editorial congresso de paleontologia tocas de

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EDITORIAL O ano de 2013 começou muito bem para o Projeto Paleotocas: foram publicados dois textos com os resultados das pesquisas realizadas. O primeiro texto é um capítulo de um livro denominado “Ichnology of Latin America”, que traz as pesquisas de traços fósseis da América Latina. O livro foi idealizado em fins de 2010, a primeira versão do nosso texto, em inglês, foi encaminhada no final de 2011 e agora está publicado. O segundo texto é um artigo em inglês sobre a “Toca do Tatu”, de Santa Catarina, uma paleotoca com um sítio arqueológico. Uma versão em português está disponível. Ambos os textos podem ser baixados no seguinte endereço: http://www.ufrgs.br/paleotocas/Producao.htm CONGRESSO DE PALEONTOLOGIA O site do Congresso Brasileiro de Paleontologia, que transcorre em Gramado- RS de 13 – 18 de outubro de 2013, já está no ar: http://www.cbpbrasil.org/ . E nós estamos nos organizando para participar deste Congresso, que promete ser um evento muito interessante e diversificado, com muitas novidades sobre fósseis. TOCAS DE CROCODILO Anthony Martin é um especialista norte-americano em traços de animais (pegadas, tocas, buracos, etc.) e apresentou, com 3 colegas, um resumo muito interessante sobre tocas de crocodilo nos Estados Unidos. As tocas podem ter 115 cm de largura, 55 cm de altura e 4,6 m de comprimento, sendo usadas durante períodos de seca, no inverno gelado e para abrigar fêmeas com filhotes. Os autores se perguntam: se os crocodilos hoje cavam tocas, porque não se conhece tocas de crocodilos extintos? Paleotocas de crocodilo? Provavelmente porque ninguém se deu conta que isso possa existir. Se alguém começar a procurar, provavelmente vai achar! A história completa (em inglês) pode ser lida em http://www.georgialifetraces.com/tag/denning-behavior/ CAVERNAS NA ILHA DE FLORIANÓPOLIS Depois de dois anos de trabalho, um grupo que estuda as cavernas (nenhuma paleotoca!) na Ilha de Florianópolis publicou um excelente artigo sobre o tema. O artigo está disponível para download no seguinte endereço eletrônico: http://www.sbe.com.br/espeleo-tema/espeleo- tema_v23_n2_071-085.pdf Boletim Informativo das Pesquisas do Projeto Paleotocas Número 25 – março de 2013 Responsável: Prof. Heinrich Frank Site: www.ufrgs.br/paleotocas Contato: [email protected]

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Page 1: EDITORIAL CONGRESSO DE PALEONTOLOGIA TOCAS DE

EDITORIAL

O ano de 2013 começou muito bem

para o Projeto Paleotocas: foram publicados

dois textos com os resultados das pesquisas

realizadas. O primeiro texto é um capítulo de

um livro denominado “Ichnology of Latin

America”, que traz as pesquisas de traços

fósseis da América Latina. O livro foi

idealizado em fins de 2010, a primeira versão

do nosso texto, em inglês, foi encaminhada no

final de 2011 e agora está publicado. O

segundo texto é um artigo em inglês sobre a

“Toca do Tatu”, de Santa Catarina, uma

paleotoca com um sítio arqueológico. Uma

versão em português está disponível. Ambos

os textos podem ser baixados no seguinte

endereço: http://www.ufrgs.br/paleotocas/Producao.htm

CONGRESSO DE

PALEONTOLOGIA

O site do Congresso Brasileiro de

Paleontologia, que transcorre em Gramado-

RS de 13 – 18 de outubro de 2013, já está no

ar: http://www.cbpbrasil.org/ . E nós estamos

nos organizando para participar deste

Congresso, que promete ser um evento muito

interessante e diversificado, com muitas

novidades sobre fósseis.

TOCAS DE CROCODILO

Anthony Martin é um especialista

norte-americano em traços de animais

(pegadas, tocas, buracos, etc.) e apresentou,

com 3 colegas, um resumo muito interessante

sobre tocas de crocodilo nos Estados Unidos.

As tocas podem ter 115 cm de largura, 55 cm

de altura e 4,6 m de comprimento, sendo

usadas durante períodos de seca, no inverno

gelado e para abrigar fêmeas com filhotes. Os

autores se perguntam: se os crocodilos hoje

cavam tocas, porque não se conhece tocas de

crocodilos extintos? Paleotocas de crocodilo?

Provavelmente porque ninguém se deu conta

que isso possa existir. Se alguém começar a

procurar, provavelmente vai achar! A história

completa (em inglês) pode ser lida em

http://www.georgialifetraces.com/tag/denning-behavior/

CAVERNAS NA ILHA DE

FLORIANÓPOLIS

Depois de dois anos de trabalho, um

grupo que estuda as cavernas (nenhuma

paleotoca!) na Ilha de Florianópolis publicou

um excelente artigo sobre o tema. O artigo

está disponível para download no seguinte

endereço eletrônico:

http://www.sbe.com.br/espeleo-tema/espeleo-

tema_v23_n2_071-085.pdf

Boletim Informativo das Pesquisas do Projeto Paleotocas

Número 25 – março de 2013

Responsável: Prof. Heinrich Frank Site: www.ufrgs.br/paleotocas

Contato: [email protected]

Page 2: EDITORIAL CONGRESSO DE PALEONTOLOGIA TOCAS DE

EM DEFESA DA MENTE ABERTA

Existem pessoas que enxergam as coisas, mas que não conseguem ver nada. Ver no sentido

de enxergar e entender para o que estão olhando. Provavelmente todos nós conhecemos pessoas

assim. Gente sem conhecimentos, sem imaginação e, pior, sem a percepção de que não sabem nada.

Seus horizontes são curtos e, além disso, tem viseiras.

Escrevo isso motivado por um episódio que envolveu a equipe do Projeto Paleotocas. No

final de 2011 começamos a trabalhar na Região Sudeste de Santa Catarina, depois de uma longa e

cuidadosa preparação que envolveu muita pesquisa de fotos e textos na internet e muitos

telefonemas para pessoas na região. Uma das paleotocas da região era realmente impressionante.

Um túnel enorme, limpo, acessível, seco, dentro de um canyon, rodeado por matas exuberantes e a

poucos metros de um rio de águas límpidas. Um espetáculo.

Na terceira visita a esta paleotoca, quando estávamos medindo e fotografando a estrutura,

surgiu uma dúvida. Havia uma série de desenhos riscados nas paredes, coisas geométricas e tal,

muito bem desenhados. Bem demais para ser uma riscalhada qualquer de algum caçador que se

abrigou na caverna em um dia de chuva. Claro que havia também muitos nomes e datas riscadas nas

paredes, mas estes desenhos geométricos cobriam a parede, não tinha muito jeito de ser simples

vandalismo. Tiramos algumas fotografias disso e voltamos para casa.

Enviamos as fotografias a alguns arqueólogos, perguntando se os desenhos não poderiam ter

sido feitos por indígenas. Nós do Projeto Paleotocas não somos arqueólogos e não temos nenhum

conhecimento do assunto. A resposta dos arqueólogos foi totalmente afirmativa: sim, claro, era arte

rupestre, os desenhos eram similares aos desenhos encontrados em alguns sítios arqueológicos

clássicos da Região Sul do Brasil. Só que maiores, melhores e mais complexos. E a paleotoca está

sendo visitada há mais de meio século sem que as pessoas tivessem se dado conta de que havia um

sítio arqueológico dentro dela....!

Voltamos à paleotoca acompanhados de uma arqueóloga e nos dedicamos a um

levantamento inicial da arte rupestre. O resultado deste trabalho é um artigo que acaba de ser

publicado na Revista Espeleo-Tema. Um artigo interdisciplinar que integra Espeleologia,

Paleontologia, Icnologia, Arqueologia e Antropologia e que tem o potencial de subsidiar futuras

atividades de Turismo. Um artigo sem viseiras e de horizonte amplo. O artigo está em inglês, mas

uma versão em português está disponível no site do Projeto Paleotocas.

É este o verdadeiro espírito da investigação científica. Curiosidade, interesse em coisas

novas, investigações inovadoras, criação de métodos inéditos, resultados que levantam outras

dúvidas, inquietude permanente e muita autocrítica.

Page 3: EDITORIAL CONGRESSO DE PALEONTOLOGIA TOCAS DE

Paleotocas em São Sebastião do Caí

Na região de São Sebastião do Caí, apesar dos nossos esforços, não tínhamos encontrado

ainda nenhuma paleotoca. A região é formada por coxilhas suaves, ocupadas com muito

reflorestamento, pasto e fruticultura. Terraplenagens com grandes cortes no terreno ocorrem apenas

ao longo da RS-122 que cruza o município. E não são tantas assim, os cortes acontecem apenas de

vez em quando e a gente tem que ter sorte de encontrar um destes antes que seja coberto com grama

(leivado) ou escondido atrás de um muro de arrimo. Mas no final de fevereiro tivemos sorte.

Passando no Condomínio Industrial de São Sebastião do Cai, com o olhar treinado de

“paleotoqueiro”, vimos de longe algumas manchas escuras em um pequeno corte em pedra-grês

(arenito). Voltamos no primeiro retorno e fomos conferir. Aqui estão algumas fotografias:

Como sempre, as 7 paleotocas

preenchidas, hoje apenas manchas escuras

no paredão de rochas mais claras, situam-se

todas em um mesmo plano (foto acima).

Com o passar dos milênios, elas entupiram,

o teto desabou e é extremamente difícil

encontrar um restinho ainda aberto.

Algumas estão com a metade

inferior bem delimitada (2ª foto). Outras

são apenas borrões escuros (3ª foto) que, se

ocorressem isolados, não poderiam ser

interpretadas como ex-paleotocas, mas

assim temos certeza: encontramos os restos

de um complicado sistema de túneis que

formavam um abrigo subterrâneo ocupado

por tatus gigantes ou preguiças gigantes

pré-históricas, mais de 10 mil anos atrás.

Page 4: EDITORIAL CONGRESSO DE PALEONTOLOGIA TOCAS DE

Paleotocas em Dom Pedro de Alcântara

Entre Osório e Torres há grandes ocorrências de pedra-grês, como o arenito Botucatu é

conhecido popularmente. E, pela grande quantidade de paleotocas que já encontramos neste arenito,

este provavelmente era muito apreciado pelos tatus gigantes e pelas preguiças gigantes para cavar

seus túneis, porque é possível cavar nele e a rocha tem uma estabilidade muito alta. Portanto deve

haver paleotocas nesta região. Quando duplicaram a BR-101, ficamos atentos às obras e realmente

apareceu um corte de estrada com paleotocas. Preenchidas, mas elas estão lá até hoje, ao lado da

BR-101, no sentido Torres-Osório, em um corte grande de pedra-grês à esquerda (Norte) da estrada:

São 4 paleotocas no topo do corte, quase junto à superfície: 3 estão dispostas

perpendicularmente ao corte e aparecem como manchas redondas escuras (duas bem à esquerda e

uma bem à direita). Uma está disposta paralelamente ao corte e aparece como um arco escuro

voltado para cima. Essa ocorrência mostra mais uma vez que as paleotocas sempre ocorrem em

grupos, porque eram sistemas (redes) de túneis em várias direções dentro do morro. Sempre

aproximadamente no mesmo nível, como na ocorrência de São Sebastião do Caí e em muitas outras.

CUIDADO : ao lado da BR-101 em Dom Pedro de Alcântara existe uma “furna”, que é uma

grande caverna à esquerda da estrada. Não entre! A caverna tem muitos morcegos no fundo, tem o

piso coberto por um pó fino e é extremamente seca – caminhando por ela, você levanta e acaba

inspirando uma fina poeira que pode conter fungos contidos em fezes secas de morcegos. Estes

fungos podem causar graves doenças respiratórias em pessoas com imunidade baixa.

Page 5: EDITORIAL CONGRESSO DE PALEONTOLOGIA TOCAS DE

Cavernas no Parque Municipal de Pareci Novo

Na região de Pareci Novo também há grande ocorrências de pedra-grês (arenito Botucatu) e

a notícia de duas “cavernas” no Parque Municipal mereceu ser investigada. Fomos guiados pelo Sr.

Jorge, ex-Prefeito de Pareci Novo. São 2 cavernas: a “Gruta do Silêncio” e a “Caverna São José”.

A caminho da Gruta

do Silêncio.

Trata-se de duas

cavidades no flanco de

uma encosta, ambas em

arenito. Ambas mostram

paredes bem alisadas e

curvas e há pelo menos

duas hipóteses para sua

origem: erosão fluvial de

épocas passadas pelo Rio

Caí ou erosão por vento e

chuva devido à exposição

do arenito da encosta.

Com certeza não são

paleotocas, mas é um local

muito pitoresco, de fácil

acesso e com boa

infraestrutura, vale a pena

visitar o Parque

Municipal, ao Norte da

cidade e ao lado do CTG.