educação e diversidade: diálogos...

626
V ENCONTRO DE PESQUISA DISCENTE DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO DA UNINOVE & I ENCONTRO DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO, RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS E CULTURAS Educação e Diversidade: diálogos interculturais São Paulo, 13 e 14 de Maio de 2015

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  • V ENCONTRO DE PESQUISA

    DISCENTE DOS PROGRAMAS

    DE PS-GRADUAO EM EDUCAO DA

    UNINOVE &

    I ENCONTRO DE PESQUISA EM

    EDUCAO, RELAES TNICO-RACIAIS E

    CULTURAS

    Educao e Diversidade: dilogos

    interculturais

    So Paulo, 13 e 14 de Maio de 2015

  • 1

    2015 Universidade Nove de Julho

    Encontro de Pesquisa Discente dos Programas de Ps-Graduao em

    Educao (5.: 2015: So Paulo, SP)

    [Anais] do 1 Encontro de Pesquisa em Educao, relaes tnico-

    raciais e culturas (1.: 2015: So Paulo, SP) organizado por Neide

    Cristina da Silva [et al]. So Paulo: UNINOVE PPGE/PROGEPE,

    2015.

    625 p.

    ISSN 2176-6398

    1. Gesto Educacional 2. Planos e Polticas Educacionais 3. Culturas e epistemologias contra hegemnicas 4. Formao e Prtica

    Docente 5. Fundamentos filosficos da educao. I. Silva, Neide

    Cristina. II. Ttulo

    CDU 37 (063)

    A instituio ou qualquer dos organismos editoriais desta publicao no se responsabilizam pelas opinies,

    idias e conceitos emitidos nos textos, de inteira responsabilidade de seu(s) autor(es).

    REPRODUO AUTORIZADA, DESDE QUE CITADA A FONTE

    Os textos esto publicados conforme os originais dos articulistas.

  • 2

    Comit Organizador

    Coordenao Geral

    Cassio Diniz

    Neide Cristina da Silva

    Reinaldo Vicente da Costa Jr

    Telma Cezar

    Comisso Cientifica

    Ademar Bernardes Pereira Jr

    Maria Lucia da Silva

    Maria Jos Poloni

    Neide Cristina da Silva

    Reinaldo Vicente da Costa Jr

    Rosilda Maria Alves

    Telma Cezar da Silva Martins

    Walter Martins

    Prof. Dr. Adriano Salmar Nogueira e Taveira

    Prof. Dra Claudia Georgia Sabba

    Prof. Dr. Jos Eduardo de Oliveira Santos

    Prof. Dra Margarita Victoria Gomes

    Prof. Dr. Mauricio Silva

    Prof. Dr. Manuel Tavares

    Prof. Dra Monica de vila Todaro

    Comisso Cerimonial e Protocolo

    Edmar Souza das Neves

    Juliana Benda

    Kacianna Patricia de Jesus Barbosa e Amorim

    Luis Roberto B. de Paiva

    Sandra Costa

    Vanessa Amorim Dantas

  • 3

    Comisso Marketing e Divulgao

    Andre Lus Gabriel

    Cassio Diniz

    Claudia Cristina de Oliveira

    Daniel Bocchini

    Donizete Antnio Mariano

    Fernanda Batista Alves

    Marcos Antonio dos Santos orreia

    Comisso Patrocnio

    Evangelita Carvalho da Nobrega

    Sebastio Monteiro

    Wendel Cssio Christal

    Comisso Artstica

    Antnio Germano

    Francisca Monica Rodrigues de Lima

    Comisso Tcnica

    Edielso Manoel Mendes de Almeida

    Fernando de Paula Simes

    Ricardo Stefanelli

    Equipe de Apoio

    Alexandre Bernardo da Silva

    Antonio Carlos R.dos Santos

    Ana Luiza Sodero

    Claudia dos Santos Almeida

    Cosmo Luciano do Nascimento

    Daniel de Aguiar Pereira

    Eduardo Gasperoni de Oliveira

    Emerson Martins

    Eliane Aparecida Costa

    Fernanda Pereira da Silva

  • 4

    Janaina Melques Fernandes

    Jos Machado

    Larissa Terezani

    Leandro Tenrio do Nascimento

    Luciane da Silva Vicente

    Maria Tereza F. da Silva

    Monica Abud Perez de CerqueiraLuz

    Monica Roberto D. Dias

    Rafael Carlos da Silva

    Rafael W.Belli

    Rgia Vidal dos Santos

    Rita Aparecida Nunes de Souza da Luz

    Sandra Regina Vivanco Mirabeti

    Thiago Batista Costa

    Thiago de Oliveira Valim

    Vanda Araujo

    Vanderley Pereira Gomes

    Vitor Neves Barbosa

  • 5

    SUMRIO

    Apresentao dos (as) palestrantes e membros das mesas temticas -----------------

    010

    Palavras de Abertura -----------------------------------------------------------------------

    015

    Representante Discente -------------------------------------------------------------------------

    015

    O dia seguinte ao 13 de Maio -----------------------------------------------------------------

    017

    Palestra de Abertura -----------------------------------------------------------------------

    019

    Consideraes sobre o alter na vida e nas pedagogias alternativas -----------------

    019

    Mesas Temticas ----------------------------------------------------------------------------

    031

    Anlise sobre o acesso popular e a incluso da diversidade cultural e

    epistemolgica na universidade federal da integrao latino-americana (UNILA) -

    031

    Barreiras culturais comunicao, conflitos e criatividade em grupos especficos e

    tnico-raciais diferenciados --------------------------------------------------------------------

    057

    (Des) locar, (re) conhecer e (trans) formar: relato de uma experincia referente a

    abordagem da cultura afro brasileira e diasprica na prtica educativa ------------

    073

    Os dilemas da universidade brasileira no incio do sculo XXI ------------------------

    078

    O processo de branqueamento na pequena infncia --------------------------------------

    083

    O sistema universidade aberta do Brasil ----------------------------------------------------

    087

    Quilombo Ivaporunduva: estudos etnogrficos sobre educao, trabalho e modos

    de sociabilidade ----------------------------------------------------------------------------------

    097

    Comunicaes -----------------------------------------------------------------------------------

    113

    As concepes de brincar, orientadoras das prticas de docentes da educao

    infantil, por elas mesmas -----------------------------------------------------------------------

    113

    A contribuio do contedo dana nas aulas de educao fsica -----------------------

    127

    A dana no processo de ensino-aprendizagem na educao infantil escolar --------

    139

    A educao fsica no centro de ensino superior do Amap e a formao de

    professores: construo de um currculo contra hegemnica ---------------------------

    155

  • 6

    A escola e os alunos oriundos da fundao CASA ---------------------------------------

    171

    A epistemologia latino-americana e o desafio da interculturalidade ------------------

    182

    A formao em exerccio do professor polivalente da escola pblica: um olhar

    sobre a sua prtica -------------------------------------------------------------------------------

    193

    As diretrizes curriculares para o ensino mdio e as mudanas no ensino de fsica -

    204

    Avaliar para gerir: um olhar sobre as escolas estaduais paulistas da regio sul 1,

    em So Paulo, capital ----------------------------------------------------------------------------

    214

    Delineando aes de interveno com vistas aprendizagem efetiva dos alunos

    nas escolas prioritrias da diretoria de ensino leste 1 -----------------------------------

    225

    Desigualdades educacionais e sua relao com os fatores: raa e gnero -------------

    243

    Dilogo de um socilogo do cotidiano com os fundamentos tericos e

    epistemolgicos da pesquisa-ao ------------------------------------------------------------

    258

    Educao e conhecimento: uma proposta visando construo formativa do

    indivduo luz dos componentes filosficos -----------------------------------------------

    274

    Incluso da criana com deficincia fsica nas aulas de educao fsica: um estudo

    de caso .......................................................................................................................

    287

    Leitura em sala de aula como o lugar do extraordinrio ----------------------------------

    304

    Os ribeirinhos da vila do aaizal: uma leitura contra hegemnica ----------------------

    315

    O sindicalismo docente universitrio mexicano e a precarizao do trabalho:

    histria e embates polticos na contemporaneidade (1990-2010) -----------------------

    330

    Paulo freire e a conscientizao ---------------------------------------------------------------

    343

    UNILAB: internacionalizao e interiorizao da universidade pblica --------------

    354

    Resumos Expandidos -----------------------------------------------------------------------

    367

    A contribuio do estgio supervisionado para o curso de pedagogia -----------------

    367

    A corporeidade como categoria de reflexo na formao de professores da

    educao infantil----------------------------------------------------------------------------------

    373

    A educao a distncia na universidade da integrao internacional da lusofonia

    afro-brasileira (UNILAB------------------------------------------------------------------------

    376

  • 7

    A educao superior nas universidades populares: um estudo sobre a matriz

    curricular da universidade federal da fronteira sul sob a tica da incluso da

    diversidade cultural e epistemolgica --------------------------------------------------------

    379

    A formao continuada como espao para reflexo sobre as prticas de leitura

    literria em educao infantil: levantamento de teses e dissertaes -------------------

    386

    A formao do pedagogo para o eixo natureza e sociedade na educao infantil ---

    389

    A formao reflexiva e dialgica dos alunos pibidianos a partir dos portiflios

    reflexivos-------------------------------------------------------------------------------------------

    393

    A mediao do professor nos espaos ldicos da creche ---------------------------------

    394

    Analise comparativa curricular do curso de pedagogia na universidade federal

    fronteira sul e universidade nove de julho ---------------------------------------------------

    397

    Aprendizagem alm dos livros ----------------------------------------------------------------

    403

    A produo nacional sobre formao de professores constante na revista brasileira

    de estudos pedaggicos -------------------------------------------------------------------------

    406

    A psicomotricidade na educao infantil ----------------------------------------------------

    410

    Artes circenses em projetos scios-culturais ------------------------------------------------

    417

    As abordagens pedaggicas da educao fsica utilizadas pelos professores no

    decorrer do processo ensino-aprendizagem -------------------------------------------------

    425

    As nossas negras razes no currculo escolar: uma prtica pedaggica com alunos

    da EJA de Diadema ------------------------------------------------------------------------------

    426

    Contribuies de Paulo Freire para a compreenso da organizao e gesto da

    escola -----------------------------------------------------------------------------------------------

    431

    Cultura popular nos cursos de formao superior em dana do Brasil-----------------

    436

    De prioritria comunidade de aprendizagem : o processo de transformao de

    uma escola sob ponto de vista dos alunos ---------------------------------------------------

    441

    Disponibilidade do sistema de avaliao institucional (sai), do Centro Paula Souza

    (CEETEPS): compreenso dos gestores escolares -----------------------------------------

    444

    Edgar Morin e a complexidade: compreenses para uma educao no sculo XXI

    452

    Educao Cientfica e diversidade cultural -------------------------------------------------

    460

  • 8

    Educao continuada: a prtica pedaggica de professores alfabetizadores aps a

    formao oferecida (PNAIC) ------------------------------------------------------------------

    467

    Educao de Jovens e Adultos: mtodo Paulo Freire e alfabetizao da pessoa

    idosa ------------------------------------------------------------------------------------------------

    471

    Educao Fisica: as relaes tnico-raciais na compreenso do professor do ensino

    fundamental I--------------------------------------------------------------------------------------

    473

    Educao fsica e o seu percurso revelador, diante de suas expectativas para o

    campo acadmico e cientfico------------------------------------------------------------------

    476

    Educao infantil: o livro didtico em pauta ------------------------------------------------

    481

    Educao pela diversidade: a esttica como possibilidade de uma prtica inclusiva

    486

    Escola cidad desafios e possibilidades por meio dos colegiados escolares -------

    491

    Formao de professores indgenas: desafios tericos e prticos -----------------------

    496

    Formao de professores: um estado do conhecimento nas reunies da ANPED ---

    500

    Gesto democrtica no ensino mdio: enfoques nacionais e internacionais na

    scientific eletronic library online (SCIELO) ------------------------------------------------

    506

    Gesto e prticas educacionais para jogos educomunicativos nas escolas pblicas

    do municpio de So Paulo ---------------------------------------------------------------------

    510

    Gesto participativa: ascenso da autonomia na escola pblica-------------------------

    520

    Material escolar: o problema do desperdcio -----------------------------------------------

    533

    Mudanas na prtica de professoras da creche no processo de formao continuada

    em servio -----------------------------------------------------------------------------------------

    537

    Nem Joo, nem Maria: o ensino do futsal para integrao de gneros nas aulas de

    Educao Fsica -----------------------------------------------------------------------------------

    540

    Nossa senhora negra, nossos alunos no: a origem religiosa da educao

    brasileira e a questo tnico-racial ------------------------------------------------------------

    541

    O corpo que fala e no escultado nas aulas de educao fsica -----------------------

    546

    O ensino em ead e interculturalidade --------------------------------------------------------

    548

    O futlama como tema gerador nas aulas de educao fsica nas escolas da orla da

    553

  • 9

    cidade de Macap --------------------------------------------------------------------------------

    O papel do ncleo pedaggico como formador dos profissionais da educao ------

    555

    O processo de ingresso no ensino superior por meio dos colgios universitrios

    CUNIS na Universidade Federal do Sul da Bahia ----------------------------------------

    558

    O trabalho e sua relao com a educao ----------------------------------------------------

    561

    Paulo freire e o palhao: uma ferramenta possvel na preparao do docente -------

    567

    Prticas de leitura literria: levantamento de dissertaes e teses ----------------------

    572

    Precarizao da educao e pedagogia da alternncia ------------------------------------

    576

    Slackline como ferramenta pedaggica para o desenvolvimento motor nas aulas de

    educao fsica ------------------------------------------------------------------------------------

    584

    Respeitvel pblico! Apresentamos: atividades circenses nas aulas de educao

    fsica............................................................................................................................

    585

    Termos indgenas e africanos em nossa linguagem cotidiana ---------------------------

    587

    Valorizao da cultura corporal ribeirinha amaznica por intermdio do currculo

    cultural da educao fsica ----------------------------------------------------------------------

    589

    Vamos brinquedoteca? uma anlise sobre questes tnico-raciais na educao

    infantil ----------------------------------------------------------------------------------------------

    590

    Projeto das oficinas -------------------------------------------------------------------------

    594

    A representao do negro no cinema ------------------------------------------------------

    594

    As relaes tnico-raciais nos espaos da educao infantil --------------------------- 595

    Dilogos tnico-raciais na contao de histrias ------------------------------------------- 597

    Literaturas de lngua portuguesa: vises brasileira e africana --------------------------- 598

    Oficina a Lei 10639/03 na sala de aula ------------------------------------------------------ 601

    Oficina bonecas Abayomi ---------------------------------------------------------------------- 604

    Questes tnico-raciais atravessando a msica --------------------------------------------- 605

    Apresentaes artsticas e culturais ---------------------------------------------------- 606

    Errata 613

  • 10

    APRESENTAO DOS (AS) PALESTRANTES E MEMBROS DAS

    MESAS TEMTICAS

    Abertura

    Prof. Dr. Jason Ferreira Mafra Coordenador do Mestrado em Gesto e Prticas

    Educacionais (UNINOVE)

    Formao Acadmica

    Doutorado em Educao Universidade de So Paulo (USP)

    Mestrado em Educao Universidade de So Paulo (USP) Graduao em Histria Centro Universitrio Salesiano de So Paulo (UNISAL)

    Prof. Dr. Marcos Antonio Lorieri Docente do Mestrado e Doutorado em Educao

    (UNINOVE)

    Formao Acadmica

    Doutorado em Educao Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo (PUC/SP).

    Mestrado em Educao (Filosofia da Educao) Pontifcia Universidade Catlica de

    So Paulo (PUC/SP)

    Graduao em Filosofia Universidade de So Paulo (USP)

    Edmar Souza das Neves representante discente UNINOVE

    Formao Acadmica

    Pedagogo, Universidade Federal do Amap Especialista em Psicologia Educacional pela PUC- BH

    Mestre em Educao Fsica pela USJT/SP-

    Doutorando UNINOVE

    Encerramento

    Prof. Dr. Marcos Ferreira Santos Docente FE - USP - Professor de Mitologia,

    livre-docente na FE-USP

    Formao Acadmica

    Doutor (FE-USP, 1998) Ps-doutoramento em Hermenutica Simblica pela Universidad de Deusto (Bilbao,

    Pas Basco, 2003). Membro do Conselho Consultivo da Aliana pela Infncia no

    Brasil.

    Atuao em pesquisa, ensino e extenso na rea de Antropologia da Educao.

  • 11

    Prof. Dr. Jos Eustquio Romo - Coordenador do Mestrado e Doutorado em

    Educao (UNINOVE)

    Formao Acadmica

    Doutorado em Histria Social Universidade de So Paulo (USP)

    Doutorado em Educao Universidade de So Paulo (USP). Graduao em Licenciatura Em Histria Universidade Federal de Juiz de Fora

    (UFJF)

    MESAS TEMTICAS Mesa Educao Superior

    Moderador: Prof. Dr. Jos Eduardo de Oliveira Santos (UNINOVE)

    Formao Acadmica

    Doutorado em Educao - Universidade de So Paulo (USP). Mestrado em Geografia Humana - Universidade de So Paulo (USP).

    Graduao em Cincias Sociais - Universidade de So Paulo (USP).

    Ms. Luciana da Silva Araujo (UNINOVE)

    Formao Acadmica

    Mestra em Educao pela Universidade Nove de Julho, So Paulo- SP (2013)

    Graduada em Comunicao Social - Jornalismo pela Faculdade Ubaense Ozanam Coelho, Ub, MG (2004).

    Cursando pedagogia na Universidade Metodista de So Paulo-SP.

    Prof. Andreia Fernandes (UMESP) - Professora no curso de pedagogia na Faculdade

    Zumbi dos Palmares desde 2012

    Formao Acadmica

    Doutoranda em Educao (Universidade Metodista de So Paulo)

    Mestre em Educao pela mesma universidade.

    Ms. Suelen Pontes Alexandre (UNINOVE) - professora titular na Secretaria da

    Educao do Estado de So Paulo

    Formao Acadmica

    Filosofia pelo Centro Universitrio Assuno (2009)

    Mestrado em Educao pela Universidade Nove de Julho (2015)

    Experincia na rea de Filosofia, com nfase em Epistemologia

    Ms. Tatiana Romo (UNINOVE) - professora do ensino superior tanto na modalidade

    presencial quanto na Educao a distncia

  • 12

    Formao Acadmica

    Graduada em Psicologia (2000) - PUC-SP.

    Psicodramatista e Socionomista, especialista em grupos e aprendizagem.

    Pesquisadora de aprendizagem em ambientes virtuais e dos papeis da Universidade no Brasil, membro dos projetos de pesquisa: observatrio da Educao (OBEDUC-

    CAPES) e Politicas de incluso nas novas universidades pblicas federais.

    Mesa Educao e Diversidade

    Moderador: Prof. Dr. Maurcio Pedro da Silva (UNINOVE)

    Formao Acadmica

    Ps-Doutorado - Universidade de So Paulo (USP)

    Doutorado em Letras Literatura Brasileira Universidade de So Paulo (USP).

    Mestrado em Letras Literatura Brasileira Universidade de So Paulo (USP).

    Graduao em Letras-Portugus Brasileira Universidade de So Paulo (USP).

    Prof. Dra. Josildeth Gomes Consorte - experincia em diversas reas da

    Antropologia como Educao, Manifestaes Religiosas Brasileiras e Relaes

    tnicas.

    Formao Acadmica

    Bacharel e licenciada em Geografia e Histria pela Universidade Federal da Bahia (1951)

    Cursou as sequencias de Antropologia e Sociologia na Fundao Escola de Sociologia e Poltica de So Paulo (1952).

    Ps-graduao em Antropologia nas Universidades de Columbia (New York EUA) e Chicago (Chicago-EUA) entre 1953 e 1955.

    professora Titular desta mesma Universidade desde 1984

    Doutora Honoris Causa pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)

    Prof. Dr. Felipe Chibs (USP) - Professor e pesquisador possui mais de 20 anos de

    experincia na docncia em nvel de graduao e ps-graduao

    Formao Acadmica

    Doutorado em Cincias da Comunicao pela ECA-USP (2005)

    Mestrado em Cultura e Comunicao pelo Programa em Integrao da Amrica Latina (PROLAM) pela USP (2000)

    Lcenciatura em Psicologia pela Universidade de La Habana, Cuba.

    Prof. Dra. Sandra Maria Christiani de La Torre Lacerda Campos

    Formao Acadmica

  • 13

    Bacharel e Licenciada em Filosofia pela Universidade de So Paulo (1981)

    Mestre em Cincias Sociais pela Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo (1996)

    Doutora no mesmo programa (2007).

    Atualmente Especialista de Apoio Pesquisa em Museu, no Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de So Paulo. Tem experincia na rea de Antropologia,

    com nfase em Etnologia, atuando principalmente nos seguintes temas: antropologia

    amerndia, etnologia indgena, acervos de museus, museus etnogrficos, curadoria de

    colees, antropologia dos artefatos, antropologia visual e educao indgena.

    Profa. Dra. Marcia Cristina Amrico - professora na Faculdade Zumbi dos Palmares

    Formao Acadmica

    Graduao em Cincia com habilitao em Licenciatura em Qumica pela Universidade Metodista de Piracicaba (2006)

    Mestra (2010) e Doutora em Educao pelo Programa de Ps-Graduao da Universidade Metodista de Piracicaba (2015).

    Prof. Ms Wilson da Silva - Professor universitrio

    Formao Acadmica

    Mestre em Cincias da Comunicao / Cinema (ECA USP)

    Professor Histria, Comunicao e Pedagogia

    Fundador do Ncleo de Conscincia Negra da USP

    Dirigente do Movimento Quilombo Raa e Classe

    Ativista do Movimento LGBT

    Mesa Educao Bsica

    Moderadora: Profa Dra Ligia De Carvalho Aboes Vercelli (UNINOVE)

    Formao Acadmica

    Doutora e mestre em educao pela Universidade Nove de Julho (Uninove).

    Graduada em psicologia e em Pedagogia com especializao em Psicopedagogia.

    Professora das disciplinas Psicologia da Educao e Metodologia do Ensino da Educao Infantil do curso de Pedagogia na Universidade Nove de Julho

    Prof. Elsa Lopes (PUC) - Diretora de Creche-Prefeitura Municipal em Santo Andr

    Formao Acadmica

    Pedagoga, ps-graduada em Coordenao Pedaggica na Escola Bsica

    Mestre em Educao pela UMESP, Doutoranda em Educao: Currculo pela USP/SP.

  • 14

    Prof. Elisabeth Fernandes de Souza (SME-SP) - Assistente Tcnico Educacional

    Educao tnico Racial SME/DOT-G - SME

    Ms. Telma Cezar (UNINOVE) - H mais de 25 anos na rea de Educao,

    ministrando aulas desde a educao infantil at o ensino superior

    Formao Acadmica

    Doutoranda em Educao pela Universidade Nove de Julho (UNINOVE)

    Mestre em Educao

    Especializao (Lato Sensu) em Educao Infantil e Pedagoga pela Universidade Metodista de So Paulo.

    Tatiane Nunes Valente (PUC) - Professora do Atendimento Educacional

    Especializado na Prefeitura Municipal de Macap

    Formao Acadmica

    Graduada em Licenciatura Plena em Educao Fsica, pela Universidade Estadual Vale do Acara

    Pedagogia, pela Universidade do Estado do Amap-UEAP.

    Especialista em Praticas Pedaggicas para o Ensino de Pessoas com Necessidades Especiais, pela Faculdade Atual.

    Mestranda em Educao: Formao de Formadores, pela PUC-SP.

  • 15

    PALAVRAS DE ABERTURA

    Edmar Souza das Neves

    Representante Discente PPGE UNINOVE

    [email protected]

    Em nome do Programa de Ps-graduao em Educao da Universidade Nove de

    Julho dou as boas-vindas a todos os participantes do V Encontro de Pesquisa Discente do

    Programa de Ps-Graduao em Educao da UNINOVE e Primeiro Encontro de Pesquisa,

    em Educao tnico - Raciais e Culturais. Estendo, tambm, um especial agradecimento a

    todos os que trabalharam com denodo e generosidade para o sucesso deste evento. Eles deram

    um eloquente testemunho de solidariedade orgnica. Destaco, aqui, o incansvel trabalho da

    comisso geral, da comisso cientfica, da comisso de cerimonial e protocolo, da comisso

    de Marketing e Divulgao, da comisso de patrocnio, da comisso artstica, da comisso

    tcnica e da comisso de apoio.

    A tempos que estudiosos das Cincias Sociais e demais reas de conhecimento

    denunciam o carter opressivo da globalizao em relao s identidades culturais diversas,

    sobretudo quando se leva em conta que globalizar pode significar homogeneizar, diluindo

    identidades e apagar as marcas das culturas ditas inferiores.

    No contexto da sociedade globalizante alguns grupos sociais tornam-se inferiores por

    serem diversos e plurais e por apresentarem como uma ameaa aos padres euro americanos

    de ser e viver.

    Tais padres, assentados nas culturas ocidentais brancas, letradas, masculinas,

    heterossexuais e crists, esto arraigados no imaginrio social e naturalizados cotidianamente

    nos diversos espaos de convivncia humana, afetando tanto os chamados grupos minoritrios

    quanto os pertencentes s esferas hegemnicas.

    Sabe-se que as discusses das relaes tnicas raciais e culturais, em territrio

    brasileiro so antigas, complexas e, extremamente polmicas. Porm, necessrias para a oferta

    de uma educao igualitria e compromissada com a formao de um sujeito que seja capaz

    de compreender e aceitar as diferenas tnicas raciais e as diversidades culturais. Enquanto

    educador progressista, compreendo a instituio escolar como um palco onde todas as

    contradies sociais se encontram, cabendo a cada agente escolar, de forma individual e

    mailto:[email protected]
  • 16

    coletiva estruturar processos educativos que caminhem no sentido contrrio a qualquer tipo de

    descriminao. Isto significar que temos o desafio de conjecturarmos um modelo educativo

    democrtico em que a igualdade de oportunidade prevalea frente a igualdade legal, como

    preconiza o artigo 5 da Constituio Federal. Pois em um pas com tantas desigualdades e

    excluses sociais como o Brasil, no apropriado tratar de maneira igual pessoas que so

    historicamente diferentes.

    Infelizmente no Brasil, as aes educativas que objetivam a utopia da existncia

    harmnica entre os grupos tnica e culturalmente diferenciados, e a existncia de uma

    sociedade plural, de direito e de fato, ainda so tmidas na maioria das instituies formadoras

    includo escolas e universidades. Os sussurros que escutamos so quase sempre pautados

    em uma retrica vazia de sentido poltico, sem grandes repercusses concretas.

    Portanto caros participantes, a proposta de discusso apresentada pelo V Encontro

    de Pesquisa Discente do Programa de Ps-Graduao em Educao da UNINOVE e Primeiro

    Encontro de Pesquisa, em Educao tnico- Raciais e Culturais de refletirmos sobre os

    padres hegemnicos que acabam por delinear formas de ser e viver e ao mesmo tempo de

    socializarmos experincias contra hegemnicas que lutam por uma sociedade diversa e plural.

    Pois temos a certeza de que nenhuma sociedade, cuja a populao multicultural e que no

    educa para o convvio com a diferena, pode ser prspera e feliz.

    Desta forma, que no decorrer deste evento possamos direcionar nossas reflexes

    pautadas numa perspectiva das ponderaes de Boaventura de Souza Santos.

    Quero ser tratado com igualdade sempre que a diferena me inferioriza, e ser tratado

    com diferena sempre que a igualdade me descaracteriza.

  • 17

    O DIA SEGUINTE AO 13 DE MAIO

    Telma Cezar da Silva Martins

    [email protected]

    Estamos ns aqui no V Encontro de Pesquisa Discente do Programa de Ps-graduao

    em Educao da Uninove e I Encontro de Pesquisa em Educao, Relaes tnico-raciais e

    Culturas; o que podemos co-memorar (juntos trazermos a memria) sobre esse dia?

    13 de maio de 1888, enfim, a escravido acabou. Agradecemos a princesa Isabel e

    festejamos? No. No bem assim! No dia seguinte tudo poderia ser diferente. Mas, no foi.

    Esse dia seguinte, ao fim da escravido, foi o dia mais longo da histria. Um dia que ainda

    no terminou.

    Depois de sculos de sequestros, escravido e assassinatos, o que se viu nos anos ps-

    abolio foi a formao e o desenvolvimento de um pas que negou e ainda nega populao

    negra condies mnimas de integrao e participao na riqueza. Sem terra, sem empregos,

    sem educao, sem sade, sem teto, sem representao. Sequer a mais liberal das reformas, a

    agrria, fora possvel no pas das capitanias hereditrias. Vamos olhar para o campo e

    observar as fileiras ou os acampamentos de Sem Terra, maioria negras e negros. Vamos

    buscar na memria os rostos de quem conforma o peloto que estremece So Paulo na justa

    luta por moradia capitaneada pelos movimentos de Sem-Teto nos dias de hoje: negras e

    negros! Vamos olhar para as filas dos hospitais, para os que esperam exames e tratamentos,

    para os analfabetos ou para as crianas em idade escolar que esto fora da escola. Vamos

    olhar para a populao carcerria e suas condies de existncia. Vamos olhar para as vtimas

    de violncia policial, para os nmeros de desaparecimentos e homicdios. Vamos olhar para os

    dependentes do bolsa-famlia ou da previdncia social. Vamos olhar para a pobreza. De fato,

    ela atinge a todos. Mas a presena de negras e negros nas condies narradas aqui, tem sido

    desproporcional e pouco se alterou desde 1888.

    Passamos pelos 127 anos seguintes ao fim da escravido e no foram suficientes para

    nos livrar de uma herana racista, reafirmada, cotidianamente, pelos descendentes dos

    colonizadores que dirigiram o Brasil.

    mailto:[email protected]://negrobelchior.cartacapital.com.br/2014/03/26/nao-esta-faltando-cadeias-esta-faltando-e-tronco-em-praca-publica/http://negrobelchior.cartacapital.com.br/2014/03/26/nao-esta-faltando-cadeias-esta-faltando-e-tronco-em-praca-publica/http://negrobelchior.cartacapital.com.br/2014/03/25/populacao-carceraria-do-brasil-aumentou-mais-de-400-em-20-anos/http://negrobelchior.cartacapital.com.br/2014/04/01/nas-favelas-a-ditadura-militar-nunca-terminou/
  • 18

    Hoje 14 de maio de 2015 estamos ns aqui (alunos e alunas, professores e professoras,

    pesquisadores e pesquisadoras), ou melhor, como foi dito ontem: representantes da Academia

    e representantes do cho da escola, o que ns temos a ver com isso?

    Os altos ndices de violncia com a populao negra (analfabetismo, evaso escolar,

    excluso do mundo do trabalho, homicdio) afetam a todos ns: negros e no negros. Por isso,

    buscamos diferentes caminhos para transformar essa perversa realidade. E, da, no podemos

    minimizar a discusso, temos que avanar: alm de repensarmos se as relaes devem ser

    harmnicas ou respeitosas, se as polticas focais minimizam as universais, se quem tem que

    dar as respostas so professores/as ou pesquisadores/as, temos que juntos/as -

    pesquisadores/as, professores/as - levantarmos a bandeira de uma educao contra

    hegemnica que contribui para o (des)pensar das mentes colonizadas.

  • 19

    PALESTRA DE ABERTURA

    CONSIDERAES SOBRE O ALTER NA VIDA E NAS PEDAGOGIAS

    ALTERNATIVAS

    Marcos Antnio Lorieri

    Professor - PPGE UNINOVE

    [email protected]

    "Uma pessoa uma pessoa

    por causa das outras pessoas".

    Ditado sul africano da tribo Ubuntu

    Agradeo aos organizadores do Encontro Discente de 2015 por este convite que muito

    me honra e parabenizo os alunos do PPGE/PROGEPE da UNINOVE pela realizao do

    mesmo.

    Foi-me solicitado apresentar algo sobre a proposta temtica do livro Pedagogias

    Alternativas organizado pela Professora Rosemary Roggero, pelo Professor Carlos Bauer e

    por mim o qual contm as conferncias de abertura e de encerramento, bem como as das

    mesas temticas do VIII Colquio sobre Instituies Escolares realizado aqui em nosso PPGE

    no ano de 2011. O IX Colquio foi realizado em 2013 com temtica relativa aos 80 anos do

    Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova. Cada Colquio tem um tema e o de 2013 foi este:

    Pedagogias alternativas. Neste ano de 2015 realizaremos o X Colquio que ter como foco o

    Plano Nacional de Educao. Ser realizado na ltima semana de outubro deste ano.

    Pode parecer que o tema proposto por vocs no se coadune com o tema geral deste

    encontro que Educao e Diversidade: dilogos interculturais. Mas, acho que h ligaes

    importantes entre ambas as temticas. Buscarei aqui indicar estas ligaes, ao mesmo tempo

    em que apresento aspectos que julgo mais significativos do livro.

    Um pouco do livro

    Retomo aqui ideias que escrevi para a apresentao do livro que aborda o tema do VIII

    Colquio, ou seja, alternativas educacionais que visam a oferecer respostas a situaes

    mailto:[email protected]
  • 20

    diversas que ocorrem nas maneiras de viver dos humanos. Os humanos no vivem da mesma

    maneira em todos os lugares, em todas as pocas e em todos os momentos. O alter de

    alternativa indica exatamente o outro, a alteridade. H maneiras outras, alm das nossas, de

    ser gente. o que denominamos de diversidade cultural. Culturas so maneiras ou modos

    cultivados de produo e de organizao da vida humana. H sempre maneiras outras ou

    diversas de viver. E isso uma riqueza de manifestaes de algo comum a todos ns: todos

    ns, seres humanos, produzimos maneiras de viver. Mas, diversamente. E, dentro das vrias

    maneiras de viver, h maneiras outras, ou diversas, de se fazer educao, maneiras outras,

    ou diversas, de fazer acontecer educao em instituies escolares e fora delas: seja no que

    denominamos de educao formal e de educao informal ou no formal. O livro, nos seus

    diversos captulos, trata disso: de alternativas, ou maneiras outras, ou diversas, de se fazer

    educao: seja em culturas diversas, seja em tempos diversos, seja com procedimentos

    pedaggicos diversos.

    Alternativas podem ser pensadas como as sucesses que ocorrem nas experincias

    educacionais nas quais h alternncias de tempos dedicados escola e ao trabalho, seja ao

    longo do dia, seja no decurso das pocas do ano. H alternativas na organizao do

    funcionamento das escolas, h alternativas educacionais s escolas, h alternativas nas

    maneiras de se trabalhar dentro das escolas. H maneiras diversas de desenvolvimento do

    trabalho didtico com as diversas disciplinas, ou na proposio delas, ou mesmo em relao

    aos momentos de oferta de disciplinas no acontecer do currculo escolar.

    O colquio foi uma oportunidade para se pensar e debater alternativas educacionais no

    interior das instituies escolares e em instituies alternativas a elas. O livro, consequncia

    do Colquio, oferece a ampliao dessa oportunidade e o convite a se pensar o que deve ser

    conservado porque bom e o que precisa ser mudado porque necessrio, visto que a vida e a

    educao fazem-se em ambas as possibilidades: a da conservao e a da mudana. Sem

    alternativas as mudanas no ocorrem e, ento, a conservao prevalece at gastar-se e

    desgastar-se por completo provocando a morte da vida e, nela, da educao.

    Busquem-se a vida e a educao na conservao revitalizada pelas novas boas

    alternativas e pelas novas boas mudanas que sempre conservam, dialeticamente, algo daquilo

    que veio antes. Assim tambm so as diversas culturas: elas sempre agregam algo novo na

    maneira de os humanos cultivarem a vida e os espaos nos quais a vida se desenvolve. Nem

  • 21

    sempre as novidades so boas: da a constante vigilncia crtica. E nem sempre bom o que

    veio antes: da, tambm a vigilncia crtica.

    1. O contedo do livro

    O livro est organizado em nove partes precedidas de uma apresentao.

    Apresentao: Carlos Bauer, Rosemary Roggero, Marcos A. Lorieri

    PARTE I: Pedagogias Alternativas com trs captulos com as seguintes temticas:

    Da experincia pedaggica alternativa educativa (Jean-Claude Gimonet); Reflexes sobre

    alternativas educativas (Thierry De Burghgrave); No rastro das pedagogias alternativas:

    pedagogia da esperana e da alternncia (Antnio Joo Mnfio).

    PARTE II: Pedagogia em movimentos sociais e associaes civis, com trs

    captulos: Aprendizagens em pedagogias alternativas: movimentos sociais (Maria da Glria

    Gohn); Pedagogia nos movimentos sociais (ngela Randolpho Paiva); Educao e pedagogia

    nos movimentos e organizaes de trabalhadores do campo (Maria Antnia de Souza).

    PARTE III. Alternativas no contexto da educao profissional, tambm com trs

    captulos: A reforma do ensino profissional: governos FHC e Lula (Miguel Henrique Russo);

    Ideologia e formao profissional: a lgica da naturalizao e da adaptao (Celso Carvalho);

    Contribuies da histria profissional (Celso Joo Ferretti).

    PARTE IV. Pedagogia da Alternncia: origem, didtica, expanso, problemas,

    com dois captulos: Educao: territrio e globalizao (Paolo Nosella); Os centros

    familiares de formao em alternncia CEFFAs (Joo Batista Begnami, Luis Pedro

    Hillesheim e Thierry De Burghgrave).

    PARTE V. Filosofia no Ensino Fundamental, com dois captulos: Notas para pensar

    el sentido poltico de ensear y aprender filosofa (Walter Kohan); Filosofia para crianas

    educao para pensar bem: a proposta de Matthew Lipman (Marcos Antnio Lorieri).

    PARTE VI. Pedagogias da Educao a Distncia, com trs captulos: Educao a

    distncia no ensino da msica (Prof. Dr. Daniel Marcondes Gohn); Sobre ambientes virtuais

    na configurao da escola: reflexes sobre formao (Rosemary Roggero); Educao de

    qualidade para o futuro (Fredric M. Litto).

  • 22

    PARTE VII. Associativismo e Sindicalismo: impactos na educao, com trs

    captulos: Heterogeneidade e fragmentao (Sadi Dal Rosso); La profesionalizacin del

    acadmico universitario en Mxico: origen y desarrollo (Renate Marsiske); Associativismo e

    sindicalismo na histria da educao aspectos tericos e ideolgicos de sua construo

    (Carlos Bauer).

    PARTE VIII. Arquitetura Escolar: desafios pedaggicos, com dois captulos:

    Arquitetura Escolar: organizao do espao e desafios pedaggicos (Ester Buffa); A escola e a

    cidade (Luiz Octvio Rocha).

    PARTE IX. Pedagogias Freireanas, com quatro captulos: Uma Introduo

    Pedagogia da Correspondncia em Paulo Freire (Edgar Pereira Coelho); Despensar as

    pedagogias coloniais e os seus pressupostos epistemolgicos (Manuel Tavares); Universidade

    popular um sonho possvel de ser concretizao (Adriana Salete Loss e Cludia Finger

    Kratochvil); Pedagogias de Paulo Freire (Jos Eustquio Romo).

    Seria longo comentar a respeito de cada captulo do livro e fica aqui o convite para que

    o leiam.

    2. Conversando sobre educao e diversidade: dilogos interculturais

    H tantas diversidades, assim como h sempre algo em comum nos humanos: este o

    meu ponto de partida. Um dos aspectos comuns aos humanos a diversidade: comum ser

    diferente. comum ser outro, ou ser humano de maneiras diversas. Da a estranheza de se

    estranhar a diversidade e, pior, lutar contra ela. Pior ainda: lutar contra o diferente. Tom-lo

    como inimigo. Contra isso, vrias posturas tm surgido, depois de muitas brbaras posturas

    que, historicamente, indicaram a eliminao do diferente com as consequncias que todos

    conhecemos.

    Aqui j h um aspecto a ser considerado, seja na formao dos educadores, seja no

    trabalho destes educadores com as crianas e com os jovens. necessrio reforar a tomada

    de conscincia a respeito deste princpio: o de que a diversidade algo natural e belo na

    Natureza, incluindo a os seres humanos e que, ela no apenas bela, mas boa, pois permite

    trocas enriquecedoras entre os diversos. No caso dos humanos, permite as trocas

    interculturais. Ou, os dilogos interculturais.

  • 23

    Vale lembrar a feliz distino que Paulo Freire faz entre dilogo e polmica. Na

    polmica busca-se impor a outro o prprio ponto de vista. No dilogo trocam-se pontos de

    vista com a inteno de, na troca dos mesmos, se poder chegar a algum ponto de vista mais

    bem argumentado, mais completo, mais apurado. Quando se faz a apurao, faz-se, tambm, a

    depurao do que no era to bom e fica-se com o que era bom no um e no outro. Assim,

    parece-me, deve ser o dilogo intercultural.

    O termo interculturalidade tem sido utilizado para indicar propostas de convivncia

    entre diferentes culturas com o objetivo de integrao entre elas sem, com isso, anular sua

    diversidade e nem perder de vista a igualdade fundamental de todos, em especial sua igual

    dignidade. Somos sempre dignos, isto , merecedores de respeito como pessoas. Faz parte

    dessa dignidade, podermos ser diferentes. Candau (2008) chama a ateno para o fato de que

    houve uma enorme nfase na igualdade no discurso da modernidade. Os novos discursos

    apontam para a diferena e a convivncia com o diferente. No que o foco na igualdade tenha

    perdido sua validade, mas h uma nfase na diferena.

    Como entender igualdade e diferena e como entender que todos somos iguais

    diferentemente? Ou como diz Rios em texto apresentado no 4 Congresso da SOFELP

    (Sociedade de Filosofia de Lngua Portuguesa) realizado em 2014 em Cabo Verde:

    Entretanto, de maneira extremamente diversificada que se d a criao cultural nos

    diversos grupos e sociedades. Poderamos dizer que o que iguala os seres humanos

    , contraditoriamente, o fato de serem diferentes, e de se construrem de maneira

    diferente. H um direito diferena assim como um direito igualdade? Como

    assim? Candau diz: No se trata de afirmar um polo e negar o outro, mas de

    articul-los de tal modo que um nos remeta ao outro. (2008, p. 47)

    Somos igualmente diversos na nossa maneira de ser gente. E isso um direito de todos

    ns. O que no podemos eliminar a nossa igual condio humana. E esta, tambm, carrega

    consigo direitos.

    No uma questo simples, mas h elementos presentes nas discusses atuais que

    podem nos ajudar, ao menos, a darmos aquele primeiro passo que o da tomada de

    conscincia do problema e de alguns meios capazes de resolv-lo. Estes meios caminham na

    direo das polticas pblicas e na direo da busca de proposies educativas a serem feitas

    s nossas crianas e aos nossos jovens no intuito de convenc-los a realizarem prticas de

  • 24

    respeito igual dignidade de todos e, tambm, s diferentes maneiras de realizarmos nossa

    igual dignidade.

    Ao comentar algumas posies de Boaventura Sousa Santos a respeito deste tema e

    algumas das premissas ali contidas, Candau diz: Todas essas premissas esto voltadas para

    essa grande questo da articulao entre igualdade e diferena, isto , da passagem da

    afirmao da igualdade ou da diferena para a da igualdade na diferena. (CANDAU, p. 49).

    Em continuao ela insiste no seguinte:

    A questo est em como trabalhar a igualdade na diferena, e a importante

    mencionar o que Santos (2006) chama de o novo imperativo transcultural, que no

    seu entender deve presidir uma articulao ps-moderna e multicultural das polticas

    de igualdade e diferena: temos o direito a ser iguais, sempre que a diferena nos

    inferioriza; temos o direito de ser diferentes sempre que a igualdade nos

    descaracteriza (SANTOS, 2006, p. 462). nessa dialtica entre igualdade e

    diferena, entre superar toda a desigualdade e, ao mesmo tempo, reconhecer as

    diferenas culturais, que os desafios dessa articulao se colocam. (CANDAU,

    2008, p. 49).

    3. Interculturalidade, direitos humanos e educao

    Em texto enviado ao IV Colquio Internacional de Filosofia da Educao realizado na

    Universidade dos Aores em 2012 apresentamos consideraes que aqui so retomadas

    julgando que possam auxiliar nas reflexes sobre o que pode fazer a educao em relao a

    esta temtica. Essas consideraes partiam de algumas questes como: haveria um nico

    humano a dizer de si e a pedir pela sua realizao, ou h possibilidades diversas de se ser

    humano? As diversidades contemplam a satisfao do ser gente? Quando exercemos o ofcio

    de educadores o fazemos na busca de ajudar seres humanos em formao a saberem buscar

    suas satisfaes e as dos outros? H um nico caminho de satisfao do humano?

    Para enfrentar estas questes iniciamos por afirmar ser comum dizer-se da

    importncia das diferenas e da riqueza do humano que elas revelam. Ao mesmo tempo foram

    colocadas questes relativas ao que comum ou igual nos seres humanos e que, talvez,

    merea tanta ateno quanto que dada s diferenas. Se as consideraes relativas s

    diferenas apontam para caminhos diversos de o humano realizar-se, haveria, tambm e ao

    mesmo tempo, caminhos comuns a indicarem algo de base e a todos necessrio? Como pensar

    este algo comum ao constatar os muitos diversos caminhos culturais que os homens criam e

  • 25

    nos quais se realizam, criando-se e recriando-se continuamente? Que resposta a educao

    deve ou pode dar a estas interpelaes?

    Uma ideia de Edgar Morin pode auxiliar na busca de alguma resposta: A Terra

    constitui um laboratrio nico onde, no tempo e no espao, manifestaram-se as constantes e

    as variaes humanas individuais, culturais, sociais: todas as variaes so significativas,

    todas as constantes so fundamentais. (MORIN, 2003, p. 18).

    H algo constante e, ao mesmo tempo, algo dinmico, ou varivel que significativo

    e constitutivo do humano. Naquilo que comum, os seres humanos so, ao mesmo tempo,

    seres do cosmo e seres da vida. Como seres da vida carregam as marcas comuns do biolgico.

    So tambm seres culturais: produtores de cultura e produzidos pela cultura. A cultura o

    toque propriamente humano dado animalidade, ou seja, ao biolgico O primeiro capital

    humano a cultura. O ser humano, sem ela, seria um primata do mais baixo escalo (pois),

    no seio das culturas e das sociedades, os indivduos evoluiro mental, psicolgica,

    afetivamente. (MORIN, 2003, p. 35). H, aqui, dois dados comuns a todos os humanos:

    todos so membros de uma espcie e todos so membros de alguma sociedade e, por

    conseguinte, de alguma cultura. Sem a biosfera no h o humano e nem sem a sociosfera. O

    indivduo humano, na sua autonomia mesma, , ao mesmo tempo, 100% biolgico e 100%

    cultural. (MORIN, 2003, p. 53). Cabe aos humanos preservar, nutrir e regenerar a ambas. E

    h um terceiro aspecto tambm constitutivo de todo humano que ele denomina de esprito ou

    de mente. O esprito uma emergncia do crebro que suscita a cultura, a qual no existiria

    sem crebro. (MORIN, 2003, p. 38).

    H, pois, trs esferas necessrias nas quais a vida humana se d: a biosfera (na qual

    emerge o crebro), a sociosfera (na qual emerge a cultura) e a esfera do esprito/mente (a

    noosfera), visceralmente imbricada nas outras duas e que tem papel fundamental na conduo

    da humanizao. Dependemos todos, igualmente, de cuidados com as trs esferas nas quais

    nos realizamos. Morin d um destaque especial da noosfera ( do esprito), pois, atravs do

    esprito o homem abre-se ao mundo pela curiosidade, pelo questionamento, pela explorao,

    pela paixo de conhecer e se sensibiliza por tudo (o aspecto esttico do humano),

    manifestando essa sensibilizao pelos mais diversos meios, sendo um deles, o das artes. Este

    esprito incita todos os comeos. (Idem, p. 40). Os exerccios do esprito/mente formam um

  • 26

    algo comum a todos os humanos. Variam os exerccios e seus produtos, mas o exercitar-se o

    mesmo e a mesma, a necessidade dele e do seu cultivo nas mais diversas culturas.

    Destaquem-se, dentre os produtos do esprito/mente, as manifestaes da sensibilidade

    humana que decorrem de algo do qual ningum pode deixar de cuidar: o seu ser esttico. Pois,

    trata-se de uma dimenso antropolgica capital: o ser humano no vive s de po, no vive

    s de mito, vive de poesia. Vive de msica, de contemplaes, de flores, de sorrisos (idem, p.

    137-138). Sejam quais forem e como forem estas manifestaes da sensibilidade humana, elas

    so imprescindveis para a realizao dos humanos.

    As consideraes a respeito do que h de comum e que no pode ser descartado na

    busca da boa realizao dos humanos poderiam se estender por vrios outros aspectos. Essas

    consideraes convidam para se pensar na necessidade de cuidados com os elementos

    fundamentais imbricados e entrelaados na constituio do propriamente humano: os

    cuidados com o Planeta Terra, com a vida em geral e, dentro dela, da vida humana como

    finalidade importante de nossas aes, com as sociedades para que sejam redes de segurana

    sem se tornarem redes aprisionantes, com as coisas do esprito pois, sem elas, no sabemos do

    mundo, da vida, das sociedades, de ns mesmos e nem conseguimos nos realizar

    esteticamente, afetivamente, como sujeitos e intersubjetivamente. Esses cuidados so direitos

    de todos, independentemente da diversidade cultural.

    Sabemos, pois, do que comum ou igual em todos ns e da necessidade dos cuidados

    a respeito, necessidade que gera direitos iguais para todos os humanos. Mas, sabemos,

    tambm, que somos iguais na diferena ou na diversidade de nossas maneiras de realizarmos

    essa igualdade. Esses diferentes caminhos de realizao do humano so uma riqueza. O

    tesouro da humanidade est na diversidade criadora, mas a fonte de sua criatividade est na

    sua unidade geradora. (MORIN, 2003, p. 66). A diversidade uma obviedade. H o

    homem, ou o ser humano, mas este humano s se apresenta atravs de homens e mulheres

    muito diversos (MORIN, 2003, p. 62). H o esprito humano que s aparece em espritos

    diferentes (idem, p. 62), assim como h a inteligncia humana que se concretiza em

    inteligncias muito diversas (idem, p. 63). H a afetividade e esta se realiza de modos

    singulares em cada pessoa. H a cultura humana, mas o que se v so as mais variadas

    culturas, pois, a cultura s existe atravs das culturas (idem, p. 64). Assim como h a

    linguagem humana que se realiza pelas mais diversas formas como, por exemplo, pelas

  • 27

    variadas lnguas. Somos gmeos pela linguagem e separados pelas lnguas (MORIN, 2003,

    p. 65).

    As diversas maneiras de se ser igualmente gente, porm, nem sempre so aceitas ou

    reconhecidas como genuinamente humanas. Acabam por no serem consideradas como de

    direito de as pessoas existirem assim, diversamente, na sua igual humanidade.

    Aquilo que permitiria a compreenso provoca a incompreenso entre culturas quando se v

    apenas a diferena e no o fundo antropolgico comum. Da mesma forma, entre os indivduos, somos

    incapazes de nos compreender enquanto s vemos a alteridade e no a identidade. (...). Em todas as

    coisas humanas, a extrema diversidade no deve mascarar a unidade, nem a unidade bsica mascarar a

    diversidade. (MORIN, 2003, p. 65).

    Sem isso a humanidade comum perece e, em seu perecimento, perecem juntos todos

    os diversos humanos. A diversidade depende da unidade e vice-versa. A admisso disso exige

    um reacerto na concepo do humano indicando novos aportes antropolgicos e novas

    propostas para a educao. necessrio entender que no se pode pensar e agir a partir de

    reducionismos, pois eles matam a riqueza da diversidade e em nada ajudam na busca da

    satisfao das exigncias do que comum, a comear pela satisfao exigncia do respeito

    dignidade humana que engloba o respeito ao direito da diversidade.

    Esta a base ou o ponto de partida para a exigncia do respeito variedade cultural e

    para a luta pela interculturalidade. Esta, por sua vez, parece ser uma luta mais difcil, pois, no

    se trata de apenas respeitar as outras culturas ou de buscar bem conviver com as diferenas.

    Muito menos de apenas tolerar o diferente.

    Trata-se de saber conviver, sim, e tambm de saber comunicar-se com o diferente

    buscando entendimentos e aprendizagens mtuas o que leva ao mais difcil, que o

    intercambiar realizaes culturais como conhecimentos, saberes, prticas, maneiras de ser.

    Intercambiar significa trocar entre. Significa oferecer seus prprios bens culturais a outros de

    outra cultura e tambm saber receber estes bens da outra cultura. Talvez o mais difcil seja o

    receber. No um simples receber, mas um receber que reelabora o recebido. A reelaborao

    permite novos desenvolvimentos do humano sem, contudo, descaracterizar o j elaborado.

    Pensar assim implica em pensar em ao menos duas coisas: primeiro pensar que

    nenhuma cultura realiza por completo o humano nos membros de um grupo social; segundo,

    que nenhuma cultura absolutamente melhor que outras. Todas so portadoras de algo bom (e

  • 28

    tambm de algo no to bom) e todas tm carncias do melhor do humano. Nas trocas, nos

    intercmbios, todos podem ser aprimorados. Este posicionamento reporta-se ideia de

    hibridizao cultural tal como expressada por Candau:

    Alm disso, deve ser dada especial ateno aos aspectos relativos hibridizao

    cultural e constituio de novas identidades culturais. importante que se opere

    com um conceito dinmico e histrico de cultura, capaz de integrar as razes

    histricas e as novas configuraes, evitando uma viso das culturas como universos

    fechados e em busca do puro, do autntico e do genuno, como uma essncia

    preestabelecida e um dado que no est em contnuo movimento. (2008, p. 53).

    Uma ideia nada fcil. Ela se ope simples ideia da tolerncia do diferente. Penso

    que no o caso de se propor s nossas crianas e jovens que tolerem os diferentes de ns e

    sim que saibamos conviver bem com todas as pessoas numa relao constante de respeito

    sua dignidade humana e, alm disso, que saibamos levar em conta aquilo que o diferente traz

    de diverso e que pode ser acolhido nas nossas maneiras de ser porque acrescenta aquilo de

    humanidade em ns que percebemos que nos falta.

    H hoje muitos estudos a respeito desta temtica relativa interculturalidade que

    caminham juntos com os estudos relativos multiculturalidade e pluriculturalidade. Em

    todos eles fala-se no necessrio respeito diversidade cultural e no direito de todas as pessoas

    viverem de acordo com suas referncias culturais em qualquer lugar em que estejam neste

    Planeta Terra. Fala-se tambm na necessidade de qualquer pas, ao acolher pessoas de outras

    culturas, oferecer-lhes o total respeito que cabe a todo ser humano. Isso tem por base o

    pressuposto da igualdade de todos como pessoas. J h uma histria positiva dessas falas e

    uma histria ainda no to positiva de aes coerentes com elas. A histria, porm, de falas

    relativas interculturalidade e ao seu entendimento recente. Muitas vezes fala-se em

    interculturalidade no sentido ou de multiculturalismo ou de pluriculturalismo colocando-se

    nelas a ideia restrita de tolerncia. As falas acima mencionadas que se reportam ao

    intercmbio de culturas e mesmo ideia de hibridizao cultural ainda sofrem dificuldades de

    preciso e, mais ainda, de assuno objetiva. A ideia de intercmbio cultural, de trocas de

    elementos culturais ainda parece assustar. No entanto, pode ser rica e encaminhadora para

    novas buscas de realizao do humano. E isso implica profundamente na discusso a respeito

    dos direitos humanos. Reinaldo Matias Fleuri (2003) apresenta um histrico das discusses

  • 29

    em torno destes temas e traz interessantes contribuies para a elucidao de alguns aspectos

    relativos interculturalidade. Assim como o texto de Vera Maria Candau: Direitos humanos,

    educao e interculturalidade: as tenses entre igualdade e diferena (2008). Ambos os

    textos esto indicados nas referncias bibliogrficas no final desta exposio.

    Dados os limites disponveis para estas consideraes, fao remisso bibliografia

    indicada e proponho algumas consideraes provocativas a partir dos elementos at aqui

    expostos.

    4. Consideraes provocativas

    Pensando em direitos humanos na perspectiva da interculturalidade entendida como

    intercmbio de culturas, o que indica trocas entre elas, como pensar em direitos? Direito a

    qu?

    Antes de provocar alguma resposta, julgo oportuno repetir algo que li em algum texto

    e que afirma no haver nenhuma cultura pura, visto que todas as culturas so resultantes de

    intercmbios culturais. Parece-me acertada esta afirmao.

    Se estiver correto, parece-me ser de direito de qualquer pessoa, poder assimilar

    elementos culturais diversos daqueles nos quais se formou. Um direito que derivado da

    natural limitao de qualquer conjunto de bens culturais para satisfazer todas as necessidades

    ou carncias das pessoas. Em havendo carncias em uma cultura e, em havendo possibilidades

    de satisfao dessas carncias em elementos de outras culturas, por que no assumir a

    possibilidade de assimilao desses elementos por qualquer pessoa? E, em havendo duas ou

    mais culturas que se encontrem (e isso mais comum do que se imagina) por que no

    considerar ser de direito dos membros dessas vrias culturas, trocarem entre si elementos de

    suas culturas? No seria este um direito de todos? Igualmente de todos? justo impedir ou

    tentar impedir este intercmbio? E mais: seria justo tentar impedir o conhecimento o mais

    abrangente possvel de diversas culturas? Fazer isso no seria contrariar o direito igual de

    todos de terem acesso a possveis bens culturais que lhes faltam em suas culturas? Seriam

    direitos humanos a serem vistos e defendidos na perspectiva da interculturalidade entendida

    como intercambiamento cultural? Como subsdio a estas indagaes interessante pensar no

    que diz Candau ao comentar algumas ideias de Boaventura Souza Santos:

  • 30

    Afirmar que nenhuma cultura completa, que nenhuma d conta de toda a riqueza

    do humano, leva-nos a, muito mais do que trabalhar com a ideia de uma cultura

    verdadeira e nica, que tem de ser universalizada, desenvolver a sensibilidade para

    com a ideia da incompletude de todas as culturas e, portanto, da necessidade da

    interao entre elas. Nenhuma cultura d conta do humano. (CANDAU, 2008, p.

    49).

    Segunda considerao: se fosse possvel (parece-me no o ser) a busca da

    conservao de alguma cultura pura, que consequncias para o bem dos humanos esta busca

    traria? Talvez estas palavras de Candau nos ajudem: Sempre que a humanidade pretendeu

    promover a pureza cultural e tnica, as consequncias foram trgicas: genocdio, holocausto,

    eliminao e negao do outro. A hibridizao cultural um elemento importante para levar

    em considerao na dinmica dos diferentes grupos socioculturais. (2008, p. 51).

    Penso que uma tarefa da Filosofia da Educao tambm a de refletir criticamente

    sobre esta temtica e principalmente refletir sobre como a educao deve tratar dela com

    vistas a buscar acima de tudo a realizao da dignidade das pessoas. Dignidade esta, que o

    postulado bsico de todo o discurso dos direitos humanos e que deve se tornar o postulado

    bsico de todas as aes nesta direo. Em especial as aes educacionais.

    Referncias bibliogrficas

    BAUER, Carlos; ROGGERO, Rosemary; LORIERI, Marcos A. (Orgs) Pedagogias

    Alternativas, Jundia, SP: Paco Editorial, 2014.

    CANDAU, Vera Maria. Direitos humanos, educao e interculturalidade: as tenses entre

    igualdade e diferena. In: Revista Brasileira de Educao. Rio de Janeiro: ANPED v. 13 n. 37

    jan/abr 2008, p. 45-56.

    FLEURI, Reinaldo Matias. Intercultura e educao. In: Revista Brasileira de Educao. Rio

    de Janeiro: ANPED, Maio/Jun/Jul/Ago 2003 N 23 p. 16-33.

    MORIN, Edgar. O Mtodo 5: a humanidade da humanidade. A identidade humana. Trad.

    Juremir Machado da Silva. 2 ed. Porto Alegre: Sulina, 2003.

    RIOS, Terezinha Azerdo. Educao para a interculturalidade desafio construo do

    dilogo. Comunicao enviada ao IV Congresso da SOFELP realizado em Praia, Cabo Verde

    de 6 a 8 de maio de 2013.

  • 31

    MESAS TEMTICAS

    ANLISE SOBRE O ACESSO POPULAR E A INCLUSO DA DIVERSIDADE

    CULTURAL E EPISTEMOLGICA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DA

    INTEGRAO LATINO-AMERICANA (UNILA)

    Suelen Pontes - PPGE/UNINOVE

    [email protected]

    Resumo

    Este trabalho pretende compreender a incluso da diversidade cultural e epistemolgica no

    quadro de acesso popular consolidado na Universidade da Integrao Latino-Americana

    (UNILA). pretendido a compreenso do modo como o princpio filosfico apresentado no

    decreto de lei 12. 189 se substancializa no projeto poltico pedaggico que contm bases

    humansticas, de democracia cognitiva e politizao cientfica, diferentemente das bases que

    sustentam as matrizes coloniais de educao superior. As epistemologias no eurocntricas,

    constituiro a base terica de fundamentao do novo projeto de ensino e educao superior,

    tendo em vista a incluso da diversidade cultural e epistemolgica numa perspectiva no

    ocidentocntrica, descolonial, emancipatria e de acesso popular. A UNILA como uma

    proposta de alternativa aos atuais modelos sistmicos de educao superior vem buscando

    contribuir para a integrao regional da Amrica Latina, reconhecendo a diversidade das

    identidades nacionais e dos elementos que unem nossas razes e nossos destinos enquanto

    continente diante do mundo globalizado, quando pretende ser e afirmar-se como um modelo

    de ensino de educao superior contra-hegemnicos. Por meio de uma anlise qualitativa,

    percebemos como se consolidam as propostas humansticas nesse quadro de integrao da

    vocao internacionalista e solidria da UNILA.

    Palavras-chave: Educao superior, Integrao, Inovao, Diversidade epistemolgica.

    Introduo

    Este trabalho analisa, no ensino da educao superior, um projeto de acesso popular ao

    ensino superior, que visa a incluso da diversidade cultural e epistemolgica, mais

    precisamente nos processos que se desenvolveram nessa direo, na Universidade Federal da

    Integrao Latino-Americana (UNILA).

    Na contemporaneidade, em funo das polticas neoliberais, a educao superior

    tornou-se objeto de mercantilizao, que no se restringe esfera do ensino. As exigncias do

    mercado de trabalho de uma mo de obra cada vez mais qualificada e a ausncia de resposta

    do setor pblico a essas exigncias, abriu o caminho para a iniciativa privada no mbito da

    mailto:[email protected]
  • 32

    educao que, apesar dos objetivos de lucro, cumpre, muitas vezes, o papel que compete ao

    Estado, ou seja, a democratizao do acesso educao superior. Os grupos sociais mais

    desfavorecidos, que cursaram o ensino mdio nas escolas pblicas, so o pblico privilegiado

    das universidades privadas. E este um dos grandes paradoxos da educao superior no

    Brasil: os filhos das elites cursam as universidades pblicas e os filhos dos mais

    desfavorecidos tm que pagar para ter o direito de acesso universidade.

    Diante das ausncias que surgem dos saberes suprimidos, marginalizados e

    desacreditados, nascem novos modelos de educao superior que propem o dilogo com

    diferentes reas do saber. Ocorre que esses novos modelos so fontes alternativas produo

    cientfica hegemnica que possuem o objetivo de uma transformao social emancipatria.

    Um dos modelos contra hegemnicos de educao superior o proposto por

    Boaventura de Sousa Santos - as Universidades Populares dos Movimentos Sociais (UPMS) -

    e surge como alternativa aos modelos universitrios tradicionais, ou clssicos, que acabam por

    responder apenas s necessidades das elites. De acordo com Santos (2006, p. 156-157),

    O objetivo principal da UPMS contribuir para aprofundar o interconhecimento no

    interior da globalizao contra-hegemnica mediante a criao de uma rede de

    interaes orientadas para promover o conhecimento e a valorizao crtica da

    enorme diversidade de saberes e prticas protagonizados pelos diferentes

    movimentos e organizaes.

    No mbito dos novos modelos, surgem as novas universidades implementadas no Brasil

    nos ltimos cinco anos que procuram responder s demandas dos pases em desenvolvimento

    e possuem como foco o fortalecimento dos modos de resistncia contra hegemnicos, como

    o caso do universo da nossa pesquisa, a Universidade Federal de Integrao Latino-

    Americana (UNILA).

    A educao brasileira fruto de um contexto de colonizao, processo que foi

    determinante (historicamente) para o desenvolvimento ou subdesenvolvimento dos pases sul

    americanos. A cultura da Amrica Latina tornou-se dependente do colonialismo intelectual,

    que acabou mercantilizando o conhecimento cientfico da universidade, distanciando-se da

    vida social pelo seu carter elitista ou profissionalizante.

    H novos modelos de educao superior que pretendem, precisamente, afirmar-se

    como modelos anticoloniais. possvel a superao do processo colonial, a partir da tomada

  • 33

    da conscincia do modo como se constitui esse modo estruturado e imposto do saber. Trata-se

    de um projeto muito complexo, mas do qual possvel se tomar a conscincia para a

    transformao completa das estruturas coloniais e que imperam ainda nas bases do

    conhecimento e nas instituies que os promovem. Trabalhamos tambm com o conceito de

    diversidade por considerarmos, a partir do campo emprico de pesquisa e dos documentos

    analisados, que a UNILA tem como projeto institucional e pedaggico a promoo da

    diversidade cultural, numa perspectiva humanista, cientfica e tecnolgica que leva em

    considerao o desenvolvimento latino-americano, sobretudo dos pases menos

    desenvolvidos.

    Do ponto de vista da matriz institucional, o projeto da UNILA tem por objetivo a

    afirmao da diversidade cultural. Por isso, aponta para a afirmao de uma viso

    multicultural. Contrariamente multiculturalidade descritiva, a perspectiva multicultural do

    projeto da universidade emancipatria no sentido em que prope um movimento a favor da

    equidade cognitiva social, uma universidade para alm de seus muros que mantm o dilogo

    com os diferentes povos e culturas que frequentam o seu espao. Consideramos, no entanto,

    que este conceito adquirir contedo se for operacionalizado a partir de uma viso

    democrtica multicultural e intercultural, utilizadas como ferramentas para o processo de

    descolonizao das mentes e dos saberes, buscando promover um dilogo entre as diversas

    culturas, a que Boaventura de Souza Santos (2010) denomina por ecologia dos saberes.

    O presente trabalho, enquadra-se nas reflexes e debates contemporneos sobre a

    educao superior tendo em vista a construo de modelos alternativos aos modelos

    eurocntricos, que privilegiem uma produo de conhecimento fundamentada nos contextos

    sociais e na diversidade cultural e que respondam s necessidades e anseios das populaes

    mais desfavorecidas. Os novos modelos de educao superior, nos quais se enquadra o nosso

    objeto de pesquisa, esto sustentados, do ponto de vista institucional, numa concepo

    democrtica e emancipatria. Nesta perspectiva, as nossas referncias tericas so as que

    promovem o debate e a problematizao da viso ocidentocntrica, e dos modos sistmicos e

    tradicionais de se pensar e se produzir conhecimentos que foram impostos aos pases do Sul.

    A metodologia da nossa pesquisa foi pensada de acordo com uma abordagem

    qualitativa norteada pela representao social e poltica os nossos referenciais foram

    buscados nas categorias ontolgicas e epistemolgicas dos autores inseridos no universo da

  • 34

    pedagogia crtica que tm desenvolvido fundamentos, mtodos e tcnicas de abordagem da

    educao superior sob o olhar da teoria crtica e contra hegemnica, dentre os quais se

    destacam Anbal Quijano, Boaventura de Sousa Santos, Immanuel Wallerstein, Jos

    Eustquio Romo, Manuel Tavares, Paulo Freire, W. Mignolo, Estermann, entre outros.

    A universidade do sculo XX

    importante para a compreenso dos novos modelos de universidade, a anlise de

    como se consolida a universidade no sculo XX, diante do fato em que este foi um perodo

    em que o capital se acentuou, e, por conta disso, surgiram movimentos de universidade que

    podem ser considerados antagnicos aos organismos multilaterais, que propuseram reformas

    ao longo deste perodo. As reformas no podem ser analisadas simplesmente como

    informaes tendentes a novas prticas. Podemos perceb-las, como parte de um plano

    estratgico das instituies em seu processo de modernizao.

    O sistema educacional resulta dos processos de valorizao do capital, pois no a

    educao que produz a riqueza, a riqueza que proporciona condies educacionais.

    O desenvolvimento do capitalismo foi um marco ente a relao do mundo do trabalho

    com a universidade. A educao superior, que tradicionalmente se propunha promover valores

    ligados alta cultura, passou a ser tambm uma educao voltada para o mundo do trabalho

    e para a formao de quadros profissionais e dirigentes. No sculo XX, as principais

    finalidades da universidade eram o ensino, a investigao e a prestao de servios. Conforme

    afirma Santos (2000, p.188):

    Apesar de a inflexo ser, em si mesma, significativa e de se ter dado no sentido do

    atrofiamento da dimenso cultural da universidade e do privilegiamento do seu

    contedo utilitrio, produtivista, foi sobretudo ao nvel de polticas universitrias

    concretas que a unicidade dos fins abstractos explodiu numa multiplicidade de

    funes por vezes contraditrias entre si.

    Somente depois da independncia, que houve na Amrica Latina, expressiva expanso

    do ensino. A partir de ento, emergiram ondas de modernizao no final do sculo XIX e

    incio do sculo XX, que foram induzidas pelas oligarquias progressistas, com a expanso do

  • 35

    capitalismo e da democracia, ao lado do crescimento urbano e incio do processo de

    industrializao, que, no caso latino-americano, foi muito delongado.

    No caso brasileiro, atraso no desenvolvimento da industrializao, contribuiu para que

    esses movimentos no conseguissem alcanar a modernidade europeia. evidente que a

    modernizao e a democratizao, no so semelhantes entre todos os pases da regio da

    Amrica Latina e Caribe. Em termos globais a renovao experimental cientfica e

    democratizao cultural so privilgios de uma pequena minoria.

    Em termos de comparao, se tomarmos em considerao o caso do Chile, Canclini

    (2013) refere que na dcada de 1930 somente 10% dos estudantes de ensino secundrio eram

    admitidos nas universidades. Ento, podemos ter uma ideia de como a expanso da

    democracia e da modernidade ficaram restritas somente a um estrato elitizado da populao

    na maioria dos pases da Amrica Latina.

    A partir da modernizao, de tipo ocidental, que a universidade como instituio, foi

    sendo dominada pelo corporativismo e pela mercantilizao. Nos ltimos decnios do sculo

    XX, a universidade embarcou no projeto poltico neoliberal. Em relao a este aspecto,

    Romo (2013, p.95) nos explica que esse projeto:

    [...] imperou soberanamente nos sistemas nacionais de educao da Amrica Latina,

    apesar das poucas vozes da resistncia que se faziam ainda ouvir em alguns poucos

    nichos das universidades nacionais. [...] no subcontinente latino-americano e no

    Brasil, implantando a lgica do mercado no universo da educao, cujo imperativo

    mais impactante foi (e continua sendo) a vinculao da remunerao e da progresso

    funcional docente produtividade.

    No entanto, percebemos a transformao ocorrida em grande parte do mundo ao lado

    da implantao de sistemas nacionais de exames: avaliaes estruturais, classificatrias e

    meritocrticas. Como refere Romo (2013), uma forma diablica que a hegemonia

    encontrou para universalizar a ideia de que nem todos possuem competncia para atingirem os

    benefcios que os processos civilizatrios propiciam.

    Entre tantos conflitos, a universidade, atualmente, tenta equalizar a educao

    humanstica e a formao profissional dos estudantes. Ao pensarmos a universidade no a

    dissociamos do universo do trabalho, ao contrrio, notria a comunicao entre ambos. No

    que se refere relao entre universidade e mundo do trabalho e s transformaes ocorridas

    no seio do mundo ilustrado Santos (2000, p.198) afirma, nos seguintes termos:

  • 36

    A resposta da universidade a esta transformao consistiu em tentar compatibilizar

    no seu seio a educao humanstica e a formao profissional com o reforo da

    centralidade na formao da fora de trabalho especializada. Esta resposta,

    plenamente assumida nos anos sessenta, trouxe consigo, como j referi, a

    diferenciao interna do ensino superior e da prpria universidade. Ao lado das

    universidades tradicionais surgiram ou desenvolveram-se outras instituies

    especificamente vocacionadas para a formao profissional, mantendo graus

    diversos de articulao com as universidades.

    Emergiram, na dcada de 1960, novos modelos de educao superior, diferentes dos

    modelos tradicionais. Procuravam manter a articulao com as universidades na medida em

    que pretendiam compatibilizar a formao profissional especializada com uma formao

    humanstica, o que os distinguia, internamente, dos modelos tradicionais.

    A acentuao da dicotomia educao trabalho esclarecida por Boaventura em dois

    nveis. No primeiro, o pesquisador destaca que o ato de sequncia, em relao ao trabalho

    aps a educao, (...) pressupe uma correspondncia estvel, entre a oferta de educao e a

    oferta de trabalho, entre titulao e ocupao; No segundo, (...) a prpria concepo de

    trabalho tem vindo a alterar-se no sentido de tornar mais tnue a ligao entre trabalho e

    emprego, fazendo com que o investimento na formao deixe de ter sentido (SANTOS 2000,

    p.197). De fato, ocupando ainda hoje o trabalho a centralidade na vida das pessoas e estando

    a produtividade condicionada ao trabalho, as universidades passaram a incorporar a dimenso

    profissionalizante e, como tal, a relao com o mundo do trabalho.

    Conforme aumenta a fragmentao do sistema universitrio, resultante tambm das

    privatizaes, ocorre a desvalorizao dos diplomas. As universidades por sua vez, foram-se

    multiplicando com base em processos de estratificao e massificao. Houve uma crescente

    ampliao dos setores tcnico-profissionalizantes e dos setores profissionais tradicionais.

    Romo (2013, p.94) refere que:

    Foi criado o mito da incompatibilidade absoluta entre massificao e qualificao na

    Educao Superior na maioria dos pases do mundo capitalista. Este ainda o

    argumento que sustenta o elitismo da universidade, como se toda formao humana

    no fosse adequadamente desenvolvida em nvel superior. Diante deste mito, cabe

    indagar (i) Por que somente uma minoria pode ter acesso aos processos e aos

    produtos do que h de melhor no banquete civilizatrio? (ii) Por que a maioria da

    humanidade dever ser condenada ao trabalho pesado, s atividades manuais,

    mecnicas, repetitivas, em suma, s tarefas mais desumanizantes? Somente uma

    sociedade dominada por uma viso de mundo que tem como ponto de partida e que

    exibem em seu frontispcio o individualismo pode defender a superioridade

    gnosiolgica (vanguardismo) e poltica (elitismo) de um grupo minoritrio.

  • 37

    O ensino superior, no mundo ocidental, destinado s minorias, se deparou com

    grandes dificuldades impostas por teorias que tornavam inoportunas sua universalizao. De

    acordo com os apontamentos de Romo, desde a sua criao a universidade sempre se

    manteve presente criticamente, resistindo contra a ignorncia, a intolerncia, o obscurantismo

    e outras formas de violncia.

    O ensino superior se tornou importante como instituio, de modo global, na metade

    do sculo XX, sob forte influncia europeia. Houve um processo de modificao no interior

    das instituies, ou melhor, processo de modernizao implicando na massificao e

    democratizao de ensino, que contribuiu para o aumento do nmero de estudantes.

    Na Amrica Latina, a viso do papel social da universidade bem singular: ela tem

    um propsito social, de incluso, democratizao do acesso, apesar de se apresentar, em

    grande parte, condicionada pela viso eurocntrica de ensino e de cincia. A educao latino-

    americana foi engendrada em um modelo de formao de cidadania subalterna: isto significa

    que a educao, aparentemente, est voltada para uma formao cidad, mas em contrapartida

    submissa aos padres coloniais. Streck & Moretti (2013, p. 35) refere nos seguintes termos,

    Entende-se que nossa educao parece estar presa ao seu destino de formar para a

    cidadania menor ou para a no cidadania, ou seja, est como que enredada sob uma

    forma de cidadania subalterna. A colonialidade um dos elementos que constituem

    o padro mundial do poder capitalista, que no contexto de convergncias de crises

    (econmica, ambiental, de representao poltica) sustenta a imposio de um

    determinado tipo de classificao social que opera nos planos materiais e subjetivos.

    Na Amrica Latina, h uma resistncia contra-hegemnica, que busca a superao da

    colonialidade pedaggica a partir de um pensamento emancipador sustentado nos

    pressupostos filosficos e epistemolgicos da teologia da libertao e no pensamento de Paulo

    Freire.

    Diante de um ensino superior com finalidades estritamente produtivistas, percebemos

    que a universidade latino-americana possui traos fortes eurocntricos, de cultura

    hegemnica. Apesar da expanso nos dias atuais e da ampliao do acesso, qualitativamente o

    ensino superior esteve durante muitos anos restrito s elites sociais, e so elas quem do

    seguimento s culturas coloniais.

    As ltimas dcadas do sculo XX foram, a grosso modo, marcadas por profundas

    crises, na maioria dos pases, de ordem social, democrtica, econmica e poltica, muitas

  • 38

    delas provocadas por uma ordem global, afetando fortemente os pases da Amrica Latina

    que, em termos geoeconmicos e polticos, se situam na periferia do capitalismo, por conta de

    sua dependncia econmica e dos processos polticos de carter neocolonial. Nesse contexto,

    a universidade vive em um confronto complexo, numa dupla dimenso; aumentam as

    exigncias da sociedade, ao mesmo tempo em que o Estado limita os recursos direcionados

    para a universidade.

    A instituio universitria, edificada e associada ao mundo ocidental no aspecto

    funcional de organizao, impermevel, rgida e avessa s mudanas. As crises resultantes

    dos processos de transformao social podem tambm ser entendidas pelos contextos dos

    processos de desestruturao econmica e poltica. Na perspectiva de Romo, um pouco na

    linha do marxismo, as crises resultam do modo de produo econmica, de carter capitalista,

    e da ideologia que o sustenta. Neste sentido, o pesquisador afirma:

    O que est em crise o modo de produo especfico, uma formao social histrica

    e uma teoria singular que lhes d sustentao ideolgica, No a cincia que est

    em crise, mas um tipo de cincia, formulada pelos intelectuais orgnicos de uma

    formao social que entrou em uma fase crtica, ou de transio para outro tipo de

    sociedade. (ROMO,2013, p. 92).

    No o mundo que se encontra em crise, conforme professam as sociedades

    hegemnicas, que do continuidade ordem colonizadora. A crise existe no interior de uma

    sociedade mundial em transio, e a universidade o reflexo de um processo em que,

    tendencialmente, reproduz a sociedade dominante, suas hierarquias, seu modelo de cincia, de

    verdade e de conhecimento. Ao analisarmos os ltimos decnios do sculo XX, observamos

    que a expanso da mundializao do capital e a queda do socialismo desestabilizaram

    algumas instituies de formao social.

    O projeto das universidades populares

    A UNILA segue o projeto poltico-pedaggico de ampliao do acesso das classes

    populares educao superior implantada nos governo Lus Incio Lula da Silva. Tal

    ampliao vem proporcionando o ingresso ao ensino superior das camadas sociais

  • 39

    desfavorecidas historicamente (negros, indgenas e classe trabalhadora mais pobre). Conforme

    referem Dirceu Beninc e Eduardo Santos (2013, p. 74),

    educao popular de nvel superior cabe promover prticas de libertao integral

    das pessoas e dos grupos sociais. Para tanto, ser essencial valorizar, aprimorar e

    divulgar a agroecologia, a agricultura familiar, a economia solidria, os

    empreendimentos cooperativos, enfim, todos os saberes e os fazeres populares

    disponveis. A universidade possui um papel relevante na construo de um projeto

    nacional de desenvolvimento alternativo ao modelo neoliberal. Assim,

    imprescindvel que a instituio universitria estabelea relaes slidas com a

    sociedade, especialmente com os movimentos e vice-versa.

    Neste sentido, a UNILA vem seguindo um modelo de educao, que em termos de

    acesso, pode ser considerada popular, buscando promover a integrao e a valorizao dos

    conhecimentos cientficos e populares para o desenvolvimento regional e nacional por meio

    da democratizao cognitiva que pretende ser alternativa aos modelos sistmicos de educao

    superior impostos pela hegemonia neoliberal.

    No mbito dos modelos de universidades populares surge, em 2003, a proposta das

    universidades populares dos movimentos sociais (UPMS). Este modelo foi proposto no

    Frum Social Mundial (FSM) , em um encontro de intercmbio dos movimentos sociais. A

    UPMS nasce da emergncia de articular conhecimentos diversos, para que sejam fortalecidos

    os modos de resistncia contra a hegemonia neoliberal.

    As UPMS possuem um formato institucional diferente das universidades tradicionais.

    A principal diferena que as UPMS formam estudantes dos pases considerados

    emergentes ou em desenvolvimento, e surgem como alternativa ao modelo neoliberal da

    educao mercantilista. De acordo com Romo, as universidades populares dos movimentos

    sociais,

    Situam-se, ainda tentativamente, no campo da inovao institucional e curricular, no

    universo da diversidade e da valorizao do pensamento e dos interesses das

    maiorias, da construo de uma sociedade baseada na justia social e na equidade. J

    emergindo, constroem, processualmente e por meio da socializao do processo

    decisrio, formatos institucionais adequados a polticas alternativas de

    planetarizao contra-hegemnicas ao processo de globalizao. (2013, p. 102).

    As universidades populares visam o conhecimento emergentes dos movimentos e

    organizaes sociais, na tentativa de se estabelecer uma ao conjunta de desenvolvimento,

    expandindo o conhecimento para alm de seus muros. Estas universidades tm por finalidade

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    resgatar as epistemologias populares e promover a ecologia dos saberes lutando por uma

    justia cognitiva, promovendo a diversidade e pluralidade de saberes, para alm dos padres

    capitalistas, na tentativa de combater o epistemicdio, designando a supresso ou morte

    epistemolgica dos conhecimentos populares. (SANTOS, 2010).

    O conhecimento cientfico sempre foi privilgio de estratos sociais elitizados, de

    representantes do colonialismo que sempre se ajustaram aos princpios e fundamentos da

    cincia moderna. As UPMS so uma nova proposta que se situa numa dimenso contra

    hegemnica, tendo em vista a democratizao do conhecimento, e a construo de uma

    alternativa ao princpio de unidade na cincia e na cultura defendido pela modernidade. O

    princpio de unidade do saber uma conceituao da epistemologia eurocntrica moderna

    uma antiga herana que ainda se faz presente nas universidades consideradas tradicionais que

    resistem ao pensamento alternativo, diversidade, heterogeneidade.

    As UPMS, propostas por Boaventura de Sousa Santos, tm por finalidade contribuir

    para a formao de um pensamento contra hegemnico. Esse novo formato de universidade,

    promotor de uma pluralidade de saberes, situa-se na contramo das propostas da cincia

    moderna, resgatando os saberes que foram silenciados e oprimidos ao longo da histria. A

    constituio de redes de saberes que interagem e dialogam entre si ope-se, por um lado,

    compartimentao e especializao, caractersticas da cincia moderna e, por outro, visam a

    promoo d