educação infantil · 2015-05-07 · na rotina com crianças pequenas deve-se garantir...
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Módulo II
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Sumário
Unidade 3 – Organização da Rotina e Pedagogia de projetos..................................... 3
3.1 – Organização da Rotina...................................................................................... 3
3.2 – Pedagogia de Projetos....................................................................................... 5
3.3 – Linhas Pedagógicas .......................................................................................... 9
Unidade 4 – Práticas Pedagógicas ............................................................................ 11
4.1 – Dinâmicas para a Educação Infantil ................................................................ 11
4.2 – Métodos de Alfabetização .............................................................................. 18
4.3 – Modalidades e exemplos de texto infantil ....................................................... 20
4.4 – Educação em valores ...................................................................................... 29
Referências Bibliográficas ....................................................................................... 34
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Unidade 3 – Organização da Rotina e Pedagogia de projetos
3.1 – Organização da Rotina
A rotina pode ter funções diferentes no contexto da educação infantil,
dependendo da forma como é instaurada. Se for imposta de maneira rígida e inflexível,
pode forçar a criança a se adaptar a ela, cerceando sua liberdade, criatividade e
espontaneidade naturais. Por outro lado, pode haver um ganho no estabelecimento de
uma rotina, facilitando que a criança ganhe confiança neste novo ambiente que virá a
frequentar e que, tendo uma forma regular de se organizar (ainda que flexível em muitos
aspectos), possa ajudá-la a controlar sua ansiedade diante do desconhecido.
Na rotina com crianças pequenas deve-se garantir cotidianamente momentos
diversificados de exploração dos vários aspectos e sentidos, mas, antes disso, a rotina
em si é ponto crucial para que a criança se sinta segura e compreenda que ficará por
determinado período na escola e que depois reencontrará seus pais ou familiares,
podendo controlar sua ansiedade e medo de separar-se deles antes mesmo de ter uma
noção de tempo propriamente dita.
Uma sequência repetida e constante de propostas e ações dá à criança a
possibilidade de prever e de alguma forma se sentir no controle do que vai acontecer
com ela etapa por etapa, tranquilizando-se desta maneira.
Na escola em que trabalho, a rotina se divide em cinco partes que se repetem
diariamente com variações em seu conteúdo, mas mantendo a forma principal.
Recebemos as crianças no parque de areia, momento prolongado em que eles exploram
fisicamente o espaço através de brincadeiras simbólicas, espontâneas ou dirigidas.
Depois disso, entramos em sala para lavar as mãos e tomar lanche. Os processos
são prolongados e esta etapa é fonte de aprendizagem sobre a higiene e alimentação. No
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lanche as crianças observam, trocam, experimentam e se responsabilizam por sua
lancheira, lixo, banco e em seguida vão para a roda. Em roda as crianças folheiam
livros, conversam, contam novidades, introduzimos projetos, combinados, eventos,
alguns jogos, brincadeiras, lemos diariamente histórias, poesias e parlendas. A música
perpassa todos os momentos da rotina: cantamos com eles no parque, em brincadeiras
de roda, durante algumas leituras e a musicalidade surge trazida por nós ou por eles
constantemente.
Depois da roda, é o momento das brincadeiras em que cabem as rodas
tradicionais como “corre cotia” e “roda roda”, mas também os cantos simbólicos, como
casinha com bonecas, brincadeiras de encaixe com blocos de madeira ou lego,
carrinhos, médico, brincadeiras de exploração corporal com colchões, túneis, cabanas e
música e os jogos de mesa como dominó, quebra-cabeças, memória e lince. Finalmente,
propomos a atividade plástica em que oferecemos diversos tipos de material gráfico, de
colagem, pintura e modelagem. A exploração varia muito em sua apresentação e
manejo, Pode ser individual, em duplas, grupos, coletiva, podendo ser em pé, sentada,
deitada, com uso de diversos instrumentos e suportes desde papel, a parede, o chão até o
próprio corpo das crianças, como suporte para usá-los como quadros de pintura.
Dentro da rotina, o que está em primeiro lugar é o cuidado básico dos pequenos:
alimentação, sono, higiene e segurança, sempre os implicando nestes processos para que
passem aos poucos a conseguir compreender a importância de se responsabilizarem por
estas etapas: cuidar de si, de seus amigos e de seus pertences. Ainda assim, há espaço
para a exploração de seus sentidos e principalmente da formação do grupo que vai se
conhecendo cada vez melhor através de conversas, da convivência com o outro e da
interação constante que não vem livre de conflitos, muito pelo contrário. E são os
conflitos e suas resoluções que os fazem aprender mais sobre como se relacionar com
cada um e sobre si mesmos em cada situação que enfrentam, sempre com nossa ajuda.
As experiências propostas estão sempre sendo repensadas de acordo com cada
grupo e cada momento pelo qual estão passando, adaptando-se através do interesse e
envolvimento deles. Cada passo dado no planejamento é flexível e pode se transformar
para fazer mais sentido para todos.
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3.2 – Pedagogia de Projetos
Segundo Ivanise Meyer (Meyer, 2003), a pedagogia de projetos em sala de aula
torna a prática pedagógica significativa e dinâmica, ampliando a possibilidade de
aprendizagem das crianças.
Olga Arantes Pereira, em seu artigo sobre a Pedagogia de Projetos (Pereira,
2004), sistematiza o conhecimento sobre esta forma de trabalho com educação trazendo
sua experiência tanto na docência, quanto na coordenação pedagógica.
Segundo ela, o que se busca com os projetos é “romper o modelo clássico de
escola, com tempos rígidos atribuídos a cada disciplina, pensando na aprendizagem
como um processo global e complexo, no qual conhecer a realidade e intervir nela não
são atitudes dissociadas”.
Ela compreende a escola como espaço de acesso ao conhecimento necessário à
inserção social, organizando situações planejadas que promovam à aprendizagem de
conteúdos socialmente valorizados.
A função social da escola ainda é polêmica, mas a sua valorização na construção
do saber dos sujeitos permanece. A crise na Educação, porém, se dá desde a década de
60, quando ela deixou de ser associada a um contexto de certezas e passamos ao
acúmulo de novas tecnologias e conhecimentos gerados rapidamente, num mundo
globalizado.
O professor não pode ser mais o detentor de saber, ao contrário, deve saber
navegar neste universo, dando ferramentas ao aluno para refletir e conseguir ter uma
visão crítica da realidade que o cerca.
Cabe ao professor encarar o currículo que se apresenta a sua faixa etária não
como manual, mas como conjunto possível de atividades que possam promover
conhecimentos aos alunos, propondo desafios a eles.
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Surge com o pensamento da Escola Nova a ideia de “atividade” em
contraposição à passividade. Neste sentido, defende que: “a criança deve agir, aprender
fazendo e experimentando, de forma intuitiva”.
A partir desta concepção de aprendizagem é que surgem os projetos, que
facilitam esta forma de ação, como prática educativa de oposição aos princípios da
escola tradicional. Já não há nela foco no preparo para o futuro, mas na vivência
presente significativa.
Os chamados métodos de projetos, centros de interesse, trabalho por temas,
pesquisa do meio, projetos de trabalho são denominações que respondem a visões com
importantes variações de contexto e conteúdo que, muitas vezes, se confundem.
Atualmente já não se entende o trabalho com projetos como um método, dado
que não existe uma técnica ou manual para isso, mas sim uma mudança de postura de
trabalho pedagógico, que re-significa o espaço escolar em lugar aberto a interações.
O estudante aprende participando, vivenciando sentimentos, formulando
problemas, tomando atitudes diante dos fatos, investigando, construindo novos
conceitos e informações, escolhendo procedimentos quando se vê diante da necessidade
de resolver questões. Ele constrói o conhecimento integrado a práticas vividas, se
apropriando de um conhecimento e se formando como sujeito. Os Projetos de Trabalho
apresentam uma concepção de educação que leva em conta conhecimentos que vão
além do currículo básico.
Projetos que podem ser divididos em três tipos: Projetos referentes à vida
cotidiana, Projetos de empreendimentos e Projetos de Aprendizado, que será o foco
deste projeto de pesquisa.
A característica básica de um projeto é ter um objetivo compartilhado por um
grupo. Cada projeto apresenta particularidades, mas em todos eles procura-se:
identificar um problema, levantar hipóteses e soluções, mapear o aporte científico
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necessário, selecionar parceiros, definir um produto, documentar e registrar,
acompanhar e avaliar, publicar e divulgar.
Um projeto constitui uma atividade intencional e, neste sentido, a
responsabilidade, o compromisso e a autonomia dos alunos são essenciais, além disso, a
autenticidade é uma característica fundamental. Não é uma reprodução de conteúdos,
pois os alunos devem construir respostas pessoais e originais. Não há planejamento
claro e definitivo, pois envolve complexidade e resolução de problemas.
O que caracteriza o trabalho com projetos não é a origem do tema, mas o
tratamento dado a esse tema, no sentido de torná-lo uma questão do grupo como um
todo e não apenas de alguns alunos ou do professor. O importante é garantir que essa
temática se transforme em uma questão para a turma, e isso depende basicamente do
professor. Para isso é necessário romper com o modelo fragmentado de educação.
Do professor se espera a percepção crítica de sua atuação, a busca de prática
competente, a clareza de objetivos, formas diferenciadas de intervenção (individual, em
grupos ou coletiva), alterações na rotina diária, no uso do espaço/tempo e na
organização dos grupos, observação de cada aluno e da classe como um todo, o registro
de sua reflexão para uso futuro e a partilha com o aluno de suas observações. Neste
sentido, manter um portfólio pode auxiliar no registro e no acompanhamento de
avaliação tanto pelo professor quanto pelos alunos do tema pesquisado.
Tais Projetos possibilitam produzir conhecimentos de forma não fragmentada,
em que os alunos aprendem a organizar informações e estabelecer relações entre elas.
Eduardo Chaves em seu artigo sobre a pedagogia de projetos na aprendizagem
(Chaves, 2013) coloca a visão de Paulo Freire de que o ser humano se educa quando se
põe em contato, em diálogo com os outros e quando juntos refletem sobre os seus
sonhos e a realidade que precisarão transformar para que juntos eles possam se tornar
realidade. Para que haja educação é necessário que nos tornemos capazes de viver
nossos próprios sonhos.
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Chaves diz ainda que, ao invés de tratar das questões que realmente interessam
os alunos, a escola tenta fazer com que eles se interessem por coisas que, em geral,
estão muito distantes de sua vida, de sua realidade, e não levam em conta aquilo de que
lhes gera curiosidade.
A proposta de projetos de aprendizagem, a pedagogia de projetos, procura
reverter esse quadro, busca evitar que crianças deixem de lado sua imaginação e sua
criatividade, incentivando-os a aprender o que os interessa. Além disso, evita que a
aprendizagem seja passiva e puramente teórica, buscando a participação ativa das
crianças em todas as etapas dos projetos. Também restabelece um vínculo entre a
aprendizagem escolar e a vida cotidiana dos alunos.
Quanto à avaliação, nesta faixa etária, além de ser feita por elaboração de
relatórios individuais que vão para os pais com os avanços de cada semestre em relação
aos projetos e a todos os aspectos da rotina, ela também pode e deve ser feita com as
crianças através de conversas sobre os processos de aprendizagem. Segundo o RCNEI:
“A observação das formas de expressão das crianças, de suas capacidades de
concentração e envolvimento nas atividades, de satisfação com sua própria produção e
com suas pequenas conquistas é um instrumento de acompanhamento do trabalho que
poderá ajudar na avaliação e no replanejamento da ação educativa. Uma conversa
mostrando-lhes como faziam “antes” e como já conseguem fazer “agora” se configura
num momento importante de avaliação para as crianças. Para que as observações não se
percam e possam ser utilizadas como instrumento de trabalho, é necessário que sejam
registradas.”
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3.3 – Linhas Pedagógicas
Segundo Silvana Krefta em artigo sobre a trajetória da Educação Infantil no
Brasil (Krefta, 2001), explicita as mudanças que foram ocorrendo através de três
modelos de educação: o da Escola Tradicional, o da Escola Nova e a
Sociointeracionista. Porém, existem ainda abordagens específicas como a Waldorf e a
Montessoriana, que merecem ser conhecidas.
Existem escolas baseadas em diferentes teorias pedagógicas e elas levam em
consideração diferenças no papel dado ao aluno e ao professor.
Na escola tradicional, o aluno é visto como o receptor passivo do conhecimento
que será transmitido a ele pelo professor através de aulas expositivas. Nela, o professor
é a figura central. Ele ensina as matérias de maneira sistematizada e o aluno as absorve
como se não houvesse nenhum conhecimento prévio. O conhecimento é concebido
como verdades absolutas e inquestionáveis. A avaliação de aprendizagem se dá pela
valorização da memorização deste conhecimento que foi passado ao aluno.
Na abordagem construtivista, o aluno constrói o conhecimento e o professor o
ajuda neste processo de construção em diversas dinâmicas. Aqui o saber é criado por
meio da formulação de hipóteses e da resolução de problemas, pois seu objetivo é que o
aluno adquira autonomia. As disciplinas são trabalhadas em uma relação mais próxima
com o contexto dos alunos e com sua realidade. Essa abordagem é inspirada nas ideias
do suíço Jean Piaget (1896- 1980), o método procura instigar a curiosidade, já que o
aluno é levado a encontrar as respostas a partir de seus próprios conhecimentos e de sua
interação com a realidade e com os colegas.
O método enfatiza a importância do erro não como um tropeço, mas como um
trampolim na rota da aprendizagem. A teoria condena a rigidez nos procedimentos de
ensino.
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Na linha Sociointeracionista, o aluno aprende através da interação com os
objetos e pessoas, construindo seu conhecimento através destas relações, enfatizando
muitas vezes o trabalho em grupo e cooperativo entre os alunos. Esta abordagem se
relaciona muito com a teoria construtivista, mas dá maior ênfase ao grupo e à interação
com as pessoas.
Existe também a pedagogia Waldorf, que é um modelo alemão que tem como
foco o ensino através de experiências de contato com a natureza e a arte, a
aprendizagem se dá através do sentir e pensar sobre as sensações. Esta abordagem
prioriza as necessidades do desenvolvimento do estudante.
Esta teoria se baseia na Antroposofia, ciência elaborada por Rudolf Steiner, que
estuda o ser humano buscando-se uma perfeita integração entre o pensar, o sentir e o
querer. Foi criada em 1919 na Alemanha e o ensino teórico é sempre acompanhado pelo
prático, com grande enfoque nas atividades corporais, artísticas e artesanais, de acordo
com a idade dos estudantes. O foco é o de desenvolver seres humanos capazes de por
eles próprios darem sentido e direção às suas vidas.
A avaliação dos alunos é baseada nas atividades diárias e o progresso deles é
exposto detalhadamente em relatórios manuscritos, nos quais são mencionadas as
habilidades sociais e virtudes.
Também existe a escola Montessoriana, pela educadora italiana Maria
Montessori, que parte do princípio da experiência concreta e da observação. Nesta
abordagem, o foco ideológico é bem diferente dos valores da sociedade tradicional, pois
busca o desenvolvimento humano a partir do conhecimento prévio do aluno e lhe dá a
opção de decidir o que irá estudar dentre as atividades propostas.
A mudança principal entre cada abordagem é a do papel do aluno, entre mais ou
menos ativo na sua relação com a aprendizagem, que pode ser de forma reflexiva ou
mais passiva, sendo que estas duas últimas têm os valores de seus criadores embutidos
nelas.
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Unidade 4 – Práticas Pedagógicas
4.1 – Dinâmicas para a Educação Infantil
São muitas as dinâmicas possíveis de serem desenvolvidas na educação infantil
em relação aos diversos aspectos a serem desenvolvidos nela, como descritos
anteriormente: movimento, música, artes visuais, linguagem oral e escrita, natureza,
sociedade e matemática. Além dos cuidados básicos do cuidar e do brincar que devem
ser garantidos, visando sempre a autonomia da criança, a integração do grupo, sua
identidade, a diversidade dentro do grupo, o contexto em que a criança se insere e a
aproximação real do que acontece na vida cotidiana do grupo.
Vou descrever aqui algumas dinâmicas interessantes para cada uma destas áreas
de importância, pensando sempre que em cada dinâmica se trabalha não apenas uma
área, mas transversalmente com diversos aspectos da aprendizagem global na criança.
Na área do movimento é possível propor uma dinâmica chamada “bola ao
cesto”, em que se utiliza uma ou duas bolas e um recipiente maior do que ela que possa
contê-la quando a criança arremessá-la a ela. É interessante propor o desafio para todos
inicialmente de um mesmo ponto de distância não muito afastado para que depois elas
possam ir se ampliando para desafios maiores. Trabalha-se aqui a noção de distância,
força, direção, coordenação motora e o trabalho com a questão de esperar a vez para
lançar a bola ao cesto.
No trabalho com a música é possível desenvolver uma dinâmica com o uso de
instrumentos musicais. O professor pode trazer o instrumento escondido atrás de um
tecido e promover uma exploração sonora sem que as crianças vejam o que está por de
trás dele ou um anterior, fazendo sons, questionando as crianças sobre o que estão
escutando, se conhecem esse som e aos poucos mostrar e disponibilizar a exploração e a
experimentação, propondo que toquem alguma música conhecida com o grupo
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acompanhando e cantando todos juntos. Depois pode haver uma brincadeira de
“estátua” com todo o grupo dançando ao som do instrumento que conheceram.
No campo das artes visuais é interessante escolher um artista que chame atenção
das crianças e trazer uma imagem para apreciação do grupo. Primeiro, traga a imagem
tampada e mostre partes dela aos poucos para que as crianças possam tentar adivinhar o
que haverá na figura inteira. Depois, deixe-os trazerem suas interpretações sem dar a
resposta correta, permitindo que eles sejam livres para absorver e se relacionar com a
obra.
Depois, o professor pode contar sobre o autor da obra, se é vivo ou morto, trazer
uma imagem dele (foto ou autorretrato), conversar sobre a obra e a técnica, perguntar o
que o grupo acha sobre o autor da pintura e tentar reproduzir alguma técnica com as
crianças usando as obras do autor como fonte de observação constante.
No trabalho com a linguagem oral e escrita é interessante sempre ler e escrever
na frente dos alunos. Cotidianamente, faça uma roda de leitura em que uma história
(poesias ou parlendas) seja contada sob a forma de um livro, cartaz, calendário ou
agenda em que o professor possa escrever narrando para as crianças o que está
escrevendo.
As crianças podem ajudar a narrar uma carta ou bilhete para os pais ou para
outro grupo da escola, tendo assim cada vez mais a noção de como há diferença entre o
texto escrito e o falado.
O trabalho com natureza e sociedade é mais específico e costuma demandar
projetos pedagógicos mais amplos, como o estudo de insetos, de animais de algum
ambiente específico (como mar, terra, floresta, entre outros), de povos específicos
(como índios, negros, entre outros), mas também podem estar presente em dinâmicas do
dia a dia, como atividades de separação do lixo reciclável no lanche das crianças e um
trabalho que possa ser feito com este material, desde a discriminação do que é lixo
reciclável do que é orgânico, de quais materiais são recicláveis, se precisam ou não ser
separados ou lavados (sempre de acordo com a abordagem da escola para o assunto) e o
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destino a ser dado a ele, que pode até se tornar material de brincadeira, de colagem, de
construção de brinquedos, entre outras. Uma atividade simples é a de fazer uma bola de
alumínio com o alumínio trazido ao redor do lanche das crianças. A cada dia esta bola
vai ficando maior e pode ser usada em brincadeiras de rolar a bola entre as crianças, se
tornando um brinquedo do grupo.
Atividades simples que utilizam a matemática são os jogos de mesa. No jogo de
lince, por exemplo, em que há um tabuleiro com imagens e peças com as mesmas
imagens, as crianças vão acumulando peças cada vez que acham uma peça com mais
rapidez do que os amigos. Ao final da partida, cada criança pode contar seu bolinho de
imagens, exercitando a contagem e a comparação entre números (maior e menor) e no
tamanho dos “bolinhos”, numa prática de estimativa de quantidades.
Abaixo estão enumeradas algumas brincadeiras comuns na educação infantil e suas
regras e canções descritas quando forem cantadas:
1 Corre Cotia: necessita de uma roda de crianças e de um objeto que será o
“lenço”. Uma criança corre ao redor da roda enquanto as outras cantam a
canção: “Corre cotia na casa da tia, corre cipó na casa da avó, lencinho na mão,
caiu no chão, moça bonita do meu coração, pode jogar? Pode! Ninguém vai
olhar? Não!” e todos fecham os olhos para que a criança deixe o lencinho atrás
de alguém. Quando descobre, a criança corre atrás desta até que ela sente e
depois começa tudo de novo até que todas as crianças tenham sido escolhidas;
2 Ponte da Vinhaça: necessita de algum objeto para delimitar uma ponte: tábua
sobre pneus, bancos aglomerados ou apenas um tecido ou almofadas sobre a
quais as crianças possam andar em linha reta. O professor sorteia uma criança
para começar a escolher quem vai querer interpretar ao passar pela ponte
(princesa, herói, animal etc) e passa enquanto cantam: “Lá na ponte da
vizinhança todo mundo passa e o (fulano) passa assim, e o (fulano) passa assim,
assim assado, carne seca com ensopado!” e ele desce da ponte e convida algum
amigo(a) para passar e tudo se repete até que todas as crianças tenham passado;
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3 Senhor caçador ou Gato Mia: Uma criança fica com uma venda nos olhos ou no
colo do professor com os olhos tampados pelas mãos e ele escolhe uma criança
para miar. No caso do “Senhor Caçador”, o grupo canta: “Senhor caçador preste
bem atenção, não vai se assustar quando o gato miar”. A criança de olhos
vendados deve adivinhar quem miou pela voz e quem mia ganha a vez de
vendar os olhos e assim sucessivamente até que todos tenham participado;
4 Elefantinho Colorido: num ambiente colorido o professor canta para os alunos:
“Elefantinho colorido” e eles devem perguntar: “Que cor?” e o professor
escolhe uma cor para que todos procurem. Quando encontrarem, deve repetir a
conversa até esgotarem as cores do ambiente. É interessante incluir não apenas
objetos, paredes ou chão, mas as roupas das crianças, sua pele, cabelo, olhos,
etc;
5 Acorda seu urso: Uma criança ou adulto finge dormir em algum canto e as
crianças devem chegar de mansinho para acordá-lo e gritar: “Acorda seu urso!”
e o urso acorda e pega alguém para virar urso junto com ele ou no lugar dele.
Repete-se até que todos virem ursos ou que todos tenham tido a vez de serem o
urso (pegador);
6 Comida Brasileira: Em roda o professor entoa a canção enquanto bate três
palmas nos intervalos das palavras (nas vírgulas): “Atenção, concentração, vai
começar, a brincadeira, da comida brasileira, só bate palmas, se for comida”.
Depois ele questiona as crianças sobre nomes de comidas, até que alguém diga
algo que não é comida. A cada comida falada todos devem bater 3 palmas se for
mesmo comida. Se não for uma comida, a criança “perde” a brincadeira se bater
palma;
7 Roubou Pão na Casa do João: Em roda o professor e as crianças cantam cada vez
com o nome de um amigo: “O (fulano) roubou pão na casa do João” e a criança
acusada deve dizer: “Quem eu?” e as crianças respondem: “Você!” e ele se
defende: “Eu não!” e o grupo: “Então quem foi?” e ele acusa outra criança e a
brincadeira se repete até que todos tenham brincado;
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8 Três bonecos: em pé as crianças e professor cantam uma música que vai sugerir
movimentos com o corpo bem rígido, depois bem mole e depois aos pulos se
referindo a três bonecos. A música diz: “Eu sou um boneco de pau, meu nome é
José Picapau, eu sei abaixar, pros lados olhar, também sei bater palmas no ar”,
depois: “eu sou um boneco mingau, meu nome é José Molengal, eu sei abaixar,
pros lados olhar, também seu bater palmas no ar” e por fim: “Eu sou um boneco
de mola, meu nome é José Moquetola, eu sei abaixar, pros lados olhar, também
sei bater palmas no ar!”;
9 Escravos de jó: com crianças maiores, de no mínimo 4 anos, se dá um bloco de
madeira para cada um e vai se passando de mão em mão os blocos cantando e
fazendo os movimentos de acordo com a música: “Escravos de jó, jogavam
Cachangá, tira, põe, deixa ficar, guerreiros com guerreiros fazem “zigue zigue
zá”. Quando fala “tira, põe” tira e põe no chão o bloco. Quando fala “zigue
zigue zá” faz um movimento de vai e vem com o bloco. Se errar e embolar os
blocos em alguém, a pessoa sai da brincadeira até sobrar só um que é o
vencedor;
10 Pirulito que bate-bate: Brincadeira de bater palmas com um colega. Bate uma
palma na própria mão e uma com as mãos do colega cantando: “pirulito que
bate bate, Pirulito que já bateu, quem gosta de mim é ela, quem gosta dela sou
eu”;
11 Caranguejo: Em roda o grupo canta e faz os movimentos que a música pede:
“Caranguejo não é peixe, caranguejo peixe é, caranguejo só é peixe na enchente
da maré. Ora palma, palma, palma, pé, pé, pé, roda, roda, roda, caranguejo
peixe é!” Quando fala palma, as crianças batem palma, quando fala pé, batem o
pé e quando termina a música todos sentam no chão;
12 Macaco Simão: O professor dá comandos aos alunos que foram dados pelo
personagem Macaco Simão que é uma figura mandona e brava. O professor
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pode inventar movimentos ou pedir para imitarem algum animal e diz: “O
macaco Simão mandou o grupo (X) fazer (tal coisa)” e dá ênfase em como cada
criança faz cada movimento, incentivando que façam. É legal dar coisas difíceis
que desafiem o grupo como rastejar como cobra, rolar no chão, interagir com os
amigos, etc;
13 Coelhinho Troca de Toca: desenhar no chão ou usar bambolês ou pneus para
definir “tocas” em que caiba o número correto de crianças. Quando estiverem
todos em suas tocas, enunciar a chegada de um lobo ou uma raposa e dar o
comando: “Coelhinho troca de toca, 1, 2, 3!” e a regra é que todos devem mudar
de toca o mais rápido possível para o “pegador” não o pegar. Só pode ficar uma
criança em cada toca. Um pode ser o pegador e quando conseguir pegar troca de
papel com quem pegou e usa sua toca;
14 Pulguinha: todas as crianças se deitam no chão enquanto o adulto canta e vai
dando “picadinhas” em cada uma. A música é “Estava dormindo quando algo
aconteceu, foi uma pulguinha que danada me mordeu. Soldado de polícia,
inspetor de quarteirão, pega essa pulguinha e põe lá na prisão!”, neste momento
o adulto orienta para que as crianças levantem e pulem, pois se transformaram
na pulguinha enquanto canta: “Ó como ela pula, vê como saltita, pulga danada
como ela se agita!”;
15 Pisa no chiclete: as crianças cantam imitando os movimentos da música: “pisa
no chiclete, dá uma rodadinha, chifre de boi manso, dança da galinha, coci,
coci, coci coci coçá, quem parar de perna aberta tem que rebolar, coci, coçá!”.
Se alguém parar de pernas abertas põe a mão na cintura e rebola cantando:
“rebola, chuchu, rebola chuchu, rebola senão eu caio!”;
16 Rabo da serpente: Professor é a cabeça da serpente que perdeu todos os pedaços
de seu rabo. Sai cantando e chamando uma criança de cada vez para passar por
baixo de suas pernas e montar um trem atrás dele até que todos participem. A
canção é “Essa é a história da serpente, que desceu do morro para procurar um
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pedaço do seu rabo e (fulano é) um pedação do meu rabão”. No final a serpente
fica bem grande e podem andar bem rápido até desfazer novamente e alguém
começar de novo a brincadeira;
17 Piaba: O professor canta uma canção com gestos e no final dá um comando que
duas crianças devem fazer juntas, como se abraçar, dar uma umbigada, fazer um
carinho, etc. A canção é: “Sai, sai, sai ô piaba, saia da lagoa, bota a mão na
cabeça e a outra na cintura, dá um remelexo no corpo, dá um abraço no outro!”
e começa de novo com outra interação com o amigo;
18 Carrocinha: de pé em roda o grupo escolhe três amigos que ficam no meio
imitando cachorrinhos e canta: “A carrocinha levou três cachorros de uma vez,
a carrocinha levou três cachorros de uma, ai, ai, ai que gente é essa, ai, ai, ai que
gente má, ai, ai, ai que gente é essa, ai, ai, ai que gente má!” e depois trocam as
crianças do meio por outras três até que todos tenham a vez;
19 Batata Quente: Em roda, o grupo elege um objeto para ser a “batata quente” que
passará de mão em mão com agilidade enquanto uma criança fica com os olhos
fechados recitando: “batata quente, quente, quente, quente... queimou!” quando
a criança diz que queimou, quem ficou com a batata na mão fecha os olhos para
recitar para o grupo repetir a brincadeira;
20 Linda Rosa Juvenil: Esta brincadeira é a encenação musicada da história da Bela
adormecida. Elegem-se a princesa, o príncipe, a bruxa e o tempo. A princesa
fica no centro da roda e a música vai dando os comandos para cada etapa da
brincadeira, para a bruxa entrar e adormecer a princesa, para o tempo correr ao
redor da roda e para o rei entrar e beijar a princesa para salvá-la. As crianças
que não serão personagens são o “palco” da história e o mato que vai crescendo
enquanto a princesa espera pelo príncipe. A música é assim: “A linda rosa
juvenil, juvenil, juvenil (2x) Vivia alegre em seu lar, em seu lar, em seu lar (2x)
Um dia veio a bruxa má, muito má, muito má (2x) E adormeceu a rosa assim,
bem assim, bem assim (2x) E o tempo passou a correr, a correr, a correr (2x) E
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o mato cresceu ao redor, ao redor, ao redor (2x), E um dia veio o belo rei, belo
rei, belo rei (2x) Que despertou a rosa assim, bem assim, bem assim (2x) E os
dois viveram a dançar, a dançar, a dançar (2x) E batem palmas para o rei, para o
rei, para o rei (2x)”;
21 Tango tango: Nesta brincadeira o grupo fica em roda e a música sugere que uma
criança entre de cada vez ao centro da roda e depois serão retiradas uma por
uma. A canção diz: “Tango, tango, tango morena, é de carrapicho eu vou jogar
(fulano) na lata do lixo” e depois que todos estão dentro da roda diz o contrário,
ou seja: “Tango, tango, tango morena, é de carrapicho eu vou tirar (fulano) na
lata do lixo”.
4.2 – Métodos de Alfabetização
Seria possível associar as atividades descritas nos níveis apresentados na
psicogênese da língua escrita com o ensino de atividades linguísticas que preveem o
ensino das relações entre letra e som, análise e síntese das palavras.
No nível pré-silábico, onde as crianças tendem a fazer rabiscos, desenhar para
representar objetos ou fazer uso das letras aleatoriamente para formar palavras, cabe ao
professor mostrar ao aluno que a escrita existe e que há uma conexão entre letras e sons,
entre a quantidade de letras e o tamanho das palavras.
No nível silábico, a criança pode começar a entender a partir de nossa
intervenção como o modo de escrever se relaciona com a quantidade de vezes que ela
abre a boca para falar, percebendo e compreendendo a formação das palavras e sua
correlação com a escrita, a partir de palavras de seu contexto do cotidiano, como nomes
de amigos, por exemplo.
No nível alfabético, já se inicia uma formação de palavras fazendo a relação
direta entre som e letra, analisando vogais, consoantes e suas junções para a escrita do
modo como se fala. Os conflitos entre a fala e a grafia podem aparecer aí.
19
Para uma alfabetização ser desenvolvida com qualidade o professor precisa, em
primeiro lugar, ter um bom domínio da língua escrita, das regras gramaticais atuais
(pós-reforma ortográfica) e uma fala e leitura correta dos textos que irá utilizar.
Além disso, é necessário que o professor tenha e proporcione aos alunos um
repertório de textos (literários, informativos e afins) que tenha relação com o cotidiano
ou interesse deste grupo de alunos. Deve conhecer e incluir a realidade deles em seu
planejamento de atividades, respeitando seus costumes, modo de vida e linguagem
informal que trazem do núcleo familiar, para que em suas atividades propostas, os
alunos se sintam contemplados e não desrespeitados, desconectados ou excluídos
daquilo que está sendo ensinado.
O ponto de partida deve vir do cotidiano, como o nome dos alunos, por exemplo,
e uma palavra geradora deve ser escolhida para fomentar esse interesse deles, gerando
criação de texto oral, escrito e de possível leitura dentro de um mesmo tema proposto,
visando ter significado para o grupo e criando uma vinculação afetiva no letramento.
A alfabetização gira em torno de três aspectos importantes da linguagem: a fala,
a escrita e a leitura, e no modo como as três estão interligadas no processo de
aprendizagem da língua portuguesa.
No método da cartilha, amplamente utilizada em muitas gerações e até hoje em
diversas escolas, podemos perceber algumas falhas nestes três aspectos. Na fala
inicialmente vemos o quanto a criança acaba usando a oralidade num sentido de
repetição do que existe no conteúdo, sem se utilizar dela como instrumento de criação,
discussão ou expressão de suas ideias, numa leitura de ditados e sem significação
importante para ela.
A escrita acaba sendo fruto de uma repetição da memória, de palavras, sílabas e
sons sem uma relação entre si, apenas para uma formalização, sem contexto relacionado
ao que importa para a criança, podendo gerar uma desmotivação e compreensão
estanque da língua, já que não vai fazer conexões ou fazer com que a criança se
20
interesse em criar palavras ou tentar escrever aquelas com as quais têm alguma
identificação. A cartilha a leva a percorrer o abecedário adiante, sem essa motivação
individual.
No caso da leitura, como é dada na cartilha, a criança lê o que vê, não faz relação
com a língua espontânea falada, criando um lugar específico em sua vida escolar para
ela, sem uma história, sem sentido, às vezes lendo frases com a mesma classe de sílabas
criadas aleatoriamente apenas para a finalidade alfabetizadora da cartilha.
Pode ser útil e eficaz na entrada do mundo alfabético o uso da cartilha, porém
não como instrumento único neste processo, pois se o for, pode ter efeito limitante do
processo mais amplo de letramento e de entrada no mundo letrado que pode abrir tantos
caminhos às crianças.
4.3 – Modalidades e exemplos de texto infantil
Existem algumas modalidades e sugestões de como contar histórias para
crianças pequenas. O teatro de fantoches em que os personagens podem ser
conhecidos ou não, mas em que o manuseio do boneco seja feito de forma adequada,
para que as crianças consigam colocar vida, personificar aquele boneco, interagindo ou
não com ele.
As histórias sugeridas são as que se disponibilizam imagens para que a criança
possa ir ajudando na construção de um enredo a partir de imagens que são
disponibilizadas que possam ajudar a inventar o contexto.
Histórias contadas ou desenhadas e modeladas, em que se conta oralmente
um texto com uso de objetos que personificam personagem e cenário, ou desenha-se no
papel ilustrando ao longo da narrativa, ou ainda com uso de massinha ou argila vai se
moldando cada etapa da história através do enredo narrado oralmente.
21
Histórias com o apoio de um áudio gravado ou instrumentos em que se escuta
uma história narrada por um contador, ou ainda narrada com o uso de instrumento que
podem agir com personagens ou como efeitos sonoros da ação dos personagens.
Histórias com o uso exclusivo de gravuras, em que se mostra uma sequência de
imagens, e se narra com a ajuda das crianças o que está acontecendo em cada quadro.
Histórias rimadas, com uso de livros que tenham um texto que apresente rimas
ao longo de toda a história como a sequência da coleção chamada “Quem tem medo”,
por exemplo.
No início da educação infantil é comum o uso de livros emborrachados ou de
papelão duro que possam ser levados à boca pelos pequenos, mas que ajudam a formar
o comportamento do leitor, pois o professor pode em roda fazer as primeiras leituras,
mostrando e narrando cenas de animais com uso constante de bonecos, músicas e
entonações diferentes.
A partir dos dois anos, começam as histórias um pouco mais complexas, com a
narrativa lúdica e a partir dos três anos inicia-se o interesse pelos contos de fada, em
especial “Os três porquinhos” e “Chapeuzinho Vermelho”, com ênfase na questão do
medo que é personificado na figura do lobo. Outros contos clássicos como “Branca de
neve”, “A bela adormecida”, “Cachinhos dourados” e “Rapunzel” também são muito
apreciadas, mas também outras histórias com enredos que façam sentido para as
crianças como “Quero meu penico” ou “O caso da toupeira que queria saber quem fez
cocô na cabeça dela”, ajudam na retirada de fraldas e na questão do controle dos
esfíncteres, tema recorrente desta faixa etária.
A partir dos três anos, é muito interessante a leitura de poesias e parlendas, com
trava-línguas que os deixam muito intrigados, como a do “Doce de Batata Doce” ou
“Chico Xereta”.
22
Com as crianças maiores é muito comum que se inicie a exploração de advinhas
começando sempre com o famoso “O que é o que é?”, que os deixa sempre muito
intrigados, iniciando a compreender a lógica das piadas e do humor linguístico.
Até os seis anos de idade, a complexidade e duração das histórias que escutam
vão se ampliando e as crianças passam a começar a fazer algumas leituras
compartilhadas e também a criação de alguns textos informativos em seus projetos de
pesquisa ou de poesias e de advinhas. As lendas podem entrar aqui como forma de
auxilio ao trabalho com índios e com conteúdos como a Grécia antiga, temas
normalmente abordados em turmas nos últimos anos da educação infantil. Neste
sentido, a leitura de lendas indígenas e relacionadas aos deuses gregos aproximam
muito as crianças de um universo lúdico, auxiliando no trabalho com a história de cada
um destes povos.
Abaixo estão descritas a lista de alguns livros interessantes para o uso na
Educação infantil, com uma pequena sinopse de seu conteúdo. Muitos deles são contos
contemporâneos publicados pela editora Brinque Book, uma editora muito especializada
nos temas infantis. Outros livros são os de contos clássicos que existem publicados em
muitas versões diferentes que podem ser encontradas nas livrarias, e a escolha feita aqui
é meramente por conhecimento da autora da edição em questão. Tais contos também
podem (e devem!) ser contados via transmissão oral através da memória infantil dos
professores sobre as histórias preferidas deles. Há também algumas opções de livros de
poesias, que são mais escassos no direcionamento ao público infantil, mas vem se
ampliado gradativamente.
1 A Casa Sonolenta: Don e Audrey Wood, Ed. Ática – Trata-se de uma casa em que
todas as pessoas e animais dormem até que uma pulguinha pica o último animal e
todos acordam indo aproveitar o dia;
2 Rei Bigodeira e Sua Banheira: Don e Audrey Wood, Ed. Ática – Trata-se de uma
corte preocupada com um rei que não quer sair da banheira para fazer nada:
almoçar, guerrear, dançar, pescar, etc. O pagem é quem resolve a questão, puxando
a rolha da banheira;
23
3 Onde está você Canguru Azul/ Adoro Você Canguru Azul: Emma Chichester Clark,
Ed. Salamandra – Trata de uma personagem chamada Lili, uma garota que tem um
canguru azul de pelúcia que o adora como seu companheiro e que o perde em todos
os lugares onde vai. No segundo, ela ganha outros bichinhos e o canguru vai ficando
preocupado em ser substituído;
4 Coleção “Quem tem medo”: Fanny Joly/ Jean Noel Rochut, Ed. Scipione – A
coleção trata de vários medos: de fantasma, de escuro, de bruxa, de lobo, de
monstro, de dentista, de extraterrestre, de mar, etc. Cada um com um tema. Sempre
com rimas, a estrutura é a seguinte: Uma criança em uma situação de medo com o
tal tema e que ao final acaba percebendo que foi sua imaginação que criou a
aventura;
5 O caso do Bolinho: Tatiana Belink, Ed. Moderna – Trata-se de um bolinho feito por
uma avó que cansa de esperar por ser comido e sai num passeio. Ele encontra com
uma lebre, um lobo e uma raposa que vão tentar comê-lo;
6 Pato atolado: Jez Alborough, Ed. Brinque Book – Trata de um pato que ficou com
seu carro atolado na lama que vai tentar resolver a questão;
7 Lúcia já vou indo: Maria Heloisa Penteado, Ed. Ática – Trata de uma lesma, Lúcia,
que está sempre atrasada para os eventos com seus amigos bichos;
8 Coleção “Bolinha”: Eric Hill, Ed. Presença II – São livros simples para crianças
bem pequenas sobre um cachorro, Bolinha, em diversas situações: em casa, na
escola, tratando de questões cotidianas e de vocabulário simples;
9 O que é que você quer, Zeca?: Jeane Willis, Ed. Salamandra – Trata de um menino
com muita dificuldade de fazer escolhas;
10 Acorda, Marcos!: Marie-Louise Gay, ed. Brinque Book – Trata de Marcos, o irmão
da personagem Estela, que não quer se levantar da cama de manhã;
11 Bruxa, Bruxa: Arden Druce, Ed. Brinque Book - Trata de uma menina que convida
uma bruxa para ir em sua festa e a bruxa dá como condição chamar outro
personagem e assim sucessivamente cada personagem pede para chamar outro.
Ilustrações incríveis e estrutura simples repetitiva;
24
12 Quando mamãe virou um monstro: Joanna Harrison, Ed. Brinque Book – Trata da
mãe de um casal de crianças que recebe uma ligação dos primos que querem vir
lanchar. A casa está bagunçada e as crianças não a ajudam a organizar e ela vai se
zangando e virando um monstro;
13 Os ovos de Dora: Julie Sykes, Ed. Martins Fontes – Trata de uma galinha que tem
ovos pela primeira vez e fica encantada com os “filhos”, mas depois vê os filhos dos
outros animais e acham todos mais bonitos. Quando os ovos quebram, se assusta,
com medo de ter estragado seus filhos e, depois que vê seus pintinhos, fica
apaixonada, achando os seus os mais lindos;
14 Maneco caneco chapéu de funil/ Panela de arroz: Luis Camargo, Ed. Ática – Trata
de um personagem feito de utensílios de cozinha e de usos e formas de cozinhar,
como o arroz, por exemplo, mas de forma lúdica e com charadas;
15 Coleção “Ninoca”: Ludie Cousins, Ed. Ática – A personagem Ninoca em diversas
aventuras;
16 Papai!: Philippe Correntin, Ed. Cosac Naif – Trata do medo só que alternando a
visão de uma criança humana e de uma criança monstro ao mesmo tempo;
17 Bonequinho de massa: Mary Buarque, Ed. Brasil Didático – Muito parecido com o
enredo de “O caso do bolinho”, trata de um bonequinho feito de massa que é
abordado por vários animais que querem convencê-lo de ser comido por eles;
18 Bruxa Salomé: Don e Audrey Wood, Ed. Ática – Trata de uma família cujas
crianças têm os nomes dos dias da semana que a mãe deixa para ir ao mercado com
o conselho de não abrirem a porta para ninguém. Uma bruxa passa e oferece
dinheiro e eles a deixam entrar e ela os transforma em comidas. A mãe deve
descobrir que comida é cada criança para que elas se transformem de volta;
19 Adivinha o quanto eu te amo: Sam Macbretney, Ed. Salamandra – Trata de um pai e
um filho coelhos que competem em dizer o quanto se amam pela comparação de
tamanhos;
25
20 Você não consegue dormir, ursinho?: Barbara Firth, Ed. Brinque Book – Trata de
um ursinho que não consegue dormir com medo do escuro e que o pai vai tentando
convencer a dormir;
21 Vai embora, grande monstro verde: Ed Emberley, Ed. Brinque Book – Trata de um
monstro que vai sendo mandando embora. O livro é imagético e as partes do
monstro vão indo embora com as cores das páginas;
22 Estela, estrela do mar: Marie-Louise gay, Ed. Brinque Book – Personagem Estela
que fala sobre o mar, em uma experiência na praia;
23 Bililico: Eva Furnari, Ed. Formato – Trata de um filho muito pequeno de uma
mulher e das aventuras que ele passa por ser pequenino;
24 Grúfalo/ O filho do Grúfalo: Axel Scheffler/ Julia Donaldson, Ed. Brinque Book –
Trata de um ratinho que inventa a figura do Grúfalo para se defender de animais que
querem comê-lo e depois percebe que ele existe mesmo. No segundo, o filho do
Grúfalo é que quer descobrir se o rato existe;
25 Caracol e a baleia: Julia Donaldson, Ed. Cosac Naify - Trata de um caracol que
queria conhecer o mundo e que é levado por uma baleia a dar a volta ao mundo em
sua cauda;
26 Azul: Geert de Kockere, Ed. Brinque Book – Trata de uma menina que só gostava
de azul e que passa a se apaixonar por um rapaz que só gosta de amarelo;
27 Da pequena toupeira que queria saber quem fez cocô na cabeça dela: Werner
Holzwarth, Ed. Cia das letrinhas - Trata de uma toupeira que quer descobrir quem
fez cocô na cabeça dela e para isso faz uma pesquisa com todos os animais que
encontra até descobrir e se vingar;
28 O ratinho, o morango vermelho maduro e o grande urso esfomeado: Audrey Wood,
Brinque Book - Trata de rato que colhe um morango e tem medo de um urso vir
pegar o morango dele e tem ideias para tentar esconder o morango;
29 Cocô no trono: Benoit Charlat, Ed. Cia das letrinhas - Trata da questão da retirada
de fralda, mostrando animais que usam fralda ou fazer cocô na privada;
26
30 O catador de pensamentos: Antoni Boratinsky, Ed. Brinque Book – Trata de um
homem que colhe o pensamento das pessoas;
31 O Apanhador de Sonhos: Troon Harrison, Brinque Book – Trata de um homem que
colhe os sonhos das pessoas;
32 Macaco Danado: Julia Donaldson, Ed. Brique Book – Trata de um macaco que
perdeu sua mãe e uma borboleta tenta ajudá-lo, sem saber que sua mãe deveria se
parecer com ele, pois seus filhotes, as lagartas não se parecem com ela;
33 Chega de beijo: Emma Chicester Clark, Ed. Salamandra – Trata de um macaco que
não gosta de beijos até nascer seu irmãozinho pequeno;
34 Ana, Guto e o Gato Dançarino: Stephen Michael King, Ed. Brinque Book – Trata da
amizade entre Ana, Guto e um gato dançarino;
35 Até as princesas soltam pum: llan Brenman, Ed. Brinque Book – Trata de mostrar
escatologias nas histórias das princesas mais famosas.
36 O beijo: Valerie D´heur, Ed. Brinque Book – Trata de um passarinho que não se
despediu da mãe e procura um beijo de despedida entre outros animais, mas não
gosta de nenhum, só o de sua mãe;
37 Como é que eu era quando eu era bebê?: Toni Ross, Ed. Brinque Book – Trata de
diversos animais querendo saber como eram quando eles eram bebês. No final um
sapo pergunta e descobre que era bem diferente, pois era um girino;
38 Dorminhoco: Michael Rosen, Ed. Brinque Book – Trata de um porquinho que só
dormia;
39 O homem que amava caixas: Stephen Michael King, Ed. Brinque Book. Trata de um
homem que tinha dificuldade de expressar seus sentimentos por seu filho através da
fala, então o fazia através de brincadeiras com caixas;
40 Era uma vez um gato xadrez: Esther Proença Soares, Ed. Escrituras – Trata de um
livro de rimas sobre gatos;
27
41 O nascimento da lua: Cobi Hol, Ed. Brinque Book – Trata de uma fábula sobre
como surgiu a lua;
42 No coração e na bolsa: Laurence Bourgnion, Ed. Brinque Book – Trata da história
entre mãe e filho cangurus;
43 Obax: Andre Neves, Ed. Brinque Book - Trata da história de uma menina de uma
tribo africana;
44 O que tem dentro da sua fralda?: Guido Van Genechten, Ed. Brinque Book – Trata
do tema da retirada de fraldas, mostrando entre animais bebês o cocô deles dentro da
fralda;
45 Cocô de passarinho: Eva Furnari, Ed. Moderna – Trata de um grupo de pessoas que
conversam sob uma árvore e pássaros fazem cocô na cabeça deles e ao tentarem
resolver o problema criam muitas possibilidades novas;
46 Leo e Albertina: Christine Davenier, Ed. Brique Book – Trata da bonita amizade
entre dois animais muito diferentes;
47 Pedro e Tina: Stephen Michael King, Ed. Brinque Book – Trata da bonita amizade
entre duas crianças muito diferentes;
48 Devagar, devagar, bem devagar: Eric Carle, Ed. Brinque Book – Trata da
comparação entre a Preguiça (bicho) e os outros animais;
49 Coelhinho Insone: Carol Roth, Ed. Brinque Book – Trata de um colho que não quer
dormir sozinho e vai tentar dormir com seus amigos, mas tem muitas dificuldades
em suas tentativas;
50 Menina bonita do laço de fita: Ana Maria Machado, Ed. Ática – Trata de uma
menina negra que precisa explicar a um coelho branco como ficou desta cor;
51 O ursinho apavorado: Keith Falkner, Ed. Cia das letrinhas – Trata de um ursinho
com muito medo e das formas que tem para resolver isso;
52 Chapeuzinho amarelo: Chico Buarque, Ed. Jose Olympio – Trata de uma menina
com medo de tudo;
28
53 Pinóquio: Tatiana Belinky, Ed. Martins. – Trata de um menino que mente muito e
suas aventuras por conta disso;
54 Cachinhos de Ouro: Ana Maria Machado, Ed. FTD. – Trata de uma menina que
invade a casa de três ursos;
55 Patinho feio: Lais Carr Ribeiro, Ed. Moderna. – Trata de um cisne criado por uma
mãe pata e que não é valorizado por ser diferente dos seus irmãos;
56 Branca de Neve e os sete anões: Getúlio Delphim, Ed. Moderna - Trata de uma
princesa que é expulsa de seu castelo pela madrasta e acaba morando com anões na
floresta;
57 Cinderela: Giselda Laporta Nicolelis, Ed. Moderna – Trata de uma moça maltratada
por sua família que com ajuda de sua fada madrinha consegue ir a um baile real e se
apaixonar pelo príncipe;
58 Rapunzel: Aurelio de Oliveirra, Ed. Moderna – Trata de uma menina que foi criada
por uma bruxa presa numa torre e está a espera de ser salva;
59 A bela adormecida: Elza Fuiza, Ed. Moderna – Trata de uma princesa que foi
amaldiçoada em seu batizado por uma bruxa e que morre em seu aniversário de 15
anos com o dedo picado por uma roca envenenada;
60 Os três porquinhos: Lais Carr Ribeiro, Ed. Moderna – Trata de três porcos irmãos
que fazem casas para se defender do lobo;
61 João e Maria: Flavia Muniz, Ed. Moderna – Trata de irmãos que foram abandonados
na floresta e encontram uma casa feita de doces que pertence a uma bruxa;
62 João e o pé de feijão: Irmãos Grimm, Ed. Girafinha – Trata de um menino muito
pobre que troca uma vaca por feijões mágicos que geram um pé de feijão enorme
que dá acesso a um castelo de um gigante canibal e muito rico;
63 Chapeuzinho vermelho: João de Barro, Ed. Moderna – Trata de uma menina que vai
levar doces para sua avó doente e que é enganada pelo lobo;
29
64 Pedro e o lobo: Sergei Prokofiev, WMF Martins Fontes – Trata de um menino que
tem como amigo uma pata, um passarinho e um gato e que, com ajuda deles,
consegue prender um lobo;
65 A pequena sereia: Tatiana Belinky, Ed. Paulinas – Trata de uma sereia que é
encantada pelo mundo dos humanos;
66 O pequeno polegar: João de Barro, Ed. Moderna – Trata de um menino muito
pequeno e de suas aventuras;
67 Lobo e os sete cabritinhos: Aurélio de Oliveria, Ed. Moderna – Trata de uma família
de cabritos que é enganada pelo lobo;
68 Coleção de poesias: Lalau e Laurabeatriz, Ed. Cia das letrinhas – Muitos dos livros
da coleção tratam de animais diversos, em sua maioria, do Brasil, ou então, de temas
muito adequados ao universo infantil;
69 Arca de Noé: Vinícius de Moraes, Ed. Cia das letrinhas – Trata de diversos animais;
70 Ou isso ou aquilo: Cecília Meireles, Global Ed. – Poesias com temas diversos, mas
muito bem adaptadas ao universo infantil.
4.4 – Educação em valores
Além do conteúdo propriamente dito, dos referenciais curriculares, repertório de
texto, músicas corporais, aquisições de linguagem, a socialização e o trabalho com a
autonomia, que não deixam obviamente de ser muito importantes e centrais na educação
infantil, o mais essencial na formação de um professor é a habilidade com as questões
de valores morais e éticos em sua prática e ao lidar com as relações entre as crianças,
entre os pais, entre ele e o grupo.
Não há tanta importância nos conteúdos a serem passados nesta faixa quanto há
na consistência do discurso em conformidade com as ações. O professor deve ser claro e
honesto com os alunos o tempo todo. Não se pode criar uma base de confiança em uma
30
criança sem esta consistência. Quando digo consistência, quero dizer um compromisso
com a verdade. Não se deve prometer atividades, propostas e ações que não se pode
cumprir. Mesmo que algo prometido se torne inviável sem prévio conhecimento do
professor, deve haver uma conversa honesta sobre o imprevisto. É claro que a criança
ou o grupo pode ficar chateado, irritado ou triste, mas vai conseguir entender e, juntos, o
professor e o grupo podem conversar sobre o assunto, procurando formas de resolver
um problema.
Por exemplo, se num determinado dia, o grupo se programa para fazer um
piquenique numa praça e chove, é claro que não é culpa do professor, mas o evento,
provavelmente muito esperado pelas crianças, será cancelado ou adiado. Nesta situação,
é preciso conversar e acalmar as crianças em suas expectativas, mas pode-se fazer algo
que as tranquilize e que cumpra de alguma maneira com tais expectativas como, por
exemplo, fazer um piquenique na própria sala de aula, brincando de estar na praça.
Fazer um dia diferente que os ajude a superar a frustração, sem negá-la, sabendo o
porquê de não poderem fazer o que queriam.
É muito comum os adultos em geral desconsiderarem a opinião e o
conhecimento das crianças sobre os eventos, tentando amenizar de forma errada um
problema ou eventualidade, “enganando”, ou desconsiderando a necessidade que os
pequenos têm de compreender exatamente o que acontece com eles, assim como os
adultos têm.
Não há maneira melhor de lidar com a frustração do que encarar os problemas
com conhecimento e tendo a possibilidade de dar ideias para reverter à situação. Do
mesmo modo como é importante também que o adulto responsável pela criança lhe dê
“tchau” e lhe avise que virá buscá-lo e a que horas, sem “sumir” ou inventar coisas que
não existem, só para que a criança pare de chorar imediatamente, é importante que todos
os adultos da escola e da vida da criança a tratem da mesma maneira, respeitando sua
inteligência e sua capacidade de superar as frustrações.
Não podemos querer que as crianças não sofram com as coisas que a deixam
tristes, pois a tristeza, assim como a alegria, farão sempre parte de sua vida. Devemos
31
respeitar e acolher a criança quando ela passar por um momento difícil, tentando ajudá-
la a elaborar a situação e tentar encará-la da melhor forma possível. Isso fará com que o
vínculo da criança com o adulto, seja ele quem for, se estreite e que ela confie mais
nele. Do mesmo modo, o professor deve acolher as questões que vem dos pais, tornando
a confiança dos pais uma base para que a criança também possa confiar no professor.
É claro que devemos tomar mais “cuidado” ao lidar com pais, pois eles estão
muito focados apenas nos seus filhos e nós professores, temos um grupo a considerar.
Desta forma, iremos dando notícias sobre o que acontece com a criança, sem deixá-los
assustados, pois sabemos muito bem como as crianças funcionam em grupo e que
conflitos fazem parte do desenvolvimento de vínculos entre eles.
Enfim, devemos respeitar as diferenças entre as crianças e as famílias no ritmo
de desenvolvimento de cada grupo e de cada criança individualmente e isso não é
simples. É preciso ter um olhar atento e cuidadoso para cada criança e seu contexto
familiar e cultural, além de perceber em nós mesmos os nossos limites, buscando ajuda
com colegas e com orientação em casos mais delicados como inclusões com as quais
não temos conhecimento, questões familiares complexas como falecimento de um ente
querido da família da criança, separações, nascimento de irmãos, etc.
O tempo que uma criança passa na escola é grande parte de sua rotina e a relação
com o professor da educação infantil é sempre muito intensa e valiosa para ela. É
preciso saber compreender e valorizar isso, sem atravessar limites, mas aproveitando
este vínculo forte para passar o máximo possível de valores para facilitar com que a
criança consiga se conhecer melhor e ter uma convivência respeitosa consigo mesma,
com seus colegas e com os adultos que venha a conhecer no processo educativo e
também fora dele.
32
Encerramento
O que se espera de um curso sobre Educação Infantil não é permitir uma
capacitação total na atuação ou compreensão da área, pois esta só se dá na prática.
A intenção deste curso é permitir a reflexão sobre diversos temas como: o lugar
da Educação Infantil no Brasil em termos amplos, desde a legislação até o imaginário
popular, o papel do professor nas diversas linhas de trabalho pedagógicas presentes nas
escolas atualmente, a visão de criança que estas abordagens promovem, assim como a
de ensino e aprendizagem, além de oferecer algumas dinâmicas e práticas que podem
ajudar o professor a se planejar.
Espera-se promover ideias com os exemplos de trabalho, com reflexões sobre as
diversas áreas a serem trabalhadas com os pequenos, seus propósitos e possibilidades.
Também, gerar a compreensão de que na Educação, seja ela infantil ou não, o principal
é gerar uma reflexão nos alunos, para que eles possam criar o interesse pelo
conhecimento, pela busca e que tenham curiosidade que nas crianças é tão natural, mas
que pode ir sendo minada pelas técnicas mais formais e que não levam o interesse do
aluno em consideração, assim como a sua capacidade lúdica de criação e participação
no processo de aprendizagem.
Como em qualquer outra área, o que move o profissional da educação é a paixão
pelo trabalho, e poder perceber seu lugar de promoção e de transformação na vida de
um aluno ou de um grupo de alunos é muito gratificante.
Neste sentido, o nosso lugar é o de produtores de cultura, como adultos que
podem ser capazes de despertar interesses novos e reflexões que possam gerar cidadãos
melhores para uma sociedade carente de valores éticos e de cidadania. É necessário
planejar e refletir muito sobre as nossas ações no dia a dia com os pequenos, pois eles
serão os adultos que moverão nossa sociedade no futuro.
33
Com isso em mente, espero que possamos buscar sempre mais referências e
indicações de leitura e de repertório, treinando em nós mesmos a curiosidade que servirá
de base para um ensino inspirado, criativo, ativo e autônomo, transparecendo aos alunos
algo que desejamos ensinar, pois não se ensina explicando um conteúdo, mas sim sendo
uma pessoa admirável e interessada que queremos que os pequenos também queiram
ser! Somos, sem dúvida, um modelo para eles. Por conta disso é preciso estar sempre
atento em nossas ações, nosso discurso e nossa coerência no trabalho com as crianças.
.
Desejo boa sorte na caminhada de vocês!
34
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