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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS EDNA DE OLIVEIRA EVASÃO UNIVERSITÁRIA NO BACHARELADO INTERDISCIPLINAR EM CIÊNCIA E ECONOMIA Varginha/MG 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS

EDNA DE OLIVEIRA

EVASÃO UNIVERSITÁRIA NO BACHARELADO INTERDISCIPLINAR EM

CIÊNCIA E ECONOMIA

Varginha/MG

2016

EDNA DE OLIVEIRA

EVASÃO UNIVERSITÁRIA NO BACHARELADO INTERDISCIPLINAR EM

CIÊNCIA E ECONOMIA

Dissertação apresentada como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Administração Pública pela Universidade Federal de Alfenas, campus Varginha. Área de concentração: Administração Pública.

Orientadora: Aline Lourenço de Oliveira

Varginha/MG

2016

Dedico este trabalho ao meu filho João, pelo

bem inestimável que faz o seu amor, ao meu

marido Homero pelo companheirismo e aos

meus queridos pais pela dedicação.

AGRADECIMENTOS

A Deus, pela vida.

À professora Aline Lourenço de Oliveira pelas orientações, paciência e

serenidade com que conduziu-me nesta caminhada.

Aos professores do Programa de Mestrado Profissional em Administração

Pública (Profiap) da UNIFAL – MG, pelos valorosos conhecimentos construídos.

Aos meus colegas de mestrado e de trabalho que me apoiaram e me

incentivaram.

À Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG), instituição que me

possibilitou a realização de dois sonhos: profissional e acadêmico.

A todos que de alguma forma contribuíram para a realização de um sonho que

há algum tempo parecia impossível para uma mulher, filha de lavradores, pobre,

nascida e criada no campo.

A educação é um ato de amor, por isso, um ato de coragem. Não pode temer o

debate. A análise da realidade. Não pode fugir à discussão criadora, sob pena de ser

uma farsa.

(FREIRE,1999, p.104)

RESUMO

O presente trabalho consiste em um estudo sobre a evasão no Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Economia da Universidade Federal de Alfenas – UNIFAL- MG. Diante dos desafios impostos à universidade, no atual contexto socioeconômico, das características históricas de exclusão e elitização do ensino superior no Brasil e dos anseios sociais pela sua democratização, a pesquisa aborda a evasão como um dos grandes problemas apresentados a este nível de ensino no Brasil. As políticas de expansão da educação superior implementadas, a partir do REUNI, e que levaram à criação dos bacharelados interdisciplinares, têm enfrentado o problema da evasão. O abandono do curso pelo estudante representa desperdícios de recursos públicos e enormes perdas educacionais e sociais que ameaçam a efetividade das políticas de expansão e democratização do ensino superior e se apresenta como um problema para a administração pública. A partir das contribuições de diversos estudiosos, especialmente de Tinto (1975; 1993), a evasão passou a ser considerada um problema de responsabilidade da instituição e sobre o qual é necessária uma postura ativa de enfrentamento. O objetivo central do trabalho foi caracterizar a evasão no BICE, no período de 2009 a 2015, e propor ações para minimizar o problema. Desdobram-se como objetivos específicos mensurar a evasão no BICE, apresentar traços do perfil do aluno evadido e identificar os aspectos internos e externos à instituição, bem como os aspectos pessoais que influenciaram a evasão, a partir da percepção dos estudantes que abandonaram o curso. A investigação documental e empírica, de caráter quantitativo e descritivo, ocorreu por meio de dados institucionais e questionário aplicado aos evadidos, que permitiram constatar algumas características da evasão no curso. Os dados mostraram que dos 2042 alunos ingressantes, no período de 2009 a 2015, 545 (26,68%) já eram evadidos em março de 2016, o que representa uma taxa de evasão superior à média nacional da evasão nos cursos presenciais ofertados pelas IFES, que é de 17%. A pesquisa também revelou que o problema ocorre, especialmente, com alunos que estão no início do curso e que apresentam baixo rendimento. A evasão no BICE mostrou-se, ainda, influenciada por múltiplos fatores que se apresentam na interseção das perspectivas interna à IES, externa à IES e pessoal. Dentre os fatores mais apontados, destacaram-se o interesse por outro curso, a dificuldade de conciliar trabalho e estudo, o desencanto com o curso e a dificuldade de participar das atividades da IES, sendo que estes mostraram-se relacionados aos aspectos internos do curso ou da IES. Dessa forma, a pesquisa aponta para a necessidade de ações institucionais diversas que vão do acompanhamento e discussão do problema, a atividades de apoio voltadas para orientação e aprendizagem dos estudantes.

Palavras-chave: Evasão. Educação superior. Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Economia. Evadidos.

ABSTRACT

This work is a study on evasion in the Interdisciplinary Bachelor of Science and Economics (BICE) from the Federal University of Alfenas - UNIFAL - MG. In the current socio-economic context, facing the challenges posed to the university, historical features of exclusion and higher education gentrification in Brazil and social yearnings for its democratization, the research addresses the evasion as one of the major problems presented to this level of education in Brazil. The expansion policies implemented in higher education, from REUNI, and that led to the creation of interdisciplinary bachelors, has faced the problem of evasion. The abandonment of the course by the student represents a waste of public resources and huge educational and social losses that threaten the effectiveness of the policies of expansion and democratization of higher education and is presented as a problem for the public administration. From the contributions of many scholars, especially Tinto (1975, 1993), evasion is now considered an issue which is the institution’s responsibility and it requires an active approach to coping. The central objective of this study was to characterize the evasion in the BICE, from 2009 to 2015, and propose actions to minimize the problem. The specific goals include: to measure evasion in the BICE; to present traces of evaded student's profile; and to identify the internal and external aspects of the institution and the personal aspects that influenced the evasion, from the perception of the students who left the course. The quantitative and descriptive, documentary and empirical research, occurred through institutional data and questionnaire administered to dropouts, which have recognized some evasion features on the course. The data showed that from the 2042 freshmen, from 2009 to 2015, 545 (26.68%) had already evaded in March 2016, which represents a dropout rate higher than the evasion of the national average in classroom courses offered by the IFES, which is 17%. The survey also revealed that the problem occurs especially with students who are at the beginning of the course and have low efficiency. The evasion in the BICE was also influenced by multiple factors that are present at the intersection of internal perspectives to the IES, external to the IES and personal factors. Among the most mentioned factors, the evaded students highlighted the interest in another course, the difficulty of reconciling work and study, the disenchantment with the course and the difficulty of participating in the IES activities, and these were shown to be related to internal aspects of the course or IES. Thus, the research points to the need for various institutional actions from the follow-up and discussion of the problem to support activities for guidance and student learning. Key words: Evasion. College education. Interdisciplinary Bachelor in Science and Economics. Evaded Students.

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANDIFES - Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior

BM - Banco Mundial

BI - Bacharelado Interdisciplinar

BICE - Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Economia

CA - Coeficiente de Aprovação

CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior

CEAD - Centro de Educação Aberta e s Distância

CDA - Coeficiente de Desempenho Acadêmico

CEEEUPB - Comissão Especial para o Estudo da Evasão nas Universidades Públicas

Brasileiras

CEFET - Centro Federal de Educação Superior

CFE - Conselho Federal de Educação

CNPq - Conselho Nacional de Pesquisa Científica e Tecnológica

DIEESE - Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos

DRGCA - Departamento de Registros Gerais e Controle Acadêmico

EAD - Educação à Distância

ENC - Exame Nacional de Cursos

E.U.A - Estados Unidos da América

FHC - Fernando Henrique Cardoso

FIES - Financiamento Estudantil

FMI - Fundo Monetário Internacional

IES - Instituição de Ensino Superior

IFES - Instituições Federais de Ensino Superior

LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MEC - Ministério da Educação

OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

OMC - Organização Mundial do Comércio

PIB - Produto Interno Bruto

PROFIAP - Mestrado Profissional em Administração Pública

PROUNI - Programa Universidade para todos

PTA - Programa Tutorial Acadêmico

REUNI - Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais

SAE - Serviço de Atendimento ao Aluno

SAEB - Sistema de Avaliação da Educação Básica

SEMESP - Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior

SINAES - Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior

UFABC - Universidade Federal do ABC

UFBA - Universidade Federal da Bahia

UFJF - Universidade Federal de Juiz de Fora

UFMA - Universidade Federal do Maranhão

UnB - Universidade de Brasília

UNE - União Nacional dos Estudantes

UNESCO - Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura

UNIFAL – MG - Universidade Federal de Alfenas

UFOP - Universidade Federal de Ouro Preto

INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

USAID - Agência do Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional

UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro

UDF - Universidade do Distrito Federal

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Arquitetura curricular do Modelo Universidade Nova .................... 46

Figura 2 - Evasão no Ensino Superior em 2013 – Brasil ............................... 54

Figura 3 - Modelo Longitudinal desenvolvido por Tinto ................................. 58

Figura 4 - Itinerário formativo do Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e

Economia e dos cursos de segundo ciclo ofertados no campus

de Varginha...................................................................................

73

Figura 5 - Mapa Conceitual de coleta e análise empírica .............................. 76

Figura 6 - Interseção de fatores internos, externos e pessoais ..................... 101

Figura 7 - Proposta de ação para combater a evasão no BICE ................... 107

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Número de Instituições de Educação Superior e Número de

Matrículas em Cursos de Graduação, por organização

Acadêmica – Brasil – 2014 ............................................................

37

Gráfico 2 - Expansão das Universidades e Institutos Federais – Brasil - 2003

a 2010 ...........................................................................................

43

Gráfico 3 - Número de Matrículas em Cursos de Graduação, por Categoria

Administrativa – Brasil – 1980-1914 ..............................................

50

Gráfico 4 - Quantidade de fatores apontados como influenciadores da

evasão por quantidade de estudantes respondentes ....................

91

LISTA DE QUADROS

Quadro - 1 Ensino superior brasileiro da Colônia ao século XX ...................... 35

Quadro - 2 Síntese das causas da evasão apontadas em pesquisas

bibliográficas .................................................................................

64

Quadro - 3 Principais causas identificadas pelas pesquisas empíricas .......... 68

Quadro - 4 Subdimensões causais da evasão ................................................ 77

LISTA DE TABELAS

Tabela - 1 Evolução das matrículas em estabelecimentos públicos e

privados no Ensino Superior brasileiro 1933-2001 ....................

33

Tabela - 2 Número de Instituições de Educação Superior, por Organização

Acadêmica e Categoria Administrativa das IES – 2014 ...............

37

Tabela - 3 Número de matrículas, por Organização Acadêmica e Categoria

Administrativa das IES – 2014 ....................................................

38

Tabela - 4 Matrículas em Cursos de Graduação Presenciais e a Distância

por Cor / Raça ............................................................................

52

Tabela - 5 Evolução do número de ingressantes e concluintes em cursos

de graduação – Brasil – 2003 – 2013 ........................................

55

Tabela - 6 Situação Acadêmica dos Estudantes Ingressante do BICE, por

Semestre de Ingresso ................................................................

81

Tabela - 7 Idade atual dos alunos evadidos do Bacharelado Interdisciplinar

em Ciência e Economia, ingressantes no período de 2009 –

2015 ...........................................................................................

84

Tabela - 8 Sexo dos alunos do Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e

Economia, ingressantes no período de 2009 – 2015..................

85

Tabela - 9 Raça dos alunos do Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e

Economia, ingressantes no período de 2009 – 2015 .................

86

Tabela - 10 Renda Familiar Bruta dos ingressantes do BICE ....................... 87

Tabela - 11 Local de residência dos alunos do Bacharelado Interdisciplinar

em Ciência e Economia, ingressantes de 2009 – 2015 ...............

87

Tabela - 12 Tipo de escola frequentada pelos alunos do Bacharelado

Interdisciplinar em Ciência e Economia, ingressantes no período

de 2009 – 2015, no ensino médio ................................................

88

Tabela - 13 CDA dos alunos evadidos do Bacharelado Interdisciplinar em

Ciência e Economia, ingressantes no período de 2009 – 2015....

88

Tabela - 14 Período em que os alunos do Bacharelado Interdisciplinar em

Ciência e Economia, ingressantes no período de 2009 – 2015,

evadiram .....................................................................................

89

Tabela - 15 Total de Carga Horária cursada pelos alunos evadidos do

Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Economia,

ingressantes no período de 2009 – 2015 ...................................

90

Tabela - 16 Fatores internos da evasão no BICE ......................................... 92

Tabela - 17 Fatores externos da evasão no BICE ........................................ 97

Tabela - 18 Fatores pessoais da evasão no BICE......................................... 99

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 17

1.1 OBJETIVOS ..................................................................................................... 19

1.1.2 Objetivo Geral .................................................................................................. 19

1.1.3 Objetivos Específicos ....................................................................................... 19

1.1.4 Justificativa ....................................................................................................... 19

2 REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................... 21

2.1 A UNIVERSIDADE E SUAS CRISES ............................................................... 21

2.2 O ENSINO SUPERIOR NO BRASIL: DA COLÔNIA AO SÉCULO XX ............ 24

2.2.1 Colônia e Império (1500 – 1889) ...................................................................... 24

2.2.2 Primeira república (1889 – 1930) ..................................................................... 25

2.2.3 Era Vargas (1930 – 1945) ................................................................................ 26

2.2.4 Período democrático (1945 – 1964) ................................................................. 28

2.2.5 Período da ditadura militar (1964-1985) ........................................................... 30

2.2.6 Período da redemocratização política (1985 a 2000) ....................................... 32

2.3 ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO NO SÉCULO XXI ..................................... 36

2.3.1 Proposta de reforma da educação superior no Brasil ...................................... 39

2.3.2 Políticas de expansão da educação superior brasileira no século XXI ............ 41

2.3.3 Os Bacharelados Interdisciplinares .................................................................. 44

2.3.4 Expansão e democratização do ensino superior brasileiro no século XXI ....... 49

2.4 EVASÃO NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO ........................................... 53

2.4.1 O conceito de evasão ....................................................................................... 56

2.4.2 Os estudos sobre a evasão universitária.......................................................... 57

3 PROCEDIMNTOS METODOLÓGICOS ........................................................... 70

3.1 LOCUS DA PESQUISA .................................................................................... 70

3.1.1 Breve histórico da Universidade Federal de Alfenas ........................................ 70

3.1.2 O Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Economia ................................... 71

3.1.3 Sujeitos da pesquisa ........................................................................................ 74

3.2 Abordagem, objetivos e amostragem ............................................................... 74

3.3 COLETA DE DADOS ....................................................................................... 75

3.4 ANÁLISE DE DADOS....................................................................................... 78

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ............................... 80

4.1 A EVASÃO NO BACHARELADO INTERDISCIPLINAR EM CIÊNCIA E

ECONOMIA ...................................................................................................... 80

4.2 TRAÇOS DO PERFIL DO ESTUDANTE EVADIDO DO BICE ......................... 83

4.3 FATORES DE EVASÃO NO BICE ................................................................... 90

4.3.1 Fatores internos à IES ...................................................................................... 92

4.3.2 Fatores externos à IES ..................................................................................... 96

4.3.3 Fatores pessoais .............................................................................................. 99

4.3.4 As interseções dos fatores internos, externos e pessoais .............................. 100

5 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO .................................................................. 107

5.1 COMISSÃO DE ESTUDO E ACOMPANHAMENTO DA EVASÃO ................ 107

5.2 CENTRO DE ORIENTAÇÃO AO ESTUDANTE ............................................. 109

5.3 AÇÕES DE APOIO AO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM ........ 110

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 112

REFERÊNCIAS .............................................................................................. 115

APÊNDICES .................................................................................................. 123

ANEXO ........................................................................................................... 127

17

1 INTRODUÇÃO

A evasão universitária é uma situação antiga e que tem apresentado um

crescimento progressivo, tanto nas instituições públicas quanto nas privadas e,

especialmente, após o movimento de expansão da rede federal de ensino. Dados do

Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior - SEMESP (2015), dão conta de que,

em 2013, a taxa de evasão foi de 28,3% nas instituições privadas e de 21,7% nas

públicas.

A evasão universitária tem impactos negativos tanto para as instituições de

ensino como para a sociedade. Estes dados levam a pensar que há um problema

sério, relacionado à dificuldade do estudante em permanecer na Instituição de Ensino

Superior (IES) e concluir o curso pelo qual optou. Isto levanta a discussão em torno

da evasão e demanda ações que possam minimizá-la, a fim de contribuir para uma

democratização efetiva da educação superior no Brasil.

A evasão torna-se um agravante para o momento de crise vivenciada pelas

universidades, conforme alertaram estudiosos como Santos (1995), Buarque (2003) e

Santos Filho (2016). Santos (1995), especificamente, fala de três grandes crises que

acometem, conjuntamente, as universidades, sendo elas: a crise de hegemonia, de

legitimidade e a institucional. Segundo ele, estas crises decorrem do processo de

transformação do capitalismo no mundo e que, em países como o Brasil, se fazem

sentir com maior intensidade devido às características elitista e privatista da educação

superior brasileira (SANTOS, 1995; DURHAM, 2003; FÁVERO, 2006).

Este contexto evidenciou a necessidade de uma reforma na educação superior

do Brasil, o que levou a uma discussão de proposta que ganhou impulso, a partir de

2003, culminando na criação ou expansão de diversas ações e programas como o

Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais - REUNI, o

Programa Universidade para todos - PROUNI e o Financiamento Estudantil - FIES.

Além disso, foram implementadas políticas de ações afirmativas como as cotas para

negros que procuraram democratizar o acesso e garantir a permanência do estudante

na educação superior. No entanto, tais ações mostram-se ainda insuficientes para

atender aos objetivos propostos e esbarram em obstáculos diversos, como a limitação

orçamentária. Por outro lado, acredita-se que a falta de compromisso político, talvez,

seja o que mais tem pesado para os, ainda, insuficientes resultados alcançados em

18

termos de democratização da educação superior e que leva muitos estudantes a

evadirem de seus cursos.

A evasão é um problema complexo que passou as ser estudado de modo mais

sistemático, a partir da década de 1970, por pesquisadores norte-americanos. Seus

estudos buscaram compreender a evasão por meio de abordagens sociológicas,

psicológicas e econômicas, com análise das variáveis ligadas aos estudantes, à IES

e a integração entre ambos. Destacam-se as contribuições de Tinto (1993), que

desenvolveu o chamado Modelo de Integração Longitudinal, que procura explicar

todos os aspectos e processos que influenciam a decisão de um estudante em

abandonar o curso. Tal concepção foi fundamental por considerar a responsabilidade

da evasão como sendo não somente do aluno, mas também da instituição.

No Brasil, os pesquisadores também têm buscado compreender o fenômeno

da evasão. Destacam-se as pesquisas nacionais da Comissão Especial para o Estudo

da Evasão nas Universidades Públicas Brasileiras (1996), Lobo (2012) e Brasil (2013).

Outros estudiosos concentram suas pesquisas em instituições, departamentos ou

cursos e de forma empírica buscam compreender o problema da evasão, como é o

caso de Livramento (2012), Amaral (2013), Lourenço (2014), Andrade (2014) e

Santiago (2015). Estes estudos revelam que a evasão é um fenômeno multifatorial e

que as causas estão ligadas a fatores internos e externos à instituição de ensino. A

identificação das causas em instituições ou cursos específicos podem trazer enormes

contribuições por fornecer subsídios para a equipe gestora agir no sentido de

minimizar o problema.

Sendo assim, a presente pesquisa se propõe a compreender a evasão no

Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Economia (BICE), curso de graduação da

Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG), que foi implantado no campus de

Varginha. O curso teve início em 2009 e se integra a uma proposta de estrutura

curricular nova inspirada no Processo de Bolonha1.

O BICE teve 2042 alunos ingressantes de 2009 a 2015, dos quais 545

1 O Processo de Bolonha surgiu da assinatura da chamada Declaração de Bolonha, assinada em 1999,

na cidade de Bolonha (Itália), por ministros de 29 países europeus. O objetivo é a concretização de um Espaço Europeu de Ensino Superior, que seja aberto e permita mobilidade e equidade no acesso a um ensino superior de qualidade. As bases deste espaço são o reconhecimento mútuo de graus e outras qualificações do ensino superior, a transparência (graus legíveis e comparáveis organizados numa estrutura de três ciclos) e a cooperação europeia na garantia da qualidade (UNIVERSIDADE DE COIMBRA, 2009).

19

evadiram, o que corresponde a 26,7% deste total. Sendo assim, apresentou-se como

problema de pesquisa a seguinte questão: Como tem se caracterizado a evasão no

Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Economia e quais ações poderiam ser

implementadas para minimizá-la?

1.1 OBJETIVOS

Para responder ao problema de pesquisa, foram estabelecidos o objetivo

geral e os objetivos específicos que nortearam o desenvolvimento da pesquisa.

1.1.2 Objetivo Geral

Compreender como tem se caracterizado a evasão no Bacharelado

Interdisciplinar em Ciência e Economia, no período de 2009 a 2015, e propor ações

para minimizá-la.

1.1.3 Objetivos Específicos

a) Mensurar a evasão no BICE;

b) Apresentar traços do perfil do aluno evadido do BICE;

c) Identificar os aspectos internos e externos à instituição, bem como os aspectos

pessoais que influenciaram a evasão, a partir da percepção dos evadidos;

d) Propor ações que possam contribuir para minimizar o problema da evasão no

curso.

1.1.4 Justificativa

A pesquisa justifica-se por contribuir com as reflexões quem vem sendo feitas por

diversos autores sobre o tema, e mais especificamente, sobre seus reflexos

econômicos, sociais e para a administração pública. No âmbito econômico, ressalta-

se o impacto negativo que a evasão tem no orçamento das universidades e na

ociosidade de recursos humanos e materiais. Na dimensão social, precisa-se pensar

sobre as perdas educacionais e sociais, pois a evasão ameaça a efetividade das

políticas de expansão e democratização do ensino superior. A evasão torna-se ainda

20

um problema para a administração pública, à medida que as universidades são

cobradas pelo Ministério da Educação a alcançarem resultados de 90% de concluintes

em relação aos ingressantes (REUNI, 2007). A pesquisa está em consonância com a

proposta do Mestrado Profissional em Administração Pública (PROFIAP), que busca

contribuir para a melhoria da gestão pública através da compreensão de um problema

(evasão) em uma IFES e da proposta de ações para minimizá-lo. E, para a

pesquisadora, este estudo faz sentido no que concerne às suas atividades junto à

Assessoria de Apoio Pedagógico, na UNIFAL – MG, onde desenvolve ações que

buscam contribuir para a melhoria dos cursos de graduação e orientação pedagógica

aos discentes.

Para alcançar os objetivos propostos, a presente pesquisa está estruturada em

seis seções. A primeira parte consiste nessa introdução em que são apresentados

seus aspectos gerais, bem como os objetivos. A segunda parte apresenta o referencial

teórico que discute o papel da universidade nos dias atuais, as características

históricas do ensino superior no Brasil, as propostas de reforma e políticas para a

educação superior a partir do século XXI, os aspectos da expansão do ensino superior

brasileiro e a questão da evasão neste nível de ensino. A terceira seção apresenta a

metodologia utilizada para a realização da pesquisa. A quarta seção é destinada à

apresentação e discussão dos resultados. Na quinta parte são apresentadas algumas

propostas de ações para o enfrentamento da evasão no BICE. Na sexta e última seção

são apresentadas as considerações finais.

21

2 REFERENCIAL TEÓRICO

O referencial teórico da pesquisa está estruturado em quatro partes. De início

aborda-se a universidade no mundo atual, buscando refletir sobre as crises de

hegemonia, legitimidade e institucional, vivenciadas por estas instituições, a partir do

final do século passado, e apontadas por Santos (1995). Em seguida, contextualiza-

se historicamente o ensino superior no Brasil, da colônia ao século XX. A terceira parte

aborda as mudanças ocorridas no ensino superior brasileiro, a partir do século XXI,

as propostas de reformas e reestruturação e discute-se os aspectos da expansão do

ensino superior no Brasil. Por fim, aborda-se um dos grandes desafios da educação

superior no Brasil e objeto central desta pesquisa: a evasão universitária.

2.1 A UNIVERSIDADE E SUAS CRISES

A universidade surgiu na Idade Média, mais especificamente na Europa, sendo

Bolonha e Paris as instituições pioneiras. Em mais de oito séculos de existência, as

universidades espalharam-se pelo mundo contribuindo para a construção do saber

humano acumulado e desempenhando um importante papel social (BOHRER et al.,

2008).

As universidades surgiram em substituição aos mosteiros no papel de preservar

e difundir o conhecimento, tornando-o mais livre e científico. O surgimento destas

instituições coincidiu com o início da formação dos Estados Modernos e do movimento

da Reforma Católica (OLIVEIRA, 2007). Em meio ao contexto de transformação

política e ideológica, as universidades assumiram a tarefa de promover a reflexão

acerca das contradições sociais inerentes aquela época.

Conforme Buarque (2003), a universidade nasceu porque os mosteiros

medievais perderam a sintonia com o ritmo e o tipo de conhecimento que vinha

surgindo no mundo ao seu redor, não sendo capazes de absorver as mudanças do

mundo externo. Segundo o autor, assumindo o papel anteriormente dos mosteiros, a

universidade foi obrigada, em diversos momentos, a se adaptar à realidade a sua

volta, reciclando-se e transformando-se. Essa necessidade sempre foi uma exigência

para manter a relevante condição de instituição geradora de alto conhecimento, nas

sociedades.

22

A universidade chega ao século XXI, mais uma vez, em um momento de

instabilidades. O processo de transformação do capitalismo no mundo trouxe consigo

a revolução tecnológica e o aumento da desigualdade social. Para responder às novas

exigências da modernidade, a universidade necessita repensar-se para continuar

desempenhando seu papel de vanguarda do conhecimento.

Santos (1995), Buarque (2003) e Santos Filho (2016) acreditam que, a partir do

final do século XX, a universidade vive um momento de “crise”, encontrando-se em

uma “encruzilhada”, em que lhe é exigida uma resposta coerente a sua função.

Santos (1995) apresenta sua concepção sobre essas crises e os desafios

impostos à universidade a partir do final do século XX. Para o autor, a universidade

vive uma crise de hegemonia, de legitimidade e institucional. A primeira é resultado

da seguinte contradição: de um lado, a função tradicional da universidade de formar

conhecimentos exemplares, nos campos científico e humanístico através do

pensamento crítico e voltado para o atendimento dos interesses da elite. De outro, a

função de produzir padrões culturais médios e conhecimentos instrumentais, para

atender as necessidades do capitalismo a partir do século XX. A crise de legitimidade

seria resultado do fato de a universidade estar imersa na contradição entre a

hierarquização dos saberes (saberes especializados mediante as restrições de

acesso e credenciamento das competências) e as exigências sociais e políticas de

sua democratização (igualdade de oportunidades para os filhos das classes

populares). A terceira e última crise enfrentada pela universidade é revelada pela

contradição entre a reivindicação da autonomia na definição dos valores e objetivos

da universidade e a submissão aos critérios de eficácia e de produtividade, dentro de

uma lógica empresarial ou da exigência de responsabilidade social.

Santos Filho (2016) discute as repercussões das crises da universidade na sua

missão e responsabilidade social e propõe caminhos para a consolidação dessa

responsabilidade. Referindo-se ao Brasil, o autor ressalta que, apesar destas crises

não estarem plenamente resolvidas, algumas políticas e medidas concretas tomadas,

a partir do final do século XX, tem contribuído para a sua superação. Como medidas

para superar a crise, destaca-se a criação de instituições acadêmicas e de formação

profissional de ponta para o cultivo das elites intelectuais e profissionais do país, bem

como de instituições não universitárias de educação superior de massa para a

formação cultural e tecnológica dos jovens. O autor também considera importante as

23

políticas de ação afirmativa, através de cotas, que vem sendo implementadas nos

últimos anos.

Das três crises identificadas, Santos (2008) reconhece que a crise institucional

é cada vez mais grave, pois sua autonomia científica e pedagógica se assenta na

dependência financeira do Estado. Dentro de uma concepção neoliberal dominante

de educação como bem público, o Estado considera que a educação não tem de ser

assegurada exclusivamente por ele, reduzindo o seu compromisso político com as

universidades. Ao perder prioridade nas políticas públicas, as universidades foram

submetidas a um processo de diminuição de investimentos e descapitalização. Este

processo transformou a educação superior num serviço (e não direito) a ser pago pelo

consumidor (e não benefício do cidadão).

Com relação à crise institucional, Santos Filho (2016) defende que para a sua

superação, tornam-se necessárias algumas posturas do governo, como: respeito à

especificidade das universidades; adequação entre os critérios de avaliação de suas

funções e sua natureza específica; e avaliação externa realizada por pares efetivos e

não pares associados ao governo. O autor conclui que, “a universidade com

responsabilidade social será capaz de discernir as melhores formas de interagir com

as empresas e com as organizações da sociedade civil para o benefício delas e para

a consolidação dessa responsabilidade” (SANTOS FILHO, 2016, p. 15).

Buarque (2003) alerta ainda que, neste momento instável vivido pela

universidade, torna-se necessário que esta se dê conta da própria crise, para que

possa superar suas dificuldades e se reorganizar para servir à humanidade. Para isso,

segundo o autor, é necessário recuperar a sintonia com o mundo atual e cita cinco

mudanças que precisam ocorrer:

a) voltar a ser a vanguarda crítica da produção do conhecimento; b) firmar-se, novamente, como capazes de assegurar o futuro de seus alunos; c) recuperar o papel de principal centro de distribuição do conhecimento; d) assumir compromisso e responsabilidade ética para com o futuro de uma humanidade sem exclusão; e e) reconhecer que a universidade não é uma instituição isolada, mas que ela faz parte de uma rede mundial (BUARQUE, 2003, p.8).

Decorrentes do processo de transformação do capitalismo, as crises da

universidade apresentam-se como um fenômeno mundial, porém, seus efeitos são

sentidos especialmente nos países em desenvolvimento, como o Brasil, em que a

revolução tecnológica ampliou o abismo da desigualdade social. No caso brasileiro,

24

em que, historicamente, a universidade não tem desempenhado o papel a que se

propõe, repensar sua função, neste novo contexto, torna-se indispensável a sua

própria sobrevivência. Assim, conforme as reflexões de Santos Filho (2016), é hora

de privilegiar alguns aspectos para atender às demandas atuais, como realizar

pesquisa aplicada e funcional, que ajuda a resolver os problemas do país ao invés de

realizar “pesquisa básica” não relacionada aos problemas concretos; ensino crítico da

realidade do país em substituição a um ensino alienante e funcionalista; e assumir

uma extensão emancipadora e transformadora da realidade ao invés de uma política

de extensão assistencialista.

No Brasil, a superação destas crises torna-se um desafio ainda maior, devido

ao caráter tardio, elitista e privatista da educação superior no país, conforme veremos

na próxima seção.

2.2 O ENSINO SUPERIOR NO BRASIL: DA COLÔNIA AO SÉCULO XX

2.2.1 Colônia e Império (1500 – 1889)

No Brasil, o ensino superior inicia-se tardiamente, quando comparado com a

América Hispânica2. A coroa portuguesa, receosa da constituição de uma elite

intelectual, concentrou durante muito tempo, na metrópole, a formação de nível

superior. Enquanto na América Hispânica, as universidades foram criadas ainda no

século XVI, no Brasil, surgiram somente na década de 1920 (DURHAM, 2003).

O cenário de concentração do ensino superior na metrópole começa a mudar

em 1808, quando a família real e toda a corte portuguesa se transferem para o Brasil

fugindo das tropas napoleônicas. Neste mesmo ano foram criados cursos de cirurgia

e anatomia, além de centros médico-cirúrgicos no Rio de Janeiro e na Bahia. Dois

anos mais tarde foi instituída a Academia Real Militar, que contemplava os

ensinamentos das engenharias militar e civil (FÁVERO, 2006).

Segundo Fávero (2006), no período imperial (1822-1889), a expansão do

sistema de ensino superior no Brasil foi bastante lenta e, com exceção da criação de

cursos jurídicos em São Paulo e Olinda, limitou-se à manutenção das instituições

2 A América Hispânica corresponde aos atuais territórios da Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa

Rica, Cuba, República Dominicana, Equador, El Salvador, Honduras, Guatemala, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Porto Rico, Uruguai e Venezuela.

25

criadas pela coroa portuguesa. Para Mendonça (2000), assim como no período

colonial, o ensino superior no império continuou de caráter pragmático, laico e estatal.

Tais características se apresentavam na produção de conhecimentos utilitários,

desvinculado da educação religiosa, de iniciativa e mantido pela coroa portuguesa.

Nos períodos colonial e imperial, o ensino superior no Brasil foi marcado pela

implantação de escolas superiores profissionalizantes e segundo Durham (2003), não

havia preocupação nem interesse em criar universidades. Para a autora, a

preocupação “era formar alguns profissionais necessários ao aparelho do Estado e às

necessidades da elite local, como advogados, engenheiros e médicos” (DURHAM,

2003, p.7).

Apesar dos inúmeros projetos de criação de universidades, durante o império,

estes não saíram do campo das intenções. Inspirados pelos ideais positivistas, a

classe governante brasileira, acreditava na construção de uma sociedade utilitária e

de trabalho e que não lhe seria tão útil a educação universitária, considerada

aristocrática e ornamental. Analisando as características do ensino superior no Brasil,

Teixeira (1968, p.231) conclui que "[...] a história da ideia de universidade no Brasil

revela uma singular resistência do país em aceitá-la".

A postura da elite governante em não oferecer formação superior humanista no

Brasil, demonstra um descompromisso com a sociedade brasileira e interesse na

manutenção do poder e da ordem social através da divisão do trabalho. Aos filhos da

elite era ofertada uma educação superior de caráter humanista, na Europa, o que lhes

possibilitaria a preparação para o domínio político-econômico do país. Aos demais

brasileiros que, porventura, conseguissem atingir a educação superior, restavam

cursos profissionalizantes para a formação de uma classe trabalhadora.

2.2.2 Primeira república (1889 – 1930)

O período posterior à proclamação da República e à promulgação da

Constituição de 1889 foi marcado pela expansão do ensino superior. Além do

processo de expansão, o sistema de ensino superior foi descentralizado através de

iniciativas das instâncias estaduais e municipais, inciativa privada e estabelecimentos

confessionais. Durham (2003, p. 8) afirma que:

Entre 1889 e 1918, foram criadas 56 novas escolas superiores, na sua

26

maioria privadas. Havia, de um lado, instituições católicas, empenhadas em oferecer uma alternativa confessional ao ensino público e, de outro, iniciativas de elites locais que buscavam dotar os seus estados de estabelecimentos de ensino superior. Destes, alguns contaram com o apoio dos governos estaduais ou foram encampadas por eles, outras permaneceram essencialmente privadas.

Em 1920, por meio do decreto 14.343, o Presidente Epitácio da Silva Pessoa

institui a primeira universidade do país. Era a Universidade do Rio de Janeiro (hoje

UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro), que reunia as Escolas Politécnica,

Escolas de Medicina e Faculdade de Direito (FÁVERO, 2006).

Este fato relaciona-se ao movimento de modernização do país, a partir década

de 1920, marcado pela urbanização e industrialização que contribuíram para uma

renovação cultural que atingiu também a educação. Neste contexto, as discussões

giravam em torno da modernização do ensino superior. Dentre as propostas,

destacava-se a ideia de uma ampla reforma do ensino superior que substituísse as

escolas autônomas por universidades que se dedicariam ao desenvolvimento das

ciências básicas e da pesquisa e não apenas à formação profissional (DURHAM,

2003).

2.2.3 Era Vargas (1930 – 1945)

A reforma educacional proposta na década de 1920 foi efetivada na Era Vargas.

A sua implementação foi viabilizada através da criação do Ministério da Educação e

Saúde Pública (1930) e elaborada por seu primeiro titular Francisco Campos

(FÁVERO, 2006). Tal reforma foi marcada pela disputa de forças conservadoras e

inovadoras, pela predominância de uma concepção de ensino público não

confessional e por um caráter centralizador. Foi mantida a liberdade da iniciativa

privada para a constituição de estabelecimentos próprios, não havendo monopólio de

criação e manutenção de instituições de ensino superior. Porém, o centralismo se

dava no controle burocrático estatal através da normatização e supervisão de todo o

sistema (DURHAM, 2003).

O conservadorismo da reforma do ensino superior da década de 1930 se

apresentava na organização das novas universidades que, na prática, apenas

reuniam as escolas de formação profissional, priorizando este ensino

27

profissionalizante em detrimento da pesquisa científica. Como caráter inovador desta

reforma, destaca-se a criação de uma Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, que

deveria oferecer bacharelados nos diferentes campos das Ciências Físicas, Exatas e

Biológicas e Ciências Humanas. Inspirada no modelo do College norte-americano, tais

bacharelados ofereceriam formação básica anterior à profissional (nos moldes dos

atuais Bacharelados Interdisciplinares). Apesar da inovação na estrutura curricular, as

Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras não conseguiram desempenhar este papel

de preparação para o ingresso nos cursos de formação profissional e se transformou

em centros de formação de professores (DURHAM, 2003).

O conflito entre projetos conservadores e inovadores que permearam a reforma

educacional do ensino superior na década de 1930, pode também ser identificado nas

três universidades criadas neste período. De um lado, a Universidade do Brasil, criada

pelo governo federal em 1937 (continuação da Universidade do Rio de Janeiro e que

passou a reunir as escolas superiores da cidade) que, para Durham (2003),

representou plenamente o caráter conservador da reforma. Por outro lado, as

universidades de São Paulo (1934) e a do Distrito Federal (1935) surgem com

propostas mais ousadas de universidade que envolviam pensar o ensino e a pesquisa

em todos os campos do conhecimento humano (TEIXEIRA, 1969).

A Universidade do Distrito Federal (UDF) foi instituída por iniciativa de Anísio

Teixeira e, segundo Fávero (2006), surgiu com vocação científica e estrutura

totalmente diferente das demais universidades brasileiras e, por isso, marca

significativamente a história do ensino superior no Brasil. De caráter inovador, a UDF

apresentava uma coerente proposta de universidade, com definição clara de sentido

e funções, além da previsão dos mecanismos necessários (recursos humanos e

materiais) para o alcance de seus objetivos. Acusada de ser centro do liberalismo

anticlerical e no contexto de autoritarismo político do Estado Novo, a UDF foi extinta

em 1939 (FÁVERO, 2006).

O ensino superior brasileiro, na Era Vargas, apesar das inquietações

reformistas e experiências inovadoras, cresceu lentamente. Foram criadas apenas

três universidades e o número de alunos, em todo o sistema (público e privado) não

chegava a 42.000, sendo que destes, pouco mais da metade estavam no setor público

(DURHAM, 2003).

28

2.2.4 Período democrático (1945 – 1964)

O período que sucede a Era Vargas (1945 - 1964) é marcado pelo desejo de

romper os laços com o autoritarismo que prevaleceu nos quinze anos anteriores e por

um projeto de redemocratização do país, refletido na Constituição liberal de 1946. Em

relação ao ensino superior, esse período conhece um avanço legal na concessão de

autonomia administrativa, financeira, didática e disciplinar às instituições de ensino

superior. No entanto, essa autonomia outorgada não chegou a ser implementada,

tornando-se ilusória (FÁVERO, 2006).

A expansão do ensino superior no Brasil continuou ocorrendo de forma lenta

até a década de 1960, quando foram criadas 18 universidades públicas e 10

particulares, com destaque para as de carácter confessional3. De acordo com

Mendonça (2000), essas novas universidades eram resultado do processo de

agregação de escolas profissionalizantes (caso das universidades católicas) ou do

processo de federalização de faculdades estaduais.

Para Durham (2003, p. 13):

Embora não fosse pequeno em termos percentuais, o crescimento ocorrido no conjunto do sistema mostrou-se incapaz de absorver o explosivo aumento da demanda por ensino superior que caracteriza o final deste período, tanto no Brasil como em outros países, alimentando a pressão por reformas.

Além da ampliação no número de vagas, a melhoria na qualidade da educação

superior também estava na pauta das reivindicações do período. Durham (2003)

apresenta as principais críticas à educação superior, naquele período, das quais

destacavam-se: corpo docente despreparado e improvisado (formado por elites locais)

e universidades formadas por federações de escolas que ofereciam um ensino

tradicional e rotineiro. Como ponto positivo deste período, a autora destaca a

ampliação e diversificação dos cursos oferecidos, abrangendo novos ramos do

conhecimento.

Os anos pós guerra refletiram no Brasil o conflito ideológico que caracterizou a

guerra fria no mundo. Foi um período de grande efervescência, marcado por

3 Instituições privadas sem fins lucrativos que atendem a determinada orientação religiosa ou

ideológica.

29

mobilizações populares contra a ditadura e pela redemocratização do país, em que se

destacaram os movimentos sociais e partidos políticos de esquerda. As reivindicações

por efetivação dos direitos sociais, negados à grande maioria da população brasileira,

e dentre eles a educação superior, contaram, principalmente, com a força da

comunidade científica organizada e do movimento estudantil (MENDONÇA, 2000).

O movimento de esquerda participou ativamente das discussões em torno da

proposta de uma Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), prevista na

Constituição de 1946. Reivindicavam a expansão das universidades públicas e

gratuitas e a associação do ensino à pesquisa que promovessem o desenvolvimento

do país e a superação da desigualdade social. A LDB, aprovada em 1961, representou

a preservação do sistema existente, atendendo aos interesses dos setores privados e

conservadores. Por meio do Conselho Federal de Educação (CFE) e do Ministério da

Educação (MEC), a nova LDB exercia forte controle sobre a expansão e o currículo

do ensino superior (DURHAM, 2003).

Fávero (2006) afirma que mesmo diante de uma legislação pouco flexível, o

movimento pela modernização do ensino superior no Brasil atinge seu ápice com a

criação da Universidade de Brasília (UnB), em 1961.

[...] a UnB surge não apenas como a mais moderna universidade do país naquele período, mas como um divisor de águas na história das instituições universitárias, quer por suas finalidades, quer por sua organização institucional, como o foram a USP e a UDF nos anos 30 (FÁVERO, 2006, p. 13).

O modelo de educação superior pensado por Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro

para a UnB era fortemente influenciado pelo modelo flexneriano4 de universidade, com

programas de ensino baseados em ciclos de formação geral, organizada em centros

por grandes áreas do conhecimento (SANTOS; ALMEIDA FILHO, 2008).

4 Modelo proposto por Abraham Flexner no início do século XX, nos Estados Unidos, para a

reorganização do sistema universitário americano. Esse modelo de arquitetura acadêmica é baseado em uma formação básica e flexível antes da graduação [undergraduate], ministrada em unidades de educação superior, isoladas ou integradas em universidades, chamadas de colleges. Compreende cursos universitários de conteúdos gerais e básicos, terminais, porém de caráter não-profissional. Os concluintes ganham títulos universitários plenos de Bacharel em Ciências, Artes ou Humanidades. O título torna-se pré-requisito para ingressar no segundo nível de programas de graduação profissional ou programas de estudos avançados para formação científica ou artística de pesquisadores e docentes do ensino superior (SANTOS; ALMEIDA FILHO, 2008).

30

2.2.5 Período da ditadura militar (1964-1985)

No período da ditadura militar no Brasil, a universidade pública continuou sendo

símbolo da luta pela democracia e do movimento estudantil, que na medida em que

se radicalizava, aumentava a repressão governamental. No final da década de 1960,

o movimento estudantil foi destruído com a prisão das lideranças, cassação de

docentes e intensa vigília às universidades consideradas subversivas (DURHAM,

2003).

Apesar de derrotado, algumas das reivindicações do movimento estudantil,

foram incorporadas na reforma universitária promovida pelo Governo Militar. Para

Durham (2003), esta foi uma reforma profunda e bastante influenciada pelos Estados

Unidos da América (EUA). Fávero (2006), também destaca esta influência americana

através do plano de assistência técnica estrangeira, acordo firmado entre MEC

(Ministério da Educação) e USAID (Agência dos Estados Unidos para o

Desenvolvimento Internacional) e do Plano Atcon, que preconizava a implantação de

uma nova estrutura administrativa universitária baseada nos princípios de rendimento

e eficiência.

Buarque (2003), ao se referir à reforma universitária da década de 1960, relata

que esta foi promovida por financiamentos americanos, sob o patrocínio do

autoritarismo militar da ditadura. Para o autor:

A moderna universidade brasileira é filha do regime militar e da tecnocracia norte-americana. Sob esse patrocínio e essa tutela, a universidade brasileira, entre 1964 e 1985, conseguiu dar um enorme salto quantitativo e qualitativo, talvez o maior salto já ocorrido em qualquer país do mundo, na área da educação superior. Era como se quiséssemos recuperar, embora sem liberdade, os quinhentos anos que havíamos perdido (BUARQUE, 2003, p. 21).

Esse crescimento notável em termos quantitativos e qualitativos do ensino

superior brasileiro custaria ao Brasil a subserviência no receituário americano para a

educação. Para Ferreira Júnior e Bittar (2008), os tecnocratas defendiam a aplicação

da “teoria do capital humano”, pautada numa concepção teórico-metodológica

instrumental em que o principal objetivo era aumentar a produtividade econômica da

sociedade. As heranças dessa concepção de educação estão presentes no atual

sistema de educação superior brasileiro e pode ser percebida na forte relação entre

educação superior e mercado de trabalho.

Paula e Fernandez Lamarra (2011) sintetizam as características da Reforma

31

de 1968, que incorporou a concepção universitária norte-americana. São elas:

a) Vínculo linear entre educação e desenvolvimento econômico, entre educação e mercado de trabalho; b) estímulo às parcerias entre universidade e setor produtivo; c) instituição do vestibular unificado, do ciclo básico ou primeiro ciclo geral, dos cursos de curta geração do regime de créditos e da matrícula por disciplinas, todas estas medidas visando uma maior racionalização para as universidades; d) fim da cátedra e da instituição do sistema departamental; e) criação da carreira docente aberta e do regime de dedicação exclusiva; expansão do ensino superior, por intermédio da ampliação do número de vagas nas universidades públicas e da proliferação de instituições privadas; g) a ideia moderna de expansão universitária; h) ênfase nas dimensões técnica e administrativa do processo de reformulação da educação superior, no sentido da despolitização da mesma (PAULA; FERNANDEZ LAMARRA, 2011, p. 59-60).

Nestas características apresentadas, Paula e Fernandes Lamarra (2011),

reforçam a forte relação entre educação e mercado de trabalho absorvidas da

concepção norte-americana de educação. Outra característica que vai ao encontro da

lógica de mercado norte-americano aplicado à educação, é a organização racional da

estrutura administrativa da universidade, visando maior eficiência. Como fator

positivo, revelam-se alguns avanços, principalmente em relação ao regime de trabalho

e carreira docente. Durham (2003) destaca também o incentivo federal à pesquisa,

principalmente, para as universidades públicas, que ocorreu por meio da

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (CAPES) e do

Conselho Nacional de Pesquisa Científica e Tecnológica (CNPq). Tais órgãos

promoveram a formação de pesquisadores através de bolsas de mestrado e

doutorado. Outro incentivo foi a introdução e ampliação do chamado “Tempo Integral”,

que remunerava também o tempo que deveria ser dedicado à pesquisa (DURHAM,

2003).

Considerados os avanços e limites, o fato mais revelador desta Reforma

promovida pelos tecnocratas militares sob a influência e tutela norte-americana é que

educação foi subordinada à lógica econômica de modernização acelerada da

sociedade brasileira. Nesta lógica, o papel da educação é maximizar a produtividade

do PIB, independentemente de outros indicadores sociais como distribuição da renda

nacional (FERREIRA JÚNIOR; BITTAR, 2008).

Para Chauí (2014), o período militar marca o início da transformação e

descaracterização da universidade pública brasileira, que deixa de ser uma instituição

social e se torna uma organização. A autora relata que o “milagre econômico” tornou

32

a universidade funcional, voltada para atender o mercado de trabalho e a classe

média, base de sustentação do regime e beneficiada pelo mesmo.

Ao beneficiar a classe média, o “milagre econômico” levou a um crescimento

da demanda por ensino superior. Com isso, o governo militar no Brasil promoveu a

ampliação do número de vagas nas universidades, bem como dos recursos e

orçamento voltado para a educação. Santos e Cerqueira (2009) afirmam que o

“milagre econômico”

[...] aumentou a demanda pelo ensino superior com o aumento providencial dos recursos federais e o orçamento destinado à educação [...]. No Brasil, ao contrário de alguns países da América Latina, a repressão política promoveu o ensino superior, tanto público quanto privado (SANTOS; CERQUEIRA, 2009, p.6).

Apesar dessa expansão, o número de matrículas era ainda muito aquém das

necessidades dos 119 milhões de brasileiros em 1980 e representava apenas 0,11%

dessa população. Para termos de comparação, em 2013, por exemplo, o número de

matriculados na educação superior chegou a 7,3 milhões para uma população de

cerca de 201 milhões, ou seja, 3,63% da população no período (BRASIL, 2014).

2.2.6 Período da redemocratização política (1985 a 2000)

No contexto político, as últimas décadas do século XX foram caracterizadas por

um processo de redemocratização que inicia-se com o declínio da repressão política,

passa pela eleição de um presidente civil e concretiza-se com a promulgação da

Constituição de 1988 e a eleição direta para presidente em 1989 (DURHAM, 2003).

Em relação à economia, na década de 1980, o país vive um período de acelerada

inflação e planos econômicos fracassados. A década de 1990 marca o controle da

inflação, possibilitado pela criação do plano real, e pela implementação da chamada

Reforma do Estado.

A Reforma do Estado, iniciada no primeiro mandato de FHC, seguiu as

orientações neoliberais, promoveu a redução do tamanho do Estado e impôs outras

medidas de restrição da atuação estatal, que atingiu, inclusive, as políticas sociais

(PAES DE PAULA, 2001).

Paula e Fernandez Lamarra (2011) afirmam que a influência das políticas

neoliberais e dos organismos internacionais do capital, como o Fundo Monetário

Internacional - FMI, Banco Mundial - BM e Organização Mundial do Comércio - OMC,

33

entre outros, promoveu a internacionalização e o comércio dos serviços educacionais.

Para os autores, a educação superior “[...] deixou de ser vista como dever de Estado

e direito do cidadão, sendo concebida como serviço, mercadoria, perdendo assim o

seu caráter eminentemente público” (PAULA; FERNANDEZ LAMARRA, 2011, p. 60).

Se por um lado houve a estagnação no número de matrículas, por outro,

aumentou muito o número de vagas oferecidas nas instituições privadas. O baixo

investimento no setor público e facilidades no processo de criação de instituições de

ensino privadas fez com que estas aumentassem tanto a oferta ao ponto de não haver

candidatos em número suficiente para preencher as vagas (DURHAM, 2003). A

Tabela 1 mostra a evolução do número de matrículas no período de 1933 a 2001.

Tabela 1 – Evolução das matrículas em estabelecimentos públicos e privados no Ensino Superior brasileiro 1933-2001

Público Privado Total

Ano Número % Número % Número

1933 18.986 56,3 14.737 43,7 33.723 1945 21.307 52,0 19.968 48,0 40.975 1960 59.624 56,0 42.067 44,0 95.691 1965 182.696 56,2 142.386 43,8 352.096 1970 210.613 49,5 214.865 50,5 425.478 1980 492.232 35,7 885.054 64,3 1.377.286 1990 578.625 37,6 961.455 62,4 1.540.080 1995 700.540 39,8 1.059.163 60,2 1.759.703 2000 887.026 32,9 1.807.219 67,1 2.694.245 2001 939.225 31,0 2.091.529 69,0 3.039.754

Fonte: DURHAM (2003, p.12).

Os dados revelam que de 1980 a 2000 foram criadas mais de um milhão de

novas vagas nas instituições privadas. Enquanto isso, nas instituições públicas, o

aumento foi de menos de meio milhão.

Esse aumento de vagas no setor privado demandou mudanças no processo de

regulamentação do ensino superior brasileiro. A nova LDB, aprovada em 1996, definia

critérios mais objetivos ao funcionamento do ensino superior, seja para a criação,

reconhecimento e renovação de reconhecimento de cursos, credenciamento e

recredenciamento de instituições.

A preocupação com a qualidade dos cursos fez com que o Ministério da

Educação criasse, em 1996, um sistema de avaliação que concentrou suas ações no

34

Exame Nacional de Cursos (ENC-Provão), que praticamente ignorava a avaliação

institucional. O Provão consistia em um exame aplicado aos formandos com o objetivo

de avaliar os cursos de graduação da Educação Superior através dos resultados do

processo de ensino e aprendizagem. O Provão sofreu diversas críticas como a sua

desarticulação dos demais componentes da Avaliação da Educação Superior e sua

ênfase nas competências finais específicas de cada área de conhecimento, em

detrimento dos demais aspectos da formação dos alunos. Em 2004, o Provão foi

substituído pelo Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes) que integra

o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior - SINAES (DURHAM, 2003;

VERHINE; DANTAS; SOARES, 2006).

O controle burocrático exercido, na tentativa de regulamentar o sistema de

ensino superior brasileiro, não foi capaz de promover a melhoria da qualidade do

ensino. Para Durham (2003) e Santos (2008), essa regulamentação não foi efetiva e

corroborou para a proliferação de instituições privadas e de cursos de curta duração

ou a distância.

A qualidade do ensino nas instituições privadas pode ser afetada por seu

caráter eminentemente mercantil com fins fundamentalmente lucrativos. A grande

maioria dessas instituições é de qualidade duvidosa, se dedicam fundamentalmente

ao ensino e oferecem cursos de curta duração, o que compromete a formação do

aluno (PAULA; FERNANDEZ LAMARRA, 2011).

A partir da década de 1980, ocorreu uma mudança do perfil da universidade

brasileira, que passou a ser uma entidade preponderantemente privada. A quantidade

de IES privadas superou as públicas, chegando ao ano 2000 representando quase

70% do total de IES do país.

Esse processo de privatização da universidade brasileira é, segundo Buarque

(2003) e Chauí (2003), resultado do rígido controle dos gastos públicos orientados

pelos organismos internacionais, como Banco Mundial e Organização Mundial do

Comércio e do ideário neoliberal. O neoliberalismo toma a educação como gasto

público e não como investimento social e político. Para Chauí (2003, p.11), a

universidade pública deveria ser “considerada um direito e não um privilégio e nem

um serviço”. Para a autora, a universidade está sendo reduzida a uma organização

que, em detrimento da formação e da pesquisa, busca competitividade e atendimento

aos interessas das agências financiadoras.

35

O Quadro 1, sintetiza os principais pontos que caracterizaram o ensino superior

brasileiro do período colonial ao final do século XX.

Quadro 1 - Ensino superior brasileiro da Colônia ao século XX

Fonte: Elaborado a partir de Durham (2003).

Período Características

Colônia e Império (1500-1889)

Até 1808 a formação superior concentra-se na metrópole;

A partir se 1808 iniciou-se a implantação de um modelo de escolas autônomas para formação de profissionais liberais;

Ensino de caráter pragmático, laico e estatal;

Expansão lenta.

Primeira República (1889-1930)

Expansão e descentralização do sistema com o surgimento tanto de instituições públicas (estaduais ou municipais) quanto privadas.

Criação da primeira Universidade oficial do Brasil (Universidade do Rio de Janeiro);

Intensos debates em torno da de uma reforma do ensino superior.

Era Vargas (1930-1945)

Criação do Ministério da Educação e Saúde Pública (1930);

Reforma Educacional Francisco Campos (Caráter centralizador);

Disputas entre ideias conservadores e inovadores.

Período Democrático (1945-1964)

Reestruturação do aparato legal (tentativa de implementação da autonomia universitária: administrativa, financeira, didática e disciplinar);

Intensificação das pressões de movimentos populares (UNE, partidos de esquerda);

Aprovação da LDB de 1961;

Criação da UNB;

Período da Ditadura Militar (1964-1985)

Intensa repressão à UNE;

Reforma influenciada e financiada pelos E.U.A;

Expansão acelerada, especialmente do setor privado.

Período da Redemocratização

Política (1985-2000)

Expansão do número de vagas;

Aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de 1996.

“Privatização e mercadorização” da Educação Superior;

Descapitalização das IFES.

36

Assim, chega ao século XXI a educação superior brasileira: de um lado, um

amplo sistema formado por instituições privadas em que a educação é considerada,

acima de tudo, uma mercadoria; de outro, as instituições públicas, que desamparadas

pelo poder público, vivem um contexto de crise.

Na próxima seção, discutem-se as características da educação superior no

Brasil, neste início de século, bem como as propostas de reforma e políticas

implementadas pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva para este nível de ensino.

2.3 ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO NO SÉCULO XXI

O atual sistema de ensino superior brasileiro é composto por instituições de

ensino superior, públicas e privadas, com variados graus de abrangência ou

especialização. Com relação à classificação acadêmico-administrativa, as IES podem

receber diferentes denominações, de acordo com o Decreto nº 5.773, de 9 de maio

de 2006:

a) Universidades: São instituições pluridisciplinares de formação de quadros

profissionais de nível superior e caracterizam-se pela indissociabilidade das

atividades de ensino, pesquisa e extensão, atuando em várias áreas do saber;

b) Centros Universitários: São instituições pluricurriculares, abrangendo uma ou

mais áreas de conhecimento. Os Centros Universitários Especializados atuam

numa área de conhecimento específica ou de formação profissional;

c) Faculdades: As faculdades são instituições de ensino superior que atuam em

um número reduzido de áreas do saber. Possuem autonomia limitada em

relação às universidades;

d) Institutos Federais são unidades voltadas à formação técnica, com capacitação

profissional em áreas diversas. Oferecem ensino médio integrado ao ensino

técnico, cursos técnicos, cursos superiores de tecnologia, licenciaturas e pós-

graduação;

e) Os CEFETs são instituições de ensino superior pluricurriculares,

especializados na oferta de educação tecnológica nos diferentes níveis e

modalidades de ensino, caracterizando-se pela atuação prioritária na área

tecnológica.

37

O gráfico 1 apresenta o cenário da organização acadêmico-administrativo da

Educação Superior Brasileira.

Gráfico 1 - Número de Instituições de Educação Superior e Número de Matrículas em Cursos de Graduação, por organização acadêmica – Brasil – 2014.

Fonte: INEP (2014).

Os dados revelam que, embora o percentual de quase 84% das IES seja

composto por faculdades, essas organizações acadêmicas representam pouco mais

de 28% do total de matrículas nos cursos de graduação. Enquanto isso, as

universidades, que representam 8,2% do total de IES, detêm a grande maioria das

matrículas da graduação e superam a média de matrículas das demais organizações

acadêmicas.

Outra característica importante da Educação superior no Brasil é a

predominância no número de instituições e matrículas no setor privado, conforme

apresentado nos dados das tabelas 2 e 3.

Tabela 2 - Número de Instituições de Educação Superior, por Organização Acadêmica e Categoria Administrativa das IES – 2014.

Organização Acadêmica / Categoria Administrativa

Instituições

Total Geral Universidades Centros

Universitários

Faculdades IF e CEFET

Brasil 2.368 195 147 1.986 40

Pública 298 111 11 136 40

Privada 2.070 84 136 1.850

Fonte: Brasil / INEP (2014)

38

Tabela 3 - Número de Matrículas, por Organização Acadêmica e Categoria Administrativa das IES – 2014.

Matrículas Categoria / Administrativas

Total Geral Universidades Centros

Universitários

Faculdades IF e

CEFET

Matrículas 7.828.013 4.167.059 1.293.795 2.235.197 131.962

Pública 1.961.002 1.678.706 27.094 123.240 131.962

Privada 5.867.011 2.488.353 1.266.701 2.111.957

Fonte: Brasil / INEP (2014).

Os dados revelam a predominância quantitativa de instituições e matrículas no

setor privado em relação ao público. São 2.070 instituições privadas contra apenas

298 públicas que correspondem a 5.867.011 e 1.961.002 matrículas respectivamente.

Outro dado importante é que das 195 universidades, 111 são públicas e apenas 84

são privadas, enquanto a grande maioria das faculdades, mais de 93%, são privadas.

Pelas características próprias da universidade, como indissociabilidade das

atividades de ensino, pesquisa e extensão e outros aspectos como autonomia

administrativa e pluridisciplinaridade, os requisitos para sua implantação e

funcionamento são maiores e necessariamente demandam mais investimentos. Por

isso, a iniciativa privada prefere concentrar seus cursos e oferta de vagas em

faculdades, onde normalmente investe-se menos e obtém-se mais lucros. Seguindo a

lógica mercantil do maior lucro possível com o mínimo de investimento, o resultado é

o comprometimento da qualidade de cursos, em faculdades privadas, que se dedicam

exclusivamente ao ensino.

O atual cenário do ensino superior brasileiro reflete processo de

descapitalização e desestruturação da universidade pública a favor do emergente

mercado universitário. Embora este seja um fenômeno mundial, o Brasil, é um caso

típico. Buarque (2003) comenta que a partir da década de 1980, as universidades

públicas foram duramente maltratadas pelo neoliberalismo perdendo poder, recursos

financeiros e professores, e não crescendo o suficiente para atender à demanda por

vagas.

Gomes, Oliveira e Dourado (2011) explicam este cenário afirmando que as

políticas de educação superior adotadas a partir da década de 90, basearam-se na

associação dos princípios da flexibilidade, competitividade e avaliação. Como

39

consequência, a flexibilidade serviu para diversificar tipos de instituições

(universidades, centros universitários, faculdades e institutos superiores) e cursos que

passaram a ser orientados para as necessidades do mercado. A competitividade

mercantil foi incorporada através da lógica de mercado em que alunos são

considerados clientes de produtos acadêmicos. A avaliação reduziu-se a mensuração

dos resultados, onde se buscava aferir a qualidade da instituição, que era informada

aos consumidores (GOMES; OLIVEIRA; DOURADO, 2011). Neste modelo, o Estado

limita os investimentos, transferindo para a iniciativa privada grande parte da oferta de

serviços, se concentrando na regulação do sistema de educação superior.

Diante deste cenário de baixos investimentos e insuficiência de vagas no

ensino superior público, a expansão e reestruturação deste setor, especialmente da

universidade pública, tornou-se uma reivindicação cada vez mais forte no início dos

anos 2000. A eleição de Luiz Inácio Lula da Silva renovou as esperanças de que esta

expansão e reestruturação pudessem ser efetivadas através da reforma da

universidade pública brasileira.

2.3.1 Proposta de reforma da educação superior no Brasil

A reforma universitária tornou-se tema presente na agenda política nacional

desde a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, a partir de 2004, o Ministério

da Educação a elegeu como uma de suas prioridades. Assim, abriram-se os debates

para a construção desse projeto, nos quais se destacou a Associação Nacional dos

Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES), levantando a

bandeira de uma “educação superior republicana - pública, laica e gratuita”

(ANDIFES, 2005, p. 7).

Em 2005, a ANDIFES entregou ao presidente uma proposta de reforma

universitária, onde defendia-se que esta deveria ser norteada por dois grandes

princípios: a afirmação da educação superior como uma política de Estado e o

conceito de uma educação superior como um sistema nacional. De acordo com o

documento, o primeiro princípio decorre dos seguintes fundamentos:

a. A educação superior é um bem público, condição de desenvolvimento humano, econômico e social e de afirmação de valores e identidades culturais.

b. A educação superior, assentada na produção e na disseminação do

40

conhecimento, é formação, simultaneamente, profissional e cidadã. c. A educação superior é condição da inclusão social duradoura. d. A educação superior deve abrigar a pluralidade e a diversidade e ser

pautada por valores democráticos. e. A educação superior implica patamares cada vez mais avançados de

qualidade e pertinência. f. A educação superior universitária articula ensino, pesquisa e extensão. g. A educação superior universitária é inovação, é desenvolvimento

científico e tecnológico. h. A educação superior universitária é condição de soberania na

cooperação internacional (ANDIFES, 2005, p. 14-16).

Vale ressaltar que o princípio da educação superior como política de Estado,

defendida pela ANDIFES, contraria os princípios neoliberais. Ao contrário dessa visão,

nas orientações dos órgãos internacionais como FMI, BM e OMC (de orientação

neoliberal), a educação é concebida como uma mercadoria e tem prevalecido nos

sistemas de ensino mundial (PAULA; FERNANDEZ LAMARRA, 2011).

Em relação ao princípio do Conceito de Educação Superior como um sistema

nacional, a ANDIFESs aborda a questão da qualidade, do papel de referência deste

nível de ensino para os demais e da avaliação, dentre outras. Os aspectos destacados

neste princípio são:

a. A valorização da qualidade deve orientar a construção do sistema de educação superior no Brasil.

b. A educação superior impulsiona e constitui referência para todo o sistema educacional.

c. O ensino público superior deve servir de referência para a expansão e qualificação do Sistema Nacional de Educação Superior.

d. A avaliação é constitutiva de uma educação superior de qualidade. e. Uma nova política de fomento e avaliação deve ser indutora de

transformações e pautada no mérito, pertinência, relevância e transparência.

f. Um novo marco legal deve formalizar o Sistema Nacional de Educação Superior (ANDIFES, 2005, p. 17-19).

O documento produzido pela ANDIFES revela uma preocupação na expansão

com qualidade, a partir de políticas de regulamentação e avaliação transformadoras e

efetivas. Ressalta-se, ainda, a importância de incluir a implementação da autonomia,

a definição das formas de financiamento e a implantação de uma política adequada

de recursos humanos para as IFES. Tais preocupações decorrem da conscientização

dos problemas que afligem as universidades e que Santos (1995) chamou de crise de

hegemonia, legitimidade e institucional.

Após três anos de debate, em 2006, o Governo Federal encaminhou à Casa

Civil o Projeto de Lei da Reforma do Ensino Superior (PL 7.200/2006). Para Santos

41

(2008, p.185-186), apesar de alguns avanços, o Projeto se configurou mais como:

[...] uma proposta de reestruturação administrativa de IES e do marco jurídico do MEC. Entre eles, destacam-se: ente jurídico especial chamado “universidade”; estrutura institucional garantindo a primazia do âmbito acadêmico; marco regulatório, em especial para o setor privado; sistema de financiamento, com a subvinculação das verbas de

custeio das universidades federais (SANTOS, 2008, p.185-186)

Chaves, Lima e Medeiros (2008) também criticam a Reforma da Educação

Superior proposta pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva por limitar os recursos para

manutenção das IFES, estimulando-as a captarem recursos no mercado capitalista

para o enfrentamento da crise institucional apontada por Santos (1995). Como

consequência, esse processo de mercadorização pode retirar da universidade a frágil

autonomia que ainda possui. Os autores também salientam que o projeto de reforma

mantém a excessiva fragmentação da educação superior brasileira, que favorecem

ao processo de privatização e mercadorização deste nível de ensino.

Apesar das críticas, a partir de 2007, o governo federal iniciou a implementação

de diversos projetos com o intuito de promover a reforma universitária. Entre eles,

destaca-se o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das

Universidades Federais (REUNI), conforme veremos na próxima seção.

2.3.2 Políticas de expansão da educação superior brasileira no século XXI

O histórico de exclusão, elitização e segmentação da educação superior

brasileira, fez com que a Reforma Universitária, promovida pelo governo de Luiz Inácio

Lula da Silva, priorizasse a ampliação do acesso ao ensino superior. Dentro de um

conjunto de medidas criadas com o objetivo de democratizar o acesso a este nível de

ensino, destacam-se as Políticas de Ação Afirmativa, o Programa de Apoio a Planos

de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), o Programa

Universidade para todos (PROUNI), o Financiamento Estudantil (FIES) e a expansão

da Educação à Distância (PAULA; FERNANDEZ LAMARRA, 2011; GOMES;

OLIVEIRA; DOURADO, 2011). Tais medidas procuram tanto expandir o sistema

federal, quanto apoiar o crescimento das IES privadas.

O Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais

Brasileiras (REUNI) foi instituído pelo Decreto Presidencial nº. 6.096 de 24 de abril de

42

2007(BRASIL, 2007). O REUNI representa a principal ação para a democratização do

ensino superior e, segundo Santos (2008), é o programa mais ambicioso dessa

natureza já implementado no Brasil.

O REUNI traz como objetivo, em seu artigo I, “criar condições para a ampliação

do acesso e permanência na educação superior, no nível de graduação, pelo melhor

aproveitamento da estrutura física e de recursos humanos existentes nas

universidades federais”. Desdobram-se daí outros objetivos como elevação da taxa

média de conclusão dos cursos presenciais de graduação para 90% e da relação de

alunos de graduação por professor para 18% (BRASIL, 2007).

Percebe-se a pretensão do REUNI de ampliar o acesso ao ensino superior

seguindo a lógica da maior eficiência possível dos recursos disponíveis. Essa ênfase

nos resultados quantitativos pode comprometer a qualidade da educação superior

através da precarização da formação profissional e do trabalho docente. Para Lima

(2007), essa precarização ocorre de duas formas: a primeira é através do atendimento

de um maior número de alunos por turma, da criação de cursos de curta duração, de

formação aligeirada e desvinculada da pesquisa; já a segunda, ocorre através do

aumento do número de turmas, de cursos e da relação professor-aluno em sala de

aula da graduação, o que faz intensificar as precárias condições de trabalho, com

ênfase nas atividades de ensino e crescente perda de sua autonomia.

Para além das críticas, o processo de expansão, que teve início em 2003, com

a interiorização dos campi das universidades federais, ampliou significativamente o

número de vagas. Segundo dados divulgados pelo Ministério da Educação (MEC)

(2014), o número de municípios atendidos pelas universidades passou de 114 em

2003, para 237 até o final de 2011, sendo criadas 14 novas universidades e mais de

100 novos campi que possibilitaram a ampliação de vagas e a criação de novos cursos

de graduação. O Gráfico 2 mostra a Expansão das Universidades e Institutos

Federais, no período 2003 a 2010.

43

Gráfico 2- Expansão das Universidades e Institutos Federais – Brasil - 2003 a 2010 Fonte: MEC (2014).

O REUNI é, por um lado, propagado pelos órgãos governamentais como um

programa capaz de promover o crescimento do ensino superior público e a justiça

social. Por outro, recebe críticas e questionamentos em torno do fato de pretender

aumentar o número de vagas e incluir as classes sociais historicamente excluídas do

ensino superior sem a contrapartida dos investimentos necessários.

Araújo e Pinheiro (2010) identificam nos princípios do REUNI uma vinculação

estreita às orientações gerencialistas que dominaram o processo de Reforma do

Estado, no Brasil, a partir dos anos 90. Para os autores, o REUNI é uma tentativa de

dar respostas à crise do sistema através da pactuação de resultados, com metas

quantitativas e qualitativas, com enfoque na eficiência, flexibilidade, mobilidade e

novos arranjos organizacionais. As Instituições Federais de Ensino Superior (IFES)

devem implementar políticas para atingir as metas, enquanto o MEC define tais metas

e indicadores e controla os resultados.

Baseado na lógica dos contratos de gestão, as instituições recebem verbas

adicionais em troca do compromisso de atingir as metas estabelecidas pelo MEC. A

meta global do programa consiste na ampliação da taxa de conclusão nos cursos de

graduação a uma média de 90% de titulação e no aumento de quase 100% do número

de alunos por professor na graduação, atingindo a média de 18 alunos por docente

(LÉDA; MANCEBO, 2009; ARAÚJO; PINHEIROS, 2010).

Léda e Mancebo (2009) ressaltam ainda que o resultado desta política é o

comprometimento da qualidade da educação e a precarização do trabalho docente.

Para os autores, a conta da expansão realizado através de um financiamento mitigado

44

é paga pela universidade, alunos e professores. Na visão dos autores, à universidade

cabe render-se à heteronomia e à priorização do ensino “neoliberal” de nível reduzido

e sucateado, em detrimento das demais funções da universidade; aos alunos são

oferecidos cursos de qualidade duvidosa; aos professores restam-lhes a inserção de

seu trabalho na lógica produtivista e empresarial. A obrigação em cumprir as metas

estabelecidas sem o acompanhamento de um aumento expressivo de recursos

orçamentários e valorização do docente, pode significar a precarização da educação

por meio da oferta de uma educação de baixa qualidade.

Apesar de o governo propagar a implementação de uma reforma no ensino

superior, autores como Léda e Mancebo (2009), Gomes, Oliveira e Dourado (2011)

identificam uma política gerencial e de continuidade do governo Lula, em relação ao

governo anterior. Para Léda e Mancebo (2009), as políticas voltadas ao ensino

superior, especialmente o REUNI, apresentam como características a limitação

orçamentária, a subserviência diante das pressões dos organismos internacionais e a

vinculação das instituições públicas de ensino superior às decisões do Ministério do

Planejamento (heteronomia das IFES).

O processo de expansão do ensino superior, a partir do REUNI, ocorreu em

grande parte graças à implantação dos Bacharelados Interdisciplinares (BIs). Este

modelo, que já fora proposto na reforma universitária defendida por Anísio Teixeira,

na década de 60, no Brasil, ganhou destaque também nas propostas de reforma

universitária na Europa, na década de 90. O modelo denominado de Escola Nova é

defendido por órgãos internacionais como Banco Mundial, OMC e Unesco que

almejam a formação de um currículo mundial e acreditam que este possa responder

às atuais demandas contemporâneas por meio da integração entre as várias áreas do

conhecimento.

2.3.3 Os Bacharelados Interdisciplinares

A qualidade da educação superior foi colocada como uma das principais

preocupações do REUNI. Para justificar o alcance dessa qualidade desejável, o

programa procurou atuar em várias dimensões, como: propostas de reestruturação

acadêmico-curricular; inovação pedagógica; mobilidade intra e inter institucional;

compromisso social das universidades, e articulação entre graduação, pós-graduação

45

e os demais níveis educacionais. Seguindo as orientações do REUNI, grande parte

das universidades que aderiram ao programa apresentaram, em seus projetos,

inovações agrupadas em cinco tipos:

1- Formação em ciclos (geral, intermediário, profissional ou de pós-graduação);

2- Formação básica comum (ciclo básico ou por grandes áreas);

3- Formação básica em uma ou mais das Grandes Áreas: Saúde, Humanidades, Engenharias e Licenciaturas;

4- Bacharelados Interdisciplinares em uma ou mais das Grandes Áreas: Ciências, Ciências Exatas, Ciência e Tecnologia, Artes, Humanidades, Saúde;

5- Bacharelados com dois ou mais itinerários formativos (BRASIL, 2008, p. 13).

A implementação do REUNI teve como um de seus principais desdobramentos

dentro da proposta de reestruturação da arquitetura acadêmica, a implantação dos

bacharelados interdisciplinares. A proposta denominada de Universidade Nova,

encabeçada por Naomar Almeida-Filho5, pretendia transformar radicalmente a

arquitetura acadêmica da universidade brasileira. Objetivava-se a superação de

fragilidades históricas, atentando para temas contemporâneas como a diversidade

multicultural do mundo atual e a necessidade “de maior mobilidade, flexibilidade,

eficiência e qualidade, visando à compatibilização com as demandas e modelos de

educação superior do mundo contemporâneo” (SANTOS; ALMEIDA FILHO, 2008, p.

200).

A Universidade Nova é inspirada na organização da formação superior proposta

por Anísio Teixeira, para a concepção da Universidade de Brasília (década de 1960),

no modelo europeu do Processo de Bolonha e nos Colleges estadunidenses. Para

além da inspiração em modelos passados, os idealizadores da Universidade Nova

diziam pretender incorporar um desenho inovador necessário para responder às

demandas atuais (BRASIL, 2010).

O modelo da Universidade Nova baseia-se na adoção de um sistema de três ciclos

de educação superior. O Primeiro Ciclo consiste no Bacharelado Interdisciplinar (BI),

que proporciona ao discente uma formação universitária geral, como pré-requisito

para progressão aos ciclos seguintes. O Segundo Ciclo é de formação profissional em

licenciaturas ou carreiras específicas. O Terceiro Ciclo é de formação acadêmica

5 Reitor da Universidade Federal da Bahia – UFBA, no período de 2002 a 2010.

46

científica, artística e profissional da pós-graduação (mestrado ou doutorado). A Figura

1 representa esta arquitetura curricular proposta pelo modelo da Universidade Nova.

Figura 1 - Arquitetura curricular do Modelo Universidade Nova Fonte: SANTOS; ALMEIDA FILHO (2008. p. 201).

Imerso nesta nova concepção de educação superior, os Bacharelados

Interdisciplinares são apresentados como uma proposta alternativa aos modelos de

formação tradicionalmente predominantes no Brasil. De acordo com os Referenciais

Orientadores para os Bacharelados Interdisciplinares e Similares, estes são “[...]

programas de formação em nível de graduação de natureza geral, que conduzem a

diploma, organizados por grandes áreas do conhecimento” (BRASIL, 2010, p.4).

Como um primeiro ciclo de formação, o Bacharelado Interdisciplinar busca

garantir uma formação geral nas chamadas “grandes áreas”, com fortes bases

conceituais, éticas e culturais. Nesta proposta, ficaria para o segundo ciclo de

estudos, de caráter opcional, maior dedicação à formação profissional em áreas

específicas do conhecimento (BRASIL, 2010).

Os Bacharelados Interdisciplinares conferem, então, diploma aos egressos nas

grandes áreas que podem estar vinculadas a determinados campos de saberes. Além

disso caracterizam-se como etapa inicial de formação, em primeiro ciclo, que está

vinculada ao segundo ciclo, de carreiras acadêmicas e profissionais.

Na visão de Santos e Almeida-Filho (2008), o Bacharelado Interdisciplinar

“[...] compreende uma nova modalidade de curso de graduação que se

47

caracteriza por agregar formação geral humanística, científica e artística a um aprofundamento num dado campo do saber, constituindo etapa inicial dos estudos superiores. Tem como objetivo promover o desenvolvimento de competências e habilidades que possibilitarão ao egresso a aquisição de ferramentas cognitivas que conferem autonomia para a aprendizagem ao longo da vida, bem como uma inserção mais plena na vida social, em todas as suas dimensões” (SANTOS; ALMEIDA FILHO, 2008, p. 201).

Dentre as características dos Bacharelados Interdisciplinares apontados nos

referencias orientadores estão: a) a formação baseada na interdisciplinaridade e no

diálogo entre as áreas de conhecimento e os componentes curriculares; b) trajetórias

formativas na perspectiva de uma alta flexibilização curricular; c) permanente revisão

das práticas educativas tendo em vista o caráter dinâmico e interdisciplinar da

produção de conhecimentos; d) reconhecimento, validação e certificação de

conhecimentos, e) competências e habilidades adquiridas em outras formações ou

contextos e estímulo à iniciativa individual, à capacidade de pensamento crítico, à

autonomia intelectual, ao espírito inventivo, inovador e empreendedor (BRASIL,

2010).

A adoção do modelo de Bacharelados Interdisciplinares iniciou-se no ano de

2006, na Universidade Federal do ABC (UFABC), e ganhou impulso a partir da

implementação do REUNI. Esta nova proposta apresentava-se como solução para

resolver os problemas da expansão do ensino superior no Brasil. Contribuiu para a

efetivação deste modelo o fato de estar alinhado às orientações de órgãos

internacionais como UNESCO, OCDE e Banco Mundial, que para Dale (2004),

representam os interesses da economia globalizada através da formação de um

currículo mundial.

As pesquisas de Costa (2014) e Veras, Lemos e Macedo (2015) realizadas em

instituições em que foram implantados os Bacharelados Interdisciplinares,

demonstram que o curto período de existência ainda não permite uma avaliação mais

efetiva do modelo. No entanto, percebem-se avanços, especialmente quanto ao

aumento no número de vagas nas IFES, e entraves de ordem acadêmica,

administrativa e pedagógica, que necessitam de ações efetivas das instituições.

Costa (2014) observou, na UFJF, alguns entraves ao bom andamento dos

Bacharelados Interdisciplinares, destacando a resistência dos docentes e alunos e

questões de ordem administrativa. Além disso, apontou-se outros problemas comuns

ao ensino superior em geral, como os relativos ao mal desempenho e as condições

48

financeiras dos alunos.

A pesquisa de Veras, Lemos e Macedo (2015) realizada na UFSB mostrou que

as características dos BIs confrontam problemáticas enraizadas na educação superior

no Brasil, gerando uma grande resistência tanto institucional como intelectual que

deslegitimam esta nova proposta. Os autores destacam uma conjuntura de

resistências e defasagens estruturais, que aliada a precocidade da implantação dos

Bacharelados Interdisciplinares no Brasil, não permitem tirar conclusões mais

acertadas sobre este modelo educacional.

Com relação ao Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Economia,

implantado na UNIFAL – MG, Gambi, Consentino e Gaydeczka (2013) organizaram

um livro em que apresentam um conjunto de reflexões acerca da experiência de

técnicos administrativos e docentes, na implantação do curso. Os autores expõem os

méritos e desafios do curso em relação à diversos fatores como a efetivação da

interdisciplinaridade, a construção de um currículo flexível e de formação ampla,

identidade docente num curso inovador e identidade discente e perspectivas de

mercado de trabalho.

Em consulta realizada na base de dados do Ministério da educação - Sistema

e-MEC, foram identificados 52 Bacharelados Interdisciplinares, em atividade,

distribuídos em 16 Instituições de Ensino Superior, na sua imensa maioria

Universidades Públicas. A única exceção (que não é universidade) é o Departamento

Intersindical de estatística e estudos Socioeconômicos (DIEESE), criado pelo

movimento sindical brasileiro em 1955 para desenvolver pesquisas que fundamentem

as reivindicações dos trabalhadores, que oferece um BI em Ciências do Trabalho. As

IFES com maior número de Bacharelados Interdisciplinares em atividade são:

Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) com doze cursos, a Universidade

Federal do Oeste do Pará (UFOPA) com nove cursos, A Universidade Federal da

Bahia (UFBA) com oito cursos e Universidade Federal do Maranhão (UFMA) com 5

cursos. Somente nestas quatro IFES são oferecidos trinta e quatro Bacharelados

Interdisciplinares, mais da metade do que é oferecido nas demais Instituições (e-MEC,

2016).

O período relativamente curto de implantação dos Bacharelados

Interdisciplinares ainda não possibilita avaliar o sucesso ou não desta proposta. No

entanto, por suas especificidades, como turmas numerosas, novas estruturas

49

curriculares e maior flexibilidade de itinerário formativo, torna-se necessário

acompanhar seu desenvolvimento. Surgem, já nestes primeiros anos, algumas

questões que necessitam ser analisadas com maior profundidade. Dentre estas, estão

as críticas em relação à qualidade do ensino e a evasão, que levam também à

discussão da democratização do ensino superior no Brasil, a partir do processo de

expansão.

2.3.4 Expansão e democratização do ensino superior brasileiro no século XXI

A educação superior no Brasil é marcada, historicamente, pela desigualdade,

sendo durante séculos, privilégio da elite branca brasileira. A democratização do

ensino superior no Brasil traz consigo a necessidade da expansão do número de

vagas e matrículas neste nível de ensino. Embora em quantidade ainda insuficiente

para atender a demanda atual, a expansão do número de vagas através de programas

como o REUNI, o PROUNI, o FIES e a Universidade Aberta do Brasil, trazem consigo

uma discussão importante em torno da seguinte questão: “O aumento do número de

vagas e matrículas no ensino superior é garantia para a sua democratização”?

De acordo com Dias Sobrinho (2011, p. 121), a democratização do ensino

superior é um núcleo dos mais importantes e urgentes da agenda atual. O autor

lembra o princípio da educação como “[...] bem comum público, direito social e dever

do estado” e acredita que garantir o acesso e permanência dos alunos em cursos de

qualidade é requisito essencial para a construção de uma sociedade democrática.

Em relação a oferta e número de matrículas, nas últimas décadas, houve um

grande aumento tanto no setor público quanto no privado. Os dados mostram que

dobrou o número de matrículas no sistema público de ensino e quadriplicou no setor

privado, conforme dados do Gráfico 3.

50

Gráfico 3 - Número de Matrículas em Cursos de Graduação, por Categoria Administrativa – Brasil – 1980-1914

Fonte: INEP (2014).

O caráter eminentemente privatista do ensino superior no Brasil, representado

pelo discrepância da porcentagem de 74,9 % das matrículas no setor privado contra

apenas 25,1% no setor público, indicam que este nível de ensino ainda é inacessível

à grande maioria da população brasileira. Os brasileiros pertencentes às classes

menos favorecidas economicamente, e que não conseguem arcar com os custos de

um curso pago, encontram dificuldade para ingressar e permanecer nas instituições

públicas, onde as vagas são ainda limitadas e de grande concorrência.

Esse processo de expansão no número de matrículas apresentado pelos dados

de 2014, sem dúvida, significam um importante avanço no processo de

democratização do acesso ao ensino superior, porém, isoladamente não é capaz de

assegurá-la.

Paula (2011) ressalta que o aumento do número de vagas na educação

superior não garante a sua democratização. Para a autora, torna-se necessário

intensificar ações como políticas de ação afirmativa, expansão e interiorização com

qualidade, além de reformas sociais profundas, que promovam a melhor distribuição

de renda para que os filhos da classe trabalhadora possam ingressar e ter condições

de permanecerem no ensino superior. Paula (2011, p. 92) afirma que:

51

Só buscando maior equidade em termos de resultados, poderemos falar efetivamente em políticas de democratização da educação superior, do contrário o que teremos é um arremedo de democracia que amplia o acesso, mas não garante a permanência e a inclusão social da camadas marginalizadas.

Um dos pilares do REUNI corresponde à construção de políticas que

democratizassem o acesso e a permanência no ensino superior. O programa pretende

modificar o perfil dos alunos universitários das instituições públicas que, em sua

maioria, era formado por alunos brancos oriundos de escolas particulares. Por isso, o

programa propõe uma ampliação nas políticas de inclusão e assistência estudantil e

aumento de cursos e vagas no noturno, buscando expandir o ingresso de estudantes

das classes populares no ensino superior. A política de cotas e a ampliação da

assistência estudantil são ações que buscam contribuir para esse processo de

democratização do ensino superior no Brasil.

Apesar dos esforços, ainda hoje, há uma grande desigualdade em relação ao

acesso no ensino superior, caracterizando-o como privatista e elitista. Para Paula e

Fernández Lamarra (2011), essa desigualdade está relacionada a aspectos

socioeconômicos e origem social e racial dos alunos e reproduzem de forma ampliada

as desigualdades sociais da sociedade brasileira. Os autores afirmam que há uma

nítida relação entre renda e acesso ao ensino superior:

Enquanto nos quintis mais altos (IV e V) possuem uma representação próxima de 80% nas instituições públicas e de 90% nas privadas, os quintis inferiores (I e II) chegam a uma representação de 7% no caso das instituições públicas e de 2,6 % nas privadas (PAULA; FERNANDEZ LAMARRA, 2011, p. 71).

Com relação a desigualdade relacionada à origem racial, pode-se afirmar que,

atualmente, a maioria dos alunos da educação superior são brancos, conforme

apresentado na Tabela 4.

52

Tabela 4 - Matrículas em Cursos de Graduação Presenciais e a Distância por Cor / Raça

Unidade da Federação / Categoria Administrativa

Total Branca Preta Parda

Amarela Indígena

Não Dispõe da

Informação

Não Declarado

Brasil

7.828.013

2.431.006

338.537

1.395.529

101.664

22.009

958.619

2.580.649

Pública

1.961.002

618.653

102.066

411.251

24.896

8.226

211.757

584.153

Federal

1.180.068

360.356

69.162

290.035

12.787

5.347

114.386

327.995

Estadual

615.849

198.318

30.696

108.350

11.344

2.639

82.294

182.208

Municipal

165.085

59.979

2.208

12.866

765

240

15.077

73.950

Privada

5.867.011

1.812.353

236.471

984.278

76.768

13.783

746.862

1.996.496

Fonte: INEP (2014).

Os dados apresentados na Tabela 4, referentes ao censo de 2014, revelam que

nas IES que dispõe dessas informações, mais de 56% dos alunos matriculados e que

declararam cor/raça, estão na categoria “branca”, superando todas as demais

categorias. Quando são consideradas apenas as instituições públicas, a porcentagem

de cor/raça “branca” cai para 53% e nas instituições privadas sobe para 58%, levando-

se em consideração os dados informados e declarados. Os dados da Pesquisa

Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgados pelo IBGE (2014), revelam

que a população brasileira estimada, em 2014, foi de 203,2 milhões. No critério de

declaração de cor ou raça, 92,4 milhões declaram-se na categoria “branca”, o que

representa 45,5% do total, porcentagem inferior à mesma categoria de cor/raça

declarado pelos alunos das IES brasileiras. Ou seja, a proporção de alunos que se

declaram brancos, é bem maior no ensino superior do que quando comparada com

dados da população nacional.

Paula e Fernandez Lamarra (2011, p. 71) reafirmam a constatação de que “[...]

a cor dos campi universitários é diferente da cor da sociedade, havendo uma super-

representação de brancos no sistema de educação superior brasileiro”. Por isso, para

tornar o ensino superior democrático, é necessário superar as desigualdades através

da promoção da equidade.

Ao se referir à igualdade, Bobbio (1996, p.41) afirma que “Quanto à igualdade

nos ou dos direitos, ela representa um momento ulterior na equalização dos indivíduos

53

com respeito à igualdade perante a lei entendida como exclusão das discriminações

da sociedade por estamentos” [...]. Ou seja, democratizar a educação seria garantir

que todos os cidadãos pudessem gozar igualmente deste direito fundamental e

garantido constitucionalmente.

Para além da conquista de uma vaga e de um diploma de ensino superior, a

democratização deste nível de ensino passa também por preceitos de qualidade. Para

Dias Sobrinho (2011), uma educação de baixa qualidade ainda é melhor que

nenhuma, porém, estaria longe de resolver os problemas de justiça social. Alunos que

frequentam escolas de baixa qualidade tem maior dificuldade para ingressar nas

melhores instituições de ensino superior, ou se ingressam, acabam por não conseguir

acompanhar o curso e evadem. Concluir um curso superior de baixa qualidade pode,

também, colocar o egresso em condições de desvantagem em relação aos que

tiveram acesso a uma educação de qualidade e compatível com os requisitos de

competitividade da economia global (DIAS SOBRINHO, 2011).

Assim, o processo de democratização da educação superior no Brasil, que é

propagado pelo governo como uma ação em processo de efetivação pela expansão

do sistema, ainda, revela enormes desafios. O número de matrículas, embora em

expansão, permanece muito abaixo da demanda nacional, deixando de fora,

principalmente, os mais pobres. Acrescenta-se, ainda, alguns entraves a esse

processo de democratização do ensino superior, como as dificuldades de

permanência e a baixa qualidade da educação oferecida em alguns cursos e

instituições, neste nível de ensino.

Analisando mais especificamente os desafios da permanência do aluno no

ensino superior, o próximo capítulo tratará da evasão na educação superior brasileira.

O tema é considerado, como veremos adiante, uma ameaça ao processo

democratização e sucesso das políticas de expansão da educação superior em nosso

país.

2.4 EVASÃO NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO

A evasão estudantil no ensino superior é um fenômeno complexo e comum às

instituições universitárias do mundo contemporâneo. No caso brasileiro, atinge tanto

as instituições públicas quanto as privadas, apresentando, nos últimos anos, um

54

crescimento progressivo. A evasão do aluno causa reflexos negativos para as

instituições e para a sociedade, deixa de contribuir para o desenvolvimento do país e

afeta negativamente todos os envolvidos no processo educacional (BRASIL, 1996;

SILVA FILHO et al, 2007).

O problema da evasão é antigo no Brasil e afeta todos os níveis de ensino,

porém, tornou-se ainda mais evidente com o processo de ampliação do ensino

superior no Brasil. Este cenário impulsionou as discussões acerca dos reflexos de

ordem econômica, social e cultural causados pela evasão e da necessidade de traçar

estratégias para combatê-lo. Além dos impactos negativos no orçamento das

universidades, das perdas educacionais e sociais, a evasão ameaça a efetividade das

políticas de expansão e democratização do ensino superior (PRESTES; FIALHO;

PLEIFFER, 2014).

Dados do Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior – Semesp (2015),

dão conta que, em 2013, a taxa de evasão dos cursos presenciais da rede privada no

Brasil atingiu o índice de 27,4%, e na púbica de 17,8%. Nos cursos EAD, o problema

é ainda mais acentuado chegando a 29,2% na rede privada e 25,6% na rede pública.

Figura 2 - Evasão no Ensino Superior em 2013 – Brasil Fonte: SEMESP (2015. p.12).

A Figura 2 revela que na rede privada de educação superior, considerando as

modalidades EAD e presencial, a evasão supera 28%. Apesar de se reconhecer que

este é um problema causado por múltiplos fatores, no caso da rede privada, o

abandono dos cursos pode estar fortemente ligado à questão econômica pela

dificuldade no pagamento das mensalidades. Na rede pública, onde a evasão está em

torno de 21%, somando as modalidades presencial e EAD, o fator econômico também

pode exercer forte influência na decisão do aluno em desistir do curso superior, e

neste caso, torna-se relevante as ações da assistência estudantil.

No Censo da Educação Superior de 2014 temos a evolução do número de

ingressantes e concluintes em cursos de graduação, no período de 2003 a 2013,

55

conforme a Tabela 5.

Tabela 5 - Evolução do número de ingressantes e concluintes e porcentagem de concluintes em relação aos ingressantes, em cursos de graduação – Brasil – 2003 - 2013.

Ano Ingressantes Concluintes %

2003 1.554.664 532.228 34,2

2004 1.646.414 633.363 38,5

2005 1.805.102 730.484 40,5

2006 1.965.314 762.633 36,8

2007 2.138.241 786.611 36,8

2008 2.336.899 870.386 37,2

2009 2.065.082 959.197 46,4

2010 2.182.229 973.839 44,6

2011 2.346.695 1.016.713 42,3

2012 2.747.089 1.050.413 38,2

2013 2.742.950 991.010 36,1

Fonte: INEP (2014).

Os dados revelam que o número de ingressantes, neste período, é bem superior

ao número de concluintes e que uma grande parcela dos alunos que ingressaram no

ensino superior não estão concluindo seus cursos. Apesar destes dados não levarem em

consideração algumas questões, como os cursos recentes que ainda não formaram as

primeiras turmas e dados de retenção que prolongam o período de integralização, pode-

se perceber que o número de concluintes não acompanha na mesma proporção o número

de ingressantes.

Diante dos impactos negativos causados pela evasão à sociedade, diversos

estudiosos, órgãos governamentais e instituições admitem a necessidade de discutir,

compreender e buscar estratégias de controle e diminuição deste fenômeno. Para tal,

torna-se necessário clarear algumas questões sobre o tema, como os aspectos

56

conceituais e o que se tem produzido de conhecimento sobre a evasão no ensino

superior.

2.4.1 O conceito de evasão

Nas pesquisas sobre evasão, percebe-se uma preocupação em conceituá-la.

Essa preocupação justifica-se pela necessidade da utilização de critérios rigorosos

que possam dar confiabilidade à pesquisa (MARTINS, 2007). Os conceitos utilizados

variam de acordo com a dimensão do fenômeno abordado por determinado estudo.

Para melhor delineamento do conceito, destacam-se algumas definições de

evasão apresentados pela literatura sobre o tema. Tinto (1975) define evasão escolar

como o movimento de o aluno deixar a IES e nunca receber o diploma. Para a

Comissão Especial para o Estudo da Evasão nas Universidades Públicas Brasileiras

(BRASIL,1996) evasão é a saída definitiva do aluno de seu curso de origem, sem

concluí-lo. Gomes (1998 apud MARTINS 2007) afirma que somente poderá ser

considerada a evasão após o término do período máximo para conclusão do curso.

Na definição do MEC (2009), evasão é a saída definitiva do curso de origem sem

conclusão ou a diferença entre ingressantes e concluintes, após uma geração

completa, que corresponde à situação do conjunto de ingressantes em um dado curso,

em um determinado período, ao final do prazo máximo de integralização curricular.

Outro aspecto complexo em relação ao estudo da evasão é quanto a sua

mensuração. Vitelli (2014) salienta que os estudos sobre a evasão no Ensino Superior

adotam duas formas diferentes para dimensioná-la. A primeira forma é imediata e

considera a taxa de não rematrícula no período seguinte. Um segunda forma é a geral,

em que se acompanha um determinado conjunto de ingressantes, por um

determinado período de tempo e, somente após este período de diplomação, é que

se considera a evasão.

Por não haver unanimidade em relação ao conceito de evasão e pela

dificuldade em padronizar tudo que se diz respeito ao tema, torna-se fundamental

esclarecer e explicitar qual dimensão da evasão estará sendo abordada em

determinada pesquisa (LOBO,2012). Há, portanto, uma diferença entre evasão do

curso, da instituição e do sistema, conforme esclarece a Comissão Especial para o

Estudo da Evasão nas Universidades Públicas Brasileiras (1996), sendo:

57

[...] evasão de curso: quando o estudante desliga-se do curso superior em situações diversas tais como: abandono (deixa de matricular-se), desistência (oficial), transferência ou reopção (mudança de curso), exclusão por norma institucional;

· evasão da instituição: quando o estudante desliga-se da instituição na qual está matriculado;

· evasão do sistema: quando o estudante abandona de forma definitiva ou temporária o ensino superior (grifo do autor) (BRASIL, 1996 p. 16).

Para atender aos objetivos desta pesquisa, adotaremos o conceito de evasão

apresentado pela Comissão Especial para o Estudo da Evasão nas Universidades

Públicas Brasileiras (1996) e pelo MEC (2009). A pesquisa aborda a dimensão de

evasão do curso, considerando-a como sendo a saída definitiva do aluno de seu

curso de origem, sem concluí-lo, por diversas situações como abandono, desistência,

transferência ou reopção ou exclusão por norma institucional.

2.4.2 Os estudos sobre a evasão universitária

Os estudos científicos sobre a evasão universitária são relativamente recentes

e surgiram, a partir da década de 1970, com inúmeras teorias para explicá-la. Estas

teorias foram desenvolvidas, especialmente, por pesquisadores norte-americanos,

que muito contribuíram para a compreensão dos fatores que levam o estudante

universitário a evadir do curso no qual ingressou (LOBO, 2012). Cislaghi (2008)

ressalta que foram várias as abordagens adotadas e, dentre elas, as sociológicas

(NORA et al., 2005; SPADY, 1970; TINTO, 1975, 1993), as psicológicas (ASTIN, 1984;

BEAN, 1980; PASCARELLA, 1980) e as econômicas (CABRERA et al., 1992). Estes

precursores concentraram esforços nos estudos causais da evasão e basearam suas

análises nas variáveis ligadas aos estudantes e à instituição e na integração dos

estudantes nas IES.

Lobo (2012) explica que os modelos de integração dos estudante nas IES,

analisam a compatibilidade entre estudantes e as IES. As abordagens de Spady

(1970) e Tinto (1975), considerados os maiores especialistas sobre evasão,

propuseram um modelo baseado na teoria do suicídio de Durkheim, em que o suicídio

é resultado do rompimento dos laços do indivíduo com a sociedade devido à falta de

integração. Para Cislaghi (2008), Tinto faz uma analogia entre o comportamento do

58

suicida e o do estudante que evade, que, por não estar suficientemente integrado à

instituição, abandona o curso.

O Modelo de Integração de Tinto (1975) é um modelo longitudinal que

procura explicar todos os aspectos e processos que influenciam a decisão de um

estudante em abandonar o curso. Embora reconheça a influência das características

pessoais e demográficas do discente, esse modelo destaca a integração acadêmica

e social à instituição como principal fator de influência da decisão dos alunos em

continuar na IES ou evadir.

Andriola, Andriola e Moura (2006, p. 366-367) explicam o modelo de

integração, afirmando que:

O aluno chega à universidade com intenções, objetivos e compromissos institucionais pré-definidos, que variam em função das características demográficas. Com o tempo, o aluno passa por uma série de interações com o ambiente acadêmico e social da instituição educacional, o que lhe permite, assim, redefinir suas intenções e seus compromissos, o que, em última instância, leva-o a persistir ou a evadir-se.

A Figura 3 representa o modelo desenvolvido por Tinto(1993).

Figura 3 - Modelo Longitudinal desenvolvido por Tinto Fonte: TINTO (1993 p. 114).

O modelo de integração, leva em consideração as características

individuais do aluno que, associadas às experiências vividas por ele no decorrer do

curso, determinarão sua permanência ou evasão. Esse modelo contribui para a

compreensão do fenômeno da evasão e reconhece a importância de ações da

instituição para promover a integração do aluno na IES e evitar a evasão.

59

No Brasil, uma das primeiras iniciativas para a compreensão do problema da

evasão foi a do Ministério da Educação (MEC), com a criação, em 1996, de uma

Comissão Especial para o Estudo da Evasão nas Universidades Públicas Brasileiras,

que tinha por objetivo realizar um trabalho que apresentasse as causas gerais e

específicas da evasão e apontasse sugestões para reduzir seus índices nas IES.

Apesar de passados 20 anos, este estudo ainda é referência por suas importantes

abordagens à evasão na educação superior brasileira.

A Comissão foi formada por meio de uma parceria entre a Associação Nacional

dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior - ANDIFES, a Associação

Brasileira dos Reitores das Universidades Estaduais e Municipais – ABRUEM e a

Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação e do Desporto

SESU/MEC, e dentre os objetivos do estudo estavam:

1. Aclarar o conceito de evasão, considerando suas dimensões concretas: evasão de curso, evasão da instituição e evasão do sistema de ensino superior; 2. Definir e aplicar metodologia homogeneizadora de coleta e tratamento de dados; 3. Identificar as taxas de diplomação, retenção e evasão dos cursos de graduação das IESP do país; 4. Apontar causas internas e externas da evasão, considerando as peculiaridades dos cursos e das regiões do país; 5. Definir estratégias de ação voltadas à redução dos índices de evasão nas universidades públicas brasileiras (BRASIL, 1996, p. 7).

Houve, a partir daí, outras iniciativas para a compreensão da evasão no ensino

superior, como a criação, pelo MEC, em 2013, de um grupo de trabalho formado para

examinar as causas da evasão escolar no Brasil (BRASIL, 2013). Seguindo uma linha

de pesquisa sobre evasão, que aborda o contexto nacional, destacam-se, também, as

pesquisas realizadas por órgãos como o Instituto Lobo para o desenvolvimento da

Educação da Ciência e da Tecnologia, que presta consultoria em ensino superior

(LOBO, 2012). As pesquisas empíricas com enfoque, principalmente, nas causas da

evasão e em cursos ou instituições específicas, realizadas em diversas universidades,

também tem contribuído para a compreensão da evasão na educação superior

brasileira.

Dessa forma, embora o tema comum seja a evasão no ensino superior, o foco

das pesquisas variam de acordo com o objetivo dos pesquisadores. Souza, Petró e

Gessinger (2012) realizaram uma revisão bibliográfica sobre o tema evasão no ensino

60

superior brasileiro de 2000 a 2011, por meio de buscas no site da Capes. A partir da

leitura dos resumos de dissertações e teses sobre o assunto, os autores procuraram

identificar o foco das pesquisas que foram realizadas neste período. O estudo revelou

que a maioria, 64% das pesquisas, buscam compreender os fatores que levam o aluno

a evadir. As demais pesquisas abordam: histórico do processo da evasão; relação

entre os indicadores de satisfação dos alunos com relação à determinada Instituição

de Ensino Superior (IES) e a evasão; perfil do aluno que evade; cursos que

apresentam o maior índice de evasão e tecnologia com a intenção de diminuir os

índices de reprovação e de evasão (SOUZA; PETRÓ; GESSINGER, 2012).

A predominância do foco das pesquisas na identificação das causas da evasão

está relacionada às necessidades de desenvolver estratégias que possam minimizá-

la. Além disso, os estudos sobre evasão tem colaborado para a compreensão da

complexidade do problema, reconhecendo-o como não sendo de responsabilidade

somente do aluno, mas também da instituição e da sociedade como um todo. Fialho

(2014) lembra que Tinto (1975) foi pioneiro em trazer a problemática da evasão

escolar no ensino superior sob a responsabilidade da IES. Compreender a evasão,

nesta perspectiva, exige da instituição uma postura ativa diante do fenômeno.

Prestes, Fialho e Pleiffer (2014) e Lobo (2012) corroboram com a visão de Tinto,

apontando a necessidade da IES em assumir sua responsabilidade, não a transferindo

apenas para o aluno. Para Prestes, Fialho e Pleiffer (2014, p.7), a evasão é um

problema “[...] abrangente, complexo e ligado à gestão universitária” e minimizá-lo é

um indicativo de sucesso da instituição. Lobo (2012), ressalta a necessidade da

conscientização nas IES, do cuidado e do acompanhamento da evasão como um

problema institucional de grande importância e uma forma de buscar educação de

qualidade e o bom uso dos recursos públicos, afirmando que:

Estudar a Evasão deveria ser uma política governamental geral voltada à qualidade acadêmica e, também, à responsabilidade do uso dos recursos (públicos e privados), desde que essa política seja entendida como a realização de processos e análises (documentados, sistematizados e divulgados, incluindo os resultados das ações realizadas) motivados e/ou incentivados, explicitamente, por órgãos de governo gestores ou fiscalizadores das IES públicas e privadas para essas duas finalidades (LOBO, 2012. p. 7).

Considerando a evasão um problema de toda a sociedade, os estudos causais da

evasão podem subsidiar ações que vão desde a formulação de políticas públicas

nacionais até ações institucionais mais específicas. Sejam os estudos bibliográficos ou

61

empíricos, seus resultados podem indicar, as melhores estratégias para o enfrentamento

do problema.

Porém, compreender a evasão não é tarefa fácil. Os estudiosos brasileiros são

unânimes em afirmarem que a evasão é um problema complexo e multifatorial que

determinam a decisão do aluno de permanecer ou não no curso. Assim como Tinto

(1975), as pesquisas brasileiras apontam que as razões da evasão escolar são as

mais diversas e variam desde motivos econômicos até psicológicos.

O trabalho da Comissão Especial de Estudos sobre a Evasão nas

Universidades Públicas Brasileiras (BRASIL, 1996) e as pesquisas de Paula (2011),

Lobo (2012), Souza, Petró e Gessinger (2012) e Morosini et.al. (2012) identificaram

as principais causas da evasão no ensino superior brasileiro. Com base em estudos

bibliográficos, tais pesquisas contribuíram para a diferenciação de causas internas e

externas às IES, que levaram o aluno a abandonar seus cursos. Essa diferenciação

torna-se relevante para que a IES passa estabelecer em quais aspectos apontados

como causadores da evasão é possível de uma ação institucional e subsidiar

estratégias específicas ao enfrentamento dos problemas identificados.

A Comissão Especial de Estudos sobre a Evasão nas Universidades Públicas

Brasileiras (1996) considera que as causas internas da evasão estariam relacionadas

à questões como as normas de funcionamento, as características dos currículos e

estrutura e dinâmica de cada curso. As causas externas se referem a aspectos

econômicas, sociais, culturais, ou mesmo individuais, como mercado de trabalho,

remuneração e status profissional, que promovem maior ou menor interesse por

determinados cursos. São reconhecidos ainda os aspectos idiossincráticos relativos

às características individuais dos estudantes. Dentre estas, destacam-se: habilidades

de estudo, personalidade, formação escolar anterior, escolha precoce da profissão,

dificuldades pessoais de adaptação à vida universitária, incompatibilidade entre a vida

acadêmica e as exigências do mundo do trabalho, desencanto ou da desmotivação

dos alunos com o curso escolhido, dificuldades de aprendizagem, desinformação a

respeito da natureza dos cursos ou interesse por outro curso (BRASIL, 1996).

Em relação aos aspectos internos, as IES têm maior poder de ação para tentar

melhorar as condições do curso e minimizar a evasão. No caso dos fatores externos

ou individuais dos alunos, essa possibilidade de intervenção é menor, porém, não

inexistente. Em relação aos aspectos econômicos, por exemplo, muito apontado como

62

causa da evasão, pode ser objeto de ação da IES, que pode pensar a flexibilidade no

pagamento das mensalidades, no caso das particulares, ou a melhoria da assistência

estudantil, no caso das públicas.

Paula (2011) também classifica os fatores da evasão em internos e externos.

A autora destaca como fatores internos que provocam elevados índices de abandono

no ensino superior, currículos pouco flexíveis e distantes da realidade dos estudantes,

despreparo pedagógico dos professores, falta de acompanhamento dos estudantes

com dificuldades e debilidades acadêmicas e insuficiência de políticas de assistência

estudantil e de políticas afirmativas e compensatórias. Nestes casos, percebe-se a

importância de ações didático-pedagógicas que possam promover melhorias na

estrutura do curso, desenvolvimento do corpo docente, apoio aos estudantes e

aperfeiçoamento do processo de ensino e aprendizagem. Como causas externas,

Paula (2011) aponta a condição socioeconômica do estudante associada a outros

fatores, como geográficos, étnico-raciais e físicos.

Lobo (2012) também identificou o caráter multifatorial da evasão e afirma que

as principais causas da evasão apontadas em suas pesquisas foram:

a) Inadaptação do ingressante ao estilo do Ensino Superior e falta maturidade;

b) Formação básica deficiente; c) Dificuldade financeira; d) Irritação com a precariedade dos serviços oferecidos pela IES; e) Decepção com a pouca motivação e atenção dos professores; f) Dificuldades com transporte, alimentação e ambientação na IES; g) Mudança de curso; e h) Mudança de residência (LOBO, 2012, p.18)

Nos estudos realizado por Souza, Petró e Gessinger (2012) e Morosini et al.

(2012), também foi possível identificar os fatores causadores de evasão mais

apontados nas pesquisas sobre o tema. Souza, Petró e Gessinger (2012), apontaram:

dificuldades financeiras para se manterem no curso, influência familiar, falta de

vocação para a profissão, reprovações, com destaque para as disciplinas que

envolvem matemática, a qualidade do curso, questões geográficas, dificuldade na

conciliação entre trabalho e estudo, insatisfação com a estrutura do curso, da

instituição e com o corpo docente, dentre outras.

A pesquisa de Morosini et al. (2012) consistiu em uma revisão de literatura com

a temática da evasão, a partir da busca em revistas de classificação A e B do sistema

Qualis da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES),

63

no período compreendido entre 2000 e 2011. O estudo compilou como principais

causas da evasão:

a) Aspectos financeiros relacionados à vida pessoal ou familiar do estudante;

b) Aspectos relacionados à escolha do curso, expectativas pregressas ao ingresso, nível de satisfação com o curso e com a universidade;

c) Aspectos interpessoais – dificuldades de relacionamento com colegas e docentes;

d) Aspectos relacionados com o desempenho nas disciplinas e tarefas acadêmicas – índices de aprovação, reprovação e repetência;

e) Aspectos sociais, como o baixo prestígio social do curso, da profissão e da universidade elegida;

f) Incompatibilidade entre os horários de estudos com as demais atividades, como, por exemplo, o trabalho;

g) Aspectos familiares como, por exemplo, responsabilidades com filhos e dependentes, apoio familiar quanto aos estudos, etc.;

h) Baixo nível de motivação e compromisso com o curso (Morosini et.al., 2012, p. 8).

Percebe-se, tanto na pesquisa de Souza, Petró e Gessinger (2012) quanto na

de Morosini et al. (2012) o reforço do argumento de que a decisão do aluno em

abandonar um curso superior pode estar relacionada a diversas questões que, de

modo geral, podem estar em maior ou menor proporção ligadas as condições do curso

ou da instituição ou mesmo não ter ligação nenhuma com estas condições.

O quadro 2 sintetiza as causas internas e externas à IES, apontadas nas

pesquisas bibliográficas apresentadas. Destacam-se, dentre as causas internas,

descontentamentos com o currículo ou com o curso de modo geral e com o corpo

docente. Dentre as causas externas destacam-se os aspectos econômicos.

64

Quadro 2 – Síntese das causas da evasão apontadas em pesquisas bibliográficas

Pesquisa / Causas

Causa internas Causas externas

BRASIL (1996)

Normas de funcionamento; Características dos currículos; Estrutura e dinâmica do curso.

Aspectos econômicos, sociais, culturais; Aspectos individuais, como mercado de trabalho, remuneração e status profissional.

PAULA (2011) Currículos pouco flexíveis; Falta de preparo pedagógico dos professores; Falta de acompanhamento dos estudantes com dificuldades e debilidades acadêmicas; Insuficiência de políticas de assistência estudantil e de políticas afirmativas e compensatórias.

Condições socioeconômicas do aluno; Fatores geográficos, étnico-raciais e físicos.

LOBO (2012) Irritação com a precariedade dos serviços oferecidos pela IES; Decepção com a pouca motivação e atenção dos professores; Dificuldades com ambientação na IES

Dificuldades com transporte, alimentação Mudança de curso; Mudança de residência; Inadaptação do ingressante ao estilo do Ensino Superior; Falta de maturidade do aluno; Formação básica deficiente; Dificuldade financeira.

SOUZA, PETRÓ e

GESSINGER (2012)

Reprovações constantes; Insatisfação com a estrutura e qualidade do curso; Insatisfação com o corpo docente.

Dificuldades financeiras; Influência familiar; Falta de vocação para a profissão; Questões geográficas; Dificuldades em conciliar trabalho e estudo.

MOROSINI et.al. (2012)

Insatisfação com o curso e com a universidade; Aspectos interpessoais – dificuldades de relacionamento com colegas e docentes; Aspectos relacionados com o desempenho nas disciplinas e tarefas acadêmicas – índices de aprovação, reprovação e repetência;

Aspectos financeiros relacionados à vida pessoal ou familiar do estudante; Aspectos sociais, como o baixo prestígio social do curso, da profissão e da universidade elegida; Incompatibilidade entre os horários de estudos com as demais atividades, como, por exemplo, o trabalho; Aspectos familiares como, por exemplo, responsabilidades com filhos e dependentes, apoio familiar quanto aos estudos, etc.;

Fonte: Elaborado pela autora

Além das pesquisas bibliográficas que abordam o problema da evasão, de

modo geral, na educação superior brasileira, inúmeros estudos empíricos sobre

evasão tem sido realizados com foco em determinadas IES, departamentos ou cursos

específicos. Muitas destas pesquisas são teses e dissertações que buscaram

65

identificar as causas da evasão, bem como apontar propostas de estratégias para o

enfrentamento do problema. Com características de pesquisa aplicada, diversos

destes estudos, têm contribuído para a gestão da evasão no ensino superior. Por meio

da Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações, é possível identificar diversos

destes estudos (LIVRAMENTO, 2012; AMARAL, 2013; LOURENÇO, 2014;

ANDRADE, 2014; SANTIAGO, 2015) que reforçam o caráter multifatorial da evasão e

podem indicar aspectos que estejam contribuindo para o alto índice da evasão em

determinados cursos.

A pesquisa de Livramento (2012), acerca da evasão na Universidade Federal

de Santa Catarina, foi realizada a partir de dados institucionais e entrevistas com

gestores. Observou-se que a evasão vem se mantendo constante ao longo do período

de 1996 a 2010 e que este fenômeno está relacionado a fatores internos e externos à

instituição, de ordem acadêmico-institucionais, sócio-político-econômicos e pessoal.

Quanto aos fatores internos, apontou-se problemas na estrutura curricular dos cursos,

modelos pedagógicos inadequados, altos índices de reprovação e insuficiência da

assistência estudantil. Dentre os fatores externos destacam-se a desvalorização de

determinadas profissões (especialmente as licenciaturas) e problemas gerados pela

condição socioeconômica, familiar e emocional dos alunos. A pesquisa aponta ainda

que tais fenômenos podem ser alvo de políticas institucionais que se propõem a

reduzir os índices de evasão na instituição.

Percebe-se que diversas causas apontadas nas pesquisas empíricas estão

relacionadas às questões comuns a outras realidades, no entanto, surgem questões

específicas de alguns cursos, como o modelo pedagógico considerado inadequado e

a desvalorização social das licenciaturas que influenciam na decisão do aluno em

abandonar o curso. No caso do modelo pedagógico, uma ação da IES, no sentido de

adequá-lo, poderia contribuir para evitar descontentamentos e consequentemente a

evasão, por ser um fator interno. Já a questão da desvalorização das licenciaturas é

um fator externo que envolvem ações que vão além do alcance da IES.

Na pesquisa de Amaral (2013), que estudou a evasão discente nos cursos

superiores de graduação do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do

Ceará – Campus de Sobral, o objetivo foi identificar e analisar as causas da evasão

na visão dos alunos evadidos. Segundo o autor, os resultados obtidos possibilitaram

uma compreensão de que “a evasão não é um processo dependente só do aluno,

66

sendo também um fenômeno institucional, reflexo da ausência de uma política de

permanência do aluno no curso de sua opção” (AMARAL, 2013, p.8). A pesquisa

revelou como fatores motivadores da evasão: incompatibilização do curso com a

necessidade de trabalhar; condições socioeconômicas; desinteresse pelo curso;

insatisfação com o curso comprometendo o desempenho nas disciplinas; falta de

ações institucionais para evitar a evasão e a dificuldade de acesso aos benefícios do

Programa de Assistência ao Educando.

Os apontamentos dos alunos do Instituto Federal de Educação, Ciência e

Tecnologia do Ceará e apresentados na pesquisa de Amaral (2013), demonstram que

a evasão, neste caso, estaria sendo bastante influenciada por fatores internos e que

carecem de intervenções institucionais de apoio à permanência. Ações nesse sentido

mostram-se frágeis tanto nas IES públicas quanto nas privadas, que, na maioria das

vezes, tornam-se impotentes diante da evasão.

A pesquisa de Lourenço (2014) foi realizada em uma universidade privada no

município de Duque de Caxias (RJ), a Unigranrio, com estudantes do curso de

administração evadidos no período de 2006 a 2012. O estudo apresentou como

principais causas do abandono: problemas de infraestrutura e acesso ao campus,

insatisfação com os conteúdos ensinados; problemas de integração à instituição;

dificuldades para pagar a mensalidade do curso e dificuldade em conciliar trabalho e

estudo. A pesquisa identificou ainda grupos e situações vulneráveis à evasão, como:

estudantes em início de curso, na faixa etária entre 19 e 25 anos, que moram ou

trabalham distantes do Campus, com dificuldades econômicas, e mulheres grávidas.

O estudo apontou ainda que as estratégias adotadas pela instituição para minimizar a

evasão não tem sido eficientes e alerta para a importância de uma reestruturação

profunda do modelo universitário que passa por questões como metodologias de

ensino-aprendizado, por novas relações e tecnologias na sala de aula, e estratégias

que possibilitem a integração do estudante que trabalha.

A questão econômica é um dos fatores causais da evasão mais apontado nas

pesquisas empíricas. Isto está muito relacionado a dificuldade de conciliar trabalho e

estudo, na falta ou insuficiência de assistência estudantil ou na dificuldade de arcar

com as mensalidades, no caso das privadas. Diante de um contexto de expansão do

acesso ao ensino superior, torna-se necessário pensá-la associada aos problemas

67

socioeconômicos do país. Ou seja, a expansão do acesso desacompanhada de

políticas efetivas de apoio à permanência torna-se irrisória.

Com relação à evasão nos Bacharelados Interdisciplinares, em um estudo

realizado por Andrade (2014), nos cursos de modalidade BIs na Universidade Federal

da Bahia (UFBA), foram apresentados e discutidos os motivos que levaram os alunos

a abandonarem esses cursos, segundo os próprios evadidos. A pesquisa apontou

como principais causas da evasão: opção dos alunos em evadir para ingressar em

outro curso de graduação mais tradicional e profissionalizante; insatisfação em

relação aos currículos, normas e outros mecanismos de funcionamento dos cursos,

baixo desempenho acadêmico e dificuldades financeiras. Concluiu-se também que

“[...] a forma de acesso, o aumento da oferta de vagas, a variedade de cursos e

instituições representam atrativos para a movimentação e a experimentação na

educação superior [...]” (ANDRADE, 2014. p.13). A pesquisa indica o

redirecionamento na ação de gestores e docentes nos campos pedagógicos e

administrativos como forma de diminuir a evasão.

A pesquisa de Andrade (2014) traz uma importante contribuição ao mostrar

como aspectos específicos de cursos com propostas inovadoras, como os

bacharelados interdisciplinares, podem ter influência na decisão do aluno em evadir.

Se por um lado as características inovadoras dos BIs podem representar um atrativo,

por outro, podem provocar estranhamento e insegurança quanto ao futuro profissional

e se tornar causa de evasão.

Em pesquisa realizada na Universidade Estadual de Montes Claros

(Unimontes), Santiago (2015) pesquisou os fatores determinantes e apontou

alternativas para o enfrentamento da evasão sob a ótica de evadidos, professores e

coordenadores dos cursos de Administração, Ciências Contábeis e Ciências

Econômicas. Observar o fenômeno da evasão sob diferentes perspectivas (alunos e

gestores) pode ser importante para uma compreensão do caráter multifacetado do

problema. O resultado da pesquisa apontou que as principais causas da evasão nesta

instituição antecedem o ingresso do aluno no curso. Alguns fatores apontados foram

a mudança de objetivo de vida, o curso como segunda opção e a falta de motivação,

o currículo com muita teoria e pouca prática e a falta de orientação vocacional por

parte dos evadidos. Como alternativa para o enfrentamento da evasão, a pesquisa

apontou para o fortalecimento dos mecanismos já existentes na Unimontes. Propôs-

68

se também ações de orientação profissional voltada para os estudantes do ensino

médio, como forma de contribuir para a sua escolha e a decisão quanto ao seu futuro

profissional.

Apesar da pesquisa de Santiago (2015) indicar que a decisão de evadir se dá

predominantemente por fatores externos, considera-se a possibilidade de ações

institucionais que possam minimizá-la. Desta forma, torna-se relevante conhecer as

especificidades dos cursos, o que tem se apresentado como dificultador para a

permanência do aluno no curso e entender em que medida a IES poderá agir em

relação às causas internas e externas da evasão.

O Quadro 3 sintetiza as principais causas internas e externas da evasão,

apontados nas pesquisas empíricas apresentadas.

Quadro 3 – Principais causas identificadas pelas pesquisas empíricas

(continua)

Pesquisa Objeto de

pesquisa

Categoria

Administrativa

Principais causas da evasão

LIVRAMENTO

(2012)

Universidade

Federal de Santa

Catarina

Federal

Problemas na estrutura curricular dos cursos;

Modelos pedagógicos inadequados;

Altos índices de reprovação;

Insuficiência da assistência estudantil;

Desvalorização de determinadas profissões

(especialmente as licenciaturas);

Condição socioeconômica dos alunos;

Problema familiar e emocional dos alunos.

AMARAL

(2013)

Instituto Federal de

Educação, Ciência

e Tecnologia do

Ceará

Federal Incompatibilização do curso com a necessidade

de trabalhar;

Condições socioeconômicas;

Desinteresse pelo curso;

Insatisfação com o curso comprometendo o

desempenho nas disciplinas

Falta de ações institucionais para evitar a

evasão;

Dificuldade de acesso aos benefícios do

Programa de Assistência ao Educando.

LOURENÇO

(2014)

Universidade do

Grande Rio -

Unigranrio

Privada Problemas de infra-estrutura e acesso ao

campus;

Insatisfação com os conteúdos ensinados;

Problemas de integração à instituição;

Dificuldades para pagar a mensalidade do

curso;

Dificuldade em conciliar trabalho e estudo.

69

Pesquisa Objeto de

pesquisa

Categoria

Administrativa

Principais causas da evasão

ANDRADE

(2014)

Universidade

Federal da Bahia

Federal Opção dos alunos em evadir para ingressar em

outro curso de graduação mais tradicional e

profissionalizante;

Insatisfação em relação aos currículos;

Insatisfação com as normas e outros

mecanismos de funcionamento dos cursos;

Baixo desempenho acadêmico;

Dificuldades financeiras.

SANTIAGO

(2015)

Universidade

Estadual de

Montes Claros

(Unimontes)

Estadual Mudança de objetivo de vida;

O curso como segunda opção;

Falta de motivação;

Currículo com muita teoria e pouca prática;

Falta de orientação vocacional.

Fonte: Elaborado pela autora

Os estudos empíricos sobre evasão realizados em instituições e cursos

específicos mostraram que muitos fatores que influenciam na decisão do aluno em

abandonar o curso, são comuns. Destacam-se descontentamentos em relação ao

currículo e dificuldades financeiras. No entanto, alguns fatores apontados são

bastante específicos de cada instituição ou curso, como: problemas de infra-estrutura

e acesso ao campus, no caso da Unigranrio; opção dos alunos em evadir para

ingressar em outro curso de graduação mais tradicional e profissionalizante, no caso

dos BIs da UFBA e falta de orientação vocacional, no caso da Unimontes.

Diante da complexidade do tema evasão e da reconhecida especificidade de

cada curso ou instituições e do perfil de seus estudantes, torna-se importante

compreender os fatores que possam explicá-la. Somente a partir da compreensão da

evasão e da realidade específica do curso e de seus estudantes, poderá a IES, traçar

estratégias de enfrentamento do problema. Por isso, a presente pesquisa se propôs a

compreender como tem se caracterizado a evasão no BICE e propor ações para

minimizá-la.

(conclusão) Quadro 3 – Principais causas identificadas pelas pesquisas empíricas

70

3 PROCEDIMNTOS METODOLÓGICOS

Esta seção apresenta o locus e os sujeitos da pesquisa, bem como, a opção

metodológica quanto aos procedimentos de coleta e análise dos dados utilizados para

a sua realização.

3.1 LOCUS DA PESQUISA

3.1.1 Breve histórico da Universidade Federal de Alfenas

A Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG) foi fundada em 1914 com o

nome de Escola de Farmácia e Odontologia de Alfenas (EFOA), por João Leão de

Faria. Os primeiros cursos implantados foram Farmácia e Odontologia, sendo sua

condição de IES reconhecida pela Lei Estadual nº 657, de 11 de setembro de 1915.

Em 1960, a EFOA foi federalizada por meio da Lei Nº 3854 e, no ano de 1972,

transformou-se em Autarquia de Regime Especial (Decreto Nº 70686), fato que

contribuiu para a implantação do cursos de Enfermagem e Obstetrícia, em 1976.

No ano de 1999, foram implantados os cursos de Nutrição, Ciências Biológicas

e a Modalidade Fármacos e Medicamentos, para o curso de farmácia. Essa ampliação

da instituição levou a mudança para Centro Universitário Federal (EFOA/CEUFE) em

2001, que continuando o processo de expansão iniciou, em 2003, o curso de Química

(Bacharelado). A EFOA/CEUFE também concentrou esforços na educação à

distância, criando em 2004, o Centro de Educação Aberta e à Distância – CEAD, que

oferece cursos de graduação e de especialização à distância.

Em 2005, a instituição foi transformada em Universidade Federal de Alfenas

(UNIFAL – MG), pela Lei Nº 11.154/2005 e, atendendo as políticas nacionais de

expansão do ensino superior, implantou diversos cursos nas duas primeiras décadas

do século XXI, sendo:

a) Em 2006: Matemática (Licenciatura), Física (Licenciatura), Ciência da

Computação e Pedagogia;

b) Em 2007: Química (Licenciatura), Geografia (Bacharelado e

Licenciatura), Biotecnologia, Ênfases Ciências Médicas e Ciências

71

Ambientais no curso de Ciências Biológicas e Aumento do nº de vagas:

Química (Bacharelado) e Nutrição;

c) Em 2008: Transformação do Curso de Ciências Biológicas com Ênfase

em Ciências Médicas em Biomedicina;

d) Em 2009: História (Licenciatura), Letras – Licenciatura/Bacharelado (em

Português e em Espanhol), Ciências Sociais (Licenciatura e

Bacharelado) e Fisioterapia;

e) Em 2012: Pedagogia (Polos nos Estados de Minas Gerais e São Paulo);

f) Em 2014: Medicina (“Programa Mais Médicos” do Governo Federal).

A UNIFAL – MG oferece, ainda, desde 2008, cursos de Pós-graduação, sendo

especializações presenciais e à distância, além de programas de pós-graduação

stricto sensu, em nível de mestrado e doutorado.

Em consonância com as políticas nacionais de expansão do ensino superior, a

UNIFAL – MG, aprovou em 2008, através de seu Conselho Superior, a criação dos

Campi Avançados nas cidades de Varginha e Poços de Caldas. No Campus Varginha

foram criados os cursos de Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Economia e os

Bacharelados em Administração Pública, Ciências Atuariais e Ciências Econômicas

com ênfase em Controladoria. Para o Campus de Poços de Caldas, foram criados os

cursos de Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia e os Bacharelados

em Engenharia Química, Engenharia de Minas e Engenharia Urbana e Ambiental

(UNIFAL – MG, 2011).

3.1.2 O Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Economia

A implantação dos BIs, de acordo com o REUNI, foi pensada como estratégia

para atender aos objetivos de interiorização e vocação regional. O BICE é uma dessas

iniciativas e foi concebido para suprir as necessidades da expansão universitária e as

demandas do município de Varginha (UNIFAL – MG, 2011)

A cidade de Varginha está localizada no sul de Minas Gerais, região situada

entre São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Esta região é composta por várias

cidades de porte médio, como Alfenas, Poços de Caldas, Pouso Alegre e Três

Corações, onde Varginha se destaca por suas atividades econômicas, facilitadas pelo

72

intercâmbio com os centros mais dinâmicos do país.

Além de sua tradição agrícola, a cidade se destaca por seu parque industrial e

pela prestação de serviços, o que promove a diversificação de sua economia. Além

disso, o município sedia importantes instituições públicas, como as repartições

regionais da receita federal, da procuradoria da república, do ministério do trabalho e

da polícia federal. A cidade também possui diversas instituições de ensino superior,

técnico e tecnológico, particulares e federais, como o Centro Federal de Educação

Tecnológica (CEFET). Em março de 2009, o Campus Avançado de Varginha iniciou

suas atividades recebendo os primeiros estudantes do BICE (UNIFAL, 2011).

Seguindo as tendências propostas pelo modelo da Escola Nova, o curso tem

duração mínima de três anos e oferece ao discente formação geral, humanística e

intelectual, e, concomitantemente, o prepara para cursar qualquer um dos cursos de

2º ciclo (de formação específica) oferecidos no campus, atualmente: Administração

Pública, Ciências Econômicas com ênfase em Controladoria e Ciências Atuariais

(UNIFAL – MG, 2011). Para se graduar bacharel em Ciência e Economia, o estudante

precisa integralizar 2424 horas com disciplinas obrigatórias, eletivas e diretivas. Para

ingressar no curso de 2º ciclo, o discente deverá cursar todas as Unidades

Curriculares diretivas obrigatórias da área pela qual optou. A Figura 4 ilustra o

itinerário formativo do BICE e cursos de 2º ciclo, ofertados pela UNIFAL – MG, no

campus de Varginha.

73

Figura 4 - Itinerário formativo do curso Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Economia Fonte: UNIFAL - MG (2015)

Nos primeiros 3 semestres do BICE, o estudante deve cursar apenas

Unidades Curriculares do núcleo comum da área de Ciência e Economia, que são

obrigatórias e abrangem conteúdos que promovem uma formação geral. Nos 3

semestres seguintes, além de Unidades Curriculares obrigatórias, o discente deverá

cursar Unidades Curriculares diretivas e eletivas que são de livre escolha e que,

além de complementar sua formação em ciência e economia, o direcionam para um

curso de segundo ciclo (de formação em área específica). Este modelo permite certa

flexibilidade para que o discente possa montar seu currículo, escolhendo disciplinas

de acordo com seu interesse (UNIFAL – MG, 2011).

Anualmente, são ofertadas 300 vagas para o Bacharelado Interdisciplinar em

Ciência e Economia, sendo a oferta de 150 vagas no primeiro semestre, para o

período integral e 150 vagas no segundo semestre, para o período noturno. De 2009

a 2015 ingressaram 2042 estudantes no curso, o que tem contribuído para a

expansão do acesso ao ensino superior. No entanto, a grande quantidade de

estudantes que abandonam o curso sem concluí-lo, apresenta-se como um desafio

que necessita ser compreendido e minimizado.

Períodos Específicos em Administração Pública,

Ciências Atuariais e Ciências Econômicas com Ênfase em Controladoria

Bacharelado Interdisciplinar

Bacharelado Interdisciplinar

1o, 2o e 3o períodos

Disciplinas Obrigatórias

4o, 5o e 6o períodos

Disciplinas Obrigatórias

4o, 5o e 6o períodos

Disciplinas Diretivas dos cursos específicos

7o, 8o e 9o períodos

Disciplinas Específicas

4o, 5o e 6o períodos

Disciplinas Eletivas

Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e

Economia

Itinerário Formativo do BICE e dos Cursos Específicos de 2º ciclo

74

3.1.3 Sujeitos da pesquisa

A unidade de análise da pesquisa é o curso Bacharelado Interdisciplinar em

Ciência e Economia da Universidade Federal de Alfenas – UNIFAL – MG. Como

ressaltam Collis e Hussey, (2005), unidades de análise são os objetos, eventos,

fenômenos ou casos estudados pelas pesquisas sociais sobre os quais se coletam ou

analisam dados.

O BICE teve 2042 estudantes ingressantes de 2009 a 2015, dos quais 545

evadiram, considerando os dados atualizados até o mês de março de 2016. Dessa

forma, os sujeitos da pesquisa são os estudantes evadidos do curso, no referido

período, que para Vergara (2004), são as pessoas que fornecerão os dados

necessários à pesquisa.

3.2 Abordagem, objetivos e amostragem

A presente pesquisa caracteriza-se por sua natureza quantitativa e descritiva.

Silva, Lopes e Braga Júnior (2014) afirmam que a pesquisa de abordagem quantitativa

deve ser uma opção quando se tem dados numéricos, há um problema definido e

informação e teoria a respeito do objeto de conhecimento. Quanto ao objetivo, a

pesquisa é descritiva, que, segundo Vergara (2004, p.47), “expõe características de

determinada população ou de determinado fenômeno. Pode também estabelecer

correlações entre variáveis e definir sua natureza. Não tem compromisso em explicar

os fenômenos que descreve, embora sirva de base para tal explicação”.

A amostragem utilizada no levantamento empírico da pesquisa foi não

probabilística por conveniência. A utilização deste tipo de amostragem justifica-se,

segundo Mattar (1996), quando não há outra alternativa viável, visto que a população

não está disponível ou existe dificuldade para ter acesso à ela, além das limitações

quanto ao tempo, recursos financeiros e materiais. Ou seja, amostras não

probabilísticas são, normalmente, utilizadas em virtude da restrição operacional ao

uso da amostragem probabilística como, por exemplo, por não se ter acesso a todos

os elementos da população, o que obriga o pesquisador a colher a amostra na parte

da população que tem acesso (GONÇALVES, 2009; OLIVEIRA; ALMEIDA; LOPES,

2012).

75

Procurou-se contactar os 545 estudantes que evadiram do curso, no período

de 2009 a 2015, por meio de email e redes sociais, conforme será explicitado mais

adiante. Desde universo, obteve-se o retorno de 91 (noventa e um) evadidos que

responderam ao questionário criado e enviado a partir do Google Drive e que,

portanto, representam a amostra da pesquisa.

3.3 COLETA DE DADOS

A coleta de dados ocorreu em duas etapas e por meio da utilização de duas

fontes diferentes. Em um primeiro momento, a pesquisa foi de caráter documental,

com a utilização de dados secundários disponíveis em bancos de dados da instituição

na qual a pesquisa foi realizada. Tais dados contemplam informações sobre

rendimento acadêmico, evasão, retenção e conclusão, além de dados acerca das

características socioeconômicas dos estudantes ingressantes no BICE de 2009 a

2015. Em relação à pesquisa documental, Sá-Silva, Almeida e Guindani (2009)

afirmam que esta consiste em “um procedimento que se utiliza de métodos e técnicas

para a apreensão, compreensão e análise de documentos dos mais variados tipos”

(SÁ-SILVA; ALMEIDA; GUINDANI, 2009, p. 5).

Na fase documental da pesquisa foi possível mensurar a evasão no BICE, no

período de 2009 a 2015, bem como traçar alguns aspectos do perfil do estudante

evadido do curso. Foram levantados dados de ingresso, conclusão e evasão das

turmas ingressantes neste período, além de informações socioeconômicas e

acadêmicas, como: idade, sexo, renda familiar, local onde residiam, rede de ensino

onde cursou a educação básica, semestre de ingresso, tempo de permanência no

curso e desempenho acadêmico.

Em um segundo momento, a coleta de dados se deu por meio de questionário

semiestruturado (APÊNDICE A) enviado aos alunos que evadiram do curso. De

acordo com Gil (2010 p.121), “o questionário pode ser definido como uma técnica de

investigação composta por um conjunto de questões que são submetidas as pessoas

com o propósito de obter informações”. O questionário deve ainda traduzir os objetivos

da pesquisa em questões específicas que forneçam ao pesquisador dados para

descrever determinado fenômeno (GIL, 2010).

O instrumento de pesquisa visava identificar os fatores internos e externos à

76

instituição, bem como os fatores pessoais que influenciaram a evasão no BICE. Para

a elaboração do instrumento, buscou-se no referencial teórico, conceitos centrais que

pudessem contribuir para a coleta e análise empírica dos dados. A partir daí, criou-se

o mapa conceitual apresentado na Figura 5.

Figura 5- Mapa Conceitual de coleta e análise empírica Fonte: Elaborada pela autora (2016).

O mapa ilustra as dimensões centrais de coleta e análise empírica que, por sua

vez, englobam subdimensões a serem investigadas como fatores que influenciam a

evasão. As intercessões apresentadas no mapa conceitual advém do entendimento

de que os fatores causais da evasão, muitas vezes, não se apresentam limitados a

apenas uma perspectiva (interna, externa e pessoal), podendo estar ligados ou ser

influenciados por outra (s). Assim, fatores internos, externos e pessoais podem

apresentar-se isoladamente ou associados e, neste último caso, corroboram mais

decisivamente para a evasão do estudante. As subdimensões apresentadas no

Quadro 4, foram criadas a partir do referencial teórico, baseado em estudos nacionais

acerca da evasão na educação superior.

Fatores Pessoais

Fatores Externos às IES

Fatores Internos às IES

77

Quadro 4 – Subdimensões causais da evasão

Fatores Internas à IES Fatores Externas à IES Fatores Pessoais

1. Estrutura da

Universidade;

2. Normas de

Funcionamento da

Universidade;

3. Característica e

qualidade do Curso;

4. Características do

corpo docente;

5. Ambientação na

universidade;

6. Insucesso

acadêmico;

7. Aspectos

Interpessoais.

1. Aspectos

econômicos;

2. Perspectivas de

mercado de trabalho,

remuneração e status

profissional;

3. Fatores geográficos;

4. Formação Básica

deficiente;

5. Influência ou

Problemas familiares;

6. Dificuldade em

conciliar trabalho e

estudo.

1. Desencanto ou

desmotivação;

2. Interesse por outro

curso.

3. Problemas Pessoais

Fonte: Elaborado pela autora (2016), a partir do referencial teórico

Para a adequação das questões do questionário foram realizadas, ainda, 3

entrevistas com estudantes evadidos e, em seguida, a versão final do questionário foi

testada com mais 2 estudantes já utilizando o questionário on line. A escolha da

ferramenta Google Drive ocorreu por sua facilidade de uso e a forma organizada e

simples com que são apresentadas as respostas.

A versão final do questionário semiestruturado contou com 33 questões

divididas em objetivas e descritivas. A primeira parte do questionário buscou identificar

a idade, o local onde o estudante morava no período que cursava o BICE, em que ano

ingressou e evadiu do curso, se curvava no período integral ou noturno, se ingressou

em outro curso após a evasão do BICE e outras informações profissionais. A segunda

seção do questionário é composta por 23 questões que procuraram identificar os

fatores internos e externos à IES, bem como os fatores pessoais que influenciaram na

decisão do estudante de evadir do curso. Nestas questões, os respondentes

78

assinalaram o grau de concordância em relação a 23 fatores considerados

influenciadores da evasão, utilizando a escala likert de 1 a 5, dispostos da seguinte

maneira: 1 – Discordo Totalmente; 2 – Discordo; 3 – Nem Discordo, nem Concordo; 4

– Concordo e 5 – Concordo Totalmente. Ao final, foram apresentadas duas questões

descritivas em que os estudantes poderiam relatar outras dificuldades que

encontraram para dar sequência aos seus estudos no BICE e que não foram

contempladas nas questões objetivas e dar sugestões para que outros estudantes não

abandonem o curso.

A estrutura do questionário foi pensada levando em consideração o caráter

multifatorial da evasão que, conforme Tinto (1975), explicita em seu modelo

longitudinal, diferentes aspectos e processos influenciam a decisão de um estudante

em abandonar o curso.

O questionário foi enviado para o endereço de e-mail dos evadidos que está

registrado no sistema acadêmico da UNIFAL-MG. Ao longo de um mês repetiu-se esta

ação por seis vezes e quando não obteve mais resultados, procedeu-se à busca dos

nome nas redes sociais, o que possibilitou outros retornos.

3.4 ANÁLISE DE DADOS

A análise e a interpretação dos dados constituem um processo que se dá

simultaneamente à coleta. A rigor, a análise se inicia com a primeira entrevista, a

primeira observação e a primeira leitura de um documento (GIL, 2010). A tabulação

contou com o suporte da planilha eletrônica Excel e foram apresentados em forma de

tabelas, quadros e gráficos.

A partir dos dados institucionais e das respostas dos estudantes, buscou-se

caracterizar a evasão no BICE, identificando os fatores pessoais, internos e externos

que levaram à evasão considerando as interseções destas perspectivas. Os fatores

causais da evasão foram classificados de acordo com a ordem da questão

apresentada no questionário, sendo: F9 – Problemas pessoais; F10 – Interesse por

outro curso; F11 – O fator geográfico (a distância que o campus ficava da sua casa

ou cidade; F12 – A estrutura física do campus; F13 – As condições de alimentação no

campus; F14 – As normas de funcionamento da UNIFAL – MG; F15 - A Dificuldade

de participar de atividades desenvolvidas na Universidade; F16 – Os conteúdos e

79

programas das disciplinas; F17 – A relação teoria e prática desenvolvida no curso; F

18 – O grau de dificuldade das disciplinas; F19 – Estrutura de apoio ao ensino de

graduação (monitorias, PTA e outros); F20 - As perspectivas de mercado de trabalho,

remuneração e status profissional para os formados no BICE; F21 – Características e

qualidade do curso; F22 – O Preparo didático-acadêmico do corpo docente do curso;

F23 – Problemas de relacionamento com professores; F24 – Problema de

relacionamento com outros estudantes; F25 – A sua formação básica; F26 – O seu

desempenho no curso; F27 – A sua situação econômica; F28 – A falta ou insuficiência

da assistência estudantil; F29 – A dificuldade de conciliar trabalho e estudo; F30 – A

falta ou pouco incentivo da família; F31 - Desencanto com o curso.

A descrição dos dados foi realizada por meio da técnica de distribuição de

frequência que, segundo Reis e Lino (2005, p.14), permitem o processo de resumo e

organização dos dados e “busca basicamente registrar as ocorrências dos possíveis

valores das variáveis que caracterizam o fenômeno, em suma consiste em elaborar

DISTRIBUIÇÕES DE FREQUÊNCIAS (grifo do autor) das variáveis para que o

conjunto de dados possa ser reduzido, possibilitando a sua análise”.

Na presente pesquisa, a distribuição de frequências das variáveis contou com

o uso de recursos computacionais que facilitaram a apresentação e análise dos

resultados, além de permitir a avaliação do comportamento de uma ou mais variável,

bem como possíveis associações. Assim, os dados da pesquisa documental e

empírica foram associados, comparados e relacionados de forma que integrados

pudessem fornecer informações que respondessem à questão de pesquisa.

80

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Nesta seção são apresentados e discutidos os resultados da pesquisa de

acordo com os objetivos propostos.

4.1 A EVASÃO NO BACHARELADO INTERDISCIPLINAR EM CIÊNCIA E

ECONOMIA

A evasão é um problema complexo e para compreendê-la, torna-se necessário

mensurá-la. Para isso, procedeu-se a uma categorização da situação acadêmica dos

estudantes ingressantes no BICE, no período de 2009 a 2015. Os dados foram

retirados de relatórios institucionais, gerados a partir do sistema acadêmico da

UNIFAL-MG, no mês de março de 2016.

Esses dados institucionais são atualizados a cada seis meses e evidenciam a

situação do estudante que pode ser classificado em 17 categorias/situações

diferentes, de acordo com a última ocorrência feita em relação ao estudante no

sistema acadêmico. As categorias identificadas foram: Abandono do Curso,

Conclusão do Curso, Desistente, Desligado, Mudança de Turno, Normal, Em

Processo de Desligamento, Transferência para outra IES, Transferência para outro

Curso, Prazo de Integralização Dilatado, Trancamento de Curso, Retorno de

Trancamento de Curso, Vínculo Suspenso, Matrícula Autorizada fora do Prazo,

Rematrícula, Retorno de Regime Especial e Matrícula Cancelada (UNIFAL, 2016)

Os termos utilizados na classificação dos estudantes sofreram alterações de

um semestre para outro, fazendo com que algumas categorias/situações fossem

equivalentes. Essa equivalência também se dá por conta de que uma ocorrência

coloca o estudante em uma mesma situação de outras com denominação diferente.

Com o objetivo de identificar a quantidade de estudantes evadidos do BICE,

procedeu-se a um reagrupamento de acordo com as equivalências de ocorrências e

situações. Foram criadas novas categorias gerais que englobam as identificadas no

sistema acadêmico possibilitando a classificação dos estudantes em cinco novas

categorias que permitem uma visão mais clara da taxa de conclusão e evasão no

BICE. A Tabela 6 apresenta a situação acadêmica dos estudantes ingressantes, por

semestre de ingresso, divididos nas categorias criadas.

81

Tabela 6 - Situação Acadêmica dos Estudantes Ingressante do BICE, por Semestre de Ingresso

Situação do Ingressante/Semestre de Ingresso

20

09

/1

20

09

/2

20

10

/1

20

10

/2

20

11

/1

20

11

/2

20

12

/1

20

12

/2

20

13

/1

20

13

/2

20

14

/1

20

14

/2

20

15

/1

20

15

/2

Tota

l

Conclusão do Curso 62 53 69 32 46 21 31 7 10 331

Cursando 2 5 6 13 12 23 30 54 70 76 89 88 107 127 702

Evadido 52 66 61 59 60 69 38 31 29 21 16 15 15 13 545

Situação Indefinida 12 40 18 26 37 56 62 62 31 45 16 28 18 451

Matrícula Cancelada 1 3 9 13

Total de Estudantes Ingressantes

128 164 154 131 155 169 161 154 140 142 121 131 143 149 2042

Fonte: Elaborada a partir de dados da UNIFAL - MG (2016).

O Projeto Político Pedagógico do BICE estabelece um prazo mínimo de

integralização de 3 anos e máximo de 4,5 anos. Caso o estudante não consiga concluir

o curso, neste período, pode solicitar aos órgãos institucionais competentes, a

dilatação do prazo de integralização.

Os estudantes que ingressaram no período de 2009 a 2011 já ultrapassaram o

prazo máximo de integralização e, por isso, apresentam uma situação mais definida.

Dentre eles, a taxa de evasão estava em 40,62% em 2009/1; 40,24% em 2009/2;

39,61% em 2010/1; 45,03% em 2010/2; 38,70% em 2011/1 e 40,82% em 2011/2.

Levando-se em consideração o período de 2009 a 2011 a taxa média de evasão é

superior a 40%.

Existem também estudantes em situação indefinida, o que engloba aqueles que

estão em processo de desligamento ou que trancaram o curso. No período de 2009 a

2011, a taxa de estudantes nesta situação era de 21% e, no caso de não retornarem

ao curso e serem desligados, serão considerados estudantes evadidos. De acordo

com informações do Departamento de Registros Gerais e Controle Acadêmico

(DRGCA) do campus de Varginha, grande quantidade dos estudantes nessa situação

não renovaram sua matrícula no semestre seguinte e podem ter abandonado o curso.

Nesse caso, serão desligados do curso por ofício do reitor6. Os estudantes na situação

6 O ofício do reitor para desligamento somente é emitido após a tramitação das orientações da

resolução nº 025/2015. Disponível em: <http://www.unifal-mg.edu.br/secretariageral/files/file/CEPE/2015/Resolucao_025-2015.pdf>. Acesso em: 18 dez. 2015. Tanto no caso de não renovação de matrícula quanto no caso de expiração do prazo máximo de

82

de “Em Processo de Desligamento” podem também ter ultrapassado o limite máximo

de integralização do curso e, por isso, entraram com processo solicitando a dilatação

desse prazo, e aguardam o julgamento nos órgãos institucionais competentes.

Os dados da pesquisa revelaram que a evasão no BICE está bem acima da

média nacional da evasão na educação superior brasileira, que segundo dados do

Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior - SEMESP (2015) gira em torno de

27%. Quando comparada à evasão de outros Bacharelados Interdisciplinares, o BICE

apresenta taxa de evasão bastante similar.

A pesquisa de Andrade (2014), revelou que a taxa média de evasão nos BIs da

UFBA era de 38,3 em 2012 sendo: 38,9 em Artes; 31,3 em Ciência e Tecnologia; 38,8

em Humanidades e 42,0 em Saúde. A pesquisa de Andrade(2014) reflete a situação

dos estudantes ingressantes em 2009, no início do semestre letivo de 2012-1. A

pesquisa de Ciribeli (2015) revelou que a evasão no BI em Ciências Exatas da UFJF,

no período de 2009 e 2014, tem sido em média de 38%. A evasão no Bacharelado

Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia da UFABC é ainda maior. Em 2011, 5 anos

após a sua implantação, a evasão no curso chegava a quase 50%(CARVALHO,

2011).

A comparação das taxas de evasão das turmas de 2009 a 2011 do BICE com

um número limitado de outros BIs não permite conclusões acerca do problema ser

mais grave nos cursos que adotam o modelo de Bacharelados Interdisciplinares. No

entanto, torna-se relevante buscar dados nacionais sobre a evasão nos BIs, visto que,

uma das propostas do REUNI, por meio da revisão dos currículos e dos projetos

acadêmicos, era, dentre outras, reduzir as taxas de evasão (BRASIL, 2007).

Em relação às turmas que ingressaram a partir de 2012 no BICE, as taxas de

evasão apresentam índices menores e como o prazo máximo de integralização ainda

não expirou, muitos estudantes ainda estão cursando o BICE. Nesse período, torna-

se ainda precoce um diagnóstico a respeito da taxa real de evasão.

Outro dado que chama a atenção, na Tabela 6, é o baixo número de estudantes

que concluem o BICE dentro do prazo mínimo de integralização. Dos 455 estudantes

integralização, os estudantes podem ser desligados por ofício do reitor, pois o processo de dilatação pode ser indeferido.

83

que ingressaram em 2012-1, 2012-2 e 2013-1, apenas 48 haviam integralizado o

curso até o final de 2015, o que revela o alto índice de retenção no curso.

A evasão universitária tem reflexos negativos não só em âmbito acadêmico,

mas também, social e econômica, causando a ociosidade de recursos humanos e

físicos. Tais impactos repercutem fortemente em países como o Brasil, onde a

democratização da educação superior tornou-se uma das principais aspirações

sociais e instrumento da diminuição da desigualdade social. No caso do BICE, a

evasão está bem acima da média nacional e, por isso, torna-se necessário

compreendê-la e tomar medidas que possam minimizar o problema.

4.2 TRAÇOS DO PERFIL DO ESTUDANTE EVADIDO DO BICE

Para compreender a evasão no BICE, buscou-se conhecer alguns traços do

perfil do estudante evadido. Para isso, foi realizado um levantamento a partir dos

dados disponíveis na Comissão Permanente de Vestibular (COPEVE) da UNIFAL –

MG, acerca dos estudantes que ingressaram no período de 2009 a 2015. Os dados

revelam informações socioeconômicas a respeito dos 545 estudantes considerados

evadidos até março de 2016, acerca dos seguintes aspectos: idade atual, sexo, raça,

local onde o estudante residia ao ingressar no curso, renda familiar, que tipo de escola

frequentou no ensino médio, Coeficiente de Desempenho Acadêmico (CDA) no curso,

período em que estava matriculado no momento da evasão e total da carga horária

cursada pelo estudante evadido.

A Tabela 7 revela que mais da metade (55,96%) dos 545 estudantes que

evadiram do BICE, no período de 2009 a 2014, estão (em março de 2016) com idade

entre 20 e 25 anos. Esse perfil etário é semelhante ao perfil do conjunto dos 2042

estudantes que ingressaram no curso no mesmo período. Considerando que estes

estudantes ingressaram e evadiram no período de 2009 a 2015, essa média de idade

é menor na data da evasão. Com isso, pode-se considerar que grande parte destes

estudantes ingressaram e evadiram do curso muito jovens.

84

Tabela 7 - Idade atual (em março de 2016) dos estudantes evadidos do Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Economia, ingressantes no período de 2009 - 2015.

Idade atual Número de

estudantes

ingressantes

% Número de

estudantes

evadidos

Porcentagem de

estudantes evadidos

Até 20 156 7,63 18 3,30

De 20 a 25 1219 59,69 305 55,96

De 26 a 30 432 21,15 141 25,87

De 31 a 35 131 6,41 48 10,57

De 36 a 40 57 2,79 18 3,30

Acima de

40

47 2,30 15 2,75

Total 2042 100 545 100

Fonte: Elaborada a partir de dados da UNIFAL - MG (2016).

A educação superior no Brasil torna-se cada vez mais uma exigência social e

do mercado. Quanto antes o estudante ingressa e conclui um curso superior mais

cedo disponibiliza mão de obra qualificada para este mercado de trabalho. No entanto,

muito tem se discutido sobre as dificuldades psicológicas enfrentadas por estudantes

calouros que ingressam na educação superior ainda muito jovens. A transição da

adolescência para a vida adulta, maiores responsabilidades e exigências, novos

amigos e, muitas vezes, a distância da família, além de outras transformações

associadas ao ingresso na educação superior, representam para os estudantes um

impacto psicológico que se transformam em inadaptação universitária e,

consequentemente, evasão. Teixeira et al. (2008) esclarecem que o sucesso na

adaptação depende de fatores internos e externos, porém, o contexto universitário e

ações institucionais têm um papel importante a desempenhar no processo de

adaptação do estudante à universidade.

Os dados relativos ao gênero revelaram que a porcentagem entre homens e

mulheres ingressantes no BICE, de 2009 a 2015, é bastante equilibrada, sendo que o

número de homens é um pouco maior, conforme a Tabela 8. No entanto, entre os

estudantes que evadiram do curso, neste período, essa porcentagem masculina sobe

para mais de 60%. Esse cenário é semelhante aos dados nacionais que revelaram

que o percentual médio de alunas até 2013 foi de 55% no ingresso e 60% na

conclusão, do total de cursos de graduação presenciais. De acordo com a análise do

IBGE, o crescimento das mulheres na educação superior indica um resultado natural

da evolução do papel da mulher na sociedade, mas, por outro lado, sugere que ela

85

precisa se qualificar mais do que o homem para ingressar no mercado de trabalho.

Quanto à maior taxa de evasão entre os homens, a análise diz que esta pode estar

associada ao desinteresse ou pelo fato deles começarem a trabalhar mais cedo

(MIRANDA, 2014).

A Tabela 8 mostra o equilíbrio entre homens e mulheres no ingresso ao BICE

e uma porcentagem maior de homens entre os evadidos, no período de 2009 a 2015.

Tabela 8 - Sexo dos estudantes do Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Economia, ingressantes no período de 2009 – 2015

Sexo Número de estudantes

ingressantes

% Número de estudantes evadidos

%

Feminino 986 48,28 216 39,63

Masculino 1056 51,71 329 60,39

Total 2042 100 545 100

Fonte: Elaborada a partir de dados da UNIFAL - MG (2016).

A Tabela 9, que apresenta os aspectos raciais dos estudantes do BICE, mostra

que mais de 70% destes declaram-se brancos e essa média sobe para quase 80%

entre os evadidos. No BICE, o número de estudantes brancos é bem superior à média

nacional, que é de 56% em relação às demais categorias (INEP, 2014).

A Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino

Superior (ANDIFES, 2016) disponibilizou dados que mostram que nas universidades

brasileiras, no período de 2003 a 2014, o número de autodeclarados pardos passou

de 132 mil para 354 mil e os pretos que eram 27 mil, passaram para 92 mil, mostrando

que o número de declarados pretos triplicou nas universidades brasileiras.

Esse novo cenário da educação superior no Brasil mostra que a expansão do

número de vagas nas universidades e ações como a política de cotas têm contribuído

para diminuir a desigualdade racial no acesso à educação superior, que vigorou no

Brasil durante séculos. No caso do BICE, os brancos ainda representam a grande

maioria dos estudantes, tanto entre os ingressantes quanto entre os evadidos. A

porcentagem desta categoria racial sobe de 71,15 no ingresso para 79,81 entre os

evadidos, conforme a Tabela 9.

86

Tabela 9 - Raça dos estudantes do Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Economia, ingressantes no período de 2009 - 2015

Raça Número de

estudantes

ingressantes

% Número de

estudantes

evadidos

%

Amarelo 51 2,49 8 1,46

Branco 1453 71,15 435 79,81

Pardo 389 19,04 82 15,04

Preto 112 5,48 16 2,93

Não Declarado 37 1,81 4 0,73

Total 2042 100 545 100

Fonte: Elaborada a partir de dados da UNIFAL - MG (2016).

A Tabela 10 refere-se à renda familiar dos alunos ingressantes no BICE, no

período de 2009 a 2015. Entre os alunos que responderam esta questão no

questionário socioeconômico, grande parte (51,27% entre os ingressantes e 48,74%

entre os evadidos) tinha renda familiar bruta inferior a 3 salários mínimos. O perfil

socioeconômico destes alunos representa bem o processo de expansão do acesso à

educação superior, ocorrido nos últimos anos, que aumentou o ingresso de

estudantes das classes menos favorecidas economicamente à este nível de

escolaridade. Dados da ANDIFES (2016) revelaram que 66,19% dos alunos das

universidades federais, que participaram da pesquisa que traçou o perfil

socioeconômico dos estudantes, têm origem em famílias com renda média de 1,5

salário mínimo.

Os dados relativos à renda dos estudantes do BICE, sugerem que grande parte

deles podem depender de ações de assistência estudantil para se manter na

universidade. A relação entre o acesso das classes mais pobres à educação superior

e a assistência estudantil é reconhecida pelo REUNI, que estabelece, entre seus

objetivos, criar condições para a ampliação do acesso e permanência na educação

superior. Para isso, propôs uma ampliação nas políticas de inclusão e assistência

estudantil buscando expandir o ingresso de alunos de classes populares na educação

superior (BRASIL, 2007). O perfil econômico (TABELA 10) e a quantidade de

estudantes evadidos do BICE, mostram a necessidade de efetividade nas ações da

assistência estudantil no curso.

87

Tabela 10 – Renda Familiar Bruta dos ingressantes do BICE

Renda Familiar Bruta Número de

estudantes

ingressantes

% Número de

estudantes

evadidos

%

Até um salário mínimo 58 4,66 12 4,27

Entre 1 e 2 salários mínimos 303 24,39 66 23,48

Entre 2 e 3 salários mínimos 276 22,22 59 20,99

Entre 3 e 5 salários mínimos 316 25,44 70 24,91

Entre 5 e 7 salários mínimos 164 13,20 37 13,16

Entre 7 e 10 salários mínimos 66 5,31 18 6,40

Entre 10 e 20 salários mínimos 50 4,02 16 5,69

Entre 20 e 30 salários mínimos 9 0,72 3 1,06

Total de estudantes respondentes 1242 100 281 100

Fonte: Elaborada a partir de dados da UNIFAL - MG (2016).

O fator geográfico dos estudantes evadidos revela que quase 40% residiam em

Varginha e mais de 80% no sul de Minas Gerais. Esse é um indicador do caráter

regional do curso, que atrai, especialmente, estudantes dessa microrregião. A média

de estudantes evadidos que residem em Varginha acompanha a média de

ingressantes do curso, porém, os estudantes das demais cidades do sul de Minas

evadiram em maior proporção, o que pode ter sido influenciado por gastos com

transporte e demanda maior de tempo para chegar à universidade (TABELA 11). No

caso específico destes estudantes, a questão geográfica pode estar sendo um fator

de evasão.

Tabela 11 - Local de residência dos estudantes do Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Economia, ingressantes no período de 2009 - 2015

Localidade Número de

estudantes

ingressantes

% Número de

estudantes

evadidos

%

MG 1557 76,24 468 85,87

Sul de Minas7 1407 68,90 446 81,83

Varginha 836 40,94 217 39,81

Outros Estados 483 23,65 77 14,12

Não Declarado 2 0,09 0 0

Total 2042 100 545 100

Fonte: Elaborada a partir de dados da UNIFAL - MG (2016).

Com relação ao tipo de escola que frequentou, os estudantes do BICE são

oriundos, principalmente, de escolas públicas. Tanto em relação ao total de

estudantes, quanto entre os evadidos, mantém-se uma média de quase 70% de

7Classificação adotada pelo Governo de Minas Gerais. Disponível

em:<https://www.mg.gov.br/governomg/portal/c/governomg/conheca-minas/geografia/5671-regioes-de-planejamento/69548-as-regioes-de-planejamento/5146/50444> Acesso em: 10 mar.

88

estudantes que cursaram o ensino médio na rede pública. Os problemas da educação

básica, ofertada na rede pública de ensino, podem refletir negativamente no

desempenho dos alunos na educação superior que, ao encontrar dificuldades

acadêmicas para acompanhar o curso, evadem (BRASIL, 1996). No entanto, no caso

do BICE, os dados da Tabela 12 mostraram que a porcentagem de alunos evadidos,

tanto de escolas públicas quanto das privadas, acompanha proporcionalmente a

porcentagem de ingressantes.

Tabela 12 - Tipo de escola frequentada pelos estudantes do Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Economia, ingressantes no período de 2009 – 2015, no ensino médio.

Tipo de escola

onde cursou o

Ensino Médio

Número de

estudantes

ingressantes

% Número de

estudantes

evadidos

%

Pública 1382 67,67 368 67,52

Privada 660 32,32 177 32,47

Total 2042 100 545 100

Fonte: Elaborada a partir de dados da UNIFAL - MG (2016).

Quanto ao desempenho acadêmico, os dados revelam que o Coeficiente de

Desempenho Acadêmico (CDA), representado pela média ponderada do

desempenho obtido pelo discente no universo das Unidades Curriculares cursadas,

mostra-se muito baixo para os estudantes evadidos. Mais de 80% dos estudantes

evadidos apresentavam CDA abaixo de 6 (seis), que é, atualmente, o Coeficiente de

Aprovação (CA) mínimo. Esse dado revela o insucesso acadêmico dos estudantes

que abandonaram o curso (TABELA 13), e pode estar relacionado à fatores pessoais

(cognitivos, emocionais), fatores internos à IES (currículo, processos de ensino e

avaliação, alto grau de exigência) e externos às IES (deficiência na educação básica).

Tabela 13 - CDA dos estudantes evadidos do Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Economia, ingressantes no período de 2009 – 2015

CDA Número de estudantes

evadidos

Porcentagem

Igual a 0 58 10,64

Entre 0 e 3 237 43,48

Entre 3 e 6 191 35,04

Entre 6 e 8 52 9,54

Entre 8 e 10 7 1,28

Total 545 100

Fonte: Elaborada a partir de dados da UNIFAL - MG (2016).

89

Além do rendimento acadêmico, torna-se relevante, para compreender a

evasão no curso, a identificação do momento em que o aluno evade. A Tabela 14

revela que grande parte (mais de 60%) dos estudantes que evadiram do BICE, entre

2009 e 2015, estavam matriculados no 1º ou 2º períodos do curso. Uma das

características dos Bacharelados Interdisciplinares é a flexibilidade no itinerário

formativo, por isso, a partir do 2º período, o estudante pode optar por cursar disciplinas

de diferentes períodos, não se atendo, necessariamente, à sequência estabelecida

pela dinâmica curricular do curso. Apesar disso, a grande quantidade de alunos que

evadiram no 1º período indicam a necessidade de ações voltadas, especialmente,

para os ingressantes, que o auxiliem na adaptação universitária e minimizem a evasão

no curso (TEIXEIRA et al., 2008).

Tabela 14 - Período em que os estudantes do BICE evadiram

Período de evasão Número de estudantes

evadidos

Porcentagem

1º 257 47,15

2º 105 19,26

3º 75 13,75

4º 43 7,88

5º 32 5,87

6º 33 6,05

Total 545 100

Fonte: Elaborada a partir de dados da UNIFAL – MG (2016).

A carga horária cursada pelo aluno evadido também contribui para

compreender, em termos de início ou não do curso, em que momento o aluno

abandonou o curso. A Tabela 15 revela que quase 90% dos estudantes que evadiram

do BICE, ainda não tinham cursado a metade da carga horária necessária para a

integralização do curso. Quase 80% dos estudantes evadiram antes de completar

30% da carga horária e mais de 40% não concluíram nenhuma disciplina computando

0 (zero) de carga horária cursada. Os dados das tabelas 14 e 15 podem indicar duas

coisas diferentes: a) desistência do estudante após pouco tempo frequentando o curso

ou b) insucesso acadêmico, em que, mesmo há algum tempo frequentando o curso,

o estudante não consegue transpor os períodos iniciais e nem ser aprovado nas

Unidades Curriculares. A evasão dos alunos que frequentaram o curso por um período

de tempo muito curto pode estar ligada mais às questões externas ou pessoais. Nesse

caso, as ações institucionais para evitar a evasão tornam-se bastante restritas.

90

Tabela 15 - Total de Carga Horária cursada pelos estudantes evadidos do Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Economia, ingressantes no período de 2009 - 2015

Total de Carga horária cursada Número de estudantes

evadidos

%

0% 220 40,36

Entre 0 e 30% 209 38,34

Entre 30 e 50% 57 10,45

Maior que 50% 59 10,82

Total 545 100

Fonte: Elaborada a partir de dados da UNIFAL - MG (2016).

A pesquisa realizada a partir dos dados institucionais, relativos aos alunos

ingressantes no BICE, no período de 2009 a 2015, revelou alguns traços

predominantes do estudante evadido, que são: aluno jovem, homem, de baixa renda,

residente no Sul de Minas, oriundo de escola pública e que evadiu no início do curso

apresentando um CDA baixo. As informações do perfil do aluno evadido do BICE,

podem contribuir para o direcionamento das ações institucionais aos estudantes em

determinadas situações mais propensas à evasão.

4.3 FATORES DE EVASÃO NO BICE

A evasão é considerada um fenômeno multifatorial e complexo (TINTO, 1975;

LOBO, 2012). Para compreender este fenômeno no BICE, de forma mais ampla, fez-

se necessário, identificar os fatores que o tem influenciado, a partir da ótica dos

evadidos.

No caso do BICE, o caráter multifatorial da evasão pode ser identificado nas

respostas dos participantes da pesquisa que assinalaram o seu grau de concordância

a respeito de 23 fatores considerados influenciadores da evasão e da descrição de

outros fatores não abordados no questionário. Assim, os dados da pesquisa

corroboraram com o referencial teórico (TINTO, 1975; BRASIL 1996; LOBO, 2012)

mostrando que a decisão de evadir do BICE ocorreu, na maioria das vezes, por um

conjunto de fatores internos à IES, externos à IES e/ou pessoais. O Gráfico 4 mostra

a quantidade de fatores considerados influenciadores da evasão apontados por cada

grupo de estudantes.

91

Gráfico 4 - Quantidade de fatores apontados como influenciadores da evasão por quantidade de estudantes respondentes

Fonte: Dados da Pesquisa (2016).

Dos 91 estudantes que responderam ao questionário, apenas quatro

apontaram um único fator como influenciador de sua decisão de evadir, sendo este

de ordem pessoal. Três destes estudantes indicaram o interesse por outro curso, e

um outro alegou problemas pessoais. Os demais 87 respondentes evidenciaram mais

de um fator, que refere-se a mais de uma perspectiva (interna, externa e pessoal).

Quase 80% dos estudantes apontaram 4 fatores ou mais como influenciadores de sua

evasão do curso.

Os resultados da pesquisa demonstram que, no caso do BICE, a evasão tem

ocorrido, predominantemente, por um conjunto de elementos ligados a diferentes

perspectivas (interna, externa e pessoal) que, associados, levam o aluno a desistir do

curso. As pesquisas de Souza, Petró e Gessinger (2012) e de Morosini et al. (2012),

também apresentam resultados nesta direção, concluindo que as causas da evasão

podem estar, em maior ou menor grau, relacionadas às condições da instituição ou

do curso, ou se relacionam a aspectos externos à instituição/curso ou mesmo a

aspectos pessoais. A identificação dos fatores e sua classificação de acordo com a

perspectiva (interna, externa e pessoal) é relevante para subsidiar as ações

institucionais, indicando em que esferas e grau a IES poderá atuar.

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

13

14

16

4

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11

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4

5

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0 2 4 6 8 10 12 14 16 18

1

2

3

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13

14

15

16

Quantidade de estudantes

Quantidade de fatoresapontados

92

A seguir são apresentados e discutidos os fatores da evasão no BICE. Tais

fatores foram enumerados de 9 a 31 (F9 a F31), de acordo com o número da questão

apresentada no questionário e estão classificados de acordo com a perspectiva

interna, externa e pessoal.

4.3.1 Fatores internos à IES

Os fatores internos são aqueles de ordem institucional relacionados às

questões acadêmicas, como currículo; questões didático-pedagógicas; programas

institucionais de apoio ao estudante, estrutura física, entre outros (CEEEUP, 1996).

Na tabela 16 estão reunidos os fatores internos que compuseram o questionário da

pesquisa, e que foram avaliados pelos evadidos por meio de uma escala tipo Likert,

onde 1 é Discordo Totalmente e 5 Concordo Totalmente.

Neste aspecto, os fatores mais apontados pelos estudantes foram a dificuldade

de participar de atividades desenvolvidas na universidade (F15) e os conteúdos e

programas de ensino das disciplinas (F16).

Tabela 16 - Fatores internos da evasão no BICE

(continua)

Fatores causais da evasão Grau de Concordância / escala Likert (%)

Total % 1 2 3 4 5

F15- Dificuldade de participar de

atividades desenvolvidas na

Universidade

14,3 22 22 22 19,8 100

F16- Os conteúdos e programas de

ensino das Disciplinas 13,2 26,4 19,8 26,4 14,3 100

F28- A falta ou insuficiência da

Assistência Estudantil 28,6 17,6 18,7 19,8 15,4 100

F17- A relação teoria e prática

desenvolvida no curso 16,5 25,3 25,3 18,7 14,3 100

F18- O grau de dificuldade das

disciplinas 26,4 23,1 18,7 18,7 13,2 100

F21- Características e qualidades

do curso 22 27,5 24,2 17,6 8,8 100

93

Fatores causais da evasão Grau de Concordância / escala Likert (%) Total %

1 2 3 4 5

F26- O desempenho do

estudante no curso 27,5 25,3 20,9 19,8 6,6 100

F19- Estrutura de apoio ao

ensino de graduação (monitoria,

PTA ou outras)

22 31,9 24,2 13,2 8,8 100

F13- As condições de

alimentação no campus 23,1 25,3 28,6 14,3 8,8 100

F22- Preparo didático-acadêmico

do corpo docente do curso 18,7 36,3 25,3 9,9 9,9 100

F12- A estrutura física do

campus 35,2 26,4 22 8,8 7,7 100

F14- As normas de

funcionamento da UNIFAL –MG 25,3 37,4 20,9 11 5,5 100

F23- Problema de

relacionamento com os

professores

41,8 33 8,8 9,9 6,6 100

F24- Problema de

relacionamento com os outros

estudantes

52,7 26,4 12,1 5,5 3,3 100

Fonte: Dados da pesquisa (2016)

A dificuldade de participar das atividades desenvolvidas na universidade

(41,8%) e os conteúdos e programas de ensino das disciplinas (40,7%) foram os

fatores de evasão mais apontados pelos evadidos, no âmbito interno. O primeiro fator

pode estar relacionado às condições dos estudantes como o fato de muitos estudarem

a noite (52%), residiam em outra cidade (34%) ou ainda encontraram dificuldade para

conciliar estudo e trabalho (48,4%). O segundo fator mais apontado está relacionado

às características do curso como a relação teoria e prática desenvolvida ou mesmo à

forma como os conteúdos são trabalhados. A associação destes fatores contribuiu

para o desencanto dos estudantes com o curso, visto que dos 37 participantes da

pesquisa que apontaram os conteúdos e programas de ensino das disciplinas como

um fator de evasão também afirmaram ter se desencantado com o curso. Estes dados

(conclusão) Tabela 16 - Fatores internos da evasão no BICE

94

sugerem a importância da adequação das atividades do curso a alguns aspectos da

realidade dos estudantes e da revisão constante do currículo e metodologias de

ensino.

Essa dificuldade de participar das atividades desenvolvidas na universidade

pode estar relacionada, também, à questões pessoais dos estudantes, porém as

condições de participação podem ser facilitadas ou não pela instituição. No caso do

BICE, esse fator parece estar mais relacionado às questões internas, pois, nas

questões descritivas, os estudantes apontaram incompatibilidade de horário e

condições que permitissem sua participação em algumas atividades desenvolvidas no

curso como pesquisa, extensão e monitoria. Neste caso, a IES precisa estar atenta às

especificidades de dois grupos em especial: os estudantes do noturno que trabalham

e aqueles que não residem em Varginha e que, por depender de transporte

intermunicipal, apresentam maiores dificuldades de estar na universidade em turnos

diferentes. As atividades realizadas além da sala de aula precisam estar

condicionadas a atender de forma mais ampla possível, as diferentes condições dos

alunos.

Os conteúdos e programas de ensino das disciplinas se referem à questões

específicas do curso e sugerem a necessidade da constante revisão e adequação do

Projeto Político Pedagógico de Curso (PPPC) às transformações sociais, adaptando-

se ao contexto regional. Nas respostas descritivas foram apontadas, por exemplo,

questões metodológicas de ensino e avaliação que, no entendimento dos estudantes,

refletem negativamente no rendimento, gerando reprovações e evasão. A

sustentabilidade de um curso está condicionada ao desenvolvimento de conteúdos

significativos desenvolvidos por meio de metodologias de ensino adequadas.

A falta ou insuficiência da assistência estudantil (F28) foi apontada por 35,2%

dos respondentes como sendo um fator de evasão. A necessidade de apoio aos

estudantes de baixa renda é fundamental, especialmente, no atual contexto de

expansão da educação superior que resultou no aumento do ingresso de estudantes

das classes C e D a este nível de ensino. Embora a quantidade de recursos da

assistência estudantil seja determinada pelo MEC, cabe à universidade estabelecer

critérios de seleção dos beneficiários e a forma como os recursos serão divididos. Por

isso, é importante que tais critérios sejam os mais eficientes possíveis no sentido de

garantir a permanência dos estudantes que dependem desse mecanismo de

95

assistência.

Fatores internos como as características e qualidade do curso (F21) e a relação

teoria e prática desenvolvida no curso (F17) foram apontados por 26,4% e 33%,

respectivamente, como fatores de evasão no BICE. Estes fatores aparecem em

pesquisas nacionais (SOUZA; PETRÓ; GESSINGER, 2012; BRASIL, 1996) como

alguns dos principais motivadores da evasão universitária no Brasil. Por isso, cabe à

instituição estabelecer critérios de qualidade, socialmente relevantes, estabelecendo

uma relação coerente entre a teoria e a prática dos conhecimentos desenvolvidos no

curso, para que possa se estabelecer como um curso atrativo para os que buscam um

diploma de educação superior.

Fatores relacionados ao desempenho acadêmico dos estudantes também

foram apontados como influenciadores da evasão no BICE. Dos respondentes, 31,9%

concordaram com o desempenho no curso (F26) e 26,4% com o grau de dificuldade

das disciplinas (F18), como sendo fatores de evasão. Nas respostas descritivas, os

estudantes destacaram a dificuldade nas disciplinas de matemática e as inúmeras

reprovações como fatores que os desmotivaram e contribuíram para o abandono do

curso. Embora os fatores F18 e F26 não apareçam entre os mais apontados pelos

respondentes do questionário, dados relativos ao CDA mostraram que 80% dos

evadidos estavam com CDA abaixo de 6.

Esses fatores relativos ao desempenho dos estudantes podem estar

relacionados a outros fatores internos como a estrutura de apoio ao ensino de

graduação (F19) e preparo didático-acadêmico do corpo docente do curso (F22), que

foram apontados por 22% e 19,8% dos respondentes, respectivamente. As ações de

apoio aos estudantes de graduação envolvem atividades de ensino (monitorias,

tutorias, reforço ou nivelamento), orientação educacional, além de outras que possam

dar suporte ao estudante diante das dificuldades encontradas. Considerando que a

educação básica no Brasil apresenta deficiências, muitos estudantes não conseguem

acompanhar os conteúdos ministrados na educação superior e, no caso do BICE, as

disciplinas de matemática são um exemplo. Nesses casos, as atividades de apoio ao

ensino de graduação e o preparo dos professores, tanto em relação aos

conhecimentos quanto às metodologias adotadas, são cruciais para a superação dos

déficits de aprendizagem dos estudantes.

Tanto a estrutura de apoio ao ensino de graduação, quanto o preparo didático-

96

acadêmico do corpo docente do curso, são de ordem estritamente internas e exigem

da comunidade acadêmica a reflexão acerca de mecanismos centrados na

aprendizagem dos estudantes, que possam ser desenvolvidos dentro ou fora da sala

de aula. Tais mecanismos envolvem ações de formação em serviço docente, bem

como a implementação das atividades, além das aulas, voltadas para superação de

problemas de aprendizagem.

As condições de alimentação no campus (F13), a estrutura física (F12) e as

normas de funcionamento da instituição (F14), tiveram uma menor incidência de

apontamentos. No entanto, aperfeiçoar instalações físicas e serviços ofertados podem

contribuir para melhorar as condições de permanência dos estudantes. Nestes

aspectos ligados às condições do campus, os alunos apontaram, nas questões

descritivas, problemas de insuficiência de exemplares na biblioteca e o excesso de

estudantes por turma nos primeiros períodos. Com a construção do novo campus e

consolidação do curso após 6 (seis) anos de funcionamento, melhoraram-se estas

condições. Os estudantes apontaram alguns aspectos como o restaurante

universitário e a moradia estudantil como importantes ações que ainda não foram

implementadas e que contribuiriam para a permanência no curso. No entanto, os

cortes de investimentos na educação superior, a partir dos dois últimos anos, podem

comprometer a execução de projetos e o adequado funcionamento das IFES.

Problemas de relacionamento com professores (F23), com 16,5% e com

estudantes (F24) com 8,8% também foram indicados, porém, mostram-se fatores

pouco relevantes para a evasão. Nestes casos, a comunidade acadêmica pode

trabalhar para a construção de uma cultura de cooperação e tolerância à diversidade.

Apesar da lógica de competição intrínseca à ideologia neoliberal, é dever da

universidade incentivar ações que promovam o bem estar de todos.

Os fatores internos analisados, na maioria das vezes, permitem uma grande

margem de atuação por parte da instituição, no sentido de transformar positivamente

a realidade, visto que, dependem de forma reduzida de fatores externos.

4.3.2 Fatores externos à IES

Os fatores externos da evasão dizem respeito às questões que têm reflexos

internos aos cursos, mas que não se referem estritamente ao ambiente universitário

97

(CEEEUP, 1996).

Na Tabela 17 apresenta-se os fatores externos abordados no questionário, dos

quais destacaram-se a dificuldade de conciliar trabalho e estudo (F29), com 48,4% de

concordância e a situação econômica (F27), com 38,5%.

Tabela 17 - Fatores externos da evasão no BICE

Fatores causais da evasão Grau de Concordância / escala Likert (%)

Total %

1 2 3 4 5

F29- Dificuldade de conciliar

trabalho e estudo 26,4 14,3 11 24,2 24,2 100

F27- A situação econômica 35,2 14,3 12,1 20,9 17,6 100

F11- O fator geográfico (a

distância que o campus ficava da

sua cidade ou casa

29,7 19,8 15,4 17,6 17,6 100

F20- As perspectivas de

mercado de trabalho,

remuneração e status

profissional para os formados no

BICE

22 23,1 27,5 16,5 11 100

F30- A falta ou o pouco incentivo

da família 47,3 25,3 8,8 13,2 5,5 100

F25- A formação básica do

estudante no ensino médio 41,8 19,8 20,9 11 6,6 100

Fonte: Dados da pesquisa (2016)

Tanto a dificuldade de conciliar trabalho e estudo como a situação econômica

dos estudantes são fatores apontados em diversas pesquisas (SOUZA; PETRÓ;

GESSINGER, 2012; MOROSINI et al., 2012; AMARAL, 2013; LOURENÇO, 2014).

Tais fatores mostram-se relacionados à realidade nacional de um país que

recentemente tem possibilitado um maior ingresso de jovens, provenientes das

classes C e D, na educação superior. A necessidade conciliar trabalho e estudo e a

situação econômica desprivilegiada contribuem de forma significativa para a evasão

na educação superior, pois quando a conciliação não é possível, o estudante tem que

optar pelo trabalho necessário à sua sobrevivência. O atual contexto mostra que, para

além da democratização do acesso, torna-se urgente a democratização da

permanência (PAULA, 2011; PAULA; FERNANDES LAMARRA, 2011). Conforme

98

afirma Paula (2011), sem equidade não se pode falar em democratização da

educação superior, tornando fundamental garantir a permanência e a inclusão social

da camadas marginalizadas.

A questão geográfica (F11) foi apontada por 35,2% dos estudantes

respondentes. O BICE recebe muitos estudantes de cidades próximas a Varginha que

buscam uma universidade pública e federal. Conforme os dados relativos ao aspecto

geográfico, cerca de 28% dos estudantes que se matricularam no BICE, no período

de 2009 a 2015, são de cidades do Sul de Minas (exceto Varginha). Em relação aos

evadidos, esta porcentagem sobe para 42%. Apesar de residirem em cidades

próximas à Varginha, o deslocamento de outra cidade requer o ônus do gasto com

transporte e maior demanda de tempo, o que torna a questão geográfica um fator que

contribui para a evasão.

Outro aspecto externo também bastante apontado na pesquisa, como

influenciador da evasão no BICE, foi em relação às perspectivas de mercado de

trabalho, status e remuneração (F20), com 27,5%. A baixa remuneração no mercado

de trabalho diminui a procura pelos cursos e aumenta a propensão à evasão, pois a

necessidade de ingressar no mercado de trabalho e receber uma remuneração que

lhe garanta uma sobrevivência digna é uma das principais motivações para se buscar

um curso superior (CEEEUP, 1996). Vale ressaltar ainda que o modelo dos BI, por ser

uma proposta recente, pautada numa formação generalista e não direcionada a

profissionalização do estudante no 1º ciclo (BI), pode gerar desconfiança quanto ao

futuro profissional dos egressos.

Outros fatores também apontados foram a falta ou pouco incentivo da família

(F30) com 18,7% e a formação básica no ensino médio (F25) com 17,6%. No primeiro

caso, as ações da instituição são limitadas por estarem relacionadas às questões que

extrapolam os muros da universidade, porém podem ser reforçadas ou atenuadas por

questões internas.

Com relação à formação básica deficiente, a CEEEUP afirma que:

A precária formação escolar de muitos dos universitários, devida à desestruturação do sistema de ensino de primeiro e segundo graus do país, é fator determinante das dificuldades por eles enfrentadas. A "falta de base" do aluno pode levar a reprovações sucessivas em determinadas disciplinas e, muitas vezes, ao abandono do curso

(BRASIL, 1996, p.31).

99

Com relação aos alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem por

canta de uma formação básica deficiente, a CEEEUP (BRASIL, 1996), sugere

oferecer atividades de apoio pedagógico a estudantes com baixo desempenho e

ações específicas para as disciplinas com altas taxas de reprovação.

Apesar de os fatores externos estarem relacionados a questões que, muitas

vezes, fogem do controle da instituição, podem ser reforçados ou minimizados por

ações institucionais direcionadas ao combate da evasão.

4.3.3 Fatores pessoais

Os fatores pessoais estão relacionados às características individuais do

estudante e, embora possam também estar inter-relacionados às dimensões internas

e externos, referem-se, mais especificamente, às questões como habilidades e

personalidade do estudante.

Os resultados da pesquisa mostraram que os aspectos pessoais tiveram

grande influência na decisão dos estudantes de evadir do BICE. Nesta perspectiva,

destacam-se o interesse por outro curso (F10), com 49,5%) e o desencanto com o

curso (F31), com 42,9%.

Tabela 18 – Fatores pessoais da evasão no BICE

Fatores causais da evasão Grau de Concordância / escala Likert (%)

Total %

1 2 3 4 5

F10- Interesse por outro curso 18,7 19,8 12,1 17,6 31,9 100

F31- Desencanto com o Curso (o

curso não era o que eu pensava) 20,9 14,3 22 20,9 22 100

F9- Problemas pessoais 31,9 17,6 16,5 23,1 11 100

Fonte: Dados da Pesquisa (2016)

Dentre os 45 evadidos que responderam que o interesse por outro curso

influenciou da sua decisão de evadir, 41 afirmaram ter efetivado o ingresso em outro

curso superior. O interesse por outro curso já poderia ser algo anterior ao ingresso do

estudante no BICE, porém, por algum motivo, o estudante ingressou no BICE e não

no outro curso que também tinha interesse. O próprio sistema de ingresso do SISU,

100

adotado pelo BICE, favorece, muitas vezes, para que o estudante ingresse em um

curso no qual sua nota no ENEM foi suficiente e que poderia não ser sua primeira

opção.

A decisão de abandonar o BICE e ingressar em outro curso, pode ainda estar

relacionada ao fato de que a média de idade dos estudantes do BICE é baixa, com

mais de 50% dos evadidos com idade atual inferior a 25 anos. Além das dificuldades

de adaptação à vida universitária, o jovem pode ainda não estar maduro o suficiente

para a escolha da profissão, mesmo em um bacharelado interdisciplinar, onde a

escolha profissional pode ser postergada a um segundo ciclo, porém, deve ocorrer na

área de conhecimento, no qual o BI está inserido.

O interesse por outro curso pode, ainda, estar relacionado ao outro fator

pessoal, também bastante apontado que é o desencanto com o BICE. Dos 45

estudantes que apontaram interesse por outro curso, 29 também apontaram

desencanto com o curso. Os resultados sugerem que estes estudantes possam ter se

interessado por outro curso após se desencantarem com o BICE e, por isso, evadiram

para ingressar em um outro curso.

Portanto, tanto o desencanto com o curso quanto a decisão de evadir do BICE

e ingressar em outro curso pode ter sido motivada por fatores estritamente pessoais,

mas também pode ter sido reforçada por fatores internos ao curso e à instituição. Tinto

(1975) e Andriola; Andriola e Moura (2006), ressaltam que as experiências

vivenciadas pelo estudante no curso, contribuem para redefinir suas intenções e

compromissos iniciais, determinando sua permanência ou evasão.

O fator Problemas pessoais (F9) foi apontado por 34,1% dos respondentes e,

nestes casos, as ações institucionais são limitadas, concentrando-se em ações de

apoio psicológico oferecido aos estudantes.

Os resultados sugerem que, apesar de serem apontados por grande

quantidade de estudantes, os fatores pessoais mostram-se relacionados a outros

fatores, especialmente, de ordem interna ao curso ou à IES.

4.3.4 As interseções dos fatores internos, externos e pessoais

Estudos causais da evasão na educação superior (TINTO, 1975; BRASIL,

1996; LOBO, 2012) costumam classificar suas causas em internas, externas e

101

pessoais. No entanto, reconhece-se que tais perspectivas não se estabelecem de

forma independente, visto que uma causa ou fator influenciador da evasão pode estar

relacionado às diferentes dimensões, ou seja, determinados fatores podem ser

considerados na perspectiva pessoal e interna à IES, pessoal e externa à IES, interna

e externa à IES ou mesmo pessoal, interna e externa.

No caso da evasão no BICE, a interseção de fatores e perspectivas mostrou-

se uma realidade observada a partir da relação entre os resultados da pesquisa

documental e empírica e da relação entre os fatores influenciadores da evasão

apontados pelos estudantes que responderam ao questionário. A Figura 6 representa

os fatores da evasão no BICE, na interseção das diferentes perspectivas.

Figura 6 – Interseção de fatores internos, externos e pessoais Fonte: Elaborada pela autora (2016)

Dentre os fatores mais apontados como influenciadores da evasão no BICE,

destacaram-se o interesse por outro curso (49,5%), a dificuldade de conciliar trabalho

e estudo (48,4%), o desencanto com o curso (42,9) e a dificuldade de participar das

atividades da IES (41,8%), sendo que todos estes mostraram-se relacionados aos

aspectos internos do curso ou da IES. Além disso, dos 23 fatores investigados, 11

foram classificados em interseção de perspectiva e apenas 5 não apresentaram

102

relação com aspectos internos do curso ou da IES.

A falta ou insuficiência da assistência estudantil e perspectivas de mercado de

trabalho, remuneração e status profissional foram classificados na interseção de

fatores internos e externos à IES.

A assistência estudantil configura-se como um importante mecanismo de apoio

à permanência do estudante de baixa renda na educação superior. Por conta das

condições sociais e econômicas do estudante, a dependência dos recursos da

assistência estudantil está associada a fatores externos e pode se tornar determinante

para a evasão ou permanência do estudante. Internamente, algumas questões podem

influenciar na efetividade dessa política, como: o valor dos auxílios, os critérios de

distribuição, além de fatores relacionados a processos internos de concessão dos

benefícios. Dados da Andifes (2016), mostraram que, nos últimos 10 anos, houve uma

significativa mudança no perfil econômico do estudante universitário, sendo que mais

de 60% tem renda familiar média de 1,5 salário mínimo. No caso do BICE, mais da

metade (51,27%) dos ingressantes, que responderam esta questão no questionário

socioeconômico, declararam renda familiar inferior a 3 (três) salários mínimos e mais

de 35% dos respondentes, do questionário aplicado aos evadidos, afirmaram que a

falta ou insuficiência da assistência estudantil foi um fator de evasão. Assim, a

assistência estudantil pode estar associada a fatores econômicos externos, bem como

fatores internos de efetividade na utilização dos recursos pela instituição de ensino.

As perspectivas profissionais do curso são influenciadas por fatores externos

como o mercado de trabalho, que oferece condições que variam de acordo com

diversas questões como a área de conhecimento e demanda de profissionais no

mercado. No entanto, a qualidade do curso é um fator exclusivamente interno e que

exerce grande influência na inserção e sucesso do egresso neste mercado de

trabalho. Dos 26 evadidos que apontaram as perspectivas de mercado como um fator

de evasão, 15 apontaram também a qualidade do curso. Assim, a perspectiva de

mercado de trabalho para determinado curso, dependerá das características do

mercado que lhes são externas, mas também da qualidade do curso que podem ou

não influenciar positivamente nesta perspectiva de inserção no mercado.

Na interseção das perspectivas interna e pessoal aparecem a dificuldade de

participação nas atividades da Instituição, o grau de dificuldade das disciplinas, o

desencanto com o curso e as dificuldades de relacionamento com os docentes ou com

103

os demais estudantes.

A dificuldade de participação nas atividades da instituição podem estar

relacionadas às condições pessoais de cada aluno, porém nas questões descritivas,

os evadidos apontaram situações internas do curso que dificultam tal participação.

Foram citadas questões como o horário das monitorias e as condições para

desenvolver pesquisa e extensão que dificultam o acompanhamento das atividades e

a conclusão dos componentes curriculares do curso.

O grau de dificuldade das disciplinas é um fator relacionado tanto com as

condições pessoais de cada aluno quanto ao nível de exigência do curso e

metodologias de ensino e aprendizagem. O Coeficiente de Desempenho Acadêmico

(CDA) dos evadidos do BICE, mostra-se abaixo de 6 para mais de 90% dos evadidos

e estes apontam, sobretudo, a dificuldade das disciplinas de matemática. Embora

sejam reconhecidas as dificuldades pessoais, os evadidos relacionam esta

dificuldade, principalmente, às questões internas do curso como metodologias de

ensino e avaliação e o alto grau de exigência nas disciplinas.

O desencanto com o curso pode estar relacionado a fatores pessoais como a

escolha da profissão quando o estudante é recém egresso da educação básica e

ainda muito jovem. Quando isto ocorre e o estudante percebe que o curso escolhido

não é adequado às suas habilidades, formação ou vocação, acaba evadindo e

ingressando em outro curso superior (CEEEUP, 1996). Porém, este desencanto com

o curso pode não ser um fator que se relacione, exclusivamente, às características e

questões pessoais dos estudantes, podendo ter sido influenciado ou reforçado por

fatores internos. Os resultados da pesquisa mostraram que, dos 39 estudantes que

apontaram o desencanto com o curso como um fator de evasão, 35 também

apontaram fatores internos. Questões internas do curso e da instituição como

infraestrutura, qualidade ou currículo do curso e desempenho nas disciplinas podem

ter contribuído para que o estudante se desencantasse com o BICE, abandonando a

educação superior ou buscando outro curso.

Os problemas de relacionamento com docentes ou com outros estudantes

estão relacionados às características pessoais destes dois grupos, porém, a qualidade

destas relações podem ser afetadas pela cultura organizacional interna. Neste

aspecto, a instituição pode trabalhar a construção de uma cultura de cooperação,

respeito às diferenças e combate a qualquer tipo de discriminação ou intolerância de

104

qualquer natureza.

Na interseção das perspectivas pessoal e externa está a formação na educação

básica. Este fator pode estar associado às condições pessoais dos alunos e à

qualidade da educação básica que, no caso do Brasil, tem apresentado resultados

insatisfatórios. Dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB),

mostram que, em 2015, a média nacional em língua portuguesa e matemática foi de

267 pontos, sendo que a escala máxima é 400 pontos. No caso de língua portuguesa,

a faixa de conhecimento dos estudantes ainda está abaixo do nível de 300 pontos,

que é considerado o adequado pelo Movimento Todos pela Educação. Para

matemática, o nível desejado de conhecimento fica na faixa de 350 e este último

resultado foi o pior desde 2005 (SAEB, 2016).

Por fim, três fatores foram classificados dentro da interseção das perspectivas

interna, externa e pessoal, sendo eles: o interesse por outro curso, a dificuldade de

conciliar trabalho e estudo e o desempenho no curso.

O interesse por outro curso pode ter sido influenciado por questões pessoais,

em que o aluno, por exemplo, não se identificou com o curso. Pode, ainda, ter sido

motivado por diversos fatores externos como perspectivas de mercado de trabalho,

aspectos econômico ou dificuldade de conciliar trabalho e os estudos do BICE. Por

fim, pode ter se interessado por outro curso devido a fatores internos, ligados à

qualidade ou característica do curso ou da IES, que o fizeram se desencantar com o

BICE e buscar outro curso superior, como fez 41 estudantes participantes da

pesquisa.

A dificuldade de conciliar trabalho e estudo, que foi apontada por 48,4% dos

respondentes, como um fator de evasão, pode variar de acordo com as características

pessoais de cada estudante, porém, é também influenciada por fatores externos e

internos. A necessidade de trabalhar pode estar ligada a condição econômica dos

estudantes do BICE, já que quase a metade (48,74%) dos estudantes evadidos

declararam renda familiar bruta inferior a 3 salários mínimos. Quando as condições

não são favoráveis para conciliar as duas atividades, os estudantes são obrigados a

optar pela garantia de seu sustento e abandonam o curso. A pesquisa revelou que

estas condições, que variam de acordo com o curso, no caso do BICE, podem não

estar sendo favoráveis, tornado este fator também influenciado por questões internas.

Dos 44 estudantes que apontaram a dificuldade de conciliar trabalho e estudo

105

como fator de evasão, 27 ingressaram em outro curso, o que sugere que esta

dificuldade possa estar relacionada às questões mais específicas do BICE, visto que,

muitos evadidos não desistem da educação superior. Além disso, do total dos 91

estudantes evadidos que responderam ao questionário, 49 eram do período noturno,

e destes 28 concordaram que a dificuldade de conciliar trabalho e estudo foi um fator

que influenciou sua decisão de evadir. Esta dificuldade não está limitada aos alunos

do noturno, visto que 21 evadidos do integral também apontaram este fator. Isso

revela a necessidade do curso em criar mecanismos que ofereçam ao estudante

trabalhador possibilidades adequadas de formação. Essa atenção ao estudante

trabalhador vai ao encontro de outro dado da pesquisa que revelou que 38

respondentes concordam que a dificuldade de participar das atividades desenvolvidas

na universidade foi um fator de evasão, e destes, 21 eram do noturno e 17 do integral.

O desempenho no curso é considerado um fator interno, porém, apresenta

interseções com as perspectivas pessoal e externa. Forgiarini e Silva (2007)

reconhecem, por exemplo, a influência dos fatores pessoais no mal desempenho do

aluno, no entanto, alertam para a necessidade de se romper com o estigma de

culpabilizar o aluno ou a família pelo fracasso escolar, reconhecendo uma proporção

muito maior dos determinantes institucionais e sociais.

O mal desempenho no curso, pode estar, por exemplo, sendo influenciado por

uma formação básica deficitária. Arruda (2008) destaca que, por conta da

flexibilização do acesso à educação superior, muitos alunos ingressam neste nível de

ensino, sem o domínio efetivo das disciplinas da educação básica e isto impõe

algumas questões às IES, no sentido de superar tais deficiências. Os dados do BICE

revelaram um desempenho insatisfatório para quase 90% dos evadidos, o que sugere

a necessidade de atividades de apoio à aprendizagem.

Os fatores internos à instituição também influenciam significativamente no

desempenho de seus estudantes. Diversas ações podem ser implementadas pela

IES, como: ações de apoio, especialmente, em relação às deficiências de

aprendizagem e aprimoramento das metodologias de ensino e aprendizagem, dentre

outras, podem contribuir para melhorar o desempenho dos estudantes no curso.

Os resultados da pesquisa reforçam o modelo de integração desenvolvido por

Tinto (1975), que leva em consideração as características individuais do estudante

que, associadas às experiências vividas por ele no decorrer do curso, determinaram

106

sua permanência ou evasão. O autor, apesar de reconhecer a influência das

características pessoais e demográficas do discente, destaca a integração acadêmica

e social à instituição como principal fator de influência da decisão dos estudantes em

continuar na IES ou evadir. No caso do BICE, a pesquisa mostrou forte influência dos

fatores pessoais e externos, porém, estes apresentam-se em interseção,

especialmente com os fatores internos à instituição e ao curso, o que demonstra a

importância do reconhecimento da responsabilidade da IES em relação à evasão.

Conforme Andriola, Andriola e Moura (2006), o estudante chega à universidade

com intenções, objetivos e compromissos institucionais pré-definidos. Ao interagir com

o ambiente acadêmico e social da instituição, redefini suas intenções e compromissos,

o que o leva a evadir ou não. Apesar das características demográficas e pessoais do

estudante, as características do curso e instituição, associadas às experiências do

estudante durante o curso, influenciarão sua decisão por persistir ou evadir.

A partir dos resultados da pesquisa, pode se caracterizar a evasão no BICE

como multifatorial e com interseção das perspectivas interna, externa e pessoal.

Assim, reconhece-se a responsabilidade da instituição quanto à evasão do estudante

e aponta-se para a necessidade de múltiplas ações que possam contribuir para

reforçar as intenções e compromissos dos estudantes em continuar e concluir o curso.

Na próxima seção são apresentadas algumas propostas de ações de apoio à

permanência do estudando, que poderão contribuir para minimizar o problema da

evasão no curso.

107

5 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

A análise dos dados da pesquisa permitiram ter uma visão mais clara e

objetiva da evasão no BICE e, embasada nisso, propõe-se intervenções ao

problema por meio de três grupos de ações, que são: a) Criação de uma

Comissão de Estudo e Acompanhamento da evasão no curso; b) Criação de um

Centro de Orientação ao estudante; e c) Atividades de apoio ao processo de

ensino e aprendizagem. Tais ações estão representadas na Figura 7.

Figura 7 - Proposta de ação para combater a evasão no BICE Fonte: Elaborada pela autora (2016)

5.1 COMISSÃO DE ESTUDO E ACOMPANHAMENTO DA EVASÃO

O estudo da evasão deve ser algo sistemático nas IES e não apenas fruto de

iniciativas isoladas. Lobo (2012), alerta para a necessidade do aumento de pesquisas

e estudos sistemáticos, que possibilitassem conhecer a realidade no Brasil e as

melhores experiências de combate ao problema da evasão. A autora fala ainda em

conscientização por parte das IES e da importância de cuidar e acompanhar a evasão

no curso e na instituição como um problema de gestão institucional de grande

Evasão

Comissão de Estudos e Acompanhamento da Evasão

Atividades de apoio ao processo de ensino e aprendizagemCentro de Orientação ao Estudante

108

importância.

A criação de uma comissão para estudar e acompanhar a evasão no BICE,

seria uma primeira ação que representaria “o assumir” da responsabilidade

institucional pelo problema e, como tal, buscar possibilidades para o seu

enfrentamento. Lobo (2012) e Prestes, Fialho e Pleiffer (2014) também reforçam

a importância de reconhecer a evasão como uma dificuldade ligada à gestão

universitária e da necessidade de acompanhar e agir sobre o problema visando o

bom uso dos recursos públicos e a promoção de uma educação de qualidade.

Como proposta para os trabalhos desta comissão destaca-se a realização de

estudos, discussão e divulgação dos resultados e proposição de intervenções. O

acompanhamento da evasão, muitas vezes, deve concentrar-se em estudos, a

partir do que Lobo (2012) chama de “indicadores prévios”, como faltas constantes

e baixo rendimento. Especialmente, nos primeiros períodos, onde o índice é

maior, tais estudos permitiriam agir preventivamente e evitar a evasão.

A comissão poderá trabalhar, também, na organização de dados e na

realização de estudos contínuos acerca dos fatores de evasão e permanência dos

estudantes. Os resultados poderiam ser disponibilizados à comunidade

acadêmica, criando espaços de discussão e subsidiando ações institucionais.

A Comissão deverá ser constituída por representantes das diferentes

categorias da comunidade acadêmica como gestores, docentes, servidores

técnicos ligados ao ensino de graduação e discentes do curso. Estes poderão

discutir e traçar estratégias de melhorias para o curso, levando em conta as

dificuldades encontradas pelos alunos e, de forma integrada com os demais

mecanismos de apoio ao estudante, propor ações de adequação e melhorias do

curso.

Acredita-se que os trabalhos desta comissão poderão contribuir para

minimizar diversos fatores apontados pelos alunos e que se inserem nas

diferentes perspectivas (interna, externa e pessoal). Discutir questões como a

assistência estudantil, as perspectivas de mercado de trabalho, as dificuldades

dos alunos em participar das atividades do curso ou de conciliar trabalho e estudo,

o grau de dificuldade de algumas disciplinas, problemas de relacionamento e o

desencanto com o BICE ou interesse por outro curso, são fundamentais para o

enfrentamento do problema da evasão. A comissão terá um papel relevante,

109

representando um espaço de referência para discussão e planejamento de ações

voltadas para minimizar a evasão no curso.

5.2 CENTRO DE ORIENTAÇÃO AO ESTUDANTE

A adaptação do estudante ao contexto universitário torna-se um grande

desafio, especialmente, para o estudante calouro e que, muitas vezes, ingressa muito

jovem na universidade (ALMEIDA; SOARES, 2003; TEIXEIRA et al., 2008). A

mudança de ritmos e estratégias de aprendizagem e as dificuldades do que Coulon

(2008) chama de afiliação institucional e intelectual8, são fatores que dificultam essa

adaptação e favorecem à evasão universitária. Soma-se a isso, outros fatores como

estresse, ansiedade, problemas financeiros e insatisfação com alguma característica

do curso ou dificuldades de aprendizagem que podem afetar a saúde dos estudantes.

A criação de um centro de orientação ao estudante funcionará como um

espaço de referência onde o aluno possa expressar suas dificuldades e encontrar

orientação e oferta de serviços especializados que contribuam para a sua

integração e permanência no curso. Este espaço poderá concentrar diferentes

ações como um serviço de orientação educacional e ações psicossociais.

O serviço de orientação educacional é oferecido pela instituição, desde o

início de 2016, porém, devido à insuficiência de profissionais, tem se limitado aos

atendimentos individualizados realizados pelo serviço de apoio pedagógico. A

proposta é de expansão destes atendimentos individuais e realização de oficinas

com discentes que vivenciam problemas comuns como dificuldade na adaptação

universitária e desempenho acadêmico.

Os atendimentos individuais realizados pelo serviço de apoio pedagógico

trabalham no sentido de orientar os discentes quanto ao itinerário formativo e

questões relacionadas ao processo de ensino aprendizagem. Já as oficinas seriam

voltadas para a promoção da Autorregulação da Aprendizagem, que inspirado no

trabalho desenvolvido pelo Serviço de Atendimento ao Estudante (SAE) da

8 A afiliação institucional consiste em compreender a dinâmica da instituição universitária, assimilando

suas regras e rotinas. Já a afiliação intelectual acontece quando o estudante organiza, expõe e utiliza de forma adequada os saberes, construindo de forma autônoma seu conhecimento (COULON, 2008).

110

UNICAMP, trabalharia com questões relacionadas à adaptação universitária e

dificuldades no desenvolvimento das atividades acadêmicas pelos estudantes. As

oficinas podem abordar temas como ansiedade, estratégias de aprendizagem,

autoavaliação e autorregulação da aprendizagem.

As ações psicossociais são ofertadas por profissionais do serviço social e

atendimento psicológico realizados por profissionais da instituição. No entanto, no

campus, onde o BICE é ofertado as ações de assistência social são limitadas pela

insuficiência de profissionais, ficando mais voltadas para a questão da assistência

estudantil e, também, não há atendimento psicológico. Tais ações devem ser

implementadas ou ampliadas de forma que signifiquem mais uma forma de apoio

ao estudante do curso.

Com ações voltadas para orientação e atendimentos aos problemas de

aprendizagem e psicossociais, o centro de orientação aos estudantes contribuiria

para o enfrentamento de diversos fatores de evasão internos, externos e pessoais,

apontados na pesquisa.

5.3 AÇÕES DE APOIO AO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM

As ações de apoio ao processo de ensino e aprendizagem são fundamentais

diante do contexto de expansão do acesso à educação superior. Tais ações

concentram-se em atividades de nivelamento ou reforço de aprendizagem, tutorias

e monitorias, além de ações que promovam a formação em serviço para docentes.

No caso de disciplinas de nivelamento de conteúdos, algumas ações já foram

implementadas no BICE, porém de forma esporádica. Diante de fatores que

apontam questões de aprendizagem que tem reflexo no baixo desempenho

acadêmico dos alunos evadidos, torna-se relevante a oferta de disciplinas que

promovam conhecimentos de nivelamento, possibilitando aos alunos que

ingressaram no curso, com defasagens de conteúdos relevantes para o

acompanhamento das disciplinas do curso, possam superá-las o mais rápido

possível. Além disso, devem ser ofertadas atividades de reforço de aprendizagem

dos estudantes, nas disciplinas que mais reprovam.

As atividades de tutoria, atualmente desenvolvidas dentro do Programa Tutorial

Acadêmico (PTA), mostram-se muito reduzidas, sendo que menos de 10% dos

111

docentes adotam tal prática nas disciplinas que ministram. A atual regulamentação do

PTA estabelece como objetivo principal

integrar o discente à plenitude de sua vida acadêmica, procurando otimizar todos os saberes e oportunidades propiciadas pela Universidade e suas múltiplas relações com as diversas áreas de conhecimento, para formar um profissional competente, ético e reflexivo desde o seu ingresso na Instituição (UNIFAL, 2013).

A principal ação desenvolvida pelo PTA tem sido a tutoria discente que consiste

em uma atividade auxiliar no processo ensino e aprendizagem, exercida por um

discente tutor que por possuir maiores habilidades de aprendizagem, auxilia os

discentes tutorados na busca por um melhor desempenho em determinada Unidade

Curricular. Essa tutoria é acompanhada e validada pelo docente e certificada pelo

PTA.

Os resultados das tutorias realizadas, a partir de 2014, mostram-se bastante

positivas, com um índice muito superior de aprovação entre os alunos participantes.

Isso mostra a importância do incentivo para que outros professores e discentes

realizem as atividades de tutoria como mais uma ferramenta de apoio à aprendizagem

e de combate à evasão.

Quanto às monitorias, estas tem se mostrado uma importante ação de reforço

à aprendizagem dos estudantes do BICE. No entanto, o limitado número de bolsas e

de horários para atender aqueles que residem em outras cidades ou que trabalham,

impedem que as monitorias atendam mais alunos. Assim, pode-se pensar que seria

relevante ampliar as monitorias e adequar os horários das atividades de ensino

extraclasse.

Com relação à formação docente, existe na instituição o Programa Permanente

de Desenvolvimento Profissional e Formação Docente (PRODOC), no entanto, a

participação docente é baixa. A reestruturação do Programa, de forma a melhor

atender as demandas docentes e o reconhecimento da importância da formação em

serviço por estes profissionais poderiam contribuir para a melhoria do processo de

ensino e aprendizagem no curso.

112

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa abordou a evasão no Bacharelado Interdisciplinar em

Ciência e Economia. Este é um modelo de curso de graduação que adota uma nova

proposta de estrutura curricular implementada, especialmente, a partir do REUNI, e

que se integra ao processo de reforma e expansão da rede federal de ensino superior.

Apesar de ser um fenômeno mundial e que atinge todos os níveis da educação

nacional, a evasão universitária tem se apresentado como um dos grandes desafios

para o processo de democratização da educação superior no Brasil. O aumento do

número de vagas nas universidades públicas e as políticas de ação afirmativa tem

promovido uma mudança no perfil do estudante universitário, revelada pela

diversificação de aspectos econômicos e raciais. No entanto, muitos estudantes,

abandonam a educação superior e, com isso, sofrem os reflexos negativos de um

projeto não concluído o que, muitas vezes, representaria uma expectativa de melhoria

nas suas condições de vida. Além desses aspectos pessoais, a evasão gera perdas

econômicas, ociosidade de recursos físicos e humanos e deixa de contribuir para o

desenvolvimento do país.

Para compreender o problema da evasão universitária, tornou-se importante

levantar a discussão acerca do papel da universidade no atual contexto

socioeconômico e das características históricas de exclusão social neste nível de

ensino, no Brasil. Esse resgate histórico foi importante para a compreensão de como

as limitadas políticas educacionais na educação superior têm excluído a grande

maioria da população brasileira do acesso a este nível de ensino. Além disso, o estudo

procurou refletir em que medida as políticas implementadas, neste início de século,

tem contribuído para o efetivo processo de democratização da educação superior no

Brasil.

A evasão, antes considerada um problema exclusivo do aluno, tornou-se, nas

últimas décadas, tema de interesse de diversos estudiosos, como, o norte-americano

Vicent Tinto (1975, 1993). O autor foi pioneiro em considerar a responsabilidade da

IES sobre a evasão universitária e propôs um modelo explicativo que reconhece a

diversidade de aspectos que influenciam a decisão do aluno de evadir. O modelo,

desenvolvido por Tinto, revelou a importância da integração do estudante à

universidade e juntamente com outros estudos, internacionais e nacionais, tem

113

contribuído para a compreensão do problema e revelado a necessidade de uma

postura ativa de enfrentamento, por parte da instituição.

A pesquisa sobre a evasão no BICE, no período de 2009 a 2015, se insere

nesta perspectiva de contribuir para a compreensão do problema e apontar ações que

possam minimizá-la. Os resultados constataram um índice de evasão superior à

média nacional, e que afeta, especialmente, os alunos no início do curso e com baixo

rendimento. A pesquisa também reforçou o seu caráter multifatorial e ligado às

questões de ordem interna e externa às IES como também de ordem pessoal. Os

dados mostraram, ainda, que os fatores influenciadores da evasão não ocorrem de

forma isolada, e que estes se apresentam nas interseções das perspectivas interna,

externa e pessoal. Apesar dos fatores pessoais apresentarem maior peso sobre a

decisão de evadir do curso, a maioria dos fatores estão relacionados aos aspectos

internos do curso ou da IES. Essas características indicam que a instituição tem uma

grande margem de ação e que deve ocorrer em diversas vertentes, considerando as

características do curso e dos discentes.

A pesquisa apresenta limitações relacionadas às dificuldade de mensuração da

evasão e de contato e participação dos evadidos na pesquisa. Devido à morosidade

dos processos de dilatação e desligamento, uma grande quantidade de alunos estão

em situação indefinida, o que não permite mensurar com precisão a evasão no curso.

Um outro complicador é a condição de evadido que não mais possui vínculo com a

universidade e seus dados tornam-se desatualizados, dificultando o contato. Além

disso, o evadido, muitas vezes, conserva uma relação negativa com a instituição, por

representar um projeto não concluído de formação superior, o que limita o seu

interesse em participar da pesquisa. Embora, tudo isso tenha dificultado a coleta de

dados e a participação de um número maior de sujeitos, considera-se que a opção

metodológica foi adequada para atender aos objetivos propostos.

Como contribuições futuras, a pesquisa pretende fomentar as discussões

acerca da evasão, subsidiando ações institucionais para que o curso possa maximizar

os retornos sociais esperados, especialmente, por representar uma oportunidade para

centenas de estudantes que procuram realizar o sonho de concluir a educação

superior em uma universidade pública. Espera-se que os resultados da pesquisa bem

como a proposta de intervenção apresentada estimulem ações, dos diversos órgãos

institucionais, que possam contribuir para a permanência dos estudantes no curso.

114

O estudo sobre a evasão no BICE pode ser aprofundado, por meio de uma

pesquisa qualitativa, em que se dê voz aos evadidos, sendo subsidiada pelos

resultados aqui apresentados. A pesquisa pretende, ainda, contribuir para a realização

de pesquisas futuras sobre evasão, desafios apresentados aos Bacharelados

Interdisciplinares e políticas públicas voltadas para a educação superior.

115

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123

APÊNDICES

APÊNDICE A - Fatores causais da evasão no BICE, na percepção dos estudantes

evadidos

Fatores causais da evasão Grau de Concordância / escala Likert (%)

Total %

1 2 3 4 5

F10- Interesse por outro curso 18,7 19,8 12,1 17,6 31,9 100

F29- Dificuldade de conciliar

trabalho e estudo 26,4 14,3 11 24,2 24,2 100

F31- Desencanto com o Curso (o

curso não era o que eu pensava) 20,9 14,3 22 20,9 22 100

F15- Dificuldade de participar de

atividades desenvolvidas na

Universidade

14,3 22 22 22 19,8 100

F16- Os conteúdos e programas

de ensino das Disciplinas 13,2 26,4 19,8 26,4 14,3 100

F27- A situação econômica 35,2 14,3 12,1 20,9 17,6 100

F11- O fator geográfico (a

distância que o campus ficava da

sua cidade ou casa

29,7 19,8 15,4 17,6 17,6 100

F9- Problemas pessoais 31,9 17,6 16,5 23,1 11 100

F28- A falta ou insuficiência da

Assistência Estudantil 28,6 17,6 18,7 19,8 15,4 100

F17- A relação teoria e prática

desenvolvida no curso 16,5 25,3 25,3 18,7 14,3 100

F18- O grau de dificuldade das

disciplinas 26,4 23,1 18,7 18,7 13,2 100

F20- As perspectivas de

mercado de trabalho,

remuneração e status

profissional para os formados no

BICE

22 23,1 27,5 16,5 11 100

F21- Características e

qualidades do curso 22 27,5 24,2 17,6 8,8 100

F26- O seu desempenho no

curso 27,5 25,3 20,9 19,8 6,6 100

124

F19- Estrutura de apoio ao

ensino de graduação (monitoria,

PTA ou outras)

22 31,9 24,2 13,2 8,8 100

F13- As condições de

alimentação no campus 23,1 25,3 28,6 14,3 8,8 100

F22- Preparo didático-acadêmico

do corpo docente do curso 18,7 36,3 25,3 9,9 9,9 100

F30- A falta ou o pouco incentivo

da família 47,3 25,3 8,8 13,2 5,5 100

F25- A sua formação básica no

ensino médio 41,8 19,8 20,9 11 6,6 100

F12- A estrutura física do

campus 35,2 26,4 22 8,8 7,7 100

F14- As normas de

funcionamento da Unifal –MG 25,3 37,4 20,9 11 5,5 100

F23- Problema de

relacionamento com os

professores

41,8 33 8,8 9,9 6,6 100

F24- Problema de

relacionamento com os outros

estudantes

52,7 26,4 12,1 5,5 3,3 100

Fonte: Dados da Pesquisa (2016)

125

APÊNDICE B - Questionário aplicado aos alunos evadidos do BICE

1ª parte

1. Qual o seu nome?

2. Qual a sua idade?

3. Onde você mora atualmente?

4. Onde você morava enquanto cursava o BICE?

5. Em que ano você ingressou no Bice?

6. Você cursava o BICE no período integral ou noturno?

7. Em que ano e semestre você parou de frequentar o Bice?

8. Depois que você deixou de estudar no Bice, ingressou em outro curso

universitário? Em caso afirmativo, qual curso e instituição?

2ª parte

Fatores que influenciaram na sua decisão de abandonar o curso

Assinale os itens abaixo quanto ao seu grau de concordância em relação aos

fatores que influenciaram a sua decisão de abandonar o BICE

9. Problemas pessoais

10. Interesse por outro curso

11. O fator geográfico (a distância em que o campus se encontra da sua

cidade/casa)

12. A estrutura física do campus

13. As condições de alimentação no campus

14. As normas de funcionamento da Unifal –MG

15. A dificuldade de participar das atividades desenvolvidas na universidade (além

das aulas)

16. Os conteúdos e programas de ensino das disciplinas

17. A relação teoria e prática desenvolvida no curso

18. O grau de dificuldade das disciplinas

19. Estrutura de apoio ao ensino de graduação (monitoria, PTA ou outras)

20. As perspectivas de mercado de trabalho, remuneração e status profissional para

os formados no BICE

21. As Característica e qualidade do curso

22. O Preparo didático-acadêmico do corpo docente do curso

23. Problema de relacionamento com os professores

126

24. Problema de relacionamento com os outros alunos

25. A sua formação básica no ensino médio

26. O seu desempenho no curso

27. A sua situação econômica

28. A falta ou insuficiência da assistência estudantil

29. A dificuldade de conciliar trabalho e estudo

30. A falta ou o pouco incentivo da família

31. Desencanto com o curso (o curso não era o que você pensava)

32.Relate outras dificuldades que você encontrou para dar sequência aos seus

estudos no BICE e que não foram contempladas acima?

33. Quais as suas sugestões para que outros alunos não abandem o BICE?

127

ANEXO

Bacharelados Interdisciplinares por Instituição no Brasil (2014)

Instituição(IES) Nome do Curso

Universidade Federal de São João del-REI (UFSJ) INTERDISCIPLINAR EM BIOSSISTEMAS

Universidade Federal de São João del-R (UFSJ) INTERDISCIPLINAR EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE)

INTERDISCIPLINAR EM CIÊNCIAS DO TRABALHO

Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) INTERDISCIPLINAR EM CIÊNCIAS AGRÁRIAS

Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) INTERDISCIPLINAR EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) INTERDISCIPLINAR EM CIÊNCIAS DA TERRA

Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) INTERDISCIPLINAR EM CIÊNCIAS E TECNOLOGIA DAS ÁGUAS

Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) INTERDISCIPLINAR EM CIÊNCIAS E TECNOLOGIA DAS ÁGUAS

Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) INTERDISCIPLINAR EM ETNODESENVOLVIMENTO

Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) INTERDISCIPLINAR EM GESTÃO AMBIENTAL

Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) INTERDISCIPLINAR EM SAÚDE

Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) INTERDISCIPLINAR EM TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO

Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB) INTERDISCIPLINAR EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB) INTERDISCIPLINAR EM HUMANIDADES

Universidade do Sul da Bahia (UFSB) INTERDISCIPLINAR EM ARTES

Universidade do Sul da Bahia (UFSB) INTERDISCIPLINAR EM ARTES

Universidade do Sul da Bahia (UFSB) INTERDISCIPLINAR EM ARTES

Universidade do Sul da Bahia (UFSB) INTERDISCIPLINAR EM CIÊNCIAS

Universidade do Sul da Bahia (UFSB) INTERDISCIPLINAR EM CIÊNCIAS

Universidade do Sul da Bahia (UFSB) INTERDISCIPLINAR EM CIÊNCIAS

Universidade do Sul da Bahia (UFSB) INTERDISCIPLINAR EM HUMANIDADES

Universidade do Sul da Bahia (UFSB) INTERDISCIPLINAR EM HUMANIDADES

Universidade do Sul da Bahia (UFSB) INTERDISCIPLINAR EM HUMANIDADES

Universidade do Sul da Bahia (UFSB) INTERDISCIPLINAR EM SAÚDE

128

Universidade do Sul da Bahia (UFSB) INTERDISCIPLINAR EM SAÚDE

Universidade do Sul da Bahia (UFSB) INTERDISCIPLINAR EM SAÚDE

Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) INTERDISCIPLINAR EM CULTURA, LINGUAGENS E TECNOLOGIAS APLICADAS

Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) INTERDISCIPLINAR EM ENERGIA E SUSTENTABILIDADE

Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) INTERDISCIPLINAR EM SAÚDE

Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA) INTERDISCIPLINAR EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Universidade Federal do Maranhão (UFMA) INTERDISCIPLINAR EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Universidade Federal do Maranhão (UFMA) INTERDISCIPLINAR EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Universidade Federal do Maranhão (UFMA) INTERDISCIPLINAR EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Universidade Federal do Maranhão (UFMA) INTERDISCIPLINAR EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Universidade Federal do Maranhão (UFMA) INTERDISCIPLINAR EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Universidade Federal do Pará (UFPA) INTERDISCIPLINAR EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) INTERDISCIPLINAR EM ARTES E DESIGN

(576) UFJF INTERDISCIPLINAR EM CIÊNCIAS HUMANAS

Universidade Federal da Bahia (UFBA) INTERDISCIPLINAR EM ARTES

Universidade Federal da Bahia (UFBA) INTERDISCIPLINAR EM ARTES

Universidade Federal da Bahia (UFBA) INTERDISCIPLINAR EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Universidade Federal da Bahia (UFBA) INTERDISCIPLINAR EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Universidade Federal da Bahia (UFBA) INTERDISCIPLINAR EM HUMANIDADES

Universidade Federal da Bahia (UFBA) INTERDISCIPLINAR EM HUMANIDADES

Universidade Federal da Bahia (UFBA) INTERDISCIPLINAR EM SAÚDE

Universidade Federal da Bahia (UFBA) INTERDISCIPLINAR EM SAÚDE

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) INTERDISCIPLINAR EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) INTERDISCIPLINAR EM MOBILIDADE

Universidade Federal do São Paulo (UNIFESP) INTERDISCIPLINAR EM CIÊNCIA DO MAR

Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG) INTERDISCIPLINAR EM CIÊNCIA E ECONOMIA

129

Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG) INTERDISCIPLINAR EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM)

INTERDISCIPLINAR EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Fonte: Mec, 2014.