editorial revista poros
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Luiz Carlos Mariano da Rosa, partindo da presença ainda não começada do Ser ou do que no começo ôntico permaneceu origem ontológica em Heidegger, nos mostra como a pergunta pelo sentido do Ser acaba por implicar a recuperação e a redefinição heideggerianas da verdade então alcançada quando o Da-sein, superando sua angústia inicial, alcançou a serenidade pós-metafísica de esperar e cultivar, poeticamente e com simplicidade, a mensagem do destinar-se-lhe do Ser.TRANSCRIPT
EDITORIAL
O Curso de Filosofia juntamente com o Setor de Publicações da Faculdade
Católica de Uberlândia têm a grata satisfação de apresentar ao leitor, que se distingue
pela assídua e insaciável apreciação dos bons textos filosóficos resultantes de uma
dedicada disposição à pesquisa, o presente número da Revista Poros. Os artigos
tematicamente transitam entre Filosofia Política, Ética, Estética e Teoria do
Conhecimento, circunscritos à Filosofia Moderna – referenciada por Maquiavel,
Leibniz, Kant e Hegel – e à Filosofia Contemporânea, substancialmente aqui
representada por Schopenhauer, Heidegger, Habermas e Dussel. Diante desta fértil
seara, sem caminhos que se mostram antes do primeiro olhar, esperamos que o leitor se
abra para a colheita, ou para o Logos que ora se lhe destina, como diria um dos filósofos
entre os presentes.
Agradecemos imensamente aos articulistas não apenas pela inestimável
colaboração e confiança em nosso trabalho, mas também, pela promoção e pela defesa
do debate e da pesquisa filosófica, através de abordagens tão significativas, gentilmente
compartilhadas.
Vani Terezinha de Rezende, em seu artigo de abertura deste número da Revista
Poros, apresenta-nos, criteriosamente, a interpretação crítica que Heidegger fez do Mito
da Caverna de Platão. O filósofo alemão nos mostra como a noção platônica de verdade
– que ele considera modificada e derivada – não apenas determina, mas extravia a
filosofia em sua própria história, que começou e se mantém como afastamento da
alétheia – a qual é a verdade verdadeira cuja essência, ainda impensada pela filosofia, é
pós-metafísica.
Luiz Carlos Mariano da Rosa, partindo da presença ainda não começada do Ser
ou do que no começo ôntico permaneceu origem ontológica em Heidegger, nos mostra
como a pergunta pelo sentido do Ser acaba por implicar a recuperação e a redefinição
heideggerianas da verdade então alcançada quando o Da-sein, superando sua angústia
inicial, alcançou a serenidade pós-metafísica de esperar e cultivar, poeticamente e com
simplicidade, a mensagem do destinar-se-lhe do Ser.
Em seu artigo, Raimundo Wagner Gonçalves de M. Gomes estabeleceu, de
modo muito consistente a natureza da relação entre a angústia e a morte em
Schopenhauer e em Heidegger, assim como, as diferenças teóricas entre estes a partir
daquela relação, sobretudo, deixando claro através dessa temática, o conflito entre a
metafísica e a sua superação.
Em seu artigo, Luciano Agra, mediante um criterioso olhar sobre as “Críticas”
de Kant, nos apresenta a Estética juntamente com o seu juízo reflexionante, não apenas
como a legitimação última, mas também, como a obra que nos oferece o fundamento de
todo o sistema kantiano, em que pese a salvaguarda da sua criticidade cuja excelência é
melhor vislumbrada quando, na pergunta pela justificação não teórica do juízo estético
além do conceito, precisamos entender a noção de “subjetividade” como um elemento
da experiência estética.
Osvaldino Marra Rodrigues, em raciocínios notáveis e seguros, exige-nos a
consciência de como Kant substitui a metafísica clássica da Substância pela metafísica
moral da Liberdade, o que pressupõe a autonomização da Vontade, a mesma que, em
sua dimensão teórico-científica, é propriamente o conflito dialético da Razão que deseja
mais do que ela pode. Kant, ao considerar Deus como ideal transcendental ou princípio
incognoscível da completude do conhecimento, admite que o problema da origem do
Sistema requer a elaboração de uma metafísica da experiência prática.
Sérgio Portella, procurando dar conta do percurso geral da filosofia de Hegel e
sem desconsiderar os seus problemas intrínsecos, apresenta elementos suficientes –
internos e externos a esta filosofia – para se compreender a constituição dialogal do seu
propósito enciclopédico-filosófico. O autor parece sugerir uma interessante
possibilidade de leitura, que merece atenção, qual seja: a gênese e a estabilidade do
sistema aceita – até como um problema perene para a ciência filosófica do direito – a
intangibilidade jurídica da pessoa, que se torna sujeito em sua dimensão mais própria, a
saber, a Bildung.
Marco André de Freitas Hipólito nos mostra como a espontaneidade, para além
da sua realidade meramente potencial, se torna o mesmo que liberdade em Leibniz,
pressupondo uma diferenciação fundamental entre as substâncias ou Mônadas. É tanto a
fundamentação quanto o alcance da moral leibnizeana em torno da noção de “liberdade
incompleta mas suficiente”, que nos são apresentados pelo autor.
Os autores Xavier Azevedo Zanotto e Simone M. Zanotto, deixando claro suas
críticas aos mal-entendidos acerca da obra de Maquiavel, singularmente tomam-no
como um referencial teórico central para refletirem sobre a conduta (e suas condições de
correção) do administrador, associando-a às condições através das quais o soberano
maquiavélico alcança e mantém sua inigualável eminência muito bem definida.
Em seu artigo, os autores Bento Itamar Borges e José Benedito de Almeida Jr.,
relacionam a interdisciplinaridade de Habermas e a ética de Dussel. Eles nos
apresentam, defendendo-a, uma imbricação quase orgânica e certamente histórica e
crítico-social entre a filosofia e o lugar, de tal modo que, se porventura, uma filosofia
ainda não encontrou o seu lugar ou ainda, desencontrada de si mesma e em si mesma, se
encontra des-locada, é porque ela ainda não pensou o lugar não apenas como onde ela
está, mas também, que está nela. Aqui, onde estão as fronteiras? Permitem-nos
perguntar, os autores que, apontando para respostas possíveis, nos remetem ao “pós-
metafísico” em que o Ser sem lugar cedeu realidade ao cidadão.
Na seção Resenhas, a autora Nicoly Andrade oferece ao leitor uma resenha
informativa sobre o livro 10 liçoes sobre Hegel, de Deyve Redyson. Nela refaz o
percurso desse livro, mostrando como o autor, de forma clara, objetiva e sucinta, facilita
a compreensão da estrutura do pensamento sistemático hegeliano, ao evidenciar a
cronologia dos escritos do filósofo alemão e tomar como base o que ele realmente
falou e desenvolveu em suas obras e aulas.
Harley Juliano Mantovani.
Docente do Curso de Filosofia da Católica