo essa diversidade e especificidades, podemosdizer que são dimensões fundamentais numa proposta de tempo integral:

1) a integração entre os diversos campos do conhecimento

2) a inclusão dos saberes da família e da comunidade

3) o desenvolvimento de valores e atitudes

Destacamos que as propostas de educação integral em curso sefortalecem no oferecimento de oportunidades para que as crianças,adolescentes e jovens, na escola, compreendam e manifestem o mundoutilizando diferentes linguagens, seus fins e meios, numa interrelação comas outras áreas de Ciências Humanas e suas Tecnologias e Ciências daNatureza, Matemática e suas Tecnologias. Incluem-se, também, alinguagem artística e corporal, por entendermos que os processos deaprendizagem ocorrem de modo multidimensional e mobilizam tantoaspectos afetivos como aspectos cognitivos.

Sendo assim, o que aprendemos está diretamente relacionado eorganizado por emoções e situações mentais que envolvem expectativas,escolhas próprias, projetos e autoestima. Desse modo, no processo deaprendizagem: emoções, sentimentos e cognição não podem ser separados.Uma vez que o autoconceito de uma criança, adolescente ou jovem influenciaa sua capacidade de aprender. Uma criança, adolescente ou jovem que sevê de forma negativa tem pouca confiança em si e pode apresentardificuldades para enfrentar seus problemas cotidianos ou desafios.

Frisamos, mais uma vez, que reconhecer e interpretar os processossociais que ocorrem nos territórios onde as crianças, adolescentes e jovensvivem favorecendo a compreensão é função precípua da escola. Por isso, ocurrículo deve e precisa dialogar com a dimensão e a velocidade da culturaglobal e multifacetada.

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Por que desenvolver a comunicação e expressão noâmbito de uma proposta de educação integral?

A comunicação oral, a escrita e a leitura são a bússula para aspessoas se estabelecem no mundo e se constituírem como cidadãos dedireitos.

Ler, escrever, ouvir e falar são competências transversais a todasas áreas do conhecimento, o que exige comprometimento de todos oseducadores com o avanço das capacidades de comunicação, interpretaçãoe expressão dos sujeitos. Estas competências não estão circunscritasao estudo da Língua Portuguesa, como componente curricular, uma vezque ela é a chave para aprendizagem em qualquer área do conhecimento.

Qual o lugar dos valores e atitudes numa proposta deeducação integral?

Construímos nossas identidades a partir de nossas vivências eexperiências na família, na escola, na igreja, na comunidade, no trabalho,dentre outros espaços, num contínuo processo de aprendizagem erelacionamento com os outros. A convivência, uma produção social e não-natural, requer aprendizagens cotidianas. Uma proposta de educaçãointegral deve qualificar essas aprendizagens pautada em princípios éticosde igualdade, solidariedade, liberdade e respeito à diversidade. Isso nãosignifica que devemos ignorar ou mascarar as contradições, as diferençase as desigualdades, mas, simplesmente compreendê-las. Agir e interagirnesses contextos, utilizando o diálogo e a negociação como mecanismosestratégicos a uma boa convivência ou mesmo mudanças/transformaçõesda realidade sempre que necessário for em favor da humanidade.

Portanto, aprender a agir e reagir em sintonia com o outro, aprendendoa concordar e discordar, em construir ou ouvir argumentos sem rompercom a convivência é um desafio e uma necessidade. Nesse momento dahistória humana, a educação deve ocupar lugar de relevo no âmbito de novaproposta de educação integral. Portanto, os educadores precisam saberfazer e ensinar para que cumpramos o nosso papel político. Por essarazão, é relevante superar e combater todas formas de preconceito ediscriminação social.

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É imperioso resgatarmos a ideia de que as atitudes e valores sãocomportamentos complexos que se formam na interação e na vivência entrepessoas. Envolvem tanto a cognição - que são os conhecimentos e ascrenças – quanto os afetos – sentimentos e preferências – e derivando decondutas. A informação é importante quando se pensa em valores, massó ela não é suficiente. Portanto, no trabalho com valores e atitudes épreciso tomar a prática e a vivência como objetos de aprendizagem.

Como fica a questão da jornada ampliada numa propostade educação integral?

A jornada escolar diária, no âmbito da educação básica e, maisespecificamente, do Ensino Fundamental, ainda é baixa, prevalecendo ade 4 (quatro) horas diárias. É preciso alcançarmos uma jornada diária de7 (sete) horas, para que se tenha um tempo significativo para odesenvolvimento de atividades que promovam a aprendizagem dascompetências e habilidades necessárias seguindo os parâmetros e matrizescurriculares nacionais.

É de suma importância articular a ampliação da jornada escolar,organizando os tempos de realização das atividades. Lembramos que aampliação da jornada assentada numa proposta de educação integral nãoestá colocada simplesmente como questão do aumento do tempo na escola,nem como espaço de atividades extracurriculares ou complementares, mascomo condição essencial para se organizar o currículo. Um currículo queconsidere as diferenças, o complexo e o múltiplo como condições essencialà vida de cada cidadão. Precisamos pensar nas múltiplas atividadescapazes de desenvolver, um conjunto de disposições e atitudes comopesquisar, selecionar informações, analisar, sintetizar e argumentar de formaque o aluno possa desenvolver e participar melhor do mundo social, inclusivea cidadania, o trabalho e a continuidade dos estudos. Dessa forma, estarãodesenvolvidas competências necessárias para uma educação integral.

Conforme estudiosos dessa questão tem apontado (CAVALIERE,2002 e MOLL, 2004), que uma política efetiva de educação integral não setraduz, exclusivamente, em aumentar o tempo de escolarização, mas requer,acima de tudo, mudar a concepção de educação, de escola e de currículoe o tipo de formação a ser oferecida aos cidadãos que convergem às escolas.Oportuno lembrar que a jornada escolar de tempo integral não pode eliminaro tempo doméstico a que a criança e o adolescente e sua família têm odireito. Alguns países equacionaram essa questão, por exemplo,

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assegurando um meio período durante a semana, para que as crianças eos adolescentes possam permanecer no espaço doméstico, sujeitos àsdemandas da família, entendendo-a em seu sentido mais amplo e diverso.

Nesse caso, é oportuno mencionar a preocupação que devemos ter,por exemplo, com a alimentação. O cuidado em construir cardápios queconsiderem as necessidades nutricionais das crianças e adolescentes paraa promoção de hábitos alimentares saudáveis, tanto quanto, hábitos dehigiene, a fim de, assegurar uma boa saúde, como por exemplo, pensar nahigiene bucal.

Todos esses fatores devem ser cuidadosamente combinados,discutidos, compartilhados, considerando, evidentemente, as políticaspúblicas em curso e as reais necessidades humanas de produção da vida.Finalizando, acrescentamos que esse roteiro não se esgota em si, tampoucoconstitui-se um modelo fechado a ser adotado, mas balizas que podem edevem ser ressignificadas, considerando as diferentes realidades dossistemas de ensino e das escolas brasileiras. Essas referências poderão edeverão ser alargadas, aprofundadas, testadas na prática de forma quepossamos palmilhar coletivamente caminhos que efetivem uma educaçãointegral. Uma educação que possibilite a formação de brasileiros e brasileirasmais críticos, participativos, conscientes de seus direitos e deveres,responsáveis, capazes de mudar e transformar os rumos da sociedadenuma perspectiva mais solidária, dialógica, inclusiva, democrática eequânime.

A educação integral é reforço escolar?

Os projetos de educação integral desenvolvidos nos diferentessistemas de ensino (municipais e estaduais) estão implantando programas/projetos complementares de recuperação da aprendizagem, ou reforçopedagógico, ou correção de fluxo, ou mesmo estudos dirigidos paraestudantes com ‘dificuldades’ de aprendizagem. Indubitavelmente, essesprogramas/projetos são necessários, mas por si só não refletem umaeducação integral destinada a todos os estudantes independentemente desuas deficiências de aprendizagem ou de renda. Isso posto, consideramosque o reforço escolar pode e deve fazer parte de uma proposta de educaçãointegral, tendo em vista que os estudantes são diferentes e, como tais,diferentes são seus ritmos e tempos de aprendizagem, o que vai exigirtempos e abordagens também diferentes. Nessa leitura, traduzimos como

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uma oportunidade ímpar para que mediações diferenciadas possam serempreendidas de forma a fortalecer e consolidar o desenvolvimento dascompetências e habilidades requeridas para uma vida cidadã, considerandoas múltiplas dimensões humanas. Porém, outras atividades como oficinasde artes, movimento e cultura precisam ser desenvolvidas.

Como fica a questão do turno e do contraturno numaproposta de educação integral?

No Brasil, observamos que a ampliação do tempo escolar e dasoportunidades de aprendizagem estão se dando sob a idéia de turno econtraturno. Admite-se a idéia de que é imperioso dispor de um turnocomplementar para enriquecer os repertórios e partilhar os conhecimentose saberes trabalhados, a partir do turno considerado formal (as aulaspropriamente ditas). Essa idéia deixa explícito a fragmentação existente eo fato de que o currículo é pensado e dirigido de forma desarticulada edesintegrada.

Vemos assim a necessidade premente de reconfiguração daintencionalidade pedagógica. Isso implica envolver todas as atividadespropostas para que dialoguem entre si, sob princípios e diretrizes claramentediscutidas e firmadas no âmbito do Projeto Político Pedagógico da escolae que correspondam, efetivamente, à formação integral desejável. Dessemodo, a idéia de turno e contraturno se tornam obsoletas e extemporâneas.

Em síntese, a integralidade enseja em si a não fragmentação, a nãodesarticulação. Implica pensar a aprendizagem por inteiro e promover ainter-relação das atividades de aprendizagem e seus propósitos, a fim deserem otimizadas e valoradas segundo o currículo, numa claraintencionalidade pedagógica, que tenha a formação do sujeito e do seudireito de aprender como ponta de lança do processo.

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Por que desenvolver oficinas para o âmbito de propostasde educação integral?

A oficina escolar é uma das metodologias criadas por Freinet paraorganizar as vivências pedagógicas. Ele contemplava a ideia da criançacomo um sujeito histórico, afetivo, criador de cultura e artífice de seu própriodesenvolvimento. Freinet parte da ideia, de que a criança adquireconhecimentos como alguém que está imerso na realidade e que participacotidianamente.

Em síntese, a criança, adolescente ou jovem é visto como umser que utiliza, simultaneamente, suas dimensões afetiva,cognitiva e social e sua participação intensa no processo deaprendizagem.

A palavra “oficina” era utilizada para nomear o espaço no qual oartesão ensinava o aprendiz a fazer algo, um trabalho, um ofício. Nessasituação o aprendiz aprendia fazendo. Em nossas práticas educativascontemporâneas, usamos a idéia de oficina para especificar uma forma deensinar e aprender baseado no princípio do “aprender fazendo”.

Destacamos que esse fazer é, quase sempre, coletivo, ou seja, osestudantes são motivados a trazer seus saberes e conhecimentos, e oeducador os ajuda/auxilia a mobilizar tudo o que já sabem, para queproduzam para produzir algo novo. Essa metodologia, por assim dizer,amplia os repertórios de aprendizagem possibilitando participação ativa porparte daquele que aprende.

As oficinas promovem situações de aprendizagem, nas quais semobilizam de forma articulada a linguagem, o pensamento, a emoção e aação. Constituem-se numa possibilidade ímpar de reaproximação entreexperiência e pensamento, esforço e interesse, jogo e trabalho. Alémdisso, promove o fortalecimento do respeito às diferenças individuais, namedida em que possibilita a cada sujeito vivenciar e experienciar asatividades segundo seus ritmos e tempos, para aprender efetivamente. Emais que isso, possibilita a reflexão sobre o que foi vivido e como issoaconteceu, permitindo a ampliação das aprendizagens realizadas duranteas oficinas, para outros espaços e contextos.

Acesse:

Para saber mais sobre a vida eobra de Freinet, acesse:

http://freinet.org.br/

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Entretanto, é de vital importância que o educador tenha claro aintencionalidade de cada oficina proposta para não recair em um conjuntode atividades justapostas, que não contribuam efetivamente paraaprendizagem. Da mesma forma, as crianças, os adolescentes e jovensdevem ter claro o que se espera deles, antes, durante e depois do trabalhorealizado.

Qual o roteiro para a implantação e implementação deuma proposta de educação integral?

Para pensarmos um roteiro, urge considerarmos algumas dimensõesque constituem um projeto dessa envergadura. Essas dimensões não sãorígidas em si, mas flexíveis enquanto são estabelecidas e executadas comoexpressão da reflexão realizada entre a realidade diagnosticada e osresultados desejados e alcançados. As dimensões são: diagnóstico,planejamento, execução, monitoramento e avaliação, adequação e ajustes.Destacamos ainda que essas dimensões não têm uma sequência linear,na medida em que estão em curso, já que são constitutivas umas dasoutras e, por conseguinte, intrinsecamente relacionadas.

Figura 5:Dimensões de um projeto/roteiro de educação integral

Dimensões de um projeto/roteiro de educação integral

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Partindo das discussões, até aqui, desenvolvidas e seus estudos epesquisas nos materiais sugeridos neste módulo, vamos traçar um roteiro,que possibilite estabelecer um plano de trabalho e defina objetivos eestratégias para implantarmos e implementarmos uma proposta pedagógicade educação integral. Para tanto, devemos considerar os marcos políticos,legais e gerenciais já tratados. Lembramos que devem ser consideradasaqui os princípios de uma gestão democrática, a intersetorialidade e ocompartilhamento nas decisões.

O diálogo político-gerencial entre a educação, a assistência social,a cultura, o esporte dentre outras políticas públicas é primordial para aconvergência de ações e para o desenho de uma proposta pedagógicaconsistente de educação integral, sobretudo nos territórios, em que ascrianças e adolescentes estão expostas à situação de vulnerabilidade social.

Além disso, a educação integral, para que se consolide efetivamente,precisa ser fruto de debates e decisões entre o Poder Público, a comunidadeescolar e a sociedade civil a fim de que todos assumam a responsabilidadee o compromisso com um projeto de educação comprometido com aformação e o exercício da cidadania. Dessa forma, gestar possibilidadesde protagonismo é missão primeira, nesse empreendimento.

Nesse contexto, no âmbito da gestão educacional, a mobilização éum fator preponderante, sobretudo na construção de redes sócio-educativasque ampliam o repertório cultural e dos saberes, bem como da convivênciatípica do espaço escolar, contribuindo significativamente com seusdiscursos, espaços, tempos e experiências que constituem as identidadesdos estudantes, bem como, sua formação integral.

O documento Gestão Intersetorial no T erritório , produzido peloMinistério da Educação, através da SECAD, para orientar o Programa MaisEducação, destaca cinco princípios que podem orientar de forma muitoefetiva o processo de gestão educacional. Vejamos:

TRANSCENDÊNCIA

Educação a vida toda, a todo o momento e todo lugar. Elatranscende a escola juntamente com a própria comunidadeescolar. As fronteiras se expandem, o tempo se alarga.

Para saber mais:

Conheça a íntegra dodocumento Gestão Intersetorialno Território. Disponível em

http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/cader_maiseducacao_2.pdf.(Acesso em 15/05/2011)

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PERMEABILIDADE

A educação é incorporada pela comunidade como direito, dever,mas principalmente, como valor construtivo, que lhe pertence.

CO-RESPONSABILIDADE

Poder público, empresários, organizações sociais ecomunidade assumem, todos juntos, o desafio de promover aformação de crianças e adolescentes.

CONECTIVIDADE

Cada um dos envolvidos disponibiliza sua expertise, seusrecursos e sua força de trabalho, que se conectam e se fundem,constituindo uma malha complementar e coesa capaz deatender as diferentes demandas levantadas no processo.

PLURALIDADE

A educação depende de uma ação intersetorial. Baseia-sena interdependência, construída por meio do respeito, dodiálogo e da valorização da diversidade como componentescomplementares de uma ação integral.

Além disso, algumas diretrizes podem ser consideradas nesseprocesso de forma a assegurar o sucesso da proposta:

1. Compromisso com a busca e criação de oportunidades diversificadasde aprendizagem para as crianças, adolescentes e jovens.

2. Participação ativa das famílias, crianças, adolescentes eprofissionais.

3. Articulação e cooperação entre diversos espaços educativos.

4. Transparência e publicização dos resultados alcançados.

expertisecompetência ou qualidade deespecialista.

(http://pt.wiktionary.org/wiki/expertise)

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A partir disso, há que se promover espaços de formação aosprofissionais da educação, à comunidade e à sociedade de forma a viabilizardebates a partir de estudos, pesquisas e indicadores de qualidade de formaa construir um objetivo para o projeto de educação integral e afirmar o papelsocial e político da escola na formação dos sujeitos. Por isso, é imperiosoque no âmbito do projeto Político Pedagógico sejam afirmados os conceitose consensos, em torno dessa questão, para uma unidade de propósitos.

Em seguida, estabelecer os saberes comunitários que serãotrabalhados no âmbito da proposta. Para tanto, considerar as característicasdas experiências comunitárias.

Áreas distintas de saberes podem e devem ser pensadas de modo acompor essa rede como: habitação, corpo/vestuário, alimentação,brincadeiras, organização política, condições ambientais, mundo do trabalho,curas e rezas, expressões artísticas (verbais, visuais, corporais e musicais),narrativas locais e calendário anual.

Nesse sentido, registraremos uma fotografia da realidade local, umavisão mais efetiva do território onde nossos estudantes vivem e produzemcotidianamente a sua vida e exercem a sua cidadania.

A partir do mapeamento dos saberes comunitários, devemos identificaras atividades que serão propostas considerando a realidade política,econômica e cultural local.

Nesse momento, é imprescindível mapear os espaços disponíveisna escola e no entorno onde as atividades poderão ser desenvolvidas,considerando as condições mais adequadas ao seu desenvolvimento como:laboratórios, bibliotecas, ginásios esportivos, praças, quadras de esportes,campos gramados ou de areia, academias, museus, clubes recreativos,associações, conselhos comunitários, Centros de Educação Tecnológica,planetário, salões de eventos, cinemas, teatros, auditórios, sala de artes,parques infantis, parques florestais, dentre outros e, ainda, a celebração deparcerias formais para seu uso.

Nessa tarefa, é preciso considerar espaços governamentais (União,Estado e do município) e espaços privados disponíveis. Frisamos que éimperioso estabelecer atividades em espaços fora da escola para dinamizaro processo educativo, torná-lo mais atrativo e prazeroso, ampliando assimos repertórios.

Merece reflexão a importância em estabelecer os mecanismos decomo será realizado o diálogo dessas atividades com os componentescurriculares: português, matemática, história, geografia, ciências, artes,educação física, língua estrangeira. Ou seja, os saberes escolares.

Dica de livro:

“Os saberes comunitários

representam o universo cultural

local, isto é, tudo aquilo que

nossos alunos trazem para a

escola, independentemente de

suas condições sociais. Esses

saberes são os veículos para a

aprendizagem conceitual:

queremos é que os alunos

aprendam através das relações

que possam ser construídas

entre os saberes. Os alunos

devem, portanto, ser

estimulados a usar seus saberes

e idéias a fim de formularem o

saber escolar”.

(MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO.Redes de saberes. Maiseducação. Pressupostos paraProjetos Pedagógicos deeducação Integral. Brasília:MEC, 2009. p. 37)

Para saber mais:

Para balizar questões quepodem e devem perpassar cadaum desses aspectos acesse aspáginas 37 a 39 do materialdisponível no endereçoeletrônico disponível em:

http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/cad_mais_educacao_2.pdf.

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Unidade 3

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Marcos Gerenciais

“Quando utilizamos a expressão saberes escolares, é precisoesclarecer, nos referimos às propriedades e estratégias do fazer edo pensar, aos procedimentos passíveis de produzir uma práxisdiferenciada para estudantes em formação. Aqui os saberesescolares se constituem além de conteúdos específicos em cadadisciplinar escolar; são também as habilidades, os procedimentose práticas que nos tornam sujeitos formuladores de conhecimentos.”(BRASIL, 2009. p. 43)

Dessa forma, segundo o mesmo referencial, são saberes escolares:aaaaaA curiosidade: querer saber, querer conhecer;aaaaaO questionamento: não aceitar, buscar confirmar;aaaaaA observação: estudar algo com atenção;aaaaaO desenvolvimento de hipóteses: estimar;aaaaaA descoberta: revelar, dar a conhecer algo;aaaaaA experimentação: tentar, praticar, verificar;aaaaaO desafio: o jogo como pesquisa;aaaaaA identificação: reconhecer o caráter de algo;aaaaaA classificação: distribuir em classes, determinar categorias;aaaaaA sistematização: criar ou identificar relações entre partes e

objetos;aaaaaA comparação: estabelecer confronto entre partes e objetos;aaaaaAs relações: estabelecer identidades e diferenças entre partes

e objetos;aaaaaAs conclusões: realizar sínteses;aaaaaO debate: confrontar pontos de vista;aaaaaA revisão: ver de novo, com a capacidade de alterar o ponto de

vista original;aaaaaO criar: dar forma, produzir, imaginar, suscitar;aaaaaO jogar: colocar-se em risco, aceitar combinações não

programáveis, experimentar;aaaaaA curiosidade: voltar a se perguntar.

3.1 Pense a respeitoObjetivo: Construir um projeto preliminar de educação integral emjornada ampliada, articulando os saberes e conhecimentos mobilizadosdurante esse curso sobre educação integral nos aspectos político,legal e gerencial.

Baseado no que você estudou e pesquisou até aqui, construa umaproposta de implantação e implementação de educação integral, comjornada ampliada, em sua instituição educativa e respectivacomunidade.

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Educação Integral

Marcos Gerenciais

Orientação: Na construção da proposta, fique atento(a):I - ao roteiro apresentado nesta Unidade;II - ao estabelecimento do diagnóstico, dos princípios, das diretrizes e

da organização do trabalho didático na perspectiva de um currículointegrado e que considere a integralidade dos sujeitos;

III - às dimensões fundamentais de uma proposta de educação integral;IV - à reorganização dos tempos e dos espaços educativos e

possibilidades de uso de outros equipamentos disponíveis noterritório;

V-Pense e descreva alternativas de mudanças com possibilidade deser implementadas;

VI - Converse com seus colegas de trabalho, dirigentes de educaçãoou coordenadores de projetos voltados ao desenvolvimento depropostas de educação integral;

VII - Reflita como poderia ser melhorada a participação de seuscolegas, dos pais e dos estudantes nessa proposta, afinal grandeparte do sucesso de uma proposta dessa magnitude está emmobilizar a participação de todos e a responsabilização coletivapelo projeto e trace estratégias e ações para a consecução dessafinalidade.

Com apoio nessa proposta, reflita, revise seus estudos, problematizea sua prática pedagógica, de sua instituição de trabalho e ouse quebrarparadigmas.Sucesso neste desafio!

3.2 Síntese

Pensar e consolidar, na prática pedagógica, a pesquisa como umprincípio educativo para estudantes e educadores, em que se problematizea realidade, considerando a experiência de vida dos estudantes (seussaberes, suas dúvidas, suas incertezas e certezas, suas angústias, suasnecessidades, suas expectativas, seus sonhos), formulando hipóteses,traçando estratégias, buscando fontes de pesquisa, procedendo a sínteses,negociando projetos individuais e projetos coletivos, elevando à condiçãode sujeitos letrados, solucionando problemas, interferindo no entorno sociale que se reconheça como sujeitos construtores do conhecimento e, acimade tudo, sejam capazes de conviver com a diversidade e adotar posturassustentáveis frente ao planeta, parece ser fundamental. Neste momento,não restam dúvidas de que uma educação com sentido e significado seja ocaminho a percorrer, e quanto à pesquisa ou os projetos de pesquisa indicama possibilidade material para tanto.

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Considerações Finais

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Considerações Gerais

Considerações Finais

A educação integral, visa à cidadania das crianças, adolescentes ejovens, implica reconhecer que a educação é oportunidade para oaprendizado da convivência democrática, do reconhecimento das diferençase do exercício da igualdade. Põe luz, portanto, em aspectos quetradicionalmente não eram considerados focos da educação até então:

aaaaaa convivência como fonte de novos modos de pertencimento evaloriza-ção das diferenças;

aaaaaa sensibilidade como forma de expres-são e também comoinerente à condi-ção de aprendizado;

aaaaaa curiosidade como fonte de produção (e não mera reprodução)do conheci-mento. Aprender a aprender torna-se um valor.

A LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Brasil, 1996) - noartigo 87 §5 prevê a implementação da educação integral, destacando aextensão do tempo, ou seja, “escolas de tempo integral”. Decorridos maisde dez anos, as propostas de educação integral que vêm sendo criadas,em nível municipal, ampliam essa compreensão, não restringindo aintegralidade apenas ao fator temporal, mas à expansão dos espaços,diversidade de agentes educativos e objetos de conhecimento.

Compreendida desse modo, a educação integral convida àparticipação de muitos agentes educativos que põem em circulaçãodiferentes saberes e modos de produção de conhecimento. Tomados emsua igualdade, os conhecimentos dos adultos (educadores, familiares,agentes culturais) e das crianças, adolescentes e jovens podem circularsem reafirmar hierarquias e, assim, questionar sem ser desqualificados. Éimportante considerarmos a valorização dos saberes não-formalizados, dosconhecimentos adquiridos pela experiência de vida, pela troca entre asgerações, tanto quanto dos conhecimentos formalizados pelas ciências edisseminados nos espaços escolares.

Os conteúdos a serem trabalhados devem guiar-se pelo seusignificado social, tendo sentido e significado para o cotidiano e,concomitantemente, dialogando com outros tempos e espaços da vidahumana. É um conhecimento contextualizado e integrado para que ascrianças, adolescentes e jovens percebam as múltiplas relações que delederivam. Um conhecimento articulador para a vida relacional, ou mesmopara conviver em seu meio e, o mais importante, para se mover no seu

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Educação Integral

Considerações Gerais

mundo. Trata-se de desenvolver competências e habilidades para ascrianças, adolescentes e jovens lidarem com ferramentas que ampliemsua visão e compreensão de mundo, de si mesmos e do outro; suasubjetividade; o fortalecimento de sua identidade; sua possibilidade depensamento e expressão; e suas alternativas de escolha.

Essa ampliação da concepção de educação focaliza, também, adiversidade de espaços nos quais é possível aprender. Espaços que sãoalargados com a intenção de tornar cada lugar da cidade uma possibilidadeeducati-va: praças, museus, equipamentos públicos (escolas, bibliotecas,unidades de saúde), redes de comércio, lan houses, áreas de lazer, pontosde cultura, espaços informais de convivência e práticas esportivas, salasde cinema, de teatro, dentre outros. Isso implica reconhecer e entenderseu entorno social.

Ao mesmo tempo, os espaços de aprendizagem também sãoexpandidos pelas novas tecnologias que conectam experiências locais aum universo de trocas cada vez mais globalizado. Espaços virtuaisacessados pelas crianças, adolescentes e jovens levam-nos a lugaresdistantes, inéditos e culturalmente diversificados. A sociedade de hoje temconvocado, cada vez mais, o usufruto da ampliação das redes de informação,de modo a torná-las, também, redes de conhecimento dinâmico esocialmente articulado.

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Ana Paula Silva e Costa

Graduação em Artes Plásticas - Licenciatura em EducaçãoArtística pela FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado)

Graduação em Tecnologia em Gestão de Marketing pela Unesc(Universidade do Extremo Sul Catarinense)

Pós-graduação em Gestão de Pessoas pela FGV Online(Fundação Getulio Vargas).

Atuação como arte-educadora em São Paulo, Minas Geraise Rondônia.

Vânio Cesar Seemann

Graduado em Pedagogia e Especialista em Alfabetização pelaUDESC/FAED. É Orientador Educacional na SecretariaMunicipal de Educação de Florianópolis. Atua como formadorde professores desde 1997 em diferentes sistemas de ensino.Atuou como Diretor do Departamento de EducaçãoFundamental e coordenador da proposta curricular deFlorianópolis (1997-2004). É palestrante e conferencista emeventos educacionais, nas áreas de currículo, planejamento,avaliação, educação integral, diversidade, alfabetização epolíticas públicas educacionais. É autor de artigos e livrosdidáticos. É conselheiro-titular no Conselho Municipal deEducação de Florianópolis e no Conselho de Políticas dePromoção da Igualdade Racial de Florianópolis.

Sobre os autores

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