conto da cláudia duarte cast. pera

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Page 1: Conto da cláudia duarte   cast. pera
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FADA POR UM DIA

Era uma vez uma rapariga chamada Luna, que vivia numa floresta com os pais e dois irmãos

gémeos chamados Austin e Luís. Ela era uma rapariga com quinze anos, alta, magra e tinha cabelos compridos, loiros e muito lisos como fios de ouro; olhos azuis tão brilhantes que pareciam duas safiras. Era uma rapariga muito bonita, apesar de usar roupas muito simples. Não falava muito, por isso, não tinha muitos amigos na escola. Passava a vida a vaguear pela floresta, sozinha, à procura de animais presos nas armadilhas dos caçadores que iam caçar, na floresta, sem autorização.

Num dia de nevoeiro, aconteceu uma coisa muito má: quando ela ia para uma cascata que havia na floresta, encontrou um veado numa dessas armadilhas. Tentou tirá-lo, mas não conseguiu. Então, foi buscar uma pedra e um martelo e lá conseguiu soltar o animal, que parecia estar em muito mau estado, pois estava muito ensanguentado e não conseguia andar nem sequer se pôr de pé. Ela pôs-lhe uma ligadura e tratou dos ferimentos, para sararem, mas, entretanto, apareceram os caçadores. Estes começaram a tentar apanhá-la para lhe bater. A sorte é que tinha consigo o seu cão, o Flecha, que se mandou aos homens. Isto deu tempo para ela fugir com o veado ao colo, dali para fora, o mais rápido possível.

Ao fugir, conseguiram pôr-se a salvo numa velha gruta, que havia perto de uma clareira, junto à floresta das sombras. Só depois de lá estar dentro é que notou que tinha começado a chover e não poderia voltar a casa com aquele tempo. Estava muito escuro, lá dentro, e frio. Então, ela procurou uma pedra lisa, a um canto da gruta, e poisou o veado lá. De seguida, foi buscar água, para acabar de tratar os ferimentos, e rasgou um bocado da sua saia para fazer uma ligadura. Mas, de repente, apareceu uma luz ao fundo da caverna … seguida por uma voz … e, depois, uma sombra muito grande … e, de repente, a Luna olhou e pôs-se logo de pé, em frente do veado. O Flecha começou a ladrar muito para a sombra que se aproximava cada vez mais e ia ganhando forma. A sombra aproximava-se cada vez mais e ficava cada vez mais nítida. Foi então que a Luna reparou que a sombra não andava, mas voava e tinha asas, como um anjo; e que, quanto mais se aproximava, mais pequena ficava, até que ficou do tamanho de um lápis. E foi aí que ela reparou que não era um humano, mas uma fada. Nesse momento, foi como se ficasse colada ao chão, ao olhar para uma criatura tão pequena como as que ouvia nas histórias que lhe contavam quando era pequena, mas nas quais não acreditava, ou melhor, acreditava, mas, como foi crescendo, foi deixando de acreditar.

O rapaz pequeno que era uma fada olhou para ela, de alto a baixo, e disse:

- Olá! O meu nome é Jake. Muito prazer em conhecer-te. Finalmente. Ouvi falar muito de ti, por toda a floresta.

A Luna não respondeu. Estava calada, com o olhar fixo nele, e não acreditava no que via à sua frente. Então, disse, finalmente, muito atrapalhada.

- Tu … tu és uma fada !… - disse ela, apontando para ele muito atrapalhada.

- Sim, sou uma fada! Mas sou rapaz, que fique esclarecido isso! Eu sou o príncipe das fadas da cidade da Lua e … - e foi interrompido pelo gemido do veado bebé, que estava a sangrar cada vez mais. A Luna, ao perceber isso, baixou-se e começou outra vez a tentar estancar o sangue.

- Afasta-te, eu trato disso – disse o Jake, vendo que ela estava muito aflita e já com lágrimas nos olhos.

- Não, ele precisa de mim, da minha ajuda - disse ela, levando o pedaço de tecido que tinha rasgado da sua saia à água e pondo na pata do veado, de novo.

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- Luna, confia em mim, eu posso ajudá-lo, eu sei o que fazer … - disse ele, olhando para ela.

Ela levantou-se, saíu do caminho e ele começou a olhar para o pobre animal, que estava cheio de dores, e disse:

- Vais ficar bem pequenote!

E levantou-o, voou por cima dele e, lá em cima, começou uma espécie de dança, muito bonita. Mas o mais bonito era o brilho que ele emanava: era enorme, fascinante. E deixava cair brilhantes por cima do veado, que caíam, mas depois desapareciam, como se fossem flocos de neve que derretiam. Era um espectáculo maravilhoso se o veado bebé não estivesse cheio de dores.

Entretanto, de repente, algo começou a acontecer: a ferida começou a fechar-se, até não haver mais ferida; foi como se nunca tivesse existido, tudo desaparecera, até o sangue; tudo se transformara em pó, muito brilhante, espalhado pelo chão. Ela ficou muito calada, a tentar perceber o que tinha acabado de acontecer, e foi então que disse:

- Tu salvaste-o … tu … tu …! - disse ela, apontando para o veado.

Deu, depois, um passo, seguido de outro, até chegar, finalmente, junto do animal e o acariciar.

- Ok, ok, não tens de quê … o meu nome é Jake, o teu deve ser Luna … - disse ele, com um sorriso muito carinhoso nos lábios.

- Sou … sou … a Luna - disse ela, muito atrapalhada, e olhando para ele fixamente, ainda não acreditando naquela situação toda.

- OK! Isto está a ficar um pouco estranho. Tens mesmo de parar de olhar para mim assim, estás a começar a assustar-me - disse ele, com uma certa ironia no rosto, enquanto se afastava dela.

- Desculpa, mas não é todos os dias que eu fico maluca, a falar com um rapaz do tamanho de um lápis!

- Eh, lápis não! Então, já não há maneiras?

- Desculpe, Vossa Alteza Real! – disse ela, fazendo uma vénia. – Mas que queres de mim? Porque estás aqui? Porque dizes que tinhas ouvido falar muito de mim, se eu não te conheço de lado nenhum?!…

- Calma! Calma! Uma pergunta de cada vez. Primeiro, preciso que venhas comigo. Temos de sair daqui e rápido … - disse ele, a olhar para todos os lados com um ar apressado, como se estivesse com medo de alguma coisa ou de alguém.

- Contigo? Para onde? Que se está a passar aqui? Alguém me explica? – questionou ela, muito séria.

Mas, quando ele ia para falar, a voz foi abafada por um som de tiros de caçadeira, que vinha de lá de fora da floresta. O cão, ao ouvir o som, primeiro, ladrou, depois, fugiu a correr pela gruta fora. Foi então que o chão começou a tremer como se se tratasse de um tremor de terra.

- Acabou o tempo para perguntas. Temos de ir! Agora! - disse ele, com um grito, e começou a voar em direção à parte mais escura da gruta.

Ela foi atrás dele a correr, cheia de medo, a tentar perceber o que se estava a passar ali. E, então, lembrou-se que a gruta era pequena e iria acabar uns metros mais à frente dali. Foi então que disse:

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- Jake!! Jake, a gruta vai acabar uns metros mais à frente! Temos de parar!

- Não pares, continua a correr! Não pares, continua a correr, confia em mim! - disse ele, enquanto voava mais depressa, a olhar para todos os lados, como se esperasse por alguma coisa ou alguém.

E foi aí que ela viu uma luzinha muito brilhante, lá ao fundo … era uma luzinha rosa, e foi então que ela percebeu que era uma fada e que estava ali para os ajudar.

Não tiveram muito tempo para falar na gruta, pois, quando o Jake chegou ao pé dela, eles olharam um para o outro, fizeram um sinal e, depois, abriu-se uma porta, no meio da parede de rocha; uma porta que nunca ninguém tinha visto e que, se calhar, nunca lá esteve, ou, se esteve, ninguém a vira.

Ela entrou com o Jake e outra fada na porta que brilhava muito. Foi então que, do outro lado, viu o que nunca nenhum humano tinha visto: “o mundo das fadas”. Ela deu um passou em frente e, depois, desmaiou. Quando acordou, viu, debruçados sobre si, o Jake e umas fadas que ela ainda não conhecia, e também a fada da gruta que ainda não sabia quem era. Estavam todos a olhar para ela e a fazer perguntas ao mesmo tempo. Foi então que o Jake fez sinal e calaram-se todas. Virou-se para ela e perguntou:

- Estás bem? Consegues levantar-te? - perguntou ele, com um sorriso, a tentar ajudá-la a levantar-se.

Foi então, ao olhar para ele, que ela percebeu que ele não estava como dantes, pequeno; agora, estava do seu tamanho. E notou que ele era muito bonito, tinha cabelo loiro, liso, a cair sobre os ombros e os olhos eram verdes - um verde tão brilhante que parecia que tinha estrelas nos olhos! Depois, reparou em si; também percebeu que era uma fada, uma linda fada. Tinha uma longa e linda trança no seu cabelo, cheio de flores. Vestia um vestido comprido. Na parte dos ombros, tinha, de um lado, uma linda rosa aberta e, do outro, uma alça constituída por pequenos ramos muito entrelaçados. Estava descalça e, numa das pernas, tinha uma espécie de tatuagem. Umas graciosas e transparentes asas saíam das suas costas. E tinha ao pescoço um amuleto: era uma lua com uma rosa.

As fadas que a rodeavam estavam agora a sussurrar umas para as outras, comentando a sua beleza. Ela ainda estava meio perplexa sobre tudo aquilo que estava a acontecer, e olhou para o Jake. Ele sorriu, fez uma vénia e estendeu-lhe a mão. Ela agarrou-a com muita delicadeza e bombardeou-o com perguntas:

- Eu sou uma fada???! Mas como?! Onde é que nós estamos?

- Hei …! Tem calma, irei explicar tudo - disse ele, virando-a para ela, e começou a explicar.

- Primeiro, sim, és uma fada e estás no Reino das Fadas da Lua. Eu sou o príncipe da lua e estas são as fadas da lua. Cada uma delas tem um poder específico e esse poder está contido no amuleto de cada uma. O amuleto varia de fada para fada, como o que tens ao pescoço. - disse ele, calmamente, a apontar para o amuleto.

- Mas eu sou humana, não sou fada…!

- Sim, pois és …

- Então, como posso ser fada? - perguntou ela muito confusa e já enervada.

-És e pronto! Não te posso dar mais pormenores …

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- Ok. Mas, então, que tipo de fada sou eu? - perguntou ela.

- És uma fada da floresta; tens o poder de controlar a floresta e de falar com animais. Queres ir experimentar? - disse ele, pegando na mão dela e sorrindo.

- Sim, posso …?

- Claro, anda … - e começou a correr, deixando para trás as outras fadas, que sussurravam, entre si, sobre ela.

Quando pararam de correr, ela viu que estava num monte muito alto, de onde dava para ver tudo: o pôr-do-sol era lindo e o reino era magnifico! Ela ficou parada a olhar para aquela beleza toda.

- Era para aqui que eu costumava vir brincar quando era pequeno. – disse o Jake a olhar para o horizonte, enquanto se sentava, e depois a olhar para ela.

- É magnífico este lugar, é lindo!... – exclamou ela.

Assim, ficaram um bom tempo ali, em silêncio, só a olhar para o pôr-do-sol.

Quando estava já de noite …

- Então, vamos experimentar a tua magia? - perguntou ele, levantando-se, sacudindo as calças e estendendo a mão para a ajudar a levantar.

- Sim, mas começo por onde? – disse, a olhar para si de alto a baixo.

- Que tal pelas asas? - disse a sorrir e a olhar para as asas dela duma maneira que a fez corar.

- Desculpa! Não, nem pensar, não sei voar e também não quero experimentar … - observou ela, dando um passo para trás, gesticulando com as mãos.

-Vá lá! Eu prometo que não te magoas! - disse ele, com uma voz meiga e pegando na mão dela.

- Oh, não, nem penses … tenho medo de voar!

- Vá lá, Luna! Vá lá, por favor! - disse ele, ajoelhando-se, pondo as mãos juntas e fazendo uma voz de súplica.

- Ok! Mas, se eu cair, a culpa irá ser tua! - disse ela.

- Não te deixarei cair ou magoar, Luna, pois és muito especial para mim. - disse ele, pegando nas mãos dela, outra vez, e olhando-a nos olhos: és muito especial!

- Pois, pois, estou a ver!

- A sério, nunca conheci ninguém como tu!

- Pois, eu sei, sou a primeira humana que conheces … é normal que aches que sou especial. Experimenta passar 24h comigo e, depois, diz-me se continuas com a mesma opinião - disse ela, a rir.

- Aposto que não iria mudar nada! - disse ele, pondo a mão no cabelo dela, retirando-o da frente da cara e pondo-o para trás da orelha.

Os lábios dele foram ao encontro dos dela. Foi então que uma coisa espetacular aconteceu. Ao olharem para o céu, viam estrelas cadentes por todo a lado, como se o céu estivesse a comemorar.

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- É melhor irmos! Está a ficar tarde! - disse ela, sorrindo-lhe.

- Sim, é melhor - disse ele, agarrando-a, quando ela ia a dar o primeiro passo, e sussurrou-lhe:

- Então, minha menina, vamos a voar … ou já te esquecias? – dando, depois, um beijo na face e fazendo aparecer de trás das costas uma linda rosa vermelha que lhe oferece.

Ela aceitou e sorriu e perguntou:

- Como faço para voar?!

- Pensa em algo … como numa borboleta! - disse ele, dando-lhe a mão.

Sorriu e começou a levantar voo.

Ela estava de olhos fechados, concentrada, a pensar no que ele tinha dito, (na borboleta), e foi aí que se lembrou da sua família, da sua casa e dos seus pais, e que deviam andar todos à sua procura. Deixou cair uma lágrima. O Jake, ao notar a tristeza de Luna, levou a que pousassem em terra e perguntou:

- Que se passa, Luna? Que aconteceu?

- Tenho de voltar, Jake, não posso aqui ficar; tenho a minha família. - disse ela, com lágrimas nos olhos, voltando a cara para a lua.

- Eu entendo - disse ele.

- Eu queria poder ficar aqui contigo! Mas tenho os meus pais e os gémeos, por mais que eles os dois me deem cabo da cabeça, às vezes; não os posso abandonar. - disse ela, voltando-se para ele.

- Eu entendo. – disse, passando a mão na sua face e limpando as lágrimas dela.

- Como faço para voltar? - perguntou ela.

- E só desejares, e torna-se realidade - disse ele.

- Nunca te esquecerei - disse ela, despedindo-se dele e voltando -se de costas, deixando-o para trás.

Entretanto, ouviu uma voz a chamá-la: primeiro, fraca e, depois, mais forte. A voz era-lhe familiar. Pouco a pouco, foi acordando, até que, quando acordou totalmente, notou que estava na gruta, sozinha. A sua mãe estava a chamá-la “Luna, onde estás, filha?”, e quando ia para se levantar, começou a pensar se teria sonhado com tudo aquilo. Mas, depois, notou em duas coisas: uma, era o seu amuleto ao pescoço; a outra, era a rosa que Jake lhe tinha dado.

Cláudia Duarte – 3º Ciclo

Escola Básica, 2,3 Dr. Bissaya Barreto – Castanheira de Pera

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