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PUBLICIDADE LIVROS Eduardo Viveiros de Castro: 'O que se vê no Brasil hoje é uma ofensiva feroz contra os índios' Antropólogo lança livro 'Metafísicas canibais' e expõe fotografias na mostra 'Variações do corpo selvagem' POR GUILHERME FREITAS 22/08/2015 6:00 PUBLICIDADE PUBLICIDADE VEJA TAMBÉM Exposição no Sesc Ipiranga reúne 250 fotos do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro Índio com filmadora de Viveiros de Castro no Alto Xingu, em 1976. - Divulgação/Eduardo Viveiros de Castro RIO - Certa vez, ao dar uma palestra em Manaus, o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro deparou-se com uma plateia dividida entre cientistas e índios. Enquanto apresentava suas teses sobre o perspectivismo ameríndio, conceito desenvolvido a partir da cosmologia dos povos com que estudou na Amazônia, notou que a metade branca da plateia ia perdendo o interesse. No fim da palestra, diante do silêncio dos cientistas, uma índia pediu a palavra para alertá-los: “Vocês precisam prestar atenção ao que o professor aí está dizendo. Ele está dizendo o que a gente sempre disse”. A cena, relembrada por Viveiros de Castro em entrevista ao GLOBO, remete a uma das teses centrais de seu novo livro, “Metafísicas canibais” (Cosac Naify e n-1 Edições). O autor descreve-o como a “resenha” ou g1 globoesporte gshow famosos & etc vídeos CENTRAL ENTRAR E-MAIL Eduardo Viveiros de Castro: 'O que se vê no Brasil hoje é uma... http://oglobo.globo.com/cultura/livros/eduardo-viveiros-de-ca... 1 de 10 26/08/15, 22:59

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Eduardo Viveiros de Castro: 'O quese vê no Brasil hoje é uma ofensiva

feroz contra os índios'Antropólogo lança livro 'Metafísicas canibais' e expõe fotografias na mostra 'Variações do

corpo selvagem'POR GUILHERME FREITAS

22/08/2015 6:00

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Exposição no Sesc Ipiranga reúne 250fotos do antropólogo Eduardo Viveiros deCastro

Índio com filmadora de Viveiros de Castro no Alto Xingu, em 1976. - Divulgação/EduardoViveiros de Castro

RIO - Certa vez, ao dar uma palestra em Manaus, o antropólogoEduardo Viveiros de Castro deparou-se com uma plateia divididaentre cientistas e índios. Enquanto apresentava suas teses sobre operspectivismo ameríndio, conceito desenvolvido a partir dacosmologia dos povos com que estudou na Amazônia, notou que ametade branca da plateia ia perdendo o interesse. No fim dapalestra, diante do silêncio dos cientistas, uma índia pediu apalavra para alertá-los: “Vocês precisam prestar atenção ao que oprofessor aí está dizendo. Ele está dizendo o que a gente sempredisse”.

A cena, relembrada por Viveiros de Castroem entrevista ao GLOBO, remete a uma dasteses centrais de seu novo livro, “Metafísicascanibais” (Cosac Naify e n-1 Edições). Oautor descreve-o como a “resenha” ou

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Bruce Albert apresentam o pensamentoyanomami

Flip 2014: Davi Kopenawa coloca emdebate a cosmologia ameríndia e oimperativo ambientalista

conseguirá concluir e que se chamaria “OAnti-Narciso”. Nela, aproximaria filosofia eantropologia, Deleuze e Lévi-Strauss, parainvestigar a pergunta: “o que deveconceitualmente a antropologia aos povosque estuda?”. As culturas e sociedadespesquisadas pelos antropólogos, escreve,

“influenciam, ou, para dizer de modo mais claro, coproduzem” asteses formuladas a partir dessas pesquisas.

Um dos mais influentes antropólogos hoje, autor de “Ainconstância da alma selvagem” (Cosac Naify, 2002) e professordo Museu Nacional da UFRJ, Viveiros de Castro desenvolve em“Metafísicas canibais” suas ideias sobre o perspectivismo,formadas a partir de ideias presentes em sociedades amazônicassobre como humanos, animais e espíritos veem-se a si mesmos eaos outros. Ele descreve a antropologia como uma forma de“tradução cultural” e pleiteia que seu ideal é ser “a teoria-práticada descolonização permanente do pensamento”. O que implicareconhecer a diferença e a autonomia do pensamento indígena:“não podemos pensar como os índios; podemos, no máximo,pensar com eles”.

Os primeiros contatos de Viveiros de Castro com esse universoestão registrados nas fotografias que fez durante o trabalho decampo com os índios Araweté, Yanomami, Yawalapiti e Kulina,entre meados dos anos 1970 e início dos 1990. Parte dessas fotosserá exibida pela primeira vez na exposição “Variações do corposelvagem”, no Sesc Ipiranga, em São Paulo, a partir do dia 29 deagosto. Com curadoria da escritora e crítica de arte VeronicaStigger e do poeta e crítico literário Eduardo Sterzi, a mostrareúne ainda fotos feitas pelo antropólogo nos anos 1970, quandotrabalhava com o cineasta Ivan Cardoso, mestre do gênero“terrir” e diretor de filmes como “O segredo da múmia” (1982) e“As sete vampiras” (1986).

Kuyawmá se pintando com tabatinga para o javari. Aldeia

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Em entrevista por e-mail, Viveiros de Castro, de 64 anos, falasobre o livro e a exposição e discute outros temas de sua obra esua atuação pública, como a crise climática, abordada em “Hámundo por vir?” (Cultura e Barbárie, 2014), que escreveu com afilósofa Déborah Danowski, com quem é casado. Fala tambémsobre a resistência dos índios contra o “dispositivo etnocida”armado contra eles no Brasil, que mira “suas terras, seu modo devida, os fundamentos ecológicos e morais de sua economia e suaautonomia política interna”.

Numa nota em “Metafísicas canibais”, você comentaque, sempre que expôs a ouvintes ameríndios suas tesessobre o perspectivismo, eles perceberam as implicaçõesque elas poderiam ter para “as relações de força emvigor entre as ‘culturas’ indígenas e as ‘ciências’ocidentais que as circunscrevem e administram”. Quaisseriam essas implicações? O que interlocutoresameríndios costumam lhe dizer sobre o perspectivismo?

“Sempre que” é um pouco exagerado; dá impressão que eu façotours de seminários sobre o pensamento indígena para ouvintesindígenas... Eu tinha em mente, naquela nota, uma ocasião emparticular. Em 2006, a convite do Instituto Socioambiental, fizuma palestra para uma plateia de cientistas do INPA, em Manaus,sobre as cosmologias amazônicas e as concepções indígenas danatureza da natureza, por assim dizer. Ao entrar na sala, descobri,com não pouca ansiedade, que apenas metade da plateia eracomposta de cientistas (biólogos, botânicos, pedólogos etc.) — eque a outra metade da sala estava cheia de índios do Rio Negro.Falar do que pensam os índios diante de uma plateia de índiosnão é exatamente uma situação confortável. Decidi entãoapresentar uma versão esquemática do que eu sabia a respeito domodo como o que chamei de “perspectivismo ameríndio” semanifestava nas culturas rionegrinas (povos Tukano e Aruaque,principalmente). No meio da palestra fui percebendo os cientistascada vez menos interessados naquilo, e os índios cada vez maisagitados. Na hora das perguntas, nenhum cientista falou nada. Osíndios, com sua cortesia habitual, esperaram os brancos presentespararem de não dizer nada até que eles começassem a falar. Umasenhora então se levantou e, dirigindo-se à metade branca ecientífica da plateia, disse: “vocês precisam prestar atenção aoque o professor aí está dizendo. Ele está dizendo o que a gentesempre disse: que vocês não veem as coisas direito; que, porexemplo, os peixes, quando fazem a piracema (a desova) estão naverdade, lá no fundo do rio, transformados em gente como nós,fazendo um grande dabucuri (cerimônia indígena típica daregião)”. E outro índio perguntou: “aquilo que o professor disse,sobre os morros da região serem habitados por espíritos

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‘O que se pretende étransformar o índio empobre, tirando dele o quetem — suas terras, seu

destruir esses morros com garimpo e mineração é perigoso, não émesmo? E não quereria dizer também que índio não pode sercapitalista?” Percebi, naquele confronto entre cientistas queestudam a Amazônia e os índios que vivem lá, que os primeirosestão interessados apenas no saber indígena que interessa ao queeles, cientistas, já sabem, isto é, àquilo que se encaixa na moldurado conhecimento científico normalizado. Os índios são “úteis” aoscientistas na medida em que podem servir de informantes sobrenovas espécies, novas associações ecológicas etc. Mas a estruturametafísica que sustenta esse conhecimento indígena não lhesdizia absolutamente nada, ou era apenas um ornamento pitorescopara os fenômenos reais. E os índios, ao contrário, seinteressaram precisamente pelo interesse de um branco (eu)sobre isso. O que me deu muita coisa a pensar.

Mais geralmente, porém, tenho tido notícia da difusão lenta eepisódica, mas real, de meus escritos (e os de meus colegas) sobreisso que chamei de “perspectivismo” junto a pensadoresindígenas, ou muito próximos politicamente a eles, em outrospaíses da América Latina (o livro foi traduzido para o espanhol,assim como diversos artigos de mesmo teor). Isso me alegra e,por que não dizer, envaidece muito. Mil vezes poder servir, comesses meus escritos aparentemente tão abstratos, à luta indígenapela autonomia política e filosófica que ser lido e comentado noscírculos acadêmicos — o que também não faz mal nenhum, bementendido.

Eduardo Viveiros de Castro na Flip 2014 - Arquivo/André Teixeira/2-8-2014

No livro, você pergunta: “O que acontece quando se levao pensamento nativo a sério?”. E continua: “Levar asério é, para começar, não neutralizar”. Partindo destestermos, quais são as maiores ameaças de“neutralização” do pensamento indígena no Brasil hoje?

Neutralizar este pensamento significareduzi-lo ao efeito de um complexo decausas ou condições cuja posse conceitualnão lhes pertence. Significa, como escrevi nolivro, pôr entre parênteses a questão de

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fundamentos ecológicos emorais de sua economia,sua autonomia políticainterna — para obrigá-loa desejar consumir o quenão tem.’

- EDUARDO VIVEIROS DE CASTROAntropólogo

universais cognitivos da espécie humana,explica-se por certos modos de transmissãosocialmente determinada do conhecimento,exprime uma visão de mundo culturalmenteparticular, valida funcionalmente adistribuição do poder político, e outrastantas formas de neutralização dopensamento alheio. Trata-se de suspendertais explicações-padrão, típicas das ciênciashumanas, ou, pelo menos, evitar encerrar a

antropologia nela. Trata-se de decidir, em suma, pensar o outropensamento como uma atualização de virtualidades insuspeitasdo pensamento em geral, o “nosso” inclusive. Tratá-lo comotratamos qualquer sistema intelectual ocidental: como algo quediz algo que deve ser tratado em seus próprios termos, sequisermos respeitá-lo e incorporá-lo como uma contribuiçãosingular e valiosa à nossa própria e orgulhosa tradição intelectual.Só depois disso poderemos, se tal for nossa veleidade,anatomizá-lo e dissecá-lo segundo os instrumentos usuais daredução científica das práticas de sentido humano.

Mas sua pergunta acrescentava “no Brasil hoje”. No Brasil hoje oque se vê é muito mais que uma “neutralização do pensamentonativo”. O que se vê é uma ofensiva feroz para acabar com osnativos, para varrer suas formas de vida (e portanto depensamento) da face do território nacional. O que se pretendehoje — o que sempre se pretendeu, mas hoje os métodos são aomesmo tempo cada vez mais sutis e eficazes sem deixarem de serbrutais como sempre foram — é silenciar os índios, desindianizartodo pensamento nativo, de modo a transformar aquelacaboclada atrasada toda que continua a “rexistir” (este é o modode existência dos índios no Brasil hoje: a “rexistência”) em pobre,isto é, em “bom brasileiro”, mal assistencializado, malalfabetizado, convertido ao cristianismo evangélico por umexército de missionários fanáticos, transformado em consumidordócil do estoque infinito de porcarias produzidas pela economiamundial. Em suma: fazer do índio (os que não tiverem sidoexterminados antes) um “cidadão”. Cidadão pobre, é claro. Índiorico seria uma ofensa praticamente teológica, uma heresia, àideologia nacional. Para fazê-lo passar de índio a pobre, é precisoprimeiro tirar dele o que ele tem — suas terras, seu modo de vida,os fundamentos ecológicos e morais de sua economia, suaautonomia política interna —‚ para obrigá-lo a desejar consumir oque ele não tem — o que é produzido na terra dos outros (no paísdo agronegócio, por exemplo, ou nas fábricas chinesas).

Como avalia o estado atual das mobilizações indígenascontra intervenções do Estado em seus modos de vida,como na região do Xingu, com a construção da usina deBelo Monte?

Os índios fazem o que

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contra uma máquinatecnológica, econômica,politica e militarinfinitamente maispoderosa do que eles. Nocaso de Belo Monte, jáperderam. Mas não sem darum bocado de trabalho ao“programa” que essegoverno, cujo ódio estúpidoaos índios só é comparávelao que se via nos sombriostempos da ditadura, vaiimplantando a ferro e a fogona Amazônia inteira,inclusive fora do Brasil. Masa luta continua, e ainda temmuito índio disposto aresistir (a “rexistir”) aodispositivo etnocidaarmado contra eles, noMato Grosso do Sul, noTapajós, no Xingu, no RioNegro e por aí afora.

Você tem trabalhadocom o conceito de

Antropoceno (que já definiu como o momento em que “ocapitalismo passa a ser um episódio da paleontologia”)para alertar sobre os efeitos destrutivos da açãohumana sobre o planeta. O que precisa mudar no debatepúblico sobre a crise climática?

Muito. Isso tudo vai descrito no livro que coautorei com a filósofaDéborah Danowski, “Há mundo por vir? Ensaio sobre os medos eos fins”, onde comparamos, de um lado, os efeitos já instalados eaqueles por vir da catástrofe ecológica desencadeada pelaeconomia movida a combustíveis fósseis, e tudo o que vem comela (inclusive o capitalismo financeiro e cognitivo), com os modoscom que esse tema arquimilenar, o “fim do mundo”, vem sendotematizado pela imaginação estética, política e mitológica denossa própria civilização moderna, de outro lado. E por fim,tecemos considerações sobre como a “mudança de Era” (comodizem os camponeses nordestinos para se referir aos efeitos jápalpáveis das mudanças climáticas) por que passamos hoje épensada pelos índios, em suas mitologias e em sua práticaecopolítica concreta. Penso que as ciências humanas têm sidolentas em assumir que esta questão, que a palavra “Antropoceno”resume, é a questão mais grave e urgente da história humanadesde o começo da era Neolítica, e que estamos entrando em umasituação inédita para a espécie como um todo. O debate na esferapública tem sido laboriosamente mitigado, quando não

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‘O problema que se colocanão é o da “tolerância” (sóos donos do poder são“tolerantes”), mas o dadiplomacia’

- EDUARDO VIVEIROS DE CASTROAntropólogo

financiada pelos principais interessados no status quo, a saber, asgrandes corporações petroleiras e outras, como a Monsanto, aNestlé, a Bunge, a Dow, a Vale, a Rio Tinto etc. Sem falarmos nosgovernos nacionais, meros instrumentos de polícia desses atoreseconômicos. Mas as coisas começam a mudar, devagar, masmudando. Infelizmente, “devagar” é péssimo. Porque a aceleraçãodos processos de desequilíbrio termodinâmico do planeta marchaem ritmo crescente. O tempo e o espaço entraram em crise,escapam-nos por todos os lados. Hoje a luta política fundamental,a ser levada a nível mundial, é a luta pela liberação do espaço e dotempo.

Você afirma que o perspectivismo não é uma forma derelativismo cultural e, ao conceito corrente de“multiculturalismo”, contrapõe a noção de“multinaturalismo”. Quais são os problemas dorelativismo cultural e como o multinaturalismo os evita?

O relativismo cultural é, ao menos comocostumeiramente divulgado pela vulgataideológica dominante, meramente a ideia deque existem várias opiniões sobre o mundo,o universo ou a “realidade”, mas que esta“coisa lá fora” (o mundo etc.) é uma só.Entre essas várias opiniões, há uma certa —a nossa, ou melhor, aquela que acreditamosser a verdade cientifica (e 99,99% dos queacreditam nela não sabem em que estão

acreditando). O resto é “cultura”, superstição, visões exóticas degente que vive “fora da realidade”. Em relação a essa gente,podemos e até devemos mostrar um pouco de tolerância (afinal,são apenas opiniões, “visões de mundo”), devemos ser“multiculturalistas”. Mas a Natureza, com N maiúsculo, é uma só,e independe de nossas opiniões (exceto da minha, isto é, a da“Ciência” que nos serve de religião laica). O que chamei de“multinaturalismo” ou de “perspectivismo multinaturalista”, paracaracterizar as metafísicas indígenas, supõe a indissociabilidaderadical, ou pressuposição recíproca, entre “mundo” e “visão”. Nãoexistem “visões de mundo” (muitas visões de um só mundo), masmundos de visão, mundos compostos de uma multiplicidade devisões eles próprios, onde cada ser, cada elemento do mundo éuma visão no mundo, do mundo — é mundo. Para este tipo deontologia, o problema que se coloca não é o da “tolerância” (só osdonos do poder são “tolerantes”), mas o da diplomacia ounegociação intermundos.

Você defende uma concepção de antropologia como“descolonização permanente do pensamento”. Como elapode fazer isso? Quais são os maiores impasses dadisciplina hoje?

Vou responder rapidamente, ou os leitores não precisarão ler o

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“nativos”, sejam quem forem) como interlocutoreshorizontalmente situados em relação ao discurso dos“observadores” (os “antropólogos”). O que a antropologia estudasão sempre outras antropologias, as antropologias dos outros, quearticulam conceitos radicalmente diversos dos nossos sobre o queé o anthropos, o “humano”, e sobre o que é o logos (oconhecimento). Descolonizar o pensamento é explodir a distinçãoentre sujeito e objeto de conhecimento, e aceitar que só existeentreconhecimento, conhecimento comparativo, e que aantropologia como “estudo do outro” é sempre uma tradução (euma tradução sempre equívoca) para nosso vocabulárioconceitual do estudo do outro. O maior desafio vivido hoje pelaantropologia é o de aceitar isso e tirar daí todas as consequências,inclusive as consequências políticas.

As fotografias reunidas em “Variações do corposelvagem” remetem ao seu trabalho de campo com osAraweté, Yanomami, Yawalapiti e Kulina. Quais foramsuas maiores descobertas nos encontros com essespovos?

Tudo o que eu escrevi sobre eles.

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