educaÇÃo e cidadania · a caminho da cidadania 33 família, criança e adolescente nas mudanças...

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O QUE É FAMÍLIA ? A FAMÍLIA SEMPRE FOI ASSIM? F AMÍLIA , PARA QUE FAMÍLIA ? F AMÍLIA , LUGAR DE AFETOS E DESAFETOS UM SONHO DE FAMÍLIA EDUCAÇÃO E CIDADANIA UM PROGRAMA PARA ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE RISCO SOCIAL 2

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O QUE É FAMÍLIA?�

A FAMÍLIA SEMPRE FOI ASSIM?�

FAMÍLIA, PARA QUE FAMÍLIA?�

FAMÍLIA, LUGAR DE AFETOSE DESAFETOS

�UM SONHO DE FAMÍLIA

EDUCAÇÃOE CIDADANIA UM PROGRAMA PARA ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE RISCO SOCIAL

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EDUCAÇÃOE CIDADANIA UM PROGRAMA PARA ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE RISCO SOCIAL

2ORGANIZAÇÃO CURRICULAR PARA AS

UNIDADES DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIADA FEBEM/SP

MÓDULO DE ATIVIDADES ESCOLARES

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Secretaria de Estado da EducaçãoPraça da República, 53 Centro01045-903 São Paulo SPTelefone: (11) 3218-2000www.educacao.sp.gov.br

Governador do Estado de São PauloGeraldo AlckminSecretário de Estado da EducaçãoGabriel ChalitaSecretário AdjuntoPaulo Alexandre Pereira BarbosaChefe de GabineteMariléa Nunes ViannaCoordenadora de Estudos e Normas PedagógicasSonia Maria SilvaCoordenadoria de Ensino da Região Metropolitana da Grande São PauloAparecida Edna de MatosCoordenadoria de Ensino do InteriorElcio Antonio Selmi

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EDUCAÇÃOE CIDADANIA UM PROGRAMA PARA ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE RISCO SOCIAL

2

Autoria

SECRETARIA DEESTADO DA EDUCAÇÃO

Realização

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CENPEC - CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS EMEDUCAÇÃO, CULTURA E AÇÃO COMUNITÁRIAR. Dante Carraro 68 Pinheiros05422-060 São Paulo SPhttp://www.cenpec.org.br

Diretora presidenteMaria Alice SetubalCoordenação geralMaria do Carmo Brant de Carvalho

Coordenação do projeto (Equipe Currículo & Escola)Maria Silvia Bonini Tararam (Coord.)e-mail: [email protected] José Reginato RibeiroMarilda F. Ribeiro de MoraesAutoria do módulo Família e Relações SociaisCristina Almeida de SouzaMirna Busse PereiraColaboraçãoEdna Aoki (Matemática no estudo da Família)Equipe técnicaAmérica A.C.MarinhoElizabeth BarolliMarlene AlexandroffRonilde Rocha MachadoEdição de textoTina Amado

A equipe agradece a contribuição dos educadores daFEBEM/SP, participantes dos encontros de discussãoque subsidiaram a produção deste material entreoutubro de 2000 e fevereiro de 2001

Edição de arteEva Paraguassú de Arruda CâmaraJosé Ramos NétoCamilo de Arruda Câmara RamosIlustraçãoLuiz Maia

São Paulo, 2003

Coleção Educação e Cidadania, módulo 2Material produzido no âmbito do projetoElaboração e Implementação de Proposta Pedagógica para Adolescentes emSituação de Conflito com a Lei, desenvolvido pelo CENPEC paraa FEBEM/SP – Fundação para o Bem-Estar do Menor do Estado de São Paulo eSEE/SP - Secretaria de Estado da Educação

Família e relações sociais / Centro de Estudos e Pesquisas em Educação,Cultura e Ação Comunitária – CENPEC – São Paulo; CENPEC; FEBEM,

SEE/SP; 2003.Coleção Educação e Cidadania.Módulo de atividades escolares 2Ilustr.; 10 fichasISBN: 85-85786-24-8

Educação e Cidadania: proposta pedagógica 1. Educação, pontepara o mundo 2. Família e relações sociais 3. Justiça e cidadania 4. Saúde,uma questão de cidadania 5. O trabalho em nossas vidas 6. Artes visuais ecênicas 7. Conto 8. Correspondência 9. Educação ambiental: problemasglobais, ações locais 10. Hora de se mexer 11. Jogos da vida 12. Jornal13. Música e movimento 14. Poesia 15. Ponto de encontro I. Título II.CENPEC III. FEBEM

CDD-370.11

Wagner Mendes Soares CRB-8 – 038/2002

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SUMÁRIO

Introdução 6O que é família? 9

Atividade Origem familiar de um compositor popular 10Atividade Convivendo com diversas origens familiares 13Família nuclear 14Atividade Uma família que eu conheço 15

A família sempre foi assim? 18Famílias patriarcal e escrava 19Atividade Famílias patriarcal e escrava 21Atividade Uma família indígena 22A família na sociedade indígena 23Atividade Conhecendo moradias indígenas e

aprendendo Geometria 23Família, para que família? 27

Atividade As funções da família em nossa sociedade 27Funções da família em nossa sociedade 28Atividade Diferentes arranjos familiares 30Formas alternativas de organização familiar 31Atividade Crianças, adolescentes e família:

a caminho da cidadania 33Família, criança e adolescente nas mudançassociais recentes 34

Família, lugar de afetos e desafetos 35Uma visão idealizada da família: sem conflitos? 36Atividade Conflitos: como enfrentá-los? 36Violência e colocação de limites 38Atividade Diálogo e violência, dois jeitos de tratar o conflito 39

Um sonho de família 41Atividade Apoio às famílias 42Atividade Viver, sonhar e transformar em realidade 42Redes de apoio 43Experiências alternativas de vida cultural 44Atividade Projeto de vida: Um sonho de família 45

Referências bibliográficas 47Sugestões para o acervo da Unidade 48

Fichas 49

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6EDUCAÇÃO E CIDADANIA

INTRODUÇÃOFamília e Relações Sociais é um tema amplo,que contempla uma variedade de aspectos davida dos indivíduos, seja no âmbito de suasvivências familiares, seja nos relacionamentosque estabelecem com outros indivíduos, gruposde pessoas, escola, associações de bairro...Propomos essa temática tendo em conta opapel social fundamental que a famíliadesempenha em nossa sociedade, dadas asdiversas funções que exerce, quanto à provisãomaterial, aos cuidados afetivos e àsocialização, à visão de mundo de seuscomponentes.

É na família que as pessoas se constituemcomo sujeitos. Um momento significativo desseprocesso é a adolescência, quando os jovensestão imbuídos do propósito de afirmar seujeito de ser e de viver. É nessa fase quepassam a questionar a família e contrapor-se asuas normas, regras e valores expressos naspráticas de convivência. Passam a buscarnovas referências e formas alternativas deestar e de agir no mundo – daí necessitarem docontato com outros modelos identificatórios.Além disso, os jovens têm assumido cada vezmais cedo responsabilidades familiares, tantoao ajudar no custeio da família de origemquanto ao formar nova família, dada a altaincidência de gravidez precoce que se vemobservando.

Essa realidade vivida atualmente pelos jovenstorna premente a necessidade de terem acessoa informações que lhes permitam refletir sobrea questão da família. É importantecompreenderem não só a família que têm,como também que há outras concepções defamília nas relações sociais.

Escolhemos, então, abordar essa temáticaconsiderando que o termo família carrega emsi muitos sentidos e uma diversidade deexperiências sociais, culturais e históricas, queexpressam modos de vida diversos entre si. Talescolha baseia-se na convicção de que essaabordagem permite perceber aheterogeneidade das organizações familiares:as famílias não são sempre iguais, não há umdeterminado “modelo” de família, válido paratodas as sociedades em toda parte e todo otempo. Em outras palavras, o modo como as

famílias se organizam e estabelecem relaçõesentre seus membros e destes com a sociedadevaria de acordo com as culturas e as épocashistóricas – e, na sociedade de classes, variatambém de acordo com a camada social daqual as famílias fazem parte. Em termos doensino, isso implica mostrar que existemoutras possibilidades de organização familiar,diferentes da família nuclear da tradiçãoburguesa, assentada nos laços deconsangüinidade.

Em nossa realidade social, “família” é sobretudo oconjunto de pessoas que convivem, constroem umahistória, mantêm laços afetivos e estabelecem umavariedade de vínculos na vida cotidiana.

Ao mesmo tempo a família, seja qual for suaorganização, constitui uma unidaderepresentativa da sociedade da qual faz parte.Entendê-la como uma unidade, porém, nãoquer dizer isolá-la do restante da sociedade.Ao contrário, significa considerá-la umareferência com base na qual são estabelecidasas mais diversas formas de relações sociais,tanto as que se dão no seu interior quantoaquelas que se estabelecem no meio em tornodela. E isso é válido para qualquer sociedade.

No tratamento desse tema, nosso propósito é,pois, mostrar que há uma grande variedade deformas de organização familiar, evitando orisco de culpabilizar as famílias dosadolescentes a quem se atribui a prática deato infracional pelo “desandar” de seus jovens– ou seja, mostrar que as experiências de vidafamiliar desses jovens são algumas dentreoutras tantas. Sugerimos intencionalmenteuma reflexão que questione e problematize aexistência, não da família em si, mas dasidéias e noções de família vigentes entre osalunos. Propomos questionar a idéia, presenteno senso comum, de que existiria um tipoideal de família, que fosse válido para o todosocial.

Mantendo o foco nas diferentes dimensões devivências que se dão no âmbito familiar,abordamos também outros aspectos que nãonecessariamente se desenvolvem no interior dafamília. Para isso, partimos de inquietaçõessugeridas pelo presente e referenciadas em

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7FAMÍLIA E RELAÇÕES SOCIAIS

dimensões diversas das experiências de vidade adolescentes, levando-os a refletir tambémsobre formas familiares no passado.Problematizamos questões como a composiçãodas famílias, suas funções, as relações que seestabelecem entre seus componentes e outraspessoas, grupos sociais e instituições, a fim derefletir sobre seus significados.

Organização deste móduloO módulo Família e Relações Sociais é formadopor este fascículo para o professor e 10 fichasde atividades para os alunos (reproduzidas aofinal deste fascículo – os arquivos para suaimpressão encontram-se no CD que integraeste material). O tema é decomposto nosseguintes subtemas: 1 O que é família?;2 A família sempre foi assim?; 3 Família,para que família?; 4 Família: lugar de afetose desafetos; 5 Um sonho de família.

Sobre cada subtema apresentamos um textointrodutório – com indicações sobre suarelevância, os conteúdos que serão tratados esua forma de abordagem – e as propostas deatividades, além dos textos de apoio. Essestextos – nas seções “Aprofundando” – trazemfundamentos teóricos do assunto tratado,visando fornecer-lhe subsídios e argumentospara as discussões com os alunos. Assim, nãosão material para aulas expositivas. Antes,fornecem elementos para sua própria reflexão,a ser incorporados no desenvolvimento dasatividades.

Orientações didáticasA proposta pedagógica que fundamenta estematerial pressupõe alguns cuidados ao aplicá-lo, de modo a surtir junto aos jovens os efeitosdesejados:

11111 Faça uma leitura leitura leitura leitura leitura geral do módulo inteiroinicialmente, para ter uma visão doconjunto das idéias centrais propostas.

22222 Antes Antes Antes Antes Antes de trabalhar cada subtema, leiacuidadosamente as orientações e preparepreparepreparepreparepreparecada aula. Se preferir, faça um pequenoroteiro, destacando as idéias centrais daaula e as sucessivas situações deaprendizagem: a problematização inicial; osmomentos em que vai dirigir-se ao coletivoda turma, em que os jovens vão trabalhar

em grupos e individualmente; e ofechamento. Providencie também osmateriais necessários, indicados no iníciode cada atividade.

33333 Inicie Inicie Inicie Inicie Inicie a aula anunciando à turma aproposta de trabalho do dia: o objetivo daaula e as atividades que irão fazer. Osalunos precisam ter clareza do que seespera deles: isso os ajuda a organizar-se.Anote a pauta do dia na lousa.

Comece a aula com uma conversaconversaconversaconversaconversa,motivando a turma a discutir o assunto emquestão: faça perguntas, provoque-os aexplicitar suas idéias e conhecimentosprévios. Só nos apropriamos deconhecimentos novos quando estes sãosignificativos para nós, isto é, quandoestabelecemos relação entre o que nos éproposto e o que já sabemos. Retomesempre, brevemente, o que já estudaramnos subtemas anteriores, situando a novaaula no estudo do tema. Este também é omomento para acolher os alunos recém-chegados, incluindo-os no grupo e situando-os no Projeto, no tema e nas atividades emdesenvolvimento. Recorra à ajuda de outrosalunos para isso.

44444 A prática de problematizar problematizar problematizar problematizar problematizar – fazerperguntas, provocando a expressão dasexperiências e visões dos alunos – emtodas as aulas é fundamental, paraexplicitar idéias e pressupostos que osalunos trazem acerca dos diferentesassuntos tratados no módulo.

55555 Só aprendemos pela interaçãointeraçãointeraçãointeraçãointeração: favoreçapermanentemente a troca de idéias, dosalunos com você e entre eles. Para odesenvolvimento das aulas, propomosdiferentes formas de trabalho comoreflexão individual, discussão coletiva,dinâmicas de grupo, dramatização, leiturae escrita de textos, desenho e colagem. Nasatividades propostas para grupos, mesmoque cada um deva, por exemplo, fazeranotações em sua própria ficha, incentive adiscussão e a troca entre eles, passeandoentre os grupos. O silêncio à toda prova éinimigo da aprendizagem.

66666 No final da aula, promova sempre umfechamentofechamentofechamentofechamentofechamento: “O que aprendemos hoje?”.

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8EDUCAÇÃO E CIDADANIA

Recorra à pauta anotada na lousa, senecessário. Destaque a idéia central do quetiver sido discutido. Faça com que aanotem nos cadernos (ou na ficha, casoisso tenha sido previsto). Mesmo que nãotenha concluído o subtema (veja o tópico8), promova o fechamento, explicitando aidéia central da aula. A cada dia os alunosdeverão sair da sala com a consciênciaclara das questões que foram trabalhadas.

77777 Uso das fichasfichasfichasfichasfichas: as fichas foram pensadaspara propiciar aos alunos uma formaorganizada de registro do que tiveremestudado. (Nem todas as atividadesprevêem seu uso: nas atividades que nãotêm ficha, não esqueça de promover oregistro em caderno ou folha avulsa.)Nunca comece a aula pela distribuição defichas. É só no contexto proposto que elasadquirem significado para os alunos,conforme o objetivo da atividade. Em cadasubtema, sugere-se o momento ideal paraessa distribuição: só a distribua no momentosugerido. Se os alunos já a tiverem nasmãos antes, podem dispersar-se e nãoparticipar da forma prevista. No caso de aficha trazer letra de música, por exemplo, éideal que os alunos ouçam uma vez a cançãosem ter a ficha nas mãos, para apreendê-laem seu todo. Após a primeira audição, façaperguntas para verificar a percepção e sódepois distribua a ficha.

Lembre-os de guardar suas fichas noportfólio, bem como as demais produções eanotações em folhas avulsas ou caderno.

88888 Uso do tempotempotempotempotempo: você deve gerenciá-lo deacordo com as características da turma.Um tema pode ocupar uma ou duassemanas de aula, conforme o caso. Não énecessário começar e acabar um subtemano mesmo dia. O material propicia váriaspossibilidades de exploração e cada turmatem seu próprio ritmo. Dependendo dascondições, haverá desdobramentos diversos.Cada vez que for trabalhar o tema, releia omódulo para poder elaborar um plano diárioque garanta o máximo aproveitamento dotempo. Reserve o mínimo de tempo possívelpara os procedimentos administrativos,maximizando-o para o trabalho com oProjeto.

99999 Experimente fazer também um registroregistroregistroregistroregistrosobre sua própria atuação. Os professoresque já o fazem relatam que isso permiteaperfeiçoar a atuação com cada nova turma.

1010101010 Finalmente, esteja atento aos alunos quealunos quealunos quealunos quealunos quenão têm domínio da leitura e escritanão têm domínio da leitura e escritanão têm domínio da leitura e escritanão têm domínio da leitura e escritanão têm domínio da leitura e escrita. Amaioria das atividades aqui propostasrequer essas habilidades. Mas o fato de umjovem não as dominar não deve serimpedimento para sua participação. Éimportante que fale e expresse suasopiniões e seja ajudado: um leitor maisexperiente, você ou colega, poderá ajudá-lonas tarefas de leitura, perguntando-lhe oque acha que está escrito, lendo para ele.Os que ainda não sabem escrever devemser incentivados a ditar o que têm a dizerpara que outros escrevam, ou registrarcomo souberem (inclusive por meio dedesenho). As atividades devem permitir ainclusão de todos e contribuir para asuperação das dificuldades de cada um.(O módulo de Educação e os das oficinas dePoesia e Conto, entre outros, trazem naintrodução mais dicas para o atendimentoaos alunos não-alfabetizados.)

Nesse processo, seu papel de mediador/a,como professor/a, é de fundamentalimportância para a construção coletiva doconhecimento, garantindo que os alunos seenvolvam nas aulas de forma participativa e sereconheçam como interlocutores e sujeitosnessa construção. Essa maneira de estudarpossibilita que professor e alunos, como sujeitosdo processo de aprendizagem, promovam umdiálogo entre o conhecimento histórico jáproduzido e a própria realidade vivida.

* * *

Esperamos que o trabalho com o tema Famíliae Relações Sociais possa constituir, emconjunto com o dos demais módulos, umespaço de reflexão, contribuindo para aconstrução de uma perspectiva de sociedadeque dê conta da diversidade cultural, seja noâmbito familiar, seja no espaço social. Talpercepção aponta para o diálogo de culturasdiferentes que fazem parte do nosso presente eque estão incluídas em nossas perspectivas defuturo. E aponta, também, para a necessáriaconvivência com os inerentes conflitos etensões que uma sociedade plural comporta.

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9FAMÍLIA E RELAÇÕES SOCIAIS

SUBTEMA 1O QUE É FAMÍLIA?Iniciamos esse trabalho questionando o que éfamília, porque partimos da premissa quefamília é um termo que contém muitas idéias,sentidos e significados, que vão muito além eextrapolam os laços de sangue. Ela é, porexemplo, depositária de lembrançasrelacionadas a nascimento e morte,agregação e desagregação, comemorações erituais. Além disso, o modo como cada famíliavive essas situações varia e pode adquirirsignificados diversos para seus próprioscomponentes.

Com o objetivo de apresentar elementos quepermitam aos alunos refletir sobre a famíliacomo passível de múltiplos arranjos,propomos:

� valorizar a diversidade cultural e deexperiências que se manifestam nosdiversos modos de vida familiar em nossarealidade social;

� destacar a pluralidade de formas deorganização, de experiências culturais,de origens e valores presentes nafamília.

Para tanto, problematizaremos o própriocampo social dos adolescentes internos.O que é família para cada um desses jovens?Quais noções de família eles têm? Como essasnoções interferem em suas vidas e qual ainterferência deles nas respectivas famílias?

O processo de problematização é importantepara que os alunos possam explicitar asidéias que já têm acerca da família e de suasrelações sociais, para refletir sobre ossentidos diversos que essa temática podeadquirir, considerando que esses sentidosdependem da perspectiva na qual noscoloquemos para a discussão.

Assim, vamos refletir também acerca dasdiferentes práticas que contribuem para aformação de identidades individuais ecoletivas, buscando reconhecer gestos desolidariedade e de reconhecimento da

importância do “outro” para a realização deprojetos pessoais, a fim de que seja apreendidaa dimensão do coletivo nas ações individuais.

A família não é estática. Ao contrário, édinâmica e comporta permanências,mudanças ou mesmo rupturas. A dinâmica davida familiar e social expressa mudanças ealterações ocorridas na sociedade, mas nemsempre elas seguem o mesmo ritmo e/ou têmo mesmo sentido. Daí ser importantepropiciar aos alunos perceberem que suarelação com a família muda ao longo do tempoe em função do seu momento ou período devida (criança, adolescente, adulto, idoso).Além disso, as mudanças relacionadas àfamília dependem da perspectiva em que oadolescente se encontre: se filho/a, ou pai/mãe de uma nova família.

Com vistas a ampliar a noção de família paraalém do âmbito das questões subjetivas(idéias e sentimentos), de modo a explicitarque estas têm uma base material (condiçõesconcretas de vida e de moradia, por exemplo),neste subtema buscamos estabelecer relaçõescom as experiências de família e cultura queos alunos conhecem, bem como as dascomunidades nas quais convivem. Iremosquestionar de modo geral, mas deixandoespaço para eles falarem, se quiserem, dasexperiências das próprias famílias.

Partir do reconhecimento e identificação dasexperiências de vida familiar e organizaçãosocial que os alunos conhecem requer indagarcomo vivem esses grupos familiares oucomunitários. Várias indagações podem seracrescidas à que é sugerida pelo tema destaaula, como por exemplo: Como se forma umafamília? Quem faz parte da família? Quaisexperiências de convivência de tipo familiaresses adolescentes carregam consigo? Queideal de homem, de mulher e de formas derelacionamento sonham para si próprios?

O objetivo é também apreender experiênciase realidades sociais vividas em outros tempose espaços, articulando a reflexão sobre opresente com a apreensão do passado e odesenho de possibilidades no futuro. Essediálogo pode abrir caminhos a serem

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10EDUCAÇÃO E CIDADANIA

REGISTRO ESCRITOEM CLASSE

No caso de haver palavras desconhecidas,peça para que as localizem na letra damúsica e esclareça seu significado dentro docontexto em que estão sendo utilizadas.Pergunte primeiro o que os alunos achamque pode significar. Escreva na lousa aspalavras mencionadas e as idéias quecontribuem para seu esclarecimento.Somente no caso de persistirem dúvidas éque deve ser informado o seu significado.Os alunos também devem anotar em seuscadernos os apontamentos feitos na lousa.Observe se há alunos com dificuldades deescrita e assegure-se de que eles tambémregistrem em seus cadernos as anotaçõespertinentes às reflexões e às atividades daaula. Para isso, propomos algumasalternativas de encaminhamento para osmomentos de anotação ou registros nocaderno: sugira a ajuda de um colega commaior experiência nesse terreno; sugira aformação de duplas em que um lê e outroescreve e vice-versa; incentive-os a registrarsuas próprias idéias, mesmo que tenhamdificuldades para isso. Esses procedimentosdeverão ser observados nessa e nas demaisatividades. Lembre-os de que as dificuldadesde leitura ou escrita fazem parte daformação e construção do conhecimento erepresentam limites desse processo a seremenfrentados e superados ao longo do tempo.

pensados coletivamente. Permite questionarse o lugar onde as pessoas vivem interfere naorganização e na vida familiar e comunitária,ou se há diferenças ou semelhanças entre asfamílias de diferentes origens.

O trabalho com este subtema comporta entãoos seguintes itens, aos quais correspondematividades e, quando for o caso, fichas aserem distribuídas aos alunos:

As famílias e suas origens – Atividades:Origem familiar de um compositorpopular – ficha 1A (frente e verso) eConvivendo com diversas origensfamiliares – ficha 1B (frente).

Família nuclear – Atividade: Umafamília que eu conheço.

Durante essas atividades, os alunos irãofazer: análise da música Paratodos, de ChicoBuarque de Holanda; localização da origem daprópria família no mapa do Brasil; e construiruma família imaginária. Ao apresentar o temaaos alunos, peça-lhes que, nos dias de visita,conversem com os familiares ou pessoas desua convivência para procurar saber aspectosda vida familiar que façam parte de suashistórias e trajetórias.

ATIVIDADEORIGEM FAMILIAR DE UMCOMPOSITOR POPULARMaterial necessário: ficha 1A; CD Paratodos, deChico Buarque de Holanda; equipamento de som;papel sulfite ou caderno, caneta.No item “As famílias e suas origens”, os pontoscentrais a serem trabalhados – além dos que vocêachar necessário acrescentar – são:� de forma exploratória, levantar aspectos das

experiências de família dos alunos – com quemconvivem, como vivem o cotidiano, o que cadaum faz – e não seus traumas ou eventuaiscarências afetivas;

� focalizar a questão da diversidade de origemfamiliar, social e cultural presente em nossasociedade;

� considerar que as relações afetivas e sociais sãotambém espaços de tensões e conflitos que noslevam a fazermos escolhas.

Para isso, propomos iniciar apresentando aosalunos uma canção em que o autor declara suasorigens familiares. Para fazer exercícios de análisee reflexão sobre música em sala de aula é precisoobservar alguns procedimentos, para que os alunosse apropriem de sua sistemática. Sugerimos aseguir passo a passo o trabalho com essa canção, nointuito de destacar as possibilidades do uso damúsica em sala de aula.Inicialmente, informe-os de que irão ouvir amúsica Paratodos, ler a letra e pontuar as idéias nela

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11FAMÍLIA E RELAÇÕES SOCIAIS

contidas, estrofe por estrofe. Explique que esseprocedimento é necessário para a compreensãocrítica da obra. Ponha a música para tocar umaprimeira vez e peça que ouçam com atenção.Lembre-os de que a música deve ser percebida emseu conjunto, ou seja, que ela é um todo formadopor letra, sonoridade e ritmo. E que é desse todoque podemos extrair seus significados. Tanto éassim que, às vezes, a mudança de ritmo em umamúsica inverte, ou dá um outro sentido à letra.Após a primeira escuta, promova brevescomentários: pergunte se já conheciam, segostaram, se querem saber o significado de algumaexpressão que tenha despertado curiosidade.Em seguida, distribua a ficha 1A (Origem familiarde um compositor popular) e peça que numeremas linhas da letra, excetuando-se o título, a fim defacilitar a localização de palavras ou idéiaspresentes na composição. Toque a músicanovamente e oriente-os a acompanhar a letra,cantando junto se quiserem.Feito isso, explore as informações biográficas deChico Buarque contidas na ficha, como forma deexplicitar a maneira como o autor valoriza suasorigens no contexto de sua trajetória de vidapessoal e profissional. Esse é um momentopropício para se lembrar que a produção musical,como é este caso, pode expressar aspectos dasexperiências de vida de seu autor.Para incentivar a participação dos alunos numaaula dialogada, faça perguntas, de maneira pausadae intercalada, tais como: – Vocês conhecem ChicoBuarque, o autor da música? O que vocêsconhecem a respeito dele? Sabem como elecomeçou a compor músicas? Algum de vocês selembra de outra música dele? Qual ou quais? Àsinformações obtidas acrescente outras de seupróprio conhecimento, por meio de afirmativas,novas perguntas ou, então, quando apareceremoportunidades dadas por eles. A cada perguntafeita, aguarde o retorno e incentive-os a consultar aficha que têm em mãos e que também façamperguntas sobre aspectos de seu interesse. Essetipo de aula oferece a possibilidade de os alunosobterem resposta a suas indagações, formulandoseus saberes em termos de outras tantas perguntas.Seu papel de mediador é fundamental para aconstrução coletiva do conhecimento. Por isso, é

importante que você faça referência à fala de umaluno e que a remeta a outro aluno, ou ao conjuntoda classe. Agindo desse modo, você estaráincentivando não só os alunos a se envolver deforma participativa nas aulas, mas principalmenteestará propiciando que comecem a se perceber e ase reconhecer como interlocutores e sujeitos daconstrução de seus conhecimentos.Após esse momento de conversa, toque a músicanovamente, pedindo que acompanhem a letra,porém dessa vez identificando nomes de pessoas aícitadas. Para tentar situar brevemente as demaispessoas (compositores, cantoras) mencionadas namúsica, pergunte se eles sabem quem são, se jáouviram falar de algumas, o que fazem; e por queChico Buarque estaria fazendo referência a elas.Instigue os alunos sobre os possíveis sentidosdessas referências: O que podem significar taismenções? Seria uma forma de homenagem? Ouseria uma maneira de dar um retorno para gruposde pessoas que compartilham de propósitossemelhantes aos do autor? Ou estaria o autordizendo que faz parte também de uma outrafamília, a dos músicos brasileiros?Procure remeter tal reflexão às experiências dosalunos, pergunte se conhecem outros músicos ougrupos musicais que façam referências desse tipoou semelhantes em suas músicas e apresentações.É possível que eles mencionem grupos de rap, oumesmo alguma música que tenha esse tipo dereferência. Nesse caso, estimule-os a falar umpouco do que sabem sobre rap, ou de suasvivências musicais. Você pode anunciar que na

RAP OU REPA palavra RAP vem do inglês e é umaabreviação de rhythm and poetry. Mas osmeninos do rap se apropriaram de seu sentidoe já começam a dizê-la e escrevê-la emportuguês: rep, isto é, ritmo e poesia; porémessa prática ainda não é muito comum. Váriosdos grupos de rap costumam, em suasapresentações e mesmo em CDs, fazer um“Salve” aos “manos” de diferentes espaços dacidade, ou até de outros estados. Essa práticatem o sentido de criar identidade e ampliar asredes de solidariedade entre eles.

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12EDUCAÇÃO E CIDADANIAúltima aula desse módulo irão tratar um pouco dorap. E, para não fugir dos propósitos desta aula,pergunte se conhecem algum rap que tenha afamília como tema. Em caso afirmativo, peça paracantarem a música.Retorne, então, à análise de Paratodos,encaminhando os alunos para a compreensãocrítica de seu conteúdo, perguntando: Além dosmúsicos citados, quais outros sujeitos sociaispodemos identificar nessa composição? Chame aatenção para a referência implícita à existência de“loucos”, já que Chico Buarque diz que viuhospícios. E, também, para as referênciasexplícitas, como a “cavalheiros”, “bandoleiros”,“moças”, “jovens”.Peça para observarem o título da música erelacioná-lo com seu conteúdo. Pergunte, porexemplo, o que o título Paratodos sugere a eles, oque acham que Chico Buarque quis dizer com essetítulo. De modo geral, qual é o assunto da música?Do que ela fala?Certamente nem todas as perguntas serãorespondidas e nem é essa a intenção aqui colocada.Antes, trata-se de problematizar a músicabuscando estabelecer aproximações ou articulaçõescom a temática de estudo da aula: o que é família?Uma leitura geral da música permite perceber queela remete à questão da diversidade cultural e deorigens familiares existentes em nossa sociedade.Para observar isso, leia com os alunos a letra deParatodos e indague sobre o significado dasreferências feitas, nas quatro primeiras frases daestrofe inicial. Anote na lousa os estados brasileirosdas origens familiares de Chico Buarque,chamando a atenção dos alunos que essadiversidade de origens geográficas pode expressardiversidade de culturas e modos de vida familiar.Nas quatro frases seguintes, podem seridentificadas algumas referências significativaspara a vida do autor: o músico e compositor TomJobim (Antonio Carlos Brasileiro de AlmeidaJobim) que aparece como “Meu mestre soberano”,isto é, como referência afetiva e de atuaçãoprofissional. Chico Buarque se apóia nessareferência para construir sua própria trajetória devida e de músico; é o que está dito nas linhas denúmeros 9 e 10. Peça que opinem: É possível

alguém viver sem buscar apoio de outras pessoas?Que tipos de apoio podemos buscar e qual aimportância deles para a vida das pessoasenvolvidas?O autor fala do que viu em sua caminhada: “infernoe maravilhas”. Pergunte o que poderiam ser“infernos” e “maravilhas” na vida de uma pessoa.Na 13a linha, a letra sugere que a caminhada deChico Buarque foi marcada por tentativas eincertezas, já que fala das “tortuosas trilhas” porele traçadas. Isso significa que ele teve de fazerescolhas e refazer caminhos ao longo de sua vida,pois não havia seguranças e certezas, dadas a priori,de que teria êxito na concretização de seu sonho deser reconhecido como um “artista brasileiro”. Noentanto, tendo como referência seu “mestresoberano”, a música e seu instrumento musical,Chico Buarque insistiu em ser músico (“A viola meredime”, diz ele), por lhe possibilitar prazer erealização pessoal.A música aparece, ainda, como sinônimo de“remédio” para os males da sociedade. Peça queidentifiquem quais são os males mencionados naletra. Tanto os individuais (como moléstias,solidão, mesquinhez), quanto os sociais (como abebida, as drogas e o crime). Pergunte quaisoutros males existem em nossa sociedade e o quepode mitigá-los. Chame a atenção para o fato deque a cidade é lugar de contradições e conflitossociais. Nela convivem pessoas e grupos sociaisque disputam espaços: “dinheiro” x “bandoleiros”x loucura x drogas que podem causar a perda dereferência da realidade, com conseqüênciasinclusive fatais. Ou seja, as cidades oferecempossibilidade tanto de se estabelecerem relaçõesafetivas com parentes, amigos, colegas e vizinhos,quanto outras de diferentes tipos e que sãodestrutivas. Por isso, é preciso fazer escolhas.Por tudo isso que a música possibilita e representa,o autor dá “viva” a músicos e instrumentistas, bemcomo um “evoé” (uma forma de saudação) aosjovens. Chico Buarque encerra o poemareafirmando as idéias contidas na primeira estrofe,isto é, sua diversidade de origem familiar e social.Assim, ele afirma sua identidade social, bem comoa profissional, construída ao longo de “muitosanos”, dizendo “Sou um artista brasileiro”.

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13FAMÍLIA E RELAÇÕES SOCIAIS

Após essa reflexão e discussão sobre a cançãoParatodos e os assuntos dela derivados, relacionadosao tema família, oriente-os a responder,individualmente, as perguntas no verso da ficha.Peça que, inicialmente, façam nova leiturasilenciosa da letra da música, bem como dasquestões propostas. Verifique se necessitam dealgum esclarecimento. Combine um tempo para afinalização dessa tarefa. O significativo nesseexercício individual é que eles expressem seuspontos de vista e opiniões acerca da temática daaula. É interessante lembrá-los de que não há“uma” resposta que seja “certa”, masinterpretações que expressam diferentes olharesderivados de vivências diversas.Como fechamento dessa atividade, discutacoletivamente as questões respondidas, indagandosobre os aspectos que mais despertaram a atençãodeles. Anote na lousa as referências feitas emrelação ao tema família. Pontue as semelhanças ediferenças de opiniões que aparecerem. Procurecertificar-se de que ficou claro para os alunos que adiversidade de origem das famílias expressa,muitas vezes, a diversidade cultural e social donosso país.

ATIVIDADECONVIVENDO COM DIVERSASORIGENS FAMILIARESMaterial necessário: ficha 1B; mapa doBrasil e placa de isopor de mesmo tamanho;alfinetes com cabeça colorida e fios de lã, ambosem cores diferentes; papel ou caderno,lápis de cor.Essa atividade consiste em levantar a origemfamiliar dos alunos em termos dos locais denascimento deles e dos antepassados, bem como deoutras pessoas de sua convivência e por elesresponsáveis. A intenção é propiciar condições de oaluno se sentir pertencendo a uma história, umatrajetória e, ao mesmo tempo, perceber que essahistória e trajetória compõem a história do país.Por exemplo, a migração é um dado da históriasocial brasileira que tem explicações mais amplas eque abarca motivações de ordem pessoal, familiar,econômica etc.

Para iniciar essa atividade, pergunte se sabem ondevivem ou viveram os mais antigos membros de suafamília ou de outras pessoas com quem elesconvivem. Registre as respostas na lousa e peçapara anotarem no caderno. Em seguida convide aclasse para conhecer um pouco mais a origemgeográfica dos familiares, por meio de atividadecom o mapa do Brasil. Este deve ser colado naplaca de isopor e afixado na parede.Você pode começar marcando no mapa, comalfinetes coloridos, o lugar onde você nasceu, bemcomo o de uma pessoa mais idosa da sua família.Caso seu antepassado tenha vivido em outro estadoque não o de São Paulo, escolha uma cor de lã eligue esse ponto com o atual estado em que vocêvive (SP). Se não dispuser de alfinetes, use fitacrepe para fixar a lã.Em seguida, convide um aluno para fazer omesmo e assim sucessivamente até que todoslocalizem suas origens e a de seus familiares nomapa. Pode ser que um antigo membro da famíliatenha vivido, por exemplo, na Bahia e de lá tenhamigrado para Minas Gerais, daí se dirigindo paraSão Paulo. Nesse caso, deverão ser colocadostantos alfinetes quantos necessários para chegar nolocal em que viveu/vive atualmente, ligando essespontos com a lã colorida. No caso de antepassadosde outros continentes, ponha o alfinete de origemfora do mapa.Distribua a ficha 1B (frente), que traz um mapado Brasil dividido em estados. À medida que cadaaluno localizar sua origem e a de seus familiares nomapa da parede, fará o mesmo no mapa da ficha,usando lápis coloridos. Lembre-os de preencher alegenda do mapa usando a mesma cor.Quando todos os alunos tiverem feito a localização,peça para observarem detidamente os alfinetescoloridos e o trançado da lã. Incentive-os aperceber semelhanças e diferenças na origem delese de seus familiares e redigir um pequenocomentário na ficha.Peça que imaginem as razões das migrações eformulem frases. Poderão surgir frases como:“Vieram para cá para conseguir trabalho” ou,“Tinham a esperança de viver melhor em SãoPaulo”. Anote as frases na lousa e peça parafazerem o mesmo nos cadernos.

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14EDUCAÇÃO E CIDADANIA APROFUNDANDO

As décadas iniciais do século XX no Brasil foram marca-das por grande crescimento urbano e aumento populacio-nal, resultantes tanto do processo de industrialização, quehavia se iniciado ainda no século XIX, quanto da abolição daescravidão e do aumento da imigração.

Em São Paulo, num período de 14 anos, o número dehabitantes da capital aumentou cinco vezes, passando de47.000 pessoas, em 1886, para 239.000 em 1900. Os da-dos da industrialização são igualmente significativos: a pro-víncia de São Paulo registrou um crescimento de 72,5 ve-zes num período de 49 anos. Em 1852, contava com ape-nas sete fábricas – duas na Capital, duas em Sorocaba etrês distribuídas em Campinas, Bananal e Ubatuba – e, em1901, já contava com 145 fábricas, que empregavam emtorno de 50 mil operários (Almeida, 1987).

Essas transformações iriam provocar alterações na vidadas pessoas: o surgimento de novas formas de convíviosocial e a percepção do espaço público em contraposiçãoao espaço privado (D’Incao, 1997, p.226). No entanto, paraos propósitos desse estudo, trata-se de saber: Como astransformações advindas do processo de industrializaçãoe urbanização afetaram a vida familiar dos trabalhadores?E, no interior da vida doméstica, qual foi o papel reserva-do à mulher?

Os trabalhadores urbanos passaram a ser alvo de umapolítica de moralização que visava a construção de um novomodelo de comportamento e de vida. O objetivo era formaro trabalhador dócil e submisso, mas ao mesmo tempo pro-dutivo. Uma peça fundamental nesse projeto de constru-ção de uma identidade social para os trabalhadores urba-nos seria a redefinição da família.

Múltiplas estratégias de disciplinarização foram postasem prática nesse projeto de integração do operariado e desuas famílias ao universo de valores da sociedade industriale urbana, expressão do pensamento da elite dominante.Na fábrica, em casa ou nos espaços de lazer buscou-se re-definir a maneira de pensar, sentir e agir do trabalhador.

Vale registrar que esse fenômeno não é específico doBrasil, tendo ocorrido também em outros países como In-glaterra e França, no processo de industrialização e de afir-mação da burguesia como classe dominante nos séculosXVIII e XIX. O pensamento dominante de uma época é opensamento da classe que detém o poder econômico e,por meio dele, estabelece seu domínio na sociedade.

Buscando criar um mundo à sua imagem, a elite domi-nante não poupou esforços para impor ao novo operariadoum modelo de família: o da família nuclear – que, segundoesse ideário, deveria ser reservada, voltada para si e ocupan-do uma moradia de ambiente agradável.

A própria aparência interna e externa da fábrica foi pen-sada e planejada para determinar as transformações quese queriam ver assumidas pelos trabalhadores. Daí a cons-trução de edifícios amplos e espaçosos, iluminados e bemventilados, com instalação de sanitários, refeitórios e mes-mo ladeados por jardins. A nova organização do trabalho,fundamentada num saber “científico” – de engenheiros esanitaristas, entre outros – buscou criar um ambiente detrabalho organizado, limpo, disciplinado, com divisão detarefas e cumprimento de regras, a fim de garantir que ostrabalhadores se sentissem motivados a produzir, tendo os

patrões trabalhando a seu lado. Toda essa organização eexperiência de trabalho deveriam ser valorizadas como seos operários compusessem uma “grande família”.

O que se pretendia era difundir entre os trabalhadoresideais de vida doméstica regrada, com privacidade e intimi-dade, numa casa limpa, arejada e confortável, ainda quepequena. Ou seja, o objetivo era domesticar as relações dotrabalhador com sua família, despertando nele o desejo deuma vida aconchegante no espaço do lar.

Nesse ideal de família nuclear cabia à mulher zelar pelosmínimos detalhes da vida de seus familiares. Seria, então,sua responsabilidade vigiar os horários de todos os mem-bros da família, inteirar-se de todos os fatos do dia-a-dia pormenores que fossem, prevenir e tentar evitar toda e qual-quer emergência de doenças ou desvios de conduta. De for-ma complementar, a criança passou a ser considerada comoser especial. A ela deveriam ser dispensados todos os cuida-dos e atenções, incluindo-se os cuidados com sua saúde –daí os médicos aparecerem como novos aliados da mãe. Eisso, apesar da ampla utilização das crianças das camadaspobres da população como força de trabalho industrial.

A difusão de um novo modelo de mulher e de feminida-de, que vinha sendo elaborado desde meados do séculoXIX, e uma preocupação especial com a infância, percebidacomo riqueza em potencial e símbolo de um futuro pródigopara a nação, foram as peças mestras dessa tentativa deagenciamento das relações intrafamiliares. Esse modelopropunha uma representação simbólica de mulher: a “es-posa-mãe-dona-de-casa”, afetiva mas assexuada (Rago,1985, p.61-116).

Industriais, poderes públicos e mesmo parte dos traba-lhadores, ainda que de diferentes formas e com objetivosdiversos, participaram dessa construção de um ideal de fa-mília que privilegia a esfera doméstica como espaço priva-do e sagrado da mulher.

A contribuição do trabalhador nessa construção seria ade buscar reproduzir no interior de sua vida familiar as rela-ções de hierarquia (quem manda e quem obedece), de divi-são de tarefas (quem pensa e quem executa) e, portanto,de poder (quem pode decidir sobre o quê), que ele próprioexperimentava no interior da fábrica. No ambiente fabril, nacondição de trabalhador, ele obedecia a seus superiores eexecutava tarefas; no ambiente doméstico, encarnando afigura do chefe de família, ele iria assumir o papel de man-do e de intelectual, fazendo uso de seu poder econômico,decidindo em nome dos familiares, já que era ele quem tra-balhava para o sustento de toda a família.

Também o movimento operário, na medida em que in-corporou o projeto disciplinador da elite (que definia o es-paço privado como lugar por excelência da mulher), contri-buiu para a reprodução da exigência dominante segundo aqual a mulher operária deveria corresponder ao ideal femi-nino da mãe abnegada e guardiã do lar. Retratada no pró-prio imaginário operário como romântica, sensível, ingênua,explorada e frágil, a mulher passou a ser alvo de uma açãopaternalista que a colocava subordinada ao homem, tantonas relações de trabalho quanto no interior do espaço do-méstico.

Não é raro encontrarmos a figura da mulher associadaà da criança, contribuindo para formar uma imagem infanti

AMÍLIA NUCLEAR

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15FAMÍLIA E RELAÇÕES SOCIAIS

Com o propósito de estabelecer relações entre osdeslocamentos (migrações) de pessoas da família ea própria organização familiar, peça que reflitamsobre as seguintes questões:

Como era ou supõem que era a vida dosfamiliares onde moravam antes? Isto é,como viviam?Quantas pessoas faziam parte da família?Como as mudanças de região ou local demoradia interferiram, ou ainda interferem,na vida dos familiares?

Explore um pouco com a classe as diferenças entreo cotidiano das famílias que moram no campo (ouem cidades pequenas) e na cidade grande, oscostumes e a forma como isso se reflete em seuspensamentos e valores. Com base no que tiveremrelatado de suas histórias familiares, discuta osefeitos da mudança de moradia, tanto do campoquanto de outras cidades, para a megalópole que éSão Paulo.Como fechamento desta atividade, proponha quecriem uma música relacionando as idéias até aquidiscutidas, sobre a trajetória das famílias do grupo-classe. Organize-os em pequenos grupos para criara letra da música e oriente-os a inventar a melodiaou usar uma que conheçam. Quando todos tiveremterminado, peça que cantem para a classe.

ATIVIDADEUMA FAMÍLIA QUE EUCONHEÇOMaterial necessário: papel pardo ou cartolina,fita crepe; lápis de cor, canetas hidrocor; tesoura,cola; revistas e jornais.Nesta atividade, partindo das referências jáfornecidas pelos alunos e visando avançar nareflexão, proponha questionamentos que lhespermitam levantar dados da realidade, observar eindagar sobre eles. O intuito dessa prática reflexivaé possibilitar aos alunos ultrapassarem aexperiência imediata e desenvolverem uma posturade reflexão comprometida com o tempo presente.Essa maneira de estudar possibilita que professor ealunos, como sujeitos do conhecimento e da

lizada da mulher. A linguagem paternalista, até os diasde hoje, transfere para a mulher características que sãopróprias da criança: inocência, pureza e necessidade deamparo, por exemplo. Entretanto, esses atributos da in-fância, quando associados à mulher, criam uma imagemnão só de desamparo, mas principalmente de incapaci-dade de pensar e de agir guiada por critérios pessoais, oque permitiria supor que a mulher teria um espírito servil“por natureza”. Mulher-servil e mãe-sacrifício, associadaà figura da criança inocente e necessitada de cuidados,são os dois lados de um mesmo espelho que projetavapara a mulher uma imagem que ela deveria assumir comosua identidade.

Desse modo, a construção de um modelo de mulhercomo mãe devotada e toda sacrifício procurava circuns-crever a atuação feminina nos limites da vida privada onde,como recompensa às avessas, ela seria reconhecidacomo “a rainha do lar” – um papel social que implicaria,ao mesmo tempo, sua desvalorização intelectual, profis-sional e política.

Nesse sentido, a mulher trabalhadora teria de lutarem duas frentes, contra a dominação masculina: nas re-lações familiares, contra o sentimento de culpa por estardistante do lar, dos filhos carentes e do marido extenua-do pelas longas horas de trabalho – peso lançado sobreseus ombros pela elite dominante; e, nas relações de tra-balho e de atuação militante e sindical, sua luta seria pelaqualificação profissional e por postos decisórios.

Nas várias situações vividas na convivência familiar eno trabalho a mulher enfrentou (e ainda enfrenta) todotipo de pressão emocional, moral e intelectual. Ao se con-frontar com as pressões, sentindo-se vigiada e questio-nada em seu modo de sentir, pensar e agir, a mulher, paramanter suas escolhas, experimenta sentimentos contra-ditórios de solidão e liberdade, de incapacidade e realiza-ção, de humilhação e orgulho. Essas contradições, longede expressar incoerência ou fragilidade, revelam a inten-sa luta da mulher que, sem abrir mão da opção pela vidaconjugal e maternidade, também optou por trabalhar pro-fissionalmente; essa é a luta que tem de travar consigomesma, já que aceitou ou incorporou em grande medidaa representação de esposa dedicada, mãe zelosa e mu-lher voltada apenas para o espaço doméstico.

Trazer elementos dessa construção histórica do mo-delo de família nuclear e, no seu interior, de uma identi-dade para a mulher – resgatando o momento e o modocomo tal representação foi construída, bem como a quaisinteresses correspondia – implica compreender as diver-sas formas de conformismo e resistência que, historica-mente, a mulher, trabalhadora ou não, tem posto em prá-tica, na busca de espaços de atuação e qualificação, noâmbito público e no privado.

Assim, cabe indagar até que ponto o modelo de fa-mília nuclear correspondia à realidade dos grupos de tra-balhadores do final do século XIX e início do XX? Em quemedida e por que a mulher teria aceitado e incorporado aidentidade de “esposa-mãe-dona-de-casa”? Mas, tam-bém, de quantas maneiras ela se opôs (e ainda se opõe)a essa mesma identidade, buscando afirmar seus pró-prios referenciais, construídos com base em outros pres-supostos de vida e outras práticas sociais? No âmbitodas relações familiares e sociais, é necessário ainda per-guntar: quantos pais, maridos e mesmo filhos e irmãosnão impediram (e continuam tentando dificultar ao máxi-mo) suas filhas, esposas, mães e irmãs de atuar nos es-paços do trabalho, da política e da vida social? E hoje,início do século XXI, essa noção de família nuclear en-contra correspondência em nossa realidade social?

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16EDUCAÇÃO E CIDADANIA

Como essa família decide sobre as coisasque afetam a vida de todos os seusmembros?

Oriente para que, em grupos, discutam essescritérios e definam as características da família quequerem representar. Diga-lhes para usar imagensde revistas e jornais, criar desenhos, frases epequenos textos para dar conta das característicasque tiverem escolhido. Para que soltem suaimaginação, diga-lhes que o desenho poderepresentar uma família nas mais variadassituações. Isto é, que podem escolher livrementecomo vão representá-la: se festejando, brincando,passeando, brigando, comemorando alguma coisaou vivendo alguma outra situação. E que tambémpodem escolher onde a cena de desenrola, isto é,em quais espaços: se em suas moradias (casa, rua,albergue, ou outros) ou em outros lugaresquaisquer. Do mesmo modo, podem dar outrotítulo a seus desenhos – não esquecendo deassiná-los.Combine um tempo determinado para a realizaçãodessa atividade e diga que você vai informá-losquando faltar “x” tempo para esgotar o prazoestabelecido. Quando findar esse tempo, verifiquecom eles se o combinado foi suficiente ou se énecessário prorrogá-lo um pouco para a conclusãodos trabalhos.Quando todos tiverem terminado seus painéis,fixe-os numa das paredes da sala de modo quetoda a classe possa ver e ter acesso ao conjunto dasproduções. Deixe que se aproximem do painelgeral e o observem, comentem e apreciem,livremente, por alguns instantes. Depois disso,peça a cada grupo que conte para a classe como é afamília que eles criaram.Com base no texto acima, faça uma breveexposição dialogada para os alunos sobre a origemdo modelo de família nuclear, contando como foicriado e a quais interesses ele correspondia.Caracterize bem a época em que isso ocorreu epergunte à classe se acham que esse ideal defamília ainda continua presente na atualidade.Sugira que comparem esse ideal de família (da elitedominante) com as produções que eles fizeram everifiquem se há elementos desse modelo nasfamílias imaginárias que criaram, levando-os arefletir sobre as diferenças e mudanças. Pergunte

aprendizagem, promovam um diálogo entre oconhecimento histórico já produzido (textos defundamentação teórica, por exemplo) e a própriarealidade vivida.A expectativa é que os alunos apreendam comohomens e mulheres experimentam no presentecondições de vida herdadas do passado. E,também, que percebam que, no interior delas epela ação social, são desenvolvidas estratégias devida e de sobrevivência que traçam possibilidades eprojetos de futuro. O intuito é que os alunos:� problematizem, por meio de atividades, a noção

de família nuclear, ou seja, a unidade domésticaonde moram apenas pai, mãe e filhos; essanoção é baseada numa divisão social dotrabalho em que o homem trabalha paragarantir o sustento de todos e a mulher dedica-se inteiramente aos cuidados da casa, do maridoe dos filhos. Queremos que os alunos percebamque existem várias outras formas deorganização familiar, inclusive com base emvivências que lhes são próximas;

� possam articular suas vivências e suas formasde conhecer e refletir sobre a direção de suasvidas e das coletividades nas quais elesconstróem suas experiências.

Para refletir sobre a família atual de forma lúdicae sem expor diretamente a família dos alunos,sugerimos a confecção de um painel intitulado“Uma família que eu conheço”.Primeiro, organize a classe em grupos e distribuaos materiais: uma folha de papel pardo oucartolina, tesoura, cola, revistas e jornais. Anuncieque nessa atividade estarão refletindo erepresentando uma família levando em conta, entreoutros aspectos:

Quantas pessoas fazem parte dafamília?Quem são as pessoas e o que elas fazem?Onde essa família vive?Como é o relacionamento das pessoas dessafamília?Quais são os hábitos dessa família, isto é, oque as pessoas costumam fazer?Como essa família se sustenta?

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17FAMÍLIA E RELAÇÕES SOCIAIS

se acham que aquele ideal de família da elitedominante dá conta de toda a realidade dasorganizações familiares e por quê.O propósito dessa exposição dialogada é oferecersubsídios históricos aos alunos para que percebamcomo um novo modelo de trabalhador se feznecessário: como a família deveria ser, daperspectiva dominante, para atender ao processode mudanças urbanas e industriais da sociedadepaulista.Em seguida, proponha algumas questões paraexplorar, de forma oral e coletivamente, asinformações contidas nos vários arranjos de famíliaque eles representaram. Informe aos alunos quenão precisam se preocupar em fazer anotaçõesenquanto observam e comentam o painel geral,pois terão um tempo para isso mais tarde.Pergunte, por exemplo:

As famílias são todas iguais?O que há de semelhante entre elas?O que há de diferente entre elas?Quantos membros há em cada família?Que pessoas estão ali representadas?Por que podemos dizer que aquelas pessoasformam uma família?O que cada um dos membros de cadafamília faz?Quantas gerações estão representadas?Quais as situações de vida que as produçõesestão expressando?

Com base nas falas dos alunos, vá anotando na lousa,de maneira organizada (uma tabela, por exemplo) assemelhanças, diferenças, o número de componentesda família, as situações vividas pelas famílias.Nesse momento da sistematização, observe se elescompreenderam a pluralidade de formas deorganização e os diferentes arranjos familiares; quenão há um único modelo de família que seja válidopara toda a sociedade. Que a variedade deorganizações familiares expressa também adiversidade cultural e de origem das pessoas oufamílias. Leve-os a perceber se as famílias querepresentaram são famílias trabalhadoras ou daelite, mostrando como isso aponta para asdesigualdades materiais e sociais em nosso país.

Com base nas respostas às perguntas acima e nasanotações que fez na lousa, vá criando com a classeum texto coletivo. Reserve tempo para que possamanotar em seus cadernos as conclusões a quechegaram.Por último, peça que dêem sugestões de título parao painel coletivo, de modo a expressar ascaracterísticas mais gerais dos arranjos familiaresali representados. Se for o caso, liste na lousa ospossíveis títulos sugeridos e ponha-os em votaçãosecreta (cada um escreve num pedaço de papel otítulo de sua escolha e lhe entrega para contagemaberta dos mesmos, assinalando na lousa os votosdados a cada título); ou proceda por votaçãoaberta, apontando um título de cada vez eanotando ao lado o número de votos dos alunos,erguendo as mãos para manifestar suaspreferências.

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18EDUCAÇÃO E CIDADANIA

SUBTEMA 2A FAMÍLIASEMPRE FOI ASSIM?O trabalho com este subtema tem por objetivoampliar a compreensão da noção de famíliano quadro da sociedade brasileira. Para tanto,estudaremos diferentes tipos de organizaçãofamiliar (patriarcal, escrava e indígena)vigentes em momentos históricos diversos(séculos XVIII e XIX), bem como na atualidade.

É significativo que os alunos percebam aforma como a vida familiar e a organizaçãosocial foram vivenciadas em outros momentosdo tempo e como os problemas que afetam avida familiar ou de grupos de convivênciaresultam de práticas sociais; oreconhecimento de diferenças e semelhançasno modo de lidar com a questão da família nopassado e no presente pode ser apreendidocomo saber sistematizado para e pelas suaspróprias vivências.

Por meio da leitura e análise de fotografias,gravuras e textos, esperamos que os alunoscompreendam a diversidade da estruturafamiliar no Brasil atual e em outros momentoshistóricos e culturas. Pela reflexão que serãoconvidados a fazer, deverão perceber:

� a família indígena como representativa deum tipo de sociedade que é basicamenteigualitária, mediante o contraponto comexperiências de convívio familiar nasociedade capitalista;

� a estrutura da família escrava, que serácontraposta à família patriarcal. Issosignifica que não vamos abordar o negroafricano na condição de escravo vivendona senzala e realizando trabalhocompulsório: preferimos destacar oimenso esforço e empenho da populaçãonegra para constituir família. E que, paraela, família era principalmente quem viviajunto, quem se ajudava e se solidarizava.Ou seja, que os princípios de organizaçãofamiliar entre negros escravizados,

libertos ou alforriados eram muitodiferentes daqueles dos senhores deescravos.

Esse estudo busca mostrar que as açõescoletivas, na vida familiar e social, podem setransformar em referência para outros gruposde convivência, mesmo que suas práticassejam diferentes, ou em outros espaços. Caberefletir com os alunos que esse tipo de práticasocial que visa o bem-estar coletivo não é, emsi, garantia de concretização do ideal dejustiça social. No entanto, a história fornecevários exemplos de que a ação coletivapossibilita a realização de projetos pessoaisou sociais que têm como perspectiva aconstrução de uma sociedade calcada emvalores que promovam a inclusão social detodos os seus membros.

Será preciso alertar os alunos de que não háuma continuidade histórica entre os tipos deorganização familiar aqui estudados. Asexperiências de vida familiar e de convíviosocial não se iniciaram com as de tipoindígena, passando pelas vivências dapopulação negra escravizada para chegar notipo de organização patriarcal. Em nossarealidade, marcada por uma história deinjustiças sociais, há diferenças de modos devida – como as pessoas se organizam, comose alimentam e o que valorizam em seuscostumes e hábitos – que correspondem acontextos socioculturais diversos. Isso significaque vários tipos de organização familiarconviveram e convivem simultaneamente,como vimos na aula anterior.

Para desenvolver esse subtema os alunos irãoanalisar gravuras e ler textos sobre a famíliapatriarcal e sobre as famílias escravas. Alémdisso, farão uma atividade de Matemática querelaciona os diferentes tipos de moradia comfiguras geométricas. Assim, o subtema acha-se decomposto nos seguintes itens:

Famílias patriarcal e escrava –Atividade: Famílias patriarcal e escrava– ficha 2A (no verso da ficha 1B),Família patriarcal; ficha 2B, Famíliasescravas e, no verso, Alforria: umamaneira de conquistar a liberdade.

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19FAMÍLIA E RELAÇÕES SOCIAIS

Da perspectiva dos senhores de engenho, o tipode organização familiar e social que prevaleceu atémeados do século XIX no Brasil foi aquela vinda datradição portuguesa e da forma de estruturação eco-nômica: a família patriarcal, da qual a casa-grandeera o espaço por excelência. As alterações na estru-tura social e as mudanças no papel da família ocorre-ram numa sociedade senhorial com regime de traba-lho escravista, em que as condições econômicas ede produção afetavam diretamente a vida familiar dosescravos. Os senhores, ao comprá-los, freqüente-mente separavam os integrantes de uma mesma fa-mília. E isso ocorreu também nos momentos de de-clínio econômico, quando os negros se desfaziamde parte dos braços escravos devido à diminuiçãoda produção agrícola.

Focalizamos aqui a família escrava buscando per-ceber as estratégias e projetos de vida familiar queos negros desenvolveram ao longo da escravidão(quase 400 anos) e que ganharam maior expressãonos séculos XVIII e XIX. Dirigimos o olhar para as di-versas práticas da população escrava, bem como delibertos e alforriados (veja mais sobre alforria na fi-cha 2B verso), que contribuíram para fortalecer tantoos valores familiares dos negros quanto os laços desolidariedade entre parentes e amigos, e que eramabsolutamente necessários à mobilidade social.

O casamento, bem como as estratégias familia-res de sobrevivência e de transmissão de bens, sãoalgumas das janelas que nos permitem vislumbrar aestrutura das organizações familiares dos negros es-cravizados e, também, alterações na estrutura sociale mudanças no papel da família no correr do tempo.

Pesquisadores de várias áreas – História, Socio-logia e Psicologia Social, entre outras – apontam di-versas possibilidades de compreensão da temáticada família escrava e, conseqüentemente, da nossarealidade social.

De acordo com Robert Slenes (1999), ao contrá-rio do que muitos estudos afirmavam, pesquisas re-centes mostram que os casamentos de “longa dura-ção” (10 ou mais anos) eram bastante freqüentesentre escravos. Tendo analisado documentos e re-gistros de escravos em 1872 em Campinas (SP), oautor afirma que não só eram comuns famílias es-cravas em união estável, como eram comuns tam-bém casais com filhos em que a grande maioria dascrianças passava seus anos formativos na compa-nhia de ambos os pais. As informações sobre pais efilhos, diz ele, contestam o argumento de que a es-cravidão teria destruído os valores familiares do ne-gro, deixando-o num estado de ausência de regrasnormativas e sem os recursos psicológicos ou os la-ços de solidariedade necessários para a mudança desua condição social. Seu estudo mostra que, ao con-

trário, o comportamento dos escravos, quando en-frentavam condições menos desfavoráveis, deixatransparecer a existência de normas entre eles clara-mente em favor da estabilidade conjugal.

Segundo Ida Lewkowicz (1989), que pesquisoufamília e herança em Minas Gerais no período de 1730a 1800, estudos do final da década de 1980 acercada família escrava mostraram a existência de forteslaços e complexas estruturas familiares, com com-posição de linhagens similares às apresentadas pe-los proprietários de terras. E, quanto às relações fa-miliares de parcela considerável da população cati-va, verificou que a maior parte das crianças contavacom seus pais, ou pelo menos com a presença deum dos genitores.

O casamento foi um dos fatores que contribuiusignificativamente para o aumento da riqueza, poisos negros forros casados possuíam maior númerode escravos, embora o estado civil não fosse deter-minante da posse, já que solteiros também a deti-nham. Ou seja, eles perceberam as vantagens eco-nômicas do casamento ou dos relacionamentos es-táveis. Isso tornou comum, inclusive, uniões consi-deradas tardias e mesmo sem expectativa de des-cendência. O modo como parte da população negrase apropriou e desfrutou de condições econômicasmais favoráveis que conquistaram visava ampliar efortalecer a condição de libertos.

Entre os negros forros, uma prática bastante co-mum era a de indicar herdeiros com os quais nãotinham quaisquer laços de parentesco. Essa situa-ção não é estranha, pois a maior parte dos forrosnão tinham aqui, em geral, primos, tios, sobrinhosou irmãos. Raros foram os que conheceram ou aomenos sabiam o nome dos pais. O que queremosressaltar é que essa atitude sugere que os negrostravavam relacionamentos sociais que iam além doslimites impostos pelo regime escravista.

Muitas foram as estratégias postas em prática pe-los negros até que o sol da liberdade raiasse paratodos. Isso permite indagar por quanto tempo a li-berdade acalentada no cativeiro foi apenas um so-nho para os negros; quanto de sonho se projetouentre escravos, alforriados e pessoas livres duranteo período escravista? Há uma música de Gilberto Gilque diz: “Um sonho que se sonha só é um sonhoque se sonha, só. Um sonho que se sonha junto érealidade”. Ela nos ajuda a pensar nas estratégias desobrevivência que os negros precisaram pôr em práti-ca para que seu sonho de constituir família e estabe-lecer laços de convivência se tornasse realidade. Mas,também, permite indagar sobre o significado que afamília tem hoje para os jovens envolvidos em atosinfracionais. E a liberdade, o que poderia significarnesse contexto? Quais desafios estão colocados para

AMÍLIAS PATRIARCAL E ESCRAVA

APROFUNDANDO

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20EDUCAÇÃO E CIDADANIA

esses adolescentes, para que possam construir suasrelações de convívio familiar e social? Quantos e quaispassos precisam ser dados para uma pessoa que quei-ra realizar seu sonho de constituir uma família?

OUTRAS EXPERIÊNCIAS DEFAMÍLIAS ESCRAVASNormalmente, quando falamos em escravidão,

imediatamente vêm à nossa mente imagens de ne-gros nas senzalas, trabalhando de sol a sol em mi-nas e plantações, ou sendo açoitados no pelourinho,por exemplo. Essas imagens correspondem a ape-nas parte da experiência dos negros africanos queforam trazidos para o Brasil.

Alguns historiadores têm pesquisado e reveladooutras experiências significativas na vida de popula-ções negras nos séculos XVIII e XIX, no Brasil. Verifi-caram por exemplo existir, entre negros e negras for-ros, no século XVIII, a preocupação com a elabora-ção de testamentos. Nestes aparecem orientaçõescomo: cuidados com o sepultamento; a recomenda-ção de celebrações de missas; e o reconhecimentode filhos tidos fora do casamento, a fim de protegê-los contra os demais herdeiros. Já nos seus inventá-rios constavam como bens preciosos pequenas pro-priedades agrícolas, criação de animais, além da pos-se de escravos. Tal qual para os senhores brancos, aposse de escravos era o principal definidor do graude riqueza.

Podemos considerar a prática dos negros de fa-zer testamentos beneficiando pessoas de sua convi-vência familiar, de compadrio e de amizade, comouma forma de estabelecer laços de solidariedadeentre pessoas de um mesmo grupo social. Por meiode menções feitas nos testamentos, nota-se queessas relações davam-se preferencialmente entre osde mesma condição, isto é, os libertos. Além disso,os relacionamentos construídos fora da órbita familiarsignificavam para eles uma garantia contra o isola-mento e a solidão que a vida no cativeiro tramara. Osbeneficiários prediletos eram, pela ordem, afilhados,filhos de amigos, compadres, amigos e, mais rara-mente, antigos senhores. Os afilhados, se não fos-sem contemplados com a totalidade do patrimôniodos padrinhos, recebiam quantias significativas, poiscomumente conviviam intimamente com seus ben-feitores.

Esse tipo de prática, estabelecendo laços de so-lidariedade entre aqueles do mesmo grupo social,é tão mais significativa se considerarmos as atuaispreocupações e dificuldades enfrentadas por umaimensa parcela de pessoas das camadas pobres paraconquistar direitos e se fazer respeitar como cida-dãos, no âmbito das relações sociais e familiares.

No entanto, sabemos que os cativos não podiamter controle sobre todas as situações a que estavasujeita sua vida familiar, já que lhes era negado o di-reito de estabelecer domicílios auto-suficientes e in-dependentes. Mesmo essa regra tinha, no entanto,exceções, pois há casos de escravos de ganho que,vivendo em cidades como o Rio de Janeiro, mora-

vam em quartos alugados por eles mesmos, pagan-do com seu próprio dinheiro, depois de retirado ovalor diário pago ao seu senhor. Ainda assim, outalvez até por isso, eles se valiam de suas famíliaspara tentar superar as duras condições de vida nocativeiro.

Aqueles da mesma condição social buscavamentre si afeição, apoio e recursos. Já as relaçõesque estabeleciam com seus senhores eram qualita-tivamente diferentes. Dentre os que conviviam nointerior da casa grande e compartilhavam a existên-cia diária com seus senhores, muitos usavam oslaços pessoais daí derivados para conseguir alforria,ou para obter permissão de casamento. Numa comoem outra situação, os vínculos eram usados para me-lhorar sua vida cotidiana.

Se fatores econômicos influenciaram a vida fami-liar dos escravos, como mencionado, estes tambémbuscaram estabelecer algum grau de controle sobresuas próprias vidas. Assim, investiram no tempo emultiplicaram esforços para preservar seus laços fa-miliares. Para isso, tanto fizeram uso do paternalis-mo dos senhores quanto procuraram reforçar seuslaços com outros cativos e negros livres.

Não se pode generalizar essas iniciativas dos ne-gros escravizados e libertos, já que as condições devida da população escrava estavam sujeitas a váriosaspectos, principalmente ao econômico. Entretanto,é possível reconhecer que muitas foram as práticasde acomodação (afeição ao senhor e uso do pater-nalismo para a conquista da alforria, por exemplo) ede resistência (apropriação e uso de instrumentosda elite dominante, como testamentos e heranças)que estruturaram as famílias escravas – as quais ti-nham, entre seus objetivos, manter seus componen-tes unidos em razão de laços afetivos e, também,como estratégia de sobrevivência. Fica claro que aintenção dos matrimônios era solidificar relaçõesque colocassem a perspectiva da superação da con-dição escrava da população negra. Isso significa queo que estava na base da constituição dos matrimô-nios era, antes de mais nada, a idéia da conquista daliberdade.

Podemos afirmar que a liberdade era o valor quenorteava a condição de vida de parcelas cada vez maissignificativas da população escrava ou liberta, quepercebeu que ela era passível de ser conquistada porsuas próprias práticas. E percebeu, também, queconstituir família e fortalecer laços afetivos poderiaser um dos caminhos, entre outros possíveis, que secolocavam em suas vivências cotidianas.

Entre várias situações enfrentadas pela popula-ção negra, o esforço dedicado anos a fio para conso-lidar suas relações familiares e sociais foi uma dasmuitas práticas de resistência que contribuiu para aconstrução da libertação dos negros escravizados emesmo para o fim do regime escravista em 1888. Foipreciso insistir em seus ideais de vida, investir notempo e acreditar que era possível realizar um sonhoque, hoje sabemos, não era individual, mas tinha di-mensões coletivas e sociais.

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21FAMÍLIA E RELAÇÕES SOCIAIS

A família na sociedade indígena –Atividade: Uma família indígena – ficha2C, Famílias indígenas. Atividade:Conhecendo moradias indígenas eaprendendo Geometria – ficha 2D(frente), A forma de minha casa; ficha2D (verso), A diversidade de moradias ea Geometria; ficha 2E, Malhas paradesenhar.

ATIVIDADEFAMÍLIAS PATRIARCAL EESCRAVAMaterial necessário: fichas 2A e 2B, lápis ou caneta.Nesta atividade, a proposta é analisar fotografia,gravuras e textos, contrapondo-se as famíliaspatriarcal e escrava.Distribua a ficha 2A (no verso da ficha 1B),Família patriarcal, que reproduz uma foto dessetipo de família e um pequeno texto explicativo.Inicialmente, peça que observem atentamente afotografia e comentem livremente a respeito. Peçapara lerem sua legenda, pois isso os ajudará adescobrir quem são as pessoas representadas; nessecaso, trata-se da família de um grande fazendeiropaulista. Depois, peça que observem e comentem:

O lugar onde as pessoas estão e ascaracterísticas desse local.O número de componentes dessa família.As gerações que estão representadas.Quem está no centro da fotografia.Quem poderiam ser os demais membrosadultos aí representados.Qual é a localização ou posição das criançasem relação aos adultos.Como as pessoas adultas estão vestidas.Como é a expressão fisionômica de seusrostos.Como as crianças estão vestidas.Como é a expressão das mesmas.E comentem quais outros aspectos dessafamília chamaram sua atenção.

Terminando essa observação exploratória dafotografia, peça para levantarem hipóteses arespeito da condição social dessa família. Peçatambém que comparem as crianças e adultos efalem a respeito das semelhanças e diferençasobservadas entre eles. Registre as hipóteses ecomparações na lousa, orientando os alunos parafazerem o mesmo em seus cadernos.Em seguida, leia com eles o texto da ficha 2A.E peça que identifiquem na foto as característicasda família patriarcal mencionadas no texto. Anotena lousa as observações feitas pelos alunos eoriente-os a fazer o mesmo em seus cadernos.Como fechamento desta atividade proponha que,em grupos, façam uma comparação da famíliamostrada na fotografia com as famílias que elesrepresentaram nos painéis na aula anterior. Peçaque verifiquem as semelhanças e diferençaspercebidas, explicando suas opiniões. É importanteque fique claro para eles que a família da fotografiafazia parte da elite econômica do país naquelaépoca; enquanto as famílias que eles representaramnos painéis, provavelmente, são de outra condiçãosocial: trabalhadores, por exemplo. Sugira tambémque comparem o número de membros das famíliasde “ontem” e de “hoje”. Instigue-os a levantarhipóteses sobre as diferenças por eles percebidas.Peça que façam os devidos registros em seuscadernos.Dando continuidade a este subtema, que ressalta adiversidade de organização familiar em épocas eculturas diferentes, distribua a ficha 2B, “Famíliasescravas”, em que os alunos poderão informar-sesobre aspectos da vida familiar das populaçõesnegras escravizadas. Para a análise das gravuras,peça que as observem detidamente e, em duplas,comentem da maneira mais detalhada possível osaspectos que despertarem sua atenção. Depois,peça que identifiquem as legendas das gravuras, aépoca de sua publicação e reflitam sobre osignificado dessas informações para a compreensãode nossa realidade social. Anote na lousa asobservações feitas, pedindo que façam o mesmoem seus cadernos.Na seqüência, peça que comentem as gravuras dasfamílias escravas. Para isso, solicite que um alunoleia para os demais as questões propostas na ficha.

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Anote na lousa os comentários feitos e peça queidentifiquem diferenças e semelhanças entre asfamílias retratadas; que observem as relações entreadultos e crianças e imaginem, a partir deindicações das gravuras, algumas possibilidades detratamento existentes entre eles.Procure chamar atenção para a presença da “sinhá”na lateral direita superior da gravura Habitation deNègres 1835. Indague o significado de suapresença, de seu olhar e de sua condição social emrelação aos escravos. Destaque que sua posição, noalpendre superior da casa-grande, é favorável àvigilância sobre os escravos, localizados no nível dosolo. Lembre-os, também, o significado da casa-grande: símbolo e sede do poder da elite escravista.Esse conjunto de aspectos reunidos, bem como suadisposição nessa gravura, remete tanto para aquestão da hierarquia social quanto para asrelações de mando e obediência que caracterizavama sociedade escravista.Como contraponto a esse tipo de relação social,peça que opinem sobre o que pode significar aausência de uma figura central entre oscomponentes das famílias escravas. Anote na lousaas opiniões apresentadas e peça que comparemcom as famílias que representaram na aula anterior,indicando e justificando as diferenças ousemelhanças apontadas.No intuito de refletir sobre os significados dasorganizações familiares, faça uma breve exposiçãodialogada aos alunos sobre experiências de famíliasescravas, como as relativas a casamento etestamento, citadas na seção Aprofundando. Leve-os a perceber o sentido que a organização familiartinha para os escravos: como, apesar da situação deextrema opressão em que se encontravam,buscavam sempre formas de manter seus vínculos,seus valores, sua dignidade.Em seguida, proponha que tomem o verso da ficha2B, “Alforria, uma das maneiras de conquistar aliberdade”. Organize a classe em pequenos grupose peça que leiam o texto, esclarecendo eventuaispassagens que não tenham sido bemcompreendidas. Leia então coletivamente asquestões propostas, transcrevendo na lousa, uma auma, as frases numeradas. Na discussão das denúmero 1 e 5, aproveite para esclarecer que a fuga

era legítima no caso dos escravos, pois a situaçãode escravidão era injusta (lembrando que, no casodos adolescentes que se encontram na Unidade,essa é uma situação legal). Na discussão das frases3 e 6, relacione as reflexões da exposição dialogadaque você fez e as que as gravuras e os textos lidospropiciam. Na 4, ressalte que a alforria foi umaprática que foi ganhando reconhecimento,aceitação e força de lei, mesmo sem ser lei. Na 6,não deixe de ressaltar a importância dos laçosafetivos e de solidariedade que escravos e forroscriavam entre si, mesmo quando não se tratava deparentes.Ao fim da discussão, coordene a redação de umpequeno texto coletivo, que os alunos registrarãoem suas fichas (após anotar que concordam com asde número 3, 5 e 6), procurando assegurar asseguintes idéias:� a população negra dispendia imenso esforço e

empenho para constituir família; e, para ela, jáque tantos tinham sido separados à força deseus familiares e parentes, família eraprincipalmente quem vivia junto, quem seajudava;

� as diversas estratégias discutidas – casamento,testamento, alforria, organização de quilombo –constituem todas formas coletivas de os negrosbuscarem corrigir uma situação de injustiçasocial.

ATIVIDADEUMA FAMÍLIA INDÍGENAMaterial necessário: ficha 2C, lápis ou caneta.Para completar o estudo sobre a diversidade defamílias em diferentes momentos históricos eculturas, iremos trabalhar com dois textos quetratam de aspectos do modo de viver de indígenas:Matari Karabi e Aldeia Kayapó.Proponha que os alunos façam uma leiturasilenciosa dos textos que se encontram na ficha 2C.Veja se necessitam de esclarecimentos sobrepossíveis dúvidas. Depois, peça para responderemindividualmente as questões da ficha. Terminando,organize a classe em círculo e promova umadiscussão sobre as questões.

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Como fechamento dessa discussão sobre famíliaindígena, proponha que os alunos comparemalguns aspectos da família na sociedade indígena ena sociedade capitalista atual, destacando como sãoas relações entre seus membros. Depois, peça querespondam a seguinte pergunta: Será que nasociedade indígena existe possibilidade de emergira figura do “curumim de rua”?

ATIVIDADECONHECENDO MORADIASINDÍGENAS EAPRENDENDO GEOMETRIAMaterial necessário: fichas 2D e 2E;papel sulfite, lápis, lápis de cor, régua; papelquadriculado e barbante.O estudo das formas em Geometria está associadoao desenvolvimento da percepção visual e dehabilidades que possibilitam ao aluno perceberregularidades e estabelecer relações na resoluçãode determinadas situações-problema dentro e forada Matemática. Com esta atividade de Geometria,o objetivo é proporcionar aos alunos um novoolhar sobre o mundo que o cerca, por meio daanálise das formas geométricas presentes nasconstruções das casas em diferentes culturas.Não esperamos apenas que o aluno compreenda amoradia como expressão de organização de umasociedade, mas também que este olhar sobre asformas geométricas, como idealizações do homem,permita a ele recriar e interferir sobre a realidade.A atividade proposta na ficha 2D permitirá aoaluno conhecer polígonos (figuras geométricasplanas fechadas, de lados retos que não secruzam), iniciando pelos mais freqüentes nasconstruções – retângulo, quadrado e triângulo –,(re)conhecendo e desenhando outros polígonos nasmalhas da ficha 2E. Pretende também que ele sefamiliarize com as noções de perímetro e área doretângulo, forma geométrica mais freqüente emnossas moradias.Distribua o material necessário e peça a cada umque imagine e desenhe, em uma folha avulsa, umacasa onde gostaria de morar. Quando tiverem feito,peça a alguns alunos que mostrem à classe a

A FAMÍLIA NASOCIEDADE INDÍGENA

Duas idéias costumam fazer parte do sensocomum quando o assunto é a sociedade indíge-na: uma é a que generaliza os povos indígenascomo se fossem todos iguais e formassem umtodo homogêneo; outra é a que costuma locali-zá-los sempre num passado distante, idealizadoe harmonizado com a natureza. Uma e outra idéiasnão levam em conta as diferenças culturais e his-tóricas que caracterizam as mais de 200 socie-dades indígenas que habitam o território brasi-leiro e falam 170 línguas diferentes.

Nas sociedades indígenas há uma grande di-versidade de organizações familiares, de costu-mes, religiões, línguas e manifestações artísti-cas. Entretanto, um aspecto comum entre elas éo fato de serem basicamente igualitárias.

Dizer que as sociedades indígenas são igua-litárias não significa que sejam todas iguais en-tre si, nem que tenham o mesmo modo de viver,alimentar-se, ou relacionar-se com a natureza ecom o sobrenatural. Tampouco queremos formaruma noção idealizada de que nas sociedades in-dígenas tudo seja resolvido o tempo todo coleti-vamente e dividido por igual entre seus mem-bros, pois nelas também há conflitos e disputasentre indivíduos e grupos. O que queremos assi-nalar é que as sociedades indígenas, sendo fun-damentalmente igualitárias, “garantem a todosos seus membros as condições e os conheci-mentos básicos em tudo o que é essencial à suavida e à sua realização como pessoa, e comopessoa daquela sociedade e daquela cultura”(Silva, 1998, p.25, grifos no original).

Entre seus aspectos centrais destaca-se afamília como unidade de produção e como elona corrente de relações sociais. Diferente do queocorre na sociedade capitalista, as várias esfe-ras da vida social acham-se todas articuladasentre si. Isso significa que, entre as populaçõesindígenas, não ocorre divisão rígida nem hierar-quização dos papéis vividos pelos indivíduos.

Ao contrário, na sociedade capitalista a pro-dução é cada vez mais dividida. O que determi-na essa divisão é o conhecimento que o indiví-duo detém de uma parcela da produção, de talmodo que ninguém pode sobreviver sozinho,dependendo de toda a sociedade para suprir suasnecessidades básicas. A esse tipo de divisão dastarefas baseada no conhecimento e com recom-

23APROFUNDANDO

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24EDUCAÇÃO E CIDADANIA

pensas desiguais para os que dela participam dá-se o nome de divisão social do trabalho. É combase nessa divisão social do trabalho, que separao pensar e o fazer, que na sociedade capitalista seestabelecem relações de poder que definem quempode fazer o quê, para quê, em qual ocasião e lu-gar. Essa divisão tem por objetivo garantir o lucrode quem detém o poder econômico, isto é, a pro-priedade das máquinas, das instalações indus-triais, da matéria prima, dos estabelecimentos co-merciais, bancários, bem como os conhecimentosderivados de seus processos de produção, comer-cialização e financeiros, por exemplo. É, portanto,da divisão social do trabalho que vem a idéia deque na sociedade há pessoas que, por deteremcertos conhecimentos, teriam competência parafalar de um determinado assunto e, assim, estari-am autorizadas a decidir pelos demais membrosda sociedade, destituídos daqueles conhecimen-tos. Portanto, o que é “privilégio” de uma classe,constituída historicamente, aparece para a socie-dade como se fosse condição natural de algunsindivíduos que, então, são considerados inteligen-tes, talentosos, engenhosos...

Já numa sociedade de tipo igualitária, como aindígena, o conhecimento é fruto da vivência e doaprendizado conjunto. Nela, saber significa saberfazer. E esse conhecimento é construído nos diver-sos momentos da vida cotidiana entre pessoasmais velhas, e por isso mesmo mais experientes,e pessoas mais jovens (e só por isso menos experi-entes). Ou seja, na sociedade indígena não há de-sigualdade social, como ocorre na sociedade capi-talista, e sim diferenças de experiência, provenien-tes do tempo de vida e de experiência social decada um. As relações sociais daí resultantes têmpor base a autoridade construída desde a infânciae ao longo de toda a vida, enquanto na sociedadecapitalista as relações são estabelecidas com baseno poder de quem detém propriedades materiais.

Um importante aspecto da vida comunitária in-dígena que fornece as bases desse tipo de organi-zação chamada de igualitária, é a família. É ela quefunciona como unidade básica de produção e ar-mazena os conhecimentos fundamentais indispen-sáveis à subsistência de todos os seus membros.Nela, a produção baseia-se na divisão sexual dotrabalho: há tarefas masculinas (em geral, caçar,derrubar a roça) e tarefas femininas (em geral, cui-dar da roça e cozinhar). E essa divisão do trabalholeva em consideração não só o sexo, mas princi-palmente a idade e as condições físicas de seusparticipantes, como forma de protegê-los.

A família, porém, não vive em isolamento. En-tre os indígenas, a base da produção é familiar, masessa produção não visa o acúmulo de bens e deriquezas no interior da família, como na sociedade

capitalista, e sim a distribuição da riqueza e dosseus benefícios ao conjunto da comunidade.

Há uma correspondência entre esse modo deproduzir e a organização familiar das populaçõesindígenas. Fazer parte de uma família significa sermembro da sociedade. E isso quer dizer ter funçõese responsabilidades na comunidade em que vive:produzir alimentos; confeccionar adereços e obje-tos artesanais para o uso cotidiano, ritual e festivo;construir habitação e participar da vida comunitária.

É no convívio familiar que meninas e meninosaprendem as tarefas consideradas femininas emasculinas (que variam de acordo com cada so-ciedade particular). As mães e as mulheres idosase experientes ensinam as meninas a tecer, fabricarcerâmica e transformar os alimentos. Os pais e oshomens idosos da aldeia ensinam os meninos afazer arcos, flechas, adornos corporais, técnicasde caça e pesca e outras atividades.

Assim, é participando das atividades dos adul-tos que as crianças aprendem, desde pequenas, atrabalhar. Isto é, o curumim aprende a fazer fazen-do, brincando ou ajudando seus pais em peque-nas tarefas. Embora isso também ocorra na socie-dade capitalista, o sentido desse fazer e brincar édiferente em cada uma dessas culturas. Na socie-dade indígena essa aprendizagem visa propiciar àcriança a apropriação de todos os conhecimentosque necessitará em sua futura vida adulta. Enquan-to na sociedade capitalista os brinquedos infantis,em geral, reproduzem situações da vida adulta, semque necessariamente a criança seja preparada paraos desafios que terá de enfrentar quando crescer.

Outro aspecto presente nas comunidades indí-genas é que, embora toda tribo tenha suas nor-mas e regras, o que pode e o que não pode serfeito pelas pessoas varia de acordo com a organi-zação de cada tribo. E isso vale também para oscasamentos. Entre os Xavante, por exemplo, é cos-tume os homens se casarem com as irmãs dasmulheres de seus irmãos – chamadas de cunha-das nas sociedades não-indígenas – como formade manter a unidade da família. Entre os Suruí –pequenas tribos tupi-guarani residentes nas mar-gens do igarapé Sororozinho, entre os rios Tocan-tins e Araguaia – raramente há casamentos commulheres de tribos desconhecidas, pois conside-ram que são agressivas.

Assim, para além da afetividade do casal, o queimporta nos casamentos são as convivências e in-teresses da família indígena. Interesses em termosdo modo de viver e dos valores de cada tribo. Ouseja, os casamentos também são uma forma deas populações indígenas afirmarem valores de suastribos e, ao mesmo tempo, negarem característi-cas que atribuem a outras tribos e com as quaisnão concordam ou que não querem para si.

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25FAMÍLIA E RELAÇÕES SOCIAIS

representação de sua casa ideal. Junte todos osdesenhos e organize uma exposição, dizendo-lhespara observar e identificar as formas mais e asmenos freqüentes em seus desenhos. Devemregistrar essas observações na ficha e tentarexplicitar as características dessas formas, como onome de cada figura: se é ou não uma figurafechada, se tem lados retos, o número de lados, devértices (se lembrarem) etc. No momento dasocialização, anote no quadro as qualidadesrelacionadas pelos alunos, separando aquelas queconvergem para a idéia de polígono: figura planafechada, formada por lados retos que não secruzam. Em seguida, desenhe uma das figuras nalousa e mostre os lados e os vértices do polígono:

Diga-lhes para reconhecer e contar lados e vérticesem algumas das figuras desenhadas na ficha,nomeando-as, se souberem. Em seguida, usando arégua, devem desenhar na malha pontilhada (ficha2E frente) polígonos de 5, 6, 7, 8, 9 e 10 lados,nomeando os que conhecerem.Coletivamente, você pode completar um quadro nalousa:

Desfazendo a exposição, devolva-lhes os desenhos,pedindo que pintem com cores diferentes ospolígonos que lá aparecem.A seguir, desafie-os a fazer novas construções depolígonos na malha do verso da ficha 2E,resolvendo a segunda questão da ficha 2D, queexplora informalmente as noções de área (númerode quadradinhos no seu interior) e perímetro(comprimento total de seus lados):� polígonos com todos os lados de mesma

medida (observe que, usando os pontos damalha quadriculada como vértices, a únicaresposta possível é o quadrado).

� na malha quadriculada, devem desenhar doisretângulos diferentes que tenham em seuinterior o mesmo número de quadradinhos(mesma área).

� e dois retângulos diferentes que tenham omesmo comprimento total de seus lados(mesmo perímetro).

Finalmente, elabore um texto coletivo com a classe,sintetizando o que aprenderam sobre polígonos.Na ficha 2D (verso), introduz-se a idéia decircunferência como conjunto dos pontos do planoque estão à mesma distância de um ponto, que éseu centro.Após a leitura das imagens, ao compará-las, os alunospodem apontar como semelhanças o fato de todasas moradias terem teto, janelas e portas etc., ecomo diferenças as formas das casas, o modo devida, os recursos envolvidos etc. Anote na lousa asrespostas que os alunos forem dando em relação acada questão, tomando cuidado com a pertinênciados critérios, para cada situação retratada nas fotos.Esse registro possibilitará conhecer e explicitar osaspectos mais significativos para a classe, tanto no quese refere às diferentes formas de viver em sociedadecomo ao seu domínio das figuras geométricas.

vértice

lado

vértice

vértice vértice

lado

lado

lado

POLÍGONOSOs nomes de polígonos não são informações

importantes, mas os alunos se interessam por essaspalavras pouco usuais. Você pode, com o auxílio deum dicionário, trabalhar o significado dos prefixos

penta, hexa, deca, procurando outras palavrasrelacionadas a eles e seus significados.

Nome Número Númerode lados de vértices

pentágono

hexágono

heptágono

octógono

eneágono

decágono

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26EDUCAÇÃO E CIDADANIAEm seguida, solicite aos alunos que reproduzam,eles próprios ou com suas carteiras ou mesas, adisposição das casas na aldeia indígena; deverãoreconhecer características dessa disposição erelacioná-las com o modo de vida indígena.Nesse momento, o objetivo é, por meio daproblematização, levar os alunos a perceber que adisposição circular – onde as casas são comopontos de uma circunferência, todas à mesmadistância do centro da aldeia – expressa a idéiaigualitária, como componente fundamental daorganização social desse povo.Finalmente, proponha a construção de umacircunferência com lápis e barbante. Distribuabarbante e mais folhas de sulfite e peça aos alunosque amarrem uma ponta do barbante num lápis,fixem a outra ponta no caderno e façam com olápis um movimento de rotação em torno dessaponta. Distribua os barbantes e deixe-os discutirno grupo, tentando resolver o problema. Casoalgum aluno já saiba, peça que mostre ao grupo edepois à classe, se necessário. Proponha odesenho de várias circunferências com essecompasso improvisado.Para a elaboração da síntese sobre o que os alunosaprenderam a respeito da circunferência e docírculo, organize coletivamente um roteiro do quedeve aparecer no texto; ajude-os com as palavrasque desejam escrever, mas cuja ortografiadesconhecem.E, para retomar o que foi estudado – que as

Tamanho e Como sobrevivem Quem toma Como os membroscomposição as decisões da família se

relacionam

Famíliapatriarcal

Famíliaescrava

Famíliaindígena

Famíliaatual:diferentesarranjosfamiliares

famílias mudam no tempo, e de acordo com acultura e a condição social, numa mesma época –propomos a elaboração coletiva de um quadrocomparativo abordando os diferentes tipos defamílias. Durante seu preenchimento procuregarantir que as principais idéias desta aula,expostas no início deste subtema, tenham ficadoclaras. Para isso, transcreva na lousa o quadroabaixo.Terminando o preenchimento do quadro, reserveum tempo para que os alunos anotem em seuscadernos. Observando o quadro pronto, pergunteaos jovens o que percebem de semelhanças ediferenças entre os tipos de família. Saliente asdiferenças entre os valores que são priorizados emcada caso, como solidariedade, bem comum,relação de mando e obediência ou de respeitomútuo etc. Se quiser, acrescente uma coluna paraanotar esses significados.Finalizando, se houver tempo, proponha umaatividade lúdica, “Um fotógrafo de famílias”.Os alunos deverão decidir quem será o fotógrafoe o restante da classe distribui-se em quatrogrupos, cada um se colocando no papel dasfamílias do quadro. Para poderem expressar bemsuas características, sugira que observemnovamente as imagens das fichas e do painel,buscando representar os diferentes componentesdas famílias quanto à expressão facial, posturaetc. Também poderão escolher a situação que irãorepresentar (trabalhando, festejando, comendo…).

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27FAMÍLIA E RELAÇÕES SOCIAIS

SUBTEMA 3FAMÍLIA,PARA QUE FAMÍLIA?Agora, vamos estudar para que serve afamília. Ou seja, vamos estudar a funçãosocial da família, como é exercida e por quemna atualidade, bem como os desafios que secolocam no papel de educar os filhos.

Este estudo tem por objetivo propiciar umareflexão sobre:

As funções da família em nossasociedade, destacando-se entre elas ade garantir as condições materiais,afetivas e de reprodução de seuscomponentes; a de construção daidentidade e construção e reconstruçãode valores; e a função cultural pensadacomo modo de vida e educação em seusentido amplo.

As mudanças de distribuição dasfunções familiares entre os diferentesmembros da família ao longo do tempo:do pai como único responsável porprover as necessidades materiais dafamília para uma responsabilidadecompartilhada entre pai e mãe e,muitas vezes, também pelos filhos.

A tendência de aumento de formasalternativas de organização familiar nasociedade brasileira – para ampliar acompreensão dos alunos a respeito dapossível diversidade de organização desuas próprias famílias.

A mudança da importância atribuídapela sociedade à família em nossahistória recente e como essa mudançaestá expressa nos textos legais.

Esse subtema acha-se com a seguinteorganização:

As funções da família em nossasociedade – Atividade: As funções dafamília na sociedade – ficha 3A (frente),Comida.

Formas alternativas de organizaçãofamiliar – Atividade: Diferentesarranjos familiares – fichas 3A (verso),Tipos de unidades domésticas; ficha 3B(frente), Mama África e 3B (verso),Mamãe.

Família, criança e adolescente nasmudanças sociais recentes – Atividade:Crianças, adolescentes e família acaminho da cidadania.

ATIVIDADEAS FUNÇÕES DA FAMÍLIA EMNOSSA SOCIEDADEMaterial necessário: ficha 3A; CD com acanção Comida, dos Titãs, equipamento de som;papel sulfite, papel pardo, fita crepe.Inicie a aula conversando sobre o que pensam arespeito da família em termos de sua importânciano cotidiano. Peça que opinem sobre quais são (oudevem ser) as responsabilidades do pai, da mãe edos filhos numa família. Registre as respostas nalousa e peça que as anotem no seu caderno.Em seguida, toque a música e peça que ouçamcom atenção, de preferência com os olhos fechados.Depois, distribua a ficha 3A e leia para a classe aletra da canção Comida (ou peça para um aluno fazerisso), para que se apropriem do seu conteúdo.Peça para responderem, em duplas, às questões daficha, cuidando para que se juntem alunosalfabetizados e não-alfabetizados. Quandoterminarem, ponha em discussão as respostasapresentadas. Pergunte, por exemplo, quais são asdiferenças entre as necessidades de um bebê e asde um adolescente, ou se as necessidades mudamao longo da vida e quais permanecem. Convide-osa refletir por que as necessidades que se mantêmsão atendidas da mesma forma. Registre na lousaas necessidades mencionadas na letra da música eas que os próprios alunos mencionarem. Perguntea quem cabe a responsabilidade por atendê-las.Numa síntese parcial, certifique-se de queperceberam que as necessidades são diversas e quemudam ao longo da vida de uma pessoa; que nãocabe só à família o suprimento das mesmas e que o

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28EDUCAÇÃO E CIDADANIA

Em nossa sociedade, a família exerce várias funções,como de socialização e construção de identidade, trans-missão de valores, além da viabilização da sobrevivênciade seus componentes.

Uma das principais funções da família é garantir o aten-dimento às diversas necessidades de seus membros. Nocaso das famílias com filhos, primeiro a criança, mesmoantes do nascimento, durante a gestação e no nascimen-to, e depois o adolescente precisarão de adultos que aten-dam às suas necessidades físicas, materiais e afetivas.As necessidades físicas e materiais são mais evidentes emais claramente percebidas: a criança precisa de alimen-tação, cuidados com higiene e bem-estar. Fica claro que,se esses cuidados não acontecem, ou acontecem de for-ma muito precária, a saúde da criança corre riscos e atésua sobrevivência fica ameaçada. No entanto, a criançatem também outro tipo de necessidades, que são as afe-tivas. O atendimento a essas é fundamental para seu de-senvolvimento físico e psíquico e para sua saúde mental(tanto assim que, atualmente, os hospitais requerem apresença de familiares para auxiliar na recuperação depessoas enfermas).

É também na família que se dá o processo de cons-trução da identidade e de socialização de seus compo-nentes. É nesse processo que a criança se constitui comosujeito e aprende a viver em sociedade. Como isso ocorre?

A criança, ao nascer, precisa de alimento, mas tam-bém de amor e compreensão para que possa lidar com asansiedades decorrentes das experiências de frustração,desconforto e dor, provocadas pelo nascimento e pelaemergência de suas necessidades básicas. Precisa quealguém vá acolhendo e dando sentido a essas ansieda-des e medos. E isso é feito, na nossa cultura, geralmentepor uma mulher, quase sempre a mãe. É na relação com amãe, ou sua substituta, que é possível ao bebê lidar comduas forças que o constituem: os impulsos amorosos eos impulsos destrutivos, que desde o início se relacionamentre si e com mundo externo. Destacamos que existemfatores internos, que estão interagindo com o mundo ex-terno e é dessa interação que resulta o desenvolvimentoda criança.

É importante ressaltar que a criança não é um ser pas-sivo, uma página em branco a ser preenchida com as ex-periências que vêm de fora. É um ser ativo que, desde oinício, antes mesmo de seu nascimento, interfere na es-trutura, na dinâmica familiar, na identidade dessa família.Portanto, estamos falando de uma relação entre família efilho e da interação entre seus membros.

Ao nascer, o bebê encontra-se em um estado de indi-ferenciação com a mãe. À medida que, aos poucos, sediferencia da mãe e do mundo ao seu redor, capacita-se alidar com seus afetos e sentimentos. É com base na rela-ção com a mãe e com outras pessoas que cuidam deleque, progressivamente, vai internalizando aspectos dessas

pessoas e, por meio destas, aspectos do mundo que elasrepresentam. Assim, vai se constituindo como sujeito eentra em contato com normas e valores da sociedade.

Nesse processo, construir sua identidade significaaprender, ao longo da vida, o que é ser homem, o que éser mulher; mas significa também construí-la com basena maneira como a pessoa é vista pelas demais pessoase do que é projetado nela, de forma consciente ou incons-ciente, por parte de seus familiares mais próximos – nãoapenas os pais, mas um tio, um avô, um parente, ou mes-mo pessoas com quem não tenha laços de sangue – eque se constituem nos seus primeiros modelos identifi-catórios.

As influências desse processo são tão grandes quemuitas vezes chega-se a pensar que a forma de ser dosujeito, sua identidade, ou sua personalidade, é herdada.No entanto, é preciso afirmar que essa não é uma ques-tão hereditária ou de carga genética. Sem negar a impor-tância dos fatores constitucionais, é preciso frisar quenossa identidade é construída, aprendida desde essasprimeiras relações com o mundo. E esse aprendizado nãose conclui nunca, pois os sujeitos são passíveis de novasexperiências e aprendizados. Portanto, ser de “sanguebom” ou “sangue ruim”, do “mal”, como muitos dos inter-nos se chamam ou são chamados, é uma construção quedependeu da interação de inúmeros fatores, que resultouda maneira como esse jovem se constituiu e passou a seapresentar frente ao mundo e a si mesmo. Não é algo quefaça parte da natureza ou da índole da pessoa; como éalgo que foi construído, pode ser questionado e mudado.E esse é um processo que continua pela vida afora, emtodas as suas etapas.

A família é, pois, uma das principais instituições detransmissão de valores, hábitos, costumes de uma deter-minada sociedade. E essa transmissão ocorre não só fa-vorecendo o que é desejável, mas também proibindo oque a sociedade considera inaceitável. Uma das mais im-portantes interdições refere-se ao incesto: os filhos nãopodem ter relações sexuais entre si, nem com os pais.Essa proibição é fundante da cultura, pois, ao proibir rela-ções sexuais entre os membros de uma família, abre infi-nitas possibilidades de relacionamento fora do núcleo fa-miliar. Isso significa que nem todos os desejos podem oudevem ser satisfeitos: esta é a base para o aprendizadodas normas e valores sociais – o que implica levar em con-sideração o outro, o vizinho, o próximo. Portanto, dizernão, impor restrições, que sejam necessárias para a se-gurança, saúde e bem-estar da própria ou de outra pes-soa, é uma forma de amar e introduzir a criança no meiosocial mais amplo.

O processo de socialização que se desenvolve na fa-mília é muito importante. Mas, a socialização não se es-gota na família e é repartida com outras instituições que,na sociedade atual, assumem uma importância cada vezmaior, como a escola.

UNÇÕES DA FAMÍLIA EM NOSSA SOCIEDADE

APROFUNDANDO

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29FAMÍLIA E RELAÇÕES SOCIAIS

poder público também tem uma parcela deresponsabilidade em seu atendimento.Agora, vamos refletir sobre a construção daidentidade no interior da família. Para isso,organize a classe em círculo e peça para pensaremsobre uma característica que consideram o “pontoforte” de alguém que conheçam, ou seja, umaspecto de sua personalidade (gosto, modo de ser ede agir, por exemplo) que facilita sua vida e que osjovens apreciam. Reserve tempo para refletirem.Divida folhas de sulfite ao meio e entregue duaspartes para cada aluno. Peça para escreverem numametade da folha uma palavra que traduza essacaracterística. Na outra metade, uma palavra queindique como e onde adquiriram ou aprenderamessa característica. Quando terminarem, peça quecolem suas folhas num painel de papel pardo,relacionando cada característica com seu respectivocontexto de aprendizagem. Assim, para uma mesmacaracterística é possível que sejam indicadas váriasformas de aprendizagem. Por exemplo, para acaracterística “força de vontade” podem aparecerrespostas como “nasci assim” ou “aprendi com meupai, tio” etc.Na discussão das respostas e do painel formado apartir das falas, insista que a família é uma dasprincipais, mas não a única, responsável pelaformação da identidade das pessoas. Lembre-osque o termo família está sendo usado em sentidoamplo, ou seja, as pessoas com as quais os jovensvivem. Aponte que nos primeiros anos a família éo referencial mais presente, mas durante seudesenvolvimento novas vivências e contatos comoutros modelos identificatórios ganhamimportância. Destaque que o bebê não é passivonesse processo, muito menos o jovem. E que aadolescência é um momento de buscar outrasformas de ser e de estar no mundo.Nessa discussão sobre a identidade como umprocesso em contínua elaboração, destaque que elaresulta da interação de inúmeros fatores e não sereduz a um único aspecto da pessoa. Na situaçãoem que os jovens da instituição se encontram, éimportante enfatizar que eles estão envolvidos ematos infracionais, mas não são infratores “pornatureza”. Ou seja, a ação a eles atribuída não éuma questão da “natureza” ou da índole. Portanto,sua identidade não pode ser definida pelo ato

infracional que porventura tiverem cometido, nempode ser vista como estática, já que é passível demudanças e retomadas.Registre na lousa as conclusões a que os alunoschegarem e peça para anotarem no caderno.Em seguida vamos focalizar outra importantefunção da família, a de aprendizado e deconstrução de valores. Para isso, organize a classeem círculo e indague sobre “o que se aprende” e“quem ensina quem”, na família. Ou seja, quemeduca quem na família. Incentive-os a falarlivremente e registre suas idéias na lousa. Éprovável que mencionem aspectos ligados àformação de hábitos, valores e crenças. Peça queobservem aspectos comuns e diferentes entre osmesmos; o que isso tem a ver com a cultura deorigem de cada grupo familiar e com mudanças nointerior das próprias famílias. (por exemplo, viverno meio urbano há várias gerações ou ter chegadorecentemente à cidade).Com relação à pergunta “Quem ensina quem?”, éimportante questionar a idéia de que, na família, sóse aprende com os membros adultos. Destaque quea família é um espaço de aprendizagens recíprocasentre todos os seus membros. Do mesmo modo,lembre que crianças e jovens aprendem com osoutros de mesma idade, e não apenas com seuspais. Estes, por sua vez, também aprendem com osfilhos, por experiência ou pela forma de ser de cadaum. Assim, muitas vezes é a partir de solicitaçõesdos filhos que os pais podem repensar suasposições. Pode ser que alguns alunos respondamque não se aprende nada na família. Nesse caso,insista um pouco, pois mesmo nas condições maisadversas sempre há, numa relação familiar, algo aser aprendido.Pergunte qual a importância de os adultoscolocarem limites às ações dos jovens. Questione,também, em que circunstâncias isso deveriaacontecer. Instigue-os a pensar se o jovem tambémnão precisaria, em determinadas circunstâncias,pôr limites à ação dos adultos.Para fechamento dessa atividade peça que, empequenos grupos, formulem frases relacionando asseguinte idéias: necessidade e responsabilidade;família e identidade; valores e família. Reservetempo. Peça que apresentem suas frases para a

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30EDUCAÇÃO E CIDADANIAclasse, comente-as, anote-as na lousa e oriente-os afazerem o mesmo.Assegure-se de que perceberam que hápermanências e mudanças nas necessidades daspessoas ao longo de suas vidas, bem como de quemou quais instituições respondem por elas; que aidentidade pessoal se constrói no interior dasrelações familiares e também das sociais; e,finalmente, que a construção de valores resulta deum processo que é multidirecionado e tem, comoprincipal base, as relações familiares. Observe secompreenderam que a construção da identidade eo aprendizado das normas e valores de umasociedade estão interligados e muitas vezes seconfundem, pois os sujeitos se constituem tambémde suas crenças, sonhos e projetos de vida.

ATIVIDADEDIFERENTES ARRANJOSFAMILIARESMaterial necessário: fichas 3A verso e 3B;fita com as canções Mamãe, de Herivelto Martinse David Nasser, e Mama África, de Chico César;equipamento de som.Para refletir sobre as diferentes composiçõesfamiliares e as mudanças ocorridas nos papéis dosmembros da família, serão analisados dadosrecentes relativos à composição familiar no Brasil eem São Paulo, bem como as canções acimaindicadas. O intuito é propiciar que percebam:� o papel das famílias e as funções que devem

exercer;� como a composição familiar interfere no

desempenho de suas funções.Com os alunos organizados em círculo, promovainicialmente uma conversa sobre os tipos defamílias que conhecem, quanto às pessoas quemoram juntas: casais com filhos, casais sem filhos,mães sozinhas com filhos etc. Vá anotando nalousa os tipos de arranjos que forem mencionando.Seria ideal que se formasse uma lista de todos ostipos que ocorrem no Brasil. Na verdade, nemsempre quem mora junto em uma casa é umafamília; o IBGE, por exemplo, para efeito declassificação, considera família o conjunto de

pessoas que residam na mesma unidade domiciliar,mesmo que não tenham laços de parentesco ou aténos casos em que uma pessoa mora sozinha(IBGE, 2002). Então, se tiverem mencionadopessoas que moram com parentes ou afins,considere como um tipo de arranjo familiar.Conforme tenham sido mencionadas ou não, vocêdeverá chamar a atenção para os arranjos de mãescom filhos sem cônjuge. Peça que os alunospeguem a ficha 3A (verso) e primeiro copiem dalousa a lista das formas de família. Depois, irão lero texto e observar o gráfico. Explique que o gráficoé uma forma visual de apresentar dados, parafacilitar a visualização de um fenômeno. Peça queleiam o título e observem o gráfico por algunsinstantes, falando livremente sobre o quepercebem. Verifique se todos sabem o que épercentual (a proporção do fenômeno ou dado nototal dos casos, como se o total fosse cem).Para análise do gráfico, peça que verifiquem alegenda e o que vem escrito nos eixos, reconhecendoa que ano corresponde cada dado e se ele se refereao Brasil ou a São Paulo. Verifique se entenderamfazendo perguntas simples, como “no ano tal, qualera a porcentagem de mulheres chefes de família emSão Paulo?”. Depois, peça que comparem as duaslinhas, verificando sua semelhança de formas.Assim, irão constatar que, num curto período detempo, cresceu a porcentagem de famílias chefiadaspor mulheres. Em seguida, em duplas, responderãoas questões da ficha. Na segunda pergunta, se ofenômeno tiver sido citado pelos alunos no início daaula, aproveite para reforçar que é geral, ocorre nopaís todo; se não tiverem sido mencionados essescasos, observe que essa composição familiar não sedistribui igualmente em todos os grupos sociais eregiões, portanto não necessariamente aparecerianesta classe.Para responder a última questão, peça quecomparem as informações acima com as dosegundo dia de aula, isto é, os dados do gráfico eaqueles obtidos a partir das experiências de vidafamiliar que conhecem, com as informações sobreas famílias escrava e patriarcal, registradas nasfichas 2A e 2B, apontando que os arranjosfamiliares expressam tanto características dasociedade em diferentes momentos históricosquanto suas mudanças.

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31FAMÍLIA E RELAÇÕES SOCIAIS

Segundo dados do IBGE (1997, 1998, 1999 e2000), é significativo o percentual de famíliaschefiadas por mulheres na população brasileira:em 1999, já representavam 26% do total. Tam-bém a mídia tem apontado uma profunda mu-dança nos papéis exercidos pelos membros dafamília, não cabendo mais exclusivamente aohomem ser o provedor. Com a entrada maciçada mulher no mercado de trabalho, os papéis tra-dicionais vêm se mesclando e outras figuras têmsido chamadas a compor o núcleo familiar.

Com todas essas transformações sociais enas esferas da economia e do mercado de tra-balho incidindo na organização da vida cotidia-na e familiar, tem se indagado: como são aten-didas as necessidades das crianças e adoles-centes; como fica o cumprimento das funçõesque são atribuídas às famílias; como são repar-tidas as funções no interior da família.

Há concepções que defendem a divisão dasfunções familiares entre os pais, tais como: seriafunção das mães cuidar, suprir as primeiras ne-cessidades afetivas da criança; seria função dopai prover materialmente a família, dar limites,estabelecer as primeiras proibições, ensinar asnormas sociais (o que é certo e errado), dar apoioafetivo à mãe para que ela pudesse mais facil-mente cumprir suas funções. Nessa perspecti-va, as famílias patriarcal e nuclear seriam os úni-cos modelos de família capazes de dar contadessas funções.

No entanto, hoje questiona-se essa visão dedivisão de funções familiares correspondenteaos modelos de família patriarcal e nuclear, co-mo referência válida para toda a sociedade. Issoporque esse modelo normativo, quando con-frontado a outras experiências concretas de or-ganização familiar, pode fazer com que outrasformas possíveis e legítimas de famílias (casaissem filhos, famílias só com um dos pais, ami-gos que se juntam para morar etc.) sejam des-qualificadas.

O necessário é que as funções de cuidar, deeducar e de dar afeto, por exemplo, sejam exer-cidas, não importa por quem. O que tem ocorri-do, na atualidade, é que na maior parte das ve-zes elas são assumidas pela própria mãe, mas

também há casos em que tios, avós, irmãos e/ou outras pessoas, que necessariamente nãotenham laços de consangüinidade, têm desem-penhado esses papéis.

Outra questão que aparece no discurso so-bre famílias é o de associar pobreza – e por ex-tensão o modelo de organização familiar dascamadas populares – à violência e infração. Issonão é verdade, pois a violência perpassa todasas classes sociais. A associação entre violênciae pobreza é desmentida por diversas pesquisasque têm se preocupado em entender e explicaras raízes da violência e do comportamento in-fracional entre os jovens. Elas apontam que, nouniverso dos jovens cumprindo medidas socio-educativas, é baixo o percentual de famílias emsituação de extrema penúria. Assim, o que sepode concluir é que as origens da violência econduta infracional são muito complexas, ne-las interagindo uma gama de fatores sociais,psicológicos, culturais, econômicos e políticos,e que esse fenômeno está presente em todasas classes sociais. É preciso lembrar que fazparte da prática da classe dominante e de gru-pos sociais a ela ligados localizar a violência nascamadas populares, como forma de não enfren-tar o complexo problema da violência que deri-va da extrema desigualdade social do país.

Certamente, um aspecto importante a serconsiderado na problemática das famílias dasclasses populares, é o fato de terem escassoacesso a equipamentos sociais, para atendersuas necessidades. Embora hoje na maioria doslugares haja vagas nas escolas públicas, essasfamílias raramente podem contar com crechesou atendimento de saúde de qualidade ou, prin-cipalmente, com espaços ou instituições queexercem papéis complementares à família e àescola. Dessa forma, tem se tornado comum apresença de crianças sem espaço para atividadesculturais ou de lazer, ou ainda sob cuidados deirmãos apenas pouco mais velhos. Configuram-se, então, situações pouco estimuladoras ao de-senvolvimento das crianças e jovens, não em fun-ção da sua organização familiar, mas pela falta deacesso aos bens e serviços da sociedade, não lhessendo plenamente garantida a cidadania.

ORMAS ALTERNATIVAS DEORGANIZAÇÃO FAMILIAR

APROFUNDANDO

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32EDUCAÇÃO E CIDADANIAAnuncie então que irão ouvir duas músicas sobre afigura da mãe. Ponha para tocar primeiro a cançãoMamãe, seguida da Mama África. Na seqüência,distribua a ficha 3B, que traz no verso a letra deMamãe. A letra de Mama África não pôde serreproduzida porque não foi obtida autorização.Providencie-a com antecedência (por exemplo, nossítios www.mpbnet.com.br/musicos/chico.cesar/letras/mamaafrica.htm, chico-cesar.letras.terra.com. br/letras/45197, ou em CDs) e transcreva-ana lousa para que todos copiem nas fichas. Toquede novo as duas canções e peça que acompanhem aletra. Instigue os alunos a expressar suasimpressões sobre ambas e anote na lousa asobservações.Organize-os em pequenos grupos e peça queleiam, discutam e respondam as questões da ficha,na frente e no verso.Feito isso, coletivamente, destaque a época em quefoi escrita cada uma das músicas: Mamãe, no finalda década de 1950 e Mama África, nos anos 1990.Para problematizar a questão das formas deorganização familiar e, dentro delas, das funçõesda mulher, destaque os tipos de organização dafamília representados nas canções – a nuclear e amonoparental. Indague sobre as diferenças esemelhanças entre as formas de organizaçãofamiliar e a imagem de mulher nas duas músicas.Destaque a questão da identidade e da imagematribuída à mulher: em uma, a imagem idealizadade mulher é sinônimo de dona-de-casa, “feita deamor e esperança”, isto é, “rainha do lar”. A outracanção retrata a mulher como profissional, mãe edona-de-casa. Enfatize que a imagem idealizadade mulher sugere uma organização familiar quenão contempla a existência de tensões e conflitosno seu interior.Assinale que a música Mamãe representa a mulhercomo a “rainha do lar”. Isso significa criar umaidentidade para a mulher que não ingressou nomercado de trabalho, ao mesmo tempo que buscadefinir o espaço privado como sendo o seu lugarsocial por excelência. A música cria, portanto, umaimagem de mulher na condição de mãe que fica àdisposição dos filhos, colocando-lhes limites, bemcomo cuidando da casa. Embora a música não façareferência ao homem (marido/pai), podemos supor

que esse era o chefe da família e responsável pelosustento do lar.Destaque que a música Mama África expressa aexperiência de uma mulher sobrecarregada, queatua no mercado de trabalho, mas que também dáatenção e carinho aos filhos, pois diz: “cuida doneném; faz denguim; vai e vem, mas não se afastade você”. Em relação ao desempenho das funçõesno interior da família, a letra sugere que quando amãe sai para o trabalho, os filhos ficam sozinhos ebuscam alento em atividades culturais: “rola omaior jazz e se olodunzam” (referência ao grupobaiano de música afro, Olodum). Chame atençãopara as mudanças na organização familiar e nasociedade que podem ser percebidas nessasmúsicas: o ingresso da mulher no mercado detrabalho, bem como a condição de ser mãe solteira.Entre outros aspectos, é possível ainda destacarque essa música apresenta um perfil de mulher quedesempenha múltiplas funções e acumula váriospapéis sociais, como por exemplo, ser ao mesmotempo chefe de família, mãe e profissional.Observe se compreenderam que às mudançashavidas nos arranjos familiares correspondemmudanças nos papéis tradicionalmente atribuídosàs mulheres e aos homens, no cotidiano familiar.Certifique-se de que entenderam que as mudançasde função e de papéis socialmente atribuídos àfamília expressam, tanto quanto resultam, dastransformações mais amplas da sociedade comoum todo.Tendo como referência as mulheres e suasrespectivas organizações familiares representadasnas duas músicas, peça que respondam: qual tipode organização familiar corresponde às suasexpectativas de vida?Como fechamento dessa atividade indague: Quedesafios as transformações da vida familiar e socialcolocam para mulheres e homens que se propõema constituir família? O que poderia ser feito paraque as funções familiares fossem melhorcompartilhadas entre seus membros? Em termosde posturas pessoais, como contribuir para aconstrução de uma vida familiar que melhorcorresponda às suas próprias expectativas?Anote na lousa as principais idéias e peça parafazerem o mesmo em seus cadernos.

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33FAMÍLIA E RELAÇÕES SOCIAIS

ATIVIDADECRIANÇAS, ADOLESCENTESE FAMÍLIA: A CAMINHODA CIDADANIAMaterial necessário: Cartaz em cartolina oupapel pardo com trecho do ECAEscreva na lousa, ou em cartolina, o Art. 227 daConstituição Federal e o Artigo 19 do ECA. Leia-os para a classe e pergunte quais são as idéias maisimportantes aí. Explique ou pergunte se sabem oque é o ECA. Enfatize alguns aspectos, como “Édever da família, da sociedade e do Estadoassegurar os direitos da criança e do adolescente”.Lembre-os que na afirmação desse direito estáincluído, claramente, o direito à convivênciafamiliar e comunitária, o direito a uma família.Instigue-os a refletir sobre qual deve ser o papel doEstado (governo) para garantir condições à famíliapara o exercício de suas funções e, portanto, para oatendimento dos direitos da criança e doadolescente. Destacando essa idéia de sujeitos dedireitos, desafie-os a pensar de que formas oEstado deve garantir serviços públicos básicos dequalidade para atenuar a questão da pobreza. Casoapareça na discussão o argumento de que famíiapobre não tem condições de educar os filhos – queé comum para justificar a retirada dos filhos desuas famílias, para serem internos em instituições –questione-o, insistindo na obrigação de o governoassegurar condições mínimas de vida a todas asfamíias.Para encerrar essa atividade e realizar ofechamento dessa aula, peça que dramatizem umasituação representando o fato de estar em jogo aguarda de uma criança ou adolescente por parte deseus pais, em virtude da separação dos mesmos.Oriente-os a definir quem são os sujeitosenvolvidos nessa situação, bem como quais serãoseus papéis. Assim, deverão pensar nos motivos daseparação desses pais e nos motivos da disputapara ficar com o filho (filha, nas Unidades deatendimento às meninas). Sugira que nessesargumentos devem considerar as possibilidades eimpossibilidades do cumprimento das funçõesfamiliares. Estimule o aluno que representa o papelde filho a pensar nos desejos e expectativas do

adolescente que representa e no que deve fazerpara que sejam considerados. Proponha quediscutam as conseqüências da separação naorganização familiar e as alternativas derecomposição – um ou ambos os pais formaremnova família, ou mãe e filhos irem morar com avôou outro parente etc. Peça, também, que pensemalternativas a serem utilizadas em caso de impassesobre a questão da guarda do/a filho/a, comoprocurar apoio de familiares ou assistência jurídica.Lembre-os de que é possível procurar essa ajudano Conselho Tutelar do bairro onde moram, nosServiços de Assistência Jurídica das Faculdades deDireito e Seções do Ministério Público, situadasnos Fóruns Distritais (em São Paulo) ouMunicipais (em cidades menores). Na seqüência,sugira que representem, por exemplo, umasituação ocorrida antes do ECA e outra depoisdele. Motive-os a ressaltar a importância, bemcomo as conseqüências do fato de as crianças eadolescentes terem, na atualidade, o direito deexpressão, isto é, de falar e ser ouvidos.Após a dramatização, em que você deve terexplorado as várias possibilidades envolvidas nasituação, abra a discussão no grupo, certificando-seque compreenderam as várias funções da família,como elas podem ser exercidas e por quais doscomponentes da família, assim como a interrelaçãoentre eles. Enfatize nessa discussão o papel dojovem como elemento ativo na situação. Procureidentificar idéias preconcebidas e ouestereotipadas, procurando sempre problematizaras questões que surgem.Para o fechamento dessa discussão e dessa aula,peça que, em uma palavra, indiquem qual foi oaprendizado mais importante do dia. Anote essaspalavras na lousa, sugerindo que as anotem noscadernos.

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34EDUCAÇÃO E CIDADANIA

Hoje, início do século XXI, há uma compreen-são da criança e do adolescente como sujeitos dedireitos. No entanto, nem sempre foi assim; e essacompreensão foi fruto de lutas sociais no mundoe no Brasil. Nessas lutas, o direito à família passoua ser reconhecido como um dos direitos das crian-ças e adolescentes.

Ao voltar o olhar para os anos 1960 e 70, pode-mos perceber que se caracterizaram como momen-tos de grandes transformações políticas e sociais,que se expressaram também no âmbito das rela-ções familiares. Desse modo, a própria função so-cial da família sofreria alterações, inclusive no re-conhecimento de sua importância na sociedade.

Por volta dos anos 60, a família passou a serquestionada em seu papel autoritário e na sua fun-ção de reprodução dos valores da sociedade, ouseja, no seu aspecto conservador, o que poria emxeque a própria instituição família. Muitos movi-mentos sociais, como o dos hippies, e mesmooutras sociedades, como a socialista, chegaram apropor que os cuidados, a socialização e a trans-missão de valores dos mais jovens deveriam serresponsabilidade das comunidades e/ou do Esta-do. Uma década mais tarde, como fruto desse tipode inquietação, havia a expectativa de que o Esta-do desse conta de proteger e cuidar dos sujeitos,considerados individualmente. Como essas expec-tativas não se concretizaram, a família passou en-tão a ser valorizada e a ser considerada no âmbitodas políticas públicas (Carvalho, 1998). Entretanto,da perspectiva do Estado, crianças e adolescen-tes eram considerados sujeitos de necessidades.E, na idéia de necessidade, não estava contempla-da a obrigatoriedade de seu atendimento.

A mobilização internacional pelos direitos dascrianças e dos jovens culminou em 20 de novem-bro de 1989, com a assinatura da Convenção Inter-nacional dos Direitos da Criança. No Brasil, essesdireitos já estavam sendo assegurados, como fru-to de um processo democrático, de mobilização eorganização popular poucas vezes visto na históriada sociedade brasileira. Setores sociais compro-metidos com a causa da infância e juventude pri-meiro propuseram a importante emenda popular“Criança prioridade nacional”, que foi incorporadanos artigos 227 e 228 da Constituição Federal.

Assim, o artigo 227 da Constituição Federal de1988 enfatiza:É dever da família, da sociedade e do Estado

AMÍLIA, CRIANÇA E ADOLESCENTE NASMUDANÇAS SOCIAIS RECENTES

assegurar à criança e ao adolescente, com ab-soluta prioridade, o direito à vida, à saúde, àalimentação, à educação, ao lazer, à profissio-nalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, àliberdade e à convivência familiar e comunitá-ria, além de colocá-los a salvo de toda formade negligência, discriminação, exploração, vio-lência, crueldade e opressão.Nesse artigo estão sintetizados os princípiosexpressos na Convenção Internacional dos Direi-

tos da Criança, consignando que é dever da famí-lia, da sociedade e do Estado garantir os direitosdas crianças e adolescentes. Ao não falar em ne-cessidades, e sim em direitos, está expressa a idéiade que essas necessidade são direitos e, como tal,devem ser garantidos. Desse modo, crianças eadolescentes deixam de ser considerados comosujeitos de necessidades, passando, assim a su-jeitos de direitos.

Estes artigos, por sua vez, foram fundamentaispara a elaboração de uma lei específica regulandoos assuntos da infância e juventude, que é o ECA –Estatuto da Criança e do Adolescente, promulga-do em 1990. (veja mais sobre o ECA no móduloJustiça e Cidadania, nesta coleção, p.19). Em seuartigo 19, o ECA destaca o papel da família ao di-zer que “Toda criança ou adolescente tem direito aser criado no seio de sua família e, excepcional-mente, em família substituta, assegurada a convi-vência familiar e comunitária”.

A família vem, portanto, sendo valorizada comoespaço de construção de novas formas de socia-bilidade, de constituição de subjetividades e deestabelecimento de relações democráticas. Cabelembrar que essa não é uma situação nova coloca-da para a família, como já vimos ao estudar a cons-tituição da família nuclear: a novidade reside nomodo de enfrentar os desafios que se colocam naatualidade, frente à inserção da mulher no merca-do de trabalho.

Essa valorização da família, no entanto, não sig-nifica que suas funções não possam ser exercidasem outros contextos, nem possam ser assumidaspor outros grupos sociais e/ou instituições, na im-possibilidade de a própria família cumprir seu pa-pel. É preciso registrar, porém, que ainda há umaenorme distância entre os avanços consignados nalegislação brasileira e as práticas sociais. Por isso apreocupação, de parte de diversos setores da socie-dade, no sentido de transformá-los em realidade.

APROFUNDANDO

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35FAMÍLIA E RELAÇÕES SOCIAIS

SUBTEMA 4FAMÍLIA, LUGAR DEAFETOS E DESAFETOSNo espaço da família as relações entre seusdiferentes componentes comportam afetos,cuidados e proteção, Além disso, ela tambémse constitui como lugar de desafetos, quandoocorrem práticas de violência, tais comoespancamentos de crianças, estupro porparentes, negligência ou abandono.

Apesar de práticas de violência domésticaestarem presentes nas famílias de todos ossegmentos sociais, geralmente a sociedade asatribui apenas às famílias das camadaspopulares. Ao mesmo tempo, essas famíliasassumem tal explicação, sendo esse mais umfardo que têm de carregar. Muitos jovensenvolvidos com esse problema consideram,equivocadamente, que apenas na sua famíliaexistiria violência; que “nas outras”, ela nãoaconteceria.

Há, ainda, na sociedade, uma tendência aconsiderar a violência como fenômenoisolado, sem vinculações sociais. Sãoconsideradas como violência apenas suasformas mais visíveis, como atos criminosos oudelinqüenciais, atribuídos quaseexclusivamente a sujeitos oriundos dascamadas populares – e, nessa perspectiva,causados apenas por fatores individuais. Nessavisão, são deixadas de lado as preocupaçõesem entender as condições sociais comopropiciadoras, ou não, da emergência de atosdelinqüenciais. E não são consideradas outrasformas de manifestação de violência, como porexemplo a prática de exclusão de crianças daescola, a taxa de distribuição de renda noBrasil, uma das mais baixas do mundo, ou odesrespeito ao meio ambiente e a corrupçãonos governos e na sociedade.

Essa concepção também está presente naforma como a violência doméstica éconsiderada. Portanto, é precisoproblematizar a idéia de que a violência,familiar ou não, ocorre apenas nas camadas

populares e de que ela decorre apenas decaracterísticas individuais de quem apraticou. Uma idéia advinda das anteriores éa de que a alternativa à violência seria aconcordância, a aceitação passiva, a“harmonia” das relações familiares, sociais eprofissionais, como por exemplo na escola ouno trabalho. Dessa forma os conflitos, comomanifestações de discordância ou de modosdiferentes de encarar os mesmos fatos esituações, passam a ser consideradosindesejáveis, que não devem existir dentro dafamília ou em outros agrupamentos sociais.Isso contraria a própria realidade, já que oconflito é um fenômeno presente em todas asrelações sociais. E é fator constitutivo daprópria democracia. O que faz a diferença,em todos os casos, é o modo como a situaçãode conflito é conduzida visando suasuperação.

A partir da problematização do conflito e daviolência na família, espera-se que o alunopossa:

Refletir sobre a família como lugar deafetos, tanto quanto espaço de conflitose tensões.

Diferenciar violência doméstica econflito, entendendo este como inerenteà experiência de qualquer agrupamentohumano.

Perceber que a violência praticadana família contra os seus membrosestá presente em todas as camadassociais.

Compreender as várias formas demanifestação da violência e suas inter-relações.

Para isso dividimos o subtema nos itensabaixo, com suas respectivas atividades:

Uma visão idealizada de família –Atividade Conflitos: como enfrentá-los?

Violência e colocação de limites –Atividade Diálogo e violência, dois jeitosde tratar os conflitos – ficha 4 (frente),Surfista de trem; verso, Autoridade eviolência.

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36 ATIVIDADECONFLITOS:COMO ENFRENTÁ-LOS?Material necessário: papel sulfite, papel pardo,fita crepe; canetas hidrocor, lápis de cera, gizcolorido; revistas, tesouras, cola.O assunto da aula é conflito e violência; doisaspectos do relacionamento familiar queaparentemente são a mesma coisa, mas que têmmuitas diferenças entre si.Nesta atividade serão focalizados apenas aspectospertinentes ao conflito. O intuito é propiciarperceberem que:� os conflitos são próprios das relações familiares

e sociais;� há diferença entre conflito e violência;� as diferentes formas de enfrentá-lo resultam em

conseqüências também diversas.Com o propósito de aproximar os alunos datemática da aula, promova uma conversaexploratória, pedindo que falem livremente sobre oque acham que é conflito. Peça que dêem exemplose acrescente outros de seu repertório, de situaçõesem que estejam em questão interesses, sentimentosou idéias divergentes entre duas ou mais pessoas.Peça que caracterizem o tipo de relação das pessoasenvolvidas no conflito (familiar, de amizade,profissional ou outras). Questione por que osexemplos apresentados foram caracterizados comoconflito. Indague sobre a origem do conflito, ouseja, o que gerou o conflito e como ele começou.Nesse momento, o importante é favorecer aexplicitação de idéias ou situações de conflito sem,no entanto, a preocupação de defini-lo. Isso seráfeito ao final da atividade. Anote na lousa asobservações feitas. Deixe-as em aberto para quesirvam de subsídio para o desenvolvimento daatividade de colagem, a seguir.Organize a classe em pequenos grupos. Distribuaos materiais para que representem uma situação deconflito no interior de uma família que conheçam,ou em outro agrupamento social qualquer (baile,escola, salão de bilhar, trabalho etc.). Para isso,podem se basear nas reflexões que acabaram defazer, incorporando inclusive exemplos

UMA VISÃO IDEALIZADADE FAMÍLIA: SEM

CONFLITOS?A família é um espaço para garantia do direito a cui-

dados, proteção, afeto, para o desenvolvimento da socia-bilidade. Mas é também espaço de disputas e conflitos,como em qualquer agrupamento humano e em qualquerinstituição. Assim, é preciso refletir e rever a visão deque família feliz é aquela sem conflitos. Isso significadesconstruir a idéia de que “família ideal” é aquela sembrigas e sem discussões. Essa visão idealizada de famí-lia acha-se disseminada na sociedade, está em todos osagrupamentos sociais e aparece, também, entre os jo-vens que cumprem medidas socioeducativas.

Em pesquisa realizada com adolescentes envolvidosem atos infracionais, ao perguntar como gostariam quefossem suas famílias, apareceram, entre outras, respos-tas que apontam nessa direção, como: “Eu queria quefosse uma família unida, não houvesse briga, todo mun-do fosse normal como esse pessoal aí…” (Assis, 1999,p.60).

Essa visão de família expressa uma visão de conflitoreduzido a desentendimento e briga. Expressa, também,a dificuldade da sociedade em lidar com as diferenças ecom os confrontos de idéias e interesses. Ambos oscasos remetem à tradição autoritária ainda vigente e àpouca prática do diálogo para resolver as questões quepermeiam as relações familiares e sociais.

Conflito pode ser entendido como diferença deidéias, sentimentos e interesses, decorrente de expe-riências diversas de vida, de idades e de característicaspessoais, bem como de lugares ocupados na socieda-de ou em determinado contexto. Assim, aparece, porexemplo, entre pais e filhos (quando divergem por exem-plo sobre o horário de chegar em casa, ou sobre comodevem ser os namoros entre os jovens), entre diretor deescola e alunos (a respeito da disciplina escolar), ou en-tre patrões e empregados. Nesse sentido, está presen-te em todas as relações sociais. O conflito e a forma delidar com ele podem contribuir para relações francas econstrutivas. Estas, por suas vez, implicam respeitar ooutro e o diferente, em reconhecer as contradições ebuscar alternativas que considerem os diversos interes-ses de todos os envolvidos na questão.

A questão, portanto, não é a existência do conflito,mas o modo de lidar com ele.

Uma maneira negativa de lidar com o conflito ocorrequando ele é abafado ou negado. Nem sempre não bri-gar, não discutir, por exemplo na família ou entre namo-rados, pode ser considerado positivo. Essa aparenteharmonia pode indicar uma situação em que não é possí-vel manifestar divergências, seja por imposição externa,mesmo que velada, seja por auto-imposição No entanto,as divergências continuam existindo, mesmo sem seremexpressas, trazendo como conseqüência o empobreci-mento da relação, já que uma parte do que está aconte-cendo não está presente na situação. E, ainda, o risco éque apareçam de forma explosiva e descontrolada.

APROFUNDANDO

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37FAMÍLIA E RELAÇÕES SOCIAIS

apresentados ou idéias registradas na lousa.Oriente-os a explicitar o motivo que gerou oconflito, criando pequenos diálogos ou dandotítulos às suas produções. Reserve tempo.Quando terminarem, cole as produções na folha depapel pardo formando um painel geral. Afixe-o naparede lateral da classe. Oriente-os a observar,livremente, o conjunto das produções por algunsinstantes. Na seqüência, peça a cada grupo queconte para os colegas um pouco da situação querepresentou. Nesse momento, com o propósito deexplorar as idéias contidas no painel, indague sobreas semelhanças e diferenças entre as situaçõesrepresentadas. Pergunte quem são as pessoasenvolvidas, onde ocorreu a situação, quais eram asquestões em jogo, o que estava em disputa...Com base nas falas dos alunos, instigue a discussãodestacando que os conflitos surgem em razão dasdiferentes formas de se olhar uma mesma questãoe se expressam nos interesses e opiniões diversos.Lembre-os que as diferenças de idéias e deopiniões são expressões de experiências eexpectativas de vida, de visões de mundo diversas.É o caso, por exemplo, entre outros, dos chamadosconflitos de gerações, que aparecem nas relaçõesentre adultos e jovens, ou entre pais e filhos aobuscar definir para si próprios alguma questão e,ao mesmo tempo, terem opiniões contraditóriassobre ela. É o que, muitas vezes, acontece entrepais e filhos frente à necessidade de definir ohorário de voltar para casa após alguma atividadede lazer, ou a destinação do dinheiro ganho notrabalho. Importante é identificar as origens dosconflitos, enfatizando que eles remetem para aquestão das diferenças sobre os mais variadosaspectos dos relacionamentos que se dão nointerior da família e das relações sociais.Na continuidade dessas reflexões, peça quelocalizem nas situações criadas como elas sedesenrolaram e qual foi seu desfecho; ou seja,como as pessoas envolvidas no conflitoencaminharam suas divergências? Houveconcordância entre elas, isto é, estavam de comumacordo quanto a solução a adotar? Ou haviadiscordância, não concordavam quanto ao rumo aser dado às suas divergências? Como resolveram aquestão? Quais formas de tratamento adotarampara superar as divergências?

Discuta os comentários feitos, buscando enfatizarque o conflito surge quando há necessidade de setomar decisões ou fazer escolhas conjuntas queresultem em conseqüências para as pessoasenvolvidas na situação. Indague se houve diálogo enegociação em busca de uma alternativa quecontemplasse os interesses de todos os envolvidos;ou imposição de idéias ou opiniões de uma pessoasobre outra, pelo uso da força, do poder ou dacoação.Caso apareçam nas produções ou nas falas dosalunos situações de violência, será então omomento de diferenciá-la de conflito. Para tanto,assinale que ocorre violência quando háextrapolação de limites no modo de lidar com umadeterminada situação. Isso significa que a violênciapode ser explícita ou implícita, apresentando-sepor meio do uso de força física ou moral, ou pormeio de coação ou constrangimento de todaordem. Entre outros exemplos, pode-se lembrarque há violência explícita em situações de surra,espancamento e abuso sexual; e há violênciadissimulada quando, numa relação entre pelomenos duas pessoas, uma não permite que a outraexpresse seus sentimentos, necessidades e desejos;ou mesmo quando uma pessoa busca obter favoressexuais em troca de favorecimentos materiais.Como fechamento dessa atividade, organize aclasse em duplas e proponha que elaborem umahistória em quadrinhos mostrando uma situação deconflito vivida entre pessoas de uma mesmafamília, e que tenha sido resolvida considerando-se: 1) a existência de divergências de idéias ouinteresses entre as pessoas; 2) o processo deconfrontação das idéias ou interesses conflitantes ea busca de um encaminhamento que contemple osdiferentes interesses; e 3) a solução a quechegaram.Organize uma exposição das histórias emquadrinhos. Peça que observem e façamcomentários a respeito. Observe que o conflito estápresente na vida de qualquer família e reflita sobreo modo como o conflito é vivenciado, dependendodo papel que a pessoa ocupa na família, ou o papelque exerce nas relações sociais. Enfatizeexperiências de diálogos que os alunos tenhamtrazido, destacando também as formas alternativasde se enfrentar situações de conflito, diferentes da

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38EDUCAÇÃO E CIDADANIA

A violência no interior da família é uma reali-dade. Portanto, é necessário reconhecer que exis-tem situações em que não se pode falar de con-flito, mas sim de violência nas relações familia-res.

A violência contra crianças e adolescentesesteve sempre presente ao longo da história, temdimensões internacionais e perpassa todas asclasses sociais. Hoje, tem despertado a atençãodas autoridades, exigido posicionamentos e pes-quisas para melhor compreendê-la e enfrentá-la.A questão é complexa, pois a violência decorrede uma multiplicidade de fatores individuais (bio-lógicos e psicológicos) e sociais (econômicos,políticos e culturais.

Pesquisadores apontam que, embora possamocorrer no âmbito das comunidades e das insti-tuições, é significativo o número de abusos oude violência contra crianças e adolescentes co-metidos no âmbito da família – considerada estatanto como as pessoas ligadas à criança por la-ços de sangue quanto as que têm proximidadeou responsabilidade com seus cuidados (Azeve-do e Guerra, 1993).

Violência ou maus-tratos contra crianças eadolescentes são atos únicos ou repetidos queprovocam danos ou prejuízos a seu desenvolvi-mento físico, sexual ou emocional. São conside-rados também violência o abandono e a negli-gencia, entendendo-se esta como falta de cuida-dos, de atenção às necessidades básicas da cri-ança e do adolescente.

Abandono e negligência, muitas vezes, nãodecorrem de rejeição à criança ou falta de aten-ção, mas de situações de extrema vulnerabilida-de econômica ou social. Para muitas famílias,entregar os filhos para uma instituição, creche ouorfanato, ou mesmo aos cuidados de outra famí-lia, pode ser considerado um ato de amor, poracreditarem que em outros contextos poderãoser melhor cuidadas, ter suas necessidades aten-didas, bem como perspectivas de vida e futuro.Isso demonstra mais uma vez a necessidade depolíticas públicas de apoio às famílias nessascondições, as chamadas famílias em situação derisco social.

Outras situações constituem abuso de autori-dade das pessoas responsáveis por cuidar dascrianças e adolescentes e podem afetar seu de-senvolvimento emocional. Considera-se abuso

emocional ou psicológico ações que interfiramdiretamente na auto-estima e no desenvolvimen-to de suas competências sociais, como por exem-plo atos de rejeição, em que não são valorizadassuas experiências e formas de ser; isolamento,em que há impedimento do convívio social; ater-rorizamento, quando é criada uma atmosfera demedo e ameaça; corrupção, em que são coagi-dos ou induzidos a ações anti-sociais.

Como essas situações de violência se expres-sam na família? Por que elas ocorrem?

A educação baseada em castigos corporais,privação de coisas que gosta, isolamento, ocorrecom frequência. Essas formas de agir ainda hojesão consideradas estratégias educacionais paraa formação dos filhos, por parte da sociedade edas famílias. No entanto, como decorrência des-sas concepções é que, muitas vezes, se configu-ram situações de violência –surras, espancamen-tos, humilhações – por abuso de autoridade, pau-tado seja na força física, seja no poder advindodo papel que o agressor ou agressora desempe-nha na família.

No exercício da função educacional, cabe aospais estabelecer proibições e colocar limites paragarantir o bem-estar da criança, adolescente, gru-po familiar e da sociedade. Colocar limites e exer-cer autoridade é uma tarefa complexa, que apre-senta diferentes graus de dificuldade para seuexercício. Por um lado, os limites não são bemaceitos na medida em que implicam contrariarinteresses e cercear desejos. E adolescentescostumam questionar, ou pôr em cheque, a au-toridade dos pais ou responsáveis, pois essa éuma fase em que querem se encaminhar para omundo adulto, mas ainda não sabem como fazê-lo. Na busca de diferenciar-se, de encontrar seupróprio jeito de ser, precisam pensar sobre asnormas e valores que estão colocados e confron-tar-se com o que está estabelecido. Freqüente-mente, não percebem que seus desejos não po-dem ser satisfeitos de imediato ou de forma má-gica, que é necessário uma série de passos paraalcançá-los. Por outro lado, os pais se vêem fren-te ao desafio de estabelecer diferenças entreautoridade e autoritarismo, para não resvalar naviolência.

No autoritarismo, as regras são impostas deforma unilateral, sem deixar claro seu sentido:cabe ao outro cumprir as regras sem questioná-

IOLÊNCIA E COLOCAÇÃO DE LIMITES

APROFUNDANDO

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39FAMÍLIA E RELAÇÕES SOCIAIS

violência. Relacione as várias formas de resolver osconflitos apresentadas nas diversas histórias epergunte o que mudou nelas, segundo o lugar quecada membro da família (pai, mãe, filho, filha, tio,avô etc.) ocupa na história. Questione a idéia deque “família ideal é a família sem conflitos”.Comente as produções identificando situações quecontribuem para a construção de um tipo deconvivência que comporte diferenças e favoreça odesenvolvimento de relações dialogadas entre oscomponentes da família. Realce a importância delidar com a questão da existência de diferenças nasconvivências familiares, pois elas são inevitáveis epodem contribuir para o enriquecimento dasrelações. Anote na lousa as observações econsiderações feitas que apontem para a compreensãode conflito como uma dimensão que está presenteem todo e qualquer relacionamento e que dependedos diversos papéis assumidos pelas pessoas. Peçaque copiem esses registros em seus cadernos.Certifique-se que compreenderam que conflito édiferente de violência; que há vários tipos deconflitos que se desenvolvem em variadoscontextos familiares e sociais. Observe seperceberam que o modo de enfrentar o conflitoimplica conseqüências diversas para as pessoas neleenvolvidas, podendo contribuir para a construçãode relacionamentos onde cada um é respeitado peloseu modo de pensar, sentir e agir – ou podecaminhar para situações de violência.

ATIVIDADEDIÁLOGO E VIOLÊNCIA, DOISJEITOS DE TRATAR O CONFLITOMaterial necessário: ficha 4; papel sulfite;papel pardo; fita crepe.Informe que o tema desta atividade é violência eque refletir sobre ela implica questionar: o que éviolência; quando ocorrem situações de violência;como ela se apresenta no ambiente familiar; quaissuas conseqüências e quais as possibilidades deenfrentá-la e superá-la; e, finalmente, quais asrelações entre autoridade e violência. Assinale quea violência familiar não só é uma realidade, como éum problema grave, pois envolve relações

las. Quando estas não são cumpridas, abre-seespaço para a punição, estabelecida por quemfez as regras, que pode ser desproporcional aofato ocorrido ou mesmo sem relação com ele.

Já a autoridade decorre das experiênciasacumuladas ao longo da vida. Em seu exercí-cio se negociam e se constróem regras con-junta ou coletivamente, levando em conta ooutro e o bem-estar comum. Nesse processonão bastam as palavras: é preciso, sobretudo,que os pais vivenciem experiências de res-peito e consideração pelos filhos e por si pró-prios. Essa prática propicia que pais e filhos secoloquem no lugar do outro e possam abrir mãode seus desejos, na medida em que impliquemdesrespeito ao outro, sem que isso signifiqueque os pais abram mão de seu papel de dizernão e colocar limites, assim como dizer sim,definindo as condições para isso.

Em geral, é do autoritarismo que decorremsituações de violência: quando os pais não res-peitam as diferenças de experiências de vida, oestágio de desenvolvimento de seus filhos ousuas características, seja a pretexto de exercícioda sua função educativa, seja quando não conse-guem estabelecer limites para si próprios.

São situações em que cabe aos filhos colo-car limites, a partir de sua própria postura e debusca de diálogo, dando aos pais possibilida-des de aprender com os filhos. Quando issonão se revela viável, é o momento de buscarapoio de um adulto respeitado pelos membrosda família, um amigo ou parente, ou mesmoum professor, para fazer a mediação do confli-to. No entanto, diante de situações mais gra-ves ou quando essas medidas se revelam inefi-cazes, é necessário buscar ajuda externa, sejana escola, nos Conselhos Tutelares, seja emoutras instituições que atuam contra a violên-cia doméstica

Cabe lembrar que os maus-tratos em famí-lia perpassam todas as classes sociais, mas têmencaminhamentos diferentes em cada uma.Quando ocorrem nas camadas populares, écomum chegarem a manchetes de jornal ou aprogramas de TV, expondo as pessoas de mododesrespeitoso e sensacionalista. São tratadoscomo caso de polícia e passam a fazer parte dasestatísticas de violência. Quando ocorrem nasoutras camadas da sociedade, são encaminha-dos a clínicas particulares, médicos, psiquiatrasou psicólogos. Assim, quando acontecem nasclasses médias e altas, não aparecem, contri-buindo para reforçar a idéia equivocada de queviolência doméstica está presente apenas nossegmentos desfavorecidos da população.

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40EDUCAÇÃO E CIDADANIAalicerçadas em bases afetivas e de autoridade. Adiscussão desse tema é delicada, pela possibilidadede suscitar lembranças de experiências e sentimentosdolorosos. Portanto, deixe claro que o enfoque é emexperiências que conhecem e não em experiênciasque vivenciaram. É importante, também, enfatizarque só refletindo sobre a questão é possível buscaralternativas para seu enfrentamento.Para essa reflexão, inicialmente, os alunos irãodescrever situações vividas como experiências deviolência; identificar e nomear vários tipos deviolência, além de classificá-la segundo suas váriasmodalidades – física, sexual, emocional oupsicológica – para, em seguida, analisar umasituação-problema (ficha 4).Ao iniciar a atividade, organize os alunos emcírculo, distribua folhas de papel sulfite e peça que,individualmente, descrevam uma experiência deviolência que conhecem. Reserve tempo, depoispeça que leiam o que escreveram e pergunte: Comoa violência se expressou? No corpo, nos sentimentos,de que outra forma?. Que conseqüências imaginamque ela tenha deixado, tanto em quem sofreu aviolência quanto em quem praticou? As pessoasainda lembram da violência sofrida?Em seguida, agrupe os exemplos de acordo com otipo de violência que mencionaram, colando-os nopapel pardo, dando um tempo para observarem assituações trazidas.Depois, apresente as diversas classificações deabuso ou violência familiar – física, emocional oupsicológica, sexual; ou negligência e abandono(com base no texto de apoio acima), comparandoos exemplos dados pelos alunos. Estes devem serlevados a perceber os diversos tipos de violência, asdiversas situações desencadeantes e seus efeitosdevastadores.Indague se acham que a violência doméstica temrelação com outros tipos de violência, se necessárioretomando a discussão do item anterior sobreconflito. Indague também em que contextos sociaiseles acham que é possível ocorrer violênciadoméstica. Caso apareça a visão de violênciaocorrendo apenas nas classes populares, questionee informe que, segundo os estudiosos, ela estápresente em todas as classes sociais; aproveite paraassinalar o papel da mídia, contribuindo para a

concepção de que violência ocorre apenas entre aspopulações mais pobres.É importante que eles percebam que há vários tiposde violência e que as pessoas vivem isso dediferentes formas, de acordo com o significado queaquela experiência teve para ela. Assinale que oprimeiro passo para superar a violência é tomarcontato com suas diversas manifestações. Ter clarezaquanto aos seus efeitos, inclusive dentro daspróprias pessoas, evitando que essa violênciainteriorizada seja reproduzida, bem como ajudandoas pessoas vítimas da situação a lidar com ela e assimsuperar suas conseqüências. Informe que essa étambém uma das possibilidades de evitar acontinuidade do processo, pois estudos indicam quegrande parte das pessoas violentas foram, elaspróprias, vítimas de alguma forma de violência.Na seqüência, para fazer distinção entre autoridadee violência, no âmbito doméstico, distribua a ficha4, para que leiam a história Surfista de trem.Peça que, individualmente, respondam às questõespropostas. Reserve tempo. Em seguida, organize aclasse em círculo, pedindo que apresentem asrespostas dadas a cada questão. Explore asrespostas, buscando conhecer as justificativas queapontam para cada atitude presente na história.Na pergunta 1, verifique se os alunos percebem asatitudes de Pedro que apresentam grau crescentede gravidade: faltar à escola, ignorar asrecomendações do pai, surfar no trem. Na 2,investigue como consideram a atitude do pai, se aspreocupações em relação ao filho eram pertinentese se a explosão foi proporcional, ou não, ao ato dofilho. Analise os dados da história que explicam,mas não justificam, a atitude do pai. Discrimine asituação de violência ocasional de uma contínua.Pondere com eles os riscos envolvidos na atitudedo filho: sofrer fraturas, perder partes do corpo,ficar paraplégico e até morrer. Na 3, você podeajudar a distinguir autoridade e violência e asquestões nelas envolvidas, como a necessidade deos pais terem muita clareza quanto a sua atitudeeducacional, de modo a não resvalarem para umapostura violenta.Na questão 4, explore as respostas verificandoquais estão dirigidas à violência e quais àargumentação e ao diálogo. Investigue ainda sebuscariam apoio e de que tipo: junto a uma pessoa

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da família, um adulto amigo, um professor, algumainstituição. Enfatize que a violência representa umponto de ruptura e que, muitas vezes, é necessáriouma pausa, o afastamento das pessoas envolvidas,ou a intermediação de outra pessoa para que apercepção, a consideração dos pontos de vista detodos e o diálogo possam se dar. Discuta com elesem que situações é necessário procurar instituiçõescomo os Conselhos Tutelares e outras voltadas paraassistência às famílias nessas situações.Em seguida, divida a turma em pequenos grupos,para que busquem alternativas diferentes das queos personagens da história adotaram. Reserve tempopara a discussão e apresentação das respostas.Enfatize o recurso ao diálogo no enfrentamento dasdivergências, registrando as principais conclusõesna lousa e orientando para que reescrevam ahistória com o novo final em suas fichas; devemtambém escolher um título para a “nova” história.Caso haja dificuldades de chegarem a um acordonos grupos, utilize a situação como exemplo deconflito, estimulando-os a encontrar alternativas,como estabelecer critérios para a escolha do título,votação, sorteio ou outras. Para finalizar, leia comeles o texto Autoridade e violência, no verso da ficha4, certificando-se que perceberam as diferençasentre autoridade e violência, as responsabilidadesdos envolvidos na situação e que, muitas vezes, sócom apoio externo é possível interromper umprocesso de violência nas relações familiares.Como fechamento da aula, observe se os alunoscompreenderam as várias questões envolvidas naviolência, continuando a considerá-la inaceitável,mas sendo capazes de discriminar a violênciadaqueles que a praticam. Aponte que a sociedadese organiza, seja para estudar, seja para prevenir,seja para tratar a violência, entendendo que aviolência só pode ser eliminada quando aspessoas aprenderem a lidar com as diferenças econflitos, aprenderem a se respeitar e a respeitaro outro, aceitando as divergências como inerentesa qualquer relacionamento e enriquecedoras paraos grupos sociais de que fazem parte.Como fecho, proponha uma reflexão sobreescolhas que fazemos no dia-a-dia (leia para eles opoema Ou isto ou aquilo, de Cecília Meireles, se otiver), enfatizando que a violência é uma escolha –e como tal pode ser evitada.

SUBTEMA 5UM SONHO DEFAMÍLIAÉ claro que a construção da identidade deuma pessoa não se restringe à família. Então,para concluir o estudo deste tema, propomosestender a reflexão para o que está em tornoda família, ou seja, para o contexto socialmais amplo que circunda o jovem, sugerindoalternativas de convívio e de inserção emgrupos de pertença. E, ao final, propomosuma atividade em que os alunos explicitemprojetos futuros quanto à formação de suaspróprias famílias, ou de grupos com os quaisqueiram conviver.

Assim, o intuito do trabalho com este subtemaé propiciar a compreensão de que:

� diante da complexidade das funçõesfamiliares e das transformações por quepassa a sociedade, outras instituiçõessão chamadas a intervir e apoiar asfamílias no exercício de seu papel. Essasituação aponta para asresponsabilidades da sociedade e doEstado em criar programas e serviçosvoltados para as famílias;

� a cultura e a identidade resultam de umprocesso que é tanto individual – oufamiliar – quanto coletivo. Portanto, ossujeitos se fazem e se refazem nasrelações que estabelecem com outraspessoas e/ou grupos sociais;

� quando nascemos, em certo sentido omundo está dado: não escolhemos nossospais nem o contexto social em que vamosviver; no entanto, antecedentesfamiliares ou sociais não justificam todasas nossas condutas atuais: podemosposicionar-nos frente aos mesmos, fazerescolhas e partilhar suas conseqüências.

Assim, espera-se que o aluno se apercebatanto de suas possibilidades de escolha como,também, de que estas implicam diferentesperspectivas de futuro para si próprio, para

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discussão dessas questões. Instigue-os a listar essassituações de dificuldade e refletir por que foramconsideradas problemas. No primeiro cartãodeverão pôr o título “Problema” e listar os principaisproblemas levantados. No segundo (título:“Encaminhamentos”), como esses problemaspoderiam ser enfrentados, procurando seja o apoiode familiares ou de pessoas da comunidade. Noterceiro (título: “Instituições”), deverão indicar asinstituições às quais as famílias poderiam recorrerpara enfrentar seus problemas e por quê. (Se houverna classe alunos que tenham estudado o móduloJustiça, lembre-os que, para alguns dessesproblemas, poderiam recorrer às instituições listadasna ficha 4C, que devem ter em seu portfólio).Após a discussão nos grupos e registros noscartões, afixe-os no papel pardo para que possamser observados por todos. Discuta item por item,indagando por que os problemas assinalados foramassim considerados, quais as alternativas deenfrentamento propostas, que apoios forampensados e com que intuito. Compare as respostasprocurando enfatizar aquelas que buscaram ouencontraram ajudas efetivas. Enfatize aimportância da iniciativa das próprias pessoasenvolvidas na procura de alternativas para oenfrentamento das suas dificuldades, deixandoclaro que tanto os alunos quanto suas famílias têmdireito a ter direitos. Nesse sentido, faça referênciaao subtema 3, em que foram discutidos artigos daConstituição e do ECA sobre o assunto.No fechamento da atividade, certifique-se de queos alunos perceberam que as tarefas da família nãosão exclusivamente dela e que há necessidade deuma rede de apoio institucional, público ouprivado, para ajudá-la no desenvolvimento de suasfunções. Verifique também se compreenderam queas dificuldades das famílias que conhecem têmformas alternativas de serem enfrentadas.

ATIVIDADEVIVER, SONHAR ETRANSFORMAR EM REALIDADEMaterial necessário: ficha 5; papel sulfite;papel pardo; revistas velhas; cola; sucata; canetashidrocor; pincel atômico; tesoura, fita crepe.

sua família atual ou a que vai constituir, epara sujeitos ou grupos sociais com os quaisse relaciona.

Para realizar esse estudo, o presente subtemaacha-se pois dividido nos seguintes itens:

Redes de apoio – Atividade: Redes deapoio.

Experiências alternativas de vidacultural – Atividades: Viver, sonhar etransformar a realidade – ficha 5,A nova cara do rap, e verso, Entrevistacom MV Bill.

Projeto de vida – Atividade: Um sonhode família.

ATIVIDADEAPOIO ÀS FAMÍLIASMaterial necessário: papel sulfite, papel pardo,folhas de cartolina em três cores; tesoura, canetashidrocor, fita crepe.Inicialmente, assinale que esta é a última aula domódulo Famílias e Relações Sociais. Assim, combinecom os alunos o tempo que terão para odesenvolvimento das atividades propostas, comoforma de garantir sua execução e a discussãosubseqüente.O objetivo da atividade inicial é levantar com osjovens quais são as dificuldades enfrentadas pelasfamílias que conhecem e discernir asresponsabilidades individuais e coletivas, delespróprios, da família, da comunidade e do Estadonesse enfrentamento.Comece a aula perguntando se as famílias queconhecem apresentam dificuldades para dar contade suas responsabilidades, se não precisam dealgum tipo de apoio, por exemplo, de alguém paraencarregar-se de crianças menores enquanto a mãevai trabalhar. Diga-lhes que terão de pensar quaissão os problemas, como poderiam ser enfrentadose que grupos ou instituições poderiam contribuirnesse processo (no caso, creche).Para isso, divida a turma em grupos e distribua trêscartões de cores diferentes (recortados da folha decartolina) para cada grupo fazer anotações, após

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EDES DE APOIOFamílias precisam de apoio? De que tipo de apoio

precisam? Se considerarmos o ECA, vemos que as fun-ções da família, em relação às crianças e adolescen-tes, não são de sua responsabilidade exclusiva, masdevem ser partilhadas pelo Estado e pela sociedade.Na prática, isso é tanto mais claro quando uma únicapessoa, na maioria das vezes a mulher, acumula essasresponsabilidades.

As mudanças nas formas de organização familiar,já estudadas, implicam também alterações de suas fun-ções; seus integrantes se vêem na contingência dedescobrir ou reconstruir seus papéis, bem como omodo de exercê-los. Além disso, a própria família de-fronta-se com a necessidade de redefinir e valorizar suaidentidade, já tão diversa da família nuclear – modelovalorizado socialmente pela elite dominante. E essatarefa precisa ser enfrentada tanto no âmbito individu-al e privado quanto no âmbito coletivo e público.

Essas questões perpassem todas as classes soci-ais. No entanto, as famílias das camadas popularesexperimentam tais transformações como desafios, jáque suas dificuldades são potencializadas em razão dainjustiça e desigualdade que marcam nossa sociedadee se refletem no acesso desigual a bens e serviços.

Diante disso, cabe ao Estado e à sociedade desen-volver e implantar programas e projetos, em númerosuficiente e com serviços de qualidade, para apoiar asfamílias e seus membros no exercício de suas funções.Exemplos de tais formas de intervenção, entre outros,são:� creches e escolas tradicionalmente exercem fun-

ção complementar à família; no entanto, destas seexige repensar seus papéis, buscando uma atua-ção mais integrada aos grupos familiares e à co-munidade, inclusive porque é sabido que há signifi-cativa melhora no desempenho dos alunos (e redu-ção das taxas de evasão escolar) quando isso acon-tece;

� programas de apoio e assistência às famílias e seusmembros em todas as etapas de vida, ou em situ-ações específicas (como nos casos de violênciafamiliar), desenvolvidos em centros de saúde oucomunitários;

� programas de geração de renda para adultos, debolsa-escola para a família e similares;

� centros esportivos e culturais, espaços de lazer,escolas profissionalizantes são espaços de socia-lização, de troca de experiências culturais, de prepa-ração para o exercício de outras funções sociais; sãoespaços em que os jovens têm acesso a outros con-textos culturais, que apontam perspectivas diversasde construção de identidade coletiva.Certamente, esses e outros espaços e instituições

alcançam tanto melhores resultados quanto propicia-rem a ativa participação das pessoas envolvidas e seestiverem articulados e integrados, formando uma efe-tiva rede de apoio.

Esta atividade tem por objetivo levantar com osalunos experiências que possibilitem promoção daauto-estima e valorização de suas histórias econtextos sociais, propiciando que, a partir daí,vislumbrem alternativas de vida. Tais experiênciaspodem ser as de grupos de convívio ou lazer deque participaram, que podem indicar aspectos atéagora não apropriados por eles; ou pode ser quealguns tenham vivenciado ou tido contato comoutros grupos ou movimentos sociais, políticos,sindicais, em lutas por moradia, creche, atividadesde partidos políticos, grêmio escolar ou gruposmusicais.Considere que provavelmente muitos dos alunosviveram recentemente suas primeiras experiênciasde infração. Assim, para esses e, também paraaqueles com maior experiência em infracão, éimportante recuperar vivências que apontem outrasperspectivas e possibilidades de vida.Para desenvolver a atividade, organize a classe emcírculo e inicie uma conversa exploratória,lembrando que, além da família, as pessoascostumam freqüentar outros grupos deconvivência, de lazer ou de atividades esportivas,culturais ou políticas, e que você quer conhecer umpouco mais sobre a vida deles e da comunidade emque viviam, das atividades que gostavam de fazer ecomo, ou das que gostariam de fazer.Divida a sala em pequenos grupos e apresente paracada grupo folhas de papel pardo, revistas e omaterial necessário para produzirem três colagens:� na primeira, devem apresentar coisas que

gostam ou gostariam de fazer: atividades delazer, culturais ou de mobilização, queconhecem ou que acham importantes;

� na segunda, devem apresentar como é acomunidade em que viviam e que coisas queconsideram importantes aconteciam;

� na terceira, como deveria ser essa comunidadepara propiciar condições de realização daquiloque consideram importante.

Após a apresentação das colagens dos grupos ecomentários gerais, proponha fazerem pontes entrea segunda e a terceira colagens, isto é, acomunidade em que viviam e a que consideramideal. Distribua pequenas fichas (papel sulfite

APROFUNDANDO

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44EDUCAÇÃO E CIDADANIA

XPERIÊNCIAS ALTERNATIVAS DE VIDA CULTURALComo a família e o jovem estão inseridos socialmente?

A quais formas de divertimento e lazer os jovens têm aces-so (esportes, festas, outras)? Quais são os espaços de ati-vidades culturais e de sociabilidade que conhecem – gru-pos de música e dança, organizações locais e comunitá-rias, associações de bairro, de favelas? Quais são as redesde apoio que vão constituindo, com base nessas espaçosou instituições?

Trabalhar essas questões com os jovens é importante porser a adolescência um momento de emergência das contradi-ções em relação ao grupo familiar e da busca de maior auto-nomia, de outros valores, de outros modelos identificatórios ede alternativas de inserção social. Nessa fase, “o adolescenteincorpora, desenvolve e transforma esses valores na buscade seus próprios modelos, no desejo de encontrar seu pró-prio modo de ser, pensar e viver” (Levisky, 1997, p.23).

Práticas culturais como a participação em banda musi-cal, grupo de pagode, teatro amador, entre outras, têm cons-tituído alternativas tanto mais válidas quanto pioram as con-dições de vida de certos grupos sociais, em decorrência depolíticas governamentais que, principalmente a partir dosanos 90, vêm acirrando o processo de exclusão social – me-diante a pauperização dos benefícios sociais a que eles têmdireito – e contribuído para empurrar jovens para o campoda violência, do tráfico de drogas e da vida infracional.

Essas iniciativas, ao lado de escassos centros de cultu-ra, educação, esportes e lazer, aparecem como resistênciaàs políticas excludentes. A carência de espaços culturais eesportivos é registrada, por exemplo, na canção Fim de se-mana no parque, dos Racionais MCs (1993): “o investimen-to no lazer é muito escasso”; a canção fala da ausência deespaços de convivência “para a molecada freqüentar”. Naletra de Paratodos, de Chico Buarque (analisada quandoestudamos o primeiro subtema), a música aparece comoum “remédio” contra os males sociais. Já nessa canção dosRacionais MCs, são os espaços culturais que adquirem ocaráter de antídoto para os riscos que espreitam “a cadaesquina” e que aparecem representados pela bebida, dro-gas e situações de violência na cidade.

Dentre as iniciativas culturais dos jovens, esparsas epor vezes inconstantes, destaca-se o hip hop, movimentosocial surgido nos anos 80 na cidade de São Paulo, que temse constituído em espaço de sociabilidade e de afirmaçãode identidades de parcelas cada vez maiores de jovens daperiferia. De uma maneira geral, os jovens que integram omovimento hip hop são descendentes das gerações quese fixaram na periferia da cidade nos anos 70, momentoem que esta se afirmava como grande pólo de atração demão-de-obra. Assim, é nos espaços afastados do centro dacidade – como Capela do Socorro e Parelheiros, na ZonaSul, Ermelino Matarazzo, São Miguel Paulista e Perus-Piritu-ba, nas Zonas Leste e Oeste, e Casa Verde, na Zona Norte –que se formam e constituem a maioria dos grupos de rapque compõem o movimento hip hop paulistano.

Junto com a dança break e o grafite, o rap é, senão aprincipal expressão, pelo menos a linguagem de maior visi-bilidade do movimento hip hop. O rap é uma forma de leituracrítica do mundo e do estar-no-mundo, isto é, da realidadesocial onde os jovens da periferia, sobretudo pobres e ne-gros, estão inseridos. Suas letras, à medida que apontam ascontradições e desigualdades sociais presentes na socieda-

de, assumem um caráter de denúncia. Uma característicasignificativa do rap é a que diz respeito à transformação dasvivências de rua em ritmo e poesia: todo um conhecimentoé mobilizado nesse processo de criação, sem que seja frutode aprendizado formal, mas da tradição oral.

O rap, o break, o grafite, formas artísticas do hip hop,praticados principalmente nos espaços públicos, têm rece-bido atenção e adesão crescentes de parte da populaçãopobre, independente da cor, seja como forma de se apro-priar da cidade, seja como modo de externar opinião sobrea precariedade da vida nos bairros da periferia. Em ambosos casos, deixam transparecer a clara intenção do hip hopde criar identidades firmadas pela prática dos jovens decompartilhar experiências e saberes aprendidos e apreen-didos na vivência de rua, em festas e bailes. O que significao rap, senão a transformação de experiências e vivênciasdos jovens da periferia em poesia e canção? Nisso consisteo novo trazido pelo rap, qual seja, o de dar forma artísticaàs experiências de vida e às visões de sociedade e de mun-do das populações pobres.

O rap é uma forma de os jovens olharem para a socie-dade, tanto quanto de sistematizarem conhecimento sobresuas vivências. E, ao transformar esse olhar e esse conhe-cimento em poesia musicada, gravando-a em fita demo ouCD, estão socializando suas experiências, criando oportuni-dade para que os “manos” de outras partes da cidade pos-sam não só se identificar com a linguagem, mas tambémestabelecer aproximações com seus modos de viver e dese expressar. Nesse aspecto, o hip hop (re)atualiza uma prá-tica das populações pobres e negras de fazerem uso darua, desde meados do século XIX, como espaço de subsis-tência e de sobrevivência. Dessa troca de experiências einformações musicais pautada em suas próprias práticas éque vão nascendo os grupos de rap e, com eles, espaçosde convivência e de apoio mútuo. É o caso, por exemplo,das chamadas “posses”, organizações de grupos de rap quese encontram para trocar idéias, discos, livros, revistas, tex-tos e mesmo instrumentos musicais. As posses são tam-bém espaços para apoio material, seja para a organizaçãode bailes, seja para o empréstimo de dinheiro para a produ-ção de CD ou fita demo ou, ainda, para a permuta e em-préstimo de equipamento de som.

Assim, em suas apresentações, quando um grupo fazreferência a seu local de origem – como, “Salve os mano deParelheiros!” – está ao mesmo tempo indicando a fonte daestrutura material com a qual pode contar, retribuindo pu-blicamente a ajuda recebida, ou ainda divulgando a existên-cia de outros grupos de rap e de suas respectivas posses.Isso tem o sentido de afirmar identidade, legitimar expe-riências e criar laços de solidariedade entre jovens que vi-vem sob mesmas condições sociais em diferentes regiõesda cidade paulistana.

Preocupados com a questão da responsabilidade so-cial de seus atos e buscando fortalecer laços de identidadee de sentimento de pertença, alguns grupos de rap têmprocurado dar um retorno aos manos, seus iguais, tambémna forma de realização de palestras para jovens, feitas emescolas, associações de bairro ou centros comunitários.

Essas práticas são algumas das estratégias construí-das pelos grupos de rap para se manterem articulados efirmar e reafirmar seus compromissos sociais.

APROFUNDANDO

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45FAMÍLIA E RELAÇÕES SOCIAIS

cortado ao meio) para escreverem o que falta auma para transformar-se na outra.Ao debater as respostas das fichas, relembrandoque o acesso a cultura e lazer é um direito deles,destaque as responsabilidades individuais, dacomunidade e do governo para garantia dosdireitos. Mostrando como se articulam essasresponsabilidades, enfatize que muitas vezes énecessário um grande esforço coletivo para instalar,por exemplo, melhorias no bairro.Apresente em seguida a ficha 5, com umareportagem sobre o movimento hip hop em SãoPaulo, em cujo verso vem uma entrevista com orapper MV Bill, do Rio de Janeiro. Leia com elesambos os textos. Dê um tempo para nova leitura,pedindo, então, para responderem individualmenteas questões ali propostas. Quando todos tiveremterminado, divida a sala em dois grupos. Cadagrupo deverá discutir um dos textos e apresentaras conclusões a que chegaram para o restante dasala.Na discussão do texto A nova cara do rap, indaguese já tiveram contato com o movimento hip hop ecomo. Pergunte se acham que os primeirosparticipantes do movimento tinham idéia daimportância que o hip hop alcançaria. Perguntetambém o que acham do movimento hoje ter umpúblico que não está restrito à periferia, indagandosobre a importância que atribuem às posses, àssaudações aos manos e às atitudes dos artistas quedesenvolvem trabalhos na periferia. Ajude-os nessadiscussão relendo os trechos que abordam essasquestões e apontando como essas atitudesimplicam estabelecer redes de solidariedade eapoio com base em suas próprias experiências.Anote as principais conclusões na lousa e peça paraque registrem nos seus cadernos.Na discussão da entrevista com o rapper MV Bill,indague sobre os motivos (que imaginam e os quepodem depreender da entrevista), que levaramMV Bill a seguir um caminho diferente dos seuscolegas da favela.No fechamento da atividade, certifique-se que elesperceberam: a importância do hip hop hoje, queextrapola a população da periferia; o tempo e oesforço que levou para se constituir em ummovimento de proporções maiores; os aspectos de

solidariedade e apoio nele presentes. Certifique-se,também, que compreenderam as possibilidades deseguir caminhos diferentes daqueles seguidos porgrande parte das crianças e jovens e da questão dasescolhas implicadas nas decisões que tomamos.Enfatize na entrevista do rapper MV Bill aimportância que este dá à participação de todos osenvolvidos (o próprio jovem, a família, o governo)para a escolha de outras alternativas de vida.

ATIVIDADEPROJETO DE VIDA:UM SONHO DE FAMÍLIAMaterial necessário: papel sulfite; papel pardo;revistas velhas; cola; sucatas; canetas hidrocor;pincel atômico; fita crepe; tesoura.Nesta atividade os jovens deverão refletirsobre as responsabilidades e possibilidades deescolha no processo de viver, focalizando a famíliaou outro grupo de convivência que gostariam deconstruir.Para o desenvolvimento da atividade, organize aclasse em grupos, orientando para que cada grupoescolha um tipo de música (rap, samba, pagode,chorinho ou outro), de expressão corporal (dança,teatro, mímica, break) ou gráfica (desenho,colagem, grafite...), para expressar o que seriapara eles um sonho de família. Oriente-os a incluirno sonho como seriam as famílias ou grupos,quem faria ou poderia fazer parte, como iriamsobreviver, se divertir, o que valorizariam; asresponsabilidades individuais e coletivas noprocesso de viver; quais projetos realizariamcoletivamente ou idealizariam para seu futuro; ecomo se relacionariam com o contexto socialonde se inserem (vizinhos, bairro, autoridades,instituições).Marque um tempo para completarem suaprodução e, quando estiverem prontas, cada grupoapresenta a sua para a classe. Durante oscomentários gerais, enfatize que na família queconstituímos é possível definir o tipo de relaçãoque vamos oferecer para nós e nossos filhos.Destaque, assim, a importância das escolhas emcada momento da vida.

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46EDUCAÇÃO E CIDADANIAFinalmente, proponha uma reflexão coletiva quesintetize o caminho percorrido ao longo dessescinco encontros. Você pode sugerir ao grupo aconstrução de um rap que contemple as idéiasprincipais abordadas neste módulo. E, também,que pensem sobre a seguinte frase que se encontrana reportagem da ficha 5, no final da entrevistacom o rapper Xis:

… Para quem teme que isso seja perda deidentidade hip hop no rap (...), Xis tem a respostana ponta da língua: (...) “Se as pessoasconseguirem fazer um bom trabalho, da hora. Seconseguirem tirar disso um retorno para a periferiae para a comunidade, acho muito louco. Ninguémvive de mensagem e de conselho. A gente vive demudança. E as coisas mudam”.

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47FAMÍLIA E RELAÇÕES SOCIAIS

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Todos os textos e imagens de terceiros são aqui reproduzidos com a expressa autorização de seus autores ou de seusrepresentantes legais.O Cenpec e as autoras agradecem a gentil cessão de direito de uso dos textos e/ou imagens de Aracy Lopes da Silva,Chico Buarque, Folha de S. Paulo, Matari Kayabi e MV Bill.A foto à p.58 foi reproduzida sem má-fé ou intenção de ofender os direitos do fotógrafo Claude Duménil, que não pôde ser localizado.

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Origem da família deum compositor popularLeia com atenção os versos desta canção. Depois, responda as questões sugeridas.

ParatodosChico Buarque

O meu pai era paulistaMeu avô, pernambucanoO meu bisavô, mineiroMeu tataravô, baianoMeu maestro soberanoFoi Antonio Brasileiro

Foi Antonio BrasileiroQuem soprou esta toadaQue cobri de redondilhasPra seguir minha jornadaE com a vista enevoadaVer o inferno e maravilhas

Nessas tortuosas trilhasA viola me redimeCreia, ilustre cavalheiroContra fel, moléstia, crimeUse Dorival CaymmiVá de Jackson do Pandeiro

Vi cidades, vi dinheiroBandoleiros, vi hospíciosMoças feito passarinhoAvoando de edifíciosFume Ari, cheire ViníciusBeba Nelson Cavaquinho

Para um coração mesquinhoContra a solidão agresteLuiz Gonzaga é tiro certoPixinguinha é incontesteTome Noel, Cartola, OrestesCaetano e João Gilberto

Viva Erasmo, Bem, RobertoGil, Hermeto, palmas paraTodos os instrumentistasSalve Edu, Bituca, NaraGal, Bethânia, Rita, ClaraEvoé, jovens à vista

O meu pai era paulistaMeu avô, pernambucanoO meu bisavô, mineiroMeu tataravô, baianoVou na estrada há muitos anosSou um artista brasileiro.Extraído do CD Paratodos (Buarque deHolanda, 1993)

Chico Buarque de Holanda é cantor e compositor, nascido no Rio deJaneiro em 1944, em uma família tradicional onde o pai era historiador.Era estudante e tinha por volta de 18 anos quando começou a compormúsicas e apresentá-las em bares freqüentados por amigos e colegas.Em 1966, participou do I Festival de Música Popular Brasileira promovidopela TV Record, conseguindo o primeiro lugar com a canção A banda.É autor de grande quantidade de músicas, várias das quais fazem partede trilhas sonoras de filmes (Bye, Bye, Brasil, Ópera do Malandro etc.)ou de espetáculos de dança (O grande circo místico), peças teatrais(como Calabar, Roda viva) e de livros (Estorvo, Fazenda Modelo).

NOME DATA

FICHA 1AFAMÍLIA E RELAÇÕES SOCIAIS

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Conversa sobre o textoLeia atentamente a letra da música e procure esclarecer,com os colegas ou o professor, possíveis dúvidas que ela desperte.Depois, responda.

� Quais são as figuras de parentesco que aparecem na música?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

� Quais origens familiares são indicadas? O que isso significa?_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

� Quantas gerações estão aí representadas, para além da geração do próprio Chico?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

� Quanto tempo estaria representado nessas gerações de parentes que sãomencionados em Paratodos?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

� O autor menciona apenas a família de sangue, de seus parentes? Na sua opinião, oque você acha que Chico Buarque quis dizer com essa música? Qual mensagemele procurou passar?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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FICHA 1A VERSOFAMÍLIA E RELAÇÕES SOCIAIS

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NOME DATA

Convivendo com diversas origens familiaresObserve o mapa e siga as orientações abaixo para seu preenchimento. Se necessário,consulte o mapa que está afixado na parede da sala de aula.

� Escolha uma cor e pinte oestado onde você nasceu.

� Com outra cor, pinte o estadode onde veio uma pessoa dasua família (pai, mãe, avô, avó,tio, tia, outro parente etc.). Sequiser, trace uma linha ligandoos dois.

� Preencha a legenda com asmesmas cores que tiver usadopara pintar os estados.

PE PBRN

AL

AM

APRR

MTRO

AC

PAMA

SE

GO

CE

DF

TO

PI

BA

MS

RJ

MGES

RS

SC

PR

SP

Em sala de aula, com fios e alfinetes, vocês traçaram linhas indicando de onde suasfamílias vieram.

� Faça um comentário sobre o jeito como o mapa ficou, e o que isso revela sobre aorigem de suas famílias.____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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LEGENDAESTADO ONDENASCIESTADO DE ONDEVEIO ALGUÉM DAMINHA FAMÍLIA

EDUCAÇÃOE CIDADANIA

FICHA 1BFAMÍLIA E RELAÇÕES SOCIAIS

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Composta não só de marido, mulher efilhos, a família patriarcal incluíatambém parentes, padrinhos,afilhados, amigos, dependentes e ex-escravos. Daí também ser chamada defamília extensa. Nela, a figura centralera o patriarca.O patriarca era o grande senhor deengenho, proprietário de imensasquantidades de terras, base de toda aeconomia colonial: nela se produziacana-de-açúcar, cacau ou café, porexemplo. Todos os membros eagregados da família estavamsubmetidos à autoridade do patriarca,a quem prestavam obediência erespeito. Ele era temido: o poder econtrole dele sobre as terras, as casase os escravos estendia-se também à

vida dos familiares e agregados,inclusive às propriedades de suamulher e filhos. Na casa-grande, opatriarca – que, para os outros, podiaser o pai, o avô, o sogro ou o amigo –educava os filhos e netos, que jáaprendiam a mandar desde pequenos,preparando-se para ser os futurosdirigentes do país.Na família patriarcal, cada um tinhaseu lugar, definido com base nasrelações de mando e obediência. Aunidade familiar precisava ser mantidaa todo custo: era uma forma demanter inteira a riqueza, que era abase do poder e da autoridade dopatriarca; daí serem comuns oscasamentos entre parentes, para nãodividir a riqueza entre outras famílias.

Barão Ataliba Nogueira e família – Fazenda Santa Úrsula, Jaguariúna, SP, 1900

Fonte

: Nos

so Sé

culo

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l Cult

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Família patriarcalNOME DATA

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FICHA 2AFAMÍLIA E RELAÇÕES SOCIAIS

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NOME DATA

Conversa sobre as gravurasOlhe com atenção as gravuras e,em cada uma, observe os seguintesaspectos:

Famílias escravas

Interior de umacasa do baixopovo. 1820.Gravura de Joaquim CandidoGuillobel (Extraída do livro deCarlos Moura, A travessia daCalunga Grande, 2000, p.323)

Habitation de Nègres(Casa de negros). 1835.

Gravura de John Moritz Rugendas.Biblioteca Nacional

� O lugar onde as pessoas estão, as características (internas e externas) do local.� O que as pessoas estão fazendo.� O número de componentes de cada família.� As gerações que estão representadas.

Verifique também:� Se há alguma figura central na gravura.� Como as pessoas adultas estão vestidas.� A posição ou localização das crianças.� Como as crianças estão vestidas, o que estão fazendo.

Agora, escreva uma frase comparando as famílias patriarcal e escrava.____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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Leia atentamente esse interessante texto sobre famílias escravas.

ALFORRIA, UMA DAS MANEIRAS DE CONQUISTARA LIBERDADE

Agora, com base no texto e no que foi discutido sobre a família escrava, leia asfrases abaixo e debata com a classe, pensando quais correspondem ao que jáaprenderam.1 Os negros só conseguiam a liberdade fugindo.2 Nas famílias escravas, os filhos não valorizavam suas mães.3 Os escravos usavam todas as brechas possíveis para mudar a terrível injustiça de sua condição.4 A alforria era uma lei que dava liberdade aos escravos.5 Tanto a alforria quanto a fuga, no caso dos escravos, eram formas legítimas de enfrentar asituação injusta em que viviam.6 Os escravos libertos usavam o testamento e a alforria como formas de reconstituir suas famíliasou de estabelecer laços de solidariedade com pessoas que não eram parentes.Anote abaixo os números das frases com que vocês concordaram e registre asconclusões a que a classe chegou.____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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Na sociedade escravista, a alforria era uma dasmaneiras de o escravo conquistar a liberdade. Vemdaí a expressão “negro forro”: “liberto” ou “forro”era em geral aquele que recebia sua alforria. Osescravos podiam comprar sua liberdade, ou recebê-la sem pagamento em dinheiro, seja pelotestamento dos senhores, ou quando um senhor aconcedia espontaneamente, às vezes mediante umacordo de que o escravo continuasse prestandoserviço para ele por alguns anos ou até sua morte.Em certos casos, os negros e negras compravam aliberdade pagando prestações, em prazos quevariavam de quatro a seis anos. Na verdade, só osescravos que exerciam algum ofício (barbeiro,marceneiro), os chamados “de ganho”, ou osdomésticos tinham acesso a dinheiro pois,mediante acordo verbal com seus senhores,entregavam-lhes um valor combinado por dia oupor semana, do que obtinham por seu trabalho, eficavam com o eventual restante.Mesmo quando a alforria era concedida, em vez decomprada, a idéia principal – a da liberdade comoconquista – ficava preservada. Afinal, para recebera liberdade como legado em um testamento, porexemplo, o escravo devia ter feito algum tipo denegociação com seu senhor, ao longo de bastantetempo em que esteve a seu serviço.A liberdade costumava ser garantida em umdocumento escrito, assinado pelo senhor, que era

registrado em cartório na presença de testemunhas.No entanto, em termos jurídicos, a alforria nuncaconstou de uma lei. A liberdade conseguida (pelacarta de alforria ou testamento) assumia caráterlegal por meio do direito costumeiro, dentro dasrelações sociais da escravidão.Em muitos casos, a alforria resultava de uma amplarede de solidariedade. Grupos de negros se cotizavampara comprar a liberdade de um companheiro. Nasfamílias escravas, filhos libertos empenhavam-separa pagar a liberdade de mães, pais ou irmãosmenores. Houve mesmo casos em que filhos libertos,em vez de pagar a liberdade das mães, compravamo direito de propriedade sobre elas – criandosituações paradoxais de filhos (ex-escravos) queeram “donos” de suas próprias mães. Estranho?Pode ser, mas essa era uma estratégia para livrar amãe da exploração do seu antigo senhor.A compra ou obtenção da alforria, entretanto, eraapenas uma das maneiras de conquistar a liberdade.Os escravos resistiam à dominação dos senhoresdas mais variadas formas, desde fazer “corpo-mole”até fugir para os quilombos. Os quilombos eramaldeamentos escondidos de negros, onde tentavamrecriar as condições de sua África natal: faziam usocomum da terra e divisão igualitária dos produtosdo roçado, da caça e da pesca. Tentavam reconstituirsuas famílias, organizavam-se com leis próprias,buscando assim recuperar sua identidade e cultura.

EDUCAÇÃOE CIDADANIA

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FICHA 2B VERSOFAMÍLIA E RELAÇÕES SOCIAIS

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NOME DATA

Famílias indígenasObserve as datas de publicação dos textos a seguir: estes textos – depoimento de umindígena e a descrição de uma aldeia – são atuais. Veja como Matari Kayabi, índio de umadas tribos do Parque Indígena do Xingu, fala sobre vários aspectos da sua vida e dosdemais membros de sua tribo.

Na aldeia todos somosuma família unida,comemos todos juntos e acomida é feita para todos.

Trabalhamos todos juntos, todosalegres; todos sabemos pescar, caçare ninguém fala mal dos outros.Quando chega um visitante,recebemos com alegria, oferecemoscomida – se tiver e se ele nãoestranhar.Fazemos artesanato: cocar, colar,borduna, arco, flecha, peneira,abanador, vassoura, cesto, banco etc.Temos plantações de mandioca, milho,

cará, amendoim, banana, batata,feijão-fava, mamão, arroz, etc.As nossas casas são cobertas depalha, com paredes de pindaíba.Todos os finais de semana têmreuniãozinha: comemos bichos,peixes com farinha, beiju, bebemosmingau de milho, de mandioca, debatata, de banana e de arroz.Os pais aconselham os filhos,ensinam a estudar e arespeitar.Os velhos contamhistórias passadas.(Extraído de Geografia indígena, Brasil, 1996, p.34)

VOCABULÁRIOCocar: coroa de penas.Pindaíba: corda feita depalha de coqueiro.Beiju: alimento indígenaà base de farinha demandioca umedecida,preparado numachapa de cerâmicasobre o fogo.Conversa sobre o texto� O que os membros da tribo Kayabi fazem para garantir sua sobrevivência?� Como as pessoas idosas da tribo se relacionam com os mais jovens?� Como os Kayabi fazem para se divertir?� Destaque um dos aspectos que você mais gostou de saber sobre a vida dos Kayabi

e justifique sua escolha.____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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FICHA 2CFAMÍLIA E RELAÇÕES SOCIAIS

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Veja agora um trecho da descrição de uma aldeia Kayapó, pela antropóloga LuxVidal:

Considerando o texto acima, responda:� Como os Kayapó se organizam?

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

� O que é considerado responsabilidade masculina?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

� O que é considerado responsabilidade feminina?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

� Como você compararia os papéis femininos e masculinos nas sociedadesindigenas e em nossa sociedade atual?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

No centro do pátio da aldeia [Kayapó] sereúne o conselho dos homens e sedesenvolvem os rituais e a vida públicaem geral. O símbolo do centro do mundoé o maracá, instrumento musical, redondoe em forma de cabeça, ao som do qual osíndios cantam e dançam, seguindo umtraçado circular e que acompanha atrajetória solar, desde o pôr-do-sol até oamanhecer. (...) O espaço doméstico efeminino é constituído por um círculo deunidades residenciais, as casas, de ondese pode observar a aldeia, mas não servisto; é um espaço privado onde ninguémentra sem ser convidado, e onde sediscutem e resolvem os assuntosprivados da comunidade. As mulheres sãotambém as guardiãs dos nomes de todos

os ornamentos, que lhes pertencem porherança.Na comunidade Kayapó, homens emulheres desempenham suas atividadesem dois grupos independentes,espacialmente separados. A casa doshomens é o lugar onde estes se reúnempara discutir e preparar suas tarefascotidianas; é também o local ondefabricam seus artefatos e a parafernáliaritual. As mulheres, por sua vez (...) seocupam de suas conversas e suasatividades; a cada oito dias, dedicam-seexclusivamente à pintura corporal coletiva,em um espaço específico, o alpendre dacasa da esposa do chefe.(Extraído de Silva & Grupioni, 1995, p.386-7)

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FICHA 2C VERSOFAMÍLIA E RELAÇÕES SOCIAIS

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NOME DATA

1 Agora, veja os desenhos abaixo. Você conhece o nome de algumas figurasgeométricas? Sabe os nomes das figuras abaixo?

Novamente, observe os desenhos feitos por você e peloscolegas e verifique:

� Quais dessas formas aparecem nos desenhos?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

� Qual a que mais aparece nos desenhos? E a menos freqüente? Desenhe-as edescreva-as.

� Usando a régua e a malha pontilhada da frente da ficha 2E, experimente desenharpolígonos com 5, 6, 7, 8, 9 e 10 lados.2 Usando a malha do verso da ficha 2E:

� Desenhe um polígono com todos os lados da mesma medida.� Desenhe dois retângulos diferentes que tenham, em seu interior, o mesmo número

de quadradinhos.� Desenhe também dois retângulos diferentes, cujo contorno total tenha o mesmo

comprimento.� Se houver mais papel quadriculado, você pode também tentar desenhar um

quadrado e um retângulo que tenham o mesmo contorno total.

A forma de minha casaVocê fez um desenho representando a casa onde você mora com seus familiares.No seu grupo de colegas, observe os desenhos feitos por você e por eles e compare-os,indicando semelhanças e diferenças.

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FICHA 2DFAMÍLIA E RELAÇÕES SOCIAIS

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FICHA 2D VERSOFAMÍLIA E RELAÇÕES SOCIAIS

O professor vai orientar a discussão sobre as fotos: O que mais chama a atenção?O que as três fotos têm em comum? O que elas têm de diferente?A classe vai tentar representar a disposição das moradias indígenas, tal comoaparecem na foto.

� Essa disposição lembra que forma geométrica?� Que relação você acha que existe entre a disposição das casas na aldeia e o modo

de vida do grupo indígena?Você sabia que, usando apenas um lápis e um barbante, podemos desenhar umacircunferência?

� Em outra folha, desenhe três circunferências de diferentes tamanhos e pinte-as decores diversas. A parte colorida de cada circunferência chama-se círculo. Dêexemplos de objetos em que aparecem a circunferência e o círculo:____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

� Agora, escreva uma ou duas frases resumindo o que você aprendeu sobrecircunferência e círculo:____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

A diversidade de moradias e a GeometriaObserve estas fotos, de moradias de grupos sociais diferentes.

Alto da Lapa, São Paulo, SP,2002

Favela do Oratório, Mauá, SP,2002

Aldeia dos Tukano, do AltoUapés, MS, 1971.Extraída do livro A temática indígena na escola(Silva & Grupioni, 1995, p.382)

Foto:

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Foto:

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Foto:

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ilo A

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FICHA 2EFAMÍLIA E RELAÇÕES SOCIAIS

59NOME DATA

Malha pontilhadaOs pontos desta malha vão ajudá-lo/a a desenhar os polígonos.· · · · · · · · · · · · · · · ·· · · · · · · · · · · · · · · ·· · · · · · · · · · · · · · · ·· · · · · · · · · · · · · · · ·· · · · · · · · · · · · · · · ·· · · · · · · · · · · · · · · ·· · · · · · · · · · · · · · · ·· · · · · · · · · · · · · · · ·· · · · · · · · · · · · · · · ·· · · · · · · · · · · · · · · ·· · · · · · · · · · · · · · · ·· · · · · · · · · · · · · · · ·

· · · · · · · · · · · · · · · ·· · · · · · · · · · · · · · · ·· · · · · · · · · · · · · · · ·· · · · · · · · · · · · · · · ·· · · · · · · · · · · · · · · ·· · · · · · · · · · · · · · · ·

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FICHA 2E VERSOFAMÍLIA E RELAÇÕES SOCIAIS

Malha quadriculadaNesta malha, desenhe figuras como solicitadas na ficha 2D.

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EDUCAÇÃOE CIDADANIA

FICHA 3AFAMÍLIA E RELAÇÕES SOCIAIS

61NOME DATA

Conversa sobre o texto� Quais necessidades são alegadas pelos autores?

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� Quais você considera mais importantes? Por quê?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

� Que outras necessidades você acha importantes e não aparecem nessa música?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

� Quem é responsável pelo atendimento dessas necessidades de crianças e jovens?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

� “A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”. Vocêconcorda com essa idéia dos autores? Explique por quê.____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Leia com atençãoestes versos dosTitãs.

ComidaArnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Sérgio BrittoBebida é águaComida é pastoVocê tem sede de quê?Você tem fome de quê?A gente não quer só comida,A gente quer comida, diversão e arte.A gente não quer só comida,A gente quer saída para qualquer parte.A gente não quer só comida,A gente quer bebida, diversão, balé.A gente não quer só comida,A gente quer a vida como a vida quer.Desejo, necessidade e vontadeNecessidade e desejoNecessidade e vontadeNecessidade e desejoNecessidade e vontadeNecessidade e desejoNecessidade e vontade, au!Necessidade.A gente não quer só comer,A gente quer comer e quer fazer amor.A gente não quer só comer,A gente quer comer e quer fazer amor.A gente não quer só comer,A gente quer prazer pra aliviar a dor.A gente não quer só dinheiro,A gente quer dinheiro e felicidade,A gente não quer só dinheiro,A gente quer inteiro e não pela metade.

Extraído do CD Titãs 1984-1994 (Titãs, 1994)Marcelo Fromer e SérgioBritto são integrantes dabanda de rock Titãs.Arnaldo Antunes deixouo grupo para seguir carreirasolo em 1992.

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FICHA 3A VERSOFAMÍLIA E RELAÇÕES SOCIAIS

Vários tipos de famíliasEm classe, vocês discutiram sobre os tipos de organização familiar que conhecem(casais com filhos, sem filhos, mães com filhos, pessoas que moram sozinhas etc.).Copie aqui a lista dos tipos de família mencionados.____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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Você já estudou a chamada família nuclear,composta por pai, mãe e filhos. Este é o tipomais comum de composição familiar, mas nãoé o único. Se dividirmos o total de residênciasatuais do Brasil em três grupos, só em doisdeles encontraremos esse tipo de família. Ouseja, um terço das pessoas se juntam paramorar de forma diferente.

Destas, a maior “fatia” corresponde acasas onde a mãe é a chefe da família, namaioria das vezes morando sozinha com seusfilhos, sem companheiro. Hoje, no Brasil,dentre os mais de 46 milhões de lares, 12milhões são chefiados por mulher. O professorvai ajudá-lo a ler o gráfico abaixo, sobre essefenômeno.

� O que acontece com a proporção das famílias chefiadas por mulheres, no Brasil eem São Paulo?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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� Dentre as famílias que a classe mencionou para fazer a lista acima, esse fenômenoapareceu? O que se pode concluir disso?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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� Na sua opinião, quais as principais diferenças entre as características das famíliasde hoje e as das famílias patriarcal e escrava, que aparecem nas fichas 2A e 2B?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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Gráfico:Percentual defamíliaschefiadas pormulher, Brasil eSão Paulo,1989 a 1999

Fontes: IBGE, PNAD 1999; SEADE, Pesquisa Condição de Vida, 1998.

30%

25%

20%

15%1989 1994/5 1998/9ANO

x

x

BRASILSÃO PAULOx

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FICHA 3BFAMÍLIA E RELAÇÕES SOCIAIS

63NOME DATA

O papel da mulher na famíliaPesquise e copie aqui os versos da canção Mama África, de Chico César.

Conversa sobre o texto� Liste as atividades que Mama África faz.

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� Quais funções essa mãe exerce?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

� Como ela se relaciona com os filhos?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

� Que tipo de família está representado na música?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

� O que você acha que Chico César quis dizer com: “Quando mama sai de casa seusfilhos se olodunzam, rola o maior jazz”?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Mama África

Chico César, nascido naParaíba, começou atrabalhar aos 10 anos emuma loja de discos. Aos 16,integrava um grupo demúsica. Formado emjornalismo, veio para SãoPaulo em 1985, vindo aformar a banda Cuscuz Clã,com a qual lançou CDscomo Aos vivos (1993) eMama Mundi (2000).

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FICHA 3B VERSOFAMÍLIA E RELAÇÕES SOCIAIS

Leia a letra a seguir, escrita na década de 1950, e responda as questões propostas.

Conversa sobre o texto� Quais funções essa mãe exerce?

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� Que tipo de organização familiar está representado na música?_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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� Na sua opinião, o que significa dizer que essa mãe “é a dona de tudo”, é “a rainhado lar”?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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MamãeHerivelto Martins e Davi Nasser

Ela é a dona de tudoEla é a rainha do larEla vale mais para mim que o céu, que a terra, que o ar.Ela é a palavra mais linda que um dia o poeta escreveu.Ela é o tesouro que o pobre das mãos do senhor recebeu.Mamãe, mamãe, mamãe.Tu és a razão dos meus diasTu és feita de amor e esperançaAi, ai, mamãe, eu cresci e o carinho eu perdi.Volto a ti, me sinto criança.Mamãe, mamãe, mamãe.Eu te lembro com o chinelo na mão, o avental todo sujo de ovo.Se eu pudesse, eu queria outra vez, mamãe, começar tudo denovo.Mamãe, mamãe, mamãe.Extraído do LP de Ângela Maria, Com amor e carinho (Martins & Nasser, 1978) -(Gentilmente cedido pela Discoteca Oneyda Alvarenga, do Centro Cultural São Pauloda Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo)Herivelto Martins – músico carioca que viveu e morreu no Rio de Janeiro. Entre suascomposições mais conhecidas encontram-se Ave Maria no morro, Atiraste umapedra, Caminhemos e A camisola do dia.David Nasser – jornalista paulista, nascido em Jaú, radicado no Rio de Janeiro,conciliava sua intensa atividade profissional na imprensa com a de compositor.

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FICHA 4FAMÍLIA E RELAÇÕES SOCIAIS

65NOME DATA

Conflitos, como resolver?Leia esta história sobre pai e filho. Depois, responda as questões.

Conversa sobre o texto1 O que você acha das atitudes de Pedro?

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2 Na sua opinião, por que o Sr. José “deu a maior surra” no filho?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3 Você concorda com esse tipo de atitude do pai de Pedro? Por quê?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

4 Você agiria diferente dele? Como?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

5 Agora, com seu grupo, imagine três argumentos que o pai, em vez de surrar ofilho, poderia usar para convencê-lo a não surfar no trem, e anote-os.____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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SURFISTA DE TREM“Seu” José é pedreiro. Trabalha dez horas por diaem uma firma bem longe de casa e por issogasta quatro horas de transporte, para ir e voltarao trabalho. Tem um filho chamado Pedro, com14 anos de idade, que fica sozinho em casadepois que volta da escola.Dª Lucimar, a mãe do garoto, também trabalhafora o dia todo e só chega em casa à noite.Recentemente, “seu” José começou a ficarmuito preocupado, pois estava desconfiado quePedro andava faltando à escola. O filho pareceque não quer saber de estudar. “Seu” José nãose cansa de falar que a escola é importante; quenela ele pode entrar em contato com muitosconhecimentos e, também, se relacionar com

muitas pessoas; e que isso pode ajudá-lo aconstruir um futuro melhor. Mas acha que o queele fala para o filho “entra por um ouvido e sai pelooutro…”. Ficou ainda mais preocupado quando umvizinho lhe disse que viu Pedro andando com unscolegas da vila que costumam “surfar” nos trensque atravessam o bairro.Naquele dia, “seu” José chegou em casa maiscedo, pois não passou bem e foi dispensado doserviço. E, antes mesmo de entrar em casa, escutouPedro, que deveria estar na escola naquele horário, sevangloriando, junto aos colegas, das suas façanhascomo surfista de trem: “É a maior adrenalina!”. Osamigos, quando viram o pai de Pedro chegar, foramsaindo devagarinho. “Seu” José não quis saber deconversa, não teve a menor dúvida, tirou o cinturãoe deu “a maior” surra no filho. Espancou mesmo eainda disse: “É pra ele aprender!”

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FICHA 4 VERSOFAMÍLIA E RELAÇÕES SOCIAIS

Autoridade e violênciaVocê já pensou em violência? Em que situaçõesela pode aparecer?.Ela pode aparecer em situações de conflito, emque uma pessoa ou grupo social tenta impor suavisão, seus interesses ou desejos sobre outrapessoa ou grupo. E decorre de diversos fatores,não pode ser explicada por uma única razão.E a violência contra crianças e adolescentes? Vocêsabia que ela acontece, muitas vezes, dentro desuas próprias casas? Acontece em famílias ricas epobres? Acontece no mundo todo, não só nospaíses pobres?A violência doméstica pode assumir diferentesformas: física, sexual, emocional ou psicológica.Alguns exemplos: surras, espancamentos, abusosexual e incesto, ameaças, desvalorização dooutro, humilhação. E suas consequênciasaparecem, também, de várias formas. Quem podedizer que o efeito de um espancamento sejaapenas físico?Muita gente associa autoridade e violência. Seráque têm a ver? Você já ouviu falar emautoritarismo? Qual a diferença entre autoridade eautoritarismo? Por enquanto, uma pista:autoridade e violência não têm nada a ver, masautoritarismo e violência, sim.Por exemplo, os pais, exercendo seu papel, devemestabelecer proibições e colocar limites,necessários para garantir o bem-estar da criança,do jovem, do grupo familiar e mesmo dasociedade. Colocar limites e exercer autoridade éfunção dos pais, e é uma tarefa difícil. Por umlado, não é fácil abrir mão dos interesses edesejos e, muitas vezes, os adolescentes nãopercebem que seus desejos não podem sersatisfeitos de imediato, ou de forma mágica; alémdisso, costumam questionar, e mesmo pôr emcheque a autoridade dos pais ou responsáveis.Pois essa é uma fase em que querem sediferenciar dos adultos e encontrar o seu própriojeito de ser, questionar normas e valores,

confrontar o que está estabelecido.Por outro lado, os pais têm o desafio de fazerdiferença entre autoridade e autoritarismo, paranão resvalar na violência. No autoritarismo, elesimpõem regras de forma unilateral semexplicação, cabendo aos filhos cumprir semquestionar. Quando não cumprem são castigadose, muitas vezes, o castigo é desproporcional ousem relação com o acontecido.Já a autoridade vem da experiência acumulada aolongo da vida. Quem exerce autoridade negocia econstrói as regras em conjunto com os demais,levando em conta cada um e o bem-estar detodos. Para isso, não basta falar: é preciso que ospais dêem exemplo, na prática, de respeito econsideração pelos filhos e por si próprios. Assim,pais e filhos podem se colocar um no lugar dooutro e abrir mão de algumas coisas, desde queisso não implique desrespeito ao outro. Mas issonão significa que os pais possam abrir mão de seupapel de dizer “não” e de colocar limites, ou dedizer “sim”, mas definindo condições. Os filhosdevem compreender isso e respeitar a autoridadedos pais.Então, quando acontece violência em casa, muitasvezes é porque os pais, alegando que estariamexercendo sua função educativa, não consideramas diferenças de experiência de vida entre eles eos filhos, nem o estágio de desenvolvimento dosfilhos ou suas características, ou mesmo quandonão conseguem estabelecer limites para sipróprios. Nessas situações, cabe aos filhoscolocar limites e tentar o diálogo, possibilitandoaos pais aprenderem com eles.Quando não dá certo, é preciso buscar apoio deum adulto respeitado pela família, um amigo ouparente, para fazer a mediação do conflito. E,quando essa mediação também não dá certo, ouem situações mais graves, é necessário buscarajuda externa, seja na escola, nos ConselhosTutelares ou em outras instituições que atuamcontra a violência doméstica.

6 Imagine também a reação de Pedro aos argumentos do pai, criando assim um novofinal para essa história. Invente também um novo título.____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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FICHA 5FAMÍLIA E RELAÇÕES SOCIAIS

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A nova cara do rapSe, em meados da década de 1980, o

rap surgiu por aqui como uma imitaçãoda novidade dos guetos americanos, hojeconquistou uma cara e um conceito bembrasileiros. (...) Arrasta mais de 40 milmanos (e não-manos) para um show comoMillenium Rap (...), em que as grandesatrações não eram artistas internacionais,mas os grupos de rap nacionais.

Entre os maiores nomes da novageração de rappers está Marcelo dosSantos, o Xis. Autor de um dos mais co-nhecidos hits de 2000, Us Mano e as

Mina, Xis consegue mixar em sua músicaa festividade e as mensagens positivasde artistas como Thaíde e DJHum e a veiacrítica das letras de dar nó na gargantados Racionais MCs.

Xis passa a imagem de prodígio dorap e gosta disso. (...) Seu sucesso epopularidade fizeram com que seu últi-mo disco, Seja como for, chegasse a cercade 60 mil cópias vendidas. O disco foilançado pelo selo 4P, criado por ele emparceria com KL Jay, dos Racionais, e édistribuído pela gravadora Trama. (...) Eaí está o maior fenômeno em torno do su-cesso que o rap nacional conquistou nosúltimos anos: a iniciativa das pessoas en-volvidas com a cultura hip hop que cria-ram selos, oficinas, produtoras e cursos.

Conversa sobre o texto� Como foi o caminho para o crescimento do movimento hip hop?

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� Que dificuldades tiveram de enfrentar?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

� Por que o rádio e outros espaços não eram abertos para eles? O que os rappersfizeram para conseguir abertura de espaços?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

� Você acha que esse movimento é importante para as pessoas que moram naperiferia? Por quê?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Leia atentamente esta reportagem.

Segundo DJHum, um dos pioneirosda onda hip hop, foi em 1998 que a coisaestourou: “Começaram a surgir muitasoficinas de hip hop, com gente levandoinformações e auto-estima para aperiferia. Gente ensinando grafite,break, o trabalho dos DJs e a poesia dosMCs para os jovens de lá”. (...) DJHumatribui o crescimento do rap também àqualidade da nova safra de artistas: “Amoçada nova está vindo com letrasboas, rimas ricas e uma boa construçãoverbal”. Já Xis acha que esse boom édevido ao acesso do rap a algumasmídias (...) e, principalmente, à proli-feração de selos independentes, pelosquais a maioria dos rappers lança seustrabalhos.

“Por que não conseguíamos fazer orap tocar nas rádios? Por que só oGabriel, o Pensador, conseguia assinarcom uma gravadora grande? Porque rap

é música de preto, é música de pobre, eo Brasil é um país racista e preconceitu-oso”, questiona Xis. “Isso fez com que agente procurasse conseguir as coisas porconta própria. Agora, temos o poder”.

Das reuniões no metrô São Bento (...)aos megaeventos de música, o gêneromudou de cara. “O rap começou noBrasil com um monte de gente indo à

rua 24 de Maio comprar discos gringos(...). Não estamos mais vivendo isso. Opessoal está sampleando muita músicabrasileira. A coisa está senacionalizando”, afirma Xis. (...) A forçado rap continua sendo a fidelidade dosmanos. (...) Mas a verdade é que o rap

não quer ser reconhecido só entre osmanos. Os próprios integrantes dosRacionais MCs, que diziam que rap eramúsica para negro ouvir, hoje parecemter outra opinião. Ice Blue, dos Racionais,anunciava antes do Millenium Rap que“os boys podem ir à vontade”. E eles vão.

Para quem teme que isso seja perdade identidade hip hop no rap (...), Xistem a resposta na ponta da língua: “Nãoestou falando que rap vai ser essa [droga]de axé e tchan. Se as pessoas consegui-rem fazer um bom trabalho, da hora. Seconseguirem tirar disso um retorno paraa periferia e para a comunidade, achomuito louco. Ninguém vive de mensa-gem e de conselho. A gente vive demudança. E as coisas mudam”.

Extraído de artigo publicado na Folhade S. Paulo, 22 jan. 2001 (Mena, 2001,p.6-7)O sinal (...) indica que foi saltado umtrecho do texto original.

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Agora, leia esta entrevista com o rapper MV Bill, do Rio de Janeiro.

Conversa sobre o texto� Compare o que o artista fala da infância-padrão dos jovens da favela com a

realidade que você conhece.� O que você acha das soluções que ele apresenta?

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Entrevista com MV BillO rapper carioca MV Bill foiacusado pela polícia deapologia ao crime por terusado traficantes reais nagravação do videoclipeSoldado do crime. O queincomodou o rapper foi quederam tão pouca atenção aodrama de milhares dejovens empurrados para otráfico pela miséria e pelafalta de perspectivas.

Isto É – Por que você começou afazer rap?

MV Bill – O rap chamou minhaatenção em 1988, quando assisti aofilme As cores da violência. Eu eramoleque e o que me interessou (…)foi a questão musical. E também aviolência retratada… Vi ali a minhahistória e a da Cidade de Deus. (…)Por volta de 1991, depois de ler abiografia de Malcom X, a de Zumbidos Palmares e de ver o filme Qui-

lombo, comecei a fazer rap. Ali, acultura hip hop já me salvara paraser um ativista. (…) Quando entreino rap já sabia que não era um caracomum, desses que têm uma infân-cia padrão, que entram para o crimepara ter as coisas, que vai ter que dartiro, matar ou morrer ou ser preso parase sentir uma pessoa importante.

Isto É – Como é a infância-padrãodentro da favela?

MV Bill – É estudar até onde der,parar, arranjar um emprego para aju-dar pai e mãe. Se não conseguir em-prego ou não quiser trabalhar, acabaenveredando pela vida do crime,pelo tráfico de drogas.

Isto É – Você não foi convidado aentrar para o tráfico?

MV Bill – Isso é uma constante navida das pessoas. Mesmo que nãohaja convite oficial, a vida te cha-ma toda hora (…). Os molequesolham para o pessoal do tráfico evêem neles tudo o que gostariam deter e ser. (…) No meu caso foi orap que me salvou. E me deu outravisão. Se não fosse isso, hoje esta-ria envolvido com crime, preso oumorto.(….)

Isto É – [E a questão do tráfico?]

MV Bill – Mas, não podemos atri-buir a culpa de o menor estar no trá-fico somente ao traficante. Se a mãefizer a parte dela, se tiver salário dig-no para sustentar a família, o Estadocriando condições para as criançasestudarem, com mais programas so-ciais, as coisas podem começar amudar devagarinho. (...) A partirdesse videoclipe uma verdadeira re-volução começou e muita gentenem se deu conta. (…)

Isto É – Qual é a sua posição polí-tica?

MV Bill – A comunidade não tempartido político. O povo quer obra,quer emprego. (…) Deu um jogo decamisas para o time, ganhou ovoto...

Isto É – O que fazer para mudarisso?

MV Bill – Estamos criando um gru-po político, o Partido Popular Po-der para a Maioria. (…) Queremosdar voz à comunidade preta quenunca teve espaço, através de umpartido que nos represente. É umprojeto que já tem mais de um anoe agora vai começar a ir para as ruas.

Extraído da revista Isto É, 24 jan.2001 (Alves Fo, 2001, p.7-9)Carioca da Cidade de Deus, MVBillparticipou da coletânea Tiro Inicial,que apresentou novos talentos dorap nacional, em 1993. Mais tardeadotou o pseudônimo de MV(Mensageiro da Verdade) Bill e atéhoje não revela seu verdadeironome. Lançou em 1998 o CD CDDmandando fechado, mais tarderelançado pela BMG com o títuloTraficando informação; em 2002lançou Declaração de guerra, quevem obtendo grande sucesso depúblico e crítica, com suas letrasem que a denúncia social é amarca registrada.

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ISBN 85-85786-24-8

Autoria

SECRETARIA DEESTADO DA EDUCAÇÃO

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