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EDITORIAL O s nossos votos sinceros de que 2008 vos traga saúde, paz e mais justiça social. Mas como diz o poeta “quem sabe faz a hora, nem es- pera acontecer”, cada um de nós terá de lutar individual e colectivamente para que aqueles objectivos se venham a concretizar. P ela nossa parte e no âmbito das nossas competências continuaremos a luta contra todas as formas de exploração e violência sobre as crian- ças e reafirmamos a nossa solidariedade com todas as organizações que, em qualquer parte do mundo, defendem e protegem as crianças. C omo terão já notado, este Boletim tem mais algumas páginas no sentido de compensar os nossos leitores, pela não edição do Boletim do 3.º Trimestre de 2007, facto pelo qual pedimos desculpas, mas que encontra justificação no aumento de trabalho que sempre acontece no final de cada ano. C oncluímos, no final do ano que há pouco terminou, o ciclo de debates sobre o Trabalho Infantil nas Artes e Espectáculos. O primeiro foi re- alizado para as organizações que integram a CNASTI; o segundo foi feito com crianças durante a 6ª Assembleia que promovemos durante 3 dias em S. Pedro do Sul; o terceiro teve lugar em Lisboa no ISCTE com a par- ticipação de personalidades oriundas de áreas diversas como a Justiça, a Sociologia, o Ensino, a Psicologia e uma Empresa de Agenciamento. A CNASTI cumpriu assim o seu dever de trazer para opinião pública uma outra realidade do Trabalho Infantil em Portugal. A Luta contra o Trabalho Infantil ao alcance de um clique: www.cnasti.pt O dia mundial contra a pobreza foi comemorado em Braga, em parceria com Associações Locais e com a Organização das Nações Unidas. Crianças e adultos levantaram-se contra a Pobre- za Mundial e, nas pastelarias e padarias de Braga e Guimarães, foram distribuídos setenta e cinco mil sa- cos alusivos aos Objectivos do Milénio. (págs. 11 e 12) O trabalho-infantil artístico continua na ordem do dia. Da conferência que a CNASTI realizou em Lisboa, saíram importantes sugestões para a alteração à Lei em vigor. (págs. 6, 7 e 8) Neste boletim fica ainda a conhecer os seis falsos mitos sobre o trabalho infantil. (pág. 3)

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Page 1: EDITORIAL - CNASTIEDITORIAL O s nossos votos sinceros de que 2008 vos traga saúde, paz e mais justiça social. Mas como diz o poeta “quem sabe faz a hora, nem es-pera acontecer”,

EDITORIAL

Os nossos votos sinceros de que 2008 vos traga saúde, paz e mais

justiça social. Mas como diz o poeta “quem sabe faz a hora, nem es-

pera acontecer”, cada um de nós terá de lutar individual e colectivamente

para que aqueles objectivos se venham a concretizar.

Pela nossa parte e no âmbito das nossas competências continuaremos

a luta contra todas as formas de exploração e violência sobre as crian-

ças e reafi rmamos a nossa solidariedade com todas as organizações que,

em qualquer parte do mundo, defendem e protegem as crianças.

Como terão já notado, este Boletim tem mais algumas páginas no

sentido de compensar os nossos leitores, pela não edição do Boletim

do 3.º Trimestre de 2007, facto pelo qual pedimos desculpas, mas que

encontra justifi cação no aumento de trabalho que sempre acontece no

fi nal de cada ano.

Concluímos, no fi nal do ano que há pouco terminou, o ciclo de debates

sobre o Trabalho Infantil nas Artes e Espectáculos. O primeiro foi re-

alizado para as organizações que integram a CNASTI; o segundo foi feito

com crianças durante a 6ª Assembleia que promovemos durante 3 dias

em S. Pedro do Sul; o terceiro teve lugar em Lisboa no ISCTE com a par-

ticipação de personalidades oriundas de áreas diversas como a Justiça,

a Sociologia, o Ensino, a Psicologia e uma Empresa de Agenciamento.

A CNASTI cumpriu assim o seu dever de trazer para opinião pública

uma outra realidade do Trabalho Infantil em Portugal.

A Luta contra o Trabalho Infantil ao alcance de um clique: www.cnasti.pt

O dia mundial contra a pobreza foi comemorado

em Braga, em parceria com Associações Locais e com

a Organização das Nações Unidas.

Crianças e adultos levantaram-se contra a Pobre-

za Mundial e, nas pastelarias e padarias de Braga e

Guimarães, foram distribuídos setenta e cinco mil sa-

cos alusivos aos Objectivos do Milénio.

(págs. 11 e 12)

O trabalho-infantil artístico continua na ordem do

dia. Da conferência que a CNASTI realizou em Lisboa,

saíram importantes sugestões para a alteração à Lei

em vigor.

(págs. 6, 7 e 8)

Neste boletim fi ca ainda a conhecer os seis falsos

mitos sobre o trabalho infantil.

(pág. 3)

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2 Para Além do Pôr do Sol

CNASTI em Movimento

Directora: Ana Maria Oliveira Mesquita | Redacção: Avelino Pereira, José Maria C. Costa e Emília MonteiroColaboraram neste número: António Luís Bentes e José Jorge LetriaPropriedade: CNASTI – Confederação Nacional de Acção Sobre Trabalho Infantil Número de Pessoa Colectiva: 503 247 537 | Redacção e Administração: Rua do Raio, n.º 301, Edifício do Rechicho, 3.º Andar, Sala 24 4710-923 Braga Tel: 253 265 197 – Fax: 253 268 817 E-mail: [email protected] | Internet: www.cnasti.ptPeriodicidade: Trimestral | Tiragem deste número: 1.000 Exemplares | Assinatura anual: € 5 - € 10 assinatura de solidariedadeRegisto no ICS: 124029 · Depósito legal: 181329/02 · ISBN: 972-8157-78-9Execução gráfi ca: Ofi cina S. José - Braga · Telef.: 253 609 100 · ofi [email protected]

Novo rumo para a Marcha GlobalA Marcha Global contra o Trabalho Infantil reuniu em Julho, em Sófi a/Bulgária, as principais organizações dos vários países que fazem parte da Marcha. Num período de mudanças, foi decidido que o Movimento criado na Índia passará a ter sede em Bruxelas. Também entre os parceiros que compõem a Marcha Global, a hipótese de criar uma fundação com o mesmo nome é cada vez consensual.Pela primeira vez, no encontro internacional estiveram países como a Bulgária, a Sérvia, o Montenegro, Marrocos e Argélia.

Como vê a sociedade civilo Trabalho InfantilAna Maria Mesquita, presidente da Comissão Executiva da CNASTI, participou como oradora no II Encontro PETI/OIT, que se realizou no passado dia um de Outubro, em Aveiro, sobre “Representações Sociais e o Consentimento para o Trabalho Infantil”. No painel “Como vê a sociedade civil o Trabalho Infantil”, Ana Maria Mesquita pode apresentar o ponto de vista da CNASTI sobre várias matérias, reforçando a ideia de que continua a existir uma certa confusão entre a exploração de mão-de-obra infantil e o trabalho/tarefa de apoio à família, que de acordo com a idade até deve ser incentivado, desenvolvendo nas crianças o sentido da partilha e da solidariedade entre os vários elementos da família.

Reunião do Conselho GeralNo passado dia 20 de Outubro, nas instalações da As-sociação de Moradores das Lameiras em Vila Nova de Famalicão, realizou-se a reunião do Conselho Geral da CNASTI.Este órgão da CNASTI, com competências consultivas, revelou-se muito interessante pela qualidade dos con-teúdos aí discutidos e pela diversidade de opiniões dos vários representantes dos associados, o que veio enriquecer a opinião do colectivo sobre várias matérias. Entre outras coisas, esta reunião foi importante para a recolha de sugestões para o Plano de Acção e Actividades da CNASTI para o ano 2008.

Reunião da 25.ª Assembleia-GeralUma vez mais reuniu a Assembleia-Geral da CNASTI, no passado dia 23 de Novembro, nas instalações da Associação de Moradores das Lameiras em Vila Nova de Famalicão.

Esta reunião aprofundou e aprovou o Plano de Acção e Orçamento para o ano 2008, que aponta para a conti-nuidade do trabalho que tem vindo a ser feito e para o reforço de meios que possibilitem o cumprimento dos objectivos que a CNASTI se propõe realizar. Sendo que um dos objectivos da CNASTI tem sido o de acolher novos associados individuais e colectivos, esta Assembleia deu mais um contributo para a concretiza-ção deste objectivo, tendo aprovado a adesão da AIPICA – Associação de Iniciativas Populares para a Infância do Concelho de Almada. Esta Associação (IPSS – Instituição Particular de Solidariedade Social e Pessoa Colectiva de Utilidade Pública), com 30 anos de existência será, com cer-teza, uma mais valia para a CNASTI e por conseguinte para as crianças portuguesas, que vêm reforçada a capacidade de uma organização que defende os seus direitos.

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SEIS FALSOS MITOSSOBRE O TRABALHO INFANTIL

1º - As crianças têm que trabalhar porque são pobres…

Este é o maior mito sobre o trabalho de crianças. Em todo mundo, de acordo com dados recolhidos pela “Marcha Global Contra o Trabalho Infantil”, a maioria das pessoas pensa que só o fi m da pobreza poderá trazer, também, o fi m do trabalho de crianças.

Enquanto que as crianças continuarem analfabetas, sem conhecer os seus direitos e deveres e sem terem a noção de que podem ter uma vida diferente e melhor que a dos pais, o ciclo da pobreza não terminará.

Segundo números da UNICEF, o exemplo de que a pobreza não justifi ca o trabalho infantil está na compa-ração entre dois países: o Quénia e a Zâmbia.

São países com níveis muito similares de pobreza mas com números bem diferentes o que diz respeito ao trabalho de menores. No Quénia, 39% das crianças trabalham e na Zâmbia apenas 15 %.

Se este mito fosse verdadeiro, o Quénia deveria ter um rendimento “per capita” muito superior ao da Zâmbia. E não tem.

2º - O contributo das crianças é fundamental para o rendimento das famílias…

Sim, é verdade que muitas famílias vivem na pobreza e todo o dinheiro que conseguirem alcançar é fundamen-tal. Mas, o Banco Mundial não tem dúvidas em assegurar que milhões de adultos não trabalham porque as tarefas são desempenhadas por crianças a um custo infi nitamen-te mais baixo do que se realizadas por um adulto.

O exemplo vem da Índia. Num questionário feito aos donos das empresas e ofi cinas que tinham um elevado número de crianças a trabalhar, 80 % dos “empregado-res” referiu que apenas emprega crianças porque é mais barato.

Assim, no mundo, há cerca de 180 milhões de adul-tos desempregados e mais de 240 milhões de crianças a trabalhar.

Como as famílias não estão mais ricas, apesar do trabalho das crianças, a conclusão que podemos tirar é que as tarefas que as crianças desempenham deveriam ser realizadas por adultos, com um trabalho digno e salários justos.

3º - Em algumas áreas, as crianças trabalham me-lhor que os adultos…

Sobretudo em áreas como os sectores têxtil e fi ação criou-se o mito que como as crianças têm as mãos mais pequenas, conseguem trabalhar melhor que os adul-tos.

È preciso acabar urgentemente com este argumento de que as crianças têm “atributos especiais” para o traba-

Página da Criança

lho. Os adultos têm capacidade física para trabalhar mais e melhor que as crianças.

4º - O trabalho das crianças é necessário para que os países pobres se desenvolvam…

Não há qualquer estudo económico do Banco Mun-dial que confi rme esta teoria. Historicamente, o motor de desenvolvimento dos países é a educação e não o trabalho de meninas e meninos que têm idade para estar na escola.

São as leis que implicam uma escolaridade obrigatória e a construção de mais escolas que fazem crescer, a longo prazo, a economia dos países.

5º - O trabalho infantil faz parte da educação das crianças…

Milhões de vítimas do trabalho infantil passaram os dias e as noites da sua infância em actividades físicas e mentalmente esgotantes. A Escola ensina mais do que a ler e a escrever. A Escola ensina a viver em sociedade e a conhecer o mundo. A educação “transforma” uma criança num adulto responsável.

Um estudo recente, mostra que os adultos que traba-lharam enquanto crianças, produzem menos que os cole-gas que começaram a trabalhar na idade adequada.

A UNICEF recomenda: “Os adultos têm que perceber que o trabalho infantil não faz parte nem da educação nem do crescimento de uma criança”.

6º As crianças têm o direito de trabalhar se o qui-serem fazer…

Nos últimos anos, um pouco por todo o mundo, algu-mas instituições têm vindo a defender esta causa.

Todas as convenções internacionais defendem o direi-to à infância. Defendem e lutam pelo direito à educação e não pelo direito ao trabalho.

Os direitos das crianças não são negociáveis nem de-pendentes de étnia, sexo ou religião. E todas as crianças têm direito à infância.

Emília Monteiro

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Violência contra as crianças

A Assembleia-Geral das Nações Unidas adoptou no fi nal de Novembro a fi gura do representante especial para a violência contra as crianças, com o objectivo de dar visibilidade a uma situação que afecta milhões de menores em todo o mundo.

A criação do novo cargo, que responderá peran-te o secretário-geral, foi aprovada no Comité dos Direitos Humanos da Assembleia-Geral por 176 vo-tos a favor e um voto contra, dos Estados Unidos.Os Estados Unidos justifi caram o seu voto contra, indican-do que, embora aceitem as linhas gerais do documento, a Convenção dos Direitos das Crianças entra em confl ito com legislações internas assim como com a autoridade dos pais.

O representante especial terá a responsabilidade de actuar como defensor global das crianças afectadas por confl itos, ocupações, prostituição, pedofi lia, maus-tratos e outras práticas violentas.

Mais de mil Organizações Não Governamentais e 134 países subscreveram uma petição que instava a nomea-ção do representante especial, particularmente depois do relatório sobre violência contra as crianças apresentado em 2006 pela ONU.

O relatório, cujo principal autor é o investigador Pau-lo Sérgio Pinheiro, revelou que todos os anos cerca de 275 milhões de crianças presenciam actos de violência doméstica, com consequências negativas para o seu desenvolvimento.

De acordo com o estudo, todas as crianças correm o risco de ser expostas à violência: os rapazes enfrentam mais risco de ser alvo de violência física; as raparigas enfrentam um risco mais elevado de ser vítimas de agressões sexuais e de negligência e de serem obrigadas a prostituir-se.“A violência faz parte da realidade diária de milhões de crian-ças em todo o mundo pelo que o representante especial proporcionará uma liderança global para combater este fenómeno”, disse o porta-voz da “Human Rights Watch”, uma das ONG que tinha solicitado a criação deste cargo.

ONU cria representante especialpara a violência contra as crianças

O novo representante especial deve dar visibilidade a todo o tipo de violência contra as crianças e lutar pelo seu fi m.

As Organizações Não Governamentais congratulam-se com o facto da resolução instar também os países a mudar a aceitação social da violência como forma de disciplina, mas criticam que o documento não condene explicitamente os castigos corporais.

O relatório das Nações Unidas indicou que apenas 16 países do Mundo proíbem os castigos corporais em casa e só uma minoria das crianças é protegida por leis que proíbem esta forma de punição.

Para algumas crianças, o lar é mesmo uma fonte de violência.

“Muitas crianças sofrem agressões sob a forma de disciplina: violência física mas também humilhações e insultos”, salientava o estudo, acrescentando que o abandono e maus-tratos constituem formas indirectas de violência contra as crianças.

Insultos, nomes injuriosos, isolamento forçado, rejei-ção, ameaças, indiferença emocional e humilhações são algumas das formas de violência psicológica susceptíveis de prejudicar o desenvolvimento da criança, sobretudo se vierem dos pais ou de um ente querido.

A resolução também insta à penalização no mundo inteiro de todo o tipo de exploração sexual de menores, incluindo a pedofi lia, e o sequestro de crianças em con-fl itos armados.

Lusa

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Plano de Actividades da CNASTI

Para o ano 2008, não são previsíveis alterações subs-tanciais, no plano político e social, com consequências para o trabalho da CNASTI.

As famílias mais carenciadas continuarão a enfrentar problemas sérios com o desemprego, a precariedade, as dividas, a emigração, o encerramento de estruturas sociais essenciais ao apoio às crianças e às famílias. Estes problemas são ainda mais graves para as famílias que vivem no interior do país.

Esta situação tem consequências mais graves nas crianças que, sendo o futuro do país, o seu país não lhes garante igualdade de acesso aos alimentos, à saúde e à educação.

A CNASTI estabelece como prioridades para o seu trabalho em 2008: o combate ao trabalho e exploração infantil; a promoção de formas de intervenção que pre-vinam o insucesso e abandono escolar; tornar a CNASTI mais forte, mais participada e mais estável fi nanceiramen-

Plano de Actividades da CNASTIaposta na educação

• Participação na Semana Global pela Educação de 21 a 27 de Abril, que este ano tem como lema “Regresso à Escola” e que se insere nos Objectivos do Milénio defi ni-dos pelas Nações Unidas;

• Assinalar o Dia Mundial contra o Trabalho Infantil – 12 de Junho – com a realização de um concurso de desenho e prosa, de âmbito nacional a difundir junto dos Agrupamentos de Escolas para crianças do 2.º ciclo;

• Realização de um Seminário sobre as “piores formas” de Trabalho Infantil;

• Não perdendo de vista os objectivos que estão na origem da Marcha Global contra o Trabalho Infantil, este Movimento dará maior relevo à escolarização das crian-ças, onde a CNASTI continuará a dar o seu contributo para que este Movimento continue. Nesse sentido iremos colaborar nas acções e iniciativas diversas que venham a ser decididas e de acordo com as nossas capacidades.

Das decisões que a CNASTI tomou em Assembleia-

te para que possa continuar a cumprir com os objectivos que levaram à sua criação e continuar e fortalecer proto-colos de cooperação com várias instituições.

Dentro destas prioridades esta confederação irá di-namizar as seguintes iniciativas:

• Colocar na agenda politica e social, as propostas e sugestões retiradas das várias refl exões realizadas em 2007 sobre o trabalho infantil artístico;

• Candidatura ao Eixo 6 do Programa Operacional Temático – Potencial Humano 2007-2013 – Cidadania, Inclusão e Desenvolvimento Social, que tem como objec-tivos: (1) Aumentar a capacidade instalada em respostas sociais na área das crianças e jovens. (2) Prevenir o insu-cesso e abandono escolar. Esta candidatura obrigará ao estabelecimento de parcerias alargadas, credíveis e que contribuam para alterar signifi cativamente a vida das crianças e jovens envolvidos.

• Realização de um Seminário sobre Insucesso e Aban-dono Escolar, com efectiva participação das escolas;

Geral, está também programado que se proceda a uma revisão aos seus actuais estatutos, que, com dez anos desde a última alteração, carecem de ser ajustados à realidade dos dias de hoje.

Uma outra acção, essencial para a dinâmica desta organização, será a de continuar com a angariação de novos associados individuais e colectivos; tirar maior partido do Estatuto do Mecenato e também aceder ao apoio das Autarquias e outras entidades, no sentido de obter recursos fi nanceiros que possibilitem a realização das suas iniciativas.

O Boletim Informativo e a página Web continuarão a merecer a atenção dos dirigentes da CNASTI, promoven-do e divulgando a sua actividade.

A Linha Verde – 800 20 20 76 – continua activa e fun-cional para a participação dos cidadãos na denuncia de situações de exploração de Trabalho Infantil, que, com o apoio do Governo Civil de Braga, fi ca garantido que o possam fazer sem qualquer custo.

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apresentadas na conferência bem como a necessidade de estar previsto na Lei o destino a dar a uma percenta-gem do dinheiro ganho pelos menores, devendo sempre uma parte ser salvaguardada até que o menor atinja a maioridade.

Os técnicos presentes na conferência defenderam ainda a existência de um registo obrigatório dos traba-lhadores autónomos menores e de um licenciamento administrativo e autorização especial para a criação de agências de manequins e modelos.

A legislação deverá ainda ter em conta que, aquando do licenciamento de acon-tecimentos artísticos, as câmaras e/ou o governos civis (a quem cabe licenciar espectáculos como o circo) devem pedir os processos de autorização da participação dos menores em trabalhos artísticos.

Cada criança deve ainda ter direito a manifestar a sua vontade em participar ou não em trabalhos artísticos, devendo ser respeitada essa vontade. O aproveitamento escolar de cada menor de-verá ser tido em conta na autorização emitida pelo PETI e que permite a cada criança efectuar trabalho artístico.

Entre as recomendações, consta ainda a necessidade

de haver uma autorização especial para a realização de trabalho nocturno.

A conferência foi já a terceira iniciativa realizada pela CNASTI sobre o Trabalho Infantil Artístico. A primeira, foi a apresentação de um estudo efectuado pela socióloga Ana Melro, em Vila Nova de Famalicão.

A Assembleia de Crianças, que reuniu meia centena de menores, oriundos de todo o país, em São Pedro do Sul, pôs as próprias crianças a refl ectir sobre este tema.

A conferência realizada no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa não significa o fim de um ciclo. Pelo contrário, a Confederação Nacional de Acção Sobre o Trabalho Infantil quer trazer para a discussão pública o Trabalho Infantil Artístico, levando a que sejam introduzidas alterações na legislação em vigor.

“A lei portuguesa não está a ser cumprida”, foi esta a principal conclusão retirada pelas mais de duas dezenas de participantes na Conferência “Trabalho Infantil nas Artes e Espectáculos”, realizada em Lisboa em Outubro últio e que contou com a presença de Maria Barroso, presidente da Fundação Pro Dignitate, Joaquina Cadete, directora nacional do PETI (Programa para a Prevenção e Eliminação da Exploração do Trabalho Infantil) e do juiz Armando Leandro, presidente da Comissão Nacional de Protecção das Crianças e Jovens em Risco, entre muitos outros.

Organizada pela CNASTI, a conferência contou ainda com a presença de diversos juristas e membros das comissões de protecção de crianças oriundos de todo o país, bem como com representantes de empresas de agenciamento de crianças para a publicidade, moda, teatro e cinema.

Do debate, fi caram algumas recomendações que a CNASTI quer pôr na “agenda” política nacional para que a legislação sobre o trabalho infantil artístico seja alterada em algumas áreas e para que passe, efectivamente, a ser cumprida.

Das recomendações apresentadas, as mais prementes são a necessidade de um Parecer Obrigatório dos técni-cos do PETI sempre que uma criança pretenda efectuar qualquer tipo de trabalho artístico.

A obrigatoriedade da existência de um seguro de acidentes de trabalho foi outra das recomendações

Actualidade

Conferência sobre Trabalho InfantilArtístico propõe alterações à Lei

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Um palco de atropelo e incertezas

Actualidade

Sabe-se que uma criança que passa horas numa ofi -cina, no trabalho agrícola ou na linha de montagem de uma fábrica, mais ou menos dissimulada, fi ca privada de direitos básicos, desde logo do direito de gozar a sua infância, de brincar e de estudar e também de se socia-lizar de uma forma correcta e geradora de equilíbrios fundamentais.

Entretanto, a realidade com que hoje nos defronta-mos apresenta aspectos novos e nem por isso menos preocupantes. Raro é o dia, rara é a hora em que não vemos crianças a fazerem telenovelas, a desfi larem em passerelles de moda ou a participarem na publicidade televisiva. Resta saber com que regras, com que enqua-dramento legal e com que nível de respeito pelas regras do bom senso e até do bom gosto.

A mim, como cidadão, o que me preocupa é verifi car que existe uma tendência perigosa para se considerar que essa participação é normal e, portanto, aceitável. Digamos, recorrendo a conceitos que passaram de moda, que existe mesmo um certo preconceito de clas-se que leva a opinião pública a achar que uma criança a trabalhar numa ofi cina é um acto condenável e insus-tentável e que uma criança fechada durante um dia, ou dias inteiros num estúdio, com temperaturas superiores a 40 graus centígrados é até um sinal de modernidade e de progresso. Nada mais errado, nada mais perigoso.

Vivemos numa sociedade egoísta, pouco solidária e de um alarmante relativismo moral, onde os conceitos de “fama” e de “fortuna” hegemonizam o nosso quoti-diano, ao ponto de se pensar que só existe aquilo que é legitimado e consagrado pela galáxia mediática. Só as-sim se compreende que os tão propalados “15 minutos de fama” sejam o desiderato supremo para quem acha que a vida só faz sentido se conseguir tornar-se famoso, nem que seja por ter tempo de antena num dos progra-mas interactivos que algumas estações de rádio man-têm no ar cinco dias por semana.

Quem visita escolas e fala com crianças fi ca alarma-do ao constatar que o sonho da esmagadora maioria dos pequenos alunos é serem jogadores de futebol, “top models”, apresentadores de televisão ou vedetas de telenovela. No fundo, transformam em sonho e em meta pessoal e profi ssional os paradigmas de vida que este tipo de sociedade lhes impõe, sabe-se lá a que pre-ço e com que custos.

Por outro lado, a cultura mediática que Hollywood expande para o mundo está repleta de casos de triunfo individual que confi rmam a justeza desses objectivos. Grandes actores, entretanto mitifi cados, como Elizabe-th Taylor, Mickey Rooney, Mia Farrow ou Jodie Foster, para já não falar do músico e cantor Michael Jackson, entraram no universo cinematográfi co e artístico na mais tenra idade. Muitas dessas vedetas eram já fi lhas e fi lhos de actores e de outra gente do espectáculo e ti-

nham na origem famílias desestruturadas. Houve, é cer-to, muitos que triunfaram, mas a percentagem dos que fracassaram é infi nitamente maior, e pode dizer-se que é uma cifra negra, pois está recheada de terríveis casos de autodestruição, que vão até ao suicídio.

Portanto, deve fi car claro que não podem ser o êxito, a visibilidade mediática, a fama e o dinheiro os factores de legitimação das infâncias destruídas pela pressão fa-miliar que transforma a prestação artística em expressi-va fonte de rendimento.

Falta em Portugal uma verdadeira pedagogia dos valores essenciais que não pode pactuar com a glorifi -cação da fama e com a sacralização do dinheiro. Se essa pedagogia não for feita enquanto é tempo, mesmo re-cordando ao verso que diz que “o mundo é um palco”, estaremos a fi ngir que construímos futuro para aqueles que dele estão, de facto, a ser privados. E aí vale a pena recordar o aforismo do romântico Novalis quando dizia quando “um homem só atinge a sua verdadeira dimen-são quando se baixa para falar com uma criança”.

José Jorge LetriaVice-Presidente da Sociedade Portuguesa de Autores

(Síntese da comunicação apresentada na Conferênciasobre Trabalho Infantil Artístico)

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A participação dos menores em espectáculos e ac-tividades de natureza cultural, artística, ou publicitária tem-se imposto ao longo dos tempos como fenómeno social e económico crescente, em termos quantitativos e qualitativos na sociedade do séc. XXI. Também em Portugal, após um quase vazio legal longo regularam-se aspectos atinentes à protecção de menores, que pelo facto de o serem e intervirem naqueles campos, care-cem de garantias que lhes assegura o seu desenvolvi-mento pleno físico, psíquico e social.

Actualidade

A Legislaçãoe os Menores nos Espectáculos

A Lei 35/2004, veio concretizar o art. 70.º do Código do Trabalho através dos seus artigos 138.º e ss., delimitando de forma não taxativa as actividades correspondentes a profi ssões permitidas como as de: actor, cantor, dançari-no, músico, modelo, manequim ou artista circense. Neste caso, sem que fosse permitido o trabalho com animais ferozes, e desde que o jovem tivesse acompanhado por responsável e tivesse mais de 12 anos de idade.

Para tanto, a Lei estabeleceu garantias através da fi -xação de idades mínimas escalonadas e relacionou-as com o tempo de actividade diário ou semanal; da obri-gação de compatibilização entre a frequência escolar as actividades artísticas; dos tempos de descanso semanal e diário; dos limites ao trabalho nocturno; através da celebração por escrito assinado pelos representantes legais dos menores (em seu interesse), com os termos das obrigações contratuais destes, a ser entregue ago-ra na ACT (Autoridade para as Condições do Trabalho),

devendo ter anexada a certifi cação física, psíquica e de que não haja prejuízo escolar; a que se junta ainda a autorização previa para exibição da comissão de pro-tecção de menores e crianças em risco na sequência de requerimento escrito do promotor, agregando entre outros documentos autorização dos pais e parecer de associação patronal ou sindical.

Conhecendo a lei em vigor, confrontando a realidade do dia-a-dia dos média e à aparente falta de notícia de solicitações massivas às entidades autorizadoras, urge, problematizar eventuais causas e propostas de correc-ção de tal fenómeno.

Neste sentido, seria de equacionar a regulamentação do registo em documento idóneo do menor (livrete?) e do promotor para monitorizar o acesso daqueles ao sec-tor, bem como do licenciamento através de emissão de autorização obrigatória de exercício de actividade das empresas promotoras, com requisitos de apreciação da idoneidade moral, legal e económica da sua gestão, com prestação de caução obrigatória.

Também seria de considerar a possibilidade da criação da presunção da existência de contrato de trabalho para estes menores por forma a garantir-lhe um estatuto socio-económico mais protector e mais favorável (com descon-tos para a Segurança Social, seguro de acidentes de tra-balho, exames médicos, etc, registo e mapa de horário de trabalho), e simultaneamente, onerar quem explora a sua actividade (pois doutra forma, seria o menor independen-te, ele próprio, o responsável “não responsabilizável” juridi-camente pelo incumprimento de tais obrigações) e, ainda, à semelhança da lei francesa, obrigar os representantes legais daqueles a depositarem parte substancial dos pro-ventos advenientes da sua actividade, a ser acedidos por eles apenas aquando da sua maioridade.

Estando para breve a revisão do C.T. (Código do Tra-balho) e R.C.T. (Regulamentação do Código de Traba-lho), podia ser pertinente a eventual (re) discussão do aumento das idades e/ou (tempos de) actividades dos menores actualmente consagrado na nossa Lei face ao interesse público do interesse das crianças e empresa-rial/económica do mercado português, bem como a consagração da natureza excepcional da autorização concedida aos promotores. Por fi m, deveria o legislador, equacionar como tempo de trabalho para efeitos de pa-gamento e/ou de consideração para efeitos de tempos máximos diários ou semanais, período experimental (e de contrato), o dispendido pelos jovens nos castings, bookins, scoutings, deslocações e outras formas de dis-ponibilidade exigidas pelos dos promotores.

António Luís Bentes, Jurista(Síntese da comunicação apresentada na Conferência

sobre Trabalho Infantil Artístico)

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Crianças no Mundo

O estudo concluiu que as principais empresas de te-lemóveis recorrem, cada vez mais, a fornecedores que funcionam em países onde a mão-de-obra e mais ba-rata: países como a China, a Tailândia, a Índia e as Fili-pinas.

O estudo conclui que na China e nas Filipinas, as fá-bricas pagam salários abaixo do mínimo legal, e foi mes-mo descoberto um fabricante que recorria a trabalho infantil, como explicou à TSF a coordenadora do estudo em Portugal, Maria Antonieta.

«Detectamos horas extraordinárias excessivas, sa-lários inferiores ao mínimo legal, horas extraordinárias não pagas, e numa das fábrica detectamos trabalho in-

Principais marcas de telemóveisrecorrem ao trabalho infantil

Há crianças a fabricar componentes de telemóveis da marca Motorola, na China. A denuncia e feita pela DECO que, em conjunto com outras associações europeias de defesa do consumidor, fez um estudo sobre os cinco maiores fabricantes de telemóveis.

Meninos com menos de 10 anos faziam roupas para a GAP. As autoridades indianas encontraram 14 crianças a trabalhar ilegalmente numa fábrica da marca de roupa GAP. Os rapazes, todos com menos de 10 anos, trabalhavam cerca de 15 horas por dia.

As 14 crianças foram encontradas a trabalhar e condições impensáveis. Dormiam e trabalhavam no mesmo quarto.

Os meninos, com menos de 10 anos, tinham sido angariados em zonas pobres da Índia, com a promessa de trabalho. Por dia, chegavam mesmo a trabalhar cerca de 15 horas. As roupas feitas com recurso a trabalho infantil iam ser vendidas pela

Crianças indianas alvo de exploração infantilmarca de roupa GAP. A empresa já veio dizer que a fábrica era subcontratada e que violou os princí-pios da marca. A GAP garantiu ainda que as roupas produzidas pelos menores não serão postas à venda. Para Bhuwan Ribhu, activista do Movimento de Apoio às Crianças, a multinacional deu um exemplo que deve ser seguido por outras empresas.

O Governo indiano estima que haja em todo o país mais de 13 milhões de crianças vítimas de ex-ploração infantil. Os activistas dos direitos humanos elevam a fasquia e falam numa economia que já de-pende em cerca de 20% do trabalho feito por crian-ças com menos de 14 anos.

fantil», sublinhou a coordenadora do estudo.Na fábrica de Shenzhen (na China) que produz tele-

móveis para a Motorola estão empregadas mais de 200 crianças, com menos de 16 anos.

Um responsável da fábrica onde foi detectado traba-lho infantil chegou mesmo a afi rmar que o importante era as crianças parecerem mais velhas.

«Ele disse que o que importa era as crianças não pa-recerem tão novos. Muitas vezes são os próprios profes-sores que proporcionam estes trabalhos para ajudar os miúdos a pagarem o estudo, mas o que acontece e que a maior parte dos miúdos depois acaba por não sair da fábrica», explica Maria Antonieta.

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10 Para Além do Pôr do Sol

De acordo com um estudo publicado pela OIT – Or-ganização Internacional do Trabalho, 57 mil crianças e adolescentes na Argentina estão obrigados a trocar a escola por trabalhos difíceis e perigosos para a sua saú-de. Parte desses trabalhos perigosos são realizados a

Crianças no Mundo

Quatro milhões de menores vítimasdo trabalho infantil na Argentina

Uma operação mundial conseguiu desmantelar uma rede de tráfi co de crianças nigerianas. A operação, que ori-ginou capturas de responsáveis em França, Holanda, Reino Unido, Espanha, Alemanha e Estados Unidos, foi o resulta-do de uma investigação de anos, anunciaram as forças de segurança holandesas que coordenaram os trabalhos.

Segundo as autoridades holandesas, citadas pelo jornal PÚBLICO, a rede usava meninas nigerianas que entravam legalmente no país invocando falsos pedidos de asilo. Foram encontradas, pelo menos 140 crianças que tinham sido dadas como desaparecidas no âmbito

Foi editado recentemente o livro “Crianças de meio rural – As mãos na terra e os olhos no futuro”, de Rui Pedro Rodrigues Palma da Silva, Dirigente do Sindicato dos Professores do Norte – Delegação de Viana do Castelo e Professor do 1º Ciclo do Ensino Básico. Este livro aborda as representações sociais de crianças de meio rural sobre o mundo do trabalho e as profi ssões. É um instrumento de trabalho de educadores e professores, particularmente para os que trabalham em escolas no meio rural. É também um contributo para o debate sobre o papel destas escolas e dos professores, no desenvolvimento destas comunidades rurais cada vez mais marginalizadas.

Uma edição da ProfEdições www.profedicoes.pt

revolver lixo depositado em lixeiras e aterros sanitários, à procura de resíduos susceptíveis de serem reciclados, 60 por cento delas com menos de 14 anos.

As autoridades locais determinaram sanções para os “recolhedores” de lixo, onde se incluem também as crianças, que não tenham coletes de segurança e identi-fi cação. Quem não preencher estes requisitos será mul-tado e ser-lhe-á apreendido todo o material recolhido, assim como os transportes que servem de transporte.

Para as organizações defensoras dos angariadores de lixo, esta lei é mais uma penalização contra os po-bres, sem que lhes seja dada outra alternativa de sobre-vivência.

Estima-se que quatro milhões de menores de 17 anos sejam afectados pelo denominado trabalho infan-til. Este número corresponde a metade das crianças e adolescentes desta faixa etária.

Está em jogo o direito inalienável de ir à escola, de gozarem a sua infância com equilíbrio, para que estas crianças possam realizar-se como pessoas com digni-dade e possam ter um crescimento físico, emocional e relacional saudável e harmonioso.

Crianças de meio ruralAs mãos na terra e os olhos no futuro

Desmantelada rede de tráfi code crianças nigerianas a nível mundial

destes pedidos.Da Holanda, as crianças eram reencaminhadas para

outros países onde trabalhavam em redes organizadas de prostituição, à guarda apertada dos trafi cantes.

Os membros desta rede, agora detidos, são acusados de tráfi co de seres humanos, participação em organiza-ção criminosa, falsifi cação de documentos e falsifi cação e branqueamento de dinheiro.

Depois dos pedidos de asilo, as crianças eram entre-gues a centros de acolhimento que se mostraram locais de fácil acesso a estes trafi cantes.

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Objectivos do Milénio

CNASTI e a ONU parceirosna Luta Contra a Pobreza

A iniciativa ”Levanta-te e Faz-te Ouvir contra a Pobre-za e pelos Objectivos do Milénio” foi o primeiro projecto da parceria estabelecida entre a Organização das Nações Unidas (ONU)/Campanha Objectivo 2015 e a CNASTI.

A Confederação Nacional de Acção Sobre Trabalho Infantil, juntamente com outras organizações, colaborou activamente na comemoração do Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, no dia 17 de Outubro de 2007.

Na carta de agradecimento enviada à CNASTI, Luís Mah, coordenador nacional da Campanha Objectivo 2015 reconhece a importância do trabalho da nova parceira.

“Portugal foi o país europeu onde a mobilização mais cresceu: 65 mil participantes, face a 19 mil há um ano – e Braga foi o distrito de maior crescimento, cerca de 9 mil adesões, 13% do objectivo nacional”, referiu Luís Mah. E continua: «Sem o seu contributo, a iniciativa “Levanta-te e Faz-te Ouvir” não teria sido possível. Por essa razão, os nossos sinceros agradecimentos».

Durante uma semana, a pobreza e a forma de a mini-mizar e combater foi discutido das mais diversas formas e nos mais diversos locais. No dia 17, uma grande con-centração em Braga juntou escolas, alunos da Universi-dade do Minho, o Movimento Justiça e Paz e dezenas de pessoas anónimas que se quiseram juntar à iniciativa.

Em todo o mundo, milhões de pessoas levantaram-se, em uníssono, contra a pobreza.

A organização sugeriu a cada participante que usas-se uma peça de roupa, uma pulseira ou um chapéu branco. Depois, sentados ou ajoelhados no chão, os participantes ouviram a leitura de uma manifesto anti-pobreza. No fi nal, de uma só vez, todos se puseram de pé numa atitude simbólica contra a pobreza mundial.

Nos dias seguintes e inserida na mesma campanha, foram distribuídos, nos concelhos de Braga e Guima-rães, setenta e cinco mil sacos por pastelarias e padarias onde estavam impressos os objectivos que as Nações Unidas querem ver cumpridos em 2015. Os sacos de pa-pel destinavam-se a embalar o pão, permitindo assim que, qualquer pessoa, pudesse, em casa, conhecer as metas da ONU para que o mundo possa ser um mundo melhor.

Objectivos do MilénioNo ano 2000, durante a assembleia-geral da ONU, 189

chefes de Estado e de Governo assinaram a Declaração do Milénio que levou à formulação de oito objectivos de desenvolvimento específi cos, a alcançar em 2015.

Do Objectivo 1 ao Objectivo 7, defi nem-se priori-dades em termos de desenvolvimento básico a serem alcançadas nos próprios Países em Desenvolvimento. Dizem respeito a um sistema de educação condigno, ao acesso a água potável e aos cuidados de saúde básicos.

O Objectivo 8 indica qual o papel que os países mais ricos devem desempenhar para ajudar os Países em De-senvolvimento: mais e melhor ajuda para o desenvolvi-mento, perdão da divida externa dos países mais endivi-dados e mudança das regras do comércio internacional.

Neste conceito, Portugal, faz parte dos “Países Ricos”.

1.º Reduzir para metade a pobreza extrema e a fome (1,2 mil milhões de pessoas vive com menos de 85 cêntimos por dia)2.º Alcançar o ensino primário universal (115 milhões de crianças no mundo não vão à escola)3.º Promover a igualdade de género (Dois terços dos alfabetos no mundo são mulheres. 80% dos refugiados são mulheres)4.º Reduzir em 2/3 a mortalidade das crianças (6,3 milhões de crianças morrem, por ano, de fome. 13 milhões morrem antes de completarem 5 anos por doenças evitáveis)

Objectivos do Milénio5.º Reduzir em ¾ a taxa de mortalidade materna (Mais de 500.000 mulheres morrem, por ano, durante a gravidez ou o parto. 99% destas mortes ocorre em países em desenvolvimento)6.º Combater o VIH/SIDA, a malária e outras doenças (1 milhão de pessoas morre, anualmente, de malária e mais de dois mi-lhões de tuberculose)7.º Garantir a sustentabilidade ambiental(2 milhões de pessoas em todo o mundo não têm acesso a fontes de energia)8.º Parceria global(Sim à justiça Comercial. Não ao comércio livre. Sim ao Perdão da Dívida)

Um dos 75.000 sacos distribuídos pelasUm dos 75.000 sacos distribuídos pelaspastelarias e padarias de Braga e Guimarãespastelarias e padarias de Braga e Guimarães

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A Campanha do Milénio das Nações Unidas em Por-tugal, Objectivo 2015, apoiou actividades em Braga, Cascais e Lisboa. Bombos, lençóis gigantes, danças e largadas de balões – houve de tudo um pouco para le-var 12.886 portugueses a levantarem-se em simultâneo contra a pobreza, num total de 65 mil em todo o país e 43,7 milhões de pessoas em todo o mundo.

A iniciativa “Levanta-te e Faz-te Ouvir contra a Po-breza e pelos Objectivos do Milénio” estabeleceu um novo recorde mundial do Guinness, ao juntar 43,7 milhões de pessoas em mais de cem países, entre as 21:00 do dia 16 e as 21:00 de 17 de Outubro – Dia In-ternacional para a Erradicação da Pobreza.

Em Braga, este dia começou às 10:30, quando crianças de várias escolas coloriram a Avenida Central. Vestindo t-shirts brancas e bonés coloridos, crianças

dos 3 aos 8 anos trouxeram cartazes e palavras de or-dem por um mundo melhor. Seguindo o exemplo dos mais jovens, dezenas de transeuntes, incluindo ido-sos, juntaram-se à festa ritmada pelos bombos. Tam-bém na Universidade do Minho decorreu um “Levan-ta-te” , contribuindo para cerca de cinco mil aderentes em todo o concelho – a maior participação nacional. O distrito de Braga, com 8.666 participantes, contribuiu com 13% para o total nacional.

O “Levanta-te e Faz-te Ouvir” foi organizado em parceria com a Campanha Pobreza Zero. O objectivo desta acção foi gerar uma mobilização em massa e ins-pirar uma participação contínua dos cidadãos, até que os compromissos internacionais dos Governos sejam cumpridos.

Objectivo 2015: Juntos Podemos