educação clássica por susan wise bauer.docx

Upload: jackson-rita-noleto

Post on 08-Jul-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 8/19/2019 Educação Clássica Por Susan Wise Bauer.docx

    1/11

     

    Educação Clássica – Susan Wise Bauer

     A presente transcrição é de uso exclusivo dos seguidores do blog Como Educar seus Filhos . Sua reprodução

    total ou parcial não está autorizada.

    O vídeo original encontra-se no endereço https://vimeo.com/39664432 

    Autora e educadora Susan Wise Bauer foi oradora principal em Veritas Classical 

    Academy 2012 Constructing the Vision, dia 8 de março de 2012, em Oklahoma 

    City. 

    Obrigada por me convidarem. E tem sido particularmente agradável ter 

    meu marido junto nesta viagem, muitas vezes ele não está apto para vir. Então 

    eu quero agradecer Craig e outros organizadores por tornarem isso possível.

    Darei a vocês uma breve introdução sobre como eu comecei a falar e 

    escrever acerca da educação clássica. Minha mãe foi a pioneira nesta área, ela 

    começou a nos ensinar em casa em torno de 1973 em um modelo clássico, e 

    quando meu filho mais velho tinha entre 6 e 7 anos, disse à minha mãe que 

    gostaria de seguir o mesmo padrão dela com meus filhos. Hoje, meu filho mais 

    velho tem 20 anos de idade e está no segundo ano na Universidade de Virginia, os demais tem 18, 15 e 11. Passei por uma fase de 12 anos procurando por 

    recursos para substituir os que minha mãe usou, porque estavam na maioria fora 

    de impressão.

    Eu tenho sido uma escritora profissional por vários anos, e meu agente 

    ouviu que nós estávamos fazendo isto, ele tinha crianças no sistema público 

    escolar de New York City. Ele disse que conhecia muita gente que estaria 

    interessada em meu trabalho e contatou os editores. Um dia ele me liga e diz que 

    tem grandes notícias, que W. W. Norton está interessado em publicar meu material. Eles são um pouco contrários quando se trata de questões de educação, 

    e gostam de publicar material que vai contra o senso comum da educação atual.

    Então ele diz que esta será um grande editora para o meu livro, mas que 

    havia apenas um problema, eles desejavam me conhecer. E quando perguntei 

    qual o motivo de quererem nos conhecer ele me disse que a editora tinha muito 

    interesse em educação clássica, mas estavam com receio quanto à educação 

    escolar domiciliar, a questão de morarmos no campo, o fato de não termos uma 

    TV em casa, e com o fato de eu ser casada com um pastor, parecia um pouco 

    1

    https://vimeo.com/39664432

  • 8/19/2019 Educação Clássica Por Susan Wise Bauer.docx

    2/11

    http://www.comoeducarseusfilhos.com.br

    esquisito. Eles tinham receio que eu fosse muito estranha para promover o livro 

    com sucesso e por isso queriam que eu fosse até New York para me conhecerem 

    primeiro.

    Eu e minha mãe compramos roupas, e nós fomos para New York para encontrar com estes editores em Norton, e eu estava grávida de oito meses na 

    época. Se você quiser se sentir como um objeto que pode ser visto do espaço, 

    esteja grávida de oito meses em Manhattan. E nos sentamos neste grande 

    escritório na Fifth Avenue, e eles aos poucos se mostraram mais progressitas, 

    acolhedores e amigáveis, e enquanto nos despedíamos um dos editores 

    cumprimentou minha mãe pela mão dizendo que esperava que fôssemos rígidas e 

    infelizes, mas não, éramos até boas pessoas. Isso foi em 1996.

    E desde que surgiu “The Well-Trained Mind: A Guide to the Classical Education”, o livro que eles compraram, tive a oportunidade ao longo dos últimos 

    anos de estar envolvida em uma grande conversa sobre educação. Educação 

    clássica, educação domiciliar, e educação clássica cristã.

    E nesta noite eu quero ter essa conversa mais uma vez. E falar sobre 

    educação clássica, o que isto está fazendo por seus filhos e por que vale a pena 

    investir tempo e empenho nisso. E gostaria de apresentar alguns desafios para 

    vocês, e com algumas observações sobre detalhes que eu penso que os pais e 

    educadores clássicos poderiam estar fazendo um pouco melhor.

    Mas eu quero começar primeiro com o que eu vejo que é uma das forças 

    centrais do modelo de educação clássica. Eu tenho certeza que todos vocês estão 

    familiarizados com os 3 estágios básicos - fases - da educação clássica.

    Quando nós falamos sobre educação clássica, nós estamos falando sobre 

    uma fase gramática - os anos primários - em que são dados aos alunos estes 

    conjuntos básicos fundamentais de informação, para que eles então possam se 

    desenvolver.

    Nós estamos falando sobre um método que envolve muita memorização, 

    muita repetição, e não necessariamente pedindo que eles executem muito 

    pensamento crítico até que sejam maduros, apenas obtendo esta informação em 

    suas mentes.

    Então nós pensamos em mover da gramática para a lógica, gastando mais 

    tempo ensinando o pensamento crítico, ensinando a eles a lógica. Dando a eles 

    2

  • 8/19/2019 Educação Clássica Por Susan Wise Bauer.docx

    3/11

    http://www.comoeducarseusfilhos.com.br

    ferramentas para começar a analisar este conjunto de informações que 

    colocamos na mente deles.

    E então seguimos para o colegial, nós começamos a concentrar em 

    permitir que eles expresassem suas opiniões sobre as coisas que aprenderam. Nós concentramos em escrita e discurso persuasivos. É este padrão de 

    aprendizagem que uma vez que você atravessa, repete-se de novo e de novo no 

    resto da sua vida. Toda vez que surge um novo assunto, primeiro você tem a 

    informação básica, depois você encontra como esta informação se encaixa junto, 

    então você decide o que pensa sobre isso. Este padrão até se aplica quando você 

    está fazendo algo mais prático, com as mãos. Como a costura, primeiro você 

    aprende os pontos, é o estágio de gramática, então você aprende como juntar 

    estes pontos em um padrão, que é o estágio lógico, e então você aprende a como 

    criar seu próprio padrão, usando esta informação, é a retórica, terceiro estágio. 

    Logo, este padrão é algo em que retornamos a vida inteira como aprendemos.

    Mas o que realmente me surpreende sobre isso é que o padrão não é 

    apenas sobre a mente, é sobre a pessoa inteira. E na verdade, a educação clássica 

    não é apenas sobre a mente, é sobre a pessoa por completo.

    E o que eu encontrei novamente e novamente é que estes estágios 

    intelectuais correspondem às necessidades emocionais que os estudantes tem. E 

    é o que faz a educação clássica um método tão poderoso. Eu vou dar alguns exemplos do que eu quero dizer.

    Nós sabemos que o estágio de gramática é um momento para 

    conhecimento básico, para trabalho de memória, para entoações e repetições. 

    Muito importante lembrar é que quando se trabalha com um aluno de nível 

    primário, estas coisas não correspondem naquela expressão horrível que alguns 

    educadores usam, “drill & kill”  .

    O ensinamento não é de qualquer forma laborioso ou inapropriado, é exatamente onde a criança precisa estar naquele momento. Eu darei alguns 

    exemplos, e para isso utilizarei um de meus filhos, especialmente porque eles não 

    estão aqui e eu não estou sendo gravada.

    Meu filho mais velho sempre foi muito esperto e esforçado, sempre 

    ansioso para agradar. Apresentei-lhe então um programa de ciência que prometia 

    ensinar aos estudantes pensar criticamente sobre ciência logo no início, projetado 

    para estudantes do primário. Mesmo eu sendo comprometida com a educação 

    clássica, pensei que seria interessante ter algo para pensar previamente. A 

    3

  • 8/19/2019 Educação Clássica Por Susan Wise Bauer.docx

    4/11

    http://www.comoeducarseusfilhos.com.br

    primeira lição tinha a página coberta com pernas de inseto, sem explicitar que 

    eram pernas de inseto. O objetivo da lição era identificar as diferenças e em 

    seguida virar a página e descobrir o motivo de cada uma existir e sua função. Ele 

    olhou atentamente para a atividade, olhou pra mim e disse: Entendi! Aquela 

    perninha ali em cima é que está mais próxima da margem do papel do que todas as outras, e aquela ali embaixo era felpuda. E por que estou citando esta 

    experiência? Bem, o garoto não tinha idéia do que estava procurando. Ele não 

    tinha idéia de que ele deveria estar procurando por articulações, características 

    diferentes, todas as diferentes maneiras as quais as pernas funcionavam. Foi 

    pedido para ele pensar de forma indutiva, mas ele não tinha de onde tirar as 

    informações necessárias. Ele não tinha fonte para procurar e identificar um 

    padrão. Agora, se eu tivesse dito: “olhe, aqui estão pernas de inseto, vamos 

    memorizar todos os tipos?”, isso preencheria a mente dele com informação concreta que permitiria a ele pensar de maneira abstrata.

    Ao invés de achar aquilo interessante e desafiador, ele achou 

    incrivelmente frustrante, porque ele não sabia o que estava olhando. Eu sou uma 

    pessoa que ama gramática, e para cada aluno da escola primária que já tive eu 

    tento explicar o que significa o verbo estar. Não sei se vocês já tentaram fazer 

    isso. Você ensina a uma criança que um estado verbal de estar significa que você 

    é. Eles perguntam, o quê? Uma mãe? E você diz que não, diz que simplesmente é. 

    E aí perguntam, você é... faminta? E é muito difícil de ensinar isso, pois o estado de ser é abstrato, e eles ainda não estão raciocinando de maneira abstrata.

    Então como ensinar este estudante do primário a entender o estado 

    abstrato de ser? Você explica que o estado de ser é o estágio tal, representado 

    por: eu sou, tu és, ele é, nós somos, vós sois, eles são . Agora repita isto quinze 

    vezes. Vejam que a repetição dará o alicerce para que eles comecem a pensar de 

    forma abstrata. Esta é a filosofia da educação clássica. O que eu amo neste tipo 

    de educação é também como os estudantes estão agindo emocionalmente e 

    espiritualmente, em termos de maturidade, em séries primárias.

    As crianças aprendem abstrações através de repetições concretas. Se uma 

    criança de segundo ano pergunta em junho se vai nevar, você diz que não. É o 

    meu aniversário? Não, seu aniversário foi na semana passada. É Natal? Não. No 

    dia sequinte eles acordam e perguntam novamente: Hoje é meu aniversário? O 

    motivo de perguntarem isso é o fato de não terem vivido uma repetição concreta 

    lógica para começar a entender o padrão existente. Quando você resolve sair com 

    seu marido à noite eles começam a chorar perguntando se algum dia vocês 

    voltarão, o fazem porque ainda não vivenciaram o padrão. Aí fica a dica para 

    4

  • 8/19/2019 Educação Clássica Por Susan Wise Bauer.docx

    5/11

    http://www.comoeducarseusfilhos.com.br

    resolver a questão, vocês precisam sair com mais frequência! Uma vez que eles 

    enxergam a repetição, começam a reconhecer o padrão. Este é o motivo de as 

    crianças sempre terem um livro favorito, eles precisam de repetição. Quando 

    você lê o livro e o tal inseto dourado está lá todas as vezes na mesma página que 

    estava antes, a sensação que as crianças tem é digna de festejo. Elas agem como se tivessem grande convicção de que podem dizer que conseguem encontrar o tal 

    inseto nas páginas certas, até mesmo com o livro fechado. É uma informação 

    maravilhosa para as crianças, pois mostra que há coisas no mundo com que elas 

    podem contar. Crianças precisam de repetições. No nível educacional é usada a 

    repetição para estabelecer padrões que os estudantes possam começar a 

    reconhecer, levando-os ao pensamento crítico. Isso também ajuda a desenvolver 

    a mente de maneira apropriada, as maiores necessidades de um estudante neste 

    nível é repetição, ordem, estabilidade e monotonia. O mundo para eles é um lugar caleidoscópico, caótico, e ainda não reconhecem os padrões, é o motivo de 

    o método clássico funcionar tão bem para estes estudantes primários.

    Em torno da quarta ou quinta série isso começa a mudar. Então esta é a 

    diferença entre um estudante de primário e um estudante de estágio lógico. O 

    primeiro aluno vem e diz às nove e meia da noite, “um ladrão invadirá a casa?”. O 

    que eu geralmente não faço é contar a verdade, dizer “provavelmente não”. Não 

    dizemos isso, pois eles nunca dormiriam de novo, então mentimos para eles e 

    dizemos que não, um ladrão não invadirá nossa casa, agora volte a dormir. E o que aquela criança está dizendo é “Eu estou salvo? As coisas continuarão a ser as 

    mesmas, o processo da noite e manhã, noite e manhã, continuará? Eu posso 

    contar com isso?”. E a responsabilidade como pais é de dizer que sim.

    A criança pergunta novamente se o ladrão vai invadir a casa, e você 

    responde de novo que não, e pede para a mesma ir para cama. A resposta da 

    criança será “como você sabe?”. Esta é a transição do estágio da gramática para o 

    estágio da lógica. Eles viveram através do padrão tempo suficiente para saber que 

    em algumas vezes é quebrado, que em algumas vezes coisas ruins acontecem, 

    coisas inesperadas e ameaçadoras. O que eles precisam não é mais da 

    reafirmação, eles não precisam que você diga “não, tudo está bem”, pois eles 

    estão crescendo. O que eles precisam é de um plano, eles já sabem o que é o 

    padrão. O que eles querem saber é o que faremos caso o padrão se quebre. Este 

    é um pensamento crítico, a causa e o efeito. Isto claro, do ponto de vista 

    educacional, é onde queremos chegar dentro da sala de aula. Nós não mais 

    estamos dando a eles a repetição dos mesmos elementos de novo, e de novo, 

    eles já tiveram isso, e começam a se entediar e não mais prestam atenção. Ao 

    5

  • 8/19/2019 Educação Clássica Por Susan Wise Bauer.docx

    6/11

    http://www.comoeducarseusfilhos.com.br

    invés, daremos ferramentas de educação e intelectuais, ferramentas de 

    pensamento crítico, assim estamos ensinando lógica. Introduziremos a eles 

    análises diversas.

    Mas no desenvolvimento mental e emocional, eles têm a mesma necessidade, que é, se “A” acontece, como eu poderia prever o que “B” deveria 

    ser? A necessidade emocional anda lado a lado com a necessidade intelectual, de 

    ser capaz de pensar criticamente para reconhecer o padrão, para entender o 

    motivo de um padrão estar quebrado, e o que fazemos a respeito. O educador 

    clássico nunca esquece que o ouro está em ensinar os estudantes, não apenas a 

    aprender com os livros, mas para entender e lidar com a vida. Quando você está 

    lidando com estudantes, em casa ou na sala de aula, estas são as coisas que a 

    educação clássica te ajuda a entender.

    Darei mais um exemplo disto, e estão livres para discordar da forma como 

    eu lido com isso. Quando meus filhos estavam no jardim de infância e 

    perguntaram-me se eu morreria, eu disse que não. E não era o que eles estavam 

    me perguntando realmente. O que eles perguntavam é “você viverá? Você vai 

    desaparecer?”. Eles queriam saber se eu era alguém com quem eles poderiam 

    contar todos os dias. E após um tempo, quando meu filho estava no quinto ou 

    sexto ano perguntou-me novamente se eu morreria, e eu não diria que não. Não 

    é o que ele estava perguntando, nesta idade eles sabem que somos mortais, o que eles desejam saber é o que acontecerá comigo, qual é o plano. Se o padrão é 

    quebrado, se coisas ruins acontecem, que planos foram feitos para o futuro? 

    Neste ponto eu diria que eu uso o cinto de segurança, eu não como muito açúcar, 

    eu tento cuidar de mim, mas qualquer um pode morrer. E se isso acontecer, você 

    viverá com seu tio Bob em Seattle. Isso é o que eles desejam saber.

    Sendo assim, notamos que no estágio de gramática as crianças necessitam 

    de segurança, na etapa lógica a criança precisa de um plano, um senso de 

    controle, a habilidade de entender padrões e de entender por que estes mudam. Então novamente o que acontece na sala de aula, e o que está acontecendo na 

    vida da criança, são situações simultâneas.

    Quando movemos para a fase retórica, estamos indo para os anos de 

    colegial. A necessidade emocional da criança muda novamente. Eles não precisam 

    de tanta estabilidade, não precisam tanto de um plano, eles precisam dizer “este 

    sou eu, isto é o que eu sou, eu sou diferente dos meus irmãos, eu sou diferente 

    dos meus pais, diferente de meus primos, eu sou eu”.

    6

  • 8/19/2019 Educação Clássica Por Susan Wise Bauer.docx

    7/11

    http://www.comoeducarseusfilhos.com.br

    O currículo clássico nos anos de colegial move em direção à expressão e 

    ideias, ensinando aos alunos a como dizer de forma persuasiva, em escrita e 

    discurso, em que eles acreditam. E isso porque o que acreditamos - o que 

    achamos que seja importante, por que acreditamos no que fazemos - é uma parte 

    essencial do que somos como seres humanos. E até que você seja capaz de articular o que acredita e o motivo disso, você ainda não tem um senso completo 

    de quem você é como ser humano. E isso é o que os estudantes necessitam. Eu 

    ensino para muitos calouros, e ensino para muitos que são maravilhosos, 

    animados, grandes jovens, e que são completamente não articulados. Eles não 

    conseguem me dizer o motivo de serem apaixonados por algo. Eles não 

    conseguem articular para mim o que farão em suas vidas. E por causa disso, eles 

    permanecem imaturos, e frustrados.

    No currículo clássico, não são dadas apenas as ferramentas para eles 

    expressarem o que acreditam, mas é dado espaço também para especializar-se. 

    Este é o segundo aspecto do currículo clássico no colegial.

    Dorothy Sayers costumava dizer que em assuntos onde está claro que o 

    estudante nunca irá se especializar, ou ser bom, ou ao menos gostar um pouco - 

    talvez ela estava pensando em algo como matemática -, que a ele deve ser 

    permitido o descansar seus remos. Não mais estudar aquilo, de modo a se dedicar 

    em alguns específicos aspectos dos seus estudos que ele ama, que é absolutamente central para gozar a vida.

    E é algo difícil para fazer, porque todos temos em mente que precisamos 

    de alunos que devem estudar um pouco de tudo. Este é o tradicional currículo 

    humanitário, e o que isso é capaz de produzir são estudantes que são tão 

    fragmentados, tão fracionados, tão sobrecarregados por um mundo de 

    atividades, que nunca possuem tempo para descobrir no que realmente são bons. 

    Pare um minuto e pense quanto da sua identidade como um ser humano está 

    associado ao que você sabe que faz bem. O que você faz melhor do que as outras pessoas. O que as outras pessoas pedem para você fazer por elas. O currículo 

    clássico permite aos estudantes um “luxo” emocional de desenvolver este senso 

    de si.

    Estas são algumas razões pelas quais eu acredito ser o currículo clássico 

    particularmente poderoso, onde o desenvolvimento intelectual e emocional de 

    estudantes andam de mãos dadas, onde a educação abrange o toda da criança, 

    não apenas a educação da mente. A educação clássica é fantástica por isso, mas 

    7

  • 8/19/2019 Educação Clássica Por Susan Wise Bauer.docx

    8/11

    http://www.comoeducarseusfilhos.com.br

    como executamos as mesmas é o que eu pretendo falar rapidamente para 

    finalizarmos.

    Há algumas áreas em que eu sinto que os educadores clássicos e os pais 

    poderiam fazer um pouco melhor. E eu quero rapidamente discursar sobre duas delas.

    A primeira delas é: precisamos trabalhar bem melhor na renúncia do 

    elitismo. Cada escola clássica que visita alega não ser elitista, e o elitismo é uma 

    atitude que se traduz por sermos melhores que outras pessoas. Confesso que fico 

    um pouco receosa, considerando que a educação clássica tem se implementando 

    de maneira cada vez maior e com cada vez maiores “expertises”, a visão de uma 

    educação melhor seja traduzida muito rapidamente para “somos melhores”. Me 

    pergunto por que muitas escolas clássicas começam a fazer a primeira série de matemática no jardim de infância. Pense sobre isto por um minuto. Por que você 

    começaria um currículo de primeira série no jardim de infância? É por que muitas 

    destas crianças podem? Pois muitos não conseguem...

    Bem no começo da primeira série, do jardim de infância, nós começamos a 

    lutar com um sistema que divide aqueles que podem fazer uma matéria em 

    formas mais avançadas, daqueles que não podem. E não se trata de uma questão 

    intelectual, moral, espiritual, é sobre maturidade. É, em outras palavras, algo que 

    os estudantes não têm absolutamente controle. Pense comigo, se você começar com os seus alunos de jardim de infância a primeira série de matemática e você 

    permanecer neste caminho, os da sexta série farão pré-álgebra, os da sétima série 

    farão álgebra I, os da oitava geometria, e os da nona série farão álgebra II. Então, 

    ao final do colegial, os estudantes terminarão toda a matemática tipicamente 

    considerada necessária para admissão da faculdade.

    Ok, isto é ótimo! Todavia questiono o que estamos ganhando com isso? O 

    que estes estudantes farão com estes anos remanescentes? Eles irão mais e mais 

    para matemática avançada? Poucos irão, e muitos não, porque desejarão parar. 

    Muitos terão desistido pelo caminho. Muitos pais terão decidido que a educação 

    clássica não eram para eles, porque seus filhos não conseguiram manter a 

    agenda. Paralelamente, em outro campo, questiono o porquê de os alunos da 

    sétima série serem freqüentemente exigidos a começar a ler os clássicos, numa 

    época em que o córtex cerebral fica tanto tempo desassociado isto pode ser 

    ativamente contraproducente.

    Qual será o resultado disso? Mais uma vez nós terminaremos com um grupo de elite, e um grupo de elite de menor força, com a maturidade sendo a 

    8

  • 8/19/2019 Educação Clássica Por Susan Wise Bauer.docx

    9/11

    http://www.comoeducarseusfilhos.com.br

    única coisa que os separa. E quanto mais eu ensino, e eu diria que minhas visões 

    de mudança nisto é por parte do que vejo em meus filhos, mais percebo que 

    ainda precisamos desenvolver a maturidade emocional de nossos alunos. Estamos 

    ansiosos para mostrar que nós temos uma visão melhor para educação, e estas 

    coisas são importantes.

    Creio que o movimento de escola clássica tem sido desnecessariamente 

    afetado pela mentalidade de que o rápido é o melhor. O que na educação se 

    traduz em: mais cedo, melhor. De volta na década de 1970, no começo do 

    movimento de escola clássica, algumas escolas estavam entre as primeiras a 

    ensinar escrita cursiva, ao invés de impressão, na primeira série. Eles não tinham 

    razões educacionais de competição para fazer isso, exceto que os mesmos 

    estavam na defensiva, prontos a provar que a educação cristã poderia não ser 

    apenas suficientemente boa, mas melhor que as salas de aulas que eles estavam 

    se comparando. E como uma forma de fazer isso, eles começaram a pegar 

    habilidades que normalmente se ensinavam na terceira série e movendo-as para 

    a primeira série. Me preocupo com o fato que algo do tipo tenha entrado na 

    educação clássica de hoje. Então eu encorajo você a pensar sobre elitismo, e 

    sobre o padrão muito comum em escolas clássicas, e perguntar a si mesmo o que 

    estamos ganhando com isso, e o que possivelmente estaríamos perdendo.

    Nós vivemos em uma sociedade que tem sido muito influenciada pela tecnologia de computador, todos na casa tem um bom computador e um 

    computador ruim. E o bom computador - aquele que todos querem usar - é o 

    mais rápido. Pense como é fácil usarmos as palavras, bom e ruim, sobre a 

    velocidade. O mundo em que vivemos recompensa a velocidade porque é mais 

    produtiva. Nós vivemos em uma sociedade capitalista, e isso é ótimo, é onde 

    estamos posicionados, e temos que lidar com isso. Mas é uma sociedade que 

    recompensa velocidade porque o quão rápido você faz as coisas, mais você faz 

    delas, e melhores coisas você tem disponível e para todos. Nós estamos muito 

    rápidos para absorver esta ética em nós mesmos, e para pensar o rápido como 

    bom, e o devagar como ruim.

    O que necessitamos é pegar uma página da educação clássica e nos 

    lembrar que compreender não pode ser apressado, que o verdadeiro 

    entendimento apenas vem com tempo, e com reflexão. A velocidade e 

    produtividade não são bens morais, não se trata de ética superior fazer algo mais 

    rápido, fazer mais disso. Então eu desafio vocês a pensarem sobre isso, avaliarem 

    o currículo.

    9

  • 8/19/2019 Educação Clássica Por Susan Wise Bauer.docx

    10/11

    http://www.comoeducarseusfilhos.com.br

    A segunda coisa é que precisaremos fazer um trabalho melhor com ciência 

    do que estamos fazendo atualmente. Há duas coisas que temos que estar 

    dispostos a fazer. Temos que ser capazes de articular a ciência no padrão da 

    educação clássica, e eu tenho me esforçado para oferecer uma lista de ciência 

    retórica. Mas a educação clássica permanece uma iniciativa de foco humano, e nós precisamos de ajuda com as ciências. A segunda coisa que precisamos é fazer 

    as pazes com a ciência.

    Estou certa de que todos sabem disso. Eu quero sugerir rapidamente dois 

    princípios que devemos entrar em acordo. Como nós trabalharemos com ciência 

    e com cientistas junto aos nossos estudantes? Mesmo que nunca cheguemos a 

    nenhum acordo relacionado com a ciência, se ao menos colocarmos estes dois 

    princípios em fato, nossas escolas clássicas serão mais fortes. O primeiro princípio 

    seria este, vamos tentar não usar nenhuma argumentação que conclua que 

    determinadas teorias científicas são motivadas por rebelião contra Deus. Os 

    cientistas estudam o mundo físico. Nós podemos examinar a evidência e dizer se 

    esta teoria pode ser provada, ou esta teoria não pode ser usada. A evidência é 

    forte, a evidência é fraca, é conclusiva, não é conclusiva. Nós podemos fazer isso 

    sem concluir. Portanto, qualquer um que vier com uma conclusão oposta está 

    motivado pelo pecado. Número 1: isso infringe a Escritura, apenas Deus conhece 

    o coração, nós não somos chamados para julgar; Número 2: a argumentação é 

    desleixada; Número 3: nos impede de fazer ciência, porque nosso foco permanece em outras pessoas que estão fazendo ciência, ao invés de no trabalho 

    em si. Eu trago isso em questão, porque eu vejo isso como a maior falta 

    educacional das escolas clássicas no momento.

    E porque isso mostra algo sobre nós no mundo clássico cristão, nós 

    tendemos a ser bastante protetores de Deus e Seu Poder, e com muito medo, de 

    que se não darmos continuamente as respostas certas para as questões que são 

    perguntadas, que de alguma forma a coisa toda vai desmoronar. A fé na Bíblia 

    desaparecerá. O Reino do Céu na Terra declinará, e será nossa culpa. Na verdade 

    eu estou muito certa que Deus pode conduzir sem a gente. Ele nos deu o 

    privilégio de ser parte na educação de Seus filhos. Mas Sua mão está sobre eles. E 

    Ele não vai deixá-los cair. Porque nós permitimos a eles lerem um livro que nós 

    podemos discordar em algumas áreas.

    Então estas são as duas áreas que eu encorajaria vocês a pensar sobre. 

    Pense sobre como nós fazemos ciência, e como poderíamos fazê-la melhor. Pense 

    10

  • 8/19/2019 Educação Clássica Por Susan Wise Bauer.docx

    11/11

    http://www.comoeducarseusfilhos.com.br

    sobre o motivo de irmos rapidamente, e o que estamos ganhando e o que 

    estamos perdendo a partir disso. E vou finalizar com uma exortação para vocês.

    Como nós continuamos a apoiar, colocamos nosso tempo, nosso esforço, e 

    finanças neste projeto de educação clássica, continuemos a examinar a nós mesmos. E a perguntarmos o motivo de estarmos apaixonados sobre este 

    empreendimento. Se for porque estamos reproduzindo algum tipo de sistema, de 

    um tempo passado que pensamos haver sido melhor, esta não é uma boa razão. 

    Eu sou uma historiadora, não há uma época no passado que tenha sido melhor.

    Por milênios, as pessoas tem olhado de volta para uma época anterior, 

    dizendo que se nós apenas pudéssemos voltar para lá, as coisas seriam tão 

    melhores. Isto nunca é o caso. Sempre houve alguma ideologia que se levantava 

    para destruir o mundo como se conhecia. Não é o motivo de estarmos envolvidos com educação clássica, para recapturar alguma época de ouro perdida. Não 

    houve tempo no passado em que era mais fácil ser cristão, ou que os humanos 

    eram melhores do que são agora.

    Nós não devemos amar a educação clássica porque nós queremos ser 

    melhores. Eu espero ter ilustrado isso como sendo uma atitude muito perigosa. 

    Deixe-me sugerir que a única real razão para estar envolvido na educação clássica 

    é porque nós entendemos que isso nos ajudará a sermos humanos. Nisto, ajudará 

    a entender o chamado que recebemos, compreendendo a nós mesmos, para entender quem somos, para articular o que acreditamos, e porque acreditamos. 

    Aristóteles falou sobre os objetivos da educação, que é absurdo defender que um 

    homem deve se envergonhar da inabilidade de se defender com seus membros, 

    mas que não se deve envergonhar da inabilidade de defender-se com discurso e 

    razão; pois o uso do discurso racional é mais distintivo de um ser humano do que 

    o uso de seus membros.

    Em outras palavras, o que nos faz humanos, o que nos faz o que devemos 

    ser, é a habilidade de colocar isso em palavras, o que acreditamos, e porque 

    acreditamos. Isto é o tesouro da educação clássica, este é o tesouro do padrão de 

     juntar fatos, avaliar os mesmos e expressar nossas opiniões sobre.

    O apóstolo Paulo diz que nós sempre devemos ser capazes de responder a 

    razão para a esperança que existe em nós. E este é o objetivo da educação 

    clássica. Este é o único motivo para dispor seu tempo, finanças, e seu esforço 

    nisso. Então, obrigada!

    11